Artigo 27 - Juventude Adventista Portuguesa
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Artigo 27 - Juventude Adventista Portuguesa
2| Textos extraidos da Revista Dialogo Universitário Artigo 1 As implicações morais do darwinismo Earl Aagaard Avida humana parece ter perdido sua dignidade e valor. Pergunte a um muçulmano na Sérbia, um ba‘hai no Irã, ou um cristão no Sudão. Observe Jack Kevorkian facilitando o suicídio e sendo abraçado como um contribuidor sério e mesmo valioso à sociedade. A questão surge: O que é importante a respeito da natureza humana? Tempo houve em que podíamos culpar de barbarismo, o pagão, o selvagem, ou os fanáticos. Nomes vêm à mente: Hitler, Ghengis Khan ou Pol Pot. Mas não estamos falando do passado. Estamos à beira do século 21. O conhecimento aumentou: astronautas cruzam o espaço; satélites circulam o globo trazendo informação de toda parte para todos os lugares em poucos momentos; galáxias distantes são objeto de estudo; e genes dentro de nosso corpo são pesquisados em busca de uma chave para os mistérios da vida humana. Mas ainda resta a pergunta — simples, contudo muito profunda: Que há de especial em pertencer ao gênero humano? Para muitos filósofos, incluindo alguns que se dizem cristãos, a resposta é cada vez mais, muito pouco. Com todo o conhecimento científico de hoje e o progresso técnico, uma visão completa do registro histórico, os seres humanos são ainda tentados a violar direitos humanos básicos. Depois da Segunda Guerra Mundial, os julgamentos de Nuremberg expuseram o mal que se oculta no coração humano, e mostraram como a sociedade mais culta e civilizada pode chafurdar em esgotos morais, virtualmente apagando o significado espiritual de ―humanidade‖. As lições daquela guerra levaram as Nações Unidas a votar, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este documento afirmava a dignidade e igualdade de todo ser humano, exigindo que as sociedades civilizadas protegessem os fracos das agressões dos fortes. A declaração ainda está de pé. Por que, então, estamos falando de direitos humanos e dignidade? Textos sobre Criacionismo O mito das origens A resposta pode ser achada na explicação científica aceita quanto à origem da vida e sua diversidade, uma explicação que deixa fora o Deus da Bíblia. Esta perspectiva é claramente exposta no livro de James Rachels, Created from Animals: The Moral Implications of Darwinism (Criado Como Descendente de Animais: As Implicações Morais do dar-winismo, New York: Oxford University Press). O autor arrazoa como um adepto da evolução naturalista. Sua conclusão, fortemente documentada, é que o dar-winismo subverte a doutrina da dignidade humana. Os seres humanos não ocupam um lugar especial na ordem moral; somos apenas uma outra forma de animal. Esta opinião não é nova. Em 1859, o Bispo Samuel Wilberforce advertiu que o darwinismo era ―absolutamente incompatível‖ com a opinião cristã da condição moral e espiritual do homem. A Igreja Batista do Sul dos Estados Unidos, em 1987, reafirmou a opinião de Wilberforce. Mas não há unanimidade entre os cristãos. Há um século Henry Ward Beecher, o pregador famoso, sugeriu que a perspectiva evolucionista realçava a glória da criação divina. O Papa João Paulo II está disposto a aceitar o processo evolucionário como o meio usado por Deus para criar o corpo humano (mas não o ―espírito‖, o qual ele insiste que é objeto da criação imediata de Deus). Mesmo os cientistas estão divididos nesta questão. Alguns (tais como Steven Jay Gould) dizem que o darwinismo e a religião não são incompatíveis, que uma pessoa pode ser ao mesmo tempo teísta e darwinista, enquanto outros (William Provine) afirmam que o darwinismo torna toda religião não só supérflua, mas insustentável. Rachels argumenta (―Precisa um Darwinista ser Céptico?‖) que a teleologia (direção e propósito) na Natureza é irrevogavelmente destruída pelo darwinismo. Sem teleologia, a religião precisa ―retrair-se para algo como deísmo, ... não mais... apoiando a doutrina da dignidade humana‖ (págs. 127, 128). Este argumento é forte, e precisa ser refutado se um darwinista religioso quer resgatar o ensino bíblico de que os seres humanos são criados à imagem de Deus e ocupam um lugar especial na ordem divina. Como Rachels nos lembra: ―A tese da ‗imagem de Deus‘ não se |3 enquadra com qualquer opinião teísta. Requer um teísmo que vê a Deus como ativamente planejando o homem e o mundo como um lar para o homem.‖ Em ―Quão Diferentes são os Seres Humanos dos Animais?‖ Rachels conclui que o darwinismo destrói qualquer fundamento para uma diferença moralmente significante entre seres humanos e animais. Se o homem descende de símios por seleção natural, ele pode ser fisicamente diferente de símios, mas não pode sê-lo de modo essencial. Certamente não pode ser em qualquer aspecto que dê ao homem mais direitos do que a qualquer animal. Nas palavras de Rachels, ―não se pode fazer distinções em moralidade onde nenhuma existe de fato‖. Ele chama sua doutrina de ―individualismo moral‖, e rejeita ―a doutrina tradicional da dignidade humana‖ junto com a idéia de que a vida humana tenha qualquer valor inerente que os seres não humanos careçam. Individualismo moral Em ―Moralidade Sem Que os Seres Humanos Sejam Especiais‖, Rachels trata primeiro da igualdade humana, e depois a rejeita! Os seres humanos podem ser ―tratados como iguais‖ somente se não houver ―diferenças notáveis‖ entre eles. Essas ―diferenças notáveis‖ poderiam ser usadas para distinguir gêneros, raças, religiões e indivíduos. Aceitando conceitos dar-winistas ele estende a análise aos animais, não admitindo superioridade humana automática sobre coelhos, porcos ou baleias. Sob ―individualismo moral‖, quando confrontado com o uso de um ser humano ou de um chimpanzé para um experimento médico letal, não mais podemos decidir a questão argüindo que o chimpanzé não é humano. ―Teríamos de perguntar o que justifica usar este chimpanzé, e não aquele ser humano, e a resposta teria de ser em termos de suas características individuais, e não simplesmente por pertencerem a este ou àquele grupo‖ (pág. 174). Considerando o papel crucial de ―diferenças notáveis‖ nesta ética, a gente procura alguma definição formal do termo. Rachels não dá nenhuma. Em vez disso obtemos ―algo de como o conceito opera‖ num exemplo de testar cosméticos nos olhos de coelhos, e um palavreado difuso. Isto não é defesa contra o egoísmo e o mal que vemos em nós mesmos e em nossos semelhantes. A experiência demonstra que qualquer norma moral fraca e relativista será torcida em qualquer forma que seja necessária para nos permitir fazer o que quisermos a nosso próximo. Há muitos exemplos: escravidão; perseguição racial e religiosa; um milhão de abortos por ano nos Estados Unidos; a epidemia de abandono, abuso e morte de bebês; leis que permitem suicídio assistido e eutanásia; expurgo étnico, etc. Precisamos ter uma norma clara de nossas obrigações para com todo membro da família humana. Essa é a diferença entre moralidade e amoralidade. Não há terreno neutro. A conexão entre darwinismo e amoralidade é agora explícita. Na New York Times Magazine de 3 de novembro de 1997, Stephen Parker escreveu sobre ―psicologia evolucionista‖. Ele nos diz que ―filósofos da ética concluíram que... nossos neonatos imaturos não possuem o direito à vida mais do que um camundongo‖, e alega que ―o infantocídio pode ser o produto de trauma maternal‖ visto ―ter sido praticado e aceito na maioria das culturas através da história.‖ Ele assim liga o infanticídio diretamente a nossos ancestrais e à luta pela sobrevivência darwiniana, que por vezes requer que as mães matem seus filhos a fim de promover seu futuro reprodutivo. Em artigos como este, aquilo que outrora era impensável é apresentado como razoável e aceitável. Estamos sendo amaciados para uma mudança na moralidade da comunidade — que mantém que alguns seres humanos merecem respeito e proteção, mas outros não, e podem ser mortos com impunidade. Podemos ver esse processo em operação hoje, nos pronunciamentos acadêmicos, e cada vez mais na mídia popular. Há apenas 50 anos, toda nação com voto nas Nações Unidas rejeitou este modo de pensar. A ética que emerge no Ocidente é um repúdio direto da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em seu preâmbulo, a Assembléia Geral das Nações Unidas unanimemente (com oito abstenções) declarou que ―o fundamento da liberdade, justiça e paz do mundo‖ é ―o reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana.‖ Nos próprios Artigos, achamos que ―Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos‖ (Artigo 1); ―Cada um possui todos os direitos e liberdades anunciadas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie‖ (Artigo 2); ―Todos têm direito à vida, liberdade e segurança de sua pessoa‖ (Artigo 3); ―Todos têm direito ao reconhecimento em toda parte como uma pessoa diante da lei‖ (Artigo 6); e ―Todos são iguais diante da lei e têm direito sem nenhuma discriminação à igual proteção da lei‖ (Artigo 7). Esta linguagem não é Textos sobre Criacionismo Darwinismo e amoralidade 4| equívoca; não pode haver confusão quanto a seu significado. Aceitar o que Rachels e Pinker estão oferecendo significa voltar as costas à sabedoria do passado. Maturidade (e nossa segurança) exige reflexão honesta. Um sistema de ética baseado em relativismo moral sempre terminará com o forte no poder e o fraco debaixo de seu calcanhar. A filosofia darwinista, levada à sua conclusão lógica, não nos leva a parte alguma, e isso devia bastar para que a rejeitássemos. Talvez não devêssemos estar surpresos de ver os darwinistas abraçando uma filosofia tão cruel e utilitária, mas o que mais surpreende é o número de moralistas, filósofos e outros que se identificam como cristãos mas insistem que adotemos uma ética tão diferente da de Cristo. O argumento a favor do relativismo moral é sutil à primeira vista. Freqüentemente começa reafirmando a verdade biológica (e bíblica) de que somos humanos desde o momento da concepção. Mas, depois nos é dito que há uma diferença entre um ―ser humano‖ e uma ―pessoa‖, e que ―personalidade‖ é a categoria que um ser humano precisa alcançar a fim de ter direito à vida. As qualificações para ―personalidade‖ variam — mas geralmente incluem a posse de consciência de si mesmo como condição necessária para ser uma ―pessoa‖ com pleno status moral (por exemplo, ter o direito de não ser morto). Naturalmente nenhum ser humano nasce com consciência de si mesmo, e muitos de nós podemos perder a consciência, temporária ou permanentemente, devido a trauma, enfermidade ou idade. O individualismo moral (ou a ética da ―personalidade‖) e a declaração das Nações Unidas dos Direitos Humanos colidem; são inteiramente incompatíveis. A Declaração das Nações Unidas é fundada sobre a tradição moral judaico-cristã — uma tradição que remonta a milênios. O ―individualismo moral‖ pretende ser fundado na razão humana, e é expresso em afirmações que começam com: ―Eu argumento....‖ ―Eu vejo...‖, ou ―Eu sustento ...‖. O ―individualismo moral‖ propõe que tanto os seres humanos como os animais devem ser julgados pelos mesmos critérios relativistas. Neste universo moral, seres humanos perderam seus direitos inalienáveis à vida, algo que os cristãos defendem na base da declaração: ―Criou Deus o homem à Sua imagem: à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou‖ (Gênesis 1:27). Textos sobre Criacionismo Tirado do pedestal Tirando os seres humanos do pedestal de dignidade sobre o qual a Bíblia os colocou tem implicações para todos, não somente para os pacientes em estado comatoso, os neonatos com defeitos, os velhos enfermiços, e outros diferentes de ―nós‖. Debaixo da ética do ―individualismo‖ não há princípio que impeça que uma raça classifique outras raças como não plenamente humanas e de escravizá-las ou eliminá-las. Não há princípio responsabilizando aqueles que procuram degradar os outros ao status de ―não-pessoas‖. Não há princípio condenando os pais que recorrem a testes pré-natais para determinar o sexo de um feto e depois abortam se for menina. Não há princípio para impedir que uma sociedade determine que o pleno status humano não seja atingido antes dos 3 ou 4 anos, e de fundar centros para eliminar as ―nãopessoas‖ indesejáveis. Não há princípio para impedir a clonagem de um indivíduo, ou o uso do ser humano como um estoque de órgãos avulsos. Podemos recuar destas sugestões, mas a verdade é que quando abandonamos o imperativo bíblico de que a vida humana inocente é sagrada e não pode ser tocada, estamos todos debaixo de risco, porque quando os fortes dominam, ―a força faz o direito‖. Quando moralistas cristãos chegam às mesmas conclusões que os darwinistas sobre nossas obrigações para com o nosso próximo, é tempo de pensar cuidadosamente. Deus nos criou, e Ele conhece o mal de que somos capazes. Por esta razão, Ele nos instruiu a tratar todos os seres humanos como dignos de respeito. Nem o ―individualismo moral‖ nem a ética da ―personalidade‖ é compatível com a interpretação tradicional das Escrituras, e isso deveria ser razão suficiente para rejeitá-los. Mas, além disso, para aqueles cuja fé é fraca, a história oferece muitas demonstrações de que antes de qualquer matança tem havido uma divisão da população em ―nosso grupo‖ (protegido) e ―os demais‖ (não protegidos) que torna permissível ir adiante com a matança. A maior parte dos moralistas relativistas não tem esta intenção. Estão simplesmente tentando criar uma base não-dogmática, racionalista para um comportamento que eles julgam apropriado. Creio que James Rachels tem razão em seu argumento: Uma pessoa não pode ser darwinista e manter de modo lógico a opinião tradicional de que a vida humana é sagrada. A pergunta mais imediata para os cristãos parece ser mais relevante: Pode uma pessoa crer que a vida humana não é sagrada e ainda ser cristão? |5 Textos sobre Criacionismo Earl Aagaard (Ph.D., Colorado State University) é professor de biologia no Pacific Union College. Seu endereço postal: 3 College Ave., Angwin, California 94508. E-mail: [email protected] Para artigos anteriores sobre este tópico em nossa revista, ver David Ekkens, ―Animais e Seres Humanos: São Eles iguais?‖ Diálogo 6:3 (1994), págs. 5-8, e James Walters, ―É Koko uma pessoa?‖ 9:2 (1997), págs. 15-17 e 34. 6| Artigo 2 Fé e ciência podem coexistir? Leonard Brand Fé e ciência podem coexistir? Muitos diriam que os cientistas precisam deixar fora de suas preocupações acadêmicas todas as influências religiosas porque, de outro modo, haveria prejuízo para a pesquisa da verdade. Contudo, creio que o Deus da Bíblia compreende os mais altos níveis da erudição, e não apenas os confortantes temas espirituais. Mesmo das ciências que parecem menos prováveis como a paleontologia e a geologia, podemos tirar proveito mediante intuições recebidas do Criador do Universo, percepções essas que outros ignoram. 1 Textos sobre Criacionismo Desafios a serem vencidos Qualquer tentativa de integrar a fé e a erudição imediatamente apresenta tensão. Pode a religião introduzir preconceitos em nossa pesquisa científica da verdade? Sim, pode. Por exemplo, alguns cristãos conservadores crêem, na base do que consideram ensino bíblico, que os dinossauros nunca existiram. Mas numerosos esqueletos de dinossauros já foram achados. Uma solução é deixar a Bíblia fora de nossas preocupações acadêmicas, de modo que preconceitos religiosos não interfiram e possamos ser mais objetivos. Mas tal solução é leviana, como bem ilustra certo episódio da história da geologia. Por mais de cem anos o trabalho do geólogo pioneiro Lyell foi considerado autorizado no campo da geologia.2 Lyell rejeitou todas as interpretações catastrofistas comuns de seus dias, e as substituiu pela teoria de que todos os processos geológicos ocorrem muito lenta e gradualmente durante longos períodos de tempo (gradualismo). Os analistas históricos da obra de Lyell, contudo, concluíram que os catastrofistas eram os cientistas mais isentos de preconceito, e que Lyell impôs uma teoria derivada culturalmente e acima dos fatos. 3 Gould e outros não concordam com as opiniões bíblicas de alguns dos primeiros geólogos; mas concluíram que os colegas de Lyell eram observadores mais cuidadosos do que ele próprio, e que suas opiniões catastrofistas eram interpretações realistas dos fatos. A teoria estritamente gradualista de Lyell foi prejudicial à geologia, porque fechou a mente dos geólogos a quaisquer interpretações que sugerissem processos geológicos rápidos e catastróficos.4 Assim entenderam Gould e Valentine. Esses autores ainda preferem explicar a geologia dentro dum cenário de milhões de anos, mas reconhecem a evidência de que muitos depósitos sedimentares são de natureza catastrófica. Agora que os preconceitos de Lyell foram reconhecidos e em parte abandonados, as mentes dos geólogos se abriram para reconhecer as evidências dos processos catastróficos. Elas já estavam presentes nas rochas antes, porém não foram reconhecidas por causa dos preconceitos de Lyell. Esse episódio revela que o preconceito não se limita à religião. É um problema contra o qual todos temos de lutar, a despeito da cosmovisão que adotemos. É ingênua a idéia de que a religião introduz preconceitos e que o conhecimento científico que a põe de lado é objetivo. Durante a leitura da Bíblia, introduzimos nas entrelinhas nossas idéias favoritas e erramos em relacionar as Escrituras com a natureza. Todavia, aqueles que não levam a sério as Escrituras, têm seus problemas com outros preconceitos e esses são tão significativos quanto os provenientes da religião. O estudo da geologia e da paleontologia é usualmente dependente da premissa de que a vida evoluiu através de anos, e que não envolveu qualquer intervenção divina. Essa cosmovisão naturalista pode entremeter preconceitos extremamente sutis na pesquisa científica. Não obstante, o nervosismo de muitos líderes do pensamento cristão, ao procurarem uma integração entre a ciência e a religião, não deve ser perfunctoriamente posto de lado. Há respostas para suas preocupações 5 e esse artigo enfocará parte delas. Abordagens da relação entre fé e ciência Uma abordagem comum é a de manter a ciência e a fé separadas. 6 Esse método serve muito bem em várias disciplinas que tratam de questões sobre as quais a Escritura nada diz. Contudo, no estudo da história da Terra, a Bíblia e a ciência atual dizem coisas diferentes, e precisamos de um método que possa tratar desse conflito. A solução que tenho é conhecer a Deus como um amigo pessoal, aprender a confiar em Sua Palavra e usá-la como assistente de nosso pensamento acadêmico. Entrementes, nossa interação com outros estudiosos de opiniões variadas pode ajudar-nos a evitar tentativas simplistas de relacionar as Escrituras com o mundo natural. Há muitos criacionistas que escrevem livros e panfletos sobre evolução ou geologia, os quais são, infelizmente, um embaraço aos cristãos conservadores que têm conhecimento dessas matérias. |7 Talvez o problema não esteja na utilização dos conceitos bíblicos, mas na falta de conhecimento científico combinado com a ausência de contato com outros cientistas. Isso nos leva a uma abordagem testada e aprovada, calcada nos passos seguintes: Pesquise ativamente e utilize as idéias das Escrituras pertinentes à sua matéria. Esteja a par da obra e pensamento daqueles que têm uma cosmovisão diferente. Sempre que possível, submeta a colegas seu trabalho destinado à publicação. Seja cortês com aqueles que advogam uma cosmovisão diferente, e faça um trabalho em colaboração com eles. Isso requer confiança e independência de pensamento para não aceitar tudo quanto seus colaboradores pensam. Ao mesmo tempo, mantenha um diálogo construtivo que pode reduzir a probabilidade de pensamento superficial. 1. A Geologia do Grand Canyon. Os geólogos têm interpretado as faixas de arenito cambriano, no fundo do Grand Canyon, como acúmulos de areia em águas rasas, ao longo de uma antiga praia oceânica, com o nível da água e depósito arenoso se elevando gradualmente através dos tempos, junto à face do precipício existente. Os Drs. Arthur Chadwick, Elaine Kennedy e seus colaboradores encontraram um depósito geológico que desafia abertamente essa interpretação. 7 Sua evidência indica acúmulo de areia em águas profundas mediante processos muito diferentes daqueles ocorrentes em águas rasas (esses processos em água profunda eram possivelmente também mais rápidos, mas isso é outro assunto). Eles apresentaram seus dados e conclusões numa reunião profissional de geólogos, à qual estavam presentes alguns cientistas que tinham feito muitas pesquisas naquela formação, os quais entenderam que as conclusões de Chadwick e Kennedy estavam corretas. Um geólogo perguntou posteriormente ao Dr. Chadwick o que o tinha levado a ver as coisas que outros geólogos não tinham observado. A resposta foi que sua cosmovisão o estimulou a fazer perguntas que outros não haviam formulado, e a questionar conclusões que outros aceitavam cegamente. Isso abriu seus olhos para ver coisas que provavelmente foram deixadas de lado por geólogos que trabalham dentro de uma teoria científica naturalista convencional. As questões que um estudioso levanta têm forte influência sobre as características de rochas e fósseis que chamam sua atenção, e os dados que coletam. Um cientista cuidadoso, que permite à história bíblica fornecer dados para o seu conhecimento, não usará um método científico diverso daquele utilizado por outros cientistas. Quando os cientistas examinam uma rocha, usam o mesmo método científico. Os tipos de dados potencialmente à sua disposição são os mesmos, e eles se valem dos mesmos instrumentos científicos e processos lógicos de análise de dados. As diferenças estão: (1) nas questões que os cristãos colocam, (2) no leque de hipóteses que estamos dispostos a considerar e, (3) em quais tipos potenciais de dados que chamarão nossa atenção. Somente porque partimos daquilo que cremos ser o ponto inicial mais correto (como intuição bíblica), isso não garante que as hipóteses que desenvolvemos sejam corretas (as Escrituras não fornecem tantos detalhes assim). Tãosomente inicia uma pesquisa numa direção mais promissora, e se temos razão para confiar nas intuições divinas, isso nos ajudará a progredir melhor em algumas áreas da ciência, abrindo nossos olhos a coisas que provavelmente não veríamos de outro modo. 2. Fósseis de baleias da Formação Miocênica/Pliocênica de Pisco, no Peru. A Formação de Pisco, no Peru, contém numerosos fósseis de baleias em depósito de diatomitos. Os diatomitos microscópicos são organismos que flutuam na superfície de lagos e oceanos. Ao morrerem, seus esqueletos de sílica afundam. Nos modernos oceanos, eles formaram num milênio acumulações da espessura de alguns centímetros. A maioria dos cientistas entende que os antigos depósitos de diatomitos fósseis se formaram com a mesma lentidão, poucos centímetros a cada mil anos. Os geólogos e paleontologistas que escreveram sobre a geologia e os fósseis da Formação Pisco aparentemente não perguntaram como é possível que sedimentos que se acumulam à razão de uns poucos centímetros durante milhares de anos podem conter baleias completas bem preservadas, as quais parecem ter sofrido um sepultamento rápido para sua preservação. Esse foi outro exemplo no qual a cosmovisão cristã abriu nossos olhos para ver coisas que outros não Textos sobre Criacionismo Exemplos de uma pesquisa publicada e baseada na abordagem acima 8| tinham notado — a incongruência das baleias bem preservadas, em contraste com a suposta acumulação lenta de diatomitos. A pesquisa que fizemos durante os últimos três verões, juntamente com meu aluno graduado, Raul Esperante, e outros geólogos, juntou evidências que apontam para um sepultamento rápido das carcaças de baleias, provavelmente de umas poucas semanas ou meses (uns poucos anos ao máximo) de duração, e sugere como os antigos diatomitos podem ter-se formado muito mais rapidamente. Os resultados e conclusões de nossa pesquisa foram apresentados nas reuniões anuais da Geological Society of America,8 e numa monografia já publicada. 9 Mais monografias serão apresentadas. Os melhores cientistas da área terão oportunidade de avaliar nosso trabalho, e estarão ansiosos de apontar nossos erros. Isso é um incentivo poderoso para nos impedir de sermos descuidados. Tenho gasto tempo nessa pesquisa de campo (e noutra investigação paleontológica não mencionada aqui)10, com geólogos e paleontólogos não-cristãos, os quais têm uma cosmovisão completamente diferente da minha. Descobri que vale a pena trabalhar com alguém que tenha um ponto de vista diferente. Descobri coisas que eles provavelmente nunca tomariam em consideração, e coisas que eles notaram, as quais eu provavelmente não veria. Isso nos ajuda a evitar respostas simplistas ao procurar compreender a história geológica. Textos sobre Criacionismo Integrando fé e ciência Os cientistas extraem suas idéias e hipóteses de muitos modos diferentes 11 e não importa de onde elas venham (mesmo da Bíblia), porquanto só se tornam ciência válida se puderem ser substanciadas com fatos. A ciência, naturalmente, não tem nada a contribuir para avaliar boa parte do conteúdo da Bíblia. O fato de Jesus ter transformado água em vinho ou ressuscitado a Lázaro dentre os mortos está além do escrutínio científico. Que experimentos faria você para provar esses milagres bíblicos? Por outro lado, quando a cosmovisão bíblica sugere hipóteses verificáveis, essas se tornam contribuições válidas para a ciência. Tentar integrar fé e ciência pode ajudar- nos a encontrar o equilíbrio entre hipóteses opostas. Por exemplo, nossas intuições bíblicas nos ajudaram a fazer as perguntas corretas e descobrir que, pelo menos, alguns depósitos geológicos se formaram com extrema rapidez. Ao mesmo tempo, nossa pesquisa científica parece indicar que a premissa não-bíblica da ausência de atividade geológica na Terra, entre a semana da Criação e o Dilúvio, parece não ser correta. A coluna geológica pode não ter sido formada inteiramente no dilúvio genesíaco, mas se acumulado durante um período de tempo antes, durante e depois do Dilúvio. A religião pode introduzir preconceitos em nossa ciência, mas o mesmo acontece com outras abordagens. Se fizermos um esforço consciencioso para integrar fé e ciência, ou fé e outras disciplinas, o esforço pode abrir-nos a mente para novas intuições. O inverso disso também é verdade: Se não buscarmos integrar a ciência e a fé, é pouco provável que compreendamos adequadamente as áreas onde a ciência e a religião parecem estar em conflito. Se não fizermos um esforço sério para desafiar o pensamento convencional e desenvolver uma síntese positiva de ciência e fé, é provável que aceitemos o pensamento convencional sem saber se ele é ou não baseado em sólido fundamento. Leonard Brand (Ph.D. pela Cornell University) é professor de biologia e paleontologia na Loma Linda University, Loma Linda, Califórnia, EUA. E-mail: [email protected] Notas e referências 1. Veja L. R. Brand, Faith, Reason, and Earth History: A Paradigm of Earth and Biological Origins by Intelligent Design (Berrien Springs, Mich: Andrews University Press, 1997). 2. C. Lyell, Principles of Geology, Being an Attempt to Explain the Former Changes of the Earth’s Surface, by Reference to Causes Now in Operation, 3 vols. (London: John Murray, 1830-33); Principles of Geology, or the Modern Changes of the Earth and Its Inhabitants Considered as Illustrative of Geology, 11a ed. (New York: D. Appleton and Co., 1892), 2 vols. A 11a edição é a mais usada atualmente. 3. S. J. Gould, ―Lyell’s Vision and Rhetoric‖, em W. A. Berggren e J. A.Van Couvering, eds. Catastrophes and Earth History: The New Uniformitarianism (Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1984). 4. S. J. Gould, ―Is Uniformitarianism Necessary?‖ American Journal of Science 263 (1965): 223-228 e J. W. Valentine, ―The present Is the Key to the Present‖, Journal of Geological Education 14 (1966) 2: 59, 60 |9 Textos sobre Criacionismo 5. L. R. Brand, ―The Bible and Science‖, em Humberto M. Rasi, ed., Symposium on the Bible and Adventist Scholarship: Christ in the Classroom (Silver Spring, Md.: Institute for Christian Teaching, General Conference of Seventh-day Adventists), vol. 26-B: 139- 162. 6. S. J. Gould, Et Dieu Dit : Que Darwin soit ! (Paris: Seuil, 2000). 7. E. G. Kennedy, R. Kablanow e A. V. Chadwick, ―Evidence for Deep Water Deposition of the Tapeats Sandstone, Grand Canyon, Arizona‖. Actas da 3rd Biannual Conference of Research on the Colorado Plateau, C. VanRiper III, e E. T. Deshler, eds., U. S. Dept. of the Interior, Transactions and Proceedings Series NPS/ NRNAM/NRTP, 97/12, 1997, pp. 215-228. 8. R. Esperante-Caamano, L. R. Brand, A. V. Chadwick e O. Poma, ―Taphonomy of Whales in the Miocene/Pliocene Pisco Formation, Western Peru‖, Geological Society of America, concilio anual, outubro de 1999. Abstracts With Programs, 31(7): A- 466, R. Esperante-Caamano, L. R. Brand, A. V. Chadwick e F. DeLucchi, ―Fossil Whales of the Miocene/Pliocene Pisco Formation, Peru: Stratigraphy, Distribution, and Taphonomy‖, Geological Society of America, concilio anual, novembro de 2000. Abstracts With Programs, 32 (7): A-499. 9. R. Esperante-Caamano, L. R. Brand, A. V. Chadwick e O. Poma, ―Taphonomy of Fossil Whales in the Diatomaceous Sediments of the Miocene/Pliocene Pisco Formation, Peru‖, em M. De Renzi, M. Alonso, M. Belinchon, E. Penalver, P. Montoya e A. Marquez-Aliaga, eds., Current Topics on Taphonomy and Fossilization (Valencia, Spain: International Conference Taphos 2002; 3rd Meeting on Taphonomy and Fossilization), pp. 337-343. 10. Por exemplo, L. R. Brand e T. Tang, ―Fossil Vertebrate Footprints in the Coconino Sandstone [Permian] of Northern Arizona: Evidence for Underwater Origin‖, Geology 19 (1991): 1201-1204. Comentários sobre este foram publicados em: Science News 141 (1992) 4:5; Geology Today 8 (1992) 3:78, 79 e Nature 355 (9 de janeiro, 1992): 110. 11. Veja A. Cromer, Uncommon Sense: The Heretical Nature of Science (New York: Oxford University Press, 1993), p. 148; K. R. Popper, The Logic of Scientific Discovery (New York: Harper and Row, 1999) pp. 31, 32. 10 | Artigo 3 Isaac Newton: cientista e teólogo Ruy Carlos de Camargo Vieira Era uma pessoa fora do comum — distraído e generoso, sensível à crítica e modesto. Enfrentou uma série de crises psicológicas. Tinha dificuldade em manter boas relações sociais. Contudo, ele foi um dos raros gigantes da história — um físico brilhante, astrônomo e matemático extraordinário e um filósofo natural. Quando Isaac Newton, aquele raro gênio inglês e cavalheiro, morreu em 1727 com a idade de 85, deixou uma marca indelével em todo trabalho a que se dedicou. Conhecemos suas leis do movimento e a teoria da gravitação. Nós o conhecemos por suas contribuições à compreensão do universo. Mas raramente conhecemos suas contribuições à teologia cristã. Depois de um estudo intenso de seus escritos, concluí que Newton era não só um grande cientista, mas também um grande teólogo — um verdadeiro adventista e criacionista. 1 Minha jornada para a compreensão de Newton como teólogo começou há 45 anos, quando me tornei adventista do sétimo dia depois de assistir a uma série evangelística sobre as fascinantes profecias de Daniel e Apocalipse. Estava então estudando na Escola Politécnica da Universidade de S. Paulo, visando a obter um diploma de engenharia. O ambiente da universidade não era de molde a nutrir minha fé. Eu era bombardeado de todas as direções. Materialismo, preocupações humanísticas e uma filosofia científica restrita convergiam para pôr em dúvida minha fé recente. Eu precisava de algo para defender o que cria ser verdadeiro, e queria que minha defesa fosse sã e lógica. Em minha procura de literatura apropriada, descobri uma versão portuguesa de 1950 de Newton’s Observations Upon the Prophecies of Daniel and the Apocalypse — não na biblioteca da escola ou numa livraria, mas em uma banca de livros velhos em uma esquina de S. Paulo. Fiquei encantado ao descobrir que o mesmo Isaac Newton a quem nós, como estudantes de engenharia, conheceramos em ótica, mecânica, cálculo e gravitação, tinha dedicado bastante tempo e esforço à cronologia bíblica e à interpretação de profecia! Com efeito, a Enciclopédia Britânica dá uma lista de livros de Newton, The Chronology of Ancient Kings Amended e Observations Upon the Prophecies of Daniel and the Apocalypse of St. John entre suas cinco obras mais importantes, as outras sendo Philosophiae Naturalis, Principia Mathematica, Opticks e Arithmetica Universalis. Minha descoberta e estudo de Newton como um erudito cristão levou-me a compreendê-lo como um criacionista, um adventista e um intérprete das profecias. Textos sobre Criacionismo Newton, o criacionista Robert Boyle, pioneiro em estudos das propriedades dos gases e forte promotor do cristianismo, que advogava o estudo científico da natureza como um dever religioso, morreu em 1691. Seu testamento provia para uma série de palestras anuais para a defesa do cristianismo contra a incredulidade. Richard Bentley, clérigo e destacado erudito clássico, apresentou a primeira série de palestras em 1692. Na preparação para suas palestras, Bentley buscou a ajuda de Newton, que já era famoso por seus Principia (1687). Bentley esperava demonstrar que, segundo as leis físicas que governam o universo natural, teria sido impossível os corpos celestes surgirem sem a intervenção de um agente divino. Desde então, Bentley e Newton trocaram uma correspondência ―quase teológica‖. Newton declarou: ―Quando escrevi meu tratado sobre nosso sistema, tinha meus olhos voltados a princípios que podiam funcionar considerando a crença da humanidade em uma Divindade, e nada me dá maior prazer do que vê-lo sendo útil para este fim‖. 2 Newton escreveu de novo: ―Os movimentos que os planetas têm hoje não podiam ter originado em uma causa natural isolada, mas foram impostos por um agente inteligente‖. 3 Outros escritos confirmam a forte crença de Newton num Criador, a quem ele se referia freqüentemente como o ―Pantokrator‖, termo grego, o Todo-Poderoso, ―com autoridade sobre tudo que existe, sobre a forma do mundo natural e sobre o curso da história humana‖. Newton expressa suas convicções com clareza: ―Precisamos crer que há um só Deus ou monarca supremo a Quem podemos temer e guardar Suas leis e dar-Lhe honra e glória. Devemos crer que Ele é o Pai de quem vêm todas as coisas, e que ama Seu povo como seu Pai. Devemos crer que Ele é o ‗Pantokrator‘, Senhor de todas as coisas, com poder irresistível e ilimitado domínio, do qual não podemos esperar escapar, se nos rebelarmos e seguirmos a outros deuses, ou se | 11 transgredirmos as leis de Sua soberania, e de Quem podemos esperar grandes recompensas se fizermos Sua vontade. Devemos crer que Ele é o Deus dos judeus, que criou os céus e a terra e tudo que neles há, como expresso nos Dez Mandamentos, de modo que podemos agradecer-Lhe pelo nosso ser e por todas as bênçãos desta vida, e guardar-nos de usar Seu nome em vão ou adorar imagens de outros deuses‖.4 Newton, o adventista Newton também se preocupava com a restauração da Igreja Cristã à sua pureza apostólica. Seu estudo das profecias o levou a concluir que afinal a igreja, a despeito de seus defeitos presentes, triunfaria. William Whiston, que sucedeu a Newton como professor de matemática em Cambridge e escreveu The Accomplishment of Scripture Prophecies, declarou depois da morte de Newton que ―ele e Samuel Clarke tinham desistido de lutar pela restauração da Igreja às normas dos tempos apostólicos primitivos porque a interpretação que Newton dava às profecias os tinha levado a esperar uma longa era de corrupção antes de poder ser efetiva‖. 5 Newton cria num remanescente fiel que testemunharia até o fim dos tempos. Um de seus biógrafos escreve: ―Por igreja verdadeira, à qual as profecias apontavam, Newton não pensava incluir todos os cristãos nominais, mas um remanescente, um pequeno povo disperso, escolhido por Deus, povo que não sendo movido por qualquer inte-resse, instrução ou o poder de autoridades humanas, é capaz de se dedicar sincera e diligentemente à busca da verdade‖. ―Newton estava longe de identificar o que quer que existisse a seu redor como o verdadeiro cristianismo apostólico. Sua cronologia interna tinha posto o dia da trombeta final dois séculos mais tarde.‖6 Em Daniel 2 Newton viu o desenvolvimento da história da humanidade até o fim do tempo, quando Cristo estabeleceria Seu reino. Escreveu: ―E uma pedra cortada sem mãos, que caiu sobre os pés da imagem, e reduziu a pedaços os quatro metais, e tornou-se uma grande montanha, e encheu toda a terra; ela representa que um novo reino devia surgir, depois dos quatro, e conquistar todas aquelas nações, e tornar-se muito grande, e durar até o fim dos séculos‖.7 Tratando das visões subseqüentes de Daniel, Newton deixa claro que depois do quarto reino sobre a terra viria a segunda vinda de Cristo e o estabelecimento de Seu reino eterno: ―A profecia do Filho do homem vindo nas nuvens do céu relaciona-se com a segunda vinda de Cristo.‖8 Newton não estava satisfeito com a interpretação das profecias então corrente. Sustentava que os intérpretes não tinham ―método prévio...Eles torcem partes da profecia, colocando-as fora de sua ordem natural, segundo sua conveniência‖.9 Em harmonia com sua abordagem de questões científicas, Newton estabeleceu normas para interpretação profética, com uma codificação da linguagem profética a fim de eliminar a possibilidade de distorção ao bel-prazer dos intérpretes, e adotou o critério de deixar a Escritura revelar e explicar a Escritura. Assim, a interpretação de Newton divergia da maioria de seus contemporâneos. Não estava interessado em aplicar a profecia para explicar a história política da Inglaterra, como alguns outros faziam, mas em focalizar o princípio da grande apostasia que ocorreu na igreja, e a restauração final da igreja à sua pureza. Este interesse na restauração da igreja à pureza apostólica levou Newton a um estudo da segunda vinda de Cristo. Sua preocupação com o futuro o levou às 70 semanas de Daniel 9. Ele, como os dispensacionalistas de hoje, designava a última semana para um futuro indeterminado, quando a volta dos judeus e a reconstrução de Jerusalém iriam começar, culminando com a gloriosa segunda vinda de Cristo. Textos sobre Criacionismo Newton, o intérprete profético 12 | Essa interpretação, naturalmente, é contrária às crenças adventistas. Contudo, os princípios de interpretação de Newton estão em harmonia com os dos adventistas. Por exemplo, considere a interpretação que Newton faz dos símbolos: ―Ventos tempestuosos, ou o movimento de nuvens (significam) guerras;...Chuva, se não excessiva e orvalho e água viva (significam) as graças e doutrinas do Espírito; e a falta de chuva, a esterilidade espiritual. Na terra, a terra seca e as águas congregadas, como um mar, um rio, um dilúvio, significam o povo de várias regiões, nações e domínios....E diversos animais como um Leão, um Urso, um Leopardo, um Bode, segundo suas características, representam diversos reinos e corpos políticos... Um Governante é representado por ele cavalgar um animal; um Guerreiro e Conquistador, por ter uma espada e um arco; um homem poderoso, por sua estatura gigantesca; um juiz por pesos e medidas;...honra e glória, por uma roupagem esplêndida; dignidade real, por púrpura ou escarlate, ou por uma coroa; fraqueza, por roupas manchadas e sujas.‖10 Na interpretação de profecias relacionadas com tempo, Newton sustentava que ―os dias de Daniel são anos‖.11 Ele aplicou este princípio às 70 semanas12 e aos ―três tempos e meio‖ do período de apostasia. Newton deixa claro que o ―dia profético‖ é ―um ano solar‖, e que ―tempo‖ na profecia também é equivalente a um ano solar‖; ―E tempos e leis foram daí em diante dados em sua mão, por um tempo, tempos e metade de um tempo, ou três tempos e meio; isto é por 1260 anos solares, calculando o tempo por um ano de 360 dias, e um dia por um ano solar‖.13 Conclusão Newton era muito cauteloso em suas crenças religiosas. Isto em parte explica por que não publicou suas obras teológicas em vida. Talvez Newton, cônscio do ambiente religioso inglês, não queria ser acusado de heresia, mas seguiu a verdade como a via na Bíblia. Felizmente, suas obras teológicas foram publicadas postumamente. Como adventistas do sétimo dia, podemos não concordar com todas as interpretações de Newton das profecias bíblicas. Mas podemos tirar proveito de suas obras teológicas e de sua metodologia cuidadosa, de modo a podermos ficar firmes na fé, mesmo quando seguindo estudos científicos. Aqui está um gigante da ciência que não se envergonhava de sua fé e que devotou tempo para compreender a Palavra de Deus tanto no que toca sua predição do movimento da história como em prover diretriz para nossa vida pessoal. Ruy Carlos de Camargo Vieira (Ph.D., Universidade de S. Paulo) é engenheiro mecânico e elétrico e presentemente membro do Conselho Superior da Agência Espacial Brasileira. Em 1971 o Dr. Vieira fundou a Sociedade Criacionista Brasileira e lançou a Folha Criacionista, uma revista publicada no Brasil duas vezes por ano. Seu endereço: Caixa Postal 08743; 70312970 Brasília, D.F.; Brasil. Fax: 55-61-577-3892. Textos sobre Criacionismo Notas e referências 1. Ver meu Sir Isaac Newton: Adventista? livrinho publicado pela Sociedade Criacionista Brasileira. 2. Richard S. Westfall, The Life of Isaac Newton (Cambridge: University Press, 1993), pág. 204. 3. Bernard Cohen, Isaac Newton: Papers & Letters on Natural Philosophy (Cambridge: Harvard University Press, 1958), pág. 284. 4. Westfall, pág. 301. 5. Ibid., pág. 300 6. Ibid., pág. 128. 7. Isaac Newton, Observations Upon the Prophecies of Daniel and the Apocalypse of St. John, págs. 25-26. 8. Ibid., pág. 128. 9. Westfall, págs. 128,129. 10. Newton, Observations, págs. 18-22. 11. Ibid., pág. 122. 12. Ibid., pág. 130. 13. Ibid., págs. 113, 114. | 13 Artigo 4 Ciência e religião: Em busca de um alvo comum? Mart de Groot O debate entre religião e ciência é tão velho quanto ambas. A religião, pretendendo possuir uma revelação especial de Deus, tem por vezes se alcandorado a alturas vertiginosas e às vezes se opõe à ciência na busca da verdade e na compreensão dos mistérios da vida. A ciência, pretendendo ser humilde, tratando apenas do que pode ser percebido pelos sentidos, tem por vezes se tornado arrogante, negando qualquer papel ou mesmo valor para a fé religiosa na vida humana. E a batalha se trava. Mas ao nos aproximarmos da aurora de um novo milênio, existe possibilidade de que a matéria da fé e da fé na matéria possam dialogar? Quais são os alvos do cristianismo e os da ciência? Podemos conceber alvos comuns para ambos? Onde jaz a resposta final às indagações humanas? Logo de início, permitam-me dizer de onde venho. Sou um adventista do sétimo dia praticante, afirmando a revelação bíblica da verdade, com interesse especial em profecia. Sou também astrônomo profissional, com um vivo interesse em cosmologia, sua ordem e beleza. Minha fé e minha profissão não me causaram problemas insolúveis. A partir desta convicção, abordo as questões esboçadas acima. Do que trata o cristianismo? A fé cristã é ancorada em Deus, como revelado na Bíblia. A Bíblia revela a Deus como Aquele que criou seres humanos (Gênesis 1:26, 27; 2:18, 21-23); que os instruiu sobre como viver (Êxodo 20:1-17; Miquéias 6:8; Mateus 22:36-40); que os salva do dilema do pecado (Ezequiel 36:26, 27; Romanos 7:24, 25; Efésios 5:25-27; e que promete dar-lhes um futuro de realização e felicidade eternas (João 14:1-3; Apocalipse 21, 22). Embora a Bíblia tenha sido escrita por seres humanos, ela apresenta a Deus como seu autor (II Timóteo 3:16, 17). Este Deus nos convida a conhecê-Lo (João 17:3). Entrar nessa relação especial que promove o desenvolvimento pleno de nosso potencial é o objetivo principal da Palavra escrita. João explora este tema, ligando-o com dois outros aspectos de nossa relação com Ele (I João 2:13, 14). Primeiro, conhecer a Deus como Aquele ―que é desde o princípio‖ — o Criador. Segundo, relacionar-se com Deus como aqueles que ―venceram o maligno‖ — vitória fundada na revelação de Deus mediante Seu Filho Jesus Cristo (I João 5:4, 5). Assim, a Bíblia nos convida a ter fé em Deus como Criador e Redentor, a espécie de fé sem a qual é impossível agradá-Lo (Hebreus 11:6). A ciência tenta primeiro satisfazer a curiosidade humana. Deus nos criou com um desejo inato de inquirir e conhecer. Considere a astronomia, por exemplo, que procura responder a questões que homens e mulheres têm perguntado desde que começaram a contemplar o céu. Que são as estrelas? De onde surgiram? Afetam elas nossa existência aqui na terra? Mas, além de satisfazer nossa curiosidade natural, a ciência também deseja sujeitar a natureza para o benefício do homem — um argumento forte para custear a pesquisa científica. Quando Deus ordenou que Adão e Eva ―dominassem‖ Sua criação (Gênesis 1:26), foi com o propósito claro de que assumiriam responsabilidade pelo bem-estar do ambiente — atmosférico, mineral, vegetal e animal. Com efeito, Deus os colocou no Jardim do Éden ―para o cultivar e o guardar (Gênesis 2:15). Assim, desde o início deveria haver uma interação benéfica e responsável entre os seres humanos e a natureza. Natureza e fé Se o cristianismo enfatiza a necessidade de crer, e se a ciência afirma a necessidade de compreender o mundo ao nosso redor, haveria um elo entre a fé e a natureza? Creio que há, e para descobri-lo devemos procurá-lo na revelação de Deus na Palavra escrita e na natureza — Seus dois livros. Quando Davi afirmou: ―Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos‖ (Salmo 19:1), ele não estava apenas dando expressão à poesia que brotava de seu coração musical. Estava também expressando um conceito fundamental da cosmovisão bíblica. Não é possível contemplar as maravilhas da natureza sem afirmar fé em Textos sobre Criacionismo Do que trata a ciência? Textos sobre Criacionismo 14 | Deus. Sendo que a glória de Deus é Seu caráter,1 podemos compreender esta passagem como dizendo: ―A natureza declara o caráter de Deus‖. Entretanto, há um problema em potencial. Para Adão e Eva pode ter sido relativamente fácil compreender a Deus ao andarem pelo perfeito Jardim do Éden, mas para seus filhos deve ter sido muito mais difícil ter a mesma concepção clara, crescendo no meio de ―espinhos e abrolhos‖, dor e lágrimas. A natureza foi tão desfigurada pela intrusão do pecado que o reflexo de Seu caráter na natureza não pode ser discernido tão claramente como antes da entrada do mal. Isso imediatamente levanta a questão: Afetou o pecado somente a Terra, a habitação do homem, ou também nosso ambiente espacial? Antes de o espaço tornar-se objeto de indagação científica, os cristãos geralmente criam que os seres humanos nunca poderiam viajar pelo espaço e contaminar o ambiente mais amplo com o pecado. O Salmo 115:16 (―Os céus são os céus do Senhor; mas a terra deu-a Ele aos filhos dos homens‖) era tomado literalmente. Hoje sabemos melhor: Deixamos a marca de nossos pés na Lua e a vastidão do espaço tem-se tornado objeto do escrutínio da ciência. Assim, pode-se legitimamente perguntar: Existe algum lugar na criação de Deus onde o pecado não entrou ou onde sua influência não foi sentida? Embora não precisemos especular sobre aquilo que não é conhecido ou revelado, ainda temos esta garantia: ―A Terra, corrompida e maculada pelo pecado, não reflete senão palidamente a glória do Criador. É verdade que Suas lições objetivas não se obliteraram. Em cada página do grande livro de Suas obras criadas ainda se podem notar os traços de Sua escrita. A Natureza ainda fala de seu Criador. Todavia, estas revelações são parciais e imperfeitas.‖ 2 ―Os céus podem ser para eles [a juventude] um compêndio, do qual podem aprender lições de intenso interesse. A lua e as estrelas podem ser seus companheiros, falando-lhes na linguagem mais eloqüente do amor de Deus.‖3 Assim, a natureza continua a falar de Deus. E então, naturalmente, temos a Palavra escrita que proclama a natureza e a glória de Deus. Muitos vêem os dois livros de Deus como tratando de questões diferentes. Um livro fala da natureza, enquanto o outro fala do Criador da natureza. Contudo, embora os dois livros sejam diferentes, ambos são exemplos de como Deus Se comunica conosco. Mediante um Ele nos fala acerca de Suas obras — o que se chama a revelação geral da natureza. No outro, Ele nos fala sobre Si mesmo — conhecido como revelação especial. A revelação geral responde a perguntas sobre o universo físico. Como a natureza funciona? Como isto se relaciona com aquilo? Como explicamos ordem e ritmo, caos e degradação, espaço e tempo? Estas questões podem ser respondidas observando o mundo natural e usando os métodos das ciências naturais. A revelação especial responde às questões que procuram sondar além do mundo físico: Por que a natureza é como ela é? Qual é o significado e o propósito da vida? Somos responsáveis perante um Ser superior? Como nos relacionamos com Deus? Como pode a questão do pecado e de seu poder destrutivo ser resolvida? Existe vida além da morte? Respostas a estas questões pressupõem a existência de um Ser superior, e fogem ao escopo da ciência natural. Aquele poder superior — que chamamos Deus — revelou-Se através da Bíblia. Aí podemos achar respostas a algumas das grandes questões da vida. Sendo que tanto a natureza como a Bíblia têm o mesmo Autor, que não mente (Números 23:19; Tito 1:2), as respostas obtidas da Bíblia não podem contradizer aquelas obtidas da natureza, naquelas áreas em que ambos os livros têm algo a comunicar. Isso não significa que os estudantes da natureza e os estudantes da Bíblia sempre concordem sobre como a informação deva ser interpretada. A própria Bíblia torna claro que ela só pode ser compreendida por aqueles que têm discernimento espiritual, isto é aqueles que, em seus estudos, levam em consideração o Espírito de Deus (I Coríntios 2:6-16). Esta verdade já fora proclamada no tempo do Velho Testamento e parece estender a condição de espiritualidade para além dos estudos bíblicos — à investigação da natureza. Assim, um conhecimento de Deus e um reconhecimento de Sua existência e sabedoria são necessários para uma compreensão mais profunda dos problemas levantados pela natureza. Esforçando-se para conhecer a Deus pelo estudo de Seus dois livros, precisamos recordar que não podemos obter respostas satisfatórias estudando um enquanto negligenciamos o outro. Albert Einstein compreendeu este princípio de complementaridade quando disse: ―A ciência sem religião é manca; a religião sem ciência é cega‖.4 Alvos comuns para a ciência e o cristianismo Mas não precisamos ser mancos ou cegos. Haverá alvos comuns para a fé cristã e a ciência concordarem e estudos comuns em que se empenhar? Se a natureza e a Bíblia são dois modos que Deus escolheu para nos comunicar informação importante, e nossa prossecução de empreendimentos físicos e espirituais pode ser assistida por estes dois livros, então não é lógico que tanto a ciência como a Bíblia, tanto a razão como a fé, devam desempenhar um papel em nossa vida intelectual e espiritual? Em outras palavras, não devia nossa origem, desígnio e futuro ser informados e guiados pelo que a fé e a razão nos revelam? Considere o apelo de Isaías: ―Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas cousas? Aquele que faz sair o Seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais Ele chama pelo nome; por ser Ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar‖ (Isaías 40:26). Aqui temos o convite divino para estudar Sua obra nos planetas, estrelas e galáxias. Por que precisamos de tal estudo? Primeiro, para obter um conhecimento pessoal de Deus. Segundo, para descobrir que nosso Criador é grande em poder e que Ele é eterno. Terceiro, para descobrir por que Deus criou este grande universo. Deus não quer que todos nós sejamos astrônomos, mas Ele quer que estudemos Sua criação maravilhosa e meditemos sobre ela. Tanto o estudo desta Terra como o estudo daquilo que é extraterrestre é-nos dado a fim de que não somente conheçamos a grandeza de nosso Deus mas também a responsabilidade de sermos Seus mordomos. Isto levanta questões importantes. É essa mordomia a única razão para a pesquisa científica? Ou temos razões adicionais? O estudo científico do universo físico e seu estudo mais espiritual com o propósito de conhecer o Criador deveriam andar de mãos dadas. Portanto, lamento qualquer separação entre as duas disciplinas. Note uma tendência recente da cosmologia. Há uns 70 anos, a cosmologia tomou um rumo que a levou aparentemente a uma explicação da origem do universo. Embora haja ainda muitos pormenores não bem compreendidos, o modelo do Big Bang da origem do universo tem sido aceito pela maioria dos cientistas como uma estrutura adequada, dentro da qual se espera maior progresso no futuro. 5 A colaboração entre a astrofísica, a física das partículas e a física teórica tem levado a um vislumbre dos primeiros momentos da existência do universo. Contudo, levou também a um reconhecimento de que há uma barreira no tempo além da qual mesmo nossas melhores teorias não podem penetrar. Os primeiros microssegundos do universo permanecem envoltos em mistério. Ademais, os cosmólogos têm chegado a compreender que muitos aspectos do universo requerem uma sintonia muito delicada das condições iniciais e dos valores das constantes físicas. Esta barreira no tempo e a sintonia delicada têm resultado num interesse renovado por velhas questões sobre desígnio no universo, um possível planejador, e o que aconteceu naquela primeira fração de segundo ou mesmo antes. Embora investigações científicas tenham apresentado muitas respostas sobre como a natureza funciona, têm também levantado questões mais profundas. Muitas destas têm a ver com nossas preocupações mais sérias concernentes à vida, sua origem, propósito e futuro. Não admira, pois, que alguns cientistas sugiram que somente Deus pode prover respostas fidedignas a estas questões.6 Outros, contudo, têm-se recusado a admitir qualquer papel para Deus, esperando que o progresso contínuo da ciência haverá de responder um dia às questões que nos perturbam. Outros ainda alegam que as questões mais profundas escapam ao escopo das ciências naturais e que seria melhor relegá-las aos filósofos e teólogos. Examinemos estas três atitudes. Três atitudes quanto a questões não resolvidas Primeiro, Deus é a resposta a todas nossas questões, comunicando a verdade mediante a Bíblia ou pela igreja. Embora para muitos cristãos esta pareça ser uma opção atraente, precisamos reconhecer os perigos que encerra. Imagine uma pessoa do século 16 que é incapaz de compreender por que os planetas revolvem em volta do sol. A maioria dos cientistas e teólogos da época estavam ensinando, supostamente sobre a base da revelação de Deus nas Escrituras, que a Terra é o centro de nosso sistema planetário. Mas um século mais tarde, Isaque Newton aparece e explica este mistério pela lei da gravitação. O avanço da ciência tem oferecido várias ocasiões nas quais as afirmações do envolvimento direto e miraculoso de Deus teve de ser abandonada. Esta abordagem do ―Deus das lacunas‖, que procura atribuir-Lhe todos os fenômenos não explicados do universo, é mal orientado e corre o risco de finalmente tornar este ―Deus‖ desnecessário. Aqueles que crêem que Deus desempenha um papel ativo em nosso universo o fazem porque acham nele muitas evidências de um desígnio inteligente e estabeleceram uma relação pessoal com Ele. Textos sobre Criacionismo | 15 16 | Segundo, a ciência é a resposta a todas as nossas questões. Por causa de avanços científicos recentes, alguns crêem que, dado tempo suficiente, a ciência poderá responder todas as nossas questões. Ignoram as limitações óbvias da ciência e sua natureza tentativa. Ademais, a ciência está em melhor posição para responder as questões ―como‖ do que as questões ―por quê‖. Deus, que nos criou como indivíduos inquisitivos, escolheu revelar ou tornar acessível a nós certas coisas e não outras. (Ver Deuteronômio 29:29). As que foram reveladas são vitais para nosso relacionamento com Ele. Quando entrarmos em Sua presença eterna, poderemos fazer todas as outras perguntas cujas respostas estão agora envoltas em mistério. Isso não é permissão para sermos preguiçosos ou desanimados em nossos empenhos científicos correntes. Ao contrário, devia nos levar a reconhecer que há muitos aspectos de Deus e Sua criação que ainda estão ocultos para nós. Terceiro, a filosofia ou a teologia podem prover as respostas às nossas questões. Dependendo da constituição mental individual, a gente pode escolher entre filosofia (metafísica) e teologia para achar as respostas a questões extra-científicas ou tentar combiná-las de algum modo. Os cristãos vão reconhecer que, na medida que essas disciplinas são baseadas sobre o raciocínio humano e a lógica, elas sempre se demonstrarão deficientes quando deixam de levar em conta a existência e o poder do Criador de todas as coisas. Essa é justamente a fraqueza de toda filosofia e teologia não-cristãs. Mas mesmo a teologia cristã não pode responder todas as perguntas. Como nossa interpretação dos fenômenos naturais é prejudicada pelas barreiras do espaço, tempo e compreensão, assim nossa interpretação da Palavra é imperfeita. Além disso, somos criaturas finitas cuja capacidade mental não pode compreender a mente do Criador plenamente. (Ver Isaías 55:8, 9; Romanos 11:33). Textos sobre Criacionismo Conclusão A curiosidade humana não se limita apenas aos aspectos físicos da natureza. Ela tem levado a questões mais profundas sobre a origem, propósito e destino dos seres humanos. A intenção de Deus em criar o universo e de o popular com criaturas inteligentes foi não somente para nos prover com muitos campos interessantes de estudo, mas também para nos levar a Ele como o Criador, e assim para uma visão mais profunda de que toda nossa existência é inteiramente dependente dEle. Uma das perversões mais bem sucedidas de Satanás é que ele conseguiu separar a ciência da religião, e deste modo corrompeu nossa compreensão de nosso Criador e de Seu relacionamento para conosco. Assim, a filosofia divorciada da cristianismo não pode responder a questões difíceis porque ignora Aquele que é a resposta. Nem a teologia por si mesma pode responder a estas questões se ela se limita ao estudo apenas da revelação especial. Tão pouco pode a ciência sozinha prover as respostas necessárias, especialmente se ignora o papel legítimo de Deus como Criador. Somente quando a ciência, a teologia e a filosofia cristã colaboram — dando prioridade à Palavra revelada de Deus, a Bíblia — chegaremos a respostas satisfatórias. Quando reconhecemos a onisciência de Deus e nossas limitações, e expressamos nosso respeito e amor por Ele, cumpriremos Seu propósito original quando nos convidou a contemplar Seu poder para criar e salvar. Mart de Groot (Ph.D., Universidade de Utrecht) é um pesquisador associado de tempo parcial no Observatório Armagh no Norte da Irlanda, e pastor associado para as igrejas adventistas do sétimo dia de Belfast e Lame na Missão Irlandeza. Endereço E-mail: [email protected] Notas e referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1969), pág. 417. White, Educação (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1977), pág. 17. White, The Youth’s Instructor, 25 de outubro, 1900. Em P. Frank, Einstein: His Life and Times (New York: Alfred A. Knopf, 1947). Ver meu artigo: ―O Modelo do Big Bang: Uma avaliação‖, Diálogo 10:1 (1998), págs. 9-12. Robert Jastrow, God and the Astronomers (New York: W. W. Norton & Co., 1978), pág. 116. | 17 Artigo 5 Há desígnio na Natureza? L. James Gibson Você está passeando, e vê um pedaço de pau encostado a uma árvore. Você observa o pau e a árvore. A partir de sua observação, pode concluir que há evidência de atividade inteligente? Talvez não. Galhos por vezes caem das árvores, e por vezes se encostam a uma árvore. Tal acontecimento não requer nenhuma explicação especial. Naturalmente, uma pessoa poderia ter colocado o pau contra a árvore com um propósito, mas não há necessidade de invocar esta explicação, se uma explicação mais ―natural‖ existe. Mas suponhamos que você ache três varetas encostadas umas às outras de tal modo que a remoção de qualquer vareta fizesse com que as outras duas caíssem por terra. Um tal ―tripé‖ não poderia ser o resultado de uma cumulação gradual de varetas. As três varetas teriam de ser colocadas simultaneamente. É razoável supor que isso poderia acontecer por acaso? A probabilidade de tal evento acontecer por si mesmo, é muito baixa. Uma pessoa inteligente deve ter arranjado as varetas para um fim que pode ser ou não evidente. A chave para compreender um desígnio Que distingue entre desígnio inteligente no arranjo do tripé em contraste com a vareta encostada? Talvez dois aspectos: complexidade e interdependência funcional. A complexidade do tripé é representada por suas três partes. Sua interdependência funcional é vista no fato de que nenhuma das partes pode ser removida sem destruir o tripé. Uma estrutura composta de três ou mais partes, que precisam entrar em relação simultaneamente, é melhor interpretada como o resultado de um plano inteligente. Embora possa ser sempre argumentado que tal estrutura poderia ter-se originado por acaso, tal interpretação desafiaria a crença da maioria das pessoas. Pode tal argumento ser razoavelmente aplicado à Natureza? Se assim for, vemos evidência na Natureza de propósito inteligente? Durante séculos, a idéia de que a Natureza resultou de um desígnio inteligente era aceita sem controvérsia. As Escrituras afirmam que Deus pode ser visto na Natureza. Por exemplo, ouçam o salmista: ―Ó Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a Terra é o teu nome!... Quando eu contemplo os Teus céus, obra dos Teus dedos, e a Lua e as estrelas que estebeleceste...que é o homem que dele Te lembres?‖ (Salmo 8:1, 4 e 5). Talvez Paulo faça afirmação mais positiva em Romanos 1:19 e 20, onde ele argumenta que a evidência de Deus na Natureza é tão clara que ninguém tem desculpa para negar Sua existência, poder e soberania. Para muitos autores as evidências de desígnio na Natureza apontam ao Deus Criador da Bíblia. William Paley é um bom exemplo. Paley e o argumento de desígnio. Paley afirmou1 que a Natureza é cheia de aspectos que demonstram desígnio. Ele os chamava de ―invenções‖, e os comparava às máquinas feitas pelos homens. O argumento de Paley pode ser expresso como segue: A existência em organismos vivos de partes que funcionam como inventos mecânicos para alcançar algum propósito, são evidência de que foram criados por um Planejador. A ilustração mais famosa de Paley é de um relógio. Suponha que você achou um relógio, jamais tendo visto um antes. Não seria óbvio que o relógio tenha sido construído e designado para um propósito, mesmo se o propósito não fosse compreendido? De igual modo, muitas partes de organismos vivos funcionam como máquinas. Se reconhecemos a atividade de um planejador quando observamos inventos mecânicos, podemos também reconhecer a atividade de um planejador quando observamos aspectos semelhantes em organismos vivos. Segundo Paley, a Natureza exibe os elementos de um plano, levando-nos a reconhecer o Deus da Natureza. Charles Darwin e o argumento contra desígnio. A oposição inicial a Paley veio de Charles Darwin. Darwin admitia que embora ficasse encantado com os argumentos de Paley, não podia culpar a Deus por planejar o mal na Natureza.2 Darwin propôs que Deus estava tão distante da Natureza que não intervinha e não era responsável pela condição da Natureza. Com efeito, Darwin alegava que a Natureza não era planejada, e portanto não apontava para um planejador. Ele propôs que processos naturais sem assistência eram suficientes para explicar as partes adaptáveis de organismos vivos, pelo processo da seleção natural. Aparentemente, Darwin preferia ter um Deus bom mas distante, a um Deus próximo e mau. A maioria de nós provavelmente concordaria. Mas era válido o argumento da seleção natural de Darwin? Textos sobre Criacionismo O argumento do desígnio 18 | Darwin mesmo identificou um método pelo qual sua teoria poderia ser refutada. No capítulo 6 de seu livro The Origin of Species,3 ele afirmou: ―Se pudesse ser demonstrado que qualquer órgão complexo existiu, o qual não pudesse ter sido formado por pequenas modificações sucessivas numerosas, minha teoria sofreria colapso absoluto‖. Darwin pretendia que não podia achar tais exemplos, mas outros têm feito a afirmação oposta. Textos sobre Criacionismo Argumentos de desígnio Com efeito, o argumento a partir de desígnio não é válido se a Natureza não foi planejada. Darwin transferiu o foco do debate ao fato de a Natureza ser ou não planejada. Assim nosso interesse se focaliza no argumento a favor do desígnio. O argumento a partir de ―complexidade irredutível‖. Michael Behe, da Universidade Lehigh, no Estado da Pensilvânia, é um dos líderes atuais no argumento a favor de desígnio.4 Ele baseia seu argumento no que chama de ―complexidade irredutível‖. Como ilustração, ele usa uma ratoeira comum composta de uma plataforma, o prato da isca, uma alavanca, uma ―guilhotina‖, mola e alguns grampos. As partes da ratoeira funcionam juntas para efetuar uma função — pegar ratos. Deixe a ratoeira representar um órgão que tivesse evolvido de uma estrutura antiga mais simples. Que função teria? Como poderia uma ratoeira ser simplificada e ainda reter sua função? Imagine remover qualquer dos componentes da ratoeira — a estrutura resultante não teria função alguma. A ratoeira é irredutivelmente complexa. Se tal exemplo pudesse ser achado nos organismos vivos, a teoria de Darwin haveria de sofrer colapso. Segundo Behe, o cílio é um exemplo perfeito. O cílio é uma estrutura como um fio de cabelo que vibra num meio flúido, provendo um modo de nadar em certos organismos unicelulares. Os cílios também estão presentes em nossa via respiratória, e seu movimento ajuda a remover partículas estranhas de nosso pulmão. Pelo menos três partes são necessárias para efetuar o movimento: uma parte que move, um elo a uma fonte de energia e uma ―âncora‖ para controlar a posição da parte móvel. No exemplo do cílio, a parte móvel é composta de moléculas de tubulina, a energia para o movimento é fornecida pelas atividadades de moléculas de dineína e as partes do cílio são retidas por moléculas de nexina. Sem uma destas partes, o cílio não funciona. Assim, o cílio parece ser irredutivelmente complexo. Como se podia esperar, pessoas filosoficamente devotas à evolução recusam-se a aceitar o argumento a partir de complexidade irredutível. Contudo, essa rejeição é baseada em argumentos filosóficos e não empíricos, como é evidente na falta total de demonstração dos argumentos evolucionistas. O argumento a partir de improbabilidade. Algumas circunstâncias parecem tão inesperadas que se suspeita haver algo presente fora o acaso. A maioria dos cientistas está disposta a atribuir o resultado ao acaso se o mesmo pudesse ocorrer cinco por cento das vezes. Alguns cientistas rebaixam a expectativa para uma vez em mil tentativas, dependendo da natureza do evento. Mas há limite ao que qualquer um aceitará como sendo resultado do acaso. Se a probabilidade de um evento é muito baixa, é razoável supor que não ocorreu como resultado do acaso. Se o evento também parece ter um propósito, é razoável supor que o evento foi guiado por uma mente inteligente. Darwin admitiu que estremeceu quando pensou no problema da evolução do olho humano. Procurou comprovar a evolução do olho chamando a atenção para a variedade de olhos menos complicados em outros animais, e sugerindo que eles podiam representar etapas pelas quais olhos mais complexos teriam evoluído. Contudo, não está claro se ele consegiu convencer-se a si mesmo. A evolução do olho exigiria uma série complicada de eventos improváveis que a maior parte das pessoas consideraria praticamente impossível sem um planejador. 5 O argumento a partir do mistério Muitos argumentos a favor de desígnio têm sido baseados na falta de compreensão de um processo particular. Antes do mecanismo da circulação do sangue ter sido compreendido, alguém poderia ter tentado afirmar que a circulação do sangue era um mistério além de nossa compreensão, e que isto era evidência da operação de um intelecto superior. Problemas surgiram quando o mecanismo foi descoberto, aparentemente dispensando a Deus. Exemplos como este levaram a uma suspeita geral de qualquer tipo de argumento baseado em desígnio. Tais ―argumentos a partir de mistério‖ encerram dois aspectos: ignorância do mecanismo de um fenômeno em particular, e alegação de que o fenômeno é um mistério além de nossa compreensão. Daí surge o argumento do ―deus-das-lacunas‖. | 19 O argumento de complexidade irredutível devia ser contrastado com o argumento de mistério. O primeiro é baseado em dois componentes principais: o sistema precisa ter uma função identificada, e os componentes do sistema devem ser conhecidos e identificados. Assim, esse é um argumento a partir de conhecimento, e é completamente diferente do argumento a partir de mistério Exemplos de desígnio na Natureza Muitos exemplos de desígnio na Natureza podem ser descritos, mas mencionaremos apenas uns poucos. A existência do Universo.6 A existência do Universo depende da combinação precisa de constantes físicas equilibradas delicadamente. Se uma delas fosse diferente, o Universo não poderia existir. Por exemplo, se a força eletro-magnética fosse levemente maior, núcleos atômicos não existiriam. Outras constantes físicas incluem os valores da constante gravitacional e as forças nucleares fortes e fracas. O fato de as condições na Terra serem apropriadas para sustentar a vida.7 A Terra difere de outros planetas em processos que permitem a existência da vida. Se qualquer uma destas condições não estivesse presente, a vida como a conhecemos não poderia existir na Terra. Por exemplo, a composiçao da atmosfera da Terra é única entre os planetas do sistema solar. A existência da vida. A vida requer tanto proteínas como ácidos nucléicos. Nenhuma destas substâncias é achada na ausência de vida. Mas precisam estar presentes para que a vida possa existir. Por exemplo, a produção de proteínas requer a presença tanto de enzimas como de ácidos nucléicos. Genes únicos são achados em certos grupos de organismos. Diferentes grupos de organismos têm genes diferentes que não se encontram em outros grupos. Novos genes requerem nova informação. Parece altamente improvável que nova informação possa ser gerada por processos fortuitos, mesmo que se começasse com uma cópia extra de um gene. Descobertas adicionais são necessárias para ajudar a esclarecer o ponto. A mente humana. A mente humana parece ser muito complexa, muito mais do que o necessário para a seleção natural. O mecanismo de certos tipos de atividade mental parece estar além de nossa compreensão. Por exemplo, a ciência não tem uma boa explicação para a consciência humana ou para nossa capacidade para linguagem e pensamento abstrato. Outros exemplos de desígnio incluem a existência do código genético, o processo da produção de proteínas nas células vivas e o processo da produção de ácido nucléico, a regulação de genes, a química complicada da fotossíntese; sexo, etc. Embora conjeturas tenham sido oferecidas de como essas funções podem ter surgido sem planejamento inteligente, os processos propostos parecem tão improváveis que a existência de desígnio inteligente parece mais plausível para muitos estudiosos. Diversas objeções têm sido levantadas contra o argumento de desígnio. Vamos mencionar brevemente quatro tipos: Pseudo-desígnio.8 Dispositivos podem formar-se como resultado de processos naturais, sem a necessidade de invocar um planejador inteligente. Por exemplo, um floco de neve tem uma organização intrincada, mas ninguém sugere que Deus interveio especialmente para criar essa organização. Ao contrário, a organização pode ser explicada em termos de processos físicos e propriedades moleculares. Sistemas complexos não-lineares freqüentemente exibem propriedades inesperadas que ―emergem‖ naturalmente sem intervenção inteligente. Contudo, a complexidade das condições iniciais exigidas, tais como a existência necessária de um computador, parece depender de um planejador. A seleção natural pode ser considerada um tipo de argumento baseado em pseudo-desígnio. Se os organismos podem ser modificados por processos naturais para se adaptarem a seu ambiente, não há necessidade de propor que Deus intervenha especialmente para planejá-los. Uma fraqueza séria desse argumento é que ele requer uma estrutura a ser modificada. Progresso recente em biologia molecular revela a existência de níveis de complexidade interdependente muito além da expectativa daqueles que desenvolveram a teoria da evolução. O problema das origens de estruturas biológicas parece prover um argumento poderoso de desígnio. Desígnio defeituoso.9 Muitos aspectos da Natureza parecem ser defeituosos. Argumenta-se por vezes que um criador inteligente teria feito um melhor trabalho ao planejar a Natureza. Alguns exemplos de supostos defeitos de plano incluem o polegar da panda gigante e o arranjo estrutural Textos sobre Criacionismo Argumentos contra desígnio 20 | da retina do olho dos vertebrados. Contudo, ninguém demonstrou que essas estruturas funcionam mal. Além disso, imperfeições podem ser esperadas num mundo planejado por Deus, mas que tem sido perturbado pela atividade de Satanás. Desígnio imposto.10 Seres humanos gostam de organizar suas observações em modelos que podem ser artificiais. Um exemplo seria ver formas familiares nas nuvens — não há nada real que necessite uma explicação, exceto talvez de se perguntar por que as pessoas fazem tais coisas. A maioria dos cientistas rejeita este argumento, visto que a prática da ciência depende da existência de estruturas reais a serem explicadas. Todos os observadores concordam que a Natureza pelo menos parece ser planejada. Desígnio perverso.11 Muitas partes dos organismos parecem ―designadas‖ para matar ou causar doença e dor. O parasita da malária é um exemplo. Não parece ser justo culpar a Deus de planejar as causas de doença e morte. De outro lado, se Deus não planejou as coisas ―más‖ da Natureza, por que pretender que Ele planejou as ―boas‖ coisas da Natureza? A presença do mal na Natureza não refuta o argumento de desígnio, mas pode levantar dúvidas sobre o caráter do planejador. A explicação bíblica é que o mundo é o campo de batalha entre dois planejadores, Deus e um corruptor. O resultado é que a Natureza envia um sinal mixto; tanto o bem como o mal estão presentes.12 Conclusão O ―argumento de desígnio‖ foi largamente ignorado no século posterior a Darwin, em parte porque o conhecimento de organismos vivos era tão incompleto que as lacunas podiam ser preenchidas com a imaginação. À medida que a ciência da biologia progrediu, o argumento de desígnio foi retomado e expresso de modos mais sofisticados, como o argumento de ―complexidade irredutível‖. A existência de partes que não podiam sobreviver em etapas intermediárias, é evidência de um Planejador. É também evidência de um Deus que planejou e criou por intervenção especial — Criação — e não através de um processo contínuo como a evolução. O argumento de complexidade irredutível é um argumento que favorece uma criação descontínua. Segundo Paulo, em Romanos, a Natureza é claramente planejada, mas nem todos estão dispostos a reconhecer o Planejador. A Natureza pode ser compreendida somente à luz da revelação especial de Deus nas Escrituras. Guiados pela Bíblia, podemos nos unir ao salmista em louvar o Criador: ―Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento as obras de Suas mãos....por toda a Terra se faz ouvir a Sua voz, e as Suas palavras até aos confins do mundo‖ (Salmo 19:1 e 4). L. James Gibson (Ph.D., Universidade de Loma Linda) é director do Instituto de Pesquisa Geocientífica. Seu endereço: Loma Linda University; CA, 92350, E.U.A. E-mail: [email protected]. Textos sobre Criacionismo Notas e referências 1. W. Paley, Natural Theology (Houston: St. Thomas Books, 1972. Reimpressão da ed. de 1802). O argumento de Paley foi recentemente discutido por J.T. Baldwin, ―God and the World: William Paley’s Argument from Perfection Tradition: A Continuing Influence‖, Harvard Theological Review, 1985, págs. 109-120. 2. Ver N. C. Gillespie, Charles Darwin and the Problem of Creation (University of Chicago Press, 1979), Capítulo 7. Por exemplo, Darwin afirmou que não podia crer em um Deus que fez gatos brincarem com ratos, ou que planejou qualquer vespa parasítica para devorar o interior de uma lagarta. 3. Charles Darwin, The Origin of Species. 6ª ed. (New York: Penguin Books, 1958). 4. M. J. Behe, Darwin’s Black Box (New York: The Free Press, 1996). 5. Para uma discussão recente da evolução do olho e desígnio, ver D. E. Nilsson e S. Pelger, ―A Pessimistic Estimate of the Time Required for an Eye to Evolve‖, Proceedings, Royal Society of London, 1994, B 256:53-58. Para uma resposta a este artigo, ver J. T. Baldwin, ―The Argument from Sufficient Initial System Organization as a Continuing Challenge to Darwinian Rate and Method of Transitional Evolution‖, Christian Scholar’s Review 24 (1995), págs. 423-443. 6. Para discussão adicional deste ponto, ver J. D. Barrow e F. J. Tipler, The Anthropic Cosmological Principle (New York: Oxford University Press, 1986). 7. Para um nível popular de discussão disso, de um ponto de vista um tanto místico e não-cristão, ver J. E. Lovelock, Gaia: A New Look at Life on Earth (New York: Oxford University Press, 1987); para uma discussão mais convencional, ver R. E. D. Clark, The Universe: Plan or Accident? (Philadelphia: Muhlemberg Press, 1961). 8. Para um argumento extremo deste tipo, ver R. Deaconess, The Blind Watchmaker (New York: Norton and Co., 1986). Outros exemplos incluem o argumento de complexidade emergente, como S. Kauffman, The Origins of Order (New York: Oxford University Press, 1993). Para uma avaliação | 21 do livro de Kauffman, ver J. Horgan, ―From Complexity to Perplexity‖, Scientific American 272:6 (1995), págs. 104-109. 9. Um exemplo deste argumento se acha em S. J. Gould, The Panda’s Thumb (New York: Norton and Co., 1980). 10. Uma expressão clássica deste argumento é D. Hume, Dialogues Concerning Natural Religion (1779), (New York: Penguin Books, 1990). 11. Por exemplo, ver D. L. Hull, ―The God of the Galapagos‖, Nature 352 (1991), págs. 485, 486. Ver também Capítulo 8 em P. J. Bowler, Evolution: The History of an Idea (Berkeley: University of California Press, 1984). 