Artigo 27 - Juventude Adventista Portuguesa

Transcrição

Artigo 27 - Juventude Adventista Portuguesa
2|
Textos extraidos da Revista Dialogo Universitário
Artigo 1
As implicações morais do darwinismo
Earl Aagaard
Avida humana parece ter perdido sua dignidade e valor. Pergunte a um muçulmano na Sérbia,
um ba‘hai no Irã, ou um cristão no Sudão. Observe Jack Kevorkian facilitando o suicídio e sendo
abraçado como um contribuidor sério e mesmo valioso à sociedade. A questão surge: O que é
importante a respeito da natureza humana?
Tempo houve em que podíamos culpar de barbarismo, o pagão, o selvagem, ou os fanáticos.
Nomes vêm à mente: Hitler, Ghengis Khan ou Pol Pot. Mas não estamos falando do passado.
Estamos à beira do século 21. O conhecimento aumentou: astronautas cruzam o espaço; satélites
circulam o globo trazendo informação de toda parte para todos os lugares em poucos momentos;
galáxias distantes são objeto de estudo; e genes dentro de nosso corpo são pesquisados em busca
de uma chave para os mistérios da vida humana. Mas ainda resta a pergunta — simples, contudo
muito profunda: Que há de especial em pertencer ao gênero humano?
Para muitos filósofos, incluindo alguns que se dizem cristãos, a resposta é cada vez mais, muito
pouco. Com todo o conhecimento científico de hoje e o progresso técnico, uma visão completa
do registro histórico, os seres humanos são ainda tentados a violar direitos humanos básicos.
Depois da Segunda Guerra Mundial, os julgamentos de Nuremberg expuseram o mal que se
oculta no coração humano, e mostraram como a sociedade mais culta e civilizada pode chafurdar
em esgotos morais, virtualmente apagando o significado espiritual de ―humanidade‖. As lições
daquela guerra levaram as Nações Unidas a votar, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Este documento afirmava a dignidade e igualdade de todo ser humano, exigindo que
as sociedades civilizadas protegessem os fracos das agressões dos fortes. A declaração ainda está
de pé. Por que, então, estamos falando de direitos humanos e dignidade?
Textos sobre Criacionismo
O mito das origens
A resposta pode ser achada na explicação científica aceita quanto à origem da vida e sua
diversidade, uma explicação que deixa fora o Deus da Bíblia. Esta perspectiva é claramente
exposta no livro de James Rachels, Created from Animals: The Moral Implications of Darwinism
(Criado Como Descendente de Animais: As Implicações Morais do dar-winismo, New York:
Oxford University Press). O autor arrazoa como um adepto da evolução naturalista. Sua
conclusão, fortemente documentada, é que o dar-winismo subverte a doutrina da dignidade
humana. Os seres humanos não ocupam um lugar especial na ordem moral; somos apenas uma
outra forma de animal.
Esta opinião não é nova. Em 1859, o Bispo Samuel Wilberforce advertiu que o darwinismo era
―absolutamente incompatível‖ com a opinião cristã da condição moral e espiritual do homem. A
Igreja Batista do Sul dos Estados Unidos, em 1987, reafirmou a opinião de Wilberforce. Mas não
há unanimidade entre os cristãos. Há um século Henry Ward Beecher, o pregador famoso,
sugeriu que a perspectiva evolucionista realçava a glória da criação divina. O Papa João Paulo II
está disposto a aceitar o processo evolucionário como o meio usado por Deus para criar o corpo
humano (mas não o ―espírito‖, o qual ele insiste que é objeto da criação imediata de Deus).
Mesmo os cientistas estão divididos nesta questão. Alguns (tais como Steven Jay Gould) dizem
que o darwinismo e a religião não são incompatíveis, que uma pessoa pode ser ao mesmo tempo
teísta e darwinista, enquanto outros (William Provine) afirmam que o darwinismo torna toda
religião não só supérflua, mas insustentável.
Rachels argumenta (―Precisa um Darwinista ser Céptico?‖) que a teleologia (direção e propósito)
na Natureza é irrevogavelmente destruída pelo darwinismo. Sem teleologia, a religião precisa
―retrair-se para algo como deísmo, ... não mais... apoiando a doutrina da dignidade humana‖
(págs. 127, 128). Este argumento é forte, e precisa ser refutado se um darwinista religioso quer
resgatar o ensino bíblico de que os seres humanos são criados à imagem de Deus e ocupam um
lugar especial na ordem divina. Como Rachels nos lembra: ―A tese da ‗imagem de Deus‘ não se
|3
enquadra com qualquer opinião teísta. Requer um teísmo que vê a Deus como ativamente
planejando o homem e o mundo como um lar para o homem.‖
Em ―Quão Diferentes são os Seres Humanos dos Animais?‖ Rachels conclui que o darwinismo
destrói qualquer fundamento para uma diferença moralmente significante entre seres humanos e
animais. Se o homem descende de símios por seleção natural, ele pode ser fisicamente diferente
de símios, mas não pode sê-lo de modo essencial. Certamente não pode ser em qualquer aspecto
que dê ao homem mais direitos do que a qualquer animal. Nas palavras de Rachels, ―não se pode
fazer distinções em moralidade onde nenhuma existe de fato‖. Ele chama sua doutrina de
―individualismo moral‖, e rejeita ―a doutrina tradicional da dignidade humana‖ junto com a idéia
de que a vida humana tenha qualquer valor inerente que os seres não humanos careçam.
Individualismo moral
Em ―Moralidade Sem Que os Seres Humanos Sejam Especiais‖, Rachels trata primeiro da
igualdade humana, e depois a rejeita! Os seres humanos podem ser ―tratados como iguais‖
somente se não houver ―diferenças notáveis‖ entre eles. Essas ―diferenças notáveis‖ poderiam ser
usadas para distinguir gêneros, raças, religiões e indivíduos. Aceitando conceitos dar-winistas ele
estende a análise aos animais, não admitindo superioridade humana automática sobre coelhos,
porcos ou baleias. Sob ―individualismo moral‖, quando confrontado com o uso de um ser
humano ou de um chimpanzé para um experimento médico letal, não mais podemos decidir a
questão argüindo que o chimpanzé não é humano. ―Teríamos de perguntar o que justifica usar
este chimpanzé, e não aquele ser humano, e a resposta teria de ser em termos de suas
características individuais, e não simplesmente por pertencerem a este ou àquele grupo‖ (pág.
174).
Considerando o papel crucial de ―diferenças notáveis‖ nesta ética, a gente procura alguma
definição formal do termo. Rachels não dá nenhuma. Em vez disso obtemos ―algo de como o
conceito opera‖ num exemplo de testar cosméticos nos olhos de coelhos, e um palavreado difuso.
Isto não é defesa contra o egoísmo e o mal que vemos em nós mesmos e em nossos semelhantes.
A experiência demonstra que qualquer norma moral fraca e relativista será torcida em qualquer
forma que seja necessária para nos permitir fazer o que quisermos a nosso próximo. Há muitos
exemplos: escravidão; perseguição racial e religiosa; um milhão de abortos por ano nos Estados
Unidos; a epidemia de abandono, abuso e morte de bebês; leis que permitem suicídio assistido e
eutanásia; expurgo étnico, etc. Precisamos ter uma norma clara de nossas obrigações para com
todo membro da família humana. Essa é a diferença entre moralidade e amoralidade. Não há
terreno neutro.
A conexão entre darwinismo e amoralidade é agora explícita. Na New York Times Magazine de 3
de novembro de 1997, Stephen Parker escreveu sobre ―psicologia evolucionista‖. Ele nos diz que
―filósofos da ética concluíram que... nossos neonatos imaturos não possuem o direito à vida mais
do que um camundongo‖, e alega que ―o infantocídio pode ser o produto de trauma maternal‖
visto ―ter sido praticado e aceito na maioria das culturas através da história.‖ Ele assim liga o
infanticídio diretamente a nossos ancestrais e à luta pela sobrevivência
darwiniana, que por vezes requer que as mães matem seus filhos a fim de promover seu futuro
reprodutivo. Em artigos como este, aquilo que outrora era impensável é apresentado como
razoável e aceitável. Estamos sendo amaciados para uma mudança na moralidade da comunidade
— que mantém que alguns seres humanos merecem respeito e proteção, mas outros não, e podem
ser mortos com impunidade. Podemos ver esse processo em operação hoje, nos pronunciamentos
acadêmicos, e cada vez mais na mídia popular.
Há apenas 50 anos, toda nação com voto nas Nações Unidas rejeitou este modo de pensar. A
ética que emerge no Ocidente é um repúdio direto da Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Em seu preâmbulo, a Assembléia Geral das Nações Unidas unanimemente (com oito
abstenções) declarou que ―o fundamento da liberdade, justiça e paz do mundo‖ é ―o
reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros
da família humana.‖ Nos próprios Artigos, achamos que ―Todos os seres humanos nascem livres
e iguais em dignidade e direitos‖ (Artigo 1); ―Cada um possui todos os direitos e liberdades
anunciadas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie‖ (Artigo 2); ―Todos têm direito
à vida, liberdade e segurança de sua pessoa‖ (Artigo 3); ―Todos têm direito ao reconhecimento
em toda parte como uma pessoa diante da lei‖ (Artigo 6); e ―Todos são iguais diante da lei e têm
direito sem nenhuma discriminação à igual proteção da lei‖ (Artigo 7). Esta linguagem não é
Textos sobre Criacionismo
Darwinismo e amoralidade
4|
equívoca; não pode haver confusão quanto a seu significado. Aceitar o que Rachels e Pinker
estão oferecendo significa voltar as costas à sabedoria do passado.
Maturidade (e nossa segurança) exige reflexão honesta. Um sistema de ética baseado em
relativismo moral sempre terminará com o forte no poder e o fraco debaixo de seu calcanhar. A
filosofia darwinista, levada à sua conclusão lógica, não nos leva a parte alguma, e isso devia
bastar para que a rejeitássemos. Talvez não devêssemos estar surpresos de ver os darwinistas
abraçando uma filosofia tão cruel e utilitária, mas o que mais surpreende é o número de
moralistas, filósofos e outros que se identificam como cristãos mas insistem que adotemos uma
ética tão diferente da de Cristo.
O argumento a favor do relativismo moral é sutil à primeira vista. Freqüentemente começa
reafirmando a verdade biológica (e bíblica) de que somos humanos desde o momento da
concepção. Mas, depois nos é dito que há uma diferença entre um ―ser humano‖ e uma ―pessoa‖,
e que ―personalidade‖ é a categoria que um ser humano precisa alcançar a fim de ter direito à
vida. As qualificações para ―personalidade‖ variam — mas geralmente incluem a posse de
consciência de si mesmo como condição necessária para ser uma ―pessoa‖ com pleno status
moral (por exemplo, ter o direito de não ser morto). Naturalmente nenhum ser humano nasce
com consciência de si mesmo, e muitos de nós podemos perder a consciência, temporária ou
permanentemente, devido a trauma, enfermidade ou idade.
O individualismo moral (ou a ética da ―personalidade‖) e a declaração das Nações Unidas dos
Direitos Humanos colidem; são inteiramente incompatíveis. A Declaração das Nações Unidas é
fundada sobre a tradição moral judaico-cristã — uma tradição que remonta a milênios. O
―individualismo moral‖ pretende ser fundado na razão humana, e é expresso em afirmações que
começam com: ―Eu argumento....‖ ―Eu vejo...‖, ou ―Eu sustento ...‖. O ―individualismo moral‖
propõe que tanto os seres humanos como os animais devem ser julgados pelos mesmos critérios
relativistas. Neste universo moral, seres humanos perderam seus direitos inalienáveis à vida, algo
que os cristãos defendem na base da declaração: ―Criou Deus o homem à Sua imagem: à imagem
de Deus o criou; macho e fêmea os criou‖ (Gênesis 1:27).
Textos sobre Criacionismo
Tirado do pedestal
Tirando os seres humanos do pedestal de dignidade sobre o qual a Bíblia os colocou tem
implicações para todos, não somente para os pacientes em estado comatoso, os neonatos com
defeitos, os velhos enfermiços, e outros diferentes de ―nós‖. Debaixo da ética do
―individualismo‖ não há princípio que impeça que uma raça classifique outras raças como não
plenamente humanas e de escravizá-las ou eliminá-las. Não há princípio responsabilizando
aqueles que procuram degradar os outros ao status de ―não-pessoas‖. Não há princípio
condenando os pais que recorrem a testes pré-natais para determinar o sexo de um feto e depois
abortam se for menina. Não há princípio para impedir que uma sociedade determine que o pleno
status humano não seja atingido antes dos 3 ou 4 anos, e de fundar centros para eliminar as ―nãopessoas‖ indesejáveis. Não há princípio para impedir a clonagem de um indivíduo, ou o uso do
ser humano como um estoque de órgãos avulsos. Podemos recuar destas sugestões, mas a
verdade é que quando abandonamos o imperativo bíblico de que a vida humana inocente é
sagrada e não pode ser tocada, estamos todos debaixo de risco, porque quando os fortes
dominam, ―a força faz o direito‖.
Quando moralistas cristãos chegam às mesmas conclusões que os darwinistas sobre nossas
obrigações para com o nosso próximo, é tempo de pensar cuidadosamente. Deus nos criou, e Ele
conhece o mal de que somos capazes. Por esta razão, Ele nos instruiu a tratar todos os seres
humanos como dignos de respeito. Nem o ―individualismo moral‖ nem a ética da
―personalidade‖ é compatível com a interpretação tradicional das Escrituras, e isso deveria ser
razão suficiente para rejeitá-los. Mas, além disso, para aqueles cuja fé é fraca, a história oferece
muitas demonstrações de que antes de qualquer matança tem havido uma divisão da população
em ―nosso grupo‖ (protegido) e ―os demais‖ (não protegidos) que torna permissível ir adiante
com a matança. A maior parte dos moralistas relativistas não tem esta intenção. Estão
simplesmente tentando criar uma base não-dogmática, racionalista para um comportamento que
eles julgam apropriado.
Creio que James Rachels tem razão em seu argumento: Uma pessoa não pode ser darwinista e
manter de modo lógico a opinião tradicional de que a vida humana é sagrada. A pergunta mais
imediata para os cristãos parece ser mais relevante: Pode uma pessoa crer que a vida humana não
é sagrada e ainda ser cristão?
|5
Textos sobre Criacionismo
Earl Aagaard (Ph.D., Colorado State University) é professor de biologia no Pacific Union
College. Seu endereço postal: 3 College Ave., Angwin, California 94508. E-mail:
[email protected] Para artigos anteriores sobre este tópico em nossa revista, ver David
Ekkens, ―Animais e Seres Humanos: São Eles iguais?‖ Diálogo 6:3 (1994), págs. 5-8, e James
Walters, ―É Koko uma pessoa?‖ 9:2 (1997), págs. 15-17 e 34.
6|
Artigo 2
Fé e ciência podem coexistir?
Leonard Brand
Fé e ciência podem coexistir? Muitos diriam que os cientistas precisam deixar fora de suas
preocupações acadêmicas todas as influências religiosas porque, de outro modo, haveria prejuízo
para a pesquisa da verdade. Contudo, creio que o Deus da Bíblia compreende os mais altos níveis
da erudição, e não apenas os confortantes temas espirituais. Mesmo das ciências que parecem
menos prováveis como a paleontologia e a geologia, podemos tirar proveito mediante intuições
recebidas do Criador do Universo, percepções essas que outros ignoram. 1
Textos sobre Criacionismo
Desafios a serem vencidos
Qualquer tentativa de integrar a fé e a erudição imediatamente apresenta tensão. Pode a religião
introduzir preconceitos em nossa pesquisa científica da verdade? Sim, pode. Por exemplo, alguns
cristãos conservadores crêem, na base do que consideram ensino bíblico, que os dinossauros
nunca existiram. Mas numerosos esqueletos de dinossauros já foram achados. Uma solução é
deixar a Bíblia fora de nossas preocupações acadêmicas, de modo que preconceitos religiosos
não interfiram e possamos ser mais objetivos.
Mas tal solução é leviana, como bem ilustra certo episódio da história da geologia. Por mais de
cem anos o trabalho do geólogo pioneiro Lyell foi considerado autorizado no campo da
geologia.2 Lyell rejeitou todas as interpretações catastrofistas comuns de seus dias, e as substituiu
pela teoria de que todos os processos geológicos ocorrem muito lenta e gradualmente durante
longos períodos de tempo (gradualismo). Os analistas históricos da obra de Lyell, contudo,
concluíram que os catastrofistas eram os cientistas mais isentos de preconceito, e que Lyell
impôs uma teoria derivada culturalmente e acima dos fatos. 3 Gould e outros não concordam com
as opiniões bíblicas de alguns dos primeiros geólogos; mas concluíram que os colegas de Lyell
eram observadores mais cuidadosos do que ele próprio, e que suas opiniões catastrofistas eram
interpretações realistas dos fatos. A teoria estritamente gradualista de Lyell foi prejudicial à
geologia, porque fechou a mente dos geólogos a quaisquer interpretações que sugerissem
processos geológicos rápidos e catastróficos.4 Assim entenderam Gould e Valentine. Esses
autores ainda preferem explicar a geologia dentro dum cenário de milhões de anos, mas
reconhecem a evidência de que muitos depósitos sedimentares são de natureza catastrófica.
Agora que os preconceitos de Lyell foram reconhecidos e em parte abandonados, as mentes dos
geólogos se abriram para reconhecer as evidências dos processos catastróficos. Elas já estavam
presentes nas rochas antes, porém não foram reconhecidas por causa dos preconceitos de Lyell.
Esse episódio revela que o preconceito não se limita à religião. É um problema contra o qual
todos temos de lutar, a despeito da cosmovisão que adotemos. É ingênua a idéia de que a religião
introduz preconceitos e que o conhecimento científico que a põe de lado é objetivo. Durante a
leitura da Bíblia, introduzimos nas entrelinhas nossas idéias favoritas e erramos em relacionar as
Escrituras com a natureza. Todavia, aqueles que não levam a sério as Escrituras, têm seus
problemas com outros preconceitos e esses são tão significativos quanto os provenientes da
religião.
O estudo da geologia e da paleontologia é usualmente dependente da premissa de que a vida
evoluiu através de anos, e que não envolveu qualquer intervenção divina. Essa cosmovisão
naturalista pode entremeter preconceitos extremamente sutis na pesquisa científica. Não obstante,
o nervosismo de muitos líderes do pensamento cristão, ao procurarem uma integração entre a
ciência e a religião, não deve ser perfunctoriamente posto de lado. Há respostas para suas
preocupações 5 e esse artigo enfocará parte delas.
Abordagens da relação entre fé e ciência
Uma abordagem comum é a de manter a ciência e a fé separadas. 6 Esse método serve muito bem
em várias disciplinas que tratam de questões sobre as quais a Escritura nada diz. Contudo, no
estudo da história da Terra, a Bíblia e a ciência atual dizem coisas diferentes, e precisamos de um
método que possa tratar desse conflito. A solução que tenho é conhecer a Deus como um amigo
pessoal, aprender a confiar em Sua Palavra e usá-la como assistente de nosso pensamento
acadêmico. Entrementes, nossa interação com outros estudiosos de opiniões variadas pode
ajudar-nos a evitar tentativas simplistas de relacionar as Escrituras com o mundo natural. Há
muitos criacionistas que escrevem livros e panfletos sobre evolução ou geologia, os quais são,
infelizmente, um embaraço aos cristãos conservadores que têm conhecimento dessas matérias.
|7
Talvez o problema não esteja na utilização dos conceitos bíblicos, mas na falta de conhecimento
científico combinado com a ausência de contato com outros cientistas.
Isso nos leva a uma abordagem testada e aprovada, calcada nos passos seguintes:




