sustentável correios

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sustentável correios
abril/maio
edição 28
2010
R$ 10
BRASIL
SUS T E N TÁV E L
Impresso
Especial
9912224192 3/8 - DR/RJ
CEBDS
CORREIOS
u m a p u b l i c a ç ã o d o c o n s e l h o e m p R e s a R i a l b R a s i l e i R o pa R a o d e s e n v o lv i m e n t o s u s t e n t á v e l
Em busca do
biobutanol
combustívEis ultraEficiEntEs,
com baixa Emissão dE carbono,
multiplicam nEgócios no campo
o nobEl das
comunidadEs:
Elinor ostrom
princípios
do varEjo
sustEntávEl
9 bilhõEs
Em um
planEta finito
Av. das Américas, 1.155 - grupo 208, 22631-000, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
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v inc u l a d o a o
WOR LD BUSINESS COUNCIL FOR SUSTA INA BLE DE V ELOPMEN T (W BC SD)
PRESIDENTE EXECUTIVA
CHAIR MAN
PRESIDENTE DE HONR A
Marina Grossi
Marcos Bicudo
Erling Sven Lorentzen
C ONse L HO De a Dm i N ist r aç ãO
Carlos eduardo
Garrocho de almeida
Holcim
Franklin Feder
Alcoa
Gilbert Landsberg
Shell Brasil
sidnei Basile
Abril
João Batista
Ferreira Dornellas
Nestlé
marco simões
Coca-Cola
antonio Carlos
manssour Lacerda
Basf
Hélio ribeiro Duarte
HSBC
Di r e t Or i a
Vânia somavilla
Vale
altair assumpção
Grupo Santander Brasil
Jorge soto
Braskem
Wilson santarosa
Petrobras
C â m a r a s t e m át iC a s
ÁGUA
P RESIDENTE: Yazmin trejos
Amanco
VICE-PRESIDENTE:
maria Cláudia Grillo
Petrobras
VICE-PRESIDENTE:
Fábio José Pereira Leme
Itaú Unibanco
FINANÇAS S USTENTÁVEIS
P RESIDENTE: Wagner siqueira
Banco do Brasil
VICE- PRESIDENTE:
Josemar Picanço
Coca-Cola
C OMUNICAÇÃO E E DUCAÇÃO
PAR A A S USTENTABILIDADE
P RESIDENTE: eraldo Carneiro
Petrobras
E NERGIA E M UDANÇA
DO C LIMA
P RESIDENTE: Luís César stano
Petrobras
L EGISLAÇÃO
A MBIENTAL
P RESIDENTE: erico sommer
Gerdau
C ONSTRUÇÕES S USTENTÁVEIS
P RESIDENTE: Carlos eduardo
Garrocho de almeida
Holcim
VICE-PRESIDENTE:
David Canassa
Votorantim Participações
G ESTÃO S USTENTÁVEL
P RESIDENTE: ana Lúcia
suzuki
Basf
B IODIVERSIDADE
E B IOTECNOLOGIA
P RESIDENTE: Gloverson moro
Syngenta Seeds
VICE-PRESIDENTE:
Luiz Fernando Nery
Petrobras
eQU i Pe Ce BD s
Beatriz Bulhões
Fernanda resende
Flávia ribeiro
Leandro Batista
maria Lúcia assunção
Pablo Vázquez
Patrícia Vianna
Phelipe Coutinho
silvana Nocito
sueli mendes
Verônica Oliveira
a s sO Ci a D O s Ce BD s
• 3m do Brasil Ltda.
• abralatas
• alcoa alumínio s.a.
• amanco Brasil s.a.
• amBev – Companhia
de Bebidas das américas
• arcelormittal Brasil
• Bahia mineração
• Banco do Brasil
• Basf s.a.
• Bayer s.a.
• Bradesco s.a.
• BP Brasil Ltda.
• Braskem s.a.
• Caixa econômica Federal
• Chemtech
• Cia. Brasileira
de Petróleo ipiranga
• Cia. energética de
minas Gerais – Cemig
• Coca-Cola
• Copel
• DNV
• eBX
• ecopart
• eletronuclear – eletrobras
termonuclear s.a.
• energias do Brasil
• Furnas – Centrais elétricas s.a.
• Goodyear do Brasil
• Gerdau açominas s.a.
• Grupo abril
• Grupo santander
• HsBC
• Holcim Brasil s.a.
• itaú Unibanco
• Lorentzen
empreendimentos s.a.
• michelin
• monsanto do Brasil Ltda.
• Natura Cosméticos
• Nestlé Brasil Ltda.
• Organização Odebrecht
• Organizações Globo
• Petrobras – Petróleo
Brasileiro s.a.
• Philips
• shell Brasil Ltda.
• souza Cruz s. a.
• solvay do Brasil Ltda.
• suzano Papel e Celulose
• syngenta seeds Ltda.
• tim
• Usiminas – Usinas
siderúrgicas de mG s.a.
• Vale
• Votorantim Participações s.a.
• Walmart Brasil
nesta edição
bRasil sustentável 28
abR/mai 2010
foto dE capa: divulgação unica
imagEm
campanhas publicitárias
ambientais de impacto
notas
a bola-gerador, a camisa verde
canarinho e o voto climático
vida nova
o ciclista militante
e a caminhonete suv
panorama
a educação como antídoto,
o direito e a agrobiodiversidade
rEportagEm
cidades congestionadas:
9 bilhões no planeta em 2050
agEnda
prepare-se para os
eventos de maio e Junho
rEportagEm dE capa
novos biocombustíveis
multiplicam negócios no campo
6
8
12
14
16
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20
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30
34
36
40
42
EntrEvista
elinor ostrom, prêmio nobel
de economia de 2009
rEportagEm
estão surgindo os princípios
do vareJo responsável
lidEranÇa
marco aurélio raimundo,
o presidente hippie da mormaii
ano da biodivErsidadE
os proJetos redd
e o valor das Florestas
fErramEnta
índice Farmasustentável,
o primeiro do setor Farmacêutico
controvérsia
sacolas de plástico
oXibiodegradável reduZem impactos?
BRASIL
S U S T E N T ÁV E L
R EPORT COMUNICAÇÃO
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– 5.o andar – Jd. Paulista –
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CEBDS
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Marina Grossi
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(assistentes de coordenação)
Edição
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Sabrina e Rita Nardy (editores)
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A revista BRASIL SUSTENTÁVEL é
uma publicação do Conselho
Empresarial Brasileiro para o
Desenvolvimento Sustentável
(CEBDS). Os artigos não reletem
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diReto do conselho
RadaR de sustentabilidade
a
economista
Marina Grossi
foi eleita nova
presidente executiva do
Conselho Empresarial
Brasileiro para o
Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS),
pela sua Assembleia
Geral Ordinária, em
abril. Ex-negociadora
brasileira no Protocolo
de Quioto e ex-coordenadora do Fórum Brasileiro de
Mudanças Climáticas, Marina atua no CEBDS desde
2005. Começou como assessora da Presidência e passou à
diretoria da organização, coordenando várias câmaras
temáticas. À Brasil Sustentável, a presidente falou sobre as
novas perspectivas da organização.
o que representa para o cEbds
a alternância na presidência?
Estar no CEBDS me dá a oportunidade de trabalhar com
o que acredito: a importância da sustentabilidade para o
futuro. Essa preocupação ainda ocupa um nicho dentro
das organizações, por isso vale a pena trabalhar com a
vanguarda de cada companhia. Queremos apontar caminhos
para a sobrevivência das empresas, mostrando o quanto é
importante para o setor privado o zelo com essa questão.
Vemos a sustentabilidade como um fator competitivo. É
fundamental ajudar as companhias a perceber o olhar
da sociedade sobre elas. As organizações têm recursos
necessários para mudança, têm disciplina e têm tecnologia.
Tentaremos alavancá-las para que possam gerar efeito
também na cadeia de fornecedores e nos clientes.
Quais os maiores desafios do cEbds?
Tornar o desenvolvimento sustentável uma prática.
Precisamos ter mais participação nas políticas públicas,
prover ferramentas e estimular discussões. Buscamos uma
sinergia entre as boas iniciativas das empresas e as trilhas
sustentáveis. Esta é uma fase positiva para o CEBDS, com
participação intensa dos associados e bom funcionamento
das câmaras temáticas. Queremos aumentar nossa função
estratégica e continuar a ser um radar de sustentabilidade
para as nossas empresas, descentralizando a discussão da
sustentabilidade e alcançando todas as regiões do país.
como mobilizar as empresas e avançar
com a cultura sustentável?
O formato do CEBDS ajuda. O nosso chairman é atualmente
Marcos Bicudo, presidente da Philips do Brasil, e temos
quatro diretores que são líderes do setor privado: Altair
Assumpção (Grupo Santander Brasil), Jorge Soto (Braskem),
Vânia Somavilla (Vale) e Wilson Santarosa (Petrobras).
Além disso, temos o Conselho de Administração, composto
pelas empresas: Abril, Alcoa, Basf, Coca-Cola, Holcim,
HSBC, Nestlé e Shell. Juntos, avaliamos os principais temas
de sustentabilidade. Queremos mais participação das
companhias e envolvimento com a cadeia de fornecedores.
Estamos num processo de reestruturação para conquistar
mais transparência e visibilidade diante do governo e
da sociedade.
o que espera dos próximos dez anos?
Buscamos um paradigma que incorpore a
sustentabilidade nos negócios. Provavelmente, haverá
uma ruptura com os velhos paradigmas. Nesse processo,
haverá ganhadores e perdedores. Não sei se o CEBDS
terá os mesmos associados em dez anos. As companhias
terão de se aperfeiçoar e zelar pelo desenvolvimento
sustentável. Esse caminho não existe sem trauma, sem
competitividade e perda de mercado. O CEBDS apontará
os rumos com projeções, discussões epercepção dos
cenários. Queremos nos aperfeiçoar para aumentar
ainda mais nossa credibilidade. A meta para os próximos
dez anos é conscientizar o governo de que o setor privado
precisa participar das decisões das políticas públicas,
pois só com o envolvimento de um número maior de
pessoas será possível alcançarmos esse novo paradigma
que inclui o desenvolvimento sustentável.
imagem
ilumine só o necessário.
campanha da eskom, áfrica do sul
podEr da imagEm
comentário da diesel italiana
sobre as ameaças climáticas
pressão sobre os eua nas negociações
climáticas. greenpeace
campanhas publicitárias dE impacto mobiliZam mais do QuE
tonEladas dE palavras, EspEcialmEntE Em causas ambiEntais.
a moda faz mais vítimas do
que você pensa. WWF
notas
« e d i ç ão b e t o g o m e s »
t e c n o l o g i a • m u d a n ç a s c l i m át i c a s • F u t e b o l • e d u c a ç ã o
8 [ bs ]
abr/mai 2010
divulgação
depois do jogo,
essa bola é capaz
de acender uma
lâmpada
futwatts
Você sabia que a bola de futebol que rola nos campos
profissionais e na pelada com os amigos pode ajudar
a produzir energia? Um grupo de engenheiras da
Universidade Harvard, nos Estados Unidos, está
desenvolvendo um protótipo de bola que absorve
a potência do chute e a armazena em uma bateria
recarregável, l0calizada em seu interior. O dispositivo
funciona por meio de um sistema semelhante ao das
bobinas indutivas usadas em lanternas que se acendem
com um chacoalhar. Testado em países como África do
Sul e Quênia, o projeto sOccket ball garante que a prática
do esporte, por 15 minutos, com esse modelo de pelota
pode produzir energia para acender uma lâmpada de
LED durante três horas.
grant turner
divulgação
canarinho
verde
A seleção brasileira de futebol
desembarca na África do
Sul com uma nova camisa
canarinho. Os modelos que
serão usados pelos jogadores
foram confeccionados com
poliéster reciclado, gerado a
partir de garrafas PET. O novo
uniforme é 13% mais leve que
a versão anterior e economiza
30% de energia, se comparado
ao fabricado com poliéster
comum. Cada camisa retira
oito frascos de plástico do meio
ambiente, o que, no total,
representará uma economia
de 13 milhões de garrafas
plásticas – quantidade
suficiente para cobrir mais
de 29 campos de futebol.
