orieNtações de estudo - IEBVM - Instituto de Educação Beatissima

Transcrição

orieNtações de estudo - IEBVM - Instituto de Educação Beatissima
Orientações
de estudo
As orientações de estudo a seguir têm o objetivo de
permitir a construção pelo próprio estudante de um itinerário
formativo em âmbito escolar e não escolar para aprofundar
conhecimentos e compreender a amplitude e o significado da
cultura de viagem. Assim, dirigem-se ao estudante, que poderá
fazer a sua leitura com a mediação do professor.
Dessa forma, apresenta a possibilidade de uma leitura e
compreensão do mundo sob um olhar geográfico, com o apoio
dos pais e professores e de outras pessoas experientes que possam
contribuir para essa empreitada.
Aproveitando essas orientações, os estudantes das redes pública e
privada estarão se preparando para participar do 1º Desafio Nat ional
Geographic, em que serão avaliados seus conhecimentos geográficos
e sobre a cultura de viagem
34 Viagem do Conhecimento
DICA 1
{[
Utilize seu olhar geográfico
O novo não se inventa,
descobre-se.
Milton Santos,
Por uma geografia nova.
36 Viagem do Conhecimento
Um primeiro campo de orientações REfere-se aos conhecimentos próprios da ciência geográfica.
Vamos examinar a seguir alguns conceitos e idéias importantes para a reflexão sobre a cultura de viagem.
Em primeiro lugar, lembre aos estudantes que a
Geogra­fia tem como objeto de estudo o espaço, dimensão fundamental da vida humana. Sob essa ótica,
trata-se de uma área do conhecimento científico que
contribui para elucidar a complexa trama de relações
construídas pelas sociedades humanas em suas relações
com a natureza e na organização de seus espaços.
Destaque para os estudantes que, ao longo do
tempo, diferentes povos e culturas, cada qual à sua
maneira, apropriaram-se dos recursos e áreas disponíveis na natureza para sua sobrevivência, transformando-os em (seu) território. Nesse sentido, o
espaço geográfico é uma construção histórica, obra
eminentemente humana e, portanto, contemporânea
das sociedades humanas. O seu estudo envolve, assim, a compreensão do significado do arranjo espacial dos objetos e dos fluxos e movimentos resultantes da atividade humana.
Esclareça aos jovens que vivemos no mundo moderno contemporâneo um extraordinário conjunto
de transformações, marcado pela aceleração, pelo
desenvolvimento científico e tecnológico e por inovações sem precedentes nos sistemas técnicos de
transporte, comunicação e informação. Os avanços
na informática e na microeletrônica estão entre os
carros-chefes das mudanças. Procure identificar com
os alunos a presença desses objetos no cotidiano,
problematizando o mundo técnico vivido por eles.
{[ }]
nas palavras DE MILTON SANTOS
Milton Santos foi um dos mais importantes pensadores contemporâneos, geógrafo
dedicado às questões teórico-metodológicas da disciplina e aos estudos sobre
temas como as cidades e a globalização. Em suas palavras, no princípio da aventura
humana, a configuração territorial é apenas o conjunto dos complexos naturais.
À medida que a história vai se desenrolando, essa configuração passa a ser dada
“pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas,
cidades, etc; verdadeiras próteses. Cria-se uma configuração territorial que é cada
vez mais o resultado de uma produção histórica e tende a uma negação da natureza
natural, substituindo-a por uma natureza inteiramente humanizada”.
Dessa forma, para o autor, trata-se de estudar o espaço como “um conjunto
indissociável, solidário e também contraditório de sistemas de objetos e
sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único
no qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por
objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos
fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois, cibernéticos, fazendo com
que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. Através da
presença desses objetos técnicos: hidroelétricas, fábricas, fazendas modernas,
portos, estradas de rodagem, estradas de ferro, cidades, o espaço é marcado
por esses acréscimos, que lhe dão um conteúdo extremamente técnico”.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e tempo. Razão e emoção. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1997, p. 51.
suas anotações
Guia para Educadores
37
DICA 1
38 Viagem do Conhecimento
Mostre que, sob a chamada globalização, já existe a possibilidade técnica de
comunicação instantânea e simultânea, em “tempo real”. Assim, todos os dias,
grande parte das pessoas recebe um elevado volume de informações e tem contato
com eventos diversos que estão ocorrendo em outras partes do mundo, seja pela
televisão, mídia impressa ou internet. Por um lado, isso permite uma comunicação
inédita na história humana. Por outro, traz conseqüências que precisam ser analisadas criticamente, sobretudo se considerarmos a produção e o consumo de bens
e certos estilos de vida. Apela-se para a disseminação de gostos, hábitos e padrões
culturais comuns.
No entanto, ao contrário do que muitos imaginam, esse novo quadro não suprimiu as diferenças entre os lugares e culturas. Em outras palavras, espaço e tempo
não foram superados. A diversidade entre os lugares persiste e, em alguns casos,
até se pronuncia mais fortemente, criando novas singularidades como elementos de
diferenciação espacial frente à competitiva arena global. Um exemplo é o da recuperação dos centros antigos de cidades brasileiras. Portanto, pode-se afirmar que
há uma valorização da escala local quando se pensa o desenvolvimento das viagens
e da visitação turística.23
Nesse quadro, retome também a importância do aumento considerável da mobilidade geográfica nos dois últimos séculos, em especial em suas conexões com
as viagens e o turismo. Como vimos, essa atividade contribui para o aumento da
mobilidade a partir do desejo das pessoas de aproveitar o seu tempo livre e da turistificação de lugares (sua transformação em centros de visitação turística regular)24
que antes não estavam assim habilitados.
suas anotações
Guia para Educadores
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DICA 1
Cidades e práticas de viagem
As práticas turísticas, por serem razoavelmente controladas
no tempo e circunscritas a determinados espaços, caracterizam-se por forte apelo
visual.25 Nesse sentido, as cidades são por excelência o lugar do exercício do olhar.
Assinale para os alunos que a cidade é um objeto geográfico essencial, caracterizada
por uma complexidade espacial resultante da combinação entre densidade e diversidade.
Um bom exercício para perceber isso é o da leitura e comparação de imagens.
Ao longo da história humana, praticamente todas as sociedades ergueram
cidades, com vistas a permitir múltiplas interações sociais em situação de
proximidade e co-presença. As cidades
vão se constituir no berço principal da
linguagem escrita, da ciência, das artes, da política e da filosofia. Um bom
testemunho histórico disso é o dos
núcleos urbanos fundados na Grécia
antiga hoje alvo de grande interesse e
visitação pelo seu legado histórico.
No percurso de sua construção, cada
cidade carrega em suas ruas, bairros,
edificações e monumentos a herança
de outros períodos e contextos sociais,
abrigando objetos de diferentes idades.
Para quem as visita, o olhar percorre
sua disposição paisagística, seus espaços construídos, o traçado de ruelas,
praças e avenidas. De Praga a Istambul, de Salvador à Cidade do México,
de Cintra a Ouro Preto, constituem-se
assim em grande acervo a céu aberto,
portador da memória coletiva de uma
sociedade. Mas o olhar também se dirige para os movimentos, hábitos, costumes e formas de trabalho e lazer dos
seus moradores e, não raro, se defronta
com resistências e obstáculos.26
40 Viagem do Conhecimento
Para um exercício do olhar geográfico, procure aguçar a percepção dos
estudantes para identificarem referenciais espaciais nas cidades. Enfoque
a idéia de que as cidades trazem na
sua paisagem as marcas das singularidades, algo que as caracterizam e
ao mesmo tempo as diferenciam das
demais.27 Nesse sentido, destaca-se o
papel de algumas cidades do ponto de
vista da oferta para visitantes de todas as partes do mundo, como Paris,
Roma ou Jerusalém.28
A cidade de Paris, por exemplo, metrópole de expressão mundial, recebe
um contingente de cerca de 20 milhões
de visitantes a cada ano. Entre os pontos mais visitados estão a Catedral de
Notre Dame, o Museu do Louvre e o
Centro Pompidou, mas é possível encontrar numerosos grupos dispostos a
transitar livremente a pé por seus bulevares, ruas, vielas e cafés, abrindo espaço para o inusitado e o imprevisto.
As perspectivas de atrair visitantes
levam muitas gestões locais a investir
na recuperação do patrimônio histórico, arquitetônico e artístico dos núcleos urbanos, assim como na revitalização ou reestruturação dos centros
antigos. Esse é o caso da cidade de Bolonha, na Itália, e mais recentemente
de inúmeras cidades espanholas, como
Barcelona, Madri e Bilbao. No Brasil,
entre outros, são exemplos a recuperação paisagística do bairro do Recife
Antigo, no Recife (PE), e da área do Pelourinho, no centro de Salvador (BA).
