Página 8 - Sul Rural
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Página 9 Página 8 Farsul debate com executivo e legislativo soluções imediatas para abigeato Em Santana do Livramento, município com uma das maiores produções pecuárias do Estado, o abigeato se tornou um crime comum e bastante debatido dos dois lados da fronteira. A cidade teve 217 ocorrências no ano de 2012, ocupando o topo na lista de registros do roubo de animais. O vice-presidente do Sindicato Rural de Santana do Livramento, Ricardo de Almeida Brochado, afirma que a fronteira com o Uruguai facilita o intercâmbio de reses roubadas. “É para onde vai grande parte dos animais roubados”, afirma. Mas o crime ocorre em todo o Estado e tem sido alvo de preocupação da Farsul. No último dia 25, uma audiência pública da Assembleia Legislativa em Alegrete contou com a participação do vice-presidente da Federação, Tarso Teixeira, do presidente do Sindicato Rural do município, Pedro Piffero, de representantes de pecuaristas de diversas regiões afetadas, além de autoridades. Segundo o diretor administrativo da Farsul, Francisco Schardong, a entidade solicitou aos sindicatos rurais relatórios sobre os casos registrados em suas áreas de atuação, e os informes indicam que o crime tem aumentado neste ano no Estado. “Estamos atentos ao problema e questionando o governo estadual, para buscar soluções. Precisamos colocar um freio na situação. Hoje, já não é mais o abigeato de carnear uma rês para matar a fome. Virou quase uma indústria”, afirma Schardong. O tipo de ocorrência varia em cada município, assim como a intensidade da prática criminosa. No caso de Santana do Criminosos organizados passam a mirar grandes rebanhos, dando dimensões econômicas maiores ao crime Livramento, o vice-presidente do Sindicato Rural afirma que os animais normalmente saem do município com as guias de indentificação verdadeiras, mas em transportes clandestinos. Para evitar a prática, é preciso fazer a revisão da autorização de saída na passagem do animal pela fronteira. Brochado afirma que a polícia brasileira é bastante atuante na fiscalização, mas, no Uruguai, o controle é centralizado em Montevídeo, o que torna fácil a passagem dos ladrões para o outro lado. Ele ressalta que o abigeato vem se espalhando em toda região fronteiriça do Estado. Isso é fácil de observar pelos números. No segundo lugar da lista de ocorrências do crime está Bagé, com 158 registros. Os seguintes na lista são Rio Grande, com 150 ocorrências, e Rosário do Sul, com 148. Devido ao quadro preocupante algumas iniciativas nos dois países já estão sendo tomadas para reverter esse cenário. “Nós estamos pedindo para o comando da Brigada Militar reativar a escola de formação de policiais. Não só aqui, mas nos países vizinhos. Em Livramento, já tem uma escola que está sendo rea- tivada”, afirma Brochado. Em Bagé, o tema foi alvo de conversa neste ano entre o presidente do Sindicato Rural, Aluízio Tavares, o governador Tarso Genro e o secretário de Segurança, Airton Mitchels. Tavares explica que o combate já foi melhor, em anos anteriores, quando foi implantado o Programa Ações Integradas de Segurança Rural, que reunia Brigada Militar, Polícia Civil e Prefeitura Municipal, com apoio da comunidade. “Com a última troca do governo estadual, esse programa ficou em segundo plano, e os casos de abigeato voltaram a subir. Mas já conseguimos conversar com o governador Tarso e o secretário Michels, e saímos com a promessa de implantação de uma delegacia especializada em Bagé, com atuação regional. Agora, a Polícia Civil implantou o cartório do abigeato, e no começo de abril teremos uma reunião para entender melhor o funcionamento”, explica Tavares. Enquanto na região de Bagé estão sendo registrados casos de furtos de rebanhos inteiros, com centenas de animais, em outros locais, o abigeato é caracterizado mais por abates individuais de reses para comércio de carnes nas periferias dos municípios. Esse é o caso de Santa Vitória do Palmar, explica o presidente do Sindicato