Pesquise ativamente e utilize as idéias das Escrituras pertinentes à sua matéria.
Esteja a par da obra e pensamento daqueles que têm uma cosmovisão diferente.
Sempre que possível, submeta a colegas seu trabalho destinado à publicação.
Seja cortês com aqueles que advogam uma cosmovisão diferente, e faça um
trabalho em colaboração com eles. Isso requer confiança e independência de
pensamento para não aceitar tudo quanto seus colaboradores pensam. Ao mesmo
tempo, mantenha um diálogo construtivo que pode reduzir a probabilidade de
pensamento superficial.
1. A Geologia do Grand Canyon. Os geólogos têm interpretado as faixas de arenito cambriano,
no fundo do Grand Canyon, como acúmulos de areia em águas rasas, ao longo de uma antiga
praia oceânica, com o nível da água e depósito arenoso se elevando gradualmente através dos
tempos, junto à face do precipício existente. Os Drs. Arthur Chadwick, Elaine Kennedy e seus
colaboradores encontraram um depósito geológico que desafia abertamente essa interpretação. 7
Sua evidência indica acúmulo de areia em águas profundas mediante processos muito diferentes
daqueles ocorrentes em águas rasas (esses processos em água profunda eram possivelmente
também mais rápidos, mas isso é outro assunto). Eles apresentaram seus dados e conclusões
numa reunião profissional de geólogos, à qual estavam presentes alguns cientistas que tinham
feito muitas pesquisas naquela formação, os quais entenderam que as conclusões de Chadwick e
Kennedy estavam corretas. Um geólogo perguntou posteriormente ao Dr. Chadwick o que o
tinha levado a ver as coisas que outros geólogos não tinham observado. A resposta foi que sua
cosmovisão o estimulou a fazer perguntas que outros não haviam formulado, e a questionar
conclusões que outros aceitavam cegamente. Isso abriu seus olhos para ver coisas que
provavelmente foram deixadas de lado por geólogos que trabalham dentro de uma teoria
científica naturalista convencional. As questões que um estudioso levanta têm forte influência
sobre as características de rochas e fósseis que chamam sua atenção, e os dados que coletam.
Um cientista cuidadoso, que permite à história bíblica fornecer dados para o seu conhecimento,
não usará um método científico diverso daquele utilizado por outros cientistas. Quando os
cientistas examinam uma rocha, usam o mesmo método científico. Os tipos de dados
potencialmente à sua disposição são os mesmos, e eles se valem dos mesmos instrumentos
científicos e processos lógicos de análise de dados. As diferenças estão: (1) nas questões que os
cristãos colocam, (2) no leque de hipóteses que estamos dispostos a considerar e, (3) em quais
tipos potenciais de dados que chamarão nossa atenção.
Somente porque partimos daquilo que cremos ser o ponto inicial mais correto (como intuição
bíblica), isso não garante que as hipóteses que desenvolvemos sejam corretas (as Escrituras não
fornecem tantos detalhes assim). Tãosomente inicia uma pesquisa numa direção mais
promissora, e se temos razão para confiar nas intuições divinas, isso nos ajudará a progredir
melhor em algumas áreas da ciência, abrindo nossos olhos a coisas que provavelmente não
veríamos de outro modo.
2. Fósseis de baleias da Formação Miocênica/Pliocênica de Pisco, no Peru. A Formação de
Pisco, no Peru, contém numerosos fósseis de baleias em depósito de diatomitos. Os diatomitos
microscópicos são organismos que flutuam na superfície de lagos e oceanos. Ao morrerem, seus
esqueletos de sílica afundam. Nos modernos oceanos, eles formaram num milênio acumulações
da espessura de alguns centímetros. A maioria dos cientistas entende que os antigos depósitos de
diatomitos fósseis se formaram com a mesma lentidão, poucos centímetros a cada mil anos.
Os geólogos e paleontologistas que escreveram sobre a geologia e os fósseis da Formação Pisco
aparentemente não perguntaram como é possível que sedimentos que se acumulam à razão de
uns poucos centímetros durante milhares de anos podem conter baleias completas bem
preservadas, as quais parecem ter sofrido um sepultamento rápido para sua preservação. Esse foi
outro exemplo no qual a cosmovisão cristã abriu nossos olhos para ver coisas que outros não
Textos sobre Criacionismo
Exemplos de uma pesquisa publicada e baseada na abordagem acima
8|
tinham notado — a incongruência das baleias bem preservadas, em contraste com a suposta
acumulação lenta de diatomitos.
A pesquisa que fizemos durante os últimos três verões, juntamente com meu aluno graduado,
Raul Esperante, e outros geólogos, juntou evidências que apontam para um sepultamento rápido
das carcaças de baleias, provavelmente de umas poucas semanas ou meses (uns poucos anos ao
máximo) de duração, e sugere como os antigos diatomitos podem ter-se formado muito mais
rapidamente.
Os resultados e conclusões de nossa pesquisa foram apresentados nas reuniões anuais da
Geological Society of America,8 e numa monografia já publicada. 9 Mais monografias serão
apresentadas. Os melhores cientistas da área terão oportunidade de avaliar nosso trabalho, e
estarão ansiosos de apontar nossos erros. Isso é um incentivo poderoso para nos impedir de
sermos descuidados.
Tenho gasto tempo nessa pesquisa de campo (e noutra investigação paleontológica não
mencionada aqui)10, com geólogos e paleontólogos não-cristãos, os quais têm uma cosmovisão
completamente diferente da minha. Descobri que vale a pena trabalhar com alguém que tenha um
ponto de vista diferente. Descobri coisas que eles provavelmente nunca tomariam em
consideração, e coisas que eles notaram, as quais eu provavelmente não veria. Isso nos ajuda a
evitar respostas simplistas ao procurar compreender a história geológica.
Textos sobre Criacionismo
Integrando fé e ciência
Os cientistas extraem suas idéias e hipóteses de muitos modos diferentes 11 e não importa de onde
elas venham (mesmo da Bíblia), porquanto só se tornam ciência válida se puderem ser
substanciadas com fatos. A ciência, naturalmente, não tem nada a contribuir para avaliar boa
parte do conteúdo da Bíblia. O fato de Jesus ter transformado água em vinho ou ressuscitado a
Lázaro dentre os mortos está além do escrutínio científico. Que experimentos faria você para
provar esses milagres bíblicos? Por outro lado, quando a cosmovisão bíblica sugere hipóteses
verificáveis, essas se tornam contribuições válidas para a ciência.
Tentar integrar fé e ciência pode ajudar- nos a encontrar o equilíbrio entre hipóteses opostas. Por
exemplo, nossas intuições bíblicas nos ajudaram a fazer as perguntas corretas e descobrir que,
pelo menos, alguns depósitos geológicos se formaram com extrema rapidez. Ao mesmo tempo,
nossa pesquisa científica parece indicar que a premissa não-bíblica da ausência de atividade
geológica na Terra, entre a semana da Criação e o Dilúvio, parece não ser correta. A coluna
geológica pode não ter sido formada inteiramente no dilúvio genesíaco, mas se acumulado
durante um período de tempo antes, durante e depois do Dilúvio.
A religião pode introduzir preconceitos em nossa ciência, mas o mesmo acontece com outras
abordagens. Se fizermos um esforço consciencioso para integrar fé e ciência, ou fé e outras
disciplinas, o esforço pode abrir-nos a mente para novas intuições. O inverso disso também é
verdade: Se não buscarmos integrar a ciência e a fé, é pouco provável que compreendamos
adequadamente as áreas onde a ciência e a religião parecem estar em conflito. Se não fizermos
um esforço sério para desafiar o pensamento convencional e desenvolver uma síntese positiva de
ciência e fé, é provável que aceitemos o pensamento convencional sem saber se ele é ou não
baseado em sólido fundamento.
Leonard Brand (Ph.D. pela Cornell University) é professor de biologia e paleontologia na Loma
Linda University, Loma Linda, Califórnia, EUA. E-mail: [email protected]
Notas e referências
1. Veja L. R. Brand, Faith, Reason, and Earth History: A Paradigm of Earth and Biological Origins by
Intelligent Design (Berrien Springs, Mich: Andrews University Press, 1997).
2. C. Lyell, Principles of Geology, Being an Attempt to Explain the Former Changes of the Earth’s
Surface, by Reference to Causes Now in Operation, 3 vols. (London: John Murray, 1830-33);
Principles of Geology, or the Modern Changes of the Earth and Its Inhabitants Considered as
Illustrative of Geology, 11a ed. (New York: D. Appleton and Co., 1892), 2 vols. A 11a edição é a
mais usada atualmente.
3. S. J. Gould, ―Lyell’s Vision and Rhetoric‖, em W. A. Berggren e J. A.Van Couvering, eds.
Catastrophes and Earth History: The New Uniformitarianism (Princeton, N.J.: Princeton University
Press, 1984).
4. S. J. Gould, ―Is Uniformitarianism Necessary?‖ American Journal of Science 263 (1965): 223-228 e
J. W. Valentine, ―The present Is the Key to the Present‖, Journal of Geological Education 14 (1966)
2: 59, 60
|9
Textos sobre Criacionismo
5. L. R. Brand, ―The Bible and Science‖, em Humberto M. Rasi, ed., Symposium on the Bible and
Adventist Scholarship: Christ in the Classroom (Silver Spring, Md.: Institute for Christian Teaching,
General Conference of Seventh-day Adventists), vol. 26-B: 139- 162.
6. S. J. Gould, Et Dieu Dit : Que Darwin soit ! (Paris: Seuil, 2000).
7. E. G. Kennedy, R. Kablanow e A. V. Chadwick, ―Evidence for Deep Water Deposition of the
Tapeats Sandstone, Grand Canyon, Arizona‖. Actas da 3rd Biannual Conference of Research on
the Colorado Plateau, C. VanRiper III, e E. T. Deshler, eds., U. S. Dept. of the Interior,
Transactions and Proceedings Series NPS/ NRNAM/NRTP, 97/12, 1997, pp. 215-228.
8. R. Esperante-Caamano, L. R. Brand, A. V. Chadwick e O. Poma, ―Taphonomy of Whales in the
Miocene/Pliocene Pisco Formation, Western Peru‖, Geological Society of America, concilio anual,
outubro de 1999. Abstracts With Programs, 31(7): A- 466, R. Esperante-Caamano, L. R. Brand, A.
V. Chadwick e F. DeLucchi, ―Fossil Whales of the Miocene/Pliocene Pisco Formation, Peru:
Stratigraphy, Distribution, and Taphonomy‖, Geological Society of America, concilio anual,
novembro de 2000. Abstracts With Programs, 32 (7): A-499.
9. R. Esperante-Caamano, L. R. Brand, A. V. Chadwick e O. Poma, ―Taphonomy of Fossil Whales in
the Diatomaceous Sediments of the Miocene/Pliocene Pisco Formation, Peru‖, em M. De Renzi, M.
Alonso, M. Belinchon, E. Penalver, P. Montoya e A. Marquez-Aliaga, eds., Current Topics on
Taphonomy and Fossilization (Valencia, Spain: International Conference Taphos 2002; 3rd
Meeting on Taphonomy and Fossilization), pp. 337-343.
10. Por exemplo, L. R. Brand e T. Tang, ―Fossil Vertebrate Footprints in the Coconino Sandstone
[Permian] of Northern Arizona: Evidence for Underwater Origin‖, Geology 19 (1991): 1201-1204.
Comentários sobre este foram publicados em: Science News 141 (1992) 4:5; Geology Today 8
(1992) 3:78, 79 e Nature 355 (9 de janeiro, 1992): 110.
11. Veja A. Cromer, Uncommon Sense: The Heretical Nature of Science (New York: Oxford University
Press, 1993), p. 148; K. R. Popper, The Logic of Scientific Discovery (New York: Harper and Row,
1999) pp. 31, 32.
10 |
Artigo 3
Isaac Newton: cientista e teólogo
Ruy Carlos de Camargo Vieira
Era uma pessoa fora do comum — distraído e generoso, sensível à crítica e modesto. Enfrentou
uma série de crises psicológicas. Tinha dificuldade em manter boas relações sociais. Contudo, ele
foi um dos raros gigantes da história — um físico brilhante, astrônomo e matemático
extraordinário e um filósofo natural.
Quando Isaac Newton, aquele raro gênio inglês e cavalheiro, morreu em 1727 com a idade de 85,
deixou uma marca indelével em todo trabalho a que se dedicou. Conhecemos suas leis do
movimento e a teoria da gravitação. Nós o conhecemos por suas contribuições à compreensão do
universo. Mas raramente conhecemos suas contribuições à teologia cristã. Depois de um estudo
intenso de seus escritos, concluí que Newton era não só um grande cientista, mas também um
grande teólogo — um verdadeiro adventista e criacionista. 1
Minha jornada para a compreensão de Newton como teólogo começou há 45 anos, quando me
tornei adventista do sétimo dia depois de assistir a uma série evangelística sobre as fascinantes
profecias de Daniel e Apocalipse. Estava então estudando na Escola Politécnica da Universidade
de S. Paulo, visando a obter um diploma de engenharia.
O ambiente da universidade não era de molde a nutrir minha fé. Eu era bombardeado de todas as
direções. Materialismo, preocupações humanísticas e uma filosofia científica restrita convergiam
para pôr em dúvida minha fé recente. Eu precisava de algo para defender o que cria ser
verdadeiro, e queria que minha defesa fosse sã e lógica.
Em minha procura de literatura apropriada, descobri uma versão portuguesa de 1950 de Newton’s
Observations Upon the Prophecies of Daniel and the Apocalypse — não na biblioteca da escola
ou numa livraria, mas em uma banca de livros velhos em uma esquina de S. Paulo. Fiquei
encantado ao descobrir que o mesmo Isaac Newton a quem nós, como estudantes de engenharia,
conheceramos em ótica, mecânica, cálculo e gravitação, tinha dedicado bastante tempo e esforço
à cronologia bíblica e à interpretação de profecia! Com efeito, a Enciclopédia Britânica dá uma
lista de livros de Newton, The Chronology of Ancient Kings Amended e Observations Upon the
Prophecies of Daniel and the Apocalypse of St. John entre suas cinco obras mais importantes, as
outras sendo Philosophiae Naturalis, Principia Mathematica, Opticks e Arithmetica Universalis.
Minha descoberta e estudo de Newton como um erudito cristão levou-me a compreendê-lo como
um criacionista, um adventista e um intérprete das profecias.
Textos sobre Criacionismo
Newton, o criacionista
Robert Boyle, pioneiro em estudos das propriedades dos gases e forte promotor do cristianismo,
que advogava o estudo científico da natureza como um dever religioso, morreu em 1691. Seu
testamento provia para uma série de palestras anuais para a defesa do cristianismo contra a
incredulidade. Richard Bentley, clérigo e destacado erudito clássico, apresentou a primeira série
de palestras em 1692.
Na preparação para suas palestras, Bentley buscou a ajuda de Newton, que já era famoso por seus
Principia (1687). Bentley esperava demonstrar que, segundo as leis físicas que governam o
universo natural, teria sido impossível os corpos celestes surgirem sem a intervenção de um
agente divino.
Desde então, Bentley e Newton trocaram uma correspondência ―quase teológica‖. Newton
declarou: ―Quando escrevi meu tratado sobre nosso sistema, tinha meus olhos voltados a
princípios que podiam funcionar considerando a crença da humanidade em uma Divindade, e
nada me dá maior prazer do que vê-lo sendo útil para este fim‖. 2
Newton escreveu de novo: ―Os movimentos que os planetas têm hoje não podiam ter originado
em uma causa natural isolada, mas foram impostos por um agente inteligente‖. 3
Outros escritos confirmam a forte crença de Newton num Criador, a quem ele se referia
freqüentemente como o ―Pantokrator‖, termo grego, o Todo-Poderoso, ―com autoridade sobre
tudo que existe, sobre a forma do mundo natural e sobre o curso da história humana‖.
Newton expressa suas convicções com clareza: ―Precisamos crer que há um só Deus ou monarca
supremo a Quem podemos temer e guardar Suas leis e dar-Lhe honra e glória. Devemos crer que
Ele é o Pai de quem vêm todas as coisas, e que ama Seu povo como seu Pai. Devemos crer que
Ele é o ‗Pantokrator‘, Senhor de todas as coisas, com poder irresistível e ilimitado domínio, do
qual não podemos esperar escapar, se nos rebelarmos e seguirmos a outros deuses, ou se
| 11
transgredirmos as leis de Sua soberania, e de Quem podemos esperar grandes recompensas se
fizermos Sua vontade. Devemos crer que Ele é o Deus dos judeus, que criou os céus e a terra e
tudo que neles há, como expresso nos Dez Mandamentos, de modo que podemos agradecer-Lhe
pelo nosso ser e por todas as bênçãos desta vida, e guardar-nos de usar Seu nome em vão ou
adorar imagens de outros deuses‖.4
Newton, o adventista
Newton também se preocupava com a restauração da Igreja Cristã à sua pureza apostólica. Seu
estudo das profecias o levou a concluir que afinal a igreja, a despeito de seus defeitos presentes,
triunfaria. William Whiston, que sucedeu a Newton como professor de matemática em
Cambridge e escreveu The Accomplishment of Scripture Prophecies, declarou depois da morte de
Newton que ―ele e Samuel Clarke tinham desistido de lutar pela restauração da Igreja às normas
dos tempos apostólicos primitivos porque a interpretação que Newton dava às profecias os tinha
levado a esperar uma longa era de corrupção antes de poder ser efetiva‖. 5
Newton cria num remanescente fiel que testemunharia até o fim dos tempos. Um de seus
biógrafos escreve: ―Por igreja verdadeira, à qual as profecias apontavam, Newton não pensava
incluir todos os cristãos nominais, mas um remanescente, um pequeno povo disperso, escolhido
por Deus, povo que não sendo movido por qualquer inte-resse, instrução ou o poder de
autoridades humanas, é capaz de se dedicar sincera e diligentemente à busca da verdade‖.
―Newton estava longe de identificar o que quer que existisse a seu redor como o verdadeiro
cristianismo apostólico. Sua cronologia interna tinha posto o dia da trombeta final dois séculos
mais tarde.‖6
Em Daniel 2 Newton viu o desenvolvimento da história da humanidade até o fim do tempo,
quando Cristo estabeleceria Seu reino. Escreveu: ―E uma pedra cortada sem mãos, que caiu sobre
os pés da imagem, e reduziu a pedaços os quatro metais, e tornou-se uma grande montanha, e
encheu toda a terra; ela representa que um novo reino devia surgir, depois dos quatro, e
conquistar todas aquelas nações, e tornar-se muito grande, e durar até o fim dos séculos‖.7
Tratando das visões subseqüentes de Daniel, Newton deixa claro que depois do quarto reino
sobre a terra viria a segunda vinda de Cristo e o estabelecimento de Seu reino eterno: ―A profecia
do Filho do homem vindo nas nuvens do céu relaciona-se com a segunda vinda de Cristo.‖8
Newton não estava satisfeito com a
interpretação das profecias então corrente.
Sustentava que os intérpretes não tinham
―método prévio...Eles torcem partes da
profecia, colocando-as fora de sua ordem
natural, segundo sua conveniência‖.9
Em harmonia com sua abordagem de
questões científicas, Newton estabeleceu
normas para interpretação profética, com
uma codificação da linguagem profética a
fim de eliminar a possibilidade de distorção
ao bel-prazer dos intérpretes, e adotou o
critério de deixar a Escritura revelar e
explicar a Escritura.
Assim, a interpretação de Newton divergia
da maioria de seus contemporâneos. Não
estava interessado em aplicar a profecia para
explicar a história política da Inglaterra,
como alguns outros faziam, mas em
focalizar o princípio da grande apostasia que ocorreu na igreja, e a restauração final da igreja à
sua pureza.
Este interesse na restauração da igreja à pureza apostólica levou Newton a um estudo da segunda
vinda de Cristo. Sua preocupação com o futuro o levou às 70 semanas de Daniel 9. Ele, como os
dispensacionalistas de hoje, designava a última semana para um futuro indeterminado, quando a
volta dos judeus e a reconstrução de Jerusalém iriam começar, culminando com a gloriosa
segunda vinda de Cristo.
Textos sobre Criacionismo
Newton, o intérprete profético
12 |
Essa interpretação, naturalmente, é contrária às crenças adventistas. Contudo, os princípios de
interpretação de Newton estão em harmonia com os dos adventistas. Por exemplo, considere a
interpretação que Newton faz dos símbolos:
―Ventos tempestuosos, ou o movimento de nuvens (significam) guerras;...Chuva, se não
excessiva e orvalho e água viva (significam) as graças e doutrinas do Espírito; e a falta de chuva,
a esterilidade espiritual. Na terra, a terra seca e as águas congregadas, como um mar, um rio, um
dilúvio, significam o povo de várias regiões, nações e domínios....E diversos animais como um
Leão, um Urso, um Leopardo, um Bode, segundo suas características, representam diversos
reinos e corpos políticos... Um Governante é representado por ele cavalgar um animal; um
Guerreiro e Conquistador, por ter uma espada e um arco; um homem poderoso, por sua estatura
gigantesca; um juiz por pesos e medidas;...honra e glória, por uma roupagem esplêndida;
dignidade real, por púrpura ou escarlate, ou por uma coroa; fraqueza, por roupas manchadas e
sujas.‖10
Na interpretação de profecias relacionadas com tempo, Newton sustentava que ―os dias de Daniel
são anos‖.11 Ele aplicou este princípio às 70 semanas12 e aos ―três tempos e meio‖ do período de
apostasia. Newton deixa claro que o ―dia profético‖ é ―um ano solar‖, e que ―tempo‖ na profecia
também é equivalente a um ano solar‖; ―E tempos e leis foram daí em diante dados em sua mão,
por um tempo, tempos e metade de um tempo, ou três tempos e meio; isto é por 1260 anos
solares, calculando o tempo por um ano de 360 dias, e um dia por um ano solar‖.13
Conclusão
Newton era muito cauteloso em suas crenças religiosas. Isto em parte explica por que não
publicou suas obras teológicas em vida. Talvez Newton, cônscio do ambiente religioso inglês,
não queria ser acusado de heresia, mas seguiu a verdade como a via na Bíblia. Felizmente, suas
obras teológicas foram publicadas postumamente.
Como adventistas do sétimo dia, podemos não concordar com todas as interpretações de Newton
das profecias bíblicas. Mas podemos tirar proveito de suas obras teológicas e de sua metodologia
cuidadosa, de modo a podermos ficar firmes na fé, mesmo quando seguindo estudos científicos.
Aqui está um gigante da ciência que não se envergonhava de sua fé e que devotou tempo para
compreender a Palavra de Deus tanto no que toca sua predição do movimento da história como
em prover diretriz para nossa vida pessoal.
Ruy Carlos de Camargo Vieira (Ph.D., Universidade de S. Paulo) é engenheiro mecânico e
elétrico e presentemente membro do Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira. Em
1971 o Dr. Vieira fundou a Sociedade Criacionista Brasileira e lançou a Folha Criacionista,
uma revista publicada no Brasil duas vezes por ano. Seu endereço: Caixa Postal 08743; 70312970 Brasília, D.F.; Brasil. Fax: 55-61-577-3892.
Textos sobre Criacionismo
Notas e referências
1. Ver meu Sir Isaac Newton: Adventista? livrinho publicado pela Sociedade Criacionista Brasileira.
2. Richard S. Westfall, The Life of Isaac Newton (Cambridge: University Press, 1993), pág. 204.
3. Bernard Cohen, Isaac Newton: Papers & Letters on Natural Philosophy (Cambridge: Harvard
University Press, 1958), pág. 284.
4. Westfall, pág. 301.
5. Ibid., pág. 300
6. Ibid., pág. 128.
7. Isaac Newton, Observations Upon the Prophecies of Daniel and the Apocalypse of St. John, págs.
25-26.
8. Ibid., pág. 128.
9. Westfall, págs. 128,129.
10. Newton, Observations, págs. 18-22.
11. Ibid., pág. 122.
12. Ibid., pág. 130.
13. Ibid., págs. 113, 114.
| 13
Artigo 4
Ciência e religião: Em busca de um alvo
comum?
Mart de Groot
O debate entre religião e ciência é tão velho quanto ambas. A religião, pretendendo possuir uma
revelação especial de Deus, tem por vezes se alcandorado a alturas vertiginosas e às vezes se
opõe à ciência na busca da verdade e na compreensão dos mistérios da vida.
A ciência, pretendendo ser humilde, tratando apenas do que pode ser percebido pelos sentidos,
tem por vezes se tornado arrogante, negando qualquer papel ou mesmo valor para a fé religiosa
na vida humana.
E a batalha se trava. Mas ao nos aproximarmos da aurora de um novo milênio, existe
possibilidade de que a matéria da fé e da fé na matéria possam dialogar? Quais são os alvos do
cristianismo e os da ciência? Podemos conceber alvos comuns para ambos? Onde jaz a resposta
final às indagações humanas?
Logo de início, permitam-me dizer de onde venho. Sou um adventista do sétimo dia praticante,
afirmando a revelação bíblica da verdade, com interesse especial em profecia. Sou também
astrônomo profissional, com um vivo interesse em cosmologia, sua ordem e beleza. Minha fé e
minha profissão não me causaram problemas insolúveis. A partir desta convicção, abordo as
questões esboçadas acima.
Do que trata o cristianismo?
A fé cristã é ancorada em Deus, como revelado na Bíblia. A Bíblia revela a Deus como Aquele
que criou seres humanos (Gênesis 1:26, 27; 2:18, 21-23); que os instruiu sobre como viver
(Êxodo 20:1-17; Miquéias 6:8; Mateus 22:36-40); que os salva do dilema do pecado (Ezequiel
36:26, 27; Romanos 7:24, 25; Efésios 5:25-27; e que promete dar-lhes um futuro de realização e
felicidade eternas (João 14:1-3; Apocalipse 21, 22).
Embora a Bíblia tenha sido escrita por seres humanos, ela apresenta a Deus como seu autor (II
Timóteo 3:16, 17). Este Deus nos convida a conhecê-Lo (João 17:3). Entrar nessa relação
especial que promove o desenvolvimento pleno de nosso potencial é o objetivo principal da
Palavra escrita.
João explora este tema, ligando-o com dois outros aspectos de nossa relação com Ele (I João
2:13, 14). Primeiro, conhecer a Deus como Aquele ―que é desde o princípio‖ — o Criador.
Segundo, relacionar-se com Deus como aqueles que ―venceram o maligno‖ — vitória fundada na
revelação de Deus mediante Seu Filho Jesus Cristo (I João 5:4, 5). Assim, a Bíblia nos convida a
ter fé em Deus como Criador e Redentor, a espécie de fé sem a qual é impossível agradá-Lo
(Hebreus 11:6).
A ciência tenta primeiro satisfazer a curiosidade humana. Deus nos criou com um desejo inato de
inquirir e conhecer. Considere a astronomia, por exemplo, que procura responder a questões que
homens e mulheres têm perguntado desde que começaram a contemplar o céu. Que são as
estrelas? De onde surgiram? Afetam elas nossa existência aqui na terra? Mas, além de satisfazer
nossa curiosidade natural, a ciência também deseja sujeitar a natureza para o benefício do homem
— um argumento forte para custear a pesquisa científica.
Quando Deus ordenou que Adão e Eva ―dominassem‖ Sua criação (Gênesis 1:26), foi com o
propósito claro de que assumiriam responsabilidade pelo bem-estar do ambiente — atmosférico,
mineral, vegetal e animal. Com efeito, Deus os colocou no Jardim do Éden ―para o cultivar e o
guardar (Gênesis 2:15). Assim, desde o início deveria haver uma interação benéfica e
responsável entre os seres humanos e a natureza.
Natureza e fé
Se o cristianismo enfatiza a necessidade de crer, e se a ciência afirma a necessidade de
compreender o mundo ao nosso redor, haveria um elo entre a fé e a natureza? Creio que há, e
para descobri-lo devemos procurá-lo na revelação de Deus na Palavra escrita e na natureza —
Seus dois livros. Quando Davi afirmou: ―Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento
anuncia a obra de Suas mãos‖ (Salmo 19:1), ele não estava apenas dando expressão à poesia que
brotava de seu coração musical. Estava também expressando um conceito fundamental da
cosmovisão bíblica. Não é possível contemplar as maravilhas da natureza sem afirmar fé em
Textos sobre Criacionismo
Do que trata a ciência?
Textos sobre Criacionismo
14 |
Deus. Sendo que a glória de Deus é Seu caráter,1 podemos compreender esta passagem como
dizendo: ―A natureza declara o caráter de Deus‖.
Entretanto, há um problema em potencial. Para Adão e Eva pode ter sido relativamente fácil
compreender a Deus ao andarem pelo perfeito Jardim do Éden, mas para seus filhos deve ter sido
muito mais difícil ter a mesma concepção clara, crescendo no meio de ―espinhos e abrolhos‖, dor
e lágrimas. A natureza foi tão desfigurada pela intrusão do pecado que o reflexo de Seu caráter
na natureza não pode ser discernido tão claramente como antes da entrada do mal. Isso
imediatamente levanta a questão: Afetou o pecado somente a Terra, a habitação do homem, ou
também nosso ambiente espacial?
Antes de o espaço tornar-se objeto de indagação científica, os cristãos geralmente criam que os
seres humanos nunca poderiam viajar pelo espaço e contaminar o ambiente mais amplo com o
pecado. O Salmo 115:16 (―Os céus são os céus do Senhor; mas a terra deu-a Ele aos filhos dos
homens‖) era tomado literalmente. Hoje sabemos melhor: Deixamos a marca de nossos pés na
Lua e a vastidão do espaço tem-se tornado objeto do escrutínio da ciência. Assim, pode-se
legitimamente perguntar: Existe algum lugar na criação de Deus onde o pecado não entrou ou
onde sua influência não foi sentida?
Embora não precisemos especular sobre aquilo que não é conhecido ou revelado, ainda temos
esta garantia: ―A Terra, corrompida e maculada pelo pecado, não reflete senão palidamente a
glória do Criador. É verdade que Suas lições objetivas não se obliteraram. Em cada página do
grande livro de Suas obras criadas ainda se podem notar os traços de Sua escrita. A Natureza
ainda fala de seu Criador. Todavia, estas revelações são parciais e imperfeitas.‖ 2 ―Os céus podem
ser para eles [a juventude] um compêndio, do qual podem aprender lições de intenso interesse. A
lua e as estrelas podem ser seus companheiros, falando-lhes na linguagem mais eloqüente do
amor de Deus.‖3 Assim, a natureza continua a falar de Deus. E então, naturalmente, temos a
Palavra escrita que proclama a natureza e a glória de Deus.
Muitos vêem os dois livros de Deus como tratando de questões diferentes. Um livro fala da
natureza, enquanto o outro fala do Criador da natureza. Contudo, embora os dois livros sejam
diferentes, ambos são exemplos de como Deus Se comunica conosco. Mediante um Ele nos fala
acerca de Suas obras — o que se chama a revelação geral da natureza. No outro, Ele nos fala
sobre Si mesmo — conhecido como revelação especial. A revelação geral responde a perguntas
sobre o universo físico. Como a natureza funciona? Como isto se relaciona com aquilo? Como
explicamos ordem e ritmo, caos e degradação, espaço e tempo? Estas questões podem ser
respondidas observando o mundo natural e usando os métodos das ciências naturais.
A revelação especial responde às questões que procuram sondar além do mundo físico: Por que a
natureza é como ela é? Qual é o significado e o propósito da vida? Somos responsáveis perante
um Ser superior? Como nos relacionamos com Deus? Como pode a questão do pecado e de seu
poder destrutivo ser resolvida? Existe vida além da morte? Respostas a estas questões
pressupõem a existência de um Ser superior, e fogem ao escopo da ciência natural. Aquele poder
superior — que chamamos Deus — revelou-Se através da Bíblia. Aí podemos achar respostas a
algumas das grandes questões da vida.
Sendo que tanto a natureza como a Bíblia têm o mesmo Autor, que não mente (Números 23:19;
Tito 1:2), as respostas obtidas da Bíblia não podem contradizer aquelas obtidas da natureza,
naquelas áreas em que ambos os livros têm algo a comunicar. Isso não significa que os
estudantes da natureza e os estudantes da Bíblia sempre concordem sobre como a informação
deva ser interpretada. A própria Bíblia torna claro que ela só pode ser compreendida por aqueles
que têm discernimento espiritual, isto é aqueles que, em seus estudos, levam em consideração o
Espírito de Deus (I Coríntios 2:6-16). Esta verdade já fora proclamada no tempo do Velho
Testamento e parece estender a condição de espiritualidade para além dos estudos bíblicos — à
investigação da natureza. Assim, um conhecimento de Deus e um reconhecimento de Sua
existência e sabedoria são necessários para uma compreensão mais profunda dos problemas
levantados pela natureza.
Esforçando-se para conhecer a Deus pelo estudo de Seus dois livros, precisamos recordar que
não podemos obter respostas satisfatórias estudando um enquanto negligenciamos o outro. Albert
Einstein compreendeu este princípio de complementaridade quando disse: ―A ciência sem
religião é manca; a religião sem ciência é cega‖.4
Alvos comuns para a ciência e o cristianismo
Mas não precisamos ser mancos ou cegos. Haverá alvos comuns para a fé cristã e a ciência
concordarem e estudos comuns em que se empenhar? Se a natureza e a Bíblia são dois modos
que Deus escolheu para nos comunicar informação importante, e nossa prossecução de
empreendimentos físicos e espirituais pode ser assistida por estes dois livros, então não é lógico
que tanto a ciência como a Bíblia, tanto a razão como a fé, devam desempenhar um papel em
nossa vida intelectual e espiritual? Em outras palavras, não devia nossa origem, desígnio e futuro
ser informados e guiados pelo que a fé e a razão nos revelam?
Considere o apelo de Isaías: ―Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas cousas? Aquele
que faz sair o Seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais Ele chama pelo nome; por
ser Ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar‖ (Isaías 40:26). Aqui temos o
convite divino para estudar Sua obra nos planetas, estrelas e galáxias. Por que precisamos de tal
estudo? Primeiro, para obter um conhecimento pessoal de Deus. Segundo, para descobrir que
nosso Criador é grande em poder e que Ele é eterno. Terceiro, para descobrir por que Deus criou
este grande universo. Deus não quer que todos nós sejamos astrônomos, mas Ele quer que
estudemos Sua criação maravilhosa e meditemos sobre ela. Tanto o estudo desta Terra como o
estudo daquilo que é extraterrestre é-nos dado a fim de que não somente conheçamos a grandeza
de nosso Deus mas também a responsabilidade de sermos Seus mordomos.
Isto levanta questões importantes. É essa mordomia a única razão para a pesquisa científica? Ou
temos razões adicionais? O estudo científico do universo físico e seu estudo mais espiritual com
o propósito de conhecer o Criador deveriam andar de mãos dadas. Portanto, lamento qualquer
separação entre as duas disciplinas.
Note uma tendência recente da cosmologia. Há uns 70 anos, a cosmologia tomou um rumo que a
levou aparentemente a uma explicação da origem do universo. Embora haja ainda muitos
pormenores não bem compreendidos, o modelo do Big Bang da origem do universo tem sido
aceito pela maioria dos cientistas como uma estrutura adequada, dentro da qual se espera maior
progresso no futuro. 5 A colaboração entre a astrofísica, a física das partículas e a física teórica
tem levado a um vislumbre dos primeiros momentos da existência do universo. Contudo, levou
também a um reconhecimento de que há uma barreira no tempo além da qual mesmo nossas
melhores teorias não podem penetrar. Os primeiros microssegundos do universo permanecem
envoltos em mistério. Ademais, os cosmólogos têm chegado a compreender que muitos aspectos
do universo requerem uma sintonia muito delicada das condições iniciais e dos valores das
constantes físicas. Esta barreira no tempo e a sintonia delicada têm resultado num interesse
renovado por velhas questões sobre desígnio no universo, um possível planejador, e o que
aconteceu naquela primeira fração de segundo ou mesmo antes.
Embora investigações científicas tenham apresentado muitas respostas sobre como a natureza
funciona, têm também levantado questões mais profundas. Muitas destas têm a ver com nossas
preocupações mais sérias concernentes à vida, sua origem, propósito e futuro. Não admira, pois,
que alguns cientistas sugiram que somente Deus pode prover respostas fidedignas a estas
questões.6 Outros, contudo, têm-se recusado a admitir qualquer papel para Deus, esperando que o
progresso contínuo da ciência haverá de responder um dia às questões que nos perturbam. Outros
ainda alegam que as questões mais profundas escapam ao escopo das ciências naturais e que
seria melhor relegá-las aos filósofos e teólogos. Examinemos estas três atitudes.
Três atitudes quanto a questões não resolvidas
Primeiro, Deus é a resposta a todas nossas questões, comunicando a verdade mediante a Bíblia
ou pela igreja. Embora para muitos cristãos esta pareça ser uma opção atraente, precisamos
reconhecer os perigos que encerra. Imagine uma pessoa do século 16 que é incapaz de
compreender por que os planetas revolvem em volta do sol. A maioria dos cientistas e teólogos
da época estavam ensinando, supostamente sobre a base da revelação de Deus nas Escrituras, que
a Terra é o centro de nosso sistema planetário. Mas um século mais tarde, Isaque Newton aparece
e explica este mistério pela lei da gravitação. O avanço da ciência tem oferecido várias ocasiões
nas quais as afirmações do envolvimento direto e miraculoso de Deus teve de ser abandonada.
Esta abordagem do ―Deus das lacunas‖, que procura atribuir-Lhe todos os fenômenos não
explicados do universo, é mal orientado e corre o risco de finalmente tornar este ―Deus‖
desnecessário. Aqueles que crêem que Deus desempenha um papel ativo em nosso universo o
fazem porque acham nele muitas evidências de um desígnio inteligente e estabeleceram uma
relação pessoal com Ele.
Textos sobre Criacionismo
| 15
16 |
Segundo, a ciência é a resposta a todas as nossas questões. Por causa de avanços científicos
recentes, alguns crêem que, dado tempo suficiente, a ciência poderá responder todas as nossas
questões. Ignoram as limitações óbvias da ciência e sua natureza tentativa. Ademais, a ciência
está em melhor posição para responder as questões ―como‖ do que as questões ―por quê‖. Deus,
que nos criou como indivíduos inquisitivos, escolheu revelar ou tornar acessível a nós certas
coisas e não outras. (Ver Deuteronômio 29:29). As que foram reveladas são vitais para nosso
relacionamento com Ele. Quando entrarmos em Sua presença eterna, poderemos fazer todas as
outras perguntas cujas respostas estão agora envoltas em mistério. Isso não é permissão para
sermos preguiçosos ou desanimados em nossos empenhos científicos correntes. Ao contrário,
devia nos levar a reconhecer que há muitos aspectos de Deus e Sua criação que ainda estão
ocultos para nós.
Terceiro, a filosofia ou a teologia podem prover as respostas às nossas questões. Dependendo da
constituição mental individual, a gente pode escolher entre filosofia (metafísica) e teologia para
achar as respostas a questões extra-científicas ou tentar combiná-las de algum modo. Os cristãos
vão reconhecer que, na medida que essas disciplinas são baseadas sobre o raciocínio humano e a
lógica, elas sempre se demonstrarão deficientes quando deixam de levar em conta a existência e
o poder do Criador de todas as coisas. Essa é justamente a fraqueza de toda filosofia e teologia
não-cristãs.
Mas mesmo a teologia cristã não pode responder todas as perguntas. Como nossa interpretação
dos fenômenos naturais é prejudicada pelas barreiras do espaço, tempo e compreensão, assim
nossa interpretação da Palavra é imperfeita. Além disso, somos criaturas finitas cuja capacidade
mental não pode compreender a mente do Criador plenamente. (Ver Isaías 55:8, 9; Romanos
11:33).
Textos sobre Criacionismo
Conclusão
A curiosidade humana não se limita apenas aos aspectos físicos da natureza. Ela tem levado a
questões mais profundas sobre a origem, propósito e destino dos seres humanos. A intenção de
Deus em criar o universo e de o popular com criaturas inteligentes foi não somente para nos
prover com muitos campos interessantes de estudo, mas também para nos levar a Ele como o
Criador, e assim para uma visão mais profunda de que toda nossa existência é inteiramente
dependente dEle.
Uma das perversões mais bem sucedidas de Satanás é que ele conseguiu separar a ciência da
religião, e deste modo corrompeu nossa compreensão de nosso Criador e de Seu relacionamento
para conosco. Assim, a filosofia divorciada da cristianismo não pode responder a questões
difíceis porque ignora Aquele que é a resposta. Nem a teologia por si mesma pode responder a
estas questões se ela se limita ao estudo apenas da revelação especial. Tão pouco pode a ciência
sozinha prover as respostas necessárias, especialmente se ignora o papel legítimo de Deus como
Criador. Somente quando a ciência, a teologia e a filosofia cristã colaboram — dando prioridade
à Palavra revelada de Deus, a Bíblia — chegaremos a respostas satisfatórias. Quando
reconhecemos a onisciência de Deus e nossas limitações, e expressamos nosso respeito e amor
por Ele, cumpriremos Seu propósito original quando nos convidou a contemplar Seu poder para
criar e salvar.
Mart de Groot (Ph.D., Universidade de Utrecht) é um pesquisador associado de tempo parcial
no Observatório Armagh no Norte da Irlanda, e pastor associado para as igrejas adventistas do
sétimo dia de Belfast e Lame na Missão Irlandeza. Endereço E-mail: [email protected]
Notas e referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira,
1969), pág. 417.
White, Educação (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1977), pág. 17.
White, The Youth’s Instructor, 25 de outubro, 1900.
Em P. Frank, Einstein: His Life and Times (New York: Alfred A. Knopf, 1947).
Ver meu artigo: ―O Modelo do Big Bang: Uma avaliação‖, Diálogo 10:1 (1998), págs. 9-12.
Robert Jastrow, God and the Astronomers (New York: W. W. Norton & Co., 1978), pág. 116.
| 17
Artigo 5
Há desígnio na Natureza?
L. James Gibson
Você está passeando, e vê um pedaço de pau encostado a uma árvore. Você observa o pau e a
árvore. A partir de sua observação, pode concluir que há evidência de atividade inteligente?
Talvez não. Galhos por vezes caem das árvores, e por vezes se encostam a uma árvore. Tal
acontecimento não requer nenhuma explicação especial. Naturalmente, uma pessoa poderia ter
colocado o pau contra a árvore com um propósito, mas não há necessidade de invocar esta
explicação, se uma explicação mais ―natural‖ existe.
Mas suponhamos que você ache três varetas encostadas umas às outras de tal modo que a
remoção de qualquer vareta fizesse com que as outras duas caíssem por terra. Um tal ―tripé‖ não
poderia ser o resultado de uma cumulação gradual de varetas. As três varetas teriam de ser
colocadas simultaneamente. É razoável supor que isso poderia acontecer por acaso? A
probabilidade de tal evento acontecer por si mesmo, é muito baixa. Uma pessoa inteligente deve
ter arranjado as varetas para um fim que pode ser ou não evidente.
A chave para compreender um desígnio
Que distingue entre desígnio inteligente no arranjo do tripé em contraste com a vareta encostada?
Talvez dois aspectos: complexidade e interdependência funcional. A complexidade do tripé é
representada por suas três partes. Sua interdependência funcional é vista no fato de que nenhuma
das partes pode ser removida sem destruir o tripé. Uma estrutura composta de três ou mais partes,
que precisam entrar em relação simultaneamente, é melhor interpretada como o resultado de um
plano inteligente. Embora possa ser sempre argumentado que tal estrutura poderia ter-se
originado por acaso, tal interpretação desafiaria a crença da maioria das pessoas.
Pode tal argumento ser razoavelmente aplicado à Natureza? Se assim for, vemos evidência na
Natureza de propósito inteligente?
Durante séculos, a idéia de que a Natureza resultou de um desígnio inteligente era aceita sem
controvérsia. As Escrituras afirmam que Deus pode ser visto na Natureza. Por exemplo, ouçam o
salmista: ―Ó Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a Terra é o teu nome!... Quando eu
contemplo os Teus céus, obra dos Teus dedos, e a Lua e as estrelas que estebeleceste...que é o
homem que dele Te lembres?‖ (Salmo 8:1, 4 e 5). Talvez Paulo faça afirmação mais positiva em
Romanos 1:19 e 20, onde ele argumenta que a evidência de Deus na Natureza é tão clara que
ninguém tem desculpa para negar Sua existência, poder e soberania. Para muitos autores as
evidências de desígnio na Natureza apontam ao Deus Criador da Bíblia. William Paley é um bom
exemplo.
Paley e o argumento de desígnio. Paley afirmou1 que a Natureza é cheia de aspectos que
demonstram desígnio. Ele os chamava de ―invenções‖, e os comparava às máquinas feitas pelos
homens. O argumento de Paley pode ser expresso como segue: A existência em organismos
vivos de partes que funcionam como inventos mecânicos para alcançar algum propósito, são
evidência de que foram criados por um Planejador.
A ilustração mais famosa de Paley é de um relógio. Suponha que você achou um relógio, jamais
tendo visto um antes. Não seria óbvio que o relógio tenha sido construído e designado para um
propósito, mesmo se o propósito não fosse compreendido? De igual modo, muitas partes de
organismos vivos funcionam como máquinas. Se reconhecemos a atividade de um planejador
quando observamos inventos mecânicos, podemos também reconhecer a atividade de um
planejador quando observamos aspectos semelhantes em organismos vivos. Segundo Paley, a
Natureza exibe os elementos de um plano, levando-nos a reconhecer o Deus da Natureza.
Charles Darwin e o argumento contra desígnio. A oposição inicial a Paley veio de Charles
Darwin. Darwin admitia que embora ficasse encantado com os argumentos de Paley, não podia
culpar a Deus por planejar o mal na Natureza.2 Darwin propôs que Deus estava tão distante da
Natureza que não intervinha e não era responsável pela condição da Natureza. Com efeito,
Darwin alegava que a Natureza não era planejada, e portanto não apontava para um planejador.
Ele propôs que processos naturais sem assistência eram suficientes para explicar as partes
adaptáveis de organismos vivos, pelo processo da seleção natural. Aparentemente, Darwin
preferia ter um Deus bom mas distante, a um Deus próximo e mau. A maioria de nós
provavelmente concordaria. Mas era válido o argumento da seleção natural de Darwin?
Textos sobre Criacionismo
O argumento do desígnio
18 |
Darwin mesmo identificou um método pelo qual sua teoria poderia ser refutada. No capítulo 6 de
seu livro The Origin of Species,3 ele afirmou: ―Se pudesse ser demonstrado que qualquer órgão
complexo existiu, o qual não pudesse ter sido formado por pequenas modificações sucessivas
numerosas, minha teoria sofreria colapso absoluto‖.
Darwin pretendia que não podia achar tais exemplos, mas outros têm feito a afirmação oposta.
Textos sobre Criacionismo
Argumentos de desígnio
Com efeito, o argumento a partir de desígnio não é válido se a Natureza não foi planejada.
Darwin transferiu o foco do debate ao fato de a Natureza ser ou não planejada. Assim nosso
interesse se focaliza no argumento a favor do desígnio.
O argumento a partir de ―complexidade irredutível‖. Michael Behe, da Universidade Lehigh, no
Estado da Pensilvânia, é um dos líderes atuais no argumento a favor de desígnio.4 Ele baseia seu
argumento no que chama de ―complexidade irredutível‖. Como ilustração, ele usa uma ratoeira
comum composta de uma plataforma, o prato da isca, uma alavanca, uma ―guilhotina‖, mola e
alguns grampos. As partes da ratoeira funcionam juntas para efetuar uma função — pegar ratos.
Deixe a ratoeira representar um órgão que tivesse evolvido de uma estrutura antiga mais simples.
Que função teria? Como poderia uma ratoeira ser simplificada e ainda reter sua função? Imagine
remover qualquer dos componentes da ratoeira — a estrutura resultante não teria função alguma.
A ratoeira é irredutivelmente complexa. Se tal exemplo pudesse ser achado nos organismos
vivos, a teoria de Darwin haveria de sofrer colapso. Segundo Behe, o cílio é um exemplo
perfeito.
O cílio é uma estrutura como um fio de cabelo que vibra num meio flúido, provendo um modo de
nadar em certos organismos unicelulares. Os cílios também estão presentes em nossa via
respiratória, e seu movimento ajuda a remover partículas estranhas de nosso pulmão. Pelo menos
três partes são necessárias para efetuar o movimento: uma parte que move, um elo a uma fonte de
energia e uma ―âncora‖ para controlar a posição da parte móvel. No exemplo do cílio, a parte
móvel é composta de moléculas de tubulina, a energia para o movimento é fornecida pelas
atividadades de moléculas de dineína e as partes do cílio são retidas por moléculas de nexina.
Sem uma destas partes, o cílio não funciona. Assim, o cílio parece ser irredutivelmente
complexo. Como se podia esperar, pessoas filosoficamente devotas à evolução recusam-se a
aceitar o argumento a partir de complexidade irredutível. Contudo, essa rejeição é baseada em
argumentos filosóficos e não empíricos, como é evidente na falta total de demonstração dos
argumentos evolucionistas.
O argumento a partir de improbabilidade. Algumas circunstâncias parecem tão inesperadas que
se suspeita haver algo presente fora o acaso. A maioria dos cientistas está disposta a atribuir o
resultado ao acaso se o mesmo pudesse ocorrer cinco por cento das vezes. Alguns cientistas
rebaixam a expectativa para uma vez em mil tentativas, dependendo da natureza do evento. Mas
há limite ao que qualquer um aceitará como sendo resultado do acaso. Se a probabilidade de um
evento é muito baixa, é razoável supor que não ocorreu como resultado do acaso. Se o evento
também parece ter um propósito, é razoável supor que o evento foi guiado por uma mente
inteligente.
Darwin admitiu que estremeceu quando pensou no problema da evolução do olho humano.
Procurou comprovar a evolução do olho chamando a atenção para a variedade de olhos menos
complicados em outros animais, e sugerindo que eles podiam representar etapas pelas quais olhos
mais complexos teriam evoluído. Contudo, não está claro se ele consegiu convencer-se a si
mesmo. A evolução do olho exigiria uma série complicada de eventos improváveis que a maior
parte das pessoas consideraria praticamente impossível sem um planejador. 5
O argumento a partir do mistério
Muitos argumentos a favor de desígnio têm sido baseados na falta de compreensão de um
processo particular. Antes do mecanismo da circulação do sangue ter sido compreendido, alguém
poderia ter tentado afirmar que a circulação do sangue era um mistério além de nossa
compreensão, e que isto era evidência da operação de um intelecto superior. Problemas surgiram
quando o mecanismo foi descoberto, aparentemente dispensando a Deus. Exemplos como este
levaram a uma suspeita geral de qualquer tipo de argumento baseado em desígnio. Tais
―argumentos a partir de mistério‖ encerram dois aspectos: ignorância do mecanismo de um
fenômeno em particular, e alegação de que o fenômeno é um mistério além de nossa
compreensão. Daí surge o argumento do ―deus-das-lacunas‖.
| 19
O argumento de complexidade irredutível devia ser contrastado com o argumento de mistério. O
primeiro é baseado em dois componentes principais: o sistema precisa ter uma função
identificada, e os componentes do sistema devem ser conhecidos e identificados. Assim, esse é
um argumento a partir de conhecimento, e é completamente diferente do argumento a partir de
mistério
Exemplos de desígnio na Natureza
Muitos exemplos de desígnio na Natureza podem ser descritos, mas mencionaremos apenas uns
poucos.
A existência do Universo.6 A existência do Universo depende da combinação precisa de
constantes físicas equilibradas delicadamente. Se uma delas fosse diferente, o Universo não
poderia existir. Por exemplo, se a força eletro-magnética fosse levemente maior, núcleos
atômicos não existiriam. Outras constantes físicas incluem os valores da constante gravitacional
e as forças nucleares fortes e fracas.
O fato de as condições na Terra serem apropriadas para sustentar a vida.7 A Terra difere de
outros planetas em processos que permitem a existência da vida. Se qualquer uma destas
condições não estivesse presente, a vida como a conhecemos não poderia existir na Terra. Por
exemplo, a composiçao da atmosfera da Terra é única entre os planetas do sistema solar.
A existência da vida. A vida requer tanto proteínas como ácidos nucléicos. Nenhuma destas
substâncias é achada na ausência de vida. Mas precisam estar presentes para que a vida possa
existir. Por exemplo, a produção de proteínas requer a presença tanto de enzimas como de ácidos
nucléicos.
Genes únicos são achados em certos grupos de organismos. Diferentes grupos de organismos
têm genes diferentes que não se encontram em outros grupos. Novos genes requerem nova
informação. Parece altamente improvável que nova informação possa ser gerada por processos
fortuitos, mesmo que se começasse com uma cópia extra de um gene. Descobertas adicionais são
necessárias para ajudar a esclarecer o ponto.
A mente humana. A mente humana parece ser muito complexa, muito mais do que o necessário
para a seleção natural. O mecanismo de certos tipos de atividade mental parece estar além de
nossa compreensão. Por exemplo, a ciência não tem uma boa explicação para a consciência
humana ou para nossa capacidade para linguagem e pensamento abstrato.
Outros exemplos de desígnio incluem a existência do código genético, o processo da produção de
proteínas nas células vivas e o processo da produção de ácido nucléico, a regulação de genes, a
química complicada da fotossíntese; sexo, etc. Embora conjeturas tenham sido oferecidas de
como essas funções podem ter surgido sem planejamento inteligente, os processos propostos
parecem tão improváveis que a existência de desígnio inteligente parece mais plausível para
muitos estudiosos.
Diversas objeções têm sido levantadas contra o argumento de desígnio. Vamos mencionar
brevemente quatro tipos:
Pseudo-desígnio.8 Dispositivos podem formar-se como resultado de processos naturais, sem a
necessidade de invocar um planejador inteligente. Por exemplo, um floco de neve tem uma
organização intrincada, mas ninguém sugere que Deus interveio especialmente para criar essa
organização. Ao contrário, a organização pode ser explicada em termos de processos físicos e
propriedades moleculares. Sistemas complexos não-lineares freqüentemente exibem
propriedades inesperadas que ―emergem‖ naturalmente sem intervenção inteligente. Contudo, a
complexidade das condições iniciais exigidas, tais como a existência necessária de um
computador, parece depender de um planejador.
A seleção natural pode ser considerada um tipo de argumento baseado em pseudo-desígnio. Se os
organismos podem ser modificados por processos naturais para se adaptarem a seu ambiente, não
há necessidade de propor que Deus intervenha especialmente para planejá-los. Uma fraqueza
séria desse argumento é que ele requer uma estrutura a ser modificada. Progresso recente em
biologia molecular revela a existência de níveis de complexidade interdependente muito além da
expectativa daqueles que desenvolveram a teoria da evolução. O problema das origens de
estruturas biológicas parece prover um argumento poderoso de desígnio.
Desígnio defeituoso.9 Muitos aspectos da Natureza parecem ser defeituosos. Argumenta-se por
vezes que um criador inteligente teria feito um melhor trabalho ao planejar a Natureza. Alguns
exemplos de supostos defeitos de plano incluem o polegar da panda gigante e o arranjo estrutural
Textos sobre Criacionismo
Argumentos contra desígnio
20 |
da retina do olho dos vertebrados. Contudo, ninguém demonstrou que essas estruturas funcionam
mal. Além disso, imperfeições podem ser esperadas num mundo planejado por Deus, mas que
tem sido perturbado pela atividade de Satanás.
Desígnio imposto.10 Seres humanos gostam de organizar suas observações em modelos que
podem ser artificiais. Um exemplo seria ver formas familiares nas nuvens — não há nada real
que necessite uma explicação, exceto talvez de se perguntar por que as pessoas fazem tais coisas.
A maioria dos cientistas rejeita este argumento, visto que a prática da ciência depende da
existência de estruturas reais a serem explicadas. Todos os observadores concordam que a
Natureza pelo menos parece ser planejada.
Desígnio perverso.11 Muitas partes dos organismos parecem ―designadas‖ para matar ou causar
doença e dor. O parasita da malária é um exemplo. Não parece ser justo culpar a Deus de
planejar as causas de doença e morte. De outro lado, se Deus não planejou as coisas ―más‖ da
Natureza, por que pretender que Ele planejou as ―boas‖ coisas da Natureza? A presença do mal
na Natureza não refuta o argumento de desígnio, mas pode levantar dúvidas sobre o caráter do
planejador. A explicação bíblica é que o mundo é o campo de batalha entre dois planejadores,
Deus e um corruptor. O resultado é que a Natureza envia um sinal mixto; tanto o bem como o
mal estão presentes.12
Conclusão
O ―argumento de desígnio‖ foi largamente ignorado no século posterior a Darwin, em parte
porque o conhecimento de organismos vivos era tão incompleto que as lacunas podiam ser
preenchidas com a imaginação. À medida que a ciência da biologia progrediu, o argumento de
desígnio foi retomado e expresso de modos mais sofisticados, como o argumento de
―complexidade irredutível‖. A existência de partes que não podiam sobreviver em etapas
intermediárias, é evidência de um Planejador. É também evidência de um Deus que planejou e
criou por intervenção especial — Criação — e não através de um processo contínuo como a
evolução. O argumento de complexidade irredutível é um argumento que favorece uma criação
descontínua.
Segundo Paulo, em Romanos, a Natureza é claramente planejada, mas nem todos estão dispostos
a reconhecer o Planejador. A Natureza pode ser compreendida somente à luz da revelação
especial de Deus nas Escrituras. Guiados pela Bíblia, podemos nos unir ao salmista em louvar o
Criador: ―Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento as obras de Suas mãos....por toda
a Terra se faz ouvir a Sua voz, e as Suas palavras até aos confins do mundo‖ (Salmo 19:1 e 4).
L. James Gibson (Ph.D., Universidade de Loma Linda) é director do Instituto de Pesquisa
Geocientífica. Seu endereço: Loma Linda University; CA, 92350, E.U.A. E-mail:
[email protected].
Textos sobre Criacionismo
Notas e referências
1. W. Paley, Natural Theology (Houston: St. Thomas Books, 1972. Reimpressão da ed. de 1802). O
argumento de Paley foi recentemente discutido por J.T. Baldwin, ―God and the World: William
Paley’s Argument from Perfection Tradition: A Continuing Influence‖, Harvard Theological Review,
1985, págs. 109-120.
2. Ver N. C. Gillespie, Charles Darwin and the Problem of Creation (University of Chicago Press,
1979), Capítulo 7. Por exemplo, Darwin afirmou que não podia crer em um Deus que fez gatos
brincarem com ratos, ou que planejou qualquer vespa parasítica para devorar o interior de uma
lagarta.
3. Charles Darwin, The Origin of Species. 6ª ed. (New York: Penguin Books, 1958).
4. M. J. Behe, Darwin’s Black Box (New York: The Free Press, 1996).
5. Para uma discussão recente da evolução do olho e desígnio, ver D. E. Nilsson e S. Pelger, ―A
Pessimistic Estimate of the Time Required for an Eye to Evolve‖, Proceedings, Royal Society of
London, 1994, B 256:53-58. Para uma resposta a este artigo, ver J. T. Baldwin, ―The Argument
from Sufficient Initial System Organization as a Continuing Challenge to Darwinian Rate and
Method of Transitional Evolution‖, Christian Scholar’s Review 24 (1995), págs. 423-443.
6. Para discussão adicional deste ponto, ver J. D. Barrow e F. J. Tipler, The Anthropic Cosmological
Principle (New York: Oxford University Press, 1986).
7. Para um nível popular de discussão disso, de um ponto de vista um tanto místico e não-cristão,
ver J. E. Lovelock, Gaia: A New Look at Life on Earth (New York: Oxford University Press, 1987);
para uma discussão mais convencional, ver R. E. D. Clark, The Universe: Plan or Accident?
(Philadelphia: Muhlemberg Press, 1961).
8. Para um argumento extremo deste tipo, ver R. Deaconess, The Blind Watchmaker (New York:
Norton and Co., 1986). Outros exemplos incluem o argumento de complexidade emergente, como
S. Kauffman, The Origins of Order (New York: Oxford University Press, 1993). Para uma avaliação
| 21
do livro de Kauffman, ver J. Horgan, ―From Complexity to Perplexity‖, Scientific American 272:6
(1995), págs. 104-109.
9. Um exemplo deste argumento se acha em S. J. Gould, The Panda’s Thumb (New York: Norton
and Co., 1980).
10. Uma expressão clássica deste argumento é D. Hume, Dialogues Concerning Natural Religion
(1779), (New York: Penguin Books, 1990).
11. Por exemplo, ver D. L. Hull, ―The God of the Galapagos‖, Nature 352 (1991), págs. 485, 486. Ver
também Capítulo 8 em P. J. Bowler, Evolution: The History of an Idea (Berkeley: University of
California Press, 1984).
12. Para uma abordagem bíblica deste problema, ver John T. Baldwin, ―Deus, o pardal e a jibóia
esmeraldina‖, College and University Dialogue 8:3 (1996), págs. 5-8. —Editores.
Artigo 6
A vida: Um dilema químico?
Uma árvore desfolhada, uma estrada rural e dois homens sem-teto lutando pela sobrevivência. É
noite e tudo está envol to nas profundezas das sombras dessa parte do planeta. Vladimir e
Estragon esperam por uma misteriosa figura, cuja promessa de vir os motiva a continuarem
existindo. Ao permanecerem em sua atávica esperança de que Godot chegue, um cortejo de
sofrimento humano passa em tropel diante deles. Entediados, não tanto por toda a dor, mas pela
inutilidade da vida, eles buscam alternativa fazendo o bem, tal como erguer um cego que havia
tropeçado e caído ao chão.
―Vamos, comecemos a trabalhar‖, incentiva Vladimir. ―Num instante tudo se dissipará e
novamente estaremos sozinhos no meio do nada!‖
Ao Vladimir estender mão, porém, cai e não consegue erguer-se. A despeito de mais promessas
de que Godot virá, eles novamente se inclinam para a morte, desta vez planejando enforcar-se.
Contudo, não dispondo de uma corda, Estragon toma o cordel que lhe segura as calças, mas essas
desabam sobre seus tornozelos. Testando a força do cordel, eles puxam; esse se rompe e ambos
quase caem. Decidem então encontrar uma corda melhor e tentam novamente... mais tarde.
―Amanhã nos enforcaremos?‖, pergunta Vladimir? ―E se Godot não chegar? E se ele vier?‖,
indaga Estragon. ―Seremos salvos?‖ Godot, logicamente, nunca chega, o que significa que eles
nunca se salvam.
Certamente não se supõem que isso jamais ocorreria, razão por que, desde sua primeira exibição
no Theatre de Babylone, em Paris, em 1953, a peça de Samuel Beckett, ―Esperando Godot‖ 1, se
encerra com aquelas duas almas atrofiadas, náufragas numa existência que odeiam mas da qual
não conseguem escapar. Nem estão seguros de que devem tentar, por contarem com a promessa
de que Godot virá. O fato de que Godot nunca chega pouco importa; o que importa é a promessa
de que ele o fará.
A peça de Beckett representa a polêmica anticristã mais cruel desde as ácidas invectivas de
Voltaire, no século XVIII. É difícil imaginar qualquer cristão sério que creia na Segunda Vinda,
não se sentindo caricaturado, em alguma medida, na patética tentativa de Vladimir e Estragon de
equilibrar seus temores e dúvidas a respeito do sofrimento humano, com o conceito de um Deus
amorável e todo-poderoso que prometeu vir para acertar todas as coisas, mas nunca aparece.
Todavia, a tragicomédia de Beckett em dois atos não faz pouco caso apenas da promessa, mas da
vida sem a promessa, a promessa de algo além da Terra. O que é pior? Uma falsa esperança ou
esperança alguma? Conquanto implacável para com a Segunda Vinda, ―Esperando Godot‖ é pior
ainda para com a vida desumanamente brutalizada do secularista que existe tão-só para manter-se
vivo. Ao ridicularizar a obtusa caricatura do viver alheio a um propósito final, Beckett lança uma
indagação que tem dominado o mundo pós-cristão: Como se vive uma existência destituída de
significado?
A vida é por demais complicada, muito cheia de armadilhas e ardis inesperados para valer a pena
ser vivida. Quando as pessoas não têm qualquer pista quanto ao propósito de sua existência,
quando apenas podem esboçar hipóteses nebulosas de suas origens, quando tudo quanto se pode
Textos sobre Criacionismo
Clifford Goldstein
22 |
fazer é especular sobre o que advém com a morte, então causa admiração imaginar como os seres
humanos ainda assim se dispõem a viver.
O Drama
Como escreveu Francisco José Moreno, ―não podemos nem libertar-nos da certeza da morte,
nem conseguir entender a vida.‖2 Quão incrível é que algo tão básico, tão fundamental como a
vida, não possa sequer ser justificado e muito menos explicada sua própria existência. Um dia
nascemos e por fim nos conscientizamos de nós mesmos, sendo a dor, a fome e o temor muitas
vezes nossas primeiras sensações ou auto-percepção. Recebemos algo que nenhum de nós
buscou, planejou ou aceitou; não estamos seguros do que seja, do que significa, ou mesmo por
que o temos; esse algo é muito real e de ação imediata. Dor, tristeza, perda, temor, permanecem
absurdamente inexplicáveis. Não obstante, apegamo-nos à vida mesmo tendo de perdê-la de
algum modo. É tudo isso quanto está envolvido na existência humana?
―Esperando Godot‖ dividiu a realidade em duas esferas. A primeira é a mecaniscista, ateísta e
secular. Aqui as verdades existem somente como equações matemáticas; são amorais. A segunda
é espiritual. Transcende uma realidade unilateral e proclama que a verdade não se origina na
criação, mas no Criador. No primeiro caso, o ser humano é o meio, o fim e tudo quanto há. No
segundo, Deus o é. No primeiro caso, a humanidade é o sujeito da verdade, no segundo, o objeto,
e um vasto abismo existe entre ambos.
Se a opção mecanicista for verdadeira, então nossa reação a longo prazo não importa de fato; o
fim é o mesmo para todos nós, não importa quem sejamos ou o que pensemos, cremos ou
fazemos. Se o segundo for verdadeiro, nossas reações têm conseqüências eternas. Se o primeiro
caso for verdadeiro, jamais saberemos; no segundo, temos a esperança dos absolutos. Entre esses
dois centros de gravidade, estende-se uma negra névoa.
A opção de um meio-termo, um equilíbrio entre ambos ao final da história, não existe (em última
instância) e não pode existir (pela lógica). É um ou outro, não ambos. Nenhuma das arquiteturas
filosóficas dessas visões é tão condensadamente tecida, tão perfeitamente acondicionada, para
que até seus mais fiéis adeptos deixem de tropeçar nas extremidades soltas. Não importa quão
firmemente fundida possa estar cada uma delas com suas crenças, ainda são somente crenças
subjetivas, encontros com os fenômenos, meras opiniões sempre maculadas pelo que foi tecido
nos genes durante a concepção, ou pelo que está borbulhando no ventre naquele instante
particular do pensamento. A crença, por fim, não tem qualquer peso sobre a verdade ou a
falsidade de seu objeto. Não importa quão fervorosa, ela não pode tornar o falso verdadeiro, nem
o verdadeiro falso. O que é falso nunca existiu, mesmo quando apaixonadamente possamos crer
que sim; o que é verdadeiro, em contraste, permanece, mesmo após termos há muito deixado de
crer nele.
Textos sobre Criacionismo
Onde estamos?
Com seus cinco desprezíveis personagens num cenário estéril, Samuel Beckett dramatizou o
dilema mais imediato do Ocidente: Deus está morto, assim, aonde isso leva aqueles que foram
criados à Sua imagem? Para Beckett, são deixados entre duas duras cadeias: uma, Cristo não veio
como prometeu; duas, estamos numa triste condição porque Ele não o fez. Entre essas cruéis
realidades, a humanidade está amarrada com uma corda que não oferece escapatória. Como
poderia, quando o seu próprio nó é entrelaçado de toda a realidade, quando está feito com as
únicas opções possíveis e quando está unido pela lógica irredutível?
―Nada há a fazer?‖, resmunga Estragon em vista de nada restar a ser feito. Francamente, nada
pode ser feito, não num universo em que nossos inimigos mais inflexíveis e irredutíveis recusamse à submissão e não fazem prisioneiros, mas bombardeiam e atiram até que cada parede de
célula desabe e tudo em seu interior se seque e entre em decadência. A morte é um inimigo
impossível de ser caçado e destruído porque é feito daquilo que somos. Num universo
materialista e de dimensão única, a vida e a morte são somente diferentes ingredientes da mesma
sopa. Os vivos são tão-só uma versão pubescente dos mortos.
O filósofo pré-socrático Protágoras declarou: ―Com respeito aos deuses, se eles existem ou não,
eu não sei, devido à dificuldade do tópico e a brevidade da vida humana.‖ 3 Desde então, e ao
longo dos pressupostos materialísticos da ciência moderna, uma cosmovisão materialística teve
uma longa história (em termos de tempo) mas escasso número de adeptos. Somente nos últimos
cento e poucos anos, porém, o secularismo erigiu todo o edifício do pensamento ocidental, com
os líderes científicos e intelectuais proclamando-o com o fervor dos cruzados. Concebido sobre
as ruínas da revolução cromwelliana do século XVII, nascendo dos férteis ideais do Iluminismo,
| 23
nutrido pela deusa da razão e encorajado involuntariamente pelos chamados cristãos de mente
aberta e intelectuais, o secularismo alcançou sua maturidade no século XX. Agora está tão
inserido na cultura ocidental, que temos de desviar os olhos de suas órbitas para ver os efeitos
que exerceu sobre nossas mentes.
Nunca antes houve movimento tão amplo, institucionalizado e intelectualmente fértil para
explicar a criação e todos os seus predicados (a vida, a morte, a moralidade, a lei, o propósito, o
amor) sem um Criador.
Afinal de contas, por que preocupar-se com os textos dos mortos quando existe a ciência dos
vivos? O que podem Jeremias, Isaías e Paulo dizer possivelmente aos que nasceram sob Newton,
Einstein e Heisenberg? O Principia acaso não destronou o Apocalipse? Quem precisa do Senhor
andando sobre a face do abismo (Gênesis 1:2), quando Darwin fez o mesmo sobre o H.M.S.
Beagle?
Envolta em números herméticos expressos por cientistas e explicados por teorias bem
elaboradas, a cosmovisão secular tem atraído uma aura de objetividade, de validação que está
(pelo menos na atualidade) além do alcance da fé religiosa. A relatividade especial tem
desfrutado de provas que a morte e ressurreição de Cristo não têm.
A despeito do aparente triunfo do racionalismo científico, sua vitória nunca foi ligada a nada,
exceto a si próprio e a seus pressupostos dogmáticos. A cobertura, de fato, não é tão perfeita
quanto se tem ensinado, e quanto mais tempo envolver o mundo mais puída se torna, até que a
realidade venha à tona através das costuras. Certamente, o mundo se manifesta como material
através de nossos sentidos; indiscutivelmente, o pensamento racional resolve charadas e ajuda
jatos a voar; sem dúvida, a ciência tem dissecado o átomo e construído ônibus espaciais.
Contudo, esses fatos não provam que o materialismo, o racionalismo e a ciência abrigam o
potencial ou mesmo os instrumentos para explicar toda a realidade, mais do que a física clássica
somente explica a conquista da Copa do Mundo pela França em 1998.
As equações definem inadequadamente e com paixão uma realidade rebelde, efusiva com
pensamento, dinamicamente criativa. (The meaning of the phrase is not clear to me. Until this
moment, I didn‘t receive the english originals to compare) Que algoritmo pode explicar a paixão
de Hamlet, que fórmula o arrulho de um pombo, que lei prognosticar Um Campo de Trigo Com
Vacas, de Van Gogh? São as sinfonias de Beethoven e os textos líricos de Shelley nada mais do
que manuscritos sobre os quais eles foram redigidos? Teorias e fórmulas, princípios e leis não
fazem as estrelas brilhar, os sabiás voar, ou as mães alimentar os seus rebentos, mais do que
inscrever os símbolos E=MC2 sobre uma peça de urânio refinado causa uma explosão atômica.
Não obstante a grandiosidade das realizações científicas dos últimos cem anos, algo essencial e
intrinsecamente humano foi desperdiçado pelo caminho. Isaac Newton declarou: ―Ó Deus! Eu
penso os Teus pensamentos após Ti‖, e Stephen Hawking, ocupando a mesma cadeira de Newton
em Cambridge, declarou: ―A raça humana é apenas uma escuma química sobre um planeta de
tamanho moderado, girando em torno de uma estrela média, nos arrabaldes de uma dentre
centenares de bilhões de galáxias.‖4 Entre ambos há toda uma dimensão, incapaz de caber em
tubos de ensaio ou conformar-se com fórmulas. O céu, em vez de ser o trono do universo, foi
despedaçado e seus fragmentos separados e pulverizados em nada mais do que volúveis mitos
espalhados na imaginação humana. E agora, o Deus que outrora reinou nesse céu, em vez disso,
desapareceu, duas vezes removido desse trono (criado pelas criaturas que Ele outrora criou).
Assim, o divino tem sido distorcido e destronado a fim de ajustar-se à estrutura que pelos cem
anos passados vem estabelecendo os limites de toda realidade. Adicionalmente, aspectos
integrais da existência humana têm sido penosamente reduzidos pelo racionalismo científico a
contêineres, que não podem estocá-los mais do que uma rede de pesca pode conter piscinas de
natação. Ética e amor, ódio e esperança transcendem não apenas a Tabela Periódica de
Elementos, mas a todas as outras 112 facetas da realidade que a tabela representa.
A fórmula científica, não importa quão finitamente sintonizada e equilibrada, não pode explicar
plenamente o heroísmo, a arte, o temor, a generosidade, o altruísmo, o ódio, a esperança e a
paixão. Uma cosmovisão que limite o seu mundo e visão somente ao racionalismo, ao
materialismo e ao ateísmo científico, perde de vista tudo quanto está além deles e que é tão parte
integrante de nós, do que somos, do que esperamos, daquilo a que aspiramos, de amor e
adoração, de vida e morte. A escuma química não pondera sobre mundos superiores, não
visualiza a eternidade, não escreve ―Os Miseráveis‖, nem evoca o sublime. Fórmulas químicas e
Textos sobre Criacionismo
Esbanjando o essencial
24 |
D+ são parte da vida, logicamente. Mas representam-na toda? Nunca! Pensar que sim é
submeter-se ao mínimo denominador possível, é decidir-se pela opção mais barata quando
existem outras, inspiradoras de maior esperança, mais ricas e promissoras.
Responsabilidade Moral
De fato, num mundo puramente materialístico, químico e mecânico, como podem os seres
humanos ser responsáveis por suas ações? Se somos controlados apenas por leis físicas, somos
semelhantes ao vento ou ao processo de combustão. Qualquer sociedade que tenha por base
premissas puramente materialistas teria que deixar livres seus assassinos, tarados, ladrões,
estupradores e todos os ofensores, porque somos máquinas; e quem pode atribuir culpabilidade
moral a um equipamento? Seria o mesmo que levar um rifle AK-47 a julgamento por assassinato.
Nenhuma sociedade, mesmo aquelas comprometidas com o secularismo, permite tal impunidade
moral, exceto entre os criminalmente insanos. Assim sendo, o que a sociedade diz, pelo menos
implicitamente, é que se o materialismo científico fosse verdadeiro, todos teríamos de ser
lunáticos. Toda cultura rejeita o materialismo radical, crendo, em vez disso, que somos seres
moralmente responsáveis, não manipulados por forças físicas deterministas além do nosso
controle. Somos movidos, obviamente, por algo mais do que aquilo que percebemos
imediatamente, mesmo não sabendo do que se trata, mas apenas de que ali está e é real, e sem ele
não seríamos vivos, livres ou humanos.
Immanuel Kant argumentava que o mero ato da razão supera a natureza, transcende as emoções,
manipula desejos e incentiva instintos. Como poderíamos jamais pensar pensamentos
transcendentes se não houvesse algo ao nosso redor, além da natureza, algo mais em relação às
nossas mentes do que à carne que pulsa? Não haverá algum princípio declarando que os efeitos
não podem ser maiores do que suas causas? ―O que a ciência não pode nos dizer‖, afirmava o
filósofo Bertrand Russell, ―a humanidade não pode conhecer.‖
Será mesmo? Então não podemos conhecer o amor, o ódio, a misericórdia, a bondade, o mal, a
felicidade, a transcendência ou a fé. Por conhecê-los todos, porém, uma cosmovisão como a do
materialismo científico, que diz que não podemos, é obviamente inadequada.
Textos sobre Criacionismo
A visão incompleta
―Um desconfortável senso de nulidade prevalece‖, escreveu o matemático David Berlinski, ―e
tem prevalecido por tanto tempo, que uma visão puramente física ou material do Universo é algo
incompleto; não pode abranger os fatos familiares e inescapáveis da vida ordinária.‖ 5
A ciência e o materialismo não podem sequer justificar-se ou ter sua própria existência, muito
menos explicar tudo o mais. O matemático austríaco Kurt Gudel demonstrou que nenhum
sistema de pensamento, mesmo científico, pode ser legitimado por qualquer coisa dentro do
próprio sistema. Faz-se necessário sair de dentro do sistema e contemplá-lo de uma perspectiva
mais ampla e diferente a fim de avaliá-lo. Doutro modo, como pode alguém julgar, quando ele é
seu próprio critério empregado para emitir o juízo? Como podem os seres humanos estudar
objetivamente o ato de pensar, quando têm somente o ato de pensar para fazê-lo?
Por anos a razão tem reinado como rei epistemológico do Ocidente, o único critério para julgar a
verdade. Contudo, quais têm sido os critérios para o julgamento da razão? A própria razão! Mas
julgar a razão pela própria razão é como definir uma palavra usando a própria palavra como sua
definição. É uma tautologia e as tautologias nada provam. Quão fascinante, pois, é que a própria
razão, o fundamento do pensamento, particularmente do pensamento moderno, não pode de fato
ser validada mais do que a declaração: ―A casa é vermelha porque é vermelha.‖
O problema para o cientificismo e o materialismo é: como se pode sair de um sistema para uma
estrutura de referência mais ampla, quando o próprio sistema arroga-se abranger toda a
realidade?
O que acontece quando atingimos as margens do Universo? O que há além? Se houvesse uma
estrutura de referência mais ampla a partir de onde julgá-lo (talvez Deus), então o próprio
sistema não seria todo-abrangente, como o materialismo científico muitas vezes alega. ―Em
suma‖, escreveu o cientista Timothy Ferris, ―não há e nunca haverá um completo e abrangente
relato científico do Universo que possa ser comprovado como válido.‖ Ciência e materialismo
sempre terão de ser admitidos... pela fé? O quê? Os limites inerentes à própria ciência requerem
fé? Contudo, não é fé a crença em algo não provado, fora do escopo da ciência, cujo inteiro
propósito é provar as coisas empiricamente? Não é o conceito de fé um resquício de uma era
distante, mítica, pré-racionalística e pré-científica?
| 25
Por basear-se no materialismo, a ciência deixa implícito (ao menos hipoteticamente) que tudo
devia ser acessível à experimentação e validação empírica. Idealmente, não devia haver lugar
para a fé num universo científico; entretanto, a própria natureza desse universo o requer. Que
paradoxo! Dentro da concepção materialística e científica, pois, reina o potencial para algo além
dela, algo fora dela, algo que explica por que o amor é mais do que uma função endócrina, por
que a ética é mais do que síntese química, e por que a beleza é mais do que proporções
matemáticas... algo, talvez, divino?
Clifford Goldstein, um autor prolífico, é editor do Guia de Estudo da Lição da Escola Sabatina
de adultos, junto à Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Seu endereço para
correspondência é: 12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, Maryland 20904; U.S.A.
Notas e referências:
Samuel Beckett, Waiting For Godot (New York: Grove Press, 1954).
Francisco Jose Moreno, Between Faith and Reason (New York: Harper Books, 1977), p. 7.
Quoted in From Thales to Plato, edited by T. V. Smith (Chicago: Phoenix Books, 1956), p. 60.
Quoted in David Deutsch, The Fabric of Reality (New York: Penguin Books, 1997), pp. 177, 178.
David Berlinski, The Advent of the Algorithm (New York: Harcourt Books, 2000), pp. 249, 250.
Timothy Ferris, Coming of Age in the Milky Way (New York: Doubleday, 1988), p. 384.
Textos sobre Criacionismo
1.
2.
3.
4.
5.
6.
26 |
Artigo 7
Às vésperas da Idade do Gene
George T. Javor
Pai orgulhoso de meus dois belos filhos, eu me surpreendo uma vez ou outra atribuindo vários
traços vistos nos meninos à minha esposa ou a mim. ―Seu temperamento vem de sua mãe, e seu
senso de humor, de mim.‖ Sem dúvida, nossos filhos herdaram certa combinação do material
genético de seus pais, mas herdamos nossos genes — bons, maus ou indiferentes — de nossos
pais, eles dos deles, e assim por diante.
Embora sempre tenha havido um interesse em genética, nos últimos anos o estudo dos genes
parece dominar todas as ciência biológicas.
Os genes também se tornaram públicos. Desempenham um papel importante na justiça criminal,
na identificação de pessoas, no estudo de enfermidades e em numerosos campos mais. De vez em
quando, notícias ligam um gene particular com uma enfermidade, abrindo a possibilidade de se
obter uma cura. Há cerca de dois anos, um gene foi
envolvido na síndrome de Werner, uma condição
na qual jovens de 20 anos ficam de cabelos
cinzentos e sofrem de doenças que geralmente
afetam os velhos. Este gene é considerado como o
Santo Gral da pesquisa geriátrica. Se o elo é
correto, talvez haja esperança de que a velhice,
como a doença, possa ser curada no futuro.
A descoberta de novos genes oferece a
possibilidade da cura eventual de doenças causadas
geneticamente. Como resultado, temos o ―Projeto
do Genoma Humano‖, o equivalente biológico da
aterrissagem
na
Lua.
Embora
esse
empreendimento venha a custar muitos milhões de
dólares cada ano, os resultados esperados serão tão
espetaculares como a primeira caminhada na Lua, e possivelmente muito mais útil. Poderíamos
estar entrando na ―Idade do Gene‖.
Textos sobre Criacionismo
Genes: Que são eles?
Mas, primeiro, que são genes? Que papel desempenham na função dos organismos?
Genes são segmentos de cromossomos que produzem proteínas específicas. Cada um de nossos
100 mil genes contém dados para a estrutura correta de uma proteína. Nossos genes estão
distribuídos entre 23 pares de cromossomos. Uma pessoa herda 23 cromossomos da mãe e 23 do
pai; portanto, temos duas cópias de cada um de nossos genes. Uma exceção são os genes
encontrados no cromossomo chamado ―Y‖, que determina o sexo masculino. Destes, os homens
têm uma só cópia e as mulheres, nenhuma.
Ambos os genes e suas proteínas correspondentes podem ser imaginados como colares de contas.
As contas do cromossomo têm quatro cores diferentes, ao passo que as contas de proteína têm
20. As ―cores‖ diferentes representam estruturas químicas diferentes. As contas de cromossomo
são chamadas ―desoxirribonucléicos‖ (abreviados aqui como nucleotídeos) e as contas de
proteína são aminoácidos.‖ Três nucleotídeos numa fileira no gene são interpretados por um
maquinário complicado de tradução dentro da célula, como um aminoácido específico na
proteína correspondente. Assim, um trecho de 300 ―contas‖ de um cromossomo codifica para
300 aminoácidos na proteína do gene. Proteínas típicas podem ter algumas centenas de
aminoácidos. A seqüência de nucleotídeos no gene determina a ordem dos aminoácidos da cadeia
de proteína. Isto é visto na ilustração 1.
Do mesmo modo que a soletração afeta o sentido de uma palavra, a ordem de aminoácidos
determina a função das proteínas individuais. A soletração errada de uma palavra pode causar
perda de sentido. De igual modo, a ordem errada de aminoácidos numa proteína pode resultar na
perda de sua função. A razão mais comum para a ordem errada de aminoácido é um gene
alterado (mutado). Um gene mutado fica dirigindo a produção de proteínas erradas, e
freqüentemente é transmitido a futuras gerações.
Quão sério é o problema de ter proteínas incorretas? A questão torna-se crítica quando
consideramos as muitas tarefas que essas substâncias realizam. Toda mudança química no corpo
| 27
depende da presença de catalizadores específicos de proteínas. As proteínas constituem muito da
infra-estrutura física da matéria viva. Participam no transporte de oxigênio e outros nutrientes no
sangue. O sistema imunológico usa ―anticorpos‖ de proteínas na defesa contra substâncias
estranhas. Quando as células se comunicam entre si, são os ―receptores‖ de proteína que
reconhecem os sinais químicos.
Proteínas incorretas causam inúmeras doenças. Até recentemente, o único recurso que os
médicos e pacientes tinham para combater doenças geneticamente hereditárias, era o controle de
dano; isto é, tentar minimizar as conseqüências de uma proteína incorreta. No caso da doença
fenilquetonuria, por exemplo, a capacidade de a criança metabolizar um aminoácido essencial,
fenilalanina, é prejudicada. A criança acumula substâncias tóxicas deste aminoácido, o que
resulta em retardamento mental. Crianças nos Estados Unidos são testadas rotineiramente quanto
a este defeito metabólico logo depois do nascimento, e se o defeito é encontrado, a dieta da
criança é alterada para excluir o aminoácido prejudicial tanto quanto possível. Quão melhor não
seria se pudéssemos corrigir o defeito genético consertando o gene defeituoso ou substituindo-o
por um que funcionasse bem.
As últimas duas décadas têm observado um avanço real em nossa habilidade para lidar com
material genético. No início da década de 1950, soube-se que a composição química dos genes
era o ácido desoxirribonucléico ou DNA, que consistia de unidades repetidas de quatro tipos de
nucleotídeos. Se esta estrutura fosse representada no papel de modo simplificado, usando as
abreviações A,T,G e C para os quatro nucleotídeos, teríamos um ou mais livros cheios com
linhas semelhantes a isso (a ordem dos nucleotídeos variaria continuamente):
ACTGGTTAGTTCCAGTCATGAGGTCCAATATAGATCAGTACGATTTAAGGCAT
A monotonia estrutural impede os cientistas de decomporem o DNA em fragmentos menores e
mais manejáveis de composição uniforme e de determinar a ordem dos nucleotídeos. O avanço
veio com a descoberta de ―enzimas de restrição‖. Essas proteínas extraordinárias aparentemente
podem reconhecer trechos curtos de seqüências de nucleotídeos únicos de DNA e romper a DNA
neste ponto. Portanto, temos agora meios de obter fragmentos de DNA menores de composição
uniforme. Outros catalizadores (enzimas) foram achados que podiam ligar fragmentos de DNA
fracionados. Essas descobertas abriram o caminho para o ponto onde estamos hoje — a
capacidade de manipular genes individuais, para introduzir genes de um organismo em outro,
para recombinar porções de diferentes genes numa proveta e determinar a ordem de seus
nucleotídeos.
O Projeto do Genoma Humano, lançado em 1988, está tentando determinar as seqüências de
nucleotídeos dos 24 cromossomos humanos (há dois cromossomos diferentes que determinam o
sexo chamados ―X‖ e ―Y‖, os homens têm um par X-Y e as mulheres um par X-X, além de 22
outros pares de cromossomos), que se calcula conter três bilhões de nucleotídeos e localizados
em 100 mil genes entre estas seqüências. Os nucleotídeos dos 100 mil genes constituem
aproximadamente dois por cento do material genético humano. O que os outros 98 por cento do
DNA humano fazem é ignorado em grande parte. Contudo, porque os genes de todos os humanos
são relativamente semelhantes, as diferenças óbvias entre cada indivíduo devem vir dos outros 98
por cento do material genético. Um dos fatores controlados por essas porções do material
genético é a quantidade de proteínas fabricadas. De qualquer modo, pode-se concluir que as
porções ―não genéticas‖ são também vitais para nosso bem-estar.
Ordem dos nucleotídeos
A ordem exata dos nucleotídeos de alguns organismos mais simples jã foi determinada. Desde a
primavera de 1996, as seqüências completas da bactéria Hemophilus influenza (1,8 milhões de
nucleotídeos) e do fermento (13 milhões de nucleotídeos) têm sido estabelecidas. Por causa de
seu tamanho, passarão alguns anos antes da ordem completa dos nucleotídeos do genoma
humano ser conhecida.
Mas a seqüência de nucleotídeos de quem há de ser? Acontece que, com a exceção de gêmeos
idênticos, somos diferentes uns dos outros, na média de um nucleotídeo por mil (0,1%) na porção
não genética de nosso genoma. O Projeto do Genoma Humano utiliza o material genético de um
número comparativamente pequeno de indivíduos de descendência norte-americana ou européia.
Esse pequeno genoma composto será a primeira ―norma‖ com a qual o genoma de cada
Textos sobre Criacionismo
Avanço na genética
28 |
indivíduo será comparado. Passará muito tempo antes que suficiente análise genética seja feita
para se obter uma boa compreensão da natureza das variações entre material genético humano.
Preocupações com estudos genéticos
Há uma preocupação legítima de que o momento poderá chegar, em que os indivíduos cujo perfil
genético cai fora da ―norma‖, serão considerados seres de segunda classe. A sociedade um dia
poderá até decidir que gente com ―genes ruins‖ são uma ameaça ao bem-estar humano a longo
prazo.
―Testes‖ químicos já existem para identificar assinaturas genéticas de algumas doenças de origem
genética, como a de Alzheimer, ou certas formas de câncer de mama e de cólon. Seqüências
particularmente aberrantes de nucleotídeos parecem correlacionar com um fator de risco maior para
essas enfermidades. Para alguém que possua este traço, o conhecimento antecipado dessas doenças
pode prover aviso para que medidas preventivas sejam adotadas.
De outro lado, se a companhia de seguros ou o empregador descobrem esses fatores de risco,
uma pessoa corre o perigo de perder seu seguro de saúde ou seu emprego. Tais razões tornam o
sigilo de informação genética objeto de preocupação. A título de proteger o bem-estar da
sociedade, quão longe irão intrusos penetrar nossa posse mais privada, nossa composição
genética? Mas não é verdade que todos nós somos reféns de nossos genes? Se genes determinam
nossa personalidade e inteligência, não controlam eles em grande medida a qualidade de nossa
vida?
A resposta é ―não.‖ Embora muitos de nossos atributos físicos e nossa personalidade básica
sejam geneticamente controlados, há evidência abundante de que nosso ambiente, nosso estilo de
vida e a dieta são fatores importantes de nosso bem-estar físico e mental. O que lemos, ouvimos,
vemos, sentimos, pensamos e fazemos afeta nossa vida. Temos o poder de controlar e modificar
nosso estado de espírito, pensamentos e ações. Não somos entidades estáticas; mudamos
continuamente. À medida que nossos sentidos continuamente testam o ambiente e transmitem
seus achados ao sistema nervoso central, momento após momento nosso cérebro registra a nova
informação e modifica tudo o mais já arquivado aí. O ponto mais importante é que nossa
configuração genética não é modificada pelo que estamos armazenando em nosso cérebro. E é o
conteúdo de nosso cérebro que define quem somos.
Outra preocupação nos estudos genéticos é a suposição da socio-biologia de que tudo o que
sucede na biologia é para benefício do genoma. Esta teoria supõe que os genes precederam todas
as coisas e que de alguma maneira resultaram na formação do mundo biológico com o objetivo
de manter e melhorar o genoma. Esta forma de
determinismo biológico ajuda alguns cientistas a
formularem uma grande ―teoria de todas as coisas‖, a
qual explica a eles o porquê das coisas serem como
são.
Textos sobre Criacionismo
Estudo genético e evolução
O que esta e outras teorias baseadas na evoluçao não
abordam é: de onde o conteúdo informativo do genoma
veio? É difícil negar que haja informação biológica no
genoma. Calcula-se que um micrômetro cúbico de
genoma pode codificar 150 ―megabytes‖ de
