A HISTÓRIA RAPIDINHA DO FUNCHAL

Transcrição

A HISTÓRIA RAPIDINHA DO FUNCHAL
COM.TEMA apresenta:
A HISTÓRIA
RAPIDINHA DO
FUNCHAL
Da Lavra de Francis Obikwelu,
Michael Schumacher e
Tiago Monteiro
Versão Primeira
COM.TEMA
A HISTÓRIA RAPIDINHA DO FUNCHAL...
Voz Off - COM.TEMA apresenta: “História Rapidinha do Funchal”
Boa Noite, senhores espectadores!
Sejam bem-vindos ao Teatro... Pedimos-lhe que desliguem, ou não,
os vossos telemóveis, beepers, pagers, relógios de alarme,
pacemakers, esquentadores, aquecedores, secadores, fumadores e
aviadores, e outras palavras terminadas em …ores tais como
guarda-chuvas, bexigas loucas e alguidares.
Informamos que não é permitido fumar neste espectáculo. É
permitido bocejar, coçar, apalpar a mama da namorada, mandar
piparotes na orelha do gajo que está à frente e que parece o
Príncipe Carlos, estrangular a gaja do lado que se parece com a
Camila Parker-Bowles, passar pelas brasas, dar peidos às
escondidas e tirar macacos do nariz... Fumar Não! Fumar Nunca!!!
Afinal de contas... Fumar MOTA!
Informamos que “A História Rapidinha do Funchal” não tem
intervalo.
Informamos também que “A História Rapidinha do Funchal” tem a
duração de 1 minuto, 12 segundos, e 30 centésimos, 112 milésimos
e 1456 bilionésimos.
GENÉRICO – (Entra um tipo vestido à velocista dos Jogos
Olímpicos juntamente com um árbitro... O árbitro dá o sinal de
partida. O homem que está vestido de velocista debita um texto a
uma velocidade impressionante)
Era uma vez um arquipélago de Ilhas Vulcânicas no meio do
Atlântico e uma dessas ilhas era grande e tinha uma zona
com muito Funcho e chegaram uns descobridores cujo
capitão era Zarolho... E o Zarolho deitou fogo ao Funcho e
aquilo esteve a arder 69 anos e construiu-se ali uma vila que
em 1508 se tornou cidade e que se chamava Funchal.
Entretanto veio cá o Colombo, uns quantos escravos das
Canárias, os piratas franceses que puseram as freiras todas
num curral. Depois a Cidade começou a exportar vinho e
vieram os ingleses...
(inspira fundo)
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COM.TEMA
Entretanto a Madeira foi espanhola durante 60 anos e ainda
quis ficar mais um bocadinho mas não deixaram... Depois veio
um governador que queria pôr isto na ordem, vieram outra vez
os ingleses, a princesa Sissi e 80 soldados tão tarados como
ela, e imperadores e reis e gajos da alta sociedade que
tinham tuberculose e que achavam que aquilo se tratava com
poncha, e gajos que se punham a erguer velas de barcos nas
quintas e um cavalo que não conseguia fazer aquilo.
(inspira fundo)
Houve a República, houve a 1ª Guerra, houve uns aviadores
que apareceram aqui para ver se conseguiam chegar ao
Brasil, houve a independência, a 2ª Guerra, a ditadura e a
revolução...
E houve um puto de Santo António que foi p‟ra Inglaterra
ganhar um bilião!
(Termina o texto e faz vénia como se a peça tivesse terminado. O
pano fecha... As luzes da sala acendem.)
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COM.TEMA
E foi a História Rapidinha do Funchal... Muito obrigado por ter gasto
10 Euros para ver isto... Beijinhos!
(Aguarda-se algum tempo para ver se alguém se levanta para sair...
nem que seja figuração... quando alguém se levanta para sair volta
a ouvir-se a voz off e a luz de sala apaga...)
Bem... Se por acaso quiserem ficar mais um bocadinho... podemos
apresentar-vos... “Outra Coisa Qualquer!”
Voz Off: COM.TEMA apresenta “OUTRA COISA QUALQUER”…
Boa Noite, senhores espectadores!
Sejam bem-vindos ao Teatro... Pedimos-lhe que desliguem, ou não,
os vossos telemóveis, beepers, pagers, relógios de alarme,
pacemakers, esquentadores, aquecedores, secadores, fumadores e
aviadores, e outras palavras terminadas em …ores tais como
guarda-chuvas, bexigas loucas e alguidares.
Informamos que não é permitido fumar neste espectáculo. É
permitido bocejar, coçar, mandar piparotes na orelha do gajo que
está à frente e que parece o Príncipe Carlos, estrangular a gaja do
lado que se parece com a Camila Parker-Bowles, passar pelas
brasas, dar peidos às escondidas e tirar macacos do nariz... Fumar
Não! Fumar Nunca!!!
Afinal de contas... Fumar MOTA!
Informamos que “Outra Coisa Qualquer” não tem intervalo.
Informamos também que “Outra Coisa Qualquer” tem a duração
de… algum tempo. Se deixou o seu carro num qualquer parque de
estacionamento das redondezas e que fecha à meia-noite é melhor
sair já, pois não são permitidas saídas depois de começar o
espectáculo. Quem tentar sair perto da meia-noite será brutalmente
sodomizado por um pitbull terrier.
Muito obrigado.
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COM.TEMA
FILME: AS ORIGENS ANCESTRAIS DOS MADEIRENSES
Os Madeirenses, ao contrário do que se julgava, têm origens
ancestrais... muito anteriores à época da Descoberta e da
Colonização do Arquipélago da Madeira.
É possível fazer fé na tese do Hommus Atlânticus. Que terá sido o
habitante natural da Atlântida. Continente desaparecido por obra e
graça das cheias causadas pela epidemia de incontinência das
Baleias que assolou esta região durante 60 anos.
São conhecidos registos de Hommus Atlânticus desde os
primórdios da Civilização.
Nas pinturas rupestres de Lascaux.
Nas gravuras de Foz Côa.
Nos hieróglifos Egípcios.
Nos Vasos Gregos.
Até mesmo em escritos japoneses e chineses.
E é bem possível que haja antecedentes extraterrestres no Homos
Atlanticus (Teoria do Disco Voador que é um Barrete da Camacha).
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COM.TEMA
DA DESCOBERTA DA MADEIRA
NARRADOR 1 – E é giro falar-se em descoberta porque, na
verdade, não se pode dizer que a Madeira tenha sido descoberta.
(entra idiota brasuca)
BRAZUCA IDIOTA – “É! Ela foi achada!...
achamento!!!”
Foi um
NARRADOR 1 – Tá calado!
BRAZUCA IDIOTA – Açougue... é talho!
NARRADOR 1 – Tá calado!
BRAZUCA IDIOTA – Trem... é comboio!
NARRADOR 1 – Tá calado!
BRAZUCA IDIOTA- Pingolim... é matraquilho!
NARRADOR 1- Tá calado!
BRAZUCA IDIOTA – Camiseta... é camisola...
(Tiro)
NARRADOR 1 – E calado... é calado!
A Madeira não terá sido descoberta por acaso. Era isso que eu
queria dizer! O oceano Atlântico já era navegado desde o século
VII... E há relatos históricos muito antigos que mencionam a
existência de ilhas nestas paragens. O que acontece é que não era
seguro navegar até aqui naquele tempo... Começou a tornar-se
seguro no princípio do séc. XV... e mesmo assim, era arriscado.
NARRADOR 2 – Ora João Gonçalves Zarco não nasceu Zarco...
Zarco quer dizer Zarolho. E ele ganhou este estranho último nome
por uma razão: quando Portugal invadiu Ceuta em 1415, ele foi um
dos grandes heróis e ficou sem um olho depois de matar um dos
principais guerreiros Mouros!
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ZARCO e MOURO – (Sequência de Palco em que Gonçalves
Zarco, por engano, mata um dos principais guerreiros Mouros
a tiro)
NARRADOR 2 – ...Foi para o bar eufórico ao contar a história aos
amigos!...
ZARCO – E foi aí que eu me virei p‟ra ele e disse: Are you
talking to me?!
NARRADOR 2 – E bebeu...
ZARCO – (já mais bêbado) E aí eu virei-me e disse!... Arle ou
tókim tumi!???
NARRADOR 2 – E bebeu demais...
ZARCO – (podre de bêbado) E ele... e eu... eu disse-le a el...
Ariúúúú... Ariúú tókin to me... (a arma encrava…ele olha para
a própria arma)... Então pá!... Não disparas... (e dispara em si
próprio)
Arrrrrghhhh! O meu olho!
NARRADOR 2 – Ao tornar-se Zarolho, o nosso herói ganhou o
nome Zarco. E como estava vesgo já satisfazia uma condição
essencial para ser uma figura marcante da história:
(GENÉRICO. Começa o Programa Zarolhos Ilustres... Um programa
do Professor Aviz Golho)
AVIZ GOLHO – Boa Noite!...
De facto, a maior parte dos grandes heróis da nossa história
são Zarolhos... Se, não vejamos:
Camões,
D. Sebastião (não era Zarolho... mas tinha uma perna mais
curta que a outra o que vai dar ao mesmo)
Medeiros Ferreira
José Cid
Diamantino Miranda
José Castelo Branco (vê bem, mas sofre do olho...)
Paulo Paraty (se não é Vesgo parece...)
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COM.TEMA
Guida Vieira, a bordadeira que introduziu o cubismo e o
surrealismo nos bordados... (mostram-se alguns bordados de
Guida Vieira)
NARRADOR 1 – Como Zarco era zarolho, podemos imaginar que a
tarefa de descobrir a Madeira seria, já de si, um pouco mais
complicada para uma pessoa que havia perdido metade das suas
faculdades visuais.
A Madeira, em comparação com o oceano Atlântico é bastante
pequena. Encontrar a Madeira no meio do oceano equivale a
encontrar uma formiga no chão do salão de baile... ou encontrar um
cérebro na cabeça da Lili Caneças... ou armas de destruição
maciça no Iraque.
Por isso certamente havia já naquela época referências sobre a
localização deste arquipélago. Se calhar, ele até foi habitado mais
cedo...
Há por exemplo uma famosa lenda de um simpático casal que veio
dar à costa em Machico, no séc. XIV.
Ele chamava-se Robert Machim. Ela era Ana de Arfet. Eram
ingleses, e terão chegado em 1346. Vem desse tempo esta mania
que os ingleses têm de que a Madeira é deles. No entanto este
célebre casal tinha muito pouco a ver com o comum dos ingleses:
-Primeiro, porque Macim era um verdadeiro macho.
-Segundo, porque Arfet estava sempre a arfar
Apaixonaram-se e tiveram de vir para a Madeira: o fogoso macho
Machim e a arfante Ana, sempre a arfar de desejo.
Ao que parece, não ficaram na ilha muito tempo. E a paixão entre
os dois esmoreceu rapidamente. Machim percebeu que Ana não
arfava de desejo por ele mas apenas porque era asmática.
Há documentos históricos que suportam esta lenda. O famoso
documento Alcoforado refere este facto. Escrito por um tal senhor
Francisco de Al–cú-furado...
NARRADOR 2 – Pergunta-se então: quem é que vai acreditar em
factos escritos por um gajo que tem um cú que parece um
passador?!
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Quando Gonçalves Zarco foi falar com o Infante D. Henrique sobre
a viagem já era vesgo. Por isso há aqui duas coisas a sublinhar:
Primeiro – o Infante D Henrique era portuense e falava com
sotaque.
