À descoberta do Novo Mundo
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À descoberta do Novo Mundo
ACABADOS DE PARTIR O veleiro Sea Cloud fez a primeira paragem em Oranjestad, um dos cinco portos de abrigo ao longo de nove dias. As Caraíbas no seu melhor, numa viagem inesquecível. CAR AÍBA S À descoberta do Novo Mundo Ao sabor dos ventos das Caraíbas, embarcámos num veleiro com 77 anos de história. Da animação de Curaçao à natureza da Costa Rica, mergulhámos em Aruba, embrenhámo-nos na Colômbia e descobrimos uma comunidade indígena no Panamá. TEXTO DE RICARDO FOTOGRAFIAS DE SANTOS PAULO BARATA GRANDES PORMENORES Içar as velas é apenas uma das tarefas a bordo. Parte do veleiro é de madeira, o que exige tratamento. Os tripulantes não deixam nada ao acaso e a limpeza e manutenção são uma constante. U ma flûte de champanhe vai sempre bem. O dia está a terminar, há algumas nuvens que se aproximam para emprestar um tom alaranjado ao céu e as luzes das fachadas dos edifícios da frente de mar de Willemstad, em Curaçao, nas Antilhas Holandesas, começam a acender-se. A recepção aos viajantes do Sea Cloud começa em terra, com toalhas refrescantes e o tal champanhe bem fresco. Cada passageiro tem direito a um cartão magnético no qual está inserida informaticamente uma fotografia e o nome. Esse será o bem mais precioso durante a próxima semana, a identificação que vai permitir a entrada e saída do navio em cada escala deste cruzeiro nas Caraíbas. Depois de Curaçao, Aruba, Colômbia, Panamá e Costa Rica estão à nossa espera. O sino toca para jantar às 19h30 em ponto, já os turistas passeiam tanquilamente pela marginal em direcção aos restaurantes e bares deste porto que ganhou o nome graças aos navegadores portugueses no século XVI. O nome não vem de coração, como eventualmente seria de prever, mas sim de «curação», o acto de curar, já que foi aqui que os marinheiros encontraram a salvação para o terrível escorbuto. Ficou como a ilha da cura, graças aos víveres 1.º dia frescos consumidos. O que se consome agora também passa pelos frutos tropicais, mas, a julgar pelo som da música e das gargalhadas que sai dos bares da cidade, é do afamado rum das Caraíbas que se fala. No deck do Sea Cloud, o veleiro de quatro mastros com 77 anos e uma história recheada de peripécias, o tempo é de preparação para o mar. À nossa frente, na baía de St. Anna, os edifícios coloniais iluminados despedem-se dos 45 passageiros e 60 tripulantes. Este não é um cruzeiro como os outros, garante a tripulação, os organizadores e alguns dos viajantes, repetentes nesta aventura, que iremos conhecer durante a próxima semana. Não tem nada que ver com os gigantescos hotéis sobre o mar, dizem, com centenas e até milhares de turistas em prédios flutuantes. Aqui, IMPÉRIO DA TRANQUILIDADE Ao final do dia, o porto de Curaçao apresenta um movimento fora do normal. Não de barcos, mas de turistas que passeiam pelo cais, entrando e saindo dos bares e restaurantes. Curaçao Ficou como a ilha da cura, graças aos víveres frescos consumidos. O que se consome agora também passa pelos frutos tropicais, mas, a julgar pelo som da música e das gargalhadas que sai dos bares da cidade, é do afamado rum das Caraíbas que se fala. 62 Volta ao Mundo Abril 2009 BONS APETITES A hora da refeição é sagrada. Os almoços são ao ar livre, sempre que o tempo e a ondulação o permitem. Os jantares decorrem na sala nobre do veleiro de quatro mastros. a mais-valia é sentir as velas abertas ao vento, percorrer os corredores ao sabor da ondulação e partilhar histórias e momentos com um grupo restrito de pessoas que teimam em não querer acentuar diferenças sociais. E se as há… Curaçao, a ilha descoberta em 1499 por Alonso de Ojeda, um dos capitães