informação. Isto é de uma ordem de magnitude dez
vezes maior que a atual capacidade de armazenagem
óptica de um CD-ROM. Se a seqüência completa de
nucleotídeos da batéria Escherichia coli fosse impressa
num livro de tamanho padrão, o mesmo teria cerca de
três mil páginas. Um documento semelhante contendo
a informação do genoma humano seria uma biblioteca
de mil volumes, com três mil páginas cada um.
Há uma geração, teóricos evolucionistas se ocupavam
em descrever um mundo primordial, anterior à vida,
onde os primeiros organismos emergiram de
componentes não-vivos. Uma das fraquezas desses
esquemas evolucionários químicos foi a incapacidade
de mostrar como ácidos nucléicos podiam vir à
| 29
existência. Os obstáculos incluem o desafio de formar o necessário açúcar de 5 átomos de
carbono, D-2-deoxiribose em quantidades apreciáveis, a síntese dos quatro desoxirribonucléicos
e sua interconexão em seqüências apropriadas. Mas um desafio ainda mais formidável para esses
cientistas é explicar a fonte de informação biológica que reside no genoma de todo organismo.
O genoma leva dados diretos para a estrutura correta de cada proteína do organismo e a instrução
para a quantidade e momento de sua produção. Indiretamente, pelas ações das proteínas, todo
aspecto do metabolismo e infra-estrutura do organismo é codificado no genoma. O nível de
engenharia e sofisticação bioquímica vistas na matéria viva, excede em muito qualquer coisa
vista em nossos melhores laboratórios.
Pesquisa genética: área proibida?
Textos sobre Criacionismo
Crentes na Bíblia reconhecerão facilmente a assinatura no genoma do mesmo Criador que
chamou à existência o Universo todo. Mas agora que podemos manipular genes numa proveta,
deveríamos estar cautelosos em entrar num território proibido pelo Criador?
Se consideramos o genoma como um componente da matéria viva e não como uma ―substância
mestra‖, então as preocupações expressas especificamente quanto à pesquisa do genoma podem
ser ampliadas para cobrir toda a pesquisa biológica. O relato bíblico cita o Criador como dizendo
aos primeiros seres humanos: ―Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a Terra e sujeitai-a‖
(Gênesis 1:28). Toda pesquisa biológica pode cair sob a categoria de ―submeter a criação‖, visto
que compreender a Natureza é um pre-requisito para sua utilização eficiente.
Os genes, em particular, têm sido manipulados desde tempos imemoriais pela reprodução
selecionada. Enquanto o novo conhecimento obtido pela pesquisa for usado para promover saúde
e bem-estar em indivíduos e grupos, podemos ter certeza de que está dentro dos parâmetros
bíblicos. Em contraste, pesquisa que vise a explorar sistemas biológicos para propósitos
destrutivos, coloca-nos num curso em colisão com o Criador. Às vésperas da idade dos genes,
enfrentamos questões não diferentes das que encontramos ao entrar na Idade do Átomo. A
questão é: Somos mais sábios agora?
George T. Javor (Ph.D., Columbia University) leciona bioquímica na Universidade de Loma
Linda. Ele tem publicado artigos sobre aspectos da fisiologia bacterial do organismo
Escherichia coli, sobre razões bioquímicas a favor do criacionismo, e os livros Once Upon a
Molecule e The Challenge of Cancer. Seu endereço: Loma Linda University School of Medicine:
Loma Linda, CA 92350; E.U.A. E-mail: INTERNET:[email protected]
30 |
Artigo 8
O mistério da vida
George T. Javor
O estudo da matéria viva está no centro de todos os esforços científicos atuais. As recentes
vitórias da ciência incluem a clonagem de Dolly, a ovelha, e a obtenção da se qüência dos três
bilhões de nucleotídeos dos cromossomos humanos.1 Mas, estranhamente, a própria vida não é o
objeto de maior estudo. Os cientistas parecem pensar casualmente na existência da vida. É difícil
achar qualquer discussão sobre a essência da vida em monografias ou compêndios correntes.
Essas publicações explicam muito bem a composição da matéria viva e como seus elementos
funcionam. Mas tal informação não é suficiente para explicar a vida e por que os constituintes da
matéria viva são, em si mesmos, sem vida.
Decomponhamos, a título de exemplo, a matéria viva e então recombinemos seus componentes
isolados. Essa pesquisa irá fornecer uma coleção impressionante de substâncias inertes, mas não
com vida. Até aqui a ciência não pôde criar a matéria viva em laboratório. Será isso por que a
matéria viva contém um ou mais componentes que não podem ser supridos pelo químico? A
resposta, como desenvolvida neste artigo, apresentará um ponto importante quanto à origem da
vida.
Qual é a origem da vida?
Textos sobre Criacionismo
Há mais de cem anos, Louis Pasteur e outros demonstraram a tolice da abiogênese — a
transformação espontânea de matéria sem vida em organismos vivos. Os biólogos agora dizem
simplesmente: ―Vida só pode provir de vida‖. Não obstante, os cientistas geralmente aceitam o
conceito de que a vida se desenvolveu abiologicamente numa Terra primitiva. Assim fazendo,
para sua própria conveniência, eles afirmam que as condições do ―mundo primitivo‖ eram
apropriadas à geração espontânea da vida.
Outros teorizam sobre a possibilidade de a vida ter sido importada do espaço exterior para a
Terra. Embora a Terra esteja populada por milhões de diferentes espécies de organismos, não há
evidência de vida em qualquer parte no sistema solar. E, além disso, há três e meio anos-luz de
espaço vazio até a estrela mais próxima, a Alfa do Centauro.
A última opção lógica para a origem da vida é a criação realizada por um Criador sobrenatural.
Mas a ciência, em sua tentativa de explicar tudo por leis naturais, rejeita essa opção como
estando fora dos limites científicos.
A vida não é uma entidade tangível
A vida não é uma entidade tangível. Não pode ser posta num recipiente e manuseada. Somente
vemos ―vida‖ em associação com espécies únicas de matéria, as quais têm capacidade de crescer,
dividir-se em réplicas e também de responder a vários estímulos externos, utilizando luz ou
energia química para efetuar todas essas coisas.2
| 31
O termo vida tem diferentes sentidos, podendo referir-se a um organismo, um órgão ou uma
célula. Órgãos humanos podem continuar a viver depois da morte da pessoa se, dentro de certo
tempo, forem transplantados para um indivíduo vivo. A sobrevivência de um fígado, rim ou
coração transplantado, significa algo bem diferente da ―vida‖ humana. Ademais, a vida de cada
órgão depende da vitalidade de suas células.
Todas as manifestações de vida dependem de células vivas, as unidades mais fundamentais da
matéria viva. Quando uma célula viva se divide, remanesce uma coleção muito complexa de
estruturas subcelulares, mas sem vida: membranas, núcleos, mitocôndrias, ribossomos, etc.
Há uma seqüência ininterrupta entre matéria viva e não-viva, como alguns afirmam? Se houver, a
questão da origem da vida torna-se discutível. Evoluir de um estado para outro seria semelhante a
outras transformações químicas. Exemplos de organismos que supostamente transponham o
abismo entre o vivo e o não-vivo incluem vírus, príons, microplasmas, rickéttsias e clamídias.
Com efeito, vírus e príons são biologicamente ativos, mas entidades nãovivas. O termo ―vírus
vivo‖ é inapropriado, embora os vírus sejam agentes biologicamente ativos e infectem células
vivas. Os príons são proteínas singulares que têm a capacidade de alterar as estruturas de outras
proteínas.3 As proteínas recém-transformadas, por sua vez, exercem atividade priônica, criando
um efeito-dominó de alteração protéica. A propriedade priônica faz com que eles se tornem
infecciosos. Para sua reprodução os príons, como os vírus, precisam de células vivas.
Rickéttsias, clamídias e microplasmas, por outro lado, acham-se entre os menores organismos
vivos. Os primeiros dois têm sérias deficiências metabólicas e só podem existir como parasitas
intracelulares. Há um vasto abismo entre matéria viva e a não-viva. Isso reflete melhor nossa
incompetência de extrair vida de matéria anorgânica em laboratório.
A composição da matéria viva
Estruturalmente a matéria viva é composta de uma combinação de água e de moléculas grandes,
frágeis e sem vida, de proteínas, polissacarídeos, ácidos nucléicos, e lipídios. A Tabela 1 fornece
a composição química de uma célula bacteriana típica, a Escherichia coli.
A água serve de meio em que as mudanças químicas ocorrem. Proteínas e lipídios são os
principais componentes estruturais das células. As proteínas também controlam todas as
mudanças químicas. Sem mudanças químicas a vida não pode existir. Saber como as proteínas
interajem com as transformações químicas é indispensável à compreensão da base química da
vida.
As proteínas existem em milhares de formas diferentes, cada qual com propriedades químicas e
físicas únicas. Essa diversidade se deve a seu tamanho. Cada proteína pode conter centenas de
aminoácidos, e há vinte aminoácidos diferentes. O que cada proteína é capaz de fazer depende da
ordem em que seus aminoácidos estão ligados. Para compreendermos esse aspecto biológico,
consideremos a analogia da linguagem escrita.
Em qualquer língua, o significado das palavras depende da seqüência das letras. No alfabeto
inglês, por exemplo, temos vinte e seis letras. Com elas formamos as palavras. Umas 500 mil
diferentes combinações de letras são reconhecidas como palavras significativas. Com algum
esforço poderíamos produzir outras 500 mil, ou mais, combinações sem sentido.
Semelhantemente, os milhões de diferentes proteínas representam uma fração minúscula de todas
as combinações possíveis de aminoácidos. 4
Quando as palavras são escritas erradamente, seu sentido fica adulterado ou perdido. De igual
modo, para que as proteínas funcionem adequadamente, seus aminoácidos precisam estar na
seqüência de outros em ordem correta. Os resultados de alterações na seqüência de aminoácidos
podem ser drásticos. A proteína transportadora de oxigênio no sangue, a hemoglobina, é
Textos sobre Criacionismo
A estrutura das proteínas: uma analogia idiomática
32 |
constituída de quatro cadeias de mais de 140 aminoácidos cada uma. Na anemia falciforme, uma
doença hereditária, apresenta-se um aminoácido alterado na sexta posição de uma seqüência
específica de 146. Essa mudança causa distorção nos glóbulos vermelhos, o que resulta em
anemia e muitos outros problemas.
Informação genética e seqüências de aminoácidos
Textos sobre Criacionismo
Como o sistema produtor de proteínas conhece as seqüências corretas de aminoácidos para cada
uma das milhares de proteínas? Os cromossomos de cada célula são bibliotecas repletas de tais
informações. Cada volume dessa biblioteca é um gene. Quando a célula necessita de certa
proteína, ela ativa o gene dessa substância e a síntese tem início. Os detalhes desse processo
podem ser vistos em qualquer compêndio atual de biologia ou bioquímica. Basta lembrar que
mais de cem eventos químicos distintos têm de ocorrer para que a síntese da proteína aconteça.
Todas as manifestações da vida dependem de transformações químicas. Essas modificações
sucedem quando grupos de átomos (moléculas) ganham, perdem ou re-arranjam seus elementos.
Uma classe de proteínas, as enzimas, unem moléculas específicas e facilitam suas transformações
químicas. Na Escherichia coli, ou bacilo coliforme, há cerca de 3.000 diferentes tipos de
enzimas, os quais facilitam 3.000 mudanças químicas diferentes.
As enzimas aceleram intensamente as reações. Isso poderia ser um problema grave porque,
quando uma reação é completada, seu ponto final, conhecido como equilíbrio, é alcançado, e não
ocorrem outras mudanças químicas posteriores. Uma vez que a vida depende de mudanças
químicas, quando todas as reações atingem seus pontos finais, a célula morre.
É impressionante que na matéria viva nenhuma das reações jamais atinge o equilíbrio. A razão é
que as mudanças químicas estão interligadas, de modo que o produto de uma modificação
química forma a substância básica para a seguinte. Se as moléculas biológicas fossem
representadas pelas letras maiúsculas do alfabeto, uma seqüência típica de conversões químicas
apareceria como a Figura 1 ilustra.
Tal seguimento, ou ―trilha bioquímica‖, parece-se como uma linha de montagem industrial. O
produto final deste traçado particular, a substância F, é utilizado pela célula e, portanto, não se
acumula. Na matéria viva ou orgânica, cada um dos milhões de moléculas (Tabela 1) é mantido
em seu rumo. Qualquer deficiência ou excesso resulta imediatamente em ajustes nas taxas de
transformações químicas.
A Figura 2 mostra que numa célula viva a matéria é organizada em hierarquias sucessivamente
mais complexas. As flechas representam traçados bioquímicos que vão desde substâncias simples
até as complexas. A dependência recíproca entre os componentes celulares na direção vertical, é
comparada às relações lógicas entre letras, palavras e sentenças da linguagem escrita, até o nível
de
um
livro.
| 33
Contudo, o grau de tolerância a erros é muito menor em biologia. Palavras malsoletradas,
sentenças confusas ou parágrafos faltantes podem inutilizar um documento. Mas por causa da
estreita interdependência funcional de seus componentes, as células estariam em grande
dificuldade se suas partes não fossem completadas integralmente.
Há também uma complementação horizontal entre os componentes celulares. Por exemplo, as
proteínas não podem ser manufaturadas sem a assistência dos ácidos nucléicos; e ácidos
nucléicos não podem ser sintetizados sem as proteínas. De uma perspectiva química
evolucionista, esse problema se parece com o enigma clássico da ―galinha e do ovo‖. (Ver a
Figura 2.)
Toda senda biossintética conduz a níveis sucessivamente mais complexos de organização da
matéria. Toda vereda é regulada de modo que seu produto seja apropriado para as necessidades
da célula. A vida da célula depende da operação harmoniosa e quase simultânea de seus vários
componentes. Durante um crescimento equilibrado existe um estado constante; isto é, há apenas
perturbações mínimas no fluxo de matéria através de suas trilhas. Como não é permitido a
nenhuma das reações atingir seu ponto final, cada uma das milhares de reações químicas
interligadas se encontra num estado de desequilíbrio constante.
Se há forças naturais que produzem vida, devíamos buscar diligentemente descobri-las e usá-las.
Se a abiogênese fosse possível, poderia ser aproveitada para restaurar a vida das células, órgãos e
mesmo organismos mortos. Quem argumentaria que a criação de matéria viva, ou a reversão da
morte, não seria a descoberta mais significativa para a humanidade?
Contudo, a história de bioquímica sugere que isso é improvável. Na década de 1920, quando
Oparim e Haldane primeiramente propuseram que a vida se originou espontaneamente numa
Terra primitiva, a bioquímica estava em sua infância. Mesmo esse conceito era uma elaboração
da idéia de Darwin, de que a vida surgiu num lago morno. 5 O primeiro curso metabólico só foi
descrito na década de 1930. A estrutura e a função do material genético começaram a ser
compreendidas na década de 1950. A primeira seqüência dos aminoácidos de uma proteína, a
insulina, foi traçada em 1955, e a primeira seqüência de nucleotídeos do cromossomo de um
organismo vivo foi publicada em 1995.
À medida que a base química da vida começou a ser mais bem compreendida, ela se mostrou
mais complexa do que originalmente imaginada, e as primeiras sugestões abiogenéticas deveriam
ter sido reconsideradas. Em vez disso, a ciência embarcou numa longa viagem de meio século
para demonstrar experimentalmente a plausibilidade da abiogênese.
Os primeiros experimentos sugerindo a razoabilidade da evolução química foram feitos por
Stanley Miller, que em 1953 publicou a síntese de aminoácidos e de outras substâncias orgânicas
sob condições primitivas simuladas.6 Subseqüentemente, surgiu uma subdisciplina que fornecia
evidências laboratoriais da produção de 19 dos 20 aminoácidos, e de quatro ou cinco bases
nitrogenadas necessárias para síntese de ácido nucléico, de monossacarídeos e ácidos graxos,
tudo sob hipotéticas condições primitivas variáveis. 7 Todas essas substâncias são componentes
dos quais os grandes biopolímeros são feitos, projetando a possibilidade da produção primária de
biopolímeros.
Contudo, a demonstração da ligação de blocos de células em cadeias de polímeros não pôde ser
realizada. Todo o elo entre os blocos de substâncias típicas requer a remoção da água. Isso é
praticamente impossível no ambiente hídrico dos pressupostos oceanos primitivos. Ademais, as
seqüências nas quais os aminoácidos se unem para transformar as proteínas ou nucleotídeos em
ácidos nucléicos, são as que determinam a função desses biopolímeros. Além da matéria viva,
não há mecanismos conhecidos que garantam se qüências significativas e reproduzíveis em
proteínas ou ácidos nucléicos.
Sob condições primitivas simuladas, material semelhante à proteína tem sido produzido com o
aquecimento de amostras de aminoácidos a altas temperaturas. Contudo, esses ―proteinóides‖
eram aminoácidos ligados aleatoriamente por elos não naturais, os quais apresentam pouca
semelhança com as proteínas reais.8
Os nucleotídeos, blocos formadores dos ácidos nucléicos, ainda não foram sintetizados sob
condições primitivas simuladas. Essa é uma tarefa formidável e que requer a ligação de uma base
de purina ou pirimidina a um açúcar, e desse a um fosfato. O desafio aqui não é somente a
remoção da água, mas o fato de que esses três componentes podem ser ligados por dezenas de
Textos sobre Criacionismo
Tentativas químicas evolucionistas
34 |
modos diferentes. Todas as combinações, exceto uma, não têm valor biológico. É desnecessário
dizer que os ácidos nucléicos ainda não foram sintetizados.
Mas isso não impediu que muitos cientistas postulassem que as células vivas mais primitivas
continham inicialmente ácidos ribonucléicos. Essa hipótese de um ―Mundo ARN‖ ganhou
popularidade depois que se descobriu que certas moléculas de ARN tinham atividades catalíticas.
Até então, acreditavase que a catálise fosse área exclusiva de proteínas.
Embora não seja possível fabricar biopolímeros biologicamente úteis sob condições primitivas
simuladas, podemos obtê-los a partir de células anteriormente vivas. Misturando esses
biopolímeros isolados, é possível abreviar a evolução química tornando possível verificar se a
vida se originará em tal mistura. Mas em tal experimento, tudo está em equilíbrio. Uma vez que a
vida ocorre somente quando todos os eventos químicos dentro da célula se acham em estado de
desequilíbrio, o máximo que se pode conseguir através desse método é uma coleção de células
mortas.
Textos sobre Criacionismo
Como produzir matéria viva
Sabemos exatamente como produzir matéria viva: Primeiro, projete e sintetize alguns milhares
de diferentes aparelhos moleculares capazes de converter substâncias simples, comumente
disponíveis no meio ambiente, em biopolímeros complexos. Segundo, certifiquese de que tais
dispositivos sejam capazes de auto-reprodução precisa. Terceiro, certifique-se de que essas
unidades possam sentir seu meio ambiente e se ajustar a quaisquer mudanças que nele ocorram.
Então, é simplesmente uma questão de dar início simultâneo a centenas de rotas bioquímicas,
mantendo o estado de desequilíbrio de cada conversão química, garantindo a disponibilidade de
contínuo suprimento de matéria- prima, e provendo a remoção eficiente de refugos.
Uma exigência mínima para se criar tais mecanismos biológicos complexos é a familiaridade
absoluta com a matéria em nível atômico e molecular. Você também precisará de grandes idéias
quanto ao uso dessas complexas maquinarias vivas, alimentando uma esperança proporcional ao
esforço despendido em criá-las. Fabricar células vivas requer controle absoluto de cada molécula
grande ou pequena. Essa é uma capacidade que a ciência não possui. Os químicos podem
transformar grandes números de moléculas de uma forma em outra, mas não podem transportar
moléculas selecionadas através de membranas para inverter as condições de equilíbrio. É por isso
que não podemos reverter a morte.
Como se originou a vida na Terra? Este artigo mostrou a grande discrepância entre a bioquímica
da matéria viva e as pretensões daqueles que gostariam de poder explicar sua origem por
abiogênese. Cinqüenta anos de pesquisa bioquímica demonstraram inequivocamente que, a
despeito de quais sejam as condições, a abiogênese é uma impossibilidade. É apenas uma questão
de tempo antes que o edifício chamado ―evolução química‖ imploda sob o peso dos fatos.
Para o crente no relato bíblico da Criação, a asserção de que somente o Criador pode criar a vida
não é um argumento para o ―Deus das lacunas‖. Temos uma boa idéia do que seja necessário
para criar a vida, somente não podemos fazê-lo. Essa é uma afirmação de que a vida não pode
existir sem Deus. Com efeito, a vida torna-se uma evidência a favor de um Criador todo-sapiente,
que decidiu criar a vida e partilhá-la conosco.
George T. Javor (Ph.D. pela Columbia University) leciona bioquímica na Loma Linda
University, Loma Linda, Califórnia, EUA. Seu e-mail: [email protected]
Notas e referências
S. Lander e 253 outros, ―Initial sequencing and analysis of the human genome,‖ Nature 409
(2001):2001. Ver também J. C. Vent e 267 outros, ―The sequence of the human genome,‖ Science:
291(2001):1304.
2. Uma tal análise da vida pode parecer bastante materialista a muitos que acham que a Bíblia
ensina um ponto de vista diferente — o qual não insiste que a vida esteja associada à matéria.
Conquanto possam existir realidades mais amplas de vida inacessíveis a nós, tanto quanto
interesse à ciência, percebemos a vida na Terra somente em associação com a matéria. A Bíblia
apóia a noção de que a vida que conhecemos na Terra está associada à matéria. Ver Gênesis
2:7: ―E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida:
E o homem foi feito alma vivente‖. Uma combinação do fôlego de vida e do pó do solo deu origem
à pessoa viva. Semelhantemente, uma pessoa morre quando lhe sai o fôlego e ela volta ao pó.
―Nesse mesmo dia perecem toldos os seus desígnios.‖ (Salmo 146:4.) O ―retorno à terra‖ marca o
ponto final da existência humana. Embora seja possível especular sobre o significado do ―fôlego
de vida‖ e do ―fôlego‖ das pessoas, é claro que a vida, como experimentada na Terra, não
continua após a morte. A Bíblia nada menciona sobre uma forma de vida desencarnada. Aceitar a
base material da vida sobre a Terra, portanto, não nos torna materialistas.
3. S. B. Prusiner, ―Prion Diseases and the BSF Crisis,‖ Science 278 (1997): 245.
1.
| 35
Textos sobre Criacionismo
4. O número de possíveis seqüências diferentes para uma proteína de 100 aminoácidos é 1.2 x
100130 ou 12 seguido de 129 zeros!
5. F. Darwin, The Life and Letters of Charles Darwin (New York: D. Appleton, 1887), II: 202. Carta
escrita em 1871.
6. S. L. Miller, ―A Production of Amino Acids Under Possible Primitive Earth Conditions,‖ Science 117
(1953): 528.
7. C. B. Thaxton, W. L. Bradley, e R. L. Olsen, The Mystery of Life’s Origins (New York: Philosophical
Library, 1984), p. 38.
8. S. W. Fox e K. Dose, Molecular Evolution and the Origins of Life (New York: Marcel Dekker
Publishing Co., 1977), second edition.
36 |
Artigo 9
A busca dos ancestrais de Adão
Elaine Kennedy
Biólogos evolucionistas estão convencidos de que os humanos descendentes de criaturas
semelhantes a macacos. A despeito de número de disputas sobre teorias de linhagens macacohumanas, os paleoantropólogos são unânimes. A resposta cristã a estas asserções tem variado.
Algumas organizações cristãs concordam com a comunidade científica sobre a origem do
homem, mas mantêm que em algum momento do passado seres humanos adquiriram uma alma
imortal, discernimento moral, e/ou a habilidade de raciocinar. Outros, incluindo os adventistas do
sétimo dia, aceitam o relato de Gênesis como a expressão de evento histórico.
De onde veio Adão? Foi ele formado do pó da terra por um Criador inteligente, ou ele descendeu
de um ser semelhante ao macaco? Sabemos o que a Bíblia diz. Concorda com isto o ―livro da
Natureza‖?
Determinando o que é humano
Embora alguns donos de animais de estimação possam argumentar, traços tais como senso
estético e moral, livre arbítrio e uma linguagem complexa distinguem os humanos dos animais. 1
Fósseis semelhantes a humanos não podem fornecer este tipo de informação. Como os cientistas
não podem falar com os organismos que se pretende sejam nossos ancestrais para averiguar quão
humanos eles eram, pesquisadores dependem de características estruturais dos ossos dos fósseis e
de informação genética de macacos e humanos modernos.
Os humanos de hoje se distinguem por diversas características do crânio. Três características
podem ser facilmente reconhecidas: (1) Na frente da maxila inferior, os humanos modernos têm
uma parte maxilar que se salienta para formar o queixo. (2) O ângulo da face é muito obtuso
porque os humanos não têm focinho e têm uma testa não batida para trás. (3) A porção superior
do crânio nos humanos de hoje é mais larga do que a base do crânio. Determinar se um fóssil é
um humano moderno não parece ser muito difícil.
Textos sobre Criacionismo
Os homínidas
Homínida é o nome dado aos primatas bípedes, incluindo todas as espécies no gênero
Australopithecus e Homo. Os australopitecinos incluem o gênero Australopithecus e, para alguns
pesquisadores, o Paranthropus. Os homínidos têm que ver com os membros do gênero Homo.
Os australopitecinos são divididos em dois grupos, conforme seu tipo corporal: (1) As formas
parecidas com o macaco, porém mais delicadas, de ossos menores, mais frágeis incluem A.
ramidus (o achado mais recente de um australopitecino, atualmente proposto como o fóssil mais
próximo do ―elo perdido‖ ou ancestral comum aos macacos e aos humanos); A. afarensis (um
conjunto de fósseis foi achado; um esqueleto 40% completo é conhecido popularmente como
―Lucy‖); e A. africanus (a ―Criança Taung‖, assim chamada pela localidade onde foi
encontrada). (2) As formas robustas semelhantes ao macaco incluem A. aethiopicus (um
esqueleto com alguns traços distintos achados no A. afarensis, conhecido como ―Crânio Negro‖),
A. robustus e A. boisei. Alguns pesquisadores colocam todas as formas robustas no gênero
Paranthropus.2
O gênero Homo, ao qual os humanos pertencem, inclui as espécies seguintes: H. habilis (material
fragmentário de uma espécie pequena encontrado junto a alguns artefatos de pedra, conhecido
como ―Homem Hábil‖); H. rudolfensis (crânio grácil e ossos notavelmente maiores do que H.
habilis, embora anteriormente classificado naquela espécie); H. erectus (mais de 200 fósseis,
incluindo o Homem de Java e o Homem de Pekim); H. ergaster (crânio e ossos atribuídos
anteriormente aos erectinos e agora reconhecidos pela mandíbula inferior e a estrutura dos dentes
| 37
da Rodésia‖, um H. sapiens arcaico previamente identificado como um erectino, por vezes
classificado como H. sapiens heidelbergensis, uma sub-espécie de H. sapiens; a espécie tem
capacidade craniana maior do que os erectinos); H. neanderthalensis (uma espécie robusta
comumente representada como ―Homem da Caverna‖, cujos fósseis freqüentemente dão
evidência de trauma, por vezes classificado como H. sapiens neanderthalensis); e finalmente,
Homo sapiens ou Homo sapiens sapiens (humanos modernos).3
Métodos de pesquisa
Na busca das origens do homem, três grupos de cientistas — paleoantropólogos, filogeneticistas
evolucionistas e antropólogos moleculares — abordam o problema de três perspectivas
diferentes. Paleoantropólogos enfocam características físicas dos esqueletos homínidas e o uso de
artefatos. Filogeneticistas evolucionistas descrevem as semelhanças dos organismos e como são
Textos sobre Criacionismo
como uma espécie distinta, conhecida como ―Menino Turkana‖); H. heidelbergensis (―Homem
38 |
Textos sobre Criacionismo
relacionados. Antropólogos moleculares acentuam as semelhanças de proteínas e DNA dos
homínidas.
Caracteristicas físicas dos homínidas. Paleoantropólogos são cientistas que se especializam em
origens humanas. Comparando esqueletos e traços morfológicos nos homínidas, eles crêem ter
achado diversos traços homínidos e pitecinos nestes fósseis. Uma das espécies mais importantes
dos australopitecinos, Australopithecus afarensis, exibe estas características.
Australopithecus afarensis, um homínida conhecido popularmente como ―Lucy‖, tem uma junta
ilíaca, que não é nem bem pitecina nem bem humana. Embora pareça claro que os
australopitecinos não andavam sobre o jarrete como os macacos de hoje, as juntas ilíacas eram
bastante viradas para frente de modo a não se confundir com as juntas ilíacas humanas. (Um dos
critérios que têm sido usados para identificar o gênero Homo é uma postura plenamente ereta ao
andar.) Outra estrutura que os paleoantropólogos salientam como evidência de um elo
australopitecino entre macacos e humanos é a curvatura dos ossos dos dedos e dos artelhos. Os
dedos dos australopitecinos não são tão retos como os dedos humanos, mas as articulações não
são tão simples como as do chipanzé.4 Algumas destas características meio símias, meio
humanas nos membros dos australopitecinos têm sido identificadas. Além disto, a diminuição do
tamanho dos dentes da frente da boca para trás é um traço semelhante ao arranjo dos dentes nos
homínidos.5
Características meio humanas, meio pitecinas têm sido descobertas também no gênero Homo.
Homo habilis, ou ―Homem hábil‖, é incluído no gênero Homo primariamente porque o fóssil foi
achado junto de ―artefatos‖. Além disto, H. habilis tem uma mandíbula muito parecida com a
humana; não obstante, o esqueleto parecese com um australopitecino. Os espécimes atribuídos ao
Homo rudolfensis são incluídos no gênero Homo porque a estrutura do esqueleto parece-se com a
dos humanos; mas a face e os dentes parecemse com australopitecinos robustos.6
Os paleoantropólogos dividem os erectinos em duas espécies, conforme suas mandíbulas e seus
dentes, localização na África e menor capacidade craniana do H. ergaster comparada com os
erectinos da Ásia.7
Vários diagramas têm sido construídos para demonstrar a linhagem ancestral dos homínidas. Os
diagramas diferem porque os paleoantropólogos não concordam quanto às características
específicas que devem ser usadas para identificar relações ancestrais, o tempo quando se
separaram e o local de novos achados. 8
Relações entre homínidas. Filogeneticistas usam métodos cladísticos (cladogramas) para
descrever relações entre organismos. Cladogramas são diagramas que arranjam os organismos
em grupos que possuem características comuns, descrevendo os organismos em termos de
relações fraternais em vez de ancestrais, de uma forma hierárquica. Ao criar cladogramas, os
filogeneticistas assumem três primícias: (1) As características que formam a base de dados
podem ser arranjadas numa estrutura hierárquica; (2) os dados ou as características selecionados
representam corretamente os organismos; e (3) houve bem pouca ou nenhuma perda de
características.9 Um cladograma que descreve as relações possíveis entre os homínidas aparece
na Figura 1.10
Algumas características usadas para criar o cladograma aparecem nas espécies numa ordem
diferente da maioria das características que definem o cladograma. Os filogeneticistas escolhem
o cladograma com o menor número de características fora de ordem para criar diagramas mais
bem ajustados; conseqüentemente, há uma certa discordância sobre quais características melhor
descrevem os organismos e como devem ser arranjadas na hierarquia.
Depois de usar o método cladístico para identificar relações hierárquicas, numerosos
pesquisadores incorporam esta informação em hipóteses e desenvolvem esquemas filogenéticos
que traçam as relações ancestrais para os homínidas. Até 1993, pelo menos seis esquemas
filogenéticos principais tinham sido propostos para os homínidas. Desde a descoberta de A.
ramidus, um sétimo esquema foi proposto. Muito da transferência de espécies nestes diagramas
representa disputas sobre a validade de atribuir à evolução humana os vários traços achados nos
crânios e dentes dos espécimes.
As relações moleculares dos homínidas. Alguns antropólogos têm estudado as semelhanças
moleculares entre macacos modernos e humanos para criar hipóteses sobre as linhagens dos
homínidas. Alguns destes pesquisadores assumem que mutações e trocas ocorrem em ritmo
constante na DNA. Estudos numerosos abrangendo mais de 30 anos, têm procurado determinar
| 39
assumidos para calcular estas datas foram disputados há mais de 30 anos por Morris Goodman e
mais recentemente por Wen-Hsiung Li.12 Os argumentos levantados permitem questionar a
validade do método.
Outros limitaram o campo de pesquisa e compararam a DNA do mitocôndrio entre as raças
humanas, sugerindo que a linha humana pode ser traçada a uma única população africana.
A “linhagem” homínida
Australopitecinos. No grupo australopitecino, A. ramidus (o achado mais recente) e A. afarensis
(Lucy) são ambos considerados ancestrais (Figura 2), ao passo que A. africanus (A Criança
Taung), classificado mesmo em 1993 como ancestral (Figura 3), continua a ser contestado como
parte da linha direta.13
Textos sobre Criacionismo
quando as várias espécies vivas divergiram de espécies afins, baseados na pressuposição de
ritmos relativamente constantes de mudança da DNA, um ―relógio molecular‖. 11
Interpretações baseadas no ―relógio molecular‖ dão a entender que a origem humana ocorreu há
milhões de anos e assumem que há um elo entre macacos e humanos. O tempo proposto para a
divergência macaco-homem varia de 5 a 7 milhões de anos. Contudo, os ritmos de mutação
40 |
Homínidos (ver Figura 2). No gênero Homo, H. habilis (Homem Hábil) continua problemático,
mas é classificado fora da linha humana por Wood e dentro da linha humana por McHenry. 14 A
forma grácil de H. rudolfensis substituia outrora H. habilis na linhagem humana, mas é agora
também excluída por vários estudiosos. H. erectus (Homem de Pekim, Homem de Java) devia no
presente ser designado como ―fora de linha‖ segundo Tattersall (ver Figura 3) 15 devido ao fato
que uma porção da estrutura craniana é demasiado robusta. 16 Alguns pesquisadores designam H.
ergaster como um dos ―elos‖ preferidos, embora outros ainda considerem H. ergaster como uma
espécie separada e continuam a incluir estes espécimes com os erectinos e na linha ancestral.
Finalmente, H. heidelbergensis é considerado como um ancestral tanto dos humanos modernos
como dos neandertalenses.17
Hipóteses evolucionistas falsificadas
A Figura 2 ilustra algumas das conclusões dos paleoantropólogos quanto à relação ancestraldescendente para os homínidas. O ancestral comum para homínidas e macacos ainda falta. A.
ramidus, A. afarensis, erectinos e H. heilderbergensis são todos claramente designados como
―elos‖ na linhagem.
Usando métodos científicos normativos, os pesquisadores testam suas hipóteses, e rejeitam as
idéias que se demonstram falsas. Nos estudos da evolução humana, os pesquisadores nem sempre
aderem a métodos científicos normativos. Por exemplo, A. afarensis tem traços únicos que
efetivamente impedem que seja incluído entre nossos ancestrais. Um estudo cladístico identifica
69 traços que se expressam de modo diferente entre as espécies na ―linhagem humana‖. Destes,
apenas 45 apóiam a hipótese evolucionista preferida.18
Os 24 caracteres restantes contradizem a hipótese evolucionista preferida. A hipótese preferida
foi escolhida pelos pesquisadores como representando a linha provável da ―evolução humana‖
por ter sido demonstrada falsa o menor número de vezes. Como resultado, e a seu crédito, outros
pesquisadores têm posto em dúvida a validade de A. afarensis como um ancestral humano.19 A
inversão na robustez que ocorre com a inclusão de H. erectus na ―linhagem‖ é outro fator que é
inconsistente com a hipótese evolucionista atual quanto aos homínidas.
Textos sobre Criacionismo
Conclusão
Que nos diz o ―livro da Natureza‖? Todas as hipóteses evolucionistas dos homínidas têm sido
demonstradas falsas. Para sermos justos, isto não elimina a teoria evolucionista (novos espécimes
podem ser descobertos para resolver os conflitos); portanto, não é apropriado anunciar ao mundo
que ―A evolução foi refutada‖ na base da incongruência das hipóteses atuais.
Se todas as hipóteses evolucionistas dos homínidas foram demonstradas falsas, como é que se
interpreta o material fóssil? Comentários de Wood ilustram o que pode ser percebido como uma
mistura de características: ―Ao passo que H. habilis sensu stricto [no sentido estrito] é homínido
com respeito à boca e mandíbulas, ele retém um esqueleto póscraniano [corpo] essencialmente
australopitecino. Homo rudolfensis, por outro lado, aparentemente combina um esqueleto póscraniano [corpo] com a face e dentição que são análogas às dos australopitecinos ‗robustos‘,
especialmente P. boisei.‖ Muitas características que ocorrem juntas nos australopitecinos e nos
homínidos representam um mosaico de traços. Alguns cristãos interpretam estes organismos
como tendo resultado da degeneração da forma humana devida à entrada do pecado. Uma outra
interpretação restringe o termo humano a humanos anatomicamente modernos e atribuem o resto
dos fósseis a espécies criadas não humanas. Uma interpretação mais ampla do termo humano
aceitaria ao menos alguns dos fósseis como outras subespécies criadas de humanos. O que quer
que estas criaturas fossem, é óbvio que há problemas com quase toda interpretação destes fósseis.
Em vista dos dados disponíveis, prudência é recomendada. Com efeito, seria prematuro tirar
quaisquer conclusões definitivas quanto à origem destes organismos e sua relação com o relato
de
Gênesis.20
Evolução e salvação
Richard Rimmer
Quem foi a primeira pessoa a quem Deus prometeu a salvação?
Para a maior parte de cristãos que crêem na Bíblia, a resposta é bem simples. Mas se você é um
cristão que crê na evolução, você se encontra num dilema. Os evolucionistas dizem que as
espécies evoluíram através das épocas e que mudanças progressivas finalmente produziram o
homem moderno. Se a evolução realmente ocorreu e seres humanos evoluíram de formas
| 41
inferiores, houve um momento na transição entre homínidas e humanos modernos em que Deus
começou a considerá-los responsáveis por suas ações? Será que Deus salvou humanos primitivos
há meio milhão de anos, mas não antropóides há um milhão de anos? Exatamente em que
momento eles se tornaram pessoas e deixaram de ser animais?
Lembrem, Deus salva indivíduos, não grupos. Se você fosse Deus, você teria de decidir quando
começar a salvar indivíduos, e não seus pais e mães.
Se você é um evolucionista teísta, você coloca Deus na posição de tomar uma decisão arbitrária
quanto a indivíduos. Cristo nos disse que quem quer que nEle crê pode ser salvo (João 3:16). Isto
implica decisão pessoal. Além disto, nosso Deus é um Deus razoável (Isaías 1:18). Ele não pode
ser arbitrário ao definir quando no processo evolucionário um ser pode ser salvo.
Então há a questão de como, quando e por que o plano de salvação foi introduzido a estas
criaturas em desenvolvimento. É a história de Adão e Eva, como aparece em Gênesis, uma
grande mentira? Como pode esta perspectiva bíblica ser compatível com a evolução?
Não foi uma questão de desenvolvimento que decidiu quando as pessoas eram aptas para serem
salvas. Havia um casal de humanos que não precisava de salvação, mas que pecou ao
desobedecer a Deus. Desde então foi, e é, uma questão de aceitar Cristo como nosso Salvador.
Se você é cristão, por que não aceitar a opinião razoável de que Deus criou os humanos e os
dotou com a capacidade de fazer escolhas morais? Não é isto mais razoável do que forçar Deus a
decidir quando homínidas em evolução se tornaram moralmente responsáveis e eram bastante
evoluídos para serem salvos?
Há também a questão do pecado. Que relevância tem o pecado para pessoas se elas descenderam
de animais inferiores e herdaram deficiências morais? Não faria isto Deus o responsável pelos
nossos pecados? Não seria irrazoável para Ele pedir-nos que sejamos vencedores? Se Deus criou
formas de vida inferiores (como os evolucionistas teístas pretendem), mas então deixou que
evoluíssem através de milhões de anos como animais inferiores com deficiências, não
poderíamos acusar Deus de nos criar pecaminosos?
Richard Rimmer é um escritor independente que reside em Madison, Tennessee, E.U.A.
Elaine Kennedy (Ph.D., University of Southern California) é geóloga no Geoscience Research
Institute. Ela é a autora de vários artigos, entre eles ―Os Intrigantes Dinossáuros‖ (Diálogo
5:2). Seu endereço é: Geoscience Research Institute; Loma Linda University; Loma Linda, CA
92350; E.U.A.
Notas e referências
Para uma discussão anterior do tópico nesta revista ver David Ekkens, ―Animais e Seres
Humanos: São Eles Iguais?‖ (Diálogo 6:3, págs. 5-8).
2. F. E. Grine, ―Australopithecine Taxonomy and Phylogeny: Historical Background and Recent
Interpretation‖, em The Human Evolution Source Book, R. L. Ciochon e J. G. Fleagle, eds.
(Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1993), págs. 198-210. Também, I. Tattersall, The
Human Odyssey (New York: Prentice-Hall, 1993), pág. 191.
3. Informação sobre os australopitecinos e homínidos foi obtida das fontes seguintes: Tattersall, pág.
191; M. H. Nitecki e D. V. Nitecki, Origins of Anatomically Modern Humans (New York: Plenum
Press, 1994), pág. 341; M. L. Lubenow, Bones of Contention (Grand Rapids, Mich.: Baker Books,
1987), pág. 295.
4. R. L. Susman, J. T. Stern, Jr. e W. L. Jungers, ―Arboreality and Bipedality in the Hadar Hominids‖,
Folia Primatologica, 43 (1984), págs. 113-156.
5. J. T. Robinson, ―The Origin and Adaptive Radiation of the Australopithecines‖, em Evolution and
Hominization, G. Kurth, ed. (Stuttgart: Verlag, 1962), págs. 150-175.
6. B. Wood, ―Origin and Evolution of the Genus Homo‖, Nature, 355 (1992), págs. 783-790.
7. Ibidem.
8. Grine, págs. 198-210.
9. R. H. Brady, ―Parsimony, Hierarchy and Biological Implications‖, em Advances in Cladistics, vol. 2,
Platnick e Funk, eds. (New York: Columbia University Press, 1983), págs. 49-60.
10. R. R. Skelton, H. M. McHenry e G. M. Drawhorn, ―Phylogenetic Analysis of Early Hominids‖,
Current Anthropology, 27 (1986), págs. 21-35.
11. M. Hasegawa, H. Kishino e T. Yano, ―Dating of the Human-Ape Splitting by a Molecular Clock of
Mitochondrial DNA‖, Journal of Molecular Evolution, 22 (1985), págs. 160- 174.
12. Ver A. Gibbons, ―When It Comes to Evolution, Humans Are in the Slow Class‖, Science, 267
(1995), págs. 1907-1908.
13. Wood, B. 1992. Reimpresso em The Human Evolution Source Book, R. L. Ciochon e J. L. Fleagle,
eds. (Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1993), págs. 319-331.
Textos sobre Criacionismo
1.
42 |
Textos sobre Criacionismo
14. H. M. McHenry, Tempo and Mode in human evolution: Proceedings of the National Academy of
Sciences, 91 (1994), págs. 6780- 6786.
15. Ver I. Tattersall, The Human Odyssey.
16. A inclusão de H. erectus na ―linhagem‖ homínida representa uma inversão na robustez dos
crânios, da forma grácil de A. afarensis à estrutura robusta do crânio de H. erectus e de volta à
estrutura grácil do crânio de humanos.
17. T. White, G. Suwa e B. Asfaw, ―Australopithecus ramidus, A New Species of Early Hominid from
Aramis, Ethiopia‖, Nature, 371 (1994), págs. 306-312. B. Wood, ―Origin and Evolution of the Genus
Homo‖, Nature, 355 (1992), págs. 783-790. F. E. Grine, ―Australopithecine Taxonomy and
Phylogeny: Historical Background and Recent Interpretation‖, em The Human Evolution Source
Book, págs. 319-331, 198- 210. Ver também Tattersall, pág. 151.
18. Skelton, McHenry e Drawhorn, págs. 21-35.
19. Ibidem.
20. Desejo expressar minha apreciação ao Dr. Lee Spencer e à equipe do Geoscience Research
Institute por seu conselho durante as etapas finais deste artigo.
| 43
Artigo 10
Quando a crosta da Terra explode
M. Elaine Kennedy
Você mora na Califórnia e se orgulha de seu belo lar. De lá se tem uma vista das águas azuis do
Oceano Pacífico. Numa tarde ensolarada, você está sentado em sua cadeira favorita na varanda,
observando as ondas espumosas batendo ritmicamente, ora com gentileza, ora com estrondo. O
rádio toca sua música preferida e a vida parece calma, plácida e aprazível. Subitamente, a
transmissão é interrompida. Um sistema de aviso de emergência entra em operação. Uma
possível erupção vulcânica, acompanhada por um terremoto na borda do oceano parece iminente,
e pede-se que você e seus vizinhos se transfiram para um lugar mais seguro.
Ficção? Não mais. O soar de atividade vulcânica e sísmica é sentido em volta do cinturão do
Oceano Pacífico. Vulcanologistas, com o auxílio da moderna tecnologia, são capazes de vigiar
vulcões adormecidos e ativos na borda do Pacífico, identificar indicadores de atividade maior
que possa levar a erupções e alertar em tempo as comunidades que vivem ao longo da costa do
Pacífico.
Uma compreensão melhor dos processos abaixo da superfície podem também aumentar a
capacidade de previsão dos vulcanologistas. Mas compreender estes processos não responde à
crucial pergunta humana: ―Por que isso acontece?‖ São necessárias outras fontes de informação
para ajudar-nos a lidar com o problema. A resposta permanece especulativa, mas alguma
informação básica sobre os processos que produzem parte da rocha em fusão no interior da Terra
pode ajudar. Visto que há um cinturão vulcânico em volta do Pacífico, este artigo começará por
um estudo daquela região.
Ao longo das margens do Pacífico há trincheiras profundas. O chão do Oceano Pacífico afunda
nestas trincheiras e desliza debaixo das rochas que formam a crosta continental. Este processo é
conhecido como subdução,1 e os vulcanologistas sugerem que este processo de subdução produz
o material básico para a maior parte do vulcanismo que circunda o Oceano Pacífico, daí a frase
―Círculo de Fogo‖. A placa oceânica subdutora arrasta água do mar e algum material da crosta.
Quanto mais para o fundo esse material é arrastado, tanto mais altas as temperaturas e pressões
em volta das rochas. Finalmente, os gases produzidos pela água do mar e o material da crosta
provocam a fusão da placa que afundou e do manto superior. 2 A rocha fundida ou magma
começa então a subir através da crosta continental, gerando novas fraturas e falhas e
incorporando material adicional da crosta à medida que desliza.3
Quando as rochas da crosta se derretem, alguns tipos de rocha se decompõem quimicamente e
liberam gases como dióxido de carbono e dióxido de enxofre. O magma que sobe pode misturarse com magmas de outras fontes, que também produzem gases. Os gases aumentam a pressão
dentro do magma e diminuem sua densidade, o que ajuda no movimento ascendente das rochas
fundidas através das falhas.4 Contudo, rocha derretida movendo-se ao longo de fraturas não
indica que um vulcão está para explodir. Os vulcanologistas buscam indicadores específicos de
atividade vulcânica iminente.
Precursores de uma erupção
Os dados sobre vulcões são coletados em todo o mundo porque os cientistas querem saber
quando a próxima erupção vai ocorrer. Uma informação que parece muito útil inclui atividade
sísmica (terremotos) e os tipos de gases que são emitidos. Gases comuns liberados por
rachaduras vulcânicas e crateras incluem dióxido de enxofre, monóxido de carbono, dióxido de
carbono, sulfureto de hidrogênio e vapor de água.5 A atividade sísmica aumenta dramaticamente
antes de uma erupção. Essa atividade é por volta de 4 graus ou menos na escala Richter; todavia,
terremotos de maior intensidade podem ocorrer com bastante barulho, liqüefação, etc. 6 À medida
que as pressões sobem dentro do magma por causa da incorporação de gases das rochas das
costas adjacentes, a probabilidade de que haverá uma erupção aumenta.7
A erupção
A erupcão ocorre quando a pressão no magma excede a pressão exercida pelo peso das rochas
superiores. Fortes estrondos e terremotos freqüentemente precedem e acompanham a ejeção de
lava, rochas incandescentes, gases e cinza.8 Quando ocorre uma erupção, muitas pessoas estão
interessadas não somente no que aconteceu mas também perguntam: ―Por que isso aconteceu?‖
Textos sobre Criacionismo
O círculo de fogo
44 |
Perspectiva cristã
Dentro de comunidades religiosas, terremotos e erupções vulcânicas têm despertado interesse
visto que eles têm sido considerados como ―atos de Deus‖. Alguns pensam que, no passado, as
pessoas atribuíam a atividade de vulcões e terremotos a Deus ou a maus espíritos por ignorância,
mas o Livro de Jó deixa claro que tanto Satanás como Deus operam nos domínios da natureza (Jó
1:6-12). Agora que se sabe mais acerca dos processos envolvidos em erupções, as pessoas não
mais consideram tal atividade como uma intervenção divina ou mística. A comunidade cristã
reconhece a dificuldade de saber como e quando Deus poderia usar processos naturais em Seu
desígnio (ver Mateus 21:18-22; Lucas 13:4, 5). Pensar que sabemos como algo funciona não
significa que Deus não esteja envolvido no momento do evento ou processo. O conceito é difícil,
já que não conhecemos a mente de Deus. Não sabemos se alguns ou todos os eventos incluem a
intervenção divina ou se a maioria é apenas um processo que ocorre ao acaso em nosso mundo.
O fato de não termos conhecimento deste tópico deve levar-nos a ser cautelosos com nossos
comentários sobre acontecimentos e juízos do fim do mundo (ver Marcos 13:8; Lucas 21:9-11,
25-28).
Vulcanismo durante o dilúvio de Gênesis
Há outro aspecto do vulcanismo que devia ser considerado sob o ponto de vista bíblico, cristão.
As rochas continentais e oceânicas contêm evidências de vulcanismo. Os adventistas do sétimo
dia crêem que a maior parte desta evidência está relacionada com o dilúvio de Gênesis. A
inclusão do vulcanismo no fenômeno do dilúvio aumenta a complexidade e devastação daquele
evento. (Ver pág. 15). Fluxos extensos de basalto tais como nos trapes da Sibéria, do Decan na
Índia, os basaltos do Paraná, no Brasil, e os basaltos do Rio Colúmbia no noroeste dos Estados
Unidos, podem ter começado durante o dilúvio de Gênesis ou perto do seu fim. Além disso,
extensas camadas de cinza vulcânica se acham entremeadas em camadas de rochas da crosta
terrestre.
Durante as discussões sobre o dilúvio bíblico, os cristãos comentam sobre o poder destruidor das
águas do dilúvio, mas raramente fazem referência à devastação relacionada com vulcões e
terremotos que acompanharam o acontecimento. À medida que os cientistas cristãos continuam a
estudar as evidências geológicas, percebem cada vez mais as complexidades do dilúvio de
Gênesis.
Textos sobre Criacionismo
Conclusão
Realmente, muito pouco se sabe dos processos profundos que contribuem para o vulcanismo. A
maior parte das teorias desenvolve-se a partir de medidas de superfície. Ao tentar estudar estes
processos, os vulcanologistas esperam poder explicar por que ocorrem as erupções.
Dentro da comunidade cristã, há o reconhecimento de um poder além dos processos físicos e
químicos observados na natureza. A interpretação bíblica de vulcões, terremotos e dilúvios como
juízos faz com que os cristãos questionem a natureza aleatória dos acontecimentos. Muitos
cristãos consideram a maioria dos desastres naturais como acontecimentos aleatórios, parte de
um mundo pecaminoso. A perspectiva bíblica liga esses acontecimentos com o fim do mundo, e
sua ocorrência devia fortalecer nossa fé na segunda vinda de Jesus. Um aumento súbito e notável
na fre-qüência de calamidades naturais é predito para o período justamente antes da volta de
Cristo. Embora amigos e parentes possam perecer durante esses desastres, os cristão têm fé no
amor imperecível do Pai por Seus filhos. Esses processos nos fazem lembrar da grandeza do
poder de Deus e de Sua capacidade para controlar as forças da natureza.
Ellen G. White escreve sobre vulcanismo e terremotos
Ellen White fez vários comentários sobre atividade vulcânica e terremotos.* Uma das
declarações mais completas, incluída num livro publicado em 1890, é esta: ―Nesse tempo
imensas florestas foram sepultadas. Estas foram depois transformadas em carvão, formando as
extensas camadas carboníferas que hoje existem, e também fornecendo grande quantidade de
óleo. O carvão e o óleo freqüentemente se acendem e queimam debaixo da superfície da Terra.
Assim as rochas são aquecidas, queimada a pedra de cal, e derretido o minério de ferro. A ação
da água sobre a cal aumenta a fúria do intenso calor, e determina os terremotos, vulcões e
violentas erupções. Vindo o fogo e a água em contato com as camadas de pedra e minério, há
violentas explosões subterrâneas, as quais repercutem como soturnos trovões. O ar se acha
quente e sufocante. Seguem-se erupções vulcânicas; e, deixando estas muitas vezes de dar vazão
suficiente aos elementos aquecidos, a própria terra é agitada, o terreno se ergue e dilata-se como
as ondas do mar, aparecem grandes fendas, e algumas vezes cidades, vilas e montanhas a arder
são tragadas. Estas assombrosas manifestações serão mais e mais freqüentes e terríveis
precisamente antes da segunda vinda de Cristo e do fim do mundo, como sinais de sua imediata
destruição‖ (Patriarcas e Profetas [Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1995], págs.
108, 109).
A descrição de Ellen White dos processos que contribuem para o vulcanismo são muito
semelhantes às idéias publicadas por geólogos de seu tempo. Isso explica por que a linguagem
usada é mais descritiva que científica. Um século atrás, a teoria das placas tectônicas não tinha
sido desenvolvida e os círculos geológicos enfocavam apenas o processo da erupção. Quatro
aspectos destas descrições são discutidos abaixo:
1. ―O carvão e o óleo freqüentemente se acendem e queimam... [é] queimada a pedra de cal‖.
A frase ―se acendem e queimam‖ pode ser uma tentativa de descrever a incorporação de carvão e
óleo à rocha em fusão que sobe pela crosta. Este processo ocorre continuamente à medida que o
magma sobe dentro da crosta continental. Noutra referência,* White nota que os vulcões não se
acham tipicamente perto dos principais depósitos de carvão, óleo e gás. Esta declaração pode
indicar sua percepção de que não é a queima do carvão que funde as rochas adjacentes, mas ao
contrário, que a rocha em fusão é que inflama o carvão e o óleo. Contudo, ela apóia a idéia de
que o carvão e o óleo contribuem para o vulcanismo de algum modo. Ela não especifica o
processo que ―inflama‖ o carvão e o óleo, portanto a frase ―assim as rochas são aquecidas‖ pode
não referir-se ao carvão e ao óleo que ardem, mas ao processo responsável pela queima, ou seja,
o magma que sobe (um conceito desconhecido na época). É interessante notar que ela se refere à
cal como queimando e ao minério de ferro como derretendo, indicando de novo a decomposição
do calcáreo em seus vários elementos.
2. ―A ação da água sobre a cal aumenta a fúria do intenso calor, e determina os terremotos,
vulcões e violentas erupções. Vindo o fogo e a água em contato com as camadas de pedra e
minério,...‖
Em linguagem não científica a autora descreve a importância dos gases dentro da câmara de
magma com relação ao processo de erupção. Carvão e óleo produzem primariamente carbono,
enxofre e hidrogênio, ao entrarem em contato com as rochas fundidas que sobem. A água está
presente como gás e a cal é a fonte de íons de carbonato (CO3=) que se recombinam para formar
uma variedade de gases. Estes componentes formam os gases constatados pelos vulcanologistas
de hoje.
3. ―A própria terra é agitada...‖
Aqueles que estavam perto do Monte St. Helens em 18 de maio de 1980 e viveram para contar a
história, falaram aos repórteres sobre o ―ar quente e sufocante‖, bem como sobre as explosões. A
atividade sísmica é freqüentemente associada com erupções vulcânicas devido às pressões
crescentes sob a superfície, as quais geram algumas das ―violentas explosões subterrâneas‖, bem
como ondas de superfície.
4. Aparecem grandes fendas, e algumas vezes cidades, vilas e montanhas a arder são tragadas‖.
A frase ―aparecem grandes fendas‖ parece sugerir que as fendas tragariam cidades, etc. Embora
seja verdade que grandes regiões são afetadas, a destruição é devida à lava e cinza que rompem
através de novas fissuras, e assim vilas podem ser ―tragadas‖ pelo rio de lava. Esta leitura da
passagem é mais consistente com a frase inicial ―seguem-se erupções vulcânicas...‖ e pode-se
compreender neste contexto que os terremotos geram as fissuras que podem formar fendas que
permitem escapar lava adicional e cinza.
O freqüente relato de atividade vulcânica e de terremotos no noticiário não inclui uma
perspectiva cristã. Ellen White menciona vulcões e terremotos como lembretes poderosos de que
a destruição catastrófica é uma parte muito real de nosso mundo e que este mundo pode chegar
rapidamente ao fim. White também nos assegura de que há um contexto maior e, como é típico
em seus escritos, é sua sentença final neste parágrafo que aponta para a segunda vinda de Jesus
Cristo.
* Uma lista de fontes adicionais para estes comentários pode ser obtida com a autora no
Geoscience Research Institute, Loma Linda University; Loma Linda, Califórnia 92350; E.U.A.
Fax: 909-558-4314. E-mail: [email protected] ou tendo acesso a EGW database pela
Loma Linda University na Internet.
Textos sobre Criacionismo
| 45
46 |
M. Elaine Kennedy (Ph.D., University of Southern California) é geóloga e cientista-assistente no
Geoscience Research Institute. Seu endereço: Geoscience Research Institute; Loma Linda,
Califórnia 92350; E.U.A. Diálogo publicou outros artigos da Dra. Kennedy: ―Deus e a
Geologia na Escola de Pós-Graduação‖ (3:3, ―Os Intrigantes Dinossauros‖ (5:2) e ―A Busca
dos Antepassados de Adão‖ (8:1).
Artigos sobre assuntos relacionados, já publicados nesta revista: Harold G. Coffin, ―Carvão:
Como Se Originou‖? (6:1); William H. Shea, ―O Dilúvio: apenas uma catástrofe local?‖ (9:1).
Notas e referências
Textos sobre Criacionismo
1. Ver E. J. Tarbuck e F. K. Lutgens, The Earth: An Introduction to Physical Geology (Columbus,
Ohio: Marrill Publishing Company, 1987), págs. 481-496. Também, J. Ruiz, C. Freydier, T.
McCandless e R. Bouse, ―Isotopic Evidence of Evolving Crust and Mantle Contributions for Base
Metal Metallogenesis in Convergent Margins‖, Geologic Society of America, Abstracts With
Programs 29 (1997): A357.
2. Ver E. Hegner e T. W. Vennemann, ―Role of Fluids in the Origin of Tertiary European Intra Plate
Volcanism: Evidence from O, H, and Sr Isotopes in Mililitites‖, Geology 25 (1997): 1035-1038.
Também V. E. Camp e M. J. Roobol, ―New Geologic Maps Describing a Portion of the Arabian
Continental Alkali Basalt Province, Kingdom of Saudi Arabia‖, Geological Society of America,
Abstracts With Programs 23 (1991): 451; G. L. Hart, E. H. Christiansen, M. G. Best e J. R.
Bowman, ―Oxygen Isotope Investigation of the Indian Peak Volcanic Field, Southern Utah-Nevada:
Magma Source Constraints for a Late Oligocene Caldera System‖, Geological Society of America,
Abstracts With Programs 29 (1997): A87; e S. A. Nelson, ―Spatial and Geochemical Characteristics
of Basaltic to Andesitic Magmas in the Mexican Volcanic Belt‖, Geological Society of America,
Abstracts With Programs 29 (1997): A88.
3. W. A. Duffield e J. Ruiz, ―Contaminated Caps on Large Reservoirs of Silicic Magma‖, Geological
Society of America, Abstracts With Programs 23 (1991): 397.
4. V. C. Krass, ―Magma Mixing as a Source for Pinatubo Sulfur‖, Geological Society of America,
Abstracts With Programs 29 (1997): A64.
5. R. S. Harmon e K. Johnson, ―H-Isotope Systematics at Augustine Volcano, Alaska‖, Geological
Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A164. Também J. Dixon e D. Clague,
―Evolving Volcanoes and Degassing Styles in Hawaii‖, Geological Society of America, Abstracts
With Programs 29 (1997): A191.
6. W. G. Cordey, ed., ―Volcanoes and Earthquakes‖, Geology Today 11 (1995): 233-237.
7. G. B. Arehart, N. C, Sturchio, T. Fischer e S. N. Williams, ―Chemical and Isotopic Composition of
Fumaroles, Volcan Galeras, Colombia‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs
25 (1993): A326.
8. Cordey, págs. 236-239. Também R. B. Smith, C. M. Meertens, A. R. Lowry, R. Palmer e N. M.
Ribe, ―The Yellowstone Hotspot: Evolution and Its Topographic Deformation, and Earthquake
Signature‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A166.
| 47
Artigo 11
A migração de pássaros: outra evidência de
desígnio divino
Kyu Bong Lee
―Até a cegonha do céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, a andorinha, e o
grou observam o tempo de sua arribação.‖ – Jeremias 8:7
O outono está chegando ao fim. Os ventos do Ártico sopram levemente para o sul, anunciando
que o inverno não está longe. Logo as terras boreais congelarão, cobertas de neve. Subitamente
você ouve um ruído no céu. Olha para cima e vê um bando de pássaros voando para o sul,
fugindo das temperaturas gélidas e procurando terras mais quentes. Revoadas e bandos de
pássaros continuam sua viagem por milhares de quilômetros. Vem a primavera e o inverso
ocorre; os pássaros voam rumo ao norte para se reproduzir e criar seus filhotes. A migração é
anual e rítmica, revelando umas das grandes maravilhas do mundo natural.
Como se explicam tais migrações? Por que os pássaros migram afinal? Como sabem eles quando
é tempo de começar a longa viagem? O que guia sua rota de vôo e direção? Como sabem eles seu
destino, e como se preparam para a viagem?1
Essas e outras questões têm ocupado as pesquisas científicas durante anos. Algumas delas têm
obtido respostas claras; outras ainda estão sendo estudadas. Para um cientista comprometido com
a cosmovisão cristã, a migração de pássaros é outro exemplo revelador de um desígnio divino
por trás de todas as maravilhas da Natureza.
Dispersão de pássaros migratórios
Como os pássaros navegam durante a migração
Os biólogos propõem quatro teorias e sugerem que os pássaros usam uma, ou uma combinação,
dessas hipóteses em sua navegação de longas distâncias.
Uso de marcos visuais terrestres. Essa tem sido uma teoria popular há muito tempo. Muitos
pássaros parecem seguir pistas visuais tais como rios, linhas da costa e cadeias de montanhas, a
fim de atingir seu correto destino. Contudo, essa idéia não explica como os pássaros evitam
perder-se durante sua primeira migração.
Uso do Sol. Segundo essa teoria, os pássaros, assim como as pessoas, possuem um relógio
interno que lhes permite conhecer o ciclo diário de luz e escuridão. Juntamente com esse relógio
interno, os pássaros parecem usar as sombras do Sol para obter uma idéia de sua localização.
Mediante o uso desses dois recursos, eles seriam capazes de utilizar o Sol como bússola.
Os pássaros que viajam durante o dia se orientariam pela posição do Sol. Mas em dias nublados,
quando não podem absolutamente ver o Sol, como haveriam eles de voar corretamente em
formação? Eles possuem um relógio interno pelo qual são governados. Talvez isso possa ser
explicado como resultado da criação divina.
Uso das estrelas. Por causa que muitos pássaros migram durante a noite, essas migrações
noturnas parecem tê-los ensinado o uso das estrelas como guia de navegação. Eles podem
Textos sobre Criacionismo
Para os pássaros a migração usualmente significa uma viagem anual de ida e volta. Geralmente
ela ocorre nas grandes terras do hemisfério norte, que são periodicamente cobertas de neve e do
gelo do inverno. Bandos de pássaros que habitam a Eurásia e a América do Norte cruzam o
Equador para passar o inverno na África ou na América do Sul.
Por exemplo, uma andorinha do ártico portando etiqueta de identificação foi capturada noventa
dias mais tarde na costa do sudeste da África, 14.481 km longe de sua habitação no norte. Outra
andorinha voou mais de 16.090 km, desde a Groenlândia, para alcançar o sudeste da África.
Ainda outra, previamente identificada com anel na costa ártica da Rússia, foi apanhada perto da
Austrália, a uma impressionante distância de, pelo menos, 22.526 km.
O maçarico de cauda branca fez o mesmo percurso outonal desde a costa do Canadá até a
extremidade mais distal da Antártica. Entre os pássaros terrestres, as tristes-pias percorrem
11.263 km, ou mais, entre os campos de trevo do Canadá e os relvados da Argentina. A ave
migratória mais famosa da Europa é a cegonha branca. Às vezes essas aves se erguem a grande
altura através das colunas termais, antes de planar sobre as águas em direção à África.
Alguns maçaricos têm tido sua velocidade medida em mais de 161 km por hora. E alguns
pássaros migram por longas distâncias sobre a água, e voam à altura de 4.267 m. A maior altura
registrada até o presente foi de 8.992 m, alcançada por gansos perto do noroeste da Índia.
Textos sobre Criacionismo
48 |
orientar-se em relação à Estrela Polar e diferentemente da bússola solar, essa ―bússola astral‖ não
depende do tempo. Pássaros jovens parecem usar esse tipo de movimento para distinguir o Norte
do Sul. Tal teoria é apoiada num experimento feito com tentilhões anilados. 2
Alguns pássaros são capazes de se utilizar das formações estelares ou da Lua para determinar em
que direção precisam voar. A desvantagem de usar as estrelas para se orientar é que a Estrela
Polar não pode ser vista no hemisfério sul. Surge outro problema nas noites nubladas quando as
estrelas não podem ser vistas.
Uso do campo magnético da Terra. Os biólogos têm duas diferentes teorias sobre como os
pássaros podem usar o campo magnético da Terra para se orientar. Uma é que essas aves são
dotadas de certos pigmentos em seus olhos, que se tornam levemente magnéticos ao absorverem
luz, alterando assim os sinais que os olhos enviam ao cérebro. 3 A segunda e mais popular teoria
provém do fato de que os cientistas descobriram minúsculos cristais de magnetita no nervo
olfativo do cérebro de alguns pássaros.
Os biólogos ainda não sabem como os pássaros podem sentir a posição dos cristais de magnetita
em suas cabeças, e há poucos dados experimentais disponíveis sobre o assunto. (É bastante
interessante que alguns pesquisadores dizem serem os humanos dotados de capacidade de
igualmente perceber o campo magnético). Duas observações são dignas de nota. A primeira, com
referência aos pombos-correios:
―Testes cuidadosos com pombos-correios e outros pássaros que exibem a habilidade de escolha
de direção, mostram que eles são afetados pela mudança de campos magnéticos... Se forem
soltos onde o campo magnético da Terra é anormalmente forte, sua habilidade de orientar-se é
inteiramente interrompida...
―Próximo ao, ou essencialmente no crânio de cada pombo [os pesquisadores] localizaram uma
pequena porção de tecido de 1 x 2 mm que apresentava pequeno magnetismo. Pesquisas feitas
nesse tecido com um microscópio eletrônico revelaram a presença de mais de 10 milhões de
cristais microscópicos, cada qual quatro vezes mais longo do que largo. Outros testes
demonstraram que esses cristais eram de magnetita, um composto de ferro e oxigênio do qual são
fabricadas as agulhas das bússolas.‖4
Segunda, uma pesquisa sobre imigração feita desde o norte de Wisconsin até o Amazonas:
―Como os pássaros acham o seu caminho desde um pinheiro no norte de Wisconsin até o sul, em
direção ao Amazonas, e novamente retornam, ainda não é bem compreendido pela ciência. Mas
meio século de pesquisa está derramando alguma luz sobre essa proeza surpreendente.
―Os pássaros podem rastear o Sol, a Lua e as estrelas usando o seu movimento aparente como
bússola. Os pássaros também se utilizam de outros sentidos. Eles podem detectar campos
magnéticos fracos através dos cristais microscópicos de magnetita em suas cabeças. Eles seguem
odores leves, como um salmão ao retornar do oceano para seu rio de nascença. Eles podem ver
luz polarizada e usam a pressão barométrica. Juntamente com sua memória e o impulso genético
para se encaminhar em certa direção, os pássaros valem-se de uma combinação desses sentidos
para cruzar os continentes e os oceanos‖.5
Recentemente foi descoberto que as borboletas monarca têm uma bússola magnética interna que
lhes permite fazer sua viagem de inverno sem a guia da luz solar.6 Como se mencionou nos
parágrafos acima, ficou provado que alguns peixes e borboletas também usam seus sentidos de
detecção
magnética.
(Ver
o
quadro
―Migração
do
Salmão‖).
Migração do salmão: Usando o sentido magnético?
Um dos mistérios da Natureza é como o salmão consegue navegar nos oceanos e voltar para se
reproduzir nos mesmos rios dos quais vieram. É sabido que o cheiro ou o sabor de um rio
determinado desempenha seu papel. O salmão pode orientar-se pelo cheiro de ―seu‖ rio se estiver
suficientemente próximo de sua embocadura, de modo que a água não se tenha diluído a ponto
de tornar impossível a identificação.
Mas como pode o odor desempenhar sua parte quando os peixes migram milhares de quilômetros
e atravessam correntes oceânicas que destróem todo possível traço que poderia levá-los de volta?
De qualquer modo, sabe-se que o salmão não segue pistas tortuosas de volta para casa, a fim de
satisfazer o instinto de reprodução, mas viaja diretamente para seu território reprodutivo quando
atinge a maturidade sexual...
| 49
O que os orienta na direção certa? Provavelmente haja mais de um mecanismo que o peixe usa
para achar seu caminho. Uma ―marca‖ olfativa é feita sobre o jovem salmão em sua primeira
saída para o mar, ao deixar ele seu rio nativo. Isso lhe permite identificá-lo ao se aproximar mais
tarde, vindo do oceano. Mas ao chegar perto da corrente da embocadura, vindo do mar aberto,
pelo menos uma outra marca precisa ser feita a fim de poder chegar à área geral. Foi
demonstrado que alguns peixes percebem de modo notável o azimute solar e a sua altura, e que
eles são mais sensíveis à hora do dia. Sob condições ideais, isso permitiria determinar o norte
geográfico. Mas numa região onde céu encoberto predomina (como é o caso do Pacífico Norte e
do Mar de Bering), e porque os peixes nadam à noite e movem-se em águas mais profundas
durante o dia, as pistas celestes nem sempre estão disponíveis. Por conseguinte, outro meio de
corrigir a navegação seja provavelmente usado. Suspeita-se fortemente que a capacidade de
sentir o campo magnético da Terra possa prover o método adicional...
Extrapolando esses achados no processo de migração, a conjetura é que, depois que um filhote
do salmão cresceu até o estágio de smolt (quando de sua primeira arribada ao mar) e entra nas
águas salgadas, ocorrem mudanças químicas e hormoniais que deixam marcas sobre o sistema
nervoso dos peixes, uma ―memória‖ da latitude e longitude magnéticas do momento em que
entraram no oceano.
Parece haver dois modos possíveis pelos quais o campo magnético pode influenciar o sistema
nervoso de um peixe. O primeiro é que o mineral ferromagnético — magnetita — no cérebro da
criatura pode funcionar como uma bússola biológica, acertada no momento de entrada no oceano
(a magnetita é encontrada no espectro biológico dos seres, desde bactérias até golfinhos). A
informação retida compõe-se de dados verticais e horizontais do campo magnético da Terra
naquele ponto, e da inclinação do componente horizontal, que é a diferença entre o norte
magnético e o verdadeiro norte, presumivelmente determinada pelo Sol. Esses fatores em
conjunto provêm a combinação que é única para qualquer localidade geográfica. 7
—LARRY
GEDNEY
A despeito de todas as teorias e experimentos ligados com a migração de pássaros, há muito
ainda que não é bem compreendido, como o fato de os pássaros determinarem sua posição em
relação a um alvo fixo. O fato é que eles continuam a migrar segundo um modelo cíclico e
previsível através dos séculos.
O que faz os pássaros migrarem? Quando é que a prática da migração começou? Alguns
cientistas sugerem que as camadas de gelo durante a Era Glacial poderiam ser originalmente
responsáveis. Essa idéia parece plausível, mas não explica a migração em muitas partes do
mundo que nunca foram tocadas pelas glaciações. Conseqüentemente, a maioria dos
ornitologistas hoje rejeita essa teoria como a causa básica da migração.
Não há dúvida de que os pássaros que surgiram em climas quentes espalharam-se à procura de
alimento. A maioria dos cientistas criacionistas têm defendido que a Era Glacial existiu por
algumas centenas de anos em algumas áreas depois do Dilúvio de Noé, por causa da mudança do
clima. Depois do Dilúvio, muitos pássaros acharam alimento em abundância nas latitudes mais
elevadas, mas foram forçados a emigrar com a chegada do inverno.
O que os estimula a empreender sua migração aproximadamente ao mesmo tempo cada ano?
Seria porventura um relógio interno ou quem sabe estímulos externos? De um ponto de vista
fisiológico, sabemos que as glândulas endócrinas — os controles que fazem os machos cantar e
as fêmeas pôr ovos — sofrem grandes mudanças antes da época de nidificação. Outras mudanças
ocorrem depois dessa época. Muitos pássaros migram nesse período.
Embora os cientistas evolucionistas possam ter suas opiniões, nós, como cientistas cristãos,
podemos atribuir todos esses mistérios magnéticos ao desígnio de Deus, do mesmo modo que
fazemos com muitas outras espécies de migração dos animais. Deus fez os pássaros para se
adaptarem a mudanças em seu ambiente. Por que os pássaros precisam de energia extraordinária
para viajar longas distâncias, esses migrantes têm a capacidade de armazenar um vasto
suprimento de combustível em forma de gordura, algumas vezes dobrando de peso. Além disso,
a maior maravilha da migração é a maneira como os pássaros acham o caminho — sua
habilidade de navegação. Certamente, pode-se ver um desígnio sobrenatural em tudo isso!
Conclusão
Textos sobre Criacionismo
O que faz os pássaros migrarem?
50 |
A navegação é a parte da migração que mais tem intrigado os cientistas. Como podem os
pássaros achar seu caminho com aparente facilidade nas vastas distâncias permanece um enigma
migratório não resolvido. Assim eles podem seguir seus invisíveis caminhos com tanta precisão
que os cientistas de tempos em tempos têm suspeitado que os pássaros possuem um sentido
especial que nos é desconhecido. Pensou-se outrora que eles possuíssem um sentido cinestésico
pelo qual podiam reconhecer sua rota através de pressões exercidas sobre seu ouvido interno.
Outra idéia era que os pássaros navegavam em resposta ao campo magnético da Terra, talvez
mesmo aos seus efeitos rotatórios. Nenhuma dessas hipóteses têm, contudo, resistido a testes
experimentais.
A Bíblia, entretanto, nos convida a estudar as maravilhas da Natureza e ver nelas evidências da
mão de um sábio Criador: ―Pergunta agora às alimárias, e cada uma delas te ensinará; e às aves
dos céus, e elas to farão saber.‖ ―Olhai para as aves do céu...e vosso Pai celestial as alimenta‖(Jó
12:7, 8; Mateus 6:26).
Assim, o que podemos aprender observando ou estudando a migração dos pássaros?
Primeiramente, que nem todos os pássaros migram. Portanto, migração não é a lei de todos os
pássaros voadores. Em segundo lugar, eles seguem mais ou menos as mesmas rotas de migração.
Essa seleção não pode ocorrer por acaso. Terceiro, antes do pecado não havia migração porque
no mundo de antes da Queda não havia clima rigoroso exigindo que arribassem.
Considere a migração e sua relação com o campo magnético e gravitacional da Terra. O campo
magnético muda de acordo com a latitude da Terra e a altura. A força da gravidade também
muda segundo a latitude, embora usualmente digamos, ―a gravidade é constante.‖ Deus criou a
Terra, populou-a com todas as espécies de criaturas e determinou que cada uma delas se
adaptasse às suas circunstâncias. Também o Sol emite luz e radiações eletromagnéticas para
todas as criaturas. Essas podem ser afetadas pela energia total, embora não o sintam. Deus
determinou que os pássaros fizessem bom uso de sua variação mínima de energia e também lhes
deu capacidades para detectar mesmo os menores montantes de gravidade e variações no campo
magnético, por modos que nos são desconhecidos, e para orientá-los em seu rumo. Na medida
em que isso acontece, a migração revela o desígnio inteligente de Deus e Sua benevolente
providência.
Lições de providência e confiança
Textos sobre Criacionismo
―A andorinha e o grou observam as mudanças das estações. Emigram de um país a outro para
encontrar um clima apropriado à sua comodidade e felicidade, conforme designou o Senhor que
fizessem.‖8
―Os pássaros são ensinadores da suave lição da confiança. Nosso Pai celestial lhes provê
alimento; mas devem eles recolhê-lo, construir o ninho e criar a prole. A cada instante se acham
expostos a inimigos que procuram destruí-los. Entretanto, quão animosamente prosseguem com
seu trabalho! Quão repletos de alegria são seus pequenos hinos‖!9
—
ELLEN
G.
WHITE
Kyu Bong Lee (D.Sc. pela Sungjun University) leciona física na Escola de Ciências Naturais, na
Sahmyook University, Seoul, Coréia. E-mail: [email protected]
Notas e referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Ver Peter Berthold, Bird Migration: A General Survey (Oxford University Press, 1993); Peter
Berthold, Control of Bird Migration (London: Chapman and Hall, 1996).
Ver www.channelone.com/ns/news/96/12/ 96/1205/story1.html; Como os pássaros migram, About
Hummingbirds-users.vnet.net/joecool/hummer.fact.html
Stephen Day, ―Migration‖, New Scientist 135 (12 de Setembro de 1992).
T. Neil Davis, ―Magnetic Navigation by Birds‖, Alaska Science Forum, Artigo nº 345 (28 de
setembro de 1979).
Steve Tomasko, ―Mystery of Bird Migration: How They Get Here from There‖, em Science Café,
Columns (4 de abril de 2000).
Orley Taylor, Jr., Mornarchs’ Migration. E-mail: [email protected]
Larry Gedney, ―Do Salmon Navigate by the Earth’s Magnetic Field‖? Alaska Science Forum, Artigo
nº 691 (23 de novembro de 1984).
Ellen G. White, Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes (Santo André, São Paulo: Casa
Publicadora Brasileira, 1975), pág. 170.
Ellen G. White, Educação (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1977), págs. 117
e 118.
| 51
Artigo 12
De homo sapiens a homo videns
No princípio era o Verbo‖, diz o evangelho de João. Ninguém teria de dizer que ―no
princípio era a imagem‖. — Giovanni Sartori.1
A Bíblia não tem dificuldade em definir o ser humano: ―Na imagem de Deus ele os criou‖
(Gênesis 1:27). Mas os cientistas têm cunhado frases e construído taxonomias a fim de definir
quem e o que os humanos são.
Em 1758, Carl von Linneus (1707-1778), um botânico sueco, introduziu o ―sistema da natureza
humana‖ que estabeleceu a classificação das espécies assumindo uma suposta linha
evolucionista. Ele catalogou a espécie Homo (humano) como um ramo dos Homínidas, criaturas
de duas pernas. Daí a procura começou de nossos supostos ancestrais, incluindo o homo habilis
(o homem hábil), homo erectus, e finalmente homo sapiens. Os evolucionistas afirmam que o
último continuou a evoluir nas várias espécies de homens e mulheres contemporâneos.
E agora vem o homo videns, uma descoberta do sociólogo italiano, Giovanni Sartori. Seu livro,
Homo Videns: Teledirected Society, tem sido um ―best-seller‖ na América Latina, e sua versão
italiana esgotou em poucos meses. A tese de Sartori, embora baseada numa duvidosa
cosmovisão, merece nossa atenção. Ele argumenta que a evolução voltou atrás desde a década de
1950, visto que o homo sapiens está sendo destronado pelo homo videns. O primeiro é
caracterizado por um cérebro grande, a habilidade de andar perfeitamente sobre dois pés e
trabalhar habilmente com as mãos, o uso da linguagem, o desenvolvimento fantástico da cultura
e outros aspectos descritos por antropólogos. Sartori concorda com o filósofo Ernst Cassirer
(1874-1945) ao afirmar que os humanos são essencialmente caracterizados por sua atividade
simbolizante, ―a habilidade de comunicar por meio de sons articulados e sinais significativos‖. 2
Disso pode ser deduzido que o pensar e o saber do humano ―como um ser simbolizante são
construídos em linguagem e através da linguagem.‖ 3 Assim é que a linguagem falada e escrita
são não apenas a base da cultura mas também a essência mesmo do homo sapiens.
Com o aparecimento da televisão em meiados do século e o estabelecimento da indústria da
televisão, Sartori afirma, o desenvolvimento humano foi interrompido e revertido, pois a imagem
percebida começou a substituir o pensamento abstrato. Este processo de involução foi acentuado
com o aparecimento da cibernética por volta de 1980 e com o aparecimento do computador e a
tecnologia multimídia. A TV nos permite ver à distância coisas que são reais, mas o PC mostranos uma realidade virtual ou simulada. Com a prevalência da visão, a criatura simbolizante tornase a criatura vidente.
Sartori declara que não procura atacar a TV como meio de comunicação (embora ele enfatize
todas as suas fraquezas) ou o computador como um instrumento eficiente para armazenar e
recuperar informação. Sua preocupação é com nossa dependência deles, que se desenvolve
quando a cultura de livros é negligenciada. Ele argumenta que a televisão empobrece e nos faz
―mais crédulos e ingênuos‖4 e inativos. Também atrofia o dom da abstração e compreensão de
problemas, ao estimular o pensamento concreto ligado à imagem na tela.
Imagens e conceitos
Um exemplo que ilustra isso é a classificação de palavras em categorias como denotação e
conotação. A primeira categoria inclui palavras que referem a coisas observáveis tais como livro,
mesa, casa, cão, árvore, etc., — palavras que denotam ou apontam para objetos específicos ou
fatos dos quais temos uma imagem mental ou representação. Elas são a base para o pensamento
concreto. Outras palavras referem a idéias, tais como nação, soberania, liberdade, justiça, etc.
Estas palavras não são ―visíveis‖, antes são conceitos ligados a processos mentais abstratos. A
linguagem abstrata é responsável pelo desenvolvimento da civilização e da ciência através dos
séculos — aquilo que realmente caracteriza a espécie humana. Sartori sugere que a televisão
―produz imagens e destrói conceitos, e assim atrofia nossa capacidade para a abstração‖. 5
No cerne de seu argumento está a ―criança-vídeo‖. As estatísticas sugerem que a TV substituiu a
babá e tornou-se a escola principal da criança (uma escola que diverte e é interessante em
contraste com a escola maçante num prédio). Ver televisão antes de aprender a ler e escrever
produz uma atitude mental negativa para o aprendizado escolar. Ademais, exposição prematura à
TV produz uma fobia contra livros escolares e uma tendência de responder apenas a encenações,
Textos sobre Criacionismo
Mario Pereyra
52 |
música estridente e o sensacional. As crianças são dominadas pelo impulso; agem antes de
pensar. A TV, argumenta Sartori, ―amacia‖ o cérebro.
Ao contrário, a leitura requer solitude, concentração, habilidade para discriminar, apreciação da
conceptualização, e raciocínio. Homo videns ―cansa-se de ler, prefere a projeção instantânea
abreviada de uma imagem sintética. Fascina-o e o seduz. Ele renuncia a elos lógicos, seqüência
arrazoada e reflexão. Em contraste, ele cede ao impulso imediato, acalorado, que o envolve
emocionalmente‖.6 O viciado da TV rejeita esforço persistente, ação tenaz e pesquisa — com
efeito, o cultivo do pensamento e ação próprios.
Pode-se pensar que estas idéias são exageradas e questionáveis. Sartori replica: Olhe para as
partes do mundo onde a TV domina, e que é que vê? As baixas notas de leitura, a escassez de
pensamento crítico, a dificuldade crescente que os estudantes experimentam na compreensão e
composição. Raciocínio lógico sobre premissas postuladas verbalmente peca pela ausência. O
pensar fica dependente das imagens recebidas.
O pensamento baseado na imagem aumentou consideravelmente com a introdução do
computador, da Internet e com o ―surfing‖ de ―cyberspace‖, expandindo as fileiras do homo
videns. Como no caso da TV, o impacto do PC depende do uso que dele se faz. É ela
instrumento, entretenimento, passatempo ou torna-se ela uma droga ou mania? Geralmente
falando, gente que surfe a Internet tende para uma dependência passiva mais do que para trabalho
interativo, produtivo. Precisa-se reconhecer que a Internet não só transmite uma grande massa de
informação útil, mas também um grande volume de lixo e tolice. Além disso, pesquisa recente
revela que ―surfing‖ a ―Internet‖ aumenta o nível de depressão e solidão.7
Textos sobre Criacionismo
A cultura do espetacular
Homo videns mora no mundo do espetacular, dominado pelos famosos. De Tóquio a Buenos
Aires, de Moscou a Washington, de Paris a Kuwait, não importa qual seja a cultura, popularidade
domina o mercado; o índice de audiência manda. Por quê é o sucesso definido quase do mesmo
modo em toda parte no planeta? Como temos a impressão que a TV é a mesma em toda parte?
Ao nos aproximarmos do fim do século, todo país na vila global terá convertido a sociedade
numa audiência, e a população em tele-expectadores hipnotizados pela mágica do espetacular.
Há audições, programas, revistas, jornais e suplementos — cada vez mais volumosos —
devotados a informar acerca do espetacular e promovendo-os. Há pouco tempo esses
suplementos eram publicados somente nos fins de semana. Eles contêm divertimento, eventos
artísticos, filmes e os programas fascinantes de TV, as estrelas que brilham no firmamento
esplêndido da popularidade. A indústria de entretenimento vende os produtos que estão na moda.
O mercado de notoriedade absorve cada vez mais tempo, estruturando os valores do homo
videns.
A indústria do espetacular não só é onipresente, mas onipotente. Armazena, manipula, dirige
tudo. A economia é dependente da mídia. Um comentário negativo de algum jornalista bem
conhecido, mesmo se ele ou ela nada saibam da bolsa de valores, pode causar a queda do valor
das ações e a ruína de fortes indústrias ou empresas comerciais. A política também é escrava dos
índices. A mídia pode dar ampla publicidade ao escândalo, como na impugnação de Bill Clinton.
Os políticos precisam agora ser bons atores de TV se quiserem ganhar votos. Mesmo o mundo da
arte, o mundo intelectual e científico são sensíveis à opinião da mídia. Todo mundo quer acesso
ao palco da fama.
Freqüentemente se vê as faces das pessoas atrás de alguém que está sendo entrevistado na TV,
com as mãos erguidas para capturar a atenção, tentando partilhar um bocado da ação na tela. Em
outros tempos, as pessoas procuravam apagar-se e os vestidos eram desenhados para disfarçar a
forma do corpo. Mas agora a moda realça as curvas e contornos.
A lei do espetacular evidente no homo videns, rege em todos os níveis. O objetivo principal é de
ser um ator, ser visto, desempenhar um papel, não importa em que arena. Carisma, loquacidade,
o toque histriônico, a mágica do hipnotismo coletivo constitui a chave do sucesso. O valor
principal não mais é moralidade, santidade, desinteresse, inteligência, ou arte — mas fama. Os
famosos que brilham na luz da popularidade podem saborear com satisfação o mel da glória.
Outrora, a gente tinha de fazer algo para o bem do público, descobrir, inventar ou escrever algo
importante. Não mais se precisa de excelência, inteligência, sabedoria ou mesmo dinheiro. Basta
ter uma figura atraente, seduzir, ter um impacto, exibir-se no palco da mídia.
Hollywood foi a primeira a descobrir o poder econômico que se funda sobre fama, criando a
indústria da celebridade. O poder fascinante da fama transforma quase tudo em algo e move
| 53
fortunas. Modelos nos placardes, atores, cantores, celebridades esportivas — qualquer um na
―esfera da fama‖ — tem-se tornado o endosso da publicidade para produtos de consumo. Não
importa a qualidade do produto, o povo vai comprá-lo porque Claudia Shiffer, Michael Jordan ou
Bruce Willis usam-no. É por isso que os famosos são assediados. A indústria da TV, jornalistas,
fotógrafos os perseguem sem dó, como no caso da Princesa Diana. Jornalistas escrevem livros
sobre eles, e indústrias se levantam sobre o fundamento de sua fama.
É evidente que vivemos na era de imagens que promovem a fama e o espetacular. Talvez a
capacidade para abstração não tenha desaparecido totalmente, mas certamente a proliferação de
telas de TV tem afetado a capacidade para reflexão. Voltando para casa depois do trabalho,
milhões acham sua ocupação principal em encolher-se sobre um sofá e brincar com o controle
remoto. Outros sentam-se encantados em frente da tela azul de seu monitor, e surfem seus sonhos
e fantasias.
Para Sartori, o perigo maior em tudo isso é que o homo videns é presa fácil para os peritos na
manipulação da vontade coletiva. Carentes de pensamento abstrato e independente, frustrados em
adquirir sua identidade própria, o homo videns é facilmente seduzido pela mágica da panóplia
tecnológica. Nosso sociólogo italiano está particularmente alarmado pela política do vídeo, a
manipulação do poder das imagens por políticos e governos. Ele nota que a televisão ―condiciona
poderosamente o processo eleitoral, quer na eleição de candidatos‖ quer nas ―decisões
governamentais‖ deformando o funcionamento próprio dos sistems democráticos.8
Odina e Halevi nos garantem que a fama é ―o novo padrão ouro pelo qual tudo pode ser medido,‖
reduzindo ―nossos ideais ao desejo devorador de ser iluminado, embora seja por um instante e
somente pela estimulação do projetor da mídia‖.9 Certamente o advento da cultura da imagem
instalou na mentalidade de hoje a hegemonia da sedução10 e da simulação.11 Eventos reais e fatos
objetivos têm sido relegados a um lugar secundário. O que se tornou importante é sua
representação na tela. A realidade transferiu-se do mundo real para a tela do monitor, tornando-se
―realidade virtual‖. Estamos agora na era do ―ver‖ e não do ―ser‖.
A fama deriva-se deste contexto. Anda no palco das aparências. É um veículo de luxo para
transportar estéticas fascinantes, mas com um vácuo moral. Relega a pessoa a um mundo de
simulação cheio de falsidade — uma grande mentira. Dustin Hoffman, ao lançar um de seus
filmes, afirmou ironicamente que a política e as películas são a mesma coisa, fazendo-nos crer
naquilo que não é real.12 É uma miragem cintilante, um jogo de fachada, que magnifica a figura e
exalta o ego ao ponto do ridículo. Aí jaz a morte das certezas, do pensamento racional e dos
valores eternos do espírito. Os ansiosos procuradores de fama perderam a aspiração humana pela
transcendência religiosa, porque o desejo de notoriedade não traz consigo aquela espécie de
profundeza metafísica.
É por isso, mais do que nunca, que precisamos redescobrir o senso de que estamos acima e além
das falácias e das ―estratégias de ilusão‖13 e achar as certezas dos valores essenciais. Quais são
aqueles bens que garantem a realização autêntica de nosso ser? São a coragem de forjar uma
