90 anos, Legado e Atualidade

Transcrição

90 anos, Legado e Atualidade
O dia 10 de julho de 2012 assinalou os 90 anos
de nascimento do político, cientista e militar
maranhense Renato Archer. Por ensejo da
data a Fundação Maurício Grabois promoveu,
no dia 24 de julho, a mesa-redonda “Renato
Archer, 90 anos: legado e atualidade”. O evento homenageou uma figura emblemática do
campo político democrático e nacionalista. Ao
envolver antigos colaboradores e atuais herdeiros políticos de Archer, a atividade alcançou
boa repercussão e resultou na proposta deste
livro, que a editora Anita Garibaldi disponibiliza ao público com apoio do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer e da Universidade Federal do Maranhão.
RENATO
ARCHER,
90 ANOS
RENATO ARCHER, 90 ANOS
90 ANOS
LEGADO E
ATUALIDADE
Realização
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Homenagens
Fábio Palácio de Azevedo (org.)
Homenagens
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São Paulo
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Copyright©2012 by Fundação Maurício Grabois
Esta é uma publicação da Editora e Livraria Anita Ltda. em parceria com
a Fundação Maurício Grabois, com apoio do Centro de Tecnologia da
Informação Renato Archer e da Universidade Federal do Maranhão.
Organização e edição
Fábio Palácio de Azevedo
Secretaria editorial
Zandra de Fátima Baptista
Assessoria editorial
Rosemery de Sousa e Silva
Transcrição da mesa-redonda
Juliana Mantovani
Projeto gráfico, capa e editoração
Fernanda do Val e Angela Mendes
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
R394 Renato Archer, 90 anos: legado e atualidade. / Fábio Palácio de Azevedo
organizador.----São Paulo : Fundação Maurício Grabois, Anita
Garibaldi, 2012. 88p. : il.
Vários autores.
ISBN 978-85-7277-130-6
1. Archer, Renato, 1922-1996. 2. Políticos – Brasil.
3. Ciência e Estado. 4. Energia atômica. I. Azevedo, Fábio Palácio, org. II.
Título.
CDD 320.981
Catalogação na Publicação: Eliane M. S. Jovanovich CRB 9/1250
Direitos desta edição:
Editora Anita Garibaldi
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• conj. 31 • Vila Buarque • CEP 01221001 • São Paulo-SP • Brasil
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Presidente
Adalberto Monteiro
Secretário-geral
Augusto César Buonicore
Diretor Administrativo e Financeiro
Leocir Costa Rosa
Diretor de Comunicação e Publicações
Fábio Palácio de Azevedo
Diretora de Formação
Nereide Saviani
Diretora de Políticas Públicas
Márvia Scárdua
Diretor de Estudos e Pesquisas
Aloísio Sérgio Rocha Barroso
Diretor de Temas Ecológicos e Ambientais
Luciano Rezende
Diretor de Cultura
Javier Alfaya
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Homenagens
A história já foi vista, em tempos nem tão distantes, como
produto da ação de príncipes, reis e personagens sobre-humanos. Na crítica a essa visão unilateral e elitista, ganhou força a
concepção de uma história que seria apenas o resultado de férreas necessidades objetivas e impessoais, situadas muito além
das vontades, dos desejos e das práticas de homens e mulheres
concretos.
É claro que isso tinha algo de verdadeiro. Contudo, com
a mudança de paradigma algo se perdeu. Na tentativa de desconstruir um mito – o do indivíduo que tudo pode, e de cuja ação
exclusiva depende a história humana – criou-se outro, que nega
o papel dos indivíduos na história.
Não é possível desconhecer que a história também é feita
da ação de indivíduos de carne e osso, com seus desejos, paixões
e convicções. A série Homenagens busca resgatar essa dimensão. Ela é dedicada àqueles lutadores que, como no famoso poema de Brecht, são “imprescindíveis”. Pessoas cuja trajetória
fez a diferença na luta por um Brasil soberano, desenvolvido e
democrático. Ao apresentar a trajetória e o pensamento dessas
pessoas, a série pretende contribuir para a discussão de ideias
e projetos, e também para que se conheça mais e melhor nosso
próprio país.
Afinal, os grandes empreendimentos transformadores
não são ideias que pairam sobre os seres humanos. Ao contrário, eles surgem da vontade e da ação conjunta de indivíduos
determinados, com suas trajetórias pessoais, suas veleidades,
suas idiossincrasias, sua humanidade.
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Toda história da formação e consolidação dos Estados
Nacionais é a história de um nacionalismo.
R enato a RcheR
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Mesa-redonda “Renato Archer, 90 anos: legado e atualidade”, da
qual resultou a maioria dos textos deste livro. Da esq. para a dir.
Jair dos Santos Oliveira, Rex Nazaré, José Raimundo Braga Coelho,
Alvaro Rocha Filho, Fábio Palácio de Azevedo (coordenador), Antonio
José Silva Oliveira (coordenador), José Monserrat Filho e Ricardo
Archer. São Luis (MA), 24 de julho de 2012.
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fÁbiO pAl ÁciO de A ze v edO
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SUMÁriO
Agradecimentos
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Apresentação
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Um registro necessário
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Legado e atualidade de Renato Archer
Celso Amorim
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Depoimento sobre Renato Archer
Luciano Coutinho
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Um pequeno pedaço da história de Renato Archer
e seu envolvimento com as instituições
de desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil
José Raimundo Braga Coelho
Renato Archer e o Centro de Tecnologia
da Informação Renato Archer
Victor Pellegrini Mammana e
Luciano Henrique Pondian Valente
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O legado de Renato Archer e a SBPC 2012
Natalino Salgado Filho
61
Homenagem a Renato Archer
Jair dos Santos Oliveira
65
Visão estratégica, política externa soberana
Alvaro Rocha Filho
67
Renato Archer, um exemplo a ser sempre lembrado
Rex Nazaré
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Renato, visão ampla e interesse público
José Monserrat Filho
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Uma história relevante para o Brasil
Ricardo Archer
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AgrAdeciMeNtOS
No processo de organização e preparação da mesa-redonda “Renato Archer, 90 anos: legado e atualidade” o trabalho de alguns colaboradores revelou-se imprescindível ao
sucesso do empreendimento. As instituições responsáveis
pela presente publicação externam sua gratidão para com essas pessoas. São elas o Prof. Dr. Antonio José Silva Oliveira,
vice-reitor da UFMA; o Prof. MsC. Luiz Alves Ferreira, do
Departamento de Medicina da UFMA, e o Prof. Cristiano
Capovilla, do Colégio Universitário da UFMA. Agradecemos ainda a Simone Santana Franco, coordenadora geral do
cerimonial do Ministério da Ciência e Tecnologia; Gustavo
Viana, membro da equipe organizadora local da 64ª Reunião
Anual da SBPC, e José Carlos Santos, assessor da Reitoria da
UFMA.
Esta publicação também não teria sido possível sem a
generosa participação de Valquiria Celina Garcia, chefe da
Divisão de Relações Institucionais e Gabinete do Centro de
Tecnologia da Informação Renato Archer. Estendemos nossos agradecimentos aos autores dos artigos aqui publicados,
gentilmente revisados e cedidos à publicação.
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ApreSeNtAÇÃO
O dia 10 de julho de 2012 assinalou os 90 anos de nascimento do político, cientista e militar maranhense Renato
Archer. Por ensejo da data a Fundação Maurício Grabois promoveu, no dia 24 de julho, a mesa-redonda “Renato Archer,
90 anos: legado e atualidade”. O evento deu-se no âmbito da
64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC), ocorrida nas dependências da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luis, entre os
dias 22 e 27 de julho.
Proposta pela Fundação Maurício Grabois e realizada
em parceria com a UFMA, a secção regional maranhense da
SBPC e o Instituto de Estudos e Cooperação Internacional
(Iecint), o evento homenageou uma figura emblemática do
campo político democrático e nacionalista, destacando o legado e a atualidade de seu trabalho como referência para as novas
gerações. Ao envolver antigos colaboradores e atuais herdeiros
políticos de Archer, a atividade alcançou boa repercussão local
e nacional, resultando na proposta de um livro.
Compuseram a mesa da solenidade o presidente da
Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga
Coelho — na ocasião representando o ministro de Estado
da Ciência, Tecnologia e Inovação Marco Antonio Raupp;
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o jornalista Alvaro Rocha Filho, autor do livro Renato Archer:
energia atômica, soberania e desenvolvimento; o físico Rex Nazaré Alves, ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear
(Cnen) e atual diretor de tecnologia da fundação de apoio à
pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj); o jornalista José Monserrat Filho, assessor de Cooperação Internacional da AEB; o
capitão de mar e guerra Jair dos Santos Oliveira, comandante
da Capitania dos Portos do Estado do Maranhão, e o deputado federal Ricardo Archer (PMDB-MA), sobrinho-neto de
Renato Archer. A mesa foi coordenada pelo professor doutor
Antonio José Silva Oliveira, vice-reitor da UFMA, e pelo autor desta apresentação.
Convidado a participar da homenagem, o ministro de
Estado da Defesa, Celso Amorim, lamentou a impossibilidade de comparecer ao evento e enviou mensagem saudando a
iniciativa e destacando o legado de Archer. A mensagem vai
publicada no presente volume, que traz ainda a transcrição das
intervenções proferidas na mesa-redonda e outros textos.
defesa do interesse nacional
Falecido há 16 anos, em junho de 1996, Archer foi o primeiro ocupante do cargo de ministro de Estado da Ciência e
Tecnologia. Esteve também à frente do Ministério da Previdência e da estatal Embratel. No campo diplomático, integrou
a junta de governadores da Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA). Nessa condição, tomou parte nas definições internacionais sobre o uso da energia nuclear. O político maranhense foi ainda subsecretário e ministro interino
das Relações Exteriores na gestão de Francisco Clementino
San Tiago Dantas, quando o Brasil, sob a presidência de João
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Goulart, deu passos significativos na definição da chamada
Política Externa Independente (PEI).
Pouco após, entre os anos de 1966 e 1967, Renato Archer
desempenhou destacado papel como protagonista de um importante acontecimento da luta contra o regime militar — a
formação da Frente Ampla, que mobilizou destacadas personalidades democráticas da sociedade brasileira.
Em todas as responsabilidades que ocupou como homem
público, Archer destacou-se pela firmeza e pelo entusiasmo
com que defendeu os interesses maiores do país. Segundo o
jornalista Alvaro Rocha Filho, primeiro a fazer uso da palavra
na mesa-redonda sobre Archer, o político maranhense atuava a partir de duas premissas: definição de objetivos de longo
prazo — como também dos instrumentos e mecanismos capazes de conferir-lhes operacionalidade — e intensa atuação
internacional para viabilizar esses objetivos. “Ou seja: planejamento estratégico de longo prazo e política externa que lhe
dê respaldo”, resumiu Rocha Filho. Sem dúvida, um binômio
imprescindível quando o assunto em pauta é a defesa do interesse nacional.
herdeiro da tradiáão científica dos militares
Ex-capitão de fragata da marinha — várias vezes condecorado, como destacou o capitão de mar e guerra Jair dos Santos Oliveira —, Archer pertence à cepa de cientistas militares
que tem no nome do almirante Álvaro Alberto da Motta e
Silva uma de suas referências mais importantes.
Figura destacada em episódios decisivos da história brasileira, Álvaro Alberto foi professor catedrático de química da Escola Naval. Presidiu a Sociedade Brasileira de Química (SBQ )
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e, mais tarde, a Academia Brasileira de Ciências (ABC). Foi
também membro titular do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro. Em 1934, partiu do almirante o convite ao físico italiano Enrico Fermi — um dos líderes do Projeto Manhatan,
responsável pelo desenvolvimento das primeiras armas nucleares — para que este viesse ao Brasil proferir conferência na ABC.
O almirante também compôs a delegação de cientistas que, em
1925, recepcionou Albert Einstein em sua visita ao Brasil.
Na área da química de explosivos, Álvaro Alberto realizou descobertas que o consagraram
Já em 1958 Archer
internacionalmente. Ainda jovem, paliderava, em aliança
tenteou a dinamite rupturita e fundou,
com Álvaro Alberto,
para explorar a descoberta, uma empresa
José Leite Lopes e
inovadora na área de explosivos para mioutros eminentes
neração. Foi o criador da “fórmula Escientistas, a primeira
cola Naval”, método de cálculo que simcampanha pela
plificou a determinação da temperatura
criação do Ministério
de explosão da pólvora. A descoberta
da Ciência
e Tecnologia
implicou importantes avanços no terreno militar, possibilitando a otimização
do uso de canhões. Doada à Marinha, foi negociada com a
Inglaterra nos anos 1930, quando da assinatura do contrato de
construção de navios brasileiros em estaleiros da Escócia. Os
navios jamais chegariam ao Brasil — com o início da Segunda Guerra, os ingleses resolveram utilizá-los para seu próprio
reforço militar. A fórmula, contudo, foi repassada e garantiu
à Marinha britânica importante superioridade tecnológica na
Segunda Guerra Mundial.
Em 1947 Álvaro Alberto foi designado, por indicação
unânime da ABC, para liderar a delegação brasileira na conferência da Comissão de Energia Atômica da ONU, convocada
para definir e aprovar as regras internacionais sobre o uso da
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energia nuclear. Na ocasião, a atitude firme do almirante foi
crucial para a inviabilização do chamado Plano Baruch, por
meio do qual os Estados Unidos pretendiam “internacionalizar” as reservas de urânio dos países detentores desse minério,
entre eles o Brasil.
De forma engenhosa, Álvaro Alberto aceitou os termos
propostos pelo chefe da delegação americana, Bernard Baruch, desde que a “internacionalização” se estendesse também
a minérios como o petróleo e o carvão mineral, abundantes
nos Estados Unidos. O almirante propôs, além disso, a tese
das compensações específicas: uma série de medidas a serem
tomadas como contraparte da exportação de urânio para as
potências tecnológicas desprovidas do minério. As compensações aos países exportadores incluíam cotas preferenciais
de energia, construção de reatores primários, fornecimento
de equipamentos e treinamento de pessoal, entre outras contrapartidas. O Plano Baruch acabou aprovado, sem nenhum
voto contra e com as abstenções de Índia e Austrália. Mas,
com a obrigatoriedade das compensações específicas, acabou
virando letra morta.
Álvaro Alberto, a política nuclear
e a criaáão do cNpq
No segundo governo Vargas, Álvaro Alberto foi o primeiro presidente do então Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), hoje Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico. Principal mentor da criação do órgão, o almirante o concebeu como parte do esforço de criação de uma política nuclear nacional — iniciativa largamente
sabotada pelo imperialismo, como atestam inúmeros episóApreSeNtAÇÃO
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dios bem documentados. Alguns deles seriam denunciados
de maneira contundente por Renato Archer no transcorrer
de seu primeiro mandato como deputado federal (1954-58).
As denúncias se transformariam no eixo de uma CPI sobre a
questão nuclear, fato de grande repercussão política no Brasil dos anos 1950.
