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Desporto
FUTEBOL. COMO NASCEM AS CANÇÕES MAIS GRITADAS NOS ESTÁDIOS
QUEM FAZ AS MÚS ICAS DAS CLAQUES
Copiam temas estrangeiros, adaptam músicas populares e recuperam hitsantigos. Mas os adeptos nacionais também inventam os cânticos que ouvimos. Veja como. Por Ana Catarina André
A maioria das
claques gravou
as canções
em CD
J
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Apesar de terem canções dedicadas aos
jogadores, uma das tradições dos No Name
Boys (Benfica) é recuperar músicas antigas.
“Vamos buscá-las a cassetes velhas. Os No
Name sempre tiveram na cabeça que são diferentes”, conta à SÁBADO um dos elementos do grupo, que não se quis identificar.
Apesar disso, têm temas mais recentes. “O
último é o Dicen que Estamos Locos de la Cabeza, da claque argentina San Lorenzo.” Normalmente, aos 30 minutos de cada jogo o
grupo canta o hino do clube.
Ao contrário do que acontece no Benfica, no Directivo Ultras XXI e na Juve Leo (do
Sporting) parte das músicas resulta da troca de ideias entre adeptos. “Às vezes, é preciso pesquisar bastante na Internet. Trocamos emails com propostas de letras até ficarmos satisfeitos”, explica Nuno Nunes,
que forma com João Nascimento o “núcleo
de criativos” do Directivo. “As canções são,
na maioria, adaptações de claques estrangeiras, sobretudo italianas e sul-americanas, ou então letras que fazemos a partir de
músicas populares.”
Em 10 anos, o Directivo fez mais de 300
canções para o Sporting. “Temos músicas
para o início e para o fim dos jogos, para os
momentos em que a equipa está a perder e
para as alturas em que está ganhar.” O último tema, apresentado em meados de Janeiro, “puxa ao coração”, diz João Nascimento.
“Baseia-se numa canção marroquina que
encontrei no YouTube. A letra diz: “Fiel à
minha crença/Ao meu amor/À minha
GETTYIMAGES
oão Nascimento ia a caminho de Bilbau com a claque do Sporting para ver
a equipa jogar as meias-finais da Liga
Europa, em Abril de 2012. Ouvia a música que passava no rádio do autocarro quando, de repente, levou as mãos à cabeça e gritou: “Pára tudo! Pára tudo!” Os outros
elementos da claque Directivo Ultras XXI
olharam para ele, espantados. “Pensaram que
me estava a sentir mal, mas tinha acabado de
criar uma letra para uma canção”, conta à SÁBADO João, de 26 anos, hoje desempregado,
que está no Directivo desde os 18. “Inspireime naquela canção muito famosa nos meios
estudantis, A Mulher Gorda...”.
Logo depois daquele jogo, que o Sporting
perdeu por 3-1, falhando o acesso à final, os
membros da claque criada em 2002 adoptaram a música de João Nascimento e começaram a entoá-la: “Ó grande Sporting/Por ti
eu vou cantar/Juntos na curva/um só nome
eu vou gritar!”
Todas as claques dos clubes da I Liga têm
músicas de apoio às respectivas equipas.
Muitas tornaram-se verdadeiros hits. Entre
os adeptos do Sporting, Só Eu Sei porque não
Fico em Casa, da Juve Leo, tornou-se um hino.
No FC Porto, Allez, Porto! Allez! Nós Somos a
Tua Voz é das canções mais ouvidas no estádio do Dragão. Na Luz, é comum ouvir a
bancada torcer por Oscar Cardozo, repetindo a letra: “Tenham cuidado, ele é perigoso, ele é o Oscar Tacuara Cardozo!” Ou o estádio levantar-se a gritar: “Oh! Sport Lisboa
e Benfica, o campeão!”
14 FEVEREIRO 2013
SÁBADO
fé/Sporting, nunca te vou deixar/Tu fazes
parte de mim.” Devido à inspiração para esta
nova canção, afirma: “As claques de clubes
do Norte de África já começam a ter influência em Portugal”.
Algumas das músicas do Directivo estão gravadas em CD. Aliás, o hábito de registar as canções é frequente na maioria
das claques, da Juve Leo aos Bracara Legion
(Sporting de Braga) ou White Angels (Vitória de Guimarães).
Também há cânticos que “surgem” enquanto os jogos decorrem, como é o caso de
um dos mais conhecidos dos Superdragões,
RICARDO MEIRELES
Os Superdragões
fazem todos
os anos 40
canções novas
Sempre que têm uma música nova, os
Superdragões ensaiam na sede. No Sporting, a Juve Leo pratica nas viagens de autocarro, mas o Directivo Ultras XXI aproveita
os jogos de outras modalidades, como futsal
e hóquei, para as testar.
MUITO ANTES DISTO, em 1943, os adeptos
do Vitória de Setúbal chegaram a ensaiar
na praça de touros da cidade. “Foi a nossa
primeira canção. Foi feita por um jornalista do jornal A Bola chamado João Lúcio.
Era um tema inspirado na banda sonora
do filme Cantiga da Rua”, recorda António
Serra, actual líder da claque
VIII Exército.
Em 1943, alguns dias antes
de um jogo no estádio da Luz,
que foi jogado em Julho, um
grupo de adeptos do Setúbal
distribuiu 10 mil panfletos
pela cidade com a letra da música. “Quando o Vitória entrou em campo, parecia que
Setúbal estava a invadir Lisboa. Apesar da
derrota por 5-1, um jornalista do Mundo
Desportivo escreveu que o VIII Exército tinha invadido a capital. Na altura, em plena
II Guerra Mundial, o VIII Exército era um batalhão inglês que acabava de derrotar os
alemães no Norte de África. E, numa comparação ao batalhão, a claque ficou com o
nome de VIII Exército”, explica Serra. l
Antes de um jogo com o Benfica,
os adeptos do Setúbal ensaiaram
as canções na Praça de Touros
do FC Porto. “O SLB, filhos da p... apareceu
num jogo no estádio da Luz há seis anos. Os
adeptos do Benfica cantavam ‘SLB, SLB, SLB,
glorioso, SLB’ e nós alterámos ali a letra”,
explica à SÁBADO Fernando Madureira, líder
da claque portista. Durante os jogos, é ele o
responsável por comandar os adeptos, com
a ajuda de um megafone. “É o próprio jogo
que dita o que se canta. Se estivermos a perder por 1-0 não cantamos para os jogadores, porque se desconcentram”, afirma. Por
jogo, os Superdragões cantam 20 a 30 temas
acompanhados por dois bombos. “Fico muitas vezes rouco”, confessa Madureira.
www.sabado.pt
Multimédia
Veja no site alguns vídeos das canções das claques
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