Tecnologia, Inovação e Sustentabilidade
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Tecnologia, Inovação e Sustentabilidade
Coluna Tecnologia, Inovação e Sustentabilidade Allan Lima Analista de Projetos do CGDT/ FUCAPI [email protected] Resíduos oleosos em usinas termelétricas: um exemplo de reutilização A crescente demanda por energia elétrica, mesmo refletindo o desenvolvimento de um país, tende a gerar aspectos negativos que se tornam menores ou maiores a partir da matriz responsável pela sua geração. Na região Norte, mesmo com um baixo consumo se comparado com outras regiões do país e um potencial hídrico inestimável, a geração de energia por queima de combustíveis fósseis está presente em quase todos os estados. Esta utilização está atrelada mais diretamente à infraestrutura dos chamados “sistemas isolados” do que com a preocupação ante a poluição causada e o impacto desta atividade nos ecossistemas quanto aos seus efluentes e resíduos. As mais de 250 termelétricas existentes na região lançam na atmosfera enormes quantidades de gases intensificadores do chamado “efeito estufa”, causando diversos problemas ambientais e principalmente o aquecimento global. Estas usinas consomem, mensalmente, cerca de 180 milhões de litros de óleo diesel, gerando uma poluição atmosférica que comparativamente é o dobro da gerada pela frota de carros da cidade de São Paulo, por exemplo, desencadeando uma logística cara e de difícil execução. Para se ter uma ideia, estima-se serem gastos dois litros de óleo diesel para movimentar os petroleiros para cada litro transportado para a região Norte, dependendo do local da termelétrica. Muitas das ações de mudança da matriz energética para acabar com a dependência de óleo diesel na Amazônia são cercadas de conflitos entre os diversos agentes dependentes do recurso natural mais afetado (água, no caso de construção de hidrelétricas), beneficiários do desenvolvimento e melhoria da geração e distribuição de energia, das entidades de proteção ambiental ou de ambos. E ainda no campo das possibilidades, a energia eólica só pode ser aproveitada no Amapá, e a solução mais rápida, apesar de cara, são os painéis fotovoltaicos em comunidades ribeirinhas, que poderiam substituir o uso do óleo diesel por completo. Os resíduos oriundos dos processos de queima de óleo combustível para geração de energia também são extremamente agressivos ao meio ambiente, onde os gases decorrentes desta atividade causam poluição atmosférica e na condição de efluentes afetam principalmente o solo e os recursos hídricos, devendo ser cuidadosamente tratados e direcionados para uma correta destinação final. Em parceria com a BREITENER Energética S.A. e ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) a FUCAPI está concluindo um projeto de análise e tratamento de resíduos oleosos utilizados na geração de energia em uma usina termelétrica. Em linhas gerais, as tecnologias mais comuns já empregadas são o correto detalhamento do sistema gerador e caracterização do resíduo, seguido da utilização de separador de água e óleo (S.A.O.) e equipamentos específicos para “quebrar” a chamada emulsão oleosa, afastando o óleo da água efluente e outros contaminantes. Porém, estas mesmas atividades necessitam de manutenção adequada e maiores investimentos em pesquisa, principalmente no processo de reaproveitamento, sendo estes os principais objetivos da FUCAPI e seus parceiros: agregar ao óleo combustível tratado um uso mais nobre, que é o de reintroduzi-lo no processo de geração de energia, expandindo a capacidade de recolhimento e reuso do resíduo, dotando-o de melhor valor comercial e diminuindo perdas de produtividade. Estes resultados imediatos geram grandes benefícios quanto aos aspectos econômicos e ambientais, da mesma forma que ocorre com os óleos lubrificantes em termos de exigências legais. Disseminado em larga escala, esse ciclo de reuso tornará parte da cadeia geradora mais eficiente e perfeitamente aplicável à severa condição atual da região amazônica, que é a de total dependência dos combustíveis fósseis.