A realidade é que, após a Segunda Guerra Mundial (e,
especialmente, após o estouro da bomba de Hiroshima), a ciência e tecnologia passou a ser concebida como área de grande
importância geopolítica. Essa percepção se acentuaria ainda
mais com o início da Guerra Fria. Não é por acaso, portanto, que o primeiro órgão de fomento a pesquisas do Brasil, o
CNPq, tenha nascido do empenho de um militar de alta patente. Por meio da criação da agência, Álvaro Alberto propunha um ousado plano de formação de recursos humanos, fator
indispensável ao domínio da tecnologia nuclear.
Nessa mesma área, o almirante ainda voltaria a jogar
papel decisivo anos mais tarde, quando da acertada definição brasileira pela inovadora técnica de ultracentrifugação
como método para o enriquecimento de urânio. Como afirma ROCHA FILHO (2006, p. 71), na mesma época em
que os Estados Unidos investiam rios de dinheiro para enriquecer urânio por meio do caro e ineficiente método da
difusão gasosa, Álvaro Alberto liderou a opção pela ultracentrifugação, desenvolvida originalmente pelos alemães.
Hoje o Brasil, por meio da Marinha e de suas instalações,
domina inteiramente essa técnica — de grande importância
para a construção do submarino atômico nacional. Nosso
país se coloca, assim, no primeiro plano da pesquisa nuclear
em todo o mundo.
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em defesa da ciência e tecnologia
Em 1949, Álvaro Alberto convida Renato Archer, seu
ex-aluno na Escola Naval, para ajudá-lo na aprovação do projeto de lei 1.310, que criava o CNPq. Era o início de uma longa
colaboração, que uniria por décadas duas das mais destacadas personalidades da ciência nacional: o primeiro presidente do CNPq e o primeiro ministro de Estado da Ciência e
Tecnologia.
Por esse período Archer, após ter
concluído seus estudos na Escola Na- A trajetória de Renato
Archer repete a
val, e já promovido a primeiro-tenente
de
outros políticos
da Marinha, retornara ao Maranhão
ligados
à indústria
para ocupar o cargo de secretário de
têxtil — seja em
governo de Sebastião Archer, seu pai,
tempos remotos,
governador do estado no final dos anos
como no caso do
1940. Foi nesse período que recebeu de
“coronel-empresário”
Álvaro Alberto a tarefa de coordenar
Delmiro Gouveia,
politicamente, no processo de tramitaseja no período mais
ção do PL 1.310, a bancada maranhense recente, a exemplo do
do Partido Social Democrático (PSD).
ex-vice-presidente
Archer já integrava então as fileiras do
José Alencar
Partido, compondo sua Ala Moça (espécie de juventude) na companhia de nomes como Ulysses
Guimarães.
Em comunhão de propósitos com Álvaro Alberto, Archer foi capaz de perceber desde cedo a centralidade da ciência e tecnologia para a estratégia nacional de desenvolvimento.
Construiu, com base nessa percepção, uma trajetória devotada à área científico-tecnológica, um setor sensível e submetido
a múltiplas formas de controle, dada sua importância saliente tanto para os interesses do imperialismo quanto, no polo
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oposto, para a conquista da verdadeira autonomia nacional.
O vínculo de Archer com a causa da ciência e tecnologia
manifestou-se não apenas em sua atividade política, mas também no campo corporativo. No início dos anos 1950 fundou,
a exemplo do que fizera anteriormente Álvaro Alberto, uma
empresa inovadora, a Prospec, atuante nas áreas de aerofotogrametria e fotogeologia. A empresa destacou-se internacionalmente desenvolvendo tecnologia de ponta, e foi responsável por importantes descobertas mineralógicas.
Na esfera cívico-política, já em 1958 Archer liderava, em
aliança com Álvaro Alberto, José Leite Lopes e outros eminentes cientistas, a primeira campanha pela criação do Ministério da Ciência e Tecnologia. A bandeira só se tornaria
vitoriosa quase três décadas depois, já no governo Sarney, com
Renato Archer — um ex-adversário do presidente — como
primeiro titular do novo ministério.
À frente do Ministério da ciência e tecnologia
À frente do MCT, Archer quadruplicou o número de
bolsas e auxílios; conferiu novo impulso à produção nacional de fármacos; ajudou a acelerar o processo de edificação
do Centro de Lançamento de Alcântara (MA), e iniciou em
Campinas (SP) a construção do colisor de partículas Síncrotron — o primeiro e, ainda hoje, um dos únicos em funcionamento em todo o Hemisfério Sul do planeta.
Mas talvez a mais importante medida tomada nesse período tenha sido a inauguração do acordo espacial sino-brasileiro, responsável pelo lançamento da família de satélites Cbers e
considerado um dos mais importantes acordos de cooperação
tecnológica entre dois países em desenvolvimento.
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Ao referir-se, na mesa em homenagem a Archer, às primeiras viagens realizadas à China para a discussão do acordo — das quais tomou parte —, o presidente da AEB, José
Raimundo Coelho, explicou: “O cardápio que nos foi então
apresentado na China para cooperação era uma agenda do tamanho de um prédio. E Renato Archer foi capaz de extrair
dessa agenda um objeto fantástico, com as seguintes características: primeira, uma causa de mútuo interesse; segunda: um
objeto que pudesse ser desenvolvido conjuntamente. [...] Essa
foi a maior lição que tivemos em nossa vida para situações de
desenvolvimento tecnológico em áreas estratégicas”.
Segundo Coelho, o que começou como uma simples cooperação foi mudando de patamar e, nos anos 1990, passou a
ser denominado “parceria estratégica”. “Agora, recentemente,
essa cooperação conheceu uma nova graduação, passando a se
chamar parceria estratégica global. Isso foi na Rio+20, numa
reunião entre a nossa presidenta da República e o primeiro-ministro Wen Jiabao. Portanto, esse programa foi muito
mais do que um exemplo daquilo que foi denominado originalmente “cooperação Sul-Sul”. Hoje ele é exemplo de cooperação para todos os países do mundo. Estamos prestes a lançar
o quarto satélite de observação da terra. Em seguida lançaremos o quinto satélite, e já estamos preparando a plataforma de
parceria para os próximos dez anos.”
Outra área estratégica abordada pelo primeiro titular do
MCT foi a das hoje tão comentadas TICs (tecnologias de informação e comunicação). Em 1985, sob a liderança de Renato
Archer, o MCT passou a combater os limites, impostos pelas
nações centrais — contando muitas vezes com apoio interno
— à importação de supercomputadores. Ao mesmo tempo,
inaugurou a reserva de mercado no setor de informática, medida responsável por tornar o Brasil, já em fins dos anos 1980,
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um dos poucos países com 60% de sua produção nas mãos de
fabricantes nacionais.
Mais tarde, já como presidente da Embratel no governo
Itamar Franco, Archer ordenou a implantação da rede nacional de fibras óticas, infraestrutura que possibilitou projetos
como a Rede Nacional de Pesquisas (RNP) — face institucional da internet de alta velocidade que hoje conecta os principais centros nacionais de pesquisa e desenvolvimento. Como
forma de homenagear sua atuação no setor das TICs, foi criado, na cidade de Campinas (SP), o Centro de Tecnologia da
Informação Renato Archer, unidade de pesquisas do MCT.
Um aristocrata renovador
Renato Archer era oriundo de família ligada à indústria têxtil, fato repleto de significados — ainda mais no Maranhão de primórdios do século passado. Ali os industriais
do ramo têxtil compunham setores oligárquicos ligados, por
um lado, ao latifúndio mais atrasado e, por outro, às demandas de formação e consolidação do mercado interno. Essa
situação ambígua, temperada por sua condição de oficial da
Marinha (dita por muitos a “mais aristocrática” das Armas),
marcaria profundamente o perfil e a trajetória do político
maranhense, como ocorreu, de resto, com outros políticos
ligados à indústria têxtil — seja em tempos remotos, como
no caso do “coronel-empresário” Delmiro Gouveia, seja no
período mais recente, a exemplo do ex-vice-presidente José
Alencar. Estudar a trajetória de homens como eles permite-nos não apenas conhecer melhor a história de nosso país,
mas também acessar importantes aspectos de sua territorialidade econômico-política.
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As bases eleitorais oligárquicas elegeriam Archer em diversas oportunidades. Em 1950 tornou-se vice-governador do
Maranhão na chapa de Eugênio Barros, político apoiado por
seu pai. Na década seguinte, candidato do presidente Dutra
e do arquioligarca Vitorino Freire ao governo do Maranhão,
seria derrotado por José Sarney, então representante da modernização burguesa no estado. Em 1982 Archer sofreria nova
derrota na disputa pelo governo do Maranhão, novamente
para as forças sarneístas, que dessa vez tinham à frente a candidatura de Luis Rocha.
Apesar das derrotas nas eleições para governador, Archer elegeu-se por quatro vezes deputado federal, entre os
anos de 1954 e 1967. A última delas pelo MDB; as três primeiras pelo PSD.
Em prefácio ao livro Renato Archer: energia atômica, soberania
e desenvolvimento, o deputado comunista Aldo Rebelo descreve o
PSD como “esfinge da política brasileira, ainda não o bastante
desvendada”. A referência ao caráter enigmático do partido
viria de seu perfil ambíguo, ao mesmo tempo conservador e
reformista. Em conjunto com o PTB, o PSD — que reunia
setores das oligarquias tradicionais — formou a base de apoio
do segundo governo Getúlio Vargas (1950-1954), embora
sempre como um aliado problemático. Ambas as legendas se
contrapunham à antigetulista União Democrática Nacional
(UDN). Se o PSD era um partido conservador, mas reformista, a UDN pode ser vista, em sentido contrário, como um
partido modernizante, mas conservador. E conservador, essencialmente, nos sentidos políticos que atribuía a seu próprio
“modernismo”, sentidos estes que afastavam a agremiação da
ideia de defesa da pátria e a aproximavam de um cosmopolitismo elitista.
O enigma ao qual se refere Rebelo, fazendo alusão às amApreSeNtAÇÃO
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biguidades do PSD, é em grande medida elucidado nos trabalhos de outro maranhense, o economista Ignacio Rangel. Em
textos como A história da dualidade brasileira, R ANGEL (2005,
V.II, pp. 665-667) chama atenção para o fato de que, em nosso
país, as transformações costumam ocorrer por meio de movimentos frentistas, que congregam, em torno dos mesmos
propósitos, setores democrático-populares e dissidências progressistas das oligarquias tradicionais. Enquanto os primeiros
vocalizam as demandas por mudanças, os últimos as promovem, com o fito de permanecer no centro do tabuleiro político. É nessa chave que devem ser compreendidos os governos
Getúlio e JK, como também, no período mais recente, a ampla
aliança de partidos amalgamada pela liderança de Lula.
Atento ao fenômeno descrito por Rangel, Alvaro Rocha
Filho assevera, na apresentação de seu livro sobre Archer, que
o político maranhense surge, desde seus primeiros passos na
vida pública, como um “dissidente oligárquico típico”. Archer
teria-se situado sempre como elo “entre os setores mais conservadores e as diversas nuances das lideranças políticas ditas
progressistas. Nessa posição, consegue construir e consolidar
um perfil próprio de conciliador elegante, hábil negociador,
com trânsito permanente entre todos os contrários e com
acesso garantido aos núcleos de decisão” (ROCHA FILHO,
2006, p. 17).
trajetória frutífera
Os grandes nomes da República costumam projetar,
com sua estatura, uma sombra de influência e prestígio que
se ergue por sobre as gerações seguintes. É o que podemos dizer do almirante Álvaro Alberto. Verdadeiro totem da ciência
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brasileira, o almirante desempenhou, nas palavras de Renato
Archer, “o papel de estrela-guia: atraía e conduzia, formulava e
impulsionava a ação” (in ROCHA FILHO, 2006, p. 97). Não
por acaso Álvaro Alberto segue inspirando e iluminando, com
a força de sua autoridade intelectual e moral, os caminhos daqueles que, nas condições contemporâneas, dão continuidade
às lutas por soberania e desenvolvimento.
Coisa semelhante pode ser dita de Renato Archer. Seu
trabalho representou o elo entre a geração nacionalista de Getúlio e Álvaro Alberto, cujas aspirações ajudou a concretizar,
e a nova geração republicana que luta, nos
Os grandes nomes da
dias de hoje, pela realização de um novo
República costumam
projeto nacional de desenvolvimento. Faprojetar, com sua
lar de Archer como “elo” não representa estatura, uma sombra
nenhum exagero: herdeiro direto de Álde influência e
varo Alberto, ele também ajudou a pro- prestígio que se ergue
jetar personalidades de destaque na vida por sobre as gerações
política contemporânea. Dois dos atuais
seguintes
ministros da República sob o governo
Dilma — Marco Antonio Raupp, da Ciência, Tecnologia e
Inovação, e Celso Amorim, da Defesa — foram lançados no
cenário político por Archer, tendo composto equipes de trabalho lideradas pelo ex-ministro da Ciência e Tecnologia. O
mesmo se passou com vários dos nomes presentes à homenagem promovida pela Fundação Maurício Grabois, como os
físicos Rex Nazaré e José Raimundo Coelho e os jornalistas
Alvaro Rocha Filho e José Monserrat Filho.
Como de pronto perceberam a Fundação Maurício Grabois e suas instituições parceiras, homenagear a memória de
Renato Archer significa refletir sobre o passado e o futuro da
ciência brasileira e do projeto nacional de desenvolvimento
à luz de um de seus grandes vultos. É isto o que o leitor enApreSeNtAÇÃO
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contrará nesta publicação: depoimentos que, em seu conjunto,
traçam o perfil de um homem otimista, entusiasmado com o
destino luminoso que enxergava para a nação, mas ao mesmo
tempo crítico, combativo, irrequieto. Archer jamais se cansou
de lamentar o fato de que, quarenta anos após ter denunciado
o abandono da política nuclear inaugurada por Getúlio Vargas, o Brasil ainda acumulasse imensas defasagens nessa área
estratégica, avançando de forma precária e irresoluta, como
se pouco cônscio de sua tradição, de sua capacidade e de suas
imensas potencialidades.
São Paulo, novembro de 2012.
Fábio Palácio de a zevedo
Jornalista, diretor da Fundação Maurício Grabois.
Texto publicado, em versão modificada, na revista Princípios nº 120 (ago./set. de
2012).
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bibliografia consultada
MotoyaMa , Shozo (Org.). 50 anos do CNPq: contados pelos seus presidentes.
São Paulo: FaPesP, 2002. 720 p.
R angel, Ignácio. Obras reunidas. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. 2
V. 1300 p.
Rocha Filho, Alvaro; gaRcia , João Carlos Vitor (organização). Renato Archer: energia atômica, soberania e desenvolvimento — Depoimento. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2006. 272 p.
sociedade bR asileiR a PaR a o PRogResso da ciência . Cientistas do
Brasil — Depoimentos. Apresentação de Ennio Candotti. São Paulo:
SBPC, 1998. 852 p.
videiR a , Antonio Augusto Passos. 25 anos de MCT: raízes históricas da criação de um Ministério. Rio de Janeiro: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2010. 176 p.