Segundo – deve ter sido complicado explicar ao Zarco para onde
devia ir.
INFANTE – Ó Zarco! Desculpa lá ter-te feito esperar!... Taba
ali a acabar uma saladinha de frutas! Ó homem!... Olha pra
mim murcoum!
ZARCO – Eu estou a olhar para ti!...
INFANTE – Ai é? Eia fuogo! Ó Zarco! Que é que te aconteceu
ao olho? Não me digas que tens andado a fazer segurança de
discotecas na Ribeira?!
Bem... agora que és besgo... Tens que fazer uma coisa
importante para ficar na história. Por isso pega no Tristoum
Baz Teixeira e bai dar às belas p‟ra ber se descobrem
qualquer coisa de balioso, carago!
ZARCO – E vamos de barco?!
INFANTE – Noum! Noum!... Bais de abioum!
ZARCO – O que é um abioum?
INFANTE – Não sei! Apeteceu-me dizer isto!... Claro que bais
de barco, carago!
ZARCO – Mas eu enjoo!
INFANTE – Ó que canudo! Toma um Bomidrine!... Bão! Tu
bais para aquie. Por isso, bais por aqui abaixo, biras à direita,
passas os semáforos e contornas a rotunda... Num pegues a
circumbalaçoum que a esta hora tá tudo entupido... e bais
parar aquie!
ZARCO – Adonde? Aqui? (aponta fora do mapa)
INFANTE – Noum carago! Aquie!
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ZARCO – Aqui!
INFANTE – Noum!... Aquie!
ZARCO – Ah! Aqui!...
INFANTE – NOUM! Olha... Pega lá um GPS e bai à tua bida!
NARRADOR 2 – E foi assim que os valentes marinheiros
portugueses se fizeram ao mar, sulcando as águas do Atlântico em
direcção ao desconhecido... armados apenas de coragem,
intrepidez, fé...
(Ouve-se uma voz de GPS)
GPS – “A 300 metros, vire à direita”
NARRADOR 2 – E alta tecnologia...
GPS – “Chegou ao seu destino!”
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O SÉCULO XV
NARRADOR 1 – E assim se deu a chegada à Madeira, em 1419.
NARRADOR 2 – Não... em 1419 foi a chegada ao Porto Santo... a
Madeira só é descoberta em 1420.
NARRADOR 3 – Quer dizer... há mesmo documentos históricos
que apontam que a Madeira já tinha sido descoberta em 1418.
NARRADOR 4 – Tretas! O Machim e a Ana a Arfar já cá tinham
estado em 1346!
NARRADOR 1 – CHEGA!...
Assim se chegou ao Arquipélago da Madeira em 1419...
NARRADOR 3 – 18!
NARRADOR 2 – 20!
NARRADOR 4 – 46!
NARRADOR 2 – 32!
NARRADOR 3 – BINGO!!!
(voz off: 18, 19, 20, 32, 46 - BINGO CORRECTO)
NARRADOR 1 – E o primeiro problema que os descobridores
tiveram foi precisamente o de baptizar as ilhas... No caso do Porto
Santo não foi complicado! Numa viagem de barco daquela época,
enfrentavam-se ondas enormes, escorbuto, febre, fome,
superstições... e assim que se avistava terra, era um alívio!
Porto Santo parece uma escolha óbvia. Primeiro, é um Porto.
Segundo: apareceu quando Zarco já tinha rezado aos santinhos
todos depois de uma bruta tempestade!
Já o nome da ilha maior do arquipélago podia ser mais nobre!
Afinal, Madeira é sinónimo de pau, é matéria-prima para móveis, é
aquilo que serve de habitat natural ao caruncho!
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Infelizmente Gonçalves Zarco não era nada criativo. E ironicamente,
o descobridor da Madeira até tem nome de personagem de ficção
científica... ou do presidente francês.
MARUJO – Capitão? Que nome lhe vamos dar?!
ZARCO – Já sei!... Que tal... Zarcolândia?!
Err... Zarcónia?
Err... Zarcarias?
MARUJO – Capitão? Está a gozar comigo?
ZARCO – Já sei!... Já sei!
Ilhas Zarcozy!!!!
...Não?...
...
...Ah porra! Com estas árvores todas... olha, chama-lhe Madeira!
NARRADOR 2 – Ao contrário do que se diz... a Madeira era na
altura habitada por uma aguerrida tribo selvagem de pescadores: os
Xavelhinhas...
Apesar dos esforços dos navegadores, não foi possível comunicar
de forma eficaz com esta tribo cujo dialecto era indecifrável!
MARINHEIRO – O Arquipélago agora pertence à Coroa
Portuguesa...
XAVELHINHA – Quêéãn?
MARINHEIRO – Vós agora sois todos súbditos de Sua
Majestade El-Rei D. João I!
XAVELHINHA – Áaaaalhaáh!... Quêéãn quam‟tás falêánde
Chibuárre?
MARINHEIRO – E trazemos oferendas para podermos contar
com a vossa ajuda!
Contas!... Colares!... Panos!... Panelas de Cobre!...
XAVELHINHA – À‟ume moádeinháh!
NARRADOR 2 – Apesar de aguerridos, os Xavelhinhas eram muito
territoriais, e residiam na sua totalidade no ilhéu de Câmara de
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Lobos. Como nunca de lá saíam nunca se considerou esta tribo
como pertencente à própria ilha da Madeira.
Ainda hoje, o Ilhéu, que tem cerca de 1 milhão e seiscentos mil
habitantes, é uma entidade independente!
VOZ OFF- Senhoras e Senhores... Por favor levantem-se para
o HINO NACIONAL DA REPÚBLICA XAVELHINHA DO
ILHÉU! Ladies & Gentlemen... Please rise for the national
anthem of the XAVELHINHA REPUBLIC
TRÊS XAVELHINHAS (parodiando atletas nos
olímpicos, cantam um hino Xavelhinha desafinado) –
jogos
Xaaaavelheinhá quer Pouncheinheá
Nâ Ilhéue leinde ei cántuênte!
Se ná dárj m‟ moádeinháh
Tás lixiade cá co‟a giénte!
NARRADOR 1 – Outro dos problemas com que se depararam os
marinheiros e os primeiros colonizadores foi, claro, descobrir onde
se iriam estabelecer as primeiras cidades do arquipélago.
Era preciso encontrar locais planos, com solos aráveis, e próximos
da costa... no fundo: praias! E coisa mais difícil do que descobrir a
ilha no meio do Atlântico todo, era descobrir uma verdadeira praia
na Madeira. Ainda hoje é!... Embora agora ande para aí a mania de
importar praias de Marrocos!
Assim se ergueram as primeiras casas em Machico... Mas os
descobridores cedo chegaram à conclusão de que um dia isto viria
a estar demasiado longe dos hotéis e do Casino e foi assim que se
partiu para a fundação do Funchal.
NARRADOR 2 – Naquela altura, o anfiteatro do Funchal era uma
mistura dos seios da Angelina Jolie com os sovacos da Vanessa
Fernandes: montanhas altas e delgadas todas cobertas de matagal.
No entanto, Gonçalves Zarco achou que ali estava o berço ideal
para fazer nascer um grande craque do futebol porque lhe lembrava
bastante o Rio de Janeiro. Além disso avistou umas ervas que lhe
pareciam convidativas para fumar...
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Contudo, o tabaco só viria a ser descoberto no século seguinte... e
Gonçalves Zarco acabou a dar por si a fumar um cigarro de funcho.
Em consequência disso, ficou 3 dias a julgar que era um coelhinho
verde e vestiu as ceroulas na própria cabeça enquanto gritava:
ZARCO (passa lá atrás aos pulos com ceroulas na cabeça) –
EU SOU UM OVO ESTRELADO!!!!! E POSSO VOAAAR!!!
NARRADOR 2 – A moca foi tal que a TMN considerou colocá-lo
num anúncio...
ZARCO (volta a passar lá atrás correndo para o outro lado)TENHO PELO FOFO E MUITO VERDINHO... EU TRIPLICO
O SALDO, EU SOU UM COELHINHO! SIRIGAITA AI YUPI
YUPI AI! SIRIGAITA AI YUPI YUPI AI! …
NARRADOR 2 – Entretanto, Zarco havia atirado o cigarro aceso
para cima do campo de funcho. Em consequência disso, todo o
anfiteatro do Funchal esteve a arder 69 anos...
Esta série de incêndios ficou a chamar-se queimada... não só por
causa da vegetação atingida pelos incêndios... mas também pela
moca dos marinheiros ao inalarem os fumos.
Ficaram queimadinhos de todo!
ZARCO E OS MARINHEIROS (voltam a passar lá atrás
correndo para o outro lado) – SIRIGAIA IUPIUPIÁIÁIÁ!...
SIRIGAIA IUPIUPIÁI – IÁIÁIÁ!...
NARRADOR 2 – Prova de que estavam meio trocados das ideias, é
que decidiram construir mesmo juntinho aos incêndios...
UM MARINHEIRO – Ó ZARCO?! Não fizeste o teu quintal
muito junto ao fogo? Aquele galinheiro, por exemplo, não tá
muito perto das chamas?
ZARCO... (com um ar alucinado)... – Nã! „Tá seguro! Agora
deixa-me alimentar as galinhas... (começa a jogar milho para
um Frango assado).
NARRADOR1 – Por exemplo, a capela que está no parque de
Santa Catarina não foi a primeira que Zarco mandou construir...
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mas foi, na verdade, terceira... as duas primeiras arderam porque
estavam muito juntas da frente de fogo...
Nesse tempo, as casas eram todas feitas de Madeira... chegaram a
arder dois quarteirões inteiros, na zona onde se encontram hoje em
dia as ruas da Queimada de Cima e da Queimada de Baixo...
Aliás, certo dia, bastou o vento mudar, e as labaredas que
consumiam o mato voltaram-se com tal fúria para as casas que
Zarco, e toda a população do Funchal na altura, tiveram de vir a
correr para se enfiarem na água...
ZARCO (surge Zarco a correr) – O MEU CABELO ESTÁ A
ARDER! O
MEU
CABELO
ESTÁ
A
ARDER!...
AAAAARGGGGGHHH!
(Vai a correr pela coxia fora... quando sai ouve-se um chapão
de quem cai na água e um Ahhhhhh! de alívio!)
NARRADOR 1 – Apesar deste episódio infeliz, Gonçalves Zarco
viria a revelar-se um exímio governador... viveu muito tempo
(sobretudo para os padrões da época) e esteve no poder para aí 50
anos, tendo ganho várias maiorias absolutas umas a seguir às
outras e estabelecendo assim uma tradição importante na ilha.
Chegou ao ponto de estar já tão velho que, na hora de presidir a
reuniões da Câmara, tinha de ser carregado ao colo por dois
calmeirões para se poder deslocar ao local.
(Zarco é transportado coxia fora por duas pessoas... o seu
chapéu está chamuscado...)1
NARRADOR 1 – Vendo bem, ainda que por motivos diferentes,
Gonçalves Zarco não foi o único líder que teve de ser levado ao
colo.
Ainda que por diferentes razões... muitos outros líderes na história
da Humanidade tiveram de ser levados ao colo!
