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universidade do estado da bahia departamento de educação campus ii/alagoinhas colegiado de letras mestrado em crítica cultural curso de extensão formação de gestores e produtores culturais vozes da periferia letras de rappers de alagoinhas como literatura marginal Alagoinhas Maio de 2010 universidade do estado da bahia - uneb lourisvaldo valentim da silva reitor josé cláudio rocha pró-reitor de pesquisa e pós-graduação adriana marmori pró-reitora de extensão antônio gregório benfica marinho diretor do departamento de educação do campus ii adilson correia coordenador do colegiado de letras osmar moreira coordenador do programa de pós-graduação em crítica cultural wilton oliveira mestrando em crítica cultural mc osmar aluno do curso de extensão gestão e produção cultural ficha catalográfica letras de rap de alagoinhas como literatura marginal/ orgs. osmar moreira e wilton oliveira. alagoinhas: fábrica de letras/usina de produção do crítica cultural, maio de 2005 (1º exemplar das edições populares. produção mensal 1. 2. letras e linguística, crítica cultural – universidade do estado da bahia. título CDU: 807 índice autor: mc mamah autor: mc mamah e pinho mc/ grupo: artilharia verbal autor: mc mamah e churrasco autor: mano ed+ autores: sinal e mano ed+ autor: mc osmar autor: lino mc e mc osmar autor: lino mc autor: sinal apresentação 1: wilton oliveira apresentação 2: osmar moreira 07 14 16 19 45 52 78 80 81 110 111 1 sujeito do gueto autor: mc mamah sujeito do gueto não pode ter preconceito sujeito do gueto é com a humildade e respeito no gueto eu mim criei e tenho muito orgulho pode acreditar é o melhor lugar do mundo eu vivo nesse gueto com a paz sem preconceito e sempre procurei ser um rapaz direito a realidade das cidades e dos bairros não é tão bela principalmente dentro da favela as minas se perdendo os manos se acabando cada dia que passa é o perigo dominando a treita tá formada pra quem fala mal desse gueto pode acreditar eu sou preto do gueto sujeito do gueto não pode ter preconceito sujeito do gueto é com a humildade e respeito com a humildade e respeito eu te peço a união as palavras são mandadas do fundo do coração pra que roubar então o negócio é estudar o respeito na quebrada com certeza eu vou botar sujeito do gueto não pode ter preconceito sujeito do gueto é com a humildade e respeito 7 2 cidade violenta autor: mc mamah minha cidade tá violenta e as coisas tão sem sentido os dias vão passando e só aumenta o perigo é jovem se matando, pivete que tá no vício a droga dominando a quebrada e os conhecidos eu não quero acreditar que isso está acontecendo pivete de 12,14 e 15 estão morrendo iludidos dá pra ver, com crime, arma e droga e a sociedade com sentimento de revolta o perigo é constante conheça a realidade atos de covardia aqui rola à vontade porra eu não aguento, com tanta calamidade os manos se matando às margens da sociedade meu deus eu não aguento com tanto sofrimento os manos no perigo e alguns estão morrendo poxa é isso mesmo é um grande pesadelo os manos se acabando e sua mãe no desespero escuto o pauta livre e não me sinto à vontade com marcos aragão narrando a calamidade tanta desigualdade que rola na cidade alguns estão morrendo por falta de honestidade já tá confirmado que o barato aqui é louco que os manos hoje em dia andam com a corda no pescoço mano faz um esforço e tenta mudar porque você errando só faz o sistema se alegrar 8 tu para pra pensar, e pensa no futuro lembra de tua mãe que te trouxe pra esse mundo tu sabes que sua mãe com certeza não queria que tu vacilasse e tivesse essa vida vida de malandro, vida de viciado só puxando o cano e fazendo atos errados o fato é verídico pode acreditar eu moro no barreiro e vejo o bicho pegar morreu mano neblina, morreu mano bochecha mataram um mano meu que deus com ele esteja salve o mano lula eu tenho ele na cabeça e no coração ele era um cara firmeza que só deixou tristeza, aqui no nosso bairro covardemente assassinado, mataram o cara errado que deus com ele esteja e a deus seja louvado que todos os pecados se exterminem aqui na terra que o homem pare e pense e não promova mais a guerra eu vejo a hipocrisia se instalando na cidade os manos vêm e matam pra ficar atrás das grades viver sem liberdade e sem piedade inhambupe teve um caso que chocou nossa cidade caso de magia mano veja que treta quarenta facadas depois de morto estuprado tinha apenas 9 anos morreu pelo filho do diabo o homem maltrata e desafia a lei de cristo no final dos tempos esse daí tá fudido vai ser esquecido perdido na miséria 9 os manos vão colher tudo que plantaram na terra olha que fita, atirou no próprio espelho é isso que eles querem que vocês criem um pesadelo e treta todo instante estilo bang bang as ruas da cidade estão manchadas de sangue 3 nóia, autor: mc mamah parte 2 tem jovem que pela droga sua vida foi marcada algumas já estão perdidas, outras desestruturadas a droga te destrói, te joga pro fim do túnel suja o seu nome com titulo de vagabundo ela não escolhe as pessoas que quer pegar ou homem, mulher qualquer um que queira usar pra entrar é muito fácil, o difícil é pra sair e se não for forte, tu só sai no fim no mundo existem muitos tipos de drogas algumas desconhecidas, outras já são famosas tem o álcool. a pedra, o pó e a maconha essas são as drogas que te deixam na vergonha você não tem respeito, não tem dignidade em estrutura de pessoa se torna um covarde cuidado irmão e preste atenção se a droga te pegar ela te leva pro caixão 10 o álcool irmão é a pior de todas você bebe numa boa e tá liberado quando for perceber você já tá estragado tem a overdose ou a cirrose elas só se contentam quando virem a sua morte a pedra também um negócio ruim mas de alguma forma ela te seduz você vira safado, não é mais considerado tu rouba, sufoca, encomenda sua cova de alguma forma a pedra te sufoca o pó eu nem te falo, é droga pra senado é droga pra prefeito, juiz e delegado e o pobre que se envolver já era virou finado a maconha irmão te deixa alucinado queima seus neurônios e você fica endoidado então presta atenção e diga não às drogas seja um cidadão e respeite sua senhora. 11 4 afrodescendentes autor: mc mamah minha postura é de perifa, represento alagoinhas sou negro, sou bonito tenho orgulho da minha vida e pra falar, representar o povo dessa cidade é em cima do palco que tenho muita liberdade respeite as mulheres e saibam que são capazes de representar o gueto e fazer muito mais com atitude e respeito, com responsa no peito eu carrego uma missão de pregar a união deus é que me guia e através da minha rima representa a perifa de calça e de bombeta de cabelo entrançado sempre preocupado com os manos que estão do lado, as minas se perdendo envolvidas com veneno, os manos vão sofrendo cada dia vão morrendo, mas isso vai acabar que pra isso eu vou lutar, representado o gueto e a minha periferia refrão pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os pretos nunca se iludem pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os guetos nunca se iludem o gueto no poder, isso é imaginário é só pra tu saber 12 que isso parte dos otários, tem mano que é racista e só faz patifaria, não aposta na fé, não passa de mané tem mano que é tirado a um revolucionário mas pode ter certeza não passa de um pelo saco otários vacilões, não passam de um racista, é bom tu respeitar o povo da perifa, é confusão no território se você mexer em mim, preto periférico, denominado mc. pros manos que não acredita, eu vou até o fim, na missão, no compromisso de pregar a paz aqui tem preto que é sangue bom, não posso agravar a todos, mas tem mano que vacila se liga faz um esforço tem mina que se vende sujando a sua alma não se dar respeito e da moral pra os babacas refrão pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os pretos nunca se iludem pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os guetos nunca se iludem as nossas atitudes não são iguais as dos brancos mas o microfone eu represento o meu nome eu sei que não é fácil pra representar o gueto mais quando subo no palco pode crê eu estremeço sem precisar ralar em baixo pra você ficar ligado quando eu pego o microfone você fica incomodado se ligou com a presença desse preto de perifa? é só pra tu saber que eu me encontro na bahia 13 quem desacreditou, eu sou do interior agreste nordestino no rap sou um terror mostro que tenho responsa quer saber não quero fama também não quero ganância e aquele que tem desandar tenho muito respeito pelo meu povo do gueto a minha luta é pra acabar com preconceito mas não depende só de mim pra completar essa missão convido o meu povo que vive nesse mundão pra vim lutar comigo contra a violência e racismo, eu sei que a perifa passa por grande perigo em cima da batida a gente vai representando rimando e falando pra você não esquecer que eu sou do interior e tenho muito proceder refrão pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os pretos nunca se iludem pra diferenciar as nossas atitudes e pra você saber que os guetos nunca se iludem (pra diferencia as nossas atitude e pra você sabe que os guetos nunca se iludem) 14 5 bala na cabeça autor: mc mamah e pinho mc/ grupo: artilharia verbal já vi mano matar já vi mano morrer vencer o pinote pra poder sobreviver a realidade é dura e crua dentro da favela e o mano que vacila vai pra debaixo da terra minha quebrada é violenta é bom os manos se ligar quando a polícia chega é com ordem pra matar já morreu inocente tubarão poucos que devem mataram mano edy com menos de dezessete pivete sangue bom e muito considerado foi morto por engano fizeram trabalho errado aqui o bicho e é na cara dura só existem dois caminhos é a cadeia ou sepultura a malandragem tá perdendo pra porra da burguesia todo dia eu vejo um pobre dentro da delegacia passando dificuldade esculachado pela mídia que só vê a versão contada pela polícia mídia sensacionalista cheia de patifaria faz tudo pra se vender aos porcos da burguesia é bala na cabeça pra quem desacredita são poucas opções e não tem como opinar a realidade é pesada e eu não uso maquiagem o povo se incomoda por que eu passo a verdade. rf. é bala na cabeça é arma na cintura esse é o cotidiano a realidade é dura e crua 15 pra quem desacredita essa é a lei da rua, mano se tu vacilas pra sepultura (bis) lá na rua tá é foda e essas coisas me incomodam exterminar a juventude por causa das drogas é maconha pó e crack foram os fardinhas esse mata à vontade morre inocente morre alemão pra vira noticia no se liga bocas, eu vejo a mãe chorando por causa do barreiro tá em luto mano se liga no perigo para de vacilar e mantenha sua postura você sempre soube que a realidade é dura e crua aposenta o seu ferro congela o seu dedo esquece a vida louca e não entra em desespero é idéia positiva elevando sua autoestima esse é o procede da família artilharia a polícia burguesia esse estão no bicho, por isso eu te apresento a face do inimigo que vai ser alvejado com apenas trinta tiros artilharia verbal então é isso sou gângster rap da família fbs superei sua estatística pivete articulado no rap bem nervoso pode acreditar sou da família bicho solto honro minha família e meus amigos e quando o dia nascer nem tudo esta perdido refrão é bala na cabeça é arma na cintura esse é o cotidiano a realidade é dura e crua pra quem desacredita essa é a lei da rua, mano se tu vacilas pra sepultura (bis) é dia a dia violento e o clima está sangrento o artilharia tá ligado que povo tá no veneno a sociedade esta manchada com raiva por dentro quem tá na vida do crime só caminha quanto o vento muita gente está morrendo pessoa destemperada algumas estão se escondendo muitas estão traumatizada por causa da violência que tomou conta da quebrada refrão 16 é bala na cabeça é arma na cintura esse é o cotidiano a realidade é dura e crua pra quem desacredita essa é a lei da rua, mano se tu vacilas pra sepultura (bis) 6 alvejaram o barreiro autor: mc mamah e churrasco periferia é o alvo do sistema e disse que lá só bandido só tem problema que o movimento do trafico é um absurdo, que o 21 é escola de vagabundo de ponta a ponta na cidade que eu moro é só patifaria, de noite ou de dia é bom se livrar das covardias, que deram dois tiros na cabeça do pivete ali na fábrica por causa de um passarinho, o que piada a salvação foi que o pivete não capotou está na área, de novo foi no inferno e voltou e perguntou ao diabo por que aquilo tudo e ele te respondeu por que já tá no fim mundo e na irmã dulce que não tem nada de santo quem tem sua ferramenta chega atirando matando pivete até por causa de menino ligeiro perdeu a vida e tal e na moral vou chegando e me esquivando vida do crime é sem sucesso fulano é cemitério pra quem tira de bandido você que agrada o sistema se liga no perigo cheirando matando roubando correndo alto risco e o sistema só que ver a nossa infelicidade periferia é o alvo se jogar cumpadre e no barreiro pra ver a cara da pobreza pivete matando roubando pra ter 17 certeza e pra completar agora vou te eu sou mano mamah e não vou te incentivar se lembra ainda daquela história que o mano jobe foi morto na sua porta no mundo da malandragem seja sempre esperto pra que no outro dia não vá parar no cemitério bagulho na 28 uma gomeração e um cara quase morto um tiro na coluna ficou aleijado fica na paz de deus mano marcos e que jesus já ta por vim e o diabo já tá aqui e trouxe a polícia pra matar e pra mentir e pra tirar uma onda com o pessoal do gueto do gueto do barreiro perto da fazenda é uma cisterna aberta e par de mães que lamenta de seu filho perdido no mundo da ilusão se liga meu irmão que esse é mundo do cão alvejaram o barreiro pela frente e pela costa ninguém se importa ninguém se importa na calada da madruga um barulho me assusta não sei se é a samu ou se é a viatura só sei que a mente pesa e eu não sei pensa mais nada e eu sei se vacila os mãos brancas vêm e matam aqui é só mancada os manos estão perdidos hoje na periferia o que domina é o vicio, o vício de mata de fuma e vacila ei mano segura a onda que o sistema se agrada com essas patifarias que acontecem na na cidade por isso que os jovens estão perdendo a liberdade porra pare e 18 pensa e ver se tu acerta nós temos que honrar o nome da favela alvejaram o barreiro pela frente e pelas costas ninguém se importa ninguém se importa é sobrou pra mim tem que prevê o fim, e todo mundo sabe que esse fim não feliz mundo da malandragem só trás mau meu cumpadre escuta essa letra que aqui só tem verdade os manos atrás das grades pedindo por piedade passando sofrimento e uma grande crueldade, isso é liberdade responde minha pergunta para de dar brecha e mantém sua postura para que depois não par na viatura pois acredite pode acreditar a nossa liberdade não foi feita pra comprar alvejaram o barreiro pela frente e pelas costas ninguém se importa ninguém se importa 7 o mendigo autor: mano ed+ caminhando na estrada sozinho em plena madrugada, sentindo muito frio nem um sinal de gente no meio do caminho tava bastante mal de estômago vazio 19 só tinha o cobertor e um pedaço de papelão meu santo protetor um livro velho na mão a fome aliviou ‘’quando achei’’ a metade do pão que ainda tive de dividir com o meu cão pensando no tempo precioso que desperdicei mundo pecaminoso, eu me entreguei ‘’falhei” pois não pensei em chegar onde cheguei de tudo que perdi, foi só o que conquistei sou um pobre coitado desprezado à deriva um zé ninguém sem espectativas ‘’meu’’ carregando mágoas amargas, marcas e feridas perguntando a deus o que vale essa vida crise a penar o mendigo por falta de abrigo o mendigo total, dificuldade sim o mendigo não tem nem um valor o mendigo passa necessidade vestindo tralhas, choramingando migalhas no ponto pedindo esmola pior que um cão sem dono as drogas servem como sedativo em caso de abondono faz um ano que não corto o cabelo nem tomo banho não passo de um fracassado jogado na sargeta o miserável que bebe água da valeta imprestável e quem ninguém respeita pobre coitado, cato fruta podre na feira aquele que cheira mal e causa medo às pessoas a patroa no sinal aperta logo a bolsa 20 às vazes penso em roubar uma loja de roupa mas minhas chances sempre foram tão poucas acho que devo me internar ni algum albergue quem sabe lá “eu me regenere” recupere minha dignidade como era sem me humilhar pra tirar a barriga da miséria um vagabundo sem ter onde cair morto um porco imundo no fundo do poço atolado até o pescoço, largado ao desgosto lava meu rosto com a água do esgoto um delinquente vivendo ao relento, passando fome sem lenço sem documento, indigente sem nome caminhando contra o vento, pobre homem a tanto tempo durmo em baixo da ponte triste a chorar o mendigo, estado decadente o mendigo, perdeu a liberdade enfim o mendigo, carente de amor o mendigo, só quer uma caridade escorado na calçada com a garrafa de cachaça cheio de ressaca, a mente fraca no meio da praça, a consciência pesada e a pleiboisada dando risada da minha desgraça me servia como incentivo os seus conselhos cada capítulo, versículo, eu não esqueço 21 mas o egoísmo me fez esbanjar dinheiro me tornei um mendigo sem rumo nem paradeiro cansado de ver o mendigo na lata de lixo quando passo pelo ponto coletivo almejando um amparo, um abrigo eu imagino se isso fosse comigo será que estou pagando meus pecados ainda vivo? pois no passado cometi um grave delito mas por acaso não estou arrependido faria tudo de novo, se isso fosse preciso nesse momento eu preciso falar com