FCT

Transcrição

FCT
ESCRITA NA PAISAGEM É UM PROJECTO COLECÇÃO B
DIRECÇÃO ARTÍSTICA E DE PROGRAMAÇÃO ¬ José
Alberto Ferreira
ASSISTENTE DE PROGRAMAÇÃO ¬ Rita Valente
DIRECÇÃO DE PRODUÇÃO ¬ Diana Regal
DIRECÇÃO TÉCNICA ¬ Carlos Arroja
PRODUÇÃO EXECUTIVA
Eleonora Marzani, Joana Queirós, Rita Valente
ASSISTENTES DE PROJECTO
Daniel Moutinho, Kalinde Braga, Marcília
Rodrigues, Márcio PereiraMárcio Pereira
DESIGN GRÁFICO
David Francisco/Escrita na Paisagem
WEB DESIGN
Larapal.org
ESTRUTURA FINANCIADA POR
Ministério da Cultura / Direcção Geral das Artes
E POR
Direcção Regional de Cultura do Alentejo,
Associação de Municípios do Distrito de Évora,
Câmara Municipal de Arraiolos, Câmara
Municipal de Évora, Câmara Municipal do Fundão
ACOLHIMENTO
Câmara Municipal de Viana do Alentejo, Câmra
Municipal do Crato, Câmara Municipal de Sines
PROJECTO ASSOCIADO
INTERsection: intimacy and spectacle ¬ http://
www.intersection.cz
Quadrienal de Praga 2011 ¬ http://www.pq.cz/
en
PARCERIAS
Centro de História da Arte e Investigação Artística
(CHAIA)/Fundação Ciência e Tecnologia (FCT),
Universidade de Évora, Departamento de Artes
Cénicas/U. de Évora, Museu de Évora, Biblioteca
Pública de Évora, Pé de Xumbo, A Bruxa Teatro,
Associação Menhuim Portugal Projecto MUSEpe,
Cooperativa Teatro dos Castelos, Centro Cultural
Emmerico Nunes, Festival Músicas do Mundo, M’ar
de Ar Hotels
APOIOS
Fundação Eugénio de Almeida, Instituto Português
da Juventude / OTL, ERT – Turismo do Alentejo
APOIOS COMERCIAIS
Convento do Espinheiro, Hotel e Spa, Recicloteca,
Hotel Dom Fernando, Adega de Favaios, Herdade
de São Miguel
CO-PRODUÇÕES
António Pedro Lopes & Monica Gillette, Rita
Natálio, Teatro de Ferro, Teatro do Vestido
APOIO À DIVULGAÇÃO
Jornal Registo, Revista Alentejo, Lifecooler – Canal
Alentejo, Diana FM
CONTACTOS
Apartado 287
7002-504 Évora
www.escritanapaisagem.net
[email protected]
+ 351 266 704 236
+ 351 266953607
Abaixonado, Alda Salavisa, Alexandre David,
Ana Rocha, Ana Vitorino, André Pinto, André
Uerba, André Salvador, Andrea Inocêncio, António
Júlio, António Pedro Lopes, Antonio Tagliarini,
Bárbara Fonseca, Blue Moustache, Brad Garton,
Carlos Arroja, Carlos Costa, Carlos Marques,
Carlos Martins, Carlos Rodrigues, Catarina
Lopes, Chiara Langani, Cie. Moglice - Von Verx,
Cláudia Miriam, Cláudio da Silva, Colecção B,
Colectivo SophieMarie, Cristina Rodrigues, Daniel
Garfo, Daniel Moutinho, Daria Deflorian, David
Francisco, Diana Pires, Diana Regal, DI-GA-BA,
Dinis Machado, DJ Spooky - That Subliminal
Kid, Eduardo Vinhas, Eleonora Marzani, Elisa
Pinto, Elliot Mercer, Eric de Sarria, Fanny &
Alexander, Filipa Leão, Frank Michel, Greg Taylor,
Gisella Mendonza, Gonçalo Alegria, Helena
Calvet, Henrique Calado, Inês Rosado, Inês Vaz,
INTERsection, Isabel Cartaxo, JIJEIS ALTEMENTE,
Joana Craveiro, Joana Neto, Joana Queirós, Joana
Velez, João Bastos, João Farelo, Jorge de Sousa,
Jorge Gonçalves, José Alberto Ferreira, Kaite
O’Reilly, Kalinde Braga, Lara Portela, Luciana Fina,
Luigi de Angelis, Luís Ribeiro, Marcília Rodrigues,
Márcio Pereira, Marcos López, Maria José Correia,
Mariana Sampaio, Margarida Alegria, Marco
Cavalcoli, Maria Gil, Mellissa Von Vépy, Monika
Frycová, Monica Gillette, Morgane Mastermann,
Nancy Rusek, Noémia Cruz, Nuno Lucas, Nuno
Veiga, Oficína do Feltro, Oficína Movimento,
Patrícia Galego, Paulo Pimenta, Paulo Ramos,
Pedro Almeida, Pedro Antunes, Pedro Carreira,
Pedro Francisco, Pedro Proença, Phillip Zarrilli, Rita
Natálio, Rita Valente, Rosinda Costa, Rubi Girão,
sal., Sofia Ramos, Sophie Pinto, Stephan Oliva,
Tânia Dias, Teatro de Ferro, Teatro do Silêncio,
Teatro do Vestido, Telma Santos, Terry Pender, Théo
Zackman, Tiago Gomes, Tiago Pereira, Tó Trips,
Ulf Ding, Vanda Cerejo, Vanda Rodrigues, Vera
Mantero, Visões Úteis
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Arquivo vivo
Escrever na paisagem é o gesto cultural mais continuada e
aprofundadamente repetido pelo ser humano na sua relação com
o território. Como num palimpsesto, sobrepõem-se ao longo do
tempo narrativas, pontos de vista e marcas de actividades que
são formas, espaços, pessoas e movimentos, ora presentes ora
ausentes, constituindo o que pode pensar-se como um imenso
arquivo geológico, mas também antropológico, político, cultural,
performativo, na exacta medida em que é dos homens, das suas
opções de vida e das suas práticas culturais e performativas que
resulta o que chamamos paisagem. O que lemos como paisagem, o
que escrevemos como paisagem.
A sétima edição de Escrita na Paisagem — festival de performance
e artes da terra olha para a paisagem à luz da ideia de Re:play.
Re:petição, arquivo, memória, documento, uma paisagem feita
ainda (sempre) da possibilidade de re:ler, re:fazer, re:ver. Isto é,
de performar o arquivo, atendendo ainda a tendências da cultura
contemporânea que passam pela re:masterização, pelo copy-paste,
pelo re:mix, pela fotocópia. Tudo isto sem esquecer o quanto de
re:petição há nas tradições, que se re:visitam encontrando nelas
mesmas as vias de re:novação.
Projectos vindos da cultura do re:mix como o de DJ Spooky –
That Subliminal Kid, ou da cultura electrónica, como no caso dos
PGT. Projectos de re:actualização, a partir de ou em confronto
com a sua memória documental ou artística, como os de Vera
Mantero — sobre cujo trabalho se promove uma exposição
documental — ou de Antonio Tagliarini e Daria Deflorian, sobre
a figura de Pina Bausch em Café Müller. Ou ainda a elaborada
condição documental das propostas do Teatro do Silêncio ou de
Dinis Machado, a poética especular do projecto da Cie. MogliceVon Verx ou a leitura crepuscular do On the road de Tó Trips e
Tiago Gomes. Presença forte têm também os projectos de criação
que claramente reflectem o conceito de Re:play, como os de Rita
Natálio ou António Pedro Lopes, as residências (Teatro do Vestido,
Pedro Antunes), as estreias (Teatro de Ferro) e os projectos da
plataforma Movimento Arriscado que pontuam a programação.
Duas exposições marcam esta edição do Festival. Em parceria com
o Museu de Évora, um diálogo entre Últimas Ceias quinhentistas
e as criadas por Marcos López (2001), Jorge de Sousa (2007) e
Noémia Cruz (1979-2010) coloca a re:petição do gesto redentor
no centro da problemática do Re:play. Já com Pedro Proença,
outra presença no Festival, a abordagem do tema é feita a partir
dos materiais re:visitados nas suas Saladas Tipográficas, usando
os espaços de vilas e cidades para se exporem livremente em
colagens e formas de presença radicais, no que quisemos designar
como ‘arte de guerrilha’.
Tempo ainda para referir a Escola de Verão, com Cie. Philippe
Genty (FR) e Phillip Zarrilli (UK), que este ano cresce em número
e intensidade ao conjugar as oficinas de formação com a criação
(ambos com apresentações públicas) e com a figura do artista
convidado a que Vera Mantero dá corpo nesta edição.
No quadro das iniciativas financiadas pelo Programa Cultura
da União Europeia, o Festival participa, entre 2010 e 2012 no
projecto INTERsection: intimacy and spectacle, integrado na
Quadrienal de Praga 2011, no âmbito do qual acolhemos a
realização de um simpósio Sobre Curadoria em Évora (27, 28 e 29
de Setembro 2010).
Pois tudo isto é Re:play (re:petição, re:novação), está assim
identificado o tom geral dos projectos que apresentamos nesta
edição do Festival, ao longo dos próximos meses de Julho, Agosto e
Setembro. Fazemos o festival para si. Esperamos contar consigo!
José Alberto Ferreira
Director artístico e de programação do Festival Escrita na
Paisagem
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(c) Michael Raz-Russo
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DJ SPOOKY
(USA)
THAT SUBLIMINAL KID
Sound Unbound
Conferência ¬ Demonstração
Lecture ¬ Demonstration
Grande Auditório da Universidade de Évora
1 de Julho ¬ July ¬ 15H
Duração ¬ Duration ¬ 90min
The Secret Song
Música ¬ Vídeo
Music ¬ Video
Colégio do Espírito Santo/Universidade de Évora
1 de Julho ¬ July ¬ 22H
Duração ¬ Duration ¬ 75min
Entrada livre ¬ Free entrance
Todas as idades ¬ All ages
“O DJ é, primeiro e acima de tudo, um coleccionador de
informação. Não se trata apenas do número de discos raros,
actualizações de software, ou aplicações para o iPhone que tens;
trata-se sim de juntar [todos estes elementos] e produzir com eles
algo interessante”
¬ DJ Spooky apud Sean Ryon, “DJ Spooky Talks the Secret Song,
Music Diversity”, in HIP-HOP DX REVIEW
“O que te passa pela cabeça quando atravessas a geometria
desgastada pela paisagem da nossa vida contemporânea
hipermediada (hypermediated), saturada de frequências? [...]
Roda, reconfigura, edita, transforma a forma. A composição
sonora contemporânea é um engenho “involutivo”. A história
desenrola-se à medida que os fragmentos vão sendo articulados.
¬ Paul D. Miller in RHYTHM SCIENCE
“Miller levanta questões essenciais e produtivas sobre a filosofia
que está por detrás da mixagem do DJ e sobre o papel que o DJ
desempenha na sociedade.”
¬ Doree Shafrir in PHILADELPHIA WEEKLY
Born in Washington D.C. in 1970, Paul D. Miller aka. DJ Spooky That Subliminal Kid is a New York based composer, multimedia artist,
and writer. He is a multi-tasking, trans-disciplinary conceptual artist,
bringing to the field of electronic music his eclectic education.
Paul D. Miller developed a whole philosophy around the DJ’s activity of
re:mixing and the role the DJ plays in society. According to the authorDJ, contemporary artistic creation is based on the flow of patterns in
sound and culture, being the artists’ creative activity based on assembling
and re:arranging the various cultural concepts and objects that surround
us, using technology and aesthetics to create something new, expressive,
and endlessly variable.
Paul D. Miller’s practical and theoretical works are deeply entangled and
are the product of an extremely rich and varied background. He mixes
his academic education in French Literature and Philosophy with his
wide musical culture and comes up with an eclectic aesthetics: a fusion
of hip-hop, jazz, Jamaican roots and DJ culture, with experimental
music and cinema, literature and contemporary art by some of the most
sophisticated thinkers of the last one-hundred years. He first conceived
his persona, DJ Spooky, (“spooky” given the eerie sounds of hip-hop,
techno, ambient, and the other music that he plays) as a conceptual art
“The deejay is a collector of information, first and foremost. It’s not
just about how many rare records you have or how many software
patches or iPhone applications, it’s about pulling [all of these
elements] together and making something interesting.”
¬ DJ Spooky apud Sean Ryon, “DJ Spooky Talks the
Secret Song, Music Diversity”, in HIP-HOP DX REVIEW
“What goes through your mind as you move through the geometric
fray of contemporary hypermediated life’s frequency drenched
landscape? [...] Rotate, reconfigure, edit, render the form.
Contemporary sound composition is an involution engine.[...] The
story unfolds while the fragments coalesce.”
¬ Paul D. Miller in RHYTHM SCIENCE
“Miller raises compelling questions about the philosophy behind the
DJ mix and the role the DJ plays in society.”
¬ Doree Shafrir in PHILADELPHIA WEEKLY
Nascido em Washington D.C. em 1970, Paul D. Miller aka DJ
Spooky - That Subliminal Kid é um compositor, artista multimédia,
e escritor sediado em Nova Iorque. Artista conceptual, multifacetado
e transdisciplinar traz ao mundo da música electrónica um conjunto
eclético de conhecimentos.
O seu trabalho como DJ não se resume simplesmente a pôr música a tocar
para entreter festas - vai muito para lá disso. Paul D. Miller desenvolveu
toda uma filosofia em torno da actividade de re:mixing realizada pelos
DJs, bem como sobre o papel que estas figuras desempenham na nossa
sociedade. No seu primeiro livro, Rhythm Science (2004), que alcançou
grande sucesso nas bancas, Miller apresenta um autêntico manifesto
sobre a sua percepção do mundo da arte: a criação artística faz-se de
fluxo de padrões de som e de cultura. Tomando a mixagem dos DJs como
modelo, o autor descreve como o artista, ao articular e restruturar vários
conceitos e objectos culturais que nos rodeiam, faz uso da tecnologia e
estética para criar algo novo, expressivo, e totalmente imprevisível. “A
história escreve-se à medida que os fragmentos vão sendo articulados”,
escreve Miller em Rhythm Science: “No mundo em que vivemos todos os
significados foram arrancados às suas origens e todos os sinais apontam
para um caminho que se constrói à medida que se vai percorrendo o
texto.” Este texto de que Paul D. Miller fala não é apenas o texto que
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conhecemos dos livros, mas antes o texto que é toda a paisagem que nos
rodeia. A paisagem cultural e multimédia, eclética e idiossincrática em
que vivemos hoje, e cujas peças DJ Spooky re:combina e re:cria para os
seus espectadores.
Segundo Paul D. Miller, a música é, para o DJ, um veículo, um meio
de transportar e disseminar informação; por outras palavras, um
instrumento de comunicação. Este conceito é posto em prática pelo
próprio autor, quando veste a pele de DJ Spooky: os materiais que utiliza
nas suas mixagens são captados da vida real, e “a música não é mais
do que um dos dialectos da linguagem criativa.” A linguagem artística
contemporânea não pode ignorar a tecnologia, lembra Miller, já que “esta
proporciona [ao artista] método e modelo; a informação disponibilizada
pela Internet, como os elementos de uma mistura, não ficam parados no
lugar. E a tecnologia é um meio que transporta a consciência do artista e
o mundo exterior”.
project, but later he came to regard it as an opportunity to reconstruct
the role of the DJ: an artist that stimulates the birth for new creative
languages.
Fully embracing Paul D. Miller’s musings on sound, rhythm theory,
and the role of the DJ in contemporary society, DJ Spooky’s last musicand-video project, The Secret Song, centers on the clashing relationship
between economy and globalization. DJ Spooky looks back at the 20th
century, approaching “history through lens of the sample” and presents
his comment on our changing world and its consequences in 21st century
music, economy, and global culture. In The Secret Song the sound plays
along and against the transaction of space, time, and commerce in both
individual and social histories, depicturing the world’s reaction to the ups
and downs of financial markets. Sound digs into the roots of an arbitrary
economy, examines existing ideas and articulates new ones through and
across the track list, placing the short sequences of sonic inquiry next to,
on top of, and underneath one another.
As dimensões práticas e teóricas do trabalho de Paul D. Miller implicamse mutuamente e são o produto de um conjunto extremamente rico e
variado de saberes e de conhecimentos. O autor articula o seu estudo de
literatura francesa e filosofia com uma vasta cultura musical, produzindo
uma estética multifacetada: uma fusão de hip-hop, jazz, música
jamaicana e cultura DJ, com música e cinema experimentais, literatura
e arte contemporânea, com as teorias de alguns dos pensadores mais
sofisticados dos últimos cem anos, tais como Deleuze, Guattari, Artaud,
Lefébvre, Virilio e Adorno. Começou por conceber a persona a que deu o
nome “DJ Spooky”, (“spooky” [assustador] devido aos sons estranhos e
arrepiantes da música hip-hop, techno, ambiente, e outras que costuma
utilizar), como um projecto de arte conceptual, mais tarde, no entanto,
começou a abordá-lo como oportunidade para re:construir o papel do DJ:
um artista que estimula a criação de novas linguagens artísticas.
“Spooky” é também o nome de uma das personagens do romance Nova
Express (1964), escrito por William S. Burroughs. O enredo é difícil
de relatar, mas é interessante notar que Burroughs escreveu esta obra
empregando o método “cut-up”, agregando fragmentos de diferentes
textos num romance. O método “cut-up” é uma técnica literária aleatória
na qual um texto (ou vários) são cortados ao acaso em secções mais
pequenas, sendo depois rearticulados para criar um novo texto. Este
é precisamente o procedimento que está na técnica de re:mixing, e é
precisamente o que a persona de Paul D. Miller, DJ Spooky faz: ele é
um mago do re:mix, não apenas alguém que põe discos a tocar uma e
outra vez. DJ Spooky é hoje um nome artístico mundialmente conhecido,
dado o seu contributo continuado e sempre em desenvolvimento para a
cultura re:mix que todos experienciamos. Com a sua abordagem multimedia, que inclui vídeo, som e imagem, DJ Spooky estabelece ligações
surpreendentes entre tempos, culturas e estilos distintos, criando objectos
totalmente novos.
É quase impossível elencar todos os trabalhos e colaboração de DJ
Spooky. As suas criações de arte multimédia já foram exibidas em
contextos tão variados como a Bienal de Veneza, o Andy Warhol Museum
de Pittsburgh, a Bienal do Whintey Museum of American Art (Nova
Iorque), o Ludwig Museum em Colónia, e a Kunsthalle em Viena. Os
seus ensaios e artigos já forma editados em publicações como Ctheory,
The Source, Artforum e The Village Voice. Já tocou com Arto Lindsay,
Iannis Xenakis, Ryuichi Sakamoto, Butch Morris, Kool Keith aka Doctor
Octagon, Pierre Boulez, Philip Glass, Steve Reich, Yoko Ono, e Thurston
Moore dos Sonic Youth, entre muitos outros. Até à data, o projecto de
Paul D. Miller que alcançou maior notoriedade terá sido Rebirth of a
Nation (2004), uma obra que reinventa e reestrutura o polémico filme
Birth of a Nation de D. W. Griffith.
Em 2008 Paul D. Miller publicou o seu segundo livro, Sound Unbound,
uma colecção variada de ensaios sobre re:mix: a forma como a música,
arte e literatura esbateram as fronteiras entre o que um artista pode fazer
e o que um compositor pode criar. Em Sound Unbound artistas e autores
como Brian Eno, Chuck D, Pierre Boulez, e Jonathan Lethem descrevem
o seu trabalho e estratégias de composição, em ensaios que abordam
o som a partir de uma variedade de perspectivas: cósmica, química,
política e económica.
Em plena sintonia com as reflexões de Paul D. Miller sobre som,
teoria do ritmo, e concepção do papel que o DJ desempenha na
sociedade contemporânea, o último projecto de vídeo e música de DJ
Spooky, The Secret Song (Canção Secreta), foca-se no choque entre
economia e globalização no som. DJ Spooky observa o século XX em
retrospectiva, abordando “a história através do sample”. The Secret
Song é o comentário de DJ Spooky ao nosso mundo em transformação
e às consequências que se reflectem na música, economia e cultura
global do século XXI. Os autores e obras que lhe servem de inspiração
e de referência teorica vão dos autores clássicos da economia como
Adam Smith e John Maynard Keynes, à Theory of the Leisure Class de
Thorstein Veblen, passando pela relação entre o hip-hop e a psicanálise
e o conceito de “manufacture of consent” (“consenso fabricado”, i.e. a
manipulação da opinião pública através dos media) de Edward Bernay.
A lista de materiais e colaborações que figuram no álbum desta peça é
extremamente variada: de Thurston Moore dos Sonic Youth a Vijay Iyer,
passando pela lenda da velha-escola do hip-hop africano Zimbabwe
Legit, o impressionante turntablism de Rob Swift (o líder dos The
Xecutioners), e pelo hip-hop político de The Coup, The Jungle Brothers,
a celebrada cantora iraniana Sussan Deyhim (que canta em farsi), e
Abdul Smooth da Índia.
Em The Secret Song o som desenha relações de colaborações e oposições
com as transacções de espaço, tempo, e comércio, das histórias
individuais e sociais, ilustrando a reacção do mundo às subidas e
descidas dos mercados financeiros. DJ Spooky apresenta-nos uma playlist
de ‘interrogações sónicas’, guiando-nos numa reflexão sobre as regras
(tantas vezes arbitrárias) da nossa economia global.
