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REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE FIBRODISPLASIA OSSIFICANTE PROGRESSIVA: ARTIGO DE REVISÃO Emila M. V. Maranhão Araújo Anielly Cristina Oliveira RESUMO A fibrodisplasia Ossificante Progressiva (FOP) é uma das doenças mais raras que afetam os seres humanos de caráter hereditário do tecido conectivo, sendo incapacitante tanto em crianças quanto em adultos. O diagnóstico é baseado no exame clínico e nos achados radiológicos. Não há tratamento efetivo para a FOP, pois nenhuma medicação (até o momento) demonstrou ter o poder de alterar o curso natural da doença. Foi realizada uma revisão da patologia e os vários tratamentos e opções de prevenção conhecidas que pode facilitar a compreensão da gravidade da doença, como possibilitar o planejamento de novas ações. Palavras-chave: Fibrodisplasia, miosite ossificante progressiva. V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE 1 - INTRODUÇÃO O desenvolvimento de osso heterotópico em partes moles é uma característica comum de pelo menos três doenças genéticas distintas que afetam seres humanos: a fibrodisplasia heterotópica progressiva, osteodistrofia hereditária de Albright, heteroplasia óssea progressiva. Entre essas doenças, a fibrodisplasia ossificante progressiva (FOP) merece atenção especial (DELAI et al., 2004). Embora rara, pode ser facilmente identificada por suas características clínicas, e seu diagnóstico pode ser confirmado pelo exame radiológico. O diagnóstico precoce da FOP é necessário para prevenir procedimentos desnecessários e lesivos que possam diminuir a qualidade de vida e o prognóstico do paciente (SANCHEZ et al., 1984; DZUKOU et al., 2005). Apesar dos grandes avanços feitos na última década no entendimento da natureza molecular (patologia e fisiopatologia) da fibrodisplasia ossificante progressiva (FOP), poucos avanços tangíveis foram feitos no tratamento da FOP ou na prevenção de suas complicações incapacitantes. No presente momento, não existem terapias com benefícios cientificamente provados para a prevenção ou tratamento da FOP (BUYSE et al., 1995; PAIM et al., 2003; KAPLAN et al., 2003; DELAI et al., 2004; ARAÚJO JUNIOR et al., 2005; DUZKOU et al., 2005) nem tão pouco a atuação da fisioterapia como manejo terapêutico para a melhora de qualidade de vida desses pacientes. Assim, as medidas são direcionadas a melhora sintomática e na prevenção da piora dessa condição (SUBRAMANYAM et al., 2004). A atual falta de uma terapia efetiva para a FOP decorre primariamente da falta de conhecimento científico definitivo a respeito do defeito genético primário que causa a FOP e que coordena as complexas mudanças no desenvolvimento corpóreo que a doença causa tanto antes como após o nascimento (pré e pósnatal). Adicionalmente, a progressão errática (história natural) da doença, a dificuldade na obtenção de biópsias em estágios definidos da sua evolução, a falta de um modelo genético relevante para o teste de drogas (KAN et al., 2004), a falta de famílias multigeneracionais para o estudo da variabilidade natural da doença, e a falta de estudos clínicos verdadeiramente objetivos (conhecidos como estudos randomizados, duplo-cegos, controlados por placebo) confunde ainda mais os esforços para o estabelecimento de uma base para um tratamento V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE racional desta doença tão complexa que possui características genéticas, evolucionárias, pós-traumáticas e auto-imunes (KAPLAN et al., 2003). Neste artigo faremos uma revisão da patologia e os vários tratamentos e opções de prevenção baseados nas informações conhecidas sobre a FOP que podem facilitar a compreensão da situação de gravidade da doença, como possibilitar o planejamento de novas ações de caráter preventivo e terapêutico voltado para esses pacientes. Essa entidade é rara, existindo escassas referências na literatura brasileira (ARAÚJO JUNIOR et al., 2005). 