jesus cristo fazer uma prece, uma oração por meus irmãos aflitos ó pai de toda essa nação, olhai por seus filhos nos livrai da maldição, afaste-nos do perigo que o poder dessa canção chegue no nosso ouvido se isso é som de ladrão, estou absorvido a diferenciação vem do alternativo daí então sou apenas um individuo lutando por reparação nesse sistema falido se depender da oposição, um falecido de coração estou na missão, seguindo o compromisso aí sangue bom, preste atenção no que eu digo 22 8 informe autor: mano ed+ a maconha é droga sim, mas não é mais droga que a droga do alnafabetismo não é mais droga que a droga da falta de atendimento médico não é mais droga que a droga do preconceito + não é mais droga que a droga da fome + não é mais droga que a droga do racismo + não é mais droga que a droga da superlotação nas penitenciárias + não é mais droga que a droga do muro de berlim ; não é mais droga que a droga da corrupção + não é mais droga que a droga do desemprego + não é mais droga que a droga da obra do metrô parada em salvador não é mais droga que a droga do o aumento no índice de mortalidade da juventude brasileira anualmente não é mais droga que a droga da falta de saneamento básico / não é mais droga que a droga do f.m.i. + não é mais droga que a droga da injustiça + não é mais droga que a droga do planalto central + não é mais droga que a droga da casa branca + não é mais droga que a droga da defensoria pública + não é mais droga que a droga do salário mínimo + não é mais droga que a droga da poluição nas megalópoles e metrópoles / não é mais droga que a droga do desvio de verbas + não é mais droga que a droga da exclusão + 23 não é mais droga que a droga do governo aproveitador + não é mais droga que a droga da falta de oportunidade + não é mais droga que a droga do aumento do salário dos deputados estaduais + não é mais droga que a droga da seca no sertão sem água potável + não é mais droga que a droga do trabalho infantil não é mais droga que a droga da exploração de menores não é mais droga que a droga do buraco na estrada + não é mais droga que a droga da traição ] não é mais droga que a droga do abandono ] não é mais droga que a droga da inveja ] não é mais droga que a droga do lixão do rio tietê / não é mais droga que a droga da prepotência + não é mais droga que a droga do aquecimento global / não é mais droga que a droga da ambição ] não é mais droga que a droga do alto preço dos medicamentos nas farmácias e drogarias + não é mais droga que a droga da pobreza ] não é mais droga que a droga do desmatamento florestal / não é mais droga que a droga da caça proibida das espécies em extinção / não é mais droga que a droga do crime + não é mais droga que a droga da discriminação ] não é mais droga que a droga do álcool, que destrói famílias não é mais droga que a droga da cocaína, que entope suas veias não é mais droga que a droga do crack que suga sua alma não é mais droga que a droga da sousa cruz não é mais droga que a droga do clus clã + não é mais droga que a droga da mutação genética 24 não é mais droga que a droga do egoísmo ] não é mais droga que a droga da apologia maldosa + não é mais droga que a droga do policial infrator + não é mais droga que a droga da situação precária nas favelas não é mais droga que a droga do político opressor + não é mais droga que a droga da qualidade de vida da população periférica + não é mais droga que a droga do machismo idiota não é mais droga que a droga da violência doméstica não é mais droga que a droga do dinheiro sujo + não é mais droga que a droga da agressão contra mulheres não é mais droga que a droga do nazismo ; não é mais droga que a droga da ilusão + não é mais droga que a droga do autoritarismo supremo + não é mais droga que a droga da guerra mundial ; não é mais droga que a droga do absolutismo ] não é mais droga que a droga da fabricação de armas ; não é mais droga que a droga do colarinho branco não é mais droga que a droga da miséria + não é mais droga que a droga do desrespeito + não é mais droga que a droga da quadrilha organizada não é mais droga que a droga do desespero + não é mais droga que a droga da falsidade de iscariotes não é mais droga que a droga do jogo de azar + não é mais droga que a droga da falsa abolição + não é mais droga que a droga do sistema que aliena não é mais droga que a droga da mentira ] não é mais droga que a droga do homem bomba nos aeroportos internacionais ; + 25 não é mais droga que a droga da rinha de animais não é mais droga que a droga do conflito entre gangues rivais + não é mais droga que a droga da pedofilia ] não é mais droga que a droga do imposto e juros altos + não é mais droga que a droga da propina ilegal + não é mais droga que a droga do agrotóxico nos alimentos não é mais droga que a droga da faixa de gaza ; não é mais droga que a droga do excesso de fermento no pão não é mais droga que a droga da incompetência da lei + não é mais droga que a droga do subdesenvolvimento sul-americano não é mais droga que a droga da desigualdade social e racial + não é mais droga que a droga do grupo de extermínio em alagoinhas-ba + não é mais droga que a droga da gripe suína estrangeira /... não é mais droga que a droga do t.r.e. + não é mais droga que a droga da dengue que preocupa a vigilância comunitária .../ não é mais droga que a droga do demagogo que se passa por pedagogo + não é mais droga que a droga da farsa de candidatos para a eleição + não é mais droga que a droga do aborto não é mais droga que a droga da mídia que manipula as informação no intuito noticias só para aumentar a audiência no ibope + não é mais droga que a droga do suborno não é mais droga que a droga da série-novela “malhação” + não é mais droga que a droga do pai que não assume paternidade não é mais droga que a droga da covardia que sofreu o índio pataxó + 26 não é mais droga que a droga do abuso de crianças não é mais droga que a droga da mãe que maltrata seu filho não é mais droga que a droga do protocolo + não é mais droga que a droga da maldade do ser humano + não é mais droga que a droga do terrorismo ; não é mais droga que a droga da burocracia + 9 amizade sem dor autor : mano ed+ traiçoeiros canalhas nomes que fazem jus a tua raça traem a sua pátria por ouro por prata cospem na própria cruz traidores de jesus sua máscara cairá onde não haverá luz mala suja já não tem o que perder atrasa o lado essa é pra você que tá colando em banca de safado acostumado a pagar pra os caras de outra área não leve a mal mas não sou fã de canalha fica vacilando com os manos da quebrada na primeira oportunidade vão fazer sua carcaça vc não me engana já sei da tua fama pode ter a certeza que eu não dou mais confiança enquanto você tem todo mundo trata bem e do contrário o que fazem te deixam ao desdém chega tão contente vem logo abrindo os dentes e o se eu fosse inocente se sente até o presidente 27 te convida para festa só pra o que não presta é numa dessas que você leva um tiro na testa chama de parceiro é seu companheiro é melhor ficar ligeiro que ele quer é te levar pra o cheiro sempre que eu passo ele me pede um cigarro quando eu não tenho ele diz que sou safado diz ser irmão de fé acredite se quiser quando vou comprar cerveja e ele queixa sua mulher o valor de uma amizade não se estima em quilates não se divide em partes não há dinheiro que pague troca uma ideia positiva sem maldade no olhar tá pro que der e vier sempre que precisar saber chegar cumprimentar é isso fundamental um aperto de mão sem querer ser nem coisa e tal alguém que possa confiar contar pra qualquer hora sem qui qui qui ca ca ca nem jogar conversa fora amizade não deixa brecha sem deslizes comédia despeita inveja o judas morreu não teve o que deixar deixou a falsidade pra o covarde se matar 28 10 a vida ñ é sorvete com lorê autor: mano ed + existe tanto sacrifício pra viver e fica tão difícil de entender por isso que eu insisto em te dizer a vida ñ é sorvete com lorê nesse momento eu preciso de um ombro amigo pra que eu possa desabafar tudo o que sinto alguém que compreenda bem os meus motivos de ñ viver como refém do iníquo desde o inicio hoje nada parecido uma pá de camaradas desaparecidos um indício quantos foram mortos e feridos foi difícil pra você perder um ente querido vou lutar sobreviver preciso de uma chance como posso ser feliz sem oportunidade aqui sem lar assim pra me regenerar livre a sonhar ter estabilidade ser alguém de verdade 29 11 esse é meu brasil autor: mano ed+ esse é meu brasil pátria mãe gentil puta que pariu esse povo varonil no céu de anil geração 2000 do curto pavio carrego o meu fuzil esse é meu brasil estamos passando mal mais é fevereiro vamos pular carnaval o resto do ano inteiro até mesmo no natal entra e sai janeiro continua tudo igual superlotação nas penitenciarias 10% da população carcerária ação desnecessária com a situação precária no mundão 10$ a diária só deslealdade no país da impunidade os gravatas respondem em liberdade escondem a verdade trancada a 7 chaves quando deveriam esta atrás das grades mas na prepotência ñ existe penitência pra incompetência nunca haverá sentença ou você pensa que terá uma recompensa dos malas sujas uma pá de sanguessugas com dinheiro entocado em cuecas e sungas usa a cédula pra limpar a bunda com desvio de verbas e renda publica na lama caça-níqueis mensalão gautamas com muita grana e conta no bahamas agente atribui fidúcia você retribui felonia responda essa pergunta calúnia de pouca vergonha desde quando meu país deixou de ser colônia? brasil esse é meu brasil um lugar sombrio tem que ser viril com o sentimento brio no relento frio terreno baldio do seio vazio eu fico a ver navio repara meu perfil uma moeda tio no cenário vadio muito boca de funil esse é meu brasil fome desemprego sou mais um sem nome na lista dos 30 herdeiros ñ tenho dinheiro mas sei me virar só que tem brasileiro que fica ao deus dará ñ fui marinheiro que remou contra maré ñ costumo falhar eu vou andar com fé pra o que der e vier estou de cabeça erguida de orelha em pé pronto pra qualquer briga zé doar as armas é dar a cara a tapa sei que deus ñ me deu asas mas nem mãos atadas brasil 500 anos de uma história mal contada o chão todo manchado do sangue derramado de nossos ancestrais antepassado afro-descendentes de escravos hoje favelados alvo do sistema bravo como a resistência de um aço ñ veio a sucumbi é sempre bem lembrado malcom x e zumbi a todos os irmãos uma medalha de honra ao mérito as guerras acabaram mas os soldados são eternos quem viver verá pra contar os netos informação da nossa cultura tradição raça e religião passado sofrido presente mal vivido pra um futuro promissor ñ será esquecido esse é meu brasil vida desafio de caetano e gil que ñ se baniu pacato e ardil no tempo do vinil o templo do sangril 21 de abril um dia doentil ba sp rio sem tapete macio ninguém sabe nem viu ñ posso dar um pio esse é meu brasil ordem e progresso faço meu protesto em processo no congresso como se fosse et disfarçado por homens de preto e se elege um candidato que era pra estar preso a nossa gente a procura de um bom emprego é mais difícil de achar do que agulha no palheiro o contribuinte a beneficiar ele logo se encarrega de arrecadar enquanto essa merda exalar com certeza haverá miséria em todo lugar da américa na áfrica europa ásia a raça humana 31 espécie ameaçada ñ fiz facudade cresci na dificuldade peguei carrinho de mão desde o 10 anos de idade ñ tive oportunidade vítima da sociedade que fechou as portas e abriu as grades agora jogou a chave fora me deu as costas e foi-se embora o mundo dá voltas a vida é uma escola de provas e reprovas universidade é cota deus escreve certo por linhas tortas ensinar e dar nota a quem precisa ida sem volta porta de saída a ponte de chegada é o ponto de partida no grid de largada ñ tem primeiro da fila sou um delinquente plebeu fui indigente que viveu o decadente e o apogeu infelizmente deu no que deu converso com o ego faço o elo do meu eu o candidato prometeu e no governo ñ cumpriu eis o resultado desse meu brasil. 12 quem vai me julgar autor: mano ed+ paz contra todas as injustiças, quem vai me julgar? pai criador, autor da vida vem me libertar cada palavra que escrevo em meus versos é uma parábola que vaga pelo o universo informando a direção do lado certo e transmitindo a paz, em forma de manifesto falando de amor, ódio, paz e guerra do bem e do mal, do céu e a terra o que divide a burguesia da favela 32 um corpo esquartejado jogado na cisterna de onde vim as coisas também são assim e o que faz você tão diferente de mim? é que eu não pedi ou escolhi ser assim por isso me tornei um cara tão ruim apenas um moleque de família plebe com passagens no albergue cheguei aos 27 sempre fui taxado um vagabundo pivete mas meu deus não me ensinou a ser tão rebelde sei que meus erros resultam nos seus acertos e meus defeitos te fazem tão perfeito esse é o efeito, eu sei que mereço do mesmo jeito obrigado agradeço o crime se alastra como avalanche e avassala tudo e todos feito o tsunami o crime que derrama lágrimas de sangue e dar a volta ao mundo tipo uma roda gigante o crime organizado por máfias e gangues contracenando estrelas e coadjuvantes o crime que trás resultados agravantes nas estatísticas um dado alarmante o crime que acelera igual motor de arranque que favorece a classe dominante o crime que agora não é como antes e hoje a lua não é mais dos amantes quem vai me julgar? 33 13 um momento de reflexão autor: mano ed+ um momento de reflexão uma palavra de amparo, afeto, compaixão sei quanto é difícil realizar uma façanha mas sei que você é capaz de mover montanhas num ato generoso, nobre, solidário estou vulnerável voluntariado dessa lição, sou um eterno aprendiz agora sim já sei cortar o mal pela raiz busque seus ideais, atinja sua meta quando deus fecha uma porta abre uma enorme janela que regras foram feitas para serem quebradas e leis decretadas para serem violadas, alteradas enquanto o mundo se arrumava eu já estava pronto correndo atrás dos sonhos agora sinto que só me resta esperar pra ouvir pelo toque do gongo disposição, atitude, aptidão na saúde mas trago estigmas da vicissitude vamos valorizar nossas opiniões fazemos escolhas erradas por excesso de opções eu sei existem possibilidades nessas proporções a toda probabilidade verifique-se, certifique-se, qualifique-se de quê? de ilusão também se vive não esqueça cada cabeça tem seu mundo 34 mas é só um mundo pra todas as cabeças não fico oprimido quero correr o risco me dedicar pra alcançar os meus objetivos que isso pra mim é um sonho real não preciso ver a escada, só o primeiro degrau que pra deus é melhor ir num velório do que num banquete é quando se sente que ninguém vai ficar pra semente realmente escreve a gente só aprende a dar valor as coisas depois que a perde então você percebe que é dando que se recebe nada acontece por acaso, tudo tem seu tempo exato até mesmo quando uma folha seca cai do galho pode ter a certeza que já estava premeditado 14 real pesadelo autor: mano ed+ escute meu conselho sem me ver como espelho antes de dormir me ajoelho e faço apelo eu nunca vivi um sonho, só pesadelo nesse minuto eu me encontro em estado de desespero na descida da ladeira faltou o freio entrei na contramão e uma carreta me acertou em cheio numa fração de segundos meu mundo desabou eu vendo tudo nublado, sentindo muita dor meu corpo ficou dormente, quase inconsciente ouvindo “tantas” vozes daquela multidão de gente 35 fui parar na uti, estava desacordado fraturei uma costela e o fêmur quebrado tive que amputar a perna quase desenganado os médicos disseram que o caso é delicado no quarto do hospital, parecia tão real estava “correndo” risco de ter um derrame cerebral não acredito de isso ter acontecido “comigo” hoje eu estou vivo sobre efeito de sedativos respirando com ajuda de aparelho incapacitado de ir sozinho ao banheiro nas necessidades básicas do dia-a-dia todo paralisado, chapado de anestesia onde foi que eu errei é tão grave o meu pecado? se eu morrer hoje não sei se serei perdoado o paraíso esta perto mais o inferno tá do lado tome cuidado, fique esperto se escolher o caminho errado nunca se sabe o que pode acontecer fatalidade na verdade só deus pra te dizer eu só queria sair, curtir e tira onda rasguei folheto de igreja até perdi a conta “agora” entre a vida e a morte estou aqui em coma a minha sorte é que a maca era a cama jamais pensei que fosse viver esse pesadelo de manhã cedo acordei com muito medo antes de sair, testei o freio do carro primeiro mas mesmo assim eu preferi ir de camelo um mal pressentimento eu sem entender porquê 36 e leve impressão que algo iria acontecer tomei a decisão definitiva de esquecer me distrai um pouco conversando com o renê o tempo foi passando enquanto contava o caso quando olhei para o relógio estava super atrasado então disse até logo e corri pra meu trabalho bom funcionário, no itinerário cumpre “seu” horário foi tudo “tão” de repente um aviso pra gente por isso quando for atravessar a rua pare e pense na primeira ladeira em que desci rapidamente até parece brincadeira mais bati com a carreta de frente 15 fazer você feliz autor: mano ed+ se não eu que vai fazer você feliz então não chore mais por mim nem fique tão triste assim todo princípio tem um fim as coisas não são como sempre quis quando precisar eu estarei aqui à disposição pra dividir minha atenção ouvir você falar coisas que vem do coração dar minha opinião, um conselho de irmão compartilhar momentos bons cantarmos