A ORIGEM DOS CONTINENTES E DOS OCEANOS Historiografia e
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A ORIGEM DOS CONTINENTES E DOS OCEANOS Historiografia e
NEWTON MONTEIRO DE CAMPOS JÚNIOR A ORIGEM DOS CONTINENTES E DOS OCEANOS Historiografia e Crítica São Paulo 2013 NEWTON MONTEIRO DE CAMPOS JÚNIOR A ORIGEM DOS CONTINENTES E DOS OCEANOS Historiografia e Crítica Trabalho de Graduação Individual apresentado ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Bacharel em Geografia, sob orientação do Professor Doutor Ricardo Augusto Felício. São Paulo 2013 2 NEWTON MONTEIRO DE CAMPOS JÚNIOR A ORIGEM DOS CONTINENTES E DOS OCEANOS Historiografia e Crítica Trabalho de Graduação Individual apresentado ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, aprovado pela Banca Examinadora constituída pelos seguintes membros: ___________________________________ Prof. Dr. Ricardo Augusto Felício. Depto. Geografia – FFLHC - USP Orientador ___________________________________ Prof. Dr. Jurandyr Luciano Sanches Ross. Depto. Geografia – FFLHC - USP ___________________________________ Geógrafo André Henrique Bezerra dos Santos. Professor - IFSP São Paulo, em 16 de abril de 2013 3 Em honra a meus netos. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a minha mãe, Dagmar Pinheiro de Campos, por minha formação. Agradeço a meus filhos Newton Monteiro de Campos Neto, Pedro Renato Rodrigues Campos, Cláudia Ângela Beatriz Nogueira Monteiro de Campos, Carlos Ryve Siqueira Campos, Alex Bruno Siqueira Monteiro de Campos e Núbia Jéssica Beatriz Siqueira Monteiro de Campos, pelos incentivos e pela compreensão para com minhas eventuais ausências familiares. Agradeço a meu sócio e parceiro Marco Antônio de Souza, pelo apoio e pela cobertura a minhas eventuais ausências laborais. Agradeço a minha esposa Janaina Siqueira de Campos, pela paciência para com minha biblioteca e pela manutenção da alegria em meu coração. Agradeço a meus colegas, pelas lições de cada dia. Agradeço a meus professores, pelas lições de cada aula. 5 Quanto ao mecanismo da deriva continental, o meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener (1880-1930) se mostrou duvidoso: “Ainda não apareceu um Newton da teoria da deriva... É provável que o problema das forças em jogo ainda demore bastante tempo...” WEGENER, 1924, apud HALLAM, 1976, p.38. (grifo meu). 6 SUMÁRIO 8 2.6 – Tempo geológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 2.7 – Sete continentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 Abstract . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.8 – Planetas e satélites Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.9 – Montanhas e geleiras . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Nomenclatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.10 – Cordilheiras e batólitos Justificativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.11 – Sismologia entre camadas Metodologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.12 – Oceanos e atmosferas . . . . . . . . . . . . . . . . 82 23 2.13 – Geocronologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 - Método da Pesquisa Bibliográfica . . . . . . . 25 2.14 – Paleomagnetismo remanente . . . . . . . 88 1. Historiografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.15 – Paleontologia entre extinções 1.1 – Mundo antigo 28 2.16 – O limite Permo-Triássico . . . . . . . . . . . 94 32 2.17 – Carbono e isótopos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 1.3 – As grandes navegações . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.18 – Nichos determinados . . . . . . . . . . . . . . . 100 39 2.19 – Till e loess . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 1.5 – Do século XIX, há 10 gerações . . . . . . 42 2.20 – Convecção sem convicção . . . . . . . . 104 1.6 – Wegener e a 1ª Guerra . . . . . . . . . . . . . . . . 46 2.21 – Pontos quentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 1.7 – Jeffreys e a 2ª Guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3. Teses Alternativas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110 1.8 – Pós-guerras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 4. Um modelo entre outros . . . . . . . . . . . . . . 114 1.9 – Tectônica hegemônica . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.1 – Aproximações sucessivas . . . . . . . . . . . 114 2. Derivações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.2 – Proterozóico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 2.1 – Terremotos tectônicos .. . . . . . . . . . . . . . . 59 4.3 – Paleozóico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 2.2 – Petróleo entre sais 4.4 – Mesozóico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Lista de Ilustrações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. - Método da História Oral .................. .......................... 1.2 – Luzes no Oriente ...................... 1.4 – O avanço das ciências ............... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 2.3 – Tensão superficial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 2.4 – Placas e mapas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 4.5 – Cenozóico 65 Conclusão 2.5 – Elipses, espirais, vórtices . . . . . . . . . . . . . 68 .................... 73 . . . . . . . . . . . . .. 77 . . . . . . . . . . 80 . . . . . . 89 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .122 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 Referências e bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . 126 Devo dizer, correndo o risco de parecer ridículo, que verdadeiro revolucionário é movido por sentimento de amor. Ernesto Rafael Guevara de la Serna, el Che (1928-1967). 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Tabela 1 - Composição química aproximada da crosta, de acordo com o % em peso. Pág. 15. Tabela 2 - Componentes majoritários da atmosfera. Pág. 17. Tabela 3 - Procedência do cloro estratosférico. Pág. 18. Tabela 4 - Forma em que encontra o carbono na Terra. Pág. 19. Gráfico 1 - Representação de uma suposta divisão equidistante dos métodos da crença. Pág. 24. Gráfico 2 - Representação de nossa suposta divisão dos métodos da crença. Pág. 24. Ilustração 1.1 - Sistema de numeração na Suméria – na mão esquerda, para cada dedo, uma dúzia. Na direita, uma unidade para cada falange indicada pelo polegar. Pág. 29. Ilustração 1.2 - Réplica em escala do relógio de Kaifeng. Pág. 33. Ilustração 1.3.a - Petróglifo em Campo Lameiro, Galícia, Espanha. Pág. 35. Ilustração 1.3.b – Sistema geocêntrico do mundo segundo Pitágoras e Ptolomeu. Pág. 36. Ilustração 1.3.c – O Atlântico Sul, no mapa de Piri Reis, de 1513. Pág. 38. Ilustração 1.5.a – O Limite de Roche. Pág. 44. Ilustração 1.6.a – Rebote elástico. Pág. 47. Ilustração 1.6.b – Os rastros das calotas glaciais permocarboníferas nos continentes atuais. A cruz assinala o local do Polo Sul mais favorável aos indícios; a linha mais grossa é equador correspondente. Pág. 48. Ilustração 1.7.a - Reconstrução de Gondwanalandia por Du Toit, 1937. Pág. 51. Ilustração 1.8.a – Cúpula biosférica na exposição de Montreal em 2001. Pág. 52. Ilustração 1.8.b - Harry Hess comandando o USS Cape Johnson. Pág. 54. Ilustração 1.9 - Figura de acordo com Bullard, 1965, isóbata 500 pés. Pág. 57. Ilustração 2.3 – Comparativo entre o geóide e o elipsóide de revolução. Pág. 63. Ilustração 2.4.a - Mapa que mostra as ditas placas tectônicas e sua direção de empuxo. Pág. 65. Ilustração 2.4.b – Mapa ilustrativo dos Andes e das Antilhas. Pág. 67. Ilustração 2.5.a - Vredefort Dome, na África do Sul, foto. Pág. 68. Ilustração 2.5.b - Vredefort Dome, na África do Sul, mapa. Pág. 68. Ilustração 2.5.c - Abóboda e amplas dobras anticlinais de gneisses no Estado de Maryland, EUA. Segundo H. Cloos. Pág. 69. Ilustração 2.5.d - Esquemático da abóbada complexa migmatítica na Groenlândia, segundo John Haller. Pág. 70. Ilustração 2.7.a – Ilhas Seychelles, crosta continental. Pág. 72. Ilustração 2.9 – Mapa físico do continente americano. Pág. 76. 8 Ilustração 2.10.a – Tien ou Tian Shan, as mais elevadas depois dos Himalayas. Pág. 79. Ilustração 2.11.a – Ondas sísmicas da estrutura interna do planeta. Pág. 80. Ilustração 2.12.a - A variação isotópica do estrôncio. Pág. 83. Ilustração 2.13.a – Kimberlito – depósitos explosivos. Pág. 85. Ilustração 2.15.a – Visita aos trilobitas do Geoparque de Arouca, em Aveiro, Portugal, em outubro de 2011. Pág. 89. Ilustração 2.15.b – O número de gêneros e extinções desde o Cambriano. Pág. 90. Ilustração 2.15.c – Padrão de distribuição de fósseis nos vários continentes. Pág. 91. Ilustração 2.20.a – As células de convecção significativamente fora de escala. Pág. 105. Ilustração 2.21.a – As ilhas da cadeia de Samoa. Pág. 108. Ilustração 4.2.a - Toda a água da Terra pode ser representada numa esfera com entre 380 e 670 km de raio, dependendo da estimativa. Pág. 116. Ilustração 4.3.a - A estrutura da plataforma continental. Pág. 118. Ilustração 4.4.a - As montanhas da Ásia Central. Pág. 120. Ilustração 4.4.b - Padrão zebrado no resfriamento de assoalho oceânico. Pág. 120. Ilustração 4.4.c – Superfície lunar. Pág. 121. Ilustração 4.5.a - Mapa histórico de Maton Pecsi (1991) mostrando a ocorrência de depósitos de loess e sedimento similar. Pág. 122. Ilustração 4.5.b – Estrutura interna da valva direita de um ostracode marinho do Cretáceo Superior da bacia do Ceará. Pág. 122. 9 CAMPOS Jr., Newton Monteiro de. A origem dos continentes e dos oceanos – Historiografia e crítica. São Paulo, 2013, 150 f. Dissertação (Bacharelado em Geografia). – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. RESUMO O objetivo deste trabalho de graduação é o de entender a evolução dos fundamentos e métodos do conhecimento científico sobre a origem dos continentes e da própria crosta de nosso planeta, a partir de estudos históricos, principalmente do século XX, quando se desenvolve e se complementa a teoria mais difundida e aceita atualmente: a da Tectônica de Placas. Pesquisas bibliográficas e entrevistas com professores e pesquisadores procuraram buscar relatos de realidades e experiências externas, de modo que este trabalho também possa servir de base para novas visões – em paralaxe – da teoria vigente. Uma destas possíveis visões, minha visão particular resultante destes estudos, é apresentada ao final. Palavras-chave: História da Terra; Crosta terrestre; Origem os continentes. 10 CAMPOS Jr., Newton Monteiro de. A origem dos continentes e dos oceanos – Historiografia e crítica. São Paulo, 2013, 150 f. Dissertação (Bacharelado em Geografia). – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. ABSTRACT The objective of this graduation report is to understand the evolution of the fundamentals and methods of the cientific knowledge about the origin of the continents and the crust of our planet, from historical studies, especially of the 20th century, when it develops and complements the most widespread and accepted theory today: that of the Plate Tectonics. Literature searches and interviews with teachers and researchers was used to seek for reality reports and externals experiences, so that this work can also serve as a basis for new insights - in parallax – of the prevailing theory. One of these possible visions, my particular vision resulting from these studies is presented at the end. Key-words: Earth history; Earth crust; Origin of the continents. 11 INTRODUÇÃO “O historiador ‘escreve’ a História, mas também deve ‘teorizar’ sobre ela, quer dizer, refletir e descobrir fundamentos gerais a respeito da natureza do histórico e, além disso, sobre o alcance explicativo de seu próprio conhecimento.” (ARÓSTEGUI, 2006, p.24) Nos últimos séculos vem ocorrendo um progressivo agigantamento da socialização e do mercado de massas. Mas o final do século XX vem sendo marcado por um estilhaçamento deste mercado, caracterizado por fatores individualistas. Um coletivo suportado por uma unidade de tendências numa diversidade de identidades e de motivações. Uma homogeneização que vai começando nos jovens e que contamina as demais gerações. O protagonismo juvenil se estende até nossos dias: suas tendências estéticas, seus hábitos e preferências, se propagam por toda a sociedade gerando efeito de cópia entre os adultos. Os jovens conectam naturalmente com os signos tecnológicos identificadores das mudanças – informática, telecomunicações, internet, redes sociais – e são, de alguma maneira, os símbolos da nova modernidade. “Se estabelece assim uma espécie de ditadura paidocrática da imagem e das atitudes, de amplas repercussões em todos os âmbitos, inclusive laborais e políticos, e que condiciona a atividade de muitos setores econômicos produtores de bens e serviços de grande consumo.” (FABREGA, 2004, p.35). Não nos é suficiente sermos modernos, também queremos ser inteligentes. Assim é que a “ditadura paidocrática” (juvenil) se estabelece também nas ciências. Técnicas inovadoras se constituem, e por vezes são aceitas como sendo verdades científicas. Os objetivos constituem uma construção do investigador para abordar um tema ou problema da realidade: devem representar perguntas relevantes para compreender o mundo real; devem implicar numa contribuição ao conhecimento acumulado, a partir das inferências descritivas de novos conceitos, da postulação de novas explicações causais, da redefinição de processos etc. Os objetivos constituem o pilar de uma investigação e servem de nexo entre a teoria e a metodologia. (SAUTU et alii, 2005, p.29-82). A introdução de um enfoque histórico e epistemológico nos leva ao questionamento da visão que trazemos a respeito do processo de aquisição do conhecimento científico. O conhecimento científico é erroneamente visto por muitos como algo pronto e inquestionável, resultante da inspiração e genialidade de um cientista iluminado. Esta visão “mítica” vai sendo substituída por uma conscientização de que o conhecimento científico resulta de um trabalho conjunto e que as teorias vigentes vão sendo modificadas ou substituídas, à medida que novos 12 equipamentos, técnicas e metodologias são desenvolvidos ou novos dados são incorporados. (CELINO & LEITE, 2001) Mas, afinal, quais são nossos objetivos? A educação mundial, genericamente, difunde a atual Teoria das Placas Tectônicas. Muitos são os que acreditam nesta teoria como se esta fosse uma lei da natureza. Muitas inovações técnicas confirmam partes dela. Também sempre se pode torturar os números, através da estatística, de modo que estes nos respondam o que queremos. O objetivo deste trabalho em particular é o de entender e relatar como se formou o pensamento científico que resultou nesta Tectônica de Placas. Para tanto, nos embrenhamos nas razões dessa crença, e tivemos que passar pelas razões das crenças em geral. Entretanto, entendemos que esse trabalho é somente mais um passo na direção de uma nova teoria para explicar como os continentes e oceanos viessem a estar tal como estão, onde estão. Alfred Wegener (1880-1930), em seus estudos sobre a Deriva Continental, bem observa que a ciência é um processo social. Ela decorre numa escala temporal mais longa do que a vida humana. “Caso eu morra, alguém ocupará o meu lugar. Se tu morreres, alguém ocupará o teu. O que realmente é importante é que alguém faça o trabalho”. (WEGENER, 1924, apud HALLAM, 1976). 13 NOMENCLATURA Toda história começa com uma história. Minhas dúvidas quanto à Tectônica de Placas surgiram numa aula da Professora Márcia Ernesto (IAG-USP), em março de 2005, quando eu cursava Geofísica. Falando da história da crosta terrestre, ela mencionou a hipótese da deriva continental, apresentada pelo meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener (1880-1930), nos primórdios do século XX. Também mencionou as comprovações da impossibilidade da deriva, matemática e fisicamente, feitas pelo sismólogo e astrônomo inglês Harold Jeffreys (1891-1989), em 1924. Mais além, a professora também mencionou que, por volta de 1960, o comandante Harry Hammond Hess (1906-1969), ajustou e sistematizou a deriva continental, agora sob o título de tectônica de placas. Como pode? Como pode alguma coisa que foi sismológica, matemática e fisicamente comprovada como falsa, voltar a ser verdadeira meio século depois? O que mudou na física e na matemática? “Em ciência, nenhuma pergunta é a última e nenhuma contestação é definitiva”, ressaltou o professor Antonio Presedo Garazo, num curso de Metodoloxía da Historia, realizado na galega Universidade de Vigo, no primeiro semestre de 2012. Em 1961, então no 3º ano do curso primário, na Escola Municipal Dr. Cocio Barcellos (RJ), minha professora (Letícia ou Míriam) colocou um globo terrestre por sobre a mesa dela. Eu me sentava numa fila intermediária, junto ao corredor central da sala. Eu fiquei hipnotizado, olhando o Oceâno Atlântico (o oceâno de então levava acento) e observando que o Brasil se encaixava na África. E me perguntei: – Como será que se separaram? Levantei-me – mesmo sem pedir permissão –, fui até a mesa dela e girei o globo. – Ah! – entendi –, fizeram um buraco do outro lado (o Pacífico); daí o lado de cá se separou. É lógico! Minhas andanças pela vida começaram pela Geografia de Dona Benta e pelo Poço do Visconde – de José Bento Monteiro Lobato (1882-1948). Passaram por diversos livros juvenis, de geologia, vulcanismo, paleontologia. Passaram pela história do Baluchiterium no deserto de Gobi e pela do Mastodonte terrificus nos lagos de breu de La Brea. Levaram-me ao cursinho prévestibular de Geologia. Um amigo1 me tirou dali e me levou ao cursinho da Engenharia, sob a argumentação de que, na Geologia, eu morreria de fome. Dali, da engenharia na PUC-RJ, ao RioDatacentro, e à profissionalização na informática – nos primórdios desta no Brasil –, foi apenas um pulinho. Três décadas depois, quando resolvi preparar-me para a aposentadoria, um outro 1 Alexandre Goretkin Neto. 14 amigo2 sugeriu: “– Vá ser professor!” Foi minha vez de exclamar: “– Para morrer de fome? – Não, argumentou ele, para rejuvenescer: manter-se atualizado, manter a cabeça funcionando e conviver com jovens.” E assim vem sendo. Mas, afinal, estamos falando de história ou de historiografia? Optamos pelo vocábulo ‘historiografia’ após a leitura de ARÓSTEGUI (2006, p.23-53). A questão do nome é apenas um dos problemas terminológicos no estudo da história. Existem termos construídos historiograficamente para designar fenomenos específicos. A palavra história passou a ter um significado mais amplo e a identificar-se com o transcurso temporal das coisas; o vocábulo história faz mais uso de termos metafóricos, literários até. O vocábulo historiografia se mostra mais adequado e distintivo para a pesquisa da história e para o discurso histórico normatizado que a história produz. Nossa preferência foi, então, pelo uso da palavra historiografia, conceituada como pesquisa e escrita da história. Em nossos estudos e vivências observamos a importância do nome – enquanto símbolo – na construção das crenças, científicas ou não, assim como nesta citação: “Então Javé Deus formou do solo todas as feras e todas as aves do céu. E as apresentou ao homem para ver com que nome ele as chamaria: cada ser vivo levaria o nome que o homem lhe desse.” (Bíblia, livro do Gênesis, 2-19). A escritora Helen Adams Keller (1880-1968), nascida cega, surda e muda, nos relata: “Ela pegou meu chapéu e eu percebi que iria me expor ao sol quente. Esse pensamento, se é que uma sensação não-verbalizável pode ser chamada de um pensamento, me fez pular e saltar de alegria. Percorremos o caminho até o poço, atraídas pela fragrância da madressilva que o cobria. Alguém estava puxando água e minha professora colocou minha mão sob o jorro. À medida que o fluxo gelado escorria em minha mão, ela soletrou na outra a palavra água, primeiro devagarzinho, depois mais depressa. Fiquei quieta; toda minha atenção concentrava-se no movimento de seus dedos. De repente senti uma nebulosa consciência de algo como que esquecido - uma impressão de retorno do pensamento; e de alguma forma o mistério da linguagem me foi revelado. Soube então que Á-G-U-A significava a maravilhosa coisa fria que deslizava sobre minha mão. Aquele mundo vivo despertou minha alma, lhe deu luz, esperança, alegria, libertou-a! Ainda existiam barreiras, é verdade, mas eram barreiras que com o tempo poderiam ser dissipadas. Saí do poço ansiosa por aprender. Tudo tinha um nome, e cada nome dava origem a um novo pensamento. Ao voltarmos para casa, todo objeto que tocávamos parecia vibrar, cheio de vida. Isso se dava porque 2 Aldo Andreeta Jr. 15 eu via tudo com a nova e estranha visão que se me apresentara.” (KELLER, apud GOZZO, 2001, p.19). A didática designer Robin Patricia Williams (1953-) relata: “Há muitos anos recebi um livro de identificação de árvores como presente de Natal. Li a parte inicial do livro e decidi sair e identificar as árvores da vizinhança. A primeira árvore do livro era a Iúca, uma árvore realmente estranha, e para identificá-la só eram necessárias duas pistas. Olhei para a foto e pensei: ‘Este tipo de árvore não existe no norte da Califórnia. Eu saberia se já tivesse visto uma assim, e nunca vi uma antes.’ Peguei meu livro e saí. Meus pais viviam em um condomínio fechado de seis casas. Dessas seis, quatro tinham iúcas em seus jardins. Vivi naquela casa por 13 anos e nunca tinha visto aquelas árvores. Caminhei pelo quarteirão... e descobri que pelo menos 80% das casas do bairro tinham iúcas. E eu nunca havia visto uma antes! Quando me conscientizei da existência da árvore, quando pude classificá-la, passei a vê-la em todos os lugares. O fato de podermos dar nome a algo significa que estamos conscientes deste algo... temos poder sobre ele... nós o possuímos e estamos no comando. Quando se pode dar nome a um problema, é possível encontrar a solução.” (WILLIAMS, 1995, p.13). De meio aos discursos de Paul Vidal De La Blache (1845-1918), vem: “O nome de Geografia Humana será preferido ao de Antropogeografia, lançado por Frédéric Ratzel; exprime as relações recíprocas entre o homem e a terra. [...] Um novo nome convém a um novo fato - o conhecimento mais profundo e mais comparativo dos diferentes meios onde cresceram as sociedades humanas, os progressos gerais da geografia científica e as nova luzes que se espalharam sobre o mundo vivente que nos envolve e penetra.” (LA BLACHE apud BRUNHES, 1962, p.21). Um novo nome convém a um novo fato! Sim, assim se constituem as ciências: novos nomes para novos fatos. Cada animal – e cada teoria – levaria o nome que o homem lhe desse. A opção por “A Origem dos Continentes e Oceanos – Historiografia e Crítica” demandou cuidado, amadurecimento e escolha. 16 JUSTIFICATIVAS “Apesar da crosta representar apenas 0,1% da Terra, é essa a camada que mais se relaciona com o vida. Os diversos tipos de análises chegam aos mesmos resultados consistentes, como apresentado na Tabela 1, que estimam que a composição da crosta é semelhante à uma mistura de basalto e granito, numa proporção 3:1.” (OZIMA, 1991, p.69). Ver Tabela 1. Tabela 1 - Composição química aproximada da crosta, de acordo com o porcentual em peso. (TAYLOR, 1977, apud OZIMA, 1991, p.69) O problema a ser abordado – a origem dos continentes e oceanos – é sobremaneira um problema climatológico, biogeográfico, geomorfológico – geográfico, portanto –, por tratar da origem da superfície do planeta, por tratar da origem e do desenvolvimento do lugar onde vive e pensa o Homo sapiens sapiens. Esta superfície crustal, integrante da biosfera, possui íntimo relacionamento com a circulação atmosférica. O posicionamento dos continentes é determinador da fisiografia dos oceanos e das correntes marítimas. As ligações entre os continentes condicionam a evolução da vida no planeta. A geografia do sudeste da África foi favorável ao desenvolvimento do Homo sapiens. Florestas alagadas protegeram aqueles primatas dos felinos predadores. Dentro d’água, para correr apenas dos répteis, eles perderam grande parte dos pelos, adquiriram gordura subcutânea, aprenderam a prender a respiração – essencial para o controle da emissão de sons e o desenvolvimento da fala – e aprenderam a se equilibrar em duas patas (dentro d’água era mais fácil equilibrar-se), liberando as patas dianteiras para gesticular e desenvolver tarefas distintas – que os levaram a pensar, a fazer armas. “Temos a laringe descaída e conseguimos alterar nosso ritmo respiratório; nossas narinas apontam para baixo, ao contrário dos outros primatas; copulamos ventre a ventre; possuímos um excesso de glândulas sebáceas; temos menos glóbulos 17 vermelhos e mais hemoglobinas que os primatas.” (MORGAN, 2004). A controversa hipótese de um biólogo marinho inglês, Sir Alister Clavering Hardy (1896-1985), foi defendida pela incansável jornalista Elaine Morgan (1920-) e teve dois grandes problemas: ser defendida por uma jornalista mulher numa academia científica e machista; possuir um nome que não se mostrou simpático ao público – a hipótese do símio aquático. Hoje já se sabe, pela palinologia, que o homem não se desenvolveu nas savanas – elas não existiam, então. Mas ainda não se aceita rever a posição acadêmica de que o homem se tornou bípede para olhar por sobre a vegetação das savanas. Foi esse desenvolvimento dentro de áreas alagadas que apagou nossos rastros, vestígios e fósseis. Creio que os da espécie Homo que seguiram direto para o norte devem ter formado o contingente de Homo neanderthalenses. Os que seguiram para a costa sudoeste africana, seguiram com uma dieta de peixes e mariscos, ainda mais rica em ômega 3, e ampliaram a capacidade de raciocínio, apesar de uma menor caixa cerebral. Tornaram-se Homo sapiens, e se impuseram sobre os demais da espécie Homo. Mas por qual razão, no estudo da crosta, devo ater-me a esta controvérsia? É que ela exemplifica os cuidados a serem tomados com “detalhes”, como o nome da teoria e sua apresentação. Ela nos mostra os percalços que poderemos encontrar nas academias. Não basta ser a mulher do rei. É preciso parecer a mulher do rei. Não é a teoria mais verdadeira que se impõe, mas a mais esteticamente apresentável. Por isso, por exemplo, os muitos mitos e religiões encontram seus nichos nas sociedades. São crenças e mitos agradáveis, que aliviam o desconforto mental do não saber. É mentalmente mais confortável dizer: Eu sei! Foi Deus! Outra questão controversa – a depleção da camada de ozônio – parece que saiu de moda desde que se conseguiu a criminalização do uso dos CFC (um composto cujo royalty estava prestes a cair em domínio público), e obrigar que o mundo passasse a usar o HCFC (um composto menos eficiente, pelo simples acréscimo de hidrogênio, mas com um preço muito mais elevado). Vejamos, na Tabela 2, os principais componentes da atmosfera. 18 Tabela 2 - Componentes majoritários da atmosfera (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. II.2). “Dado que a força gravitacional é proporcional à massa da partícula, quanto maior for a massa (peso atômico ou molecular), mais fortemente será retida e mais dificuldades terá em sua ascensão: (1) átomos muito ligeiros como o H ou He, de pesos atômicos 1 e 4, ascendem e inclusive se perdem em direção ao espaço; (2) componentes muito pesados, tais como as partículas sólidas da fumaça, o pó vulcânico, os hidrocarbonetos, o chumbo etc., tendem a cair por seu próprio peso; (3) os compostos de peso médio tendem a distribuir-se mantendo a tendência de quanto maior peso, menor altura. Assim, moléculas como O e N, cujos pesos moleculares são 32 e 28, mantem suas proporções desde a superficie até 100 km de altura, enquanto uma molécula mais pesada como o CO2, cujo peso é 44, fica retida nos primeiros kilômetros próximos ao solo.” (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. II.2). A água H2O, de peso molecular 18, não costuma passar dos 10 km de altitude – nos trópicos. Os freons 11 e 12 (Cl3FC e Cl2F2C) possuem pesos de 137,35 e 120,9, quer dizer, são umas três vezes mais pesados que o CO2, pelo qual a tendência de ascensão é muito reduzida. “Os buracos antárticos de primavera na camada de ozônio possuem um comportamento estranho – só podem ser coerentes com um processo dinâmico. Não é razoável que um contaminante químico possa produzir este efeito. Existem nas latitudes médias-altas do hemisfério norte, durante o outono, algumas variações bruscas de até 30% de um dia a outro, por poucos dias. Provavelmente possuem origem dinâmica, mas em outros casos os dados parecem confirmar que existe uma relação entre as tempestades solares e as bruscas quedas de ozônio.” (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. IX.3 e 4) Ainda quanto à procedência do cloro estratosférico, que agrediria a camada de ozônio, observemos a Tabela 3. A erupção do vulcão Pinatubo, em 1992, injetou na estratosfera umas 4,5 milhões de toneladas do aerosol ácido clorídrico (HCl). Nos meses posteriores à erupção, produziu-se uma forte queda no ozônio, entre 9 e 15%. Ver Tabela 3. 19 Tabela 3 - Procedência do cloro estratosférico (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. IX.3) Procedencia del cloro estratosférico Producción (millones Ton) Compuesto Industriales (antrópico, 1991) Océanos (atividade biológica) Continentes (volcanoes, incendios) 1,1 600 36 + 4 CFCs Cl (aerosol) HCl, CFCs “O cloro Cl2 é um gás agressivo e está presente em todos os vulcões conhecidos” (MOHRIAK, 2009, p.19). “A Antártida possui vários vulcões ativos; entre eles o Monte Erebus, com 4.000 metros de altura e que entrou em erupção em 1970; a caldeira da Ilha Decepção em erupção entre 1967 e 1970; ou o vulcão Escócia que, ao que parece, está em grande atividade.” (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. X.3-4) Outra controvérsia em moda tem sido a de geração antrópica dos gases do efeito estufa. Inicialmente deveríamos agradecer ao efeito estufa, por manter agradável a temperatura na biosfera. Depois deveríamos agradecer à água que, em forma de nuvens, mantém o efeito estufa na Terra. “Sem o efeito estufa, a temperatura média da superfície terrestre seria de -18º C, com estufa é de 15º C.” (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.86). Nossos motores produzem quantidades significativas de monóxido de carbono (CO) durante a combustão de combustíveis fósseis (uns 500 a 1.000 milhões de toneladas ao ano), entretanto, isto somente representa 20% das emissões à atmosfera. A maior parte do gás provem de fontes naturais, principalmente da oxidação do metano, da atividade biológica, o oceano, incêndios, vulcões. “O vulcão adormecido Teide3, por exemplo, emite umas 10 toneladas anuais de CO; enquanto que o vulcão mais ativo do continente europeu, o Etna, emite umas 25 milhões de toneladas anuais. Evidentemente na Terra há muitos vulcões, e a quantidade de CO que arrojam de forma conjunta é da mesma ordem de magnitude, inclusive chegando a superar, aquela gerada pela combustão do carvão e petróleo.” (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. III.3) “A maior eliminação de CO2 atmosférico ocorre por precipitação de carbonatos. A maior parte dos carbonatos naturais são CaCO3. Na atualidade a maior deposição de carbonatos se realiza nos mares cálidos e pouco profundos, já que o carbonato caído em zonas frias e profundas tende a solubilizar-se.” (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. I.6). “O CO2 é duas vezes mais solúvel a 0ºC do que a 20ºC, pelo que a maior dissolução do gás se leva a cabo nos oceanos polares.” (ibidem, cap. II.6-3). Ver Tabela 4. 