1.2 – FIBRODISPLASIA OSSIFICANTE PROGRESSIVA (FOP) A fibrodisplasia ossificante progressiva (FOP) é uma das doenças mais raras que a afetam os seres humanos (DELAI et al., 2004) de caráter hereditário do tecido conectivo de herança autossômica dominante (KAPLAN et al., 1993; MAHBOUBI et al., 2001), na qual anormalidades esqueléticas estão associadas à ossificação endocondral progressiva da musculatura estriada (BUYSE et al., 1995; JANOFF, et al., 1996; KAPLAN, 1998; EMAERSON et al., 2001; PAIM et al., 2003; FALLINER et al., 2003; SUBRAMANYAM et al., 2004), levando a imobilização permanente, sendo incapacitante tanto em crianças como adultos jovens, atingindo igualmente todos os sexos (COHEN et al., 1993). Sua incidência é de um caso por dois milhões de nascimentos (MAHBOUBI et al., 2001). Os indivíduos afetados raramente reproduzem (KAPLAN et al., 1993). O primeiro relato da FOP ocorreu em 1692 por Patin, e por Freke em 1739 (SUBRAMANYAM et al., 2004) e em 1918, Rosensurn realizou extensa revisão de literatura médica, descrevendo 115 casos de FOP (DELAI et al., 2004). O antigo nome miosite ossificante foi substituído por Victor Mc Kusick, em 1970 pela expressão “fibrodisplasia ossificante progressiva” devido à doença não acometer apenas músculos, como também qualquer tecido conectivo (PAIM et al., 2003; ARAÚJO JUNIOR et al., 2005). V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE 1.3 – FISIOPATOLOGIA O defeito genético e a fisiopatologia da FOP são ainda desconhecidos (KAN et al., 2004). Testes clínicos não têm demonstrado anormalidades enzimáticas ou metabólicas (KAPLAN et al., 1993). Contudo, considera-se que a doença seja causada por um gene (14q22-q23) que sofre mutação durante a fase embrionária do desenvolvimento (responsável pelas malformações ósseas congênitas) e que pode ser reativado no período pós-natal, causando assim, a ossificação heterotópica progressiva (DELAI et al., 2004; ARAÚJO JUNIOR et al., 2005). Recentemente foi descrita a expressão aumentada da proteína morfogenética do osso 4 (BMP 4)(OLMSTED et al., 2003; ALTSCHULER, 2004; KAPLAN et al., 2004) e produção de pequena quantidade de proteínas que bloqueiam e suprimem a ação das BMP 4 nos fibroblastos presentes nas lesões precoces de FOP. Esta proteína está localizada no cromossomo 14q22-q23, é produzida pelo músculo esquelético e pode ser produzida nos traumatismo dos tecidos moles onde estão sendo pesquisadas evidências da existência de mutações neste gene ou na região de seu promotor. A falha que as células da FOP apresentam em produzir alguns antagonistas e supressores das BMP 4 em resposta a um sinal desta proteína apóia a idéia de que existe uma perda do feedback negativo, justificando assim os níveis de expressão das BMP 4 e, portanto também sua atividade, poderem estar acentuadamente elevados e assim mantidas na FOP (KAPLAN et al., 2003). A ossificação heterotópica na FOP se inicia na infância, e pode ser induzido por trauma cirúrgico, trauma dos tecidos moles, imunizações intramusculares, injeções para procedimentos dentários, ou doenças virais semelhantes à influenza (gripe) (PAIM et al., 2003; DELAI et al., 2004). Há indícios do envolvimento do sistema imunológico na FOP, devido à presença de linfócitos nas lesões iniciais, morte dos músculos associados aos linfócitos, surtos após infecção viral, resposta positiva na fase inicial ao uso de corticosteróides. Em alguns casos, as características clínicas e patológicas da FOP indicam um componente auto-imune talvez, um “gatilho” auto-imune. Uma análise da patologia molecular da atividade dos receptores das BMP na superfície das células FOP está começando a nos dar dados críticos com V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE relação aos mecanismos moleculares que são à base dos eventos iniciais da FOP. Um entendimento fundamental do controle molecular e genético das vias que regem as BMP nas células FOP nos levará as abordagens terapêuticas mais racionais para a doença (KAPLAN et al., 2003). A BMP4 atrai células mononucleares e inicia a angiogênese