juntos a canção 37 que possa tocar seu coração transbordar de emoção é a maior satisfação seu nome corre solto na boca do povo sua vida está em jogo ninguém bota a mão no fogo mais sujo que porco no fundo do poço jogado no esgoto a imagem do desgosto dentro dum calabouço eles querem seu pescoço com ódio até o osso aqui se faz e paga te prepara pra o troco se acha o bicho solto e diz que é o louco abra o olho separe o trigo do joio tomara que a sua família lhe dê apoio recomece sua vida de novo e dê a volta por cima como um todo lembre dos outros que deram inspiração e fôlego num momento perigoso, nesse mundo pecaminoso, é muito tenebroso a verdade é pra poucos ouro de tolo, é tanto demagogo que se passa por pedagogo mais não sobe o morro, uma fatia do bolo enquanto cê assiste as novelas da rede globo 38 16 amizade autor: mano ed+ sem dor, o valor de uma amizade não se estima em quilates nem ao menos se divide em várias partes, não há nada que pague trocar uma ideia positiva, sem maldade no olhar tá pro que der e vier, sempre que precisar sabe chegar, cumprimentar é fundamental um aperto de mão sem querer ser nem coisa e tal alguém que possa confiar, contar pra qualquer hora sem qui, qui, qui, cacacá, nem jogar conversa fora aliado de verdade não deixa brecha sem deslizes, comédia, despeita, inveja o judas morreu, não teve o que deixar deixou a falsidade pra o covarde se matar enquanto você tem todo mundo trata bem e do contrário o que fazem te deixam ao desdém chega tão contente, vem logo abrindo os dentes e se eu fosse inocente se sente até o presidente te convida para festa, só pra o que não presta é em uma dessas que você leva um tiro na testa chama de parceiro, é seu companheiro é melhor ficar ligeiro que ele quer é te levar pra o cheiro sempre que eu passo me pede um cigarro 39 quando eu não tenho ele diz que sou safado diz ser meu irmão de fé, acredite se quiser basta piscar os olhos e ele quêxa sua mulher judas morreu, não teve o que deixar deixou a falsidade pro covarde se matar traiçoeiros, canalhas, nomes que fazem jus a tua raça traem a sua pátria por ouro, por prata cospem na própria cruz, traidores de jesus sua máscara cairá onde não haverá luz mala suja já não tem o que perder atrasa lado essa é pra você que tá colando em banca de safado acostumado a “pagar pau” pra os caras de outra área não leve a mal, mas não sou fã de canalha fica vacilando com os manos da quebrada na primeira oportunidade vão fazer sua carcaça você não me engana, já sei da tua fama pode ter a certeza que eu não dou mais confiança pisou no ninho de cobra, cavou a própria cova seu nome corre solto na boca do povo sua vida esta em jogo ninguém bota a mão no fogo mais sujo que porco no fundo do posso jogado no esgoto a imagem do desgosto 40 dentro dum calabouço eles querem seu pescoço com ódio até o osso aqui se faz e paga te prepara pra o troco se acha o bicho solto e diz que é o louco abra o olho separe o trigo do joio tomara que a sua família lhe dê apoio recomece sua vida de novo e dê a volta por cima como um todo lembre dos outros que deram inspiração e fôlego num momento perigoso, nesse mundo pecaminoso é muito tenebroso a verdade é pra poucos ouro de tolo, é tanto demagogo que se passa por pedagogo mas não sobe o morro, uma fatia do bolo enquanto cê assiste as novelas da rede globo um pássaro um dia me contou que não cantava por amor pois sua historia é tão triste não conhecia o canto lírico sua jornada foi sozinho não mais seguia o seu destino suas penas era teu ninho nem parecia um passarinho 41 disse-me naquela manhã ele fazia alguns anos que não revia o teu amor tudo por causa de um engano viu-lhe cantando com alguém a canção chamava meu bem desencantada ela chorou sendo enganada ela vôo vôo além das nuvens à procura de outro amor vôo sem endereço e não tem cura a minha dor vôo sem mais ninguém mesmo assim não foi sozinha levou meu coração e deixou a minha vida e vôo vôo sem explicação vôo sem porém voo sem a razão e essa canção se chama meu bem e essa canção que eu fiz se chama meu bem-te-vi. 42 17 da periferia autor: mano ed+ à periferia, exijo mais respeito luto por meus direitos, derrubando preconceitos eu não sou perfeito, todos têm os seus defeitos entre erros e acertos, vezes ganho vezes perco não me envergonho de ser negro, do contrário sou mesmo bato forte no peito por ser verdadeiro guerreiro jamais fica com pé atrás igual o tal do leva e traz que só fala por trás ele é mais contagioso do que o vírus antraz assassinos sociais, sagaz, perspicaz ah tanto faz se ambos são iguais assassinos sociais nas principais capitais a notícia em cartaz, nas revistas, nos jornais “somos” taxados marginais pelos policiais pra minha própria segurança, me deixe em paz eles querem meu sangue “alma”, mas não vão ter jamais se é pra ser verdadeiro sei que o preconceito não é só do branco para o negro existe muita falta de respeito entre nós mesmos brasileiros 43 somos todos herdeiros desce sangue vermelho anseio e creio quero justiça contra pedofilia às ninfas exploração nas mãos de contrabandistas me diga qual é mais bonita a galega ou índia? a brasileira ou a gringa? me diga pilotos homicidas entre mototaxistas pais de família que arriscam suas vidas pelo pão de cada dia vítimas da covardia no cotidiano suicida de alagoinhas é assim e você sabe como é sempre tem um, dois pra testar a sua fé qual que vai ficar de pé seja o que deus quiser 44 não banco a de mané tô pro que der e já é. 18 lobo da meia noite autor: mano ed+ versos de um louco que confundiu o sábio sou aquele que deu certo fazendo o errado o lobo da meia noite que urra solitário pra a lua e as nuvens escuras do céu nublado na madrugada fria os meus olhos viram brasa a brisa neblinada da minha boca sai fumaça fico por de trás da moita ou em cima monte esperando uma vítima, observo de longe “uma vontade insaciável farejando sangue” técnica antiga que absolvi de um monge com as garras afiadas e os dentes cortantes enquanto você repara as minhas orelhas grandes sou carnívoro, selvagem e tenho muita fome protagonista de histórias, cartilhas, contos e há quem diga nas lendas que eu me transformo em monstro meu canto é tenebroso e te amedronta deve ter ouvido falar no amigo da onça me introduziram nas revistas em quadrinhos da chapeuzinho vermelho e os três porquinhos não costumo subestimar os meus inimigos mas só que dessa vez me expuseram ao ridículo 45 nada vem de graça, nem pão, nem a cachaça quero ser o caçador, ando cansado de ser caça 19 o sangue ferve autores: sinal e mano ed+ a lua não é mais dos amantes como antes, quando sentava na praça até de madrugada sem correr o risco de sacarem armas ou a policia te encher de tapa na frente da namorada ... e você? não poder fazer absolutamente nada a não ser baixar a cabeça e ir pra casa “muquiado”, sistema imunológico baqueado com o psicológico abalado metabólico pesado seu histórico pisoteado é lógico, fato consumado viveu no tempo dos antepassados com o relógio sentido anti-horário eu tô ligado, que ninguém aqui é otário vingança é um prato que se come frio mas se chegar atrasado pode encontrar vazio o que ele fez contigo fez a vários manos a muito tempo sua batata está cozinhando 46 o sangue ferve, o nervo a flor da pele 40º de febre, a pressão sobe o santo desce, a mente aquece a todo vapor, que é pra suprir meu calor guardei junto com a dor, eu me chamo terror a fúria me adotou, o ódio me batizou jhow o crime foi quem me criou os trapaceiros, os traiçoeiros, os carniceiros. e do lugar que eu vim as coisas não eram diferentes particular, saber chegar, ser sempre condizente analisam o mundo vulgaridades imprudentes que causam tumulto aos de índole decente sobrevivente dessa humilde gente se não confia em deus? pra que você quer ser crente a imagem nos causa uma ilusão aparente pra reformar, pra degradar o surto evidente pra sossegar e te falar aquilo que se sente sou só mais um dos que veem o mundo de forma rente ao subúrbio, a capela, a mistura, a nigéria sem mente, sem tela, com luta, sem vela abusa e usa, não seja comédia maluco desfrutar de sua conduta pobre e singela mamão com açúcar, a mesma moeda, fases de miséria honesto, protesto, pefem, manifesto, ausência rumo ao regresso certo, errado parece até que lidamos com tiranossauros irracionais em vários estados, saber chegar até sentir o tato 47 o protesto me faz calmo e às vezes sou ameaçado mordido, perdido , instigo, pareço unido com o culto converso com o risco preciso dar um sumiço aos fajutos vestidos, comícios, indícios, sintomas, diplomas de adultos e vícios que distanciam a inveja em um segundo esse é o nosso mundo, o mundo dos vagabundos e eu respiro fundo as armas e os escudos a guerra do presente, passado, o futuro obscuro porque o sangue ferve eu tô de luto busco, mudo... revolucionários revoltados com o sistema só os couros de ratos no ar roubando a cena jogando à vera pra ganhar e saber perder programado pra matar, preparado pra morrer revolucionários revoltados com o sistema sou mais um favelado digno de pena que leva a vida guerrilhando pra sobreviver programado pra matar, preparado pra morrer vim falar da situação precária na favela qualidade de vida da população periférica agressão contra mulheres, violência doméstica se multiplicando feito mutação genética miséria que gera e genera a guerra mundial o homem bomba no aeroporto internacional estão fazendo do nosso país a faixa de gaza é necessário construir mais fábricas de armas 48 fornecendo quadrilhas e as facções organizadas com a superlotação nas penitenciárias os mais fortes ficam assistindo de graça de camarote, rindo da nossa desgraça aumenta o salário de deputados estaduais e também os conflitos entre as gangs rivais bastante parecido com rinha de animais que corre risco de extinção nas caças ilegais fazem queimadas, desmatamento florestal a terra ameaçada pelo aquecimento global poluição nas megalópoles e nas metrópoles o lixão do rio tietê se espalha quando chove a mídia manipula a notícia pra ganhar ibope sobre trabalho infantil, exploração de menores a gente sofre, se sacode tipo um cão sem dono a droga serve como sedativo em caso de abandono falo do álcool que já destruiu inúmeras famílias acompanhado pelo crack e a cocaína devia proibir a milionária souza cruz poderia reduzir até a fila do sus espero ansiosamente a volta de jesus é nossa luz que nos conduz, vem me fazer jus o pobre se vira como pode nessa vida ingrata e ainda querem que sejamos democratas nos denominamos democratas um pingo de consideração a pátria amada o principal ladrão está por trás da gravata o desprezo, o desespero, o desrespeito, o desemprego 49 e sempre quem fala mais alto e por ultimo é o dinheiro a corda só arrebenta do lado mais fraco primeiro nem todo mundo aguenta não ter pai nem ser herdeiro e a turma de manda chuva do colarinho branco não tem culpa do subdesenvolvimento sul-americano como pode haver tanta maldade no coração do ser humano? na falsidade covarde, os irmãos tão se matando tanta desigualdade social, preconceito racial desde a falsa abolição desse brasil colonial proclamação foi farsa desde pedro álvares cabral mais um descendente natural de portugal na década da queda do muro de berlim 2010 começa com a tragédia no haiti vou de mal a ruim com o que esta por vim às vezes penso que isso nunca vai ter fim 20 a gente resiste autores: sinal e mc ed+ dificuldades são comuns na vida de qualquer um nunca se sabe e na verdade eu sou só mais um que por deslizes passou momentos infelizes na crise me mantive forte, permaneci firme poucos tiveram a sorte de superação que tive deixar a prostituição, me afastar do crime existem diversas versões, situações incríveis 50 devido às descriminações, decepções horríveis atravessando gerações, contradições terríveis e a maioria dos irmãos se dizem destemíveis jogam suas vidas fora “em vão”, histórias sem limites as mães que choram suas lágrimas são tão tristes que tanto reza e ora só pra ver o filho livre do caminho das drogas que até agora aflige o destino se cumpriu no espinho da flor quando a pétala caiu sucumbiu o amor o destino se cumpriu quem sentiu a dor quando a lágrima caiu sucumbiu o amor pelo o amor de deus dai-me um pouco de paz foram tempos difíceis uma cena triste sofri crises demais mas agente resiste nunca que desiste eu vou correr atrás. só quem sentiu a dor sabe quanto lhe faltou 51 tudo aquilo que passou o que deixou pra quem ficou o que sobrou nada restou quanto pagou qual o valor que te custou se desgastou de vendedor a devedor embebedou se embriagou “embaralhou e embrulhou” que estuprou se estrepou extrapolou e atropelou se atribulou e tripulou não trabalhou atrapalhou trapaceou, ultrapassou e tropeçou no tráfego se atracou no tráfico com uma garrafa de cachaça escornado, estirado, “travado”, jogado na calçada um viciado em química, largado na esquina “noite passada” o excomungado estuprou a própria filha. eu aproveito bem porque são raros os momentos que posso caminhar, observar, ser, estar atento irmãos que morrem se envolvem, comovem e vão pra dentro de túmulos, tumbas, meu ar alguns minutos prendo nesse intervalo deparo em meio a perdas pretendo tento me equilibrar e viver nesse segmento sinto que deus me olha e exige que o talento 52 seja expulso pois calado não se consegue prêmio situações que surgem dificultando o aumento e se ilude com o salário ok pro sustento fim de semana frequento lugares longe do centro desafiando a morte que vai sussurrando lento peguei conselhos, desejos, misturei eles primeiro esqueci estes pretextos, alguns deles trazem medo deixar caído o queixo, exterminar os defeitos pro inimigo é um fardo a paz em estado perfeito procuro saber, não consigo entender por que viro heroi só depois morrer procuro no rap a razão pra viver difícil é ganhar e é tão fácil perder 21 barriga autor: mc osmar hoje eu tava me lembrando de quando eu era criança, lembrava da minha infância aqui na minha quebrada. lembranças de um camarada que agia por instinto e tinha sangue nos olhos com o quais via seu destino. na escola era mau aluno, na rua era mau menino. aonde agente chegava alguém logo se saia porque ele xingava, espancava, ele roubava e batia. quatorze anos de idade era barriga “o ladrão”. 53 lembrava a primeira vez que entrou num camburão e ele contava sorrindo o que apanhou na prisão. sempre entrava e saia por ser ainda menor e a cada vez que voltava seu ódio era maior. não respeitava ninguém, ele comia nada, e gente estranha de fora não passava na baixada. sua fama corria longe mais sujo que a água do esgoto, no sofrimento da mãe, que chorava de desgosto, por ver o filho perdido tão jovem já sem futuro, que só vivia na rua aprontando mil absurdos. era meu melhor amigo, meu protetor e companheiro e eu ainda menino seu ouvidor e conselheiro. ele sempre falava pra mim da sua consideração e que gostava mais de mim do que dos seus próprios irmãos. agente vivia junto e sempre colava nas festas e sempre alguém dizia “esses pivete num presta!” eu era discriminado apenas por ser seu amigo e alguma braba, sujeira sempre rolava comigo. porque para todo mundo ele era um delinqüente mais eu percebi que comigo ele era diferente. talvez até uma boa pessoa só que um sonhador decadente. que quanto a realidade não suportava o presente e ver seus pais trabalhando e nada indo pra frente. e mesmo com tanto esforço em casa, a coisa era pouca e quando a gente saia eu que lhe emprestava minhas roupas. quase sempre sem dinheiro, sempre sem perspectiva. foi esse tipo de coisa que fodeu a sua vida. vários anos se passaram e ficou a recordação daquele tempo de festa, loló , cachaça e sambão. ele não esta mais com a gente, mas eu espero que esteja tranquilo e 54 agradeço a deus em nome dos que estão vivos. que deus lhes dê nova chance de recomeçar sua vida, que nós oramos por ele dessa baixada sofrida, que cicatriza as feridas em cada sincero aperto de mão. relatos da trajetória de barriga “o ladrão”. 22 coração suburbano autor: mc osmar fruto da quebrada, coração suburbano, na rua uma mente bolada, em casa uma coroa orando. um fruto dessas áreas de alma lavada no gueto, aos canalhas uma salva de bala. justiça e paz aos guerreiros. em cada quebrada da minha cidade, em cada pedra de crack, em homicídio esquecido eu vejo um rosto sem identidade. atrocidades, o gambé, em seu ato covarde, segue viajem o serial killer do gueto. adolf hitler ressuscita em solo brasileiro espalhando medo e sentando o dedo sem dó, promoveu mais um enterro e só. não deu em nada porque aqui a justiça é cega, surda e muda como uma prostituta elitizada. eu não sei de nada. nem quem rouba, quem usa, quem passa, quem trapaceia, quem segue o discípulo aquele que beijou o rosto de jesus cristo na noite da santa ceia. mas é pelo sangue que trago nas veias, pelo “corre” de uma vida inteira e mais pelo sofrimento dos meus pais ao longo da vida, em nome da paz 55 que não se pede, mas que se pratica. com justiça. ou mesmo por amor as causas perdidas. pelo brilho de inocência nos olhos da tia na fila de espera do bolsa família, na dignidade de um pai de família que foi perdida. um homem sem nome, sem referências, sem onde buscar a sobrevivência e já não esconde a tristeza que dá pra vê no olhar lacrimejado, o tempo é implacável faz o homem chorar. ilhado em seus pensamentos adulterados e o seu sistema nervoso abalado, é quando ele passa a oferecer perigo e eu do meu lado já trago os estragos da noite comigo. o gosto amargo do escarro após o beijo amigo. o coração dilacerado de um homem traído nas conseqüências desastrosa do capitalismo. mas tudo isso fortaleceu o amor em cristo, todo poder que me faltava estava em mim e eu só não tinha visto. e hoje em versos de improviso, com ritmo e poesia e o poder do espírito fluindo em cima das batidas. encontrei algo que me identifica, uma cultura que estrutura a minha autoestima. porque enquanto as minhas rimas eram alvo de piada na roda dos falsos amigos, motivo de gargalhadas, botei minha cara a tapas e todas as cartas no jogo. levei topada após topada e passo a passo, pouco á pouco, foi pra confundir o sábio que deus usou do louco. porque eu sou fruto da quebrada, coração suburbano, na rua uma mente bolada, em casa uma coroa orando fruto dessas áreas de alma lavada do gueto, aos canalhas uma salva de balas. justiça e paz aos guerreiros. 