3 Tenerife, Ilhas Canárias, pertencentes à Espanha. Mediavilla Pérez é professora de química em Tenerife. 20 Tabela 4 – Forma em que encontra o carbono na Terra (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. II.6-3) Na atualidade as rochas calcárias representam 4% em peso da crosa terrestre, recobrem 40% da superficie e contem cerca de 80% de todo o carbono do planeta. “Em condições naturais os carbonatos só podem gerar dióxido de carbono quando são comprimidos ou aquecidos no interior da Terra, durante o metamorfismo das rochas (CaCO3 + SiO2 D CaSiO3 + CO2) ou o vulcanismo (CaCO3 + calor D CO2 + CaO).” (MEDIAVILLA PÉREZ, 2004, cap. I.6) A questão do aquecimento global nos mostra outra teoria que parece multi manipulada. A maior ilha do Ártico recebeu o nome de Greenland há 1000 anos. Se os nórdicos tivessem chegado ali hoje, esta receberia o nome de Whiteland. Esquentou ou esfriou? Ainda no Ártico, o grande urso branco recebeu dos cientistas, há alguns séculos, o nome de Ursus maritimus – uma vez que reconheceram a capacidade daquele mamífero de comer ou evacuar dentro d’água, de nadar mais de 100 km em mar aberto, de prender a respiração ao mergulhar, de manter-se por dias e dias dentro d’água. Mas a imagem do urso polar nos é apresentada pela mídia como sendo um animal que só vive no gelo, e que o degelo sazonal no Ártico lhe é hostil. Aquecimento global e buraco na camada de ozônio são “problemas tratados de modo sensacionalista e sem o necessário embasamento científico. Em algumas regiões realmente ocorreu aquecimento, entretanto registros de temperatura atmosférica informam que pode até estar ocorrendo resfriamento. [...] Não se tem idéia da participação humana na questão do ozônio.” (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.107) Como nos observa MEDIAVILLA PÉREZ (2004, cap. XIII.1), “os câmbios climáticos de grande envergadura estão condicionados fundamentalmente pela atividade solar, a atividade geológica e as mudanças em nossos parâmetros orbitais.” A natureza se mostra em escala, em proporção. Os mitos – as imagens –, inclusive aqueles com a chancela de “científicos”, podem ser usados como motivos; objetivos para conglomerar grupos sociais, e manipulá-los. 21 O conhecimento é um bem social, libertador. Este trabalho se propõe a contribuir para o crescimento da sociedade, através da busca científica pela historiografia da origem dos oceanos e dos continentes. Renée Descartes (1596-1640), inicia seu famoso Discurso do Método de Bem Conduzir a Razão, falando sobre o bom senso. A diversidade de nossas opiniões não provém do fato de uns serem mais racionais do que os outros, mas tão-somente em razão de conduzirmos o nosso pensamento por diferentes caminhos e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não basta ter o espírito bom: o essencial é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto como das maiores virtudes, e os que marcham muito devagar podem avançar muito mais seguindo sempre o caminho reto, do que os que correm e dele se distanciam. O bom senso é, das coisas do mundo, a mais bem dividida, pois cada qual julga estar tão bem dotado dele, que mesmo os mais difíceis de contentar-se em outras coisas não costumam desejar tê-lo mais do que já tem. E não é verossímil que todos se enganem a esse respeito; pelo contrário, isso evidencia que o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, isto é, o que se denomina de bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens. (Grifo meu). 22 METODOLOGIAS “A metodologia está conformada por procedimentos ou métodos para a construção da evidência empírica.” (SAUTU et alii, 2005, p.39). Uma sugestão lida por ocasião de meus estudos na Espanha (ibidem, p.29-82) é a de que uma investigação, sempre que possível, faça uso de mais de uma metodologia. A metodologia se apresenta como um conjunto de métodos que tem por função adaptar os preceitos teóricos à produção de dados. A escola da perspectiva metodológica deve ser justificada, quer dizer, o investigador deve explicar as razões pelas quais considera que os procedimentos selecionados são pertinentes para obter evidências empíricas daquilo que deseja investigar. Nossa metodologia investigativa foi surgindo naturalmente, ao longo dos estudos. Ao longo do tempo fomos entendendo que a adoção de dois métodos – a formalização do uso destes – poderia propiciar-nos uma maior produção empírica. Assim, nossa metodologia constitui-se do método da história oral e do método da pesquisa bibliográfica. Método da história oral – é um método de pesquisa qualitativa, e nossa perspectiva teórica é a dos campos, de Bordieu. A Teoria dos campos, do sociólogo francês Pierre-Félix Bordieu (19302002), é uma construção teórica constituida por 3 elementos: campo, capital e hábito. Por hábito se entende as maneiras de trabalhar, pensar e sentir originadas pela posição que a pessoa ocupa na estrutura social. Por campo entendemos o espaço social que se cria pela valoração de feitos sociais tais como a arte, a ciência, a religião, a política... Esses espaços estão ocupados por agentes com distintos hábitos, e com capitais distintos, que competem tanto pelos recursos materiais como simbólicos do campo. Estes capitais, além do capital econômico, estão formados pelos capitais simbólicos: o capital cultural, o capital social, e por qualquer tipo de capital que seja percebido como natural. Os agentes, com os hábitos que lhes são próprios – em função de sua posição social –, e com os recursos de que dispõem, jogam nos distintos campos sociais, e neste jogo contribuem para reproduzir e transformar a estrutura social (GIRÓN, 2012). As ações de um grupo social podem ser entendidas como uma prática que tem uma autonomia relativa na medida em que estas ações estão condicionadas pelas posições sociais que 23 ocupam naquele campo, e cujo desenvolvimento ajuda a criar/recriar as ditas estruturas – quer dizer, a relação entre estrutura/ação ou entre ordem social e agência humana. Nossa opção foi a de realização de entrevistas semi-estruturadas, qualitativas, com professores das geociências em geral. Coerentemente com o enfoque teórico proposto, nos é conveniente uma metodologia qualitativa, já que esta nos permite indagar o ponto de vista, os significados, o testemunho de protagonistas da educação geográfica. A técnica proposta, em nosso caso, para recuperar estes testemunhos, a entrevista semiestruturada, compõem-se de ítens de informação flexíveis que, sem influir sobre o entrevistado, permitam obter informação sobre o que consistem as práticas e teorias que os próprios docentes constroem ao redor delas. Em outras palavras, se queremos investigar uma questão histórica, devemos consultar especialistas naquela questão. Em qualquer conhecimento devemos buscar por especialistas. Essa foi nossa presunção: a de que podemos obter informações e conhecimentos entrevistando pessoas que estejam envolvidas com o assunto – especialistas, professores universitários de áreas afins. Ademais, as entrevistas criam vínculos: “A divisão do trabalho produz a solidariedade, não apenas por fazer de cada indivíduo um trocador, como dizem os economistas, mas por criar entre os homens um sistema completo de direitos e deveres que os unem uns aos outros de modo durável.” (DURKHEIM, 2004, p.429). Considerando a Teoria dos Campos, devemos entender e aceitar que esses especialistas possuem compromissos com seu coletivo. Nossa postura de investigação implica em desafiar uma teoria estabelecida há dezenas de anos, o que pode deixar o entrevistado incômodo. Para diminuir essa possibilidade, buscamos fazer uso de entrevistas semi-estruturadas, com perguntas bem amplas, e sem gravadores. Por exemplo: i) Que lhe parece a Teoria da Tectônica de Placas? ii) Alguma coisa lhe incomoda nesta teoria? iii) Conhece alguma outra teoria para a origem dos continentes? Num assunto tão amplo quanto a origem dos continentes e oceanos, precisamos buscar por sínteses, até nas dúvidas. Nas palavras do químico Jean Chrétien Ferdinand Hoefer (18111878): “As experiências mais antigas sobre a composição dos corpos4 são sintéticas, e não analíticas. O espírito humano começa, como a ciência, pela síntese.” (HOEFER, 1869, apud BACHELARD, 1996, p.53). 4 Ele fazia referência a compostos químicos. 24 Método da pesquisa bibliográfica – aqui nossa perspectiva teórica baseou-se nos métodos da crença de PEIRCE (1877, apud PEIRCE, 1986), descrito a seguir. Estamos buscando – para escolha dos assuntos principais e identificação das observações científicas – pelo empirismo retratado na crosta terrestre. Precisávamos de muito pragmatismo – excesso de positivismo. Nada melhor do que fazer uso de metodologia proposta pelo cientista considerado pai do pragmatismo. De acordo com Charles Sanders Peirce (1839-1914), químico e geodésico, pai do pragmatismo e da semiótica, nossos pensamentos contemplam os estágios de crença e da dúvida. O incômodo – excitação, irritação – da dúvida nos leva a buscar e abrigarmo-nos na satisfação da crença. Quatro seriam os métodos pelos quais a crença pode substituir a dúvida. Três dos métodos seriam dependentes do raciocínio humano: - A tenacidade individual – confiar nas crenças já estabelecidas: sempre foi assim, creio por que creio, e não preciso dar satisfações; - A coerção da autoridade – cale-se ou morra, creio por que alguém importante o autorizou – seja este o padre, o professor, o general ou o santo; e - O apriorismo – modismo, conceitos existentes a priori; nunca pensei muito nisso, ouvi falar, li algo a respeito, e só por isso creio. Para um quarto método, pragmático, faz-se necessário recorrer a realidades ou experiências externas – sobre as quais nosso pensar não tenha efeito: este seria o método científico. A maçã cai, independente que pensamos – então é científico. A dorsal meso-atlântica se alinha pela cota aferida -914 m das plataformas continentais; Choveu e medimos 50 mm; Existem fósseis de Glossopteris nos dois lados do Oceano Atlântico. Correndo o risco de sermos ainda mais pragmáticos que o pai do pragmatismo, extrapolamos que figuras como zero, infinito, reta, círculo, simetria, igualdade e constante são abstrações mentais, inexistentes na natureza, e, portanto, costumam tratar-se de métodos racionalizados de proposições científicas, ou seja, não podem ser considerados como provas de verdades científicas, mas apenas indicativos. Entendamos, por exemplo, que nossas crenças estão proporcionalmente divididas nos quatro métodos mencionados. Podemos ilustrar essa proporção como no Gráfico 1 seguinte. 25 Gráfico 1 – Representação de uma suposta divisão equidistante dos métodos da crença. Fonte: Newton Monteiro de Campos Jr. M étodos da Crença Tenacidade Autoridade Apriorismo Científico Em nossas pesquisas bibliográficas, o que fizemos em nossos estudos foi buscar manter tudo o que se submete ao método científico. No que se refere à crença por tenacidade, autoridade ou apriorismo, ficamos confortáveis em duvidar de, ou substituir, partes delas, como ilustramos n no Gráfico 2 seguinte. Gráfico 2 – Representação de uma suposta divisão dos métodos da crença, como nos dispomos a aplicar. Fonte: Newton Monteiro de Campos Jr. Métodos da Crença Tenacidade Autoridade Apriorismo Científico Também buscamos, em geral, manter nossos estudos numa mesma escala, de proporções continentais. A natureza se nos apresenta em proporções – a nosso ver, a única constante observável na natureza seria a de proporções. O método para planejamento desses estudos foi o de usar a bibliografia de cada livro para ir ao seguinte. Partimos de livros que se dispuseram a estudar específicamente o assunto – histórias e controvérsias sobre a origem da geografia dos continentes –, e colecionamos suas citações de outros autores, buscando, quando possível, novos livros. 26 Para complementação de informações biográficas dos autores, quando não explicitada em nossos livros, fizemos uso de consultas pela internet. Estas informações biográficas costumam ser essenciais ao entendimento do contexto de suas pesquisas e conclusões. Também fizemos uso de pesquisas genéricas pela internet para assuntos que não eram diretamente ligados à pesquisa, mas que podem ser esclarecedores aos leigos nestes assuntos. Os textos foram traduzidos pelo autor, do inglês, do espanhol e do francês. As citações traduzidas do inglês foram mantidas em notas de rodapé. Os textos em galego foram mantidos nessa língua, pela similaridade com o português. Fiz uso da primeira pessoa do singular nos casos de emissão de opinião própria, divergente da opinião comum. Também incluí, deliberadamente, assuntos que podem parecer distantes de nosso trabalho, colecionando informações e conclusões relevantes que imagino me possam ser úteis no futuro. Como veremos adiante, até a dimensão do nariz de Cleópatra parece ter afetado a crosta terrestre. Nas palavras do inspirador Charles Peirce, “existem duas maneiras de nos distanciarmos da verdade: uma é considerá-la impossível e a outra é considerar que já a conhecemos”. Este trabalho foi realizado tendo por meta a busca da verdade, mas com a a conciência de que a desconhecemos e nunca a atingiremos. 27 1. HISTORIOGRAFIA 1.1 – Mundo antigo Há cerca de 18.000 anos, o nível dos oceanos situava-se 120 ou 130 metros abaixo do atual, de forma que a plataforma continental de hoje encontrava-se emersa (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.VII). Em virtude de causas geológicas e astronômicas, dos ciclos de Milankovitch e das correntes marinhas, o gelo ártico atingiu o paralelo 52º. Uma camada de gelo com cerca de 3 km de espessura cobriu 1/3 da superfície européia. A seguir ingressamos num novo período interglaciar. O astrônomo grego Aristarco de Samos, em 270 a.C., já observava que a Terra é redonda, gira em torno de si a cada dia e em torno do Sol a cada ano (MORIN, 2010, p.29). Meio século depois, outro grego, Eratóstenes de Cirene, até conseguiu determinar a circunferência do planeta com boa aproximação (ibidem, p.29). Algumas de nossas entrevistas informais com acadêmicos foram, ainda assim, produtivas. Este foi o caso da observação de um professor catarinense (sem registro de nome), num jantar durante um simpósio Geomorfologia5. Ele comentou que Estrabão de Amaseia, em seus escritos de Geografia, há 2 mil anos, já considerava a esfericidade de nosso planeta e supunha que, se a Grécia estava num continente, num nível acima daquele dos oceanos, deveriam existir outras massas continentais dispersas pelo planeta, de modo que a Terra mantivesse seu equilíbrio dinâmico. Sim, ele tem razão. Afinal, a relação entre o contrapeso colocado para balancear a roda de nosso automóvel (e evitar trepidações), é a metade da relação de massa entre a crosta terrestre e o planeta6. O nome do tal professor – a quem muito agradeço – talvez não me seja primordial, mas é importante reconhecer que tal observação não nasceu de mim, assim como tantas outras. O que também é importante é reconhecer que o equilíbrio dinâmico do planeta deve ser sempre levado em consideração no que concerne até a disposição dos continentes, mesmo sabendo que Estrabão era um termo dado pelos romanos àquele cujos olhos eram distorcidos ou deformados, como os 5 VIII Simpósio Nacional de Geomorfologia, III Encontro Latino Americano de Geomorfologia, I Encontro ÍberoAmericano do Quaternário, de 12 a 16 de setembro de 2010, em Recife-PE. 6 Considerei um contrapeso típico de 10 gramas para um pneu de 6000 gramas. Considerei a massa da crosta como 2x1025gramas, para um planeta com 6x1027 gramas. Assim, temos uma relação de 1/600 no balanceamento do pneu e de 2/600 na dinâmica terrestre. Ou seja, o peso aplicado nas trepidações das rodas seria proporcionalemtne a metade do peso da crosta em relação à Terra. 28 portadores de estrabismo. Ainda assim, Estrabão escreveu os 17 volumes de sua Geografia (Loeb Classical Library edition, 1924, public domain, english version, www.penelope.uchicago.edu). A amplitude do tempo geológico é tal que “Longe, ao norte, numa terra chamada Svithjod, existe uma rocha. Possui 100 km de altura e 100 km de largura. Uma vez a cada milênio um passarinho vem ali para afiar seu bico. Quando a rocha tiver sido, assim, totalmente desgastada, então, um único dia da eternidade ter-se-á escoado” (VAN LOON, 1951, apud EICHER, 1969, p.17). Para contar nossa história cronologicamente, devemos prestar muita atenção e alguma homenagem à contagem do tempo. Esse tempo tal como contamos hoje – 24 horas de 60 minutos de 60 segundos – começou com o comércio sumério, de base 60. O número 60 possui 12 divisores, facilitando suas trocas comerciais. O sistema de numeração sexagimal se desenvolveu ao sul da Mesopotâmia, juntamente com a escrita cuneiforme, por volta de 3000 a.C. Dos sumérios recebemos um considerável número de nossos elementos culturais mais comuns: o ano de 12 meses e a semana de 7 dias; a crença nos horóscopos; os 12 signos do Zodíaco; a superstição de fazer o plantio de acordo com as fases da Lua; o círculo de 360 graus; a divisão da hora em 60 minutos. Ilustração 1.1 - Sistema de numeração na Suméria – na mão esquerda, para cada dedo, uma dúzia. Na direita, uma unidade para cada falange indicada pelo polegar. Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/algarismos/sumeria.htm. Por volta de 2679 a.C, aproximadamente, já existia na China a descrição de clepsidras – dispositivos para medir o tempo, movidos por água. A clepsidra mais antiga (1400 a.C), exposta no Museu Egípcio do Cairo, é da era de Amenófis III, e foi descoberta por Karnak em 1904. Por volta de 753 a.C., o ano primitivo dos romanos tinha 304 dias e começava na primavera com o mês Martius (que passou a Março, Marzo, Mars), dedicado ao deus Marte. O ano de dez meses terminava no mês de Dezembro. O periodo de inverno não contava – era ignorado –, pois não haviam atividades religiosas nem agrícolas no inverno europeu. Apenas em 29 713 a.C o rei Numa Pompílio, sucessor de Rômulo, acrescentou os meses de Janeiro e Fevereiro ao final, para completar o ano solar de 365 dias, talvez por influência etrusca. Em 46 a.C. Júlio César instituiu o calendário Juliano no Império Romano. O ano começaría a contar-se a partir do 1º de Janeiro7 e seria computado com uma duração de 365 dias. Como a Terra tarda algumas horas a mais para dar uma volta completa ao redor do Sol, a cada quatro anos se computavam 366 dias. Júlio César reclamou a colaboração de Sosígenes, um astrônomo de Alexandria que conhecia muito bem o ano solar, medido com perfeição pelos egípcios. O mês Quintilis foi renomeado Julho em honra a Júlio César, que nasceu nesse mês. Com a queda de Alexandria, por volta de 20 a.C., o senado romano honrou ao filho adotivo de Júlio César, dando o nome de Augusto ao mês Sextilis. Quando Augusto se deu conta de que, no calendário juliano, Quintilis (Julho) tinha 31 dias e Sextilis (Agosto) tinha 30, mandou tirar um dia de Fevereiro e acrescentá-lo a Agosto. A palavra mês vem do latim mensis, e este do grego mene (men/mon, lua). O mês lunar é baseado no ciclo da Lua e é conhecido como lunação. 28 dias também se pode considerar como a média aritmética arredondada dos dos ciclos simultâneos da Lua: o sideral ou orbital de 27,3 dias e o sinódico ou fásico de 29,5 dias. Realmente 28 dias é uma forma muito prática de estruturar o ano terrestre, pois dá lugar a 13 meses de 4 semanas, 7 x 4 = 28 x 13 = 364, restando apenas um dia. A palavra semana vem do latim septimana, ou sete manhãs. A palavra sábado vem de shabattu, o dia de apaziguar os corações para os sumérios, ou de apaziguar os deuses, para os babilônicos. No antigo Egito, o ano era dividido em grupos de dez dias, los decanatos, ainda utilizados no Zodíaco. O ciclo egípcio de dez dias foi convertido ao ciclo babilônico de sete dias pela conversão dos sacerdotes semitas hebreus do mito de Gilga-mesh (babilônico) ao mito da criação (judaico). Fonte: http://etimologias.dechile.net/?meses. Nossa contagem do tempo se relaciona ao movimento dos corpos celestes. Aristóteles (384-322 a.C.) imaginava que os astros estavam fixados em esferas celestiais transparentes que giravam independentemente da Terra, que estava no centro do mundo. Por volta de 120 d.C., Cláudio Ptolomeu (85-165), apresentou-nos uma representação de círculos concêntricos que permitia predizer o curso dos planetas no céu. Tudo girava em torno da Terra uma vez ao dia. (EICHER, 1969, p.17-18). No entorno dos mares interiores, as marés oceânicas não eram tão perceptíveis quanto no oceanos. Por exemplo, Cari Zazo e Jose Luis Goy (Elorza, 1994, parte 13, Litoral español) 30 ressaltam que, enquanto a variação da maré no litoral espanhol atlântico atinge de 2 a 4 metros, influenciada pela corrente quente do Golfo do México (ibidem, p.439), a variação no litoral mediterrâneo é sempre menor que 2 metros, influenciada pela entrada da água atlântica através do Estreito de Gibraltar (ibidem, p.448). Desde muito antes de Aristóteles reconhecer o relacionamento entre o movimento lunar e as marés, os povos que habitavam litorais oceânicos, já o compreendiam bem. Apesar desse conhecimento natural tão antigo, a maré só começaria a receber tratamento matemático com Pierre Simon (1749-1827), o Marquês de Laplace. E a preconização das marés terrestres só iria aparecer com William Thomson (1824-1907), o Lorde Kelvin. A importância das marés terrestres é reconhecida pela AIG - Associação Internacional de Geodésia, que mantém em Bruxelas um Centro Internacional de Marés Terrestres, desde 1957. (GEMAEL, 2003, cap.14). 7 Por necessidades de governo, os cargos políticos, que eram substituídos a cada ano, tiveram que iniciar suas funções antecipadamente. 31 1.2 - Luzes no oriente A bússola mais antiga foi inventada pelos chineses nos idos do século II da era cristã, e consistia de uma colher de magnetita sobre uma superfície muito lisa. A declinação magnética era conhecida pelos chineses desde o ano 720, mas este conhecimento não viajou à Europa junto com a bússola.8 (McELHINNY, McFADDEN, 2000, p.1-2). No ano cristão 721, o astrônomo chinês Y. Hang contruiu uma clepsidra que indicava os movimentos dos planetas (SIEWERS, 1989, volume 1000-1100, Luzes no Oriente). O conhecimento do magnetismo e do clima terrestre, já permitiam que os chineses fizessem uso de bússolas em sua inovadora navegação à vela contra o vento. Pequim, há 1000 anos: cidade aberta, de ruas amplas, canais largos e muitas árvores, apinhada de uma população flutuante de mercadores, viajantes e funcionários do governo. Barracas transbordantes de mercadorias alinhavam-se na avenidas. Mercados abriam ao alvorecer e fechavam após meia-noite. Vendedores apregoando de tudo, de doces e brinquedos a horóscopos e água quente, disputavam a atenção dos compradores com os cartazes de rua que anunciavam todo tipo de bens e serviços. Profissionais liberais anunciavam suas habilidades com vigor: Recuperação Rápida Garantida, prometia a tabuleta de um consultório médico. A frente das lojas abria-se aos passantes, tavernas e restaurantes ofereciam mesas e bancos na calçada. Podia-se jantar em restaurantes de massas, baratos, ou em lugares finos com mais de cem salas, cujo cardápio impresso (com tipos móveis que só apareceriam na Europa 500 anos depois) oferecia especialidades locais e de outras regiões. (SIEWERS, 1989, volume 1000-1100, Luzes no Oriente). Das aulas de pré-história da Península Ibérica, com a professora Doutora Beatriz Comendador, na Universidade de Vigo, no 2º semestre de 2011, veio a informação sobre o polímata persa Avicena (980-1037), que considerava que os fósseis são restos de organismos petrificados, e que as montanhas foram levantadas por terremotos, ou escavadas por erosão. Em 1088, o engenheiro chinês Su Song construiu uma clepsidra com mais de dez metros de altura – o relógio de Kaifeng (ver Ilustração 1.2) –, que indicava as horas, os dias, a posição da Lua e de planetas do sistema solar. Este relógio já considerava o heliocentrismo. 8 (Tradução do autor.) The earliest known form of magnetic compass was invented by the Chinese probably as early as the 2nd century B.C., and consisted of a lodestone spon rotating on a smooth board. [...] Magnetic declination was known to the Chinese from about 720 A.D., but knowledge of this did not travel to Europe with the compass. 32 Ilustração 1.2 - Réplica em escala do relógio de Kaifeng. Fonte: http://afe.easia.columbia.edu/song/tech/im/clocktower.jpg. Reconhecidamente, o tempo, a esfericidade do planeta e suas interações no sistema Solar afetam a crosta da Terra. Navigare necesse; vivere non est necesse. Cneu Pompeu, general romano, 106-48 a.C. Oportet vivere, navigare refert ... Palavras de Ulysses, na Odisséia. Homero, século XI a.C. 33 1. 3 – As grande navegações A primeira referência européia à bússola foi feita em 1190 pelo frade inglês Alexander Neckahm (1157-1217). Alexander também era um estudioso de náutica e parece que o uso de agulhas magnéticas que sempre apontavam para a estrela polar já era comum entre os navegantes dessa época.9 (McELHINNY, McFADDEN, 2000, p.1-2). Em 1282, o italiano Ristoro d'Arezzo (1220?-1290?), em seu livro Composicione del Mondo, mencionou com rara precisão a existência tanto da corruptio quanto da generatio das montanhas (D’AREZZO, 1282, apud LEIBNIZ, 1997, p.70). Numa descrição científica, e poeticamente bela, Arezzo relaciona o relevo terrestre ao relevo celeste: “Os corpos celestes exercem uma influência na Terra. As estrelas, na opinião de Arezzo, atraem a terra como um magneto atrai ferro, então as grandes massas de terra seca são formadas onde há um maior número de estrelas sobre a Terra. Montanhas possuem uma origem distinta. Quando nós olhamos para o céu, nós vemos que algumas das estrelas estão mais altas e outras mais baixas; então as estrelas descrevem montanhas e vales no céu”.10 (D’AREZZO, 1282, apud BELOUSOV, 1962, p.21). Também por volta do século XIII, petróglifos, difíceis de serem datados, eram confeccionados nas montanhas de população celta – nas ilhas britânicas e no noroeste da península ibérica – ver ilustração 1.3.a, a seguir. Por meus estudos e visitações particulares aos locais dos petróglifos galegos, entendo que era assim que os antigos e vigilantes celtas produziam seus calendários. Vejamos o que dizem os galegos PEÑA SANTOS & GIL (2009, p.309): A norma xeral é que nosos complexos rupestres mostren unha acusada tendencia por se emprazar a altitudes medias e baixas. Aproveitan case sempre os outeiros 9 (Tradução do autor.) It was not until 12th century A.D. that the compass arrived in Europe, where the first reference to it is mad in 1190 by an English monk, Alexander Neckahm. During the 13th century, it was noted that the compass needle pointed toward the pole star. [...] Petrus Peregrinus reported, in his Epistola de Magnete in 1269 (not printed under Peregrinus name until 1558), a remarkable series of experimentus with spherical pieces of lodestone. 10 (Tradução do autor.) The heavenly bodies exert an influence on the earth. The stars, in Arezzo's opinion, attract the land as a magnet attracts iron, so that the greatest dry land masses are formed where there is the greatest number of stars above the earth. Mountains have a different origin. When we look at the sky, we see that some stars are higher and others lower; thus the stars depict mountains and valleys in the sky. 34 característicos da paisaxe granítica, que se erguen polo xeral en zonas de solos pobres con puntos de auga nas proximidades. [...] A maior parte dos petróglifos galaicos non parece que fose concibida para ser vista, para destacar na paisaxe; pola contra, desde eles disponse dunha máis ou menos ampla perspectiva visual. [...] O bloque de temática xeométrico é o máis numeroso e o que presenta unha maior dispersión xeográfica. Puntos ou cazoletas, variadísimas combinacións de círculos concéntricos, espirais e deseños laberintíticos forman a base iconográfica esencial da nosa arte rupestre e ofrecen evidentes afinidades con outros focos de arte rupestre da fachada atlántica europea, nomeadamente da Irlanda e da Escócia. Creio que, nos círculos concêntricos, deviam ser colocadas pedras indicando as posições da Lua, Mercúrio e Vênus. O círculo exterior apontava a posição do Sol. Estudiosos espanhóis buscam hoje explicações relacionadas a xamãs ou a solstícios, mas os europeus daquela época ainda eram geocentristas e tinham por base o calendário Ptolomaico. Ilustração 1.3.a - Petróglifo em Campo Lameiro, Galícia, Espanha. Fonte: www.elzo-meridianos.blogspot.com/2007/11/petroglifo.html. O polonês Nicolau Coopérnico difundiu a teoria heliocêntrica em 1543, em seu livro De revolutionibus orbium coelestium. Tinha a virtude de explicar de forma mais singela o movimento dos planetas, e pela primeira vez se obtinham melhores predições do que com o sistema geocêntrico. 35 O desenvolvedor da tão utilizada projeção para a construção de mapas, Gerardus Mercator (1512-1594), fez observações sobre a declinação magnética, tema que já era conhecido pelos chineses 8 séculos antes. Numa carta, ele relatou que a ponta da agulha magnética nem sempre apontava para os céus, o que o levou a considerar o polo magnético como um ponto dentro da Terra.11 (MERCATOR, 1546, apud MCELHINNY & MCFADDEN, 2000, p.1-2). A confinação do espaço foi ilustrada numa escultura de madeira (ver ilustração 1.3.b, seguinte) por Petrus Apianus (1495-1552), matemático e astrônomo germânico. Os círculos indicavam as órbitas da Lua, de Mercúrio, de Vênus e do Sol, seguida pelas órbitas (retrógradas) de Marte, Júpiter, Saturno e da esfera das estrelas. (APIANUS, 1551, apud EICHER, 1968). Meio milênio depois do heliocentrismo considerado na China, uma grande parte dos europeus ainda seguia considerando a Terra fixa no centro do mundo. Ilustração 1.3.b – Sistema geocêntrico do mundo, segundo Pitágoras e Ptolomeu. Fonte: Observatoire de Paris, http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b26002230. 11 (Tradução do autor.) Magnetic declination was known to the Chinese from about 720 A.D., but knowledge of this did not travel to Europe with the compass. [...] Mercator, in a letter in 1546, first realized from observations of magnetic declination that the point which the needle seeks could not lie in the heavens, leading him to fix the magnetic pole firmly on the Earth. [...] Robert Normann, closer to the center of the Earth. 36 As grandes navegações exigiram o aperfeiçoamento e entendimento das bússolas. No final do século XVI, William Gilbert (1544-1603) publicou De Magnete, Magneticisque Corporibus, et de Magno Magnete Tellure, onde afirmou: O globo terrestre é um grande magneto12 (GILBERT, 1600, apud MCELHINNY & MCFADDEN, 2000, p.2.). Além da esfericidade, as propriedades magnéticas foram as seguintes a serem atribuídas à Terra como um todo. As formulações gravitacionais ainda tardariam um pouco mais. O cartógrafo germânico Abraham Ortelius (1527-1598) foi colega de trabalho de Gerardus Mercator (1512-1594). Em 1596, Ortelius publicou Thesaurus Geographicus, sucedâneo de seu Theatrum Orbis Terrarum - Teatro do Mundo, e parece ter sido o primeiro a ressaltar a similaridade entre as costas atlânticas de África e América do Sul. O filósofo inglês Sir Francis Bacon (1561-1626), é por vezes considerado o observador inicial da semelhança das costas atlânticas, mas sua obra Novum Organum é de 1620. Longe de sugerir um distanciamento de África e da América do Sul, Bacon também se limitou a assinalar certas relações entre os contornos de ambos continentes e certas similaridades entre a costa pacífica de América do Sul e a costa atlântica da África (sic!). Bacon não era geógrafo. Calendários e mapas desenvolveram-se para as grandes navegações. Tanto Colombo quanto Cabral trouxeram galegos como navegadores.13 Nascidos e criados diante do Atlântico Norte, eles estavam mais habituados e possuíam melhores técnicas de navegação pelos oceanos do que os marinheiros do Mediterrâneo. O Livro de Marinha, de 1521, englobava um mapa elaborado pelo cartógrafo turco, Piri Reis – o Almirante Hadji Muhammad (1465-1554). O mapa de 1513 – ver ilustração 1.3.c, a seguir – mostrava as costas continentais sul-atlânticas. Continha a ilha de Marajó, os Andes, as Malvinas e até a costa da Antártida – sem gelo! Piri Reis, de quem dizem ter obtido suas informações básicas no Egito, foi decapitado, por traição. 