12. Para uma abordagem bíblica deste problema, ver John T. Baldwin, ―Deus, o pardal e a jibóia esmeraldina‖, College and University Dialogue 8:3 (1996), págs. 5-8. —Editores. Artigo 6 A vida: Um dilema químico? Uma árvore desfolhada, uma estrada rural e dois homens sem-teto lutando pela sobrevivência. É noite e tudo está envol to nas profundezas das sombras dessa parte do planeta. Vladimir e Estragon esperam por uma misteriosa figura, cuja promessa de vir os motiva a continuarem existindo. Ao permanecerem em sua atávica esperança de que Godot chegue, um cortejo de sofrimento humano passa em tropel diante deles. Entediados, não tanto por toda a dor, mas pela inutilidade da vida, eles buscam alternativa fazendo o bem, tal como erguer um cego que havia tropeçado e caído ao chão. ―Vamos, comecemos a trabalhar‖, incentiva Vladimir. ―Num instante tudo se dissipará e novamente estaremos sozinhos no meio do nada!‖ Ao Vladimir estender mão, porém, cai e não consegue erguer-se. A despeito de mais promessas de que Godot virá, eles novamente se inclinam para a morte, desta vez planejando enforcar-se. Contudo, não dispondo de uma corda, Estragon toma o cordel que lhe segura as calças, mas essas desabam sobre seus tornozelos. Testando a força do cordel, eles puxam; esse se rompe e ambos quase caem. Decidem então encontrar uma corda melhor e tentam novamente... mais tarde. ―Amanhã nos enforcaremos?‖, pergunta Vladimir? ―E se Godot não chegar? E se ele vier?‖, indaga Estragon. ―Seremos salvos?‖ Godot, logicamente, nunca chega, o que significa que eles nunca se salvam. Certamente não se supõem que isso jamais ocorreria, razão por que, desde sua primeira exibição no Theatre de Babylone, em Paris, em 1953, a peça de Samuel Beckett, ―Esperando Godot‖ 1, se encerra com aquelas duas almas atrofiadas, náufragas numa existência que odeiam mas da qual não conseguem escapar. Nem estão seguros de que devem tentar, por contarem com a promessa de que Godot virá. O fato de que Godot nunca chega pouco importa; o que importa é a promessa de que ele o fará. A peça de Beckett representa a polêmica anticristã mais cruel desde as ácidas invectivas de Voltaire, no século XVIII. É difícil imaginar qualquer cristão sério que creia na Segunda Vinda, não se sentindo caricaturado, em alguma medida, na patética tentativa de Vladimir e Estragon de equilibrar seus temores e dúvidas a respeito do sofrimento humano, com o conceito de um Deus amorável e todo-poderoso que prometeu vir para acertar todas as coisas, mas nunca aparece. Todavia, a tragicomédia de Beckett em dois atos não faz pouco caso apenas da promessa, mas da vida sem a promessa, a promessa de algo além da Terra. O que é pior? Uma falsa esperança ou esperança alguma? Conquanto implacável para com a Segunda Vinda, ―Esperando Godot‖ é pior ainda para com a vida desumanamente brutalizada do secularista que existe tão-só para manter-se vivo. Ao ridicularizar a obtusa caricatura do viver alheio a um propósito final, Beckett lança uma indagação que tem dominado o mundo pós-cristão: Como se vive uma existência destituída de significado? A vida é por demais complicada, muito cheia de armadilhas e ardis inesperados para valer a pena ser vivida. Quando as pessoas não têm qualquer pista quanto ao propósito de sua existência, quando apenas podem esboçar hipóteses nebulosas de suas origens, quando tudo quanto se pode Textos sobre Criacionismo Clifford Goldstein 22 | fazer é especular sobre o que advém com a morte, então causa admiração imaginar como os seres humanos ainda assim se dispõem a viver. O Drama Como escreveu Francisco José Moreno, ―não podemos nem libertar-nos da certeza da morte, nem conseguir entender a vida.‖2 Quão incrível é que algo tão básico, tão fundamental como a vida, não possa sequer ser justificado e muito menos explicada sua própria existência. Um dia nascemos e por fim nos conscientizamos de nós mesmos, sendo a dor, a fome e o temor muitas vezes nossas primeiras sensações ou auto-percepção. Recebemos algo que nenhum de nós buscou, planejou ou aceitou; não estamos seguros do que seja, do que significa, ou mesmo por que o temos; esse algo é muito real e de ação imediata. Dor, tristeza, perda, temor, permanecem absurdamente inexplicáveis. Não obstante, apegamo-nos à vida mesmo tendo de perdê-la de algum modo. É tudo isso quanto está envolvido na existência humana? ―Esperando Godot‖ dividiu a realidade em duas esferas. A primeira é a mecaniscista, ateísta e secular. Aqui as verdades existem somente como equações matemáticas; são amorais. A segunda é espiritual. Transcende uma realidade unilateral e proclama que a verdade não se origina na criação, mas no Criador. No primeiro caso, o ser humano é o meio, o fim e tudo quanto há. No segundo, Deus o é. No primeiro caso, a humanidade é o sujeito da verdade, no segundo, o objeto, e um vasto abismo existe entre ambos. Se a opção mecanicista for verdadeira, então nossa reação a longo prazo não importa de fato; o fim é o mesmo para todos nós, não importa quem sejamos ou o que pensemos, cremos ou fazemos. Se o segundo for verdadeiro, nossas reações têm conseqüências eternas. Se o primeiro caso for verdadeiro, jamais saberemos; no segundo, temos a esperança dos absolutos. Entre esses dois centros de gravidade, estende-se uma negra névoa. A opção de um meio-termo, um equilíbrio entre ambos ao final da história, não existe (em última instância) e não pode existir (pela lógica). É um ou outro, não ambos. Nenhuma das arquiteturas filosóficas dessas visões é tão condensadamente tecida, tão perfeitamente acondicionada, para que até seus mais fiéis adeptos deixem de tropeçar nas extremidades soltas. Não importa quão firmemente fundida possa estar cada uma delas com suas crenças, ainda são somente crenças subjetivas, encontros com os fenômenos, meras opiniões sempre maculadas pelo que foi tecido nos genes durante a concepção, ou pelo que está borbulhando no ventre naquele instante particular do pensamento. A crença, por fim, não tem qualquer peso sobre a verdade ou a falsidade de seu objeto. Não importa quão fervorosa, ela não pode tornar o falso verdadeiro, nem o verdadeiro falso. O que é falso nunca existiu, mesmo quando apaixonadamente possamos crer que sim; o que é verdadeiro, em contraste, permanece, mesmo após termos há muito deixado de crer nele. Textos sobre Criacionismo Onde estamos? Com seus cinco desprezíveis personagens num cenário estéril, Samuel Beckett dramatizou o dilema mais imediato do Ocidente: Deus está morto, assim, aonde isso leva aqueles que foram criados à Sua imagem? Para Beckett, são deixados entre duas duras cadeias: uma, Cristo não veio como prometeu; duas, estamos numa triste condição porque Ele não o fez. Entre essas cruéis realidades, a humanidade está amarrada com uma corda que não oferece escapatória. Como poderia, quando o seu próprio nó é entrelaçado de toda a realidade, quando está feito com as únicas opções possíveis e quando está unido pela lógica irredutível? ―Nada há a fazer?‖, resmunga Estragon em vista de nada restar a ser feito. Francamente, nada pode ser feito, não num universo em que nossos inimigos mais inflexíveis e irredutíveis recusamse à submissão e não fazem prisioneiros, mas bombardeiam e atiram até que cada parede de célula desabe e tudo em seu interior se seque e entre em decadência. A morte é um inimigo impossível de ser caçado e destruído porque é feito daquilo que somos. Num universo materialista e de dimensão única, a vida e a morte são somente diferentes ingredientes da mesma sopa. Os vivos são tão-só uma versão pubescente dos mortos. O filósofo pré-socrático Protágoras declarou: ―Com respeito aos deuses, se eles existem ou não, eu não sei, devido à dificuldade do tópico e a brevidade da vida humana.‖ 3 Desde então, e ao longo dos pressupostos materialísticos da ciência moderna, uma cosmovisão materialística teve uma longa história (em termos de tempo) mas escasso número de adeptos. Somente nos últimos cento e poucos anos, porém, o secularismo erigiu todo o edifício do pensamento ocidental, com os líderes científicos e intelectuais proclamando-o com o fervor dos cruzados. Concebido sobre as ruínas da revolução cromwelliana do século XVII, nascendo dos férteis ideais do Iluminismo, | 23 nutrido pela deusa da razão e encorajado involuntariamente pelos chamados cristãos de mente aberta e intelectuais, o secularismo alcançou sua maturidade no século XX. Agora está tão inserido na cultura ocidental, que temos de desviar os olhos de suas órbitas para ver os efeitos que exerceu sobre nossas mentes. Nunca antes houve movimento tão amplo, institucionalizado e intelectualmente fértil para explicar a criação e todos os seus predicados (a vida, a morte, a moralidade, a lei, o propósito, o amor) sem um Criador. Afinal de contas, por que preocupar-se com os textos dos mortos quando existe a ciência dos vivos? O que podem Jeremias, Isaías e Paulo dizer possivelmente aos que nasceram sob Newton, Einstein e Heisenberg? O Principia acaso não destronou o Apocalipse? Quem precisa do Senhor andando sobre a face do abismo (Gênesis 1:2), quando Darwin fez o mesmo sobre o H.M.S. Beagle? Envolta em números herméticos expressos por cientistas e explicados por teorias bem elaboradas, a cosmovisão secular tem atraído uma aura de objetividade, de validação que está (pelo menos na atualidade) além do alcance da fé religiosa. A relatividade especial tem desfrutado de provas que a morte e ressurreição de Cristo não têm. A despeito do aparente triunfo do racionalismo científico, sua vitória nunca foi ligada a nada, exceto a si próprio e a seus pressupostos dogmáticos. A cobertura, de fato, não é tão perfeita quanto se tem ensinado, e quanto mais tempo envolver o mundo mais puída se torna, até que a realidade venha à tona através das costuras. Certamente, o mundo se manifesta como material através de nossos sentidos; indiscutivelmente, o pensamento racional resolve charadas e ajuda jatos a voar; sem dúvida, a ciência tem dissecado o átomo e construído ônibus espaciais. Contudo, esses fatos não provam que o materialismo, o racionalismo e a ciência abrigam o potencial ou mesmo os instrumentos para explicar toda a realidade, mais do que a física clássica somente explica a conquista da Copa do Mundo pela França em 1998. As equações definem inadequadamente e com paixão uma realidade rebelde, efusiva com pensamento, dinamicamente criativa. (The meaning of the phrase is not clear to me. Until this moment, I didn‘t receive the english originals to compare) Que algoritmo pode explicar a paixão de Hamlet, que fórmula o arrulho de um pombo, que lei prognosticar Um Campo de Trigo Com Vacas, de Van Gogh? São as sinfonias de Beethoven e os textos líricos de Shelley nada mais do que manuscritos sobre os quais eles foram redigidos? Teorias e fórmulas, princípios e leis não fazem as estrelas brilhar, os sabiás voar, ou as mães alimentar os seus rebentos, mais do que inscrever os símbolos E=MC2 sobre uma peça de urânio refinado causa uma explosão atômica. Não obstante a grandiosidade das realizações científicas dos últimos cem anos, algo essencial e intrinsecamente humano foi desperdiçado pelo caminho. Isaac Newton declarou: ―Ó Deus! Eu penso os Teus pensamentos após Ti‖, e Stephen Hawking, ocupando a mesma cadeira de Newton em Cambridge, declarou: ―A raça humana é apenas uma escuma química sobre um planeta de tamanho moderado, girando em torno de uma estrela média, nos arrabaldes de uma dentre centenares de bilhões de galáxias.‖4 Entre ambos há toda uma dimensão, incapaz de caber em tubos de ensaio ou conformar-se com fórmulas. O céu, em vez de ser o trono do universo, foi despedaçado e seus fragmentos separados e pulverizados em nada mais do que volúveis mitos espalhados na imaginação humana. E agora, o Deus que outrora reinou nesse céu, em vez disso, desapareceu, duas vezes removido desse trono (criado pelas criaturas que Ele outrora criou). Assim, o divino tem sido distorcido e destronado a fim de ajustar-se à estrutura que pelos cem anos passados vem estabelecendo os limites de toda realidade. Adicionalmente, aspectos integrais da existência humana têm sido penosamente reduzidos pelo racionalismo científico a contêineres, que não podem estocá-los mais do que uma rede de pesca pode conter piscinas de natação. Ética e amor, ódio e esperança transcendem não apenas a Tabela Periódica de Elementos, mas a todas as outras 112 facetas da realidade que a tabela representa. A fórmula científica, não importa quão finitamente sintonizada e equilibrada, não pode explicar plenamente o heroísmo, a arte, o temor, a generosidade, o altruísmo, o ódio, a esperança e a paixão. Uma cosmovisão que limite o seu mundo e visão somente ao racionalismo, ao materialismo e ao ateísmo científico, perde de vista tudo quanto está além deles e que é tão parte integrante de nós, do que somos, do que esperamos, daquilo a que aspiramos, de amor e adoração, de vida e morte. A escuma química não pondera sobre mundos superiores, não visualiza a eternidade, não escreve ―Os Miseráveis‖, nem evoca o sublime. Fórmulas químicas e Textos sobre Criacionismo Esbanjando o essencial 24 | D+ são parte da vida, logicamente. Mas representam-na toda? Nunca! Pensar que sim é submeter-se ao mínimo denominador possível, é decidir-se pela opção mais barata quando existem outras, inspiradoras de maior esperança, mais ricas e promissoras. Responsabilidade Moral De fato, num mundo puramente materialístico, químico e mecânico, como podem os seres humanos ser responsáveis por suas ações? Se somos controlados apenas por leis físicas, somos semelhantes ao vento ou ao processo de combustão. Qualquer sociedade que tenha por base premissas puramente materialistas teria que deixar livres seus assassinos, tarados, ladrões, estupradores e todos os ofensores, porque somos máquinas; e quem pode atribuir culpabilidade moral a um equipamento? Seria o mesmo que levar um rifle AK-47 a julgamento por assassinato. Nenhuma sociedade, mesmo aquelas comprometidas com o secularismo, permite tal impunidade moral, exceto entre os criminalmente insanos. Assim sendo, o que a sociedade diz, pelo menos implicitamente, é que se o materialismo científico fosse verdadeiro, todos teríamos de ser lunáticos. Toda cultura rejeita o materialismo radical, crendo, em vez disso, que somos seres moralmente responsáveis, não manipulados por forças físicas deterministas além do nosso controle. Somos movidos, obviamente, por algo mais do que aquilo que percebemos imediatamente, mesmo não sabendo do que se trata, mas apenas de que ali está e é real, e sem ele não seríamos vivos, livres ou humanos. Immanuel Kant argumentava que o mero ato da razão supera a natureza, transcende as emoções, manipula desejos e incentiva instintos. Como poderíamos jamais pensar pensamentos transcendentes se não houvesse algo ao nosso redor, além da natureza, algo mais em relação às nossas mentes do que à carne que pulsa? Não haverá algum princípio declarando que os efeitos não podem ser maiores do que suas causas? ―O que a ciência não pode nos dizer‖, afirmava o filósofo Bertrand Russell, ―a humanidade não pode conhecer.‖ Será mesmo? Então não podemos conhecer o amor, o ódio, a misericórdia, a bondade, o mal, a felicidade, a transcendência ou a fé. Por conhecê-los todos, porém, uma cosmovisão como a do materialismo científico, que diz que não podemos, é obviamente inadequada. Textos sobre Criacionismo A visão incompleta ―Um desconfortável senso de nulidade prevalece‖, escreveu o matemático David Berlinski, ―e tem prevalecido por tanto tempo, que uma visão puramente física ou material do Universo é algo incompleto; não pode abranger os fatos familiares e inescapáveis da vida ordinária.‖ 5 A ciência e o materialismo não podem sequer justificar-se ou ter sua própria existência, muito menos explicar tudo o mais. O matemático austríaco Kurt Gudel demonstrou que nenhum sistema de pensamento, mesmo científico, pode ser legitimado por qualquer coisa dentro do próprio sistema. Faz-se necessário sair de dentro do sistema e contemplá-lo de uma perspectiva mais ampla e diferente a fim de avaliá-lo. Doutro modo, como pode alguém julgar, quando ele é seu próprio critério empregado para emitir o juízo? Como podem os seres humanos estudar objetivamente o ato de pensar, quando têm somente o ato de pensar para fazê-lo? Por anos a razão tem reinado como rei epistemológico do Ocidente, o único critério para julgar a verdade. Contudo, quais têm sido os critérios para o julgamento da razão? A própria razão! Mas julgar a razão pela própria razão é como definir uma palavra usando a própria palavra como sua definição. É uma tautologia e as tautologias nada provam. Quão fascinante, pois, é que a própria razão, o fundamento do pensamento, particularmente do pensamento moderno, não pode de fato ser validada mais do que a declaração: ―A casa é vermelha porque é vermelha.‖ O problema para o cientificismo e o materialismo é: como se pode sair de um sistema para uma estrutura de referência mais ampla, quando o próprio sistema arroga-se abranger toda a realidade? O que acontece quando atingimos as margens do Universo? O que há além? Se houvesse uma estrutura de referência mais ampla a partir de onde julgá-lo (talvez Deus), então o próprio sistema não seria todo-abrangente, como o materialismo científico muitas vezes alega. ―Em suma‖, escreveu o cientista Timothy Ferris, ―não há e nunca haverá um completo e abrangente relato científico do Universo que possa ser comprovado como válido.‖ Ciência e materialismo sempre terão de ser admitidos... pela fé? O quê? Os limites inerentes à própria ciência requerem fé? Contudo, não é fé a crença em algo não provado, fora do escopo da ciência, cujo inteiro propósito é provar as coisas empiricamente? Não é o conceito de fé um resquício de uma era distante, mítica, pré-racionalística e pré-científica? | 25 Por basear-se no materialismo, a ciência deixa implícito (ao menos hipoteticamente) que tudo devia ser acessível à experimentação e validação empírica. Idealmente, não devia haver lugar para a fé num universo científico; entretanto, a própria natureza desse universo o requer. Que paradoxo! Dentro da concepção materialística e científica, pois, reina o potencial para algo além dela, algo fora dela, algo que explica por que o amor é mais do que uma função endócrina, por que a ética é mais do que síntese química, e por que a beleza é mais do que proporções matemáticas... algo, talvez, divino? Clifford Goldstein, um autor prolífico, é editor do Guia de Estudo da Lição da Escola Sabatina de adultos, junto à Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. Seu endereço para correspondência é: 12501 Old Columbia Pike; Silver Spring, Maryland 20904; U.S.A. Notas e referências: Samuel Beckett, Waiting For Godot (New York: Grove Press, 1954). Francisco Jose Moreno, Between Faith and Reason (New York: Harper Books, 1977), p. 7. Quoted in From Thales to Plato, edited by T. V. Smith (Chicago: Phoenix Books, 1956), p. 60. Quoted in David Deutsch, The Fabric of Reality (New York: Penguin Books, 1997), pp. 177, 178. David Berlinski, The Advent of the Algorithm (New York: Harcourt Books, 2000), pp. 249, 250. Timothy Ferris, Coming of Age in the Milky Way (New York: Doubleday, 1988), p. 384. Textos sobre Criacionismo 1. 2. 3. 4. 5. 6. 26 | Artigo 7 Às vésperas da Idade do Gene George T. Javor Pai orgulhoso de meus dois belos filhos, eu me surpreendo uma vez ou outra atribuindo vários traços vistos nos meninos à minha esposa ou a mim. ―Seu temperamento vem de sua mãe, e seu senso de humor, de mim.‖ Sem dúvida, nossos filhos herdaram certa combinação do material genético de seus pais, mas herdamos nossos genes — bons, maus ou indiferentes — de nossos pais, eles dos deles, e assim por diante. Embora sempre tenha havido um interesse em genética, nos últimos anos o estudo dos genes parece dominar todas as ciência biológicas. Os genes também se tornaram públicos. Desempenham um papel importante na justiça criminal, na identificação de pessoas, no estudo de enfermidades e em numerosos campos mais. De vez em quando, notícias ligam um gene particular com uma enfermidade, abrindo a possibilidade de se obter uma cura. Há cerca de dois anos, um gene foi envolvido na síndrome de Werner, uma condição na qual jovens de 20 anos ficam de cabelos cinzentos e sofrem de doenças que geralmente afetam os velhos. Este gene é considerado como o Santo Gral da pesquisa geriátrica. Se o elo é correto, talvez haja esperança de que a velhice, como a doença, possa ser curada no futuro. A descoberta de novos genes oferece a possibilidade da cura eventual de doenças causadas geneticamente. Como resultado, temos o ―Projeto do Genoma Humano‖, o equivalente biológico da aterrissagem na Lua. Embora esse empreendimento venha a custar muitos milhões de dólares cada ano, os resultados esperados serão tão espetaculares como a primeira caminhada na Lua, e possivelmente muito mais útil. Poderíamos estar entrando na ―Idade do Gene‖. Textos sobre Criacionismo Genes: Que são eles? Mas, primeiro, que são genes? Que papel desempenham na função dos organismos? Genes são segmentos de cromossomos que produzem proteínas específicas. Cada um de nossos 100 mil genes contém dados para a estrutura correta de uma proteína. Nossos genes estão distribuídos entre 23 pares de cromossomos. Uma pessoa herda 23 cromossomos da mãe e 23 do pai; portanto, temos duas cópias de cada um de nossos genes. Uma exceção são os genes encontrados no cromossomo chamado ―Y‖, que determina o sexo masculino. Destes, os homens têm uma só cópia e as mulheres, nenhuma. Ambos os genes e suas proteínas correspondentes podem ser imaginados como colares de contas. As contas do cromossomo têm quatro cores diferentes, ao passo que as contas de proteína têm 20. As ―cores‖ diferentes representam estruturas químicas diferentes. As contas de cromossomo são chamadas ―desoxirribonucléicos‖ (abreviados aqui como nucleotídeos) e as contas de proteína são aminoácidos.‖ Três nucleotídeos numa fileira no gene são interpretados por um maquinário complicado de tradução dentro da célula, como um aminoácido específico na proteína correspondente. Assim, um trecho de 300 ―contas‖ de um cromossomo codifica para 300 aminoácidos na proteína do gene. Proteínas típicas podem ter algumas centenas de aminoácidos. A seqüência de nucleotídeos no gene determina a ordem dos aminoácidos da cadeia de proteína. Isto é visto na ilustração 1. Do mesmo modo que a soletração afeta o sentido de uma palavra, a ordem de aminoácidos determina a função das proteínas individuais. A soletração errada de uma palavra pode causar perda de sentido. De igual modo, a ordem errada de aminoácidos numa proteína pode resultar na perda de sua função. A razão mais comum para a ordem errada de aminoácido é um gene alterado (mutado). Um gene mutado fica dirigindo a produção de proteínas erradas, e freqüentemente é transmitido a futuras gerações. Quão sério é o problema de ter proteínas incorretas? A questão torna-se crítica quando consideramos as muitas tarefas que essas substâncias realizam. Toda mudança química no corpo | 27 depende da presença de catalizadores específicos de proteínas. As proteínas constituem muito da infra-estrutura física da matéria viva. Participam no transporte de oxigênio e outros nutrientes no sangue. O sistema imunológico usa ―anticorpos‖ de proteínas na defesa contra substâncias estranhas. Quando as células se comunicam entre si, são os ―receptores‖ de proteína que reconhecem os sinais químicos. Proteínas incorretas causam inúmeras doenças. Até recentemente, o único recurso que os médicos e pacientes tinham para combater doenças geneticamente hereditárias, era o controle de dano; isto é, tentar minimizar as conseqüências de uma proteína incorreta. No caso da doença fenilquetonuria, por exemplo, a capacidade de a criança metabolizar um aminoácido essencial, fenilalanina, é prejudicada. A criança acumula substâncias tóxicas deste aminoácido, o que resulta em retardamento mental. Crianças nos Estados Unidos são testadas rotineiramente quanto a este defeito metabólico logo depois do nascimento, e se o defeito é encontrado, a dieta da criança é alterada para excluir o aminoácido prejudicial tanto quanto possível. Quão melhor não seria se pudéssemos corrigir o defeito genético consertando o gene defeituoso ou substituindo-o por um que funcionasse bem. As últimas duas décadas têm observado um avanço real em nossa habilidade para lidar com material genético. No início da década de 1950, soube-se que a composição química dos genes era o ácido desoxirribonucléico ou DNA, que consistia de unidades repetidas de quatro tipos de nucleotídeos. Se esta estrutura fosse representada no papel de modo simplificado, usando as abreviações A,T,G e C para os quatro nucleotídeos, teríamos um ou mais livros cheios com linhas semelhantes a isso (a ordem dos nucleotídeos variaria continuamente): ACTGGTTAGTTCCAGTCATGAGGTCCAATATAGATCAGTACGATTTAAGGCAT A monotonia estrutural impede os cientistas de decomporem o DNA em fragmentos menores e mais manejáveis de composição uniforme e de determinar a ordem dos nucleotídeos. O avanço veio com a descoberta de ―enzimas de restrição‖. Essas proteínas extraordinárias aparentemente podem reconhecer trechos curtos de seqüências de nucleotídeos únicos de DNA e romper a DNA neste ponto. Portanto, temos agora meios de obter fragmentos de DNA menores de composição uniforme. Outros catalizadores (enzimas) foram achados que podiam ligar fragmentos de DNA fracionados. Essas descobertas abriram o caminho para o ponto onde estamos hoje — a capacidade de manipular genes individuais, para introduzir genes de um organismo em outro, para recombinar porções de diferentes genes numa proveta e determinar a ordem de seus nucleotídeos. O Projeto do Genoma Humano, lançado em 1988, está tentando determinar as seqüências de nucleotídeos dos 24 cromossomos humanos (há dois cromossomos diferentes que determinam o sexo chamados ―X‖ e ―Y‖, os homens têm um par X-Y e as mulheres um par X-X, além de 22 outros pares de cromossomos), que se calcula conter três bilhões de nucleotídeos e localizados em 100 mil genes entre estas seqüências. Os nucleotídeos dos 100 mil genes constituem aproximadamente dois por cento do material genético humano. O que os outros 98 por cento do DNA humano fazem é ignorado em grande parte. Contudo, porque os genes de todos os humanos são relativamente semelhantes, as diferenças óbvias entre cada indivíduo devem vir dos outros 98 por cento do material genético. Um dos fatores controlados por essas porções do material genético é a quantidade de proteínas fabricadas. De qualquer modo, pode-se concluir que as porções ―não genéticas‖ são também vitais para nosso bem-estar. Ordem dos nucleotídeos A ordem exata dos nucleotídeos de alguns organismos mais simples jã foi determinada. Desde a primavera de 1996, as seqüências completas da bactéria Hemophilus influenza (1,8 milhões de nucleotídeos) e do fermento (13 milhões de nucleotídeos) têm sido estabelecidas. Por causa de seu tamanho, passarão alguns anos antes da ordem completa dos nucleotídeos do genoma humano ser conhecida. Mas a seqüência de nucleotídeos de quem há de ser? Acontece que, com a exceção de gêmeos idênticos, somos diferentes uns dos outros, na média de um nucleotídeo por mil (0,1%) na porção não genética de nosso genoma. O Projeto do Genoma Humano utiliza o material genético de um número comparativamente pequeno de indivíduos de descendência norte-americana ou européia. Esse pequeno genoma composto será a primeira ―norma‖ com a qual o genoma de cada Textos sobre Criacionismo Avanço na genética 28 | indivíduo será comparado. Passará muito tempo antes que suficiente análise genética seja feita para se obter uma boa compreensão da natureza das variações entre material genético humano. Preocupações com estudos genéticos Há uma preocupação legítima de que o momento poderá chegar, em que os indivíduos cujo perfil genético cai fora da ―norma‖, serão considerados seres de segunda classe. A sociedade um dia poderá até decidir que gente com ―genes ruins‖ são uma ameaça ao bem-estar humano a longo prazo. ―Testes‖ químicos já existem para identificar assinaturas genéticas de algumas doenças de origem genética, como a de Alzheimer, ou certas formas de câncer de mama e de cólon. Seqüências particularmente aberrantes de nucleotídeos parecem correlacionar com um fator de risco maior para essas enfermidades. Para alguém que possua este traço, o conhecimento antecipado dessas doenças pode prover aviso para que medidas preventivas sejam adotadas. De outro lado, se a companhia de seguros ou o empregador descobrem esses fatores de risco, uma pessoa corre o perigo de perder seu seguro de saúde ou seu emprego. Tais razões tornam o sigilo de informação genética objeto de preocupação. A título de proteger o bem-estar da sociedade, quão longe irão intrusos penetrar nossa posse mais privada, nossa composição genética? Mas não é verdade que todos nós somos reféns de nossos genes? Se genes determinam nossa personalidade e inteligência, não controlam eles em grande medida a qualidade de nossa vida? A resposta é ―não.‖ Embora muitos de nossos atributos físicos e nossa personalidade básica sejam geneticamente controlados, há evidência abundante de que nosso ambiente, nosso estilo de vida e a dieta são fatores importantes de nosso bem-estar físico e mental. O que lemos, ouvimos, vemos, sentimos, pensamos e fazemos afeta nossa vida. Temos o poder de controlar e modificar nosso estado de espírito, pensamentos e ações. Não somos entidades estáticas; mudamos continuamente. À medida que nossos sentidos continuamente testam o ambiente e transmitem seus achados ao sistema nervoso central, momento após momento nosso cérebro registra a nova informação e modifica tudo o mais já arquivado aí. O ponto mais importante é que nossa configuração genética não é modificada pelo que estamos armazenando em nosso cérebro. E é o conteúdo de nosso cérebro que define quem somos. Outra preocupação nos estudos genéticos é a suposição da socio-biologia de que tudo o que sucede na biologia é para benefício do genoma. Esta teoria supõe que os genes precederam todas as coisas e que de alguma maneira resultaram na formação do mundo biológico com o objetivo de manter e melhorar o genoma. Esta forma de determinismo biológico ajuda alguns cientistas a formularem uma grande ―teoria de todas as coisas‖, a qual explica a eles o porquê das coisas serem como são. Textos sobre Criacionismo Estudo genético e evolução O que esta e outras teorias baseadas na evoluçao não abordam é: de onde o conteúdo informativo do genoma veio? É difícil negar que haja informação biológica no genoma. Calcula-se que um micrômetro cúbico de genoma pode codificar 150 ―megabytes‖ de informação. Isto é de uma ordem de magnitude dez vezes maior que a atual capacidade de armazenagem óptica de um CD-ROM. Se a seqüência completa de nucleotídeos da batéria Escherichia coli fosse impressa num livro de tamanho padrão, o mesmo teria cerca de três mil páginas. Um documento semelhante contendo a informação do genoma humano seria uma biblioteca de mil volumes, com três mil páginas cada um. Há uma geração, teóricos evolucionistas se ocupavam em descrever um mundo primordial, anterior à vida, onde os primeiros organismos emergiram de componentes não-vivos. Uma das fraquezas desses esquemas evolucionários químicos foi a incapacidade de mostrar como ácidos nucléicos podiam vir à | 29 existência. Os obstáculos incluem o desafio de formar o necessário açúcar de 5 átomos de carbono, D-2-deoxiribose em quantidades apreciáveis, a síntese dos quatro desoxirribonucléicos e sua interconexão em seqüências apropriadas. Mas um desafio ainda mais formidável para esses cientistas é explicar a fonte de informação biológica que reside no genoma de todo organismo. O genoma leva dados diretos para a estrutura correta de cada proteína do organismo e a instrução para a quantidade e momento de sua produção. Indiretamente, pelas ações das proteínas, todo aspecto do metabolismo e infra-estrutura do organismo é codificado no genoma. O nível de engenharia e sofisticação bioquímica vistas na matéria viva, excede em muito qualquer coisa vista em nossos melhores laboratórios. Pesquisa genética: área proibida? Textos sobre Criacionismo Crentes na Bíblia reconhecerão facilmente a assinatura no genoma do mesmo Criador que chamou à existência o Universo todo. Mas agora que podemos manipular genes numa proveta, deveríamos estar cautelosos em entrar num território proibido pelo Criador? Se consideramos o genoma como um componente da matéria viva e não como uma ―substância mestra‖, então as preocupações expressas especificamente quanto à pesquisa do genoma podem ser ampliadas para cobrir toda a pesquisa biológica. O relato bíblico cita o Criador como dizendo aos primeiros seres humanos: ―Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a Terra e sujeitai-a‖ (Gênesis 1:28). Toda pesquisa biológica pode cair sob a categoria de ―submeter a criação‖, visto que compreender a Natureza é um pre-requisito para sua utilização eficiente. Os genes, em particular, têm sido manipulados desde tempos imemoriais pela reprodução selecionada. Enquanto o novo conhecimento obtido pela pesquisa for usado para promover saúde e bem-estar em indivíduos e grupos, podemos ter certeza de que está dentro dos parâmetros bíblicos. Em contraste, pesquisa que vise a explorar sistemas biológicos para propósitos destrutivos, coloca-nos num curso em colisão com o Criador. Às vésperas da idade dos genes, enfrentamos questões não diferentes das que encontramos ao entrar na Idade do Átomo. A questão é: Somos mais sábios agora? George T. Javor (Ph.D., Columbia University) leciona bioquímica na Universidade de Loma Linda. Ele tem publicado artigos sobre aspectos da fisiologia bacterial do organismo Escherichia coli, sobre razões bioquímicas a favor do criacionismo, e os livros Once Upon a Molecule e The Challenge of Cancer. Seu endereço: Loma Linda University School of Medicine: Loma Linda, CA 92350; E.U.A. E-mail: INTERNET:[email protected] 30 | Artigo 8 O mistério da vida George T. Javor O estudo da matéria viva está no centro de todos os esforços científicos atuais. As recentes vitórias da ciência incluem a clonagem de Dolly, a ovelha, e a obtenção da se qüência dos três bilhões de nucleotídeos dos cromossomos humanos.1 Mas, estranhamente, a própria vida não é o objeto de maior estudo. Os cientistas parecem pensar casualmente na existência da vida. É difícil achar qualquer discussão sobre a essência da vida em monografias ou compêndios correntes. Essas publicações explicam muito bem a composição da matéria viva e como seus elementos funcionam. Mas tal informação não é suficiente para explicar a vida e por que os constituintes da matéria viva são, em si mesmos, sem vida. Decomponhamos, a título de exemplo, a matéria viva e então recombinemos seus componentes isolados. Essa pesquisa irá fornecer uma coleção impressionante de substâncias inertes, mas não com vida. Até aqui a ciência não pôde criar a matéria viva em laboratório. Será isso por que a matéria viva contém um ou mais componentes que não podem ser supridos pelo químico? A resposta, como desenvolvida neste artigo, apresentará um ponto importante quanto à origem da vida. Qual é a origem da vida? Textos sobre Criacionismo Há mais de cem anos, Louis Pasteur e outros demonstraram a tolice da abiogênese — a transformação espontânea de matéria sem vida em organismos vivos. Os biólogos agora dizem simplesmente: ―Vida só pode provir de vida‖. Não obstante, os cientistas geralmente aceitam o conceito de que a vida se desenvolveu abiologicamente numa Terra primitiva. Assim fazendo, para sua própria conveniência, eles afirmam que as condições do ―mundo primitivo‖ eram apropriadas à geração espontânea da vida. Outros teorizam sobre a possibilidade de a vida ter sido importada do espaço exterior para a Terra. Embora a Terra esteja populada por milhões de diferentes espécies de organismos, não há evidência de vida em qualquer parte no sistema solar. E, além disso, há três e meio anos-luz de espaço vazio até a estrela mais próxima, a Alfa do Centauro. A última opção lógica para a origem da vida é a criação realizada por um Criador sobrenatural. Mas a ciência, em sua tentativa de explicar tudo por leis naturais, rejeita essa opção como estando fora dos limites científicos. A vida não é uma entidade tangível A vida não é uma entidade tangível. Não pode ser posta num recipiente e manuseada. Somente vemos ―vida‖ em associação com espécies únicas de matéria, as quais têm capacidade de crescer, dividir-se em réplicas e também de responder a vários estímulos externos, utilizando luz ou energia química para efetuar todas essas coisas.2 | 31 O termo vida tem diferentes sentidos, podendo referir-se a um organismo, um órgão ou uma célula. Órgãos humanos podem continuar a viver depois da morte da pessoa se, dentro de certo tempo, forem transplantados para um indivíduo vivo. A sobrevivência de um fígado, rim ou coração transplantado, significa algo bem diferente da ―vida‖ humana. Ademais, a vida de cada órgão depende da vitalidade de suas células. Todas as manifestações de vida dependem de células vivas, as unidades mais fundamentais da matéria viva. Quando uma célula viva se divide, remanesce uma coleção muito complexa de estruturas subcelulares, mas sem vida: membranas, núcleos, mitocôndrias, ribossomos, etc. Há uma seqüência ininterrupta entre matéria viva e não-viva, como alguns afirmam? Se houver, a questão da origem da vida torna-se discutível. Evoluir de um estado para outro seria semelhante a outras transformações químicas. Exemplos de organismos que supostamente transponham o abismo entre o vivo e o não-vivo incluem vírus, príons, microplasmas, rickéttsias e clamídias. Com efeito, vírus e príons são biologicamente ativos, mas entidades nãovivas. O termo ―vírus vivo‖ é inapropriado, embora os vírus sejam agentes biologicamente ativos e infectem células vivas. Os príons são proteínas singulares que têm a capacidade de alterar as estruturas de outras proteínas.3 As proteínas recém-transformadas, por sua vez, exercem atividade priônica, criando um efeito-dominó de alteração protéica. A propriedade priônica faz com que eles se tornem infecciosos. Para sua reprodução os príons, como os vírus, precisam de células vivas. Rickéttsias, clamídias e microplasmas, por outro lado, acham-se entre os menores organismos vivos. Os primeiros dois têm sérias deficiências metabólicas e só podem existir como parasitas intracelulares. Há um vasto abismo entre matéria viva e a não-viva. Isso reflete melhor nossa incompetência de extrair vida de matéria anorgânica em laboratório. A composição da matéria viva Estruturalmente a matéria viva é composta de uma combinação de água e de moléculas grandes, frágeis e sem vida, de proteínas, polissacarídeos, ácidos nucléicos, e lipídios. A Tabela 1 fornece a composição química de uma célula bacteriana típica, a Escherichia coli. A água serve de meio em que as mudanças químicas ocorrem. Proteínas e lipídios são os principais componentes estruturais das células. As proteínas também controlam todas as mudanças químicas. Sem mudanças químicas a vida não pode existir. Saber como as proteínas interajem com as transformações químicas é indispensável à compreensão da base química da vida. As proteínas existem em milhares de formas diferentes, cada qual com propriedades químicas e físicas únicas. Essa diversidade se deve a seu tamanho. Cada proteína pode conter centenas de aminoácidos, e há vinte aminoácidos diferentes. O que cada proteína é capaz de fazer depende da ordem em que seus aminoácidos estão ligados. Para compreendermos esse aspecto biológico, consideremos a analogia da linguagem escrita. Em qualquer língua, o significado das palavras depende da seqüência das letras. No alfabeto inglês, por exemplo, temos vinte e seis letras. Com elas formamos as palavras. Umas 500 mil diferentes combinações de letras são reconhecidas como palavras significativas. Com algum esforço poderíamos produzir outras 500 mil, ou mais, combinações sem sentido. Semelhantemente, os milhões de diferentes proteínas representam uma fração minúscula de todas as combinações possíveis de aminoácidos. 4 Quando as palavras são escritas erradamente, seu sentido fica adulterado ou perdido. De igual modo, para que as proteínas funcionem adequadamente, seus aminoácidos precisam estar na seqüência de outros em ordem correta. Os resultados de alterações na seqüência de aminoácidos podem ser drásticos. A proteína transportadora de oxigênio no sangue, a hemoglobina, é Textos sobre Criacionismo A estrutura das proteínas: uma analogia idiomática 32 | constituída de quatro cadeias de mais de 140 aminoácidos cada uma. Na anemia falciforme, uma doença hereditária, apresenta-se um aminoácido alterado na sexta posição de uma seqüência específica de 146. Essa mudança causa distorção nos glóbulos vermelhos, o que resulta em anemia e muitos outros problemas. Informação genética e seqüências de aminoácidos Textos sobre Criacionismo Como o sistema produtor de proteínas conhece as seqüências corretas de aminoácidos para cada uma das milhares de proteínas? Os cromossomos de cada célula são bibliotecas repletas de tais informações. Cada volume dessa biblioteca é um gene. Quando a célula necessita de certa proteína, ela ativa o gene dessa substância e a síntese tem início. Os detalhes desse processo podem ser vistos em qualquer compêndio atual de biologia ou bioquímica. Basta lembrar que mais de cem eventos químicos distintos têm de ocorrer para que a síntese da proteína aconteça. Todas as manifestações da vida dependem de transformações químicas. Essas modificações sucedem quando grupos de átomos (moléculas) ganham, perdem ou re-arranjam seus elementos. Uma classe de proteínas, as enzimas, unem moléculas específicas e facilitam suas transformações químicas. Na Escherichia coli, ou bacilo coliforme, há cerca de 3.000 diferentes tipos de enzimas, os quais facilitam 3.000 mudanças químicas diferentes. As enzimas aceleram intensamente as reações. Isso poderia ser um problema grave porque, quando uma reação é completada, seu ponto final, conhecido como equilíbrio, é alcançado, e não ocorrem outras mudanças químicas posteriores. Uma vez que a vida depende de mudanças químicas, quando todas as reações atingem seus pontos finais, a célula morre. É impressionante que na matéria viva nenhuma das reações jamais atinge o equilíbrio. A razão é que as mudanças químicas estão interligadas, de modo que o produto de uma modificação química forma a substância básica para a seguinte. Se as moléculas biológicas fossem representadas pelas letras maiúsculas do alfabeto, uma seqüência típica de conversões químicas apareceria como a Figura 1 ilustra. Tal seguimento, ou ―trilha bioquímica‖, parece-se como uma linha de montagem industrial. O produto final deste traçado particular, a substância F, é utilizado pela célula e, portanto, não se acumula. Na matéria viva ou orgânica, cada um dos milhões de moléculas (Tabela 1) é mantido em seu rumo. Qualquer deficiência ou excesso resulta imediatamente em ajustes nas taxas de transformações químicas. A Figura 2 mostra que numa célula viva a matéria é organizada em hierarquias sucessivamente mais complexas. As flechas representam traçados bioquímicos que vão desde substâncias simples até as complexas. A dependência recíproca entre os componentes celulares na direção vertical, é comparada às relações lógicas entre letras, palavras e sentenças da linguagem escrita, até o nível de um livro. | 33 Contudo, o grau de tolerância a erros é muito menor em biologia. Palavras malsoletradas, sentenças confusas ou parágrafos faltantes podem inutilizar um documento. Mas por causa da estreita interdependência funcional de seus componentes, as células estariam em grande dificuldade se suas partes não fossem completadas integralmente. Há também uma complementação horizontal entre os componentes celulares. Por exemplo, as proteínas não podem ser manufaturadas sem a assistência dos ácidos nucléicos; e ácidos nucléicos não podem ser sintetizados sem as proteínas. De uma perspectiva química evolucionista, esse problema se parece com o enigma clássico da ―galinha e do ovo‖. (Ver a Figura 2.) Toda senda biossintética conduz a níveis sucessivamente mais complexos de organização da matéria. Toda vereda é regulada de modo que seu produto seja apropriado para as necessidades da célula. A vida da célula depende da operação harmoniosa e quase simultânea de seus vários componentes. Durante um crescimento equilibrado existe um estado constante; isto é, há apenas perturbações mínimas no fluxo de matéria através de suas trilhas. Como não é permitido a nenhuma das reações atingir seu ponto final, cada uma das milhares de reações químicas interligadas se encontra num estado de desequilíbrio constante. Se há forças naturais que produzem vida, devíamos buscar diligentemente descobri-las e usá-las. Se a abiogênese fosse possível, poderia ser aproveitada para restaurar a vida das células, órgãos e mesmo organismos mortos. Quem argumentaria que a criação de matéria viva, ou a reversão da morte, não seria a descoberta mais significativa para a humanidade? Contudo, a história de bioquímica sugere que isso é improvável. Na década de 1920, quando Oparim e Haldane primeiramente propuseram que a vida se originou espontaneamente numa Terra primitiva, a bioquímica estava em sua infância. Mesmo esse conceito era uma elaboração da idéia de Darwin, de que a vida surgiu num lago morno. 5 O primeiro curso metabólico só foi descrito na década de 1930. A estrutura e a função do material genético começaram a ser compreendidas na década de 1950. A primeira seqüência dos aminoácidos de uma proteína, a insulina, foi traçada em 1955, e a primeira seqüência de nucleotídeos do cromossomo de um organismo vivo foi publicada em 1995. À medida que a base química da vida começou a ser mais bem compreendida, ela se mostrou mais complexa do que originalmente imaginada, e as primeiras sugestões abiogenéticas deveriam ter sido reconsideradas. Em vez disso, a ciência embarcou numa longa viagem de meio século para demonstrar experimentalmente a plausibilidade da abiogênese. Os primeiros experimentos sugerindo a razoabilidade da evolução química foram feitos por Stanley Miller, que em 1953 publicou a síntese de aminoácidos e de outras substâncias orgânicas sob condições primitivas simuladas.6 Subseqüentemente, surgiu uma subdisciplina que fornecia evidências laboratoriais da produção de 19 dos 20 aminoácidos, e de quatro ou cinco bases nitrogenadas necessárias para síntese de ácido nucléico, de monossacarídeos e ácidos graxos, tudo sob hipotéticas condições primitivas variáveis. 7 Todas essas substâncias são componentes dos quais os grandes biopolímeros são feitos, projetando a possibilidade da produção primária de biopolímeros. Contudo, a demonstração da ligação de blocos de células em cadeias de polímeros não pôde ser realizada. Todo o elo entre os blocos de substâncias típicas requer a remoção da água. Isso é praticamente impossível no ambiente hídrico dos pressupostos oceanos primitivos. Ademais, as seqüências nas quais os aminoácidos se unem para transformar as proteínas ou nucleotídeos em ácidos nucléicos, são as que determinam a função desses biopolímeros. Além da matéria viva, não há mecanismos conhecidos que garantam se qüências significativas e reproduzíveis em proteínas ou ácidos nucléicos. Sob condições primitivas simuladas, material semelhante à proteína tem sido produzido com o aquecimento de amostras de aminoácidos a altas temperaturas. Contudo, esses ―proteinóides‖ eram aminoácidos ligados aleatoriamente por elos não naturais, os quais apresentam pouca semelhança com as proteínas reais.8 Os nucleotídeos, blocos formadores dos ácidos nucléicos, ainda não foram sintetizados sob condições primitivas simuladas. Essa é uma tarefa formidável e que requer a ligação de uma base de purina ou pirimidina a um açúcar, e desse a um fosfato. O desafio aqui não é somente a remoção da água, mas o fato de que esses três componentes podem ser ligados por dezenas de Textos sobre Criacionismo Tentativas químicas evolucionistas 34 | modos diferentes. Todas as combinações, exceto uma, não têm valor biológico. É desnecessário dizer que os ácidos nucléicos ainda não foram sintetizados. Mas isso não impediu que muitos cientistas postulassem que as células vivas mais primitivas continham inicialmente ácidos ribonucléicos. Essa hipótese de um ―Mundo ARN‖ ganhou popularidade depois que se descobriu que certas moléculas de ARN tinham atividades catalíticas. Até então, acreditavase que a catálise fosse área exclusiva de proteínas. Embora não seja possível fabricar biopolímeros biologicamente úteis sob condições primitivas simuladas, podemos obtê-los a partir de células anteriormente vivas. Misturando esses biopolímeros isolados, é possível abreviar a evolução química tornando possível verificar se a vida se originará em tal mistura. Mas em tal experimento, tudo está em equilíbrio. Uma vez que a vida ocorre somente quando todos os eventos químicos dentro da célula se acham em estado de desequilíbrio, o máximo que se pode conseguir através desse método é uma coleção de células mortas. Textos sobre Criacionismo Como produzir matéria viva Sabemos exatamente como produzir matéria viva: Primeiro, projete e sintetize alguns milhares de diferentes aparelhos moleculares capazes de converter substâncias simples, comumente disponíveis no meio ambiente, em biopolímeros complexos. Segundo, certifiquese de que tais dispositivos sejam capazes de auto-reprodução precisa. Terceiro, certifique-se de que essas unidades possam sentir seu meio ambiente e se ajustar a quaisquer mudanças que nele ocorram. Então, é simplesmente uma questão de dar início simultâneo a centenas de rotas bioquímicas, mantendo o estado de desequilíbrio de cada conversão química, garantindo a disponibilidade de contínuo suprimento de matéria- prima, e provendo a remoção eficiente de refugos. Uma exigência mínima para se criar tais mecanismos biológicos complexos é a familiaridade absoluta com a matéria em nível atômico e molecular. Você também precisará de grandes idéias quanto ao uso dessas complexas maquinarias vivas, alimentando uma esperança proporcional ao esforço despendido em criá-las. Fabricar células vivas requer controle absoluto de cada molécula grande ou pequena. Essa é uma capacidade que a ciência não possui. Os químicos podem transformar grandes números de moléculas de uma forma em outra, mas não podem transportar moléculas selecionadas através de membranas para inverter as condições de equilíbrio. É por isso que não podemos reverter a morte. Como se originou a vida na Terra? Este artigo mostrou a grande discrepância entre a bioquímica da matéria viva e as pretensões daqueles que gostariam de poder explicar sua origem por abiogênese. Cinqüenta anos de pesquisa bioquímica demonstraram inequivocamente que, a despeito de quais sejam as condições, a abiogênese é uma impossibilidade. É apenas uma questão de tempo antes que o edifício chamado ―evolução química‖ imploda sob o peso dos fatos. Para o crente no relato bíblico da Criação, a asserção de que somente o Criador pode criar a vida não é um argumento para o ―Deus das lacunas‖. Temos uma boa idéia do que seja necessário para criar a vida, somente não podemos fazê-lo. Essa é uma afirmação de que a vida não pode existir sem Deus. Com efeito, a vida torna-se uma evidência a favor de um Criador todo-sapiente, que decidiu criar a vida e partilhá-la conosco. George T. Javor (Ph.D. pela Columbia University) leciona bioquímica na Loma Linda University, Loma Linda, Califórnia, EUA. Seu e-mail: [email protected] Notas e referências S. Lander e 253 outros, ―Initial sequencing and analysis of the human genome,‖ Nature 409 (2001):2001. Ver também J. C. Vent e 267 outros, ―The sequence of the human genome,‖ Science: 291(2001):1304. 2. Uma tal análise da vida pode parecer bastante materialista a muitos que acham que a Bíblia ensina um ponto de vista diferente — o qual não insiste que a vida esteja associada à matéria. Conquanto possam existir realidades mais amplas de vida inacessíveis a nós, tanto quanto interesse à ciência, percebemos a vida na Terra somente em associação com a matéria. A Bíblia apóia a noção de que a vida que conhecemos na Terra está associada à matéria. Ver Gênesis 2:7: ―E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida: E o homem foi feito alma vivente‖. Uma combinação do fôlego de vida e do pó do solo deu origem à pessoa viva. Semelhantemente, uma pessoa morre quando lhe sai o fôlego e ela volta ao pó. ―Nesse mesmo dia perecem toldos os seus desígnios.‖ (Salmo 146:4.) O ―retorno à terra‖ marca o ponto final da existência humana. Embora seja possível especular sobre o significado do ―fôlego de vida‖ e do ―fôlego‖ das pessoas, é claro que a vida, como experimentada na Terra, não continua após a morte. A Bíblia nada menciona sobre uma forma de vida desencarnada. Aceitar a base material da vida sobre a Terra, portanto, não nos torna materialistas. 3. S. B. Prusiner, ―Prion Diseases and the BSF Crisis,‖ Science 278 (1997): 245. 1. | 35 Textos sobre Criacionismo 4. O número de possíveis seqüências diferentes para uma proteína de 100 aminoácidos é 1.2 x 100130 ou 12 seguido de 129 zeros! 5. F. Darwin, The Life and Letters of Charles Darwin (New York: D. Appleton, 1887), II: 202. Carta escrita em 1871. 6. S. L. Miller, ―A Production of Amino Acids Under Possible Primitive Earth Conditions,‖ Science 117 (1953): 528. 7. C. B. Thaxton, W. L. Bradley, e R. L. Olsen, The Mystery of Life’s Origins (New York: Philosophical Library, 1984), p. 38. 8. S. W. Fox e K. Dose, Molecular Evolution and the Origins of Life (New York: Marcel Dekker Publishing Co., 1977), second edition. 36 | Artigo 9 A busca dos ancestrais de Adão Elaine Kennedy Biólogos evolucionistas estão convencidos de que os humanos descendentes de criaturas semelhantes a macacos. A despeito de número de disputas sobre teorias de linhagens macacohumanas, os paleoantropólogos são unânimes. A resposta cristã a estas asserções tem variado. Algumas organizações cristãs concordam com a comunidade científica sobre a origem do homem, mas mantêm que em algum momento do passado seres humanos adquiriram uma alma imortal, discernimento moral, e/ou a habilidade de raciocinar. Outros, incluindo os adventistas do sétimo dia, aceitam o relato de Gênesis como a expressão de evento histórico. De onde veio Adão? Foi ele formado do pó da terra por um Criador inteligente, ou ele descendeu de um ser semelhante ao macaco? Sabemos o que a Bíblia diz. Concorda com isto o ―livro da Natureza‖? Determinando o que é humano Embora alguns donos de animais de estimação possam argumentar, traços tais como senso estético e moral, livre arbítrio e uma linguagem complexa distinguem os humanos dos animais. 1 Fósseis semelhantes a humanos não podem fornecer este tipo de informação. Como os cientistas não podem falar com os organismos que se pretende sejam nossos ancestrais para averiguar quão humanos eles eram, pesquisadores dependem de características estruturais dos ossos dos fósseis e de informação genética de macacos e humanos modernos. Os humanos de hoje se distinguem por diversas características do crânio. Três características podem ser facilmente reconhecidas: (1) Na frente da maxila inferior, os humanos modernos têm uma parte maxilar que se salienta para formar o queixo. (2) O ângulo da face é muito obtuso porque os humanos não têm focinho e têm uma testa não batida para trás. (3) A porção superior do crânio nos humanos de hoje é mais larga do que a base do crânio. Determinar se um fóssil é um humano moderno não parece ser muito difícil. Textos sobre Criacionismo Os homínidas Homínida é o nome dado aos primatas bípedes, incluindo todas as espécies no gênero Australopithecus e Homo. Os australopitecinos incluem o gênero Australopithecus e, para alguns pesquisadores, o Paranthropus. Os homínidos têm que ver com os membros do gênero Homo. Os australopitecinos são divididos em dois grupos, conforme seu tipo corporal: (1) As formas parecidas com o macaco, porém mais delicadas, de ossos menores, mais frágeis incluem A. ramidus (o achado mais recente de um australopitecino, atualmente proposto como o fóssil mais próximo do ―elo perdido‖ ou ancestral comum aos macacos e aos humanos); A. afarensis (um conjunto de fósseis foi achado; um esqueleto 40% completo é conhecido popularmente como ―Lucy‖); e A. africanus (a ―Criança Taung‖, assim chamada pela localidade onde foi encontrada). (2) As formas robustas semelhantes ao macaco incluem A. aethiopicus (um esqueleto com alguns traços distintos achados no A. afarensis, conhecido como ―Crânio Negro‖), A. robustus e A. boisei. Alguns pesquisadores colocam todas as formas robustas no gênero Paranthropus.2 O gênero Homo, ao qual os humanos pertencem, inclui as espécies seguintes: H. habilis (material fragmentário de uma espécie pequena encontrado junto a alguns artefatos de pedra, conhecido como ―Homem Hábil‖); H. rudolfensis (crânio grácil e ossos notavelmente maiores do que H. habilis, embora anteriormente classificado naquela espécie); H. erectus (mais de 200 fósseis, incluindo o Homem de Java e o Homem de Pekim); H. ergaster (crânio e ossos atribuídos anteriormente aos erectinos e agora reconhecidos pela mandíbula inferior e a estrutura dos dentes | 37 da Rodésia‖, um H. sapiens arcaico previamente identificado como um erectino, por vezes classificado como H. sapiens heidelbergensis, uma sub-espécie de H. sapiens; a espécie tem capacidade craniana maior do que os erectinos); H. neanderthalensis (uma espécie robusta comumente representada como ―Homem da Caverna‖, cujos fósseis freqüentemente dão evidência de trauma, por vezes classificado como H. sapiens neanderthalensis); e finalmente, Homo sapiens ou Homo sapiens sapiens (humanos modernos).3 Métodos de pesquisa Na busca das origens do homem, três grupos de cientistas — paleoantropólogos, filogeneticistas evolucionistas e antropólogos moleculares — abordam o problema de três perspectivas diferentes. Paleoantropólogos enfocam características físicas dos esqueletos homínidas e o uso de artefatos. Filogeneticistas evolucionistas descrevem as semelhanças dos organismos e como são Textos sobre Criacionismo como uma espécie distinta, conhecida como ―Menino Turkana‖); H. heidelbergensis (―Homem 38 | Textos sobre Criacionismo relacionados. Antropólogos moleculares acentuam as semelhanças de proteínas e DNA dos homínidas. Caracteristicas físicas dos homínidas. Paleoantropólogos são cientistas que se especializam em origens humanas. Comparando esqueletos e traços morfológicos nos homínidas, eles crêem ter achado diversos traços homínidos e pitecinos nestes fósseis. Uma das espécies mais importantes dos australopitecinos, Australopithecus afarensis, exibe estas características. Australopithecus afarensis, um homínida conhecido popularmente como ―Lucy‖, tem uma junta ilíaca, que não é nem bem pitecina nem bem humana. Embora pareça claro que os australopitecinos não andavam sobre o jarrete como os macacos de hoje, as juntas ilíacas eram bastante viradas para frente de modo a não se confundir com as juntas ilíacas humanas. (Um dos critérios que têm sido usados para identificar o gênero Homo é uma postura plenamente ereta ao andar.) Outra estrutura que os paleoantropólogos salientam como evidência de um elo australopitecino entre macacos e humanos é a curvatura dos ossos dos dedos e dos artelhos. Os dedos dos australopitecinos não são tão retos como os dedos humanos, mas as articulações não são tão simples como as do chipanzé.4 Algumas destas características meio símias, meio humanas nos membros dos australopitecinos têm sido identificadas. Além disto, a diminuição do tamanho dos dentes da frente da boca para trás é um traço semelhante ao arranjo dos dentes nos homínidos.5 Características meio humanas, meio pitecinas têm sido descobertas também no gênero Homo. Homo habilis, ou ―Homem hábil‖, é incluído no gênero Homo primariamente porque o fóssil foi achado junto de ―artefatos‖. Além disto, H. habilis tem uma mandíbula muito parecida com a humana; não obstante, o esqueleto parecese com um australopitecino. Os espécimes atribuídos ao Homo rudolfensis são incluídos no gênero Homo porque a estrutura do esqueleto parece-se com a dos humanos; mas a face e os dentes parecemse com australopitecinos robustos.6 Os paleoantropólogos dividem os erectinos em duas espécies, conforme suas mandíbulas e seus dentes, localização na África e menor capacidade craniana do H. ergaster comparada com os erectinos da Ásia.7 Vários diagramas têm sido construídos para demonstrar a linhagem ancestral dos homínidas. Os diagramas diferem porque os paleoantropólogos não concordam quanto às características específicas que devem ser usadas para identificar relações ancestrais, o tempo quando se separaram e o local de novos achados. 8 Relações entre homínidas. Filogeneticistas usam métodos cladísticos (cladogramas) para descrever relações entre organismos. Cladogramas são diagramas que arranjam os organismos em grupos que possuem características comuns, descrevendo os organismos em termos de relações fraternais em vez de ancestrais, de uma forma hierárquica. Ao criar cladogramas, os filogeneticistas assumem três primícias: (1) As características que formam a base de dados podem ser arranjadas numa estrutura hierárquica; (2) os dados ou as características selecionados representam corretamente os organismos; e (3) houve bem pouca ou nenhuma perda de características.9 Um cladograma que descreve as relações possíveis entre os homínidas aparece na Figura 1.10 Algumas características usadas para criar o cladograma aparecem nas espécies numa ordem diferente da maioria das características que definem o cladograma. Os filogeneticistas escolhem o cladograma com o menor número de características fora de ordem para criar diagramas mais bem ajustados; conseqüentemente, há uma certa discordância sobre quais características melhor descrevem os organismos e como devem ser arranjadas na hierarquia. Depois de usar o método cladístico para identificar relações hierárquicas, numerosos pesquisadores incorporam esta informação em hipóteses e desenvolvem esquemas filogenéticos que traçam as relações ancestrais para os homínidas. Até 1993, pelo menos seis esquemas filogenéticos principais tinham sido propostos para os homínidas. Desde a descoberta de A. ramidus, um sétimo esquema foi proposto. Muito da transferência de espécies nestes diagramas representa disputas sobre a validade de atribuir à evolução humana os vários traços achados nos crânios e dentes dos espécimes. As relações moleculares dos homínidas. Alguns antropólogos têm estudado as semelhanças moleculares entre macacos modernos e humanos para criar hipóteses sobre as linhagens dos homínidas. Alguns destes pesquisadores assumem que mutações e trocas ocorrem em ritmo constante na DNA. Estudos numerosos abrangendo mais de 30 anos, têm procurado determinar | 39 assumidos para calcular estas datas foram disputados há mais de 30 anos por Morris Goodman e mais recentemente por Wen-Hsiung Li.12 Os argumentos levantados permitem questionar a validade do método. Outros limitaram o campo de pesquisa e compararam a DNA do mitocôndrio entre as raças humanas, sugerindo que a linha humana pode ser traçada a uma única população africana. A “linhagem” homínida Australopitecinos. No grupo australopitecino, A. ramidus (o achado mais recente) e A. afarensis (Lucy) são ambos considerados ancestrais (Figura 2), ao passo que A. africanus (A Criança Taung), classificado mesmo em 1993 como ancestral (Figura 3), continua a ser contestado como parte da linha direta.13 Textos sobre Criacionismo quando as várias espécies vivas divergiram de espécies afins, baseados na pressuposição de ritmos relativamente constantes de mudança da DNA, um ―relógio molecular‖. 11 Interpretações baseadas no ―relógio molecular‖ dão a entender que a origem humana ocorreu há milhões de anos e assumem que há um elo entre macacos e humanos. O tempo proposto para a divergência macaco-homem varia de 5 a 7 milhões de anos. Contudo, os ritmos de mutação 40 | Homínidos (ver Figura 2). No gênero Homo, H. habilis (Homem Hábil) continua problemático, mas é classificado fora da linha humana por Wood e dentro da linha humana por McHenry. 14 A forma grácil de H. rudolfensis substituia outrora H. habilis na linhagem humana, mas é agora também excluída por vários estudiosos. H. erectus (Homem de Pekim, Homem de Java) devia no presente ser designado como ―fora de linha‖ segundo Tattersall (ver Figura 3) 15 devido ao fato que uma porção da estrutura craniana é demasiado robusta. 16 Alguns pesquisadores designam H. ergaster como um dos ―elos‖ preferidos, embora outros ainda considerem H. ergaster como uma espécie separada e continuam a incluir estes espécimes com os erectinos e na linha ancestral. Finalmente, H. heidelbergensis é considerado como um ancestral tanto dos humanos modernos como dos neandertalenses.17 Hipóteses evolucionistas falsificadas A Figura 2 ilustra algumas das conclusões dos paleoantropólogos quanto à relação ancestraldescendente para os homínidas. O ancestral comum para homínidas e macacos ainda falta. A. ramidus, A. afarensis, erectinos e H. heilderbergensis são todos claramente designados como ―elos‖ na linhagem. Usando métodos científicos normativos, os pesquisadores testam suas hipóteses, e rejeitam as idéias que se demonstram falsas. Nos estudos da evolução humana, os pesquisadores nem sempre aderem a métodos científicos normativos. Por exemplo, A. afarensis tem traços únicos que efetivamente impedem que seja incluído entre nossos ancestrais. Um estudo cladístico identifica 69 traços que se expressam de modo diferente entre as espécies na ―linhagem humana‖. Destes, apenas 45 apóiam a hipótese evolucionista preferida.18 Os 24 caracteres restantes contradizem a hipótese evolucionista preferida. A hipótese preferida foi escolhida pelos pesquisadores como representando a linha provável da ―evolução humana‖ por ter sido demonstrada falsa o menor número de vezes. Como resultado, e a seu crédito, outros pesquisadores têm posto em dúvida a validade de A. afarensis como um ancestral humano.19 A inversão na robustez que ocorre com a inclusão de H. erectus na ―linhagem‖ é outro fator que é inconsistente com a hipótese evolucionista atual quanto aos homínidas. Textos sobre Criacionismo Conclusão Que nos diz o ―livro da Natureza‖? Todas as hipóteses evolucionistas dos homínidas têm sido demonstradas falsas. Para sermos justos, isto não elimina a teoria evolucionista (novos espécimes podem ser descobertos para resolver os conflitos); portanto, não é apropriado anunciar ao mundo que ―A evolução foi refutada‖ na base da incongruência das hipóteses atuais. Se todas as hipóteses evolucionistas dos homínidas foram demonstradas falsas, como é que se interpreta o material fóssil? Comentários de Wood ilustram o que pode ser percebido como uma mistura de características: ―Ao passo que H. habilis sensu stricto [no sentido estrito] é homínido com respeito à boca e mandíbulas, ele retém um esqueleto póscraniano [corpo] essencialmente australopitecino. Homo rudolfensis, por outro lado, aparentemente combina um esqueleto póscraniano [corpo] com a face e dentição que são análogas às dos australopitecinos ‗robustos‘, especialmente P. boisei.‖ Muitas características que ocorrem juntas nos australopitecinos e nos homínidos representam um mosaico de traços. Alguns cristãos interpretam estes organismos como tendo resultado da degeneração da forma humana devida à entrada do pecado. Uma outra interpretação restringe o termo humano a humanos anatomicamente modernos e atribuem o resto dos fósseis a espécies criadas não humanas. Uma interpretação mais ampla do termo humano aceitaria ao menos alguns dos fósseis como outras subespécies criadas de humanos. O que quer que estas criaturas fossem, é óbvio que há problemas com quase toda interpretação destes fósseis. Em vista dos dados disponíveis, prudência é recomendada. Com efeito, seria prematuro tirar quaisquer conclusões definitivas quanto à origem destes organismos e sua relação com o relato de Gênesis.20 Evolução e salvação Richard Rimmer Quem foi a primeira pessoa a quem Deus prometeu a salvação? Para a maior parte de cristãos que crêem na Bíblia, a resposta é bem simples. Mas se você é um cristão que crê na evolução, você se encontra num dilema. Os evolucionistas dizem que as espécies evoluíram através das épocas e que mudanças progressivas finalmente produziram o homem moderno. Se a evolução realmente ocorreu e seres humanos evoluíram de formas | 41 inferiores, houve um momento na transição entre homínidas e humanos modernos em que Deus começou a considerá-los responsáveis por suas ações? Será que Deus salvou humanos primitivos há meio milhão de anos, mas não antropóides há um milhão de anos? Exatamente em que momento eles se tornaram pessoas e deixaram de ser animais? Lembrem, Deus salva indivíduos, não grupos. Se você fosse Deus, você teria de decidir quando começar a salvar indivíduos, e não seus pais e mães. Se você é um evolucionista teísta, você coloca Deus na posição de tomar uma decisão arbitrária quanto a indivíduos. Cristo nos disse que quem quer que nEle crê pode ser salvo (João 3:16). Isto implica decisão pessoal. Além disto, nosso Deus é um Deus razoável (Isaías 1:18). Ele não pode ser arbitrário ao definir quando no processo evolucionário um ser pode ser salvo. Então há a questão de como, quando e por que o plano de salvação foi introduzido a estas criaturas em desenvolvimento. É a história de Adão e Eva, como aparece em Gênesis, uma grande mentira? Como pode esta perspectiva bíblica ser compatível com a evolução? Não foi uma questão de desenvolvimento que decidiu quando as pessoas eram aptas para serem salvas. Havia um casal de humanos que não precisava de salvação, mas que pecou ao desobedecer a Deus. Desde então foi, e é, uma questão de aceitar Cristo como nosso Salvador. Se você é cristão, por que não aceitar a opinião razoável de que Deus criou os humanos e os dotou com a capacidade de fazer escolhas morais? Não é isto mais razoável do que forçar Deus a decidir quando homínidas em evolução se tornaram moralmente responsáveis e eram bastante evoluídos para serem salvos? Há também a questão do pecado. Que relevância tem o pecado para pessoas se elas descenderam de animais inferiores e herdaram deficiências morais? Não faria isto Deus o responsável pelos nossos pecados? Não seria irrazoável para Ele pedir-nos que sejamos vencedores? Se Deus criou formas de vida inferiores (como os evolucionistas teístas pretendem), mas então deixou que evoluíssem através de milhões de anos como animais inferiores com deficiências, não poderíamos acusar Deus de nos criar pecaminosos? Richard Rimmer é um escritor independente que reside em Madison, Tennessee, E.U.A. Elaine Kennedy (Ph.D., University of Southern California) é geóloga no Geoscience Research Institute. Ela é a autora de vários artigos, entre eles ―Os Intrigantes Dinossáuros‖ (Diálogo 5:2). Seu endereço é: Geoscience Research Institute; Loma Linda University; Loma Linda, CA 92350; E.U.A. Notas e referências Para uma discussão anterior do tópico nesta revista ver David Ekkens, ―Animais e Seres Humanos: São Eles Iguais?‖ (Diálogo 6:3, págs. 5-8). 2. F. E. Grine, ―Australopithecine Taxonomy and Phylogeny: Historical Background and Recent Interpretation‖, em The Human Evolution Source Book, R. L. Ciochon e J. G. Fleagle, eds. (Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1993), págs. 198-210. Também, I. Tattersall, The Human Odyssey (New York: Prentice-Hall, 1993), pág. 191. 3. Informação sobre os australopitecinos e homínidos foi obtida das fontes seguintes: Tattersall, pág. 191; M. H. Nitecki e D. V. Nitecki, Origins of Anatomically Modern Humans (New York: Plenum Press, 1994), pág. 341; M. L. Lubenow, Bones of Contention (Grand Rapids, Mich.: Baker Books, 1987), pág. 295. 4. R. L. Susman, J. T. Stern, Jr. e W. L. Jungers, ―Arboreality and Bipedality in the Hadar Hominids‖, Folia Primatologica, 43 (1984), págs. 113-156. 5. J. T. Robinson, ―The Origin and Adaptive Radiation of the Australopithecines‖, em Evolution and Hominization, G. Kurth, ed. (Stuttgart: Verlag, 1962), págs. 150-175. 6. B. Wood, ―Origin and Evolution of the Genus Homo‖, Nature, 355 (1992), págs. 783-790. 7. Ibidem. 8. Grine, págs. 198-210. 9. R. H. Brady, ―Parsimony, Hierarchy and Biological Implications‖, em Advances in Cladistics, vol. 2, Platnick e Funk, eds. (New York: Columbia University Press, 1983), págs. 49-60. 10. R. R. Skelton, H. M. McHenry e G. M. Drawhorn, ―Phylogenetic Analysis of Early Hominids‖, Current Anthropology, 27 (1986), págs. 21-35. 11. M. Hasegawa, H. Kishino e T. Yano, ―Dating of the Human-Ape Splitting by a Molecular Clock of Mitochondrial DNA‖, Journal of Molecular Evolution, 22 (1985), págs. 160- 174. 12. Ver A. Gibbons, ―When It Comes to Evolution, Humans Are in the Slow Class‖, Science, 267 (1995), págs. 1907-1908. 13. Wood, B. 1992. Reimpresso em The Human Evolution Source Book, R. L. Ciochon e J. L. Fleagle, eds. (Englewood Cliffs, New Jersey: Prentice-Hall, 1993), págs. 319-331. Textos sobre Criacionismo 1. 42 | Textos sobre Criacionismo 14. H. M. McHenry, Tempo and Mode in human evolution: Proceedings of the National Academy of Sciences, 91 (1994), págs. 6780- 6786. 15. Ver I. Tattersall, The Human Odyssey. 16. A inclusão de H. erectus na ―linhagem‖ homínida representa uma inversão na robustez dos crânios, da forma grácil de A. afarensis à estrutura robusta do crânio de H. erectus e de volta à estrutura grácil do crânio de humanos. 17. T. White, G. Suwa e B. Asfaw, ―Australopithecus ramidus, A New Species of Early Hominid from Aramis, Ethiopia‖, Nature, 371 (1994), págs. 306-312. B. Wood, ―Origin and Evolution of the Genus Homo‖, Nature, 355 (1992), págs. 783-790. F. E. Grine, ―Australopithecine Taxonomy and Phylogeny: Historical Background and Recent Interpretation‖, em The Human Evolution Source Book, págs. 319-331, 198- 210. Ver também Tattersall, pág. 151. 18. Skelton, McHenry e Drawhorn, págs. 21-35. 19. Ibidem. 20. Desejo expressar minha apreciação ao Dr. Lee Spencer e à equipe do Geoscience Research Institute por seu conselho durante as etapas finais deste artigo. | 43 Artigo 10 Quando a crosta da Terra explode M. Elaine Kennedy Você mora na Califórnia e se orgulha de seu belo lar. De lá se tem uma vista das águas azuis do Oceano Pacífico. Numa tarde ensolarada, você está sentado em sua cadeira favorita na varanda, observando as ondas espumosas batendo ritmicamente, ora com gentileza, ora com estrondo. O rádio toca sua música preferida e a vida parece calma, plácida e aprazível. Subitamente, a transmissão é interrompida. Um sistema de aviso de emergência entra em operação. Uma possível erupção vulcânica, acompanhada por um terremoto na borda do oceano parece iminente, e pede-se que você e seus vizinhos se transfiram para um lugar mais seguro. Ficção? Não mais. O soar de atividade vulcânica e sísmica é sentido em volta do cinturão do Oceano Pacífico. Vulcanologistas, com o auxílio da moderna tecnologia, são capazes de vigiar vulcões adormecidos e ativos na borda do Pacífico, identificar indicadores de atividade maior que possa levar a erupções e alertar em tempo as comunidades que vivem ao longo da costa do Pacífico. Uma compreensão melhor dos processos abaixo da superfície podem também aumentar a capacidade de previsão dos vulcanologistas. Mas compreender estes processos não responde à crucial pergunta humana: ―Por que isso acontece?‖ São necessárias outras fontes de informação para ajudar-nos a lidar com o problema. A resposta permanece especulativa, mas alguma informação básica sobre os processos que produzem parte da rocha em fusão no interior da Terra pode ajudar. Visto que há um cinturão vulcânico em volta do Pacífico, este artigo começará por um estudo daquela região. Ao longo das margens do Pacífico há trincheiras profundas. O chão do Oceano Pacífico afunda nestas trincheiras e desliza debaixo das rochas que formam a crosta continental. Este processo é conhecido como subdução,1 e os vulcanologistas sugerem que este processo de subdução produz o material básico para a maior parte do vulcanismo que circunda o Oceano Pacífico, daí a frase ―Círculo de Fogo‖. A placa oceânica subdutora arrasta água do mar e algum material da crosta. Quanto mais para o fundo esse material é arrastado, tanto mais altas as temperaturas e pressões em volta das rochas. Finalmente, os gases produzidos pela água do mar e o material da crosta provocam a fusão da placa que afundou e do manto superior. 2 A rocha fundida ou magma começa então a subir através da crosta continental, gerando novas fraturas e falhas e incorporando material adicional da crosta à medida que desliza.3 Quando as rochas da crosta se derretem, alguns tipos de rocha se decompõem quimicamente e liberam gases como dióxido de carbono e dióxido de enxofre. O magma que sobe pode misturarse com magmas de outras fontes, que também produzem gases. Os gases aumentam a pressão dentro do magma e diminuem sua densidade, o que ajuda no movimento ascendente das rochas fundidas através das falhas.4 Contudo, rocha derretida movendo-se ao longo de fraturas não indica que um vulcão está para explodir. Os vulcanologistas buscam indicadores específicos de atividade vulcânica iminente. Precursores de uma erupção Os dados sobre vulcões são coletados em todo o mundo porque os cientistas querem saber quando a próxima erupção vai ocorrer. Uma informação que parece muito útil inclui atividade sísmica (terremotos) e os tipos de gases que são emitidos. Gases comuns liberados por rachaduras vulcânicas e crateras incluem dióxido de enxofre, monóxido de carbono, dióxido de carbono, sulfureto de hidrogênio e vapor de água.5 A atividade sísmica aumenta dramaticamente antes de uma erupção. Essa atividade é por volta de 4 graus ou menos na escala Richter; todavia, terremotos de maior intensidade podem ocorrer com bastante barulho, liqüefação, etc. 6 À medida que as pressões sobem dentro do magma por causa da incorporação de gases das rochas das costas adjacentes, a probabilidade de que haverá uma erupção aumenta.7 A erupção A erupcão ocorre quando a pressão no magma excede a pressão exercida pelo peso das rochas superiores. Fortes estrondos e terremotos freqüentemente precedem e acompanham a ejeção de lava, rochas incandescentes, gases e cinza.8 Quando ocorre uma erupção, muitas pessoas estão interessadas não somente no que aconteceu mas também perguntam: ―Por que isso aconteceu?