Destaque também para os estudantes
o papel das cidades globais no mundo
atual. Em geral, são grandes centros
urbanos que concentram recursos humanos, econômicos, técnicos e financeiros e de onde se irradiam fluxos de
repercussão mundial. Como uma Babel
moderna, cada uma delas abriga pessoas de diferentes origens, que falam
línguas diversas e é palco de manifestações políticas, artísticas e culturais
diversas, como Londres, Nova York,
Paris, Tóquio, Hong Kong e São Paulo.
suas anotações
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DICA 1
42 Viagem do Conhecimento
Turismo e território
Considere também, para efeitos de análise, as relações entre
turismo e território. Elas vão ajudar a refletir um pouco mais sobre a existência de espaços voltados ao turismo, viagens e lazer que poderiam ser encontrados em qualquer parte, diferentemente dos elementos apontados antes sobre as singularidades das cidades.
Sobre essas relações, o geógrafo Remy Knafou29 destaca três situações:
a) Podem existir territórios sem turismo – foi esse o caso até a “invenção” do
turismo no final do século XVIII. Apesar da turistificação de parte dos espaços
mundiais, ainda existem numerosos territórios sem turismo.
b) Pode existir também turismo sem território – esse não procede das iniciativas dos turistas, mas de operadores desse mercado. Os produtos turísticos nem
sempre são suficientes para produzir um “território turístico”, isto é, um território
apropriado pelos turistas (caso dos lugares de passagem). O caso exemplar é o
do “turismo fora do solo”, baseado em sítios e lugares bastante equipados, mas
completamente indiferentes às regiões que os acolhe, como no caso de parques
temáticos diversos situados em “lugares extremamente banais”.
c) Podem existir territórios turísticos – isto é, territórios criados pelos turistas e mais
ou menos retomados pelos operadores turísticos e pelos planejadores. Aqui se impõe o
desafio do planejamento, já que se trata de “planejar” a sociedade como um todo.
suas anotações
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DICA 1
A questão da distância
Para pensar em temas concernentes à cultura de viagem,
como mobilidade, deslocamentos e fluxos turísticos, é importante que os estudantes considerem a noção de distância, ela mesma um dos fundamentos do
espaço. Conforme Jacques Lévy, trata-se do grau de separação ou afastamento
entre dois fenômenos ou realidades e pode ser avaliada sob diferentes métricas.
As métricas referem-se a diferentes maneiras de medir a distância.
Uma forma convencional e muito
usada é a medida em metros ou quilômetros, costumeira quando se planeja
um roteiro de viagem. É comum que
professores proponham aos estudantes
cálculos de distância (em quilômetros)
entre lugares a partir da escala dos
mapas, abstraindo os condicionamentos do mundo real. Mas há outras métricas que talvez melhor expressem as
especificidades das realidades propriamente espaciais, como distância-custo,
distância-preço ou distância-tempo.
Proponha a eles que observem o
mapa ao lado. Trata-se de um mapamúndi que representa distâncias a partir do preço das tarifas de passagens
aéreas de vôos regulares que partem de
Paris (em francos franceses, em 1985).
É uma distância-custo, representada
por meio de uma anamorfose, uma
44 Viagem do Conhecimento
“deformação” (na verdade, uma adequação) dos contornos de países e continentes em função da maior ou menor
acessibilidade em termos de custos, no
caso calculados em francos franceses.
Sugira que eles comparem uma base
que mantém forma e proporções com
esta base em anamorfose. Isso vai permitir que discutam e criem hipóteses
antes de dar as chaves explicativas
sobre esta representação. Assim, eles
poderão concluir, por exemplo, que
Caiena, na Guiana Francesa, território
ultramarino pertencente à França, aparece numa ponta alongada da América
do Sul em direção à Europa. Isso decorre do fato de que a distância-custo
entre Paris e Caiena é menor do que a
existente entre outras localidades e a
capital francesa, mesmo estando a cidade sul-americana mais afastada.
2.000
Madeira
M
Caiena
TA
AG
Nova Délhi
AB
LA
DJ
BZ
Kinshasa
Rio de Janeiro
Hong Kong
Bangcoc
Manila
D
LV
Santiago
A
Cairo
NI
Papeete
Lima
Pequim
Dacar
Bamako
Recife
Tóquio
DU
L
Is. Canárias
Fort-deFrance
Bogotá
Praga
Budapeste
V
Genebra
Z
Job
Ilhas
Reunião
Madagascar
Papeete
00
Caracas
Osaka
Nouméa
30
.0
México
Dallas
Haiti
P. Rico
00
Nova York
Houston
00
Los Angeles
0
00
1 5.0
0
10.
São Francisco
Moscou
0
Boston
Atlanta
0
5.0
V
Toronto
Chicago
Berlim
Montreal
0
25.0
20.0
Viagens aéreas
S
Buenos Aires
Fonte: BRUNET, Roger; DOLLFUS, Olivier. Mondes nouveaux. Paris: Hachette/Reclus, 1990. Coleção Géographie Universelle,
p. 413. In: FONSECA, Fernanda P. et al. Olhar geográfico. São Paulo: IBEP, 2006, p. 50 (Vol. 8 – Os espaços mundiais).
suas anotações
http://modosdemoda.com/
Guia para Educadores
45
A
DICA 1
A diversidade dos espaços
Os conhecimentos geográficos permitem também que os estudantes realizem análises qualitativas da diferenciação dos espaços. Algo que pode
ser examinado in loco, com observações e registros sobre o uso do solo no lugar em que vivem ou a partir de
documentos como textos, mapas, fotografias e outros
As fotos permitem exercitar o olhar geográfico ao
comparar diferentes espaços, assim como perguntarse e refletir sobre a sua constituição. Eles se formaram
sobre bases naturais diversas quanto à cobertura vegetal, clima, recursos hídricos, formas de relevo e outras, apresentando nítidas diferenças quanto aos usos
do solo, densidade e concentração humana. Dessa
forma, refletem o fato de que os habitantes da Terra
se distribuem de forma desigual pela sua superfície.
Em parte, essa distribuição se explica pelas diferentes condições naturais, embora hoje seja possível aos
grupos humanos viverem praticamente sob quaisquer
condições naturais. Conforme os geógrafos franceses
Roger Brunet e Olivier Dollfus, um testemunho disso
são as estações científicas na Antártida, os campos de
exploração de petróleo nos desertos do Oriente Médio
ou as bases militares instaladas no Ártico ou na Groenlândia. Assim, a diversidade geográfica está em relação com as diferentes formas de organização social, as
bases naturais, as culturas e as técnicas.
Vale destacar também, em relação à ocupação humana, que existem diferentes densidades demográficas em ambientes muito similares: em áreas tropicais
úmidas da Índia, a densidade demográfica está em
torno de 195 habitantes/km2, contra cerca de 9 habitantes/km2 em ambientes semelhantes no Brasil.
46 Viagem do Conhecimento
{
{[ ]}
sobre Mapas e fotos
As fotos, assim como os desenhos e ilustrações, são poderosos instrumentos de
aproximação entre o público e os espaços de visitação. Enquanto representação
paisagística, elas complementam os mapas, mas existem distinções
importantes entre ambos, tais como:
aO mapa é bidimensional, enquanto uma paisagem retratada numa foto é
uma visão do espaço em três dimensões.
aOs mapas são feitos em visão vertical, enquanto as fotos comportam a visão
vertical, oblíqua ou frontal.
aEnquanto o mapa possui homogeneidade de escala, a paisagem opera com
sucessão de escalas, desde a grande, em primeiro plano, até escalas cada vez
menores em direção à linha do horizonte.
aO mapa apresenta a totalidade de um espaço, enquanto a foto de uma paisagem
apresenta espaços escolhidos em função da posição do observador.
Fonte: MARTINELLI, Marcello. Cartografia do turismo: que cartografia é essa? In: LEMOS, Amália I. G. (Org).
Turismo: impactos socioambientais. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 300-301 (texto adaptado).
suas anotações
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DICA 2
Escolha suas
estratégias de estudo
Atualmente, mantém-se
o mesmo desafio para
a educação: conseguir
a transferência e o
uso da cultura escolar
para a vida cotidiana e,
com o próprio tempo,
a incorporação da
experiência vivencial
e cultural extra-escolar
à escola.
Jaume Carbonell Sejarroja,
Escola e entorno.
48 Viagem do Conhecimento
Para ampliar o conhecimento geográfico em suas conexões com a cultura de viagem, estimule
os estudantes a organizar os recursos de que dispõem e a
identificar novas possibilidades de aprendizagem, dentro
ou fora da escola.
