INSTRUÇÕES PARA REDAÇÃO DE ARTIGOS PARA IIiSIMPGEU

Transcrição

INSTRUÇÕES PARA REDAÇÃO DE ARTIGOS PARA IIiSIMPGEU
A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DA ARQUITETURA
VERNACULAR
Caroline Salgueiro da Purificação Marques 1
Maurício Hidemi Azuma 2
Paulo Fernando Soares 3
RESUMO
As edificações históricas no Brasil, consideradas em toda a amplitude e complexidade, se impõem
como um dos principais componentes no processo de planejamento e ordenação da dinâmica de
crescimento das cidades e como um dos itens na afirmação de identidades. Em cada período de uma
fase histórica de determinada aglomeração urbana, cada sociedade se diversifica através das suas
edificações, registrando aquela determinada época e suas necessidades decorrentes. Além disso,
cada lugar é carregado de percepções individuais e de sensações próprias, os quais definem as
características daquele determinado espaço, que se faz marcado pela presença protetora do genius
loci, através da arquitetura vernacular, tanto em monumentos históricos, como em instalações
industriais. Assim, a importância da conservação desses monumentos é exemplificada com
edificações histórico culturais nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Paraná que constituem a
história e a identidade dessas cidades.
Palavras-chave: Identidade regional. Instalações industriais. Genius loci. Obsolescência.
Preservação.
1
2
3
Mestranda, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Programa de Pós-graduação em Engenharia UrbanaPEU, [email protected]
Prof. Ms., Universidade Paranaense-UNIPAR, Departamento de Arquitetura e Urbanismo,
[email protected]
Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Engenharia Civil-DEC,
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
O ambiente urbano é o espaço entendido como organização tridimensional dos elementos
que proporciona a orientação do indivíduo, tendo como base à síntese das características que lhe
dão identidade própria. Refere-se ao território, natural ou construído, que significa o nosso
entendimento do meio físico, ou seja, são referências para se criar ou modificar as relações entre os
bens, cuja acuidade não é somente na dimensão estética ou/e física.
O espaço só se torna um lugar no momento em que ele é ocupado pelo homem, física ou
simbolicamente, representado por varias edificações construídas em fases e tempos diferentes
durante o crescimento urbano, que constituem a paisagem urbana como um todo. NORBERG
(1980), cita que “O lugar é a concreta manifestação do habitar humano”.
A cidade como um todo é constituído por uma hierarquização simbólica representada através
dos seus monumentos, edificações, habitações, que se associam e configuram significados e
diferenças, que podem ser criteriosamente delimitados. Determinados bens, que marcam e
configuram a cidade através das suas tipologias arquitetônicas, são heranças que testemunham à
história e cultura de determinada sociedade, os quais devem ser conservados.
Os arquitetos, com suas obras de edificação, ultrapassam a marcação do tempo, enquanto, a
arquitetura vernacular, mais espontânea, revela e interliga sua historicidade à tradição, dando
caráter ou genius loci à cidade (BARDA, 2007). Esta arquitetura vernacular está presente no
patrimônio construído em cidades das regiões Norte e Noroeste do Estado do Paraná. ZANI (2003),
cita que é através das tipologias construtivas trazidas pelos imigrantes colonizadores europeus, entre
as décadas de 20 a 70.
Os projetos de restauração e revitalização não podem se limitar aos monumentos e
edificações históricas, por meio dos conselhos de preservação, os quais estão voltados ao
patrimônio arquitetônico produzido no século XIX. Este artigo trata da importância da conservação
das relações ambiente edificado com o sítio, o genius loci, através das construções vernaculares e
instalações industriais que constituem a história e a identidade das cidades dessas regiões.
Entende-se que adquirir a permanência dos novos edifícios no contexto urbano, é ir além de
atender os aspectos funcionais, econômicos e tecnológicos dos edifícios. Os edifícios expressam,
precisam comunicar e adquirir valores simbólicos iconográficos, alcançados de forma harmônica,
equilibrando eficiência e sustentabilidade e ainda, conservar a memória urbana pela preservação dos
poucos exemplares em madeira construídos no passado.