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JOANA CRAVEIRO
(PT)
À Transparência
Teatro
Theater
3º Ano do curso de Teatro
Antiga Fábrica dos Leões, Universidade de Évora
2 e 3 de Julho ¬ July ¬ 21H30
Duração ¬ Duration ¬ 120min
Lotação ¬ Max. Seats ¬ 40 lugares
Todas as idades ¬ All ages
Entrada livre ¬ Free entrance
Direcção ¬ Joana Craveiro
Co-criação, Interpretação, Escrita ¬ Margarida Alegria, Kalinde Braga, Henrique
Calado, Tânia Dias, Rubi Girão, Ana Lopes, Cláudia Miriam, Daniel Moutinho,
Diana Pires, Cristina Rodrigues, Marcília Rodrigues, Joana Velez, Théo Zackmann
Desenho de luz ¬ Paulo Ramos ¬ Joana Craveiro
Direcção Montagem ¬ Paulo Ramos
Produção executiva ¬ Cristina Rodrigues
Produção ¬ Festival Escrita na Paisagem
Quando a nossa imagem ficava gravada nós tornávamo-nos aquilo. Mas
depois não queríamos ser aquilo e íamos lutar para rasgar uma a uma
todas as fotografias onde tivéssemos ficado aprisionados. No tempo em
que eles nos fotografavam sem pedir, no tempo em que nós posávamos
para as fotografias sem saber, no tempo em que eles ainda nos podiam
subornar com dinheiro (para pastilhas) para vestirmos o vestido dos
laçarotes, ou para pentearmos o cabelo, ou para nos mostrarmos
apresentáveis. No tempo em que éramos apresentáveis. No tempo em que
ainda não utilizávamos essa expressão ‘no tempo’. Um dia veio parar
às nossas mãos um conjunto de fotografias de pessoas que não sabemos
quem são. Um dia começámos a escrever-falar sobre isso.
À Transparência (See through) is the result of the creative process
directed by Joana Craveiro with the senior undergraduate students
of the BA Theater of University of Évora. A work that brings together
autobiography, memory, the act of photographing, and the students’
everyday experiences of living in Évora.
Joana Craveiro
Joana Craveiro é actriz, encenadora e co-fundadora e directora artística
do Teatro do Vestido. Concluiu, em 2004, o Master of Drama em
Encenação, da Royal Scottish Academy of Music and Drama, de Glasgow.
Licenciada em Antropologia pela Universidade Nova de Lisboa, FCSH,
foi professora de Interpretação na Escola Superior de Teatro e Cinema,
entre 2004 e 2006, e na Royal Scottish Academy of Music and Drama,
em 2004. Neste ano, ganhou o prémio de encenação Avrom Greenbaum,
da Royal Scottish Academy of Music and Drama. Concluiu, em 2006,
o 2º Curso de Encenação da Fundação Calouste Gulbenkian, sob a
direcção do Professor Alexander Kelly, da companhia Third Angel. Na
Escócia, em 2003, foi assistente de encenação de Graham Eatough, da
Suspect Culture Theatre Company. Tem trabalhado como dramaturga
para diversos criadores. Dirige, desde Outubro de 2006, juntamente com
os membros do Teatro do Vestido, o projecto pedagógico Zonas.
Um dia já éramos aquelas pessoas, ou aquelas pessoas permitiram-nos
começar a falar de nós. Um dia demos por nós a utilizar a expressão ‘um
dia’. Porque de repente era tudo no passado, eram tudo especulações
sobre a vida de outros. Depois trouxemos as nossas fotografias. Um
conjunto delas. Depois instalámos uma parede que éramos nós. Depois
fomos para a rua com a tarefa específica de fazer uma visita guiada a um
local.
Depois a expressão ‘depois’ tornou-se obsoleta, e foi aí que nos pusemos
a repetir coisas. Ideias, textos, cenas. De repente éramos máquinas de
fixar momentos. O nosso corpo era isso. A máquina da qual queríamos
falar, o processo sobre o qual era o nosso exercício - o de fixar momentos
- éramos afinal nós. Nós, que ainda não tínhamos nascido para esta
evidência: o que nós vemos não está lá; realmente, queremos nós dizer.
Inventamos o que vemos, construímos o que vemos, e está tudo bem,
aceitamos as ficções como parte natural da vida. Os nossos olhos são uma
máquina de fixar memórias. A nossa cabeça é uma máquina de as editar.
Ou, pelo menos desejaríamos que assim fosse. Na verdade, nós não somos
realmente máquinas. Somos só transparentes.
À Transparência é o exercício final da Licenciatura em Teatro da
Universidade de Évora. Estamos a construí-lo como espécie de épico do
olhar e da memória, estamos a fazer este percurso de nos encontramos na
sua construção. Há diversas partes: Prólogo, Câmara Escura, Estúdio de
Revelação, Lá Fora.
O exercício teve como ponto de partida a fotografia, o acto de fotografar,
a memória, a prática autobiográfica no contexto performativo e o mapear
da cidade.
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TEATRO DE FERRO
(PT)
Ópera dos cinco —
Teatro
Theater
Pátio do Chão das Canas (frente ao Teatro Garcia de Resende), Évora
7 e 8 de Julho ¬ July ¬ 22H
Estreia ¬ Premiere
Duração ¬ Duration ¬ 120min
M/12 ¬ 12A
Entrada livre ¬ Free entrance
Texto, dramaturgia e canções ¬ Regina Guimarães
Encenação e cenografia ¬ Igor Gandra
Figurinos ¬ Diana Regal
Marionetas ¬ Júlio Alves
Movimento ¬ Carla Veloso
Desenho de luz ¬ Teatro de Ferro
Interpretação ¬ António Oliveira, Igor Gandra, José Pedro Ferraz, Julieta Rodrigues,
Rodrigo Malvar e Rosário Costa; [participação especial] Carlota e Matilde
Fotografia de Cena ¬ Susana Neves
Design Gráfico ¬ CATO
Direcção de Montagem ¬ Virgínia Moreira
Oficina de Construção ¬ Gil Rovisco, Virgínia Moreira, Nuno Bessa e
Américo Castanheira – Tudo Faço
Produção ¬ Teatro de Ferro
Co-produção ¬ Teatro de Ferro, Teatro do Frio, Radar 360, Festival Escrita
na Paisagem, FIMP – Festival Internacional de Marionetas do Porto e Teatro
Nacional São João
O Teatro de Ferro é uma estrutura financiada pelo MC / DG Artes
O que é que acontece quando um grupo de artistas saltimbancos se
instala numa praça da cidade? A nova criação do Teatro de Ferro(TdF)
chega ao centro histórico de Évora com a vitalidade e o romantismo dos
nómadas, para um espectáculo ao estilo popular que incita a participação
do público. Numa re:conversão de moeda da ópera de B. Brecht, a Ópera
dos cinco € “tenta tirar da gaiola dos especialistas e das especialidades
alguns temores, inquietudes e fechamentos que nos afectam a todos na
sociedade contemporânea [...], construindo um tempo diferente – aquele
de um mundo ambulante, em trânsito, de um mundo gema dentro de um
ovo de Colombo, e permitindo uma outra maneira de estarmos juntos”
(TdF). As lógicas de criação deste “Brecht rap - techno weill” re:fletem a
tensão entre (um)a disciplina e um desejo de transdisciplinaridade,
procurando as relações entre a palavra dita e a cantada e entre a canção e
o movimento. Promete grande animação para todos, em plena praça!
TdF desenvolve trabalho nos campos do teatro de marionetas e
manipulação de objectos, movimento e multimédia, sendo na fusão
destes elementos que forja o seu vocabulário teatral, performativo e
interventivo. A direcção artística é da responsabilidade de Igor Gandra,
distinguido e premiado pelo Clube Português de Artes e Ideias (1997),
Ministério da Cultura/DGArtes(2004), Cidade de Gaia (2005) e Jornal
do Centro (2005).
Teatro de Ferro (TdF) presents a popular-style show that encourages
the audience participation. In a currency exchange-re:convertion of B.
Brecht’s opera, Ópera dos Cinco — (Five — Opera) “tries to take out
of the cage of experts and expertises some of the fears, anguishes and
isolation that affect us all in contemporary society [...], conceiving a
different time – that of a wandering world, in transit, the yolk inside a
Colombo’s egg, and allowing another way of collective gathering” (TdF).
The creative logics of this “Brecht rap - techno weill” re:flects the tension
between a/the discipline and desire for transdisciplinarity, in a quest for
the relationship between the uttered and sang word, as well as between
song and movement.
9
On The Road, The Jack Kerouac
Música ¬ Performance
Music ¬ Performance
Espaço Celeiros, Évora
8 de Julho ¬ July ¬ 00H
Entrada livre ¬ Free entrance
TÓ TRIPS & TIAGO GOMES
(PT)
Tó Trips (guitarra e efeitos vários) e Tiago Gomes (leitura) re:visitam o
mítico livro de Jack Kerouac num concerto que reenvia para a viagem de
todas as viagens, para a route 66 e para a América de todos os sonhos.
Com o vídeo-beat de Raquel Castro em fundo, o espectáculo faz ecoar
nas palavras de Kerouac todas as estradas do mundo, vias rápidas,
estradas secundárias, deserto, cidades perdidas na noite e becos sem
saída.
Tiago Gomes
Tiago Gomes nasceu em 1971, tem quatro livros de poesia editados e
esgotados. Letrista do grupo A NAIFA e LINHA DA FRENTE. Vocalista
e letrista do grupo OS INSPECTORES. Editor e produtor da revista
BÍBLIA. Fundador da Galeria ZDB. Performer há muito dedicado à
poesia em acção. Também conhecido, quando põe música, como DJ
VAIPES. Produtor de festas com bandas e djs.
Mais informações em:
www.myspace.com/revista_biblia
www.myspace.com/totripsguitar
www.revista-biblia.com
Tó Trips (guitar and various sound
effects) and Tiago Gomes (reading)
re:visit the mythic book by Jack
Kerouac, in a concert that leads us
into the journey of all journeys, to
Route 66 and the America of all
dreams. With the video-beat by
Raquel Castro as background, the
show echoes all the world’s roads, all
speed ways, secondary roads, desert,
cities lost in the night, and dead
ends.
Tó Trips
Nascido em Lisboa em 23 de Janeiro de 1966, Aquário, Cavalo de fogo.
Desde 1986 que tem bandas, nos 80’s os AMEN SACRISTI, nos 90’s os
SANTA MARIA GASOLINA EM TEU VENTRE, dos quais gravou um
maxi que foi reeditado à dois anos pela SABOTAGE. Integrou durante
dez anos os LULU BLIND, com os quais editou 3 álbuns: DREAD,
BLAST, FOGE DE TI. Fez igualmente parte dos HI FI Jï e dos THE
TYSONS. Em 2001 fundou uma banda chamada DEAD COMBO, a
qual gravou 4 discos, GUITARS FROM NOTHING, VOL. I, QUANDO A
ALMA NÃO É PEQUENA, LUSITÂNIA PLAYBOYS. Tudo isto converte-se em centenas de concertos por Portugal, Espanha, Itália, França,
Holanda, Inglaterra e Alemanha.
Long live rock ‘n roll!
André Breton havia escrito em Les Pas Perdus um texto intitulado
“Largai Tudo”:
Largai tudo.
Largai Dada.
Largai a vossa mulher, largai a vossa amante.
Semeiai os vossos filhos ao canto de um bosque.
Largai a presa pela sombra.
Largai se necessário uma vida folgada, aquilo que vos é dado por uma
situação de futuro.
Parti pelas estradas fora.
10
MOVIMENTO ARRISCADO
A platform, a space to take risks, where young
creators are offered an opportunity to present
their works, some of them still in-progress,
and all driven by a will to overcome limits, to
experiment beyond the protected space offered
by education institutions.
In accordance with the main theme of the
Festival Escrita na Paisagem 2010 – re:play
– all projects presented within this context
will approach practices and strategies of
re:petition, re:creation, re:descovering,
re:reading, re:viewing, re:doing, re:make,
re:mix, re:novate, re:cycle, re:start, re:enact,
re:present, re:invent, etc.
Curadoria: Daniel Moutinho (PT) e Eleonora
Marzani (IT)
Plataforma de jovens criadores
vídeo, música, , performance, dança, poesia, conversas, festa...
video, music, performance, dance, poetry, talks, party...
Convento dos Remédios e Espaço Celeiros,
Évora
Já tudo foi dito, já tudo foi feito | nada se cria, nada
se perde, tudo se transforma.
Podemos fazer alguma coisa nova hoje? Estamos
condenados a re:petir-nos nas nossas criações,
dispondo camadas sobre camadas, para re:cuperar
esse húmus ilimitado, que nos precede e nos
sustém, mesmo que não tenhamos consciência da
sua existência. A criação artística contemporânea
mostra-nos que o que nos rodeia, nos domínios
do espaço e do tempo, não é uma matéria negra
que nos assoberba, reprime ou sufoca, mas antes
um horizonte aberto que se desdobra num vasto
conjunto de possibilidades, abertamente ao nosso
alcance.
Quais são as preocupações dos criadores de hoje
perante esta paisagem?
A procura de um confronto com o passado
abrangente é um dos estímulos partilhado pelos
artistas participantes neste Movimento Arriscado.
A busca de uma relação re:novada entre o corpo
humano e a arquitectura de Évora é a proposta
da Oficina Movimento, um laboratório de
introdução à dança contemporânea: explorar novas
possibilidades de nos re:posicionarmos na cidade,
dentro das suas paredes seculares, em particular as
do edifício do Convento dos Remédios. A história da
arte, em particular a história da performance e os
seus idolatrados ícones – como Yves Klein, Marina
Abramovic e Franko B –, inspiram re:criações,
transformadas em ecos por novas vozes, como são
os projectos-experiência incluídos em Kinda Li’l
MoMa e os trabalhos de Catarina Lopes e André
Salvador.
A análise da história pessoal é o ponto de partida
para a pesquisa sobre a identidade, um assunto
amplamente explorado pela criação artística das
últimas décadas, e que é igualmente explorada em
Movimento Arriscado. Uma tentativa de re:construir
a memória pessoal e a interacção entre passado
e presente, com base no arquivo familiar, é o que
alimenta a performance de Márcio Pereira.
Por outro lado, a memória de toda uma geração
pode ser recuperada através de uma arqueologia
dos “média”, como acontece no projecto de Carlos
Rodrigues ao transpor imagens de VHS para
formatos mais actuais, ou na sessão de Dj-Vj dos
Jijeis Altemente + Blue Moustache, inspirada nos
míticos videojogos dos anos 80 e 90. De memórias
(mesmo recentes) se alimentam ainda projectos
como os dos alunos de electroacústica (alunos e
professor da Universidade de Évora), a abordagem
noise dos Psychotic Kindergarten, ou os processos
utilizados em Symbol Transfer, a circular entre
fotografia, infografia e som.
Há projectos de percepção e fruição imediata, com
os quais todos se podem identificar, e também
projectos que nos pedem abandono – como as
atmosferas musicais de Di-Ga-Ba. Por outro lado,
também há trabalhos que re:querem a concentração
do público, uma observação e audição participativas
e atentas, como é o caso dos vídeos de André Uerba,
e a performance de Bárbara Fonseca e Telma
Santos.
Se há materiais, objectos, sons e corpos que
procuram o confronto-choque, há também
um grupo de artistas que aposta em jogos de
ambiguidades e justaposições de diversas realidades.
Assim, assistimos à construção de ficções, mundos
e personagens, como na performance Segura-te
ao meu sofá e À prova de fogo e de bala (Ai! A
Super-Artista incógnita). Brincar com o efémero
é a premissa de base da escultura-instalação de
Maria José Correia. Um trabalho feito em pão, que
perturba assim o conceito de escultura como arte
produtora de objectos eternos.
Assim, o programa de Movimento Arriscado
desdobra-se em projectos cujas premissas são criar
algo de novo, partindo de regras pré-estabelecidas,
libertas do passado e de pré-determinações, sem
caminhos já percorridos, procurando novas formas
de espontaneidade.
Dois são os palcos onde o Movimento Arriscado
tem lugar: o Convento dos Remédios e os
Antigos Celeiros da EPAC. O primeiro, votado
à arqueologia, é um espaço ainda por explorar
pela arte contemporânea e cheio de possibilidades
para a criação artística. O segundo, já conhecido
pelas gerações mais jovens, é apresentado com
uma imagem re:novada. Graças à colaboração
entre os agentes artísticos com base nos Antigos
Celeiros da EPAC – PédeXumbo, A Bruxa Teatro,
Festival Escrita na Paisagem e Pachamama – todo
o bloco, os edifícios, e a área circundante acolheram
projectos de performance, música, vídeo, instalação,
e CE-LE-BRA-ÇÃO! Movimento Arriscado é tudo
isto e muito mais: um movimento fluido, irrequieto,
irreprimível, imparável e sempre no fio na navalha.
Vivemos num caldeirão de referências. E nem
por isso precisamos de sucumbir, pois há sempre
uma maneira de seguir em frente. Cada um destes
projectos procura o seu caminho, e é isso que aqui
se mostra.
Eleonora Marzani
Movimento Arriscado é uma plataforma promovida
pela primeira vez no âmbito do Festival Escrita
na Paisagem, cujo tema deste ano é o re:play.
Através desta plataforma, o festival perpetua o seu
compromisso, a sua aposta nos novos criadores.
É uma plataforma de emergência. Em primeiro
lugar, porque faz emergir na sua programação um
espaço que se preocupa verdadeiramente com as
interrogações artísticas dos jovens criadores, em
dar-lhes visibilidade, em assisti-los no caminho
que procuram traçar. Em segundo lugar, porque
urge a problemática actual de uma política cultural
estruturada, que dê lugar e apoio aos novos
criadores que após terminarem a sua formação
académica, batalham por este mesmo espaço de
visibilidade que o festival oferece. Chama à atenção
de uma questão que devia ser de ontem. O que fazer
com os novos criadores? Que política cultural tem
o país, ou mais localmente, a cidade, que permita
a estes novos criadores fazer o seu trabalho e dessa
forma contribuir para a cultura local e nacional?
Lançámos o desafio a inúmeros jovens criadores,
muitos dos quais estudam em Évora, para que
acordassem a cidade com a sua voz, com a sua
procura. Que fizessem parte da dinamização da
cidade, aproveitando esta plataforma como processo
de aprendizagem, como oportunidade de correr um
risco, ou de o traçar.
O Festival Escrita na Paisagem é, desde o seu
começo, uma casa que alberga os novos criadores
e que se orgulha disso. Serviu de casa para mim,
quando há três anos me abriu a porta e me deu
um lugar para eu crescer e aprender. Foi a minha
Universidade de Verão, mas mais que isso, foi
um despertador e ainda continua a sê-lo. Acorda
a cidade para mostrar o que ela, por norma, se
esquece de ver. Os jovens e a sua importância no
crescimento cultural, o caminho que eles percorrem,
o risco com que eles marcam o seu trabalho
artístico. São caminhos que se traçam, o Festival
escolheu este entre os muitos que vai percorrendo. E
como jovem só posso dizer: ainda bem que apareceu
no nosso caminho.
Daniel Moutinho
11
7JULHO
8JULHO
Tó Trips & Tiago Gomes
On the Road
Música e re:leitura do “On the
Road” do Jack Kerouac
00H, Espaço Celeiros
VER página 9
Oficina Movimento
E se as paredes fossem de carne?
Intervenção na cidade e na
arquitectura
6 de Julho, 19H, vários locais da
cidade, Évora
7 de Julho, 23H30, Convento dos
Remédios
O grupo de participantes da
Oficina Movimento – laboratório
de ferramentas de dança
contemporânea – deixa o estúdio
para procurar, através do corpo, um
diálogo com a cidade de Évora e a
sua arquitectura.
Márcio Pereira
Um enxoval cor-de-rosa para a
menina que não nasceu
Performance
22H, Galerias dos Celeiros (1º
andar)
João Farelo
Symbol Transfer
Vídeo projecção e som 23H, Convento dos
Remédios
Um ponto assinala num retículo de
paralelipípedos – que é também o mapa
abstracto de uma cidade – o lugar exacto
onde uma fotografia foi tirada. Esta
fotografia, trabalhada em estúdio, dá
origem a uma imagem que, submetida a
um processo de leitura por computador, se
‘transforma’ numa ‘imagem sonora’, num
percurso que nos leva a passar, de suporte
em suporte, da realidade documentada à
abstracção matematizada.
André Uerba
Birthdays
Vídeo-Instalação
23H, Espaço Celeiros
Uma re:criação do percurso
de construção da identidade
a partir de materiais da
autobiografia. Como se construiu
a personalidade à luz do olhar
condicionador do Outro e da
relação entre mãe e filho?
Dj 2old4School (Crew Hassan) +
Dj Deni Shain + Dj Sofa
Funk, Afro-Beat, Ska, Breaks,
Dubstep & Drum’n’Bass
1H, Espaço Celeiros
Em colaboração com Pachamama.
9JULHO
Mariana Sampaio, Alexandre David e Pedro
Antunes
Segura-te ao meu sofá
Performance
22H, Espaço A Bruxa Teatro
Eles vivem numa casa subalugada. Perderam
a sua cadela e passam muito tempo à janela
à espera que ela apareça, porém, não lhes
apetece sair de casa para procurá-la. Eles
têm um mealheiro que já tem trezentos euros,
queriam usá-los para uma nova máquina de
lavar roupa mas vão oferecê-los à pessoa que
encontrar a cadela. Enquanto esperam pelo
regresso de Laika, vêem filmes, comem, limpam
a casa, ouvem música e organizam as estantes.