Outras seleções que irão à
África do Sul também usarão
o uniforme feito com garrafas
PET, como Holanda, Portugal,
Estados Unidos, Coreia do Sul,
Austrália, Nova Zelândia,
Sérvia e Eslovênia.
centro de sydney
antes e depois
do evento
mundo às escuras
o mundo ficou mais escuro em
27 de março de 2010. mais de
1 bilhão de pessoas apagaram
as luzes de suas casas e
escritórios durante uma hora,
em ato simbólico para lembrar a
importância e as consequências
das mudanças climáticas. o
evento a hora do planeta,
criado pelo WWF em 2007,
envolveu governos, empresas
e a população, proporcionando
cenas curiosas nos principais
cartões-postais do mundo.
símbolos como a torre eiffel, o
big ben, o coliseu e as pirâmides
88
do egito ficaram totalmente às
escuras. no brasil, 98 cidades
participaram do ato. Ficaram sem
luz o cristo redentor, no rio de
Janeiro, e a ponte estaiada, em
são paulo. a maior participação
popular foi a dos australianos de
sydney. “a mensagem é simples.
as mudanças climáticas são
uma preocupação crescente.
as soluções estão ao nosso
alcance e prontas para serem
implementadas por indivíduos,
comunidades, empresas e
governos”, declarou o secretáriogeral da onu, ban Ki-moon.
o brasil é o 88º. país no índice de desenvolvimento da educação da
organização das nações unidas para educação, ciência e cultura
(unesco). na pesquisa realizada em 128 nações, o país conquistou
grau 0,883, atrás de panamá, peru, paraguai, bolívia, equador
e honduras (a nota varia de zero, a mais alta, a um). o brasil tem
bons números de atendimento universal escolar, analfabetismo e
igualdade de acesso à escola entre sexos. mas, no número de alunos
que entram na 1º. série do ensino fundamental e concluem a 5ª.
série, o grau baixa para 0,756. “melhorar a qualidade é mais caro
do que colocar a criança na escola”, diz o presidente do movimento
todos pela educação, mozart ramos.
notas
Falsa
inês arigoni
retranca
depois do parque eólico
de osório, os gaúchos vão extrair
mais energia do vento
vento em popa
A matriz energética que mais cresce
no Brasil é a eólica: só no Ceará, a
produção aumentou cerca de 430%
entre 2008 e 2009. O primeiro
leilão exclusivo de energia eólica
do país, em dezembro, contratou
1.805,7 megawatts de energia e
habilitou 71 empreendimentos, a
serem distribuídos em cinco estados.
Ceará e Rio Grande do Sul receberão
a maior parte dos projetos. Com
isso, a capacidade de geração eólica
brasileira será triplicada até 2012.
“O Brasil é o líder na América Latina
e será um centro desenvolvedor
da tecnologia”, diz Santiago Miles,
diretor de comunicação do Grupo
Impsa. Com três parques eólicos no
Ceará e dez em Santa Catarina, a
empresa tem planos de investir
R$ 200 milhões na ampliação
da fábrica no Porto de Suape,
em Pernambuco, onde produz
aerogeradores e componentes.
Outros fabricantes também estão
se instalando no país. A Siemens
pretende investir R$ 200 milhões no
Brasil em 2010, parte na construção
de uma fábrica de turbinas. A
Alstom assinou um protocolo com
o governo da Bahia para construir
uma fábrica de aerogeradores no
complexo industrial de Camaçari,
com investimentos de R$ 50 milhões.
A General Electric norte-americana
começou a fabricar turbinas eólicas
em Campinas, investindo R$ 145
milhões em linhas de montagem.
Em 2004, o país tinha apenas
22 megawatts de energia eólica
instalados; hoje, são 600 MW; até
2010, deverão ser 1.500 MW.
10 [ bs ]
abr/mai 2010
a voz do povo nas urnas
se depender dos eleitores brasileiros, o posicionamento dos candidatos às eleições de 2010 em relação às mudanças
climáticas deve, sim, pesar na escolha do voto. segundo a pesquisa barômetro ambiental 2009, realizada pela market
analysis e divulgada em fevereiro, 66% do eleitorado deve considerar o assunto na hora de definir um candidato. os
eleitores mais jovens (de 18 a 24 anos) são os que mais valorizam o tema: 73% garantem que as políticas em relação
às mudanças climáticas serão a principal exigência eleitoral. outra constatação
diz respeito aos diversos graus de sensibilização entre as classes sociais: 41%
dos que concordaram totalmente ou em parte com a importância do fator
ambiental recebem até dois salários mínimos. essa parcela cai para 8% na
faixa salarial entre quatro e cinco mínimos, 13% na faixa entre cinco e dez
mínimos e 8,26% na faixa entre dez e 25 mínimos. a pesquisa foi realizada
em julho de 2009, com 835 adultos de nove capitais brasileiras.
en er g ia • el ei çõ e s
F eli ci da d e • m o b i liZ ação
pinguE-ponguE
aron belinKY
perseverança
felicidade
interna bruta
O índice Felicidade Interna
Bruta (FIB), desenvolvido no
zen e longínquo Butão, começa a
chegar às empresas brasileiras.
A Natura já iniciou um projeto
piloto com uma versão empresarial
do indicador, elaborada pelo
Instituto Visão Futuro. Cerca de 50
pessoas participaram do processo
e responderam a um questionário
sobre os nove temas centrais
do FIB, como saúde e bem-estar
psicológico. “O índice tem a ver
com a essência da Natura, que é
a ideia do ‘bem estar bem’”, diz
a ouvidora da empresa, Estelita
Thiele. No caso, “bem-estar”
significa a relação do indivíduo
consigo mesmo, e “estar bem”, a
relação com o outro e a sociedade.
Outra companhia que pretende
incorporar o conceito do FIB é a
Icatu Hartford. A empresa está
elaborando um questionário
próprio para avaliar a satisfação de
seus funcionários.
os compromissos que o
brasil assumiu na cop-15
superaram as expectativas,
porém, na prática, ainda
deixam a desejar. é o
que pensa aron belinky,
coordenador executivo do
projeto tictactictac, o braço
brasileiro da campanha
global de ações para
proteção do clima, que tem
como objetivo pressionar as
autoridades governamentais
com mais intensidade para
obter avanços nas questões
climáticas. belinky acredita
que o brasil poderia ter sido
mais assertivo nas propostas
de mudanças, e não esconde
sua decepção com o evento
que reuniu as principais
lideranças mundiais em
copenhague.
Qual a sua avaliação
sobre a cop-15?
de modo geral, uma decepção.
o que ficou claro é que a
questão do clima vai exigir
um grau de compromisso
dos governos não apenas em
conferências ou em relações
internacionais, mas também
internamente, em cada país. o
desafio é tornar mais efetivos
os mecanismos de decisão da
conferência do clima.
E a participação
do brasil?
Foi melhor que as
expectativas iniciais, mas as
ações ainda deixam a desejar.
não há nada de concreto,
e é preciso transformar
compromissos em medidas
concretas aqui no país. o
governo tem um débito a ser
saudado.
no ano passado, a
campanha tinha um foco
muito específico, que era
a convenção do clima.
Ela terá continuidade?
sim, mas deve mudar o
formato. a ideia é continuar
em outras frentes, por prazo
indeterminado, com mais
foco nas políticas públicas,
no comportamento e no
cotidiano das pessoas. a
aprovação da legislação
brasileira sobre mudanças do
clima, por exemplo, precisa
ser regulamentada e exige
posicionamento em diversos
detalhes.
como o senhor avalia
a participação na
campanha?
muitos têm vontade de
participar, mas, ao mesmo
tempo, há certo ceticismo.
vejo um desânimo que detém
a ação de colocar a mão na
massa e ir à luta. o desafio
é conseguir a motivação e
mostrar que, mesmo não
sendo fácil, resultados
acontecem.
vida nova
capa
eneRgia
« e d i ç ão g u s tavo m ag a l d i »
Ricardo corrêa
i n i c i at i va s p e s s o a i s t r a n s F o r m a d o r a s
delijaicov enfrenta o
trânsito de são paulo, de
bicicleta, até de noite.
ciclismo militantE
não é preciso ser urbanista, como o proFessor aleXandre deliJaicov, para adQuirir uma
nova percepção da cidade pedalando. andar de bicicleta signiFica mudar de cultura
12 [ bs ]
abr/mai 2010
RepoRtagem silvia WaRgaFtig
todo peRcuRso deve ser um deleite, e
não a ânsia por chegar logo. Essa é uma das muitas premissas que levaram o paulistano Alexandre Delijaicov a mudar
radicalmente seus hábitos de vida e a adotar a bicicleta como
meio de transporte. Desde 1997, há 13 anos, ele pedala todos
os dias para ir a dois empregos. Delijaicov é arquiteto de Projetos Públicos da prefeitura da capital paulista e professor do
Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, na Universidade de São Paulo (FAU/USP), onde se
formou e cursou mestrado e doutorado. “Sou duas vezes servidor público”, destaca. Especialista em arquitetura de cidades fluviais, em 15 anos percorreu 72 mil quilômetros margeando rios de cidades europeias, sempre de bicicleta. “Lá, o
espaço público tem outro conceito, voltado para o convívio e
o bem-estar social”, descreve.
Delijaicov defende um urbanismo humanista e social, em
contraposição ao “mercantilismo rodoviarista”, como costu-
ma dizer. “Em pouco tempo na história das cidades, 80 anos,
tudo se modificou para se adequar ao automóvel; a escala não
é mais o pedestre, o cidadão e o corpo humano.” Isso, o professor comprova todos os dias, em seus percursos de 8,5 quilômetros até a USP, e de 5,5 quilômetros até o escritório da prefeitura, no centro histórico de São Paulo. As travessias levam cerca
de 40 minutos. O lugar mais perigoso por onde passa, na caótica São Paulo, é a ponte Eusébio Matoso, sobre a Marginal do
Pinheiros. “Foi desenhada para o automóvel. Não tem espaço
para pedestres e ciclistas, iluminação nem limpeza. Quando
passo por ali, tenho de fechar bem a boca para não mastigar a
sujeira que os carros levantam”, relata.
A ponte é uma das únicas vias que não permite um caminho alternativo. Em geral, o arquiteto evita as grandes avenidas, em busca de ruas mais agradáveis e seguras. No caminho, percebe as sutilezas e as violências da cidade, como
pontos de menor elevação, que aliviam o pedalar, e o bafo de
RadaR
ar quente que sobe do chão molhado, depois das chuvas de verão.
Na volta para casa, afirma sentir o cheiro de bife acebolado saindo dos lares, quando “bate aquela fome”. “Percebi que as ruas têm
personalidade, e às vezes o humor delas não está muito bom.”
Percepções como essa, ele jura que só tem quem pedala, por
isso sente falta da bicicleta quando está de férias, e anda mais
a pé. “Posso dizer que adquiri uma amizade não verbal com as
pessoas que encontro no caminho, por meio do contato visual.
Elas sentem minha falta quando não apareço, e eu sinto a falta
delas.” Esse é um dos motivos por que não usa óculos escuros, somente o de grau, que ajuda a proteger os olhos. Outro cuidado é o
de limpar as vias nasais com soro fisiológico quase todos os dias.
No primeiro jato, o líquido sai escuro, conta. “É a poluição que a
gente respira, sai dos escapamentos dos carros.” Mas a saúde, em
geral, vai muito bem. Pedalar ajuda a manter colesterol zero. A
única adaptação necessária para a “mania” foi na alimentação,
que já era isenta de frituras e, agora, conta com mais carboidrato, para evitar a perda de massa magra.
Responsável e metódico, Delijaicov estudou as leis de trânsito. Jamais anda na contramão ou sobe em calçadas. “Faço exatamente o que o código diz. Na faixa da direita, ao lado da calçada,
o primeiro 1,5 metro é reservado para veículos leves não motorizados.” Para ser visto com mais facilidade pelos motoristas, especialmente quando levanta o braço para sinalizar uma curva,
sempre usa camisas brancas de mangas compridas e camiseta
por baixo, que ajuda no controle da transpiração. “Ando devagar
feito uma tartaruga, a 5 quilômetros por hora.” Para os dias de
chuva, leva sempre uma capa e uma calça impermeável.
Carro, ele tem, mas diz que é enfeite na garagem. Utilizado
para emergências e eventuais viagens, o veículo completa seis
anos com apenas 15 mil quilômetros rodados. “Certa vez, o motor
estragou por ficar muito tempo parado.” Na faculdade, Delijaicov é conhecido pela bicicleta azul, barra forte, de 18 marchas,
estacionada na entrada do prédio. “Comprei na liquidação de um
supermercado popular, em Amsterdã. Paguei 350 florins, a moeda da época, que era equivalente ao real”, recorda. “Essa tem paralamas, que são importantes. Nos primeiros meses, usava uma
bicicleta que não tinha e chegava ao trabalho com um rastro de
sujeira nas costas. Parecia um gambá”, ri.
