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O ABRAÇO DE DEUS
Meditações
Publicação da
Comissão Interluterana de Literatura
2001
Concórdia Editora Ltda
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CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
Bibliotecária responsável: Rosemarie B. dos Santos CRB10/797
A258 O abraço de Deus / Coordenação de Darci Drehmer.
-- São Leopoldo: Sinodal : Porto Alegre : Concórdia : Comissão
Interluterana de Literatura, 2001.
302 p.
ISBN 85-233-0663-3
1.Religião.2.Devocionário-Meditações.I.Drehmer,Darci
CDU 242
© Comissão Interluterana de Literatura, 2001
Caixa Postal 14
93001-970 São Leopoldo/RS
Fone: (51)590-1455
E-mail: [email protected]
Home-page: www.lutero.com.br
Editor: Darci Drehmer
Integrantes da CIL: Arnildo A. Figur, Dieter J. Jagnow, Gerhard Grasel,
Harald Malschitzky, João A. Müller da Silva e Wilhelm Wachholz
Produção Editorial: CIL
Produção Gráfica: Gráfica Sinodal
Foto capa: Stock Photos
Apresentação
Um colo, um abraço, muitos abraços... isto dá segurança
e proporciona vida. Em Jesus Cristo, céu e terra se abraçam e
se beijam. Nele, o Pai estende os seus braços compridos para
abraçar, abrigar e proteger os seus filhos e suas filhas e toda a
natureza. Deste sentimento e desta certeza nasceu o título do
livro que você tem em suas mãos:
O Abraço de Deus – Meditações
Este livro contempla temas essenciais da fé cristã, que orientam a nossa conduta, através dos mandamentos; mostra como
Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, revela o seu grande amor;
ensina a falar com o querido Pai, através da oração; comunica
a graça do perdão dos pecados; anuncia nova vida em Jesus
Cristo; proclama a esperança para o mundo no Natal de Jesus
Cristo, o Príncipe da Paz.
A Comissão Interluterana de Literatura (CIL), em parceria
com a Editora Sinodal e a Concórdia Editora, sente-se grata a
Deus por poder oferecer este livro de meditações. Ao mesmo
tempo, agradece aos autores que colaboraram com esta edição.
É nosso desejo que os leitores e leitoras possam sentir o abraço
de Deus no decorrer da leitura e sentir-se acolhidos como o salmista: Busquei o Senhor e ele me acolheu; livrou-me de todos
os meus temores. (Salmo 34.4)
Abençoada leitura.
Os editores
Da opressão para a liberdade
Deuteronômio 4.13
A
palavra “mandamento” possui nuanças que lembram a autoridade e, pior, o autoritarismo: “eu ‘mando’ e você obedece” – “eu
não ‘mandei’ você escovar os dentes!”
Os Dez Mandamentos de Deus não são imunes a esta desconfiança.
Normalmente são vistos como fonte de autoritarismo e opressão. É
a “lei” de Deus! Tanto é “lei” que dos dez, oito começam com um
categórico “não”. Não tomarás, não furtarás, não matarás...
Os Dez Mandamentos são normas, sim, mas não no sentido legalista. Em Deuteronômio 4.13 fica claro que o decálogo foi dado por
Deus ao povo de Israel dentro de um contexto de relacionamento,
de comunhão – entre o próprio Deus e o povo. Neste sentido, foram
designados como postes com lâmpadas a iluminar a caminhada do
povo como povo de Deus. Assim, os preceitos de Deus “instruem o
coração” e “ensinam a fé”. Eles acautelam, equipam e protegem como
“boa armadura” dos “assaltos e ataques dos demônios” (Lutero).
Nesta perspectiva, os mandamentos não querem oprimir, mas
dar liberdade à pessoa que está unida com Deus pela fé em Jesus. Ela
entende que estas lâmpadas de Deus ajudam na caminhada de fé.
Entende que “a lei do Senhor é perfeita e nos dá novas forças” (Salmo
19.7). Ela ama a lei de Deus porque reconhece nela uma bênção para a
sua vida religiosa, profissional e social. Ela sabe que a sua caminhada
sempre é imperfeita, que não consegue obedecer aos mandamentos,
mas não se desespera. Ela se volta para o amor de Deus e recebe dele
o perdão e a força para continuar.
Oração
Senhor Deus, obrigado pelos teus mandamentos. Eles me libertam
dos meus caminhos de pecado e sinalizam os caminhos contigo e
com o próximo. Por amor de Jesus, dá-me sempre prazer em teus
mandamentos. Amém.
Mandamentos
5
Como você se relaciona com Deus?
Deuteronômio 6.5
C
6
omo é que você se relaciona com Deus? Eu não sei qual é a sua
resposta, mas sei que ela depende de como você encara Deus, o
que ele é para você.
O relacionamento com o Senhor é o tema dos primeiros três
mandamentos.
O fato de existirem tantas religiões e seitas por aí, tem muito a
ver com a forma como Deus é visto. O próprio cristianismo é marcado por um certo modo de relacionar-se com o Eterno, baseado na
compreensão da Palavra de Deus, a Bíblia.
Na referência bíblica acima existe uma orientação clara sobre
como Deus espera que as pessoas se relacionem com ele. A palavra
chave é amor. Um amor comprometido de todo o coração, com todas as forças. Essa forma de relacionamento é básica para a fé cristã.
Um amor a Deus comprometido é uma afirmação clara de como ele
é o único Deus verdadeiro, pois se “é verdadeira a fé e a confiança,
verdadeiro também é o teu Deus” (Lutero).
A natureza amorosa do relacionamento do cristão é um dos
aspectos distintivos e mais bonitos do cristianismo. Deus é, em essência, amor. Ele vem ao encontro da humanidade com uma proposta
de amor, materializada com o nascimento do Salvador Jesus Cristo.
Tocada pelo Espírito Santo, a pessoa passa a crer em Jesus como seu
Salvador e passa a responder ativamente ao amor de Deus – ela passa
a amar a Deus e as outras pessoas. É por isso que o apóstolo João diz:
“Nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1 João 4.19).
A base da fé cristã é amar a Deus de todo o coração, de todo o
entendimento, de toda a alma, com todas as forças. Esse é o caminho
para um relacionamento abençoado com Deus. Experimente!
Oração
Amado Deus, obrigado por me amares em Jesus Cristo. Dá-me sempre
o teu Espírito Santo, para que, com fé, eu ame a ti e a todas as pessoas.
Em nome de Jesus. Amém.
Mandamentos
Temer a Deus
Apocalipse 19.5
A
gente já teme tanta coisa e agora deve temer ainda a Deus! Deus
não é amor? No Novo Testamento lemos: “No amor não há medo;
o perfeito amor afasta o medo. Portanto, o amor não é perfeito
em quem tem medo, porque o medo traz em si o castigo” (1 João 4.18).
Ah, sim, os nossos temores e a nossa visão do amor de Deus!
Tememos tudo, menos Deus. Consideramos o seu amor igual ao
nosso, encobridor e frouxo, que passa a mão por cima de tudo e faz
mil e uma concessões. Por isso, muitas pessoas ficam contrariadas
ao ouvirem falar que devemos temer a Deus.
Fica contrariado quem não faz idéia nenhuma da Bíblia. Lutero, referindo-se à mensagem primária da Bíblia, observa que Deus
nos criou como seus interlocutores, seus representantes no mundo.
Somos, portanto, embaixadores e parceiros de diálogo de Deus. Por
isso, ele espera que o temamos, prestemos conta e lhe respondamos.
Deus nunca dispensa isso. Ele demora até agir quando não o tememos
nem lhe respondemos, por isso pensamos que ele deixa por menos.
Pura ilusão. Pois Deus ameaça as “pessoas seguras e orgulhosas de
si”, interpreta Lutero. Quando nada mais resolve, ele lança mão de
“pestes, carestia e guerra” para que aquelas pessoas pereçam. É “doido
e fora de si quem confia poder suportar a cólera dele”.
Mas, a mensagem do “temer a Deus” não se resume nisso. Há,
ainda, um outro aspecto que não podemos esquecer: Deus consola as
pessoas “tementes a ele”. Ele as “protegerá em todo aperto”. Lançará
mão de “sinais e milagres” para as livrar dos males e dos malvados.
Podemos aguardar a Deus e confiar nele! Eis a abordagem inicial de
Lutero ao Primeiro Mandamento.
Oração
Deus, arranca de nós a idéia maluca de que tu és maleável e omisso.
Nada te passa desapercebido, muito menos o povo que te teme e está
em conflitos e aflições. Dá-nos força para te aguardar. Amém.
Mandamentos
7
Cumprir o Primeiro Mandamento
Lucas 12.16-21
T
“
8
emer e amar a Deus e confiar nele acima de tudo” é a compreensão derradeira do Primeiro Mandamento. Para Lutero, não é problema temer e amar, ao mesmo tempo, ou confiar em quem se
teme. O reformador considera isso preocupação de pessoas que não
estão na fé em Jesus Cristo.
Jesus Cristo teme e ama a Deus e confia nele acima de tudo.
Teme-o e, por isso, não treme perante Herodes, nem Caifás, nem Pilatos. Ama a Deus e, por isso, não cede às tentações do Diabo, mesmo
depois de ter jejuado quarenta dias e quarenta noites; não cede à
tentação de Pedro, quando este começou a repreendê-lo porque ele
falava abertamente da sua paixão. Jesus confia em Deus e, por isso,
não repara em si e sua vida. Conforme Lutero, Jesus Cristo explica
este mandamento, vivendo-o de forma muito concreta em todos os
momentos de sua vida.
Jesus Cristo puxa as pessoas que nele crêem para dentro da sua
vida sob o Primeiro Mandamento. Ele vai na Frente delas para que
consigam viver com este preceito de Deus. Levanta-as quando fracassam perante ele. Os que crêem em Jesus Cristo não gemem debaixo
deste mandamento, como servos e servas que pretendem e estão
sempre à cata de recompensas temporárias e eternas. Ao contrário,
vivem nele como filhos e filhas que querem alegrar ao Pai, que já lhes
antecipou vida e salvação.
Quem crê é rico diante de Deus. Por isso, pratica o Primeiro
Mandamento assim como o homem que deu comida e pouso, numa
noite de tempestade, ao assassino da sua mulher. Temeu a Deus, não
se vingando. Amou a Deus, apesar de revoltado com o assassinato da
mulher. Confiou em Deus, entregando o seu destino e o do matador
na mão dele.
Oração
Deus, agradecemos por Jesus Cristo, que viveu o Primeiro Mandamento. Faze que Jesus nos puxe para dentro da sua vida. Permite que
sejamos transformados, de servos e servas egoístas, em teus filhos e
filhas agradecidos. Amém.
Mandamentos
Quem é nosso Deus
Mateus 6.24
D
eus, naturalmente! Excepcionalmente encontramos alguém que
não admita Deus. É preciso acreditar em alguma coisa! Com tal
afirmação nos referimos a Deus.
Lutero pergunta: “Que é Deus?” E responde: Deus é “aquilo de
que a gente espera todo o bem e em que a gente se refugia em todo
aperto”. Mais direto: “Aquilo a que prendes o coração e te confias,
isso é o teu Deus”.
Pois é, o nosso coração está preso a que ou a quem? Tal pergunta
corta fundo. Nem sempre estamos dispostos a respondê-la. Por isso,
a gente a evita ou desconversa. Exige coragem expor-se a ela. As
respostas são diferentes, conforme cada pessoa. Lutero menciona:
dinheiro, poder, relações, descendência, formação, honra, sexo. Há
muitas outras respostas possíveis.
Agora, nenhuma pessoa nega Deus de todo. Apenas o cerca de
outros deuses. Para nós, Deus é o superior na corte dos deuses. Afora
ele, mantemos compromissos com diversos outros. Em caso de conflito, fica claro quem nos possui de fato. Por exemplo, participamos
em qualquer tipo de ato religioso, afirmando que Deus é um só? Subimos na vida em detrimento dos mandamentos de Deus? Contraímos
matrimônio com “bom partido” em detrimento da família da fé?
Buscamos recuperar a saúde em detrimento da confiança em Deus?
Lutero insiste, para o nosso bem, em que não conheçamos “outro
consolo e confiança senão Deus”. Pois os nossos deuses “enganam
logo” – o que é desastroso. Mas, terrível é que Deus nos ama demais
para agüentar ser relegado a segundo plano. Rejeitar o seu amor e os
seus bens, envolve muito mais do que perda de dinheiro ou de saúde.
É cair no abismo sem fundo e sem perspectiva.
Oração
Deus, indica-nos o lugar que te reservamos na nossa vida. Somos
ingênuos a este respeito. Às vezes, achamos que tu não te importas
com isso. Ocorre também que não gostamos que te importes. Deus,
conquista-nos de vez. Amém.
Mandamentos
9
O santo nome de Deus
Isaías 6.3
N
10
ão podemos fazer uma dissertação acadêmica referente ao
santo nome de Deus. Por isso, queremos apenas dar atenção
à Bíblia, ao hinário e ao catecismo. Em Êxodo 3.14,15, Moisés
perguntou a Deus: “Qual é o seu nome?” E Deus respondeu: “‘EU SOU
QUEM SOU’... você dirá aos israelitas ‘EU SOU’ me enviou a vocês”.
Um outro livro, muito querido e acessível a muitos leitores, é o “Hinos
do Povo de Deus” (HPD). Os hinos 125 e 255 falam expressamente do
santo nome de Deus. Começam pelo três vezes santo de Isaías 6.3 e,
depois, explicam a santidade de Deus, dizendo que ele é onipotente,
onipresente, verdadeiro, eterno, isto é, sem início e sem fim, soberano,
amoroso, justo, compassivo, pai.
Em Isaías 6, o Deus santo e justo, inicialmente, assusta o ser
humano. O profeta, sentindo o abismo entre ele e Deus, clama: “Ai
de mim! Estou perdido! Pois os meus lábios são impuros...”. Contudo, o santo Deus não aniquila a quem se sente assim, mas o ergue
e salva, porque quer a humanidade santa, semelhante a ele. E Deus
ergue o profeta do fundo do poço. Envia um anjo para purificar os
seus lábios e, assim, o torna santo, isto é, digno e apto para ser seu
mensageiro.
Onde o santo nome de Deus toca as pessoas ele as santifica, tornaas justas, capazes, compassivas e cheias de amor. Não nós mesmos
nos santificamos, mas Deus o faz, tirando os nossos pecados, através
de Jesus Cristo. Sua santidade é concedida a nós e, junto com ela,
nos é dada a força para vivê-la.
Na explicação do Segundo Mandamento, Lutero lembra que uma
grande ajuda no caminho da santificação é invocar o nome de Deus
em todas as necessidades, louvá-lo e exaltá-lo.
Oração
Pai benigno e santo, possa eu exaltar-te e em Espírito adorar-te!...
Que eu, Senhor, com amor e com humildade faça o que te agrade!
Amém. (HPD 124,3)
Mandamentos
Não amaldiçoar
Levítico 24.15
A
s palavras amaldiçoar e maldizer significam falar mal de alguém. Maldiz e amaldiçoa-se com a boca e com palavras. Ora,
a palavra é um poder, e quem o exerce, deve fazê-lo com muita
responsabilidade. A palavra é um instrumento que Deus deu somente
ao ser humano. E isso o coloca muito acima dos outros seres vivos,
em todos os sentidos, também no sentido de poder.
Palavras brotam do coração, “a boca fala do que o coração está
cheio” (Mateus 12.34). Se você quiser saber o que se passa no seu coração, examine as suas palavras, aquilo que você fala. Com palavras
pode-se fazer coisas boas: ensinar, educar, governar, bendizer... Mas,
com ela também se pode fazer o contrário. “Da mesma boca saem
palavras tanto de agradecimento como de maldição” (Tiago 3.10).
Portanto, pode-se usar também a palavra irresponsavelmente, mentir,
enganar, distorcer, instigar para o mal e, muitas vezes, tudo isso ainda
é feito em nome de Deus. Isso é uma ofensa grave contra Deus.
Para ensinar o ser humano a falar o que é bom para si próprio
e para os outros, Deus deixou o Segundo Mandamento, que propõe
que se peça ajuda ao próprio Deus para que o seu nome e a sua
Palavra sejam usados corretamente, não para amaldiçoar, mas para
bendizer.
Usem, pois, a palavra, este dom do Senhor, para bendizer a Deus
e ao próximo. Isso traz muitas bênçãos para quem fala e para quem
ouve. É isso que o Pai espera dos seus filhos, que guardam os seus
mandamentos. “Bendito é quem sabe ser simples, ama a vida, parte
o seu pão com o irmão, vive a sua fé em palavras e ações, evita a
injustiça e ergue, neste mundo, sinais de um reino bom, de um reino
de justiça e de paz”.
Oração
Senhor, dá que nossas palavras não sejam contrárias à tua vontade,
mas que sejam boas e construtivas e unidas à ação do amor, da esperança, da fé e da paz para todos nós. Amém.
Mandamentos
11
Jurar, praticar a feitiçaria...
