INSTRUÇÕES PARA REDAÇÃO DE ARTIGOS PARA IIiSIMPGEU
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INSTRUÇÕES PARA REDAÇÃO DE ARTIGOS PARA IIiSIMPGEU
A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA VERNACULAR Caroline Salgueiro da Purificação Marques 1 Maurício Hidemi Azuma 2 Paulo Fernando Soares 3 RESUMO As edificações históricas no Brasil, consideradas em toda a amplitude e complexidade, se impõem como um dos principais componentes no processo de planejamento e ordenação da dinâmica de crescimento das cidades e como um dos itens na afirmação de identidades. Em cada período de uma fase histórica de determinada aglomeração urbana, cada sociedade se diversifica através das suas edificações, registrando aquela determinada época e suas necessidades decorrentes. Além disso, cada lugar é carregado de percepções individuais e de sensações próprias, os quais definem as características daquele determinado espaço, que se faz marcado pela presença protetora do genius loci, através da arquitetura vernacular, tanto em monumentos históricos, como em instalações industriais. Assim, a importância da conservação desses monumentos é exemplificada com edificações histórico culturais nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Paraná que constituem a história e a identidade dessas cidades. Palavras-chave: Identidade regional. Instalações industriais. Genius loci. Obsolescência. Preservação. 1 2 3 Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia UrbanaPEU, [email protected] Prof. Ms., Universidade Paranaense-UNIPAR, Departamento de Arquitetura e Urbanismo, [email protected] Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC, [email protected] 1. INTRODUÇÃO O ambiente urbano é o espaço entendido como organização tridimensional dos elementos que proporciona a orientação do indivíduo, tendo como base à síntese das características que lhe dão identidade própria. Refere-se ao território, natural ou construído, que significa o nosso entendimento do meio físico, ou seja, são referências para se criar ou modificar as relações entre os bens, cuja acuidade não é somente na dimensão estética ou/e física. O espaço só se torna um lugar no momento em que ele é ocupado pelo homem, física ou simbolicamente, representado por varias edificações construídas em fases e tempos diferentes durante o crescimento urbano, que constituem a paisagem urbana como um todo. NORBERG (1980), cita que “O lugar é a concreta manifestação do habitar humano”. A cidade como um todo é constituído por uma hierarquização simbólica representada através dos seus monumentos, edificações, habitações, que se associam e configuram significados e diferenças, que podem ser criteriosamente delimitados. Determinados bens, que marcam e configuram a cidade através das suas tipologias arquitetônicas, são heranças que testemunham à história e cultura de determinada sociedade, os quais devem ser conservados. Os arquitetos, com suas obras de edificação, ultrapassam a marcação do tempo, enquanto, a arquitetura vernacular, mais espontânea, revela e interliga sua historicidade à tradição, dando caráter ou genius loci à cidade (BARDA, 2007). Esta arquitetura vernacular está presente no patrimônio construído em cidades das regiões Norte e Noroeste do Estado do Paraná. ZANI (2003), cita que é através das tipologias construtivas trazidas pelos imigrantes colonizadores europeus, entre as décadas de 20 a 70. Os projetos de restauração e revitalização não podem se limitar aos monumentos e edificações históricas, por meio dos conselhos de preservação, os quais estão voltados ao patrimônio arquitetônico produzido no século XIX. Este artigo trata da importância da conservação das relações ambiente edificado com o sítio, o genius loci, através das construções vernaculares e instalações industriais que constituem a história e a identidade das cidades dessas regiões. Entende-se que adquirir a permanência dos novos edifícios no contexto urbano, é ir além de atender os aspectos funcionais, econômicos e tecnológicos dos edifícios. Os edifícios expressam, precisam comunicar e adquirir valores simbólicos iconográficos, alcançados de forma harmônica, equilibrando eficiência e sustentabilidade e ainda, conservar a memória urbana pela preservação dos poucos exemplares em madeira construídos no passado. Fazem-se necessários estabelecer novos vínculos culturais para resgatar a presença dos edifícios em madeira no cenário urbano regional e alcança-se sua permanência. Tanto a alegação da importância da conservação dos edifícios históricos vernaculares, como, a produção arquitetônica contemporânea são ações equivalentes que devem coexistir e sobrepor-se com a finalidade de aprimorar a qualidade e as condições do espaço urbano, através de um crescimento e planejamento urbano disciplinado. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - GENIUS LOCI “As cidades permanecem em seus eixos de desenvolvimento, mantêm a posição dos seus traçados, crescem segundo a direção e com o significado de fatos mais antigos, muitas vezes remotos, do que os fatos atuais. Às vezes, esses fatos permanecem idênticos, são dotados de uma vitalidade contínua, às vezes se extinguem; resta então a permanência da forma, dos sinais físicos, do locus” (ROSSI, 1995). Os elementos da memória, do locus e do desenho são as articulações que dão origem a concepção arquitetônica, os quais, segundo, ROSSI (1995), são capazes de titular a idéia de locus, de um lugar marcado pela presença protetora do genius loci, o que diferencia, de fato, o espaço. 2 Nesse sentido, a memória do lugar é o resultado de sobreposições das experiências individuais e coletivas, onde se acomodam signos do arbítrio e da memória. A recuperação e conservação dos significados volumétricos das edificações vernaculares, como as instalações industriais, ao invés, por exemplo, da demolição, mantêm a unidade de paisagem, onde é designado um território de identificações lingüísticas, étnicas e culturais, onde o fazer e ser a cidade acontece em sua maior plenitude. A escala de referência para avaliar o impacto da modificação nas intervenções vem indicada pelo entorno do edifício em que se opera. ROSSI (1995), faz referência à “relação singular e o embargo universal que existe entre certa situação local e as construções que estão em qualquer lugar”. Sob o ordenamento espacial, que deveria ser regido pelas condicionantes ambientais, desenvolve-se a identidade urbana, onde os edifícios conotam significados ao contexto e se transformam dentro dos interesses humanos. Apronta, quando não se avalia o equilíbrio do meio. 3. ARQUITETURA VERNACULAR A arquitetura vernacular é todo o tipo de arquitetura em que se empregam materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída, caracterizando uma tipologia arquitetônica com caráter local ou regional. Sendo que, no processo de planejamento e ordenação do crescimento urbano, as edificações históricas vernaculares são como artefatos na afirmação de identidades, que é caracterizada pela presença protetora do genius loci. De acordo com essa abordagem, a importância da conservação não se limita somente a monumentos arquitetônicos, mas abrange também a arquitetura vernacular, de qualquer época, que reflete momentos históricos da cidade, relacionando-o à formação e crescimento da sua malha urbana. Nessa arquitetura não são reconhecidos estilos arquitetônicos, mas a sua essencialidade tipológica e morfológica, compreendida como uma arquitetura comum, anônima que constitui a fisionomia da cidade, e se diferencia de acordo com as expressões e linguagens culturais, o que diferencia uma cidade e/ou região de outra. Algumas dessas memórias históricas estão presentes, nos patrimônios construídos nas cidades colonizadas por companhias que atuaram nas regiões Norte e Nordeste do Estado do Paraná, durante as décadas de 20 a 70. Infelizmente, estes exemplares em madeira passaram por acelerado processo de extinção nas décadas de 60 e 70, justamente por representarem o construir adaptado ao meio, em desacordo com os princípios de modernidade, para o homem universal, das CIAMs, princípios debatidos no meio acadêmico desde os anos 30 e que refletiram desdobramentos no planejar e construir dos maiores centros urbanos do país (MARQUES et. al , 2008). A importância da conservação se atribui aos edifícios públicos e industriais, que ao longo do tempo conseguiram estabelecer inter-relações entre o espaço urbano e os indivíduos, ou seja, espaços públicos, privados e semiprivados. 