Educação Patrimonial no Parque Nacional Serra da Capivara
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Educação Patrimonial no Parque Nacional Serra da Capivara
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ (UESPI) CURSO: PEDAGOGIA CAMPUS ARISTON DIAS LIMA MARLENE DOS SANTOS COSTA Educação Patrimonial no Parque Nacional Serra da Capivara - PI São Raimundo Nonato 2011 1 MARLENE DOS SANTOS COSTA Educação Patrimonial no Parque Nacional Serra da Capivara - PI Monografia apresentada na graduação do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, pela Universidade Estadual do Piauí, Campus de São Raimundo Nonato, como requisito para obtenção de conclusão do curso. Orientador: Prof. Dr. Clódson dos Santos Silva São Raimundo Nonato 2011 2 MARLENE DOS SANTOS COSTA Educação Patrimonial no Parque Nacional Serra da Capivara - PI Monografia apresentada na graduação do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, pela Universidade Estadual do Piauí, Campus de São Raimundo Nonato, como requisito para obtenção de conclusão do curso. COMISSÃO EXAMINADORA ________________________________________________________________ Examinador presidente da Banca: Dr. Clódson dos Santos Silva ________________________________________________________________ Examinador: Me. Francisco Antonio de Vasconcelos ________________________________________________________________ Examinadora: Especialista Gláucia Barradas dos Santos 3 FICHA CATALOGRAFICA COSTA, Marlene dos Santos. Educação Patrimonial no Parque Nacional Serra da Capivara – PI Marlene dos Santos Costa. – 2011. 61f. Orientador: Prof. Dr. Clodson dos Santos Silva Monografia (graduação) Universidade Estadual do Piauí, 1. Educação: educação Patrimonial SÃO RAIMUNDO NONATO 2011 4 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus, por ter me dado força e paciência. Em segundo ao meu orientador prof. Dr. Clodson dos Santos Silva pelo estimulo e dedicação, e por terem acreditado no objeto de estudo escolhido e me dado suporte para ir até o fim. A universidade Estadual do Piauí campus de São Raimundo Nonato-PI. A todas as pessoas que tornaram está pesquisa possível com suas contribuições no campo da pesquisa. 5 EPIGRAFE “Caverna Houve um dia no começo do mundo em que o homem ainda não sabia construir sua casa. então disputava a caverna com bichos e era aí sua morada deixou para nós seus sinais, desenhos desse mundo muito antigo. Animais, caçadas, danças mistérios e rituais que sinais deixaremos nós para o homem do futuro”? (Roseane Muray) 6 RESUMO COSTA, Marlene dos Santos: Educação patrimonial no Parque Nacional Serra da Capivara; 2011, 61 f, (graduação em Pedagogia). UESPI São Raimundo Nonato-PI/ 2011. Este trabalho tem como objetivo analisar as atividades voltadas para a educação patrimonial desenvolvidas no Parque Nacional Serra da Capivara – PI, pela Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN) instituições de manutenção, proteção e conservação que administram o Parque. O Parque nacional Serra da Capivara localizado no Sudeste do Estado do Piauí, com uma área de 129.140 hectares, é o único Parque Nacional completamente dentro do bioma caatinga, além disso, abriga espécies animais endêmicos ameaçados de extinção além de possuir uma enorme concentração de sítios arqueológicos significativos para o estudo do povoamento das Américas. Com a sua importância nos diversos setores que compreende a cultura, a arqueologia, a fauna e flora, em 1991 foi declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, dois anos depois foi inscrito no Livro de tombo Arqueológico Etnográfico e paisagístico pelo IPHAN. Desde a criação do PARNA da Serra da Capivara no final da década de 1970 vem se desenvolvendo na região uma série de experiências voltadas para a educação patrimonial, como fonte de estratégia da preservação cultural e ambiental e meio de aproximação, entre comunidades do entorno do Parque e as instituições que administram o PARNA. Dentre os muitos trabalhos socio-educativos que foram realizados pela FUMDHAM, ICMbio e IPHAN no entorno do PARNA selecionamos alguns desenvolvidos pela FUMDHAM nesse caso foram os Núcleos de Apoio as Comunidades (NACS) que incluía escolas de ensino em tempo integral instaladas para beneficiar cinco comunidades vizinhas ao Parque com o apoio de instituições multinacionais; o Museu do Homem Americano; uma terceira ação para análise foi o Pró Arte FUMDHAM, projeto sócio educativo ainda ativo no centro de São Raimundo Nonato. O trabalho em questão foi dividido em três capítulos: o primeiro capitulo está subdividido em dois tópicos, o primeiro tópico enfatizará a educação patrimonial por via histórica das cartas patrimoniais; o segundo tópico fará um breve histórico das cartas patrimoniais e as políticas de preservação do patrimônio. No segundo capitulo também dividido em dois tópicos o primeiro tópico abordará a educação patrimonial na serra da capivara; e o segundo tópico o patrimônio e a identidade na serra da capivara. O terceiro capítulo analisará a relação da comunidade do entorno do PARNA, enfatizando as ações de educação patrimonial na região. Palavras chaves: Parque Nacional Serra da Capivara, Educação Patrimonial, preservação. 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS PARNA UNESCO PARNA da Serra da Capivara Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura IPHAN AP. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Antes do presente. Toma-se como referencial o ano de 1950 Fundação Museu do Homem Americano FUMDHAM ICMbio NACS SPHAN ONG Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade Núcleos de Apoio as Comunidades Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Organização Não Governamental INTERARTES Festival Internacional da Serra da Capivara ocorrido em 2003, 2004 e 2005 no anfiteatro da Pedra furada, no Parque Nacional Serra da Capivara IAS Instituto Ayrton Senna CDAR-PI Clube dos Defensores da Arte Rupestre do Piauí, organizado por um grupo de adolescentes do Pró-Arte FUMDHAM Pró-Arte FUMDHAM Projeto sócio educativo da Fundação Museu do Homem Americano MINC Ministério da Cultura UESPI Universidade Estadual do Piauí/ Campus Ariston Dias Lima Universidade Federal do Vale do São Francisco/ Campus Serra da Capivara UNIVASF LISTA DE FOTOS 1 2 Visita monitorada com alunos de escolas públicas Visita a exposição o centro de visitantes 12 13 8 SUMÁRIO I INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 10 II CAPÍTULO I Educação patrimonial através do desenvolvimento histórico das cartas patrimoniais................................................................................................................17 2.1 Cartas patrimoniais e as políticas de preservação do patrimônio.........................20 III CAPÍTULO II A Educação patrimonial na serra da capivara............................................................28 3.1Patrimônio e Identidade na Serra da Capivara.....................................................31 IV CAPÍTULO III Ações de educação patrimonial no parque nacional serra da capivara.....................35 4.1 NACs - Núcleos de apoio as comunidades .........................................................37 4.2 O Museu do Homem Americano..........................................................................40 4.3 O Pró - Arte FUMDHAM...................................................................................... 44 V - Considerações finais:....................................................................................... 50 VI - Referências Bibliográficas................................................................................54 VII - Anexos.............................................................................................................. 57 9 I INTRODUÇÃO O Parque Nacional Serra da Capivara - PARNA está localizado no Sudeste do Estado do Piauí, foi criado em 1979 e possuí uma área de 129.140 hectares. É o único Parque Nacional completamente dentro do bioma caatinga que comporta espécies animais endêmicos ameaçados de extinção. Além disso, possuí um dos maiores acervos de arte rupestre do planeta contando com uma enorme concentração de sítios arqueológicos significativos para o estudo do povoamento das Américas. Em 1991 O PARNA foi reconhecido pela UNESCO como um dos patrimônios mundiais da humanidade, em 1993 foi inscrito no livro de Tombo arqueológico, etnográfico e paisagístico pelo IPHAN como patrimônio Nacional. Alguns dos vestígios arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara colocaram este parque no centro do debate sobre o povoamento das Américas. Até meados da década de 1980, a comunidade científica internacional tinha como certo que o povoamento das Américas era relativamente recente, tendo ocorrido a cerca de 12 mil anos AP1 por meio da migração do homem pré-histórico através do estreito de Bering2. Escavações arqueológicas conduzidas por uma missão francobrasileira encontraram indícios de uma ocupação humana muito mais antiga no PARNA. Segundo Guidon e G. Delibrias (1986), através da escavação de uma seqüência contendo abundante indústria lítica e fogueiras estruturadas foi possível 1 AP - antes do presente. Toma-se como referencial o ano de 1950. Durante as últimas glaciações, com a recessão da água dos oceanos, a área do estreito transformou-se numa ponte natural entre a Ásia e as Américas 2 10 afirmar através de datação por carbono -14 a ocupação humana de 6.160 +- 130 até 32.160 +- 100 anos AP. Em 1986, Guidon e G. Delibrias publicaram na revista Nature um artigo científico comprovando através de testes com carbono -14 a presença do homem nas Américas há pelos menos 32 mil anos. Os dados encontrados por Guidon e G. Delibrias (1986) refutavam o paradigma vigente e estabeleciam a antiguidade da presença humana na região. As diferentes linhas de pesquisas desenvolvidas no Parque se debruçam sobre o passado remoto da região. Contudo, meu interesse no parque versa sobre um passado bem mais próximo. O objeto de estudo desta monografia é especificamente compreender como a educação patrimonial foi trabalhada nas comunidades que habitam a região do Parque Nacional Serra da Capivara pelos projetos da FUMDHAM, IPHAN e o ICMbio. Minha aproximação com esta temática está associada a um desejo que tenho desde minha infância em compreender os trabalhos realizados pela FUMDHAM na região onde nasci e fui criada. Sempre busquei entender o que os pesquisadores de estrangeiros3 vinham fazer em uma região pobre, escassa de chuva, de alimentos e longínqua das grandes capitais. Como muitos outros moradores, há princípio fiquei com receio, cresci os meus primeiros anos de vida com visão do senso comum de que os arqueólogos estrangeiros estavam aqui atrás de ouro e que as grandes pedras da Serra da Capivara guardavam um segredo que podia enriquecer qualquer um. Ao ver os 3 França, Itália. 11 arqueólogos se aproximando de carro da minha casa, eu ficava atenta e curiosa para ouvir o que os mais velhos falavam a respeito daquele pessoal estranho. Buscava explicações na escola, entretanto, ali os professores preferiam discutir a história da Europa, África ou ainda, apenas daqueles estados tidos como mais “desenvolvidos” do nosso país. Os anos foram passando e a minha vontade de compreender e participar daquele universo complexo dos arqueólogos foi aumentando. Tal interesse, fez com que a minha trajetória acadêmica girasse a entorno da educação patrimonial na Serra da Capivara. Além disso, há alguns anos venho atuando na educação patrimonial4 como funcionária da FUMDHAM coogestora do Parque Nacional Serra da Capivara. Se por um lado os conhecimentos que adquiri no curso de graduação em pedagogia permitiram problematizar a educação numa perspectiva geral. Por outro, a experiência como educadora patrimonial me permitiu observar empiricamente como a educação patrimonial vem sendo trabalhada na Serra da Capivara. Vale destacar que, além de discutir a educação patrimonial como estratégia da educação não-formal, também acompanhei crianças, adolescentes, jovens e adultos em visitas monitoradas aos sítios arqueológicos do Parque Nacional e ao Museu do Homem Americano. Desta forma, foi possível perceber a complexa relação na construção de laços identitários de parte da população local com um patrimônio que remete aos primeiros habitantes dessa região. 4 Monitora de alunos do Projeto Sócio Educativo Pró- Arte FUMDHAM em Educação patrimonial 2007-2011 12 Foto 1 – visita monitorada com alunos de escolas públicas A experiência que vivenciei juntamente com alunos das escolas públicas e comunidades contribui muito para fundamentação empírica desta pesquisa. A partir desta experiência pude constatar que em grande parte da população local não existe identificação com patrimônio cultural em questão. É recorrente ter depoimentos de um grande número de pessoas que residem nos municípios próximos ao Parque Nacional Serra da Capivara que nunca tiveram oportunidade ou se interessaram em visitar o PARNA. 13 Foto 2 - Visita a exposição o centro de visitantes Durante as visitas que são periodicamente promovidas pelas instituições ligadas ao PARNA, é possível observar as pessoas se debruçavam sobre a imensidão da caatinga, os paredões rochosos e os vestígios arqueológicos com um olhar distante de sua realidade. É como se para eles, estar ali, naquele local, fosse algo tão difícil, distante de sua casa de seu município, quando na verdade apenas alguns poucos quilômetros separam essas pessoas do Parque Nacional Serra da Capivara. Diante disso, é possível levantar alguns questionamentos: Como a educação patrimonial pode contribuir para construir uma ligação identitária de parte da população local com o patrimônio contido no interior do Parque? Que estratégias de educação patrimonial foram adotadas desde a criação do Parque para despertar na população local o reconhecimento da importância deste patrimônio? Qual foi a repercussão dessas estratégias na população local? 14 Sabemos da importância que assume a identificação dos moradores com o patrimônio para que ocorra de fato a preservação, conservação de um patrimônio cultural. Por meio das visitas monitoradas pude perceber também que para alguns alunos ir ao Parque significava apenas um dia de passeio, mais um dia sem aula, já que em muitos casos as visitas não eram utilizadas como estratégia interdisciplinar de exploração dos conteúdos em sala de aula. Para realização desta monografia adotamos como metodologia a análise documental de projetos, relatórios, matérias audiovisuais, panfletos, livros e cartilhas elaboradas e executadas pelas instituições de gestão, proteção, conservação e manutenção do PARNA da Serra da Capivara. Também adotamos a metodologia da observação participante junto às escolas e a comunidade no período de 2007 a 2010 durante as visitas monitoradas aos sítios arqueológicos e museu do Homem Americano. Familiarizar-se com a história e a pré-história da Serra da Capivara e o seu patrimônio Natural e Cultural são fundamentais para começar a responder algumas dessas questões. É nessa perspectiva, que o desenvolver da pesquisa se volta no primeiro capitulo sobre a visão histórica das cartas patrimoniais referente à educação patrimonial e as políticas públicas sobre a preservação, conservação e salvaguarda do patrimônio abordadas nesses documentos. No segundo capitulo abordamos a educação patrimonial e a identidade na serra da capivara. O terceiro capítulo analisará a relação da comunidade do entorno do PARNA, enfatizando as ações de educação patrimonial na região pelas ações da FUMDHAM, para viabilizar tal análise recorremos a documentos da instituição, textos, entrevistas, materiais audiovisuais e artigos. Dentre os muitos trabalhos socio-educativos que foram 15 realizados pela FUMDHAM em São Raimundo Nonato, selecionamos os NACS que incluía escolas de ensino em tempo integral instaladas para beneficiar cinco comunidades vizinhas ao PARNA com o apoio de instituições multinacionais. Esta foi uma das primeiras ações logo após o início da implantação do Parque Nacional; O Museu do Homem Americano uma terceira ação escolhida para análise foi o Pró Arte FUMDHAM, projeto sócio educativo ainda ativo no centro de São Raimundo Nonato; este projeto era composto de três programas aparentemente distintos, mas correlacionados ex: Programa 1: Formação Arte na Educação; Programa 2: Arte e Ciência em pesquisa e programa 3 eventos Serra da Capivara. Na última parte da monografia faço uma pequena reflexão a título de considerações finais avaliando os dilemas e perspectivas da educação patrimonial no Parque Nacional Serra da Capivara. 16 II CAPÍTULO I EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ATRAVÉS DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS CARTAS PATRIMONIAIS Segundo o Dicionário da língua Portuguesa Novo Aurélio (1999), a definição clássica do conceito de patrimônio refere-se à “Herança paterna, bens de famílias, dote dos ordinandos, bem ou conjunto dos bens culturais e naturais de valor reconhecido para determinada localidade, região, país ou para a humanidade. Contudo, a palavra patrimônio assume outro significado quando é utilizada para definir um conjunto de bens materiais ou imateriais que tem importância para determinada sociedade. De acordo com Choay, A expressão designa um bem destinado ao usufruto de uma comunidade que se ampliou as dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas artes e das artes-aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos (CHOAY, 2001.p.11) Nesse sentido, podemos pensar o patrimônio como a herança cultural relevante para a sociedade com suas características materiais e imateriais, ou seja, bens que tenham valor cultural e identitária para determinada coletividade, estejam eles expostos em museus, na memória, nos modos de fazer ou na residência de cada indivíduo. Como afirma Carla Moreira: Herança cultural contribui para certa estabilidade, permanência dos pertencentes culturais que ao mesmo tempo permiti estabelecer uma simbologia entre o passado, presente e futuro, promovendo um sentimento de pertença por parte de nós (MOREIRA, 2006, p.128). 