56 23 descendente do cangaço autor: mc osmar descendente atual do cangaço, à frente da revolução no sertão, tô na marcha dos injustiçados. guerrilheiro dos versos sou ágil, nordestino que nem virgulino, também tenho o sexto sentido aguçado. eu ando aperreado é com cabra safado e com os descasos do governo. com extinto vingativo contido em cada cangaceiro contra o coronel fazendeiro, o perseguidor dos coiteiro era o algoz tão frio quanto vil e atroz, dava a voz para os seus pistoleiros. o que apavora o pobre sertanejo castiga o sertão brasileiro, o qual mais árido e seco era impossível e o êxodo rural é um mal que nos parece imprescindível. por esse solo improdutivo, por esse povo subnutrido que sem um conto réis investidos nessa terra. pra arar a areia calva das pedras e encarar de uma vez as mazelas que assola o nortista e tenta sanar as sequelas da vida sofrida na catinga. onde o que se planta já não vinga. o que dificulta a vida é a lavoura perdida na falta de chuva e a mutilação na plantação de cana-de-açúcar, na luta o agregado. do humilde lavrador que honrou o pai que já assassinado após viver aprisionado ao roçado, na escravidão do alugado, com o gado morrendo de sede no pasto, o estado impõe cada vez mais impostos. impiedosos se apossaram de tudo que é nosso. nossos esforços, sangue, suor e lágrimas e quantos de nós foram mortos e tiveram suas cabeças decepadas, arrancadas dos corpos? 57 em foco o terror genuíno, um bando de macacos na espreita de virgulino. soldados comandados pelo coronel josé rufino. assassino, caçador de cangaceiro, temido e destemido no nordeste brasileiro. é o braço forte do governo que oprime o pobre sertanejo o qual julgado sem direito a ser ouvido, escravizados por baixos salários e pelo analfabetismo. - mas lá na grota dos angicos, as margens do riacho do ouro fino onde atacaram virgulino de surpresa. assassinaram o homem e eternizaram a lenda que se perpetua como um revolucionário inquestionável da nossa cultura de resistência. do povo nordestino sofredor, ele é nossa maior referência, imagem e semelhança. reação violenta promovida pela perda da esperança. e pelo modo de escasso que a justiça foi feita no aço. aos herdeiros da revolução, nós somos a nova geração do cangaço. -seu rifle atirava cantando num compasso assustador, um grito se espalhava e gargalhava do próprio horror. libertador, o governador do sertão autointitulado, de parabelo na mão em defesa do flagelado. matou centenas de soldados, tenentes, sargentos e delegados. em quatro estados estabeleceu um império, o seu reinado. procurado vivo ou morto, incessantemente caçado e nunca cansado do jogo. na mente a dor do passado é o que mantém o bom ladrão disposto. malicioso, organizava a guerrilha, juntava os cabras e desbravava a caatinga. Aterrorizava as organizações agrárias que explorava e enriquecia em quanto escravizava, e exterminava todo aquele que questionava. Assim não pode falar nada! 58 - mas enquanto a faca não sair toda vermelha, manchada de sangue em nome de gente indefesa. meu povo peleja, padece, esmorece, anseia na mesma sede de justiça que não se sacia. em quanto as garras da cobiça dilaceram gerações inteiras. pelo modo de vida escasso que a justiça foi feita no aço. aos herdeiros da revolução, nós somos a nova geração do cangaço. 24 inclassificáveis autor: mc osmar aqui todos somos afrodescendentes de quilombos. sararás, crioulos, sábios e tolos, urbanos, caboclos, cafuzos, seres humanos confusos. mestiços, nós somos todos índios. latino americano, pardo, mameluco, albino. sou pataxó, tupinambá, xocororó, sou carajá, cararu, caeté, sou carijó. debaixo do mesmo sol, num país tropical entre a caatinga e o litoral. nós somos todos negros. nós somos virgulinos, cangaceiros, todos nós brasileiros somos guerreiros que tantas vezes covardes. nós somos inclassificáveis. 59 25 manifestividade autor: mc osmar pelo amor de cartola e suas cordas. são de aço os versos e prosas mas as rosas não falam, acorda. abra seus olhos agora que você vai vê mais sufoco que glória. como a faca da fome que corta. como a corda da noite que enforca, mais cada qual traz seu mundo nas costas. e aquele que sofre mais forte se torna. - você concorda comigo ou discorda? - aprova a idéia ou reprova? - acata e adere ou esnoba? - desacredita ou aposta todas as fichas? na era robótica ninguém tá aqui pra comer pilha. e como nenhum de nós é uma ilha. de pastinha a bambaataa , do meu bom mestre bimba a zapata. roda de capoeira nas praças, a conscientização das massas, a queima das fardas, a queda do muro das farsas. observem essas marcas. elas vêm de um tempo que o tempo não apaga. arranque essa máscara e encara tua cara de cara, prossegue na ativa ou a ferida não sara e a pergunta não cala. mais vale seu corpo ou sua alma nessa fauna? nessa selva de homens primatas, com suas armas de fogo nas patas, matando uns aos outros por ouro, por prata ou mesmo por nada? na partilha de suas migalhas na falta das refeições diárias. execuções sumárias. 60 mas a justiça divina não para. e o que deus uniu irmão o homem não separa. então se prepara que eu não boto a minha cara a tapa nem cabeça a prêmio. conheço a causa e o efeito da parada e na virada do milênio. só to roubando seu oxigênio. falando pra essa gente bamba afrobrasileira. manifestividade é samba, hip hop e capoeira. 26 minha flor autor: mc osmar se a vida é bem mais louca que aquilo que a gente pensa seus planos alterados frustrações e desavenças deus quer que você vença, que lute e se supere, que não se entregue à dor, levante e não se desespere pois quem com o ferro fere, corta a carne sangra a alma. deseja a própria morte não tem paz, não isso calma as águas correm calmas pra chegar ao paraíso mas tensas e apressadas pra te lançar ao abismo à luz do sol ao tempo seu corpo a luz da lua a cruz que no calvário pingou sangue trouxe chuva a culpa não foi e deus sabe bem disso na ponta da espada e você contra o precipício, me mostre o sacrifício a ser usado nessa hora o amor e a coragem, o sucesso e a vitória feliz ao dizer glória como tudo que ficou 61 passou, virou história, comemore o que ganhou não chore mais minha flor, eu quero ver seu sorriso aliviar sua dor te levar pro paraíso as promessas são banais e saem da boca pra fora mas vem do coração declarações e verso e prosa se eu pudesse agora levar você te resgatar do medo e o sofrimento da um fim a o ver você sorrir, eu ergo meu troféu ao ver você feliz, livre do amargo do féu pois me sinto no céu, nas nuvens com você me sinto no passado como um filme em dvd cd ou md, ouvir palavras doces fluindo dos seus lábios como a lua flui na noite as flores desabrocham no jardim da nossa casa arquitetando o belo enquanto o perfume que exalam a pele tatuada é a imagem que engana na dor que é causada pelo amante do drama dama da minha cama, vem busca o que é seu que sua felicidade te espera ao lado meu. pra quem se corrompeu, pra quem pregou o ódio, pra quem derrama sangue pra poder subi no pódio pra quem não vê o obvio, pra quem promove a guerra pros vermes emprestáveis, que só fazem o mal na terra então vê se me erra sua seta de traíra que eu não vou dá espaço pra você na minha vida pois se qualquer ferida aberta um dia cura se fecha e cicatriza, pois o amor ninguém segura se a vida é bem, mas dura pra algum e outros não. vamos olhar pra frente, caminhar e da às mãos. 62 27 notícias no ar autor: mc osmar da galeria c, dp jardim petrolar, verdades, inverdades, pilantragens no ar. vim pra representar uma pá de encarcerado sem grana pra fiança ou a confiança de um advogado. alguém acende um cigarro e liga o rádio pra ouvir e nas celas do outro lado observar o diabo sorrir . a maioria ali já desprovida de fé e regendo as leis do homem que impõe o gambé. uma pá de mulher de mano e mães de família, nem todos tem alguém pra vê em dia de visita. em baixo do sol a fila, a fúria, a indignação, mas um fato é notícia de policia e ladrão; aqui o jornalismo é um mecanismo de contradição, divulga a violência como nível de informação e tem na exploração a certeza de ibope, com as lentes focalizando a dor do povo pobre e milhares se comovem com a força da notícia, mas poucos compreendem a verdadeira intenção da mídia, que ilude e ludibria com a cultura de consumo e aponta a como causa morte a cocaína, o crack e o fumo. sentado ao fundo de uma cela fechada, com os olhos profundos e a comida estragada. seria uma piada se não fosse trágico. quanto eles dizem que um detento custa pro estado? é embaçado. e o status quem tem é justamente a sociedade que não recupera 63 ninguém. e eu vou além pois eu sei que aqui nada anda bem e o sangue que derrama nos lembra jerusalém. na bala que mata sem olhar a quem, aquele que vem pedir que lhe socorra como as vítimas fatais dos ancestrais de sodoma e gomorra. mulheres virando cachorras, tem homem virando putão, as meninas viram piriguetes e assim abrange o leque da prostituição. a instituição falida faz jus ao cenário e reflete a decadência do sistema penitenciário e no noticiário o destaque do dia, é o numero de corpos no iml da delegacia. no dia-a-dia, notícias no ar, do complexo regional jardim petrolar. ouçam as notícias no ar. 2ª intervenção: divulgando mais um da lista de corpos no chão, no livro de registro de óbito do dantas bião. se tem noção pelo estrago aparente, cada perfuração prova que era mais um delinquente. os inocentes não são como eram antes, agora são bandidos, agressivos, meliantes, drogados, traficantes, prováveis homicidas, bandidos, assaltantes, militantes terroristas. se o ninja tá na ativa, ora mãe que deus ajuda e protege a 16, da irmã dulce até a chatuba. aqueles que passam a chuva à noite, embaixo das marquises, meu povo que vive na luta e o país atravessando crises. novas diretrizes, planos de governo, mas todos se omitem quando o assunto é o desemprego. uma pá de mano preso é o objetivo do sistema. preto e branco pobre é um revolver nas mãos do sistema. de volta à cena pra reconstituição, a lei gera problema e dificulta a 64 regeneração. a constituição prever nos seus artigos direito a ter direitos, mas só vejo aqui crime e castigo. meu povo aflito, ferido e enganado à beira do abismo entre deus e o diabo, no meio do fogo cruzado, num jogo de cartas marcadas, mais de cento e cinquenta mil famílias estão desabrigadas. revendo as marcas, as balas e os cortes, sobrevivendo ao tiro na reintegração de posse. o desfalque e o malote, a glock e rifle fall, o avião de luxo e a suíte presidencial. o criminal, central parlamentar, e o congressista brasileiro é programado pra matar. ouçam notícias no ar... 28 o coração suburbano não para autor: mc osmar cai mais uma noite sobre o céu da babilônia. acendem se as luzes, surgem as suas lendas urbanas. é cada forma de vida estranha em suas façanhas. salve se quem tiver fé que essa realidade é insana. almas em chamas voltando a guerra do fogo. triste cidade cujo deus pesa a mão sobre o povo. de tanto desgosto que despertou sua ira do sábio ao louco, da boca do santo à profecia que já se cumpria em corpos mutilados e assassinos com suas armas frias. a geração que sangrava e sorria entregue a orgias e pensamentos 65 libidinosos maldosos que um dia deram início a essa sangria em nossas ruas. há algo que ofusca nossa vista quando brilha a lua. enquanto a grande prostituta impera, cria contendas e disputas entre os homens da terra. nesse nosso tempo, o tormento é a pedra e os espíritos de trevas. produzindo drogas sintéticas distribuindo e destruindo a juventude periférica em escala numérica. américa latina. sobre o hemisfério, os mistérios dessas nuvens cinzas. como são cinzas as marcas de uma guerra fria. como são frias as mãos ágeis de um homicida. como sofria a mãe que chorava e pedia e ninguém ouvia e mesmo se alguém ouvisse não ajudaria. não é por judiaria é a lei que rege os nossos dias e os nossos dias tem noites cada vez mais frias. a cada noite tem mais covardias. e como já dizia a profecia: deixa os herdeiros de babilônia seguirem sua sina. porque essa é minha cara e até que a babilônia caia o coração suburbano não para. pelo amor à quebrada, pelo orgulho de ser baixada que o coração suburbano não para. eu peço paz para as quebradas. todas as honras ao gueto e ao orgulho de ser baixada. mais um de pele tatuada. e mente revolucionária identificada nas trilhas sonoras. nos meus olhos vermelhos o mesmo desejo de melhoras. eu quero as provas, justiça as famílias das vítimas da fonte nova. 66 eu vou a forra que é pra tranquilizar quem se apavora. ta o maior barril de pólvora pronto pra explodir. mas tem que acreditar na nova aurora que ainda vai surgir e nos dias melhores que ão de vir pra nós, que não estamos sós. resistindo ao calor de tantos sois. aos cortes do chicote do algoz. ao acordar sem vinho, sem pão e sem voz, sob os cuidados de alguém atroz. corre em minhas veias o sangue velho dos avós. - e vós sabe o que faz? se quanto mais eu luto se faz luto pela paz. disse ed+. raul disse: destino é a gente que faz e se quem faz o destino é a gente isso na mente de quem for capaz. então escolha o seu caminho ó rapaz. por que essa é minha cara e até que a babilônia caia o coração suburbano não para. pelo amor à quebrada e pelo orgulho de ser baixada que o coração suburbano não para. em quanto a molecada de quebrada queima um piti, o filho do deputado aposentado sonha com os prédios de wall street, com um arranha céu em Manhattan e mansões em maimi beach. deixou pra nós todas as pragas do apocalipse e suas sequelas, com a policia exterminando a juventude da favela e esse jogo é a vera . por que essa é minha cara e até que a babilônia caia o coração suburbano não para. pelo amor à quebrada, pelo orgulho de ser baixada que o coração suburbano não para. 67 29 o herói tem medo autor: mc osmar todo heroi tem um medo, todo guerreiro tem receio, todo bom trovador guarda um verso em segredo. todo covarde já teve oportunidade de expor seus anseios, todo homem sábio sabe ouvir conselhos e acredita que ainda existe o amor verdadeiro. após os bombardeios, depois do foguete e o morteiro. se a paz ainda habita os mosteiros, se a vítima ainda tem vida mesmo amarrada no cativeiro, naquele que ainda respira mesmo através de aparelhos. no povo pobre que sofre alheio a própria sorte, em meio a dois mil homens nus no carandiru gritando “viva o choque”. em todo caso sobrevivem os fortes, os que não se rendem por malotes, pois sua alma não tem preço nem mesmo na mira da glock engatilhada. é tipo “operação navalha” cortando carne de canalha. meu verso inflama. de uma vertente poética pernambucana me fiz homem, eu que cheguei menino aqui nessas terras baianas. as tuas danças iludem e o povo se engana. A mesma amante, mãe, amiga que tantas vezes tirana. - ó baiana! expõe teu sorriso que eu quero guardar na lembrança e apagar a imagem das crianças nos faróis que, entre tantas outras, traz à tona o medo do herói, o que não é mais segredo. pois todo mundo sabe que a verdade é que heroi tem medo. 68 30 o lamento do rato autor: mc osmar eu vim de baixo como um rato se esquivando das garras do gato, me camuflando dos homens que me olham do alto. alguns me temem, outros repugnam e ambos me querem esmagado. por isso sou rápido, tático, que cadeia alimentar tô no cardápio do meu predador. em sua caçada incessante ao roedor. eu que já driblei cobras venenosas. Pequeno, mas habilidoso, cheio de manhas e dobras. - quando a mulher se apavora e sobe na cadeira, alarma o homem sádico que já arma uma ratoeira, comentando do cara que vende chumbinho na feira. entre mil gatos, os boatos é que não chego á segunda-feira. vou roendo trapos, me malocando entre farrapos, buracos, lixeiras. dos telhados ao subsolo. posso roer arquivos, livros, compromissos, protocolos. em gêneros alimentícios, se estão expostos quando chove, minha urina espalha leptospirose, que quando contamina, a maioria dos casos, terminam em morte. mais eu tenho sorte, convivo em meu ninho, num lixo aonde crio os meus filhotes, o que não são raros. transitamos entre protozoários, parasitas, baratas, ácaros. em restos de comida revirados, resíduos de todos os tipos compõe o cenário onde me escondo. malandro mesmo é o camundongo. tá nas mansões, nos porões, nos escombros, na surdina. 