Fazem-se necessários estabelecer novos vínculos culturais para resgatar a presença dos
edifícios em madeira no cenário urbano regional e alcança-se sua permanência. Tanto a alegação da
importância da conservação dos edifícios históricos vernaculares, como, a produção arquitetônica
contemporânea são ações equivalentes que devem coexistir e sobrepor-se com a finalidade de
aprimorar a qualidade e as condições do espaço urbano, através de um crescimento e planejamento
urbano disciplinado.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - GENIUS LOCI
“As cidades permanecem em seus eixos de desenvolvimento, mantêm a posição dos seus
traçados, crescem segundo a direção e com o significado de fatos mais antigos, muitas vezes
remotos, do que os fatos atuais. Às vezes, esses fatos permanecem idênticos, são dotados de uma
vitalidade contínua, às vezes se extinguem; resta então a permanência da forma, dos sinais físicos,
do locus” (ROSSI, 1995).
Os elementos da memória, do locus e do desenho são as articulações que dão origem a
concepção arquitetônica, os quais, segundo, ROSSI (1995), são capazes de titular a idéia de locus,
de um lugar marcado pela presença protetora do genius loci, o que diferencia, de fato, o espaço.
2
Nesse sentido, a memória do lugar é o resultado de sobreposições das experiências individuais e
coletivas, onde se acomodam signos do arbítrio e da memória.
A recuperação e conservação dos significados volumétricos das edificações vernaculares,
como as instalações industriais, ao invés, por exemplo, da demolição, mantêm a unidade de
paisagem, onde é designado um território de identificações lingüísticas, étnicas e culturais, onde o
fazer e ser a cidade acontece em sua maior plenitude.
A escala de referência para avaliar o impacto da modificação nas intervenções vem indicada
pelo entorno do edifício em que se opera. ROSSI (1995), faz referência à “relação singular e o
embargo universal que existe entre certa situação local e as construções que estão em qualquer
lugar”.
Sob o ordenamento espacial, que deveria ser regido pelas condicionantes ambientais,
desenvolve-se a identidade urbana, onde os edifícios conotam significados ao contexto e se
transformam dentro dos interesses humanos. Apronta, quando não se avalia o equilíbrio do meio.
3. ARQUITETURA VERNACULAR
A arquitetura vernacular é todo o tipo de arquitetura em que se empregam materiais e
recursos do próprio ambiente em que a edificação é construída, caracterizando uma tipologia
arquitetônica com caráter local ou regional. Sendo que, no processo de planejamento e ordenação
do crescimento urbano, as edificações históricas vernaculares são como artefatos na afirmação de
identidades, que é caracterizada pela presença protetora do genius loci.
De acordo com essa abordagem, a importância da conservação não se limita somente a
monumentos arquitetônicos, mas abrange também a arquitetura vernacular, de qualquer época, que
reflete momentos históricos da cidade, relacionando-o à formação e crescimento da sua malha
urbana.
Nessa arquitetura não são reconhecidos estilos arquitetônicos, mas a sua essencialidade
tipológica e morfológica, compreendida como uma arquitetura comum, anônima que constitui a
fisionomia da cidade, e se diferencia de acordo com as expressões e linguagens culturais, o que
diferencia uma cidade e/ou região de outra.
Algumas dessas memórias históricas estão presentes, nos patrimônios construídos nas
cidades colonizadas por companhias que atuaram nas regiões Norte e Nordeste do Estado do
Paraná, durante as décadas de 20 a 70. Infelizmente, estes exemplares em madeira passaram por
acelerado processo de extinção nas décadas de 60 e 70, justamente por representarem o construir
adaptado ao meio, em desacordo com os princípios de modernidade, para o homem universal, das
CIAMs, princípios debatidos no meio acadêmico desde os anos 30 e que refletiram desdobramentos
no planejar e construir dos maiores centros urbanos do país (MARQUES et. al , 2008).
A importância da conservação se atribui aos edifícios públicos e industriais, que ao longo do
tempo conseguiram estabelecer inter-relações entre o espaço urbano e os indivíduos, ou seja,
espaços públicos, privados e semiprivados.
4. IDENTIDADE REGIONAL DAS EDIFICAÇÕES EM MADEIRA
ZANI (2003), defende que, no norte do Paraná, no período compreendido entre os anos de
1930 e 1970, desenvolveu-se uma forma de construir e habitar edificações em madeira, que se
configurou como uma cultura arquitetônica regional. Assim, define o termo como “o processo
construtivo, o vocabulário arquitetônico e o uso das construções por um determinado grupo social,
numa determinada época em uma determinada região”.