(Série de comparações absurdas imagens projectadas no
ecrã: Bush, Paulo de Azevedo (filho de Belmiro), Benfica no
Campeonato de 2004/2005, Guimarães na corrente época)
1
tem que se verificar a praticabilidade. Saídas pela coxia demoram muito e o regresso ao palco é também
demorado
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COM.TEMA
NARRADOR 1 – Muita gente diz que a Madeira foi colonizada com
famílias algarvias e nortenhas... mas eram apenas nortenhas.
Nessa altura no Algarve só vivia o Cliff Richard.
Além disso, o Infante D. Henrique era portuense... como tal, foi
buscar gente das suas terras.
NARRADOR 2 – Não se sabe ao certo quando se terá começado a
povoar a zona hoje em dia conhecida como Funchal... Crê-se que
terá começado em 1424, com não mais do que umas 30 pessoas...
NARRADOR 3 – Apenas 12 eram mulheres.
NARRADOR 4 – Dessas 12, apenas 6 não tinham bigode...
NARRADOR 1 – destas 6, apenas 3 tinham os dentes todos.
NARRADOR 2 – De modo a que os madeirenses se reproduzissem
rapidamente, o muito sábio Gonçalves Zarco adoptou em 1433 uma
série de medidas severas para garantir que o sexo em cada casa
aumentava:
ARAUTO – “Saiba a população do Funchal que, por ordem do
Capitão Donatário, João Gonçalves Zarco, são doravante
aplicadas as seguintes proibições e deveres:
(tira pergaminho que lê)
1- É proibido ver a Telenovela das 8, das 9 e as da TVI
também...
2- É proibido ver jogos do Porto, da Selecção, do
Marítimo, do Nacional, da Liga Inglesa, Espanhola ou
Italiana.
3- É permitido ver os Jogos do Sporting e do Benfica
porque deprimem e depois a malta quer é beber para
levantar o moral... e outras coisas.
4- É proibida a enxaqueca feminina.
5- É permitida a enxaqueca, desde que sejam retiradas
as duas primeiras sílabas a esta palavra.
6- Cada funchalense tem direito a duas caixas de Viagra
por mês.
7- Cada “funchalensa” tem direito a duas lingeries de
cabedal preto ou vermelho, uma em renda cor de cereja,
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COM.TEMA
dois boiões de lubrificante, um fato de enfermeira e um
de colegial.
8- As freiras estão isentas do serviço... mas se
acontecer, não contamos a ninguém.
O Capitão Donatário vai baldar-se agora para Arzila, no
Norte de África para ver se conquista aquilo e ganha um
balúrdio. O barco dele tem parabólica e Sport TV... ele
diz o resultado dos jogos quando voltar.”
NARRADOR 2 – Ao que parece, estas medidas deram resultado: a
população cresceu a bom ritmo. O Funchal recebe o primeiro foral
entre 1452 e 1454, sendo aí elevado a vila.
A Igreja e o Mosteiro de Santa Clara são construídos entre 1489 e
1496.
Os primeiros “pequenos” nascidos e criados no Funchal eram filhos
de Gonçalo Aires e de sua mulher.
Os primeiros madeirenses de gema foram baptizados de Adão e
Eva. E eram irmãos, o que é um problema do caraças... Se o Adão
e Eva madeirenses eram irmãos... tiveram de se incestar para haver
mais madeirenses?!
NARRADOR 1 – Depois havia a imigração... Muitos homens que
vinham em busca de aventura, e muitas mulheres que vinham de
países onde não era proibido ver a Sport TV.
Entre as várias figuras que vieram a colonizar o Funchal, houve
uma que depois se viria a tornar muito famosa... Não, não é o
Cristiano Ronaldo... É Cristóvão Colombo que, ao contrário do
Ronaldo, se tornou famoso por ser um aselha!
Colombo, além de aselha, era um grande vigarista. A história da
sua vida está repleta de equívocos e falsidades. Os registos
históricos por exemplo mostram que nunca viveu no Porto Santo.
No entanto, a Casa Cristóvão Colombo está lá na Ilha Dourada... A
nossa teoria é a de que Colombo viveu o tempo todo no Funchal,
lançando a moda da “casa de férias” no Porto Santo. Abriu uma
agência de time-sharing para alugar a casa, e depois meteu na
cabeça que haveria de fazer o mesmo na Índia... assim que
descobrisse onde a Índia ficava... o que, na verdade, nunca
descobriu.
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COM.TEMA
É certo que muita gente acha que Colombo era, na verdade
alentejano... mas não! Isso explicaria muita coisa em relação ao
Porto Santo, mas a verdade é que Cristóvão Colombo era mesmo
Genovês...
NARRADOR 2 – Catalão...
NARRADOR 3 – Ligure...
NARRADOR 4 – Asturiano...
MULHER NO PÚBLICO – Galego...
TÉCNICO DE SOM – Ucraniano...
MULHER NA CABINE TÉCNICA – XAVELHINHA!
NARRADOR 3 – Chinês...
NARRADOR 2 – Croata!
NARRADOR 4 – BINGO!...
NARRADOR 1 – NÃO PORRA! ERA GENOVÊS!
TODOS OS OUTROS – Como é que sabes?
NARRADOR 1 – Ele só vivia no Funchal porque era mercador de
açúcar!... E como andou a fazer falcatruas e negociatas, aumentou
demasiado o preço do açúcar quando o foi vender em Génova e
respondeu em tribunal por isso.
E a gente sabe como foi o julgamento... Que vamos aqui reproduzir
com o dialecto original... o Genovezzi. É parecido com o italiano,
mas só mais ou menos!
(Juíz, Advogado de Acusação e Colombo no julgamento)
JUIZ – Cristovini Colombini... Estate aqui para rispondere a le
acuzacioni de aumentarini muitini il precini dil açucarini!...
ADVOGADO – Qual é a sua cidadini Natalini?
COLOMBO – Ma io sono Geovani...
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COM.TEMA
JUIZ – No! Tu é Cristovini Colombini!... Tu nó é Geovani !...
COLOMBO – Nó ! Quero deciri que só Genovani...
ADVOGADO – Como?
COLOMBO – Genovanezini?
ADVOGADO – Que cosa dissestini?
COLOMBO – Genovanezzaninizini?
JUIZ – Ma io penso que il quere disserini que nasceuzini qui
en Genova?
COLOMBO – Eco! Eco! Io sono Genovanezzinedini?
ADVOGADO – Non! Non! Se dice: Genovezzini
COLOMBO – Ah! Genovezzini...
JUIZ – Bom... Genovezzini, Linguini ou Maldini... És um
vigaristini... Vais baixar o preço do açucarini... e pagar uma
multa que até vais andar de ladini!
COLOMBO – „Tou Fudidini!...
**********
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COM.TEMA
O SÉCULO XVI
NARRADOR 2 – Colombo, depois de levar uma ripada valente no
processo em Génova vê-se obrigado a ganhar dinheiro. Vende a
“casa de férias” do Porto Santo e pira-se para a Corte portuguesa
porque lhe parecia que D. João II estava interessado em fazer uns
investimentos:
D.JOÃO II – Já te disse que não quero investir em Herbalife!...
Quantas vezes eu tenho de te dizer...
COLOMBO – E questo Tupperwarini?
D.JOÃO II – RUA!...
COLOMBO – I questi DVD!... 3 filmini, 5 eurini!...
D.JOÃO II – RUA!...
COLOMBO – E una expedizioni para chegar à Índia?!
D.JOÃO II – Pela Costa de África?
COLOMBO – NOOOO! Por el oceano atlantiquini!...
D.JOÃO II – Ahhh!... Muito bem! RUUUUUAAAAAA!
NARRADOR 2 – Como não conseguiu convencer D. João II,
decidiu tentar a sorte na corte de Espanha já que o Rei Espanhol
além de ser meio teso, era ainda bem mais burro que o português.
COLOMBO – Viajando por il oceano atlantiquini vamos
chegarini a...
D. FERNANDO – Sim! Sim... Isso da expedição podes fazer.
Mas posso ficar com os tupperwares?
COLOMBO – Si!...
D. FERNANDO – Pronto! Dou-te três navios!... Agora, isso da
Herbalife é para perder peso, é?
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COM.TEMA
NARRADOR 2 – Foi assim que Colombo convenceu o Rei de
Espanha, e foi descobrir umas ilhotas na América pensando que
eram o Japão.
Entretanto os Portugueses já tinham dobrado o Bojador, o Cabo da
Boa Esperança, descoberto Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, a
Guiné, Angola e Moçambique... chegaram por mar até à Índia e
descobriram o Brasil... Toma lá morangos!...
Consta que, sabendo da descoberta de Colombo, o rei português D.
Manuel mandou esta carta oficial a D. Fernando de Espanha onde
se podia ler o seguinte: (abre a Carta) “Nhã-nhã-nhã-nhã-nhã-nhã!”
NARRADOR 1 – Foi este mesmo D. Manuel I que em 1508 se
decidiu pela elevação do Funchal a cidade porque pensou que seria
muito bonito ter o Funchal a celebrar os 500 anos em ano de
Campeonato Europeu de Futebol.
A cidade cresce. A fortaleza-palácio de São Lourenço é concluída
ainda na primeira metade do século XVI, a Sé Catedral, foi
terminada em 1514.
Nesta altura, a colonização da Madeira era já uma realidade.
Estabelecem-se as primeiras famílias... Como eram todas nobres,
tinham todas nomes tão estranhos, tão estranhos que pareciam a
selecção portuguesa de hoje em dia!
RELATO – Ora muito boa noite! Sejam bem-vindos à 2ª parte
deste derby funchalense... 21ª jornada desta super-liga 15161517, a opôr a equipa dos Nobres com nomes Estranhos à
formação dos Nobres com Nomes Esquisitos...
Os Nobres com Nomes Estranhos vão alinhar com:
- Acciauioli na baliza,
depois a defesa com Camelo, Caramujo, Cahaus, e
Alcoforado (tem este nome mas por ele não passa nada),
No meio-campo, Castelo-Branco, Concellos, Cuibem, Dami,
e o nº 10 da equipa, Barriga.
No ataque, a dupla-maravilha, Lemilhana e Denis.
Treinador: Fernando Liberaleão
Do lado dos Nobres com Nomes Esquisitos já se sabe, uma
ousada tática 3-4-3:
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COM.TEMA
-Um tridente de ataque com Lumelino, Ossuna e Mialheiro,
este último já com 22 golos na sua conta pessoal,
No meio-campo, Penteado, Rêgo, Tuellière, e Ususdimare
Na defesa Uzadamor, Visovi e Vogado
E, na baliza, Perú!
O treinador é, o já bem conhecido, Zargo... ou Zarolho, como
preferirem.
O Árbitro da Partida, outro Zarolho... Paulo Paraty.
Nesta altura, 10 minutos da segunda parte, tudo continua a 0,
mas o desafio promete aquecer...
NARRADOR 1 – Para além destas famílias com nomes estranhos
vieram outras com nomes normais... o Adão e a Eva já tinham tido
muitos filhos nativos madeirenses entretanto (com os respectivos
esposos... não um com o outro!)
E para ajudar à festa, até apareceram aí escravos trazidos das
Canárias: os Guanches que eram pastores e que encheram isto de
cabras... Tantas cabras, tantas, tantas, que muitas ainda andam por
aí...
O Funchal era, neste tempo, uma cidade fervilhante de negócio e
cultura. As exportações de açúcar garantiam uma enorme
prosperidade e, a nível cultural, a cidade tinha alguns dos maiores
poetas da época...