identidade pessoal baseada nos valores eternos do amor, fé, integridade e justiça. Consistem em
aprender. Escutar a voz de Deus. Perceber o toque sublime do belo, o chamado misterioso para
uma vida de serviço. Para fazer transbordar a corrente de energia vital, e de aceitar riscos pela
alegria de viver. Desenvolver moderação, paciência, autenticidade, não ser levado pela ira.
Aprender que há um lugar para ternura, para o toque humano, mesmo em coisas pequenas. Abrir
o portal para o país da esperança. Erguer a bandeira de um novo ideal. E assim muitas outras
realidades tangíveis da humanidade, em vez dos jogos artificiais e do esplendor fátuo do famoso
que estão à disposição do homo videns.
Aqueles que refletem seriamente sobre as tendências culturais contemporâneas estão erguendo
suas vozes em alarme sobre o que vêem na capacidade perdida para análise, para decisões
autônomas. Estão assustados com uma população sendo ―tele-dirigida‖ por charlatães
extravagantes, gente que triunfa no mundo da TV, que nos levam a perder a visão dos valores
mais altos da mente e do espírito. Estes estudantes da sociedade moderna nos convidam a voltar
aos livros, a cultivar o hábito de ler, desenvolver o pensamento crítico, tornar-se não só refletores
do conteúdo da tela, mas pensadores com mente independente.
A tudo isso precisamos acrescentar outro imperativo supremo: um retorno à Palavra, às Sagradas
Escrituras, que não somente encoraja o pensar, mas estabelece princípios éticos e valores
transcendentais que são essenciais à vida aqui e no além.
Textos sobre Criacionismo
Como inverter esta involução
54 |
Mario Pereyra (Ph.D., Universidade de Cordoba) é diretor do Departamento de Psicologia,
River Plate Adventist University. Seu endereço postal: 25 de Mayo 99; 3103 Libertador San
Martin, Entre Rios; Argentina. Endereço E-mail: [email protected]
Notas e referências
Textos sobre Criacionismo
1. Giovanni Sartori, Homo Videns: La sociedad teledirigida (Madrid: Santillana, S.A. Taurus, 1998),
pág. 37.
2. Ibid., pág. 24.
3. Ibid.
4. Ibid., pág. 137.
5. Ibid., pág. 47.
6. Ibid., pág. 150.
7. Clarin, 9 de janeiro de 1998, pág. 43.
8. Sartori, págs. 66, 67.
9. Ver M. Odina e G. Halevi, El factor fama (Barcelona: Anagrama, 1998).
10. Ver J. Baudrillard, De la seducción (Buenos Aires: Planeta-de Agostini, 1993).
11. Ver J. Baudrillard, Cultura y simulacro (Barcelona: Planeta, 1987).
12. Odina e Halevi, pág. 67.
13. Ver Umberto Eco, Las estrategias de la ilusión (Buenos Aires: Lumen, 1987).
| 55
Artigo 13
Catastrofismo? Sim!
Ariel A. Roth
Bem cedo, na manhã de 14 de novembro de 1963, a tripulação do navio pesqueiro Isleifur II
notou um cheiro estranho de enxofre no ar, mas não lhe deu importância. Cerca de uma hora
mais tarde, o barco, que navegava perto da costa da Islândia, começou a jogar de modo fora do
comum. À fraca luz da aurora, a tripulação observou uma fumaça escura subindo no sul.
Pensando que um navio se incendiara, foram verificar se havia alguma mensagem de S.O.S. pelo
rádio, mas nada tinha sido captado. Olhando através de seus binóculos, o capitão notou colunas
pretas irrompendo do mar a cerca de um quilômetro. A tripulação imediatamente suspeitou de
um vulcão; afinal eles deviam saber, pois eram da Islândia, onde a atividade vulcânica é comum.
O barco pesqueiro estava exatamente sobre a crista vulcânica do meio do Atlântico. Lá o fundo
do oceano fica a cem metros abaixo do nível do mar, de modo que a atividade de um vulcão
submarino podia ser facilmente observada da superfície do oceano.
A perturbação continuou o dia todo, com pedras, relâmpagos e uma coluna de vapor, cinza e
fumaça subindo a 3 km no ar. Em cinco dias, onde antes havia apenas o oceano aberto, tinha-se
formado uma ilha de 600 metros de comprimento (Figura 1). A ilha, mais tarde chamada Surtsey
por causa do gigante mitológico Surtur, finalmente atingiu um diâmetro de quase dois
quilômetros. Surpreendentemente, quando os cientistas visitaram a ilha, esta revelava a aparência
de ter estado lá por muito tempo. Dentro de cinco meses, uma praia de aparência madura e um
rochedo se tinham formado (Figura 2). Um dos investigadores comentou: ―Aquilo que noutras
partes pode levar milhares de anos... leva poucas semanas ou mesmo poucos dias aqui‖. Em
Surtsey somente poucos meses bastaram para criar-se um panorama tão variado e maduro que era
quase incrível‖.1
Normalmente, em nossa terra relativamente plácida, as mudanças não ocorrem com muita
rapidez, mas ocasionalmente fenômenos como a formação de Surtsey nos lembram que podem
ocorrer mudanças catastróficas e rápidas.
O catastrofismo e o uniformitarianismo têm desempenhado um papel importante na interpretação
da história da terra. O primeiro assume a ocorrência de fenômenos geológicos rápidos, ao passo
que o segundo afirma o conceito contrário de mudanças pequenas, lentas e prolongadas. Os
longos períodos requeridos para mudanças lentas e uniformes exigem que o relato bíblico de uma
Criação recente seja abandonado, ao explicar a formação de camadas geológicas enormes e os
fósseis que aparecem na superfície da terra. O uniformitarianismo se encaixa melhor com uma
história de evolução prolongada e longas eras geológicas, ao passo que o catastrofismo se
harmoniza melhor com o conceito bíblico de uma Criação recente e um subseqüente Dilúvio
universal. O Dilúvio bíblico, que poderia depositar as camadas geológicas rapidamente,
representa um exemplo primordial de catastrofismo.
Ao longo da maior parte da história humana, o catastrofismo era uma teoria bem aceita, 2 como se
vê na mitologia antiga e na antiguidade grega e romana. O interesse diminuiu durante a Idade
Média, embora os árabes seguissem de perto Aristóteles, que cria em catástrofes. A Renascença
testemunhou um interesse renovado. Os fósseis marinhos achados em abundância nos Alpes
eram freqüentemente explicados como o resultado do Dilúvio. Os séculos 17 e 18 viram
tentativas de harmonizar a ciência com o relato bíblico da Criação e do Dilúvio. Não obstante,
houve alguns detratores notáveis, como René Descartes (1596-1650), que sugeriu que a Terra se
formou por um processo de esfriamento. Idéias ortodoxas começaram a ser modificadas, tais
como sugestões de que o Dilúvio poderia ter resultado de causas naturais e que ele podia não ter
formado todas as camadas de rochas sedimentares. Na França, Georges Cuvier (1769-1832)
propôs catástrofes múltiplas, e durante este período alguns estudiosos advogaram o
uniformitarianismo.
Ao mesmo tempo, na Inglaterra, havia um forte apoio a favor do Dilúvio bíblico por parte de
autoridades como William Buckland, Adam Sedgwick, Wil- liam Conybeare e Roderick
Murchison. Nesse ambiente, publicou-se um livro que teria mais influência sobre o pensamento
geológico que qualquer outro.
Princípios de Geologia apareceu em 1830.3 Escrito por Charles Lyell, modificou fortemente o
clima do pensamento geológico do catastrofismo para as mudanças estritamente lentas do
Textos sobre Criacionismo
Catastrofismo e uniformitarianismo
56 |
uniformitarianismo. Em meados do século 19, o uniformitarianismo tinha-se tornado a opinião
dominante e o catastrofismo uma teoria em declínio. Vários esquemas tentaram reconciliar o
relato bíblico de uma Criação recente com as longas eras geológicas propostas pelo
uniformitarianismo.
Textos sobre Criacionismo
O fenômeno Bretz
Em 1923, o geólogo de mentalidade independente, Harlen Bretz, descreveu uma das paisagens
mais fora do comum na superfície de nosso planeta. Cobrindo uns 40 mil km quadrados na
região sudeste do Estado de Washington (E.U.A.), ela é caracterizada por uma vasta rede de
enormes canais secos, por vezes com a largura de vários quilômetros, formando um emaranhado
de morros e gargantas cortados em rocha vulcânica dura. Diferente dos vales comuns de rios, os
quais geralmente têm a forma de um V largo, estes canais freqüentemente mostram lados
íngremes e chão chato. Além disso, enormes montes de pedregulho de correnteza foram
encontrados em vários níveis. Evidências de centenas de cachoeiras antigas, algumas com altura
de 100 metros, com grandes bacias na base, testemunham de algo fora do comum.
Como se formou essa paisagem estranha? Bretz tinha sua idéia, suficientemente chocante para
provocar uma controvérsia geológica que durou quarenta anos. Na primeira publicação sobre este
tópico, Bretz não expressou sua suspeita de um dilúvio catastrófico; somente indicou que seriam
necessárias quantidades prodigiosas de água.4 Contudo, mais tarde no mesmo ano, ele publicou
um segundo artigo expressando sua opinião segundo a qual aquela paisagem tinha sido formada
por um dilúvio rápido e catastrófico. Esse dilúvio tinha lavado a área, desgastado os canais e
depositado as imensas barragens de pedregulho.5
Naquele tempo os geólogos se opunham a qualquer explicação associada com catástrofes, e Bretz
sabia disso. O uniformitarianismo era a opinião aceita; embora reconhecidos como exercendo
impacto, os vulcões e terremotos eram considerados sem importância. O catastrofismo era
anátema; achava-se na mesma categoria na qual se encontra a Criação em muitos círculos
científicos agora — totalmente inaceitável. A comunidade geológica tinha de lidar com este
arrogante jovem Bretz, que andava inteiramente fora da linha. Suas idéias heréticas eram muito
próximas à rejeitada idéia do Dilúvio bíblico.6 Adotar suas teorias, pensavam eles, significaria
um retrocesso à ―Idade Escura‖.7
Sendo que Bretz, professor de geologia na Universidade de Chicago, continuava seu estudo e
publicação, alguns geólogos tentaram persuadir o colega errante. Em 1927, ele foi convidado a
apresentar suas opiniões perante a Sociedade Geológica de Washington, D.C. Havia um
propósito especial atrás deste convite: ―uma verdadeira falange de incrédulos tinha sido reunida
para debater a hipótese de um dilúvio‖.8 Depois da apresentação de Bretz, cinco membros da
prestigiosa U.S. Geological Survey apresentaram suas objeções e explicações alternativas, tais
como glaciação e outras mudanças lentas.9 Dois dos geólogos nem tinham visitado a área! Ao
refutá-los, Bretz comentou que ―talvez... minha atitude dogmática esteja se demonstrando
contagiosa‖.10 Uma objeção maior à idéia de Bretz ficou sem resposta. De onde veio tanta água,
tão subitamente? Ao que tudo indica, ninguém mudou de idéia naquela reunião; a idéia de um
dilúvio catastrófico ainda parecia absurda para muitos cientistas.
Nos anos seguintes, os geólogos se concentraram para desenvolver modelos alternativos ao de
Bretz. Nas palavras de Bretz, a ―heresia deve ser rejeitada gentil mas firmemente‖. 11 Não
obstante, estudos no local continuaram a produzir dados favoráveis a uma interpretação
catastrófica, e o conflito começou a acalmar-se. Bretz e outros acharam uma origem para as
águas do dilúvio. O antigo Lago Missoula, a leste, havia outrora armazenado 2.100 km cúbicos
de água. Algumas evidências indicavam que gelo tinha represado o lago. Uma súbita ruptura do
gelo liberaria a água necessária para produzir a evidência de uma erosão rápida vista do lado
oeste. O melhor apoio para esta explicação veio mais tarde, quando cientistas acharam grandes
ondulações tanto no Lago Missoula como no canal do lado ocidental. Você provavelmente está
familiarizado com as ondulações paralelas freqüentemente vistas em leitos arenosos de um rio.
Estas usualmente não passam de uns poucos centímetros de crista a crista. As ondulações no leito
do Lago Missoula eram gigantescas — até à altura de 15 metros, com uma distância de 150
metros de crista a crista.12 Somente vastas quantidades de água em movimento rápido poderiam
produzir tal efeito. Estudos recentes têm-se concentrado em pormenores. Alguns sugerem que
pode ter havido até oito dilúvios.13 Um dos estudos sugeriu que a água correu à velocidade de
108 km por hora, cortando canais profundos na rocha vulcânica em poucas horas ou dias. 14
| 57
Finalmente as interpretações de Bretz, baseadas num estudo cuidadoso das rochas, foram aceitas
pela maioria dos membros da comunidade geológica. Em 1965, a Associação Internacional para
Pesquisa do Quaternário organizou uma visita à região. No final da conferência, Bretz, que não
pôde estar presente, recebeu um telegrama dos participantes, cumprimentando-o e encerrando
com a sentença: ―Somos agora todos catastrofistas‖.15 Em 1979, Bretz recebeu a medalha
Penrose, a distinção geológica de maior prestígio nos Estados Unidos. Bretz tinha vencido, assim
como o catastrofismo. Este ―Noé‖ moderno e seu dilúvio indesejado foram vindicados.
Correntes de turbidez
Em meados do século 20, alguns geólogos tinham notado que o uniformitarianismo estrito
contradizia os dados das próprias rochas. Bretz tinha achado evidências de ação muito rápida.
Outros cientistas estavam achando camadas sedimentares com componentes tanto de água rasa
como funda.16 Como podiam estas se misturar sob condições tranqüilas? A resolução: fluxos de
lama catastróficos debaixo da água, partindo de água rasa para água profunda. Estes fluxos
rápidos de lama, chamados correntes de turbidez, produziram depósitos especiais chamados
turbiditas. Esses depósitos são surpreedentemente comuns em todo o mundo. Alguns pensadores
ousados têm sugerido outras atividades catastróficas, tais como extinções em massa causadas por
influxos de radiação cósmica de alta energia 17 e o esparramar súbito de águas árticas sobre os
oceanos do mundo.18 Todas essas teorias indicam um abandono crescente do uniformitarianismo
estrito.
O golpe de misericórdia para o domínio das explicações uniformitárias não veio, entretanto, do
estudo das próprias rochas, mas dos fósseis que elas continham. Por que os dinossauros
desapareceram perto do fim do Cretáceo, e por que houve outras extinções em massa visíveis em
outros níveis da coluna de fósseis? Alguma causa razoável precisava ser encontrada. Várias
explicações tinham sido propostas para a extinção dos dinossauros, desde a morte pela fome a
cogumelos venenosos ou mesmo à febre do feno. Não obstante, seu desaparecimento costumava
ser considerado um mistério. Então em 1980 Luís Alvarez, Prêmio Nobel, da Universidade da
Califórnia em Berkeley, e outros19 sugeriram que a abundância anormal do elemento irídio
achado em vários lugares no alto das camadas do Cretáceo podia ser oriunda de um asteróide que
teria caído na terra e matado os dinossauros. A idéia provocou uma reação mista. Alguns a
puseram em dúvida porque os dinossauros e outros organismos não pareciam ter desaparecido
tão subitamente nas camadas de fósseis. Outros propuseram atividade vulcânica generalizada, ou
a colisão com um cometa e não com um asteróide.
O debate sobre detalhes continua, mas a porta para interpretações catastróficas está escancarada.
As revistas científicas agora registram mudanças súbitas e importantes.
Algumas das novas idéias do catastrofismo propõem que cometas ou asteróides poderiam
levantar ondas do oceano até à altura de oito km20 e gases a centenas de quilômetros acima da
superfície da Terra.21 Outros propuseram efeitos que incluem golpes de ar de 500ºC com a
velocidade de 2.500 km por hora, os quais matariam metade dos seres na terra, e terremotos
globais acompanhados de ondas do solo que atingiriam 10 metros de altura. A abertura de
rachaduras de 10 a 100 km e a formação rápida de montanhas também têm sido propostas. 22 Há
inclusive uma sugestão de que esses choques podem ter iniciado a separação do antigo
supercontinente chamado Gondwanalândia.23
O catastrofismo experimentou um retorno rápido, mas não é exatamente o catastrofismo clássico
de dois séculos atrás, que incorporava o Dilúvio bíblico como um acontecimento geológico
importante. É interessante que alguns geólogos sugeriram recentemente que um choque
extraterrestre podia estar relacionado com o relato do dilúvio de Gênesis. 24 Atualmente,
catástrofes importantes são prontamente aceitas, mas em contraste com o Dilúvio bíblico, que
durou apenas um ano, é introduzido bastante tempo entre muitas grandes catástrofes. O termo
neocatastrofismo parece estar ganhando aceitação, à medida que são feitas tentativas para
distinguir o novo conceito do antigo catastrofismo. A volta a interpretações catastróficas tem sido
identificada como uma ―grande brecha filosófica‖,25 e admite-se que ―o papel importante de
grandes tempestades através das eras geológicas está sendo cada vez mais reconhecido‖. 26 Esta
última opinião harmoniza-se bem com o modelo bíblico do Dilúvio como uma série prolongada
de tempestades durante o ano do Dilúvio.
O neocatastrofismo tem estimulado a reinterpretação de muitos fenômenos geológicos. Por
exemplo, muitos depósitos sedimentares que se pensava terem-se acumulado lentamente, são
Textos sobre Criacionismo
Novas idéias do catastrofismo
58 |
agora interpretados como o resultado de correntes rápidas de turbidez, e certo número de recifes
de coral fósseis, que previamente se pensava terem-se formado lentamente, são reinterpretados
como fluxos rápidos de fragmentos de rocha.
Exemplos de ação rápida
Sob condições normais, as mudanças na superfície da terra se produzem lentamente. Contudo, há
muitos exemplos de atividade catastrófica que sugerem mudanças importantes em pouco tempo.
A erosão pode ocorrer muito rapidamente. Em 1976, a represa recém-construída em Idaho
(E.U.A.) sofreu um vazamento que não pôde ser contido, e a água corrente cortou através do
sedimento à profundidade de 100 metros em menos de uma hora. A represa era feita em
sedimento macio, que facilmente sofre erosão. Tem sido proposto que os canais de Bretz,
mencionados acima, que são em basalto duro, foram cortados a uma profundidade
correspondente em poucos dias. A capacidade transportadora da água corrente foi determinada
como crescendo à terceira ou quarta potência da velocidade. 27 Isso significa que se a velocidade
do fluxo é aumentada 10 vezes, a água pode carregar mil a dez mil vezes mais sedimento.
Os não-criacionistas por vezes assinalam que a coluna geológica é demasiado espessa para ter
sido depositada no único ano do Dilúvio.28 Este pode não ser um argumento de peso. Enquanto a
maioria dos criacionistas excluiria as porções mais baixas (Pré-cambriano) e as porções mais
altas da coluna geológica do Dilúvio, algumas velocidades presentes de depósito são tão altas
que haveria pouco problema em depositar toda a coluna em poucas semanas. As correntes de
turbidez podem depositar sedimento num só local em poucos minutos ou menos, e sobre
milhares de quilômetros quadrados em poucas horas. Grandes depósitos, chamados
megaturbiditas, achados na Espanha, têm a espessura de até 200 metros, e um volume de 200 km
cúbicos.29 Há também vários métodos, além das correntes de turbidez, que causam o depósito
rápido de sedimentos. Um Dilúvio intenso que durasse um ano poderia depositar muito
sedimento.
O acúmulo de espessas camadas de organismos microscópicos tais como os de White Cliffs, em
Dover, na Inglaterra, era tido como exigindo longos períodos de tempo. Mas uma acumulação tal
pode ocorrer rapidamente. Ao longo da costa de Oregon (E.U.A.), uma tempestade de três dias
de ventos fortes e chuva depositou 10 a 15 centímetros de diátomos microscópicos ao longo de
32 km. Vi o fóssil de um pássaro bem preservado e muitos peixes em depósitos espessos de
diátomos microscópicos perto de Lompoc, Califórnia. Uma baleia foi também achada neste
depósito. Uma preservação como essa exigiria um enterramento rápido antes da desarticulação
do organismo.30 Verificou-se que a desarticulação em pássaros ocorre em poucos dias.
Evidentemente, algumas camadas de organismos microscópicos foram depositadas rapidamente.
Textos sobre Criacionismo
Algumas deduções
Podemos aprender algo da história das interpretações baseadas no catastrofismo ou no
uniformitarianismo. Durantes milênios, as catástrofes foram aceitas; depois, por bem mais de um
século, foram virtualmente eliminadas do pensamento científico; agora são bem-aceitas de novo.
Isso ilustra como a ciência muda de opinião, e às vezes até aceita conceitos rejeitados. A Bíblia,
por outro lado, não muda. É interessante que a aceitação das catástrofes veio principalmente do
estudo das próprias rochas. Devíamos ser cautelosos ao aceitar conceitos gerais, tais como o
uniformitarianismo, que são baseados em opinião ou numa quantidade limitada de informações.
Ademais, as novas interpretações catastróficas, de novo aceitas pela ciência, mostram que
acontecimentos importantes podem ocorrer rapidamente. Isso torna o relato bíblico das origens,
incluindo a Criação e o Dilúvio, muito mais plausíveis.
Ariel A. Roth (Ph.D., Universidade de Michigan) é o editor de Origens e ex-diretor do
Geoscience Research Institute. Seu livro, Origins: Linking Science and Scripture, do qual este
artigo é adaptado, foi recentemente publicado pela Review and Herald Publishing Association.
O endereço do Dr. Roth: Geoscience Research Institute - Loma Linda University; Loma Linda,
California 92350, E.U.A. Fax: (909) 824-92350. E-mail: griccmail.llu.edu
Notas e referências
1. S. Thorarinson, Surtsey: The New Island in the North Atlantic, S. Eysteinsson, tr. (New York: The
Viking Press, 1963). pág. 39.
2. Para apanhados gerais, ver D. Ager, The New Catastrophism: the Importance of the Rare Event in
Geological History (Cambridge e New York: Cambridge University Press, 1993); A. Hallam, Great
Geological Controversies, 2d ed. (Oxford e New York: Oxford University Press, 1989) págs. 30-64,
185- 215; R. Huggett, Cataclysms and Earth History: the Development of Diluvialism (Oxford:
Clarendon Press, 1980).
| 59
C. Lyell, Principles of Geology; or The Modern Changes of the Earth and Its Inhabitants
Considered as Illustrative of Geology, ed. rev. (New York: D. Appleton & Co., 1857).
4. J. H. Bretz, ―Glacial Drainage on the Columbia Plateau‖, Geological Society of America Bulletin 34
(1923): 573-608.
5. Bretz, ―The Channeled Scablands of the Columbia Plateau‖, Journal of Geology 31 (1923): 617649.
6. J. E. Allen, M. Burns, e S. C. Sargent, Cataclysms on the Columbia: Scenic Trips to the Nothwest’s
Geologic Past, Nº 2 (Portland, Ore.: Timber Press, 1986), pág. 44.
7. J. H. Bretz, ―The Channeled Scabland: Introduction‖, em V. R. Baker, ed., Catastrophic Flooding:
the Origin of the Channeled Scabland: Benchmark Papers in Geology 55 (Stroudsburg, Penna.:
Dowden, Hutchinson & Ross, 1981), págs. 18, 19.
8. Baker, pág. 60 (nota 7).
9. Para um relato das apresentações e discussões, ver J. H. Bretz, ―Channeled Scabland and the
Spokane Flood‖ em Baker, págs. 65-76.
10. Ibid. pág. 74.
11. J. H. Bretz, H. T. U. Smith, e G. E. Neff, ―Channeled Scabland of Washington: New Data and
Interpretations‖ Geological Society of America Bulletin 67 (1956): 957-1049.
12. Ibid., J. T. Pardee, ―Unusual Currents in Glacial Lake Missoula, Montana‖, Geological Society of
America Bulletin 53 (1942): 1569-1600.
13. J. H. Bretz, ―The Lake Missoula Floods and the Channeled Scabland‖, Journal of Geology 77
(1969): 505-543; M. Parfit, ―The Floods That Carved the West‖, Smithsonian 26 (1995) 1:48-59.
14. V. R. Baker, ―Paleohydraulics and Hydrodynamics of Scabland Floods‖ em: Baker, págs. 255-275
(nota 7).
15. Bretz 1969 (nota 13).
16. M. L. Natland, P. H. Kuenen, ―Sedimentary History of the Ventura Basin, California, and the Action
of Turbidity Currents‖, Society of Economic Paleontologists and Mineralogists Special Publication 2
(1951): 76-107; F. B. Phleger, ―Displaced Foraminifera Faunas‖, Society of Economic
Paleontologists and Mineralogists Special Publication 2 (1951): 66-75.
17. O. H. Schindewolf, ―Neocatastrophism?‖ V. A. Firsoff, tr. Catastrophist Geology 2 (1977): 19-21.
18. S. Gartner e J. P. McGuirk, ―Terminal Cretaceous Extinction Scenario for a Catastrophe‖, Science
206 (1979): 1272-1276.
19. L. W. Alvarez, W. Alvarez, F. Asaro, H. V. Michel, ―Extraterrestrial Cause for the CretaceousTertiary Extinction‖, Science 208 (1980): 1095-1108.
20. W. M. Napier, S. V. M. Clube, ―A Theory of Terrestrial Catastrophism‖, Nature 282 (1979): 455459.
21. H. J. Melosh, ―The Mechanics of Large Meteoroid Impacts in the Earth’s Oceans‖, Geological
Society of America Special Paper 190 (1982): 121-127.
22. V. Clube, B. Napier, ―Close Encounters with a Million Comets‖, New Scientist 95 (1982): 148-151.
23. V. R. Oberbeck, J. R. Marshall, e H. Aggarwal, ―Impacts, Tillites, and the Breakup of
Gondwanaland‖, Journal of Geology 101 (1993): 1-19.
24. E. Kristan-Tollmann, e A. Tollmann, ―The Youngest Big Impact on Earth Deduced From Geological
and Historical Evidence‖, Terra Nova 6 (1994); 209-217.
25. E. Kauffmann, citado em R. Lewin, ―Extinctions and the History of Life‖, Science 221 (1983): 935937.
26. D. Nummedal, ―Clastics‖, Geotimes 27 (1982) 2: 22-23.
27. A. Holmes, Principles of Physical Geology, rev. ed. (New York: The Ronald Press Co., (1965), pág.
512.
28. E.g., R. L. Ecker, Dictionary of Science and Creationism (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1990),
pág.102.
29. M. Seguret, F. Labaume, e R. Madariaga, ―Eocene Seismicity in the Pyrenees From
Megaturbidites of the South Pyrenean Basin (Spain)‖, Marine Geology 55 (1984): 117-131.
30. P.G. Davis, D. E. Briggs, ―The Impact of Decay and Disarticulation on the Preservation of Fossil
Birds‖, Palaios 13 (1998): 3-13.
Textos sobre Criacionismo
3.
60 |
Artigo 14
Acaso ou desígnio?
Ariel A. Roth
Depois de trabalhar até tarde, meu amigo estava exausto. Entrou no seu carro e deu início à longa
viagem para o colégio que freqüentava. Estava dirigindo por uma estrada pouco movimentada
quando o cansaço o venceu, e seu carro mergulhou nas águas de um rio à beira da estrada.
Sobreviveu ao desastre com ferimentos graves. Com os nervos na parte inferior da espinha dorsal
atingidos, não podia mais controlar suas pernas. Estava destinado a uma cadeira de rodas para o
resto da vida.
A recuperação levou longo tempo. Felizmente, meu amigo não era uma pessoa comum. Não
permitiria que seu grave problema fizesse dele um fardo para a sociedade. Decidiu ser um auxílio
para os outros e, apesar de todos os obstáculos que enfrentava, terminou a faculdade. Sua
personalidade simpática, perseverança e dedicação a Deus o ajudaram em sua carreira de
professor, editor, capelão e pastor. Muitos foram abençoados por sua afabilidade e compreensão.
Infelizmente, suas pernas continuaram a deteriorar-se, a ponto de terem de ser amputadas.
Partes interdependentes1
O problema do meu amigo ilustra como as várias partes de um organismo vivo são dependentes
umas das outras. Podemos ilustrar isso num nível mais simples. Se temos um músculo que move
um osso numa perna, esse músculo não vai funcionar a menos que um nervo vá ao músculo para
ativá-lo. Mas nem o músculo nem o nervo funcionarão, a menos que haja um sistema no cérebro
para controlar a atividade do músculo. O mecanismo controlador no cérebro envia impulsos
através do nervo para fazer o músculo contrair-se e mover o osso. As três partes, o músculo, o
nervo e o mecanismo controlador são exemplos de interdependência. Precisam um do outro a
fim de funcionar. São sistemas nos quais nada funciona, a menos que tudo funcione. Alguns
cientistas chamam tais sistemas de «complexidade irredutível».2 O termo complexidade aplica-se
a sistemas cujas várias partes estão em relação umas com as outras. Sistemas com partes
interdependentes são abundantes em todos os seres vivos, e são em geral muito mais complexos
do que o exemplo simples mencionado acima. Em nosso corpo temos de 50.000 a 100.000
espécies diferentes de enzimas. A maioria dessas enzimas governa mudanças químicas
relacionadas com outras mudanças químicas operadas por outras enzimas. Representam um vasto
repertório de partes interdependentes.
Textos sobre Criacionismo
O caráter aleatório das mudanças evolutivas
Se 20 crianças forem soltas numa loja de brinquedos, algo vai acontecer. Certamente, o estoque
bem organizado de brinquedos vai-se tornar menos organizado. Quanto mais tempo as crianças
se divertirem na loja, tanto mais embaralhado o estoque ficará. Seres ativos tendem a misturar-se.
A tendência de as coisas se tornarem remexidas na natureza é contrária à evolução, que postula
mudanças de moléculas distribuídas de modo aleatório, organizando-se em formas vivas
«simples» as quais, embora pequenas, são na verdade altamente organizadas. Assume-se que a
evolução tenha formado organismos muito mais complexos, com tecidos e órgãos especializados
que incluem flores, olhos e cérebros.
Alguns evolucionistas sugerem que a auto-organização ocasional de matéria simples, como é
vista na formação de um cristal de sal, ou os raros desenhos ondulados que às vezes se formam
quando substâncias químicas se infiltram através de um sólido, poderia ser o modelo para a autoorganização da matéria em seres vivos. Mas há uma vasta distância entre simples cristais e as
complexidades de sistemas vivos. O desenvolvimento de complexidades funcionais
interdependentes é contrário à tendência da natureza para a desorganização. Este é um dos
maiores problemas com a teoria da evolução.
Os evolucionistas geralmente enfatizam a mudança aleatória ocasional no mecanismo hereditário
de um organismo (DNA). Tais mudanças, chamadas mutações, combinadas com a seleção
natural, são consideradas como a base para o progresso evolucionário. Mas tais eventos
aleatórios tendem usualmente a misturar as coisas, não organizá-las. Nem mutações aleatórias
nem a seleção natural têm a visão de planejar com antecedência, de modo a guiar o processo
evolutivo ao desenvolvimento gradual de sistemas com partes interdependentes. Ademais, as
mutações são quase sempre nocivas aos organismos vivos. A estimativa de uma mutação
favorável em mil é o máximo que se pode atribuir à evolução. Tratando-se de sistemas
complexos com partes interdependentes, apenas uma pequena mudança (mutação) pode fazer
| 61
com que todo o sistema deixe de funcionar. É como cortar os nervos das pernas do meu amigo;
as pernas ficaram inteiramente arruinadas. Igualmente, é mais fácil arruinar um relógio do que
fazer um. Poucos negariam que há uma tendência para a desorganização na natureza. A evolução
naturalista precisa explicar o oposto.
Seleção natural: um problema para a evolução
Charles Darwin desenvolveu o conceito da seleção natural. Observou que há variações em
organismos vivos. Há também excesso de reprodução da prole, o que resulta em escassez de
alimento e espaço; segue-se que há competição pela sobrevivência. Darwin propôs que somente
os mais aptos entre as novas variedades de organismos sobreviveriam, e eles por sua vez
produziriam uma prole igualmente apta. Assim, o mais apto sobrevive pelo processo chamado de
seleção natural.
Este mecanismo é freqüentemente usado para explicar o progresso evolutivo, apesar da tendência
da natureza para a desorganização. Embora pareça que a seleção natural funcione na natureza
como meio de eliminar os organismos fracos ou as aberrações, enfrenta um grande problema
quando se trata de evolução de sistemas interdependentes, os quais representam a maioria de
tudo que vive.
O fato de meu amigo ter suas pernas amputadas ilustra um problema básico enfrentado pelo
modelo darviniano de seleção natural. Estruturas inúteis podem ser impedimentos incômodos.
Como regra geral, passamos melhor sem elas. O problema para a evolução é que muitas partes de
órgãos ou sistemas em evolução seriam impedimentos inúteis, até que todas as partes
interdependentes evoluíssem. Até então, os organismos se dariam melhor sem essas partes extras,
e a seleção natural tenderia a eliminá-los. Somente depois que todas as partes necessárias
interdependentes estivessem presentes, poderiam essas partes funcionar e assim prover qualquer
razão para a sobrevivência pelo processo de seleção natural.
Se a evolução fosse real, esperaríamos ver amostras de novos órgãos ou sistemas tais como
pernas, olhos, fígados se desenvolvendo, ou novas espécies de órgãos tentando desenvolver-se
nestes organismos que ainda não os produziram. Contudo, ao contemplarmos mais de um milhão
de espécies que têm sido identificadas na superfície da Terra, não vemos nenhuma. Esta é uma
objeção séria ao conceito da evolução. Num contexto mais amplo, a questão é: Como podem
mutações aleatórias prejudiciais, que não têm capacidade de previsão, produzir gradualmente
sistemas biológicos complexos que não têm valor para a sobrevivência até que todas as partes
interdependentes estejam presentes? Se a evolução pudesse explicar este problema, deveríamos
achar muitos órgãos e sistemas novos no processo de evolução, mas não existem.
Tem havido uma longa e árdua busca de um mecanismo evolucionário plausível que produza
vida organizada complexa. Contemplemos brevemente os dois últimos séculos de pesquisa. Um
sumário é apresentado na Tabela 1.
Lamarquismo. O cientista francês Chevalier de Lamarck (1744-1829) concebeu um mecanismo
evolutivo baseado em sua lei de uso e desuso. Ele propôs que o uso de um órgão acentuava seu
desenvolvimento, e que esta melhoria era passada à geração seguinte. Por exemplo: animais
como o veado, precisando alcançar folhas nos galhos mais altos de uma árvore adquiririam,
depois de esticar seus pescoços por muitas gerações, pescoços mais longos e finalmente
apareceriam como girafas. De modo semelhante, ele declarou que se o olho esquerdo de crianças
fosse removido por um certo número de gerações, finalmente haveria indivíduos nascidos só com
o olho direito.
Anos mais tarde, o evolucionista alemão August Wiseman demonstrou o erro de Lamarck.
Cortou as caudas de centenas de ratos durante muitas gerações. Os ratos, não obstante,
continuaram a produzir prole com rabos de tamanho natural. Concluiu que esta série de
experimentos provara que não há herança de características adquiridas durante a vida de um
indivíduo.
Darvinismo. Darwin propôs a seleção natural (descrita acima) como um mecanismo evolutivo.
Darwin também enfatizou a teoria geral da evolução de todos os organismos, desde os mais
simples até aos mais complexos. Neste processo, ele enfatizou a importância de mudanças
diminutas, um conceito que foi logo contestado.
Logo depois da publicação (1859) do livro de Darwin, Origin of Species, muitos cientistas
aceitaram a idéia geral da evolução. Contudo, muitas das idéias de Darwin foram contestadas
então e ainda estão sendo contestadas hoje. O historiador da biologia Charles Singer afirma, com
Textos sobre Criacionismo
A longa procura por um mecanismo evolucionário
Textos sobre Criacionismo
62 |
a maior naturalidade, que os argumentos de Darwin «são freqüentemente falaciosos». 3 Entre as
críticas mais sérias está a falta de valor, para a sobrevivência, de pequenas mudanças que não são
úteis a menos que possam funcionar num todo complexo que ainda não evoluiu. Darwin
preocupou-se com a evolução do olho, que tem bom número de sistemas com partes
interdependentes. Ele sugeriu que a seleção natural era a resposta ao problema, mas não tratou do
problema das partes interdependentes.
O conceito da «sobrevivência do mais apto» também tem sido severamente criticado, às vezes
injustamente. Contudo, a sobrevivência do mais apto não demonstra evolução, como às vezes se
pensa. O conceito não pode ser testado facilmente, o que não quer dizer que seja falso. Mas
obviamente o mais apto sobrevive, quer evolua por si mesmo, quer seja criado por Deus. A
despeito destas falhas, a idéia básica de Darwin é apoiada por muitos evolucionistas.
Mutações. O biólogo holandês Hugo de Vries (1848-1935) contestou vigorosamente a idéia de
que pequenas mudanças propiciavam o mecanismo evolucionário básico. Ele argumentava que
estas pequenas mudanças nada significavam, e que seriam necessárias mudanças maiores,
chamadas mutações, como resposta ao ambiente. De Vries encontrou apoio para suas opiniões
nas cercanias de Amsterdam, Holanda, onde a prímula importada da América tinha-se tornado
silvestre e alguns espécimes ficaram anões. Ele considerava esta mudança como uma mutação.
De Vries conduziu experimentos cruzando milhares de plantas, e notou mudanças maiores, que
ele atribuiu a mutações. Ele cria que estas «novas formas» eram degraus num longo processo
evolucionário. Infelizmente para a teoria de Vries, as mudanças que ele notou eram apenas o
resultado de combinações de traços já presentes na constituição genética das plantas, e não novas
mutações.
Ainda assim, o conceito de mutações, que representam nova informação hereditária, tornou-se
aceito, em grande parte pelo trabalho do norte-americano T. H. Morgan. Em experimentos com
moscas de frutas, Morgan achou novas mudanças permanentes que são transmitidas de uma
geração para a seguinte. Contudo, as mudanças observadas eram em grande parte degenerativas,
em vez de progressivas, incluindo perda de asas, pêlos e olhos.
Muitas mutações não prejudiciais seriam requeridas para produzir uma única estrutura útil. O
problema é como fazer com que estes eventos raros ocorram simultaneamente num organismo, a
fim de produzir uma estrutura funcional que pudesse ter algum valor para a sobrevivência. O
zoólogo francês, Pierre P. Grassé, que sugere outro mecanismo evolucionário, abriga algumas
das mesmas preocupações e afirma: «Não importa quão numerosas, as mutações não produzem
espécie alguma de evolução». 4
Síntese moderna. Ao se desenvolver o pensamento evolucionista no começo do século 20,
diversos estudiosos influentes transferiram o foco das mutações de volta à seleção natural. Os
proponentes mais importantes foram S. S. Chetverikov na Rússia, R. A. Fisher e J. B. S. Haldane
na Inglaterra e Sewall Wright nos Estados Unidos. Desta vez, a ênfase era sobre o processo de
evolução dentro de populações de organismos, e não de organismos individuais.
A síntese moderna combinou os esforços de evolucionistas brilhantes, incluindo Theodosius
Dobzhansky, da Columbia University, Sir Julian Huxley na Inglaterra, Ernst Mayr e George
Gaylord Simpson na Universidade de Harvard. O conceito foi dominante de 1930 até por volta
de 1960. O nome de «síntese moderna» originou-se com Huxley, 5 o neto de Thomas Huxley, o
grande promotor de Darwin.6 Basicamente, ele sintetiza a variação por mutações com o conceito
de Darwin de seleção natural pela sobrevivência do mais apto no que se aplica a populações.
Muitos dos líderes da síntese moderna enfatizaram que, pelo acúmulo de mudanças relativamente
pequenas, poder-se-iam produzir as mudanças maiores necessárias para os importantes passos
evolucionários, como a mudança de um animal do tipo da lagarta para uma tartaruga. Contudo, o
mecanismo básico para o progresso evolucionário complexo permaneceu sem solução. A síntese
moderna pode ter sido mais uma atitude de triunfalismo do que uma síntese precisa.
Entrementes, as vozes inquietantes do paleontologista Otto Schindewolf na Alemanha e do
geneticista Richard Goldschmidt nos Estados Unidos eram sistematicamente ignoradas. Em
contraste com as mudanças diminutas de Darwin e as mutações relativamente pequenas sugeridas
pelos arquitetos da síntese moderna, ambos estavam propondo grandes e rápidas mudanças e
diferentes mecanismos. Schindewolf, familiarizado com fósseis, sugeria saltos rápidos para
transpor as grandes lacunas entre os tipos fósseis maiores. Goldschmidt, que era professor de
genética na Universidade da Califórnia em Berkeley, discordava inteiramente da idéia de que
pequenas mudanças dentro das espécies podiam acumular-se lentamente e produzir mudanças
| 63
evolutivas maiores. Ele considerava os estágios intermediários inúteis para a sobrevivência e
sentia que não seriam favorecidos pela seleção natural. Entre os exemplos que ele cita, estavam a
formação de uma pena, a segmentação da estrutura do corpo como é observada em insetos, o
desenvolvimento dos músculos, o olho composto dos caraguejos, etc. Goldschmidt e
Schindewolf levantaram importantes objeções e logo, para um bom número de evolucionistas, a
síntese moderna não mais parecia sustentável. O embriologista sueco Soren Lovtrup, que apóia a
evolução, declara: «E hoje a síntese moderna — neo-Darvinismo — não é uma teoria, mas um
leque de opiniões, nas quais cada uma a seu modo procura vencer as dificuldades apresentadas
pelo mundo dos fatos». 7
Período de diversidade. Logo surgiram novas idéias sobre a evolução, algumas delas bem
especulativas. Descobertas recentes, especialmente em biologia molecular e genética, indicavam
que os conceitos genéticos mais velhos e simples não mais eram válidos. Tudo isso contribuiu
para uma diversidade de pensamento que prevalece até ao presente. Este estágio — que pode ser
designado coletivamente como o período de diversidade — representa uma coleção de idéias
novas e freqüentemente conflitantes. Giram em torno de várias questões básicas, tais como: (1)
Pode-se identificar as relações evolutivas dos organismos? Alguns têm argumentado que o único
modo para se dizer se dois organismos são realmente relacionados evolutivamente é se têm
características semelhantes mas únicas [sinapomorfias]. Dificilmente se encontram tais
caraterísticas. (2) São essas mudanças evolutivas graduais ou súbitas? Alguns sugerem súbitas,
mas bem pequenas; mudanças refletidas em parte do registro fóssil (modelo de equilíbrio
pontuado). Estas pequenas mudanças súbitas não resolvem o problema das lacunas maiores no
registro fóssil, tais como as que se acham entre filos de animais e divisões de plantas. (3) É a
seleção natural importante para o processo evolucionário? Certo número de evolucionistas está
sugerindo que há mutações neutras que eles consideram muito importantes no processo
evolucionário. Uma vez que estas mutações são neutras, não estão sujeitas à influência da seleção
natural. (4) Como é que a complexidade evolui? Alguns estudos feitos com computador têm
atacado o problema, mas os biólogos criticam essas tentativas como muito simplistas. Os
sistemas biológicos são muito complexos, e pouco sabemos de muitos deles.
Nas duas últimas décadas, um número significativo de cientistas que não crêem no relato bíblico
da Criação, tem escrito livros criticando a teoria evolucionista, ou grandes aspectos da mesma. A
Tabela 2 enumera alguns deles. Em geral, estes cientistas crêem em alguma espécie de evolução,
mas admitem problemas sérios. O modelo de Darwin tem sido bastante criticado. Entrementes, a
procura de um mecanismo evolutivo continua.
Os cientistas freqüentemente parecem apoiar a evolução. Enquanto em termos gerais concordam
que a evolução é um fato, há muito menos consenso quando são considerados detalhes. Algumas
das batalhas mais acirradas na biologia evolucionista seguiram-se à síntese moderna. O bem
conhecido escritor Tom Bethel enfatiza que «especialmente em anos recentes, os cientistas têm
estado a lutar entre si sobre Darwin e suas idéias.»8 Essas disputas são raramente ouvidas, e
menos ainda compreendidas pelo público em geral. Há um grande contraste entre as batalhas
intelectuais internas da comunidade acadêmica, como se encontra na literatura profissional, e o
estilo simples e didático de compêndios e artigos de jornais. Alguma simplificação nos
compêndios pode ser útil para facilitar o aprendizado, mas os estudantes deveriam ficar mais
conscientes das opiniões diversas no debate evolucionista.
Pode-se apenas contemplar com um grau de respeito os esforços persistentes dos evolucionistas
para achar um mecanismo plausível para sua teoria. Sua perseverança é louvável. Uma teoria
após outra tem sido proposta ao longo de um período de dois séculos. O fracasso geral levanta
uma séria questão: É o pensamento evolucionista mais uma opinião do que dados científicos
sólidos? Depois de tão longa e fútil procura de um mecanismo evolutivo, parece que os cientistas
evolucionistas deveriam considerar seriamente a criação feita por Deus, descrita na Bíblia. Lá,
Deus, como o planejador de tudo, cria várias formas de vida, inclusive seus sistemas complexos
com partes interdependentes.
Textos sobre Criacionismo
Conclusão
64 |
Tabela
A procura de um mecanismo evolutivo
Designação
Proponentes
principais
1
Características
Lamarquismo
1809-1859
Lamarck
O uso causa o desenvolvimento de
novas características que podem ser
herdadas.
Darvinismo
1859-1894
Darwin, Wallace
Mudanças diminutas são causadas
pela seleção natural levando à
sobrevivência do mais apto.
Mutações
1894-1922
De Vries, Morgan
Ênfase sobre maiores mudanças
(mutações). Seleção natural não tão
importante.
Síntese
Moderna Chetverikov,
Dobzhanski, Atitude unificada; mudança em
(neo-darvinismo)
Fisher, Haldane, Huxley, populações é importante. Mutações
1922-1968
Mayr, Simpson, Wright
atuadas pela seleção natural.
Período
Diversidade
1968-presente
de Eldredge, Gould, Grassé, Multiplicidade de idéias conflitantes.
Henning, Kauffman, Kimura, Insatisfação com a Síntese Moderna.
Lewontin, Patterson, Platnick Procura
de
uma
causa
a
complexidade.
Textos sobre Criacionismo
Tabela
2
Livros escritos por cientistas que não crêem na Criação, mas criticam
vários aspectos da Evolução.
 Behe, Michael. Darwin’s Black Box: The Biochemical Challenge to Evolution. New York:
Free Press, 1996.
 Crick, Francis. Life Itself: Its Origin and Nature. New York: Simon and Schuster, 1981.
 Denton, Michael. Evolution: A Theory in Crisis. London: Burnett Books, 1985.
 Goodwin, Brian. How the Leopard Changed Its Spots: The Evolution of Complexity. New
York: Charles Scribner‘s Sons, 1994.
 Hitching, Francis. The Neck of the Giraffe: Where Darwin Went Wrong. New York:
Ticknor and Fields, 1982.
 Hoe, Mae-Wan e Peter Saunders. Beyond Neo-Darwinism: An Introduction to the New
Evolutionary Paradigm. London: Academic Press, 1984.
 Søren Løvtrup. Darwinism: The Refutation of a Myth. London. New York: Croom Helm,
1987.
 Ridley, Mark. The Problems of Evolution. New York: Oxford University Press, 1985.
 Shapiro, Robert. Origins: A Skeptic’s Guide to the Creation of Life on Earth. New York:
Summit Books, 1986.
 Taylor, Gordon Rattary. The Great Evolution Mystery. New York: Harper and Row, 1983.
Ariel A. Roth (Ph.D., Universidade de Michigan), que atuou como diretor do Geoscience
Research Institute e editor de Origins, continua ocupado em pesquisa e publicação. Seu
endereço: Geoscience Research Institute; Loma Linda University; Loma Linda, Califórnia
92350; E.U.A.
| 65
Notas e referências
Textos sobre Criacionismo
1. Para uma discussão das várias questões abordadas neste artigo, tópicos relacionados e muitas
referências na literatura, ver Ariel A. Roth, Origins: Linking Science and Scripture (Hagerstown,
Maryland: Review and Herald Publ. Assn., 1998), págs. 80-115, 130-144. O livro logo estará
disponível em francês, espanhol, português e russo. Para localizar os vários editores, entre em
contato com o autor.
2. M. J. Behe, Darwin’s Black Box (New York: Free Press, 1996).
3. C. Singer, A History of Biology to About the Year 1900, 3ª. edição revista (New York: AbelardSchuman, 1959), pág. 303.
4. P. P. Grassé, Evolution of Living Organisms: Evidence for a New Theory of Transformation, B. M.
Carlson e R. Castro, tradutores (New York: Academic Press, 1977), pág. 88. Tradução de
L’Evolution du Vivant.
5. J. Huxley, Evolution: The Modern Synthesis (London: Harper & Brothers, 1943).
6. S. J. Gould, «Darwinism and the Expansion of Evolutionary Theory», Science 216 (1982), págs.
380-387.
7. S. Lovtrup, Darwinism: The Refutation of a Myth (London: Croom Helm, 1987), pág. 352.
8. T. Bethel, «Agnostic Evolutionists: the Taxonomic Case Against Darwin», Harper’s 270 (February
1985), págs. 49-52, 56-58, 60, 61.
66 |
Artigo 15
O Dilúvio: apenas uma catástrofe local?
William H. Shea
Um exame da evidência arqueológica e das tradições lingüísticas e literárias mostra que
a simples inundação de um vale da Mesopotâmia não pode explicar adequadamente o
dilúvio bíblico.
Criacionistas e evolucionistas discordam quanto ao Dilúvio. Os criacionistas argumentam que a
Bíblia é um documento divinamente inspirado e que seu registro do Dilúvio descreve um
acontecimento histórico real, um dilúvio universal. Os evolucionistas respondem à narrativa
bíblica de diversos modos. Alguns a rejeitam como não histórica e indigna de consideração séria.
Outros, contudo, dão uma explicação que não concorda com a opinião criacionista. Sugerem que
houve um acontecimento histórico que fornece a base para a história, mas que a história tem sido
muito exagerada em relação ao acontecimento original. Pensam que houve uma inundação local
grave no rio Tigre ou no Eufrates (ou em ambos), e que essa inundação foi ampliada de tal modo
que quando o relato chegou ao escritor ou escritores bíblicos, foi considerado um dilúvio
universal.
Textos sobre Criacionismo
A teoria de uma inundação local
Esta teoria começou com um arqueólogo. Sir Leonard Woolley estava escavando em Ur, no sul
do Iraque, no final da década de 1920, quando numa trincheira particularmente profunda seus
operários chegaram a um depósito estéril de argila sem mais nenhum traço de civilização. Fez
com que os operários continuassem a cavar através desse sedimento. Mais no fundo chegaram a
uma nova camada de ocupação. De pé na trincheira com um dos operários e sua esposa, ele
perguntou: ―Vocês sabem o que é isso, não sabem?‖ O operário olhou surpreso, mas a esposa
prontamente respondeu: ―É o dilúvio de Noé!‖ E assim nasceu a teoria de uma inundação local
na Mesopotâmia como a explicação do dilúvio bíblico.
Depois da Segunda Guerra Mundial, Sir Max Mallowan, cavando em Nimrud (Calah), propôs
uma revisão da teoria de Woolley. Ele queria atribuir o dilúvio bíblico a um nível diferente de
depósito aluvial em outros lugares na Mesopotâmia. Ao passo que o dilúvio de Woolley tivesse
sido fixado por volta de 3500 a.C. na maneira convencional de datação arqueológica, o professor
Mallowan propôs a data de 2900 a.C. à camada que deu origem às histórias na Mesopotâmia, e
depois na Bíblia, de um dilúvio.
Nosso propósito aqui não é avaliar ou endossar essas datas arqueológicas, mas usá-las como base
para comparação. A teoria de uma
inundação local levanta muitos problemas,
os quais podem ser examinados de três
perspectivas
diferentes:
arqueologia,
lingüística e tradições literárias. Tal exame
vai determinar se a história bíblica do
dilúvio remonta à história da inundação
local de um rio na Mesopotâmia, ou à Bíblia
como o registro histórico de um dilúvio
universal.
O teste da arqueologia
Tratando-se da arqueologia, há dificuldade
enorme em tentar achar o estrato correto em
várias cidades para fazer a ligação com o
dilúvio bíblico. A razão é que há diferentes
níveis da inundação em diferentes cidades
da Mesopotâmia, e outras cidades sem
nenhum sinal de níveis de inundação. Assim
o quadro das inundações locais na
Mesopotâmia é como uma colcha-deretalhos na qual muitos dos retalhos diferem
uns dos outros.
Considere os depósitos do período que
Woolley preferiu como fornecendo uma
explicação para o Dilúvio. Eles foram encontrados em apenas dois lugares: Ur e Nínive. As
diferenças entre esses dois locais deviam ser notadas. Nínive fica sobre o Tigre, no norte do
Iraque. Ur está localizada num canal que sai do Eufrates, no sul do Iraque. Assim, essas duas
cidades estão em extremos opostos do país e ficam sobre rios diferentes. Nenhum dos outros
lugares intermediários que foram escavados produziu o mesmo nível de ―inundação‖. O trabalho
de Woolley mostra que a inundação nem cobriu toda a cidade de Ur. Os habitantes locais podem
ter considerado a inundação como algo sério, mas nem de longe foi na escala que podia ter sido
ampliada em proporções universais.
Bem, que tal o nível da inundação fixada em 2900 a.C.? Aqui pelo menos temos que ver com
quatro cidades: Kish, Shuruppak, Uruk (a Ereque bíblica) e Lagash. Kish, dessas quatro cidades,
é a que fica mais ao norte, perto de Babilônia. Shuruppak estava localizada num canal, no centrosul da Mesopotâmia. É famosa na tradição literária como a cidade da qual Atra-hasis, o herói do
dilúvio, saiu. Uruk está situada no mesmo canal que Shuruppak, mas bem mais para o sul.
Lagash está situada num canal mais para o leste, no sul da Mesopotâmia. A camada de solo
estéril de Lagash, contudo, talvez não tenha vindo da inundação de um rio local ou de um canal,
mas sim da fundação de um dos templos de Lagash, de acordo com André Parrot, que escavou
Telloh em 1930 e 1931.
As escavações em Kish levaram a quatro níveis diferentes de argila, e não um. Estendiam-se
sobre um período de quatro séculos, segundo os escavadores. O mais antigo foi fixado por volta
de 3300 a.C., o último, em 2900 a.C. O estrato superior tinha cerca de 30 cm de espessura. A
questão então é: qual desses quatro níveis locais de inundação devia ser escolhido como a base
para construir uma lenda de dilúvio para o texto bíblico? Nenhum deles parece ser tão
importante, e a multiplicidade de camadas diminui o entusiasmo em identificar qualquer deles
com a história bíblica.
Os outros dois lugares poderiam parecer candidatos um pouco mais legítimos. Shuruppak, a
moderna Tell Fara, foi escavada por Eric Schmidt. Em suas escavações de 1930 e 1931, Schmidt
achou um depósito aluvial da espessura de 60 cm, que datava do começo do terceiro milênio a.C.
Uruk estava localizada no mesmo canal, mas a uma boa distância mais para o sul. Julius Jordan
em suas escavações de 1929 achou aí um estrato estéril de um metro e meio.
Assim, dos quatro lugares envolvidos nesse período de tempo, um tinha níveis múltiplos de
sedimento de inundação local; um não tinha sedimento algum de inundação; e dois tinham dois
níveis de sedimento. Isso se compara com os dois lugares do período anterior, que também
tinham sedimentos. Assim, umas compençam as outras, as inundações anteriores e posteriores.
As inundações continuam até os tempos modernos. Houve uma grande inundação na região
central do Iraque, em 1948.
É interessante observar que a maior parte desses lugares foi escavada mais ou menos ao mesmo
tempo, entre 1929 e 1932. Assim, a história local do dilúvio parece ser uma idéia em voga por
volta de 1930, motivada pela sugestão de Woolley.
Quando o caso é considerado como um todo, contudo, há muito pouca prova arqueológica para
tal teoria. Os sedimentos de inundações junto aos rios eram irregulares, ora afetando uma cidade,
e não outra, nas proximidades. Dos seis lugares estudados deste ponto de vista, somente um deles
era situado sobre um grande rio: Nínive, sobre o Tigre. O resto era situado sobre canais que
saíam dos rios, e não sobre os rios mesmos. Assim, devia-se provavelmente chamar essa teoria, a
teoria do Dilúvio oriunda de canais na Mesopotâmia.
O teste da lingüística
O povo que vivia nessa área durante essas inundações fluviais, estava bem familiarizado com
elas e as descreviam de vários modos. Tinham, contudo, um outro termo para o Grande Dilúvio.
Esse termo era abubu, em acádio. Este termo foi usado para o Grande Dilúvio através do qual o
herói do Dilúvio salvou sua família por meio da arca. O termo nunca foi usado para inundações
locais. Foi empregado de um outro modo, porém, para descrever o ataque das hordas assírias sob
certos reis. Nestes casos, o exército assírio esmagava seus inimigos como o abubu. O paralelo é
bem mais válido quando comparado com o Grande Dilúvio da Mesopotâmia do que com uma
inundação de um rio local. É assim que os reis assírios queriam dizer quão fortes eles eram.
O hebraico bíblico faz algo semelhante. Tem um termo especial para o dilúvio de Noé, e essa
palavra é mabbul. O termo é usado em apenas dois lugares, em Gênesis 6-9 e Salmo 29. O Salmo
29 diz que ―O Senhor Se assentou sobre o dilúvio‖ (v. 10). Isto quer dizer o dilúvio de Noé, não
apenas qualquer inundação de um rio local. Este é um salmo que descreve a tempestade do poder
Textos sobre Criacionismo
| 67
68 |
divino. Baal não é o deus da tempestade. Jeová é, e Ele controla os elementos da Natureza
segundo Seu propósito. Isto era verdade mesmo durante o maior cataclisma que este mundo
jamais vira no passado, o dilúvio de Noé. Do mesmo modo que os reis da Assíria comparavam o
poderio de seu exército com a maior potência jamais vista na Natureza, assim Deus compara Seu
poder sobre a Natureza com a maior demonstração de Seu poder jamais vista na Terra.
Pode haver uma relação entre os dois termos. Não é certo se o da língua semítica oriental
acrescentou as consoantes quando foi adotado pelo semítico ocidental, ou vice-versa, se o termo
caminhou na direção oposta. Isso dá o termo composto de (m)abubu(l). A etimologia do termo é
obscura em ambas as línguas, mas aquilo a que se aplica é eminentemente claro: Era empregado
somente para o Grande Dilúvio nas duas línguas, e não era usado para nenhuma inundação no
vale de um rio local.
Textos sobre Criacionismo
O teste de tradições literárias
As histórias do Dilúvio têm dois elementos principais. Um trata da extensão do Dilúvio em
termos de descrição; o outro trata dos resultados. Em ambos os casos, nas duas culturas e em
ambas as línguas, a diferença entre o Grande Dilúvio e as inundações locais era bem
reconhecida. O primeiro aspecto disso é a questão da terminologia inclusiva, como se vê na
história do dilúvio bíblico. A questão aqui é: Quão inclusiva era aquela língua? Gerhard Hasel
tratou deste assunto em seu artigo ―The Biblical View of the Extent of the Flood‖ (ver
―Bibliografia‖). Como Hasel assinala, a frase ―a face de toda a terra‖ é usada 46 vezes em
Gênesis 6-9. A frase ―toda carne‖ é usada 13 vezes. A frase ―toda criatura vivente‖ é usada três
vezes. E Gênesis 7:19 reza ―debaixo do céu‖. Estas frases referem-se à extensão do Dilúvio. É
verdade que no hebraico o termo todo nem sempre significa 100 por cento, mas aqui em Gênesis
6-9, onde é apoiado pela multiplicidade de tais expressões, certamente devia significar isto.
A versão do Dilúvio que se acha no poema de Gilgamés diz o mesmo: ―toda a humanidade virou
barro‖ (XI:133). Utnapishtim, o herói do dilúvio, abriu a janela de sua arca e contemplou a terra
seca. É também interessante notar que não foi a subida dos rios por causa da fusão da neve na
Anatólia que causou o dilúvio. Segundo Utnapishtim, foi a tempestade que causou o dilúvio; uma
tempestade vinda das nuvens, acompanhada de relâmpagos no céu. Quando prestes a testar as
possibilidades de abandonar a arca, ele também soltou aves, como Noé. Os primeiros dois
| 69
pássaros, uma pomba e uma andorinha, voltaram à arca porque ―nenhum lugar de pouso era
visível‖ (XI:148, 151). Não há dúvida aqui sobre a extensão vasta do dilúvio.
A parte sobre a tempestade que provocou o dilúvio falta no tablete do Gênesis sumério de Eridu
e do épico de Atra-hasis. Mas as partes que sobreviveram nos contam da seqüela no panteão.
Uma disputa extraordinária surgiu entre os deuses. A maior parte deles estava arrependida de ter
trazido o dilúvio e destruído a humanidade. Enlil, porém, o primeiro ministro entre os deuses e o
maior culpado de causar o dilúvio, teve a reação oposta. Ele descobriu que algumas pessoas
tinham escapado do dilúvio e sobrevivido. Ficou furioso. O propósito do dilúvio era acabar com
toda a humanidade, e o fato de que alguns escaparam era absolutamente contrário a seu desígnio.
Daí seu furor. Ele tinha sido enganado por Enki (Ea), o deus da sabedoria, que dissera ao herói
do dilúvio que construísse um barco e recolhesse a bordo sua família e os animais para escapar
ao dilúvio.
Parte do diálogo pode ser recuperada do épico de Atra-hasis. A deusa que tinha dado forma à
humanidade lamentava a decisão de trazer o dilúvio: ―Na assembléia dos deuses, como comandei
eu, junto com eles, destruição total?‖ Ela lamenta que Anu, o deus principal, concordou com essa
decisão: ―Aquele que não considerou mas causou o dilúvio e consignou os povos à destruição?‖
Uma vez mais pergunta aonde foram os deuses: ―Aqueles que não consideraram, mas causaram
um dilúvio e consignaram os povos à destruição? Vós decidistes sobre destruição total‖ (Atrahasis, págs. 95, 97, 99). A ira de Enlil é revelada quando ele indaga: ―Onde escapou a vida?
Como sobreviveu o homem à destruição?‖ (Idem, pág. 101). Enki tem de confessar que foi ele o
―responsável por salvar vidas‖. A mesma idéia é expressa pela informação que Enki deu a
Ziusudra, o herói do dilúvio na versão suméria. Ao adverti-lo para se preparar para o dilúvio
iminente ele disse: ―A decisão de que a humanidade devesse ser destruída foi feita; um veredito,
uma ordem pela assembléia [divina], não pode ser revogada‖ (Journal of Biblical Literature 100
[1981]: 523).
De tudo isto se infere que era intenção de Enlil destruir toda a humanidade com o dilúvio. Os
deuses na assembléia votaram a favor, mas se arrependeram depois. Mas quando uma parte da
humanidade escapou, o intento de Enlil foi frustrado e ele irou-se porque tinha resolvido destruir
todo ser humano, e foi somente porque Enki o enganou que algumas pessoas escaparam.
A narrativa bíblica do Dilúvio se aproxima desta, mas faz uma distinção moral que não consta na
versão mesopotâmica. Deus estava aborrecido com a impiedade da humanidade, mas decidiu
salvar os poucos justos por meio da arca de Noé (Gênesis 6:4-8). Não se poderia fazer isto, nem
na escala bíblica, nem na de Babilônia, somente com uma inundação local. Requer-se um dilúvio
universal para se destruir a humanidade.
Como poderia Marte ter um dilúvio? Contudo, como se poderia explicar a presença de vales
ligados entre si, marcas gigantescas de erosão, paredes de crateras desgastadas e canais enormes?
Parece que uma inundação catastrófica ocorreu outrora no ―planeta vermelho‖, com rios
gigantescos de mais de 100 km de largura, talvez com 500 metros de profundidade, com água
correndo com a velocidade de até 200 km por hora.1 Marte poderia ter um oceano que continha
mais água que o Caribe e o Mediterrâneo juntos. Calculou-se que as inundações poderiam ter
enchido o oceano de Marte em poucas semanas.
De onde veio a água e onde está agora? A água parece ter jorrado com força de grandes fraturas
na superfície de Marte, como as ―fontes do abismo‖. Por que jorraram subitamente e para onde
foram, são perguntas sem resposta. Mas a evidência de inundação lá está. Pode-se ter uma idéia
do fenômeno visitando o Channeled Scabland do leste do Estado de Washington, que também foi
formado por uma inundação catastrófica sobre um terreno vulcânico.2 Talvez umas das sondas
enviadas a Marte revelará alguns dos mistérios das inundações marcianas.
1. V. R. Baker, ―The Spokane Flood Controversy and the Martian Outflow Channels,‖ Science 202
(1979), págs. 1249-1256.
2. V. R. Baker e outros, ―Ancient Oceans, Ice Sheets and the Hydrological Cycle on Mars,‖ Nature 352
(1991),
págs.
589-594.
Textos sobre Criacionismo
Inundações em Marte?
70 |
Textos sobre Criacionismo
Evidência geológica do dilúvio de Gênesis
Um acontecimento como o dilúvio narrado em Gênesis haveria de deixar evidência significativa
nas camadas de rochas da terra. Quando essas camadas são examinadas, um número de
descobertas importantes sugere uma interpretação na base de um dilúvio. Durante um dilúvio
universal, havia-se de esperar atividade catastrófica tão rápida quanto extensa, e pode-se ver tal
evidência. Devemos ter em mente, porém, que, ao tratar de um acontecimento passado como o
Dilúvio, estamos lidando com interpretações e não com observações diretas.
Eis algumas das características das rochas que sugerem um dilúvio universal.
1. Sedimentos marinhos sobre os continentes. No mundo, cerca da metade dos sedimentos
sobre os continentes atuais veio do mar. Como é que tanto material marinho se depositou sobre
os continentes? Era de se esperar que ficasse no oceano. A distribuição extensa de oceanos sobre
os continentes é certamente uma situação que difere de hoje — e ela é coerente com a crença
num dilúvio universal.
2. Abundante atividade de água subterrânea nos continentes. Evidência disso é percebida em
grandes ―leques submarinhos‖ antigos e outros depósitos submarinhos, como as turvações
encontradas nos continentes. Turvações são aglomerações de rochas, limo, areia e partículas de
argila depositadas em camadas debaixo d‘água. Estudos de turvações demonstraram que enormes
depósitos de vários metros de espessura e cobrindo até 100 mil quilômetros quadrados podem ser
depositados no oceano em questão de horas depois de terremotos. Milhares de camadas de
sedimento sobre os continentes, outrora considerados como tendo sido depositados através de
longos períodos em água raza, agora são vistos como depósitos rápidos de turvações, como se
havia de esperar durante o dilúvio bíblico.
3. Distribuição ampla de sedimentos exóticos. Muitas camadas de sedimento exótico cobrem
áreas tão grandes que é difícil crer que foram depositados lentamente sob condições nãocatastróficas. Por exemplo: no oeste dos Estados Unidos, o conglomerado de Shinarump, que tem
uma espessura de 30 metros, cobre quase 250 mil quilômetros quadrados. A formação Morrison,
de 100 metros de espessura, que contém os restos de muitos dinossauros, se estende sobre mais
de 1 milhão de quilômetros quadrados, e o grupo Shinle, que encerra madeira petrificada, cobre
800 mil quilômetros quadrados.
4. Ausência de erosão nas lacunas das camadas sedimentares. Freqüentemente há lacunas na
seqüência de camadas sedimentares de terra. Podemos identificar essas lacunas comparando-as
com outras séries de camadas e fósseis encontrados alhures. Amiúde vastas camadas geológicas,
datadas de uma época pela escala geológica padrão, jazem sob uma outra considerada muito mais
recente. Os estratos que representam o longo tempo que se admitiu entre as camadas, faltam em
algumas localidades. Contudo, nessas lacunas as camadas inferiores mostram pouca evidência de
erosão que certamente teria ocorrido se tivessem existido por muitos milhões de anos. Com
efeito, segundo a erosão média corrente, as camadas em questão — e muito mais — teriam
sofrido erosão nesse período de tempo. A falta de erosão na maior parte destas lacunas sugere
depósito rápido, como havia de se esperar no caso de um dilúvio, quando havia pouco tempo
para a erosão.
5. Sistemas ecológicos incompletos. Em vários estratos que contêm fósseis, tais como o arenito
de Coconino, da região do Grand Canyon, e a formação Morrison, do oeste dos Estados Unidos,
achamos boa evidência de fósseis de animais, mas pouca ou nenhuma evidência de plantas. Os
animais requereriam plantas como alimento. Contudo, poucas plantas foram encontradas no
Morrison, que encerra restos de muitos dinossauros, e nenhuma planta foi encontrada no
Coconino, com suas centenas de rastros de animais. Como poderiam os animais sobreviver
durante milhões de anos sem nutrição adequada?
A seleção operada e a ação rápida que se havia de esperar das águas do Dilúvio parece ser uma
explicação mais plausível.
Ariel A. Roth, Ph.D., Instituto de Pesquisa Geológica
William H. Shea (M.D., Loma Linda Unuiversity; Ph.D., Universidade de Michigan) é diretorassociado do Instituto de Pesquisa Bíblica na Associação Geral. Seu endereço: 12501 Old
Columbia Pike, Silver Spring, MD 20904-6600; E.U.A.
| 71
Bibliografia
Textos sobre Criacionismo
Sobre inundações locais de rios da Mesopotâmia e a evidência arqueológica, ver LLoyd R. Bailey,
Noah: The Person and the Story in History and Tradition (Columbia: University of South Carolina,
1989), págs. 28-37.
Para a versão suméria, ver Thorkild Jacobsen, ―The Eridu Genesis,‖ Journal of Biblical Literature 100
(1981): 513-529.
Para a história do dilúvio na Babilônia antiga, ver W. G. Lambert e A. R. Millard, Atra-hasis: The
Babylonian Story of the Flood (Oxford: Clarendon, 1969).
Para a história do dilúvio neo-assíria, ver J. B. Pritchard, ed., Ancient Near Eastern Texts Relating to
the Old Testament (Princeton: Princeton University, 1955), págs. 93-96.
Para a linguagem bíblica quanto à extensão do Dilúvio, ver Gerhard F. Hasel, ―The Biblical View of the
Extent of the Flood,‖ Origins 2 (1975), págs. 77-95.
72 |
Artigo 16
Fósseis: Sua origem e significado
Textos sobre Criacionismo
Carlos F. Steger
Uma das evidências mais significativas que os evolucionistas oferecem em apoio à sua teoria das
origens é derivada da paleontologia.1 Os paleontólogos estudam fósseis de animais e plantas
remanescentes ou traços de organismos que existiram no passado, tais como um esqueleto, uma
pegada ou a impressão deixada por uma folha. Como ciência, a paleontologia está ligada tanto à
geologia, porque estuda os fósseis enterrados nas camadas e nas rochas da crosta terrestre, como
à biologia, visto que examina formas antigas de vida fossilizadas. 2 Embora os achados de fósseis
sejam freqüentemente usados para apoiar a teoria da evolução, mostraremos que eles clamam em
apoio ao relato bíblico de um dilúvio universal. Nossos exemplos são extraídos principalmente
de achados fósseis na América do Sul, uma área do mundo na qual realizei considerável volume
de pesquisas.
O estudo de fósseis é uma ciência antiga. Os egípcios e os gregos identificaram fósseis de
animais marinhos. Leonardo da Vinci definiu fósseis como restos de organismos do passado, e
Alessandro, seu compatriota, explicou sua presença nas montanhas como causada pela emersão
de sedimentos do leito marinho. 3 Durante o século 16, Gesner publicou um catálogo da primeira
coleção européia de fósseis. Descobertas de fósseis e explicações quanto a sua origem seguiramse uma após a outra, a partir do século 17.4
Etimologicamente, fóssil significa algo extraído da terra. O termo é também aplicado a toda
evidência de vida de um passado remoto. 5 Um organismo se transforma em fóssil somente sob
certas circunstâncias:
1. Um organismo precisa sofrer sepultamento repentino e assim ficar isolado escapando da
extinção por fatores mecânicos, químicos e biológicos em seu ambiente. Todos os
fósseis são assim uma evidência desse tipo de enterramento.6
2. O organismo precisa ser preservado por sais minerais, geralmente cálcio ou sílica,
3. dissolvidos no sedimento em que se acha sepultado.7
| 73
4. Essa mineralização é produzida pela pressão do sedimento, que faz com que os sais
penetrem no organismo.
Em certos casos, o organismo pode ser completamente preservado por congelamento, por
oclusão em resina (âmbar), ou por inumação num poço de asfalto ou numa turfeira.8
Originalmente, a paleontologia convergia sua atenção para os organismos fossilizados completos
ou parciais. Recentemente, contudo, o interesse das investigações dos paleontólogos ampliou-se
para incluir várias manifestações de organismos antigos, tais como seus moldes interiores ou
exteriores, tocas, coprólitos ou excrementos fósseis, pegadas e pistas, bem como outras
evidências não só da presença, mas também da ação direta, de um organismo. Exemplo disso são
as marcas petrificadas deixadas na lama por restos de plantas arrastadas pela água. 9 Alguns
autores incluem, nessa categoria, marcas de ondulações e traços de gotas de chuva.
Precaução necessária
É preciso que se destaque um risco persistente no estudo de fósseis. Nos casos em que somente
partes do organismo são achadas, ou o organismo foi alterado pelo processo de fossilização, os
cientistas acham necessário reconstruí-lo a fim de interpretar o fóssil, comparando-o a
organismos do presente ou a fósseis semelhantes. Tal tarefa está sujeita às pressuposições e à
imaginação de quem faz a reconstrução e portanto não pode ser totalmente objetiva ou digna de
confiança.10
O mesmo se aplica à classificação dos fósseis. Muitos autores reconhecem que seus sistemas de
classificação, além de artificiais, pressupõem a adoção de uma cosmovisão pessoal. 11 Por causa
desse elemento subjetivo na interpretação ou reconstrução e as incompletas informações
disponíveis, podemos esperar erros nas conclusões dos pesquisadores. Além disso, têm havido
casos nos quais o investigador capitulou diante de seu ―paradigma‖, falsificando os fatos,
especialmente no campo da paleoantropologia (o estudo de fósseis humanos).12
Estratigrafia e fósseis
Durante o século 18, W. Smith propôs a caracterização das formações geológicas pelos fósseis
nelas encontrados. Esse princípio é aplicado na paleontologia e na geologia. 13 Muito embora uma
sucessão ininterrupta de fósseis e rochas não seja encontrada em parte alguma do globo, os
cientistas criaram uma coluna geológica ideal correlacionando fósseis e sedimentos de diferentes
lugares, mormente da Europa.14 Para caracterizar cada período na coluna geológica, foram
usados ―fósseis-padrão‖ — fósseis típicos achados naquele sedimento. Uma característica
notável da coluna geológica é o surgimento e desaparecimento súbitos de alguns desses fósseis
típicos, sem evidência de seus ancestrais diretos ou de seus descendentes.15
A coluna estratigráfica pode ser interpretada com base em duas teorias ou modelos: uniformismo
(ou atualismo) e catastrofismo (ou diluvialismo), para as quais voltaremos agora a nossa atenção.
Diversos filósofos gregos sustentavam a teoria de que os fenômenos naturais correntes ajudavam
a explicar acontecimentos do passado. Em 1788, J. Hutton adotou essa idéia ao desenvolver sua
teoria da história da Terra, afirmando jamais ter observado ―qualquer vestígio de um começo,
nem qualquer previsão de um fim‖. 16 Essa teoria, aplicada à geologia e à paleontologia, é
conhecida como uniformismo ou atualismo. Ela propõe que todos os fenômenos podem ser
explicados como resultado de forças que têm operado uniformemente desde a origem da vida até
o tempo presente. Avaliemos esse modelo à luz da evidência paleontológica.
Textos sobre Criacionismo
O uniformismo como modelo
74 |
Textos sobre Criacionismo
Os cientistas que aderem ao uniformismognoram
a presença e representantes da maioria dos filos no período cambriano — o primeiro período da
era paleozóica — e chamam seu aparecimento súbito ―a explosão de vida.‖ 17 É por isso que a
taxionomia atual, que facilita a classificação dos fósseis baseada em evidências de pequenas
mudanças na natureza, é aplicada pelos paleontólogos. Alguns autores propõem as séries filéticas
(história ancestral) de um animal como o cavalo, por exemplo. Mas é difícil de baseá-la no
registro fóssil. Sempre há ―elos perdidos‖, segundo S. J. Gould. 18
Gerald Kerkut chama a atenção para o fato de que a seimouria, um suposto elo entre anfíbios e
répteis, foi infelizmente descoberto... 20 milhões de anos depois de seu aparecimento. 19 Segundo
certos paleontólogos, as lacunas são notórias.20 Assim o arqueoptérix, antes considerado um elo,
é agora reconhecido como um pássaro.21
Uma vez que a paleontologia não provê evidência da evolução gradual dos organismos proposta
por Darwin, alguns paleontólogos têm adotado a teoria engenhosa de S. J. Gould chamada de ―a
evolução aos saltos‖ ou ―equilíbrio pontuado‖, cujos postulados propõem que a evolução ocorreu
em inexplicáveis mas progressivos ―saltos‖. Outros ainda tentam demonstrar o efeito progressivo
de pequenas variações acumuladas.22
A interpretação padronizada do registro fóssil confronta quatro desafios:
1. A constância de algumas formas de vida através das eras geológicas, chamadas
homeóstases. Há plantas e animais que não mudaram desde o cambriano ou períodos
anteriores, como o gambá, por exemplo, que permaneceu sem variação desde o cretáceo
até hoje. Entre as plantas estão as cicadáceas (semelhantes às palmas), que têm
permanecido invariáveis desde o carbonífero.23
2. A diminuição em tamanho ou a perda de complexidade em diversos organismos, o que
revela involução ou regressão evolucionária em vez de aumento de tamanho e
complexidade. Nalguns casos, quando uma parte atrofiada permanece, é designada
―órgão ou membro vestigial‖. Esse é o caso do cavalo, como evidenciado pelos restos de
seus ancestrais.24 Podemos também mencionar o pássaro Argentavis magnificens, de La
Pampa, Argentina, e o pingüim na Antártica, como exemplos de redução de tamanho
animal, em relação a seus ancestrais pré-históricos. O megatério (preguiça gigante), o
gliptodonte (tatu gigante), e o Carcarodon megalodon (tubarão gigante), o terror dos
mares terciários, são outros exemplos de redução em tamanho. 25 Os registros fósseis de
muitos invertebrados revelam uma ―diminuição evolucionária em diversidade‖, a qual
―só pode ser justificada por um declínio evolucionário‖. Esse é o caso de cefalópodes,
crinóides e braquiópodes.26
3. Plantas ou animais que se pensava estarem extintos há milhões de anos foram descobertos
vivos ainda hoje. Alguns autores os designam como ―fósseis vivos‖, por exemplo, o
peixe celacanto e a árvore ginkgo biloba.27
4. Finalmente, há fósseis que contradizem a teoria comumente aceita. Em vez de ancestrais
de vertebrados com esqueletos cartilaginosos, apresentam o oposto, como no caso dos
ostracodermas.28
| 75
O conceito de uma catástrofe universal, como o dilúvio descrito na Bíblia, está presente em
muitas tradições de cada continente. 29 Serão essas tradições mera coincidência? Ou apontam para
um cataclismo real, vividamente lembrado através de muitas gerações? Alguns autores, como
Derek Ager, afirmam que os sedimentos da Terra foram depositados na e pela água, através de
uma catástrofe. Esses autores sugerem ainda eventos catastróficos como a causa do aparecimento
e desaparecimento de organismos no registro dos fósseis, embora a maioria deles não aceite a
idéia de uma catástrofe global.30
No fim do século 16, T. Burnet publicou um livro sobre a origem do mundo e sua destruição por
um dilúvio, merecendo a apreciação de Isaque Newton. Grandes naturalistas do século 19, tais
como Cuvier e D‘Orgigny, também defenderam a teoria do dilúvio. Tentando ajustar o registro
bíblico ao conhecimento científico de seu tempo, eles apresentaram interpretações que
desacreditaram a Bíblia no mundo científico. 31
Muito das evidências do registro de fósseis, os quais só são possíveis se houver um enterramento
rápido, pode ser explicado pela ―teoria de zoneamento ecológico‖ de H. W. Clark. Essa teoria
supõe o sepultamento dos organismos em seus habitats respectivos enquanto as águas varriam a
Terra, produzindo assim a sucessão de fósseis.32
A geologia convencional afirma que como resultado do movimento bascular dos continentes, que
os ergueu e baixou, os mares cobriram a maior parte da América do Sul. 33 Achamos que essas
invasões bem poderiam ter sido parte do acontecimento catastrófico conhecido como o dilúvio
bíblico. Isso explicaria a presença de amonites (invertebrados marinhos) em altitudes de milhares
de metros no meio da cordilheira dos Andes, subindo através de Cajón del Malpo, próximo a
Santiago do Chile, ou do outro lado
dos Andes, em Neuquén, Argentina.
Muitos fósseis fornecem evidência
de que não viveram no lugar onde
foram descobertos.34 A orientação
dos troncos de árvores e a ausência
de raízes em florestas petrificadas da
Patagônia, no sul da Argentina,
revelam que um transporte precedeu
o sepultamento. O agente mais
provável dessa transportação foi a
água, conforme demonstrado pelo
estudo de Harold Coffin acerca da
catástrofe do Monte St. Helens, nos
Estados Unidos.35
O mesmo pode ser aplicado à
ecologia de animais e plantas dentro
do mesmo período geológico.
Fósseis de animais e de plantas que deviam ter servido como seu alimento, freqüentemente não
aparecem juntos como era de se esperar. Isso pode ser visto não somente na América do Norte,
mas também na América do Sul, como no caso dos dinossauros na Patagônia.
A melhor explicação para os grandes depósitos de carvão e de petróleo é os acontecimentos
catastróficos que produziram o acúmulo e posterior enterro de imensas quantidades de plantas e
animais.36
Em La Portada, a 15 quilômetros ao norte de Antofagasta, Chile, há um enorme depósito de
fósseis de conchas marinhas. Trata-se de ―banco de conchas‖, com uma espessura média de 50m
e extensão de muitos quilômetros. Sua causa mais provável é a ação da água seguida de
enterramento rápido. Mas isso acontece em nossos dias? Alguns pesquisadores afirmam que
―conchas não podem acumular-se permanentemente no leito do mar‖, e acrescentam: ―A
pergunta freqüentemente levantada acerca de como tão pouco se acha preservado... devia ser
substituída por: Por que algo foi preservado, afinal?‖.37
A angustiosa posição no momento de sua morte violenta, revelada por muitos animais
fossilizados tais como os peixes da formação de Santana, no Brasil, oferece evidência inegável
Textos sobre Criacionismo
O catastrofismo como modelo
76 |
de catastrofismo. Outra evidência é a excelente preservação de pequenos peixes e insetos da
mesma formação no Estado do Ceará, Brasil, com todos os detalhes de sua delicada estrutura. 38
Fósseis tridimensionais de animais (que são muito raros) dão evidência de um sepultamento
ainda em vida, ou de um enterramento imediatamente após a morte. O estudo de alguns peixes da
formação de Santana revelou a presença de parasitas (copépodes) em suas barbatanas. A
investigação mostrou que a petrificação de alguns espécimens deve ter começado enquanto o
animal estava vivo.39 O mesmo fenômeno é visto em fósseis de trilobitas encontrados em Jujuy,
Argentina, e entre La Paz e Oruro, no Altiplano Boliviano. Em Quebrada de Humahuaca, em
Jujuy, e no monte Tunari, em Vinto, Cochabamba, Bolívia, a preservação de ―cruzianas‖ (traços
de trilobite) é ainda mais notável.
Outra evidência do súbito sepultamento de organismos vivos é a de ostras fechadas e petrificadas
achadas ao longo de pequenos rios, perto de Libertador San Martin, em Entre Rios, Argentina, e
em muitos lugares da Patagônia.40
Esqueletos delicados e articulados de mesossauros podem ser achados em rocha calcária, no
Estado de São Paulo, Brasil. Segundo a geologia uniformista, cada camada de sedimentos exigiu
um ano para ser depositada, mas o diâmetro de muitos desses pequenos ossos de dinossauros
excede a espessura de uma camada. Se o modelo uniformista for aceito, é imperioso também
admitir o fato de que os ossos frágeis do mesossauro foram expostos a agentes destrutivos por
um ano, sem serem desarticulados ou degradados antes que o sedimento seguinte fosse
depositado — um cenário irreal.
Kurtén salienta: ―Muitos esqueletos completos desses dinossauros [Hadrossauros] foram achados
na posição de nado e com as cabeças puxadas para trás, como se estivessem agonizando.‖ 41 Isso,
novamente, fornece apoio para o modelo catastrófico.
Conclusão
Que história os fósseis, incluindo os achados na América do Sul, nos contam? Eles falam de um
enterro catastrófico por água em muitas áreas do mundo, contradizendo assim o modelo
uniformista. Um número crescente de geólogos modernos concorda com essa opinião, embora
não admitam a teoria de um dilúvio universal. Nós, que nos apoiamos na história bíblica de um
dilúvio universal, achamos no registro de fósseis abundante evidência de que a superfície da
Terra experimentou as convulsões de uma destruição catastrófica.
Carlos F. Steger é diretor da filial do Geoscience Research Institute, com sede em Loma Linda,
Califórnia. Seu endereço: Instituto de Geociência, Universidad Adventista del Plata; 3103
Libertador San Martin, Entre Rios; Argentina.
Textos sobre Criacionismo
Notas e referências
1. Gerald A. Kerkut, Implications of Evolution (Oxford: Pergamon Press, 1973), pág. 134.
2. Horacio Camacho, Invertebrados fósiles (Buenos Aires: Eudeba, 1966), pág. 1.
3. André Cailleux, Historia de la Geología, segunda edição (Buenos Aires: Eudeba, 1972), págs. 14,
22 e 37.
4. Idem, pág. 12.
5. Camacho, pág. 12.
6. A. Brouwer, General Palaeontology (Chicago: The University of Chicago Press, 1968), pág. 15;
Camacho, pág. 28.
7. Björn Kurtén, Introducción a la Paleontología: El mundo de los dinosaurios (Madrid: Ediciones
Guadarrama, 1968), pág. 11; Paolo Arduini e Giorio Teruzzi, Guía de fósiles (Barcelona: Ediciones
Grijalbo, 1987), pág. 12.
8. Cyril Walker e David Ward, Fósiles (Barcelona: Ediciones Omega, 1993), pág. 12; Kurtén, pág. 13.
9. Kurtén, pág. 14; Arduini, pág. 10.
10. George Gaylord Simpson, El sentido de la evolución (Buenos Aires: Eudeba, 1978), págs. 48, 49;
Kurtén, pág. 12.
11. Derek V. Ager, The Nature of the Stratigraphical Record (Chichester, England: John Wiley & Sons,
1993), pág. 30; Walker e Ward, pág. 8; David M. Raup e Steven M. Stanley, Principios de
Paleontología (Barcelona: Editorial Ariel, 1978), págs. 124 e 143.
12. Eric Trinkaus e William W. Howells, Neandertales, em Investigación y Ciencia, n° 41, págs. 60-72;
edição castelhana da Scientific American (fevereiro de 1980), pág. 62; Kurtén, pág. 18.
13. Camacho, pág. 3; Kurtén, pág. 20.
14. Francis Hitching, The Neck of the Giraffe: Where Darwin Went Wrong (New York: Ticknor & Fields,
1982), pág. 16; Cristian S. Petersen e Armando F. Leanza, Elementos de geología aplicada
(Buenos Aires: Librería y Editorial Nigar, 1979), pág. 305.
15. Arduini, pág. 19; Petersen, págs. 303 e 304.
16. Stephen Jay Gould, La flecha del tiempo (Madrid: Alianza Editorial, 1992), págs. 82 e 139;
Cailleux, págs. 19 e 79.
| 77
17. Simon Conway Morris e H. B. Whittington, Los animales de Burgess Shale em Investigación y
Ciencía, n° 36 (setembro de 1979), págs. 88-99; Simpson, págs. 15, 16, 21 e 22; Raup, pág. 16.
18. Ver Simpson, págs. 40, 45-49; Raup, pág. 124; Camacho, pág. 58.
19. Kerkut, pág. 135.
20. Hitching, pág. 19.
21. Kurtén, pág. 140.
22. Michael Shermer, 25 Creationists Arguments and 25 Evolutionists Answers,‖ Skeptic, 2:2, págs 17; Hitching, pág. 17.
23. Simpson, págs. 113-115; Arduini, pág. 26.
24. Kurtén, págs. 71 e 72; Arduini, pág. 26.
25. Leonard Brand, ―Fósiles Gigantes del Mundo Antiguo‖, Ciencia de los Orígenes 33 (setembro a
dezembro de 1992), págs. 1-3; Kurtén, pág. 72.
26. Raup, pág. 2l; Simpson, pág. 24.
27. Kurtén, pág. 67.
28. Kerkut, pág. 136; Kurtén, pág. 60.
29. Cailleux, págs. 12 e 26.
30. Ager, págs. 27, 33, 60 e 65, ff.
31. J. Fuset-Tubiá, Manual de Zoología (México, D.F.: Edit. Nacional, 1949), pág. 198; Cailleux, pág.
75; Gould, pág. 147.
32. Ariel A. Roth, Origins: Linking Science and Scripture (Hagerstown, Maryland: Review and Herald
Publ. Assn., 1998), págs. 170-175.
33. Anselmo Windhausen, Geología Argentina, (Buenos Aires; S. A. Jacobo Peuser, 1931), parte 2,
págs. 417 e 546.
34. Kurtén, págs. 15 e 16; Camacho, pág. 28.
35. Harold Coffin, ―Mount St. Helens and Spirit Lake‖, Origins, 10:1 (1983) págs. 9-17); Ariel Roth,
―Ecosistemas incompletos‖, Ciencia de los Orígenes, setembro a dezembro de 1995, págs. 11-13.
36. Arduini, pág. 12; Kurtén, pág. 71.
37. Eric Powell, George Staff, David Davies e Russel Callender, ―Rates of Shell Dissolution versus Net
Sediment Accumulation: Can Shell Beds Form by Gradual Accumulation of Hardparts on the Sea
Floor?‖ Abstracts With Programs, 20:7 (1998); Reunião Anual, Geological Society of America,
1988.
38. Harold Coffin, ―La Asombrosa Formación Santana‖, Ciencia de los Orígenes, maio a agosto, 1991,
págs. 1, 2 e 8.
39. Idem, pág. 2.
40. Joaquín Frenguelli, Contribución al conocimiento de la geología de Entre Ríos (Buenos Aires:
Imprenta y Casa Editora Coni, 1920), pág. 43.
Textos sobre Criacionismo
41. Kurtén, pág. 115.
78 |
Artigo 17
A busca por inteligência extraterrestre
Textos sobre Criacionismo
Urias Echterhoff Takatohi
A busca por inteligência extraterrestre (SETI – Search for Extraterrestrial Intelligence) envolve
numerosos projetos. Todos eles objetivam encontrar evidências de inteligência extraterrestre
através de sinais de rádio vindos do espaço. O primeiro desses projetos foi levado a efeito em
1960 pelo astrônomo Frank Drake, atual diretor do SETI Institute. O principal projeto do
instituto recebeu o nome de Phoenix, com um orçamento anual de 4 a 5 milhões de dólares. O
projeto utiliza grandes radiotelescópios para captar sinais provenientes de estrelas semelhantes ao
Sol, que estejam a menos de 200 anos-luz de distância. Além do SETI Institute, outras
instituições de pesquisa trabalham em projetos similares; são elas: SERENDIP (Search for
Extraterrestrial Radio Emissions from Nearby Developed Intelligent Populations); SETI@Home
da Universidade da Califórnia, Berkeley; Southern SERENDIP, na Austrália; Harvard SETI
Group e outros.1
Por que os cientistas envidam todos os esforços nesse tipo de atividade? Uma rápida olhada na
história do pensamento humano pode ajudar-nos a entender a questão. Até o século XIX, a maior
parte do mundo cristão cria que o cosmos e tudo o que nele há eram resultado da criação divina.
Os cientistas davam pouca atenção a questões sobre a origem do universo e da vida.
Entretanto, a partir do século XVII, os cientistas descobriram processos regulares na Natureza,
que podiam ser explicados por meio de leis abrangentes, algumas vezes expressas na linguagem
precisa da matemática. Essas leis naturais e suas teorias permitiam fazer predições de fenômenos,
e promover o desenvolvimento de tecnologias que possibilitavam até o controle da própria
Natureza. Como resultado, em meados do século XIX, fortaleceu-se a idéia de que a figura de
um Deus Criador era desnecessária para explicar os fenômenos naturais. O cosmos se tornou a
realidade fundamental. Nessa cosmovisão denominada naturalismo ou materialismo, a busca por
uma explicação sobre a origem de tudo, sem menção de um Criador, constituía-se uma
necessidade lógica.
A procura pelas origens resultou na teoria da diversidade biológica e levou, em 1859, à
publicação do livro A Origem das Espécies, de Charles Darwin. Na mesma época, Pasteur
abordou experimentalmente a questão da origem da vida, demonstrando que as velhas idéias
sobre geração espontânea eram falhas. Porém, a cosmovisão naturalista requer que a vida tenha
surgido de combinações não dirigidas de matéria, seguindo apenas as leis da física e da química,
sem a intervenção de um agente criativo inteligente. Ernst Haeckel, um biólogo alemão, e
Thomas H. Huxley, partidário de Darwin, entendiam que o processo de origem da vida era
simples, pois não conheciam detalhes da estrutura das células vivas.
Apesar do otimismo inicial, nenhuma teoria adequada sobre a origem da vida foi desenvolvida
até agora, e os livros didáticos de biologia ainda citam as hipóteses do bioquímico russo Oparin
(c. 1930), e os experimentos de Stanley Miller, da Universidade de Chicago (1952), como
progressos nessa direção.
Apesar dessas experiências terem falhado na tentativa de explicar a origem natural da vida, as
suposições naturalistas ou materialistas defendem a idéia de que a vida surgiu sem a intervenção
de um Deus inteligente. Considerando a teoria em voga sobre a origem do Universo e da Terra, o
surgimento da vida no planeta ocorreu de forma bastante rápida. (Segundo essa teoria, a idade do
Universo é de 10 a 20 bilhões de anos. A crosta terrestre teria 4,5 bilhões de anos e a vida surgiu
há cerca de três bilhões de anos). Considerando a existência de um número estimativo de 400
