FUNDAÇÃO DE ENSINO “EURÍPIDES SOARES DA ROCHA”
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FUNDAÇÃO DE ENSINO “EURÍPIDES SOARES DA ROCHA”
FUNDAÇÃO DE ENSINO “EURÍPIDES SOARES DA ROCHA” CENTRO UNIVERSITÁRIO EURÍPIDES DE MARÍLIA – UNIVEM CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS DIEGO BEZERRA DA SILVA A REFORMA ORTOGRÁFICA: UM ESTUDO DAS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AS VARIEDADES DO PORTUGUÊS NO MUNDO MARÍLIA 2009 DIEGO BEZERRA DA SILVA A REFORMA ORTOGRÁFICA: UM ESTUDO DAS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE AS VARIEDADES DO PORTUGUÊS NO MUNDO Trabalho de curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras da Fundação de Ensino “Eurípides Soares da Rocha”, mantenedora do Centro Universitário Eurípides de Marília – UNIVEM, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Letras. Orientador: Profª. Drª. RITA DE BORGUETTI PELOZO MARÍLIA 2009 CÁSSIA AGRADECIMENTOS Agradeço a toda minha família, pelas manifestações de carinho e apreço durante todo meu percurso, aos meus amigos que me deram força e aos companheiros de curso da Fundação “Eurípides Soares da Rocha” Agradeço de modo particular: Ao Prof. Dr. José Perozim, que pelo estímulo e incentivo, aliado à experiência intelectual, me ajudou a alcançar alguns dos tantos objetivos que tive dentro do curso. A Profª. Drª. Rita de Cássia Borguetti Pelozo, pelo auxílio na orientação, que foi de fundamental importância para a conclusão deste trabalho. EPÍGRAFE "A linguagem é tão velha como a consciência: a linguagem é a consciência prática, a consciência real, que existe também para os outros homens e que, portanto, começa a existir também para mim; e a linguagem nasce, como a consciência, da necessidade de promover intercâmbios com os demais homens" (Karl Marx) SILVA, Diego Bezerra da. A Reforma Ortográfica: um estudo das principais diferenças entre as variedades do português no mundo. 2009. 39 f. Trabalho de Curso (Licenciatura em Letras) – Centro Universitário Eurípides de Marília, Fundação de Ensino “Eurípides Soares da Rocha”, Marília, 2009. Resumo A presente monografia tem como objeto de estudo “A Reforma Ortográfica: um estudo das principais diferenças entre as variedades do português no mundo”. Foi realizada no ano de 2009, período ao qual a Reforma Ortográfica foi ratificada. A reforma ortográfica consubstancia-se em vinte e uma bases que tem como princípio a unificação das variantes da língua portuguesa, considerando que existem duas grafias oficiais para tal língua - a grafia de Portugal, que também é seguida por países da África, e a grafia do Brasil. Foram estudados todos os fatores que incidiram na ramificação do português pelo mundo desde o seu nascimento até seu estado atual. A monografia tem como missão justificar a necessidade da reforma de modo a permitir uma amplitude sobre o assunto. Tal justificativa se fez através de pesquisas bibliográficas e recolhimento de dados, feitos através de análises de campo que serviram para a fundamentação da pesquisa e que auxiliarão em estudos futuros e ampliarão o conhecimento acerca do tema. Palavras-chave: Língua Portuguesa. Reforma Ortográfica. Linguagem. Falantes. SILVA, Diego Bezerra da. A Reforma Ortográfica: um estudo das principais diferenças entre as variedades do português no mundo. 2009. 39 f. Trabalho de Curso ( Licenciatura em Letras) – Centro Universitário Eurípides de Marília, Fundação de Ensino “Eurípides Soares da Rocha”, Marília, 2009. Abstract This current paper discusses “The Spelling Reform: a study of main differences among the several types of Portuguese Language around the world”. This research was made in 2009, the same period the Spelling Reform occurred. The Spelling Reform is summarized in twenty-one bases whose principle is the unification of variants in the Portuguese language, considering the existence of two official spellings for the language – the spelling from Portugal which is also used by African countries and the spelling from Brazil. All the factors which contributed to the spreading of Portuguese around the world were studied, from its origin to its current form. This study focuses the need of a reform, therefore enabling a greater amplitude on this subject. The justification was made through bibliographical researches and collection of data, accomplished by means of field analyses which worked as the base for the study and which will support future studies and increase the knowledge on this subject. Key-words: Portuguese Language. Spelling Reform. Language. Speakers. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Mapa representativo da região da antiga Portugal e seus dialetos............................14 Figura 2- Regiões onde o Português é tido como língua oficial...............................................18 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Dados referentes à opinião quanto ao Acordo Ortográfico que faz algumas alterações no vocabulário da Língua Portuguesa......................................................................33 Tabela 2 - Dados referentes à opinião quanto à melhora do intercâmbio cultural e científico entre os países da CPLP............................................................................................................33 Tabela 3 - Dados referentes à opinião quanto à necessidade de se fazer uma reforma unificadora, visto as disparidades entre as duas grafias oficiais do português.........................34 Tabela 4 - Dados referentes à opinião quanto à “destruição” da identificação cultural, as diferentes grafias, por parte da unificação................................................................................34 Tabela 5 - Dados referentes à opinião quanto ao aumento do alfabeto para 26 letras e a retirada do trema.......................................................................................................................35 Tabela 6 - Dados referentes à opinião em relação à mudança que visa aproximar a forma escrita com a forma falada........................................................................................................35 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................9 CAPÍTULO 1- A LÍNGUA PORTUGUESA..................................................................................................11 1.1 Linguagem e Língua..................................................................................................................11 1.2 Origem da Língua Portuguesa..................................................................................................12 CAPÍTULO 2- REFORMA ORTOGRÁFICA................................................................................................17 CAPÍTULO 3- ANÁLISE...........................................................................................................................32 3.1 Professores.................................................................................................................................32 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................................36 REFERÊNCIAS........................................................................................................................................37 ANEXOS................................................................................................................................................39 9 INTRODUÇÃO Devido ao modo como a língua portuguesa evoluiu, suas ramificações acabaram por se afastar em espaço físico. Com isso tais ramificações acabaram por evoluir de modo que a língua não se mantivesse da mesma forma em regiões diferentes, adquirindo diferentes peculiaridades. Isso segue até os dias de hoje, onde o português possui diferentes