17 É essa simbologia da herança cultural que determina o patrimônio e promove um sentimento de atribuição de valores. Todavia o patrimônio não é um legado que é herdado, mas sim um legado que através de uma seleção consciente de um grupo, que determina como uma escolha significativa as gerações futuras. Segundo Ballart (1997, p.17), a noção de patrimônio surge “quando um indivíduo ou um grupo de indivíduos identifica como seu um objeto ou um conjunto de objetos” em (apud. MOREIRA, 2006, p.128). Ou ainda com base em Prats (1997), o patrimônio além da sua ligação com o passado histórico funciona como uma ferramenta de formação identitária, e ainda como estratégia de captação de recursos, formando um processo de legitimação social (apud. MOREIRA, 2006, p.128-129). Até 1830, o Patrimônio era percepcionado como „restos da antiguidade‟ [...] com três tipologias especificas: os Castelos, os edifícios da Idade Média, as Catedrais góticas, do Tempo Gótico, definidos como patrimônio das classes altas que aclamavam pelo poder (MOREIRA, 2006, p.129) Podemos perceber que inicialmente a noção de patrimônio está estreitamente ligada aos bens e valores que representavam a visão de mundo de uma pequena elite cultural. Nesse sentido, podemos nos questionar qual a importância esses patrimônios tinham para as camadas populares? Esse grupo social se sentia representado ou se identificava com tais ícones? Quando nos debruçamos sobre a história das políticas públicas relacionadas ao patrimônio percebemos que elas sempre estiveram sobre domínio de arquitetos, historiadores, arqueólogos ligados aos anseios políticos e ideológicos de classes sociais bem específicas. Tais técnicos atuavam em nome de um pretenso interesse coletivo, contudo reproduziam apenas as memórias das elites. 18 No caso brasileiro isso fica evidente no esforço em preservar bens matérias que reforçavam nossa ligação com passado colonial. Desta forma, integrando o Brasil como herdeiro das grandes civilizações européias. Esta visão enviesada de preservação negligenciou o papel dos negros e das inúmeras culturas indígenas que também estão na base da formação do Brasil. As leis e os órgãos criados para preservar essa ligação com o passado Europeu privilegiou o período colonial valorizando, sobretudo os bens imóveis. Segundo Fernandes (2009), 5 as igrejas Barrocas, os Fortes Militares, as Casas- grande e os Sobrados Coloniais foram os mais conservados. Nesse cenário, poderíamos nos questionar para que preservar? Para quem preservar? Que memórias estão em jogo na preservação patrimonial? Além disso, dentro desse contexto começa a surgir a importância econômica da preservação associada à indústria turística. O uso instrumental do patrimônio como objeto de visitação turística acaba que incorporar as camadas populares que foram alijadas da sua memória patrimonial de maneira subalterna. Já que nesse novo momento a importância econômica do turismo acaba esvaziando o significado cultural do patrimônio. 5 José Ricardo Oriá Fernandes, professor do Departamento da Universidade Federal do Ceará (1992-1994). Mestre em Direito da UFC. Doutor em Historia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP). 19 2.1 CARTAS PATRIMONIAIS E AS POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO As cartas patrimoniais são uma coleção de documentos contendo recomendações relativas à preservação do patrimônio cultural. Tais documentos são resultados de encontros entre arquitetos, arqueólogos, historiadores, antropólogos, representantes governamentais de diferentes partes do mundo, que em diferentes momentos históricos, discutiram a respeito da proteção e preservação do patrimônio. Através das cartas patrimoniais é possível analisar a evolução do debate mundial sobre patrimônio e o desenvolvimento das principais diretrizes relativas à sua proteção e manutenção. Este capítulo não pretende trabalhar todas as nuances presentes nas cartas patrimoniais. Nosso objetivo se restringe acompanhar em tais documentos o desenvolvimento da discussão sobre importância da educação patrimonial. O primeiro desses documentos foi elaborado em 1931, através da Conferência Européia que resultou na “Carta de Atenas”. Tal documento norteou discursos sobre a implementação de políticas de estados para a restauração do patrimônio material das cidades nos quais assegura: Nos casos em que uma restauração pareça indispensável em função da deterioração ou destruição, a conferência recomenda que se respeite a obra histórica e artística do passado, sem prejudicar o estilo de nenhuma época (CARTA DE ATENAS, 1931). 20 Na carta de Atenas já existem referência a importância da educação e do respeito aos monumentos. A partir da elaboração deste documento os representantes de diferentes países iniciaram um longo processo de estudos em defesa de suas heranças, bens culturais e identidade nacional. Segundo Meira (2004), no Brasil foi adotado o modelo francês na preservação do patrimônio cultural através da criação do Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional- SPHAN (atual IPHAN). No processo de formação do SPHAN em 1937, o texto sugerido por Mario de Andrade incorporava o seguinte: “o conceito de patrimônios artísticos as manifestações populares e os bens culturais imateriais”. Conceito modificado através do decreto Lei Nº 25 de 30 de dezembro de 1937, na qual viria organizar o Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico Nacional (SPHAN), restringindo o conceito a: Conjunto de bens moveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (decreto Lei nº 25 de 30 de novembro de 1937; (apud, OLIVEIRA, 21, p.23-24) Como cada Estado ou País seria responsável pelas suas políticas de preservação, no Brasil a política de preservação do patrimônio Histórico ocorreu de forma centralizada, imposta pelo Estado Novo (1937-1945). Priorizou-se o Patrimônio edificado e arquitetônico, a chamada “pedra e cal”. (FERNANDES, 2009). Além disso, durante o Estado Novo, as discussões sobre políticas de patrimônio e preservação tinham o intuito de privilegiar uma identidade nacional vinculada apenas a um segmento da sociedade, o barroco. 21 Em 1956, dando continuidade ao debate internacional sobre patrimônio foi divulgada a carta de Nova Delhi através da conferência da Organização das Nações unidas para a Educação Ciência e Cultura (UNESCO). O debate deste documento gira em torno do tipo de patrimônio a ser conservado. Além disso, o texto apresenta formas de instigar o sentimento de pertença por parte da sociedade com a identificação do patrimônio. A conferência também assegurou o patrimônio arqueológico como fonte de pertencimento aos estados nações, incumbindo a função de garantir meios de pesquisas, conservação, estudos, documentação entre outros. Foi a primeira vez que uma conferência dedicou-se a estudar o patrimônio arqueológico em todas as suas vertentes, reconhecendo às melhores formas de conservar um patrimônio e o respeito e dedicação da própria população que deve identificar com tais patrimônios, considerando que “cada estado é mais diretamente interessado nas descobertas arqueológicas feitas em seu território, toda a comunidade internacional participa, entretanto, desse enriquecimento” (CARTA DE NOVA DELHI, 1956). A partir dessas diretrizes, em 26 de julho de 1961 a presidência da República Brasileira sancionou a Lei N° 3.924, que dispõem sobre os monumentos arqueológicos e pré- históricos: Art. 1° os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de qualquer natureza existente no território nacional e todos os elementos que neles se encontrarem ficam sob a guarda e proteção do poder Público, de acordo com o que estabelece o art. 175 da Constituição Federal (Lei nº 3.924, 1961). 22 Entre os interesses discutidos as suas divergências históricas- culturais sobre definição de patrimônio e preservação ambos de interesse público quem definia o que devia ser legado a geração futura eram os especialistas que estavam centrados no poder e resolviam resguardar apenas aquilo que respaldavam a memória única de um país cheio de singularidades. Em 1964, durante o II congresso Internacional de Arquitetos e técnicos em monumentos históricos, foi aprovada uma nova Carta patrimonial a Carta de Veneza cujo primeiro artigo discorre sobre: Art. 1. A noção de monumento histórico compreende, além da obra arquitetônica em si, os sítios urbanos e rurais, testemunhos de uma civilização determinada de uma evolução significativa, e de fato histórica. Compreende as grandes criações, e também as obras modestas, que através do tempo, adquiram valor cultural. (CARTA DE VENEZA, 1964). Como já citado acima há momentos dessa história em que os discursos divergem no modelo de interesse dos intelectuais e do próprio governo. No entanto essas discussões nas conferências internacionais cada País discutiam e elaboravam suas políticas de patrimônio definindo o que fosse de interesse de cada nação a partir de então as políticas públicas passaram a ser aprofundas em parcerias com instituições que desenvolviam ações relacionadas ao patrimônio. De acordo com Reis (2003), no Brasil a valorização do patrimônio cultural se deu á partir da década de 1930, contudo, com um pensamento muito atrasado. Segundo a autora, apenas nos anos 60, se começa a engatinhar para uma política onde pense, e adote o Patrimônio aquilo que identifique a nação. É bem verdade que o patrimônio vai muito além dos edifícios e monumentos valorizados outrora, o saber fazer, as crenças, as danças das populações mais 23 humildes que moravam ao entorno dessas igrejas barrocas, os sobrados começavam a ser lembrados, mas durante um longo tempo enfrentaram tabus por uma grande parte das pessoas responsáveis pelas políticas de preservação patrimonial. A memória que era privilegiada através da preservação desse patrimônio remetia exclusivamente a nossa herança européia. Ficavam desta forma propositalmente excluída da nossa identidade a preservação de bens materiais e imateriais que nos ligassem aos indígenas, negros e mestiços que compunham a maior parcela da nossa população. A adoção de uma identidade nacional única e elitizada desvalorizava as Senzalas, as Vilas Operárias, os Cortiços, os Quilombos excluindo a riqueza de nossa pluralidade cultural6, já que uma das marcas da nossa identidade é ser um país miscigenado. O reconhecimento da nossa diversidade cultural no debate sobre preservação patrimonial no Brasil ocorre com a Carta magna de 1988. No seu artigo 216, a Constituição de 1988 define que constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referencia á identidade, á ação, á memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais incluem: I – as formas de expressão; II- os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 6 PCN Parâmetros Curricular Nacional - Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional. 