bilhões de estrelas em nossa galáxia, e de cerca de 100 bilhões de galáxias no Universo, é
razoável supor que muitas dessas estrelas possam ter em seus sistemas planetas semelhantes à
Terra, nos quais a vida tenha se desenvolvido como ocorreu em nosso mundo, resultando em
civilizações tecnológicas capazes de transmitir mensagens de rádio. Esse arrazoado, com base
numa cosmovisão naturalista, é a motivação por trás dos projetos SETI.
A metodologia
Os diversos projetos SETI procuram sinais de rádio de banda estreita com freqüência definida,
como os sinais de nossas estações de rádio e TV. As fontes naturais de ondas de rádio vindas do
espaço geralmente produzem sinais de banda larga, enquanto que os transmissores de rádio e TV
apresentam freqüência específica. Fazendo uma analogia com as ondas sonoras, uma estação de
rádio ou TV emite uma nota simples como o som de uma flauta, enquanto que as fontes de rádio
| 79
naturais produzem um som semelhante ao de uma cachoeira. Espera-se que extraterrestres
inteligentes construam transmissores de rádios semelhantes aos nossos. Também se espera que
algum ser inteligente, que deseje transmitir ondas eletromagnéticas através do espaço, use uma
freqüência de cerca de 1420MHz2. Se um sinal com essas características for detectado, é
necessário verificar se ele não provém de fonte humana, como ocorre com os radares ou os
satélites de comunicação.
Se um sinal apropriado for detectado, o próximo passo será verificar se há nele alguma evidência
semelhante às ondas de radio ou TV. É possível introduzir informação numa onda
eletromagnética, mediante pequenas variações intencionais (modulações) em sua freqüência ou
amplitude. Os projetos atuais estão operando apenas na busca de um sinal adequado. A procura
por uma mensagem num sinal, caso seja encontrada, irá necessitar de nova instrumentação.
Outra questão diz respeito à possibilidade da compreensão da mensagem. Se os extraterrestres
são capazes de transmitir sinais de rádio, provavelmente compreendem os princípios básicos da
ciência e da matemática, e os utilizam na elaboração de uma linguagem comum.
Desde o início das pesquisas de Frank Drake, há 40 anos, nenhum sinal convincente foi
detectado.
Carl Sagan, entusiástico divulgador da ciência e professor de astronomia e ciência espacial da
Universidade de Cornell, escreveu um romance intitulado Contato3. A história descreve os
problemas que os cientistas enfrentam a fim de obter fundos para suas pesquisas, e sugere a
detecção de um sinal de rádio com os atributos exigíveis, proveniente de Vega, uma estrela da
constelação de Lira distante 26 anos-luz da Terra. O descobridor percebe que o sinal está
transmitindo uma longa seqüência de números primos. Como não se conhece nenhum fenômeno
natural gerador de sinais com estrutura tão complexa e específica como uma seqüência de
números primos, os cientistas desse relato ficcionista se convenceram de que a transmissão vinha
de uma fonte inteligente.
Mas como distinguir se um sinal provém de uma fonte natural ou é devido ao desígnio de um ser
inteligente? A melhor evidência de que algum efeito foi tencionado por uma inteligência é sua
complexidade especificada4. Para compreender o que é complexidade especificada, considere o
seguinte exemplo:
A seqüência com os dois primeiros caracteres romanos AB é especificada, mas não complexa.
Uma
seqüência
aleatória
com
40
caracteres
como:
GIVJFJMUUDWQCN
TQVTNVXYALZFHMBHULVCXRTPF é complexa, mas não especificada.
Entretanto, a seqüência BUSCA POR INTELIGÊNCIA EXTRATERRESTRE é complexa e
especificada.
Pode-se ver a diferença pela determinação da probabilidade de obter cada seqüência escolhendo
caracteres por casualidade. Como cada posição na seqüência tem 27opções (26 caracteres mais o
espaço em branco), pode ser obtido um total de 729 (27 x 27) seqüências com dois caracteres. A
seqüência especificada com dois caracteres é uma em 729 seqüências. Por outro lado há 27 40 (=
1,797x1057) seqüências diferentes com 40 caracteres (o número 1,797x1057 é equivalente a 1.797
seguido de 54 zeros). Esse número é tão grande que dificilmente poderíamos entender seu
significado. É 600 vezes maior do que a soma de todos prótons e nêutrons que constituem o
planeta Terra. Assim, uma seqüência específica composta de 40 caracteres alfabéticos é uma em
1,797x1057 seqüências. É praticamente impossível obter uma seqüência específica com esse
tamanho, pela escolha aleatória de caracteres. Sabemos por experiência que seqüências
complexas específicas são o resultado de um desígnio inteligente.
Em suma, a busca por inteligência extraterrestre procura ondas de rádio com características
semelhantes às produzidas por transmissores construídos pelos homens. Se um sinal assim for
detectado, o próximo passo será investigar se há complexidade especificada nele. Em outras
palavras, os cientistas estão procurando alguma transmissão de rádio extraterrestre que possa,
sem dúvida, ser reconhecida como produto de uma mente inteligente.
O sucesso não reconhecido
Um grande progresso foi verificado na ciência biológica na segunda metade do século XX.
Detalhes antes inimagináveis com respeito à estrutura e funcionamento da célula foram
descobertos em nível molecular. Uma dessas descobertas é a molécula do ADN: a chave para o
armazenamento e transferência do material genético.
Textos sobre Criacionismo
O sucesso na ficção
Textos sobre Criacionismo
80 |
As moléculas do ADN possuem duas cadeias complementares de quatro constituintes diferentes,
chamados de bases ou nucleotídeos, que aqui representamos por A, G, C e T. (Não faremos uso
de toda a terminologia biológica usual.) Uma cadeia de símbolos pode ser usada para transmitir
uma mensagem como num texto escrito. Alguém poderá perguntar se é possível ter uma
linguagem escrita com apenas quatro símbolos.
Na realidade, necessitamos apenas de dois símbolos para armazenar dados escritos. Toda
codificação nos computadores é feita com cadeias de dois símbolos: 1 e 0. O texto que você está
lendo foi originalmente composto com o uso de um computador e quase 100 diferentes símbolos
gráficos. Como se consegue isso? As cadeias de 1 e 0 são agrupadas de oito em oito. Como para
cada posição das oito há duas escolhas, 256 (2x2x2x2x2x2x2x2) símbolos diferentes podem ser
codificados com cadeias de dois símbolos, em grupos de oito, como no exemplo abaixo:
11001010 01010010 10001011
11101101 01000101 10110111
No ADN ocorre algo semelhante. Quatro símbolos diversos, organizados em grupos de três,
podem definir 64 (4x4x4) ―caracteres‖ diferentes.
Quantas bases há no ADN para codificar toda informação genética de um ser vivo? O número de
bases varia em cada espécie. Uma bactéria simples como a M. genitalium tem 580.000 bases em
seu ADN. A bactéria E. coli possui seqüências com 4.670.000 bases. A Drosophila, mosca-dasfrutas, tem cerca de 165.000.000 bases. Os seres humanos possuem seqüências de ADN num
total aproximado de três bilhões de bases.5 O número de seqüências diferentes que podem ser
criadas com 580.000 bases é gigantesco e difícil de ser entendido. Pode ser escrito como 4 580.000
= 6,2 x 10349.194. Para escrever esse número como uma seqüência de numerais arábicos são
necessários 349.195 dígitos. Levando-se em conta que um grupo de três bases representa um
caractere no alfabeto biológico, com seus 64 símbolos possíveis a informação genética da M.
genitalium é equivalente a um texto com 193.000 caracteres. A matéria que você está lendo tem
pouco mais de 11.000 letras. A informação genética de um ser humano, com seus três bilhões de
bases, seria capaz de formar um texto com um bilhão de caracteres. Isso equivale a cerca de
100.000 textos semelhantes a este. Mesmo considerando que apenas cerca de 5% dos três bilhões
de bases sejam responsáveis pela codificação das proteínas, a quantidade de informação é
estonteante.
O que está ―escrito‖ nesses ―textos‖ de informação genética dos seres vivos? Sabemos que ela
inclui todas instruções necessárias para o funcionamento de um ser vivo, embora ainda não
tenhamos compreendido plenamente seu complexo maquinário bioquímico.
De onde veio toda essa informação?
Considere o ensaio que você está lendo. Ele foi produzido por uma inteligência; nesse caso, um
ser humano. Ninguém pode dizer ou imaginar que algum dispositivo automático escolheu as
letras ao acaso para compô-lo, ou que haja um mecanismo natural que possa colocar as letras em
seus lugares corretos. O texto é suficientemente complexo e especifico para tornar irracional a
pressuposição de que ele apareceu por acaso, ou mediante causa natural não-dirigida.
Se isso ocorre num simples ensaio como este, quanto mais com a informação genética, muito
mais complexa e especifica do que este texto? Ela deve ser, portanto, atribuída apenas a uma
fonte inteligente. Se essa agência inteligente não pode ser encontrada na Terra, deve ser
extraterrestre. A biologia e a bioquímica, na segunda metade do século XX, em sua busca para
compreender as bases moleculares da vida, descobriu evidências claras da existência de
inteligência extraterrestre. Porém, o pensamento naturalista está tão arraigado em nossa cultura,
que esse feito não é comemorado na comunidade científica.
Mas não é necessário todo esse conhecimento para se chegar a essa conclusão. Há muito tempo,
antes do desenvolvimento da ciência moderna, Davi escreveu acerca do Deus Criador: ―Pois Tu
formaste o meu interior, Tu me teceste no seio de minha mãe. Graças Te dou, visto que por modo
assombrosamente maravilhoso me formaste; as Tuas obras são admiráveis, e a minha alma o
sabe muito bem‖ (Salmo 139:13, 14, RA).
Urias Echterhoff Takatohi (Doutor em Física pela Universidade de São Paulo) ensina ciências
no UNASP — Centro Universitário Adventista de São Paulo, Brasil. E-mail:
[email protected]
Notas e referências:
1.
Ver SETI Institute, na at http://www.setiinst. edu/Welcome.html; What is SETI? na
http://seti.uws.edu.au/main/what.htm;
SETI
FAQ,
na
http://www.space.com/
searchforlife/seti_faq.html; Harvard
| 81
F. Drake, Contemporary Radio Searches for Extraterrestrial Intelligence. Na http:// www.setiinst.edu/science/ contemporary_radio.html
3. C. Sagan, Contact: A novel (New York: Simon and Schuster, 1985); Mass Market Paperback,
1997).
4. A expressão ―complexidade especificada‖ foi introduzida por William A. Dembski em The Design
Inference (Cambridge University Press, 1998).
5.
Ver
Functional
and
Comparative
Genomics
Fact
Sheet,
na
http://
www.ornl.gov/hgmis/faq/compgen.html
Textos sobre Criacionismo
2.
82 |
Artigo 18
A mensagem
evolução
adventista
e
o
desafio
da
Marco T. Terreros
Podem os adventistas crer na evolução teísta e ainda proclamar a mensagem de
Apocalipse 14:6-12?
"No princípio criou Deus os céus e a terra" (Génesis 1:1).
A doutrina da Criação ocupa um lugar importante na mensagem e missão dos adventistas do
sétimo dia. A razão disto é dupla: Primeiro, os adventistas crêem numa criação por fiat, e
segundo, estão encarregados de proclamar a mensagem dos três anjos de Apocalipse 14.
A filosofia adventista sobre origens afirma que Deus em sete dias criou o mundo. Os adventistas
não têm espaço para evolução, naturalista ou teísta, em sua crença. Não só aceitam que Deus é o
Criador, mas também crêem que Ele assumiu a carne humana para Se tornar nosso Redentor,
como indicado em João: "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem
ele nada do que foi feito se fez...E o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (João 1:1-3, 14).
Assim em sua proclamação do evengelho os adventistas enfatizam tanto a Criação como a
redenção. Esta ênfase se destaca em sua lealdade ao evangelho eterno de Apocalipse 14. Lá
temos a descrição: "Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para
pregar aos que se assentam sobre a terra....e dizendo, em grande voz:....Adorai aquele que fez o
céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apocalipse 14:6, 7, itálico do autor).
Nesta mensagem para os últimos dias, o evangelho eterno convida à adoração do Criador. Neste
contexto é compreensível por que os adventistas não podem concordar com qualquer espécie de
explicação evolucionista quanto às origens.
Textos sobre Criacionismo
Como a evolução entende as origens
A evolução explica o começo da vida de um modo; Génesis de um modo diferente. A evolução
ensina que a vida originou-se e desenvolveu-se por si mesma durante um período de tempo
extremamente longo. Génesis ensina uma criação em seis dias.1 Tanto a origem fortuita ou o
desenvolvimento fortuito da vida, ou algo intermediário, está em oposição à mensagem dos três
anjos. Considere como os três ramos da evolução explicam a origem da vida.
Primeiro, a evolução naturalista (ou ateísta) precisa apenas de combinação de átomos,
movimento, tempo e o acaso a fim de trazer a realidade à existência, das formas de vida mais
simples às mais complexas, da partícula de vida mais elementar à vida humana.
Segundo, a evolução deísta vê Deus iniciar o processo produzindo a primeira matéria viva. Ele
programou o processo evolucionário fecundando a matéria com as leis seguidas por seu
desenvolvimento subsequente. Depois, Deus absteve-Se de envolvimento ativo, tomando-Se, por
assim dizer, "Criador emérito".2
Terceiro, a evolução teísta vai além da versão deísta, permitindo a contínua intervenção divina.
Isto e a pretensão de harmonizar o relato bíblico da Criação com a explicação científica fizeram
da evolução teísta o paradigma dominante entre os estudiosos evangélicos. Portanto, merece uma
consideração mais longa.
Evolução teísta
A evolução teísta assume que "todos os processos materiais são governados e dirigidos por Deus;
[e] os processos evolucionários não fazem exceção".3 Assim, a evolução não é um fim em si
mesma; é apenas o meio pelo qual Deus traz à existência tudo que há no universo. E o "modus
operandi" de Deus.4 É a "expressão constante da estratégia de Deus" para o desenvolvimento de
Sua criação.5 É o método de Deus agir no mundo6 através de uma criação contínua.
Na tentativa de harmonizar as explicações bíblicas e evolucionárias sobre as origens,
particularmente com os longos períodos de tempo que todos os ramos da evolução requerem,
diversas teorias de Criação têm sido propostas. Estas incluem a teoria da Reconstituição ou da
Lacuna,7 a teoria do Dia-Época ou Épocas Geológicas,8 a teoria Artística ou Literária9 e a teoria
das Genealogias Abreviadas.10
Evolução, sob quaisquer destas formas, contradiz o coração da mensagem dos três anjos: as boas
novas do evangelho. As novas são boas só porque aqueles a quem são enviadas estão numa
situação desesperada. Aos pecadores, oferece perdão; àqueles sob condenação por causa da
| 83
queda da humanidade em pecado, provê salvação. Mas no processo evolucionário não há queda,
não há pecado—apenas progresso contínuo. Quaisquer traços animalescos presentes em seres
humanos podem ser vencidos através de educação e aculturamento. Por conseguinte, não há
necessidade de um Salvador.
Mesmo a singularidade de Jesus pode desaparecer numa perspectiva evolucionista. O professor
da Notre Dame University, Ernan McMuIlin, escreve: "Quando Cristo assumiu a forma humana,
a DNA que O fez filho de Maria O pode ter ligado a uma herança mais antiga que se estende
muito além de Adão às baixadas de mares mais antigos do que a imaginação alcança." 11 Se esta é
a explicação da primeira vinda de Jesus, a Segunda Vinda não mais pode ser uma esperança
realista.
Contudo a Segunda Vinda com o julgamento é o enfoque de Apocalipse 14, que acrescenta uma
nova dimensão à exaltação feita no Antigo Testamento de Deus como Criador. Assim a Criação e
o julgamento constituem o motivo escatológico da mensagem dos três anjos. Se o mundo não
glorificar a Deus pela primeira razão, terá de temê-Lo pela segunda. O parâmetro pode ser
percebido através das três proclamações. O primeiro anjo exalta o Criador; o segundo chama
atenção a um falso sistema que nega a Deus; o terceiro fala do julgamento por vir. Os remidos
adoram a Deus por Seu amor expressado através da Criação. Os réprobos tremem diante dEle por
causa de Seu julgamento justo.
Criação e julgamento
Julgamento não é apenas ensinado no Apocalipse, mas, juntamente com o conceito da Criação,
permeia a Bíblia. A poluição da criação original resultou no primeiro juízo divino universal—o
Dilúvio. Nos últimos dias, os juizos escatológicos de Deus são enviados para destruir "os que
destroem a terra" (Apocalipse 11:18), com o propósito último de inverter o que aconteceu depois
da Queda e criar um novo céu e uma nova terra.
Pedro fala deste tópico Criação-julgamento em palavras incisivas. Aqueles que zombam da
atividade divina na história humana "deliberadamente esquecem que, de longo tempo, houve
céus bem como a terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pelas quais
veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os céus que agora existem, e a
terra, pela mesma palavra têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o dia do
juízo e destruição dos homens ímpios" (II Pedro 3:5-7).
O que Pedro tem em mente é simples. A história sempre teve seus cépticos. Outrora, houve
aqueles que "deliberadamente" olvidaram que Deus criou o mundo e que Ele executou seus
juízos sobre a impiedade através de um dilúvio universal. Semelhantemente, no final da história,
cepticismo quanto a Deus como Criador e juiz será geral.
A causa principal deste cepticismo no mundo de hoje é a teoria da evolução. Com efeito é parte
do "vinho da fúria" de Babilónia (Apocalipse 14:8) com o qual o mundo está embriagado.
Atualmente, o debate entre Criação e evolução decorre do interesse renovado na relação entre a
ciência e a fé cristã. Isto é evidente no estabelecimento de novas organizações, tais como a
Fundação John Templeton, com seu Centro de Informação de Teologia de Humildade (Ipswich,
Massachussets), lançada em 1993. Este centro, cujos membros fundadores incluem as
autoridades máximas em ciência e religião, mantém que a teologia não é capaz de alcançar uma
compreensão clara dos mistérios do universo (portanto a etiqueta "teologia de humildade").
Conseqüentemente a necessidade de voltar-se para a ciência como a fonte de respostas.
Uma organização muito mais antiga é o Centro para Religião e Ciência de Chicago, na qual
cientistas e teólogos são devotos da evolução sem renunciar sua fé em Deus. Com base na Escola
Luterana de Teologia, o centro publica Zygon, uma revista influente sobre evolução teísta.
Outro periódico devotado quase que exclusivamente a promover evolução teísta é o Journal of
the American Scientific Affiliation. A Afiliação, com sede geral em Ipswich, Massachusetts,
conta com mais de mil membros com doutorados. Originalmente organizada para promover
criacionismo, a Afiliação em si experimentou uma "evolução" para se tornar defensora da
evolução teísta.
A nível individual, podemos perceber um desvio significativo no debate Criação-evolução: da
negação completa à admissão pública de respeito pela criação especial como uma alternativa
viável para explicar a origem do universo. Isto não quer dizer que a discussão foi encerrada;
certamente que não. Os que dominam o debate incluem Howard Van Till (Calvin College),
Ernan McMuIlin e Alvin Plantinga (ambos da Notre Dame University), Philip Johnson
Textos sobre Criacionismo
Criação e evolução: o debate atual
84 |
(University of Califórnia) e William Hasker (Huntington College). Van Till, McMuIlin e Hasker
estão num canto da arena, enquanto Plantinga e Johnson estão no outro.
O primeiro grupo argumenta a favor de macro-evolução; o segundo quanto à ineficiência da
seleção natural e a viabilidade de uma intervenção divina especial para explicar as
complexidades da vida no planeta. O segundo grupo não está advogando criação ex-nihilo com
uma cronologia curta. Esta opção foi ha muito rejeitada, e os que a defendem são \ rotulados
fundamentalistas e extremistas. Plantinga e Johnson argumentam que Deus deve ser visto como
intervindo no mundo.
Assim a tendência é dupla: primeiro, favorecer criação progressiva na qual a intervenção divina é
exigida, não só para dar conta das formas originais de vida como também para introduzir os
primeiros indivíduos dos grupos maiores de seres vivos numa criação em desenvolvimento
constante; segundo, para encaminhar-se para uma forma de evolução deísta, preservando o que
Van Till chama "a integridade da natureza". Isto significa que Deus criou um universo no qual
Seus desígnios para todas as criaturas, exceto os humanos, seriam alcançados, exclusivamente,
de um modo natural.12
A seriedade do debate entre os dois grupos é vista na obra de McMuIlin e Plantinga, que ensinam
na mesma universidade. Atuam em lados opostos do debate, escrevendo e respondendo um ao
outro. Enquanto Plantinga argumenta a favor de uma criação especial, 13 McMuIlin está
convencido de que todas as probabilidades são contrárias a esta possibilidade.
As vozes mais francas a favor de uma criação recente, ex-nihilo são as publicações do Institute
for Creation Research (ICR), baseado em San Diego, Califórnia. Sua posição, chamada
"criacionismo científico", está sob ataque constante de seus adversários.
O Seventh-day Adventist Geoscience Research Institute (GRI) tem um compromisso semelhante
com a Criação, embora discorde em algumas de suas posições do ICR. O GRI publica sua
pesquisa e descobertas em sua revista conceituada, Origins.14
Mas estas organizações, como regra, são vozes isoladas clamando no deserto, às quais a
comunidade dos eruditos, que favorece a evolução, não dá muita atenção. Publicações recentes
vindas da Europa indicam que a Igreja Católica Romana, que oficialmente endossa a evolução
teísta, está desempenhando um papel importante no debate atual. A igreja parece reconhecer nas
ciências naturais e biológicas novas manifestações da unidade da natureza, e exorta seus
membros, bem como convida outras igrejas, a darem atenção a estas tendências. É na base destas
tendências, e não na teologia, que o Papa João Paulo II fez o apelo: "Como nunca dantes em sua
história, a Igreja entrou num movimento para a união de todos os cristãos, promovendo estudo,
oração e discussões em comum para que 'todos sejam um' [João 17:20 é citado]." 15 Mesmo as
igrejas evangélicas têm apoiado os pronunciamentos papais.
Textos sobre Criacionismo
Implicações importantes
Quais são as implicações desta tendência na direção de evolução teísta para adventistas do sétimo
dia? Primeiro, ao negar a Criação em seis dias, a evolução remove a base para o culto sabático,
preparando assim o terreno para o reconhecimento mundial da santidade do domingo, o que é
parte do ensino adventista quanto aos acontecimentos finais.
Segundo, se a autoridade da Bíblia pode ser posta de lado tão facilmente, por que não a
autoridade de sua lei moral e seus preceitos sobre a vida humana? Num mundo esvaziado de
autoridade bíblica, noções da vontade humana, do bem e do propósito, apoiadas pela ciência e o
humanismo, acabarão dominando muito da vida e da adoração. Como Landon Gilke observou:
"A mais importante mudança na compreensão da verdade religiosa nos últimos séculos, mudança
que ainda domina nosso pensamento hoje, foi causada pela ação da ciência mais do que por
qualquer outro fator, religioso ou cultural."16
Terceiro, em vista do ataque sutil da evolução contra a essência do evangelho eterno, o desafio
para os adventistas é óbvio: uma determinação renovada e dinâmica para a adoração e
proclamação dAquele "que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apocalipse 14:7).
Quarto, a teologia não mais pode florescer isoladamente. Encontros entre a teologia e as ciências
não podem ser evitados. No contexto da missão global da igreja, precisamos achar novos
métodos de abordar pessoas condicionadas pelo método científico e o dogma evolucionista. A
comunidade adventista, incluindo professores, profissionais e administradores, não pode ignorar
os problemas relacionados com a teologia e a ciência. Precisa-se promover maior abertura para
intercâmbio académico, cursos e projetos de pesquisa nesta área.
| 85
Finalmente, o desafio da evolução naturalista—teísta ou deísta—é realmente um desafio à nossa
fé. A doutrina da Criação não é opcional para os adventistas; é uma prova de fé. Sim, não
podemos compreender tudo que está envolvido na Criação, do mesmo modo que não podemos
entender tudo sobre a redenção. Entendimento de ambas é possível somente pela fé. Fé em Deus.
Pé é o que Deus disse na Bíblia. Como Ellen White escreveu há muito tempo: "Foi-me mostrado
que sem a história da Bíblia, a geologia nada prova. Fósseis achados na terra dão evidência de
um estado de coisas que difere em muitos modos do presente. Mas o tempo de sua existência, e
quão longo foi o período que estas coisas têm estado na terra, só podem ser compreendidos pelo
relato bíblico. Pode ser inocente conjeturar além do relato bíblico, se nossas suposições não
contradizem os fatos achados nas Escrituras. Mas quando as pessoas abandonam a Palavra de
Deus quanto ao relato da Criação e procuram explicar a obra criativa de Deus por princípios
naturais, se acham sobre um oceano ilimitado de incerteza. Justamente como Deus realizou as
obras da Criação em seis dias literais nunca foi revelado a mortais. Sua obra na Criação é tão
incompreensível como Sua existência."17
Marco T. Terreros (Ph.D., Andrews University) leciona teologia bem como ciência e religião na
Universidad Adventista de Colômbia. Seu endereço é: Apartado Aéreo 877: Medellfn; Colômbia.
Notas e referências
Para uma discussão anterior deste tópico nesta revista, ver Clyde L. Webster, Jr., "Génesis e
cronologia: o que a dataçao radiométrica nos informa" (Diálogo 5: l [1993]; págs. 5-8) e Richard
Davidson, "No princípio: como interpretar Génesis l" (Diálogo 6:3 (1994), págs. 9-12).
2. Ver Miliard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1985), págs.
480,481.
3. Howard J. Van Till, The Fourth Day: What the Bible and the Heavens Are Telling Us About
Creation (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1986), pàg. 247,
4. Na evolução teísta, às vezes chamada "evolucionismo bíblico", o processo evolucionário é visto
como uma manifestação da obra de Deus na natureza. Neste contexto, a obra criativa de Deus é
tida como tendo dois aspectos: (1)0 "aspecto funcional", no qual a existência finita do mundo
natural é dependente da atividade contínua de Deus; e (2) o "aspecto progressivo", no qual novas
criaturas e novas características emergem criativamente no processo da evolução. Ver Richard
Bube, "Biblical Evolutionism", Journal of the American Scientific Affiliation 23:4 (Dezembro
1971),pág. 141.
5. Van Till, pág. 265, ver também págs. 249-275 para a explicação mais completa de Van Till do que
ele chama a "perspectiva criacionômica". Van Till prefere esta esignação à expressão "evolução
tefsla".
6. Ver Brent Phillip Waters, "Christianity and Evolution", em David B. Wilson e Warren D. Dolphin,
eds., Did the Devil Make Darwin Do It? Modern Perspectives on the. Creation-Evolution
Controversy (Ames, lowa: The lowa University Press, 1983), pág.155.
7. A Teoria da Lacuna sugere que milhões de anos se passaram entre Génesis 1:1 e l :2, e que a
Criação ocorreu em três etapas: um período pré-adâmico, no qual a Terra era linda; um período
intermediário, durante o qual ela se tornou vazia e sem forma; o período de "reconstituição"
descrito em Génesis 1:3 ss.
8. A Teoria das Épocas Geológicas postula que os dias da Criação não eram dias literais mas
períodos muito longos.
9. A Teoria Artística entende o relato de Génesis como um relato artístico, com a ideia de comunicar
verdade religiosa mas não realidade científica.
10. A Teoria das Genealogias Abreviadas pretende que se as genealogias omitem gerações, como
algumas certamente o fazem, estas omissões poderiam dar conta de todo o tempo necessário
para a evolução ocorrer.
11. Ernan McMuIlin, "Evolution and Special Creation", Zygon 28 (Setembro 1993), pâg. 328.
12. Ver McMuIlin, pág. 325. Ver também o artigo de McMuIlin, "Plantinga's Defense of Special
Creation", Christian Scholar's Review 21 (Edição especial 199), págs. 55-79.
13. Alvin Plantinga, "When Faith and Reason Clash: Evolution and the Bible", Christian Scholar's
Review 21:1 (Setembro 1991), págs.8-33.
14. Leitores interessados em obter uma cópia de amostra e informação sobre assinatura podem
escrever para Editor, Origins; Geoscience Research Institute; Loma Linda University; Loma Linda,
CA 92350; E.U.A.
15. Ver Robert John Russell et ai., eds., John Paul 11 on Science and Religion: Reflections on the
New View from Rome (Rome: Vatican Observatory Publications, 1990) pág. M3.
16. Landon Gilkey, Religion and the Scientific Future (New York: Harper & Row, 1970), pág. 4.
17. Ellen G. White, Spiritual Gifts (Washington, D.C.: Review and Heraíd Pub. Assn., 1945), vol. 3,
pág. 93.
Textos sobre Criacionismo
1.
86 |
Artigo 19
Quão Confiavel é a Bíblia?
Alberto R. Timm
A autoridade do cristianismo deriva da Palavra de Deus. Cristo e Seus apóstolos consideravam as
Escrituras como a revelação de Deus, com uma unidade fundamental entre seus vários ensinos
(ver Mateus 5:17-20; Lucas 24:27, 44, 45-48; João 5:39). Muitos pais da igreja e os grandes
reformadores protestantes do século 16 enalteciam a unidade e a confiabilidade das Escrituras.
Todavia, sob a forte influência do criticismo histórico do Iluminismo do século 18, um número
considerável de teólogos e cristãos passou a considerar a Bíblia como mero produto das antigas
culturas dentro das quais foi concebida. Conseqüentemente, a Bíblia não é mais considerada
como consistente e harmônica em seus variados ensinos, e sim como uma coleção de diferentes
fontes com contradições internas. Outro golpe contra a autoridade e unidade das Escrituras foi
desferido na segunda metade do século 20, pelo ataque furioso do pós-modernismo. A nova
tendência é enfatizar, não o verdadeiro significado das Escrituras, mas os vários sentidos a ela
atribuídos pelos seus leitores.
Já os adventistas do sétimo dia, por sua vez, continuam enfatizando a unidade, a autoridade e a
confiabilidade das Escrituras. Mas para manter tal convicção, o estudante bíblico deve achar
respostas honestas para as quatro seguintes questões: 1) Que base existe para se falar de
harmonia nas Escrituras? 2) Como tratamos algumas das principais áreas nas quais tal harmonia
nem sempre é evidente? 3) Como o milagre da inspiração preservou a unidade da Palavra de
Deus? e 4) Qual o papel do Espírito Santo em nos ajudar a reconhecer essa unidade?
Textos sobre Criacionismo
Harmonia interna das Escrituras
Nessa área precisamos considerar pelo menos duas questões fundamentais: Primeira, o
relacionamento entre a Palavra de Deus e as culturas contemporâneas nas quais ela foi
originalmente transmitida. Nas Escrituras, pode-se perceber facilmente um constante diálogo
entre princípios universais e as aplicações específicas desses princípios, dentro de um contexto
cultural particular. Tal percepção não pode ser considerada como condicionamentos culturais que
distorcem a unidade básica da Palavra de Deus, mas precisamente o oposto: princípios universais
que transcendem qualquer cultura específica.
Por exemplo, a Bíblia menciona várias ocasiões nas quais Deus tolerou certos desvios humanos
de Seus planos originais, como nos casos de poligamia (ver Gênesis 16:1-15; 29:15-30:24, etc.) e
divórcio (ver Mateus 19:3-12; Marcos 10:2-12). Existem outras conjunturas onde os primeiros
cristãos foram aconselhados a respeitar certos elementos culturais específicos, como no caso
respeitante às mulheres usarem véu ao orar ou profetizar (I Coríntios 11:2-16), e permanecer
caladas na igreja (I Coríntios 14:34-35). Mas o teor geral das Escrituras é que sua religião deve
transcender e transformar o contexto cultural.
G. Ernest Wright explica que ―o Antigo Testamento dá eloqüente testemunho de que a religião
cananita era o agente desintegrador mais perigoso que a fé de Israel tinha de enfrentar‖ (ver
Deuteronômio 7:1-6).1 Floyd V. Filson acrescenta que no primeiro século d.C. os judeus, e
posteriormente os judaizantes, ―reconheciam o fato de que o Evangelho era algo diferente das
mensagens religiosas que haviam conhecido‖, e que ―isso estava rompendo com os limites do
judaísmo contemporâneo‖ (ver Mateus 5:20).2
A segunda questão que deve ser considerada por aqueles que estão interessados em compreender
a unidade das Escrituras, é a perspectiva metodológica pela qual se investiga as Escrituras. Do
próprio testemunho das Escrituras percebe-se que a Bíblia está mais próxima do mundo oriental,
a partir de uma perspectiva mais sistêmica e integral da realidade, do que do mundo ocidental,
com uma perspectiva mais analítica e compartimentalizada. Esse é um importante aspecto a ser
levado em consideração ao definirmos nossa abordagem metodológica das Escrituras.
Se começarmos olhando indutivamente em busca de divergências nas Escrituras, acabaremos
―encontrando diferenças em vez de harmonia e unidade‖. Se, por outro lado, principiarmos
olhando dedutivamente, poderemos descobrir uma unidade básica que integra suas várias partes. 3
Muitas inconsistências aparentes podem ser harmonizadas se avançarmos das grandes molduras
temáticas das Escrituras para os detalhes menores, em vez de iniciarmos por esses pormenores e
desconhecermos as estruturas básicas às quais pertencem.
Áreas problemáticas
Existem, porém, algumas áreas importantes de supostas ―inconsistências‖ internas da Bíblia, que
as pessoas usam freqüentemente para solapar o conceito de sua unidade. Consideremos
brevemente cinco dessas áreas e vejamos como esses problemas podem ser solucionados.
Tensões entre o Antigo e o Novo Testamentos. Algumas pessoas falam a respeito de várias
tensões dicotômicas entre o Antigo e o Novo Testamentos, referindo-se a tópicos como a justiça
de Deus versus Seu amor e a obediência à lei versus salvação pela graça. Essas tensões podem
ser solvidas se reconhecermos claramente o relacionamento tipológico entre ambos os
Testamentos, e que justiça e amor, lei e graça, são conceitos desenvolvidos ao longo de ambos os
Testamentos.
Salmos imprecatórios. Alguns vêem os salmos imprecatórios, com suas orações de vingança e
maldição aos ímpios (ver Salmos 35; 58, 69; 109; 137, etc.), como em direta oposição às
amorosas orações de Cristo e de Estêvão em favor dos seus inimigos (Lucas 23:34; Atos 7:60).
Na tentativa de solucionar esse problema, não devemos nos esquecer de que o Novo Testamento
cita os salmos imprecatórios como inspirados e autorizados, e que no Antigo Testamento os
inimigos do povo do concerto eram considerados inimigos do próprio Deus. Parece bastante
evidente, portanto, que esses salmos devem ser compreendidos dentro da moldura teológica da
teocracia do Antigo Testamento.
Problemas sinópticos. Provavelmente nenhuma outra área tem gerado tanta controvérsia em
relação à unidade da Palavra de Deus, como o chamado problema sinóptico. Jamais
conseguiremos explicar plenamente como os primeiros três Evangelhos (Mateus, Marcos e
Lucas) foram escritos; qual foi realmente a dependência de um para com o outro e como
harmonizar algumas pequenas discrepâncias nos relatos paralelos. Robert K. McIver afirma em
The Four Faces of Jesus que ―não existe razão para se supor que as informações trazidas à luz
por uma acurada investigação do problema sinóptico, provejam qualquer base para se duvidar da
historicidade fundamental dos eventos mencionados nos Evangelhos. Em realidade, elas
provavelmente comprovam o oposto, sendo uma evidência da sua confiabilidade.‖4
A justificação em Paulo e Tiago. Outra área problemática que nem sempre tem sido
compreendida claramente por algumas pessoas, é a clássica tensão entre a declaração de Paulo de
que ―o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei‖ (Romanos 3:28), e as
palavras de Tiago de que ―uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente‖ (Tiago 2:24).
Mas essa tensão pode ser solucionada se tivermos em mente que enquanto Paulo está
respondendo ao uso legalístico das ―obras da lei‖ como meio de salvação (Romanos 3:20; cf.
3:31; 7:12), Tiago está criticando a profissão antinominiana de uma fé ―morta‖, tão destituída de
frutos como a fé descomprometida dos demônios (Tiago 2:17, 19).
Erros fatuais. Existem aqueles que negam a unidade básica da Palavra de Deus porque, pensa
eles, ela contém um grande número dos chamados ―erros fatuais‖. Muitos desses supostos
―erros‖ não são realmente erros, mas apenas falta de compreensão das verdadeiras questões
envolvidas. Um exemplo disso é a maneira como Edwin R. Thiele demonstrou que muitas das
pretensas lacunas e discrepâncias na cronologia bíblica dos reis de Israel e Judá podiam ser
sincronizadas.5 Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que não temos condições de solucionar
todas as dificuldades das Escrituras.6
A despeito da existência de algumas imprecisões em detalhes insignificantes, existem evidências
suficientes que demonstram que tais inexatidões não distorcem o conceito básico comunicado
pelo texto no qual aparecem, e não rompem a unidade básica da Palavra de Deus.
Não obstante, alguns podem indagar: Por que Deus permitiu que esses problemas
permanecessem nas Escrituras? Não poderia ter Ele corrigido alguns deles, de modo que nossa
compreensão fosse mais fácil? Essas não são perguntas fáceis de responder, mas creio que
existam algumas razões importantes pelas quais Deus não solucionou essas áreas problemáticas.
Devemos reconhecer que Deus confiou Sua mensagem a seres humanos – ―vasos de barro‖ (II
Coríntios 4:7) – e esses, por sua vez, a transmitiram em sua linguagem imperfeita. Além disso, a
Palavra de Deus destinava-se a servir como uma ―luz‖ para o caminho (Salmo 119:105) dos seres
humanos de todas as épocas e lugares. Na qualidade de ―pão‖ espiritual (Mateus 4:4) que
testifica do ―pão vivo que desceu do céu‖ (João 6:51), a Bíblia deveria falar a ricos e pobres,
cultos e incultos, no contexto em que eles viviam.
Se a Bíblia fosse um livro de ―uniformidade monótona‖, as pessoas a leriam uma ou duas vezes e
então a colocariam de lado como fazem com os jornais velhos. Mas a Bíblia possui uma
profunda, ―rica e colorida diversidade de testemunhos harmoniosos, todos eles revelando uma
Textos sobre Criacionismo
| 87
88 |
beleza rara e distinta‖, que a tornam tão atrativa.7 Embora sua mensagem essencial seja
perfeitamente compreensível, mesmo às pessoas comuns, a Bíblia possui tal profundidade de
pensamento que todos os eruditos e pessoas simples que a estudaram ao longo dos séculos, não
foram capazes de esgotar o seu significado e de solver todas as suas dificuldades.
O milagre da inspiração
Mas como o milagre da inspiração salvaguardou a unidade da Palavra de Deus? Até que ponto
podemos esperar harmonia dentro das Escrituras? Deveríamos supor, como algumas pessoas
fazem, que a Bíblia é confiável apenas em questões de salvação? Podemos isolar as partes
cronológicas, históricas e científicas da Escritura de seu propósito salvífico geral?
Como argumentei em outro artigo, a Bíblia reivindica para si uma natureza integral e abrangente,
formando uma unidade indivisível (Mateus 4:4; Apocalipse 22:18, 19), e apontando para a
salvação como seu objetivo (João 20:31; I Coríntios 10:11). Além disso, a Escritura descreve a
salvação como uma ampla realidade histórica, relacionada a todos os demais temas bíblicos. E é
precisamente esse inter-relacionamento temático geral que torna quase impossível para alguém
falar da Bíblia em termos dicotômicos, como confiável em alguns tópicos e não em outros.
―Uma vez que o propósito primário da Bíblia é desenvolver fé para a salvação (João 20:31), suas
seções históricas, biográficas e científicas provêem, muitas vezes, apenas as informações
específicas necessárias para atingir esse propósito (João 20:30; 21:25). Apesar de sua
seletividade em algumas áreas do conhecimento humano, isso não significa que as Escrituras não
sejam dignas de todo o crédito nessas áreas.‖ ―Toda a Escritura é inspirada por Deus‖ (II
Timóteo 3:16) e nossa compreensão de inspiração deveria sempre preservar esse escopo
abarcante.8
Sem endossar a infalibidade calvinista, temos razões suficientes para crer que a Bíblia é infalível
em seu propósito salvífico e confiável em seu completo inter-relacionamento temático. De
acordo com T. H. Jemison, nas Escrituras ―existe unidade em seu tema – Jesus Cristo, Sua cruz e
Sua coroa. Existe completa harmonia de ensinamentos – as doutrinas do Antigo Testamento e as
do Novo são as mesmas. Existe unidade de desenvolvimento – uma constante progressão desde a
criação e a queda, até a redenção e a restauração final. Existe unidade na coordenação das
profecias.‖9
A atuação do Espírito Santo
Textos sobre Criacionismo
A unidade subjacente da Palavra de Deus foi gerada pela direta atuação do Espírito Santo na
produção das Escrituras. Paulo afirma em II Timóteo 3:16 que ―toda a Escritura é inspirada por
Deus‖. Pedro acrescenta que ―nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação;
porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos]
falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo‖ (II Pedro 1:20, 21).
Uma vez que foi o Espírito Santo quem gerou a unidade da Palavra de Deus, apenas Ele pode
iluminar nossa mente para percebermos a coesão que sustenta a Bíblia. Cristo prometeu aos Seus
discípulos que o Espírito Santo viria para guiá-los ―a toda a verdade‖ (João 16:13). Paulo declara
que ―o Espírito Santo ensina, comparando coisas espirituais com espirituais‖ (I Coríntios 2:13,
NKJV).
Conclusão
Hoje, lamentavelmente, muitos cristãos perderam sua confiança nas Escrituras e as estão relendo
da perspectiva de suas próprias tradições (tradicionalistas), da razão (racionalistas), da
experiência pessoal (existencialistas), e mesmo da cultura moderna (culturalistas). Cansados da
aridez de tais ideologias humanas, muitos outros estão buscando um fundamento mais firme
sobre o qual ancorar a sua fé.
Mas se a nossa âncora está firmada na própria Palavra, crendo que o seu testemunho não é o
resultado de invenções humanas, mas um dom divino para revelar Deus e o Seu amor redentivo à
humanidade, então não temos nada a temer ou a perder. O Espírito Santo que gerou a origem, a
unidade e a autoridade da Palavra, pode também iluminar a nossa mente para reconhecermo-la
como tal. Teorias humanas podem surgir e desaparecer (ver Efésios 4:14), mas ―a palavra de
nosso Deus permanece eternamente‖ (Isaías 40:8).
Alberto R. Timm (Ph.D. pela Andrews University) é professor de Teologia Histórica no Centro
Universitário Adventista de São Paulo, Campus 2, e dirige o Centro de Pesquisas Ellen G. White
do Brasil. Seu endereço: Caixa Postal 11; Engenheiro Coelho, SP 13.165-970; Brasil. E-mail:
[email protected]
Notas e referências
| 89
Textos sobre Criacionismo
1. Ernest Wright, The Old Testament Against Its Environment (Chicago: Henry Regnery, 1950), p. 13.
2. Floyd V. Filson, The New Testament Against Its Environment (London: SCM Press, 1950), p. 96.
3. Ekkehardt Mueller, ―The Revelation, Inspiration, and Authority of Scripture,‖ Ministry (April 2000)
pp. 22, 23.
4. Robert K. McIver, The Four Faces of Jesus: Four Gospel Writers, Four Unique Perspectives, Four
Personal Encounters, One Complete Picture (Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Assn., 2000), p.
220.
5. See Siegfried H. Horn, ―From Bishop Ussher to Edwin R. Thiele,‖ Andrews University Seminary
Studies 18 (Spring 1980):37-49; Edwin R. Thiele, ―The Chronology of the Hebrew Kings,‖ Adventist
Review (May 17, 1984), pp. 3-5.
6. See Ellen G. White, Gospel Workers (Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., 1948), p.
312.
7. Seventh-day Adventists Believe: A Biblical Exposition of 27 Fundamental Doctrines (Washington,
D.C.: Ministerial Association of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1988), p. 14.
8. Alberto R. Timm, ―Understanding Inspiration: The Symphonic and Wholistic Nature of Scripture,‖
Ministry (August 1999), p. 14.
9. T. H. Jemison, Christian Beliefs: Fundamental Biblical Teachings for Seventh-day Adventist
College Classes (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1959), p. 17.
90 |
Artigo 20
A Bíblia: Como pode ela ser única?
Peter van Bemmelen
A Bíblia! Nenhum outro livro na história tem sido tão amado e insultado. Milhões colocaram em
jogo sua vida e esperança com base em suas promessas, e muitos têm gastado sua vida atacandolhe a credibilidade. Para muitos, ela provê respostas vitais para questões de vida e morte,
presente e futuro, pecado e salvação. Para outros, não é nada mais que um livro de mitos e
fábulas.
A despeito daquilo que seus admiradores e críticos possam dizer, um fato se destaca
inquestionavelmente: A Bília é um livro único — em sua historicidade, origem, monoteísmo,
profecias e foco redentor. Outros livros podem conter conceitos semelhantes e exaltar altos
princípios morais, mas a Bíblia é diferente de todos os outros em muitos aspectos.
Única na historicidade
A historicidade é uma das caraterísticas distintivas da Bíblia. Enquanto outra literatura religiosa
contém muitos mitos e lendas, a Bíblia apresenta narrativas históricas sérias. 1 Os críticos podem
alegar que boa parte da Bíblia é mitológica e que suas narrativas históricas estão cheias de erros,
mas os fatos contradizem suas pretensões. As descobertas arqueológicas dos últimos dois séculos
têm iluminado a natureza histórica das Escrituras de muitas maneiras. A arqueologia não pode
provar que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas certamente tem iluminado e por vezes provido a
verificação dos relatos históricos das Escrituras.2 Respondendo a acusações de que a história
bíblica está eivada de erros, Donald Wiseman, respeitado professor de Assiriologia, argumenta
que a evidência arqueológica tem na sua maior parte eliminado estes ―supostos erros‖. Com
efeito, ―a maioria dos erros pode ser atribuída a erros de interpretação por estudiosos modernos e
não a ‗erros‘ de fato apresentados por historiadores bíblicos. Esta opinião é ainda mais
fortalecida quando nos lembramos de quantas teorias e interpretações das Escrituras têm sido
verificadas ou corrigidas pelas descobertas arqueológicas‖.3
Textos sobre Criacionismo
Única em sua origem
Outra exclusividade da Bíblia é a distinção de sua origem. Por que é o Velho Testamento tão
diferente de outra literatura antiga da mesma época? Um salmo oferece a resposta: Deus ―mostra
a sua palavra a Jacó, os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e, quanto aos
seus juízos, não os conhecem‖ (Salmo 147:19-20). Israel estava profundamente consciente do
fato de que Jeová, o Criador do céu e da terra, havia-Se revelado a Abraão e a seus descendentes
de um modo como não tinha feito a outras nações. O apóstolo Paulo, que foi educado no
judaísmo, mas se tornou o apóstolo mais proeminente do evangelho, concorda com a declaração
do salmista de que Deus deu uma revelação especial a Israel, quando afirma que a ele ―as
palavras de Deus lhe foram confiadas‖ (Romanos 3:1, 2). Os oráculos significam o mesmo que
―sagradas letras‖ (II Timóteo 3:15). Nenhum outro povo — babilônios, egípcios, gregos ou
romanos — jamais produziu uma coleção de escritos como a Bíblia. Essas nações deixaram um
legado de história, literatura, drama e poesia, mas nenhuma deixou algo semelhante às Escrituras
hebraicas — um corpo de escritos coerentes e harmoniosos que compreendem história, biografia,
ética e um sistema religioso que abarca um período de mais de mil anos e escrito por muitos
autores diferentes. A distinção jaz na fonte da qual o Velho Testamento surgiu: a revelação única
e divina dada a Israel.
Naturalmente havia um propósito soberano atrás dessa revelação. Era a intenção divina de que os
israelitas, como recipientes privilegiados da revelação de Jeová, partilhassem o seu
conhecimento de Deus com outras nações. Desde o início, Deus afirmou Seu propósito de que
em Abraão e seus descendentes ―todas as famílias da terra‖ fossem abençoados (Gênesis 12:3;
22:18). Foi plano divino que as Sagradas Escrituras, originalmente confiadas aos judeus, se
tornassem afinal a herança comum de ―toda nação, e tribo, e língua, e povo‖ (Apocalipse 14:6).
As Escrituras não foram dadas só a Israel, mas através de Israel a toda a família humana.
Única no monoteísmo
O monoteísmo é outro aspecto exclusivo que distingue as Escrituras hebraicas de toda outra
literatura religiosa dos tempos antigos. Outras nações antigas eram politeístas, e grande parte de
sua literatura sacra consiste de mitos sobre uma multidão de deuses e deusas. Em contraste, o
Velho Testamento fala de Jeová como o único Deus verdadeiro e não admite outro: ―Ouve,
Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás pois o Senhor teu Deus, de todo o teu
| 91
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder‖ (Deuteronômio 6:4, 5). Esta confissão de
Jeová como o único Deus, o Deus vivo, o Criador dos céus e da terra, era o fundamento da
religião de Israel. É verdade que através dos séculos muitos israelitas sucumbiram à atração do
politeísmo. Mas os profetas coerentemente os chamavam de volta à fé na unicidade de Deus.
Finalmente, o monoteísmo prevaleceu em Israel. A despeito de negações de críticos modernos, a
Bíblia — tanto o Velho como o Novo Testamento — reconhece um só Deus. Este monoteísmo
único da Bíblia não é nem o resultado do gênio humano nem o produto final de um processo
evolucionário na história da religião de Israel, mas ―é uma intuição inspirada revelada por Deus a
seu povo‖.4 Sem esta revelação especial, Israel teria seguido o caminho de todas as nações
antigas. Não haveria uma Escritura Sagrada com sua apresentação distintiva do Deus supremo e
soberano.
Única nas predições proféticas
As predições proféticas constituem outra evidência da unicidade da Bíblia. Outras nações
tiveram seus profetas, mas nunca fizeram predições que alcançassem centenas de anos no futuro
e fossem cumpridas. Por exemplo: a profecia de Daniel 2, descrevendo a marcha da história a
partir de Babilônia, passando pela Medo-Pérsia, Grécia, Roma, e o estabelecimento do reino de
Deus, é sem paralelo em qualquer literatura. Tal profecia jaz além da sabedoria ou presciência
humana. Com efeito, o próprio Daniel reconheceu a fonte divina daquela profecia ao explicá-la
ao rei Nabucodonosor: ―Há um Deus nos céus, o qual revela os segredos; Ele pois fez saber... o
que há de ser no fim dos dias‖ (Daniel 2:28).
Essa profecia é tomada seriamente nas Sagradas Escrituras como indicando a natureza do Deus
verdadeiro, como se vê no desafio que Jeová lança: ―Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir,
para que saibamos que sois deuses‖ (Isaías 41:23). Somente o Deus verdadeiro pode revelar o
futuro, e somente na Bíblia achamos profecias que se cumpriram literalmente ao longo dos
séculos. Isso provê evidência poderosa de que a Bíblia é de modo único a Palavra de Deus.
Os críticos, naturalmente, têm descontado o caráter distintivo das revelações proféticas
pretendendo que não são mais do que história escrita depois dos fatos. Para fundamentar essa
pretensão, eles com freqüência têm de torcer brutalmente as evidências. Por exemplo, pretendem
que as profecias de Daniel, incluindo o capítulo 2, foram escritas no segundo século a.C. por um
autor desconhecido e não pelo profeta Daniel no sexto século a.C. Nem mesmo isso, contudo,
explicaria como esse escritor desconhecido poderia prever que o quarto império, Roma, seria o
mais poderoso dos quatro impérios e que seria seguido por uma situação política dividida que
duraria 1.500 anos. Assim, contra a clara evidência da história e a evidência interna do livro de
Daniel, o quarto império é dito referir-se a Grécia e não a Roma, fazendo a profecia de Daniel 2
(e outras profecias no livro) referir-se a acontecimentos já ocorridos ou que estavam expirando
no tempo em que o livro foi escrito. Mas a evidência arqueológica, histórica e lingüística
fortemente favorece uma data no sexto século a.C. para o livro de Daniel. 5 Isso nos leva à
conclusão de que a incomparável predição de Daniel 2 ainda testifica do fato de que Deus é seu
verdadeiro autor.
As profecias da Bíblia nunca visavam a gratificar a curiosidade humana. Foram dadas para
revelar o verdadeiro caráter e propósito de Deus de salvar a humanidade do pecado. Esse plano
divino para a redenção da raça humana foi desdobrado progressivamente através de centenas de
anos — primeiro em antecipação através de revelações dadas aos patriarcas e profetas, e depois
de modo completo na encarnação do Filho de Deus. Mais do que qualquer outra coisa, é este
foco redentivo que caracteriza o caráter único da Bíblia — tanto do Velho como do Novo
Testamento — como a Palavra de Deus. Desde a primeira promessa de redenção em Gênesis
3:15 até à garantia final da graça de Jesus Cristo em Apocalipse 22:21, a Bíblia constitui uma
revelação única e coerente de Deus em busca dos seres humanos perdidos.
As promessas do Velho Testamento sobre um Redentor e seu cumprimento na encarnação, vida,
morte, ressurreição e exaltação de Jesus de Nazaré conforme o relato no Novo Testamento,
provêm evidência suprema de que estes escritos são realmente divinos. Paulo com razão exaltou
o caráter redentor único da Palavra de Deus. ―Toda a Escritura, divinamente inspirada, é
proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem
de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra‖ (II Timóteo 3:16, 17).
Jesus mesmo freqüentemente apelou ao Velho Testamento para mostrar que Seu ministério,
morte e ressurreição cumpriram aquelas promessas e profecias. Mas muitos dos guias judaicos
Textos sobre Criacionismo
Única em seu foco redentor
92 |
rejeitaram as pretensões de Jesus e Sua interpretação das Escrituras. Ele disse àqueles guias em
termos inequívocos: ―Examinais as Escrituras porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são
elas que de Mim testificam; e não quereis vir a Mim para terdes vida... Não cuideis que eu vos
hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se
vós crêsseis em Moisés, creríeis em Mim; porque de Mim escreveu ele. Mas, se não credes em
seus escritos, como crereis em Minhas palavras‖? (João 5:39, 40, 45-47). Não são essas palavras
aplicáveis a muitos eruditos cristãos, que embora pretendam observar uma exegese científica
rigorosa da Bíblia, anulam o sentido óbvio das profecias no Velho Testamento e freqüentemente
atribuem sua interpretação e aplicação no Novo Testamento à compreensão preconcebida e malinformada da igreja primitiva?
Se cremos que Cristo é quem Ele pretende ser — ―Eu sou o caminho, a verdade, e a vida‖ (João
14:6) — então deveríamos, como Ele, aceitar as Escrituras como ―a palavra de Deus‖ (Marcos
7:13), como Escritura Sagrada ―que não pode ser anulada‖ (João 10:35). Não há evidência de que
Jesus tenha apelado a quaisquer outros escritos como Escrituras. Em Seu conflito com a tentação
de Satanás no deserto, as Escrituras foram Sua única arma. Disse Ele: ―Nem só de pão viverá o
homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus‖ (Mateus 4:4).
Textos sobre Criacionismo
Única para mim
Cresci num lar sem religião. Não tínhamos oração, nenhuma leitura da Bíblia, nenhum culto a
Deus. Aos 19 anos saí de casa para estudar Direito na Universidade de Groningen na Holanda,
minha terra natal. Não compreendia o propósito de minha existência e estava sinceramente
procurando um sentido na vida. Pela leitura da Bíblia cheguei a crer que ela continha as respostas
para minha busca. Aceitei a Jesus Cristo como meu Salvador e Senhor. Para mim, a Bíblia
tornou-se um livro muito precioso, e eu a aceitei de coração como a única Palavra de Deus.
Desisti de estudar Direito, preparei-me para o ministério, trabalhei durante 10 anos como pastor e
missionário, e então dediquei-me a estudos teológicos avançados.
No seminário teológico, deparei-me com milhares de questões críticas sobre a Bíblia. Escreveu
Moisés realmente os livros que lhe são atribuídos? Foi Davi o autor de todos os salmos que
levam seu nome? Foi o Livro de Isaías escrito por três ou mais pessoas desconhecidas, em lugar
do próprio Isaías? Eram as narrativas no livro de Gênesis mitos e não fatos históricos? Eram os
quatro evangelhos eivados de contradições e erros de fato? Minha confiança na Bíblia como
revelação divina estava na balança. Comecei a duvidar se a Bíblia era realmente o que eu cria ser
quando me converti, 14 anos antes. Reconheci que se eu perdesse a confiança na Bíblia, mais
cedo ou mais tarde perderia a fé em Cristo, pois era pelas Escrituras que Ele Se revelava a mim e
me falava continuamente.
Depois de muita oração e estudo, resolvi que me apegaria a Cristo e à Sua Palavra, embora não
pudesse responder naquele momento a todas as questões críticas. Agora, quase 30 anos mais
tarde, anos cheios de estudo e oração, muitas questões foram respondidas; outras permanecem
sem resposta. Confio, entretanto, em que Deus um dia me dará as respostas, ou nesta vida ou no
mundo vindouro. Mas através dos anos, estudando tanta evidência quanto possível e através de
minha relação pessoal com um Salvador amante e compassivo, estou mais do que nunca
convencido de que a Bíblia é realmente a Palavra de Deus. Nenhum outro livro merece este
título.
Peter van Bemmelen (Th.D., Andrews University) é professor de Teologia no Seminário
Teológico Adventista do Sétimo Dia. Seu endereço: Andrews University; Berrien Springs,
Michigan 49104; E.U.A.
Notas e referências
1.
Note, por exemplo, o que Ellen White escreveu em 1876, numa época em que a alta crítica
tentava minar a veracidade histórica da Bíblia: ―As vidas relatadas na Bíblia são histórias
autênticas de indivíduos reais. Desde Adão, através das gerações sucessivas até ao tempo dos
apóstolos, temos um relato claro, não retocado daquilo que realmente ocorreu e a experiência
genuína de indivíduos reais‖ (Testimonies for the Church [Mountain View, Calif.:Pacific Press Publ.
Assn., 1948]. vol. 4, pág. 9).
2. Ver Kenneth A. Kitchen, Ancient Orient and Old Testament (Downers Grove, Ill.: Intervarsity Press,
1966).
3. Donald J. Wiseman, ―Archaeology and Scripture‖, Westminster Theological Journal 33 (19701971}: 151, 152.
4. Ronald Youngblood, ―Monotheism‖, Evangelical Dictionary of Theology, Walter A. Elwel, ed.
(Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1984), pág. 731.
| 93
Ver Frank B. Holbrook, ed., Symposium on Daniel: Introductory and Exegetical Studies
(Washington, D.C.: Biblical Research Institute, General Conference of Seventh-day Adventists,
1986).
Textos sobre Criacionismo
5.
94 |
Artigo 21
À nossa própria imagem? A ética e a clonagem
humana
Anthony J. Zuccarelli e Gerald R. Winslow
Cumulina. Não é uma cidade romântica numa ilha remota. Não é um prato exótico. Nada que
você pudesse ter adivinhado alguns meses atrás. Embora Cumulina seja apenas uma ratazana, ela
é uma valente recém-chegada num valente mundo novo. Aninhada na serragem de gaiolas de
plástico transparente em Honolulu, na Universidade do Havaí, Cumulina e cerca de 50 outros
ratos são recentes pioneiros na pesquisa científica com implicações assustadoras. Os ratos
parecem bem normais, indistinguíveis de outros em qualquer laboratório de animais. O grupo,
contudo, é sui-generis porque só tem ―progenitores‖ femininos. Como Dolly, a ovelha mais
conhecida, os ratos foram produzidos pelo transplante de uma célula somática nuclear — em
outras palavras, por clonagem.
Dolly provocou uma tempestade de debates. O anúncio de seu nascimento feito pelo cientista
escocês Ian Wilmut em fevereiro de 19971 levantou a possibilidade de que, num futuro próximo,
seja possível clonar seres humanos. As implicações filosóficas e éticas ocuparam a mídia por
meses e puseram a clonagem humana na agenda de corpos legislativos e centros de estudos ao
redor do mundo. Por um ano e meio o debate continuou, restrito unicamente pela incapacidade
de outros cientistas repetirem o processo, pelas dúvidas de que a tecnologia possa ser adaptada
para seres humanos e pelas sugestões de que a concepção de Dolly pudesse não ter sido
imaculada.
Aqueles argumentos foram removidos por três reportagens publicadas em julho de 1998 na
revista Nature. Dois grupos apresentaram evidências convincentes de que Dolly é geneticamente
idêntica à ovelha da qual foi derivada; ela é de fato um clone autêntico 2,3. O grupo de Honolulu
mostrou que o transplante da célula somática nuclear pode ser repetido, criando três gerações
sucessivas de ratos clonados 4. Também apresentaram evidências de que isso pode ser feito com
espécies que se supunha serem difíceis de clonar, inclusive seres humanos. Segundo o editor,
―torna-se tanto mais provável que, onde alguém tiver licença [de clonar humanos], ele o fará‖.5
Essa probabilidade ganhou força quando o físico Richard Seed anunciou ter identificado clientes,
apoio financeiro e cientistas para fazer funcionar sua clínica de clonagem em Chicago.
Textos sobre Criacionismo
Devem os seres humanos ser clonados?
Mas, devem os humanos ser clonados? Como cristãos adventistas, que apreciamos o valor que
Deus atribui à vida humana e levamos a sério nossas responsabilidades como mordomos da terra,
devemos examinar cuidadosamente a questão. Depois de explorar a ciência e o aspecto
econômico da clonagem, o objetivo deste artigo é identificar princípios éticos que possam guiarnos através do emaranhado de problemas e emoções que cercam a perspectiva de duplicação
assexual humana.
Comecemos com a reprodução sexual. Seu livro de biologia diz que quando duas células
germinais se unem para fertilização, elas combinam seus genes para criar um zigote unicelular. O
material genético do zigote, na forma de DNA, é mais tarde reproduzido e distribuído entre as
duas células resultantes, formando um embrião de duas células. O embrião se desenvolve por
ciclos ordenados de reprodução do DNA e divisão celular. Toda célula recebe uma cópia do
material genético, metade provida originalmente por cada progenitor. Quando o embrião atinge
um número de células crítico, começa a especializar-se, expressando seletivamente alguns genes
e desligando outros, segundo um programa embutido. Dependendo do padrão de expressão,
algumas se tornarão células nervosas; outras, células de músculos, e ainda outras, células de pele.
A diferenciação finalmente forma um feto com centenas de tipos de células especializadas que
constituirão o organismo ao nascer.
Embora a reprodução sexual seja um tema comum, não é universal. Seu livro de biologia
também descreve microorganismos unicelulares, como bactérias e fermento, cujo modo de
reprodução é assexual. Eles simplesmente se dividem em duas células geneticamente idênticas,
clones uma da outra e da célula original. Muitas plantas também se reproduzem assexualmente.
Um fragmento espalhado pelo cortador de grama do vizinho pode dar início ao crescimento de
capim de roça em seu gramado. Uma trepadeira favorita, uma roseira ou uma planta caseira pode
ser clonada plantando-se um galho, até crescer e tornar-se uma planta completa. Alguns animais,
| 95
como a estrela-do-mar e as minhocas, podem regenerar-se de um fragmento. Cada um desses
casos de reprodução assexuada depende do fato de que toda célula num organismo complexo traz
em si todos os genes do organismo todo, mesmo se a célula veio da folha de uma planta, onde
usou apenas os genes necessários para a folhagem.
Supunha-se que os genes apagados durante o desenvolvimento embrionário fossem
permanentemente desativados nos animais. Décadas de tentativas fracassadas de gerar
organismos inteiros a partir de células do corpo isoladas (chamadas células somáticas) resultaram
na crença de que elas eram diferenciadas de modo terminal. Parecia não haver um modo simples
de religar os interruptores genéticos — até surgir Dolly.
Seguindo a trilha de experimentos feitos nas décadas de 1950 e 1960, o Dr. Wilmut obteve
oócitos de ovelha (ovos antes da maturação) e manualmente removeu seus núcleos (que contêm o
material genético) usando pipetas delicadas de vidro. Então fundiu os oócitos sem genes com
células somáticas extraídas do úbere de uma ovelha adulta. O núcleo da célula do úbere
substituiu os genes normalmente providos pelo esperma e óvulo no momento da fertilização. O
citoplasma do oócito aparentemente proporcionou o ambiente adequado para recompor os genes
no núcleo do úbere, permitindo que eles se expressassem na seqüência normal do
desenvolvimento embriônico. Depois de um período de crescimento numa solução nutritiva, o
oócito reconstituído, que se tinha tornado um embrião multicelular, foi implantado numa ovelha
com vistas ao desenvolvimento completo1.
Foi assim que Dolly veio à existência. Os passos cruciais no processo refletem-se em seu nome
— transplante de célula somática nuclear. Com várias modificações, a equipe de Honolulu usou a
mesma técnica para fazer Cumulina, o primeiro rato clonado, e clones de clones em duas
gerações sucessivas4.
Diversos fatos merecem ênfase. Dolly e Cumulina não têm nem pai nem mãe no sentido
convencional — pais que contribuíram com células germinais para sua concepção. Em lugar
disso, cada uma tem um doador nuclear que proveu todo o material genético nuclear, um doador
oócito que proveu a ―incubadora‖ celular na qual os genes foram colocados e uma gestante que
nutriu o embrião até ao nascimento. Como nenhum dos participantes foi macho, poder-se-ia dizer
que Dolly e Cumulina têm, cada uma, três ―mães‖.
Segundo: um clone tem o mesmo material do cromossoma do doador do núcleo. Alguns
compararam o clone a um gêmeo idêntico do doador nuclear. O oócito doador contribuiu com
uma quantia minúscula de material genético achado no mitocondro; a gestante provê só o útero
nutriente. As três progenitoras de Dolly foram Finn Dorset, Poll Dorset e uma ovelha escocesa
Blackface, respectivamente. Ela se parece com sua ―mãe‖ nuclear Dorset.
Terceiro: embora a clonagem seja uma realização espantosa, é extremamente ineficiente. Mais de
400 óvulos de ovelha foram usados para produzir Dolly1. Todos os outros morreram pelo
caminho. Cumulina e sua corte representam 2,5 por cento das tentativas nos experimentos de
Honolulu4. Obviamente, a reprodução sexual é mais eficiente, simples e usualmente mais
satisfatória.
Isso pode provocar a pergunta: ―Por que, afinal, tentar fazer clonagem?‖ Surpreendentemente, a
primeira motivação é duplicar animais, não seres humanos. O valor da clonagem é a
conseqüência da diferença crucial entre reprodução sexual e assexual. Considere as incertezas da
reprodução tradicional de animais. Os bezerros nascidos de uma produtora de leite premiada, por
exemplo, recebem apenas a metade dos genes da mãe. Como a produção de leite depende de
muitos genes que interagem, poucos entre suas crias herdarão a combinação exata que fez da
vaca uma tão grande produtora de leite. Depois de ganhar a Tríplice Coroa, por exemplo,
Secretariat gerou mais de 400 potros pelas melhores éguas do mundo. Nenhum deles teve uma
carreira bem-sucedida em corridas!
Fábricas de animais transgênicos
Os clones, em contraste, têm exatamente os mesmos genes de seus doadores nucleares. A
clonagem garantiria que o equipamento genético de uma ovelha com lã grossa e macia ou de
galinhas que botam ovos com baixo colesterol seria reproduzido precisamente. Embora estas
características sejam desejáveis, outras são apreciadas ainda mais. O motor que impulsiona o
desenvolvimento de transplantes nucleares é o desejo de produzir animais que levem genes
humanos, animais chamados transgênicos.
Textos sobre Criacionismo
Transplante de células somáticas nucleares
Textos sobre Criacionismo
96 |
Durante os últimos 25 anos, a biotecnologia tem identificado e isolado os genes humanos que
codificam vários componentes e produtos celulares. Como resultado prático, a insulina e outras
proteínas humanas são agora feitas por bactérias resultantes de engenharia genética que crescem
em barris de cultura. Muitas proteínas valiosas, contudo, são complexas demais para as bactérias
reproduzirem corretamente. Uma alternativa é usar culturas de células humanas ou de mamíferos,
modificadas geneticamente, mas é dispendioso cultivá-las e só fazem uma quantidade mínima do
produto desejado. O método mais antigo, extrair proteínas diretamente de cadáveres ou de
sangue humano com data vencida, é evitado por causa do risco de contaminação com agentes
infecciosos como HIV ou vírus de hepatite.
Em busca de eficiência de custo e segurança, a biotecnologia voltou-se para animais domésticos
para a criação de produtos sob a direção de genes humanos acrescentados a seus cromossomas.
Nos melhores casos, o DNA adicionado faz com que o animal segregue grandes quantidades de
proteína humana em seu leite. Chamando isso de pharming, a primeira onda de animais
transgênicos é representada por cabras, vacas, porcos e ovelhas nos Estados Unidos, Escócia e
Holanda, os quais fazem proteínas como antitrombina II (um agente anticoagulante), alfa-1antitripsina (ausente em pessoas com enfisema e útil no tratamento de fibrose cística), agentes
que coagulam o sangue (ausente em hemofílicos) e interferonas (agentes antivirais). Ter animais
domésticos que convertam capim em proteínas é como ter uma galinha que bota ovos de ouro —
talvez melhor ainda! Algumas proteínas terapêuticas valem muitas vezes mais do que seu peso
em ouro.
OK, então animais que segregam proteínas humanas úteis são valiosos. Como é que a clonagem
entra no quadro? Animais transgênicos de alta produção são difíceis de se fazer; a clonagem
pode fazê-lo mais facilmente. O primeiro passo ao criar um animal transgênico é identificar e
isolar o gene humano para o produto desejado — digamos uma proteína contra vírus. Em
seguida, o gene é unido a um segmento de DNA que controla quando e onde o gene será ativo.
Uma técnica típica consiste em usar um segmento que dirige o gene a produzir sua proteína
contra vírus nas células produtoras de leite da glândula mamária. Estes passos são facilmente
efetuados usando técnicas de genética molecular bem conhecidas, mas os estágios subseqüentes
são tecnicamente difíceis e ineficientes. Diversas centenas de cópias de gene com o DNA
controlador são injetadas laboriosamente em oócitos fertilizados. Os zigotes que se desenvolvem
são depois implantados em mães substitutas para gestação. A eficiência é lamentavelmente baixa
— tipicamente, menos de 0,5% sobrevive ao nascimento e testa positivo para o transgene. Um
número menor ainda segrega quantidades úts¡s da proteína em seu leite. Claramente, pode levar
anos antes de se formar um rebanho transgênico produtivo.
Métodos eficientes de clonagem mudariam o quadro. Como antes, um gene humano precisa ser
isolado e unido a um segmento de controle. Então, em vez de micro-injeção, o gene-mais-o-DNA
controlador é simplesmente adicionado ao líquido no qual as células animais estão sendo
cultivadas. Nas condições certas, elas começam sós ou depois de um breve impulso elétrico.
Usando métodos normais de seleção, as células que aceitaram o transgene podem ser purificadas
e testadas para ver se dão indicação de serem boas produtoras de proteína. Visto que essas
manipulações são feitas com células cultivadas, e não animais, podem ser completadas em
poucos dias. Células modificadas com êxito seriam então usadas para fazer animais inteiros,
transferindo seus núcleos para oócitos sem núcleo.
Tecido para transplante
Um papel adicional para a clonagem é a criação de animais com tecidos ―humanizados‖ para
satisfazer a grande necessidade de órgãos para transplante. A rejeição aguda de órgãos animais é
devida a um arranjo de sub-unidades de açúcar nas superfícies das células, o qual não é tolerado
pelos recipientes humanos. Visto ser possível subtrair, bem como adicionar genes, eliminar os
genes responsáveis pelas mudanças da superfície ofensiva tornaria os órgãos de animais mais
compatíveis com o hospedeiro humano.
É intrigante a habilidade misteriosa do citoplasma do oócito de reprogramar um núcleo. Alguns
predizem que talvez seja possível tirar vantagem ainda maior desta propriedade. Depois do
núcleo de um paciente ter sido reacertado para um estado embriônico dentro do oócito, será
possível instruí-lo para reproduzir e amadurecer num tipo de célula diferente. O objetivo seria
gerar tecidos especializados que poderiam ser usados para tratar um vasto elenco de
enfermidades humanas — jovens células das ilhotas pancreáticas para tratar diabetes, células da
pele para curar queimaduras, células nervosas para reconstruir estragos na espinha ou obrigar a
| 97
doença de Parkinson a regredir. Se o tecido transplantado fosse derivado do paciente, seria
perfeitamente compatível e evitaria rejeições imunológicas. Em vez de pensar na possibilidade
horrível de clonar pessoas para serem usadas como ―partes sobressalentes‖, o transplante nuclear
poderia ser capaz de reprogramar células humanas de modo a crescerem como órgãos isolados ou
tecidos semelhantes a órgãos.
A tecnologia da clonagem promete benefícios imensos, mas a que custo? Alguns advertem que
poderá ser elevado — minando a dignidade humana e degradando as relações familiares.
Examinemos essas preocupações com ponderação para determinar se são guias úteis na tomada
de decisões sobre clonagem. Organizaremos nossa discussão em torno de sete temas da ética
cristã: proteção contra danos, conseqüências para a liberdade humana, efeitos sobre a estrutura da
família, potencial para aliviar o sofrimento, mordomia de recursos pessoais, veracidade e o
potencial para compreender a criação de Deus. 6
1. Proteção contra danos. O criador de Dolly, Ian Wilmut, identificou a razão mais convincente
para não se tentar clonar seres humanos: resultaria na perda de incontáveis óvulos humanos e na
morte de muitos fetos em vários estágios de desenvolvimento, inclusive próximo ao nascimento.
Também introduziria um risco elevado de crianças mal-formadas e mortes de crianças. Em seus
primeiros experimentos, cerca de 60 por cento dos cordeiros clonados morreram logo depois do
nascimento e muitos mostravam deformidades físicas. A clonagem é moralmente precária porque
é arriscada sob o ponto de vista médico. A norma das Escrituras é evitar colocar vidas em risco
indevido de dano ou morte, especialmente a vida dos vulneráveis. O mesmo princípio é reiterado
no juramento médico de ―não causar dano‖. Proíbe uma decisão que resultaria em dezenas de
natimortos, de crianças mal-formadas ou não-viáveis a fim de produzir uma criança sadia.
A Comissão Nacional de Aconselhamento Ético, designada pelo presidente dos Estados Unidos,
decidiu que a clonagem humana é inaceitável no presente por motivos de segurança 7. Seu
julgamento foi baseado no estágio da tecnologia ainda com menos de dois anos. Recomendou
uma moratória temporária, esperando plenamente que experimentos subseqüentes melhorem a
proporção de sucesso. Uma proibição permanente seria o equivalente a proibir para sempre o uso
público do avião depois do primeiro vôo no 14-Bis. Dolly e Cumulina representam marcos
miliares numa longa série de avanços biológicos durante cinco décadas. O atual estágio de
progresso requer que se reexamine a tecnologia a intervalos para determinar se amadureceu além
do ponto de os benefícios superarem os riscos.
2. Liberdade e dignidade humanas. Os cristãos crêem que os seres humanos têm dignidade
porque foram criados à imagem de Deus com a autonomia de ―pensar e fazer‖. A perspectiva de
reprodução humana assexual freqüentemente evoca uma visão contrária e perturbadora —
exércitos de zumbis desalmados seguindo os passos de seus progenitores. Nosso temor de cópias
a carbono de humanos é poderoso, quase visceral. Deriva-se em parte de nossa tendência de
equacionar aparência com identidade pessoal. No ano passado, um jornal reproduziu as respostas
de adolescentes à perspectiva de clonagem humana. ―Então as pessoas serão clonadas?‖, disse
um rapaz de 18 anos. ―E como você vai saber se elas terão alma? Como saberá o que vem aí pela
rua?‖
Em contraste, temos pouca dificuldade em aceitar o fato de que gêmeos ―idênticos‖
(monozigóticos) não são realmente idênticos. Desenvolvem personalidades e temperamentos
distintos como conseqüência de suas diferentes escolhas, experiências e ambientes. A despeito
dos genes idênticos, eles se tornam ―almas‖ diferenciadas. Uma pessoa clonada amadureceria
num indivíduo que é inteiramente distinto do doador nuclear pelas mesmas razões mas,
adicionalmente, o clone teria uma ―mãe‖ diferente, cresceria numa família diferente e viveria
num tempo diferente do doador. Por conseguinte, a crença de que os clones de Albert Einstein ou
Michael Jordan repetiriam as vidas de seus progenitores é totalmente sem fundamento. O
bioeticista do Centro Hasting resumiu a questão sucintamente, quando observou: ―Você não pode
clonar um ―eu‖.8
Mesmo que os clones fossem indivíduos únicos, alguns podem limitar a expressão dessa
unicidade. Pode você imaginar o clone de um pianista famoso a gastar horas no teclado com a
exclusão de outras ocupações? Estariam algumas pessoas inclinadas a produzir clones para fins
comerciais ou sacrificá-los para obter seus órgãos? Nossa opinião é que é moralmente
indefensável criar clones para serem usados somente como fontes de órgãos transplantáveis, para
exploração comercial ou como instrumentos subservientes. Deveríamos opor-nos fortemente à
Textos sobre Criacionismo
Clonagem e questões éticas
Textos sobre Criacionismo
98 |
―modificação‖ ou ―ligação genética‖ de seres humanos. A clonagem, como todas as tecnologias
poderosas, pode ser um instrumento para o bem ou para o mal. Qualquer uso que minasse ou
diminuísse a dignidade pessoal ou autonomia de seres humanos deve ser rejeitado.
3. Alívio para o sofrimento humano. A aplicação plena, criativa de nossas mentes e corpos para
avançar o ministério benéfico de Cristo é um princípio fundamental da teologia adventista, que
se expressa, em parte, em nossos programas mundiais de medicina e educação. Implícita na
Grande Comissão está nossa responsabilidade de prevenir e aliviar o sofrimento com os meios à
nossa disposição. A clonagem pode ser um instrumento poderoso de cura se permitir que
evitemos a transmissão de enfermidades genéticas ou criemos tecidos de substituição e órgãos
para reparos ou transplante. Retaugh Dumas, da Universidade de Michigan, expressou uma
opinião que pode soar em uníssono com pessoas devotadas ao ministério da cura: ―Eu poderia
formular um argumento moral de que, se essas técnicas estão disponíveis e não as usamos,
estamos em falta com a sociedade‖.9
4. Salvaguarda para a estrutura familiar. Durante o anúncio de uma moratória para a clonagem,
o presidente dos Estados Unidos expressou a preocupação de que ela tenha ―o potencial de
ameaçar os sagrados elos da família‖. A imagem de crianças produzidas mecanicamente fora do
círculo da família é de fato perturbadora. O plano de Deus é que as crianças sejam criadas dentro
do contexto da família com a presença, participação e apoio de um pai e uma mãe. Visto que o
transplante nuclear pode ser usado para obter a reprodução humana quando outros métodos são
ineficazes, devia ser tentado somente dentro do quadro de um casamento fiel e com o apoio de
uma família estável. Por essa razão, devem ser evitadas as complicações morais que surgiriam se
uma terceira pessoa agisse como substituta para a gestação ou fosse a fonte de material
genético.10 A clonagem poderia ser um recurso de última instância para casais que querem ter
filhos, mas são incapazes de produzir células germinais normais. Em tais situações, o transplante
nuclear serviria como forma avançada de reprodução assistida. Muitos têm proposto o caso
hipotético de um casal cujo filho está morrendo, e que quer literalmente substituir a criança.
Alguns considerariam isso uma aplicação apropriada de transplante nuclear.
5. Uso inteligente de recursos. Dados os desafios técnicos da clonagem, ela é dispendiosa e
provavelmente continuará sendo assim por algum tempo. Um casal americano, por exemplo,
pagou 2,3 milhões de dólares para que a Texas A&M University clonasse o seu querido cão
Missy. Em sociedades democráticas, as pessoas têm a liberdade de gastar seu dinheiro de
milhares de maneiras, inclusive maneiras tolas. Mas os cristãos são exortados a usar seus
recursos de um modo que reflita mordomia responsável. Esse compromisso significa pôr o reino
de Deus em primeiro lugar. E significa atenção, mesmo com sacrifício, às necessidades dos
outros. Assim, os cristãos deveriam calcular as despesas e o custo da clonagem à luz da
mordomia fiel.
6. Veracidade. As escrituras ensinam a valorizar a comunicação honesta e veraz. Quando novas
tecnologias, como a clonagem, são desenvolvidas, não é fora do comum que alguns entusiastas
exagerem os benefícios e subestimem os custos e os riscos. Por outro lado, é uma tentação, para
os de opinião contrária, magnificar os riscos e representar mal os objetivos. Os cristãos têm a
obrigação de compreender e promover a verdade.
7. Compreensão acerca da criação de Deus. Deus deseja que os seres humanos cresçam em sua
apreciação da Criação. Nosso desejo de conhecer o corpo humano e o mecanismo do
desenvolvimento humano não é diferente do impulso para investigar outros fenômenos naturais.
Deveriam ser encorajados e apoiados os esforços para compreender o mundo ao nosso redor e
dentro de nós por pesquisa ética, impulso esse implantado pelo Criador. Para aqueles que são
sensíveis aos sinais da mão de Deus no mundo físico, tal conhecimento é evidência de Seu amor
e poder.
Existe atualmente um acordo ético generalizado para que a clonagem humana não seja tentada.
Os que estão a favor parecem ser poucos. As preocupações com a segurança por si sós deviam
ser suficientes para excluir aplicações para humanos, por enquanto. Mas à medida que os
biólogos acumulam mais experiência com a clonagem de animais, a técnica ficará mais eficiente
e mais barata. As tentativas de clonagem de humanos poderão ser então esperadas.
Os cristãos têm agora uma oportunidade de refletir sobre as questões éticas que a clonagem
humana apresenta e considerá-las no contexto de princípios bíblicos permanentes6. Fazer isso é
um ato de fé e de maturidade moral.
| 99
Anthony J. Zuccarelli (Ph.D., California Institute of Technology) é biólogo molecular e diretor
do Programa de Treinamento do Cientista Médico na Universidade de Loma Linda. Seu
endereço: Departamento de Microbiologia e Genética Molecular, Loma Linda University; Loma
Linda, Califórnia 92350; E.U.A. E-mail: [email protected]
Gerald R. Winslow (Ph.D., Graduate Theological Union, Berkeley), é eticista e Decano da
Faculdade de Religião na Universidade de Loma Linda. Seu endereço: Faculty of Religion;
Griggs Hall, Loma Linda University; Loma Linda, Califórnia 92350; E.U.A. E-mail:
[email protected]
Referências
Textos sobre Criacionismo
1. I. Wilmut, e outros, ―Viable Offspring Derived from Fetal and Adult Mammalian Cells‖, Nature 385
(1997), págs. 810-813.
2. D. Ashworth, e outros, ―DNA Microsatellite Analisis of Dolly‖, Nature 394 (1998), pág. 329.
3. E. N. Signer, e outros, ―DNA Fingerprinting Dolly, Nature 394 (1998), págs. 329-330.
4. T. Wakayama, e outros, ―Full-term Development of Mice From Enucleated Oocytes Injected With
Cumulus Cell Nuclei‖, Nature 394 (1998), págs. 369-374.
5. ―Adult Cloning Marches on‖, Nature 394 (1998), pág. 303.
6. ―Human Clonig: A Seventh-day Adventist declaration of ethical principles‖. Uma declaração votada
pela Comissão da Compreensão Cristã da Vida Humana, março 22-24, 1998 e pela Comissão
Administrativa da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Silver Spring, Maryland, 1998.
7. D. Shapiro, e outros, ―Cloning Human Beings‖. Relatório e Recomendações da National Bioethics
Advisory Committee, junho, 1997. http: //bioeethics.gov/pubs.html
8. D. Lutz, ―Hello, Hello, Dolly, Dolly‖, The Sciences 37 (1997), págs. 10, 11.
9. G. Kolata, ―Clinton’s Panel Backs Moratorium on Human Clones‖, The New York Times (Maio 18,
1997).
10. ―Considerations on Assisted Human Reproduction‖. Declaração votada pela Comissão da
Compreensão Cristã da Vida Humana, Abril 10-12, 1994 e pela Comissão Administrativa da
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo-dia, Silver Spring, Maryland, 26 de julho de 1994.
100 |
Artigo 22
Ecologia, biodiversidade e criação: Um enfoque
estrutural
Henry Zuill
Textos sobre Criacionismo
John Ashton crê em Deus. Esse notável homem de ciência acredita no relato bíblico da Criação.
Ele ficou surpreso quando outro cientista lançou um desafio público ao criacionismo numa
convenção havida na Universidade Macquarie, em Sydney, Austrália. Nesse ensejo, um
discursante apresentou evidências em favor do relato bíblico da Criação. O desafiante ironizou,
porém, dizendo que não poderia crer que houvesse alguém com Ph.D. que cresse na criação
literal de seis dias. À essa altura, um convencional presente mencionou os nomes de alguns
cientistas crentes na criação, incluindo o Dr. John Ashton. Quando John soube da conversa
havida em plenário, pois não se achava presente na ocasião, aceitou o desafio de provar a certeza
criacionista. O resultado foi a maravilhosa coleção de artigos, Em Seis Dias: Por que 50
Cientistas Escolheram Crer na Criação.1
Quando recebi o convite para contribuir com um artigo, compreendi de início que deveria
escrever especificamente sobre a criação em seis dias, de uma perspectiva científica. Essa não era
a intenção de John. Eu cria na criação em seis dias, mas não por razões científicas. O que alguém
poderia dizer sobre isso a partir de uma perspectiva científica? Como poderia eu fornecer
evidências científicas de que a Terra e a vida foram criadas em seis dias literais? Eu sabia que
havia muitas áreas do criacionismo que podiam ser estudadas cientificamente, mas não pensava
que a criação em seis dias fosse uma delas. Pensava eu que ela deveria ser aceita estritamente
pela fé no relato bíblico.
Então surgiu como um relâmpago, uma convicção ao mesmo tempo luminosa e excitante. Como
ecologista, eu havia estado à procura de evidências de desígnio inteligente no nível ecológico,
mas, subitamente, esses fragmentos comprobatórios se juntaram para apoiar a criação em seis
dias. Escrevi, pois, um capítulo para o livro.
A hierarquia estrutural e a evidência de desígnio
Desde cedo nas universidades, os estudantes de biologia geral aprendem sobre hierarquia
estrutural da matéria (ver Figura 1). Partículas subatômicas se reúnem em átomos, que por sua
vez formam moléculas e macromoléculas. Essas se juntam formando sucessivamente organelas,
células, tecidos, órgãos e sistemas orgânicos. Em todo nível de vida, desde a célula aos sistemas
| 101
orgânicos, há diferentes complexos independentes — organismos unicelulares, organismos
tissulares e assim por diante, até organismos com sistemas orgânicos. Daí, diferentes organismos
constituem-se em comunidades que, num ambiente não-biológico, formam ecossistemas.2
Ecossistemas em torno do globo constituem a biosfera. Abaixo do nível celular, não há entidades
consideradas viventes. Acima do nível orgânico, temos a área ecológica na qual diferentes
organismos relacionam-se uns com os outros e com seu ambiente não-biológico.
Em todos esses níveis, há evidências de desígnio inteligente, se quisermos vê-las com isenção de
ânimo. A complexidade estrutural de cada nível desafia a idéia de que tal complexão possa ser
resultado de acontecimentos fortuitos. Não obstante, muitos não vêem as coisas desse modo;
aceitam que a complexidade estrutural é o resultado de eventos naturais, mesmo quando parece
não haver maneiras disso ocorrer.
A idéia de desígnio inteligente na Natureza tem sido aceita desde há muito, embora durante os
últimos 100 ou 150 anos venha sendo opinião minoritária entre os cientistas. Alguns filósofos
antigos viram indicações de desígnio na Natureza. No final do século 18, William Paley, teólogo
e filósofo inglês, sugeriu que ninguém pensaria num relógio sem relojoeiro. Pela mesma razão,
ele argumentava que as complexidades da Natureza, entre elas o olho humano, por exemplo, não
podiam ser explicadas sem um Criador.
Os escritos de Paley eram leitura obrigatória nas universidades britânicas. Charles Darwin leu
suas obras e ficou fascinado inicialmente com as opiniões do filósofo, mas depois as rejeitou.
Apesar disso, deve ter ficado um resquício de dúvida em sua mente, porque Darwin disse que o
olho, com sua complexidade incrível, deixava-o doente. Mesmo hoje, a influência do pensamento
de Paley perdura. Richard Daw-kins intitulou um de seus livros, The Blind Watchmaker. Na obra,
o autor tenta mostrar que complexidade na Natureza é o resultado do acaso e não de desígnio
inteligente. Assim, depois de quase 200 anos, o argumento de Paley ainda está sendo discutido.
O valor dado à evidência específica de desígnio inteligente depende de onde uma pessoa a
procura. Se a evidência observada é de nível básico na hierarquia estrutural, a conclusão tirada
pode ser bem diferente do que se ela ocupar um lugar superior no plano. O lugar onde alguém
procura evidências pode ser determinado pela especialização do observador. A parte inferior da
estrutura da Natureza é domínio da física; o domínio seguinte é objeto da química; e o superior
pertence à biologia.
O recente ressurgimento do interesse voltado ao desígnio inteligente começou com a descoberta
de que um grande número de constantes físicas fundamentais no Universo estavam
delicadamente relacionadas com as necessidades dos sistemas vivos. Se fossem diferentes,
mesmo por minúscula fração, a vida seria impossível. Isso é conhecido como o Princípio
Antrópico. Muitos físicos acham nele razões para crer num Deus Criador. Outros, considerando
imprópria essa interpretação, imaginaram múltiplos universos, de modo que por puro acaso um
deles possuiria as condições necessárias à manifestação da vida. Que não há a mínima evidência
em apoio à teoria dos universos múltiplos, parece ser-lhes irrelevante.
As constantes físicas fundamentais provêem os recursos físicos e químicos requeridos pelos seres
vivos. Em geral, elas oferecem evidências de desígnio que se situam inferiormente na hierarquia
estrutural da Natureza ou fora dela. Dessa perspectiva, somente as condições físicas e químicas
básicas necessárias ao desenvolvimento da vida foram providas. Conseqüentemente, alguns
físicos, impressionados com a evidência, também aceitam o argumento de que Deus usou a
evolução, no sentido lato, como instrumento da criação. São evolucionistas teístas.