estimulando a fibroproliferação e apoptose, estes eventos provocam a formação de peças de osso maduro heterotópico que substituem os músculos esqueléticos e tecidos conectivos (KAPLAN et al., 2003). Em amostras patológicas de lesões iniciais é observada grande quantidade de linfócitos B e T perivascular, e morte maciça de fibras de músculo esquelético. Já nas lesões intermediárias, é indistinguível da fibromatose agressiva juvenil com importante edema, inflamação e formação de osso novo. Tal acontecimento é explicado pela grande quantidade de mastócitos em todos os estágios da doença e expressiva quantidade de BMP-4 nas células (GANNON et al., 1998). Os estágios de formação óssea na FOP assemelham-se à formação do esqueleto embrionário, ao processo de consolidação das fraturas, sendo diferenciados pela ausência de inflamação na formação do esqueleto normal e o predomínio de linfócitos da FOP. Na verdade, todos os estágios do desenvolvimento estão presentes na lesão da FOP. Qualquer tentativa de inibir seu processo de maturação irá inibir os múltiplos estágios do desenvolvimento. Portanto, quanto mais cedo um surto for controlado, maior será a chance de se prevenir a formação de um osso heterotópico (KAPLAN et al., 2003). 1.4 – QUADRO CLÍNICO Os pacientes com FOP podem ser reconhecidos mais tardiamente na vida pela formação de dois esqueletos: um esqueleto normotópico, durante a embriogênese, e um esqueleto heterotópico, desenvolvido após o nascimento. O esqueleto normotópico é basicamente normal, exceto pelos hálux, colos femurais, e coluna cervical, que são malformados. As malformações dos hálux (encurtamento bilateral com valgismo dos primeiros pododáctilos) são documentadas em 95% dos casos (GRENSPAN, 2001) (Figura 1). V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE Figura 1 Fonte: Arquivos de neuro-psiquiatria, Fibrodysplasia ossificans progressiva, 2000. A ossificação heterotópica geralmente aparece dentro da primeira década de vida. A idade média de início é em torno de 3,6 anos (ARAÚJO JUNIOR et al., 2005). Os surtos (“flare-ups”) podem ocorrer sem nenhuma razão aparente ou em resposta a traumas (espontâneo ou induzido por trauma) (GALVAGNO et al., 1989; SMITH et al., 1998; GLASER et al., 1998; EMERSON et al., 2001). Estes surtos são freqüentemente diagnosticados de forma errada como tumores, e caracterizados por massas grandes e dolorosas nos tecidos conectivos moles incluindo tendões, ligamentos, fáscias e músculos esqueléticos (MORIATIS et al., 1997; SMITH et al., 1998) (Figura 2; 3). Os surtos de FOP são esporádicos e imprevisíveis, e existe uma grande variabilidade quanto ao grau de progressão da doença (CONNOR et al., 1982), podem durar semanas ou meses e ser acompanhadas por febre baixa. Além disso, podem estar associadas com regressão espontânea (DELAI et al., 2004). As massas pré-ósseas, especialmente envolvendo o tronco, ocasionalmente regridem espontaneamente (KAPLAN et al., 2003). Os olhos, coração, diafragma, músculos esfinctéricos e músculos lisos viscerais são caracteristicamente poupados (DELAI et al, 2004). V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE Figura 2 Fonte: Revista Brasileira de Reumatologia, Fibrodisplasia ossificante progressiva em crianças: relato de três casos, 2003. Figura 3 Fonte: Radiologia Brasileira, Fibrodisplasia Ossificante Progressiva: relato de caso e achados radiográficos, 2005. Vários estudos extensos sobre a estória natural da FOP confirmaram que é impossível predizer a ocorrência, duração ou gravidade de um surto da doença, apesar de ter sido descrita uma progressão anatômica característica. (SMITH, 1998). A progressão da FOP é tipicamente: axial para apendicular; cranial para caudal; proximal para distal. O risco aumentado de envolvimento dos quadris, punhos e joelhos aumentam com a idade, sendo a mandíbula, tipicamente, uma das últimas áreas envolvidas (DELAI et al., 2004), tendo um comprometimento de apenas 20% dos casos (KAPLAN et al., 2004). Contudo, é de grande