Um dos desafios colocados que ainda persistem
para a educação no mundo contemporâneo, seja no
Brasil ou em outros países, é justamente diminuir a
distância entre as experiências de vida de crianças,
jovens e adultos e os conteúdos dos programas escolares. A articulação entre a educação extra-escolar,
junto à família, nas ruas e nos diferentes âmbitos do
convívio social, e a educação escolar formal pode ser
um passo importante para que a os estudantes encontrem soluções criativas para os problemas decorrentes
de seu contato diário com os meios físico e social.30
Na escola
Considerando os recursos disponíveis no plano especificamente escolar, proponha
algumas atividades aos estudantes:
Passo 1 Incentive os alunos a produzir
uma lista de fontes para pesquisa, consulta
e seleção de informações, destacando os
conhecimentos que eles podem obter em
cada uma delas. Uma lista não exaustiva
indica fontes como atlas geográficos,
mapas-múndi físico e político, mapas
temáticos do Brasil e do mundo, livros
didáticos e paradidáticos, manuais, textos
literários, letras de música, fotografias,
filmes, vídeos, ilustrações, portais na
internet, jornais, revistas e outros.
Para realizar pesquisas e consultas, estimule os estudantes a utilizar os recursos
disponíveis na escola, como a biblioteca,
a sala de informática, a sala de leitura e
outros. Caso não existam ou sejam insuficientes, a implementação de uma proposta educativa é uma boa oportunidade
para solicitar aos gestores melhorias dos
equipamentos e acervos da escola.
Nos livros didáticos e paradidáticos de
Geografia, eles vão encontrar informações organizadas sobre a constituição dos
espaços, caracterização do meio físico e
processos naturais, diversidade de paisagens, divisão político-administrativa,
sistemas de orientação e localização de
pontos na superfície da Terra, representação cartográfica, distribuição e porte dos
núcleos urbanos, redes de energia, comunicação e informação, entre outros.
suas anotações
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49
DICA 2
Passo 2
Você pode propor pequenos projetos ou desafios que impliquem
investigação sobre lugares ou regiões, lançando mão dos conhecimentos disponíveis
nos livros, tais como:
a) Planejar roteiros de viagem,
d) Desenhar percursos ou roteiros
identificando origem e destinos,
características dos lugares a serem
visitados, meios de transporte,
o que levar na bagagem, cuidados
a serem observados no deslocamento
e estada, organizar um diário
de viagem, montar um acervo de
mapas úteis para a viagem etc.
de viagem e construir maquetes
ou modelos de frações do espaço de
uma cidade ou região.
b) Redigir uma carta a um estudante
retiradas de diferentes fontes sobre
as paisagens brasileiras, conforme
as sugestões do próprio grupo.
estrangeiro que deseja vir ao Brasil,
contando sobre lugares e paisagens
que ele poderá conhecer.
c) Escrever desafios para adivinhar
ou cartas enigmáticas sobre cidades,
países, espécies animais, biomas,
áreas de vulcanismo e outras.
e) Realizar um concurso de
fotografias ou painéis com
textos e imagens.
f) Organizar um álbum de imagens
g) Elaborar um guia de viagem
para aqueles que querem visitar e
conhecer atrativos turísticos da
cidade, do bairro ou do entorno
da escola, entre outros.
Auxilie os estudantes no planejamento para a realização de pesquisas para resolver desafios como os propostos acima. Nesse quadro, é importante:
a Selecionar palavras-chave ou expressões para orientar a busca em textos de
fontes diversas.
a Preparar roteiro prévio de questões ou lista de dados a serem coletados
para orientar a busca e a seleção de informações. É importante aqui identificar
as perguntas que os alunos desejam responder com a pesquisa.
a Consultar índices e sumários para identificar temas, assuntos, dados e
informações que constam das publicações a serem examinadas.
a Tomar notas, fazer marcas de leitura e produzir pequenos quadros ou resumos
com as informações e os dados coletados.
50 Viagem do Conhecimento
Passo 3
É importante que
os estudantes
aproveitem os desafios
propostos para
desenvolver metodologias
para, de forma autônoma,
selecionar e organizar
informações quantitativas
e qualitativas relevantes.
É o momento da organização
de informações de acordo com as origens,
temas ou formas de apresentação. Sugira a
elaboração de glossários de termos técnicos
e a sistematização de arquivos, bancos de
dados e catálogos de referências próprios.
Cumprida essa etapa, os estudantes poderão confrontar dados coletados em diferentes fontes, privilegiando os que foram
obtidos em fontes oficiais e atualizadas. Eles
poderão avaliar também a necessidade de
buscar novas informações após os primeiros
levantamentos feitos.
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51
DICA 2
Materiais de imprensa
O uso de materiais de imprensa é bastante comum na escola. Entre os professores de Geografia
trata-se de uma prática habitual. Tais materiais podem
ser úteis em pesquisas e levantamento de dados relativos
à cultura de viagem. Os jornais diários de circulação nacional, por exemplo, trazem num determinado dia da semana um caderno especial sobre o assunto. Há também
diversas publicações especializadas em viagens, turismo
e geografia. Em geral, eles destacam um país, região ou
cidades, abordando aspectos históricos, pontos mais
visitados, hábitos alimentares, sistemas de transportes,
custos de viagem ou ainda roteiros alternativos.
De acordo com as necessidades e interesses dos estudantes e do projeto educativo em andamento, oriente
as turmas a coletarem e analisarem cadernos desse tipo.
Mostre aos alunos que esses suplementos ou revistas destinam-se a um determinado leitor, em geral pertencente
a segmentos com maior poder aquisitivo. Leve em conta
que, muitas vezes, as matérias concentram-se em roteiros
de “cartão-postal”, vinculados a pacotes turísticos.
Por outro lado, há reportagens que não se furtam
a debater assuntos relacionados a sustentabilidade
ambiental, preservação da natureza, recuperação e
revitalização de núcleos antigos, tradições culturais
regionais ou detalhes do arranjo espacial de pequenas
localidades. Trata-se, portanto, de informação relevante relativamente distinta da que pode ser encontrada em manuais didáticos.
Ainda no espaço escolar, os estudantes têm a possibilidade de realizar entrevistas, sondagens ou pesquisas de opinião sobre assuntos variados.31 Eles
podem, por exemplo, coletar depoimentos de funcionários, pais de alunos, professores, coordenadores ou diretor(a) sobre a realidade local, a cidade em
que nasceram, percursos e viagens que realizaram,
cidades e regiões que já tiveram a oportunidade de
conhecer pessoalmente e outras informações.
52 Viagem do Conhecimento
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53
DICA 2
54 Viagem do Conhecimento
Outros espaços
de aprendizagem
Estimule os estudantes a utilizar recursos para a aprendizagem em outros espaços. Sejam eles construídos com finalidades educativas ou
não.32 Com o apoio dos professores, eles podem fazer isso de diferentes maneiras:
a) Visitas dirigidas a museus, bibliotecas, centros culturais, órgãos da administração
pública e outros espaços educativos do município ou região. Podem visitar também
instituições e espaços que não foram criados com fins especificamente educativos,
como associações de moradores, escolas de samba, igrejas, empresas e outros.
b) Percursos em locais do entorno da escola e de outras áreas do município ou região
para observações, registro e coleta de informações. Podem constituir, nesse processo,
indicadores de qualidade ou condições de vida para aferir quesitos como mobilidade
e sistema de circulação na cidade e no município, bases naturais e área construída,
condições das edificações e áreas públicas, infra-estruturas e equipamentos públicos,
saneamento básico, atividades econômicas, condição estética e outros.33
c) Entrevistas, sondagens ou pesquisas de opinião sobre assuntos diversos com os
familiares, vizinhos, membros da comunidade, representantes do poder público,
profissionais e pesquisadores de diversas áreas.
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55
DICA 3
Use os recursos da internet
As técnicas viriam de
outro planeta, do mundo
das máquinas, frio, sem
emoção, estranho a
qualquer valor humano?
Parece, pelo contrário, que
não somente as técnicas
são imaginadas, fabricadas
e reinterpretadas durante
seu uso pelos homens,
como também é o
próprio uso intensivo das
ferramentas que constitui
a humanidade enquanto tal
– junto com a linguagem e
as complexas formas de
organização social.
Pierre Lévy, Cibercultura.
56 Viagem do Conhecimento
As novas tecnologias de comunicação
e informação, baseadas nos recursos da informática
e da microeletrônica, trazem possibilidades extraordinárias de democratização do acesso a informações.
Essa dica destaca especialmente o papel e a importância
dos recursos das novas tecnologias para as aprendizagens, em especial da informática.
