mística da 13ª estação da via sacra. possível representação
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mística da 13ª estação da via sacra. possível representação
MÍSTICA DA 13a ESTAÇÃO DA VIA SACRA: POSSÍVEL REPRESENTAÇÃO DE CUIDADO Em nosso calendário, quarenta dias após o carnaval acontece o feriado da sextafeira santa e o sábado de aleluia, de acordo com a folhinha anual, na perspectiva cristã. Nesta data, vários ritos são celebrados, dentre eles, a paixão de Cristo na sexta-feira, quando as pessoas católicas, no passado, faziam jejum e nos tempos atuais, se restringem ao alimento a base de carne, em virtude do sacrifício de Cristo na cruz, pois para elas a carne representa o corpo de Cristo, e o sábado de aleluia a sua ressurreição e a popular malhação de Judas - delator do redentor. Este rito da restrição alimentar se repete todos os anos e pode ser entendido como Tradição Inventada (HOSBWAN, 1997). Com efeito, após Cristo ter sido crucifixado, ele foi retirado da cruz e colocado nos braços de sua mãe – Virgem Maria. Isto faz remeter a 13a Estação da Via Sacra, que refere-se ao momento em que o corpo de Cristo foi retirado da cruz e acolhido nos braços da mãe. Destaca-se que o corpo de Cristo se encontra no centro da mensagem cristã, e o cristianismo é a religião, na qual Deus se insere na história, sendo Jesus o seu filho. Como tal, ele foi um humano gerado pelo Divino, e a Virgem Maria uma mística que, se encontra escrita no percurso da trajetória da humanidade (VIGARELLO, 2010, 21). Nessa perspectiva, vários artistas há séculos representam o momento da descida do corpo morto de Cristo nos braços da Virgem Maria de diversas formas. Dentre as representações artísticas, a Pietá de Michelangelo, que se encontra, atualmente, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, ao lado direito de quem entra na Instituição. Trata-se de uma escultura sobre a representação da cena do Cristo morto nos braços de sua mãe, esculpida em mármore, entre 1498 e 1499, sendo reconhecida pela beleza e perfeição. Foi encomendada por Jean Bilhères de Lagraulas, cardeal francês no papado de Alexandre VI. O cardeal pretendia expor a escultura de mármore em seu memorial (SCHOLTT, 1963). Na Pietà de Miguelangelo, Maria contempla em seus braços o corpo sem vida de Jesus Cristo. A peça esculpida de Michelangelo quebra as regras de proporção para dar maior expressividade à obra. Nela, há uma beleza trágica, relacionada à angústia do momento. A composição triangula a postura de Maria sentada, que pode ser interpretada como de profundo pesar, que denota a hexis corporal de relaxamento e tranquilidade. Mostra, também, a anatomia humana modelada pelas mãos do artista e está harmonizada com a figura horizontal do Cristo, acolhida sobre os membros inferiores de sua mãe, em meio as suas amplas vestes, com a figura vertical de Maria. A imagem de Jesus foi composta nas limitações do corpo da Virgem Maria. As proporções do corpo de Cristo na representação foram alteradas, ou seja, ele se torna menor que o corpo de sua mãe em meio ao seu manto, como se representasse uma aliança de mãe e filho (CEREJEIRA, 2012). A expressão artística de Michelangelo sobre o corpo do Cristo morto não se identifica com a representação da morte bruta por ele sofrida, mas sim de um homem abandonado, sereno, e a fisionomia da Virgem Maria é de uma jovem com semblante de calma (Fig. n.1). Como já foi dito anteriormente, várias foram às representações na presente temática, muitas são identificadas em pinturas, como, por exemplo, A Pietà de Villeneuve-lèsAvignon (1453-1454), obra-prima da Escola Provençal (STERLING, 1983). Isto conduz ao pensamento que Michelangelo tinha certo repertório sobre as representações artísticas à época, pois na Alemanha, entre os séculos XIII e XIV foi confeccionada uma peça em madeira, denominada Mater Dolorosa (Fig. n.2). Ela surge como obra de devoção privada conhecida como Andachtsbild, ou seja, uma escultura como imagem de fotografia, considerada como representação da realidade humana, devido ao peso e volume do corpo (DELICADO, 2006). Ao se deparar com as imagens, (des)semelhanças são identificadas a olhos vistos, em especial, por um lado a hexis corporal e, por outro, a expressão facial, o que remete aos estudos do historiador da Arte Erwin Panofsky. Na sua obra “Significado nas Artes Visuais” onde em meio às páginas, ele esclarece o que é iconografia e iconologia. A primeira, a iconologia, refere-se à descrição e classificação das imagens, o que leva ao nosso conhecimento, quando e onde temas específicos foram visualizados e por quais motivos. A segunda, a iconologia, como uma forma de interpretação que provem da síntese mais que da analise, sendo requisito essencial para interpretação, o que conduz, direta ou indiretamente, o pensamento teórico deste paper. Na imagem (Fig. n. 