Essa especificidade cultural local ocorreu devido a um conjunto de fatores relacionados à
ocupação humana na região. Como comenta ZANI:
3
“Aproveitando os recursos materiais locais, de modo a obter rapidez e facilidade construtiva,
conseguiram criar, com a produção desta arquitetura uma linguagem própria capaz de
expressar uma cultura arquitetônica local, dominando a técnica de trabalhar a madeira e
criando um repertório arquitetônico rico e singular” (ZANI, 2003, p.8).
Através da preservação das edificações em madeira, registra-se o processo de colonização
dessas regiões, do desmatamento das florestas nativas que, a partir da matéria-prima disponível,
possibilitou a construção da cidade primitiva, através das adaptações ao meio e das técnicas
construtivas com um material em larga quantidade no local. Como por exemplo, Umuarama,
Maringá, Cianorte tratam-se de cidades “jovens”, com um passado histórico recente que por vez
está representada nos edifícios existentes como expressão de cultura e de identidade desta região.
“Se, por um lado, a história de uma cidade de menos de 50 anos é, em tese, fácil de
reconstituir, por outro lado, devido à rapidez com que as transformações ocorrem, muito do
que se poderia preservar como fonte de pesquisa se perde. Talvez seja mais fácil obter um
documento sobre o Rio de Janeiro dos tempos coloniais do que a respeito da fase de
implantação de uma cidade pioneira da década de 40, no norte do Paraná. Da mesma forma, os
vestígios materiais que ficaram dessa época são poucos”. (LUZ, 1997, p.7).
Deste modo, expõe a questão temporal, várias transformações que ocorreram muito rápido,
um aspecto importante referente à preservação do patrimônio arquitetônico das regiões citadas. As
primeiras casas de madeira construídas assumem a tipologia mais recorrente e elementar na história
arquitetônica, consistindo no pavilhão com telhado de duas águas, elevado sobre pilotis. A esta
tipologia de habitação unifamiliar, com conceito de Standard igual à reprodução ao módulo-objeto
casa, pensado para atender à sua função prática de morar, com processo construtivo rápido e
simplificado, postura vigente internacionalmente no final do século 20. Esta tipologia arquitetônica
das casas de madeira continua a ser adotada, e mesmo quando passam a ser construídas em
alvenaria de tijolos maciços, obedecem às mesmas tipologias arquitetônicas (MARQUES et. al,
2008).
Para as diversas tipologias edilícias desenvolvidas neste período, destaca-se o aprimorado
tratamento estético e construtivo alcançado em muitos dos exemplares construídos em madeira.
Vários são os fatores sócios econômicos que conduziram à exclusão das técnicas construtivas em
madeira, desenvolvidas na região: o desenvolvimento dos transportes, a relativa escassez da
madeira, as buscas em manifestar as tradições construtivas em alvenaria pelos colonizadores
ingleses e a supremacia nacional das técnicas construtivas em concreto armado e alvenarias,
adotados como símbolos de modernidade e desenvolvimento.
Esses, entre outros fatores, resultam na gradual substituição dos edifícios por novas
construções em alvenaria, muitas delas, até com a mesma forma, alterando apenas as fundações e os
fechamentos, assim, surge à rejeição cultural as construções em madeira. Atribui-se desde então,
conotações pejorativas, baixos valores comerciais e principalmente restrições e impedimentos nas
Legislações Municipais para as novas construções em madeira desconsiderando todo o valor
histórico cultural das técnicas construtivas.
5. EXEMPLARES TIPOLÓGICOS
A capela Santa Cruz foi edificada na região denominada Maringá Velho, em Maringá - PR.
Sua construção data da década de 1940, época em que se fixaram nesse bairro os primeiros
habitantes da cidade, Figura 1. A capela encontra-se protegida por legislação municipal. Sua
preservação foi efetivada através de uma intervenção de restauro, realizada a partir de um laudo
elaborado em 1987. As obras foram concluídas e a igreja inaugurada em 1991, Figura 2.
4
Figura 1 - Elevações externas da capela
Santa Cruz Fonte: HOFFMANN, 2005.
Figura 02 - Elevações externas da capela
Santa Cruz, após a intervenção de restauro
Fonte: AUTORA, 2008.
As construções em madeira, em especial, os edifícios com função simbólica, testemunham na sua
materialidade a habilidade e a qualidade de uma técnica construtiva que foi o suporte da ocupação territorial
das cidades dessa região, como por exemplo, as Figuras 3 e 4, apresentam a Casa da Memória, antiga Igreja
Sagrado Coração de Jesus, em Cianorte – PR e o Teatro Reviver, em Maringá – PR, ambos construídos em
madeira.