Deuteronômio 6.13
J
12
esus desrecomenda o juramento: “Não jurem... Digam apenas ‘sim’
ou ‘não’ (Mateus 5.36,37). Como seria bonito, se cada “sim” e cada
“não” fossem de absoluta credibilidade. Nesse caso, o juramento
seria perfeitamente dispensável. Mas, não vivemos em situação ideal.
Por isso, admite-se o juramento em declarações bem importantes e
decisivas. Nesse caso, ele deve ser verdadeiro e não falso, ainda mais
quando ele acontece em nome de Deus.
A feitiçaria era praticada principalmente na Idade Média, quando muitos fenômenos eram a ela atribuídos. Muitas pessoas foram
condenadas à fogueira porque ousaram afirmar verdades científicas,
porém, não admitidas oficialmente pelas autoridades da época.
Nesse contexto, milhões de mulheres, consideradas feiticeiras, foram
torturadas e queimadas vivas. Estima-se que mais de seis milhões
de “bruxas” tenham sido queimadas no decorrer da Idade Média. O
regime nazista não teve o privilégio de ter sido o primeiro a queimar
seis milhões de seres humanos nos campos de concentração! E não
perguntem quem autorizava e legitimava tais atrocidades!
Feitiçaria, se existe, é na cabeça das pessoas e se instala ali onde
a ausência da fé verdadeira deixou um espaço vazio. O mesmo acontece com juramento falso. Ambos são falsos deuses que “não valem
nada” (Jeremias 10.3). E cultuar o nada traz conseqüências desastrosas.
Provas disso nós temos de sobra no passado e no presente. O culto
ao nada pode, hoje como antigamente, transformar em monstros
e fanáticos as pessoas mais civilizadas, santinhas e religiosas desse
mundo. Que Deus nos guarde!
Oração
Pedimos, ó Deus, que nos protejas e guardes, para que não sejamos
enganados pelo Diabo, pelo mundo e por nós mesmos, nem sejamos
levados a crenças falsas, desespero e outra grande vergonha ou vício.
Que vençamos, afinal, e mantenhamos a vitória. Amém. (Lutero)
Mandamentos
Exclusividade para Deus
Deuteronômio 18.10-12
N
unca antes na história houve tantas possibilidades de escolha. Lojas e mercados, por exemplo, oferecem produtos de
vários modelos, tamanhos, cores, preços e marcas. Podemos
escolher o que agrada aos olhos e mais nos convém. Poucas coisas
são exclusivas em nossa época.
E Deus, tem que ser exclusivo? Não dá para confiar em Deus Pai,
Filho e Espírito Santo e, ao mesmo tempo, botar fé em outras energias?
Para muita gente parece que não é suficiente adorar somente
a Deus. Por isso, fabricam outros deuses como se Deus precisasse
de uma mãozinha de terceiros. Pessoas penduram o seu coração
em deuses a quem chamam de horóscopo, médiuns, pais de santo,
milagreiros, energias positivas, nossas senhoras e santos. Pessoas
adoram a si próprias, o seu corpo e a beleza física. Acredita-se na
natureza como se ela fosse Deus. Outros têm medo do deus azar e
adoram o deus sorte.
De fato, em muitas coisas na vida temos boas e várias opções.
Mas quando se trata da fé e da adoração, Deus exige exclusividade
total para si. Jesus diz: “Adore o Senhor, o seu Deus, e sirva somente
a ele” (Mateus 4.10). Lemos ainda na Bíblia: “Há somente um Deus e
Pai de todos, que é o Senhor de todos” (Efésios 4.6).
Deus é único e ele quer exclusividade total para si na adoração.
Por quê? Porque somente ele pode nos livrar do mal. Somente ele
pode nos ajudar nas enrascadas da vida. Somente ele tem amor
bastante para nos perdoar e salvar. Somente ele deu seu Filho Jesus
por nós. Somente ele reparte de bom coração todas as coisas boas
que precisamos.
Demos exclusividade a Deus e esperemos somente dele todo o
bem!
Oração
Pai, Filho e Espírito Santo, obrigado porque tu és o único Deus verdadeiro. Ajuda-nos a excluir de nossa vida todos os deuses falsos. Fortalece a nossa confiança em ti e recebe a nossa adoração. Esperamos
de ti as coisas boas que nos prometes. Por amor de Jesus. Amém.
Mandamentos
13
O nome de Deus é usado para mentir e enganar!
Jeremias 23.31
H
14
á mentiras que são ditas com tanta convicção que acabam
assumindo cara de verdade. Ora, a mentira leva ao engano,
e o engano traz prejuízos. Você já deve ter caído nessa!
A mentira e o engano são piores quando o nome de Deus entra
em jogo porque colocam em risco a salvação eterna de pessoas. Está
se multiplicando o número de pessoas que fazem propaganda religiosa
em nome de Deus. Elas apresentam discursos humanos e afirmam que
eles são palavra do Senhor. Fazem promessas de cura e prosperidade, distorcendo a verdade divina. Há mensageiros que exibem caras
sagradas, mas, em verdade, são trapaceiros e exploradores. Mentem
e enganam pelo nome de Deus. Muitas pessoas em necessidade de
saúde, emprego ou que enfrentam problemas na família e estão
desesperadas, acabam acreditando em mentiras como se fossem a
palavra verdadeira de Deus. Alimentam uma fé e esperança falsas.
São vítimas da mentira e do engano. Infelizmente levarão prejuízo.
Através do profeta Jeremias, Deus reprova os mensageiros que
mentem e enganam pelo nome de Deus. Ele diz: “Sou contra esses
profetas que falam as suas próprias palavras e afirmam que elas vieram de mim”.
Deus não quer que você seja vítima da mentira e do engano. Ele
quer que você conheça a verdade e seja salvo. Portanto, quando você
recebe um discurso religioso, verifique se Jesus Cristo é anunciado
como o único Salvador que livra do pecado, do Diabo e da morte.
Observe se a salvação preparada por Jesus é anunciada como um
presente de Deus, recebido por meio da fé. Se tiver dúvidas, busque
ajuda de pessoas confiáveis e preparadas para distinguir entre a
mentira e a verdade.
Oração
Deus, tu és santo e assim é teu nome. Impede que o teu nome seja usado para mentir e enganar. Liberta os que são vítimas da mentira e do
engano. Ajuda-nos sempre a distinguir entre a verdade e o erro. Que
o teu Evangelho seja anunciado para a salvação de muitos. Amém.
Mandamentos
Deus me livre! Graças a Deus!
Salmo 103.1
D
“
eus me livre!” e “Graças a Deus!” São duas expressões muito
pronunciadas, e muitas vezes por mero costume. O seu uso
indiscriminado e irrefletido pode significar mau uso do nome
de Deus. Por outro lado, porém, deveríamos usá-las muitas vezes,
porém, de forma consciente.
Deus deseja que o seu nome seja muito usado para invocar a
sua ajuda e para louvar e agradecer pelo amor que ele nos dedica
todos os dias.
Invoquemos o Senhor, pedindo a sua ajuda. Digamos “Deus
me livre!” ou palavras semelhantes. Necessidades não nos faltam.
Necessitamos proteção para a vida, a alma, a família e os bens, pois
perigos nos cercam cada instante. Necessitamos de libertação de culpa
e pecados, libertação que somente Deus pode nos dar por amor de
Jesus. Necessitamos de forças físicas para o trabalho e forças na fé para
resistir às tentações e mentiras, ao pecado e ao Diabo. Necessitamos
de bênção de Deus sobre os nossos afazeres e projetos. Invoquemos a
Deus. Usemos o seu nome. O Senhor mesmo nos convida e encoraja
a fazê-lo. Ele também promete nos atender.
“Graças a Deus!” Quem recebe agradece. Recebemos muito
de Deus e por isso usamos o seu nome para louvar e agradecer: “Ó
minha alma, louve ao Deus Eterno! Que todo o meu ser louve o seu
santo nome!” Vida, saúde, família, trabalho, bens, amigos, lazer, dons
e habilidades que possuímos são motivos para louvar a Deus. Perdão
dos pecados, paz com Deus, certeza da ressurreição e da vida eterna,
fé, consolo, conforto, esperança e tantos outros benefícios recebidos
da bondosa mão de Deus são motivos para agradecer.
“Deus me livre! Graças a Deus!” Usemos o nome de Deus para
invocá-lo.
Oração
Bondoso Deus, muito obrigado por todas as coisas boas que nos dás
cada dia. Perdoa a ingratidão e fortalece a nossa fé no teu amor.
Ensina-nos a usar o teu santo nome para te invocar com fé, para te
louvar e agradecer de coração. Por amor de Jesus, nosso querido
Salvador. Amém.
Mandamentos
15
Tempo com Deus
Eclesiastes 3.11a
S
“
16
antificarás o dia do descanso”. Assim reza o Terceiro Mandamento. Nele, Deus nos mostra como devemos administrar o
tempo. Sim, a sua boa administração é uma das coisas mais
importantes na vida de uma pessoa.
Muitas pessoas têm uma noção errônea sobre esta questão. É
comum ouvirmos dizer: “eu não me preocupo com o tempo, simplesmente deixo as coisas correr”; “faço com o meu tempo o que
bem entendo...”.
É verdade que não é tão simples ter uma compreensão clara
e correta do que vem a ser o tempo. Dia e noite, verão e inverno,
meses, anos, séculos são, na realidade, sinais, medidas, mas não o
tempo em si. Tempo é muito mais do que um conjunto de minutos,
horas, dias ou anos. Trata-se, em verdade, do período de oportunidade que recebemos por parte do Senhor. Assim, somos responsáveis
perante Deus pelo bom gerenciamento do tempo de vida que ele nos
concedeu. “Matar o tempo” é pecado. Gastar o tempo em coisas que
prejudicam a saúde do corpo e da alma é perigoso e, certamente,
trará conseqüências fatais para a vida.
O Terceiro Mandamento não propõe que nós devemos dar
tempo para Deus, como muitas vezes se insinua, pois, em verdade,
todo o nosso tempo já é dele, de quem o recebemos como dádiva.
Conscientes disso, queremos dedicá-lo a seu serviço e ao do próximo.
Podemos fazê-lo porque na “plenitude do tempo” Deus enviou o seu
Filho. Sua morte e ressurreição significam tempo da graça de Deus
em nossa vida. É tempo, pois, de buscar e viver a comunhão com
Cristo, presente na Palavra e nos sacramentos.
Oração
Senhor, como administradores privilegiados, oramos com o salmista:
“Ensina-nos a usar bem os dias da nossa vida para que nos tornemos
sábios”. Amém. (Salmo 90.12)
Mandamentos
Descanso é uma dádiva de Deus
Gênesis 2.2
T
rabalho e descanso fazem parte da vida humana. Em nenhuma época, estes dois aspectos despertaram tanta atenção como
hoje. Organizações internacionais e constituições atestam e
garantem às pessoas o direito ao trabalho e ao descanso.
Sabemos, no entanto, que a realidade nem sempre está de acordo
com o que está escrito nos regulamentos. O desemprego, a falta de
oportunidades para trabalhar, cresce no mundo todo. Quanta tristeza
e infelicidade enfrentam as pessoas e suas famílias quando não podem
ganhar o pão de cada dia, como fruto do seu trabalho!
O tempo de descanso nem sempre traz benefícios para as pessoas.
Quantos administram mal o tempo de descanso! Ao invés de usá-lo
para recompor as energias gastas com o trabalho, transformam-no
em um tempo de cansaço. É comum ouvir-se: “para mim o pior dia
da semana é a segunda-feira... acordo cansado!” Usando mal o descanso, colhem fadiga, insatisfação e dor na consciência.
O Criador quer que o nosso tempo de trabalho e de descanso
seja uma bênção. Ele mesmo deu o exemplo: “No sétimo dia Deus
acabou de fazer todas as coisas e descansou de todo o trabalho que
havia feito” (Gênesis 2.2).
Jesus, o Filho de Deus, realizou o trabalho mais importante:
salvar a humanidade de seus pecados. Também ele descansava periodicamente.
Aproveitemos as oportunidades que o trabalho nos dá para
servirmos ao nosso próximo com dedicação e amor. Aproveitemos
o descanso para recompor nossas energias para o futuro e para meditar na obra salvadora de Cristo em nosso favor. Assim, trabalho e
descanso nos são uma bênção.
Oração
Senhor, abençoa o trabalho de minhas mãos. Abençoa o tempo do
meu descanso. Amém.
Mandamentos
17
Santificação do tempo
Isaías 58.13-14
J
18
á convivi com duas situações, em localidades diferentes, nas quais
a postura da maioria das pessoas também era diferente com relação ao domingo. “Domingo é dia de feira”, num local. “Domingo
é dia de culto”, no outro.
Estas duas atitudes revelam a compreensão ou não do que significa “santifiquem o dia do descanso”. Para muitos, o domingo é
apenas dia de não fazer nada daquilo que se faz nos demais dias da
semana. É dia de folga, de lazer. Para estes, o domingo e os outros
dias da semana não têm nada a ver com Deus. Por não o santificarem,
acabam ignorando Deus e sua Palavra.
Quem santifica o domingo – dia do descanso? “O dia em si não
precisa de santificação, pois que já foi criado santo. Porém, Deus
quer que ele seja santo para a tua pessoa. De sorte que se torna santo
ou profano por causa de ti, dependendo das atividades a que nele
te entregares; se santas ou se profanas... Santificar é tratar a Palavra
de Deus e nela exercitar-se. O domingo é, pois, santificado, quando
se toma lugar e tempo a fim de participar do culto divino, com o
objetivo de ouvir e tratar a Palavra de Deus, e, depois, louvar a Deus,
cantar e rezar” (Lutero).
Pecam contra o Terceiro Mandamento e, por isso, chamam sobre
si o juízo de Deus, todas aquelas pessoas que desprezam a sua Palavra e
não a querem ouvir e aprender. “O Evangelho é o poder de Deus para
salvar todos os que crêem” (Romanos 1.16). No Evangelho, Deus nos
dá o perdão que Cristo nos assegurou com sua morte e ressurreição.
O Evangelho nos dá prazer em ouvir e meditar a Palavra de Deus. O
Evangelho nos capacita a viver segundo a sua vontade.
Oração
Senhor, perdoa o pouco caso que fazemos e o pouco tempo que temos
dedicado a ouvir e mediar sobre a tua Palavra. Fortalece a fé no teu
Evangelho para uma nova vida contigo. Por amor de Jesus. Amém.
Mandamentos
Dia do Senhor
João 8.47
Q
uem é de Deus, escuta a sua Palavra. Quem não escuta a
Palavra, não é de Deus. Assim dá para entender João 8.47. A
Palavra de Deus faz a diferença entre ser e não ser de Deus.
A Palavra do Senhor é poderosa. Através dela, ele cria o mundo:
“Então disse Deus: – Que haja luz! E a luz passou a existir” (Gênesis
1.3). “Então Deus disse: – Que a terra produza todo tipo de animais...
e assim aconteceu” (Gênesis 1.24).
Jesus Cristo é a Palavra de Deus transformada em carne, em ser
humano. Ele disse: “Menina, levante-se! Ela tornou a viver e logo se
levantou” (Lucas 8.54). Jesus diz a um homem: “Estenda a mão. O
homem estendeu a mão, e ela sarou” (Lucas 6.10).
A Palavra de Deus é instrumento de criação e de transformação.
Do nada, ela faz tudo e transforma a morte em vida. Pode também
ser instrumento de juízo.
Por isso, é vital ouvir a Palavra. Dependemos dela. Nossa vida
depende dela. Se queremos que em nossa vida aconteçam coisas
importantes, precisamos ouvir a Palavra de Deus, precisamos nos
colocar na frente do Senhor para que ele nos fale, nos transforme e
nos dê vida.
Por isso, a Igreja cristã adotou o dia que Deus instituiu como
dia de descanso, depois da criação do mundo, como dia de pregar
e ouvir a Palavra de Deus. Todos os dias são dias de ouvir a sua Palavra. Mas, ter um dia especial reforça a importância. Lutero diz que
no dia de descanso “devemos temer e amar a Deus, de maneira que
não desprezemos a pregação e a sua Palavra, porém a consideremos
santa, gostemos de a ouvir e estudar”.
Onde ouvimos a Palavra de Deus, acontecem sinais do Reino de
Deus em nossa vida e no mundo.
Oração
Obrigado, Senhor, por nos dirigires a palavra! Ela fortalece, questiona, corrige nossa vida. Dá o teu Espírito Santo para que possamos
entendê-la e praticá-la. Amém.
Mandamentos
19
Comunidade
Salmo 133
A
20
Palavra de Deus precisa ser ouvida, lida e praticada por cada
pessoa individualmente e em particular. Mas, ao mesmo tempo, a Palavra precisa ser ouvida e praticada pela comunidade
toda, reunida. É bom o que o salmista expressa, quando diz: “Como é
bom e agradável que o povo de Deus viva unido como se eles fossem
irmãos... Pois é em Sião que o Deus Eterno dá a sua bênção, a vida
para sempre” (Salmo 133.1,3b).