12 Magnus magnes ipse est globus terrestris. Os galegos, tocando suas gaitas de fole, foram os primeiros a desembarcar nas praias sul americanas. Cabral os enviou à terra para contemporizar com os indígenas – me informaram professores galegos de história e geografia. 13 37 Ilustração 1.3.c – O Atlântico Sul, no mapa de Piri Reis, de 1513. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/70/Piri_reis_world_map_01.jpg 38 1. 4 – O avanço das ciências Em 1582, o Papa Gregório XIII, introduziu uma reforma, chamada de Calendário Gregoriano. O primeiro concílio de Nicea, celebrado no ano 325, fixou o momento astral em que se devia celebrar a Páscoa, e as demais festas móveis a ela relacionadas. Mas esse momento fixado começou a produzir defasagens. O que importava era a regularidade do calendário litúrgico e, para isso, foi necessária a introdução de correções no calendário civil. No mesmo período, o alemão Johanes Kepler (1571-1630) dá continuidade aos estudos de Tycho Brahe (1546-1601), e constrói modelos matemáticos para as órbitas elípticas dos planetas em torno do Sol. Esse início de consolidação do heliocentrismo na Europa ocorre em 1609. Os fundamentos da mecânica clássica aconteceram com a obra Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, publicada em 1687 por Isaac Newton (1643-1727). Descreve leis que governam o movimento, tanto na Terra quanto nos corpos celestes. (GLEICK, 2004). Newton foi um contendor feroz dos grandes homens que cruzaram seu caminho, como o inglês Robert Hooke14 (1635-1703) e Leibniz; entretanto Newton escreveu “se vi mais longe foi por ter subido no ombro de gigantes”. Deve ter sido no ombro dos que sobraram de pé. As controvérsias entre Sir Isaac Newton e Freiherr von Leibniz, a respeito do precursor do cálculo diferencial e integral (GLEICK, 2004, pg.167-185), não nos interessam muito. Não importa quem pintou a zebra. O que importa é o resto da tinta. O alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) fez uma experiência interessante: observou o comportamento do minério sob aquecimento e fusão, numa siderúrgica. A diferenciação ocorria por densidade, com o Ferro e Níquel em baixo, uma mistura na parte central e uma cobertura silicática, dita escória da siderurgia. Entendeu que assim devia ter ocorrido a diferenciação no planeta. Um núcleo de FeNi, uma manto mesclado e uma crosta silicática. Ele viu mais um detalhe. A escória cerâmica, refratária, provocava uma concentração de calor e criava uma fase líquida logo abaixo da superfície silicática. A visão de Leibniz antecipou a existência no interior da Terra da descontinuidade de Moho, que seria comprovado pelo meteorologista croata Andrija Mohorovicic (1857-1936), dois séculos depois, com auxílio de sismômetros. 14 Sobremaneira experimental, ele inventou o microscópio composto e aperfeiçoou barômetro, higrômetro etc. 39 As experiências de de Leibniz como engenheiro de minas, e apoiando-se nos axiomas estratigráficos lançados pelo bispo dinamarquês Nicholas Steno (1638-1687), levaram-no a escrever em latim, em 1710, o livro Protogaea. Publicado posteriormente, o livro foi traduzido para o português e magnificamente comentado por professores da FFLCH-USP: Ora, toda escória resultante da fusão é do gênero vítreo; e a crosta que recobria a matéria em fusão do globo e que endureceu depois da fusão deve ter-se tornado semelhante a uma escória, como sucede com metais na fornalha. (LEIBNIZ, 1749, apud 1997, cap. 4). Ou seja, vivemos sobre a escória do planeta. Leibniz evocava que, num passado distante, a Terra teria sofrido transformações bruscas que inexistem atualmente, as quais teriam afetado a forma dos animais que vinham sendo produzidas ao longo das linhagens: As objeções contrapostas pelos sábios pouco importam. ... Isso advém de julgarem em demasia o estado primitivo do globo por seu estado atual. (ibidem, cap. 26). Em 8 de junho de 1783 foi o início da erupção de Laki, Islândia. Em 10 dias, foram 26 km de fissuras. Provocou uma catástrofe climática mundial, jogando 100 milhões de toneladas de dióxido de enxofre na atmosfera. Um nevoeiro expesso em junho/julho, uma névoa de ácido sulfúrico, atingiu a Europa e o hemisfério norte de um modo geral. Foram 3 invernos sucessivos rigorosos, com inundações na primavera. Anos de muito frio no Japão e seca na Índia. Estima-se que 2 milhões de pessoas morreram ao redor do globo. Essa desolação, diz-se, alimentou a Revolução Francesa. Em nosso acompanhamento cronológico, lembremos que a Revolução Francesa (1789) teve o papel fundamental de adotar e aplicar o sistema métrico na França, no que foi seguida por muitos países do Ocidente, inclusive o Brasil. O médico e filósofo James Hutton (1726-1797) publicou The Theory of the Earth, que procurava explicar fatos sobre o interior da Terra, inclusive como a discordância entre camadas ocorrera. De suas reflexões, Hutton extraiu que os processos de formação das rochas são os mesmos (criação, erosão, depósito, modificação, erosão); que a Terra ainda age mais ou menos como sempre agiu; que esses procedimentos ocorrem em períodos de tempo inconcebivelmente longos: “O presente é a chave para o passado”. Ele também pensava que a Terra não tinha “nenhum vestígio de um princípio e nenhuma perspectiva de um fim”. (HUTTON, 1788, apud WINCHESTER, 2004, cap.5). 40 Existem dois tipo de litoral nas ilhas Galápagos, o visível e o invisível. Os litorais visíveis são as rochas negras e as espumas brancas do mar onde os vulcões emergem do Pacífico. Esses litorais são definidos apenas pelo nível do mar. As orlas invisíveis são as fronteiras entre os próprios pássaros. Estas são mais intrincadas e definidas pelos códigos secretos e leis consuetudinárias que envolvem os 13 tentilhões das Galápagos numa espécie de isolamento autoimposto. (WEINER, 1995, p.167). Ou seja, existem aquelas fronteiras invisíveis mas perceptíveis pela segregação entre os grupos de pássaros, assim como estas existem entre outros grupos de animais, vegetais ou minerais. Ambos esses litorais – orla, fronteira, pele, genética – são verdadeiros. Não precisamos escolher um deles, assim como não precisamos escolher entre a crítica de Leibniz (Os sábios julgam em demasia o estado primitivo do globo por seu estado atual) ou a afirmação de Hutton (O presente é a chave para o passado). Podemos ficar com ambos, com a observação estéticogeográfica do matemático e filósofo Blaise Pascal (1623-1662): “O nariz de Cleópatra, fosse ele um pouco mais curto, toda a face do mundo teria se modificado.” 41 1.5 – Do século XIX, há 10 gerações É crucial citarmos o matemático e astrônomo francês Pierre Simon (1749-1827) neste trabalho, por mais que eu nem tenha lido dele direta e especificamente sobre a crosta terrestre. Entre outros feitos, Simon complementou os estudos de Isaac Newton, estudou as marés (BRUSH, 2008, p.3-8), formulou conceitos sobre a tensão superficial (VENÂNCIO, 1926, p.6366), e desenvolveu uma teoria cosmogônica, através da publicação dos 5 volumes de sua Mecânica Celeste. O gênio Pierre Simon ficou conhecido na história com o nome de Marquês de Laplace. Pela Teoria Cosmogônica de Laplace, o Sol e os planetas surgiram a partir do resfriamento e contração de uma nebulosa. A rotação achata a nebulosa em torno do equador e acontece uma espécie de diferenciação, com o Sol respondendo por 99% da massa do sistema. Ao mesmo tempo que acontece uma diferenciação na poeira da nebulosa, de acordo com a distância ao centro, também acontece uma aglutinação sucessiva da poeira em grãos, planetesimais e protoplanetas, que sofrem acreção e dão origem aos planetas (BRUSH, 2008, p.16-18). De modo similar, em condições de elevada temperatura, cada planeta vai sofrendo diferenciação e desgaseificação. O movimento sucessivo dos materiais mais densos para o centro de cada planeta, e dos menos densos para fora, contribuem para a disposição concêntrica das diferentes camadas que a constituem, com valores decrescentes de densidade do centro para a periferia (BRUSH, 2008, p.23-24). O germânico Barão de Humboldt – Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander Freiherr von Humboldt (1769-1859), nos primórdios do século XIX, ante a congruência das costas da América do Sul e África, pensou que era un vasto vale invadido pelo mar.15 (HALLAM, 1976, p.14). Humboldt foi provavelmente o primeiro a estabelecer uma relação entre as falhas geológicas e os terremotos. Outrossim, o parisiense Jean-Baptiste Joseph Dieudonné Boussingault (1802-1887), químico e estudioso do petróleo que viveu na Colômbia de 1823 a 1828, não compartilhava as ideias de Humboldt e propôs que os terremotos eram devidos ao desabamento subterrâneo de montanhas (grifo meu). 15 Humboldt pouco pisou na América do Sul – sempre foi carregado sobre liteiras – e pouco se comunicou com os sul americanos – nem tentou falar qualquer língua local, e fazia uso de tradutores. Seus desenhos não retratavam o antrópico, como se recusasse a existência das sociedades locais. 42 Em 1º de agosto de 1815, o topógrafo inglês William "Strata" Smith (1769-1839) mudou o mundo ao publicar o primeiro mapa estratigráfico inglês. (WINCHESTER, 2004, cap.1).16 Geologicamente, existem outras datas precisas que não devem ser esquecidas. Por exemplo, coube ao prelado irlandês James Ussher, enquanto era bispo de Armagh, determinar a data de criação do mundo e todas as suas criaturas. Segundo ele, Deus o fez num processo rápido e ininterrupto de mecânica divina que começara pontualmente na hora bastante decente de 9 da manhã, numa segunda-feira, 23 de outubro de 4004 a.C. (ibidem, cap.2).17 William “Strata” Smith construía canais, literalmente cortando montanhas. A carga mais importante dos canais era o carvão – para as fornalhas da Revolução Industrial. Uma barcaça puxada por um cavalo podia carregar 400 vezes mais do que uma carroça pelas estradas enlameadas. (ibidem, cap.4). Thomas Newcomen (1663-1729) inventou a máquina a vapor; James Watt (1736-1819) teve sucesso com a sua máquina de condensação do vapor; e as minas de carvão atingiram veios a 150 metros de profundidade. O mapa geológico de Smith foi como a Pedra da Roseta para os hieróglifos. Smith ensinou-nos a ler um passado terrestre, por uma chave do presente. A primeira Medalha Wollaston da sociedade geológica inglesa foi entregue a Willian Smith, em 1831. Ao final de seu discurso de agradecimento, ele mencionou: “Sir Isaac Newton nasceu no calcário oolítico. A história da geologia poderia ser outra se ele tivesse olhado para baixo, para o solo, e não para o alto, para a maçã.” (WINCHESTER, 2004, cap.17). Em 1840, John Phillips dividiu o registro fóssil nas Eras Paleozóica, Mesozóica, e Cenozóica. “Os fósseis de cada Era eram tão distintos que Phillips convenceu-se que cada uma representava uma distinta criação de vida. O Permiano foi ‘descoberto’ por Sir Roderick Impy Murchison, em 1841, nas rochas dos Montes Urais da Rússia. Esse nome proveio de um remoto reino na área, que também deu seu nome à cidade de Perm.” 18 (ERWIN, 2003, p.18-20). 16 Cerca de um século e meio antes de Smith, o médico inglês Martin Lister (1638-1711) já havia logrado descobrir que algumas rochas eram encontradas apenas em determinadas porção de certos terrenos e que era possível traçar mapas com a distribuição de determinadas rochas fossilíferas, afirmando que os fósseis bivalves e gastrópodes nelas contidos diferiam entre si nas distintas camadas. De forma bastante surpreendente para quem não atribuía os fósseis a restos de organismos, propôs o princípio de que era possível distinguir rochas distintas por seu conteúdo fóssil (LEIBNIZ, 1997, cap.18) . 17 Estas datas precisas estão correlacionadas. Smith mudou o mundo ao libertar do jugo da igreja a criação do mundo. Para os criacionistas, há uma perspicácia bíblica. Quando Deus criou o Sol? Segundo o livro do Gênesis, foi no 4º dia. Então, como é o Sol que regula nosso tempo atual – dias e noites –, apenas depois do 4º dia o tempo passou a ser contado como o fazemos agora. Os 3 primeiros dias podem ter durado tanto tempo quanto Deus julgasse necessário. Uns 15 bilhões de nossos anos, por exemplo? Menos mal. 18 (Tradução do autor.) In 1840, John Phillips divides the fossil record into the Paleozoic, Mesozoic, and Cenozoic eras. The fossils of each era were so distinct [...] that Phillips was convinced each represented a separate creation of life. [...] The Permian was “discovery” by Sir Roderick Impy Murchison in 1841 in the rocks of the Ural Mountains of Russia. [...] These became the Permian, named after an ancient kingdom in the area that also gave its name to the city of Perm. 43 Isaac Newton não olhou só para o alto. Ele olhou de alto a baixo. Para Newton a ciência consistia em formular leis universais; para Laplace consistia em permitir prever o futuro. Baseado nas teorias de Laplace e nas formulações de Newton, o astrônomo francês Edouard Roche (18201883) propôs e calculou o limite da órbita para o qual um satélite seria destruído pelas forças de maré de seu planeta (ROCHE, 1873). Em 1974 esse valor foi recalculado e até ligeiramente corrigido (OBERBECK, 1993) por Hans R. Aggarwald e Verne R. Oberbeck, pesquisadores da NASA – National Aeronautics and Space Administration (Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço). As propostas e conceitos básicos de Roche continuaram aceitos. Ver figura 1.5.a. Ilustração 1.5.a – O Limite de Roche. Fonte: http://www.geol.umd.edu/~jmerck/geol212/lectures/23.html. Charles Robert Darwin (1809-1882) estimou que 300 milhões de anos teriam decorrido desde a última parte da Era Mesozóica (EICHER, 1969, p.23). Darwin se referia ao tempo de denudação do rio Weald no sudeste da Inglaterra, a partir do domo estrutural, com um cálculo aproximado do índice que a denudação marinha havia podido eliminar (HALLAM, 1985, p.82). Darwin parece ter-se arrependido, em função das reações contrárias, como a do físico escocês William Thomson (1824-1907), conhecido como Lord Kelvin, que chamou de absurdo o cálculo de Darwin, e estimou a idade total da Terra entre 20 e 400 milhões de anos (HALLAM, 1985, p.83-84). Para o filho de Charles, o astrônomo Sir George Howard Darwin (1845-1912), em 1879, a Lua havia nascido da Terra em uma etapa inicial, deixando uma gigantesca cicatriz no Pacífico (HALLAM, 1976, p.14). O japonês Koto observou, depois do tremor Mino-Owari de 28 de outubro de 1891, que destruiu Honshu, gretas na superficie que mostravam deslocamentos horizontais de mais de 8 m e verticais de mais de 2 m. Isto levou Koto a concluir que os terremotos não eram devidos a 44 explosões como se acreditrava então, senão a movimentos da Terra, um conceito revolucionário para a época. (Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Historia_de_la_sismología, em 5/jan/2013) O austríaco Eduard Suess (1831-1914) e outros haviam observado com interesse a estreita semelhança das rochas e estruturas paleozóicas em ambos os lados do Atlântico Norte, se bem que atribuiam isto ao afundamento de Atlântida e não à deriva dos blocos continentais. (SUESS, 1881, apud HALLAM, 1976, p.16). Foi Suess quem propôs, em 1861, a existência da Laurasia, baseado na observação dos Alpes como antigo fundo do mar Tethis – do qual o Mediterrâneo era um remanescente. Também propôs a Gondwana, formada por América do Sul, África e Índia (ao qual posteriormente veio juntar-se a Antártida), baseado na existência do fóssil Glossopteris. (DU TOIT, 1952). A teoria dos geossinclinais existiu entre 1873 e 1960. Os fundadores desta teoria, o palentólogo James Hall (1808-1898) e o geólogo James Dwight Dana (1813-1895), explicaram a formação de montanhas por processos longos e não como outros cientistas desta época com processos catastróficos. A teoría de geossinclinais buscava explicar a formação de montanhas por forças verticais. Em bacias (geossinclinais) se acumularam grandes quantidades de sedimentos; as bacias se afundam com o peso e suas bordas se levantam em montanhas. (Fonte: http://www.geovirtual2.cl/Geoestructural/gestr08.htm. Em 21/mar/2013) Também as movimentações do planeta – seja no tempo, em torno de si, ou por entre os corpos celestes – afetam a crosta da Terra. 45 1.6 – Wegener e a 1ª guerra Ernest Rutherford (1871-1937) foi um físico e químico neozelandês que, por seus descobrimentos sobre o decaimento radioativo, em 1902, permitiu o desenvolvimento de técnicas para as datações absolutas históricas e geológicas. Em termos de medição do tempo, e para não deixar de citar um brasileiro, Alberto Santos Dumont (1873-1932), inventor do avião, por suas necessidades de ler as horas em voo, encarregou a seu amigo Louis Cartier um relógio que lhe permitisse ver as horas sem tirar as mãos dos comandos. Assim começa, em 1904, a popularização dos relógios de pulso. “Em 1906, o físico francês Bernard Brunhes (1867-1910) descobriu as inversões do campo magnético terrestre em lavas do centro-sul da França. Estamos há 780.000 anos no período dito normal, batizado com o nome de Brunhes. É possível que as inversões estejam ligadas a perturbações da circulação fluida. Quanto tempo leva o campo para inverter-se? Há indicações de milhares de anos, mas há casos relatando variações de vários graus num dia – tempestade magnética? Será que a intensidade do campo diminui durante a oscilação? A discórdia reina...” (POIRIER, 2000, p.101-108). Em 1909, o meteorologista croata Andrija Mohorovicic (1857-1936) reconheceu, nos sismos, as ondas longitudinais e transversais propagando-se a velocidades diferentes. Reconheceu que a Terra era composta por camadas diferenciadas colocadas em torno de um núcleo central. Foi capaz de detectar a existência de uma descontinuidade na velocidade de propagação das ondas sísmicas na interface entre a crosta e o manto – a descontinuidade de Moho, sugerida por Leibniz dois séculos antes em suas observações siderúrgicas. Para explicar a causa do terremoto de São Francisco de 1906, Harry Fielding Reid (18591944) junto a Andrew Lawson (1861-1952) propuseram, em 1910, o modelo do rebote elástico o qual consistiu em identificar a origem dos terremotos como um relaxamento súbito da deformação acumulada nas falhas. (http://es.wikipedia.org/wiki/Historia_de_la_sismología, em 5/jan/2013) 46 Ilustração 1.6.a - Rebote Elástico. Tomada de: http://crack.seismo.unr.edu/ftp/pub/louie/class/plate/seismology.html. “O geólogo norte-americano Frank Bursley Taylor (1860-1938) não se preocupou muito com o mecanismo de deslocamento continental em sua monografia de 1910, mas em trabalhos posteriores sugeriu a ação das forças de maré quando a Lua foi capturada – e não perdida – pela Terra durante o Cretáceo” (HALLAM, 1976, p.19). Ou seja, diverso do proposto por George Darwin, de que a Lua tivesse sido gerada pela Terra e se afastasse, Frank Taylor advogava que a Lua teria sido capturada pela força gravitacional terrestre e se mantivesse em sua órbita. Tendo por base a continuidade das cadeias de montanhas modernas nos diversos continentes, Taylor tentou provar que a Lua foi capturada pela Terra há cerca de 100 milhões de anos, e as ondas de maré (forças gravitacionais pelas presença da Lua que atuam sobre a crosta, como sobre os oceanos) rasgaram o continente único do planeta. Ele propôs em 1908 ao Geological Society of America que os fragmentos continentais se movimentaram na superfície da Terra, em direção à região do Equador, após o o rompimento deste supercontinente. “Wegener desenvolveu suas ideias independentemente. Realizou uma prolixa análise geofísica – coisa que Taylor não fez – e obteve uma considerável quantidade de provas. A relação de Taylor com Wegener é similar à de Wallace com Darwin.” (HALLAM, 1976, p.19) Em 1913, o sismólogo alemão Beno Gutenberg (1889-1960) demonstrou sem ambiguidade a existência de uma descontinuidade maior nas ondas sísmicas a 2.900 km de profundidade, que identificou como sendo a fronteira entre o manto e o núcleo – que passou a ser conhecida como a descontinuidade de Gutenberg. (POIRIER, 2000, p.13-42) De nossos estudos sobre a medição do tempo, observamos que nos países de religião ortodoxa se manteve o calendário Juliano até princípios do século XX. A Revolução Russa bolchevique de 1917 foi a responsável pela aplicação do calendário Gregoriano na Rússia. As padronizações, como essa, favoreceram as trocas de conhecimentos entre grupos. Eliminaram fronteiras, e facilitaram alguma troca de conhecimentos geológicos com os russos. 47 Em 1920, um eminente geólogo americano Thomas Chrowder Chamberlin (1843-1928) chegou a postular os ciclos tectônicos como as “derradeiras bases para a correlação”. A crença de Chamberlin derivava de uma ideia popular em seus dias de que a atividade tectônica é firmemente periódica no tempo, ao invés de contínua, e que as pulsações tectônicas que afetam a crosta de Terra são separadas por longos períodos de quietude. De acordo com este ponto de vista, todos os continentes erguem-se de uma só vez, causando regressão simultânea dos mares que, por seu turno, produzem discordância mundial na mesma posição no registro estratigráfico. Durante o período seguinte de quietude tectônica, as superfícies das terras são erodidas gradualmente até o nível de base, depositando sedimentos nas bacias oceânicas, e os mares ascendentes gradualmente invadem de novo os continentes. Cada ciclo pode ser separado em uma fase transgressiva, de inundação e regressiva. Alguns pesquisadores visualizam tais ciclos como o arcabouço dos sistemas geológicos. As três séries que compõem a maioria dos sistemas eram consideradas relacionadas com três estágios do ciclo. Um corolário da teoria sustenta que os limites dos sistemas devem ordinariamente ser representados por discordâncias e que os sistemas são em geral naturais, cada qual representando um “ciclo geológico”. (EICHER, 1969, p.94). Foram 24 anos entre a primeira (1915) e a última (1929) edição de A Origem dos Continentes e Oceanos, do meteorologista Alfred Lothar Wegener (1880-1930) com poucas alterações, exceto no que concerne à paleoclimatologia. Ele até propõe a paleo posição da linha do Equador e do Pólo Sul – ver ilustração 1.6.b, a seguir. Ilustração 1.6.b - Os rastros das calotas glaciais permocarboníferas nos continentes atuais. A cruz assinala o local do Polo Sul mais favorável aos indícios; a linha mais grossa é equador correspondente. Fonte: Wegener, 2009[1915], fig. 7.3, p.242. Wegener disse muito pouco sobre o mecanismo que controlava a deriva continental, ainda que propusesse como possibilidades as forças das marés e o pohlflucht (a fuga desde os pólos). (HALLAM, 1976, p.24). 48 O modelo da Terra em contração exposto por Suess era vulnerável: por que as rugas dos dobramentos não estavam mais uniformemente distribuidas sobre a superficie da Terra, em lugar de estarem situadas em estreitas franjas? As antigas suposições sobre o resfriamento da Terra haviam sido minadas pelo descobrimento da difundida radioatividade das rochas. (HALLAM, 1976, p.25). Ciclos de Milutan Milankovitch (1879-1958, engenheiro e geofísico sérvio). Publicado em 1920 - Devido às influências gravitacionais dos outros planetas do sistema solar ao longo dos tempos milenares vão-se modificando ciclicamente diversos parâmetros astronómicos do movimento terrestre como sejam: 1 - Precessão dos equinócios: - É variável, ao longo do tempo (cada 26.000), a relação entre o instante dos equinócios e dos solstícios relativamente ao instante de maior ou menor distância da Terra ao Sol; 2 - Excentricidade da órbita: - É variável, ao longo do tempo (cada 23.000 anos), a forma ligeiramente elíptica da órbita terrestre; 3 - Obliquidade do eixo: - É variável, ao longo do tempo (cada 41.000 anos), a inclinação do eixo de rotação da Terra em relação à eclíptica; O ângulo varia de 22,1º a 24,5º e vice-versa - atualmente está em 23,44º, e decrescendo. A combinação dos três ciclos de variação destes parâmetros, com as suas diferentes periodicidades e intensidades, produz variações complexas entre a quantidade de radiação solar interceptada em cada latitude e em cada estação do ano. Milankovitch assume que a energia solar incidente globalmente na Terra durante um ano inteiro é sempre a mesma, exceto nas mudanças de excentricidade em que admite um pequeno desvio. A variação importante reside na diferente repartição sazonal da energia em cada hemisfério, ao mesmo tempo que vão variando as características da órbita ao longo dos anos. É de interesse registrar que cada um dos três ciclos de Milankovitch pode provocar efeitos climáticos diferentes em cada latitude do planeta. Fonte: Wikipedia. A meados do século XIX, os especialistas em geodésia se surpreenderam ao descobrir que as cadeias montanhosas como o Himalaia não exerciam a atração gravitacional que se podia esperar por sua massa, comparativamente maior que a das planícies adjacentes. Para o astrônomo inglês Sir George Biddell Airy (1801-1881), a crosta tinha densidade constante, mas profundidade variável. Sua teoria da compensação isostática postulava que as cadeias montanhosas se erguiam sobre raizes profundas de rochas siálicas de baixa densidade, enquanto as planícies baixas se apoiavam sobre raízes pouco profundas. Desta forma, a atração da gravidade tendia à igualdade apesar dos distintos regimes topográficos. Wegener sustentava que, se os blocos continentais podiam mover-se verticalmente sobre estes substratos, não havia nenhuma razão que os impedisse mover-se também horizontalmente. Nos períodos muito maiores do tempo geológico, a Terra devia comportar-se como um fluido. (HALLAM, 1976, p.28-29). 49 1.7 – Jeffreys e a 2ª Guerra Se o Pangea havia durado tanto tempo na história da Terra, por que havia quebrado tão dramaticamente no curso de umas poucas dezenas de milhões de anos? Se o SIAL19 continental podia mover-se deslocando o SIMA20, por que haveria de enrugar-se sob a compressão em sua borda de ataque para formar a cordilheira? (HALLAM, 1976, p.43-44) O sismólogo e astrônomo inglês Harold Jeffreys (1891-1989), “dedica certa desdenhosa atenção à deriva continental em ambos as edições de seu livro The Earth, em 1924 e 1929. A Terra é demasiado resistente para ser deformada pela força do pohlflucht (a fuga desde os pólos) ou pela forca das marés. A fricção das marés, e as diferenças gravimétricas nas partes mais altas e mais baixas dos continentes somente podem produzir tensões da ordem de 10-5 din/cm2, enquanto que para elevar as Montanhas Rochosas o valor necessário se aproxima a 109 din.21 Ou seja, se as marés tivessem suficiente força para provocar a deriva dos continentes, a rotação da Terra se deteria em um ano. Quanto às provas geológicas e biológicas da deriva continental, Jeffreys as desconsiderava com algumas poucas frases depreciativas. A ideia de uma Terra em contração era amplamente apoiada, ainda que o modelo de Kevin tenha sido naturalmente desmentido pelo descobrimento da radioatividade.” (HALLAM, 1976, p.44-45) Em 1926, Jeffreys concluiu que as marés terrestres e os dados sismológicos não podiam explicar-se a não ser que a rigidez do núcleo fosse muito fraca. "Não parece haver razão para negar que o núcleo metálico da Terra seja realmente fluido." Dez anos depois, a sismóloga dinamarquesa Inge Lehmann (1888-1993) identificou ondas P refletidas em uma descontinuidade a uma profundidade de 5.000 km: havia portanto no interior do núcleo fluido, nas proximidades do centro da Terra, uma região com propriedades diferentes. (POIRIER, 2000. p.13-42). Arthur Holmes (1890-1965), em 1929, estabeleceu uma escala de tempo absoluta fundada na constância do ritmo de desintegração dos elementos radioativos das rochas. Ele defendeu a existência de células de convecção que dissipavam calor radioativo e moviam a crosta, suprimiu a dificuldade assinalada pelos críticos das ideias de Wegener. Em cálculo cuidadoso, considerou que o período mínimo para produzir o Atlântico sería de uns 100 milhões de anos. (HALLAM, 1976, p.47). 19 O SIAL é constituído de materiais mais leves que ascenderam à superficie originando as rochas ígneas e metamórficas de tipo granítico, SIlicato de ALumínio, sodio e potássio. 20 O SIMA fica por baixo do SIAL, rochas mais densas, basalto, gabro, peridotito, ricas em SIlicatos de MAgnésio, ferro e cálcio. 21 1 din (dyn) = 10-5 N (kg.m.s-1). 50 Alexander Logie Du Toit (1878-1948) possuía impressionante conhecimento das estreitas similitudes entre a geologia Paleozóica e Mesozóica de Sudáfrica e as do leste da América do Sul. Havia uma incapacidade da “geologia ortodoxa” para explicar fenômenos que a deriva podia explicar em forma coerente. “Com o decorrer do tempo e o progresso da ciência, positiva-se, cada vez mais, o papel relevante desempenhado pelo antigo continente Gondwana na história remota da Terra. [...] Cabe-nos, também, a contingência de especular sobre o modo pelo qual esses diversos tratos, hoje separados, se ligaram no início do Mesozóico e como ulteriormente vieram a se apartar de milhares de quilômetros de oceano.” (DU TOIT, 1952, p.1). Du Toit relata-nos que, já em 1916, ignorando os pormenores da teoria de Wegener (1915), formulou uma hipótese um tanto diferente das de Taylor (1910) e de Wegener, nascida sobretudo do estudo dos depósitos glaciais do sistema Karoo (África do Sul), bem como do conhecimento pessoal dos seus equivalentes australianos. (DU TOIT, 1952, p.2). “Em 1937, Du Toit reconstruiu o supercontinente Gondwana com muito maior precisão que Wegener, baseando-se no geossinclinal de Samfrau - Sudamérica, Sudáfrica, Austrália. Entretanto, seu valioso trabalho peca por seu inafortunado estilo. Tal era seu entusiasmo que não tentava separar a descrição da interpretação. Sua linguagem era mais colorida que a de um panfletista.” (HALLAM, 1976, p.52-58). Ver ilustração 1.7.a. Ilustração 1.7.a - Reconstrução de Gondwanalandia por Du Toit. Tomado (e simplificado) de DU TOIT, 1937, fig. 7, apud HALLAM, 1976, p.53. 51 1.8 – Pós-guerras 1951 foi o ano em que eu nasci. Também foi nesta época que o visionário projetista sinergista Richard Buckminster Fuller (1895-1983) viu construirem seus primeiros domos geodésicos em nossa espaçonave Terra – como ele apelidou (ver ilustração 1.8.a). Por volta de 1985, um grupo de químicos irá descobrir uma nova forma de carbono puro, além do diamante, do grafite e do amorfo carvão. Eram esferas de 6 ou mais carbonos, numa arquitetura similar à proposta por Fuller, por isso chamadas de fulerenos. (ERWIN, 2003, p.36-37). Tais estruturas carbônicas seriam futuramente relacionadas aos choques meteoríticos. Ilustração 1.8.a – Cúpula biosférica na exposição de Montreal em 2001. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8c/Biosph%C3%A8re_Montr%C3%A9al.jpg. Em meados da década de 1950, o grupo de Cambridge (Stanley Keith Runcorn, Edward A. Irving, Kenneth Midworth Creer) logrou demonstrar que o Pólo Norte havia se deslocado de forma regular ao largo do tempo. (HALLAM, 1976, p.63) O astrônomo inglês Thomas Gold (1920-2004) aportou a solução em 1955. As perturbações menores da rotação terrestre, à parte da precessão, somente se podia explicar se a forma geoidal da Terra não tivesse uma rigidez permanente. Gold conseguiu rastrear as origens deste erro até Sir George Darwin.22 (HALLAM, 1976, p.63) 22 O erro começou com o filho de Charles Darwin ou depois dele? Em seu artigo Bodily tides of viscous and semielastic spheroids, p.29, George Howard Darwin (1845-1912) diz: “Parece-nos, sobremaneira, bastante mais razoável supor que os materiais da Terra possuem muita similaridade mecânica com vidro”. (It seems, moreover, hardly reasonable to suppose that the materials of the earth possess much mechanical similarity with glass.). Então, creio que ele não acreditava na rigidez do planeta, pois o vidro flui com algum tempo. 52 Ao final dos anos 1950, Stanley Keith Runcorn (1922-1995) e David Wright Collinson (1927-2007) observaram um deslocamento regular do pólo. O registro americano entre o Pré-cambriano e o Paleozóico estava deslocado 30º ao oeste. Depois do Triássico, a diferença desaparecia. Como haviam ensinado a todos os geofísicos a crer na improbabilidade da deriva continental, rapidamente Runcorn reconheceu que a anomalia observada desaparecia se o Atlântico Norte fosse fechado e a América do Norte ficasse em posição adjacente à Europa, como haviam proposto Taylor e Wegener. A implicação era que os continentes se haviam separado em algum momento entre o Triássico e o presente. [...] A prova mais convincente da inversão geomagnética provém, sem dúvida, da datação das lavas pela medição da desintegração do potássio-40 em argônio-40. (HALLAM, 1976, p.67-69) Um descobrimento muito importante foi o de que a profundidade até a base da crosta – ou descontinuidade de Mohorovicic, por baixo da qual a velocidade de propagação das ondas sísmicas aumentava bruscamente a mais de 8 km.s-1 – diminuía ao pé dos taludes continentais, de um valor médio de 35 km abaixo dos continentes a 12 km (abaixo do nível do mar) sob os oceanos. Ademais, excetuando no caso de algumas área pequenas como a Costa de Seychelles no Oceano Índico, não se encontraram sob os oceanos as rochas siálicas, de baixa densidade, típicas dos continentes, confirmando-se assim o que se suspeitava desde muito tempo antes, pela observação gravimétrica e a análise das ondas sísmicas. (HALLAM, 1976, p.75) A grande contribuição do geólogo Harry Hammond Hess (1906-1969), mostrado na ilustração 1.8.b, foi reunir todos estes feitos dispersos em uma hipótese: debaixo da cordilheira central oceânica se encontra o ramo quente ascendente das células de convecção do manto; o solo marinho era transportado bilateralmente desde o eixo da cadeia montanhosa, e logo levado para as fossas marginais pelo ramo frio descendente. (HALLAM, 1976, p.83-84). 53 Ilustração 1.8.b - Harry Hess comandando o USS Cape Johnson. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/01/Hess.gif . A paleogeografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra.23 Durante a 2ª Guerra Mundial, Hess usou suas habilidades e equipamentos para procurar por submarinos alemães no Atlântico Norte. Daí começou a observar e mapear o padrão magnético do assoalho oceânico. Com a guerra fria e o transporte de ogivas atômicas em submarinos soviéticos, seus conhecimentos tornaram-se utilíssimos, e Hess trabalhava para a guarda costeira com orçamento militar.24 Os americanos continuaram a mapear os assoalhos oceânicos em todo o mundo – começando pelas costas norte-americanas, logicamente. John Tuzo Wilson (1908-1993) estudou as falhas transformantes, para as quais as explicações de Hess eram insatisfatórias. No modelo Wilson simplificado que se refere à abertura do Atlântico, ele observa que o traçado da cordilheira mesoatlântica é independente da distância a que se deslocaram os continentes, e simplesmente reflete a forma da ruptura inicial dos blocos continentais (HALLAM, 1976, p.86-89). Frederick John Vine (1939-) e seu supervisor Drummond Hoyle Matthews (1931-1997), publicaram na Nature, em 1963, suas observações das anomalias magnéticas paralelas e simétricas. Era como se fosse um magnetófono que havia registrado a velocidade da “esteira transportadora” do fundo oceânico. Isso levou a que James Ranson Heirzler (1925-) e seus colaboradores conseguissem em 1968 uma escala de tempos dos eventos magnéticos até o Terciário, sob a suposição de uma velocidade de extensão constante. (HALLAM, 1976, p.91-97). Desde então, isso vem sendo apresentado no ambiente escolar e acadêmico como o padrão zebrado do fundo oceânico. 23 Alusão ao célebre livro do geógrafo Yves Lacoste (Fez, 1929-) La géographie, ça sert, d'abord, à faire la guerre (A Geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra), de 1976. 24 Apesar de eventuais desconfianças que se possa ter em virtude da carreira militar de Hess, é preciso admitir que foi o homem certo, na hora certa, no lugar certo. Seus conhecimentos e interesse científicos, aliados à persistência, disciplina, interesses e orçamentos militares foram os fatores que levaram o mundo a citá-lo como pai da teoria da tectônica de placas. 54 En 1967, William Jason Morgan (1935-) teve a ideia de aplicar o conceito das falhas transformantes (de John Tuzo Wilson) a uma superficie esférica. Dividiu a superfície da Terra em vinte blocos, divididos por limites de três classes: elevações oceânicas, fossas e falhas transformantes, onde nem se cria nem se destrói crosta. Para outorgar maior rigor matemático ao modelo interpretativo, supunha-se que os blocos eram perfeitamente rígidos. Como a crosta é demasiado delgada para possuir a resistência requerida, adotou-se a suposição de que esses blocos se extendiam até uma profundidade de 100 km sob a capa de baixa velocidade do manto. A zona relativamente rígida dos 100 km superiores, chamada tectosfera por Morgan, é conhecida pela denominação de litosfera. (HALLAM, 1976, p.102) O teorema do matemático e físico suíço Leonhard Paul Euler (1707-1783) afirma que um bloco situado numa esfera pode deslocar-se para qualquer parte da mesma por simples rotação sobre um dado eixo.25 Estava em marcha a elaboração da ideia da tectônica de placas. 25 Em geometria, o Teorema da Rotação de Euler diz que, num espaço tridimensional, qualquer movimento de um sólido rígido que mantenha um ponto constante, também deve deixar constante um eixo completo. Isto também quer dizer que qualquer composição de rotações sobre um sólido rígido com eixos arbitrários é equivalente a uma só rotação sobre um novo eixo, chamado Pólo de Euler. 55 1.9 – Tectônica hegemônica Uma modificação no consenso da comunidade científica ocorreu claramente desde meados da década del 1960 na geología e geofísica. O câmbio foi particularmente dramático nos Estados Unidos. (HALLAM, 1976, p.149) Em 1968, o geofísico francês Xavier Le Pinchon (1937-) desenvolveu um modelo compreensivo da tectônica, com nascimento de placas nas cadeias meso oceânicas e destruição nas áreas de subducção26. Todavia não se conhece bem a razão para que não haja enrugamento de sedimentos em algumas fossas nas bordas do Pacífico. A questão inevitável é: o que faz mover as placas? Hess e Runcorn propuseram modelos de convecção termal dentro do manto, mas isto não explica por que os ramas ascendentes ou descendentes das células de convecção podem ser abruptamente cortados por falhas transformantes, e é dificil imaginar que a velocidade do ramo ascendente sob as cadeias oceânicas aumente na medida em que se distancia do eixo de rotação, como corresponde aos movimentos das placas. E há outra dificuldade: África e Antártida estão rodeadas por cordilheiras em três de seus lados, sem que hajam bordas destrutivas para consumir a difusão do solo marinho. Um simples esquema de convecção é claramente inadequado. (HALLAM, 1976, p.107-110). Ainda que se suponha que a litosfera está fria no momento em que se inicia a descida, os arcos de ilhas são zonas de alto fluxo de calor e abundante atividade vulcânica. (HALLAM, 1976, p.111) “O físico alemão Walter Maurice Elsasser (1904-1991) é considerado um pai da teoria do dínamo, atualmente aceita como explicação do magnetismo terrestre. Ele propôs que a camada fria de litosfera que afunda sob os arcos de ilhas possa ser uma fonte primordial de energia gravitacional. Mas não explica como poderia iniciar-se o processo, afora que parece duvidoso que o movimento pudesse manter-se por longo tempo. Ademais, é de se esperar que a velocidade de expansão fosse mais rápida nas placas menores rodeadas de fossas, e isto não ocorre. Por outro lado, é mais fácil explicar a afluência do material do manto. De outro modo, por que se encontram basaltos mais jovens exatamente no centro?” (HALLAM, 1976, p.110) Em meados dos anos 1960, o geólogo japonês Akiho Miyashiro (1921-2008) observou que as montanhas de seu país mostram um par de cinturões metamórficos distintos, paralelos e adjacentes, formados ao final do Mesozóico. No lado que mira o Pacífico há um grupo de rochas 26 Zonas de subducção ou zonas de Benioff -Wadati. Em 1927 o japonês Kiyoo Wadati (1902-1995) estudou os sismos em camadas profundas, originando a escala de magnitude de terremotos de Charles Francis Richter (19001985) em 1935. Victor Hugo Benioff (1899-1968), EUA, estudou sismos junto às fossas em 1950. 56 sedimentares metamorfoseadas (xistos) com minerais que indicam que a formação se fez a baixa temperatura, mas alta pressão (glaucofano, argonita, lawsonita). Não há rastros de embasamento granítico. O outro cinturão, a oeste, possui granitos e os sedimentos metamorfoseados associados contem minerais como a sillimanita, que indicam temperatura relativamente alta e baixa pressão. (HALLAM, 1976, p.123) A notável adaptação das linhas de costa é ainda uma das mais fortes evidências para a deriva. A melhor adaptação é obtida, não na presente linha de costa, mas a uma profundidade de 1000 m (isóbata de 914 m) nos declives continentais. Os continentes nos hemisférios norte e sul podem ser adaptados com pequenos vazios e superposições que alcançam um desajuste médio de apenas 130 km. (EICHER, 1969, p.105-106). Ilustração 1.9 - Figura de acordo com Bullard, 1965, isóbata 500 pés. Superposições em escuro e vazios em branco. Islândia, México, América Central e suas ilhas, devem ser omitidas; a Espanha deve ser girada. Fonte: http://www.virtual.unal.edu.co/cursos/sedes/leticia/80123/lecciones/cap4/leccion8.html Sir Harold Jeffreys (1891-1989) rechaçou as argumentações de Wegener até a última edição de The Earth (JEFFREYS, 1979). Prefere confiar em seus cálculos de viscosidade27 do manto, que impedem a seu juizo uma significativa mobilidade lateral. (HALLAM, 1976, p.149) O geólogo estrutural russo Vladimir Vladimirovich Belousov (1907-1990) optou por uma imagem da Terra em que os movimentos tectônicos são predominantemente verticais e no qual a crosta continental pode converter-se de algum modo na oceânica. O australiano Samuel Warren 27 Fricção interna ou viscosidade, expressa em poises, é a propriedade do corpo para exercer resistência durante o deslocamento de uma de suas partes em relação à outra. Quanto maior é a viscosidade, maior é a resistência do corpo à sua deformação plástica. A propriedade inversa à viscosidade e à fluidez. (BELOUSOV, 1979, p.31) 57 Carey (1911-2002), ainda que aceitasse a migração lateral dos continentes, defendia seu modelo de uma Terra em rápida expansão, razão pela qual se opõe à tectônica de placas. (HALLAM, 1976, p.150) Em 1972, Niles Eldredge (1943-) e Stephen Jay Gould (1941-2002) propuseram um padrão de evolução das espécies sob equilíbrio pontuado, contrastando com o gradualismo em voga – lenta e contínua mudança das populações numa nova espécie. No equilíbrio pontuado, o equilíbrio corresponde à fase de alopatria28 e aperfeiçoamento, enquanto as pontuações são mudanças súbitas de dominação por uma espécie melhor adaptada. (FORTEY, 2001, p.162-166). Esse padrão de equilíbrio pontuado me parece uma descrição adequada também à evolução da crosta terrestre: fases de tentativa de equilíbrio, pontuadas por mudanças súbitas. O estratígrafo norte-americano Arthur Augustus Meyerhoff (1928-1994) assumiu quase heroicamente o combate contra uma grande parte das evidências que apoiam a deriva continental, desde a distribuição dos antigos evaporitos e tilitos até os dados paleomagnéticos, numa série de artigos extensos e beligerantes que, ao menos, atestam sua surpreendente capacidade para manejar uma vasta literatura. (HALLAM, 1976, p.151) Desde meados do século XIX, a ênfase geológica era na primazia de processos lentos e graduais, rejeitando explanações catastróficas, particularmente as extraterrestres. A feição crítica da hipótese de impacto feita por Louis e Walter Alvarez, em 1980, foi a descoberta de um incremento de 30 vezes na concentração do elemento Irídio no limite K-T, Cretáceo-Terciário, na Itália, Dinamarca e Nova Zelândia. Trabalho anterior sugeria que o Irídio em rochas sedimentares advém da constante chuva de micrometeoritos.29 (ERWIN, 2003, p.23). Em 1985, os fulerenos foram relacionados aos raios, grandes incêndios florestais e aos impactos meteóricos, pela geóloga norte-americana Luann Becker, que ainda propôs que o evento do limite Permo-Triássico foi um impacto meteorítico. 28 Separação geográfica. (Tradução do autor.) Geological training since the mid-1800s had emphasized the primacy of slow, gradual processes and rejected catastrophic explanations, particularly extraterrestrial ones. The critical feature of the Alvarez (Louis and Walter, in 1980) impact hypothesis was the discovery of a thirty-fold increase in concentration of the element iridium at the Crataceous-Tertiary boundary at Gubbio, Italy, and at other sites (Denmark and New Zealand). Earlier work had suggested that iridium in sedimentary rocks came from the constant rain of micrometeorites. 29 58 2. DERIVAÇÕES 2.1 - Terremotos tectônicos Imagina-se que os terremotos produzidos nas zonas de subducção estejam relacionados à pressão de águas intersticiais e de outras correntes aquosas. Nesse caso, talvez fosse melhor admitir que não são produzidas por atrito, mas por escorregamento de rochas sobre as placas. (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.67). Se convertermos em eletricidade a energia dissipada na ocorrência de terremotos dos últimos 100 anos, teremos 2x1010 W.s-1. Já a energia dissipada pelos vulcões corresponderia a 1x1012 W.s-1. A energia interna da Terra exala 35x1012 W.s-1. Cerca de 1/3 da energia solar é refletida e volta ao espaço cósmico. A energia solar consumida na superfície terrestre é de 1x1017 W.s-1, ou quase 3000 vezes mais que as energias de terremotos, vulcões e interior da Terra. (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.73-75) Hoje quase não existem vulcões com mais de algumas centenas de milhões de anos, porém as rochas vulcânicas estão distribuídas continuamente, desde o presente até os tempos précambrianos mais remotos, o que nos permite afirmar que a crosta terrestre vem sendo formada de modo mais ou menos contínuo por todas as eras geológicas – hipótese do crescimento contínuo da crosta. (OZIMA, 1991, p. 78-79). A península indiana é parcialmente coberta pelas lavas vulcânicas do Deccan, nas regiões central e noroeste da península. “Essas lavas se posicionaram por sobre o embasamento préCambriano por volta da era Cretácea. Parece evidente que essas feições possuem uma origem de falhas geotectônicas. Um exemplo primordial do escopo mecânico nos horizontes vulcânicos é caracterizado pelo vulcanismo basáltico. Sumarizando – os padrões em questão são causados por tectônica e não por gênese intrínseca ou por processo exogênico: o escopo é mecânico e não epigenético.”30 (SCHEIDEGGER, 2004, p.66-68). 30 Deccan lavas had been emplaced towards the close of the Cretaceous era. It is evident that such features have a geotectonic origin by scarp faulting. [...] a prime example of the presence of mechanical design in volcanic landscapes characterized by basaltic volcanism. Summary – the patterns in question are caused by tectonic and not by intrinsic lava-genetic or exogenic processes: the designs are mechanical and not epigenetic. 59 2.2 – Petróleo entre sais As características distintas do sal levam diversos grupos de pesquisadores a estudá-lo: físicos, químicos, engenheiros, biólogos e outros. Geólogos estudam a formação e evolução dos grandes depósitos, incluindo a halocinese ou tectônica do sal, que se refere à deformação das camadas sedimentadas. A falta de porosidade do sal o torna um selante perfeito, resultando numa associação entre a ocorrência de sal numa bacia e o sucesso na exploração de hidrocarbonetos. Evaporitos são rochas temporárias ou móveis – movimentam-se com facilidade tanto quimicamente (em solução de água) como fisicamente (em fluxo sólido). O mar contém 3,65% em peso de vários sais, com 97% de NaCl. (MOHRIAK et alii, 2009, p.16-19) A dissolução dos evaporitos pode resultar na deposição de novas camadas salíferas redepositadas em diversas idades. Como exemplo, pode-se citar as formações derivadas da rochamãe precambriana (sal Hormuz), no Irã, originando camadas de evaporitos no mezozóico, no Terciário e até no Recente. (MOHRIAK et alii, 2009, p.21). O petróleo e o gás natural são gerados somente após soterramento profundo (alguns quilômetros) e aquecimento dos sedimentos, em geral de granulação fina e ricos em matéria orgânica. [...] Após a formação na rocha geradora os hidrocarbonetos sofrem ação da forças de flutuação e de pressão capilar, migrando para profundidades mais rasas. Grande parte das rochas geradoras parece ter-se originado entre o Permiano Superior e o Jurássico Médio. Esse intervalo corresponde à Orogenia Herciniana, quando se formaram cadeias montanhosas em escala mundial. Ademais, entre 90 e 80 milhões de anos atrás, ocorreu a Orogenia Alpina em escala mundial, correspondente ao tempo geológico denominado Cretáceo Superior. Nessa época ocorreu a formação de 2/3 do petróleo e gases naturais do mundo, em rochas geradoras do Jurássico Superior, Cretáceo Inferior e Médio. (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.64-65). Comentando sobre as causas das intrusões de magma, BELOUSOV (1991, p.77) observa: “A causa principal da estratificação é a diferenciação gravitacional do magma durante sua cristalização. Os minerais fêmicos de composição básica são os primeiros a cristalizar-se e descender ao fundo da câmara magmática. Mais tarde se cristalizam os materiais sálicos de composição mais ácida, preenchendo a parte superior. [...] Tem ampla difusão o fenômeno da estratificação reiterada das intrusões, particulamente nas básicas e alcalinas. As rochas de diversa composição se alternam reiteradamente no seio da intrusão comum. [...] É assombroso, mas as camadas cuja espessura é de dezenas de centímetros podem, às vezes, ser observadas em 60 distâncias de vários quilômetros.” Acredito que as observações de Belousov quanto à diferenciação gravitacional se aplicam à estratificação em geral, bem como devemos considerar que pode suceder o mesmo com as intrusões de materiais menos viscosos – como o sal e o petróleo. Nos modelos de Stille e Arrhenius, numa bacia profunda, o sal sobe verticalmente, atravessando as camadas e ficando próximo à superfície. Isso resultaria numa acumulação de material mais leve, que inicialmente formaria uma almofada, e depois formaria um diápiro31. (MOHRIAK et alii, 2009, p.101). “No presente, precisa-se grande esforço para encontrar uma camada de 10 cm de evaporitos sendo depositada nas regiões desérticas. Como, então, se depositaram 2000 m de sal no Oceano Atlântico durante o Aptiano Superior (125 milhões de anos), num intervalo de tempo talvez inferior a um milhão de anos? [...] Para formar um volume unitário de uma camada de sal é necessário evaporar completamente um volume de água do mar cerca de 60 vezes maior. Somase a este paradoxo a interpretação de que os evaporitos são formados muito rapidamente no tempo geológico.” (MOHRIAK et alii, 2009, p.67). Estudando a tectônica do sal, deparei-me com uma observação de Georges Waisman, da Petrobrás (MOHRIAK et alii, 2009, p.319): “A conformação da linha de costa exerce influência precípua no padrão das falhas que afetam os sedimentos [da plataforma continental] acima do sal.” Pode parecer uma afirmação fútil, mas me soa como condizente, algo que interessa. A linha de costa exerce influência precípua na plataforma continental. Sim, a tensão superficial de uma superfície exerce influência precípua na superfície que a confronta. 31 Diápiro é uma intrusão magmática, por diferença de densidade, em rochas encaixantes dúcteis. É uma magma que ascende em forma de gota invertida. (WERNICK, 2004, p.247). 61 2.3 – Tensão Superficial A climatologia é uma das áreas de estudos onde a tensão superficial é bastante considerada. Uma massa de ar quente empurra uma massa de ar frio. Mas ar não se mistura com ar? Como é isso? O ar tem pele? Sim, tudo tem pele. A pele é a fronteira, por vezes invisível, responsável pela identidade das coisas, pela separação de diferenças ... físicas, químicas, raciais, e até políticas. Meus professores, no passado, diziam que a força da gravidade era a responsável pelo formato esférico dos planetas. A tensão superficial me chamou a atenção ao vislumbrar um filme antigo da NASA – National Aeronautics and Space Administration – dos anos 1960. Ainda em preto e branco, o filme mostrava astronautas americanos no espaço. Um deles abria uma torneirinha do suco de laranja contido num barrilzinho de aço. Ao sair pela torneirinha, o suco flutuava em esferas. Imaginei que, se fosse resultante da força da gravidade, o suco colaria no astronauta, ou na parede da nave, antes de esfericizar-se. Na climatologia encontrei professores que aceitaram conversar sobre tensão superficial e me encorajaram até com a tectônica. Foi no Laboratório de Climatologia, em 2008, que o professor Tarik32 me apresentou um comparativo entre os afundamentos de navios no triângulo das Bermudas e a formação de plumas mantélicas. E também me levou ao outro lado do planeta, comentando das forças antipodais. Os livros e professores da engenharia, na PUC-RJ, explicavam que a tensão superficial eram números buscados em tabelas. Eu precisava de uma mente não constrangida pela academia. Procurei, em 2006, meu amigo Alê.33 Ele me disse que seus professores tampouco lhe explicavam a respeito, mesmo em perguntas diretas. Explicou suas ideias pessoais sobre a tensão superficial. “Há muitas teorias para explicar tal força, da qual pouco nos inteiramos, apesar de sua importância em todas as coisas. É a tensão superficial – em seu efeito capilaridade – que faz a água subir por uma folha de papel. Mas, se a água sobe, é em função de que essa força é maior do que a força da gravidade, que tanto nos encanta e da qual falamos todo o tempo.” Alê me falou que seus professores sempre fugiram de suas perguntas sobre a tensão superficial. E a você, perguntei, “que te parece que um líquido suba por um canudo?” Ele foi direto: “a capilaridade é a força de reação ao rompimento da camada superficial do líquido. Ela reage normal à superfície.” 32 Professor Dr. Tarik Resende de Azevedo, Depto. Geografía, FFLCH-USP – aulas de Climatología em 2008. Alexandre Gorektin Neto, engenheiro pelo IME, Instituto Militar de Engenharia, aposentado pela Petrobrás, atual funcionário da Receita Federal. 33 62 A tensão superficial permite que os insetos caminhem sobre a água. A tensão superficial faz com que o hidreto de metano suba pela crosta, até perto do solo oceânico; faz com que o sal e o petróleo subam até ficarem presos por alguma rocha impermeável; ou, na descrição da modelagem física de processos halocinéticos feita por Peter Szatmari na Petrobrás (MOHRIAK et alii, 2009, p.167-168), que seja o sal que funcione como armadilha para os hidrocarbonetos. O sal não apenas constitui um selo eficiente, como também sua mobilidade tende a gerar importantes caminhos de migração e armadilhas para os hidrocarbonetos. (JENYON, M. K.; Salt Tectonics, London: Elsevier, 1986, apud MOHRIAK et alii, 2009, p.168). Meu colega Hector34 me apresentou um modelo interessante. Ao derramar o mel de uma colher, fica um fio escorrendo, até que, num dado instante, o fluxo de mel se interrompe e o fio restante de mel sobe. É a força da tensão superficial se sobrepondo à da gravidade. A tensão superficial responde pelo formato do planeta ante as forças gravitacionais. A Terra gira em si a cada 24 horas, mas a maré se repete a cada 12 horas. As ditas forças de maré não ocorrem apenas no lado do planeta onde lhe são aplicadas as forças gravitacionais do Sistema Sol-Lua. Elas também se apresentam no outro lado, antipodalmente, como resultado da tensão superficial da crosta terrestre. Melhor do que um geóide mostrado na ilustração 2.3, poderíamos definir o formato do planeta como um ovóide, com um bico de cerca de 1 m de altura, que percorre a crosta de acordo com a resultante das atrações gravitacionais, principalmente do sistema Lua (2/3 das forças de maré) e Sol (1/3 das forças de maré). Ilustração 2.3 – Comparativo enre o geóide e o elipsóide de revolução. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/78/Geoundnsrp.png. 34 Hector Rafael dos Santos, graduado em Geografia pela USP em 2011, atualmente cursando Saúde Pública. 63 Na região intertropical, essas forças atuam com mais intensidade, e o bico formado vai estressando a crosta, a ponto de aprofundar a alterita35 do solo nestas áreas. Assim, a região intertropical – mais estressada gravitacionalmente pelo plano Sol-Lua – fica mais propícia a um solo mais profundo. Depois desse estresse mecânico é que a água e substâncias orgânicas vão ingressar na alterita e transformá-la em solo propriamente dito. Pode parecer uma discussão desnecessária, mas define quem veio primeiro, pois há os que defendem que o solo profundo resulta da maior incidência de chuvas na região intertropical. No interior da Austrália, por exemplo, onde não chove, ocorre alterita profunda sem formação de solo profundo. Creio que, se água aprofundasse solo, os oceanos teriam o solo imensamente mais profundo. 35 Das aulas de pedologia, com a Profª Drª Sonia Furian – USP-FFLCH, no 2º semestre de 2009, lembramos que a alterita constitui-se na rocha original intemperizada física ou quimicamente, ou seja, o esfarelamento da rocha mãe. Já o solo é a alterita que sofreu pedogênese, ou seja, a alterita com agregados orgânicos. 64 2.4 – Placas e mapas Muitas da chamadas placas tectônicas não existem fisicamente. Elas só existem nos mapas. Fossas e cadeias meso-oceânicas sim, existem. Depois, no papel, a gente liga estas estruturas físicas com linhas e pontilhados (ver ilustração 2.4.a). E aí estariam as placas tectônicas. E por qual razão deveríamos aceitar pontilhados num mapa como prova de uma teoria? É quem sem esses pontilhados a teoria não funcionaria. Ilustração 2.4.a - Mapa que mostra as ditas placas tectônicas e sua direção de empuxo. Fonte: Editorial Vincens Vives, reproduzido de http://www.profesorenlinea.cl/Ciencias/Placas_tectonicas_Teoria.htm. As dificuldades da hipótese da deriva – falhas transcorrentes como a de San Andreas, Escócia, Nova Zelândia, Filipinas e Chile seriam evidências de deslocamentos atuais das placas – na maioria paralelas às bordas continentais, que não se ajustam à maioria das hipóteses da deriva, que requerem movimento perpendicular às bordas. A informação sísmica sugere que os assoalhos de todos os oceanos são bastante uniformemente estratificados. Como poderia ocorrer tal uniformidade se um pedaço da crosta do tamanho do Oceano Atlântico foi, de alguma forma, eliminado da bacia do Pacífico enquanto uma nova se formava no Atlântico? Por que o assoalho de Atlântico, formado desde o começos da era Mesozóica, consiste em camadas sísmicas quase idênticas às do muito mais antigo Pacífico? Como 65 conseguiu a bacia Atlântica, em seus cerca de 300 milhões de anos, acumular sedimento mais ou menos duas vezes mais espesso que o acumulado na bacia Pacífico desde sua origem? O fluxo de convecção no manto, um ingrediente vital nas modernas teorias da deriva, é possível apenas se o manto se comportar como um material relativamente fraco sob pressões de grande duração. Admitindo que a Terra se comporte como fluido a pressões muito duradouras, a comparação da forma esperada da Terra com sua forma observada de satélites demonstra que existem enormes pressões no manto. Para suportar estas pressões o manto deve ter uma viscosidade36 média de 1026 poises, um valor demasiadamente grande para permitir a convecção, e cinco ordens de grandeza maior que o valor de 1021 poises obtido admitindo-se que o ressalto pós-glacial da Escandinávia seja devido ao alívio de carga viscosa. Os dois extremos podem ser incorretos. Os dados gravitacionais obtidos na superfície do mar indicam que as observações preliminares de satélites podem estar imprecisas e o soerguimento pós-glacial da Escandinávia pode bem representar um ressalto elástico antes de real alívio de carga viscosa. Em qualquer evento, as estimativas geofísicas de viscosidade do manto diferem em cinco ordens de magnitude. (EICHER, 1969, p.112-114). Na 2a edição de Geologic Time, em inglês, 8 anos depois da 1a, o autor Don L. Eicher acrescenta, nas evidências paleomagnéticas: o lugar exato da formação da crosta é ao longo da cadeia meso-Atlântica, fortemente suportada pelas tênues diferenças no campo magnético nos flancos da cadeia – anomalias magnéticas, imagem espelhada etc.37 (EICHER, 1976, p.90-92). O autor também retira o tópico sobre “as dificuldades da hipótese da deriva” (reproduzido acima) e inclui um outro onde menciona os seguintes assuntos: a expansão do fundo do mar entre 1 e 10 cm por ano; a litosfera constitui a camada externa de 100 km da Terra; uma zona não rígida parcialmente fundida no manto chamada astenosfera; zonas de subducção onde a velha 36 O poise (P) é a unidade de viscosidade dinâmica no sistema CGS de unidades. No SI, a unidade é o "Pascal segundo" (1 Pa.s = 1 kg.m-1.s-1 = 10 P). 37 (Tradução do autor.) The locus of crust formation is along the Mid-Atlantic Ridge, strongly supported by subtle differences in the magnetic field on the flanks of the ridge – magnetic anomalies, mirror image etc. 66 litosfera está submergindo no manto; 7 grandes placas e cerca de 20 pequenas placas. Cada placa se move independentemente numa unidade coerente.38 (EICHER, 1976, p.93). A margem da placa entre África e Eurásia não é claramente definida. As montanhas Atlas evidentemente são parte da cadeia Alpina-Himalaia e deve ser considerada na Europa. A península arábica, incluindo o Sinai, é geologicamente parte da África.39 (SCHEIDEGGER, 2004, p.58-59). No nordeste da América do Sul, há uma ramificação da Cordilheira dos Andes que continua em Trinidad – ver ilustração 2.4.b. As Antilhas Menores pertencem morfologicamente a essa ramificação (Aruba, Bonaire, Curaçao, Margarita etc.), mas outros as colocam numa placa especial “caribenha”; a divisão não é clara.40 (SCHEIDEGGER, 2004, p.75). Ilustração 2.4.b – Mapa ilustrativo dos Andes e das Antilhas. Figura tomada de http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/65/SouthernCaribbeanIslands.PNG 38 (Tradução do autor.) Sea-floor spreading between 1 and 10 cm/year; lithosphere constitutes the outer 100 km of the Earth; a nonrigid partly molten zone in the mantle called asthenosphere; subduction zones where old lithosphere is sinking deep into mantle; 7 huge plates and 20-odd small plates. Each plate moves independently as a coherent unit. 39 (Tradução do autor.) The plate boundary between Africa and Eurasia is not clearly defined. The Atlas Mountains are evidently also part of the Alpine-Himalayan chain and should actually be counted in Europe. ... the Arabian Peninsula, including Sinai, is geologically part of Africa. 