Figura 3 - Elevações externas da antiga
Igreja Sagrado Coração de Jesus,
Cianorte-PR Fonte: AUTORA, 2008.
Figura 4 - Elevações externas do Teatro
Reviver – Maringá-PR
Fonte: AUTORA, 2008.
Neste cenário, o uso da madeira, pelos colonizadores dessas regiões assume primordial
importância construtiva por suas características (leveza, mobilidade, facilidade de modulação),
sendo utilizada com funções estruturais e decorativas de ilimitadas possibilidades criativas.
HOFFMANN (2005), afirma que no caso de Maringá, acredita-se que as substituições
constantes das obras de madeira que conformam o tecido urbano estejam vinculadas à forma como
ocorreu a ocupação local, onde essas edificações eram concebidas com caráter provisório. Além das
capelas, impõem-se o desafio de identificar outros testemunhos dessa arquitetura, como as
instalações industriais e adotar medidas urgentes que garantam a sua preservação.
A concepção de provisório parece ter se mantido no imaginário da população local, que
almejava o progresso para a cidade, como nos primeiros tempos da ocupação, esquecendo de
preservar os testemunhos materiais que revelam seus mais de cinqüenta anos de história.
Outro exemplo, da identidade tipológica regional é a capela Imaculada Conceição,
construída na década de 50, em Cruzeiro do Oeste - PR, no bairro Cafeeiro. Foi reformada, apenas a
sua pintura em 1991, e em 2005 foi realizado um levantamento fotográfico e um diagnóstico das
patologias, pelos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paranaense. Vide
Figuras 5 e 6.
5
Figura 5 – Capela Imaculada Conceição,
Bairro Cafeeiros – Cruzeiro do Oeste - PR
Figura 6 – Capela Imaculada Conceição,
Bairro Cafeeiros – Cruzeiro do Oeste - PR
Fonte: UNIPAR, 2005.
Fonte: UNIPAR, 2005.
Os primeiros barracões de café e algodão, utilizados para o beneficiamento na região
Noroeste do estado foram construídos em tijolos aparentes e madeira, essa retirada localmente. Os
exemplares com alto valor arquitetônico em sua composição volumétrica são os complexos
algodoeiros, Figuras 7 a 10, construído na década de 60, na cidade de Umuarama – PR. Estes
complexos documentam a existência dos dois principais ciclos econômicos da colonização na
região, o cafeeiro, até 1975, e o algodoeiro, até 1992, quando a antiga fábrica da Avenida Paraná –
Umuarama, PR é desativada.
Figura 7 - Algodoeira desativada na
Avenida Paraná – Umuarama-PR
(Algoeste) Fonte: AUTORA, 2006.
Figura 8 – Edifício em madeira da Algodoeira
Desativada - Umuarama-PR. (Algoeste)
Figura 9 - Um dos edifícios da antiga
algodoeira localizada na Avenida Ângelo
Moreira da Fonseca - Umuarama – PR
Figura 10 – Antiga Cooperativa
Agropecuária Centro Norte do Paraná
Ltda. (CANORPA) Apucarana – PR Fonte:
Fonte: AUTORA, 2008.
AUTORA, 2008.
Fonte: AUTORA, 2006.
6
As construções de madeira, símbolos do período dos pioneiros, estão sumindo da paisagem e
atualmente se concentram em poucos locais das cidades das regiões Norte e Noroeste do Estado do
Paraná. Várias edificações em madeira foram demolidas, como por exemplo, a Igreja Matriz de
Londrina, edificada em 1934, e a 1ª Catedral de Maringá, essa vide Figura 11. Como também, o
complexo industrial algodoeiro, onde todos os edifícios foram demolidos, Figuras 12 e 13. E
muitas, encontram-se em desuso, seja pelo alto custo do material, seja pela substituição por novas
técnicas de construção.
A preservação dessas construções permite que se salvaguarde o bem cultural – patrimônio
material – e que se valorize a forma de construir na região, ou seja, o patrimônio imaterial. E
apontam à necessidade urgente da realização de inventários, que permitam o registro e a
identificação dos bens passíveis de preservação, seja por seu valor artístico, histórico e/ou cultural.
Figura 11 - Antiga Catedral de Maringá, com a atual em construção, ao fundo
Fonte: HOFFMANN, 2005.
Figura 12 – Vista área da Algodoeira Braswey - Umuarama – PR
Fonte: AUTORA, 2008.