Para que tais recursos sejam aproveitados, é preciso
ainda superar obstáculos e dificuldades, em especial
em contextos sociais como o brasileiro. Embora o crescimento no número de usuários de internet no Brasil
esteja entre os maiores do mundo34, grande parte dos
cidadãos do país ainda está excluída dos benefícios
que essas inovações tecnológicas podem trazer. Além
disso, observam-se também contrastes entre a rápida
penetração das novas tecnologias e a sua apropriação
pela educação, sobretudo a de caráter escolar.
Contribui para articular os dois sistemas a elaboração de dinâmicas e práticas de aprendizagem
que demandem o uso de salas de informática e dos
computadores da escola, que muitas vezes permane-
cem sem uso ou trancados em alguma sala do setor
administrativo.35 As comunidades escolares podem
também se mobilizar em favor da implantação desses sistemas em unidades escolares que ainda não os
possuem. Isso implica também comprometimento do
poder público com a solução de problemas ligados ao
sistema de telefonia e de acesso rápido à internet.
Os computadores podem se constituir em importantes ferramentas de gestão do conhecimento escolar
e extra-escolar para os mais variados fins. Os estudantes podem se formar enquanto usuários, leitores
e produtores de informação, aprendendo a manejar o
sistema sem serem especialistas.
No caso da web, como lembra o filósofo francês Pierre
Lévy, seu uso, diferentemente dos meios convencionais,
permite a comunicação de “muitos com muitos”, podendo-se daí gerar uma cultura que compartilha saberes, cria
memória social e uma inteligência coletiva.36 Este é o caso
dos blogs, fóruns e criação de sites, em que os estudantes
podem ultrapassar os muros da escola, oferecer conhecimentos ou obter retornos de comunidades externas.
suas anotações
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57
DICA 3
Para o uso adequado dessas ferramentas e recursos, é fundamental observar alguns procedimentos
básicos e possibilidades, alguns já bastante disseminados, tais como:
a) Conhecer os softwares e suas funções e manusear
equipamentos e recursos: programas, CPU, monitor,
teclado, mouse, impressora, escâner, sistemas de
armazenamento (CD-ROM, pen drives, hospedagem
de banco de dados) e recursos de internet (portais,
correio eletrônico, listas, chats etc.).
b) Familiarizar-se com termos, expressões, siglas e
nomes, muitos deles originários da língua inglesa,
facilitando o uso do computador e da internet.37
c) Adotar postura ativa frente ao conhecimento,
ao pesquisar, coletar, ordenar e selecionar dados e
informações de todo tipo sobre a realidade brasileira
e mundial, nos mais diferentes assuntos.
d) Atentar para a leitura de hipertextos em portais
da internet que podem ser lidos em ordens diversas
de acordo com os interesses do leitor. Clicando sobre
palavras-chave ou expressões sublinhadas, ele acessa
novas páginas com textos e informações.
e) Constituir de formas diversas bancos de dados
coletivos e individuais a partir das pesquisas e coleta
de textos e dados, confrontando e checando as suas
origens e privilegiando fontes oficiais e atualizadas.
Mas atenção: nem todas as informações que circulam
na net são corretas, confiáveis ou aprofundadas.
58 Viagem do Conhecimento
f) Produzir textos,
esquemas, figuras,
animações, sons e
outros, de forma
individual ou coletiva.
g) Transmitir e receber
de forma flexível
textos e imagens
de todo tipo a partir
de espaços dotados
dos recursos mínimos,
como a sala de
aula, laboratório de
informática, residência,
telecentros públicos
e outros.
h) Criar ou participar
de ambientes
interativos formados
por comunidades de
interesses afins em meio
digital, como listas, salas
de bate-papo, ambientes
digitais, programas
de estudo e diálogo
on line etc.38
Para coletar e organizar informações
sobre cultura de viagem na net, algumas fontes são um caminho confiável
e seguro para a obtenção de dados e
informações em geral aceitos por pesquisadores e analistas (veja as Indicações de fontes). Recomende aos estudantes que eles não devem copiar o que
encontram nos sites. Os textos devem
ser lidos, resumidos e comparados com
outras fontes de informação, servindo
de base para a produção de sínteses.
Outro passo importante é buscar dados estatísticos obtidos em portais de
órgãos e instituições como a ONU, que
são aqueles operados por pesquisadores e
analistas. No Brasil, o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), órgão
federal encarregado de realizar pesquisas
a respeito da realidade nacional, oferece
dados estatísticos sobre a população dos
municípios, regiões e do país, renda, indicadores sociais e econômicos, glossários
de termos geográficos, mapas e outros.
Textos, imagens, mapas e roteiros de
percurso e informações históricas de cidades, regiões e estados do Brasil podem
ser obtidos nos portais oficiais de ministérios, secretarias e de governos (federal,
estaduais, municipais). Para isso, podese operar programas de busca na internet, sempre adotando o procedimento
de checar e confrontar informações.
Outros recursos oferecidos pela net são
os mapas interativos e os atlas digitais.
Os mapas interativos permitem localizar
e coletar informações de acordo com os
interesses, por meio de links e janelas situados na própria representação. Os atlas
digitais, por sua vez, possibilitam localizar
e percorrer qualquer ponto da superfície
da Terra por meio de um sistema coordenado de imagens de satélites, obtendo-se
desde uma visão panorâmica até detalhes
do relevo ou ruas e quarteirões de uma
cidade (veja as Indicações de fontes).
suas anotações
Guia para Educadores
59
DICA 4
Aprenda a trabalhar
com mapas e
outros recursos gráficos
Uma vez que uma
linguagem exprime,
através do emprego de
um sistema de signos,
um pensamento e um
desejo de comunicação
com outrem, a cartografia
pode, legitimamente,
ser considerada
uma linguagem.
Fernand Joly, A cartografia.
60 Viagem do Conhecimento
Os mapas, cartas e outras formas de
representação gráfica são poderosas fontes de informação para que os usuários se apropriem intelectualmente
dos espaços. Trata-se de uma fonte de conhecimento
não só para a Geografia como para outras áreas e atividades humanas. Em viagens são indispensáveis para
a localização e orientação, entre outros usos relevantes.
A Cartografia, prática muito antiga entre as sociedades humanas, refere-se à arte de fazer mapas. No
mundo antigo, ela atinge seu apogeu com o Tratado
de Geografia, de Cláudio Ptolomeu (98-168 d.C.),
astrônomo, matemático e geógrafo grego que viveu
em Alexandria, no Egito. A Cartografia, no entanto,
terá um grande desenvolvimento na Europa no período do Renascimento (séculos XIV ao XVI) e com a
expansão marítimo-comercial.
Uma definição usual indica que os mapas e cartas
são representações no plano da superfície da Terra ou
de partes dela. Mas, muito mais do que isso, os mapas
constituem-se em uma linguagem – uma linguagem
não verbal, não seqüencial e atemporal, composta de
símbolos gráficos.
Essas noções podem ser bem compreendidas se compararmos o mapa com o texto
escrito. Vamos a alguns pontos importantes:
a A linguagem verbal é feita por meio de palavras. Já a linguagem cartográfica
utiliza símbolos gráficos.
a Para ler um texto, o usuário deverá adotar uma seqüência – iniciando pela primeira
linha e terminando na última, levando determinado tempo para percorrê-lo. Nos
mapas, não há um ponto em que começa ou termina a leitura. Portanto, não há uma
seqüência preestabelecida. Além disso, os mapas apresentam de forma simultânea o
conjunto da informação. Assim, em função de sua leitura global e instantânea, pertence
à família das imagens e figuras.39
a A linguagem cartográfica, enquanto tal, deve ter um caráter universal. Seus símbolos,
convenções e sistemas de representação devem ser compreendidos e apropriados da
mesma forma por um japonês, um russo ou um brasileiro. Portanto, enquanto meio
de comunicação, o mapa é um registro visual (para ver) e universal.
suas anotações
Guia para Educadores
61
DICA 4
Como os mapas são muito utilizados em atividades escolares, é provável que boa parte dos estudantes
saiba quais são os seus componentes essenciais: título,
legenda, norte, escala cartográfica, projeção cartográfica, toponímia, coordenadas geográficas, fontes e
demais símbolos e referências gráficas. É importante
retomar e trabalhar esses elementos da linguagem com
os alunos, propondo a observação de mapas temáticos
variados em diferentes escalas.