40 (Tradução do autor.) In the NE of South America there is a offshoot of the Andes which continues into Trinidad. The Lesser Antilles ... actually belong morphologically to the latter (Aruba, Bonaire, Curaçao, Margarita etc.), but others are assigned to a special “Caribbean Plate”; the division is not always clear. 67 2.5 – Elipses, espirais, vórtices Robert Sinclair Dietz (1914-1995), outro dos pais da tectônica de placas, publicou um artigo, em 1961, sobre o Vredefort Dome, África do Sul, sugerindo que se tratava de um impacto de meteoro – ver ilustrações 2.5.a e 2.5.b. Alexander Du Toit, em 1939, sugeriu que era mesmo um domo, mas também não entendeu as montanhas do entorno, em semi-círculo. A controvérsia segue até nossos dias. Dietz foi estudioso de impactos mas, àquela época, ainda não se inteirava que as crateras possuem forma circular, mesmo quando os meteoros caem de forma inclinada. Ilustrações 2.5.a e 2.5.b - Vredefort Dome, na África do Sul, foto e mapa. Fontes: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/31/Vredefort_Dome_STS51I-33-56AA.jpg e http://vdome.co.za/wp-content/uploads/2011/10/maps-vdome-geology-map.jpg. Se analisamos os mapas da região, conseguimos perceber que não é bem uma cratera nem um semi-círculo. É uma estrutura em espiral: um vórtice. Fico com a impressão de que possa ser uma intrusão magmática provocada por um impacto – tão grande que rompeu a crosta. Dissertando sobre diapirismo profundo, descrevendo estrutura de massas de deslocamento complexas, BELOUSOV (1991, p.250-252) observa que “abóbodas semelhantes frequentemente estão compostas de granito em sua parte média, de migmatitas que rodeia a esta e de um cinto exterior de gneisses. As abóbodas geralmente se dispõem entre as rochas metamórficas (precâmbricas ou muito mais jovens); seu diâmetro oscila desde alguns até várias dezenas de quilômetros.” Semelhante característica da estrutura interna assinala o feito de que a elevação do maciço teve lugar quando o material granítico já se encontrava em estado semilíquido e o interior deste já 68 haviam se formado cristais duros que giraram durante o fluxo irregular da massa de confinamento. Ver ilustração 2.5.c. Ilustração 2.5.c - Abóboda e amplas dobras anticlinais de gneisses no Estado de Maryland, EUA. Segundo H. Cloos: Rochas do paleozóico inferior: 1- xistos de Wissachicon; 2-mármore de Cockswil; 3-quartzita de Setter; 4-gneisse de Baltimore; 5-granito. Fonte: BELOUSOV, 1979, p.251, fig.145. Achei noutro livro41, o esquemático de outra destas espirais, ainda maior, na Groenlândia. O basalto que cobre a ilha, por baixo do gelo, também se posicionou em forma de espiral. Elipse é a figura de sintaxe que consiste na omissão de termos que se pode subentender. Exemplificando: “No meio da rua, a procissão”; o verbo - vinha - está elíptico. A figura elipse está em duas dimensões; o vórtice em três. Por vezes, quando escrevo elipse, o vórtice está subentendido, elíptico. 41 Higgins A. K. et al, eds. The Greenland Caledonides: Evolution of the Northeast Margin of Laurentia. GSA, 2008. Geological Society of America, Memoir 202. 69 Ilustração 2.5.d - Esquemático da abóbada complexa migmatítica na Groenlândia. (1) migmatita; (2) rochas metamórficas; (3) paleozóico inferior . Segundo John HALLER, 1971, Fig. 52, apud HIGGINGS, 2008, p.7. A figura geométrica elipse é um modelo, uma forma simplificada, para facilitar nosso entendimento da natureza. As elipses não existem na realidade. O que existem são as espirais e os vórtices, que estão sempre convergindo ou divergindo. 70 2.6 – Tempo geológico Se ainda há elementos radioativos naturais atualmente, isto se deve à baixa taxa de desintegração de alguns elementos intermediários das séries radioativas. Então isso mostra que processos termais (resfriamento ou aquecimento radioativo) apresentam quantias insuficientes de energia para o motor de evolução endogênica. Diastrofismo42 e vulcanismo são ainda aparentemente tão ativos em nossos dias quanto nos finais do Précambriano. Ainda existem outras objeções contra a teoria das correntes de convecção termais, como sua premissa de homogeneidade química do substrato, a qual diverge das visões cosmoquímica e geológica, tanto quanto da observações sismológicas43. (VAN BEMMELEN, 1954, p.9). Sob a influência do tempo geológico, um evento altamente improvável para qualquer ano torna-se crescentemente provável na longa jornada. O paleontólogo norte-americano George Gaylord Simpson (1902-1984), opositor de Wegener, observou que, se a possibilidade de uma espécie cruzar uma barreira, em um ano, é de uma em um milhão de anos, p=0,00001, a probabilidade de que o evento ocorra em um milhão de anos aumenta para p=0,63, significando que o evento é mais provável ocorrer do que não ocorrer. No curso de 10 milhões de anos, a possibilidade da barreira ser superada torna-se praticamente certeza, com p=0,99995. (EICHER, 1969, p.108). As áreas continentais correspondem hoje a 30% da superfície terrestre. Cerca de 10% da crosta compõe-se de rochas do Arqueano inferior (3,8 a 3,5 bilhões de anos) e 60% do Arqueano superior (2,9 e 2,6 bilhões de anos). Os restantes 30% formaram-se no Proterozóico (1,9 a 1,7 bilhões de anos) e no Fanerozóico (após 500 milhões de anos). (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.38-39). 42 (Tradução do autor.) Diastrophism, also called tectonics, is the mechanical aspect of the transfer of energy to the surface of the earth, Van Bemmelen, 1954, p.93. 43 (Tradução do autor.) That there are still natural radioactive elements in our time, more than three thousand million years after the origin of our planet, is only due to the very slow rate of desintegration of some of the intermediate elements of the radioactive series. So it seems that thermal processes (either cooling or radioactive heating) provide insufficient amounts of energy for the motor of endogenic evolution. Diastrophism and volcanism are apparently still as active in our day as in late pre-Cambrian times. There are still other objections against the thermal convection currents theory, such as its premise of chemical homogeneity of the substratum, which is at variance with modern cosmochemical and geological views, as well as with seismologic observations. 71 2.7 – Sete continentes Os continentes, que se diferenciam dos oceanos em virtude da crosta siálica, e por serem movimentados pela expansão do fundo marinho são: (1) Américas do Norte, Centro e Sul; (2) Europa, Grã-Bretanha e Groenlândia; (3) Ásia e Japão; (4) África e Madagascar; (5) Austrália e Oceania; (6) Antártida; e (7) Seychelles (sic) – ver ilustração 2.7.a. As ilhas Seychelles estão no Oceano Índico, a meio caminho entre a África e a Índia, e sua existência não se explica pela tectônica de placas. Na descrição de SHEIDEGGER (2004, p.91-92) “Muitas das ilhas oceânicas (não considerando ilhas continentais como Madagascar, Ceilão e Socotra) são de origem vulcânica, com a notável exceção das Seychelles, ‘deixadas para trás’ durante o processo de deriva. [...] As Seychelles são uma cobertura sedimentar fina (talvez 500 m), sobre um embasamento que se extende para baixo por 13 km de profundidade (granito)”.44 Ilustração 2.7.a – Ilhas Seychelles, crosta continental. Tomada de: http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/africaandindianocean/seychelles/8705832/Shark-kills-Britishhoneymooner-in-Seychelles.html. 44 (Tradução do autor.) Most of the islands (not considering continental islands like Madagascar, Ceylon and Socotra) are of volcanic origin, with the notable exception of the Seychelles, “left behind” during the drift process. Seycheles – a thin sedimentary cover (perhaps 500 m) upon a basement which extends downward to about 13 km depth (granite). 72 2.8 – Planetas e satélites Consideremos a teoria da nebulosa para formação do Sistema Solar, como concebida pelo Marquês de Laplace (ROCHE, 1873, p.5-11). Apesar da desintegração radioativa poder variar com o nível de explosão estelar originária, a composição isotópica dos elementos que formam o material encontrado no Sistema Solar é, com poucas exceções, uniforme como um todo. (OZIMA, 1991, p.12-16). A observação de fracionamentos distintos para o Oxigênio em meteoritos (Clayton & Mayeda, sem data) nos leva a considerar ao menos dois tipos de Oxigênio, ou de nucleossínteses distintas. Tais anomalias isotópicas foram observadas para o Neônio (Black & Pepin, 1969) e para Mg, Ca, Ti, V, Kr, Sr, Xe, Ba, Nd e Sm. Tais anomalias podem indicar que a nebulosa solar não era plenamente homogênea ou que as mesmas tenham sido criadas antes do Sistema Solar. (OZIMA, 1991, p.17-24). Se o manto não se diferenciou totalmente, pode não existir convecção no manto. A evolução da Terra deve ter ocorrido em meio à nebulosa, com o gás circundante provocando uma continuada elevação na temperatura. Se a Terra tivesse crescido no vácuo, teria perdido calor continuamente e a temperatura não teria se elevado. Considerada a hipótese de acreção da Terra em meio à nebulosa, deve-se admitir que esta teria sua parte superior em estado de fusão. (OZIMA, 1991, p.31-32). Os resultados de experimentos de datação envolvendo amostras de rochas lunares indicaram uma ampla faixa entre 3,5 e 4,5 bilhões de anos. Não se chegou a uma conclusão se isto é resultado de atividade vulcânica (energia térmica resultante de desintegração radioativa, como ocorreu na Terra) ou de chuva de meteoritos (acredita-se que a maioria das crateras lunares tenha sido criada por colisões de meteoritos). Estando a Lua a apenas 380.000 km da Terra, é natural admitir que, se um número tão grande de meteoritos caiu na Lua, um número ainda maior deveria ter caído na Terra. Será que as posições relativas de Terra e Lua eram bem diferentes da atual quando ocorreu tal chuva de meteoros? Ou será que tais marcas foram apagadas da crosta terrestre? Não dispomos de provas suficientes para definir esta questão. (OZIMA, 1991, p.43-44). Na Lua, com raio 1.740 km, a espessura da litosfera chega a 1.000 km, mas a astenosfera é de 700 km. O peso da Lua chega a 1,2% do peso da Terra. A espessa crosta que constitui a crosta planáltica lunar (platôs) é composta de minerais silicáticos e aluminosos, que formam rochas vulcânicas chamadas anortito. Sobre esta crosta colidiam meteoritos – há 4 bilhões de 73 anos – resultando numa poeira de impacto (regolito) que recobre a superfície lunar. (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.38-39). A partir do padrão de crescimento dos troncos fósseis, contidos em sedimentos vulcânicos, é possível decifrar as frequências e as flutuações anuais das erupções vulcânicas dos últimos 20 milhões de anos. [...] As espessuras dos anéis de crescimento das árvores seguem ciclos de 11 anos, assim como a dinâmica das manchas solares e, provavelmente, esse fato influi nas mudanças paleoclimáticas. Até em troncos fósseis contidos em depósitos sedimentares de 100 milhões de anos, também foram registrados ciclos de 11 anos, sugerindo que o Sol já apresentava esse mesmo ciclo. Por outro lado, são encontrados em diversos lugares depósitos sedimentares avermelhados pela presença de óxidos de ferro. Em clima quente, com a evaporação da água, forma-se óxido de ferro, em faixas endurecidas e resistentes ao intemperismo45. Pelo estudo dos sedimentos rítmicos de planícies de maré no mundo inteiro, parece ter sido decifrada a história dos movimentos da Terra e da Lua desde o précambriano. (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.95) 45 Red beds. 74 2.9 – Montanhas e geleiras “O gelo simplesmente atua como transportador, e quando ele se dissolve, tudo que ele pegou ao longo do caminho vai pingando”.46 (FORTEY, 2001, p.184). “A tectogênese gravitational não é necessariamente restrita à epiderme de jovens sedimentos plásticos, os quais tem sido erguidos por forças orogênicas; ainda que esta situação seja muito favorável à ocorrência de deslizamentos. O embasamento cristalino (a derme) também pode sofrer colapso e deslizar sob a influência da gravidade”.47 (VAN BEMMELEN, 1954, p.95). Sobre o problema de forças relacionadas nas teorias da formação de montanhas, devemos considerar a possibilidade de forças endogênicas ou exogênicas: “Concepções poli-causais também são possíveis, devendo-se aceitar razões endogênicas de tectogênese primária, tanto quanto distúrbios cósmicos externos”.48 (VAN BEMMELEN, 1954, p.13). Existe uma propensão a que as feições geomórficas (incluindo as diáclases ou juntas) estejam alinhadas nas direções Norte-Sul e Leste-Oeste, o que nos indica que sua gênese deve ser afetada fundamentalmente pela rotação da Terra49 (SCHEIDEGGER, 2004, Prefácio). O Doutor Jurandyr Luciano Sanches Ross, Professor do Departamento de Geografía, FFLCH – USP, durante suas aulas de Geomorfologia, em abril de 2009, atentou-nos que se pode voar a uma altitude de somente 200 metros desde a Venezuela até o Rio da Prata (ver ilustração 2.9). Isso nos mostra uma bacia por detrás dos Andes. A esse entendimento se junta o geólogo Vladimir BELOUSOV (1962): podemos voar desde o norte do Canadá, até o Golfo do México a cerca de 150 m de altitude. Ou seja, uma bacia de norte a sul das américas. 46 (Trad. do autor.) Ice simply acts as a carrier, and when it melts everything it picked up along the way just drops. (Tradução do autor.) Gravitational tectogenesis is not necessarily restricted to the epidermis of young, plastic sediments, which have been raised by orogenic forces; even though, of course, this situation is very favourable for the occurrence of gliding. The crystaline basement (the derm) can also collapse and glide under the influence of gravity. 48 (Tradução do autor.) Poly-causalistic conceptions are also possible, accepting endogenic causes of primarily tectogenesis, as well as external cosmic disturbances. 49 (Tradução do autor.) ... there is a propensity of geomorphic features (including joints) to be aligned in N-S and EW directions, which is an indication that the rotation of the Earth must play a fundamental role in their genesis. 47 75 Ilustração 2.9 - Mapa físico do continente americano. Tomado de: http://unidadesderelevo.blogspot.com.br/2010/11/os-macicos-antigos-unidade-de-relevo-da.html. 76 2.10 – Cordilheiras e batólitos. A cratera de um meteoro não é formada pelo impacto em si, mas por uma explosão (reação) que ocorre depois que o corpo se enfia no outro e lhe rompe a tensão superficial. O impacto condensa o solo, e cria minúsculas pirâmides, vidros etc. As bordas das crateras são resultantes da explosão, de dentro para fora, ou seja, pela liberação do estresse causado pela compressão do impacto. A verdadeira natureza dos impactos meteoríticos foi descrita em linguajar científico em 1924 e 1930 pelo neozelandês Algernon Charles Gifford (1862-1948). Ele observou que os impactos meteoríticos devem produzir crateras circulares, indepedente do ângulo de incidência50 (GIFFORD, 1930, apud MELOSH, 1996, p.3-5). As bordas das crateras se erguem por rebote elástico – ver ilustração 1.6.a. Nos anos 1970, os pares de cinturões metamórficos51, observados por Akiho Miyashiro (1921-2008), formados durante a orogenia do final do Mesozóico, foram encontrados em muitos lugares em todo o Pacífico, como na Nova Zelândia e Califórnia. O cinturão de glaucofano-xistos azuis sempre se encontra mais perto do oceano [...] e deve ter sido formado abaixo das fossas oceânicas, único lugar onde se dão as requeridas condições de temperatura e pressão. (HALLAM, 1976, p.123-124). Outro traço característico da maioria dos cinturões montanhosos são os complexos de ofiolitos. Estes complexos são massas de rocha ígnea básica ou ultrabásica como o basalto (com frequência na forma de pillow-lava submarina), gabro e peridotito, que aparecem na forma de imensas fatias violentamente intercaladas e são característicos dos terrenos do tipo melánge. A composição e a estrutura destas rochas sugere que procedem da crosta oceânica ou da parte superior do manto, que foi arrancada das placas descendentes e grudada às rochas mais acima por compressão. Comumente se encontra associada com os ofiolitos a rocha silícática sedimentar conhecida como radiolarito52 que, por analogia com os lodos modernos, considera-se um depósito de mares profundos. (HALLAM, 1976, p.125-128). A maioria das rochas marinhas sedimentares que se encontravam nos continentes eram de águas pouco profundas e jamais podiam ter sido depositadas nas profundidades oceânicas. 50 (Tradução do autor.) The true nature of meteoritic impacts was finally impressed upon the scientific words by Gifford in two papers in 1924 and 1930 in New Zealand. [...] Gifford noted that the meteoritic impacts should produce circular craters regardless of the angle of incidence. 51 No lado voltado ao Pacífico há um grupo de xistos com minerais que indicam que a formação se fez a baixa temperatura, mas alta pressão (glaucofano, argonita, lawsonita), sem rastros de embasamento granítico. O cinturão a oeste possui granitos e os sedimentos metamorfoseados e minerais como a sillimanita, que indicam temperatura relativamente alta e baixa pressão. 77 (HALLAM, 1976, p.25). Os depósitos atuais dos oceanos, por baixo dos 4.500 metros, contém usualmente abundante carbonato de cálcio na forma de esqueletos de microorganismos. Por baixo desta profundidade, o efeito da pressão crescente dissolve os ditos esqueletos, e os sedimentos do fundo consistem em argila inorgânica ou em lodos que somente contém vestigios de microorganismos silíceos. (HALLAM, 1976, p.133) O cinturão de ofiolitos que se estende desde Omán até as Montanhas de Zagros no Irã e a cordilheira de Tauro na Turquia parece indicar: ou a união dos continentes árabe e africano na Eurásia, ou ao menos uma zona de subducção no Tetis entre África e Eurásia. Muitos geólogos creem todavia que os cinturões orogênicos Precambrianos são fundamentalmente distintos dos mais jovens, que se originaram nas últimas centenas de milhões de anos. Ninguém explica satisfatoriamente, entretanto, a orogenia Herciniana do final do Paleozóico no oeste da Europa. Não se conhecem cinturões metamórficos emparelhados nem extensos complexos de ofiolitos, e a zona de dobras e penetração de estratos, assim como o metamorfismo e a intrusão ígnea, se extendem por uma zona muito ampla que não pode transformar-se fácilmente num cinturão estreito nem sequer na reconstrução mais imaginativa. (HALLAM, 1976, p.125-128). “A origem das rochas vulcânicas andesíticas e os imensos corpos graníticos intrusivos chamados batólitos que somente se encontram nos continentes, é um problema muito mais controvertido.” (HALLAM, 1976, p. 129). Os batólitos são os maiores corpos intrusivos. Costumam estar compostos de granitos ou granitodioritas. A forma dos batólitos no plano geralmente é ovalado-alargada, mas o batólito granitodiorítico53 nas Cordilheiras da América do Norte se extende por 1.700 km, desde o Canadá até Yukon54. Na América do Sul, o batólito granítico se extende por 6.000 km, desde a Terra do Fogo até as regiões setentrionais do Peru. É extremamente curiosa a circunstância de que os batólitos, apesar de seu grande volume, não exercem ação mecânica sobre as rochas encaixantes, em distinção aos domos intrusivos. Estes não pressionam as rochas nas que se introduzem, mas é como se as impregnassem e as substituissem. (BELOUSOV, 1979, p.174-175) Outro relevo não relevado na tectônica de placas é o Tian-Shan55 (ver ilustração 2.10.a). 52 Radiolário = foraminífero. E a diferença de rochas sedimentares pouco e muito profundas é a do radiolarito. Na medida em que a profundidade aumenta, o tamanho do grão e a quantidade de carbonato diminuem. 53 Granodiorito é uma rocha ígnea quartzo intrusiva granular intermediária entre granito e quartzo-diorito com plagioclásio predominante sobre ortoclásio. 54 Esse batólito é conhecido no Canadá como Coast Ranger. 55 Cordilheira entre China e Cazaquistão, quase da mesma altura dos Himalaias, centenas de quilômetros ao norte. Himalaias e Tian Shan estão separados por uma grande bacia intra-cratônica. 78 Ilustração 2.10.a – Tien ou Tian Shan, as mais elevadas depois dos Himalayas. Imagem tomada de http://www.centralasiatravel.com/mountains_central_asia.html. “As regiões de ativação tectônica, como os geossinclinais, se caracterizam por movimentos verticais contrastantes de amplitude considerável, mas possuem uma prehistória diferente da dos geossinclinais. Assim, por exemplo, o Tian-Shan, que representa em si uma zona de ativação, encontra-se dividido em blocos alçados pelas fraturas que atualmente formam cadeias de montanhas, e em blocos que afundaram e jazem no fundo das depressões. [...] Geossinclinal no Paleozóico, plataforma no Mesozóico, nova ativação tectônica no Neógeno.” (BELOUSOV, 1979, p.290). O professor Jurandyr ROSS (2008, p.35-36), em suas aulas de Geomorfologia, em abril de 2009, também chamou nossa atenção para outro ponto de interesse: as cordilheiras possuem a mesma idade máxima que os fundos oceânicos – cerca de 180-200 milhões de anos. A presença dos batólitos sob algumas cordilheiras pode sugerir-nos que estas se ergueram, por exemplo, por rebote elástico, dando espaço à intrusão batolítica. Não encontrei menção a batólitos sob os Himalayas ou Tian-Shan, sugerindo que aquelas cordilheiras devem possuir uma gênese distinta. Pela teoria da tectônica de placas, a existência cordilheira do Himalaia se deve à pressão exercida pela placa da Índia sobre a placa Eurasiana. Na proposta de Frank Taylor (1860-1938) foi o inverso. É a crosta Eurasiana que foi arremessada sobre a crosta da Índia. E foi esse choque que provocou todas aquelas dobras crustais: Himalaias, Pamir, Tian-Shan, Kunlun, Altai. 79 2.11 – Sismologia entre camadas O desenvolvimento da sismologia permitiu melhorar nossa leitura do interior do planeta. Métodos gravimétricos e magnetométricos para investigação do interior do planeta são eficientes até cerca de 100 km. Daí em diante são usados métodos sísmicos, ou seja, pela avaliação de vibrações (ondas sísmicas) provocadas por terremotos. Durante um terremoto, as vibrações verticais (ondas P) precedem as vibrações horizontais (ondas S); Quanto menor o intervalo entre as ondas Primárias e as ondas Secundárias, mais superficial será o hipocentro. Enquanto as ondas P são transmitidas através de quaisquer materiais, as ondas S não se propagam em fluidos. As ondas podem sofrer reflexão ou refração, e sua velocidade de propagação varia de acordo com o tipo e a dureza das rochas. As ondas sísmicas permitem estudos de até 10.000 km e podemos utilizar ondas sísmicas de terremotos do outro lado da Terra para inferir dados sobre sua estrutura interna. Abalos produzidos por explosivos são utilizados para avaliar ondas refletidas e refratadas e deduzir a existência de estruturas petrolíferas. Ilustração 2.11.a – Ondas sísmicas da estrutura interna do planeta. Fonte: www.netxplica.com/manual.virtual/exercicios/geo10/estrutura.interna/10.GEO.modelos.fisico.quimico.htm. A massa do núcleo interno corresponde a 1/30 de todo o núcleo e a massa do núcleo externo corresponde a 1/30 de toda a Terra. (SUGUIO & SUZUKI, 2003, p.12-15). 80 O manto, de densidade média 5g/cm3 divide-se em manto superior (olivina, piroxênio e granada) e manto inferior (após 670 km, silício, ferro, magnésio e óxidos cristalizados, com densidade de 7g/cm3). O núcleo externo comporta-se como fluido, composto de Fe, S, Ni e O, entre 3.500 e 4.000ºC e densidade de 10 g/cm3. O núcleo interno comporta-se como sólido, composto de Fe, S, Ni, a mais de 5.000ºC, 13 milhões de atm de pressão e densidade de 13 g/cm3. As mais importantes fontes de calor para formação da estrutura da Terra em camadas são de mesma magnitude aproximada: energia de acreção, energia de redistribuição interna, energia de desintegração radioativa. Se a Terra completou sua acreção no interior da nebulosa solar, sua porção externa alcançou uma temperatura muito elevada, devido ao efeito da insulação de sua atmosfera. (OZIMA, 1991, p. 70-72). 81 2.12 – Oceanos e atmosferas Em se falando da origem e evolução da atmosfera e dos oceanos, não há virtualmente correlação entre a composição da nebulosa solar e da atmosfera terrestre, invalidando a suposição de que esta tenha sido formada pelo aprisionamento gravitacional de parte da nebulosa solar primitiva. Podemos imaginar que a deficiência de parte dos elementos voláteis tenha se dado pelo aprisionamento dos mesmos no interior do planeta, por afinidade química. Entretanto tal hipótese é invalidada pela grande deficiência dos gases nobres, que não possuem afinidade química com outros elementos. Também não podemos atribuir a deficiência admitindo que parte destes elementos tenha escapado para o espaço, mas isto implicaria em que os elementos elementos mais leves escapariam mais eficientemente, o que contraria a observação. (OZIMA, 1991, p. 91-93). Baseando-se em diversas provas circunstanciais como esta, F. P. Fanale56 afirmou que a formação da atmosfera se deu de forma catastrófica, em estágio inicial da evolução terrestre (OZIMA, 1991, p. 93-94). O núcleo da Terra afeta a crosta e a biosfera. Sem a bússola, a navegação teria ficado limitada à navegação costeira. Bactérias anaeróbicas, unicelulares magnetotácticas, no hemisfério norte mergulham para as profundezas ao norte de seu pântano – e no HS (hemisfério sul), se dirigem para o sul e para o fundo. Em numerosas espécies migratórias – pássaros, peixes, tartarugas – identificam-se grãos de magnetita que lhes servem provavelmente para se orientarem ao longo de seus périplos (circunavegação). O campo magnético do núcleo impede que os seres vivos à superfície da Terra sejam mortalmente irradiados pelo Sol – ventos solares desviados pela magnetosfera. (POIRIER, 2000. p.109-110). A probabilidade de perda do registro estratigráfico ao fim de subsequentes soterramento profundo, metamorfismo e erosão devem incrementar com o tempo, e então os mapas de períodos mais antigos tendem mais a subestimar do que a superestimar a extensão da antiga cobertura marinha. Além disso, áreas cratônicas tanto na antiga União Soviética quanto na América do Norte contem uma substancial maior proporção de carbonatos do que siliciclásticos no Paleozóico do que no Mesozóico ou Cenozóico, implicando em fontes de sedimentos 56 Planetary volatiles, 1984, http://ntrs.nasa.gov/archive/nasa/casi.ntrs.nasa.gov/19850068554_1985068554.pdf. 82 geograficamente mais restritos e topograficamente mais suaves.57 (Anthony Hallam, 1977, Secular changes in marine inundation of USSR and North America through the Phanerozoic. Nature 269:769-772, apud HALLAM, 1992, p.211). O 87 Sr é o estrôncio radiogênico gerado pelo decaimento do rubídio 87 Rb e deriva do desgaste e da desagregação de rochas continentais sob ação dos agentes atmosféricos.58 (HALLAM, 1992, p.170). O método de isótopos de Estrôncio (Sr) é uma poderosa ferramenta nos estudos em larga escala de erosão química e pedogênese, mobilidade de cátions e correlação crono-estratigráfica de sedimentos marinhos. Ilustração 2.12.a - A variação isotópica do estrôncio. Tomada de: http://dx.doi.org/10.1016/S0016-7061(97)00102-X. A ilustração (gráfico) mostra a variação da composição isotópica do estrôncio de oceanos fanerozóicos (modificado de BURKE et alii, 1982). A razão 87 Sr/86Sr de água do mar tem flutuado entre os valores médios de erosão terrestre e trocas hidrotermais com basaltos de cadeias meso-oceânicas. A composição isotópica em qualquer período no passado é reflexo do carbonato 57 (Tradução do autor.) The probability of losing the stratigraphic record through subsequent deep burial, metamorphism, and erosion must increase with time, and so the maps for older periods are more likely to underestimate than overestimate the former extent of marine cover. Furthermore, cratonic areas in both the former Soviet Union and North America contain much more substantial proportions of carbonates to siliciclastics in the Paleozoic than in the Mesozoic or Cenozoic, implying more areally restricted and topographically subdued sediment sources. 58 (Tradução do autor.) The 87Sr is radiogenic strontium generated by decay with time of 87Rb rubidium and derives from weathering of continental rocks. 83 marinho inalterado daquele período. Dados referenciais de alta precisão existem para períodos específicos do registro geológico com uma correspondente melhora na resolução temporal.59 (CAPO, 1998). As constatações apresentadas por Hallam e por Capo, acima, podem indicar-nos que a crosta continental não submersa era bem menor no Paleozoico do que no Mesozóico/ Cenozóico. De um modo geral, isso é interpretado como se existisse mais crosta continental agora (Cenozoico) do que antigamente (Paleozoico). Estudando o comportamento do Fe nos paleossolos do précambriano médio, H. D. Holland e E. A. Zbindem concluíram que a pressão de oxigênio era consideravelmente menor: 3 x 10-5 atm (OZIMA, 1991, p. 100). Ou seja, pode-se sugerir uma atmosfera muito menor para aquela época. As medições e gráficos também podem estar mostrando que o que existe é mais crosta continental emersa agora do que antigamente. Imaginemos que a crosta continental cobria todo o planeta no Precambriano. Depois, que a água tenha coberto toda essa crosta continental, durante o Paleozoico. Depois, no Mesozoico, que tenha desaparecido parte da crosta (2/3) e que a água tivesse ficado nesses buracos (oceanos atuais). Sintetizo parte dos conhecimentos geomorfológicos adquiridos com uma frase: A dinâmica de um relevo é diretamente proporcional à fluidez ambiental: gases, líquidos e sólidos, como ar, água e solos. O relevo entre ar-ar se altera mais rápido do que entre ar-água; que se altera mais rápido do que entre água-água; ar-solo; água-solo; solo-solo ou rocha-rocha. 59 (Tradução do autor.) Variation of the strontium isotopic composition of Phanerozoic oceans (modified from Burke et al., 1982). The 87Sr/86Sr of seawater has fluctuated between the average values of terrestrial weathering and hydrothermal exchange with mid-ocean ridge basalts. The isotopic composition at any time in the past reflects that of unaltered marine carbonate of that age. Higher-precision reference data exist for specific periods of the geologic record with a corresponding improvement in age resolution. 