69 minha maior ameaça é felina, em seguida as aves de rapina, o raticida e as armadilhas com queijo no chão da cozinha. minimalista, roí as cordas de um equilibrista, entrei nas calças de um bebo até que um dia segui o flautista. e numa madrugada fria, morri de frio. o inferno intenso na escassez de alimento, meu prato vazio. só mais um rato contaminado e vadio vagava pela casa escura. onde circulava o calunga, nem as baratas sentiram falta depois da chuva. e a mulher histérica já não surta por minha culpa. a todos os meus filhos no ninho do lixo eu peço desculpas. deixo a homem sádico uma suplica. aos gatos que me caçaram minha repulsa. sei que não tenho direito a sepultura, flores ou velas,nem nome pra uma sentinela. ninguém de luto. fui tão sorrateiro, tão pequeno pra esse imenso mundo. passei despercebido. mas mesmo como rato o fato é que um dia estive vivo. posso não contar em livros, nem nos anais da história. em nenhum dos arquivos ruídos, nenhuma memória ou textos literários. nunca fui aceito pelo homem, se quer tolerado. usou mil gatos, chumbinho, ratoeira, todo o aparato. mas como eu disse: malandro mesmo é o rato. só não driblei a fome, o frio e o cansaço. assim a noite me levou nos braços e silenciou meu grunhido. a morte cumpriu seu trabalho e já tem outro rato pra roer seus livros. é o fim dos meus tormentos, meus conflitos, meu ruído chato. meus pequenos sentimentos reprimidos, meu saco. de tanto descontentamento que esse é lamento do rato. 70 31 o pesadelo autor: mc osmar agora é nós. eu represento o pesadelo dos boy. desagrado aos leitores da playboy. sou tarja preta imprimindo a revolta de um pantera negra. o manifesto zapatista, a essência de um repentista e a origem cangaçeira. eu trago o calor humano das feiras na minha alma nordestina. a vitória do meu povo aos olhos da madame racista. filha de uma sociedade nazista deturpada, herdeira de uma cultura fascista maquiada. patrícios patrocinando desgraças, visando lucros, vidas vão sendo ceifadas pelo seu dinheiro sujo. no seu subconsciente noturno, eu sou perturbador. no seu dia a dia obscuro, o olho do observador. pro conspirador, eu sou a dor de cabeça constante. mais do que cantor, sou um revolucionário atuante, amante das causas perdidas. um mc que tem a veia punk e amor a mãe periferia. 71 32 o rap autor: mc osmar eu sou o som que vem das ruas, a realidade dura e crua do gueto com arte e entretenimento. a voz de uma cultura em movimento e o negro lamento. sou abdias nascimento. eu invadi os centros, mas nasci na periferia. eu vim do sofrimento com ritmo e poesia. eu vim na luz de um novo rebento de um ventre livre, meus ancestrais foram presos e minha geração em crises desencaminha. assim como caminha a humanidade de esquina em esquina. sou injeção de adrenalina, uma dose elevada de autoestima, o verdadeiro dom da rima. o embate, o combate, o nocaute, liberação de endorfina. sou táticas de guerrilha e as armas pra revolução, as palavras de ordem que lideram a manifestação. tô no discurso e na ação, na luta por reparação. eu sou chamado de som de ladrão e tenho cara de mal. meu texto prega conscientização de forma criminal. a libertação mental dos meus irmãos e o apoio incondicional pra redenção dos humildes. sou inimigo da televisão e sua programação medíocre. eu sou a força do irmão que salvou do crime, a salvação do pivete que livrou do piti. eu sou sampler, o scretch e o beat. já estou em trilhas sonoras de filmes. 72 em jingles comerciais, em novelas, em campanhas eleitorais, em desfiles nas passarelas do são paulo fashion week. mas eu sou favela em cada célula do corpo. na dor do meu parceiro morto. tô estampado no seu rosto, eu to exposto nas suas sequelas. eu sou despertar da consciência periférica, a ciência estratégica. sou planos e esquemas de guerra. tô no combate sem dá trégua até que o inimigo beije a lona, assim como a platéia ansiosa espera. eu sou o som de uma nova era, uma nova ordem, um novo grito. um novo conceito, outros meios menos primitivos de nos mantermos vivos e atuantes. longe dos presídios, sem treta, polícia e traficante, em seus modos operantes. sem vestígios ou indícios de algoz entorpecido. sou aquilo que lhe mantém ativo. como um vulcão em erupção, meu efeito é nocivo. reativo como um soldado que ,tão cansado de ser oprimido, atira no seu capitão e rasga as suas fardas. adere a rebelião e segue e passeata. faz protesto e manifestação junto aos irmãos na caminhada. e quem tem o cheiro da quebrada impregnado em sua pele. eu sou parte de você e ainda que você me negue. eu sou o rap. 73 33 pai autor: mc osmar pai, olha teu filho. esse que, já deu tanto vacilo contigo, te pede abrigo. um consolo, um amparo, um auxilio. receber o amor de pai pra filho, o que não foi possível nessa difícil infância. difícil e quase perdida. eu era criança e não entendia só assistia meu pai gastar o pouco que ganhava e minha mãe chorava depressiva. anoitecia, amanhecia, aquilo me entristecia e eu me revoltava. saía de manhã e só voltava de noite pra casa. ninguém ligava, com tanto problema pra se pensar ninguém se preocupava. e eu me tornava uma criança desenfreada, sem ter educação em casa, a escola falha sem orientação adequada. sobra o instinto de sobrevivência, as frustrações da adolescência, espaços pra más influências. difícil é corrigir as conseqüências depois do estrago e se arrepender depois de ter erguido o braço. ter ofendido, agredido, amaldiçoado com tanta veemência. com tanto ódio, magoa, inconsequência, tanta arrogância, santa ignorância. nossa quanta violência! pai, desculpa não respeitar sua luta, perdoe as palavras sujas e meus passos errados. queria tanto poder compensá-lo por esse fardo que o senhor carrega nessa 74 batalha diária, sem trégua, nesse trabalho intenso sem férias. nesse mundo de feras onde o senhor sobrevive. hoje eu entendo os seus deslizes e as minhas implicâncias geravam conflitos e deixavam todos aflitos, apáticos. um jovem problemático. esse era eu no momento traumático. sempre escapando por pouco de um final trágico. pai, desculpa não respeitar sua luta e perdoe as palavras sujas, meus passos errados. pai, olha teu filho. que esse, que já deu tanto vacilo contigo, te pede abrigo, um consolo, um amparo, um auxilio. 34 sem massagem autor: mc osmar sem massagem aqui é a tocha acesa do morrão que fumega nas bases. liberdade e um salve aos irmãos atrás das grades. vi vários na necessidade cair na tentação pela fome, por nome ou por crack, virar ladrão. ser a decepção pra mais uma senhora de origem humilde e tradição religiosa. cheia de esperanças, ela ora pra deus e chora pelos seus filhos aflitos no mundão lá fora. quem sabe agora não tá causando náusea num perito e estendido em área de desova. mais um subempregado do crime, da droga. 75 o que menos conhece das regras é o que mais joga. o detentor do recurso explora a mão-de-obra, o modo de vida e a perspectiva remota de uma geração inteira esquecida, entorpecida e morta. a quem importa? a quem interessa? quem exporta as armas que fabricam guerras? quem ri do incêndio na favela e humilha a empregada doméstica? que nem se aproxima da zona periférica? atrás dos muros seguros por cercas elétricas, micro câmeras digitais, portões automáticos, abismos sociais, resultados trágicos. tendências marginais, nossos desejos diluindo e os nossos sonhos ficando pra trás. mas quem não queria viver numa casa com piscina, carros na garagem, acesso à alta tecnologia, planos de saúde e sobrenome que influencia. pra quê? pra quem só quer comida suprindo a panela vazia e ter o pão de cada dia como uma realidade. sem massagem explode pelos becos da cidade a violência, olha a carência. vejo crianças cumprindo sentenças, se assim não fosse. um moleque de treze no doze, um cinco cinco aos quinze, um sete um aos catorze, um cinco sete dos dezesseis aos dezessete, dois oito oito, cento e vinte e um e antes de completar os dezoito. e o pedagogo? fica sem noção! enquanto o demagogo arruma um jeito de tirar proveito da situação. é mau a redução da maior idade penal no brasil, que desde quando cabral invadiu que ele explorou, exterminou e divulgou que descobriu. sem massagem, aqui é tocha acesa do morrão que fumega nas bases, liberdade e um salve aos irmãos atrás das grades na humildade. 76 sem massagem, explode pelos becos da cidade a violência, olha a carência. eu só peço paz, justiça e liberdade, pois aqui a vida é sem massagem, comunidade. 35 talibã nordestino autor: mc osmar por esse interior baiano, talibã nordestino, com o peso da vida de um homem sobre os ombros de um menino subnutrido. em 2010, depois de cristo, guerra fria. e o campo de batalha cheira a morte, a álcool e a cocaína, a sangue, a óleo diesel e a gasolina, a esgoto, a ser humano morto e a nicotina. e pelas encruzilhadas da vida o mesmo perigo na gargalhada do lobo vestido em pele de amigo e armando o laço. eles querem a medida dos meus versos e a força dos meus braços. querem me iludir com o sucesso, induzindo ao fracasso. querem minha alma, meu corpo, meus estilhaços, meu coração em pedaços. e em fragmentos sugar até ultima gota de pensamento. querem desonrar meu nome, desmerecer meu talento. mas ainda assim mantenho a efetividade pela comunidade de onde venho. por ela são as atividades que desempenho, pela saúde mental dos pequenos, com eles convivo e aprendo um pouco mais a cada dia. preparei meu terreno pelas ruas da santa maria. sempre pedindo: “ó deus ilumina a baixada, concedei-nos graças e livra 77 essa molecada das garras da morte. tornai-nos fortes, fazei da minha voz como uma bomba que explode. me dá disposição pra eu continuar nos “corre” e poder sobreviver do hip hop . dos pobres para os pobres, pelos pobres e com os pobres.” com a mente sã e a alma nobre. viver livre da língua do x9, do goe, da rondesp, da choque e dos porões do doi-codi contemporâneo. dos fins de semanas sangrentos e o desalento de outra mãe chorando. por esse interior baiano, talibã nordestino e um terror cotidiano alimentando o sensacionalismo. nazifacismo nas cordas bambas do capitalismo desequilibrado. e desse povo heróico, nenhum brado. entre os nossos, vários estão neuróticos, lombrados... e tentar contê-los é arriscado. pra quem tá na condição desfavorável, em posição vulnerável, aonde a vida é um produto inflamável, perigoso mas manuseável, manipulável. carterizado, adulterado, nada maleável e aqui, do lado miserável, ninguém aguenta mais crimes fúteis e banais. qualificados, culposos, dolosos, passionais a cada episódio, mais ódio, cenas brutais, que as famílias não agüentam mais. seus filhos pródigos, protótipos de marginais. patrocinam seus próprios funerais e tantos velórios. momentos decisivos onde o genocídio é notório. nesse nosso território, tantas periferias, olhos lacrimejados, relatos da guerrilha. de onde a prostituta cega abre as pernas e se negocia, cheia de uma vida tão vazia, nessas madrugadas frias, seu destino. por esse interior baiano, talibã nordestino. 78 36 contraste autores: lino mc e mc osmar favela, senado, sujeira em ambos os lados. lino mc nas batidas, pegando seguro e rimando pesado. na favela matam com fuzil e no senado matam com caneta. no Brasil, o bicho tá pegando, a chapa tá esquentando e a coisa tá preta. no contraste entre a enchente e a seca, que o senado não da solução, nem cheia que inunda a cidade nem na seca que devora o sertão. lá na favela o crime da o pão para aquele que não tem opção e tem que sustentar a mãe, a esposa, o filho, a filha, a irmã e o irmão. sem falar na prostituição que lá também é meio de sobrevivência. meninas de doze e de treze, umas por precisão, outras por influência. e você sangue bom, o que pensa? dos dois lados é cara ou coroa? considere-me dentro do jogo, eu não brinco com fogo e nem rimo atoa. no senado a coisa tá boa, roubo após roubo, e quase ninguém vê, só com o tempo que a bomba explode e sai no jornal o lance do dossiê. lá na baixada, tá duro de vê os esgotos expostos nas ruas, com as vítimas da dengue hemorrágica ou não, a morte continua. os doentes aguardam nas ruas pois os hospitais estão superlotados, faltam leitos e medicamentos e a culpa é de quem? diz ai. do senado. depois de oito anos seguidos de roubos e mais roubos no nosso país, o povo desmembrado elege outro ludibriador, trapaceiro infeliz que a um tempo atrás já criou raiz. saiu, deu um tempo e agora quer voltar. 79 para concluir, seu dever é só roubar e matar, roubar e matar. a justiça não vê nem escuta a mãe que perdeu o seu filho inocente, enquanto os assassinos do índio galdino saem impunemente. fizemos um operário presidente, intervimos. e todos os compromissos assumidos foram esquecidos. sumiram no infinito de dinheiro ilícito, cargos políticos, encargos, privilégios de um clero maldito. tratando meu povo a pão e circo, lixo e carnaval, polícia, bandidos, milícios organizando o seu arsenal para um cotidiano mortal, veneno letal. autorizam o genocídio direto lá do planalto central. lá no morro se ouve o bum-cleck-pá, mas de lá também sai muita gente bonita. modelo, atriz, ator, jogador de futebol, rappers, vários artistas. isso me deixa bastante otimista e também eleva minha autoestima. sei que não sou um compositor, mas eu pego a caneta e o papel e faço rimas. nas quebradas, os manos e as minas, de fé, consciente vem junto com a gente. caminhando e cantando e seguindo a canção, firme e forte batendo de frente. para fazer um brasil diferente. a diferença é você quem faz. então seja esperto, corra pelo certo, do bem fique perto e não olhe pra traz. 80 37 pra onde vai? (o louco) autor: lino mc eí, pra onde vai todo largado assim tão louco, antecipando seu fim? pare e pense a um tempo atrás como você era. cheio de saúde, bem vestido, junto com a galera. festas, curtições, muita mulher gostosa. preta, branca, linda, feia, fria ou fogosa. roupa só da moda, de grife, marca quente, lupa, boné, boot, anéis, pulseiras, relógios, correntes. veja então de trás pra cá a modificação de quem curtiu a realidade e hoje vive a ilusão. o tempo está passando, seu olhar se ofuscando e os amigos, automaticamente, lhe abandonando. se desfez do que tinha em jogos e apostas de rinha, entrou em decadência usando pedra, maconha e farinha. o mundo girou, você ficou tonto e caiu nas drogas e na marginalidade, o que te sucumbiu. ei, pra onde vai todo largado assim tão louco, antecipando seu fim? é triste, é doloroso rapaz, te vê assim tão louco e tão largado antecipando seu fim. inanição, debilidade por falta de alimento, não tem mais apetite, pois as drogas é o seu sustento. tormento é o que tem de mais na sua cabeça, o pó, o crack e o fumo faz com que você padeça e entristeça a você e a sua família. faz com que se esqueça até da sua própria filha, que está firme e forte, bem, aos cuidados da avó, que sofre ao vê-lo sujismundo, digno de dó. 81 cabelo e barba grande, a uma rapa sem fazer, todo troco que pega é pra jogar, fumar, cheirar e beber. pra onde vai você metamorfose ambulante? com a química comendo a sua carne a todo instante. se tornou meliante, ou seja, malandro, patife, sem saúde, sem felicidade, sem marcas de grife. só uma forte gripe, início de pneumonia, noites perdidas, organismo fraco, madrugadas frias. sinta o irônico contraste da sua história que hoje com certeza é mais sofrimento que glória. 38 as coisas que vejo autor: sinal pra mim já é normal conversar disso se eu não descrever, meu mundo fica fictício paralelo a isso, vejo aquilo homens enquadrando antigos amigos inveja, maconha causaram aquilo então eles buscam desvios mas tudo acaba sempre levando eles pro mesmo caminho sei amigos, não, não são amigos colocam a arma na sua mão mas é você quem dá os tiros e hoje tiros, não são só tiros envolvem processos de escravidão de sangue e de suspiros quem tá comigo é o delírio 82 quando a arma perfura o coração só sobram histórias e artigos indefinidos uma mãe, um filho, ok sem filho ouvem latidos, um som de um grito, um rugido a vida vale mais do que tipo relógio carros, jóias, ou qualquer mecanismo, e eu falo disto naquela mesma cidade temos outras vidas e algo interessante intensifica o clima além de rimas, um homem se aproxima chapéu de couro seguro na mão sinto de aço e proteção crucifíxo de prata e cordão onde passa chama a atenção boa conversa, ele sabe por as ideias em linhas então, buscando os bons versos, ele pergaminha os pensamentos, pessoas, as desavenças e brigas tem os que morrem à toa tem os que deixam famílias experiências que soam decepções antigas, conhece o amor, sabe que não é tentativa então não regue uma flor porque se for feri-la espinhos causam a dor de uma flor erguida pessoas encontram a dor e passam a distribuí-la nós somos os ratos e os corações as armadilhas causando estardalhaços e doenças contínuas 83 então, tentando a vitória, nos buscamos em histórias e eu lembro daquela frase: toda honra e toda glória capítulos escritos, lembranças da memória pras pessoas que ficam lembrem das que foram embora os heróis de outra hora raramente são lembrados houve aquele que foi crucificado no passado eram tido como loucos mas hoje são lembrados pensamentos complexos, constantemente censurados investidas, protestos sempre serão contestados, mas depois vem o progresso mesmo que contrariado a vinda do sucesso? um bem imensurável não há luta sem regresso recuar não é ser fraco se almeja alguma coisa, faça o simples: vá pegá-lo nada é impossível apague as dores do passado o futuro é agora, vamos olhe o outro lado porque o primeiro passo, tão incerto, já foi dado 84 39 as horas vão chegar autor: sinal parte 1 o mar batendo na porta, eu olho pela janela como sempre só sapato e chinela velha comendo lixo e sempre bebendo cabelos batendo no ombro, pretendo cortar eles. fazer a barba tá vendo? eles passam por mim, finjo que não entendo peço dinheiro, 2 reais no dia sem aumento tô sem esposa e filhos, vizinho eu tô devendo por isso mudo em tempos, tenho um livro e relembro de antigas histórias. os