24 IV – as obras, objetos e documentos, edificações e demais espaços destinados as manifestações artístico-culturais; V – conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e cientifico; Outra repercussão do caráter descentralizador da Constituição de 1988 foi a de que os municípios assumiram também várias funções da área de preservação: Tais funções anteriormente ficavam exclusivamente sob tutela das esferas federal e/ou estadual. Assim sendo, os municípios passaram a ter competência em promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, desde que seguissem as diretrizes das esferas estaduais e federal (CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA, ARTIGO 30, INCISO IX). Segundo Silveira (2011), Os novos órgãos estaduais e municipais de proteção ao patrimônio surgiram com a ênfase voltada para o instituto do tombamento. Contudo, mostraram-se inovadores à medida que romperam com o discurso uniformizador do patrimônio nacional e incorporaram discursos identitários regionais e locais no desenvolvimento do próprio discurso de preservação. Percebe-se uma mudança na orientação onde procuram transcender os limites da atuação que caracteriza as políticas nacionais e passam a enfatizar a cultura como um todo e não apenas as suas dimensões históricas e artísticas (SILVEIRA, 2011, p. 2-3) Silveira (2011) destaca que as ações de Educação Patrimonial no Brasil se iniciam efetivamente com o 1º Seminário sobre o Uso Educacional de Museus e Monumentos realizado no Museu Imperial de Petrópolis, RJ em 1980. Desta forma, é possível observar que no Brasil, principalmente a partir dos anos de 1980 há um alargamento na noção de patrimônio. Tal luta foi se adequado ao cotidiano como uma estratégia de educação do público frente aos patrimônios 25 conservados e os de interesse de conservação, de pertencimento, de identidade simbólica e de valorização através do turismo. Contudo, Silveira (2011) argumenta que apenas em 1997, no Seminário Patrimônio Imaterial: Estratégias e Formas de Proteção em Fortaleza, é que a educação patrimonial passou a assumir um papel de destaque nas discussões sobre preservação patrimonial no Brasil. Segundo Silveira (2011), no seminário que culminou na Carta de Fortaleza, reuniram-se especialistas, membros de instituições públicas e representantes da sociedade civil. O objetivo principal do seminário foi à proteção dos bens portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. De acordo com a autora, O documento-síntese do referido seminário, a Carta de Fortaleza, aconselhava que a preservação do patrimônio cultural fosse abordada de maneira global, buscando valorizar as formas de produção simbólica e cognitiva; que fosse constituído um banco de dados acerca das manifestações culturais passíveis de proteção, tornando a difusão e o intercâmbio das informações ágil e acessível; que fossem realizadas parcerias com entidades públicas e privadas com o objetivo de conhecer as manifestações culturais de natureza imaterial sobre as quais já existam informações disponíveis. A Carta de Fortaleza salientava a necessidade de se desenvolver um Programa Nacional de Educação Patrimonial, a partir da experiência do IPHAN (SILVEIRA, 2011, p. 6-7). É possível perceber que cada Carta Patrimonial elaborada reproduz abordagens que se complementam ao longo dos anos. Com base nessas discussões, os governos nacionais elaboram novas políticas de patrimônio. A própria institucionalização dessas políticas é prova de que tal debate vai ganhando ao longo dos anos cada vez mais espaço nas agendas governamentais. Nesse cenário, a educação patrimonial surge como elemento de extrema relevância no despertar da 26 consciência da população local a cerca da importância de preservar e salvaguardar os bens tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional. Este debate a cerca da importância da preservação e educação patrimonial passa a fazer parte, direta ou indiretamente, do cotidiano de grande parte da população que vive nas cidades próximas ao Parque Nacional Serra da Capivara, assunto tratado no próximo capítulo. . 27 III CAPÍTULO II A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA SERRA DA CAPIVARA Inicialmente vale lembrar que a trajetória do patrimônio tem sido marcada pelo fortalecimento das identidades culturais, mas também por rupturas e interesses políticos. Desta forma, não é possível analisarmos a educação patrimonial sem antes lembrarmos que existiram diferentes definições do patrimônio, E a educação patrimonial surge como estratégia de unir o patrimônio com a educação se apropriando dos termos de preservação, conservação e pertencimento simbólico. Nesse sentido, o patrimônio é um campo em discussão com diferentes tomadas de posições ao longo dos anos. Observamos que inicialmente o patrimônio passou a se constituir como uma coleção simbólica que unificava e procurava dar base cultural e idêntica a todos, embora a sociedade não fosse igualitária, exigia-se uma preservação voltada para a identidade única. Segundo a conferência de Nova Delhi em 1956 A garantia, mas eficaz de conservação dos monumentos e obras do passado reside no respeito e dedicação que lhes consagram os próprios povos e é certa que tais sentimentos podem ser enormemente favorecidos por uma ação apropriada, inspirada na vontade dos estados membros de desenvolver as ciências e as relações internacionais (NOVA DELHI, 1956). Podemos compreender a questão da conservação, valorização, salvaguarda já apontada na conferencia de 1956, como um reconhecimento da sociedade dos grupos nos interesse em conservar tais patrimônios. Portanto, a questão do respeito e dedicação dos povos inicia com a educação do público, perante aos patrimônios, 28 no caso analisado nesta monografia a educação patrimonial é apontada como o meio de inserção entre a educação e a museologia, entre o patrimônio e a população local nos espaços educativos dos museus. Os espaços educativos dos museus são a busca e a identificação entre o público e o patrimônio. No entanto, a história dos museus inicia-se com o reconhecimento e aceso apenas para as elites, isso fez com que criassem a cultura de que apenas os que tinham capital econômico criavam capital cultural. Segundo Horta (1999), e Silveira (2011) volta a ressaltar a Educação Patrimonial foi introduzida no Brasil na década de 80, inspirada em trabalhos desenvolvidos na Inglaterra. Os termos conceituais desta proposta de Educação Patrimonial foram debatidos no Seminário sobre o “Uso Educacional de Museus e monumentos” em 1983 (Apud. VIANA, 2009, p. 46). Entende-se como meio em integrar os alunos em contato com a produção cultural e com sua materialidade e seu objetivo de entender, pesquisar, interpretar e apropriar-se dos significados, ou seja, os valores que se tornam instrumento de aprendizado na escola, na comunidade. Segundo Chagas (2004), a “Educação Patrimonial se consagrou no Brasil como um campo de trabalho, ação e reflexão tendo como prática e ponto de partida à relação indivíduo/grupo social com o patrimônio”. (Apud VIANA, 2009, p. 46). Ainda segundo o autor, essa expressão foi tão retrógada que por tempos foi sendo questionada por diversos estudiosos do patrimônio e teóricos da educação buscando novas significações em um campo de disputa de sentidos. Nesse sentido, assim como o patrimônio, a educação patrimonial também sofreu influências das diferentes apropriações do termo. 29 Conforme Freire “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, midiatizados pelo mundo” (FREIRE, 1997, p: 39). Como o autor nos coloca, não somos capazes de nos educar diante de outra pessoa e sim no contato com diversas pessoas e o meio em que estamos inseridos, acreditamos que a presença de grupos indivíduos perante o patrimônio, para que possam reconhecer questionar e buscar significados para sua preservação possa introduzir o sentimento de pertença dos indivíduos. Nessa perspectiva a educação patrimonial é vista como elemento que resolveria as tensões entre o patrimônio o indivíduo e a sociedade. A educação patrimonial na Serra da Capivara ao longo dos anos foi usada pelas instituições que gerenciam o PARNA como uma estratégia de aproximação da comunidade com o patrimônio do mesmo. No entanto, raramente discutiu-se se os métodos adotados seriam os mais apropriados. Os conceitos de preservação patrimonial elaborados pelas instituições se repetiam a cada projeto buscando despertar na população local o reconhecimento simbólico, uma identificação conjunta para preservação num cenário que o patrimônio da forma que era concebido pouco interessava a comunidade. Não se debatia a preservação a partir dos interesses dessas comunidades, apenas eram lhes apresentados, sobretudo a conservação e preservação imposta numa legislação que poucos deles tinham ouvido falar. Tal abordagem não despertou o conhecimento da importância da preservação. A importância do patrimônio do PARNA da Serra da Capivara aparecia nas reuniões, nos congressos científicos que tinham a participação de pesquisadores de outras regiões que enxergavam a importância do parque através do interesse 30 científico voltados para a arqueologia, física, arte rupestre povoamento das Américas. Nesse contexto, a população local não tinha ainda nem se quer questionado sobre a importância desse patrimônio. Vale ressaltar que este trabalho não pretende dar uma solução definitiva sobre a questão da educação patrimonial na Serra da Capivara, mas sim problematizar e desvelar como esse conceito foi trabalhado pelos órgãos competentes pela educação do município, mostrando suas possíveis contribuições para o processo de conhecimento, ensino aprendizagem e pertencimento simbólico perante a preservação e conservação de um patrimônio significativo para compreensão dos primeiros habitantes das Américas. 