importância a identificação precoce do surto submandibular, evitar a manipulação da lesão, e medidas para evitar a obstrução das vias aéreas devido a possibilidade do edema submandibular, que requer cuidados intensivos para evitar complicações clínicas desastrosas (JANOFF et al., 1996). Muitos com FOP têm defeitos congênitos na coluna cervical, torácica, e lombar, tais como hipoplasia de corpos vertebrais e fusão dos elementos posteriores, estreitamento do canal medular lombar (PAIM et al., 2003), alargamento dos processos espinhosos das vértebras e espinha bífida. As curvas escolióticas são freqüentes, tipicamente amplas e rígidas em forma de “C” e se V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE associam à obliqüidade pélvica (RAMÍREZ et al., 2005) (Figura 4). O encurtamento do colo femoral e dos polegares (encurtamento do primeiro metacarpiano e braquimesofalangismo) com clinodactilia do dedo mínimo (SALAZAR et al., 1994) (Figura 1) e osteocondromas na porção proximal das tíbias são características esqueléticas variáveis notadas em pacientes com FOP (GRENSPAN, 2001). Pseudo-artroses também podem ocorrer com as colunas de ossos principalmente em ombros e quadris. Figura 4 Fonte: Radiologia Brasileira, Fibrodisplasia Ossificante Progressiva: relato de caso e achados radiográficos, 2005. A evolução da doença pode conduzir à fusão das articulações costocondrais e o envolvimento assimétrico da musculatura paravertebral pode determinar: o aparecimento de escoliose e doença pulmonar restritiva (ARAÚJO JUNIOR et al., 2005). A grave doença restritiva da parede torácica faz com que o paciente tenha um alto risco de desenvolver problemas cardio-pulmonares, uma das causas de freqüente morbidade e mortalidade dessa doença (KUSSMAUL et al., 1998). Episódios progressivos de ossificação heterotópica acarretam o “travamento” (anquilose) de todas as articulações maiores do tronco/dorso e membros/ braços e pernas (esqueleto axial e apendicular), tornando os movimentos impossíveis. A maioria dos pacientes se encontra confinado a uma V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE cadeira de rodas por volta dos vinte anos de idade e precisam de assistência por toda a vida para a realização de suas atividades diárias. A diminuição da condução auditiva é uma característica associada à FOP que é comum e pouco compreendida (KAPLAN et al., 2003). De acordo com Delai et al., 2004, a surdez é possível, e provavelmente causada pela fusão dos ossículos do ouvido. 1.5 - DIAGNÓSTICO A FOP deve ser prontamente identificada baseando-se apenas na história clínica, no exame físico e nos achados radiográficos (BUYSE et al., 1995; NUCCI et al., 2000), e deve ser diagnosticada durante o período neonatal (DZUKOU et al., 2005). Não deve ser realizado procedimento invasivo (biópsias) para determinação diagnóstica, pois tal fato é invariavelmente seguido de ossificações na região (ARAÚJO JÚNIOR et al., 2005). O diagnóstico da FOP é baseado em três critérios: malformação congênita dos hálux, ossificação endocondral heterotópica, progressão da doença em padrões anatômicos e temporais bem definidos. Não há alterações específicas laboratoriais. As provas em fase aguda são normais (HLA-B27 usualmente negativo), assim como o metabolismo do cálcio, fósforo e paratormônio. Contudo, durante as agudizações podem ser observados discretos aumentos na VHS (velocidade de hemosedimentação). A radiografia simples é o exame preferencial para o diagnóstico e acompanhamento, evidenciando o surgimento de novas ossificações. A tomografia computadorizada evidencia lesões precoces de partes moles e lesões ósseas evolutivas. A ressonância magnética nuclear, a ultrassonografia e a cintilografia podem também auxiliar no diagnóstico (PAIM et al., 2003). Os testes de função pulmonar habitualmente revelam um defeito ventilatório restritivo e volumes pulmonares reduzidos devido ao desenvolvimento de osso heterotópico na parede torácica (DELAI et al., 2004). 