‖ Textos sobre Criacionismo O círculo de fogo 44 | Perspectiva cristã Dentro de comunidades religiosas, terremotos e erupções vulcânicas têm despertado interesse visto que eles têm sido considerados como ―atos de Deus‖. Alguns pensam que, no passado, as pessoas atribuíam a atividade de vulcões e terremotos a Deus ou a maus espíritos por ignorância, mas o Livro de Jó deixa claro que tanto Satanás como Deus operam nos domínios da natureza (Jó 1:6-12). Agora que se sabe mais acerca dos processos envolvidos em erupções, as pessoas não mais consideram tal atividade como uma intervenção divina ou mística. A comunidade cristã reconhece a dificuldade de saber como e quando Deus poderia usar processos naturais em Seu desígnio (ver Mateus 21:18-22; Lucas 13:4, 5). Pensar que sabemos como algo funciona não significa que Deus não esteja envolvido no momento do evento ou processo. O conceito é difícil, já que não conhecemos a mente de Deus. Não sabemos se alguns ou todos os eventos incluem a intervenção divina ou se a maioria é apenas um processo que ocorre ao acaso em nosso mundo. O fato de não termos conhecimento deste tópico deve levar-nos a ser cautelosos com nossos comentários sobre acontecimentos e juízos do fim do mundo (ver Marcos 13:8; Lucas 21:9-11, 25-28). Vulcanismo durante o dilúvio de Gênesis Há outro aspecto do vulcanismo que devia ser considerado sob o ponto de vista bíblico, cristão. As rochas continentais e oceânicas contêm evidências de vulcanismo. Os adventistas do sétimo dia crêem que a maior parte desta evidência está relacionada com o dilúvio de Gênesis. A inclusão do vulcanismo no fenômeno do dilúvio aumenta a complexidade e devastação daquele evento. (Ver pág. 15). Fluxos extensos de basalto tais como nos trapes da Sibéria, do Decan na Índia, os basaltos do Paraná, no Brasil, e os basaltos do Rio Colúmbia no noroeste dos Estados Unidos, podem ter começado durante o dilúvio de Gênesis ou perto do seu fim. Além disso, extensas camadas de cinza vulcânica se acham entremeadas em camadas de rochas da crosta terrestre. Durante as discussões sobre o dilúvio bíblico, os cristãos comentam sobre o poder destruidor das águas do dilúvio, mas raramente fazem referência à devastação relacionada com vulcões e terremotos que acompanharam o acontecimento. À medida que os cientistas cristãos continuam a estudar as evidências geológicas, percebem cada vez mais as complexidades do dilúvio de Gênesis. Textos sobre Criacionismo Conclusão Realmente, muito pouco se sabe dos processos profundos que contribuem para o vulcanismo. A maior parte das teorias desenvolve-se a partir de medidas de superfície. Ao tentar estudar estes processos, os vulcanologistas esperam poder explicar por que ocorrem as erupções. Dentro da comunidade cristã, há o reconhecimento de um poder além dos processos físicos e químicos observados na natureza. A interpretação bíblica de vulcões, terremotos e dilúvios como juízos faz com que os cristãos questionem a natureza aleatória dos acontecimentos. Muitos cristãos consideram a maioria dos desastres naturais como acontecimentos aleatórios, parte de um mundo pecaminoso. A perspectiva bíblica liga esses acontecimentos com o fim do mundo, e sua ocorrência devia fortalecer nossa fé na segunda vinda de Jesus. Um aumento súbito e notável na fre-qüência de calamidades naturais é predito para o período justamente antes da volta de Cristo. Embora amigos e parentes possam perecer durante esses desastres, os cristão têm fé no amor imperecível do Pai por Seus filhos. Esses processos nos fazem lembrar da grandeza do poder de Deus e de Sua capacidade para controlar as forças da natureza. Ellen G. White escreve sobre vulcanismo e terremotos Ellen White fez vários comentários sobre atividade vulcânica e terremotos.* Uma das declarações mais completas, incluída num livro publicado em 1890, é esta: ―Nesse tempo imensas florestas foram sepultadas. Estas foram depois transformadas em carvão, formando as extensas camadas carboníferas que hoje existem, e também fornecendo grande quantidade de óleo. O carvão e o óleo freqüentemente se acendem e queimam debaixo da superfície da Terra. Assim as rochas são aquecidas, queimada a pedra de cal, e derretido o minério de ferro. A ação da água sobre a cal aumenta a fúria do intenso calor, e determina os terremotos, vulcões e violentas erupções. Vindo o fogo e a água em contato com as camadas de pedra e minério, há violentas explosões subterrâneas, as quais repercutem como soturnos trovões. O ar se acha quente e sufocante. Seguem-se erupções vulcânicas; e, deixando estas muitas vezes de dar vazão suficiente aos elementos aquecidos, a própria terra é agitada, o terreno se ergue e dilata-se como as ondas do mar, aparecem grandes fendas, e algumas vezes cidades, vilas e montanhas a arder são tragadas. Estas assombrosas manifestações serão mais e mais freqüentes e terríveis precisamente antes da segunda vinda de Cristo e do fim do mundo, como sinais de sua imediata destruição‖ (Patriarcas e Profetas [Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1995], págs. 108, 109). A descrição de Ellen White dos processos que contribuem para o vulcanismo são muito semelhantes às idéias publicadas por geólogos de seu tempo. Isso explica por que a linguagem usada é mais descritiva que científica. Um século atrás, a teoria das placas tectônicas não tinha sido desenvolvida e os círculos geológicos enfocavam apenas o processo da erupção. Quatro aspectos destas descrições são discutidos abaixo: 1. ―O carvão e o óleo freqüentemente se acendem e queimam... [é] queimada a pedra de cal‖. A frase ―se acendem e queimam‖ pode ser uma tentativa de descrever a incorporação de carvão e óleo à rocha em fusão que sobe pela crosta. Este processo ocorre continuamente à medida que o magma sobe dentro da crosta continental. Noutra referência,* White nota que os vulcões não se acham tipicamente perto dos principais depósitos de carvão, óleo e gás. Esta declaração pode indicar sua percepção de que não é a queima do carvão que funde as rochas adjacentes, mas ao contrário, que a rocha em fusão é que inflama o carvão e o óleo. Contudo, ela apóia a idéia de que o carvão e o óleo contribuem para o vulcanismo de algum modo. Ela não especifica o processo que ―inflama‖ o carvão e o óleo, portanto a frase ―assim as rochas são aquecidas‖ pode não referir-se ao carvão e ao óleo que ardem, mas ao processo responsável pela queima, ou seja, o magma que sobe (um conceito desconhecido na época). É interessante notar que ela se refere à cal como queimando e ao minério de ferro como derretendo, indicando de novo a decomposição do calcáreo em seus vários elementos. 2. ―A ação da água sobre a cal aumenta a fúria do intenso calor, e determina os terremotos, vulcões e violentas erupções. Vindo o fogo e a água em contato com as camadas de pedra e minério,...‖ Em linguagem não científica a autora descreve a importância dos gases dentro da câmara de magma com relação ao processo de erupção. Carvão e óleo produzem primariamente carbono, enxofre e hidrogênio, ao entrarem em contato com as rochas fundidas que sobem. A água está presente como gás e a cal é a fonte de íons de carbonato (CO3=) que se recombinam para formar uma variedade de gases. Estes componentes formam os gases constatados pelos vulcanologistas de hoje. 3. ―A própria terra é agitada...‖ Aqueles que estavam perto do Monte St. Helens em 18 de maio de 1980 e viveram para contar a história, falaram aos repórteres sobre o ―ar quente e sufocante‖, bem como sobre as explosões. A atividade sísmica é freqüentemente associada com erupções vulcânicas devido às pressões crescentes sob a superfície, as quais geram algumas das ―violentas explosões subterrâneas‖, bem como ondas de superfície. 4. Aparecem grandes fendas, e algumas vezes cidades, vilas e montanhas a arder são tragadas‖. A frase ―aparecem grandes fendas‖ parece sugerir que as fendas tragariam cidades, etc. Embora seja verdade que grandes regiões são afetadas, a destruição é devida à lava e cinza que rompem através de novas fissuras, e assim vilas podem ser ―tragadas‖ pelo rio de lava. Esta leitura da passagem é mais consistente com a frase inicial ―seguem-se erupções vulcânicas...‖ e pode-se compreender neste contexto que os terremotos geram as fissuras que podem formar fendas que permitem escapar lava adicional e cinza. O freqüente relato de atividade vulcânica e de terremotos no noticiário não inclui uma perspectiva cristã. Ellen White menciona vulcões e terremotos como lembretes poderosos de que a destruição catastrófica é uma parte muito real de nosso mundo e que este mundo pode chegar rapidamente ao fim. White também nos assegura de que há um contexto maior e, como é típico em seus escritos, é sua sentença final neste parágrafo que aponta para a segunda vinda de Jesus Cristo. * Uma lista de fontes adicionais para estes comentários pode ser obtida com a autora no Geoscience Research Institute, Loma Linda University; Loma Linda, Califórnia 92350; E.U.A. Fax: 909-558-4314. E-mail: [email protected] ou tendo acesso a EGW database pela Loma Linda University na Internet. Textos sobre Criacionismo | 45 46 | M. Elaine Kennedy (Ph.D., University of Southern California) é geóloga e cientista-assistente no Geoscience Research Institute. Seu endereço: Geoscience Research Institute; Loma Linda, Califórnia 92350; E.U.A. Diálogo publicou outros artigos da Dra. Kennedy: ―Deus e a Geologia na Escola de Pós-Graduação‖ (3:3, ―Os Intrigantes Dinossauros‖ (5:2) e ―A Busca dos Antepassados de Adão‖ (8:1). Artigos sobre assuntos relacionados, já publicados nesta revista: Harold G. Coffin, ―Carvão: Como Se Originou‖? (6:1); William H. Shea, ―O Dilúvio: apenas uma catástrofe local?‖ (9:1). Notas e referências Textos sobre Criacionismo 1. Ver E. J. Tarbuck e F. K. Lutgens, The Earth: An Introduction to Physical Geology (Columbus, Ohio: Marrill Publishing Company, 1987), págs. 481-496. Também, J. Ruiz, C. Freydier, T. McCandless e R. Bouse, ―Isotopic Evidence of Evolving Crust and Mantle Contributions for Base Metal Metallogenesis in Convergent Margins‖, Geologic Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A357. 2. Ver E. Hegner e T. W. Vennemann, ―Role of Fluids in the Origin of Tertiary European Intra Plate Volcanism: Evidence from O, H, and Sr Isotopes in Mililitites‖, Geology 25 (1997): 1035-1038. Também V. E. Camp e M. J. Roobol, ―New Geologic Maps Describing a Portion of the Arabian Continental Alkali Basalt Province, Kingdom of Saudi Arabia‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 23 (1991): 451; G. L. Hart, E. H. Christiansen, M. G. Best e J. R. Bowman, ―Oxygen Isotope Investigation of the Indian Peak Volcanic Field, Southern Utah-Nevada: Magma Source Constraints for a Late Oligocene Caldera System‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A87; e S. A. Nelson, ―Spatial and Geochemical Characteristics of Basaltic to Andesitic Magmas in the Mexican Volcanic Belt‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A88. 3. W. A. Duffield e J. Ruiz, ―Contaminated Caps on Large Reservoirs of Silicic Magma‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 23 (1991): 397. 4. V. C. Krass, ―Magma Mixing as a Source for Pinatubo Sulfur‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A64. 5. R. S. Harmon e K. Johnson, ―H-Isotope Systematics at Augustine Volcano, Alaska‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A164. Também J. Dixon e D. Clague, ―Evolving Volcanoes and Degassing Styles in Hawaii‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A191. 6. W. G. Cordey, ed., ―Volcanoes and Earthquakes‖, Geology Today 11 (1995): 233-237. 7. G. B. Arehart, N. C, Sturchio, T. Fischer e S. N. Williams, ―Chemical and Isotopic Composition of Fumaroles, Volcan Galeras, Colombia‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 25 (1993): A326. 8. Cordey, págs. 236-239. Também R. B. Smith, C. M. Meertens, A. R. Lowry, R. Palmer e N. M. Ribe, ―The Yellowstone Hotspot: Evolution and Its Topographic Deformation, and Earthquake Signature‖, Geological Society of America, Abstracts With Programs 29 (1997): A166. | 47 Artigo 11 A migração de pássaros: outra evidência de desígnio divino Kyu Bong Lee ―Até a cegonha do céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, a andorinha, e o grou observam o tempo de sua arribação.‖ – Jeremias 8:7 O outono está chegando ao fim. Os ventos do Ártico sopram levemente para o sul, anunciando que o inverno não está longe. Logo as terras boreais congelarão, cobertas de neve. Subitamente você ouve um ruído no céu. Olha para cima e vê um bando de pássaros voando para o sul, fugindo das temperaturas gélidas e procurando terras mais quentes. Revoadas e bandos de pássaros continuam sua viagem por milhares de quilômetros. Vem a primavera e o inverso ocorre; os pássaros voam rumo ao norte para se reproduzir e criar seus filhotes. A migração é anual e rítmica, revelando umas das grandes maravilhas do mundo natural. Como se explicam tais migrações? Por que os pássaros migram afinal? Como sabem eles quando é tempo de começar a longa viagem? O que guia sua rota de vôo e direção? Como sabem eles seu destino, e como se preparam para a viagem?1 Essas e outras questões têm ocupado as pesquisas científicas durante anos. Algumas delas têm obtido respostas claras; outras ainda estão sendo estudadas. Para um cientista comprometido com a cosmovisão cristã, a migração de pássaros é outro exemplo revelador de um desígnio divino por trás de todas as maravilhas da Natureza. Dispersão de pássaros migratórios Como os pássaros navegam durante a migração Os biólogos propõem quatro teorias e sugerem que os pássaros usam uma, ou uma combinação, dessas hipóteses em sua navegação de longas distâncias. Uso de marcos visuais terrestres. Essa tem sido uma teoria popular há muito tempo. Muitos pássaros parecem seguir pistas visuais tais como rios, linhas da costa e cadeias de montanhas, a fim de atingir seu correto destino. Contudo, essa idéia não explica como os pássaros evitam perder-se durante sua primeira migração. Uso do Sol. Segundo essa teoria, os pássaros, assim como as pessoas, possuem um relógio interno que lhes permite conhecer o ciclo diário de luz e escuridão. Juntamente com esse relógio interno, os pássaros parecem usar as sombras do Sol para obter uma idéia de sua localização. Mediante o uso desses dois recursos, eles seriam capazes de utilizar o Sol como bússola. Os pássaros que viajam durante o dia se orientariam pela posição do Sol. Mas em dias nublados, quando não podem absolutamente ver o Sol, como haveriam eles de voar corretamente em formação? Eles possuem um relógio interno pelo qual são governados. Talvez isso possa ser explicado como resultado da criação divina. Uso das estrelas. Por causa que muitos pássaros migram durante a noite, essas migrações noturnas parecem tê-los ensinado o uso das estrelas como guia de navegação. Eles podem Textos sobre Criacionismo Para os pássaros a migração usualmente significa uma viagem anual de ida e volta. Geralmente ela ocorre nas grandes terras do hemisfério norte, que são periodicamente cobertas de neve e do gelo do inverno. Bandos de pássaros que habitam a Eurásia e a América do Norte cruzam o Equador para passar o inverno na África ou na América do Sul. Por exemplo, uma andorinha do ártico portando etiqueta de identificação foi capturada noventa dias mais tarde na costa do sudeste da África, 14.481 km longe de sua habitação no norte. Outra andorinha voou mais de 16.090 km, desde a Groenlândia, para alcançar o sudeste da África. Ainda outra, previamente identificada com anel na costa ártica da Rússia, foi apanhada perto da Austrália, a uma impressionante distância de, pelo menos, 22.526 km. O maçarico de cauda branca fez o mesmo percurso outonal desde a costa do Canadá até a extremidade mais distal da Antártica. Entre os pássaros terrestres, as tristes-pias percorrem 11.263 km, ou mais, entre os campos de trevo do Canadá e os relvados da Argentina. A ave migratória mais famosa da Europa é a cegonha branca. Às vezes essas aves se erguem a grande altura através das colunas termais, antes de planar sobre as águas em direção à África. Alguns maçaricos têm tido sua velocidade medida em mais de 161 km por hora. E alguns pássaros migram por longas distâncias sobre a água, e voam à altura de 4.267 m. A maior altura registrada até o presente foi de 8.992 m, alcançada por gansos perto do noroeste da Índia. Textos sobre Criacionismo 48 | orientar-se em relação à Estrela Polar e diferentemente da bússola solar, essa ―bússola astral‖ não depende do tempo. Pássaros jovens parecem usar esse tipo de movimento para distinguir o Norte do Sul. Tal teoria é apoiada num experimento feito com tentilhões anilados. 2 Alguns pássaros são capazes de se utilizar das formações estelares ou da Lua para determinar em que direção precisam voar. A desvantagem de usar as estrelas para se orientar é que a Estrela Polar não pode ser vista no hemisfério sul. Surge outro problema nas noites nubladas quando as estrelas não podem ser vistas. Uso do campo magnético da Terra. Os biólogos têm duas diferentes teorias sobre como os pássaros podem usar o campo magnético da Terra para se orientar. Uma é que essas aves são dotadas de certos pigmentos em seus olhos, que se tornam levemente magnéticos ao absorverem luz, alterando assim os sinais que os olhos enviam ao cérebro. 3 A segunda e mais popular teoria provém do fato de que os cientistas descobriram minúsculos cristais de magnetita no nervo olfativo do cérebro de alguns pássaros. Os biólogos ainda não sabem como os pássaros podem sentir a posição dos cristais de magnetita em suas cabeças, e há poucos dados experimentais disponíveis sobre o assunto. (É bastante interessante que alguns pesquisadores dizem serem os humanos dotados de capacidade de igualmente perceber o campo magnético). Duas observações são dignas de nota. A primeira, com referência aos pombos-correios: ―Testes cuidadosos com pombos-correios e outros pássaros que exibem a habilidade de escolha de direção, mostram que eles são afetados pela mudança de campos magnéticos... Se forem soltos onde o campo magnético da Terra é anormalmente forte, sua habilidade de orientar-se é inteiramente interrompida... ―Próximo ao, ou essencialmente no crânio de cada pombo [os pesquisadores] localizaram uma pequena porção de tecido de 1 x 2 mm que apresentava pequeno magnetismo. Pesquisas feitas nesse tecido com um microscópio eletrônico revelaram a presença de mais de 10 milhões de cristais microscópicos, cada qual quatro vezes mais longo do que largo. Outros testes demonstraram que esses cristais eram de magnetita, um composto de ferro e oxigênio do qual são fabricadas as agulhas das bússolas.‖4 Segunda, uma pesquisa sobre imigração feita desde o norte de Wisconsin até o Amazonas: ―Como os pássaros acham o seu caminho desde um pinheiro no norte de Wisconsin até o sul, em direção ao Amazonas, e novamente retornam, ainda não é bem compreendido pela ciência. Mas meio século de pesquisa está derramando alguma luz sobre essa proeza surpreendente. ―Os pássaros podem rastear o Sol, a Lua e as estrelas usando o seu movimento aparente como bússola. Os pássaros também se utilizam de outros sentidos. Eles podem detectar campos magnéticos fracos através dos cristais microscópicos de magnetita em suas cabeças. Eles seguem odores leves, como um salmão ao retornar do oceano para seu rio de nascença. Eles podem ver luz polarizada e usam a pressão barométrica. Juntamente com sua memória e o impulso genético para se encaminhar em certa direção, os pássaros valem-se de uma combinação desses sentidos para cruzar os continentes e os oceanos‖.5 Recentemente foi descoberto que as borboletas monarca têm uma bússola magnética interna que lhes permite fazer sua viagem de inverno sem a guia da luz solar.6 Como se mencionou nos parágrafos acima, ficou provado que alguns peixes e borboletas também usam seus sentidos de detecção magnética. (Ver o quadro ―Migração do Salmão‖). Migração do salmão: Usando o sentido magnético? Um dos mistérios da Natureza é como o salmão consegue navegar nos oceanos e voltar para se reproduzir nos mesmos rios dos quais vieram. É sabido que o cheiro ou o sabor de um rio determinado desempenha seu papel. O salmão pode orientar-se pelo cheiro de ―seu‖ rio se estiver suficientemente próximo de sua embocadura, de modo que a água não se tenha diluído a ponto de tornar impossível a identificação. Mas como pode o odor desempenhar sua parte quando os peixes migram milhares de quilômetros e atravessam correntes oceânicas que destróem todo possível traço que poderia levá-los de volta? De qualquer modo, sabe-se que o salmão não segue pistas tortuosas de volta para casa, a fim de satisfazer o instinto de reprodução, mas viaja diretamente para seu território reprodutivo quando atinge a maturidade sexual... | 49 O que os orienta na direção certa? Provavelmente haja mais de um mecanismo que o peixe usa para achar seu caminho. Uma ―marca‖ olfativa é feita sobre o jovem salmão em sua primeira saída para o mar, ao deixar ele seu rio nativo. Isso lhe permite identificá-lo ao se aproximar mais tarde, vindo do oceano. Mas ao chegar perto da corrente da embocadura, vindo do mar aberto, pelo menos uma outra marca precisa ser feita a fim de poder chegar à área geral. Foi demonstrado que alguns peixes percebem de modo notável o azimute solar e a sua altura, e que eles são mais sensíveis à hora do dia. Sob condições ideais, isso permitiria determinar o norte geográfico. Mas numa região onde céu encoberto predomina (como é o caso do Pacífico Norte e do Mar de Bering), e porque os peixes nadam à noite e movem-se em águas mais profundas durante o dia, as pistas celestes nem sempre estão disponíveis. Por conseguinte, outro meio de corrigir a navegação seja provavelmente usado. Suspeita-se fortemente que a capacidade de sentir o campo magnético da Terra possa prover o método adicional... Extrapolando esses achados no processo de migração, a conjetura é que, depois que um filhote do salmão cresceu até o estágio de smolt (quando de sua primeira arribada ao mar) e entra nas águas salgadas, ocorrem mudanças químicas e hormoniais que deixam marcas sobre o sistema nervoso dos peixes, uma ―memória‖ da latitude e longitude magnéticas do momento em que entraram no oceano. Parece haver dois modos possíveis pelos quais o campo magnético pode influenciar o sistema nervoso de um peixe. O primeiro é que o mineral ferromagnético — magnetita — no cérebro da criatura pode funcionar como uma bússola biológica, acertada no momento de entrada no oceano (a magnetita é encontrada no espectro biológico dos seres, desde bactérias até golfinhos). A informação retida compõe-se de dados verticais e horizontais do campo magnético da Terra naquele ponto, e da inclinação do componente horizontal, que é a diferença entre o norte magnético e o verdadeiro norte, presumivelmente determinada pelo Sol. Esses fatores em conjunto provêm a combinação que é única para qualquer localidade geográfica. 7 —LARRY GEDNEY A despeito de todas as teorias e experimentos ligados com a migração de pássaros, há muito ainda que não é bem compreendido, como o fato de os pássaros determinarem sua posição em relação a um alvo fixo. O fato é que eles continuam a migrar segundo um modelo cíclico e previsível através dos séculos. O que faz os pássaros migrarem? Quando é que a prática da migração começou? Alguns cientistas sugerem que as camadas de gelo durante a Era Glacial poderiam ser originalmente responsáveis. Essa idéia parece plausível, mas não explica a migração em muitas partes do mundo que nunca foram tocadas pelas glaciações. Conseqüentemente, a maioria dos ornitologistas hoje rejeita essa teoria como a causa básica da migração. Não há dúvida de que os pássaros que surgiram em climas quentes espalharam-se à procura de alimento. A maioria dos cientistas criacionistas têm defendido que a Era Glacial existiu por algumas centenas de anos em algumas áreas depois do Dilúvio de Noé, por causa da mudança do clima. Depois do Dilúvio, muitos pássaros acharam alimento em abundância nas latitudes mais elevadas, mas foram forçados a emigrar com a chegada do inverno. O que os estimula a empreender sua migração aproximadamente ao mesmo tempo cada ano? Seria porventura um relógio interno ou quem sabe estímulos externos? De um ponto de vista fisiológico, sabemos que as glândulas endócrinas — os controles que fazem os machos cantar e as fêmeas pôr ovos — sofrem grandes mudanças antes da época de nidificação. Outras mudanças ocorrem depois dessa época. Muitos pássaros migram nesse período. Embora os cientistas evolucionistas possam ter suas opiniões, nós, como cientistas cristãos, podemos atribuir todos esses mistérios magnéticos ao desígnio de Deus, do mesmo modo que fazemos com muitas outras espécies de migração dos animais. Deus fez os pássaros para se adaptarem a mudanças em seu ambiente. Por que os pássaros precisam de energia extraordinária para viajar longas distâncias, esses migrantes têm a capacidade de armazenar um vasto suprimento de combustível em forma de gordura, algumas vezes dobrando de peso. Além disso, a maior maravilha da migração é a maneira como os pássaros acham o caminho — sua habilidade de navegação. Certamente, pode-se ver um desígnio sobrenatural em tudo isso! Conclusão Textos sobre Criacionismo O que faz os pássaros migrarem? 50 | A navegação é a parte da migração que mais tem intrigado os cientistas. Como podem os pássaros achar seu caminho com aparente facilidade nas vastas distâncias permanece um enigma migratório não resolvido. Assim eles podem seguir seus invisíveis caminhos com tanta precisão que os cientistas de tempos em tempos têm suspeitado que os pássaros possuem um sentido especial que nos é desconhecido. Pensou-se outrora que eles possuíssem um sentido cinestésico pelo qual podiam reconhecer sua rota através de pressões exercidas sobre seu ouvido interno. Outra idéia era que os pássaros navegavam em resposta ao campo magnético da Terra, talvez mesmo aos seus efeitos rotatórios. Nenhuma dessas hipóteses têm, contudo, resistido a testes experimentais. A Bíblia, entretanto, nos convida a estudar as maravilhas da Natureza e ver nelas evidências da mão de um sábio Criador: ―Pergunta agora às alimárias, e cada uma delas te ensinará; e às aves dos céus, e elas to farão saber.‖ ―Olhai para as aves do céu...e vosso Pai celestial as alimenta‖(Jó 12:7, 8; Mateus 6:26). Assim, o que podemos aprender observando ou estudando a migração dos pássaros? Primeiramente, que nem todos os pássaros migram. Portanto, migração não é a lei de todos os pássaros voadores. Em segundo lugar, eles seguem mais ou menos as mesmas rotas de migração. Essa seleção não pode ocorrer por acaso. Terceiro, antes do pecado não havia migração porque no mundo de antes da Queda não havia clima rigoroso exigindo que arribassem. Considere a migração e sua relação com o campo magnético e gravitacional da Terra. O campo magnético muda de acordo com a latitude da Terra e a altura. A força da gravidade também muda segundo a latitude, embora usualmente digamos, ―a gravidade é constante.‖ Deus criou a Terra, populou-a com todas as espécies de criaturas e determinou que cada uma delas se adaptasse às suas circunstâncias. Também o Sol emite luz e radiações eletromagnéticas para todas as criaturas. Essas podem ser afetadas pela energia total, embora não o sintam. Deus determinou que os pássaros fizessem bom uso de sua variação mínima de energia e também lhes deu capacidades para detectar mesmo os menores montantes de gravidade e variações no campo magnético, por modos que nos são desconhecidos, e para orientá-los em seu rumo. Na medida em que isso acontece, a migração revela o desígnio inteligente de Deus e Sua benevolente providência. Lições de providência e confiança Textos sobre Criacionismo ―A andorinha e o grou observam as mudanças das estações. Emigram de um país a outro para encontrar um clima apropriado à sua comodidade e felicidade, conforme designou o Senhor que fizessem.‖8 ―Os pássaros são ensinadores da suave lição da confiança. Nosso Pai celestial lhes provê alimento; mas devem eles recolhê-lo, construir o ninho e criar a prole. A cada instante se acham expostos a inimigos que procuram destruí-los. Entretanto, quão animosamente prosseguem com seu trabalho! Quão repletos de alegria são seus pequenos hinos‖!9 — ELLEN G. WHITE Kyu Bong Lee (D.Sc. pela Sungjun University) leciona física na Escola de Ciências Naturais, na Sahmyook University, Seoul, Coréia. E-mail: [email protected] Notas e referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Ver Peter Berthold, Bird Migration: A General Survey (Oxford University Press, 1993); Peter Berthold, Control of Bird Migration (London: Chapman and Hall, 1996). Ver www.channelone.com/ns/news/96/12/ 96/1205/story1.html; Como os pássaros migram, About Hummingbirds-users.vnet.net/joecool/hummer.fact.html Stephen Day, ―Migration‖, New Scientist 135 (12 de Setembro de 1992). T. Neil Davis, ―Magnetic Navigation by Birds‖, Alaska Science Forum, Artigo nº 345 (28 de setembro de 1979). Steve Tomasko, ―Mystery of Bird Migration: How They Get Here from There‖, em Science Café, Columns (4 de abril de 2000). Orley Taylor, Jr., Mornarchs’ Migration. E-mail: [email protected] Larry Gedney, ―Do Salmon Navigate by the Earth’s Magnetic Field‖? Alaska Science Forum, Artigo nº 691 (23 de novembro de 1984). Ellen G. White, Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1975), pág. 170. Ellen G. White, Educação (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1977), págs. 117 e 118. | 51 Artigo 12 De homo sapiens a homo videns No princípio era o Verbo‖, diz o evangelho de João. Ninguém teria de dizer que ―no princípio era a imagem‖. — Giovanni Sartori.1 A Bíblia não tem dificuldade em definir o ser humano: ―Na imagem de Deus ele os criou‖ (Gênesis 1:27). Mas os cientistas têm cunhado frases e construído taxonomias a fim de definir quem e o que os humanos são. Em 1758, Carl von Linneus (1707-1778), um botânico sueco, introduziu o ―sistema da natureza humana‖ que estabeleceu a classificação das espécies assumindo uma suposta linha evolucionista. Ele catalogou a espécie Homo (humano) como um ramo dos Homínidas, criaturas de duas pernas. Daí a procura começou de nossos supostos ancestrais, incluindo o homo habilis (o homem hábil), homo erectus, e finalmente homo sapiens. Os evolucionistas afirmam que o último continuou a evoluir nas várias espécies de homens e mulheres contemporâneos. E agora vem o homo videns, uma descoberta do sociólogo italiano, Giovanni Sartori. Seu livro, Homo Videns: Teledirected Society, tem sido um ―best-seller‖ na América Latina, e sua versão italiana esgotou em poucos meses. A tese de Sartori, embora baseada numa duvidosa cosmovisão, merece nossa atenção. Ele argumenta que a evolução voltou atrás desde a década de 1950, visto que o homo sapiens está sendo destronado pelo homo videns. O primeiro é caracterizado por um cérebro grande, a habilidade de andar perfeitamente sobre dois pés e trabalhar habilmente com as mãos, o uso da linguagem, o desenvolvimento fantástico da cultura e outros aspectos descritos por antropólogos. Sartori concorda com o filósofo Ernst Cassirer (1874-1945) ao afirmar que os humanos são essencialmente caracterizados por sua atividade simbolizante, ―a habilidade de comunicar por meio de sons articulados e sinais significativos‖. 2 Disso pode ser deduzido que o pensar e o saber do humano ―como um ser simbolizante são construídos em linguagem e através da linguagem.‖ 3 Assim é que a linguagem falada e escrita são não apenas a base da cultura mas também a essência mesmo do homo sapiens. Com o aparecimento da televisão em meiados do século e o estabelecimento da indústria da televisão, Sartori afirma, o desenvolvimento humano foi interrompido e revertido, pois a imagem percebida começou a substituir o pensamento abstrato. Este processo de involução foi acentuado com o aparecimento da cibernética por volta de 1980 e com o aparecimento do computador e a tecnologia multimídia. A TV nos permite ver à distância coisas que são reais, mas o PC mostranos uma realidade virtual ou simulada. Com a prevalência da visão, a criatura simbolizante tornase a criatura vidente. Sartori declara que não procura atacar a TV como meio de comunicação (embora ele enfatize todas as suas fraquezas) ou o computador como um instrumento eficiente para armazenar e recuperar informação. Sua preocupação é com nossa dependência deles, que se desenvolve quando a cultura de livros é negligenciada. Ele argumenta que a televisão empobrece e nos faz ―mais crédulos e ingênuos‖4 e inativos. Também atrofia o dom da abstração e compreensão de problemas, ao estimular o pensamento concreto ligado à imagem na tela. Imagens e conceitos Um exemplo que ilustra isso é a classificação de palavras em categorias como denotação e conotação. A primeira categoria inclui palavras que referem a coisas observáveis tais como livro, mesa, casa, cão, árvore, etc., — palavras que denotam ou apontam para objetos específicos ou fatos dos quais temos uma imagem mental ou representação. Elas são a base para o pensamento concreto. Outras palavras referem a idéias, tais como nação, soberania, liberdade, justiça, etc. Estas palavras não são ―visíveis‖, antes são conceitos ligados a processos mentais abstratos. A linguagem abstrata é responsável pelo desenvolvimento da civilização e da ciência através dos séculos — aquilo que realmente caracteriza a espécie humana. Sartori sugere que a televisão ―produz imagens e destrói conceitos, e assim atrofia nossa capacidade para a abstração‖. 5 No cerne de seu argumento está a ―criança-vídeo‖. As estatísticas sugerem que a TV substituiu a babá e tornou-se a escola principal da criança (uma escola que diverte e é interessante em contraste com a escola maçante num prédio). Ver televisão antes de aprender a ler e escrever produz uma atitude mental negativa para o aprendizado escolar. Ademais, exposição prematura à TV produz uma fobia contra livros escolares e uma tendência de responder apenas a encenações, Textos sobre Criacionismo Mario Pereyra 52 | música estridente e o sensacional. As crianças são dominadas pelo impulso; agem antes de pensar. A TV, argumenta Sartori, ―amacia‖ o cérebro. Ao contrário, a leitura requer solitude, concentração, habilidade para discriminar, apreciação da conceptualização, e raciocínio. Homo videns ―cansa-se de ler, prefere a projeção instantânea abreviada de uma imagem sintética. Fascina-o e o seduz. Ele renuncia a elos lógicos, seqüência arrazoada e reflexão. Em contraste, ele cede ao impulso imediato, acalorado, que o envolve emocionalmente‖.6 O viciado da TV rejeita esforço persistente, ação tenaz e pesquisa — com efeito, o cultivo do pensamento e ação próprios. Pode-se pensar que estas idéias são exageradas e questionáveis. Sartori replica: Olhe para as partes do mundo onde a TV domina, e que é que vê? As baixas notas de leitura, a escassez de pensamento crítico, a dificuldade crescente que os estudantes experimentam na compreensão e composição. Raciocínio lógico sobre premissas postuladas verbalmente peca pela ausência. O pensar fica dependente das imagens recebidas. O pensamento baseado na imagem aumentou consideravelmente com a introdução do computador, da Internet e com o ―surfing‖ de ―cyberspace‖, expandindo as fileiras do homo videns. Como no caso da TV, o impacto do PC depende do uso que dele se faz. É ela instrumento, entretenimento, passatempo ou torna-se ela uma droga ou mania? Geralmente falando, gente que surfe a Internet tende para uma dependência passiva mais do que para trabalho interativo, produtivo. Precisa-se reconhecer que a Internet não só transmite uma grande massa de informação útil, mas também um grande volume de lixo e tolice. Além disso, pesquisa recente revela que ―surfing‖ a ―Internet‖ aumenta o nível de depressão e solidão.7 Textos sobre Criacionismo A cultura do espetacular Homo videns mora no mundo do espetacular, dominado pelos famosos. De Tóquio a Buenos Aires, de Moscou a Washington, de Paris a Kuwait, não importa qual seja a cultura, popularidade domina o mercado; o índice de audiência manda. Por quê é o sucesso definido quase do mesmo modo em toda parte no planeta? Como temos a impressão que a TV é a mesma em toda parte? Ao nos aproximarmos do fim do século, todo país na vila global terá convertido a sociedade numa audiência, e a população em tele-expectadores hipnotizados pela mágica do espetacular. Há audições, programas, revistas, jornais e suplementos — cada vez mais volumosos — devotados a informar acerca do espetacular e promovendo-os. Há pouco tempo esses suplementos eram publicados somente nos fins de semana. Eles contêm divertimento, eventos artísticos, filmes e os programas fascinantes de TV, as estrelas que brilham no firmamento esplêndido da popularidade. A indústria de entretenimento vende os produtos que estão na moda. O mercado de notoriedade absorve cada vez mais tempo, estruturando os valores do homo videns. A indústria do espetacular não só é onipresente, mas onipotente. Armazena, manipula, dirige tudo. A economia é dependente da mídia. Um comentário negativo de algum jornalista bem conhecido, mesmo se ele ou ela nada saibam da bolsa de valores, pode causar a queda do valor das ações e a ruína de fortes indústrias ou empresas comerciais. A política também é escrava dos índices. A mídia pode dar ampla publicidade ao escândalo, como na impugnação de Bill Clinton. Os políticos precisam agora ser bons atores de TV se quiserem ganhar votos. Mesmo o mundo da arte, o mundo intelectual e científico são sensíveis à opinião da mídia. Todo mundo quer acesso ao palco da fama. Freqüentemente se vê as faces das pessoas atrás de alguém que está sendo entrevistado na TV, com as mãos erguidas para capturar a atenção, tentando partilhar um bocado da ação na tela. Em outros tempos, as pessoas procuravam apagar-se e os vestidos eram desenhados para disfarçar a forma do corpo. Mas agora a moda realça as curvas e contornos. A lei do espetacular evidente no homo videns, rege em todos os níveis. O objetivo principal é de ser um ator, ser visto, desempenhar um papel, não importa em que arena. Carisma, loquacidade, o toque histriônico, a mágica do hipnotismo coletivo constitui a chave do sucesso. O valor principal não mais é moralidade, santidade, desinteresse, inteligência, ou arte — mas fama. Os famosos que brilham na luz da popularidade podem saborear com satisfação o mel da glória. Outrora, a gente tinha de fazer algo para o bem do público, descobrir, inventar ou escrever algo importante. Não mais se precisa de excelência, inteligência, sabedoria ou mesmo dinheiro. Basta ter uma figura atraente, seduzir, ter um impacto, exibir-se no palco da mídia. Hollywood foi a primeira a descobrir o poder econômico que se funda sobre fama, criando a indústria da celebridade. O poder fascinante da fama transforma quase tudo em algo e move | 53 fortunas. Modelos nos placardes, atores, cantores, celebridades esportivas — qualquer um na ―esfera da fama‖ — tem-se tornado o endosso da publicidade para produtos de consumo. Não importa a qualidade do produto, o povo vai comprá-lo porque Claudia Shiffer, Michael Jordan ou Bruce Willis usam-no. É por isso que os famosos são assediados. A indústria da TV, jornalistas, fotógrafos os perseguem sem dó, como no caso da Princesa Diana. Jornalistas escrevem livros sobre eles, e indústrias se levantam sobre o fundamento de sua fama. É evidente que vivemos na era de imagens que promovem a fama e o espetacular. Talvez a capacidade para abstração não tenha desaparecido totalmente, mas certamente a proliferação de telas de TV tem afetado a capacidade para reflexão. Voltando para casa depois do trabalho, milhões acham sua ocupação principal em encolher-se sobre um sofá e brincar com o controle remoto. Outros sentam-se encantados em frente da tela azul de seu monitor, e surfem seus sonhos e fantasias. Para Sartori, o perigo maior em tudo isso é que o homo videns é presa fácil para os peritos na manipulação da vontade coletiva. Carentes de pensamento abstrato e independente, frustrados em adquirir sua identidade própria, o homo videns é facilmente seduzido pela mágica da panóplia tecnológica. Nosso sociólogo italiano está particularmente alarmado pela política do vídeo, a manipulação do poder das imagens por políticos e governos. Ele nota que a televisão ―condiciona poderosamente o processo eleitoral, quer na eleição de candidatos‖ quer nas ―decisões governamentais‖ deformando o funcionamento próprio dos sistems democráticos.8 Odina e Halevi nos garantem que a fama é ―o novo padrão ouro pelo qual tudo pode ser medido,‖ reduzindo ―nossos ideais ao desejo devorador de ser iluminado, embora seja por um instante e somente pela estimulação do projetor da mídia‖.9 Certamente o advento da cultura da imagem instalou na mentalidade de hoje a hegemonia da sedução10 e da simulação.11 Eventos reais e fatos objetivos têm sido relegados a um lugar secundário. O que se tornou importante é sua representação na tela. A realidade transferiu-se do mundo real para a tela do monitor, tornando-se ―realidade virtual‖. Estamos agora na era do ―ver‖ e não do ―ser‖. A fama deriva-se deste contexto. Anda no palco das aparências. É um veículo de luxo para transportar estéticas fascinantes, mas com um vácuo moral. Relega a pessoa a um mundo de simulação cheio de falsidade — uma grande mentira. Dustin Hoffman, ao lançar um de seus filmes, afirmou ironicamente que a política e as películas são a mesma coisa, fazendo-nos crer naquilo que não é real.12 É uma miragem cintilante, um jogo de fachada, que magnifica a figura e exalta o ego ao ponto do ridículo. Aí jaz a morte das certezas, do pensamento racional e dos valores eternos do espírito. Os ansiosos procuradores de fama perderam a aspiração humana pela transcendência religiosa, porque o desejo de notoriedade não traz consigo aquela espécie de profundeza metafísica. É por isso, mais do que nunca, que precisamos redescobrir o senso de que estamos acima e além das falácias e das ―estratégias de ilusão‖13 e achar as certezas dos valores essenciais. Quais são aqueles bens que garantem a realização autêntica de nosso ser? São a coragem de forjar uma identidade pessoal baseada nos valores eternos do amor, fé, integridade e justiça. Consistem em aprender. Escutar a voz de Deus. Perceber o toque sublime do belo, o chamado misterioso para uma vida de serviço. Para fazer transbordar a corrente de energia vital, e de aceitar riscos pela alegria de viver. Desenvolver moderação, paciência, autenticidade, não ser levado pela ira. Aprender que há um lugar para ternura, para o toque humano, mesmo em coisas pequenas. Abrir o portal para o país da esperança. Erguer a bandeira de um novo ideal. E assim muitas outras realidades tangíveis da humanidade, em vez dos jogos artificiais e do esplendor fátuo do famoso que estão à disposição do homo videns. Aqueles que refletem seriamente sobre as tendências culturais contemporâneas estão erguendo suas vozes em alarme sobre o que vêem na capacidade perdida para análise, para decisões autônomas. Estão assustados com uma população sendo ―tele-dirigida‖ por charlatães extravagantes, gente que triunfa no mundo da TV, que nos levam a perder a visão dos valores mais altos da mente e do espírito. Estes estudantes da sociedade moderna nos convidam a voltar aos livros, a cultivar o hábito de ler, desenvolver o pensamento crítico, tornar-se não só refletores do conteúdo da tela, mas pensadores com mente independente. A tudo isso precisamos acrescentar outro imperativo supremo: um retorno à Palavra, às Sagradas Escrituras, que não somente encoraja o pensar, mas estabelece princípios éticos e valores transcendentais que são essenciais à vida aqui e no além. Textos sobre Criacionismo Como inverter esta involução 54 | Mario Pereyra (Ph.D., Universidade de Cordoba) é diretor do Departamento de Psicologia, River Plate Adventist University. Seu endereço postal: 25 de Mayo 99; 3103 Libertador San Martin, Entre Rios; Argentina. Endereço E-mail: [email protected] Notas e referências Textos sobre Criacionismo 1. Giovanni Sartori, Homo Videns: La sociedad teledirigida (Madrid: Santillana, S.A. Taurus, 1998), pág. 37. 2. Ibid., pág. 24. 3. Ibid. 4. Ibid., pág. 137. 5. Ibid., pág. 47. 6. Ibid., pág. 150. 7. Clarin, 9 de janeiro de 1998, pág. 43. 8. Sartori, págs. 66, 67. 9. Ver M. Odina e G. Halevi, El factor fama (Barcelona: Anagrama, 1998). 10. Ver J. Baudrillard, De la seducción (Buenos Aires: Planeta-de Agostini, 1993). 11. Ver J. Baudrillard, Cultura y simulacro (Barcelona: Planeta, 1987). 12. Odina e Halevi, pág. 67. 13. Ver Umberto Eco, Las estrategias de la ilusión (Buenos Aires: Lumen, 1987). | 55 Artigo 13 Catastrofismo? Sim! Ariel A. Roth Bem cedo, na manhã de 14 de novembro de 1963, a tripulação do navio pesqueiro Isleifur II notou um cheiro estranho de enxofre no ar, mas não lhe deu importância. Cerca de uma hora mais tarde, o barco, que navegava perto da costa da Islândia, começou a jogar de modo fora do comum. À fraca luz da aurora, a tripulação observou uma fumaça escura subindo no sul. Pensando que um navio se incendiara, foram verificar se havia alguma mensagem de S.O.S. pelo rádio, mas nada tinha sido captado. Olhando através de seus binóculos, o capitão notou colunas pretas irrompendo do mar a cerca de um quilômetro. A tripulação imediatamente suspeitou de um vulcão; afinal eles deviam saber, pois eram da Islândia, onde a atividade vulcânica é comum. O barco pesqueiro estava exatamente sobre a crista vulcânica do meio do Atlântico. Lá o fundo do oceano fica a cem metros abaixo do nível do mar, de modo que a atividade de um vulcão submarino podia ser facilmente observada da superfície do oceano. A perturbação continuou o dia todo, com pedras, relâmpagos e uma coluna de vapor, cinza e fumaça subindo a 3 km no ar. Em cinco dias, onde antes havia apenas o oceano aberto, tinha-se formado uma ilha de 600 metros de comprimento (Figura 1). A ilha, mais tarde chamada Surtsey por causa do gigante mitológico Surtur, finalmente atingiu um diâmetro de quase dois quilômetros. Surpreendentemente, quando os cientistas visitaram a ilha, esta revelava a aparência de ter estado lá por muito tempo. Dentro de cinco meses, uma praia de aparência madura e um rochedo se tinham formado (Figura 2). Um dos investigadores comentou: ―Aquilo que noutras partes pode levar milhares de anos... leva poucas semanas ou mesmo poucos dias aqui‖. Em Surtsey somente poucos meses bastaram para criar-se um panorama tão variado e maduro que era quase incrível‖.1 Normalmente, em nossa terra relativamente plácida, as mudanças não ocorrem com muita rapidez, mas ocasionalmente fenômenos como a formação de Surtsey nos lembram que podem ocorrer mudanças catastróficas e rápidas. O catastrofismo e o uniformitarianismo têm desempenhado um papel importante na interpretação da história da terra. O primeiro assume a ocorrência de fenômenos geológicos rápidos, ao passo que o segundo afirma o conceito contrário de mudanças pequenas, lentas e prolongadas. Os longos períodos requeridos para mudanças lentas e uniformes exigem que o relato bíblico de uma Criação recente seja abandonado, ao explicar a formação de camadas geológicas enormes e os fósseis que aparecem na superfície da terra. O uniformitarianismo se encaixa melhor com uma história de evolução prolongada e longas eras geológicas, ao passo que o catastrofismo se harmoniza melhor com o conceito bíblico de uma Criação recente e um subseqüente Dilúvio universal. O Dilúvio bíblico, que poderia depositar as camadas geológicas rapidamente, representa um exemplo primordial de catastrofismo. Ao longo da maior parte da história humana, o catastrofismo era uma teoria bem aceita, 2 como se vê na mitologia antiga e na antiguidade grega e romana. O interesse diminuiu durante a Idade Média, embora os árabes seguissem de perto Aristóteles, que cria em catástrofes. A Renascença testemunhou um interesse renovado. Os fósseis marinhos achados em abundância nos Alpes eram freqüentemente explicados como o resultado do Dilúvio. Os séculos 17 e 18 viram tentativas de harmonizar a ciência com o relato bíblico da Criação e do Dilúvio. Não obstante, houve alguns detratores notáveis, como René Descartes (1596-1650), que sugeriu que a Terra se formou por um processo de esfriamento. Idéias ortodoxas começaram a ser modificadas, tais como sugestões de que o Dilúvio poderia ter resultado de causas naturais e que ele podia não ter formado todas as camadas de rochas sedimentares. Na França, Georges Cuvier (1769-1832) propôs catástrofes múltiplas, e durante este período alguns estudiosos advogaram o uniformitarianismo. Ao mesmo tempo, na Inglaterra, havia um forte apoio a favor do Dilúvio bíblico por parte de autoridades como William Buckland, Adam Sedgwick, Wil- liam Conybeare e Roderick Murchison. Nesse ambiente, publicou-se um livro que teria mais influência sobre o pensamento geológico que qualquer outro. Princípios de Geologia apareceu em 1830.3 Escrito por Charles Lyell, modificou fortemente o clima do pensamento geológico do catastrofismo para as mudanças estritamente lentas do Textos sobre Criacionismo Catastrofismo e uniformitarianismo 56 | uniformitarianismo. Em meados do século 19, o uniformitarianismo tinha-se tornado a opinião dominante e o catastrofismo uma teoria em declínio. Vários esquemas tentaram reconciliar o relato bíblico de uma Criação recente com as longas eras geológicas propostas pelo uniformitarianismo. Textos sobre Criacionismo O fenômeno Bretz Em 1923, o geólogo de mentalidade independente, Harlen Bretz, descreveu uma das paisagens mais fora do comum na superfície de nosso planeta. Cobrindo uns 40 mil km quadrados na região sudeste do Estado de Washington (E.U.A.), ela é caracterizada por uma vasta rede de enormes canais secos, por vezes com a largura de vários quilômetros, formando um emaranhado de morros e gargantas cortados em rocha vulcânica dura. Diferente dos vales comuns de rios, os quais geralmente têm a forma de um V largo, estes canais freqüentemente mostram lados íngremes e chão chato. Além disso, enormes montes de pedregulho de correnteza foram encontrados em vários níveis. Evidências de centenas de cachoeiras antigas, algumas com altura de 100 metros, com grandes bacias na base, testemunham de algo fora do comum. Como se formou essa paisagem estranha? Bretz tinha sua idéia, suficientemente chocante para provocar uma controvérsia geológica que durou quarenta anos. Na primeira publicação sobre este tópico, Bretz não expressou sua suspeita de um dilúvio catastrófico; somente indicou que seriam necessárias quantidades prodigiosas de água.4 Contudo, mais tarde no mesmo ano, ele publicou um segundo artigo expressando sua opinião segundo a qual aquela paisagem tinha sido formada por um dilúvio rápido e catastrófico. Esse dilúvio tinha lavado a área, desgastado os canais e depositado as imensas barragens de pedregulho.5 Naquele tempo os geólogos se opunham a qualquer explicação associada com catástrofes, e Bretz sabia disso. O uniformitarianismo era a opinião aceita; embora reconhecidos como exercendo impacto, os vulcões e terremotos eram considerados sem importância. O catastrofismo era anátema; achava-se na mesma categoria na qual se encontra a Criação em muitos círculos científicos agora — totalmente inaceitável. A comunidade geológica tinha de lidar com este arrogante jovem Bretz, que andava inteiramente fora da linha. Suas idéias heréticas eram muito próximas à rejeitada idéia do Dilúvio bíblico.6 Adotar suas teorias, pensavam eles, significaria um retrocesso à ―Idade Escura‖.7 Sendo que Bretz, professor de geologia na Universidade de Chicago, continuava seu estudo e publicação, alguns geólogos tentaram persuadir o colega errante. Em 1927, ele foi convidado a apresentar suas opiniões perante a Sociedade Geológica de Washington, D.C. Havia um propósito especial atrás deste convite: ―uma verdadeira falange de incrédulos tinha sido reunida para debater a hipótese de um dilúvio‖.8 Depois da apresentação de Bretz, cinco membros da prestigiosa U.S. Geological Survey apresentaram suas objeções e explicações alternativas, tais como glaciação e outras mudanças lentas.9 Dois dos geólogos nem tinham visitado a área! Ao refutá-los, Bretz comentou que ―talvez... minha atitude dogmática esteja se demonstrando contagiosa‖.10 Uma objeção maior à idéia de Bretz ficou sem resposta. De onde veio tanta água, tão subitamente? Ao que tudo indica, ninguém mudou de idéia naquela reunião; a idéia de um dilúvio catastrófico ainda parecia absurda para muitos cientistas. Nos anos seguintes, os geólogos se concentraram para desenvolver modelos alternativos ao de Bretz. Nas palavras de Bretz, a ―heresia deve ser rejeitada gentil mas firmemente‖. 11 Não obstante, estudos no local continuaram a produzir dados favoráveis a uma interpretação catastrófica, e o conflito começou a acalmar-se. Bretz e outros acharam uma origem para as águas do dilúvio. O antigo Lago Missoula, a leste, havia outrora armazenado 2.100 km cúbicos de água. Algumas evidências indicavam que gelo tinha represado o lago. Uma súbita ruptura do gelo liberaria a água necessária para produzir a evidência de uma erosão rápida vista do lado oeste. O melhor apoio para esta explicação veio mais tarde, quando cientistas acharam grandes ondulações tanto no Lago Missoula como no canal do lado ocidental. Você provavelmente está familiarizado com as ondulações paralelas freqüentemente vistas em leitos arenosos de um rio. Estas usualmente não passam de uns poucos centímetros de crista a crista. As ondulações no leito do Lago Missoula eram gigantescas — até à altura de 15 metros, com uma distância de 150 metros de crista a crista.12 Somente vastas quantidades de água em movimento rápido poderiam produzir tal efeito. Estudos recentes têm-se concentrado em pormenores. Alguns sugerem que pode ter havido até oito dilúvios.13 Um dos estudos sugeriu que a água correu à velocidade de 108 km por hora, cortando canais profundos na rocha vulcânica em poucas horas ou dias. 14 | 57 Finalmente as interpretações de Bretz, baseadas num estudo cuidadoso das rochas, foram aceitas pela maioria dos membros da comunidade geológica. Em 1965, a Associação Internacional para Pesquisa do Quaternário organizou uma visita à região. No final da conferência, Bretz, que não pôde estar presente, recebeu um telegrama dos participantes, cumprimentando-o e encerrando com a sentença: ―Somos agora todos catastrofistas‖.15 Em 1979, Bretz recebeu a medalha Penrose, a distinção geológica de maior prestígio nos Estados Unidos. Bretz tinha vencido, assim como o catastrofismo. Este ―Noé‖ moderno e seu dilúvio indesejado foram vindicados. Correntes de turbidez Em meados do século 20, alguns geólogos tinham notado que o uniformitarianismo estrito contradizia os dados das próprias rochas. Bretz tinha achado evidências de ação muito rápida. Outros cientistas estavam achando camadas sedimentares com componentes tanto de água rasa como funda.16 Como podiam estas se misturar sob condições tranqüilas? A resolução: fluxos de lama catastróficos debaixo da água, partindo de água rasa para água profunda. Estes fluxos rápidos de lama, chamados correntes de turbidez, produziram depósitos especiais chamados turbiditas. Esses depósitos são surpreedentemente comuns em todo o mundo. Alguns pensadores ousados têm sugerido outras atividades catastróficas, tais como extinções em massa causadas por influxos de radiação cósmica de alta energia 17 e o esparramar súbito de águas árticas sobre os oceanos do mundo.18 Todas essas teorias indicam um abandono crescente do uniformitarianismo estrito. O golpe de misericórdia para o domínio das explicações uniformitárias não veio, entretanto, do estudo das próprias rochas, mas dos fósseis que elas continham. Por que os dinossauros desapareceram perto do fim do Cretáceo, e por que houve outras extinções em massa visíveis em outros níveis da coluna de fósseis? Alguma causa razoável precisava ser encontrada. Várias explicações tinham sido propostas para a extinção dos dinossauros, desde a morte pela fome a cogumelos venenosos ou mesmo à febre do feno. Não obstante, seu desaparecimento costumava ser considerado um mistério. Então em 1980 Luís Alvarez, Prêmio Nobel, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e outros19 sugeriram que a abundância anormal do elemento irídio achado em vários lugares no alto das camadas do Cretáceo podia ser oriunda de um asteróide que teria caído na terra e matado os dinossauros. A idéia provocou uma reação mista. Alguns a puseram em dúvida porque os dinossauros e outros organismos não pareciam ter desaparecido tão subitamente nas camadas de fósseis. Outros propuseram atividade vulcânica generalizada, ou a colisão com um cometa e não com um asteróide. O debate sobre detalhes continua, mas a porta para interpretações catastróficas está escancarada. As revistas científicas agora registram mudanças súbitas e importantes. Algumas das novas idéias do catastrofismo propõem que cometas ou asteróides poderiam levantar ondas do oceano até à altura de oito km20 e gases a centenas de quilômetros acima da superfície da Terra.21 Outros propuseram efeitos que incluem golpes de ar de 500ºC com a velocidade de 2.500 km por hora, os quais matariam metade dos seres na terra, e terremotos globais acompanhados de ondas do solo que atingiriam 10 metros de altura. A abertura de rachaduras de 10 a 100 km e a formação rápida de montanhas também têm sido propostas. 22 Há inclusive uma sugestão de que esses choques podem ter iniciado a separação do antigo supercontinente chamado Gondwanalândia.23 O catastrofismo experimentou um retorno rápido, mas não é exatamente o catastrofismo clássico de dois séculos atrás, que incorporava o Dilúvio bíblico como um acontecimento geológico importante. É interessante que alguns geólogos sugeriram recentemente que um choque extraterrestre podia estar relacionado com o relato do dilúvio de Gênesis. 24 Atualmente, catástrofes importantes são prontamente aceitas, mas em contraste com o Dilúvio bíblico, que durou apenas um ano, é introduzido bastante tempo entre muitas grandes catástrofes. O termo neocatastrofismo parece estar ganhando aceitação, à medida que são feitas tentativas para distinguir o novo conceito do antigo catastrofismo. A volta a interpretações catastróficas tem sido identificada como uma ―grande brecha filosófica‖,25 e admite-se que ―o papel importante de grandes tempestades através das eras geológicas está sendo cada vez mais reconhecido‖. 26 Esta última opinião harmoniza-se bem com o modelo bíblico do Dilúvio como uma série prolongada de tempestades durante o ano do Dilúvio. O neocatastrofismo tem estimulado a reinterpretação de muitos fenômenos geológicos. Por exemplo, muitos depósitos sedimentares que se pensava terem-se acumulado lentamente, são Textos sobre Criacionismo Novas idéias do catastrofismo 58 | agora interpretados como o resultado de correntes rápidas de turbidez, e certo número de recifes de coral fósseis, que previamente se pensava terem-se formado lentamente, são reinterpretados como fluxos rápidos de fragmentos de rocha. Exemplos de ação rápida Sob condições normais, as mudanças na superfície da terra se produzem lentamente. Contudo, há muitos exemplos de atividade catastrófica que sugerem mudanças importantes em pouco tempo. A erosão pode ocorrer muito rapidamente. Em 1976, a represa recém-construída em Idaho (E.U.A.) sofreu um vazamento que não pôde ser contido, e a água corrente cortou através do sedimento à profundidade de 100 metros em menos de uma hora. A represa era feita em sedimento macio, que facilmente sofre erosão. Tem sido proposto que os canais de Bretz, mencionados acima, que são em basalto duro, foram cortados a uma profundidade correspondente em poucos dias. A capacidade transportadora da água corrente foi determinada como crescendo à terceira ou quarta potência da velocidade. 27 Isso significa que se a velocidade do fluxo é aumentada 10 vezes, a água pode carregar mil a dez mil vezes mais sedimento. Os não-criacionistas por vezes assinalam que a coluna geológica é demasiado espessa para ter sido depositada no único ano do Dilúvio.28 Este pode não ser um argumento de peso. Enquanto a maioria dos criacionistas excluiria as porções mais baixas (Pré-cambriano) e as porções mais altas da coluna geológica do Dilúvio, algumas velocidades presentes de depósito são tão altas que haveria pouco problema em depositar toda a coluna em poucas semanas. As correntes de turbidez podem depositar sedimento num só local em poucos minutos ou menos, e sobre milhares de quilômetros quadrados em poucas horas. Grandes depósitos, chamados megaturbiditas, achados na Espanha, têm a espessura de até 200 metros, e um volume de 200 km cúbicos.29 Há também vários métodos, além das correntes de turbidez, que causam o depósito rápido de sedimentos. Um Dilúvio intenso que durasse um ano poderia depositar muito sedimento. O acúmulo de espessas camadas de organismos microscópicos tais como os de White Cliffs, em Dover, na Inglaterra, era tido como exigindo longos períodos de tempo. Mas uma acumulação tal pode ocorrer rapidamente. Ao longo da costa de Oregon (E.U.A.), uma tempestade de três dias de ventos fortes e chuva depositou 10 a 15 centímetros de diátomos microscópicos ao longo de 32 km. Vi o fóssil de um pássaro bem preservado e muitos peixes em depósitos espessos de diátomos microscópicos perto de Lompoc, Califórnia. Uma baleia foi também achada neste depósito. Uma preservação como essa exigiria um enterramento rápido antes da desarticulação do organismo.30 Verificou-se que a desarticulação em pássaros ocorre em poucos dias. Evidentemente, algumas camadas de organismos microscópicos foram depositadas rapidamente. Textos sobre Criacionismo Algumas deduções Podemos aprender algo da história das interpretações baseadas no catastrofismo ou no uniformitarianismo. Durantes milênios, as catástrofes foram aceitas; depois, por bem mais de um século, foram virtualmente eliminadas do pensamento científico; agora são bem-aceitas de novo. Isso ilustra como a ciência muda de opinião, e às vezes até aceita conceitos rejeitados. A Bíblia, por outro lado, não muda. É interessante que a aceitação das catástrofes veio principalmente do estudo das próprias rochas. Devíamos ser cautelosos ao aceitar conceitos gerais, tais como o uniformitarianismo, que são baseados em opinião ou numa quantidade limitada de informações. Ademais, as novas interpretações catastróficas, de novo aceitas pela ciência, mostram que acontecimentos importantes podem ocorrer rapidamente. Isso torna o relato bíblico das origens, incluindo a Criação e o Dilúvio, muito mais plausíveis. Ariel A. Roth (Ph.D., Universidade de Michigan) é o editor de Origens e ex-diretor do Geoscience Research Institute. Seu livro, Origins: Linking Science and Scripture, do qual este artigo é adaptado, foi recentemente publicado pela Review and Herald Publishing Association. O endereço do Dr. Roth: Geoscience Research Institute - Loma Linda University; Loma Linda, California 92350, E.U.A. Fax: (909) 824-92350. E-mail: griccmail.llu.edu Notas e referências 1. S. Thorarinson, Surtsey: The New Island in the North Atlantic, S. Eysteinsson, tr. (New York: The Viking Press, 1963). pág. 39. 2. Para apanhados gerais, ver D. Ager, The New Catastrophism: the Importance of the Rare Event in Geological History (Cambridge e New York: Cambridge University Press, 1993); A. Hallam, Great Geological Controversies, 2d ed. (Oxford e New York: Oxford University Press, 1989) págs. 30-64, 185- 215; R. Huggett, Cataclysms and Earth History: the Development of Diluvialism (Oxford: Clarendon Press, 1980). | 59 C. Lyell, Principles of Geology; or The Modern Changes of the Earth and Its Inhabitants Considered as Illustrative of Geology, ed. rev. (New York: D. Appleton & Co., 1857). 4. J. H. Bretz, ―Glacial Drainage on the Columbia Plateau‖, Geological Society of America Bulletin 34 (1923): 573-608. 5. Bretz, ―The Channeled Scablands of the Columbia Plateau‖, Journal of Geology 31 (1923): 617649. 6. J. E. Allen, M. Burns, e S. C. Sargent, Cataclysms on the Columbia: Scenic Trips to the Nothwest’s Geologic Past, Nº 2 (Portland, Ore.: Timber Press, 1986), pág. 44. 7. J. H. Bretz, ―The Channeled Scabland: Introduction‖, em V. R. Baker, ed., Catastrophic Flooding: the Origin of the Channeled Scabland: Benchmark Papers in Geology 55 (Stroudsburg, Penna.: Dowden, Hutchinson & Ross, 1981), págs. 18, 19. 8. Baker, pág. 60 (nota 7). 9. Para um relato das apresentações e discussões, ver J. H. Bretz, ―Channeled Scabland and the Spokane Flood‖ em Baker, págs. 65-76. 10. Ibid. pág. 74. 11. J. H. Bretz, H. T. U. Smith, e G. E. Neff, ―Channeled Scabland of Washington: New Data and Interpretations‖ Geological Society of America Bulletin 67 (1956): 957-1049. 12. Ibid., J. T. Pardee, ―Unusual Currents in Glacial Lake Missoula, Montana‖, Geological Society of America Bulletin 53 (1942): 1569-1600. 13. J. H. Bretz, ―The Lake Missoula Floods and the Channeled Scabland‖, Journal of Geology 77 (1969): 505-543; M. Parfit, ―The Floods That Carved the West‖, Smithsonian 26 (1995) 1:48-59. 14. V. R. Baker, ―Paleohydraulics and Hydrodynamics of Scabland Floods‖ em: Baker, págs. 255-275 (nota 7). 15. Bretz 1969 (nota 13). 16. M. L. Natland, P. H. Kuenen, ―Sedimentary History of the Ventura Basin, California, and the Action of Turbidity Currents‖, Society of Economic Paleontologists and Mineralogists Special Publication 2 (1951): 76-107; F. B. Phleger, ―Displaced Foraminifera Faunas‖, Society of Economic Paleontologists and Mineralogists Special Publication 2 (1951): 66-75. 17. O. H. Schindewolf, ―Neocatastrophism?‖ V. A. Firsoff, tr. Catastrophist Geology 2 (1977): 19-21. 18. S. Gartner e J. P. McGuirk, ―Terminal Cretaceous Extinction Scenario for a Catastrophe‖, Science 206 (1979): 1272-1276. 19. L. W. Alvarez, W. Alvarez, F. Asaro, H. V. Michel, ―Extraterrestrial Cause for the CretaceousTertiary Extinction‖, Science 208 (1980): 1095-1108. 20. W. M. Napier, S. V. M. Clube, ―A Theory of Terrestrial Catastrophism‖, Nature 282 (1979): 455459. 21. H. J. Melosh, ―The Mechanics of Large Meteoroid Impacts in the Earth’s Oceans‖, Geological Society of America Special Paper 190 (1982): 121-127. 22. V. Clube, B. Napier, ―Close Encounters with a Million Comets‖, New Scientist 95 (1982): 148-151. 23. V. R. Oberbeck, J. R. Marshall, e H. Aggarwal, ―Impacts, Tillites, and the Breakup of Gondwanaland‖, Journal of Geology 101 (1993): 1-19. 24. E. Kristan-Tollmann, e A. Tollmann, ―The Youngest Big Impact on Earth Deduced From Geological and Historical Evidence‖, Terra Nova 6 (1994); 209-217. 25. E. Kauffmann, citado em R. Lewin, ―Extinctions and the History of Life‖, Science 221 (1983): 935937. 26. D. Nummedal, ―Clastics‖, Geotimes 27 (1982) 2: 22-23. 27. A. Holmes, Principles of Physical Geology, rev. ed. (New York: The Ronald Press Co., (1965), pág. 512. 28. E.g., R. L. Ecker, Dictionary of Science and Creationism (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1990), pág.102. 29. M. Seguret, F. Labaume, e R. Madariaga, ―Eocene Seismicity in the Pyrenees From Megaturbidites of the South Pyrenean Basin (Spain)‖, Marine Geology 55 (1984): 117-131. 30. P.G. Davis, D. E. Briggs, ―The Impact of Decay and Disarticulation on the Preservation of Fossil Birds‖, Palaios 13 (1998): 3-13. Textos sobre Criacionismo 3. 60 | Artigo 14 Acaso ou desígnio? Ariel A. Roth Depois de trabalhar até tarde, meu amigo estava exausto. Entrou no seu carro e deu início à longa viagem para o colégio que freqüentava. Estava dirigindo por uma estrada pouco movimentada quando o cansaço o venceu, e seu carro mergulhou nas águas de um rio à beira da estrada. Sobreviveu ao desastre com ferimentos graves. Com os nervos na parte inferior da espinha dorsal atingidos, não podia mais controlar suas pernas. Estava destinado a uma cadeira de rodas para o resto da vida. A recuperação levou longo tempo. Felizmente, meu amigo não era uma pessoa comum. Não permitiria que seu grave problema fizesse dele um fardo para a sociedade. Decidiu ser um auxílio para os outros e, apesar de todos os obstáculos que enfrentava, terminou a faculdade. Sua personalidade simpática, perseverança e dedicação a Deus o ajudaram em sua carreira de professor, editor, capelão e pastor. Muitos foram abençoados por sua afabilidade e compreensão. Infelizmente, suas pernas continuaram a deteriorar-se, a ponto de terem de ser amputadas. Partes interdependentes1 O problema do meu amigo ilustra como as várias partes de um organismo vivo são dependentes umas das outras. Podemos ilustrar isso num nível mais simples. Se temos um músculo que move um osso numa perna, esse músculo não vai funcionar a menos que um nervo vá ao músculo para ativá-lo. Mas nem o músculo nem o nervo funcionarão, a menos que haja um sistema no cérebro para controlar a atividade do músculo. O mecanismo controlador no cérebro envia impulsos através do nervo para fazer o músculo contrair-se e mover o osso. As três partes, o músculo, o nervo e o mecanismo controlador são exemplos de interdependência. Precisam um do outro a fim de funcionar. São sistemas nos quais nada funciona, a menos que tudo funcione. Alguns cientistas chamam tais sistemas de «complexidade irredutível».2 O termo complexidade aplica-se a sistemas cujas várias partes estão em relação umas com as outras. Sistemas com partes interdependentes são abundantes em todos os seres vivos, e são em geral muito mais complexos do que o exemplo simples mencionado acima. Em nosso corpo temos de 50.000 a 100.000 espécies diferentes de enzimas. A maioria dessas enzimas governa mudanças químicas relacionadas com outras mudanças químicas operadas por outras enzimas. Representam um vasto repertório de partes interdependentes. Textos sobre Criacionismo O caráter aleatório das mudanças evolutivas Se 20 crianças forem soltas numa loja de brinquedos, algo vai acontecer. Certamente, o estoque bem organizado de brinquedos vai-se tornar menos organizado. Quanto mais tempo as crianças se divertirem na loja, tanto mais embaralhado o estoque ficará. Seres ativos tendem a misturar-se. A tendência de as coisas se tornarem remexidas na natureza é contrária à evolução, que postula mudanças de moléculas distribuídas de modo aleatório, organizando-se em formas vivas «simples» as quais, embora pequenas, são na verdade altamente organizadas. Assume-se que a evolução tenha formado organismos muito mais complexos, com tecidos e órgãos especializados que incluem flores, olhos e cérebros. Alguns evolucionistas sugerem que a auto-organização ocasional de matéria simples, como é vista na formação de um cristal de sal, ou os raros desenhos ondulados que às vezes se formam quando substâncias químicas se infiltram através de um sólido, poderia ser o modelo para a autoorganização da matéria em seres vivos. Mas há uma vasta distância entre simples cristais e as complexidades de sistemas vivos. O desenvolvimento de complexidades funcionais interdependentes é contrário à tendência da natureza para a desorganização. Este é um dos maiores problemas com a teoria da evolução. Os evolucionistas geralmente enfatizam a mudança aleatória ocasional no mecanismo hereditário de um organismo (DNA). Tais mudanças, chamadas mutações, combinadas com a seleção natural, são consideradas como a base para o progresso evolucionário. Mas tais eventos aleatórios tendem usualmente a misturar as coisas, não organizá-las. Nem mutações aleatórias nem a seleção natural têm a visão de planejar com antecedência, de modo a guiar o processo evolutivo ao desenvolvimento gradual de sistemas com partes interdependentes. Ademais, as mutações são quase sempre nocivas aos organismos vivos. A estimativa de uma mutação favorável em mil é o máximo que se pode atribuir à evolução. Tratando-se de sistemas complexos com partes interdependentes, apenas uma pequena mudança (mutação) pode fazer | 61 com que todo o sistema deixe de funcionar. É como cortar os nervos das pernas do meu amigo; as pernas ficaram inteiramente arruinadas. Igualmente, é mais fácil arruinar um relógio do que fazer um. Poucos negariam que há uma tendência para a desorganização na natureza. A evolução naturalista precisa explicar o oposto. Seleção natural: um problema para a evolução Charles Darwin desenvolveu o conceito da seleção natural. Observou que há variações em organismos vivos. Há também excesso de reprodução da prole, o que resulta em escassez de alimento e espaço; segue-se que há competição pela sobrevivência. Darwin propôs que somente os mais aptos entre as novas variedades de organismos sobreviveriam, e eles por sua vez produziriam uma prole igualmente apta. Assim, o mais apto sobrevive pelo processo chamado de seleção natural. Este mecanismo é freqüentemente usado para explicar o progresso evolutivo, apesar da tendência da natureza para a desorganização. Embora pareça que a seleção natural funcione na natureza como meio de eliminar os organismos fracos ou as aberrações, enfrenta um grande problema quando se trata de evolução de sistemas interdependentes, os quais representam a maioria de tudo que vive. O fato de meu amigo ter suas pernas amputadas ilustra um problema básico enfrentado pelo modelo darviniano de seleção natural. Estruturas inúteis podem ser impedimentos incômodos. Como regra geral, passamos melhor sem elas. O problema para a evolução é que muitas partes de órgãos ou sistemas em evolução seriam impedimentos inúteis, até que todas as partes interdependentes evoluíssem. Até então, os organismos se dariam melhor sem essas partes extras, e a seleção natural tenderia a eliminá-los. Somente depois que todas as partes necessárias interdependentes estivessem presentes, poderiam essas partes funcionar e assim prover qualquer razão para a sobrevivência pelo processo de seleção natural. Se a evolução fosse real, esperaríamos ver amostras de novos órgãos ou sistemas tais como pernas, olhos, fígados se desenvolvendo, ou novas espécies de órgãos tentando desenvolver-se nestes organismos que ainda não os produziram. Contudo, ao contemplarmos mais de um milhão de espécies que têm sido identificadas na superfície da Terra, não vemos nenhuma. Esta é uma objeção séria ao conceito da evolução. Num contexto mais amplo, a questão é: Como podem mutações aleatórias prejudiciais, que não têm capacidade de previsão, produzir gradualmente sistemas biológicos complexos que não têm valor para a sobrevivência até que todas as partes interdependentes estejam presentes? Se a evolução pudesse explicar este problema, deveríamos achar muitos órgãos e sistemas novos no processo de evolução, mas não existem. Tem havido uma longa e árdua busca de um mecanismo evolucionário plausível que produza vida organizada complexa. Contemplemos brevemente os dois últimos séculos de pesquisa. Um sumário é apresentado na Tabela 1. Lamarquismo. O cientista francês Chevalier de Lamarck (1744-1829) concebeu um mecanismo evolutivo baseado em sua lei de uso e desuso. Ele propôs que o uso de um órgão acentuava seu desenvolvimento, e que esta melhoria era passada à geração seguinte. Por exemplo: animais como o veado, precisando alcançar folhas nos galhos mais altos de uma árvore adquiririam, depois de esticar seus pescoços por muitas gerações, pescoços mais longos e finalmente apareceriam como girafas. De modo semelhante, ele declarou que se o olho esquerdo de crianças fosse removido por um certo número de gerações, finalmente haveria indivíduos nascidos só com o olho direito. Anos mais tarde, o evolucionista alemão August Wiseman demonstrou o erro de Lamarck. Cortou as caudas de centenas de ratos durante muitas gerações. Os ratos, não obstante, continuaram a produzir prole com rabos de tamanho natural. Concluiu que esta série de experimentos provara que não há herança de características adquiridas durante a vida de um indivíduo. Darvinismo. Darwin propôs a seleção natural (descrita acima) como um mecanismo evolutivo. Darwin também enfatizou a teoria geral da evolução de todos os organismos, desde os mais simples até aos mais complexos. Neste processo, ele enfatizou a importância de mudanças diminutas, um conceito que foi logo contestado. Logo depois da publicação (1859) do livro de Darwin, Origin of Species, muitos cientistas aceitaram a idéia geral da evolução. Contudo, muitas das idéias de Darwin foram contestadas então e ainda estão sendo contestadas hoje. O historiador da biologia Charles Singer afirma, com Textos sobre Criacionismo A longa procura por um mecanismo evolucionário Textos sobre Criacionismo 62 | a maior naturalidade, que os argumentos de Darwin «são freqüentemente falaciosos». 3 Entre as críticas mais sérias está a falta de valor, para a sobrevivência, de pequenas mudanças que não são úteis a menos que possam funcionar num todo complexo que ainda não evoluiu. Darwin preocupou-se com a evolução do olho, que tem bom número de sistemas com partes interdependentes. Ele sugeriu que a seleção natural era a resposta ao problema, mas não tratou do problema das partes interdependentes. O conceito da «sobrevivência do mais apto» também tem sido severamente criticado, às vezes injustamente. Contudo, a sobrevivência do mais apto não demonstra evolução, como às vezes se pensa. O conceito não pode ser testado facilmente, o que não quer dizer que seja falso. Mas obviamente o mais apto sobrevive, quer evolua por si mesmo, quer seja criado por Deus. A despeito destas falhas, a idéia básica de Darwin é apoiada por muitos evolucionistas. Mutações. O biólogo holandês Hugo de Vries (1848-1935) contestou vigorosamente a idéia de que pequenas mudanças propiciavam o mecanismo evolucionário básico. Ele argumentava que estas pequenas mudanças nada significavam, e que seriam necessárias mudanças maiores, chamadas mutações, como resposta ao ambiente. De Vries encontrou apoio para suas opiniões nas cercanias de Amsterdam, Holanda, onde a prímula importada da América tinha-se tornado silvestre e alguns espécimes ficaram anões. Ele considerava esta mudança como uma mutação. De Vries conduziu experimentos cruzando milhares de plantas, e notou mudanças maiores, que ele atribuiu a mutações. Ele cria que estas «novas formas» eram degraus num longo processo evolucionário. Infelizmente para a teoria de Vries, as mudanças que ele notou eram apenas o resultado de combinações de traços já presentes na constituição genética das plantas, e não novas mutações. Ainda assim, o conceito de mutações, que representam nova informação hereditária, tornou-se aceito, em grande parte pelo trabalho do norte-americano T. H. Morgan. Em experimentos com moscas de frutas, Morgan achou novas mudanças permanentes que são transmitidas de uma geração para a seguinte. Contudo, as mudanças observadas eram em grande parte degenerativas, em vez de progressivas, incluindo perda de asas, pêlos e olhos. Muitas mutações não prejudiciais seriam requeridas para produzir uma única estrutura útil. O problema é como fazer com que estes eventos raros ocorram simultaneamente num organismo, a fim de produzir uma estrutura funcional que pudesse ter algum valor para a sobrevivência. O zoólogo francês, Pierre P. Grassé, que sugere outro mecanismo evolucionário, abriga algumas das mesmas preocupações e afirma: «Não importa quão numerosas, as mutações não produzem espécie alguma de evolução». 