Figura 13 - Algodoeira Braswey - Umuarama – PR Fonte: AUTORA, 2008.
7
6. UMA NOVA FUNÇÃO
Devido às características socioeconômicas da cidade de Umuarama muitos edifícios que
atenderam a demanda da produção de café e algodão tornaram obsoletos, gerando muita área
construída desocupada. Essa falta de utilização gerou a deterioração e demolição de muitas áreas e
edifícios construídos nas décadas de 50 e 60, que incorporaram as suas construções valores
culturais, simbólicos e estéticos, representados pela madeira e alvenaria de tijolos aparentes:
arquitetura vernacular.
“A obsolescência, a perda do valor, e a desativação industrial também pertencem à história
da cidade, seja como fenômeno contínuo de substituição, seja como abandono repentino que
inesperadamente muda a geografia urbana. A obsolescência e a desativação não implicam apenas
uma mudança da distribuição das atividades dentro do espaço urbano. Indicadoras de uma
impossibilidade, a obsolescência e desativação freqüentemente implicam mudança de escalas e de
relações espaciais” (BARDA, 2007).
Pode ser considerado patrimônio, o objeto a ser conservado de acordo com uma revisão
analítica e crítica dos valores e relações que se estabelecem com a cidade. Deste modo, nem todas
as edificações que caracterizaram o período histórico industrial de uma cidade, como por exemplo,
as fábricas, equipamentos, entre outros, são considerados monumentos históricos, porém, mesmo
não possuindo importância arquitetônica significativa, prevalece o valor da história e das
necessidades convenientes de determinada época sobre a estética.
Assim, esses edifícios com características fabris tornam-se disponíveis para novos usos,
caracterizando os projetos de revitalização, que possuem uma precedente infra-estrutura e relações
inter – espaciais com o entorno nas áreas centrais da cidade. O quadro dessa obsolescência e a
desativação industrial citada acima, é revertido, pois as fábricas, galpões e edificações industriais
que eram implantados em terrenos afastados dos centros das cidades, caracterizando a área
industrial da época, encontram-se, hoje, incorporados definitivamente, pelo crescimento urbano
desordenado das cidades colonizadas nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Paraná.
Segundo, BARDA (2007), a reutilização dessas áreas e edifícios é geralmente caracterizada
por novos usos e funções de caráter coletivo e público, com tendência ao saneamento ambiental. E,
com a mesma lógica de marketing para conservação de monumentos, os investimentos privados têm
grande interesse nesse tipo de intervenção.
Num âmbito mais restrito a patrimônio histórico, Alois Reigl, historiador da arte vienense,
foi o primeiro a apresentar a distinção entre monumento e monumentos históricos. Sua análise é
baseada na oposição de duas categorias de valores: os monumentos de “rememoração”, relativos ao
passado e se valem da memória; e os de “contemporaneidade”, pertencentes ao presente. Nesse
sentido, o monumento, em seu sentido original, relaciona-se com a manutenção da memória
coletiva de um povo, sociedade ou grupo. E assim, defende que os monumentos de valor de uso, os
quais o estado de degradação é grande, que a inserção de uma nova função é menos agressiva que
manter o edifício em desuso.
Esta é uma teoria centrada no fenômeno das persistências dos equipamentos históricos. São
detectáveis através conservação das edificações, dos sinais físicos do passado, mas também, através
da permanência do seu uso no contexto urbano.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As edificações históricas no Brasil, consideradas em toda a amplitude e complexidade, se
impõem como um dos principais componentes no processo de planejamento e ordenação da
dinâmica de crescimento das cidades e como um dos itens na afirmação de identidades.
8
O planejamento regional, que prevê a expansão e crescimentos das cidades, deve remodelar
e recuperar as práticas de conservação fundamentadas na história regional, por meio de significados
coletivos intrínsecos e estratificadas, ou seja, baseados nas tradições regionais e pertencentes à
cultura popular. Como por exemplo, hoje, municípios paulistas como Santos, Campinas, São José
dos Campos, entre outros, já contam com seus conselhos municipais para a elaboração das
respectivas legislações de proteção.
A recuperação deve considerar os efeitos do reequilíbrio e da transformação em escala
urbana e territorial, levando em conta o potencial informativo e comunicativo dos edifícios
industriais em relação à cidade e os valores históricos e culturais que estes representam para a
formação de uma consciência popular. Deste modo, como um sistema contínuo de referências para
a transformação, conservação, revitalização ou restauração dos edifícios, o conceito de arquitetura
vernacular deve ser considerado dentro do seu contexto, como uma ponte entre a história e a
arquitetura, de modo que a fisionomia da cidade seja estudada como um todo, na busca da unidade
de paisagem.