que venceram, o que me torna inferior a você mesmo agora! embora era pequeno e achei uma vitrola. comecei a mexer chega a cabeça doer, curtição, no lixão acho fruta e pão, cenoura frango e até munição antes era suposto, agora é nervoso e o seu cachorro come melhor que 6 mendigos só no horário do almoço eu corro pra ver se sobra um pouco mas sempre manda voltar mais tarde. por isso moro em uma casa sem laje onde posso olhar o céu e se chover, tomo banho. é só tirar o chapéu se virar terminando a bebida 85 chega uma dor bem temida na ponta da barriga. disseram que se eu não parasse morreria mas eu desejo a morte todo dia. talvez. será melhor que essa vida. uma vida ridícula, né? [refrão ] as horas vão chegar me preparo em um poço, tento me acostumar eu vou seguir, vou sentir, vou partir com fé. parte 2 ultimamente eu venho pensando em várias coisas é como minha cabeça virasse o mar depois se reduzisse a uma poça de água. sim sem nenhuma força eu tô parado, só sentindo o vento sentado no precipício pendendo ó deus que força é essa que esta me obtendo? sobre a pedra ouço uma voz me chamando de longe vejo as nuvens se formarem no horizonte distante e eu só calculando porque a briga causa sequela mano porque só jesus deu a vida dele enquanto continuamos brigando nos machucando e nos matando e a morte tá triplicando 86 só tô pondo em prática o meu plano mesmo alguns deles não estando fechando os olhos me sinto pronto a voz aumenta e me assombro desde aquela discussão eu não me encontro vista escura e tonto toda vez que te afronto me sinto o final da frase, o ponto nessa etapa, nesse som, nesse pranto na melodia continuamos, até aonde vamos... eu só tô dissertando! e sendo pobre, eu continuo falando. [refrão ] as horas vão chegar me preparo em um poço, tento me acostumar eu vou seguir, vou sentir, vou partir com fé as horas vão chegar 40 bahia para todos autor: sinal parte 1 vou te falar como tudo começou, apelidado de sinal em busca do que sou? fui criado pelo vô, a dor me adotou pra ser escravo do amor, quem me viu e não me amou 87 na certa me odiou, claro que eu sou ator na dúvida eu sei que vou arriscar com fé eu tô dando rolé sou paz e o que cê quiser às 6 eu já tô de pé esquema rolando e zé olhando pra ver o que é na bahia é assim: muitos mandam aqui porque tem dim dim patricinha tá afim. ela me viu, eu sei que sim. com preconceito olha pra mim fala o que c quer de mim mando minha idéia, como se diz tô sem dinheiro, eu sou assim uma sandália e um short jeans já respiro esperando ouvir o que a morte fala pra mim que a sorte chega no fim o sinal o que você quer de mim ? parar de andar ou fica ai? então quebrando o som da história aqui só rola axé que rapper você tem na memória eu sou sinal, não precisa gravar o nome vejo miséria no barreiro e no centro roubo chega feito tsunami os velhos tentam se informar, ouvindo um programa matinal que nem pensam em julgar! será que aquilo é verdadeiro? ou é só mais um golpe do nosso governo? nordeste é a pior região do país pra vencermos por aqui tem que se unir 88 se vencer é agir, de fato eu sou feliz mas olha só, quem diz que o importante é ser feliz nunca viu o que eu vi, nem sentiu o que eu senti drogas nem quero ouvi. amor distante e sabe que moramos praticamente no meio do nada sem oportunidade de emprego ninguém e mágico ou fada. crianças sujas pelas ruas bahia estado, em cartas não é belo não e lindo como mostram alguns jornais é sim vem pra bahia comer acarajé passando pelo pelourinho, toma um tiro zé mané o gueto é sujo e a noite grita se a classe media é pobre, as drogas ela agita os pobres são paupérrimos os paupérrimos são vilões? na escola se aprende tudo de ruim não é só na rua não existe muita gente boa e política não. querem esse é um estado suicida em que as pessoas se ferem, aderem, compram e revende consciência tá tomada, troca, mata, rouba, usa entende tem gente que se engana com o sorriso no meu rosto atrás dessa inocência mora um homem bem nervoso que luta sempre por meio do rap pede o fim do que nunca vai acabar. mas o sonho segue, o sonho segue. [refrão] 89 vejo tanta coisa errada. o que será que me partiu? alagoinhas, bahia, brasil. vejo gente condenada a ser ninguém que já me viu festa, cachaça e a fome a 1000. parte 2 a fome deixa um rastro e laços com a pobreza por mais que seja bela eu não vejo a natureza. bahia que tanto falam, é tão linda e então!? rola é o contrário, história de corrupção. o estado começou com voto de cabresto um saco de cimento vira voto, elege prefeito. conjuração baiana está sendo desonrada paulo solto, acm , pfl, barca furada no carnaval todo mundo esquece tudo tem carro com som alto, tem trio. é outro mundo. turista pra comprar quer o que ele pode! ouvindo o pagodão, o moleque se sacode se embala com o som envolvente do chiclete pouco sabe que é fachada, ali perto têm os pivetes contrastando com o circuito, com fome, sem o que comer pulando no barulho, então me diz porque uns tem direito a casa e moradia? uns tem direito a computador, moto, carro? eu quero a minha, mas só tenho noite fria, e uma imensa fila no sus... essa é a bahia piedade meu senhor jesus! agrego tudo, e pouco são os que analisam os fatos. dinheiro, os porcos roubam o povo, favela inapto 90 só o bebe inato espaca de tudo isso (trecho confuso) mais o rap denuncia , rap é compromisso 41 decepções autor: sinal não, não tenha medo de sonhar o melhor da vida é acreditar me conte o segredo que te faz assim tão especial você é pra mim a gente aprende a viver com decepções deus tem um caderno cheio de lições com tarefas descritas pelas emoções ao decorrer da vida vem as correções e com ações ocorridas vem reflexões que nos fazem presos de composições mantida em segredo pelos vilões e isso faz de nós mesmos os ladrões, criamos personagens para armações conquistar garotas e badalações mas o corpo ficam velhos pra essas diversões a austeridade saiu pelos portões e o pecado permanece com as aflições apontando como solução as conversões mas ele ainda sabe que tem soluções em sua casa, cansado de alucinações 91 deixa o quadro, o giz, se deixa nos colchões e começam a vir na mente aberrações com o som único e sutil dos acordeões dos amigos lembranças, admirações construções incríveis, as demolições por favor ele pede o fim dessas questões sempre foi o pivô de definições hoje alvo de rap, jingles e canções e quando olha os brancos, paredões sente a vontade de isolar-se com negações e sua alma tenta negociações pra trazer ele de volta mas assombrações atormentam o pobre as comparações sempre vem a tona indagações e ele tenta resolver com funções lágrimas caem, buscam terminações não, não tenha medo de sonhar o melhor da vida é acreditar me conte o segredo que te faz assim tão especial você é pra mim o mundo é muito belo pra se suicidar, antes de você ir, eu quero te contar te dou dois motivos pra não se matar e o gatilho dessa arma apertar pessoas, se você for, vão chorar só deus tem o direito da vida tirar 92 me fale o segredo que fez te magoar palavras são feitas para recitar escolhemos se devemos nelas acreditar deixe de agonia, existem e há maneiras possíveis de se contornar uma base, uma melodia, pra se acalmar livros e sabedorias pra nos explicar as dúvidas que por via vem nos machucar são pra resolvê-las e atravessar momentos difíceis não se afogar procurar um novo emprego para trabalhar tentar negócio pra tentar mudar é claro que é preciso estudar nada vem fácil no desenrolar o crime e as drogas não vão compensar crianças têm pra alimentar nos olhos dos seus filhos o brilho da lua vida promissora que depende da sua experiência sempre teve pra mim dar e agora fica aí nas atitudes estúpidas sem querer comer, só faz se julgar diz que foi enganado pela falácia era defensor melhor da inteligência mas eu uso da minha eloquência pra te tirar do transe da evidência quem não tem inventa 93 42 faça tudo que você quiser fazer autor: sinal não voltar atrás, afinal já aconteceu. fugiu daquela paz e o que mais se perdeu perdi você... faça tudo que você quiser fazer minha mãe revirando minha mochila, meu quarto faça tudo que você quiser fazer eu escondia diversas letras no armário faça tudo que você quiser fazer bonés e roupas de rap foram rasgados faça tudo que você quiser fazer mas o pensamento não pode ser censurado um amigo me perguntou se vale a pena todas essas brigas, que nos tiram a paciência enchendo a cabeça de problemas e de cachaça... peço clemência, falei com um padre e ele disse que a violência,vem de muito antes tempos e as lendas. existiam pra que o homem temesse a pena sacrifício, forcas e bruxas eram sentenças 94 19 anos jovem? mas com vivência, simpatizante de grupos organizados quem pensa que a 7 palmos não vai ficar, aparenta uma infantilidade incrível, ostenta. temos vergonha de falar de suicídio se eu amar uma pessoa, eu digo porque eu posso ir embora amigo mas não se espante por isso amanheço o dia, bases esguicho parece que minha caneta tem um feitiço mãe , por que me julgas por isso? conheci pessoas por meio do rap com vício e gleuber me ajudou a entender isso e eu fico abismado com o preconceito, mas medito. a má pessoa pode estar em seu recinto minha privacidade sendo invadida. eu preciso de um tempo longe para descansar, elaborar minhas rimas, em outro lugar faça tudo que você quiser fazer porque um dia o morto pode ser você não voltar atrás afinal, já aconteceu fugiu aquela paz e o que mais se perdeu perdi você... perdi você e tudo só me ficou a magoa 95 43 índios autor: sinal continuo a fingir pra mim mesmo que estou tão bem nesses dias em que as nuvens estão turvas e a procela vem vou atrás da realidade, eu não busco mais ninguém me apego ao que mais amo nessa vida, saiba que porém a tarde, o sol vem, e eu não vou mais está aqui com medo... de desejos .. e anseios busco um meio parte 1 um homem chegou e foi logo me dizendo, outra conversa, uma língua eu não entendo fiquei muito assustado. era castigo? anhangá era perigoso e vingativo olhou e me chamou de índio vestes no corpo, quase todos pareciam esculpidos trouxe presentes, nos encheram de feitiço a tribo reclamou estávamos todos em perigo navegações ao mar trouxeram incentivo inimigo de um abrigo, nos deixou com sentidos aguçados, pronto pra atacar, bicho do mato a hora é essa, não podemos errar desbravadores nos bateram como escravos lágrimas descem, sou guerreiro nato e os parceiros também partiram pra cima 96 a tribo dos tupis revida logo sinta a energia que me alucina um envoltório todo de palavras viva... sabendo que vai morrer sem nada as armas atirando, conhecemos zoadas que doíam no peito ou onde pegava o sangue jorrava, isso nos machucava arcos e flechas preparados para a batalha venenos que matavam, lanças foram arremessadas nao tinha como resistir ao fogo, jogamos a toalha depois de 2 minutos, todos ficaram quietos alguns fugiram, eu, um dos mais espertos, queria saber o que era aquele mundo novo eles tentaram falar, mas eu não promovo toda essa violência contra o meu povo ofereceram apitos, espelhos e osso que tínhamos pendurado no nariz e no pescoço eles pareciam achar graça. que louco partes íntimas mostradas pinturas que expressavam o amor pela tribo e pela terra pairava uma trégua perigosa. eles perguntavam e não obtinham resposta queriam ouro, madeira e terra boa pra plantar nós nos entendemos quando o assunto é trabalhar não sabia que roubo estava nos planos depois chegaram deles tantos monte pascoal, cabral, álvares, pedro, milhas de pau brasil começaram a ser extorquidas e os franceses também logo chegaram portugueses ficaram com medo entretanto calados 97 disseram que a cruz simbolizava o pranto desembarcaram os católicos apostólicos romanos eles o chamavam de jesuítas e agora nós éramos catequistas novas coisas ensinadas à vista e as nossas estavam erradas, bem quistas e nos ensinou a ler uma coisa chamada bíblia trabalhávamos caindo na armadilha política, cultura capitalista isso só é o começo. os latrocidas tinham armas, espadas, facas amoladas logo estava a farra declarada, a alegria, bebidas, o vinho bebi um pouco não aguentei, cuspi no caminho prefiro comer avati e beber cauim tupã por favor não me deixe sozinho aqui e... índios braventos cruzaram o continente andando destemidos, sangue nos dentes pajé salve meu povo, ouça com clamor se és santo por que ele trancafiou? rochas eram cavadas. não nos perguntaram se podiam fazer isso só nos chamaram de índios [refrão] quem são? quais vão? feriram-me pra onde vão? se são sim se vão faze isso de mim quais vão explorar até o fim essa luta não depende de mim 98 44 j.o.g.a.dor autor: sinal já tô cansado de ser jogador qual foi o ser mais belo que deus criou? pessoas passam pela minha frente mandando que siga delas eu ouço as que são queridas e aonde foram aquelas perdidas? fez da história uma guia iludida pra mulçumano, morte é o começo da vida a inquietude logo me alucina eu fui deixado de fato e a rima me faz ficar bem perto e desliga toda a cidade, transito e brigas uma fazenda, uma praia, uma ilha me faz achar e contornar feridas reformular e acertar em cima dos que duvidam que existe ainda coisas inexplicáveis, fé e firma! eu vou pra onde a música quiser me levar eu vou contar histórias em outro lugar eu vou prestar atenção mais em cada olhar já tô, já tô cansado de tudo isso, de jogar. ninguém vai me ajudar a superar 99 esse mal que há em mim eu quero ver anoitecer, alvorecer mas conflitos ocorrem.. ocorrem quando a gente tá com medo ou nos momentos felizes primeiro lembre -se de aproveitar todos os dias e você pensa nas delegacias? os malfeitores que governam estados gerenciando contas de trabalho os que aparecem na tv fardados, justificando a incerteza de seus atos ... eu vou pra onde a música quiser me levar eu vou contar histórias em outro lugar eu vou prestar atenção mais em cada olhar já tô, já tô cansado de tudo isso, de jogar. a escuridão que toma conta da caverna fica escura e eu aguardo, fico só na sentinela, na esperança que algo possa acontecer quando se torna racional é mais difícil viver criar, obter, ao menos dizer eu quero esquecer eu quero correr mas quando penso, começo a enfraquecer o organismo rejeita como se fosse converter um viciado a torná-lo o que era antes a gente joga, mano, a todo instante 100 muitos na vida almejam ser só triunfantes na minha história, quero ser coadjuvante a muito tempo na vida me tornei amante disserto poesias, interpreto figurantes... na vida, ando construindo várias pontes. vou pro caminho que me leva aonde... eu vou pra onde a música quiser me levar eu vou contar histórias em outro lugar eu vou prestar atenção mais em cada olhar já tô, já tô cansado de tudo isso, de jogar. 45 máquina do tempo autor: sinal naquele fim de semana, algo me acordou cedo foi como um impulso da cama e eu levantei ligeiro antes de ir ao banheiro dei uma olhada no espelho e a imagem do espelho era um envelope vermelho escrito em preto, logo em cima do cesto e eu pensei, indaguei, quem foi que colocou isso no cesto? ao abrir o envelope, li e tive medo. tinha minhas iniciais e os meus segredos 101 minha letra em tamanho e tom perfeito marcando um encontro na rua do meio olhei feio, minha mente começou a rodar que merda é essa? que brincadeira estúpida! tomei banho e sai antes do horário marcado chegando lá, me deparo com meu eu em estado pesado ele tava triste e eu espantado, depois ele sorriu e eu abismado [refrão] vai como o sol brilhar forte - eu vim na máquina do tempo sinto um imenso desejo - pra te livrar do sofrimento o futuro foi sempre um mistério - princípio do equipamento onde nós cometemos os erros - sou como o sol e como o vento que brincadeira é essa? você é meu irmão? ele balançou a cabeça disse que não nem queria ser seu irmão a gente nunca gostou de ter irmão sempre quis ver sozinho, televisão. então explica cara, que bagaceira é essa? cê me manda um bilhete e ainda com essas conversas mas você sabe mano que tudo isso é verdade, pode parar de falar e de pensar bobagem. até entendo o porque de você estar assustado mas vou tentar explicar, então fica calado, brabo. é o seguinte: eu vim do futuro. o meu amigo construiu uma máquina e eu vim. 102 haa.. isso é um absurdo! olha eu aqui cara, por que não acreditar? é melhor você rir sim, se não quiser chorar quer uma prova? tá cometendo as mesmas atitudes estúpidas de antes? tá fumando, cheirando? isso não é mais relevante. [refrão] vai como o sol brilhar forte - eu vim na máquina do tempo sinto um imenso desejo - pra te livrar do sofrimento o futuro foi sempre um mistério - princípio do equipamento onde nós cometemos os erros - sou como o sol e como o vento olha pra mim, olha nos meus olhos nesse instante mais adiante, você vai perder um órgão, um braço e muito sangue num acidente chocante, querendo se mostrar de carro, seu pateta. errante. seu cachorro ainda tá vivo, mas ele morre mês que vem comete suicídio e não é delírio ele não teve mais carinho e você não mais tempo ele ficou sozinho, sua vida é só lamento namorou 100 mulheres e não casou com nenhuma pera aí. até agora só foram 10. é cara mas a gente muda e aquela morena do cabelo encaracolado, que você disse que não queria mais parecia que tava errado, hum vou te contar um fato parece que a gente tá condenado. essa mania que a gente tem de sempre voltar e relembra do passado. 