12
Andrea Inocêncio
À prova de fogo e de bala (Ai! A
Super-Artista incógnita)
Performance
23H, Espaço Celeiros
Uma Heroína, inspirada em
personagens de banda desenhada,
identidades e estereótipos da figura
feminina: a Super-Artista Incógnita
aparece nas nossas noites como
simulacro da força e importância da
Mulher e da potência desconhecida
da Arte.
10JULHO
14JULHO
Trio Hugo Trindade
(Hugo Trindade - Guitarra,
Afonso Castanheira Contrabaixo e Javier del Barco –
Bateria)
Concerto de Jazz
23H, Espaço Celeiros
Em colaboração com
Pachamama.
Psychotic Kindergarten
Noise Jam
Concerto de música Noise
00H, Espaço Celeiros
Falamos de Ruído (Noise), antihumanismo, contra-cultura,
violência, terrorismo… Noise
começa onde a linguagem se
fina, não há espaço para a
intelectualização, não é suposto
fazer sentido. É a sua obliteração
de significado e de identidade
que o tornam erótico, extasiante
(literalmente)!
sal. aka Dj Start 2 Finish, Carlos Martins e
Morgane Masterman Abaixonado
Dj Set Pimba-Arraial-Mix / Festa dos Celeiros
em parceria com a Pé de Xumbo, a Bruxa
Teatro, Pachamama
a partir das 17H, Espaço Celeiros
Abaixonado traz a Évora a nova formação duo
com convidada: Morgane Masterman vem de
França dar um ar da sua graça. Carlos Martins
assegura as guitarras e coros, e sal. ruma à
vela deste navio descontrolado que é a vida
e palco. Depois, vestindo a pele de Dj Start
2 Finish, brindará os presentes com pérolas
dançáveis do nacional esquizofrenismo. É pular
e chorar por menos, senhores!
DI-GA-BA
Música improvisada
23H, Convento dos Remédios
Carlos Rodrigues
VHS is not dead ¬ Slide Identity
Trabalhos de instalação, vídeo e performance
a partir das 22H, Convento dos Remédios
Três músicos de Montemor-oNovo juntaram-se no projecto
DI-GA-BA para dar vida à
criações musicais que, com a
espontaneidade da improvisação
e através do uso de Mandalas
musicais, nos levam em intensas
viagens plenas de ambiências
sugestivas.
VHS is not dead
VHS is not dead é um projecto que visa a
re:cuperação e re:utilização de um antigo
suporte de armazenamento fílmico - o VHS de forma a testar o seu comportamento visual
aquando da modificação do formato de vídeo
4:33 para o formato 16:9.
15JULHO
Slide Identity
Um meio antigo como o slide, protagonistas
das documentações familiares nos anos Setenta
e Oitenta, é recuperado para projectar a
memória familiar sobre o corpo, que acolhe as
imagens da história que o precedem.
Kinda Lil’ MoMa
Jovens artistas propõem-se
analisar e re:fazer obras de
ícones da performance art, para
re:formular questões antigas e
novas através do corpo e da sua
presença viva.
Vanda Rodrigues e Sofia
Ramos
Kamasutra Machine
Performance
22H, Convento dos Remédios
13
Paulo Pimenta
Nude with Skeleton
Performance
22H Convento dos Remédios
Neste exercicio de re:petição da
homónima performance de Marina
Abramovic, um corpo nu de um
jovem artista repousa deitado com um
esqueleto sobre si próprio. Segundo
Abramovic, este é o último espelho
que todos deveremos encarar. Esta
re:visitação de uma peça clássica
da performance, remete-nos para o
permanente desassossego da relação
morte-vida.
16JULHO
André Salvador
Eu não quero morrer sem cicatrizes: de que
corpo é este rasto?
Performance
23H, Convento dos Remédios
Electromachine Night
Música electroacústica
00H, Convento dos Remédios
Esta performance não é para todos, embora
fale de todos nós, da nossa natureza de
carne e alma, e da complicada relação entre
os dois numa sociedade o onde o corpo é
funcionalidade e parece tumba da alma.
Nesta performance levada ao extremo, cujo
ponto de partida foi o trabalho do performer
italiano Franko B, surge uma interrogação
sobre o lugar do corpo: confrontado com a dor,
a mutilação, o sangue, o corpo perde o seu
funcionalismo e retorna à carne que, através
da purificação, procura libertar a alma.
Estudantes de composição
electroacústica da Universidade
de Évora, sob direcção do
professor Amílcar Vasques Dias,
apresentam as suas criações na
ambiência festiva do Pátio da
Romãs.
Catarina Lopes
O Yves Klein agora sou EuInquietação do movimento
estático
Performance
23H, Convento dos Remédios
Pedro Francisco
Música Improvisada
00H, Convento dos Remédios
Uma joven artista desafia o
seu público para um jogo de
movimento e cor sobre o papel,
numa re:visitação das célebres
Antropometrias de Yves Klein.
17JULHO
Maria José Correia
Última Ceia
Instalação/Happening
22H, Galerias dos Celeiros (1º
andar)
Uma escultura traz-nos o pão
da Última Ceia, para comermos
numa dimensão espectacular da
procura de nutrição visual e vital
que a Arte nos proporciona, neste
caso literalmente. Mas o Paraíso
não é fácil de alcançar...
Jijeis Altemente + Blue Moustache
Concerto/vídeo/dvj
23H, Espaço Celeiros
JIJEIS ALTEMENTE!!! (também já conhecidos
como J1J315 4L73M3N73, DJIDJIZ
OLTIMENTEI ou DIJEIS ALTAMENTE) dupla
de DJ’s de alto gabarito (DJ PIMPUÑETA e DJ
BADAMERDA) internacionalmente reconhecida,
aliam-se mais uma vez (como sempre e como
nunca poderá deixar de ser) ao grandioso
e háitéc VJ BLUE MOUSTACHE (também já
conhecido como BLEU MOUSTACHE, BIGODE
AZUL, BIGODANAS ou JOÃO DO BIGODE),
dia 17 de Julho para uma alucinante viagem
ao mundo dos videojogos de antigamente, que
Telma Santos e Bárbara Fonseca
Introdução
Performance
22H, Espaço A Bruxa Teatro
Da negociação entre a diferença, surge uma
partitura que acontece entre um corpo e uma
voz que se cruzam e se “tocam”. A dificuldade
na negociação. A problemática da decisão. A
falha como parte integrante do processo.
Esta Introdução põe em confronto dois
instrumentos que “colocam as cartas na mesa”
para começar a criação da obra, numa
exploração de possibilidades de conflito e
harmonia em interacção com o outro.
ainda eram todos feitos só de quadradinhos e
quando se morria tinha que se começar tudo
do princípio!
Isto num espectacular set musical e visual
para um bailarico à antiga, repleto de
acasalamentos casuais entre diferentes espécies
de personagens do imaginário colectivo.
Altemente e Blue Mustache prometem vir
cheios de surpresas na manga e malte no
copo prometendo assim uma noite diferente
e inesquecível ao ritmo do Super Mario em
drogas pesadas!!!
KURTE-SE, DIVERTE-SE, DRUNKEN
PORTUGUESE GUYS! JIJEIS ALTEMENTE
+ BLUE MOUSTACHE é a BANDA MINHA
PREFERIDA!
14
FESTA DA LÃ
(PT)
Festa da Lã
Evento Comunitário
Community Gathering
Largo da Vermelha, Bairro da Cruz da Picada, Évora
9 de Julho ¬ July ¬ 18H30
Todas as idades ¬ All ages
Entrada livre ¬ Free entrance
Projecto ¬ Colecção B - Oficina do Feltro
Com a colaboração especial ¬ Grupo Coral Feminino de Viana do Alentejo
Equipa da Oficina do Feltro ¬ Diana Regal, Elisa Pinto, Isabel Cartaxo, Helena
Calvet e Patrícia Galego
Parceria ¬ Associação Menuhin Portugal/Projecto MUSEpe
Apoios ¬ Junta de Freguesia da Malagueira, EB1 e JI da Malagueira, ADBES
At the Festa da Lã (Wool festival) a
fabric is stepped on and felted, with
the sound of Alentejo’s traditional
singing as soundtrack of the work.
A collective festival that counts with
the participation of Grupo Coral
Feminino de Viana do Alentejo and
with the neighbors from Bairro da
Cruz da Picada. Engaging local
community, we bring together
other traditional knowledge and
tastes, as there will be singing and
food typical from Alentejo. And
everybody is invited to participate in
this re:cuperation and re:invention
of traditional practices of felting into
a collective practice.
Na Festa da Lã pisa-se e feltra-se um têxtil, ao som dos cantares do
Alentejo. Uma Festa colectiva que conta com o Grupo Coral Feminino
de Viana do Alentejo e com os moradores do Bairro da Cruz da Picada.
Envolvendo a comunidade local, integramos outros sabores e saberes,
pois haverá também comida e cantares alentejanos. E todos são
convidados a participar nesta re:cuperação e re:invenção de formas
tradicionais de fazer feltro como uma prática colectiva.
O re:play é abordado por este projecto no re:tomar e re:trabalhar da
tradição – das técnicas tradicionais de trabalho do feltro ao
repertório do cante alentejano do Grupo Coral – e transformação
(re:ciclagem / re:utilização) da lã. Este processo seguindo as práticas
ancestrais de produção de tecido sem fio, distingue-se das formas mais
actuais de fazer feltro, sobretudo pela utilização mais imediata da lã sem
a sua transformação.
A Festa da Lã é uma das actividades desenvolvidas pela Oficina do
Feltro. Este projecto integra a plataforma de trabalhos de criação e
investigação artística e artesanal Formas de Fazer da Colecção B, que
visa a reabilitação do trabalho artesanal com as lãs locais, sobretudo a
partir da técnica de feltragem, mas também da fiação e da tecelagem.
Através das suas actividades, A Oficina do Feltro busca o encontro com
as “‘artes de fazer’ isto ou aquilo [...], práticas [que] põem em jogo
uma ratio ‘Popular’, uma maneira de pensar investida numa maneira
de agir, numa arte de combinar indissociável de uma arte de utilizar”
(Ana Paula Guimarães, B. I. do Zarapelho, Lisboa, Apenas Livros, 2004:
31 apud Michel de Certeau, L’Invention du quotidien).
15
ELLIOT MERCER(USA)
COM MÁRCIO
PEREIRA & AMIGOS(PT)
Homenagem à Judson Dance
Performance ¬ Dança
Performance ¬ Dance
Arraiolos, Évora, Fundão, Viana do Alentejo*
Festival Escrita na Paisagem ¬ Extensão de Sines
De ¬ From ¬ 12 de Julho ¬ July ¬ a ¬ to ¬ 22 de Agosto ¬ August
Todas as idades ¬ All ages
*Para mais informações sobre horários e localizações
*for more information contact
[email protected]
+351 266 704 236
In Hommage to the Judson Dance
Elliot Mercer brings to Alentejo a
project he started during last year
in New York, while he was studying
in the MA of the Performance
Studies (Tisch School of the Arts /
New York). This project consists of
reinventing performance events and
dance constructions by American
artists from the 1960s and ‘70s,
staged in outdoor locations. At the
Festival, Elliot Mercer will be joined
by Márcio Pereira and a group of
young participants.
Em Outubro de 2009 comecei a pesquisar e reinventar trabalhos de
performance e dança produzidas originalmente entre as décadas de
1960 e 70. Apresentadas em espaços exteriores, estas peças exploram
concepções alternativas de paisagens tanto públicas como privadas. Ao
fazê-lo, estas criações desafiam os espectadores a questionar as suas
relações com o espaço exterior, bem como a reconsiderar a forma como
interagem com outras pessoas, nestes mesmos espaços. O conjunto de
trabalhos de performance seleccionados para este projecto representam
um espectro diversificado de artistas com diversas formações, sendo que
muitos deles não são sequer considerados coreógrafos ou artistas da área
da dança. No entanto, escolhi referir-me a cada um destes trabalhos
como “dança”, fundando a minha opção no quanto estas peças se focam
num movimento de intervenção que pretende enfatizar, interromper,
perturbar e questionar a estagnação e sedimentação de noções de local,
espaço e coreografia social.
O processo de reinvenção de cada uma destas performances começa com
um estudo detalhado da documentação que os próprios artistas fizeram
dos seus trabalhos sob a forma de anotações publicadas, notas pessoais,
fotografias de arquivo, textos de artista, vídeos, e/ou entrevistas. Usando
estes documentos como moldura para o trabalho coreográfico, lançome na exploração das ideias e ideais destas peças. Para descrever esta
actividade, opto por adoptar o termo “reinvenção” de Helen Molesworth,
que descreve reinvenção como “uma forma de pensar o tempo e a
história. Uma reinvenção não é objectiva; é um apelo à interpretação.
A reinvenção questiona o significado das ideias do passado no presente
e quer que essas ideias sejam válidas, úteis, e talvez promotoras de
perspectivas críticas.”
Até à data, este projecto tem explorado e brincado com os trabalhos de
Trisha Brown, Lucinda Childs, Laura Dean, Simone Forti, Anna Halprin,
Allan Kaprow, Bruce Nauman, e Yoko Ono.
Elliot Mercer
Elliot Mercer, norte americano nascido na Califórnia, define-se como
coreógrafo-arquivista e bailarino-arquivista. A sua investigação prática
e teórica centra-se nas possibilidades de re:criar e re:actualizar peças
de performance e dança experimental americana produzida durante
os anos 60 e 70 – uma investigação sobre as possibilidades de trazer o
passado para o presente, arquivando-o nos corpos que o actuam. Foi
precisamente este o tema que esteve no centro do seu trabalho final de
mestrado, no Departamento de Performance Studies (Tisch School of the
Arts / Universidade de Nova Iorque), que concluiu em Maio de 2010.
16
VISÕES ÚTEIS
(PT)
A Comissão
Teatro
Theater
Conversa com os artistas
Meeting whith the artists
14 de Julho ¬ July
Apresentação
Presentation
Hotel D. Fernando, Sala de reuniões
15 de Julho ¬ July ¬18H e 21H30
Duração ¬ Duration ¬ 80min
Lotação ¬ Max. Seats ¬ 30 lugares
M/12 ¬ 12A
Texto e Direcção ¬ Ana Vitorino e Carlos Costa
Colaboração na Dramaturgia ¬ Nuno Casimiro
Figurinos e Adereços ¬ Inês de Carvalho
Banda Sonora Original e Sonoplastia ¬ João Martins
Desenho de Luz ¬ José Carlos Gomes
Infografismo e Audiovisuais ¬ João Martins / entropiadesign
Projecto Fotográfico ¬ Paulo Pimenta
Coordenação Técnica ¬ Luís Ribeiro
Produção Executiva e Direcção de Cena ¬ Joana Neto
Assistência de Produção ¬ Helena Madeira
Design Gráfico ¬ Entropiadesign a partir de imagem de Ricardo
Lafuente
Interpretação ¬ Ana Vitorino, Carlos Costa, Pedro Carreira e ainda
Joana Neto e Luís Ribeiro com a participação especial (em vídeo)
de Nuno Casimiro, João Teixeira Lopes, José Pinto da Costa, Miguel
Guedes, Alice Costa, Carolina Gomes, Raquel Carreira, Ana
Azevedo, João Martins e José Carlos Gomes
Produção ¬ Visões Úteis
Numa sala de reuniões de hotel, uma Comissão reúne-se em torno de
um “Plano de Acção”. O Comité Executivo (o elenco) recebe os restantes
membros da Comissão (os espectadores) para a delicada missão de
apresentar de modo convincente este “Plano”, preparado a partir do
“Programa Estratégico” previamente definido e aprovado. O objectivo
é obter uma maioria de votos. Ao longo da reunião exibem-se gráficos,
sobrepõem-se burocracias e debatem-se intrincadas terminologias,
instalando-se progressivamente a dúvida quanto à competência e isenção
dos principais responsáveis...
Esta bem humorada Comissão, estreada no âmbito do FITEI 2010,
questiona, re:produzindo e re:criando, a linguagem utilizada pelos
decisores políticos enquanto mecanismo de exercício de poder. Surge
como “Lado B” do espectáculo “Boom & Bang”, versado sobre as
circunstâncias que levaram à actual crise financeira e remete-nos para
os muitos “Planos de Acção” que proliferam por toda a Europa, para
desespero do cidadão comum. A Companhia Visões Úteis veste-se de fato
e gravata para nos proporcionar uma “visão politicamente útil” sobre os
complexos processos de decisão da sociedade contemporânea. Conseguirá
esta Comissão reunir o consenso generalizado?
Visões Úteis chega-nos do Porto, com um percurso de mais de quinze
anos no cruzamento constante entre os temas do nosso aqui e agora
e a procura de linguagens performativas contemporâneas. Enquanto
companhia profissional de teatro, tem desenvolvido projectos que fogem
aos modos habituais da representação teatral, propondo novos tipos de
parcerias às estruturas de programação e tentando envolver instituições
privadas.
(c) Paulo Pimenta
In the seminar room of an hotel, a Committee meets to discuss a “Plan of
Action”. The Executive Committee (the actors) hosts the other members
of the Committee (the spectators) to the delicate mission of presenting in
a convincing way this “Plan”, based on the “Strategic Plan” previously
elaborated and approved. The goal is to get the larger number of votes.
Throughout the meeting charts are shown, paperwork overlaps, and
complicated jargon is debated. The doubt about the skills and honesty
of the board of directors increasingly grows as the meeting proceeds.
The Company Visões Úteis dresses in business attire to offer us a
“politically useful perspective” on the complex decision-making processes
of contemporary society. Will this Committee be able to gather general
consensus?
17
VERA MANTERO
(PT)
A Dança do Existir
Retrospectiva em imagens do trabalho coreográfico de Vera Mantero
Exposição e Centro de documentação temporário
Exhibition
Convento dos Remédios, Évora
16 de Julho ¬ July ¬ a ¬ to ¬ 30 de Setembro ¬ September
(9H30 ¬ 12H30 e ¬ and ¬ 14H – 18H Terça-feira a Sábado ¬ Tuesday to
Saturday)
Encerra ao Domingo e Segunda-feira ¬ Closed on Sundays and Mondays
Entrada livre ¬ Free entrance
Práticas Documentais / Práticas Documentadas
Inauguração
Inauguration
Com Rita Natálio e Elliot Mercer
Convento dos Remédios
16 de Julho ¬ July ¬ 19H
Fotos de ¬ Alain Monot, Alcino Gonçalves, Dirk Rose,
Henrique Delgado, José Fabião, Jorge Gonçalves, João Tuna,
João Sérgio, Laurent Philippe e Margarida Dias.
Centro de documentação temporário
Espaço multidisciplinar que permite aos visitantes/espectadores uma
aproximação a várias vertentes relacionadas com o trabalho de Vera
Mantero
¬ Publicações e clippings sobre o trabalho de Vera Mantero
¬ Vídeos de espectáculos, documentários, filmes, etc.
¬ Bandas sonoras das peças e propostas musicais
¬ Vídeos e livros propostos, de autores com quem Vera Mantero comparte
afinidades
¬ Notas de criação
¬ Guest Book
(c) João Tuna
Vera Mantero inaugura, na 3ª edição da Escola de Verão, um
formato novo, o de artista convidada. Trata-se de um contributo
central para a temática do Festival nesta edição, acrescentando
à formação a exemplaridade de um percurso revisitado numa
iniciativa fortemente documental.
Com efeito, na condição de artista convidada, Vera Mantero apresenta
em Évora A dança do existir, uma exposição retrospectiva sobre
o seu trabalho coreográfico. São cerca de 80 fotografias traçando
o percurso da coreógrafa, das suas primeiras criações às mais
recentes. A exposição integra ainda um Centro de documentação
temporário, um espaço transdisciplinar que faculta aos visitantes
/ espectadores uma aproximação a várias vertentes do trabalho de
Vera Mantero. O debate em torno das práticas de documentação
(Práticas documentais / Práticas documentadas), encontros com a
coreógrafa e a apresentação de dois solos da coreógrafa (ver página
própria) completam esta proposta, actualizando e ampliando o
espaço de reflexão e crítica onde se cruzam em plena igualdade
formação, investigação e criação.
Vera Mantero opens, in the 3rd edition of the Summer School, a new
format: the guest artist. This is a extremely significant contribute to
the theme this Festival’s edition, as it adds to training programs an
exemplary career, re:visited by means of a strongly documental initiative.
In fact, as guest artist, Vera Mantero presents in Évora A dança do
existir (The Dance of Existence), a retrospective exhibition on her
choreographic work. There are 80 photographs documenting her career
as choreographer, from her first creations to the most recent ones, as well
as a Temporary Documentation Center, which allows visitants and
spectators to become more familiar with the various aspects of Mantero’s
work.
In addition to the exhibition there will be an encounter to debate the
role of documenting practices in performance art creations, and also
encounters-talks between the choreographer and academics that have
been elaborating on her work.