84 2.13 – Geocronologia Evidenciando as idades radiométricas précambrianas, a província Ebúrnea a oeste (da África) fornece consistentemente idades de cerca de 2 bilhões de anos. A província Pan-africana a leste fornece consistentemente idades de cerca de 550 milhões de anos. As direções e datações são consistentes no escudo brasileiro, com a linha separadora passando em São Luís. (EICHER, 1969, p.111). Usando o sistema Sm-Nd60, S. M. Richardson61 e outros anunciaram uma idade de aproximadamente 3 bilhões de anos para incrustações em diamantes sul-africanos. Pela configuração e composição dessas incrustações, Richardson concluiu que elas se formaram simultaneamente com a cristalização dos diamantes. Estes diamantes estavam contidos em kimberlito cuja erupção datava de 90 milhões de anos. Ilustração 2.13.a – Kimberlito – depósitos explosivos. Fonte: Kansas Geologic Survey. http://www.kgs.ku.edu/Publications/GeoRecord/2000/vol6.1/Page1.html O diamante é estável a profundidades superiores a 150 km; além disso se transformariam em grafita. Assim, embora os diamantes encontrados por Richardson tenham chegado à superfície há menos de 90 milhões de anos, eles se cristalizaram há mais de 3 bilhões de anos. Existiram portanto por 3 bilhões de anos em regiões do manto que nunca estiveram a menos de 100 km da superfície. (OZIMA, 1991, p. 87-91). 60 O sistema Samário-Neodímio é um método de datação absoluta de rochas, através da avaliação das frações de decaimento e isotopia de Sm149 e Nd145. 61 Stephen M. Richards, professor de engenharia química, Imperial College London. 85 Em abril de 2006, tive algumas aulas de Introdução à Geologia com o Professor Doutor Johann Hans Daniel Schorscher, Departamento de Mineralogia e Geotectônica do Instituto de Geociências da USP. Ele conversou comigo sobre tectônica, mas apenas no intervalo de aula e fora da sala – no corredor. Ele tampouco acreditava em algumas das explicações da teoria da tectônica de placas, em virtude da existência de kimberlitos – a estrutura geológica que é o berço dos diamantes. “Se os continentes se movessem da maneira como afirmam, estas estruturas que estão tão abaixo de América do Sul e da África deveriam estar em meio ao Oceano Atlântico.” Ou seja, se a crosta tivesse se movido por forças convectivas da astenosfera, as profundas estruturas kimberlíticas não a acompanhariam. São ideias e sugestões advindas do método de história oral em ação.62 A conveniência do método da história oral é que os acadêmicos se sentem mais livres ao expor suas idéias oralmente. A inconveniência é que nem sempre estes aceitam confirmar fatos e versões por escrito. Precisei revisar meus escritos, de modo a manter aqui aquelas opiniões que foram confirmadas por escrito. A editora e geóloga Doutora A. C. Fonseca63, revelou-me por e-mail, em 20/12/2012: Muitas vezes as idades obtidas não batem com os dados geológicos. Porque? O que significa? Quem mandou datar tinha clara a sequência de eventos ou usou a geocron "para dar idades"?Os erros começam no campo (amostragem não correta) e propagam no valor numérico da idade. Não temos isócronas e sim retas de misturas, errócronas. E isso tb reflete na geoquímica. O mapeamento tem que ser muito bem feito e a petrografia tb e o geólogo noção de como e porque vai fazer geoquímica e geocron. Outro erro: o pessoal quer sempre ter dados novos, em vez de refinar os antigos. Porque? datações K-Ar e Rb-Sr são limitadas em rochas com várias fases de deformação e metamorfismo. Daí usar outras metodologas como Sm-Nd, Re-Os, Lu-Hf, U-Pb, Ar-Ar, isótopos estáveis em rocha total e minerais acessórios. Mas isso dá trabalho, datar mineral acessório implica em separação eletromagnética e líquidos pesados e depois microscopia para separar as diversas frações. Mas exsite sempre o problema de inclusões e intercrescimentos minerais e isso muda a idade. 62 A graduação em Geografia aguçou meu senso crítico. O tempo que desbastou meus dentes afiou minha língua. Através do expor-me e do falar contra a Santa Tectônica, tenho obtido colaboradores e algumas respostas. 63 Ariadne do Carmo Fonseca, editora da Revista de Geologia, mestrado pela UFRJ (1986), doutorado pelo Instituto de Geociências – USP (1994); especializada em geocronologia, geoquímica e abertura do Atlântico Sul. 86 As lavas, das cadeias meso-oceânicas e ilhas vulcânicas, são datadas a partir do urânio contido nos zircões. Mas o basalto de fundo oceânico não contem elementos radioativos adequados, e são estimados pelas ilhas, meso-oceânicas e sedimentos. 87 2.14 – Paleomagnetismo remanente A latitude remota (ou paleolatitude) é revelada por esse método [ângulo de inclinação e declinação de magnetismo remanente nas rochas], mas a longitude é muito menos precisa, então a posição de um dado continente nunca é examente localizada. Quanto mais você volta no tempo, mais problemas podem existir, até que lá pela era dos trilobitas muitas das medições de paleopolos se mostra não confiável; rochas podem ser remagnetizadas posteriormente, por exemplo, ou o sinal pode ter sido corrompido.64 (FORTEY, 2001, p.195-196). Evidências recentes do paleomagnetismo – as medidas paleomagnéticas preliminares sugerem que nenhum continente compartilha da mesma curva de migração polar. Nas curvas de migração paleozóica para África e América do Sul, as posições dos continentes são similares às esperadas no ajuste de sua configuração gondwânica. As porções mesozóicas das curvas de migração polar divergem, sugerindo ser esta a época em que os continentes começaram a se separar. (EICHER, 1969, p.109-110). As amostras do fundo oceânico apresentam uma granulometria mineral mais grosseira no basalto perto da cadeia mesoatlântica do que nas margens do Atlântico, mostrando que o esfriamento ocorreu mais rápido nas margens. Isso significa um padrão de esfriamento, não de gênese de assoalho oceânico. A extrapolação de James Ranson Heirzler (1925-) e seu grupo, em 1968, para uma escala magnética foi bastante discutida, e parece triunfar ante as análises críticas (HALLAM, 1976, p.91-97), mas até hoje a escala magnética permanece numérica, sem nomes como habitual em eventos cronológicos. Ou seja: assim como a datação do basalto de fundo oceânico, o paleomagnetismo de fundo oceânico também é estimado. A escala paleomagnética até uns 21 milhões de anos, medida sobre os continentes, é empírica. Depois disso, é estimada, racionalizada pelos fundos oceânicos. A escala medida nos continentes, científica, recebe nomes. A escala estimada nos oceanos, racional, recebe números. 64 (Tradução do autor.) The ancient latitude (or palaeolatitude) is revealed by this method, but longitude is much less precisely constrained, so that the position of a given continent is never exactly located. ... The further you go back in time, though, the more problems there can be, until by the era of the trilobites many of the measurements of the paleopoles prove unreliable; rocks can be remagnetized later, for example, or the signal can become corrupted. 88 2.15 – Paleontologia entre extinções Em Canelas, geoparque de Arouca (Aveiro – Portugal), 5 das 20 espécies de trilobitas apresentaram tamanho fenomenal. Habitualmente não ultrapassam 10 cm, mas ali a maioria dos fósseis ultrapassa os 30 cm e o maior tem 86 cm. Há 465 milhões de anos, esta zona estava submersa e próxima do pólo sul. Águas frias e a baixa concentração de oxigênio permitiram aos trilobitas crescerem mais, num ambiente protegido em que seres maiores com metabolismo mais lento estariam bem adaptados. Segundo o paleontólogo Artur Sá (SÁ et alii, 2009), este gigantismo polar acontece hoje em muitos artrópodes - filo que engloba os insetos e os crustáceos - que vivem em condições parecidas. Assim é que trilobitas podem ajudar na paleogeografia terrestre. Ilustração 2.15.a - Visita aos trilobitas do Geoparque de Arouca, em Aveiro, Portugal, em outubro de 2011. Newton M. Campos Jr. e Raphael Victor, também aluno da Geografia da USP. Foto do autor. Os fósseis animais somente existem nos últimos 550 milhões de anos. Durante este período, os paleontólogos identificaram seis grandes extinções em massa: fim do Cretáceo, fim do Triássico, fim do Permiano, Devoniano Superior, fim do Ordoviciano e início do Cambriano. (ERWIN, 2003, p.20) 89 Ilustração 2.15.b – O número de gêneros e extinções desde o Cambriano. Crédito: Prentice Hall, 1999. Tomado de http://tvt7.blogspot.com.br/2011_03_01_archive.html. É impossível pensar em paleontologia sem pensar em catástrofes. Não dá para se fazer um fóssil sem uma catástrofe. Nem que seja uma catástrofe local.65 Os percentuais de extinção se apresentam dúbios. Será que todos estes percentuais consideram que 80% da biomassa de nosso planeta é formada por bactérias? É difícil pensar no percentual de extinção de bactérias, pois muitas delas sobrevivem em ambientes completamente hostis a outros tipos de vida, como nas elevadas temperaturas das fumarolas oceânicas ou sob a crosta polar antártica, por exemplo. A Professora Doutora Juliana de Moraes Leme, palentóloga do Instituto de Geociências – USP, em 2009, foi quem me indicou a Edwin e Hallam, que me levaram ao Lazarus Táxon e ao Elvis Táxon – animais que desapareceram e que o determinismo planetário voltou a criar. Todos os reinos estavam prontos nos primeiros 15 milhões de anos do Cambriano. Não há uma verdade final em paleontologia. Todo novo observador traz algo de si mesmo: uma nova técnica, uma nova inteligência, ou mesmo novos mistérios. O passado se modifica.66 (FORTEY, 2001, p.66). 65 Sem conhecer a intimidade da história familiar de um animal, pouco podemos falar dele. Imagine, então, se existissem animais que se transformassem de lagartas em borboletas! E há! Imagine agora que os príons – que sequer são bactérias – podem se transformar no “mal da vaca louca” pelo simples contato com um príon infetado, sem sequer modificação composicional. E acontece! Agora, como posso imaginar o que significa 50% de extinção? É apenas um número. 66 (Tradução do autor.) There is no final truth in palaeontology. Every new observer brings something of his or her own: a new technique, a new intelligence, even new mistakes. The past mutates. 90 A distribuição de plantas e animais permianos no hemisfério sul tem sido evocadas a favor da deriva; entretanto a evidência pode ser um tanto equívoca. As camadas acima do tilito gondwânico basal contêm em toda parte uma assembleia única de planta chamada flora de Glossopteris, desconhecida no hemisfério norte. Os continentes não precisam necessariamente derivar, podem simplesmente separar-se. Tanto na África como na América do Sul ocorre um pequeno réptil, o Mesosaurus, em folhelhos e calcários geralmente considerados lacustres, acima da formação gondwânica tilítica. Aparentemente, o Mesosaurus ou seu ancestral imediato foi capaz de migrar entre a África e a América do Sul. Se o Mesosaurus foi de hábito não marinho, o Oceano Atlântico deveria ter atuado como uma barreira. (EICHER, 1969, p.108). Ilustração 2.15.c – Padrão de distribuição de fósseis nos vários continentes. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Snider-Pellegrini_Wegener_fossil_map.gif. Os oceanos foram o berço da vida. A composição química do corpo dos seres vivos difere da atmosfera, solos ou crosta, mas se assemelha às dos oceanos. A composição química dos oceanos primitivos e dos atuais não parece ter mudado muito. Os seres vivos evoluíram, chegando ao ser humano, que ainda conserva muitas propriedades herdadas das águas oceânicas. (SUGUIO, 2006, cap. 5). Dentre os minerais evaporíticos, o mais conhecido é o cloreto de sódio, halita ou sal de cozinha. As formas vivas possuem líquido fisiológico a uma razão de 0,9% - razão inicial da água do mar quando a vida começou no planeta. Até nossos dias, o teor [nos oceanos] foi aumentando até chegar ao 3,5% atuais. (MOHRIAK et alii, 2009, p.15-16) 91 A partir de uma afirmação oral de 2009, em uma conversa informal com um geólogo, fui alertado sobre os Ostracodes – crustáceos de carapaça bivalve. Eles seriam da água doce de um pretenso mar interior no Pangea. Com a abertura do Atlântico, há cerca de 135 milhões de anos, passaram a proliferar os de água salgada. Disso posso também posso depreeender que, talvez, os oceanos estivessem doces e voltaram a tornar-se salgados. Sigo buscando evidências. Evidências da deriva incluem grandes lineamentos estruturais e províncias fossilíferas cambrianas do leste dos EUA e Canadá que se ajustam notavelmente bem com feições similares na Escócia e Escandinávia. (EICHER, 1969, p.108). Assim como asas foram encontradas em pássaros, insetos, morcegos e nos extintos pterossauros, muitas outras feições em animais evoluiram múltiplas vezes. A explícita abordagem cladística67 fornece uma aproximação mais rigorosa para identificar estes padrões de evolução convergente68. As asas em pássaros, insetos, morcegos e pterossauros não são nada parecidas e nunca houve dúvida de que asas e capacidades de voo se desenvolveram independente em cada grupo.69 (ERWIN, 2003, p.109) O gênero Thrinaxodon debus é encontrado em rochas do Triássico Inferior e possui muitas feições mamíferas, incluindo as bem desenvolvidas protuberâncias no dente pós-canino, e uma placa óssea separando o nariz da boca. Esse palato secundário separa a passagem de ar pela boca, de modo que um animal pode respirar e sugar ao mesmo tempo. A maior atividade característica mamífera seria impossível sem esse desenvolvimento.70 (ERWIN, 2003, p.134135). Creio que também aqui deveríamos considerar que as asas do Pterossauro não o tornam antecessor de besouros e morcegos. Afinal, este palato de um animal com hábito marinho podia ser essencial para permiti-lo, por exemplo, alimentar-se filtrando a água. Fóssil não fornece amparo à evolução.71 (FORTEY, 2001, p.159) O mundo atual possui baratas, prions e limulus, com características “menos evoluídas” que as dos extintos trilobitas. 67 A cladística é é um método de classificação que reflete as relações filogenéticas entre os organismos, baseado na análise de caracteres: os que são primitivos e os que são derivados, isto é, evoluíram a partir deles. Para os cladísticos, o importante é saber qual das manifestações é mais primitiva (infopedia). 68 Evolução convergente é um tipo de evolução que ocorre quando pressões seletivas semelhantes originam adaptações semelhantes em grupos taxonômicos não relacionados (infopedia). Como a adaptação de golfinhos e baleias no ambiente aquático, a partir de características similares a peixes. 69 (Tradução do autor.) Just as wings are found among birds, insects, bats, and the extinct pterosaurs, many other features of animals evolved multiple times. The explicit approach of cladistics provides a more rigorous approach to identifying these patterns of convergent evolution. The wings of birds, insects, bats and pterosaurs are nothing alike and there has never been any question that wings and flying evolved independently in each group. 70 (Tradução do autor.) The genus Thrinaxodon debus in Lower Triassic rocks and possesses even more mammalian features, including well-developed cusps on the postcanine teeth, and a bony plate separating the nose from the mouth. This secondary palate shifts the breathing passages farther back in the mouth, so an animal can breathe and chew at the same time . The much higher activity of mammals would not be possible without this development. 71 (Tradução do autor.) Fossil don’t provide support for evolution. 92 Muitos textos apresentam um preconceito antropocentrista, como se o homem fosse o ápice de uma evolução progressiva. Somos apenas mais uma espécie. Uma de minhas (ERWIN, 2003, p.254) favoritas histórias de Sherlock Holmes é “O Estrela de Prata” (Arthur Conan Doyle, 1892), na qual Holmes pede a atenção do Inspetor Gregory para o curioso incidente do cachorro durante a noite. Quando Gregory observa que o cachorro não fez nada durante a noite, Holmes responde: “Este foi o curioso incidente”. O curioso incidente no Triássico foi a inexistência de novo filo ou classes. Não houve qualquer tipo de inovação morfológica no Triássico. 93 2.16 – O limite Permo-Triássico Além do impacto que acabou com os dinossauros, no limite KT, há uns 65 milhões de anos, existe uma outra possibilidade: um evento no Permo-Triássico - PT. É o evento que extinguiu os trilobitas. Entretanto, ali, a evidência de Irídio relacionado é insignificante. Curiosamente, os únicos quartzos provenientes de choque relatados do limite PermoTriássico são provenientes do leste da Austrália, Japão, Nova Zelândia e Antártica, onde Gregory John Retallack da Universidade de Oregon esteve trabalhando. Constataram ainda a presença de fulerenos, mas ainda são resultados ambiguos.72 (ERWIN, 2003, p.36-37). Na Antártida, bem como em toda parte na Austrália, Índia, Rússia e China, o carvão termina repentinamente perto do limite PT.73 (ibidem, p.147). O carvão desapareceu no Permiano Superior e em muitas áreas foram substituídas por arenitos vermelhos formados em ambientes áridos e, muitas vezes, quente.74 (ibidem, p.151). Se, como tantos geólogos argumentam, a queda no nível do mar no fim do Permiano foi tão grande a ponto de eliminar complemente a deposição de rochas marinhas em todo o globo, então uma significativa extinção em massa foi inevitável75 (ERWIN, 2003, p.47-48). Com base nas estimativas do quão rapidamente o sedimento foi depositado em Meishan (Changhising, sul da China), argumentamos que a extinção ocorreu em muito menos de um milhão de anos. Com base em estimativas de taxas de sedimentação entre as camadas de cinzas datadas, a extinção pode ter ocorrido em muito menos de 160.000 anos, mas não conseguimos estimar o quanto menos.76 (ERWIN, 2003, p.85). Roland Mundil (Instituto de Geocronologia Berkeley) datou algumas das camadas de cinzas Meishan e sugeriu que a idade para o limite estava próxima de 253, 254 ou mesmo 255 milhões anos atrás. Além disso, as idades calculadas para cada leito parecia aumentar nas secções, de modo que os leitos estratigraficamente superiores tem idades mais avançadas, o 72 (Tradução do autor.) Curiously, the only possible shocked quartz ever reported from the Permo-Triassic boundary comes from eastern Australia, New Zealand and Antarctica where Greg Retallack of the University of Oregon has been working. [...] Fullerenes ... was also ambiguos. 73 (Tradução do autor.) In Antarctica, elsewhere in Australia, India, Russia, and China, coals suddenly end near the Permo-Triassic boundary. 74 (Tradução do autor.) Coals disappeared in the Late Permian, and in many areas were replaced with red sandstones formed in arid and often warm environments. 75 (Tradução do autor.) If, as many geologists argued, the end-Permian drop in the sea level was so great that it virtually completely eliminated the deposition of marine rocks anywhere in the world, then a signifcant mass extinction was almost inevitable. 76 (Tradução do autor.) Based on estimates of how rapidly sediment was deposited at Meishan (Changhising, South China), we argued the extinction ocurred in much less than one million years. Based on estimates of sedimentation rates between the dated ash beds, the extinction could have ocurred in much less than 160.000 years, but we could not reliably estimate how much less. 94 oposto das expectativas. Sua tese principal era a de que alguns dos grãos tenham experimentado o comportamento do sistema aberto e perdeu chumbo, assim Mundil interpretou as mais antigas eras como a melhor aproximação da idade. No entanto, não é incomum para camadas de cinzas conter cristais de zircão que são ligeiramente mais velhas do que a idade da erupção.77 (ERWIN, 2003, p.86). Michael Rampino Universidade de Nova York tem sido um defensor do impacto e, em 2000, ele e seus colegas decidiram usar a ciclos de Milankovitch da órbita da Terra, como preservado em rochas através do limite Permo-Triássico nos Alpes, para proporcionar uma ainda mais fina resolução na escala de tempo. Ciclos de Milankovitch são oscilações bem conhecidos na inclinação do eixo da Terra e da excentricidade da órbita da Terra em torno do Sol. Hoje, esses ciclos são de 100; 41 e 21 mil anos, tendo governado o aumento e a diminuição de idades de gelo nos últimos 2 milhões de anos.78 (ERWIN, 2003, p.89). [...] Nas rochas do Permo-Triássico dos Alpes, Rampino e seus colegas contaram o número de ciclos e afirmaram que eles mostram que a extinção aconteceu em menos de 60.000 anos e talvez em menos de 8.000 anos. [...] Em 1992, veio o anúncio de que os basaltos que inundaram a Sibéria tiveram erupção ao mesmo tempo que a extinção em massa do fim do Permiano.79 (ibidem, p.90). Assim, a hipótese de que a formação do supercontinente Pangea possa ter sido responsável pela extinção é eliminada pela constatação de uma rápida extinção. (ibidem, p.88). A mudança do campo magnético terrestre fornece outros meios independentes para avaliar a rapidez com que a inundação basáltica foi formada. [...] No caso das erupções da Sibéria, toda a sequência de lavas foi estimada ter sido formado em cerca de 600 mil anos.80 (ERWIN, 2003, p.93). [...] Alguns sedimentos também contém minerais de ferro e preserva um 77 (Tradução do autor.) Roland Mundil (Berkeley Geochronology Institute) have dated some of the same ash beds from Meishan and suggested the age for the boundary was closer to 253, 254 or even 255 million years ago. In addition, the ages they calculated for each bed appeared to increase up the sections, so the stratigraphically higher beds has older ages, the opposite of expectations. Their main thesis was that some of the grains has experienced open system behavior and lost lead, so Mundil interpreted the oldest ages as the best approximation of the age. However, it is not uncommon for ash beds to contain zircons that are slightly older than the eruptin age. 78 (Tradução do autor.) Michael Rampino of New York University has long been an advocate of impact, and in 2000, he and his colleagues decided to use the Milankovich cycles of the Earth’s orbit, as preserved in rocks across the Permo-Triassic boundary in the Alps, to provide even finer scale-time resolution. Milankovich cycles are wellknown wobbles in the tilt of the Earth’s axis and the eccentricity of the Earth’s orbit around the sun. Today these cycles are 100,000; 41,000; and 21,000 years, and they governed the waxing and waning of ice ages over the past 2 million years. 79 (Tradução do autor.) In the Permo-Triassic rocks from the Alps, Rampino and his colleagues counted the number of cycles and claimed they show that the extinction happened in less than 60,000 years, and perhaps in less than 8,000 years. [...] In 1992 came the announcement that the Siberian flood basalts erupted at the same time as the endPermian mass extinction. 80 (Tradução do autor.) The Earth’s changing magnetic field provides another, independent means to assess how rapidly the flood basalt formed. ... In the case of the Siberian eruptions the entire sequence of lavas was estimated to have formed in about 600,000 years. 95 registro de reversões magnéticas. ... Há dois longos intervalos durante os últimos 600 milhões de anos, quando quase não ocorreram reversões. Um deles é conhecido como o supercron81 de polaridade inversa do Permo-Carbonífero. Esta zona magnética de longo silêncio terminou durante o Permiano Médio, e foi seguida por um intervalo de reversões freqüentes, terminando no Triássico. [...] Tal registro rico é potencialmente uma ferramenta maravilhosa para correlacionar diferentes seções em todo o mundo.82 (ibidem, p.94). Os registros fósseis mostram que houve um par de extinções em massa no Permiano Superior. Do primeiro, ao final da etapa Guadalupiana do Permiano Médio, pouco sabemos, além de que tenha sido uma grande crise biótica. O segundo evento ocorreu uns 8-10 milhões de anos depois, ao fim do Permiano. (ERWIN, 2003, p.101). Enquanto todas as seções do Karoo, Rússia e Índia sugerem que algo aconteceu no limite PT para a mudança nos padrões erosão e sedimentação, muitos inferem uma queda catastrófica na abundância de plantas, compatível com o aumento da erosão. A Bacia de Bowen se estende ao norte de Sidney. [...] A mudança abrupta no ciclo de carbono visto em seções marinhas também é encontrada aqui, proporcionando um marcador crítico para o PT. Apenas um metro acima da mudança isotópica, os carvões desapareceram e lençóis de areia invadiram a bacia, provavelmente depositados por enchentes repentinas em rios largos. 83 (ibidem, p.146). Os fungos são comuns em troncos podres, porque eles são decompositores essenciais e são particularmente importantes em árvores degradantes e outros restos vegetais lenhosos. [...] Eles são quase iguais aos de 450 milhões de anos, quando as plantas e artrópodes primeiro invadiram a terra. A título de introdução, este é um dos aspectos mais peculiares do limite PT: a abundância impressionante de aparentes restos fúngicos. [...] Idades radiométricas permotriássicas na localidade de Meishan nos contam que o aumento de restos de fungos começou ao menos 500 mil anos antes da extinção marinha. 81 84 (ERWIN, 2003, p.154-155). Voltando aos Um Cron é um único intervalo de polaridade magnética, e um Supercron é um intervalo bem mais longo de polaridade estável. 82 (Tradução do autor.) Some sediment also contains iron minerals and preserves a record of magnetic reversals. ... There are two long intervals during the past 600 million years when almost no reversals ocurred. One of these is known as the Permo-Carboniferous reversed polarity superchron (a chron being a single interval of magnetic polarity, and a superchron a longer interval of stable polarity). This long magnetic quiet zone ended during the Middle Permian, and was followed by an interval of frequent reversals, lasting into the Triassic. ... Such a rich record is potentially a wonderful tool for correlating different sections around the world. 83 (Tradução do autor.) While the Karoo, Russian, and Indian sections all suggest something happened at the PT boundary to increase erosion and change sedimentation patterns, many have inferred that plant abundances dropped catastrophically to allow the increased erosion. The Bowen Basin stretches north of Sidney. ... The abrupt change in the carbon cycle seen in marine sections is also found here, providing a critical marker for the PT boundary. Only a meter above the isotopic shift, coals desappeared and sheets of sand invaded the basin, probably deposited by flash floods in broad, straigther rivers. 84 (Tradução do autor.) Fungi are common on rotting logs because they are essential decomposers and are particularly important in degrading trees and other woody plant remains. ... are almost the same as those from 450 96 animais do Karoo, podemos ser bastante confiantes de que desapareceram ao mesmo tempo que a extinção marinha. Seu desaparecimento, junto com o fim dos grupos de insetos, tantas mudanças em plantas, e a mudança nos rios de lentos e sinuosos córregos para a sedimentação rápida dos riachos trançados sugere que a causa da extinção afetou tanto a terra quanto o mar. 85 (ERWIN, 2003, p.160). Evidências de um impacto no limite Permo-Triássico tem crescido nos últimos poucos anos. A demonstração que a taxa de extinção foi muito rápida e talvez catastrófica; que os eventos marinho e terrestre foram muito próximos no tempo; que o “pico fúngico”, começou uns 500.000 anos antes da extinção, [...] o deslocamento no ciclo do carbono, a descoberta de fulerenos [...] são todos sugestivos de um impacto extraterrestre. [...] Outros fortes impactos deixam marcas muito diferentes. Entretanto, não há razão para que um cometa, por exemplo, deva conter muito irídio.86 (ERWIN, 2003, p.209). million years ago when plants and arthropods first invaded the land. This is by way of introduction to one of the more peculiar aspects of the Permo-Triassic boundary: the remarkable abundance of apparent fungal remains. ... The Meishan Permo-Triassic locality ... radiometric dates tell us the increase in fungal remains began at least 500.000 years before the marine extinction. 85 (Tradução do autor.) Returning to the animals of the Karoo, we can now be fairly confident that they disappeared at the same time as the marine extinction. Their disappearance, along with the end of so many insect groups, changes in plants, and the shift in rivers from slow, meandering streams to the rapid sedimentation of braided streams demands that the cause of the extinction affected both land and sea. 86 (Tradução do autor.) Evidence for an impact at the Permo-Triassic boundary has been growing over the past few years. The demonstration that the rate of extinction was very sudden and perhaps catastrophic, that the marine and terrestrial events were very close in time, that the “fungal spike”, which began about 500,000 years before the extinction, ... the shift in the carbon cycle, the discovery of fullerenes ... are all suggestive of an extraterrestrial impact. ... Other impacts might leave very different signatures. There is no reason a comet, for example, would contain much iridium. 97 2.17 – Carbono e isótopos A mudança brusca na proporção de carbono-12 e carbono-13 na fronteira PT sugere que um grande volume de carbono orgânico foi adicionado aos oceanos e atmosfera.87 (ERWIN, 2003, p.51). Na China, também foram capazes de estabelecer que a extinção foi muito mais rápido do que se podia imaginar, e que a mudança no ciclo de carbono estava intimamente ligada à extinção.88 (ibidem, p.61). Um volume enorme do leve carbono orgânico, foi introduzido no oceano e na atmosfera coincidente com a extinção em massa. Datações das camadas de cinzas em Meishan, China, sugerem que isso aconteceu num pico com menos de 160 mil anos. [...] Esta excursão transitória foi acompanhada por uma mudança de longo prazo no ciclo de carbono de material orgânico, menor do que no Permiano Superior.89 (ibidem, p.172). Restaram-nos três possíveis explicações para o deslocamento de carbono no limite PermoTriássico: 1º) lançamento de metano através de aquecimento vulcânico das camadas de carvão da Sibéria; 2º) a maior parte do deslocamento pode não ser uma mudança na proporção isótopo de carbono no oceano inteiro, mas um fenômeno superfícial, refletindo uma diminuição ou eliminação da atividade fotossintética nos oceanos; e 3º) há um reservatório significativo de carbono orgânico nos solos terrestres, e o aumento da dissecação e da erosão desse material após a paisagem ter sido denudada durante a forte extinção podem ter contribuído para a mudança isotópica.90 (ERWIN, 2003, p.179). Kunio Kaiho, da Universidade Tohuku, Japão, recolheu alguns dados de enxofre e estrôncio do Meishan, e descobriu também partículas pequeníssimas de ferro-níquel-sílica na parte superior da camada 24. As partículas, na visão de Kaiho, foram condensadas a partir do vapor quente de um impacto e são semelhantes aos encontrados em grãos de horizontes de outros impactos, incluindo o limite Cretáceo-Terciário. Kaiho propôs que os dados isotópicos do estrôncio e enxofre, e as partículas de ferro-níquel-sílica podem ser explicadas por um enorme 87 (Tradução do autor.) The abrupt shift in the ratio of carbon-12 to carbon-13 at the Permo-Triassic boundary suggests that a large volume of organic carbon was added to the oceans and atmosphere. 88 (Tradução do autor.) In China we were also able to establish that the extinction was far more rapid than anyone had imagined, and that the change in the carbon cycle was intimately tied to the extinction. 89 (Tradução do autor.) A massive volume of light, organic carbon was introduced into the ocean and atmosphere coincident with the mass extinction. Dates from the ash beds at Meishan in China suggest that this spike happend in less than 160,000 years. ... This brief, transient excursion was accompanied by a longer-term change in carbon cycle toward less burial of organic material than in the Late Permian. 