Mostre também outros componentes essenciais dos
mapas. Os diferentes fenômenos representados nos
mapas (sua ocorrência, localização e extensão) podem ser expressos com diferentes modos de implantação, a depender de suas características, como pontos,
linhas ou áreas.40 Explore com os alunos os mapas
a seguir, examinando os recursos gráficos utilizados:
Recursos Minerais - Brasil
Rede ferroviária de
alta velocidade – Portugal
11111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111
Vigo
Porto
Salamanca
Coimbra
Aveiro
Leiria
Bauxita
Lisboa
Ferro
Madri
Ota
Elvas/Badajoz
Évora
Ouro
Huelva
Faro
Cobre
1
1
1
1
Escala
1
aproximada:
1: 150 km
0
500 km
Estanho
Manganês
Diamantes
Cobertura sedimentar
Carvão
Escudo pré-cambriano
Xisto betuminoso
Província mineral de Carajás
Petróleo
Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais
Fonte: THÉRY, H.; MELLO, N. Atlas do Brasil: Disparidades e
dinâmicas do território. São Paulo: EDUSP, 2005, p. 72.
62 Viagem do Conhecimento
1
1
Nióbio
Níquel
1
Fonte: Rede de Alta VelocidadeRAVE (projeto). Portugal, 2003.
Disponível em: http://www.rave.
pt/ligacoes/mapas_p_iberica.htm
domínios morfoclimáticos Brasileiros
Domínios
1
Amazônico
Terras baixas
florestadas
equatoriais
2 Cerrado
Chapadões tropicais interiores
com cerrados e florestas-galerias
3 Mares de morros Áreas
mamelonares tropicais-atlânticas florestadas
4 Caat ingas Depressões intermontanas
e interplanálticas semi-áridas
N
5 Araucária Planaltos
subtropicais com araucárias
0
700 km
6 Pradarias Coxilhas subtropicais
com pradarias mistas
Faixas de t ransição (Não diferenciadas)
Fonte: adaptado de Aziz N. Ab’Saber,
Revista Orientação, Instituto de
Geografia USP, n.3, 1969.
suas anotações
Guia para Educadores
63
DICA 4
Chame a atenção também para o uso adequado de
representações ordenadas, também segundo pontos,
linhas e áreas. Elas expressam eventos representados
segundo uma dada ordem ou hierarquia. Por exemplo,
um mapa com diferentes portes de cidades (pontos),
rodovias principais e secundárias (linhas) ou unidades
geológico-geomorfológicas em seqüência cronológica (áreas). Para representações quantitativas, pode-se
utilizar figuras geométricas proporcionais, como é comum observar em mapas de população.
Ressalte para os estudantes que, para que os mapas
tenham apreensão visual imediata, é preciso considerar
as variáveis visuais, utilizadas segundo a natureza do
fenômeno a ser representado. Entre elas estão: cores e
formas (para estabelecer diferenças e hierarquias), tamanho (para marcar grandezas e proporções), valor
(para assinalar intensidades do mesmo fenômeno) e
outros. Encontramos ainda tons de cores, linhas e setas de diferentes espessuras para expressar movimentos e fluxos diversos. Assim, a transcrição gráfica pode
se referir a pontos, linhas e áreas com representações
diferenciadas, ordenadas ou proporcionais.
Assim, por exemplo, num mapa-múndi político, as
cores identificam e diferenciam as unidades (países),
enquanto num mapa de fluxos as linhas ou setas identificam direções e quantidades. Peça aos estudantes
que examinem as áreas e os movimentos e seus recursos gráficos no mapa a seguir:
64 Viagem do Conhecimento
turismo internacional
américa
do norte
europa
leste
asiático e
pacífico
américa
do sul
0
300
Pólos turísticos
(Em milhões de turistas)
75
20
3080 km
Principais fluxos turísticos
Cruzeiros marítimos
Ecoturismo
Fonte: SIMIELLI, M. E. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2003, p. 23.
suas anotações
Guia para Educadores
65
DICA 4
Mapas para viagens e turismo
Ao se prepararem para uma viagem, é comum as pessoas tomarem
o cuidado de localizar num mapa as áreas de destino, calcular distâncias e o tempo
de duração do percurso. Como exercício em sala de aula, proponha aos estudantes
uma viagem internacional imaginária. Eles deverão identificar os locais e horários
de partida e de chegada e escolher um itinerário e meios de transporte, sem esquecer
os recursos econômicos necessários. Para fazer isso com precisão, poderão consultar
num atlas geográfico o mapa-múndi com os fusos horários.
Informe à turma que esse sistema baseia-se no sistema de coordenadas geo­
gráficas, conjunto de linhas imaginárias traçadas nas direções Leste-Oeste
ou Norte-Sul nos mapas e globos terrestres. Ele permite a exata localização
de pontos na superfície terrestre. Retome com os jovens a constituição dos
meridianos e paralelos, destacando
que os primeiros serão essenciais para
cálculos com horários. Os meridianos
são semicírculos completos da esfera
terrestre; todos possuem o mesmo tamanho. Seus extremos estão nos dois
pólos e sua separação máxima encontra-se na altura da Linha do Equador.
Um intervalo entre dois meridianos
é um fuso. Foi usando essa idéia que os
meridianos passaram a servir também
para calcular as horas na superfície terrestre. Para medir as horas, definiramse fusos cuja extensão é de 15º cada
um. Como a esfera terrestre possui
360º, dividiu-se 360º por 24 horas. Assim, cada hora de rotação corresponde
a 15º da superfície terrestre.
Relembre os estudantes que essa divisão nem sempre é aplicada exatamente
do mesmo modo em cada país. Existem
66 Viagem do Conhecimento
adaptações para facilitar as comunicações e o funcionamento das atividades.
Assim, vários países da Europa central e
do sul e da Península Ibérica uniram-se
para criar um horário-padrão, agregando dois ou três fusos. Na Índia, adotouse um horário civil médio num país extenso que comporta dois fusos horários
diferentes. Se em sua escola for possível,
analise esses conceitos utilizando um
globo terrestre de mesa.
Os mapas de divisão político-administrativa também estão bastante integrados às rotinas escolares. Exercícios
e atividades com esse tipo de mapa
permitem conhecer ou reforçar o que
os alunos já sabem sobre a localização
e posição relativa de cidades, países e
regiões na superfície da Terra. Do mesmo modo, os mapas de dinâmica climática, biomas ou zonas sísmicas informam sobre características do meio
físico de diferentes regiões do planeta.
Os mapas especificamente produzidos para viagens e turismo, por sua
vez, guardam especificidades em relação aos utilizados no dia-a-dia da
escola. Proponha aos estudantes que
observem o exemplo a seguir:
1
Tijuana
Mexicali
Rosarito
Puerto Nuevo
Cantamar
Enseada
ESTA D OS UNID OS
El Faro
SantoTomás
Parque
Nacional
Serra
P. Márt ir
San Vicente
Colonet
Camalú
Reserva da
Biosfera Sierra
de Pinacate
San Felipe
2
Vicente Guerrero
baixa califórnia
San Quintin
G
Baixa
califÓrnia
(nort e)
Calamajué
Misión
San F. Borja
El Arco
Laguna Ojo
de Liebre
3 San Ignacio
Parque Natural
da Laguna ojo
de liebre
Parque Natural
san ignAcio
Santa Rosalia
San Lucas
Baía Santa Inés
4
Mulegé
Coyote
Insurgentes
5 Baía Concepción
Tijuana (início/término)
Distância - cerca de 1,8 mil km
Duração do percurso - 4 dias a 2 semanas
Cabo San Lucas (início/término)
Loreto
Misión San Javier
Não Perca
6
Ilha Santa Del Carmen
Ilha Santa Catalina
• San Ignacio
• Baía de la Concepción
• Loreto
• Cabo Pulmo
0
m éx i c o
a
ni
ór
if
al
Baía
Sebastian
Vizcaino
Baía
de Los
Angeles
C
Nuevo Rosarito
Ilha
Angel de
la Guarda
d a
NO
A ICO
F
OCE
CÍ
A
P
Parque Natural
do Deserto Cent ral
da Baixa Califórnia
(México)
f o
o l
Cataviña
Baixa
califÓrnia
(sul)
Insurgentes
Ciudad
Constitución
Ilha San José
Baía La
Paz
250 km
suas anotações
Baía de
Palmas
El Triunfo
Los Barriles
La Abundancia
8
Cabo Pulmo
7
San José del Cabo
Cabo San Lucas
Praia Palmilla
Guia para Educadores
67
DICA 4
Peça aos alunos que observem os
diferentes elementos representados,
assim como o tipo de legenda utilizada. Solicite que examinem quais textos ou linguagens foram agregados ao
mapa e quais funções desempenham.
Em primeiro lugar, mostre que a
ênfase em certos elementos está associada às funções desse mapa e a características do espaço representado.