3.1 PATRIMÔNIO E IDENTIDADE NA SERRA DA CAPIVARA Ao longo dos tempos esses patrimônios não são interpretados da mesma forma, eles são adaptados e incorporados conforme as necessidades de preservação da identidade do país. No Brasil, por exemplo, tivemos épocas em que o importante era preservar o patrimônio edificado característicos de do período colonial. A preservação exclusiva desses bens remetia a herança de uma identidade européia do nosso passado colonial. Com o tempo, a própria noção do que seria a identidade brasileira foi se alterando e incorporando elementos também de origem indígena e africana. Já que o patrimônio é dinâmico e está em constante transformação, nossa intenção aqui não é construir um histórico do que no Brasil já foi considerado patrimônio. Buscamos sim, compreender a relação da identidade com práticas de 31 educação patrimonial através da identificação da população local com o patrimônio cultural da Serra da Capivara. Contudo, é preciso ter em mente que na região da Serra da Capivara os vestígios arqueológicos comprovam a passagem das três origens do povoamento das Américas - a pré-histórica, a nativa e a colônia (DIAS; SANTOS, 2010). Compreende como civilização pré-histórica os primeiros a habitarem a região. Já os nativos seriam aqueles que ainda tiveram contato com os conquistadores brancos, sendo considerados os silvícolas que foram dizimados, exterminados e escravizados pelos colonizadores. Nem por isso devemos considerar que civilizações extintas como a préhistórica e a nativa no PARNA Serra da Capivara sejam inferiores a atual civilização. Dias e Santos levantam os seguintes questionamentos: Haveria um elo entre os povos pré-históricos e os extintos durante a colonização? Estas populações teriam resistido todo esse tempo? Porém são questões ainda sem resposta, mas que muda o rumo da visão tradicional que estabelece o ano de 1500 como o início da história no Brasil, para 100 mil anos atrás, há um espaço no qual se perde o elo e os vestígios desaparecem. Mas essa lacuna esta sendo preenchida com uma série de estudos que focalizam o tema e por pesquisas que comprovam que existiu uma população pré-histórica em terras piauienses [...] (DIAS; SANTOS, 2010, p.25.). Através da escavação de uma seqüência contendo abundante indústria lítica e fogueiras estruturadas em todos os níveis foi possível através de datação por carbono -14 de carvões estabelecer uma cronologia contínua, indicando ocupação humana de 6.160 +- 130 até 32.160 +- 100 anos AP. A data de 17.000 +- 400 Ap obtida de um carvão achado num nível com fragmentos de rocha caídos da parede 32 com grafismos pintados comprova a antiguidade da arte rupestre naquela região (GUIDON;G. DELIBRIAS, 1986). Em 1986, Guidon e G. Delibrias comprovaram através de testes com carbono -14 de vestígios arqueológicos escavados no parque que o homem está presente nas Américas há pelos menos 32 mil anos. Através das escavações e sondagens arqueológicas na área do Parque Nacional Serra da Capivara em São Raimundo Nonato, sudeste do Estado do Piauí, por meio dos vestígios arqueológicos como, material lítico, restos de carvão e fogueiras, pinturas rupestres, fosseis humanos foi possível estabelecer um estudo sobre a vida social desses indivíduos que ate “a chegada do colonizador viviam em comunidades, em harmonia com a natureza. As guerras e os rituais antropofágicos eram recursos utilizados em casos extremos” (DIAS; SANTOS. 2010 p. 21). A região da Serra da Capivara no Sudeste do Estado do Piauí tem resquícios característicos das três civilizações que habitaram a América. Contudo, hoje os descendentes dos silvícolas estão integrados na família rural piauiense. (DIAS; SANTOS, 2010 p.47). Ou seja, as tradições indígenas referentes aqui ao período de desbravamento entre os colonizadores os que não foram exterminados, integraram a cultura rural da colonização. Entretanto, os atuais habitantes da Serra da Capivara não incorporam esses registros como sinais culturais de uma herança pertencente às marcas históricas de seu povo. Conseqüentemente, não há continuidade civilizacional dos grupos nômades que deixaram suas marcas nos paredões do parque e os atuais habitantes 33 da região. Tal fato pode explicar em parte porque a comunidade atual local não identifica com o Patrimonio Cultural da Serra da Capivara. Para o senso comum a idéia de patrimônio continua ligada a imagem das grandes construções, mesmo que academicamente já se tenha incorporado as discussões de preservação e revitalização do patrimônio imaterial por exemplo. Talvez, este seja mais um dos fatores que levam a comunidade local a não identificar os vestígios arqueológicos do PARNA com o patrimônio. Nesta direção estamos aqui buscando compreender as formas como foram apresentados aos atuais moradores da região da Serra da Capivara os meios de preservação, conservação e restauro de um patrimônio milenar, que só veio tomar conhecimento de tamanha importância a pouco mais de 40 anos na comunidade e reconhecido por especialistas de outras regiões e impostos como requisito de valorização e conservação por instituições instaladas ali. Como esse patrimônio poderia ser incorporado pelas comunidades locais? O que observamos é que desde meados dos anos 1970 quando se começou a descortinar a importância do patrimônio contido na Serra da Capivara até hoje, ou seja, quase quarenta anos, os discursos não amadureceram tanto, nem tão pouco a é identificação da população local com o Patrimônio Cultural da Serra da Capivara. Acreditamos que a educação patrimonial possa mudar o cenário nessas tensões entre as instituições, o patrimônio, os indivíduos e a comunidade, mas bem antes é preciso analisar o contexto do indivíduo para que possa ser integrada aos conteúdos da educação patrimonial toda a “alfabetização cultural” em que o indivíduo está inserido, não basta chegar falando da importância do Patrimônio Cultural da Serra da Capivara, tem que se falar do contexto como um todo, ou seja, 34 toda a cultura material e imaterial desses indivíduos integrando aos conteúdos da educação em suas diversas vertentes e não apenas continuando com ações pontuais como até o presente tem sido feito. IV CAPÍTULO III AÇÕES DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO PARQUE NACIONAL SERRA DA CAPIVARA Para compreender a relação que a população da região de São Raimundo Nonato tem hoje com o patrimônio Cultural do Parque Nacional Serra da Capivara é de fundamental importância fazer se uma análise das ações desenvolvidas na região voltadas para educação patrimonial. Conforme o Decreto nº 83.548 de junho de 1979. Artg. 2º O Parque Nacional Serra da Capivara tem por finalidade precípua, proteger flora e fauna e as belezas naturais, e os monumentos arqueológicos, no local existente e, fica sujeito ao regime especial do código florestal instituído pela lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. (anexo 01). Contudo, ao longo dos anos, as instituições de manutenção e proteção do parque alargaram os objetivos mencionados no decreto citado acima. Desta forma, não se limitaram em salvaguardar os registros das civilizações pré-históricas, passaram também a procurar inserir a população atual nos interesses dessa salvaguarda e reconhecimento de uma civilização passada. 35 Neste capítulo analisaremos os seguintes projetos - NACs - Núcleos de apoio as comunidades, O Museu do Homem Americano e o Pró - Arte FUMDHAM. Tais projetos objetivaram despertar o interesse na população local, especificamente nas crianças e adolescentes a cerca da importância da preservação ambiental e cultural. A reconstrução da história desses projetos foi realizada através de documentos tais como: projetos, relatórios, matérias audiovisuais, áudio, panfletos, livros cartilhas em termos que remetem ao conceito de patrimônio nacional, arqueológico, cultural e ambiental. Buscando relacionar a identificação local em termos das gerações antes da criação do Parque e após a criação do mesmo. A partir destes documentos procuramos identificar a concepção de patrimônio da Serra da Capivara adotada pela FUMDHAM. Segundo a FUMDHAM: Para preservar o Patrimônio é necessário conhecer o que se pretende conservar, reconhecer sua importância cultural, no plano material e imaterial, e integrar esses conhecimentos nos conteúdos da Educação Patrimonial, no ensino formal, e informal (FUMDHAM, 2009, p 05). Diante do conceito de preservação e reconhecimento abraçado pela Fundação, as suas praticas já estiveram voltadas para a educação formal, baseadas no princípio da preservação e conservação do patrimônio cultural e ambiental quando instaladas as escolas nas comunidades do entorno do Parque Nacional nas quais instigavam o patrimônio como recurso pedagógico e formativo perante aos interesses desse patrimônio. 