Às vezes, pessoas dizem que não precisam ir à igreja, que fazem
sua oração em casa, sozinhas, e que isso é suficiente. Será verdade?
Será que elas não viciam no seu jeito de fazer oração e ler a Bíblia?
Será que não correm o risco de se tornarem cristãos egoístas, sacrificando, dessa forma, uma das características da fé cristã, a comunhão?
Isso é um lado. Mas há ainda outros questionamentos que podem
ser feitos: Será que a nossa fé resiste à solidão? Por quanto tempo
conseguimos manter esta chama acesa, sozinhos? Uma brasa isolada
do braseiro apaga. Assim, ela não transmite calor, mas também não
recebe calor de outras brasas. Torna-se um carvão apagado e frio. Isso
é mais um aspecto: se alguém não se reúne com a comunidade, outras
pessoas ficam privadas de seu testemunho de fé e de seu exemplo. No
culto, eu busco a comunhão de minha comunidade, mas eu também
ofereço a comunhão à minha comunidade. Busco comunhão, mas
também ofereço comunhão. As duas coisas acontecem. Uma é tão
importante como a outra.
Dia do Senhor é oportunidade de reunir a comunidade sob a
Palavra de Deus e ao redor da mesa da Santa Ceia. Não é possível ser
cristão sozinho. Vamos experimentar comunidade no culto!
Oração
Obrigado, Senhor, que tu nos dás uma Igreja, uma comunhão dos
santos, para que ela nos acompanhe, carregue, anime e que, através
dela, nós podemos acompanhar e carregar outras pessoas. Amém.
Mandamentos
Domingo – ressurreição
Lucas 24.1-4
D
omingo lembra ressurreição. Quando a comunidade de Jerusalém assimilou e entendeu a ressurreição, ela acordou.
A vitória de Jesus sobre a morte era a coisa mais sensacional que estava ocorrendo. Por isso, o dia da ressurreição ganhou
atenção especial. O sábado, o último dia da semana, foi perdendo
importância e o primeiro dia da semana, o dia da ressurreição, ganhou
importância. Foi por isso que a comunidade cristã trocou o sábado
pelo domingo.
A ressurreição era coisa tão nova, tão importante que isso precisava ser celebrado de maneira especial, num dia especial.
Cada domingo é dia de ressurreição. É uma pequena Páscoa, que
tem, embutido dentro dele, a mensagem da vitória sobre a morte. Em
Jesus Cristo, a vida venceu a morte. A Bíblia conta isso de forma tão
simples: “Elas viram que a pedra tinha sido tirada da entrada do túmulo” (Lucas 24.2). Palavras simples, mas com um conteúdo tão rico!
Assim, cada domingo tem, para nós, este recado, às vezes de
forma explícita, às vezes de forma implícita: a vida venceu a morte!
Cada pessoa escuta esta mensagem individualmente. Ouve-a
para si mesma e medita sobre o que isso significa para sua vida. Mas
também a comunidade a escuta em conjunto, em comunhão. É uma
mensagem a ser compartilhada em fé e amor. Isso dá um ânimo
enorme para viver. E com isso dá até para olhar a morte de frente.
Domingo é dia de lembrar que Jesus Cristo morreu e ressuscitou
para que nós pudéssemos ter vida. Não perca a oportunidade de
participar dos cultos de sua comunidade nesse dia. Você sairá de lá
fortalecido e, com certeza, a sua presença fará muito bem para outros
irmãos e irmãs!
Oração
Obrigado, Deus, pela vitória da vida sobre a morte. Obrigado por nos
dizeres esta mensagem a cada novo domingo. Dá que ela nos fortaleça.
Que possamos ser instrumentos dela em nossa comunidade! Amém.
Mandamentos
21
Nós e o próximo
Levítico 19.18
A
22
o libertar o povo do Egito, Deus mostrou que é capaz de oferecer vida nova e digna para quem já não tinha mais esperança. Na aliança que Deus fez, ele deixou claro que nos quer ver
livres, para vivermos, amarmos e sermos felizes.
Nestor tinha acabado de brigar com seu primo por causa de uma
bola. Sua mãe o repreendeu, dizendo:
- Nestor, você não é uma ilha!
É verdade, Deus nos criou. Deu-nos as condições para vivermos
e sermos felizes. Em Jesus, ele nos mostrou do que seu amor é capaz.
Compartilhou-o e, com isso, nos fez capazes de amar. Esta liberdade
de amar que Deus nos dá, não permite que vivamos como se fôssemos pequenas ilhas. Foi por essa razão que o Senhor nos deu seis
mandamentos – do quarto ao décimo – que falam da convivência
sadia entre as pessoas.
Em Levítico 19.18, encontramos um grande conselho: “Não
se vingue nem guarde ódio..., mas ame os outros como você ama
a você mesmo”. Quem ama a Deus e sabe-se amado por ele, tem
suas mãos livres de todas as seguranças que nada seguram e não
se prende no que corrói a destrói a vida, mas tem suas mãos livres
para servir, fazer carinho, buscar o perdão, abraçar e erguer quem
necessita ser erguido.
Nestor precisou de mãos que o ajudassem a compreender que o
jogo de bola só tem sentido se jogado em equipe. Nós todos e todas
precisamos do amor que nos impulsiona a usar nossas mãos em favor
de uma sociedade mais justa e fraterna.
Se você olhar bem, há alguém ao seu lado precisando de você.
O amor e o temor a Deus se expressam através daquilo que você
fizer...
Oração
Ó Deus, amo-te de todo o meu coração. Porém, ainda insisto em ser
uma ilha. Que eu compreenda o teu amor, na medida em que servir,
acolher, amar e perdoar a meu próximo. Amém.
Mandamentos
Pai, mãe e mestres: servos de Deus
Hebreus 13.17
A
todas as pessoas Deus deu um pai e uma mãe. A eles deu um
destaque muito especial, quando disse no Quarto Mandamento: “Honrarás teu pai e tua mãe”.
Honrar é mais do que amar. Honrar inclui também tê-los em alta
consideração e os colocar no lugar mais alto, um lugar de destaque,
logo depois de Deus. Lutero afirmou que pai e mãe são representantes
de Deus. Nenhuma outra coisa deve valer mais do que a palavra do
pai e da mãe.
Porém, é imprescindível lembrar que há um critério que deve ser
respeitado: a obediência, a honra e o amor aos pais ficam subordinados à obediência a Deus e aos seus mandamentos. É essa também a
idéia manifestada no texto de referência: “Obedeçam aos seus líderes
e sigam as suas ordens, pois eles cuidam sempre das necessidades
espirituais de vocês, sabendo que vão prestar contas disso a Deus”.
Tarefa de pai, mãe e mestres é dedicar-se ao bem de todos os seus
filhos e filhas, alunos e alunas. Pais, mães e mestres são, pois, em última instância, servos de Deus. Estão a seu serviço. Desta tarefa eles
terão que prestar contas a Deus.
Quem é capaz de agradecer e recompensar de modo suficiente a
seu pai, sua mãe, ao mestre que cumpre com toda a fidelidade a sua
tarefa? Não há como pagar e retribuir, senão com honra, respeito e
amor. Não é à toa que o Quarto Mandamento é o único que contém
promessa: “... para que vás bem e vivas muito tempo sobre a terra”.
Onde há compreensão, respeito e carinho no relacionamento com
pai, mãe e mestres, há dias que se parecem anos; há lembranças que
não morrem; há tesouros de vida que nenhuma tempestade é capaz
de enterrar!
Oração
Ó Deus, tu nos deste pessoas especiais para amar e honrar. Nem
sempre a tua vontade se cumpre. Faze de nós bons pais, boas mães
e bons mestres; filhos e filhas capazes de colaborar com a tarefa de
teus servos e servas. Amém.
Mandamentos
23
Alguém não se esqueceu...
2 Timóteo 3.14-15
A
24
ndré ia todos os domingos ao culto infantil e sempre passava na
frente da casa do juiz de direito. Certo dia, o juiz lhe perguntou:
- Menino, você acredita em Deus?
- Claro que sim! Ele é meu Pai do céu!, respondeu André.
- Mas então, este Pai o esqueceu. Olhe bem para suas roupas e
seu sapato furado... ironizou o juiz.
O menino respondeu:
- Deus não me esqueceu. Mas ele deu esta tarefa para alguém na
terra cumprir. E este alguém esqueceu de cumpri-la!
O pai de André, as autoridades, a sociedade... esqueceram-se do
menino e de tantos que por aí estão em situações semelhantes. Mas
alguém – certamente no culto infantil ou em outras circunstâncias –
tomou o tempo para falar ao menino de um Deus amoroso, que não
poupou a vida do seu próprio Filho para que nós tivéssemos uma
chance de viver uma vida cheia de sentido. Alguém, em algum lugar,
falou ao menino as palavras que têm poder e mostrou-lhe o caminho,
a verdade e a vida (João 14.6).
Que bom que em todos os tempos, Deus despertou e continua
despertando pessoas, mestres da fé, que mesmo em meio a dificuldades, adversidades, perseguições e injustiças, nunca se calaram e
continuaram firmes na tarefa de testemunhar o Evangelho, como lemos em 2 Timóteo 3.14: “Quanto a você, continue firme nas verdades
que aprendeu e em que creu com todo o coração. Você sabe quem
foram os seus mestres na fé cristã”. Só assim o pequeno André pôde
experimentar a fé que nos alimenta, que nos dá a força necessária
para resistir e lutar adiante.
Com a sua resposta, André também foi o mestre que o juiz precisava...
Oração
Ó Deus, graças te damos pelo exemplo e coragem de pessoas que fazem com que a tua Palavra chegue a todos os corações. Não permitas
que nos acomodemos aos ventos modernos, passando a nossa tarefa
para outras mãos. Compromete-nos, Senhor! Amém.
Mandamentos
Não há senhor nem escravo!
1 Coríntios 4.15
T
odos temos pai e mãe. Pela nossa vida afora, também encontramos amigos queridos que nos adotam como filhos. Assim,
somos amados, respeitados, lembrados, presenteados.
Para nós, cristãos, o amor entre pais e filhos é, acima de tudo,
uma conseqüência do amor de Deus por nós. Se amamos a Deus,
também devemos amar aos nossos pais, honrá-los, servi-los, obedecerlhes e dar-lhes todo o nosso amor. Nesta relação entre pais e filhos,
todos estão colocados diante do mesmo Senhor Jesus Cristo, fonte
de todo o amor. O Evangelho de Cristo nos ensina o verdadeiro amor
e o perdão vividos dia a dia com os nossos familiares. Neste sentido,
Lutero lembra na explicação do Quarto Mandamento: “Não devemos
desprezar nem irritar nossos pais e superiores”.
Os meios de comunicação nos informam com freqüência de
filhos que assassinam seus pais ou de pais que maltratam seus filhos.
Ficamos chocados com tanta maldade e falta de respeito pelos seres
que Deus criou e colocou tão próximos uns dos outros.
Mas algumas vezes “matamos” nossos pais quando lhes tiramos a
esperança de dias melhores, quando os desrespeitamos ou os entristecemos com nossas atitudes inconvenientes na convivência diária.
A falta de gratidão aos pais, a falta de amor, a indiferença com que
pais muitas vezes tratam seus filhos, são “armas brancas” que matam
aos poucos e, muitas vezes, não percebemos o que estamos fazendo,
pela distância que procuramos manter uns dos outros.
Em uma das composições de Lutero, encontramos o seguinte
verso:
“Além de mim aos pais serás / submisso e sempre honrarás. / Não
vás matar nem ofender / e vida casta deves ter”.
Oração
Senhor, meu Deus, ajuda-me a respeitar, obedecer e amar aos meus
pais em todos os momentos de alegria e tristeza. Ajuda-me a ser-lhes
um amigo fiel. Permite que sejamos bons pais para os nossos filhos
e nossas filhas. Amém.
Mandamentos
25
A Palavra de Deus edifica a família
Mateus 7.24-27
S
“
26
obre a rocha o sábio edifica a família.
E a chuva caiu.
E a casa na rocha ficou”.
Esse é um corinho ensinado na Escola Dominical às crianças
quando contamos a história dos dois fundamentos, registrada em
Mateus 7.24-27.
Aprendemos que, ao estudar a Palavra de Deus, escutar mensagens cristãs, louvar ao Senhor e cumprir os mandamentos, estamos
nos estruturando para uma vida cristã sólida e autêntica.
A família é a célula que prepara as pessoas para viver na sociedade com cidadania. Quando os pais são cristãos, conhecedores da
Palavra de Deus, eles sabem da sua responsabilidade em preparar
os seus membros com estudo e prática dos ensinamentos de Cristo,
para viverem em uma sociedade difícil e desestruturada e com muitas
ofertas tentadoras e enganadoras.
A família, como grupo estruturado, é alicerce da sociedade e
deve estar atenta aos ensinamentos de Cristo, quando ele diz: “Quem
ouve esses meus ensinamentos e lhes obedece é como um homem
sábio que construiu a sua casa sobre a rocha” (v. 24).
De que maneira uma família se alicerça na Palavra de Deus? É
responsabilidade dos pais guiar os filhos por caminhos retos e agradáveis a Deus. Ensinar às crianças o caminho que devem andar, é
ensinar a cada uma o Caminho, que é Cristo, e amar a Deus acima
de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
A Palavra de Deus é alicerce e deve ser usada na construção da
nossa casa espiritual e certamente ela nunca ruirá.
O preguiçoso construiu sua casa sobre a areia e ela ruiu porque
não havia uma estrutura confiável...
Oração
Senhor Jesus, ajuda-me a construir a minha casa espiritual com
alicerce sólido que é a tua Palavra. Eu quero viver em segurança e
ajudar outras pessoas a te conhecerem. Amém.
Mandamentos
O bom perfume perdura
2 Coríntios 2.15
É
comum entre as mulheres alguém perguntar: “Que perfume
você está usando? Como é bom esse aroma!”
O poder do bom perfume pode chamar a atenção das pessoas,
pelo seu bom aroma.
Para se produzir um produto de boa qualidade, o fabricante
investe muito dinheiro para adquirir boas essências. Do contrário, o
aroma duraria muito pouco.
O cristão verdadeiro recebe de Cristo o bom perfume. São os
seus ensinamentos através da Palavra de Deus, do santo Evangelho.
Ao testemunhar Cristo, estamos exalando o bom perfume, cuja
essência foi adquirida por um preço muito elevado. Custou a morte
de Jesus na cruz por nós. Esse é o bom perfume que distingue o cristão do não-cristão. Alguém já lhe perguntou porque você é diferente
no seu modo de agir? Pois se isto já lhe aconteceu, é porque o seu
interlocutor está querendo saber que perfume é esse que você está
usando...
Cristo é a nossa essência, comprada com o preço da cruz! Cristo
passa para nós, cristãos, aromas que podem chamar a atenção das
pessoas que nos rodeiam, em casa, no trabalho, no lazer, no estudo,
no hospital, no ônibus, em qualquer lugar.
Somos o bom perfume de Cristo! Para exalarmos bons aromas, devemos estar cheios dos ensinamentos de Jesus. Esse perfume vai enfraquecendo
à medida que nos distanciamos do seu recipiente – Cristo. Após o levantar,
ao orar a Deus para que nos livre de todos os males e nos limpe de todas
as impurezas, devemos também pedir que ele nos dê o seu perfume para
enfrentarmos a lida. E nessa lida, queremos que outras pessoas vejam em
nós o Cristo que salva, que ama, que perdoa, que protege, que nos ouve e
que também sabe dizer “não” aos nossos pedidos.
Oração
Meu bom Jesus, eu quero estar cheio do teu perfume para que outras
pessoas saibam que eu te amo e vou te seguir em todos os momentos
da minha vida. Amém.
Mandamentos
27
Família – santuário de Deus
1 Coríntios 3.16-17
Q
28
ual é o fundamento da família cristã?
A ordem de Deus no Quarto Mandamento assinala que você
honre seu pai e sua mãe. Os pais são importantes na família
não porque a sociedade assim o quisesse ou porque você o desejasse,
mas porque são os representantes de Deus para que você seja abençoado com toda sorte de benefícios. Portanto, devemos considerar
nossos pais na mais alta posição, porque só Deus está acima deles.
A família não é um grupo de pessoas que decidiu viver sob o
mesmo teto. Ela é uma construção de Deus. Todos que pertencem a
ela são pedras vivas que servem ao propósito de Deus: de santificar a
convivência no lar. Por isso, a família é e sempre será o santuário de
Deus. E nela não há lugar para a profanação e a destruição. O que o
apóstolo Paulo diz em relação às pessoas – que elas são o templo de
Deus – aplica-se da mesma forma à família. Também ela é constituída
por Deus e lhe pertence. E tudo o que pertence a Deus é “santo”. Ora,
sendo a família em princípio santa, ela deve ser conservada santa.