falares e diferentes conceitos. Desse modo surge a Reforma ortográfica, que desde o início do século XIX vem tentando resolver tal problemática, sem muito êxito. Tal reforma visa, dentre outros objetivos, melhorar o intercâmbio cultural entre os países lusófonos, facilitar a difusão bibliográfica entre esses países e reduzir o custo econômico na produção e tradução de livros. No entanto, a reforma não se restringe somente a modificações ortográficas; mas, sobretudo, a todo o contexto que se utiliza da língua como objeto de trabalho e também de comunicação. Seria inevitável a atualização de professores, de todo o corpo literário existente e a readaptação de todas as pessoas que já estão alfabetizadas. O objeto de trabalho desta pesquisa é verificar se a Reforma Ortográfica é, ou não, de fato, necessária e quais seriam suas contribuições. A mudança pode ser fator de interesses econômicos e de classes dominantes, visto que um dos objetivos da reforma também é a difusão de novas tecnologias, constituindo assim não só um bloco com uma linguagem unificada, mas sim, um bloco que possui interesses econômicos concomitantes. Além de verificar a necessidade da reforma, tal pesquisa visa aprofundar os conhecimentos acerca das questões histórico-politico-sociais e culturais da língua portuguesa mostrando-a e discutindo-a, tanto no campo fonético, quanto no campo semântico, auxiliando trabalhos já existentes e futuros trabalhos dentro desse campo, abrangendo o conhecimento sobre o tema em seus múltiplos aspectos. Através de pesquisas bibliográficas, consultando e comparando as mudanças existentes, e pesquisas de campo, analisando a dificuldade ou a praticidade que tal reforma trás para as pessoas, a pesquisa visa apresentar àqueles que não têm conhecimento sobre o assunto a importância que as alterações terão no cotidiano dessas. O trabalho se inicia com um breve histórico da língua portuguesa, mostrando como foi a sua evolução, desde seu nascimento até os dias de hoje, enfatizando as propostas de unificação que ocorreram durante toda a história. Segue com uma explicação mais detalhada 10 acerca das tentativas de reforma ortográfica e sobre a reforma que está sendo implantada, mostrando as principais alterações através de comentários sobre as bases do acordo. Por meio de uma entrevista, foram recolhidos dados para melhor compreensão do impacto que tal reforma ocasionará no cotidiano das pessoas, podendo assim, mostrar a opinião das mesmas quanto as mudanças. 11 CAPÍTULO 1- A LÍNGUA PORTUGUESA A língua portuguesa, por mais afastada que se encontre as suas variantes, conseguiu manter até hoje apreciável coesão. Porém, existem diferenças entre as variedades do português, mesmo que ínfimas. Segundo Cunha (1986) temos o português-padrão europeu os que seguem a norma das classes cultas da região de Lisboa-Coimbra (considerando também as diferenças entre seus dialetos) -, o Português do Brasil (com suas múltiplas variações), e o português da África, da Ásia e da Oceania. Dentro desse contexto podemos explicitar que as diferenças entre as línguas devem ser sanadas para uma unificação da mesma a fim de torna - lá mais significativa. 1.1 Linguagem e Língua Segundo o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa linguagem é definida: [...] lin.gua.gem : sf (provençal lenguatge) 1 Faculdade de expressão audível e articulada do homem, produzida pela ação da língua e dos órgãos vocais adjacentes; fala. 2 Conjunto de sinais falados (glótica), escritos (gráfica) ou gesticulados (mímica), de que se serve o homem para exprimir suas idéias e sentimentos. 3 Qualquer meio que sirva para exprimir sensações ou idéias. 4 Agregado de palavras e métodos de os combinar usados por uma nação, povo ou raça; idioma, língua, dialeto. 5 Fraseologia particular de uma classe de pessoas, profissão, arte, ciência etc.: Linguagem jurídica. 6 Fala ou expressão de caráter particular: Linguagem culta; linguagem obscena. 7 Estilo, dicção. 8 Palavreado, lamúria. ( Dentro dos itens destacados, a definição mais cabível em nosso estudo é a que diz que a linguagem é um conjunto de sinais falados, escritos ou gesticulados, que servem para o homem exprimir suas idéias e sentimentos, de acordo com a definição de Coutinho em seu livro “Gramática Histórica” (1976), que diz ser um conjunto de sinais de que a humanidade intencionalmente se serve para comunicar as suas idéias e pensamentos. A linguagem é um atributo pertencente à espécie humana, sendo expressa por palavras. Nos animais a expressão dos sentimentos acontece através de outros sinais. A linguagem, constituída por sinais, pode ser dissipada em dois principais eixos: natural e artificial. A linguagem natural cabe aos instintos e gestos espontâneos do corpo, como gritos. Já a linguagem artificial compreende a falas e escritas ordenadas e com seqüência lógica, exprimindo idéias e pensamentos de um povo. Entendido o conceito de linguagem podemos compreender o real significado do termo língua. Para muitos língua é um instrumento de comunicação de um povo, variando de 12 acordo com a região. Porém, língua pode ser considerada um patrimônio construído durante a história da sociedade que a fala e que a escreve. Pode ser estudada em um dado momento do tempo (estudo sincrônico), ou pesquisar toda sua formação e evolução (estudo diacrônico). Cabe a essa pesquisa destacar a língua portuguesa, originária do latim, chamada de língua neolatina ou românica, juntamente com outras línguas como o francês, espanhol, romeno, sardo etc. 1.2 Origem da Língua Portuguesa A língua portuguesa como nós a conhecemos hoje, já sofreu grandes alterações até chegar ao status atual. Passou por profundas modificações devido a sua difusão em diferentes continentes e por estar em contato com diferentes povos e culturas. O português tem sua origem no latim, mas não o latim clássico como apontam alguns autores, mais sim no latim popular, mais conhecido como latim “vulgar”, empregado pelos Romanos. Essas modalidades do latim receberam as denominações de sermo urbanus e sermo vulgaris. Não é preciso dizer que o latim vulgar era utilizado pelas classes mais baixas, trazendo consigo características mais peculiares, como uma pronúncia menos elitizada/quadrada, e numerosas expressões, não muito utilizadas por escritores da época. Por ter esse traço mais popular, essa língua era mais flexível, alterando-se com mais facilidade, de acordo com o tempo. Na conceituação desse chamado latim “vulgar” temos que ele se restringe ao uso entre as classes menos dotadas, àqueles cuja roda não fervilhavam os bem falantes e que ao contrário, convivem nos meios mais sórdidos e pobres.1 Tal definição mostra que o latim que deu origem ao português era o falado entre a camada mais baixa, que por conseqüência não trabalhava a parte escrita da língua, a utilizavam apenas como modo de comunicação o que permitia maior variabilidade. A língua falada traz consigo características menos presentes na língua escrita como entonações, gestos, repetições, pleonasmos e exclamações. Ainda se constitui por frases soltas que dão seqüência ao contexto em que se fala, a coordenação. Por ser tratada por pessoas cujo saber era adquirido pela experiência, é rica em provérbios e dizeres, traços que permanecem até hoje em nossa língua. Com a invasão germânica, toda a classe alta foi destruída, destruindo consigo o latim fino, permanecendo somente o latim do povo, antes contido por um longo tempo pelas ações 1 Serafim da Silva Neto, História da língua portuguesa, 1986, p.109. 