NARRADOR 2 – Havia uma autêntica Escola de Trovadores com
nomes famosíssimos: João Gomes; Tristão Teixeira; João
Gonçalves da Câmara, Manuel Noronha... e o próprio Baltazar Dias.
Juntavam-se muitas vezes para Jam Sessions de poesia, alguns
deles punham uns discos numa scratch box e assim nasceram as
Raves das Vespas.
(Começa uma batida de RAP)
VOZ OFF – Iá! Iá! Funchal People... Méquié!
Baza lá arrancar com mais uma JAM Session from the hart to
the pips, yeah!
Hoje na área represent:
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COM.TEMA
Ele faz sonetos ao ritmo da Kizomba, ele faz versos como
quem dança Funáná: Tristão Teixeira A.K.A. Tristão das
Dámas...
TRISTÃO – Yo!
VOZ OFF – O Homem que anda sempre de Bastão na mão...
João Gonçalves da Camara A.K.A. DJ Porrinha.
PORRINHA – Yé
VOZ OFF – Ele pode ser cego, mas isso só lhe dá problemas
quando está a alinhar os discos... Baltazar Dias A.K.A. Stevie
Wonder.
BALTAZAR (virado de costas para a plateia) – Yá!... errr
(viram-no para a frente) Yá!...
OS TRÊS – DJ Porrinha, DJ Damas, DJ Baltazar!
Trovadores por vocação, a representar
Fazemos trovas de alto ritmo de sabor açucarado
Amor, Escárnio, Maldizer, temos tudo controlado
(Vão virando Baltazar para o sítio certo)
Floreado, bem ritmado, não fazemos nada à toa
E ao final de cada quadra papamos a gaja boa!
Damos baile no Homero, no Virgílio e na Eneida
E se não gostares da cena vai mas é levar na...
NARRADOR 2 – NAAAA MADEIRA... encontravam-se as melhores
raves, os melhores DJ‟s, um clima porreiro e um casino decente...
Os velhotes ingleses e alemães ainda não vinham passear para
aqui porque naquele tempo quase ninguém conseguia passar dos
80 anos de idade... que é a idade habitual dos turistas seniores que
visitam a Ilha hoje em dia. E o Funchal era o Centro de tudo isto!
A Madeira tornou-se apetecível... já na altura o Funchal prosperava
e realizava desfiles de moda... o único problema é que as únicas
moças solteiras que havia para os desfiles eram Freiras... e os
desfiles eram um bocado monótonos... Decorria um destes desfiles
em 1556 quando, de repente, piratas franceses que vinham a
passar e que já estavam fartos de não ver terra há meses... e que
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COM.TEMA
tinham no fundo que fazer companhia uns aos outros... decidiram
saquear o Funchal...
(Parte Musical... Medley em Dialecto Frrancé)
FRRANCESES (Cantando La Vie en Rose)“P‟ra roubarrr e p‟ra pilharrr
Matarrr ou incendiarrr
(Coro) Nós somos talentosos!
E também p‟ra violarrrr...
Mesmo sodomizarrr
(Coro) Nós somos tão jeitosos!...
Dizem que aqui na Madeirrra
Até mesmo uma Frreirra
É boa como o milhôôôô
Que marravilhas dizem do Funchal”
FREIRAS – “Vamos meninas fujam p‟ró Curral!”
FRRANCESES (Agora ao som do Alouette) –
“Somos frranceses, pior que nós não há!
Vamos fazerrr muito ménage à trois!”
FRRANCESES (ao som de Frére Jacques) –
“Linda Frrreirra, linda Frreirra...
Quem és tu? Quem és tu?
És linda e solteirra... És linda e solteirra
Vou-te ao... (outro francês surge a cortar na altura certa)
...improviso fazer um verso diferente daquele que
pensavam que ele ia fazer e que seria demasiado
ordinário p‟ra este momentú!”
NARRADOR 2 – As freiras acabaram por se juntar às cabras dos
Canários e piraram-se todas para um curral. Nasceu assim o Curral
das Freiras.
A Ilha foi-se desenvolvendo paulatinamente e já era conhecida pela
sua beleza... Luís Vaz de Camões acaba por considerar essa
beleza n‟Os Lusíadas, inspirando-se na Madeira para criar a Ilha
dos Amores, no poema épico “Os Lusíadas”.
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COM.TEMA
RELATO – E desculpem interromper... o Derby da Nobreza
está ao Rubro, depois de um Golo de Mialheiro, a equipa dos
Nobres Estranhos a chegar à igualdade, uma jogada a grande
velocidade de Caramujo que toca para a entrada de Denis
para um frango de Perú...
Está feita a igualdade mas... esperem! Camelo e Penteado
acusam Perú de ter aberto as pernas à entrada de Denis...
Perú responde chamando burro a Camelo.
Vogado e Ususdimare pegam-se à porrada.
Paulo Paraty não vê nada disto, Zarco também não e
Castelo-Branco desata a dizer que está tudo muito mal
vestido e pouco-chique!
Uiii!... E agora Lemilhana pega no pau da bandeirola de canto
e persegue Rêgo e Alcoforado...
Barriga, Acciauioli e Visovi largam a correr para o balneário
em pânico...
Lemilhana lança a bandeirola de canto e acerta em cheio no
Rêgo de Alcoforado... Perdão! Em Rêgo e Alcoforado...
Este último terá de passar a pronunciar o nome com vogais
mais abertas.
NARRADOR 1 – Entretanto no continente as coisas estavam a ficar
pretas.
Quem mandava na Europa no Sec. XVI, era Carlos V... um
imperador espanhol, que era holandês...
Carlos V era rei de Espanha, mas também da Alemanha, e da
Áustria, e de Nápoles, e da Holanda... era Rei de tudo... lá pelo
meio tinha tido uma avó chamada Joana a Louca e que tinha esta
alcunha porque era Espanhola...
NARRADOR 1 – E diga-me você... como é que Carlos V se
tornou soberano absoluto de metade da Europa na primeira
metade do Séc. XVI?
SALOIO – O Queijo Bibiano é feito com puro leite de gado
bovino e curado com o método flamengo...
NARRADOR 1 – Bom... foi a casar parentes da mesma família
todos uns com os outros: casava-se o tio com a tia, o cunhado com
a nora e o primo com a prima...
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COM.TEMA
NARRADOR 2 – É deste tempo que vem a expressão: “Quando
mais prima, mais se lhe arrima”.2
E entre os muitos casamentos que arranjou, ele próprio casou com
uma portuguesa: Isabel de Portugal... com a qual viria a ter um filho:
Filipe II (primeiro de Portugal).
Assim as famílias reais portuguesa e espanhola ficaram ligadas... A
qualquer momento, o Rei espanhol poderia tentar suceder ao trono
de Portugal, caso nos faltasse Rei...
CORO – Oh não!
NARRADOR 2 – Mas calma! Tínhamos o Rei D. João III... que era
um gajo porreiro. Embora tenha permitido que se instalasse em
Portugal a Inquisição... que era assim uma espécie de ASAE das
religiões... Não podia ver uma alheira de Mirandela que mandava
logo queimar a família que a fazia.
Como era muito religioso passava a vida a rezar e só teve um
filho... a sua mulher, entretanto, terá tido muitos...
Só que o único filho de D. João III morreu cedo...
CORO – Oh Não!
NARRADOR 2 – Calma! Mas conseguiu ter um filho ainda antes de
morrer.
Portugal tinha um herdeiro!
(Surge figura de D. Sebastião)
Só que este rapaz era o resultado de 3 gerações de incestos vários
e de casamentos dentro da mesma família,
Era franzino...
(figura de D. Sebastião começa a degenerar a cada atributo
negativo que lhe é dado).
Branco copo de leite...
...mimado
...estúpido
2
nem faço ideia o que isto quer dizer!
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COM.TEMA
...teimoso
...parvo
...com os dentes tortos
...gases
...gota...
...e uma perna maior que a outra...
NARRADOR 1 – e viu filmes do Rambo a mais, por isso achou que
conseguia ir para Marrocos de armadura e conquistar aquilo tudo
antes de morrer desidratado...
NARRADOR 2 – Chamava-se D. Sebastião, morreu jovem, e lixou
isto tudo...
NARRADOR 3 – Por isso, entre 1580 e 1640, não se passa nada
de especial na Madeira ou em Portugal... a não ser o facto de nos
termos tornado todos espanhóis, que nos obrigaram a cantar um
hino que ainda não tem letra.
NARRADOR 1 – Ainda hoje há pessoas que esperam que D.
Sebastião regresse para governar Portugal. Essas são as pessoas
que não percebem nada de história e que acreditam no Pai Natal,
no coelhinho da Páscoa e que o Sócrates é um bom primeiroministro.
NARRADOR 3 – E que acham que o Luís Filipe Vieira é bom
presidente e que os arguidos do apito dourado vão ser todos
condenados.
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COM.TEMA
O SÉCULO XVII e XVIII
NARRADOR 2 – Para os portugueses, o Século XVII começa na
verdade quando os espanhóis se piram do nosso burgo.
Foram-nos servidos 3 Filipes... Entrada, Prato Principal e
Sobremesa.
O primeiro, bastante comestível e equilibrado, tinha a mania de
fazer muitos barquinhos, fez questão de vir viver para Lisboa,
porque era mais barato do que em Espanha, entregou o governo do
país a um português de sua confiança, teve o português como
primeira língua até a morte da mãe e cortava a barba à moda
portuguesa. Continuou a brincar com os seus barquinhos... mas
deixou um travo amargo quando se pôs a tentar invadir a Inglaterra.
FILIPE II- Eles afundaram os meus barquinhos todos!...
BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!
NARRADOR 2 – O segundo Filipe, já era um pouco mais tonto,
feio... e um pouco obeso, já sabia um pouco a ranço...
E o terceiro já não ia lá nem com molho de tomate... era
megalómano, pintava os lábios e era uma besta.
Por essa altura, a Espanha também estava a ficar falida. Por isso,
não pôde reagir a sério quando uns quantos portugueses
começaram a dizer que tinha acabado a brincadeira. Assim se deu
a restauração da independência, a 1 de Dezembro de 1640, com D.
João IV a ser aclamado Rei.
NARRADOR 1 – A notícia foi dada de maneiras diferentes em
diferentes locais.
Em Lisboa:
JORNALISTA – Boa Noite... Os portugueses revoltaram-se.
Restauraram, esta manhã, a independência e jogaram o
governo do alto de um prédio. A partir de hoje o Rei português
é D. João IV.
NARRADOR 1 – Em Madrid:
JORNALISTA (com um bigode postiço) – Buenas Noches, En
Portugal se revoltaran los portugueses quando souberan que
Filipe III yá no quiére mas governar el país. Muchos de ellos
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COM.TEMA
se suicidaran jugando-se de un prédio pues no quieren que su
rey sea D. João IV.
NARRADOR 1 – E depois a notícia correu o país como uma... quer
dizer flecha nem por isso, que naquele tempo não havia telemóveis.
Bem... a notícia foi correndo:
(Com a ajuda do projector vão sendo projectadas as
diferentes datas e locais)
(LISBOA 1 de DEZEMBRO de 1640)
HOMEM 1 – Expulsámos os Espanhóis. Temos um novo Rei!
Viva D.João IV!
(PORTO 8 de DEZEMBRO de 1640)
HOMEM 2 – Demos uma trepa ós Espanhóis. Tiemos um
nuobo Reie!