A família é santificada e edificada quando os filhos honram seus
pais. Quando reconhecem que a autoridade dos pais vem de Deus;
quando se busca respeitá-los com atitudes e palavras; quando se
ajuda a protegê-los na doença, na pobreza e na velhice. E isso não só
porque o merecem, mas porque Deus exige que sejam reverenciados
e obedecidos.
Neste mandamento, Deus promete vida longa aos filhos obedientes. Isto não só significa ter muitos anos de vida, mas saúde, sustento,
abrigo, paz, bom governo, enfim, um mundo santo. E Deus quer usar
também a família como instrumento, para que o mundo seja santo,
justo e livre!
Oração
Senhor, santifica nossa família para que possamos viver bem. Dá que
nosso convívio testemunhe o teu amor ao mundo. Amém.
Mandamentos
Governo – pai da pátria, servo de Deus
Romanos 13.1,4
P
aulo diz que todos devem obedecer às autoridades, porque
elas foram instituídas por Deus para que o servissem, buscando o nosso bem. Lutero chama o governo secular de pai da
Pátria e explica no Quarto Mandamento que não devemos desprezar nem irritar nossos pais e “superiores” – entenda-se aqui governo.
Isso significa que se espera que o cristão dedique ao seu governo a
mesma honra e o mesmo respeito que ele tem pelo pai e pela mãe.
Ora, pai e mãe estão na mais alta posição, acima deles só Deus. Pais
são aqueles que estão permanentemente voltados para o bem-estar
dos seus filhos. Assim, propõe Lutero, como pais cuidam dos filhos,
o governo deve cuidar dos seus cidadãos. Deve-se honrar pai e mãe
porque eles estão a serviço de Deus. Assim também em relação ao
governo: deve-se honrar e respeitar as autoridades porque estão a
serviço de Deus!
Mas, que fazer quando um governo é injusto e não está mais a
serviço de Deus que o instituiu?
Como cristãos, é conveniente que exerçamos nossa cidadania
com a consciência que toda a autoridade é colocada por Deus. No
entanto, quando outro poder vem ferir a vontade de Deus, a autoridade é subversiva. Neste caso, ela deve ser denunciada e repudiada.
Nossa obediência não deve ser cega.
Somos convocados pelo Pai para exercer a nossa cidadania. Isso
não pode acontecer sem ouvir e ver o clamor dos nossos irmãos,
nossos concidadãos. Por amor a Deus e ao próximo, não podemos
deixar de reivindicar o serviço do “pai de nossa Pátria” na busca de
justiça e paz para todos.
O perfil do “pai de nossa Pátria” passa pelo Evangelho de Jesus
Cristo, e Deus usa seus filhos para constituí-lo.
Oração
Senhor, permite que tenhamos governo digno e justo. Dá que nossa
obediência a ele não seja passiva. Mas que possamos honrá-lo com
nosso trabalho e nosso convívio social. Amém.
Mandamentos
29
Muitos membros, mas um só corpo
1 Coríntios 12.12
N
30
o Quarto Mandamento, Deus convida a considerar todas as
autoridades como seus representantes entre nós. E a autoridade de Deus não só se revela por meio de nossos pais. Ela
também se manifesta em nossos professores, pastores, juízes, patrões,
prefeitos, governadores... Em qualquer circunstância que nos encontramos, em qualquer ambiente que convivemos, no casamento, na
família, na escola, na Igreja, no governo, no nosso trabalho, nós nos
relacionamos. Em muitas dessas situações, existe uma relação de
autoridade de uns sobre os outros.
É da relação sadia com autoridades que fala o Quarto Mandamento. Ele desafia a honrar as autoridades. Honrar significa, aqui,
buscar um relacionamento de respeito e amor. Por parte do subordinado, o respeito nasce quando este percebe que a autoridade
imediatamente superior busca a sua dignidade de vida. Por parte de
quem ocupa autoridade, o respeito nasce quando este percebe que
o seu subordinado é uma dádiva do amor de Deus que se revela e se
manifesta na honestidade e lealdade, na dedicação ao serviço e na
alegria de servir.
Pessoas com atributos diferentes, que trabalham juntas podem
construir uma vida fraterna e solidária quando encontram em Cristo
o fundamento da autoridade que têm e a ela se submetem. Isto vale
no relacionamento entre pais e filhos, patrões e empregados, governos e cidadãos.
Como cristãos no mundo, não podemos agir diferente do que
deixar Cristo ser Cristo; permitir que ele, onde quer que estejamos e o
que quer que façamos, seja o elo que nos une uns aos outros, fazendo
de nós um só corpo, cujos membros cooperam uns com os outros.
Oração
Senhor, dá com que não abusemos de autoridade para com aqueles
que estão sob a nossa proteção e orientação. Abençoa-nos com autoridades revestidas pelo teu amor para que opressão e miséria não
se abatam sobre nós. Amém.
Mandamentos
Patrões e empregados servem ao Senhor
Efésios 6.5,9
D
entro da mentalidade de globalização que impera no início
do milênio, parece que perdemos o sentido do real valor do
trabalho e do trabalhador. Tanto patrões quanto empregados
mais parecem autômatos, cuja atividade não tem nada a ver com
Deus.
Mas Deus continua transmitindo sua vontade para patrões e
empregados ainda hoje. O primeiro aspecto que queremos destacar
é que ambos servem ao Senhor Jesus Cristo. A Bíblia diz que os empregados, na época dos escravos, deveriam servir “com sinceridade,
como se estivessem servindo a Cristo” (Efésios 6.5). Diz mais: devem
fazer tudo de boa vontade, como ao Senhor, e não só quando os
patrões vêem. Disse alguém que honestidade de propósito e esforço
caracterizam o serviço cristão.
Os patrões também devem lembrar que têm um Senhor nos céus
e que a ele prestarão contas. Por isso deverão ser justos, deixando as
ameaças de lado. Pois diante de Deus não há diferença entre as pessoas. O Catecismo Maior lembra que os empregados devem trabalhar
com alegria porque “é mandamento de Deus e lhe agrada acima de
todas as outras obras” (Lutero). Isto porque, no seu tempo, o trabalho simples era desprezado. Valorizavam-se a vida em mosteiros, as
peregrinações e as indulgências.
Diante de Deus não se brinca. Quem é obediente, é filho querido
e abençoado por Deus. E os desobedientes são castigados. Resumindo, podemos dizer que só o cristão pode entender que está servindo
a Jesus Cristo, seu Senhor, independente se é patrão ou empregado.
Não é o bom serviço que nos dá perdão dos pecados e vida eterna.
Mas aqueles que sabem que pela fé em Jesus Cristo são salvos, prestam bom serviço.
Oração
Ó Senhor Jesus Cristo, Salvador e Senhor de todos, perdoa-nos por
trabalharmos muitas vezes por motivos egoístas. Lembra-nos que
vamos prestar contas como patrões ou empregados. Que façamos
tudo para ti. Em teu nome. Amém.
Mandamentos
31
A promessa de qualidade de vida
Efésios 6.2-3
H
32
oje em dia fala-se muito em qualidade de vida. Basicamente,
entende-se que é preciso cuidar bem da saúde física e mental. Para tanto, investe-se muito no cuidado de si mesmo e do
meio ambiente onde se vive.
A Bíblia nos promete verdadeira qualidade de vida ao declarar:
“Respeite a seu pai e mãe (...) a fim de que tudo corra bem para você,
e você viva muito tempo na terra” (Efésios 6.2,3). Isto é prometido a
quem demonstra seu amor, estima, valoriza, respeita e reverencia a
seus pais. Importa lembrar isto hoje, não?
Ter vida longa não é só chegar a ser macróbio, mas ter tudo que
pertence a uma vida longa: saúde, mulher e filhos, alimento, paz, bom
governo... para que a vida seja alegre e longa. “Mas quem não quiser
obedecer aos pais, que obedeça ao carrasco” (Lutero).
Na verdade, quem opera a verdadeira obediência em nós, é
Deus. Antes de mais nada, reconheçamos que não valorizamos nossos pais como deveríamos. Não custa nada pedir perdão a eles e a
Deus. E pedir a Deus que nos ajude a mudarmos. Pois Deus diz que
castigará os que não lhe obedecem, mas abençoará com vida longa
os obedientes. “Deus quer recompensar-te se o amares e servires; ou,
então, se provocares a sua ira, enviará sobre ti tanto a morte quanto
o verdugo” (Lutero).
Realmente, qualidade de vida é muito importante. Que a qualidade de nossa vida seja de cunho físico e mental, mas que não
nos esqueçamos da qualidade espiritual: crer em Jesus Cristo como
Salvador e tê-lo como Senhor. E, em gratidão a ele, amar, respeitar
e servir aos representantes de Deus aqui na terra, aos nossos pais e a
todos aqueles que são investidos de autoridade.
Oração
Senhor Jesus Cristo, tu vieste nos dar vida verdadeira, não só longa,
mas redimida e feliz. Muito obrigado por tudo. Concede-nos a graça
de vivermos cheios de fé e amor. Por amor de ti mesmo. Amém.
Mandamentos
O profundo amor que une os filhos de Deus
Gênesis 49.33-50.1
H
á uma união muito profunda entre os filhos de Deus. Ela transcende a própria morte e continua nos céus.
Gênesis 49.33-50.1 é um daqueles textos bíblicos que,
à primeira vista, não nos diz muita coisa. Em verdade, porém, ele
nos diz muito sobre nossos relacionamentos interpessoais. Não que
ele esteja falando de comunicação entre vivos e mortos. Ele fala da
comunhão mais íntima que pode haver entre as pessoas: o laço do
amor cristão que durará para sempre (1 Coríntios 13).
O texto propõe: “Jacó deitou-se de novo na cama e morreu,
indo reunir-se assim com o seu povo no mundo dos mortos” (v. 33).
O grande destaque é que Jacó “reuniu-se ao seu povo”.
Outro aspecto importante é que o grande José, governador
do esplendoroso Egito, chorou abertamente a morte de seu pai,
demonstrando publicamente o profundo amor e respeito que tinha
por ele (v. 1).
Nós, cristãos, temos Cristo como elo de união em todos os nossos
relacionamentos. Seu profundo amor, demonstrado até à morte, é
que nos dá vida e nos torna irmãos uns dos outros. E irmãos, por sua
vez, também demonstram seu amor entre si.
Quanto aos pais, “que os veneremos e tenhamos em apreço acima de todas as coisas, como o maior tesouro na terra... que sejamos
respeitosos para com eles em nossas palavras, não os acometamos
grosseiramente, não levantemos a grimpa nem ralhemos” (Lutero).
Que o amor de Jesus Cristo seja o elo de ligação entre pais e
filhos. Que ele nos motive a amar pais e mães, irmãos e irmãs também da grande família, isto é, todas aquelas pessoas que convivem
conosco na sociedade, independente de raça, cultura, religião ou
condição social.
Oração
Senhor Jesus, que o verdadeiro amor nos una. Que todos te tenhamos
como Salvador, amemos uns aos outros e nos encontremos nos céus.
Em teu nome. Amém.
Mandamentos
33
Vida – um dom de Deus
Gênesis 1.27-28a
N
34
o Quinto Mandamento, Deus nos faz entender que a vida,
sobretudo a vida humana, está, de forma especial, sob a sua
proteção. Pois ele mesmo é o autor da vida. Ele criou o universo e o planeta Terra. E a criação do homem e da mulher foi feita
com carinho especial: Deus os criou à sua imagem. Quer dizer, quem
agride, violenta, ameaça ou elimina esta vida, ofende o Criador e
desonra o Senhor do universo.
A referência bíblica acima fala do ser humano, na qualidade de
homem e mulher. Ambos foram criados à imagem de Deus. Isto significa que, de certa forma, espelham Deus na sua qualidade de pessoas
que falam, decidem, criam, enfim, vivem como seres pensantes. A
diferença é que homem e mulher recebem a vida como dom a ser
desenvolvido (“tenham muitos filhos”) e administrado com responsabilidade. Para garantir o sustento desta vida, Deus criou a Terra, o
ambiente, a natureza e todas as riquezas neles existentes. Portanto,
também eles são dons de Deus. Como tais devem ser descobertos,
conquistados (“dominem”) e administrados com responsabilidade
perante o verdadeiro dono de tudo. A proteção da vida humana,
proposta pelo Quinto Mandamento, não se restringe apenas aos seres
humanos e tudo que eles representam, mas sim, ao mesmo tempo,
à natureza, ao ambiente onde as pessoas vivem e que lhes garante
a vida. Desta forma, Deus protege também sua criação que inclui a
Terra e todo o universo.
Diante dessa visão do mundo, não podemos ficar omissos nem
em relação à violência reinante em nossa sociedade nem à agressão
da natureza e do meio-ambiente.
Que Deus nos dê a coragem para sermos bons administradores
de toda a sua obra.
Oração
Senhor, nosso Deus, criador do universo e Senhor do mundo, agradecemos-te pelo dom da vida. Nem sempre nos damos conta desta
dádiva. Perdoa-nos. Ajuda-nos para que possamos defender a vida e
a tua criação. Amém.
Mandamentos
Não causar dano
P
Mateus 5.21-22
rovavelmente todos os que lêem este texto, podem afirmar: eu
nunca matei ninguém. Em conseqüência, o Quinto Manda
mento não tem nada a ver comigo. Estou de consciência tran-
qüila!
Assim pensa a maioria das pessoas. Na época de Jesus ocorreu o
mesmo. Até os escribas e fariseus, os teólogos daquele tempo, interpretaram o Quinto Mandamento assim. Jesus, no entanto, vê as coisas
de forma bem diferente. Aos seus olhos, toda e qualquer intenção de
prejudicar ou causar mal a alguém, seja em palavras ou ações, direta
ou indiretamente, é uma forma de desrespeitar o Quinto Mandamento
e, simultaneamente, desonrar a Deus, o Senhor do universo, o criador
e protetor da vida.
Quem vê a vida sob este ângulo, não fala qualquer besteira em
relação a outras pessoas, nem mesmo brincando. Todos nós sabemos
como pode doer quando alguém nos difama, fala mal de nós ou desrespeita a nossa honra e dignidade. Há casos em que ofensas levam
pessoas a cometer suicídio.
Não é só isso. Desrespeitar o Quinto Mandamento também acontece quando não se faz nada!!! Quer dizer, quando nos omitimos de
fazer ou dizer algo em favor das pessoas que compartilham a vida
conosco, na casa, no lugar do trabalho, no lazer, na sociedade. Podese transgredir o mandamento também por omissão! Enfim, objetivo
do Quinto Mandamento é motivar as pessoas para que se ajudem
mutuamente. Jesus Cristo diz: “Eu lhes dou este novo mandamento:
‘Amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns
aos outros’” (João 13.34). Na medida em que estamos fazendo isso,
também haverá retorno para a nossa vida. Desfrutaremos da bênção
que reside na comunhão da família ou da comunidade.
Oração
Senhor, perante ti não têm valor / virtudes e cuidados; / somente tua
graça e amor absolvem dos pecados. / Ninguém se pode enaltecer;
/ a ti devemos só temer, vivendo em tua graça. Amém. (HPD 147,2)
Mandamentos
35
Favorecer nas necessidades
Mateus 25.42-43
P
“
36
ois eu estava com fome e vocês não me deram comida; estava
com sede, e não me deram água. Era estrangeiro, e não me
receberam em suas casas. Estava doente e na prisão, e vocês
não cuidaram de mim”. ... com fome... com sede... estrangeiro... e
não... Palavras duras essas de Jesus! Elas são pronunciadas no Dia do
Juízo, quando a sorte já está determinada: ou à direita ou à esquerda
do grande pastor; ou no lado das ovelhas ou no lado dos cabritos.
Jesus se identifica com o faminto, o sedento, o forasteiro, o nu,
o enfermo, o preso. Não são pessoas estranhas, desconhecidas, mas
é ele próprio, mascarado nas pessoas que diante de nós batem, buscam, pedem, imploram. Com respeito a estas palavras, Lutero diz na
explicação do Quinto Mandamento: “É com justiça que Deus chama
de assassinos a todos os que em apertura e perigo de corpo e vida
não aconselham nem auxiliam”.
Estas palavras foram ditas aos que estão do outro lado, do lado
dos cabritos. Nós, entretanto, estamos deste lado, com as ovelhas,
do lado direito do pastor. Fomos batizados em seu nome para fazer
parte do seu rebanho. Então, você pergunta: como essas palavras
se aplicam a mim? Jesus nos quer estimular a exercitarmos concretamente a nossa fé neste mundo, muitas vezes indiferente e injusto
com aqueles que sofrem. As boas ações que faremos, favorecendo
o nosso semelhante em suas necessidades, não nos qualificam para
estar do lado direito do Pastor (observe que a seleção foi feita antes
que qualquer obra tenha sido mencionada!). Mas elas serão sempre
frutos espontâneos da fé em Cristo que nos identifica como benditos
do nosso Pai.
Oração
Senhor, abre os olhos da minha fé para que eu possa te ver nas pessoas
que buscam o meu auxílio. Em nome de Jesus. Amém.
Mandamentos
Direito de punir
Romanos 13.4
O
cristão deve obedecer à autoridade constituída sempre?