Com segurança, Delijaicov não se preocupa. “As pessoas pensam que o assaltante sou eu. Quando me aproximo dos carros,
à noite, ouço o barulho das portas travando. Nos grandes centros, a bicicleta carrega o estigma da pobreza”, lamenta. É possível mudar a cultura urbana, voltada à velocidade e ao individualismo, diz o professor, desde que as pessoas compreendam as
questões filosóficas envolvidas. Só assim se organizariam naturalmente para desfrutar do que ele chama de “virtudes da densidade urbana”. [bs]
utilitário beberrão
uns dizem que foi
a crise econômica
mundial, outros, os
impactos ambientais,
mas o fato é que a
gm interrompeu a
produção do famoso
jipe-caminhão
hummer. em abril, a empresa anunciou o im de
sua divisão de veículos utilitários. o hummer
pertence à categoria dos off-road ou suv (sports
utility vehicle), que bateram em retirada das
ruas da europa e dos estados unidos depois
das críticas ambientalistas. pelo porte e pelo
peso, os jipões congestionam o trânsito e bebem
combustível com sofreguidão. no brasil, contudo,
as vendas dos gigantes continuam subindo. no
primeiro semestre de 2010, 45.975 unidades
foram emplacadas, contra 39.339 no mesmo
período de 2009, segundo a Federação nacional
da distribuição de veículos automotores. os
importadores não parecem preocupados com
critérios ambientais.
ciclistas internautas
além das ruas,
a internet é
um importante
espaço de
interação para
os ciclistas.
nos últimos
anos, têm se
multiplicado os
sites e blogs sobre o tema, não apenas para unir
os “bikers” como também para engajar novos
adeptos, com dicas e troca de experiências. um
dos exemplos é o portal onde pedalar (www.
ondepedalar.com), que cresceu 30% em número
de cadastrados em 2009. o proprietário do site,
marcelo rudini, criou, em janeiro de 2010, uma
nova rede de relacionamento, a bikers brasil
(http://bikers.ondepedalar.com), que, em três
meses, atraiu 1.250 membros. “o objetivo é
conectar grupos de bikers do país e atrair novos
ciclistas. nestes dois anos, abrimos o leque para
o cicloturismo, a im de incentivar as pessoas a
voltarem a pedalar”, airma.
panoRama
retranca
Falsa
«edição daniela vianna»
i n o va ç ã o • b i o d i v e r s i d a d e • r e c i c l a g e m • i n t e r n e t • e s t r at é g i a
a educação como antídoto
como educar e inovar em
sustentabilidade? o livro
sustentabilidade XXi – educar
e inovar sob uma nova consciência
traz ao leitor exemplos claros
de criatividade, iniciativa
e inovação, demonstrando
como a ciência e a tecnologia,
incorporadas ao setor privado,
podem ser direcionadas para ins
públicos sem causar danos sociais,
ambientais ou econômicos. rodrigo
da rocha loures, fundador da
empresa nutrimental, acredita
que a sustentabilidade é “o novo
nome do desenvolvimento” e uma
oportunidade de crescimento
e de construção de uma nova
sustentabilidade xxi –
educar e inovar sob uma
nova consciência
autor: rodrigo c. da rocha loures
editora: editora gente
páginas: 256 páginas
preço: r$ 59,90
[ livro ]
economia verde. mas, para
tanto, “não se pode ensinar a
usar um bisturi sem ensinar
a diagnosticar a doença”.
a educação é a chave do
conhecimento. na passagem
do século XiX para o XX, o
desaio da economia era
dominar os meios para obter
escala. “Fizemos isso bem
demais e exageramos na
dose” – diz o autor. “temos,
agora, que incorporar
rapidamente o novo
entendimento sob pena de
comprometermos a espécie
humana e sua existência neste
planeta.” |paula andregheto|
14 [ bs ]
abr/mai 2010
o direito e a agrobiodiversidade
agrobiodiversidade e direitos dos
agricultores, de Juliana santilli,
discute os impactos do sistema jurídico
sobre a biodiversidade agrícola,
analisando as consequências da
lei de sementes e de proteção de
cultivares, bem como de acordos
internacionais como o tratado da Fao
sobre recursos Fitogenéticos. o livro
mostra a correlação entre o sistema
jurídico brasileiro e o internacional
em áreas como segurança alimentar,
saúde, sustentabilidade, combustíveis
alternativos e mudanças climáticas.
a autora examina a implementação
dos direitos dos agricultores, diante
de movimentos como o software
livre, os commons e a valorização dos
conhecimentos tradicionais. santilli
é doutora em direito socioambiental
e promotora de Justiça do ministério
público do distrito Federal, com
atuação nas áreas de meio ambiente,
patrimônio cultural, consumidor,
criminal e direitos humanos.
|conrado loiola|
[ livro ]
agrobiodiversidade e
direitos dos agricultores
organiZadora: Juliana santilli
editora: peirópolis
páginas: 520 páginas
preço: r$ 59,00
novidade na web
[ r e v i s ta W e b ]
a business do bem seria um
revista em formato tradicional,
se não fosse publicada na
internet. o modelo híbrido entre
web e impresso apresenta um
design convencional, valorizado
por recursos multimídia, como
hiperlinks, vídeos, animações e
áudios. a versão digital simula o
ato de “folhear” a revista, usando
o mouse em vez das mãos. o
conteúdo apresenta a relação
entre negócios e sustentabilidade,
incluindo temas como mudanças
climáticas e cidadania. há ainda uma
agenda de cursos e eventos, além de
atualidades e produtos inovadores
que estão chegando às lojas. trata-se
de uma boa opção para aprofundar
conhecimentos sobre o tema e
se inteirar a respeito do cenário
corporativo atual, que tenta encontrar
o equilíbrio do tripé economia,
sociedade e meio ambiente. acesse
www.ruscheleassociados.com.br/
business-do-bem |pedro michepud|
upgrade no lixo eletrônico
nas últimas décadas, a indústria de eletrônicos
revolucionou o mundo, dinamizando a comunicação,
a medicina, a educação e outros setores. com
isso, as vendas desses produtos cresceram muito,
gerando grandes problemas para países em
desenvolvimento. o relatório Recycling - From
e-Waste to Resources, do programa das nações
unidas para o meio ambiente (pnuma), aborda
os passos que devem ser seguidos para lidar com
o e-lixo, demonstrando como ele pode afetar o
meio ambiente e a saúde da população. segundo
o documento, esforços informais para reciclar os
eletrônicos não serão suicientes para solucionar
o problema. É preciso uma soma de esforços e de
políticas nacionais e internacionais, com as novas
tecnologias, para facilitar a transformação dos
resíduos em novos recursos minerais. para conferir
o relatório, que leva em consideração dados de
china, Índia, áfrica do sul, uganda, senegal,
Quênia, marrocos, brasil, colômbia, méxico e peru,
acesse: http://tinyurl.com/y4sg2cg
|pedro michepud|
colocando em prática
Estratégia para
sustentabilidade
autor: adam Werbach
editora: campus-elsevier
páginas: 224 páginas
preço: r$ 36,00
[ bs ] 15
sucedidas de empresas como Xerox, nike
e Walmart, dentre outras companhias que
estão obtendo ganhos de longo prazo a
partir da inserção da sustentabilidade na
gestão de negócios. para Werbach, nome
de peso no ramo da sustentabilidade
empresarial, “uma comunidade incapaz de
fornecer o alimento e o bem-estar básico
a si mesma não se manterá por muito
tempo; a turbulência do mundo mostra
que esses fatores são mais do que uma
responsabilidade empresarial”.
|conrado loiola|
[ livro ]
abr/mai 2010
em meio a crises econômicas e escassez
de recursos naturais, a sobrevivência
das empresas depende da elaboração
de uma estratégia de sustentabilidade
sólida. a tarefa, no entanto, não é nada
simples quando iniciada a partir do zero.
em estratégia para sustentabilidade, o
consultor adam Werbach ensina a planejar
uma estratégia de negócios calcada em
sustentabilidade – voltada, é claro, para o
lucro, mas indo além dele, com cuidados
com o meio ambiente e os aspectos sociais.
a publicação relata estratégias bem-
[ estudo ]
r e p o r ta g e m
adeel halim / Reuters
uRbanismo
mumbai, na Índia,
terá mais de 20
milhões de habitantes
cidades
congestionadas
a parceria entre governo, empresas e terceiro
setor é o caminho mais curto para promover
o urbanismo sustentável do Futuro, gerador de
inclusão social e melhor Qualidade de vida
16 [ bs ]
abr/mai 2010
rEportagEm maurette brandt
d
os provávEis 9 bilhõEs de habitantes do planeta em 2050,
3 bilhões estarão vivendo em cidades. As megacidades continuarão a
crescer, e enormes conurbações com mais de 20 milhões de habitantes,
conhecidas como metacidades, surgirão. A geografia urbana mudará, com novos
sistemas regionais: megarregiões, corredores urbanos e cidades-regiões ligando
áreas metropolitanas, pequenas aglomerações e áreas internas de baixa densidade
nas cercanias – que se tornarão os motores da economia. Mas a maior parte da
população urbana continuará a viver em pequenas cidades, com menos de 500 mil
habitantes, ou em cidades intermediárias, com até 1,5 milhão de habitantes.
introduZir Eficiência EnErgética
E novas técnicas na construÇão
civil virou um impErativo para o
dEsEnvolvimEnto urbano
prédios já existentes nem sobre o consumo de shopping
centers – que pode não estar em conformidade com os padrões internacionais. “Isso não está sendo mensurado,
e é um dado essencial para avaliar o perfil de consumo
como um todo”, lamenta Kornevall. “Na verdade, ainda
hoje não conseguimos dados consistentes sobre os projetos da construção civil no Brasil”, diz.
paRceRias Fundamentais
[ bs ] 17
Stéphane Quéré ressalta que qualquer reforma urbana para a sustentabilidade precisa reunir forças
desde o início. “O planejamento e a tecnologia têm
de ser agregados na fase das decisões, porque depois
tudo se torna mais difícil e mais dispendioso, e os cidadãos têm de estar envolvidos, pois serão os maiores
beneficiados”, afirma o executivo.
Para tanto, Marina Grossi, presidente executiva do
CEBDS, prega a união entre o setor privado, a sociedade civil e o governo como única forma capaz de criar
condições para o país avançar na promoção da sustentabilidade das cidades. Algumas ações do programa federal Minha Casa, Minha Vida, voltado para diminuir
o déficit habitacional, e do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC 2), começam a mostrar que é possível
vincular sustentabilidade e baixo custo.
“As cidades geram muita riqueza, mas levam muitos
à pobreza com a distribuição desigual de oportunidades”, constata Christian Kornevall. Todo projeto de sustentabilidade urbana tem de envolver inclusão social,
busca de paz e segurança. “Não se pode marginalizar
as comunidades. Por isso as parcerias são importantes,
para que tudo seja decidido de forma orgânica, buscando
o máximo de eficiência”, afirma o especialista.
Para Marina Grossi, a Copa do Mundo em 2014 e a
Olimpíada, em 2016, serão duas grandes oportunidades para o Brasil alavancar negócios urbanos sustentáveis. O CEBDS e o WBCSD iniciaram entendimentos
com prefeituras com o objetivo de mostrar a importância da sustentabilidade como quesito essencial dos
projetos de infraestrutura urbana. [bs]
abr/mai 2010
Esse é o panorama que emerge dos projetos Iniciativa de Infraestrutura Urbana e Eficiência Energética
em Edifícios, apresentados durante o V Fórum Urbano Mundial – ONU-Habitat, em março, no Rio Janeiro, pelos especialistas Christian Kornevall, diretor
do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), e Stéphane Quéré, vicepresidente de Urbanização Sustentável da empresa
GDF Suez. No mesmo evento, o relatório A Situação
das Cidades do Mundo 2010-2011, da ONU-Habitat,
revelou que cinco cidades brasileiras estão entre as
20 mais desiguais do mundo: Goiânia (em 10º lugar),
Belo Horizonte e Fortaleza (empatadas em 13º), Brasília (em 16º lugar) e Curitiba (em 17º). O Brasil é o país
com a maior distância social da América Latina.
Para mudar esse cenário, um dos desafios do urbanismo do futuro é conter a escalada de consumo dos edifícios,
que, em média, respondem por 40% do gasto global de
energia, água e matérias-primas. Em Nova York, os prédios chegam a absorver 79% do consumo e, em Londres,
60%, ressalta o projeto Vision 2050, desenvolvido pelo
WBCSD. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) já vem dialogando com
o empresariado com o objetivo de sensibilizar empresas
para o desafio de tornar as cidades mais sustentáveis.
A eficiência energética dos edifícios está se convertendo em um imperativo social, afirma Christian Kornevall. Além de reformas nos prédios existentes, principalmente os mais antigos, é importante incorporar
a visão de sustentabilidade aos novos projetos. “Isso só
acontecerá com forte regulação”, salienta o especialista.
“A construção civil é um setor voltado para o lucro imediato. Incluir quesitos sustentáveis nos projetos, desde
o início, implica aumento de custos.” Para tanto, os órgãos reguladores devem definir critérios claros de sustentabilidade: eficiência energética, baixo consumo de
água e utilização de energia de fontes renováveis, como
solar, eólica e outras.