HOMEM 3 – Éi o Pinto da Costa?
HOMEM 2 – Noum... é o D. Joum IV...
(FUNCHAL 10 de JANEIRO de 1641 – um mês e tal depois)
HOMEM 3 – Pessoal! Isto acabou de acontecer! Expulsámos
os Espanhóis. Viva D.João IV!
(PORTO SANTO 5 FEVEREIRO de 1641 –dois meses e tal depois)3
HOMEM 2 – Pessoal! Acabo de saber! Já não somos
espanhóis! Viva D.João IV!
(ALDEIA ALENTEJANA 1642)
HOMEM 1 – Compadri... Atã nã queira lá veri que Portugali já
nã é Espanholi?
HOMEM 4 – Compadri deixe lá estari... dê-le mais uns
séculos que volta logo a seri!...
3
Esta data não está certa
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COM.TEMA
NARRADOR 1 – Há muito tempo que não havia no Porto Santo
uma coisa para comemorar... então os Porto-Santenses decidiram
festejar com estrondo. Puseram-se a disparar os canhões da
fortaleza com tanto barulho, que uma esquadra turca que cercava a
Ilha bateu em retirada...
...A armada era enorme, com soldados de todos os cantos do
Império Turco: da Síria, da Anatólia, da Capadócia...
...O problema é que os almirantes vinham de uma região muito
remota do Império Turco: a Estupídia!
NARRADOR 2 – Entretanto muita coisa acontece na Ilha... O
desenvolvimento da indústria da Cana do Açúcar, a invenção da
Poncha, as primeiras exportações de Vinho Madeira, os primeiros
lucros por exportações de Vinho Madeira, as primeiras grandes
quintas criadas para produção de Vinho Madeira, e os primeiros
ingleses que se apropriaram das quintas de produção do Vinho
Madeira...
(Entram três Ingleses, vociferando em Inglês e surripiando
algumas peças do cenário).
NARRADOR 2 – Mas a Restauração da Independência tinha um
preço. O país tinha ficado tão falido e o nosso exército estava tão
enfraquecido pelas batalhas com os espanhóis, que a única solução
era casar a nossa Infanta D. Catarina com o Rei Carlos II de
Inglaterra.
Assim, os Espanhóis já não se metiam connosco.
Acontece que Carlos II tinha outras pretendentes, e então
arranjámos maneira de lhe dar a Catarina e muitos prémios!...
(Começa a música do quem quer ser milionário mas com o
genérico “QUEM QUER SER MAIS OTÁRIO”).
JORGE RAFAEL – Carlos II de Inglaterra, você já vai para a
8ª pergunta, já garantiu a princesa Catarina, 500 mil libras, a
cidade de Tânger, a Ilha de Bombaim... Tem agora em jogo o
Arquipélago da Madeira e a ajuda do telefone e do público...
CARLOS II – Vamos a isso...
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COM.TEMA
JORGE RAFAEL – Está nervoso?
CARLOS II – Só um pouco impaciente... é que eu estou muito
impressionado com o decote.
JORGE RAFAEL – Quer dizer... com o dote...
CARLOS II – Não não! Com o decote da Catarina... mal
posso esperar para pôr as mãos naquilo. (Riso Alarve).
JORGE RAFAEL – Olhe a nossa pergunta por acaso está
relacionada com montes e vales. (riso ainda mais alarve).
Pergunta para o Arquipélago da Madeira:
(Ouve-se a Musiquinha)
JORGE RAFAEL – Em que ano foi descoberta a Ilha da
Madeira: 1418, 1419, 1346 ou BINGO.
CARLOS II – Errrr... posso pedir ajuda do público?
JORGE RAFAEL – Penso que sim... são todos madeirenses
devem saber com certeza...
(Musiquinha)
JORGE RAFAEL – Bem 82% escolheram BINGO! 8%
escolhem Carlos Queiróz, 6% escolhem 1418 e 4% escolhem
uma família feliz um crepe chinês e 4 doses de arroz chau
chau.
CARLOS II – Errrr... errr... é melhor usar a ajuda do telefone!
Tenho um amigo que sabe de certeza...
JORGE RAFAEL – Vai ligar para quem?
CARLOS II – João Carlos Abreu.
JOÃO CARLOS ABREU (ao Telefone) – Boa noite!
JORGE RAFAEL- Boa noite! João Carlos Abreu fala Jorge
Rafael, do “Quem quer ser mais Otário”!
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COM.TEMA
JOÃO CARLOS ABREU – Oh sim como está, gosto muito do
seu programa!
JORGE RAFAEL – Obrigado, obrigado! Olhe o Rei Carlos II
de Inglaterra está aqui a precisar da sua ajuda numa pergunta
e disse-me que você sabe a resposta de certeza...
JOÃO CARLOS ABREU – Talvez, talvez... Eu gosto dessas
coisas. Pode perguntar.
JORGE RAFAEL – Eu vou-lhe passar o telefone, está bem?
JOÃO CARLOS ABREU – OK...
JORGE RAFAEL – Carlos II, 5 segundos a partir de agora.
CARLOS II – Errr... Err... Em que ano foi descoberta a
Madeira: 1418, 1419, 1346 ou...
JORGE RAFAEL – Ó que pena Carlos II, terminou o tempo.
NARRADOR 1 – Nesta altura, o açúcar do Brasil e das Antilhas
inundavam os mercados e as exportações de Vinho Madeira
tornaram-se a principal fonte de lucros da Ilha e, claro, do Funchal.
E apesar de os Ingleses serem, na altura, donos dos principais
negócios da cidade...
e da Ilha...
e do arquipélago...
e do País inteiro,
não estavam interessados em dominar o território... Não estavam
para se chatear... e por isso os portugueses também prosperavam.
NARRADOR 1 – O dinheiro que se ganhou na altura permitiu que
muita gente com fortuna mas com pouco nome adoptasse os
nomes esquisitos das famílias nobres...
Cada nome esquisito custava uma fortuna!
Menos o nome Alcoforado... esse tinha pouca procura.
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COM.TEMA
Ah! E entretanto, as notícias continuavam a espalhar-se pelo
mundo...
(ILHAS DESERTAS 22 de OUTUBRO de 1782)
HOMEM 2 – Pessoal! Acabo de saber! Já não somos
espanhóis! Viva D.João IV!
NARRADOR 1 – Assim, na segunda metade do séc. XVIII havia
uma autêntica balbúrdia de famílias nobres na Ilha... Já não se
sabia quem era nobre e quem não era... Além disso havia grande
desordem na cidade, desentendimentos crescentes no comércio,
greves dos sindicatos, epidemias de piolhos, alcoolismo
generalizado... até que um dia houve um acontecimento que foi a
gota de água:
MIÚDA HISTÉRICA – Dá-me o Télemóbele!... DÁ-ME O
TÉLEMÓBELE JÁÁÁ!
NARRADOR 2 – Chegou-se à conclusão que isto não podia
continuar assim... Veio então um tal governador Sá Pereira que
ficou conhecido como o Pombal Madeirense. Não porque lhe
nascessem pombos na cabeça, mas sim porque meteu tudo isto na
ordem:
legislou as aquisições,
ordenou os nomes das ruas,
criou escolas,
fez estradas,
subiu os impostos,
criou uma avaliação dos professores,
baixou o passivo,
impôs os tectos salariais,
reparou os tectos das capelas,
tirou 6 pontos ao Futebol Clube do Porto,
regulou as cotas de exportação do leite, o tamanho dos rolos de
papel higiénico, a gradação de cores das penas dos canários, e o
tamanho dos seios da Fafá de Belém...
NARRADOR 1 – Tornou o Funchal tão organizado, tão organizado,
e meteu isto tudo tão na ordem que quando se foi embora largaram
fogo-de-artifício para festejar.
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Foi desta forma que começou a tradição do fogo-de-artifício no final
do ano!
...Cuja demonstração mais impressionante foi em 2007... altura em
que se juntaram outras celebrações importantes!
(ILHAS SELVAGENS 1 de JANEIRO de 2007)
HOMEM 1- ...Já não somos espanhóis! Viva D.João IV!
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O SÉCULO XIX
NARRADOR 1 – Não se conta a história do Funchal no Séc. XIX
sem falar nos ingleses...
NARRADOR 2 – E p‟ra falar dos ingleses há que falar dos
franceses
NARRADOR 3 – ...E quem diz Franceses diz Napoleão...
NARRADOR 4 – ...E quem diz Napoleão diz Revolução Francesa...
NARRADOR 1 – ...Revolução Francesa... Francesinha
NARRADOR 2 – ...Francesinha... Salgada
NARRADOR 3 – ...Salgada... Sede...
NARRADOR 4 – ...Sede... Coca-cola!
NARRADOR 1 – E isto foi publicidade metida a martelo?
TODOS – Nããããããããã!
NARRADOR 1 – Bom... Depois da Revolução Francesa de 1782,
os franceses desatam à cacetada uns com os outros, dá-se uma
terrível guerra civil e surge uma geração de pessoas nascidas em
França que se torna extremamente violenta!
GENERAL – Queres entrar no Exército?!
RAPAZ FEIO – Sim!
GENERAL – Gostas de andar à pancada?!
RAPAZ FEIO – Sim!
GENERAL – De partir ossos?!
RAPAZ FEIO – Sim!
GENERAL – Como te chamas?
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RAPAZ FEIO – Petit!
NARRADOR 1- Os Franceses ficam doidos, inventam a guilhotina
de cortar queijos... mas resolvem testá-la antes com 30.000
pessoas, e ganham jeito nesta coisa de porrada, massacre,
pilhagem e violação.
É assim que decidem lixar o mundo no início do Século XIX. Eram
liderados por um tipo baixinho chamado Napoleão, que tinha dores
de estômago, e a pila pequena.
NAPOLEÃO (segurando um dedal) – Josefine! Eu já te falei
das doenças sexualmente trrransmissíveis! Agorrra deixa-me
pôr este preservativô!
NARRADOR 1 – Escusado será dizer que tinha um par de chifres
inversamente proporcional ao tamanho do seu Zézinho. E como
naquele tempo não havia Ferraris nem iates grandalhões...
Napoleão teve de compensar essa frustração com outra coisa.
E decidiu invadir meia Europa.
Lixou a Espanha, lixou a Áustria, lixou a Bélgica, lixou a Itália, lixou
o Egipto (não é Europa, mas que se lixe) lixou a Prússia e achou
que ia lixar a Rússia...
NAPOLEÃO – Aí vou eu seus cabrrrrões!... Arrgghhh!, tá
muito frrrio! Tá muito Frrrrio!
NARRADOR 1 – lixou-se na Rússia, lixou-se com a Inglaterra, e
meteram-no num navio direitinho para um rochedo nos confins do
Atlântico...
NARRADOR 2 – Pensaram primeiro em mandá-lo para as Desertas
mas as autoridades do Funchal temeram que ele organizasse um
exército de gaivotas e cagarras para bombardear o Funchal a
cagadelas. Depois de fazer escala aqui, deram-lhe guia de marcha
para a Ilha de Santa Helena, onde passou o resto dos seus dias a
coleccionar selos e a dedicar-se à masturbação de grilos.
NARRADOR 2 – Assim, no início deste século a Madeira começa
por ser inglesa. Portugal é ocupado pelos franceses, a Corte viaja
para o Brasil... os brasileiros chamam a isto a “Transferência da
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Corte”... os Portugueses chamam a isto a “Fuga com o rabo entre
as pernas da Corte”.