que acompanharam Cristóvão Colombo na descoberta da América, está a ficar para trás. Os rebocadores levam o veleiro de 110 metros para fora do porto. São 22h00 e a próxima noite será passada em navegação. Das Antilhas Holandesas vai ficar apenas a recordação de um final de tarde quente e o desejo de lá voltar, com mais calma. Curaçao já é só um conjunto de luzes ao fundo. Próxima paragem: Aruba, a 75 milhas náuticas de distância. Pouco antes das oito da manhã começa a avistar-se Oranjestad, em Aruba. Já se imaginam férias de sonho em praias de areia branca e mar azul-esverdeado de água tépida… E é mesmo isso que Aruba tem para oferecer. Mas pouco mais. E o pouco aqui é muito. Hotéis, lojas de luxo, restaurantes, casinos, hotéis, mais hotéis, bares e ainda mais hotéis decoram esta ilha de 32 quilómetros de comprimento e quase dez de distância no seu ponto mais largo. Comprar uma casa aqui, com vista para o mar, custa cerca de um 2.º dia milhão de dólares – para quem vem de fora – e o colorido das moradias tem uma explicação: cada família pinta a casa de acordo com o partido político em que irá votar nas eleições. A tinta é paga pelos candidatos e as casas verde-seco ou amareladas têm mais saída do que as outras quatro possíveis, correspondentes a um total de seis partidos. É a bipartidarização colorida entre conservadores e liberais numa terra onde os ventos do mar degradam constantemente as camadas de tinta que cobrem as moradias. As praias de Palm e Eagle Beach são as mais populares entre os visitantes. A linha de areia não está demasiado preenchida, a água convida, o sol aquece, a música que vem do bar ajuda a descontrair. Do primeiro andar da esplanada de um bar na praia, Jorg e Martina acenam para que subamos. É só tempo de secar os calções de banho e a HISTÓRIAS PARA CONTAR Avô e neta, ambos suecos, gozam os muitos momentos de paz a bordo, enquanto o Sea Cloud segue a todo o gás pelo mar das Caraíbas, impulsionado pelo vento ou com recurso às máquinas. Aruba O colorido das moradias tem uma explicação: cada família pinta a casa de acordo com o partido político em que irá votar nas eleições. A tinta é paga pelos candidatos e as casas verde-seco ou amareladas têm mais saída. É a bipartidarização colorida entre conservadores e liberais. 64 Volta ao Mundo Abril 2009 AO SABOR DOS SENTIDOS Elementos indissociáveis do carácter boavistense: terra estéril, rocha, areia e mar. Sem esquecer o factor humano do ritmo, da música, da ginga e de um sabor a liberdade. Os marinheiros sobem aos mastros para desatar os nós que prendem as velas. O vento está de popa, coisa boa para quem anda no mar. A prova chegará quando o Sea Cloud atingir os 13 nós de velocidade, apenas com recurso ao vento. conversa já decorre num banco alto junto ao balcão onde as piñas coladas se vão fazendo sentir. Têm mais de 60 anos, são alemães, casados, dois filhos, e é a quinta vez que viajam no Sea Cloud, desta feita por 34 dias. Os seus cartões pessoais incluem uma fotografia do casal e outra do navio com a frase «Sea Cloud Fans». Após a Segunda Guerra Mundial o pai de Jorg, médico, levou a família para Leipzig na expectativa de uma vida melhor. Um oficial norte-americano avisou-o da iminente chegada dos soviéticos à cidade e a família de Jorg – então com semanas de vida – andou a fugir durante três meses com o recém-nascido dentro de uma mala de viagem. Acabaram por ficar na metade ocidental da Alemanha, onde Jorg viria a tornar-se oficial da Força Aérea, piloto de caças. Reformou-se aos 50 anos e criou uma empresa de gestão de situações de crise, como salvamentos, resgates ou raptos. Enriqueceu, vendeu a companhia, fez ainda mais fortuna e não prescinde do seu avião particular para viajar pelo mundo. «Não