36 4.1 NACs - NÚCLEOS DE APOIO AS COMUNIDADES A criação do PARNA da Serra da Capivara em repercutiu de diversas formas na vida das pessoas que anteriormente habitavam dentro dos seus limites territoriais do parque. Para minimizar o impacto e o agravamento dos problemas sociais vivenciados por aquela população que foi desalojada a FUMDHAM criou os NACs (FUMDHAM, 1992). Os NACs foram e implantados pela FUMDHAM em convênio com a ONG Terra Nuova (Itália) em meados de 1990, com a finalidade em melhorar as condições de ensino básico e profissional no município de São Raimundo Nonato. Tal convênio possibilitou a colaboração da fundação Oswaldo Cruz e da Escola Nacional de Saúde Pública. Os Núcleos incluíam além de escolas em tempo integral com a grade curricular obrigatória também oferecia aulas de educação ambiental, ecologia, arte-educação por meio da música, dança (ballet), capoeira disponibilizava alojamentos para educadores e educandos, postos de saúde, e cursos profissionalizantes para os moradores dessas regiões compreendidas entre Sítio do Mocó, Barreirinho, ambos no município de Coronel José Dias, Alegre, Porteirinha no município de João Costa e Serra vermelha em São Raimundo Nonato. A primeira experiência iniciou-se no Povoado do Sítio do Mocó com umas 40 e poucas crianças. Lá foi construída uma escola com posto de saúde, alojamentos para os professores. A escola também oferecia três refeições diárias às crianças. Além disso, o projeto trouxe encanamento da água até o centro de apoio e construiu um chafariz comunitário. Posteriormente o projeto foi expandido para outras 37 comunidades atendendo um percentual de 650 crianças e adolescentes, eram ofertado desde a creche ao ensino fundamental maior, cursos de alfabetização para adultos, alem de cursos técnicos para a comunidade. A grade curricular destas escolas não era diferente da educação nacional. Porém, foram acrescentadas outras atividades, especialmente em artes. Essas escolas ofereciam a educação formal estruturada em: Situação Funcional e Aspectos pedagógicos; A Situação Funcional compreendia em: Corpo docente; direção e coordenação. Enquanto os Aspectos pedagógicos: aproveitamento dos alunos e capacitação dos professores (FUMDHAM, 1997). A FUMDHAM realizava a manutenção física das escolas e as professoras eram pagas pelas prefeituras da região. Somente a coordenação e direção ficavam a cargo da Fundação, no entanto, com o passar dos anos e a diminuição dos recursos financeiros administrados pela FUMDHAM fizeram com que a própria manutenção das escolas fosse realizada em comodato para as prefeituras. Neste período, os professores começaram a ser substituídos por outros que não haviam sido capacitados pela Fundação. As mudanças promovidas pelos NACs ainda hoje podem ser vistas ao aproximar do povoado que tem como plano de fundo as rochas do Parque Nacional. Um descortinar de casinhas simples e arrumadas que abre a visão de que é possível viver nas imediações de um Parque Nacional e manter a relação de consciência e conservação de tamanha singularidade para seus dias atuais, hoje é a comunidade que, mas apropriou-se das vias de trabalho dentro do Parque Nacional Serra da Capivara, porém as escolas foram fechadas 38 Entretanto o projeto atendia um pequeno percentual de estudantes a outra parte ficava de fora dos programas, com o tempo tais núcleos foram fechados pela falta de verba para sua manutenção. Atualmente a FUMDHAM executa projetos de educação patrimonial em parceria com o IPHAN em algumas escolas públicas do município, além de elaborar material de apoio pedagógico que é disponibilizado para professores. Contudo, cabe aqui introduzir mais uma vertente da educação, a educação não-formal, De acordo com Gohn: Educação não-formal é aquela que se aprende no mundo da vida, via os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas. Diferente da educação formal: que é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente demarcados; enquanto a informal: aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização - na família, bairro, clube, amigos etc. (GOHN, 2006, p.3). A partir do fechamento dos NACs a educação patrimonial passou a atuar também através da educação não-formal desenvolvida através de projetos de educação ambiental e patrimonial nas comunidades e as visitas monitoradas ao Museu do Homem Americano. Podemos perceber que a educação não-formal foi desenvolvida como estratégia de assimilação e aproximação desses indivíduos com o patrimônio gerando um diálogo com as instituições de manutenção e gestão e o conhecimento e reconhecimento ao patrimônio local. 39 4.2 O MUSEU DO HOMEM AMERICANO Em 1974 foi inaugurado o Centro de Pesquisas Regionais de São Raimundo Nonato, a ata de inauguração consta que no dia 02 de agosto do ao de 1974. Esse centro foi aberto ao público para uma exposição organizada pela equipe de arqueologia do Museu Paulista da Universidade de São Paulo. Com o aumento das pesquisas arqueológicas a necessidade em envolver a comunidade como estratégia de preservação e conservação do riquíssimo acervo arqueológico encontrado passava ser imprescindível. Dentro desse aspecto, os pesquisadores da FUMDHAM, por meio de parcerias, convênios buscaram investimentos para fazer no Sudeste do Piauí um Museu onde pudessem ser expostos os vestígios materiais resultados das pesquisas realizadas no Parque Nacional Serra da Capivara e seu entorno, com uma exposição permanente dos artefatos pesquisados na região onde a comunidade poderia apropriar dessas descobertas de uma forma onde eles teriam contatos e poderiam analisar e acompanhar as formas como vinham sendo desenvolvidas essas pesquisas. As pesquisas interdisciplinares realizadas com o objetivo em integrar homem e meio ambiente, cultura material e imaterial e a integração da população local, foi instigada através de atividades acadêmicas, culturais buscando criar um sistema de auto-sustentabilidade e produção alternativa, para que aproximassem a comunidade com a exposição do museu e conseqüentemente o Parque Nacional Serra da Capivara. O Museu do Homem Americano foi inaugurado em 21 de janeiro de1994 tiveram o apoio financeiro do ministério da Educação e a colaboração do governador 40 do Piauí daquela época7, ainda por falta de verbas para a instalação das exposições passam-se quatro anos para a conclusão das mesmas, em 1998 8 inaugura-se a exposição permanente retratando 500 séculos dos povos indígenas do Brasil. Em fevereiro de 2005 por meio de um convênio com o ministério da ciência e da tecnologia faz-se a atualização das exposições, em 2006 a atualização das salas foram financiadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN9 através do ministério da cultura, Já em 200910 suas exposições foram atualizadas pelo financiamento da Caixa Econômica federal via programa CAIXA de Adoção de Entidades Culturais e a EMGERPI- Governo do Estado do Piauí, e inauguradas durante o Congresso Internacional de Arte Rupestre IFRAO- Parque Nacional Serra da Capivara Piauí-Brasil de 29 a 03 de julho de 2009 (Global Rock Art). Dentro do Museu nas expografias é possível viajar desde a pré-história a historia, pelo acervo em que contagia o visitante em um mundo sonoro, visual e tático, portanto a interatividade prende o expectador através da simulação de uma viaje no tempo, onde o visitante simula escavações arqueológicas. O Museu possuiu ainda um anfiteatro para exposições temporárias e apresentações culturais ao ar livre. Possui também um auditório com capacidade para um publico de 150 pessoas, com estrutura de som, luz e ar-condicionado para melhor oferecer conforto ao público nas realizações de seminários congressos e eventos afins. 