Ele deve obedecer mesmo quando a autoridade é injusta
ou governa de acordo com regras de uma ideologia anticristã, ou pode haver exceções? Estas perguntas também podem
ser feitas em relação a qualquer autoridade instituída: governo de
Estado em todos os níveis, patrão, professor, pai/mãe. Gostaríamos
que todos que exercem autoridade o fizessem com competência,
sabedoria, imparcialidade, firmeza e amor, sempre buscando a vontade de Deus em todas as suas decisões. Esperamos isto, sobretudo
do poder jurídico. Conhecemos o símbolo da justiça: uma mulher,
com olhos vendados (sinal da imparcialidade), numa mão a espada,
representando o poder e o direito de punir, e na outra, uma balança,
símbolo do julgamento entre o bem e o mal. O ideal está ai, mas
sabemos que todas as autoridades são limitadas, podem errar e nem
sempre conseguem decidir imparcialmente.
Sem dúvida, as autoridades instituídas merecem o nosso respeito, honra e obediência e têm o direito de punir quando necessário.
No entanto, todos os atos, os nossos próprios, como também os das
autoridades, devem ser avaliados criticamente. Para isso, há instrumentos legais que permitem a nossa manifestação e, portanto, nos
tornam co-responsáveis com os órgãos incumbidos da fiscalização.
Como cristãos, devemos, sobretudo, analisar todas as coisas à luz
do Evangelho, que sempre é a favor da vida e do bem de todas as
pessoas. No entanto, isto não elimina a lei nem a punição, que fazem
parte de um processo de aprendizagem e que objetivam uma vida
em dignidade, assim como Deus a quer.
Oração
Nosso Deus, pedimos que orientes todas as autoridades que tu instituíste. Afasta de nós o comodismo e o desinteresse, para que cada
um contribua com a sua capacidade em favor da sociedade em que
vivemos. Amém.
Mandamentos
37
Direito de matar
Gênesis 4.15-16
C
38
aim e Abel eram irmãos. Caim mata Abel por inveja. Chama
do a prestar contas, o fratricida é confrontado com Deus. Caim
ainda tenta se justificar, dizendo que não é responsável pela
vida do seu irmão. A desculpa não cola. Mesmo assim, a ninguém é
permitido vingar-se de Caim. Este é o primeiro assassinato registrado
na Bíblia. Depois deste, muitos irmãos são mortos: irmãos no sangue,
irmãos na fé, irmãos na raça, irmãos na criação de Deus.
A primeira reação a um ato hediondo dessa natureza é a vingança, vingança materializada pelas próprias mãos. Tanto o assassinato
quanto a vingança são procedimentos resultantes da vida do ser
humano fora do jardim do Éden, longe de Deus.
Deus coloca um sinal em Caim. Não é um estigma, um castigo,
mas um salvo-conduto. De um lado, é uma aliança que Deus faz com
Caim para protegê-lo. De outro, é uma forma de evitar que aqueles
que encontrassem Caim, por vingança, o matassem. A vingança outra
coisa não é do que o enquadramento na mesma situação do assassino.
Vingar-se é colocar-se no mesmo nível daquele que matou.
O objetivo de Deus é preservar a vida em todos os níveis. Mas
a preservação da vida pode também requerer, por vezes, a retirada
de uma vida, ou seja, a pena de morte. A pena de morte, entretanto,
não é sinônimo de um ato individual ou um mandado. Não deve ser
confundida com prática exercida pelas próprias mãos. Lutero, na
explicação do Quinto Mandamento, no Catecismo Maior, enfatiza
esse aspecto ao afirmar que “o direito de castigar os malfeitores, Deus
o delegou aos magistrados”, ou seja, aos governantes. E sobre eles
também recai a responsabilidade diante de Deus.
Oração
Senhor, faze com que a ordem e a justiça sejam preservadas no
mundo, para que não haja necessidade de se pagar vida com vida. E
lembra-nos que a vida do teu Filho Jesus garante a nossa para a vida
eterna. Amém.
Mandamentos
Quem odeia é assassino
1 João 3.15-16
O
ódio é muito mais que ódio. Na perspectiva bíblica, ódio é
equivalente a assassinato. Ódio é o desejo que a outra pessoa não esteja presente; é a recusa em reconhecer os direitos da outra pessoa; é o desejo de que ela esteja morta. Eu sei, são
afirmações drásticas, mas aqui não podemos fazer rodeios. Aliás, o
próprio Jesus também trata este assunto sem rodeios, quando diz: “...
eu lhes digo que qualquer um que ficar com raiva de seu irmão será
julgado pelo tribunal. E quem chamar seu irmão de idiota estará em
perigo de ir para o fogo do inferno” (Mateus 5.22). Portanto, se odeio
alguém, não sou diferente de um assassino. A partir do prisma de Jesus,
portanto, quem odeia, mata e transgride o Quinto Mandamento. E
isso é incompatível com a vida espiritual.
Desta grotesca descrição do ódio, o apóstolo João dá uma guinada para falar sobre a natureza do amor. Muitas pessoas associam o
cristianismo com a lei do amor e, então, imaginam que sabem tudo
sobre sua doutrina, quando procuram entendê-lo em termos da sua
própria concepção de amor.
João define o amor, associando-o com a morte. A linguagem
está conectada com a imagem do bom pastor que, diferente do mercenário, está disposto a dar a vida pelas ovelhas. Isto significa que
quem ama está disposto e preparado para dar a própria vida para
que alguém possa viver. Amar significa dizer “não” à minha própria
vida para que alguém tenha condições de dizer “sim” à sua. Amor,
portanto, não é apenas demonstração, mas é um ato concreto, um
ato que efetivamente beneficia o outro.
Se o ódio espelha a morte e a aniquilação, o amor espelha a
vida e a salvação.
Oração
Senhor, perdoa-me as tantas vezes que matei com o meu ódio. Que
o teu amor, que habita em mim, se caracterize em vida para aqueles
que me cercam. Em nome de Jesus. Amém.
Mandamentos
39
União e complementação
Gênesis 2.18
“
O
40
Eterno disse: ‘Não é bom que o homem viva sozinho”. Por
que não é bom viver sozinho? O sentimento de solidão e de
não ser importante para alguém pode ser corrosivo. Viver
sozinho dificulta o crescimento geral. Viver sozinho diminui os motivos para sentir-se útil e ver sentido na vida.
É claro que a companhia não precisa ser necessariamente de um
cônjuge. Bons amigos podem ser excelente companhia. No entanto,
de acordo com o texto acima, o propósito de Deus é que a mulher
seja para o homem e o homem para a mulher como se fosse a sua
outra metade ou o seu complemento. Então, considerando-se que as
metades geralmente são opostas entre si, homem e mulher também só
poderiam ser diferentes – quase opostos! Por outro lado, as metades
também são sempre a parte que mais combina com seu par, formando
um todo. O casamento, então, até que poderia ser comparado com as
peças de um quebra-cabeças: são peças diferentes, mas uma encaixa
com a outra e pode formar um todo muito belo.
Dito dessa forma, pode parecer óbvio. Porém, muitos casais
não se dão conta que Deus intencionou que um fosse unido ao
outro e o complementasse. E, para haver união e complementação
é necessário haver diferenças! Sem tal consciência, muitos deixam
que suas diferenças trabalhem mais para prejudicá-los do que para
complementá-los. Então, o cônjuge criado à imagem e semelhança
de Deus, para ser o “bem” mais precioso e próximo, será objeto de
competição em vez de ser sua complementação.
Se o matrimônio for guiado por Deus, pode ser uma oportunidade para um processo crescente de união e complementação.
Oração
Agradeço-te, Senhor, porque te importas com o meu bem-estar e o dos
outros. Tu queres que eu encontre a melhor forma de viver – solteiro
ou casado. Ajuda-me a perceber melhor o teu plano para mim e a
aceitá-lo e realizá-lo. Amém.
Mandamentos
Meu filho – minha vida
Marcos 10.9
L
i esta frase num pára-choque de caminhão. Ela mostra quão
importante o filho é para aquele pai. Se os pais fossem todos
assim, seguramente viveríamos num mundo com bem menos
violência e injustiça. Filhos amados e valorizados tendem a ser melhores para si mesmos e melhores cidadãos.
Entretanto, conforme o plano de Deus, os laços entre os cônjuges ainda são mais importantes do que a relação pais/filhos. Aliás, o
livro “Questões sobre o Casamento” dá um destaque a isso, pois lá se
lê: “uma placa no escritório de um amigo meu (...) diz o seguinte: ‘A
melhor maneira de um pai ajudar seus filhos é amando sua mãe’. O
relacionamento marido-esposa precede ao relacionamento pai-filho
no plano da criação de Deus. O amor do marido pela sua esposa é o
fundamento para a família cristã. Quantas vezes as responsabilidades
da paternidade/maternidade atrofiam o relacionamento matrimonial.
Um casal cristão precisa reservar tempo a fim de, em conjunto, nutrir
seu relacionamento com a finalidade de obter força espiritual e amor
para serem pais efetivos. Isto, igualmente, trará um fundamento sólido para um crescente relacionamento matrimonial quando os filhos
deixarem o lar”.
A amizade, o companheirismo, a delicadeza, a dedicação, o carinho... precisam encontrar o seu lugar permanente no casamento,
assim como acontecia no tempo de namoro e noivado – mesmo que
sejam de outra forma. Afinal, o seguinte mandamento de Jesus também vale para a vida do casal: “O meu mandamento é este: amem
uns aos outros, como eu amo vocês” (João 15.12). Neste caso, os dois
não estarão tão sujeitos a ver a separação de quem Deus uniu.
Oração
Entrego aos teus cuidados / os bem-amados meus: que sigam confiados, / o seu caminho, ó Deus! Que venhas a guiar, / por tuas mãos
clementes, / amigos e parentes – que guardes nosso lar! Amém.
Mandamentos
41
Cavalo amarrado também pasta!
Mateus 5. 27-28
E
42
ste ditado é usado para justificar pessoas casadas que decidem
“dar uns pulinhos” fora do casamento. A idéia é: casado está
amarrado, mas tem liberdade para gozar a vida. Liberdade é
isso? Gozar a vida é isso?
A verdade é que adultério, ocasional ou permanente, costuma
causar muito mais dissabores e sofrimentos (amarras) do que satisfações (vida bem gozada). Eis alguns exemplos: perda da liberdade de
olhar nos olhos do cônjuge; dificuldades no relacionamento sexual
do casal; risco de contrair doenças venéreas, de gravidez indesejada,
de ser vítima de chantagens, de ser vítima de vingança; risco maior de
também ser traído ou traída; perturbações no relacionamento com
toda a família... Além disso, não deixa de ser uma traição consigo
próprio, pois os cônjuges, ao casarem, tornam-se “uma só pessoa”
(Gênesis 2.24). Procedimentos dessa natureza não têm nada de liberdade, muito pelo contrário, só trazem malefícios!
Então, porque acontece o adultério, se tem tantos riscos e problemas? Entre outras, há duas causas importantes: a busca por aventuras
e novidades e casamentos problemáticos. Deus, no entanto, para
proteger as pessoas, o casamento e a família de sofrimentos como os
relacionados acima, ordenou o Sexto Mandamento: “Não cometerás
adultério”. Com isso, casais que estejam enfrentando dificuldades
sérias devem, antes, procurar ajuda (que tal, com quem celebrou a
bênção matrimonial?), pois há remédios eficientes para a maioria
das doenças do casamento. Sim, há remédios para ajudar também o
casal a amar um ao outro assim como Cristo nos amou e assim como
um amava ao outro quando decidiram casar.
Oração
Senhor e Pai: ajuda-me a cumprir meus deveres e a perdoar a quem
não agiu bem comigo. Perdoa também e ajuda-me a mudar no que
for necessário e a refazer laços que foram prejudicados pelo erro de
cada um. Amém.
Mandamentos
Vidas divididas
Marcos 10.6-9
H
á muito tempo, alguém escrevia sobre alguns casais: “Três semanas para se estudarem, três meses para se amarem, três
anos para brigarem, trinta anos para se tolerarem”. Depois,
criou-se o divórcio. Há, inclusive, igrejas “avançadas” onde já se viu o
pastor, com todas as bênçãos, unindo pares “enquanto durar o amor”.
Assim, quando a paixão ceder, quando se enfastiarem, correrão para
um advogado, assinarão uma procuração e um requerimento, e o
juiz decretará a falência dessa sociedade.
No Brasil, hoje, um em cada quatro casamentos acaba em separação. Estão aí projetos de vida interrompidos – projetos nos quais
se investiram emoções, afeto, recursos materiais. Para os filhos, isso
representa lidar com emoções desconhecidas, como a insegurança
e, certamente, a dor.
“Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu”. Esse é o projeto
desafiador de Deus ao homem e à mulher: que se unam e se tornem
uma só pessoa. A separação e o divórcio não estão nos planos de
Deus; nem o divórcio oficial do meritíssimo que leva as pessoas a
mudar de casa, nem a separação que já mudou a alma de casa, de
casais separados debaixo do mesmo teto, estranhos que continuam
vivendo juntos – e infelizes – em nome da família, da aparência e de
uma suposta felicidade dos filhos.
O casamento se sustenta do amor, e este do compromisso, da
reconciliação, do afeto, do interesse, do diálogo, da compreensão.
Estes são dons de Deus e nele devem ser buscados diariamente. É nele
que se reconstroem as relações e somente através dele que se pode
transformar a família, no dizer de São João Crisóstomo, em “uma
miniatura da Igreja”.
Oração
Pai, instituíste a família como um espaço para a nossa felicidade.
Ajuda-nos a cultivar essa união no exercício diário do perdão e da
reconciliação. Amém.
Mandamentos
43
A base sólida
1 Coríntios 13.13
P
44
ergunte a noivos, na véspera do casamento, por que eles querem casar. Certamente responderão que querem casar porque
se amam. Se você é casado, com certeza, também pensou assim,
no dia do seu casamento. Noivos sempre apostam no amor maior que
o infinito (Roberto Carlos) ou no “pluriamor” (Drumond de Andrade).
Você já reparou quantos casais, que apostaram no amor eterno,
se separaram? Dizem que não sentem mais nada um pelo outro e que
o amor terminou. E como está o amor na relação com o seu marido
ou a sua esposa? Ele continua o mesmo ou diminuiu? Por que ele
diminui ou termina? Ele não é eterno?
Parece que entre nós vigora um conceito diferente de amor.
Confundimos amor com sentimentos esporádicos, com gestos de
caridade, com sensualidade. Entendemos, a exemplo dos poetas,
que ele é uma virtude inata, que o trouxemos de berço. Para dar
certo, basta desenvolver aquilo que já existe. Com isso, no entanto,
o nosso “amor” é frágil e tão limitado como nós mesmos e toda a
nossa estrutura.
O apóstolo Paulo tem outra concepção. Para ele, amor não tem
origem no mundo, mas em Deus, que o manifestou de forma concreta
na morte e na ressurreição do seu Filho. “Quem quer falar de amor
não pode esquecer de Jesus”. Este é o amor que jamais acaba porque
vem de Deus. Com ele dá para viver. Por isso, se você quer construir
o seu casamento sobre uma base sólida, não procure outro alicerce,
não se deixe levar pelo poder da sua mente. Aposte exclusivamente
no amor de Deus que deu prova incontestável de sua consistência
através da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Busque-o através da
Palavra de Deus, dos sacramentos e da oração.
Oração
Querido Deus, obrigado pelo teu amor eterno. Permite que ele se
torne cada vez mais sólido e mais real no nosso meio. Regula, através
dele, as nossas relações, em especial, no nosso casamento. Por Jesus
Cristo. Amém.
Mandamentos
Bênção matrimonial
Provérbios 18.22
“
C
asamento civil” e “Casamento religioso” – qual é a diferença?
Em verdade, na Igreja não se casa, mas abençoa-se o casamento, já confirmado pela lei civil. Por isso, preferimos
falar em culto de bênção matrimonial, para o qual se convida toda a
comunidade. Esta é a razão dos proclamas, onde se anuncia, diante
da comunidade reunida em culto, a intenção dos noivos.
Quando noivos pedem a bênção matrimonial na Igreja, eles
estão dando um testemunho de sua fé. Querem dizer publicamente
quem é o Senhor da sua vida e da sua relação matrimonial. Buscam,
através da bênção, a proteção e a força de Deus para a sua relação.
“Aqueles que instituíram a praxe de se conduzir noivo ou noiva
para a igreja, na verdade, não consideraram isso uma brincadeira,
mas algo muito sério; pois, não há dúvida que, com isso, queriam
buscar a bênção de Deus e a intercessão da comunidade, e não fazer
comédia ou farsa pagã... quem procura oração e bênção junto ao
pastor, está indicando (ainda que não o expresse oralmente) os riscos
e as dificuldades que o esperam, e de quão elevada bênção divina e
intercessão da comunidade precisa para o estado que agora se inicia;
pois diariamente se percebe que desgraça o diabo provoca no estado
matrimonial, infidelidade, discórdia e toda sorte de miséria” (Lutero).