1.6 – DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Antes que o diagnóstico correto seja estabelecido nos pacientes com FOP, muitos têm biópsias com o objetivo de excluir uma enfermidade maligna. As principais confusões diagnósticas são a fibromatose juvenil agressiva e os V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE sarcomas. Nesses casos, o estudo histológico com anticorpos anti BMP-4 é muito útil. Outras doenças genéticas que também causam o desenvolvimento de ossificações heterotópicas precisam ser diferenciadas tais como heteroplasia óssea progressiva (HOP), osteodistrofia hereditária de Albright (OHA) e osteoma cútis. De todas, a FOP é a única que se apresenta com ossificações endocondrais (a partir de cartilagem) e que tem um curso de agudizações de partes moles após uma lesão tecidual, e que poupa a pele e está associada com malformações dos primeiros pododáctilos (DELAI et al., 2004). A HOP é um distúrbio genético raro e descrito da diferenciação mesenquimal, caracterizado por ossificação dérmica, e ossificação heterotópica progressiva dos tecidos cutâneos, subcutâneos e profundos durante a infância. Não apresenta malformações esqueléticas congênitas nem edemas do tipo tumoral e tem predominância de ossificação intramembranosa e distribuição mosaica assimétrica das lesões. A OHA pode manifestar ossificação cutânea menor, mas poupa os músculos esqueléticos profundos e está associada a alterações hormonais. O osteoma cútis afeta somente o tecido cutâneo e subcutâneo, não envolve alterações hormonais, e não está associado à malformação congênita (DELAI et al., 2004). 1.7 – TRATAMENTO Não há tratamento específico efetivo para FOP, nenhum medicamento (até o momento) demonstrou ter o poder de alterar o curso natural dessa doença. Assim, as medidas são direcionadas à melhora sintomática e na prevenção da piora desta condição (DELAI et al., 2004). 1.7.1 – Prevenção de traumatismos A prevenção de traumas aos tecidos moles e de danos musculares continuam a ser força registrada do manejo da FOP (“primum nun nocere”) (KAPLAN et al., 2003). Injeções intramusculares devem ser terminantemente evitadas, exceto a vacina contra a gripe em pacientes mais velhos com anquilose, mas que tenham V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE risco potencial de complicações cardio-pulmonares, as injeções subcutâneas (vacina contra sarampo, rubéola e coqueluche) e as coletas de sangue (venopuntura) não acarretam riscos. As quedas podem acarretar danos graves em pacientes com FOP, podendo resultar em ossificação heterotópica e anquilose das articulações, levando a restrição da mobilidade, alterando o equilíbrio, e resultando em mais quedas. Desta forma, todas as medidas para prevenir as quedas devem ser tomadas, como: auxílio à marcha (bengala, andador), corrimões, tapetes antiderrapantes, eliminação de desníveis (KAPLAN et al., 2003; DELAI et al., 2004). A atividade física mais adequada ao paciente com FOP é a natação, mesmo com algumas limitações. A água aquecida pode ajudar ao paciente a sentir-se melhor, particularmente durante os surtos. Além da maior facilidade de sua movimentação na água em comparação com o solo. A fisioterapia motora traz grandes benefícios ao fortalecer a musculatura envolvida e a musculatura respiratória, melhorando assim a capacidade respiratória desses pacientes, uma vez que as principais causas de óbito são: insuficiência respiratória e pneumonia pela restrição da expansibilidade torácica (PAIM, et al., 2003). De acordo com a International FOP association (IFOPA) (2005), em geral, a fisioterapia não é recomendada para pessoas com FOP, uma vez que alongar os tecidos moles ao redor de uma articulação pode levar ao desenvolvimento de um surto doloroso. As articulações nunca devem ser mobilizadas passivamente. Certo grau de movimentação ativa pode ser encorajado, de acordo com as limitações para que não haja desconforto para o paciente. É importante ter em mente que não é preciso muito para provocar um surto de FOP. . 