debates e perspectivas centrais na teoria das
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debates e perspectivas centrais na teoria das
RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES RESUMO Diversas escolas do pensamento organizacional são classificadas de acordo com os níveis micro e macro de análise organizacional e com premissas deterministas em oposição a voluntaristas acerca da natureza humana, gerando, assim, quatro perspectivas básicas: a visão organizacional sistêmico-estrutural, a visão da escolha estratégica, a da seleção natural e a da ação coletiva. Essas quatro visões representam qualitativamente diferentes conceitos sobre a estrutura, o comportamento, a mudança e os papéis gerenciais nas organizações. São identificados seis debates teóricos por meio da sobreposição dessas quatro visões, sendo assim alcançada uma reconciliação parcial, levando os pontos de vista opostos a um entendimento dialético. Os seis debates, que tendem a ser individualmente tratados e isolados pela literatura, são então reintegrados, num nível metafórico. O modelo apresentado tenta transcender os problemas associados a uma fragmentação excessiva, focando a interação entre perspectivas teóricas divergentes, mas procurando também preservar a autenticidade de pontos de vista distintos, preservando, dessa forma, as vantagens associadas ao pluralismo teórico. W. Graham Astley University of Pennsylvania Andrew H. Van de Ven University of Minnesota ABSTRACT The diverse schools of organizational thought are classified according to micro and macro levels of organizational analysis and deterministic versus voluntaristic assumptions of human nature to yield four basic perspectives: system-structural, strategic choice, natural selection, and collective-action views of organizations. These four views represent qualitatively different concepts of organizational structure, behavior, change, and managerial roles. Six theoretical debates are then identified by systematically juxtaposing the four views against each other, and a partial reconciliation is achieved by bringing opposing viewpoints into dialectical relief. The six debates, which tend to be addressed singly and in isolation from each other in the literature, are then integrated at metatheoretical level. The framework presented thus attempts to overcome the problems associated with excessive theoretical compartmentalization by focusing on the interplay between divergent theoretical perspectives, but it also attempts to preserve the authenticity of distinctive viewpoints, thereby retaining the advantages associated with theoretical pluralism. PALAVRAS-CHAVE Voluntarismo, ação coletiva, níveis de análise micro e macro, ambiente, teoria das organizações. KEYWORDS Voluntarism, collective action, micro and macro levels of analysis, environment, organizational theory. 52 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 52 20.04.05, 16:15 W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN Nos últimos anos tem surgido um pluralismo teórico crescente na literatura organizacional, refletindo em parte a crescente conscientização acerca das complexidades organizacionais e em parte o refinamento dos interesses e preocupações dos teóricos da área. De um lado, esse pluralismo teórico deve ser encorajado, para que os pesquisadores descubram novos aspectos da vida organizacional e aprofundem suas indagações críticas. De outro lado, esse pluralismo encoraja uma fragmentação teórica excessiva, ficando fácil perder de vista as formas com que as várias escolas de pensamento se relacionam. A interação entre as diferentes perspectivas permite que se adquira um entendimento mais abrangente da vida organizacional, uma vez que qualquer escola de pensamento, invariavelmente, oferece uma explicação parcial da realidade. Além disso, a sobreposição das diferentes escolas de pensamento põe em destaque as visões de mundo contrastantes que motivam os maiores debates que caracterizam a teoria organizacional contemporânea. Por conseguinte, este artigo examina seis debates sobre a natureza e a estruturação organizacionais que permeiam atualmente a literatura. Os debates circundam as seguintes questões: 1. As organizações são sistemas funcionalmente racionais e tecnicamente determinados ou são materializações de ações individuais socialmente construídas e subjetivamente significativas? 2. As mudanças nas formas organizacionais são explicadas pela adaptação interna ou pela seleção ambiental? 3. A vida organizacional é determinada por limitações ambientais ou é criada ativamente por meio de decisões gerenciais estratégicas? 4. O ambiente deve ser visto como um agregado simples de organizações, governado por forças econômicas externas, ou como uma coletividade de organizações integradas e governadas por suas próprias forças políticas e sociais internas? 5. O comportamento organizacional está principalmente preocupado com a ação individual ou com a ação coletiva? 6. As organizações são instrumentos técnicos neutros, programados para atingir metas, ou são manifestações institucionalizadas de interesses adquiridos e estruturas de poder da sociedade? e vocabulários bastante diferentes para não dialogarem diretamente entre si. Como afirmou Poggi (1965, p. 284), “uma forma de ver é uma forma de não ver”. Então, alguma integração deve ser desejável, mas que preserve, ao mesmo tempo, a distinção entre as diferentes perspectivas analíticas envolvidas. Estamos convencidos de que essa integração é possível se reconhecermos que as diferentes perspectivas podem apresentar quadros muito diversos do mesmo fenômeno organizacional sem que se anulem. Isso é alcançado por meio do uso de diferentes lentes analíticas no exame dos lados opostos e contraditórios de uma mesma questão. Neste artigo, em vez de proclamarmos certos pontos de vista como “corretos”, reconciliamos as contradições entre as teorias contrastantes ao juntarmos uma variedade de interpretações dialéticas acerca da vida organizacional. Essas reconciliações preservam a autenticidade das “incompatíveis” teorias, mas alcançam ao mesmo tempo um meio de integração ao destacarem as fontes de tensões dialéticas entre as teorias. Essa abordagem é aplicada a cada um dos debates acima, no contexto de um esquema metateórico amplo o bastante para unir os diferentes debates. Tratar os seis debates como interdependentes deixa em acordo ambos os pontos de contraste e tangência entre a maior parte das principais abordagens teóricas dos estudos organizacionais. A intenção não é apenas refinar e aprofundar a teoria atual, mas também entender melhor as estruturas de apoio dos pensamentos geradores de teorias particulares. Procuramos uma integração não somente dentro dos debates, mas entre os debates, em um nível metateórico. A esse respeito a principal meta é análoga ao pedido de Rank (1941) para que as comparações entre as “diferentes psicologias” sejam substituídas por uma “psicologia das diferenças”. Enquanto distinguimos as diferenças no interior das teorias organizacionais, esperamos contribuir com uma teoria que explique as diferenças entre elas. Isso apoiando-nos numa consciência explícita das premissas metateóricas contrastantes que as apóiam. Colocando de forma diferente, procuramos identificar os alicerces paradigmáticos das metáforas teóricas existentes no campo (Morgan, 1980). Apesar de essas pendências terem sido debatidas em certo grau pela literatura, nenhuma análise satisfatória surgiu – nem se tornou provável. O problema é que as diferentes escolas de pensamento tendem a focar questões apenas unilateralmente, além de utilizarem lógicas PERSPECTIVAS CENTRAIS DA TEORIA ORGANIZACIONAL A Figura 1 esboça um esquema metateórico de classificação das principais escolas de pensamento da teoria or- ABR./JUN. 2005 • RAE • 53 052-073 53 20.04.05, 16:15 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES ganizacional e gerencial em quatro visões básicas. Elas são baseadas em duas dimensões analíticas: 1) o nível de análise organizacional, e 2) a relativa ênfase dada às premissas deterministas da natureza humana contra as premissas voluntaristas. Alguns autores recentemente distinguiram as teorias organizacionais utilizando a clássica dualidade entre o determinismo e o livre-arbítrio – a visão de que os seres humanos e suas instituições são determinados por forças externas ou são dotados de autonomia e criados por seres humanos (Weeks, 1973; Driggers, 1977; Burrell e Morgan, 1979; Van de Ven e Astley, 1981). Do ponto de vista da orientação voluntarista, indivíduos e instituições são agentes autônomos, proativos e autodirigidos; os indivíduos são vistos como a unidade básica de análise e fonte de mudança da vida organizacional. Já a orientação determinista não focaliza os indivíduos, mas sim as propriedades estruturais do contexto em que a ação se desenrola, e um comportamento individual é visto como determinado por restrições estruturais que proporcionam estabilidade e controle absoluto à vida organizacional, e a elas reativo. Figura 1 – Quatro visões da organização e da gestão VISÃO DA SELEÇÃO NATURAL VISÃO DA AÇÃO COLETIVA Escolas: Ecologia populacional, economia industrial, história econômica. Escolas: Ecologia humana, economia política, pluralismo. Estrutura: Comunidades e redes de grupos semi-autônomos e partidários que interagem para criar ou modificar os ambientes, regras e opções da coletividade. Estrutura: A competição ambiental e a capacidade de manutenção predefinem os nichos. A estrutura da indústria é econômica e tecnicamente determinada. Mudança: Barganha, conflito, negociação e compromissos coletivos por meio de ajustes partidários mútuos. Mudança: Uma evolução natural das variações, seleções e manutenções ambientais. O contexto econômico circunscreve a direção e a amplitude do crescimento organizacional. Comportamento: Ordens racionais coletivamente construídas e politicamente negociadas. Comportamento: Seleção ambiental aleatória, natural ou econômica. Papel do gestor: Interativo. Papel do gestor: Inativo Q3 Q4 Q1 Q2 VISÃO SISTÊMICO-ESTRUTURAL VISÃO DA ESCOLHA ESTRATÉGICA Escolas: Teoria dos sistemas, funcionalismo estrutural, teoria da contingência. Escolas: Teoria da ação, teoria de decisão contemporânea, gestão estratégica. Estrutura: Papéis e posições ordenados hierarquicamente para atingir a função do sistema eficientemente. Estrutura: As pessoas e seus relacionamentos são organizados e socializados para servir às escolhas e propósitos daqueles que estão no poder. Mudança: Divisão e integração de papéis para adaptar os subsistemas às mudanças de ambiente, tecnologia, tamanho e necessidades de recursos. Mudança: O ambiente e a estrutura são ordenados e incorporam os significados das ações dos que estão no poder. Comportamento: Determinado, restrito e adaptativo. Comportamento: Construído, autônomo e ordenado. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Nível macro (populações e comunidades organizacionais) Nível micro (organizações individuais) Papel do gestor: Reativo. Papel do gestor: Proativo. Orientação determinista ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 54 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 54 20.04.05, 16:15 ○ ○ ○ ○ ○ Orientação voluntarista W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN Historicamente, o intercâmbio das visões entre as abordagens voluntarista e determinista da análise organizacional tem sido relacionado à maior distinção entre os níveis utilizados. Tradicionalmente, as organizações individuais têm sido o principal foco. No entanto, um número recente de teóricos expandiu o nível de análise para o estudo de populações organizacionais inteiras sob a premissa de que as populações exibem características e dinâmicas próprias e distintas, não discerníveis em organizações individuais. A principal razão para fazermos a distinção micro–macro é focar as relações entre as partes e o todo existentes em qualquer fenômeno organizacional. Discussões sobre os níveis de análise apropriados têm englobado o debate voluntarista-determinista, mas isso não apaga a distinção analítica entre as duas dimensões em que os debates se baseiam. A classificação das escolas de pensamento nessas duas dimensões produz quatro perspectivas básicas: as visões sistêmico-estrutural, da escolha estratégica, da seleção natural e da ação coletiva. Afirmamos que a maioria das escolas de pensamento, senão todas, podem ser classificadas em termos dessas dimensões, refiram-se ou não os autores explicitamente a elas. Como indica a Figura 1, as quatro perspectivas representam, qualitativamente, diferentes visões de estrutura, comportamento, mudança e papéis da gestão organizacional. Elas oferecem um repertório de formas de abordagem e entendimento da teoria organizacional. A visão sistêmico-estrutural No nível organizacional individual, o funcionalismo estrutural e a teoria de sistemas são as escolas dominantes do pensamento organizacional (Silverman, 1970). Essas escolas influenciaram a teoria clássica da gestão (Gulick e Urwick, 1937; Fayol, 1949) e a teoria da burocracia (Merton, 1940; Blau e Scott, 1962), que, por sua vez, precederam o desenvolvimento das teorias estruturais das contingências (Woodward, 1965; Lawrence e Lorsch, 1967; Thompson, 1967). Apesar da diversidade e dos consideráveis debates entre essas escolas, elas compartilham uma orientação determinista na qual o comportamento organizacional é como que moldado por uma série de mecanismos impessoais que atuam como restrições externas sobre os agentes. Consideram-se os elementos estruturais de tal forma inter-relacionados, que instrumentalmente servem ao alcance de metas organizacionais e são, portanto, “funcionais”. Os componentes básicos da estrutura são os papéis. Os papéis predeterminam um conjunto de expectativas comportamentais, obrigações e responsabili- dades associadas a uma determinada posição. São os papéis, e não os indivíduos, que são estruturados; os seres humanos ocupam tais papéis, e devem ser cuidadosamente selecionados, treinados e controlados para atenderem às exigências das posições que ocupam. Metas organizacionais compartilhadas impõem a necessidade de conformidade e coerência. Os indivíduos são, portanto, absorvidos como componentes de uma coletividade interdependente – um sistema estruturado e engrenado, que molda e determina o comportamento deles. De acordo com a visão sistêmico-estrutural, o papel básico do gestor é reativo. Trata-se de um papel técnico de ajuste fino da organização, de acordo com as exigências de tal papel. A mudança assume a forma de “adaptação”; ocorre como produto de alterações exógenas ao ambiente. O gestor deve perceber, processar e responder ao ambiente instável, e se adaptar por meio do rearranjo da estrutura organizacional interna, para garantir-lhe a sobrevivência ou a efetividade. O foco da tomada de decisão gerencial, portanto, não está na escolha, mas no acúmulo de informações corretas sobre as variações ambientais, e na utilização de critérios técnicos para examinar as conseqüências das respostas a demandas alternativas. A visão da escolha estratégica As críticas à abordagem sistêmico-estrutural surgiram sob a forma de um “quadro de referência da ação” defendido por aqueles que aderiram a uma orientação mais voluntarista (Silverman, 1970). Este ponto de vista é utilizado para atacar as abordagens sistêmicas e estrutural-funcionalistas, e para inferir a existência de mecanismos de autoregulação que atendam às “necessidades” e “funções” do sistema. Trata-se do problema da reificação. Em contraste, de acordo com a teoria da ação, as organizações são continuamente construídas, mantidas e alteradas pelas definições situacionais dos agentes – os significados subjetivos e as interpretações que os agentes imputam ao seu mundo quando negociam e ordenam aquilo que naturalmente os cerca. Foi nesse sentido que surgiu uma variedade de abordagens – de intercâmbio (Blau, 1964), simbólica (Feldman e March, 1981), de interação (Goffman, 1961), de ordem negociada (Strauss et al., 1963), fenomenológica (Weick, 1979) e etnometodológica (Bittner, 1965). A teoria da ação em análise organizacional tem sido aplicada principalmente à “escolha estratégica” em situações de tomadas de decisões (Child, 1972). De acordo com esta visão, a escolha está disponível para a delineação da estrutura organizacional, que pode ser modelada de acordo com considerações políticas, mais do que com ABR./JUN. 2005 • RAE • 55 052-073 55 20.04.05, 16:15 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES critérios técnicos. Os teóricos da decisão têm enfatizado que a ambigüidade está suficientemente difundida nas organizações para permitir com freqüência a oportunidade de construção de tal resultado (March e Olsen, 1976). A escolha estratégica também se estende ao ambiente organizacional. Assim, os teóricos da gestão estratégica e da dependência de recursos argumentam que o ambiente não deve ser visto como um conjunto de restrições inflexíveis; ele pode ser mudado e manipulado por meio de negociações políticas para ajuste dos objetivos da alta gestão (Pfeffer e Salancik, 1978; Lorange, 1980). Como mostra a Figura 1, a visão da escolha estratégica chama a atenção para os indivíduos e suas interações, construções sociais, autonomia e escolhas, em oposição às restrições da incumbência de seus papéis e inter-relações funcionais no sistema. Tanto o ambiente quanto a estrutura são ordenados para incorporar os significados e ações dos indivíduos – particularmente daqueles que estão no poder. Os gestores são considerados representantes de um papel proativo; suas escolhas são vistas como autônomas e seus atos, como forças de ação enérgica que moldam o mundo organizacional. A visão da seleção natural Contrastando com as abordagens sistêmico-estrutural e da escolha estratégica, uma visão mais macro das relações entre organização e ambiente desenvolveu-se sob a forma da seleção natural, que não enfoca as organizações individualmente, mas sim as características estruturais e demográficas de populações completas de organizações ou indústrias. Dentre os que adotam essa perspectiva, estão os ecologistas populacionais, os economistas industriais e os historiadores econômicos. O modelo da ecologia populacional é baseado na noção de que os recursos ambientais são estruturados em forma de “nichos”, cuja existência e distribuição pela sociedade são relativamente refratárias à manipulação de organizações individuais. Em conseqüência, esta visão enfatiza deterministicamente que há limites definidos para o grau de disponibilidade da escolha estratégica autônoma (Aldrich, 1979). Ao mesmo tempo, vê as organizações como severamente limitadas na habilidade de adaptar suas “formas” internas a diferentes nichos. Em resultado, as organizações estão à mercê do ambiente, e ou bem “se ajustam” fortuitamente a um nicho, ou dele são “excluídas” e se extinguem (Hannan e Freeman, 1977). Esta visão também implica um nível populacional de análise, visto que espécies inteiras de organizações estão sujeitas a sobreviver ou perecer, quaisquer que sejam as ações tomadas individualmente por suas organizações. Um paralelo ao conceito de nichos da ecologia populacional pode ser encontrado na noção de estrutura da economia industrial, definida como as dimensões econômicas e técnicas relativamente estáveis de uma indústria, que provêm o contexto em que ocorre a competição. A estrutura industrial inibe o movimento entre os mercados por meio das “barreiras de entrada”, e delimita severamente a exeqüibilidade e conveniência de diferentes alternativas estratégicas em certos contextos industriais (Caves e Porter, 1977). A “conduta de mercado”, tradicionalmente compreendida, ou a estratégia de uma firma, simplesmente reflete o ambiente (Porter, 1981). Além disso, historiadores econômicos, como Chandler (1977), e economistas institucionais, como Williamson (1975), sustentam que a estrutura industrial evolui de determinadas maneiras. A tese geral é a de que uma economia competitiva, conduzida por transações de mercado entre muitas empresas pequenas e tradicionais, tem evoluído para uma economia regulada e dominada por transações internas e hierárquicas de grandes negócios. Isso tem ocorrido como resposta às forças ambientais variáveis sobre as quais as organizações individuais exercem pouco controle. Na visão desses autores, as transformações estruturais do ambiente industrial moderno são governadas por leis e imposições econômicas impessoais de eficiência administrativa, e não produzidas pela estratégia de gestão. Os grandes negócios prevalecem não por terem prosperado no acúmulo e exploração do poder de mercado, mas por serem instrumentos mais eficientes do que o mercado para minimizar os custos das transações (Williamson, 1975), ou por coordenarem os fluxos de bens e serviços na economia (Chandler, 1977). Em resumo, de acordo com a visão da seleção natural, a evolução da sociedade corporativa e sua infra-estrutura econômica é conduzida por forças ambientais. A mudança é explicada em termos da movimentação natural de recursos pela economia, mais do que em termos de ações gerenciais internas. Nesse sentido, o papel gerencial pode ser descrito como inativo (veja a Figura 1) ou, no máximo, simbólico (Pfeffer e Salancik, 1978, p. 263). A visão da ação coletiva Em vez de conceber a sociedade corporativa como sujeita a uma evolução ambientalmente determinada, é possível concebê-la como construída e guiada por escolhas e propósitos coletivos. Essa observação é feita por ecologistas sociais (Emery e Trist, 1973), humano-ecologistas (Hawley, 1950, 1968) e teóricos de planejamento social (Vickers, 1965; Schon, 1971; Michael, 1973; Ackoff, 1974; Warren, Rose e Bergunder, 1974). Eles sustentam 56 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 56 20.04.05, 16:15 W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN que as condições sociais contemporâneas são ou deveriam ser reguladas por ações propositais (voluntárias) e ocorrem num nível coletivo. Em vez de ver as organizações lançadas em uma batalha de sobrevivência competitiva por meio do confronto direto com o ambiente natural e exógeno, esses autores enfatizam a sobrevivência coletiva alcançada pela colaboração entre organizações por meio da construção de um ambiente social, regulado e controlado, mediador dos efeitos do ambiente natural. A noção-chave envolvida na idéia de sobrevivência coletiva é a de uma rede interorganizacional. Uma rede é um sistema conector de relações de intercâmbio, negociado entre os membros de diferentes organizações, conforme moldam seus ambientes em conjunto (Cook, 1977). Essa rede consiste em um sistema de ação social de organizações interdependentes em simbiose, que ao longo do tempo assumem papéis especializados, num modelo de expectativas normativas, que definem direitos e condutas (Van de Ven, Emmett e Koenig, 1974; Benson, 1975). Essas normas – que Commons (1950) descreveu como “regras de funcionamento da ação coletiva” – permitem à rede atuar como uma unidade, e tomar decisões que alcancem os interesses individuais e coletivos das organizações que a compõem. A estrutura política externa das redes interorganizacionais tem sido representada de diferentes formas: como um sistema pluralista de interação (Schon, 1971; Metcalfe, 1974; Trist 1979) e também como uma economia política (Benson, 1975), incorporada a estruturas de dominação e “controle hegemônico” (Clegg, 1981; Perrow, 1981). Mas, em ambos os casos, a mudança é vista como ativamente produzida por negociações políticas e definições