Se o seu casamento foi abençoado por Deus, na Igreja, tenha
certeza de que Deus o está acompanhando, mesmo que você nem
sempre esteja consciente disso. Apesar das dificuldades que você
sente no seu relacionamento, não tenha dúvida de que a sua união
matrimonial tem o aval de Deus. Repita e renove esse testemunho
todos os dias!
Oração
Senhor, obrigado por permitires que busquemos a tua bênção para o
nosso matrimônio. Conscientiza-nos, principalmente nos momentos
mais difíceis da nossa caminhada a dois, de que podemos contar com
a tua cumplicidade. Amém.
Mandamentos
45
Liberdade para ser honesto
Levítico 25.23-24
E
46
stou feliz com a minha liberdade. Sinto-me exposto à tentação
da desonestidade. Isso não é mérito meu. Meus pais, meus professores, meus pastores construíram essa liberdade em mim.
Também não é mérito deles, mas do Evangelho. Antes de me apontarem a liberdade, eles mesmos foram libertados. Deles aprendi que
o rosto amoroso de Deus está voltado para mim. Não quero manchar
essa boa relação com atos de desonestidade. Pelo contrário, cresce
em mim uma natural disposição de amar a Deus e temê-lo acima de
todas as coisas. “Devemos temer e amar a Deus e, portanto, não tirar
do nosso próximo os seus bens e o seu meio de vida” (Lutero).
Sei que toda riqueza tem uma função social. Deve estar a serviço
do próximo. A terra que alguém comprou ou herdou. A empresa que
alguém construiu. Em última análise não somos nós os donos, mas
Deus. Por outro lado, cada um precisa do seu espaço, do seu abrigo,
da sua segurança, onde está em casa. É o seu refúgio. Só dele.
Aquele grupo de jovens que invadiu o meu pomar e pisou a minha horta que comeu todas as amoras e os melhores cachos de uvas,
depois brincou de guerra com os meus tomates e as minhas pêras,
eles não sabiam que Deus estava olhando-os com amor. Não tiveram
quem apontasse Deus para eles. Ninguém os ajudou a experimentar
o amor de Deus. Então, outros deuses invadiram e dominaram suas
vidas. Assim, não conheceram a liberdade de ser honesto.
Eu, de minha parte, senti-me desprezado no respeito que mereço.
Senti-me roubado.
Ah, também sei que as condições em que eu fui criado foram
muito melhores do que daquele bando de jovens, que vagava pelas
cidades, sem eira e sem beira.
Oração
Senhor, Deus da vida, que te mostras em Jesus Cristo como nosso
Salvador e amigo amoroso, preserva a minha liberdade e desperta
quem aponte o teu amor aos jovens que vagam pelas cidades sem
amparo e sem perspectivas. Amém.
Mandamentos
Muitas maneiras de roubar
1 Timóteo 6.9-10
D
epois do Ensino Confirmatório, eu entrei na lancheria da nossa
Cooperativa. Havia um grupo de pessoas numa das mesas.
Dois homens ali sentados, eu conhecia bem. Eles me convidaram. Sentei-me com eles, e eles continuaram a conversa iniciada
antes da minha chegada.
- Vou comprar as vacas – disse um deles – mas não tenho pressa.
O homem está apertado, por causa da doença do filho dele. Ele não
tem saída. Vai se ver obrigado a baixar o preço.
No Ensino Confirmatório, eu havia comentado com os alunos
sobre o Sétimo Mandamento: “Não furtarás”. Pensei comigo: há muitas
maneiras de roubar!
Na explicação desse mandamento, Martim Lutero ensina: “...
mas devemos ajudar o nosso próximo a melhorar e conservar os seus
bens e o seu meio de vida”. Lembrei-me também de 1 Timóteo 6.9:
“Porque os que querem ficar ricos caem em tentação e na armadilha
de muitos desejos tolos e maus, que levam as pessoas para a desgraça
e a destruição”.
Concluí que roubar não significa apenas arrancar a carteira das
mãos de alguém ou levar os seus pertences, furtivamente.
Aquele grupo de homens da lancheria parecia aceitar, sem
problema, a idéia de aproveitar a dificuldade financeira do próximo
para tirar vantagem.
- E se fizéssemos, todos juntos, uma visita ao pai do menino
doente – sugeri – quem sabe, poderíamos ajudá-lo? É agora que ele
precisa, mais do que nunca, das suas vacas para enfrentar as despesas
médicas.
Um por um, todos acharam uma razão para ir embora. Fiquei
sozinho. Aparentemente, a minha sugestão foi tão estranha para eles,
que não souberam o que fazer com ela.
Oração
Senhor, ajuda-me a divulgar o Evangelho do teu amor, com palavras
e atitudes adequadas, para que perpasse as nossas decisões concretas
e tome forma nas atitudes do nosso dia-a-dia. Amém.
Mandamentos
47
Roubo institucionalizado
Êxodo 23.1-2
A
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cidade onde moro tem as suas raízes na pequena propriedade rural. No passado, havia um bom equilíbrio social entre as
famílias. Havia pequenas diferenças, sim, entre as que conseguiam produzir mais e as que produziam menos. Todas, no entanto,
tinham o suficiente para uma vida digna e eram bem-vindas em
todos os recintos.
A cidade cresceu. Alguns enriqueceram muito. Outros empobreceram. Hoje, a minha cidade, cada vez mais, está adotando a cara
da sociedade brasileira, dividida em palácios e barracos, centro e
periferia, condomínios fechados e favelas, desperdício e fome, alta
moda e trapos, clubes finos e exclusão, luxo e lixo.
Percebo uma mão invisível, poderosa, gigantesca, que drena as
riquezas da mão da maioria para as mãos de uma minoria privilegiada.
Conheço várias pessoas em minha cidade que ganham em um só mês
o que o trabalhador mais simples leva 25 anos para ganhar.
Antigamente, o povo de Deus viveu escravizado no Egito.
Quando Deus o libertou, sob a liderança de Moisés, logo lhe deu os
Dez Mandamentos, para que pudesse viver em liberdade. Ninguém
seria oprimido. Em nome do amor a Deus, ninguém tiraria do outro
o direito de ter o necessário para viver com dignidade. Êxodo 23.2
recomenda: Não ajude a “torcer a justiça”.
A comunidade cristã não conseguiu resistir a um modelo políticoeconômico que institucionalizou a drenagem de baixo para cima e
concentra capital, prestígio e poder de decisão. É a transgressão do
Sétimo Mandamento, institucionalizada, legitimada, bem estruturada.
Como cristão, não quero conformar-me jamais com essa realidade. Que Deus me ajude!
Oração
Senhor Deus de Moisés e Arão, justo e libertador, mantém acesa em
mim a chama da revolta contra o roubo institucionalizado que transgride o teu Sétimo Mandamento. Amém.
Mandamentos
A verdadeira ajuda
Gênesis 13.5-13
“
T
io, me dá um troco?” – “Tem pão velho, dona?” – “Que Deus
lhe pague!” É gente pedindo pelos mais diversos motivos. É
gente pedindo por pedir, é gente pedindo porque está faminta,
é gente pedindo para comprar remédio porque está doente, é gente
pedindo para viajar. E o pior: pais que mandam seus filhos pedir, pois
sabem que crianças sensibilizam mais. A toda hora, somos abordados
e obrigados a ouvir frases de pedintes. Gostemos ou não, são pessoas
que passam necessidade. E isto é indigno, desumano, injusto. Quem
não se conforma com a injustiça – e esse também é o caso das pessoas
cristãs – sente uma inquietação quando ouve frases assim.
Como agir? Que fazer? Se dermos dinheiro, estaremos realmente
auxiliando? Se dermos algo, poderemos ficar de consciência tranqüila? Dada a esmola, encerra-se nosso compromisso com a pessoa
carente?
Abraão correspondeu plenamente ao proposto pelo Sétimo
Mandamento, quando agiu em relação a Ló. Na base deste agir, estava a plena confiança no Deus que é a fonte de toda vida. O Sétimo
Mandamento não quer somente que se deixe de fazer o mal à pessoa
próxima, no âmbito de sua propriedade. Mais que isso, manda que a
ajudemos a melhorar de vida, a progredir, a ter uma vida plena e digna.
Se damos algo a um pedinte a fim de acalmar a nossa consciência,
então damos algo a nós mesmos. Acabamos fazendo o contrário do que
transparece em nossa atitude. Nossa dádiva à pessoa necessitada deve
ser feita para que seja superada a situação injusta e indigna em que ela
se encontra. Desse modo, quem vive a partir da cruz e sob a cruz de Jesus
Cristo, pratica verdadeiramente o Sétimo Mandamento.
Oração
Bondoso Deus, sensibiliza-nos em relação às pessoas necessitadas
e coloca-nos a seu lado em sua busca por vida plena. Em nome de
Jesus Cristo. Amém.
Mandamentos
49
O amor de Deus ou o ídolo mercado?
Levítico 25.35-38
P
50
ara muita gente, a fé cristã diz respeito exclusivamente à esfera individual, privada, íntima das pessoas. Também os mandamentos, que orientam as pessoas cristãs em seu comportamento
ético, estariam limitados ao âmbito individual.
Trata-se de um lamentável engano. Nos dias em que escrevo essas linhas, o Brasil atravessa séria crise financeira. A moeda nacional
perdeu quase a metade de seu valor em poucas semanas, pela ação de
especuladores na banca internacional e pela má política financeira.
Em um mês, o sistema bancário privado lucrou mais do que lucrara
em todo ano anterior. Os meios de comunicação citam freneticamente cifras, valores, taxas, números. Por enquanto, só há uma certeza:
os ricos ficaram mais ricos e os pobres ainda mais pobres.
Quem fica rico às custas dos outros e contribui para que a maioria
fique cada vez mais pobre, enquanto ele próprio recheia seus bolsos,
está praticando o furto, mesmo que esteja amparado pela lei. Neste
caso, trata-se de roubo institucionalizado.
Quem leva a sério a vontade de Deus, sabe que por trás daqueles
números e taxas há pessoas. Há crianças, mulheres e homens que
morrem por falta de comida, casa, saúde, escola e segurança. Morrem
porque o roubo é legalmente possível, a irresponsabilidade de quem
governa permanece impune e os caprichos do “ídolo mercado” são
mais respeitados do que a vontade do Deus da vida.
O Sétimo Mandamento nos faz ver as coisas a partir do amor de
Deus e das pessoas que sofrem necessidade e injustiça, auxiliando-as
materialmente e denunciando os mecanismos idolátricos e diabólicos
que ameaçam suas vidas.
Oração
Amado Deus, abre nossos olhos e move-nos ao compromisso com o
nosso próximo ameaçado pelo roubo e injustiça institucionalizados.
Em nome de Jesus. Amém.
Mandamentos
Administrar com responsabilidade
Mateus 25.14-30
C
erta vez presenciei uma discussão muito interessante entre duas
pessoas de uma mesma Igreja. Uma delas defendia o ponto de
vista de que possuir propriedade é conflitante com a fé cristã.
A outra argumentava, garantindo não haver incompatibilidade nisso.
No auge do debate, quem era favorável à posse de propriedade por
cristãos evocou a figura do líder por excelência da Igreja de ambos:
“Há quinhentos anos, ele já dizia que podemos e devemos ter propriedade!”. Foram rapidamente conferir no livro em que aquele eminente
líder eclesiástico teria feito essa afirmação e leram mais ou menos o
seguinte: “É claro que uma pessoa cristã pode ter propriedade. Não só
pode como deve. Do contrário, como irá colocar o que tem a serviço
de quem não tem e necessita?” A discussão cessou por aí, pois agora,
aquelas pessoas tinham muito em que pensar.
O líder daquela Igreja havia captado o sentido profundo do Sétimo Mandamento, que se refere ao modo como usamos os bens e o
dinheiro que temos. Entendeu que todos os bens, sejam eles de ordem
material ou espiritual, enfim, tudo o que temos, é dado por Deus.
Quando Deus nos deu tudo, de graça, ele também lançou o
desafio para que o administremos com responsabilidade, em favor
de nossa subsistência, de nossos familiares e das pessoas que nos rodeiam, especialmente daquelas que passam privação e necessidade.
Temos o compromisso de usar bem os recursos recebidos, pois são
necessários para manter tudo o que Deus criou e continua criando.
Ele considera nossa colaboração tão necessária e tão importante que
cedo ou tarde pedirá uma prestação de contas.
Oração
Bondoso Deus, ajuda-nos a administrar o que possuímos na perspectiva da fé em Jesus Cristo e orientados por tua Palavra. Em nome de
Jesus. Amém.
Mandamentos
51
Também os cristãos são fofoqueiros. Cuidado!
Tiago 4.11
U
52
m psicólogo inglês, em recente estudo, afirma que o mexerico e aquilo que se pode chamar de tagarelice social tem algo
de muito positivo. A história teria mostrado que o mexerico
instigou o desenvolvimento humano. Se os nossos antepassados, diz
o autor, não tivessem gasto tanto tempo falando mal uns dos outros,
a humanidade não teria desenvolvido toda esta capacidade mental
de desbravar os mistérios das galáxias e inventar a Internet (que globalizou as fofocas). Homens e mulheres, conclui o autor, gastam cada
vez mais tempo mexericando sobre a vida alheia, principalmente dos
concorrentes e oponentes.
“Meus irmãos, não falem mal uns dos outros”, escreve Tiago 4.11.
Pelo visto, também os cristãos são fofoqueiros. O hábito de falar mal
dos outros veio embutido no pecado humano e sobrevive tanto na
sociedade como na comunidade cristã. Não raro, a fofoca e a crítica
atropelam o bom senso e acabam em julgamento. “Quem fala mal do
seu irmão ou o julga está falando mal da Lei. Deus é o único juiz. Só
ele pode salvar ou destruir. Quem você pensa que é...?” (Tiago 4.11,12).
O julgamento está reservado a autoridades constituídas para esse fim.
Julgar o outro tem dimensões graves. Pode comprometer a sua reputação. A situação fica terrível, quando uma pessoa se deixa levar, quem
sabe até por suborno, a mentir perante a justiça. Cuidado!
“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”, ensina o
Oitavo Mandamento. Ou será que nós gostaríamos que os outros nos
caluniassem e desonrassem? Por isso, a regra áurea continua de pé:
“Façam aos outros o que querem que eles façam a vocês” (Mateus 7.12).
Oração
Senhor, tu, que és a verdade, sabes o quanto somos tentados diariamente a falar mal dos outros. Tu também sabes quantas vezes não
resistimos e falamos manchando o nome do nosso próximo. Ajudanos, para que somente falemos o que é decente e conveniente. Amém.
Mandamentos
Vocês são diferentes
Mateus 18.15
U
ma amiga me contou que uma pessoa, evangélica como ela,
a difamara. Procurou-a, depois, em particular. Mas a pessoa
não queria nem conversa. Por isso, disse-me a amiga: “não
acredito no êxito do conselho de Jesus, de procurar a outra pessoa e
mostrar-lhe o erro. Não vejo as mínimas chances de se falar com o
outro, na comunidade cristã, sobre o seu erro e pecado”.
Penso que minha amiga tem razão. Começa com o fato de, na
Comunidade, estarmos pouco preocupados com o comportamento
do outro. No fundo, ele pouco nos interessa. Mais, se ele nos caluniar
ou “pecar contra nós”, como disse Jesus, nós vamos tirar satisfações
dele ou até mesmo buscar os nossos direitos na justiça ou nos recolhemos simplesmente ao silêncio amargo da resignação. Perdemos
a maturidade, se é que já a tivemos uma vez, de colocar as coisas em
ordem entre nós, irmãos e irmãs. Fingimos que tudo está bem, mesmo
quando tudo está errado. Não é isso que está acontecendo em quase
todas as latitudes e longitudes da vida cristã?
Jesus contesta e lembra: “Mas entre vocês não será assim” (Marcos 10. 43).
Também o Oitavo Mandamento insiste no uso da linha direta
entre irmãos e irmãs da fé. Vale a pena investir no outro, indiferente
se o pecado dele foi contra nós ou não (textos originais mais antigos e fidedignos não contêm as palavras “contra você”). Só assim
poderemos ser uma comunidade mais cristã, isto é, mais autêntica,
humana e divina.
As perspectivas de êxito são limitadas, é bem verdade. Mas toda
vez que conseguimos superar o fosso do pecado, que separa o que
deveria estar junto, haverá mais paz na terra e maior alegria no céu
(Lucas 15.3-7).
Oração
Olha, Senhor, como as coisas andam entre nós. Há muita rejeição
e pouca aproximação. Reveste-nos da tua Palavra e do teu Santo
Espírito, para que a verdade se sobreponha à difamação e o perdão
restabeleça a comunhão. Amém.