4 Síntese moderna. Ao se desenvolver o pensamento evolucionista no começo do século 20, diversos estudiosos influentes transferiram o foco das mutações de volta à seleção natural. Os proponentes mais importantes foram S. S. Chetverikov na Rússia, R. A. Fisher e J. B. S. Haldane na Inglaterra e Sewall Wright nos Estados Unidos. Desta vez, a ênfase era sobre o processo de evolução dentro de populações de organismos, e não de organismos individuais. A síntese moderna combinou os esforços de evolucionistas brilhantes, incluindo Theodosius Dobzhansky, da Columbia University, Sir Julian Huxley na Inglaterra, Ernst Mayr e George Gaylord Simpson na Universidade de Harvard. O conceito foi dominante de 1930 até por volta de 1960. O nome de «síntese moderna» originou-se com Huxley, 5 o neto de Thomas Huxley, o grande promotor de Darwin.6 Basicamente, ele sintetiza a variação por mutações com o conceito de Darwin de seleção natural pela sobrevivência do mais apto no que se aplica a populações. Muitos dos líderes da síntese moderna enfatizaram que, pelo acúmulo de mudanças relativamente pequenas, poder-se-iam produzir as mudanças maiores necessárias para os importantes passos evolucionários, como a mudança de um animal do tipo da lagarta para uma tartaruga. Contudo, o mecanismo básico para o progresso evolucionário complexo permaneceu sem solução. A síntese moderna pode ter sido mais uma atitude de triunfalismo do que uma síntese precisa. Entrementes, as vozes inquietantes do paleontologista Otto Schindewolf na Alemanha e do geneticista Richard Goldschmidt nos Estados Unidos eram sistematicamente ignoradas. Em contraste com as mudanças diminutas de Darwin e as mutações relativamente pequenas sugeridas pelos arquitetos da síntese moderna, ambos estavam propondo grandes e rápidas mudanças e diferentes mecanismos. Schindewolf, familiarizado com fósseis, sugeria saltos rápidos para transpor as grandes lacunas entre os tipos fósseis maiores. Goldschmidt, que era professor de genética na Universidade da Califórnia em Berkeley, discordava inteiramente da idéia de que pequenas mudanças dentro das espécies podiam acumular-se lentamente e produzir mudanças | 63 evolutivas maiores. Ele considerava os estágios intermediários inúteis para a sobrevivência e sentia que não seriam favorecidos pela seleção natural. Entre os exemplos que ele cita, estavam a formação de uma pena, a segmentação da estrutura do corpo como é observada em insetos, o desenvolvimento dos músculos, o olho composto dos caraguejos, etc. Goldschmidt e Schindewolf levantaram importantes objeções e logo, para um bom número de evolucionistas, a síntese moderna não mais parecia sustentável. O embriologista sueco Soren Lovtrup, que apóia a evolução, declara: «E hoje a síntese moderna — neo-Darvinismo — não é uma teoria, mas um leque de opiniões, nas quais cada uma a seu modo procura vencer as dificuldades apresentadas pelo mundo dos fatos». 7 Período de diversidade. Logo surgiram novas idéias sobre a evolução, algumas delas bem especulativas. Descobertas recentes, especialmente em biologia molecular e genética, indicavam que os conceitos genéticos mais velhos e simples não mais eram válidos. Tudo isso contribuiu para uma diversidade de pensamento que prevalece até ao presente. Este estágio — que pode ser designado coletivamente como o período de diversidade — representa uma coleção de idéias novas e freqüentemente conflitantes. Giram em torno de várias questões básicas, tais como: (1) Pode-se identificar as relações evolutivas dos organismos? Alguns têm argumentado que o único modo para se dizer se dois organismos são realmente relacionados evolutivamente é se têm características semelhantes mas únicas [sinapomorfias]. Dificilmente se encontram tais caraterísticas. (2) São essas mudanças evolutivas graduais ou súbitas? Alguns sugerem súbitas, mas bem pequenas; mudanças refletidas em parte do registro fóssil (modelo de equilíbrio pontuado). Estas pequenas mudanças súbitas não resolvem o problema das lacunas maiores no registro fóssil, tais como as que se acham entre filos de animais e divisões de plantas. (3) É a seleção natural importante para o processo evolucionário? Certo número de evolucionistas está sugerindo que há mutações neutras que eles consideram muito importantes no processo evolucionário. Uma vez que estas mutações são neutras, não estão sujeitas à influência da seleção natural. (4) Como é que a complexidade evolui? Alguns estudos feitos com computador têm atacado o problema, mas os biólogos criticam essas tentativas como muito simplistas. Os sistemas biológicos são muito complexos, e pouco sabemos de muitos deles. Nas duas últimas décadas, um número significativo de cientistas que não crêem no relato bíblico da Criação, tem escrito livros criticando a teoria evolucionista, ou grandes aspectos da mesma. A Tabela 2 enumera alguns deles. Em geral, estes cientistas crêem em alguma espécie de evolução, mas admitem problemas sérios. O modelo de Darwin tem sido bastante criticado. Entrementes, a procura de um mecanismo evolutivo continua. Os cientistas freqüentemente parecem apoiar a evolução. Enquanto em termos gerais concordam que a evolução é um fato, há muito menos consenso quando são considerados detalhes. Algumas das batalhas mais acirradas na biologia evolucionista seguiram-se à síntese moderna. O bem conhecido escritor Tom Bethel enfatiza que «especialmente em anos recentes, os cientistas têm estado a lutar entre si sobre Darwin e suas idéias.»8 Essas disputas são raramente ouvidas, e menos ainda compreendidas pelo público em geral. Há um grande contraste entre as batalhas intelectuais internas da comunidade acadêmica, como se encontra na literatura profissional, e o estilo simples e didático de compêndios e artigos de jornais. Alguma simplificação nos compêndios pode ser útil para facilitar o aprendizado, mas os estudantes deveriam ficar mais conscientes das opiniões diversas no debate evolucionista. Pode-se apenas contemplar com um grau de respeito os esforços persistentes dos evolucionistas para achar um mecanismo plausível para sua teoria. Sua perseverança é louvável. Uma teoria após outra tem sido proposta ao longo de um período de dois séculos. O fracasso geral levanta uma séria questão: É o pensamento evolucionista mais uma opinião do que dados científicos sólidos? Depois de tão longa e fútil procura de um mecanismo evolutivo, parece que os cientistas evolucionistas deveriam considerar seriamente a criação feita por Deus, descrita na Bíblia. Lá, Deus, como o planejador de tudo, cria várias formas de vida, inclusive seus sistemas complexos com partes interdependentes. Textos sobre Criacionismo Conclusão 64 | Tabela A procura de um mecanismo evolutivo Designação Proponentes principais 1 Características Lamarquismo 1809-1859 Lamarck O uso causa o desenvolvimento de novas características que podem ser herdadas. Darvinismo 1859-1894 Darwin, Wallace Mudanças diminutas são causadas pela seleção natural levando à sobrevivência do mais apto. Mutações 1894-1922 De Vries, Morgan Ênfase sobre maiores mudanças (mutações). Seleção natural não tão importante. Síntese Moderna Chetverikov, Dobzhanski, Atitude unificada; mudança em (neo-darvinismo) Fisher, Haldane, Huxley, populações é importante. Mutações 1922-1968 Mayr, Simpson, Wright atuadas pela seleção natural. Período Diversidade 1968-presente de Eldredge, Gould, Grassé, Multiplicidade de idéias conflitantes. Henning, Kauffman, Kimura, Insatisfação com a Síntese Moderna. Lewontin, Patterson, Platnick Procura de uma causa a complexidade. Textos sobre Criacionismo Tabela 2 Livros escritos por cientistas que não crêem na Criação, mas criticam vários aspectos da Evolução. Behe, Michael. Darwin’s Black Box: The Biochemical Challenge to Evolution. New York: Free Press, 1996. Crick, Francis. Life Itself: Its Origin and Nature. New York: Simon and Schuster, 1981. Denton, Michael. Evolution: A Theory in Crisis. London: Burnett Books, 1985. Goodwin, Brian. How the Leopard Changed Its Spots: The Evolution of Complexity. New York: Charles Scribner‘s Sons, 1994. Hitching, Francis. The Neck of the Giraffe: Where Darwin Went Wrong. New York: Ticknor and Fields, 1982. Hoe, Mae-Wan e Peter Saunders. Beyond Neo-Darwinism: An Introduction to the New Evolutionary Paradigm. London: Academic Press, 1984. Søren Løvtrup. Darwinism: The Refutation of a Myth. London. New York: Croom Helm, 1987. Ridley, Mark. The Problems of Evolution. New York: Oxford University Press, 1985. Shapiro, Robert. Origins: A Skeptic’s Guide to the Creation of Life on Earth. New York: Summit Books, 1986. Taylor, Gordon Rattary. The Great Evolution Mystery. New York: Harper and Row, 1983. Ariel A. Roth (Ph.D., Universidade de Michigan), que atuou como diretor do Geoscience Research Institute e editor de Origins, continua ocupado em pesquisa e publicação. Seu endereço: Geoscience Research Institute; Loma Linda University; Loma Linda, Califórnia 92350; E.U.A. | 65 Notas e referências Textos sobre Criacionismo 1. Para uma discussão das várias questões abordadas neste artigo, tópicos relacionados e muitas referências na literatura, ver Ariel A. Roth, Origins: Linking Science and Scripture (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publ. Assn., 1998), págs. 80-115, 130-144. O livro logo estará disponível em francês, espanhol, português e russo. Para localizar os vários editores, entre em contato com o autor. 2. M. J. Behe, Darwin’s Black Box (New York: Free Press, 1996). 3. C. Singer, A History of Biology to About the Year 1900, 3ª. edição revista (New York: AbelardSchuman, 1959), pág. 303. 4. P. P. Grassé, Evolution of Living Organisms: Evidence for a New Theory of Transformation, B. M. Carlson e R. Castro, tradutores (New York: Academic Press, 1977), pág. 88. Tradução de L’Evolution du Vivant. 5. J. Huxley, Evolution: The Modern Synthesis (London: Harper & Brothers, 1943). 6. S. J. Gould, «Darwinism and the Expansion of Evolutionary Theory», Science 216 (1982), págs. 380-387. 7. S. Lovtrup, Darwinism: The Refutation of a Myth (London: Croom Helm, 1987), pág. 352. 8. T. Bethel, «Agnostic Evolutionists: the Taxonomic Case Against Darwin», Harper’s 270 (February 1985), págs. 49-52, 56-58, 60, 61. 66 | Artigo 15 O Dilúvio: apenas uma catástrofe local? William H. Shea Um exame da evidência arqueológica e das tradições lingüísticas e literárias mostra que a simples inundação de um vale da Mesopotâmia não pode explicar adequadamente o dilúvio bíblico. Criacionistas e evolucionistas discordam quanto ao Dilúvio. Os criacionistas argumentam que a Bíblia é um documento divinamente inspirado e que seu registro do Dilúvio descreve um acontecimento histórico real, um dilúvio universal. Os evolucionistas respondem à narrativa bíblica de diversos modos. Alguns a rejeitam como não histórica e indigna de consideração séria. Outros, contudo, dão uma explicação que não concorda com a opinião criacionista. Sugerem que houve um acontecimento histórico que fornece a base para a história, mas que a história tem sido muito exagerada em relação ao acontecimento original. Pensam que houve uma inundação local grave no rio Tigre ou no Eufrates (ou em ambos), e que essa inundação foi ampliada de tal modo que quando o relato chegou ao escritor ou escritores bíblicos, foi considerado um dilúvio universal. Textos sobre Criacionismo A teoria de uma inundação local Esta teoria começou com um arqueólogo. Sir Leonard Woolley estava escavando em Ur, no sul do Iraque, no final da década de 1920, quando numa trincheira particularmente profunda seus operários chegaram a um depósito estéril de argila sem mais nenhum traço de civilização. Fez com que os operários continuassem a cavar através desse sedimento. Mais no fundo chegaram a uma nova camada de ocupação. De pé na trincheira com um dos operários e sua esposa, ele perguntou: ―Vocês sabem o que é isso, não sabem?‖ O operário olhou surpreso, mas a esposa prontamente respondeu: ―É o dilúvio de Noé!‖ E assim nasceu a teoria de uma inundação local na Mesopotâmia como a explicação do dilúvio bíblico. Depois da Segunda Guerra Mundial, Sir Max Mallowan, cavando em Nimrud (Calah), propôs uma revisão da teoria de Woolley. Ele queria atribuir o dilúvio bíblico a um nível diferente de depósito aluvial em outros lugares na Mesopotâmia. Ao passo que o dilúvio de Woolley tivesse sido fixado por volta de 3500 a.C. na maneira convencional de datação arqueológica, o professor Mallowan propôs a data de 2900 a.C. à camada que deu origem às histórias na Mesopotâmia, e depois na Bíblia, de um dilúvio. Nosso propósito aqui não é avaliar ou endossar essas datas arqueológicas, mas usá-las como base para comparação. A teoria de uma inundação local levanta muitos problemas, os quais podem ser examinados de três perspectivas diferentes: arqueologia, lingüística e tradições literárias. Tal exame vai determinar se a história bíblica do dilúvio remonta à história da inundação local de um rio na Mesopotâmia, ou à Bíblia como o registro histórico de um dilúvio universal. O teste da arqueologia Tratando-se da arqueologia, há dificuldade enorme em tentar achar o estrato correto em várias cidades para fazer a ligação com o dilúvio bíblico. A razão é que há diferentes níveis da inundação em diferentes cidades da Mesopotâmia, e outras cidades sem nenhum sinal de níveis de inundação. Assim o quadro das inundações locais na Mesopotâmia é como uma colcha-deretalhos na qual muitos dos retalhos diferem uns dos outros. Considere os depósitos do período que Woolley preferiu como fornecendo uma explicação para o Dilúvio. Eles foram encontrados em apenas dois lugares: Ur e Nínive. As diferenças entre esses dois locais deviam ser notadas. Nínive fica sobre o Tigre, no norte do Iraque. Ur está localizada num canal que sai do Eufrates, no sul do Iraque. Assim, essas duas cidades estão em extremos opostos do país e ficam sobre rios diferentes. Nenhum dos outros lugares intermediários que foram escavados produziu o mesmo nível de ―inundação‖. O trabalho de Woolley mostra que a inundação nem cobriu toda a cidade de Ur. Os habitantes locais podem ter considerado a inundação como algo sério, mas nem de longe foi na escala que podia ter sido ampliada em proporções universais. Bem, que tal o nível da inundação fixada em 2900 a.C.? Aqui pelo menos temos que ver com quatro cidades: Kish, Shuruppak, Uruk (a Ereque bíblica) e Lagash. Kish, dessas quatro cidades, é a que fica mais ao norte, perto de Babilônia. Shuruppak estava localizada num canal, no centrosul da Mesopotâmia. É famosa na tradição literária como a cidade da qual Atra-hasis, o herói do dilúvio, saiu. Uruk está situada no mesmo canal que Shuruppak, mas bem mais para o sul. Lagash está situada num canal mais para o leste, no sul da Mesopotâmia. A camada de solo estéril de Lagash, contudo, talvez não tenha vindo da inundação de um rio local ou de um canal, mas sim da fundação de um dos templos de Lagash, de acordo com André Parrot, que escavou Telloh em 1930 e 1931. As escavações em Kish levaram a quatro níveis diferentes de argila, e não um. Estendiam-se sobre um período de quatro séculos, segundo os escavadores. O mais antigo foi fixado por volta de 3300 a.C., o último, em 2900 a.C. O estrato superior tinha cerca de 30 cm de espessura. A questão então é: qual desses quatro níveis locais de inundação devia ser escolhido como a base para construir uma lenda de dilúvio para o texto bíblico? Nenhum deles parece ser tão importante, e a multiplicidade de camadas diminui o entusiasmo em identificar qualquer deles com a história bíblica. Os outros dois lugares poderiam parecer candidatos um pouco mais legítimos. Shuruppak, a moderna Tell Fara, foi escavada por Eric Schmidt. Em suas escavações de 1930 e 1931, Schmidt achou um depósito aluvial da espessura de 60 cm, que datava do começo do terceiro milênio a.C. Uruk estava localizada no mesmo canal, mas a uma boa distância mais para o sul. Julius Jordan em suas escavações de 1929 achou aí um estrato estéril de um metro e meio. Assim, dos quatro lugares envolvidos nesse período de tempo, um tinha níveis múltiplos de sedimento de inundação local; um não tinha sedimento algum de inundação; e dois tinham dois níveis de sedimento. Isso se compara com os dois lugares do período anterior, que também tinham sedimentos. Assim, umas compençam as outras, as inundações anteriores e posteriores. As inundações continuam até os tempos modernos. Houve uma grande inundação na região central do Iraque, em 1948. É interessante observar que a maior parte desses lugares foi escavada mais ou menos ao mesmo tempo, entre 1929 e 1932. Assim, a história local do dilúvio parece ser uma idéia em voga por volta de 1930, motivada pela sugestão de Woolley. Quando o caso é considerado como um todo, contudo, há muito pouca prova arqueológica para tal teoria. Os sedimentos de inundações junto aos rios eram irregulares, ora afetando uma cidade, e não outra, nas proximidades. Dos seis lugares estudados deste ponto de vista, somente um deles era situado sobre um grande rio: Nínive, sobre o Tigre. O resto era situado sobre canais que saíam dos rios, e não sobre os rios mesmos. Assim, devia-se provavelmente chamar essa teoria, a teoria do Dilúvio oriunda de canais na Mesopotâmia. O teste da lingüística O povo que vivia nessa área durante essas inundações fluviais, estava bem familiarizado com elas e as descreviam de vários modos. Tinham, contudo, um outro termo para o Grande Dilúvio. Esse termo era abubu, em acádio. Este termo foi usado para o Grande Dilúvio através do qual o herói do Dilúvio salvou sua família por meio da arca. O termo nunca foi usado para inundações locais. Foi empregado de um outro modo, porém, para descrever o ataque das hordas assírias sob certos reis. Nestes casos, o exército assírio esmagava seus inimigos como o abubu. O paralelo é bem mais válido quando comparado com o Grande Dilúvio da Mesopotâmia do que com uma inundação de um rio local. É assim que os reis assírios queriam dizer quão fortes eles eram. O hebraico bíblico faz algo semelhante. Tem um termo especial para o dilúvio de Noé, e essa palavra é mabbul. O termo é usado em apenas dois lugares, em Gênesis 6-9 e Salmo 29. O Salmo 29 diz que ―O Senhor Se assentou sobre o dilúvio‖ (v. 10). Isto quer dizer o dilúvio de Noé, não apenas qualquer inundação de um rio local. Este é um salmo que descreve a tempestade do poder Textos sobre Criacionismo | 67 68 | divino. Baal não é o deus da tempestade. Jeová é, e Ele controla os elementos da Natureza segundo Seu propósito. Isto era verdade mesmo durante o maior cataclisma que este mundo jamais vira no passado, o dilúvio de Noé. Do mesmo modo que os reis da Assíria comparavam o poderio de seu exército com a maior potência jamais vista na Natureza, assim Deus compara Seu poder sobre a Natureza com a maior demonstração de Seu poder jamais vista na Terra. Pode haver uma relação entre os dois termos. Não é certo se o da língua semítica oriental acrescentou as consoantes quando foi adotado pelo semítico ocidental, ou vice-versa, se o termo caminhou na direção oposta. Isso dá o termo composto de (m)abubu(l). A etimologia do termo é obscura em ambas as línguas, mas aquilo a que se aplica é eminentemente claro: Era empregado somente para o Grande Dilúvio nas duas línguas, e não era usado para nenhuma inundação no vale de um rio local. Textos sobre Criacionismo O teste de tradições literárias As histórias do Dilúvio têm dois elementos principais. Um trata da extensão do Dilúvio em termos de descrição; o outro trata dos resultados. Em ambos os casos, nas duas culturas e em ambas as línguas, a diferença entre o Grande Dilúvio e as inundações locais era bem reconhecida. O primeiro aspecto disso é a questão da terminologia inclusiva, como se vê na história do dilúvio bíblico. A questão aqui é: Quão inclusiva era aquela língua? Gerhard Hasel tratou deste assunto em seu artigo ―The Biblical View of the Extent of the Flood‖ (ver ―Bibliografia‖). Como Hasel assinala, a frase ―a face de toda a terra‖ é usada 46 vezes em Gênesis 6-9. A frase ―toda carne‖ é usada 13 vezes. A frase ―toda criatura vivente‖ é usada três vezes. E Gênesis 7:19 reza ―debaixo do céu‖. Estas frases referem-se à extensão do Dilúvio. É verdade que no hebraico o termo todo nem sempre significa 100 por cento, mas aqui em Gênesis 6-9, onde é apoiado pela multiplicidade de tais expressões, certamente devia significar isto. A versão do Dilúvio que se acha no poema de Gilgamés diz o mesmo: ―toda a humanidade virou barro‖ (XI:133). Utnapishtim, o herói do dilúvio, abriu a janela de sua arca e contemplou a terra seca. É também interessante notar que não foi a subida dos rios por causa da fusão da neve na Anatólia que causou o dilúvio. Segundo Utnapishtim, foi a tempestade que causou o dilúvio; uma tempestade vinda das nuvens, acompanhada de relâmpagos no céu. Quando prestes a testar as possibilidades de abandonar a arca, ele também soltou aves, como Noé. Os primeiros dois | 69 pássaros, uma pomba e uma andorinha, voltaram à arca porque ―nenhum lugar de pouso era visível‖ (XI:148, 151). Não há dúvida aqui sobre a extensão vasta do dilúvio. A parte sobre a tempestade que provocou o dilúvio falta no tablete do Gênesis sumério de Eridu e do épico de Atra-hasis. Mas as partes que sobreviveram nos contam da seqüela no panteão. Uma disputa extraordinária surgiu entre os deuses. A maior parte deles estava arrependida de ter trazido o dilúvio e destruído a humanidade. Enlil, porém, o primeiro ministro entre os deuses e o maior culpado de causar o dilúvio, teve a reação oposta. Ele descobriu que algumas pessoas tinham escapado do dilúvio e sobrevivido. Ficou furioso. O propósito do dilúvio era acabar com toda a humanidade, e o fato de que alguns escaparam era absolutamente contrário a seu desígnio. Daí seu furor. Ele tinha sido enganado por Enki (Ea), o deus da sabedoria, que dissera ao herói do dilúvio que construísse um barco e recolhesse a bordo sua família e os animais para escapar ao dilúvio. Parte do diálogo pode ser recuperada do épico de Atra-hasis. A deusa que tinha dado forma à humanidade lamentava a decisão de trazer o dilúvio: ―Na assembléia dos deuses, como comandei eu, junto com eles, destruição total?‖ Ela lamenta que Anu, o deus principal, concordou com essa decisão: ―Aquele que não considerou mas causou o dilúvio e consignou os povos à destruição?‖ Uma vez mais pergunta aonde foram os deuses: ―Aqueles que não consideraram, mas causaram um dilúvio e consignaram os povos à destruição? Vós decidistes sobre destruição total‖ (Atrahasis, págs. 95, 97, 99). A ira de Enlil é revelada quando ele indaga: ―Onde escapou a vida? Como sobreviveu o homem à destruição?‖ (Idem, pág. 101). Enki tem de confessar que foi ele o ―responsável por salvar vidas‖. A mesma idéia é expressa pela informação que Enki deu a Ziusudra, o herói do dilúvio na versão suméria. Ao adverti-lo para se preparar para o dilúvio iminente ele disse: ―A decisão de que a humanidade devesse ser destruída foi feita; um veredito, uma ordem pela assembléia [divina], não pode ser revogada‖ (Journal of Biblical Literature 100 [1981]: 523). De tudo isto se infere que era intenção de Enlil destruir toda a humanidade com o dilúvio. Os deuses na assembléia votaram a favor, mas se arrependeram depois. Mas quando uma parte da humanidade escapou, o intento de Enlil foi frustrado e ele irou-se porque tinha resolvido destruir todo ser humano, e foi somente porque Enki o enganou que algumas pessoas escaparam. A narrativa bíblica do Dilúvio se aproxima desta, mas faz uma distinção moral que não consta na versão mesopotâmica. Deus estava aborrecido com a impiedade da humanidade, mas decidiu salvar os poucos justos por meio da arca de Noé (Gênesis 6:4-8). Não se poderia fazer isto, nem na escala bíblica, nem na de Babilônia, somente com uma inundação local. Requer-se um dilúvio universal para se destruir a humanidade. Como poderia Marte ter um dilúvio? Contudo, como se poderia explicar a presença de vales ligados entre si, marcas gigantescas de erosão, paredes de crateras desgastadas e canais enormes? Parece que uma inundação catastrófica ocorreu outrora no ―planeta vermelho‖, com rios gigantescos de mais de 100 km de largura, talvez com 500 metros de profundidade, com água correndo com a velocidade de até 200 km por hora.1 Marte poderia ter um oceano que continha mais água que o Caribe e o Mediterrâneo juntos. Calculou-se que as inundações poderiam ter enchido o oceano de Marte em poucas semanas. De onde veio a água e onde está agora? A água parece ter jorrado com força de grandes fraturas na superfície de Marte, como as ―fontes do abismo‖. Por que jorraram subitamente e para onde foram, são perguntas sem resposta. Mas a evidência de inundação lá está. Pode-se ter uma idéia do fenômeno visitando o Channeled Scabland do leste do Estado de Washington, que também foi formado por uma inundação catastrófica sobre um terreno vulcânico.2 Talvez umas das sondas enviadas a Marte revelará alguns dos mistérios das inundações marcianas. 1. V. R. Baker, ―The Spokane Flood Controversy and the Martian Outflow Channels,‖ Science 202 (1979), págs. 1249-1256. 2. V. R. Baker e outros, ―Ancient Oceans, Ice Sheets and the Hydrological Cycle on Mars,‖ Nature 352 (1991), págs. 589-594. Textos sobre Criacionismo Inundações em Marte? 70 | Textos sobre Criacionismo Evidência geológica do dilúvio de Gênesis Um acontecimento como o dilúvio narrado em Gênesis haveria de deixar evidência significativa nas camadas de rochas da terra. Quando essas camadas são examinadas, um número de descobertas importantes sugere uma interpretação na base de um dilúvio. Durante um dilúvio universal, havia-se de esperar atividade catastrófica tão rápida quanto extensa, e pode-se ver tal evidência. Devemos ter em mente, porém, que, ao tratar de um acontecimento passado como o Dilúvio, estamos lidando com interpretações e não com observações diretas. Eis algumas das características das rochas que sugerem um dilúvio universal. 1. Sedimentos marinhos sobre os continentes. No mundo, cerca da metade dos sedimentos sobre os continentes atuais veio do mar. Como é que tanto material marinho se depositou sobre os continentes? Era de se esperar que ficasse no oceano. A distribuição extensa de oceanos sobre os continentes é certamente uma situação que difere de hoje — e ela é coerente com a crença num dilúvio universal. 2. Abundante atividade de água subterrânea nos continentes. Evidência disso é percebida em grandes ―leques submarinhos‖ antigos e outros depósitos submarinhos, como as turvações encontradas nos continentes. Turvações são aglomerações de rochas, limo, areia e partículas de argila depositadas em camadas debaixo d‘água. Estudos de turvações demonstraram que enormes depósitos de vários metros de espessura e cobrindo até 100 mil quilômetros quadrados podem ser depositados no oceano em questão de horas depois de terremotos. Milhares de camadas de sedimento sobre os continentes, outrora considerados como tendo sido depositados através de longos períodos em água raza, agora são vistos como depósitos rápidos de turvações, como se havia de esperar durante o dilúvio bíblico. 3. Distribuição ampla de sedimentos exóticos. Muitas camadas de sedimento exótico cobrem áreas tão grandes que é difícil crer que foram depositados lentamente sob condições nãocatastróficas. Por exemplo: no oeste dos Estados Unidos, o conglomerado de Shinarump, que tem uma espessura de 30 metros, cobre quase 250 mil quilômetros quadrados. A formação Morrison, de 100 metros de espessura, que contém os restos de muitos dinossauros, se estende sobre mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, e o grupo Shinle, que encerra madeira petrificada, cobre 800 mil quilômetros quadrados. 4. Ausência de erosão nas lacunas das camadas sedimentares. Freqüentemente há lacunas na seqüência de camadas sedimentares de terra. Podemos identificar essas lacunas comparando-as com outras séries de camadas e fósseis encontrados alhures. Amiúde vastas camadas geológicas, datadas de uma época pela escala geológica padrão, jazem sob uma outra considerada muito mais recente. Os estratos que representam o longo tempo que se admitiu entre as camadas, faltam em algumas localidades. Contudo, nessas lacunas as camadas inferiores mostram pouca evidência de erosão que certamente teria ocorrido se tivessem existido por muitos milhões de anos. Com efeito, segundo a erosão média corrente, as camadas em questão — e muito mais — teriam sofrido erosão nesse período de tempo. A falta de erosão na maior parte destas lacunas sugere depósito rápido, como havia de se esperar no caso de um dilúvio, quando havia pouco tempo para a erosão. 5. Sistemas ecológicos incompletos. Em vários estratos que contêm fósseis, tais como o arenito de Coconino, da região do Grand Canyon, e a formação Morrison, do oeste dos Estados Unidos, achamos boa evidência de fósseis de animais, mas pouca ou nenhuma evidência de plantas. Os animais requereriam plantas como alimento. Contudo, poucas plantas foram encontradas no Morrison, que encerra restos de muitos dinossauros, e nenhuma planta foi encontrada no Coconino, com suas centenas de rastros de animais. Como poderiam os animais sobreviver durante milhões de anos sem nutrição adequada? A seleção operada e a ação rápida que se havia de esperar das águas do Dilúvio parece ser uma explicação mais plausível. Ariel A. Roth, Ph.D., Instituto de Pesquisa Geológica William H. Shea (M.D., Loma Linda Unuiversity; Ph.D., Universidade de Michigan) é diretorassociado do Instituto de Pesquisa Bíblica na Associação Geral. Seu endereço: 12501 Old Columbia Pike, Silver Spring, MD 20904-6600; E.U.A. | 71 Bibliografia Textos sobre Criacionismo Sobre inundações locais de rios da Mesopotâmia e a evidência arqueológica, ver LLoyd R. Bailey, Noah: The Person and the Story in History and Tradition (Columbia: University of South Carolina, 1989), págs. 28-37. Para a versão suméria, ver Thorkild Jacobsen, ―The Eridu Genesis,‖ Journal of Biblical Literature 100 (1981): 513-529. Para a história do dilúvio na Babilônia antiga, ver W. G. Lambert e A. R. Millard, Atra-hasis: The Babylonian Story of the Flood (Oxford: Clarendon, 1969). Para a história do dilúvio neo-assíria, ver J. B. Pritchard, ed., Ancient Near Eastern Texts Relating to the Old Testament (Princeton: Princeton University, 1955), págs. 93-96. Para a linguagem bíblica quanto à extensão do Dilúvio, ver Gerhard F. Hasel, ―The Biblical View of the Extent of the Flood,‖ Origins 2 (1975), págs. 77-95. 72 | Artigo 16 Fósseis: Sua origem e significado Textos sobre Criacionismo Carlos F. Steger Uma das evidências mais significativas que os evolucionistas oferecem em apoio à sua teoria das origens é derivada da paleontologia.1 Os paleontólogos estudam fósseis de animais e plantas remanescentes ou traços de organismos que existiram no passado, tais como um esqueleto, uma pegada ou a impressão deixada por uma folha. Como ciência, a paleontologia está ligada tanto à geologia, porque estuda os fósseis enterrados nas camadas e nas rochas da crosta terrestre, como à biologia, visto que examina formas antigas de vida fossilizadas. 2 Embora os achados de fósseis sejam freqüentemente usados para apoiar a teoria da evolução, mostraremos que eles clamam em apoio ao relato bíblico de um dilúvio universal. Nossos exemplos são extraídos principalmente de achados fósseis na América do Sul, uma área do mundo na qual realizei considerável volume de pesquisas. O estudo de fósseis é uma ciência antiga. Os egípcios e os gregos identificaram fósseis de animais marinhos. Leonardo da Vinci definiu fósseis como restos de organismos do passado, e Alessandro, seu compatriota, explicou sua presença nas montanhas como causada pela emersão de sedimentos do leito marinho. 3 Durante o século 16, Gesner publicou um catálogo da primeira coleção européia de fósseis. Descobertas de fósseis e explicações quanto a sua origem seguiramse uma após a outra, a partir do século 17.4 Etimologicamente, fóssil significa algo extraído da terra. O termo é também aplicado a toda evidência de vida de um passado remoto. 5 Um organismo se transforma em fóssil somente sob certas circunstâncias: 1. Um organismo precisa sofrer sepultamento repentino e assim ficar isolado escapando da extinção por fatores mecânicos, químicos e biológicos em seu ambiente. Todos os fósseis são assim uma evidência desse tipo de enterramento.6 2. O organismo precisa ser preservado por sais minerais, geralmente cálcio ou sílica, 3. dissolvidos no sedimento em que se acha sepultado.7 | 73 4. Essa mineralização é produzida pela pressão do sedimento, que faz com que os sais penetrem no organismo. Em certos casos, o organismo pode ser completamente preservado por congelamento, por oclusão em resina (âmbar), ou por inumação num poço de asfalto ou numa turfeira.8 Originalmente, a paleontologia convergia sua atenção para os organismos fossilizados completos ou parciais. Recentemente, contudo, o interesse das investigações dos paleontólogos ampliou-se para incluir várias manifestações de organismos antigos, tais como seus moldes interiores ou exteriores, tocas, coprólitos ou excrementos fósseis, pegadas e pistas, bem como outras evidências não só da presença, mas também da ação direta, de um organismo. Exemplo disso são as marcas petrificadas deixadas na lama por restos de plantas arrastadas pela água. 9 Alguns autores incluem, nessa categoria, marcas de ondulações e traços de gotas de chuva. Precaução necessária É preciso que se destaque um risco persistente no estudo de fósseis. Nos casos em que somente partes do organismo são achadas, ou o organismo foi alterado pelo processo de fossilização, os cientistas acham necessário reconstruí-lo a fim de interpretar o fóssil, comparando-o a organismos do presente ou a fósseis semelhantes. Tal tarefa está sujeita às pressuposições e à imaginação de quem faz a reconstrução e portanto não pode ser totalmente objetiva ou digna de confiança.10 O mesmo se aplica à classificação dos fósseis. Muitos autores reconhecem que seus sistemas de classificação, além de artificiais, pressupõem a adoção de uma cosmovisão pessoal. 11 Por causa desse elemento subjetivo na interpretação ou reconstrução e as incompletas informações disponíveis, podemos esperar erros nas conclusões dos pesquisadores. Além disso, têm havido casos nos quais o investigador capitulou diante de seu ―paradigma‖, falsificando os fatos, especialmente no campo da paleoantropologia (o estudo de fósseis humanos).12 Estratigrafia e fósseis Durante o século 18, W. Smith propôs a caracterização das formações geológicas pelos fósseis nelas encontrados. Esse princípio é aplicado na paleontologia e na geologia. 13 Muito embora uma sucessão ininterrupta de fósseis e rochas não seja encontrada em parte alguma do globo, os cientistas criaram uma coluna geológica ideal correlacionando fósseis e sedimentos de diferentes lugares, mormente da Europa.14 Para caracterizar cada período na coluna geológica, foram usados ―fósseis-padrão‖ — fósseis típicos achados naquele sedimento. Uma característica notável da coluna geológica é o surgimento e desaparecimento súbitos de alguns desses fósseis típicos, sem evidência de seus ancestrais diretos ou de seus descendentes.15 A coluna estratigráfica pode ser interpretada com base em duas teorias ou modelos: uniformismo (ou atualismo) e catastrofismo (ou diluvialismo), para as quais voltaremos agora a nossa atenção. Diversos filósofos gregos sustentavam a teoria de que os fenômenos naturais correntes ajudavam a explicar acontecimentos do passado. Em 1788, J. Hutton adotou essa idéia ao desenvolver sua teoria da história da Terra, afirmando jamais ter observado ―qualquer vestígio de um começo, nem qualquer previsão de um fim‖. 16 Essa teoria, aplicada à geologia e à paleontologia, é conhecida como uniformismo ou atualismo. Ela propõe que todos os fenômenos podem ser explicados como resultado de forças que têm operado uniformemente desde a origem da vida até o tempo presente. Avaliemos esse modelo à luz da evidência paleontológica. Textos sobre Criacionismo O uniformismo como modelo 74 | Textos sobre Criacionismo Os cientistas que aderem ao uniformismognoram a presença e representantes da maioria dos filos no período cambriano — o primeiro período da era paleozóica — e chamam seu aparecimento súbito ―a explosão de vida.‖ 17 É por isso que a taxionomia atual, que facilita a classificação dos fósseis baseada em evidências de pequenas mudanças na natureza, é aplicada pelos paleontólogos. Alguns autores propõem as séries filéticas (história ancestral) de um animal como o cavalo, por exemplo. Mas é difícil de baseá-la no registro fóssil. Sempre há ―elos perdidos‖, segundo S. J. Gould. 18 Gerald Kerkut chama a atenção para o fato de que a seimouria, um suposto elo entre anfíbios e répteis, foi infelizmente descoberto... 20 milhões de anos depois de seu aparecimento. 19 Segundo certos paleontólogos, as lacunas são notórias.20 Assim o arqueoptérix, antes considerado um elo, é agora reconhecido como um pássaro.21 Uma vez que a paleontologia não provê evidência da evolução gradual dos organismos proposta por Darwin, alguns paleontólogos têm adotado a teoria engenhosa de S. J. Gould chamada de ―a evolução aos saltos‖ ou ―equilíbrio pontuado‖, cujos postulados propõem que a evolução ocorreu em inexplicáveis mas progressivos ―saltos‖. Outros ainda tentam demonstrar o efeito progressivo de pequenas variações acumuladas.22 A interpretação padronizada do registro fóssil confronta quatro desafios: 1. A constância de algumas formas de vida através das eras geológicas, chamadas homeóstases. Há plantas e animais que não mudaram desde o cambriano ou períodos anteriores, como o gambá, por exemplo, que permaneceu sem variação desde o cretáceo até hoje. Entre as plantas estão as cicadáceas (semelhantes às palmas), que têm permanecido invariáveis desde o carbonífero.23 2. A diminuição em tamanho ou a perda de complexidade em diversos organismos, o que revela involução ou regressão evolucionária em vez de aumento de tamanho e complexidade. Nalguns casos, quando uma parte atrofiada permanece, é designada ―órgão ou membro vestigial‖. Esse é o caso do cavalo, como evidenciado pelos restos de seus ancestrais.24 Podemos também mencionar o pássaro Argentavis magnificens, de La Pampa, Argentina, e o pingüim na Antártica, como exemplos de redução de tamanho animal, em relação a seus ancestrais pré-históricos. O megatério (preguiça gigante), o gliptodonte (tatu gigante), e o Carcarodon megalodon (tubarão gigante), o terror dos mares terciários, são outros exemplos de redução em tamanho. 25 Os registros fósseis de muitos invertebrados revelam uma ―diminuição evolucionária em diversidade‖, a qual ―só pode ser justificada por um declínio evolucionário‖. Esse é o caso de cefalópodes, crinóides e braquiópodes.26 3. Plantas ou animais que se pensava estarem extintos há milhões de anos foram descobertos vivos ainda hoje. Alguns autores os designam como ―fósseis vivos‖, por exemplo, o peixe celacanto e a árvore ginkgo biloba.27 4. Finalmente, há fósseis que contradizem a teoria comumente aceita. Em vez de ancestrais de vertebrados com esqueletos cartilaginosos, apresentam o oposto, como no caso dos ostracodermas.28 | 75 O conceito de uma catástrofe universal, como o dilúvio descrito na Bíblia, está presente em muitas tradições de cada continente. 29 Serão essas tradições mera coincidência? Ou apontam para um cataclismo real, vividamente lembrado através de muitas gerações? Alguns autores, como Derek Ager, afirmam que os sedimentos da Terra foram depositados na e pela água, através de uma catástrofe. Esses autores sugerem ainda eventos catastróficos como a causa do aparecimento e desaparecimento de organismos no registro dos fósseis, embora a maioria deles não aceite a idéia de uma catástrofe global.30 No fim do século 16, T. Burnet publicou um livro sobre a origem do mundo e sua destruição por um dilúvio, merecendo a apreciação de Isaque Newton. Grandes naturalistas do século 19, tais como Cuvier e D‘Orgigny, também defenderam a teoria do dilúvio. Tentando ajustar o registro bíblico ao conhecimento científico de seu tempo, eles apresentaram interpretações que desacreditaram a Bíblia no mundo científico. 31 Muito das evidências do registro de fósseis, os quais só são possíveis se houver um enterramento rápido, pode ser explicado pela ―teoria de zoneamento ecológico‖ de H. W. Clark. Essa teoria supõe o sepultamento dos organismos em seus habitats respectivos enquanto as águas varriam a Terra, produzindo assim a sucessão de fósseis.32 A geologia convencional afirma que como resultado do movimento bascular dos continentes, que os ergueu e baixou, os mares cobriram a maior parte da América do Sul. 33 Achamos que essas invasões bem poderiam ter sido parte do acontecimento catastrófico conhecido como o dilúvio bíblico. Isso explicaria a presença de amonites (invertebrados marinhos) em altitudes de milhares de metros no meio da cordilheira dos Andes, subindo através de Cajón del Malpo, próximo a Santiago do Chile, ou do outro lado dos Andes, em Neuquén, Argentina. Muitos fósseis fornecem evidência de que não viveram no lugar onde foram descobertos.34 A orientação dos troncos de árvores e a ausência de raízes em florestas petrificadas da Patagônia, no sul da Argentina, revelam que um transporte precedeu o sepultamento. O agente mais provável dessa transportação foi a água, conforme demonstrado pelo estudo de Harold Coffin acerca da catástrofe do Monte St. Helens, nos Estados Unidos.35 O mesmo pode ser aplicado à ecologia de animais e plantas dentro do mesmo período geológico. Fósseis de animais e de plantas que deviam ter servido como seu alimento, freqüentemente não aparecem juntos como era de se esperar. Isso pode ser visto não somente na América do Norte, mas também na América do Sul, como no caso dos dinossauros na Patagônia. A melhor explicação para os grandes depósitos de carvão e de petróleo é os acontecimentos catastróficos que produziram o acúmulo e posterior enterro de imensas quantidades de plantas e animais.36 Em La Portada, a 15 quilômetros ao norte de Antofagasta, Chile, há um enorme depósito de fósseis de conchas marinhas. Trata-se de ―banco de conchas‖, com uma espessura média de 50m e extensão de muitos quilômetros. Sua causa mais provável é a ação da água seguida de enterramento rápido. Mas isso acontece em nossos dias? Alguns pesquisadores afirmam que ―conchas não podem acumular-se permanentemente no leito do mar‖, e acrescentam: ―A pergunta freqüentemente levantada acerca de como tão pouco se acha preservado... devia ser substituída por: Por que algo foi preservado, afinal?‖.37 A angustiosa posição no momento de sua morte violenta, revelada por muitos animais fossilizados tais como os peixes da formação de Santana, no Brasil, oferece evidência inegável Textos sobre Criacionismo O catastrofismo como modelo 76 | de catastrofismo. Outra evidência é a excelente preservação de pequenos peixes e insetos da mesma formação no Estado do Ceará, Brasil, com todos os detalhes de sua delicada estrutura. 38 Fósseis tridimensionais de animais (que são muito raros) dão evidência de um sepultamento ainda em vida, ou de um enterramento imediatamente após a morte. O estudo de alguns peixes da formação de Santana revelou a presença de parasitas (copépodes) em suas barbatanas. A investigação mostrou que a petrificação de alguns espécimens deve ter começado enquanto o animal estava vivo.39 O mesmo fenômeno é visto em fósseis de trilobitas encontrados em Jujuy, Argentina, e entre La Paz e Oruro, no Altiplano Boliviano. Em Quebrada de Humahuaca, em Jujuy, e no monte Tunari, em Vinto, Cochabamba, Bolívia, a preservação de ―cruzianas‖ (traços de trilobite) é ainda mais notável. Outra evidência do súbito sepultamento de organismos vivos é a de ostras fechadas e petrificadas achadas ao longo de pequenos rios, perto de Libertador San Martin, em Entre Rios, Argentina, e em muitos lugares da Patagônia.40 Esqueletos delicados e articulados de mesossauros podem ser achados em rocha calcária, no Estado de São Paulo, Brasil. Segundo a geologia uniformista, cada camada de sedimentos exigiu um ano para ser depositada, mas o diâmetro de muitos desses pequenos ossos de dinossauros excede a espessura de uma camada. Se o modelo uniformista for aceito, é imperioso também admitir o fato de que os ossos frágeis do mesossauro foram expostos a agentes destrutivos por um ano, sem serem desarticulados ou degradados antes que o sedimento seguinte fosse depositado — um cenário irreal. Kurtén salienta: ―Muitos esqueletos completos desses dinossauros [Hadrossauros] foram achados na posição de nado e com as cabeças puxadas para trás, como se estivessem agonizando.‖ 41 Isso, novamente, fornece apoio para o modelo catastrófico. Conclusão Que história os fósseis, incluindo os achados na América do Sul, nos contam? Eles falam de um enterro catastrófico por água em muitas áreas do mundo, contradizendo assim o modelo uniformista. Um número crescente de geólogos modernos concorda com essa opinião, embora não admitam a teoria de um dilúvio universal. Nós, que nos apoiamos na história bíblica de um dilúvio universal, achamos no registro de fósseis abundante evidência de que a superfície da Terra experimentou as convulsões de uma destruição catastrófica. Carlos F. Steger é diretor da filial do Geoscience Research Institute, com sede em Loma Linda, Califórnia. Seu endereço: Instituto de Geociência, Universidad Adventista del Plata; 3103 Libertador San Martin, Entre Rios; Argentina. Textos sobre Criacionismo Notas e referências 1. Gerald A. Kerkut, Implications of Evolution (Oxford: Pergamon Press, 1973), pág. 134. 2. Horacio Camacho, Invertebrados fósiles (Buenos Aires: Eudeba, 1966), pág. 1. 3. André Cailleux, Historia de la Geología, segunda edição (Buenos Aires: Eudeba, 1972), págs. 14, 22 e 37. 4. Idem, pág. 12. 5. Camacho, pág. 12. 6. A. Brouwer, General Palaeontology (Chicago: The University of Chicago Press, 1968), pág. 15; Camacho, pág. 28. 7. Björn Kurtén, Introducción a la Paleontología: El mundo de los dinosaurios (Madrid: Ediciones Guadarrama, 1968), pág. 11; Paolo Arduini e Giorio Teruzzi, Guía de fósiles (Barcelona: Ediciones Grijalbo, 1987), pág. 12. 8. Cyril Walker e David Ward, Fósiles (Barcelona: Ediciones Omega, 1993), pág. 12; Kurtén, pág. 13. 9. Kurtén, pág. 14; Arduini, pág. 10. 10. George Gaylord Simpson, El sentido de la evolución (Buenos Aires: Eudeba, 1978), págs. 48, 49; Kurtén, pág. 12. 11. Derek V. Ager, The Nature of the Stratigraphical Record (Chichester, England: John Wiley & Sons, 1993), pág. 30; Walker e Ward, pág. 8; David M. Raup e Steven M. Stanley, Principios de Paleontología (Barcelona: Editorial Ariel, 1978), págs. 124 e 143. 12. Eric Trinkaus e William W. Howells, Neandertales, em Investigación y Ciencia, n° 41, págs. 60-72; edição castelhana da Scientific American (fevereiro de 1980), pág. 62; Kurtén, pág. 18. 13. Camacho, pág. 3; Kurtén, pág. 20. 14. Francis Hitching, The Neck of the Giraffe: Where Darwin Went Wrong (New York: Ticknor & Fields, 1982), pág. 16; Cristian S. Petersen e Armando F. Leanza, Elementos de geología aplicada (Buenos Aires: Librería y Editorial Nigar, 1979), pág. 305. 15. Arduini, pág. 19; Petersen, págs. 303 e 304. 16. Stephen Jay Gould, La flecha del tiempo (Madrid: Alianza Editorial, 1992), págs. 82 e 139; Cailleux, págs. 19 e 79. | 77 17. Simon Conway Morris e H. B. Whittington, Los animales de Burgess Shale em Investigación y Ciencía, n° 36 (setembro de 1979), págs. 88-99; Simpson, págs. 15, 16, 21 e 22; Raup, pág. 16. 18. Ver Simpson, págs. 40, 45-49; Raup, pág. 124; Camacho, pág. 58. 19. Kerkut, pág. 135. 20. Hitching, pág. 19. 21. Kurtén, pág. 140. 22. Michael Shermer, 25 Creationists Arguments and 25 Evolutionists Answers,‖ Skeptic, 2:2, págs 17; Hitching, pág. 17. 23. Simpson, págs. 113-115; Arduini, pág. 26. 24. Kurtén, págs. 71 e 72; Arduini, pág. 26. 25. Leonard Brand, ―Fósiles Gigantes del Mundo Antiguo‖, Ciencia de los Orígenes 33 (setembro a dezembro de 1992), págs. 1-3; Kurtén, pág. 72. 26. Raup, pág. 2l; Simpson, pág. 24. 27. Kurtén, pág. 67. 28. Kerkut, pág. 136; Kurtén, pág. 60. 29. Cailleux, págs. 12 e 26. 30. Ager, págs. 27, 33, 60 e 65, ff. 31. J. Fuset-Tubiá, Manual de Zoología (México, D.F.: Edit. Nacional, 1949), pág. 198; Cailleux, pág. 75; Gould, pág. 147. 32. Ariel A. Roth, Origins: Linking Science and Scripture (Hagerstown, Maryland: Review and Herald Publ. Assn., 1998), págs. 170-175. 33. Anselmo Windhausen, Geología Argentina, (Buenos Aires; S. A. Jacobo Peuser, 1931), parte 2, págs. 417 e 546. 34. Kurtén, págs. 15 e 16; Camacho, pág. 28. 35. Harold Coffin, ―Mount St. Helens and Spirit Lake‖, Origins, 10:1 (1983) págs. 9-17); Ariel Roth, ―Ecosistemas incompletos‖, Ciencia de los Orígenes, setembro a dezembro de 1995, págs. 11-13. 36. Arduini, pág. 12; Kurtén, pág. 71. 37. Eric Powell, George Staff, David Davies e Russel Callender, ―Rates of Shell Dissolution versus Net Sediment Accumulation: Can Shell Beds Form by Gradual Accumulation of Hardparts on the Sea Floor?‖ Abstracts With Programs, 20:7 (1998); Reunião Anual, Geological Society of America, 1988. 38. Harold Coffin, ―La Asombrosa Formación Santana‖, Ciencia de los Orígenes, maio a agosto, 1991, págs. 1, 2 e 8. 39. Idem, pág. 2. 40. Joaquín Frenguelli, Contribución al conocimiento de la geología de Entre Ríos (Buenos Aires: Imprenta y Casa Editora Coni, 1920), pág. 43. Textos sobre Criacionismo 41. Kurtén, pág. 115. 78 | Artigo 17 A busca por inteligência extraterrestre Textos sobre Criacionismo Urias Echterhoff Takatohi A busca por inteligência extraterrestre (SETI – Search for Extraterrestrial Intelligence) envolve numerosos projetos. Todos eles objetivam encontrar evidências de inteligência extraterrestre através de sinais de rádio vindos do espaço. O primeiro desses projetos foi levado a efeito em 1960 pelo astrônomo Frank Drake, atual diretor do SETI Institute. O principal projeto do instituto recebeu o nome de Phoenix, com um orçamento anual de 4 a 5 milhões de dólares. O projeto utiliza grandes radiotelescópios para captar sinais provenientes de estrelas semelhantes ao Sol, que estejam a menos de 200 anos-luz de distância. Além do SETI Institute, outras instituições de pesquisa trabalham em projetos similares; são elas: SERENDIP (Search for Extraterrestrial Radio Emissions from Nearby Developed Intelligent Populations); SETI@Home da Universidade da Califórnia, Berkeley; Southern SERENDIP, na Austrália; Harvard SETI Group e outros.1 Por que os cientistas envidam todos os esforços nesse tipo de atividade? Uma rápida olhada na história do pensamento humano pode ajudar-nos a entender a questão. Até o século XIX, a maior parte do mundo cristão cria que o cosmos e tudo o que nele há eram resultado da criação divina. Os cientistas davam pouca atenção a questões sobre a origem do universo e da vida. Entretanto, a partir do século XVII, os cientistas descobriram processos regulares na Natureza, que podiam ser explicados por meio de leis abrangentes, algumas vezes expressas na linguagem precisa da matemática. Essas leis naturais e suas teorias permitiam fazer predições de fenômenos, e promover o desenvolvimento de tecnologias que possibilitavam até o controle da própria Natureza. Como resultado, em meados do século XIX, fortaleceu-se a idéia de que a figura de um Deus Criador era desnecessária para explicar os fenômenos naturais. O cosmos se tornou a realidade fundamental. Nessa cosmovisão denominada naturalismo ou materialismo, a busca por uma explicação sobre a origem de tudo, sem menção de um Criador, constituía-se uma necessidade lógica. A procura pelas origens resultou na teoria da diversidade biológica e levou, em 1859, à publicação do livro A Origem das Espécies, de Charles Darwin. Na mesma época, Pasteur abordou experimentalmente a questão da origem da vida, demonstrando que as velhas idéias sobre geração espontânea eram falhas. Porém, a cosmovisão naturalista requer que a vida tenha surgido de combinações não dirigidas de matéria, seguindo apenas as leis da física e da química, sem a intervenção de um agente criativo inteligente. Ernst Haeckel, um biólogo alemão, e Thomas H. Huxley, partidário de Darwin, entendiam que o processo de origem da vida era simples, pois não conheciam detalhes da estrutura das células vivas. Apesar do otimismo inicial, nenhuma teoria adequada sobre a origem da vida foi desenvolvida até agora, e os livros didáticos de biologia ainda citam as hipóteses do bioquímico russo Oparin (c. 1930), e os experimentos de Stanley Miller, da Universidade de Chicago (1952), como progressos nessa direção. Apesar dessas experiências terem falhado na tentativa de explicar a origem natural da vida, as suposições naturalistas ou materialistas defendem a idéia de que a vida surgiu sem a intervenção de um Deus inteligente. Considerando a teoria em voga sobre a origem do Universo e da Terra, o surgimento da vida no planeta ocorreu de forma bastante rápida. (Segundo essa teoria, a idade do Universo é de 10 a 20 bilhões de anos. A crosta terrestre teria 4,5 bilhões de anos e a vida surgiu há cerca de três bilhões de anos). Considerando a existência de um número estimativo de 400 bilhões de estrelas em nossa galáxia, e de cerca de 100 bilhões de galáxias no Universo, é razoável supor que muitas dessas estrelas possam ter em seus sistemas planetas semelhantes à Terra, nos quais a vida tenha se desenvolvido como ocorreu em nosso mundo, resultando em civilizações tecnológicas capazes de transmitir mensagens de rádio. Esse arrazoado, com base numa cosmovisão naturalista, é a motivação por trás dos projetos SETI. A metodologia Os diversos projetos SETI procuram sinais de rádio de banda estreita com freqüência definida, como os sinais de nossas estações de rádio e TV. As fontes naturais de ondas de rádio vindas do espaço geralmente produzem sinais de banda larga, enquanto que os transmissores de rádio e TV apresentam freqüência específica. Fazendo uma analogia com as ondas sonoras, uma estação de rádio ou TV emite uma nota simples como o som de uma flauta, enquanto que as fontes de rádio | 79 naturais produzem um som semelhante ao de uma cachoeira. Espera-se que extraterrestres inteligentes construam transmissores de rádios semelhantes aos nossos. Também se espera que algum ser inteligente, que deseje transmitir ondas eletromagnéticas através do espaço, use uma freqüência de cerca de 1420MHz2. Se um sinal com essas características for detectado, é necessário verificar se ele não provém de fonte humana, como ocorre com os radares ou os satélites de comunicação. Se um sinal apropriado for detectado, o próximo passo será verificar se há nele alguma evidência semelhante às ondas de radio ou TV. É possível introduzir informação numa onda eletromagnética, mediante pequenas variações intencionais (modulações) em sua freqüência ou amplitude. Os projetos atuais estão operando apenas na busca de um sinal adequado. A procura por uma mensagem num sinal, caso seja encontrada, irá necessitar de nova instrumentação. Outra questão diz respeito à possibilidade da compreensão da mensagem. Se os extraterrestres são capazes de transmitir sinais de rádio, provavelmente compreendem os princípios básicos da ciência e da matemática, e os utilizam na elaboração de uma linguagem comum. Desde o início das pesquisas de Frank Drake, há 40 anos, nenhum sinal convincente foi detectado. Carl Sagan, entusiástico divulgador da ciência e professor de astronomia e ciência espacial da Universidade de Cornell, escreveu um romance intitulado Contato3. A história descreve os problemas que os cientistas enfrentam a fim de obter fundos para suas pesquisas, e sugere a detecção de um sinal de rádio com os atributos exigíveis, proveniente de Vega, uma estrela da constelação de Lira distante 26 anos-luz da Terra. O descobridor percebe que o sinal está transmitindo uma longa seqüência de números primos. Como não se conhece nenhum fenômeno natural gerador de sinais com estrutura tão complexa e específica como uma seqüência de números primos, os cientistas desse relato ficcionista se convenceram de que a transmissão vinha de uma fonte inteligente. Mas como distinguir se um sinal provém de uma fonte natural ou é devido ao desígnio de um ser inteligente? A melhor evidência de que algum efeito foi tencionado por uma inteligência é sua complexidade especificada4. Para compreender o que é complexidade especificada, considere o seguinte exemplo: A seqüência com os dois primeiros caracteres romanos AB é especificada, mas não complexa. Uma seqüência aleatória com 40 caracteres como: GIVJFJMUUDWQCN TQVTNVXYALZFHMBHULVCXRTPF é complexa, mas não especificada. Entretanto, a seqüência BUSCA POR INTELIGÊNCIA EXTRATERRESTRE é complexa e especificada. Pode-se ver a diferença pela determinação da probabilidade de obter cada seqüência escolhendo caracteres por casualidade. Como cada posição na seqüência tem 27opções (26 caracteres mais o espaço em branco), pode ser obtido um total de 729 (27 x 27) seqüências com dois caracteres. A seqüência especificada com dois caracteres é uma em 729 seqüências. Por outro lado há 27 40 (= 1,797x1057) seqüências diferentes com 40 caracteres (o número 1,797x1057 é equivalente a 1.797 seguido de 54 zeros). Esse número é tão grande que dificilmente poderíamos entender seu significado. É 600 vezes maior do que a soma de todos prótons e nêutrons que constituem o planeta Terra. Assim, uma seqüência específica composta de 40 caracteres alfabéticos é uma em 1,797x1057 seqüências. É praticamente impossível obter uma seqüência específica com esse tamanho, pela escolha aleatória de caracteres. Sabemos por experiência que seqüências complexas específicas são o resultado de um desígnio inteligente. Em suma, a busca por inteligência extraterrestre procura ondas de rádio com características semelhantes às produzidas por transmissores construídos pelos homens. Se um sinal assim for detectado, o próximo passo será investigar se há complexidade especificada nele. Em outras palavras, os cientistas estão procurando alguma transmissão de rádio extraterrestre que possa, sem dúvida, ser reconhecida como produto de uma mente inteligente. O sucesso não reconhecido Um grande progresso foi verificado na ciência biológica na segunda metade do século XX. Detalhes antes inimagináveis com respeito à estrutura e funcionamento da célula foram descobertos em nível molecular. Uma dessas descobertas é a molécula do ADN: a chave para o armazenamento e transferência do material genético. Textos sobre Criacionismo O sucesso na ficção Textos sobre Criacionismo 80 | As moléculas do ADN possuem duas cadeias complementares de quatro constituintes diferentes, chamados de bases ou nucleotídeos, que aqui representamos por A, G, C e T. (Não faremos uso de toda a terminologia biológica usual.) Uma cadeia de símbolos pode ser usada para transmitir uma mensagem como num texto escrito. Alguém poderá perguntar se é possível ter uma linguagem escrita com apenas quatro símbolos. Na realidade, necessitamos apenas de dois símbolos para armazenar dados escritos. Toda codificação nos computadores é feita com cadeias de dois símbolos: 1 e 0. O texto que você está lendo foi originalmente composto com o uso de um computador e quase 100 diferentes símbolos gráficos. Como se consegue isso? As cadeias de 1 e 0 são agrupadas de oito em oito. Como para cada posição das oito há duas escolhas, 256 (2x2x2x2x2x2x2x2) símbolos diferentes podem ser codificados com cadeias de dois símbolos, em grupos de oito, como no exemplo abaixo: 11001010 01010010 10001011 11101101 01000101 10110111 No ADN ocorre algo semelhante. Quatro símbolos diversos, organizados em grupos de três, podem definir 64 (4x4x4) ―caracteres‖ diferentes. Quantas bases há no ADN para codificar toda informação genética de um ser vivo? O número de bases varia em cada espécie. Uma bactéria simples como a M. genitalium tem 580.000 bases em seu ADN. A bactéria E. coli possui seqüências com 4.670.000 bases. A Drosophila, mosca-dasfrutas, tem cerca de 165.000.000 bases. Os seres humanos possuem seqüências de ADN num total aproximado de três bilhões de bases.5 O número de seqüências diferentes que podem ser criadas com 580.000 bases é gigantesco e difícil de ser entendido. Pode ser escrito como 4 580.000 = 6,2 x 10349.194. Para escrever esse número como uma seqüência de numerais arábicos são necessários 349.195 dígitos. Levando-se em conta que um grupo de três bases representa um caractere no alfabeto biológico, com seus 64 símbolos possíveis a informação genética da M. genitalium é equivalente a um texto com 193.000 caracteres. A matéria que você está lendo tem pouco mais de 11.000 letras. A informação genética de um ser humano, com seus três bilhões de bases, seria capaz de formar um texto com um bilhão de caracteres. Isso equivale a cerca de 100.000 textos semelhantes a este. Mesmo considerando que apenas cerca de 5% dos três bilhões de bases sejam responsáveis pela codificação das proteínas, a quantidade de informação é estonteante. O que está ―escrito‖ nesses ―textos‖ de informação genética dos seres vivos? Sabemos que ela inclui todas instruções necessárias para o funcionamento de um ser vivo, embora ainda não tenhamos compreendido plenamente seu complexo maquinário bioquímico. De onde veio toda essa informação? Considere o ensaio que você está lendo. Ele foi produzido por uma inteligência; nesse caso, um ser humano. Ninguém pode dizer ou imaginar que algum dispositivo automático escolheu as letras ao acaso para compô-lo, ou que haja um mecanismo natural que possa colocar as letras em seus lugares corretos. O texto é suficientemente complexo e especifico para tornar irracional a pressuposição de que ele apareceu por acaso, ou mediante causa natural não-dirigida. Se isso ocorre num simples ensaio como este, quanto mais com a informação genética, muito mais complexa e especifica do que este texto? Ela deve ser, portanto, atribuída apenas a uma fonte inteligente. Se essa agência inteligente não pode ser encontrada na Terra, deve ser extraterrestre. A biologia e a bioquímica, na segunda metade do século XX, em sua busca para compreender as bases moleculares da vida, descobriu evidências claras da existência de inteligência extraterrestre. Porém, o pensamento naturalista está tão arraigado em nossa cultura, que esse feito não é comemorado na comunidade científica. Mas não é necessário todo esse conhecimento para se chegar a essa conclusão. Há muito tempo, antes do desenvolvimento da ciência moderna, Davi escreveu acerca do Deus Criador: ―Pois Tu formaste o meu interior, Tu me teceste no seio de minha mãe. Graças Te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as Tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem‖ (Salmo 139:13, 14, RA). Urias Echterhoff Takatohi (Doutor em Física pela Universidade de São Paulo) ensina ciências no UNASP — Centro Universitário Adventista de São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] Notas e referências: 1. Ver SETI Institute, na at http://www.setiinst. edu/Welcome.html; What is SETI? na http://seti.uws.edu.au/main/what.htm; SETI FAQ, na http://www.space.com/ searchforlife/seti_faq.html; Harvard | 81 F. Drake, Contemporary Radio Searches for Extraterrestrial Intelligence. Na http:// www.setiinst.edu/science/ contemporary_radio.html 3. C. Sagan, Contact: A novel (New York: Simon and Schuster, 1985); Mass Market Paperback, 1997). 4. A expressão ―complexidade especificada‖ foi introduzida por William A. Dembski em The Design Inference (Cambridge University Press, 1998). 5. Ver Functional and Comparative Genomics Fact Sheet, na http:// www.ornl.gov/hgmis/faq/compgen.html Textos sobre Criacionismo 2. 82 | Artigo 18 A mensagem evolução adventista e o desafio da Marco T. Terreros Podem os adventistas crer na evolução teísta e ainda proclamar a mensagem de Apocalipse 14:6-12? "No princípio criou Deus os céus e a terra" (Génesis 1:1). A doutrina da Criação ocupa um lugar importante na mensagem e missão dos adventistas do sétimo dia. A razão disto é dupla: Primeiro, os adventistas crêem numa criação por fiat, e segundo, estão encarregados de proclamar a mensagem dos três anjos de Apocalipse 14. A filosofia adventista sobre origens afirma que Deus em sete dias criou o mundo. Os adventistas não têm espaço para evolução, naturalista ou teísta, em sua crença. Não só aceitam que Deus é o Criador, mas também crêem que Ele assumiu a carne humana para Se tornar nosso Redentor, como indicado em João: "No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez...E o Verbo se fez carne e habitou entre nós" (João 1:1-3, 14). Assim em sua proclamação do evengelho os adventistas enfatizam tanto a Criação como a redenção. Esta ênfase se destaca em sua lealdade ao evangelho eterno de Apocalipse 14. Lá temos a descrição: "Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra....e dizendo, em grande voz:....Adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apocalipse 14:6, 7, itálico do autor). Nesta mensagem para os últimos dias, o evangelho eterno convida à adoração do Criador. Neste contexto é compreensível por que os adventistas não podem concordar com qualquer espécie de explicação evolucionista quanto às origens. Textos sobre Criacionismo Como a evolução entende as origens A evolução explica o começo da vida de um modo; Génesis de um modo diferente. A evolução ensina que a vida originou-se e desenvolveu-se por si mesma durante um período de tempo extremamente longo. Génesis ensina uma criação em seis dias.1 Tanto a origem fortuita ou o desenvolvimento fortuito da vida, ou algo intermediário, está em oposição à mensagem dos três anjos. Considere como os três ramos da evolução explicam a origem da vida. Primeiro, a evolução naturalista (ou ateísta) precisa apenas de combinação de átomos, movimento, tempo e o acaso a fim de trazer a realidade à existência, das formas de vida mais simples às mais complexas, da partícula de vida mais elementar à vida humana. Segundo, a evolução deísta vê Deus iniciar o processo produzindo a primeira matéria viva. Ele programou o processo evolucionário fecundando a matéria com as leis seguidas por seu desenvolvimento subsequente. Depois, Deus absteve-Se de envolvimento ativo, tomando-Se, por assim dizer, "Criador emérito".2 Terceiro, a evolução teísta vai além da versão deísta, permitindo a contínua intervenção divina. Isto e a pretensão de harmonizar o relato bíblico da Criação com a explicação científica fizeram da evolução teísta o paradigma dominante entre os estudiosos evangélicos. Portanto, merece uma consideração mais longa. Evolução teísta A evolução teísta assume que "todos os processos materiais são governados e dirigidos por Deus; [e] os processos evolucionários não fazem exceção".3 Assim, a evolução não é um fim em si mesma; é apenas o meio pelo qual Deus traz à existência tudo que há no universo. E o "modus operandi" de Deus.4 É a "expressão constante da estratégia de Deus" para o desenvolvimento de Sua criação.5 É o método de Deus agir no mundo6 através de uma criação contínua. Na tentativa de harmonizar as explicações bíblicas e evolucionárias sobre as origens, particularmente com os longos períodos de tempo que todos os ramos da evolução requerem, diversas teorias de Criação têm sido propostas. Estas incluem a teoria da Reconstituição ou da Lacuna,7 a teoria do Dia-Época ou Épocas Geológicas,8 a teoria Artística ou Literária9 e a teoria das Genealogias Abreviadas.10 Evolução, sob quaisquer destas formas, contradiz o coração da mensagem dos três anjos: as boas novas do evangelho. As novas são boas só porque aqueles a quem são enviadas estão numa situação desesperada. Aos pecadores, oferece perdão; àqueles sob condenação por causa da | 83 queda da humanidade em pecado, provê salvação. Mas no processo evolucionário não há queda, não há pecado—apenas progresso contínuo. Quaisquer traços animalescos presentes em seres humanos podem ser vencidos através de educação e aculturamento. Por conseguinte, não há necessidade de um Salvador. Mesmo a singularidade de Jesus pode desaparecer numa perspectiva evolucionista. O professor da Notre Dame University, Ernan McMuIlin, escreve: "Quando Cristo assumiu a forma humana, a DNA que O fez filho de Maria O pode ter ligado a uma herança mais antiga que se estende muito além de Adão às baixadas de mares mais antigos do que a imaginação alcança." 11 Se esta é a explicação da primeira vinda de Jesus, a Segunda Vinda não mais pode ser uma esperança realista. Contudo a Segunda Vinda com o julgamento é o enfoque de Apocalipse 14, que acrescenta uma nova dimensão à exaltação feita no Antigo Testamento de Deus como Criador. Assim a Criação e o julgamento constituem o motivo escatológico da mensagem dos três anjos. Se o mundo não glorificar a Deus pela primeira razão, terá de temê-Lo pela segunda. O parâmetro pode ser percebido através das três proclamações. O primeiro anjo exalta o Criador; o segundo chama atenção a um falso sistema que nega a Deus; o terceiro fala do julgamento por vir. Os remidos adoram a Deus por Seu amor expressado através da Criação. Os réprobos tremem diante dEle por causa de Seu julgamento justo. Criação e julgamento Julgamento não é apenas ensinado no Apocalipse, mas, juntamente com o conceito da Criação, permeia a Bíblia. A poluição da criação original resultou no primeiro juízo divino universal—o Dilúvio. Nos últimos dias, os juizos escatológicos de Deus são enviados para destruir "os que destroem a terra" (Apocalipse 11:18), com o propósito último de inverter o que aconteceu depois da Queda e criar um novo céu e uma nova terra. Pedro fala deste tópico Criação-julgamento em palavras incisivas. Aqueles que zombam da atividade divina na história humana "deliberadamente esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como a terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus, pelas quais veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os céus que agora existem, e a terra, pela mesma palavra têm sido entesourados para fogo, estando reservados para o dia do juízo e destruição dos homens ímpios" (II Pedro 3:5-7). O que Pedro tem em mente é simples. A história sempre teve seus cépticos. Outrora, houve aqueles que "deliberadamente" olvidaram que Deus criou o mundo e que Ele executou seus juízos sobre a impiedade através de um dilúvio universal. Semelhantemente, no final da história, cepticismo quanto a Deus como Criador e juiz será geral. A causa principal deste cepticismo no mundo de hoje é a teoria da evolução. Com efeito é parte do "vinho da fúria" de Babilónia (Apocalipse 14:8) com o qual o mundo está embriagado. Atualmente, o debate entre Criação e evolução decorre do interesse renovado na relação entre a ciência e a fé cristã. Isto é evidente no estabelecimento de novas organizações, tais como a Fundação John Templeton, com seu Centro de Informação de Teologia de Humildade (Ipswich, Massachussets), lançada em 1993. Este centro, cujos membros fundadores incluem as autoridades máximas em ciência e religião, mantém que a teologia não é capaz de alcançar uma compreensão clara dos mistérios do universo (portanto a etiqueta "teologia de humildade"). Conseqüentemente a necessidade de voltar-se para a ciência como a fonte de respostas. Uma organização muito mais antiga é o Centro para Religião e Ciência de Chicago, na qual cientistas e teólogos são devotos da evolução sem renunciar sua fé em Deus. Com base na Escola Luterana de Teologia, o centro publica Zygon, uma revista influente sobre evolução teísta. Outro periódico devotado quase que exclusivamente a promover evolução teísta é o Journal of the American Scientific Affiliation. A Afiliação, com sede geral em Ipswich, Massachusetts, conta com mais de mil membros com doutorados. Originalmente organizada para promover criacionismo, a Afiliação em si experimentou uma "evolução" para se tornar defensora da evolução teísta. A nível individual, podemos perceber um desvio significativo no debate Criação-evolução: da negação completa à admissão pública de respeito pela criação especial como uma alternativa viável para explicar a origem do universo. Isto não quer dizer que a discussão foi encerrada; certamente que não. Os que dominam o debate incluem Howard Van Till (Calvin College), Ernan McMuIlin e Alvin Plantinga (ambos da Notre Dame University), Philip Johnson Textos sobre Criacionismo Criação e evolução: o debate atual 84 | (University of Califórnia) e William Hasker (Huntington College). Van Till, McMuIlin e Hasker estão num canto da arena, enquanto Plantinga e Johnson estão no outro. O primeiro grupo argumenta a favor de macro-evolução; o segundo quanto à ineficiência da seleção natural e a viabilidade de uma intervenção divina especial para explicar as complexidades da vida no planeta. O segundo grupo não está advogando criação ex-nihilo com uma cronologia curta. Esta opção foi ha muito rejeitada, e os que a defendem são \ rotulados fundamentalistas e extremistas. Plantinga e Johnson argumentam que Deus deve ser visto como intervindo no mundo. Assim a tendência é dupla: primeiro, favorecer criação progressiva na qual a intervenção divina é exigida, não só para dar conta das formas originais de vida como também para introduzir os primeiros indivíduos dos grupos maiores de seres vivos numa criação em desenvolvimento constante; segundo, para encaminhar-se para uma forma de evolução deísta, preservando o que Van Till chama "a integridade da natureza". Isto significa que Deus criou um universo no qual Seus desígnios para todas as criaturas, exceto os humanos, seriam alcançados, exclusivamente, de um modo natural.12 A seriedade do debate entre os dois grupos é vista na obra de McMuIlin e Plantinga, que ensinam na mesma universidade. Atuam em lados opostos do debate, escrevendo e respondendo um ao outro. Enquanto Plantinga argumenta a favor de uma criação especial, 13 McMuIlin está convencido de que todas as probabilidades são contrárias a esta possibilidade. As vozes mais francas a favor de uma criação recente, ex-nihilo são as publicações do Institute for Creation Research (ICR), baseado em San Diego, Califórnia. Sua posição, chamada "criacionismo científico", está sob ataque constante de seus adversários. O Seventh-day Adventist Geoscience Research Institute (GRI) tem um compromisso semelhante com a Criação, embora discorde em algumas de suas posições do ICR. O GRI publica sua pesquisa e descobertas em sua revista conceituada, Origins.14 Mas estas organizações, como regra, são vozes isoladas clamando no deserto, às quais a comunidade dos eruditos, que favorece a evolução, não dá muita atenção. Publicações recentes vindas da Europa indicam que a Igreja Católica Romana, que oficialmente endossa a evolução teísta, está desempenhando um papel importante no debate atual. A igreja parece reconhecer nas ciências naturais e biológicas novas manifestações da unidade da natureza, e exorta seus membros, bem como convida outras igrejas, a darem atenção a estas tendências. É na base destas tendências, e não na teologia, que o Papa João Paulo II fez o apelo: "Como nunca dantes em sua história, a Igreja entrou num movimento para a união de todos os cristãos, promovendo estudo, oração e discussões em comum para que 'todos sejam um' [João 17:20 é citado]." 15 Mesmo as igrejas evangélicas têm apoiado os pronunciamentos papais. Textos sobre Criacionismo Implicações importantes Quais são as implicações desta tendência na direção de evolução teísta para adventistas do sétimo dia? Primeiro, ao negar a Criação em seis dias, a evolução remove a base para o culto sabático, preparando assim o terreno para o reconhecimento mundial da santidade do domingo, o que é parte do ensino adventista quanto aos acontecimentos finais. Segundo, se a autoridade da Bíblia pode ser posta de lado tão facilmente, por que não a autoridade de sua lei moral e seus preceitos sobre a vida humana? Num mundo esvaziado de autoridade bíblica, noções da vontade humana, do bem e do propósito, apoiadas pela ciência e o humanismo, acabarão dominando muito da vida e da adoração. Como Landon Gilke observou: "A mais importante mudança na compreensão da verdade religiosa nos últimos séculos, mudança que ainda domina nosso pensamento hoje, foi causada pela ação da ciência mais do que por qualquer outro fator, religioso ou cultural."16 Terceiro, em vista do ataque sutil da evolução contra a essência do evangelho eterno, o desafio para os adventistas é óbvio: uma determinação renovada e dinâmica para a adoração e proclamação dAquele "que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apocalipse 14:7). Quarto, a teologia não mais pode florescer isoladamente. Encontros entre a teologia e as ciências não podem ser evitados. No contexto da missão global da igreja, precisamos achar novos métodos de abordar pessoas condicionadas pelo método científico e o dogma evolucionista. A comunidade adventista, incluindo professores, profissionais e administradores, não pode ignorar os problemas relacionados com a teologia e a ciência. Precisa-se promover maior abertura para intercâmbio académico, cursos e projetos de pesquisa nesta área. | 85 Finalmente, o desafio da evolução naturalista—teísta ou deísta—é realmente um desafio à nossa fé. A doutrina da Criação não é opcional para os adventistas; é uma prova de fé. Sim, não podemos compreender tudo que está envolvido na Criação, do mesmo modo que não podemos entender tudo sobre a redenção. Entendimento de ambas é possível somente pela fé. Fé em Deus. Pé é o que Deus disse na Bíblia. Como Ellen White escreveu há muito tempo: "Foi-me mostrado que sem a história da Bíblia, a geologia nada prova. Fósseis achados na terra dão evidência de um estado de coisas que difere em muitos modos do presente. Mas o tempo de sua existência, e quão longo foi o período que estas coisas têm estado na terra, só podem ser compreendidos pelo relato bíblico. Pode ser inocente conjeturar além do relato bíblico, se nossas suposições não contradizem os fatos achados nas Escrituras. Mas quando as pessoas abandonam a Palavra de Deus quanto ao relato da Criação e procuram explicar a obra criativa de Deus por princípios naturais, se acham sobre um oceano ilimitado de incerteza. Justamente como Deus realizou as obras da Criação em seis dias literais nunca foi revelado a mortais. Sua obra na Criação é tão incompreensível como Sua existência."17 Marco T. Terreros (Ph.D., Andrews University) leciona teologia bem como ciência e religião na Universidad Adventista de Colômbia. Seu endereço é: Apartado Aéreo 877: Medellfn; Colômbia. Notas e referências Para uma discussão anterior deste tópico nesta revista, ver Clyde L. Webster, Jr., "Génesis e cronologia: o que a dataçao radiométrica nos informa" (Diálogo 5: l [1993]; págs. 5-8) e Richard Davidson, "No princípio: como interpretar Génesis l" (Diálogo 6:3 (1994), págs. 9-12). 