No Brasil, o setor ainda apresenta grande informalidade e não há dados sobre o consumo de energia dos
agenda
retranca
Falsa
«edição FeRnando badô | teXto paul a andRegheto»
s o c i e d a d e • r e l at ó r i o s • m o b i l i d a d e • e d u c a ç ã o
6 dE
maio
iii congresso nacional de
responsabilidade socioambiental
RealiZação: associação brasileira de treinamento
e desenvolvimento do paraná (abtd/pR)
local: parque de exposição ney braga,
londrina (pR)
mais inFoRmações: [tel] (43) 3025.5223
26 a 28 de maio
[site] http://abtdpr.com.br
[e-mail] [email protected]
conferência gri 2010
30 de maio a 2 de Junho
21 e 22 de maio
RealiZação: conselho empresarial brasileiro
para o desenvolvimento sustentável (cebds)
local: Rb1, Rio de Janeiro (RJ)
mais inFoRmações:
[site] www.sustentavel.org.br
challenge bibendum
RealiZação: global Reporting initiative (gRi)
local: amsterdam Rai elicium , amsterdã
(holanda)
mais inFoRmações:
[site] www.amsterdamgriconference.org
RealiZação: grupo michelin
locais: Rio centro e autódromo de
Jacarepaguá, Rio de Janeiro (RJ)
mais inFoRmações:
[tel] (21) 3621.4629 ou (21) 3621.4638
[site] www.challengebibendum.com.br
sustentável 2010
o 3° ciclo de encontros sobre sustentabilidade e gestão
Responsável – sustentável 2010 – reunirá especialistas nacionais
e internacionais para discutir dilemas globais da sociedade e sua
resposta aos desafios socioambientais. neste ano, o ciclo será
composto por três encontros: “cidades e mudanças climáticas”,
em 6 de maio, no Rio de Janeiro (RJ); “comunicação e educação
para a sustentabilidade”, no mês de agosto, em porto alegre (Rs);
e “Rede de mercados inclusivos: uma oportunidade de negócios”,
em novembro, em salvador (ba). as inscrições são gratuitas
e estão abertas para representantes do setor privado,
universidades, ongs e governos estaduais e municipais.
“sustentabilidade XXi: educar e inovar sob uma nova
consciência”. esse é o tema da terceira edição do
congresso nacional de responsabilidade socioambiental,
que tem como missão promover a reflexão sobre a
sustentabilidade. o congresso contará com a presença
de importantes nomes de diferentes segmentos para
discutir assuntos como educação, responsabilidade social
e meio ambiente. as inscrições podem ser feitas no site
até o dia 17 de maio.
a conferência global de amsterdã sobre sustentabilidade
e transparência, promovida pela gri, é o principal encontro
mundial de líderes e especialistas do segmento de relatórios
de sustentabilidade. neste ano, o debate será estruturado em
três eixos: repense, refaça e relate. entre os representantes
brasileiros estará a diretora de sustentabilidade da
bm&Fbovespa, sonia Favaretto, que integrará a mesa de debate
sobre mercado financeiro. além disso, serão divulgados os
vencedores do reader’s choice awards 2010.
como as economias emergentes irão lidar com as questões
da mobilidade rodoviária? realizado desde 1998, o challenge
bibendum é um evento internacional, promovido pelo grupo
michelin, que discute soluções para essa questão. a sua décima
edição irá reunir mais de 2 mil representantes dos setores industrial,
científico, político e administrativo, além de associações e da mídia,
para avaliar quais são os principais desafios encontrados nessa
questão. também será publicado, posterior ao evento, um relatório
baseado nas tecnologias apresentadas e nos debates realizados.
capa
20 [ bs ]
abr/mai 2010
Ricardo coorêa
biocombustÍveis
bEmvindo ao
biobutanol
a eXpansão dos biocombustÍveis atRai
a atenção de multinacionais e de ambientalistas
e multiplica gRandes negócios no bRasil,
entRe eles um etanol 20% mais eFiciente
rEportagEm RobeRto RocKmann
a disparada do preço do petróleo e o debate sobre
o aquecimento global colocaram as fontes limpas de energia no topo da
agenda econômica, ao mesmo tempo em que multiplicaram negócios no setor
sucroalcooleiro. enquanto várias iniciativas trabalham para a conversão do
etanol em commodity, um novo trunfo desponta entre os biocombustíveis à
base de cana-de-açúcar: vem aí o biobutanol, o etanol ultraeficiente.
marcelo min / Fotogarrafa
mario lindenhayn:
a demanda dos
eua e da europa
vai turbinar os
negócios
usina em operação em Goiás. Atualmente, a empresa
aguarda a definição de outro parceiro para construir
sua segunda usina.
O brasileiro Mario Lindenhayn, presidente da BP
Bio Fuels, afirma que o mercado dos combustíveis limpos será implantado globalmente com as demandas
de Estados Unidos e Europa, ao longo dos próximos
anos. “A BP aposta em biocombustíveis de baixo custo,
com baixas emissões de carbono, produzidos em larga
escala e a partir de matérias-primas sustentáveis”, explica o executivo.
eFeRvescência
[ bs ] 21
Por qualquer ângulo que se olhe, o setor sucroalcooleiro
está fervendo com negócios. Em fevereiro passado, a anglo-holandesa Shell fechou um acordo de US$ 12 bilhões
com a brasileira Cosan, concretizando a maior transação
da história de uma petroleira com combustíveis renováveis. Logo depois, a ETH, controlada pela Odebrecht,
anunciou a aquisição da produtora e distribuidora de etanol Brenco e planos para se converter em uma das maiores produtoras de biocombustível do mundo.
abr/mai 2010
Diferentemente do etanol, o novo biocombustível possui
quatro moléculas de carbono, o dobro do álcool combustível, podendo armazenar mais 20% de energia. Outra característica é a não absorção de água, o que permite seu
transporte pelos mesmos dutos usados na distribuição de
combustíveis como a gasolina. Em três anos, o produto
deverá chegar ao mercado, prometendo mais eficiência
aos donos de veículos e à logística dos produtores.
Para desenvolver novos biocombustíveis, as britânicas British Petroleum (BP) e DuPont criaram a joint
venture Butamax, focada na produção de biobutanol a
partir da cana, do milho, do trigo, da celulose e de algas.
“Os Estados Unidos e a Europa têm planos ambiciosos de
reduzir o uso de combustíveis fósseis, o que abre grandes
oportunidades em um futuro próximo”, disse o presidente da Butamax, Tim Potter, no Seminário Sugar and
Ethanol Brazil Conference, realizado em São Paulo, em
março. No evento, o professor José Goldemberg, da Universidade de São Paulo, anunciou que os biocombustíveis, que representam 2% da matriz energética mundial
hoje, “irão crescer e poderão substituir 10% da gasolina
consumida pelo mundo já em 2020”.
“Vamos produzir biobutanol no Brasil com foco
no mercado dos Estados Unidos e da Europa”, afirma
Potter. O biobutanol produzido da cana-de-açúcar é o
mais eficiente e competitivo de todas as culturas testadas pela multinacional. Nas contas do executivo da
Butamax, em 2020 os EUA deverão utilizar 36 bilhões
de galões de biocombustíveis, etanol ou biobutanol. A
União Europeia, que busca converter 10% da sua frota
para a energia renovável, também é vista como mercado importante.
Além da participação na Butamax, a British Petroleum está realizando outros investimentos no setor
sucroalcooleiro. Desde abril de 2008, por meio da BP
Bio Fuels, a empresa se tornou a primeira petroleira
estrangeira a investir no Brasil, adquirindo 50% de
participação na Tropical Energia, que mantém uma
capa
niels andreas
biocombustÍveis
plantação de cana
com proteção de
matas ciliares
22 [ bs ]
abr/mai 2010
para conQuistar mErcados como
altErnativa às EnErgias fóssEis,
a indústria canaviEira tErá
dE assumir um protagonismo
socioambiEntal mais dEcidido
Em março, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos
Estados Unidos classificou o etanol brasileiro como combustível avançado, capaz de reduzir em 61% a emissão de
gás carbônico em relação à gasolina. Também em março,
a União Europeia anunciou que pretende importar etanol do Brasil para diminuir as emissões da sua frota. Em
abril, a BMF&Bovespa deverá concluir a criação de um
contrato futuro de etanol que servirá como parâmetro e
proteção de preços para a negociação mundial.
A participação estrangeira no setor canavieiro pulou
de 7%, em 2007, para 22%, em 2010. Para o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica),
Eduardo Leão Sousa, os movimentos de fusão e de internacionalização impulsionam o processo de “commoditização” do etanol e poderão destravar os obstáculos ainda
existentes. “Isso permitirá maior competitividade, ganhos logísticos e maior capacidade de influenciar os governos dos países para a abertura de seus mercados para
o etanol, que ainda sofre importantes barreiras tarifárias e não tarifárias”, diz Sousa.
mais
Eficiência
índice de energia produzida a partir
de uma molécula
10,0
9,3
energia cana-deFóssil -açúcar
2,0
2,0
trigo
beterraba
1,4
milho
Escala
global
recentes fusões e aquisições no setor
sucroalcooleiro concentram investimentos
1
louis dreyfus + santelisa vale (2009)
dreyfus comprou 60% do controle
acionário da santelisa vale
moagem de cana: 40 milhões de toneladas
investimento: us$ 5,1 bilhões
2
bunge + usina moema (2009)
bunge adquiriu usinas do grupo moema
moagem de cana: 13,6 milhões de toneladas
valor da operação: us$ 1,4 bilhão
3
cosan + shell (2010)
Joint venture
moagem de cana: 52,6 milhões de toneladas
distribuição de 17,5 bilhões de litros de
combustível (terceira maior do mercado)
valor da operação: us$ 12 bilhões
4
Eth + brenco (2010)
Fusão
moagem de cana: 40 milhões de
toneladas em 9 usinas. produção de
3 bilhões de litros de etanol
investimento: us$ 4 bilhões
5
Equipav + shree renuka
sugars limited (2010)
shree renuka sugars comprou 50,8% do
controle do grupo equipav, duas usinas
envolvidas na transação
moagem de cana: 10 milhões de toneladas
valor da operação: us$ 320 milhões
bertin + infinity (2010)
bertin comprou 71% do controle
da infinity bioenergy, cinco usinas
envolvidas na transação
moagem de cana: 6 milhões de toneladas
investimento: não divulgado
Graças ao etanol, ao biodiesel e à energia hidrelétrica,
cerca de 50% da capacidade energética do Brasil se origina de fontes renováveis. Os dados contrastam com os de
outros países: em média, só 13% da energia das matrizes
mundiais vem de fontes limpas. O problema das emissões de carbono pode ser reduzido com facilidade controlando-se o desmatamento na Amazônia. “Hoje, cerca de
65% das nossas emissões estão relacionadas ao desmatamento”, afirma o diretor do departamento de energia do
Ministério de Relações Exteriores, André Aranha Corrêa do Lago. “Isso quer dizer que não são emissões de processos produtivos. Isso nos proporciona grande conforto
para tratar do tema e gera mais oportunidades, já que os
países precisarão limpar sua matriz.”
Detentor de tecnologia e de matéria-prima abundante e competitiva, o Brasil atrai cada vez mais a atenção
das multinacionais agrícolas interessadas em ampliar
a eficiência dos canaviais. “Há espaço teórico para triplicar a produtividade, para 220 toneladas por hecta-
[ bs ] 23
Fonte: unica, itaú bba
Riscos ambientais
abr/mai 2010
6
Embora a EPA norte-americana elogie o etanol brasileiro, as vendas brasileiras esbarram na tarifa de US$
0,54 aplicada à importação de cada galão (3,78 litros),
o que eleva o preço do biocombustível e o torna menos
competitivo. Na União Europeia, sobretaxa-se o etanol
produzido no Brasil em € 0,19 por litro.
A competitividade, entretanto, está ao lado dos canaviais brasileiros. Enquanto o etanol de cana reduz 61%
das emissões de gases de efeito estufa, os combustíveis
a partir de beterraba (Europa) e de milho (Estados Unidos) diminuem 20%. O combustível brasileiro também é
4,5 vezes mais energético do que o produzido a partir de
beterraba ou trigo e quase sete vezes mais eficiente do
que o fabricado a partir do milho.
“O Brasil realmente tem uma vantagem única e
deve se consolidar como um importante player mundial”, diz o presidente da estatal Empresa de Pesquisas
Energéticas, Mauricio Tolmasquim. Em 2003, quando era secretário executivo do Ministério de Minas e
Energia, Tolmasquim assistiu à apresentação de um
dos primeiros veículos flex-fluel do Brasil, da montadora Ford. “Naquele momento, não prestei muita atenção, mas, agora, todos percebemos como essa tecnologia cresceu no Brasil”, diz. Atualmente, 40% da frota
de veículos leves do país circula com tanques a gasolina e álcool e mais de 90% dos carros novos saem das
concessionárias com essa tecnologia.
capa
biocombustÍveis
24 [ bs ]
abr/mai 2010
o avanÇo da
cana-dE-aÇúcar
no cEntro-oEstE
podE Empurrar a
soja E a pEcuária
para a amaZônia
Os ambientalistas não temem o avanço do etanol na
Floresta Amazônica porque sabem que a cana-de-açúcar necessita de seis meses de clima seco para concentrar a sacarose e aumentar a produtividade – uma exigiência inviável no clima equatorial, sujeito a chuvas o
ano todo. O risco é a cultura de cana-de-açúcar avançar
sobre áreas de pecuária do Centro-Sul, empurrando
a criação de gado para a Amazônica. Pesquisa do Greenpeace de 2009 apontou que a pecuária é responsável
por cerca de 80% de todo o desmatamento na região
Amazônica. A cada 18 segundos, um hectare de Floresta Amazônica, em média, é convertido em pasto.