18
PGT (PENDER, GARTON, TAYLOR)
(USA)
PGT
Música Electrónica Improvisada
Improvised Electroacustic Music
Jardim da Biblioteca, Arraiolos
24 de Julho ¬ July ¬18H30
Castelo de Viana do Alentejo
25 de Julho ¬ July ¬19H
PGT
Festival Escrita na Paisagem ¬ Extensão de Sines
27 de Julho ¬ July ¬19H
Todas as idades ¬ All ages
Entrada livre ¬ Free entrance
Laptops ¬ Brad Garton e Greg Taylor
Bandolim ¬ Terry Pender
PGT são uma formação peculiar. Um bandolim (Pender) dialoga
intensa e vibrantemente com dois laptops (Garton, Taylor), abrindo
caminhos através dos territórios da tradição musical em direcção ao
mundo contemporâneo, onde se cruzam interesses, metodologias e
dispositivos com outros músicos, outras músicas. De forma notável,
trazem ao Festival Escrita na Paisagem a própria evidência da re:petição,
do re:play. Com efeito, logo no processo de trabalho que utilizam,
‘process improvisation’, é evidente a re:petição e a transformação dos
inputs circundantes (instrumentos ou outros) em material sonoro, umas
vezes difuso, outras intenso, ou vibrante, lírico, etc. Nos concertos
que apresentam em Portugal, haverá lugar para diálogo com músicos
desconhecidos (prolongando os blind dates que realizámos em 2009),
com as suas próprias fontes de criação, mas também com a criação
irreverente de nomes como John Cage ou Cornelius Cardew. Ao
espectador está reservado o especial papel de participar.
Quem são os PGT
Terry Pender é compositor e músico, os seus interesses estendem-se da
música contemporânea multimédia à irlandesa e ao bandolim. Os seus
trabalhos já foram apresentados em todo o mundo, incluindo Japão,
Grécia e China. Compôs para a cadeia de rádio NPR e para o Whitney
Museum of American Art. Mais recentemente, tem colaborado na criação
de sonoplastias para eventos artísticos de larga escala com o Open Ended
Group, tendo o seu trabalho corrido mundo, inclusive o Mostly Mozart
Festival 2007, em Nova Iorque. É professor na Columbia University
(NY), onde co-dirige com Brad Garton o Computer Music Centre, há
mais de onze anos.
Brad Garton é doutorado em composição musical pela Princeton
University, e professor na Columbia University. Desenvolve software para
música, tendo já trabalhado como consultor na concepção e instalação de
laboratórios de computadores para criação musical em várias partes do
mundo.
Gregory Taylor iniciou a sua formação em artes visuais. Também estudou
o gamelão de Java e música electroacústica, nos EUA e na Holanda,
tendo escrito artigos para publicações como a Wired, Array e Option.
Para além da sua colaboração com os PGT, conta igualmente com
gravações a solo e colaborações com vários outros artistas: Jeff Kaiser,
Scott Fields, Kim Cascone, entre outros. Actualmente trabalha na área
dos novos media com a companhia de software Cycling ’74 (a empresa
que fabrica o max/msp).
PGT are a peculiar ensemble. A mandolin (Pender) dialogues intensive
and vibrantly with two laptops (Garton, Taylor), opening new paths
through the territories of traditional music, and heading toward the
contemporary world, where other music and musicians’ interests,
methodologies, and devices, cross. Their work process, called ‘process
improvisation’, is clearly nurtured by re:petition and the rendering of the
surrounding inputs into sonic material, sometimes dispersed, other times
intense, or vibrant, lyric, etc. In the concerts they present in Portugal,
there will be a dialogue with musicians the ensemble never met before,
with their own creative sources, but also with the irreverent work of
artists such as John Cage or Cornelius Cardew.
19
CIE. MOGLICE-VON VERX
(FR)
Miroir, Miroir
Dança ¬ Música
Dance ¬ Music
Largo Marquês de Marialva (Frente à Sé Catedral), Évora
28 de Julho ¬ July ¬ 19H
Jardim da Biblioteca, Arraiolos
29 de Julho ¬ July ¬ 18H30
Largo da Igreja, Fundão
31 de Julho ¬ July ¬ 22H30
Duração ¬ Duration ¬ 40min
Todas as idades ¬ All ages
Entrada livre ¬ Free entrance
Concepção, Interpretação ¬ Méllissa Von Vépy
Compositor, Pianista ¬ Stephan Oliva
Dramaturgia ¬ Angélique Willkie
Produção ¬ Laurence Edelin
Co-produção ¬ SACD e Festival d’Avignon
lado que não mostra, o lado intangível da interioridade.
Estreado em 2009 no Festival de Avignon (Co-produção), Miroir Miroir é
o resultado da exploração coreográfica, musical e cinematográfica de
Melissa Von Vépy, Stéphan Olivia e Angélique Willkie.
(c) Christophe Reynaud de Lage
In Miroir Miroir (Mirror, mirror on the wall…) a piano multiplies in
sonic images the encounter between a dancer and a mirror. She observes
herself on it, reaches it in the air, and passes through it to discover
(herself on) the other side... Musician and dancer create an intimate
moment of simple beauty, on the edge of the anxieties and fragilities of a
subject when facing his/her own image – his/her reflex. The mirror does
not cease to evoke the side it does not show, the intangible site of the
inner being.
O espelho.
Este objecto reflecte directamente demasiados filmes, estórias, contos de
fadas e mitologias, e suscita questões existenciais e terríveis relacionadas
com o acto de olhar para o mais profundo de nós próprios.
Que integridade procuramos, quando nos olhamos nos olhos? Será que
deixamos transparecer o reflexo do que se passa “por detrás da cena”?
Podemos sempre tentar a salvação; objectivamente, o nosso reflexo
mente.
Som e coreografia são como uma fonte comum de interioridade para criar
material subjectivo, deixando espaços vazios e fugas fantasmagóricas...
Mélissa Von Vépy e Stéphan Oliva
Um espelho, esse lugar de re:petições, suspende-se sobre os nossos
olhos re:flectindo a paisagem à sua volta. Em cena, um piano multiplica
em imagens sonoras o encontro de uma bailarina com o espelho. Ela
re:vê-se nele, alcança-o no ar, entra nele, entra na sua própria imagem,
para (se) descobrir o outro lado...
Músico e bailarina constrõem um momento íntimo de uma beleza singela,
no limite das inquietações e fragilidades do ser quando confrontado com
a sua própria imagem – o seu re:flexo. O espelho não deixa de evocar o
Von Vépy, nascida em Geneva (Suíça) é trapezista de formação e cofundadora da Cie Moglice – Von Verx (criada em 2000, em conjunto
com Chloé Moglia). Na sua companhia Von Vépy e Moglia co-criaram e
apresentaram vários espectáculos: “Un certain endroit du ventre” (Um
certo lugar na barriga), “Temps troubles” (Tempos Conturbados), “I look
up, I look down…” (Olho para cima, olho para baixo), “Une jambe n’est
pas une aile / Nimbus / Croc” (Uma perna não é uma asa/ Nimbus/Croc)
e “Dans la gueule du ciel” (Na boca do céu), em colaboração com o actor
Peter James. Em 2007 a companhia foi galardoada com o prémio “Arts
du Cirque”, do SACD – Societé d’Auteurs et Compositeurs Dramatiques
(Sociedade de Autores e Compositores Dramáticos).
Olivia, pianista francês, começou a ser notado nos finais dos anos
80 pela sua sensibilidade como intérprete. O seu trabalho é marcado
pela diversidade e originalidade, como se pode verificar nas variadas
homenagens a pianista como Bill Evans, Lennie Tristano, Paul Motian,
Giacinto Scelsi, Paul Auster, Bernard Herrmann e Harlem Piano
Stride, bem como na sua nova criação “Little Nemo”. Já tocou com
diversos músicos, entre os quais Bruno Chevillon, Paul Motian, JeanMarc Foltz, François Raulin, Claude Tchamitchian, Jean-Pierre Jullian,
Christophe Monniot, Linda Sharrock, Joey Baron e Suzanne Abbuehl.
Apaixonado por cinema, desenvolve parte do seu trabalho sob a forma
de improvisações em concertos a solo sobre bandas sonoras de filmes e
ainda em cineconcertos para filmes mudos. Também compõe e interpreta
música para curtas e longas metragens, algumas das quais realizadas por
Jacques Maillot. Desde 2006, que trabalha com regularidade com a actriz
e cantora Hanna Schygulla.
Willkie, bailarina natural da Jamaica, iniciou a sua formação em dança
na School of Toronto Dance Theatre. Depois de se ter estreado no
Quebec viajou para a Europa onde se fixou – há 17 anos que divide o seu
trabalho entre a criação autónoma e o trabalho com várias companhias.
Na Bélgica colaborou com Les ballets C de la B e Needcompany, como
cantora, e com Zap Mama, dEUS e DAAU. Participou em vários
projectos com Ultima Vez Company/ Wim Vandekeybus (Bruxelas),
Henny Jurriens Stichting (Amesterdão), Circuit-Est (Montreal), SEAD
(Salesburgo) e ImPulsTanz. Também desenvolve trabalho na área
da pedagogia em treino vocal e dança, e ainda como dramaturgista e
assistente de teatro-dança.
20
TEATRO DO VESTIDO
(PT)
Chegadas
Teatro
Theater
Residência artística
Artistical residency
Viana do Alentejo
De ¬ From ¬ 15 a ¬ to ¬ 28 de Agosto ¬ August
Apresentação
Presentation
28 de Agosto ¬ August ¬ 21H30
M/12 ¬ 12A
Entrada livre ¬ Free entrance
Direcção ¬ Joana Craveiro
Criação, Interpretação ¬ Gonçalo Alegria, Joana Craveiro, Rosinda Costa,
Inês Rosado
Dramaturgia ¬ Teatro do Vestido
Assistente de encenação ¬ Lara Portela
Produção ¬ Sandra Carneiro
Co-Produção ¬ Festival Escrita na Paisagem
Projecto financiado por ¬ Ministério da Cultura/DGArtes
(c) Gonçalo Alegria
O Teatro do Vestido (TdV) tem vindo a colaborar com o Festival Escrita
na Paisagem desde 2006, numa relação institucional e artística que se
consolida de ano para ano. Em 2010, o TdV traz ao Festival a estreia
de Chegadas, o resultado de um projecto que a companhia começou a
desenvolver numa residência artística, no quadro do Escrita na Paisagem
2009.
Depois de um longo período a escrever sobre e re:presentar o acto de
“partir”, os membros do TdV compreenderam que, no fim de contas,
só têm sido capazes do acto de “permanecer”. Na produção literária,
o acto de “partir” (e a urgência que o acompanha) é (são) o(s) mais
documentado(s). Assim, TdV aventura-se a iniciar uma pesquisa sobre
a estranheza da “chegada”. O primeiro passo foi dado em 2009, numa
residência artística desenvolvida no Escrita na Paisagem, sob o tema
escolhido pelo festival para esse ano: o corpo. TdV empreendeu uma
pesquisa artística fundada num trabalho site-specific de observação
e documentação. O seu objectivo era compreender como é que o acto
de “chegar” se inscreve no nosso corpo: a sensação do corpo chegar
a um lugar novo (ou já conhecido), a relação que se estabelece com
os “verdadeiros” e “autênticos” habitantes de um local, ser turista,
o nomadismo da comunidade cigana, e o nomadismo dos próprios
artistas, cujo trabalho os leva a percorrer Évora, encharcados pelo calor
insuportável que, em Agosto, assola o Alentejo. Este material foi todo
re:colhido, trabalhado, e re:criado numa nova peça, a 14ª criação do
TdV.
Chegadas é uma peça de teatro documental, onde a observação se
deixa permear pelos observadores. É uma estória sobre uma experiência
peculiar – chegar –, contada e re:presentada por actores-nómadas. É
também um projecto que desvenda como o re:play, sendo repetição, é
sempre-já uma re:novação. O acto de chegar está inscrito nos nossos
corpos e nós actuamo-lo uma e outra vez, mas sempre de um modo
diferente. Chegar é sempre-já re:gressar, mesmo que não conheçamos os
lugares e as pessoas que os habitam. Estamos sempre a chegar a algum
lado, vindos de um lado qualquer. E a cada chegada estamos diferentes.
O Teatro do Vestido vem mais uma vez ao Festival, ao Alentejo; esta
chegada, bem como o processo criativo a desenvolver e os resultados
a apresentar pela companhia, serão certamente tão familiares quanto
surpreendentes e inesperados.
Teatro do Vestido (TdV) brings to the Festival the premiere of the
performance Chegadas (Arrivals), the outcome of a project the company
started developing during an artistic residence at the Festival, in 2009.
Arrivals is a documental theatre play, where documental observation
is mixed with the implication of those who have been observing. It is a
tale about a peculiar experience – arriving –, told and re:presented by
travellers-actors. It is also a project that surfaces how re:play, being
re:petition, is always-already an act of re:novation. The act of arriving
is inscribed in one’s body and one is constantly performing it again and
again, although differently. To arrive is always-already to re:turn, even
when one does not know the sites and the people that inhabit them. One
is always arriving to somewhere, from someplace else. And one is always
changing at each arrival.
Teatro do Vestido é um colectivo artístico multidisciplinar, fundado
em 2001, e dedicado à criação de peças teatrais e instalações que
explorem novos processos criativos e que, em particular, constituam uma
dramaturgia original.
O TdV aposta numa forte relação com o espaço, valorizando-o, ao
mesmo tempo que procura estabelecer uma relação de participação com
o público. A abordagem estética desenvolvida pelo TdV tem levado a
companhia a trabalhar em contextos diversos: nacional e internacional,
rural e urbano. Entre 2006 e 2007 o TdV desenvolveu a sua actividade
num espaço cedido pelo Hospital Psiquiátrico Júlio de Matos (Lisboa),
onde concebeu e materializou projectos artísticos, leituras encenadas, e
projectos pedagógicos. Desde 2007 que a companhia carece de um espaço
de trabalho permanente.
O TdV é reconhecido pela originalidade, experimentação e
pesquisa que caracterizam os seus projectos, e pela reflexão sobre a
contemporaneidade, o que tem sido considerado muito pertinente pelo
público e pela crítica. Recentemente a companhia tem-se dedicado a
desenvolver projectos pedagógicos (Zonas) através dos quais pretende
contribuir para a formação de actores autónomos e responsáveis, bem
como de novos públicos, e ainda suscitar uma reflexão constante sobre
arte e realidade.
•
LA
O
C
ES
O
VER Ã
E
D
•
CIE PHILIPPE GENTY (FR)
PHILLIP ZARRILLI & KAITE O’REILLY (EN)
VERA MANTERO (PT)
Artista Convidada ¬ Guest Artist
Co-produção
FCT
22
ESCOLA DE VERÃO
Cie Philippe Genty (FR)
Souvenir d’une Amnésie
Phillip Zarrilli & Kaite O’Reilly (EN)
Making The Body All Eyes
Vera Mantero (PT)
Olympia + uma misteriosa Coisa disse e. e. cummings
Artista Convidado ¬ Guest Artist
Escola de Verão 2010
Summer School 2010
Desde 2008, o Festival Escrita na Paisagem elege Agosto como o
mês dedicado à Escola de Verão, proporcionando a jovens artistas e
alunos de artes a oportunidade de aprender com artistas internacionais
reconhecidos no campo do teatro e performance.
Since 2008, the Festival Escrita na Paisagem chooses August as the
month dedicated to the Summer School, providing young artist and arts
students with the opportunity to learn with acknowledged international
theater and performance artists. For its 3rd edition, the Summer School
2010 widens its scope and offer. For the first time this project will host
a guest artist, Vera Mantero; conferences, debates, and a documental
exhibition will be presented. In addition the artist will perform two of
her creations – Olympia and a mysterious Thing said e.e. cummings.
Following the scheme of the previous editions, but in a broader format,
Summer School will offer two intensive performance workshops:
“Souvenir d’une amnésie” (Memory of an amnesia), focused on
puppetteering and manipulation of objects, coordinated by Cie. Philippe
Genty; and “Making the body all eyes”, which approaches actor’s
trainning and performance creation and writing, and it is directed by
Phillip Zarrilli and Kaite O’Reilly.
Na sua terceira edição a Escola de Verão 2010 expande a sua
abrangência e oferta. Pela primeira vez, o projecto acolhe um “artista
convidado”, Vera Mantero. Em torno do trabalho desta criadora
desenvolvem-se conferências, debates e uma exposição documental.
Por fim, Vera Mantero apresenta ainda duas performances – Olympia
e uma misteriosa Coisa disse e. e. cummings – nas quais se encontram
re:flectidas e problematizadas questões que ocupam este ano o Festival,
centrado no tema re:play. Dando continuidade ao formato de edições
anteriores, agora alargado, a Escola de Verão oferece dois cursos de
formação intensiva: “Souvenir d’une amnésie” (Memória de uma
amnésia), centrado no actor marionetista e manipulação de objectos,
coordenado pela Cie. Philippe Genty; e “Making the Body All Eyes”
(Tornar o corpo ‘todo olhos’), dedicado ao treino do actor e criação e
escrita para performance, dirigido por Phillip Zarrilli e Kaite O’Reilly.
24
JU
LHO
ARRAIO
LOS
ÉVORA
17 ¬ ELLIOT MERCER
24 ¬ PGT
29 ¬ CIE MOGLICE-VON
VERX
1 ¬ DJ SPOOKY
2 ¬ 3 ¬ JOANA CRAVEIRO
7 ¬ 8 ¬ TEATRO DE FERRO
7 ¬ 10 ¬ MOVIMENTO
ARRISCADO
9 ¬ FESTA DA LÃ
12 ¬ 15 ¬ ELLIOT MER-
CER
14 ¬ 17 ¬ MOVIMENTO
ARRISCADO
14 ¬ 15 ¬ VISÕES ÚTEIS
28 ¬ CIE MOGLICE-VON
VERX
31 ¬ CIE MOGLICE-VON
VERX
ALENTEJO
16 ¬ ELLIOT MERCER
SINES
25 ¬ PGT
27 ¬ ELLIOT MERCER
27 ¬ PGT
FUNDÃO
VIANA DO
AGO
STO
ÉVORA
2 ¬ 13 ¬ CIE PHILIPPE
GENTY (ESCOLA DE VERÃO)
11 ¬ 12 ¬ VERA MANTERO (ENCONTROS)
14 ¬ VERA MANTERO
(SOLOS)
24 ¬ 3 (SETEMBRO) ¬
PHILLIP ZARRILLI (ESCOLA
DE VERÃO)
FUNDÃO
20 ¬ 22 ¬ ELLIOT MERCER
CARTAZES DO FESTIVAL ESCRITA NA PAISAGEM IMPRESSOS POR
http://recicloteca.net/
[email protected]
+351266758626
+351266704829
25
VIANA DO
ALENTEJO
15 ¬ 29 ¬ TEATRO DO
VESTIDO
24 (AGOSTO) ¬ 3 ¬
PHILLIP ZARRILLI (ESCOLA
DE VERÃO)
21 ¬ 23 ¬ MOSTRA DE
VÍDEO PERFORMANCE
22 ¬ 23 ¬ PEDRO ANTUNES
23 ¬ ANTÓNIO PEDRO
LOPES & MONICA GILLETTE
SE
TEM
BRO
ARRAI
LOS
27 ¬ DINIS MACHADO
27 ¬ 29 ¬ INTERSECTION: SOBRE CURADORIA
28 ¬ ANTONIO TAGLIARINI & DARIA DEFLORIAN
29 ¬ FANNY & ALEXANDER
30 ¬ TIAGO PEREIRA
FUNDÃO
EXPOSI
ÇÕES PER
MANENTES
PEDRO PROENÇA ¬ ARRAIOLOS ¬ ÉVORA ¬ SINES ¬ VIANA DO ALENTEJO
ÚLTIMAS CEIAS ¬ ÉVORA
LINHAS COM QUE ME
COSO ¬ CRATO
VERA MANTERO ¬ ÉVORA (16 de JULHO a 30 de
SETEMBRO)
9 ¬ 12 ¬ TEATRO DO SILÊNCIO
24 ¬ PEDRO ANTUNES
ÉVORA
6 ¬ 18 ¬ RITA NATÁLIO
25 ¬ PEDRO ANTUNES
Av. Dr. Barahona, 2
7005-105 - Évora
http://www.grupofbarata.com/pt/
[email protected]
+351 266 737 990
27
CIE PHILIPPE GENTY
(FR)
SOUVENIR D’UNE AMNÉSIE
Escola de Verão
Summer School
Antiga Fábrica dos Leões, Universidade Évora
De ¬ From ¬ 2 de Agosto ¬ August ¬ a ¬ to ¬ 13 de Agosto ¬ August
A Companhia Philippe Genty é responsável por criações
multidisciplinares, nas quais cruza teatro, dança, música, teatro de
marionetas e objectos. O seu trabalho é baseado na relação entre
corpo e objecto, explorada através de uma variedade de abordagens,
materializando uma linguagem visual original e tocante. A cena é
concebida como uma paisagem interior onde o consciente se revela:
medos, esperanças, vergonha, desejos reprimidos… As criações da
Cie Philippe Genty pertencem ao mundo do sonho, no qual actores,
marionetistas, e bailarinos, manipulando marionetas e objectos de várias
dimensões, surgem em cena tecendo estórias fantásticas perante os olhos
do público.