2. Ver Miliard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1985), págs. 480,481. 3. Howard J. Van Till, The Fourth Day: What the Bible and the Heavens Are Telling Us About Creation (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1986), pàg. 247, 4. Na evolução teísta, às vezes chamada "evolucionismo bíblico", o processo evolucionário é visto como uma manifestação da obra de Deus na natureza. Neste contexto, a obra criativa de Deus é tida como tendo dois aspectos: (1)0 "aspecto funcional", no qual a existência finita do mundo natural é dependente da atividade contínua de Deus; e (2) o "aspecto progressivo", no qual novas criaturas e novas características emergem criativamente no processo da evolução. Ver Richard Bube, "Biblical Evolutionism", Journal of the American Scientific Affiliation 23:4 (Dezembro 1971),pág. 141. 5. Van Till, pág. 265, ver também págs. 249-275 para a explicação mais completa de Van Till do que ele chama a "perspectiva criacionômica". Van Till prefere esta esignação à expressão "evolução tefsla". 6. Ver Brent Phillip Waters, "Christianity and Evolution", em David B. Wilson e Warren D. Dolphin, eds., Did the Devil Make Darwin Do It? Modern Perspectives on the. Creation-Evolution Controversy (Ames, lowa: The lowa University Press, 1983), pág.155. 7. A Teoria da Lacuna sugere que milhões de anos se passaram entre Génesis 1:1 e l :2, e que a Criação ocorreu em três etapas: um período pré-adâmico, no qual a Terra era linda; um período intermediário, durante o qual ela se tornou vazia e sem forma; o período de "reconstituição" descrito em Génesis 1:3 ss. 8. A Teoria das Épocas Geológicas postula que os dias da Criação não eram dias literais mas períodos muito longos. 9. A Teoria Artística entende o relato de Génesis como um relato artístico, com a ideia de comunicar verdade religiosa mas não realidade científica. 10. A Teoria das Genealogias Abreviadas pretende que se as genealogias omitem gerações, como algumas certamente o fazem, estas omissões poderiam dar conta de todo o tempo necessário para a evolução ocorrer. 11. Ernan McMuIlin, "Evolution and Special Creation", Zygon 28 (Setembro 1993), pâg. 328. 12. Ver McMuIlin, pág. 325. Ver também o artigo de McMuIlin, "Plantinga's Defense of Special Creation", Christian Scholar's Review 21 (Edição especial 199), págs. 55-79. 13. Alvin Plantinga, "When Faith and Reason Clash: Evolution and the Bible", Christian Scholar's Review 21:1 (Setembro 1991), págs.8-33. 14. Leitores interessados em obter uma cópia de amostra e informação sobre assinatura podem escrever para Editor, Origins; Geoscience Research Institute; Loma Linda University; Loma Linda, CA 92350; E.U.A. 15. Ver Robert John Russell et ai., eds., John Paul 11 on Science and Religion: Reflections on the New View from Rome (Rome: Vatican Observatory Publications, 1990) pág. M3. 16. Landon Gilkey, Religion and the Scientific Future (New York: Harper & Row, 1970), pág. 4. 17. Ellen G. White, Spiritual Gifts (Washington, D.C.: Review and Heraíd Pub. Assn., 1945), vol. 3, pág. 93. Textos sobre Criacionismo 1. 86 | Artigo 19 Quão Confiavel é a Bíblia? Alberto R. Timm A autoridade do cristianismo deriva da Palavra de Deus. Cristo e Seus apóstolos consideravam as Escrituras como a revelação de Deus, com uma unidade fundamental entre seus vários ensinos (ver Mateus 5:17-20; Lucas 24:27, 44, 45-48; João 5:39). Muitos pais da igreja e os grandes reformadores protestantes do século 16 enalteciam a unidade e a confiabilidade das Escrituras. Todavia, sob a forte influência do criticismo histórico do Iluminismo do século 18, um número considerável de teólogos e cristãos passou a considerar a Bíblia como mero produto das antigas culturas dentro das quais foi concebida. Conseqüentemente, a Bíblia não é mais considerada como consistente e harmônica em seus variados ensinos, e sim como uma coleção de diferentes fontes com contradições internas. Outro golpe contra a autoridade e unidade das Escrituras foi desferido na segunda metade do século 20, pelo ataque furioso do pós-modernismo. A nova tendência é enfatizar, não o verdadeiro significado das Escrituras, mas os vários sentidos a ela atribuídos pelos seus leitores. Já os adventistas do sétimo dia, por sua vez, continuam enfatizando a unidade, a autoridade e a confiabilidade das Escrituras. Mas para manter tal convicção, o estudante bíblico deve achar respostas honestas para as quatro seguintes questões: 1) Que base existe para se falar de harmonia nas Escrituras? 2) Como tratamos algumas das principais áreas nas quais tal harmonia nem sempre é evidente? 3) Como o milagre da inspiração preservou a unidade da Palavra de Deus? e 4) Qual o papel do Espírito Santo em nos ajudar a reconhecer essa unidade? Textos sobre Criacionismo Harmonia interna das Escrituras Nessa área precisamos considerar pelo menos duas questões fundamentais: Primeira, o relacionamento entre a Palavra de Deus e as culturas contemporâneas nas quais ela foi originalmente transmitida. Nas Escrituras, pode-se perceber facilmente um constante diálogo entre princípios universais e as aplicações específicas desses princípios, dentro de um contexto cultural particular. Tal percepção não pode ser considerada como condicionamentos culturais que distorcem a unidade básica da Palavra de Deus, mas precisamente o oposto: princípios universais que transcendem qualquer cultura específica. Por exemplo, a Bíblia menciona várias ocasiões nas quais Deus tolerou certos desvios humanos de Seus planos originais, como nos casos de poligamia (ver Gênesis 16:1-15; 29:15-30:24, etc.) e divórcio (ver Mateus 19:3-12; Marcos 10:2-12). Existem outras conjunturas onde os primeiros cristãos foram aconselhados a respeitar certos elementos culturais específicos, como no caso respeitante às mulheres usarem véu ao orar ou profetizar (I Coríntios 11:2-16), e permanecer caladas na igreja (I Coríntios 14:34-35). Mas o teor geral das Escrituras é que sua religião deve transcender e transformar o contexto cultural. G. Ernest Wright explica que ―o Antigo Testamento dá eloqüente testemunho de que a religião cananita era o agente desintegrador mais perigoso que a fé de Israel tinha de enfrentar‖ (ver Deuteronômio 7:1-6).1 Floyd V. Filson acrescenta que no primeiro século d.C. os judeus, e posteriormente os judaizantes, ―reconheciam o fato de que o Evangelho era algo diferente das mensagens religiosas que haviam conhecido‖, e que ―isso estava rompendo com os limites do judaísmo contemporâneo‖ (ver Mateus 5:20).2 A segunda questão que deve ser considerada por aqueles que estão interessados em compreender a unidade das Escrituras, é a perspectiva metodológica pela qual se investiga as Escrituras. Do próprio testemunho das Escrituras percebe-se que a Bíblia está mais próxima do mundo oriental, a partir de uma perspectiva mais sistêmica e integral da realidade, do que do mundo ocidental, com uma perspectiva mais analítica e compartimentalizada. Esse é um importante aspecto a ser levado em consideração ao definirmos nossa abordagem metodológica das Escrituras. Se começarmos olhando indutivamente em busca de divergências nas Escrituras, acabaremos ―encontrando diferenças em vez de harmonia e unidade‖. Se, por outro lado, principiarmos olhando dedutivamente, poderemos descobrir uma unidade básica que integra suas várias partes. 3 Muitas inconsistências aparentes podem ser harmonizadas se avançarmos das grandes molduras temáticas das Escrituras para os detalhes menores, em vez de iniciarmos por esses pormenores e desconhecermos as estruturas básicas às quais pertencem. Áreas problemáticas Existem, porém, algumas áreas importantes de supostas ―inconsistências‖ internas da Bíblia, que as pessoas usam freqüentemente para solapar o conceito de sua unidade. Consideremos brevemente cinco dessas áreas e vejamos como esses problemas podem ser solucionados. Tensões entre o Antigo e o Novo Testamentos. Algumas pessoas falam a respeito de várias tensões dicotômicas entre o Antigo e o Novo Testamentos, referindo-se a tópicos como a justiça de Deus versus Seu amor e a obediência à lei versus salvação pela graça. Essas tensões podem ser solvidas se reconhecermos claramente o relacionamento tipológico entre ambos os Testamentos, e que justiça e amor, lei e graça, são conceitos desenvolvidos ao longo de ambos os Testamentos. Salmos imprecatórios. Alguns vêem os salmos imprecatórios, com suas orações de vingança e maldição aos ímpios (ver Salmos 35; 58, 69; 109; 137, etc.), como em direta oposição às amorosas orações de Cristo e de Estêvão em favor dos seus inimigos (Lucas 23:34; Atos 7:60). Na tentativa de solucionar esse problema, não devemos nos esquecer de que o Novo Testamento cita os salmos imprecatórios como inspirados e autorizados, e que no Antigo Testamento os inimigos do povo do concerto eram considerados inimigos do próprio Deus. Parece bastante evidente, portanto, que esses salmos devem ser compreendidos dentro da moldura teológica da teocracia do Antigo Testamento. Problemas sinópticos. Provavelmente nenhuma outra área tem gerado tanta controvérsia em relação à unidade da Palavra de Deus, como o chamado problema sinóptico. Jamais conseguiremos explicar plenamente como os primeiros três Evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) foram escritos; qual foi realmente a dependência de um para com o outro e como harmonizar algumas pequenas discrepâncias nos relatos paralelos. Robert K. McIver afirma em The Four Faces of Jesus que ―não existe razão para se supor que as informações trazidas à luz por uma acurada investigação do problema sinóptico, provejam qualquer base para se duvidar da historicidade fundamental dos eventos mencionados nos Evangelhos. Em realidade, elas provavelmente comprovam o oposto, sendo uma evidência da sua confiabilidade.‖4 A justificação em Paulo e Tiago. Outra área problemática que nem sempre tem sido compreendida claramente por algumas pessoas, é a clássica tensão entre a declaração de Paulo de que ―o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei‖ (Romanos 3:28), e as palavras de Tiago de que ―uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente‖ (Tiago 2:24). Mas essa tensão pode ser solucionada se tivermos em mente que enquanto Paulo está respondendo ao uso legalístico das ―obras da lei‖ como meio de salvação (Romanos 3:20; cf. 3:31; 7:12), Tiago está criticando a profissão antinominiana de uma fé ―morta‖, tão destituída de frutos como a fé descomprometida dos demônios (Tiago 2:17, 19). Erros fatuais. Existem aqueles que negam a unidade básica da Palavra de Deus porque, pensa eles, ela contém um grande número dos chamados ―erros fatuais‖. Muitos desses supostos ―erros‖ não são realmente erros, mas apenas falta de compreensão das verdadeiras questões envolvidas. Um exemplo disso é a maneira como Edwin R. Thiele demonstrou que muitas das pretensas lacunas e discrepâncias na cronologia bíblica dos reis de Israel e Judá podiam ser sincronizadas.5 Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que não temos condições de solucionar todas as dificuldades das Escrituras.6 A despeito da existência de algumas imprecisões em detalhes insignificantes, existem evidências suficientes que demonstram que tais inexatidões não distorcem o conceito básico comunicado pelo texto no qual aparecem, e não rompem a unidade básica da Palavra de Deus. Não obstante, alguns podem indagar: Por que Deus permitiu que esses problemas permanecessem nas Escrituras? Não poderia ter Ele corrigido alguns deles, de modo que nossa compreensão fosse mais fácil? Essas não são perguntas fáceis de responder, mas creio que existam algumas razões importantes pelas quais Deus não solucionou essas áreas problemáticas. Devemos reconhecer que Deus confiou Sua mensagem a seres humanos – ―vasos de barro‖ (II Coríntios 4:7) – e esses, por sua vez, a transmitiram em sua linguagem imperfeita. Além disso, a Palavra de Deus destinava-se a servir como uma ―luz‖ para o caminho (Salmo 119:105) dos seres humanos de todas as épocas e lugares. Na qualidade de ―pão‖ espiritual (Mateus 4:4) que testifica do ―pão vivo que desceu do céu‖ (João 6:51), a Bíblia deveria falar a ricos e pobres, cultos e incultos, no contexto em que eles viviam. Se a Bíblia fosse um livro de ―uniformidade monótona‖, as pessoas a leriam uma ou duas vezes e então a colocariam de lado como fazem com os jornais velhos. Mas a Bíblia possui uma profunda, ―rica e colorida diversidade de testemunhos harmoniosos, todos eles revelando uma Textos sobre Criacionismo | 87 88 | beleza rara e distinta‖, que a tornam tão atrativa.7 Embora sua mensagem essencial seja perfeitamente compreensível, mesmo às pessoas comuns, a Bíblia possui tal profundidade de pensamento que todos os eruditos e pessoas simples que a estudaram ao longo dos séculos, não foram capazes de esgotar o seu significado e de solver todas as suas dificuldades. O milagre da inspiração Mas como o milagre da inspiração salvaguardou a unidade da Palavra de Deus? Até que ponto podemos esperar harmonia dentro das Escrituras? Deveríamos supor, como algumas pessoas fazem, que a Bíblia é confiável apenas em questões de salvação? Podemos isolar as partes cronológicas, históricas e científicas da Escritura de seu propósito salvífico geral? Como argumentei em outro artigo, a Bíblia reivindica para si uma natureza integral e abrangente, formando uma unidade indivisível (Mateus 4:4; Apocalipse 22:18, 19), e apontando para a salvação como seu objetivo (João 20:31; I Coríntios 10:11). Além disso, a Escritura descreve a salvação como uma ampla realidade histórica, relacionada a todos os demais temas bíblicos. E é precisamente esse inter-relacionamento temático geral que torna quase impossível para alguém falar da Bíblia em termos dicotômicos, como confiável em alguns tópicos e não em outros. ―Uma vez que o propósito primário da Bíblia é desenvolver fé para a salvação (João 20:31), suas seções históricas, biográficas e científicas provêem, muitas vezes, apenas as informações específicas necessárias para atingir esse propósito (João 20:30; 21:25). Apesar de sua seletividade em algumas áreas do conhecimento humano, isso não significa que as Escrituras não sejam dignas de todo o crédito nessas áreas.‖ ―Toda a Escritura é inspirada por Deus‖ (II Timóteo 3:16) e nossa compreensão de inspiração deveria sempre preservar esse escopo abarcante.8 Sem endossar a infalibidade calvinista, temos razões suficientes para crer que a Bíblia é infalível em seu propósito salvífico e confiável em seu completo inter-relacionamento temático. De acordo com T. H. Jemison, nas Escrituras ―existe unidade em seu tema – Jesus Cristo, Sua cruz e Sua coroa. Existe completa harmonia de ensinamentos – as doutrinas do Antigo Testamento e as do Novo são as mesmas. Existe unidade de desenvolvimento – uma constante progressão desde a criação e a queda, até a redenção e a restauração final. Existe unidade na coordenação das profecias.‖9 A atuação do Espírito Santo Textos sobre Criacionismo A unidade subjacente da Palavra de Deus foi gerada pela direta atuação do Espírito Santo na produção das Escrituras. Paulo afirma em II Timóteo 3:16 que ―toda a Escritura é inspirada por Deus‖. Pedro acrescenta que ―nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo‖ (II Pedro 1:20, 21). Uma vez que foi o Espírito Santo quem gerou a unidade da Palavra de Deus, apenas Ele pode iluminar nossa mente para percebermos a coesão que sustenta a Bíblia. Cristo prometeu aos Seus discípulos que o Espírito Santo viria para guiá-los ―a toda a verdade‖ (João 16:13). Paulo declara que ―o Espírito Santo ensina, comparando coisas espirituais com espirituais‖ (I Coríntios 2:13, NKJV). Conclusão Hoje, lamentavelmente, muitos cristãos perderam sua confiança nas Escrituras e as estão relendo da perspectiva de suas próprias tradições (tradicionalistas), da razão (racionalistas), da experiência pessoal (existencialistas), e mesmo da cultura moderna (culturalistas). Cansados da aridez de tais ideologias humanas, muitos outros estão buscando um fundamento mais firme sobre o qual ancorar a sua fé. Mas se a nossa âncora está firmada na própria Palavra, crendo que o seu testemunho não é o resultado de invenções humanas, mas um dom divino para revelar Deus e o Seu amor redentivo à humanidade, então não temos nada a temer ou a perder. O Espírito Santo que gerou a origem, a unidade e a autoridade da Palavra, pode também iluminar a nossa mente para reconhecermo-la como tal. Teorias humanas podem surgir e desaparecer (ver Efésios 4:14), mas ―a palavra de nosso Deus permanece eternamente‖ (Isaías 40:8). Alberto R. Timm (Ph.D. pela Andrews University) é professor de Teologia Histórica no Centro Universitário Adventista de São Paulo, Campus 2, e dirige o Centro de Pesquisas Ellen G. White do Brasil. Seu endereço: Caixa Postal 11; Engenheiro Coelho, SP 13.165-970; Brasil. E-mail: [email protected] Notas e referências | 89 Textos sobre Criacionismo 1. Ernest Wright, The Old Testament Against Its Environment (Chicago: Henry Regnery, 1950), p. 13. 2. Floyd V. Filson, The New Testament Against Its Environment (London: SCM Press, 1950), p. 96. 3. Ekkehardt Mueller, ―The Revelation, Inspiration, and Authority of Scripture,‖ Ministry (April 2000) pp. 22, 23. 4. Robert K. McIver, The Four Faces of Jesus: Four Gospel Writers, Four Unique Perspectives, Four Personal Encounters, One Complete Picture (Nampa, Idaho: Pacific Press Publ. Assn., 2000), p. 220. 5. See Siegfried H. Horn, ―From Bishop Ussher to Edwin R. Thiele,‖ Andrews University Seminary Studies 18 (Spring 1980):37-49; Edwin R. Thiele, ―The Chronology of the Hebrew Kings,‖ Adventist Review (May 17, 1984), pp. 3-5. 6. See Ellen G. White, Gospel Workers (Washington, D.C.: Review and Herald Publ. Assn., 1948), p. 312. 7. Seventh-day Adventists Believe: A Biblical Exposition of 27 Fundamental Doctrines (Washington, D.C.: Ministerial Association of the General Conference of Seventh-day Adventists, 1988), p. 14. 8. Alberto R. Timm, ―Understanding Inspiration: The Symphonic and Wholistic Nature of Scripture,‖ Ministry (August 1999), p. 14. 9. T. H. Jemison, Christian Beliefs: Fundamental Biblical Teachings for Seventh-day Adventist College Classes (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1959), p. 17. 90 | Artigo 20 A Bíblia: Como pode ela ser única? Peter van Bemmelen A Bíblia! Nenhum outro livro na história tem sido tão amado e insultado. Milhões colocaram em jogo sua vida e esperança com base em suas promessas, e muitos têm gastado sua vida atacandolhe a credibilidade. Para muitos, ela provê respostas vitais para questões de vida e morte, presente e futuro, pecado e salvação. Para outros, não é nada mais que um livro de mitos e fábulas. A despeito daquilo que seus admiradores e críticos possam dizer, um fato se destaca inquestionavelmente: A Bília é um livro único — em sua historicidade, origem, monoteísmo, profecias e foco redentor. Outros livros podem conter conceitos semelhantes e exaltar altos princípios morais, mas a Bíblia é diferente de todos os outros em muitos aspectos. Única na historicidade A historicidade é uma das caraterísticas distintivas da Bíblia. Enquanto outra literatura religiosa contém muitos mitos e lendas, a Bíblia apresenta narrativas históricas sérias. 1 Os críticos podem alegar que boa parte da Bíblia é mitológica e que suas narrativas históricas estão cheias de erros, mas os fatos contradizem suas pretensões. As descobertas arqueológicas dos últimos dois séculos têm iluminado a natureza histórica das Escrituras de muitas maneiras. A arqueologia não pode provar que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas certamente tem iluminado e por vezes provido a verificação dos relatos históricos das Escrituras.2 Respondendo a acusações de que a história bíblica está eivada de erros, Donald Wiseman, respeitado professor de Assiriologia, argumenta que a evidência arqueológica tem na sua maior parte eliminado estes ―supostos erros‖. Com efeito, ―a maioria dos erros pode ser atribuída a erros de interpretação por estudiosos modernos e não a ‗erros‘ de fato apresentados por historiadores bíblicos. Esta opinião é ainda mais fortalecida quando nos lembramos de quantas teorias e interpretações das Escrituras têm sido verificadas ou corrigidas pelas descobertas arqueológicas‖.3 Textos sobre Criacionismo Única em sua origem Outra exclusividade da Bíblia é a distinção de sua origem. Por que é o Velho Testamento tão diferente de outra literatura antiga da mesma época? Um salmo oferece a resposta: Deus ―mostra a sua palavra a Jacó, os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e, quanto aos seus juízos, não os conhecem‖ (Salmo 147:19-20). Israel estava profundamente consciente do fato de que Jeová, o Criador do céu e da terra, havia-Se revelado a Abraão e a seus descendentes de um modo como não tinha feito a outras nações. O apóstolo Paulo, que foi educado no judaísmo, mas se tornou o apóstolo mais proeminente do evangelho, concorda com a declaração do salmista de que Deus deu uma revelação especial a Israel, quando afirma que a ele ―as palavras de Deus lhe foram confiadas‖ (Romanos 3:1, 2). Os oráculos significam o mesmo que ―sagradas letras‖ (II Timóteo 3:15). Nenhum outro povo — babilônios, egípcios, gregos ou romanos — jamais produziu uma coleção de escritos como a Bíblia. Essas nações deixaram um legado de história, literatura, drama e poesia, mas nenhuma deixou algo semelhante às Escrituras hebraicas — um corpo de escritos coerentes e harmoniosos que compreendem história, biografia, ética e um sistema religioso que abarca um período de mais de mil anos e escrito por muitos autores diferentes. A distinção jaz na fonte da qual o Velho Testamento surgiu: a revelação única e divina dada a Israel. Naturalmente havia um propósito soberano atrás dessa revelação. Era a intenção divina de que os israelitas, como recipientes privilegiados da revelação de Jeová, partilhassem o seu conhecimento de Deus com outras nações. Desde o início, Deus afirmou Seu propósito de que em Abraão e seus descendentes ―todas as famílias da terra‖ fossem abençoados (Gênesis 12:3; 22:18). Foi plano divino que as Sagradas Escrituras, originalmente confiadas aos judeus, se tornassem afinal a herança comum de ―toda nação, e tribo, e língua, e povo‖ (Apocalipse 14:6). As Escrituras não foram dadas só a Israel, mas através de Israel a toda a família humana. Única no monoteísmo O monoteísmo é outro aspecto exclusivo que distingue as Escrituras hebraicas de toda outra literatura religiosa dos tempos antigos. Outras nações antigas eram politeístas, e grande parte de sua literatura sacra consiste de mitos sobre uma multidão de deuses e deusas. Em contraste, o Velho Testamento fala de Jeová como o único Deus verdadeiro e não admite outro: ―Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás pois o Senhor teu Deus, de todo o teu | 91 coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder‖ (Deuteronômio 6:4, 5). Esta confissão de Jeová como o único Deus, o Deus vivo, o Criador dos céus e da terra, era o fundamento da religião de Israel. É verdade que através dos séculos muitos israelitas sucumbiram à atração do politeísmo. Mas os profetas coerentemente os chamavam de volta à fé na unicidade de Deus. Finalmente, o monoteísmo prevaleceu em Israel. A despeito de negações de críticos modernos, a Bíblia — tanto o Velho como o Novo Testamento — reconhece um só Deus. Este monoteísmo único da Bíblia não é nem o resultado do gênio humano nem o produto final de um processo evolucionário na história da religião de Israel, mas ―é uma intuição inspirada revelada por Deus a seu povo‖.4 Sem esta revelação especial, Israel teria seguido o caminho de todas as nações antigas. Não haveria uma Escritura Sagrada com sua apresentação distintiva do Deus supremo e soberano. Única nas predições proféticas As predições proféticas constituem outra evidência da unicidade da Bíblia. Outras nações tiveram seus profetas, mas nunca fizeram predições que alcançassem centenas de anos no futuro e fossem cumpridas. Por exemplo: a profecia de Daniel 2, descrevendo a marcha da história a partir de Babilônia, passando pela Medo-Pérsia, Grécia, Roma, e o estabelecimento do reino de Deus, é sem paralelo em qualquer literatura. Tal profecia jaz além da sabedoria ou presciência humana. Com efeito, o próprio Daniel reconheceu a fonte divina daquela profecia ao explicá-la ao rei Nabucodonosor: ―Há um Deus nos céus, o qual revela os segredos; Ele pois fez saber... o que há de ser no fim dos dias‖ (Daniel 2:28). Essa profecia é tomada seriamente nas Sagradas Escrituras como indicando a natureza do Deus verdadeiro, como se vê no desafio que Jeová lança: ―Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses‖ (Isaías 41:23). Somente o Deus verdadeiro pode revelar o futuro, e somente na Bíblia achamos profecias que se cumpriram literalmente ao longo dos séculos. Isso provê evidência poderosa de que a Bíblia é de modo único a Palavra de Deus. Os críticos, naturalmente, têm descontado o caráter distintivo das revelações proféticas pretendendo que não são mais do que história escrita depois dos fatos. Para fundamentar essa pretensão, eles com freqüência têm de torcer brutalmente as evidências. Por exemplo, pretendem que as profecias de Daniel, incluindo o capítulo 2, foram escritas no segundo século a.C. por um autor desconhecido e não pelo profeta Daniel no sexto século a.C. Nem mesmo isso, contudo, explicaria como esse escritor desconhecido poderia prever que o quarto império, Roma, seria o mais poderoso dos quatro impérios e que seria seguido por uma situação política dividida que duraria 1.500 anos. Assim, contra a clara evidência da história e a evidência interna do livro de Daniel, o quarto império é dito referir-se a Grécia e não a Roma, fazendo a profecia de Daniel 2 (e outras profecias no livro) referir-se a acontecimentos já ocorridos ou que estavam expirando no tempo em que o livro foi escrito. Mas a evidência arqueológica, histórica e lingüística fortemente favorece uma data no sexto século a.C. para o livro de Daniel. 5 Isso nos leva à conclusão de que a incomparável predição de Daniel 2 ainda testifica do fato de que Deus é seu verdadeiro autor. As profecias da Bíblia nunca visavam a gratificar a curiosidade humana. Foram dadas para revelar o verdadeiro caráter e propósito de Deus de salvar a humanidade do pecado. Esse plano divino para a redenção da raça humana foi desdobrado progressivamente através de centenas de anos — primeiro em antecipação através de revelações dadas aos patriarcas e profetas, e depois de modo completo na encarnação do Filho de Deus. Mais do que qualquer outra coisa, é este foco redentivo que caracteriza o caráter único da Bíblia — tanto do Velho como do Novo Testamento — como a Palavra de Deus. Desde a primeira promessa de redenção em Gênesis 3:15 até à garantia final da graça de Jesus Cristo em Apocalipse 22:21, a Bíblia constitui uma revelação única e coerente de Deus em busca dos seres humanos perdidos. As promessas do Velho Testamento sobre um Redentor e seu cumprimento na encarnação, vida, morte, ressurreição e exaltação de Jesus de Nazaré conforme o relato no Novo Testamento, provêm evidência suprema de que estes escritos são realmente divinos. Paulo com razão exaltou o caráter redentor único da Palavra de Deus. ―Toda a Escritura, divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra‖ (II Timóteo 3:16, 17). Jesus mesmo freqüentemente apelou ao Velho Testamento para mostrar que Seu ministério, morte e ressurreição cumpriram aquelas promessas e profecias. Mas muitos dos guias judaicos Textos sobre Criacionismo Única em seu foco redentor 92 | rejeitaram as pretensões de Jesus e Sua interpretação das Escrituras. Ele disse àqueles guias em termos inequívocos: ―Examinais as Escrituras porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim testificam; e não quereis vir a Mim para terdes vida... Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em Mim; porque de Mim escreveu ele. Mas, se não credes em seus escritos, como crereis em Minhas palavras‖? (João 5:39, 40, 45-47). Não são essas palavras aplicáveis a muitos eruditos cristãos, que embora pretendam observar uma exegese científica rigorosa da Bíblia, anulam o sentido óbvio das profecias no Velho Testamento e freqüentemente atribuem sua interpretação e aplicação no Novo Testamento à compreensão preconcebida e malinformada da igreja primitiva? Se cremos que Cristo é quem Ele pretende ser — ―Eu sou o caminho, a verdade, e a vida‖ (João 14:6) — então deveríamos, como Ele, aceitar as Escrituras como ―a palavra de Deus‖ (Marcos 7:13), como Escritura Sagrada ―que não pode ser anulada‖ (João 10:35). Não há evidência de que Jesus tenha apelado a quaisquer outros escritos como Escrituras. Em Seu conflito com a tentação de Satanás no deserto, as Escrituras foram Sua única arma. Disse Ele: ―Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus‖ (Mateus 4:4). Textos sobre Criacionismo Única para mim Cresci num lar sem religião. Não tínhamos oração, nenhuma leitura da Bíblia, nenhum culto a Deus. Aos 19 anos saí de casa para estudar Direito na Universidade de Groningen na Holanda, minha terra natal. Não compreendia o propósito de minha existência e estava sinceramente procurando um sentido na vida. Pela leitura da Bíblia cheguei a crer que ela continha as respostas para minha busca. Aceitei a Jesus Cristo como meu Salvador e Senhor. Para mim, a Bíblia tornou-se um livro muito precioso, e eu a aceitei de coração como a única Palavra de Deus. Desisti de estudar Direito, preparei-me para o ministério, trabalhei durante 10 anos como pastor e missionário, e então dediquei-me a estudos teológicos avançados. No seminário teológico, deparei-me com milhares de questões críticas sobre a Bíblia. Escreveu Moisés realmente os livros que lhe são atribuídos? Foi Davi o autor de todos os salmos que levam seu nome? Foi o Livro de Isaías escrito por três ou mais pessoas desconhecidas, em lugar do próprio Isaías? Eram as narrativas no livro de Gênesis mitos e não fatos históricos? Eram os quatro evangelhos eivados de contradições e erros de fato? Minha confiança na Bíblia como revelação divina estava na balança. Comecei a duvidar se a Bíblia era realmente o que eu cria ser quando me converti, 14 anos antes. Reconheci que se eu perdesse a confiança na Bíblia, mais cedo ou mais tarde perderia a fé em Cristo, pois era pelas Escrituras que Ele Se revelava a mim e me falava continuamente. Depois de muita oração e estudo, resolvi que me apegaria a Cristo e à Sua Palavra, embora não pudesse responder naquele momento a todas as questões críticas. Agora, quase 30 anos mais tarde, anos cheios de estudo e oração, muitas questões foram respondidas; outras permanecem sem resposta. Confio, entretanto, em que Deus um dia me dará as respostas, ou nesta vida ou no mundo vindouro. Mas através dos anos, estudando tanta evidência quanto possível e através de minha relação pessoal com um Salvador amante e compassivo, estou mais do que nunca convencido de que a Bíblia é realmente a Palavra de Deus. Nenhum outro livro merece este título. Peter van Bemmelen (Th.D., Andrews University) é professor de Teologia no Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia. Seu endereço: Andrews University; Berrien Springs, Michigan 49104; E.U.A. Notas e referências 1. Note, por exemplo, o que Ellen White escreveu em 1876, numa época em que a alta crítica tentava minar a veracidade histórica da Bíblia: ―As vidas relatadas na Bíblia são histórias autênticas de indivíduos reais. Desde Adão, através das gerações sucessivas até ao tempo dos apóstolos, temos um relato claro, não retocado daquilo que realmente ocorreu e a experiência genuína de indivíduos reais‖ (Testimonies for the Church [Mountain View, Calif.:Pacific Press Publ. Assn., 1948]. vol. 4, pág. 9). 2. Ver Kenneth A. Kitchen, Ancient Orient and Old Testament (Downers Grove, Ill.: Intervarsity Press, 1966). 3. Donald J. Wiseman, ―Archaeology and Scripture‖, Westminster Theological Journal 33 (19701971}: 151, 152. 4. Ronald Youngblood, ―Monotheism‖, Evangelical Dictionary of Theology, Walter A. Elwel, ed. (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1984), pág. 731. | 93 Ver Frank B. Holbrook, ed., Symposium on Daniel: Introductory and Exegetical Studies (Washington, D.C.: Biblical Research Institute, General Conference of Seventh-day Adventists, 1986). Textos sobre Criacionismo 5. 94 | Artigo 21 À nossa própria imagem? A ética e a clonagem humana Anthony J. Zuccarelli e Gerald R. Winslow Cumulina. Não é uma cidade romântica numa ilha remota. Não é um prato exótico. Nada que você pudesse ter adivinhado alguns meses atrás. Embora Cumulina seja apenas uma ratazana, ela é uma valente recém-chegada num valente mundo novo. Aninhada na serragem de gaiolas de plástico transparente em Honolulu, na Universidade do Havaí, Cumulina e cerca de 50 outros ratos são recentes pioneiros na pesquisa científica com implicações assustadoras. Os ratos parecem bem normais, indistinguíveis de outros em qualquer laboratório de animais. O grupo, contudo, é sui-generis porque só tem ―progenitores‖ femininos. Como Dolly, a ovelha mais conhecida, os ratos foram produzidos pelo transplante de uma célula somática nuclear — em outras palavras, por clonagem. Dolly provocou uma tempestade de debates. O anúncio de seu nascimento feito pelo cientista escocês Ian Wilmut em fevereiro de 19971 levantou a possibilidade de que, num futuro próximo, seja possível clonar seres humanos. As implicações filosóficas e éticas ocuparam a mídia por meses e puseram a clonagem humana na agenda de corpos legislativos e centros de estudos ao redor do mundo. Por um ano e meio o debate continuou, restrito unicamente pela incapacidade de outros cientistas repetirem o processo, pelas dúvidas de que a tecnologia possa ser adaptada para seres humanos e pelas sugestões de que a concepção de Dolly pudesse não ter sido imaculada. Aqueles argumentos foram removidos por três reportagens publicadas em julho de 1998 na revista Nature. Dois grupos apresentaram evidências convincentes de que Dolly é geneticamente idêntica à ovelha da qual foi derivada; ela é de fato um clone autêntico 2,3. O grupo de Honolulu mostrou que o transplante da célula somática nuclear pode ser repetido, criando três gerações sucessivas de ratos clonados 4. Também apresentaram evidências de que isso pode ser feito com espécies que se supunha serem difíceis de clonar, inclusive seres humanos. Segundo o editor, ―torna-se tanto mais provável que, onde alguém tiver licença [de clonar humanos], ele o fará‖.5 Essa probabilidade ganhou força quando o físico Richard Seed anunciou ter identificado clientes, apoio financeiro e cientistas para fazer funcionar sua clínica de clonagem em Chicago. Textos sobre Criacionismo Devem os seres humanos ser clonados? Mas, devem os humanos ser clonados? Como cristãos adventistas, que apreciamos o valor que Deus atribui à vida humana e levamos a sério nossas responsabilidades como mordomos da terra, devemos examinar cuidadosamente a questão. Depois de explorar a ciência e o aspecto econômico da clonagem, o objetivo deste artigo é identificar princípios éticos que possam guiarnos através do emaranhado de problemas e emoções que cercam a perspectiva de duplicação assexual humana. Comecemos com a reprodução sexual. Seu livro de biologia diz que quando duas células germinais se unem para fertilização, elas combinam seus genes para criar um zigote unicelular. O material genético do zigote, na forma de DNA, é mais tarde reproduzido e distribuído entre as duas células resultantes, formando um embrião de duas células. O embrião se desenvolve por ciclos ordenados de reprodução do DNA e divisão celular. Toda célula recebe uma cópia do material genético, metade provida originalmente por cada progenitor. Quando o embrião atinge um número de células crítico, começa a especializar-se, expressando seletivamente alguns genes e desligando outros, segundo um programa embutido. Dependendo do padrão de expressão, algumas se tornarão células nervosas; outras, células de músculos, e ainda outras, células de pele. A diferenciação finalmente forma um feto com centenas de tipos de células especializadas que constituirão o organismo ao nascer. Embora a reprodução sexual seja um tema comum, não é universal. Seu livro de biologia também descreve microorganismos unicelulares, como bactérias e fermento, cujo modo de reprodução é assexual. Eles simplesmente se dividem em duas células geneticamente idênticas, clones uma da outra e da célula original. Muitas plantas também se reproduzem assexualmente. Um fragmento espalhado pelo cortador de grama do vizinho pode dar início ao crescimento de capim de roça em seu gramado. Uma trepadeira favorita, uma roseira ou uma planta caseira pode ser clonada plantando-se um galho, até crescer e tornar-se uma planta completa. Alguns animais, | 95 como a estrela-do-mar e as minhocas, podem regenerar-se de um fragmento. Cada um desses casos de reprodução assexuada depende do fato de que toda célula num organismo complexo traz em si todos os genes do organismo todo, mesmo se a célula veio da folha de uma planta, onde usou apenas os genes necessários para a folhagem. Supunha-se que os genes apagados durante o desenvolvimento embrionário fossem permanentemente desativados nos animais. Décadas de tentativas fracassadas de gerar organismos inteiros a partir de células do corpo isoladas (chamadas células somáticas) resultaram na crença de que elas eram diferenciadas de modo terminal. Parecia não haver um modo simples de religar os interruptores genéticos — até surgir Dolly. Seguindo a trilha de experimentos feitos nas décadas de 1950 e 1960, o Dr. Wilmut obteve oócitos de ovelha (ovos antes da maturação) e manualmente removeu seus núcleos (que contêm o material genético) usando pipetas delicadas de vidro. Então fundiu os oócitos sem genes com células somáticas extraídas do úbere de uma ovelha adulta. O núcleo da célula do úbere substituiu os genes normalmente providos pelo esperma e óvulo no momento da fertilização. O citoplasma do oócito aparentemente proporcionou o ambiente adequado para recompor os genes no núcleo do úbere, permitindo que eles se expressassem na seqüência normal do desenvolvimento embriônico. Depois de um período de crescimento numa solução nutritiva, o oócito reconstituído, que se tinha tornado um embrião multicelular, foi implantado numa ovelha com vistas ao desenvolvimento completo1. Foi assim que Dolly veio à existência. Os passos cruciais no processo refletem-se em seu nome — transplante de célula somática nuclear. Com várias modificações, a equipe de Honolulu usou a mesma técnica para fazer Cumulina, o primeiro rato clonado, e clones de clones em duas gerações sucessivas4. Diversos fatos merecem ênfase. Dolly e Cumulina não têm nem pai nem mãe no sentido convencional — pais que contribuíram com células germinais para sua concepção. Em lugar disso, cada uma tem um doador nuclear que proveu todo o material genético nuclear, um doador oócito que proveu a ―incubadora‖ celular na qual os genes foram colocados e uma gestante que nutriu o embrião até ao nascimento. Como nenhum dos participantes foi macho, poder-se-ia dizer que Dolly e Cumulina têm, cada uma, três ―mães‖. Segundo: um clone tem o mesmo material do cromossoma do doador do núcleo. Alguns compararam o clone a um gêmeo idêntico do doador nuclear. O oócito doador contribuiu com uma quantia minúscula de material genético achado no mitocondro; a gestante provê só o útero nutriente. As três progenitoras de Dolly foram Finn Dorset, Poll Dorset e uma ovelha escocesa Blackface, respectivamente. Ela se parece com sua ―mãe‖ nuclear Dorset. Terceiro: embora a clonagem seja uma realização espantosa, é extremamente ineficiente. Mais de 400 óvulos de ovelha foram usados para produzir Dolly1. Todos os outros morreram pelo caminho. Cumulina e sua corte representam 2,5 por cento das tentativas nos experimentos de Honolulu4. Obviamente, a reprodução sexual é mais eficiente, simples e usualmente mais satisfatória. Isso pode provocar a pergunta: ―Por que, afinal, tentar fazer clonagem?‖ Surpreendentemente, a primeira motivação é duplicar animais, não seres humanos. O valor da clonagem é a conseqüência da diferença crucial entre reprodução sexual e assexual. Considere as incertezas da reprodução tradicional de animais. Os bezerros nascidos de uma produtora de leite premiada, por exemplo, recebem apenas a metade dos genes da mãe. Como a produção de leite depende de muitos genes que interagem, poucos entre suas crias herdarão a combinação exata que fez da vaca uma tão grande produtora de leite. Depois de ganhar a Tríplice Coroa, por exemplo, Secretariat gerou mais de 400 potros pelas melhores éguas do mundo. Nenhum deles teve uma carreira bem-sucedida em corridas! Fábricas de animais transgênicos Os clones, em contraste, têm exatamente os mesmos genes de seus doadores nucleares. A clonagem garantiria que o equipamento genético de uma ovelha com lã grossa e macia ou de galinhas que botam ovos com baixo colesterol seria reproduzido precisamente. Embora estas características sejam desejáveis, outras são apreciadas ainda mais. O motor que impulsiona o desenvolvimento de transplantes nucleares é o desejo de produzir animais que levem genes humanos, animais chamados transgênicos. Textos sobre Criacionismo Transplante de células somáticas nucleares Textos sobre Criacionismo 96 | Durante os últimos 25 anos, a biotecnologia tem identificado e isolado os genes humanos que codificam vários componentes e produtos celulares. Como resultado prático, a insulina e outras proteínas humanas são agora feitas por bactérias resultantes de engenharia genética que crescem em barris de cultura. Muitas proteínas valiosas, contudo, são complexas demais para as bactérias reproduzirem corretamente. Uma alternativa é usar culturas de células humanas ou de mamíferos, modificadas geneticamente, mas é dispendioso cultivá-las e só fazem uma quantidade mínima do produto desejado. O método mais antigo, extrair proteínas diretamente de cadáveres ou de sangue humano com data vencida, é evitado por causa do risco de contaminação com agentes infecciosos como HIV ou vírus de hepatite. Em busca de eficiência de custo e segurança, a biotecnologia voltou-se para animais domésticos para a criação de produtos sob a direção de genes humanos acrescentados a seus cromossomas. Nos melhores casos, o DNA adicionado faz com que o animal segregue grandes quantidades de proteína humana em seu leite. Chamando isso de pharming, a primeira onda de animais transgênicos é representada por cabras, vacas, porcos e ovelhas nos Estados Unidos, Escócia e Holanda, os quais fazem proteínas como antitrombina II (um agente anticoagulante), alfa-1antitripsina (ausente em pessoas com enfisema e útil no tratamento de fibrose cística), agentes que coagulam o sangue (ausente em hemofílicos) e interferonas (agentes antivirais). Ter animais domésticos que convertam capim em proteínas é como ter uma galinha que bota ovos de ouro — talvez melhor ainda! Algumas proteínas terapêuticas valem muitas vezes mais do que seu peso em ouro. OK, então animais que segregam proteínas humanas úteis são valiosos. Como é que a clonagem entra no quadro? Animais transgênicos de alta produção são difíceis de se fazer; a clonagem pode fazê-lo mais facilmente. O primeiro passo ao criar um animal transgênico é identificar e isolar o gene humano para o produto desejado — digamos uma proteína contra vírus. Em seguida, o gene é unido a um segmento de DNA que controla quando e onde o gene será ativo. Uma técnica típica consiste em usar um segmento que dirige o gene a produzir sua proteína contra vírus nas células produtoras de leite da glândula mamária. Estes passos são facilmente efetuados usando técnicas de genética molecular bem conhecidas, mas os estágios subseqüentes são tecnicamente difíceis e ineficientes. Diversas centenas de cópias de gene com o DNA controlador são injetadas laboriosamente em oócitos fertilizados. Os zigotes que se desenvolvem são depois implantados em mães substitutas para gestação. A eficiência é lamentavelmente baixa — tipicamente, menos de 0,5% sobrevive ao nascimento e testa positivo para o transgene. Um número menor ainda segrega quantidades úts¡s da proteína em seu leite. Claramente, pode levar anos antes de se formar um rebanho transgênico produtivo. Métodos eficientes de clonagem mudariam o quadro. Como antes, um gene humano precisa ser isolado e unido a um segmento de controle. Então, em vez de micro-injeção, o gene-mais-o-DNA controlador é simplesmente adicionado ao líquido no qual as células animais estão sendo cultivadas. Nas condições certas, elas começam sós ou depois de um breve impulso elétrico. Usando métodos normais de seleção, as células que aceitaram o transgene podem ser purificadas e testadas para ver se dão indicação de serem boas produtoras de proteína. Visto que essas manipulações são feitas com células cultivadas, e não animais, podem ser completadas em poucos dias. Células modificadas com êxito seriam então usadas para fazer animais inteiros, transferindo seus núcleos para oócitos sem núcleo. Tecido para transplante Um papel adicional para a clonagem é a criação de animais com tecidos ―humanizados‖ para satisfazer a grande necessidade de órgãos para transplante. A rejeição aguda de órgãos animais é devida a um arranjo de sub-unidades de açúcar nas superfícies das células, o qual não é tolerado pelos recipientes humanos. Visto ser possível subtrair, bem como adicionar genes, eliminar os genes responsáveis pelas mudanças da superfície ofensiva tornaria os órgãos de animais mais compatíveis com o hospedeiro humano. É intrigante a habilidade misteriosa do citoplasma do oócito de reprogramar um núcleo. Alguns predizem que talvez seja possível tirar vantagem ainda maior desta propriedade. Depois do núcleo de um paciente ter sido reacertado para um estado embriônico dentro do oócito, será possível instruí-lo para reproduzir e amadurecer num tipo de célula diferente. O objetivo seria gerar tecidos especializados que poderiam ser usados para tratar um vasto elenco de enfermidades humanas — jovens células das ilhotas pancreáticas para tratar diabetes, células da pele para curar queimaduras, células nervosas para reconstruir estragos na espinha ou obrigar a | 97 doença de Parkinson a regredir. Se o tecido transplantado fosse derivado do paciente, seria perfeitamente compatível e evitaria rejeições imunológicas. Em vez de pensar na possibilidade horrível de clonar pessoas para serem usadas como ―partes sobressalentes‖, o transplante nuclear poderia ser capaz de reprogramar células humanas de modo a crescerem como órgãos isolados ou tecidos semelhantes a órgãos. A tecnologia da clonagem promete benefícios imensos, mas a que custo? Alguns advertem que poderá ser elevado — minando a dignidade humana e degradando as relações familiares. Examinemos essas preocupações com ponderação para determinar se são guias úteis na tomada de decisões sobre clonagem. Organizaremos nossa discussão em torno de sete temas da ética cristã: proteção contra danos, conseqüências para a liberdade humana, efeitos sobre a estrutura da família, potencial para aliviar o sofrimento, mordomia de recursos pessoais, veracidade e o potencial para compreender a criação de Deus. 6 1. Proteção contra danos. O criador de Dolly, Ian Wilmut, identificou a razão mais convincente para não se tentar clonar seres humanos: resultaria na perda de incontáveis óvulos humanos e na morte de muitos fetos em vários estágios de desenvolvimento, inclusive próximo ao nascimento. Também introduziria um risco elevado de crianças mal-formadas e mortes de crianças. Em seus primeiros experimentos, cerca de 60 por cento dos cordeiros clonados morreram logo depois do nascimento e muitos mostravam deformidades físicas. A clonagem é moralmente precária porque é arriscada sob o ponto de vista médico. A norma das Escrituras é evitar colocar vidas em risco indevido de dano ou morte, especialmente a vida dos vulneráveis. O mesmo princípio é reiterado no juramento médico de ―não causar dano‖. Proíbe uma decisão que resultaria em dezenas de natimortos, de crianças mal-formadas ou não-viáveis a fim de produzir uma criança sadia. A Comissão Nacional de Aconselhamento Ético, designada pelo presidente dos Estados Unidos, decidiu que a clonagem humana é inaceitável no presente por motivos de segurança 7. Seu julgamento foi baseado no estágio da tecnologia ainda com menos de dois anos. Recomendou uma moratória temporária, esperando plenamente que experimentos subseqüentes melhorem a proporção de sucesso. Uma proibição permanente seria o equivalente a proibir para sempre o uso público do avião depois do primeiro vôo no 14-Bis. Dolly e Cumulina representam marcos miliares numa longa série de avanços biológicos durante cinco décadas. O atual estágio de progresso requer que se reexamine a tecnologia a intervalos para determinar se amadureceu além do ponto de os benefícios superarem os riscos. 2. Liberdade e dignidade humanas. Os cristãos crêem que os seres humanos têm dignidade porque foram criados à imagem de Deus com a autonomia de ―pensar e fazer‖. A perspectiva de reprodução humana assexual freqüentemente evoca uma visão contrária e perturbadora — exércitos de zumbis desalmados seguindo os passos de seus progenitores. Nosso temor de cópias a carbono de humanos é poderoso, quase visceral. Deriva-se em parte de nossa tendência de equacionar aparência com identidade pessoal. No ano passado, um jornal reproduziu as respostas de adolescentes à perspectiva de clonagem humana. ―Então as pessoas serão clonadas?‖, disse um rapaz de 18 anos. ―E como você vai saber se elas terão alma? Como saberá o que vem aí pela rua?‖ Em contraste, temos pouca dificuldade em aceitar o fato de que gêmeos ―idênticos‖ (monozigóticos) não são realmente idênticos. Desenvolvem personalidades e temperamentos distintos como conseqüência de suas diferentes escolhas, experiências e ambientes. A despeito dos genes idênticos, eles se tornam ―almas‖ diferenciadas. Uma pessoa clonada amadureceria num indivíduo que é inteiramente distinto do doador nuclear pelas mesmas razões mas, adicionalmente, o clone teria uma ―mãe‖ diferente, cresceria numa família diferente e viveria num tempo diferente do doador. Por conseguinte, a crença de que os clones de Albert Einstein ou Michael Jordan repetiriam as vidas de seus progenitores é totalmente sem fundamento. O bioeticista do Centro Hasting resumiu a questão sucintamente, quando observou: ―Você não pode clonar um ―eu‖.8 Mesmo que os clones fossem indivíduos únicos, alguns podem limitar a expressão dessa unicidade. Pode você imaginar o clone de um pianista famoso a gastar horas no teclado com a exclusão de outras ocupações? Estariam algumas pessoas inclinadas a produzir clones para fins comerciais ou sacrificá-los para obter seus órgãos? Nossa opinião é que é moralmente indefensável criar clones para serem usados somente como fontes de órgãos transplantáveis, para exploração comercial ou como instrumentos subservientes. Deveríamos opor-nos fortemente à Textos sobre Criacionismo Clonagem e questões éticas Textos sobre Criacionismo 98 | ―modificação‖ ou ―ligação genética‖ de seres humanos. A clonagem, como todas as tecnologias poderosas, pode ser um instrumento para o bem ou para o mal. Qualquer uso que minasse ou diminuísse a dignidade pessoal ou autonomia de seres humanos deve ser rejeitado. 3. Alívio para o sofrimento humano. A aplicação plena, criativa de nossas mentes e corpos para avançar o ministério benéfico de Cristo é um princípio fundamental da teologia adventista, que se expressa, em parte, em nossos programas mundiais de medicina e educação. Implícita na Grande Comissão está nossa responsabilidade de prevenir e aliviar o sofrimento com os meios à nossa disposição. A clonagem pode ser um instrumento poderoso de cura se permitir que evitemos a transmissão de enfermidades genéticas ou criemos tecidos de substituição e órgãos para reparos ou transplante. Retaugh Dumas, da Universidade de Michigan, expressou uma opinião que pode soar em uníssono com pessoas devotadas ao ministério da cura: ―Eu poderia formular um argumento moral de que, se essas técnicas estão disponíveis e não as usamos, estamos em falta com a sociedade‖.9 4. Salvaguarda para a estrutura familiar. Durante o anúncio de uma moratória para a clonagem, o presidente dos Estados Unidos expressou a preocupação de que ela tenha ―o potencial de ameaçar os sagrados elos da família‖. A imagem de crianças produzidas mecanicamente fora do círculo da família é de fato perturbadora. O plano de Deus é que as crianças sejam criadas dentro do contexto da família com a presença, participação e apoio de um pai e uma mãe. Visto que o transplante nuclear pode ser usado para obter a reprodução humana quando outros métodos são ineficazes, devia ser tentado somente dentro do quadro de um casamento fiel e com o apoio de uma família estável. Por essa razão, devem ser evitadas as complicações morais que surgiriam se uma terceira pessoa agisse como substituta para a gestação ou fosse a fonte de material genético.10 A clonagem poderia ser um recurso de última instância para casais que querem ter filhos, mas são incapazes de produzir células germinais normais. Em tais situações, o transplante nuclear serviria como forma avançada de reprodução assistida. Muitos têm proposto o caso hipotético de um casal cujo filho está morrendo, e que quer literalmente substituir a criança. Alguns considerariam isso uma aplicação apropriada de transplante nuclear. 5. Uso inteligente de recursos. Dados os desafios técnicos da clonagem, ela é dispendiosa e provavelmente continuará sendo assim por algum tempo. Um casal americano, por exemplo, pagou 2,3 milhões de dólares para que a Texas A&M University clonasse o seu querido cão Missy. Em sociedades democráticas, as pessoas têm a liberdade de gastar seu dinheiro de milhares de maneiras, inclusive maneiras tolas. Mas os cristãos são exortados a usar seus recursos de um modo que reflita mordomia responsável. Esse compromisso significa pôr o reino de Deus em primeiro lugar. E significa atenção, mesmo com sacrifício, às necessidades dos outros. Assim, os cristãos deveriam calcular as despesas e o custo da clonagem à luz da mordomia fiel. 6. Veracidade. As escrituras ensinam a valorizar a comunicação honesta e veraz. Quando novas tecnologias, como a clonagem, são desenvolvidas, não é fora do comum que alguns entusiastas exagerem os benefícios e subestimem os custos e os riscos. Por outro lado, é uma tentação, para os de opinião contrária, magnificar os riscos e representar mal os objetivos. Os cristãos têm a obrigação de compreender e promover a verdade. 7. Compreensão acerca da criação de Deus. Deus deseja que os seres humanos cresçam em sua apreciação da Criação. Nosso desejo de conhecer o corpo humano e o mecanismo do desenvolvimento humano não é diferente do impulso para investigar outros fenômenos naturais. Deveriam ser encorajados e apoiados os esforços para compreender o mundo ao nosso redor e dentro de nós por pesquisa ética, impulso esse implantado pelo Criador. Para aqueles que são sensíveis aos sinais da mão de Deus no mundo físico, tal conhecimento é evidência de Seu amor e poder. Existe atualmente um acordo ético generalizado para que a clonagem humana não seja tentada. Os que estão a favor parecem ser poucos. As preocupações com a segurança por si sós deviam ser suficientes para excluir aplicações para humanos, por enquanto. Mas à medida que os biólogos acumulam mais experiência com a clonagem de animais, a técnica ficará mais eficiente e mais barata. As tentativas de clonagem de humanos poderão ser então esperadas. Os cristãos têm agora uma oportunidade de refletir sobre as questões éticas que a clonagem humana apresenta e considerá-las no contexto de princípios bíblicos permanentes6. Fazer isso é um ato de fé e de maturidade moral. | 99 Anthony J. Zuccarelli (Ph.D., California Institute of Technology) é biólogo molecular e diretor do Programa de Treinamento do Cientista Médico na Universidade de Loma Linda. Seu endereço: Departamento de Microbiologia e Genética Molecular, Loma Linda University; Loma Linda, Califórnia 92350; E.U.A. E-mail: [email protected] Gerald R. Winslow (Ph.D., Graduate Theological Union, Berkeley), é eticista e Decano da Faculdade de Religião na Universidade de Loma Linda. Seu endereço: Faculty of Religion; Griggs Hall, Loma Linda University; Loma Linda, Califórnia 92350; E.U.A. E-mail: [email protected] Referências Textos sobre Criacionismo 1. I. Wilmut, e outros, ―Viable Offspring Derived from Fetal and Adult Mammalian Cells‖, Nature 385 (1997), págs. 810-813. 2. D. Ashworth, e outros, ―DNA Microsatellite Analisis of Dolly‖, Nature 394 (1998), pág. 329. 3. E. N. Signer, e outros, ―DNA Fingerprinting Dolly, Nature 394 (1998), págs. 329-330. 4. T. Wakayama, e outros, ―Full-term Development of Mice From Enucleated Oocytes Injected With Cumulus Cell Nuclei‖, Nature 394 (1998), págs. 369-374. 5. ―Adult Cloning Marches on‖, Nature 394 (1998), pág. 303. 6. ―Human Clonig: A Seventh-day Adventist declaration of ethical principles‖. Uma declaração votada pela Comissão da Compreensão Cristã da Vida Humana, março 22-24, 1998 e pela Comissão Administrativa da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Silver Spring, Maryland, 1998. 7. D. Shapiro, e outros, ―Cloning Human Beings‖. Relatório e Recomendações da National Bioethics Advisory Committee, junho, 1997. http: //bioeethics.gov/pubs.html 8. D. Lutz, ―Hello, Hello, Dolly, Dolly‖, The Sciences 37 (1997), págs. 10, 11. 9. G. Kolata, ―Clinton’s Panel Backs Moratorium on Human Clones‖, The New York Times (Maio 18, 1997). 10. ―Considerations on Assisted Human Reproduction‖. Declaração votada pela Comissão da Compreensão Cristã da Vida Humana, Abril 10-12, 1994 e pela Comissão Administrativa da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo-dia, Silver Spring, Maryland, 26 de julho de 1994. 100 | Artigo 22 Ecologia, biodiversidade e criação: Um enfoque estrutural Henry Zuill Textos sobre Criacionismo John Ashton crê em Deus. Esse notável homem de ciência acredita no relato bíblico da Criação. Ele ficou surpreso quando outro cientista lançou um desafio público ao criacionismo numa convenção havida na Universidade Macquarie, em Sydney, Austrália. Nesse ensejo, um discursante apresentou evidências em favor do relato bíblico da Criação. O desafiante ironizou, porém, dizendo que não poderia crer que houvesse alguém com Ph.D. que cresse na criação literal de seis dias. À essa altura, um convencional presente mencionou os nomes de alguns cientistas crentes na criação, incluindo o Dr. John Ashton. Quando John soube da conversa havida em plenário, pois não se achava presente na ocasião, aceitou o desafio de provar a certeza criacionista. O resultado foi a maravilhosa coleção de artigos, Em Seis Dias: Por que 50 Cientistas Escolheram Crer na Criação.1 Quando recebi o convite para contribuir com um artigo, compreendi de início que deveria escrever especificamente sobre a criação em seis dias, de uma perspectiva científica. Essa não era a intenção de John. Eu cria na criação em seis dias, mas não por razões científicas. O que alguém poderia dizer sobre isso a partir de uma perspectiva científica? Como poderia eu fornecer evidências científicas de que a Terra e a vida foram criadas em seis dias literais? Eu sabia que havia muitas áreas do criacionismo que podiam ser estudadas cientificamente, mas não pensava que a criação em seis dias fosse uma delas. Pensava eu que ela deveria ser aceita estritamente pela fé no relato bíblico. Então surgiu como um relâmpago, uma convicção ao mesmo tempo luminosa e excitante. Como ecologista, eu havia estado à procura de evidências de desígnio inteligente no nível ecológico, mas, subitamente, esses fragmentos comprobatórios se juntaram para apoiar a criação em seis dias. Escrevi, pois, um capítulo para o livro. A hierarquia estrutural e a evidência de desígnio Desde cedo nas universidades, os estudantes de biologia geral aprendem sobre hierarquia estrutural da matéria (ver Figura 1). Partículas subatômicas se reúnem em átomos, que por sua vez formam moléculas e macromoléculas. Essas se juntam formando sucessivamente organelas, células, tecidos, órgãos e sistemas orgânicos. Em todo nível de vida, desde a célula aos sistemas | 101 orgânicos, há diferentes complexos independentes — organismos unicelulares, organismos tissulares e assim por diante, até organismos com sistemas orgânicos. Daí, diferentes organismos constituem-se em comunidades que, num ambiente não-biológico, formam ecossistemas.2 Ecossistemas em torno do globo constituem a biosfera. Abaixo do nível celular, não há entidades consideradas viventes. Acima do nível orgânico, temos a área ecológica na qual diferentes organismos relacionam-se uns com os outros e com seu ambiente não-biológico. Em todos esses níveis, há evidências de desígnio inteligente, se quisermos vê-las com isenção de ânimo. A complexidade estrutural de cada nível desafia a idéia de que tal complexão possa ser resultado de acontecimentos fortuitos. Não obstante, muitos não vêem as coisas desse modo; aceitam que a complexidade estrutural é o resultado de eventos naturais, mesmo quando parece não haver maneiras disso ocorrer. A idéia de desígnio inteligente na Natureza tem sido aceita desde há muito, embora durante os últimos 100 ou 150 anos venha sendo opinião minoritária entre os cientistas. Alguns filósofos antigos viram indicações de desígnio na Natureza. No final do século 18, William Paley, teólogo e filósofo inglês, sugeriu que ninguém pensaria num relógio sem relojoeiro. Pela mesma razão, ele argumentava que as complexidades da Natureza, entre elas o olho humano, por exemplo, não podiam ser explicadas sem um Criador. Os escritos de Paley eram leitura obrigatória nas universidades britânicas. Charles Darwin leu suas obras e ficou fascinado inicialmente com as opiniões do filósofo, mas depois as rejeitou. Apesar disso, deve ter ficado um resquício de dúvida em sua mente, porque Darwin disse que o olho, com sua complexidade incrível, deixava-o doente. Mesmo hoje, a influência do pensamento de Paley perdura. Richard Daw-kins intitulou um de seus livros, The Blind Watchmaker. Na obra, o autor tenta mostrar que complexidade na Natureza é o resultado do acaso e não de desígnio inteligente. Assim, depois de quase 200 anos, o argumento de Paley ainda está sendo discutido. O valor dado à evidência específica de desígnio inteligente depende de onde uma pessoa a procura. Se a evidência observada é de nível básico na hierarquia estrutural, a conclusão tirada pode ser bem diferente do que se ela ocupar um lugar superior no plano. O lugar onde alguém procura evidências pode ser determinado pela especialização do observador. A parte inferior da estrutura da Natureza é domínio da física; o domínio seguinte é objeto da química; e o superior pertence à biologia. O recente ressurgimento do interesse voltado ao desígnio inteligente começou com a descoberta de que um grande número de constantes físicas fundamentais no Universo estavam delicadamente relacionadas com as necessidades dos sistemas vivos. Se fossem diferentes, mesmo por minúscula fração, a vida seria impossível. Isso é conhecido como o Princípio Antrópico. Muitos físicos acham nele razões para crer num Deus Criador. Outros, considerando imprópria essa interpretação, imaginaram múltiplos universos, de modo que por puro acaso um deles possuiria as condições necessárias à manifestação da vida. Que não há a mínima evidência em apoio à teoria dos universos múltiplos, parece ser-lhes irrelevante. As constantes físicas fundamentais provêem os recursos físicos e químicos requeridos pelos seres vivos. Em geral, elas oferecem evidências de desígnio que se situam inferiormente na hierarquia estrutural da Natureza ou fora dela. Dessa perspectiva, somente as condições físicas e químicas básicas necessárias ao desenvolvimento da vida foram providas. Conseqüentemente, alguns físicos, impressionados com a evidência, também aceitam o argumento de que Deus usou a evolução, no sentido lato, como instrumento da criação. São evolucionistas teístas. Outros cientistas encontram evidências de desígnio na bioquímica, as quais consideram como irredutivelmente complexas. Para eles, Deus era um pouco mais ativo. Eles podem admitir a hipótese de que Ele criou as primeiras células e a evolução fez o resto. Esses sábios podem também ser considerados evolucionistas teístas. Se há, em nível mais baixo, evidências de desígnio que intrigam alguns físicos, e se há, também, evidências em nível bioquímico, não sugeriria isso a possibilidade de encontro de mais evidências nos níveis superiores da hierarquia estrutural? Ademais, quanto mais alta a evidência na escala estrutural, tanto menos opções de interpretação. Comecei a inquirir se havia evidências no topo da hierarquia estrutural — o nível ecológico. Esse é o nível que trata de relações múltiplas entre organismos e seu ambiente não-biológico. Se houvesse evidência de desígnio inteligente em todos os níveis da hierarquia estrutural da Natureza, e especialmente no topo, então seria muito difícil esperar que apenas o acaso cego Textos sobre Criacionismo Evidência específica de desígnio 102 | pudesse explicar a existência e a variedade de seres vivos. Creio que há tal evidência: a visão do alto.3 Biodiversidade e criação Textos sobre Criacionismo O termo biodiversidade entrou em uso popular há pouco tempo. Refere-se ele às muitas e diferentes espécies que encontramos no mundo natural, bem como às diferentes populações de espécies com suas muitas variações genéticas e os inúmeros serviços ecológicos que prestam. Desde a primeira referência (1986) até hoje, centenas de artigos têm sido publicados sobre o tema da biodiversidade. Estudos em biodiversidade têm comprovado uma rede intrincada de interdependências entre os seres vivos. Sabe-se que os sistemas ecológicos são mais dependentes entre si do que se imaginava. Com efeito, Peter Raven, do Jardim Botânico de Missouri, sugere que quando uma planta é exterminada, 10 a 30 outros organismos a seguirão no processo de extinção.4 Assim, as inter-relações são muito íntimas. Felizmente, os sistemas ecológicos também possuem complexos de apoio, de modo que os efeitos do abuso não sejam tão abrangentes como se esperaria. Isso é possível porque diversas espécies podem prestar serviços ecológicos similares. Essas espécies são chamadas de redundantes. Além disso, mesmo sistemas redundantes podem não funcionar em todas as circunstâncias, assim que alguns deles são considerados dispensáveis. Nossa compreensão de biodiversidade tem sido deduzida, em grande medida, do dano e destruição do sistema ecológico. À medida que certas espécies se tornam raras ou extintas, o efeito ecológico de perda mais ampla torna-se evidente. A maior parte da preocupação com os estudos de biodiversidade tem se concentrado na salvação das espécies em perigo. De início, os esforços procuravam apenas manter os números populacionais das espécies, mas logo tornou-se evidente que para salvar espécies em perigo, exigia-se a preservação de sistemas ecológicos inteiros. Toda espécie tem seu sistema de apoio ecológico e os componentes de cada sistema de apoio têm seu próprio conjunto de amparo. Podemos expressar o conceito do seguinte modo: A vida na Terra torna a vida possível, o que significa que seres viventes foram feitos para se apoiarem mutuamente. Isso deveria surpreendernos? Foi a conservação de espécies, naturalmente, que recebeu a atenção primária, porém, as implicações mais amplas desses sistemas interdependentes tornaram-se agora claras. | 103 Relações mútuas e benéficas são comuns na Natureza. Com efeito, é provável que a maioria das relações naturais sejam desse tipo. Numerosos exemplos de relações interdependentes poderiam ser dados, mas o espaço não permite. Contudo, a Figura 2, utilizando-se de uma árvore, ilustra os serviços que ela tanto provê como recebe. O leitor é convidado a relembrar outras espécies de relações como as de solo, que são de benefício mútuo. Há também relações negativas e morte na Natureza, mas elas parecem ter resultado da perda de espécies, danos genéticos e outros impactos negativos. Sistemas ecológicos, enquanto organismos, estão agora degenerados. O cristão vê esses problemas como tendo sido previstos pelo Criador em Suas palavras a Adão e Eva, depois da Queda (ver Gênesis 3:14-19). Embora as relações negativas sejam mais dramáticas e possam mais facilmente capturar nossa atenção, parece mais provável que as relações benéficas, de longe, as superam em número. Em conseqüência, a interdependência observada nos seres vivos agora sugere que essas relações foram criadas intencionalmente. A ecologia original teria sido diferente da de hoje. Todavia, não se pode duvidar de que havia uma ecologia original. O próprio relato da Criação faz referência a relações reprodutivas e de alimentação. A ecologia parece tão necessária para a vida como as ações de comer e respirar. Com efeito, sem ecologia o ar não seria próprio para respirar e os nutrientes minerais não estariam acessíveis às plantas, nossa fonte de alimento. Quando John Ashton pediu-me que contribuísse para o Seis Dias, eu já sabia da necessidade de relações ecológicas, embora ainda não tivesse feito a ligação de que a ecologia continha evidências para uma criação em seis dias. Mas, ao considerar o problema, imediatamente surgiume a intuição de que eu tinha em mãos a evidência que apoiaria a criação de seis dias. Se os ecossistemas requerem grupos inteiros de organismos para funcionar, não teriam sido necessários grupos inteiros de organismos também no começo? Tanto o Princípio Atrófico como as seqüências bioquímicas sugerem um planejador, mas ainda permitiam que os que foram impressionados por essas evidências cressem em evolução teística. Isso é bem pouco diferente de simples evolução. Num desenvolvimento de vida gradual, a ecologia também se desenvolveria começando como ecologia limitada, e depois se expandindo gradualmente à medida que novos organismos evolvessem. Contudo, se a ecologia desenvolveuse ao mesmo tempo que as espécies em evolução, os ecossistemas falhariam por falta de componentes essenciais. Por conseguinte, a vida não poderia ter continuidade, se é que pudesse mesmo começar. Por outro lado, se os seres foram criados num intervalo breve, juntamente com suas interdependências ecológicas, haveria desde o começo relações complexas em apoio à vida na Natureza. A ecologia e a biodiversidade complexa que encontramos na Natureza hoje, no topo da hierarquia estrutural, sugerem que muitos organismos inter-relacionados teriam sido necessários desde o início. Somente uma criação imediata proveria as exigências de tal sistema ecológico. Assim, embora a ecologia, como hoje compreendida, não exija precisamente uma criação em seis dias, ela favorece essa possibilidade. Ademais, ela é definitivamente contrária à idéia de um desenvolvimento ecológico gradual. Henry Zuill (Ph.D., Loma Linda University) lecionou e conduziu pesquisa em biologia e ecologia por muitos anos. Seu endereço: 64 Norwood Drive; Norman, Arkansas 71960; EUA. E-mail: [email protected] Notas e referências 1. John F. Ashton, ed., In Six Days: Why 50 Scientists Choose to Believe in Creation (Sydney, Austrália: New Holland Press, 1999). 2. Ecossistemas muito grandes são usualmente designados biomes. 3. Para uma discussão mais detalhada deste assunto, veja o livro do autor “Evidence for Design at the Ecological Level”, Geoscience Report 29 (Spring 2000), publicado pelo Geoscience Research Institute (Loma Linda, Califórnia 92350, EUA), e ―Ecology, Biodiversity and Creation,‖ Creation ExNihilo Technical Journal 14:2 (2000), págs. 82-90. (P.O. Box 6307; Acacia Ridge, D.C.; Qld. 4119, Austrália). 4. P. H. Raven, ―Ethics and Attitudes‖, em Simmons, et al. (eds.), Conservation of Threatened Plants (New York: Plenum Publishing, 1976), págs. 155-181. Citado por Y. Baskin, The Work of Nature: How the Diversity of Life Sustains Us (Washington, D. C.; Island Press, 1997), págs. 36, 37. Textos sobre Criacionismo Fazendo a conexão 104 | Artigo 23 A procura da arca de Noé David Merling Textos sobre Criacionismo A arca de Noé tem fascinado a todos — desde o tempo de Noé até ao nosso. A arca atrai a atenção de todos. Mas onde está a arca? Alguns em tempos recentes têm declarado ousadamente que ela foi achada, e se perguntam por que os eruditos não publicaram as boas novas. Como arqueólogo, eu ignorei a questão durante anos por certo número de razões. Primeiro, o bom senso sugere que uma estrutura de madeira como a arca, exposta por milhares de anos à chuva, neve e gelo, e experimentando o processo anual de congelamento e degelo, teria se decomposto há muito tempo. Alguns têm sugerido que a madeira ―gopher‖ de antes do Dilúvio tinha uma resistência excepcional. Mas a verdade é que nada sabemos da madeira ―gopher‖. Supomos que fosse um tipo de cipreste. Mas é tão indestrutível como alguns sugerem? Talvez sim, talvez não. Se fosse, por que é que paleo-botânicos não acham amostras desta madeira ―gopher‖ de antes do Dilúvio? Certamente, nem toda madeira ―gopher‖ ter-se-ia petrificado; parte dela devia ter flutuado e repousado na superfície da Terra depois do Dilúvio, do mesmo modo que a arca. Que aconteceu com toda aquela madeira? Minha suposição é que, como a madeira da arca de Noé, decompôs-se há muito. Segundo, nem a Bíblia nem os escritos de Ellen G. White — uma autora respeitada para os adventistas do sétimo dia — apóiam a idéia que Deus preservou a arca de Noé como um testemunho para os que vivessem nos últimos dias. Se a arca de Noé fosse tão importante para Deus e os acontecimentos finais, Ele teria revelado esta mensagem a Seus profetas (Amós 3:7). Depois de Gênesis 8 a Bíblia permanece silenciosa sobre a existência da arca de Noé. Além disso, o argumento de que a arca de Noé tem um lugar especial nos desígnios divinos para o fim do mundo solapa o uso bíblico do arco-iris como o concerto pós-Dilúvio, visível entre Deus e a humanidade (Genêsis 9:11-17). Com efeito, o arco-iris, como sinal da confiabilidade de Deus, se | 105 prolonga até ao Livro do Apocalipse (4:3; 10:1). A partir do relato bíblico, é claro que Noé e sua família deixaram a arca para trás e olharam para o arco-iris como o sinal de que podiam confiar em Deus. A arca era algo do passado. O arco-iris era o sinal do futuro. Por estas e outras razões, eu cria que a procura da arca de Noé fosse um desperdício de tempo até 1992. Naquele ano, concordei em escrever dois artigos sobre a pretensa descoberta da arca de Noé.1 Aqueles artigos foram em resposta à pretensão de um adventista do sétimo dia de que Deus o tinha guiado na descoberta da arca de Noé e de muitos artefatos antigos. Desde então, o assunto da arca de Noé tem absorvido muito mais de meu tempo do que eu esperava. O que descobri é que há alguns cristãos sinceros que estão à procura da arca de Noé cientificamente e com entusiasmo. Há também alguns cujo trabalho é difícil classificar. A maioria do primeiro grupo se chama ―pesquisadores‖ e levam em consideração toda evidência: aquilo que apóia suas crenças, e aquilo que não apóia. Em outras palavras, eles falam tanto das evidências positivas como das negativas.2 Reconhecem que ela não foi achada, embora creiam que ela ainda exista, e estão envolvidos ativamente em procurá-la. Há um outro grupo que pretende ter achado a arca de Noé. Muitos deles adotam títulos sonoros e tentam confundir os mal-informados com pretensões falsas. Ignoram evidência negativa e usam artefatos falsos para apoiar suas conclusões. Às vezes este último grupo é representado por jornalistas que por falta de notícias escrevem sobre a descoberta da arca de Noé, sem apresentar evidência concreta.3 Este artigo vai ignorar este segundo grupo e enfocar os pesquisadores sérios. A procura da arca de Noé tem-se limitado em grande parte a uma região na Turquia oriental por causa da afirmação bíblica de que a arca repousou sobre o ―Ararate‖ (Gênesis 84). Freqüentemente omitido na leitura deste verso é que ele diz que a arca repousou sobre as ―montanhas de Ararate‖. Nenhuma montanha específica é mencionada na Bíblia como o lugar de pouso da arca. O nome Ararate é o equivalente de ―Urartu‖, um povo e lugar dos tempos do Velho Testamento, localizado no que hoje é a Turquia oriental. Os habitantes de Urartu eram fortes adversários dos assírios. Quando Gênesis 8:4 fala das ―montanhas de Urartu‖ significa que a arca poderia estar em qualquer parte do país de Urartu, pois toda aquela região era montanhosa. O tamanho desta área, que mais tarde tornou-se a Armênia e é agora a região ocupada pelos curdos, é bastante grande (ver o mapa). A montanha mais alta na região é a Büyükagšri Dagši, de 5.138 metros de altura, comumente chamada Monte Ararate. Esta montanha está localizada ao norte do Lago Van, exatamente ao norte da cidade de Dogšübayazit. Com efeito há dois Montes Ararate, um ―maior‖ e um ―menor‖. Ambos são os restos de vulcões, e ambos se destacam da região circundante. Este massiço montanhoso é coberto de neve o ano todo com geleiras permanentes. Obviamente, pesquisadores à procura da arca de Noé têm sido atraídos às montanhas mais altas. Especificamente, pessoas têm pretendido ou de ter achado madeira trabalhada nas escarpas da montanha4 ou de ter visto a própria arca. Os testemunhos quanto à sua existência são tão numerosos que este artigo não dispõe de espaço para avaliá-los todos.5 Escolhi três pretensões recentes para análisá-las. Os relatos de Navarra Textos sobre Criacionismo A procura da arca 106 | Em seu livro Noah’s Ark: I Touched It,6 Fernand Navarra, o industrial francês, relata suas quatro expedições (1952, 1953, 1955 e 1969) ao Monte Ararate. Sua subida de 1952 levou-o ao que ele suspeitou ser a arca de Noé. Em 1955, acompanhado por seu filho de onze anos, Navarra descobriu numa fissura profunda pedaços de madeira ―trabalhada à mão‖. Ele cortou um pedaço de metro e meio da madeira e mais tarde reduziu-o a pedaços menores para transportá-los mais facilmente. Quando publicado na Europa, seu achado foi visto por muitos como evidência de que a arca de Noé, ou restos dela, ainda existiam. Depois de muita negociação e demora, Navarra voltou para a Turquia oriental em 1969 numa expedição patrocinada pela Search Foundation. De novo, com muito esforço, perto do lugar de sua descoberta de 1955, o grupo descobriu alguns pedaços pequenos de madeira. Muitos creram, entre eles os participantes da expedição, que restos da arca de Noé tinham sido encontrados. Infelizmente, a madeira testificou ao contrário. Quando a madeira foi examinada pelo método do Carbono 14 (C14), a madeira provou-se ter apenas algumas centenas de anos. Previamente, quando Navarra fez sua madeira ser examinada por vários institutos, todos eles tinham atribuido datas antigas, mas tinham usado métodos subjetivos visuais como base de suas conclusões. 