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Desporto FUTEBOL. COMO NASCEM AS CANÇÕES MAIS GRITADAS NOS ESTÁDIOS QUEM FAZ AS MÚS ICAS DAS CLAQUES Copiam temas estrangeiros, adaptam músicas populares e recuperam hitsantigos. Mas os adeptos nacionais também inventam os cânticos que ouvimos. Veja como. Por Ana Catarina André A maioria das claques gravou as canções em CD J 94 Apesar de terem canções dedicadas aos jogadores, uma das tradições dos No Name Boys (Benfica) é recuperar músicas antigas. “Vamos buscá-las a cassetes velhas. Os No Name sempre tiveram na cabeça que são diferentes”, conta à SÁBADO um dos elementos do grupo, que não se quis identificar. Apesar disso, têm temas mais recentes. “O último é o Dicen que Estamos Locos de la Cabeza, da claque argentina San Lorenzo.” Normalmente, aos 30 minutos de cada jogo o grupo canta o hino do clube. Ao contrário do que acontece no Benfica, no Directivo Ultras XXI e na Juve Leo (do Sporting) parte das músicas resulta da troca de ideias entre adeptos. “Às vezes, é preciso pesquisar bastante na Internet. Trocamos emails com propostas de letras até ficarmos satisfeitos”, explica Nuno Nunes, que forma com João Nascimento o “núcleo de criativos” do Directivo. “As canções são, na maioria, adaptações de claques estrangeiras, sobretudo italianas e sul-americanas, ou então letras que fazemos a partir de músicas populares.” Em 10 anos, o Directivo fez mais de 300 canções para o Sporting. “Temos músicas para o início e para o fim dos jogos, para os momentos em que a equipa está a perder e para as alturas em que está ganhar.” O último tema, apresentado em meados de Janeiro, “puxa ao coração”, diz João Nascimento. “Baseia-se numa canção marroquina que encontrei no YouTube. A letra diz: “Fiel à minha crença/Ao meu amor/À minha GETTYIMAGES oão Nascimento ia a caminho de Bilbau com a claque do Sporting para ver a equipa jogar as meias-finais da Liga Europa, em Abril de 2012. Ouvia a música que passava no rádio do autocarro quando, de repente, levou as mãos à cabeça e gritou: “Pára tudo! Pára tudo!” Os outros elementos da claque Directivo Ultras XXI olharam para ele, espantados. “Pensaram que me estava a sentir mal, mas tinha acabado de criar uma letra para uma canção”, conta à SÁBADO João, de 26 anos, hoje desempregado, que está no Directivo desde os 18. “Inspireime naquela canção muito famosa nos meios estudantis, A Mulher Gorda...”. Logo depois daquele jogo, que o Sporting perdeu por 3-1, falhando o acesso à final, os membros da claque criada em 2002 adoptaram a música de João Nascimento e começaram a entoá-la: “Ó grande Sporting/Por ti eu vou cantar/Juntos na curva/um só nome eu vou gritar!” Todas as claques dos clubes da I Liga têm músicas de apoio às respectivas equipas. Muitas tornaram-se verdadeiros hits. Entre os adeptos do Sporting, Só Eu Sei porque não Fico em Casa, da Juve Leo, tornou-se um hino. No FC Porto, Allez, Porto! Allez! Nós Somos a Tua Voz é das canções mais ouvidas no estádio do Dragão. Na Luz, é comum ouvir a bancada torcer por Oscar Cardozo, repetindo a letra: “Tenham cuidado, ele é perigoso, ele é o Oscar Tacuara Cardozo!” Ou o estádio levantar-se a gritar: “Oh! Sport Lisboa e Benfica, o campeão!” 14 FEVEREIRO 2013 SÁBADO fé/Sporting, nunca te vou deixar/Tu fazes parte de mim.” Devido à inspiração para esta nova canção, afirma: “As claques de clubes do Norte de África já começam a ter influência em Portugal”. Algumas das músicas do Directivo estão gravadas em CD. Aliás, o hábito de registar as canções é frequente na maioria das claques, da Juve Leo aos Bracara Legion (Sporting de Braga) ou White Angels (Vitória de Guimarães). Também há cânticos que “surgem” enquanto os jogos decorrem, como é o caso de um dos mais conhecidos dos Superdragões, RICARDO MEIRELES Os Superdragões fazem todos os anos 40 canções novas Sempre que têm uma música nova, os Superdragões ensaiam na sede. No Sporting, a Juve Leo pratica nas viagens de autocarro, mas o Directivo Ultras XXI aproveita os jogos de outras modalidades, como futsal e hóquei, para as testar. MUITO ANTES DISTO, em 1943, os adeptos do Vitória de Setúbal chegaram a ensaiar na praça de touros da cidade. “Foi a nossa primeira canção. Foi feita por um jornalista do jornal A Bola chamado João Lúcio. Era um tema inspirado na banda sonora do filme Cantiga da Rua”, recorda António Serra, actual líder da claque VIII Exército. Em 1943, alguns dias antes de um jogo no estádio da Luz, que foi jogado em Julho, um grupo de adeptos do Setúbal distribuiu 10 mil panfletos pela cidade com a letra da música. “Quando o Vitória entrou em campo, parecia que Setúbal estava a invadir Lisboa. Apesar da derrota por 5-1, um jornalista do Mundo Desportivo escreveu que o VIII Exército tinha invadido a capital. Na altura, em plena II Guerra Mundial, o VIII Exército era um batalhão inglês que acabava de derrotar os alemães no Norte de África. E, numa comparação ao batalhão, a claque ficou com o nome de VIII Exército”, explica Serra. l Antes de um jogo com o Benfica, os adeptos do Setúbal ensaiaram as canções na Praça de Touros do FC Porto. “O SLB, filhos da p... apareceu num jogo no estádio da Luz há seis anos. Os adeptos do Benfica cantavam ‘SLB, SLB, SLB, glorioso, SLB’ e nós alterámos ali a letra”, explica à SÁBADO Fernando Madureira, líder da claque portista. Durante os jogos, é ele o responsável por comandar os adeptos, com a ajuda de um megafone. “É o próprio jogo que dita o que se canta. Se estivermos a perder por 1-0 não cantamos para os jogadores, porque se desconcentram”, afirma. Por jogo, os Superdragões cantam 20 a 30 temas acompanhados por dois bombos. “Fico muitas vezes rouco”, confessa Madureira. www.sabado.pt Multimédia Veja no site alguns vídeos das canções das claques 95