Na Escola de Verão do Festival Escrita na Paisagem, em Évora, a
Cie Philippe Genty coordena um curso intensivo que introduz os
participantes à linguagem visual da companhia. Em “Souvenir d’une
amnésie” (Memória de uma amnésia) trabalho centra-se em técnicas
básicas da manipulação de marionetas e objectos e na relação entre
corpo e objecto, abordada através de exercícios de pesquisa individual
e colectiva. O curso é dirigido a marionetistas, actores, bailarinos, e
performers. Após dez dias de trabalho intensivo as portas da Escola de
Verão abrem-se aos espectadores numa apresentação pública.
At Escrita na Paisagem’s Summer School, in Évora, the Company
Philippe Genty coordinates a intensive workshop that introduces
participants to the company’s visual language. The work is focused on
the basic techniques of puppet manipulation and on the relationship
between body and object, approached via both individual and collective
research. The workshop is opened to puppeteers, actors, dancers, and
performers. After 10 days of intense work a final presentation will be
open to public.
“Memória de uma amnésia” é coordenado por Eric de Sarria e Nancy
Rusek
Eric de Sarria, actor e encenador, é marionetista e manipulador
de objectos na Companhia Philippe Genty desde 1988. Para a
mesma companhia, trabalhou como actor em Dérives (19881992), Dédale (1998-2000) e Zigmund Follies (2000-2007), produção
que foi apresentada em digressões pela França, Istambul, Arménia,
Georgia, Finlândia e Milão (2008-2009). Em 2007 foi assistente de
encenação na produção Boliloc.
É responsável pela encenação de vários espectáculos em França e no
estrangeiro como: 3 Petit’s Notes (2008); Cabaret Exorciste, baseado
no texto de Henri Michaux (2007); La Tête dans les Nuages, para o
colectivo Playground (2004); Sur les Hauteurs et Autres Textes de
Christian Bobin (2003); The Story of Aywa, apresentado na África do Sul
em 2002. Também em 2002 encenou o espectáculo La Reine et la Pierre
de Lumière, uma produção destinada ao público mais jovem.
Esteve envolvido em várias colaborações com diversos colectivos
como L’Illustre Famille Burattini, com a qual desenvolveu criações de
teatro de rua, e com o Théâtre de L’Unité onde trabalhou como actor
em Terezin (1996-1997). Com o colectivo Playground trabalhou como
actor e marionetista nas produções A Table (2008) e Le Roi de la
Solitude (2007).
Mais recentement, no estrangeiro, escreveu e encenou, em 2009, a peça
Commune Empreinte, numa co-produção com o Teatro Samart, na
Rússia (2009); e também criou e dirigiu duas obras na África do Sul: Un
Molière à Soweto (2006) e +/- Mémoire de Batteries (2005).
É ainda autor de vários solos (sendo responsável pelo texto, concepção
do jogo cénico e encenação), concebidos para salas ou espaços ao ar livre,
como é o caso de Un foût de Millefeuille (2008).
Ao trabalho de criação junta ainda o ensino. Sarria coordena oficinas
sobre trabalho com marionetas e jogo cénico, tanto em França como no
estrangeiro.
Nancy Rusek, nascida na Bélgica, iniciou a sua formação em dança
clássica aos 11 anos na École du Ballet Royal de Flandres em Anvers
(Bélgica). Aos 18 anos dá os primeiros passos na carreira de bailarina
contemporânea com Karmen Larumbe Danza em Madrid, companhia
com a qual faz seguidamente mais duas produções. No entanto, é em
França que se instala e participa nas criações La Bayadère de Andy
Degroat, Décodex de Philippe Decouflé, e Anthrop Modulo I, Almanach
Bruitax, e Les Récits de Tribus Oméga da Cie Système Castafiore.
Trabalhou também como assistente de coreografia para o Ballets de
MontéCarlo (com Jean-Christophe MAillot) em L.F.O. e para o Ballets de
Loraine (com Didier Deschamps). Entre um Laboratório de Coreografia
e os «bailados» com a CIE Beau Geste (dirigida por Dominique Boivin),
Nancy desenvolveu igualmente trabalho coreográfico para a sua própria
companhia, criando três peças: Le Fragile équilibre de l’Affaire em 2000,
F3 em 2004, bem como EXIT, peça para 16 bailarinos (encomenda
da École du Ballet Royal des Flandres) em 2005. Em Junho de 2006,
colabora como coreógrafa e bailarina no filme Que reste-t-il de Chris
Conty, pelo realizado Benoit Finck (um documentário-ficção transmitido
pelo Canal +) , e ainda no espectáculo com o mesmo nome, por JeanJacques Nyssen.
Em Novembro de 2008, Rusek colabora como coreógrafa com o
realizador Gilles Charmant na curta-metragem Quelques conseils contre
l’usure. Desde Fevereiro de 2008, é coach assistente nas digressões
de Sombrero de Philippe Decouflé. Entretanto, em Agosto de 2004,
conhece o trabalho de Philippe Genty, integrando a companhia a partir
depois de participar no espectáculo La Fin des Terres. Continua a
desenvolver trabalho individualmente, bem como enquanto assistente de
Mary Underwood – função que assumiu depois de ter participado, em
Julho de 2009, num estágio no Institut International de la Marionnette
em Charleville-Mézières.
28
PHILLIP ZARRILLI & KAITE O’REILLY
(EN)
Making the Body All Eyes
Escola de Verão
Summer School
Antiga Fábrica dos Leões, Universidade Évora
De ¬ From ¬ 24 de Agosto ¬ August ¬ a ¬ to ¬ 2 de Setembro
¬ September
“Dos Livros Évora”: A Library of Hands
Performance
3 de Setembro ¬ September ¬ 21H30
Duração ¬ Duration ¬ 55 minutos
M/12 ¬ 12A
Entrada livre ¬ Free entrance
Depois de terem coordenado a segunda edição da Escola de Verão, em
2009, o coach de actores e encenador Phillip Zarrilli e a dramaturga,
dramaturgista e criadora de performance Katie O’Reilly orientam um
novo curso, dirigido a actores, performers, bailarinos e escritores. O
trabalho desenvolvido no curso culmina numa performance site-specific e
em-processo, intitulada “Dos livros de Évora”: A Library of Hands, a ser
apresentada na Biblioteca Pública de Évora.
Em “Making the Body All Eyes” (Tornar o corpo ‘todo olhos’) a criação
artística é abordada da perspectiva da performance e da escrita de/para
performance, através de um treino psicofísio e orientado para estimular a
imaginação.
Phillip Zarrilli introduz os participantes ao seu treino psicofísico
internacionalmente reconhecido, no qual articula exercícios baseados
em artes marciais e de meditação asiáticas, como o kalarippayattu e o
Thai Chi Chuan, com princípios essenciais e abordagens concebidas por
encenadores e teóricos do teatro ocidental como Stanislavski, Grotowski,
e Artaud.
A outra componente do curso centra-se na escrita de/para performance.
Orientados por Kaite O’Reilly, os participantes vão construir textos a
partir de exercícios para estimular a imaginação, explorando diferentes
pontos de partida e estéticas. Estes exercícios têm por base um trabalho
sobre imaginação inspirado na abordagem de Michael Chekhov.
À medida que o trabalho progride Zarrilli e O’Reilly colaboram entre
si e com os participantes na criação de uma performance, tomando
como ponto de partida exercícios psicofísicos, textos de autor, textos
‘encontrados’, e as reacções ao espaço da performance – a extraordinária
sala de leitura da Biblioteca Pública de Évora. Após dez dias de trabalho
intensivo será apresentada a performance site-specific e em-processo:
“Dos livros de Évora”: A Library of Hands. Uma performance que
materializa uma combinação dos processos de trabalho de Zarrilli e
O’Reilly: criação de textos tomados como estímulo para a criatividade,
textos representados, e improvisações estruturadas. A peça será
igualmente reflexo de questões artísticas gerais que ocupam os criadores,
bem como de questões específicas suscitadas pelo trabalho no espaço
da Biblioteca Pública de Évora e sobre o conceito e práticas de arquivo:
que possibilidades performativas nos oferece o espaço enquanto lugar
onde algo pode acontecer? Que estímulos à criação de textos e partituras
provocam os livros desta biblioteca? Qual é o toque e a sensação desses
livros? Que histórias estão “contidas” nestes textos?
After coordinating the second edition of the Summer School in 2009,
the actor trainer and director Phillip Zarrilli and the dramaturg,
dramaturgist and performance creator Katie O’Reilly offer a new
workshop, addressed to actors, performers, dancers, and writers. The
workshop will culminate in a work-in-progress site-specific performance,
“The Évora Books”: A Library of Hands, in The Public Library of Évora.
In the workshop “Making the body all eyes” creation is approached from
the perspective of performing and writing (to) performance through a
psychophysical and imagination-oriented training.
29
Phillip Zarrilli e Kaite O’Reilly dirigem o curso “Tornar o corpo ‘todo
olhos’”
Phillip Zarrilli é internacionalmente reconhecido pelo seu método de
treino psicofísico do actor, baseado em artes marciais e de meditação
asiáticas, e como encenador. Tem um estúdio próprio (Tyn-y-parc
C.V.N. Kalari/Studio) em Gales, e dirige workshops um pouco por todo
o mundo – incluindo os recentes workshops e residências de longaduração no Centro de Estudos sobre Jerzy Grotowski (Polónia), no
Festival Internacional de Teatro de Seul, no International Workshop
Festival (Londres), no Teatro Nacional da Grécia, Theatre Training
Initiative (Londres), Companhia de Teatro Tainan-Jen (Taiwan), TTRP
(Singapura), Associação Teatral Gardzienice e Passe Partout (Holanda),
entre muitos outros. As suas produções mais recentes das peças de
Samuel Beckett, que circularam por Los Angeles (2000), Áustria (2001)
e Irlanda (2004), foram aclamadas pela crítica e galardoadas com os
prémios de ‘melhor actriz’ e ‘produção corajosa’ em Los Angeles. Em
2002 colaborou com a artista e escritora premiada, sedeada no Reino
Unido, Kaite O’Reilly, e com o Teatro Asou (Áustria) na performance,
Speaking Stones, que estreou na Áustria em Setembro, apresentada
pela primeira vez na Áustria em Setembro de 2002, e estreou em
inglês em Varsóvia (Polónia), sob o convite do Centro de Estudos sobre
Jerzy Grotowski, em 2003, voltando mais uma vez à Áustria com uma
apresentação em Aflenz, 2004. Também em 2004 encenou The Water
Station, de Ota Shogo, com o TTRP na The Esplanade Theatres on the
Bay em Singapura. Entre 2005 e 2006 encenou Die Zofen (As Criadas)
de Genet na Áustria, e esteve em digressão, pelo EUA, durante Março
e Setembro de 2007, com The Beckett Project. Em 2007 encenou, em
Singapura, a estreia de Attempts on Her Life, de Martin Crimp, (uma
produção do TTRP na Esplanade Theatres on the Bay). Recentemente
encenou a estreia mundial, e aclamada pela crítica, de The Almond
and the Seahorse, de Kaite O’Reilly’s, com a Sherman Cymru, e a
nova tradução de Psicose 4:48, de Sarah Kane, na KNUA (Seul, Corea,
2008). Entre 2009 e o início de 2010 colaborou com Kaite O’Reilly e Jo
Shapland na criação de Told by the Wind; este trabalho foi apresentado
como work-in-progress em Agosto de 2009 no Festival Escrita na
Paisagem, e estreou em Janeiro de 2010 no Chapter Arts Centre de
Cardiff.
Zarrilli também é reconhecido pelo seu trabalho com bailarinos e
coreógrafos indianos. Em 2000 dirigiu Walking Naked, com o bailarino/
coreógrafo bharatanatyam, Gitanjali Kolanad, estreou em Chennai
e fez uma digressão internacional até 2004, passando por Mumbai,
Londres, Seul, Nova Iorque, Toronto, etc. Em 2003 adaptou e encenou
a farsa em Sânscrito do séc. XVII para a companhia de dança/
teatro bharatanatyam, sedeada no Reino Unido, Sangalpam, com
performances no Purcell Room, Queen Elizabeth Hall (Royal National
Theatre, Londres), e por todo o Reino Unido. Em 2006 completou um
nova performance a solo, The Flowering Tree, com Gitanjali Kolanad.
Junta-se ao seu percurso profissional o ensino do processo psicofísico nos
cursos superiores do departamento de Theatre Practice da University
of Exeter (UK). Entre os seus numerosos livros destacam-se (como
editor) Acting (Re)Considered (2ª edição no prêlo), When the Body
Becomes All Eyes (1998), Kathakali Dance-Drama: Where Gods and
Demons Comes to Play (2000), e (como editor) Martial Arts in Actor
Training (1993). O seu novo livro com um DVD-Rom interactivo
(por Peter Hulton) sobre a sua abordagem ao treino do actor e
performance, Psychophysical Acting: an intercultural approach after
Stanisalvski acaba de ser publicado pela prestigiada Routledge Press
(2009).
Mais informações em: www.phillipzarrilli.com
Kaite O’Reilly é internacionalmente reconhecida como dramaturga e
dramaturgista galardoada. Mais recentemente, foi uma das vencedoras
do Prémio Susan Smith Blackburn (2009), com The Almond and the
Seahorse. Outros prémios que recebeu incluem: o prémio Peggy Ramsay
com YARD (Bush Theatre, Londres e Schlacthaus, Maxim Gorky Theater,
Berlin), o prémio MEN de melhor obra em 2004 com Perfect (encenada
por John E McGrath) e o prémio Theatre-Wales em 2003 com Peeling.
Em 2008, Kaite foi galardoada com o prémio Major Creative do País de
Gales com ‘D’ Monologues, que está neste momento a ser desenvolvido
no National Theatre Studio, em Londres. Actualmente encontra-se a
escrever uma nova versão dos Persas de Ésquilo, para ser encenada
por Mike Pearson para o National Theatre of Wales. Kaite e Phillip
colaboraram em Speaking Stones, para o Theatre Asou, e em Told by the
Wind.
Mais informações em: www.kaiteoreilly.com
30
VERA MANTERO
(PT)
Olympia ¬ uma misteriosa Coisa disse e. e. cummings
Dança ¬ Performance
Dance ¬ Performance
Convento dos Remédios, Évora
14 de Agosto ¬ August ¬ 21H30
Duração ¬ Duration ¬ 55 minutos
M/12 ¬ 12A
Entrada livre ¬ Free entrance
Olympia
Concepção e interpretação ¬Vera Mantero
Luzes ¬ João Paulo Xavier
Adaptação e operação de luz ¬ Bruno Gaspar
Texto ¬ Jean Dubuffet
Música ¬ extractos de música dos Pigmeus Bakma, Camarões
Agradecimentos de Vera Matero ¬ a Ana Mantero e Miguel Ângelo Rocha
uma misteriosa Coisa disse e. e. cummings
Concepção e interpretação ¬ Vera Mantero
Caracterização ¬ Alda Salavisa (desenho original de Carlota Lagido)
Adereços ¬ Teresa Montalvão
Desenho original de luz ¬ João Paulo Xavier
Adaptação e operação de luzes ¬ Bruno Gaspar
Produção executiva ¬ Forum Dança
Apoio ¬ Casa da Juventude de Almada; Re.al / Amascultura
Produção ¬ Culturgest, 1996 Homenagem à Josephine Baker
Sobre Olympia
Vera Mantero concebeu Olympia como uma peça para ser apresentada
no programa da Maratona para Dança (1993). O seu objectivo,
contaminado pelo do próprio evento que ia integrar era “‘acordar’ as
pessoas”. Foi esta a premissa que levou Vera Mantero a articular passos
da obra literária Asfixiante Cultura de Jean Dubuffett e a figura de
Olympia, pintada por Manet. Uma articulação que extrai a sua vitalidade
do acto de re:criar, re:pensar e re:inventar objectos artísticos com uma
história própria, re:escrevendo-a, e assim re:inventar também a prática e
fruição estética da dança, e a sua história.
Ao apresentar Olympia no Escrita na Paisagem, Vera Mantero não
só glosa as obras originais que lhe servem de base de trabalho, como
re:pensa e re:actualiza a sua própria criação, no encontro com um novo
espaço e um novo contexto. Um duplo re:play que levanta questões
centrais ao debate que o Festival propõe este ano, colocando as práticas
de re:petição no cerne da criação artística contemporânea. Porquê
re:pensar uma criação? O que significa re:criar um objecto artístico?
O que se altera, perde ou acrescenta a cada re:petição? Eis algumas
das interrogações para as quais queremos encontrar possibilidades de
resposta – não só com Vera Mantero, mas também com os espectadores
que se juntam a nós.
Vera Mantero presents two solo performances: Olympia and a misterious
Thing said e. e. cummings. The first was originally conceived in 1993
to the program of “Maratona para Dança” (Maraton to Dance), in
which Vera Mantero brings together excerpts of Jean Dubuffett’s text
Asphyxiating Culture and the figure Olympia as painted by Manet. The
power of the piece comes from Mantero’s ability to re:create, re:think,
and re:invent the artistic objects she uses as raw material, re:writing
their history and at the same time re:inventing practices and aesthetic
pleasure of dance, as well as its history. The second piece emerges from
Mantero’s need of materializing a sense of “greatness of spirit” (grandeza
de espírito). By articulating various sources and figures, from Josephine
Baker and e. e. cummings to a speech by Mário Soares, Glenn Gould’s
“Goldberg Variations” and the work of the butoh master Kazuo Ohno,
Mantero creates a piece that re:actualizes ghosts, in particular, as André
Lepecki argues, those of Josephine Baker and the European (especially,
the Portuguese) colonialist past (cfr. Lepecki, 2004: 106-122).
re:play, isto é, ler as práticas de re:petição e re:criação como centrais
na criação contemporânea. Neste peça, o re:play está presente em
diversos níveis, dos quais o mais evidente é propor a Vera Mantero que
re:faça um dos seus solos, instalando-o num novo contexto. Re:play é,
na verdade, um conceito intrínseco a uma misteriosa Coisa, já que esta
peça, como nota André Lepecki, é uma re:actualização de fantasmas
– o de Josephine Baker e das suas coreografias e, em consequência,
das problemáticas do racismo e colonialismo que atravessam a Europa
pós-colonial, problemáticas especialmente sensíveis (e silenciadas) em
Portugal. Em síntese, como Lepecki afirma: “a forma como o corpo
europeu, feminino e branco de Mantero escolhe abordar (o fantasma de)
Josephine Baker, precisamente como uma subjectividade assombradora
e um corpo assombrado, intensifica o caudal de histórias e memórias do
colonialismo europeu, das actuais fantasias raciais europeias e da actual
amnésia do colonialismo, oferecendo uma apresentação perturbadora de
uma imagem desafiante e improvável de uma mulher, uma bailarina, e
uma subjectividade.” (Lepecki, 2006: 111)
Lepecki, André. 2006. “Melancholic dance of postcolonial spectral: Vera
Mantero summoning Josephine Baker”, Exhausting Dance: Performance
and the politics of movement. Londres / Nova Iorque, Routledge: 106122. [Tradução do original inglês por Rita Valente].
Sobre Vera Mantero
Vera Mantero nasceu em Lisboa, em 1966. Estudou Ballet Clássico
até aos dezoito anos. Trabalhou durante cinco anos para o Ballet
Gulbenkian. Em Nova Iorque e Paris, estudou Técnica de Dança
Contemporânea, Técnica Vocal e Teatro, abandonando por completo
as suas origens clássicas. Como bailarina, trabalhou em França com
Catherine Diverrès. Começou a criar as suas próprias coreografias em
1987, e desde 1991 apresenta-as em teatros e festivais da Europa, Brasil,
EUA, Canadá e Singapura, entre outros.
Para Vera Mantero a dança não é um dado adquirido; ela acredita que
quanto menos se apodera dela, mais dela se aproxima. A dança e o
trabalho performativo servem-lhe para compreender o que precisa de
compreender; faz-lhe cada vez menos sentido a condição de performer
especializado (bailarino, actor, cantor ou músico) e cada vez mais a de
performer total.
A vida é para si um fenómeno terrivelmente rico e complicado, e o seu
trabalho uma luta contínua contra o empobrecimento de espírito, seu e
dos outros. Uma luta que considera essencial a este momento da nossa
História.
(c) Jorge Gonçalves
Sobre uma misteriosa Coisa disse e. e. cummings
“uma misteriosa Coisa, nem primitiva nem civilizada, ou para além do
tempo, no sentido em que a emoção está para além da aritmética” (e. e.
cummings, sobre Josephine Baker)
Em 1995 Vera Mantero encontrou-se com Josephine Baker, e. e.
cummings, e com um discurso de Mário Soares (na altura, Presidente
da República). A partir destes, encontrou-se também com o pianista
Glenn Gould e as suas “Variações Goldberg” e com o mestre butô Kazuo
Ohno. Este encontro fez crescer em Vera Mantero a necessidade de
conceber e materializar uma “grandeza de espírito”, “[o seu] grande
desejo de uma vitória do espírito”, que não é desprovido da existência
e do prazer do corpo – concebido como igualmente grandioso. Numa
articulação transdisciplinar entre dança contemporânea ocidental, butô,
política e música, Vera Mantero lançou-se no desafio de coreografar e
dar corpo a um espírito que “tem vontade de anular […] a boçalidade, a
assustadora burrice, a profunda ignorância, a pobreza dos horizontes, o
materialismo…”.