ApreSeNtAÇÃO
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UM regiStrO NeceSSÁriO
Era o cair da tarde do dia 17 de julho de 2012. Ultimavam-se os preparativos para a mesa em homenagem aos 90
anos de Renato Archer, que aconteceria uma semana depois,
em São Luis (MA), durante a 64ª Reunião Anual da SBPC.
Em meio à correria das confirmações para o evento, uma mensagem goteja na caixa de emeios da Fundação Maurício Grabois. Vinha de Hélio de Mattos Alves, ex-prefeito do campus
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, colaborador da
Fundação Grabois e amigo do professor Aloisio Teixeira, ex-reitor da UFRJ.
Helinho (como é carinhosamente chamado) não dizia
nada. Apenas repassava mensagem de Teixeira sobre o evento.
“Pena que não me chamaram...”, lamentou. “Conheci Renato
Archer melhor do que todos eles [os convidados para a mesa]:
de 1985, quando fui para a diretoria da Finep, até a sua morte,
em 1996, falamo-nos praticamente todos os dias. De qualquer
forma, a Fundação está de parabéns. Saudações, Aloisio.”
Aparentemente insatisfeito com o curto comentário,
Teixeira voltaria a escrever para Hélio 25 minutos depois.
Nessa nova mensagem afirmou:
“Conheci o Renato antes de 1964 — ele era amigo do
meu pai — e convivi com ele por muitos anos. Meu pai foi um
dos articuladores da Frente Ampla (que, a partir de 1966, até o
UM regiStrO NeceSSÁriO
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AI-5, procurou juntar JK, Jango e Lacerda em um movimento
pela restauração das liberdades democráticas). Renato era o
representante do Juscelino (e Talarico, o do Jango). Quando
veio a campanha das diretas (e o PMDB do Rio, chaguista,
não queria participar), introduzi Renato no circuito dos intelectuais jovens do Rio (os velhos ele
Foi a forma
conhecia todos, melhor do que eu) para
encontrada pelos
organizarmos o grande comício das
editores deste livro
diretas na Candelária (abril de 1984).
para homenagear não
Ele foi peça essencial, pois fez a ligaapenas o comunista
ção entre o Rio e a direção nacional do
Aloisio Teixeira, não
PMDB (leia-se Ulysses Guimarães).
apenas o nacionalista
“Quando Sarney tomou posse
Renato Archer, mas,
em
1985,
e Renato assumiu o MCT,
para além disso,
chamou-me para uma diretoria da
os vínculos entre
Finep. Quando foi para o Ministério
dois grandes nomes
da Previdência, levou-me para ser o
de nossa história
intelectual e política
secretário-geral; quando foi presidente
da Embratel, levou-me para uma diretoria. E, mesmo quando não estávamos no governo, ligava-me
todos os dias para conversarmos sobre a agenda do dia.
“Era um grande brasileiro. Aloisio.”
De posse das mensagens, a Fundação Maurício Grabois
não se fez de rogada. De pronto enviou convite a Teixeira para
que compusesse também ele a mesa em homenagem a Archer,
no dia 24 de julho. Ele respondeu no dia 19 dizendo:
“Prezados companheiros. Sinto-me honrado com o convite, mas infelizmente não poderei estar em São Luis do Maranhão nessa data. Saudações, Aloisio Teixeira.”
O professor Aloisio faleceu quatro dias depois, na manhã do dia 23 de julho, aos 67 anos, em decorrência de enfarte
fulminante sofrido em sua residência, no Rio de Janeiro.
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Reproduzir aqui as palavras do querido professor — certamente uma das últimas apreciações que externou — foi a
forma encontrada pelos editores deste livro para homenagear
não apenas o comunista Aloisio Teixeira, não apenas o nacionalista Renato Archer, mas, para além disso, os vínculos
entre dois grandes nomes de nossa história intelectual e política — duas destacadas personalidades do campo democrático
e progressista.
os editoRes.
UM regiStrO NeceSSÁriO
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ARqUIVO
l egAdO e AtUAlidAde
de reNAtO Archer
celso aMoRiM*
Saúdo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência pela iniciativa deste evento e agradeço à Fundação Maurício Grabois pelo convite para participar desta mesa, que
evoca o legado de um importante personagem da política
brasileira do século XX.
Estas minhas breves palavras não são de historiador ou
de biógrafo, mas de quem trabalhou com o ministro Renato
Archer e teve a oportunidade de testemunhar sua grande vocação de homem público.
A característica que ressaltava de imediato em sua personalidade era o carisma. O Comandante Renato Archer, como
costumava ser chamado (devido ao tempo em que serviu na
Marinha), tinha uma grande capacidade de cativar seus interlocutores e de angariar apoios.
Sua trajetória política, sobre a qual outros falarão com
mais propriedade, ilustra isso. Quando fui seu assessor no Ministério da Ciência e Tecnologia, entre 1985 e 1987, assisti às
muitas articulações políticas que realizava, frequentemente
acompanhado de Pedro Simon, Waldir Pires e do Dr. Ulysses
Guimarães, bom amigo com quem mantinha relação de lealdade política inquebrantável.
Consciente de seu papel como quadro partidário, sabia
legAdO e AtUAlidAde de reNAtO Archer
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sacrificar seu gosto pessoal à necessidade política. Foi o caso
de sua saída do Ministério da Ciência e Tecnologia rumo ao
Ministério da Previdência, maior em recursos e em influência,
mas, para ele, menos atraente sob o ponto de vista do desafio
intelectual.
O convívio com Renato era extremamente enriquecedor.
Aprendia-se com suas qualidades não apenas na prática de negociações e decisões, mas também pela
riqueza de sua experiência. RecordoAo mesmo tempo em
-me de ouvi-lo sobre as discussões com
que manteve laços
históricos, como
Juscelino, João Goulart e Lacerda para
por exemplo, com a
a Frente Ampla; sobre as ocasiões nas
França, diversificou
quais, em decorrência dessas atividades
nossas parcerias
políticas, foi preso pelo regime militar, e
externas — decisão
depois cassado (embora estivesse muito
naturalmente
longe de ser, na linguagem da época, um
tributária da lógica
militante “subversivo”).
pluralista da Política
Renato Archer tinha, claramente,
Externa Independente
uma visão estratégica para o Brasil, na
qual as políticas externa, de defesa e de
ciência e tecnologia, entre outras, integravam-se em prol do
desenvolvimento nacional.
Sua experiência nessas áreas não foi pequena. Como deputado federal e colaborador na obra pioneira do almirante
Álvaro Alberto, bateu-se pelo desenvolvimento autônomo
da capacidade brasileira de utilizar pacificamente a energia
atômica. Feito representante do Brasil junto à Agência Internacional de Energia Atômica no fim dos anos 1950, opôs-se
resolutamente aos projetos que importariam na internacionalização dos minérios brasileiros.
Como subsecretário parlamentar de San Tiago Dantas,
ministro das Relações Exteriores no gabinete de Tancredo
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Neves, contribuiu para a execução da Política Externa Independente, um marco histórico da inserção soberana e universalista do Brasil no mundo.
Como primeiro titular da Pasta da Ciência e Tecnologia,
organizou a estrutura do Ministério, conduziu a política de
informática, criou um setor especializado em biotecnologia,
promoveu a pesquisa em novas tecnologias e patrocinou o primeiro grande aumento de bolsas do CNPq, medida precursora
do programa Ciência sem Fronteiras, que constitui hoje uma
das prioridades do governo da presidenta Dilma Rousseff.
A cooperação internacional na área de ciência e tecnologia, em que o assessorei diretamente, foi uma das prioridades
de sua gestão. Ao mesmo tempo em que manteve laços históricos, como por exemplo, com a França, diversificou nossas parcerias externas — decisão naturalmente tributária da
lógica pluralista da Política Externa Independente. Com a
Argentina, a cooperação nas áreas de informática e de biotecnologia ajudou a adensar a agenda que, mais tarde, daria vida
ao Mercosul. Buscou parcerias inovadoras com países como
Alemanha, Rússia e Japão.
Foi com a China que veio a surgir o fruto mais vistoso
dessa política. Fizemos uma viagem a Pequim Archer, eu,
Mauro Vieira, seu secretário particular (hoje embaixador em
Washington), Marco Antonio Raupp, diretor do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (hoje ministro da Ciência,
Tecnologia e Inovação) e Crodowaldo Pavan, presidente do
CNPq. Foram exploradas várias áreas, e nasceu a idéia da
construção conjunta de um satélite, que se tornou realidade e
veio a ser conhecido como Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, o Cbers.
Hoje em dia isso pode parecer corriqueiro, mas não havia nada de trivial em meados dos anos 1980 em ir à China
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para fazer um satélite! Durante muitos anos, esse foi o maior
projeto de cooperação Sul-Sul do mundo (naqueles tempos,
ao menos, a China era indiscutivelmente parte do Sul global).
Já que falamos do legado mas também da atualidade de
Renato Archer, é justo observar a grande importância que ele
teve tanto para o programa aeroespacial quanto para o programa nuclear brasileiro, incidentalmente duas dentre as três
áreas que a Estratégia de Defesa Nacional define como estratégicas para a defesa do Brasil no século XXI.
Gostaria de concluir com um comentário. Anos depois
do meu tempo com Archer no MinistéNão havia nada de
rio da Ciência e Tecnologia, quando eu já
trivial em meados dos
ocupava o cargo de chanceler do goveranos 1980 em
no Itamar Franco, voltamos a ter contato
ir à China para fazer
próximo, já que ele presidia a Embratel.
um satélite! Durante
Falava-me com animação sobre a necesmuitos anos, esse foi o
sária independência do Brasil na área
maior projeto
de telecomunicações. Pude constatar o
de cooperação Sul-Sul
mesmo entusiasmo pelo trabalho, a mesdo mundo
ma dedicação integral à missão que lhe
fora entregue. Ainda mais tarde, quando
eu morava em Nova York, servindo na Missão do Brasil junto
às Nações Unidas, conversei com Renato em sua condição de
diretor do comitê que trabalhava pela realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2004. Novamente percebi dedicação e entusiasmo.
Um de seus discursos na Câmara dos Deputados traduz
de modo muito singelo e verdadeiro esse seu infatigável empenho patriótico. Ao defender-se de ataques desferidos por
opositores de suas posições nacionalistas na área nuclear, afirmou: “Está claro, senhor presidente, que a força da verdade
e a marcha do destino brasileiro não podem ser facilmente
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fulminados. E aqueles que se colocam na defesa dos legítimos
interesses deste país têm de ver as suas ideias transformadas
em ações, na medida em que expandem os seus pontos de vista
com a devida compreensão dos rumos deste país” (1).
Para Renato Archer era natural que a combinação de razão e patriotismo resultasse em transformação, para melhor,
da realidade brasileira. Creio que, ao lado das qualidades humanas de que todos os amigos nos beneficiamos, seja essa a
herança mais inspiradora que nos deixou.
* Ministro de Estado da Defesa.
Nota
(1) Diário do Congresso Nacional (Seção 1), 1º de setembro de 1956.
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ARqUIVO
depOiMeNtO SObre
reNAtO Archer
luciano coutinho*
Tive o privilégio de poder aprender muito com o grande
brasileiro que foi o doutor Renato Archer. Nossa convivência
me deixou muitas lições.
Eu o conheci no início dos anos 1980, no círculo do deputado Ulysses Guimarães, e posteriormente trabalhei muito
proximamente a ele na estruturação do Ministério da Ciência
e Tecnologia, do qual ele foi o primeiro ministro e eu o primeiro secretário-geral.
Doutor Renato trazia na sua bagagem a convivência com
San Tiago Dantas, com o presidente Juscelino Kubitschek,
com o Almirante Álvaro Alberto,
fontes inspiradoras. Ele era portador
Ele era portador
de uma visão desenvolvimentista com
de uma visão
um alcance incomum. Sua grande cadesenvolvimentista
pacidade de articulação política ficou
com um alcance
expressa em momentos importantes
incomum
da história do Brasil, como a formação da Frente Ampla, na qual era o representante do então
ex-presidente Kubitschek. Ele sempre perseguiu um projeto
nacional de desenvolvimento, compreendendo a relevância
da inovação tecnológica como mola propulsora para o desenvolvimento do Brasil.
depOiMeNtO SObre reNAtO Archer
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Da sua convivência, ademais extremamente fidalga e
agradável, extraí lições muito caras para minha própria formação. Sinto-me honrado de ter podido trabalhar junto a ele
na construção de uma instituição tão valiosa para o país como
é o Ministério da Ciência e Tecnologia.
* Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). Depoimento concedido aos editores em 3/12/12.
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ARqUIVO
UM peqUeNO pedAÇO
dA hiStÓriA de
reNAtO Archer e
SeU eNvOlviMeNtO
cOM AS iNStitUiÇÕeS
de deSeNvOlviMeNtO
cieNtõficO e
t ecNOlÓgicO dO
brASil
José R aiMundo bRaga coelho*
Tenho a impressão de que há alguém que cuida de mim,
pois me deu a oportunidade de participar deste empreendimento representando a figura do ministro da Ciência e Tecnologia Marco Antonio Raupp. É para mim motivo de muita
honra, porque fiz parte da equipe de direção do Inpe na época do ministro Renato Archer (e juntamente com o ministro
Raupp). Archer foi um dos criadores do Ministério da Ciência
e Tecnologia (MCT), e há ainda outro fato circunstancial que
me prende a ele — o fato de ambos sermos maranhenses. A
única diferença é que ele é de Codó e eu sou de São Luis. Além
disso, quando eu tinha seis anos de idade meu pai, que era coletor estadual do Maranhão, levou-me para conhecer o pai dele,
que era o governador do estado; ele era o chefe de gabinete. São
circunstâncias da vida. Quero aproveitar isso para contar minha experiência de vida com o ministro Renato Archer, figura
da qual nós não dispensamos nem a amizade, nem a saudosa
convivência.
Archer e AS iNStitUiÇÕeS de deSeNvOlviMeNtO cieNtõficO e tecNOlÓgicO
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Vou iniciar pela fotografia, que nunca me sai da memória. Renato Archer era um personagem inusitado. Homem
barítono, mas flexível. Tinha a qualidade de enxergar momentos estratégicos. Isso é uma coisa fantástica, mas não a única
importante. O mais importante para mim é saber, além da
estratégia, como é que você desenvolve aquilo para dar resultados positivos.
A primeira lição que tivemos com Renato Archer foi a
seguinte: quando chegamos ao Inpe, essa instituição e todos os
outros institutos de pesquisa de sua categoria estavam abaixo
do CNPq. No dia em que Raupp tomou posse como diretor-geral do Inpe, o ministro Archer disse a ele: “A partir de hoje
vocês são uma instituição do MCT. Não obstante o decreto,
que deverá sair seja quando for, vocês passam a despachar diretamente comigo”. Isso, além de nos mostrar a inteligência
estratégica do homem que estava dirigindo o MCT, desencadeou um processo pelo qual todos os outros institutos acabaram indo para a alçada do Ministério. Hoje temos vários institutos que são chamados de unidades de pesquisa do MCT,
regidos por uma política pública de Estado.