4. IDENTIDADE REGIONAL DAS EDIFICAÇÕES EM MADEIRA ZANI (2003), defende que, no norte do Paraná, no período compreendido entre os anos de 1930 e 1970, desenvolveu-se uma forma de construir e habitar edificações em madeira, que se configurou como uma cultura arquitetônica regional. Assim, define o termo como “o processo construtivo, o vocabulário arquitetônico e o uso das construções por um determinado grupo social, numa determinada época em uma determinada região”. Essa especificidade cultural local ocorreu devido a um conjunto de fatores relacionados à ocupação humana na região. Como comenta ZANI: 3 “Aproveitando os recursos materiais locais, de modo a obter rapidez e facilidade construtiva, conseguiram criar, com a produção desta arquitetura uma linguagem própria capaz de expressar uma cultura arquitetônica local, dominando a técnica de trabalhar a madeira e criando um repertório arquitetônico rico e singular” (ZANI, 2003, p.8). Através da preservação das edificações em madeira, registra-se o processo de colonização dessas regiões, do desmatamento das florestas nativas que, a partir da matéria-prima disponível, possibilitou a construção da cidade primitiva, através das adaptações ao meio e das técnicas construtivas com um material em larga quantidade no local. Como por exemplo, Umuarama, Maringá, Cianorte tratam-se de cidades “jovens”, com um passado histórico recente que por vez está representada nos edifícios existentes como expressão de cultura e de identidade desta região. “Se, por um lado, a história de uma cidade de menos de 50 anos é, em tese, fácil de reconstituir, por outro lado, devido à rapidez com que as transformações ocorrem, muito do que se poderia preservar como fonte de pesquisa se perde. Talvez seja mais fácil obter um documento sobre o Rio de Janeiro dos tempos coloniais do que a respeito da fase de implantação de uma cidade pioneira da década de 40, no norte do Paraná. Da mesma forma, os vestígios materiais que ficaram dessa época são poucos”. (LUZ, 1997, p.7). Deste modo, expõe a questão temporal, várias transformações que ocorreram muito rápido, um aspecto importante referente à preservação do patrimônio arquitetônico das regiões citadas. As primeiras casas de madeira construídas assumem a tipologia mais recorrente e elementar na história arquitetônica, consistindo no pavilhão com telhado de duas águas, elevado sobre pilotis. A esta tipologia de habitação unifamiliar, com conceito de Standard igual à reprodução ao módulo-objeto casa, pensado para atender à sua função prática de morar, com processo construtivo rápido e simplificado, postura vigente internacionalmente no final do século 20. Esta tipologia arquitetônica das casas de madeira continua a ser adotada, e mesmo quando passam a ser construídas em alvenaria de tijolos maciços, obedecem às mesmas tipologias arquitetônicas (MARQUES et. al, 2008). Para as diversas tipologias edilícias desenvolvidas neste período, destaca-se o aprimorado tratamento estético e construtivo alcançado em muitos dos exemplares construídos em madeira. Vários são os fatores sócios econômicos que conduziram à exclusão das técnicas construtivas em madeira, desenvolvidas na região: o desenvolvimento dos transportes, a relativa escassez da madeira, as buscas em manifestar as tradições construtivas em alvenaria pelos colonizadores ingleses e a supremacia nacional das técnicas construtivas em concreto armado e alvenarias, adotados como símbolos de modernidade e desenvolvimento. Esses, entre outros fatores, resultam na gradual substituição dos edifícios por novas construções em alvenaria, muitas delas, até com a mesma forma, alterando apenas as fundações e os fechamentos, assim, surge à rejeição cultural as construções em madeira. Atribui-se desde então, conotações pejorativas, baixos valores comerciais e principalmente restrições e impedimentos nas Legislações Municipais para as novas construções em madeira desconsiderando todo o valor histórico cultural das técnicas construtivas. 