Mandamentos
53
Falar a verdade, naturalmente
Mateus 5.37
O
54
Sermão do Monte (Mateus 5-7) já foi chamado de Magna
Carta dos cristãos porque contém a Palavra de Jesus sobre o
novo ser e viver dos filhos de Deus. Sob este prisma deve
ser entendida a palavra: “digam apenas ‘sim’ ou ‘não’, pois qualquer
coisa mais que disserem vem do Diabo”. O cristão foi libertado de
uma vida falsa, cheia de mentiras, para uma vida de verdade, onde
jurar pelo nome de Deus não tem mais cabimento. O discípulo não
precisa recorrer ao nome de Deus para dar crédito às suas palavras.
Ele fala a verdade, naturalmente. Em Tiago 5.12 lemos: “Quando
prometerem alguma coisa, não jurem pelo céu, nem pela terra,
nem por nada. Digam somente sim, quando for sim, e não, quando
for não, para que Deus não os condene”. O mesmo vale em relação
ao Oitavo Mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo”. Na sua interpretação, Lutero criticou severamente as autoridades e testemunhas que entortavam a verdade nos depoimentos
e julgamentos, “enquanto o pobre, oprimido em sua causa, tem de
perder a questão e sofrer o castigo”.
Nós temos que ter mais presente que somos pessoas renascidas,
pessoas de um novo tempo e testamento.
Um escritor dos nossos dias disse: “Nós precisamos de uma linguagem simples e clara, que diz água para água e chama a sujeira
de sujeira, que denomina a cadeira, a cama, a flor e a morte, e não
chama o homicídio de ato heróico, nem a verdade de blasfêmia...”.
Pensando bem, nós já temos esta nova linguagem, fruto do novo
ser em Cristo. Imaginem se as pessoas pudessem acreditar que é isso
mesmo que lhes desejamos, quando dizemos: Vou pensar em você.
Pode contar comigo. Deus o guarde!
Oração
Senhor, ainda há pessoas que acreditam nas nossas palavras. Ajudanos a permanecer na tua Palavra, para que permaneçamos na tua
verdade e não prejudiquemos ninguém com o nosso falar. Amém.
Mandamentos
A favor do injustiçado
Provérbios 31.8-9
N
ossa Constituição garante igualdade de direitos para todos. Ninguém deverá ser prejudicado devido à sua posição social, raça,
cor ou religião. Sabemos, no entanto, que a realidade nem
sempre é essa. Facilmente, quem tem uma boa posição social, dinheiro
e poder, também vence as causas na justiça.
No nosso texto, a mãe do rei Lemuel lhe aconselha: “Fale a favor daqueles que estão na miséria. Fale por eles e seja um juiz justo.
Proteja os direitos dos pobres e dos necessitados”.
O problema da justiça é antigo. Os Dez Mandamentos lhe dedicam um espaço especial. Lemos no Oitavo Mandamento: “Não
dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Quanto a isso, Lutero
escreve: “o sentido mais imediato deste mandamento... refere-se ao
foro público, onde um pobre inocente é acusado e oprimido por
falsas testemunhas, para ser castigado no corpo, nos bens ou honra”.
Pessoas que seguem a Cristo não podem se conformar enquanto outros são injustiçados por falso testemunho. Por isso, estejamos
sempre prontos a defender o próximo quando ele está sendo acusado
injustamente. Saibamos apoiá-lo nos momentos de dificuldade. O
nosso exemplo e motivação estão em Cristo. Ele nos defendeu de
nossos pecados e continua nos defendendo diante de Deus. Jesus,
sendo justo, não tendo pecado, assumiu nossos pecados e ainda
mais: ele é nosso próprio advogado diante de Deus. Esta é a justiça
de Deus: providenciar a libertação de nossos pecados, sendo que nós
somos culpados. Que este seja o nosso motivo para favorecermos os
desamparados falando a favor deles.
Oração
Senhor Deus, que fizeste justiça conosco através de Cristo, perdoando
todos os nossos pecados, pedimos-te que saibamos praticar a justiça
com o nosso próximo a fim de favorecer aqueles que são injustiçados,
mediante Jesus Cristo que se tornou a nossa justiça. Amém.
Mandamentos
55
Traição
Mateus 26.14-16
J
56
udas traiu Jesus em troca de trinta moedas de prata. Há pessoas
que traem seus amigos revelando a outros segredos que lhes foram confiados. Outros traem a confiança de seus amigos quando
espalham fraquezas e até mentiras a seu respeito.
O que Judas fez com Jesus foi dar falso testemunho a seu respeito.
Ele sabia que Jesus era inocente, que não havia feito nada de errado
e que era Filho de Deus. Mas, a ganância pelo dinheiro fez com que
judas procurasse uma oportunidade para entregar seu Mestre como
um malfeitor, um marginal. O resultado deste gesto foi que o traidor
acabou se enforcando após ter reconhecido o seu erro: “Pequei, entregando à morte um homem inocente” (Mateus 27.4).
O pecado da traição é inerente em nós. Sempre que revelamos
os segredos de alguém e contamos aos outros as fraquezas de nosso
próximo, o estamos traindo. Falar bem e “interpretar tudo da melhor
maneira” (Lutero) é o caminho certo e justo. “Se o seu irmão pecar,
vá e mostre o erro dele. Mas faça isso em particular, só entre vocês
dois” (Mateus 18.15). Esta é a forma de lidar com as fraquezas de
nosso próximo. Falar diretamente com ele, mostrando-lhe o erro, é
o melhor que podemos fazer para o bem de nosso irmão.
Precisamos nos arrepender dos pecados de traição que cometemos. No entanto, não da forma como Judas fez. Arrepender-se significa
mudar de atitude e, acima de tudo, confiar no sangue inocente que
Jesus derramou na cruz pelos nossos pecados. A fé em Jesus também
cria em nós um novo ser, uma nova atitude, para que não traiamos o
nosso próximo, mas falemos bem dele e falemos com ele sobre seus
problemas. Que Deus nos ajude!
Oração
Senhor Jesus, derramaste teu sangue inocente pelos nossos pecados.
Ajuda-nos a não trairmos o nosso próximo, mas sim que possamos
falar bem dele e ajudá-lo, em particular, a corrigir os seus problemas. Amém.
Mandamentos
Coerência entre palavra e ação
Mateus 7.21-23
O
texto acima mostra que precisa haver coerência entre palavra e ação. Pode-se falar piedosamente, pregar a Palavra
de Deus e até expelir demônios e fazer milagres em nome
de Deus. Tudo isto de nada adianta se não fizermos a vontade do Pai
que está nos céus.
Esta realidade está acontecendo em nossos dias. Parece que
nunca se pregou tanto pelos meios de comunicação e nunca se viram
tantos milagres, expulsão de demônios e espetáculos públicos em
nome do Senhor. Muitos estão dizendo “Senhor, Senhor!”, mas estão
ensinando doutrina falsa. Colocam tudo na força da pessoa e fazem
crer que, se a pessoa não se libertar dos seus males e não progredir
materialmente, ela está com falta de fé. Deus é transformado num
provedor de libertações físicas e de progresso material e a igreja,
mediante o pagamento de ofertas generosas, passa a ser o lugar onde
se encontrará Deus mediante orações poderosas de pastores que gritam “Senhor, Senhor!” Pouco se fala de Jesus como o libertador dos
pecados e da fé como meio de receber o perdão.
Coerência entre palavra e ação! Isto vale para a nossa relação
com Deus e vale também para a relação com o nosso próximo. Assim
como é hipocrisia falar “Senhor, Senhor”, mas ensinar doutrina falsa,
também é hipocrisia fazer-se amigo de alguém, mas, traiçoeiramente,
não lhe dar apoio quando ele mais necessita. Filhos de Deus, cidadãos
do seu Reino, também cultivam uma verdadeira amizade, autêntica e
sem hipocrisia, são coerentes entre palavra e ação. Foi para isso que
Jesus realizou a obra da salvação, libertando-nos do pecado do falso
testemunho contra o nosso próximo.
Oração
Senhor Deus, que enviaste Jesus para nos capacitar a realizar a tua
vontade, concede-nos que sempre realizemos a tua vontade, firmados
na fé em Jesus, a fim de sermos recebidos por ti no Reino dos céus.
Em nome de Jesus. Amém.
Mandamentos
57
Puxaram o tapete de Esaú?
Gênesis 25.27-34
I
58
saque e Rebeca tiveram dois filhos: Esaú e Jacó. Esaú era o
primogênito. Isto significava que ele seria o futuro chefe da família
e receberia porção dobrada da herança. Jacó, porém por determinação de Deus, deveria dominar sobre seu irmão. Quando cresceram,
o caçador Esaú trocou levianamente o seu direito de primogenitura
por um prato de lentilhas, preparado pelo irmão.
Astuciosamente, a mãe prepara uma cilada para enganar o
velho pai que, enganado pela esposa, transmite a sua bênção ao
filho mais novo.
Puxaram o tapete de Esaú? Não. Cumpriu-se a Palavra de Deus
dita a Rebeca quando ela estava grávida: “No seu ventre há duas nações; você dará à luz dois povos inimigos. Um será mais forte do que o
outro, e o mais velho será dominado pelo mais moço” (Gênesis 25.23).
Isaque tentou contrariar a vontade de Deus por causa da sua
simpatia pelo filho mais velho. A intenção astuciosa de Rebeca está
cheia de boas intenções. No entanto, a Bíblia não nos encoraja a
imitar os meios que ela empregou. Como conseqüência, ela nunca
mais veria o seu filho.
O Nono Mandamento ensina que não devemos cobiçar o que é
do próximo. Devemos, porém, respeitar seus bens e seus direitos. Neste
caso, o direito pertencia a Jacó. Por isso, mesmo por linhas tortas, foi
feito justiça. Deus sabe o que se passa no íntimo de cada um. Adquirir
bens ou ferir o direito das pessoas com astúcias, ganância ou de outra
forma desonesta, ofende a Deus e prejudica o ser humano, mesmo que
aos olhos do mundo se possa fazê-lo honrosamente sem que ninguém
o perceba. Também dos pecados da cobiça, o sangue de Jesus Cristo,
o Filho de Deus, nos purifica.
Oração
Senhor Deus, diante de quem todos os corações estão abertos, permite
que o teu Espírito Santo purifique os mais secretos lugares do meu
coração. Livra-me da cobiça e ajuda-me a respeitar o direito do meu
semelhante. Por Jesus Cristo, meu Salvador. Amém.
Mandamentos
Crime de apropriação indébita
Josué 7.1
I
srael havia vencido o poderoso exército de Jericó. Pouco depois,
perdeu vergonhosamente uma batalha para o frágil exército de
Ai. Qual foi o motivo da derrota? Deus havia ordenado que, ao
vencer Jericó, ninguém guardasse nada dos despojos. Porém, um
homem chamado Acã, tentado pela cobiça, apropriou-se de algumas
coisas. Por isso, foi castigado com a morte e destruição de todos os
seus pertences.
Acã cometeu o crime de apropriação indébita. O mesmo delito
é praticado em larga escala ainda hoje. Há os ladrões de galinha e de
laranjas, os sonegadores de impostos, os trombadinhas, os assaltantes
a mão armada, e há os ladrões de colarinho branco que assaltam
o patrimônio público. Como o nosso Brasil querido seria melhor,
econômica e socialmente, se houvesse mais trabalho, menos roubo
e espoliação desde o seu descobrimento até agora! Todos os que
roubaram nosso ouro e riquezas no passado e procedem de maneira
fraudulenta hoje, são tentados pela cobiça de Acã. A cobiça gera o
pecado e o pecado gera a miséria, a fome e a morte.
O pai da cobiça é o Diabo. Ele nos seduz a roubar, matar e destruir.
Cristo, porém, venceu o Diabo e conquistou, dessa forma, vida completa aqui e na eternidade. Por isso, a partir da vida que vem de Jesus,
podemos atuar para construir uma nação mais justa e mais fraterna.
É o que a maioria do povo brasileiro deseja e espera ansiosamente.
Esta esperança poderá tornar-se realidade, se cada cidadão, salvo por
Cristo, conscientizar-se de que esta mudança de mentalidade começa
consigo mesmo e andar, de fato, em novidade de vida.
Oração
Senhor Deus, que conheces os mais secretos desejos do meu coração, ajuda-me a evitar todos os maus pensamentos, desejos e ações
que procedem da inveja e da cobiça. Por Jesus Cristo, meu Salvador.
Amém.
Mandamentos
59
Cobiça, adultério e morte
2 Samuel 11
D
60
avi estava vivendo um dia ocioso. Após o sono da tarde avistou, do seu terraço, uma mulher muito bonita no prédio vizinho, tomando banho. Pediu que a trouxessem ao palácio e teve
relações com ela. Era Bate-Seba, mulher de Urias, oficial do exército.
Ela ficou grávida. Davi viu sua situação complicar-se e prosseguiu
no pecado. Chamou Urias de volta para casa, numa tentativa de
emendar a situação. Tentou fazer que o marido legítimo assumisse a
paternidade, bajulou-o, dando-lhe um presente. Nada disso, porém,
conseguiu corrigir o mal cometido. Finalmente, Davi mandou Urias de
volta ao campo de batalha e, num gesto de crueldade brutal, enviou
uma mensagem ao comandante militar para que este colocasse o
oficial traído no pelotão de frente, expondo-o, assim, à morte. Urias
morreu na batalha. Davi pouco se importou com a sua morte. Após
o período de luto, trouxe Bate-Seba ao palácio e ela tornou-se sua
esposa. O texto bíblico conclui dizendo que o Deus Eterno não gostou
do que Davi tinha feito.
Embora Davi, mais tarde, tenha se arrependido do seu pecado
e recebido o perdão de Deus, ele sofreu as conseqüências das suas
más ações.
A cobiça, assunto do Nono Mandamento, pode ter conseqüências
desastrosas, levar ao adultério, à imoralidade e à morte.
Todos nós, à semelhança de Davi, a todo o momento, estamos
expostos ao pecado da cobiça e sujeitos aos mesmos fracassos. O
estudo da Palavra de Deus, a oração, o trabalho, a prática sadia de
esportes, o evitar más companhias e lugares onde o Diabo domina,
são armas que podem nos prevenir na luta contra a cobiça e suas
conseqüências.
Oração
Senhor, ajuda-me a orar todos os dias, assim como o rei Davi, contrito
e arrependido, orou no Salmo 51: “Ó Deus, cria em mim um coração
puro e dá-me um espírito novo e firme”. Amém.
Mandamentos
Os maus desejos
Tiago 1.14-15
O
pecado não vem do nada. Ele nasce no íntimo, cresce, envolve o pensamento e a vontade, amadurece até tornar-se
fato consumado. “Então esses desejos fazem nascer o pecado,
e o pecado, quando já está maduro, produz a morte” (v. 15). Os maus
desejos são a cobiça, a vontade desmedida de ter qualquer coisa a
qualquer preço e de qualquer jeito. O resultado desse processo não
é a felicidade nem uma vida mais realizada. Muitas vezes, isto até
destrói a vida própria e prejudica a convivência com outras pessoas.
Sobre a vontade de ganhar sempre e a qualquer preço não se pode
construir o futuro de um povo.
Todos nós estamos envolvidos neste processo. Ninguém está
imune. Também nós somos culpados do seu resultado destruidor.
Cada vez que acusamos o mundo de hoje por causa dos seus maus
procedimentos, estamos acusando a nós mesmos. Para reverter essa
situação, não basta combater os sintomas, como se combate uma
febre. É preciso ir à origem. A situação só é revertida quando Deus
renova o nosso coração e o nosso espírito e quando, então, eles se
submetem à sua vontade. Isto acontece quando Cristo habita em nós.
“Jesus pode ajudar os que são tentados, pois ele mesmo foi tentado
e sofreu” (Hebreus 2.18).
A partir dali, o cristão também resiste à tentação de divulgar a
filosofia de que o conteúdo da vida e da sociedade é possuir sempre
mais, aproveitar a vida de qualquer jeito e a qualquer custo. É a partir de Cristo que começa uma nova sociedade. A nossa convivência
social, na família, na comunidade e na vida pública, só tem futuro
se existem pessoas íntegras, que submetem seus próprios desejos à
vontade de Deus.
Oração
Senhor Jesus, ajuda-me a vencer a tentação de querer o que não
é bom e contra a tua vontade. Faze-me promover o bem-estar do
meu semelhante. Concede-me força para poder submeter-me à tua
vontade. Amém.
Mandamentos
61
Negócio fraudulento
1 Reis 21.1-16
O
62
rei Acabe, da Samaria, apodera-se da plantação de uvas do
seu vizinho, Nabote. O negócio começa normalmente, com
uma proposta de compra ou troca. Nabote, porém, de maneia nenhuma quer vender sua terra, pois trata-se de uma propriedade
sagrada, dada a seu clã por Deus, que deve ser passada de uma geração à outra. Acabe sabia disso, mas não quis aceitá-lo. Aqui, a rainha
Jezabel, que era estrangeira e como tal não seguia os preceitos da
religião e das leis de Israel, entra no jogo: “Deixa comigo. Tu não és
rei e não tens poder? Vamos dar um jeito nisso!” Assim, ela armou
uma trama contra Nabote, com falsas acusações e difamações e, finalmente, conseguiu sua condenação à morte. O caminho estava livre
para que o rei se apoderasse da propriedade cobiçada. O próprio rei
e os líderes do povo entraram neste jogo sujo. Tudo parecia legal. A
aquisição estava se processando “sob aparência de direito” (Lutero),
uma afronta ao Nono Mandamento.