7 Quando a Search Foundation voltou com o material encontrado, ela enviou amostras de sua madeira a várias organizações para uma análise de C14. Segundo os relatos, todos os pedaços de madeira, inclusive o pedaço original de Navarra, datavam da era cristã 8 — não do tempo de Noé. Outros alpinistas do Monte Ararate têm também descoberto pedaços de madeira, mas somente o achado original de Navarra foi datado cientificamente. Pode-se concluir que o achar madeira na montanha não é por si mesmo prova da descoberta da arca de Noé. Textos sobre Criacionismo As fotografias de Greene Alguns pretendem ter fotografado a arca. Infelizmente, tais fotografias são sempre tiradas de muito longe e estão sujeitas a uma variedade de interpretações. Ou as fotografias se perderam, ou foram roubadas. Uma dessas histórias mais interessantes é a de George J. Greene. Em 1952 ele estava trabalhando como engenheiro de minas na Turquia oriental. Um dia, quando voava perto do Monte Ararate, ele espreitou o que lhe parecia como um grande navio perto do topo da montanha. Voando com um helicóptero, ele gastou vários minutos fotografando o objeto à distância até de 30 metros. Depois de voltar aos Estados Unidos, com as fotografias em mão, ele tentou, sem sucesso, organizar uma equipe e voltar ao Monte Ararate. Nenhum de seus amigos parecia interessado. Surpreendentemente, nenhum jornal publicou sua história. Depois de alguns anos, Greene deixou os Estados Unidos em busca de outras aventuras. Acabou sendo morto por bandidos na Guiana Britânica e as fotografias da arca foram perdidas, embora umas 30 pessoas pretendem ter visto as fotografias.9 Embora o relato pareça impressionante, alguns que pretendem as terem visto não têm certeza de que o que viram era um barco.10 A pretensão de Davis Outro relato fantástico é o de Ed Davis que pretende ter visto a arca de menos de kilômetro e meio de distância.11 Davis era sargento no exército dos Estados Unidos, estacionado em Hamadan, Irã, durante a Segunda Guerra Mundial. Aí fez amizade com um jovem de nome Badi, ligado ao exército como motorista civil. De Hamadan é possível ver o Monte Ararate em dias claros. Badi contou a Davis que sua família vivia ao sopé do Monte Ararate e tinha visitado a arca de Noé muitas vezes. De fato, a família de Badi se considerava protetora da santa relíquia. Finalmente, Davis foi com a família de Badi para ver a arca. 12 O pai de Badi, Abas-Abas, dirigiu | 107 Conclusão Ainda permaneço cauteloso. Não há evidência segura que se veja ou toque. A evidência precisa ser ponderada para adquirir credibilidade. Evidência baseada em contos, como regra, não merece confiança. Não temos visto como num tribunal as testemunhas muitas vezes discordam? Davis pode ter visto algo, mas o quê? Com efeito, os muitos vôos e fotografias do astronauta Jim Irwin na região do Ararate, e mesmo vôos pelas áreas sugeridas pelo relato de Davis, não produziram nenhuma fotografia da arca de Noé. A inclinação natural de pessoas do Oriente é de agradar seus hóspedes. Esta bondade natural pode ser uma razão por que alguns pensam ter visto a arca de Noé. Uma caminhada de três dias com chuva e neblina dia e noite, e um apanhado à distância de kilômetro e meio não é evidência conclusiva. Mostrar a um estrangeiro dois afloramentos naturais à uma distância de uma milha e de ser informado que se trata das duas metades da arca de Noé, não seria fora do comum, especialmente se uma família procurasse agradar um amigo. Isso não é para sugerir que tal foi o caso da história de Ed Davis. O que quero dizer é que sem evidência objetiva não é possível saber o que alguém realmente viu, tocou ou experimentou. Textos sobre Criacionismo a expedição, mas, antes de deixar a vila, Davis pôde ver gaiolas e outros artefatos que a família dizia ter trazido da arca. Abas-Abas dirigiu o grupo numa caminhada de três dias. Pernoitaram em cavernas. Depois de três noites, estavam a menos de kilômetro e meio da arca. Davis podia vê-la daquele ponto. Infelizmente, seus três dias de caminhada foram gastos na neblina, com chuva caindo dia e noite. Por causa das condições desfavoráveis do tempo, não puderam descer da lage onde estavam até a arca ou de vê-la por dentro. Segundo Davis, a arca estava partida em duas metades, mas ambas metades estavam (em 1943) bem preservadas. Durante esta caminhada, nenhuma fotografia foi tomada, mas subseqüentemente, Davis recebeu uma fotografia da vila de Abas-Abas. Depois de voltar à sua base militar Davis escreveu estas palavras em sua Bíblia: ―Fui ao Ararate com Abas. Vimos um grande barco sobre uma encosta em dois pedaços. Fiquei com ele na casa grande. Choveu e nevou durante dez dias. Parei em Tarharan e obtive provisões e me aqueci e descansei. Também alguma roupa nova. O tenente Bert regozijouse por eu estar de volta. Esteve ansioso por mim. Receava que eu teria sido morto, imagino. Estou contente de ter ido. Penso que seja a arca. Abas tem muitas coisas de lá. Minhas pernas quase sararam da corrida a cavalo‖. Muitos sérios pesquisadores da arca consideram a história de Ed Davis como evidência de primeira mão, não só da existência da arca, mas também de sua localização. Se tão somente o governo lhes permitisse livre acesso à montanha, eles pensam que poderiam achar a arca, baseando-se na informação que Davis tinha provido.13 Davis até passou um teste de polígrafo para confirmar suas declarações. 108 | Quanto aos outros relatos, minha própria sugestão é que alguns dos antigos que pretendem ter visto a arca de Noé quando eram crianças, estavam realmente vendo alguma configuração geológica na forma de um barco 25 kilômetros ao sudeste do Monte Ararate. Não temos evidência de que a arca de Noé exista hoje. Existiu ela jamais? Para isso temos a garantia da Palavra de Deus e a presença do arco-iris. David Merling (Ph.D., Andrews University) é professor associado de arqueologia e história da antiguidade na Andrews University e diretor do Museu Arqueológico Horn. Seu endereço: Institute of Archaeology; Andrews University; Berrien Springs, Michigan 49104; E.U.A. E-mail: [email protected] Notas e referências Textos sobre Criacionismo 1. Foram publicadas na Adventist Review, 20 e 27 de maio de 1993. 2. Ver Don Shockey, Agri-Dagh (Mount Ararat); The Painful Mountain; Artifacts From Noah’s Ark Found on Mount Ararat (Fresno, Calif.; Pioneer Publishing Company, 1986), pág. 38. 3. Por exemplo, a história do sitiante curdo Resit, relatado nos jornais em 1948. Supostamente, toda uma aldeia curda viu a arca. Um grupo liderado pelo presidente de um colégio americano partiu para achar Resit e ver a arca por si mesmos. Infelizmente, depois de fazer a longa viagem, não puderam achar ninguém chamado Resit nem sua aldeia nem pessoa alguma dentro de 100 milhas do Monte Ararate que tivesse ouvido da história. Ver Lloyd R. Bailey, Noah: The Person and the Story in History and Tradition (Columbia, SC: University of South Carolina Press, 1989), pág. 88. 4. Por não haver árvores na montanha ou na proximidade, a pergunta natural é: ―Como poderia madeira ser achada alto na montanha, a menos que tivesse sido originalmente parte da arca de Noé?‖ 5. Shockey sugere 200 observações. Ver seu livro, Agri-Dagh, pág. 41. 6. Editado por Dave Balsiger (Plainfield, New Jersey: Logos International, 1974). 7. Rene Noorbergen, The Ark File (Mountain View, Calif.: Pacific Press Publ. Assn., 1971), pág. 134. 8. Ibid., págs. 142-144. 9. Ver Violet Cummings, Noah’s Ark: Fact or Fable? (San Diego, Calif.: Creation-Science Research Center, 1972), págs. 213-223. 10. Ver Bailey, pág. 89. 11. Ver Shockey, pág. 7. 12. Ibid, pág. 37. 13. Shockey, pág. 42. | 109 Artigo 24 Ética para cientistas: responsabilidade um chamado à Katrina A. Bramstedt A biotecnologia é um campo da medicina em rápida expansão. Os conceitos da série televisiva Star Trek (Jornada nas Estrelas), tais como o escaneamento do corpo e o tratamento de tumores com luz dirigida, são agora práticas clínicas normais. Implantes estão disponíveis para a terapia de uma série de condições cardíacas, neurológicas e ortopédicas. Próteses sintéticas1 e diferentes tipos de substituição de orgãos2 estão chegando. Embora a intenção do cientista seja criar uma tecnologia clínica benéfica, os passos entre a pesquisa, o desenvolvimento e os recursos providos ao paciente, são numerosos e complexos. As tecnologias que poderiam parecer moral e conceitualmente apropriadas, requerem uma ponderação ética em cada fase de seu desenvolvimento. Mesmo depois da chegada da tecnologia ao mercado, a responsabilidade ética não termina. De uma perspectiva cristã, a mordomia ética de nossos talentos dados por Deus e das tecnologias deles resultantes, é essencial ao crescimento da ciência, para promover sua credibilidade e maximizar o benefício de suas aplicações clínicas. Um conceito-chave em toda pesquisa empreendida é a confiabilidade. A sociedade em geral é inexperiente em assuntos de pesquisa e ciência. Por causa disso, ela deposita sua confiança nos cientistas. Reconhece-os como peritos com treinamento e habilidades ímpares que ela mesma não possui. Não tendo esse preparo e capacidade, as pessoas acham-se numa posição vulnerável. A sociedade espera que os cientistas lidem com as questões clínicas difíceis, na esperança de resolvê-las. Isso posto, os cientistas têm uma grande responsabilidade para com as pessoas que neles confiam, especialmente porque muitos dos que se apóiam na ciência são os mais vulneráveis – os doentes. Como essa responsabilidade toma forma? De fato, a honestidade intelectual é indispensável para uma pesquisa científica válida. Erros não intencionais são questões que diferem daquelas procedentes de conduta acintosa, tais como falsificação e plágio. Não somente é a falsificação de dados (mascaramento de informações ou experiências, adulteração de dados, etc.) uma violação da confiança que a sociedade deposita na ciência, como também resulta na malversação das escassas finanças e invalida os futuros estudos originários do projeto em questão. Ademais, uma pesquisa dessa natureza tem o efeito de retardar o progresso da ciência em benefício dos pacientes, porque reduz ou elimina oportunidades de financiamento e cooperação com outros cientistas. A ciência fraudulenta pode também prejudicar os pacientes ao ocultar dados potencialmente negativos. O plágio pode aparecer em muitas formas, mas sua manifestação mais proeminente é a atribuição, por parte de um estudioso, da autoria do trabalho de outro a si próprio. Isso não somente é desonesto, como também desrespeita a diligência e a perícia que o colega empreendeu na conceituação ou produção do trabalho. Embora os dois colegas possam estar separados por milhares de quilômetros e sejam desconhecidos um do outro, não obstante são companheiros devido à natureza da ciência como uma profissão. Mesmo a presença de uma grande diferença de relacionamento havida entre professor e estudante ou empregador e empregado, não elimina a responsabilidade ética de dar crédito a quem de direito. Além disso, tal atitude responsável promove relações amistosas e crescimento da ciência, quando os cientistas confiam suficientemente um no outro, ao ponto de partilharem entre si experiências e conhecimentos. Freqüentemente, no curso de uma pesquisa, formam-se relações que podem potencialmente prejudicar a credibilidade dos cientistas ou de seu projeto. Esses relacionamentos amiúde tomam a forma de lucro financeiro, tal como a posse de ações relacionadas com o projeto ou o pagamento direto pelo patrocinador. Isso pode ser chamado de um conflito de interesses, porque tende a prejudicar a objetividade do pesquisador durante o curso do projeto. À medida que o financiamento de pesquisas pelo governo diminui, e o relacionamento entre universidade e indústria cresce constantemente, questões dessa natureza precisam ser exploradas por causa de seus efeitos para a ciência como uma profissão, e para os pacientes a quem as tecnologias devem beneficiar. Mesmo que conflitos de interesses tais como ligações financeiras não possam ser evitados, no mínimo deveriam ser revelados a colegas cientistas e à sociedade (durante a Textos sobre Criacionismo Honestidade intelectual 110 | publicação do artigo, por exemplo), num esforço de promover a abertura e a objetividade com relação aos dados gerados. Conquanto possa existir dualidade de interesses, nossas prioridades devem estar alinhadas eticamente. Uso de animais Se bem que este não seja um fórum de debates sobre a permissividade ética do uso de animais em pesquisa científica, é claro que poucas ou nenhumas tecnologias chegam à utilização de seres humanos, sem primeiro realizar testes com animais. Sabendo disso, o bem-estar de animais de laboratório precisa ser lembrado. Segundo nosso dever cristão de domínio sobre animais (Gênesis 9:2; Daniel 2:38), isso bem poderia incluir assuntos de nutrição, hidratação, abrigo e cuidado veterinário ao longo do curso da experimentação laboratorial. Os estudos deveriam ser planejados de modo a usar o número mínimo de animais para o provimento da validade científica e estatística. Eles deveriam considerar o uso de modelos não-animais quando apropriados (isto é, simulações de computador), e ser planejados de modo a minimizar a dor e o sofrimento para os irracionais. Todos os estudos deveriam ser aprovados por uma comissão de bem-estar animal, sob a supervisão de um veterinário licenciado. Como ocorre com qualquer experiência que se torne insignificante, essa deveria ser interrompida ou descontinuada, num esforço de mordomia ética dos recursos (financeiros e outros).3 Textos sobre Criacionismo Aplicação humana O objetivo final da maior parte da pesquisa científica é a aplicação humana direta, e por isso experimentos clínicos em seres humanos são uma prática corrente. Um engano comum cometido por voluntários de muitos experimentos clínicos, é que eles crêem que sua participação os beneficiará pessoalmente.4 Essa crença é especialmente um risco para pessoas que não têm seguro médico e para as quais a participação num experimento clínico é seu único recurso de ―cuidado clínico‖. Também é um risco para pacientes que ―experimentaram de tudo‖ e consideram a experiência clínica sua ―única esperança‖. Ao incluir pacientes em pesquisas clínicas, os cientistas têm o dever moral de informá-los claramente que o experimento está sendo efetuado para coletar dados em benefício de futuros pacientes, e que qualquer benefício imediato obtido pelo participante na pesquisa é um bônus altruísta. É inapropriado para um cientista descrever seu estudo de um modo que poderia gerar esperanças falsas para os participantes. A seleção de pessoas para a participação em experimentos deveria ser feita segundo diretrizes estritas emanadas da mesa administrativa da instituição, usando protocolos aprovados que respeitem a segurança e o bem-estar do participante. Os participantes potenciais deveriam receber informação ampla sobre o objetivo do estudo e seus riscos, de maneira a poderem compreendê-los. Dever-lhes-ia ser permitido oferecerem-se espontaneamente, sem qualquer coerção, como voluntários para o estudo. Os danos físicos ou psicológicos deveriam ser minimizados. É preciso que se permita aos participantes retirar-se da pesquisa a qualquer tempo. Privacidade e confidencialidade deviam ser mantidas, e os estudos genéticos deveriam incorporar garantias adicionais e apropriadas, incluindo aconselhamento genético. Os participantes da pesquisa, quer humanos quer animais, não deveriam ser usados como meios para um fim. Como criaturas de Deus, eles são fins em si mesmos e deviam estar munidos de todas as proteções disponíveis e tratados com respeito. Aconselhamento Um importantíssimo instrumento de facilitação das responsabilidades éticas que mencionei, é o aconselhamento. Tanto cientistas jovens como ―maduros‖, podem tirar benefício do aconselhamento competente dado por colegas experientes. Essa orientação deveria tomar a forma tanto de conselho técnico como de direcionamento moral. Além de prover direção mediante instrução verbal ou escrita, bons conselheiros também ensinam pelo exemplo. Devem ser capazes de transmitir grande volume de informações a seus estudantes e colegas, e treiná-los a serem bons conselheiros para outros. O bom aconselhamento é também um testemunho para a sociedade, de que os cientistas se preocupam genuinamente com a dignidade de sua profissão. Na prática de qualquer profissão, nosso melhor modelo ético é provido por Cristo. A ciência é imperfeita e falível, porque os cientistas são imperfeitos e falíveis. Embora possamos obter conhecimento, não somos oniscientes e podemos nos meter em áreas que alguns achariam ser eticamente inapropriadas (ou seja, certos métodos de reprodução assistida, manipulação genética, pesquisa para o prolongamento da vida, etc.). Uma vez que a Bíblia não é prescritiva nessas áreas ―altamente técnicas‖, os cientistas cristãos deveriam buscar conselho de Deus mediante oração. Nosso Criador nos deu, como Seus administradores, talentos e instrumentos para facilitar o | 111 avanço da ciência e a promoção da saúde dos pacientes, contudo, esses talentos e instrumentos não podem ser desacompanhados da responsabilidade do uso ético. Tanto o processo como os produtos do emprego de nossos talentos, estão sujeitos a responsabilidades éticas de respeito às pessoas que nos cercam, protegendo-as do dano e maximizando os benefícios que nossa pesquisa lhes pode prover. Katrina A. Bramstedt (Ph.D. pela Monash University) é professora clínica associada no Loma Linda University Center for Christian Bioethics. Seu endereço postal: Loma Linda, Califórnia, 92350; EUA. Endereço E-mail:[email protected] Notas e referências Textos sobre Criacionismo 1. R. D. Dowling, S. W. Etoch, K. Stevens, et al. ―Initial Experience with the AbioCor Implantable replacement Heart at the University of Louisville,‖ ASAIO Journal 46 (2000):579-581. 2. K. A. Bramstedt, ―Ethics and the Clinical Utility of Animal Organs,‖ Trends in Biotechnology 17 (1999):428-429. 3. Animal Welfare Act, United States Code Title 7, Sections 2131-2156. 4. H. K. Beecher, ―Ethics and Clinical Research,‖ New England Journal of Medicine 274 (1996):13541360 112 | Textos extraidos das publicações do Geoscience Research Institute Artigo 25 IDADE RADIOISOTÓPICA, PARTE I R. H. Brown (Jubilado) Geoscience Research Institute Tradução: Urias Echterhoff Takatohi Geoscience Reports 20:1-3 (Spring 1996). Textos sobre Criacionismo Página Relacionada — | EDITORIAL | INGLÊS | Introdução "Lucy, podemos agora com confiança dizer, viveu a 3,18 milhões de anos atrás, mais ou menos 10,000 anos." 1 Sobre que base alguém pode afirmar que existiram humanóides na Terra a 3,18±0.01 milhões de anos atrás? Tais afirmações são baseadas em datação radioisotópica. A atribuição de idade de Lucy foi feita por datação pelo método potássio-argônio da rocha na qual seu esqueleto foi encontrado. O testemunho conflitante da Bíblia com respeito ao tempo desde a semana da criação requer uma avaliação crítica da datação radioisotópica. O que é uma Idade Radioisotópica? A idade radioisotópica de uma amostra é obtida pelo cálculo do tempo necessário para átomos pai instáveis [P] se converterem espontaneamente em átomos filho [F] em quantidade suficiente para dar conta da razão atual F/P na amostra. Para a datação de Lucy, P era o isótopo instável do potássio de número de massa 40 [40K] e F era o isótopo estável do argônio com número de massa 40 [40Ar]. Dados Conflitantes Lava proveniente da erupção do Hualalei no Hawaii em 1901 AD tem idade potássio-argônio (K-Ar) tão grandes como 1,1 bilhões de anos. Erupções históricas do Monte Kilauea no Hawaii (Figura 1) produziram lavas submarinas com idades K-Ar tão grandes como 43 milhões de anos. Obviamente estas idades K-Ar não representam o tempo da erupção ou a idade dos derrames de lava. As idades devem refletir outras características da lava. | 113 Figura 1. Erupção do Kilauea em 1986. (Foto cortesia de Clyde Webster) De uma perspectiva bíblica, as idades radioisotópicas de minerais associados com fósseis são características dos minerais nos quais o material orgânico foi enterrado, e não provêem nenhuma informação concernente ao tempo do soterramento. As datas das sepulturas em cemitérios são determinadas pelas informações históricas sobre as pedras tumulares, e não de idades radioisotópicas das pedras, rochas e solo associados com os locais de enterramento. De forma semelhante há uma base cientificamente correta e razoável para estimar as idades dos fósseis com base nos dados cronológicos na Bíblia, em vez de nas idades radioisotópicas dos minerais e camadas de rochas agora associadas com os fósseis. História da Escala de Tempo Geológica Baseada em Datação Radioisotópica Antes da descoberta da radioatividade no final do século XIX, uma escala de tempo geológica fora desenvolvida com base em estimativas de taxas de processos geológicos tais como erosão e sedimentação, com o pressuposto de que estas taxas tinham sido essencialmente uniformes através do tempo. As Textos sobre Criacionismo Idade K-Ar de um depósito vulcânico em Katmai, Alaska, sugerem atividade vulcânica a quatro milhões de anos. Registros históricos estabelecem que a erupção que produziu estes depósitos ocorreram em 1912 AD. Um aspecto dominante da topografia na área de Auckland, Nova Zelândia, é o Monte Rongitoto. Durante o tempo de atividade deste vulcão, uma floresta próxima foi enterrada e fossilizada em material com uma idade K-Ar de 485 mil anos. Entretanto, o conteúdo de carbono 14 [ 14C] destas árvores fossilizadas indicam seu soterramento a menos de 300 anos! (As árvores contém até 96% de carbono 14 radiativo em relação ao encontrado em árvores vivas. A quantidade de 14C presente no material vivo diminui a 50% em 5715 anos após a morte.) Estes exemplos2 estabelecem adequadamente que uma idade radioisotópica não tem necessariamente um significado de tempo real. A relação entre a idade radioisotópica com o tempo real deve ser baseado em uma intepretação. Uma discussão sobre idades rubídio-estrôncio na seção de Geociência Isotópica da revista, Chemical Geology, afirma especificamente que uma determinação de idade radioisotópica "não define com certeza uma idade válida para um sistema geológico."3 Qualquer interpretação irá refletir os pressupostos (tendências) do intérprete. Uma Explicação Textos sobre Criacionismo 114 | primeiras determinações de idades de rochas a partir de razões entre produtos de desintegração radioativa e respectivo pai radioativo foram rejeitadas pelos geólogos por serem inaceitavelmente grandes. Por volta de 1925 uma maior confiança nas técnicas de datação radioisotópicas e a necessidade da teoria da evolução de tempos muito longos levaram ao estabelecimento de uma escala de tempo geológica expandida. Com as técnicas de datação por K-Ar desenvolvidas após a Segunda Guerra Mundial, esta escala de tempo foi refinada resultando na Escala de Tempo Geológico Padrão adotado em 1964. A construção desta escala de tempo foi baseada em cerca de 380 idades radioisotópicas que foram selecionadas devido a sua concordância com a sequência fóssil e geológica presumida encontrada nas rochas. Idades radioisotópicas que não satisfizeram estes requisitos foram rejeitadas com base em modificações químicas e/ou físicas presumidas que tornaram as idades indicadores do tempo real não confiáveis. Cerca de 85% destas seleções foram idades por K-Ar, 8% idades por rubídio-estrôncio, e 4% idades por urânio-chumbo.4 Os determinantes cruciais são rochas vulcânicas (ígneas extrusivas) que estão entre camadas de sedimentos, e rochas ígneas intrusivas que penetram sedimentos - as rochas ígneas são particularmente adequadas para datação por K-Ar. Processos que Afetam Idades por K-Ar Desde que a escala de tempo geológica (Tabela 1) está em grande parte baseada em datações por K-Ar de amostras selecionadas de material ígneo, deve-se considerar a possibilidade de que qualquer idade por K-Ar possa refletir meramente uma característica do material, em vez de indicar tempo real. Os exemplos de idades anômalas por K-Ar citadas anteriormente neste artigo apoiam fortemente esta possibilidade e justificam outros exames destas características, e dos processos que afetam as idades por K-Ar. As idades por K-Ar de derrames sucessivos ou depósitos de cinza nos flancos de vulcões geralmente aumentam (como esperado) com a ordem inversa do derrame, isto é, com a profundidade, mesmo quando o lapso de tempo real entre erupções não é igual às diferenças de idade por K-Ar. Este aspecto tem sido identificado como indicativo de dois fatores: zoneamento na câmara de magma (rocha fundida) que alimenta o vulcão, e aquecimento progressivo do canal de magma. Como o argônio é um gás nobre, é facilmente compreensível que a concentração possa aumentar das porções inferiores para as superiores de uma câmara de magma no interior da crostra da Terra. Em uma série de erupções para a superfície, ou intrusões abaixo da superfície, a concentração de argônio pode diminuir progressivamente. Como a idade por K-Ar é proporcional à razão de 40Ar/40K (produto de desintegração/nuclídeo radioativo pai), erupções sucessivas ou intrusões podem ter idades por K-Ar decrescentes, que não especificam o tempo real ao qual o evento ocorreu. À medida que o magma força passagem através das rochas de superfície, o canal de passagem é aquecido, com um resfriamento correspondente do magma, e algum magma é diluído pela fusão das paredes do canal. Consequentemente, em um evento vulcânico ou numa seqüência de eventos em um intervalo curto de tempo, o material ejetado é progressivamente mais quente. Quanto mais alta a temperatura da erupção, mais argônio dissolvido irá escapar enquanto o material ejetado esfria, e menor será a ―idade‖ por K-Ar com respeito à aquela que caracteriza a fornte da erupção. Assim, há dois | 115 fatores que produzem idades por K-Ar que aumentam com a profundidade, mas que não indicam necessariamente intervalos de tempo real. Conclusão De uma perspectiva criacionista, a evidência geológica indica que, associado com o Dilúvio, ocorreu uma atividade vulcânica e intrusiva de grandes proporções em todo mundo. A expressão ―as fontes do abismo‖ (Gênesis 7:11) podem indicar tanto magma quanto água. Devido a 1) variação da concentração de argônio e outros elementos com a profundidade nas câmaras de magma da crosta terrestre, e 2) a natureza da atividade magmática associada ao Dilúvio, pode-se esperar que a formação geológica seqüencial em todo mundo seja frequentemente marcada por idades radioisotópicas seqüenciais de ―mais velhas‖ para ―mais jovens‖ de baixo para cima. Tabela 1. A Coluna Geológica SISTEMA OU PERÍODO Quaternário Neogeno Cenozóico Terciário Paleogeno Cretáceo SÉRIE OU ÉPOCA ESCALA DE TEMPO PADRÃO* Holoceno (Recente) 0,01 Pleistoceno 2,5 Plioceno 7 Mioceno 26 Oligoceno 38 Eoceno 54 Paleoceno 65 Superior, Inferior 136 Mesozóico Jurássico Superior, Médio, Inferior 190 Triássico Superior, Médio, Inferior 225 Permiano 280 Pennsylvaniano Superior, Médio, Inferior 325 Mississippiano Superior, Inferior 345 Superior, Médio, Inferior 395 Siluriano Superior, Médio, Inferior 430 Ordoviciano Superior, Médio, Inferior 500 Cambriano Superior, Médio, Inferior 570 Superior, Médio, Inferior 4600 Carbonífero Paleózoico Devoniano Precambriano *Representa milhões de anos; não apoiado pelo Geoscience Research Institute NOTAS 1. Johanson DC. 1996. Face to face with Lucy's family. National Geographic (March):96117. 2. Proceedings of the First International Conference on Creationism, II:31-57. Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship. Ver também: Capítulo 8 da referência a Dalrymple e Lanphere p. 51 do Proceedings. 3. Zheng Y-F. 1989. Influences of the nature of the initial Rb-Sr system on isochron validity. Chemical Geology (Isotope Geoscience Section) 80:1-16. 4. York D, Farquhar RM. 1972. The earth's age and geochronology. Pergamon Press. Ver Capítulo 8. Textos sobre Criacionismo ERA 116 | IDADE RADIOISOTÓPICA, PARTE II: Gênesis e Tempo: O que a Datação Radiométrica nos Diz* C. L. Webster, Jr. Geoscience Research Institute Tradução: Urias Echterhoff Takatohi Geoscience Reports 21:1-6 (Fall 1996). Página Relacionada — | EDITORIAL | INGLÊS| Textos sobre Criacionismo Ao ouvir as estimativas da idade da Terra que vão de 6.000 a mais de quatro bilhões de anos, você pode ter se perguntado, "Que diferença faz o que creio sobre a idade da Terra? Que importa de fato a quanto tempo a vida tem estado aqui?" Colocado de forma simples, suas crenças sobre estes assuntos se refletem em sua percepção sobre a confiabilidade da Bíblia. Também faz uma importante diferença em como você interpreta as hipóteses oferecidas pela ciência e a informação apresentada na Bíblia. Como cristão crentes na Bíblia, aceitamos como fato que Deus criou a Terra. Como seres inteligentes, buscamos entender a criação de Deus usando as ferramentas analíticas oferecidas pela ciência humana. A datação radiométrica está entre os métodos mais utilizados para calcular a idade de nosso planeta. Os métodos são baseados na análise da radioatividade na matéria. O que a datação radiométrica pode nos dizer sobre a idade da Terra e do Sistema Solar? Quais são as implicações para nossa interpretação do relato bíblico da criação? Relógio de Rocha de Rube Goldberg (você ajusta o sino de alarme pela escolha de uma meia vida apropriada da rocha marcadora de tempo). Uma Breve História O estudo do decaimento radioativo (a decomposição natural e espontânea dos átomos) tem cerca de um século. Em 1896, o físico francês Henri Becquerel relatou à Academia de Ciências de Paris a radioatividade no urânio. Pouco depois em 1904, Lord Ernest Rutherford reconheceu o potencial do uso do decaimento radioativo para determinar a passagem do tempo. Dois anos mais tarde, Rutherford e Soddy calcularam em 550 milhões de anos a idade de uma amostra de urânio encontrada no estado de Connecticut, USA. A datação radiométrica não foi completamente explorada até depois da Segunda Guerra Mundial. O famoso livro Radiocarbon Dating (Datação por Radiocarbono) de W.J. Libby's foi publicado a pouco mais de 30 anos atrás. Portanto, como uma área relativamente nova da ciência, a datação radiométrica ainda apresenta muitas questões não respondidas. Definições A fim de discutir as questões colocadas no início deste artigo, é necessário que nossos leitores tenham pelo menos um conhecimento superficial sobre o processo do decaimento radioativo. Em resumo, a datação radiométrica procura estabelecer a idade de uma amostra com base nas razões entre isótopos pai e filho e as taxas constantes de decaimento do isótopo radioativo presente. Isótopos de um elemento são átomos cujo núcleo tem o mesmo número de prótons mas número diferente de nêutrons (ver diagrama). Os núcleos atômicos de isótopos radioativos são instáveis. Em sua transformação para uma configuração mais estável, os núcleos emitem partículas subatômicas e excesso de energia. Este processo é conhecido como decaimento ou desintegração. À medida que o decaimento ocorre, o material ―projenitor‖ (por exemplo, urânio) é tranformado em descendentes ou produtos ―filho‖ (por exemplo tório, etc.) Este processo continua até que um produto filho estável é obtido (no caso do urânio, este é o chumbo). O tempo necessário para que metade do material original desintegre é conhecido como ―meia vida‖ do isótopo. Estas meias vidas variam de menos de 0,000000001 segundos até valores extremamente grandes (mais de um bilhão de anos). Para um dado isótopo radioativo, atribui-se uma idade infinita após a passagem de 7 a 10 meias vidas, porque após este ponto é estatisticamente impossível detectar com precisão a presença do isótopo pai. Um objeto que é infinitamente velho com respeito a todos isótopos não iria exibir nenhuma radioatividade, pois todos isótopos radioativos teriam se desintegrado completamente até seus produdos filho estáveis. Embora a datação radiométrica seja amplamente usada e aceita, está longe de ser livre de problemas. Textos sobre Criacionismo | 117 118 | Textos sobre Criacionismo Isótopos do Hidrogênio Técnicas Diversas Uma variedade de técnicas radiométricas são usadas (por exemplo, potássio-argônio, rubídio-estrôncio, etc.) para medir as razões pai/filho de diversos elementos encontrados em uma amostra. Esta variedade de técnicas permite aos cientistas interpretarem o tempo aproximado nos quais uma amostra experimentou os principais eventos tais como a formação de seus elementos (nucleogênesis), solidificação, aquecimento, refusão, choque, mistura com outros minerais, exposição à água ou a radiação de alta energia. Os cientistas que fazem mais do que uma medida da idade radiométrica em uma dada amostra não se surpreendem quando as idades resultantes discordam. Esta discordância implica que a amostra estudada pode ter experimentado mais do que um evento que altera sua idade. Estes eventos afetaram diferentes isótopos na amostra em de formas diferentes. A discordância pode prover indicações úteis na cronologia de eventos que a amostra experimentou. Em muitos casos técnicas quimicamente e fisicamente independentes concordam. Estes dados concordantes não podem ser facilmente explicados e freqüentemente apontam para eventos fisicamente significativos. A concordância observada entre várias determinações de idade radiométrica para a consolidação teórica de nosso Sistema Solar é um destes eventos. Entretanto, antes de estabelecer a idade de nosso Sistema Solar, é crucial notar que concordância de datas radiométricas não implica diretamente na concordância entre a idade radiométrica e o tempo real. | 119 É importante compreender que o clima acadêmico no qual as técnicas de datação radiométricas foram desenvolvidas era um no qual são feitos os pressupostos de longos tempos para o desenvolvimento das formas de vida por meio da evolução. Este pressuposto promoveu a busca de idades que apoiassem esta hipótese. Esta corrente de pensamento também produziu um pressuposto questionável: de que ―relógios‖ radiométricos na matéria são zerados quando a matéria é movida devido a atividade ígnea (por exemplo, derrame de lava) em vez de reter toda ou parte da ―informação de idade‖ durante seu transporte. No processo de fossilização (quando o material de uma forma orgânica, tal como uma planta, é substituída por material mineral) a hipótese de zeramento sugere que a idade radiométrica do material mineral no fóssil é também o tempo real mínimo do fóssil. O apoio não qualificado de tal aplicação da hipótese de zeramento pode ser descrita como ―um engano do cemitério.‖ É semelhante a uma pessoa tentando calcular a idade de um cadáver enterrado verificando a idade da camada de solo acima e abaixo do caixão ao invés de ler a inscrição na pedra tumular. Não devemos caracterizar qualquer pessoa que usa a hipótese do zeramento como dando apoio ao ―engano do cemitério‖ mas em vez disto devemos ver em tais exemplos como um conceito importante pode ser passado por alto. Podemos afirmar simplesmente que, a idade radiométrica dos componentes minerais da terra em uma área de cemitério não corresponde necessariamente à idade dos ocupantes da área! Enquanto várias evidências apoiam a hipótese de zeramento de vários sistemas de cronômetros radiométricos durante a formação ígnea ou metamorfismo dos minerais, a literatura científica também autentica a herança de características de idades radiométricas previamente estabelecidas durante fenômenos metamórficos e de transporte ígneo. Em algumas situações, características de idade medidas independentemente, sobreviveram a eventos vulcânicos. Estas características de idade podem apresentar desde sobrevivência total até nenhuma sobrevivência. (Alguns exemplos foram dados em "Radioisotope Age: Part I," Geoscience Reports No. 20, Spring 1996.) O impacto de processos sedimentares em determinações de idades radiométricas também tem sido documentadas. Um poço de petróleo no sudoeste de Louisiana (USA) perfurado numa formação com idade geológica convencional entre 5-25 milhões de anos (Mioceno) produziu amostras em folhelho ao nível de 1560 metros com idade por K-Ar de 254 milhões de anos. Quando a amostra de folhelho foi desmanchada e separada em peneiras por tamanho das partículas, uma idade média de 164 milhões de anos por K-Ar foi obtida para partículas com menos de meio micron de diâmetro, idades de 312 milhões de anos para partículas entre 0,5 a 2 microns de diâmetro e 358 milhões de anos para partículas maiores que 10 microns de diâmetro. 1 É evidente que uma razão maior de área de superfície para volume nas partículas menores favorece a perda por difusão do argônio 40 que foi herdada da origem deste folhelho. (A perda de argônio resulta em idades menores pela técnica do K-Ar.) As características de idade radiométrica dos sedimentos nos quais este poço foi perfurado refletem as características das áreas de origem drenadas pelos sistemas dos rios Missouri e Ohio e não o tempo da sedimentação. Textos sobre Criacionismo Zerando os Relógios Textos sobre Criacionismo 120 | Idades radiométricas maiores que o valor esperado são atribuídas a vários fatores: um zeramento incompleto do relógio radiométrico na formação mineral, uma remoção parcial do isótopo pai, ou uma infusão do isótipo filho após a formação do mineral. Por outro lado, idades radiométricas menores do que o valor esperado são atribuídas à remoção parcial do isótopo filho após a formação do mineral, ou infusão do isótopo pai. Principalmente ao lidar com materiais sedimentares, e fósseis em particular, é altamente provável que as idades radiométricas representem as características iniciais do material fonte no qual os organismos foram enterrados em vez do tempo de soterramento. Agora que determinamos que os fósseis não partilham necessariamente a mesma idade radiométrica que a rocha em volta, enfrentamos o desafio restante de determinar o significado das características radiométricas. Tenha em mente que estas características não apenas representam as características radiométricas iniciais do material analisado mas também qualquer mudança produzida pelo calor, água, etc., durante o processo de realocação. De acordo com Gênesis 1, 7, e 8, nosso planeta experimentou três grandes modificações que podem ter alterado as características de muitas formações minerais na crosta planetária. Estas modificações são o aparecimento dos continentes e bacias oceânicas no terceiro dia da semana de criação, os efeitos do tempo na crosta continental e redução do relevo topográfico até que o planeta foi outra vez coberto com água (no dilúvio de Noé), e o reaparecimento dos continentes e bacias oceânicas após o dilúvio. Cada uma destas modificações, e particularmente o efeito combinado de todas três, introduziram severas complicações na interpretação científica da informação radiométrica para muitas das amostras minerais disponíveis para nosso estudo. Estratégias para Acomodação dos Dados Esta discussão tem se limitado a dados de idade radiométrica para minerais inorgânicos, especialmente aqueles associados com fósseis. Podem ser consideradas três estratégias para acomodar estes dados com os dados cronológicos apresentados na Bíblia.2 1. Ignorar qualquer dado fornecido pelas técnicas radiométricas. 2. Pressupor que a Terra, a Lua e as estrelas tem apenas milhares de anos e os dados radiométricos observados hoje são o resultado de processos que não são completamente compreendidos. (Alguns sugerem que a Terra foi criada com idade aparente.) 3. Pressupor que as atividades de uma semana de criação recente (a milhares, não milhões de anos atrás) envolveram grandes quantidades de matéria inorgânica elementar que foi criada previamente a cerca de 4,56 bilhões de anos atrás. Ciência e Fé Se a ciência indica uma hipótese particular que não é inconsistente com a Bíblia, parece razoável aceitar esta posição. Conquanto esta abordagem minimiza os conflitos entre as interpretações científicas e bíblicas, nem todas questões são respondidas. Áreas onde se requer mais do que uma pequena medida de fé permanecem. Devemos compreender que não á um modo de ir diretamente de um dado radiométrico a uma criação especial da matéria viva ocorrida nos últimos 10.000 anos e um dilúvio mundial a cerca de 5.000 anos atrás. Estes conceitos | 121 devem ser aceitos com base na fé, da mesma forma que a salvação. Por meio de uma mistura adequada deste ponto de vista de fé e de ciência é possível obter uma compreensão mais completa de Deus, nosso Criador e Mantenedor. Ao buscar harmonizar o caráter de Deus como revelado na Bíblia e na natureza, devemos buscar um modelo que seja consistente com as duas fontes de informação. A terceira abordagem mencionada acima começa satisfazer estes requisitos. Onde não encontramos tal consistência, necessitamos buscar uma compreensão melhor das duas fontes de revelação (natureza e Bíblia), pedindo a orientação do Espírito Santo durante a pesquisa. A datação radiométrica é uma ciência interpretativa. Os complexos processos físicos e químicos que ocorrem no interior do manto e da crosta terrestre não são completamente conhecidos nem compreendidos. Isto é especialmente verdadeiro quando são considerados os parâmetros de isótopos radioativos. Juntando com estas incertezas o fato de que há numerosos casos onde as idades radiométricas não concordam, parece lógico — quase de forma compelente — considerar seriamente outras fontes de dados para determinar a época da Criação. Para o cristão que é cientista, a Bíblia é uma tal fonte. ENDNOTES 1. Perry EA. 1974. Diagenesis and K-Ar dating of shales and clay minerals. Geological Society of America Bulletin 85:827-830. 2. Estes conceitos foram originalmente propostos por Robert H. Brown, diretor jubilado do Geoscience Research Institute. ---------- Textos sobre Criacionismo *Reimpresso com permissão do artigo "Genesis and Time: What Radiometric Dating Tells Us," Dialogue 5:1 (1993) com pequenas modificações 122 | Artigo 26 IDADE RADIOISOTÓPICA, PARTE III: Tempo na Ciência e na Bíblia Benjamin L. Clausen Geoscience Research Institute Tradução: Urias Echterhoff Takatohi Geoscience Reports 22:1-5 (Spring 1997). Página Relacionada — | EDITORIAL | INGLÊS| Textos sobre Criacionismo O que é tempo e por que pensamos que é tão importante? É porque precisamos sincronizar nossas agendas, nossas mudanças corporais que causam fome e cansaço, nossa capacidade limitada de suportar dor ou tédio e nosso período limitado de vida para atingir nossos alvos? O tempo para Deus é diferente aparentemente e não corresponde diretamente ao tempo humano (Salmo 90:4; 2 Pedro 3:8); afinal de contas, Deus sabe o fim desde o início. Deus não pode criar o tempo, existir fora do tempo, e mover-se para frente e para trás no tempo?1 O que acontece então com a percepção do tempo quando Deus intervem em sua criação? Efeitos estranhos resultam: o aparecimento do tempo após a criação, os ajustes na medida do tempo após o dia longo de Josué e o recuo do relógio de sol no tempo de Ezequias e a taxa de variação de processos naturais durante o milagre da transformação da água em vinho. Questões de Tempo Científicas Quando visto de uma perspectiva científica, o tempo é um assunto complexo.2 O tempo não é absoluto. De acordo com a relatividade especial, nenhuma medida absoluta de tempo é possível para dois objetos em movimento relativo um ao outro, especialmente se o movimento relativo se dá a velocidades próximas à velocidade da luz. Dados experimentais confirmam que o tempo de decaimento de uma partícula de vida curta pode ser muito maior se esta estiver em alta velocidade em relação ao observador do que se estiver em repouso. (Figura 1). De acordo com a teoria da relatividade geral e sua confirmação experimental, o tempo se move mais lentamente em campos gravitationais intensos. A literatura científica padrão freqüentemente especula acerca dos efeitos sobre o tempo em campos gravitationais fortes nas proximidades de buracos negros, discutindo até viagem no tempo. 3 | 123 O tempo tem um início. O texto bíblico (Salmo 102:25,26) influenciou Lord Kelvin em seu desenvolvimento da segunda lei da termodinâmica. 4 A segunda lei afirma que a quandidade de energia útil no universo está diminuindo, sugerindo assim um início para o tempo e a necessidade de um ―Iniciador‖. De forma semelhante, a teoria do Big Bang aponta um início para o universo, e para o espaço e tempo e por isso sofreu oposição por razões filosóficas quando foi inicialmente introduzida.5 Taxas de transformação podem mudar com o tempo. Como um bom cientista, eu medi a altura de minha filha e fiz o gráfico destas medidas em função do anos. Pela extrapolação desta altura, fiz a extimativa de que ela teria 10 pés de altura quando chegasse aos 30 anos (Figura 2). Felizmente esta extrapolação para o futuro não é válida. A extrapolação no tempo para trás, de milhares de anos de história registrada para os bilhões de anos para o universo, é amplamente apoiada cientificamente, mas também requer cuidados. Talvez o tempo seja o deus-das-brechas para a evolução, pois é pressuposto que dado tempo suficiente qualquer coisa pode acontecer. Figura 2. Diagrama extrapolando o crescimento da filha em função do tempo. Textos sobre Criacionismo Figura 1. Em um espectrômetro tal como mostrado aqui, partículas em alta velocidade levam mais tempo para desintegrar do que se estivessem em repouso. (Foto cortesia B. L. Clausen) Textos sobre Criacionismo 124 | Nossa perspectiva sobre o tempo pode mudar. Descobertas científicas inesperadas no passado mudaram as estimativas de idade por várias ordens de magnitude. No século XIX, Lord Kelvin estimou que a Terra tinha cerca de 40 milhões de anos, baseado no tempo necessário para a Terra esfriar a partir de uma bola fundida, pressupondo que todas fontes de calor eram conhecidas.6 Entretanto, depois que uma nova fonte de calor (a radioatividade) foi descoberta em 1896 as estimativas de idade mudaram em duas ordens de grandeza. O tempo é um ponto de divergência entre a ciência e a Bíblia. A Ciência Fornece Longos Tempos A matéria do universo e da Terra tem a aparência de ser velha baseado em várias idades radiométricas: a constância das taxas de desitegração de isótopos de longa vida, a concordância entre vários métodos de datação, o fenômeno de Oklo,7 e os valores limitados de meia-vida de isótopos radioativos existentes na natureza. Assume-se que os vestígios de vida associados com estas velhas rochas têm a mesma idade. O desenvolvimento gradual ao longo de milhões de anos é a explicação mais fácil para a seqüência vertical no registro fóssil: A detalhada ordem em pequena escala, a falta de mistura (nenhum vestígio de seres humanos junto com dinosauros, nenhum pólem de angiospermas com trilobitas), e a observação de que os fósseis (mesmo de tipos de animais que acredita-se que estiveram na arca de Noé) se tornam progressivamente mais semelhantes às formas modernas na parte superior da coluna geológica. Embora a explicação envolvendo longas eras não seja perfeita, ela explica mais do que a teoria de zoneamento ecológico, flutuação e mobilidade. Outras evidências geológicas, embora não impossíveis de ajustar em um modelo de cronologia curta, são mais fáceis de serem ajustadas em um modelo de longo tempo: resfriamento de batolitos e tectônica de placas, camadas sedimentares "anuais" que em alguns lugares podem se contar até milhões (Figura 3), dados de interior de gelo polar, evidências de atividade animal significativa no registro geológico e recifes de coral e suas taxas de crescimento. Boas evidências científicas apoiam longos tempos, e há um modelo bem abrangente com as evidências a favor. Entretanto, a ciência não é perfeita, e algumas evidências que serão depois discutidas apoiam um modelo de tempo curto. Figure 3. Lâminas (varvito) na formação Castille do Permiano. (Foto cortesia B. L. Clausen) | 125 A Bíblia não sugere longas eras com morte de animais antes do pecado de Adão. A morte antes do pecado remove a ligação entre o pecado e a morte física; torna Deus diretamente responsável pela competição, sofrimento e morte; e é incompatível com o quadro de um Deus que cuida dos pardais e preparou um céu onde o lobo e o cordeiro habitarão juntos. O Deus de justiça na Bíblia não permitiria a existência do pecado, do mal e da morte mais tempo do que o necessário.8 O mandamento do sábado não comemora um longo período de desenvolvimento da vida, mas que ―em seis dias fêz o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que há neles‖. Há boas razões para crer que a Bíblia queira dizer que estes dias foram dias literais.9 O mandamento enfatiza que Deus criou em 6 dias e também o que Deus criou nestes 6 dias, embora várias interpretações incluam aspectos diferentes: todo universo, apenas a vida na Terra, ou apenas uma criação local do homem e seu habitat. As genealogias em Gênesis 5 e 11 também favorecem um período de tempo curto desde a criação. Então, teologicamente, um modelo de cronologia curta é mais fácil de ser defendido. Entretanto, interpretações incorretas da Bíblia ocorreram no passado (universo geocêntrico, fixidez das espécies, etc.), assim é importante não exigir mais do que a Bíblia requer. Deve-se tomar cuidado para não repetir os erros dogmáticos do passado, e os detalhes científicos da Bíblia podem necessitar de alguma interpretação em termos técnicos modernos (por exemplo, o processo de ruminação do coelho, a locusta, o besouro e o gafanhoto que tem quatro pés [Levítico 11:6,21-23] versão King James). Tratando o Conflito O conflito entre a ciência e a revelação em questões de tempo é bem visível e não há no momento nenhuma resposta final clara. Entretanto, há outros exemplos de conflito devido à nossa compreensão finita: a natureza divino/humana de Cristo, livre arbítrio e predestinação, e a natureza dual onda/partícula da luz. A lógica humana é limitada a uma avaliação de nossas experiências. Evidências empíricas devem ser necessárias para qualquer sistema de crença, e há evidências de que uma visão de mundo totalmente naturalística é insuficiente. Além disto, aqueles com uma estrutura filosófica baseada na Bíblia encontram pelo menos alguma evidência empírica que apoia preferencialmente cronologias curtas e outras que são pelo menos consistentes com cronologias curtas. Algumas destas evidências são apresetadas na próxima seção, entretanto, estes dados e outros similares devem ser usadas com cautela: 1) os argumentos são mais complicados e incertos quando todos os fatores são levados em conta; 2) um número maior de dados atuais são melhor explicados por um modelo de tempos longos do que curtos; 3) demonstrar que certos dados não requerem longas eras não dá necessariamente apoio para um modelo de cronologia curta; apenas os coloca numa categoria de ajuste alternativo; 4) nenhum modelo geológico abrangente ajusta todos os dados, de forma que problemas com um modelo de longas eras não implica necessariamente que um modelo de tempos curtos é correto; 5) não há disponível nenhum modelo de tempo curto para rivalizar o modelo de longas eras; 6) finalmente, qualquer modelo bíblico de cronologia curta deverá incluir Textos sobre Criacionismo A Bíblia Fornece uma Cronologia Curta Textos sobre Criacionismo 126 | alguma atividade sobrenatural, tornando-se inaceitável como um modelo científico; 7) aceitar a Bíblia porque a ciência a apoia leva à tendência de colocar a ciência acima da Bíblia e a razão a percepção dos sentidos acima da revelação, tornando mais fácil descartar a Bíblia quando uma evidência científica for incompatível com ela. Reintrepretação da Ciência Dados significativos ajustam-se melhor a uma longa cronologia; entretanto, muitos dados podem se ajustar aos dois modelos (especialmente após uma reinterpretação), e alguns dados são melhor explicados por um tempo curto para rochas e vestígios de vida que elas contém: 1) espera-se que o carvão tenha se formado a milhões de anos mas a datação por carbono 14 resulta em cerca de 40.000 anos;10 2) taxas de erosão geológica, sedimentação e soerguimento de montanhas sugerem uma escala de tempo mais curta; 11 3) paraconformidades sugerem um tempo limitado entre algumas camadas sedimentares;12 4) espera-se que moléculas biológicas em rochas datadas em milhões de anos teriam-se desintegrado em muito menos tempo.13 Alguns dos dados científicos podem ser interpretados em termos de uma curta existência da vida na Terra, mas com a matéria da Terra existindo a mais tempo. Então os grandes valores de datação radiométrica seriam então aceitos como reais, mas não representariam o tempo de deposição da rocha ou de seu conteúdo fóssil. São comuns as discordâncias entre datações radiométricas diferentes devido à retenção de argônio (para datação por K/Ar), devido à reajustes metamórficos e devido às diferentes fontes da rocha sedimentar. Algumas considerações geoquímicas podem dar explicações alternativas para o fato geral de que camadas de rocha inferiores produzem valores maiores de idade que as superiores: 1) fracionamento e zoneamento em uma câmara de magma; 2) incorporação de material da crosta enquanto o magma se movimenta; 3) isócronas que não representam idades, e sim linhas de mistura; e 4) influência da pressão hidrostática no escape de argônio em rocha vulcânica submarina. Aqueles que sentem que a Bíblia exige que a matéria da Terra e do universo seja jovem14 usam evidências tais como: mudança nas constantes fundamentais da natureza, inclusive taxas de decaimento, uma diminuição na velocidade da luz, halos pleocróicos de polônio, uma profundidade pequena de poeira meteórica na Lua, efeitos extra-terrestres (tais como raios cósmicos),15 e efeitos da mecânica quântica (tais como o princípio da incerteza). Reinterpretação da Bíblia Foram sugeridas várias teorias para harmonizar a cronologia curta da Bíblia com as longas eras científicas, cada uma com suas vantagens e desvantagens. Universo jovem. Este é o modelo mais fácil de ser defendido do ponto de vista teológico, pois a Bíblia quase não tem indicações contrárias. Entretanto, o modelo apresenta pouca conformidade com a maioria das evidências científicas. Universo velho mas sistema solar e Terra jovens. Este modelo ajuda explicar cientificamente fenômenos astrofísicos distantes, e alguns textos bíblicos podem ser usados para sugerir a existência de outros seres antes da criação deste mundo. Este modelo aceita longas idades para a evolução estelar; entretanto, afirma arbitrariamente que a estrela em nosso sistema solar (o Sol) foi criada especialmente. | 127 A matéria da Terra e do sistema solar é velha, mas a vida na Terra é recente. Este modelo sugere uma terra e sistema solar pré-existentes. Assim a criação em Gênesis 1 inclui apenas a atmosfera (o firmamento ou céus) e a terra seca. Como observado anteriormente, este modelo pode ajudar significativamente com os dados radiométricos. Entretanto, o relato de Gênesis coloca o sol "no firmamento dos céus". O relato do Gênesis demonstra que Yahweh é maior do que os deuses da natureza, incluindo o sol. Deixar a criação dos sol fora do quarto dia facilmente leva a deixar outras atividades criativas fora da semana da criação. Também o argumento de que as rochas com pouca vida (Precambrianas) são antigas enquanto as com muito vestígio de vida (Fanerozóicas) são jovens é de certa forma inconsistente cientificamente, pois elas são geologicamente semelhantes de muitas formas. Vida antiga na Terra, mas destruida e a vida atual recriada recentemente. Neste modelo, o registro fóssil é devido a uma criação antiga destruida antes do relato em Gênesis. O dilúvio de Noé teria sido local. Embora este modelo coloque a morte e o registro fóssil antes do pecado de Adão, ela pode ser colocada após o pecado do diabo e como resultado de seus experimentos.16 Entretanto, a Bíblia assume que a morte dos animais é o resultado do pecado de Adão e que o dilúvio de Noé foi mundial. A migração poderia ter sido uma solução mais fácil do que a construção de uma arca para salvar a vida de uma inundação local; além do mais muitas inundações locais ocorreram depois, invalidando a promessa de Deus de não mais destruir a terra por um dilúvio. Uma variação interessante deste modelo inclui efeitos relativísticos. 17 A vida atual foi desenvolvida progressivamente por Deus através de longos períodos, mas Deus ainda é o Criador. A criação progressiva e evolução teísta aceitam a interpretação científica padrão de longas eras para dados geológicos, mas ainda mantém Deus como Criador e/ou Planejador. Entretanto, a literalidade de Gênesis 1-11 é atestada por outros autores bíblicos, e esta teoria aceita a morte antes do pecado. Qualquer das resoluções propostas ao conflito têm problemas significativos. Os prós e contras de cada precisam ser considerados, pois pode-se ser mais objetivo ao considerar várias opções. Devido as possibilidades de erro ao desenvolver um modelo de história da Terra, prefiro cautela — a certeza bíblica e incerteza científica, acima da certeza científica e incerteza bíblica. Considerando a dificuldade de analisar cientificamente as atividades de Deus, alguma confirmação para crer, proveniente do mundo físico deve ser esperada, mas é pouco provável que sejam conclusivas. A resposta de Jó às perguntas de Deus (Jó 40:4,5; 42:2,3) nos faz lembrar que muita coisa acerca do tempo nunca será conhecida até que cheguemos ao céu. Nesta Terra, o estudo contínuo e a disposição para mudar de opinião são necessários. Entretanto para mim, há dois pontos não negociáveis: qualquer modelo de origem que apresente mal o caráter de Deus ou que ponha a razão humana acima da revelação divina é inaceitável. NOTAS 1. Ross H. 1996. Beyond the cosmos: the extra-dimensionality of God: what recent discoveries in astronomy and physics reveal about the nature of God. Colorado Springs, CO: NavPress. 2. Davies P. 1995. About time: Einstein's unfinished revolution. NY: Simon and Schuster. Textos sobre Criacionismo Conclusão 128 | 3. Thorne KS. 1994. Black holes and time warps: Einstein's outrageous legacy. NY: W.W. Norton. 4. Smith CW, Wise MN. 1989. Energy and empire: a biographical study of Lord Kelvin. Cambridge: Cambridge University Press. See p 317, 331, 332, 501. 5. Jastrow R. 1978. God and the astronomers. NY: W.W. Norton. See p 28, 48, 111-116. 6. Burchfield JD. 1990. Lord Kelvin and the age of the Earth. Chicago: University of Chicago Press. 7. Webster CL. 1990. The implications of the Oklo Phenomenon on the constancy of radiometric decay rates. Origins 17:86-92. 8. Baldwin JT. 1991. Progressive creation and biblical revelation: some theological Textos sobre Criacionismo implications. Origins 18:53-65; cf: Isaac R. 1996. Chronology of the fall. Perspectives on Science and the Christian Faith 48 (March):34-42. 9. Hasel GF. 1994. The 'days' of creation in Genesis 1: literal 'days' or figurative 'periods/epochs' of time? Origins 21:5-38. 10. Brown RH. 1988. The upper limit of C-14 age? Origins 15:39-43. 11. Roth AA. 1986. Some questions about geochronology. Origins 13:64-85. 12. Roth AA. 1988. Those gaps in the sedimentary layers. Origins 15:75-92. 13. Brown RH. 1991. Fresh bread; old fossils. Origins 18:89-92. 14. Brown WT, Jr. 1989. In the beginning.... 5th ed. Phoenix, AZ: Center for Scientific Creation. 15. Cook MA. 1993. Scientific prehistory. Bountiful, UT: Family History Publishers. 16. Chartier G. 1985. Jack Provonsha on fundamentalist geology: 'more needs to be said.' La Sierra Criterion 57 (8 November):1,4,8. 17. Rowland SC. 1992. An 'Impossible' Model. Newsletter of the Association of Adventist Physicists 22(1):6-7. | 129 Artigo 27 BIOGEOGRAFIA HISTÓRICA DA AMÉRICA DO SUL, PARTE I: Vertebrados Vivos Jim Gibson Geoscience Research Institute Tradução: Urias Echterhoff Takatohi e Marcia Oliveira de Paula Geoscience Reports 25:1-6 (Spring 1998). Introdução Regiões diferentes da Terra possuem tipos diferentes de plantas e animais. Todos reconhecem isto, mas não é fácil explicar o porquê deste fato. De alguma forma, os cangurus foram para a Austrália, enquanto que os cavalos só chegaram lá com o auxílio do homem. Muitas plantas e insetos são encontrados tanto na América do Sul como na Austrália mas os mamíferos destes dois continentes são diferentes. Estas questões e muitas outras semelhantes são feitas por pesquisadores em biogeografia. A biogeografia é o estudo do padrão de distribuição de plantas e animais. Os biogeógrafos tem interesse em explicar os processos que levaram à atual distribuição de plantas e animais na Terra. Não há registros escritos de como se deu o processo e não se pode repetir a história como um experimento. Isto torna difícil o estudo do assunto. Entretanto, alguns indícios ajudam nas tentativas de encontrar uma explicação. Estes indícios incluem a localização geográfica dos fósseis, as espécies de organismos capazes de se dispersarem para ilhas oceânicas e os aspectos geológicos de uma região. A biogeografia é um assunto importante para aqueles que pretendem entender a história da vida nesta Terra. Os padrões de distribuição biogeográfica são usados com freqüência para apoiar a teoria da evolução. Este trabalho fará uma tentativa de esboçar alguns pontos principais, incluindo os pontos fortes e fracos de uma compreensão criacionista da biogeografia, usando a Améria do Sul como exemplo. Deve-se abordar este tipo de estudo com expectativas realísticas. Como não se conhece muito sobre o que realmente aconteceu no passado, os cientistas históricos podem apenas tentar construir uma explicação e então verificar se a explicação funciona. A teoria apresentada neste trabalho não funciona perfeitamente. Pode-se comparar esses esforços como uma espécie de jogo de adivinhação. A resposta correta não é conhecida, mas você espera estar se aproximando da resposta correta. A ecologia influencia a distribuição da fauna. As principais regiões ecológicas e fisiográficas da América do Sul são mostradas neste mapa. Regiões temperadas: linhas cruzadas; Florestas tropicais amazônica e atlântica: linhas inclinadas; Regiões não florestais tropicais e subtropicais: Textos sobre Criacionismo Páginas Relacionadas — | EDITORIAL | INGLÊS | 130 | linhas horizontais com savanas em preto; Montanhas: pontilhado. (Figura modificada de Duellman 1979). Textos sobre Criacionismo Estudos criacionistas anteriores Os criacionistas tem lutado há bastante tempo com o problema de explicar a distribuição animal atual a partir da sua dispersão da arca. Browne (1983:1-31) escreveu uma história da biogeografia, que revisa alguns dos primeiros debates, desde o século XVII. Autores criacionistas recentes que tem discutido a questão incluem Whitcomb and Morris (1961:79-88) e Woodmorappe (1990). Nenhum destes discutiu a fauna da América do Sul especificamente. Hipóteses de uma biogeografia baseada num modelo do dilúvio A seguir temos um breve esboço de algumas hipóteses de uma interpretação biogeográfica de um ponto de vista criacionista: 1. O dilúvio envolveu uma destruição catastrófica mundial. A Bíblia descreve uma catástrofe mundial dominada por uma inundação que destruiu os animais terrestres que respiram ar que não estavam na arca. Embora Noé tenha levado sementes com ele na arca, muitas plantas aparentemente sobreviveram o dilúvio fora da arca. (A Bíblia relata que uma folha de oliveira foi trazida a Noé pela pomba que ele libertou antes de ter deixado a arca e antes que tivesse feito qualquer plantação de oliveiras.) Muitas outras espécies de organismos também sobreviveram ao dilúvio fora da arca, incluindo todas espécies de criaturas marítimas, desde a baleia até moluscos e pingüins. 2. Os organismos podem ter sido transportados por longas distâncias pelas águas do dilúvio antes de serem enterrados. Durante os últimos estágios do dilúvio, a superfície da terra estava provavelmente dividida em muitas bacias, separadas por águas rasas ou terra exposta intermitentemente. Os animais e plantas flutuantes podiam ser depositados em qualquer lado de uma bacia. Isto significa que encontrar fósseis de animais terrestres similares em continentes que são agora separados não implica necessariamente que os organismos tiveram que andar sobre terra seca entre os dois continentes. 3. Pressupõe-se que todos os grupos principais de organismos estavam presentes no início do dilúvio; entretanto, nem todos os grupos diferentes foram enterrados no mesmo tempo e lugar. Aqueles organismos enterrados primeiro seriam encontrados em sedimentos mais profundos do que os entrerrados mais tarde no dilúvio. O "primeiro aparecimento" de um grupo de organismos no registro fóssil (a coluna geológica) se refere ao primeiro enterramento e preservação de um fóssil de um grupo particular. Isto não implica que o grupo não existiu antes do tempo em que foi enterrado. A camada ou "período" no qual o primeiro aparecimento de um grupo ocorre pode ser um resultado de seu habitat, comportamento, mobilidade, densidade, ou distribuição biogeografica antediluviana, ou uma combinação de um ou mais destes fatores. 4. Os vertebrados terrestres (animais terrestres com esqueleto) dispersaramse da arca para encher a terra após o dilúvio. Portanto, a atual distribuição de vertebrados terrestres vivos deve estar relacionada com a história dos continentes após o dilúvio. Predições de uma biogeografia baseada num modelo do dilúvio Baseadas nas suposições acima, algumas predições biogeográficas podem ser feitas, como na lista abaixo: 1. Os vertebrados terrestres vivos devem estar distribuídos de uma maneira que reflita o arranjo continental atual. As exceções podem incluir aqueles grupos encontrados em ilhas oceânicas, que tem a habilidade de cruzar água salgada. Em geral, grupos vivos de vertebrados estritamente terrestres não devem estar inteiramente restritos ao hemisfério sul. 2. Aqueles invertebrados e grupos aquáticos que sobreviveram ao dilúvio fora da arca devem mostrar alguns padrões de distribuição devidos ao vento ou correntes oceânicas. Como as correntes oceânicas principais não cruzam o equador, é de se esperar que algumas plantas, insetos, e animais aquáticos devam estar distribuídos apenas no hemisfério sul. Isto deve incluir tanto grupos vivos como fósseis destes organismos. 3. As distribuições de fósseis de vertebrados terrestres não devem estar limitadas da mesma forma que as distribuições de grupos vivos. De acordo com a suposição 2, animais podem ter sido arrastados pela água para o oceano e levados por correntes para as duas margens de um oceano raso. Portanto, fósseis similares podem ter sido enterrados tanto na costa oeste da África como na costa leste da América do Sul. Correntes oceânicas circulando em torno da Antártica poderiam levar fósseis potenciais entre a Austrália, América do Sul e sul da África. Relações Biogeográficas de Vertebrados Vivos da América do Sul 1. Mamíferos terrestres A América do Sul tem uma rica diversidade de vertebrados terrestres vivos, incluindo cerca de 36 famílias de mamíferos terrestres (excluindo morcegos). Catorze destas famílias de mamíferos são aplamente distribuídas e incluem animais familiares tais como cachorros, gatos, camelos, coelhos e esquilos. Estas 14 famílias de mamíferos podem ser explicadas como animais que migraram a partir da arca para a América do Sul porque estes animais ou seus fósseis podem ser encontrados desde o Oriente Médio até a América do Sul ao longo de prováveis rotas migratórias. As 22 famílias de mamíferos restantes tem uma distribuição muito mais restrita. Onze famílias de marsupiais, primatas e roedores são restritas à América do Sul. As outras 11 famílias de edentados, primatas e roedores estão confinadas ao Novo Mundo (América do Norte e do Sul). Exemplos destes grupos restritos incluem gambás, tatus, macacos e porquinhos-da-índia (cobaias, preás). Não se conhece o modo pelo qual estas 22 famílias chegaram à América do Sul. A possibilidade de dispersão dirigida será discutida abaixo. Textos sobre Criacionismo | 131 132 | Nenhuma família de mamíferos é restrita apenas à América do Sul e África ou América do Sul e Austrália. Um grupo de mamíferos terrestres, os marsupiais, são quase restritas à América do Sul e Austrália. Entretanto marsupiais fósseis são achados em cada continente, incluindo a Antárctica, e sua história biogeográfica, incluindo como chegaram à América do Sul, não é bem compreendida. Textos sobre Criacionismo Um tatu (Zaedyus) da Argentina. Os tatus são encontrados principalmente na América dos Sul, com uma espécie chegando a parte sul dos Estados Unidos. Foto cortesia de Clyde Webster. 2. Aves Terrestres A América do Sul é famosa por sua rica diversidade de aves. De cerca de 80 famílias, 57 podem ser consideradas terrestres. Vinte e duas destas famílias são amplamente distribuídas, indicando grande habilidade de dispersão. A dispersão destes grupos pode ter iniciado a partir da arca. Trinta e cinco famílias de ave são restritas à América do Sul (6 famílias) ou ao Novo Mundo (29 famílias). Não se sabe como estes 35 grupos de aves chegaram à América do Sul. Um grupo de aves terrestres, as ratitas, está atualmente restrito aos continentes do hemisfério sul. São grandes aves que não voam, tais como as emas e tinamídeos da América do Sul, os avestruzes da África, e os emus e casuares da Austrália. Alguns cientistas crêem que elas têm um parentesco próximo (por exemplo, Cracraft 1974), enquanto outros crêem que formam um grupo artificial, agrupados devido ao seu grande porte e características imaturas (Olson 1985). Elas têm a reputação de serem fortes nadadoras, mas sua história biogeográfica não é clara. Fósseis semelhantes a avestruzes são conhecidos em depósitos do Paleoceno na Europa, mostrando que não são um grupo estritamente do sul quando os fósseis são incluidos. Nenhuma família de aves terrestres está restrita apenas à América do Sul e África. Os avestruzes podem ter se dispersado para a África a partir do norte. As origens das emas e tinamídeos da América do Sul é desconhecida. Um tucano do Panamá. Os tucanos pertencem à família Rhamphastidae, que é restrita aos trópicos das Américas do Sul e Central. Foto cortesia de Elaine Kennedy. | 133 3. Répteis terrestres A América do Sul tem 11 famílias de lagartos e 9 famílias de cobras. Quatro famílias de lagartos e 7 famílias de cobras são aplamente dispersas. Vários grupos são encontrados em ilhas oceânicas, indicando fortes poderes de dispersão nestes grupos de lagartos e cobras. Uma família de lagartos está restrita à América do Sul e cinco outras são restritas ao Novo Mundo. Duas famílias de cobras estão restritas ao Novo Mundo. Alguns grupos sul-americanos podem ser ligados a grupos na África ou Madagascar. A travessia do Atlântico em jangadas naturais pode ser a melhor explicação para esta ligação. 4. Répteis de água doce Apenas uma família de tartarugas é terrestre, mas foi capaz de chegar às Ilhas Galápagos e outras ilhas oceânicas, assim todas tartarugas provavelmente tem a capacidade de se dispersar através da água. Das 6 famílias de tartarugas na América do Sul, uma é endêmica (encontrada apenas na América do Sul), 3 tem distribuição global e 2 são restritas aos continentes do sul. As tartarugas provavelmente não requerem dispersão a partir da arca para explicar sua distribuição, mas podem ter vivido durante do dilúvio. Os crocodilianos estão presentes na América do Sul e também na maioria das áreas mais quentes do mundo. É duvidoso que crocodilos tenham dependido da arca para sobreviverem. Uma tartaruga "pescoço de cobra", família Chelidae, do Brasil. Esta família é restrita à América do Sul e Austrália. Foto cortesia de Jim Gibson. Textos sobre Criacionismo Uma grande iguana do Brasil. As grandes iguanas são encontradas nos trópicos do Novo Mundo, incluindo as Índias Ocidentais e Ilhas Galápagos, Fiji e Samoa e Madagascar. Foto cortesia de Jim Gibson. 134 | 5. Anfíbios de água doce Quinze famílias de anfíbios vivem na América do Sul. Estas incluem três famílias de cobras-cegas (anfíbios semelhantes a vermes), uma de salamandra e 11 famílias de sapos ou rãs. Duas famílias de cobras-cegas e 6 de sapos são endêmicas na América do Sul ou restritas ao Novo Mundo. Uma família de sapos é restrita aos continentes do hemisfério sul. As seis famílias restantes tem distribuição ampla. Além disto, conjectura-se que dois grupos de sapos sulamericanos são possivelmente relacionados a dois grupos de sapos australianos. É pouco provavel que os sapos necessitaram da arca para sobreviver ao dilúvio, pois a maioria deles tem estágios de vida aquáticos. Algumas cobras-cegas também têm estágios aquáticos, e podem ter sobrevivido ao dilúvio fora da arca. Textos sobre Criacionismo Um sapo neotropical (Eleutherodactylus) de Porto Rico. Este é um membro da família Leptodactylidae, que é amplamente distribuída nos trópicos do Novo Mundo, com umas poucas espécies chegando até aos Estados Unidos. Foto cortesia de Jim Gibson. 6. Peixes de água doce A América do Sul tem 32 famílias de peixes estritamente de água doce. Uma família é compartilhada com a América do Norte e África. Uma família é compartilhada com a África e Índia. Uma família é compartilhada com a Austrália , África e Sudeste asiático, com algums relacionamentos que sugerem conexões no hemisfério sul. Uma família é compartilhada apenas com a África. As 28 famílias restantes são endêmicas da América do Sul. Os peixes não | 135 poderiam ter sobrevivido dentro da arca, assim sua distribuição não necessita ser explicada com base numa dispersão a partir da arca. 7. Plantas Muitas famílias de plantas sul-americanas, e mesmo gêneros, são compartilhados com outros continentes do hemisfério sul. Mais de 100 gêneros, representando cerca de 50 famílias, de plantas lenhosas são comuns às florestas tropicais da América do Sul e África. Grupos compartilhados com a Austrália incluem Araucaria entre as gimnospermas e as angiospermas Nothofagus (Nothofagaceae), Laurelia (Monimiaceae), Beilschmiedia (Lauraceae), Weinmannia (Cunoniaceae), Orites (Proteaceae) e a família Winteraceae. Várias famílias de plantas, e mesmo gêneros, são restritos à América do Sul e outros continentes do hemisfério sul. Tais configurações da distribuição não são resultado de uma dispersão a partir da arca. Resumo da Parte I Muitas famílias de vertebrados parecem ter alcançado a América do Sul a partir do norte, como seria de se esperar de uma dispersão a partir da arca após o dilúvio mundial. Isto inclui todas as famílias com distribuição ampla. Muitas outras famílias são restritas à América do Sul. Sua história biogeográfica é desconhecida. Dois grupos de vertebrados terrestres sul-americanos parecem estar restritos (ou quase restritos) aos continentes do hemisfério sul. Estes grupos são os marsupiais e as ratitas. Suas histórias biogeográficas são desconhecidas, mas fósseis dos dois grupos tem sido achados nos continentes do hemisfério norte. Umas poucas famílias são encontradas apenas na América do Sul e outros continentes do hemisfério sul. Estas incluem duas famílias de tartarugas com pescoço lateral, e pelo menos uma família de sapos e pelo menos uma família Textos sobre Criacionismo Uma floresta meridional de faias (Nothofagus) na Austrália. As árvores Nothofagus são restritas à América do Sul e regiões Australiasianas. Foto cortesia de Jim Gibson. 136 | de peixes de água doce. Muitos grupos de plantas são também restritos aos continentes do hemisfério sul. Nenhum destes grupos dependeu da arca para sobrevivência e sua distribuição provavelmente reflete mudanças geográficas e correntes oceânicas associadas com o dilúvio. REFERÊNCIAS Bauer AM. 1993. Avian biological relationships between Africa and South America. In Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa and South America. New Haven and London: Yale University Press, p 244-288. Berra TM. 1982. An atlas of distribution of the freshwater fish families of the world. Lincoln and London: University of Nebraska Press. Branhan DG, Gaudin TJ. 1997. The phylogeny of the Myrmecophagidae (Mammalia, Xenarthra, Vermilingua) and the relationships of Eurotamandua. Journal of Vertebrate Paleontology 17(3):33A. Briggs JC. 1995. Global biogeography. Amsterdam: Elsevier Scientific Publications. Browne J. 1983. The secular ark. Studies in the history of biogeography. New Haven and London: Yale University Press. Carroll RL. 1988. Vertebrate paleontology and evolution. NY: W.H. Freeman and Co. Clements JF. 1991. Birds of the world: a checklist. Vista, CA: Ibis Publ. Co. Cracraft J. 1974. Phylogeny and evolution of the ratite birds. Ibis 116:494-521. Duellman WE. 1993. African-South American relationships: a perspective from the Reptilia. In Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa and South America. New Haven and London: Yale University Press, p 200-243. Frost DR. 1985. Amphibian species of the world. Association of Systematic Collections. Lawrence, KS: University of Kansas Press. Gentry AH. 1993. Diversity and floristic composition of lowland tropical forest in Africa and South America. In Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa and South America. New Haven and London: Yale University Press, p 500-547. Textos sobre Criacionismo Goin CJ, Goin OB, and Zug GR. 1978. Introduction to herpetology. 3rd ed. San Francisco: W.H. Freeman and Co. Honacki JH, Kinman KE, Koeppl JW. 1982. Mammal species of the world. Association of Systematics Collections. Lawrence, KS: University of Kansas Press. Lundberg JG. 1993. Amphibians in Africa and South America: evolutionary history and ecological comparisons. In Goldblatt P, editor. Biological relationships between Africa and South America. New Haven and London: Yale University Press, p 156-199. Storch G. 1981. Eurotamandua joresi, ein Myrmecophagide aus dem Eozan der AGrube Messel@ bei Darmstadt (Mammalia, Xenarthra). Senckenbergiana Lethaea 61:247-289. Thorne RF. 1973. Floristic relationships between tropical Africa and tropical America. In Meggers BJ, Ayensu ES, Duckworth WD, editors. Tropical forest ecosystems in Africa | 137 and South America: a comparative review. 