5. EXEMPLARES TIPOLÓGICOS A capela Santa Cruz foi edificada na região denominada Maringá Velho, em Maringá - PR. Sua construção data da década de 1940, época em que se fixaram nesse bairro os primeiros habitantes da cidade, Figura 1. A capela encontra-se protegida por legislação municipal. Sua preservação foi efetivada através de uma intervenção de restauro, realizada a partir de um laudo elaborado em 1987. As obras foram concluídas e a igreja inaugurada em 1991, Figura 2. 4 Figura 1 - Elevações externas da capela Santa Cruz Fonte: HOFFMANN, 2005. Figura 02 - Elevações externas da capela Santa Cruz, após a intervenção de restauro Fonte: AUTORA, 2008. As construções em madeira, em especial, os edifícios com função simbólica, testemunham na sua materialidade a habilidade e a qualidade de uma técnica construtiva que foi o suporte da ocupação territorial das cidades dessa região, como por exemplo, as Figuras 3 e 4, apresentam a Casa da Memória, antiga Igreja Sagrado Coração de Jesus, em Cianorte – PR e o Teatro Reviver, em Maringá – PR, ambos construídos em madeira. Figura 3 - Elevações externas da antiga Igreja Sagrado Coração de Jesus, Cianorte-PR Fonte: AUTORA, 2008. Figura 4 - Elevações externas do Teatro Reviver – Maringá-PR Fonte: AUTORA, 2008. Neste cenário, o uso da madeira, pelos colonizadores dessas regiões assume primordial importância construtiva por suas características (leveza, mobilidade, facilidade de modulação), sendo utilizada com funções estruturais e decorativas de ilimitadas possibilidades criativas. HOFFMANN (2005), afirma que no caso de Maringá, acredita-se que as substituições constantes das obras de madeira que conformam o tecido urbano estejam vinculadas à forma como ocorreu a ocupação local, onde essas edificações eram concebidas com caráter provisório. Além das capelas, impõem-se o desafio de identificar outros testemunhos dessa arquitetura, como as instalações industriais e adotar medidas urgentes que garantam a sua preservação. A concepção de provisório parece ter se mantido no imaginário da população local, que almejava o progresso para a cidade, como nos primeiros tempos da ocupação, esquecendo de preservar os testemunhos materiais que revelam seus mais de cinqüenta anos de história. Outro exemplo, da identidade tipológica regional é a capela Imaculada Conceição, construída na década de 50, em Cruzeiro do Oeste - PR, no bairro Cafeeiro. Foi reformada, apenas a sua pintura em 1991, e em 2005 foi realizado um levantamento fotográfico e um diagnóstico das patologias, pelos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paranaense. Vide Figuras 5 e 6. 5 Figura 5 – Capela Imaculada Conceição, Bairro Cafeeiros – Cruzeiro do Oeste - PR Figura 6 – Capela Imaculada Conceição, Bairro Cafeeiros – Cruzeiro do Oeste - PR Fonte: UNIPAR, 2005. Fonte: UNIPAR, 2005. Os primeiros barracões de café e algodão, utilizados para o beneficiamento na região Noroeste do estado foram construídos em tijolos aparentes e madeira, essa retirada localmente. Os exemplares com alto valor arquitetônico em sua composição volumétrica são os complexos algodoeiros, Figuras 7 a 10, construído na década de 60, na cidade de Umuarama – PR. Estes complexos documentam a existência dos dois principais ciclos econômicos da colonização na região, o cafeeiro, até 1975, e o algodoeiro, até 1992, quando a antiga fábrica da Avenida Paraná – Umuarama, PR é desativada. Figura 7 - Algodoeira desativada na Avenida Paraná – Umuarama-PR (Algoeste) Fonte: AUTORA, 2006. Figura 8 – Edifício em madeira da Algodoeira Desativada - Umuarama-PR. (Algoeste) Figura 9 - Um dos edifícios da antiga algodoeira localizada na Avenida Ângelo Moreira da Fonseca - Umuarama – PR Figura 10 – Antiga Cooperativa Agropecuária Centro Norte do Paraná Ltda. (CANORPA) Apucarana – PR Fonte: Fonte: AUTORA, 2008. AUTORA, 2008. Fonte: AUTORA, 2006. 