Rural, Fábio Rodrigues. Ele observa redução das ocorrências nos últimos meses, acompanhada por uma aproximação maior entre o sindicato e as polícias. “Há cerca de um ano e meio, foi reativada a patrulha rural da Brigada Militar no município e houve ações da Polícia Civil. O Sindicato mantém apoio incondicional e diálogo constante, o que é bastante importante. Mas a Brigada poderia fazer um tra- balho bem melhor se não enfrentasse carência de recursos materiais e de pessoal. Já a Polícia Civil tem bons recursos materiais aqui, mas falta pessoal”, explica Rodrigues. Apesar do pico de relatos enviados à Farsul neste ano, segundo dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública, em todo o Estado, o número de ocorrências diminuiu de 2010 para 2012. No entanto, o número de cabeças roubadas aumentou. No ano de 2010, foram registradas 7,1 mil ocorrências, enquanto em 2012, foram 6,6 mil. Ainda no ano passado foram roubados 24,6 mil animais. Entre os mais procurados pelos ladrões estão os bovinos - 12 mil cabeças roubadas - e os ovinos - 6,1 mil. Segundo o presidente da Comissão de Ovinos da Farsul e presidente do Sindicato Rural de Palmares do Sul, Nilson Missel, os animais são os mais roubados por seu valor de venda e porte, que torna sua captura mais fácil. “O ovino está mais valorizado que o gado pelo seu ciclo rápido de vida. Ele nasce em agosto e em março já está sendo vendido”, afirma Missel. Busca de soluções É preciso mais do que diálogo e capacitação de policiais civis e militares para lidar com esse tipo de crime. O assessor de segurança e inteligência rural da Farsul, coronel Ayrton Balcemão, afirma que, além de uma lei específica para isso, estão Em alguns municípios, crimes envolvem carneio na propriedade faltando ações continuadas do governo estadual e de alguns municípios para combater a prática criminosa. “A ação da prefeitura é fundamental. Enquanto não houver uma fiscalização permanente nos municípios e pontos de comercialização, o crime irá continuar”, ressalta. O conhecimento dos produtores sobre esse crime e sua ação também é fundamental. Balcemão ressalta algumas medidas de segurança que podem ser tomadas nas propriedades rurais. “Nós temos orientado os produtores a não deixar os animais próximos a rios e às estradas, porque isso facilita a ação criminosa”, aconselha o assessor de segurança. A contagem periódica do rebanho, um bom cercamento e funcionários atentos a qualquer tipo de movimenta- ção suspeita também são algumas medidas básicas. A audiência pública realizada pela Assembleia Legislativa em Alegrete contou com a presença de parlamentares, representantes do governo estadual, de municípios e de sindicatos rurais das regiões mais afetadas. Durante o encontro, que contou com a presença do diretor da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, André dos Santos Overbeck, foram debatidas estratégias que o Estado pode adotar para combater o abigeato e foi apresentada uma proposta de projeto de lei pelo deputado estadual Frederico Antunes (PP). O projeto acrescenta um novo inciso, que será o XVI, no art. 2º da Lei nº 11.343, de 8 de julho de 1999, que dispõe sobre o registro e divulgação dos índices de violência e criminalidade no Estado. Segundo esse inciso, o Assembleia Legislativa realizou audiência pública em Alegrete levantamento deve ser feito de acordo com o tipo de delito. “O abigeato não é apenas uma conduta penal criminosa, é um crime que causa prejuízos sociais e econômicos a todo o Estado, permitindo a circulação de carne ilegal no mercado, que pode inclusive comprometer a saúde pública. A incidência crescente do abigeato exige um investimento maior do Estado na in- vestigação e repressão. Mais de R$ 1 bilhão por ano é perdido pela economia gaúcha com o abigeato”, disse Antunes. Além disso, o governo estadual deve fazer um decreto determinando a ação conjunta de todos os orgãos que têm eficiência no combate ao abigeato, Ainda deve ser solicitado apoio da Polícia Federal e participação de policiamento rodoviário.