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Página Relacionada — | EDITORIAL | INGLÊS | Textos sobre Criacionismo Introdução Quando o astronauta John Glenn realizou sua última e famosa viagem espacial em Novembro de 1998, comentou acerca da visão da Terra abaixo, que se admirava como alguém podia não crer em Deus ao contemplar Sua maravilhosa criação. A idéia de planejamento em a natureza não é nova. William Paley (17421805), prominente entre teólogos contemporâneos de crença semelhante, escreveu sobre planejamento natural e teologia natural. Sua obra ainda famosa de 1802, Natural Theology: or Evidences of the Existence and Attributes of the Deity, Collected from the Appearances of Nature,1 (Teologia Natural: ou Evidências da Existência e Atributos da Deidade, Colhidas de Aspectos da Natureza) influenciaram eruditos por décadas. Paley comparava a natureza a um relógio, em contraste com uma pedra, e sugeria que ninguém iria negar que o relógio foi planejado. Paley também se referia aos detalhes complicados do olho como evidências de planejamento. De maneria semelhante, ele via toda a natureza apresentando marcas de planejamento, que sugere um planejador. Ele cria que tais evidências apoiavam a idéia da existência de Deus. Requeria-se a leitura dos livros de Paley na universidade, e Charles Darwin foi consideravelmente influenciado, mas não persuadido por ele. Alguns argumentos de Darwin eram desafios específicos às idéias de Paley. Sob a influência do Darwinismo o impacto de Paley diminuiu consideravelmente, mas o poder de seu argumento é sentido ainda hoje. Quase dois séculos após a publicação inicial de Paley, Richard Dawkins, em The Blind Watchmaker (1990),2 (O Relojoeiro Cego) achou necessário contestar as idéias dele. Freqüentemente ouvimos que a idéia de planejamento em a natureza é teleológica ou seja, relaciona a natureza com uma causa final, e portanto está além da investigação científica. A inferência é que a hipótese do planejamento é cientificamente inaceitável, possivelmente mesmo falsa. Por esta razão Dawkins tentou demonstrar que o planejamento aparente em a natureza é realmente o produto de processos naturais. Ele crê que um pouco de sorte e muito tempo é tudo o que é necessário para explicar a complexidade da natureza. Tendo rejeitado qualquer outra possibilidade, o que mais ele pode fazer? Isto demonstra a distância que alguém pode ir para evitar a evidência contrária mais óbvia e convincente. Dawkins parece ser ponderado e cuidadoso, mas preso a uma filosofia que o deixa sem outra opção. Outros cientistas sentem-se desconfortáveis com esta posição. Lewis Thomas declarou seu dilema: "Não posso fazer minha paz com a doutrina do acaso; Não posso conviver com a noção de falta de propósito e chance cega em a natureza. E ainda assim não sei o que colocar em seu lugar para acalmar minha mente. É ridículo dizer que um lugar como este é absurdo, quando contém, diante de nossos olhos, tantos bilhões de formas diferentes de vida, cada uma a seu modo absolutamente perfeita, todas ligadas entre si para formar o que seguramente parece a quem olha de fora um gigantesco organismo esférico."3 Embora a hipótese de planejamento-em-a-natureza possa ser não testável cientificamente, ela não é necessariamente falsa. As evidências podem ainda apontar um planejamento; não há nenhum meio de descartar cientificamente a hipótese. Há realidades que a ciência não pode ver, e mesmo realidades que a ciência ainda não descobriu. Descartamos simplesmente o óbvio porque não podemos testá-lo? Não recorremos também a especulações naturalísticas que não são testáveis? Recentemente a idéia de planejamento ganhou prominência. John Polkinghorne escreveu, "Penso que estamos vivendo em uma era em que está havendo um grande reavivamento da teologia natural." 4 Michael Behe trouxe a idéia de planejamento em a natureza diante da atenção popular em seu livro muito difundido, Darwin's Black Box: the Biochemical Challenge to Evolution.5 (A Caixa Preta de Darwin: o Desafio da Bioquímica à Teoria da Evolução). Enquanto Behe crê que os sistemas bioquímicos nos níveis biológicos fundamentais exige o planejamento por serem irredutivelmente complexos, ele acha que a evolução é a melhor explicação para a origem das espécies. 6 Um favorito de alguns criacionistas, ele não é um criacionista bíblico tradicional em um sentido estrito, mas suas idéias são um início importante. Temos a tendência de ver a natureza através das restrições de nossas especialidades. Enquanto Behe pode ver a complexidade bioquímica exigindo planejamento, aparentemente ele não vê que a complexidade além da imaginação em níveis biológicos estruturais mais altos também fazem a mesma exigência. Estas complexidades da mesma forma desafiam as explicacões evolutivas convencionais. Na extremidade oposta do espectro da vida, em relação ao trabalho de Behe, está o nível ecológico. Aqui os complexos relacionamentos ecológicos também desafiam as explicações evolutivas. O Desafio da Ecologia A ecologia é uma ciência relativamente jovem que procura entender os variados relacionamentos entre os organismos, e entre os organismos e seu ambiente não biológico. Darwin viu a evolução como o resultado da seleção natural, em que os membros mais adequados de uma população eram favorecidos em relação a outros tanto por forças ambientais bióticas como abióticas. Portanto estes com mais freqüência podiam deixar sua marca genética nas gerações futuras. Isto sugere que a ecologia faz a seleção. Entender a ecologia é importante para entender a seleção natural e a evolução. Ernst Haeckel, um destacado zoólogo e fervoroso evolutionista, cunhou a palavra "ecologia" nos anos da década de 1860.7 Ele cria que a ecologia iria fundamentar a evolução. Em vez disto, à medida que relacionamentos Textos sobre Criacionismo | 139 140 | ecológicos complexos são examinados, a ecolocia pode se tornar um desafio significativo à idéia que devia apoiar. Iremos examinar evidências provenientes da ecologia moderna e da paleoecologia. Como as relações ecológicas são vitais, iremos relacionar as evidências com um desenvolvimento gradual da ecologia, como é aparentemente requerido pela teoria da evolução. Iremos também considerar o quadro que requer um funcionamento complexo da ecologia desde o princípio, como se entende a partir de uma crença na criação. Estudos em Biodiversidade O movimento ambiental tem chamado a atenção para a importância da ecologia hoje. O livro de Rachel Carson Silent Spring8 (Primavera Silenciosa) foi o catalizador que iniciou o esforço popular para salvar o ambiente da exploração desenfreada. Este movimento levou a novas formas de proteger os ambientes, novas leis, e mesmo novas agências governamentais. Embora alguma melhora ambiental resultou desdes esforços, a batalha deve necessariamente ser contínua. Em Setembro de 1986, um grupo de biólogos encontrou-se no Smithsonian Institute em Washington, D.C.9 para avaliar a saúde ambiental e planejar maiores esforços em conservação. Neste encontro o termo biodiversidade foi introduzido, e agora se tornou o foco de pesquisas em expansão e a base de uma ciência emergente. A idéia se tornou um tema cada vez mais freqüente na literatura popular e científica, como é visto no gráfico que mostra um número crescente de referências na Internet usando a palavra "biodiversidade" em um busca na "Ebsco Host". Textos sobre Criacionismo Observe que o ano de 1998 inclui apenas referências de Janeiro a Setembro. Se o número de referências em Setembro for representativo, o ano de 1998 deve terminar com cerca de 230 referências como indicado pela coluna adjacente. A biodiversidade inclui o grande conjunto de espécies que formam os vários ecosistemas do mundo. Também inclui as diferentes populações daquelas espécies com seus complexos de muitos genes. Estes provêem a mais essencial qualidade da biodiversidade: seus inumeráveis e necessários serviços ecológicos. Nas palavras de Yvonne Baskin: "É este profuso conjunto de organismos que chamamos 'biodiversidade,' uma teia intricadamente ligada de coisas vivas cujas atividades trabalham em concerto para tornar a Terra um planeta singularmente habitável." 10 Embora numerosos estudos revelem a natureza da biodiversidade, seus serviços são apenas parcialmente compreendidos. É óbvio, entretanto, que os organismos formando ecosistemas se juntam numa teia de serviços sem a qual eles não poderiam existir. Alguns exemplos destes serviços incluem: bioprodutividade; reciclagem de nutrientes; muitos serviços mutualísticos entre plantas, animais, e outros grupos de organismos; relacionamentos de solo, incluindo mycorrhizae e suas plantas hospedeiras; serviços de polinização; serviços de dispersão de sementes; relacionamentos entre formigas e plantas; relacionamentos de liquens e seus serviços de formação de solo; etc. A biodiversidade inclui até serviços alternativos quando o stress impede o funcionamento adequado de alguns componentes do ecosistema. Considere, por exemplo, a polinização, um importante processo ligando plantas e animais. Edward O. Wilson da Harvard University escreve sobre polinização como uma cadeia que leva diretamente a nossa espécie. 11 Muitas plantas necessitam de insetos. Se as plantas precisam dos insetos para existir, então os seres humanos também precisam dos insetos para existir. Enquanto Wilson atribui isto a "milhões de anos de coevolução," este ponto de vista deixa de considerar uma questão fundamental. Os relacionamente específicos planta- polinizador podem mudar, mas como o relacionamento original plantapolinizador iniciou? Como flores produzindo nectar e pólen e necessitando polinizadores, e animais necessitando nectar e/ou pólen se originaram? Como se tornaram tão vitalmente interconectados? Embora não completamente entendidos ou mesmo reconhecidos, estes numerosos relacionamentos essenciais são claramente importantes. Peter Raven observa que quando uma planta é exterminada, com freqüência cerca de dez a trinta outras criaturas se tornam extintas, 12 porque não podem sobreviver sem os serviços providos direta ou indiretamente pela planta. O foco dos estudos de biodiversidade tem se tornado a necessidade de conservar nosso ambiente para o maior bem de todos seres viventes. Em um discurso para estudantes na University of Nebraska, Edward O. Wilson discutiu a afirmação de alguns economistas de que espécies que provêem serviços redundantes podem ser devastadas com impunidade. Cada espécie provê vários serviços ecológicos, mas qualquer redundância que possa fazer parecer que uma das espécies é dispensável em uma situação pode ser vitalmente necessária em outra, e portanto nenhuma espécie é dispensável. Wilson disse acerca das muitas espécies diferentes: "Salvem todas elas!" 13 Diversidade de espécies é indispensável para o funcionamento normal de ecosistemas. Estas descobertas enfatizam que em ecologia, o que parece indispensável agora, era também indispensável no passado. É difícil imaginar de outra forma, e ainda assim poucos pensam sobre as implicações históricas e filosóficas de tais relacionamentos necessários. A natureza dos serviços da biodiversidade levanta a questão: se os relacionamentos ecológicos são necessários para ecosistemas funcionando agora, como poderiam ter sido desnecessários em alguma outra época? Mas é isto que a evolução aparentemente requer. Não apenas os organismos devem ter progredido de estruturas e funções simples para complexas, mas a ecologia teria progredido de forma semelhante. A explicação usual para a origem da ecologia é a coevolução. A coevolução Textos sobre Criacionismo | 141 Textos sobre Criacionismo 142 | é definida como a "evolução conjunta de duas ou mais espécies que não se cruzam e que tem um relacionamento ecológico próximo; por meio de pressões seletivas recíprocas, a evolução de uma espécie no relacionamento é parcialmente dependente da evolução da outra."14 Alguma ecologia devia necessariamente já existir quando a coevolução iniciou. Agindo pela seleção natural de condições existentes, a coevolução pode permitir que espécies refinem relacionamentos mútuos, mas não pode dar conta da origem dos relacionamentos básicos que permitiram que ela acontecesse inicialmente. Parece não haver nenhum modo imaginável para que toda a teia de relacionamentos evoluísse independentemente de qualquer maneira integrada. Como a evolução tem falta de um esquema concreto para explicar a origem da ecologia, embora ela seja essencial agora, o planejamento parece ser uma explicação alternativa razoável. Os relacionamentos indispensáveis em ecologia sugerem que a ecologia foi sempre funcionalmente desenvolvida. São os complexos relacionamentos eco-químicos e eco-físicos de alguma forma menos impressivos do que aqueles processos citoquímicos que tanto impressionaram Behe? Não! Dado que a eco-complexidade é dependente de todas outras complexidades fundacionais subjacentes nas células, tecidos e organismos, a complexidade ecológica é até mais impressionante. Devemos reconhecer que a ecologia atual é muito diferente do quadro ecológico original visualizado pela maioria dos criacionistas. Os relacionamentos naturais agora incluem várias características negativas (por exemplo, morte, predação e parasitismo). Conquanto possa-se esperar a ocorrência de aspectos negativos no quadro evolutivo, também é necessário perguntar por que persistem. Predação e parasitismo colocam em perigo e destroem os organismos de que dependem os predadores e parasitas. Relacionamentos mutuamente benéficos deveriam ser mais duradouros e desejáveis em seleção natural. De uma perspectiva da criação, tanto os organismos atuais como a ecologia de que dependem estão degenerados. A exploração egoísta da natureza, mais diversas instabilidades do tipo efeito dominó, e várias catástrofes, incluindo o dilúvio bíblico, danificaram a ecologia original. A perda de biodiversidade coloca ecossistemas sob tensão devido à perda de espécies, perda de genes e perda de serviços da biodiversidade. As mutações também danificaram os genes e produziram deformidade genética. Mesmo que não possamos explicar com detalhe como os aspectos negativos surgiram, a degeneração é uma realidade em nosso mundo que seguramente está relacionada com o desarranjo da ecologia original. Na falta de recursos disponíveis no menu original, as espécies sobreviventes são confrontadas com duas escolhas: ou sofrem extinção ou exploram outros recursos até então não utilizados. As duas coisas devem ter ocorrido, de forma que a natureza e a ecologia hoje são muito diferentes da criação original. Mesmo com estes acontecimentos infelizes, é claro que um quadro da natureza com uma ecologia desenvolvendo-se gradualmente não é razoável. Alguns podem argumentar que os ecosistemas se desenvolveram gradualmente de pouco ou nada em sucessão primária. Entretanto, tal sucessão apenas funciona devido a semeadura a partir de fontes adjacentes, e sucessão é bem diferente de desenvolvimento de um ecosistema a partir de nada. A idéia de ecosistemas funcionais sendo planejados e criados parece mais | 143 compatível com o que é encontrado agora em a natureza. As interdependências amplas, e freqüentemente obrigatórias, sugerem que tais relacionamentos são necessários para a operação eficiente do mundo natural. De uma perspectiva evolutiva, o desenvolvimento da ecologia deve ter ocorrido com a evolução. Num início desta forma, quando as espécies vivas eram poucas e relativamente simples, a ecologia seria também simples. Muitas novidades biológicas ineficientes teriam sido possíveis. À medida que as espécies aumentassem tanto em complexidade quanto em número, e suas interrelações também se desenvolvessem, a ecologia teria se tornado mais complexa. Com o tempo, a biodiversidade também teria aumentado. Se esta percepção evolutiva de uma ecologia em desenvolvimento é verdade, seria esperado que se encontrassem evidências disto no registro fóssil. Por exemplo, ao se prosseguir de cima para baixo ao longo da coluna geológica, em todo lugar em que ocorre a uma preservação significativa de comunidades antigas, uma simplificação crescente das comunidades deve ser evidente. Lagerstäten15 é o termo paleontológico para depósitos com preservação extraordinária e riqueza fóssil. Se o cenário evolutivo de desenvolvimento ecológico é válido, uma simplificação ecológica deve ser mais evidente nos sítios Lagerstäten bem explorados e estudados, dos estratos mais recentes para os mais antigos. Um sítio deste tipo é o Burgess Shale (folhelho) de British Columbia, Canada. Este depósito do cambriano médio contém fósseis extraordinariamente preservados, incluindo vários tipos de corpo mole. Desde a descoberta de Burgess Shale, outros depósitos semelhantes, mas amplamente espalhados, foram encontrados, incluindo alguns descritos como do cambriano inferior.16 O Burgess Shale contém 140 espécies em 119 gêneros e 14 filos. 17 A maioria das espécies são do tipo bentônico.18 Há também vários fósseis de algas, indicando uma comunidade de águas rasas, provavelmente de menos de 100 metros de profundidade. Nenhuma das criaturas representadas vive hoje, e a maioria delas podem ser descritas como extraordinárias. 19 Entretanto, dois autores citados por Gould20 indicacam que embora os fósseis tenham uma natureza não usual, a ecologia de Burgess Shale é bem comum comparada com a ecologia de hoje. Como o próprio Gould afirma: "Não se pode mais atribuir a disparidade das formas primitivas à pressão reduzida de um mundo fácil, sem a competição Darwiniana na luta pela existência, e portanto aberto para qualquer dispositivo exótico ou experimento fraudado. A estrutura trófica da vida marinha metazoária foi estabelecida cedo na evolução"21 Colocado de forma simples, a ecologia complexa já estava presente bem cedo na história da evolução. Outras faunas fósseis menos bem preservadas são encontradas nos estratos do cambriano inferior e pré-cambriano superior,22 mas enquanto possam também sugerir uma existência bentônica, 23 o nível de preservação é insuficiente para tirar qualquer conclusão sobre sua ecologia. De qualquer forma o tipo moderno de ecologia parece evidente nos níveis inferiores dos estratos com fósseis. Não há indicação de simplificação ecológica. Os evolucionistas procuram no pré-cambriano por tais indicações, porém, em vez disto, a evidência indica que os microfósseis do pré-cambriano podem não ser tão antigos como se supõe.24 A evidência paleontológica não apoia de forma Textos sobre Criacionismo O Quadro Paleontológico 144 | clara a progressão hipotética da ecologia simples para a complexa exigida pela teoria da evolução. Parece ser melhor a idéia de ecologia completamente funcional desde o princípio. Conclusão Planejamento em a natureza tem sido um tema considerado com freqüencia crescente em várias publicações científicas recentes. Alguns consideram o planejamento como uma explicação necessária para a origem de sistemas bioquímicos. Um exame da complexidade ecológica e as evidências paleontológicas não apoiam a explicação evolutiva para a ecologia. As evidências tanto da ecologia moderna como da paleoecologia apoiam a idéia de planejamento em a natureza. Comparada com explicacões evolutivas, o planejamento é uma explicacão alternativa razoável para a ecologia e portanto uma evidência para a criação. Embora uma ecologia altamente integrada não possa dizer exatamente quando a criação ocorreu, ela sugere fortemente a necessidade de uma criação de curta duração. Se não fosse assim, serviços ecológicos essenciais poderiam faltar e os ecosistemas teriam fracassado. A Bíblia é enfática em colocar que Deus criou em seis dias, embora diga pouco sobre quando os eventos ocorreram. Se a criação ocorreu em poucos dias, os vastos períodos de tempo evolutivo seriam desnecessários. Muito tempo estaria disponível para as mudanças que são observadas, e portanto, a ecologia também é consistente com a hipótise de criação recente. NOTAS 1. Paley W. 1986. Natural theology. 12th edition. Charlottesville, VA: Lincoln-Rembrandt Publishing. 2. Dawkins R. 1990. The blind watchmaker: why the evidence of evolution reveals a universe without design. NY: W. W. Norton & Co. 332p. Textos sobre Criacionismo 3. Thomas L. 1980. On the uncertainty of science. Harvard Magazine 83(1):19-22. Citado por Roth AA. 1998. Origins: linking science and Scripture. Hagerstown, MD: Review and Herald Publishing Association, p. 333. 4. Polkinghorne J. 1996. The revival of natural theology. Chronicle of Higher Education 4(2):B9. 5. Behe M. 1996. Darwin's black box. NY: Free Press. 307p. 6. 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Para uma lista de vários sítios lagerstätten, ver a seguinte URL: http://www.museum.state.il.us/exhibits/mazon_creek/lagerstatten.html 16. Outros sítios semelhantes foram achadas em outras partes da British Columbia e no Idaho, Utah, Pennsylvania, Groenlândia, Austrália, e China. 17. Gould SJ. 1989. Wonderful life: the Burgess Shale and the nature of history. NY: W. W. Textos sobre Criacionismo Norton & Co. 347p. 18. Que vivem no fundo. 19. Whittington descreveu-os como "maravilhas estranhas" em: Briggs DEG, Whittington HB. 1985. Modes of life of the arthropods from the Burgess Shale, British Columbia. Transactions of the Royal Society of Edinburgh.76:149-160. 20. Briggs and Whittington (Note 19); also Morris C. 1986. The community structure of the Middle Cambrian phyllopod bed (Burgess Shale). Palaeontology 29:423-482. 21. Gould (Note 17), p 223-224. 22. Exemplos incluem a Fauna Tommotiana no cambriano inferior e a Fauna Ediacara logo abaixo do limite pré-cambriano. 23. Vestígios fósseis — pegadas e trilhas — foram encontradas sugerindo uma existência bentônica. 24. Roth AA. 1992. Life in the deep rocks and the deep fossil record. Origins 19(2):93-104. 146 | Textos extraidos do site da Sociedade Criacionista Brasileira Perguntas mais comuns sobre criacionismo e evolucionismo O chimpanzé e o genero humano Textos sobre Criacionismo O "site" da sociedade criacionista australiana Answers in Genesis publicou em 21 de maio passado uma resposta preliminar às reportagens divulgadas pela imprensa sobre a classificação do chimpanzé no gênero Homo. Dada a atualidade e a repercussão do tema, apresentamos a seguir a tradução da referida resposta, que certamente ajudará nossos leitores a formar uma idéia melhor sobre o que realmente está acontecendo. Os seres humanos e os chimpanzés deveriam ser reunidos na mesma classificação – o gênero Homo. Pelo menos é o que alegam pesquisadores em recente nota publicada nos Proceedings of the National Academy of Sciences, nos Estados Unidos da América do Norte. Os pesquisadores fundamentam sua alegação em descobertas suas de que os chimpanzés têm mais em comum com os seres humanos do que com qualquer outro primata – supostamente partilhando 99,4% de seu DNA. A agência de notícias Associated Press (AP) incumbiu-se de elaborar a notícia e divulgá-la. Esta é uma alegação surpreendente, especialmente porque a tendência entre os cientistas evolucionistas tem sido de diminuir aquele percentual de similaridade, de cerca de 98,5% para 95% (ver por exemplo Greater than 98% Chimp/human DNA similarity? Not any more). Então, por que esse súbito aumento? De acordo com o relato da AP, a equipe de pesquisadores, dirigida por Morris Goodman, na Faculdade de Medicina da Wayne State University (em Detroit, Michigan), "comparou 97 genes de seres humanos, chimpanzés, gorilas, orangotangos, macacos do Velho Mundo, e camundongos". Os pesquisadores descobriram que os genes de chimpanzés e bonobos (gênero Pan) têm mais em comum com os genes humanos do que com os de quaisquer outros primatas. Dificilmente esses dados seriam suficientes para sustentar uma conclusão tão radical. Os pesquisadores compararam 97 genes, porém o genoma humano (que foi mapeado em sua totalidade apenas de uma maneira muito "geral") tem pelo menos 30.000 genes – portanto eles compararam apenas 0,03% do total! Além disso, os genomas dos primatas não foram nem sequer mapeados de maneira aproximada. Assim, qualquer tentativa de comparar o DNA total atualmente é apenas uma conjectura!. Como, de fato, os chimpanzés são mais semelhantes aos seres humanos do que outros macacos ou símios, por que isso não se refletiria em alguns de seus genes? Não é surpresa que a anatomia similar refletisse genes similares, porém isso nada tem a ver com a origem das similaridades, seja no nível anatômico, seja no nível genético. A questão da ancestralidade comum versus projeto comum não se decide pelo grau de similaridade. Mesmo para os evolucionistas, a lógica do raciocínio apresentado levantaria suspeitas. Digamos que a similaridade genética total "real" entre seres humanos e chimpanzés fosse de 96%, apenas para argumentarmos (mesmo 98% corresponderia a milhares de genes diferentes, sendo que apenas uns poucos genes poderiam acarretar uma diferença crucial). Se decidíssemos comparar apenas alguns desses genes, poderíamos obter resultados para o grau de similaridade que variariam de 0% a 100%. A escolha dos genes a serem comparados inevitavelmente tem um caráter extremamente subjetivo. O argumento dos pesquisadores, neste caso, com relação a como os chimpanzés deveriam ser classificados, centrou-se na proximidade relativa, isto é, no fato de que, nos estudos deles, os chimpanzés mostraram-se mais próximos de nós do que dos outros grandes símios. Entretanto, aqui novamente uma escolha diferente de genes presumivelmente seria facilmente capaz de gerar uma configuração genética diferente, também relativa. E mesmo que isso não acontecesse, supondo que fosse mantida a mesma configuração, qual seria o grande problema? Até mesmo as técnicas rudimentares de hibridização usadas para a avaliação da similaridade hoje em dia (ver Human/chimp DNA similarity) têm levado à conclusão não surpreendente de que, de fato, os chimpanzés são geneticamente mais similares aos seres humanos do que, por exemplo, os gorilas. Assim, se os chimpanzés tivessem uma similaridade genética total maior com os seres humanos do que com os gorilas (o que é muito duvidoso com base em sua morfologia e na anatomia comparada, como mostrado pelas técnicas morfométricas computadorizadas do anatomista evolucionista Charles Oxnard) isso seria algo para apenas tomarmos nota. O problema é que, embora equívoco, o número de 99,4% chama a atenção. O público em geral é levado a interpretar as reportagens dos meios de comunicação como elas tendo dito que os chimpanzés são "99,4% humanos". Mesmo antes que esse percentual de similaridade total tivesse sido rebaixado para 95%, a sociedade criacionista australiana "Answers in Genesis" já havia ressaltado a falácia dessa lógica. Isso foi feito citando o professor evolucionista Steven Jones, que afirmara que as bananas compartilham 50% de seus genes com os seres humanos, mas que isso não torna as bananas 50% humanas! Muito pouco se conhece sobre a maneira pela qual os genes se expressam. Já é suficientemente claro que "nem todos os genes são iguais". Alguns genes, por exemplo, exercem um profundo controle sobre o desenvolvimento do ser vivo. Já de há muito sabe-se que o mesmo gene em criaturas diferentes pode ter funções diferentes. Essas limitações severas que pesam sobre a "comparação genética" raramente são discutidas quando comparações simplistas como as da notícia em questão são divulgadas. Usando o mesmo tipo de raciocínio dos pesquisadores considerados, poder-se-ia presumivelmente mostrar que, com base em 97 genes devidamente escolhidos, os seres humanos e as bananas constituem uma mesma espécie, pois seriam 100% idênticos! A propósito, muitos eminentes evolucionistas não se deixam convencer pelas alegações de seus colegas. Goodman citou uma proposta feita em 1963 de juntar taxonomicamente chimpanzés com gorilas, com base em sua similaridade, porém acredita que as similaridades entre chimpanzés e seres humanos, descobertas por ele, são muito mais convincentes. O antropólogo Richard J. Sherwood, da Universidade de Wisconsin (E.U.A.) observa que Goodman está na realidade procurando qualquer argumento que possa ser trazido a seu favor: "Ir em busca de uma referência histórica como esta, e então usá-la como único critério para sugerir uma enorme mudança na sistemática dos primatas, é difícil de ser levado a sério". A proposta de Goodman levará a alguma alteração na taxonomia que envolva primatas e seres humanos? Provavelmente não tão cedo. Goodman parece um pouco preocupado em seus comentários com a imprensa: "Se muitos se interessarem por isso, e julgarem que seja algo para ser considerado, poderá ser realizado um simpósio que aborde essa questão como tema principal e que conclua se a proposta é ou não razoável. Certamente eu a julgo razoável, senão não a teria feito". Pedimos ao biologista celular Dr. David DeWitt, que estará falando sobre "Similaridade do DNA entre o Neandertal e o Homem Moderno" na Conferência Creation 2003 a ser realizada em Cincinnati, Ohio, E.U.A., em 22-26 de maio de 2003, para comentar a notícia. Ele nos escreveu: "A classificação dos organismos baseia-se em similaridades e diferenças. Parece estranho colocar essas três espécies (chimpanzés, bonobos e seres humanos) no mesmo grupo em igualdade de posição. Uma criança pode reconhecer a similaridade entre chimpanzés e bonobos, bem como a diferença entre eles e os seres humanos. A proposta poderá também complicar a já problemática situação dos Neandertais, Australopitecíneos e outros alegados ancestrais humanos. Por exemplo, os cientistas evolucionistas não classificam os Australopitecíneos, como Lucy, no mesmo gênero que os seres humanos. Entretanto, isso é o que Goodman está propondo fazer com os chimpanzés. É irônico que esse estudo apontando para a similaridade entre chimpanzés e seres humanos apareça nos Proceedings of the National Academy of Science ao lado de um artigo que destaca as diferenças entre os Neandertais e os seres humanos modernos. A conclusão é que quando os cientistas procuram similaridades, eles as encontram, e quando procuram diferenças, também as encontram. Com base no número de diferenças nos pares de bases do DNA, alguns têm excluído os Neandertais como contribuintes para o mtDNA do pool gênico do Textos sobre Criacionismo | 147 148 | homem moderno. Entretanto, com base no número de similaridades, os chimpanzés e os bonobos deveriam ser incluídos no gênero Homo, juntamente com os seres humanos. Não se pode esquecer do fato de que esses critérios são arbitrários. Tipicamente, em estudos deste tipo, os cientistas só examinam substituições no DNA, embora inserções e deleções de nucleotídeos também ocorram As inserções e deleções usualmente são deixadas de lado na análise filogenética porque elas complicam o alinhamento das seqüências. Em artigo publicado também nos Proceedings of the National Academy of Science, Britten incluiu esses tipos de diferenças do DNA em sua análise e chegou a um percentual bastante inferior (aproximadamente 95%). Deixar de lado esses tipos de alterações no DNA leva a um grau de similaridade muito mais alto, porque ficam excluídas da análise as alterações mais comuns." Para encerrar: Existem e sempre existirão profundas diferenças entre seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, e outras criaturas. Isso não é uma questão de mera afirmação, mas também de observação e senso comum. Nenhum chimpanzé estará lendo ou discutindo essa reportagem, por uma razão especial. Nosso ancestral original, Adão, foi criado singularmente à imagem de Deus, sem nenhum ancestral animal. Referências 1. Schmid, R., Chimps may have closer links to humans, < Texto original no site Yahoo News>, 20 May 2003 2. Caramelli et al., Evidence for a genetic discontinuity between Nerandertals and 24,000year-old anatomically modern Europeans, PNAS 100(11)6593-6597. Textos sobre Criacionismo Dinossauros 1. Os dinossauros existiram? (1) Sim. Cerca de 285 tipos (gêneros) são conhecidos (2), com tamanhos variando desde o de um peru até 30 metros ou mais de comprimento. Aproximadamente a metade é representada por um único exemplar, enquanto 10 deles correspondem a pelo menos 40 exemplares. A maior diversidade de dinossauros é encontrada na parte superior das rochas do Cretáceo (Maastricianas). 2. Foram encontradas pegadas de seres humanos junto a pegadas de dinossauros? Não. Houve um anúncio de que tais pegadas foram encontradas juntas, no leito do rio Paluxy no Texas, mas esta afirmação foi abandonada por todos os criacionistas que têm treinamento científico. Aquelas pegadas de dinossauro são genuínas, mas as humanas não são (3). 3. Os cientistas crêem que as aves evoluíram dos dinossauros? Sim, a maioria dos cientistas crê nisso. As aves parecem ser mais semelhantes a certos dinossauros do que a qualquer outro grupo de animais. Certos fósseis, tais como o Archaeopteryx, têm algumas características que são típicas de dinossauros e outras que são típicas de aves. Embora não se tenha encontrado nenhum dinossauro que possa ser considerado o real ancestral das aves, os cientistas já encontraram alguns fósseis que apresentam características de réptil e de ave (4). Alguns cientistas têm apresentado evidências de que as aves não podem ter evoluído a partir de dinossauros (5). Uns poucos cientistas têm proposto que as aves evoluíram de um grupo de répteis conhecidos como tecodontes, em vez de dinossauros (6). Do ponto de vista criacionista, a presença de penas em um dinossauro não significa que as aves derivaram dos dinossauros. Todas as aves têm penas, porém isto não significa que todas as aves evoluíram a partir de um ancestral comum. Muitos grupos separados de aves e outros organismos com penas podem ter sido criados independentemente. | 149 Notas para as perguntas sobre dinossauros 1. Muitos livros já foram escritos sobre dinossauros. Alguns exemplos são listados a seguir. (a) Carpenter K. Currie P. J., 1990. Dinosaur systematics. Cambridge: Cambridge University Press; (b) Carpenter K., Hirsh K. F., Horner J. R.,. 1994. Dinosaur eggs and babies. Cambridge: Cambridge University Press; (c) Fastovsky D. E., Weishampel D. B. 1996. The evolution and extinction of the dinosaurs. Cambridge: Cambridge University Press (mais recente de todos listados aqui); (d) Lambert D. , and the Diagram Group. 1990. The dinosaur data book. NY: Avon Books (contém um interessante resumo da diversidade de dinossauros; a taxonomia necessita de revisão); (e) Lockley M., Hunt A. P. 1995. Dinosaur tracks. NY: Columbia University Press; (f) Weishampel D. B., Dodson P., Osmolska H., editors. 1990. The dinosauria. Berkeley: University of California Press (rico em informações). 2. Dodson P. 1990. Counting dinosaurs: how many kinds were there? Proceedings of the National Academy of Sciences (USA) 87:7608-7612. 3. Neufeld B. 1975. Dinosaur tracks and giant men. Origins 2:64-76. 4. Ver por exemplo: Fastovsky D. E., Weishampel D. B. 1996. The evolution and extinction of the dinosaurs. Cambridge: Cambridge University Press. 5. (a) Burke A. C., Feduccia A. 1997. Developmental patterns and the identification of homologies in the avian hand. Science 278:666-668; (b) Ruben J. A, et al. 1997. Lung structure and ventilation in theropod dinosaurs and early birds. Science 278:1267-1270. 6. (a) Martin L. D. 1991. Mesozoic birds and the origin of birds. In: Schultze H. P, Trueb L., editors. Origins of the higher groups of tetrapods. Ithaca and London: Textos sobre Criacionismo 4. O que os dinossauros comiam? Aparentemente, a maioria dos dinossauros era herbívora. Alguns podem ter se alimentado de pequenos animais se estivessem disponíveis. Alguns comiam peixes, enquanto outros provavelmente comiam animais maiores, tais como outros dinossauros (7). 5. Os dinossauros tinham sangue quente? Os cientistas não concordam quanto à resposta para esta pergunta. Os dinossauros provavelmente não tinham sangue quente como as aves e os mamíferos. Eles podem ter vivido em climas quentes e úmidos. Conseqüentemente não teriam dificuldade em se manter aquecidos. Os dinossauros maiores teriam conservado o calor mais eficientemente que os menores. O metabolismo deles pode ter sido mais rápido do que o dos répteis atuais (8). 6. Deus criou os dinossauros ou eles são o resultado do mal? Deus criou toda a vida, incluindo os ancestrais dos dinossauros. Entretanto, não sabemos quanto os animais podem ter mudado após a criação. Não podemos identificar nenhum fóssil como sendo uma forma individual criada originalmente. Os únicos fósseis que temos são de animais que viveram mais de mil anos após a criação. Não sabemos como eram as formas originalmente criadas. 7. Havia algum dinossauro na arca? Ninguém sabe a resposta a esta pergunta. Não há evidências de que tivessem estado na arca, e não há evidências de que existiram após o dilúvio. Tanto quanto podemos dizer, parece que eles foram destruídos durante o dilúvio. Houve relatos ocasionais de que supostos dinossauros viviam na Escócia, Zaire ou no oceano. Nenhum destes relatos foi confirmado e todos parecem ser falsos. 8. Que problemas não resolvidos sobre os dinossauros são de maior preocupação? Como podemos explicar o que parece ser ninhos de ovos de dinossauro e filhotes em sedimentos que acreditamos terem sido provavelmente depositados pelo dilúvio? (9) Por que não encontramos fósseis de dinossauros misturados com fósseis de mamíferos que vivem hoje? Como pode ter o homem sobrevivido com tais poderosos animais ao seu lado? 150 | Comstock Publishing Associates, Cornell University Press, p 485-540; (b) Tarsitano S. 1991. Ibid, p 541-576. 7. Ver por exemplo: (a) Kennedy M. E., 1994. Paleobiology of dinosaurs. Geoscience Reports No. 17. Loma Linda, CA: Geoscience Research Institute, Loma Linda, CA.; (b) Lamert D., and the Diagram Group. 1990. The dinosaur data book. NY: Avon Books. 8. Ver: Ruben J. A., et al. 1996. The metabolic status of some late Cretaceous dinosaurs. Science 273:1204-1207. 9. Alguns destes depósitos foram transportados e não são ninhos verdadeiros. Ver: Kennedy, E. G. and Spencer L.. 1995. An unusual occurrence of dinosaur eggshell fragments in a storm surge deposit, Lamargue Group, Patagonia, Argentina. Geological Society of America, Abstracts with Programs, A-318. Textos sobre Criacionismo Fosseis humanos 1. Os homens das cavernas realmente existiram? Sim. Houve seres humanos que viveram em cavernas, e pode haver alguns que ainda moram. Isto não significa que eles sejam semelhantes às figuras vistas em caricaturas de estórias em quadrinhos que você possa ter visto. Acredita-se que o “Homem de Cro-Magnon” pode ter sido um homem das cavernas, porque se crê que ele seja responsável por algumas pinturas notáveis em cavernas na França e áreas próximas. O “Homem de Cro-Magnon” é essencialmente o mesmo que os europeus modernos, e pode representar os europeus pré-históricos (1). 2. Existem realmente fósseis que se parecem com homens-macacos? Já foram encontrados fósseis que parecem ter uma mistura de características humanas e de macacos. Há vários tipos destes, tais como o “Homem de Java”, o “Homem de Pequim”, e vários tipos da África conhecidos como "erectinos". Estes parecem ter sido humanos, mas de uma forma diferente. Para interpretações criacionistas e evolucionistas destes fósseis, veja as referências (2). 3. Os homens de Neanderthal eram humanos verdadeiros? A maioria dos criacionistas acredita nisso, mas a questão é controversa (3). O “Homem de Neanderthal” provavelmente viveu em cavernas, mas eles não eram homens-macacos. O crânio tinha um formato diferente da maioria dos homens modernos, mas o espaço do cérebro era maior. Eles aparentemente tinham cultura e eram provavelmente muito inteligentes. Os “Homens de Neanderthal” tinham alguns traços singulares, mas nada que pudesse ligá-los aos macacos de algum modo particular. Algumas das diferenças em seu crânio podem ter sido parcialmente produzidas como resposta a um clima severo e a alimentos duros à mastigação. Aparentemente tinham uma constituição física mais robusta do que as pessoas que vivem hoje (4). O recente seqüenciamento do DNA mitocondrial do osso de um “Homem de Neanderthal” indica que o DNA dos Neanderthais é bastante diferente do DNA de seres humanos atuais(5). Resta ver se pesquisas futuras irão mudar ou dar apoio a este quadro. 4. O que são fósseis humanos "arcaicos"? Há um grupo de material esquelético que não se encaixa facilmente em nenhuma outra categoria, e são referidos tipicamente como "Homo sapiens arcaico”. Eles têm geralmente cristas orbitais salientes, como humanos "erectinos" e "arcaicos". Eles têm espaço cerebral maior do que os erectinos, e não apresentam a saliência bem marcada (torus occipital) na parte de trás do crânio que os “Homens de Neanderthal” têm(6). 5. Que se pode dizer dos Australopithecus? Os Australopithecus foram provavelmente um tipo extinto de macaco (7). Eles tinham algumas similaridades com os seres humanos, mas tinham um cérebro de tamanho aproximado ao de um chimpanzé, e alguns aspectos que sugerem que viviam em árvores. Aparentemente, podiam andar eretos, mas há alguma evidência de que eles teriam certa dificuldade para andar assim (8). 6. Há alguma seqüência evolutiva que vai dos macacos ao homem? Há vários tipos de fósseis que possuem uma mistura de características humanas e de macacos. Têm sido feitas tentativas de organizar estes fósseis em uma seqüência que vai do menor número para o maior número de características humanas. Australopitecíneos têm menos características humanas, seguidos pelos "erectinos”, pelo grupo "arcaicos", e então pelos Neanderthais e Cro-Magnons. A seqüência parece convincente para muitas pessoas, e é interpretada como uma linhagem evolutiva (9). Os criacionistas não aceitam esta interpretação, apontando que os detalhes não se encaixam bem, e a série não é verdadeiramente uma seqüência de ancestrais-descendentes (10). 7. Qual é a explicação criacionista para estes fósseis que têm uma mistura de características humanas e de macacos? A resposta a esta pergunta está perdida na antigüidade. Os fósseis referidos são primariamente os "erectinos" e os "australopitecíneos". Aqui está uma resposta possível: os erectinos parecem ter sido humanos. Talvez tenham sofrido os efeitos de um intenso endocruzamento genético e um estilo de vida pobre. Os australopitecíneos podem ter sido um tipo extinto de macaco. Parecem não ser relacionados com nenhuma espécie viva atual. 8. O que se pode dizer dos gigantes humanos que viveram antes do dilúvio? Algum já foi encontrado? Não. Nenhum fóssil humano gigante que tenha vivido antes do dilúvio foi encontrado. Nosso único conhecimento sobre eles vem através de revelação sobrenatural. 9. Como as raças humanas se originaram? Alguma delas foi marcada por uma maldição? Todos os seres humanos estão vivendo sob a maldição do pecado, e é duvidoso de que isto se aplique mais a alguma raça do que a outra. As raças podem se diferenciar quando pequenos grupos são isolados. Além da distância, a linguagem é provavelmente o maior fator de isolamento. Quando as linguagens foram confundidas em Babel, provavelmente pequenos grupos se dispersaram para vários lugares, produzindo grupos isolados que se diferenciaram em raças distintas. Alguns aspectos raciais podem ser o resultado do fato de que certas características fisiológicas são vantajosas em determinados ambientes. A cor da pele é um exemplo. A luz solar é necessária para produzir vitamina D. Luz solar em excesso aumenta o risco de câncer de pele. A melanina protege os que vivem em climas tropicais do câncer da pele causado por excesso de luz solar. Isto explica porque pessoas que vivem nos trópicos têm tipicamente pele mais escura. Pessoas que vivem em latitudes mais altas não necessitam de muita proteção contra o sol e têm pele mais clara. A pele escura pode ser desvantajosa em latitudes altas se a quantidade de luz solar for apenas suficiente para a produção de vitamina D. 10. Que problemas não resolvidos sobre fósseis humanos são de maior preocupação? Por que não são encontrados fósseis de homens gigantes? Por que não são encontrados fósseis humanos que pareçam ter sido enterrados pelo dilúvio? Qual é a explicação para os fósseis que têm características de homem e de macaco? Notas para as perguntas sobre fósseis humanos 1. Ver por exemplo Prideaux, Tom.1973. Cro Magnon Man. New York: Time-Life Books. 2. Para uma interpretação criacionista, ver: Lubenow M. L., 1992. Bones of contention. Grand Rapids, MI:, Baker Books; para uma interpretação evolucionista, ver: Rightmire G. P., 1981. Patterns in the evolution of Homo erectus. Paleobiology 7:241-246. Textos sobre Criacionismo | 151 152 | 3. Stringer C., Gambel C., 1993. In search of the Neanderthals. NY: Thames and Hudson. 4. Ruff C.B., Trinkaus E., Holliday T. W.,. 1997. Body mass and encephalization in Pleistocene Homo. Nature 387:173-176. 5. Krings M., et al. 1997. Neanderthal DNA sequences and the origin of modern humans. Cell 90:19-30. 6. Uma discussão recente sobre humanos arcaicos está em: Tattersall I. 1997. Out of Africa again ... and again? Scientific American 276(4):60-67. 7. Hartwig-Scherer S, Martin R. D. 1991. Was "Lucy" more human than her "child"? Observations on early hominid postcranial skeletons. Journal of Human Evolution 21:439-449. 8. Spoor F., et al. 1994. Implications of early hominid labyrinthine morphology for evolution of human bipedal locomotion. Nature 369:645-648. 9. Uma coleção de alguns trabalhos importantes neste campo é encontrada em: Ciochon R. L., Fleagle J. G., editors. 1993. The human evolution source book. Englewood Cliffs, N. J:, Prentice-Hall. 10. Kennedy E. 1996. A busca dos ancestrais de Adão. Diálogo 8(1):12-15, 34. Um resumo sobre fósseis humanos feito por um criacionista está em: Lubenow M. L., 1992. Bones of contention. Grand Rapids, M.I. Baker Books. Textos sobre Criacionismo Mudanças nas especies 1. O que são as "espécies do livro de Gênesis"? A Bíblia não diz nada acerca das "espécies do livro de Gênesis". Nela a expressão "segundo a sua espécie" é usada para descrever a variedade de plantas e animais que Deus criou (Gênesis 1), ou aquelas que foram salvas na arca (Gênesis 6:20), ou aquelas que são limpas ou impuras para se comer (Levíticos 11). O termo "espécies do livro de Gênesis" foi proposto por criacionistas para se referir à idéia de que Deus criou originalmente muitos grupos separados de indivíduos que podiam cruzar entre si, dos quais resultou a diversidade de plantas e animais que vivem hoje (1). 2. Deus mandou os animais se reproduzirem apenas segundo a sua espécie? Não, não há um tal mandamento. Procure isto na Bíblia, se não acreditar. 3. Como explicamos a existência de predadores e criaturas venenosas? A Bíblia não diz como se originaram, mas afirma que a natureza mudou devido ao pecado de Adão (Gênesis 3:14, 18; Romanos 8:20). Aparentemente, Adão foi criado para ser um dos "filhos de Deus" (Lucas 3:38; Jó 1:6). Devido ao seu pecado, Adão perdeu o controle do mundo para Satanás (João 12:31; Jó 1:6,7; Jó 2:1,2). Portanto, a predação e outros males são responsabilidade de Satanás. Quando o mundo for restaurado, estas coisas não mais existirão (Isaías 11:6-9; Isaías 65:25; Apocalipse 21:4; Apocalipse 22:3). 4. Há algum limite para a mudança nas espécies? A Bíblia não aborda este ponto, mas a ciência mostra que as variações são limitadas. Não existe um sistema para quantificar diferenças morfológicas entre espécies, de forma que os limites não podem ser quantificados. Entretanto, milhares de experimentos têm sido feitos por criadores e geneticistas e muita informação já foi acumulada. As espécies têm uma grande capacidade para variação e podem produzir novas variedades e espécies, mas parece implausível que este tipo de variação possa se acumular para a produção de novos órgãos ou novos planos corporais. Por outro lado, a existência de predadores e parasitas sugere que algumas espécies passaram por uma considerável mudança. Ainda não foi completamente demonstrado o mecanismo destas mudanças (2). | 153 Notas para as perguntas sobre mudanças nas espécies 1. Marsh F. L. 1947. Evolution, creation and science. 2d edition. Washington DC: Review and Herald Publishing Assn. Nas páginas 174-175, é feita referência ao termo "baramin", um termo cunhado por Marsh anteriormente (ver a nota de Marsh na pág. 174). 2. Ver: (a) Brand L. R., Gibson L. J. 1993. An interventionist theory of natural selection and biological change within limits. Origins 20:60-82; (b) Lester L. P., Bohlin R. G. 1984. The natural limits to biological change. Grand Rapids, MI: Zondervan. 3. Van Valen, L. 1973. Are categories in phyla comparable? Taxon 22:333-359. 4. Os pseudogenes proporcionam um exemplo importante. Para um ponto de vista evolucionista, ver: Max E. 1987. Plagiarized error and molecular genetics. Creation/Evolution 6(9):34-45. Para reações contrárias, ver: (a) Gilbert G. 1992. In search of Genesis and the pseudogene. Spectrum 22(4):10-21; (b) Gibson L. J. 1994. Pseudogenes and origins. Origins 21:91-108. 5. Os pseudogenes fornecem um exemplo importante. Ver um ponto de vista evolucionista em: Max E. 1987. Plagiarized errors and molecular genetics. Creation/Evolution 6(9):34-45. Para uma opinião contrastante, ver: (a) Gilbert G. Textos sobre Criacionismo 5. Qual é a categoria taxonômica que mais se aproxima da categoria criada originalmente? Pode não haver nenhuma resposta universal para esta pergunta. Unidades taxonômicas, tais como gênero, família, ordem, etc., são definidas subjetivamente. Não há uma medida quantitativa que possa servir para definir diferenças morfológicas entre espécies. Duas famílias de estrelas-do-mar são tão semelhantes uma à outra quanto duas famílias de répteis ou duas famílias de algas? (3) Se alguém quiser uma estimativa, parece que família pode ser uma boa aproximação para alguns grupos. Entretanto, isto deve ser considerado apenas uma estimativa. Simplesmente, não sabemos a resposta. 6. As espécies podem mudar com rapidez suficiente para produzir a biodiversidade atual num tempo relativamente curto? Não sabemos quanta mudança é requerida para explicar a presente biodiversidade porque desconhecemos o ponto de partida. Os cientistas sabem que as espécies podem mudar com muita rapidez (4). A maioria das mudanças são pequenas, como as que podem distinguir uma espécie ou um gênero. Se as mudanças forem originadas por agentes inteligentes, fica difícil predizer os resultados. 7. Como explicamos as semelhanças moleculares e genéticas de seres humanos com os chimpanzés? Não sabemos exatamente como as moléculas de DNA regulam a construção de corpos, mas acreditamos que há uma relação entre as seqüências de DNA e a forma e funções do corpo. Se for assim, deve-se esperar que corpos similares tenham seqüências de DNA similares. Portanto, pode-se esperar que seres humanos e chimpanzés tenham entre si uma similaridade de DNA maior do que com pinheiros, por exemplo. Entretanto, as similaridades entre seres humanos e chimpanzés são notáveis, e é compreensível que os evolucionistas as expliquem como o resultado de ancestralidade comum (5). De fato, as semelhanças no DNA são tão grandes que se pergunta por que as duas espécies são tão diferentes. O que os faz diferentes? Não sabemos. A menos que apreendamos como as diferenças entre as espécies são produzidas, provavelmente não entenderemos o significado das similaridades entre seres humanos e chimpanzés. 8. Que problemas não resolvidos sobre mudanças nas espécies são de maior preocupação? Como eram os animais originalmente criados? Por que os seres humanos são tão semelhantes a outros animais, especialmente aos macacos? 154 | 1992. In search of Genesis and the pseudogene. Spectrum 22(4):10-21; (b) Gibson L. J. 1994. Pseudogenes and origins. Origins 21:91-108 Textos sobre Criacionismo Origem da vida 1. Os cientistas criaram vida? Os cientistas têm produzido alguns dos compostos químicos mais simples das células vivas, mas não podem combiná-los para produzir uma célula viva. A tecnologia para fazer isto não está disponível e provavelmente nunca estará. Os cientistas não conseguem nem mesmo reviver uma célula morta, embora esta ainda contenha os sistemas e substâncias químicas necessárias. 2. A vida poderia ter-se iniciado por acaso em uma "sopa primordial"? Não. A vida depende de muitas condições não naturais. Estas incluem a produção de proteínas e ácidos nucléicos, que não são produzidos na ausência da vida. A vida é baseada em sistemas químicos em desequilíbrio termodinâmico, mas as reações químicas na natureza buscam espontaneamente o equilíbrio. Além disto, não há evidência geológica de que tenha havido uma "sopa primordial" em alguma época (1). 3. O que pode ser dito sobre os relatórios recentes de vida em Marte? Não foi encontrada vida em Marte. Os relatórios de possível vida em Marte são baseados em certos minerais encontrados em um meteorito achado na Antártica (2). Acredita-se que o meteorito tenha vindo de Marte, e que os minerais possivelmente se formaram pela ação de bactérias enquanto a rocha ainda estava em Marte. Esta explicação requer que bactérias semelhantes às da Terra estivessem presentes em Marte, produzindo minerais no interior desta rocha. Então, um asteróide ou objeto similar atingiu Marte com força suficiente para lançar a rocha no espaço, por onde ela vagou durante algum tempo. Finalmente, a rocha encontrou a Terra, passou através da atmosfera e caiu na Antártica, onde foi encontrada por uma equipe que anualmente procura meteoritos. Provavelmente, a maioria dos cientistas são cépticos quanto às declarações de que os minerais foram produzidos por organismos viventes (3). A NASA desqualificou a rocha como fóssil. A busca por evidências de vida em Marte continua. Seria pouco provável que qualquer organismo vivo pudesse sobreviver a tal viagem, e não mais se tem afirmado que a rocha contenha algum fóssil de bactéria. O ceticismo (4) inicial sobre essas afirmativas parece ter sido justificado por um registro de que a maioria das moléculas orgânicas se originou de contaminação com material da Terra. 4. Como o desenvolvimento de Teorias do Caos e da Complexidade tem afetado nossa compreensão sobre o problema da origem da vida? Estas teorias não produziram nenhuma mudança radical. A teoria da complexidade tem gerado muita discussão e especulação que não mudaram a natureza do problema. A maioria dos trabalhos tem sido feita com programas de computador, que não revelam nada sobre as origens de proteínas, ácidos nucléicos ou células vivas (5). 5. Avalie a teoria de que a vida se iniciou sobre superfícies minerais ou de argila no oceano, talvez em torno de fontes hidrotermais. Várias conjecturas têm sido propostas em relação ao desenvolvimento da vida sobre argila ou superfícies minerais. Entretanto, estas não têm nenhum apoio empírico e não há nenhuma evidência experimental significativa para avaliar (6). As fontes hidrotermais apresentam um sério problema para estas teorias, porque a água que sai delas é esterilizada, destruindo qualquer vida que possa estar presente (7). A maioria dos compostos químicos necessários para a vida são muito sensíveis ao calor. | 155 6. Que problemas não resolvidos sobre a origem da vida são de maior preocupação? Os dados científicos a respeito da origem da vida são consistentes com a teoria criacionista. Naturalmente, todos os estudiosos da natureza gostariam de saber mais sobre como a vida funciona. Notas para as perguntas sobre a origem da vida 1. (a) Javor G. T. 1987. Origin of life: a look at late 20th-century thinking. Origins 14:7-20; (b) Thaxton C. B., Bradley W. L.., Olsen R. L.. 1984. The mystery of life origin: Reassessing current theories. NY: Philosophical Library. 2. McKay D. S., et al. 1996. Search for past life on Mars: possible relic biogenic activity in Martian meteorite ALH84001. Science 273:924-930. 3. Ver: (a) Bradley J. P., Harvey R. P., MSween H. Y. 1997. No "nanofossils" in martian meteorite. Nature 390:454; (b) Kerr R. A. 1997. Martian "microbes" cover their tracks. Science 276:30-31; (c) Yockey H. P. 1997. Life on Mars? Did it come from Earth? Origins and Design 18(1):10-15. 4. Jull A. J. T., Courtney C., Jeffrey D. A., Beck J. W. 1998. Isotopic evidence for a terrestrial source of organic compounds found in Martian meteorites Allan Hills 84001 and Elephant Moraine 79001. Science 279:366-369. Kerr R. A. 1998. Requiem for life on Mars? Support for microbes fades. Science 282:1398-1400. 5. Ver Horgan J. 1995. From complexity to perplexity. Scientific American 272(1):104-109. 6. Ver Javor G. T. 1989. A new attempt to understand the origin of life: the theory of surface-metabolism. Origins 16:40-44. 7. Miller S. L., Bada J. L. 1988. Submarine hot springs and the origin of life. Nature 334:609-611. Moulton, V. et al. 2000. RNA folding argues against a hot-star origin of life. Journal of Molecular Evolution 51:416-421. 1. Explique como os cientistas obtêm idades de milhões de anos pelo método do carbono 14. Isto não é feito. A datação por carbono-14 não pode dar resultados além de cerca de 70.000 anos. Idades de milhões de anos são baseadas em outros métodos inorgânicos. 2. Como funciona a datação por carbono-14? A datação por carbono-14 (C-14) é baseada no fato de que o C-14 é radioativo e se desintegra produzindo nitrogênio-14. Os seres vivos recebem o C-14 por meio do alimento e água, mantendo um nível constante de C-14 no corpo. Quando morrem, o C-14 que se desintegra não é mais substituído, assim o nível de C-14 diminui. Quanto maior o período depois da morte, menos C-14 permanece no corpo. A concentração do C-14 em uma amostra pode ser medida com precisão e comparada com a quantidade de carbono-12 não radioativo. Com estas medidas pode-se calcular o tempo necessário para que o nível inicial do C-14 existente no corpo antes de sua morte pudesse chegar a este novo nível medido. Esta será a "idade C-14" da amostra (1). 3. Quão precisa é a datação por carbono-14? As idades determinadas por carbono-14 (C-14) parecem ser precisas sempre que podem ser comparadas com relatos históricos. Algumas exceções são conhecidas, tais como quando os organismos não recebem a quantidade de C-14 igual à média do ambiente, mas estes casos geralmente são facilmente explicados. Além de cerca de 1500 A.C., os registros históricos existentes são escassos e a contagem de anéis de árvores pode ser usada para calibrar e corrigir as idades por C-14 (2). Textos sobre Criacionismo Datação por carbono 14 156 | Textos sobre Criacionismo A parte experimental da datação por C-14 consiste em medir a proporção de carbono-14 e carbono-12, e algumas vezes do C-13, em uma amostra. Isto pode ser feito com uma boa precisão, embora seja difícil trabalhar com algumas amostras. Além disso, a precisão do resultado depende da confiabilidade dos pressupostos usados na interpretação das medidas. 4. Quais são os pressupostos usados na determinação de idades por carbono-14? A interpretação dos resultados é baseada em vários pressupostos. Aceita-se que a taxa de decaimento radioativo do carbono-14 não tem mudado ao longo dos anos. Não há nenhuma evidência contra este pressuposto, e ele parece ser confiável. Supõe-se também que não haja perda ou contaminação de C-14 na amostra. A confiabilidade deste pressuposto provavelmente depende do ambiente em que a amostra se encontra. Uma amostra isolada, relativamente à troca de átomos com o ambiente, terá mais probabilidade de evitar a contaminação ou perda do que uma amostra que se encontre freqüentemente exposta ao escoamento de água. Freqüentemente são identificados erros cometidos quanto a este pressuposto. Outros três pressupostos são feitos ao aplicar o método (3). Primeiro, a taxa de produção do carbono-14 deve ter sido relativamente constante. Sabe-se que ocorreram variações, mas acredita-se que se pode fazer a correção devida. Segundo, as quantidades de carbono-14 presentes em reservatórios geofísicos devem ser constantes. Os reservatórios geofísicos incluem a atmosfera, os oceanos, a biosfera e os sedimentos. Este pressuposto tem sido questionado recentemente (4). Terceiro, as várias taxas de fluxo do carbono-14 entre os reservatórios geofísicos devem ser constantes, e o tempo de residência do carbono-14 nos vários reservatórios deve ser curto em relação à sua meia-vida. Se estas três condições forem satisfeitas, o resultado é que a concentração inicial de C-14 na amostra pode ser estimada. Este resultado parece funcionar bem quando pode ser verificado. Entretanto, seria completamente invalidado para material que estivesse vivo antes do dilúvio. O dilúvio deve ter alterado drasticamente a concentração do C-14. Isto porque o C14 antediluviano estaria grandemente diluído em grandes quantidades de C-12 que agora estão enterradas na forma de carvão mineral e petróleo (5). Isto reduziria grandemente a concentração de C-14 antes do dilúvio, fazendo com que uma amostra da época parecesse muito mais velha do que é realmente. De acordo com esta interpretação, se plantas que viveram antes do dilúvio fossem datadas por C14 usando os padrões atuais, pareceriam muito mais antigas mesmo quando ainda vivas. Isto significa que aqueles que crêem em um dilúvio mundial devem esperar encontrar idades muito grandes para organismos que viveram antes do dilúvio. O mesmo se aplicaria a plantas e animais que viveram logo após o dilúvio, antes que o novo nível de concentração de C-14 fosse atingido. Notas para as perguntas sobre datação por carbono-14 1. O método está descrito com maiores detalhes em: Newcomb R. C. 1990. Absolute age determination. Berlin and NY: Springer-Verlag, p 162-180. 2. (a) Ver o capítulo 26 em Coffin H. G, Brown R. H. 1983. Origin by design. Hagerstown, MD: Review and Herald Publ. Assn.; (b) Brown R. H. 1988. The upper limit of C-14 age? Origins 15:39-43; (c) Brown R. H. 1994. Compatibility of biblical chronology with C-14 age. Origins 21:66-79; (d) Giem PAL. 1997. Scientific theology. Riverside, CA: La Sierra University Press, p. 175-187; (e) O uso de anéis de árvores para calibrar datações por carbono 14 é criticado por: Brown R. H. 1995. Can tree rings be used to calibrate radiocarbon dates? Origins 22:47-52; ver também Radiocarbon, volume 34(1), (1993), que trata da calibração da datação por carbono 14. 3. Ver p. 158 no livro de Newcomb na nota 1. 4. (a) Hesshaimer V., Helmann M., Levin I. 1994. Radiocarbon evidence for a smaller oceanic carbon dioxide sink than previously believed. Nature 370:201-203; | 157 (b) Joos F. 1994. Nature 370:181-182; (c) Ver os comentários de Brown R. H. 1994. Compatibility of biblical chronology with C-14 age. Origins 21:66-79. 5. Post W. M., et al. 1990. The global carbon cycle. American Scientist 78:310326. De acordo com estes autores, o carbono total em trânsito na biosfera (não carbonato) é cerca de 40.000-45.000 gigatons. A quantidade de carbono nos combustíveis fósseis é estimada em 6.000 gigatons e a quantidade de querógenos (orgânicos) em sedimentos é cerca de 15 milhões de gigatons. Isto dá uma proporção de 300:1 para o carbono antediluviano na biosfera em relação ao carbono atual na biosfera. Este valor difere do valor de 143:1 buscado por Brown, por apenas um fator dois (Origins 15:39-43, Ver a nota 2 para a referência completa). 1. Qual é a idade da Terra? A maioria dos cientistas crê que a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos. Este valor é baseado em datação radiométrica. Muitos criacionistas crêem que a Terra tenha cerca de 6.000 a 10.000 anos. Estes valores são baseados nas cronologias do Gênesis. Alguns criacionistas crêem que esta questão não é muito importante; talvez os minerais tenham sido criados numa ocasião, e a vida em outra. A Bíblia não dá uma idade para a Terra, e nenhuma conclusão teológica é baseada na idade da Terra, de forma que esta questão pode não ser tão importante como algumas outras. 2. Por que os cientistas pensam que a Terra tem bilhões de anos? Estes valores são o resultado de técnicas de datação radiométrica que são aplicadas às rochas. O mais popular destes métodos é provavelmente o do potássio-argônio, embora haja vários outros, tais como o urânio-chumbo, rubídioestrôncio, etc. (1). Alguns átomos de potássio são radioativos e se transformam em argônio, um gás inerte. O material radioativo (potássio-40) é chamado de material pai; o produto (argônio-40) é chamado de material filho. À medida que o tempo passa, a quantidade de material pai (potássio-40) diminui enquanto a quantidade de material filho (argônio-40) aumenta. As idades determinadas por potássio-argônio são calculadas a partir da proporção entre argônio e potássio. Esta proporção fica maior com o decorrer do tempo. Se a quantidade de potássio-40 fica muito pequena para ser detectada, o método não pode mais ser usado para calcular a idade de uma rocha. As quantidades de potássio-40 e argônio-40 podem ser medidas com precisão, mas a exatidão da idade depende da confiabilidade de três premissas principais: taxa de decaimento constante, sistema fechado, e concentração inicial. A hipótese da taxa de decaimento constante parece válida; há pouca evidência já observada contra ela. A hipótese do sistema fechado é válida na maior parte das vezes (o método não é aplicado a rochas que mostram evidente alteração química), mas há sempre necessidade de cautela. A hipótese da concentração inicial é a parte mais fraca do método de cálculo de idades radiométricas. São feitas tentativas para estimar a concentração inicial da forma mais razoável possível, mas não há meio de ter certeza de que as estimativas estejam corretas. Não se pode voltar no tempo e examinar a amostra de rocha logo que foi formada. Os criacionistas que defendem uma idade curta para a Terra suspeitam que haja problemas com a hipótese do sistema fechado e com a hipótese da concentração inicial. 3. O que significa meia-vida? Meia-vida é o tempo necessário para que metade da amostra de um material radioativo pai se transforme em material filho. Para o potássio-40, a meia-vida determinada é de cerca de 1,3 bilhões de anos. Isto significa que se iniciarmos com 1000 átomos de potássio-40, 500 deles terão se transformado em argônio-40 após Textos sobre Criacionismo Idade da Terra 158 | Textos sobre Criacionismo 1,3 bilhões de anos. Após outros 1,3 bilhões de anos, apenas 250 deles terão restado, e terão se formado 750 átomos de argônio-40. Uma terceira meia vida irá reduzir o potássio-40 a 125 átomos, com a formação de um total de 875 átomos de argônio-40. Neste ponto, a proporção de uma parte de potássio-40 para 7 partes de argônio-40 iria indicar uma idade de cerca de 3,9 bilhões de anos, que é aproximadamente a idade radiométrica das "mais velhas" rochas conhecidas na Terra.Os detalhes técnicos complicam os cálculos na prática, mas este exemplo ilustra os princípios no qual o método é baseado. 4. Como os criacionistas explicam idades radiométricas de muitos milhões de anos? Os criacionistas não têm uma explicação adequada, mas já foram propostas algumas possibilidades (2). A primeira possibilidade é que as rochas da Terra sejam muito antigas porque o planeta foi formado bem antes de a vida ter sido criada nela. Esta teoria propõe que o Gênesis se refere apenas à criação da vida no planeta e não à criação do planeta em si. Esta é chamada de "Hipótese de Dois Estágios da Criação". A segunda hipótese é que Deus tenha criado um planeta maduro, com árvores crescidas, animais adultos e seres humanos adultos também. Portanto, é razoável que as rochas tenham sido criadas para aparentarem idade também. Esta é conhecida como a "Hipótese da Criação da Terra Madura". Uma terceira possibilidade é a de que haja alguma razão funcional para que certos materiais radioativos não devessem ser abundantes, para não acarretar danos sobre os organismos vivos. Isso implica que as quantidades reduzidas de átomos pais radioativos fazem parte do planejamento intencional do Criador. 5. Que problemas não resolvidos sobre a idade da Terra são de maior preocupação? A questão mais difícil é provavelmente a seqüência aparente de idades radiométricas, dando idades mais antigas para as camadas inferiores da coluna geológica e idades mais jovens para camadas superiores. Outras questões são: por que a datação radiométrica produz sistematicamente idades muito maiores do que as sugeridas pelo relato bíblico; a razão para vestígios de atividade na coluna geológica; e explicação para as longas séries de camadas de gelo polar. Notas para as perguntas sobre a idade da Terra 1. Ver: (a) Newcomb R. C. 1990. Absolute age determination. Berlin and NY: Springer-Verlag; (b) Faure G. 1986. Principles of isotope geology. 2a edição. NY: John Wiley and Sons. 2. Ver: (a) Brown R. H. 1983. How solid is a radioisotope age of a rock? Origins 10:93-95; (b) Brown R. H. 1977. Radiometric age and the traditional HebrewChristian view of time. Origins 4:68-75; (c) Giem P. A. L.. 1997. Scientific theology. Riverside, CA: La Sierra University Press, p 116-136; (d) Brown R. H. 1996. Radioisotope age, Part 1. Geoscience Reports No. 20; (e) Webster C. L. 1996. Radioisotope age, Part 2. Geoscience Reports No 21; (f) Clausen B. L. 1997. Radioisotope age, Part 3. Geoscience Reports Nº 22. Loma Linda, CA: Geoscience Research Institute. Criação 1. O que foi criado no primeiro dia da semana da criação? Deus disse, "Haja luz". (Gênesis 1:3). A Terra era escura anteriormente (Gênesis 1:2). No primeiro dia Deus fez com que a Terra fosse iluminada. Isto não significa que a luz não existisse antes disso porque a presença de Deus é associada com a luz (Apocalipse 22:5). Não é necessário supor que o fenômeno físico da luz tenha sido criado naquela ocasião, mas a Terra anteriormente escura foi iluminada. Uma possível explicação para a luz é que Deus pessoalmente e fisicamente veio a esta Terra, sendo a causa da iluminação. Se for assim, como podia se tornar escura de novo ao anoitecer? Talvez a rotação da Terra tivesse produzido o dia e a noite nos hemisférios da Terra, assim como acontece hoje. Outra explicação possível para a luz é que o sistema solar já existisse antes da semana da criação, mas a luz era impedida de chegar à superfície da Terra. A Terra desta época pode ser comparada com Vênus, onde uma atmosfera espessa obscurece a luz do sol. No primeiro dia, a atmosfera foi clareada o suficiente para permitir que a luz atingisse a superfície da Terra (1). 2. O que foi criado no quarto dia da semana da criação? Disse também Deus: "Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; ..." Dois grandes luzeiros são descritos, um para governar o dia e um para governar a noite. Estas luzes apareceram no quarto dia da semana da criação. Não são apresentados os detalhes. Eles podem ter sido criados naquele dia. Se assim for, a luz dos primeiros três dias pode ter sido provida pela presença de Deus. Se nosso sistema solar já existia antes da semana da criação, como alguns criacionistas acreditam que seja possível, então aparentemente o próprio sol não era visível até o quarto dia. Isto poderia ser explicado devido a uma cobertura atmosférica de nuvens, permitindo que a luz difusa alcançasse a superfície, mas não revelando a fonte da luz. No quarto dia, talvez a atmosfera tenha sido clareada para permitir que o sol e a lua fossem visíveis pela primeira vez. Outra interpretação possível é que o sol e a lua existissem antes dessa época, mas no quarto dia foram "designados" para funções específicas relativas à Terra. A frase "e fez também as estrelas" não requer que Deus tenha criado as estrelas ex-nihilo no quarto dia da criação. Alguns criacionistas têm defendido que todo universo, ou pelo menos a porção visível, foi criada no quarto dia. O texto permite esta leitura, mas não a exige. Esta é apenas uma frase parentética na qual Deus é identificado como o criador das estrelas sem identificar quando isto foi realizado. O texto parece permitir a interpretação de que as estrelas já existiam anteriormente, talvez com planetas habitados por outros seres inteligentes criados por Deus (2). 3. Por que a seqüência dos dias da criação não se ajusta à seqüência do registro fóssil? Porque o registro fóssil foi produzido após a semana da criação. Não havia nenhum processo de fossilização entre os dias da criação. O registro fóssil é um registro da morte e não da criação da vida. 4. Podem os dias da criação realmente representar períodos de mil anos cada, como sugerido em II Pedro 3:8? Fazer os "dias" da criação iguais a mil anos não ajuda a explicar o texto. A seqüência fóssil não se ajusta à seqüência da criação. A vegetação foi criada antes das criaturas marinhas, mas aparece depois no registro fóssil. As aves foram criadas antes dos répteis, mas aparecem depois deles no registro fóssil. Se se imaginar os mil anos como tendo uma única noite e manhã, cada noite teria ocupado aproximadamente a metade deste período, ou 500 anos. A vegetação não poderia sobreviver a 500 anos de escuridão. Se considerarmos os mil anos como anos comuns, isto não resolve a suposta idade dos fósseis, de milhões de anos. Qualquer tentativa de fazer os "dias" da criação iguais a mil anos nada adianta para resolver as questões científicas (3). 5. Poderiam os "dias" da criação representar períodos indefinidos de tempo? No Gênesis, os "dias" da criação são numerados de 1 a 7, indicando uma seqüência. Eles consistem de "uma tarde e uma manhã" -- um período escuro e um período de luz. O processo de criação descrito é por comandos -- criação pela palavra. A linguagem parece claramente indicar dias comuns (4). Um teste para saber se esta interpretação é correta é observar como os "dias" são usados em outros lugares na Bíblia. Em Êxodo 20:11 e 31:17, os dias da criação são usados como a base para a observância do Sábado, o sétimo dia. A interpretação dos dias da criação como dias literais é apoiada pela ocorrência do Sábado como um dia literal em uma semana de sete dias literais. Textos sobre Criacionismo | 159 Textos sobre Criacionismo 160 | Interpretar os "dias" da criação como sete períodos de tempo indefinidos não ajuda. A seqüência de eventos no Gênesis não se ajusta ao registro geológico. Se os dias não são literais, a seqüência de eventos certamente não é literal, e o processo de criação instantânea por comandos não é literal também. Se o Gênesis não descreve precisamente a seqüência de eventos ou o processo envolvido, então não faz sentido tentar achar significado nos sete períodos de tempo. 6. A semana da criação ocorreu há 6.000 anos atrás? A Bíblia não fornece a data da criação. Ela contém dados cronológicos e genealógicos que sugerem que a criação ocorreu há cerca de 6000-7500 anos atrás, dependendo de qual versão antiga é usada. Alguns criacionistas concluíram que os dados cronológicos bíblicos são essencialmente completos, e a criação ocorreu há cerca de 6000 anos. Outros criacionistas não estão convencidos de que os dados bíblicos são completos, e aceitam uma certa extensão do tempo, desde que o caráter da história da criação não seja alterado. Retroagir a criação e o dilúvio a uns poucos milhares de anos fará pouca diferença teológica, mas retroagir milhões de anos irá implicar que os seres humanos têm se aperfeiçoado ao longo do tempo. Isto é contrário à mensagem da Bíblia. Portanto, a maioria dos criacionistas bíblicos irá insistir que o tempo da criação do Gênesis seja medido em milhares - mas não milhões - de anos. 7. Como Caim encontrou uma esposa se não havia outros seres humanos na Terra antes da semana da criação? Adão e Eva tiveram muitos filhos, de ambos os sexos (Gênesis 5:4). A Bíblia não menciona com freqüência os nomes de filhas, mas elas estavam presentes. Sem dúvida, Caim casou-se com uma irmã. Isto não iria causar problemas genéticos entre pessoas criadas tão recentemente. O acúmulo de mutações deletérias desde aquela época tem tornado os casamentos entre parentes bastante inconvenientes, devido à probabilidade aumentada de nascerem descendentes geneticamente defeituosos. Abraão aparentemente casou-se com uma meia-irmã (Gênesis 20:12). Isto sugere que casamentos entre familiares eram socialmente aceitos naquela época. 8. Por que Gênesis 1 e 2 apresentam relatos diferentes da criação? Alguns acham que os dois relatos de criação são contraditórios, enquanto outros afirmam que os dois relatos são complementares (5). A interpretação de complementaridade sugere que a semana da criação é apresentada esquematicamente em Gênesis 1, terminando em Gênesis 2:4. Gênesis 1 preocupa-se com a cronologia da criação, enquanto Gênesis 2 é uma ampliação do relato da criação dos seres humanos e seu lar no Éden. Gênesis 1 introduz a universalidade da criação, enquanto Gênesis 2 introduz as histórias da experiência humana contadas no resto do livro. A linguagem dos dois capítulos pode ser interpretada como conflitante por alguém que desejar assim fazer, mas a linguagem não requer este conflito. 9. Que problemas não resolvidos sobre a semana da criação são de maior preocupação? Que eventos ocorreram no primeiro e no quarto dias da semana da criação? Quando a água e os minerais da Terra foram criados? Notas para as perguntas sobre a semana da criação 1. Ver: (a) Mitchell C. 1995. The case for creationism. Grantham, Lincs, UK: Autumn House Publ., p. 205; (b) Coffin H. G., Brown R. H. 1983. Origin by design. Hagerstown, MD: Review and Herald Publ. Assn., Chapter 1. 2. Esta interpretação explicaria Jó 38:7 como se referindo ao júbilo dos seres inteligentes em outros mundos por ocasião da criação do mundo. Que há outros mundos habitados por seres inteligentes é indicado na história de Satanás representando a Terra no concílio celestial, em Jó 1:6 e 2:1. 3. Ver: Hasel G. F. 1994. The "days" of creation in Genesis 1: literal "days" or figurative "periods/epochs" of time? Origins 21:5-38. 4. Ver Nota 3. | 161 5. Luo, P. H. K. 1989. Does Genesis 2 contradict Genesis 1? Ministry, March 1989; Younker, R. W. 2000. Genesis 2: A second creation account? Pp. 69-78 in Creation, Catastrophe and Calvary. Review and Herald Publ. Hagerstown MD. 1. De onde veio e para onde foi a água do dilúvio? Os oceanos contêm água suficiente para cobrir a Terra. Se a superfície da Terra fosse perfeitamente plana, sem montanhas ou bacias oceânicas, ela seria coberta por uma camada de água com 3 km de profundidade (1). Há água suficiente para inundar a Terra. Antes do dilúvio, certa quantidade de água estava provavelmente nos mares, certa quantidade na atmosfera e uma quantidade desconhecida de água poderia ser subterrânea. A maior parte da água está agora em bacias oceânicas. É possível que mais água tenha sido acrescentada durante o dilúvio pela colisão de um ou mais cometas, que podem ser compostos em grande parte de água. 2. Como o dilúvio pôde encobrir o Monte Everest? Durante o dilúvio, a área onde está agora o Monte Everest era uma bacia na qual sedimentos estavam se acumulando. Isto é mostrado pela presença de fósseis marinhos no Monte Everest (2). Após o soterramento dos fósseis, atividades catastróficas elevaram os sedimentos a uma altura bem acima de sua posição anterior, formando as montanhas do Himalaia. A maioria das montanhas atuais pode ter se formado de maneira semelhante, durante o dilúvio ou logo após. 3. Como a Terra poderia ser destruída por 40 dias e 40 noites de chuva? O dilúvio não consistiu apenas de 40 dias de chuva. As águas do dilúvio aparentemente não começaram a diminuir antes de 150 dias (Gênesis 7:24). Outros 150 dias se passaram antes que a arca pousasse (Gênesis 8:3, 4). Dez meses de inundação contínua provavelmente seriam capazes de produzir grandes mudanças geológicas na superfície da Terra. Em regiões mais distantes do ponto em que a arca pousou, o dilúvio pode ter durado bem mais do que um ano. A água não foi o único agente envolvido na catástrofe mundial. As camadas fósseis contêm mais de 100 crateras formadas por impactos de objetos extraterrestres tais como asteróides, meteoritos e cometas (3). A crosta terrestre passou por grandes modificações durante o dilúvio. Sem dúvida, a chuva teve um papel importante, mas houve muito mais do que chuva na catástrofe conhecida como o dilúvio. 