O mapa retrata a Baixa Califórnia,
estreita península no oeste do território mexicano, banhada pelas águas
do Golfo da Califórnia e do Oceano
Pacífico. A linha preta espessa identifica claramente a rota principal do
percurso, com pontos numerados que
destacam lugares sugeridos para visitação. Nele estão situadas áreas como
reservas, parques nacionais, missões,
ilhas e lagunas. Assim, tal como em
outros mapas turísticos, pode ser lido
com um uso mínimo de legenda.
A simbologia gráfica escolhida para
esse mapa permite identificação imediata dos componentes e recursos (distância, tempo de viagem, lugares “imperdíveis”), dispensando algumas convenções
e baseando-se em práticas habituais de
viagem e prováveis interesses de quem
pretende usufruir os lugares escolhidos.
Não raro, mapas desse tipo trazem também desenhos e figuras dos próprios
objetos (edifícios, igrejas, monumentos)
para identificar e localizar os atributos
do lugar de visitação. O uso de fotografias, por sua vez, permite a representação
da paisagem e de lugares, seja panorâmica ou de detalhe.41
68 Viagem do Conhecimento
É muito comum também encontrar
representações em catálogos e guias
de viagem que articulam várias escalas
para oferecer informações úteis ao visitante. Um exemplo é o de “lentes” em
escala cartográfica maior, criadas a partir do mapa principal, que detalham o
traçado de ruas da área central de uma
cidade. Ou um pequeno mapa localizando a região no território nacional.
A combinação de formas de comunicação visual em mapas de turismo
tem potencial para orientar melhor o
visitante quanto aos valores e conteúdos do espaço representado, inclusive
colaborando em alguns casos para a
educação ambiental, caso de mapas de
parques nacionais com trilhas, pousos
ou áreas de acesso restrito.42
Destaque também para os jovens
que muitos mapas turísticos, assim
como outros mapas temáticos, são
“exaustivos”43, ou seja, no mesmo
mapa estão sobrepostos vários atributos. Tal representação pode ser eficaz
quando o objetivo é responder à pergunta “Em tal lugar, o que há?”. Mas
pode não ser a melhor solução quando se precisa de resposta visual instantânea para uma questão específica
(“onde estão os parques nacionais?”),
pois obriga o leitor a analisar todos
os elementos, um a um, até construir
uma visão de conjunto.
suas anotações
Guia para Educadores
69
DICA 4
Gráficos e tabelas
Os gráficos também são modos de representar informações utilizando recursos como símbolos
e variáveis visuais, de acordo com os aspectos de um
fenômeno a serem destacados. Eles exploram as correspondências entre os elementos de um componente e os
elementos de outro componente.44
As tabelas, por sua vez, dispõem dados em quadros organizados em linhas (horizontal) e colunas
(vertical), de simples ou dupla entrada, permitindo
verificar a evolução de um dado fenômeno no tempo
e no espaço e fazer correlações e comparações.
Para a leitura de ambos, é essencial a leitura do título para responder às perguntas “o quê?”, “onde?” e
“quando?” e buscar, por meio da leitura dos dados, as
correlações entre as variáveis representadas. É fundamental que se observem as fontes, para identificar as
séries estatísticas que serviram de base para a sua elaboração, bem como o órgão de pesquisa responsável.
Para a sua exploração, os estudantes podem buscar
identificar os dados que mais se destacam, assim como
discrepâncias e regularidades, e procurar interpretar o
seu significado. Eles podem também fazer a transposição das linguagens, produzindo textos escritos a partir
de análises dos dados contidos em gráficos ou tabelas.
Os gráficos de barras ou colunas
simples ou compostas permitem descrever visualmente a proporção entre
quantidades. Num gráfico de população segundo as regiões brasileiras, por
exemplo, ele mostra a correspondência entre lugares e populações. Outros
gráficos muito comuns são os de linha,
ideais para mostrar séries cronológicas, e os de setor (conhecidos como
“gráfico de pizza”), que compara
partes com o todo. Proponha que os
alunos observem os exemplos a seguir.
70 Viagem do Conhecimento
suas anotações
Guia para Educadores
71
DICA 4
exemplos de gráficos e tabelas
Gráfico - Desempenho industrial - Estados Taxas anuais de crescimento real
2004
15%
2005
2006
10
5
0
-5
CE
PE
BA
MG
ES
RJ
SP
PR
SC
RS
Fonte: IBGE, 2007.
Temperatura média anual (C)
Gráfico - biomas brasileiros: Precipitação e temperatura média anual
30
I
II
III
IV
15
0
1000
2000
3000
4000
Precipitação média anual (mm)
Fonte: Fuvest, 2006.
tabela -TABELA
população:
brasil
(em(em
%) %)
– População:
Brasil
Anos
Situação
Urbana
Rural
2000
81,2%
18,8%
1991
75,5%
24,5%
1980
67,7%
32,3%
1970
56,0%
44,0%
1960
45,1%
54,9%
1950
36,2%
63,8%
Fonte: IBGE, Censos Demográficos.
72 Viagem do Conhecimento
Com base no exposto ao lado, convide os estudantes a construírem acervos e bancos de dados
com referências cartográficas em meio impresso e
eletrônico para estudo e consulta (veja as Indicações de fontes). Eles serão úteis para compreender e
analisar fenômenos físicos, políticos, econômicos e
culturais do Brasil e do mundo.
Estimule-os também a coletar, selecionar e organizar mapas, ilustrações, croquis, gráficos e tabelas que
aparecem em cadernos de viagens e turismo de jornais
impressos, revistas e guias de viagem, assim como folhetos e catálogos institucionais de áreas de visitação.
Incentive-os também a produzir mapas, gráficos e tabelas. Um exemplo é a criação de um gráfico de barras
ou colunas indicando os estados de origem da família
dos estudantes da classe ou os estados para os quais os
estudantes e seus familiares já viajaram.
Com essas ferramentas, eles poderão produzir
documentos com roteiros de visitação ao município
ou região em que vivem. Os trabalhos podem ser
enriquecidos com fotos, desenhos e ilustrações, destacando práticas sustentáveis e de preservação dos
atributos locais.
suas anotações
Guia para Educadores
73
DICA 5
Leia e escreva para saber
mais e compreender melhor
A leitura do mundo
precede a leitura da
palavra, e a leitura desta
implica a continuidade
daquela.
Paulo Freire,
A importância do ato de ler.
74 Viagem do Conhecimento
No mundo em que vivemos, cada vez
mais ganha força a idéia de que o domínio da leitura
e da escrita, de ser capaz de ler e escrever percorrendo
diferentes gêneros e utilizando essas habilidades em
diferentes situações, é uma condição de participação
social. O desenvolvimento dessas capacidades significa dizer também que os indivíduos podem seguir
aprendendo coisas novas, dentro ou fora da escola,
e enfrentar demandas cada vez maiores e mais complexas mediadas pelo uso da leitura e da escrita na
vida social atual.45 Assim, o domínio da leitura e da
escrita é, ao mesmo tempo, um objeto de ensino e de
aprendizagem e um meio para a realização de aprendizagens em todas as áreas de conhecimento.
Os estudantes podem fazer isso ao ler jornais, revistas, livros, textos e documentos diversos que fazem parte de suas rotinas escolares ou que circulam
em outros âmbitos, como a família, a comunidade,
o trabalho, a igreja e muitos outros. Ler e escrever,
portanto, é muito mais do que simplesmente adquirir os mecanismos do código escrito: constituem-se
em uma prática social.
Além dos trabalhos que normalmente você já desenvolve com os alunos sobre esses quesitos, mostre
que existem inúmeros objetivos de leitura. Ao responder às perguntas “por que vou ler?” e “para que
vou ler?”, os estudantes podem melhor controlar a
execução de seus objetivos e desenvolver as melhores estratégias para atingi-los.46
Destaque para as turmas, por meio de exemplos
variados, que uma pessoa pode simplesmente ler
por prazer, ou seja, apenas pelo desejo pessoal de
fruição de um determinado texto. Nessa situação,
poderá saltear capítulos, ler um parágrafo repetidas
vezes ou fazer idas e voltas no texto.
suas anotações
Guia para Educadores
75
DICA 5
Em outro caso, alguém poderá ler
para obter uma informação precisa.
A busca da informação implica estratégias como consultar sumários ou índices
de publicações ou selecionar o caderno
de um jornal onde ela pode ser encontrada. Como é uma leitura seletiva, implica
desconsiderar naquele momento outros
dados, ficando com o que é essencial. De
outro lado, quando alguém está à procura de informação de caráter geral, pode
buscar um panorama geral do tema, sem
entrar em detalhes. Outro objetivo é o
de ler para aprender, associado à idéia
de ler para ampliar conhecimentos. Nas
rotinas escolares, isso pode coincidir
com ler para estudar, quando o estudante usa estratégias como localizar idéias
principais e secundárias, fazer comentários nas margens, preparar fichamentos,
resumos ou esquemas, reler passagens
para confirmar idéias ou informações,
ler para reescrever com as próprias palavras ou formular novas questões e hipóteses sobre o que está lendo.