Com uma misteriosa Coisa o Festival Escrita na Paisagem aborda mais
uma das várias modalidades do tema escolhido para a edição de 2010:
32
RITA NATÁLIO
(PT)
“Nada do que dissemos até agora teve a ver comigo - to be
continued”
Residência de criação ¬ Performance
Artistical residency ¬ Performance
Casino, Fundão
De ¬ From ¬ 12 a ¬ to ¬ 16 de Abril ¬ April e de ¬ and from
¬ 8 a ¬ to ¬ 18 de Setembro ¬ September
Direcção Artística ¬ Rita Natálio
Interpretação ¬ António Júlio, Cláudio da Silva, Nuno Lucas
Imagem ¬ Luciana Fina
Direcção técnica ¬ Mafalda Oliveira
Apoio à produção O Rumo do Fumo
Co-produção ¬ Culturgest, Festival Temps d’Image, Festival Escrita na Paisagem,
Município do Fundão
“Nada do que dissemos até agora teve a ver comigo - to be
continued” (Nothing we’ve said by now is about me), developed
from a workshop on oral improvisation, started at SKITe/Sweet
& Tender Collaborations (2008), and presented at Fundação de
Serralves within the project Ciclo Documente-se (2009). The work
takes as its core concern the construction / narration of identity,
applied to text improvisation. “Nothing we’ve said by now is about
me - to be continued” (the second stage of the project that Rita
Natálio develops at Escrita na Paisagem) follows the same research
approach, although transformed to suit the construction of a
theatrical and visual fiction.
Nada do que dissemos até agora teve a ver comigo, foi desenvolvido a
partir de um laboratório sobre improvisação oral, iniciado no SKITe/
Sweet & Tender Collaborations (2008), e apresentado na Fundação de
Serralves, no âmbito do Ciclo Documente-se (2009). No centro deste
trabalho estavam os fenómenos de construção/narração de identidade,
aplicados à improvisação de texto. Nada do que dissemos até agora teve
a ver comigo - to be continued, prossegue a mesma linha de pesquisa
anterior, embora re:dimensionando-a à construção de uma ficção teatral
e plástica.
Seguindo a ideia de “encenação da vida quotidiana”, do sociólogo
Erwin Goffman, este projecto dividiu-se em duas fases: uma primeira
fase de recolha e documentação de encontros com desconhecidos,
em colaboração com a videasta Luciana Fino; e uma segunda fase
de apropriação desses materiais para palco, com um grupo de três
performers. Das noções de retrato, testemunho autobiográfico e da
relação com os registos audiovisuais captados, surge um diálogo
explícito entre o documento e a apropriação desse documento, numa
esfera ficcional. O projecto mergulha numa répèrage da oralidade e da
gestualidade do corpo social, para emergir numa performance sobre os
diferentes aspectos da dramatização do eu, no seio do espaço público.
Um re:play que é a re:criação do eu, emergindo da pesquisa sobre
arquivo da documentação auto-biográfica.
Rita Natálio nasceu em Lisboa. Da sua formação académica destaca
História (UNL) e Artes do Espectáculo Coreográfico (Universidade
de Paris VIII). Como intérprete, realizou o Programa de Estudos e
Pesquisa Coreográfica do Fórum Dança (2006), onde mais tarde viria
também a ensinar, e vários workshops de composição e improvisação.
A sua actividade principal tem-se centrado na área da dramaturgia e
acompanhamento de projectos artísticos e de investigação. Trabalhou
com a RE.AL na coordenação/acompanhamento de projectos de
investigação e treino em torno do método de Composição em Tempo Real.
Desde 2008, começou igualmente a desenvolver o seu próprio trabalho.
O filme “Looking back into the future” mereceu-lhe a Menção Honrosa
no FICAP – Festival Internacional de Cinema de Artes Performativas.
Faz parte da rede internacional SKITe. Actualmente trabalha com Vera
Mantero na publicação de um livro de artista.
(c) Inês Abreu
33
TEATRO DO SILÊNCIO
(PT)
Cartas Telegramas e Postais
Performance
Residência artística
Artistical residency
Arraiolos
De ¬ From ¬ 9 a ¬ to ¬ 12 de Setembro ¬ September
Texto e Direcção artística ¬ Maria Gil
Sonoplastia e Espaço Cénico ¬ Monika Fryčová
Intérpretes ¬ Maria Gil, Gisella Mendonza e Monika Fryčová
Figurinos ¬ Catarina Varatojo
Fotografia ¬ Tatiana Macedo
Direcção de Produção e Produção executiva ¬ Raquel Belchior
Produção ¬ Teatro do Silêncio
Co-produção ¬ ZDB e Teatro Aveirense
Residência Artística e de criação ¬ Festival Escrita na Paisagem
Parceria ¬ Livraria Trama
Letters, Telegram and Postcards is a performance about the intimacy
of the relationship sender-addressee and the need to creating alter-egos.
During April and May 2010, Maria Gil has received letters from senders,
whom she invited to write, whisper, yell out, confess to her whatever they
wanted. Based on this material, the project investigates the possibility
we all have to re:create a double of ourselves, giving life to hidden sides
of our personalities and to fantastic worlds where we can be somebody
else, where we can re:invent our biographies, turning it into a parallel
life on its own. The intimacy of the relationship sender-addressee is here
re:proposed as the relationship between performer and audience member.
A relationship affected both by the choice about how much of ourselves
do we want to put in the social we create, and by the trust we put in
someone else, certain that the other is full of questions and doubts, just
like we are.
Apresentação
Presentation
Arraiolos
12 de Setembro ¬ September ¬ 18H30
M/12 ¬ 12A
Entrada livre ¬ Free entrance
“O que posso eu escrever? O que pensará a artista quando ler a minha mensagem?
Qual será a sua reacção? Será que ela vai descobrir quem sou eu? E quem é ela?
Quem é Maria Gil? Será este o seu verdadeiro nome? Quem é M.? E quem sou eu?” –
Pensamentos de um remetente anónimo, antes de enviar a sua carta…
Cartas, Telegramas e Postais é uma performance sobre a intimidade que se estabelece
entre quem envia e quem recebe uma carta, e sobre a necessidade da re:criação
do indivíduo em alter-egos. Durante os meses de Abril e Maio de 2010, Maria Gil
recebeu cartas de remetentes anónimos, que ela convidou a escrever-lhe, sussurrar-lhe,
desabafar, confessar-lhe o que quisessem. Qualquer um pode escrever qualquer coisa,
qualquer um pode ser “ninguém”. Ela não conhece os seus remetentes em pessoa, mas
através das suas palavras, escritas num suporte tão íntimo: uma mensagem em papel,
dirigida directamente à artista.
Aqueles textos pessoais transformam-se em material para a criação de uma
performance na qual o público é chamado a interagir com a criadora, estabelecendo
uma relação de proximidade entre ambos. As duas partes e as suas identidades
confrontam-se, reflectem-se uma na outra, e partilham um espaço de comunicação
cheio de possibilidades: quem são os interlocutores? O que se troca nestas cartas
íntimas? Que “imagem” de nós próprios passamos ao outro?
Este projecto investiga a possibilidade que todos temos de re:criar duplos de nós
próprios, dando vida a partes escondidas das nossa personalidade e a mundos
fantásticos onde podemos ser outro, onde re:inventamos as nossa biografias, numa
vida paralela e autónoma. A intimidade da relação estabelecida entre remetente
e destinatário é re:pensada como a relação que se estabelece entre performer e
espectador. Um relação afectada pelas escolhas que fazemos sobre quanto queremos
revelar sobre nós próprios nas máscaras sociais que criamos, e pela confiança que
depositamos nos outros, sabendo que as suas mentes, como as nossas, estão cheias de
questões e hesitações.
Quer tenha escrito a Maria Gil, ou não, esta performance é a sua oportunidade para a
conhecer, bem como aos seus alter-egos, e, assim, re:presentar-se e re:inventar-se.
Teatro do Silêncio, fundado em 2004, está sedeado em Lisboa. Colectivo
transdisciplinar, junta pessoas com diferentes conhecimentos e interesses: teatro,
cinema música, dança, artes visuais, e também matemática. O Teatro do Silêncio
produz trabalho de carácter experimental, baseado numa pesquisa constante por
novas abordagens e linguagens artísticas. A criação de textos originais, a utilização de
materiais autobiográficos e a construção de uma relação de intimidade com o público
durante as performances, são outras características essenciais do grupo. Os processos
criativos de Teatro do Silêncio materializa-se numa variedade de objectos artísticos,
desde performances (até agora todas da responsabilidade de Maria Gil), a curtasmetragens, álbuns, e livros.
34
Performance
Évora, Convento dos Remédios e Tuareg Al-Andaluz
De ¬ From ¬ 20 a ¬ to ¬ 23 de Setembro ¬ September
Entrada livre ¬ Free entrance
MOSTRA DE VÍDEO PERFORMANCE
O vídeo tem, ao longo da sua ainda curta mas intensa existência, ocupado
uma posição privilegiada face às práticas performativas, em regimes
que podemos reconhecer ora como documentais, ora como criativos, ora
ainda como performativos.
Organizada em torno da problemática da documentação, esta Mostra
de vídeo-performance procura contemplar essas três modalidades,
distribuindo-as quer por sessões de concurso, quer por mostras temáticas.
O Convento dos Remédios será o pólo principal da Mostra, com o seu
Pátio das Romãs e a frescura das noites. Outros espaços da cidade terão
parte da Mostra em regime de espaço público e em colaboração com a
Mostra para a exibição de secções especiais (ver programa próprio).
Formas de participação
1. Envio das obras em formato DVD, acompanhadas de uma breve
sinopse, ficha técnica e nota(s) biográfica(s).
2. Cada vídeo deve identificar o autor e a secção para que se propõe:
documentação, criação, ou vídeo-performance.
3. Todos os trabalhos devem ser enviados até 15 de Agosto de 2010 para:
Festival Escrita na Paisagem
Mostra de vídeo-performance
Apartado 287
7002-504 Évora
PORTUGAL
4. Os vídeos serão objecto de análise por parte do Júri do Festival e
poderão não ser exibidos caso não respeitem padrões de qualidade
mínimos. Todos os resultados serão comunicados aos participantes.
5. Sinopses e créditos serão objecto de publicação no catálogo da Mostra.
Mais informações em
www.escritanapaisagem.net
[email protected]
Contactos
Rita Valente ¬ [email protected]
+351 266 953 607
+351 266 704 236
+351 931 985 560
Video has been having, during its still short but intense existence, a
priviledge position toward performance practices, in the realms of
documentation, creation and also performance.
Centered on the issue of documentation, this Mostra de vídeoperformance (Vídeo-performance Show) tries to address all those
three realms in a competition and a thematic show. The Convento dos
Remédios, with its Pátio das Romãs and warm nights, will be the main
center of the Show. The Show will also be present in other spaces of
the city, for special sessions freely opened to the public. (See the event’s
program).
35
PEDRO ANTUNES
(PT)
Uma Parte Perdida
Performance
Évora, Sede do Grupo Pró-Évora, Rua do Salvador nº1
22 e ¬ and ¬ 23 de Setembro ¬ September ¬ 21H e ¬ and ¬ 23H
Arraiolos
24 de Setembro ¬ September ¬ 21H e ¬ and ¬ 23H
Fundão, Casino (zona Antiga do Fundão)
25 de Setembro ¬ September ¬ 21H30 e ¬ and ¬ 23H
Duração ¬ Duration ¬ 90min
Lotação ¬ Max seats ¬ 12
M/16 ¬ 16A
Entrada livre ¬ Free entrance
“Um filho tenta reconstruir a sua família.
Uma performance sobre o reencontro de uma família”
Pedro Antunes é um jovem artista português que vive e trabalha em
Londres. A sua condição, a de viver há muitos anos separado da sua
família biológica, levou-o a desenvolver este trabalho, na tentativa de
criar uma re:constituição viva da sua família. Esta é a re:encenação de
um re:encontro que Pedro Antunes nunca conseguir realizar com os seus.
Criação ¬ Pedro Antunes
Performers ¬ Pedro Antunes, actriz convidada e cantora surpresa
Com os espectadores, o performer recria vários episódios de uma família
feliz: ele é sempre o “filho”, enquanto os espectadores vão assumindo
papéis de diferentes membros da família. Neste quadro ficcional, a
realidade autobiográfica do performer emerge sob a forma de espaços em
branco e lapsos de memória. A realidade autobiográfica da identidade
do filho (Pedro Antunes) mistura-se com a re:constituição ficcional da
família. O resultado é uma experiência a partilhada entre performer e
público.
Uma Parte Perdida explora a relação de Pedro Antunes com a sua
família, bem como a sua decisão de se afastar dela, sobre a sua
necessidade de mentir sobre o que lhe falta, e a necessidade da sua
família de esconder a ausência do filho que lhe falta. Esta performance
reflecte sobre a reorganização de uma família, quando um dos seus
membros está ausente: como é que esta formação social funciona sem um
dos seus membros? Que histórias habitam a mente do filho, na tentativa
de substituir o seu pai e mãe ausentes, que se encontram longe?
Uma Parte Perdida (A Missing Part) is an exploration about Pedro
Antunes’s relationship with his family, and it is also about his decision
of being apart from them, the need to lie about his missing parts, and
the need of a family to hide absence of its missing son. This piece
materializes Antune’s need to create a live family re:construction: the
re:enactment of a re:union he never lived in reality. Together with the
audience members, the performer re:creates different episodes of a happy
family: he is always the “son”, while the spectators assume the roles
of different family members. In this fictional set, the autobiographical
reality of the performer emerges in the gaps and lapses of memory, and
the reality of the autobiographic identity of the son (Pedro Antunes) is
mingled with the fictional re:construction of the family. The result is an
experiment shared with the audience.
Criador de teatro nascido em Lisboa, mestre em Contemporary
Performance Making pela Brunel University, tem vindo, desde então,
a trabalhar, performar e colaborar com diferentes companhias de
teatro e artistas internacionais como os rotozaza, Robin Deacon,
Tik Tak Boom, La Pocha Nostra e Cataphonic - artistas que se
dedicam ao desenvolvimento de trabalho inovador e que desafiam as
limitações da própria linguagem teatral. Em 2005 criou o seu primeiro
espectáculo, Narrow Room um trabalho de teatro e movimento estreado
em Londres. Após esta primeira criação desenvolveu uma instalação
para o Camberwell Arts Festival intitulada Wrapped Bodies (Londres,
2006). Mais recentemente co-criou A Noite da Galinha Gorda (Arraiolos,
2009) um conto surrealista apresentado num quintal em Arraiolos e
encontra-se agora a desenvolver com a companhia Big Odd um tríptico
de espectáculos sobre família: The Missing Parts - A Reconstrução de
Uma Família ao vivo (Londres, 2008 / 09); A Broken Part (Londres,
2009 - 2010) uma ópera teatral sobre a tragédia da mãe e Uma Parte
Perdida (ainda em criação). No seu trabalho dedica-se à criação de
espectáculos que exploram a natureza intimista das relações humanas
experimentando com a interacção entre o teatro e as artes plásticas,
sempre na tentativa de reunir pessoas para uma celebração que pode ter
a forma de uma festa ou de encontro informal e na qual a audiência é
confrontada com a ideia de deslocamento. O trabalho artístico do Pedro
foi comissionado e apoiados por Colecção B (Évora, Portugal), Quarta
Parede (Covilhã, Portugal), Performas (Aveiro, Portugal), Performance
Initiative Network (Londres, UK) e The Scene Pool (Londres, UK).
36
ANTÓNIO PEDRO LOPES & MONICA
GILLETTE
(PT/USA)
Luzes Ligadas Não Quer Dizer Que Estejamos Em Casa
Performance
Évora
23 de Setembro ¬ September ¬ 21H30
M/12 ¬ 12A
5—
¬ 3—
(estudantes ¬ students)
Um espectáculo de ¬ Monica Gillette & António Pedro Lopes
Produção Executiva ¬ Joana Martins
Colaboração Dramatúrgica ¬ Rita Natálio
Desenho de Luz ¬ Alexandre Coelho
Figurinos ¬ Guilherme Garrido
Fotografia ¬ Rodrigo Valero Puertas, Olga Belchior
Residências Artísticas ¬ RE-AL, Balleteatro, Teatro Micaelense, Forum PrismaMexico, Devir/CAPA, La Caldera
Apoio de Viagens ¬ Instituto Camões
Agradecimentos ¬ Rita Almiro, Laura Lamas, Marta Vieira, Romana Moreira,
Gianna & Conrad Smart, Ana Lúcia Cruz, National Theater of Mannheim, Tommy
Noonan, Inês Mariana Moitas, João Fiadeiro, O Espaço do Tempo, Francisco
Lopes, Diana Gillette, Primeiro Andar
Co-produzido por ¬ Festival Escrita na Paisagem, Teatro Micaelense
Em Luzes Ligadas Não Quer Dizer Que Estejamos Em Casa António
Pedro Lopes (PT) e Monica Gillette (USA) re:inventam constantemente
a sua identidade individual e enquanto casal, cruzando o seu material
autobiográfico – experiências individuais e vividas em conjunto – com
elementos ficcionais e ficcionados.
Lopes e Gillette iniciaram o seu processo de re:criação artística
partindo do cinema. Juntos começaram por re:visitar as vidas de vários
casais do cinema – relações felizes e complicadas, de amizade, amor,
cumplicidade no crime ou na rebeldia contra os padrões sociais. A dupla
desmontou estes casais e examinou-os à lupa, para depois os re:construir,
re:construindo-se, inculcando em si aspectos daqueles, emprestando-lhes
simultaneamente características suas.
Lopes e Gillette re:vivem a ficção, para a re:inventarem e, sobretudo,
para se re:inventarem constantemente. Neste processo, a dupla
desmultiplica a re:construção das suas biografias tomando diversos
pontos de vista – o individual, o da vida em comum, o familiar... – e
recorrendo a uma variedade de suportes e técnicas de documentação –
filme, fotografia, escrita de texto. O casal já visitou as suas terras natais
– Açores e Califórnia –, conheceram as mães um do outro e acederam
aos “arquivos” das respectivas famílias e tomaram uma variedade de
locais como palcos para re:encenar as suas biografias-ficcionadas/ficçõesbiográficas. Os resultados do processo de re:criação-documentação
não constituem objectos fixos, mas sim material a ser re:trabalhado,
alimentando a continuidade do processo de criação. Por fim, o percurso
culminará na criação de uma performance baseada na documentação
recolhida e numa publicação: duas modalidades de re:play/re:criação do
arquivo constituído durante o processo de pesquisa/criação artística.
Nómadas, Lopes e Gillette percorrem constantemente as distâncias
entre a narração de uma realidade-ficcionada (ou da ficção-real) e a
possibilidade de a inscrever (ou re:escrever) nos seus corpos, a criação
de documentação e a documentação da ficção. Ocasionalmente nestas
viagens são acompanhados por um “passageiro”, um artista de outra
disciplina que se junta ao casal numa experiência partilhada, temporária,
produzindo um objecto artístico que materializa a sua perspectiva sobre
o casal. A intervenção dos “artistas-passageiros” desenvolve-se em
duas direcções: o desenvolvimento de objectos artísticos que constituem
mais um olhar sobre o trabalho do casal (documentação), e material de
(c) Rodrigo Valero Puertas
In Lights on Doesn’t Mean We’re Home António Pedro Lopes (PT) and
Monica Gillette (USA) re:invent, again and again, their identities, as subjects
and as a couple, articulating their autobiographic material – individual
and joined experiences – with fictional and fictionalized elements.
Lopes and Gillette began their re:creative artistic process taking cinema as
starting point. Their first step was to watch some couples in film – happy
and complicated relationships, friendships, love, accomplices in crime or
against social patterns. The duo disassembles these couples, analyze them
closely, and then re:constructs them, re:constructing themselves. Each
member of the couple insert in themselves aspects from the couples of they
watched on film, simultaneously lending them some of their own personal
features.
trabalho na sua pesquisa/re:criação; e a colaboração directa de alguns
destes artistas na construção da performance (concepção de figurinos,
cenografia, sonoplastia, iluminação...).
Entre ficção e realidade, como se apresentam António Pedro Lopes e
Monica Gillette? Lopes, performer e autor de espectáculos, nasceu nas
Ilhas dos Açores. Actualmente é nómada e trabalha internacionalmente
com diversos coreógrafos, e regularmente em colaboração com Marianne
Baillot, Guilherme Garrido, Tommy Noonan e Monica Gillette. Ensinou
workshops de pesquisa na Europa em diversos contextos e instituições.
É membro fundador da rede internacional Sweet & Tender, da qual
partilhou a direcção artística em 2008. Fez curadoria de Conclusions for
the Future, no Espaço do Tempo.
Monica Gillette é natural da Califórnia, onde adquiriu formação como
bailarina clássica. Continuou os seus estudos em dança contemporânea
em Nova Iorque e na Europa. Apresentou-se pelos quatro cantos do
mundo com o seu trabalho e de outros coreógrafos. Mais recentemente
tem estado envolvida em projectos colaborativos com António Pedro
Lopes e Tommy Noonan, bem como com a rede internacional Sweet &
Tender Collaborations. Trabalhou ainda em montagem e edição de filmes
em Hollywood, tendo trabalhado nas séries “Os Sopranos” e “Crime &
Castigo”. Actualmente combina os seus conhecimentos em dança e filme
na criação de filmes para espectáculos, assim como na realização de
curtas-metragens já apresentadas em festivais internacionais.