A segunda aula de vida que tivemos com o ministro Archer deu-se no momento da decisão de cooperar com a China.
Primeiro os chineses estiveram aqui no Brasil com uma delegação de alto nível e, logo após, o ministro Archer foi à China
e decidiu-se pela cooperação na área espacial.
A partir da segunda viagem até 2002, quando eu deixei o
Inpe, permaneci envolvido com esse programa, do qual viria a
ser coordenador geral. Mas a lição — é incrível isto — é para o
resto de nossa vida. Não interessa o que aprendemos no banco
da escola, o que interessa realmente são essas lições de vida.
Aprendemos fazendo, como dizia Confúcio. A genialidade
desse pessoal é uma coisa impressionante. O cardápio que nos
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foi apresentado na China para cooperação era uma agenda do
tamanho de um prédio. E Renato Archer foi capaz de extrair
dessa agenda um objeto fantástico, com as seguintes características: primeira, uma causa de mútuo interesse; segunda: um
objeto que pudesse ser desenvolvido conjuntamente.
Começou aí o programa de satélites, assunto de que
tratamos para fazer a cooperação com
a China. Essa foi a maior lição que tiO cardápio que nos foi
vemos em nossa vida para situações de apresentado na China
desenvolvimento tecnológico em áreas
para cooperação
era uma agenda
estratégicas. Primeiro: objeto de utilido tamanho de um
dade mútua; segundo: desenvolvimento
prédio. E Renato
conjunto. E com isso começamos a traArcher
foi capaz de
balhar. Em 1986, nós e os engenheiros
extrair dessa agenda
do Inpe e da agência chinesa Cast comeum objeto fantástico,
çamos a nos envolver nisso preparando o
com as seguintes
chamado working report, construído logo
características:
após a segunda viagem. Em julho de
primeira, uma causa
1988, durante a visita de nosso presidende mútuo interesse;
te da República à China, foi assinado o
segunda: um objeto
acordo, e em agosto as equipes técnicas
que pudesse ser
começaram a trabalhar.
desenvolvido
conjuntamente
Nos anos 1990, o que começou
como uma simples cooperação mudou
de patamar e passou a ser chamado de parceria estratégica.
Isso é uma graduação na nomenclatura das relações exteriores. Agora, recentemente, essa cooperação conheceu uma nova
graduação, passando a se chamar parceria estratégica global.
Isso foi na Rio+20, numa reunião entre a nossa presidenta da
República e o primeiro-ministro Wen Jiabao. Portanto, esse
programa foi muito mais do que um exemplo daquilo que foi
denominado originalmente “cooperação Sul-Sul”. Hoje ele é
Archer e AS iNStitUiÇÕeS de deSeNvOlviMeNtO cieNtõficO e tecNOlÓgicO
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exemplo de cooperação para todos os países do mundo. Estamos prestes a lançar o quarto satélite de observação da terra.
Em seguida lançaremos o quinto satélite, e já estamos preparando a plataforma de parceria para os próximos dez anos.
Então pergunto a vocês, nessa área tecnológica, qual o
outro exemplo que envolve o Brasil em situações como essa,
com desenvolvimentos e empreendimentos semelhantes.
Encerraria dizendo o seguinte: para mim é motivo de grande
orgulho estar aqui hoje contando um pequeno pedaço da história de Renato Archer e de seu envolvimento com as nossas
instituições de desenvolvimento científico e tecnológico, com
foco no caso especial do Inpe. Hoje sou presidente da Agência
Espacial, e tenho a impressão de que devo 90% disso às lições
que aprendi com esse grande mestre.
* Matemático, ex-coordenador geral do programa Cbers (China Brazil
Earth Resource Satellites). Presidente da Agência Espacial Brasileira
(AEB).
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ARqUIVO
reNAtO Archer
e O ceNtrO de
t ecNOlOgiA dA
iNfOrMAÇÃO
reNAtO Archer
victoR PellegRini MaMMana *
luciano henRique Pondian
valente **
A gênese do atual Centro de Tecnologia da Informação
Renato Archer (CTI) ocorreu antes de o Brasil passar da fase
militar para a Nova República. Em 30 de dezembro de 1982,
na cidade de Campinas, era criado o CTI, então denominado
Centro Tecnológico para Informática. Aquela transição para
a democracia, como é comum em processos sociais de ruptura, combinava a inerente insegurança política com uma grave
crise econômica que limitava a capacidade de investimento
público. Criado no contexto da política de informática, o CTI
teve fortes ameaças externas à sua implantação e sobrevivência, tendo que se ajustar seguidamente às novas dinâmicas do
Estado brasileiro para manter-se fiel à sua missão original.
O início dos anos 1980 foi muito difícil. A crise econômica vinha acompanhada de um processo inflacionário que, por
si só, dificultava a capacidade de planejamento orçamentário
da instituição. Pacotes fiscais inviabilizavam os investimentos
justamente no momento em que a instituição necessitava de
apoio para se estabelecer.
A definição da missão do CTI, no apagar dos “anos de
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chumbo”, resultou do inusitado debate sobre a política de informática, que, num ambiente ainda de insegurança, ocorreu
de forma surpreendentemente plural em várias instâncias da
sociedade brasileira. Uma anedota vigente à época dizia, acertadamente, que “ciência e tecnologia era assunto da oposição”.
Na verdade, foi o poder da proposta que estabeleceu a convergência de convicções, das mais variadas esferas e tendências, em torno da necessidade de o país buscar capacitação em
tecnologia da informação, então referida como “informática”.
Transformada em situação, a frente progressista representada por figuras como Ulysses Guimarães, Severo Gomes,
Luiz Henrique e Renato Archer criou as condições para a sustentação de uma política industrial com bases democráticas.
Ato contínuo, funcionários de carreira do governo, inspirados
por esses líderes, mantiveram-se firmes e comprometidos com
os ideais de uma sociedade brasileira livre, democrática e autônoma. Hoje, ocupam posições chave no governo brasileiro
líderes que atuaram muito proximamente a Renato Archer
na década de 1980, como Celso Amorim (atual ministro da
Defesa), Luciano Coutinho (atual presidente do BNDES) e
Marco Antonio Raupp (atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação), mostrando que o legado continua e se renova,
dado que o compromisso com o país vem sendo passado de
geração a geração.
De fato, empossado ministro, Renato Archer foi um dos
principais apoiadores do CTI na sua difícil infância, quando o
cenário macroeconômico adverso ameaçava sua consolidação.
O então ministro Archer, mantendo-se fiel aos princípios da
proposta original da política industrial, promoveu sua reinvenção, aprofundando os instrumentos e buscando corrigir
rotas. Hoje o Brasil diferencia-se positivamente de todos os
demais países da América Latina que não adotaram políticas
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semelhantes em termos de tecnologia da informação. O país
tem marcas próprias, produção local e atividades relevantes
de pesquisa e desenvolvimento (P&D) na área, provando que
cadeias produtivas não se improvisam e o processo histórico
requer décadas para consolidar seus benefícios.
“A criação da Fundação Centro Tecnológico para Informática — a Fundação CTI — tem como objetivo promover
a execução de pesquisas, planos e proTransformada em
jetos, emitir laudos técnicos, acompasituação, a frente
nhar programas de nacionalização e
progressista
exercer atividades de apoio às emprerepresentada por
sas nacionais do setor.”
figuras como Ulysses
Foi assim que o ministro RenaGuimarães, Severo
to Archer ratificou a missão do CTI,
Gomes, Luiz Henrique
em palestra proferida no Instituto de
e Renato Archer criou
Física da Unicamp, em Campinas,
as condições para a
em 17 de setembro de 1985, lançando
sustentação de uma
política industrial com
a Fundação Centro Tecnológico para
bases democráticas
Informática, sucedânea do Centro
Tecnológico para Informática. Com
essa mudança na forma institucional, o CTI adquiria mais
responsabilidade no cenário nacional, passando a ser parte integrante do recém-criado Ministério da Ciência e Tecnologia.
À época da transformação do CTI em Fundação, Renato Archer já havia assumido o recém-criado Ministério, e
tratou da importância do CTI na Abertura do 18º Congresso
Nacional de Informática e da 5º Feira Internacional de Informática, em 23 de setembro 1985, eventos realizados simultaneamente na cidade de São Paulo. “[...] O Centro Tecnológico
para Informática (CTI), a ser transformado em Fundação,
deverá constituir-se em elemento irradiador de novos conhecimentos — elo importante entre a universidade e a indústria.”
reNAtO Archer e O ceNtrO de tecNOlOgiA dA iNfOrMAÇÃO reNAtO Archer
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Nos seus primeiros anos o CTI confirmou sua vocação
para fazer a importante ponte entre a pesquisa e a indústria
nacional, numa área em que praticamente tudo tinha que ser
criado. Pioneiro, em sua primeira década foram conduzidos
vários projetos, entre os quais se destacam a instalação da
primeira linha de montagem e encapsulamento de circuitos
integrados, que forneceu durante vários anos para a Ericsson,
Itautec e Bourroughs. Nesse mesmo período, iniciou-se o
projeto de circuitos integrados dedicados, como o do primeiro marca-passo cardíaco eletrônico nacional. Enfrentando
um forte bloqueio internacional à transferência de tecnologia
para o Brasil, foi também instalada a primeira linha de fabricação de máscaras do Hemisfério Sul.
As demais áreas do CTI também cresceram rapidamente. Realizaram-se, a título de exemplo, projetos com a Alcoa
para automação da fundição de alumínio, o desenvolvimento
de metodologias para testes de software junto à Ericsson e o projeto Fábrica de Software, conduzido em parceria com o Banco
do Brasil e a Embrapa. Em colaboração com a Gurgel, o CTI
desenvolveu o primeiro sistema de ignição eletrônica brasileiro. Também foram desenvolvidos sistemas de monitoramento
de ensaios para avaliação dos motores da Bosch, e o programa
de automação da refinaria Replan. Junto à empresa Gyron,
colocou-se no ar o primeiro helicóptero não tripulado do país.
Em 1985 o CTI desenvolveu o primeiro Display de Cristal
Líquido (LCD) baseado em tecnologia totalmente nacional,
estabelecendo a primeira linha piloto de produção no final daquela década, contemporânea dos principais esforços internacionais. Em 1989, o CTI, em cooperação com Associação Brasileira de Informática (ABINFO) e a Unicamp, com apoio do
Exmo. Juiz Wladimir Valler, do Tribunal Regional Eleitoral,
foi pioneiro na demonstração da primeira urna eletrônica do
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mundo, cujo relatório de desempenho abriu o caminho para
que o Tribunal Superior Eleitoral viesse a adotá-la em todo
o território nacional. Nos anos 1990, liderando o primeiro
estudo sobre TV digital do país, o CTI anteviu o papel que as
telas de LCD viriam a desempenhar muitas décadas depois.
Durante o período de 15 de março de 1985 a 22 de outubro de 1987, em que Renato Archer foi ministro da Ciência e
Tecnologia, o CTI era dirigido pelo Dr. Miguel Teixeira de
Carvalho, que exalta a visão ampla e estratégica do primeiro
ministro da pasta. “Ele concebia a área de ciência e tecnologia
como fundamental para o desenvolvimento social, cultural,
político e econômico da sociedade brasileira como um todo”,
conta Miguel de Carvalho.
“Quando ele tinha convicção de que algo era importante,
não media esforços para viabilizá-lo. Lembro-me de sua dedicação para criar o projeto Fábrica de Software, conduzido
em parceria com o Banco do Brasil e a Embrapa, que criou no
CTI o Núcleo Tecnológico para Informática Agropecuária
— NTIA”, recorda Miguel de Carvalho. O objetivo do NTIA
era aumentar a produção e a qualidade do software nacional, por
meio da implantação de metodologias e de ferramentas baseadas nos conceitos mais modernos de engenharia de software,
disponíveis internacionalmente, mas ainda não aplicados no
país. Análises do cenário atual permitem constatar que aquele
trabalho pioneiro teve impacto, até os dias de hoje, em todo o
setor de software brasileiro.
Anos mais tarde, o NTIA recebeu status de centro nacional e transformou-se no atual Centro Nacional de Pesquisa
Tecnológica em Informática para a Agricultura (CNPTIA),
que ganhou sede própria, também em Campinas e com vinculação direta com a Embrapa. “O CNPTIA é um centro de
referência no Brasil, mas que só existe hoje pela ousadia de
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Renato Archer”, afirma Miguel de Carvalho. “O Renato foi
muito importante para a estruturação das atividades do CTI
em microeletrônica, software e automação. Ele tinha uma visão
do Centro como um instituto de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) aplicado e de atuação próxima à indústria”, conclui ele.
Em 1987, Renato Archer deixou
"O período de gestão
o Ministério da Ciência e Tecnologia
do ministro Renato
e assumiu o Ministério da Previdência
Archer teve um
e Assistência Social, onde permaneceu
grande significado na
por mais três anos. Posteriormente,
história da ciência e
conduziu a Presidência da Embratel,
tecnologia do Brasil, não
já na década de 1990, permanecendo
somente pela criação
mais distante das atividades do CTI.
do Ministério, como
Os anos 1990 não foram fáceis
pela visão estratégica
para instituições voltadas ao apoio à
e de estadista do
então ministro. A
consolidação da cadeia produtiva naconsolidação do CTI
cional. De 1990 a 2000, a total ausênfoi um dos produtos
cia de uma política industrial e o foco
de sua gestão, mas
numa visão acadêmica do Ministério
devemos reverenciá-lo
da Ciência e Tecnologia produziram
também por suas outras
ações desorganizadoras do esforço tecrealizações que tiveram
nológico e industrial brasileiro. Como
impacto sobre toda a área
se não bastasse a total insensibilidade
de ciência e tecnologia do
para com a questão da tecnologia, a reBrasil. Por essa razão,
forma do Estado promovida naquela
considerou-se uma
honra para o CTI associar década implicou mudanças radicais
nas políticas de recursos humanos do
o nome do ministro ao da
instituição”, conta Carlos governo e na sua forma de organização
Mammana
administrativa. Nesse período o CTI
vivenciou uma redução substancial de
seus quadros técnicos, como resultado de uma reforma que reduzia o salário real e buscava promover a demissão voluntária
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de funcionários com alta experiência e competência. A abertura comercial sem visão estratégica inviabilizou uma série de
atividades industriais que estavam em incubação no país, eliminando os principais stake-holders envolvidos no processo de
consolidação do CTI.
Esse conjunto de fatos resultou na ameaça de fechamento
da instituição no final da década de 1990, a qual foi enfrentada
pela modificação da formatação institucional. Em 18 de agosto de 2000, o CTI deixou de ser fundação, transformando-se
num órgão da administração direta cujo nome passou a ser Instituto Nacional de Tecnologia da Informação — ITI. Como
pano de fundo, a mudança de nome permitia, num ambiente
adverso à visão estratégica de país, romper com o estigma de
sua origem ter ocorrido no bojo de uma política industrial.