103 mas os momentos são tão raros, e é por isso que eu te falo. [refrão] vai como o sol brilhar forte - eu vim na máquina do tempo sinto um imenso desejo - pra te livrar do sofrimento o futuro foi sempre um mistério - princípio do equipamento onde nós cometemos os erros - sou como o sol e como o vento meu tempo tá acabando e eu tenho que ir você escolhe se vai recuar ou progredir veja em mim o que você se tornou regando esse futuro de tantas outras chances que nos dá o mundo só um segundo, sua vida é tão importante tanto que vim do futuro pra te salvar nesse instante eu bem sei os conflitos que existem mais avante nada é distante pra um jovem que faz dos sonhos infantes siga em frente e sempre cante porque a música é a raiz do mais belo horizonte a gente nunca gostou de sangue mas vamos se alegrar quando nosso filho nascer do nosso próprio sangue e quando pensar que tudo está acabado, não reclame há sempre uma luz no fim do túnel distante tente agarrá-la, pegá-la, mas não desista, ame porque eu te prometo uma coisa: nada será como antes, depois dessa vida mudada nada será como antes, vida resgatada... nada será como antes 104 46 melhoridade autor: sinal ela passou um momento muito difícil hoje, 70 anos, precisa de um incentivo bem mais que os anos, éramos apenas amigos muito calados no banco da escola , ela lia seu livro eu sei que o tempo passa , e as nuvens vão recuar o brilho do sol entoa alegria no seu olhar mas sei que muitos planos fazem eu te procurar e os desentendimentos apenas vem atrapalharam e podem nos separar, então distanciar. consequentemente, acho que nunca vou voltar enrolar o seu cabelo com minha mão na sua nuca ... deixar a sua roupa cair de maneira estúpida fazer você sorrir e perder as estribeiras. e tudo não passa apenas da nossa brincadeira mas só que tenho a certeza você é minha maneira que eu encontrei pra ser feliz a vida inteira a minha musa perfeita, deixa eu te corrigir pra sempre é uma incerteza... relíquia rara mais bela, a vida vaga, passa e a gente fica entre paredes e telhas veja só que perda... nós perdemos e só restou tristeza, vem. acho que se pudesse voltar, faria de outra maneira 105 47 ostra negra autor: sinal parte 1 situação semelhante acontece com as ostras passou-se muito tempo, ela se mantém uma moça guardando seus segredos, sabe falar como poucas controla o desespero, seu sorriso espanta nuvens foscas nubladas, em folhas que são contadas, regadas nascidas em jarros, fora no jardim da casa marca, momento certo, faz de louco quem necessita conversar, amá-la aguarda o cara, pra saber cortejá-la e levá-la ao ápice, a sua escala, caminhar na sua estrada de curvas bem recatadas,voz meiga de amor me fala já que sua cidade é pequena e sua pasta diária tinha escrito palavras pra um cara que dizia que por ela morria e matava em algum lugar sincero, ele sempre a buscava cores desorganizadas, naves, carroça, andadas prazerosas, divino é ser feliz sem ter nada parte 2 por um momento eu pensei sim em ter te perdido o meu orgulho é bem forte , sei que sou convencido 106 talvez um cara falado, que acham que aquilo é isso ouviram e disseram, você soube de um amigo porque não dá a chance e descobre por si mesmo o meu íntimo, o não discreto concreto também rebelde honesto que te adora e faz certo sabe apertar o botão que te deixa uma mulher transformada. eu aperto!! a prova, eu te entrego mapeio meu nome na sua coxa começo com s, tiro suas vestes te abano com o leque o calor, te canto um rap a única que consegue me fazer falar manso. percebe? por sorte tive uma febre você veio como a neve em pleno sol de nordeste deu conselho, promete não dizer o que não deve não fazer o que me pede esquecer, se foi se perde desampare, vale, sempre blefe. 107 48 outubro, sol e mar autor: sinal parte 1 eu queria uma chance pra me explicar, é mais fácil se perder e também julgar o lado forte vai prevalecer. então o que há? se você age pra fortalecer ou para se vingar na escuridão você gira e não sai do lugar velhas lembranças fazem os olhos derramar lágrimas vão cair, depois evaporar faz um favor, senta aqui, vamos conversar esqueça o tempo, é hora de prolongar os meus problemas, preciso desabafar sei que existem coisas que não preciso te contar que você não é padre, mesmo assim eu vou me confessar fazer o que se eu tentei mudar? a verdade é que a vontade foi menor do que é preciso para se executar, o que está na pauta consegui a vaga extrai do meu peito toda essa mágoa... preciso minha consciência mudar, porque eu não fui capaz porque eu não fui atrás quando se chega a esse nível a gente insiste mais 108 e já não se satisfaz... [refrão] fazer o que se minha história eu tentei mudar as atitudes na vida? eu não queria errar. parar o tempo, um segundo só para te falar tantos segredos, outubros, teremos o sol e o mar parte 2 o segredo é um só, ensinar o meu filho, um cadarço, um nó a jogar futebol numa tarde de sol ou então pescar com vara e anzol tomar uma fresca na frente de casa, no rol ensinar a empinar pipa sem cerol fazia tempo que eu não andava só vamos lá almoçar na casa da vó você sabe, a comida dela é a melhor e que ela gosta de carinho mas se é um sonho, você acaba sozinho sem gosto, sem sol, sem filho só lembranças dos caminhos se pudesse começar de novo, sem prejuízo sem está com o pé no precipício a gente erra e se arrepende disso e só então pensa em jesus cristo e no inferno busca o paraíso 109 nada é eterno, ouça meu aviso se é sincero e louco do juízo me desespero, sinto-me contido se é errado, sempre é mal visto e no quadro de desaparecidos que estão com o coração ferido eu te acho e passo a ser seu amigo minha alma ferve e é esquisito muitos anos longe desse mundo submisso mundo este, que gira rumo ao abismo te encontrar me faz querer não está sozinho depositar os sonhos, fazermos um ninho recuperar a beleza, ter o seu carinho [refrão] fazer o que se minha história eu tentei mudar as atitudes na vida? eu não queria errar. parar o tempo, um segundo só para te falar tantos segredos, outubros, teremos o sol e o mar parte 3 o que foi melhor pra mim? a melhor resposta foi apenas insistir nunca tive bons exemplos pra seguir minha mãe vai se orgulhar do que eu fiz eles passam a pensar no que diz respeito a bloquear, intervir fui convidado a palestrar sobre mim 110 o governo perguntou se eu quero me unir depois de ter “eu”, tive amigos presos pela policia, por serem leigos de informação pelo limite imposto por eles mesmos professores, flores, pouca educação extermínio matando ,mandando pro mundo da ilusão eu acho que a opressão não faz sorrir e se as mudanças ocorreram eu acho que.. eu era um bom rapaz.. 49 porque sorriu pra mim? autor: sinal pareolhescute introdução é o seguinte ele conheceu ela na rua mesmo, sabe e ai começaram a se falar ele queria o namoro e ela não podia por causa do pai depois de muita insistência, ele conseguiu ele não amava ela... apenas iludiu a figura depois ele queria o sexo e ela nada de ceder até que depois de um tempo insistindo ele finalmente consegue 111 só que o rapaz estava tão incerto da sua certeza que acabou sendo mais uma vítima da estatística vê só a história é real e foi mais ou menos assim: foi na manhã de terça feira você estava cheia, me entende huh! de vida alheia uma calça azul, uma camisa branca, os cabelos pretos e uma cara de criança. levando outra criança que eu não sei de quem é jeito meigo, flor aberta, me parece ter fé na balança que mede a justiça, ficou seria como é responsável sem curtir, no mistério e até riu das minhas brincadeiras, 2 vidas e quem é? mão amiga, companheira, de quem sabe o que quer e como eu não sei, ficou um clima estranho como uma ponta de um sonho sem dor, mas só um sonho e ela afronta todos que querem embaçar sabe dos seus direitos e em primeiro lugar não depende do pai pra criar a criança faz questão de agir com ignorância existem vários pais que reprimem as filhas e as filhas que não tem pais, geram feridas encardidas de sangue, ódio e rancor na esperança de serem tratadas pelo amor que iludiu ela, dizia que amava. papo de garanhão topa qualquer parada, na calada da noite de tarde ou dia, vários filhos são feitos 112 e morrem várias crias, ironia não é um fato o cálculo brasileiro me parece exato engraçado até como pode acontecer você prefere ir dentro e deixar acontecer diz que tem talento e que é melhor pra você muitos tentam ser o centro e deixam transparecer mais na hora da atitude, preferem correr abrir o gás ou dar remédio pra morrer calma aí cara, você ta um pouco confuso com tanta informação, isso é absurdo veja só, outras vidas tem de ser planejadas sei que eu não fui, mas isso não diz nada vamos tentar ir na consciência, no século 21 ocultaram a paciência cadê bum! mas passado conta que ela sempre foi assim teve um filho o menina por que sorriu pra mim? bebida, esquecimento, fica zonzo mas no pagode ninguém da desconto existe a lei de que ninguém é de ninguém encontrar pessoa certa é tão difícil quanto nota de 100 ave maria. esquece do compromisso vamos pra orgia trepar e fazer filho mas vê só, a vida é um dilema será que se eu curtir vale a pena? curtir sim, mas com responsabilidade pra que vai entregar o ouro e cair e depois, cair na veracidade o papo chato, sem muita enrolação 113 qual é que se quer ta me dando mole? meto logo a mão! aí já penso que era naquilo então pega a camisinha e mete o gatilho pra não dar mole e fazer uma mais nas estatísticas se almeja a ascensão então vai lá, conquista porque as vezes é difícil entender digo no som o que é pra ser dito a você se ajo em vão, talvez amor não sinta porque a curtição tomou conta de você nascer em vão? o que é vida pra você? e segue o tom, reflexão é bom fazer a “miaçao” só depende do ser quando cair a crença do sistema e saber meu som que arrasta os maloqueiros quem tem ideia pra trocar, num se vende por dinheiro e acende o isqueiro e o ciclo continua morte, aborto, pariu a carne crua lágrimas, jesus chora e na lua vive uma menina que flutua perdeu infância e virgindade acordou pra viver a vida aos 13 anos de idade. maldade, pena e discórdias esses são os sentimentos que tenho uma pá de hé o (?) seguinte ora um bom lugar, o sabotagem já dizia eu juro que quero mudar, mas num faz verão uma só andorinha 114 eu não sou santo, meus olhos podem até ver quando e porque usar o famoso proceder eu executo os pensamentos que adquiro ao ler na oração, peço a deus pra ter sabedoria porque vou chegar e dizer e a tensão, tremedeira é foda pra esconder eu sou capaz e só assim vai vou poder num treme não jão! vamos obter! 50 pra finalizar autor: sinal então parceiro o tempo passa, cada vez me desconheço sertão dando lugar a fábricas de copiar panfletos. o cara que era cabra,criava gado de raça vendeu a terra por migalha, hoje mal tem uma barraca devendo, nome na praça garruncha, pexeira, faca. ter um pouco ou não ter nada. não se venda , nada paga! ter terra, plantar , vizinhos, imagem congela congrega do lado da roça, na pobre capela se é quente (era) ,envolvente (bela) maria bonita, ventre (dela) embuchada,15 cartuchos menina foi se lá( tragédia) 115 a quinta esquina coberta tida como periférica do méxico pra baixo, não existe mais america veja o ponto alto , nasce fraco, com sequela dar a volta sem as pernas, ajoelha-se eterna busca pela emoção que vence, aquece, descongela parâmetros, preconceitos que insistem nessa merda em dizer que no nordeste só tem gosto pra comida bebida, intriga, o brasil é penta ou libra esterlina, a origem, a bahia, a funai hoje apenas obriga, o que deveria ser por amor são as leis que ditam e no peito o rancor, e a tv desligam a diferença do sabor, carne seca ou sadia? comercial e dinheiro mas o porco é a gente cria 51 profanamento autor: sinal parte 1 resolvi deixar minhas coisas e dar uma volta... ir bem lá no lugar aonde o vento sopra relaxar pra pensar um pouco na vida, quantos manos já se foram? cadê minha família? segue o clima... segue a rima.. 116 pensando no espaço, que fica escasso quando algo me corta o clima pessoas, olfatos, palhaços ricaços bagaços ,mulheres e brigas buscando salário, lutando, compasso e fé pra que consiga eu vi muitos cansados, mas nunca exaustos deitados na rodovia roleta rodando, cartas apostando, moedas jogando e tinha malucos falando que deus era santo e que viria um dia amigos entanto viajam mais cedo e não aproveitam a vida então... eu canto, eu rezo, eu choro, imploro não menosprezo a deus e apolo oposto, avesso e suasório sofrer com a dor, provisório parte 2 eu luto pelo que acredito e não duvide disso fui mais sincero do que você tenha visto ouvi sobre passos e atitudes de cristo rasguei aquela página escrita, destino. eu vou tentando ser esperto, eu faço apelo a quem não está por perto os meus ouvidos ouvem o que não é certo juro por deus que fui honesto sei que na vida a gente tem que escolher saber começar, fazer por onde crescer morrer não é morrer, nos perdemos em sonhos e nem a metade nós queremos fazer resolvi esquecer e escrever o porquê 117 momentos que só te dão prazer pessoas fazem mal e eu quero me conter o que valeu a pena é o que eu busco trazer 52 quinto andar autor: sinal parte 1 só pra relaxar olho as vezes pra baixo, sei que estou no andar sétimo, oitavo, a noção me faz falar e calcular diferentes vidas e escalas diferentes quem morre cedo na vida, os cara o esvazia pente quem é rap sente não precisa ser vidente pra provar que sou presente um salve ao onipotente dos mistérios, o segredo subtendido do ventre imaculado, o menino nasce e tem que ser valente porque o pobre ensaia a luta se for cego, tente enxergar essa disputa do capital, que a mente articula as desculpas pra matar parentes e se tentar esquivar a chapa fica quente sabedoria pesa quilates, raiva me faz ranger dentes o emprego, o estudo ,tento ser independente mesmo que aconteça 1 ou outro big bang movimento social, o rap bate de frente 118 [refrão] amigo, preste atenção no que eu vou dizer várias pessoas na rua olham pra você seu modo de agir me faz subtender você não vai sobreviver... parte 2 muda de fase, muda de verso o que te faz pensar que eu não escrevo letras de protesto? meu rap é adverso, contesto e não perverso porque eu não vejo nexo em mostrar o tal regresso que acontece na quebrada daqui ou na do méxico tudo é igual pros valentes, ficam só mérito quero viver pra ver outras coisas do hemisfério libero toda a adrenalina e eu me apego nos ensinamentos eclesiásticos que eu prego um simples jogo de palavras, então as reverso será que eu peco? se eu falar sozinho escuto ecos. ajuda quando surge .recebe logo o veto sendo afogada num mar e o corpo submerso se a gente se unir, derrotamos o império de taxas alfandegária,s preços altos, comércio essa emoção de lidar, de lutar, eu sinto perto que o meu fim vai chegar, mas fiz o certo parte 3 119 pequenos homens lutaram contra grandes impérios pensando direito, pequenos eram os impérios a história negra, indiana, mulçumana. eu peço que não esqueçam o eterno mandela, o nelson, cristo, gandhi, x, guevara zumbi e o luter king pra mim suas histórias sempre vão servir nunca para distrair, aplico-as pra evoluir mesmo que tomem meus bens, nunca vão subtrair o conhecimento e os fatos que eu vi, que eu assisti assassinatos que o governo ousam em desferir por que me tomas mulher? revolução se faz aqui sem algo pra servir, um ideal pra seguir, inibir prometa que ninguém vai te coibir o maior inimigo esta dentro de ti o seu impacto nem é preciso discutir poeira do universo pra onde você quer ir? se a base falha, mesmo assim eu não consigo parar o que deve ser visto não é meu modo de andar, mas sim de pensar como eu vou me expressar contra o conceito de pessoas que só vão apontar se o erro que eu causo causa batalhas mas eu vejo que o desejo de muitos é se libertar da oposição. uns fazem greve enquanto no rap eles criticam e tentam levantar teses do tipo mamona, eucalipto, cacto, espinhos moral da história: sempre termino pensando sozinho. 