37
ON CURATING / SOBRE CURADORIA
Simpósio Internacional
Scenography Expanding 3: on curation
Performance
Integrado no projecto INTERsection: intimacy and spectacle
Auditório da Universidade de Évora
27-28-29 de Setembro ¬ September
Ver programa próprio
In the third symposium of the project INTERsection, speaker
presentations, panel discussions, and workshop sessions are concerned
with the complex role of the curator in exhibiting spatial practice. A
range of models, examples, and future perspectives are introduced
and discussed. How is scenographic practice in theatre (performance),
architecture, exhibition, installation, and media framed in order to
curate, program, communicate, display and reflect? When does an
artist become a curator? Who is the author of the space? What are
contemporary perspectives on the display of ephemeral practice? Between
Badious’s call for “decidedness” (2005) and Bourriauds’s relational
aesthetics (2002) – where do we stand?
Ao longo da última década, a cenografia e o design de performance têm-se
progressivamente deslocado da caixa negra do teatro para um território
híbrido, situado na intersecção entre teatro, arquitectura, exposição, as
artes visuais e os media. Espaços que são simultaneamente híbridos,
mediados, narrativos, e o resultado de transformações no entendimento
transdisciplinar do espaço e numa consciência distinta de intervenção
social. Estes dois factores de “expansão” podem ser vistos como forças
centrais na prática e no pensamento cenográfico contemporâneo.
Com o objectivo de despoletar e acolher um discurso activo e
transdisciplinar sobre a noção de cenografia expandida, a Quadrienal
de Praga de Design de Performance e Espaço lança um convite à
apresentação de comunicações para o Scenography Expanding 1-3 em
2010. Os symposia debaterão noções como espectador, artista / autor, e
a curadoria na relação com os diversos intervenientes artísticos no design
de espaço contemporâneo.
Preparando o projecto INTERsection da Quadrienal de Praga, a realizar
em Junho de 2011, convidámos investigadores no campo da teoría e
práticas artísticas (artistas, curadores, programadores, encenadores,
dramaturgos, críticos e teóricos) para participar nos simpósios a realizar
em Riga, Belgrado e Évora em 2010. Scenography Expanding 1-3
publicará uma selecção das comunicações apresentadas.
Sobre curadoria constitui a terceira etapa dos simpósios, centrada
no complexo papel do curador na exibição de trabalhos focados nas
problemáticas do espaço.
Neste simpósio serão introduzidos e discutidos variados modelos,
exemplos e perspectivas sobre o futuro, na tentativa de encontrar
possíveis respostas para perguntas como: Como enquadrar a cenografia
em teatro (performance), arquitectura, exposição, instalação e media,
para curar, programar, comunicar, mostrar e reflectir? Quando é que
um artista se transforma em curador? Quem é o autor de um espaço?
Quais as perspectivas contemporâneas sobre a problemática de mostrar
trabalhos marcados pelo efémero? Entre o apelo de Badiou para “ser
decidido [decidedness]” (2005) e o conceito de “estética relacional” de
Bourriaud (2002), onde nos situamos?
INTERsection: Intimacy and Spectacle – 2009 / 2012
¬ Projecto internacional que explora a performance como elemento
presente em diversas disciplinas artísticas e culturais, abordando
a concepção do espaço performativo e a cenografia como campos
interdisciplinares.
¬ Projecto constituído por duas partes: (1) discussões teóricas; e (2)
instalações interactivas e performances.
¬ (1) Os debates teóricos estão a ter lugar, desde 2009, em Zurique,
Riga, Amsterdão, Belgrado e Évora. Nestes debates, teóricos e artistas
relevantes nesta área reunem-se para explorar a concepção do espaço
performativo em várias disciplinas artísticas e culturas, bem como as
diversas formas e usos que a performance pode ter, a partir de três pontos
de vista: do público, dos artistas e dos curadores.
¬ Durante o Outono de 2009 o simpósio internacional, Scenography
Expanded, foi organizado em colaboração com a Theaterschool de
Amesterdão; este simpósio centrou-se na curadoria de exposições de
cenografia, bem como, na expansão do termo “cenografia” e abordando
a performance contemporânea como um fenómeno que está para lá do
teatro.
¬ Em colaboração com a Universidade de Artes de Zurique – Instituto
de Design e Tecnologia, foi desenvolvido o projecto Monitoring
Scenography 3: Space and Desire, para o qual foram convidados artistas
e investigadores para discutir a existencia e textura das linguagens
espaciais, coreografias, mise-en-scènes e representações espaciais de
desejo.
¬ (2) As instalações interactivas e performances terão lugar durante a PQ
2011: 30 projectos de performance e concepção do espaço performativo,
desenvolvidos em trinta cubos brancos e pretos, por cenógrafos, artistas
dedicados à instalação, companhias de teatro, artistas dedicados ao
vídeo, estilistas e arquitectos de todos o mundo. Três performances em
larga escala também farão parte desta actividade, iluminando o contraste
entre a relação intima que se desenvolve entre espectadores e objecto
artístico, no interior dos cubos, e o espectáculo que se desenrola do lado
de fora. Estas actividades serão acompanhadas por cinquenta painéis
de discussões, apresentações, conferências e desfiles, juntamente com
quarenta workshops e quinze mil estudantes de teatro e artes visuais,
oriundos de todo o mundo.
¬ Projectos individuais serão igualmente apresentados em festivais na
Hungria, Sérvia, Letónia, Irlanda, Grã-Bretanha, Estónia, Finlândia e
Portugal entre 2011 e 2012.
Mais informações sobre
INTERsection: intimacy and spectale: http://www.intersection.cz
Quadrienal de Praga: http://www.pq.cz/en/
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DINIS MACHADO (PT)
Parole, parole, parole...
Teatro
Theater
Palácio de D. Manuel, Évora
27 de Setembro ¬ September ¬ 21H30
Duração ¬ Duration ¬ 80min
M/12 ¬ 12A
5— ¬ 3— (estudantes ¬ students)
Um espectáculo da ¬ Dinis Machado, corp.
Intrepretação ¬ Ana Rocha, Dinis Machado, Inês Vaz e Jorge Gonçalves
Consultoria ¬ José Capela
Figurinos ¬ Miguel Flor
Produção, Assistência de encenação ¬ Ana Rocha (Obra Madrasta)
Co-Produção ¬ Núcleo de Experimentação Coreográfica e Galeria Zé dos Bois
Apoio ¬ Fundação Calouste Gulbenkian, Pedras e Pêssegos e Teatro Nacional S. João
Agradecimentos ¬ Sérgio Julião (VoiceLand), Filipe Taxas, Retroparadise, Lisa Cepeda e Vera
Carmo
Projecto criado no âmbito do “Serviço Permanente”/ NEC
Parole, parole, parole... (Palavras, palavras, palavras...) desafia-nos
para um exercício de esvaziamento do significado das palavras, bem
como um exercício de tradução e transposição de códigos. Assim, Parole,
Parole, Parole... toca o tema do re:play menos como re:petição e mais
como re:invenção e re:criação
Quando nos confrontamos com uma linguagem que não compreendemos,
um código que não dominamos, ou quando por fascínio nos
abstraímos do seu conteúdo, tendemos a construir “imagens”. Nesta
peça o dispositivo cénico é o mecanismo de comunicação gerador
dessas “imagens”, que surgem quando o discurso é substituído pela
contemplação. O facto de nos tornarmos voyers, numa espécie de dead
end comunicacional, permite-nos analisar essas “imagens” e criar um
metadiscurso sobre elas. Neste teatro de personagens sem identidade, as
figuras em cena são meros interlocutores de uma sucessão de traduções
cénicas, que se vão sobrepondo e deixando marcas na significação do
texto que transfere. Os diálogos e as narrações – na maioria em francês e
inglês – vedam a possibilidade de uma compreensão integral, quase como
uma sátira ao desajuste entre significado e contexto, tão frequente no
nosso universo social. O recurso a clichés e a elementos de uma cultura
mainstream, sugere a crítica à postura espectacular de entretenimento.
Dinis Machado nasceu no Porto. Formou-se como actor pela Escola
Superior de Teatro e Cinema, Academia Contemporânea do Espectáculo
e Balleteatro Centro de Formação (onde estudou também Dança
Contemporânea). Estudou Artes Visuais no Independent Study
Program of Visual Arts da Maumaus (Lisboa). Como actor trabalhou
com diversas estruturas e encenadores. Desde 2007 desenvolve trabalho
como criador autónomo, sendo responsável pelos espectáculos Ponto de
Fuga e Dramaturgia, as performances Only you. e Vernissage/Finissage,
assim como as instalações Nowhere e E Eis que de súbito descobriu uma
nova porta na sua mesma e velha casa.
(c) Vera Carmo
Parole, parole, parole... (Words, words, words...) is a challenge to
empty words from its meaning, as well as an exercise of translation
and rendering of codes. Thus, Parole, Parole, Parole... leads us to an
approach to re:play which is nearer notions of re:invetion and re:criation,
and farther from plain re:petition. In this piece, the characters are
anonymous interlocutors in a series of translations on stage, which
overlap on each other and leave traces of signification from the text that
is being transferred. The dialogs and translations – mostly in French and
English – push farther away the possibility of fully understanding what
is happening, in an almost-satire about the misfit between signification
and context, which is extremely common in our social intercourses. In
addition, the use of codes and clichés from mainstream culture, suggests
a critique about its logics of bourgeois entertainment.
39
ANTONIO TAGLIARINI &
DARIA DEFLORIAN
(IT)
REWIND: uma homenagem a Café Müller de Pina Bausch
Teatro ¬ Dança ¬ Performance
Theater ¬ Dance ¬ Performance
A Bruxa Teatro, Évora
28 de Setembro ¬ September ¬ 21H30
Espectáculo em Italiano, legendado em Português ¬ Performed in Italian, with
Portuguese subtitles
M/12 ¬ 12A
5— ¬ 3— (estudantes ¬ students)
Criação e performance ¬ Antonio Tagliarini e Daria Deflorian
Co-Produção ¬ Planet 3 + Dreamachine
Pina Bausch foi umas das coreógrafas mais importantes do século XX.
As suas criações ainda suscitam grande admiração, até dos espectadores
menos versados em dança contemporânea. Antonio Tagliarini e Daria
Deflorian descrevem a sua experiência desta peça com as seguintes
palavras:
1978. Café Müller de Pina Bausch. Uma peça que faz parar o coração.
Um acontecimento artístico, uma peça da história da arte do século XX.
Para todos nós – demasiado novos na altura – Café Müller foi um marco,
um mito, um cliché. [...]Hoje, esta peça é inevitavelmente outra coisa:
o tempo mudou-a, esbateu-a, confundiu-a, e idolatrou-a; um objecto
intocável e mítico foi desfeito, e só ficaram as suas ruínas sagradas. Só
ruínas. Assim, agora, podemos andar no meio dos destroços, apanhar
a suas peças, manipulá-las, observá-las de perto e estilhaçá-las ainda
mais.
(c) Serafino Amato
In Rewind, the performers Antonio Tagliarini and Daria Deflorian pay
an homage to the German choreographer, taking up Caffé Müller’s ruins
as starting point: today it is possible to do every and any thing with the
“ruins” of this piece. This work is about memory betrayals. Like in a
re:wind, the performers look back searching for their recollections about
Caffé Müller. However, their attempt to re:invent the piece based on their
memories is continuously interrupted by a myriad of little stories that
come and go, and sometimes suspended in an autobiographical reverie.
Thus, Rewind is an assemblage of memory fragments as they emerge
from the confrontation with the original object. Memories are partial and
mixed-up: an improbable re:winding of time.
Em Rewind, os performers Antonio Tagliarini e Daria Deflorian prestam
homenagem à coreografa alemã, tomando como ponto de partida o
espectáculo Café Müller (ou o que dele resta): hoje é possível fazer
qualquer coisa com as “ruínas” desta peça. Este trabalho é sobre as
partidas que a memória nos prega, quando tentamos recordar. Como
quem faz o re:wind de um filme, os criadores procuram no passados as
suas recordações que guardam de Café Müller. Porém, a sua tentativa
de re:inventar a peça, baseando-se nas suas memórias, é constantemente
interrompida por uma série de pequenas histórias que vão e vêm, e por
vezes suspensa num devaneio autobiográfico. Rewind faz-se, assim, da
articulação de fragmentos de memórias que emergem do confronto com o
objecto original. As memórias são parciais e confusas: uma recapitulação
improvável do tempo.
Antonio Tagliarini é performer, bailarino, e encenador. As suas criações
já foram apresentadas em Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, Áustria,
Polónia, Bélgica, Eslovénia e França. Convidado a participar como
criador em projectos como APAP 2007, “sites of imagination” 2008, e
“Pointe to Point” Ásia-Europa 2009, já trabalhou com Miguel Pereira,
Raffaella Giordano, Giorgio Rossi, Massimiliano Civica, Fabrizio Arcuri,
Idoia Zapaleta, Daria Deflorian e Ambra Senatore.
Daria Deflorian é actriz, autora de teatro e encenadora. Trabalhou
como actriz com Marcello Sambati, Fabrizio Crisafulli, Remondi and
Caporossi, Mario Martone, Martha Clarke (Nova Iorque), e Accademia
degli Artefatti, entre outros. Trabalhou como assistente de encenação com
Mario Martone, Pippo Delbono e Eimuntas Nekrosius.
Daria Deflorian e Antonio Tagliarini iniciaram a sua colaboração em
2008, precisamente desenvolvendo Rewind – uma homenagem a Café
Müller de Pina Bausch, e ainda a leitura pública de Blackbird de David
Harrower. Continuam a trabalhar juntos, agora num projecto inspirado
no livro From a to b de Andy Warhol.
40
FANNY & ALEXANDER
Him
Teatro
Theater
Palácio de D. Manuel, Évora
29 de Setembro ¬ September ¬ 21H30
Espectáculo em Italiano, legendado em Português ¬ Performed in Italian, with
Portuguese subtitles
Duração ¬ Duration ¬ 75min
M/12 ¬ 12A
5— ¬ 3— (estudantes ¬ students)
Produção ¬ Fanny & Alexander
Dramaturgia ¬ Chiara Langani
Encenação ¬ Luigi de Angelis
Interpretação ¬ Marco Cavalcoli
Direcção de produção ¬ Valentina Ciampi
Logística ¬ Sergio Carioli
Agradecimento ¬ Teatrino Clandestino
Não há quem não fique enfeitiçado pela magia do cinema. O poder das
imagens transporta-nos para outro mundo, conquista-nos, rendemo-nos
a ele da mesma forma que nos deixamos apanhar pelo poder do teatro e
de outras artes.
Him da companhia italiana Fanny & Alexander traz este poder para
o palco – o poder da Arte – pertencendo este tanto ao actor quando
este domina a cena, como ao filme quando prende o olhar do público.
Him traz o cinema para o teatro. Em cena encontram-se apenas a
projecção do filme O Feiticeiro de Oz, de Victor Fleming, e um actor
que dá vida a uma estranha personagem. Um ditador de bigode, cuja
aparência nos lembra tanto uma conhecida personalidade negativa da
história contemporânea – Adolf Hiltler – está ocupado a tentar fazer
um re:play completo d’O Feiticeiro de Oz. Ele re:actua o filme do
princípio ao fim; dobra-o; dirige-o como se fosse o maestro de uma
orquestra, e dá (a sua própria voz) a todas as personagens, e até à banda
sonora.
(c) Enrico Fedrigoli
Him (Ele) é exactamente ele, Hitler, inspirado pela escultura de Maurizio
Cattelan, cujo título inspira o nome deste espectáculo. Na peça de
Cattelan o “pequeno” ditador em tamanho real encontra-se ajoelhado,
como que a pedir perdão. Neste espectáculo, a única personagem em
palco exibe todas as suas capacidades na tentativa de dominar a cena.
Ele quer dominar o filme, enquanto o re:faz para nós. Mas o filme não
é um adversário fácil de vencer, nesta batalha pelo poder. O ditador é
obrigado a fazer escolhas durante o seu empreendimento megalomaníaco
que é este re:play-radical, de forma a conseguir estar a par do ritmo
do filme. Mesmo que a imagem evocada em palco seja dramática, o
público não consegue alhear-se do efeito de cómico e grotesco que é
inevitavelmente produzido. Porque o poder deste ditador é falso, nulo;
o filme não precisa do ditador, não é este que controla o que se passa
em cena, pelo contrario, ele é controlado pelo ritmo do filme, que não
consegue controlar. Este é um jogo de poderes e re:petição de imagens
cruzadas: nós vemos o filme, nós vemos a peça, o actor também é
espectador do filme, nós somos espectadores de um espectador... Aqui
joga-se com as relações entre arte e poder, bem como com o poder das
imagens. E colocam-se questões: que formas tomam estas relações hoje?
Como se alteraram (se é que se alteraram de todo) em comparação com
aquele tempo histórico em que o poder político conseguiu manipular o
povo ao ponto de conseguir instalar uma ditadura?
(IT)
The magic of cinema bewitches everyone. The power of the images brings
us to another world, it conquers us all, in the same way as we surrender
to the catching power of theatre and all the arts.
Him by the Italian theater company Fanny & Alexander stages this power
– the power of Art – belonging both to the actor when dominating the
scene, and to the cinema when catching the audience’s sight. Him brings
the cinema into the theatre. On the scene, there is only the projection
of Victor Fleming’s The Wizard of Oz and an actor who gives life to a
bizarre character. This, a moustached dictator whose look reminds us
so much of a well-known negative figure from contemporary history –
Adolf Hitler – , is busy doing a total re:play of the film. He re:performs it
from the very beginning to the very end; he dubs it, he directs it like an
orchestra leader, and gives (his own) voice to every character, even to the
sound track.
Em O Feiticeiro de Oz, Dorothy e os seus companheiros de aventura
vão em busca da intervenção mágica do Feiticeiro. Mas quando
finalmente o encontram, descobrem que a sua magia não passa de um
truque; o Feiticeiro não é mais do que um homenzinho que constrói
à sua volta uma ficção, fazendo todos acreditar que ele tem poderes
mágicos – poderes que na realidade não possui. No final o Feiticeiro
convence as outras personagens de que para terem o que querem, basta
nomeá-lo, basta pronunciar a palavra: casa, coração, coragem, cérebro.
Não há magia. O Feiticeiro não é mais do que um homem mortal com
a capacidade de manipular as pessoas à sua volta através de uma
capacidade de persuasão extremamente apurada: o poder é um grande
ilusionista. A companhia Fanny & Alexander descreve esta “operação
monstruosa”, mas sublinha que “as personagens [Dorothy e os seus
amigos] são igualmente monstruosos pois aceitam [a situação]”. Porque
o exercício do poder é sempre baseado num acordo, porque ambas as
partes são responsáveis pela administração do poder. Historicamente há
sempre os que controlam o poder e aqueles que consentem em que os
outros controlem o poder.
É curioso observar o uso da cor n’O Feiticeiro de Oz, de Fleming, que foi
um dos primeiros filmes a utilizar imagem a cores. A parte do filme que
retrata a realidade é apresentada ainda a preto e branco, enquanto a cor
é usada nas imagens do mundo de fantasia onde a protagonista Dorothy
se acha, e no qual empreende a sua viagem à procura do Feiticeiro, na
esperança que este a ajude a voltar para casa. O público para o qual
Fleming produziu o filme, lia claramente a ilusão do sonho: preto e
branco representava o realismo, a cor a fantasia. Para nós hoje, quando
vimos este filme, a correspondência “realidade-preto e branco” e “coresfantasia” não é assim tão clara; na verdade, tendemos a invertê-la.
Hoje, lemos as imagens a cores como “realidade”, relegando as imagens
a preto e branco para o “tempo histórico”, ou seja, o que já não existe.
Adolf Hitler também já não existe e, por isso, esta estranha figura em
palco evoca fantasmas do passado, que nos parecem inofensivos hoje.
Mas, e se existir, hoje, um re:play disfarçado daquele ditador? Será que
conseguiremos aperceber-nos da ilusão? Será que também andamos à
procura de um Feiticeiro? Haverá, no mundo de hoje, algum maestro
a tentar “enfeitiçar-nos” ao ritmo da sua batuta? O que acontecerá se
repetirmos as experiencias passadas e nos deixarmos apanhar na ilusão?
Perante tudo isto, qual é o papel da Arte? Qual a responsabilidade da
Arte quando lança o seu feitiço sobre os seus espectadores? Vê-lo-emos
em Him, à medida que este mito clássico sobre ilusão é re:presentado.
Fanny & Alexander é uma companhia de teatro italiana, fundada
em Ravenna, em 1992, por Luigi de Angelis e Chiara Lagani. Entre
1993 e 1999 a companhia atravessou um período de desenvolvimento
e crescimento. Ao criar espectáculos como “Cantico dei cantici”,
“Con mano devota”, “Ponti in core”, “Sinfornia majakovskiana” (em
colaboração com Teatrino Clandestino), e “Sulla turchinità della fata”,
preparava-se para produções mais exigentes como “Requiem” (2001)
e as várias etapas do projecto “Ada, Cronaca familiare” (2002-2004),
inspirado no romance de Nabokov. A produção mais recente de Fanny &
Alexander, “Heliogabalus”, conta a estória do jovem imperador romano
que dá nome à peça.
As qualidades mais impressionantes do trabalho de Fanny & Alexander
são: a deliberada inversão dos códigos (um desafio constante à
percepção do público) e uma cultura visual refinada. No entanto, estas
características são secundárias quando comparadas com a atenção e
análise rigorosa que dedicam à linguagem – um aspecto que atravessa
todo o trabalho da companhia, culminando em “linguagens impossíveis”.