90 (Tradução do autor.) We are left with three possible explanations for the carbon shifts at the Permo-Triassic boundary. First release of methane via volcanic heating of the Siberian coal beds. Second, much of the shift may not be a whole-ocean change in the carbon isotope ratio, but a surface-water phenomenon reflecting a decline or elimination of photosynthetic activity in the oceans. Finally, there is a considerable reservoir of organic carbon in terrestrial soils, and increased weathering and erosion of this material after the landscape had been denuded during the extinction might have contributed to the isotopic shift. 98 impacto extraterrestre que, por sua vez, provocou uma enorme liberação de material vulcânico, incluindo uma grande quantidade de enxofre.91 (ERWIN, 2003, p.181). 91 (Tradução do autor.) Kunio Kaiho from Tohuku University in Japan collected some of the sulfur and strontium data from Meishan, and also discovered very tiny iron-silica-nickel particles at the top of bed 24 at Meishan . The particles, in Kaiho’s view, condensed out of the hot vapor of an impact and are similar to grains found at other impact horizons, including the Cretaceous-Tertiary boundary. Kaiho has proposed that the strontium and sulfur isotopic data and the iron-silica-nickel particles can be explained by a massive extraterrestrial impact that in turn triggered an enormous release of volcanic material, including a large volume of sulfur. 99 2.18 – Nichos determinados Consideremos um tabuleiro de xadrez, com cada espaço do tabuleiro representando uma espécie diferente, cada qual com seu distintivo nicho ecológico. ... Muitos modelos para extinção de massa assumem que a extinção é uma mão gigantesca tirando peças do tabuleiro, mas deixando o tabuleiro e as regras do jogo intactos. Recuperação biótica mostra-se um processo de troca de peças no tabuleiro de xadrez, e deixando o jogo recomeçar. Uma das regras do jogo é que a especiação92 acontece somente quando novas espécies encontram um nicho vazio, simbolizado como um espaço livre no tabuleiro. Quando o tabuleiro começa a encher outra vez, há menos espaço para novas espécies e a especiação se reduz, começando uma transição para um processo evolucionário mais normalizado, onde a criação e a extinção de espécies é mais equilibrada.93 Esta analogia a um tabuleiro de xadrez perde uma característica fundamental: alguns sobreviventes tornam-se muito mais importante do que eram antes da extinção, tirando proveito do desaparecimento de outros grupos. Em meu ponto de vista (de Erwin), durante algumas extinções em massa, o tabuleiro desmorona inteiramente, e como o jogo recomeça as regras evoluem durante a recuperação: grupos que inicialmente possuiam um começo promissor podem encontrar-se em marcha para sua própria morte enquanto a evolução adota as regras de um novo jogo.94 (ERWIN, 2003, p.219-220). Apesar da incrível abundância de algumas espécies, o número total de espécies do Triássico Inferior é uma pequena fração das que viveram uns poucos milhões de anos mais cedo ou mais tarde. Apenas 22 gêneros de fósseis do fundo do mar foram recuperados em rochas do 92 Nas aulas de Biogeografia com o Prof. Dr. Yuri Tavares Rocha, no 2º semestre de 2010, aprendemos que especiação é o processo de desenvolvimento de uma espécie reprodutivamente isolada. Em relação a seus ancestrais, a especiação pode ser simpátrica (variação do genótipo de indivíduos melhor adaptados ao ambiente), alopátrica (em função do isolamento em novo ambiente geográfico). Aplica-se a espécies de reprodução sexuada. A especiação autóctone é desenvolvimento de uma nova espécie em função das benesses de um determinado meio-ambiente. A especiação autóctone deu origem, por exemplo, ao maravilhoso povo brasileiro, resultante da residência no melhor rincão do planeta, conforme descrito pelo sociólogo Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro (São Paulo: Compahia das Letras, 1995). 93 (Tradução do autor.) So consider a chessboard, with each space on the chessboard representing a different species, each with its distinct ecological role (or niche). ... Most models for mass extinction assume that the extinction is a giant hand sweeping pieces off the board, but leaving the board and the rules of the game intact. Biotic recovery becomes a process of replacing the pieces on the chessboard, and letting the game resume. ... One of the rules of the game is that speciation is successfull only when new species find an empty niche, symbolized as an empty space on the board. ... As the board begins to fill up again, there is less room for new species and speciation slows, beginning a transition to more normal evolutionary processes where the origination and extinction of species is more nearly balanced. 94 (Tradução do autor.) This analogy to a chessboard misses one critical feature: ... some survivors become far more important than they were before the extinction, profiting by demise of other groups. ... In my view, during some mass extinction, the board collapses entirely, and as the game resumes ... the rules evolved during the recovery: groups that initially are off to a promising new beginning may find themselves marching to their own demise as evolution adopts the rules of a new game. 100 Triássico Inferior no Oeste dos Estados Unidos - provavelmente esta foi a menor diversidade para qualquer intervalo de 4 milhões de anos, desde o Précambriano, a mais de 543 milhões anos atrás.95 (ERWIN, 2003, p.220-221) Roger Batten, do Museu Americano de História Natural em Nova Iorque, [...] num documento de 1973 [...] observou que representantes de 32 gêneros e 16 famílias de gastrópodes foram encontrados em rochas do Médio Permiano e Médio Triássico, mas nunca haviam sido registrados nas rochas do intervalo entre o Permiano Superior e o Triássico Inferior. Este curioso fenômeno recebeu posteriormente, de David Jablonski (1953-), a denominação Lázaro Taxon para grupos que pareciam ter sido extintos, mas reapareceram. Desde 1973, o fenômeno do Lázaro Taxon foi reconhecido entre braquiópodes, equinóides, bivalves, e outros grupos. 96 (ERWIN, 2003, p.223). Pergunte a um paleontólogo sobre estromatólitos e ele ou ela irá imediatamente descrever os mares primitivos do pré-cambriano. Mas o termo estromatólito termo foi aplicado pela primeira vez pelo geólogo polonês Ernst Kalkowsky (1851-1938) para estruturas no Buntsandstein do Triássico Inferior, nas montanhas Harz da Alemanha Central. 97 (ERWIN, 2003, p.225). O inarticulado braquiópode Lingula é frequentemente descrito como um "fóssil vivo", porque persistiu aparentemente inalterada por centenas de milhões de anos. Uma vez que o Lingula basicamente se parece com uma semente de melancia, há um limite para o quanto se pode detectar uma mudança evolutiva.98 (ERWIN, 2003, p.226) A construção de escleractínios difere consideravelmente dos corais paleozóicos, mas um número crescente de incomuns corais escleractiniomorfos foram descobertos no Paleozóico. Estes fósseis poderiam ser ancestrais dos corais escleractínios, mas George Stanley99 sugeriu 95 (Tradução do autor.) Despite the incredible abundance of some species, the total number of Early Triassic species is a tiny fraction of those alive only a few million years earlier or later. Only twenty-two genera of fossils from the sea bottom have been recovered from Early Triassic rocks in the western United States – probably the lowest diversity for any 4-million-year interval since the precambrian, over 543 million years ago. 96 (Tradução do autor.) Roger Batten of the American Museum of Natural History in New York ... in a 1973 paper ... noted that representatives of thirty-two genera and sixteen families of gastropods were found in Middle Permian and Middle Triassic rocks, but had never been recorded from the intervening rocks of the latest Permian and the Early Triassic. This curious phenomenon later receive the appellation “Lazarus taxa” by David Jablonski for groups that appeared to have gone extinct, but reappeared. Since 1973 the Lazarus phenomenon has been recognized among brachiopods, echinoids, bivalves, and other groups. 97 (Tradução do autor.) Ask a paleontologist about stromatolites and he or she will immediately describe the primitive seas of the precambrian. But the term stromatolite was first applied by the Polish geologist Ernst Kalkowsky to structures in the Early Triassic Buntsandstein in the Harz Mountains of central Germany. 98 (Tradução do autor.) The inarticulate brachiopod Lingula is often described as a “living fossil” because it has persisted seemingly unchanged for hundreds of million of years. Since Lingula basically looks like a watermelon seed, there is a limit to how much evolutionary change one could detect. 99 Stanley, George D., Jr. 2003. “The evolution of modern corals and their early history.” Earth Science Reviews 60:195-225. 101 recentemente uma alternativa: que esses corais escleractiniomorfos surgiram várias vezes ao longo dos últimos 540 milhões de anos a partir de anêmonas do mar sem esqueleto (convergência evolutiva novamente). Estudos moleculares de corais vivos dão suporte à hipótese de que os escleractínios foram originados várias vezes. Em outras palavras, os escleractínios podem não ser um clado único, mas um grupo com morfologia muito similar e vários ancestrais.100 (ERWIN, 2003, p.231) Nem todo Lázaro Taxon é bem o que parece... as semelhanças eram devidas à evolução convergente para uma forma semelhante, não descendente compartilhada a partir de um ancestral comum. Convergência é particularmente comum se o número de soluções engendradas para um problema particular é limitada. Em tais circunstâncias espécies muito parecidas podem aparecer em diferentes clades, ou em tempos muito diferentes. O Lázaro Taxon revela quão pobre é o registro fóssil, enquanto o Elvis Taxon sugere que a extinção foi maior, mas a variedade de formas possíveis é mais limitada do que poderíamos suspeitar.101 (ERWIN, 2003, p.236) Vamos voltar para o modelo de tabuleiro simples. Esses espaços vazios do tabuleiro representam nichos deixados vagos por espécies extintas, disponível para ser recarregado após a extinção, e eles são o ingrediente essencial deste modelo. Esse modelo conceitual, bem como modelos matemáticos derivados da ecologia e biogeografia de ilhas, sugere que a recuperação deve seguir um padrão sigmoidal com diversificação lenta seguida por um aumento exponencial no número de espécies e, em seguida, um declínio no número de novas espécies na medida que o número de espaços abertos vão pingando.102 (ERWIN, 2003, p.238-240) 100 (Tradução do autor.) The construction of scleractinians differs considerably from the Paleozoic corals, but an increasing number of unusual “scleractinomorph” (scleractinian-like) corals have been discovered in the Paleozoic. These fossils could be ancestral to the scleractinian corals, but George Stanley has recently suggested an alternative: that scleractinian-like corals arose multiple times over the past 540 million years from unskeletonized sea anemones (evolutionary convergence again). Molecular studies of living corals lend support to the hypothesis that the scleractinians originated several times. In other words, the scleractinians may not be a single clade, but a group with very similar morphology and several ancestors. 101 (Tradução do autor.) Not all Lazarus taxa are quite what they seem. . . the similarities were due to convergent evolution to a similar form, not shared descent from a common ancestor. Convergence is particularly common if the number of enginnering solutions to a particular problem is limited. In such circumstances very similar-looking species may appear in different clades, or at very different times. ... Lazarus taxa reveal how poor the fossil record is while Elvis taxa suggest extinction was greater, but the range of possible forms is more limited than we might otherwise suspect. 102 (Tradução do autor.) Let’s return to the simple chessboard model ... Those empty spaces on the board represent niches vacated by extinct species, available to be refilled after the extinction, and they are the essential ingredient of this model. ... This conceptual model, as well as mathematical models derived from ecology and island biogeography, suggests that the recovery should follow a sigmoidal pattern with slow diversification followed by an exponential rise in the number of species and then a decline in the number of new species ... as the number of open spaces drops. 102 2.19 – Till e loess O loess é uma areia fina, que se dissolve em água, deixando-a turva, e que mancha os dedos. Hoje o loess está submetido a uma alteração que, ao decompor seus elementos calcáreos, vai se tornando cada vez mais argiloso, razão pela qual cria um solo que se parece cada vez mais aos limos propriamente ditos. A ausência de estratificação, a finura extremada dos grãos e o caráter maciço do depósito indicam que o loess se deve a uma precipitação continua de finísimas partículas de pó em suspensão. Sua formação requereu muito tempo nas regiões, todavia endorreicas, da Ásia. (MARTONNE, 1967, p.690-692). A proeminente unidade basal rica em matacões da sequência gondwânica da América do Sul, Falkland, Africa do Sul, Madagascar, Índia e Antártida tem sido interpretada como tilito, ou seja, um till glacial litificado. Embora esta unidade apresente uma quase inexplicável grande espessura na África do Sul, sua origem glacial é amplamente aceita, principalmente porque o polimento e estriações no embasamento subjacente no qual descansa é similar aos produzidos pelas geleiras recentes e pleistocênicas. (EICHER, 1969, p.107). Em uma conferência sobre Geomorfologia Glacial, a professora Andrea Coronato103, falava de seus estudos dos paleoglaciares do sul da Argentina. E falou do till – o pó de rochas, formado pelo desbaste entre rochas nos glaciares. “O till é totalmente inerte – ali não nasce nem líquen.” Entretanto, os livros de geologia nos sugerem que os desertos de loess são provenientes do till, por movimentação eólica. Mas o loess, além de não ter estratificação (uma só deposição) e de não ser rodado, como as areias, ainda é altamente fértil. São os solos mais férteis do planeta, como no meio oeste norteamericano ou nas planícies russas perto dos Urais. Assim é que o till não pode ser origem do loess. No meu entender, o loess plagioclásico pode ser produto de ejeção do pó de impacto de meteoro – rocha contra rocha – ou resultante de fraturas crustais. Os desertos de loess ainda existem como desertos em áreas onde não há chuva, como em Gobi, Austrália, no sul da Argentina ou da África. 103 Profª Drª Andrea María Josefa Coronato – Universidad Nacional da Patagonia – Encontro Latino Americano de Geomorfologia, setembro de 2010, no Recife – PE, Brasil. 103 2.20 – Convecção sem convicção Convecção, convecção. Em meio às minhas dúvidas iniciais, por volta de 2005, busquei alguma coisa sobre desde quando começaram as tais correntes de convecção. Encontrei que as correntes de convecção sempre existiram! Elas são a contestação mecânica singela (da mecânica dos fluidos) a qualquer gradiente de temperatura ou composicional (por diferença de densidade por empuxo). Sim, é óbvio. A convecção, a nível universal, sempre existiu. Então, por qual razão somente temos fundos oceânicos recentes? Deveríamos ter fundos oceânicos desde que começaram as correntes de convecção, ou seja, desde sempre. Numa viagem curta104, ouvi de geoquímica por algumas horas. As análises químicas atuais podem determinar a profundidade exata de geração de um magma. O magma da cadeia meso-atlântica, sem qualquer dúvida, provinham de uma profundidade de 25 km. Na manhã seguinte, no apartamento no hotel onde me hospedava, puxei um rolo de papel higiênico do banheiro até o outro lado do quarto. Ali estava, em escala, a excentricidade 1:40 da tal célula de convecção do manto, considerando-se uma astenosfera de 200 km de altura, e um deslocamento de placa de 8.000 km, entre a dorsal meso-atlântica e a área de subducção do Pacífico sob os Andes. Mas, com a certeza de que o magma meso-atlântico provinha de 25 km de profundidade, para mantermos a representatividade escalar, seria necessário sair pela janela do hotel e fazer o papel chegar até quase o outro lado da rua. O fenômeno da fluência está presente em todos os materiais, sendo caracterizada pelo desenvolvimento de deformação plástica no domínio do tempo, mesmo em condições em que não seja alterado o estado de tensões sobre o material. A taxa de deformação por fluência apresenta sensível variação e será maior ou menor a depender da estrutura cristalina entre os diversos materais existentes na natureza. (MOHRIAK, 2009, p.365). Ou seja, tudo flui. Aceitemos que um movimento de convecção do manto fosse gerado a partir de calor proveniente do núcleo, por decaimento radioativo. O calor não poderia ser gerado igualmente em todo o núcleo, ou o calor se transmitiria por condução e não geraria convecção – para haver convecção há necessidade de haver gradiente de temperatura. 104 Viagem a Santos, para o 46º Congresso de Geologia, em setembro de 2012. 104 Ilustração 2.20.a – A células de convecção, significativamente fora de escala. Fonte: www.montgomerycollege.edu/Departments/planet/AstroLink2.0_html/earth/index.htm. Bem, então digamos que há geração de calor diferenciada no núcleo, a ponto de gerar a convecção no manto. Mas o núcleo está girando, resultando no campo magnético terrestre, a uma velocidade de 180º por 0,8 milhão de anos (tempo médio de inversão do pólo magnético). Então os focos de calor para criar as células de convecção no manto também deverão estar girando a esta mesma velocidade. Outrossim, os continentes americano e africano derivaram a uma velocidade de 15º (para cada lado) em 200 milhões de anos. Isto implicaria que a fonte de calor (no núcleo) estivesse parada (localizada no mesmo lugar) nesses últimos 200 milhões de anos. Com o núcleo parado, não haveria campo magnético terrestre, nem padrão zebrado de fundo oceânico, nestes 200 milhões de anos. 105 2.21 – Pontos quentes Desde os primórdios da revolução da tectônica de placas, a maioria dos geólogos têm seguido argumento de J. Tuzo Wilson que o derramamento de basalto representa uma pluma de material subindo das profundezas da terra.105 (ERWIN, 2003, p.194). Apesar das reivindicações quase universais de livros de geologia, ninguém foi capaz de demonstrar que as plumas provenientes das profundezas da Terra realmente existem. Traçando milhares de terremotos e seu caminho através da terra, os sismólogos podem produzir uma espécie de tomografia da terra (que atende pelo nome de tomografia do manto). As ondas produzidas em um terremoto retardam quando passam por regiões mais quentes no interior da terra, e esta variação na velocidade do curso de ondas permite aos sismólogos produzir imagens das plumas do manto. Dos 45-50 geralmente aceitos pontos quentes, apenas 7-8 possuem plumas das quais se sabe irem além dos 200 km de profundidade.106 (ibidem, p.195) Referindo-se à cadeia de ilhas havaianas, Lisa Pinsker107 observa: “Os pontos quentes podem possivelmente não estar sempre fixados”.108 (PINSKER, 2003, apud SCHEIDEGGER, 2004, p. 97-98). O geólogo russo Valeri Fdorenko, Gerry Czemanske do Serviço Geológico dos EUA, e seus colegas, realizaram estudo incrivelmente completo da Sibéria. Seu mapeamento geológico detalhado demonstra que a Sibéria sofreu lenta subsidência durante a maior parte do Permiano, e esta continuou durante a erupção vulcânica. Esta prova de subsidência lenta durante a erupção é o oposto das expectativas de uma pluma.109 (ERWIN, 2003, p. 195-196) A química de grande parte do derramamento basáltico continental é semelhante à da ilha oceânica, como o Havaí. Rochas de vulcões de arco de ilhas acima de uma placa em subducção, 105 (Tradução do autor.) Since the early days of the revolution in plate tectonics, most geologists have followed J. Tuzo Wilson’s argument that flood basalts represent a plume of material rising from deep in the earth. 106 (Tradução do autor.) Despite the near-universal claims of geology textbooks, no one has been able to demonstrate that plumes arising from deep within the earth actually exist. .. By plotting thousands of earthquakes and their path through the earth, seismologists can produce a sort of CAT scan of the earth (which goes by the name mantle tomography). The waves produced in an earthquake slow down as they hit hotter regions inside the earth and this variation in the speed at which the waves travel allows seismologists to produce images of the mantle plumes. ... Of the forty-five to fifty generally accepted hot spots, only seven or eight have plumes known to go deeper than 200 kilometers. 107 Lisa faz parte do staff da Geotimes http://www.geotimes.org/mar03/geophen.html, e foi presidente da AESE – Association of Earth Science Editors em 2006. 108 (Tradução do autor.) Hotspots may possibly not always be fixed. 109 (Tradução do autor.) The russian geologist Valeri Fdorenko, Gerry Czemanske of the U. S. Geological Survey, and their colleagues have conducted incredibly thorough studies of the region ... their detailed geologic mapping demonstrates that Siberia was slowly subsiding during most of the Permian, and continued to subside during the volcanic eruption. This evidence of slow subsidence during the eruption is the opposite of expectations from a mantle plume. 106 como no Japão e Chile, tem uma assinatura química diferente. O derramamento basáltico da Sibéria, a Província magmática do Atlântico Central – do fim do Triássico –, e o derramamento basáltico na sul-africana região de Lesoto, se assemelham mais aos basaltos de arco de ilhas que a outros derramamentos basálticos, sugerindo que rifteamento continental é uma explicação mais plausível do que uma pluma para estas erupções.110 (ERWIN, 2003, p. 197) O que provocou o derramamento dos basaltos Sibéria? Complicadoras são as observações de que as erupções geralmente começam após a extinção em massa. Uma explicação distinta é a de que o vulcanismo siberiano não começou em terra, mas no céu, com um impacto de meteoro. A correlação entre extinções e derramamentos basáltico levou geólogos a investigar se eles poderiam ter sido provocados por impactos. (ERWIN, 2003, p. 198-200) Eugene Merle Shoemaker (1928-1997) do United States Geological Survey (USGS) e um dos fundadores da astrogeologia estudou asteróides e cometas cujas órbitas cruzam com a da Terra e contou a taxa de formação de crateras na Lua. Ele concluiu que devemos esperar ums cratera de impacto de 10 km a cada 4 milhões de anos (+ ou - 2 milhões de anos), ou cerca de 516 crateras deste tipo nos últimos 120 milhões de anos. Considerando a superfície oceânica, 212 destes impactos deveriam ter atingido os continentes, mas apenas 89 crateras com mais de 10 km foram encontradas. Apesar do intemperismo e outras incertezas, parece que ainda faltam muitas crateras.111 (ERWIN, 2003, p. 201). H. Jay Melosh (1947-), da Universidade do Arizona, é um dos maiores especialistas nesta área. Após levantamento de crateras na Terra, a Lua e Vênus, ele concluiu que não há absolutamente qualquer evidência de que os impactos tenham causado vulcanismo em qualquer outro lugar do sistema solar.112 (ibidem, p. 202). Uma estilosa ideia relacionada é conhecida no mercado como foco antipodal: a energia do impacto é focada no lado oposto da terra a partir do ponto de impacto. [...] De acordo com o foco antípoda, quando as ondas de energia chegam ao lado oposto da Terra, a colisão das ondas vai concentrar a energia e pode desencadear erupções vulcânicas. Mas com uma física bem simples 110 (Tradução do autor.) The chemistry of most continental flood basalt is similar to oceanic island like Hawaii. Rocks from island arc volcanoes above a subducting plate, such as those in Japan or Chile, have a different chemical signature. The Siberian flood basalts, the end-Triassic Central Atlantic Magmatic Province, and the Lesotho flood basalts in South Africa are more similar to island arc basalts than other flood basalts, however, suggesting that continental rifting is more plausible explanation than a mantle plume for these eruptions. 111 (Tradução do autor.) The late Gene Shoemaker of the U.S. Geological Survey and one of the founders of planetary geology studied asteroids and comets whose orbits cross that of the earth and also counted the cratering rate on the moon. He concluded that we should expect an impact producing a 10 kilometer crater every 4 million years or so (give or take 2 million years), or about 516 such craters in the past 120 million years. Correcting for the greater surface area of the oceans, 212 of these impacts should have hit the continents, but only 89 craters over 10 kilometers in size have been discovered. Despite weathering and other uncertainties we still seem to be missing quite a few craters. 107 Jay Melosh mostrou que a quantidade de energia disponível através deste processo não iria cozinhar um cachorro quente: simplesmente não há energia suficiente disponível para desencadear o vulcanismo antípoda.113 (ERWIN, 2003, p. 203) As ilhas vulcânicas e recifes havaianos se extendem por 2.500 km. Essa sequência prossegue sob o oceano para a cadeia de montes submarinos do Imperador, onde ocorre uma curva acentudada. A estranha curvatura do Imperador (43 milhões de anos) no complexo havaiano nunca foi realmente explicada. A parte emersa do arquipélago havaiano é considerada como o rastro de um ponto quente, com o centro vulcânico ativo sendo atualmente localizado sob a Grande Ilha do Havaí, propriamente dita. As ilhas vão ficando mais velhas em direção ao nordeste, como a placa oceânica do Pacífico supostamente tenha se movido nesta direção sobre o ponto quente fixado.114 (SCHEIDEGGER, 2004, p.100-103). Ilustração 2.21.a – As ilhas da cadeia de Samoa. Tomada de: http://www.vulkaner.no/v/volcan/submarin/Vailuluu.html. 112 (Tradução do autor.) Jay Melosh at the University of Arizona is a leading expert in this area, and after surveying craters on the earth, the moon, and Venus, he conclude that there is absolutely no evidence that impacts have caused volcanism anywhere else in the solar system. 113 (Tradução do autor.) A nifty, related idea is known in the trade as antipodal focusing: the energy of an impact is focused on the opposite side of the earth from the point of impact. ... According the antipodal focusing, when the energy waves reach the opposite side of the earth the collision of the waves will focus energy and could trigger volcanic eruptions. But with fairly simply physics Jay Melosh showed that the amount of energy available through this process would not cook a hotdog: there simply is not sufficient energy available to trigger antipodal volcanism. 114 (Tradução do autor.) Hawaiian Islands – it consists of islands and reefs that stretch for 2500 km. The chain continues underwater to the Emperor Seamount, where there is a marked bend. The strange “Emperor bend” (43 Ma ago) in the Hawaiian complex has never really been explained. The above-water part of the Hawaiian archipelago has usually been considered as a hot-spot trace with a fixed active volcanic center being presently located beneath “Big Island” (Hawaii proper); the islands become older towards the NE as the plate supposedly had moved in that direction over a fixed hot spot. 108 A geocronologia das ilhas da cadeia de Samoa (ver Ilustração 2.21.a) aparenta ser o inverso do Leste-Oeste usual: a ilha mais nova, ainda vulcanicamente ativa, Savai’i, é a ilha mais a oeste do arquipélago. Então Samoa (placa do Pacífico) provavelmente pertence tectonicamente à Fiji (na placa Indoaustraliana) em vez de pertencert ao embasamento do oceano Pacífico.115 (SCHEIDEGGER, 2004, p.98-99). As ilhas Cook são um rastro de pontos quentes do manto. Encontram-se no prolongamento da cinta do Arquipélago Austral (na Polinésia Francesa). Um centro ativo neste arquipélago é o monte submarino MacDonald, na sua extremidade sudeste, mas, na medida em que a velocidade da placa tectônica do Pacífico é supostamente de 11 centímetros ao ano, na direcção N65ºW (a partir de N115ºE) e na medida em que a distância entre MacDonald e Rarotonga é de 1000 km, este último é cerca de 10 milhões de anos jovem demais para ter sido causado pelo ponto quente ativo MacDonald.116 (SCHEIDEGGER, 2004, p.103-104). 115 (Tradução do autor.) The age aspect of the Samoa Chain appears to be reversed to the usual East-to-West ageing of the islands: the youngest, presently volcanically active, Savai’i, is the western-most island of the archipelago. ... Thus Samoa (Pacific plate) probably belongs tectonically to Fiji (Indoaustralian plate) rather than to the Pacific basin. 116 (Tradução do autor.) Cook islands – ... trace of a mantle hot spot. It lies in the prolongation of the belt of the Austral Archipelago (in French Polynesia). An active center of the latter is MacDonald Sea Mount at its SE extremity, but, inasmuch as the velocity of the Pacific Tectonic Plate is supposed to be about 11 cm/a in a direction N65oW (from N115oE) and inasmuch as the distance between MacDonald Sea Mount and Rarotonga is 1000 km, the latter is about 10 Ma too young to have been caused by the MacDonald active center. 109 3. Alternativas A tectônica de placas é um modelo global onde um pequeno número de placas crustais se desloca a partir de correntes convecção do manto. O material aquecido se eleva em zonas de tensão e então se expande em direção às margens continentais adjacentes enquanto esfria, onde é subductado para compensar a expansão. SCHEIDEGGER (2004, p.31-34) parece ter consultado uma ampla bibliografia e citou uma abrangente coleção de problemas publicados quanto à tectônica117. Acrescentava ainda que as causas da segmentação das cadeias meso-oceânicas não eram bem entendidas118, alertava que os movimentos na crosta podem ser resultantes de inchaços da câmaras magmáticas abaixo da mesma119, e que a assunção de longa-data de que os pontos quentes são alimentados por plumas mantélicas fixas podiam não ser verdade120. O autor ainda observava (ibidem, p.31-34), sem citar fontes, que há divergências nas taxas de movimentação de placas medidas com GPS. Quanto a isso devo concordar com ele. Através de leituras diversas121 encontrei que o GPS é um sistema baseado em relógios atômicos de grande precisão – ele mede o tempo e calcula as distâncias diferencialmente. Assim, o uso de distâncias relatadas entre um ano e outro não possuem significado. Uma vez que o GPS é referenciado ao centro de massa da Terra, qualquer eventual movimentação na crosta – inclusive as gravitacionais, como as marés – afeta este centro de massa e torna a medição não significativa. Também devo concordar com o autor, no mesmo tópico, quando ele menciona a incerteza entre os limites das placas entre África e Eurásia, entretanto busquei e li a fonte citada pelo autor122 e não encontrei referência a este fato naquele livro. 117 (Tradução do autor.) A comprehensive colection of problems has been published by Augustithis (1990); more recent criticisms were presented by Arthur Augustus Meyerhoff et al. (1992b, in Chaterjee S, Hotton N eds., New Concepts in Global Tectonics, Texas Tech. Univ. Press, Lubbock, pp 309-409), Oakley Shields (1997, Is plate tectonics withstanding the test of time? Annali di Geofisica; Roma, vol 40-4: 955-962), K M Storetvedt (1997, Our evolving planet; 2003, Global wrencht tectonics), L Wright (2000, Raising Hot Spots, Geotimes vol.45-11:10) and others. 