13 da gramática, da literatura e da classe culta, que prosseguiu, evoluindo e se afastando enormemente de sua origem. Para melhor conhecimento do latim vulgar e a título de interesse, vejamos um texto denominado A Peregrinato, que conta sobre a monja Egéria, natural da Península Ibérica, e sua história na visitação à Terra Santa. Perceba com a tradução o quanto a língua variou e como algumas palavras ainda se mantêm semelhantes. In eo ergo loco est nunc ecclesia non grandis, quoniam et ipse lócus, id est summitas montis, non satis grandis est; quae tamen ecclesia habet de se gratiam grandem. Cum ergo, iubente Deo, persubissemus in ipsa summitate, et peruenissemus ad hostium ipsius ecclesiae, ecce et occurrit presbyter ueniens de monastério suo, qui ipsi ecclesiae deputabatur, senex integer et monachus a prima uita, et ut hic dicunt ascitis, et quid plura? qualis dignus est esse in eo loco.2 Traduzindo, temos o seguinte texto: Nesse lugar há, pois, agora uma igreja não grande, porque também o mesmo lugar, isto é, o cimo do monte não é muito grande; contudo, a qual igreja tem por si grande renome. Como, pois, ordenando Deus, subíssemos a esse cimo e chegássemos à porta de igreja, eis que corre ao nosso encontro um presbítero vindo do seu mosteiro, que estava à testa da mesma igreja, velho virtuoso e monge desde cedo, como aqui dizem Ascilis, e que mais? O qual é digno de estar nesse lugar. No período de romanização toda a península foi invadida e consigo seus costumes e cultura, e é claro a língua. No entanto, com a invasão dos povos bárbaros germanos, o Latim vulgar, que era conservado até o momento, começa ser dialetado, isto é, começa a tomar características mais peculiares, de acordo coma região onde se encontrava. Após um período entre guerras, D. Afonso Henriques foi aclamado como rei da monarquia que ali surgia, a portuguesa. Na região onde a mesma foi fundada, falava-se uma língua denominada galaico-português, falada pelos povos de Portugal e da Galiza. E conforme o império português ia se expandindo, juntamente ia à língua portuguesa, consumindo a unidade castelhana e o galego. Na faixa ocidental da Península Ibérica, onde o galego-português era falado, atualmente utiliza-se o galego e o português. Esta região apresenta um conjunto de falares que, de acordo com certas características fonéticas (principalmente a pronúncia das sibilantes: utilização ou não do mesmo fonema em roSa e em paSSo, diferenciação fonética ou não entre Cinco e Seis, etc.), podem ser classificados em três grandes grupos: 2 Apêndice de Francisco de B. Moll à Introd. AL Lat. Vulg., de Grandegent, p.299. 14 1. Dialetos galegos; G - Galego ocidental F - Galego oriental 2. Dialetos portugueses setentrionais; e E - Dialetos transmontanos e alto-minhotos C - Dialetos baixo-minhotos, durienses e beirões 3. Dialetos portugueses centro-meridionais. D - Dialetos do centro-litoral B - Dialetos do centro-interior e do sul 4. A - Limite de região subdialectal com características peculiares bem diferenciadas Figura 1: mapa representativo da região da antiga Portugal e seus dialetos. Pelo longo período pelo qual Portugal se manteve como potência, sua estrutura cultural e lingüística também não foi abalada. Dentro desse contexto, Portugal inicia suas expedições ultramarinas com intuito de acumular mais riquezas e se tornar um ícone de império dentro da Europa. Conforme Cortesão (1967), era o povo português que, sem o saber, estava fazendo mais do que sua história, estava escrevendo a própria história da humanidade. E tudo isso, sessenta anos antes de qualquer outra nação pensar em abalar-se para o mar. Com 15 isso, sua cultura também foi levada a tais territórios, como modo de impor sua soberania perante os nativos das regiões conquistadas. Dessa forma, o século XVI foi o “século de ouro” para Portugal, muito bem retratado por Luiz Vaz de Camões (1972, p. 9) na epopéia Os Lusíadas, dando a dimensão da afirmação nacionalista presente no feito expansionista, como expresso no fragmento abaixo: “As armas e os Barões assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana, Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre remota gente edificaram Novo reino, que tanto sublimaram.” Assim, mais pessoas passam a ter contato com a língua portuguesa, isto é, os habitantes das regiões conquistadas por Portugal passam a utilizar o português como língua oficial. Assim nascem as chamadas Lusitânia Nova (Brasil), Lusitânia Novíssima (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) e Lusitânia Perdida (Índia, Macau e Timor Leste). Por esse fato a língua, levada a lugares de diferentes costumes, crenças e hábitos lingüísticos, passa a se diversificar, não se mantendo rígida e inabalável, francionando-se em vários dialetos. Constituído um breve histórico da língua portuguesa, não podemos deixar de citar as fases ou divisões pela qual tal língua passou. Tal idioma pode ser dividido em duas importantes fases: a arcaica e a moderna. A Língua Portuguesa arcaica passou pelas seguintes fases, até o momento atual (Disponível em http:// www.mundolusiada.com.br, Acessado em: 20 abr. 2009) ● Fase inicial: Século III Antes de Cristo. Com a invasão dos romanos, onde se falava o latim clássico pelos magistrados e latim vulgar pela soldadesca romana, a população lusitana que, já tinha uma língua antiga gerada dos celtas e iberos, começou a misturar e aderir à língua latina, isso foi até o século VII da nossa era, ou seja, até o fim do domínio romano, com a invasão moura. ● Fase Média: Século VII – Invasão dos mouros. Nessa altura começou a acontecer a mistura da língua gerada pelos romanos, com a língua dos mouros, novos termos foram introduzidos e surgiu a língua portuguesa, já mais próxima ao português arcaico. ● Fase Arcaica: Século XII – Início 1189, ano da fundação de Portugal. Com a fundação de Portugal como nação, surgiu a língua portuguesa arcaica que perdurou até a sistematização feita nas primeiras gramáticas, por Fernão de Oliveira em 1536 e João de Barros em 1540. 16 ● Fase Moderna: Século XVI, após surgirem as duas gramáticas mencionadas. A afirmação definitiva da nossa língua deveu-se a Luiz de Camões, Sá Miranda e Antonio Ferreira. De modo a exemplificar a evolução das palavras em suas diferentes fases, seguem alguns termos na sua fase inicial e na final, a que utilizamos agora, e um trecho extraído de Carta a El Rei D. Manuel, Dominus, São Paulo, 1963, da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal D. Manuel relatando o descobrimento do Brasil: amaron - amaram; quiseron - quiseram; nom - não; lõa - lua; sobrevoso - soberbo; fame - fome; rauco - ronco; vergonça - vergonha; esso - isso; migo - comigo; luxar - turvar; nulha - nenhuma; offeyro - ofereço; mays - mães; bofee - boa fé; retraya - esqueça. Carta de Pero Vaz de Caminha: “Snõr posto que o capitam moor desta vossa frota e asy os outros capitaães screpuam a vossa alteza a noua do acha mento desta vossa terra noua que se ora neesta naue gaçom achou, nom leixarey tambem de dar disso minha comta a vossa alteza asy como eu milhor poder ajmda que pera o bem contar e falar o saiba pior que todos fazer, pero tome vossa alteza minha jnoramçia por boa comtade, a qual bem çerto crea que por afremosentar nem afear aja aquy de poer ma is ca aquilo que vy e me pareçeo. / da marinha jem e simgraduras do caminho nõ darey aquy cõ ta a vossa alteza porque o nom saberey fazer e os pilotos deuem teer ese cuidado e por tamto Snõr do que ey de falar começo e diguo.” Traduzindo, temos o seguinte texto: “Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para o bem contar e falar — o saiba pior que todos fazer! Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu. Da marinhagem e das singraduras do caminho não darei aqui conta a Vossa Alteza — porque o não saberei fazer — e os pilotos devem ter este cuidado. E portanto, Senhor, do que hei de falar começo: E digo.” 17 Como podemos perceber, tratamos de uma mesma língua com uma diferença de aproximadamente 508 anos. As diferenças ocorridas são enormes, dentro dos campos da morfologia e da fonética. Tais diferenças podem ser explicadas pela evolução que toda língua passa, adquirindo elementos de seus falantes e de sua própria evolução. Com relação à ortográfica, o período histórico da língua portuguesa abrange três grandes ciclos: o da ortografia fonética (do século XIII ao XVI), o ciclo pseudoetimológico (do século XVI até 1904) e a fase simplificada (de 1904 até hoje). Com relação ao primeiro ciclo, este se passou no período arcaico da língua (visto acima), quando a escrita se baseava na pronúncia. Ao chegar o fim desse ciclo, a língua latina se fez sentir e a escrita começou a se distanciar da pronúncia. Já no período pseudoetimológico, a influência greco-latina foi predominante, principalmente pelo fato da grande revolução causada pelo período da Renascença. Tal grafia que começou a vigorar nesse momento passou a ser o modelo de escrita do português pela absorção de termos e usanças ortográficas clássicas. No entanto esse desenvolvimento pelo qual a língua passou, começou a dificultar na hora da escrita, fazendo desde este momento, a tentativa de simplificar o sistema ortográfico (vide quadro cronológico das reformas no capítulo 2). O terceiro ciclo surge a partir do trabalho de Gonçalves Viana, que com sua obra Ortografia Nacional, desenvolve uma pesquisa sobre a história interna da língua e acaba por estudar suas tendências fonéticas. Tal obra serve de base para a reforma estudada visto que desde o século XVI não existia uniformização, pois a etimologia se baseava nos devaneios dos escritores. Podemos perceber que a língua portuguesa passou por grandes fases para chegar até o status atual. No entanto alguns pesquisadores vêem a necessidade de executar uma reforma que uniformize as diferenças existentes entre os portugueses devido à evolução. A padronização gráfica das palavras acaba por refletir uma imagem de unidade e de uniformidade em si mesma artificial, visto que tal unidade nunca se realizou não se realiza e jamais se realizará na fala corrente. CAPÍTULO 2- REFORMA ORTOGRÁFICA 18 Como já foi dito anteriormente, o português possui hoje duas ortografias, a brasileira e a portuguesa, sendo disforme e, cada uma seguindo suas próprias normas, tendo assim duas ortografias oficiais para uma mesma língua. Esse fato acaba por atrapalhar, por exemplo, na redação de documentos internacionais, na publicação de livros e revistas. Esse problema não envolve somente Portugal e Brasil, mais sim todos os países que tem a língua portuguesa como oficial (São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor-Leste, Cabo Verde e Angola). O mapa abaixo ilustra os países que tem a língua portuguesa como oficial no cenário contemporâneo: Europa Ásia América do Sul África Figura 2: regiões onde o Português é tido como língua oficial. 19 Como visto no mapa, o português está presente em quatro continentes e possui oito países que o utilizam como língua oficial, a chamada Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Essa comunidade foi criada com o intuito de aumentar a cooperação e o intercâmbio cultural entre os países membros. Estima-se que existam cerca de 217 milhões de falantes, distribuídos da seguinte forma (Disponível em http://www.linguaportuguesa.ufrn.br. Acessado em: 23 jun. 2009): • Angola (10,9 milhões de habitantes) • Brasil (185 milhões) • Cabo Verde (415 mil) • Guiné Bissau (1,4 milhão) • Moçambique (18,8 milhões) • Portugal (10,5 milhões) • São Tomé e Príncipe (182 mil) • Timor Leste (800 mil). Toda a língua transforma-se com o tempo e não seria diferente com a língua portuguesa, ainda mais considerando que os países que fazem uso dela estejam amplamente dispersos nos quatros continentes. Somente o Brasil possui características mais peculiares, considerando que os demais países seguem a ortografia de Portugal. Dentro desse quadro, a reforma ortográfica vem com o intuito de unificar os pontos distintos entre essas duas ortografias para facilitar o intercâmbio cultural e político. Mas não é de agora a tentativa de unificação. Vejamos uma breve cronologia das reformas efetuadas na língua portuguesa (Disponível em http://www.portaldalinguaportuguesa.com.br Acessado em 23 jun. 2009). ●Séc XVI até ao séc. XX - em Portugal e no Brasil a escrita praticada era de cariz etimológico (procurava-se a raiz latina ou grega para escrever as palavras). ●1907 – A Academia Brasileira de Letras começa a simplificar a escrita nas suas publicações. ●1910 – Implantação da República em Portugal – foi nomeada uma Comissão para estabelecer uma ortografia simplificada e uniforme para ser usada nas publicações oficiais e no ensino. ●1911 – Primeira Reforma Ortográfica – tentativa de uniformizar e simplificar a escrita de algumas formas gráficas, mas que não foi extensiva ao Brasil. 20 ●1915 – A Academia Brasileira de Letras resolve harmonizar a ortografia com a portuguesa. ●1919 – A Academia Brasileira de Letras revoga a sua resolução de 1915. ●1924 – A Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começaram a procurar uma grafia comum. ●1929 – A Academia Brasileira de Letras lança um novo sistema gráfico. ●1931 – Foi aprovado o primeiro Acordo Ortográfico entre o Brasil e Portugal, que visava suprimir as diferenças, unificar e simplificar a língua portuguesa, contudo não foi posto em prática. ●1938 - Foram sanadas as dúvidas quanto à acentuação de palavras. ●1943 – Foi redigido na primeira Convenção ortográfica entre Brasil e Portugal o Formulário Ortográfico de 1943 ●1945 – Acordo Ortográfico – tornou-se lei em Portugal, mas no Brasil não foi ratificado pelo Governo, os brasileiros continuaram a regular-se pela ortografia anterior do Vocabulário de 1943. ●1971 – Foram promulgadas alterações no Brasil, reduzindo as divergências ortográficas com Portugal. ●1973 - Foram promulgadas alterações em Portugal, reduzindo as divergências ortográficas com o Brasil. ●1975 - A Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras elaboraram novo projeto de acordo que não foi aprovado oficialmente. ●1986 - O presidente José Sarney promoveu um encontro dos sete países de língua portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, no Rio de Janeiro. Foi apresentado o Memorando Sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. ●1990 - a Academia das Ciências de Lisboa convocou novo encontro juntando uma Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa – as duas academias elaboram a base do “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”. O documento entraria em vigor (de acordo com o 3º artigo do mesmo) no dia 1º de Janeiro de 1994, após depositados todos os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo português. ●1996 – o último acordo foi apenas ratificado por Portugal, Brasil, e Cabo Verde. ●2004 - os ministros da Educação da CPLP reuniram-se em Fortaleza, no Brasil para propor a entrada em vigor do Acordo Ortográfico, mesmo sem a ratificação de todos os membros. 