Esse ajuste tático garantiu a continuidade da missão original
do CTI, que a partir de 1999 voltava a crescer, dia após dia, aumentando suas parcerias, seu corpo de colaboradores externos
e sua inserção na sociedade. Importantes resultados tecnológicos foram conseguidos no período, mesmo nessas condições
adversas, as quais consumiam a energia de uma equipe de servidores públicos (internos) cada vez menor. De fato, resiliente
e comprometida com sua missão pública, a comunidade do
CTI buscou recuperar seu papel de protagonismo na nova organização da cadeia produtiva das tecnologias da informação
(TI), resultante da abertura comercial. Foram anos duros de
revisão de planos e redirecionamento de carreiras. Sem apoio
do governo central para sua recapacitação, a força de trabalho
teve que, em harmonia com a gestão local, buscar um novo
enraizamento na cadeia produtiva do setor.
Ao mesmo tempo em que se fortalecia, apresentando indicadores crescentes de bons serviços à sociedade brasileira, o
CTI deparava-se com novos desafios para manter-se conecreNAtO Archer e O ceNtrO de tecNOlOgiA dA iNfOrMAÇÃO reNAtO Archer
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tado à sua missão original. Através de medida provisória, em
24 de agosto de 2001, o governo federal decidiu instalar a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), determinando que o então ITI faria sua implantação. A missão
do ICP-Brasil, de caráter operacional, era incompatível com o
perfil da força de trabalho existente. Atendida a determinação
dada pelo governo federal de desenhar integralmente a nova
instituição de chaves públicas e respectiva política nacional, o
CTI buscou retornar à condição de entidade de pesquisa. Para
isso, o então ITI migrou para Brasília em 4 de dezembro de
2001. Na mesma data foi criado o Centro de Pesquisas Renato
Archer (CenPR A), que passou a operar nos mesmos prédios
e com o mesmo pessoal dos antigos ITI e CTI, em Campinas,
sucedendo-os. Nesse processo, a ideia de homenagear Renato
Archer, então já falecido (em 1996), surgiu de uma conversa
entre o ministro da Ciência e Tecnologia na época, Dr. Ronaldo Sardenberg, e o então diretor do CTI, professor Carlos
Ignacio Zamitti Mammana.
“O período de gestão do ministro Renato Archer teve
um grande significado na história da ciência e tecnologia do
Brasil, não somente pela criação do Ministério, como pela visão estratégica e de estadista do então ministro. A consolidação do CTI foi um dos produtos de sua gestão, mas devemos
reverenciá-lo também por suas outras realizações que tiveram
impacto sobre toda a área de ciência e tecnologia do Brasil. Por
essa razão, considerou-se uma honra para o CTI associar o
nome do ministro ao da instituição”, conta Carlos Mammana.
“Na década de 1980, eu era o diretor do Instituto de Microeletrônica, com a incumbência, entre outras, no âmbito da
implantação daquele Instituto, de instalar a linha de fabricação de máscaras fotolitográficas, ferramentas fundamentais para a fabricação de circuitos integrados. As negociações
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foram conduzidas com o apoio decidido do MCT, à época
sob o comando do ministro Renato Archer. Foram realizadas inúmeras ações para o sucesso do empreendimento, nas
quais foram fundamentais a participação do então secretário
executivo do Ministério, Dr. Luciano Coutinho, e do então
secretário para Assuntos Internacionais do MCT, ministro
Celso Amorim”, recorda Carlos Mammana.
“Merece ser lembrada outra relevante iniciativa realizada
durante sua gestão, que foi a criação das Escolas Brasileiro-Argentinas de Informática (EBAI), com importantes resultados
na formação de recursos humanos e na aproximação das comunidades acadêmicas brasileira e argentina na área da informática. A realização das EBAIs teve o apoio decisivo do CTI,
que se envolveu com entusiasmo e para as quais muito contribuiu”, finaliza. O modelo de formação de recursos humanos
estabelecido pela EBAI serviu de base, posteriormente, para
o estabelecimento do bem-sucedido Programa CI-Brasil do
MCTI. As bases do Programa CI-Brasil também foram lançadas pelo professor Mammana, em 2006, como subproduto
do Programa Multi-Usuário (PMU) para projeto de circuitos
integrados, liderado pelo CTI na década de 1990.
Em 2008, no dia 13 de junho, quando o governo federal
renovava seu compromisso com a política industrial apresentando os resultados de quatro anos de investimentos na Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE),
já não havia mais bases para o preconceito contra esse importante instrumento de desenvolvimento econômico. A realidade internacional apontava, também, para a inviabilidade do
modelo adotado na década de 1990. Nesse contexto, a instituição pôde retomar sua sigla original, CTI, agora representativa do nome Centro de Tecnologia da Informação Renato
Archer. Hoje se pode dizer que o nome Renato Archer está
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definitivamente associado ao CTI e é possível perceber que
isso é um motivo de orgulho para a comunidade interna.
Após 30 anos de sua fundação, mantendo-se fiel à missão
ratificada pelo ministro Renato Archer e legitimado por sua
inegável contribuição para o país, o CTI reforça seu compromisso com as políticas públicas do governo federal. A instituição reconquistou, na última década, uma posição privilegiada
no cenário de P&D nacional, consolidando sua capacidade de
pesquisa e desenvolvimento em tecnologia da informação. A
utilização de um modelo de gestão participativa permitiu mobilizar uma ampla matriz de competências em TI no entorno
de seus projetos, garantindo a recuperação de seus stake-holders,
o que lhe permitiu um definitivo enraizamento na cadeia produtiva nacional.
Consolidado, o CTI Renato Archer está pronto para
novos desafios e prepara-se, continuamente, para ser cada vez
mais relevante para a sociedade brasileira, seguindo os ideais
de seu patrono.
* Doutor em Física (USP). Diretor do Centro de Tecnologia da Informação
Renato Archer (CTI).
** Pós-graduado em Jornalismo (Unicamp). Colaborador do Centro de
Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI).
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referíncias bibliográficas
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CaRvalho, Miguel Teixeira. Entrevista a Luciano Valente. Campinas, 28 de
novembro de 2012.
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Comitê de Busca para Diretor do CTI Renato Archer. Campinas, 2011.
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Diálogos com o Tempo. Rio de Janeiro: CPDOC/Fundação Getúlio Vargas, 2007.
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ARqUIVO
O l egAdO de
reNAtO Archer
e A Sbpc 2012
natalino salgado Filho*
O presidente da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, em artigo publicado no dia 15 de julho, ressaltou
a importância de Renato Archer, que, se vivo estivesse, teria
completado 90 anos nesse mês. Buzar destacou, em seu artigo, o viés político daquele maranhense que galgou — numa
trajetória de diversas lutas, embates e conquistas — diversos
degraus até dirigir o Ministério da Ciência e Tecnologia, hoje
transformado em Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, considerado um dos mais importantes órgãos para um país
que almeja ser referência — interna e externamente — na área.
O artigo de Buzar — que descreve em ricos detalhes os
bastidores da vida política de Renato Archer e traça um cenário da política maranhense na época da ditadura militar,
com reviravoltas e detalhes pitorescos — traduz-se numa feliz
coincidência para este mês de julho, quando acontece, entre os
dias 22 e 27, na Cidade Universitária da Universidade Federal
do Maranhão, o maior evento científico da América Latina e
do Caribe: a 64ª Reunião Anual da SBPC, que reune pesquisadores, cientistas e interessados em adquirir conhecimentos
e trocar experiências.
A coincidência diz respeito ao fato de que grande é a contribuição de Renato Archer para a ciência brasileira. FormaO legAdO de reNAtO Archer e A Sbpc 2012
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do em Física Nuclear e autor de obras como Política nacional de
energia atômica (1957); Aspectos econômicos do uso da energia nuclear
(1958), e Diretrizes para uma Política Externa Independente (1963),
Archer lançou, ao lado de um grupo de renomados cientistas,
campanha pela criação do Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT).
A reivindicação foi atendida na gestão do presidente
José Sarney, por meio do decreto nº 91.146, de 15 de março
de 1985, o qual criou formalmente o Ministério da Ciência
e Tecnologia. Archer foi nomeado o primeiro ministro da
pasta. Foi a concretização de um sonho antigo, acalentado
por professores e pesquisadores de todo o país. Já em dezembro de 1985, diversas reuniões regionais simultâneas,
em onze cidades do país, agregaram empresários, pesquisadores, estudantes e professores, objetivando debater soluções para a ciência no Brasil. Coube ainda a Renato Archer
a realização da primeira Conferência Nacional de Ciência
e Tecnologia.
A professora Angelise Valladares Monteiro, em sua tese
A dinâmica de mudanças estratégicas: estudo de multicasos em institutos
de pesquisa, defendida para a obtenção do título de doutora
em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de
Santa Catarina, faz um resgate histórico da gestão do então
ministro Renato Archer, creditando a ele, além de diversas
outras realizações, a abertura de diálogo com os responsáveis
pela produção científica e tecnológica brasileira; a manutenção de órgãos de pesquisa fundamentada na decisão de priorizar investimentos na área; a criação de uma comissão interministerial, com membros representantes da comunidade
científica e empresarial, para orientar as ações estratégicas
na área de novos materiais, e a criação de uma Secretaria de
Biotecnologia.
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Aqueles que tiveram o privilégio da convivência com
Archer, enquanto este era ministro, contam que ele era um
homem afável, profundo amante da ciência e da pesquisa. A
partir de sua passagem pela Marinha, interessou-se por Energia Nuclear e sempre dispunha de tempo para ouvir aqueles
que o procuravam com ideias e sugestões.
O Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação
Getúlio Vargas e dados históricos da Câmara dos Deputados
registram ainda que ele integrou como delegado do Brasil a
comissão de instalação da Agência Internacional de Energia
Atômica, em Viena, na Áustria, em 1957. Foi delegado do Brasil na Conferência Geral da Agência Internacional de Energia
Atômica, em 1959, e governador pelo Brasil da Junta da Agência Internacional de Energia Atômica,
em 1960. Archer também integrou a
Coube a Renato
conferência de instalação da Comissão Archer a realização da
de Energia Atômica da Organização dos
primeira Conferência
Estados Americanos (OEA), em WaNacional de Ciência e
Tecnologia
shington, nos Estados Unidos.
Sua importância para a área foi
reconhecida de tal modo que seu nome batizou o Centro de
Tecnologia da Informação Renato Archer, unidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação que atua na pesquisa
e no desenvolvimento em tecnologia da informação. Sua biografia foi tema de duas importantes obras: Renato Archer: energia
atômica, soberania e desenvolvimento, de Alvaro Rocha Filho e João
Carlos Vitor Garcia (Rio de Janeiro: Contraponto, 2006. 272
p.) e Renato Archer: diálogo com o tempo, de Regina da Luz Moreira
e Leda Soares (Rio de Janeiro: CPDOC/FGV, 2007. 379 p.).
Que seu exemplo de abnegação na luta em defesa da ciência sirva para inspirar as novas gerações a também se dedicarem à causa, não apenas nestes dias em que estaremos às voltas
O legAdO de reNAtO Archer e A Sbpc 2012
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com a programação rica e extensa da SBPC — que tem como
tema “Ciência, cultura e saberes tradicionais para enfrentar a
pobreza” — mas em todas as épocas. O país que valoriza seus
pesquisadores e cientistas cria oportunidades para que todos
cresçam com qualidade, com cultura de inovação. Como consequência, surge o incremento na competitividade global da
economia aliada à inclusão social.
* Médico, doutor em Nefrologia (Unifesp). Reitor da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA). Membro do Instituto Histórico e
Geográfico do Maranhão (IHGM). Artigo originalmente publicado, com
poucas modificações, no jornal O Estado do Maranhão em 22/7/2012.
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ARqUIVO
hOMeNAgeM A
reNAtO Archer
JaiR dos santos oliveiR a*
Desejaria apenas fazer uma breve saudação. Gostaria
de voltar um pouco no tempo, até o ano de 1941, quando um
jovem de dezoito para dezenove anos cruzava pela primeira
vez os portões de Villegagnon, onde se situa a Escola Naval,
que forma os oficiais da Marinha de Guerra no Brasil. Como
ocorre com qualquer outro jovem de dezoito para dezenove
anos, a cabeça fervilha de ideias e, dentro dos portões de
Villegagnon, certamente o coração arde de patriotismo e
de uma vontade imensa de servir à Pátria. Não foi diferente
com esse jovem de quem estou falando. Refiro-me ao ministro Renato Archer. É a respeito dessa ilustre pessoa que eu
gostaria de comentar.
Ele iniciou sua carreira na Marinha do Brasil em 1941.
Formou-se na Escola Naval em 1945, onde conheceu um professor de química chamado Álvaro Alberto. Após vinte anos
de serviços, foi transferido para a reserva no posto de capitão
de fragata. Em nossa instituição, recebeu várias condecorações. Passo a citar algumas delas: a Medalha Mérito Tamandaré, a Medalha da Força Naval do Nordeste e a Medalha da
Ordem do Mérito Naval no grau comendador.
Renato Archer faz parte de uma elite de cientistas da
Marinha que, por sua capacidade e visão de futuro, participou
hOMeNAgeM A reNAtO Archer
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do desenvolvimento da ciência, tanto na minha instituição, a
Marinha de Guerra do Brasil, quanto em várias outras instituições. Foi discípulo e amigo do Almirante Álvaro Alberto,
que é o patrono da ciência, tecnologia e inovação da Marinha. Iniciativas brilhantes, como a criação do então Conselho
Nacional de Pesquisas (CNPq) e a deflagração do audacioso
e pioneiro programa nuclear brasileiro,
são fruto dessa amizade, dessa admiráFoi discípulo e amigo
vel parceria. Hoje o Brasil habilita-se a
do Almirante Álvaro
Alberto, que é o
fazer parte do seleto grupo de países que
patrono da ciência,
domina o conhecimento necessário para
tecnologia e inovação
o enriquecimento de urânio, visando a
da Marinha
abastecer nossas usinas energéticas e alimentar o submarino movido a propulsão
nuclear, a ser construído pela Marinha.
Assim, deixo registrados nossos agradecimentos ao ministro Renato Archer por sua perseverança e empreendedorismo dedicados ao Brasil e à Marinha.
* Capitão de mar e guerra. Comandante da Capitania dos Portos do
Maranhão.
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viSÃO eStrAt ÉgicA,
pOlõticA e x t erNA
SOberANA
a lvaRo Rocha Filho*
Falar de Renato Archer é uma oportunidade para focalizar duas de suas características: a concepção básica de ser imprescindível a definição de objetivos estratégicos de longo prazo — e dos respectivos instrumentos e mecanismos capazes de
conferir-lhes operacionalidade — e, como corolário, a visão da
necessidade de uma atuação internacional daí decorrente. Ou
seja: planejamento estratégico de longo prazo e política externa que lhe dê respaldo. Essas duas características explicam a
denúncia, por Archer, do abandono formal da política nuclear
de Getúlio, inclusive com a explícita ingerência estrangeira, e
todo um viés de sua atuação no Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e na Embratel.