sociais, em vez de determinada por forças econômicas e ambientais neutras. A visão da ação coletiva enfoca simbioticamente as redes interdependentes, e também organizações semi-autônomas que interagem para construir ou modificar seus ambientes coletivos, suas regras de trabalho e alternativas. O papel do gestor é interativo; ele transaciona com os outros por meio de barganhas coletivas, de negociações, comprometimentos, manobras políticas e afins. Movimentos em direção a soluções são orientados por normas, costumes e leis, que são regras de funcionamento da ação coletiva. DEBATES CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES Cada uma das quatro perspectivas representa apenas uma visão parcial da realidade, para que juntas possam pro- ver um repertório de formas complementares com o intuito de tornar quadrangular o conjunto dos fenômenos organizacionais. Isso sugere o desejo de se sobreporem as quatro perspectivas para prover um entendimento organizacional mais abrangente. Ao mesmo tempo, cada perspectiva contradiz as demais em aspectos-chave, pois cada uma apresenta sua própria interpretação distinta da realidade. Isso sugere o desejo de se contraporem as quatro perspectivas para levar os pontos de divergência ao desfecho de uma solução dialética. Conseqüentemente, direcionamos agora a análise para os seis debates gerados na interação das quatro perspectivas. Sistema versus ação: Q1 vs. Q21 Serão as organizações sistemas funcionalmente racionais e tecnicamente restritos, ou são incorporações socialmente construídas, subjetivamente significativas da ação individual? Esse debate se preocupa com a interação do que Dawe (1970) chamou de “as duas sociologias”: uma que vê a ação individual como derivada do sistema social, outra que vê o sistema social como derivado da ação individual. Na teoria organizacional, Crozier e Friedberg (1980) tratam esse debate contrastando um “argumento sistêmico” (visão sistêmico-estrutural) e um “argumento estratégico” (visão da escolha estratégica). O argumento sistêmico inicia a análise a partir da organização como um todo e aloca a ação individual de acordo com seu lugar e função dentro do sistema. O indivíduo é apenas um componente sistêmico, uma irritação que deve ser controlada para que uma integração funcional absoluta possa ser mantida (veja Howton, 1969). A argumentação estratégica, por outro lado, inicia a partir do indivíduo e prossegue encontrando o sistema apenas como um resultado agregado das ações individuais. Critica a explicação funcional, atestando que ela busca considerar indiretamente os comportamentos, reportando suas supostas conseqüências, e não diretamente, reportando as ações específicas que os causam (Silverman, 1970). Para evitar a reificação da organização, a argumentação estratégica trata a ação individual subjetivamente significativa como a principal força do comportamento organizacional. De acordo com essa visão, a organização não é mais um monólito funcionalmente coeso; torna-se uma coalizão mutável (March, 1962; Georgiou, 1973; Keeley, 1980), um sistema frouxamente acoplado (Weick, 1976), ou mesmo uma anarquia organizada (Cohen, March e Olsen, 1972). Uma reconciliação dialética, que escapa ao subjetivismo unilateral da teoria da ação e ao mesmo tempo resis- ABR./JUN. 2005 • RAE • 57 052-073 57 20.04.05, 16:15 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES te ao determinismo funcional, deve reconhecer que a ação individual sempre está, de alguma forma, limitada a evitar a desintegração total do sistema. Entretanto, o sistema nunca está totalmente integrado a um corpo perfeitamente coeso. As organizações mantêm um grau de coesão, mas este deve sempre ser conquistado por meio de uma supressão parcial do antagonismo interno. Para Crozier e Friedberg (1980), equilibrar e gerir complexas tensões internas é jogar um “jogo”. O jogo possui regras que devem ser obedecidas para que a associação coletiva continue. Com essas regras, entretanto, muitas estratégias diferentes sempre são possíveis. Ademais, as regras podem ser quebradas, mas apenas até certo ponto. O jogador permanece livre, mas, se quiser vencer, deve adotar uma estratégia em razoável conformação às regras, pois o abandono completo do jogo é incapaz de atender a seus interesses. Um debate paralelo surgiu das discussões acerca da racionalidade na tomada de decisão. As abordagens estrutural-funcionais convencionais afirmam que a tomada de decisão é predominantemente racional visto que apresenta um comportamento funcional orientado para resultados. A lógica objetiva de efetividade, baseada na “racionalidade técnica” (Thompson, 1967, p. 14), é considerada funcional. O processo de tomada de decisão é representado como um exercício de engenharia; governado por leis inferidas de uma relação custo–beneficio, de uma “lógica de custo e eficiência” (Roethlisberger e Dickson, 1939), subjacente à ação gerencial. Para os teóricos contemporâneos da decisão, que empregam modelos de ação como referência, tal “racionalidade” é apenas uma falsa aparência exterior, mistificadora, que obscurece os elementos irracionais difundidos na tomada de decisão. March e Olsen (1976) e Weick (1979) sugeriram que a tomada de decisão não é concebida como algo racionalmente elaborado para o alcance instrumental dos objetivos organizacionais, mas como eventos que se desenvolvem simplesmente por uma ou outra razão, seja por acaso, pelo hábito, seja por preferências ou conveniências pessoais. Na realidade, a ação pode preceder o objetivo. Os objetivos podem ser reconstruções imaginárias, que imputam ordem e racionalidade às ações e às decisões depois que elas já ocorreram. Os arranjos organizacionais, portanto, não deveriam ser mal interpretados como tendo uma demanda lógica ou funcional. Eles se tornam indispensáveis apenas em virtude de nossas reflexões conscientes, que sobrepõem a lógica a uma ordem já estabelecida. Eis aqui a dialética: será o sistema racionalmente planejado e construído, ou é a ação que simplesmente surge para em seguida ser racionalizada? O debate sistema/ação também está presente na tensão entre a teoria da contingência, de um lado, e as teorias da gestão estratégica e da dependência de recursos, de outro. A teoria da contingência presume que as restrições contextuais apresentam efeitos obrigatórios nas operações organizacionais. Em outras palavras, o contexto possui uma primazia causal; a gestão responde simplesmente de maneira tecnicamente adequada. Em contrapartida, os teóricos da gestão estratégica e da teoria da dependência dos recursos apontam para o aumento de liberdade que a gestão possui para criar e definir o contexto organizacional. Os gestores selecionam de maneira proativa o que será importante e que contexto operacional será relevante para eles em seu ambiente. Podem arcar com custos por ignorarem determinados fatores contextuais, mas são apenas custos a serem ponderados em relação aos custos alternativos; não são custos determinantes. Child (1972) tentou reconciliar essas visões indicando que, enquanto a “qualidade do ajuste” entre o contexto e a estrutura das organizações pode apresentar implicações de desempenho restritivo aos gestores, essas próprias limitações são definidas socialmente; elas podem ser determinadas em níveis baixos o bastante para permitirem a busca de outros objetivos, não relacionados ao desempenho. Em outras palavras, o desempenho econômico pode ser apenas um dos múltiplos pontos de referência que influenciam a tomada de decisão. Enquanto os gestores continuam experimentando restrições, fazem-no apenas no sentido de terem escolhido o que para eles será uma limitação. Novamente, vemos que os dois lados da argumentação são ao mesmo tempo complementares, contraditórios e convergentes. Adaptação versus seleção: Q1 vs. Q3 Serão as mudanças nas formas organizacionais explicadas pela adaptação interna ou pela seleção ambiental? A primeira dessas explicações, a visão da adaptação interna, tem dominado historicamente a teoria organizacional. Valendo-se de teóricos de sistemas que analisaram as organizações sociais como “sistemas adaptativos complexos” (Buckley, 1968), os teóricos da contingência têm enfatizado que as organizações respondem às mudanças elaborando ou modificando suas estruturas internas para manter uma relação isomórfica com o ambiente. Por exemplo, a heterogeneidade ambiental deve ser combinada com a diferenciação e a integração internas para que o desempenho organizacional não padeça (Lawrence e Lorsch, 1967). Os ecologistas populacionais reagiram a essa perspectiva de adaptação argumentando que ela exagera o grau 58 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 58 20.04.05, 16:15 W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN de flexibilidade que os gestores das organizações têm para ajustar suas formas estruturais (Aldrich e Pfeffer, 1976). Há uma “inércia estrutural” induzida por custos irrecuperáveis, precedentes históricos e resistências políticas a mudanças (Hannan e Freeman, 1977). Dada essa inércia, se o nicho ocupado por uma organização não puder mais atrair recursos que sustentem uma forma particular de organização, essa forma se tornará obsoleta e será “extinta”. Simultaneamente, os recursos são transferidos para novas áreas, criando nichos novos demais para que as adaptações limitadas de organizações existentes consigam se ajustar adequadamente. Assim, devem ser “incluídas” formas organizacionais completamente novas. A seleção ambiental substitui, dessa forma, a adaptação interna na condição de maior instrumento de mudança. Tanto a perspectiva da seleção como a da adaptação compartilham uma orientação determinista segundo a qual a origem absoluta das mudanças é o ambiente. Mas diferem em relação ao nível da análise (McKelvey, 1979). Na visão da adaptação, as organizações respondem às mudanças refinando seus próprios ajustes às contingências de seu ambiente de trabalho. A análise é estritamente baseada na unidade. Mas na visão da seleção não existe uma quantidade de ajuste fino adequada aos limites locais de um nicho organizacional, pois a longo prazo o nicho de um tipo particular de organização pode desaparecer completamente. Assim, o foco muda para espécies ou populações de organizações que vêm e vão em “ondas” como indústrias inteiras nascem e se extinguem (Aldrich, 1979). Entretanto, os ecologistas populacionais admitem que o modelo da seleção natural funciona bem melhor para organizações pequenas e desprovidas de poder, que operam em ambientes com recursos dispersos, do que para organizações grandes e politicamente bem relacionadas, que operam em ambientes com recursos concentrados (Aldrich, 1979, p. 111-112). Isso sugere uma possível reconciliação entre as perspectivas da seleção e da adaptação. O problema aqui é que as grandes organizações raramente são excluídas (Edwards, 1979, p. 84-85).2 Por essa razão, Lawrence (1981) afirmou que a perspectiva da seleção natural precisa ser complementada por uma perspectiva de adaptação pelo aprendizado. Ele argumentou que, se uma organização sobrevive à seleção natural nos primeiros estágios de crescimento, e se expande em qualquer direção – por exemplo, pela variedade de produtos ou por área geográfica –, ela pode conseguir se adaptar a mudanças ambientais subseqüentes, que seriam fatais em um estágio anterior. A explicação para isso pode ser o fato de que as pe- quenas organizações experimentam maior risco de exclusão por estarem tipicamente presas a um único nicho, ao passo que grandes organizações se espalham gradativamente por muitos nichos e, por isso, fortalecem suas posições por meio da expansão e diversificação geográfica (Pennings, 1980). Dado que as forças da institucionalização induzem invariavelmente à inércia estrutural (Kimberly, 1980), permanece