quero ser o homem mais rico do cemitério», garante sob o olhar embevecido de Martina, a companheira de todos os tempos que mantém uma beleza invejável quase a chegar aos 65 anos. Vem mais uma rodada de piñas coladas para o balcão, seguidas por mais umas doses de mergulhos até às 17h45, a hora marcada para regressar ao Sea Cloud e partir rumo a Santa Marta, na Colômbia. Aruba e o seu idioma local, o papiamento (nalguns casos semelhante ao português e ao crioulo: bon dia, bon tardi, bon nochi) entram para o álbum das boas recordações da viagem. Abril 2009 Volta ao Mundo 67 CLÁSSICO, DE FACTO Os jantares do Comandante são um desfile de elegância. O formalismo não é obrigatório a bordo, mas há ocasiões em que um casaco e gravata são aconselhados. Para as senhoras, o vestido de noite é uma boa opção. «É um privilégio servir com eles», diz Todd Burgman, o comandante norte-americano do navio, durante o cocktail de boas-vindas. Refere-se à tripulação, oriunda das Filipinas, Alemanha, Polónia, Sérvia, Croácia, Roménia, Índia, Itália, Rússia e Reino Unido. Ergue o copo de champanhe e propõe um brinde aos novos e velhos amigos. Segue-se o Jantar de Boas-Vindas do Comandante, na sala de refeições, com uma decoração que mostra o glamour de outros tempos, com quadros épicos nas paredes, estantes repletas de livros e uma atmosfera típica de restaurante de hotel de cinco estrelas. E essa é a verdade. A melhor descrição. O veleiro, além de navio de cruzeiro, é também um hotel com 32 cabinas e capacidade para 64 passageiros e 60 tripulantes. Foi construído em 1931, tem 96 metros de casco, trinta velas (equivalentes a três mil metros quadrados de superfície para aproveitar o vento) e o mastro mais alto mede 55 metros. Essa noite e o dia seguinte serão passados no mar das Caraíbas – 275 milhas marítimas até à Colômbia. Às nove em ponto o comandante dá início ao içar das velas. Tudo é feito de forma manual, como se de um navio-escola se tratasse, com «18 tripulantes a realizarem o trabalho de quase cem», nas suas palavras. Os marinheiros sobem aos mastros 4.º dia para desatar os nós que prendem as enormes velas. O vento está de popa, coisa boa para quem anda no mar. A prova disso vai chegar nessa noite quando o Sea Cloud atingir os 13 nós de velocidade, apenas com recurso ao vento. «Facto digno de recorde», diz o director de cruzeiro Steffen Spiegel, alemão, sempre activo, a coordenar actividades, a chamar a atenção para pormenores, a reunir os passageiros para momentos de descontracção como o chá das cinco ou as palestras sobre os destinos do dia seguinte. O buffet de almoço é servido às 12h30 no Lido Deck, no convés superior. É assim todos os dias, excepto quando o mar agitado ou as chuvas tropicais o impedem. Não foi o que aconteceu nesse primeiro dia de (apenas) navegação. A conversa ia animada na mesa, com o médico de serviço, o alemão Manuel Fichtelscherer, a dissertar sobre os encantos de Portugal NAÇÕES UNIDAS Não há lugares fixos à mesa. Cada passageiro escolhe onde se sentar e todas as noites há variação para que as diferenças culturais venham ao de cima e a discussão amigável surja entre um copo de vinho e um prato preparado com classe. Colômbia Santa Marta é reconhecida pelas praias de águas cristalinas nas redondezas. Mas não só. Simón Bolívar morreu aqui, na miséria. Gabriel García Márquez inspirou-se em Santa Marta para Cem Anos de Solidão. E Carlos Valderrama é um filho da terra. 