(entra idiota brasuca)
BRAZUCA IDIOTA – “É! Eles não fugiram, eles se
transferiram!”
NARRADOR 2 – Tá calado!
BRAZUCA IDIOTA – Escanteio... é Canto
NARRADOR 2 – Tá calado!
BRAZUCA IDIOTA – Juíz da Partida... é Árbitro!
NARRADOR 2 – Tá calado!
BRAZUCA IDIOTA- Melhor jogador do Mundo... é...
NARRADOR 2 – É?!...
BRAZUCA IDIOTA – É...
NARRADOR 2 – É?!...
BRAZUCA IDIOTA – É Cristiano!... É de PORTUGAL, país
IRMÃO! Adoro meus irmãos PORRTUGUESES! Meu pai era
de BRAGA... BEIJÃO PARA PORRTUGÁU, NÉ!
NARRADOR 2 – Pira-te!...
BRAZUCA IDIOTA – Não to‟intendendo...
(Tiro)
NARRADOR 1 – Ora a corte fugiu com o rabinho entre as pernas
para o Brasil, e ainda apanhou um ataque de piolhos como castigo.
Ora os ingleses, achando que a coisa podia dar para o torto e que
Portugal poderia transformar-se numa espécie de “quintal dos
Franceses”, decidiram não se preocupar com o rectângulo, mas
proteger a sério o ponto estratégico do Atlântico que era a Madeira.
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COM.TEMA
Estiveram cá uma 1ª vez logo na primeira década do século XIX...
(Entram três Ingleses, vociferando em Inglês e surripiando
algumas peças do cenário).
NARRADOR 1 – E uma segunda vez liderados por um tal
Beresford, que acabaria por vir depois governar Portugal
Continental durante um tempo.
(Entram três Ingleses, vociferando em Inglês, agora
atravessando o palco no sentido inverso e surripiando ainda
mais peças do cenário).4
NARRADOR 1 – Os ingleses nunca mais arredaram pé da Ilha...
mas no fundo, também nunca quiseram mandar nela... como só
ligam uns aos outros ou raramente se ligam a sério a portugueses
escurinhos, acabam por ser uma comunidade muito fechada. Daqui
se conclui: ”Inglês é como a SIDA... É sexualmente transmissível...
e não tem cura!”
NARRADOR 2 – Por falar em coisas sexualmente transmissíveis: a
famosíssima princesa Sissi da Áustria tornou-se uma grande fã da
Ilha da Madeira. Estava muito doente na altura em que veio para
cá... acabou por ficar na Quinta das Angústias... que hoje em dia é
conhecida por Quinta Vigia.
O que as pessoas não sabem é que a Quinta Vigia foi, durante o
séc. XIX quase todo, uma espécie de time-sharing da realeza... pelo
menos a julgar pela quantidade de príncipes e reis que lá passavam
temporadas.
Tinha uma atmosfera fabulosa, um staff impecável e uma
recepcionista venezuelana muito competente que tinha de
coordenar as reservas com a realeza toda...
(Toca o telefone)
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Quinta de Angústias
Boa Tarde, fala Consuelo em que posso ser útil?
4
que peças do cenário? É que não há cenário. Mas sempre podemos por lá coisas para eles roubarem. Ou
então os ingleses podem ser aqueles turistas com cara de estúpidos que vão andando e dizendo: “I say…”!
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COM.TEMA
SISSI – Boa Tarrde!... Diga-me uma coisa: Se estamos em
1830 porrque é que estamos a falarr ao telefone?
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Porque esta peça é
más idiota que os discursos do Hugo Chavez.
SISSI – Ah! Muito bem... Eu querria fazerr um reserrva parra
Julho!
RECEPCIONISTA VENEZUELANA- No puede! Julho
estamos ocupados. Temos cá el Imperador Maximiliano do
México!
SISSI – Mas eu querria tanto irr ao Weekend Dance!
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Si... mas está todo
ocupado até Setiembre... Janeiro a Março está cá a Imperatriz
viúva do Brasil e a filha... Abril a Maio temos cá a Princesa de
Dinamarca... Depois vem cá o Mário Soares em Junho, e a
seguir o imperador Maximiliano que fica até fim de Agosto.
SISSI – E não têm nenhum quarrto disponível?!
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Mais ou menos... há um
que é para o Príncipe Carlos de Inglaterra...
SISSI – Hã? Mas ele ainda não nasceu!
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Pois, mas as orelhas
dele já começaram a ser construídas e estão guardadas
aqui...
SISSI – Oh!
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Vão levar años a
acabar aquilo...
SISSI – Pois!
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – E ocupán un quarto
inteiro!
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COM.TEMA
SISSI – Então prronto... marque-me de Setembrro a Janeirro.
Passo aí o ano.
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Muito bem! Pode darme su nombre por favor?
SISSI – Sisi...
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – ...Si... pode dizer...
SISSI – Sisi...
RECEPCIONISTA VENEZUELANA- ...Si... diga, diga...
SISSI – Sisi...
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – ...Si Si, No No! Está
gozando conmigo?
SISSI – É o meu nome! Sisi...
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Como? Dê-me o seu
nome completo!
SISSI – Elizabeth Maria von Hohenzöllern Brandauer
Hiltzsperger Kuntz-Strunz
RECEPCIONISTA VENEZUELANA – Ah... Errr... pronto... fica
em nome de Sisi.
NARRADOR 3 – Entretanto perguntaram ao Imperador Maximiliano
se ele queria ser Imperador do México. Ele achou que era uma ideia
do caraças, embora nunca lá tivesse posto os pés.
E foi desembarcar no México todo contente... tinham-se era
esquecido de perguntar se os Mexicanos queriam um imperador. E
acabou fuzilado.
A Sissi ficava com a Quinta durante o último semestre... mas
abarbatou-se logo aos meses do Maximiliano para apanhar o
Weekend Dance.
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COM.TEMA
E é uma sorte que a Sissi tenha vindo para a Madeira porque esta
peça estava desesperadamente a precisar de um episódio com uma
gaja boa!...
(Olha bem para a Sissi)
NARRADOR 3 – Quer dizer... Linda como o Sol... não dá para olhar
de frente!
NARRADOR 1 – Ora a versão oficial, segundo a realeza da altura,
sugere que a Sissi veio para o Funchal por motivos de saúde. E,
nesse aspecto a Madeira foi fantástica porque ela vinha, ao que
dizem, muito doente e no dia seguinte já era fotografada a tocar
bandolim toda contente!
(Projecção de imagens no ecrã ou mímica no palco, a elucidar
a mudança súbita de estado de saúde de Sissi)
NARRADOR 1 – Das duas uma, ou o clima da Madeira faz
milagres, ou os 80 soldados que com ela vieram fizeram-na muito,
MUUUITO FELIZ!
(Começa a Música e Sissi põe-se a cantar ao som do Like a Virgin)
SISSI – Andava deprimida...
Já me queria matar,
Mas baldei-me para
um palácio no meio do Mar.
(Entram os marinheiros)
Tem jardins e tem flores
E também... tem os meus amores
A cuidar de mim!
A cuidaaaar de mim
E agora eu estou...
Na Madeira... uuuh
Com os meus marinheiros
Na Madeeeeira...
Com uns gajos... tão porreiros!
OS MARINHEIROS – Andava deprimida
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COM.TEMA
Já se sentia mal
SISSI – nunca era bem comida
nem coiso e tal...
Enchem-me de miminhos…
E eu devoro-os como douradinhos..
Gramo do Funchal!
Gramo buéééé do Funchal!
E coiso e tal!
OS MARINHEIROS – Na Madeira... uuuh
Com os seus marinheiros
SISSI – Na Madeeeeira...
Com uns gajos... tão porreiros!
NARRADOR 1 – E a Sissi era uma espécie de Angelina Jolie
daquela época. Só que a Angelina tem uma vantagem em relação à
Sissi...
MARINHEIRO – “As mamas?...”
NARRADOR 1 – Não! A pasta de dentes! É que parece que a Sissi,
coitadinha, era muito bonita, mas tinha os dentes todos podres...
NARRADOR 2 – Por isso é que maior parte dos quadros e
fotografias em que aparece nunca a mostram a sorrir... Está sempre
assim
(Sissi faz expressão ou mostra-se no Video)...
NARRADOR 2 – É claro que na Madeira, dado a vida que levava, já
estava mais assim
(Sissi faz expressão de sorriso forte mas, boca fechada).
NARRADOR 2 – E os seus soldados andavam todos assim:
(Sorriso muito aberto e muito contente)
NARRADOR 2 – …pouco se importando com o facto de também
terem os dentes todos lixados.
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COM.TEMA
NARRADOR 1 – Da segunda vez que visitou o Funchal, fugiu do
barco para ir comer bananas à mão para a Felisberta. Ao que
parece ela apreciava muito as bananas madeirenses!
SISSI – É porque são mais saborosas... (riso cúmplice)
NARRADOR 1 – (riso cúmplice) Não! É porque são mais grossas!
NARRADOR 2 – Nesta altura, o Funchal já tem cerca de 29403
habitantes, 12345 concebidos pelos 80 leais soldados da Sissi... ou
seja, já vive cá gente suficiente para começar a exportar. É certo
que os madeirenses começaram a emigrar para outros sítios logo
no séc. XV... foram povoar fortalezas em África, foram para a Índia,
foram para todo o lado...
Mas é na segunda metade do séc. XIX que criam os franchises
mais conhecidos. Foram muitos para a Guiana Britânica e, para
muitos outros sítios em função das necessidades dos países que os
acolhiam:
EMIGRANTE 1 – Nós vamos para o Havai porque eles
precisam desesperadamente que alguém invente o ukulele.
EMIGRANTE 2 – Nós vamos para a Venezuela porque eles
precisam que alguém invente lá o Milho Frito.
EMIGRANTE 3 – Nós vamos para a África do Sul para
inventar o Joe Berardo...
NARRADOR 2 – Entretanto o Brasil torna-se independente e
começa a fazer castings para as primeiras novelas da Globo...
NARRADOR 1 – Ao mesmo tempo começaram a criar-se
futebolistas brasileiros com nomes esquisitos acabados em “inho”,
“elson” ou “edson” mas não saíram do país porque ainda não havia
campeonato nacional da primeira divisão em Portugal.
Como não havia futebol, cinema ou televisão, e o teatro ainda
estava a ser construído, os funchalenses não tinham assim muito
com que se entreter.
Nasciam assim formas de diversão muito estranhas. É o caso das
esquadras de Navegação Terrestre.
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COM.TEMA
Era moda em várias quintas da cidade o dono da casa, os familiares
mais próximos e todos os empregados agirem como se a casa se
tratasse de um navio. De vez em quando dava-lhes uma panca e
todos se vestiam há marinheiros, içavam velas no meio do quintal,
hasteavam bandeiras em código e espreitavam com monóculos
para os quintais dos vizinhos. Em alguns casos isto era apenas
desculpa para ver as damas da cidade na hora do banho... mas na
maioria das vezes, fazia-se tudo isto ao som de estranhas músicas
como esta:
(Começa a tocar o refrão do “In the Navy”. Surgem os
Marinheiros a marchar com um ar um pouco suspeito)
MARINHEIRO 1 – Olha... não achas isto meio abichanado?
MARINHEIRO 2 – Depois do esgotamento que tive com a
Sissi, até espero que seja!