118 Bonatti, 1996, Long-lived oceanic transform boundaries formed above mantle thermal minima, Geology vol.24-9, p.803-806. 119 Jonssón S et al, 1999, Low rates of deformation of the Furnas and Fogo volcanoes, Sao Miguel, Azores, observed with the GPS 1993-1997, J. Volcanol. Geotherm. Res. Vol.92, p.83-94. 120 Wright, 2000, Raising Hot Spots, Geotimes vol.45-11:10; Pinsker LM 2003, Bending Thoughts Hawaiian Chain, Geotimes vol.28-3:29&46. 121 FONTANA, Sandro. GPS - A navegação do futuro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2002. MONICO, João Francisco Galera. Posicionamento pelo GNSS - Descrição, fundamentos e aplicações. São Paulo: Unesp, 2008. SANTOS, Adeildo Antão dos. Geodésia Elementar - Princípios de posicionamento global - GPS. Recife: UFPE, 2001. 122 Zazo and Goy, 1994, in M Gutierrez-Elorza ed, Geomofología de España, Rueda, Madrid, p.437-469. 110 SCHEIDEGGER (2004, p.31-34) admitia, entretanto, que a estrutura de placas móveis na litosfera ainda parecia ser o modelo mais comumente aceito, uma vez que também não são totalmente convincentes as sugestões de modelos alternativos, tecidas por autores diversos, como Meyerhoff, A. A. (Surge Tectonics), Storetvedt, K. M. (1992, Rotating plates: new concept of global tectonics. In Chatterjee & Hotton, 1992, p. 203-220; 1997, Our Evolving Planet: earth history in new perspective. Bergen, Norway: Alma Mater) e Carey, S. W. (1994, Creeds of physics. In M. Barone & F. Selleri, eds, Frontiers of Fundamental Physics, p. 241-255). Belousov Foi o Professor Doutor Eder Molina, do Instituto de Geofísica – USP, em 2006, quem primeiro me sugeriu que eu buscasse as teorias de um geólogo e matemático russo que discordava da tectônica, mas do qual não se lembrava do nome. Depois de alguns anos de buscas e desenganos, encontrei o geólogo Vladimir Belousov (1907-1990), obtive seus livros em sebos norte-americanos, e me fiz conhecedor de seus argumentos e observações. Esta busca começou oralmente, por uma simples dica, e resultou surpreendente em termos de conhecimentos. O trabalho de Belousov, nascido e falecido em Moscou, centrou-se principalmente na estrutura e desenvolvimento da crosta terrestre. Começou a trabalhar com geologia e geoquímica de gases naturais, mas logo passou a estudar a geotectônica, na qual se tornou especialista. Em 1942 desenvolveu sua teoria dos movimentos terrestres, na qual propunha que o planeta se encontrava estratificado de acordo com a densidade das camadas, e que esso era a razão dos movimentos na crosta terrestre. Recusava as teorias da deriva continental. Belousov acreditava que a tectônica de placas era uma generalização prematura de dados ainda inadequados da estrutura do assoalho oceânico e distante da realidade geológica. Um de seus trabalhos que mais se destacou foi Principles of Geotectonics, de 1975123. Belousov realizou três expedições ao rift do Leste Africano durante os anos 1960 para estudar a estrutura continental e o manto da Terra. Essas viagens o convenceram de que a crosta continental tranformava-se em crosta oceânica por processos de espalhamento envolvendo magmas básicos. Por mais que suas teorias não tenham obtido êxito na comunidade científica, ele foi um ícone no desenvolvimento das ciências da Terra dentro da União Soviética após a 2ª Guerra Mundial. 123 A bibliografia de Belousov inclui Basic Problems in Geotectonics (1962, New York: McGraw-Hill), Against the hypothesis of ocean-floor spreading (1970, Tectonophysics, 9, 489-511), Geología Estructural (1979, Moscou: Edl. Mir), Endogenic regimes and the evolution of the tectonosphere (In Chatterjee & Hotton, 1992, p. 411-420). 111 Meyerhoff Arthur Augustus MEYERHOFF124 nos apresentou uma tectônica oscilante, que fala de canais subcrustais ondulados em virtude da contração da Terra. (SCHEIDEGGER, 2004, p.3233). Sua tese foi sintetizada em MEYERHOFF HULL, Donna (ed). Surge Tectonics: A new hypothesis of global geodynamics. Dordrecht - The Netherlands: Kluwer, 1996. Shields Oakley SHIELDS125 sugere uma expansão da crosta devido à redistribuição de massas no manto, e da oceanalização de parte de uma crosta que cobria totalmente o planeta. (SCHEIDEGGER, 2004, p.32-33). Ou seja, a crosta se contrai enquanto o manto dilata. A crosta continental se rompe e surgem as crosta oceânicas. Anderson Don L. Anderson publicou a história térmica da Terra em: The New Theory of the Earth, 2 nd ed. New York: Cambridge University, 2007[1989]. Aí descreve os fluxos de térmicos e a heterogeneidade do manto. Keith Logo após os editores da Earth Science Reviews receberem e lerem o artigo de MacKenzie KEITH (2001), este faleceu. Assim, decidiram publicar o artigo tal qual foi enviado, que termina considerando a tectônica de placas como o mais fantástico castelo de cartas erigido na ciência126. (Ibidem, p.318). Em artigo anterior (1993), KEITH já considerava que era um exercício claramente perigoso extrapolar os movimentos crustais atuais para centenas de milhões de anos no passado ou no futuro. De fato, levantamentos geodésicos ao longo dos rifts (por exemplo, na Islândia e no Leste Africano) não conseguiram detectar qualquer dilatação ou espalhamento consistente e sistemático como postulado pela tectônica de placas.127 124 Meyerhoff et alii, 1992, p.151-178; ibidem, p.309-409. 1997, Is plate tectonics withstanding the test of time? Roma: Annalli di Geofisica, vol. 40(4), p.955-962. http://www.earth-prints.org/bitstream/2122/1601/1/11%20shields.pdf. 126 (Tradução do autor.) Plate tectonics is the most fantastic house of cards that ever been erected in science. 127 (Tradução do autor.) It is clearly a hazardous exercise to extrapolate present crustal movements tens or hundreds of millions of years into the past or future. Indeed, geodetic surveys across "rift" zones (e.g. in Iceland and East Africa) have failed to detect any consistent and systematic widening as postulated by plate tectonics (Keith, 1993). 125 112 Jeffreys O heróico Harold Jeffreys foi matemático, físico, sismólogo, astrônomo, e sua bibliografia inclui, entre outros, Theory of Probability (1939) e Scientific Inference (1931). Ele conclui teoricamente pela fase líquida do núcleo dez anos antes que isto pudesse ser comprovado fisicamente. Apesar de ser o maior adversário da tectônica de placas, e de sua competência e conhecimento científicos, Jeffreys não apresentou uma alternativa àquela. Como já vimos, as pessoas se sentem incômodas com a situação de dúvida. Preferem acreditar no já estabelecido do que simplesmente desacreditar e ficar em dúvida, como propunha Jeffreys. 113 4. Um modelo entre outros Como em outras histórias, a história da origem dos continentes e oceanos não tem limites. É preciso esquecer a geografia que conhecemos e refrescar o pensamento com mundos possíveis. Durante nossos estudos e conversações, novos hipotéticos modelos foram surgindo. Os modelos surgem da comunicação, da dialética, da troca de idéias, da gestualização. 4.1 – Aproximações sucessivas Um modelo é uma estruturação simplificada da realidade que supostamente apresenta, de forma generalizada, características ou relações importantes. Modelos são aproximações altamente subjetivas, por não incluírem todas as observações ou medidas associadas, mas são valiosos por obscureceram detalhes acidentais e por permitirem o aparecimento dos aspectos fundamentais da realidade. (Chorley & Haggett, 1975, p.3-7). Ainda segundo estes mesmos autores: “Os paradigmas podem ser considerados como padrões estáveis da atividade científica. [...] Referem-se a padrões que pesquisam o mundo real em vez de serem endereçados ao mundo real propriamente dito. Os cientistas, cujas pesquisas se baseiam em paradigmas comuns, que estão comprometidos com os mesmos problemas, regras e padrões, isto é, constituem uma comunidade permanente, dedicada a uma tradição particular de pesquisa.” São funções dos modelos: a normativa (comparar idéias com a realidade), a organizativa (do processo cognitivo), a sistematizadora (explicar e comunicar), a construtiva (base para novos modelos). Novos entendimentos de uma teoria são úteis na construção de modelos que facilitem os ensinamentos e ampliem as possibilidades de transmissão desses conhecimentos científicos. Os modelos permitem combinar princípios de reducionismo e integração sistêmica, principalmente para objetos de organização complexa. O início e a consolidação de minhas insatisfações para com a teoria atual – a Tectônica de Placas –, ocorreu precisamente a partir de fontes orais. Fora das classes, escutei de professores e/ou autores, dúvidas e afirmações por vezes distintas das que usavam em suas aulas ou livros. No Princípio da Navalha de Occam, atribuído a Guillermo de Ockham (1280-1349), quando duas ou mais teorias tem as mesmas condições e consequências, a teoria mais simples 114 tem mais probabilidade de ser correta do que a mais complexa. As considerações orais, em geral, são simples, talvez mais corretas. Ousei, então, formular uma hipótese que incorporasse a totalidade dos dados científicos conhecidos (empíricos), e substituísse parte daquelas crenças advindas da tenacidade, da autoridade e do apriorismo. (Ver Grafico 2.) 115 4.2 – Proterozóico Consideremos, por apriorismo, nos moldes de Laplace, que a Terra tenha sido formada pela agregação de planetesimais. Há uns 4.500 milhões de anos, o calor gerado pelos choques levou o material a tais temperaturas que permitiu que ocorresse uma diferenciação parcial de seu interior. Na crosta restou a escória siderúrgica: uma camada silicática, cerâmica, refratária, cobrindo 100% do planeta. A Lua nasce na mesma época, de modo similar. Lua e Terra giram em torno do centro de massa do sistema Terra-Lua. A crosta cerâmica, refratária ao calor, produz uma região super aquecida. Esta região subcrustal, super aquecida, torna-se uma camada liquefeita de magma: a descontinuidade de Mohorovicic ou Moho. A Moho implica num grau de liberdade à crosta, como a de nossa pele em nosso corpo. Nossa pele pode enrugar-se e mover-se, com bastante independência em relação aos músculos e ossos. O fim do Proterozóico foi marcado pela chegada de um cometa (ver ilustração 4.2.a), vindo possivelmente do cinturão de Kuiper e composto por água e amônia. O cometa tinha a crosta congelada, como parece ocorrer com Plutão128. Com a aproximação do centro do Sistema e do calor do Sol, o cometa foi ficando menos duro, mais liquefeito. Por isso o impacto foi diferenciado e mais ameno do que o de um corpo rígido. Ilustração 4.2.a - Toda a água da Terra pode ser representada numa esfera com entre 380 e 670 km de raio, dependendo da estimativa. Fonte: Jack Cook, Woods Hole Oceanographic Institution; USGS. 128 Em julho de 2015 a nave New Horizons chega à proximidade de Plutão, para constatar essa mesma estrutura de H20 + NH3 no “planeta anão”. O ponto de fusão da substância resultante é de cerca de 100ºC negativos. 116 A água caracteriza-se pelo peso máximo a 4ºC. Assim, a água de 4ºC, de densidade máxima, submerge e o congelamento tem início a partir da superfície. Ao congelar, a água sofre expansão de 10%, sua densidade diminui e o gelo flutua. Em consequência, organismos subaquáticos podem sobreviver em líquido sob a capa de gelo. (Suguio & Suzuki, 2003, p.8). A vida, na forma de bactérias, pode ter vindo submersa nessa “espaçonave cometa”. Assim, quanto ao resultado desse impacto para nosso planeta, podemos até dizer que a explosão da vida no Cambriano foi mais violenta do que o impacto físico em si. Com a tendência natural ao equilíbrio – e ao equilíbrio dinâmico –, a quase totalidade da crosta ficou coberta por uma película de água, com cerca de 3 km de profundidade. Uma exceção pode ter sido o Karoo, África do Sul, bem como os muitos vulcões elevados por todo o planeta. Como quase toda a crosta estava submersa, todos os continentes estiveram abaixo do grande oceano, como constatamos pela presença de fósseis conquílio-malacológicos. Essa pouca água foi suficiente para mudar o regime de resfriamento do planeta. Aumentou significativamente o gradiente de temperatura na crosta. 117 4.3 – Paleozóico Equilíbrio de um lado e desequilíbrio de outro. A pequena agregação de massa implicou no desequilíbrio nas forças gravitacionais do conjunto Terra-Lua. Nossa exigência científica não acredita em órbitas elípticas. Assim, a Lua passa a aproximar-se da Terra em movimento espiral convergente. E vice-versa (Lei da Conservação do Momento, do Sir Isaac Newton). A evaporação da água e da amônia criaram uma atmosfera de Hidrogênio e Nitrogênio. O oceano foi se tornando salgado, pela dissolução de substâncias da crosta continental hegemônica – agora submersa. A vida que proliferava foi, aos poucos, enriquecento nossa atmosfera também com Oxigênio. A Lua continuou a aproximar-se até que, ao final do Permiano – fim do Paleozóico – o aumento da força gravitacional provocou uma extinção em massa de plantas e animais. “Nesta extinção do fim do Paleozóico, até os insetos e trilobitas desapareceram” (ERWIN, 2003). Um imenso volume de substâncias orgânicas começou a depositar-se no fundo oceânico. Com a contínua aproximação lunar, antes mesmo da oxidação dos restos orgânicos, o aumento das marés gravitacionais rompeu a crosta silicática subaquática, criando imensos rifts. As águas escorreram para estes imensos rifts e carregaram os restos orgânicos, que entraram em contato com o magma. Por sobre a matéria orgânica cozida, com a evaporação dos oceanos, depositou-se o sal que estava contido aí. Por sobre o sal, o loess resultante da continuidade do rifteamento da crosta terrestre. Estas estruturas são a bases das plataformas continentais (ver ilustração 4.3.a). A cadeia meso-atlântica marca a posição de um desses rifts. Ilustração 4.3.a - A estrutura da plataforma continental. Ilustração de Newton M. Campos Jr. 118 4.4 – Mesozóico No início do Triássico – início do Mesozóico – a Lua ainda continuava a aumentar sua velocidade de translação em espiral convergente. Depois de alguns milhões de anos, ela se aproximou do Limite de Roche. Mas não o limite calculado entre Terra e Lua. A corrente se rompeu no elo mais fraco. Muito antes de chegar ao ponto da Lua explodir, foi a crosta terrestre que o fez, em função de seu rifteamento e da descontinuidade subcrustal de Moho. Houve uma nova extinção da vida em massa. A velocidade lunar, a perda de massa terrestre e a conservação do momento fizeram com que a Lua entrasse numa órbita espiral divergente. E arrastou consigo, pelo espaço, parte da escória pulverizada ou em pedaços – o que inclui alguma água. A Lua seguiu se afastando enquanto recebia acreção desse material prioritariamente silicático. Com a explosão da crosta, as partes tomaram caminhos diferentes. Uma terça parte, que estava no lado contrário ao da atração no momento da explosão, se manteve grudada ao planeta – Pangea – mas seus pedaços se dispersaram de acordo com os rifts pré-existentes e de modo a manter o equilíbrio dinâmico planetário. O paleomagnetismo nos confirma as rotações das partes continentais, de acordo com o Teorema de Euler. Com a exposição de cerca de 50% do manto, as águas voltaram a evaporar-se. Uma outra parte da crosta ainda pode ser vista como ofiolitos ou como loess. Algumas partes da antiga crosta continental (silicática, refratária ao calor) foram enfiadas no manto, sendo detectáveis nas recentes tomografias do planeta. Algumas bordas do Pangea se elevaram por rebote elástico (Reid) ou torção, gerando glaucofanos e xistos verdes. Formaram bacias (geossinclinais - Hall, Dana) à retaguarda das cordilheiras do Pacífico, onde se depositou parte da poeira (loess) gerada. Em se tratando de um mesmo evento no tempo, é lógico que as cordilheiras do Pacífico possuam a mesma idade que os fundos oceânicos. Por baixo destas cordilheiras elevadas na explosão gravitacional, formaram-se os batólitos descritos por Belousov, sem pressão sobre a crosta. A crosta asiática foi arremessada sobre a Índia. Formam-se Himalaya e Tian Shan (como proposto por Frank Taylor). A explosão também resultou em partes de ilhas com crosta continental, como as Seychelles. 119 Ilustração 4.4.a - As montanhas da Ásia Central. Imagem tomada de http://davidderrick.wordpress.com/category/maps/maps-of-central-asia/. Os oceanos voltaram a formar-se – com água doce – pois o sal depositou-se com a total evaporação dos oceanos anteriores. Podemos considerar que a cicatrização do oceano Pacífico, em virtude de sua dimensão, foi como a cicatrização dita pelos médicos como de 2ª intenção: de dentro para fora. No Atlântico a cicatrização ocorreu de fora para dentro. Ilustração 4.4.b - Padrão zebrado no resfriamento de assoalho oceânico. Ilustração de Newton M. Campos Jr. O magnetismo remanente identificado nas perfurações de fundo oceânico, com inversões sucessivas no aprofundamento, indica-nos um padrão de resfriamento dessa nova crosta oceânica. 120 Simultaneamente com o afastamento, a Lua é recoberta por estilhaços e poeira silicática que arrastou da Terra. Tal material aumenta o raio lunar em 300 km. Sua densidade e dimensão passam a ser os atuais. Isso explica a razão de a Lua possuir uma densidade inferior à dos demais planetas internos. Ilustração 4.4.c – Superfície lunar. Fonte: Wikipédia. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a3/Moon_Dedal_crater.jpg. Os choques dos estilhaços provocam milhares de crateras na superfície lunar. A diferença entre o volume de crateras na Lua e na Terra advém da perda de 2/3 da crosta terrestre, eliminando crateras antigas, e da quantidade de crateras provocadas por essa acreção recebida pela Lua. A velocidade de afastamento lunar foi diminuindo com a acreção e com a distância. Quando recolhemos material na Lua, é lógico encontrarmos material similar ao da crosta terrestre, bem como encontramos hidroxilas ali, provavelmente provenientes da água de antigo oceano terrestre. A cadeia meso-atlântica indica-nos o perfil da separação entre África e América, conforme constatado por John Tuzo Wilson. Este segundo evento acontece quando as plataformas continentais já estavam parcialmente formadas em virtude do rifteamento ocorrido no evento anteriormente descrito. O relevo subaéreo se altera mais rápido do que o relevo submarino. De um modo geral, o relevo dos continentes preservou-se mais durante o Paleozóico (submarinos) do que no Mesozóico (subaéreos). Por isso também a razão isotópica do Sr foi maior no Mesozóico do que no Paleozóico. 121 4.5 – Cenozóico Nos oceanos proliferaram, desde o início do Mesozóico, os ostracodes de água doce. Na Terra, as chuvas litificam, ou lavam e arrastam os depósitos de loess – que se transformam em silte e argila. Onde a pluviosidade ou o gradiente gravitacional eram pequenos, os depósitos de loess foram mantidos. Ilustração 4.5.a – Mapa histórico de Maton Pecsi (1991) mostrando a ocorrência de depósitos de loess (1preto) e sedimento similar (2-cinza). Fonte: http://pages-142.unibe.ch/science/adom/goals.html. Por volta do Aptiano os oceanos já dispunham da salinidade similar à atual, provocando extinção dos ostracodes de água doce e domínio dos ostracodes de água salgada, que chegam ao Cenozóico. Ilustração 4.5.b – Estrutura interna da valva direita de um ostracode marinho do Cretáceo Superior da bacia do Ceará. Phoenix, ano 3, núm. 28, abril 2001. Fonte: http://www.phoenix.org.br/Phoenix28_Abr01.htm. 122 Melhor do que geoide, poderíamos definir o formato do planeta como um ovoide, com um bico de cerca de 1 metro de altura, que percorre a crosta de acordo com a resultante das atrações gravitacionais, principalmente do sistema Lua (2/3 das forças de atração) e Sol (1/3 da atração). Essa maré terrestre se apresenta como uma crosta pulsante. Ela não pode ser identificada pelo GPS em virtude desses equipamentos não medirem distância129 e de serem referenciados ao centro de massa (CM) da Terra. O GPS – Global Positioning System - consegue calcular com muita precisão as distâncias entre um ponto e outro na crosta, mas tem por referencial o CM da Terra. Cada vez que a crosta se move, o sistema se reposiciona. Assim como uma régua não pode medir a si mesma, o GPS não consegue medir movimentos da Terra que afetam o CM. A crosta se move todo o tempo – vemos tais movimentos nas marés. Mas as marés que afetam os oceanos, também afetam a crosta. Assim como o GPS não consegue medir a subida e baixada da crosta todos os dias, duas vezes ao dia, não consegue medir a distância entre dois continentes, no espaço entre dois anos. Os terremotos ocorrem principamente nas áreas de maior fragilidade da crosta. No caso do oceano Pacífico – e sua cicatrização de 2ª intenção, de dentro para fora – a água que penetra por fissuras nessas áreas de fragilidade acabam por gerar solução e desabamento de arenitos e loesitos. Quando este desabamento afeta o fundo oceânico, um grande tsunami se forma. É o que temos assistido na sociedade dos espetáculos televisivos. 129 O sistema GPS é baseado em medição de tempo, por relógios atômicos de grande precisão. As distâncias são calculadas e ajustadas de acordo com outros satélites e referenciais (Datum) na crosta do planeta. 123 CONCLUSÃO Parece que tudo afeta a crosta terrestre. E que a crosta afeta tudo. Nada é independente. E, cada dia mais, só sei que nada sei. O que mudou entre a deriva de Wegener, a contraposição de Jeffreys e a tectônica de Hess? Depois dos estudos epistemológicos, compreendo que mudaram os homens, as sociedades, as crenças mundiais por autoridade – desde a autoridade dos ingleses, até a dos americanos e seu novo império –, as crenças pelo modismo – daquela dos mais velhos à ditadura dos mais jovens no século XX –, as crenças por tenacidade – do status quo e do ego de membros da academia. Hoje, diverso de James Hutton, já encontramos vestígios de um início do planeta e perspectivas de um fim. Como ele propôs, fizemos uso de chaves e fósseis do presente para portas do passado, mas também entendemos, como Leibniz, que a Terra teria sofrido transformações bruscas que inexistem atualmente. O presente e passado são mutuamente dependentes, uma vez que nossas crenças do presente mudam nosso entendimento do passado. Nossas medições do tempo estão baseadas nas regularidades dos astros no céu – mas a natureza não conhece o que seja uma constante. A semana tem sete dias por aproximação a cada fase da lunação (28/4). O mês tem 30 dias em virtude do ano dividir-se em 12 signos. Semana e mês, como tantas outras verdades, são arbitrariedades da civilização sumério-judaico-cristã. A tectônica de placas é uma arbitrariedade assumida pela mídia. Na visão do repórter fotográfico de Eric Weiner, em seus caminhos pelo mundo: “O dinheiro importa, mas menos do que cremos e não no sentido em que pensamos. A familia é importante. Também os amigos. A inveja é tóxica, como o é pensar demasiado em qualquer coisa. As praias são opcionais. A confiança e a gratidão não o são.”130 (WEINER, 2009, p.200). Em meus caminhos e descaminhos pela Geografia – confiança e gratidão para com presente, passado e futuro – fui levado a concluir sinteticamente que felicidade é igual a esperança. Por isso as teorias indutivas, que nos permitem prever o futuro, como a da Tectônica de Placas, nos deixam confortáveis. As controvérsias, entretanto, são motivadoras àqueles que querem seguir aprendendo, buscando. 124 O alcance destes meus estudos nos permitem introduzirmos novas visões, em paralaxe, para discutirmos a produção e a apropriação de conhecimentos sobre a origem dos continentes e oceanos. “Então, isto não será um conteúdo a mais a ser ensinado, e sim um instrumento para ajudar o aluno a compreender a sociedade humana, os mecanismos de produção social e individual de conhecimentos, sua reprodução e técnicas de transformação da natureza” (Celino & Leite. 2001, p.55-56). “Uma especie média somente dura na Terra uns quatro milhões de anos, com o quê, para seguir andando por bilhões de anos, devemos ser tão inconstantes quanto os átomos que nos compõem.” (BRYSON, 2010, p.15). Aproprio-me desta última oração quando penso em termos de pesquisas científicas: devemos ser tão inconstantes quanto os átomos que nos compõem. Meu entendimento é o de que quem tem dúvidas está mais perto da verdade do que quem tem apenas certezas. Quero continuar. 130 (Tradução do autor.) El dinero importa, pero menos de lo que creemos y no en el sentido en que pensamos. La familia es importante. También los amigos. La envidia es tóxica, como lo es el pensar demasiado en cualquier cosa. Las playas son opcionales. La confianza y la gratitud no lo son. 125 BIBLIOGRAFIA (ex libris do autor): Ver também, a seguir, livros e navegação na Internet. ANDERSON, Don L. The New Theory of the Earth. 2nd ed. New York: Cambridge, 2007. ARMSTRONG, Howard A.; BRASIER, Martin D. Microfossils. Victoria - Austrália: Blackwell, 2005.131 ARÓSTEGUI, Julio. A Pesquisa Histórica – Teoria e Método. Baurú: Edusc, 2006.132 BACHELARD, Gastón. O pluralismo coerente da química moderna. Trad. Estela dos Santos Abreu. São Paulo: Atual, 1996.133 BELOUSOV, Vladimir Vladimirovich. Basic Problems in Geotectonis. Trad. Paul T. Broneer. 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Microfossils as thermal metamorphic indicators. 132 Esta obra não se propõe a reavivar o positivismo, apesar de conter uma proposta racionalista. O que o livro presupõe é que o historiador se coloque muito mais próximo do cientista do que do artista. Defende-se que a história não é questão de opinião ou gosto, mas que é feita por sujeitos corpóreos, e que são estes os que constituem e modificam classes, estruturas e sistemas. O sujeito só se apreende na razão, tanto instrumental como histórica; não na recreação impressionista. 133 Bachelard, 1884-1962, é o pai da epistemologia moderna. Seus argumentos se baseiam em fatos históricos, mas a tese central é de natureza filosófica: a química se desenvolve permanentemente entre o pluralismo e a redução da pluralidade. Multiplica as sustâncias, mas busca um princípio de coerência entre elas. A qualidade se ordena. O dado experimental conduz à ideia de diversidade, enquanto a regra unifica. O pensamento filosófico e científico se move numa dialética que vai do diverso ao uniforme e vice-versa. Diante disto, pouco importa que o conhecimento comece pela percepção do diverso ou pela constituição do idêntico, pois ele não se detém nem no diverso nem no idêntico. 134 The methods and historical development of geotectonics. The internal structure and composition of the Earth. The origin of the Earth. The chief structural forms of rocks. Oscillatory tectonic movement. Tectonic movements that produce folding. Tectonic movements producing rupture. Igneous activity and geotectogenesis. A general view of the geotectonic process as a whole and of the present tectonic structure of the Earth. The causes of geotectogenesis. http://books.google.es/books/about/Basic_problems_in_geotectonics.html?id=oFTHAAAAIAAJ&redir_esc=y. 135 El autor, 1907-1990, fue uno de los ícones de la tectónica en Rusia. En este libro habla de yacimientos e deslocamentos tectónicos de rocas. 126 CHORLEY, Richard J.; HAGGETT, Peter. Modelos Físicos e de Informação em Geografia. Trad. Arnaldo Viriato de Medeiros. São Paulo: LTC, 1975. DU TOIT, Alexander Logie. Comparação Geológica entre a América do Sul e a África do Sul. Trad. Josué Camargo Mendes. Rio de Janeiro: IBGE, 1952.137 DURKHEIM, Émile. Da Divisão do Trabalho Social. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2004. EICHER, Don L. Tempo Geológico. Trad. José Eduardo Siqueira Farjallat. São Paulo: Edgard Blucher, 1969. ______. Geologic Time. 2nd ed. London: Prentice Hall, 1976. ELORZA, Mateo Gutiérrez. Geomorfología Climática. Barcelona: Omega , 2001. ______ (ed.). Geomorfología de España. Madrid: Rueda , 1994. ENGELDER, Terry. Stress Regimes in the Lithosphere. Princeton, USA: Princeton, 1993. ERWIN, Douglas H. Extinction - how life on Earth nearly ended 250 million years ago. Princeton – USA: Princeton University, 2003. 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SUGUIO, Kenitiro; SUZUKI, Uko. Evolução Geológica da Terra e a Fragilidade da Vida. São Paulo: Edgard Blucher, 2003. 139 El libro va más allá de la naturaleza del aire o de los posibles cambios ambientales, una vez que nos habla de una atmósfera y un clima en cambio contínuo. 140 Études sur la figure des corps célestes et sur la disposition de couches de niveau dans les atmosphéres qui les entourent, precisent ou modifient la théorie cosmogonique de Laplace. 141 The relation between geomorphology and neotectonics is fundamental to understand the landscape evolution. 129 VAN ANDEL, Tjeerd H. New Views on an Old Planet - A history of global change. Cambridge, UK: Cambridge Editora, 1995. VAN BEMMELEN, Rein W. Mountain Building – a study primarily based on Indonesia. The Hague – Holland: Martinus Nijhoff, 1954. VENÂNCIO Fº, Francisco. Da Tensão Superficial – These. R Janeiro: Rev. Tribunais, 1926. 142 WEGENER, Alfred Lothar. El Origen de los Continentes y Océanos. 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Um histórico nos remete aos phenomenos capillares descobertos por Leonardo da Vinci, 1490, formulados por Borelli, 1670, Newton - forças moleculares na cohesão de liquidos. Foi na Mecanica Celeste, de Laplace, publicada em 1806, que se chega à fórmula fundamental, que mostra que a força que actua sobre a superficie do fluido deve ser normal á superfície. P. Curie applicou a tensão superficial à cristalização. Um crystal em formação em uma solução, sujeito ás forças que o orientam, deve tomar a fórma que lhe dér energia superficial mínima. Mergulhado um crystal em agua-mãe saturada, á medida que se vae operando a crystallização, dá-se deformação, sem que elle e a agua-mãe tenham variação de natureza e volume. Depois de formular a estabilidade do crystal prismatico de base quadrada e outro cubo octaedrico, Curie generaliza: O conjuncto dos crystaes terá energia mínima quando todos os crystaes se reunirem em um só, de modo que a superficie total seja a menor possível. Dupré, conclui que o produto da tensão superficial pelo peso molecular, dividido pelo quadrado da densidade é constante. 143 O casal Grant, da Universidade de Princeton, observou por 20 anos os tentilhões típicos das Galápagos, cujos bicos inspiraram as primeiras sugestões veladas de Darwin sobre a teoria evolucionista. Os cientistas confirmaram a teoria de Darwin, mostrando que a seleção natural existe, e que seus efeitos são visíveis de um ano para o outro. Eles documentaram mudanças significativas depois de grandes mudanças climáticas, como uma seca, que comprovam mais uma vez a existência da seleção natural. 144 O princípio da Iúca. Proximidade, alinhamento, repetição e contraste. Tipo&vida; categorias e contraste de tipos. 130 Livros e Navegação na Internet: ALGARISMOS SUMERIA – acesso em 09/Março/2012. www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/algarismos/sumeria.htm APIANUS, Petrus. Cosmographie. German, 1551. 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Meu ponto de vista pessoal é que, não importa quão inortodoxo é o raciocínio e quão desagradáveis as conclusões, não há desculpas para tentar eliminar novas idéias — muito menos que os cientistas o façam. Carl Edward Sagan (1934-1996). Pálido ponto azul. NMCJr, em 16 de abril de 2013. 131
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