68 Volta ao Mundo Abril 2009 JORG E MARTINA É a quarta vez que o casal embarca no Sea Cloud. Desta vez foram 34 dias, de Curaçao à Jamaica. É a sua segunda casa e na carteira até têm cartões-de-visita pessoais com uma fotografia do veleiro. em tom bem-humorado. O café está quase a chegar para culminar a sobremesa quando algumas dezenas de visitantes inesperados decidem chamar a atenção dos passageiros. Uma família de golfinhos nada agora ao lado do Sea Cloud, saltando da água, surfando nas ondas, cruzando a embarcação por baixo dela. As palmas e os assobios parecem incentivá-los ainda mais neste espectáculo gratuito da natureza, longe de aquários ou espectáculos com animais amestrados. O resto da tarde é passado a ler, a escrever, a conversar, a pintar, a ver o mar, a dormir, a namorar. Cada um escolhe a melhor opção. Pequeno-almoço a partir das sete da manhã, chegada a Santa Marta, Colômbia, às oito. Meia hora depois sai o primeiro grupo para o Parque Nacional de Tayrona, uma reserva natural à beira da Sierra Nevada, a mais alta cadeia montanhosa junto ao mar em todo o planeta, com 5700 metros de altura. Mas Santa Marta é reconhecida também pelas praias das redondezas, procuradas por quem não dispensa águas cristalinas. Além disso, foi aqui que Simón Bolívar, inspirador da independência dos estados sul-americanos, veio a morrer em 1830, doente e na miséria. Santa Marta serviu também de inspiração a Gabriel García Márquez para criar a cidade de Macondo, onde decorre 7.º dia Cem Anos de Solidão. E esta é também a cidade natal de Carlos Valderrama, o médio ofensivo da selecção colombiana durante os anos oitenta e noventa do século passado. O mítico jogador de futebol tem uma estátua no centro da localidade, retratando também, e como não poderia deixar de ser, a sua enorme cabeleira loura. Uma imagem de marca que teve seguidores um pouco por todo o mundo. Uma caminhada, misto de trekking e de passeio pelo meio da densa selva, ocupa este meio dia na Colômbia. À hora de almoço, o Sea Cloud liga os motores para abandonar Santa Marta e preparar-se para mais 305 milhas de mar até El Porvenir, no arquipélago de San Blas, no Panamá. Pela frente, mais uma tarde e uma noite de navegação. O céu está carregado de nuvens. A chuva e o vento forte fazem que a noite não seja calma e algumas ondas AO SABOR DO VENTO Este é o cruzeiro ideal para quem gosta de velejar e essa é a grande vantagem do Sea Cloud em relação às outras embarcações que cruzam as Caraíbas. Além disso… aqui há apenas lugar para 64 passageiros. Panamá Os indígenas aproximam-se em pirogas tradicionais, a remos, tentando vender búzios, colares, brincos e panos típicos. Os kuna são uma tribo de quase trinta mil indivíduos dispersos pelas cinquenta ilhas de um arquipélago com cerca de 365. 70 Volta ao Mundo Abril 2009 Uma família de golfinhos nada agora ao nosso lado, saltando da água, surfando nas ondas, cruzando a embarcação por baixo dela. As palmas parecem incentivá-los ainda mais neste espectáculo gratuito da natureza. atingem altura suficiente para invadir o convés. Os tripulantes sobem aos mastros para recolher as velas. Estas e eles ficam ensopados num instante. É um navio habituado a dificuldades, com uma história recheada de intempéries e convulsões. Marítimas, políticas e sociais. Marjorie Merryweather Post nasceu em 1887, filha única de um empresário norte-americano. Divorciada, rica e mãe de dois filhos, conheceu Edward F. Hutton, um banqueiro de Wall Street com a paixão pelos iates. Casaram, compraram uma casa com 53 quartos e mandaram construir um veleiro de quatro mastros para ser diferente dos outros, quando o comprimento da embarcação apenas justificava a utilização de três. Construído em 1931, em Kiel, na Alemanha, o navio foi levado para os EUA e na primeira viagem o casal passou pelo Panamá, Cuba, República Dominicana e ilhas Galápagos. Tinham 72 tripulantes para servir três passageiros: o casal e a filha, Dyna Myrrell, hoje com 87 anos e antiga estrela de Hollywood. Marjorie descobriu que