sem explicação, no entanto, como pequenas organizações conseguem se tornar grandes empresas de sucesso sem ser antes excluídas. Isso pode ocorrer visto que a institucionalização inibe a adaptação em pequena escala e a curto prazo, e conduz a um acúmulo de tensões quando a organização se torna gradativamente desajustada ao seu ambiente. Então, essa tensão é posteriormente resolvida não pela “mudança no sistema”, mas pela “mudança do sistema” (Parsons, 1961). Isso explica as transformações “metamórficas” (Starbuck, 1965, 1968) que as organizações empreendem quando suas operações se espalham, abrangendo novos produtos ou posições de mercado (Chandler, 1962). Uma vez estabelecida em um ou mais nichos, a organização consegue evitar a exclusão ao ajustar sua linha de produtos ou serviços, e transferir recursos de áreas declinantes para esferas de operações mais pródigas. Mesmo que uma fraca atuação ainda induza à inércia estrutural as subunidades de um determinado nicho, a organização conseguirá manter sua vitalidade e seu vigor no nível corporativo. Conquanto essa explicação da adaptabilidade das grandes organizações complemente a visão da ecologia populacional, superando uma das maiores deficiências desta última, pouco contribui para desafiar a adequação de outra perspectiva que foca especialmente as grandes organizações, ainda que se mantenha consistente com a visão da seleção natural. Trata-se do modelo de “falhas de mercado”, oferecido por Williamson (1975). Esse modelo é classificado como uma visão da seleção natural no sentido em que trata da forma como o ambiente econômico “seleciona” uma espécie nova e importante de organização,– que Chandler (1977) descreveu como “a empresa multiunitária moderna”. A tese geral é de que os “mercados” são suplantados por “hierarquias” quando param de funcionar adequadamente devido à “concentração de informação”, uma distribuição assimétrica da informação que interfere na alocação ótima de recursos nas transações de mercado. A monitoração superior da organização e sua capacidade de controle superam esse problema: reduzem os “custos de transação” e restauram a eficiência. O crescimento das grandes organizações hierárquicas é, portanto, determi- ABR./JUN. 2005 • RAE • 59 052-073 59 20.04.05, 16:15 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES nado economicamente no sentido de que a organização interna restabelece a operação natural da racionalidade econômica quando os mercados não conseguem mais executar suas funções. Ao mesmo tempo, essa racionalidade econômica opera no nível populacional de análise, pois governa a operação de todo o mercado ou indústria. A mudança dos mercados para as hierarquias é explicada como um triunfo dos interesses do “sistema” econômico como um todo sobre as tendências oportunistas de seus membros constituintes (Willamson, 1975, p. 27). A otimização da eficiência em alocar recursos por toda a economia é uma notável força em operação. Quando o modelo de falhas de mercado plausivelmente estende a visão da seleção natural às grandes organizações, abre-se também para a reinterpretação dialética pela visão sistêmico-estrutural. Thompson explicou de um modo muito diferente como os mercados são suplantados pelas hierarquias, ou seja, “organizações sob normas de racionalidade procuram limitar-se a atividades que, se deixadas por conta da ação ambiental, representariam contingências cruciais” (Thompson, 1967, p. 39). De acordo com a explicação de Thompson para tal fenômeno, não são os trabalhos racionais de um sistema econômico que importam, mas as normas da racionalidade técnica que governam as operações internas das organizações particulares. São os interesses da organização em foco que representam demarcações, e não os interesses do mercado econômico. As hierarquias não são subprodutos das falhas de mercado agindo simplesmente como mecanismos alternativos para alocação de recursos econômicos em beneficio da sociedade; ao contrário, são instrumentos gerenciais para controle, redução e remoção de contingências que ameacem o funcionamento técnico das organizações. De acordo com essa visão, a interiorização representa uma absorção das ameaças externas, e não uma falha de mercado. Incorporase, assim, a lógica da adaptação organizacional, e não a lógica da evolução ambiental. Trata-se do determinismo tecnológico aplicado às organizações individuais, e não do determinismo econômico aplicado às populações organizacionais em um sistema de mercado.3 Vemos aqui novamente uma tensão dialética; a essência do assunto é a mesma, o que se altera é o ângulo da câmera. Nichos restritos versus domínios ordenados: Q2 vs. Q3 Será a vida organizacional determinada por restrições ambientais inflexíveis ou criada ativamente por escolhas gerenciais estratégicas? Esse debate foi recentemente destacado na discussão de Porter (1981) acerca da relação entre a economia industrial e a gestão estratégica. Em contraste sistemático entre os dois campos, Porter aponta diferenças de orientação, que pertencem a duas dimensões da Figura 1. Primeiro, enquanto os economistas industriais conseguem tomar a indústria como um todo como unidade de análise, ao imaginarem que todas as firmas da indústria reagirão de maneira idêntica aos mesmos contextos econômicos, os teóricos da gestão estratégica se interessam pelos problemas de firmas individuais, como entidades únicas, dotadas de forças e de fraquezas únicas. Segundo, os economistas industriais apresentam, preferencialmente, uma visão determinista, por causa de suas análises industriais estáticas e estruturais, ao passo que o “campo da política possui uma ampla tradição em enfatizar a perspicácia, a criatividade, e até mesmo vislumbra que algumas firmas demonstram ter encontrado formas únicas de mudar as regras do jogo em suas indústrias” (Porter, 1981, p. 613). Dadas essas contrastantes orientações, não é surpreendente que Aldrich (1979) tenha confiado na literatura da economia industrial para delimitar até que ponto a escolha estratégica está disponível para as organizações. Esse argumento circunda a premissa da existência de nichos, ou combinações distintas de recursos e outras restrições no ambiente. O conceito de nicho implica enfoque nas populações organizacionais em vez de nas organizações individualmente, pois a distribuição dos recursos econômicos e de outros tipos, que formam os nichos, provê suporte a espécies completas de organizações. O destino de cada organização individual está atrelado ao fato de pertencer a um tipo particular de população, pois as organizações não conseguem se adaptar facilmente a nichos diferentes. As forças macroeconômicas, sociais e políticas que apóiam o surgimento e a dissolução de nichos subjugam a ação gerencial estratégica a longo prazo, pois apenas algumas poucas organizações, poderosas e politicamente bem relacionadas, conseguem reagir de forma significativa a essas forças. Em contrapartida, os teóricos da escolha estratégica vêem o ambiente como um “domínio”, que os gestores ordenam, definem e influenciam (Levine e White, 1961). Rumelt (1979) reagiu então à posição da seleção natural argumentando que a capacidade de adaptação a novos nichos é refletida numa postura estratégica particular, adotada individualmente pelos gestores das organizações. A presença de estratégias idiossincráticas produz variações de desempenho entre as organizações que pertencem às mesmas espécies, mas que conseguem criar seus próprios nichos de mercado e produtos distintos. Assim, são as transações particulares com as quais os gestores 60 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 60 20.04.05, 16:15 W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN das organizações se comprometem que alteram suas posições no ambiente, “sem alterar o próprio ambiente” (Rumelt, 1979). Outros teóricos têm argumentado que mesmo a macroestrutura do ambiente se altera em resposta às estratégias corporativas. Caves e Porter (1977) e Salop (1979), por exemplo, mostraram como os gestores podem influenciar ou mesmo impedir a entrada de suas firmas em indústrias escolhendo cuidadosamente suas estratégias. Tais observações requerem que a premissa tradicional da economia industrial – de que a estrutura da indústria é relativamente constante, além de ser o principal determinante da estratégia – seja contrabalançada por uma “teoria de estruturas industriais dinâmicas”, que, em vez de considerar a indústria somente como uma variável independente que determina o comportamento da firma, também trate a estrutura de mercado como uma variável dependente, que venha a refletir as estratégias passadas das firmas na indústria, através do tempo (Brock, 1981). O contraste entre as visões da seleção natural e da escolha estratégica cristaliza-se na modificação feita por Weick (1979) do modelo de variação, seleção e retenção, utilizado pelos ecologistas populacionais (e.g Aldrich, 1979) e reclassificado como um modelo de “ordenação, seleção e retenção”. A substituição feita por Weick da ordenação pela variação serve para enfatizar que “os gestores constroem, rearranjam, selecionam e destroem muitas ‘características’ objetivas que os cercam”, quando definem e criam literalmente suas próprias restrições (Weick, 1979, p. 164). Os critérios de seleção não são tão incorporados às condições ambientais externas quanto fixados nos membros organizacionais. A seleção conquista espaço quando os indivíduos impõem significados e dão sentido a seus dados brutos ordenados. Esses padrões de dados que se ajustam a seus esquemas de interpretação e a seus repertórios cognitivos são selecionados por eles, enquanto o resto é eliminado. Os critérios de seleção são específicos para os indivíduos particulares nas espécies organizacionais, em vez de serem transmitidos a espécies completas de organizações, como restrições dos nichos. Mais uma vez, o processo de retenção não pertence às características do ambiente, mas a “mapas causais”, construídos a partir das experiências passadas dos indivíduos. Esses mapas causais reforçam processos de ordenação e seleção, provendo-os com sugestões, padrões de observações e processos de exame e monitoramento, que desempenham papel ativo na construção de um ambiente “artificial” a partir do ambiente objetivo. Conseqüentemente, Weick insiste em que ambientes significativos são produtos da organização, e não insumos para ela, como afirmariam os ecologistas populacionais. O modelo da variação, seleção e retenção parece assim igualmente compatível com ambas as visões, da seleção natural e da escolha estratégica. O fato de não haver algo pertencente ao modelo da variação, seleção e retenção que tenda para a orientação determinista sugere que o sucesso dos ecologistas populacionais em atribuir a primazia causal ao ambiente se apóia mais na adoção característica de um nível de análise populacional do que em qualquer outra coisa. A ação de organizações individuais parece contar pouco em face das tendências demográficas de longo prazo que afetam populações inteiras. Se for verdade, contudo, que a aplicação bem-sucedida do modelo de ecologia populacional à seleção ambiental se apóia nos seus níveis de análise (Aldrich, 1979, p. 107), então as conclusões teóricas da ecologia populacional que enfatizam a importância de restrições ambientais externas são baseadas em uma combinação analítica das duas dimensões da Figura 1. Em outras palavras, o modelo de ecologia populacional atribui ao ambiente o que o nível de análise populacional realmente alcança. Se focarmos populações de organizações, as escolhas estratégicas das organizações individuais devem assumir importância mínima. É assim simplesmente porque a troca do nível de análise está destinada a alcançar apenas aquele efeito. Ao procurar entender as dinâmicas que sustentam as distribuições