Outros cientistas encontram evidências de desígnio na bioquímica, as quais consideram como
irredutivelmente complexas. Para eles, Deus era um pouco mais ativo. Eles podem admitir a
hipótese de que Ele criou as primeiras células e a evolução fez o resto. Esses sábios podem
também ser considerados evolucionistas teístas.
Se há, em nível mais baixo, evidências de desígnio que intrigam alguns físicos, e se há, também,
evidências em nível bioquímico, não sugeriria isso a possibilidade de encontro de mais
evidências nos níveis superiores da hierarquia estrutural? Ademais, quanto mais alta a evidência
na escala estrutural, tanto menos opções de interpretação.
Comecei a inquirir se havia evidências no topo da hierarquia estrutural — o nível ecológico. Esse
é o nível que trata de relações múltiplas entre organismos e seu ambiente não-biológico. Se
houvesse evidência de desígnio inteligente em todos os níveis da hierarquia estrutural da
Natureza, e especialmente no topo, então seria muito difícil esperar que apenas o acaso cego
Textos sobre Criacionismo
Evidência específica de desígnio
102 |
pudesse explicar a existência e a variedade de seres vivos. Creio que há tal evidência: a visão do
alto.3
Biodiversidade e criação
Textos sobre Criacionismo
O termo biodiversidade entrou em uso popular há pouco tempo. Refere-se ele às muitas e
diferentes espécies que encontramos no mundo natural, bem como às diferentes populações de
espécies com suas muitas variações genéticas e os inúmeros serviços ecológicos que prestam.
Desde a primeira referência (1986) até hoje, centenas de artigos têm sido publicados sobre o
tema da biodiversidade.
Estudos em biodiversidade têm comprovado uma rede intrincada de interdependências entre os
seres vivos. Sabe-se que os sistemas ecológicos são mais dependentes entre si do que se
imaginava. Com efeito, Peter Raven, do Jardim Botânico de Missouri, sugere que quando uma
planta é exterminada, 10 a 30 outros organismos a seguirão no processo de extinção.4 Assim, as
inter-relações são muito íntimas. Felizmente, os sistemas ecológicos também possuem
complexos de apoio, de modo que os efeitos do abuso não sejam tão abrangentes como se
esperaria. Isso é possível porque diversas espécies podem prestar serviços ecológicos similares.
Essas espécies são chamadas de redundantes. Além disso, mesmo sistemas redundantes podem
não funcionar em todas as circunstâncias, assim que alguns deles são considerados dispensáveis.
Nossa compreensão de biodiversidade tem sido deduzida, em grande medida, do dano e
destruição do sistema ecológico. À medida que certas espécies se tornam raras ou extintas, o
efeito ecológico de perda mais ampla torna-se evidente.
A maior parte da preocupação com os estudos de biodiversidade tem se concentrado na salvação
das espécies em perigo. De início, os esforços procuravam apenas manter os números
populacionais das espécies, mas logo tornou-se evidente que para salvar espécies em perigo,
exigia-se a preservação de sistemas ecológicos inteiros. Toda espécie tem seu sistema de apoio
ecológico e os componentes de cada sistema de apoio têm seu próprio conjunto de amparo.
Podemos expressar o conceito do seguinte modo: A vida na Terra torna a vida possível, o que
significa que seres viventes foram feitos para se apoiarem mutuamente. Isso deveria surpreendernos? Foi a conservação de espécies, naturalmente, que recebeu a atenção primária, porém, as
implicações mais amplas desses sistemas interdependentes tornaram-se agora claras.
| 103
Relações mútuas e benéficas são comuns na Natureza. Com efeito, é provável que a maioria das
relações naturais sejam desse tipo. Numerosos exemplos de relações interdependentes poderiam
ser dados, mas o espaço não permite. Contudo, a Figura 2, utilizando-se de uma árvore, ilustra os
serviços que ela tanto provê como recebe. O leitor é convidado a relembrar outras espécies de
relações como as de solo, que são de benefício mútuo.
Há também relações negativas e morte na Natureza, mas elas parecem ter resultado da perda de
espécies, danos genéticos e outros impactos negativos. Sistemas ecológicos, enquanto
organismos, estão agora degenerados. O cristão vê esses problemas como tendo sido previstos
pelo Criador em Suas palavras a Adão e Eva, depois da Queda (ver Gênesis 3:14-19). Embora as
relações negativas sejam mais dramáticas e possam mais facilmente capturar nossa atenção,
parece mais provável que as relações benéficas, de longe, as superam em número. Em
conseqüência, a interdependência observada nos seres vivos agora sugere que essas relações
foram criadas intencionalmente. A ecologia original teria sido diferente da de hoje. Todavia, não
se pode duvidar de que havia uma ecologia original. O próprio relato da Criação faz referência a
relações reprodutivas e de alimentação. A ecologia parece tão necessária para a vida como as
ações de comer e respirar. Com efeito, sem ecologia o ar não seria próprio para respirar e os
nutrientes minerais não estariam acessíveis às plantas, nossa fonte de alimento.
Quando John Ashton pediu-me que contribuísse para o Seis Dias, eu já sabia da necessidade de
relações ecológicas, embora ainda não tivesse feito a ligação de que a ecologia continha
evidências para uma criação em seis dias. Mas, ao considerar o problema, imediatamente surgiume a intuição de que eu tinha em mãos a evidência que apoiaria a criação de seis dias. Se os
ecossistemas requerem grupos inteiros de organismos para funcionar, não teriam sido necessários
grupos inteiros de organismos também no começo?
Tanto o Princípio Atrófico como as seqüências bioquímicas sugerem um planejador, mas ainda
permitiam que os que foram impressionados por essas evidências cressem em evolução teística.
Isso é bem pouco diferente de simples evolução. Num desenvolvimento de vida gradual, a
ecologia também se desenvolveria começando como ecologia limitada, e depois se expandindo
gradualmente à medida que novos organismos evolvessem. Contudo, se a ecologia desenvolveuse ao mesmo tempo que as espécies em evolução, os ecossistemas falhariam por falta de
componentes essenciais. Por conseguinte, a vida não poderia ter continuidade, se é que pudesse
mesmo começar. Por outro lado, se os seres foram criados num intervalo breve, juntamente com
suas interdependências ecológicas, haveria desde o começo relações complexas em apoio à vida
na Natureza.
A ecologia e a biodiversidade complexa que encontramos na Natureza hoje, no topo da
hierarquia estrutural, sugerem que muitos organismos inter-relacionados teriam sido necessários
desde o início. Somente uma criação imediata proveria as exigências de tal sistema ecológico.
Assim, embora a ecologia, como hoje compreendida, não exija precisamente uma criação em seis
dias, ela favorece essa possibilidade. Ademais, ela é definitivamente contrária à idéia de um
desenvolvimento ecológico gradual.
Henry Zuill (Ph.D., Loma Linda University) lecionou e conduziu pesquisa em biologia e ecologia
por muitos anos. Seu endereço: 64 Norwood Drive; Norman, Arkansas 71960; EUA. E-mail:
[email protected]
Notas e referências
1.
John F. Ashton, ed., In Six Days: Why 50 Scientists Choose to Believe in Creation (Sydney,
Austrália: New Holland Press, 1999).
2. Ecossistemas muito grandes são usualmente designados biomes.
3. Para uma discussão mais detalhada deste assunto, veja o livro do autor “Evidence for Design at
the Ecological Level”, Geoscience Report 29 (Spring 2000), publicado pelo Geoscience Research
Institute (Loma Linda, Califórnia 92350, EUA), e ―Ecology, Biodiversity and Creation,‖ Creation ExNihilo Technical Journal 14:2 (2000), págs. 82-90. (P.O. Box 6307; Acacia Ridge, D.C.; Qld. 4119,
Austrália).
4. P. H. Raven, ―Ethics and Attitudes‖, em Simmons, et al. (eds.), Conservation of Threatened Plants
(New York: Plenum Publishing, 1976), págs. 155-181. Citado por Y. Baskin, The Work of Nature:
How the Diversity of Life Sustains Us (Washington, D. C.; Island Press, 1997), págs. 36, 37.
Textos sobre Criacionismo
Fazendo a conexão
104 |
Artigo 23
A procura da arca de Noé
David Merling
Textos sobre Criacionismo
A arca de Noé tem fascinado a todos —
desde o tempo de Noé até ao nosso. A
arca atrai a atenção de todos.
Mas onde está a arca? Alguns em
tempos
recentes
têm
declarado
ousadamente que ela foi achada, e se
perguntam por que os eruditos não
publicaram as boas novas. Como
arqueólogo, eu ignorei a questão durante
anos por certo número de razões.
Primeiro, o bom senso sugere que uma
estrutura de madeira como a arca,
exposta por milhares de anos à chuva,
neve e gelo, e experimentando o
processo anual de congelamento e
degelo, teria se decomposto há muito
tempo.
Alguns têm sugerido que a madeira
―gopher‖ de antes do Dilúvio tinha uma
resistência excepcional. Mas a verdade é que nada sabemos da madeira ―gopher‖. Supomos que
fosse um tipo de cipreste. Mas é tão indestrutível como alguns sugerem? Talvez sim, talvez não.
Se fosse, por que é que paleo-botânicos não acham amostras desta madeira ―gopher‖ de antes do
Dilúvio? Certamente, nem toda madeira ―gopher‖ ter-se-ia petrificado; parte dela devia ter
flutuado e repousado na superfície da Terra depois do Dilúvio, do mesmo modo que a arca. Que
aconteceu com toda aquela madeira? Minha suposição é que, como a madeira da arca de Noé,
decompôs-se há muito.
Segundo, nem a Bíblia nem os escritos de Ellen G. White — uma autora respeitada para os
adventistas do sétimo dia — apóiam a idéia que Deus preservou a arca de Noé como um
testemunho para os que vivessem nos últimos dias. Se a arca de Noé fosse tão importante para
Deus e os acontecimentos finais, Ele teria revelado esta mensagem a Seus profetas (Amós 3:7).
Depois de Gênesis 8 a Bíblia permanece silenciosa sobre a existência da arca de Noé. Além
disso, o argumento de que a arca de Noé tem um lugar especial nos desígnios divinos para o fim
do mundo solapa o uso bíblico do arco-iris como o concerto pós-Dilúvio, visível entre Deus e a
humanidade (Genêsis 9:11-17). Com efeito, o arco-iris, como sinal da confiabilidade de Deus, se
| 105
prolonga até ao Livro do Apocalipse (4:3; 10:1).
A partir do relato bíblico, é claro que Noé e sua família deixaram a arca para trás e olharam para
o arco-iris como o sinal de que podiam confiar em Deus. A arca era algo do passado. O arco-iris
era o sinal do futuro.
Por estas e outras razões, eu cria que a procura da arca de Noé fosse um desperdício de tempo até 1992. Naquele ano, concordei em escrever dois artigos sobre a pretensa descoberta da arca de
Noé.1 Aqueles artigos foram em resposta à pretensão de um adventista do sétimo dia de que Deus
o tinha guiado na descoberta da arca de Noé e de muitos artefatos antigos. Desde então, o assunto
da arca de Noé tem absorvido muito mais de meu tempo do que eu esperava.
O que descobri é que há alguns cristãos sinceros que estão à procura da arca de Noé
cientificamente e com entusiasmo. Há também alguns cujo trabalho é difícil classificar. A
maioria do primeiro grupo se chama ―pesquisadores‖ e levam em consideração toda evidência:
aquilo que apóia suas crenças, e aquilo que não apóia. Em outras palavras, eles falam tanto das
evidências positivas como das negativas.2 Reconhecem que ela não foi achada, embora creiam
que ela ainda exista, e estão envolvidos ativamente em procurá-la.
Há um outro grupo que pretende ter achado a arca de Noé. Muitos deles adotam títulos sonoros e
tentam confundir os mal-informados com pretensões falsas. Ignoram evidência negativa e usam
artefatos falsos para apoiar suas conclusões. Às vezes este último grupo é representado por
jornalistas que por falta de notícias escrevem sobre a descoberta da arca de Noé, sem apresentar
evidência concreta.3 Este artigo vai ignorar este segundo grupo e enfocar os pesquisadores sérios.
A procura da arca de Noé tem-se limitado em grande parte a uma região na Turquia oriental por
causa da afirmação bíblica de que a arca repousou sobre o ―Ararate‖ (Gênesis 84).
Freqüentemente omitido na leitura deste verso é que ele diz que a arca repousou sobre as
―montanhas de Ararate‖. Nenhuma montanha específica é mencionada na Bíblia como o lugar de
pouso da arca.
O nome Ararate é o equivalente de ―Urartu‖, um povo e lugar dos tempos do Velho Testamento,
localizado no que hoje é a Turquia oriental. Os habitantes de Urartu eram fortes adversários dos
assírios.
Quando Gênesis 8:4 fala das ―montanhas de Urartu‖ significa que a arca poderia estar em
qualquer parte do país de Urartu, pois toda
aquela região era montanhosa. O tamanho
desta área, que mais tarde tornou-se a Armênia
e é agora a região ocupada pelos curdos, é
bastante grande (ver o mapa).
A montanha mais alta na região é a Büyükagšri
Dagši, de 5.138 metros de altura, comumente
chamada Monte Ararate. Esta montanha está
localizada ao norte do Lago Van, exatamente
ao norte da cidade de Dogšübayazit. Com
efeito há dois Montes Ararate, um ―maior‖ e
um ―menor‖. Ambos são os restos de vulcões,
e ambos se destacam da região circundante.
Este massiço montanhoso é coberto de neve o
ano todo com geleiras permanentes.
Obviamente, pesquisadores à procura da arca
de Noé têm sido atraídos às montanhas mais
altas.
Especificamente, pessoas têm pretendido ou de
ter achado madeira trabalhada nas escarpas da
montanha4 ou de ter visto a própria arca. Os
testemunhos quanto à sua existência são tão
numerosos que este artigo não dispõe de
espaço para avaliá-los todos.5 Escolhi três
pretensões recentes para análisá-las.
Os relatos de Navarra
Textos sobre Criacionismo
A procura da arca
106 |
Em seu livro Noah’s Ark: I Touched It,6 Fernand Navarra, o industrial francês, relata suas quatro
expedições (1952, 1953, 1955 e 1969) ao Monte Ararate. Sua subida de 1952 levou-o ao que ele
suspeitou ser a arca de Noé. Em 1955, acompanhado por seu filho de onze anos, Navarra
descobriu numa fissura profunda pedaços de madeira ―trabalhada à mão‖. Ele cortou um pedaço
de metro e meio da madeira e mais tarde reduziu-o a pedaços menores para transportá-los mais
facilmente. Quando publicado na Europa, seu achado foi visto por muitos como evidência de que
a arca de Noé, ou restos dela, ainda existiam.
Depois de muita negociação e demora, Navarra voltou para a Turquia oriental em 1969 numa
expedição patrocinada pela Search Foundation. De novo, com muito esforço, perto do lugar de
sua descoberta de 1955, o grupo descobriu alguns pedaços pequenos de madeira. Muitos creram,
entre eles os participantes da expedição, que restos da arca de Noé tinham sido encontrados.
Infelizmente, a madeira testificou ao contrário. Quando a madeira foi examinada pelo método do
Carbono 14 (C14), a madeira provou-se ter apenas algumas centenas de anos. Previamente,
quando Navarra fez sua madeira ser examinada por vários institutos, todos eles tinham atribuido
datas antigas, mas tinham usado métodos subjetivos visuais como base de suas conclusões. 7
Quando a Search Foundation voltou com o material encontrado, ela enviou amostras de sua
madeira a várias organizações para uma análise de C14. Segundo os relatos, todos os pedaços de
madeira, inclusive o pedaço original de Navarra, datavam da era cristã 8 — não do tempo de Noé.
Outros alpinistas do Monte Ararate têm também descoberto pedaços de madeira, mas somente o
achado original de Navarra foi datado cientificamente. Pode-se concluir que o achar madeira na
montanha não é por si mesmo prova da descoberta da arca de Noé.
Textos sobre Criacionismo
As fotografias de Greene
Alguns pretendem ter fotografado a arca.
Infelizmente, tais fotografias são sempre tiradas
de muito longe e estão sujeitas a uma variedade de
interpretações. Ou as fotografias se perderam, ou
foram roubadas. Uma dessas histórias mais
interessantes é a de George J. Greene. Em 1952
ele estava trabalhando como engenheiro de minas
na Turquia oriental. Um dia, quando voava perto
do Monte Ararate, ele espreitou o que lhe parecia
como um grande navio perto do topo da
montanha. Voando com um helicóptero, ele
gastou vários minutos fotografando o objeto à
distância até de 30 metros. Depois de voltar aos
Estados Unidos, com as fotografias em mão, ele
tentou, sem sucesso, organizar uma equipe e
voltar ao Monte Ararate. Nenhum de seus amigos
parecia interessado. Surpreendentemente, nenhum
jornal publicou sua história. Depois de alguns
anos, Greene deixou os Estados Unidos em busca
de outras aventuras. Acabou sendo morto por
bandidos na Guiana Britânica e as fotografias da
arca foram perdidas, embora umas 30 pessoas
pretendem ter visto as fotografias.9 Embora o
relato pareça impressionante, alguns que
pretendem as terem visto não têm certeza de que o
que viram era um barco.10
A pretensão de Davis
Outro relato fantástico é o de Ed Davis que pretende ter visto a arca de menos de kilômetro e
meio de distância.11 Davis era sargento no exército dos Estados Unidos, estacionado em
Hamadan, Irã, durante a Segunda Guerra Mundial. Aí fez amizade com um jovem de nome Badi,
ligado ao exército como motorista civil. De Hamadan é possível ver o Monte Ararate em dias
claros. Badi contou a Davis que sua família vivia ao sopé do Monte Ararate e tinha visitado a
arca de Noé muitas vezes. De fato, a família de Badi se considerava protetora da santa relíquia.
Finalmente, Davis foi com a família de Badi para ver a arca. 12 O pai de Badi, Abas-Abas, dirigiu
| 107
Conclusão
Ainda permaneço cauteloso. Não há evidência segura que se veja ou toque. A evidência precisa
ser ponderada para adquirir credibilidade. Evidência baseada em contos, como regra, não merece
confiança. Não temos visto como num tribunal as testemunhas muitas vezes discordam? Davis
pode ter visto algo, mas o quê? Com efeito, os muitos vôos e fotografias do astronauta Jim Irwin
na região do Ararate, e mesmo vôos pelas áreas sugeridas pelo relato de Davis, não produziram
nenhuma fotografia da arca de Noé.
A inclinação natural de pessoas do Oriente é de agradar seus hóspedes. Esta bondade natural
pode ser uma razão por que alguns pensam ter visto a arca de Noé. Uma caminhada de três dias
com chuva e neblina dia e noite, e um apanhado à distância de kilômetro e meio não é evidência
conclusiva. Mostrar a um estrangeiro dois afloramentos naturais à uma distância de uma milha e
de ser informado que se trata das duas metades da arca de Noé, não seria fora do comum,
especialmente se uma família procurasse agradar um amigo. Isso não é para sugerir que tal foi o
caso da história de Ed Davis. O que quero dizer é que sem evidência objetiva não é possível
saber o que alguém realmente viu, tocou ou experimentou.
Textos sobre Criacionismo
a expedição, mas, antes de deixar a vila, Davis pôde ver gaiolas e outros artefatos que a família
dizia ter trazido da arca.
Abas-Abas dirigiu o grupo numa caminhada de três dias. Pernoitaram em cavernas. Depois de
três noites, estavam a menos de kilômetro e meio da arca. Davis podia vê-la daquele ponto.
Infelizmente, seus três dias de caminhada foram gastos na neblina, com chuva caindo dia e noite.
Por causa das condições desfavoráveis do tempo, não puderam descer da lage onde estavam até a
arca ou de vê-la por dentro. Segundo Davis, a arca estava partida em duas metades, mas ambas
metades estavam (em 1943) bem preservadas. Durante esta caminhada, nenhuma fotografia foi
tomada, mas subseqüentemente, Davis recebeu uma fotografia da vila de Abas-Abas. Depois de
voltar à sua base militar Davis escreveu estas palavras em sua Bíblia:
―Fui ao Ararate
com
Abas.
Vimos
um
grande barco
sobre
uma
encosta
em
dois pedaços.
Fiquei com ele
na casa grande.
Choveu
e
nevou durante
dez dias. Parei
em Tarharan e
obtive
provisões e me
aqueci
e
descansei.
Também
alguma roupa
nova. O tenente
Bert regozijouse por eu estar
de
volta.
Esteve ansioso
por mim. Receava que eu teria sido morto, imagino. Estou contente de ter ido. Penso que seja a
arca. Abas tem muitas coisas de lá. Minhas pernas quase sararam da corrida a cavalo‖.
Muitos sérios pesquisadores da arca consideram a história de Ed Davis como evidência de
primeira mão, não só da existência da arca, mas também de sua localização. Se tão somente o
governo lhes permitisse livre acesso à montanha, eles pensam que poderiam achar a arca,
baseando-se na informação que Davis tinha provido.13 Davis até passou um teste de polígrafo
para confirmar suas declarações.
108 |
Quanto aos outros relatos, minha própria sugestão é que alguns dos antigos que pretendem ter
visto a arca de Noé quando eram crianças, estavam realmente vendo alguma configuração
geológica na forma de um barco 25 kilômetros ao sudeste do Monte Ararate.
Não temos evidência de que a arca de Noé exista hoje. Existiu ela jamais? Para isso temos a
garantia da Palavra de Deus e a presença do arco-iris.
David Merling (Ph.D., Andrews University) é professor associado de arqueologia e história da
antiguidade na Andrews University e diretor do Museu Arqueológico Horn. Seu endereço:
Institute of Archaeology; Andrews University; Berrien Springs, Michigan 49104; E.U.A. E-mail:
[email protected]
Notas e referências
Textos sobre Criacionismo
1. Foram publicadas na Adventist Review, 20 e 27 de maio de 1993.
2. Ver Don Shockey, Agri-Dagh (Mount Ararat); The Painful Mountain; Artifacts From Noah’s Ark
Found on Mount Ararat (Fresno, Calif.; Pioneer Publishing Company, 1986), pág. 38.
3. Por exemplo, a história do sitiante curdo Resit, relatado nos jornais em 1948. Supostamente, toda
uma aldeia curda viu a arca. Um grupo liderado pelo presidente de um colégio americano partiu
para achar Resit e ver a arca por si mesmos. Infelizmente, depois de fazer a longa viagem, não
puderam achar ninguém chamado Resit nem sua aldeia nem pessoa alguma dentro de 100 milhas
do Monte Ararate que tivesse ouvido da história. Ver Lloyd R. Bailey, Noah: The Person and the
Story in History and Tradition (Columbia, SC: University of South Carolina Press, 1989), pág. 88.
4. Por não haver árvores na montanha ou na proximidade, a pergunta natural é: ―Como poderia
madeira ser achada alto na montanha, a menos que tivesse sido originalmente parte da arca de
Noé?‖
5. Shockey sugere 200 observações. Ver seu livro, Agri-Dagh, pág. 41.
6. Editado por Dave Balsiger (Plainfield, New Jersey: Logos International, 1974).
7. Rene Noorbergen, The Ark File (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1971), pág. 134.
8. Ibid., págs. 142-144.
9. Ver Violet Cummings, Noah’s Ark: Fact or Fable? (San Diego, Calif.: Creation-Science Research
Center, 1972), págs. 213-223.
10. Ver Bailey, pág. 89.
11. Ver Shockey, pág. 7.
12. Ibid, pág. 37.
13. Shockey, pág. 42.
| 109
Artigo 24
Ética para cientistas:
responsabilidade
um
chamado
à
Katrina A. Bramstedt
A biotecnologia é um campo da medicina em rápida expansão. Os conceitos da série televisiva
Star Trek (Jornada nas Estrelas), tais como o escaneamento do corpo e o tratamento de tumores
com luz dirigida, são agora práticas clínicas normais. Implantes estão disponíveis para a terapia
de uma série de condições cardíacas, neurológicas e ortopédicas. Próteses sintéticas1 e diferentes
tipos de substituição de orgãos2 estão chegando. Embora a intenção do cientista seja criar uma
tecnologia clínica benéfica, os passos entre a pesquisa, o desenvolvimento e os recursos providos
ao paciente, são numerosos e complexos. As tecnologias que poderiam parecer moral e
conceitualmente apropriadas, requerem uma ponderação ética em cada fase de seu
desenvolvimento. Mesmo depois da chegada da tecnologia ao mercado, a responsabilidade ética
não termina. De uma perspectiva cristã, a mordomia ética de nossos talentos dados por Deus e
das tecnologias deles resultantes, é essencial ao crescimento da ciência, para promover sua
credibilidade e maximizar o benefício de suas aplicações clínicas.
Um conceito-chave em toda pesquisa empreendida é a confiabilidade. A sociedade em geral é
inexperiente em assuntos de pesquisa e ciência. Por causa disso, ela deposita sua confiança nos
cientistas. Reconhece-os como peritos com treinamento e habilidades ímpares que ela mesma
não possui. Não tendo esse preparo e capacidade, as pessoas acham-se numa posição vulnerável.
A sociedade espera que os cientistas lidem com as questões clínicas difíceis, na esperança de
resolvê-las. Isso posto, os cientistas têm uma grande responsabilidade para com as pessoas que
neles confiam, especialmente porque muitos dos que se apóiam na ciência são os mais
vulneráveis – os doentes.
Como essa responsabilidade toma forma? De fato, a honestidade intelectual é indispensável para
uma pesquisa científica válida. Erros não intencionais são questões que diferem daquelas
procedentes de conduta acintosa, tais como falsificação e plágio. Não somente é a falsificação de
dados (mascaramento de informações ou experiências, adulteração de dados, etc.) uma violação
da confiança que a sociedade deposita na ciência, como também resulta na malversação das
escassas finanças e invalida os futuros estudos originários do projeto em questão. Ademais, uma
pesquisa dessa natureza tem o efeito de retardar o progresso da ciência em benefício dos
pacientes, porque reduz ou elimina oportunidades de financiamento e cooperação com outros
cientistas. A ciência fraudulenta pode também prejudicar os pacientes ao ocultar dados
potencialmente negativos.
O plágio pode aparecer em muitas formas, mas sua manifestação mais proeminente é a
atribuição, por parte de um estudioso, da autoria do trabalho de outro a si próprio. Isso não
somente é desonesto, como também desrespeita a diligência e a perícia que o colega empreendeu
na conceituação ou produção do trabalho. Embora os dois colegas possam estar separados por
milhares de quilômetros e sejam desconhecidos um do outro, não obstante são companheiros
devido à natureza da ciência como uma profissão. Mesmo a presença de uma grande diferença de
relacionamento havida entre professor e estudante ou empregador e empregado, não elimina a
responsabilidade ética de dar crédito a quem de direito. Além disso, tal atitude responsável
promove relações amistosas e crescimento da ciência, quando os cientistas confiam
suficientemente um no outro, ao ponto de partilharem entre si experiências e conhecimentos.
Freqüentemente, no curso de uma pesquisa, formam-se relações que podem potencialmente
prejudicar a credibilidade dos cientistas ou de seu projeto. Esses relacionamentos amiúde tomam
a forma de lucro financeiro, tal como a posse de ações relacionadas com o projeto ou o
pagamento direto pelo patrocinador. Isso pode ser chamado de um conflito de interesses, porque
tende a prejudicar a objetividade do pesquisador durante o curso do projeto. À medida que o
financiamento de pesquisas pelo governo diminui, e o relacionamento entre universidade e
indústria cresce constantemente, questões dessa natureza precisam ser exploradas por causa de
seus efeitos para a ciência como uma profissão, e para os pacientes a quem as tecnologias devem
beneficiar. Mesmo que conflitos de interesses tais como ligações financeiras não possam ser
evitados, no mínimo deveriam ser revelados a colegas cientistas e à sociedade (durante a
Textos sobre Criacionismo
Honestidade intelectual
110 |
publicação do artigo, por exemplo), num esforço de promover a abertura e a objetividade com
relação aos dados gerados. Conquanto possa existir dualidade de interesses, nossas prioridades
devem estar alinhadas eticamente.
Uso de animais
Se bem que este não seja um fórum de debates sobre a permissividade ética do uso de animais
em pesquisa científica, é claro que poucas ou nenhumas tecnologias chegam à utilização de seres
humanos, sem primeiro realizar testes com animais. Sabendo disso, o bem-estar de animais de
laboratório precisa ser lembrado. Segundo nosso dever cristão de domínio sobre animais
(Gênesis 9:2; Daniel 2:38), isso bem poderia incluir assuntos de nutrição, hidratação, abrigo e
cuidado veterinário ao longo do curso da experimentação laboratorial. Os estudos deveriam ser
planejados de modo a usar o número mínimo de animais para o provimento da validade científica
e estatística. Eles deveriam considerar o uso de modelos não-animais quando apropriados (isto é,
simulações de computador), e ser planejados de modo a minimizar a dor e o sofrimento para os
irracionais. Todos os estudos deveriam ser aprovados por uma comissão de bem-estar animal,
sob a supervisão de um veterinário licenciado. Como ocorre com qualquer experiência que se
torne insignificante, essa deveria ser interrompida ou descontinuada, num esforço de mordomia
ética dos recursos (financeiros e outros).3
Textos sobre Criacionismo
Aplicação humana
O objetivo final da maior parte da pesquisa científica é a aplicação humana direta, e por isso
experimentos clínicos em seres humanos são uma prática corrente. Um engano comum cometido
por voluntários de muitos experimentos clínicos, é que eles crêem que sua participação os
beneficiará pessoalmente.4 Essa crença é especialmente um risco para pessoas que não têm
seguro médico e para as quais a participação num experimento clínico é seu único recurso de
―cuidado clínico‖. Também é um risco para pacientes que ―experimentaram de tudo‖ e
consideram a experiência clínica sua ―única esperança‖. Ao incluir pacientes em pesquisas
clínicas, os cientistas têm o dever moral de informá-los claramente que o experimento está sendo
efetuado para coletar dados em benefício de futuros pacientes, e que qualquer benefício imediato
obtido pelo participante na pesquisa é um bônus altruísta.
É inapropriado para um cientista descrever seu estudo de um modo que poderia gerar esperanças
falsas para os participantes. A seleção de pessoas para a participação em experimentos deveria
ser feita segundo diretrizes estritas emanadas da mesa administrativa da instituição, usando
protocolos aprovados que respeitem a segurança e o bem-estar do participante. Os participantes
potenciais deveriam receber informação ampla sobre o objetivo do estudo e seus riscos, de
maneira a poderem compreendê-los. Dever-lhes-ia ser permitido oferecerem-se
espontaneamente, sem qualquer coerção, como voluntários para o estudo. Os danos físicos ou
psicológicos deveriam ser minimizados. É preciso que se permita aos participantes retirar-se da
pesquisa a qualquer tempo. Privacidade e confidencialidade deviam ser mantidas, e os estudos
genéticos deveriam incorporar garantias adicionais e apropriadas, incluindo aconselhamento
genético. Os participantes da pesquisa, quer humanos quer animais, não deveriam ser usados
como meios para um fim. Como criaturas de Deus, eles são fins em si mesmos e deviam estar
munidos de todas as proteções disponíveis e tratados com respeito.
Aconselhamento
Um importantíssimo instrumento de facilitação das responsabilidades éticas que mencionei, é o
aconselhamento. Tanto cientistas jovens como ―maduros‖, podem tirar benefício do
aconselhamento competente dado por colegas experientes. Essa orientação deveria tomar a forma
tanto de conselho técnico como de direcionamento moral. Além de prover direção mediante
instrução verbal ou escrita, bons conselheiros também ensinam pelo exemplo. Devem ser capazes
de transmitir grande volume de informações a seus estudantes e colegas, e treiná-los a serem
bons conselheiros para outros. O bom aconselhamento é também um testemunho para a
sociedade, de que os cientistas se preocupam genuinamente com a dignidade de sua profissão.
Na prática de qualquer profissão, nosso melhor modelo ético é provido por Cristo. A ciência é
imperfeita e falível, porque os cientistas são imperfeitos e falíveis. Embora possamos obter
conhecimento, não somos oniscientes e podemos nos meter em áreas que alguns achariam ser
eticamente inapropriadas (ou seja, certos métodos de reprodução assistida, manipulação genética,
pesquisa para o prolongamento da vida, etc.). Uma vez que a Bíblia não é prescritiva nessas áreas
―altamente técnicas‖, os cientistas cristãos deveriam buscar conselho de Deus mediante oração.
Nosso Criador nos deu, como Seus administradores, talentos e instrumentos para facilitar o
| 111
avanço da ciência e a promoção da saúde dos pacientes, contudo, esses talentos e instrumentos
não podem ser desacompanhados da responsabilidade do uso ético. Tanto o processo como os
produtos do emprego de nossos talentos, estão sujeitos a responsabilidades éticas de respeito às
pessoas que nos cercam, protegendo-as do dano e maximizando os benefícios que nossa pesquisa
lhes pode prover.
Katrina A. Bramstedt (Ph.D. pela Monash University) é professora clínica associada no Loma
Linda University Center for Christian Bioethics. Seu endereço postal: Loma Linda, Califórnia,
92350; EUA. Endereço E-mail:[email protected]
Notas e referências
Textos sobre Criacionismo
1. R. D. Dowling, S. W. Etoch, K. Stevens, et al. ―Initial Experience with the AbioCor Implantable
replacement Heart at the University of Louisville,‖ ASAIO Journal 46 (2000):579-581.
2. K. A. Bramstedt, ―Ethics and the Clinical Utility of Animal Organs,‖ Trends in Biotechnology 17
(1999):428-429.
3. Animal Welfare Act, United States Code Title 7, Sections 2131-2156.
4. H. K. Beecher, ―Ethics and Clinical Research,‖ New England Journal of Medicine 274 (1996):13541360
112 |
Textos extraidos das publicações do Geoscience Research
Institute
Artigo 25
IDADE RADIOISOTÓPICA, PARTE I
R. H. Brown (Jubilado)
Geoscience Research Institute
Tradução: Urias Echterhoff Takatohi
Geoscience Reports 20:1-3 (Spring 1996).
Textos sobre Criacionismo
Página Relacionada — | EDITORIAL | INGLÊS |
Introdução
"Lucy, podemos agora com confiança dizer, viveu a 3,18 milhões de anos
atrás, mais ou menos 10,000 anos." 1 Sobre que base alguém pode afirmar que
existiram humanóides na Terra a 3,18±0.01 milhões de anos atrás? Tais
afirmações são baseadas em datação radioisotópica. A atribuição de idade de
Lucy foi feita por datação pelo método potássio-argônio da rocha na qual seu
esqueleto foi encontrado. O testemunho conflitante da Bíblia com respeito ao
tempo desde a semana da criação requer uma avaliação crítica da datação
radioisotópica.
O que é uma Idade Radioisotópica?
A idade radioisotópica de uma amostra é obtida pelo cálculo do tempo
necessário para átomos pai instáveis [P] se converterem espontaneamente em
átomos filho [F] em quantidade suficiente para dar conta da razão atual F/P na
amostra. Para a datação de Lucy, P era o isótopo instável do potássio de
número de massa 40 [40K] e F era o isótopo estável do argônio com número de
massa 40 [40Ar].
Dados Conflitantes
Lava proveniente da erupção do Hualalei no Hawaii em 1901 AD tem idade
potássio-argônio (K-Ar) tão grandes como 1,1 bilhões de anos. Erupções
históricas do Monte Kilauea no Hawaii (Figura 1) produziram lavas submarinas
com idades K-Ar tão grandes como 43 milhões de anos. Obviamente estas
idades K-Ar não representam o tempo da erupção ou a idade dos derrames de
lava. As idades devem refletir outras características da lava.
| 113
Figura 1. Erupção do Kilauea em 1986. (Foto
cortesia de Clyde Webster)
De uma perspectiva bíblica, as idades radioisotópicas de minerais
associados com fósseis são características dos minerais nos quais o material
orgânico foi enterrado, e não provêem nenhuma informação concernente ao
tempo do soterramento. As datas das sepulturas em cemitérios são
determinadas pelas informações históricas sobre as pedras tumulares, e não
de idades radioisotópicas das pedras, rochas e solo associados com os locais
de enterramento. De forma semelhante há uma base cientificamente correta e
razoável para estimar as idades dos fósseis com base nos dados cronológicos
na Bíblia, em vez de nas idades radioisotópicas dos minerais e camadas de
rochas agora associadas com os fósseis.
História da Escala de Tempo Geológica Baseada em Datação Radioisotópica
Antes da descoberta da radioatividade no final do século XIX, uma escala de
tempo geológica fora desenvolvida com base em estimativas de taxas de
processos geológicos tais como erosão e sedimentação, com o pressuposto de
que estas taxas tinham sido essencialmente uniformes através do tempo. As
Textos sobre Criacionismo
Idade K-Ar de um depósito vulcânico em Katmai, Alaska, sugerem atividade
vulcânica a quatro milhões de anos. Registros históricos estabelecem que a
erupção que produziu estes depósitos ocorreram em 1912 AD.
Um aspecto dominante da topografia na área de Auckland, Nova Zelândia, é
o Monte Rongitoto. Durante o tempo de atividade deste vulcão, uma floresta
próxima foi enterrada e fossilizada em material com uma idade K-Ar de 485 mil
anos. Entretanto, o conteúdo de carbono 14 [ 14C] destas árvores fossilizadas
indicam seu soterramento a menos de 300 anos! (As árvores contém até 96%
de carbono 14 radiativo em relação ao encontrado em árvores vivas. A
quantidade de 14C presente no material vivo diminui a 50% em 5715 anos após
a morte.)
Estes exemplos2 estabelecem adequadamente que uma idade radioisotópica
não tem necessariamente um significado de tempo real. A relação entre a
idade radioisotópica com o tempo real deve ser baseado em uma intepretação.
Uma discussão sobre idades rubídio-estrôncio na seção de Geociência
Isotópica da revista, Chemical Geology, afirma especificamente que uma
determinação de idade radioisotópica "não define com certeza uma idade
válida para um sistema geológico."3 Qualquer interpretação irá refletir os
pressupostos (tendências) do intérprete.
Uma Explicação
Textos sobre Criacionismo
114 |
primeiras determinações de idades de rochas a partir de razões entre produtos
de desintegração radioativa e respectivo pai radioativo foram rejeitadas pelos
geólogos por serem inaceitavelmente grandes. Por volta de 1925 uma maior
confiança nas técnicas de datação radioisotópicas e a necessidade da teoria da
evolução de tempos muito longos levaram ao estabelecimento de uma escala
de tempo geológica expandida. Com as técnicas de datação por K-Ar
desenvolvidas após a Segunda Guerra Mundial, esta escala de tempo foi
refinada resultando na Escala de Tempo Geológico Padrão adotado em 1964.
A construção desta escala de tempo foi baseada em cerca de 380 idades
radioisotópicas que foram selecionadas devido a sua concordância com a
sequência fóssil e geológica presumida encontrada nas rochas. Idades
radioisotópicas que não satisfizeram estes requisitos foram rejeitadas com
base em modificações químicas e/ou físicas presumidas que tornaram as
idades indicadores do tempo real não confiáveis. Cerca de 85% destas
seleções foram idades por K-Ar, 8% idades por rubídio-estrôncio, e 4% idades
por urânio-chumbo.4 Os determinantes cruciais são rochas vulcânicas (ígneas
extrusivas) que estão entre camadas de sedimentos, e rochas ígneas intrusivas
que penetram sedimentos - as rochas ígneas são particularmente adequadas
para datação por K-Ar.
Processos que Afetam Idades por K-Ar
Desde que a escala de tempo geológica (Tabela 1) está em grande parte
baseada em datações por K-Ar de amostras selecionadas de material ígneo,
deve-se considerar a possibilidade de que qualquer idade por K-Ar possa
refletir meramente uma característica do material, em vez de indicar tempo
real. Os exemplos de idades anômalas por K-Ar citadas anteriormente neste
artigo apoiam fortemente esta possibilidade e justificam outros exames destas
características, e dos processos que afetam as idades por K-Ar.
As idades por K-Ar de derrames sucessivos ou depósitos de cinza nos
flancos de vulcões geralmente aumentam (como esperado) com a ordem
inversa do derrame, isto é, com a profundidade, mesmo quando o lapso de
tempo real entre erupções não é igual às diferenças de idade por K-Ar. Este
aspecto tem sido identificado como indicativo de dois fatores: zoneamento na
câmara de magma (rocha fundida) que alimenta o vulcão, e aquecimento
progressivo do canal de magma.
Como o argônio é um gás nobre, é facilmente compreensível que a
concentração possa aumentar das porções inferiores para as superiores de
uma câmara de magma no interior da crostra da Terra. Em uma série de
erupções para a superfície, ou intrusões abaixo da superfície, a concentração
de argônio pode diminuir progressivamente. Como a idade por K-Ar é
proporcional à razão de 40Ar/40K (produto de desintegração/nuclídeo radioativo
pai), erupções sucessivas ou intrusões podem ter idades por K-Ar
decrescentes, que não especificam o tempo real ao qual o evento ocorreu.
À medida que o magma força passagem através das rochas de superfície, o
canal de passagem é aquecido, com um resfriamento correspondente do
magma, e algum magma é diluído pela fusão das paredes do canal.
Consequentemente, em um evento vulcânico ou numa seqüência de eventos
em um intervalo curto de tempo, o material ejetado é progressivamente mais
quente. Quanto mais alta a temperatura da erupção, mais argônio dissolvido irá
escapar enquanto o material ejetado esfria, e menor será a ―idade‖ por K-Ar
com respeito à aquela que caracteriza a fornte da erupção. Assim, há dois
| 115
fatores que produzem idades por K-Ar que aumentam com a profundidade,
mas que não indicam necessariamente intervalos de tempo real.
Conclusão
De uma perspectiva criacionista, a evidência geológica indica que, associado
com o Dilúvio, ocorreu uma atividade vulcânica e intrusiva de grandes
proporções em todo mundo. A expressão ―as fontes do abismo‖ (Gênesis 7:11)
podem indicar tanto magma quanto água. Devido a 1) variação da
concentração de argônio e outros elementos com a profundidade nas câmaras
de magma da crosta terrestre, e 2) a natureza da atividade magmática
associada ao Dilúvio, pode-se esperar que a formação geológica seqüencial
em todo mundo seja frequentemente marcada por idades radioisotópicas
seqüenciais de ―mais velhas‖ para ―mais jovens‖ de baixo para cima.
Tabela 1. A Coluna Geológica
SISTEMA OU PERÍODO
Quaternário
Neogeno
Cenozóico
Terciário
Paleogeno
Cretáceo
SÉRIE OU ÉPOCA
ESCALA DE
TEMPO
PADRÃO*
Holoceno (Recente)
0,01
Pleistoceno
2,5
Plioceno
7
Mioceno
26
Oligoceno
38
Eoceno
54
Paleoceno
65
Superior, Inferior
136
Mesozóico Jurássico
Superior, Médio, Inferior
190
Triássico
Superior, Médio, Inferior
225
Permiano
280
Pennsylvaniano Superior, Médio, Inferior
325
Mississippiano
Superior, Inferior
345
Superior, Médio, Inferior
395
Siluriano
Superior, Médio, Inferior
430
Ordoviciano
Superior, Médio, Inferior
500
Cambriano
Superior, Médio, Inferior
570
Superior, Médio, Inferior
4600
Carbonífero
Paleózoico Devoniano
Precambriano
*Representa milhões de anos; não apoiado pelo Geoscience Research Institute
NOTAS
1. Johanson DC. 1996. Face to face with Lucy's family. National Geographic (March):96117.
2. Proceedings of the First International Conference on Creationism, II:31-57. Pittsburgh,
PA: Creation Science Fellowship. Ver também: Capítulo 8 da referência a Dalrymple e
Lanphere p. 51 do Proceedings.
3. Zheng Y-F. 1989. Influences of the nature of the initial Rb-Sr system on isochron
validity. Chemical Geology (Isotope Geoscience Section) 80:1-16.
4. York D, Farquhar RM. 1972. The earth's age and geochronology. Pergamon Press. Ver
Capítulo 8.
Textos sobre Criacionismo
ERA
116 |
IDADE RADIOISOTÓPICA, PARTE II:
Gênesis e Tempo:
O que a Datação Radiométrica nos Diz*
C. L. Webster, Jr.
Geoscience Research Institute
Tradução: Urias Echterhoff Takatohi
Geoscience Reports 21:1-6 (Fall 1996).
Página Relacionada — | EDITORIAL | INGLÊS|
Textos sobre Criacionismo
Ao ouvir as estimativas da idade da Terra que vão de 6.000 a mais de
quatro bilhões de anos, você pode ter se perguntado, "Que diferença faz o que
creio sobre a idade da Terra? Que importa de fato a quanto tempo a vida tem
estado aqui?" Colocado de forma simples, suas crenças sobre estes assuntos
se refletem em sua percepção sobre a confiabilidade da Bíblia. Também faz
uma importante diferença em como você interpreta as hipóteses oferecidas
pela ciência e a informação apresentada na Bíblia.
Como cristão crentes na Bíblia, aceitamos como fato que Deus criou a
Terra. Como seres inteligentes, buscamos entender a criação de Deus usando
as ferramentas analíticas oferecidas pela ciência humana. A datação
radiométrica está entre os métodos mais utilizados para calcular a idade de
nosso planeta. Os métodos são baseados na análise da radioatividade na
matéria. O que a datação radiométrica pode nos dizer sobre a idade da Terra e
do Sistema Solar? Quais são as implicações para nossa interpretação do relato
bíblico da criação?
Relógio de Rocha de Rube Goldberg
(você ajusta o sino de alarme pela
escolha de uma meia vida
apropriada da rocha marcadora de
tempo).
Uma Breve História
O estudo do decaimento radioativo (a decomposição natural e espontânea
dos átomos) tem cerca de um século. Em 1896, o físico francês Henri
Becquerel relatou à Academia de Ciências de Paris a radioatividade no urânio.
Pouco depois em 1904, Lord Ernest Rutherford reconheceu o potencial do uso
do decaimento radioativo para determinar a passagem do tempo. Dois anos
mais tarde, Rutherford e Soddy calcularam em 550 milhões de anos a idade de
uma amostra de urânio encontrada no estado de Connecticut, USA.
A datação radiométrica não foi completamente explorada até depois da
Segunda Guerra Mundial. O famoso livro Radiocarbon Dating (Datação por
Radiocarbono) de W.J. Libby's foi publicado a pouco mais de 30 anos atrás.
Portanto, como uma área relativamente nova da ciência, a datação
radiométrica ainda apresenta muitas questões não respondidas.
Definições
A fim de discutir as questões colocadas no início deste artigo, é
necessário que nossos leitores tenham pelo menos um conhecimento
superficial sobre o processo do decaimento radioativo. Em resumo, a datação
radiométrica procura estabelecer a idade de uma amostra com base nas
razões entre isótopos pai e filho e as taxas constantes de decaimento do
isótopo radioativo presente. Isótopos de um elemento são átomos cujo núcleo
tem o mesmo número de prótons mas número diferente de nêutrons (ver
diagrama). Os núcleos atômicos de isótopos radioativos são instáveis. Em sua
transformação para uma configuração mais estável, os núcleos emitem
partículas subatômicas e excesso de energia. Este processo é conhecido como
decaimento ou desintegração. À medida que o decaimento ocorre, o material
―projenitor‖ (por exemplo, urânio) é tranformado em descendentes ou produtos
―filho‖ (por exemplo tório, etc.) Este processo continua até que um produto filho
estável é obtido (no caso do urânio, este é o chumbo).
O tempo necessário para que metade do material original desintegre é
conhecido como ―meia vida‖ do isótopo. Estas meias vidas variam de menos de
0,000000001 segundos até valores extremamente grandes (mais de um bilhão
de anos). Para um dado isótopo radioativo, atribui-se uma idade infinita após a
passagem de 7 a 10 meias vidas, porque após este ponto é estatisticamente
impossível detectar com precisão a presença do isótopo pai. Um objeto que é
infinitamente velho com respeito a todos isótopos não iria exibir nenhuma
radioatividade, pois todos isótopos radioativos teriam se desintegrado
completamente até seus produdos filho estáveis. Embora a datação
radiométrica seja amplamente usada e aceita, está longe de ser livre de
problemas.
Textos sobre Criacionismo
| 117
118 |
Textos sobre Criacionismo
Isótopos do Hidrogênio
Técnicas Diversas
Uma variedade de técnicas radiométricas são usadas (por exemplo,
potássio-argônio, rubídio-estrôncio, etc.) para medir as razões pai/filho de
diversos elementos encontrados em uma amostra. Esta variedade de técnicas
permite aos cientistas interpretarem o tempo aproximado nos quais uma
amostra experimentou os principais eventos tais como a formação de seus
elementos (nucleogênesis), solidificação, aquecimento, refusão, choque,
mistura com outros minerais, exposição à água ou a radiação de alta energia.
Os cientistas que fazem mais do que uma medida da idade radiométrica
em uma dada amostra não se surpreendem quando as idades resultantes
discordam. Esta discordância implica que a amostra estudada pode ter
experimentado mais do que um evento que altera sua idade. Estes eventos
afetaram diferentes isótopos na amostra em de formas diferentes. A
discordância pode prover indicações úteis na cronologia de eventos que a
amostra experimentou.
Em muitos casos técnicas quimicamente e fisicamente independentes
concordam. Estes dados concordantes não podem ser facilmente explicados e
freqüentemente apontam para eventos fisicamente significativos. A
concordância observada entre várias determinações de idade radiométrica para
a consolidação teórica de nosso Sistema Solar é um destes eventos.
Entretanto, antes de estabelecer a idade de nosso Sistema Solar, é crucial
notar que concordância de datas radiométricas não implica diretamente na
concordância entre a idade radiométrica e o tempo real.
| 119
É importante compreender que o clima acadêmico no qual as técnicas de
datação radiométricas foram desenvolvidas era um no qual são feitos os
pressupostos de longos tempos para o desenvolvimento das formas de vida
por meio da evolução. Este pressuposto promoveu a busca de idades que
apoiassem esta hipótese.
Esta corrente de pensamento também produziu um pressuposto
questionável: de que ―relógios‖ radiométricos na matéria são zerados quando a
matéria é movida devido a atividade ígnea (por exemplo, derrame de lava) em
vez de reter toda ou parte da ―informação de idade‖ durante seu transporte.
No processo de fossilização (quando o material de uma forma orgânica,
tal como uma planta, é substituída por material mineral) a hipótese de
zeramento sugere que a idade radiométrica do material mineral no fóssil é
também o tempo real mínimo do fóssil. O apoio não qualificado de tal aplicação
da hipótese de zeramento pode ser descrita como ―um engano do cemitério.‖ É
semelhante a uma pessoa tentando calcular a idade de um cadáver enterrado
verificando a idade da camada de solo acima e abaixo do caixão ao invés de
ler a inscrição na pedra tumular. Não devemos caracterizar qualquer pessoa
que usa a hipótese do zeramento como dando apoio ao ―engano do cemitério‖
mas em vez disto devemos ver em tais exemplos como um conceito importante
pode ser passado por alto. Podemos afirmar simplesmente que, a idade
radiométrica dos componentes minerais da terra em uma área de cemitério não
corresponde necessariamente à idade dos ocupantes da área!
Enquanto várias evidências apoiam a hipótese de zeramento de vários
sistemas de cronômetros radiométricos durante a formação ígnea ou
metamorfismo dos minerais, a literatura científica também autentica a herança
de características de idades radiométricas previamente estabelecidas durante
fenômenos metamórficos e de transporte ígneo. Em algumas situações,
características de idade medidas independentemente, sobreviveram a eventos
vulcânicos. Estas características de idade podem apresentar desde
sobrevivência total até nenhuma sobrevivência. (Alguns exemplos foram dados
em "Radioisotope Age: Part I," Geoscience Reports No. 20, Spring 1996.)
O impacto de processos sedimentares em determinações de idades
radiométricas também tem sido documentadas. Um poço de petróleo no
sudoeste de Louisiana (USA) perfurado numa formação com idade geológica
convencional entre 5-25 milhões de anos (Mioceno) produziu amostras em
folhelho ao nível de 1560 metros com idade por K-Ar de 254 milhões de anos.
Quando a amostra de folhelho foi desmanchada e separada em peneiras por
tamanho das partículas, uma idade média de 164 milhões de anos por K-Ar foi
obtida para partículas com menos de meio micron de diâmetro, idades de 312
milhões de anos para partículas entre 0,5 a 2 microns de diâmetro e 358
milhões de anos para partículas maiores que 10 microns de diâmetro. 1 É
evidente que uma razão maior de área de superfície para volume nas
partículas menores favorece a perda por difusão do argônio 40 que foi herdada
da origem deste folhelho. (A perda de argônio resulta em idades menores pela
técnica do K-Ar.) As características de idade radiométrica dos sedimentos nos
quais este poço foi perfurado refletem as características das áreas de origem
drenadas pelos sistemas dos rios Missouri e Ohio e não o tempo da
sedimentação.
Textos sobre Criacionismo
Zerando os Relógios
Textos sobre Criacionismo
120 |
Idades radiométricas maiores que o valor esperado são atribuídas a vários
fatores: um zeramento incompleto do relógio radiométrico na formação mineral,
uma remoção parcial do isótopo pai, ou uma infusão do isótipo filho após a
formação do mineral. Por outro lado, idades radiométricas menores do que o
valor esperado são atribuídas à remoção parcial do isótopo filho após a
formação do mineral, ou infusão do isótopo pai.
Principalmente ao lidar com materiais sedimentares, e fósseis em
particular, é altamente provável que as idades radiométricas representem as
características iniciais do material fonte no qual os organismos foram
enterrados em vez do tempo de soterramento.
Agora que determinamos que os fósseis não partilham necessariamente a
mesma idade radiométrica que a rocha em volta, enfrentamos o desafio
restante de determinar o significado das características radiométricas. Tenha
em mente que estas características não apenas representam as características
radiométricas iniciais do material analisado mas também qualquer mudança
produzida pelo calor, água, etc., durante o processo de realocação. De acordo
com Gênesis 1, 7, e 8, nosso planeta experimentou três grandes modificações
que podem ter alterado as características de muitas formações minerais na
crosta planetária. Estas modificações são o aparecimento dos continentes e
bacias oceânicas no terceiro dia da semana de criação, os efeitos do tempo na
crosta continental e redução do relevo topográfico até que o planeta foi outra
vez coberto com água (no dilúvio de Noé), e o reaparecimento dos continentes
e bacias oceânicas após o dilúvio. Cada uma destas modificações, e
particularmente o efeito combinado de todas três, introduziram severas
complicações na interpretação científica da informação radiométrica para
muitas das amostras minerais disponíveis para nosso estudo.
Estratégias para Acomodação dos Dados
Esta discussão tem se limitado a dados de idade radiométrica para
minerais inorgânicos, especialmente aqueles associados com fósseis. Podem
ser consideradas três estratégias para acomodar estes dados com os dados
cronológicos apresentados na Bíblia.2
1. Ignorar qualquer dado fornecido pelas técnicas radiométricas.
2. Pressupor que a Terra, a Lua e as estrelas tem apenas milhares de anos
e os dados radiométricos observados hoje são o resultado de processos
que não são completamente compreendidos. (Alguns sugerem que a
Terra foi criada com idade aparente.)
3. Pressupor que as atividades de uma semana de criação recente (a
milhares, não milhões de anos atrás) envolveram grandes quantidades
de matéria inorgânica elementar que foi criada previamente a cerca de
4,56 bilhões de anos atrás.
Ciência e Fé
Se a ciência indica uma hipótese particular que não é inconsistente com a
Bíblia, parece razoável aceitar esta posição. Conquanto esta abordagem
minimiza os conflitos entre as interpretações científicas e bíblicas, nem todas
questões são respondidas. Áreas onde se requer mais do que uma pequena
medida de fé permanecem.
Devemos compreender que não á um modo de ir diretamente de um dado
radiométrico a uma criação especial da matéria viva ocorrida nos últimos
10.000 anos e um dilúvio mundial a cerca de 5.000 anos atrás. Estes conceitos
| 121
devem ser aceitos com base na fé, da mesma forma que a salvação.
Por meio de uma mistura adequada deste ponto de vista de fé e de
ciência é possível obter uma compreensão mais completa de Deus, nosso
Criador e Mantenedor. Ao buscar harmonizar o caráter de Deus como revelado
na Bíblia e na natureza, devemos buscar um modelo que seja consistente com
as duas fontes de informação. A terceira abordagem mencionada acima
começa satisfazer estes requisitos. Onde não encontramos tal consistência,
necessitamos buscar uma compreensão melhor das duas fontes de revelação
(natureza e Bíblia), pedindo a orientação do Espírito Santo durante a pesquisa.
A datação radiométrica é uma ciência interpretativa. Os complexos
processos físicos e químicos que ocorrem no interior do manto e da crosta
terrestre não são completamente conhecidos nem compreendidos. Isto é
especialmente verdadeiro quando são considerados os parâmetros de isótopos
radioativos. Juntando com estas incertezas o fato de que há numerosos casos
onde as idades radiométricas não concordam, parece lógico — quase de forma
compelente — considerar seriamente outras fontes de dados para determinar a
época da Criação. Para o cristão que é cientista, a Bíblia é uma tal fonte.
ENDNOTES
1. Perry EA. 1974. Diagenesis and K-Ar dating of shales and clay minerals. Geological
Society of America Bulletin 85:827-830.
2. Estes conceitos foram originalmente propostos por Robert H. Brown, diretor jubilado do
Geoscience Research Institute.
----------
Textos sobre Criacionismo
*Reimpresso com permissão do artigo "Genesis and Time: What Radiometric Dating Tells Us,"
Dialogue 5:1 (1993) com pequenas modificações
122 |
Artigo 26
IDADE RADIOISOTÓPICA, PARTE III:
Tempo na Ciência e na Bíblia
Benjamin L. Clausen
Geoscience Research Institute
Tradução: Urias Echterhoff Takatohi
Geoscience Reports 22:1-5 (Spring 1997).
Página Relacionada — | EDITORIAL | INGLÊS|
Textos sobre Criacionismo
O que é tempo e por que pensamos que é tão importante? É porque
precisamos sincronizar nossas agendas, nossas mudanças corporais que
causam fome e cansaço, nossa capacidade limitada de suportar dor ou tédio e
nosso período limitado de vida para atingir nossos alvos? O tempo para Deus é
diferente aparentemente e não corresponde diretamente ao tempo humano
(Salmo 90:4; 2 Pedro 3:8); afinal de contas, Deus sabe o fim desde o início.
Deus não pode criar o tempo, existir fora do tempo, e mover-se para frente e
para trás no tempo?1 O que acontece então com a percepção do tempo
quando Deus intervem em sua criação? Efeitos estranhos resultam: o
aparecimento do tempo após a criação, os ajustes na medida do tempo após o
dia longo de Josué e o recuo do relógio de sol no tempo de Ezequias e a taxa
de variação de processos naturais durante o milagre da transformação da água
em vinho.
Questões de Tempo Científicas
Quando visto de uma perspectiva científica, o tempo é um assunto
complexo.2
O tempo não é absoluto. De acordo com a relatividade especial, nenhuma
medida absoluta de tempo é possível para dois objetos em movimento relativo
um ao outro, especialmente se o movimento relativo se dá a velocidades
próximas à velocidade da luz. Dados experimentais confirmam que o tempo de
decaimento de uma partícula de vida curta pode ser muito maior se esta estiver
em alta velocidade em relação ao observador do que se estiver em repouso.
(Figura 1). De acordo com a teoria da relatividade geral e sua confirmação
experimental, o tempo se move mais lentamente em campos gravitationais
intensos. A literatura científica padrão freqüentemente especula acerca dos
efeitos sobre o tempo em campos gravitationais fortes nas proximidades de
buracos negros, discutindo até viagem no tempo. 3
| 123
O tempo tem um início. O texto bíblico (Salmo 102:25,26) influenciou Lord
Kelvin em seu desenvolvimento da segunda lei da termodinâmica. 4 A segunda
lei afirma que a quandidade de energia útil no universo está diminuindo,
sugerindo assim um início para o tempo e a necessidade de um ―Iniciador‖.
De forma semelhante, a teoria do Big Bang aponta um início para o universo,
e para o espaço e tempo e por isso sofreu oposição por razões filosóficas
quando foi inicialmente introduzida.5
Taxas de transformação podem mudar com o tempo. Como um bom cientista,
eu medi a altura de minha filha e fiz o gráfico destas medidas em função do
anos. Pela extrapolação desta altura, fiz a extimativa de que ela teria 10 pés de
altura quando chegasse aos 30 anos (Figura 2). Felizmente esta extrapolação
para o futuro não é válida. A extrapolação no tempo para trás, de milhares de
anos de história registrada para os bilhões de anos para o universo, é
amplamente apoiada cientificamente, mas também requer cuidados. Talvez o
tempo seja o deus-das-brechas para a evolução, pois é pressuposto que dado
tempo suficiente qualquer coisa pode acontecer.
Figura 2. Diagrama
extrapolando o crescimento
da filha em função do tempo.
Textos sobre Criacionismo
Figura 1. Em um
espectrômetro tal como
mostrado aqui, partículas em
alta velocidade levam mais
tempo para desintegrar do
que se estivessem em repouso.
(Foto cortesia B. L. Clausen)
Textos sobre Criacionismo
124 |
Nossa perspectiva sobre o tempo pode mudar. Descobertas científicas
inesperadas no passado mudaram as estimativas de idade por várias ordens
de magnitude. No século XIX, Lord Kelvin estimou que a Terra tinha cerca de
40 milhões de anos, baseado no tempo necessário para a Terra esfriar a partir
de uma bola fundida, pressupondo que todas fontes de calor eram
conhecidas.6 Entretanto, depois que uma nova fonte de calor (a radioatividade)
foi descoberta em 1896 as estimativas de idade mudaram em duas ordens de
grandeza.
O tempo é um ponto de divergência entre a ciência e a Bíblia.
A Ciência Fornece Longos Tempos
A matéria do universo e da Terra tem a aparência de ser velha baseado em
várias idades radiométricas: a constância das taxas de desitegração de
isótopos de longa vida, a concordância entre vários métodos de datação, o
fenômeno de Oklo,7 e os valores limitados de meia-vida de isótopos radioativos
existentes na natureza.
Assume-se que os vestígios de vida associados com estas velhas rochas
têm a mesma idade. O desenvolvimento gradual ao longo de milhões de anos é
a explicação mais fácil para a seqüência vertical no registro fóssil: A detalhada
ordem em pequena escala, a falta de mistura (nenhum vestígio de seres
humanos junto com dinosauros, nenhum pólem de angiospermas com
trilobitas), e a observação de que os fósseis (mesmo de tipos de animais que
acredita-se que estiveram na arca de Noé) se tornam progressivamente mais
semelhantes às formas modernas na parte superior da coluna geológica.
Embora a explicação envolvendo longas eras não seja perfeita, ela explica
mais do que a teoria de zoneamento ecológico, flutuação e mobilidade. Outras
evidências geológicas, embora não impossíveis de ajustar em um modelo de
cronologia curta, são mais fáceis de serem ajustadas em um modelo de longo
tempo: resfriamento de batolitos e tectônica de placas, camadas sedimentares
"anuais" que em alguns lugares podem se contar até milhões (Figura 3), dados
de interior de gelo polar, evidências de atividade animal significativa no registro
geológico e recifes de coral e suas taxas de crescimento.
Boas evidências científicas apoiam longos tempos, e há um modelo bem
abrangente com as evidências a favor. Entretanto, a ciência não é perfeita, e
algumas evidências que serão depois discutidas apoiam um modelo de tempo
curto.
Figure 3. Lâminas (varvito) na formação Castille
do Permiano. (Foto cortesia B. L. Clausen)
| 125
A Bíblia não sugere longas eras com morte de animais antes do pecado de
Adão. A morte antes do pecado remove a ligação entre o pecado e a morte
física; torna Deus diretamente responsável pela competição, sofrimento e
morte; e é incompatível com o quadro de um Deus que cuida dos pardais e
preparou um céu onde o lobo e o cordeiro habitarão juntos. O Deus de justiça
na Bíblia não permitiria a existência do pecado, do mal e da morte mais tempo
do que o necessário.8
O mandamento do sábado não comemora um longo período de
desenvolvimento da vida, mas que ―em seis dias fêz o SENHOR os céus e a
terra, o mar e tudo o que há neles‖. Há boas razões para crer que a Bíblia
queira dizer que estes dias foram dias literais.9 O mandamento enfatiza que
Deus criou em 6 dias e também o que Deus criou nestes 6 dias, embora várias
interpretações incluam aspectos diferentes: todo universo, apenas a vida na
Terra, ou apenas uma criação local do homem e seu habitat.
As genealogias em Gênesis 5 e 11 também favorecem um período de tempo
curto desde a criação. Então, teologicamente, um modelo de cronologia curta é
mais fácil de ser defendido. Entretanto, interpretações incorretas da Bíblia
ocorreram no passado (universo geocêntrico, fixidez das espécies, etc.), assim
é importante não exigir mais do que a Bíblia requer. Deve-se tomar cuidado
para não repetir os erros dogmáticos do passado, e os detalhes científicos da
Bíblia podem necessitar de alguma interpretação em termos técnicos modernos
(por exemplo, o processo de ruminação do coelho, a locusta, o besouro e o
gafanhoto que tem quatro pés [Levítico 11:6,21-23] versão King James).
Tratando o Conflito
O conflito entre a ciência e a revelação em questões de tempo é bem visível
e não há no momento nenhuma resposta final clara. Entretanto, há outros
exemplos de conflito devido à nossa compreensão finita: a natureza
divino/humana de Cristo, livre arbítrio e predestinação, e a natureza dual
onda/partícula da luz. A lógica humana é limitada a uma avaliação de nossas
experiências.
Evidências empíricas devem ser necessárias para qualquer sistema de
crença, e há evidências de que uma visão de mundo totalmente naturalística é
insuficiente. Além disto, aqueles com uma estrutura filosófica baseada na Bíblia
encontram pelo menos alguma evidência empírica que apoia preferencialmente
cronologias curtas e outras que são pelo menos consistentes com cronologias
curtas.
Algumas destas evidências são apresetadas na próxima seção, entretanto,
estes dados e outros similares devem ser usadas com cautela: 1) os
argumentos são mais complicados e incertos quando todos os fatores são
levados em conta; 2) um número maior de dados atuais são melhor explicados
por um modelo de tempos longos do que curtos; 3) demonstrar que certos
dados não requerem longas eras não dá necessariamente apoio para um
modelo de cronologia curta; apenas os coloca numa categoria de ajuste
alternativo; 4) nenhum modelo geológico abrangente ajusta todos os dados, de
forma que problemas com um modelo de longas eras não implica
necessariamente que um modelo de tempos curtos é correto; 5) não há
disponível nenhum modelo de tempo curto para rivalizar o modelo de longas
eras; 6) finalmente, qualquer modelo bíblico de cronologia curta deverá incluir
Textos sobre Criacionismo
A Bíblia Fornece uma Cronologia Curta
Textos sobre Criacionismo
126 |
alguma atividade sobrenatural, tornando-se inaceitável como um modelo
científico; 7) aceitar a Bíblia porque a ciência a apoia leva à tendência de
colocar a ciência acima da Bíblia e a razão a percepção dos sentidos acima da
revelação, tornando mais fácil descartar a Bíblia quando uma evidência
científica for incompatível com ela.
Reintrepretação da Ciência
Dados significativos ajustam-se melhor a uma longa cronologia; entretanto,
muitos dados podem se ajustar aos dois modelos (especialmente após uma
reinterpretação), e alguns dados são melhor explicados por um tempo curto
para rochas e vestígios de vida que elas contém: 1) espera-se que o carvão
tenha se formado a milhões de anos mas a datação por carbono 14 resulta em
cerca de 40.000 anos;10 2) taxas de erosão geológica, sedimentação e
soerguimento de montanhas sugerem uma escala de tempo mais curta; 11 3)
paraconformidades sugerem um tempo limitado entre algumas camadas
sedimentares;12 4) espera-se que moléculas biológicas em rochas datadas em
milhões de anos teriam-se desintegrado em muito menos tempo.13
Alguns dos dados científicos podem ser interpretados em termos de uma
curta existência da vida na Terra, mas com a matéria da Terra existindo a mais
tempo. Então os grandes valores de datação radiométrica seriam então aceitos
como reais, mas não representariam o tempo de deposição da rocha ou de seu
conteúdo fóssil. São comuns as discordâncias entre datações radiométricas
diferentes devido à retenção de argônio (para datação por K/Ar), devido à
reajustes metamórficos e devido às diferentes fontes da rocha sedimentar.
Algumas considerações geoquímicas podem dar explicações alternativas para
o fato geral de que camadas de rocha inferiores produzem valores maiores de
idade que as superiores: 1) fracionamento e zoneamento em uma câmara de
magma; 2) incorporação de material da crosta enquanto o magma se
movimenta; 3) isócronas que não representam idades, e sim linhas de mistura;
e 4) influência da pressão hidrostática no escape de argônio em rocha
vulcânica submarina.
Aqueles que sentem que a Bíblia exige que a matéria da Terra e do universo
seja jovem14 usam evidências tais como: mudança nas constantes
fundamentais da natureza, inclusive taxas de decaimento, uma diminuição na
velocidade da luz, halos pleocróicos de polônio, uma profundidade pequena de
poeira meteórica na Lua, efeitos extra-terrestres (tais como raios cósmicos),15 e
efeitos da mecânica quântica (tais como o princípio da incerteza).
Reinterpretação da Bíblia
Foram sugeridas várias teorias para harmonizar a cronologia curta da Bíblia
com as longas eras científicas, cada uma com suas vantagens e desvantagens.
Universo jovem. Este é o modelo mais fácil de ser defendido do ponto de
vista teológico, pois a Bíblia quase não tem indicações contrárias. Entretanto, o
modelo apresenta pouca conformidade com a maioria das evidências
científicas.
Universo velho mas sistema solar e Terra jovens. Este modelo ajuda explicar
cientificamente fenômenos astrofísicos distantes, e alguns textos bíblicos
podem ser usados para sugerir a existência de outros seres antes da criação
deste mundo. Este modelo aceita longas idades para a evolução estelar;
entretanto, afirma arbitrariamente que a estrela em nosso sistema solar (o Sol)
foi criada especialmente.
| 127
A matéria da Terra e do sistema solar é velha, mas a vida na Terra é
recente. Este modelo sugere uma terra e sistema solar pré-existentes. Assim a
criação em Gênesis 1 inclui apenas a atmosfera (o firmamento ou céus) e a
terra seca. Como observado anteriormente, este modelo pode ajudar
significativamente com os dados radiométricos. Entretanto, o relato de Gênesis
coloca o sol "no firmamento dos céus". O relato do Gênesis demonstra que
Yahweh é maior do que os deuses da natureza, incluindo o sol. Deixar a
criação dos sol fora do quarto dia facilmente leva a deixar outras atividades
criativas fora da semana da criação. Também o argumento de que as rochas
com pouca vida (Precambrianas) são antigas enquanto as com muito vestígio
de vida (Fanerozóicas) são jovens é de certa forma inconsistente
cientificamente, pois elas são geologicamente semelhantes de muitas formas.
Vida antiga na Terra, mas destruida e a vida atual recriada recentemente.
Neste modelo, o registro fóssil é devido a uma criação antiga destruida antes
do relato em Gênesis. O dilúvio de Noé teria sido local. Embora este modelo
coloque a morte e o registro fóssil antes do pecado de Adão, ela pode ser
colocada após o pecado do diabo e como resultado de seus experimentos.16
Entretanto, a Bíblia assume que a morte dos animais é o resultado do pecado
de Adão e que o dilúvio de Noé foi mundial. A migração poderia ter sido uma
solução mais fácil do que a construção de uma arca para salvar a vida de uma
inundação local; além do mais muitas inundações locais ocorreram depois,
invalidando a promessa de Deus de não mais destruir a terra por um dilúvio.
Uma variação interessante deste modelo inclui efeitos relativísticos. 17
A vida atual foi desenvolvida progressivamente por Deus através de longos
períodos, mas Deus ainda é o Criador. A criação progressiva e evolução teísta
aceitam a interpretação científica padrão de longas eras para dados
geológicos, mas ainda mantém Deus como Criador e/ou Planejador.
Entretanto, a literalidade de Gênesis 1-11 é atestada por outros autores
bíblicos, e esta teoria aceita a morte antes do pecado.
Qualquer das resoluções propostas ao conflito têm problemas significativos.
Os prós e contras de cada precisam ser considerados, pois pode-se ser mais
objetivo ao considerar várias opções. Devido as possibilidades de erro ao
desenvolver um modelo de história da Terra, prefiro cautela — a certeza bíblica
e incerteza científica, acima da certeza científica e incerteza bíblica.
Considerando a dificuldade de analisar cientificamente as atividades de Deus,
alguma confirmação para crer, proveniente do mundo físico deve ser esperada,
mas é pouco provável que sejam conclusivas.
A resposta de Jó às perguntas de Deus (Jó 40:4,5; 42:2,3) nos faz lembrar
que muita coisa acerca do tempo nunca será conhecida até que cheguemos ao
céu. Nesta Terra, o estudo contínuo e a disposição para mudar de opinião são
necessários. Entretanto para mim, há dois pontos não negociáveis: qualquer
modelo de origem que apresente mal o caráter de Deus ou que ponha a razão
humana acima da revelação divina é inaceitável.
NOTAS
1. Ross H. 1996. Beyond the cosmos: the extra-dimensionality of God: what recent
discoveries in astronomy and physics reveal about the nature of God. Colorado
Springs, CO: NavPress.
2. Davies P. 1995. About time: Einstein's unfinished revolution. NY: Simon and Schuster.
Textos sobre Criacionismo
Conclusão
128 |
3. Thorne KS. 1994. Black holes and time warps: Einstein's outrageous legacy. NY: W.W.
Norton.
4. Smith CW, Wise MN. 1989. Energy and empire: a biographical study of Lord Kelvin.
Cambridge: Cambridge University Press. See p 317, 331, 332, 501.
5. Jastrow R. 1978. God and the astronomers. NY: W.W. Norton. See p 28, 48, 111-116.
6. Burchfield JD. 1990. Lord Kelvin and the age of the Earth. Chicago: University of
Chicago Press.
7. Webster CL. 1990. The implications of the Oklo Phenomenon on the constancy of
radiometric decay rates. Origins 17:86-92.
8. Baldwin JT. 1991. Progressive creation and biblical revelation: some theological
Textos sobre Criacionismo
implications. Origins 18:53-65; cf: Isaac R. 1996. Chronology of the fall. Perspectives on
Science and the Christian Faith 48 (March):34-42.
9. Hasel GF. 1994. The 'days' of creation in Genesis 1: literal 'days' or figurative
'periods/epochs' of time? Origins 21:5-38.
10. Brown RH. 1988. The upper limit of C-14 age? Origins 15:39-43.
11. Roth AA. 1986. Some questions about geochronology. Origins 13:64-85.
12. Roth AA. 1988. Those gaps in the sedimentary layers. Origins 15:75-92.
13. Brown RH. 1991. Fresh bread; old fossils. Origins 18:89-92.
14. Brown WT, Jr. 1989. In the beginning.... 5th ed. Phoenix, AZ: Center for Scientific
Creation.
15. Cook MA. 1993. Scientific prehistory. Bountiful, UT: Family History Publishers.
16. Chartier G. 1985. Jack Provonsha on fundamentalist geology: 'more needs to be said.'
La Sierra Criterion 57 (8 November):1,4,8.
17. Rowland SC. 1992. An 'Impossible' Model. Newsletter of the Association of Adventist
Physicists 22(1):6-7.
| 129
Artigo 27
BIOGEOGRAFIA HISTÓRICA DA AMÉRICA
DO SUL, PARTE I: Vertebrados Vivos
Jim Gibson
Geoscience Research Institute
Tradução: Urias Echterhoff Takatohi e Marcia Oliveira de Paula
Geoscience Reports 25:1-6 (Spring 1998).
Introdução
Regiões diferentes da Terra possuem tipos diferentes de plantas e animais.
Todos reconhecem isto, mas não é fácil explicar o porquê deste fato. De
alguma forma, os cangurus foram para a Austrália, enquanto que os cavalos só
chegaram lá com o auxílio do homem. Muitas plantas e insetos são
encontrados tanto na América do Sul como na Austrália mas os mamíferos
destes dois continentes são diferentes. Estas questões e muitas outras
semelhantes são feitas por pesquisadores em biogeografia.
A biogeografia é o estudo do padrão de distribuição de plantas e animais. Os
biogeógrafos tem interesse em explicar os processos que levaram à atual
distribuição de plantas e animais na Terra. Não há registros escritos de como
se deu o processo e não se pode repetir a história como um experimento. Isto
torna difícil o estudo do assunto. Entretanto, alguns indícios ajudam nas
tentativas de encontrar uma explicação. Estes indícios incluem a localização
geográfica dos fósseis, as espécies de organismos capazes de se dispersarem
para ilhas oceânicas e os aspectos geológicos de uma região.
A biogeografia é um assunto importante para aqueles que pretendem
entender a história da vida nesta Terra. Os padrões de distribuição
biogeográfica são usados com freqüência para apoiar a teoria da evolução.
Este trabalho fará uma tentativa de esboçar alguns pontos principais, incluindo
os pontos fortes e fracos de uma compreensão criacionista da biogeografia,
usando a Améria do Sul como exemplo.
Deve-se abordar este tipo de estudo com expectativas realísticas. Como não
se conhece muito sobre o que realmente aconteceu no passado, os cientistas
históricos podem apenas tentar construir uma explicação e então verificar se a
explicação funciona. A teoria apresentada neste trabalho não funciona
perfeitamente. Pode-se comparar esses esforços como uma espécie de jogo
de adivinhação. A resposta correta não é conhecida, mas você espera estar se
aproximando da resposta correta.
A ecologia influencia a distribuição da fauna. As principais regiões ecológicas e fisiográficas da
América do Sul são mostradas neste mapa.
Regiões temperadas: linhas cruzadas;
Florestas tropicais amazônica e atlântica: linhas inclinadas;
Regiões não florestais tropicais e subtropicais:
Textos sobre Criacionismo
Páginas Relacionadas — | EDITORIAL | INGLÊS |
130 |
linhas horizontais com savanas em preto;
Montanhas: pontilhado.
(Figura modificada de Duellman 1979).
Textos sobre Criacionismo
Estudos criacionistas anteriores
Os criacionistas tem lutado há bastante tempo com o problema de explicar a
distribuição animal atual a partir da sua dispersão da arca. Browne (1983:1-31)
escreveu uma história da biogeografia, que revisa alguns dos primeiros
debates, desde o século XVII. Autores criacionistas recentes que tem discutido
a questão incluem Whitcomb and Morris (1961:79-88) e Woodmorappe (1990).
Nenhum destes discutiu a fauna da América do Sul especificamente.
Hipóteses de uma biogeografia baseada num modelo do dilúvio
A seguir temos um breve esboço de algumas hipóteses de uma
interpretação biogeográfica de um ponto de vista criacionista:
1. O dilúvio envolveu uma destruição catastrófica mundial. A Bíblia descreve
uma catástrofe mundial dominada por uma inundação que destruiu os animais
terrestres que respiram ar que não estavam na arca. Embora Noé tenha levado
sementes com ele na arca, muitas plantas aparentemente sobreviveram o
dilúvio fora da arca. (A Bíblia relata que uma folha de oliveira foi trazida a Noé
pela pomba que ele libertou antes de ter deixado a arca e antes que tivesse
feito qualquer plantação de oliveiras.) Muitas outras espécies de organismos
também sobreviveram ao dilúvio fora da arca, incluindo todas espécies de
criaturas marítimas, desde a baleia até moluscos e pingüins.
2. Os organismos podem ter sido transportados por longas distâncias pelas
águas do dilúvio antes de serem enterrados. Durante os últimos estágios do
dilúvio, a superfície da terra estava provavelmente dividida em muitas bacias,
separadas por águas rasas ou terra exposta intermitentemente. Os animais e
plantas flutuantes podiam ser depositados em qualquer lado de uma bacia. Isto
significa que encontrar fósseis de animais terrestres similares em continentes
que são agora separados não implica necessariamente que os organismos
tiveram que andar sobre terra seca entre os dois continentes.
3. Pressupõe-se que todos os grupos principais de organismos estavam
presentes no início do dilúvio; entretanto, nem todos os grupos diferentes foram
enterrados no mesmo tempo e lugar. Aqueles organismos enterrados primeiro
seriam encontrados em sedimentos mais profundos do que os entrerrados mais
tarde no dilúvio. O "primeiro aparecimento" de um grupo de organismos no
registro fóssil (a coluna geológica) se refere ao primeiro enterramento e
preservação de um fóssil de um grupo particular. Isto não implica que o grupo
não existiu antes do tempo em que foi enterrado. A camada ou "período" no
qual o primeiro aparecimento de um grupo ocorre pode ser um resultado de
seu habitat, comportamento, mobilidade, densidade, ou distribuição
biogeografica antediluviana, ou uma combinação de um ou mais destes fatores.
4. Os vertebrados terrestres (animais terrestres com esqueleto) dispersaramse da arca para encher a terra após o dilúvio. Portanto, a atual distribuição de
vertebrados terrestres vivos deve estar relacionada com a história dos
continentes após o dilúvio.
Predições de uma biogeografia baseada num modelo do dilúvio
Baseadas nas suposições acima, algumas predições biogeográficas podem
ser feitas, como na lista abaixo:
1. Os vertebrados terrestres vivos devem estar distribuídos de uma maneira
que reflita o arranjo continental atual. As exceções podem incluir aqueles
grupos encontrados em ilhas oceânicas, que tem a habilidade de cruzar água
salgada. Em geral, grupos vivos de vertebrados estritamente terrestres não
devem estar inteiramente restritos ao hemisfério sul.
2. Aqueles invertebrados e grupos aquáticos que sobreviveram ao dilúvio
fora da arca devem mostrar alguns padrões de distribuição devidos ao vento ou
correntes oceânicas. Como as correntes oceânicas principais não cruzam o
equador, é de se esperar que algumas plantas, insetos, e animais aquáticos
devam estar distribuídos apenas no hemisfério sul. Isto deve incluir tanto
grupos vivos como fósseis destes organismos.
3. As distribuições de fósseis de vertebrados terrestres não devem estar
limitadas da mesma forma que as distribuições de grupos vivos. De acordo
com a suposição 2, animais podem ter sido arrastados pela água para o
oceano e levados por correntes para as duas margens de um oceano raso.
Portanto, fósseis similares podem ter sido enterrados tanto na costa oeste da
África como na costa leste da América do Sul. Correntes oceânicas circulando
em torno da Antártica poderiam levar fósseis potenciais entre a Austrália,
América do Sul e sul da África.
Relações Biogeográficas de Vertebrados Vivos da América do Sul
1. Mamíferos terrestres
A América do Sul tem uma rica diversidade de vertebrados terrestres vivos,
incluindo cerca de 36 famílias de mamíferos terrestres (excluindo morcegos).
Catorze destas famílias de mamíferos são aplamente distribuídas e incluem
animais familiares tais como cachorros, gatos, camelos, coelhos e esquilos.
Estas 14 famílias de mamíferos podem ser explicadas como animais que
migraram a partir da arca para a América do Sul porque estes animais ou seus
fósseis podem ser encontrados desde o Oriente Médio até a América do Sul ao
longo de prováveis rotas migratórias.
As 22 famílias de mamíferos restantes tem uma distribuição muito mais
restrita. Onze famílias de marsupiais, primatas e roedores são restritas à
América do Sul. As outras 11 famílias de edentados, primatas e roedores estão
confinadas ao Novo Mundo (América do Norte e do Sul). Exemplos destes
grupos restritos incluem gambás, tatus, macacos e porquinhos-da-índia
(cobaias, preás). Não se conhece o modo pelo qual estas 22 famílias chegaram
à América do Sul. A possibilidade de dispersão dirigida será discutida abaixo.
Textos sobre Criacionismo
| 131
132 |
Nenhuma família de mamíferos é restrita apenas à América do Sul e África
ou América do Sul e Austrália. Um grupo de mamíferos terrestres, os
marsupiais, são quase restritas à América do Sul e Austrália. Entretanto
marsupiais fósseis são achados em cada continente, incluindo a Antárctica, e
sua história biogeográfica, incluindo como chegaram à América do Sul, não é
bem compreendida.
Textos sobre Criacionismo
Um tatu (Zaedyus) da Argentina. Os tatus são encontrados principalmente na América dos Sul,
com uma espécie chegando a parte sul dos Estados Unidos. Foto cortesia de Clyde Webster.
2. Aves Terrestres
A América do Sul é famosa por sua rica diversidade de aves. De cerca de 80
famílias, 57 podem ser consideradas terrestres. Vinte e duas destas famílias
são amplamente distribuídas, indicando grande habilidade de dispersão. A
dispersão destes grupos pode ter iniciado a partir da arca.
Trinta e cinco famílias de ave são restritas à América do Sul (6 famílias) ou
ao Novo Mundo (29 famílias). Não se sabe como estes 35 grupos de aves
chegaram à América do Sul.
Um grupo de aves terrestres, as ratitas, está atualmente restrito aos
continentes do hemisfério sul. São grandes aves que não voam, tais como as
emas e tinamídeos da América do Sul, os avestruzes da África, e os emus e
casuares da Austrália. Alguns cientistas crêem que elas têm um parentesco
próximo (por exemplo, Cracraft 1974), enquanto outros crêem que formam um
grupo artificial, agrupados devido ao seu grande porte e características
imaturas (Olson 1985). Elas têm a reputação de serem fortes nadadoras, mas
sua história biogeográfica não é clara. Fósseis semelhantes a avestruzes são
conhecidos em depósitos do Paleoceno na Europa, mostrando que não são um
grupo estritamente do sul quando os fósseis são incluidos. Nenhuma família de
aves terrestres está restrita apenas à América do Sul e África. Os avestruzes
podem ter se dispersado para a África a partir do norte. As origens das emas e
tinamídeos da América do Sul é desconhecida.
Um tucano do Panamá. Os tucanos pertencem à família Rhamphastidae, que é restrita aos trópicos
das Américas do Sul e Central. Foto cortesia de Elaine Kennedy.
| 133
3. Répteis terrestres
A América do Sul tem 11 famílias de lagartos e 9 famílias de cobras. Quatro
famílias de lagartos e 7 famílias de cobras são aplamente dispersas. Vários
grupos são encontrados em ilhas oceânicas, indicando fortes poderes de
dispersão nestes grupos de lagartos e cobras.
Uma família de lagartos está restrita à América do Sul e cinco outras são
restritas ao Novo Mundo. Duas famílias de cobras estão restritas ao Novo
Mundo. Alguns grupos sul-americanos podem ser ligados a grupos na África ou
Madagascar. A travessia do Atlântico em jangadas naturais pode ser a melhor
explicação para esta ligação.
4. Répteis de água doce
Apenas uma família de tartarugas é terrestre, mas foi capaz de chegar às
Ilhas Galápagos e outras ilhas oceânicas, assim todas tartarugas
provavelmente tem a capacidade de se dispersar através da água. Das 6
famílias de tartarugas na América do Sul, uma é endêmica (encontrada apenas
na América do Sul), 3 tem distribuição global e 2 são restritas aos continentes
do sul. As tartarugas provavelmente não requerem dispersão a partir da arca
para explicar sua distribuição, mas podem ter vivido durante do dilúvio.
Os crocodilianos estão presentes na América do Sul e também na maioria
das áreas mais quentes do mundo. É duvidoso que crocodilos tenham
dependido da arca para sobreviverem.
Uma tartaruga "pescoço de cobra", família Chelidae, do Brasil. Esta família é restrita à América
do Sul e Austrália. Foto cortesia de Jim Gibson.
Textos sobre Criacionismo
Uma grande iguana do Brasil. As grandes iguanas são encontradas nos trópicos do Novo Mundo,
incluindo as Índias Ocidentais e Ilhas Galápagos, Fiji e Samoa e Madagascar. Foto cortesia de Jim
Gibson.
134 |
5. Anfíbios de água doce
Quinze famílias de anfíbios vivem na América do Sul. Estas incluem três
famílias de cobras-cegas (anfíbios semelhantes a vermes), uma de salamandra
e 11 famílias de sapos ou rãs. Duas famílias de cobras-cegas e 6 de sapos são
endêmicas na América do Sul ou restritas ao Novo Mundo. Uma família de
sapos é restrita aos continentes do hemisfério sul. As seis famílias restantes
tem distribuição ampla. Além disto, conjectura-se que dois grupos de sapos sulamericanos são possivelmente relacionados a dois grupos de sapos
australianos. É pouco provavel que os sapos necessitaram da arca para
sobreviver ao dilúvio, pois a maioria deles tem estágios de vida aquáticos.
Algumas cobras-cegas também têm estágios aquáticos, e podem ter
sobrevivido ao dilúvio fora da arca.
Textos sobre Criacionismo
Um sapo neotropical (Eleutherodactylus) de Porto Rico. Este é um membro da família
Leptodactylidae, que é amplamente distribuída nos trópicos do Novo Mundo, com umas poucas
espécies chegando até aos Estados Unidos. Foto cortesia de Jim Gibson.
6. Peixes de água doce
A América do Sul tem 32 famílias de peixes estritamente de água doce. Uma
família é compartilhada com a América do Norte e África. Uma família é
compartilhada com a África e Índia. Uma família é compartilhada com a
Austrália , África e Sudeste asiático, com algums relacionamentos que sugerem
conexões no hemisfério sul. Uma família é compartilhada apenas com a África.
As 28 famílias restantes são endêmicas da América do Sul. Os peixes não
| 135
poderiam ter sobrevivido dentro da arca, assim sua distribuição não necessita
ser explicada com base numa dispersão a partir da arca.
7. Plantas
Muitas famílias de plantas sul-americanas, e mesmo gêneros, são
compartilhados com outros continentes do hemisfério sul. Mais de 100 gêneros,
representando cerca de 50 famílias, de plantas lenhosas são comuns às
florestas tropicais da América do Sul e África. Grupos compartilhados com a
Austrália incluem Araucaria entre as gimnospermas e as angiospermas
Nothofagus (Nothofagaceae), Laurelia (Monimiaceae), Beilschmiedia
(Lauraceae), Weinmannia (Cunoniaceae), Orites (Proteaceae) e a família
Winteraceae. Várias famílias de plantas, e mesmo gêneros, são restritos à
América do Sul e outros continentes do hemisfério sul. Tais configurações da
distribuição não são resultado de uma dispersão a partir da arca.
Resumo da Parte I
Muitas famílias de vertebrados parecem ter alcançado a América do Sul a
partir do norte, como seria de se esperar de uma dispersão a partir da arca
após o dilúvio mundial. Isto inclui todas as famílias com distribuição ampla.
Muitas outras famílias são restritas à América do Sul. Sua história
biogeográfica é desconhecida.
Dois grupos de vertebrados terrestres sul-americanos parecem estar
restritos (ou quase restritos) aos continentes do hemisfério sul. Estes grupos
são os marsupiais e as ratitas. Suas histórias biogeográficas são
desconhecidas, mas fósseis dos dois grupos tem sido achados nos continentes
do hemisfério norte.
Umas poucas famílias são encontradas apenas na América do Sul e outros
continentes do hemisfério sul. Estas incluem duas famílias de tartarugas com
pescoço lateral, e pelo menos uma família de sapos e pelo menos uma família
Textos sobre Criacionismo
Uma floresta meridional de faias (Nothofagus) na Austrália. As árvores Nothofagus são restritas à
América do Sul e regiões Australiasianas. Foto cortesia de Jim Gibson.
136 |
de peixes de água doce. Muitos grupos de plantas são também restritos aos
continentes do hemisfério sul. Nenhum destes grupos dependeu da arca para
sobrevivência e sua distribuição provavelmente reflete mudanças geográficas e
correntes oceânicas associadas com o dilúvio.
REFERÊNCIAS