A questão da energia nuclear no Brasil, creio, pode ser
vista em três etapas distintas. A primeira fase caracteriza-se
pela luta pelo direito ao acesso e ao desenvolvimento de tecnologia e à formação de pessoal altamente qualificado. Nessa
etapa temos a opção pela tecnologia de ultracentrífugas. Esse
período é corporificado na pessoa do almirante Álvaro Alberto, responsável por sua formulação e pela institucionalização
de uma política de ciência e tecnologia. A respeito disso, tenho
em mãos uma cópia da carta do cientista Paul Artec, do Instituto Americano Politécnico de Rensselaer, nos Estados UniviSÃO eStrAtÉgicA, pOlõticA e x terNA SOberANA
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dos, admitindo serem as ultracentrífugas a opção tecnológica
dos chineses. Tenho também o fac-símile da primeira página
de O Globo com a notícia de Álvaro Alberto na Presidência da
Comissão de Energia Atômica da ONU, e o inventário do arquivo de Álvaro Alberto organizado sob o patrocínio da Embratel na gestão de Renato Archer (1).
Temos exemplos de
A segunda fase remete-nos à coninstitucionalização de
quista do desenvolvimento de tecnoloestratégias de longo
gia própria em todas as etapas do ciclo
prazo, mas isolados.
de enriquecimento de urânio, propiA institucionalização
ciando a integração com a indústria
pontual de mudanças
nacional. Pode-se dizer que está simde paradigma não nos
bolizada nas figuras do professor Rex
assegura a integração
Nazaré e do almirante Othon Luiz
nas transformações
Pinheiro da Silva. A propósito, vale
mundiais,
lembrar um telefonema de 1985 recebitecnológicas,
do por Renato Archer no intervalo de
econômicas, sociais
uma conferência na Escola Superior de
e políticas em curso,
já cantadas
Guerra com a seguinte mensagem: “A
em prosa e verso
criança nasceu”. A frase foi proferida
pelo professor Rex Nazaré.
Na terceira fase possivelmente ingressaremos agora —
com a conclusão de Angra 3, deve-se ler. O Brasil está em vias
de ser talvez o único país a reunir todas as seguintes condições: abundância de jazidas de minério; tecnologia de ponta
própria, de baixo custo e alta eficiência; parque industrial capaz de produzir equipamentos, desde a extração de minério
até a construção de usinas; escala na capacidade de todas as
fases de enriquecimento de urânio; tradição e respeitabilidade internacional. Essas são características que possibilitarão
ao Brasil, prescindindo da agressividade da bomba atômica,
ingressar no mercado mundial de urânio enriquecido, coisa
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hoje acima de quarenta ou cinquenta bilhões de dólares, dominado por dois cartéis que não dispõem de jazidas de urânio. Seria a oportunidade de participar da estrutura mundial
de produção energética e ocupar espaço no balanço de forças
do poder político internacional daí decorrente. Tal condição
permitiria ao setor de energia nuclear nacional gerar os próprios recursos para seu crescimento conforme as exigências
de uma matriz energética autônoma.
A partir daqui já temos uma briga de cachorro grande e,
permitam-me um pleonasmo, de singularidade ímpar. Agora a exigência é de objetivos estratégicos e de política externa
condizente, duas das características que definem, como já disse, a atuação pública de Renato Archer.
(A propósito, faz falta um relato factual, isento de controvérsias pessoais, da história da energia nuclear no Brasil —
seus desafios, conhecidos desde o passado, suas perspectivas
futuras, suas exigências. Considerando estarem situadas no
estado do Rio de Janeiro as usinas nucleares e o complexo de
enriquecimento de urânio — este em Resende —, a fundação
de apoio à pesquisa do Rio, a Faperj, e a Eletronuclear bem
poderiam levar em consideração essa proposta.)
No processo de estruturação do MCT, em que foram determinantes o atual ministro, Marco Antonio Raupp (à época
diretor-geral do Instituto de Pesquisas Espaciais) e também o
José Raimundo Coelho, identificam-se igualmente os aspectos já citados: objetivos estratégicos e atuação internacional.
No Inpe realizou-se a segunda reunião de planejamento estratégico do MCT. Tenho em mãos o relatório de atividades
dos três primeiros anos do MCT. Tenho também em minha
posse a carta patente do Banco Central reconhecendo a Finep
como instituição financiadora, assinada em 1967 (2).
Foi do então diretor do Inpe, Marco Antonio Raupp,
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a iniciativa da troca de missões com a China a que se refere o ministro Celso Amorim (3), que resultaram no tratado
de produção conjunta de satélites, assinado em Pequim pelo
presidente da República. Numa das viagens à China (não sei
se a primeira), em reação a uma afirmativa do doutor Raupp, o chefe da delegação chinesa rompeu a tradicional postura
oriental de formalidade, deu uma volta ao redor mesa e o abraçou calorosamente.
Tenho em meus guardados um exemplar do boletim de
atividades do Inpe que registra a vinda ao Brasil da segunda
missão chinesa, em 1986. Foi no Inpe que se construiu e se
inaugurou, com a presença do presidente da República, o Laboratório de Integração e Testes (LIT), parte integrante do
programa de satélites. Trago em mãos a fotografia do evento,
que mostra a jovem figura do professor José Raimundo (4).
Este é um exemplo de outro setor, o setor de satélites, cujos
avanços e tropeços devem-se à obstinação de pessoas como o
doutor Raupp, o professor Rex Nazaré, os almirantes Álvaro
Alberto e Othon Pinheiro da Silva e alguém mais que poderia
ser citado. Aliás, da mesma maneira que no caso da energia
nuclear, faz falta também uma história da luta pela capacitação nacional nessa área. O Brasil é coberto por uma nuvem de
satélites de comunicação, nenhum deles construído no Brasil
— os que eram de propriedade nacional foram vendidos.
Entre os programas definidos como integrantes dos
objetivos estratégicos do MCT registra-se aquele voltado à
produção de fármacos básicos. Somente agora, um quarto de
século depois, ele teve sua institucionalização, graças às definições do ministro Temporão e às diretrizes de financiamento
do BNDES. A experiência acumulada mais do que comprova
o quanto é decisiva a integração em inovação e produção industrial. Em Petrópolis, no Laboratório Nacional de Com70
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putação Científica (LNCC), o doutor Raupp executou um
programa de iniciação à informática aberto a jovens e idosos
que matriculou mais de vinte mil pessoas, estabelecendo na
cidade uma mentalidade aberta ao desenvolvimento da informática e à formação de mão de obra qualificada para atender
às necessidades do que é hoje o polo de informática da região.
Foi assim também em Aramar e Resende no caso da
energia nuclear, tendo a Marinha como pedra angular. Foi
assim em São José dos Campos, com o conjunto de instituições de pesquisa e ensino da Aeronáutica, mais o Inpe, cujos
resultados não se restringem à Embraer.
Todos os problemas
Aponte-se recentemente a estruturação,
estão tecnicamente
em São José dos Campos, de um instituestudados e
to que operacionaliza a integração entre
equacionados, mas
as instituições de ensino e pesquisa e as
não se concebe em
demandas de inovação da indústria (5).
termos institucionais
Doutor Raupp criou esse instituto e foi
estratégias de longo
seu presidente; José Raimundo Coelho
prazo e respectivas
estruturas
era o vice-presidente e tornou-se deinstitucionais
pois presidente, quando Raupp assumiu a Agência Espacial. Acrescente-se
a importância dos parques tecnológicos implantados a duras
penas, como ocorre com o do Rio de Janeiro, cuja existência
muito se deve à teimosia de Maurício Guedes, há mais de um
quarto de século, e que ganha agora musculatura, dado o interesse de empresas estrangeiras.
Temos exemplos de institucionalização de estratégias
de longo prazo, mas isolados. A institucionalização pontual
de mudanças de paradigma não nos assegura a integração nas
transformações mundiais, tecnológicas, econômicas, sociais e
políticas em curso, já cantadas em prosa e verso.
No Brasil registramos hoje em todos os setores da vida
viSÃO eStrAtÉgicA, pOlõticA e x terNA SOberANA
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nacional um impasse, um estrangulamento, um paradoxo ou
outro nome que se queira dar. Desde que Juscelino desmantelou as estruturas administrativas existentes e mostrou a
fratura exposta — ele que era médico — das instituições políticas, há meio século a sociedade brasileira deve a si mesma
as reformas operacionais, estruturais e institucionais que se
devem impor.
A última ruptura geral de paradigmas que houve foi promovida pela Revolução de Chimangos em 1930. Ainda hoje
os fundamentos e instrumentos institucionais de indução do
desenvolvimento são os concebidos na era getulista, com raras
exceções. Temos um quadro paradoxal: a produtividade agrícola mais do que duplica com base na pesquisa tecnológica de
ponta da Embrapa, e um navio leva trinta dias para carregar
açúcar em Santos. A fila de caminhões para embarque de soja
em Paranaguá supera os setenta quilômetros. Temos um ensino básico que não consegue superar o analfabetismo, e uma
estrutura institucional administrativa e política anacrônica.
Então se aplica o esparadrapo da cota racial.
Vivemos tratando o estrutural com os remendos da
conjuntura. O mais complexo é que todos os problemas estão
tecnicamente estudados e equacionados, mas não se concebe
em termos institucionais estratégias de longo prazo e respectivas estruturas institucionais. Voltamos, pois, às premissas
iniciais: estratégia de longo prazo e política externa que lhe dê
respaldo. É sintomático que, da equipe de Renato Archer, tenhamos hoje Marco Antonio Raupp como ministro da Ciência e Tecnologia, José Raimundo Coelho como presidente
da Agência Espacial Brasileira, Celso Amorim nas Relações
Exteriores — agora na Defesa — e Luciano Coutinho no BNDES. Registre-se também o professor Rex Nazaré, um dos
mais próximos e constantes interlocutores de Archer desde o
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reNAtO Archer: 90 ANOS
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início de sua vida pública. Eu pessoalmente sou apenas um velho repórter. Coube-me registrar e contar a história por meio
de alguns fleches, trechos de algumas cenas. O dilema de definir o sentido e o enredo da peça, suas opções, é sobretudo o
desafio dos herdeiros obstinados e dos parceiros de Archer,
que o foram com tanto empenho.
* Jornalista, coautor do livro Renato Archer: energia atômica, soberania
e desenvolvimento.
Notas
(1) Alvaro Rocha Filho levou todos esses documentos a São Luis e, durante a mesa-redonda em homenagem a Archer, entregou-os solenemente ao professor Rex
Nazaré.
(2) Durante a mesa-redonda em homenagem a Archer, Alvaro Rocha Filho entregou esses documentos a José Raimundo Coelho, para que os levasse aos arquivos
do MCT.
(3) Cf. texto de Celso Amorim no presente volume.
(4) Tanto o boletim de atividades do Inpe quanto a fotografia foram entregues durante a mesa-redonda a José Raimundo Coelho.
(5) O autor refere-se ao Parque Tecnológico de São José dos Campos.
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ARqUIVO
reNAtO Archer,
UM e x eMplO A Ser
SeMpre l eMbrAdO
R ex nazaRé*
Melhor não poderia ser a ocasião escolhida pela Fundação
Maurício Grabois para homenagear Renato Archer, no contexto da 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência, este ano realizada nas dependências da
Universidade Federal do Maranhão e situada, oportunamente, na terra natal de Archer, que, se vivo, teria completado no
último dia 10 de julho noventa anos. Estou certo de que muitos
dos resultados apresentados nessa Reunião da SBPC têm suas
origens nas ações por ele realizadas.
O atual Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação é resultado, em parte, das condições materiais herdadas do passado, que foram forjadas — não se faz nada a
partir do nada — no século XIX e no início do século XX.
Nathan Rosenberg, discutindo as interdependências tecnológicas, argumenta que as invenções nunca emergem isoladamente. No processo de inovação e expansão produtiva é
mais comum a presença de aglomerados de inovações inter-relacionadas. Aqui assistimos intervenções sobre a atuação
de Archer no setor nuclear, nas inovações, na área espacial.
Essas afirmações convergem com as de Alcides Goulart Filho,
ao indicar que ao longo do século XIX e durante as primeiras décadas do século XX, na indústria de construção naval
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do Rio de Janeiro, pôde-se observar um constante fluxo intersetorial entre o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro,
os estaleiros navais, as fundições e o comércio exportador e
importador, que possibilitou a manutenção e a ampliação do
aglomerado de estaleiros navais. Isso atendia às necessidades
do transporte de cabotagem de um país com extenso litoral
e portos localizados nas principais cidades brasileiras. Vale
lembrar que a construção de embarcações de porte um pouco
maior começou a ser realizada com a fundação dos arsenais de
Marinha, que também produziam munições e armamento,
além de realizar obras civis e hidráulicas.
A partir de 1761 foram criados arsenais em diferentes
cidades brasileiras. Como resultado, entre 1822 e 1890, a
construção naval brasileira lançou ao mar 46 navios, incluindo quatro encouraçados e quatro cruzadores, com destaque
para o cruzador Tamandaré. O cruzador Tamandaré é dessa
época. Iniciado em 1884 e lançado ao mar em 1890, deslocava
4.537 toneladas, sendo o maior navio construído no Arsenal
até a década de 1960. Essa estrutura permitiu ao Arsenal de
Marinha da Corte durante a Guerra do Paraguai construir
quatorze navios, incluindo aí não mais um cruzador, mas o
encouraçado que recebeu o mesmo nome, encouraçado Tamandaré. Este é um exemplo de desenvolvimento autônomo,
que evoluiu do motor de 70 hp em 1842 para o de 7.500 hp em
1890, demonstrando a trajetória de inovação traçada durante
o século XIX e sublinhando a importância de uma continuada
atividade industrial e tecnológica nas oficinas e nos diques do
Arsenal de Marinha.
Lembro-me perfeitamente: quando eu coordenava programas estratégicos na década de 1980, verificamos que todo
esse conhecimento a que me referi havia sido perdido. Temos
essa obrigação, e por isso eu fiz questão de buscar dados his76
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tóricos e, mais do que isto, de produzir esta intervenção. É o
dever de manter a tradição, de garantir a continuidade. Isso é
um dever de todos.
A construção naval brasileira cumpriu um papel de indústria motriz nacional, criando um fluxo intersetorial, propiciando o surgimento de outros estaleiros da construção naval
e de atividades correlatas e complementares. Essa é a tradição
que forjou homens como Álvaro Alberto, Otacílio Cunha e
nosso homenageado, Renato Archer. A vida me proporcionou
coincidências extraordinárias. Conheci Álvaro Alberto, embora tenha lidado pouco com ele. Substituí Otacílio Cunha na
direção executiva da Comissão Nacional de Energia Nuclear
(Cnen) em 1975, após seu falecimento em setembro de 1974.
Mais tarde, em 1982, já então presidente da Cnen, conheci
Renato Archer.