de organizações agregadas pelas condições ambientais, adotamos um foco macro na população, antecedendo automaticamente, assim, uma visão micro das atividades de organizações individuais. Mas concluir, a partir de enfoques restritos, que o ambiente possui uma primazia, e que é “o ambiente que seleciona” (Hannan e Freeman, 1977), menospreza incorretamente o papel do voluntarismo na vida organizacional. Apesar de ainda ser verdade que as ações de pequenas organizações individuais pouco importam para as tendências de longo prazo identificadas com o nível populacional, não se deve sucumbir à sedução de representar esse fato em termos de forças naturais vagas e de restrições externas localizadas num ambiente anônimo. Isso é confirmado pelo fato de que é possível usar um nível de análise populacional ligado a uma orientação voluntarista, como ilustra, a seguir, o contraste entre as visões da seleção natural e da ação coletiva. Agregados econômicos versus coletividades políticas: Q3 vs. Q4 Deve o ambiente ser visto como um simples agregado de organizações governadas por forças econômicas exter- ABR./JUN. 2005 • RAE • 61 052-073 61 20.04.05, 16:15 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES nas, ou como uma coletividade de organizações integrada e governada por suas próprias forças sociais e políticas internas? No nível da análise populacional, a dialética do voluntarismo-determinismo entre as teorias ecológicas enfoca duas questões: 1) a definição de “população” propriamente dita; e, 2) se as populações organizacionais são conduzidas por dinâmicas econômicas ou dinâmicas sociais e políticas. Essas duas questões interrelacionadas serão separadas por conta de uma clarificação analítica. Na visão da ecologia populacional, uma população é definida como um “agregado” de organizações “relativamente homogêneas” (Hannan e Freeman, 1977). Todas as organizações da população compartilham certos “elementos-chave” que constituem sua “forma comum” e, conseqüentemente, uma vulnerabilidade recíproca ao ambiente. Essa vulnerabilidade comum explica a ocorrência e a distribuição de diferentes espécies organizacionais em diferentes condições ambientais. Em contrapartida, os humano-ecologistas (Hawley, 1950, 1968; Duncan, 1964; Boulding, 1978) não definem uma população em termos de sua suscetibilidade comum ao ambiente, mas em termos da padronização interna das relações entre os membros que a constituem. Para os humano-ecologistas, a população não é uma aglomeração incoerente, mas sim uma organização coerente – um “sistema integrado, com algum grau de caráter unitário” (Hawley, 1968). A “organização” interna é o grande atributo que transforma o grupo de organizações em uma coletividade, com suas características próprias e distintivas. A concepção de comportamento coletivo dos humano-ecologistas se estende além da noção de Hannan e Freeman de populações de espécies únicas. Essas populações consistem em um conjunto homogêneo de organizações que compartilham uma relação competitiva e “intra-específica”, conhecida como “comensalismo”. Para os humano-ecologistas, uma população surge somente quando a qualidade de unidade corporativa ou de coesão interna pode ser a ela atribuída. Tal coesão deriva de uma interdependência funcional, que se desenvolve à base de diferenças complementares entre unidades heterogêneas, especialmente as que compartilham uma “relação interespecífica”, conhecida como simbiose. Na visão da ecologia humana, a adaptação obtém espaço por um mecanismo de formação de redes fechadas. A simbiose resulta do fato de que algumas organizações se tornam funcionalmente especializadas na obtenção de recursos diretamente do ambiente, enquanto outras garantem seus recursos ao organizar a demarcação de limi- tes. Dessa forma, o funcionamento interno da população é protegido dos efeitos ambientais, representando um esforço criativo e coletivo da população para gerenciar e controlar sua existência, parcialmente livre da necessidade de reagir às intrusões do ambiente. “A união simbiótica aumenta a eficiência da produção, ou do esforço criativo; a união comensal, já que suas partes são homogêneas, pode apenas reagir, e o faz, portanto, somente em ações protetoras e conservadoras” (Hawley, 1968, p. 332). Por seu enfoque nas populações de organizações homogêneas, relacionadas de forma comensalística – ou seja, indiretamente relacionadas devido à dependência comum do ambiente –, a visão da seleção natural chama a atenção para a condição de sistema aberto, em que cada membro da população interage diretamente com o ambiente e, por isso, é por ele diretamente influenciado. A influência ambiental é destacada ao se definir a população em termos de sua vulnerabilidade ambiental compartilhada. Por definição, quanto maior essa vulnerabilidade, maior o efeito populacional. Por seu enfoque na interdependência simbiótica e do movimento em direção às redes fechadas, removendo a maior parte da população do contato direto com o ambiente, a visão da ecologia humana diminui automaticamente os efeitos do ambiente, enquanto destaca as construções sociais da ação coletiva. Por definição, quanto maior for o isolamento da influência do ambiente com o fechamento do sistema, maior será o efeito populacional. Em resumo, a ecologia populacional foca sua atenção no ambiente “natural”, constituído por forças fora de alcance do controle organizacional. As organizações podem disputar entre si recursos ambientais, em uma concorrência competitiva pela sobrevivência, mas enfim seus destinos são determinados pelo ambiente. Em contrapartida, a ecologia humana foca a atenção na construção de um ambiente “social” protetor, que substitui o ambiente natural como influência crítica. Com efeito, os grupos conspiram em simbiose para assegurar a existência contínua das redes interorganizacionais como um todo. Esse enfoque contrastante entre os ambientes “natural” versus “social” tem também implicações para a avaliação de cada visão constituinte da dinâmica essencial em que se baseia a atividade organizacional. Assim, para os ecologistas populacionais, “as pressões ambientais fazem da competição por recursos a força fundamental das atividades organizacionais” (Aldrich, 1979, p. 27-28), e o modelo de ecologia populacional deve funcionar melhor em ambientes dotados de “recursos dispersos” 62 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 62 20.04.05, 16:15 W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN (Aldrich, 1979, p. 111), ou seja, em ambientes que se aproximam dos mercados de perfeita concorrência.4 Toda a noção de que os relacionamentos entre as organizações são indiretamente mediados por processos naturais ambientais implica que algo semelhante à “mão invisível” de Adam Smith (1937) esteja operando. A dinâmica é essencialmente a mesma da competição econômica. Por outro lado, a ênfase dos humano-ecologistas em ambientes socialmente construídos e regulados tende a destacar mais a importância das forças sociais e políticas mais do que das econômicas. O poder passa a desempenhar um papel explícito quando as unidades diretamente responsáveis pela obtenção de recursos do ambiente “natural” conseguem regular as condições essenciais para o funcionamento de outras unidades da rede, que possuem relações apenas indiretas com esse ambiente. Ainda que algum grau de poder seja retido por todas as unidades, esse poder varia inversamente com o número de estágios em que cada unidade é removida do contato direto com o ambiente, resultando que as relações de poder entre as organizações se desenvolvem de forma ainda mais elaborada quando as redes interorganizacionais alcançam um maior grau de fechamento (Hawley, 1968). Quando isso ocorre, a negociação política desempenha um papel gradativamente mais importante na regulação de fluxos de recursos econômicos em toda a rede. Apesar de esses fluxos de recursos ainda poderem se caracterizar como trocas econômicas, na medida em que os membros poderosos da rede consigam definir seus próprios termos de troca e os imponham aos demais, exige-se uma análise político-econômica. Benson (1975) afirmou que o processo de aquisição de recursos em redes interorganizacionais está inevitavelmente ligado à distribuição de poder, e deve ser adequadamente analisado como uma “economia política”. Outro aspecto desse mesmo debate surge entre os economistas industriais e os economistas políticos, e relaciona-se à crescente dominação dos grandes negócios no cerne das redes interorganizacionais. A construção de um ambiente social artificial em uma comunidade de organizações é uma forma de garantir imunidade às realidades da competição no ambiental natural. Uma forma igualmente importante é controlar o ambiente natural absorvendo-o nos limites corporativos de empresas individuais. Galbraith (1967) e Edwards (1979) têm indicado essa eliminação do intercâmbio do mercado como o principal método de promover o controle econômico por parte de uma elite de grandes corporações. Edwards (1979, p. 83) fornece evidências disso, notando que as fusões de empresas que controlam menos de 50% de seus mercados falham com freqüência quase três vezes mais do que as de firmas com maior controle do mercado, enquanto estas últimas recebem aproximadamente lucros 30% maiores que as primeiras. Enquanto esses autores destacam mais a importância política desse fenômeno do que a econômica, outros o têm incorporado ao modelo de seleção natural. Como notamos anteriormente, Williamson (1975) argumentou que os grandes negócios crescem quando os mercados falham na alocação eficiente de recursos, tanto que é necessário um monitoramento hierárquico das transações para restaurar a racionalidade econômica pela redução de custos. Similarmente, Chandler (1977) argumentou que a eficiência administrativa auxilia o crescimento de grandes negócios porque estes têm planejamento e coordenação de produtos padronizados, em indústrias de grande escala. Em outras palavras, as forças econômicas – especialmente as vantagens econômicas da integração vertical – levaram ao surgimento de grandes empresas, pois as firmas que não se ajustaram às condições das mudanças mercadológicas e tecnológicas por meio da interiorização do ambiente não conseguiram competir e foram excluídas. Perrow (1981) criticou essa explicação de eficiência neutra por não considerar a possibilidade de que a integração vertical ganha espaço com o propósito um tanto abominável de cortar os suprimentos dos competidores ou de dominar os meios de distribuição, em vez de simplesmente reduzir os custos econômicos. Ainda que ele tenha concordado que os fatores econômicos fornecem as condições necessárias para a integração vertical ganhar espaço – já que nem todas as indústrias realizam ou podem realizar a integração vertical –, é o controle do poder e do mercado e não a eficiência econômica que dá a motivação essencial para tal crescimento. Assim, surge novamente a dialética: a concentração industrial é um poder hegemônico; o sucesso econômico é uma dominação política; a organização corporativa é um controle social. Ação individual versus ação coletiva: Q2 vs. Q4 Estará o comportamento organizacional preocupado principalmente com a ação individual ou com a coletiva? Essa questão enfoca a tensão básica entre os modelos de referência individuais e coletivos, quando são apresentados em níveis micro e macro de análise organizacional. Essencialmente, as teorias organizacionais e de gestão assumiram uma orientação de interesse individual, aderindo ao modelo racional de comportamento administrativo. Em contrapartida, o problema do interesse coletivo permanece em grande medida ignorado. ABR./JUN. 2005 • RAE • 63 052-073 63 20.04.05, 16:16 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES O axioma básico do comportamento racional é “maximizar” ou, ao menos, “satisfazer” interesses individuais (Simon, 1976). Aceita-se uma ordem de preferência consistente, em que os indivíduos ou as organizações têm uma função objetiva e claramente específica, com a qual conseguem selecionar a melhor de uma série de alternativas. “Se aceitarmos que as organizações possuem metas e que tais metas têm algumas propriedades clássicas de estabilidade, precisão e consistência, podemos tratar a organização como um tipo de ator racional” (March, 1981, p. 215). De fato, toda a teoria do comportamento racional nas organizações se apóia na premissa de que seus participantes compartilham objetivos comuns, sem a qual o “trabalho cooperativo em equipe” não seria possível (Simon, 1976). Mas os stakeholders organizacionais com freqüência possuem objetivos conflitantes, particularmente em situações de escassez. Então, o modelo racional não se transforma em uma teoria competitiva dos jogos, com matrizes de retornos probabilísticas para cada participante, nem são realizadas tentativas de alterar as preferências de partes discordantes em um consenso de que o “trabalho em equipe” prevaleça novamente. As teorias clássicas da firma lidam com esse problema em dois estágios. Primeiro, as demandas conflitantes são convertidas em preços, tendo cada indivíduo negociado os termos necessários para concordar em procurar as preferências do outro. Segundo, os gestores e empreendedores impõem seus objetivos à organização em troca de salários negociados e pagos aos empregados (March, 1981). Além dessas negociações salariais, as organizações utilizam elaborados sistemas de motivação, promoção, recompensas e controles, para manter a ordem e o consenso entre os participantes organizacionais. Assim, o contrato de trabalho é reforçado por um sistema de incentivos que fornece aos administradores meios de assegurar o consenso dos empregados em prol dos objetivos organizacionais. É nesta linha que Olson (1965) argumentou que, por ser sempre possível aproveitar-se do esforço alheio (free rider problem), não há justificativa racional para que indivíduos contribuam para os “bens coletivos”. Em pequenos grupos, ou oligarquias, os indivíduos podem querer contribuir voluntariamente para obter bens coletivos por uma norma comum de reciprocidade, confiança interpessoal, amizade, pressão social, ou uma preocupação altruísta com o bem-estar do grupo como um todo. Entretanto, para grandes grupos esses incentivos diminuem, e o problema de geração da ação coletiva cresce de modo agudo. Para Olson (1965, p. 51), “apenas um incentivo individual e ‘seletivo’ estimulará um individuo racional em um grupo latente a agir de forma orientada pelo grupo”. Reagindo a esse ímpeto individualista dos economistas clássicos, para quem “o indivíduo humano age de certa forma como um átomo” (Commons, 1950, p. 36), Commons (1950, p. 14) argumentou que “os indivíduos não são entidades independentes nem auto-suficientes; e a sociedade não é a soma dos membros individuais”. A liberdade individual não é um direito inato; é uma conquista coletiva. A única forma de a liberdade individual ser obtida é pela aderência coletiva às “regras” que definem e protegem os “direitos” individuais de todos. Os direitos e regras não são determinados individualmente; vêm de normas, costumes e leis impostos por uma soberania. Commons se referiu a essas normas, costumes e leis como “regras de funcionamento da ação coletiva”, uma noção baseada no conceito legal do “homem razoável”. O homem razoável segue uma lógica bem diferente daquela do homem racional (Van de Ven e Freeman, 1983). No direito, o homem razoável deve atender a um padrão de conduta uniforme e coletivo. Este é determinado por uma avaliação comunitária e deve ser o mesmo para todas as pessoas, “pois a lei não deve apresentar favorecimentos” (Prosser, 1971, p. 150). Porém, o comportamento razoável não nega o comportamento racional e proporciona um modelo institucional em que ele consegue atuar. Os indivíduos buscam claramente seus próprios objetivos, tentando maximizar seus interesses da melhor maneira possível em determinadas condições. Conseqüentemente, o conflito e a ruptura são tão presentes e importantes quanto o consenso e a ordem, fato reconhecido pela perspectiva pluralista de Lindblom (1965), Wilson (1973), e Dahl e Lindblom (1976). Esses autores analisam a ação coletiva como um processo incremental, que surge de ajustes mútuos entre grupos de múltiplos interesses partidários. Ainda que os atores partidários persigam seus próprios interesses, fazem-no, no entanto, dentro de limites, necessitando negociar com os demais para estabelecer compromissos coletivamente aceitáveis. Essa é a função desempenhada pelas regras da ação coletiva: incorporam uma ordem institucional, que define o limite em que os indivíduos conseguem realizar sua própria vontade. Esse debate da ação individual versus a coletiva fica evidente na literatura sobre os relacionamentos entre as organizações e o ambiente. Prevalece novamente a perspectiva do indivíduo como ator racional, fato refletido pela tendência de autores a adotar o ponto de vista da organização em foco. Por exemplo, a teoria da depen- 64 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 64 20.04.05, 16:16 W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN dência de recursos (Pfeffer e Salancick, 1978) atesta que os gestores perspicazes procuram aumentar seu poder em relação às fontes limitadas de dependência do ambiente, alcançando, de um lado, barganhas favoráveis junto aos parceiros de troca, e de outro, evitando desacordos custosos. Os recursos necessários precisam ser adquiridos, mas apenas de forma defensiva, evitando a redenção da organização a uma autonomia excessiva, ou a uma grande dependência de grupos externos (Thompson e McEwan, 1958). A interação resultante é vista como um tipo de jogo: os gestores reagem estrategicamente às manobras dos outros. Mesmo os casos de colaboração aparente são analisados do ponto de vista da teoria dos jogos. Assim, parcerias, coalizões e acordos informais são vistos como jogos de causas mistas. Trata-se de alianças com propósitos convenientes, porém temporárias, feitas somente para atenderem ao próprio interesse de cada parceiro da coalizão, e enquanto puderem fazê-lo. Por outro lado, uma orientação genuinamente coletiva também aparece na literatura organizacional-ambiental. Benson (1975) e Pefeffer e Salancick (1978, p. 147) têm esboçado algumas normas – ou regras de funcionamento da ação coletiva –, que operam nas redes interorganizacionais. Tais normas estabilizam o funcionamento coletivo de sistemas de organizações interdependentes e, ainda assim, não suplantam completamente a autonomia, a busca de interesses localizados ou o surgimento de conflitos entre organizações. Em vez disso, facilitam ajustes mútuos entre os múltiplos interesses partidários, em um sistema pluralista que não é nem individualista e anárquico, nem totalitário. Como indicaram Metcalfe (1974) e Van de Ven (1980), a participação pluralista pode reconciliar tanto os interesses seccionais quanto o bem-estar coletivo nas relações interorganizacionais. Mas um problema permanece: se as organizações representam interesses secionais, por que aderem voluntariamente às regras coletivas de funcionamento – particularmente às que não são legalmente impostas –, em vez de tentar explorar inexoravelmente as dependências das outras? A resposta está na compreensão de que, ao interagir, os representantes das organizações compartilham valores que transformam os interesses secionais em orientações coletivas. Quando os padrões de atuação convenientes são descobertos por tentativa e erro, tendem a se repetir. Posteriormente, os gestores que interagem continuamente passam a compartilhar a idéia de que “essa é a forma como as coisas devem ser feitas”. Com tal desdobramento, as normas se dissociam das situações específicas em que surgiram no início, e passam a ser generalizadas, cobrindo boa parte da atividade coletiva. Assim, assumem o papel de forças sociais autônomas, conduzindo e regulando a ação coletiva. Essa é a função desempenhada pelas “estruturas de pensamento institucionalizadas” de Warren, Rose e Bergunder (1974), e pela racionalidade de classe de Useem (1982), nas redes interorganizacionais. Assim se interiorizam os padrões normativos de interação interorganizacional, constituindo o que Durkheim (1933) chamou de “base moral dos contratos sociais”. Isto é, as normas adquirem um senso de moralidade em vez de uma inclinação pragmática, de modo que os responsáveis por decisões organizacionais são impelidos a aceitá-las e executá-las. No entanto, a obrigação moral não deve ser interpretada como uma limitação externa, pois para Commons e Durkheim é uma força libertadora. Ao criar padrões estáveis de associações coletivas, livra as organizações da necessidade de criar novos padrões de atuação para cada situação enfrentada. A complacência com as normas é mais voluntária do que coercitiva. Isso representa a adoção de uma orientação coletiva, com a qual os gestores e as organizações se identificam. Em resumo, os grupos organizacionais são atores independentes e também membros envolvidos em uma coletividade maior. De um lado, agem de maneira autônoma para maximizar as chances de conseguir seus objetivos individuais, alheios aos da coletividade. De outro lado, aderem aos padrões unificantes de ordens sociais e culturais, ao assumirem responsabilidades parciais em uma entidade social maior. Em outras palavras, o gestor atua como jogador e político. A necessidade de estabelecer um equilíbrio entre essas pressões opostas forma a base do que Thompson (1967, p. 48) descreveu como “o paradoxo da Administração”. A existência desse paradoxo produz não apenas contradições na prática da vida cotidiana das organizações, mas também, como vimos, uma tensão dialética na teorização. Organizações versus instituições: Q1 vs. Q4 Serão as organizações instrumentos técnicos, neutros, construídos para atingir metas, ou manifestações institucionalizadas dos interesses e da estrutura de poder da sociedade? O ponto de partida desse debate é a distinção feita por Selznick (1957) entre “organizações” e “instituições”. De acordo com Selznick, as “organizações” são delineadas de acordo com uma “lógica de eficiência”; são “instrumentos técnicos” da mobilização de atividades em prol de um conjunto de objetivos. Podem ser consideradas “ferramentas a ser usadas ou instrumentos racionais, construídos para a execução de uma tarefa”. Diferente- ABR./JUN. 2005 • RAE • 65 052-073 65 20.04.05, 16:16 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES mente, as “instituições” incorporam valores e não apenas os requisitos técnicos para a execução da tarefa em questão. São “organismos que respondem e são adaptativos”, produtos das “necessidades e pressões sociais”, que as moldam e formulam. Como tal, incorporam respostas e interesses próprios dos seus ambientes. Como indicam Meyer e Rowan (1977), as instituições são menos significativas por seus atributos técnicos do que pelo papel que desempenham na sociedade; simplesmente refletem as estruturas institucionais em que estão inseridas. Há pouca dúvida de que a imagem da organização como ferramenta tem dominado a história da teoria organizacional, como demonstra o “Modelo Racional” prevalecente de Gouldner (1959). Mas há uma reação contemporânea a essa escola de pensamento, desde que Child (1972) atacou a explicação da teoria da contingência acerca do comportamento organizacional por sua referência a imperativos funcionais, em vez da ação política. Essa crítica ganhou particularmente força com o trabalho dos teóricos radicais, dos marxistas e dos teóricos da economia política (Marglin, 1974; Stone, 1974; Clegg; 1975, 1979, 