Bauer AM. 1993. Avian biological relationships between Africa and South America. In
Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa and South America. New
Haven and London: Yale University Press, p 244-288.

Berra TM. 1982. An atlas of distribution of the freshwater fish families of the world.
Lincoln and London: University of Nebraska Press.

Branhan DG, Gaudin TJ. 1997. The phylogeny of the Myrmecophagidae (Mammalia,
Xenarthra, Vermilingua) and the relationships of Eurotamandua. Journal of Vertebrate
Paleontology 17(3):33A.

Briggs JC. 1995. Global biogeography. Amsterdam: Elsevier Scientific Publications.

Browne J. 1983. The secular ark. Studies in the history of biogeography. New Haven
and London: Yale University Press.

Carroll RL. 1988. Vertebrate paleontology and evolution. NY: W.H. Freeman and Co.

Clements JF. 1991. Birds of the world: a checklist. Vista, CA: Ibis Publ. Co.

Cracraft J. 1974. Phylogeny and evolution of the ratite birds. Ibis 116:494-521.

Duellman WE. 1993. African-South American relationships: a perspective from the
Reptilia. In Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa and South
America. New Haven and London: Yale University Press, p 200-243.

Frost DR. 1985. Amphibian species of the world. Association of Systematic Collections.
Lawrence, KS: University of Kansas Press.

Gentry AH. 1993. Diversity and floristic composition of lowland tropical forest in Africa
and South America. In Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa and
South America. New Haven and London: Yale University Press, p 500-547.
Textos sobre Criacionismo

Goin CJ, Goin OB, and Zug GR. 1978. Introduction to herpetology. 3rd ed. San
Francisco: W.H. Freeman and Co.

Honacki JH, Kinman KE, Koeppl JW. 1982. Mammal species of the world. Association
of Systematics Collections. Lawrence, KS: University of Kansas Press.

Lundberg JG. 1993. Amphibians in Africa and South America: evolutionary history and
ecological comparisons. In Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa
and South America. New Haven and London: Yale University Press, p 156-199.

Storch G. 1981. Eurotamandua joresi, ein Myrmecophagide aus dem Eozan der AGrube
Messel@ bei Darmstadt (Mammalia, Xenarthra). Senckenbergiana Lethaea 61:247-289.

Thorne RF. 1973. Floristic relationships between tropical Africa and tropical America. In
Meggers BJ, Ayensu ES, Duckworth WD, editors. Tropical forest ecosystems in Africa
| 137
and South America: a comparative review. Washington DC: Smithsonian Instituion
Press, p 27-47.

Vuilleumier F, Andors AV. 1993. Avian biological relationships between Africa and
South America. In Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa and South
America. New Haven and London: Yale University Press, p 289-328.

Whitcomb JC, Morris HM. 1961. The Genesis Flood. Phillipsburg NJ: P&R Publishers.