Um segundo risco é a cana deslocar a produção de
soja. “No sul de Goiás, em alguns municípios próximos
a Rio Verde, alguns produtores deixaram de plantar
soja e começaram a cultivar cana. É necessário vigilância, porque a cana pode empurrar a soja e a pecuária
para regiões preservadas”, diz o pesquisador Marcel
Gomes, que elaborou um recente relatório sobre o tema
para a ONG Repórter Brasil sobre o impacto de algumas
culturas no Brasil.
marcelo min / Fotogarrafa
re”, diz o gerente da Monsanto, Eugênio César Ulian. De
olho na demanda global, a multinacional adquiriu a CanaVialis, a maior empresa privada de melhoramento de
cana-de-açúcar do mundo, e a Alellyx, empresa brasileira de genômica aplicada que se dedica ao desenvolvimento de pesquisas com biotecnologia. Com elas, a Monsanto
espera desenvolver mudas mais resistentes e adaptadas
às condições climáticas e de solo das novas fronteiras
agrícolas do Brasil.
Enquanto os Estados Unidos não dispõem de terras para aumentar a produção de milho para etanol e a
União Europeia perderia 70% da área plantada com culturas alimentares se optasse por produzir etanol a partir de trigo ou milho, o Brasil é dono do maior potencial
de terras agriculturáveis no mundo: 60 milhões de hectares, sem entrar na Amazônia.
Os olhos de ambientalistas e cientistas estão voltados
para a Floresta Amazônica, cujas árvores são responsáveis pela absorção de 100 milhões a 400 milhões de toneladas anuais de gás carbônico. Os produtores de açúcar e
álcool também estão atentos a essa questão. “Apoiamos o
Projeto de Lei de Zoneamento Agroecológico, que está no
Congresso e proíbe a expansão de cana em 92,5% do território brasileiro, região essa que inclui não somente o bioma Amazônia, como o Pantanal e outras áreas sensíveis”,
afirma Leão Sousa, diretor executivo da Unica.
O setor já percebeu que sua expansão depende da garantia de que o etanol seja produzido em bases sustentáveis e não gere desmatamento. Em setembro de 2009,
por exemplo, o presidente da Unica, Marcos Jank, escreveu uma carta ao presidente Lula rejeitando as “percepções errôneas sobre a correlação entre biocombustíveis e
desmatamento que ainda persistem”. Nela, reiterou que
o crescimento do setor não está atrelado ao desmatamento e defendeu a preservação das nascentes do Pantanal
ameaçadas pela expansão das usinas de cana-de-açúcar.
Jank, da unica:
apoio à preservação
do pantanal
niels andreas
marcelo min / Fotogarrafa
plásticos à base de
polietileno verde
Yassumoto, da
novozymes: 150
pesquisadores de
etanol celulósico
novas cadeias
Grande parte do etanol é produzida pelas tecnologias de
primeira geração, ou seja, derivadas da reação química a
partir da glucose da cana-de-açúcar. Mas, como o exemplo do biobutanol indica, uma nova geração de biocombustíveis avançados está a caminho, com destaque para a
segunda geração do combustível, baseada em etanol celulósico. Neste caso, o produto é criado a partir da celulose,
que, em vez da cana ou do milho, pode usar inúmeras fontes, cascas de árvores, resíduos vegetais, capim e até pneus
e lixo urbano. O biobutanol também pode ser criado a partir de milho, de trigo, de celulose ou de algas.
O segmento já despertou a atenção da Petrobras, que
investe em pesquisa e desenvolvimento de etanol de segunda geração. Em 2010, deve entrar em operação, no
Rio de Janeiro, uma planta de demonstração da tecnologia, última fase antes do ingresso no mercado. A segunda geração do etanol permitirá aumentar em 60% o rendimento sem a ocupação de um hectare a mais.
Outro fator decisivo para os biocombustíveis é a expansão demográfica. Há 1 bilhão de veículos no mundo.
Em vinte anos, a renda per capita aumentará em países
emergentes, como Índia e China. Espera-se a migração
de 600 milhões de chineses do campo para as cidades.
O número de veículos no planeta deverá subir para 1,4
bilhão, acompanhando os novos hábitos de consumo –
o que vai criar grandes pressões sobre a infraestrutura
urbana e tornar a redução de emissão de poluentes um
problema prioritário.
“Para reduzir as emissões, o percentual de combustíveis fósseis nos transportes deve cair de 81% para 68% até
2030, com os biocombustíveis crescendo e detendo 10% da
fatia mundial do mercado”, diz o gerente de novos negócios da Novozymes, William Yassumoto. A empresa mantém, hoje, 150 pessoas dedicadas ao estudo do etanol celulósico fabricado a partir de qualquer biomassa.
O etanol não avança apenas como combustível, mas
também como matéria-prima da indústria petroquímica, que responde por cerca de 7% das emissões globais de
dióxido de carbono. No polo de Triunfo, no Rio Grande
do Sul, a Braskem está investindo R$ 500 milhões em
um projeto pioneiro para a fabricação de polietileno verde, que entrará em operação no segundo semestre. Com
capacidade de produção de 200 mil toneladas anuais,
consumindo 460 milhões de litros de etanol, a fábrica
transformará álcool em eteno verde, matéria-prima do
polietileno verde, biodegradável, usado em frascos de
xampus, sacolas, potes de iogurtes, tanques de combustíveis e brinquedos.
O polietileno verde apresenta uma enorme vantagem.
“Um quilo de polietileno emite 2,5 quilos de gás carbônico,
enquanto um quilo de polietileno verde captura e fixa 2,5
quilos de gás carbônico”, diz a líder comercial do projeto,
Leonora Novaes. “A expectativa é de que em 2011 alguns
produtos fabricados com o polímero verde já estejam nas
gôndolas”, diz. A Braskem formou uma parceria com a
Novozymes e a Unicamp para estudar a melhor rota tecnológica para fabricação de polipropileno verde. A intenção é de que, a médio e longo prazos, 10% da produção da
[bs]
Braskem seja de fonte renovável.
entRevista
elinor ostrom
John sommers ii / Reuters
ostron: responsabilizar as
comunidades pode dar mais
certo do que confiar no governo
pRêmio
nobel às
comunidades
a n o rte-am eri cana elin o r ostro m , prim eira m u lh er a
gan har o prêm i o n o b el d e eco n o m ia , d e sco b ri u Q u e a
m elh o r e stratég ia para pre servar os recu rsos natu rais
é envo lver as co m u n idad e s na sua man uten ção
entRevista Regina schaRF
modelo que fomente a cooperação e não a competitividade. Mas, para dar certo, o grupo deve ser capaz de
promover e manter um bom diálogo e de estabelecer
normas e penalizações claras, aceitas pelo conjunto
dos participantes. É essencial valorizar o conhecimento tradicional e fomentar a confiança das comunidades na autogestão. Primeira mulher a receber
o Nobel de Economia (dividido com Oliver Williamson, da University of California, em Berkeley), Ostron
falou à Brasil Sustentável sobre o seu trabalho.
brasil sustEntávEl a senhora
verificou que, em muitas circunstâncias,
a comunidade está mais capacitada
para administrar os recursos naturais
do que um governo centralizado.
como é isso na prática?
Elinor ostrom Diferentes grupos manejam
pastagens de tamanho muito variável, onde crescem
plantas de todo tipo. Quando você leva o seu gado
para pastar ali, ele pode reagir de diferentes maneiras. Diante dessas especificidades, a comunidade
tem de aprender ao longo do tempo o que funciona
na prática, quantas vacas podem ser mantidas naquele espaço etc. Também tem de desenvolver regras
compatíveis com essa realidade. No entanto, muitas
vezes o governo intervém e determina que aquele
grupo faça X, Y ou Z quando isso não faz absolutamente nenhum sentido em termos locais.
[ bs ] 27
bs E, por isso mesmo, muitas vezes a
comunidade reage negativamente...
Eo Alguns governos funcionam bem, mas em geral consomem grandes orçamentos. Além disso,
muitas vezes, no momento em que determinam
que algo deve ser feito, as pessoas percebem que,
se descumprirem aquela ordem, não serão pegas. O
número de pessoas que burlam as regras impostas
pelo governo começa a crescer, e as coisas simplesmente não funcionam.
abr/mai 2010
a cientista polÍtica Elinor
Ostrom, vencedora do mais recente Nobel de Economia,
está envolvida até o último fio de cabelo no debate da
sustentabilidade. Professora da Indiana University e da
Arizona State University, a norte-americana dedicou sua
carreira ao estudo multidisciplinar dos chamados “bens
coletivos” e à forma com que eles são administrados.
Os modelos de gestão nacionais ou globais não são,
necessariamente, a melhor solução quando se trata de
recursos naturais, sejam estoques pesqueiros, água,
florestas ou pastagens compartilhadas, defende Ostrom. Em muitos casos, as associações de usuários e
as comunidades estão mais bem posicionadas para
gerir esses recursos com competência, desde que não
tenham de se submeter à ingerência de governos nacionais ou de outras forças externas.
A pesquisa premiada baseia-se em projetos experimentais e em um extenso levantamento de dados colhidos em vários países. Nos Estados Unidos, Ostrom
acompanhou a evolução de comunidades de pesca na
costa Leste e Oeste e a gestão dos recursos hídricos na
Califórnia. Comparou áreas coletivizadas da China e
da Rússia, altamente desertificadas, com os produtivos campos cultivados por tribos da Mongólia, que
seguem o ordenamento comunitário tradicional. Na
África, estudou a administração das pastagens e, no
Nepal, a gestão dos sistemas de irrigação das aldeias.
Também investigou por que certos parques nacionais
da Guatemala floresciam com a distribuição de ingressos de turismo aos vilarejos vizinhos, enquanto
aqueles que optaram por uma gestão que excluía as
populações viam a sua cobertura vegetal minguar.
A diferença está no engajamento das comunidades, que percebem as vantagens de manter as unidades de conservação. Segundo Ostrom, para proteger a
diversidade natural é essencial manter a diversidade
institucional, com espaço para a gestão comunitária,
a tomada de decisões de baixo para cima e, mais importante, criando soluções específicas para cada grupo e cada realidade. Ela é fervorosa defensora de um
entRevista
28 [ bs ]
abr/mai 2010
bs o que torna uma comunidade
bem-sucedida na gestão dos recursos
coletivos? conhecimento, educação,
disponibilidade de crédito?
Eo Não há uma única variável. Há vários elementos a serem considerados, como a diversidade ecológica, o tamanho do sistema, o número de
pessoas envolvidas e os problemas que elas têm
de resolver. Num artigo que publiquei na revista
Science, em julho de 2009, identifiquei dez variáveis relevantes que são frequentemente associadas a essas organizações, como a relação entre o
tamanho do grupo e o volume de recursos disponíveis, o conhecimento de que aquela população
dispõe, a confiança reinante no grupo, a capacidade de utilizar o conhecimento e de chegar a um
acordo sobre como agir.
bs Então a capacidade de construir
consenso e o conhecimento tradicional
são elementos essenciais?
Eo Antes de mais nada, é fundamental que as
comunidades tradicionais não sejam destruídas.
Em boa parte da América Latina e da Ásia, expropriou-se a capacidade delas de se autogovernarem
e a confiança que as pessoas tinham na sua própria capacidade. Mais tarde, se você volta e diz
que agora quer descentralizar o poder, é tarde,
essas populações já não têm a confiança necessária. Daí pode levar um tempo para que sejam
desenvolvidos mecanismos que aprimorem essa
confiança. Muitas vezes o governo não quer gastar tempo nisso nem investir num lugar remoto
trabalhando pelo engajamento daquela comunidade. Eu participei de alguns encontros em que
os representantes do governo apareciam por duas
horas e achavam que isso bastaria. Muitas vezes
o governo se retira, depois de dirigir uma comunidade por 30 anos, deixando para trás uma área
que sofreu enorme degradação e desmatamento
ilegal. A comunidade local tem de assumir a gestão daqueles recursos e têm de encontrar uma
forma de lidar com aquilo. Não dá para partir do
pressuposto de que basta fazer um acordo por escrito. Essas pessoas têm de estar motivadas, têm
de confiar umas nas outras, têm de se comunicar
bem. Só transferir o poder não basta.
bs a senhora chegou a estudar
algum caso brasileiro?
Eo Tenho alunos que são do Brasil. Além disso,
o economista cubano-americano Emílio Moran,
daqui da Indiana University, desenvolveu um
vasto e diversificado trabalho de campo no seu
país. Um dos estudos é sobre a gestão de pequenos lagos da região amazônica, onde é possível
pescar durante parte do ano, mas que dão lugar
à agricultura em épocas de estiagem. Quem vive
na área e conhece esse sistema, às vezes consegue
manejá-lo muito bem.
bs ou seja, a gestão em pequena
escala pode ser bem-sucedida.
Eo As pessoas, muitas vezes, acreditam que a
organização de pequeno porte será ineficiente, e
não é o que vimos nas nossas pesquisas. Durante 15 anos estudamos o funcionamento de bibliotecas públicas nos Estados Unidos e verificamos
que as unidades de pequeno e médio porte são,
em muitos sentidos, mais eficientes e eficazes do
que as grandes bibliotecas.
bs como podemos dar mais poder às
comunidades locais e às associações de
usuários de bens coletivos? podemos
ajudá-los a serem bem-sucedidos?