1.7.2 – Gripe As doenças virais semelhantes à infuenza viral aumentam em três vezes o risco de um surto de FOP, devido a esses pacientes apresentarem doença restritiva grave da parede torácica com alto risco de apresentar complicações por infecções respiratórias (SCARLETT et al., 2004). A gripe deve ser evitada com vacinação e medidas comunitárias (KAPLAN et al., 2003). V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE 1.7.3 – Tratamento medicamentoso Um grupo clínico internacional organizou os agentes farmacológicos em três categorias: a) Classe I: medicamentos amplamente utilizados no controle de sintomas agudos da FOP. São os corticosteróides e os antiinflamatórios não hormonais. b) Classe II: medicamentos que tem uma aplicação teórica na FOP e estão aprovados para tratamento de outras doenças. São os inibidores de leucotrienos, estabilizadores de mastócitos e aminobifosfatos. c) Classe III: Novas drogas em investigação são talidomida, esqualamina, noggin. O uso de corticosteróides precocemente durante um surto de FOP está baseado em seu efeito de supressão dos linfócitos e o edema tecidual. A utilização dos corticosteróides deve ser restrita ao tratamento dos sintomas iniciais (primeiras 24 horas) dos surtos que afetam as articulações maiores. Não devem ser usados no tratamento sintomático dos surtos de região posterior do pescoço e tronco devido à longa duração (KAPLAN et al., 2003; FALLINER et al., 2003; DELAI et al., 2004). A predinisona é a droga de escolha, devendo ser utilizada na dose de 2mg/kg/dia, em dose única, por não mais que quatro dias. Quando a predinisona é descontinuada, um antiinflamatório não hormonal ou inibidor de leucotrienos pode ser usado até o fim do surto. Os estabilizadores da membrana dos mastócitos podem reduzir a liberação de agentes angiogênicos e quimiotáticos, enquanto que os anti-histamínicos e inibidores de leucotrienos podem reduzir os efeitos dos mediadores liberados. Os inibidores da ciclo-oxigenase 2 (cox 2) têm como alvo específico as prostaglandinas pro-inflamatórias, deixando as prostaglandinas fisiológicas relativamente intactas (KAPLAN et al., 2003). As prostaglandinas proinflamatórias participam de forma potente junto com os BMPs na formação de osso heterotópico (KAPLAN, 1998). Foi mostrado em animais de laboratório que a diminuição dos níveis de prostaglandinas aumenta de forma dramática o limiar de ossificação heterotópica, tornando assim, mais difícil a formação de ossos, mesmo com níveis elevados de BMP 4 (KAPLAN et al., 2003). V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE Os bifosfonatos têm efeitos profundos no remodelamento ósseo e exercem seu efeito diminuindo a extensão da vida dos osteoclastos. Porém, sua efetividade é inserta na FOP, apenas o etidronato tem seu uso limitado em doenças em que há ossificação heterotópica, e mais recentemente o pamidronato está sendo estudado como tratamento da FOP (BRANTUS et al., 1998; KAPLAN et al., 2003). A terapia genética com o noggin é o tratamento de longo prazo mais promissor, o qual está sendo investigado em laboratório, e parece ter uma proteína chave (“mutein” é a proteína modificada por engenharia genética a partir do noggin natural – o qual é estraído de tecidos do tubarão) para o bloqueio da formação óssea (KAPLAN et al., 2003). A angiogênese é uma ocorrência histopatológica importante nas lesões pré-ósseas da FOP, e o fator de crescimento básico dos fibroblastos (bFGF) é impotente estimulador no crescimento de vasos sanguíneos (in vivo) e está envolvido no crescimento de tumores sólidos, inclusive na FOP. A esqualamina é um novo agente anti-angiogênico, cuja molécula natural é similar a do colesterol. Esta droga inibe a proliferação de células endoteliais e exibe uma atividade antiangiogênica potente, podendo retardar a progressão das lesões da FOP no músculo (KAPLAN et al., 1993; GANNON et al., 1998; KAPLAN et al., 1998; KAPLAN et al., 2003). Como a FOP é uma doença rara, algumas crianças foram erroneamente diagnosticadas, sendo