Todos esses homens são herdeiros de uma tradição científica militar, o que os coloca como referências importantes
para o desenvolvimento nacional. Quando se fala em uma tradição científica e tecnológica dos militares, a explicação pode
ser encontrada em sua formação. Essa tradição tem origem em
uma escola na qual o indivíduo é criado para observar e dar
continuidade àquelas atividades. Aquilo que ele aprendeu, ele
passa para o substituto, que passa para o outro, e aí vamos ter
algum nível de continuidade e herança. Infelizmente tivemos
o momento em que alguns desses arsenais foram desativados,
ocasionando a perda de muita informação, tanto no Exército
quanto na Aeronáutica e na Marinha.
Em 1949, Álvaro Alberto convidou Renato Archer para
ajudá-lo na aprovação do projeto de lei 1.310, que criaria o
CNPq. Felizmente tive o prazer de conhecer seu sobrinho,
também deputado federal, que me fez lembrar esse fato de
1949, quando Renato Archer lutava pela lei para criar o CNPq.
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Não resisti e disse ao jovem parlamentar: “Vamos armar coisas
semelhantes, porque sem dúvida nenhuma é sempre bom saber que tem alguém com índole e bom cromossoma, tradição e
boa raiz, que pode dar seguimento”. É em função de iniciativa
liderada por Álvaro Alberto que temos o CNPq, é em função
de iniciativa liderada por Otacílio Cunha que temos a Cnen.
E devemos muito a Renato Archer a criação do Ministério da
Ciência e Tecnologia, do qual foi o primeiro titular.
Dentre as atividades de Renato ao longo da vida, sublinha-se uma constante luta pelas causas da ciência, da tecnologia e do setor público. No início da década de 1950 fundou
uma empresa inovadora, a Prospec, que atuava em aerofotogrametria e em fotogeologia. Observemos bem: era um indivíduo que tinha a noção precisa de que havia espaço para o setor
privado dentro do modelo adotado pelo Brasil.
Archer no MCT foi responsável por várias iniciativas
aqui citadas. Porém, sem dúvida nenhuma delas foi tão extraordinária quanto a criação e ampliação da formação de recursos humanos em áreas estratégicas. Formar recursos humanos é garantir boa semente para o futuro.
Archer foi um dos grandes e importantes defensores da
reserva de mercado no setor de informática. Na mensagem
de Celso Amorim, lida no seminário de São Luis e publicada
neste livro, está dito que na política de defesa há dois aspectos
pelos quais Archer lutou muito, as áreas espacial e nuclear.
Eu incluiria nesse rol a cibernética. Ela também faz parte da
Estratégia de Defesa Nacional e teve em Renato Archer um
de seus pioneiros. Ressalte-se — o que já foi dito também —
que a visão desse homem permitiu, da mesma maneira que a
formação de recursos humanos para o setor técnico-científico, a atração de uma série de valorosas pessoas, fato que hoje
permite à presidente Dilma ter em sua equipe Marco Anto78
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nio Raupp, Celso Amorim, José Raimundo Coelho, Luciano
Coutinho e vários outros que tiveram a chance de acompanhá-lo e tê-lo como exemplo. Isso não se aprende na escola,
isso se aprende no convívio, no dia a dia. Na área nuclear a
participação de Archer foi extraordinária e, sem dúvida nenhuma, ele teve uma importância
A construção
muito grande na luta pela preservanaval brasileira
ção das reservas de urânio e tório. Na
cumpriu um papel
Constituição de 1988 foi constante
de indústria motriz
colaborador de Ulysses Guimarães na
nacional, propiciando
defesa dos reais interesses de proteção
o surgimento de
da área tecnológica.
outros estaleiros
Há alguns fatos curiosos, que me
e de atividades
complementares. Essa
levaram a pensar se eu deveria citá-los
é a tradição que forjou
ou não, mas como estão escritos no
homens como Álvaro
livro (Renato Archer: energia atômica, sobeAlberto, Otacílio Cunha
rania e desenvolvimento, de Alvaro Rocha
e nosso homenageado,
Filho e João Carlos Vitor Garcia) eu
Renato Archer. Todos
tomarei a liberdade de tentar apreseneles são herdeiros
tá-los aos senhores.
da tradição científica
O primeiro deu-se em 1985. O
militar, o que os coloca
Brasil tinha decidido que teríamos
como referências
uma política nuclear independente.
importantes para
Hoje esse programa tem até um apeo desenvolvimento
lido que procura caracterizá-lo como
nacional
um programa paralelo. O termo “paralelo”, por assim dizer, pretendia denotar “sem grande significado”. Mas os resultados estão aí para provar o contrário. Em
1979 fui convidado pelo presidente Figueiredo para desenvolver um programa autônomo de tecnologia na área nuclear
como resultado de uma ação, promovida em 1978, que possibilitou ao Brasil produzir hexafluoreto de urânio de maneira
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independente. Quero afirmar aos senhores que não adianta
ter dinheiro para comprar aquilo que a gente quer, porque nem
todo insumo para fazer, digamos, medicamentos está disponível no mercado; nem todo insumo é vendido. Pode-se ter
dinheiro, mas nem tudo de tecnologia é vendido. Mesmo as
informações, os equipamentos devem ser desenvolvidos autonomamente; garanto-lhes que não se trata de xenofobismo.
Conseguimos uma extraordinária parceria com as três
Forças Armadas, formando um conjunto com a Cnen e diversas outras instituições públicas e privadas, as quais, em várias
ocasiões, tentou-se desmontar. Esse modelo possibilitou que
o Brasil possa ter, hoje, independência
Tecnologia autônoma
tecnológica no ciclo do combustível. Em
significa recursos
1990 tivemos um vendaval que passou
decisórios nas mãos
colorindo tudo; interrompendo uma
de um país
série de projetos que estavam sendo desenvolvidos. Apesar disso, a Marinha
deu continuidade ao desenvolvimento do enriquecimento
de urânio em Aramar. Felizmente, como todo fenômeno de
vendaval normalmente tem uma duração curta (Itamar, que
já pensava diferente, continuou pensando diferente), foram
retomadas algumas atividades exclusivamente nacionais.
Álvaro Alberto, logo após a Segunda Guerra, tinha adquirido três ultracentrífugas na Alemanha. Os alemães estavam prontos para entregar, mas ainda viviam sob os condicionamentos do pós-guerra. Não havia sido permitido pelos vencedores o embarque das ultracentrífugas para o Brasil. Mais
tarde, superada essa dificuldade, elas foram levadas para o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), onde foram realizados alguns ensaios e elas posteriormente foram emparedadas.
Quer dizer: eu compro um remédio, ele chega, eu guardo por
não ter condição ou motivação de utilizá-lo. O programa autô80
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nomo de tecnologia nuclear, cujo berço é uma exposição de motivos aprovada por Ernesto Geisel em 12 de março de 1979, teve
a chance de transformar-se a partir da década de 1990, com
o apoio das três Forças e, em particular, com a continuidade
garantida pela Marinha, em um programa que deu resultado.
Tínhamos um acordo — o Archer seria um dos primeiros
a ser informado quando o Brasil conseguisse enriquecer urânio. Um dia, enquanto ele fazia uma palestra na Escola Superior de Guerra, eu telefonei e pedi que fosse dado um bilhete
para ele informando que o Brasil havia enriquecido urânio.
Só que isso não podia ser dito abertamente e de forma clara
porque era segredo absoluto. O recado que foi transmitido foi
uma mensagem cifrada. Quando Renato Archer recebeu, ele
proferiu as seguintes frases, que eu vou reler exatamente como
se encontram citadas:
“É indiscutível que o domínio do ciclo completo do enriquecimento do urânio tem decisiva importância tecnológica,
econômica e política. No segundo semestre de 1985, fui fazer
uma conferência na Escola Superior de Guerra sobre o Ministério da Ciência e Tecnologia. No intervalo, entre a exposição
e os debates, recebi um telefonema [na verdade um bilhete]
do Rex Nazaré, então presidente da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (Cnen). Ele disse apenas: ‘A criança nasceu’.
Era a senha. Naquele instante, tive a plena consciência de que
se tratava de um fato de importância histórica.”
Essa citação encontra-se na página 77 do livro de nosso
amigo Alvaro Rocha Filho.
Outra coincidência importante fez com que eu seguisse
alguns dos exemplos de Archer. Ele foi governador brasileiro
na junta de governadores da Agência Internacional de Energia
Atômica, vinculada às Nações Unidas, e eu desempenhei essa
mesma função entre 1982 e 1990.
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No ano de 1985, pensávamos: “Vai ser muito difícil dar
continuidade a esses programas”. Foi quando, no dia 6 de março de 1985, recebi uma mensagem do presidente eleito Tancredo Neves convocando-me para uma reunião no dia 10 de
março, um domingo. Imagina-se que o militar é cheio de sigilo (eu sou civil). Mas não, o Tancredo foi mais cuidadoso do
que todos os militares com quem eu lidei na vida. Tive que ir
para um hotel. Um carro foi buscar-me para me conduzir a um
apartamento. Quando cheguei a esse apartamento encontrei
dois conhecidos, o general Ivan de Souza Mendes e o coronel
Luiz Alencar Araripe. Cumprimentamo-nos e indagamos:
“O que a gente está fazendo aqui?”. Sabíamos que os três iriam
para o mesmo lugar, mas desconhecíamos se haviam outros.
Então o motorista levou-nos à Granja do Torto, onde houve a
reunião com o presidente eleito. Nessa reunião ele descreveu o
que queria do Ivan, o que queria do Araripe e o que queria que
eu fizesse. Convidou o Ivan para ser chefe do SNI, o Araripe
para a Polícia Federal e eu para continuar na Cnen. O importante é que ele sabia todos os detalhes de um programa que era
mantido em sigilo. Muitos anos depois descobri como Tancredo obteve aquelas informações: o relacionamento entre ele
e João Baptista Figueiredo era muito melhor do que se podia
imaginar. Hoje eu sei exatamente como foram passados esses
dados. A morte de Tancredo, entretanto, fez com que tivesse
o sentimento de que tudo desmoronaria. Era como se tudo
tivesse, uma vez mais, que começar do zero.
Ivan de Souza Mendes, Bayma Denys e Leônidas Pires
Gonçalves tiveram uma ação importante ao dizer para o Sarney: “É importante que esse Rex continue porque está dando
certo, e o Tancredo, nós assistimos, o convidou para ficar”.
Houve uma série de manobras para que eu fosse afastado, que
também estão citadas no livro do Alvaro, entre elas a de puxar
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o Archer para apoiar minha saída. E, diante da pergunta “vamos trocar o Rex ou vamos deixá-lo?”, o Archer, no depoimento dado ao Alvaro, afirma: “Fui franco. Respondi que não, pois
achava que o projeto estava muito bem nas mãos dele e, como
o assunto envolve segurança e uma certa capacidade para lidar
com questões desse tipo, eu não colocaria o José Israel Vargas”.
É fundamental dizer aos senhores que a visão do Archer era
curiosa. Dei esses dois exemplos porque estão citados aqui e
dizem respeito a mim.
Posteriormente Renato Archer foi para a Previdência
Social, que recolhe recursos com duas finalidades: para fazer
um fundo de previdência e para fazer face a despesas na área
de saúde. Um dia chamou-me e disse: “Rex, vamos montar
um programa para que se comece a nacionalizar os materiais
e equipamentos utilizados na área da saúde, ao invés de ficar
nessa dependência?”.
São conhecidas as dificuldades de fazer algo quando o
assunto é tecnologia autônoma. Que dificuldades são essas?
Tecnologia autônoma significa recursos decisórios nas mãos
de um país. Isso quer dizer um enorme valor agregado em dinheiro e ninguém quer abrir mão da sua fatia do mercado. Portanto, se queremos realizar nesse sentido, temos de olhar para
o passado, aprender com ele e em hipótese nenhuma deixar de
dar continuidade às nossas ações.
Hoje procuro aplicar todos esses ensinamentos em outra
área sobre a qual venho aprendendo, que é a área de inovação.
É lógico que em tudo isso que comentamos há inovação. Devemos promover melhores condições para a atuação das micro
e pequenas empresas distribuídas em todo o estado do Rio de
Janeiro, onde a Faperj tem sua atuação.
O exemplo da Marinha foi decisivo. Em uma edição de
Scientific American de 1982, naquela coluna de cem anos atrás,
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foi transcrita a seguinte informação: “Se os Estados Unidos
decretassem guerra ao Brasil, somente os encouraçados e os
cruzadores que eles fizeram por conta própria obrigariam os
americanos a uma vergonhosa rendição”. Graças a Deus não
tivemos que decretar guerra. Porém, devemos ter cuidado
para não perder em momento nenhum — porque isso é fácil,
facílimo — esse conhecimento que fomos capazes de produzir. É um legado nosso, do nosso grupo tecnológico, de equipe, ninguém sozinho faz nada. Hoje podemos contar com
esse legado. Temos como ministro da Ciência, Tecnologia
e Inovação um homem que trabalhou muito nesse sentido.
Sem dúvida acredito que temos a chance de construir muitas
coisas juntos.
* Físico, especialista em Engenharia Nuclear pelo Instituto Militar
de Engenharia (IME), doutor em Física pela Universidade de Paris
(Sorbonne). Professor emérito do IME e conferencista emérito da Escola
Superior de Guerra. Ex-presidente da Comissão Nacional de Energia
Nuclear (Cnen). Diretor de Tecnologia da Fundação Carlos Chagas Filho
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
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ARqUIVO
reNAtO, viSÃO AMpl A
e iNt ereSSe pÚblicO
José MonseRRat Filho*
Agradeço penhorado a oportunidade de participar desta iniciativa em companhia de pessoas tão amigas e ilustres,
todas lembrando a figura ímpar de Renato Archer, que muito
merece este tributo, e muito mais, pelo bom caráter, por seu
espírito público, por tudo o que realizou em benefício do país,
pelos exemplos que nos deixou.
Quem me deu a chance de conhecer Renato Archer, em
1985, foi o meu prezado amigo Alvaro Rocha. Foi o Alvaro
quem me apresentou a Renato. Renato estava procurando um
assessor de imprensa para o Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT), que ele assumira em março daquele ano. O MCT fora
criado pelo presidente Tancredo Neves, que, gravemente enfermo, não chegou a tomar posse e acabou falecendo em abril.
Eu trabalhava na revista Ciência Hoje, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ajudara a
fundar, e já coordenava o Jornal da Ciência, com o qual me
ocuparia depois ao longo de muitos anos. Naquele então,
conduzido por Alvaro, fui falar com Renato, a quem não
conhecia pessoalmente. Vira-o e ouvira-o no ato de abertura da Reunião Anual da SBPC, quando, em seu discurso,
ele elogiou a Ciência Hoje, o que causou muita alegria a toda
a equipe da revista.
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Conversamos rapidamente e achei por bem informar-lhe que eu era, àquela altura, membro do Partidão (Partido
Comunista Brasileiro). Contei isso para lhe evitar eventual
constrangimento futuro. Ele deve ter gostado de nosso encontro franco e objetivo, pois logo comecei a trabalhar como seu
assessor de imprensa.
