Antes da hora - dra. bianca selva figueiredo

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Antes da hora - dra. bianca selva figueiredo
Antes da hora
O que acontece quando o organismo não consegue manter a gestação durante os nove meses? Saiba
mais sobre o aborto espontâneo e garanta uma gravidez saudável
Por Nathalya Buracoff
Foto: Getty Images
Em outubro deste ano, a cantora Ivete Sangalo sofreu um aborto espontâneo de
seis semanas. Em julho, Ticiane Pinheiro perdeu um bebê de cinco meses, filho do
empresário Roberto Justus. Em maio, a cantora Pitty não ultrapassou os três meses
de gravidez. Em março, a atriz e modelo Letícia Birkheuer também não atingiu o
quarto mês da gestação de seu filho com o empresáio Alexandre Birman. Entre as
celebridades que estamparam as capas das revistas, também estão Daniela
Cicarelli e Luana Piovani, que perderam bebês após dois meses de gestação.
Mais comum do que muita gente imagina, o aborto espontâneo é definido como a
perda gestacional ocorrida antes de serem completadas 20 semanas de gravidez
(ou quando o peso fetal ainda não atingiu 500 gramas). De acordo com a
especialista em imunologia da reprodução Bianca Selva Figueiredo,
aproximadamente 15% de todas as gestações diagnosticadas evoluem para um
aborto espontâneo entre quatro e 20 semanas de gravidez.
Para o mestre em ginecologia e doutor em medicina pela Unifesp, Luis Gerk de
Azevedo Quadros, a freqüência pode ser ainda maior, se forem contabilizados os
casos de mulheres que abortam bem no começo da gravidez, quando ainda não
sabem que estão grávidas. Uma menstruação que atrasa um ou dois dias, com
grande sangramento e cólicas, pode na verdade, se tratar de um aborto.
O incidente pode ocorrer em decorrência de diversas razões: causas genéticas, que
podem levar a alterações no embrião; causas endócrinas, como a insuficiência do
corpo lúteo, diabetes mellitus, doenças da tireóide e síndrome do ovário policístico;
causas anatômicas, como a má formação do útero e incompetência istmo cervical;
causas infecciosas; causas hematológicas, como trombofilias; causas imunológicas
e causas ambientais, como o tabagismo e a ingestão excessiva de café e álcool.
Prevenção
A maioria dos abortos ocorre até o terceiro mês da gestação, período delicado que
exige acompanhamento médico constante. Porém, antes da gravidez é possível
detectar problemas que se não forem tratados, podem ocasionar um futuro aborto,
como disfunções hormonais e algumas infecções virais. Por essa razão, os médicos
recomendam que a mulher faça diversos exames preventivos, além de iniciar a
ingestão de ácido fólico, que ajuda na prevenção de má formação do feto.
Outra precaução recomendada pelos médicos é analisar a anatomia dos órgãos de
reprodução femininos, para avaliar possíveis problemas como a existência de
miomas ou deficiências no útero, que podem causar abortos tardios (entre o
terceiro e o quarto mês de gestação).
Um aborto espontâneo pode levar a um quadro de hemorragia intensa, infecção e
se tornar até mesmo fatal. Por este motivo, a gestante deve buscar assistência
médica toda vez que detectar um sangramento. Em geral, os sintomas são cólicas
associadas a sangramento vaginal (que pode ocorrer de forma leve, moderada ou
intensa). Tal sangramento pode ser detectado com uma secreção inicial, similar ao
vestígio de "borra de café".
Curiosidades
De acordo com um estudo publicado na revista científica International Jounal of Obstetrics and Gynaecology,
mulheres com índice de massa corporal muito baixo correm 72 % mais riscos de sofrer um aborto espontâneo
nos primeiros meses de gravidez.
Outro dado interessante é que as mulheres que sofriam de náuseas e enjôos nas primeiras 12 semanas,
revelaram-se quase 70% menos propensas a sofrerem um aborto. A pesquisa também concluiu que o consumo
diário de frutas, legumes e chocolate também contribui para a redução do risco de problemas na gestação.
Cuidando da cabeça
Após um ou dois meses após a interrupção da gestação, a mulher pode engravidar
novamente. O problema é que mulheres que sofrem abortos espontâneos,
geralmente sentem dificuldades para acreditar que possam ser capazes de levar
uma nova gestação adiante. De acordo com a psicóloga especializada em
problemas de casais com dificuldades de gravidez, Luciana Leis, essas mulheres
apresentam sentimentos ambíguos quando engravidam - ao mesmo tempo que
ficam felizes com a nova possibilidade de um filho, sentem medo de abortar
novamente e passar por toda a situação de luto e vazio.
"É necessário manter a esperança e entender que cada gestação é única e que o
filho pode ser possível para ela também. Essas mulheres se sentem bastante
injustiçadas e apresntam baixa auto-estima, passando a duvidar se realmente
merecem um filho ou se são capazes de ser mães", explica.
Nos casos de aborto espontâneos consecutivos, é interessante procurar
acompanhamento médico para diagnosticar a possível existência de uma próxima
ocorrência. Apesar de os especialistas recomendarem a investigação de abortos
recorrentes apenas após a terceira perda, muitos casais acabam se antecipando,
tentando identificar possíveis causas, na busca de um tratamento adequado.
"O aborto recorrente é uma situação muito delicada, principalmente para a mulher,
pois causa tristeza, culpa e frustração. Hoje em dia já é possível evitá-lo e tratar a
maior parte das suas causas", afirma Bianca Figueiredo, que integra a equipe do
Núcleo de Imunologia da Reprodução Humana (Nidarh), um dos pioneiros no
tratamento de mulheres com histórico de aborto recorrente no Brasil.
Controle emocional e gravidez
Além das causas físicas, diversos fatores psicológicos podem influenciar na resposta
da gravidez. Confira os principais fatores, segundo Luciana Leis.
Fatores psicológicos
• Ambigüidade frente à maternidade - Quando as mulheres acreditam que devem iniciar a busca pelo filho
devido à uma certa idade, mas ainda não se sentem preparadas para isso.
• Ambigüidade frente à paternidade - Assim como as mulheres, os homens também podem apresentar
dificuldades em assumir uma criança. Seja por questões relacionadas à idealização desse papel ou receio de
não conseguir sustentar uma família.
• Dificuldade em assumir o papel de mãe: Há mulheres que buscam a maternidade, mas ainda se sentem
dependentes dos pais. Neste caso, existe a dificuldade de sair do papel de filha para assumir o de mãe.
• Rivalidade com terceiros - Há mulheres que passam a desejar um filho apenas no momento em que a
irmã, a cunhada ou outra pessoa próxima engravida.
• Desencontro de desejo do casal quanto ao momento - É possível que um dos parceiros ainda não esteja
certo de que aquele seja o melhor momento para assumir uma criança. Na maioria das vezes, essa situação
gera ressentimento no outro cônjuge.
• Relações disfuncionais - Alguns casais decidem ter um filho justamente no momento em que o
relacionamento não vai bem, na esperança de encontrarem um ponto em comum. Nesses casos é preciso
considerar que a fecundação pode ser mais difícil sem o verdadeiro encontro do casal.
Colaboraram:
• Bianca Selva Figueiredo
• Luciana Leis
• Luis Gerk de Azevedo Quadros

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