Woodmorappe J. 1990. Causes for the biogeographic distribution of land vertebrates
after the flood. Proceedings of the Second International Conference on Creationism.
Textos sobre Criacionismo
Pittsburgh PA: Creation Science Fellowship, p 361-367.
138 |
Artigo 28
EVIDÊNCIAS DE PLANEJAMENTO
AO NÍVEL ECOLÓGICO
Henry Zuill (Jubilado)
Professor de Biologia, Union College
Tradução: Urias Echterhoff Takatohi
Geoscience Reports 29:1-6 (Spring 2000).
Página Relacionada — | EDITORIAL | INGLÊS |
Textos sobre Criacionismo
Introdução
Quando o astronauta John Glenn realizou sua última e famosa viagem
espacial em Novembro de 1998, comentou acerca da visão da Terra abaixo,
que se admirava como alguém podia não crer em Deus ao contemplar Sua
maravilhosa criação.
A idéia de planejamento em a natureza não é nova. William Paley (17421805), prominente entre teólogos contemporâneos de crença semelhante,
escreveu sobre planejamento natural e teologia natural. Sua obra ainda famosa
de 1802, Natural Theology: or Evidences of the Existence and Attributes of the
Deity, Collected from the Appearances of Nature,1 (Teologia Natural: ou
Evidências da Existência e Atributos da Deidade, Colhidas de Aspectos da
Natureza) influenciaram eruditos por décadas. Paley comparava a natureza a
um relógio, em contraste com uma pedra, e sugeria que ninguém iria negar que
o relógio foi planejado. Paley também se referia aos detalhes complicados do
olho como evidências de planejamento. De maneria semelhante, ele via toda a
natureza apresentando marcas de planejamento, que sugere um planejador.
Ele cria que tais evidências apoiavam a idéia da existência de Deus.
Requeria-se a leitura dos livros de Paley na universidade, e Charles Darwin
foi consideravelmente influenciado, mas não persuadido por ele. Alguns
argumentos de Darwin eram desafios específicos às idéias de Paley. Sob a
influência do Darwinismo o impacto de Paley diminuiu consideravelmente, mas
o poder de seu argumento é sentido ainda hoje. Quase dois séculos após a
publicação inicial de Paley, Richard Dawkins, em The Blind Watchmaker
(1990),2 (O Relojoeiro Cego) achou necessário contestar as idéias dele.
Freqüentemente ouvimos que a idéia de planejamento em a natureza é
teleológica ou seja, relaciona a natureza com uma causa final, e portanto está
além da investigação científica. A inferência é que a hipótese do planejamento
é cientificamente inaceitável, possivelmente mesmo falsa. Por esta razão
Dawkins tentou demonstrar que o planejamento aparente em a natureza é
realmente o produto de processos naturais. Ele crê que um pouco de sorte e
muito tempo é tudo o que é necessário para explicar a complexidade da
natureza. Tendo rejeitado qualquer outra possibilidade, o que mais ele pode
fazer? Isto demonstra a distância que alguém pode ir para evitar a evidência
contrária mais óbvia e convincente.
Dawkins parece ser ponderado e cuidadoso, mas preso a uma filosofia que o
deixa sem outra opção. Outros cientistas sentem-se desconfortáveis com esta
posição. Lewis Thomas declarou seu dilema: "Não posso fazer minha paz com
a doutrina do acaso; Não posso conviver com a noção de falta de propósito e
chance cega em a natureza. E ainda assim não sei o que colocar em seu lugar
para acalmar minha mente. É ridículo dizer que um lugar como este é absurdo,
quando contém, diante de nossos olhos, tantos bilhões de formas diferentes de
vida, cada uma a seu modo absolutamente perfeita, todas ligadas entre si para
formar o que seguramente parece a quem olha de fora um gigantesco
organismo esférico."3
Embora a hipótese de planejamento-em-a-natureza possa ser não testável
cientificamente, ela não é necessariamente falsa. As evidências podem ainda
apontar um planejamento; não há nenhum meio de descartar cientificamente a
hipótese. Há realidades que a ciência não pode ver, e mesmo realidades que a
ciência ainda não descobriu. Descartamos simplesmente o óbvio porque não
podemos testá-lo? Não recorremos também a especulações naturalísticas que
não são testáveis?
Recentemente a idéia de planejamento ganhou prominência. John
Polkinghorne escreveu, "Penso que estamos vivendo em uma era em que está
havendo um grande reavivamento da teologia natural." 4 Michael Behe trouxe a
idéia de planejamento em a natureza diante da atenção popular em seu livro
muito difundido, Darwin's Black Box: the Biochemical Challenge to Evolution.5
(A Caixa Preta de Darwin: o Desafio da Bioquímica à Teoria da Evolução).
Enquanto Behe crê que os sistemas bioquímicos nos níveis biológicos
fundamentais exige o planejamento por serem irredutivelmente complexos, ele
acha que a evolução é a melhor explicação para a origem das espécies. 6 Um
favorito de alguns criacionistas, ele não é um criacionista bíblico tradicional em
um sentido estrito, mas suas idéias são um início importante.
Temos a tendência de ver a natureza através das restrições de nossas
especialidades. Enquanto Behe pode ver a complexidade bioquímica exigindo
planejamento, aparentemente ele não vê que a complexidade além da
imaginação em níveis biológicos estruturais mais altos também fazem a mesma
exigência. Estas complexidades da mesma forma desafiam as explicacões
evolutivas convencionais. Na extremidade oposta do espectro da vida, em
relação ao trabalho de Behe, está o nível ecológico. Aqui os complexos
relacionamentos ecológicos também desafiam as explicações evolutivas.
O Desafio da Ecologia
A ecologia é uma ciência relativamente jovem que procura entender os
variados relacionamentos entre os organismos, e entre os organismos e seu
ambiente não biológico. Darwin viu a evolução como o resultado da seleção
natural, em que os membros mais adequados de uma população eram
favorecidos em relação a outros tanto por forças ambientais bióticas como
abióticas. Portanto estes com mais freqüência podiam deixar sua marca
genética nas gerações futuras. Isto sugere que a ecologia faz a seleção.
Entender a ecologia é importante para entender a seleção natural e a evolução.
Ernst Haeckel, um destacado zoólogo e fervoroso evolutionista, cunhou a
palavra "ecologia" nos anos da década de 1860.7 Ele cria que a ecologia iria
fundamentar a evolução. Em vez disto, à medida que relacionamentos
Textos sobre Criacionismo
| 139
140 |
ecológicos complexos são examinados, a ecolocia pode se tornar um desafio
significativo à idéia que devia apoiar.
Iremos examinar evidências provenientes da ecologia moderna e da
paleoecologia. Como as relações ecológicas são vitais, iremos relacionar as
evidências com um desenvolvimento gradual da ecologia, como é
aparentemente requerido pela teoria da evolução. Iremos também considerar o
quadro que requer um funcionamento complexo da ecologia desde o princípio,
como se entende a partir de uma crença na criação.
Estudos em Biodiversidade
O movimento ambiental tem chamado a atenção para a importância da
ecologia hoje. O livro de Rachel Carson Silent Spring8 (Primavera Silenciosa)
foi o catalizador que iniciou o esforço popular para salvar o ambiente da
exploração desenfreada. Este movimento levou a novas formas de proteger os
ambientes, novas leis, e mesmo novas agências governamentais. Embora
alguma melhora ambiental resultou desdes esforços, a batalha deve
necessariamente ser contínua.
Em Setembro de 1986, um grupo de biólogos encontrou-se no Smithsonian
Institute em Washington, D.C.9 para avaliar a saúde ambiental e planejar
maiores esforços em conservação. Neste encontro o termo biodiversidade foi
introduzido, e agora se tornou o foco de pesquisas em expansão e a base de
uma ciência emergente. A idéia se tornou um tema cada vez mais freqüente na
literatura popular e científica, como é visto no gráfico que mostra um número
crescente de referências na Internet usando a palavra "biodiversidade" em um
busca na "Ebsco Host".
Textos sobre Criacionismo
Observe que o ano de 1998 inclui apenas referências de Janeiro a Setembro. Se o número de
referências em Setembro for representativo, o ano de 1998 deve terminar com cerca de 230
referências como indicado pela coluna adjacente.
A biodiversidade inclui o grande conjunto de espécies que formam os vários
ecosistemas do mundo. Também inclui as diferentes populações daquelas
espécies com seus complexos de muitos genes. Estes provêem a mais
essencial qualidade da biodiversidade: seus inumeráveis e necessários
serviços ecológicos. Nas palavras de Yvonne Baskin: "É este profuso conjunto
de organismos que chamamos 'biodiversidade,' uma teia intricadamente ligada
de coisas vivas cujas atividades trabalham em concerto para tornar a Terra um
planeta singularmente habitável." 10
Embora numerosos estudos revelem a natureza da biodiversidade, seus
serviços são apenas parcialmente compreendidos. É óbvio, entretanto, que os
organismos formando ecosistemas se juntam numa teia de serviços sem a qual
eles não poderiam existir.
Alguns exemplos destes serviços incluem: bioprodutividade; reciclagem de
nutrientes; muitos serviços mutualísticos entre plantas, animais, e outros
grupos de organismos; relacionamentos de solo, incluindo mycorrhizae e suas
plantas hospedeiras; serviços de polinização; serviços de dispersão de
sementes; relacionamentos entre formigas e plantas; relacionamentos de
liquens e seus serviços de formação de solo; etc. A biodiversidade inclui até
serviços alternativos quando o stress impede o funcionamento adequado de
alguns componentes do ecosistema.
Considere, por exemplo, a polinização, um importante processo ligando
plantas e animais. Edward O. Wilson da Harvard University escreve sobre
polinização como uma cadeia que leva diretamente a nossa espécie. 11 Muitas
plantas necessitam de insetos. Se as plantas precisam dos insetos para existir,
então os seres humanos também precisam dos insetos para existir. Enquanto
Wilson atribui isto a "milhões de anos de coevolução," este ponto de vista deixa
de considerar uma questão fundamental. Os relacionamente específicos
planta- polinizador podem mudar, mas como o relacionamento original plantapolinizador iniciou? Como flores produzindo nectar e pólen e necessitando
polinizadores, e animais necessitando nectar e/ou pólen se originaram? Como
se tornaram tão vitalmente interconectados?
Embora não completamente entendidos ou mesmo reconhecidos, estes
numerosos relacionamentos essenciais são claramente importantes. Peter
Raven observa que quando uma planta é exterminada, com freqüência cerca
de dez a trinta outras criaturas se tornam extintas, 12 porque não podem
sobreviver sem os serviços providos direta ou indiretamente pela planta.
O foco dos estudos de biodiversidade tem se tornado a necessidade de
conservar nosso ambiente para o maior bem de todos seres viventes. Em um
discurso para estudantes na University of Nebraska, Edward O. Wilson discutiu
a afirmação de alguns economistas de que espécies que provêem serviços
redundantes podem ser devastadas com impunidade. Cada espécie provê
vários serviços ecológicos, mas qualquer redundância que possa fazer parecer
que uma das espécies é dispensável em uma situação pode ser vitalmente
necessária em outra, e portanto nenhuma espécie é dispensável. Wilson disse
acerca das muitas espécies diferentes: "Salvem todas elas!" 13 Diversidade de
espécies é indispensável para o funcionamento normal de ecosistemas.
Estas descobertas enfatizam que em ecologia, o que parece indispensável
agora, era também indispensável no passado. É difícil imaginar de outra forma,
e ainda assim poucos pensam sobre as implicações históricas e filosóficas de
tais relacionamentos necessários.
A natureza dos serviços da biodiversidade levanta a questão: se os
relacionamentos ecológicos são necessários para ecosistemas funcionando
agora, como poderiam ter sido desnecessários em alguma outra época? Mas é
isto que a evolução aparentemente requer. Não apenas os organismos devem
ter progredido de estruturas e funções simples para complexas, mas a ecologia
teria progredido de forma semelhante.
A explicação usual para a origem da ecologia é a coevolução. A coevolução
Textos sobre Criacionismo
| 141
Textos sobre Criacionismo
142 |
é definida como a "evolução conjunta de duas ou mais espécies que não se
cruzam e que tem um relacionamento ecológico próximo; por meio de pressões
seletivas recíprocas, a evolução de uma espécie no relacionamento é
parcialmente dependente da evolução da outra."14 Alguma ecologia devia
necessariamente já existir quando a coevolução iniciou. Agindo pela seleção
natural de condições existentes, a coevolução pode permitir que espécies
refinem relacionamentos mútuos, mas não pode dar conta da origem dos
relacionamentos básicos que permitiram que ela acontecesse inicialmente.
Parece não haver nenhum modo imaginável para que toda a teia de
relacionamentos evoluísse independentemente de qualquer maneira integrada.
Como a evolução tem falta de um esquema concreto para explicar a origem
da ecologia, embora ela seja essencial agora, o planejamento parece ser uma
explicação alternativa razoável. Os relacionamentos indispensáveis em
ecologia sugerem que a ecologia foi sempre funcionalmente desenvolvida. São
os complexos relacionamentos eco-químicos e eco-físicos de alguma forma
menos impressivos do que aqueles processos citoquímicos que tanto
impressionaram Behe? Não! Dado que a eco-complexidade é dependente de
todas outras complexidades fundacionais subjacentes nas células, tecidos e
organismos, a complexidade ecológica é até mais impressionante.
Devemos reconhecer que a ecologia atual é muito diferente do quadro
ecológico original visualizado pela maioria dos criacionistas. Os
relacionamentos naturais agora incluem várias características negativas (por
exemplo, morte, predação e parasitismo).
Conquanto possa-se esperar a ocorrência de aspectos negativos no quadro
evolutivo, também é necessário perguntar por que persistem. Predação e
parasitismo colocam em perigo e destroem os organismos de que dependem
os predadores e parasitas. Relacionamentos mutuamente benéficos deveriam
ser mais duradouros e desejáveis em seleção natural. De uma perspectiva da
criação, tanto os organismos atuais como a ecologia de que dependem estão
degenerados. A exploração egoísta da natureza, mais diversas instabilidades
do tipo efeito dominó, e várias catástrofes, incluindo o dilúvio bíblico,
danificaram a ecologia original.
A perda de biodiversidade coloca ecossistemas sob tensão devido à perda
de espécies, perda de genes e perda de serviços da biodiversidade. As
mutações também danificaram os genes e produziram deformidade genética.
Mesmo que não possamos explicar com detalhe como os aspectos negativos
surgiram, a degeneração é uma realidade em nosso mundo que seguramente
está relacionada com o desarranjo da ecologia original. Na falta de recursos
disponíveis no menu original, as espécies sobreviventes são confrontadas com
duas escolhas: ou sofrem extinção ou exploram outros recursos até então não
utilizados. As duas coisas devem ter ocorrido, de forma que a natureza e a
ecologia hoje são muito diferentes da criação original.
Mesmo com estes acontecimentos infelizes, é claro que um quadro da
natureza com uma ecologia desenvolvendo-se gradualmente não é razoável.
Alguns podem argumentar que os ecosistemas se desenvolveram
gradualmente de pouco ou nada em sucessão primária. Entretanto, tal
sucessão apenas funciona devido a semeadura a partir de fontes adjacentes, e
sucessão é bem diferente de desenvolvimento de um ecosistema a partir de
nada.
A idéia de ecosistemas funcionais sendo planejados e criados parece mais
| 143
compatível com o que é encontrado agora em a natureza. As
interdependências amplas, e freqüentemente obrigatórias, sugerem que tais
relacionamentos são necessários para a operação eficiente do mundo natural.
De uma perspectiva evolutiva, o desenvolvimento da ecologia deve ter
ocorrido com a evolução. Num início desta forma, quando as espécies vivas
eram poucas e relativamente simples, a ecologia seria também simples. Muitas
novidades biológicas ineficientes teriam sido possíveis. À medida que as
espécies aumentassem tanto em complexidade quanto em número, e suas
interrelações também se desenvolvessem, a ecologia teria se tornado mais
complexa. Com o tempo, a biodiversidade também teria aumentado.
Se esta percepção evolutiva de uma ecologia em desenvolvimento é
verdade, seria esperado que se encontrassem evidências disto no registro
fóssil. Por exemplo, ao se prosseguir de cima para baixo ao longo da coluna
geológica, em todo lugar em que ocorre a uma preservação significativa de
comunidades antigas, uma simplificação crescente das comunidades deve ser
evidente. Lagerstäten15 é o termo paleontológico para depósitos com
preservação extraordinária e riqueza fóssil. Se o cenário evolutivo de
desenvolvimento ecológico é válido, uma simplificação ecológica deve ser mais
evidente nos sítios Lagerstäten bem explorados e estudados, dos estratos mais
recentes para os mais antigos.
Um sítio deste tipo é o Burgess Shale (folhelho) de British Columbia,
Canada. Este depósito do cambriano médio contém fósseis
extraordinariamente preservados, incluindo vários tipos de corpo mole. Desde a
descoberta de Burgess Shale, outros depósitos semelhantes, mas amplamente
espalhados, foram encontrados, incluindo alguns descritos como do cambriano
inferior.16 O Burgess Shale contém 140 espécies em 119 gêneros e 14 filos. 17 A
maioria das espécies são do tipo bentônico.18 Há também vários fósseis de
algas, indicando uma comunidade de águas rasas, provavelmente de menos
de 100 metros de profundidade. Nenhuma das criaturas representadas vive
hoje, e a maioria delas podem ser descritas como extraordinárias. 19 Entretanto,
dois autores citados por Gould20 indicacam que embora os fósseis tenham uma
natureza não usual, a ecologia de Burgess Shale é bem comum comparada
com a ecologia de hoje. Como o próprio Gould afirma: "Não se pode mais
atribuir a disparidade das formas primitivas à pressão reduzida de um mundo
fácil, sem a competição Darwiniana na luta pela existência, e portanto aberto
para qualquer dispositivo exótico ou experimento fraudado. A estrutura trófica
da vida marinha metazoária foi estabelecida cedo na evolução"21 Colocado de
forma simples, a ecologia complexa já estava presente bem cedo na história da
evolução.
Outras faunas fósseis menos bem preservadas são encontradas nos
estratos do cambriano inferior e pré-cambriano superior,22 mas enquanto
possam também sugerir uma existência bentônica, 23 o nível de preservação é
insuficiente para tirar qualquer conclusão sobre sua ecologia. De qualquer
forma o tipo moderno de ecologia parece evidente nos níveis inferiores dos
estratos com fósseis. Não há indicação de simplificação ecológica. Os
evolucionistas procuram no pré-cambriano por tais indicações, porém, em vez
disto, a evidência indica que os microfósseis do pré-cambriano podem não ser
tão antigos como se supõe.24 A evidência paleontológica não apoia de forma
Textos sobre Criacionismo
O Quadro Paleontológico
144 |
clara a progressão hipotética da ecologia simples para a complexa exigida pela
teoria da evolução. Parece ser melhor a idéia de ecologia completamente
funcional desde o princípio.
Conclusão
Planejamento em a natureza tem sido um tema considerado com freqüencia
crescente em várias publicações científicas recentes. Alguns consideram o
planejamento como uma explicação necessária para a origem de sistemas
bioquímicos. Um exame da complexidade ecológica e as evidências
paleontológicas não apoiam a explicação evolutiva para a ecologia.
As evidências tanto da ecologia moderna como da paleoecologia apoiam a
idéia de planejamento em a natureza. Comparada com explicacões evolutivas,
o planejamento é uma explicacão alternativa razoável para a ecologia e
portanto uma evidência para a criação.
Embora uma ecologia altamente integrada não possa dizer exatamente
quando a criação ocorreu, ela sugere fortemente a necessidade de uma
criação de curta duração. Se não fosse assim, serviços ecológicos essenciais
poderiam faltar e os ecosistemas teriam fracassado.
A Bíblia é enfática em colocar que Deus criou em seis dias, embora diga
pouco sobre quando os eventos ocorreram. Se a criação ocorreu em poucos
dias, os vastos períodos de tempo evolutivo seriam desnecessários. Muito
tempo estaria disponível para as mudanças que são observadas, e portanto, a
ecologia também é consistente com a hipótise de criação recente.
NOTAS
1. Paley W. 1986. Natural theology. 12th edition. Charlottesville, VA: Lincoln-Rembrandt
Publishing.
2. Dawkins R. 1990. The blind watchmaker: why the evidence of evolution reveals a
universe without design. NY: W. W. Norton & Co. 332p.
Textos sobre Criacionismo
3. Thomas L. 1980. On the uncertainty of science. Harvard Magazine 83(1):19-22. Citado
por Roth AA. 1998. Origins: linking science and Scripture. Hagerstown, MD: Review
and Herald Publishing Association, p. 333.
4. Polkinghorne J. 1996. The revival of natural theology. Chronicle of Higher Education
4(2):B9.
5. Behe M. 1996. Darwin's black box. NY: Free Press. 307p.
6. The New York Times, 29 October 1996, Tuesday Final Section A; Editorial Desk,
Column 2, p. 25.
7. Smith RL. 1992. Elements of ecology. NY: Harper-Collins, p. 3.
8. Carson R. 1962. Silent spring. NY: Houghton-Mifflin.
9. Veja o relatório do National Forum on BioDiversity. 1986. Mass extinction of species.
Smithsonian Magazine, November, p.42-47.
10. Baskin Y. 1997. The work of nature: how the diversity of life sustains us. The Scientific
Committee on Problems of the Environment (SCOPE). Washington DC: Island Press, p
3.
11. Foreword in: Buchman SL, Nabhan GP. 1996. The forgotten pollinators. Washington
DC: Island Press/Shearwater Books.
12. Raven PH. 1976. Ethics and attitudes. In: Simmons J, et al., editors. Conservation of
threatened plants. NY: Plenum Publishing, p 155-181; citado em Baskin (Note 10), p
36-37.
13. Discurso feito em 12 de Outubro de 1998 na University of Nebraska, Lincoln, Nebraska.
14. Smith (Note 7), in Glossary p 3.
| 145
15. Para uma lista de vários sítios lagerstätten, ver a seguinte URL:
http://www.museum.state.il.us/exhibits/mazon_creek/lagerstatten.html
16. Outros sítios semelhantes foram achadas em outras partes da British Columbia e no
Idaho, Utah, Pennsylvania, Groenlândia, Austrália, e China.
17. Gould SJ. 1989. Wonderful life: the Burgess Shale and the nature of history. NY: W. W.
Textos sobre Criacionismo
Norton & Co. 347p.
18. Que vivem no fundo.
19. Whittington descreveu-os como "maravilhas estranhas" em: Briggs DEG, Whittington
HB. 1985. Modes of life of the arthropods from the Burgess Shale, British Columbia.
Transactions of the Royal Society of Edinburgh.76:149-160.
20. Briggs and Whittington (Note 19); also Morris C. 1986. The community structure of the
Middle Cambrian phyllopod bed (Burgess Shale). Palaeontology 29:423-482.
21. Gould (Note 17), p 223-224.
22. Exemplos incluem a Fauna Tommotiana no cambriano inferior e a Fauna Ediacara logo
abaixo do limite pré-cambriano.
23. Vestígios fósseis — pegadas e trilhas — foram encontradas sugerindo uma existência
bentônica.
24. Roth AA. 1992. Life in the deep rocks and the deep fossil record. Origins 19(2):93-104.
146 |
Textos extraidos do site da Sociedade Criacionista Brasileira
Perguntas mais comuns sobre criacionismo e
evolucionismo
O chimpanzé e o genero humano
Textos sobre Criacionismo
O "site" da sociedade criacionista australiana Answers in Genesis publicou em 21 de maio
passado uma resposta preliminar às reportagens divulgadas pela imprensa sobre a classificação
do chimpanzé no gênero Homo. Dada a atualidade e a repercussão do tema, apresentamos a
seguir a tradução da referida resposta, que certamente ajudará nossos leitores a formar uma
idéia melhor sobre o que realmente está acontecendo.
Os seres humanos e os chimpanzés deveriam ser reunidos na mesma classificação – o gênero
Homo. Pelo menos é o que alegam pesquisadores em recente nota publicada nos Proceedings
of the National Academy of Sciences, nos Estados Unidos da América do Norte.
Os pesquisadores fundamentam sua alegação em descobertas suas de que os chimpanzés
têm mais em comum com os seres humanos do que com qualquer outro primata –
supostamente partilhando 99,4% de seu DNA. A agência de notícias Associated Press (AP)
incumbiu-se de elaborar a notícia e divulgá-la.
Esta é uma alegação surpreendente, especialmente porque a tendência entre os cientistas
evolucionistas tem sido de diminuir aquele percentual de similaridade, de cerca de 98,5% para
95% (ver por exemplo Greater than 98% Chimp/human DNA similarity? Not any more). Então,
por que esse súbito aumento?
De acordo com o relato da AP, a equipe de pesquisadores, dirigida por Morris Goodman, na
Faculdade de Medicina da Wayne State University (em Detroit, Michigan), "comparou 97 genes
de seres humanos, chimpanzés, gorilas, orangotangos, macacos do Velho Mundo, e
camundongos". Os pesquisadores descobriram que os genes de chimpanzés e bonobos
(gênero Pan) têm mais em comum com os genes humanos do que com os de quaisquer outros
primatas.
Dificilmente esses dados seriam suficientes para sustentar uma conclusão tão radical. Os
pesquisadores compararam 97 genes, porém o genoma humano (que foi mapeado em sua
totalidade apenas de uma maneira muito "geral") tem pelo menos 30.000 genes – portanto eles
compararam apenas 0,03% do total! Além disso, os genomas dos primatas não foram nem
sequer mapeados de maneira aproximada. Assim, qualquer tentativa de comparar o DNA total
atualmente é apenas uma conjectura!.
Como, de fato, os chimpanzés são mais semelhantes aos seres humanos do que outros
macacos ou símios, por que isso não se refletiria em alguns de seus genes? Não é surpresa
que a anatomia similar refletisse genes similares, porém isso nada tem a ver com a origem das
similaridades, seja no nível anatômico, seja no nível genético. A questão da ancestralidade
comum versus projeto comum não se decide pelo grau de similaridade.
Mesmo para os evolucionistas, a lógica do raciocínio apresentado levantaria suspeitas.
Digamos que a similaridade genética total "real" entre seres humanos e chimpanzés fosse de
96%, apenas para argumentarmos (mesmo 98% corresponderia a milhares de genes
diferentes, sendo que apenas uns poucos genes poderiam acarretar uma diferença crucial). Se
decidíssemos comparar apenas alguns desses genes, poderíamos obter resultados para o
grau de similaridade que variariam de 0% a 100%. A escolha dos genes a serem comparados
inevitavelmente tem um caráter extremamente subjetivo.
O argumento dos pesquisadores, neste caso, com relação a como os chimpanzés deveriam
ser classificados, centrou-se na proximidade relativa, isto é, no fato de que, nos estudos deles,
os chimpanzés mostraram-se mais próximos de nós do que dos outros grandes símios.
Entretanto, aqui novamente uma escolha diferente de genes presumivelmente seria facilmente
capaz de gerar uma configuração genética diferente, também relativa. E mesmo que isso não
acontecesse, supondo que fosse mantida a mesma configuração, qual seria o grande
problema? Até mesmo as técnicas rudimentares de hibridização usadas para a avaliação da
similaridade hoje em dia (ver Human/chimp DNA similarity) têm levado à conclusão não
surpreendente de que, de fato, os chimpanzés são geneticamente mais similares aos seres
humanos do que, por exemplo, os gorilas. Assim, se os chimpanzés tivessem uma similaridade
genética total maior com os seres humanos do que com os gorilas (o que é muito duvidoso
com base em sua morfologia e na anatomia comparada, como mostrado pelas técnicas
morfométricas computadorizadas do anatomista evolucionista Charles Oxnard) isso seria algo
para apenas tomarmos nota.
O problema é que, embora equívoco, o número de 99,4% chama a atenção. O público em
geral é levado a interpretar as reportagens dos meios de comunicação como elas tendo dito
que os chimpanzés são "99,4% humanos". Mesmo antes que esse percentual de similaridade
total tivesse sido rebaixado para 95%, a sociedade criacionista australiana "Answers in
Genesis" já havia ressaltado a falácia dessa lógica. Isso foi feito citando o professor
evolucionista Steven Jones, que afirmara que as bananas compartilham 50% de seus genes
com os seres humanos, mas que isso não torna as bananas 50% humanas!
Muito pouco se conhece sobre a maneira pela qual os genes se expressam. Já é
suficientemente claro que "nem todos os genes são iguais". Alguns genes, por exemplo,
exercem um profundo controle sobre o desenvolvimento do ser vivo. Já de há muito sabe-se
que o mesmo gene em criaturas diferentes pode ter funções diferentes. Essas limitações
severas que pesam sobre a "comparação genética" raramente são discutidas quando
comparações simplistas como as da notícia em questão são divulgadas.
Usando o mesmo tipo de raciocínio dos pesquisadores considerados, poder-se-ia
presumivelmente mostrar que, com base em 97 genes devidamente escolhidos, os seres
humanos e as bananas constituem uma mesma espécie, pois seriam 100% idênticos!
A propósito, muitos eminentes evolucionistas não se deixam convencer pelas alegações de
seus colegas. Goodman citou uma proposta feita em 1963 de juntar taxonomicamente
chimpanzés com gorilas, com base em sua similaridade, porém acredita que as similaridades
entre chimpanzés e seres humanos, descobertas por ele, são muito mais convincentes. O
antropólogo Richard J. Sherwood, da Universidade de Wisconsin (E.U.A.) observa que
Goodman está na realidade procurando qualquer argumento que possa ser trazido a seu favor:
"Ir em busca de uma referência histórica como esta, e então usá-la como único critério para
sugerir uma enorme mudança na sistemática dos primatas, é difícil de ser levado a sério".
A proposta de Goodman levará a alguma alteração na taxonomia que envolva primatas e
seres humanos? Provavelmente não tão cedo. Goodman parece um pouco preocupado em
seus comentários com a imprensa: "Se muitos se interessarem por isso, e julgarem que seja
algo para ser considerado, poderá ser realizado um simpósio que aborde essa questão como
tema principal e que conclua se a proposta é ou não razoável. Certamente eu a julgo razoável,
senão não a teria feito".
Pedimos ao biologista celular Dr. David DeWitt, que estará falando sobre "Similaridade do DNA
entre o Neandertal e o Homem Moderno" na Conferência Creation 2003 a ser realizada em
Cincinnati, Ohio, E.U.A., em 22-26 de maio de 2003, para comentar a notícia. Ele nos
escreveu:
"A classificação dos organismos baseia-se em similaridades e diferenças. Parece estranho
colocar essas três espécies (chimpanzés, bonobos e seres humanos) no mesmo grupo em
igualdade de posição. Uma criança pode reconhecer a similaridade entre chimpanzés e
bonobos, bem como a diferença entre eles e os seres humanos. A proposta poderá também
complicar a já problemática situação dos Neandertais, Australopitecíneos e outros alegados
ancestrais humanos. Por exemplo, os cientistas evolucionistas não classificam os
Australopitecíneos, como Lucy, no mesmo gênero que os seres humanos. Entretanto, isso é o
que Goodman está propondo fazer com os chimpanzés.
É irônico que esse estudo apontando para a similaridade entre chimpanzés e seres humanos
apareça nos Proceedings of the National Academy of Science ao lado de um artigo que
destaca as diferenças entre os Neandertais e os seres humanos modernos. A conclusão é que
quando os cientistas procuram similaridades, eles as encontram, e quando procuram
diferenças, também as encontram. Com base no número de diferenças nos pares de bases do
DNA, alguns têm excluído os Neandertais como contribuintes para o mtDNA do pool gênico do
Textos sobre Criacionismo
| 147
148 |
homem moderno. Entretanto, com base no número de similaridades, os chimpanzés e os
bonobos deveriam ser incluídos no gênero Homo, juntamente com os seres humanos. Não se
pode esquecer do fato de que esses critérios são arbitrários.
Tipicamente, em estudos deste tipo, os cientistas só examinam substituições no DNA, embora
inserções e deleções de nucleotídeos também ocorram As inserções e deleções usualmente
são deixadas de lado na análise filogenética porque elas complicam o alinhamento das
seqüências. Em artigo publicado também nos Proceedings of the National Academy of
Science, Britten incluiu esses tipos de diferenças do DNA em sua análise e chegou a um
percentual bastante inferior (aproximadamente 95%). Deixar de lado esses tipos de alterações
no DNA leva a um grau de similaridade muito mais alto, porque ficam excluídas da análise as
alterações mais comuns."
Para encerrar: Existem e sempre existirão profundas diferenças entre seres humanos criados à
imagem e semelhança de Deus, e outras criaturas. Isso não é uma questão de mera
afirmação, mas também de observação e senso comum. Nenhum chimpanzé estará lendo ou
discutindo essa reportagem, por uma razão especial. Nosso ancestral original, Adão, foi criado
singularmente à imagem de Deus, sem nenhum ancestral animal.
Referências
1.
Schmid, R., Chimps may have closer links to humans, < Texto original no site Yahoo News>,
20 May 2003
2.
Caramelli et al., Evidence for a genetic discontinuity between Nerandertals and 24,000year-old anatomically modern Europeans, PNAS 100(11)6593-6597.
Textos sobre Criacionismo
Dinossauros
1. Os dinossauros existiram? (1)
Sim. Cerca de 285 tipos (gêneros) são conhecidos (2), com tamanhos variando
desde o de um peru até 30 metros ou mais de comprimento. Aproximadamente a
metade é representada por um único exemplar, enquanto 10 deles correspondem a
pelo menos 40 exemplares. A maior diversidade de dinossauros é encontrada na
parte superior das rochas do Cretáceo (Maastricianas).
2. Foram encontradas pegadas de seres humanos junto a pegadas de
dinossauros?
Não. Houve um anúncio de que tais pegadas foram encontradas juntas, no leito do
rio Paluxy no Texas, mas esta afirmação foi abandonada por todos os criacionistas
que têm treinamento científico. Aquelas pegadas de dinossauro são genuínas, mas
as humanas não são (3).
3. Os cientistas crêem que as aves evoluíram dos dinossauros?
Sim, a maioria dos cientistas crê nisso. As aves parecem ser mais semelhantes a
certos dinossauros do que a qualquer outro grupo de animais. Certos fósseis, tais
como o Archaeopteryx, têm algumas características que são típicas de dinossauros
e outras que são típicas de aves. Embora não se tenha encontrado nenhum
dinossauro que possa ser considerado o real ancestral das aves, os cientistas já
encontraram alguns fósseis que apresentam características de réptil e de ave (4).
Alguns cientistas têm apresentado evidências de que as aves não podem ter
evoluído a partir de dinossauros (5). Uns poucos cientistas têm proposto que as
aves evoluíram de um grupo de répteis conhecidos como tecodontes, em vez de
dinossauros (6).
Do ponto de vista criacionista, a presença de penas em um dinossauro não significa
que as aves derivaram dos dinossauros. Todas as aves têm penas, porém isto não
significa que todas as aves evoluíram a partir de um ancestral comum. Muitos
grupos separados de aves e outros organismos com penas podem ter sido criados
independentemente.
| 149
Notas para as perguntas sobre dinossauros
1. Muitos livros já foram escritos sobre dinossauros. Alguns exemplos são listados
a seguir. (a) Carpenter K. Currie P. J., 1990. Dinosaur systematics. Cambridge:
Cambridge University Press; (b) Carpenter K., Hirsh K. F., Horner J. R.,. 1994.
Dinosaur eggs and babies. Cambridge: Cambridge University Press; (c) Fastovsky
D. E., Weishampel D. B. 1996. The evolution and extinction of the dinosaurs.
Cambridge: Cambridge University Press (mais recente de todos listados aqui); (d)
Lambert D. , and the Diagram Group. 1990. The dinosaur data book. NY: Avon
Books (contém um interessante resumo da diversidade de dinossauros; a
taxonomia necessita de revisão); (e) Lockley M., Hunt A. P. 1995. Dinosaur tracks.
NY: Columbia University Press; (f) Weishampel D. B., Dodson P., Osmolska H.,
editors. 1990. The dinosauria. Berkeley: University of California Press (rico em
informações).
2. Dodson P. 1990. Counting dinosaurs: how many kinds were there? Proceedings
of the National Academy of Sciences (USA) 87:7608-7612.
3. Neufeld B. 1975. Dinosaur tracks and giant men. Origins 2:64-76.
4. Ver por exemplo: Fastovsky D. E., Weishampel D. B. 1996. The evolution and
extinction of the dinosaurs. Cambridge: Cambridge University Press.
5. (a) Burke A. C., Feduccia A. 1997. Developmental patterns and the identification
of homologies in the avian hand. Science 278:666-668; (b) Ruben J. A, et al. 1997.
Lung structure and ventilation in theropod dinosaurs and early birds. Science
278:1267-1270.
6. (a) Martin L. D. 1991. Mesozoic birds and the origin of birds. In: Schultze H. P,
Trueb L., editors. Origins of the higher groups of tetrapods. Ithaca and London:
Textos sobre Criacionismo
4. O que os dinossauros comiam?
Aparentemente, a maioria dos dinossauros era herbívora. Alguns podem ter se
alimentado de pequenos animais se estivessem disponíveis. Alguns comiam peixes,
enquanto outros provavelmente comiam animais maiores, tais como outros
dinossauros (7).
5. Os dinossauros tinham sangue quente?
Os cientistas não concordam quanto à resposta para esta pergunta. Os dinossauros
provavelmente não tinham sangue quente como as aves e os mamíferos. Eles
podem ter vivido em climas quentes e úmidos. Conseqüentemente não teriam
dificuldade em se manter aquecidos. Os dinossauros maiores teriam conservado o
calor mais eficientemente que os menores. O metabolismo deles pode ter sido mais
rápido do que o dos répteis atuais (8).
6. Deus criou os dinossauros ou eles são o resultado do mal?
Deus criou toda a vida, incluindo os ancestrais dos dinossauros. Entretanto, não
sabemos quanto os animais podem ter mudado após a criação. Não podemos
identificar nenhum fóssil como sendo uma forma individual criada originalmente.
Os únicos fósseis que temos são de animais que viveram mais de mil anos após a
criação. Não sabemos como eram as formas originalmente criadas.
7. Havia algum dinossauro na arca?
Ninguém sabe a resposta a esta pergunta. Não há evidências de que tivessem
estado na arca, e não há evidências de que existiram após o dilúvio. Tanto quanto
podemos dizer, parece que eles foram destruídos durante o dilúvio. Houve relatos
ocasionais de que supostos dinossauros viviam na Escócia, Zaire ou no oceano.
Nenhum destes relatos foi confirmado e todos parecem ser falsos.
8. Que problemas não resolvidos sobre os dinossauros são de maior
preocupação?
Como podemos explicar o que parece ser ninhos de ovos de dinossauro e filhotes
em sedimentos que acreditamos terem sido provavelmente depositados pelo
dilúvio? (9) Por que não encontramos fósseis de dinossauros misturados com
fósseis de mamíferos que vivem hoje? Como pode ter o homem sobrevivido com
tais poderosos animais ao seu lado?
150 |
Comstock Publishing Associates, Cornell University Press, p 485-540; (b) Tarsitano
S. 1991. Ibid, p 541-576.
7. Ver por exemplo: (a) Kennedy M. E., 1994. Paleobiology of dinosaurs.
Geoscience Reports No. 17. Loma Linda, CA: Geoscience Research Institute, Loma
Linda, CA.; (b) Lamert D., and the Diagram Group. 1990. The dinosaur data book.
NY: Avon Books.
8. Ver: Ruben J. A., et al. 1996. The metabolic status of some late Cretaceous
dinosaurs. Science 273:1204-1207.
9. Alguns destes depósitos foram transportados e não são ninhos verdadeiros. Ver:
Kennedy, E. G. and Spencer L.. 1995. An unusual occurrence of dinosaur eggshell
fragments in a storm surge deposit, Lamargue Group, Patagonia, Argentina.
Geological Society of America, Abstracts with Programs, A-318.
Textos sobre Criacionismo
Fosseis humanos
1. Os homens das cavernas realmente existiram?
Sim. Houve seres humanos que viveram em cavernas, e pode haver alguns que
ainda moram. Isto não significa que eles sejam semelhantes às figuras vistas em
caricaturas de estórias em quadrinhos que você possa ter visto. Acredita-se que o
“Homem de Cro-Magnon” pode ter sido um homem das cavernas, porque se crê
que ele seja responsável por algumas pinturas notáveis em cavernas na França e
áreas próximas. O “Homem de Cro-Magnon” é essencialmente o mesmo que os
europeus modernos, e pode representar os europeus pré-históricos (1).
2. Existem realmente fósseis que se parecem com homens-macacos?
Já foram encontrados fósseis que parecem ter uma mistura de características
humanas e de macacos. Há vários tipos destes, tais como o “Homem de Java”, o
“Homem de Pequim”, e vários tipos da África conhecidos como "erectinos". Estes
parecem ter sido humanos, mas de uma forma diferente. Para interpretações
criacionistas e evolucionistas destes fósseis, veja as referências (2).
3. Os homens de Neanderthal eram humanos verdadeiros?
A maioria dos criacionistas acredita nisso, mas a questão é controversa (3). O
“Homem de Neanderthal” provavelmente viveu em cavernas, mas eles não eram
homens-macacos. O crânio tinha um formato diferente da maioria dos homens
modernos, mas o espaço do cérebro era maior. Eles aparentemente tinham cultura
e eram provavelmente muito inteligentes. Os “Homens de Neanderthal” tinham
alguns traços singulares, mas nada que pudesse ligá-los aos macacos de algum
modo particular. Algumas das diferenças em seu crânio podem ter sido
parcialmente produzidas como resposta a um clima severo e a alimentos duros à
mastigação. Aparentemente tinham uma constituição física mais robusta do que as
pessoas que vivem hoje (4). O recente seqüenciamento do DNA mitocondrial do
osso de um “Homem de Neanderthal” indica que o DNA dos Neanderthais é
bastante diferente do DNA de seres humanos atuais(5). Resta ver se pesquisas
futuras irão mudar ou dar apoio a este quadro.
4. O que são fósseis humanos "arcaicos"?
Há um grupo de material esquelético que não se encaixa facilmente em nenhuma
outra categoria, e são referidos tipicamente como "Homo sapiens arcaico”. Eles
têm geralmente cristas orbitais salientes, como humanos "erectinos" e "arcaicos".
Eles têm espaço cerebral maior do que os erectinos, e não apresentam a saliência
bem marcada (torus occipital) na parte de trás do crânio que os “Homens de
Neanderthal” têm(6).
5. Que se pode dizer dos Australopithecus?
Os Australopithecus foram provavelmente um tipo extinto de macaco (7). Eles
tinham algumas similaridades com os seres humanos, mas tinham um cérebro de
tamanho aproximado ao de um chimpanzé, e alguns aspectos que sugerem que
viviam em árvores. Aparentemente, podiam andar eretos, mas há alguma
evidência de que eles teriam certa dificuldade para andar assim (8).
6. Há alguma seqüência evolutiva que vai dos macacos ao homem?
Há vários tipos de fósseis que possuem uma mistura de características humanas e
de macacos. Têm sido feitas tentativas de organizar estes fósseis em uma
seqüência que vai do menor número para o maior número de características
humanas. Australopitecíneos têm menos características humanas, seguidos pelos
"erectinos”, pelo grupo "arcaicos", e então pelos Neanderthais e Cro-Magnons. A
seqüência parece convincente para muitas pessoas, e é interpretada como uma
linhagem evolutiva (9). Os criacionistas não aceitam esta interpretação, apontando
que os detalhes não se encaixam bem, e a série não é verdadeiramente uma
seqüência de ancestrais-descendentes (10).
7. Qual é a explicação criacionista para estes fósseis que têm uma mistura
de características humanas e de macacos?
A resposta a esta pergunta está perdida na antigüidade. Os fósseis referidos são
primariamente os "erectinos" e os "australopitecíneos".
Aqui está uma resposta possível: os erectinos parecem ter sido humanos. Talvez
tenham sofrido os efeitos de um intenso endocruzamento genético e um estilo de
vida pobre. Os australopitecíneos podem ter sido um tipo extinto de macaco.
Parecem não ser relacionados com nenhuma espécie viva atual.
8. O que se pode dizer dos gigantes humanos que viveram antes do
dilúvio? Algum já foi encontrado?
Não. Nenhum fóssil humano gigante que tenha vivido antes do dilúvio foi
encontrado. Nosso único conhecimento sobre eles vem através de revelação
sobrenatural.
9. Como as raças humanas se originaram? Alguma delas foi marcada por
uma maldição?
Todos os seres humanos estão vivendo sob a maldição do pecado, e é duvidoso de
que isto se aplique mais a alguma raça do que a outra.
As raças podem se diferenciar quando pequenos grupos são isolados. Além da
distância, a linguagem é provavelmente o maior fator de isolamento. Quando as
linguagens foram confundidas em Babel, provavelmente pequenos grupos se
dispersaram para vários lugares, produzindo grupos isolados que se diferenciaram
em raças distintas.
Alguns aspectos raciais podem ser o resultado do fato de que certas características
fisiológicas são vantajosas em determinados ambientes. A cor da pele é um
exemplo. A luz solar é necessária para produzir vitamina D. Luz solar em excesso
aumenta o risco de câncer de pele. A melanina protege os que vivem em climas
tropicais do câncer da pele causado por excesso de luz solar. Isto explica porque
pessoas que vivem nos trópicos têm tipicamente pele mais escura. Pessoas que
vivem em latitudes mais altas não necessitam de muita proteção contra o sol e têm
pele mais clara. A pele escura pode ser desvantajosa em latitudes altas se a
quantidade de luz solar for apenas suficiente para a produção de vitamina D.
10. Que problemas não resolvidos sobre fósseis humanos são de maior
preocupação?
Por que não são encontrados fósseis de homens gigantes? Por que não são
encontrados fósseis humanos que pareçam ter sido enterrados pelo dilúvio? Qual é
a explicação para os fósseis que têm características de homem e de macaco?
Notas para as perguntas sobre fósseis humanos
1. Ver por exemplo Prideaux, Tom.1973. Cro Magnon Man. New York: Time-Life
Books.
2. Para uma interpretação criacionista, ver: Lubenow M. L., 1992. Bones of
contention. Grand Rapids, MI:, Baker Books; para uma interpretação evolucionista,
ver: Rightmire G. P., 1981. Patterns in the evolution of Homo erectus. Paleobiology
7:241-246.
Textos sobre Criacionismo
| 151
152 |
3. Stringer C., Gambel C., 1993. In search of the Neanderthals. NY: Thames and
Hudson.
4. Ruff C.B., Trinkaus E., Holliday T. W.,. 1997. Body mass and encephalization in
Pleistocene Homo. Nature 387:173-176.
5. Krings M., et al. 1997. Neanderthal DNA sequences and the origin of modern
humans. Cell 90:19-30.
6. Uma discussão recente sobre humanos arcaicos está em: Tattersall I. 1997. Out
of Africa again ... and again? Scientific American 276(4):60-67.
7. Hartwig-Scherer S, Martin R. D. 1991. Was "Lucy" more human than her "child"?
Observations on early hominid postcranial skeletons. Journal of Human Evolution
21:439-449.
8. Spoor F., et al. 1994. Implications of early hominid labyrinthine morphology for
evolution of human bipedal locomotion. Nature 369:645-648.
9. Uma coleção de alguns trabalhos importantes neste campo é encontrada em:
Ciochon R. L., Fleagle J. G., editors. 1993. The human evolution source book.
Englewood Cliffs, N. J:, Prentice-Hall.
10. Kennedy E. 1996. A busca dos ancestrais de Adão. Diálogo 8(1):12-15, 34. Um
resumo sobre fósseis humanos feito por um criacionista está em: Lubenow M. L.,
1992. Bones of contention. Grand Rapids, M.I. Baker Books.
Textos sobre Criacionismo
Mudanças nas especies
1. O que são as "espécies do livro de Gênesis"?
A Bíblia não diz nada acerca das "espécies do livro de Gênesis". Nela a expressão
"segundo a sua espécie" é usada para descrever a variedade de plantas e animais
que Deus criou (Gênesis 1), ou aquelas que foram salvas na arca (Gênesis 6:20),
ou aquelas que são limpas ou impuras para se comer (Levíticos 11). O termo
"espécies do livro de Gênesis" foi proposto por criacionistas para se referir à idéia
de que Deus criou originalmente muitos grupos separados de indivíduos que
podiam cruzar entre si, dos quais resultou a diversidade de plantas e animais que
vivem hoje (1).
2. Deus mandou os animais se reproduzirem apenas segundo a sua
espécie?
Não, não há um tal mandamento. Procure isto na Bíblia, se não acreditar.
3. Como explicamos a existência de predadores e criaturas venenosas?
A Bíblia não diz como se originaram, mas afirma que a natureza mudou devido ao
pecado de Adão (Gênesis 3:14, 18; Romanos 8:20). Aparentemente, Adão foi
criado para ser um dos "filhos de Deus" (Lucas 3:38; Jó 1:6). Devido ao seu
pecado, Adão perdeu o controle do mundo para Satanás (João 12:31; Jó 1:6,7; Jó
2:1,2). Portanto, a predação e outros males são responsabilidade de Satanás.
Quando o mundo for restaurado, estas coisas não mais existirão (Isaías 11:6-9;
Isaías 65:25; Apocalipse 21:4; Apocalipse 22:3).
4. Há algum limite para a mudança nas espécies?
A Bíblia não aborda este ponto, mas a ciência mostra que as variações são
limitadas. Não existe um sistema para quantificar diferenças morfológicas entre
espécies, de forma que os limites não podem ser quantificados. Entretanto,
milhares de experimentos têm sido feitos por criadores e geneticistas e muita
informação já foi acumulada. As espécies têm uma grande capacidade para
variação e podem produzir novas variedades e espécies, mas parece implausível
que este tipo de variação possa se acumular para a produção de novos órgãos ou
novos planos corporais. Por outro lado, a existência de predadores e parasitas
sugere que algumas espécies passaram por uma considerável mudança. Ainda não
foi completamente demonstrado o mecanismo destas mudanças (2).
| 153
Notas para as perguntas sobre mudanças nas espécies
1. Marsh F. L. 1947. Evolution, creation and science. 2d edition. Washington DC:
Review and Herald Publishing Assn. Nas páginas 174-175, é feita referência ao
termo "baramin", um termo cunhado por Marsh anteriormente (ver a nota de
Marsh na pág. 174).
2. Ver: (a) Brand L. R., Gibson L. J. 1993. An interventionist theory of natural
selection and biological change within limits. Origins 20:60-82; (b) Lester L. P.,
Bohlin R. G. 1984. The natural limits to biological change. Grand Rapids, MI:
Zondervan.
3. Van Valen, L. 1973. Are categories in phyla comparable? Taxon 22:333-359.
4. Os pseudogenes proporcionam um exemplo importante. Para um ponto de vista
evolucionista, ver: Max E. 1987. Plagiarized error and molecular genetics.
Creation/Evolution 6(9):34-45. Para reações contrárias, ver: (a) Gilbert G. 1992.
In search of Genesis and the pseudogene. Spectrum 22(4):10-21; (b) Gibson L. J.
1994. Pseudogenes and origins. Origins 21:91-108.
5. Os pseudogenes fornecem um exemplo importante. Ver um ponto de vista
evolucionista em: Max E. 1987. Plagiarized errors and molecular genetics.
Creation/Evolution 6(9):34-45. Para uma opinião contrastante, ver: (a) Gilbert G.
Textos sobre Criacionismo
5. Qual é a categoria taxonômica que mais se aproxima da categoria criada
originalmente?
Pode não haver nenhuma resposta universal para esta pergunta. Unidades
taxonômicas, tais como gênero, família, ordem, etc., são definidas subjetivamente.
Não há uma medida quantitativa que possa servir para definir diferenças
morfológicas entre espécies. Duas famílias de estrelas-do-mar são tão semelhantes
uma à outra quanto duas famílias de répteis ou duas famílias de algas? (3) Se
alguém quiser uma estimativa, parece que família pode ser uma boa aproximação
para alguns grupos. Entretanto, isto deve ser considerado apenas uma estimativa.
Simplesmente, não sabemos a resposta.
6. As espécies podem mudar com rapidez suficiente para produzir a
biodiversidade atual num tempo relativamente curto?
Não sabemos quanta mudança é requerida para explicar a presente biodiversidade
porque desconhecemos o ponto de partida. Os cientistas sabem que as espécies
podem mudar com muita rapidez (4). A maioria das mudanças são pequenas,
como as que podem distinguir uma espécie ou um gênero. Se as mudanças forem
originadas por agentes inteligentes, fica difícil predizer os resultados.
7. Como explicamos as semelhanças moleculares e genéticas de seres
humanos com os chimpanzés?
Não sabemos exatamente como as moléculas de DNA regulam a construção de
corpos, mas acreditamos que há uma relação entre as seqüências de DNA e a
forma e funções do corpo. Se for assim, deve-se esperar que corpos similares
tenham seqüências de DNA similares. Portanto, pode-se esperar que seres
humanos e chimpanzés tenham entre si uma similaridade de DNA maior do que
com pinheiros, por exemplo. Entretanto, as similaridades entre seres humanos e
chimpanzés são notáveis, e é compreensível que os evolucionistas as expliquem
como o resultado de ancestralidade comum (5). De fato, as semelhanças no DNA
são tão grandes que se pergunta por que as duas espécies são tão diferentes. O
que os faz diferentes? Não sabemos. A menos que apreendamos como as
diferenças entre as espécies são produzidas, provavelmente não entenderemos o
significado das similaridades entre seres humanos e chimpanzés.
8. Que problemas não resolvidos sobre mudanças nas espécies são de
maior preocupação?
Como eram os animais originalmente criados? Por que os seres humanos são tão
semelhantes a outros animais, especialmente aos macacos?
154 |
1992. In search of Genesis and the pseudogene. Spectrum 22(4):10-21; (b)
Gibson L. J. 1994. Pseudogenes and origins. Origins 21:91-108
Textos sobre Criacionismo
Origem da vida
1. Os cientistas criaram vida?
Os cientistas têm produzido alguns dos compostos químicos mais simples das
células vivas, mas não podem combiná-los para produzir uma célula viva. A
tecnologia para fazer isto não está disponível e provavelmente nunca estará. Os
cientistas não conseguem nem mesmo reviver uma célula morta, embora esta
ainda contenha os sistemas e substâncias químicas necessárias.
2. A vida poderia ter-se iniciado por acaso em uma "sopa primordial"?
Não. A vida depende de muitas condições não naturais. Estas incluem a produção
de proteínas e ácidos nucléicos, que não são produzidos na ausência da vida. A
vida é baseada em sistemas químicos em desequilíbrio termodinâmico, mas as
reações químicas na natureza buscam espontaneamente o equilíbrio. Além disto,
não há evidência geológica de que tenha havido uma "sopa primordial" em alguma
época (1).
3. O que pode ser dito sobre os relatórios recentes de vida em Marte?
Não foi encontrada vida em Marte. Os relatórios de possível vida em Marte são
baseados em certos minerais encontrados em um meteorito achado na Antártica
(2). Acredita-se que o meteorito tenha vindo de Marte, e que os minerais
possivelmente se formaram pela ação de bactérias enquanto a rocha ainda estava
em Marte. Esta explicação requer que bactérias semelhantes às da Terra
estivessem presentes em Marte, produzindo minerais no interior desta rocha.
Então, um asteróide ou objeto similar atingiu Marte com força suficiente para
lançar a rocha no espaço, por onde ela vagou durante algum tempo. Finalmente, a
rocha encontrou a Terra, passou através da atmosfera e caiu na Antártica, onde foi
encontrada por uma equipe que anualmente procura meteoritos. Provavelmente, a
maioria dos cientistas são cépticos quanto às declarações de que os minerais foram
produzidos por organismos viventes (3). A NASA desqualificou a rocha como fóssil.
A busca por evidências de vida em Marte continua.
Seria pouco provável que qualquer organismo vivo pudesse sobreviver a tal
viagem, e não mais se tem afirmado que a rocha contenha algum fóssil de
bactéria.
O ceticismo (4) inicial sobre essas afirmativas parece ter sido justificado por um
registro de que a maioria das moléculas orgânicas se originou de contaminação
com material da Terra.
4. Como o desenvolvimento de Teorias do Caos e da Complexidade tem
afetado nossa compreensão sobre o problema da origem da vida?
Estas teorias não produziram nenhuma mudança radical. A teoria da complexidade
tem gerado muita discussão e especulação que não mudaram a natureza do
problema. A maioria dos trabalhos tem sido feita com programas de computador,
que não revelam nada sobre as origens de proteínas, ácidos nucléicos ou células
vivas (5).
5. Avalie a teoria de que a vida se iniciou sobre superfícies minerais ou de
argila no oceano, talvez em torno de fontes hidrotermais.
Várias conjecturas têm sido propostas em relação ao desenvolvimento da vida
sobre argila ou superfícies minerais. Entretanto, estas não têm nenhum apoio
empírico e não há nenhuma evidência experimental significativa para avaliar (6).
As fontes hidrotermais apresentam um sério problema para estas teorias, porque a
água que sai delas é esterilizada, destruindo qualquer vida que possa estar
presente (7). A maioria dos compostos químicos necessários para a vida são muito
sensíveis ao calor.
| 155
6. Que problemas não resolvidos sobre a origem da vida são de maior
preocupação?
Os dados científicos a respeito da origem da vida são consistentes com a teoria
criacionista. Naturalmente, todos os estudiosos da natureza gostariam de saber
mais sobre como a vida funciona.
Notas para as perguntas sobre a origem da vida
1. (a) Javor G. T. 1987. Origin of life: a look at late 20th-century thinking. Origins
14:7-20; (b) Thaxton C. B., Bradley W. L.., Olsen R. L.. 1984. The mystery of life
origin: Reassessing current theories. NY: Philosophical Library.
2. McKay D. S., et al. 1996. Search for past life on Mars: possible relic biogenic
activity in Martian meteorite ALH84001. Science 273:924-930.
3. Ver: (a) Bradley J. P., Harvey R. P., MSween H. Y. 1997. No "nanofossils" in
martian meteorite. Nature 390:454; (b) Kerr R. A. 1997. Martian "microbes" cover
their tracks. Science 276:30-31; (c) Yockey H. P. 1997. Life on Mars? Did it come
from Earth? Origins and Design 18(1):10-15.
4. Jull A. J. T., Courtney C., Jeffrey D. A., Beck J. W. 1998. Isotopic evidence for a
terrestrial source of organic compounds found in Martian meteorites Allan Hills
84001 and Elephant Moraine 79001. Science 279:366-369. Kerr R. A. 1998.
Requiem for life on Mars? Support for microbes fades. Science 282:1398-1400.
5. Ver Horgan J. 1995. From complexity to perplexity. Scientific American
272(1):104-109.
6. Ver Javor G. T. 1989. A new attempt to understand the origin of life: the theory
of surface-metabolism. Origins 16:40-44.
7. Miller S. L., Bada J. L. 1988. Submarine hot springs and the origin of life. Nature
334:609-611. Moulton, V. et al. 2000. RNA folding argues against a hot-star origin
of life. Journal of Molecular Evolution 51:416-421.
1. Explique como os cientistas obtêm idades de milhões de anos pelo
método do carbono 14.
Isto não é feito. A datação por carbono-14 não pode dar resultados além de cerca
de 70.000 anos. Idades de milhões de anos são baseadas em outros métodos
inorgânicos.
2. Como funciona a datação por carbono-14?
A datação por carbono-14 (C-14) é baseada no fato de que o C-14 é radioativo e
se desintegra produzindo nitrogênio-14. Os seres vivos recebem o C-14 por meio
do alimento e água, mantendo um nível constante de C-14 no corpo. Quando
morrem, o C-14 que se desintegra não é mais substituído, assim o nível de C-14
diminui. Quanto maior o período depois da morte, menos C-14 permanece no
corpo. A concentração do C-14 em uma amostra pode ser medida com precisão e
comparada com a quantidade de carbono-12 não radioativo. Com estas medidas
pode-se calcular o tempo necessário para que o nível inicial do C-14 existente no
corpo antes de sua morte pudesse chegar a este novo nível medido. Esta será a
"idade C-14" da amostra (1).
3. Quão precisa é a datação por carbono-14?
As idades determinadas por carbono-14 (C-14) parecem ser precisas sempre que
podem ser comparadas com relatos históricos. Algumas exceções são conhecidas,
tais como quando os organismos não recebem a quantidade de C-14 igual à média
do ambiente, mas estes casos geralmente são facilmente explicados. Além de
cerca de 1500 A.C., os registros históricos existentes são escassos e a contagem
de anéis de árvores pode ser usada para calibrar e corrigir as idades por C-14 (2).
Textos sobre Criacionismo
Datação por carbono 14
156 |
Textos sobre Criacionismo
A parte experimental da datação por C-14 consiste em medir a proporção de
carbono-14 e carbono-12, e algumas vezes do C-13, em uma amostra. Isto pode
ser feito com uma boa precisão, embora seja difícil trabalhar com algumas
amostras. Além disso, a precisão do resultado depende da confiabilidade dos
pressupostos usados na interpretação das medidas.
4. Quais são os pressupostos usados na determinação de idades por
carbono-14?
A interpretação dos resultados é baseada em vários pressupostos. Aceita-se que a
taxa de decaimento radioativo do carbono-14 não tem mudado ao longo dos anos.
Não há nenhuma evidência contra este pressuposto, e ele parece ser confiável.
Supõe-se também que não haja perda ou contaminação de C-14 na amostra. A
confiabilidade deste pressuposto provavelmente depende do ambiente em que a
amostra se encontra. Uma amostra isolada, relativamente à troca de átomos com o
ambiente, terá mais probabilidade de evitar a contaminação ou perda do que uma
amostra que se encontre freqüentemente exposta ao escoamento de água.
Freqüentemente são identificados erros cometidos quanto a este pressuposto.
Outros três pressupostos são feitos ao aplicar o método (3). Primeiro, a taxa de
produção do carbono-14 deve ter sido relativamente constante. Sabe-se que
ocorreram variações, mas acredita-se que se pode fazer a correção devida.
Segundo, as quantidades de carbono-14 presentes em reservatórios geofísicos
devem ser constantes. Os reservatórios geofísicos incluem a atmosfera, os
oceanos, a biosfera e os sedimentos. Este pressuposto tem sido questionado
recentemente (4). Terceiro, as várias taxas de fluxo do carbono-14 entre os
reservatórios geofísicos devem ser constantes, e o tempo de residência do
carbono-14 nos vários reservatórios deve ser curto em relação à sua meia-vida. Se
estas três condições forem satisfeitas, o resultado é que a concentração inicial de
C-14 na amostra pode ser estimada. Este resultado parece funcionar bem quando
pode ser verificado. Entretanto, seria completamente invalidado para material que
estivesse vivo antes do dilúvio.
O dilúvio deve ter alterado drasticamente a concentração do C-14. Isto porque o C14 antediluviano estaria grandemente diluído em grandes quantidades de C-12 que
agora estão enterradas na forma de carvão mineral e petróleo (5). Isto reduziria
grandemente a concentração de C-14 antes do dilúvio, fazendo com que uma
amostra da época parecesse muito mais velha do que é realmente. De acordo com
esta interpretação, se plantas que viveram antes do dilúvio fossem datadas por C14 usando os padrões atuais, pareceriam muito mais antigas mesmo quando ainda
vivas. Isto significa que aqueles que crêem em um dilúvio mundial devem esperar
encontrar idades muito grandes para organismos que viveram antes do dilúvio. O
mesmo se aplicaria a plantas e animais que viveram logo após o dilúvio, antes que
o novo nível de concentração de C-14 fosse atingido.
Notas para as perguntas sobre datação por carbono-14
1. O método está descrito com maiores detalhes em: Newcomb R. C. 1990.
Absolute age determination. Berlin and NY: Springer-Verlag, p 162-180.
2. (a) Ver o capítulo 26 em Coffin H. G, Brown R. H. 1983. Origin by design.
Hagerstown, MD: Review and Herald Publ. Assn.; (b) Brown R. H. 1988. The upper
limit of C-14 age? Origins 15:39-43; (c) Brown R. H. 1994. Compatibility of biblical
chronology with C-14 age. Origins 21:66-79; (d) Giem PAL. 1997. Scientific
theology. Riverside, CA: La Sierra University Press, p. 175-187; (e) O uso de anéis
de árvores para calibrar datações por carbono 14 é criticado por: Brown R. H.
1995. Can tree rings be used to calibrate radiocarbon dates? Origins 22:47-52; ver
também Radiocarbon, volume 34(1), (1993), que trata da calibração da datação
por carbono 14.
3. Ver p. 158 no livro de Newcomb na nota 1.
4. (a) Hesshaimer V., Helmann M., Levin I. 1994. Radiocarbon evidence for a
smaller oceanic carbon dioxide sink than previously believed. Nature 370:201-203;
| 157
(b) Joos F. 1994. Nature 370:181-182; (c) Ver os comentários de Brown R. H.
1994. Compatibility of biblical chronology with C-14 age. Origins 21:66-79.
5. Post W. M., et al. 1990. The global carbon cycle. American Scientist 78:310326. De acordo com estes autores, o carbono total em trânsito na biosfera (não
carbonato) é cerca de 40.000-45.000 gigatons. A quantidade de carbono nos
combustíveis fósseis é estimada em 6.000 gigatons e a quantidade de querógenos
(orgânicos) em sedimentos é cerca de 15 milhões de gigatons. Isto dá uma
proporção de 300:1 para o carbono antediluviano na biosfera em relação ao
carbono atual na biosfera. Este valor difere do valor de 143:1 buscado por Brown,
por apenas um fator dois (Origins 15:39-43, Ver a nota 2 para a referência
completa).
1. Qual é a idade da Terra?
A maioria dos cientistas crê que a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos. Este
valor é baseado em datação radiométrica. Muitos criacionistas crêem que a Terra
tenha cerca de 6.000 a 10.000 anos. Estes valores são baseados nas cronologias
do Gênesis. Alguns criacionistas crêem que esta questão não é muito importante;
talvez os minerais tenham sido criados numa ocasião, e a vida em outra. A Bíblia
não dá uma idade para a Terra, e nenhuma conclusão teológica é baseada na idade
da Terra, de forma que esta questão pode não ser tão importante como algumas
outras.
2. Por que os cientistas pensam que a Terra tem bilhões de anos?
Estes valores são o resultado de técnicas de datação radiométrica que são
aplicadas às rochas. O mais popular destes métodos é provavelmente o do
potássio-argônio, embora haja vários outros, tais como o urânio-chumbo, rubídioestrôncio, etc. (1). Alguns átomos de potássio são radioativos e se transformam
em argônio, um gás inerte. O material radioativo (potássio-40) é chamado de
material pai; o produto (argônio-40) é chamado de material filho. À medida que o
tempo passa, a quantidade de material pai (potássio-40) diminui enquanto a
quantidade de material filho (argônio-40) aumenta.
As idades determinadas por potássio-argônio são calculadas a partir da proporção
entre argônio e potássio. Esta proporção fica maior com o decorrer do tempo. Se a
quantidade de potássio-40 fica muito pequena para ser detectada, o método não
pode mais ser usado para calcular a idade de uma rocha. As quantidades de
potássio-40 e argônio-40 podem ser medidas com precisão, mas a exatidão da
idade depende da confiabilidade de três premissas principais: taxa de decaimento
constante, sistema fechado, e concentração inicial. A hipótese da taxa de
decaimento constante parece válida; há pouca evidência já observada contra ela. A
hipótese do sistema fechado é válida na maior parte das vezes (o método não é
aplicado a rochas que mostram evidente alteração química), mas há sempre
necessidade de cautela. A hipótese da concentração inicial é a parte mais fraca do
método de cálculo de idades radiométricas. São feitas tentativas para estimar a
concentração inicial da forma mais razoável possível, mas não há meio de ter
certeza de que as estimativas estejam corretas. Não se pode voltar no tempo e
examinar a amostra de rocha logo que foi formada. Os criacionistas que defendem
uma idade curta para a Terra suspeitam que haja problemas com a hipótese do
sistema fechado e com a hipótese da concentração inicial.
3. O que significa meia-vida?
Meia-vida é o tempo necessário para que metade da amostra de um material
radioativo pai se transforme em material filho. Para o potássio-40, a meia-vida
determinada é de cerca de 1,3 bilhões de anos. Isto significa que se iniciarmos com
1000 átomos de potássio-40, 500 deles terão se transformado em argônio-40 após
Textos sobre Criacionismo
Idade da Terra
158 |
Textos sobre Criacionismo
1,3 bilhões de anos. Após outros 1,3 bilhões de anos, apenas 250 deles terão
restado, e terão se formado 750 átomos de argônio-40. Uma terceira meia vida irá
reduzir o potássio-40 a 125 átomos, com a formação de um total de 875 átomos
de argônio-40. Neste ponto, a proporção de uma parte de potássio-40 para 7
partes de argônio-40 iria indicar uma idade de cerca de 3,9 bilhões de anos, que é
aproximadamente a idade radiométrica das "mais velhas" rochas conhecidas na
Terra.Os detalhes técnicos complicam os cálculos na prática, mas este exemplo
ilustra os princípios no qual o método é baseado.
4. Como os criacionistas explicam idades radiométricas de muitos milhões
de anos?
Os criacionistas não têm uma explicação adequada, mas já foram propostas
algumas possibilidades (2). A primeira possibilidade é que as rochas da Terra
sejam muito antigas porque o planeta foi formado bem antes de a vida ter sido
criada nela. Esta teoria propõe que o Gênesis se refere apenas à criação da vida no
planeta e não à criação do planeta em si. Esta é chamada de "Hipótese de Dois
Estágios da Criação". A segunda hipótese é que Deus tenha criado um planeta
maduro, com árvores crescidas, animais adultos e seres humanos adultos também.
Portanto, é razoável que as rochas tenham sido criadas para aparentarem idade
também. Esta é conhecida como a "Hipótese da Criação da Terra Madura". Uma
terceira possibilidade é a de que haja alguma razão funcional para que certos
materiais radioativos não devessem ser abundantes, para não acarretar danos
sobre os organismos vivos. Isso implica que as quantidades reduzidas de átomos
pais radioativos fazem parte do planejamento intencional do Criador.
5. Que problemas não resolvidos sobre a idade da Terra são de maior
preocupação?
A questão mais difícil é provavelmente a seqüência aparente de idades
radiométricas, dando idades mais antigas para as camadas inferiores da coluna
geológica e idades mais jovens para camadas superiores. Outras questões são: por
que a datação radiométrica produz sistematicamente idades muito maiores do que
as sugeridas pelo relato bíblico; a razão para vestígios de atividade na coluna
geológica; e explicação para as longas séries de camadas de gelo polar.
Notas para as perguntas sobre a idade da Terra
1. Ver: (a) Newcomb R. C. 1990. Absolute age determination. Berlin and NY:
Springer-Verlag; (b) Faure G. 1986. Principles of isotope geology. 2a edição. NY:
John Wiley and Sons.
2. Ver: (a) Brown R. H. 1983. How solid is a radioisotope age of a rock? Origins
10:93-95; (b) Brown R. H. 1977. Radiometric age and the traditional HebrewChristian view of time. Origins 4:68-75; (c) Giem P. A. L.. 1997. Scientific
theology. Riverside, CA: La Sierra University Press, p 116-136; (d) Brown R. H.
1996. Radioisotope age, Part 1. Geoscience Reports No. 20; (e) Webster C. L.
1996. Radioisotope age, Part 2. Geoscience Reports No 21; (f) Clausen B. L. 1997.
Radioisotope age, Part 3. Geoscience Reports Nº 22. Loma Linda, CA: Geoscience
Research Institute.
Criação
1. O que foi criado no primeiro dia da semana da criação?
Deus disse, "Haja luz". (Gênesis 1:3). A Terra era escura anteriormente (Gênesis
1:2). No primeiro dia Deus fez com que a Terra fosse iluminada. Isto não significa
que a luz não existisse antes disso porque a presença de Deus é associada com a
luz (Apocalipse 22:5). Não é necessário supor que o fenômeno físico da luz tenha
sido criado naquela ocasião, mas a Terra anteriormente escura foi iluminada. Uma
possível explicação para a luz é que Deus pessoalmente e fisicamente veio a esta
Terra, sendo a causa da iluminação. Se for assim, como podia se tornar escura de
novo ao anoitecer? Talvez a rotação da Terra tivesse produzido o dia e a noite nos
hemisférios da Terra, assim como acontece hoje.
Outra explicação possível para a luz é que o sistema solar já existisse antes da
semana da criação, mas a luz era impedida de chegar à superfície da Terra. A
Terra desta época pode ser comparada com Vênus, onde uma atmosfera espessa
obscurece a luz do sol. No primeiro dia, a atmosfera foi clareada o suficiente para
permitir que a luz atingisse a superfície da Terra (1).
2. O que foi criado no quarto dia da semana da criação?
Disse também Deus: "Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem
separação entre o dia e a noite; ..." Dois grandes luzeiros são descritos, um para
governar o dia e um para governar a noite. Estas luzes apareceram no quarto dia
da semana da criação. Não são apresentados os detalhes. Eles podem ter sido
criados naquele dia. Se assim for, a luz dos primeiros três dias pode ter sido
provida pela presença de Deus.
Se nosso sistema solar já existia antes da semana da criação, como alguns
criacionistas acreditam que seja possível, então aparentemente o próprio sol não
era visível até o quarto dia. Isto poderia ser explicado devido a uma cobertura
atmosférica de nuvens, permitindo que a luz difusa alcançasse a superfície, mas
não revelando a fonte da luz. No quarto dia, talvez a atmosfera tenha sido clareada
para permitir que o sol e a lua fossem visíveis pela primeira vez.
Outra interpretação possível é que o sol e a lua existissem antes dessa época, mas
no quarto dia foram "designados" para funções específicas relativas à Terra.
A frase "e fez também as estrelas" não requer que Deus tenha criado as estrelas
ex-nihilo no quarto dia da criação. Alguns criacionistas têm defendido que todo
universo, ou pelo menos a porção visível, foi criada no quarto dia. O texto permite
esta leitura, mas não a exige. Esta é apenas uma frase parentética na qual Deus é
identificado como o criador das estrelas sem identificar quando isto foi realizado. O
texto parece permitir a interpretação de que as estrelas já existiam anteriormente,
talvez com planetas habitados por outros seres inteligentes criados por Deus (2).
3. Por que a seqüência dos dias da criação não se ajusta à seqüência do
registro fóssil?
Porque o registro fóssil foi produzido após a semana da criação. Não havia nenhum
processo de fossilização entre os dias da criação. O registro fóssil é um registro da
morte e não da criação da vida.
4. Podem os dias da criação realmente representar períodos de mil anos cada,
como sugerido em II Pedro 3:8?
Fazer os "dias" da criação iguais a mil anos não ajuda a explicar o texto. A
seqüência fóssil não se ajusta à seqüência da criação. A vegetação foi criada antes
das criaturas marinhas, mas aparece depois no registro fóssil. As aves foram
criadas antes dos répteis, mas aparecem depois deles no registro fóssil.
Se se imaginar os mil anos como tendo uma única noite e manhã, cada noite teria
ocupado aproximadamente a metade deste período, ou 500 anos. A vegetação não
poderia sobreviver a 500 anos de escuridão. Se considerarmos os mil anos como
anos comuns, isto não resolve a suposta idade dos fósseis, de milhões de anos.
Qualquer tentativa de fazer os "dias" da criação iguais a mil anos nada adianta
para resolver as questões científicas (3).
5. Poderiam os "dias" da criação representar períodos indefinidos de
tempo?
No Gênesis, os "dias" da criação são numerados de 1 a 7, indicando uma
seqüência. Eles consistem de "uma tarde e uma manhã" -- um período escuro e
um período de luz. O processo de criação descrito é por comandos -- criação pela
palavra. A linguagem parece claramente indicar dias comuns (4).
Um teste para saber se esta interpretação é correta é observar como os "dias" são
usados em outros lugares na Bíblia. Em Êxodo 20:11 e 31:17, os dias da criação
são usados como a base para a observância do Sábado, o sétimo dia. A
interpretação dos dias da criação como dias literais é apoiada pela ocorrência do
Sábado como um dia literal em uma semana de sete dias literais.
Textos sobre Criacionismo
| 159
Textos sobre Criacionismo
160 |
Interpretar os "dias" da criação como sete períodos de tempo indefinidos não
ajuda. A seqüência de eventos no Gênesis não se ajusta ao registro geológico. Se
os dias não são literais, a seqüência de eventos certamente não é literal, e o
processo de criação instantânea por comandos não é literal também. Se o Gênesis
não descreve precisamente a seqüência de eventos ou o processo envolvido, então
não faz sentido tentar achar significado nos sete períodos de tempo.
6. A semana da criação ocorreu há 6.000 anos atrás?
A Bíblia não fornece a data da criação. Ela contém dados cronológicos e
genealógicos que sugerem que a criação ocorreu há cerca de 6000-7500 anos
atrás, dependendo de qual versão antiga é usada. Alguns criacionistas concluíram
que os dados cronológicos bíblicos são essencialmente completos, e a criação
ocorreu há cerca de 6000 anos. Outros criacionistas não estão convencidos de que
os dados bíblicos são completos, e aceitam uma certa extensão do tempo, desde
que o caráter da história da criação não seja alterado. Retroagir a criação e o
dilúvio a uns poucos milhares de anos fará pouca diferença teológica, mas retroagir
milhões de anos irá implicar que os seres humanos têm se aperfeiçoado ao longo
do tempo. Isto é contrário à mensagem da Bíblia. Portanto, a maioria dos
criacionistas bíblicos irá insistir que o tempo da criação do Gênesis seja medido em
milhares - mas não milhões - de anos.
7. Como Caim encontrou uma esposa se não havia outros seres humanos
na Terra antes da semana da criação?
Adão e Eva tiveram muitos filhos, de ambos os sexos (Gênesis 5:4). A Bíblia não
menciona com freqüência os nomes de filhas, mas elas estavam presentes. Sem
dúvida, Caim casou-se com uma irmã. Isto não iria causar problemas genéticos
entre pessoas criadas tão recentemente. O acúmulo de mutações deletérias desde
aquela época tem tornado os casamentos entre parentes bastante inconvenientes,
devido à probabilidade aumentada de nascerem descendentes geneticamente
defeituosos. Abraão aparentemente casou-se com uma meia-irmã (Gênesis 20:12).
Isto sugere que casamentos entre familiares eram socialmente aceitos naquela
época.
8. Por que Gênesis 1 e 2 apresentam relatos diferentes da criação?
Alguns acham que os dois relatos de criação são contraditórios, enquanto outros
afirmam que os dois relatos são complementares (5). A interpretação de
complementaridade sugere que a semana da criação é apresentada
esquematicamente em Gênesis 1, terminando em Gênesis 2:4. Gênesis 1
preocupa-se com a cronologia da criação, enquanto Gênesis 2 é uma ampliação do
relato da criação dos seres humanos e seu lar no Éden. Gênesis 1 introduz a
universalidade da criação, enquanto Gênesis 2 introduz as histórias da experiência
humana contadas no resto do livro. A linguagem dos dois capítulos pode ser
interpretada como conflitante por alguém que desejar assim fazer, mas a
linguagem não requer este conflito.
9. Que problemas não resolvidos sobre a semana da criação são de maior
preocupação?
Que eventos ocorreram no primeiro e no quarto dias da semana da criação?
Quando a água e os minerais da Terra foram criados?
Notas para as perguntas sobre a semana da criação
1. Ver: (a) Mitchell C. 1995. The case for creationism. Grantham, Lincs, UK:
Autumn House Publ., p. 205; (b) Coffin H. G., Brown R. H. 1983. Origin by design.
Hagerstown, MD: Review and Herald Publ. Assn., Chapter 1.
2. Esta interpretação explicaria Jó 38:7 como se referindo ao júbilo dos seres
inteligentes em outros mundos por ocasião da criação do mundo. Que há outros
mundos habitados por seres inteligentes é indicado na história de Satanás
representando a Terra no concílio celestial, em Jó 1:6 e 2:1.
3. Ver: Hasel G. F. 1994. The "days" of creation in Genesis 1: literal "days" or
figurative "periods/epochs" of time? Origins 21:5-38.
4. Ver Nota 3.
| 161
5. Luo, P. H. K. 1989. Does Genesis 2 contradict Genesis 1? Ministry, March 1989;
Younker, R. W. 2000. Genesis 2: A second creation account? Pp. 69-78 in Creation,
Catastrophe and Calvary. Review and Herald Publ. Hagerstown MD.
1. De onde veio e para onde foi a água do dilúvio?
Os oceanos contêm água suficiente para cobrir a Terra. Se a superfície da Terra
fosse perfeitamente plana, sem montanhas ou bacias oceânicas, ela seria coberta
por uma camada de água com 3 km de profundidade (1). Há água suficiente para
inundar a Terra. Antes do dilúvio, certa quantidade de água estava provavelmente
nos mares, certa quantidade na atmosfera e uma quantidade desconhecida de
água poderia ser subterrânea. A maior parte da água está agora em bacias
oceânicas. É possível que mais água tenha sido acrescentada durante o dilúvio pela
colisão de um ou mais cometas, que podem ser compostos em grande parte de
água.
2. Como o dilúvio pôde encobrir o Monte Everest?
Durante o dilúvio, a área onde está agora o Monte Everest era uma bacia na qual
sedimentos estavam se acumulando. Isto é mostrado pela presença de fósseis
marinhos no Monte Everest (2). Após o soterramento dos fósseis, atividades
catastróficas elevaram os sedimentos a uma altura bem acima de sua posição
anterior, formando as montanhas do Himalaia. A maioria das montanhas atuais
pode ter se formado de maneira semelhante, durante o dilúvio ou logo após.
3. Como a Terra poderia ser destruída por 40 dias e 40 noites de chuva?
O dilúvio não consistiu apenas de 40 dias de chuva. As águas do dilúvio
aparentemente não começaram a diminuir antes de 150 dias (Gênesis 7:24).
Outros 150 dias se passaram antes que a arca pousasse (Gênesis 8:3, 4). Dez
meses de inundação contínua provavelmente seriam capazes de produzir grandes
mudanças geológicas na superfície da Terra. Em regiões mais distantes do ponto
em que a arca pousou, o dilúvio pode ter durado bem mais do que um ano.
A água não foi o único agente envolvido na catástrofe mundial. As camadas fósseis
contêm mais de 100 crateras formadas por impactos de objetos extraterrestres tais
como asteróides, meteoritos e cometas (3). A crosta terrestre passou por grandes
modificações durante o dilúvio. Sem dúvida, a chuva teve um papel importante,
mas houve muito mais do que chuva na catástrofe conhecida como o dilúvio.
4. Como sabemos que o dilúvio foi mundial? Ele não poderia ter sido
restrito a algum lugar do Oriente Médio?
Jesus usou o dilúvio como um exemplo do julgamento universal (Mateus 24:3738). Pedro confirma que apenas oito pessoas foram salvas (II Pedro 2:5).
As expressões do texto de Gênesis parecem inconsistentes com um dilúvio local
(4). A linguagem é o mais universal possível: "... e cobriram todos os altos montes
que havia debaixo do céu;" Gênesis 7:19. Se a água cobriu os altos montes, iria
também cobrir as regiões mais baixas. Como o propósito de Deus era destruir
todos os seres humanos (Gênesis 6:7), o dilúvio deveria necessariamente ter se
estendido pelo menos a todas regiões habitadas por seres humanos. Além do mais,
Deus prometeu que nunca mais ocorreria outro dilúvio como aquele (Gênesis 9:11,
Isaías 54:9), como simbolizado pelo arco-íris (Gênesis 9:13-17). Tem havido
muitas inundações locais bastante destrutivas, que literalmente varreram muitas
pessoas. O arco-íris é visto em todo mundo, indicando que a promessa se aplica a
todo mundo. O dilúvio do Gênesis deve ter envolvido um nível de atividade
diferente de qualquer coisa vista desde então.
Se o dilúvio foi local, a história bíblica do dilúvio não faz sentido. Não haveria
necessidade de uma arca para salvar Noé e seus animais. Noé poderia ter migrado
com seus animais para outra região para evitar o dilúvio local.
Textos sobre Criacionismo
Diluvio
162 |
Alguns têm afirmado que a presença de uma camada de barro em algumas partes
do vale da Mesopotâmia é uma evidência de um dilúvio local. Entretanto, esta
camada de barro é encontrada apenas em algumas das cidades. Sem dúvida, a
região foi inundada alguma vez, mas isto não tem nada a ver com o dilúvio dos
tempos de Noé relatado em Gênesis.
5. Que problemas não resolvidos sobre o dilúvio são de maior
preocupação?
Como um evento catastrófico conseguiu produzir a seqüência ordenada de fósseis
que é observada? Por que os fósseis na parte inferior da coluna geológica parecem
tão diferentes de qualquer coisa viva atualmente, enquanto os fósseis na parte
superior da coluna são mais semelhantes às espécies que vivem agora? Por que
alguns fósseis se apresentam numa série morfológica que se ajusta, de um modo
geral, com a teoria da evolução? Como as plantas e animais chegaram ao local
onde agora estão após o dilúvio?
Notas para as perguntas sobre o dilúvio
1. Dubach H. W., Taber R. W. 1968. Questions about the oceans. Publication G13.
Washington DC: U.S. Naval Oceanographic Office, p 35.
2. Odell N. E. 1967. The highest fossils in the world. Geological Magazine
104(1):73-74.
3. (a) Grieve R. A .F. 1987. Terrestrial impact structures. Annual Review of Earth
and Planetary Sciences 15:245-270; (b) Grieve R. A .F. 1990. Impact cratering on
the Earth. Scientific American 262(4):66-73; (c) Lewis F. S. 1996. Rain of iron and
ice. NY: Helix Books, Addison-Wesley Publishing; (d) Gibson L. J. 1990. A
catastrophe with an impact. Origins 17:38-47.
4. (a) Hasel G. F. 1975. The biblical view of the extent of the flood. Origins 2:7795; (b) Hasel G. F. 1978. Some issues regarding the nature and universality of the
Genesis flood narrative. Origins 5:83-98; (c) Davidson R. M. 1995. Biblical
evidence for the universality of the Genesis Flood. Origins 22:58-73.
Textos sobre Criacionismo
Arca de Noé
1. A arca de Noé foi encontrada?
Não. Várias expedições buscaram encontrá-la, mas sem sucesso. Algumas
formações rochosas com "forma de barco" foram encontradas na área do Ararat,
mas não há nada especial com relação a elas. Há numerosos relatos de pessoas
que dizem ter visto a arca, mas não há evidências para apoiar estes relatos. Parece
pouco provável que a arca venha a ser encontrada. Deve-se rejeitar as afirmações
de que a arca foi encontrada, mas que é necessário mais dinheiro para obter as
provas. Se a arca fosse realmente descoberta, os meios de comunicação iriam
assegurar que todos soubessem disso rapidamente.
2. Como todos milhões de espécies de animais poderiam caber na arca?
Não poderiam. A arca foi projetada para incluir apenas vertebrados terrestres -aqueles que caminham sobre a terra e respiram através de narinas (Gênesis 7:22).
Isso não inclui animais marinhos, vermes, insetos e plantas. Há menos de 350
famílias de vertebrados terrestres vivos. A maioria destes são do tamanho de um
gato doméstico ou menor. Se cada família taxonômica estivesse representada na
arca por um par de espécimes, e com as poucas famílias "limpas" representadas
por sete pares, a arca deveria conter menos do que 1000 indivíduos. A arca
poderia provavelmente acomodar dez vezes este número (1). A questão de espaço
para os animais na arca não é um problema difícil.
3. É razoável supor que cada família taxonômica poderia ser representada
por um único par ancestral na arca? Isto não irá exigir taxas evolutivas
absurdas após o dilúvio?
Algumas famílias taxonômicas podem ser grupos que representam mais do que um
| 163
Notas para as perguntas sobre a arca
1. Para uma discussão criacionista sobre o espaço na arca, ver: Wodmorappe J.
1994. The biota and logistics of Noah's ark. In Walsh R. E, editor, Proceedings of
the Third International Conference on Creationism, July 18-23, 1994. Pittsburgh,
PA: Creation Science Fellowship, p 623-631.
2. (a) Wayne R. K. 1986. Cranial morphology of domestic and wild canids: the
influence of development on morphological change. Evolution 40:243-261; (b) Ver
também as perguntas feitas sobre mudanças nas espécies.
3. Parsons P. A. 1988. Evolutionary rates: effects of stress upon recombination.
Biological Journal of the Linnean Society 35:49-68.
Era glacial
1. Ocorreu uma era glacial?
Sim. Houve uma época em que as geleiras cobriram grandes áreas da América do
Norte e do noroeste da Europa (1). A maioria dos cientistas crê que ocorreram
várias eras glaciais, mas alguns criacionistas suspeitam que houve apenas uma Era
Glacial, com flutuações que produziram a aparência de mais de uma.
2. Quando ocorreu a era Glacial?
Provavelmente não muito após o dilúvio.
Textos sobre Criacionismo
par de espécimes ancestrais. Entretanto, um par pode ter sido suficiente na
maioria dos casos. Sabe-se que algumas espécies atuais possuem suficiente
variabilidade genética para produzir variações morfológicas equivalentes a gêneros
diferentes (2). As taxas de mudança morfológica podem depender do grau de
isolamento genético, da quantidade de stress ambiental e também do tempo (3).
4. O que se pode dizer sobre alimentação, água e saneamento para todos
aqueles animais?
Estas questões não são discutidas na Bíblia. A água da chuva poderia estar
disponível, tornando o armazenamento de água desnecessário. O alimento foi
aparentemente guardado na arca (Gênesis 6:21-22). O Deus que revelou a vinda
do dilúvio, instruiu Noé sobre como preparar a arca e dirigiu os animais para a
arca, certamente cuidou da "logística" necessária para o cuidado deles.
5. O que se pode dizer sobre animais com alimento muito específico, tais
como o coala que requer folhas de eucalipto?
Não sabemos se os coalas foram sempre restritos a folhas de eucalipto, ou se sua
dieta mudou. Nem mesmo sabemos se os coalas existiram antes do dilúvio, ou se
eles se diferenciaram a partir de um ancestral que tenha sido preservado durante o
dilúvio. Possivelmente não haja um meio de obter a resposta.
6. Como os animais puderam encontrar seu caminho a partir da arca até a
América do Sul ou a Austrália?
Não sabemos, mas parece provável que os animais foram dirigidos de forma
sobrenatural para ir para a arca, e de novo para se dispersar a partir da arca. Isto
pode ter sido obtido pela implantação de um impulso instintivo para migrar, ou
pode ter sido através da ação direta de anjos. Alguns podem objetar sobre a
invocação de atividade sobrenatural, mas esta é inerente a toda a história do
dilúvio. Atividades sobrenaturais não implicam necessariamente violação de leis
naturais, mas sim que os eventos foram dirigidos por seres de inteligência
superior.
7. Que problemas não resolvidos sobre a arca de Noé são de maior
preocupação?
Quantas espécies diferentes de animais foram salvas na arca de Noé, e quais são
seus descendentes? Como os vertebrados terrestres se espalharam da arca até sua
atual distribuição?
164 |
Textos sobre Criacionismo
3. O que causou a era Glacial?
Já foram feitas muitas conjecturas acerca da causa da Era Glacial (2) Uma das
melhores idéias é a de Michael Oard (3). Oard propõe que o oceano estava ainda
morno imediatamente após o dilúvio. Isto significa que muita água se evaporaria e
produziria precipitação, especialmente ao longo da trilha de tempestades da costa
leste da América do Norte. Esta trilha de tempestades trouxe grandes quantidades
de neve para a parte norte da América do Norte, onde o maior acúmulo de gelo
ocorreu. Atividades vulcânicas mantiveram os verões frios, aumentando a
precipitação e impedindo o derretimento da neve e do gelo. Quando o solo ficava
coberto de neve, refletia mais calor do sol do que absorvia, esfriando mais o ar e
acelerando o processo. Depois de várias centenas de anos, o oceano se esfriou o
suficiente para diminuir a precipitação de mais neve. A atividade vulcânica declinou
também, permitindo que os verões se tornassem mais quentes, provocando o
derretimento do gelo.
4. Quanto durou a era Glacial?
No modelo de Oard, a Era Glacial pode ter durado menos de 1000 anos. A maioria
dos geólogos crê em várias eras glaciais, separadas por períodos mais quentes,
durando centenas de milhares de anos.
5. Por que a Bíblia não diz nada sobre a Era Glacial?
A Bíblia registra a história do povo que preservou o conhecimento do Messias
prometido. A Era Glacial não é relevante para esta história. Por outro lado,
referências tais como Jó 38:22 podem indicar um clima mais frio no princípio da
história bíblica.
6. Que se pode dizer sobre outras eras glaciais na coluna geológica?
Outras "Eras Glaciais" têm sido propostas, com base na interpretação de certas
evidências, tais como sedimentos não consolidados, que são interpretados como
típicos de atividade glacial (4). Entretanto, as evidências de "eras glaciais" préquaternárias não são fortes, e já foram propostas interpretações alternativas dos
dados (5).
7. Que problemas não resolvidos sobre Eras Glaciais são de maior
preocupação?
Como explicar as evidências de que algumas regiões da América do Norte e Europa
Setentrional experimentaram intervalos alternados de glaciação e climas mais
quentes, sugerindo um período de tempo mais longo do que a maioria dos
criacionistas julga disponível? Como explicar sondagens do gelo da Groelândia e
Antártica que são interpretadas como representando períodos de tempo de
100.000 anos ou mais? Qual o significado de seqüências de camadas interpretadas
como devidas a mudanças cíclicas na órbita da Terra, chamadas ciclos de
Milankovich?
Notas para as perguntas sobre a Era Glacial
1. Wright A. E., Moseley F., editors. 1975. Ice Ages: ancient and modern.
Geological Journal Special Issue Nº. 6. Liverpool: See House Press.
2. Imbrie J, Imbrie K. P. 1979. Ice Ages: solving the mystery. Cambridge, MA and
London: Harvard University Press.
3. Ver: (a) Oard M. J. 1990. A post-flood ice-age model can account for Quaternary
features. Origins 17:8-26; (b) Oard M. J. 1984a. Ice ages: the mystery solved?
Part I: The inadequacy of a uniformitarian Ice Age. Creation Research Society
Quarterly 21:66-76; (c) Oard M. J. 1984b. Ice ages: the mystery solved? Part II:
The manipulation of deep-sea cores. Creation Research Society Quarterly 21:125137; (d) Oard M. J. 1985. Ice ages: The mystery solved? Part III: Paleomagnetic
stratigraphy and data manipulation. Creation Research Society Quarterly 21:170181; (e) Oard M. J. 1990. An ice-age caused by the Genesis Flood. ICR Technical
Monograph. El Cajon, CA: Institute for Creation Research.
| 165
4. Ver vários capítulos na referência da Nota 1.
5. Ver: (a) Gravenor C. P., Von Brunn V. 1987. Aspects of Late Paleozoic
glacial sedimentation in parts of the Parana Basin, Brazil, and the Karoo
Basin, South Africa, with special reference to the origin of massive
diamictite. In McKenzie G. D, editor. Gondwana Six: Stratigraphy,
Sedimentology and Paleontology. Geophysical Monograph 41. Washington
DC: American Geophysical Union, p 103-111; (b) Rampino M. R. 1994.
Tillites, diamictites, and ballistic ejecta of large impacts. Journal of Geology
102:439-456; (c) Bennett M.R, Doyle P, Mather A. E. 1996. Dropstones:
their origin and significance. Palaeogeography, Paleoclimatology,
Palaeoecology 121:331-339; (d) Oberbeck V. R., Marshall J. R., Aggarwal H.
1993. Impacts, tillites, and the breakup of Gondwanaland. Journal of
Geology 101:1-19; (e) Responses in Journal of Geology 101:675-679;
102:483-485.
1. Os continentes realmente se separaram?
Aparentemente sim. Há considerável evidência de que os continentes se moveram,
separando-se (1).
2. Quando os continentes se separaram?
A principal separação pode ter ocorrido durante o dilúvio. Medidas atuais mostram
que eles ainda se movem hoje, embora muito lentamente.
3. A divisão da Terra nos dias de Pelegue mencionada em Gênesis 10:25
pode ser interpretada como sendo a tectônica de placas?
Provavelmente não. O contexto é a "Tabela de Nações" que se espalharam após o
dilúvio. O texto significa, mais provavelmente, que o território da Terra foi dividido
entre estes grupos de pessoas. Entretanto, não há nada no texto que evite a
interpretação de que os continentes estavam se separando naquela ocasião;
porém, as diferenças entre os vertebrados terrestres da América do Sul e da África
são tão grandes que parece pouco provável que estes continentes estiveram
ligados após o dilúvio.
4. A Pangea representa o mundo pré-diluviano?
Provavelmente não. A Pangea é em grande parte coberta com sedimentos
marinhos, sugerindo que fosse uma bacia ou mar epicontinental onde ocorreu a
deposição durante o dilúvio. Os continentes pré-diluvianos podem ter sido
destruídos no dilúvio.
5. Como podem os continentes terem se movido com rapidez suficiente
para rearranjar toda a superfície da Terra durante o ano do dilúvio?
Pode não ser necessário que todo o movimento das placas fosse completado
durante o dilúvio; movimentos significativos das placas podem ter continuado por
algum tempo após o dilúvio. De qualquer forma, as causas do movimento das
placas não são bem compreendidas. Atualmente elas se movem muito lentamente,
mas poderiam se mover mais rápido se houvesse condições apropriadas. Uma
grande quantidade de energia seria necessária; talvez esta poderia ter sido provida
por impactos extraterrestres (2). Uma temperatura mais baixa de fusão de rochas
basálticas poderia ter facilitado o movimento das placas; sabe-se que a presença
de água no basalto abaixa o ponto de fusão (3). Não se sabe se o movimento das
placas pode ter sido facilitado pelas "águas sob a terra" ou o rompimento das
"fontes do abismo," mas vale a pena considerar esta possibilidade. Um grupo de
criacionistas publicou recentemente uma teoria de movimento rápido das placas
que pode prover algumas respostas a esta questão (4). Um movimento assim
rápido iria aquecer tanto as placas que levaria muito tempo para esfriá-las.
Textos sobre Criacionismo
Tetônica de placas
166 |
6. Que problemas não resolvidos sobre tectônica de placas são de maior
preocupação?
Quanto as placas realmente se moveram? Quando e quão rapidamente se
moveram? O que aconteceu aos continentes pré-diluvianos? Como o magma do
fundo oceânico se esfriou em poucos milhares de anos se ele foi depositado tão
rapidamente durante o dilúvio? (5)
Notas para as perguntas sobre tectônica de placas
1. (a) Snelling A. A. 1995. Plate tectonics: have the continents really moved apart?
CEN Technical Journal 9(1):12-20; (b) Wilson J. T., editor. 1976. Continents adrift
and continents aground. Readings from Scientific American. San Francisco: W.H.
Freeman.
2. (a) Clube V, Napier B. 1982. Close encounters with a million comets. New
Scientist 95:148-151; (b) Glikson A. Y. 1995. Asteroid/comet mega-impacts may
have triggered major episodes of crustal evolution. EOS, Transactions of the
American Geophysical Union 76(6):49ff.
3. Thompson A. B. 1992. Water in the Earths upper mantle. Nature 358:295-302.
4. Baumgardner J. R. 1994. Runaway subjection as the driving mechanism for the
Genesis flood. In: Walsh R. E., editor. Proceedings of the Third International
Conference on Creationism. Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship, p 63-75.
5. Este problema foi levantado em: (a) Barnes R. O. 1980. Thermal consequences
of a short time scale for sea-floor spreading. Journal of the American Scientific
Affiliation 32(2):123-125. O problema continua não resolvido, mas alguns
trabalhos interessantes sobre problemas relacionados podem ser encontrados em:
(b) Snelling A. 1991. The formation and cooling of dykes. Creation Ex Nihilo
Technical Journal 5:81-90; (c) Snelling A. 1996. Rapid granite formation? Creation
Ex Nihilo Technical Journal 10:175-177; (d) Anonymous. 1996. Queries and
comments. Origins (Biblical Creation Society) Nº 21, p 22-23.
Textos sobre Criacionismo
Criação e ciência
1. É científico crer na criação?
Em nossa sociedade atual, crê-se que a ciência é estritamente naturalista. Neste
sentido, a criação não pode ser científica, porque a criação implica uma inteligência
sobrenatural ativa na natureza. Entretanto, a ciência pode ser definida de outras
formas (1). Se "ciência" significar o estudo da natureza, a criação pode ser
"científica." É o que acontece se a natureza for investigada em sua relação com
Deus como o seu Criador. Muitos dos fundadores da ciência moderna criam que
Deus estava ativo na natureza, e que eles estavam meramente estudando Seus
métodos de agir na natureza. A história mostra que a separação entre Deus e a
natureza não é necessária para o avanço do conhecimento. Entretanto, a ciência se
preocupa em testar predições resultantes de hipóteses específicas. A hipótese de
que Deus causou um evento por métodos que não são investigáveis não seria
considerada científica, por não poder ser testada.
Para alguns o termo "científico" significa crença lógica em oposição à superstição.
Este significado é inerente ao "cientificismo" -- a crença de que a ciência
naturalista é o único meio de descobrir a verdade. Este é um mau uso do termo
"científico", que torna impossível responder à questão se é científico crer na criação
ou em qualquer outra teoria das origens.
2. É necessário que a ciência seja naturalista?
A ciência avançou porque os cientistas procuraram respostas a questões acerca de
como os eventos ocorreram ou ocorrem. Isto pode ser investigado tanto quando se
crê que Deus está dirigindo os eventos como quando não se crê nisto. Os cientistas
não necessitam crer no naturalismo quando procuram entender o mecanismo de
como os eventos ocorrem.
| 167
3. O reconhecimento das atividades de Deus por parte dos cientistas não
iria desestimular a pesquisa?
A crença de que Deus está ativo na natureza não desestimulou a pesquisa dos
fundadores da ciência moderna, assim como não deve desestimular hoje. O
problema que se deve evitar é deixar de investigar um fenômeno simplesmente por
se crer que Deus é sua causa. Muitos cientistas têm sido estimulados a estudar a
natureza por crerem que Deus está ativo nela, sendo seu estudo uma oportunidade
de compreendê-lO através das obras de Suas mãos.
4. Que problemas não resolvidos sobre a criação e a ciência são de maior
preocupação?
Como obter a verdade quando a razão e a fé parecem estar em conflito?
Notas para as perguntas sobre criação e a ciência
1. A filosofia da ciência sob uma perspectiva cristã está em: (a) Ratzsch D. 1986.
Philosophy of Science. Downers Grove, IL: InterVarsity Press; (b) Pearcey N. R.,
Thaxton C. B. 1994. The soul of science: Christian faith and natural philosophy.
Wheaton, I. L: Crossway Books, Good News Publishers; (c) Os adventistas do
sétimo dia devem consultar Testimonies to the Church, Vol. 8, p 255-261 para uma
esclarecedora declaração sobre Deus, a natureza e a ciência.
Recomendam-se as seguintes publicações, como leitura adicional referente aos
tópicos tratados neste número de Ciências das Origens, todas disponíveis mediante
solicitação à Sociedade Criacionista Brasileira no "site": http://www.scb.org.br
(1) ROTH, A. Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia., 384 p., C.P.B., Tatuí,
2001 (Casa Publicadora Brasileira, Rodovia SP-127, Km 106, Caixa Postal 34,
Tatuí, SP, BRASIL, CEP 18270-000).Tradução do original Inglês Origins: Linking
Science and Scripture. Hagerstown, Review and Herald Publishing Association,
1998, 384 p., feita pelo Núcleo de Estudos das Origens.
(2) JUNKER, Reinhard, e SCHERER, Siegfried. Evolução - Um Livro-Texto Crítico,
328 pp., Tradução para o Português pela Sociedade Criacionista Brasileira, 2002.
(S.C.B, Caixa Postal 08743, Brasília, DF, CEP: 70312-970).
(3) FLORI, Jean, e RASOLOFOMASOANDRO, Henri. Em Busca das Origens Evolução ou Criação? 342 pp., Editorial Safeliz, 2000. (Editorial Safeliz, Aravaca 8,
28040 Madrid, Espanha). Tradução para o Português, pela Sociedade Criacionista
Brasileira, 2002. (S.C.B, Caixa Postal 08743, Brasília, DF, CEP: 70312-970).
(4) PARKS, Bill. Como Ensinar a seus Filhos a Harmonia entre o Criacionismo e a
Ciência. 130 pp., Sociedade Criacionista Brasileira, 2001. (S.C.B., Caixa Postal
08743, Brasília, DF, CEP: 70312-970).
(5) Folhas Criacionistas referentes aos tópicos tratados neste número de Ciências
das Origens, a serem selecionadas no Índice Temático dos artigos publicados nas
Folhas Criacionistas, disponível no "site" da Sociedade Criacionista Brasileira.
(6) Coleção dos números 1 a 60 de "Ciência de los Orígenes", encadernada em dois
volumes, produzida pela Sociedade Criacionista Brasileira, 2002.
Textos sobre Criacionismo
Referências
168 |
Textos esparços - internet
Criacionismo e Darwinismo – Reflexões
Sem dúvida a primeira insinuação nesse teor ocorreu ainda no Jardim do
Éden, quando o enganador, disse aos primeiros pais: certamente não
morrereis, mas serei como Deus (Evoluireis...) conhecendo o bem e o mal (a
síntese do bem com o mal conduziria a estágios mais elevados...).
Contudo as idéias evolucionistas, só se impuseram ao pensamento humano
durante o século XIX com o surgimento do evolucionismo darwinista, cujas
linhas básicas apareceram no livro Origin of Species, publicado em 1859 por
Charles Darwin, a quem coube prover condições para a síntese das idéias
evolucionistas que então pairavam no pensamento humano.
Textos sobre Criacionismo
Observando fatos biológicos num contexto de mudanças, interpretando-os e
extrapolando-os em termos de desenvolvimento gradual, Darwin contribuiu
para que fosse estabelecido o princípio do evolucionismo darwinista nos
seguintes termos:
As espécies existentes surgiram de outras mais simples, mediante gradual
acumulação de pequeninas variações (mutações gênicas, no caso do neoDarwinismo, uma síntese do evolucionismo com o mendelismo, selecionadas
naturalmente (seleção natural) de modo a torná-las mais aptas para
sobrevivência (predominância do mais apto), graças às mudanças (mutações)
nelas ocorridas.
Graças à influência do arguto advogado Thomaz Huxley, cognominado o "cão
de guarda do evolucionismo", do filósofo Herbert Spencer, que deu à evolução
um vôo filosófico mediante sua penetração em todos os domínios do
pensamento humano e graças a outros batalhadores, alguns até pouco
escrupulosos como Ernest Haeckel, o evolucionismo provocou tremendo
impacto no pensamento humano, a ponto do século XIX ter sido chamado por
alguns de "o Século de Darwin".
| 169
Em 1936, Julian Huxley, no seu discurso como presidente da
Associação Britânica para o Avanço da Ciência afirmava ser a evolução o mais
importante de todos os problemas da Ciência, envolvendo todos os campos do
conhecimento ... Nos quais sobressairia a Biologia, promovendo a unificação
de toda a ciência sob a égide da evolução.
Tão grande foi o impacto do Darwinismo sobre o pensamento humano que em
1959, quando na Universidade de Chicago se comemorava o centenário do
Darwinismo, era idéia corrente que nenhuma pessoa esclarecida deixaria de
aceitar o evolucionismo como fato e o evolucionismo darwinista como modo de
origem das espécies.
Insinuava-se inclusive que tudo é produto da evolução, inclusive a idéia de
Deus.
Por sua vez o criacionismo parecia morto e sepultado.
Segundo o filósofo Etiene Gilson na sua obra "DAristoteles a Darwin et Retour"
(Edição Vrin, 1971), o evolucionismo darwinista foi tornado aparentemente
indestrutível mediante uma síntese filosófico-científica na qual a generalidade
da premissa filosófica, o evolucionismo, repousa sobre a restrita
demonstrabilidade do fato científico a variação sob a égide da seleção natural.
É fácil concluir que o principal autor desta síntese foi o arguto Thomaz Huxley
que uniu o evolucionismo filosófico de Hebert Spencer (o filósofo da Evolução)
com o Darwinismo (variações limitadas nos organismos, selecionadas e
tornadas aptas pela seleção natural).
Foi uma tremenda síntese, mas sem deixar de ser um "mito" filosóficocientífico, posteriormente impingido aos intelectuais como parte de sua
formação chegando a ser uma autêntica religião das universidades e de certas
culturas.
Graças aos esforços de notáveis precursores como George Mc Ready Price e
outros, o criacionismo começou a ressurgir na América do Norte e Europa,
tornando-se hoje num sistema de pensamento digno de atenção nos meios
cultos e contribuindo inclusive para que a comemoração do centenário da
morte de Darwin, em 1982, não fosse tão eufórica como foi em 1959 a
comemoração do centenário do livro "A Origem das Espécies".
Enquanto em 1933 o Manifesto Humanista I, dentre outras cousas afirmava
que o universo é auto-existente, que o homem é parte da natureza da qual
emergiu e que mesmo a religião do homem é produto da evolução, o Manifesto
Humanista II em 1973, em face do criacionismo ressurgente, reafirmava que a
evolução é um princípio da ciência e que a fé em Deus é uma fé não
submetida a provas e fora de moda.
Textos sobre Criacionismo
Ressurgimento do Criacionismo
170 |
Posteriormente o conhecido Isaac Asinov se deu ao trabalho de publicar no
New York Times, um artigo anti-criacionista no qual compara o criacionismo a
um sonho mau, a um pesadelo, opondo-se inclusive ao ensino do criacionismo
nas escolas ao lado do ensino do evolucionismo.
Parece que o criacionismo ressurgente começava a perturbar o sossego
evolucionista através da obra incansável dos assim chamados "criacionistas
científicos americanos".
No manifesto publicado em 1977 pela Associação Humanista Americana, 163
pesquisadores, na maioria biólogos, afirmaram que o evolucionismo é um
princípio da ciência (pode ser um princípio, mas é discutível se é científico).
Para Teilhard de Chardin, evolução seria um postulado geral, diante
do qual deveriam curvar-se todas as teorias, hipóteses e sistemas se é que
pretendem ser lógicos e verdadeiros.
Theodosius Dobzhansky num panegírico a Chardin, dizia ser a evolução a luz
que ilumina todos os fatos, a trajetória que todas as linhas de pensamento
devem seguir.
Já Francisco Ayala, discípulo de Dobzhansky, afirmava que em Biologia nada
tem sentido a não ser à luz da evolução.
Textos sobre Criacionismo
Por sua vez o biólogo LH Mathews na introdução ao livro Origem das Espécies
edição de 1971, afirmava ser a teoria da evolução uma fé satisfatória na qual
podemos basear nossa interpretação da natureza.
Por outro lado, Leon Harris (Perspectives in Biology and Medicine, Winter,
1975 pp. 179 - 184) sugere atribuir ao Darwinismo natureza axiomática e para
axiomas não se demanda provas.
Menos lisonjeira mas também interessante é a opinião de Paul Erhlich da
Stanford University (Nature vol 214 p. 352) dizendo ser o evolucionismo um
dogma impingido aos intelectuais como parte do seu treino, dogma este
sustentado por experimentos levados a efeito em sistemas muito simplificados,
cuja validade foi extrapolada muito além dos seus limites da verificação
(variabilidade das espécies verificada em limites restritos).
Finalmente Loren Eisely na sua obra The Immense Journey (New York;
Raudom House, 1957, p. 199) referindo-se aos esforços feitos para sustentar o
evolucionismo nos domínios da ciência diz: a ciência foi deixada na
embaraçosa posição de postular teorias sobre origens que não podem ser
demonstradas.
Depois de haver censurado o teólogo por sua dependência do mito e do
milagre, a ciência se encontra na mesma inviável posição de criar uma
mitologia para ela mesma, isto é, afirmar que aquilo que após longos anos não
pode ser considerado como ocorrendo hoje, na verdade ocorreu no remoto
passado.
Em suma a evolução parece ser tudo e parece pretender explicar tudo. Isso é
sintomático porque ao pretender explicar tudo, anula seu potencial para a
| 171
falsificabilidade que é a principal característica de princípios e teorias
científicas.
De fato, se evolução é um fato, por que ter que qualificá-la tanto e com tantas
expressões? Se a evolução é de fato um fato tão geral, porque parece ser tão
difícil explicar o mecanismo do seu funcionamento?
Alguns Fatos a Considerar
Sobrevivência do Mais Apto
Seria de fato a sobrevivência do mais apto um fato?
Sem considerar a redundância implícita na expressão, (na verdade o
organismo que sobrevive é o mais apto e o mais apto é o que deve sobreviver)
passemos a raciocinar na seguinte linha de pensamento: se a seleção natural
se limitasse a preservar os organismos melhor adaptados às suas condições
ambientais, paulatinamente, com o correr o tempo, no mesmo lugar e ao
mesmo tempo, graças à seleção natural, estariam dotados do mesmo
patrimônio genético, possuindo as mesmas necessidades alimentares,
ambientais e outras, que deveriam ser satisfeitas ao mesmo tempo e da
mesma maneira.
Pesquisas feitas (Ayala, Kimura, etc.) evidenciaram que em condições
adversas organismos com patrimônio genético monomorfo (altamente
selecionados) duramente sobreviviam enquanto prosperavam organismos com
patrimônio genético polimorfo ou seja não selecionados. Na verdade alta
seleção geralmente requer alta proteção e isso fica claro para qualquer pessoa
envolvida com seleção artificial. O geneticista Kimura conclui que nos
organismos vivos, genes que passaram por muitas mutações (alta seleção
depende de muitas mutações) só controlam funções secundárias (são um
tanto "inertes") ao passo que genes que comandam funções importantes como
por exemplo a fotossíntese, levada a cabo pela clorofila, apresentam mínimas
mutações desde "tempos imemoriais" (parece óbvio que muitas mutações
casuais acabem degradando ou tornando inertes e não aprimorem sistemas
genéticos ou outros quaisquer!).
Parece cada vez mais claro, mesmo a evolucionistas, que a predominância do
mais apto parece não estar em muita concordância com as leis da natureza
(não é difícil verificar que seres pouco aptos como os gambás, koalas e outros
sobrevivem e seres que pareciam mais apto como os dinossauros se
extinguiram).
Também parece cada vez mais claro que o acúmulo gradual e casual de
mutações, mesmo nos domínios da seleção natural, não pode explicar a
origem de formas de vida cada vez mais complexas.
Textos sobre Criacionismo
Como resultado estabelecer-se-ia uma concorrência acirrada e intolerável num
habitat restrito (território onde o indivíduo ou organismo tornou-se o mais apto)
a qual acabaria, isto sim, eliminando o grupo justamente por ser altamente
monomorfo graças à seleção natural.
172 |
Mesmo entre evolucionistas parece haver desarmonia sobre o que realmente
pode fazer a seleção natural, além de promover a variabilidade dentro de
formas básicas de vida.
Falta de Tempo para o Darwinismo Originar Novas Espécies
Muitos pensadores, inclusive evolucionistas, estão ficando conscientes de que,
mesmo que o acúmulo casual de pequenas mudanças pudesse transformar
um organismo simples noutro mais complexo, o tempo requerido para este
processo seria enorme e não disponível, mesmo pelos cálculos mais
inflacionados de idades da terra e do universo.
No simpósio do Wistar Institute em 1966, Murray, Salisbury e outros
concluíram que se se der ao acaso papel sério e crucial na origem das
entidades, então o evolucionismo precisa aguardar a descoberta de novas leis
naturais, pois a evolução baseada em processos caóticos requereria bilhões
de vezes mais tempo do que os supostos 4,6 bilhões de anos da idade da
terra.
Certamente muitos paleobiólogos devem ter a percepção, nem sempre
confessada, de que a seleção natural de Darwin é de ação muito lenta e
limitada, para poder ser responsabilizada pela origem das espécies.
Também a probabilidade estatística do surgimento expontâneo da vida (numa
atmosfera primeva sem oxigênio e diferente da atual) e mesmo de uma
proteína (cadeia constituída de aminoácidos dos quais há 20 usados pelos
seres vivos) é praticamente nula em face da complexidade da base físicoquímica da matéria viva, sabendo que cada organismo é constituído por
trilhões de células.
Textos sobre Criacionismo
Estima-se que o corpo humano seja constituído por 10 trilhões de células, cada
uma com 46 cromossomas (constituída de DNA) no núcleo (as células
germinais têm a metade).
Nos cromossomas deve haver uns 3 milhões de genes (unidades hereditárias
que condicionam as características dos seres vivos) contendo uns 5 bilhões de
pares de nucleotídios (uma seqüência de 3 nucleotídios, em certa ordem
determina um aminoácido) e as proteínas e enzimas, essenciais à construção
e funcionamento dos organismos, são formados por desde 50 até 300
aminoácidos em certa ordem!
Uma seqüência de nucleotídeos (há 4 diferentes: adenina, citosina, guanina e
tinina) onde cada 3 em certa ordem (codon) codifica um aminoácido constitue
um gene.
Considere-se por exemplo, a probabilidade de casualmente ser formada a
hemoglobina do sangue com seus 574 aminoácidos dispostos em 4 cadeias, 2
com 141 e 2 com 146 aminoácidos a partir de 20 aminoácidos diferentes.
Considerando os 20 aminoácidos diferentes utilizáveis pelos seres vivos,
concluímos que há 20146 maneiras diferentes de formar a cadeia Beta da
hemoglobina com 146 aminoácidos.
| 173
Embora esse número seja bem menor pois haverá muitas repetições visto
haver só 20 aminoácidos em cadeias de 146, ainda assim esse número é
maior do que 10100 (gugol) número possivelmente maior que o total de
partículas do universo. Probabilidade praticamente nula!
Mesmo a probabilidade estatística para a formação casual do hormônio
insulina, do qual são deficientes os diabéticos, constituído por 51 aminoácidos
que devem estar rigorosamente numa ordem, é praticamente nula.
Convém lembrar ainda que a síntese de uma determinada proteína só ocorre
na presença de enzimas que atuam como catalisadores. Isso complica o
problema lembrando que enzimas, por sua vez, também são proteínas.
Evocar o acaso e ater-se aos princípios que regem a ciência experimental não
pode ser o procedimento no caso de estudo das origens.
Incoerência entre o Darwinismo e o Registro Fóssil
Se o evolucionismo darwinista fosse um fato, o registro fóssil deveria ser bem
diferente e rico em formas transicionais documentando a passagem paulatina
de uma espécie para a outra, graças ao lento acúmulo de formas com
pequenas e contínuas variações.
Não é esse o caso do mundo fóssil rico, isto sim, em formas terminais e
marcado por nítidas lacunas entre as espécies fósseis preservadas.
Em congresso realizado anos atrás no Museu de História Natural de Chicago,
boa parte dos 160 cientistas presentes (biólogos, anatomistas, paleontólogos)
parecia divergir, sob algum aspecto, dos ensinamentos básicos do darwinismo,
embora continuassem a considerar a evolução como fato indiscutível.
Entre estes e os fósseis das camadas subseqüentes não há as necessárias
formas transicionais ou intermediárias para construir séries contínuas, como
seria de esperar, se o darwinismo, que afirma a origem das espécies mediante
o acúmulo gradual e casual de pequenas mutações, fosse um fato.
Da mesma forma surgem repentinamente todas as formas básicas de vida ao
longo da coluna geológica.
As poucas formas transicionais existentes (o mundo fóssil e esmagadoramente
constituído de formas terminais) o são em boa parte porque são tidas como
tais graças a exercícios de imaginação.
Origem do Vôo
Trata-se de um exemplo típico da falta de formas transicionais, constituindo um
Textos sobre Criacionismo
Concluíram por exemplo, o que os criacionistas sempre afirmaram, que mesmo
durante milhões de anos, as espécies mudam muito pouco. E esta conclusão
parece fortemente corroborada pelo registro fóssil nos terrenos sedimentares
onde fósseis complexos surgem repentinamente nas primeiras camadas
(terrenos cambreanos).
174 |
grande problema para a evolução porque a capacidade de voar, num contexto
evolucionista, deve ter surgido quatro vezes distintas: entre os insetos, entre os
répteis (os pterossauros), com as aves e entre os mamíferos (quirópteros ou
morcegos).
A transição entre um animal não voador e um dotado da capacidade de voar
implica em profundas modificações em boa parte dos órgãos e estruturas e um
processo gradual certamente requereria milhares de formas transicionais
especialmente se fosse gradual. E onde estão tais formas?
Há imensas lacunas entre qualquer uma das formas aladas e seus supostos
ancestrais e isso é reconhecido inclusive por evolucionistas de renome como
F.C. Olson em sua obra The Evolution of Life e A.S. Romer em Vertebrate
Paleontology.
Considere-se por exemplo as fantásticas mudanças que deveriam ter ocorrido
num réptil, por mais saltador que fosse, para transformá-lo numa ave, que
parece ter sido feita de propósito para voar com sua elevada temperatura do
sangue (42 ou 43ºC), ossos leves, resistentes e ôcos, sacos aéreos como
extensões do sistema respiratório, elevada pressão do sangue e grande
concentração de açúcar no sangue (bem maior que nos mamíferos).
E que dizer da transformação de uma escama em uma pena, verdadeira obra
prima, seja ela de um pardal, de uma pomba, de um pavão ou de uma ave do
paraíso?
Textos sobre Criacionismo
E ainda mais, o que dizer da fantástica capacidade migratória de muitas aves,
guiando-se inclusive por estrelas, instinto que não pode ter sido adquirido
gradualmente e que é sustentado por muito eficientes sistemas digestivo e
circulatório?
Os evolucionistas têm sugerido ou mesmo assumido que o animal
saltoposuchus seja o ancestral de répteis voadores (pterossauros) e aves.
Contudo, há grandes lacunas entre o saltoposuchus e os pterossauros, alguns
com até 8m de envergadura, com ou sem dentes, com longa cauda e o 4º
dedo dos membros anteriores desmesuradamente longo, contrastando com os
outros três e suportando a membrana volátil.
Não deveria haver formas intermediárias evidenciando por exemplo a gradual
evolução do 4º dedo?
Por sua vez há um abismo entre o saltoposuchus e a archaeopterix,
supostamente a mais antiga ave e considerada no passado, como sendo um
dos mais valiosos fósseis (para os evolucionistas) por ser considerada como
exemplo clássico de "evolução apanhada em flagrante".
Muitos, inclusive evolucionistas afirmam que a archaeopterix não pode ser
considerada como elo intermediário entre répteis e aves, pois se o fosse,
deveria apresentar características de ambos os grupos devidamente
acompanhadas de estruturas nascentes (das aves) e decadentes (dos répteis).
| 175
Embora possuísse características reptilianas como dentes, cauda óssea longa,
dedos com garras nos membros anteriores, possuía pélvis como as aves e
penas perfeitas como as das aves.
Da mesma forma, o supostamente mais antigo morcego conhecido, o
paleochiropterix de 50 milhões de anos atrás (segundo esquemas
evolucionistas), é em tudo semelhante aos morcegos atuais, não havendo
evidência alguma de formas transicionais entre eles e os mamíferos
insetívoros tidos como seus ancestrais.
Na realidade seria requerida uma tremenda revolução anatômica e fisiológica
para transformar um insetívoro em um morcego e as tentativas da natureza
nesse sentido deveriam estar bem documentadas no mundo fóssil. Mas onde
estão?
Evolução aos Saltos
A falta de formas transicionais tem levado alguns evolucionistas a tomar
posições verdadeiramente revisoras face ao darwinismo, passando a defender
uma teoria de "evolução aos saltos" como é o caso de Stephen Jay Gould da
Universidade de Harward.
Segundo Gould, não se pode rejeitar os fatos da microevolução, mas
microevolução extrapolada não é macroevolução.
Nessa linha de pensamento, as modificações e adaptações evocadas pelo
darwinismo contribuíram para o fenômeno da microevolução (modificações
intra-específicas) ao passo que macromutações repentinas e inexplicáveis é
que contribuiriam para o surgimento de novas espécies.
Assim pensam os proponentes desta nova posição, haveria harmonia entre o
evolucionismo e o registro fóssil.
Interessante é que os criacionistas nunca rejeitaram as modificações intra
específicas produzidas pelas mutações (dentro de um tipo básico de vida ou
dentro de um min segundo a terminologia hebraica do livro de Gênesis) mas
nunca atribuíram a elas o poder de criar novas e mais complexas espécies.
É significativo o fato de ser defendida uma "evolução aos saltos" que se
aproxima mais da posição Criacionista que afirma a origem repentina dos tipos
básicos de vida (mins na terminologia hebraica, de Gênesis), mas por ação de
um Criador.
Textos sobre Criacionismo
De acordo com as posições revisionistas, as espécies mudariam muito pouco
ao longo dos anos, mas repentinamente sem haver explicação, sofreriam
bruscas transformações adquirindo novas características.
Mais ainda, essas violentas e imprevisíveis mutações ocorreriam por acaso,
não proporcionando necessariamente melhores condições de sobrevivência
aos seres resultantes.
176 |
Conclusão
É fato bem estabelecido que os organismos vivos variam, tanto durante a sua
vida, quanto ao longo do tempo.
Dentre as diversas modalidades de variações, tem havido especial interesse
da parte dos evolucionistas e também dos criacionistas no estudo das
variações decorrentes das mutações genéticas que atingem a informação
codificada nos cromossomas das células germinais dos organismos vivos.
As mutações genéticas podem ser gênicas (point mutations), cromossômicas
(aberrações cromossômicas) e novas combinações de genes.
Mutações gênicas (point mutations) decorrem de erros em determinadas
posições dos genes ou erros na passagem do código genético, implicando, nas
proteínas e enzimas, alterações nas posições dos aminoácidos.
Os efeitos de tais mutações muitas vezes são deletérios para os organismos,
como é o caso de mínimas alterações na hemoglobina humana provocando
anemia tão profunda a ponto de prejudicar a sobrevivência.
Outras vezes os efeitos são triviais resultando em mudanças de cores,
formatos, aparência, mas às vezes até com valor para sobrevivência como foi
o caso das mariposas claras e escuras na Inglaterra.
Triviais ou deletérias, parece óbvio que mutações gênicas não têm condições
de prover informação capaz de originar novas espécies e explicar a
diversidade de organismos.
Mutações cromossômicas (aberrações cromossômicas) decorrem de
reagrupamentos, inserções ou deleções de seqüências de genes nos
cromossomas.
Textos sobre Criacionismo
Foram estudadas em insetos (drosófilas), em certas plantas e produzem
mudanças em cores, tamanhos, formas, comportamentos, atividades e outras
como pode ser visto por exemplo, na seleção artificial de cães.
Como ocorrem em sistemas de genes já existentes, complexos e bem
controlados, dificilmente podem ter a pretensão de explicar a origem destes
sistemas e a origem de espécies mais e mais complexas.
O caso da deleção de genes (perda de seqüências de genes) implica, isto sim,
em degenerescência como se vê em muitas formas vivas como aves que não
voam, peixes cegos nas cavernas.
Novas combinações de genes já existentes na bagagem genética podem
ocorrer num processo de reprodução bissexuada, graças ao fato de haver
muito mais informação na bagagem genética do que a que é expressa nos
organismos vivos. Em outras palavras, há uma grande reserva de variabilidade
nas diferentes combinações genéticas possíveis, mas sempre com base em
informação presente nos genes.
Estas novas combinações, selecionadas pela natureza, permitem respostas
dos organismos às mudanças e pressões ambientais, permitindo assim sua
| 177
sobrevivência. Contudo isso está muito longe de explicar toda a diversidade de
organismos, com novas estruturas e novos órgãos e funções mais complexas.
No domínio das mutações genéticas não é possível divisar um modo de induzir
o surgimento de organismos com novas estruturas corporais e novos órgãos
com funções mais complexas quando se considera a total interdependência
das partes no organismo como um todo.
Os órgãos, por exemplo, possuem base genética bem complexa e não será
casualmente e através de erros na transmissão de informação que poderão ser
originados para exercer funções num emaranhado de interdependências
corporais.
Em suma, organismos vivos possuem grande, mas limitado potencial para a
variabilidade, graças à grande reserva de informação genética. Mas tudo isso
parece ocorrer dentro dos limites de "formas básicas" de vida entre as quais
lacunas parecem intransponíveis.
Variabilidade e Fatores Ambientais
Parece claro que a variabilidade genética tende a aumentar em épocas de
mudanças.
Após a Criação, a primeira grande mudança foi a entrada do pecado por causa
da queda do homem ao falhar na sua confiança em Deus, o Criador.
Devem ter ocorrido, a partir de então, mudanças drásticas, visualizadas pelas
expressões que encontramos em Gênesis, capítulo 3:
"Maldita é a terra por causa de ti; cardos e espinhos produzirá; em fadigas
obterás dela o sustento; no suor do rosto comerás o teu pão..." além da
percepção de "estar nú" e da sensação de medo.
Por ocasião do Dilúvio Universal, do qual temos tantas evidências, houve
novas condições para o aumento da variabilidade em pequenas populações;
com isolamento geográfico e sob mudanças ambientais rápidas e profundas.
Em populações pequenas um eventual gene mutante se espalharia com mais
facilidade. Da mesma forma um gene raro poderia ser passado para outras
gerações, o que não aconteceria em grandes populações onde seria iliminado.
O isolamento geográfico preserva e isola pequenas populações evitando
cruzamentos com outros. Há ao mesmo tempo redução da competição,
permitindo inclusive a sobrevivência de eventuais aberrações, que, caso
contrário seriam iliminadas.
Da mesma forma genes mutantes e aberrações podem ser preservadas por
ocasião de mudanças ambientais rápidas porque estas reduzem os efeitos da
competição visto sempre novas condições ambientais entrarem em cena.
É fácil ver então como um dilúvio universal, pode ter provido condições para
Textos sobre Criacionismo
Certamente começaram a ocorrer variações adaptativas e degenerativas que
continuam até hoje segundo Romanos 8:22.
178 |
um drástico aumento de variabilidade num mundo de tantas mudanças a partir
de então.
Concluindo, pode-se afirmar que em meio a tanta diversidade, não há
evidência de qualquer tipo de mudança que possa operar acima do nível da
raça-espécie e de seus entornos.
A hipótese darwinista parece adequada para explicar as variações em nível
intra-específico, mas insuficiente para explicar a origem dos grupos
hierarquicamente mais elevados de seres vivos que segundo o plano divino
deveriam preservar sua marcas básicas.
Textos sobre Criacionismo
Autor: Pr.Orlando Mário Ritter-APS
e-mail: [email protected]
| 179
Michael A. Comberiate: Diálogo com um
adventista que é cientista de foguetes
Kimberly Luste Maran
O que o inspirou a seguir uma carreira na Administração Nacional de Aeronáutica e
Espaço (NASA), e a quanto tempo você trabalha lá?
A corrida espacial estava apenas começando quando eu cursava a escola elementar, e o lugar
para onde eu iria quando me formasse na Universidade de Maryland, na década de 1960, era a
NASA. Trabalho lá há mais de 32 anos.
Você cresceu como católico. Como você soube a respeito da Igreja Adventista do
Sétimo Dia?
Eu era um daqueles católicos que realmente questionavam o que criam. Eu procurava entender
estes mistérios: Três Pessoas num só Deus, o inferno eterno, vida após a morte e assim por
diante. Jamais recebi respostas satisfatórias. Enquanto procurava, assisti a alguns programas na
televisão que falavam do sábado do sétimo dia e do livro do Apocalipse. Fiquei interessado e, um
dia, minha esposa deu-me um folheto da Igreja Adventista do Sétimo Dia, sobre a qual eu pouco
sabia. Eles estavam oferecendo um seminário sobre o Apocalipse. Fui assisti-lo. A pessoa que
proferia as palestras veio até minha casa e acabamos jogando golfe juntos. Estudamos esses
assuntos por alguns anos. Fui à igreja de Spencerville, Maryland, com ele e passei a freqüentar
uma classe bíblica. Não pensei que pudessem dar respostas às questões que eu tinha em minha
mente mais do que qualquer outra pessoa; mas eles as responderam de modo diferente e usaram
Textos sobre Criacionismo
Michael A. Comberiate, diretor de sistemas da NASA (National
Aeronautics and Space Administration), em Greenbelt, Maryland,
trabalha no Goddard Space Flight Center desde 1969. Ele possui
mestrado em eletrotécnica pela Universidade de Maryland. Como
engenheiro, planejou circuitos eletrônicos para numerosos projetos
de satélites. Algumas dessas missões foram à Lua e além. Desde
1984, Comberiate empreendeu também mais de 50 projetos
especiais (http://coolspace.gsfc.nasa.gov), envolvendo cooperação
entre agências na produção de resultados rápidos com recursos
muito limitados. Por recomendação da National Science
Foundation, a U.S. Geological Survey deu seu nome a uma geleira,
em reconhecimento às contribuições de Michael à moderna
exploração da Antártica e outras regiões remotas.
Respeitado internacionalmente como um líder de idéias inovadoras, ele é bem conhecido por seu
programa educacional especial chamado, ―Seja um Cientista‖, patrocinado pelo Projeto Aqua da
NASA. Desde 1995, seu trabalho junto à comunidade acadêmica, criou um meio prático e
econômico de distribuir, através dos Estados Unidos, sofisticados bancos de dados com
ferramentas e técnicas necessárias ao seu processamento e adaptação às atividades curriculares
contínuas.
Os outros interesses de Comberiate incluem construção de casas e artes marciais. Ele ensina artes
marciais desde 1968 e é faixa preta quinto dan (grau). A participação em campeonatos nacionais
e a construção de casas contribuíram para desenvolver nele um forte espírito empreendedor. Ele é
também um viajante habitual, tendo já dado dezessete voltas ao redor do mundo, incluindo sete
expedições ao Pólo Sul e três ao Pólo Norte.
Comberiate descende de uma linhagem de católicos originária do primeiro milênio. Sempre
insatisfeito com explicações simplistas para sua fé, ele questionou tudo e achou que a Bíblia tem
mais respostas do que a maioria dos cristãos reconhece. Aplicando sua experiência de engenheiro
e cientista na compreensão desse texto milenar, Michael tem podido desvendar alguns mistérios
da maneira lógica que um cientista de foguetes pode aceitar.
Comberiate é casado com Karla, uma terapeuta ocupacional e educadora doméstica. Eles têm
dois filhos e moram numa das casas que construíram fora de Washington, D.C. Se você quiser
enviar-lhes um cartão postal de qualquer parte do mundo, simplesmente escreva: NASA Mike,
20777, EUA.
180 |
somente a Bíblia para isso. Foi uma surpresa para mim. Assim fiquei com eles até obter as
respostas. Passei a freqüentar a igreja regularmente desde 1988 e fui batizado em setembro de
1994.
O que realmente o convenceu a tornar-se um adventista?
Os mistérios que faziam sentido para mim encaixavam-se perfeitamente na teologia adventista.
Sua compreensão do estado dos mortos, a definição de inferno e o sábado do sétimo dia
harmonizam-se perfeitamente com uma visão ampla e que fazia sentido; assim fui atraído para a
Igreja Adventista.
Você pode usar certos textos para provar aquilo que quiser. Outra pessoa pode usar os mesmos
textos para provar o oposto. Alguém tem de estar errado, mas como descobri-lo? O único modo
de solucionar o problema é tendo um quadro completo. A maior parte das igrejas pára perante as
enormes lacunas de sua compreensão. Sua versão do enigma ainda está cheia de sérias roturas.
Quando você lida com mistérios, tem espaço para interpretações. A ciência é muito semelhante:
A não ser que você tenha as respostas, pode formular outra teoria. Uma vez que você não as
saiba, pode dar início a outra religião. Todos podem dizer: ―Cremos na Bíblia, embora só
compreendamos dez porcento dela. Assim, noventa por cento de nossa visão são compostos de
lacunas. Mas aí as pessoas encobrem esse fato, dizendo: ―Espera-se que você tenha fé‖ Isso é um
insulto para uma pessoa com mente científica. Fé no quê? Em buracos?
Penso que nós, adventistas, temos um quebra-cabeça mais preenchido, e deveríamos usá-lo para
defender nossas interpretações da Bíblia, porque se você não conhece a verdade, certamente crerá
numa mentira.
Textos sobre Criacionismo
O que presentemente o inspira a continuar seu trabalho?
Na NASA eu tinha a possibilidade de fazer uma diferença positiva. Estamos na vanguarda da
explosão tecnológica que é característica de nossa época. Isso está mudando o modo como
fazemos as coisas.
Conte-nos a respeito do seu livro How a Rocket Scientist Can Trust God (Como um
Cientista de Foguetes Pode Crer em Deus).
Geralmente as pessoas pensam num cientista de foguetes como alguém realmente lógico, um
perito em matemática e nas coisas do mundo, que não está interessado em qualquer conjunto de
crenças emocionais ou passionais. Um cientista de foguetes está mais envolvido com aplicações
práticas e coisas que pode produzir, do que em simplesmente sentir-se bem.
Como é, então, que ele acaba se tornando uma dessas pessoas devotadas a crenças religiosas? A
maioria das pessoas considera a religião ―o ópio do povo‖. Você tem um sistema de crenças que
o faz sentir-se bem, mas o que Deus espera é um relacionamento pessoal.
Assim, como pode um cientista de foguetes confiar em Deus? Quando o sábio tem um
relacionamento com Ele. Você pode aprender a falar com Ele. Não faz diferença se possui uma
base matemática ou não. O importante é manter um relacionamento com Deus.
Outra coisa importante é que o sistema de crença faça sentido. Um cientista de foguetes pode
confiar em Deus se o seu conceito sobre Ele faz bastante sentido em vista das evidências
observáveis. Se eu perguntasse a um ateu: ―Em que espécie de Deus você ―não crê?‖, haveria de
descobrir que os ateus também crêem em Deus. Eles simplesmente não crêem num Deus pessoal.
Em outras palavras, eles geralmente acreditam numa Causa Primária, que não teve princípio, mas
sua questão é se a Causa Primária é pessoal. Assim, quando você me diz: ―Você é um cientista de
foguetes e não crê em Deus, correto? Você crê em ‗Big Bangs‘ e coisas semelhantes, mas não crê
num Deus que tem um plano para nós aqui no planeta Terra?‖ Eu digo: ―Não, eu creio. Creio
num Deus que pode pensar como eu, o que para mim significa que Deus é pessoal.‖
A conversão fez com que você reconsiderasse suas aspirações profissionais?
Não. Minha conversão foi um processo lento, desenvolvido com o tempo. Sempre me considerei
como alguém que procura a verdade. Procuro respostas com todo o meu coração. Assim, onde eu
estava naquele tempo e onde estou agora não é tão importante, visto que ainda estou procurando.
Agora converso com Deus sobre tudo o que estou fazendo, ao passo que no passado eu não
considerava isso importante. Agora descobri que há esse relacionamento com Deus que depende
de comunicação, e eu gasto mais tempo procurando introduzir isso no que quer que esteja
acontecendo. Quando estou bem, mau, feliz ou triste, converso com Deus.
| 181
Você tem sido bem-sucedido em sua fé e trabalho?
Para mim ―sucesso‖ é viver uma vida mais plena e saber que Deus a está partilhando comigo por
causa do relacionamento íntimo que temos em tudo. Espero continuar esse relacionamento para
sempre. A única diferença é que no Céu não haverá nem tristeza, nem enfermidade e nem esperas
em filas.
Textos sobre Criacionismo
Que conselho você daria aos estudantes que lutam para conciliar o conhecimento
científico com sua fé adventista?
Posso ver como a teologia adventista faz sentido lógico e se harmoniza tanto com a Bíblia como
com os fatos observáveis. Você também pode fazer isso, se pensar logicamente a respeito. Meu
conselho é que eles achem o modelo de como todos os mistérios de seu sistema de crenças se
harmonizam num quadro coerente, que tem sentido em termos de evidência observável.
Explico esse quadro como eu o entendo em meu website [www.nasamike.com]. Você pode partir
daí e desvendar o enigma buscando respostas de todo o coração. Você deve usar o método
científico para coligir os fatos, mas então precisa tomar uma decisão emocional sobre como irá
responder àquilo que entende ser a verdade.
Entrevista por Kimberly Luste Maran. Kimberly Luste Maran é editora-assistente da Adventist
Review: www.adventistreview.org
182 |
Floyd Murdoch: Diálogo com um ornitófilo
adventista
Gary Krause
Textos sobre Criacionismo
Passe uma hora com Floyd Murdoch e você se converterá às
alegrias da ornitofilia. Mesmo que você nunca tenha procurado um
pássaro, ele o con- vencerá de que essa é a coisa mais excitante do
mundo. Para Floyd, observar pássaros é mais que um mero
passatempo. É uma paixão que abre as portas a questões maiores
como criação, camaradagem, conservação e um Deus amoroso e
criador de belezas. Significa uma biblioteca pessoal de 1.500 livros
sobre pássaros. Significa levar freqüentemente grupos de pessoas
em expedições à procura de pássaros, tanto nos Estados Unidos
como além-mar. Significa fundar instituições, levantar fundos e
despender centenas de horas num voluntariado em prol do Centro
da Natureza, em Hagerstown, Maryland, no valor de um milhão de
dólares.
O interesse de Floyd pelos pássaros começou na quinta série
fundamental, quando seu pai, um escocês, era diretor do que agora é conhecido como Avondale
College, na Austrália. Sua mãe, uma americana, sempre apreciara pássaros e desenvolveu esse
gosto no jovem Floyd. Essa paixão foi reacesa pelo diretor da escola local, e mais tarde por um
professor da faculdade.
Sua dissertação para a obtenção do Ph.D., feita em 1975, intitulada ―Para os Pássaros: a História
da Proteção de Pássaros nos Estados Unidos‖, uniu os dois interesses de Floyd — história e
biologia. Como parte de sua pesquisa, ele visitou muitos refúgios nacionais de animais,
assinalando ao mesmo tempo 678 espécies de pássaros e quebrando o recorde do maior número
de pássaros pesquisados na América do Norte, no período de um ano.
Em sua carreira variada e distinta, Floyd tem-se interessado mormente na educação. Ele
trabalhou como diretor de educação numa Associação, foi também diretor de escola secundária,
diretor de planejamento internacional para a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos
Assistenciais (ADRA), e professor dos níveis médio e superior.
Presentemente, ele ensina ecologia na Takoma Academy, perto de Washington, D.C.
Floyd prestou serviços em muitas organizações sem fins lucrativos, tais como a Audubon
Naturalist Society e a American Birding Association, da qual é membro fundador e vitalício. Ele
também serviu voluntariamente, dentro de sua especialidade, em muitos setores de interesse
público, inclusive o Smithsonian Institute.
O Dr. Floyd gosta de partilhar com a juventude seu entusiasmo pela natureza. Sua esposa,
Lynetta, trabalha nos escritórios na Divisão Norte-Americana. Eles têm dois filhos adultos:
Michael e Jennifer.
Floyd, vamos ”começar do início”. Você tem um pássaro favorito?
Sim e não. Com efeito, a kookaburra australiana (espécie de pica-peixe) é um de meus favoritos.
Alguns pássaros são tão belos que a gente quer observá-los continuamente. Há uma certa
excitação na investigação de um pássaro específico.
Lembro-me de que, quando menino, o diretor de minha escola na Austrália levou-me a passear
num sábado. Ele tinha uma luneta — não possuía recursos para adquirir um binóculo — e me
permitiu ver uma garça, uma garça branca. E vi seus belos olhos. Pude até observar um círculo
azul em torno do olho amarelo. Desde aquele dia tornei-me um aficionado. Eu precisava de um
binóculo para sair em busca de pássaros.
Qual é o pássaro mais raro que já viu?
Vi alguns que agora estão extintos, porém, o mais raro foi a gralha havaiana. Faz alguns anos,
Lynetta, minha esposa, e eu fomos observar esse pássaro juntamente com vários pastores
adventistas do Havaí. Chegamos a uma montanha onde se supunha que ela estivesse. Lynetta
decidiu esperar no sopé enquanto passávamos diversas horas subindo e descendo o monte. Não
vimos o pássaro, contudo.
| 183
Quando voltamos, Lynetta disse: ―Bem, eu vi uma gralha.‖ Em seguida nos levou até onde a
tinha visto e, para nossa surpresa, o pássaro reapareceu. Naquele tempo, havia treze gralhas na
mata. Hoje não há uma sobrevivente em liberdade. Algumas vivem em cativeiro para fins de
reprodução, mas isso é basicamente o fim dessa espécie.
Você tem um lugar favorito para a observância de pássaros?
A floresta tropical.
Você tira algumas fotografias também?
Sim, tenho tirado muitas fotos [ver a inserção em cor], mas é realmente difícil combinar a
observância séria de pássaros e a fotografia de alta qualidade. Na fotografia, você precisa
assentar-se e esperar para obter uma boa foto. Nesse meio tempo, porém, você está perdendo 20
pássaros que nunca viu antes, porque se concentra em apenas num.
Quanto tempo você gasta nessa atividade?
Não muito. Há uns 20 anos eu dizia: Vou dedicar pelo menos duas semanas por ano nas florestas
tropicais do mundo, e é o que tenho procurado fazer. E ainda há a emoção de mostrá-la aos
outros. Observar pássaros é um esporte coletivo. Não há graça em sair sozinho.
Algumas pessoas, lendo esta entrevista, poderão dizer: “Isso parece divertido.” Como
elas podem começar?
A melhor coisa é achar um ávido observador de pássaros — eles sempre se comprazem em levar
alguém em sua companhia. Adquira um livro sobre pássaros e um binóculo, e saia com eles em
punho. Você vai ficar encantado. Não existem observadores aposentados!
Nos Estados Unidos, você pode fazer contato com a Sociedade Audubon. Em outras partes do
mundo, pode tentar contatos via Internet. Em quase todas as partes no mundo, você pode achar
pessoas que gostem de ornitologia. Se você não conseguir achar parceiros, ligue para a
embaixada britânica. Há sempre alguém ali fissurado em pássaros. E lá estão por essa razão, você
sabe. Eles trabalham na embaixada e tem algum título, mas todos sabemos que lá estão realmente
à procura de pássaros!
Você acha que a conservação é algo com o que os adventistas deveriam se
preocupar?
Surpreendo-me, realmente, de não fazermos muita coisa a respeito. Penso que os adventistas
deveriam ser os primeiros a desfrutar a natureza e proteger o ambiente criado por Deus. A ordem
dada a Adão e Eva foi para cultivarem o jardim. Isso não é somente uma experiência agradável,
como também protege a criação. Se você resguardar uma parte da floresta, que por sua vez
abrigue um lençol de água, está garantindo água pura e constante o ano todo e salvaguardará os
pássaros.
O planeta não pode suportar mais os maus-tratos que lhe estão sendo impingidos. Em muitos
países do mundo não há mais as antigas florestas. Espero que o Senhor volte antes de as matas
serem extintas.
Tenho ouvido que os pássaros voam desde a América do Sul até a América do Norte
sem escalas.
Eles cobrem essas distâncias, mas não sem parar. A andorinha-do-mar viaja cerca de 32 a 35 mil
quilômetros, a distância desde Punta Arenas, no sul do Chile, até o Alasca e o Círculo Ártico. E
faz isso por duas vezes — uma vez indo e outra voltando. Naturalmente, ela pára ao longo do
caminho.
Provavelmente, a maior distância que os pássaros voam sem escalas é desde a Venezuela até a
Flórida ou o Texas. Mesmo os minúsculos beija-flores voam 800 quilômetros sem parar. Imagine
você quantas batidas de asas isso representa.
Textos sobre Criacionismo
Assim que você consiga fazer contato, de que mais precisará?
Eu começaria com um binóculo de 50 ou 60 dólares. Pode ser difícil obtê-lo em algumas partes
do mundo, mas na América e na Europa há lojas de trocas onde podem ser encontrados binóculos
doados por pessoas que têm mais de um em casa. Assim, se você vive num país em
desenvolvimento, está interessado em observar pássaros, mas não pode comprar um binóculo,
poderá filiar-se a um clube da modalidade e tomá-lo emprestado, como se faz com um livro
numa biblioteca.
184 |
Isso é fenomenal. Como o fazem?
Eles comem muitos insetos antes de partir e isso os engorda. Quando chegam ao seu destino,
estão muito fracos. Então ingerem néctar, especialmente para o verão.
Algumas pessoas dizem que não é bom para os pássaros manter-lhes um local de
abastecimento.
Não tenho tido problemas com sua alimentação. Os homens têm eliminado sua fonte natural de
alimentos e assim, em certo sentido, estamos apenas repondo o que já existia antes. É agradável
tratar dos pássaros e isso ajuda as pessoas a apreciá-los.
No centro natural em Hagerstown temos duas janelas com alimentadores de pássaros do lado de
fora. É surpreendente ver o delírio das crianças quando observam os pássaros. Ficam muito
curiosas: ―O que é aquilo‖? ―Qual é o seu nome‖? ―Onde posso vê-lo‖? Essa é uma curiosidade
natural. Se pudermos desenvolvê-la nas crianças, em vez de mantê-las assentadas e ocupadas em
videogames, dia e noite, isso lhes será bem mais proveitoso, porquanto promove um interesse
maior no conhecimento do mundo, que talvez elas transmitam à próxima geração.
Há muitos adventistas interessados em ornitologia?
Sim. Com efeito, proporcionalmente, há entre os adventistas muito mais observadores dedicados
do que em qualquer outro segmento da população. O observador de pássaros número um é o
adventista. Quem fundou a Associação Americana de Observadores de Pássaros foi um
adventista.
Por que há tantos adventistas envolvidos com a ornitologia?
Por causa de nossa fé na criação e do sábado como seu memorial — um tempo para interromper
o trabalho, adorar a Deus, estar em meio à natureza e antecipar a eternidade. Os escritos de Ellen
White também dão destaque à natureza, sua conservação e o conceito do jardim do Éden. Além
disso, penso que os adventistas sempre apreciam o mundo natural.
Textos sobre Criacionismo
A ornitologia é uma experiência espiritual para você?
Embora o mundo tenha sido arruinado pelo pecado, nunca vejo um belo pássaro sem ficar
maravilhado com o que Deus criou. Há tantos pássaros coloridos e magníficos ao nosso redor.
Observá-los leva-nos a uma melhor compreensão e apreciação mais profunda da criação divina e
de sua beleza inerente.
Há mais de 10 mil espécies de pássaros no mundo. Embora algumas delas sejam as mesmas
desde o Gênesis, a ―devolução‖, como eu a chamo, tem feito com que todas experimentem
alguma mudança. Mas não vejo muitas lacunas. Quanto mais estudo os pássaros, tanto mais me
convenço da verdade de que Deus é o Criador. O que vemos ao nosso redor não pode
simplesmente ter evoluído. Tem de haver um Mestre Planejador.
Entrevista realizada por Gary Krause. Gary Krause é o diretor de comunicação para a Missão
Global da Associação Geral. Quando menino na Austrália, ele gostava de alimentar
kookaburras na mão. Seu e-mail: [email protected] Dr. Floyd Murdoch pode ser
contatado via e-mail: [email protected]
| 185
Raymond Romand: Diálogo com um
neurobiologista francês
John Graz
Nascido numa família adventista de sitiantes, Raymond Romand
cresceu entre as belezas da Natureza. Seu lar num sítio pequeno e
distante nas montanhas do Jura, na fronteira entre a Suíça e a
França, deu-lhe a oportunidade de cheirar a terra, ver a glória de
flores silvestres, contemplar as belas montanhas arborizadas,
produzir o alimento da família e à noite observar as lanternas
magníficas bruxoleando no céu francês. Ele adorava ser filho da
Natureza e esperava que seu destino seria justamente isso: jardins,
florestas e sítios.
Ao crescer Raymond, o contentamento com o pequeno sítio
converteu-se num desafio para descobrir os mistérios atrás da
ordem e beleza da Natureza. Queria estudar. Com o apoio de um
pai compreensivo, matriculou-se no segundo síclo, à idade de 18,
numa escola adventista. Otimista como era, não ficou acanhado
por seus colegas serem bem mais jovens. Com efeito, viu em sua
idade uma vantagem. Sua maturidade e ânsia de dominar tudo que viesse pela frente ajudou-o a
concluir logo a escola secundária e entrou na Universidade de Montpellier, na França. Essa
decisão impulsionou-o para uma carreira científica que incluiu estudo e pesquisa na Escola de
Medicina de Harvard.
O Dr. Romand tem dois doutorados. Ao passo que seu interesse primário seja neurobiologia
(estudo do cérebro), ele continua a se enfronhar em ecologia tropical e formação de espécies de
peixes tropicais. Publicou vários trabalhos e atualmente leciona na Universidade de ClermontFerrand. Já foi também consultor da Organização Mundial da Saúde.
O Dr. Romand é casado com Marie Rose, que tem um Ph.D. em fisiologia, e o casal tem dois
filhos: Cyril, 18, e Ariane, 16.
Quando e como decidiu tornar-se um cientista?
Não despertei certa manhã dizendo comigo: ―Bem, vou me tornar um ecologista ou um
neurobiologista.‖ A vida não funciona assim. Antes de começar meus estudos secundários,
mudei-me do sítio para um hospital adventista, La Lignère, na Suíça. Passei três anos aí como
aprendiz de jardineiro. Então mudei-me para o Instituto Adventista do Salève onde o ambiente
acadêmico e o que vi acontecer para jovens me desafiou incontinenti a ir além do jardim. Logo
completei a escola secundária, e quando a oportunidade surgiu para estudos na universidade,
agarrei-a imediatamente. Ao ingressar em estudos formais um tanto tarde na vida, fui atraído por
muitas disciplinas: ecologia, biologia, fisiologia, neurologia, história e assim por diante. Mas
minha curiosidade levou-me a concentrar em fisiologia e neurologia.
Foi o ambiente adventista favorável em guiá-lo a essas decisões em sua vida
intelectual e profissional?
A espiritualidade de minha mãe como adventista me influenciou bastante na infância. Dela e de
meu pai aprendi o valor do trabalho, o significado da fé e a necessidade de avançar. Minha
experiência como jardineiro, primeiro no hospital adventista em La Lignère, e depois no Instituto
Adventista, me forneceu oportunidades de encontrar diferentes pessoas, gente simples,
profissionais, gente profundamente espiritual e às vezes lutadores, e desse ambiente aprendi
Textos sobre Criacionismo
Dr. Romand, como menino o senhor pensava que o sítio e o jardim eram seu destino.
Agora o senhor é um neurologista de fama mundial. Esse é um grande salto, não?
Sim. Para mim não foi apenas um salto; foi uma longa viagem. Quando menino, eu era tão
fascinado pelas flores e com o trabalho no campo que nem me preocupava em ir à escola. Mas
esse amor pela Natureza me levou em minha adolescência a admirar a criação divina. Depois foi
apenas uma questão de tempo ir à escola e depois à universidade estudar a ordem e a maravilha
achadas na Natureza, desde plantas até o cérebro humano.
186 |
como a fé e o trabalho ou a falta dele podem afetar a vida. Poderia dizer que foi a atmosfera
estimulante do ambiente adventista que me impeliu na escada educacional ascendente. Eu queria
fazer algo de minha vida e devo essa decisão em grande medida ao adventismo.
O senhor foi estudante em universidades públicas quase 10 anos. Qual foi seu maior
desafio?
Como sói acontecer, exames aos sábados eram um problema real. No fim de meu primeiro ano
na Universidade de Montpellier, veio o teste. Juntamente com 400 estudantes tive de prestar
exames durante duas semanas, com um que durou três dias e terminando no sábado. Entrei em
contato com meu professor: ―Como podemos mudar o horário dos exames por causa de um
estudante?‖ disse ele, e continuou: ―Fora de questão! Por que não pedir uma indulgência de suas
autoridades eclesiásticas?‖ Então discuti o problema com o pastor local, que por sua vez
contactou a pessoa encarregada de liberdade religiosa na União Franco-Bélgica, em Paris. Depois
de algumas discussões com o ministério francês de educação, veio o milagre. A universidade
recebeu um aviso especial para mudar o horário dos exames de modo que parte alguma caísse no
sábado! Quando respeitamos um princípio, Deus sempre cuida de nossas necessidades. E mesmo
se isso não acontece imediatamente, isso não é razão para desistir ou comprometer nossos
princípios.
Textos sobre Criacionismo
Como escolheu sua especialidade entre as ciências?
Jamais sonhei ser um cientista. Simplesmente escolhi o que parecia um desafio razoável. Achei
que o desafio estava na biologia. Queria investigar o mundo real, não algo artificial como o da
eletrônica. Nada tenho contra a eletrônica. Uso instrumentos eletrônicos cada dia. Estou cônscio
de que a eletrônica tem afetado nossa vida de muitos modos. Mas, para mim, a vida real era um
desafio estimulante. Abre grandes possibilidades para aprender como a vida funciona. O estudo
da vida, suas maravilhas e mistérios me excitam e estimulam minha fé em Deus, que criou a
vida. Ela propicia muitas áreas para serem exploradas, descobertas e investigadas. Depois de
completar um mestrado em fisiologia em 1968, fui adiante para completar um mestrado em
biologia em 1971, e seis anos depois terminei um programa doutoral em neurofisiologia. Aí
cheguei à possibilidade de explorar essa grande maravilha que possuímos, o cérebro. Foi um
processo gradual, uma jornada de exploração. E nunca cesso de maravilhar-me com o cérebro.
Ainda estou estudando e pesquisando o modo complexo e magnífico como o cérebro funciona.
O senhor tem dois doutorados e passou dois anos na Universidade Harvard, publicou
muitos artigos em jornais de renome como Science, fez preleções na Europa e na
América e é reconhecido como perito em neurobiologia. Como concilia ser cientista e
um cristão que crê na Bíblia?
Ser cientista e ser cristão não precisam entrar em conflito. É verdade que algumas teorias
científicas parecem desafiar nossa fé. Por exemplo, veja a questão das origens. Embora minha
investigação científica sobre o sistema nervoso não seja diretamente ligada à questão das origens,
sei que a teoria da evolução não fornece todas as respostas. É uma teoria e, ao explorá-la, guardo
em mente que é uma teoria. É verdade que não há síntese possível entre evolução e Criação, as
duas concepções sobre a origem da vida e o significado do Universo. Depois de quase 30 anos de
pesquisa sobre o cérebro e a genética de peixes tropicais, estou mais e mais convencido de que a
teoria da evolução não corresponde ao que observo. Isso não quer dizer que há um fixismo estrito
nos reinos animal e vegetal. Penso que a evolução como é ensinada nos compêndios e alhures, é
uma teoria conveniente, aceita pela maior parte dos cientistas, sem questioná-la.
Contudo, é muito difícil dar argumentos contrários à teoria da evolução porque há milhares de
pesquisadors que explicam todas suas descobertas pela teoria evolucionista. Infelizmente, há
muito pouca gente que ouse desafiar essa teoria cientificamente. Ao mesmo tempo, alguns
cristãos bem- intencionados propõem argumentos fracos a favor da Criação e contra a evolução,
os quais desmerecem suas afirmações na comunidade científica.
Quanto a mim, minha pesquisa mostra tanto maravilha quanto mistério. Esses elementos me
levam a afirmar minha fé num Deus pessoal e criador.
O senhor está envolvido em atividades da igreja local como diretor da Escola Sabatina
e ancião. Tem algum comentário sobre a vida da igreja?
Talvez um problema crucial que descubro em nossa igreja é que ela se tornou uma instituição de
modo exagerado. Igreja institucionalizada não é o mesmo que igreja crente. A vida da
| 187
congregação local é dependente da dedicação dos membros ao estudo e prática da Palavra de
Deus. Por exemplo, veja nossas escolas sabatinas cuja função principal devia ser estudar a Bíblia.
Desse estudo emerge a mensagem e a missão para desafiar a vida da igreja. Mantêm nossas
escolas sabatinas esse alvo primário? Muitos nem vêm mais à Escola Sabatina. Quantos que vão
à igreja ainda estudam suas lições bíblicas? Penso que como membros temos a responsabilidade
de reacender nossa dedicação à mensagem e à missão reveladas na Bíblia. Aí jaz nosso desafio
presente.
Quais são seus planos para o futuro?
Pesquisa científica em alto nível consome muito tempo. Exige o sacrifício de muitas outras
coisas que a gente gostaria de fazer. Além disso, por causa da fama, requerem que façamos
muitas coisas que nada têm que ver com pesquisa científica. Assim, ao me aproximar dentro de
poucos anos de um ponto crítico em minha vida, surge um ponto de interrogação: Devo continuar
a investir minha energia em ciência o resto de minha vida, ou devo ficar mais envolvido em
atividade de igreja? Deus mostrará o caminho.
Textos sobre Criacionismo
Finalmente, Dr. Romand, que conselho gostaria de dar a estudantes adventistas em
universidades públicas?
Talvez quatro pensamentos. Afirme sua fé continuamente. Avalie de modo realista suas
possibilidades. Procure desafios tanto em seus estudos como em sua vida profissional. Continue
cres-cendo tanto intelectual como espiritualmente.
Entrevista por John Graz. John Graz (Ph.D., Universidade de Paris, Sorbonne) trabalha como
diretor do Departamento de Relações Públicas e de Liberdade Religiosa da Associação Geral
dos Adventistas do Sétimo Dia. O endereço do Dr. Romand: 22, rue Jean-Philippe Rameau;
63700 Aubière; França. E-mail: [email protected]