Outros objetivos de leitura são: ler
para revisar o que foi escrito, para verificar o que se compreendeu ou ainda
para comunicar idéias ou compartilhar
histórias com um determinado público. Na leitura, é recomendável também
que os estudantes observem a organização interna do texto (parágrafos, título
e subtítulos, pontuação etc.), o modo
como os argumentos são apresentados,
as características de cada gênero (romance, crônica, conto, textos instrucionais, textos da esfera jornalística, cartas,
depoimentos e muitos outros).47
76 Viagem do Conhecimento
Vale a pena destacar aqui as especificidades da leitura de textos em
Ciências Humanas, entre as quais a
Geografia se inclui. Em larga medida,
trata-se de textos que possuem uma
tese central, opiniões e argumentos,
algo distinto do texto narrativo de
língua portuguesa ou de textos presentes em alguns livros didáticos. Os
estudantes precisam, assim, prepararse para identificar e extrair as idéias
principais e os argumentos usados
pelo autor para fundamentar sua tese.
Do mesmo modo, perceber a articulação que ele faz entre conceitos e informações e os argumentos defendidos.
Na organização de projetos coletivos de trabalho na escola é conveniente também que o professor troque
idéias com seus pares, como os de Língua Portuguesa, sobre metodologias e
práticas de leitura, produção de textos
e oralidade. É fundamental levar textos autênticos para a sala de aula, ou
seja, trabalhar com textos que circulem efetivamente pelas diferentes esferas da vida social. Do mesmo modo,
que seja propiciada ao estudante a
oportunidade para familiarizar-se com
os diferentes suportes de texto, como
livros, jornais, revistas, atlas, internet,
entre outros.
Lembre-se também de desenvolver
estratégias para a introdução dos textos que serão lidos pelos alunos. Um
bom caminho é “esquentar o texto”.
Ou seja, antecipar informações sobre
ele propondo desafios a respeito do
significado do título, sobre o que os
estudantes imaginam que será discutido no texto, se conhecem o autor e
a obra, se têm informações sobre o
contexto em que ela foi produzida, e
assim por diante. Portanto, trata-se
de despertar o interesse pelo que será
lido, valorizando também os conhecimentos prévios dos estudantes.
Encaminhe também com os alunos
alguns procedimentos básicos quanto à produção de textos (escritos ou
orais). É importante que eles tenham
em mente que a escrita vai comunicar
idéias. Portanto, que definam, de início, para que (objetivos) e para quem
(interlocutor, leitor) o texto será escrito. A seguir, eles podem planejar
um roteiro de redação, estabelecendo
o que será exposto ou defendido no
texto. Após reunir e selecionar informações e argumentos, os estudantes
podem coletar dados em quadros, esquemas, mapas, tabelas e outros para
serem introduzidos no texto para reforçar idéias, teses ou argumentos.
Roteiros do mesmo tipo também servem de guia para a produção de relatórios e registros de observações em
trabalhos de campo.
A produção escrita pode ser feita
também com o objetivo de apoiar
uma exposição oral, como registros e
anotações organizadas para um seminário ou apresentação dos resultados
de uma pesquisa para toda a classe.
Os estudantes devem observar
também as normas e os padrões formais da escrita (parágrafo, pontuação, acentuação, ortografia etc.) e
fazer uma revisão cuidadosa ao final
da produção. O texto também pode
ser apresentado em versão preliminar
para colegas e professores, para colher sugestões.48 É também importante divulgar a produção dos alunos em
murais, newsletters, folders etc.
suas anotações
Guia para Educadores
77
DICA 5
Leitura e produção de
textos em Geografia
Como destacamos antes, a leitura em
Geografia comporta, além dos textos escritos, a leitura de textos não verbais como mapas, fotos, gráficos, esquemas e outras formas de representação
gráfica da informação. Sem dúvida, outra grande
contribuição da disciplina é a leitura dos lugares,
paisagens e territórios para assimilar e compreender processos de produção e organização do espaço,
seja pela observação direta, seja pelo exame de documentos diversos.
Assim, o desenvolvimento de capacidades de leitura e produção de textos é essencial para aprender,
construir significados, apreender o conhecimento elaborado socialmente e compreender o mundo e a vida
em sociedade. Trata-se de um meio que possibilita ao
estudante interagir de forma crítica e autônoma com
a realidade que o cerca.49
Para Ângela Kleiman e Sílvia Moraes, “[em] Geo­
grafia... o texto pode proporcionar um contexto
para discutir redefinições do conceito, bem como
para entender as atuais dimensões, em constante
transformação, das relações do homem com a natureza devido aos avanços da tecnologia e à natureza
das relações políticas.”50
Considere também que o desenvolvimento dessas
capacidades não é tarefa somente da professora ou
do professor de Língua Portuguesa. Trata-se de um
compromisso de todas as áreas do conhecimento51 ,
colocando-se para todos os educadores o desafio de
elaborar juntamente com os estudantes projetos e
metodologias de ensino-aprendizagem que reforcem
essa perspectiva.
Existem alguns gêneros e textos que são habitualmente trabalhados pelos professores de Geografia52.
Sem propor uma lista exaustiva, introduza algumas
78 Viagem do Conhecimento
suas anotações
Guia para Educadores
79
DICA 5
possibilidades para o trabalho com leitura e produção de textos na disciplina a partir de gêneros como
artigos, notícias, reportagens, charges, entrevistas,
resenhas e editoriais, textos que integram a esfera
jornalística. Na esfera escolar, além dos já citados,
os artigos de divulgação científica, gráficos, tabelas
e mapas, verbetes de dicionário, autobiografias, relatórios diversos e textos de livros didáticos. Outros
textos, agora da esfera literária – nem sempre aproveitados em seu potencial nas aulas de Geografia –,
são as letras de canção, contos, crônicas, fragmentos
de romance, lendas e mitos, entre outros.
Esses gêneros demandam a elaboração de estratégias específicas para leitura e interpretação, de
acordo com os diferentes textos, objetivos ou etapas
dos processos de aprendizagem. Os gêneros da esfera literária, por exemplo, têm bom potencial para
atrair a atenção dos estudantes, já que lidam com
a sensibilidade e a emoção, e
criar inúmeras conexões com
os saberes geográficos.
Outros aspectos a serem observados são as relações tempoespaço, a partir das descrições
que os autores fazem, por meio
de personagens e lugares, de
cenas do cotidiano em certos
contextos. Da mesma forma, a
apresentação de forma poética
de paisagens e da diversidade de
temas e problemáticas que afeta o cidadão comum. Um bom
exemplo são os belíssimos retratos da caatinga e da vida do
sertanejo feitos por Euclides da
Cunha em Os sertões (veja na página 86). Outros exemplos estão
na poesia de Mario de Andrade
A meditação sobre o Tietê, que
80 Viagem do Conhecimento
trata do emblemático rio que atravessa a cidade de São
Paulo, ou nos paradoxos das inovações tecnológicas
presentes em canções de Gilberto Gil, como Parabolicamará e Pela Internet (veja as Indicações de Fontes).
Um recurso importante para desenvolver as capacidades de leitura, produção de textos e oralidade
ocorre por meio de projetos interdisciplinares. Tais
projetos colocam o estudante em contato com diferentes textos, de acordo com as várias etapas de seu
percurso. Por exemplo, ao buscar fontes de pesquisa
e levantamento de dados, sob a orientação do professor, os estudantes deverão saber consultar índices,
sumários, hipertextos na internet e, quanto à escrita,
elaborar resumos, sínteses, redigir e-mails etc., num
contexto em que a “diversidade de usos da escrita no
cotidiano deveria encontrar eco na escola”.53
Sugere-se aqui a organização de projetos dessa
natureza que permitam aos estudantes desenvolver
conhecimentos sobre temas variados da realidade
social e, ao mesmo tempo, capacidades de leitura,
produção de textos e oralidade. É fundamental que
eles participem ativamente da definição dos temas e
focos do trabalho, assim como das etapas de sua exe-
suas anotações
Guia para Educadores
81
DICA 5
(
A tormenta
Mas no empardecer de uma tarde qualquer, de março, rápidas tardes
sem crepúsculos, prestes afogadas na noite, as estrelas pela primeira vez
cintilam vivamente.
Nuvens volumosas abarreiam ao longe os horizontes, recortando-os em relevos
imponentes de montanhas negras.
Sobem vagarosamente; incham, bolhando em lentos e desmesurados rebojos,
na altura; enquanto os ventos tumultuam nos plainos, sacudindo e retorcendo
as galhadas.