21 ●2008 – Entram em vigor as regras do acordo ortográfico com prazo de até 2013 para total adaptação dos materiais. Como visto, em 1931 foi aprovado o primeiro acordo ortográfico entre Portugal e o Brasil. No entanto este acordo não produziu nenhum efeito da tão desejada unificação, motivo este que levou mais tarde à Convenção Ortográfica de 1943. Da mesma forma, perante as grandes divergências encontradas entre os vocabulários publicados pelas Academias de Portugal e Brasil, fez-se necessário a realização da Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945, que também não trouxe efeitos significativos, já que só foi adotada por Portugal e não pelo Brasil. O texto do novo acordo é menos radical que o proposto anteriormente, em 1986, no sentido de sanar de maneira mais satisfatória as preocupações e necessidades dos países que se utilizam do português para comunicação, levando como critério a fonética, aproximar a ortografia das palavras à forma falada. O acordo esta organizado em 21 (vinte e uma) bases. Segue abaixo a lista das bases do novo acordo (Instituto Antônio Houaiss, 2008, p. 25): • Base I – Alfabeto e grafia de nomes próprios estrangeiros • Base II – Uso do h • Base III – Grafemas consonânticos • Base IV – Seqüência consonânticas • Base V – Vogais átonas • Base VI – Vogais nasais • Base VII – Ditongos • Bases VII, IX, X, XI, XII, XIII – Acentuação gráfica • Base XIV – Uso do trema • Bases XV, XVI, XVII – Uso do hífen • Base XVIII – Uso do apóstrofo • Base XIX – Uso de letras maiúsculas • Base XX – Divisão silábica • Base XXI – Grafia de assinaturas e firmas Dentre todas as bases do novo acordo, interessa ao nosso estudo algumas delas, as que interferem diretamente na parte escrita e que será de grande uso por parte dos falantes. Abaixo algumas das bases do acordo seguida de explicações paralelas, a fim de tornar o entendimento da mudança mais didáticas. 22 BASE I: DO ALFABETO E DOS NOMES PRÓPRIOS ESTRANGEIROS E SEUS DERIVADOS 1 O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula: a A; b B; c C; d D; e E; f F; g G; h H; i I; j J; k K; l L; m M; n N; o O; p P; q Q; r R; s S; t T; u U; v V; w W; x X; y Y; z Z. Obs.: 1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo), ss (esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u). 2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar. As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais: 2 a) Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin, frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista; b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza, Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano; c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional: TWA, KLM; K-potássio (de kalium), W-oeste (West); kgquilograma, km-quilómetro, kW-kilowatt, yd-jarda (yard); Watt. • Nesta base, o alfabeto é alterado, passando de 23 (vinte e três) letras para 26 (vinte e seis) letras, incluindo as letras K, W,e Y e suas especificações para seus empregos. BASE VII: DOS DITONGOS 1 Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem- se por dois grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é representado por i ou u: ai, ei, éi, ui; au, eu, éu, iu, ou: braçais, caixote, deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo, goivan, lençóis (mas lençoizinhos), tafuis, uivar, cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheuzito), mediu, passou, regougar. Obs.: Admitem-se, todavia, excecionalmente, à parte destes dois grupos, os ditongos grafados ae (= âi ou ai) e ao (âu ou au): o primeiro, representado nos antropónimos/antropônimos Caetano e Caetana, assim como nos respetivos derivados e compostos (caetaninha, são-caetano, etc.); o segundo, representado nas combinações da preposição a com as formas masculinas do artigo ou pronome demonstrativo o, ou seja, 23 ao e aos. 2 Cumpre fixar, a propósito dos ditongos orais, os seguintes preceitos particulares: a) É o ditongo grafado ui, e não a sequência vocálica grafada ue, que se emprega nas formas de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e igualmente na da 2ª pessoa do singular do imperativo dos verbos em -uir: constituis, influi, retribui. Harmonizam-se, portanto, essas formas com todos os casos de ditongo grafado ui de sílaba final ou fim de palavra (azuis, fui, Guardafui, Rui, etc.); e ficam assim em paralelo gráfico-fonético com as formas de 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e de 2ª pessoa do singular do imperativo dos verbos em -air e em -oer: atrais, cai, sai; móis, remói, sói; b) É o ditongo grafado ui que representa sempre, em palavras de origem latina, a união de um u a um i átono seguinte. Não divergem, portanto, formas como fluido de formas como gratuito. E isso não impede que nos derivados de formas daquele tipo as vogais grafadas u e i se separem: fluídico,fluidez (u-i); c) Além dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes, admite-se, como é sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-se no número deles as sequências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas, tais as que se representam graficamente por ea, eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo: áurea, áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, míngua, ténue/tênue, tríduo. 3 Os ditongos nasais, que na sua maioria tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, pertencem graficamente a dois tipos fundamentais: ditongos representados por vogal com til e semivogal; ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m. Eis a indicação de uns e outros: a) Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando-se apenas a língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados), ãi (usado em vocábulos anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo; mão, mãozinha, não, quão, sótão, sotãozinho, tão; Camões, orações, oraçõezinhas, põe, repões. Ao lado de tais ditongos pode, por exemplo, colocar-se o ditongo ui; mas este, embora se exemplifique numa forma popular como rui = ruim, representa-se sem o til nas formas muito e mui, por obediência à tradição; b) Os ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m são dois: am e em. Divergem, porém, nos seus empregos: i) am (sempre átono) só se emprega em flexões verbais: amam, deviam, 24 escreveram, puseram; ii) em (tónico/tônico ou átono) emprega-se em palavras de categorias morfológicas diversas, incluindo flexões verbais, e pode apresentar variantes gráficas determinadas pela posição, pela acentuação ou, simultaneamente, pela posição e pela acentuação: bem, Bembom, Bemposta, cem, devem, nem, quem, sem, tem, virgem; Bencanta, Benfeito, Benfica, benquisto, bens, enfim, enquanto, homenzarrão, homenzinho, nuvenzinha, tens, virgens, amém (variação do ámen), armazém, convém, mantém, ninguém, porém, Santarém, também; convêm, mantêm, têm (3ªs pessoas do plural); armazéns, desdéns, convéns, reténs; Belenzada, vintenzinho. • Anteriormente, com relação aos ditongos, usava-se ae (=âi ou ai) nos antropônimos Caetano, Caetana e seus derivados compostos, assim como ao (=âu ou au) nas junções entre a preposição a com formas masculinas. Com relação a acentuação, os ditongos abetos éi, éu e ói eram acentuados em todas as circunstâncias. Agora apenas quando se encontram em sílaba final e quando em palavras paroxítonas. BASE IX: DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PAROXÍTONAS 1 As palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem, mesa, Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano, brasileiro; descobrimento, graficamente, moçambicano. 2 Recebem, no entanto, acento agudo: a) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -l, -n, -r, -x e -ps, assim como, salvo raras exceções, as respectivas formas do plural, algumas das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl. dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. répteis; var. reptil, pl. reptis); cármen (pl. cármenes ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen (pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou edens), líquen (pl. líquenes), lúmen (pl. lúmenes ou lúmens); açúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. almíscares), cadáver (pl. cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres), ímpar (pl. ímpares); Ájax, córtex (pl. córtex; var. córtice, pl. córtices, índex (pl. índex; var. índice, pl. índices), tórax (pl. tórax ou tóraxes; var. torace, pl. toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite, pl. bicípites), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes). Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com a vogais tónicas/tônicas grafadas e e 25 o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua e, por conseguinte, também de acento gráfico (agudo ou circunflexo): sémen e sêmen, xénon e xênon; fêmur e fémur, vómer e vômer; Fénix e Fênix, ónix e ônix; b) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s), -i(s), -um, -uns ou -us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órfão (pl. órfãos), órgão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei, jóquei (pl. jóqueis), amáveis (pl. de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis (de amar), amáveis (id.), cantaríeis (de cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis (id.); beribéri (pl. beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (pl. júris), oásis (sg. e pl.); álbum (pl. álbuns), fórum (pl. fóruns); húmus (sg. e pl.), vírus (sg. e pl.). Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua, o qual é assinalado com acento agudo, se aberto, ou circunflexo, se fechado: pónei e pônei; gónis e gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus, tónus e tônus, Vénus e Vênus. 3 Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, boia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina. 4 É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo (amamos, louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português. 5 Recebem acento circunflexo: a) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -l, -n, -r, ou -x, assim como as respetivas formas do plural, algumas das quais se tornam proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pl. pênseis), têxtil (pl. têxteis); cânon, var. cânone (pl. cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar, aljôfar (pl. aljôfares), âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger; 26 bômbax (sg. e pl.), bômbix, var. bômbice (pl. bômbices); b) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -ão(s), -eis, -i(s) ou -us: bênção(s), côvão(s), Estêvão, zângão(s); devêreis (de dever), escrevêsseis (de escrever), fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de pênsil), têxteis (pl. de têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus; c) As formas verbais têm e vêm, 3.ªs pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que são foneticamente paroxítonas (respetivamente /tãjãj/, /vãjãj/ ou /têêj/, /vêêj/ ou ainda /têjêj/, /vêjêj/); cf. as antigas grafias preteridas, têem, vêem, a fim de se distinguirem de tem e vem, 3ªs pessoas do singular do presente do indicativo ou 2ªs pessoas do singular do imperativo; e também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detem), entretem (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm (cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém). Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detêem, intervêem, mantêem, provêem, etc. 6 Assinalam-se com acento circunflexo: a) Obrigatoriamente, pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), que se distingue da correspondente forma do presente do indicativo (pode); b) Facultativamente, dêmos (1ª pessoa do plural do presente do conjuntivo), para se distinguir da correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo), distinta de forma (substantivo; 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ª pessoa do singular do imperativo do verbo formar). 7 Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico/tônico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos: creem, deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem. 8 Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/tonica fechada com a grafia o em palavras paroxítonas como enjoo, substantivo e flexão de enjoar, povoo, flexão de povoar, voo, substantivo e flexão de voar, etc. 9 Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e 27 pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc. 1 Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas heterofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo, e acerto (é), flexão de acertar; acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva cerca de, e cerca (é), flexão de cercar; coro (ó), substantivo, e flexão de corar; deste (ê), contração da preposição de com o demonstrativo este, e deste (é), flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio, interjeição e substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc. • Como visto, os ditongos ei e oi abertos que se encontram em uma palavra paroxítona não são mais acentuadas como eram anteriormente. • Com relação ao acento circunflexo, não são mais empregados em paroxítonas terminadas em oo e em palavras homógrafas (citadas acima). Ainda com relação ao acento circunflexo, não são mais empregados também em terceiras pessoas do pluras dos tempos verbais do presente do indicativo ou do subjuntivo, especificamente dos verbos crer, dar, ler, ver e seus derivados. BASE X: DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS GRAFADAS I E U DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS 1 As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraiam (de atrair), atraísse (id.), baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc. 2 As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz, etc. 3 Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal 28 tónica/tônica grafada i das formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e -uir, quando estas se combinam com as formas pronominais clíticas -lo(s), -la(s), que levam à assimilação e perda daquele -r: atraí-lo(s), [de atrair-lo(s)]; atraí-lo(s)-ia [de atrairlo(s)-ia]; possuí-la(s) [de possuir-la(s)]; possuí-la(s)-ia [de possuir-la(s)-ia]. 4 Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho (de cheio), saiinha (de saia). 5 Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de ditongo, pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús. Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento agudo: cauim. 6 Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedidos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul). 7 Os verbos arguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/tônica grafada u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas, argua, arguam. Os verbos do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas igualmente acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delinquís) ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a exemplo de averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem; enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem; delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua, delínquam). Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registe-se que os verbos em -ingir (atingir, cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir, etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga, distingue, distinguimos, etc.). • Nesta base, a principal alteração é com relação às palavras paroxítonas que não recebem mais acento agudo nas vogais tônicas i e u quando são precedidas de um ditongo decrescente, como é o caso da palavra feiura. 29 BASE XIV: DO TREMA 1 O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc. Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade. Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc. • Uma das mudanças mais radicais da reforma, e que causam maior espanto para os falantes é com relação a supressão do trema em todas as palavras portuguesas ou aportuguesadas, só se conservando em palavras que derivam de nomes estrangeiros. Tal mudança acaba por dificultar, para algumas pessoas, a pronúncia de certas palavras. BASE XV: DO HÍFEN EM COMPOSTOS, LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES 1 Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo darse o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arce-bispo, arco-íris, decretolei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, portoalegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, fincapé, guarda-chuva. Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, 30 pontapé, paraquedas, paraquedista, etc. 2 Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos, iniciados pelos adjetivos grã, grão ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, QuebraDentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes. Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O topónimo/topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso. 3 Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóboramenina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; benção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-decheiro, fava-de-santo-inácio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d'água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro). 4 Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, malhumorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto). Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc. 5 Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-mar, aquém-Pirenéus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimónia, sem-número, sem-vergonha. 6 Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-davelha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções: 31 a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar; b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho; c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja; d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se contrapõe a de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por isso; e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a; f) Conjuncionais: afim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que. 7 Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique, e bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos (tipo: Austria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro, etc.). • As alterações propostas para o uso do hífen são, de todas as alterações, as que mas afetam na escrita. Alguns compostos são grafados sem hífen, pelo fato de ter se perdido a noção de sua composição. O hífen é empregado quando a primeira palavra da composição forem as palavras bem ou mal e o segundo elemento for iniciado por uma vogal ou por h; quando a primeira palavra for além, aquém, recém e sem. Segue em anexo um quadro que está apoiado na obra do Instituto Antônio Houaiss. “Escrevendo pela Nova Ortografia” publicado pela Publifolha, 2008. Tal quadro visa o melhor entendimento do uso do hífen, considerando que tal modificação é a mais complexa e controversa do acordo. Segundo dados disponibilizados pela Academia de Ciências de Lisboa, o número de palavras que seriam alteradas não ultrapassaria duas mil, considerando um total aproximado de 110.000, um pouco mais que um por cento (Disponível em http://www.acad.ciencias.pt Acessado em 12 ago. 2009). Tal número é alvo de crítica para alguns escritores e estudiosos da língua pois tal modificação altera em muito pouco as palavras e aproxima quase que da mesma porcentagem as línguas. 32 CAPÍTULO 3- ANÁLISE A entrevista foi realizada com 4 (quatro) professores na área de língua portuguesa da “E.E. José Alfredo de Almeida” entre o período de 17 a 21 de agosto de 2009. Tal entrevista tem como objetivo colher dados a respeito da opinião desses professores quanto a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa para embasamento da pesquisa. 3.1 Professores Tabela 1. Dados referentes à opinião quanto ao Acordo Ortográfico que faz algumas alterações no vocabulário da Língua Portuguesa. Número de Opções % respostas Importante, pois unifica os países lusófonos 0 0,0 Não se faz necessário, pois modifica em pouco o vocabulário 1 25.0 Não terá efeito na prática 3 75,0 Atrapalha quem já está alfabetizado ou em fase de alfabetização 0 0,0 Total 4 100,0 Uma das maiores discussões da atualidade entre os críticos de língua e lingüistas é a necessidade da Reforma Ortográfica. Dentre os professores entrevistados, 75% (setenta e 33 cinco por cento) acreditam que a reforma não terá nenhum efeito na prática. Segundo coluna do site www.folhadomate.com.br, a reforma ainda não supre as principais diferenças. “(...)as transformações agora introduzidas, ainda não eliminam todas as diferenças de grafia existentes entre os países que, a partir de Portugal, utilizam este como a sua língua oficial. Restando ainda, o fato inegável de que muitas palavras que são utilizados nos mesmos, possuem sentidos diversos do que nos demais, e pronúncias de muitas também apresentam diferenças entre os nativos destes países, fatos derivados da formação cultural e histórica destes povos.” Tabela 2. Dados referentes à opinião quanto à melhora do intercâmbio cultural e científico entre os países da CPLP. Número de Opções % respostas A mudança em muito pouco facilita no entendimento das palavras. 0 0,0 O entendimento fica mais claro com a mudança 1 25,0 Não mudará nada, visto que a reforma não ajuda nem atrapalha. 1 25,0 Complicará para as pessoas que já estão alfabetizadas 2 50,0 Total 4 100,0 Quanto ao intercâmbio que a reforma proporcionará, os entrevistados se dividem, alguns consideram que o entendimento de livros exportados ficarão mais fáceis, outros acham que nada mudará conquanto outros acreditam que as mudanças atrapalharão quem já está alfabetizado. Mas segundo Evanildo Bechara, em entrevista dada a jornalista Içara Bahia em 13 de março de 2009, o índice de alfabetização não é um problema de língua, e sim político: “(...)não é um problema de língua, é um problema de política educacional. É um problema que não é da Academia, mas do Ministério da Educação e do Ministério da Cultura. A ortografia não melhora a alfabetização de ninguém. Você não faz uma reforma ortográfica para melhorar o índice de alfabetismo. Ajuda, mas não é. O problema de um país ter 50% de analfabetos não é um problema de língua, é um problema de política educacional. Alguma coisa está errada na educação do país. Não é a Academia que vai solucionar, é o Ministério da Educação, o Ministério da Cultura.” Tabela 3. Dados referentes à opinião quanto à necessidade de se fazer uma reforma unificadora, visto as disparidades entre as duas grafias oficiais do português. Número de Opções % respostas As diferenças são ínfimas e sem necessidade de reforma 2 50,0 Devido a uma grande diferença se fez necessária a reforma. 0 0,0 As diferenças são grandes, mas não ao ponto de realizar uma reforma. 0 0,0 A unificação não é necessária, mas iguala as diferenças. 2 50,0 34 4 Total 100,0 Os dados se dividem 50% (cinqüenta por cento), mas se assimilam quanto a não necessidade de fazer uma reforma unificadora. Alguns consideram as diferenças ínfimas, enquanto outros acham que todas as diferenças serão supridas. Segundo dados disponibilizados pela Academia de Lisboa, apenas 1% do vocabulário será alterado. Tabela 4. Dados referentes à opinião quanto à “destruição” da identificação cultural, as diferentes grafias, por parte da unificação. Número de Opções % respostas A unificação destruirá o caráter peculiar de cada língua, visto que cada uma se desenvolveu de acordo com as necessidades de seus falantes. As diferenças são desvios dos falantes, pois a língua se desenvolve igualmente independente do local. As grafias são identificação cultural, mas a unificação não destruirá isso. A fonética não será alterada, não alterando assim a identificação cultural. Total 3 75,0 0 0,0 1 0 4 25,0 0,0 100,0 Segundo a maioria dos entrevistados, as mudanças destruirão o caráter peculiar da língua, que é a identificação de um povo, considerando que a língua se desenvolveu de acordo com a necessidade e com o ambiente em que é falada. No entanto, podemos considerar que as mudanças são superficiais, isto é, mudam-se os acentos, a maneira de se escrever certas palavras. O caráter de uma língua está na maneira de como ela é tratada, falada pelos seus usuários. O significado das palavras não serão alterados, isto é, o que uma palavra transmite como significado em um país pode não significar o mesmo em outro, mantendo sua característica de origem, porém, possuindo a mesma grafia. Tabela 5. Dados referentes à opinião quanto ao aumento do alfabeto para 26 letras e a retirada do trema. Número de Opções % respostas As letras introduzidas não influenciam em nada, pois já eram utilizadas. 