1981; Benson, 1977a, Goldman e Houten, 1977; Salaman, 1978; Burawoy, 1979; Edwards, 1979; Clegg e Dunkerly, 1980; Clawson, 1980). Esses autores rejeitaram a idéia de que a estrutura organizacional seja delineada com base numa lógica neutra de eficácia técnica. Em vez de ver as restrições estruturais como necessidades funcionais, cuja existência se justifica pela referência aos ideais de “eficiência” e “racionalidade”, chamaram a atenção para as funções e vantagens secionais de elementos organizacionais aparentemente neutros, e expuseram a eficiência e a racionalidade como ideologias que estimulam, encobrem e justificam a natureza não igualitária das estruturas organizacionais. Em vez da eficiência técnica, a dominação política é considerada a base da delineação da estrutura organizacional. O argumento convencional de que os métodos de produção capitalista são mais produtivos que suas formas anteriores do trabalho organizacional – por serem mais eficientes – é normalmente contraposto pela questão “eficiente para quem?” (Perrow, 1980). A crítica aqui é de que a eficiência é definida de forma a atender aos interesses da gestão. Uma definição neutra mediria a eficiência de um processo de transformação pela razão entre seus resultados e insumos: quanto maior a razão, mais eficiente o processo de transformação. Entretanto, considera-se que, se o capitalismo é mais produtivo que os modos de produção anteriores, não é porque seu processo de transformação seja tecnicamente superior, mas porque seu sistema de controle capacitou os gestores, na aquisição de força de trabalho, a extrair dos trabalhadores um valor de produção maior do que precisavam empregar. Em outras palavras, maior produtividade resulta de maiores insumos de trabalho em vez de um trabalho de transformação mais eficiente. Certamente, isso faz com que a produção capitalista pareça mais eficiente para a gestão, mas é eficiente apenas de seu próprio ponto de vista (Clawson, 1980). Para os trabalhadores, representa apenas exploração e dominação. De acordo com essa visão, a forma de organização capitalista não é conduzida por leis imutáveis de eficiência técnica, mas por interesses socialmente moldados das elites gerenciais. Ademais, tal dominação é considerada enraizada em fatores que emanam de circunstâncias particulares de fora da fábrica, na medida em que ocorre em um contexto social mais amplo. Por exemplo, Edwards (1979) explicou a exploração capitalista referindo amplamente os desdobramentos da força de trabalho: a transformação da força de trabalho em proletariado, o deslocamento da agricultura para a indústria, o declínio da importância das habilidades dos trabalhadores, e a segmentação dos mercados de trabalho. Foi assim que Burrell (1981) descreveu as condições organizacionais contemporâneas, como “epifenômenos” de forças que permeiam a sociedade. A dominação política nos locais de trabalho é o reflexo das dinâmicas mais abrangentes do capitalismo. Eventos aparentemente distantes dos locais de trabalho propriamente ditos impõem importantes limitações às relações nesses locais. Sob essa luz, o confronto entre trabalhadores e gerentes nas organizações deve ser visto como simplesmente um microcosmo da arena mais abrangente do conflito de classes. Assim, o foco se desloca da “problemática da estruturação racional” (Benson, 1979), inerente à visão sistêmico-estrutural, para os relacionamentos entre redes que se definem social e politicamente numa visão da ação coletiva. A unidade característica de análise passa a ser a estrutura do ambiente social propriamente dito (M. Meyer, 1978). A estrutura e o funcionamento organizacional devem ser vistos em termos de prioridades da sociedade hospedeira em vez das conseqüências das formas processuais ou tecnológicas particulares dos processos de trabalho (Salaman, 1978). A organização vem a refletir sua própria história (Stinchcombe, 1965; Meyer e Brown, 1977) por uma assimilação de valores e demandas impulsionados por uma série de interesses conferidos pela sociedade (J. Meyer, 1978; Perrow, 1979). O argumento da dominação política requer, portanto, que desloquemos o foco analítico do determinismo das con- 66 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 66 20.04.05, 16:16 W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN siderações acerca da eficiência, interno às organizações, para as amplas dinâmicas sociais, que se desenvolvem no nível coletivo de análise. tada pela interação entre o nível mais baixo e o mais alto da Figura 1, sendo discutida abaixo. Formas estruturais e ação pessoal DISCUSSÃO Ao comparar e contrastar quatro visões básicas da teoria organizacional (veja a Figura 1), abordamos seis debates presentes na literatura organizacional.5 Eles fornecem esclarecimentos importantes para a compreensão de certas tensões dialéticas da vida organizacional. Por meio dos debates, as tensões enfocaram as formas estruturais em oposição à ação pessoal (debates 1 e 4), e as relações entre a parte e o todo (debates 2 e 5), bem como a interação entre estas duas fontes de tensão organizacional (debates 3 e 6). Em conclusão, especulamos a importância dessas duas abrangentes tensões dialéticas para direcionar futuras pesquisas em teoria organizacional. Os “princípios da análise dialética” de Benson (1977b) são particularmente relevantes para essa discussão. O primeiro princípio de Benson (1977b) é a “produção/construção social”. Resumidamente, o autor defendeu que “uma organização, como parte de um mundo social, está sempre na situação de tornar-se algo”. Conseqüentemente, deve-se focar a atenção nos mecanismos pelos quais uma forma organizacional estabelecida é continuamente construída, mantida, reproduzida e reconstruída. Essa é a tarefa com que se comprometem as teorias situadas do lado direito da Figura 1. Mas Benson (1977b) também indica que os processos explicativos do surgimento e da dissolução das organizações ocorrem em uma estrutura social que restringe as ações organizacionais. A análise dessas forças restritivas distingue as teorias situadas do lado esquerdo da Figura 1. Esses dois conjuntos oponentes de forças são discutidos abaixo, como uma interação entre “formas estruturais” e “ação pessoal”. O segundo princípio da análise dialética é referido por Benson (1977b) como o princípio da “totalidade”. Tal princípio “expressa um comprometimento com o estudo de arranjos sociais na condição de complexas totalidades inter-relacionadas a partes parcialmente autônomas”. Por outro lado, as organizações são vistas como intrincadamente atadas ao contexto social em que se inserem: são consideradas partes constituintes de padrões e forças maiores que se desenvolvem na sociedade. Mas as organizações também são capazes de realizar por si mesmas ações parcialmente autônomas, o que gera tensões entre as partes e o todo. Essa fonte de tensão é cap- As formas estruturais e a ação pessoal são questões centrais de interesse da teoria organizacional e gerencial. Conquanto o determinismo e o voluntarismo sejam úteis para classificar as teorias organizacionais, orientam inadequadamente a investigação. Isso porque pressupõem que as visões deterministas da estrutura organizacional e as visões voluntaristas da ação pessoal sejam mutuamente exclusivas. De fato, ambas as visões são conjuntamente necessárias para o desenvolvimento de uma apreciação dinâmica das organizações. As organizações, enfim, não são fenômenos puramente objetivos nem puramente subjetivos. São sistemas objetivos na medida em que exibem estruturas apenas parcialmente modificáveis por ações pessoais, mas são subjetivas na medida em que essas estruturas abrigam indivíduos que atuam com base em suas próprias percepções, e podem agir tanto de forma previsível como imprevisível. As questões e problemas de interesse, então, estão em saber como as formas estruturais e as ações pessoais se inter-relacionam e produzem tensões que estimulam mudanças através do tempo. Por exemplo, no nível individual, de um lado há o problema de selecionar, socializar e controlar os indivíduos para posições e tarefas na estrutura, e de outro, examinar como as ações pessoais com o tempo reestruturam essas posições. Com o passar dos anos, surgem tensões e desajustes entre as várias aspirações, necessidades e crescimento pessoal dos indivíduos e as várias opções de carreira, promoção e mobilidade na estrutura organizacional. No nível de grupo, produz-se uma tensão contínua quando a divisão e a integração estrutural do trabalho e dos recursos das subunidades influenciam e são influenciadas pelo surgimento sociopsicológico de diversas normas, padrões de interação, conflitos e relações de poder no interior dos grupos e entre estes. No nível organizacional, está a questão de que a estrutura organizacional é tanto causa como conseqüência das transformações ambientais e das escolhas estratégicas dos indivíduos poderosos dentro e fora da organização. Finalmente, no nível populacional, estão as questões de que os nichos organizacionais ou as estruturas de mercado são produtos e restrições da ação coletiva, alcançados por meio de uma longa série de disputas e barganhas políticas entre grupos partidários, assim como por meio de normas sociais e culturais. ABR./JUN. 2005 • RAE • 67 052-073 67 20.04.05, 16:16 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES Essas questões interessam primeiramente porque admitem ambas as visões, determinista e voluntarista, da vida organizacional. Em segundo lugar porque sobrepõem essas visões, relacionando reciprocamente estruturas formais e ações pessoais em níveis comparáveis de análise, e finalmente porque mostram que esses relacionamentos se desenvolvem de forma complementar e contraditória ao longo do tempo. Infelizmente, os aspectos interessantes dessas questões são em geral abandonados quando se tenta representar teoricamente esses padrões observáveis. Devido a limitações cognitivas, educacionais ou de socialização, certos teóricos tendem a reduzir essas complexidades observadas a modelos causais unidirecionais de um conjunto limitado de fatores, vistos por meio do isolamento de outras variáveis. Tais modelos são estreitos e limitados. Como atestou Weick (1979, p. 52), “quando dois eventos quaisquer são relacionados de forma interdependente, chamar um dos dois de ‘causa’ e o outro de ‘efeito’ é uma designação arbitrária”. A maioria dos teóricos e “gestores enfrentam problemas porque se esquecem de pensar circularmente [...] Os problemas persistem porque os gestores e teóricos continuam acreditando que há coisas como causas unidirecionais, variáveis dependentes e independentes, origens e fins” (Weick, 1979, p. 52). Além disso, diante dos esforços de identificar causas e efeitos, a parte mais interessante das questões anteriores tende a ser ignorada, isto é, investigar o processo como ocorrem as relações circulares. Dizer que A causa B e que B causa A é uma predição, mas também algo intelectualmente estéril até que se possa explicar como se desenvolvem os relacionamentos recíprocos no tempo. São essas relações recíprocas entre formas estruturais e ações pessoais que tornam a tensão e o conflito característicos da vida organizacional. Como mostrou Gomberg (1964), o próprio conceito de organização implica conflito. Este pode ser interpretado em termos da dialética hegeliana, em que as formas estruturais existentes são a tese e as ações pessoais contraditórias são a antítese, conduzindo finalmente a uma síntese: A estrutura de uma organização é identificada com a tese. A hierarquia resultante gera a semente de sua própria oposição, a antítese. A necessidade de reavaliação é gerada no ventre da organização, pelas atividades da velha hierarquia. A necessidade de funções novas e revistas cresce até desafiar a hierarquia existente. Essa antítese, se