4. Como sabemos que o dilúvio foi mundial? Ele não poderia ter sido restrito a algum lugar do Oriente Médio? Jesus usou o dilúvio como um exemplo do julgamento universal (Mateus 24:3738). Pedro confirma que apenas oito pessoas foram salvas (II Pedro 2:5). As expressões do texto de Gênesis parecem inconsistentes com um dilúvio local (4). A linguagem é o mais universal possível: "... e cobriram todos os altos montes que havia debaixo do céu;" Gênesis 7:19. Se a água cobriu os altos montes, iria também cobrir as regiões mais baixas. Como o propósito de Deus era destruir todos os seres humanos (Gênesis 6:7), o dilúvio deveria necessariamente ter se estendido pelo menos a todas regiões habitadas por seres humanos. Além do mais, Deus prometeu que nunca mais ocorreria outro dilúvio como aquele (Gênesis 9:11, Isaías 54:9), como simbolizado pelo arco-íris (Gênesis 9:13-17). Tem havido muitas inundações locais bastante destrutivas, que literalmente varreram muitas pessoas. O arco-íris é visto em todo mundo, indicando que a promessa se aplica a todo mundo. O dilúvio do Gênesis deve ter envolvido um nível de atividade diferente de qualquer coisa vista desde então. Se o dilúvio foi local, a história bíblica do dilúvio não faz sentido. Não haveria necessidade de uma arca para salvar Noé e seus animais. Noé poderia ter migrado com seus animais para outra região para evitar o dilúvio local. Textos sobre Criacionismo Diluvio 162 | Alguns têm afirmado que a presença de uma camada de barro em algumas partes do vale da Mesopotâmia é uma evidência de um dilúvio local. Entretanto, esta camada de barro é encontrada apenas em algumas das cidades. Sem dúvida, a região foi inundada alguma vez, mas isto não tem nada a ver com o dilúvio dos tempos de Noé relatado em Gênesis. 5. Que problemas não resolvidos sobre o dilúvio são de maior preocupação? Como um evento catastrófico conseguiu produzir a seqüência ordenada de fósseis que é observada? Por que os fósseis na parte inferior da coluna geológica parecem tão diferentes de qualquer coisa viva atualmente, enquanto os fósseis na parte superior da coluna são mais semelhantes às espécies que vivem agora? Por que alguns fósseis se apresentam numa série morfológica que se ajusta, de um modo geral, com a teoria da evolução? Como as plantas e animais chegaram ao local onde agora estão após o dilúvio? Notas para as perguntas sobre o dilúvio 1. Dubach H. W., Taber R. W. 1968. Questions about the oceans. Publication G13. Washington DC: U.S. Naval Oceanographic Office, p 35. 2. Odell N. E. 1967. The highest fossils in the world. Geological Magazine 104(1):73-74. 3. (a) Grieve R. A .F. 1987. Terrestrial impact structures. Annual Review of Earth and Planetary Sciences 15:245-270; (b) Grieve R. A .F. 1990. Impact cratering on the Earth. Scientific American 262(4):66-73; (c) Lewis F. S. 1996. Rain of iron and ice. NY: Helix Books, Addison-Wesley Publishing; (d) Gibson L. J. 1990. A catastrophe with an impact. Origins 17:38-47. 4. (a) Hasel G. F. 1975. The biblical view of the extent of the flood. Origins 2:7795; (b) Hasel G. F. 1978. Some issues regarding the nature and universality of the Genesis flood narrative. Origins 5:83-98; (c) Davidson R. M. 1995. Biblical evidence for the universality of the Genesis Flood. Origins 22:58-73. Textos sobre Criacionismo Arca de Noé 1. A arca de Noé foi encontrada? Não. Várias expedições buscaram encontrá-la, mas sem sucesso. Algumas formações rochosas com "forma de barco" foram encontradas na área do Ararat, mas não há nada especial com relação a elas. Há numerosos relatos de pessoas que dizem ter visto a arca, mas não há evidências para apoiar estes relatos. Parece pouco provável que a arca venha a ser encontrada. Deve-se rejeitar as afirmações de que a arca foi encontrada, mas que é necessário mais dinheiro para obter as provas. Se a arca fosse realmente descoberta, os meios de comunicação iriam assegurar que todos soubessem disso rapidamente. 2. Como todos milhões de espécies de animais poderiam caber na arca? Não poderiam. A arca foi projetada para incluir apenas vertebrados terrestres -aqueles que caminham sobre a terra e respiram através de narinas (Gênesis 7:22). Isso não inclui animais marinhos, vermes, insetos e plantas. Há menos de 350 famílias de vertebrados terrestres vivos. A maioria destes são do tamanho de um gato doméstico ou menor. Se cada família taxonômica estivesse representada na arca por um par de espécimes, e com as poucas famílias "limpas" representadas por sete pares, a arca deveria conter menos do que 1000 indivíduos. A arca poderia provavelmente acomodar dez vezes este número (1). A questão de espaço para os animais na arca não é um problema difícil. 3. É razoável supor que cada família taxonômica poderia ser representada por um único par ancestral na arca? Isto não irá exigir taxas evolutivas absurdas após o dilúvio? Algumas famílias taxonômicas podem ser grupos que representam mais do que um | 163 Notas para as perguntas sobre a arca 1. Para uma discussão criacionista sobre o espaço na arca, ver: Wodmorappe J. 1994. The biota and logistics of Noah's ark. In Walsh R. E, editor, Proceedings of the Third International Conference on Creationism, July 18-23, 1994. Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship, p 623-631. 2. (a) Wayne R. K. 1986. Cranial morphology of domestic and wild canids: the influence of development on morphological change. Evolution 40:243-261; (b) Ver também as perguntas feitas sobre mudanças nas espécies. 3. Parsons P. A. 1988. Evolutionary rates: effects of stress upon recombination. Biological Journal of the Linnean Society 35:49-68. Era glacial 1. Ocorreu uma era glacial? Sim. Houve uma época em que as geleiras cobriram grandes áreas da América do Norte e do noroeste da Europa (1). A maioria dos cientistas crê que ocorreram várias eras glaciais, mas alguns criacionistas suspeitam que houve apenas uma Era Glacial, com flutuações que produziram a aparência de mais de uma. 2. Quando ocorreu a era Glacial? Provavelmente não muito após o dilúvio. Textos sobre Criacionismo par de espécimes ancestrais. Entretanto, um par pode ter sido suficiente na maioria dos casos. Sabe-se que algumas espécies atuais possuem suficiente variabilidade genética para produzir variações morfológicas equivalentes a gêneros diferentes (2). As taxas de mudança morfológica podem depender do grau de isolamento genético, da quantidade de stress ambiental e também do tempo (3). 4. O que se pode dizer sobre alimentação, água e saneamento para todos aqueles animais? Estas questões não são discutidas na Bíblia. A água da chuva poderia estar disponível, tornando o armazenamento de água desnecessário. O alimento foi aparentemente guardado na arca (Gênesis 6:21-22). O Deus que revelou a vinda do dilúvio, instruiu Noé sobre como preparar a arca e dirigiu os animais para a arca, certamente cuidou da "logística" necessária para o cuidado deles. 5. O que se pode dizer sobre animais com alimento muito específico, tais como o coala que requer folhas de eucalipto? Não sabemos se os coalas foram sempre restritos a folhas de eucalipto, ou se sua dieta mudou. Nem mesmo sabemos se os coalas existiram antes do dilúvio, ou se eles se diferenciaram a partir de um ancestral que tenha sido preservado durante o dilúvio. Possivelmente não haja um meio de obter a resposta. 6. Como os animais puderam encontrar seu caminho a partir da arca até a América do Sul ou a Austrália? Não sabemos, mas parece provável que os animais foram dirigidos de forma sobrenatural para ir para a arca, e de novo para se dispersar a partir da arca. Isto pode ter sido obtido pela implantação de um impulso instintivo para migrar, ou pode ter sido através da ação direta de anjos. Alguns podem objetar sobre a invocação de atividade sobrenatural, mas esta é inerente a toda a história do dilúvio. Atividades sobrenaturais não implicam necessariamente violação de leis naturais, mas sim que os eventos foram dirigidos por seres de inteligência superior. 7. Que problemas não resolvidos sobre a arca de Noé são de maior preocupação? Quantas espécies diferentes de animais foram salvas na arca de Noé, e quais são seus descendentes? Como os vertebrados terrestres se espalharam da arca até sua atual distribuição? 164 | Textos sobre Criacionismo 3. O que causou a era Glacial? Já foram feitas muitas conjecturas acerca da causa da Era Glacial (2) Uma das melhores idéias é a de Michael Oard (3). Oard propõe que o oceano estava ainda morno imediatamente após o dilúvio. Isto significa que muita água se evaporaria e produziria precipitação, especialmente ao longo da trilha de tempestades da costa leste da América do Norte. Esta trilha de tempestades trouxe grandes quantidades de neve para a parte norte da América do Norte, onde o maior acúmulo de gelo ocorreu. Atividades vulcânicas mantiveram os verões frios, aumentando a precipitação e impedindo o derretimento da neve e do gelo. Quando o solo ficava coberto de neve, refletia mais calor do sol do que absorvia, esfriando mais o ar e acelerando o processo. Depois de várias centenas de anos, o oceano se esfriou o suficiente para diminuir a precipitação de mais neve. A atividade vulcânica declinou também, permitindo que os verões se tornassem mais quentes, provocando o derretimento do gelo. 4. Quanto durou a era Glacial? No modelo de Oard, a Era Glacial pode ter durado menos de 1000 anos. A maioria dos geólogos crê em várias eras glaciais, separadas por períodos mais quentes, durando centenas de milhares de anos. 5. Por que a Bíblia não diz nada sobre a Era Glacial? A Bíblia registra a história do povo que preservou o conhecimento do Messias prometido. A Era Glacial não é relevante para esta história. Por outro lado, referências tais como Jó 38:22 podem indicar um clima mais frio no princípio da história bíblica. 6. Que se pode dizer sobre outras eras glaciais na coluna geológica? Outras "Eras Glaciais" têm sido propostas, com base na interpretação de certas evidências, tais como sedimentos não consolidados, que são interpretados como típicos de atividade glacial (4). Entretanto, as evidências de "eras glaciais" préquaternárias não são fortes, e já foram propostas interpretações alternativas dos dados (5). 7. Que problemas não resolvidos sobre Eras Glaciais são de maior preocupação? Como explicar as evidências de que algumas regiões da América do Norte e Europa Setentrional experimentaram intervalos alternados de glaciação e climas mais quentes, sugerindo um período de tempo mais longo do que a maioria dos criacionistas julga disponível? Como explicar sondagens do gelo da Groelândia e Antártica que são interpretadas como representando períodos de tempo de 100.000 anos ou mais? Qual o significado de seqüências de camadas interpretadas como devidas a mudanças cíclicas na órbita da Terra, chamadas ciclos de Milankovich? Notas para as perguntas sobre a Era Glacial 1. Wright A. E., Moseley F., editors. 1975. Ice Ages: ancient and modern. Geological Journal Special Issue Nº. 6. Liverpool: See House Press. 2. Imbrie J, Imbrie K. P. 1979. Ice Ages: solving the mystery. Cambridge, MA and London: Harvard University Press. 3. Ver: (a) Oard M. J. 1990. A post-flood ice-age model can account for Quaternary features. Origins 17:8-26; (b) Oard M. J. 1984a. Ice ages: the mystery solved? Part I: The inadequacy of a uniformitarian Ice Age. Creation Research Society Quarterly 21:66-76; (c) Oard M. J. 1984b. Ice ages: the mystery solved? Part II: The manipulation of deep-sea cores. Creation Research Society Quarterly 21:125137; (d) Oard M. J. 1985. Ice ages: The mystery solved? Part III: Paleomagnetic stratigraphy and data manipulation. Creation Research Society Quarterly 21:170181; (e) Oard M. J. 1990. An ice-age caused by the Genesis Flood. ICR Technical Monograph. El Cajon, CA: Institute for Creation Research. | 165 4. Ver vários capítulos na referência da Nota 1. 5. Ver: (a) Gravenor C. P., Von Brunn V. 1987. Aspects of Late Paleozoic glacial sedimentation in parts of the Parana Basin, Brazil, and the Karoo Basin, South Africa, with special reference to the origin of massive diamictite. In McKenzie G. D, editor. Gondwana Six: Stratigraphy, Sedimentology and Paleontology. Geophysical Monograph 41. Washington DC: American Geophysical Union, p 103-111; (b) Rampino M. R. 1994. Tillites, diamictites, and ballistic ejecta of large impacts. Journal of Geology 102:439-456; (c) Bennett M.R, Doyle P, Mather A. E. 1996. Dropstones: their origin and significance. Palaeogeography, Paleoclimatology, Palaeoecology 121:331-339; (d) Oberbeck V. R., Marshall J. R., Aggarwal H. 1993. Impacts, tillites, and the breakup of Gondwanaland. Journal of Geology 101:1-19; (e) Responses in Journal of Geology 101:675-679; 102:483-485. 1. Os continentes realmente se separaram? Aparentemente sim. Há considerável evidência de que os continentes se moveram, separando-se (1). 2. Quando os continentes se separaram? A principal separação pode ter ocorrido durante o dilúvio. Medidas atuais mostram que eles ainda se movem hoje, embora muito lentamente. 3. A divisão da Terra nos dias de Pelegue mencionada em Gênesis 10:25 pode ser interpretada como sendo a tectônica de placas? Provavelmente não. O contexto é a "Tabela de Nações" que se espalharam após o dilúvio. O texto significa, mais provavelmente, que o território da Terra foi dividido entre estes grupos de pessoas. Entretanto, não há nada no texto que evite a interpretação de que os continentes estavam se separando naquela ocasião; porém, as diferenças entre os vertebrados terrestres da América do Sul e da África são tão grandes que parece pouco provável que estes continentes estiveram ligados após o dilúvio. 4. A Pangea representa o mundo pré-diluviano? Provavelmente não. A Pangea é em grande parte coberta com sedimentos marinhos, sugerindo que fosse uma bacia ou mar epicontinental onde ocorreu a deposição durante o dilúvio. Os continentes pré-diluvianos podem ter sido destruídos no dilúvio. 5. Como podem os continentes terem se movido com rapidez suficiente para rearranjar toda a superfície da Terra durante o ano do dilúvio? Pode não ser necessário que todo o movimento das placas fosse completado durante o dilúvio; movimentos significativos das placas podem ter continuado por algum tempo após o dilúvio. De qualquer forma, as causas do movimento das placas não são bem compreendidas. Atualmente elas se movem muito lentamente, mas poderiam se mover mais rápido se houvesse condições apropriadas. Uma grande quantidade de energia seria necessária; talvez esta poderia ter sido provida por impactos extraterrestres (2). Uma temperatura mais baixa de fusão de rochas basálticas poderia ter facilitado o movimento das placas; sabe-se que a presença de água no basalto abaixa o ponto de fusão (3). Não se sabe se o movimento das placas pode ter sido facilitado pelas "águas sob a terra" ou o rompimento das "fontes do abismo," mas vale a pena considerar esta possibilidade. Um grupo de criacionistas publicou recentemente uma teoria de movimento rápido das placas que pode prover algumas respostas a esta questão (4). Um movimento assim rápido iria aquecer tanto as placas que levaria muito tempo para esfriá-las. Textos sobre Criacionismo Tetônica de placas 166 | 6. Que problemas não resolvidos sobre tectônica de placas são de maior preocupação? Quanto as placas realmente se moveram? Quando e quão rapidamente se moveram? O que aconteceu aos continentes pré-diluvianos? Como o magma do fundo oceânico se esfriou em poucos milhares de anos se ele foi depositado tão rapidamente durante o dilúvio? (5) Notas para as perguntas sobre tectônica de placas 1. (a) Snelling A. A. 1995. Plate tectonics: have the continents really moved apart? CEN Technical Journal 9(1):12-20; (b) Wilson J. T., editor. 1976. Continents adrift and continents aground. Readings from Scientific American. San Francisco: W.H. Freeman. 2. (a) Clube V, Napier B. 1982. Close encounters with a million comets. New Scientist 95:148-151; (b) Glikson A. Y. 1995. Asteroid/comet mega-impacts may have triggered major episodes of crustal evolution. EOS, Transactions of the American Geophysical Union 76(6):49ff. 3. Thompson A. B. 1992. Water in the Earths upper mantle. Nature 358:295-302. 4. Baumgardner J. R. 1994. Runaway subjection as the driving mechanism for the Genesis flood. In: Walsh R. E., editor. Proceedings of the Third International Conference on Creationism. Pittsburgh, PA: Creation Science Fellowship, p 63-75. 5. Este problema foi levantado em: (a) Barnes R. O. 1980. Thermal consequences of a short time scale for sea-floor spreading. Journal of the American Scientific Affiliation 32(2):123-125. O problema continua não resolvido, mas alguns trabalhos interessantes sobre problemas relacionados podem ser encontrados em: (b) Snelling A. 1991. The formation and cooling of dykes. Creation Ex Nihilo Technical Journal 5:81-90; (c) Snelling A. 1996. Rapid granite formation? Creation Ex Nihilo Technical Journal 10:175-177; (d) Anonymous. 1996. Queries and comments. Origins (Biblical Creation Society) Nº 21, p 22-23. Textos sobre Criacionismo Criação e ciência 1. É científico crer na criação? Em nossa sociedade atual, crê-se que a ciência é estritamente naturalista. Neste sentido, a criação não pode ser científica, porque a criação implica uma inteligência sobrenatural ativa na natureza. Entretanto, a ciência pode ser definida de outras formas (1). Se "ciência" significar o estudo da natureza, a criação pode ser "científica." É o que acontece se a natureza for investigada em sua relação com Deus como o seu Criador. Muitos dos fundadores da ciência moderna criam que Deus estava ativo na natureza, e que eles estavam meramente estudando Seus métodos de agir na natureza. A história mostra que a separação entre Deus e a natureza não é necessária para o avanço do conhecimento. Entretanto, a ciência se preocupa em testar predições resultantes de hipóteses específicas. A hipótese de que Deus causou um evento por métodos que não são investigáveis não seria considerada científica, por não poder ser testada. Para alguns o termo "científico" significa crença lógica em oposição à superstição. Este significado é inerente ao "cientificismo" -- a crença de que a ciência naturalista é o único meio de descobrir a verdade. Este é um mau uso do termo "científico", que torna impossível responder à questão se é científico crer na criação ou em qualquer outra teoria das origens. 2. É necessário que a ciência seja naturalista? A ciência avançou porque os cientistas procuraram respostas a questões acerca de como os eventos ocorreram ou ocorrem. Isto pode ser investigado tanto quando se crê que Deus está dirigindo os eventos como quando não se crê nisto. Os cientistas não necessitam crer no naturalismo quando procuram entender o mecanismo de como os eventos ocorrem. | 167 3. O reconhecimento das atividades de Deus por parte dos cientistas não iria desestimular a pesquisa? A crença de que Deus está ativo na natureza não desestimulou a pesquisa dos fundadores da ciência moderna, assim como não deve desestimular hoje. O problema que se deve evitar é deixar de investigar um fenômeno simplesmente por se crer que Deus é sua causa. Muitos cientistas têm sido estimulados a estudar a natureza por crerem que Deus está ativo nela, sendo seu estudo uma oportunidade de compreendê-lO através das obras de Suas mãos. 4. Que problemas não resolvidos sobre a criação e a ciência são de maior preocupação? Como obter a verdade quando a razão e a fé parecem estar em conflito? Notas para as perguntas sobre criação e a ciência 1. A filosofia da ciência sob uma perspectiva cristã está em: (a) Ratzsch D. 1986. Philosophy of Science. Downers Grove, IL: InterVarsity Press; (b) Pearcey N. R., Thaxton C. B. 1994. The soul of science: Christian faith and natural philosophy. Wheaton, I. L: Crossway Books, Good News Publishers; (c) Os adventistas do sétimo dia devem consultar Testimonies to the Church, Vol. 8, p 255-261 para uma esclarecedora declaração sobre Deus, a natureza e a ciência. Recomendam-se as seguintes publicações, como leitura adicional referente aos tópicos tratados neste número de Ciências das Origens, todas disponíveis mediante solicitação à Sociedade Criacionista Brasileira no "site": http://www.scb.org.br (1) ROTH, A. Origens: Relacionando a Ciência com a Bíblia., 384 p., C.P.B., Tatuí, 2001 (Casa Publicadora Brasileira, Rodovia SP-127, Km 106, Caixa Postal 34, Tatuí, SP, BRASIL, CEP 18270-000).Tradução do original Inglês Origins: Linking Science and Scripture. Hagerstown, Review and Herald Publishing Association, 1998, 384 p., feita pelo Núcleo de Estudos das Origens. (2) JUNKER, Reinhard, e SCHERER, Siegfried. Evolução - Um Livro-Texto Crítico, 328 pp., Tradução para o Português pela Sociedade Criacionista Brasileira, 2002. (S.C.B, Caixa Postal 08743, Brasília, DF, CEP: 70312-970). (3) FLORI, Jean, e RASOLOFOMASOANDRO, Henri. Em Busca das Origens Evolução ou Criação? 342 pp., Editorial Safeliz, 2000. (Editorial Safeliz, Aravaca 8, 28040 Madrid, Espanha). Tradução para o Português, pela Sociedade Criacionista Brasileira, 2002. (S.C.B, Caixa Postal 08743, Brasília, DF, CEP: 70312-970). (4) PARKS, Bill. Como Ensinar a seus Filhos a Harmonia entre o Criacionismo e a Ciência. 130 pp., Sociedade Criacionista Brasileira, 2001. (S.C.B., Caixa Postal 08743, Brasília, DF, CEP: 70312-970). (5) Folhas Criacionistas referentes aos tópicos tratados neste número de Ciências das Origens, a serem selecionadas no Índice Temático dos artigos publicados nas Folhas Criacionistas, disponível no "site" da Sociedade Criacionista Brasileira. (6) Coleção dos números 1 a 60 de "Ciência de los Orígenes", encadernada em dois volumes, produzida pela Sociedade Criacionista Brasileira, 2002. Textos sobre Criacionismo Referências 168 | Textos esparços - internet Criacionismo e Darwinismo – Reflexões Sem dúvida a primeira insinuação nesse teor ocorreu ainda no Jardim do Éden, quando o enganador, disse aos primeiros pais: certamente não morrereis, mas serei como Deus (Evoluireis...) conhecendo o bem e o mal (a síntese do bem com o mal conduziria a estágios mais elevados...). Contudo as idéias evolucionistas, só se impuseram ao pensamento humano durante o século XIX com o surgimento do evolucionismo darwinista, cujas linhas básicas apareceram no livro Origin of Species, publicado em 1859 por Charles Darwin, a quem coube prover condições para a síntese das idéias evolucionistas que então pairavam no pensamento humano. Textos sobre Criacionismo Observando fatos biológicos num contexto de mudanças, interpretando-os e extrapolando-os em termos de desenvolvimento gradual, Darwin contribuiu para que fosse estabelecido o princípio do evolucionismo darwinista nos seguintes termos: As espécies existentes surgiram de outras mais simples, mediante gradual acumulação de pequeninas variações (mutações gênicas, no caso do neoDarwinismo, uma síntese do evolucionismo com o mendelismo, selecionadas naturalmente (seleção natural) de modo a torná-las mais aptas para sobrevivência (predominância do mais apto), graças às mudanças (mutações) nelas ocorridas. Graças à influência do arguto advogado Thomaz Huxley, cognominado o "cão de guarda do evolucionismo", do filósofo Herbert Spencer, que deu à evolução um vôo filosófico mediante sua penetração em todos os domínios do pensamento humano e graças a outros batalhadores, alguns até pouco escrupulosos como Ernest Haeckel, o evolucionismo provocou tremendo impacto no pensamento humano, a ponto do século XIX ter sido chamado por alguns de "o Século de Darwin". | 169 Em 1936, Julian Huxley, no seu discurso como presidente da Associação Britânica para o Avanço da Ciência afirmava ser a evolução o mais importante de todos os problemas da Ciência, envolvendo todos os campos do conhecimento ... Nos quais sobressairia a Biologia, promovendo a unificação de toda a ciência sob a égide da evolução. Tão grande foi o impacto do Darwinismo sobre o pensamento humano que em 1959, quando na Universidade de Chicago se comemorava o centenário do Darwinismo, era idéia corrente que nenhuma pessoa esclarecida deixaria de aceitar o evolucionismo como fato e o evolucionismo darwinista como modo de origem das espécies. Insinuava-se inclusive que tudo é produto da evolução, inclusive a idéia de Deus. Por sua vez o criacionismo parecia morto e sepultado. Segundo o filósofo Etiene Gilson na sua obra "DAristoteles a Darwin et Retour" (Edição Vrin, 1971), o evolucionismo darwinista foi tornado aparentemente indestrutível mediante uma síntese filosófico-científica na qual a generalidade da premissa filosófica, o evolucionismo, repousa sobre a restrita demonstrabilidade do fato científico a variação sob a égide da seleção natural. É fácil concluir que o principal autor desta síntese foi o arguto Thomaz Huxley que uniu o evolucionismo filosófico de Hebert Spencer (o filósofo da Evolução) com o Darwinismo (variações limitadas nos organismos, selecionadas e tornadas aptas pela seleção natural). Foi uma tremenda síntese, mas sem deixar de ser um "mito" filosóficocientífico, posteriormente impingido aos intelectuais como parte de sua formação chegando a ser uma autêntica religião das universidades e de certas culturas. Graças aos esforços de notáveis precursores como George Mc Ready Price e outros, o criacionismo começou a ressurgir na América do Norte e Europa, tornando-se hoje num sistema de pensamento digno de atenção nos meios cultos e contribuindo inclusive para que a comemoração do centenário da morte de Darwin, em 1982, não fosse tão eufórica como foi em 1959 a comemoração do centenário do livro "A Origem das Espécies". Enquanto em 1933 o Manifesto Humanista I, dentre outras cousas afirmava que o universo é auto-existente, que o homem é parte da natureza da qual emergiu e que mesmo a religião do homem é produto da evolução, o Manifesto Humanista II em 1973, em face do criacionismo ressurgente, reafirmava que a evolução é um princípio da ciência e que a fé em Deus é uma fé não submetida a provas e fora de moda. Textos sobre Criacionismo Ressurgimento do Criacionismo 170 | Posteriormente o conhecido Isaac Asinov se deu ao trabalho de publicar no New York Times, um artigo anti-criacionista no qual compara o criacionismo a um sonho mau, a um pesadelo, opondo-se inclusive ao ensino do criacionismo nas escolas ao lado do ensino do evolucionismo. Parece que o criacionismo ressurgente começava a perturbar o sossego evolucionista através da obra incansável dos assim chamados "criacionistas científicos americanos". No manifesto publicado em 1977 pela Associação Humanista Americana, 163 pesquisadores, na maioria biólogos, afirmaram que o evolucionismo é um princípio da ciência (pode ser um princípio, mas é discutível se é científico). Para Teilhard de Chardin, evolução seria um postulado geral, diante do qual deveriam curvar-se todas as teorias, hipóteses e sistemas se é que pretendem ser lógicos e verdadeiros. Theodosius Dobzhansky num panegírico a Chardin, dizia ser a evolução a luz que ilumina todos os fatos, a trajetória que todas as linhas de pensamento devem seguir. Já Francisco Ayala, discípulo de Dobzhansky, afirmava que em Biologia nada tem sentido a não ser à luz da evolução. Textos sobre Criacionismo Por sua vez o biólogo LH Mathews na introdução ao livro Origem das Espécies edição de 1971, afirmava ser a teoria da evolução uma fé satisfatória na qual podemos basear nossa interpretação da natureza. Por outro lado, Leon Harris (Perspectives in Biology and Medicine, Winter, 1975 pp. 179 - 184) sugere atribuir ao Darwinismo natureza axiomática e para axiomas não se demanda provas. Menos lisonjeira mas também interessante é a opinião de Paul Erhlich da Stanford University (Nature vol 214 p. 352) dizendo ser o evolucionismo um dogma impingido aos intelectuais como parte do seu treino, dogma este sustentado por experimentos levados a efeito em sistemas muito simplificados, cuja validade foi extrapolada muito além dos seus limites da verificação (variabilidade das espécies verificada em limites restritos). Finalmente Loren Eisely na sua obra The Immense Journey (New York; Raudom House, 1957, p. 199) referindo-se aos esforços feitos para sustentar o evolucionismo nos domínios da ciência diz: a ciência foi deixada na embaraçosa posição de postular teorias sobre origens que não podem ser demonstradas. Depois de haver censurado o teólogo por sua dependência do mito e do milagre, a ciência se encontra na mesma inviável posição de criar uma mitologia para ela mesma, isto é, afirmar que aquilo que após longos anos não pode ser considerado como ocorrendo hoje, na verdade ocorreu no remoto passado. Em suma a evolução parece ser tudo e parece pretender explicar tudo. Isso é sintomático porque ao pretender explicar tudo, anula seu potencial para a | 171 falsificabilidade que é a principal característica de princípios e teorias científicas. De fato, se evolução é um fato, por que ter que qualificá-la tanto e com tantas expressões? Se a evolução é de fato um fato tão geral, porque parece ser tão difícil explicar o mecanismo do seu funcionamento? Alguns Fatos a Considerar Sobrevivência do Mais Apto Seria de fato a sobrevivência do mais apto um fato? Sem considerar a redundância implícita na expressão, (na verdade o organismo que sobrevive é o mais apto e o mais apto é o que deve sobreviver) passemos a raciocinar na seguinte linha de pensamento: se a seleção natural se limitasse a preservar os organismos melhor adaptados às suas condições ambientais, paulatinamente, com o correr o tempo, no mesmo lugar e ao mesmo tempo, graças à seleção natural, estariam dotados do mesmo patrimônio genético, possuindo as mesmas necessidades alimentares, ambientais e outras, que deveriam ser satisfeitas ao mesmo tempo e da mesma maneira. Pesquisas feitas (Ayala, Kimura, etc.) evidenciaram que em condições adversas organismos com patrimônio genético monomorfo (altamente selecionados) duramente sobreviviam enquanto prosperavam organismos com patrimônio genético polimorfo ou seja não selecionados. Na verdade alta seleção geralmente requer alta proteção e isso fica claro para qualquer pessoa envolvida com seleção artificial. O geneticista Kimura conclui que nos organismos vivos, genes que passaram por muitas mutações (alta seleção depende de muitas mutações) só controlam funções secundárias (são um tanto "inertes") ao passo que genes que comandam funções importantes como por exemplo a fotossíntese, levada a cabo pela clorofila, apresentam mínimas mutações desde "tempos imemoriais" (parece óbvio que muitas mutações casuais acabem degradando ou tornando inertes e não aprimorem sistemas genéticos ou outros quaisquer!). Parece cada vez mais claro, mesmo a evolucionistas, que a predominância do mais apto parece não estar em muita concordância com as leis da natureza (não é difícil verificar que seres pouco aptos como os gambás, koalas e outros sobrevivem e seres que pareciam mais apto como os dinossauros se extinguiram). Também parece cada vez mais claro que o acúmulo gradual e casual de mutações, mesmo nos domínios da seleção natural, não pode explicar a origem de formas de vida cada vez mais complexas. Textos sobre Criacionismo Como resultado estabelecer-se-ia uma concorrência acirrada e intolerável num habitat restrito (território onde o indivíduo ou organismo tornou-se o mais apto) a qual acabaria, isto sim, eliminando o grupo justamente por ser altamente monomorfo graças à seleção natural. 172 | Mesmo entre evolucionistas parece haver desarmonia sobre o que realmente pode fazer a seleção natural, além de promover a variabilidade dentro de formas básicas de vida. Falta de Tempo para o Darwinismo Originar Novas Espécies Muitos pensadores, inclusive evolucionistas, estão ficando conscientes de que, mesmo que o acúmulo casual de pequenas mudanças pudesse transformar um organismo simples noutro mais complexo, o tempo requerido para este processo seria enorme e não disponível, mesmo pelos cálculos mais inflacionados de idades da terra e do universo. No simpósio do Wistar Institute em 1966, Murray, Salisbury e outros concluíram que se se der ao acaso papel sério e crucial na origem das entidades, então o evolucionismo precisa aguardar a descoberta de novas leis naturais, pois a evolução baseada em processos caóticos requereria bilhões de vezes mais tempo do que os supostos 4,6 bilhões de anos da idade da terra. Certamente muitos paleobiólogos devem ter a percepção, nem sempre confessada, de que a seleção natural de Darwin é de ação muito lenta e limitada, para poder ser responsabilizada pela origem das espécies. Também a probabilidade estatística do surgimento expontâneo da vida (numa atmosfera primeva sem oxigênio e diferente da atual) e mesmo de uma proteína (cadeia constituída de aminoácidos dos quais há 20 usados pelos seres vivos) é praticamente nula em face da complexidade da base físicoquímica da matéria viva, sabendo que cada organismo é constituído por trilhões de células. Textos sobre Criacionismo Estima-se que o corpo humano seja constituído por 10 trilhões de células, cada uma com 46 cromossomas (constituída de DNA) no núcleo (as células germinais têm a metade). Nos cromossomas deve haver uns 3 milhões de genes (unidades hereditárias que condicionam as características dos seres vivos) contendo uns 5 bilhões de pares de nucleotídios (uma seqüência de 3 nucleotídios, em certa ordem determina um aminoácido) e as proteínas e enzimas, essenciais à construção e funcionamento dos organismos, são formados por desde 50 até 300 aminoácidos em certa ordem! Uma seqüência de nucleotídeos (há 4 diferentes: adenina, citosina, guanina e tinina) onde cada 3 em certa ordem (codon) codifica um aminoácido constitue um gene. Considere-se por exemplo, a probabilidade de casualmente ser formada a hemoglobina do sangue com seus 574 aminoácidos dispostos em 4 cadeias, 2 com 141 e 2 com 146 aminoácidos a partir de 20 aminoácidos diferentes. Considerando os 20 aminoácidos diferentes utilizáveis pelos seres vivos, concluímos que há 20146 maneiras diferentes de formar a cadeia Beta da hemoglobina com 146 aminoácidos. | 173 Embora esse número seja bem menor pois haverá muitas repetições visto haver só 20 aminoácidos em cadeias de 146, ainda assim esse número é maior do que 10100 (gugol) número possivelmente maior que o total de partículas do universo. Probabilidade praticamente nula! Mesmo a probabilidade estatística para a formação casual do hormônio insulina, do qual são deficientes os diabéticos, constituído por 51 aminoácidos que devem estar rigorosamente numa ordem, é praticamente nula. Convém lembrar ainda que a síntese de uma determinada proteína só ocorre na presença de enzimas que atuam como catalisadores. Isso complica o problema lembrando que enzimas, por sua vez, também são proteínas. Evocar o acaso e ater-se aos princípios que regem a ciência experimental não pode ser o procedimento no caso de estudo das origens. Incoerência entre o Darwinismo e o Registro Fóssil Se o evolucionismo darwinista fosse um fato, o registro fóssil deveria ser bem diferente e rico em formas transicionais documentando a passagem paulatina de uma espécie para a outra, graças ao lento acúmulo de formas com pequenas e contínuas variações. Não é esse o caso do mundo fóssil rico, isto sim, em formas terminais e marcado por nítidas lacunas entre as espécies fósseis preservadas. Em congresso realizado anos atrás no Museu de História Natural de Chicago, boa parte dos 160 cientistas presentes (biólogos, anatomistas, paleontólogos) parecia divergir, sob algum aspecto, dos ensinamentos básicos do darwinismo, embora continuassem a considerar a evolução como fato indiscutível. Entre estes e os fósseis das camadas subseqüentes não há as necessárias formas transicionais ou intermediárias para construir séries contínuas, como seria de esperar, se o darwinismo, que afirma a origem das espécies mediante o acúmulo gradual e casual de pequenas mutações, fosse um fato. Da mesma forma surgem repentinamente todas as formas básicas de vida ao longo da coluna geológica. As poucas formas transicionais existentes (o mundo fóssil e esmagadoramente constituído de formas terminais) o são em boa parte porque são tidas como tais graças a exercícios de imaginação. Origem do Vôo Trata-se de um exemplo típico da falta de formas transicionais, constituindo um Textos sobre Criacionismo Concluíram por exemplo, o que os criacionistas sempre afirmaram, que mesmo durante milhões de anos, as espécies mudam muito pouco. E esta conclusão parece fortemente corroborada pelo registro fóssil nos terrenos sedimentares onde fósseis complexos surgem repentinamente nas primeiras camadas (terrenos cambreanos). 174 | grande problema para a evolução porque a capacidade de voar, num contexto evolucionista, deve ter surgido quatro vezes distintas: entre os insetos, entre os répteis (os pterossauros), com as aves e entre os mamíferos (quirópteros ou morcegos). A transição entre um animal não voador e um dotado da capacidade de voar implica em profundas modificações em boa parte dos órgãos e estruturas e um processo gradual certamente requereria milhares de formas transicionais especialmente se fosse gradual. E onde estão tais formas? Há imensas lacunas entre qualquer uma das formas aladas e seus supostos ancestrais e isso é reconhecido inclusive por evolucionistas de renome como F.C. Olson em sua obra The Evolution of Life e A.S. Romer em Vertebrate Paleontology. Considere-se por exemplo as fantásticas mudanças que deveriam ter ocorrido num réptil, por mais saltador que fosse, para transformá-lo numa ave, que parece ter sido feita de propósito para voar com sua elevada temperatura do sangue (42 ou 43ºC), ossos leves, resistentes e ôcos, sacos aéreos como extensões do sistema respiratório, elevada pressão do sangue e grande concentração de açúcar no sangue (bem maior que nos mamíferos). E que dizer da transformação de uma escama em uma pena, verdadeira obra prima, seja ela de um pardal, de uma pomba, de um pavão ou de uma ave do paraíso? Textos sobre Criacionismo E ainda mais, o que dizer da fantástica capacidade migratória de muitas aves, guiando-se inclusive por estrelas, instinto que não pode ter sido adquirido gradualmente e que é sustentado por muito eficientes sistemas digestivo e circulatório? Os evolucionistas têm sugerido ou mesmo assumido que o animal saltoposuchus seja o ancestral de répteis voadores (pterossauros) e aves. Contudo, há grandes lacunas entre o saltoposuchus e os pterossauros, alguns com até 8m de envergadura, com ou sem dentes, com longa cauda e o 4º dedo dos membros anteriores desmesuradamente longo, contrastando com os outros três e suportando a membrana volátil. Não deveria haver formas intermediárias evidenciando por exemplo a gradual evolução do 4º dedo? Por sua vez há um abismo entre o saltoposuchus e a archaeopterix, supostamente a mais antiga ave e considerada no passado, como sendo um dos mais valiosos fósseis (para os evolucionistas) por ser considerada como exemplo clássico de "evolução apanhada em flagrante". Muitos, inclusive evolucionistas afirmam que a archaeopterix não pode ser considerada como elo intermediário entre répteis e aves, pois se o fosse, deveria apresentar características de ambos os grupos devidamente acompanhadas de estruturas nascentes (das aves) e decadentes (dos répteis). | 175 Embora possuísse características reptilianas como dentes, cauda óssea longa, dedos com garras nos membros anteriores, possuía pélvis como as aves e penas perfeitas como as das aves. Da mesma forma, o supostamente mais antigo morcego conhecido, o paleochiropterix de 50 milhões de anos atrás (segundo esquemas evolucionistas), é em tudo semelhante aos morcegos atuais, não havendo evidência alguma de formas transicionais entre eles e os mamíferos insetívoros tidos como seus ancestrais. Na realidade seria requerida uma tremenda revolução anatômica e fisiológica para transformar um insetívoro em um morcego e as tentativas da natureza nesse sentido deveriam estar bem documentadas no mundo fóssil. Mas onde estão? Evolução aos Saltos A falta de formas transicionais tem levado alguns evolucionistas a tomar posições verdadeiramente revisoras face ao darwinismo, passando a defender uma teoria de "evolução aos saltos" como é o caso de Stephen Jay Gould da Universidade de Harward. Segundo Gould, não se pode rejeitar os fatos da microevolução, mas microevolução extrapolada não é macroevolução. Nessa linha de pensamento, as modificações e adaptações evocadas pelo darwinismo contribuíram para o fenômeno da microevolução (modificações intra-específicas) ao passo que macromutações repentinas e inexplicáveis é que contribuiriam para o surgimento de novas espécies. Assim pensam os proponentes desta nova posição, haveria harmonia entre o evolucionismo e o registro fóssil. Interessante é que os criacionistas nunca rejeitaram as modificações intra específicas produzidas pelas mutações (dentro de um tipo básico de vida ou dentro de um min segundo a terminologia hebraica do livro de Gênesis) mas nunca atribuíram a elas o poder de criar novas e mais complexas espécies. É significativo o fato de ser defendida uma "evolução aos saltos" que se aproxima mais da posição Criacionista que afirma a origem repentina dos tipos básicos de vida (mins na terminologia hebraica, de Gênesis), mas por ação de um Criador. Textos sobre Criacionismo De acordo com as posições revisionistas, as espécies mudariam muito pouco ao longo dos anos, mas repentinamente sem haver explicação, sofreriam bruscas transformações adquirindo novas características. Mais ainda, essas violentas e imprevisíveis mutações ocorreriam por acaso, não proporcionando necessariamente melhores condições de sobrevivência aos seres resultantes. 176 | Conclusão É fato bem estabelecido que os organismos vivos variam, tanto durante a sua vida, quanto ao longo do tempo. Dentre as diversas modalidades de variações, tem havido especial interesse da parte dos evolucionistas e também dos criacionistas no estudo das variações decorrentes das mutações genéticas que atingem a informação codificada nos cromossomas das células germinais dos organismos vivos. As mutações genéticas podem ser gênicas (point mutations), cromossômicas (aberrações cromossômicas) e novas combinações de genes. Mutações gênicas (point mutations) decorrem de erros em determinadas posições dos genes ou erros na passagem do código genético, implicando, nas proteínas e enzimas, alterações nas posições dos aminoácidos. Os efeitos de tais mutações muitas vezes são deletérios para os organismos, como é o caso de mínimas alterações na hemoglobina humana provocando anemia tão profunda a ponto de prejudicar a sobrevivência. Outras vezes os efeitos são triviais resultando em mudanças de cores, formatos, aparência, mas às vezes até com valor para sobrevivência como foi o caso das mariposas claras e escuras na Inglaterra. Triviais ou deletérias, parece óbvio que mutações gênicas não têm condições de prover informação capaz de originar novas espécies e explicar a diversidade de organismos. Mutações cromossômicas (aberrações cromossômicas) decorrem de reagrupamentos, inserções ou deleções de seqüências de genes nos cromossomas. Textos sobre Criacionismo Foram estudadas em insetos (drosófilas), em certas plantas e produzem mudanças em cores, tamanhos, formas, comportamentos, atividades e outras como pode ser visto por exemplo, na seleção artificial de cães. Como ocorrem em sistemas de genes já existentes, complexos e bem controlados, dificilmente podem ter a pretensão de explicar a origem destes sistemas e a origem de espécies mais e mais complexas. O caso da deleção de genes (perda de seqüências de genes) implica, isto sim, em degenerescência como se vê em muitas formas vivas como aves que não voam, peixes cegos nas cavernas. Novas combinações de genes já existentes na bagagem genética podem ocorrer num processo de reprodução bissexuada, graças ao fato de haver muito mais informação na bagagem genética do que a que é expressa nos organismos vivos. Em outras palavras, há uma grande reserva de variabilidade nas diferentes combinações genéticas possíveis, mas sempre com base em informação presente nos genes. Estas novas combinações, selecionadas pela natureza, permitem respostas dos organismos às mudanças e pressões ambientais, permitindo assim sua | 177 sobrevivência. Contudo isso está muito longe de explicar toda a diversidade de organismos, com novas estruturas e novos órgãos e funções mais complexas. No domínio das mutações genéticas não é possível divisar um modo de induzir o surgimento de organismos com novas estruturas corporais e novos órgãos com funções mais complexas quando se considera a total interdependência das partes no organismo como um todo. Os órgãos, por exemplo, possuem base genética bem complexa e não será casualmente e através de erros na transmissão de informação que poderão ser originados para exercer funções num emaranhado de interdependências corporais. Em suma, organismos vivos possuem grande, mas limitado potencial para a variabilidade, graças à grande reserva de informação genética. Mas tudo isso parece ocorrer dentro dos limites de "formas básicas" de vida entre as quais lacunas parecem intransponíveis. Variabilidade e Fatores Ambientais Parece claro que a variabilidade genética tende a aumentar em épocas de mudanças. Após a Criação, a primeira grande mudança foi a entrada do pecado por causa da queda do homem ao falhar na sua confiança em Deus, o Criador. Devem ter ocorrido, a partir de então, mudanças drásticas, visualizadas pelas expressões que encontramos em Gênesis, capítulo 3: "Maldita é a terra por causa de ti; cardos e espinhos produzirá; em fadigas obterás dela o sustento; no suor do rosto comerás o teu pão..." além da percepção de "estar nú" e da sensação de medo. Por ocasião do Dilúvio Universal, do qual temos tantas evidências, houve novas condições para o aumento da variabilidade em pequenas populações; com isolamento geográfico e sob mudanças ambientais rápidas e profundas. Em populações pequenas um eventual gene mutante se espalharia com mais facilidade. Da mesma forma um gene raro poderia ser passado para outras gerações, o que não aconteceria em grandes populações onde seria iliminado. O isolamento geográfico preserva e isola pequenas populações evitando cruzamentos com outros. Há ao mesmo tempo redução da competição, permitindo inclusive a sobrevivência de eventuais aberrações, que, caso contrário seriam iliminadas. Da mesma forma genes mutantes e aberrações podem ser preservadas por ocasião de mudanças ambientais rápidas porque estas reduzem os efeitos da competição visto sempre novas condições ambientais entrarem em cena. É fácil ver então como um dilúvio universal, pode ter provido condições para Textos sobre Criacionismo Certamente começaram a ocorrer variações adaptativas e degenerativas que continuam até hoje segundo Romanos 8:22. 178 | um drástico aumento de variabilidade num mundo de tantas mudanças a partir de então. Concluindo, pode-se afirmar que em meio a tanta diversidade, não há evidência de qualquer tipo de mudança que possa operar acima do nível da raça-espécie e de seus entornos. A hipótese darwinista parece adequada para explicar as variações em nível intra-específico, mas insuficiente para explicar a origem dos grupos hierarquicamente mais elevados de seres vivos que segundo o plano divino deveriam preservar sua marcas básicas. Textos sobre Criacionismo Autor: Pr.Orlando Mário Ritter-APS e-mail: [email protected] | 179 Michael A. Comberiate: Diálogo com um adventista que é cientista de foguetes Kimberly Luste Maran O que o inspirou a seguir uma carreira na Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (NASA), e a quanto tempo você trabalha lá? A corrida espacial estava apenas começando quando eu cursava a escola elementar, e o lugar para onde eu iria quando me formasse na Universidade de Maryland, na década de 1960, era a NASA. Trabalho lá há mais de 32 anos. Você cresceu como católico. Como você soube a respeito da Igreja Adventista do Sétimo Dia? Eu era um daqueles católicos que realmente questionavam o que criam. Eu procurava entender estes mistérios: Três Pessoas num só Deus, o inferno eterno, vida após a morte e assim por diante. Jamais recebi respostas satisfatórias. Enquanto procurava, assisti a alguns programas na televisão que falavam do sábado do sétimo dia e do livro do Apocalipse. Fiquei interessado e, um dia, minha esposa deu-me um folheto da Igreja Adventista do Sétimo Dia, sobre a qual eu pouco sabia. Eles estavam oferecendo um seminário sobre o Apocalipse. Fui assisti-lo. A pessoa que proferia as palestras veio até minha casa e acabamos jogando golfe juntos. Estudamos esses assuntos por alguns anos. Fui à igreja de Spencerville, Maryland, com ele e passei a freqüentar uma classe bíblica. Não pensei que pudessem dar respostas às questões que eu tinha em minha mente mais do que qualquer outra pessoa; mas eles as responderam de modo diferente e usaram Textos sobre Criacionismo Michael A. Comberiate, diretor de sistemas da NASA (National Aeronautics and Space Administration), em Greenbelt, Maryland, trabalha no Goddard Space Flight Center desde 1969. Ele possui mestrado em eletrotécnica pela Universidade de Maryland. Como engenheiro, planejou circuitos eletrônicos para numerosos projetos de satélites. Algumas dessas missões foram à Lua e além. Desde 1984, Comberiate empreendeu também mais de 50 projetos especiais (http://coolspace.gsfc.nasa.gov), envolvendo cooperação entre agências na produção de resultados rápidos com recursos muito limitados. Por recomendação da National Science Foundation, a U.S. Geological Survey deu seu nome a uma geleira, em reconhecimento às contribuições de Michael à moderna exploração da Antártica e outras regiões remotas. Respeitado internacionalmente como um líder de idéias inovadoras, ele é bem conhecido por seu programa educacional especial chamado, ―Seja um Cientista‖, patrocinado pelo Projeto Aqua da NASA. Desde 1995, seu trabalho junto à comunidade acadêmica, criou um meio prático e econômico de distribuir, através dos Estados Unidos, sofisticados bancos de dados com ferramentas e técnicas necessárias ao seu processamento e adaptação às atividades curriculares contínuas. Os outros interesses de Comberiate incluem construção de casas e artes marciais. Ele ensina artes marciais desde 1968 e é faixa preta quinto dan (grau). A participação em campeonatos nacionais e a construção de casas contribuíram para desenvolver nele um forte espírito empreendedor. Ele é também um viajante habitual, tendo já dado dezessete voltas ao redor do mundo, incluindo sete expedições ao Pólo Sul e três ao Pólo Norte. Comberiate descende de uma linhagem de católicos originária do primeiro milênio. Sempre insatisfeito com explicações simplistas para sua fé, ele questionou tudo e achou que a Bíblia tem mais respostas do que a maioria dos cristãos reconhece. Aplicando sua experiência de engenheiro e cientista na compreensão desse texto milenar, Michael tem podido desvendar alguns mistérios da maneira lógica que um cientista de foguetes pode aceitar. Comberiate é casado com Karla, uma terapeuta ocupacional e educadora doméstica. Eles têm dois filhos e moram numa das casas que construíram fora de Washington, D.C. Se você quiser enviar-lhes um cartão postal de qualquer parte do mundo, simplesmente escreva: NASA Mike, 20777, EUA. 180 | somente a Bíblia para isso. Foi uma surpresa para mim. Assim fiquei com eles até obter as respostas. Passei a freqüentar a igreja regularmente desde 1988 e fui batizado em setembro de 1994. O que realmente o convenceu a tornar-se um adventista? Os mistérios que faziam sentido para mim encaixavam-se perfeitamente na teologia adventista. Sua compreensão do estado dos mortos, a definição de inferno e o sábado do sétimo dia harmonizam-se perfeitamente com uma visão ampla e que fazia sentido; assim fui atraído para a Igreja Adventista. Você pode usar certos textos para provar aquilo que quiser. Outra pessoa pode usar os mesmos textos para provar o oposto. Alguém tem de estar errado, mas como descobri-lo? O único modo de solucionar o problema é tendo um quadro completo. A maior parte das igrejas pára perante as enormes lacunas de sua compreensão. Sua versão do enigma ainda está cheia de sérias roturas. Quando você lida com mistérios, tem espaço para interpretações. A ciência é muito semelhante: A não ser que você tenha as respostas, pode formular outra teoria. Uma vez que você não as saiba, pode dar início a outra religião. Todos podem dizer: ―Cremos na Bíblia, embora só compreendamos dez porcento dela. Assim, noventa por cento de nossa visão são compostos de lacunas. Mas aí as pessoas encobrem esse fato, dizendo: ―Espera-se que você tenha fé‖ Isso é um insulto para uma pessoa com mente científica. Fé no quê? Em buracos? Penso que nós, adventistas, temos um quebra-cabeça mais preenchido, e deveríamos usá-lo para defender nossas interpretações da Bíblia, porque se você não conhece a verdade, certamente crerá numa mentira. Textos sobre Criacionismo O que presentemente o inspira a continuar seu trabalho? Na NASA eu tinha a possibilidade de fazer uma diferença positiva. Estamos na vanguarda da explosão tecnológica que é característica de nossa época. Isso está mudando o modo como fazemos as coisas. Conte-nos a respeito do seu livro How a Rocket Scientist Can Trust God (Como um Cientista de Foguetes Pode Crer em Deus). Geralmente as pessoas pensam num cientista de foguetes como alguém realmente lógico, um perito em matemática e nas coisas do mundo, que não está interessado em qualquer conjunto de crenças emocionais ou passionais. Um cientista de foguetes está mais envolvido com aplicações práticas e coisas que pode produzir, do que em simplesmente sentir-se bem. Como é, então, que ele acaba se tornando uma dessas pessoas devotadas a crenças religiosas? A maioria das pessoas considera a religião ―o ópio do povo‖. Você tem um sistema de crenças que o faz sentir-se bem, mas o que Deus espera é um relacionamento pessoal. Assim, como pode um cientista de foguetes confiar em Deus? Quando o sábio tem um relacionamento com Ele. Você pode aprender a falar com Ele. Não faz diferença se possui uma base matemática ou não. O importante é manter um relacionamento com Deus. Outra coisa importante é que o sistema de crença faça sentido. Um cientista de foguetes pode confiar em Deus se o seu conceito sobre Ele faz bastante sentido em vista das evidências observáveis. Se eu perguntasse a um ateu: ―Em que espécie de Deus você ―não crê?‖, haveria de descobrir que os ateus também crêem em Deus. Eles simplesmente não crêem num Deus pessoal. Em outras palavras, eles geralmente acreditam numa Causa Primária, que não teve princípio, mas sua questão é se a Causa Primária é pessoal. Assim, quando você me diz: ―Você é um cientista de foguetes e não crê em Deus, correto? Você crê em ‗Big Bangs‘ e coisas semelhantes, mas não crê num Deus que tem um plano para nós aqui no planeta Terra?‖ Eu digo: ―Não, eu creio. Creio num Deus que pode pensar como eu, o que para mim significa que Deus é pessoal.‖ A conversão fez com que você reconsiderasse suas aspirações profissionais? Não. Minha conversão foi um processo lento, desenvolvido com o tempo. Sempre me considerei como alguém que procura a verdade. Procuro respostas com todo o meu coração. Assim, onde eu estava naquele tempo e onde estou agora não é tão importante, visto que ainda estou procurando. Agora converso com Deus sobre tudo o que estou fazendo, ao passo que no passado eu não considerava isso importante. Agora descobri que há esse relacionamento com Deus que depende de comunicação, e eu gasto mais tempo procurando introduzir isso no que quer que esteja acontecendo. Quando estou bem, mau, feliz ou triste, converso com Deus. | 181 Você tem sido bem-sucedido em sua fé e trabalho? Para mim ―sucesso‖ é viver uma vida mais plena e saber que Deus a está partilhando comigo por causa do relacionamento íntimo que temos em tudo. Espero continuar esse relacionamento para sempre. A única diferença é que no Céu não haverá nem tristeza, nem enfermidade e nem esperas em filas. Textos sobre Criacionismo Que conselho você daria aos estudantes que lutam para conciliar o conhecimento científico com sua fé adventista? Posso ver como a teologia adventista faz sentido lógico e se harmoniza tanto com a Bíblia como com os fatos observáveis. Você também pode fazer isso, se pensar logicamente a respeito. Meu conselho é que eles achem o modelo de como todos os mistérios de seu sistema de crenças se harmonizam num quadro coerente, que tem sentido em termos de evidência observável. Explico esse quadro como eu o entendo em meu website [www.nasamike.com]. Você pode partir daí e desvendar o enigma buscando respostas de todo o coração. Você deve usar o método científico para coligir os fatos, mas então precisa tomar uma decisão emocional sobre como irá responder àquilo que entende ser a verdade. Entrevista por Kimberly Luste Maran. Kimberly Luste Maran é editora-assistente da Adventist Review: www.adventistreview.org 182 | Floyd Murdoch: Diálogo com um ornitófilo adventista Gary Krause Textos sobre Criacionismo Passe uma hora com Floyd Murdoch e você se converterá às alegrias da ornitofilia. Mesmo que você nunca tenha procurado um pássaro, ele o con- vencerá de que essa é a coisa mais excitante do mundo. Para Floyd, observar pássaros é mais que um mero passatempo. É uma paixão que abre as portas a questões maiores como criação, camaradagem, conservação e um Deus amoroso e criador de belezas. Significa uma biblioteca pessoal de 1.500 livros sobre pássaros. Significa levar freqüentemente grupos de pessoas em expedições à procura de pássaros, tanto nos Estados Unidos como além-mar. Significa fundar instituições, levantar fundos e despender centenas de horas num voluntariado em prol do Centro da Natureza, em Hagerstown, Maryland, no valor de um milhão de dólares. O interesse de Floyd pelos pássaros começou na quinta série fundamental, quando seu pai, um escocês, era diretor do que agora é conhecido como Avondale College, na Austrália. Sua mãe, uma americana, sempre apreciara pássaros e desenvolveu esse gosto no jovem Floyd. Essa paixão foi reacesa pelo diretor da escola local, e mais tarde por um professor da faculdade. Sua dissertação para a obtenção do Ph.D., feita em 1975, intitulada ―Para os Pássaros: a História da Proteção de Pássaros nos Estados Unidos‖, uniu os dois interesses de Floyd — história e biologia. Como parte de sua pesquisa, ele visitou muitos refúgios nacionais de animais, assinalando ao mesmo tempo 678 espécies de pássaros e quebrando o recorde do maior número de pássaros pesquisados na América do Norte, no período de um ano. Em sua carreira variada e distinta, Floyd tem-se interessado mormente na educação. Ele trabalhou como diretor de educação numa Associação, foi também diretor de escola secundária, diretor de planejamento internacional para a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), e professor dos níveis médio e superior. Presentemente, ele ensina ecologia na Takoma Academy, perto de Washington, D.C. Floyd prestou serviços em muitas organizações sem fins lucrativos, tais como a Audubon Naturalist Society e a American Birding Association, da qual é membro fundador e vitalício. Ele também serviu voluntariamente, dentro de sua especialidade, em muitos setores de interesse público, inclusive o Smithsonian Institute. O Dr. Floyd gosta de partilhar com a juventude seu entusiasmo pela natureza. Sua esposa, Lynetta, trabalha nos escritórios na Divisão Norte-Americana. Eles têm dois filhos adultos: Michael e Jennifer. Floyd, vamos ”começar do início”. Você tem um pássaro favorito? Sim e não. Com efeito, a kookaburra australiana (espécie de pica-peixe) é um de meus favoritos. Alguns pássaros são tão belos que a gente quer observá-los continuamente. Há uma certa excitação na investigação de um pássaro específico. Lembro-me de que, quando menino, o diretor de minha escola na Austrália levou-me a passear num sábado. Ele tinha uma luneta — não possuía recursos para adquirir um binóculo — e me permitiu ver uma garça, uma garça branca. E vi seus belos olhos. Pude até observar um círculo azul em torno do olho amarelo. Desde aquele dia tornei-me um aficionado. Eu precisava de um binóculo para sair em busca de pássaros. Qual é o pássaro mais raro que já viu? Vi alguns que agora estão extintos, porém, o mais raro foi a gralha havaiana. Faz alguns anos, Lynetta, minha esposa, e eu fomos observar esse pássaro juntamente com vários pastores adventistas do Havaí. Chegamos a uma montanha onde se supunha que ela estivesse. Lynetta decidiu esperar no sopé enquanto passávamos diversas horas subindo e descendo o monte. Não vimos o pássaro, contudo. | 183 Quando voltamos, Lynetta disse: ―Bem, eu vi uma gralha.‖ Em seguida nos levou até onde a tinha visto e, para nossa surpresa, o pássaro reapareceu. Naquele tempo, havia treze gralhas na mata. Hoje não há uma sobrevivente em liberdade. Algumas vivem em cativeiro para fins de reprodução, mas isso é basicamente o fim dessa espécie. Você tem um lugar favorito para a observância de pássaros? A floresta tropical. Você tira algumas fotografias também? Sim, tenho tirado muitas fotos [ver a inserção em cor], mas é realmente difícil combinar a observância séria de pássaros e a fotografia de alta qualidade. Na fotografia, você precisa assentar-se e esperar para obter uma boa foto. Nesse meio tempo, porém, você está perdendo 20 pássaros que nunca viu antes, porque se concentra em apenas num. Quanto tempo você gasta nessa atividade? Não muito. Há uns 20 anos eu dizia: Vou dedicar pelo menos duas semanas por ano nas florestas tropicais do mundo, e é o que tenho procurado fazer. E ainda há a emoção de mostrá-la aos outros. Observar pássaros é um esporte coletivo. Não há graça em sair sozinho. Algumas pessoas, lendo esta entrevista, poderão dizer: “Isso parece divertido.” Como elas podem começar? A melhor coisa é achar um ávido observador de pássaros — eles sempre se comprazem em levar alguém em sua companhia. Adquira um livro sobre pássaros e um binóculo, e saia com eles em punho. Você vai ficar encantado. Não existem observadores aposentados! Nos Estados Unidos, você pode fazer contato com a Sociedade Audubon. Em outras partes do mundo, pode tentar contatos via Internet. Em quase todas as partes no mundo, você pode achar pessoas que gostem de ornitologia. Se você não conseguir achar parceiros, ligue para a embaixada britânica. Há sempre alguém ali fissurado em pássaros. E lá estão por essa razão, você sabe. Eles trabalham na embaixada e tem algum título, mas todos sabemos que lá estão realmente à procura de pássaros! Você acha que a conservação é algo com o que os adventistas deveriam se preocupar? Surpreendo-me, realmente, de não fazermos muita coisa a respeito. Penso que os adventistas deveriam ser os primeiros a desfrutar a natureza e proteger o ambiente criado por Deus. A ordem dada a Adão e Eva foi para cultivarem o jardim. Isso não é somente uma experiência agradável, como também protege a criação. Se você resguardar uma parte da floresta, que por sua vez abrigue um lençol de água, está garantindo água pura e constante o ano todo e salvaguardará os pássaros. O planeta não pode suportar mais os maus-tratos que lhe estão sendo impingidos. Em muitos países do mundo não há mais as antigas florestas. Espero que o Senhor volte antes de as matas serem extintas. Tenho ouvido que os pássaros voam desde a América do Sul até a América do Norte sem escalas. Eles cobrem essas distâncias, mas não sem parar. A andorinha-do-mar viaja cerca de 32 a 35 mil quilômetros, a distância desde Punta Arenas, no sul do Chile, até o Alasca e o Círculo Ártico. E faz isso por duas vezes — uma vez indo e outra voltando. Naturalmente, ela pára ao longo do caminho. Provavelmente, a maior distância que os pássaros voam sem escalas é desde a Venezuela até a Flórida ou o Texas. Mesmo os minúsculos beija-flores voam 800 quilômetros sem parar. Imagine você quantas batidas de asas isso representa. Textos sobre Criacionismo Assim que você consiga fazer contato, de que mais precisará? Eu começaria com um binóculo de 50 ou 60 dólares. Pode ser difícil obtê-lo em algumas partes do mundo, mas na América e na Europa há lojas de trocas onde podem ser encontrados binóculos doados por pessoas que têm mais de um em casa. Assim, se você vive num país em desenvolvimento, está interessado em observar pássaros, mas não pode comprar um binóculo, poderá filiar-se a um clube da modalidade e tomá-lo emprestado, como se faz com um livro numa biblioteca. 184 | Isso é fenomenal. Como o fazem? Eles comem muitos insetos antes de partir e isso os engorda. Quando chegam ao seu destino, estão muito fracos. Então ingerem néctar, especialmente para o verão. Algumas pessoas dizem que não é bom para os pássaros manter-lhes um local de abastecimento. Não tenho tido problemas com sua alimentação. Os homens têm eliminado sua fonte natural de alimentos e assim, em certo sentido, estamos apenas repondo o que já existia antes. É agradável tratar dos pássaros e isso ajuda as pessoas a apreciá-los. No centro natural em Hagerstown temos duas janelas com alimentadores de pássaros do lado de fora. É surpreendente ver o delírio das crianças quando observam os pássaros. Ficam muito curiosas: ―O que é aquilo‖? ―Qual é o seu nome‖? ―Onde posso vê-lo‖? Essa é uma curiosidade natural. Se pudermos desenvolvê-la nas crianças, em vez de mantê-las assentadas e ocupadas em videogames, dia e noite, isso lhes será bem mais proveitoso, porquanto promove um interesse maior no conhecimento do mundo, que talvez elas transmitam à próxima geração. Há muitos adventistas interessados em ornitologia? Sim. Com efeito, proporcionalmente, há entre os adventistas muito mais observadores dedicados do que em qualquer outro segmento da população. O observador de pássaros número um é o adventista. Quem fundou a Associação Americana de Observadores de Pássaros foi um adventista. Por que há tantos adventistas envolvidos com a ornitologia? Por causa de nossa fé na criação e do sábado como seu memorial — um tempo para interromper o trabalho, adorar a Deus, estar em meio à natureza e antecipar a eternidade. Os escritos de Ellen White também dão destaque à natureza, sua conservação e o conceito do jardim do Éden. Além disso, penso que os adventistas sempre apreciam o mundo natural. Textos sobre Criacionismo A ornitologia é uma experiência espiritual para você? Embora o mundo tenha sido arruinado pelo pecado, nunca vejo um belo pássaro sem ficar maravilhado com o que Deus criou. Há tantos pássaros coloridos e magníficos ao nosso redor. Observá-los leva-nos a uma melhor compreensão e apreciação mais profunda da criação divina e de sua beleza inerente. Há mais de 10 mil espécies de pássaros no mundo. Embora algumas delas sejam as mesmas desde o Gênesis, a ―devolução‖, como eu a chamo, tem feito com que todas experimentem alguma mudança. Mas não vejo muitas lacunas. Quanto mais estudo os pássaros, tanto mais me convenço da verdade de que Deus é o Criador. O que vemos ao nosso redor não pode simplesmente ter evoluído. Tem de haver um Mestre Planejador. Entrevista realizada por Gary Krause. Gary Krause é o diretor de comunicação para a Missão Global da Associação Geral. Quando menino na Austrália, ele gostava de alimentar kookaburras na mão. Seu e-mail: [email protected] Dr. Floyd Murdoch pode ser contatado via e-mail: [email protected] | 185 Raymond Romand: Diálogo com um neurobiologista francês John Graz Nascido numa família adventista de sitiantes, Raymond Romand cresceu entre as belezas da Natureza. Seu lar num sítio pequeno e distante nas montanhas do Jura, na fronteira entre a Suíça e a França, deu-lhe a oportunidade de cheirar a terra, ver a glória de flores silvestres, contemplar as belas montanhas arborizadas, produzir o alimento da família e à noite observar as lanternas magníficas bruxoleando no céu francês. Ele adorava ser filho da Natureza e esperava que seu destino seria justamente isso: jardins, florestas e sítios. Ao crescer Raymond, o contentamento com o pequeno sítio converteu-se num desafio para descobrir os mistérios atrás da ordem e beleza da Natureza. Queria estudar. Com o apoio de um pai compreensivo, matriculou-se no segundo síclo, à idade de 18, numa escola adventista. Otimista como era, não ficou acanhado por seus colegas serem bem mais jovens. Com efeito, viu em sua idade uma vantagem. Sua maturidade e ânsia de dominar tudo que viesse pela frente ajudou-o a concluir logo a escola secundária e entrou na Universidade de Montpellier, na França. Essa decisão impulsionou-o para uma carreira científica que incluiu estudo e pesquisa na Escola de Medicina de Harvard. O Dr. Romand tem dois doutorados. Ao passo que seu interesse primário seja neurobiologia (estudo do cérebro), ele continua a se enfronhar em ecologia tropical e formação de espécies de peixes tropicais. Publicou vários trabalhos e atualmente leciona na Universidade de ClermontFerrand. Já foi também consultor da Organização Mundial da Saúde. O Dr. Romand é casado com Marie Rose, que tem um Ph.D. em fisiologia, e o casal tem dois filhos: Cyril, 18, e Ariane, 16. Quando e como decidiu tornar-se um cientista? Não despertei certa manhã dizendo comigo: ―Bem, vou me tornar um ecologista ou um neurobiologista.‖ A vida não funciona assim. Antes de começar meus estudos secundários, mudei-me do sítio para um hospital adventista, La Lignère, na Suíça. Passei três anos aí como aprendiz de jardineiro. Então mudei-me para o Instituto Adventista do Salève onde o ambiente acadêmico e o que vi acontecer para jovens me desafiou incontinenti a ir além do jardim. Logo completei a escola secundária, e quando a oportunidade surgiu para estudos na universidade, agarrei-a imediatamente. Ao ingressar em estudos formais um tanto tarde na vida, fui atraído por muitas disciplinas: ecologia, biologia, fisiologia, neurologia, história e assim por diante. Mas minha curiosidade levou-me a concentrar em fisiologia e neurologia. Foi o ambiente adventista favorável em guiá-lo a essas decisões em sua vida intelectual e profissional? A espiritualidade de minha mãe como adventista me influenciou bastante na infância. Dela e de meu pai aprendi o valor do trabalho, o significado da fé e a necessidade de avançar. Minha experiência como jardineiro, primeiro no hospital adventista em La Lignère, e depois no Instituto Adventista, me forneceu oportunidades de encontrar diferentes pessoas, gente simples, profissionais, gente profundamente espiritual e às vezes lutadores, e desse ambiente aprendi Textos sobre Criacionismo Dr. Romand, como menino o senhor pensava que o sítio e o jardim eram seu destino. Agora o senhor é um neurologista de fama mundial. Esse é um grande salto, não? Sim. Para mim não foi apenas um salto; foi uma longa viagem. Quando menino, eu era tão fascinado pelas flores e com o trabalho no campo que nem me preocupava em ir à escola. Mas esse amor pela Natureza me levou em minha adolescência a admirar a criação divina. Depois foi apenas uma questão de tempo ir à escola e depois à universidade estudar a ordem e a maravilha achadas na Natureza, desde plantas até o cérebro humano. 186 | como a fé e o trabalho ou a falta dele podem afetar a vida. Poderia dizer que foi a atmosfera estimulante do ambiente adventista que me impeliu na escada educacional ascendente. Eu queria fazer algo de minha vida e devo essa decisão em grande medida ao adventismo. O senhor foi estudante em universidades públicas quase 10 anos. Qual foi seu maior desafio? Como sói acontecer, exames aos sábados eram um problema real. No fim de meu primeiro ano na Universidade de Montpellier, veio o teste. Juntamente com 400 estudantes tive de prestar exames durante duas semanas, com um que durou três dias e terminando no sábado. Entrei em contato com meu professor: ―Como podemos mudar o horário dos exames por causa de um estudante?‖ disse ele, e continuou: ―Fora de questão! Por que não pedir uma indulgência de suas autoridades eclesiásticas?‖ Então discuti o problema com o pastor local, que por sua vez contactou a pessoa encarregada de liberdade religiosa na União Franco-Bélgica, em Paris. Depois de algumas discussões com o ministério francês de educação, veio o milagre. A universidade recebeu um aviso especial para mudar o horário dos exames de modo que parte alguma caísse no sábado! Quando respeitamos um princípio, Deus sempre cuida de nossas necessidades. E mesmo se isso não acontece imediatamente, isso não é razão para desistir ou comprometer nossos princípios. Textos sobre Criacionismo Como escolheu sua especialidade entre as ciências? Jamais sonhei ser um cientista. Simplesmente escolhi o que parecia um desafio razoável. Achei que o desafio estava na biologia. Queria investigar o mundo real, não algo artificial como o da eletrônica. Nada tenho contra a eletrônica. Uso instrumentos eletrônicos cada dia. Estou cônscio de que a eletrônica tem afetado nossa vida de muitos modos. Mas, para mim, a vida real era um desafio estimulante. Abre grandes possibilidades para aprender como a vida funciona. O estudo da vida, suas maravilhas e mistérios me excitam e estimulam minha fé em Deus, que criou a vida. Ela propicia muitas áreas para serem exploradas, descobertas e investigadas. Depois de completar um mestrado em fisiologia em 1968, fui adiante para completar um mestrado em biologia em 1971, e seis anos depois terminei um programa doutoral em neurofisiologia. Aí cheguei à possibilidade de explorar essa grande maravilha que possuímos, o cérebro. Foi um processo gradual, uma jornada de exploração. E nunca cesso de maravilhar-me com o cérebro. Ainda estou estudando e pesquisando o modo complexo e magnífico como o cérebro funciona. O senhor tem dois doutorados e passou dois anos na Universidade Harvard, publicou muitos artigos em jornais de renome como Science, fez preleções na Europa e na América e é reconhecido como perito em neurobiologia. Como concilia ser cientista e um cristão que crê na Bíblia? Ser cientista e ser cristão não precisam entrar em conflito. É verdade que algumas teorias científicas parecem desafiar nossa fé. Por exemplo, veja a questão das origens. Embora minha investigação científica sobre o sistema nervoso não seja diretamente ligada à questão das origens, sei que a teoria da evolução não fornece todas as respostas. É uma teoria e, ao explorá-la, guardo em mente que é uma teoria. É verdade que não há síntese possível entre evolução e Criação, as duas concepções sobre a origem da vida e o significado do Universo. Depois de quase 30 anos de pesquisa sobre o cérebro e a genética de peixes tropicais, estou mais e mais convencido de que a teoria da evolução não corresponde ao que observo. Isso não quer dizer que há um fixismo estrito nos reinos animal e vegetal. Penso que a evolução como é ensinada nos compêndios e alhures, é uma teoria conveniente, aceita pela maior parte dos cientistas, sem questioná-la. Contudo, é muito difícil dar argumentos contrários à teoria da evolução porque há milhares de pesquisadors que explicam todas suas descobertas pela teoria evolucionista. Infelizmente, há muito pouca gente que ouse desafiar essa teoria cientificamente. Ao mesmo tempo, alguns cristãos bem- intencionados propõem argumentos fracos a favor da Criação e contra a evolução, os quais desmerecem suas afirmações na comunidade científica. Quanto a mim, minha pesquisa mostra tanto maravilha quanto mistério. Esses elementos me levam a afirmar minha fé num Deus pessoal e criador. O senhor está envolvido em atividades da igreja local como diretor da Escola Sabatina e ancião. Tem algum comentário sobre a vida da igreja? Talvez um problema crucial que descubro em nossa igreja é que ela se tornou uma instituição de modo exagerado. Igreja institucionalizada não é o mesmo que igreja crente. A vida da | 187 congregação local é dependente da dedicação dos membros ao estudo e prática da Palavra de Deus. Por exemplo, veja nossas escolas sabatinas cuja função principal devia ser estudar a Bíblia. Desse estudo emerge a mensagem e a missão para desafiar a vida da igreja. Mantêm nossas escolas sabatinas esse alvo primário? Muitos nem vêm mais à Escola Sabatina. Quantos que vão à igreja ainda estudam suas lições bíblicas? Penso que como membros temos a responsabilidade de reacender nossa dedicação à mensagem e à missão reveladas na Bíblia. Aí jaz nosso desafio presente. Quais são seus planos para o futuro? Pesquisa científica em alto nível consome muito tempo. Exige o sacrifício de muitas outras coisas que a gente gostaria de fazer. Além disso, por causa da fama, requerem que façamos muitas coisas que nada têm que ver com pesquisa científica. Assim, ao me aproximar dentro de poucos anos de um ponto crítico em minha vida, surge um ponto de interrogação: Devo continuar a investir minha energia em ciência o resto de minha vida, ou devo ficar mais envolvido em atividade de igreja? Deus mostrará o caminho. Textos sobre Criacionismo Finalmente, Dr. Romand, que conselho gostaria de dar a estudantes adventistas em universidades públicas? Talvez quatro pensamentos. Afirme sua fé continuamente. Avalie de modo realista suas possibilidades. Procure desafios tanto em seus estudos como em sua vida profissional. Continue cres-cendo tanto intelectual como espiritualmente. Entrevista por John Graz. John Graz (Ph.D., Universidade de Paris, Sorbonne) trabalha como diretor do Departamento de Relações Públicas e de Liberdade Religiosa da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. O endereço do Dr. Romand: 22, rue Jean-Philippe Rameau; 63700 Aubière; França. E-mail: [email protected]