Felizmente, criou-se entre nós, lembro com satisfação,
um clima de entendimento e absoluta confiança. Durante um
bom tempo acompanhei diariamente o ministro Renato Archer, junto com seu então secretário particular, hoje embaixador, Mauro Vieira.
Renato não se furtava a viajar pelo país, dando entrevistas, esclarecendo a política de ciência e tecnologia, proferindo
palestras e conferências, respondendo
com altivez a quem pretendesse miniLembro-me de uma
mizar a importância do tema na solução
frase de San Tiago
dos problemas nacionais, lutando para o
Dantas que Archer
Brasil tomar consciência da necessidade
gostava de repetir:
“O povo brasileiro é
do avanço científico e tecnológico para
muito mais digno do
o seu desenvolvimento efetivo. Foi uma
que sua elite”
época pioneira, dinâmica, intensa, rica de
experiências inesquecíveis.
O Ministério, novinho em folha, defrontava-se com uma
realidade desafiadora, logo refletida e discutida na Conferência Nacional que Renato decidiu em boa hora promover. Sob o
tema “O papel da ciência e tecnologia numa sociedade democrática”, a Conferência reuniu-se em 1985, sob a Presidência
de Alberto Carvalho da Silva.
Foi a primeira de uma série de grandes conferências destinadas a discutir e propor as grandes linhas da política científica e tecnológica do país. A segunda ocorreu em 2001, com
o nome de Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia.
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A 3ª foi realizada em 2005 e a 4ª em 2010, ambas com o nome
de Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
O pioneiro desses eventos essenciais foi exatamente o ministro Renato Archer.
Em suma, aprendi tanto e em tão pouco tempo que tenho
muito orgulho de ter vivido aquela época. E sou grato a Renato
pelo que me ensinou sobre como fazer política com grandeza.
Daí que eu gostaria de alinhar alguns fatos que me parecem
marcantes e exemplares em sua vida pública.
Começaria por definir Renato Archer como alguém que
revelava profundo respeito pelo interesse nacional, notável
competência e criatividade política, bem como visão estratégica extraordinária. Ou seja, foi um político sério e competente
em praticamente todos os sentidos. Sabia mobilizar as pessoas,
forjar a solução de problemas aparentemente insolúveis, administrar os conflitos de forma positiva, conversar e convencer
pessoas e líderes nas horas mais difíceis, ceder quando preciso,
atacar quando necessário. E, no meio de tudo isso, sabia ser
gentil, amável, cortês. Era um verdadeiro gentleman, incapaz de
cometer grosserias. Nunca o vi elevar a voz com quem quer que
fosse, mesmo estando com raiva. Costumava respeitar as pessoas, mesmo nas situações mais desagradáveis.
Lembro que, certa vez, numa reunião de amigos na casa
do Renato, o Alvaro Rocha tentava explicar, entre risos de todos nós, inclusive do próprio Renato, como era difícil perceber
quando ele estava seriamente desgostoso com alguma coisa.
Era preciso “ver se ele tinha a sobrancelha virada para cima ou
para baixo”.
Não recordo Renato dizendo um palavrão, por mais inofensivo que fosse. Era estimulante trabalhar com ele. Ouvia
as pessoas e ponderava suas ideias e propostas. Não elogiava
nem demais nem de menos. Não se exasperava, procurava ser
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isento. Era um tipo reflexivo e moderado — até mesmo no entusiasmo. Não introduzia fatores e paixões pessoais na análise
dos problemas. Falava de si com parcimônia.
Renato e Ulysses Guimarães, todos sabem, eram muito
amigos. Na realidade, mais do que amigos. Havia lealdade absoluta entre eles. Mantinham perfeita sintonia política. Mantinham conversas diárias, que começavam em caminhadas
matinais, sobretudo nas épocas mais complicadas: campanha
das Diretas Já, crises da Nova República, rusgas crescentes
com o governo Sarney...
Renato e Ulysses eram tão ligados que, em 1984, este pediu àquele para que dissesse a Tancredo que o candidato a presidente era Tancredo e não ele, Ulysses. Ou seja, foi Renato que
comunicou a Tancredo que era ele quem deveria ser o candidato da oposição nas eleições indiretas no Congresso Nacional,
e não Ulysses. Na qualidade de maior líder naquele momento,
Ulysses certamente quis evitar uma conversa pessoal um tanto
constrangedora com Tancredo e confiou a missão a Renato,
que tinha a habilidade política exigida para tanto.
Outras personalidades que tiveram influência na vida pública de Renato foram o almirante Álvaro Alberto e o embaixador San Tiago Dantas. Com o almirante, que fora seu professor na Escola Naval, aprendeu o valor estratégico da ciência
e da tecnologia na vida dos países. Do embaixador, certamente
absorveu muito de sua cultura e de sua competência política e
diplomática. Renato citava-o com frequência. Lembro-me de
uma frase de San Tiago Dantas que ele gostava de repetir —
menciono-a de memória, sem responder por sua precisão: “O
povo brasileiro é muito mais digno do que sua elite”.
Uma das maiores façanhas de Renato Archer foi apostar
na China quando ela ainda era um país em desenvolvimento.
Ele teve visão estratégica. Logo ao assumir o MCT em 1985,
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examinando as cartas sobre ciência e tecnologia dirigidas ao
Ministério das Relações Exteriores e repassadas a ele, Renato
leu uma mensagem do governo chinês e vislumbrou a possibilidade de um programa de cooperação na área espacial. Já
em julho de 1986 ele embarcava para Pequim à frente de uma
delegação brasileira integrada, entre outros, pelo então chefe
da Secretaria de Cooperação Internacional do MCT, Celso
Amorim (que mais tarde seria, por duas vezes, Ministro das
Relações Exteriores e hoje é Ministro da Defesa), e pelo então
diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
Marco Antonio Raupp (ex-presidente da Agência Espacial
Brasileira e hoje Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação).
Apenas dois anos depois, em julho de 1988, o primeiro acordo
com a China seria assinado pelo então presidente José Sarney.
Nascia o Programa Sino-Brasileiro de Satélites de Recursos
Naturais da Terra (Cbers), que em breve lançará o quarto satélite da série. Foi o primeiro acordo Sul-Sul de tecnologia de
ponta. Como resultado dessa parceria pioneira, logo definida
como estratégica, Brasil e China decidiram elaborar juntos
um Programa Decenal de Cooperação Espacial, algo inédito
na história das atividades espaciais.
Renato deu também especial atenção ao projeto de criação do Laboratório Nacional de Luz Sincrotron (LNLS), que
se instalou em Campinas. Seu apoio ao esforço do primeiro
diretor do LNLS, Cilon Gonçalves (que depois ocuparia cargos importantes no MCT), foi fundamental para a instalação
do Laboratório. Renato continuou apoiando o projeto depois
de ter deixado o MCT. Acompanhava passo a passo sua construção e desenvolvimento. O Laboratório é hoje um dos orgulhos da ciência avançada feita no Brasil.
Outro avanço histórico foi a decisão tomada em 1986, de
aumentar consideravelmente o número de bolsas do CNPq.
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Esse número passou de 12 mil para 44 mil. Renato conseguiu
esse salto num lance de mestre, que já contei no Jornal da Ciência,
da SBPC, e volto a lembrar agora, quando homenageamos as
proezas do primeiro ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil. Ele tinha uma audiência marcada com o presidente Sarney.
Na sala de espera de seu gabinete encontrou-se com o então
ministro dos Transportes, José Reinaldo. Conversa vai, conversa vem, José Reinaldo contou que vinha expor ao presidente
o plano de compra de novos guindastes para os portos do Rio
de Janeiro e de Santos, e relevou quanto eles custavam. José
Reinaldo entrou, falou com o presidente e saiu. Era a vez de
Renato. Ele tinha que convencer Sarney a autorizar o aumento
substancial do número de bolsas do CNPq. Usou o seguinte
argumento: “Venho lhe trazer um plano muito importante
que custa só alguns guindastes”. Na verdade, a despesa com
o aumento do número de bolsas era pequena se comparada
com o preço dos guindastes. Assim, Renato deixou claro de
imediato que o plano de bolsas era bem mais barato do que o
plano dos guindastes, mas teria forte impacto na formação de
pós-graduandos e pesquisadores no país.
Outro caso curioso, que poucos conhecem. A Nova República, que substituíra o regime militar, fora criada com base
em uma frente política muito ampla, que ia da esquerda até a
direita. Tinha Renato, que se considerava de centro-esquerda,
e tinha Antônio Carlos Magalhães, político reconhecidamente
de direita. Ambos eram ministros do mesmo primeiro governo
da Nova República. E, como seria de esperar, logo começaram a
surgir entre eles divergências e discussões públicas sobre temas
de alta relevância, inclusive da área de ciência e tecnologia.
Como ministro dessa área, Renato tinha sob sua jurisdição
todo o setor de informática. A Secretaria Especial de Informática (SEI) era parte do MCT. O ministro, claro, defendia a polí90
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tica de reserva de mercado para o setor aprovada pelo Congresso
Nacional. Por seu turno, Antônio Carlos Magalhães, ministro
das Comunicações, exercia grande poder político à época. Tinha, inclusive, forte influência sobre o então presidente Sarney.
Antônio Carlos sempre defendera o regime militar, que o favorecera politicamente durante muitos anos, mas, no apagar das
luzes, quando já ficara evidente que o país retomaria o caminho
democrático, tinha rompido com o governo Figueiredo. Ele era
contra a política de defesa do mercado de informática e queria
que parte dessa área passasse para sua pasta. Então, um repórter
perguntou a Renato, numa grande expoRenato Archer
sição de informática em São Paulo, o que
revelava profundo
ele achava da pretensão de Antônio Carrespeito pelo
los Magalhães de absorver parte do setor
interesse nacional,
de informática. Renato não poderia ter
notável competência
sido mais claro e definitivo: “É a raposa
e criatividade
tomando conta do galinheiro”. A frase
política, bem como
saiu de manchete em vários jornais. Era
visão estratégica
extraordinária
um retrato sem retoque das lutas intestinas na Nova República.
Finalizo com uma história verídica — embora pareça inverossímil — que jamais esquecerei. Trata também da política de reserva de mercado. Numerosa delegação de senadores
norte-americanos veio ao Brasil de avião fretado — chegou
pela manhã e retornou à noite. A comitiva visitou o Congresso
Nacional e o MCT. Os senadores visitantes buscavam pressionar senadores e deputados brasileiros a mudar a lei nacional que estabelecera a reserva de mercado para a informática.
Queriam, ao mesmo tempo, intimidar o MCT. Advertiram:
“Mudem de política, porque senão teremos de tomar nossas
providências...”. Era uma missão bem pouco diplomática.
Renato recebeu os senadores com o máximo respeito. Eles
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sentaram-se à nossa frente, com um tradutor especializado,
certamente para não deixar dúvidas sobre o que pretendiam.
Renato convocou algumas pessoas do Ministério e fez
questão de que eu assistisse ao incrível encontro a seu lado.
Os visitantes começaram a dizer algo mais ou menos assim: o
Brasil tem que mudar sua política de informática porque ela
prejudica os interesses dos Estados Unidos. E por aí foram,
extremamente francos, pois, para todos os efeitos, tratava-se
de uma reunião fechada.
Renato não se abalou. Terminada a ladainha impositiva,
respondeu de modo calmo mas firme. Cito-o de memória: “O
Brasil tem um Congresso Nacional soberano, que aprovou por
unanimidade a Lei de Informática em vigor. Para mudar essa
lei, será preciso uma nova decisão do próprio Congresso. Este é
um país democrático. Tem leis e tem Congresso. Não se muda
uma lei pela simples vontade destas ou daquelas pessoas...”.
Concluída a reunião, os senadores retornaram aos EUA,
e a Lei de Informática continuou vigente. Renato foi o único
brasileiro a falar na inusitada reunião, mas, para bom entendedor, deixou patente o respeito que o Brasil deveria merecer
como país soberano e democrático. Ou seja, ele não se curvou
diante de uma atitude arrogante e imperial.
* Jornalista, publicitário e jurista. Ex-editor do Jornal da Ciência e
ex-diretor de jornalismo da revista Ciência Hoje (SBPC). Prêmio José
Reis de Jornalismo Científico (CNPq) de 1994. Ex-chefe da Assessoria
de Assuntos Internacionais do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial
Brasileira (AEB).
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DOUGLAS GOMES
UMA hiStÓriA
rel e vANt e
pArA O brASil
R icaRdo aRcheR*
Gostaria de iniciar agradecendo pela iniciativa de divulgar esta ilustre e muito bonita história do tio Renato para
todos nós. Sou muito novo e não pude presenciar sua atuação,
mas posso hoje, por meio desta apresentação, aprender um
pouco mais sobre o tio Renato e reafirmar a importância do
seu trabalho para a nossa sociedade.
Quero também parabenizar todos os que compõem esta
iniciativa, porque tenho certeza de que tio Renato não construiu essa história sozinho. Vários parceiros fizeram parte
dessa luta, desse desenvolvimento da democratização da ciência e tecnologia no nosso país. E, como membro da família Archer, quero parabenizar todos os que contribuíram para que
essa história se tornasse tão bonita e relevante para o Brasil.
Quero, ainda, dizer que sou sobrinho-neto de Renato
Archer e estou há pouco mais de trinta dias na Câmara Federal, na qual sou, com muita honra, membro efetivo da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática. Na
verdade, não é fácil representar a história de tio Renato, mas
é com muita responsabilidade, com muita garra e com muita determinação que estou atuando e lutando para que esse
percurso de tantas realizações continue nesta terceira geração
que hoje eu represento. Tenho certeza de que tio Renato, lá de
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cima, está recebendo esta homenagem como um presente pelo
dia do seu aniversário, que foi 10 de julho.
É uma homenagem de merecido destaque, especialmente porque ele teve suas origens no estado do Maranhão
e construiu uma história de muito realce como precursor do
Ministério da Ciência e Tecnologia.
Vários parceiros
Eu também represento o Maranhão
fizeram parte
e a minha família, tanto na cidade de
dessa luta, desse
Codó quanto em todo o estado, consedesenvolvimento da
guiu construir uma história bonita, uma
democratização da
história de nomes evidentes na política,
ciência e tecnologia no
da qual tenho muito orgulho. Reafirmo
nosso país
meu compromisso para com a continuidade desse trabalho em prol do bem e do
desenvolvimento de nossa sociedade.
Agradeço a todos os parceiros e à Fundação Maurício
Grabois pela divulgação de toda a contribuição de Renato
Archer e por esta homenagem que deixa nossa família muito
honrada e satisfeita.
* Deputado federal (PMDB-MA). Sobrinho-neto de Renato Archer.
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A mesa-redonda "Renato Archer, 90 anos: legado e atualidade" foi
filmada na íntegra e encontra-se disponível para acesso no endereço
http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=12&id_noticia=9762.
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Este livro foi composto nas
fontes Requiem, Din e Eurostile
e impresso no verão de 2012.
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