o marido gostava de manter relações com outras mulheres. Não lhe agradou a ideia, divorciou-se e casou, pela terceira vez, com um político norte-americano, embaixador na URSS. O barco ficou para ela. O Sea Cloud rumou a São Petersburgo onde foi palco de inúmeras festas da alta sociedade. Imediatamente antes do eclodir da Segunda Guerra Mundial, o casal mudou-se para a Bélgica e Marjorie, patriota, cedeu o navio à marinha norte-americana. IX-99 foi o nome dado ao Sea Cloud durante dois anos e meio, a comissão de serviço no decorrer do conflito. Os mastros foram retirados, com excepção do principal, e a embarcação teve papel de destaque nos Açores e na Gronelândia, recolhendo informações meteorológicas que ajudaram a planear o decisivo desembarque na Normandia. Chegou a afundar um submarino alemão. Nos anos cinquenta, Marjorie, já casada pela quarta vez, vendeu o Sea Cloud a Rafael Trujillo, antigo ditador da República Dominicana, que mudou o nome do veleiro para Angelita e o ofereceu a um dos filhos. Los Angeles foi o poiso seguinte. As socialites de Hollywood, entre elas Joan Collins, foram as frequentadoras das festas megalómanas organizadas pelo incorrigível herdeiro a bordo do Angelita. O ditador não gostou das loucuras do primogénito e chamou-o de volta a casa. Já em desgraça, a família tentou fugir para a Europa a bordo do iate, mas as novas autoridades dominicanas capturaram-no, incorporando o actual Sea Cloud na marinha do país sob o nome de Pátria. Seguiu-se um período de várias compras e vendas até se tornar navio-escola para jovens de famílias ricas que procuravam descobrir o espírito de equipa. Mas o dinheiro para esse projecto acabou e a embarcação foi arrestada no Panamá até ao pagamento das dívidas. Eram os anos setenta do século XX. Durante cerca de dez anos, as condições do navio deterioraram-se, até que um grupo de empresários alemães o descobriu, perdido no Panamá. Na travessia para a Europa, o Sea Cloud parou nos Açores, onde foi retido novamente para pagamento de dívidas. Chegado a Hamburgo, em 1979, os actuais proprietários recuperaram-no e transformaram-no num navio de cruzeiro especial. O mesmo que veleja agora em direcção ao Panamá. A manhã é de muito sol. E a paisagem é surpreendente. Centenas de pequenas ilhas aguardam o Sea Cloud. Os indígenas aproximam-se em pirogas tradicionais, a remos, tentando vender búzios, colares, brincos e panos típicos. Os kuna são uma tribo de quase trinta mil indivíduos dispersos pelas cinquenta ilhas de um arquipélago com cerca de 365. Chegaram a San Blas, na costa do Panamá, no século XIX, e defenderam a sua autonomia de forma feroz. Vivem dos cocos, da pesca e agora, também, do turismo. Na ilha principal, El Porvenir, uma pista de aviação com 450 metros de comprimento pode receber voos internacionais. De um lado e outro do asfalto, relva e palmeiras. Depois, areia branca e água. Snorkeling e banhos de mar são as melhores opções para passar o tempo. De resto, é como se se estivesse no paraíso. Um pequeno restaurante serve arroz de polvo, marisco e cerveja fresca a pouco mais de oito dólares. Há quem volte a bordo para não perder o almoço do Sea Cloud. Não é a melhor opção, apesar da qualidade da comida no navio. Aqui, no areal, a qualidade de vida é mais importante. Jorg, Martina, o médico Manuel e um amigo também optaram pelo programa mais simples. Entregam-se aos prazeres da conversa, interrompendo-a apenas para mais um mergulho no mar ou um passeio na praia. Nessa noite vai decorrer a Festa dos Piratas, com direito a máscaras, palas nos olhos, ganchos em vez de mãos, cicatrizes maquilhadas e muito rum. No Sea Cloud tudo parece ser possível. Pela noite dentro, a tripulação vai entoar canções de marinheiros