6 As construções de madeira, símbolos do período dos pioneiros, estão sumindo da paisagem e atualmente se concentram em poucos locais das cidades das regiões Norte e Noroeste do Estado do Paraná. Várias edificações em madeira foram demolidas, como por exemplo, a Igreja Matriz de Londrina, edificada em 1934, e a 1ª Catedral de Maringá, essa vide Figura 11. Como também, o complexo industrial algodoeiro, onde todos os edifícios foram demolidos, Figuras 12 e 13. E muitas, encontram-se em desuso, seja pelo alto custo do material, seja pela substituição por novas técnicas de construção. A preservação dessas construções permite que se salvaguarde o bem cultural – patrimônio material – e que se valorize a forma de construir na região, ou seja, o patrimônio imaterial. E apontam à necessidade urgente da realização de inventários, que permitam o registro e a identificação dos bens passíveis de preservação, seja por seu valor artístico, histórico e/ou cultural. Figura 11 - Antiga Catedral de Maringá, com a atual em construção, ao fundo Fonte: HOFFMANN, 2005. Figura 12 – Vista área da Algodoeira Braswey - Umuarama – PR Fonte: AUTORA, 2008. Figura 13 - Algodoeira Braswey - Umuarama – PR Fonte: AUTORA, 2008. 7 6. UMA NOVA FUNÇÃO Devido às características socioeconômicas da cidade de Umuarama muitos edifícios que atenderam a demanda da produção de café e algodão tornaram obsoletos, gerando muita área construída desocupada. Essa falta de utilização gerou a deterioração e demolição de muitas áreas e edifícios construídos nas décadas de 50 e 60, que incorporaram as suas construções valores culturais, simbólicos e estéticos, representados pela madeira e alvenaria de tijolos aparentes: arquitetura vernacular. “A obsolescência, a perda do valor, e a desativação industrial também pertencem à história da cidade, seja como fenômeno contínuo de substituição, seja como abandono repentino que inesperadamente muda a geografia urbana. A obsolescência e a desativação não implicam apenas uma mudança da distribuição das atividades dentro do espaço urbano. Indicadoras de uma impossibilidade, a obsolescência e desativação freqüentemente implicam mudança de escalas e de relações espaciais” (BARDA, 2007). Pode ser considerado patrimônio, o objeto a ser conservado de acordo com uma revisão analítica e crítica dos valores e relações que se estabelecem com a cidade. Deste modo, nem todas as edificações que caracterizaram o período histórico industrial de uma cidade, como por exemplo, as fábricas, equipamentos, entre outros, são considerados monumentos históricos, porém, mesmo não possuindo importância arquitetônica significativa, prevalece o valor da história e das necessidades convenientes de determinada época sobre a estética. Assim, esses edifícios com características fabris tornam-se disponíveis para novos usos, caracterizando os projetos de revitalização, que possuem uma precedente infra-estrutura e relações inter – espaciais com o entorno nas áreas centrais da cidade. O quadro dessa obsolescência e a desativação industrial citada acima, é revertido, pois as fábricas, galpões e edificações industriais que eram implantados em terrenos afastados dos centros das cidades, caracterizando a área industrial da época, encontram-se, hoje, incorporados definitivamente, pelo crescimento urbano desordenado das cidades colonizadas nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Paraná. Segundo, BARDA (2007), a reutilização dessas áreas e edifícios é geralmente caracterizada por novos usos e funções de caráter coletivo e público, com tendência ao saneamento ambiental. E, com a mesma lógica de marketing para conservação de monumentos, os investimentos privados têm grande interesse nesse tipo de intervenção. Num âmbito mais restrito a patrimônio histórico, Alois Reigl, historiador da arte vienense, foi o primeiro a apresentar a distinção entre monumento e monumentos históricos. Sua análise é baseada na oposição de duas categorias de valores: os monumentos de “rememoração”, relativos ao passado e se valem da memória; e os de “contemporaneidade”, pertencentes ao presente. Nesse sentido, o monumento, em seu sentido original, relaciona-se com a manutenção da memória coletiva de um povo, sociedade ou grupo. E assim, defende que os monumentos de valor de uso, os quais o estado de degradação é grande, que a inserção de uma nova função é menos agressiva que manter o edifício em desuso. Esta é uma teoria centrada no fenômeno das persistências dos equipamentos históricos. São detectáveis através conservação das edificações, dos sinais físicos do passado, mas também, através da permanência do seu uso no contexto urbano. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS As edificações históricas no Brasil, consideradas em toda a amplitude e complexidade, se impõem como um dos principais componentes no processo de planejamento e ordenação da dinâmica de crescimento das cidades e como um dos itens na afirmação de identidades. 8 O planejamento regional, que prevê a expansão e crescimentos das cidades, deve remodelar e recuperar as práticas de conservação fundamentadas na história regional, por meio de significados coletivos intrínsecos e estratificadas, ou seja, baseados nas tradições regionais e pertencentes à cultura popular. Como por exemplo, hoje, municípios paulistas como Santos, Campinas, São José dos Campos, entre outros, já contam com seus conselhos municipais para a elaboração das respectivas legislações de proteção. A recuperação deve considerar os efeitos do reequilíbrio e da transformação em escala urbana e territorial, levando em conta o potencial informativo e comunicativo dos edifícios industriais em relação à cidade e os valores históricos e culturais que estes representam para a formação de uma consciência popular. Deste modo, como um sistema contínuo de referências para a transformação, conservação, revitalização ou restauração dos edifícios, o conceito de arquitetura vernacular deve ser considerado dentro do seu contexto, como uma ponte entre a história e a arquitetura, de modo que a fisionomia da cidade seja estudada como um todo, na busca da unidade de paisagem. 8. CONCLUSÃO Cabe ao arquiteto perceber e considerar o potencial informativo e comunicativo da cidade, e perguntar quais idéias ou valores, em suas múltiplas dimensões (simbólica, humana, arquitetônica, urbana, e principalmente, histórica), estruturam a linguagem da cidade, e como isso acontece espacialmente em relação aos vínculos estabelecidos com as concepções de mundo de determinados habitantes inseridos numa cultura específica, ou seja, as múltiplas possibilidades que o espaço pode significar. Para projetar o futuro, na intenção de contribuir, em todas as escalas possíveis, para a justiça social, beleza e qualidade ambiental, devem-se exigir leituras e observações das múltiplas dimensões das cidades, de um passado, o qual não é muito remoto, considerando os patrimônios construídos das cidades da região Norte e Noroeste do estado do Paraná. A quebra dos paradigmas culturais, em relação à conservação dessas construções, exige a reinterpretação do construir em madeira, através da educação patrimonial, ou seja, a conscientização da população, em especial os proprietários, sobre a importância e vantagens da preservação. Além, da introdução de disciplinas sobre Patrimônio nas escolas de primeiro e segundo grau, criação de disciplinas prático-teóricas nas Universidades e campanhas permanentes visando à divulgação sobre a importância do Patrimônio. Alterar esse quadro de rejeição cultural das construções em madeira exige-se, também, o desenvolvimento técnico-científico e procedimentos construtivos, que agreguem benefícios econômicos, adequação as propriedades físicas e resistência mecânica da madeira, tratamentos com produtos preventivos e conservativos, um conjunto de procedimentos técnicos que garantam durabilidade aos componentes utilizados nos processos construtivos. REFERÊNCIAS BARDA, M. Porque conservar. Revista AU, Edição 162 - Outubro/2007. CASTELLO, L. Revitalização de Áreas Centrais e a Percepção dos elementos da memória. Florida, USA. XXII International Congress of the Latin American Studies Association. LASA, 2000. 9 HOFFMANN, A. C. et. al. Capela São Bonifácio e Capela Santa Cruz: a arquitetura religiosa em madeira em Maringá nas décadas de 1930-40. II Seminário Internacional de História. Maringá, UEM, 2005. KOHLSDORF, M. E. Sobre a identidade dos lugares. IPHAN, UFCE Faculdade de Arquitetura e Prefeitura Municipal. Brasília, 1999. LUZ, F. O fenômeno urbano numa zona pioneira: Maringá, PR. A Prefeitura, 1997. MARQUES, C. S. P.; FENATO, F. H.; SILVA, R. H. Eucalipto – Floresta Comercializável: Arquitetura em Madeira, Ambiente e Tecnologia. Londrina, PR. Anais do XI Encontro Brasileiro em Madeira e Estruturas de Madeira, EBRAMEM, 2008. NORBERG-SCHULZ, C. (1980). Genius Loci – towards a phenomenology of architecture. New York, Rizzoli International Publications, Inc. ROSSI, A. 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