7 Anexo foto da placa de inauguração fixada na parede do museu. Anexo foto da placa de inauguração da exposição permanente 9 Placa de atualização das exposições pelo IPHAN 10 Placa de atualização pela Caixa e EMGERPI 2009 8 41 O Museu do Homem Americano é um equipamento cultural da Fundação Museu do Homem Americano. Está localizado no Bairro Campestre, no município de São Raimundo Nonato Piauí, recebem em media 10.000 visitantes por ano, entre turistas e excursionistas com predominância das comunidades escolares dos municípios piauienses que passaram freqüentemente a fazer mais visitações após a realização do Congresso Internacional de Arte Rupestre IFRAO em 2009. Uma das novas iniciativas da FUMDHAM inicio-se no mês de novembro de 2011 um programa de isenção da taxa de entrada para públicos escolares de todo o país no horário de atendimento das 09:00 as 17:00 horas, as terça e quartas feiras . Além do programa permanente de visitação do público em geral, sua exposição permanente está baseada nos mais de trinta e cinco anos de pesquisas na região do Parque Nacional. Durante esses anos a diversidade de atividades proposta pela FUMDHAM as suas ações comuns em desenvolver atividades e projetos que aliam educação patrimonial, ambiental e cientifico-arqueologico estiveram ligadas ao espaço do Museu do Homem Americano e o Parque Nacional Serra da Capivara. Junto ao Museu fica o Centro Cultural Sergio Mota onde estão instaladas as reservas técnicas que recebem as coleções materiais provenientes das escavações, os laboratórios e os serviços ativos da sede da FUMDHAM. Entretanto, formar um público e estimular o consumo desse tipo de bens culturais não foi algo fácil. Vale lembrar que a comunidade do entorno do parque Nacional têm uma cultura diferenciada da que vinha sendo implantada, portanto foi necessário além de socializar os resultados das pesquisas arqueológicas para a comunidade e contextualizar por meio de atividades artístico-culturais, exposições 42 da cultura material e imaterial regional. Além disso, foi necessário investir na divulgação, por diferentes fontes alternativas, como a distribuição de panfletos, divulgação nos programas de rádios incentivando o publico a ir conhecer. Portanto a mudança social acontecida na região do Parque Nacional Serra da Capivara, para os moradores dessa imediação era algo novo, muitos nunca tinham ido a um museu, outros nem ouvido falar. Segundo Canclini, 2003 “Os museus como meios de comunicação de massa podem desempenhar um papel significativo na democratização da cultura” (apud. idem Santana, 2011, pg. 34). A nova museologia da década de 1960 passou a pensar o museu como agente de mudanças em busca de um desenvolvimento social, portanto estabelecer fóruns e discussões, fomentar a interação entre grupos, criando laço de afinidades e de apropriação entre o museu, entendendo o papel do consumo cultural na contemporaneidade, usando os museus não como meio de comunicação, mas como mediadores da comunicação de identidade por meio de exposições e ações culturais e educativas ajudam a constituir o imaginário individual e coletivo. 43 4.3 O PRÓ - ARTE FUMDHAM O Pró Arte FUMDHAM é um projeto sócio-educativo da Fundação Museu do Homem Americano iniciado em 2001, viabilizando oportunidades educativas através da Arte Educação. Nossa causa maior é a valorização do potencial do homem do campo, criando oportunidades, através da arte de escolhas conscientes de sobrevivência para que possam participar da evolução do mundo, corporificando a expressão da identidade brasileira como cidadão (PLANO DE TRABALHO APRESENTADO NO CIDADÃO 21 - ARTE, 2002) Conforme a citação acima a causa maior da criação deste projeto foi a necessidade de valorização da cultura local. O Pró - Arte FUMDHAM, surge como opção para dar continuidade ao programa de Arte - educação que vinha sendo desenvolvido nas escolas dos NACs, após o fechamento das mesmas e promover a integração com o Museu do Homem Americano. No entanto as ações em prol de iniciativas sociais, educacionais e artísticas valorizando o potencial regional como uma das alternativas em oferecer oportunidades aos moradores dessa região de um tipo de educação não formal pela arte-educação e a formal por meio de cursos técnicos em curto prazo. Entre os anos de 1996 a 2000 no programa de arte e ciência na pesquisa foi feito um trabalho de pesquisa coreográfica, pela bailarina Lina do Carmo. Naquela oportunidade foram desenvolvidas também oficinas de dança com as crianças das escolas do entorno do Parque nacional Serra da Capivara, e aproveitando o ensejo em 2000, já na etapa final de atendimento das escolas foi realizado o primeiro 44 espetáculo no Anfiteatro da Pedra Furada dedicado as 650 crianças que estudavam nessas escolas integrando familiares e comunidade. Segundo os documentos analisados, ali foram descobertos potenciais conforme esta escrita no Plano de trabalho de parceria com o IAS “um potencial humano escondido no subdesenvolvimento de uma realidade rural brasileira, vimos nesta experiência uma nova forma de estender a inspiração artística capaz de construir uma nova geração” (PLANO DE TRABALHO ANEXADO AO TERMO DE PARCERIA COM INSTITUTO AYRTON SENNA, 2002). De acordo com os documentos analisados, foi pensando nesse potencial humano, em 2002 uma equipe da Fundação além de arqueólogos, Arte /educadores buscaram por meio de editais conseguir financiamento para manutenção pelo menos de um percentual do que já vinham sendo desenvolvido nas escolas, uma vez que a Fundação depende de recursos de terceiros para suas pesquisas na área arqueológica, torna-se mais difícil obter receita para investimentos nas áreas de artes, educação e cultura. Por meio do edital de Regulamento Concurso Embratel Instituto Ayrton Senna Cidadão 21- Arte uma iniciativa do Instituto Ayrton Senna e a Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL), que estabeleceram o programa cidadão 21 – Arte, que visava promover o desenvolvimento dos potenciais jovens, tendo a arte como principal caminho. O plano pedagógico cidadão 21 - Arte foi aprovado formando a parceria com o Instituto Airton Senna. Diante disso a Fundação resolveu dar continuidade escolhendo a escola do povoado do Sitio do Mocó, para ser a sede do Pró-Arte e 45 estendendo até o Centro Cultural Sergio Motta em São Raimundo Nonato, o anfiteatro da pedra furada, e a Escola ambiental no Sitio do Mocó. Segundo relatórios e projetos de arquivos da instituição: Esse projeto era composto de três programas correlacionados, programa I – Pró - Arte Formação – Arte na Educação; programa II: Pró - Arte Arte e ciência em pesquisa; programa III Pró Arte Eventos na Serra da Capivara. Em 2003 a Fumdham disponibilizou um espaço para implantação da sede no Centro de São Raimundo Nonato, e assim continuaram as atividades estruturadas entre São Raimundo Nonato, Escola Ambiental do sitio do Mocó e Anfiteatro da pedra furada até meados de 2004, quando ficou impossibilitado de continuar as atividades na escola do Sitio do Mocó e Anfiteatro da Pedra furada por falta de recursos financeiros que pudesse cobrir toda essa estrutura resolveu-se concentrar as atividades em um único local aumentando o público alvo para 150 crianças e adolescentes de São Raimundo Nonato. No período entre 2002 a 2009 a parceria entre Instituto Ayrton Senna e a FUMDHAM possibilitaram a capacitação de educadores em arte-educação para o atendimento direto com os educandos que estavam assim estruturados entre crianças, adolescentes e jovens do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara. Portanto, os três programas citados anteriormente estavam estruturados em um plano de trabalho com um itinerário formativo dividido entre básico: que compreendia as ações de segunda a sexta-feira com as crianças e adolescentes em contra turno escolar; O rotativo oferecia oficinas de aperfeiçoamento técnico, pesquisas contextualizadas aos sábados para a juventude e capacitações para educadores. 46 A opção em manter uma estrutura física no centro da cidade contribui para as crianças, adolescentes e jovens da zona urbana, que puderam ter oportunidade em participar de atividades significativas em arte, auxiliando assim o desempenho escolar uma vez que passaram a ter acesso uma educação voltada para os quatro pilares da educação ao longo da vida segundo o relatório da UNESCO: 1-aprender a conhecer; 2- aprender a fazer; 3-aprender a conviver; 4 aprender a ser (RELATÓRIO PARA A UNESCO DA COMISSÃO INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI). Enquanto se ambientavam a nova sede, planejava-se a execução de atividades em que pudessem integrar o itinerário básico e rotativo nos três programas, foi planejado e executado três anos seguidos o Interartes- Festival internacional Serra da Capivara, no intuito em aproximar as crianças e adolescentes do teatro, da música, dança internacional e nacional. No intuito em aproximar crianças e adolescentes do patrimônio do PARNA Serra da Capivara, a partir de 2006 as atividades baseiam se no contexto local onde ingressando as oficinas de arte-educação centradas no patrimônio imaterial regional, as aulas de educação patrimonial ganham a vertente da arte e patrimônio discutindo-se o patrimônio e suas funções, os responsáveis pela preservação e o porquê da preservação do patrimônio em especial a Serra da Capivara, introdução das legislações do patrimônio, tudo isso com a metodologia da arte – educação. A partir desses debates, cabe aqui destacar uma ação que aconteceu entre 2008 e 2010 com um grupo de adolescentes que estavam inseridos em um cotidiano de discussão sobre pertencimento simbólico e apropriação consciente da Serra da Capivara por meio da divulgação, acessibilidade, estudo e pesquisa, foram 47 instigados a focar o campo da educação patrimonial da Serra da Capivara com um olhar alfabetizador e sensibilizador, para as crianças e adolescentes das escolas públicas onde eles estudavam. Foi nesse intuito que surgiu o CDARPI- Clube dos Defensores da Arte Rupestre do Piauí, com o objetivo em buscar novos estudantes que assim como eles sensibilizassem com a diversidade cultural da Serra da Capivara e de todo o Piauí e sentisse responsável pela manutenção e preservação de tamanho patrimônio cultural. Neste contexto, pode se afirmar que para fortalecer esta idéia o diálogo permanente deve ser contínuo, sendo possível a troca de informações, a compreensão e interação do indivíduo, nos diversos segmentos do estudo do patrimônio e da relação humana. No entanto, mas uma vez, esse sonho foi atropelado pela falta de verbas que pudessem sustentar essa idéia e hoje esses adolescentes perderam a ligação que se tinha com essa linguagem, mas guardaram os aprendizados e experiências para a vida. Em 2009, a parceria com Instituto Ayrton Senna chegou ao fim, por uma redução do instituto, a presidência do instituto reduziu o número de projetos apoiados por falta de verbas. Mais uma vez reduz- se as atividades do Pró Arte FUMDHAM por falta de verbas e continua até os dias atuais. Atualmente o pró arte FUMDHAM atende internamente 30 crianças de segunda a sexta das 14: as 17:00 horas com atividade centradas na ludicidade com referências no Patrimônio Cultural da Serra da Capivara e o patrimônio imaterial regional, leitura e cidadania através do pontinho de leitura, letrinhas da cidadania 48 premiado pelo MINC- Ministério da Cultura e apreciação de filmes no Cineclube Arte sete também premiado pelo MINC, oficinas de artes visuais e artesanato. 