(Entra pela coxia um Marinheiro à Capitão)
CAPITÃO – Meninos! Está na hora do almoço!
MARINHEIROS – BOA! DOURADINHOS!
NARRADOR 1 – Isto leva-nos a crer que as esquadras de
navegação terrestre eram apenas um nome pomposo que se dava
a uma festa GAY... e que provavelmente eram uma ideia dos
Ingleses.
Consta que esta mania chegou ao ponto de colocar as esquadras
de Navegação Terrestre a receber o rei português D. Carlos I,
quando ele veio ao Funchal.
CAPITÃO – Em honra de sua Majestade, vamos fazer mais
uma coreografia!
(Começam a dançar ao som do Y.M.C.A. O Capitão agindo como
se fosse uma coreógrafo boiola)
CAPITÃO – Vamos lá! Ritmo! Ritmo!...
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COM.TEMA
NARRADOR 1 – Impressionado perante tal demonstração de
perícia e sincronia, El Rei D. Carlos, em toda a sua magnífica
sabedoria, terá comentado na altura:
D. CARLOS I – Que merda é esta?!
NARRADOR 2 – Mas isto só acontece no início do sec. XX.
Portanto vamos lá resumir o séc. XIX... Em Portugal,
essencialmente, acontece a expulsão dos franceses, a guerra
constitucional, o cerco do Porto, o governo regenerador, o
nascimento da Lili Caneças, o 90º aniversário da Betty Grafstein e
do Zé Castelo-Branco, o ultimato inglês e a campanha do Mouzinho
de Albuquerque em África.
NARRADOR 1 – No resto do mundo, os Franceses ganham a
Batalha de Austerlitz, os polacos reconquistam a Polónia...
(Surge um polaco com uma Bandeirinha da Polónia a festejar)
NARRADOR 1 – Os Franceses perdem em Waterloo, os polacos
perdem a Polónia...
(O polaco com ar chateado.)
POLACO – Porra!
NARRADOR 1 – Os Franceses perdem a Guerra Franco-Prussiana.
Este foi um século particularmente bom para os ingleses porque os
franceses se fartaram de levar na pinha.
NARRADOR 2 – O Brasil fica Independente, a Argentina fica
independente, a Bolívia fica independente... a América do Sul fica
independente, os polacos voltam a ganhar a Polónia
(Surge um polaco com uma Bandeirinha da Polónia a festejar)
NARRADOR 2 – Há a guerra civil dos Estados Unidos, a unificação
da Itália, a unificação da Alemanha, a unificação da princesa Sissi
com uma multidão de garanhões latinos até que foi assassinada por
um suíço a quem tinha dito
SISSI – “Gosto muito de ti... mas como amigo!”
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COM.TEMA
NARRADOR 2 – ...a cabra...
NARRADOR 1 – Ao que parece o gajo também não tinha sentido
estético nenhum... pois decidiu acertar com um punhal mesmo em
cheio da melhor parte do corpo da Sissi.
(O atacante acerta em cheio nos seios de Sissi, que são
balões... e que explodem)
NARRADOR 3 – Enfim... falando de garanhões latinos... Dá-se em
1891 o curioso episódio do garanhão. Ao que parece, havia no
Funchal falta de cavalos potentes e viris... E numa época em que
não havia automóveis, os cavalos eram um importantíssimo meio
de locomoção...
NARRADOR 2- Foi assim que se tomou a medida de transportar
para o Funchal um portentoso garanhão cujo propósito seria o de
cobrir as muitas éguas da Ilha de forma a criar uma raça mais
portentosa e possante.
Ao que parece, os cavalos madeirenses estavam fartos de ver as
mesmas éguas todos os dias e preferiam passar os dias a jogar às
cartas e a beber Poncha na Serra d‟Água.
NARRADOR 1 – No entanto, houve um problema com o cavalo que
entretanto chegou. Ao que parece, era demasiado avantajado para
as pobres éguas da Ilha... E nunca conseguiu cumprir o seu
propósito. Isto muito desgostou as éguas... mas mais ainda o cavalo
que, coitado, passava o dia a ver catálogos das feiras equestres da
Golegã e posters da escola espanhola de equitação com éguas
nuas para ver se se entretinha.
Ainda procurou a princesa Sissi que, sabia ele, adorava montar.
Mas nessa altura a pobre já tinha ido desta para melhor.
NARRADOR 3 – O cavalo ficou desempregado e deprimido... a
única solução que teve foi afeiçoar-se ao próprio tratador... um
jovem bem-parecido.
Um dia foram juntos para uma caverna e assim nasceu o logótipo
do Banif...
**********
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COM.TEMA
O SÉCULO XX
NARRADOR 1 – Em 1900 o Funchal já tinha qualquer coisa como
43375 habitantes. O número de cavalos é que estava a diminuir... o
número de cabras mantinha-se mais ou menos na quota regular.
NARRADOR 2 – O número de lapas continuava a reduzir
drasticamente uma vez que eram cada vez mais os marinheiros que
passavam pelo Porto.
NARRADOR 3 – O número de ingleses começava a aumentar em
determinadas alturas do ano, por causa do turismo e dos percursos
dos vapores transatlânticos. Nessa altura já havia Hotel Reid‟s que
acolheu os seus primeiros hóspedes nos finais do séc. XIX.
Alguns ainda não saíram de lá...
NARRADOR 1 – No início do século XX, Portugal está indeciso
entre continuar monárquico ou virar republicano.
Nessa altura, 80% do país não sabia escrever o próprio nome,
quanto mais saber tomar decisões políticas. Ninguém sabia porque
deveríamos passar a república mas houve um grupo de fanáticos
que resolveu tornar as coisas mais simples.
(O Rei D. CARLOS com um cartaz que diz “MONARQUIA”
está lado a lado com um senhor de fato, barba e bigode com
um cartaz que diz “REPÚBLICA”. Um camponês e um outro
tipo de fato estão a olhar para eles)
TIPO DE FATO - Então? Qual é que queres?!
CAMPONÊS- Não sei! Estou indeciso...
(Tipo de Fato dá dois tiros no Rei)
TIPO DE FATO- E agora? Que tal?
CAMPONÊS – Ah! Agora já sei!5
5
vídeo de época….
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COM.TEMA
NARRADOR 1 – E assim se implantou a república. Rapidamente o
novo governo da 1ª República tratou de seguir a mais genuína
tradição da classe governante em Portugal, ou seja: fartou-se de
fazer merda.
Houve mais governos nos primeiros 3 anos da primeira República
do que treinadores do Benfica nas últimas 10 Temporadas.
Ninguém estava tempo suficiente no poder para fazer o que quer
que fosse.
(Sucedem-se vários Presidentes num palanque)
PRESIDENTE 1 – Portugueses! Eu prometo que o nosso país
vai... (sinal sonoro)
PRESIDENTE 2 – Portugueses!... Eu prometo que... (sinal
sonoro)
PRESIDENTE 3 – Portugueses!... Eu prometo... (sinal sonoro)
PRESIDENTE 4 – Portugueses!... Eu... (sinal sonoro)
PRESIDENTE 5 – Portugues... (sinal sonoro)6
NARRADOR 2 – A certa altura, apareceu um general chamado
Sidónio que ainda conseguiu endireitar um pouco as coisas. No
entanto, teve de desistir da sua política de salvação nacional
quando levou com um balázio na testa.
Também estava-se mesmo a ver. Um tipo chamado Sidónio não vai
a lado nenhum!
NARRADOR 1 – Assim, no meio de muita asneirada, Portugal
acaba por se ver envolvido na 1ª Guerra Mundial. Os Ingleses
tentaram dizer-nos para não nos metermos nisso...
INGLÊS – Mas porque queres ir para a guerra?!
RAPAZ – Para andar à porrada!
INGLÊS – Mas nem tens dinheiro para comprar armas!
6
Vídeo de época…
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COM.TEMA
RAPAZ – ...Mas ando à porrada!
INGLÊS – Mas eu vou ter de gastar dinheiro a equipar-te e a
transportar-te!...
RAPAZ – Sim! Sim! Mas eu vou andar à porrada!
INGLÊS- Como é que te chamas, rapaz?
RAPAZ – Petit!
NARRADOR 1 – É claro que os Ingleses se viram no direito de nos
usarem como carne para canhão. E como os madeirenses tinham a
experiência de aturar os ingleses há muito tempo, o Exército
Português achou que devia haver na Ilha uma quantidade de
soldados habituados ao sofrimento e ao sacrifício. E assim se
recrutou um contingente que simbolizou a participação madeirense
na 1ª guerra Mundial.
NARRADOR 2 – Em 1916, no meio da 1ª Grande Guerra, uma
pequena esquadra de navios alemães decide bombardear o
Funchal. No entanto, ao que parece, fizeram isto depois de uma
noitada nas Vespas e estavam com um bebedeirão tal que só
acertaram num descampado que havia ali nos Barreiros.
Aproveitou-se a cratera que ficou para fazer um estádio.
NARRADOR 3 – Entretanto as autoridades madeirenses apresaram
os 4 navios alemães que estavam na baía, levaram parte dos
alemães de castigo para as esquadras de navegação terrestre dos
ingleses, usaram outra parte para experiências médicas com
poncha, e uma terceira parte ficou para guia turístico porque já se
sabia que mais tarde iam dar um jeitão para levar excursões de
turistas alemães à Nossa Senhora do Monte para ver o Imperador
Austríaco.
NARRADOR 2 – Os navios alemães ficaram sem as suas peças de
artilharia e foram transformados em cargueiros de banana.
Mudaram-lhes os nomes de Fritz, Hans, Beckenbauer e
Volkswagen para Ávalos, Briguel, Marcos e Marcinho.
Página 49
COM.TEMA
NARRADOR 1 – Entretanto a Alemanha ataca a França, a Bélgica,
a Itália, a Polónia, Os polacos perdem a Polónia...
(O polaco com ar muito chateado.)
POLACO – Porra! Outra vez?
NARRADOR 1 – A Alemanha começa a levar na pinha, a 1ª guerra
Mundial acaba, a Alemanha e a Áustria/Hungria perdem os seus
impérios, a Bélgica ganha o Congo, os Polacos recuperam a
Polónia, a França mantém o norte de África e ganha a Alsácia e a
Lorena, a Itália ganha respeito, os Checos ganham um país, os
Turcos ganham juízo, a Inglaterra ganha milhares de libras, os
Estados Unidos ganham o papel de 1ª potência mundial e Portugal
ganha duas galinhas.
Valeu a pena! Aliás... muitas penas!
NARRADOR 2 – Mas nem só de tristezas é feita a primeira metade
do séc. XX português! Houve heroísmo nas trincheiras... não valeu
de nada, mas houve... Houve a manutenção de quase todo o
Império, houve a fundação do Sporting, do Benfica, do Porto, e
também do Marítimo, do Nacional e do União da Madeira, e houve a
primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
NARRADOR 3 – Só que a Travessia aérea do Atlântico Sul não foi
assim uma coisa tão simples como parece!
Naquele tempo não havia sequer uma revista para o pessoal se
entreter, e nem havia comida a bordo... Rapava-se um frio do
caraças e os motores avariavam por tudo e por nada.
Assim, antes de Gago Coutinho e Sacadura Cabral se aventurarem
até ao Rio de Janeiro, decidiram experimentar uma viagem mais
curtinha e voar até ao Funchal.
O que as pessoas não sabem é que os dois aviadores fizeram a
viagem com 4 tripulantes.