2), é possível perceber que o realismo tornou-se um veículo de expressão e é possível se ver na escultura os rostos angustiados (Virgem Maria e Cristo), demonstrando sofrimento, as feridas rasgadas, representação do sangue, vertida pelas feridas do dorso da mão direita, da palma da mão esquerda, do lado direito do corpo de Cristo e do dorso do pé direito. Os corpos e membros são representados de forma esquálida como se fossem bonecos, uma imagem quase caricaturesca de Maria com o Cristo morto nos braços. A inclinação mais acentuada da cabeça de Maria pode ser interpretada como sofrimento e pesar pela perda. Nesta imagem, também é possível observar que não existe preocupação com simetria, pois a cabeça do Cristo morto fica pendente, fugindo a métrica na observação triangular. Desta forma, compreende-se que a imagem em escultura, pode conter vários significados na sua interpretação, por meio dos sinais, símbolos e indícios nela contidas, dentre os quais, a concepção de sacralização e cuidado, tendo em vista a interpretação do posicionamento de ambas. As representações apontam para o cuidado e amparo ao corpo morto. Esta representação, na perspectiva do cuidado, possibilita se reportar a noção de cuidado do Filosofo francês Paul Ricoeur, que resulta da articulação de uma representação mental sobre respeito, estima, solicitude e reconhecimento, culminando na realidade no respeito ao outro (SMARJASSI, 2011). A experiência humana é interpretada como histórica, pela associação ao passado, presente e futuro, com o uso da experiência vivida, sente-se e perceber-se a imagem. A escultura criada de matéria prima bruta e trabalhada pela mão do artista, a princípio teria função decorativa, o que conduz a percepção do cuidado na arte, sendo esta inserida na imagem pelo olhar do espectador no posicionamento de ambas. Isto implica que, as imagens se reclicam no processo continuo de posição dos sentidos, pois nascem da necessidade de simbolização, pois em momentos diferentes certas imagens com sentidos comuns são acionadas para animar valores e transformar o mundo[...]. (Informação Verbal)1 Assim os sentidos tornam à imagem um desafio de interpretação e representação para o cuidado atual, no estudo da História, o que remete a temporalidade das esculturas mencionadas, como possibilidade de uma das representações do cuidado na expressão da Arte. Referências CEREJEIRA, T.L.T. Áudio-descrição da Escultura “Pieta” de Miguelangelo Buonaroti. Blog Arte Descrita – www.artedescrita.blogspot.com, Natal-RN, mar/2012. DELICADO, A.O. Historia Geral da Arte I. Biblioteca Virtual da Associação Acadêmica da Universidade Aberta. 2006. HOBSBAWN E, RANGER T. A invenção das tradições. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1997. PANOFSKY, E. Significado nas Artes Visuais. São Paulo: Perspectiva, 2011. PORTO, F.; SANTOS, T. C. F. A Romaria ao Túmulo de D. Anna Nery: Uma Tradição inventada para a Enfermagem Brasileira (1924-1926). In: Revista Enfermería Global, Espanha. Volume 7. 2005. VIGARELLO,G. Historia do Corpo da Renascença as Luzes. Petrópolis- RJ:Vozes. 2010. SCHOLTT, R. Michelangelo. London Thames and Hudson. Translate and adapted from the German By Constance.1963. STERLING Charles, Enguerrand Quarton. Le peintre de la Pietà d'Avignon, Paris, 1983. http://www.louvre.fr/oeuvre-notices/la-pieta-de-villeneuve-les-avignon acesso em 25/04/2014. SMARJASSI, C. O Pensamento Ético de Paul Ricoeur como Fundamento para o Ensino Religioso Emancipatório e Solidário. In: X Congresso Nacional de Educação – EDUCERE. I Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividade e Educação – SIRSSE. Paraná Curitiba, 2011. Disponível em: http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/4381_2322.pdf Autores: Andreia Neves-Doutoranda da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Do Programa de Biociências. Professora da Universidade Estácio de Sá . Enfermeira do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Membro do Grupo de Pesquisa LAPHE e LACENF. Fernando Porto -Doutor em Enfermagem com pós-doutoramento pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Professor Adjunto da escola de Enfermagem Alfredo pinto, da Universidade federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Professor do Programa de PósGraduação Mestrado em Enfermagem e Doutorado em Enfermagem e Biociência. Membro dos grupos de pesquisa LAPHE, LACENF e LAESHE. Como citar este post (Vancouver adaptado): NEVES Andréia, PORTO Fernando. MISTICA DA 13a ESTAÇÃO DA VIA SACRA: POSSÍVEL REPRESENTAÇÃO DE CUIDADO [internet]. Rio de Janeiro (br); 2014 [Acesso em: dia mês (abreviado) ano]. Disponível em: 1Palestra Proferida por A. M. Mauad no Colóquio Internacional: O Ensino de Historia e os Desafios do Tempo Presente, Rio de Janeiro, em abril de 2014. http://www.lacenf.com.br/... (completar com os dados do site).