49 V CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa teve como objetivo geral analisar as ações de educação patrimonial como estratégia de aproximação entre comunidades e instituições de manutenção do Parque Nacional Serra da Capivara. Tal aproximação ocorreu através de visitas aos sítios arqueológicos, e Museu do Homem Americano, palestras sobre patrimônio cultural e oficinas em artes e cultura. Na pesquisa documental foi possível constatar que a concepção da educação patrimonial aparece entrelinhas nos documentos iniciais da criação do PARNA da Serra da Capivara. Segundo Horta, (1999), a Educação patrimonial só chega de fato ao Brasil na década de 80, a pesar de ser um elemento importante para a aproximação, conhecimento e reconhecimento, preservação e pertencimento simbólico das comunidades com relação ao patrimônio cultural da Serra da Capivara, apenas a educação ambiental é pensada logo apos a criação do PARNA. É possível observar tal fato nos núcleos de apoio às comunidades (NACS), que ofereciam escolas em tempo integral com os conteúdos obrigatórios e mais a educação ambiental, arte e cultura, embora observando os conteúdos oferecidos nos materiais de registros e arquivos guardados na sede do Pró Arte FUMDHAM, nos vídeos gravados da época, podemos perceber a educação patrimonial sendo desenvolvida por meio da valorização dos conhecimentos prévio e a realidade cultural, a cultura imaterial, bem como as práticas pedagógicas dos educadores nessas escolas estão voltadas para o meio em que os educandos estão inseridos. Toda via que a educação patrimonial pode ser interpretada como uma alfabetização cultural. No entanto, aparecem na linha da educação formal dos 50 Núcleos de Apoio as Comunidades (NACS) que são implantados pela FUMDHAM, atendendo um percentual de estudantes, já para o restante dos estudantes desses municípios não são oferecidas a mesma formação, os adultos e idosos que não freqüentam escolas passam um período, sem o acesso ao PARNA e sem tomar conhecimento do que vem sendo realizado pela equipe de pesquisadores, mesmo com a realização de reuniões, congressos, seminários, poucos interessavam em participar, pois a linguagem científica para essas pessoas é pouco acessível. Após a análise destas constatações é interessante ressaltar, que a construção do espaço do Museu do Homem Americano e sua exposição permanente, e as constantes atividades científicas só foram capaz de aproximar a comunidade quando passaram a ser integradas com apresentações artísticas e culturais regionais. Entretanto, as apresentações artísticas e culturais regionais só aconteciam a cada ano quando eram realizados seminários congressos para explanação das pesquisas acadêmicas realizadas no Parque Nacional Serra da Capivara: Durante os outros meses o museu funcionava para simples visitas dos que interessassem em ir conhecer a exposição tida como auto-explicativa. O patrimônio ligado ao PARNA parece ser mais valorizado pelo público de outras regiões que freqüentemente visitam o museu e o PARNA da Serra da Capivara no intuito de conhecer as pesquisas e as descobertas arqueológicas no sul do Piauí. Cabe aos museus adaptarem os seus espaços de educação como fonte de comunicação e diálogo e acessibilidade a todos os tipos de público fomentando discussões e interação entre grupos criando laços de afinidade e apropriação em relação ao museu através de intercâmbios de significados, nos quais as mensagens, 51 as pessoas e as suas culturas interagem, essas estratégias têm contribuído nos últimos anos em aproximação da comunidade escolar com as exposições e o diálogo no Museu do Homem Americano. É preciso ressaltar também que o processo de aproximação da comunidade local com o patrimônio do PARNA foi reforçado a partir das implantações dos Campi Universitário tanto estadual UESPI em 1999, e Federal UNIVASF em 2004. O ingresso de um percentual da comunidade nestas instituições fez com que tal público se aproximasse do debate sobre a importância patrimonial do PARNA da Serra da Capivara. Já no ramo da nova museologia a partir dos anos 1960, os museus passaram a ser interpretados como agente provocador de mudanças em busca de um desenvolvimento social, propondo a organização dos museus a desenvolver atividades voltadas para a demanda da sociedade, portanto, não interessa apenas as exposições auto-explicativas, é preciso um contato entre ser humano e objeto, diálogo entre grupos, formação de opinião que podem ser contidas a partir do intercambio entre grupos. Concluindo é de fundamental importância que as atividades em educação patrimonial sejam sistematizadas e participativas tanto da comunidade escolar, como a comunidade em si, isso fará com que essa população busque a compreender a historia dessas civilizações que deixaram registros primitivos nas rochas do PARNA da Serra da Capivara, bem como conservar o ambiente cultural e natural, adotando como pertencimento simbólico, e que essas atividades possam ser estruturadas como uma linha de parcerias com as secretarias de educação, cultura, turismo e meio ambiente, não ficando restritas a algumas unidades escolares ou 52 comunidades especificas, continuado as visitas aos sítios arqueológicos, os diálogos perante as exposições no Museu do Homem Americano, como no Parque Nacional Serra da Capivara conhecido como Museu a céu aberto, para que possam suprir esse tipo de carência cultural na região, e aumente a procura por esses espaços e que eles sintam sujeitos desse processo de preservação e conservação do patrimônio cultural. . 53 VI REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS MEIRA, Ana Lúcia Goelzer. 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Fica criado, no Estado do Piauí, o Parque Nacional da Serra da Capivara, com a área de aproximadamente 100.000 ha, subordinado ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBDF Autarquia Federal vinculada ao Ministério da Agricultura, compreendida dentro do seguinte perímetro: o ponto inicial (ponto 1) é determinado a 1.000 m a oeste da nascente principal do Riacho Nova Olinda sobre o paralelo 08º50'S, desse ponto segue em linha seca de aproximadamente 20.500m coincidente ao paralelo 08º50'S até o ponto geograficamente determinado pelas coordenadas 42º32'28"W E 08º50'S. Deste ponto segue por aproximadamente 16.000 m no sentido W-L (oeste-leste) acompanhando a cota de 400 m até encontrar linha telegráfica que liga São João do Piauí a São Raimundo Nonato. Continua em direção norte, pela esquerda da linha telegráfica a até o cruzamento desta com o Riacho Bom Jesus. Deste ponto segue em uma linha no sentido N-W (norte-oeste) de aproximadamente 1.500 m até encontrar a nascente de um dos aluentes do Riacho Bom Jesus. Sobe o Riacho Bom Jesus por uma linha distante 1.000 m da margem esquerda até sua nascente principal no encontro do paralelo 08º42'S. Segue este paralelo no sentido L-W (leste-oeste) por uma linha coincidente de aproximadamente 9.400 m até um ponto sobre este paralelo a 1.000m da margem direita do Riacho Gruta do Pinga. Desce o Riacho Gruta por uma linha distante 1.000 m da margem direita até encontrar o paralelo 08º38'51"S, segue por uma linha coincidente a este paralelo no sentido L-W (leste-oeste) por 5.700 m aproximadamente até o ponto distante 1.000 m da margem direita do Riacho Toca da Onça. Desce este Riacho por uma linha distante 1.000 m da margem direita até encontrar um caminho secundário no sentido L-W (leste-oeste) atravessando a Serra Grande seguindo no encontro do Riacho dos Chagas no sentido S-N (Sulnorte) até o paralelo 08º30'S. Segue a linha coincidente deste paralelo até o ponto distante 1.000 m da margem esquerda do Riacho Baixo da Lima. Sobe o Riacho Baixo da Lima por uma linha distante 1.000 m da margem esquerda até o encontro do Riacho Nova Olinda, subindo este por uma linha distante 1.000 m da margem esquerda até encontrar o ponto inicial sobre o paralelo 08º50'S, fechando assim o perímetro. Art. 2º. O Parque Nacional da Serra da Capivara, tem por finalidade precípua, proteger flora e fauna e as belezas naturais, e os monumentos arqueológicos, no local existente e fica sujeito ao regime especial do Código Florestal, instituído pela Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. 58 Art. 3º. Fica o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal incumbido de em um prazo máximo de 90 (noventa) dias, baixar o regimento dessa unidade de conservação. Art. 4º. Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Brasília, 5 de junho de 1979; 158 da Independência e 91 da República. JOÃO B. DE FIGUEIREDO Ângelo Amaury Stabile Diário Oficial da União - Seção 1 - 06/06/1979 , Página 8035 (Publicação) 59 ANEXO 2 ANEXO 3 60 ANEXO 4 ANEXO 5 61