realizada radioterapia a qual não mostrou utilidade na FOP, e a quimioterapia (tamoxifeno, colchicina, vincristina, vinblastina, citoxan, ciclosporina, metotrexate, adriamicina) é contra-indicada na FOP, por não haver eficácia comprovada e proporcionar vários efeitos colaterais. Se a ossificação heterotópica da FOP é realizada por proteínas produzidas por glóbulos brancos produtoras de ossos anormais, então o transplante de células tronco com a substituição completa do compartimento hematopoiético curaria a FOP. Porém esse processo tem eficácia muito baixa. In vitro, apenas 0,1% do total de células mesenquimais são originadas das células tronco do doador, além do mais, há uma intensa resposta inflamatória proveniente desse procedimento, que poderia levar a uma resposta catastrófica. Desta forma, V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE atualmente, este método não tem eficácia o suficiente para tratamento da FOP (KAPLAN et al., 2003; KAPLAN et al., 2004). 1.8 – COMPLICAÇÕES Durante sua evolução, a FOP pode causar complicações como edema intenso de partes moles que pode ter caráter agudo, sendo causado pela angiogênese local intensa ou pela compressão dos canais linfáticos de partes moles, ou crônico, que pode ocorrer após a perda das funções dos músculos, levando à estase venosa, ou, raramente a formação de coágulos dentro dos vasos sanguíneos (MORIATIS et al., 1997). Outra complicação é o surgimento de episódios agudos de edema submandibular, que pode causar dificuldades na respiração e alimentação (JANOFF et al., 1996). A surdez é possível, provavelmente pela fusão dos ossículos do ouvido. Podem aparecer irregularidades menstruais e infertilidade de causa desconhecida. Contudo, a complicação mais temida, é o desenvolvimento de infecções do trato respiratório, exacerbadas por importante restrição da parede torácica, a causa mais comum de morte (DELAI et al., 2004). 1.9 – PROGNÓSTICO Os pacientes com FOP são geralmente saudáveis e intelectualmente normais. A principal causa de morte são a s infecções respiratórias. Mas atualmente com o avanço dos antibióticos, já há pacientes na sexta década de vida. A expectativa média de vida é de aproximadamente 45 anos (CONNOR et al., 1982). 1.10 – CONSIDERAÇÕES FINAIS A raridade da doença, sua gravidade variável e seu curso clinico flutuante nos trazem incertezas substanciais quando avaliamos tratamentos experimentais. Até o momento, não há estudo clínico duplo-cego, controlado por placebo que nos permita ter acesso à eficácia relativa de qualquer tratamento em potencial. V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE É de grande importância o conhecimento aprofundado da doença para esclarecimentos dos aspectos terapêuticos e recursos fisioterápicos que possam melhorar a qualidade de vida desses pacientes, evitando medidas que exacerbem o processo de ossificação, já que na literatura é rara a menção da fisioterapia como forma terapêutica para a FOP, estando esse recurso geralmente no grupo das contra-indicações. Embora não seja possível curar a FOP, por não existir tratamento efetivo, é perfeitamente possível aliviar o sofrimento do paciente, sendo mais importante prevenir o agravamento iatrogênico da condição, além de orientar a família quanto a precauções para minimizar os riscos de trauma, a fim de não comprometer o nível funcional do paciente e sua independência, pois dada à natureza progressiva da doença é importante deixar essas crianças tirarem vantagens das coisas que ainda são capazes de realizar, não as deixando afastadas das alegrias da vida e do convívio social, pois se divertir é parte fundamental da vida. È necessário apenas realizar adaptações em jogos convencionais para torná-los menos perigosos, ou seja, fáceis de jogar. V. 1 / N. 1 / 2014 REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS UNIVERSO RECIFE REFERÊNCIAS 1 - ALTSCHULER, E. L. Consideration of rituximab for fibrodysplasia ossificans progressiva. 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