Eo Nem sempre, mas podemos trabalhar para
que elas se organizem, promover treinamentos,
educar todos. Precisamos de livros que ajudem a
discutir os seus desafios e dificuldades, sobre os
quais elas podem se debruçar para debater como
outros conseguiram ou não superar seus desafios.
bs a senhora propõe a promoção da
diversidade institucional.
Eo Não se trata de um modelo ou de outro, ou só governo ou só comunidade, ou apenas instituições grandes
ou apenas pequenas. O segredo está no desenvolvimento de escalas de diversos portes e diferentes formatos,
que podem trabalhar juntos. Eu insisto na importân-
John sommers ii / Reuters
g e s tão • co m u n i da d e s
as comunidades precisam assumir a gestão dos recursos
com seus próprios meios e do seu próprio Jeito. é preciso
motivação e conFiança mútua . não basta o poder. o
entendimento entre as pessoas é Fundamental
cia da diversidade. Todos nos preocupamos com a
conservação da biodiversidade, mas, se você destruir
a diversidade institucional em meio ao esforço de promover a diversidade biológica, não conseguirá nada.
[ bs ] 29
bs a senhora acompanhou de
perto o caso da pesca na califórnia.
Eo A pesca costeira evoluiu muito nos Estados
Unidos ao longo dos últimos cem anos. Mas, em
dado momento, em algumas partes da Costa Oeste alguns grupos de pescadores decidiram limitar
o volume de pescado retirado do mar. A Suprema
Corte decidiu, então, que isso era ilegal porque estava dando origem a um cartel. Essa decisão foi
um desastre. Uma vez que a mensagem enviada à
comunidade foi a de que o sistema não era legal,
eles começaram a promover a sobrepesca de forma enlouquecida. Com isso, muito da pesca da costa norte-americana foi destruída, sobretudo na
Califórnia e em alguns outros estados.
abr/mai 2010
bs corremos o risco de perder
a diversidade institucional em
decorrência da homogenização dos
modelos de gestão? Estamos perdendo
estratégias interessantes?
Eo Sim, podemos perder muito. Há quem não
entenda o valor dessa diversidade e trabalhe
para eliminá-la. Se visitarmos uma região que
foi governada por um poder central durante 50
anos, talvez ainda encontremos algumas pessoas mais velhas que se lembrarão de parte do antigo modelo de gestão, mas não se lembrarão de
tudo. É o mesmo que ocorre quando perdemos
uma língua. Estamos perdendo os agentes de conhecimento institucional.
r e p o r ta g e m
30 [ bs ]
abr/mai 2010
gestão
o varejo é um canal de
comunicação direta entre
consumidores e produtores
um novo
pacto paRa
o vaReJo
s u p e r m e r c a d o s , ba n co s e
e s p eci a l i s ta s e l a b o r a m ,
J u n to s , u m có d i g o d e co n d u ta
co m o s p r i n cí p i o s F u n da m e n ta i s
d o co m é r ci o r e s p o n sáv e l
[ bs ] 31
a Rota da seda, o conjunto de caminhos
por onde passaram caravanas de aventureiros, comerciantes
e soldados, não foi apenas o único meio de intercâmbio entre
o Oriente e o Ocidente, por mais de mil anos. Espalhado por
desertos, montanhas e rios, o percurso se tornou a principal
avenida comercial do mundo antigo, pela qual circulavam
mercadorias como ouro, marfim, seda, camelos e especiarias, viabilizando o surgimento de grandes civilizações. Para
compreender os rumos do comércio do futuro, há três anos
um grupo de empresas varejistas, fabricantes, instituições
financeiras e pesquisadores discute os princípios que irão
nortear o varejo no século XXI, inspirando novas práticas de
gestão e de consumo consciente.
Em 15 de abril, a Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, encerrou o período de consulta pública sobre os Princípios Fundamentais do Varejo Responsável e o Modelo do Varejo Futuro,
aberto a todos os interessados. A consulta, segundo o site da
instituição, visa discutir a “incorporação de questões ecologicamente corretas, socialmente justas e economicamente viáveis no varejo”. A partir delas, dos debates com especialistas e
da experiência das empresas, a Fundação Dom Cabral pretende consolidar um pacto brasileiro do varejo responsável. “Assim como o Pacto Global, das Nações Unidas, que define um
conjunto de boas práticas corporativas, nossa ideia é difundir
esse pacto do varejo responsável, buscando a adesão das empresas com uma prestação de contas voluntária, criando motivação para mudar o ambiente de negócios”, diz o economista
Paulo Darien, um dos coordenadores do estudo.
Agrupados em uma lista com 16 Princípios Fundamentais
(veja tabela na próxima página), que funcionaria como um Código
de Conduta, as sugestões inspirarão a criação do Observatório
abr/mai 2010
paulo vitale
RepoRtagem daRlene menconi
retranca
paulo vitale
Falsa
Brasileiro do Varejo Responsável, dotado de indicadores e
de pesquisas de tendência, que realizará o monitoramento permanente do setor. Baseado nelas, também será criado um programa de capacitação com o objetivo de educar
e erguer as bases de um comércio justo, que leve em conta
aspectos ambientais e éticos e a relação com fornecedores,
empregados e governo. Desses processos surgirá o Modelo
de Varejo do Futuro, tendo como horizonte o ano de 2020.
32 [ bs ]
abr/mai 2010
impacto social
Boa parte do trabalho foi realizada pelo Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável (CDVR), criado
em 2007 pela Fundação Dom Cabral, com a participação
de companhias do porte de Pão de Açúcar, Grupo Martins e Souza Cruz, dos bancos Santander e Itaú Unibanco e de parceiros como Conselho Empresarial Brasileiro
para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social. “Não estamos falando em ser bonzinhos e fazer uma boa gestão, mas em
criar algo inovador, tendo como estratégia de competitividade a prática da gestão responsável”, argumenta Darien. É questão de tempo até que as empresas passem a
adotar critérios sustentáveis por exigência legal ou por
limitação dos recursos naturais do planeta, ressalta.
Um dos participantes, Hélio Mattar, presidente do
Instituto Akatu, apresentou as razões pelas quais as
o comércio alavanca a
indústria, gerando demanda
por produtos e influenciando as
escolhas dos consumidores
empresas devem trabalhar pela sustentabilidade. A primeira é a ética, o compromisso de devolver à sociedade
o que dela foi extraído, levando em conta os interesses
das partes envolvidas. Em segundo lugar, Mattar aponta o receio da escassez de recursos naturais, que induz
as empresas a não considerarem apenas a dimensão econômica e o lucro, mas também as implicações sociais e
ambientais. A seguir, aparece a pressão dos consumidores, cada vez mais exigentes sobre os produtos que consomem, sua origem e os materiais usados na fabricação.
Dona de 250 mil pontos de venda no país, a Souza
Cruz encarava o desenvolvimento de estratégias sustentáveis para o varejo como desafio. “Descobrimos
que a mudança necessária era de comportamento, isto
é assumir princípios e valores claros”, conta Simone
Veltri, gerente de responsabilidade social corporativa
da empresa. Para a companhia, a criação do CDVR não
foi só uma iniciativa de indústria, mas algo mais amplo. “Trata-se de uma criação coletiva sobre o que deve
ser o varejo do futuro”, explica a executiva. “Pressupõe
a definição de um código de conduta que inclua desde
princípios éticos até treinamento e tratamento de funcionários, cliente, consumidor e com o meio ambiente”.
Um exemplo é o uso das sacolas plásticas. Algumas redes varejistas, como a norte-americana Walmart, anteciparam-se à regulação legal, eliminando-as dos pontos de
venda e assumindo o compromisso de reduzir seu uso. Para
isso, o Walmart oferece desconto para quem dispensar o uso
do saco plástico. Funcionando nas 300 lojas da rede nas regiões Nordeste e Sul, o programa já concedeu R$ 490 mil em
abatimento e reduziu o uso de sacolas em 10%, desde 2007.
O desconto, calculado no caixa, é de três centavos para cada
sacola plástica poupada – ou cinco mercadorias, quantidade
média de produtos embalados em uma sacola.
bons negócios
princípios
do varEjo
rEsponsávEl
[ bs ] 33
1. ética nos negócios
2. transparência nas informações
3. sustentabilidade dos fornecedores
4. boas condições de trabalho
5. operações legais
6. logística sem impactos
7. Qualidade em produtos e serviços
8. bom atendimento
9. marketing sem exageros
10. consumo consciente
11. crédito responsável
12. concorrência colaborativa
13. participação nas comunidades
14. mercados inclusivos
15. autorregulação
16. preservação do meio ambiente
abr/mai 2010
Darien, da Fundação Dom Cabral, avalia que o desafio é aumentar a adesão de empresas ao pacto. “Somos uma escola
de negócios que ajuda o empresário a fazer bons negócios.
Não temos dúvida de que, hoje, isso significa considerar
aspectos sociais e ambientais, além do econômico, seja no
processo, no produto ou na tomada de decisão”, afirma. O
professor cita o exemplo do pacto da carne, também adotado pelo Walmart, que desde o ano passado exige dos frigoríficos da Amazônia a comprovação de rastreabilidade.
Não se compra carne sem conhecimento da origem do boi,
verificada por uma auditoria independente.
O Walmart Brasil foi mais longe. Preocupada com a geração de resíduos sólidos, a rede iniciou em 2008 um processo
de melhoria nos processos de compra, estoque, transporte e
exposição dos produtos nas gôndolas. Héctor Núñez, presidente da rede no Brasil, desafiou 10 fabricantes, de seu universo de 7 mil fornecedores, a analisar a produção de alguns
itens – da matéria-prima ao descarte – em busca de maior
eficiência. “A ideia do projeto é, junto com os fornecedores,
desenvolver produtos que reduzam seus impactos socioambientais durante o ciclo de vida e servir de modelo para o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis”, diz Núñez.
Foram convidadas empresas como 3M, Cargill, Colgate, Coca-Cola, J&J, Nestlé, Pepsico, Procter e Unilever,
responsáveis por 40% dos produtos oferecidos nas lojas
da rede. O papel do supermercado foi dar suporte técnico, do início ao fim da cadeia produtiva, sobretudo em
embalagens. Como moeda de troca, ofereceu garantia de
compra e exposição diferenciada dos produtos mais sustentáveis nas gôndolas das lojas.
Há muito que melhorar ao longo da cadeia varejista. Nas questões analisadas para os Princípios Fundamentais do Varejo Responsável há sugestões de como
as empresas devem agir em relação ao cliente, ao meio
ambiente, aos funcionários, aos concorrentes, aos fornecedores e à sociedade, além de orientação sobre formas sustentáveis de produzir, comercializar e consumir. Entre os temas citados, destacam-se, também, a
transparência na divulgação de produtos, a remuneração justa, a promoção de locais de trabalho seguros, a
concorrência leal, a diminuição do uso de energia e a
exclusão de parceiros que não cumprem as leis.
O capítulo mais complexo é o que diz respeito ao varejo do futuro. “É importante ousar na construção de um
modelo inovador para que as empresas possam se estruturar em direção a um novo mercado, com a adoção de
posturas criativas que vão mudar a lógica de se fazer negócios”, diz Darien.
De acordo com a escola mineira, dentre todos os setores
empresariais, o varejo é o que mais tem poder para estabelecer vínculos com os consumidores, constituindo um canal
efetivo de relacionamento com os produtores. O comércio
ocupa também uma posição estratégica em relação à indústria, ao gerar demanda por produtos e influenciar o consumidor em suas escolhas. Por suas características peculiares
de dimensão, capilaridade e abrangência, o setor reflete a dinâmica econômica dominante na sociedade. Comerciantes e
fornecedores precisam, assim, vender não apenas produtos,
mas marcas de responsabilidade socioambiental.
Compreender o futuro do varejo permitirá conhecer, antecipadamente, as tendências do mercado. O estudo da Fundação Dom Cabral identifica três grandes questões no topo
da agenda do varejo: mudanças climáticas, tratamento dos
resíduos e cadeia de suprimentos. As respostas a elas permitirão criar um modelo de negócios que assegure a sobrevivência das empresas, da sociedade e da natureza.
lideRança
capa
eneRgia
« R e p o R tag e m m i c h e l e s i lva »
e X em p los i n s pi r a d o r e s pa r a m u da r o m u n d o
Ricardo corrêa
maRco
auRÉlio
RaYmundo
Quem? médico pediatra gaúcho, presidente
da mormaii, empresa líder do segmento de trajes
para esportes náuticos.
o Quê? mobilizou a comunidade de
garopaba (sc) promovendo o desenvolvimento
social e a responsabilidade social empresarial.
poR Quê? atraiu a atenção do mundo
34 [ bs ]
abr/mai 2010
dos negócios com a estreita relação da sua
empresa com a comunidade local, lexibilizando
horários de trabalho e concedendo autonomia
para os funcionários.
suRFando na onda dos negócios,
o médico gaúcho Marco Aurélio Raymundo, 61 anos,
foi um daqueles jovens hippies dos anos 70. Ele largou
o estilo de vida que tinha em Porto Alegre e foi curtir
o mar em uma vila de pescadores em Santa Catarina.