totalmente desenvolvida, desafia a hierarquia estrutural existente. Desse choque surge ou declina uma nova hierarquia ou um conjunto de relações, que identifica- mos como a nova síntese temporária. Essa síntese surge agora como tese, em um novo ciclo de conflitos, e assim o processo se repete quando os organizadores inovadores ou os gestores empreendedores buscam satisfação a partir da contínua acumulação de tensões, para habilitar libertações subseqüentes. A história da gestão pode ser interpretada como esse tipo de processo dinâmico (GOMBERG, 1964, p. 52-53). As relações entre a parte e o todo Muitos problemas visíveis em algum nível da análise organizacional manifestam-se de forma diferente e contraditória em outros níveis. No nível micro, enfocam-se as características de posições, tarefas e subunidades, bem como as habilidades, orientações, preferências e ações individuais. No nível macro, o enfoque está na configuração e no domínio da estrutura global organizacional, e nos relacionamentos entre os grupos de tomadores de decisões, dentro e fora da organização. Entretanto, o quadro de referência é substancialmente alterado quando o enfoque está nos relacionamentos entre as partes e o todo, ou entre os níveis de análise micro e macro. Por exemplo, contando com o conceito da necessidade de variedade, Weick (1979) argumentou que, com a crescente complexidade, incerteza e variação ambiental, a estrutura organizacional como um todo se torna mais complexa, frouxamente acoplada, descentralizada, particular e anárquica. Sendo assim, as estruturas das partes individuais ou dos grupos da organização se tornarão mais simples, fortemente acopladas, hierárquicas, universais e coesas – todos eles fatores que conduzem à falta de adaptação, à estreiteza e à inflexibilidade. Apesar de Weick não ter tido claramente a intenção de escrever sobre essa conseqüência, ela é o resultado do princípio básico das relações de oposição entre as partes e o todo proposto por Georg Simmel. “Os elementos dos círculos sociais diferenciados são indiferenciados, já aqueles dos indiferenciados são diferenciados” (Blau, 1964, p. 284). O princípio da necessidade de variedade de Conant e Ashby (1970), no nível macro, torna-se uma lei de indispensável simplicidade no nível micro. As noções de Gouldner (1959) a respeito de “interdependência funcional” e de “autonomia funcional” são valiosas por salientar tal ponto. Gouldner mostrou que a preocupação dos teóricos sistêmicos com a interdependência funcional chama a atenção para as restrições impostas pela colaboração conjunta na busca de objetivos sistêmicos. Entretanto, ele argumentou que tal interdependência nunca é uma restrição absoluta, apenas impõe graus diversos de restrição a diferentes pontos do 68 • RAE • VOL. 45 • Nº2 052-073 68 20.04.05, 16:16 W. GRAHAM ASTLEY • ANDREW H. VAN DE VEN sistema. Assim, é tão razoável enfatizar os graus da autonomia funcional quanto os da interdependência funcional. O que aparenta ser uma restrição do ponto de vista do sistema pode parecer liberdade do ponto de vista de suas partes. Blau (1964) posteriormente aperfeiçoou o conceito de Gouldner, notando que a dependência das subunidades em relação às estruturas sociais que as cercam entra em conflito direto com sua autonomia. “O conflito é inevitável porque a coordenação centralizada e a autonomia parcial são igualmente necessárias às coletividades organizadas” (Blau, 1964, p. 303). Os relacionamentos entre grupos e coletividades se manifestam por meio de sua interdependência, na mobilidade dos indivíduos que atuam como representantes de seus próprios grupos e nos seus papéis como membros dos grupos, envolva isso ações para a busca de fins coletivos ou individuais. Já que os indivíduos podem pertencer simultaneamente a muitos grupos, a imagem de Blau das relações entre as partes e o todo não é a de círculos concêntricos com afiliações mutuamente exclusivas em cada nível. Em vez disso, é a de círculos em intersecção, pois as redes sociais que definem a estrutura dos grupos são transpostas e sobrepostas, e as fronteiras entre elas não são precisas nem fixas. “Os grupos se expandem e se contraem com a mobilidade dos membros que estão dentro e fora deles” (Blau, 1964, p. 284). Esse tipo de relação dialética entre as partes e o todo nas organizações não é adequadamente levado em conta por muitas teorias organizacionais. Isso é lamentável, porque é possível mostrar que qualquer teoria macro de ordem e consenso inclui uma teoria micro de conflito e coerção, e vice-versa. Por exemplo, o funcionalismo estrutural das organizações tem sido atacado pelos teóricos radicais (Burrell e Morgan, 1979) e teóricos da ação (Silverman, 1970), em virtude de sua inabilidade para explicar mudanças devido à ênfase dada à ordem, ao consenso e à unidade. Se isso é uma verdade no nível macroorganizacional, no nível micro a mudança é possível somente devido à coerção, à dominação e ao controle das tendências de ruptura. Não fosse assim, não haveria necessidade de regras, doutrinação, socialização ou mecanismos de controle nas organizações: esses são conceitos centrais na visão estruturalista das organizações. Por outro lado, as teorias da mudança radical (Burrell e Morgan, 1979) valorizam extremamente as tendências de conflito, coerção e ruptura nas organizações, sem admitir que elas só podem ocorrer pela ordem, consenso e unidade no nível micro. Assim, podemos ver que, quando Marx colocou a noção de conflito e confronto entre as classes, deixou de dar o merecido reconhecimento às forças de coesão e unidade do seu interior. Como sugeriu Coser (1965), “o conflito fora do grupo” está associado à “coesão dentro do grupo”. Em resumo, estudar adequadamente as organizações em níveis de análise cruzados é entender as reações dialéticas entre as forças dos conflitos, coerções e rupturas no nível organizacional, e as forças de consenso, unidade e integração em outro nível – forças previamente necessárias e recíprocas. CONCLUSÃO Para se ter uma apreciação adequada da teoria organizacional deve-se prestar atenção à natureza antitética básica do campo. Enfocamos duas fontes de antíteses genéricas, manifestas nas dialéticas entre estrutura e ação, e entre as partes e o todo. A ampla existência de tensões geradas por esses modelos opostos de análise explica apenas parcialmente os debates teóricos e as contradições da teoria organizacional. O terceiro princípio da análise dialética de Benson, o princípio da contradição, trata desse ponto. Benson chamou a atenção para as “rupturas, inconsistências e incompatibilidades da construção da vida social” (Benson, 1977b). Porque as contradições estão difundidas nas organizações, as teorias que captam e refletem os discretos segmentos da vida organizacional são também inevitavelmente contraditórias e só podem ser dialeticamente conciliadas. Mas a teoria das organizações não apenas reflete a realidade organizacional, mas também produz essa realidade. Como indicou Albrow (1980), a teoria das organizações compartilha uma relação dialética com a vida organizacional. Como outras ciências sociais, ajuda a estruturar seu próprio objeto de estudo. Ao considerar os fenômenos organizacionais, a teoria ajuda a dar objetividade às práticas a que se refere. Essa reflexividade entre eventos teóricos e práticos é apreendida em um quarto e último princípio da análise dialética, formulada por Benson (1977b): o princípio da práxis, ou a reconstrução criativa dos arranjos sociais com base em análises racionalmente desenvolvidas. Esse entendimento dá significância à análise deste artigo. Sugere que a interação das teorias organizacionais é, na realidade, uma disputa quanto à futura configuração do mundo organizacional. Conseqüentemente, é essencial uma consciência dos valores e tendências sobre os quais se constrói a teoria. Esses valores e tendências atuam como premissas dadas como certas nas visões de ABR./JUN. 2005 • RAE • 69 052-073 69 20.04.05, 16:16 RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES mundo que guiam a teoria, e constituem paradigmas que canalizam a atenção em direções específicas, obstruindo as investigações nas esferas alternativa, teórica, ideológica e prática. Mesmo quando os teóricos organizacionais alegam isenção de valores, invariavelmente implicam e comprometem valores por meio da construção de visões parciais da realidade. Por isso Ritzer (1980, p. 12) afirmou que as “ciências multiparadigmáticas”, como a teoria das organizações, desempenham funções políticas essenciais. Os proponentes de cada paradigma se engajam em esforços políticos para dominar a disciplina, como um meio de impor suas próprias concepções da realidade aos eventos práticos da vida social. de rotular autores como “deterministas” ou “reducionistas” devido à perspectiva analítica particular que adotam em uma determinada ocasião. Como bem sabemos, a maioria dos autores adota perspectivas únicas em circunstâncias e para propósitos específicos e limitados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACKOFF, R. Redesigning the Future. New York: Wiley, 1979. ALBROW, M. The dialectic of science and values in the study of organizations. In: SALAMAN, G.; THOMPSON, K. (Eds.). Control and Ideology in Organizations. Cambridge, MA: MIT Press, 1980. p. 278-296. ALDRICH, H. Organizations and Environments. Englewood Ciiffs, NJ: Prentice-Hall, 1979. NOTAS Agradecemos, pelas úteis sugestões feitas aos rascunhos anteriores deste artigo, a Charles Fombrun, John Bryson, William Gomberg, e aos anônimos revisores da ASQ. Também agradecemos, por seu apoio, ao Center for the Study of Organizational Innovation, da Universidade da Pensilvânia, e à Charles F. Kettering Fundation. 1 As abreviações Q1, Q2, Q3 e Q4 são utilizadas ao longo do artigo para denotar os quadrantes numerados na Figura 1. 2 Na realidade, a rotatividade declinou notadamente ao longo do século XX nas grandes corporações (Scherer, 1980, p. 54-56) provavelmente por estarem elas em melhor posição para tirar vantagem de adaptações institucionais (Meyer e Rowan, 1977; J. Meyer, 1978). ALDRICH, H.; PFEFFER, J. Environments of organizations. In: INKELES, A. (Ed.). Annual Review of Sociology, v. 11, p. 79-105. Palo Alto, CA: Annual Reviews, Inc, 1976. BENSON, J. K. The interorganizational network as a political economy. Administrative Science Quarterly, v. 20, n. 2, p. 229-249, 1975. BENSON, J. K. Innovation and crisis in organizational analysis. Sociological Quarterly, v. 18, n. 1, p. 3-16, 1977a. BENSON, J. K. 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Não representa, por exemplo, uma tentativa de aumentar a dominação organizacional sobre o mercado; este seria certamente o tipo de explicação que o voluntarismo da escolha estratégica ofereceria em relação ao mesmo fenômeno. 4 Apesar do fato de a segunda metade do livro de Aldrich (1979) se apoiar em exemplos que apontam para aspectos sociais e políticos “não naturais” do ambiente, esses exemplos não são gerados nem refletem declarações como as aqui citadas como centrais em seu modelo formal de seleção natural. 5 Deve-se reconhecer, entretanto, que classificar os trabalhos de vários autores em uma visão em vez de outra não implica nenhuma inflexibilidade de abordagem por parte deles. Muitos dos autores referidos têm escrito de modo muito mais amplo, e adotado uma orientação mais equilibrada do que talvez indique a discussão. Assim, não gostaríamos, por exemplo, BITTNER, E. The concept of organization. Social Research, v. 32, n. 3, p. 239-255, 1965. BLAU, P. M. 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E-mail: [email protected] Endereço: Carlson School of Management – University of Minnesota, 321, 19th Avenue South, Minneapolis – Minnesota – USA, 55455. ABR./JUN. 2005 • RAE • 73 052-073 73 20.04.05, 16:16