8. CONCLUSÃO
Cabe ao arquiteto perceber e considerar o potencial informativo e comunicativo da cidade, e
perguntar quais idéias ou valores, em suas múltiplas dimensões (simbólica, humana, arquitetônica,
urbana, e principalmente, histórica), estruturam a linguagem da cidade, e como isso acontece
espacialmente em relação aos vínculos estabelecidos com as concepções de mundo de determinados
habitantes inseridos numa cultura específica, ou seja, as múltiplas possibilidades que o espaço pode
significar.
Para projetar o futuro, na intenção de contribuir, em todas as escalas possíveis, para a justiça
social, beleza e qualidade ambiental, devem-se exigir leituras e observações das múltiplas
dimensões das cidades, de um passado, o qual não é muito remoto, considerando os patrimônios
construídos das cidades da região Norte e Noroeste do estado do Paraná.
A quebra dos paradigmas culturais, em relação à conservação dessas construções, exige a
reinterpretação do construir em madeira, através da educação patrimonial, ou seja, a
conscientização da população, em especial os proprietários, sobre a importância e vantagens da
preservação. Além, da introdução de disciplinas sobre Patrimônio nas escolas de primeiro e
segundo grau, criação de disciplinas prático-teóricas nas Universidades e campanhas permanentes
visando à divulgação sobre a importância do Patrimônio.
Alterar esse quadro de rejeição cultural das construções em madeira exige-se, também, o
desenvolvimento técnico-científico e procedimentos construtivos, que agreguem benefícios
econômicos, adequação as propriedades físicas e resistência mecânica da madeira, tratamentos com
produtos preventivos e conservativos, um conjunto de procedimentos técnicos que garantam
durabilidade aos componentes utilizados nos processos construtivos.
REFERÊNCIAS
BARDA, M. Porque conservar. Revista AU, Edição 162 - Outubro/2007.
CASTELLO, L. Revitalização de Áreas Centrais e a Percepção dos elementos da memória.
Florida, USA. XXII International Congress of the Latin American Studies Association. LASA,
2000.
9
HOFFMANN, A. C. et. al. Capela São Bonifácio e Capela Santa Cruz: a arquitetura religiosa
em madeira em Maringá nas décadas de 1930-40. II Seminário Internacional de História.
Maringá, UEM, 2005.
KOHLSDORF, M. E. Sobre a identidade dos lugares. IPHAN, UFCE Faculdade de Arquitetura e
Prefeitura Municipal. Brasília, 1999.
LUZ, F. O fenômeno urbano numa zona pioneira: Maringá, PR. A Prefeitura, 1997.
MARQUES, C. S. P.; FENATO, F. H.; SILVA, R. H. Eucalipto – Floresta Comercializável:
Arquitetura em Madeira, Ambiente e Tecnologia. Londrina, PR. Anais do XI Encontro
Brasileiro em Madeira e Estruturas de Madeira, EBRAMEM, 2008.
NORBERG-SCHULZ, C. (1980). Genius Loci – towards a phenomenology of architecture. New
York, Rizzoli International Publications, Inc.
ROSSI, A. A Arquitetura da Cidade. São Paulo, SP. Martins Fontes. 1995.
VIAL, C. A dimensão simbólica da Arquitetura como parâmetro da concepção do espaço
construído: considerações a respeito do habitante, do lugar e do espaço habitado. Pontifícia
Universidade Católica – PUC. Minas Gerais, MG.
ZANI, A. C. Arquitetura em madeira. Londrina: Eduel; São Paulo, SP. Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, 2003.
ZANI, A. C. Arquitetura de madeira no Norte do Paraná de 1930/1970. In: ZANI, Antônio
Carlos; SZMRECSANYI, Maria Irene (Org.). Arquitetura e Cidade no Norte do Paraná. São Paulo,
SP. FAU-USP/UEL, 2003, p.19-28.
ZANI, A. C. Repertório arquitetônico e sistema construtivo das casas de madeira de
Londrina. São Carlos, SP. Dissertação de Mestrado em Tecnologia do Ambiente Construído –
Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo. 1989.
YAMAKI, H. Iconografia londrinense. Londrina, PR. Humanidades. 2003.
10

Documentos relacionados