1 25,0 A retirada do trema dificultará a pronúncia de certas palavras. 2 50,0 As letras acrescentadas influenciam no campo da escrita, visto que com mais letras variar-se-á o vocabulário. A supressão do trema foi útil, pois só dificultava na hora da leitura e da pronúncia. Total 0 0,0 1 25,0 4 100,0 A maioria considera que a retirada do trema ocasionará problemas quanto à pronúncia das palavras afetadas. Considerando que o trema é um diacrítico usado para alterar o som de uma vogal ou para mostrar a independência dessa vogal com relação as outras, 35 podemos concluir parcialmente que o seu desaparecimento pode ocasionar problemas. Entretanto, temos que avaliar que existem os já alfabetizados e os que estão em fase de alfabetização. Para Evanildo Bechara “(...) aqueles que estão começando a escrever vão ser beneficiados porque o acordo simplifica muito. O acordo torna a ortografia portuguesa mais simples nos seus grandes problemas(...)” Tabela 6. Dados referentes à opinião em relação à mudança que visa aproximar a forma escrita com a forma falada. Número de Opções % respostas A reforma não é necessária, pois não altera a forma falada. 0 0,0 A reforma é importante, pois unifica as grafias, mesmo não alterando a fala. 3 75,0 Alterando a escrita, altera-se também a forma de falar. 0 0,0 As mudanças deveriam ser outras já que o objetivo era aproximas a escrita da fala. Total 1 25,0 4 100,0 A reforma é considerada importante por 75%(setenta e cinco por cento) pois consideram que a unificação da grafia é importante, mesmo a reforma não alterando a fala. Podemos analisar tal contexto levando em consideração que dentro do território brasileiro, onde todos os falantes se usam de uma única grafia oficial existem diferentes modos de falar. 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS 37 REFERÊNCIAS CAMÕES, Luiz Vaz de. Os lusíadas. Lisboa: Verbo. 1972 CORTESÃO, Jaime. A expedição de Pedro Álvares Cabral e o descobrimento do Brasil. Lisboa: Portugália, 1967. CUNHA, Celso. CINTRA, Lindley. Nova Gramática do português contemporâneo. – 3ª. ed. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da Língua Portuguesa. –11ª. ed. - Rio de Janeiro: FAE 1986. SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática. – 11ª. ed. - São Paulo: Atual 1990. SAVIOLI, Francisco Platão. Gramática em 44 lições. – 32ª. ed. - São Paulo: Ática, 2004. SPINA, Segismundo, História da Língua Portuguesa III-segunda metade do século XVI e século XVII 1ª. ed. – São Paulo: Ática. TÓFOLLI, Daneila. Folha de S.Paulo, cotidiano, segunda-feira, 20 de agosto de 2007. 38 VIANA, Moacir da Cunha. Novo dicionário da língua portuguesa. – 1ª. ed. - São Paulo: Didática Paulista. INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS, Escrevendo pela nova ortografia. 2ª. ed. – São Paulo : Publifolha, 2008. ELIA, Sìlvio. A língua Portuguesa no Mundo. 2ª. ed. – São Paulo : Ática, 1998. NETO, Serafim da Silva. História da Língua Portuguesa. 4ª. ed. – Rio de Janeiro : Presença/INL, 1986. TEYSSIER, Paul. História da Língua Portuguesa. 1ª. ed. – São Paulo : Martins Fontes, 1997. COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de gramática histórica. 1ª. ed. – Rio de Janeiro : Ao livro técnico, 1976. 39 ANEXOS PALAVAS COMPOSTAS ELEMENTOS OU PALAVRAS Compostas comuns REGRAS 1. Usa-se hífen nas palavras compostas comuns, sem preposições, quando o primeiro elemento for substantivo, adjetivo, verbo ou numeral. EXEMPLOS Amor-perfeito, boa-fé, guarda-noturno, guarda-chuva, criado-mudo, decreto-lei. OBSERVAÇÕES; SAIBA MAIS A) Formas adjetivas como afro, luso, anglo, latino não se ligam por hífen: afrodescendente, eurocêntrico, lusofobia, eurocomunista. B) Mas com adjetivos pátrios (de identidade), usa-se o hífen: afro-americano, latino-americano, indo-europeu, ítalo-brasileira, anglo-saxão. C) Se a noção de composição desapareceu com o tempo, deve-se unir o composto sem hífen: pontapé, madressilva, girassol, 40 paraquedas, paraquedismo (perdida a noção do verbo parar); mandachuva (perdida a noção do verbo mandar). D) Demais casos com para e manda usam hífen: para-brisa, para-choque (sem acento no para); manda-tudo, manda-lua. E) Compostos com elementos repetidos também levam hífen: tico-tico, tique-taque, pingue-pongue, blá-blá-blá. F) Compostos com apóstrofo também levam hífen: cobra-d'água, mãe-d'água, mestre-d'armas. Nomes geográficos antecedidos de grão, grã ou verbos 2. Usa-se o Grã-Bretanha, hífen em Grão-Pará, nomes Passa-Quatro. geográficos compostos com grã e grão ou verbos de qualquer tipo. Demais nomes geográficos compostos não usam hífen: América do Norte, Belo Horizonte, Cabo Verde. (O nome Guiné-Bissau é uma exceção). Espécies vegetais/ animais 3. Usa-se o hífen nos compostos que designam espécies vegetais e animais. bem-te-vi, bem-me-quer, erva-de-cheiro, couve-flor, erva-doce, feijão-verde, coco-da-baía, joão-de-barro, não-me-toques (planta). Se a palavra for usada em sentido figurado, não leva hífen: Ela está cheia de não me toques (melindres). Mal 4. Usa-se hífen com mal antes de vogais ou h ou l. mal-afamado, mal-estar, mal-acabado, mal-humorada, mal-limpo. A) Escreva, porém: malcriado, malnascido, malvisto, malquerer, malpassado. 41 B) Escreva com hífen no feminino: má-língua, más-línguas. Além, aquém, recém, bem, sem 5. Usa-se hífen com além, aquém, recém, bem e sem. além-mar, aquém-oceano, recém-casado, recém-nascido, bem-estar, bem-vindo, sem-vergonha. Quando o bem se aglutina com o segundo elemento, não se usa hífen: benfeitor, benfeitoria, benquerer, benquisto. Locuções 6. Não se usa hífen nas locuções dos vários tipos (substantivas, adjetivas etc). à vontade, cão de guarda, café com leite, cor de vinho, fim de semana, fim de século, quem quer que seja, um disse me disse. A) Certas grafias consagradas agora são exceções à regra. Escreva: água-de-colônia, arco-da-velha, pé-de-meia, mais-que-perfeito, cor-de-rosa, à queima-roupa, ao deus-dará. B) Outras expressões/locuções que não usarão hífen: bumba meu boi, tomara que caia, arco e flecha, tão somente, ponto e vírgula. C) Escreva também sem hífen as locuções à toa (adjetivo ou advérbio), dia a dia (substantivo e advérbio) e arco e flecha. Encadeamentos 7. Os de palavras encadeamentos vocabulares levam hífen (e não mais traço). Hífen no fim da 8. Quando cai linha no fim da linha, o hífen deve ser A relação professor-aluno. O trajeto Tóquio-São Paulo. A ponte Rio-Niterói. Um acordo Angola-Brasil. Áustria-Hungria. Alsácia-Lorena. Atravesso a ponte Rio-Niterói. Couve- 42 repetido, por clareza, na linha abaixo. -flor. Este quadro está apoiado nas obras: BECHARA, Evanildo. O que muda com o Novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2008. INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Escrevendo pela Nova Ortografia. Rio de Janeiro/São Paulo, Houaiss/Publifolha, 2008. GOMES, Francisco Álvaro. O acordo ortográfico. Porto, Porto Editora, 2008.
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