Embruscado em minutos, o firmamento golpeia-se de relâmpagos precípites,
sucessivos, sarjando fundamente a imprimadura negra da tormenta. Reboam
ruidosamente as trovoadas fortes.
As bátegas de chuva tombam grossas, espaçadamente, sobre o chão,
adunando-se logo em aguaceiro diluviano.
CUNHA, Euclides da. Os sertões. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998, p.57 (Coleção Prestígio).
82 Viagem do Conhecimento
{[
cução (com duração variável), que tenham questões
a responder com o projeto e que possam formular
hipóteses sobre essas questões. Da mesma forma, que
se posicionem quanto aos produtos esperados (vídeos, registros fotográficos, textos, relatórios, seminários, cadernos de textos e outros). É desejável que os
demais professores participem e que possam juntos
construir os desafios coletivos.
Temas ligados à cultura de viagem atendem plenamente a esses objetivos, estimulando os estudantes
a investigar e buscar soluções criativas e inovadoras
para a sua execução, tais como: Refazendo a rota de
Marco Polo, Uma viagem ao Pólo Norte, O Patrimônio histórico de nossa cidade, O Brasil em canção,
Entrevistas com um viajante, Minha cidade em notícia, entre outros.
{[ }]
A leitura da paisagem
Ao promover a leitura da paisagem representada por uma fotografia, é necessário ter
em conta que essa é uma atividade que requer alguns procedimentos específicos que
precisam ser desenvolvidos pelos alunos ao longo de sua vida escolar, como apreensão
de informação, seletividade, compreensão etc.
A fotografia de paisagem possibilita o estudo de muitos conceitos, tanto mais
complexos quanto maior a maturidade intelectual de quem a observa. Por isso, o
trabalho com esse recurso é muito importante para a aprendizagem em Geografia.
Para analisar a paisagem é preciso obedecer a alguns estágios, como:
Observação Descrever o que se vê; quanto maior domínio conceitual possuir o
observador, maior será a capacidade de discriminação do que é observado.
Análise Estabelecer relações entre os objetos presentes na paisagem, sejam
naturais ou artificiais.
Interpretação Atribuir significado ao aparente caos em que se encontram os
objetos na paisagem.
Avaliação Avaliar a disposição dos objetos, suas inter-relações e as outras
possibilidades de rearranjo espacial.
Fonte: São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Referencial
de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora no Ciclo II do Ensino
Fundamental: caderno de orientação didática de Geografia. São Paulo: SME/DOT, 2006, p. 58.
suas anotações
Guia para Educadores
83
DICA 6
(
Fique de olho no
que acontece por aí
Viajar! Perder países!
Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!
Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.
Fernando Pessoa, 20/9/1933
Vimos anteriormente que cresce a cada ano o fluxo de
turistas e viagens internacionais, assim como a visitação ao Brasil. Tais movimentos
ganham importância por sua dimensão econômica, social e cultural, mas também
porque o setor apresenta oscilações em função de eventos de diferentes origens.54
Um exemplo é o impacto causado pelo tsunami (do japonês tsu, porto, e nami,
onda, mar), ondas gigantes geradas por abalos sísmicos em redutos de visitação
turística, tais como as que afetaram países do Sudeste asiático como Tailândia, Sri
Lanka e Indonésia em 2004. Estima-se em 400 mil o número de mortos e milhões
de desabrigados, exigindo da comunidade internacional um grande esforço para
resgatar vítimas e reconstruir as áreas atingidas.
Outros eventos de igual magnitude também provocaram restrições aos deslocamentos e visitação a diferentes regiões do planeta, como o ataque às Torres Gêmeas de Nova York, em setembro de 2001, ou a invasão do Iraque pelos Estados
Unidos em 2003. Tais acontecimentos geraram, entre outros efeitos, a intensificação do controle no acesso aos territórios, em especial para quem queria viajar aos
Estados Unidos ou a países da Europa ocidental.
84 Viagem do Conhecimento
A crise em companhias aéreas do Brasil e de outros países também ofereceu
constrangimentos à mobilidade geográfica. No nosso caso, os viajantes se deparam com cancelamentos e atrasos nos vôos ou a redução do número de opções
de trajetos, além de grandes dificuldades nas infra-estruturas aeroportuárias.
O péssimo estado de algumas estradas pelo país também compromete o transporte
e, em certos casos, até impede a maior mobilidade da população.
De outro lado, eventos culturais ou esportivos, como os Jogos Olímpicos e a Copa
do Mundo de futebol, têm a propriedade de promover mudanças nos espaços de
recepção e intensificar fluxos de toda ordem, sobretudo em direção aos locais-sede.
Veja-se, por exemplo, os Jogos Olímpicos em Pequim, na China. Estima-se em
cerca de 2 milhões o número de visitantes durante os quinze dias de realização do
evento. Além de mais de 10 mil atletas de 205 países e milhares de profissionais
de imprensa na cobertura do evento. A escala das reformas urbanísticas na capital
chinesa não encontra precedente: 15 arenas esportivas novas, quatro linhas de
metrô a mais, um novo aeroporto e mais de 140 hotéis, além de 4 mil banheiros
públicos. Alguns desafios permanecem, como a redução da poluição atmosférica e
a normalização do abastecimento de água na área metropolitana.
Proponha aos estudantes que se organizem para a leitura e consulta periódica
de jornais, revistas e boletins informativos da internet como modo de se atualizar
sobre acontecimentos dessa natureza. Estimule-os a construir um mural na classe
ou na escola com notícias, reportagens e entrevistas sobre temas contemporâneos
da realidade e suas implicações sobre os deslocamentos e os diferentes espaços.
As reportagens podem ser objeto de debates na sala de aula, auxiliando também
suas anotações
Guia para Educadores
85
DICA 6
na construção dos fundamentos da cartografia, permitindo o exercício da pesquisa e a elaboração de
produções para exposição com toda a comunidade
escolar.
Oriente os estudantes que, para a consulta em jornais ou revistas, eles devem observar a forma como
esses suportes estão organizados. No caso do jornal,
vale a pena examinar a primeira página e observar
nome, data e local em que ele é produzido, as chamadas (textos curtos que resumem a notícia que está
dentro do jornal), as manchetes (destacam os fatos
mais importante do dia, na visão do editor do jornal), as fotos e respectivas legendas (muitas vezes retratando outra notícia) e recursos infográficos. No
interior do jornal, serão encontrados textos variados
com fatos, dados e opiniões (veja o quadro55).
Quanto às revistas, existem publicações especiaTEXTOS JORNALÍSTICOS
Informat ivos
De opinião
De ent ret enimento
De publicidade
Notícia, Reportagem
Editorial
Crônica
Anúncio
Artigo de divulgação científica
Artigo
Palavra cruzada
Propaganda
Previsão do tempo
Resenha
Horóscopo
Programação de lazer
Carta do leitor
Histórias em quadrinhos
Entrevista
Charge
Cartum
lizadas e revistas de variedades de circulação nacional. A capa traz manchete e fotos destacando fato
de grande repercussão. No interior, logo nas primeiras páginas, aparece um sumário com seções fixas
(colunas assinadas, informativos, charges etc.) e a
lista dos assuntos, normalmente divididas por temas (Política, Geral, Internacional, Brasil, Mundo,
Comportamento, Cultura e Arte etc.).
Veja o roteiro a seguir, com sugestões para os es-
86 Viagem do Conhecimento
tudantes de organização dos fatos noticiados, de acordo com sua origem e natureza, seu vínculo com a cultura de viagem e conexões entre as diferentes esferas
da atividade humana:
Os de origem natural – terremotos, furacões, enchentes56, secas prolongadas e outros,
buscando investigar suas causas e repercussões e colher dados de pesquisas científicas,
opiniões de especialistas etc.
Os de natureza política ou econômica – eleições nos países, conflitos sociais, guerras
e confrontos armados, novos tratados internacionais, aprovação de leis de defesa do
patrimônio ambiental e cultural no Brasil, resultados econômicos de países e setores
de atividade, políticas relacionadas à produção agrícola, energética ou de combate ao
desmatamento, reuniões de organismos internacionais etc.
Os relacionados à produção científica e tecnológica - identificação de novos astros,
localização de ossadas de animais extintos, desenvolvimento de novos remédios e terapias
para combate a doenças etc.
Os de ordem cultural - expressões e manifestações culturais de grupos diversos, criação
de reserva indígena, visita do papa a um país, pesquisas sobre línguas, crescimento do
número de adeptos de uma religião, descobertas de sítios arqueológicos (estas últimas com
evidente interface na produção de conhecimentos científicos), reportagens sobre espaços
turísticos e outros.
suas anotações
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