O “duplo” é um elemento igualmente recorrente no trabalho de Fanny
& Alexander – e o projecto que a companhia traz este ano ao Festival é
disso exemplo.
42
TIAGO PEREIRA COM
EDUARDO VINHAS E O
COLECTIVO SOPHIEMARIE(PT)
Equação
Visuals ¬ Música ¬ Performance
Visuals ¬ Music ¬ Performance
Praça 1º de Maio, Évora
30 de Setembro ¬ September ¬ 22H
Todas as idades ¬ All ages
Entrada livre ¬ Free entrance
Tiago Pereira ¬ Visualista
Eduardo Vinhas ¬ Músico
Colectivo SophieMarie ¬ Performers
O auto-intitulado “ovni do cinema português”, Tiago Pereira,
acompanhado pelo musico Eduardo Vinhas e pelo Colectivo SophieMarie,
aterram no encerramento do Festival Escrita na Paisagem para
apresentar Equação. Celebramos de uma só vez, o próprio conceito do
Festival – o vínculo que mantém com a paisagem Alentejana – e o tema
deste ano, re:play, com um trabalho que constrói a ponte perfeita entre
ambos, sintetizando-os.
Com Equação, um espectáculo multimédia que constrói uma
narrativa não linear sobre impressões e tradições, Pereira, Vinhas
e SophieMarie abordam o património imaterial da região do
Alentejo, re:inventando-o numa montagem criativa, numa sobreposição
e justaposição de pensamentos, registos, documentos audiovisuais,
lendas, contos, práticas rituais e paisagens sonoras relativas ao
arquétipo feminino na tradição musical alentejana. Estes materiais
e conceitos são re:organizados e re:pensados na articulação com a
contemporaneidade, materializando-se num espectáculo sensorial e
transdisciplinar. Uma experiência pós-cinemática que dissemina a
linguagem visualista em tempo-real potenciando a re:actualização do
passado.
Um espectáculo através do qual o Festival re:afirma, no seu
encerramento, o ponto de vista a partir do qual escolheu ler e escrever a
paisagem em 2010: re:play – a re:petição, re:invenção e re:criação como
o cerne da criação artística contemporânea.
Tiago Pereira nasceu em Lisboa. Os anos 80 atravessaram-lhe a
adolescência, vivida no contexto do urbano-popular Bairro Alto. O
seu trabalho distingue-se por uma abordagem particular da tradição
oral portuguesa: ele re:colhe para re:criar, para desconstruir, e não
parare:produzir acriticamente. A sua missão é sobretudo contribuir para
uma “alfabetização da memória”, porque “as pessoas são analfabetas em
relação a recolher e a terem memória e é preciso ensinar a fazer recolhas,
a criar o bicho de recolher as suas coisas em vez de terem vergonha
dos sítios onde nasceram e de onde são”. Tiago Pereira empenha-se
em libertar a tradição, preservando-a sem a sufocar. “Tradição oral é
transmitir o que se vive, passá-lo de geração em geração, contaminandose, alargando-se e atingindo combinações infinitas”.
Em 1998, o Alentejo provoca o seu primeiro video-documentário musical
“Quem canta seus males espanta”, e desde aí parte à descoberta da
ruralidade. E não pára: em 1998 recebeu o prémio de Melhor Realizador
nos Encontros de Cinema Documental da Malaposta; em 2003 foi
Equação (Equation) is a multimedia concert in which the visuals
artist Tiago Pereira, with the musician Eduardo Vinhas, and
the Collective SophieMarie, creates a non-linear narrative that
approaches the immaterial patrimony of Alentejo – the region’s oral
traditions. This patrimony is re:invented through a creative montage
and overlapping of thoughts, registers, audiovisual documents,
legends, tales, ritual practices and soundscapes related with the
female archetype as it is expressed in Alentejo’s music traditions.
Materials and concepts are re:organized and re:considered at
the articulation with the present. The result is a sensorial and
transdisciplinary show; a post-cinematic experience that disseminates
the language of visuals in real-time, strengthening possibilities of
re:actualizing the past.
galardoado com o Grande Prémio do Juri no Festival Ovarvídeo; em
2006, ganha o Grande Prémio Tóbis para a Melhor Curta Metragem
Portuguesa no Doc Lisboa; em 2007 recebe o galardão para Melhor
Filme Etnográfico no Dialektus Festival, em Budapeste. A par de tudo
isto, resta mencionar que Tiago Pereira foi várias vezes seleccionado em
diversos festivais europeus e participou em inúmeros outros projectos,
desde a animação infantil aos Live Acts.
Eduardo Vinhas, é um dos três sócios de Golden Poney Studio, que
partilha com João Osório e Rodrigo Alfacinha, e é membro do duo
Musgo, do qual Alfacinha também faz parte. Na última década, Vinhas
e Alfacinha têm tocado juntos, primeiro dedicados ao indie-rock e, mais
recentemente, à música electrónica.
Eduardo Vinhas tem colaborado com Tiago Pereira em vários projectos;
o mais recente, Fireworks, foi apresentado no dia 24 de Abril de 2010, na
Casa da Música, no Porto.
Colectivo SophieMarie junta Sophie Pinto, Filipa Leão, e Vanda Cerejo,
três actrizes licenciadas em 2007 pela Escola Superior de Teatro e
Cinema de Lisboa. A sua mais recente criação, Ensaio Paralelo, baseia-se
numa única regra: as duas actrizes que integram o elenco da peça devem
ensaiar separadamente, encontrando-se apenas no final do processo. Esta
criação foi apresentada recentemente no Espaço Nimas, em Lisboa
42
PEDRO PROENÇA
(PT)
Saladas Tipográficas e Outras Barbaridades Afins
Arte de Guerrilha
Guerrilla Art
Biblioteca Municipal de Arraiolos
3 a ¬ to ¬ 30 de Junho ¬ June
Arraiolos, Évora, Sines, Viana do Alentejo, numa rua perto
de si ¬ at a street near you
1 de Julho ¬ July ¬ a ¬ to ¬ 30 de Setembro ¬ September
Impressão: Staples e Recicloteca
A graphic joke, a game of writing, a construction made of letters, styles,
and images assembled in funny combinations – this is the result of
Pedro Proença’s work. The graphic designer and illustrator re:assembles,
re:paints, re:uses, cuts-and-sticks, copy-pastes the graphics, writing, and
illustration. Playing with types, playing with words and the place they fill
in the page is a joyful process that allows him to take advantage of what
is already existing and thus to build something new. Crossed headlines,
clipped titles and sources, fonts and drawing, image and word, wordimage, writing as image, everything turns out as a serious printing work
with an amusing tone. An ironic attack to the world of linguistic sense,
to the image in a poster format. The single parts are no news, but the
outcome is totally unexpected.
Uma brincadeira gráfica, um jogo de escrita, uma construção de letras,
estilos e imagens em combinações divertidas. É este o resultado do
trabalho de Pedro Proença.
A história da imprensa e da ilustração, assim como as vanguardas
artísticas do princípio do século XX, proporcionam-lhe uma infinidade de
referências que ele re:combina com o gosto do funny joke e com um êxito
engenhoso.
O Pedro Proença é um ilustrador cujo trabalho recupera o grafismo
grego, as cores brilhantes da estética Pop, a ilustração publicitária
dos anos 50 e gravuras exóticas de baixa qualidade e, ao mesmo
tempo, pega na história dos estilos gráficos, desde o nascimento da
imprensa a caracteres móveis nos tempos do Gutenberg, passando pelas
elegantes letras barrocas, até a inesquecível experiência do Futurismo,
Construtivismo, Dadaísmo, para juntá-los numa nova combinação.
Pedro Proença re:assembla, re:pinta, re:utiliza, corta-pega, copia-cola
a gráfica, escrita e ilustração. Brincar com as letras, brincar com as
palavras e o lugar que ocupam na folha é um processo lúdico que lhe
permite aproveitar aquilo que já existe e construir algo novo. Cabeçalhos
entrelaçados, recortes de títulos e fontes, fonts e desenho, imagem e
palavra, palavra-imagem, a escrita como imagem, tudo resulta com um
imparável tom de brincadeira, num sério trabalho para a imprensa e a
ilustração. Um ataque irónico ao mundo do sentido linguístico, à imagem
em formato de cartaz. As suas partes não são novas, mas o resultado é
inesperado.
Pedro Proença, nasceu em Lubango (Angola) em 1962. Frequentou e
terminou o curso de pintura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa.
Expõe com regularidade desde 1981. Em fundou 1982 o “movimento
homeostético”, cujas obras compuseram um número reduzido de
exposições e que em 2011, terá verá a primeira retrospectiva organizada
pelo Museu de Serralves. A sua obra tem reconhecimento nacional e
internacional. Realizou a sua primeira exposição individual em 1984, em
Portugal e a partir de 1987 começa a expor a nível internacional.
No final dos anos 80 iniciou um ciclo de instalações no qual continua
a trabalhar, num constante “work-in-progress”. Nestes trabalhos, usa
materiais pobres, estruturados de acordo com arquitecturas existentes
ou construções que enfatizam a multiplicidade da dinâmica de
enquadramentos. Instalações e pinturas complementam-se no trabalho
de Pedro Proença, concretizado tentativas de seriar a “pluralidade do
sujeito” e de responder, uma e outra vez, a questões (mais ou menos
actuais) que o campo artístico lhe coloca, e às quais não consegue ficar
indiferente.
Desenvolve igualmente trabalho no campo da ilustração, em livros para
todas as idades, e na escrita, tendo publicado ficção (The Great Tantric
Gangster), poesia (O Homem Batata) e ensaios (A Arte ao Microscópio).
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ÚLTIMAS CEIAS
Últimas Ceias ¬ Jorge de Sousa (PT) ¬ Marcos López (ARG) ¬ Noémia Cruz (PT)
Instalação
Installation
Museu de Évora
1 de Julho ¬ July ¬ a ¬ to ¬ 30 de Setembro ¬ September
(10H ¬ 18H ¬ Quarta-feira a Domingo ¬ Wednesday to Sunday ¬ 14H30 – 18H Terça-feira ¬ Tuesday)
Encerra à Segunda-feira ¬ Closed on Mondays
Gratuito aos Domingos até ás ¬ Free on Sundays til ¬ 14H
Jorge de Sousa (PT)
A Última Ceia, 2007
Fotografia, 110 X 165
Marcos López (ARG)
La última cena argentina. Asado en Mendiolaza, 2001
Fotografia, 65 x 180 cm
A Última Ceia é talvez o tema mais recorrentemente difundido no espaço
da cultura religiosa de matriz cristã, mas também um dos mais glosados,
citados, re:mediados pela arte do século XX. É um tema re:play por
excelência, inscrevendo nos seus próprios termos a re:petição do gesto
redentor.
Noémia Cruz (PT)
Isto é o meu corpo, 1979-2010
Escultura, 58 x 100 x 30 cm
Suporte: 80 x100 x 30 cm
Projecto ¬ Festival Escrita na Paisagem
Parceria ¬ Museu de Évora
Curadoria ¬ Colecção B
No cenário institucional do Museu de Évora, onde se encontram duas
belíssimas pinturas quinhentistas representando últimas ceias (uma do
Mestre do Retábulo da Sé de Évora, outra de Martin de Vos), o Festival
Escrita na Paisagem promove o encontro entre estas peças do acervo
patrimonial do Museu e a criação contemporânea, numa instalação plena
de registos críticos e discursivos fortemente inscritos na actualidade.
Noémia Cruz, Jorge de Sousa, portugueses, e Marcos López, argentino,
são os autores das três peças que instauram o diálogo no Museu com
os seus trabalhos de fotografia e escultura em regime de instalação.
Noémia Cruz, com o re:play de uma sua escultura de 1979, cuja história
se reveste de ressonâncias sexuais e políticas. Inscrevendo o feminino
na cena pela transformação do pão em seio, opera uma deslocação
que obviamente dá ao gesto da repetição eucarística a ressonância
transgressora do seio materno, feminino. Marcos López, fotógrafo
argentino, procedeu por seu lado à proletarização do tema, inscrevendo
a última ceia num contexto de classe média, uma refeição generosa num
cenário idílico, quase arcádico, como que a esvaziar pela serenidade
quotidiana o sentimento trágico e redentor do arquétipo, reconhecível
na carcaça sacrificial que ocupa o centro da mesa (o anho redentor
pobremente materializado e degustado?). Jorge de Sousa, como acontece
com Noémia Cruz, evidencia a importância da problematização de género
nas re:visitações contemporâneas da última ceia, compondo a cena em
busca de uma teatralização das relações (a foto corresponde ao momento
em que Cristo anuncia que um de entre eles o trairá e procura captar
as reacções dos discípulos). Tatuagens e roupas configuram um espaço
de sociabilidade masculina, próxima de estereótipos marginais, a que a
própria figura de Cristo não escapa.
Este espaço dialógico poderia completar-se com a re:visitação das
inúmeras versões da última ceia que a cultura popular contemporânea
pôs a circular de múltiplas formas, do cinema à publicidade, e que
podem ver-se em abundância por exemplo no inesgotável youtube e no
seu persistente devir…
The Last Supper may be the theme most common and repeatedly
disseminated within the Christian based religious culture, but also one
of the most referenced, quoted, re:mediated by 20th century’s art. It
is a re:play theme par excellence, inscribing in its own language the
re:petition of the sacred redemptive gesture.
At the institutional scenario of the Museum of Évora, where we can
find two of the most beautiful paintings from the 14th century on the
last supper (one by the Mestre do Retábulo da Sé de Évora [Master of
the Retable of Évora Main Church] and another by Martin de Vos), the
Festival Escrita na Paisagem promotes an encounter between these works
from the Museum’s patrimonial collection and contemporary creation,
by means of an installation full of critical and discursive remarks heavily
loaded with issues from current times.
The Portuguese artists Noémia Cruz and Jorge de Sousa, as well as the
Argentinian Marcos López are the authors of these three pieces, who
bring the dialogue into the Museum with their creations in photography
and sculpture, exhibited as installation.
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Jorge de Sousa sobre Last Supper
[À esquerda, no segundo grupo de três figuras, está Judas.] Ele é o único
com as costas viradas para Jesus. Pedro também se encontra neste grupo,
com aparência irada e desconfiada. O apóstolo colocou a sua faca sobre a
mesa, perto de si, para ter controlo sobre a arma. Se alguém tentar pegar
na faca ele chegará a ela primeiro, impedindo que qualquer um dos
outros a use. Mas Pedro não acredita que alguém do grupo possa trair
Jesus. A situação mais provável é que o traidor seja alguém de fora; por
isso, ele olha na direcção dos espectadores.
[...]
O número 3, que é uma alusão à Santíssima Trindade, é a chave principal
do trabalho. Toda a composição é baseada numa estrutura triangular
que se centra em Jesus; e a forma da figura de Cristo assemelha-se
igualmente a um triângulo. Os Apóstolos estão organizados em grupos de
três. Três objectos sobre a mesa representam o Cálice Sagrado (um cálice
para o vinho, um prato para o pão, e uma faca para dividir a comida).
Três apóstolos encontram-se sentados, à direita de Jesus, e outros três
estão sentados do seu lado esquerdo. Se contarmos o número de dedos
esticados (nas mãos dos Apóstolos), encontramos 72 dedos, um número
múltiplo de 3. Três Apóstolos no lado esquerdo e mais três no lado direito
vestem preto. Três escondem a face. [...] E assim por diante…
(Jorge de Sousa, http://1x.com/?viewpic=21914)
(c) Jorge de Sousa
Noémia Cruz sobre Isto é o meu corpo, 8 de Maio de 2010
Sobre La última cena argentina de Marcos López
La última cena argentina é, nas palavras de Marcos López, a “versão
argentina” da imagem icónica da cultura religiosa cristã – a Última Ceia
de Jesus Cristo com os Doze Apóstolos.
Cruzando A Última Ceia de Leonardo da Vinci com Os beberrões de
Velásquez, Lopez re:cria a cena fundadora da cristianidade no que
poderia chamar-se a cena fundadora do “ser argentino”. Assim, a mesa
austera da Última Ceia representada por Da Vinci é substituída por
uma mesa opulenta, repleta de carne – vaca, leitão, salsichas, assadas
–, e vinho tinto, cerveja e pão em abundância. Esta não é a refeição da
tristeza, suspeição e ira que caracteriza a obra-prima italiana, mas sim
a refeição do encontro da comunidade, da hospitalidade e da amizade
– o “último asado argentino”, como alguns críticos lhe chamaram. Diz
López: “Interessa-me sempre que a minha obra fale da periferia, que
mostre a textura do subdesenvolvimento. […] Tento que o meu trabalho
tenha a dor e o despojamento da América mestiça”.
“Isto é o meu corpo” tem a sua génese numa fotografia dum político,
de mãos postas, num comício dum partido democrata cristão, onde se
gritavam frases apologistas de políticas de extrema-direita. Está-se em
1979, a luta pela emancipação da mulher é uma constante no nosso,
meu, quotidiano: último ano do curso de escultura, o tema impõe-se.
A política e a igreja de mãos dadas contra a dignificação da mulher:
subverter a “Última Ceia” é a minha proposta, cuja concepção formal
surge da forma mais inesperada: como técnica paramédica, num
laboratório de anatomia patológica, dava assistência ao médico na análise
macroscópica das peças anatómicas. O médico corta uma mama às fatias
como se corta o pão: a forma do pão transfigura-se e Cristo oferece fatias
duma mama (mutilação do corpo? ou do próprio desejo?), mas que é
também um doce conventual. Instalou-se a ambiguidade/subversão: o
corpo como objecto votivo mas sobretudo como objecto de desejo? “Isto
é o meu corpo”, mas de quem é o corpo? Da mulher, oferecida como
repasto duma sociedade decadente, mas também como símbolo de vida e
redenção? Ou do próprio Cristo que se quer assumir no feminino?
“Isto é o meu corpo” é exposta pela primeira vez em 1979. Uma mão
é roubada; manifestação de desaprovação ou de aprovação? Em 1980
fica parcialmente destruída por um incêndio no meu estúdio. Re:feita,
passados que são trinta anos sobre a sua concepção, re:nova-se,
numa rejeição do falso moralismo duma sociedade capada por um
deus ressabiado, porque o homem tomou consciência da sua própria
sexualidade na descoberta do erotismo, celebrando assim a vida em todo
o seu esplendor.
46
LINHAS COM QUE ME COSO
Instalação
Installation
Mosteiro de Flor da Rosa, Crato
1 de Julho ¬ July ¬ a ¬ to ¬ 30 de Setembro ¬ September
Um projecto Colecção B em parceria com a Direcção Regional de Cultura do
Alentejo e com a Cooperativa Teatro dos Castelos.
Coordenação ¬ Diana Regal
Execução ¬ Elisa Pinto
Direcção de montagem ¬ Carlos Marques
Hand-crafted installation in lace,
inspired in various sources: a visual
poem by Regina Guimarães, legends
related with the Circle of Life and
the Wheel of Fortune, and the rose
window represented on the tomb of
the Portuguese king D. Pedro I.
Apropriamo-nos de um poema visual de Regina Guimarães para
dar o nome a esta obra, que reflecte sobre as práticas de produção e
transformação de têxteis, em contexto doméstico, para a manufactura
de peças de roupa e do lar. Sabendo que trabalhar com têxteis veicula
normalmente implicações de género – nas relações com o trabalho
feminino – ou de relevância económica – quer no contexto global quer na
economia doméstica, pretende-se que este trabalho se relacione com estas
práticas numa proposta de criação, através da produção de uma peça de
“renda sol” de grandes dimensões, como se do elemento da arquitectura
gótica – a rosácea – se tratasse.
Esta peça nasce re:união e re:articulação destas fontes e temas com
outros, em particular: o simbolismo inerente à rosácea (nomeadamente
aquela que está inscrita no túmulo de D. Pedro I) a qual com a sua
forma circular representa a Roda da Vida – o mundo, a vida e a morte,
figurando nelas a condição do Homem nos domínios do privado e do
social; e a lenda que está na origem da Renda sol ou Nhanduti. Esta
narra a estória de uma inconsolável indígena cujo amado desapareceu
no dia do casamento. Ao achá-lo morto na selva fechada, ela abraçouse ao corpo do amante, velando-o toda a noite. Ao amanhecer, a luz do
sol mostrou que o guerreiro morto estava coberto por um belo manto de
teias tecido pelas aranhas. A noiva buscou fios e agulhas e, copiando o
trabalho das aranhas, teceu para o amado uma deslumbrante mortalha,
criando assim a primeira peça conhecida de Nhanduti.
Organização
Municípios de Acolhimento
Parcerias
FCT
Apoios Institucionais
IPJ/OTL
Apoios Comerciais
Apoios à Divulgação
Co-Produções Festival Escrita na Paisagem 2010
Teatro de Ferro
António Pedro Lopes & Monica Gillette
Teatro do Vestido
Rita Natálio
As iniciativas: Ópera dos 5—
(7 e 8 de Julho, Évora), Festa da Lã (9 de Julho, Évora), Homenagem à Judson Dance (12 a 15 de Julho, Évora), Escola de
Verão (2 de Agosto a 3 de Setembro, Évora), Equação (30 de Setembro, Évora), são co-financiados por
As iniciativas: Homenagem à Judson Dance e PGT (27 de Julho, Sines), são co-financiadas por
ESTRUTURA FINANCIADA POR
PROJECTO ASSOCIADO

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