Quase quarenta anos depois, Morongo, como é mais
conhecido, virou um empresário de sucesso, inovador e
informal, adepto dos óculos escuros, que transformou a
Mormaii em uma das principais marcas jovens do País.
Hoje, sua empresa produz uma infinidade de produtos
– mais de 600 –, desde trajes de esportes aquáticos
a biquínis, óculos, roupas, acessórios e cosméticos,
exportando para 50 países.
Morongo saiu de Porto Alegre em busca de qualidade de vida e de realização profissional, o que, para
ele, significa também participação social. Em Garopaba, no litoral sul catarinense, encontrou um bucólico
povoado sem água encanada e energia elétrica, onde
montou o primeiro posto de saúde da região. Apesar
de ser pediatra, atendia homens, mulheres e idosos, já
que era o único médico na região. No fim do expediente, pegava a prancha e corria para o mar.
Nos primeiros dois anos, sua casa não possuía energia elétrica. O doutor Morongo recebia galinhas e peixes como retribuição por consultas e tratamentos.
Como o inverno catarinense era um problema para o
surfe, resolveu costurar seu próprio macacão de borracha. A peça fez sucesso entre surfistas e gerou muitos
pedidos de amigos. Assim surgiu a empresa, cujos primeiros funcionários eram pacientes com hanseníase.
“o mundo é dividido EntrE Yin E Yang.
o primEiro é coopErativo, pacifista E
consErvador. o sEgundo, agrEssivo,
compEtitivo E Expansivo. o dEsafio é
pErcorrEr o caminho do mEio”
A fábrica cresceu empregando os moradores da região. A princípio, os trabalhadores precisaram de treinamento. Por falta de máquinas de costura apropriadas, máquinas de costurar calçados foram adaptadas.
Aos poucos, consolidou-se a Mormaii (mistura heterodoxa de Morongo, Maíra, a primeira esposa, e Havaí).
Surfistas de várias regiões começaram a comprar os
macacões e a encher as praias da Ferrugem e do Silveira, as mais famosas de Garopaba. Com eles vieram namoradas, famílias e amigos, impulsionando o turismo
local – hoje, o motor econômico da cidade de 16,7 mil
habitantes, que recebe 40 mil no verão.
A essa altura, Morongo teve de fazer uma escolha:
a carreira de médico ou a de empresário. “As doenças
eram consequências da falta de infraestrutura e das
condições socioeconômicas da região. Percebi que poderia contribuir mais como empreendedor”, explica.
Com o crescimento, a Mormaii tornou-se parte da identidade local. Os vínculos com os moradores permanecem fortes até hoje. Muitos se lembram do tempo em
que o surfista vestia bermuda e jaleco branco para fazer atendimentos e distribuía amostras grátis de medicamentos. Hoje, a empresa tem 220 funcionários diretos, mas considerando as 37 empresas licenciadas da
marca e as 27 lojas exclusivas no país, o número de empregados chega a 10 mil.
[ bs ] 35
Apesar de liderar uma empresa competitiva, que cresce 10% ao ano e se espalha pelo mundo, Morongo não
trabalha 15 horas por dia, seis dias ou mais por semana. Costuma tirar folgas prolongadas e viaja para lugares paradisíacos, como Tailândia e Havaí. Nunca
deixou de alternar o escritório com a praia. O segredo?
“Eu consigo delegar. Às vezes fico dois meses viajando e
abr/mai 2010
compRomisso social
encontro a empresa melhor do que deixei. Se você der
espaço para as pessoas crescerem, pode se surpreender
com elas, porque dar espaço é dar liberdade, e isso induz à criatividade.”
A flexibilização do horário de trabalho é uma marca da Mormaii. Os funcionários têm autonomia para
planejar a rotina e, se o mar estiver bom para o surfe,
chegar mais tarde ou sair mais cedo para aproveitar as
ondas. “É uma pena que as leis trabalhistas não estejam preparadas para esse aumento de consciência, ignorando as rotinas alternativas”, critica. A estratégia
de administração chama a atenção de empresários e de
estudantes que visitam a empresa.
Morongo é descrito como um chefe onipresente, que em
um momento participa de uma reunião para aprovar um
novo produto, e, no instante seguinte, ajuda a cortar a grama do pátio. “Um empresa é feita de pessoas. Ninguém é
contra dinheiro, mas nenhum dinheiro no bolso tem mais
valor do que surfar na hora certa em que rolam altas ondas.
Minha preocupação passa pela qualidade de vida.”
Para resumir sua prática de gestão, nada como a filosofia hippie. “O mundo é dividido entre Yin e Yang. O primeiro
é cooperativo, pacifista e conservador. O segundo, agressivo, competitivo e expansivo. O desafio é percorrer o caminho do meio, o equilíbrio, que é o que perseguimos na nossa
empresa”, ensina.
Do mochileiro que chegou a Garopaba há 40 anos resta
mais que o discurso e a “descontração criativa” adotada na
gestão. Morongo esbanja convicção. “A lógica dos negócios é
muito voltada para o Yang, mas se eu ficasse só no Yin viveria na praça, vendendo chinelinho de palha, e nunca geraria transformação”, argumenta. O neo-hippie de hoje mora
em uma mansão cinematográfica, dá palestras sobre modelos de negócios e viaja pelo mundo em busca da onda perfeita – a próxima. [bs]
série
divulgação
ano da biodiveRsidade
a precificação do
valor da floresta é
fundamental para a
conservação
Quanto vale uma FloResta?
36 [ bs ]
abr/mai 2010
e s ta b i l i da d e c l i m át i c a , c h u va s pa r a a ag r i c u lt u r a ,
at i vo s Fa r m ac ê u t i c o s , e n e r g i a , p o l i n i Z aç ão – o va l o r
da b i o d i v e r s i da d e F l o r e s ta l é i n c a l c u l áv e l . d e t e r o
d e s m ata m e n t o e r e m u n e r a r o s s e r v i ç o s F l o r e s ta i s é o
o b J e t i vo d o s p r o J e t o s r e d d , Q u e s e m u lt i p l i c a m p e l o pa í s
RepoRtagem eliZabeth oliveiRa
o bRasil já tem, em andamento, 17 projetos com base na
metodologia REDD – sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e
Degradação –, que a Convenção da ONU Sobre Mudanças Climáticas deverá
oficializar na 16ª Conferência das Partes (COP-16), no México, em dezembro.
O que poucos se dão conta é que o REDD é um mecanismo importante também para a conservação da biodiversidade, não apenas para a mitigação dos gases do efeito
estufa. Em pleno Ano Internacional da Biodiversidade
da ONU, as 17 ações em processo de planejamento ou de
implementação implicam proteção de 320 mil km2 de
florestas, na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica.
O Brasil exerce papel de liderança na discussão sobre a
valorização das florestas em pé, fundamental para conter
a perda de diversidade biológica, promover a sustentabilidade dos negócios com ativos florestais e assegurar a sobrevivência humana. O impacto das mudanças climáticas
sobre a biodiversidade está entre os riscos percebidos, por
exemplo, pela pesquisa Pegada Florestal, que contou com a
participação de 35 empresas globais com operações que
afetam florestas (veja box na próxima página).
A importância da conservação florestal para a estabilização do clima é clara, mas o seu valor é incalculável e
difícil de precificar. Durante a fotossíntese, as árvores absorvem gás carbônico. Quando são cortadas ou queimadas,
liberam a substância para a atmosfera. Além disso, mantêm o equilíbrio do ciclo de chuvas, favorecendo a formação de nuvens e protegendo as fontes de água, usadas na
energia hidrelétrica e na irrigação. As florestas amazônicas influenciam o regime de chuvas do Centro-Oeste e do
Sudeste, sustentando o agronegócio brasileiro. Mudanças
climáticas globais que afetem o ciclo hidrológico na Amazônia podem provocar perdas na biodiversidade, savanização de florestas, prejuízos na agricultura e escassez de
água para abastecimento.
A iniciativa atraiu atenções e contribuiu para transformar o Brasil em uma importante vitrine internacional de negócios de conservação florestal. A COP-15,
realizada em dezembro em Copenhague, reforçou essa
vocação. “O mecanismo de REDD é uma oportunidade única para viabilizar alternativas de valorização da
floresta em pé”, diz João Tezza Neto, superintendente
técnico-científico da Fundação Amazonas Sustentável
(FAS). A organização, criada em 2007, está à frente da
implementação do projeto desenvolvido na Reserva do
Juma, em parceria com o Governo do Estado do Amazonas. A FAS criou o Programa Bolsa Floresta para remunerar famílias que conservam as áreas florestais. A venda
de créditos de carbono gerados pelo desmatamento evitado é uma das fontes de financiamento. A parceria inclui
o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (IDESAM), atuando no apoio técnico.
A experiência do Juma conquistou o apoio da rede de
Hotéis Marriot, que, em 2007, destinou US$ 2 milhões
comunidade de boa
Frente, na Reserva do
Juma, no amazonas
abr/mai 2010
[ bs ] 37
O Projeto de REDD da Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Juma, no município de Novo Aripuanã, Amazonas, foi o primeiro no mundo a ser validado como ação de Desmatamento Evitado. Foi pioneiro,
também, ao receber a certificação CCBA, da Aliança
Clima, Comunidade e Biodiversidade, emitida pela
certificadora alemã TÜV SÜD, em 2008. Seu objetivo
é de estocar 3,6 milhões de toneladas de carbono, entre 2006 e 2016, gerando inclusão social para 340 famílias que contribuirão para proteger 7,7 mil hectares de
floresta tropical. Até 2050, devem ser negociados cerca
de 189,7 milhões de toneladas de créditos de carbono,
cujo preço internacional, atual, gira em torno de US$ 5
por tonelada.
divulgação Fas
vitRine amaZônica
série
38 [ bs ]
abr/mai 2010
técnicos da spvs
realizam inventário de
florestas no paraná
ao projeto, em quatro anos. Os recursos são oriundos
da compensação de emissões de carbono dos hóspedes (US$ 1 por noite) espalhados por hotéis no mundo
todo. O dinheiro é investido em quatro frentes prioritárias: fiscalização e monitoramento, desenvolvimento social, atividades econômicas sustentáveis para as
comunidades,e pagamento direto por serviços ambientais. Nas comunidades localizadas na reserva, além da
remuneração do Programa Bolsa Floresta, a construção de escolas e o incentivo às atividades econômicas
sustentáveis, como criação de peixes, produção agroflorestal e manejo florestal, evitam o êxodo rural para
as cidades.
O secretário executivo do Idesam, Mariano Colini Cenamo, afirma que os projetos de REDD estimulam a conservação florestal como atividade econômica. “Vejo o
REDD como a maior possibilidade que a gente já teve de
aliar conservação e desenvolvimento no longo prazo”.
Mas a viabilização de uma economia da floresta em pé,
divulgação Fas
sergio moraes/ Reuters
ano da biodiveRsidade
diz ele, demanda mais investimentos e discussão, sobretudo no âmbito da Convenção do Clima da ONU, “embora não restam dúvidas sobre a sua viabilidade”.
Na COP-15, segundo Cenamo, a discussão sobre REDD
foi a que mais avançou. O documento final do Acordo
de Copenhague identifica o REDD como prioridade na
luta pela estabilização do clima, destinando-o a um
fundo independente que já tem compromissos de doação da ordem de US$ 4,5 bilhões, para ajudar a conservação das florestas tropicais. Novas formas de fortalecimento deverão ser discutidas na COP-16. “Um
dos desafios do Brasil é a preparação de um arcabouço
legal para regulamentação do REDD”, diz o secretário
do Idesam. A definição de regras claras para funcionamento desse mercado está sendo discutida a partir de
um projeto de lei proposto pelo deputado federal Lupércio Ramos (PMDB-AM).
Apesar das questões pendentes, o Brasil está apoiando o governo de Moçambique a desenvolver uma ini-
ciativa semelhante ao Programa Bolsa Floresta. Em
outubro de 2009, o governo do Amazonas já remunerou 6,8 mil famílias pela conservação de 10 milhões de
hectares de Unidades de Conservação (UCs) estaduais –
uma área maior do que a de Portugal. “Saímos do referencial teórico para a aplicação prática da metodologia
em relação às comunidades, entre outros aspectos”, diz
João Tezza Neto.
outRas eXpeRiências
No Paraná, em Santa Catarina e na Bahia, a Sociedade de
Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS)
promove um Programa de Desmatamento Evitado visando à preservação de 2,4 mil hectares de remanescentes florestais nativos da Mata Atlântica. O grande alvo é
a conservação das florestas de araucária. Só no Paraná,
onde resta menos de 1% de floresta araucária em bom es-
tado, já foram evitadas as emissões de 250 mil toneladas
de carbono. O esforço, segundo o biólogo Denilson Cardoso, coordenador do programa, é manter as condições florestais de estocagem de carbono e a reprodução dos serviços ambientais, como oferta de água, polinização de
campos agrícolas e proteção da biodiversidade.