120 53 semana de vida autor: sinal parte 1 segunda-feira começa o dia de maneira conturbada. domingo apreciou a noite inteira, esperanças, espera, chega a terça feira de que maneira fazer você entender que na mesma hora o futuro começa agora! e os minutos não voltam aquele não te aprova , não desista, porque o sim se conquista através de ações, batalhas nas vidas sabe as coisas que você se identifica? com quantas letras se constrói quarta-feira à vista o tempo tá passando e esquece dos outros dias o ambiente é curto e o papo é sério admita ele resolve ligar pra uma amiga pra contar um pouco sobre as intrigas os problemas que atormentam, não minta ela fala pra ele calmamente: diga qual é o seu sufoco. isso são armadilhas a quinta-feira chega quando o telefone desliga se deita na cama, seu nome ele chama de deus reclama uma dor na garganta a muito tempo uma mulher não o encanta e sua voz parece que sair mais feroz um pedido que o tempo seja mais veloz 121 várias dúvidas ao respirar, seu pulmão dói alicerce na terra, esforço se constrói quem planta colhe, quem não planta destrói que quem não faz nada, não recebe salário pra que achar que eu sou mais um errado do rap ou favelado. percebe isso? é um fato. na sexta ele decide estudar, procurar um trabalho barba na cara, emprego ele vai se safar alma lavada , poucos conseguem diferenciar emprego de sorte, emprego de azar [refrão] essa é a vida , cheia de injustiças quem cobra treta não olha, quem ora o terço tem fibra essa é a vida, cheia de injustiças tentando achar o caminho com a mente na guerrilha parte 2 eu rimo um vínculo de sonhos ou escrevo uns textos pra falar sobre lições, sempre arrumo um pretexto as coisas que você pensa primeiro se o assunto muda, eu inverto fazendo voltar direto pro começo se fechar a porta, eu sei que eu mereço pelo menos um dia inteiro com a caneta bem no meio 122 do papel, observando eu leio tentando mudar a mente de caras que são alheios um dia um velho me falou que o medo era uma forma de expulsar seus desejos o desenho, características, contextos que fazem do seu sonho pesadelo e a voz que manda carta diz: escute. talvez um dia sua consciência mude ou o noticiário faça com que o pão permute que é de revolução que o mundo precisa. então ajude. estude, lute , busque, mude. pra que um dia você desfrute do seu suor, da experiência, mesmo que se assuste se o rap não toca na rádio aumenta bem o volume denúncia social manos de atitude tem nada a ver com mágico e truque guerreiro é real, simplesmente não se ilude [refrão] essa é a vida , cheia de injustiças quem cobra treta não olha, quem ora o terço tem fibra essa é a vida, cheia de injustiças tentando achar o caminho com a mente na guerrilha 123 54 vaqueiro autor: sinal o gado chora, logo vê a falta , pasto presença que falta, mas o cheiro fica, seu laço quem guardara? banco marrom, celeira velha, quase quebrada, a bota, espora seu filho foi pegar, espingarda velha despertando na sua terra uma agonia terrível que brotara depois do ato de covardes de gostos e maldades, senhores, sem boa vontade, coronéis sem piedade dando tiro por alto em todas as partes mas tem valente por aqui também oxente vai. maltrata gente inocente pra tu vez rapaz a gente trata bem mas se vacila pra traz. temos ideias, plantam em terras aqui não mais foi muita opressão e agora quero ficar em paz tomar uma xícara de café, um fubá, meu pai se foi a muito tempo vaqueiro de fama andais no alegrete no relento, contra a chuva , sofrimento e mesmo errado, controverso, certo foi o seu sustento agradeço por ter a chance de estar dizendo laça o gado, atravessa boiada por muito tempo depois foi trabalhar bem longe da terra, no centro saber amarrar corda, a força que da na espora cavalo anda, o boi segue, se vacilar vai embora toca berrante, com glória,o som do sertão tem história a mais difícil das danças, quando a morena balança, acomoda 124 a sua cabeça no meu ombro e logo embola... as palavras pedindo que leve de volta pra casa pra falar com seu pai que nunca ia deixar acontecer nada porque pobre com rico, só fugindo, com minhas andadas.. queimadas, barreiras, passando por feira, mata de são joão camaçari, cansados, até que esteja unidos pelo padre naquela pobre igreja humilde festa, mas de enorme grandeza ,vaqueiro! 55 vender dvd autor: sinal o sol bate na cabeça logo na ida trabalhar de manhã cedo, penso na vinda deixei minha mãe e meus irmãos em casa peguei mochila nas costas autônomo sem farda vendendo filmes sobre incas , astecas e maias a sua cultura interessa, o que o dinheiro não paga depois da venda, um sorriso e se preocupa um pouco até quando fazer isso? mais um ano de molho sem tempo pra escola, mas ele tira de nota aprendizado nas ruas, aonde ouve histórias e vê a morte de lado depois que vira a notícia 125 desafia o medo, não deve nada a polícia esteja sempre acima do perigo que o arrisca a vida tem seus atalhos, você os identifica, antes da festa do dia, teve dor de barriga e quando seu pai ligou, mataram gente em cima e ele só raciocina, sabe que deus tá junto a relaxada perfeita depois de estar sujo sentir a fresca depois do esgotamento chupar uma laranja depois voltar pro centro e dá duro na ajuda das contas lá em casa sabe do pouco que ganha, mas é isso ou nada então busque as memórias e pense em triunfos os oriundos, os loucos são os que arriscam tudo vender dvd é proibido piratiar cd, é proibido pro rapa prender, é proibido autonomismo, eu sou “autonomismo” vender dvd é proibido piratiar cd, é proibido pro rapa prender, é proibido autonomismo,ou autoritarismo dados estatísticas, caneta rabisca o rapa e a polícia reais que valem vida cds de artistas, perdas de milhões arrecadados pro sistema 126 pirataria é o trabalho de centenas então pense em todas as coisas que te fizeram feliz naquela tarde com chuva ou pra curar a cicatriz pra algumas doenças, o filme é o melhor remédio tem de humor que eu tolero, medieval, eu prospero roupas de marcas trocadas e tênis copiados o sonho de um rolex? tudo se acha em são paulo pobre não acha caro, rico não acha barato educação nas escolas e números são divulgados industrias perdem muito, mas o povo tem que comer! essa é minha vida e vendo dvd especialistas que pensam que o lucro é o mais importante deixam os legados marcados e os momentos marcantes o picolé da kibom ou aquele sem nome comerciante informal, faz com que você consome barreiras de vendas rompem, produtos que são de longe fazem a ponte com a fonte, um salve aos comerciantes vender dvd é proibido piratiar cd, é proibido pro rapa prender, é proibido autonomismo, ou autoritarismo dados estatísticas, caneta rabisca o rapa e a policia reais que valem vida cds de artistas, perdas de milhões arrecadados pro sistema pirataria é o trabalho de centenas 127 19 de fevereiro de 98 lei 9610 chega no jogo artigo 5, proibido a reprodução a cópia de uma ou várias obras sem a intenção pra conseguir minimizar o problema, trabalhadores , salários que movimentam centenas o leite ninho na mesa e também o de gado o feijão, as despesas, todo gás o cuidado , respeite as palavras que estão na bíblia mas hoje uma puta guarda a armadilha e poucos sabem que a informação é gratuita que a compra de dvd pirata e não busca o intuito de lucro, desfigura a ação não é ato ilícito. não, eu não crucifixo. esqueça de tudo que se pensa e concorde sistemas operacionais que apenas rodem , roubem cópias de windows também são piratiados o homem que os inventou foi roubado pessoas inteiras que sofrem desse veneno original ou pirata? faça seu julgamento. 128 56 motor autor: sinal justiça de pobre, vingança, nordeste é nobre sertão encobre, homem quente que veio do norte e se não for azar? se reza pela ma sorte a solidão entre as paredes, concreto escorre sangue. quem morre, acontece sempre, nos comove . tenta abrir a porta, destino, cadeado forte a chave desliza da sua mão. então aumenta o toque força contrária torna a dizer .faz com que volte mas você pode mudar, tentar mesmo que corte a sua energia renascerá porque o toque é de paixão e luz, a vida engrenagem se move 57 virei a página autor: sinal parte 1 virei a página, caiu uma lágrima sem mais se vá e na fotografia, poeira na estante via você abraçando, sorrindo, a manhã caia o sol entrava pela porta, luz que percorria 129 lembrei do dia que ajuda você pedia pra sair deste caminho que faz a cabeça pirar a mente rodar, filhos roubar, armas engatilhar pro vicio alimentar, revolta composta 1kg , um tapa, uma amostra se enforca na própria corda não solta, sufoca, acabou. e agora? já esperava isso, a esperança, o sacrifício a gente espera em cristo. fazemos jus por isso? alguns estão perdidos, outros são destemidos tocam o terror na quebrada, deitado na calçada enrolado no jornal de notícias falsas você foi achado assim... com a cabeça arrancada um desrespeito pra nossa mãe que deus a tenha dona nalva [refrão] eu passo o tempo ouvindo sua voz eu tento fazer você esquecer o que dói tormento, o frio ventania frente move é lento, a sua alma quer chegar mais perto dizendo parte 2 um pouco assustado, olhos arregalados lembranças distancia do que considerou que era passado período longo, conturbado, cinza, preto, pardo 130 parado, foi achado algo esquematizado e no quintal não tem paredes, tudo era mato entre as correntes, vertentes que nos ameaçaram só resta ao povo carente, que amarga. acataram as casas sujas e não limpas, tipo joão de barro mas o humano não voa pelos céus como um pássaro os pensamentos perdoam, aliviando o impacto antes que digam que foram, dei um apertado abraço não sabendo que era o penúltimo e o ritmo vai, porque no último você sabe que as lágrimas caem nos encontraremos em tempos iguais a sua morte em sonhos, lembro dos seus ideiais deus me mandou os sinais 58 você autor: sinal parte 1 você apareceu pra mim quando tudo tava acabado e pensar que o amor pra mim era coisa do passado. mais uma vez me provaram que eu estava errado de pensar que encontrei coisas pra lutar, isso é um fato e paguei caro pra custar, pra perceber. que o que mais eu precisei era estar junto de você e saiba que ainda continuam na minha mente 131 aqueles momentos brilhantes que me fizeram tão contentes, mesmo que tente, que alguém me ouse a dizer que seria feliz sem ser com você. mas tente saber que dor é o que se sente quando se é rejeitado por um grande amor. mas, sabe? eu sigo em frente porque na minha mente alguns fatos me condenam e as pessoas que eu fiz sofrer rezam pra me ver no veneno. entendo, e sei que tento às vezes me conservar, e pensar que já dei tudo pra um dia estar, deixa pra lá. só não perdi a esperança porque olho a estrela nos dias mais nublados em que não posso vê-la, mas respiro e sei que ela está ali igualzinha a esperança de resgatar aquele mano que me ouve. amanhece o dia e novos sonhos eu vou buscar, imagina quantos manos pensam em qual caminho trilhar. e deus resolve apontar o dedo pros escolhidos. você também é um deles ,não me diga que não sabe disso, o sol se põe e ainda não tô arrumado e quem não tem dinheiro pra comprar um par de sapatos? imagina você aí cara nessa realidade. de saber o que sente um pobre de verdade. [refrão] então eu vou te levar esquece as coisas do passado, deixa rolar o coração bate sem parar 132 na esperança de um dia poder te encontrar pra dizer: obrigado a ti, me tirou do caminho errado, agora eu posso curtir porque assim que é, você me ajudou, agora eu estou de pé parte 2 e quando a madrugada vem e meus pensamentos me dominam aliás, eu domino eles, são uma constante adrenalina e segue o clima eu tô pensando num fato que aconteceu quando um mano meu se aborreceu, resolvi perguntar: mano o que tava acontecendo? ele pediu dinheiro então amigo vai vendo disse que iria até o supermercado que tem coisas pra pagar, que o dinheiro não tá fácil e quando chegou lá e pela porta passou o maldito segurança embaçou disse que ele era um cara suspeito que naquele recinto não entrava negro porque a vida não te fez feliz ajude seu irmão, preste atenção no que diz respeito a probabilidade de homens presos pela cor aprisionados por maldade, envolvidos pelo ódio nas veias, não tem mai sangue vermelho é a popularidade se tornando desespero dos olhos da pele que mudou esse país que me ouça lá em cima o finado zumbi pobre país em desenvolvimento 133 aids, dengue, saúde indo pelo encanamento o tres oitão. me pergunte o que o sistema fez faço o sinal da cruz e canto outra vez. [refrão] então eu vou te levar esquece as cosias do passado, deixa rolar o coração bate sem parar na esperança de um dia poder te encontrar pra dizer obrigado a ti, me tirou do caminho errado, agora eu posso curtir porque assim que é, você me ajudou, agora eu estou de pé 59 retroceder autor: sinal pareolhescute não quero me precipitar ao dizer não sou o primeiro humano tentando entender talvez eu deixe minha emoção transparecer porque aprendi que assim que as coisas devem ser por mais dura e árdua que seja a nossa vida agradeço primeiro a deus depois a minha família família não só amigos e parentes família é tudo aquilo que apóia a gente 134 ironicamente me sinto obrigado a fazer o que a sociedade me pede e digo obrigado, calado, mesmo as vezes errado meus ombros ficam tensos e eu estou cansado e farto da falta de cultura e hipocrisia das filas de previdência a condições de moradia empresas a falência, demissões de funcionários marginalizam o rap devido a o vocabulário mas falsos são aqueles medíocres e levianos que usam do rap. trocam denúncia a encanto portanto sigo e canto, abordo o meu plano voltando a o começo, caso estiver errando eu fecho os meus olhos, aperto eles bem forte e me vem a sensação de está com a morte eu tenho um tipo de resposta pra cada pergunta mesmo sabendo que deus as respostas oculta será que um dia o mundo não ira ter pobreza? enquanto o dia não chega, o revolver traz maneiras é três oitão na cintura e na cabeça besteira o idh nunca flui e não é brincadeira a morte ajuda a diminuir população mundial psicanálise tenta explicar o porquê do mal é mau com u. mal com l ou malcom x de todos esses mals só o gog veio ao nordeste diante do crime, poucos conseguem retroceder matam e tem a cara mostrada na tv ironizada , julgada e mal investigada na china, crime sempre é bala 135 corrupção ligada ao subúrbio e o trafico as drogas são como um jogo carteado um dia você perde e outro dia pensa que ganha as vezes acumula, as vezes perde grana e quando é muita grana, pode parar em cana e ai, cadê o dinheiro pra pagar a fiança? tenta ligar pra aquele truta, ainda tem esperança mas aquele mesmo truta pede vingança aquele mesmo mano que você considerou te passou a perna, te roubou no jogo! ministério público, descola um advogado ele chega pra conversar, diz que você tá condenado às vezes tem a impressão que as coisas não vão bem na sua vida? valorize cada dia mais a sua familia! cabeça erguida, elabore o plano execute, dispute, não sofra enganos porque no mundo insano prevalece sua vontade piedade é pros fracos, me baseio nestes fatos a cada dia um emprego tá mais caro meu avô sempre dizia: aí emprego não é trabalho por isso assalto os assuntos que me interessam busco nos livros as respostas do universo se é infinito, incerto, infertil? meus sonhos são as raízes dos meus versos enquanto eu puder escrever, farei protesto pra aqueles que consomem nosso congresso eu não sou o primeiro, mas farei o certo pra não ver mais inocentes irem pro cemitério. 136 apresentação 1 wilton oliveira (mestrando do pós-crítica/dedc ii, uneb) a questão que transversalizou o processo de revisão dos textos presentes neste livro foi a de como dar um tratamento próprio a textos escritos ao rap sem investir contra as dinâmicas próprias dessa linguagem? se essa era a nossa maior preocupação é por afirmar a teatralidade e a intempestividade inerentes a esse gênero musical, com seus gestos e rimas quase sempre improvisados. após mais ou menos trinta dias de (re)leituras, tal questão fora resolvida à medida que percebemos que o rap, quando ganha a materialidade do texto escrito, um pouco que exige sua própria sintaxe, suas próprias regras gramaticais. nesse caso, durante o processo de tratamento das letras, entendemos que nosso trabalho era mais o de deixar-se submeter às regras propostas pela batida, pelo ritmo e pelas pausas que emergiam dos textos da rapaziada do petrolar e outros bairros, menos o de moldálas indiscriminadamente às regras gramaticais. nas rimas de mc mamah, de mc osmar, de mano ed+, mc lino e mc sinal, percebemos o que há de mais potente de uma arte marginal. em todos os autores notamos uma tremenda consciência política: falam sempre de uma coletividade, de uma coletividade que transita pelas ruas dos bairros esquecidos de alagoinhas, pelos corredores dos hospitais e pelas celas das prisões da cidade. vemos se articular, por essas rimas, os traços de uma periferia que se por um lado sofre com as mazelas do capitalismo tardio, por outro se fazem existir através de uma maquinaria de resistência ao fetiche burguês, com suas formas de encantamento, e pela afirmação e construção de um povo revolucionário que não existe mais ou não existe ainda! 137 apresentação 2 osmar moreira (coordenador do mestrado em crítica cultural/ dedc ii, uneb) este livreto (mais pela precariedade técnica, menos pelo conceito de livro com seu número de páginas) intitulado vozes da periferia: letras de rappers de alagoinhas como literatura marginal, quando pensando também a partir de seu recital (eu o acompanhei no dia 08 de maio num ponto estético-cultural – um bar e lan house, no bairro pedro braga), é um acontecimento dos mais radicais que presenciei/vivencie em alagoinhas. acontecimento radical em vários sentidos: uma desenvoltura performática extraordinária dos autores, antes acostumados a cantar e de repente foram desafiados a recitar, sem acompanhamento musica; o impacto da letra “limpa” nos transeuntes que passavam, no público que assistiam ao espetáculo; a rede de sentidos que o evento proliferou do barlanhouse aos contatos nacionais me internacionais mantidos pelos autores, com notícias do evento. acrescentamos ainda a essa radicalidade a cartografia social que as letras descrevem e problematizam: drogados, assassinados, personalidades de um mundo cão e cruel coexistindo com rappers criativos, com poetas intempestivos, utilizando uma outra artilharia, a artilharia verbal como um modo de sobreviver. a principal lição desse livro é que é possível extrair da barbárie a que está submetida as periferias do mundo contemporâneo, rural ou urbano, elementos para uma obra de arte que, além de não sucumbir ao canto terminal a que está exposta uma juventude inteira, deve servir de modelo e paradigma para uma série de poetas que a pesar de melhores e/ou todos os recursos ainda continuam cantando o sistema que julgam criticar. 138 parabéns mc’s, agora também poetas, vocês simplesmente parecem retornar do exílio a que foram forçados a milênios pela república de platão. nessa cidade arruinada por maus poetas, filósofos, políticos e sacerdotes, vocês são os únicos que ainda podem cantar a esperança, aqui e agora, mas sem horizonte de espera, e por uma questão de vida ou morte. eis a radicalidade do verbo em carne viva! 139 140