em várias línguas. Os passageiros vão acompanhar com palmas e seguindo as letras num livro fotocopiado. Falta um dia de navegação para se chegar ao destino final: Puerto Limón, na Costa Rica. Na última noite a bordo, o Jantar de Despedida do Comandante. A primeira vez que Todd Burgman, natural do Nebraska, viu o mar, tinha 18 anos. E rendeu-se. À cabeceira da mesa, conta histórias de travessias e do encanto pelo Sea Cloud. Tem 45 anos e garante que a sua viagem preferida é a da travessia entre a Europa e as Caraíbas, todos os anos antes do Verão. Faz mais um brinde, acompanhando a lagosta servida ao jantar. No final, «rouba» mais um chocolate para adoçar o gosto do café e retira-se. Às oito da manhã, o Sea Cloud chega à Costa Rica, o país que aboliu as Forças Armadas em 1949 e resolveu apostar o dinheiro empregue nessa área na saúde e na educação. É a terra do ecoturismo e um dos melhores exemplos de progresso na América Central e do Sul. Em Puerto Limón, um gigantesco barco de cruzeiro está aportado junto ao Sea Cloud. Milhares de passageiros britânicos saem em fila indiana para as excursões, atrás de um guia turístico. No convés do Sea Cloud, os viajantes bebem chá e café, despedem-se uns dos outros e da tripulação. Saem no seu próprio ritmo. Do imenso prédio flutuante ali ao lado, debruçam-se as máquinas fotográficas que não querem perder o momento de guardar uma recordação do Sea Cloud. Quem lá viajou, sabe que dificilmente o esquecerá. ■ CARAÍBAS Esta não é uma viagem qualquer. É preciso gostar de velejar, respeitar o mar e não enjoar. Ou, pelo menos, ter alguns comprimidos à mão caso se sinta mal. De resto, imagine-se no paraíso, aproveitando os mesmos ventos que levaram os descobridores portugueses e espanhóis até ao Novo Mundo. Com a vantagem de estar a bordo de um hotel de cinco estrelas. COMO IR A KLM (www.klm.pt) voa para Curaçao a partir de mil euros. CURAÇAO ARUBA NICARÁGUA SANTA MARTA METEOROLOGIA O clima nas Caraíbas é bastante peculiar. Evite os meses de Outubro e Novembro, já que o risco de tempestades e furacões é elevado. No resto do ano, há calor para todos os gostos. Mais informações em www.wunderground.com. COSTA PUERTO RICA LIMÓN EL PORVENIR VENEZUELA PANAMÁ Oceano Pacífico COLÔMBIA FUSO HORÁRIO PORTA-MOEDAS O euro e o dólar são aceites a bordo como meio de pagamento, bem como os cartões de crédito VISA, Master Card e American Express (e ainda os Travellers Cheques). Antes das paragens em cada porto é possível trocar dinheiro a bordo. Em Curaçao, Aruba, Santa Marta e Puerto Limón é fácil o acesso a bancos e caixas ATM. No arquipélago de San Blas, no Panamá, convém ir munido de dinheiro em notas pequenas, para as possíveis compras que queira fazer e para os serviços de piroga-táxi entre as ilhas. Área em destaque PALESTRAS Em cada dia de navegação, antes da chegada aos portos, estão preparadas palestras sobre o destino a visitar, em inglês e alemão. História do local, tradições, curiosidades, dados económicos e culturais são alguns temas abordados. A meio da viagem é escolhido um dia para contar as aventuras deste veleiro histórico, seus anteriores proprietários e agruras sofridas ao longo de 77 anos. SURPRESAS NA COZINHA O SEA CLOUD O Sea Cloud (www.seacloud.com) tem 32 cabinas e capacidade para 64 passageiros e 60 tripulantes. O pavilhão é de La Valetta, em Malta, e está equipado com Internet, ar condicionado, bar, loja, lavandaria, biblioteca, restaurante, posto médico, serviço de entrega de jornais e material para desportos náuticos. O programa de uma semana inclui todas as refeições a bordo, com direito a vinho e cerveja. Fora do horário das refeições, apenas água e refrigerantes estão incluídos no valor total (a partir de 2.735 euros). É