A viagem de teste Lisboa-Funchal foi realizada com Gago Coutinho,
Sacadura Cabral e os gémeos Domingos e Dionísio Lastro.
(Sketch dos 4 pilotos no alçapão do Teatro)
Página 50
COM.TEMA
GAGO – Velocidade!...
SACADURA – Indicador Avariado...
GAGO – Combustível...
SACADURA – Indicador Avariado
GAGO – Altitude...
SACADURA – Indicador Avariado
GAGO – Onde é que compraram esta merda?
SACADURA – Nos chineses!
GAGO – Posição?
SACADURA – Sentado...
GAGO – A Rota?
SACADURA – Burp!
GAGO – Afinal para onde é que vamos?
SACADURA – Para o Funchal...
GAGO – Ah boa! Vamos ter o autocarro à nossa espera.
SACADURA – Têm alguma coisa que se coma?
(entram as hospedeiras pela coxia fora a oferecer chá e café)
GAGO – (Voz de piloto)... Senhores passageiros fala-vos o
comandante... (quando está a fazer as instruções em inglês
batem-lhe na cabeça)
SACADURA – Ouve lá! Para com essa merda só cá estamos
nós os quatro?
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COM.TEMA
GAGO – QUATRO?! Isso é gente a mais... Não admira que
isto esteja tudo avariado... Quem são estes gajos.
SACADURA – Foi o Ministério que os mandou. São Lastro!
GAGO – Lastro? Porque é que o Ministério nos obrigou a
trazer Lastro?!
SACADURA – É o nome deles! Domingos e Dionísio Lastro!
São gémeos...
GAGO – E o que é que eles vieram fazer?
SACADURA – Ver!
GAGO – ...Oh pá desculpa lá mas um deles tem de ir à vida.
(puxa uma alavanca e um deles cai pelo alçapão abaixo).
GAGO – Porra... os motores ainda não têm força suficiente...
estamos a gastar combustível a mais... Acendeu uma
luzinha!... Sacadura! Que raio quer dizer aquela luzinha? Vê
no manual!
SACADURA – Ah! É o avisador T.F.
GAGO – T.F.?
SACADURA – Sim: „Tamos Fudidos!
GAGO – Ó porra... vamos ter de largar mais peso... Lá vai
lastro!
(Puxa uma alavanca e um deles cai pelo alçapão abaixo.
Acerta em cheio no Teatro Baltazar Dias).
NARRADOR 3 – Este voo ao Funchal serviu de preparação para a
travessia do Atlântico-Sul e apesar de o voo só ter durado sessenta
e duas horas e vinte e seis minutos, tendo percorrido um total de
8.383 quilómetros, a viagem consumiu, na verdade 79 dias, 3
aviões, quatro cargueiros e navios, várias peças, uma óptica
dianteira, quatro jantes de liga leve e dois amortecedores.
Perderam-se também 4 auto-rádios e alguns barris de combustível.
Página 52
COM.TEMA
Já para não falar nos pobres gémeos Lastro.
NARRADOR 1 – Em 1926 o país estava de tal maneira
desorganizado e falido que foi feito um novo Golpe de Estado. O
Marechal Carmona toma o poder e chama para ministro das
finanças um tipo muito sério e austero de barba rija que tinha
aprendido política de finanças com uma governanta ainda mais
séria e com a barba ainda mais rija.
NARRADOR 2 – Salazar assume a pasta das Finanças em 1928 e
equilibra logo as contas. Bastou para isso acabar com uma irritante
mania que os ministros tinham em construir estádios de futebol.
Curiosamente, hoje em dia, esse hábito está de novo muito na
moda.
NARRADOR 3 – Em 1930, Carmona e Salazar depois de assistirem
a um jogo de futebol no Funchal, acham piada à ideia de fazer um
partido com o nome das equipas que se tinham defrontado. Nasce
assim o União-Nacional. Aliás: a União Nacional...
E logo se decide que, para facilitar a escolha aos portugueses, este
seria o único partido a concorrer às eleições nesse ano... e em
todos os outros.
No Funchal, no entanto, não se achou muita piada a essa ideia.
NARRADOR 1 – Menos piada ainda se achou ao facto do partido
se apropriar indevidamente dos nomes de duas marcas da Ilha sem
pagar direitos de autor. Já viviam na cidade 68030 pessoas... e
como isto era muita gente a não achar piada nenhuma ao regime,
deu-se a 4 de Abril de 1931, a última grande revolta contra o regime
salazarista.
Com a paixão pela autonomia já muito divulgada e sentida, os
Funchalenses encabeçam um movimento que proclama a
independência da Madeira!
Que dura 30 gloriosos... dias.
NARRADOR 2 – O regime envia para o arquipélago uma enorme
frota naval que transporta milhares de soldados cubanos
comandados pelo vil e peçonhento Che Guevara... que mais tarde
surge em Cuba 30 anos mais novo. E com um face lifting que lhe foi
recomendado por Lili Caneças...
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COM.TEMA
Juntamente com este exército vem um jovem, de seu nome Fidel,
que vem experimentar técnicas de guerrilha, charutos, e frequenta
workshops de confecção de poncha em Câmara de Lobos.
NARRADOR 3 – Desde aqui até 1974 a Madeira entra mais ou
menos no mesmo congelador que o resto de Portugal. Excepção
feita à Guerra Colonial que teve tanto de sangrento como de
desnecessário, a vida em Portugal faz-se em tons de cinza claro.
Os acontecimentos mais excitantes do país são os Festivais da
Canção, o Mundial de 66 e as taças europeias do Benfica e do
Sporting.
Entretanto, no mesmo período no resto do mundo, passou-se muita
coisa... pelo que vamos resumir a história dos últimos 80 anos com
o auxílio da fantástica técnica da Rapidinha Fast Forward Viagra
Super Ultra Power.
(Puxa de um comando de Video e carrega no “Fast Forward”. Toda
a gente começa a movimentar-se a uma velocidade mais rápida. Os
vários narradores vão passando o testemunho de uns para os
outros enquanto a acção decorre lá atrás. Daqui até ao Fim, toda
esta sequência final é realizada a um ritmo desenfreado).
NARRADOR 1 – Mussolini sobe ao poder, Hitler sobe ao poder, a
Alemanha invade a Polónia, a Polónia deixa de existir outra vez,
POLACO – Eh pá! Assim não brinco! PORRA!
NARRADOR 2 – a França e a Inglaterra entram à pressa na
Guerra, a França mete o rabinho entre as pernas, a Inglaterra fica
lixada e os burros dos Japoneses atacam os Estados Unidos.
NARRADOR 3 – Hitler não consegue conquistar a Inglaterra porque
o Churchill era bêbado mas não era estúpido. Estúpido era o Hitler
que tenta conquistar a Rússia...
HITLER – Aí vou eu, seus cabrões! E agora com uma nova
estratégia... ó não, porra, é a mesma estratégia! É a mesma
estratégia!
NARRADOR 1 – O Hitler lixa-se, a Rússia e os Estados Unidos
rebentam com a fronha aos japoneses e aos nazis... A Polónia volta
a existir...
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COM.TEMA
POLACO – Ena!!!!....
NARRADOR 2 – a Segunda Guerra Mundial acaba... Os Russos
não saem dos países que tinham libertado aos nazis. A Polónia lixase outra vez...
POLACO – Na! Na! Não vale!... A malta não perdeu o país
quando os russos vieram para cá!
NARRADOR 2 – ...Pois não, mas a vossa capital passou a ser
Moscovo!
POLACO (furioso)- PORRA!...
NARRADOR 3 – Os ingleses e os americanos descobrem que
deviam ter continuado a lutar até Moscovo...
NARRADOR 1 – ...mas tarde demais. Começa a Guerra Fria.
Começa a Guerra na Coreia. Começa a corrida ao armamento
nuclear. Começa a corrida ao espaço… Quase que começa a 3ª
guerra mundial em Cuba onde o Fidel acaba de inventar o Mujito,
um sucedâneo da poncha. O Homem chega à Lua.
NARRADOR 2 – Entretanto, em 1968, Salazar é vítima de uma
partida estúpida...
(Salazar, meio decrépido está a preparar-se para se sentar...
e um tipo, por trás dele, saca a cadeira)
NARRADOR 2 – e tem um bate-cu que lhe afecta o cérebro. É
substituído por Marcelo Caetano... que tenta manter o país com
paninhos quentes até que chega o 25 de Abril de 1974.
NARRADOR 3 – Portugal livra-se da ditadura e entra
imediatamente no seu outro regime político preferido: a Balbúrdia.
Mas entretanto a notícia do 25 de Abril só chega à Madeira a 26...
ou melhor... 27
NARRADOR 1 – 28...
NARRADOR 2 – 30...
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COM.TEMA
NARRADOR 3 – 1...
NARRADOR 1 – BINGO!
NARRADOR 2 – Marcelo Caetano e Américo Thomaz chegam à
Madeira a 27 de Abril porque Marcelo levou um dia inteiro a explicar
a Thomaz o que era um Golpe de Estado.
NARRADOR 3 – A 1 de Maio de 1974, comemora-se o 25 de Abril
na Madeira com uma grande manifestação.
NARRADOR 1 – Depois realizam-se eleições... o Cristiano Ronaldo
nasce em 1985, é trocado por um frigorífico em 1993... e o resto é o
que se sabe... ... e o que ainda está para vir!
(Surge no ecrã uma projecção com a palavra FIM... A música
aumenta e torna-se mais forte... O pessoal começa a
convencer-se que a peça acabou mesmo quando entra o
Brazuca idiota uma última vez)
BRAZUCA IDIOTA- Aí... Não é FIM! É FINALZINHO!...
Não é Bilhete... é Ingresso...
Não é Burro... é Bobinho...
Não é Dentuço... É Ronaldinho...
Não é Frigorífico... é Freezer...
Não é Anúncio... é Comercial...
Não é Papa de Aveia... é Mingau...
Não é Rio de Janeiro... É Funchal...
(Tiro)
**********
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COM.TEMA
O último quadro: um filme maluco...
Eh tu! Quando saíres daqui... salta! Salta! Salta!...
Voa! Voa! (o homem a ir para a TAP) Não é assim estúpido!
Voa! (Com folhas de bananeira!)
A primeira das novas paragens do novo mundo!...
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COM.TEMA
OUTROS INGREDIENTES (IDEIAS AVULSAS):
Fait-Divers (a COMICHÃO PARA A COMEMORAÇÃO DOS 500
ANOS DA FUNDAÇÃO DA CIDADE DO FUNCHAL orgulha-se de
apresentar):
A invenção madeirense do combustível e as primeiras viaturas a
álcool: as redes, a crena e o Carrinho de Cestos. Os seus
condutores funcionavam a vinho e aguardente. Remédio para
desmaios – Bota de um indivíduo que cuide pouco da limpeza dos
pés.
E o Carnaval?! Que falamos sobre o Carnaval?
“Eles Virem aí!!!” (Minifilme sobre a invasão cubana da Madeira...
ou capa de Jornal).
Sissi adoptou o nome de uma prima da Beira-Baixa que era a
Chichi.
Canções:
Xaramba
Cantiga dos Marinheiros
Canto dos Piratas em FRRANÇAIS (Medley Vie en Rose, Frere
Jaques, Alouete, Tous les Garçons et les filles...)
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Gregoriano (James Brown Sex Machine e I Feel Good)
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