O HSBC Seguros é o principal apoiador do programa da
SPVS. A instituição adotou, em 2007, a conservação de
dez áreas, que correspondem a 1,5 mil hectares de florestas nativas nos estados do Paraná e Santa Catarina,
além de uma região de Cerrado com Mata Atlântica, na
Bahia.A experiência brasileira já foi estendida para outros países onde o banco atua, tais como México, Argentina e Panamá. Segundo a SPVS, as divisões de Cartões e
de Eventos do HSBC também adotaram duas áreas, uma
de 83,99 hectares e outra de 45,48 hectares, que somadas
às do HSBC Seguros totalizam 1,6 mil hectares. [bs]
pEgada florEstal
[ bs ] 39
Fernanda Flauzino, gerente de comunicação
do grupo independência, considera que
as ações empresariais para conciliar a
pecuária com a proteção florestal exigem a
conscientização dos fornecedores. “criamos
procedimentos de cadastramento desses
fornecedores para atender aos novos
requisitos legais, principalmente no bioma
amazônia. somos membros efetivos do
grupo de trabalho da pecuária sustentável
e buscamos realizar nosso papel com boas
práticas dentro da cadeia produtiva.”
com atuação em seis estados (sp, mt,
ms, ro, go e mg), o grupo independência
aderiu à pesquisa, segundo Fernanda,
“porque tem ações efetivas para
demonstrar seu comprometimento com a
sustentabilidade”. entre os trunfos da gestão
ambiental estão a reciclagem de 85% dos
resíduos resultantes do abate de cerca de mil
bovinos por dia. as ações evitam o despejo de
108,6 mil toneladas, ou 155 mil metros cúbicos
anuais, de dejetos em aterros sanitários ou
industriais. “isso equivale a 14 campos de
futebol”, acrescenta.
abr/mai 2010
o desenvolvimento econômico também pode
contribuir para a manutenção da floresta em pé.
trinta e cinco grandes empresas que dependem
dos recursos naturais das florestas, e que
mantêm operações que impactam globalmente
a sua sustentabilidade, participaram da pesquisa
pegada Florestal, realizada pela global canopy
Foundation, de oxford, no reino unido, em 2009.
a pesquisa identificou as cadeias produtivas de
biocombustíveis, soja, carne, couro e madeira –
todas com forte atuação no brasil – como as mais
sensíveis para a conservação da floresta em pé.
o documento poderia ser mais amplo se as
217 companhias consultadas tivessem aceitado
participar, informando sobre suas soluções
para minimizar impactos, em vez de apenas 35.
no brasil, foram procuradas 19 companhias,
mas só duas aceitaram responder: o grupo
independência, de são paulo, que atua no setor
agropecuário, e a empresa Fíbria, controlada
pela votorantim e a aracruz celulose,
produtora de papel e celulose. para a canopy
Foundation, a baixa adesão ao levantamento
deve-se à pouca percepção sobre os riscos do
desmatamento e do desequilíbrio climático.
FeRRamenta
capa
eneRgia
« R e p o R tag e m c o n R a d o l o i o l a »
indicadores, selos, normas, guias, certiFicados
e m é t o d o s d e F o m e n t o à i n ovaç ão n a s c o r p o r aç õ e s
Í n d i c e Fa R m a s u s t e n táv e l
nEgócio
saudável
t r e Ze e m p r e sa s Já u sa m o í n d i c e Fa r m a s u s t e n táv e l ,
o p r i m ei r o d o s e to r Fa r m ac êu t i co
40 [ bs ]
abr/mai 2010
o que é?
Elaborado a partir de reuniões com empresas farmacêuticas – num trabalho de planejamento que levou dois anos até
seu lançamento, em 2008 –, o Índice FarmaSustentável é
um indicador de sustentabilidade setorial coordenado pelo
Grupo dos Executivos da Indústria Farmacêutica (Grupemef). A entidade é responsável pelo prêmio Lupa de Ouro,
um dos mais importantes da área farmacêutica, que gerou
a criação do primeiro índice de sustentabilidade aplicável
ao setor. “Criamos no prêmio, em 2004, a categoria de Sustentabilidade. Mas, logo no ano seguinte, entendemos que
premiar ações pontuais não bastava para promover a reflexão do ponto de vista da gestão”, diz Marcelo Weber, diretor
do FarmaSustentável no Grupemef. Segundo Weber, a primeira preocupação do foi tornar o novo indicador fácil de
compreender para os profissionais de negócios. “Se o ponto
principal é a gestão de impactos e de relações gerados e produzidos a partir da área de negócios, o primeiro objetivo é
traduzir as questões de sustentabilidade para esse público”,
explica. Atualmente, o indicador é utilizado por 13 empre-
sas do setor farmacêutico brasileiro, composto por cerca de
450. Segundo Weber, o objetivo é aumentar a divulgação e,
consequentemente, a adesão ao FarmaSustentável.
Qual a vantagem?
O objetivo do FarmaSustentável é oferecer às empresas
um instrumento de autoconhecimento, facilitador da
inserção da sustentabilidade na empresa. Segundo Weber, o Grupemef pretende divulgar, ainda em 2010, o
benchmark básico do setor, com base nas informações de
algumas das empresas que já aplicaram a ferramenta.
“Isso vai permitir que as empresas saibam se o que estão fazendo nessa área vai além ou não do que o mercado tem feito.”
como funciona?
Para aplicar o indicador é necessário responder a um questionário sobre as iniciativas de sustentabilidade da companhia. As perguntas são divididas em cinco aspectos: Maximização do Acesso às Terapias (iniciativas para promover
[ bs ] 41
mas já é uma boa ferramenta de gestão, tendo sido adotado no Relatório de Sustentabilidade da companhia.
“O FarmaSustentável representa um grande salto de
qualidade para a indústria farmacêutica, porque dinamiza a área de negócios.” Tatiane Oyakawa, analista de
Responsabilidade Social na Roche, também aprovou o
recurso, mas observa que os indicadores são “muito numéricos”. “A exigência de respostas quantitativas dificulta um pouco a aplicação. As empresas não costumam
tomar decisões com base nesse raciocínio. Algumas áreas não fazem esse tipo de medição”, explica.
Para Celia Wada, consultora de sustentabilidade
no setor, as questões que mais merecem a atenção, no
Brasil, são a obtenção de matéria-prima, o tratamento
dispensado aos funcionários de laboratórios e a preocupação com o bem-estar do cliente diante das reações
adversas dos medicamentos – a chamada farmacovigilância. “Normalmente, os medicamentos têm impactos positivos, mas, às vezes, com pesquisas, é possível alterar o radical de algum medicamento e reduzir
efeitos prejudiciais ao paciente.” A adequação do pós-consumo aos princípios de sustentabilidade é outra
obrigação da empresa. “O fabricante é responsável por
orientar o consumidor sobre o descarte do produto que
disponibiliza no mercado.” [bs]
abr/mai 2010
a ampliação do acesso da população aos medicamentos);
Engajamento de Públicos de Interesse (canais de contato e comunicação com pacientes, ONGs, parceiros, classe
médica, mídia etc.); Inovação (melhoria de práticas em
produção, logística, distribuição e negócios); Estímulo ao
Consumo e Prescrição Responsáveis (medidas para evitar
o consumo inadequado de seus produtos); e Meio Ambiente (respeito e cuidados com o meio ambiente em todas as
etapas da cadeia produtiva).
Cada um desses aspectos é subdividido em subitens
que aprofundam o entendimento da questão, incluindo sugestões de práticas. Conforme a empresa registra
as iniciativas, vai marcando pontos, num total de 100.
Quando não possui nenhuma iniciativa no tópico especificado, não marca pontos. Com isso, a empresa adquire uma visão geral de suas atividades na área de
sustentabilidade, o que facilita o planejamento estratégico. “Como é dividido por aspectos, a empresa pode
avaliar se está deixando de dar atenção a alguma área
ou se está concentrando esforços em uma área que não
é diretamente relacionada ao impacto de suas operações”, complementa Weber.
Para Rosicler Rodriguez, gerente de Responsabilidade Social da Roche, uma das empresas que usam o FarmaSustentável, o índice ainda pode ser aprimorado,
christopher gmuender
para a Roche, o
Farmasustentável
representa um
salto de qualidade
Falsa
contRovÉRsia
retranca
« e d i ç ão R i c a R d o a R n t»
opiniões divergentes sobre temas polêmicos
sacolas de plástico oXibiodegRadável
ReduZem os impactos ambientais?
42 [ bs ]
abr/mai 2010
sim
não
“O plástico oxibiodegradável seria uma solução não somente para as sacolas, mas para todas as embalagens
plásticas inadequadamente descartadas no meio ambiente, não recicladas. Desde 2004, a norma do Guia
Padrão de Exposição e Testes de Plásticos confirma que os
plásticos se degradam no meio ambiente combinando oxidação com biodegradação. Os testes informam
se o plástico é degradável, biodegradável e não tóxico.
No Brasil e no exterior, universidades, laboratórios e
centros de pesquisa renomados, independentes e creditados testaram a tecnologia chamada oxibio d2w e
comprovaram sua eficácia e segurança, inclusive no
contato com alimentos. O d2w é um aditivo que age na
decomposição das moléculas de carbono, podendo ser
adicionado a polietileno, poliestireno ou polipropileno, em conformidade com as resoluções da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. Mais de 90 países
produzem o plástico oxibiodegradável com essa tecnologia. No Brasil, já são 260 indústrias. Os produtos
podem ser reciclados com outros de plástico convencional ou produzidos a partir de plásticos reciclados. São
idênticos aos convencionais, com a diferença única de
se decomporem mais rápido, sem deixar resíduos nocivos – no caso de uma sacola típica de supermercados, o
tempo estimado é de 18 meses. Por essas razões, a tecnologia é uma alternativa baseada nos pilares da sustentabilidade para diminuir os impactos ambientais
de embalagens. A escolha é um primeiro passo. O ideal
é que as pessoas e as indústrias se conscientizem quanto ao consumo responsável, à utilização e ao descarte.”
“Muitos acham que os plásticos ditos oxibiodegradáveis
poderiam ser jogados fora sem causar danos ambientais.
Não é verdade. Trata-se de plásticos meramente oxidegradáveis ou fragmentáveis, que não se decompõem
como prescrevem as Normas Técnicas nacionais e internacionais. Eles se dividem em pedacinhos e, no fim do
processo, transformam-se em um pó que facilmente se
espalha pelo solo, pela água e pelo ar. Nossa geração poderá beber, involuntariamente, plástico oxidegradável
misturado à água, assim como os animais silvestres e de
criação, causando sérios danos ambientais. Os fatos são
comprovados pela Universidades de Michigan e da Califórnia, e Mackenzie, no Brasil, dentre outras. De acordo
com elas, os fragmentos depositados no solo não podem
ser coletados, reciclados mecanicamente ou recuperado
energeticamente. O que a população pode e deve fazer
é praticar os 3 R’s: reduzir o desperdício de sacolas; reutilizá-las; promover a coleta seletiva e reciclar. O poder
público pode ajudar, aumentando a coleta seletiva municipal dos resíduos urbanos, pois só 7% das cidades brasileiras têm esse tipo de serviço. Algumas importantes
redes de supermercados já fazem sua parte ao usarem
sacolinhas resistentes, fabricadas dentro das normas
técnicas, que, com ciclo de vida prolongado, reduzem o
consumo total em 30%. Os plásticos são duráveis, leves,
impermeáveis, atóxicos, inertes, não mofam nem enferrujam. São indispensáveis à vida moderna. Se o material é tão bom e provém do petróleo, que é um recurso
finito, jamais deveria receber um aditivo que acelera a
fragmentação, impedindo o reúso.”
e d u a r d o v a n r o o s t , diretor da res brasil
(plásticos com ciclo de vida útil controlado)
F r a n c i s c o d e a s s i s e s m e r a l d o , engenheiro
químico, presidente da plastivida instituto sócio-ambiental dos
plásticos
Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável.
Junte-se a nós e descubra que as ideias do varejo para ajudar o planeta
podem ir muito além das ecobags e das garrafas retornáveis.
O varejo tem papel decisivo na promoção da sustentabilidade no planeta. É fundamental que o setor comece
a adotar práticas de desenvolvimento sustentáveis. Tendo isso em mente, a Fundação Dom Cabral criou o CDVR –
Centro de Desenvolvimento do Varejo Responsável, uma iniciativa pioneira focada na gestão responsável
e na sustentabilidade, com o objetivo de pesquisar, avaliar, descrever e incentivar o desenvolvimento dos temas
ligados à responsabilidade das empresas do setor de varejo e de sua cadeia de suprimentos. A ideia é favorecer
a adoção dos princípios do consumo consciente, bem como criar um compromisso ético com as grandes
questões demandadas pela sociedade.
Cuidar do planeta é um dever de todos e sua empresa precisa fazer parte dessa iniciativa.
Ligue para 4005
9200 (capitais) ou 0800 941 9200 (demais localidades)
e faça parte do CDVR. Se preferir, mande um e-mail para
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Empresas associadas:
Pão de Açúcar | Fecomércio | Banco Santander | Souza Cruz | Ademig | Grupo Martins | Repense Comunicação | Sebrae MG | Itaú Unibanco

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