conveniente marcar a viagem com antedecência, face à elevada procura. Se não conseguir – ou não quiser esperar – pode sempre aproveitar os cruzeiros do Sea Cloud no Mediterrâneo, entre Abril e Novembro. Tel.: 219 349 590 www.studycruises.com Aquipa do Sea Cloud não permite muitos momentos mortos. Além do tempo destinado a cada passageiro para descansar, ler, passar pelo bar ou estender-se numa das espreguiçadeiras dos vários convés, existe um variado programa de actividades suplementares. ESCALAS Aruba Em Oranjestad é possível realizar excursões adicionais a terra, dando a volta à ilha e visitando uma fábrica de aloé vera. Pode ainda subir ao farol Califórnia, o ponto mais alto de Aruba. Sinceramente, aproveite o tempo para ir à praia. É a melhor aposta. Pode sempre optar pelas compras ou pelos casinos. Colômbia GMT - 5 horas (ou 6, dependendo do destino) ACTIVIDADES A BORDO O HOMEM DO LEME Mais que uma onda, mais que uma maré, Todd Burgman é impelido pela paixão de velejar. Natural do Nebraska, nos EUA, tem 45 anos e só aos 18 viu o mar. Nunca mais o largou. Mar das Caraíbas Todos os dias, os cozinheiros deste hotel flutuante de cinco estrelas preparam surpresas para os passageiros, seja no chá das cinco acompanhado de panquecas ou com outros pequenos mimos para quem está a bordo. Mais formais são os dois jantares de gala, o de boas-vindas e o de despedida, os chamados jantares do Comandante. Nessas ocasiões é requerido um traje de gala, fato escuro e gravata para os homens, e vestido de noite para as mulheres. Mas o formalismo fica por aí, faz parte do espectáculo. Todo o ambiente acaba por ser descontraído, apesar da excelência da cozinha e do serviço. MÚSICA E FESTA Todas as noites há música, graças ao italiano Mario, o pianista de serviço. Mas na última noite de cruzeiro tudo é diferente, com a tripulação a brindar os convidados com uma sessão de canções de marinheiro. Outro grande momento ocorre nessa mesma noite, com a tradicional Festa dos Piratas. Não há quem apareça no convés sem, pelo menos, uma cicatriz pintada na cara ou uma pala no olho. Os lenços na cabeça e as garrafas de rum também fazem parte da lista de adereços para uma noite especial. Santa Marta oferece-lhe a possibilidade de conhecer um pouco melhor a realidade colombiana (e, entre outras curiosidades, foi aqui que nasceu Carlos Valderrama, o mítico jogador da selecção colombiana). Se optar por uma visita à cidade, a mais antiga do país (fundada em 1525), irá conhecer a Quinta San Pedro Alejandrino, onde morreu Simón Bolívar. O Parque Nacional de Tayrona é outro dos pontos de interesse, com os seus trilhos através da floresta tropical. Panamá O arquipélago de San Blas é a casa dos índios kuna. Logo, respeite as suas tradições e costumes. Regateie nas compras e mantenha um sorriso de cortesia. Uma viagem de piroga entre as ilhas é uma experiência quase obrigatória. Fazer mergulho ou snorkeling também são boas opções. Costa Rica Puerto Limón é uma cidade portuária com cem mil habitantes, ponto de chegada de diversos navios de cruzeiro. O interesse é diminuto. A solução passa por sair em direcção à capital, San José (três horas de autocarro), ou escolher uma das muitas actividades de ecoturismo que o país oferece: caminhadas pela selva, observação de espécies selvagens ou trilhos pelos vulcões. AGRADECIMENTOS A Volta ao Mundo agradece à Study Cruises o apoio na realização desta reportagem. www.studycruises.com OS PREÇOS DOS VOOS JÁ INCLUEM AS TAXAS ADICIONAIS (SALVO INDICAÇÃO EM CONTRÁRIO). ALGUNS VALORES APRESENTADOS PODEM RESULTAR DE CONVERSÕES PARA EUROS E/OU ARREDONDAMENTOS. ESTES E OUTROS DADOS PODEM SOFRER ALTERAÇÕES APÓS O FECHO DA EDIÇÃO. PARA MAIS INFORMAÇÕES CONSULTE UMA AGÊNCIA DE VIAGENS.