Deus, no entanto, que ama a justiça e é o defensor do pequeno
e do violentado, não concorda com este tipo de negócio. Por isso,
chama o profeta Elias e o envia ao palácio para desvendar a falcatrua
e denunciar o crime. O profeta, sem rodeios e sem medo, desmascara
toda a maldade.
Negócios fraudulentos, conluios vergonhosos, quebra da justiça,
espoliação dos mais fracos, acontecem também entre nós. Também
hoje se infringe o Nono Mandamento. Quem não se lembra da história
de Chico Mendes! Mas, também hoje, Deus chama profetas que não
calam nem se conformam. A própria Igreja e a comunidade cristã
têm a missão de denunciar, em nome de Deus, quando a sua vontade
é desrespeitada.
Oração
Senhor, desperta, também em nosso tempo, profetas e profetisas que
denunciam injustiças. Ajuda-nos a ouvirmos tais denúncias e a nos
arrependermos quando compactuamos com o mal. Dá-nos coragem
para levantarmos a nossa voz contra a injustiça. Amém.
Mandamentos
Confiar e fazer
Salmo 37.3-4
O
salmista recomenda as duas coisas: “Confie no Deus Eterno
e faça o bem” (v. 3). A primeira parte, confiar e entregar
tudo nas mãos de Deus, poderia sugerir que eu não preciso
tomar atitudes, que devo deixar as coisas acontecerem. Mas, a segunda
parte lembra que a confiança deve vir acompanhada da ação adequada. O salmista está preocupado com a vantagem que os maus levam
sobre os bons e honestos, e quer fortalecer os que estão em desvantagem. Poderíamos acrescentar, por nossa conta, a recomendação:
“Não se irrite por causa dos que vencem na vida, com seus planos
de maldade, suas tramóias, seus negócios fraudulentos”. Poderíamos
lembrar o jogo político, que não dá vez ao pequeno e mais fraco, a
corrupção que desvia os recursos destinados a obras de melhoria, o
desenvolvimento que concentra mais a riqueza nas mãos de poucos
e mantém a maioria na condição de subdesenvolvimento.
Que um simples cristão e uma pequena comunidade cristã podem fazer nestas situações? Irritar-se, resignar-se, entrar no jogo do
mundo?
É nesta situação que o salmista nos chama a confiar em Deus,
eterno, todo-poderoso. Ele é o Deus que ama a justiça. Ele é o Pai
bondoso que não abandonará os que nele confiam que, no caminho
da cruz e na ressurreição do seu Filho Jesus Cristo, na Páscoa, venceu
todo o mal.
Cristãos, que crêem no Cristo que ressuscitou, são especialmente
co-responsáveis pelo caminho da sociedade. A confiança em Jesus
Cristo nos quer estimular de modo muito especial a contribuir para
que a Lei de Deus seja observada. Nisto consistem a verdadeira felicidade e satisfação, tanto na abundância, como na privação.
Oração
Bondoso Deus e Pai, agradeço-te por toda a tua bondade e pela
palavra da vida. Ajuda-me a confiar em ti em qualquer situação e a
não duvidar de que me darás tudo o que preciso para viver e fazer
o bem. Amém.
Mandamentos
63
Querido irmão
Filemom
A
64
mão-de-obra escrava era a base da economia romana. Os
escravos constituíam uma mercadoria como qualquer outra.
Segundo o Direito Romano, “o equipamento da fazenda é...,
escavo, gado e arados. O escravo pode ser comprado, vendido ou
alugado... alimentado, vestido e punido, ao gosto do seu dono. Tudo
o que ganha pertence legalmente ao dono” (História das Sociedades,
p. 238).
Filemom era proprietário, Onésimo, seu escravo, que fugira
para Roma. Ali, entrou em contato com o apóstolo Paulo, que honrava todos os laços humanos, inclusive os de escravo e seu dono (1
Timóteo 6.1). Paulo, por isso, aconselha Onésimo a voltar ao seu
antigo dono e a continuar cumprindo com o seu dever de escravo.
Ao dono, mandou uma carta de recomendação para que recebesse
Onésimo “não mais como escravo, porém, como um querido irmão
em Cristo” (v. 16).
Desta carta de Paulo a Filemom, destacamos uma lição fundamental para a atualidade, quando as relações entre as pessoas são
tensas e estressantes: o que faz a diferença é o lugar que Jesus Cristo
ocupa em minha vida. Quando Jesus reside em meu coração, isto
transparece em minhas relações e atitudes. Paulo não encabeça nenhum movimento de revolta e libertação dos subordinados. Defende,
porém, a ordem.
Onésimo e Filemom, ambos com Cristo no coração, transformam
suas relações. Diante da lei romana, a situação “profissional” não
mudou. Porém, o amor divino afetou completamente suas relações,
considerando-se, a partir de agora, como irmãos. Onde o amor divino constrói pontes, ali as relações passam a ser como de queridos
irmãos e durarão para sempre.
Oração
Querido Pai, obrigado por me receberes como filho, pela fé em Cristo,
apesar de ter sido um escravo fugitivo. Peço que minha união com
Cristo possa ser testemunha na relação com os meus semelhantes.
Amém.
Mandamentos
Santidade acima da lei!
1 Pedro 1.13-17
O
bter alguma cousa de graça é quase impossível. Artigos de
valor, geralmente têm um preço afixado neles, e o preço
reflete o valor do artigo.
O que dizer sobre a salvação que Deus oferece no Evangelho?
Ela não tem preço, pois é de graça. O apóstolo Paulo propõe: Deus
nos declara “sem culpa” das ofensas que lhe causamos, se confiarmos
em Jesus Cristo, aquele que em sua bondade tira os nossos pecados
gratuitamente (cf. Romanos 3.21-26). A salvação é, portanto, um
presente de Deus para nós pecadores.
Salvação de graça significa salvação barata? De jeito nenhum!
Pois, embora a tenhamos recebido de graça, Deus pagou um preço
muito alto por ela. O resgate que ele pagou não foi simplesmente ouro
ou prata, mas o precioso sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus “sem
defeito e sem mancha” (cf. 1 Pedro 1.18 e 19). Em verdade, nossa salvação custou um preço incomparável: a vida do Filho de Deus! Nada
menos do que ela poderia salvar-nos do pecado e da condenação
eterna ao inferno. Foi somente o amor que moveu Deus a dar o seu
Filho, e foi somente o amor que moveu Jesus a dar a sua vida por nós.
Como pode alguém considerar a salvação produto de pechincha,
quando ela custou tanto para Deus? Em conseqüência da salvação
eterna que Deus nos deu de graça, por causa do seu grande amor,
a nossa conduta diária não pode se restringir a cumprir leis que são
impostas pela sociedade ou pelos códigos de leis. O desafio é muito
maior: que sejamos santos, acima de tudo, porque Deus, que nos
declarou inocentes gratuitamente, também é santo. Por isso, nossa
resposta deveria ser uma vida dedicada ao serviço de Deus que nos
ama e doa-se a nós.
Oração
Querido Pai, obrigado porque tu me amas. Peço perdão porque faço
pouco caso do teu infinito amor e sacrifício por mim. E, humildemente, suplico-te: aumenta a minha fé e o meu amor para contigo e
para com o meu semelhante. Em nome de Jesus. Amém.
Mandamentos
65
Os mandamentos abrem os olhos para o pecado
Romanos 7.7
D
66
eus quer que sejamos santos. Mas todos invejamos quem tem
mais do que nós. Empregamos todos os artifícios para dizer
que o nosso semelhante obteve os seus bens com astúcia e
esperteza. Esta conduta é inerente ao ser humano.
“Não cobiçarás” não se dirige apenas a pessoas declaradamente
corruptas, mas também àquelas que desejam ser elogiadas como
honestas porque supostamente cumpriram o Sétimo Mandamento.
É dirigido principalmente contra a inveja e a miserável cobiça. No
entanto, o Nono e o Décimo Mandamentos vão mais longe: derrubam
a idéia de que Deus ajuda apenas aqueles que são bons.
As mais nobres regras de conduta estão contidas nos mandamentos. Além deles, nenhuma obra pode ser boa ou agradável a Deus.
Neles, Deus estabelece os deveres para com ele próprio e de uma
pessoa para com a outra. Quando olhamos para os mandamentos
e comparamos com eles a nossa conduta, é que nos damos conta
de quanto estamos longe de cumprir a vontade de Deus. Assim, os
mandamentos servem para abrir os olhos para a nossa verdadeira
situação. Eles revelam a nossa condição de pecadores.
Não há, além dos mandamentos, código de conduta e leis de
ordem social, elaborados por homens, que possam ser comparadas
ou que venham a superar a eficiência dos Dez Mandamentos. A felicidade da vida em sociedade, começando pelo indivíduo, depende
da prática dos mandamentos.
Deus exige que todas as ações dos seus filhos procedam de um
coração que teme e ama a Deus. Por isso é importante que tenhamos
sempre diante de nós os mandamentos de Deus, para que a nossa
vida sempre de novo possa ser comparada e confrontada com a sua
vontade.
Oração
Querido Pai, ajuda-me para que os teus mandamentos tornem-se um
hábito diário em todas as circunstâncias. Que eu os estime e valorize
acima de todos os demais ensinamentos, como o maior tesouro que
tu nos tens concedido. Em nome de Jesus. Amém.
Mandamentos
Os Dez Mandamentos, para quê?
Tiago 4.12
T
alvez seja mais fácil dizer para que os mandamentos não ser
vem. Certamente, eles não estão aí para que, cumprindo-os
alcancemos a salvação eterna. Pois é nossa convicção de que
somos salvos exclusivamente pela graça de Deus, mediante a nossa
fé. Para que servem então?
Eles servem, antes de tudo, para nos mostrar que pecamos e
erramos. São o espelho que revela a nossa verdadeira cara: a cara
de uma pessoa fraca, pecadora, incapaz de viver de acordo com a
vontade de Deus. A Lei nos mostra, em outras palavras, que por nossa
própria vontade e força não temos condições de atingir a salvação e
que necessitamos da misericórdia de Deus.
Nada mais errado, portanto, do que julgar-se superior e “santo” por
pensar ter cumprido os mandamentos, e usar os mesmos para julgar e
depreciar outras pessoas. Esta postura farisaica é condenada por Jesus.
Quem leva a sério os mandamentos de Deus, sabe que, diante dele, somos
todos igualmente pecadores e carecemos da sua graça.
Além disso, os mandamentos devem ser um “modelo para o que
devemos fazer” ou um “canal” por onde flui “tudo quanto quer ser obra
boa” (Lutero). Eles exemplificam quando e como podemos amar e servir
a Deus e ao próximo. Nos ensinam que o amor cristão se concretiza na
preservação da vida, integridade, liberdade e dignidade das pessoas.
Sem os mandamentos, corremos o risco de pensar que o amor é apenas
um belo sentimento e de interpretar a “salvação por graça e fé” como
desculpa para nossa falta de comprometimento com o bem-estar de
nosso próximo. Assim, os mandamentos nos mostram quem realmente
somos e abrem os nossos olhos para o próximo.
Oração
Pedimos-te, Senhor da vida, que nos livres da tentação da arrogância
e da presunção de pensarmos que as outras pessoas são menos cumpridoras da tua vontade do que nós. Ilumina mentes e corações para
que vejamos como podemos servir ao próximo. Amém.
Mandamentos
67
Quem consegue cumprir os mandamentos?
Deuteronômio 6.8-9
“
N
68
ão vê essa gente infeliz e obcecada que homem nenhum pode
chegar a cumprir, de maneira devida, um só que seja dos Dez
Mandamentos?” (Lutero).
Esta convicção do reformador de que ninguém é capaz de cumprir os mandamentos talvez se torne mais clara se considerarmos a
radicalidade com que Jesus interpretou os preceitos de Deus. Para
Jesus, quem chama o irmão de idiota, já comete assassinato e quem
olha uma mulher com desejo de possuí-la, já comete adultério (Mateus
5). Dessa forma, de fato, ninguém é capaz de cumprir plenamente as
ordens e as proibições dos Dez Mandamentos.
Jesus e Lutero pressupõem que o crime ou o erro nascem de
uma semente que está no coração das pessoas. O palavrão, o tapa
na cara, a facada, o tiro fatal nascem do mesmo embrião: o ódio e
a raiva. Talvez possamos, como humanos, evitar o extremo de tirar
a vida de alguém, mas é praticamente impossível evitar, por nossos
próprios meios, o ódio ou a raiva.
Por outro lado, um coração em paz e reconciliado com Deus e
que se deixa “dominar” pelo amor de Deus, buscará, em todas as ocasiões, traduzir este amor em obras agradáveis a Deus e ao próximo. A
pessoa é, portanto, como uma árvore boa que produz, ao natural, bons
frutos. Estes frutos não são criação sua, mas é Deus que os possibilita.
Mesmo sabendo que, no fundo, é Deus que possibilita cumprir
os mandamentos e viver de acordo com o espírito da Lei, o texto de
Deuteronômio nos desafia a vermos, em todas as partes, oportunidades de concretizarmos o amor e de nos colocarmos a serviço do
próximo. Exclusivamente o coração reconciliado com Deus é capaz
de produzir obras cristãs neste mundo!
Oração
Faze, Senhor, com que não nos resignemos diante de uma sociedade
repleta de injustiças, desamor e pecado. Anima-nos a ver, em cada
lugar e momento, uma oportunidade de expressar o amor. Para a
tua glória. Amém.
Mandamentos
Vale a pena observar os mandamentos?
Gênesis 3.23-24
E
stamos vivendo uma época em que a vida de grande parte das
pessoas é pautada por valores como riqueza, poder, prazer e
sucesso pessoal. De fato, pessoas que têm sucesso na vida,
geralmente são bem aceitas e até admiradas. No entanto, a maioria
das pessoas não alcança fama, riqueza e influência por cumprir os
mandamentos de Deus. Muito pelo contrário! Subiu na vida por ter
sabido tirar vantagens pessoais às custas de outros, portanto, flagrantemente desobedecendo às normas divinas.
A experiência de que os inescrupulosos geralmente saem vencedores leva muitas pessoas a afirmarem que não vale a pena observar
os mandamentos de Deus, pois não trazem benefício para aqueles
que os cumprem. Pelo contrário, os mandamentos podem até trazer
prejuízo aos que os observam. A ética que se orienta na máxima da
vantagem pessoal e do proveito próprio faz com que muita gente até
despreze os preceitos de Deus, a ponto de considerá-los regras para
ingênuos e perdedores.
De fato, os mandamentos não são meios para obter vantagens
próprias. Eles são exemplos de como podemos amar e servir a Deus e
ao nosso próximo. Exigem, portanto, que tenhamos uma mentalidade
diferente em nossa vida: que eu não mais coloque a mim mesmo no
centro do meu viver, mas o irmão e a irmã necessitados. Esta nova
mentalidade busca o bem-estar das outras pessoas e da coletividade.
E o bem-estar coletivo significará realização, bem-estar e felicidade
também para mim. Por outro lado, quem, por interesse pessoal, atentar contra a vida da coletividade, fatalmente também prejudicará a si
mesmo. Por tudo isso, vale a pena observar os mandamentos!
Oração
Dá-nos sabedoria, Senhor, para que não caiamos na tentação de
pensar que todos os que têm sucesso são abençoados por ti. Dá-nos
coragem e força para que possamos nadar contra a correnteza e
permanecer fiéis à tua aliança. Amém.
Mandamentos
69
Conseqüências espirituais na família
Êxodo 20.5-6
D
70
urante um encontro, muitos reclamavam que tinham nascido em berço luterano, que por isso tinham pouco entusiasmo e muitas tradições, que não tinham uma data nem um
horário de conversão a partir do qual se sentiram filhos de Deus.
Imediatamente, um jovem protestou em alta voz que isso não era
defeito, mas um grande privilégio.
Este jovem aproveitou o momento para agradecer a Deus por
ter nascido numa família cristã, ter sido ensinado no caminho da
salvação, que agora era de grande valor. Seus pais se tornaram, assim,
num porto seguro para os momentos difíceis.
Amar e obedecer aos preceitos de Deus tem conseqüências, não
só para a pessoa que faz isso. Seus filhos, netos, até os tataranetos,
sofrerão a influência da postura espiritual dos pais. Onde não se obedecem aos mandamentos, o lar fica cada vez mais afastado do amor
de Deus e deixa de ser a primeira escola onde se aprende a respeito
da salvação em Jesus Cristo.
Os pais se preocupam com o que é importante para os seus filhos
e não deixam faltar comida, remédio, lazer e tantas outras coisas. A
relação que os pais tem com Deus também é importante e não deve
ser esquecida, pois trará ou prejuízos espirituais ou inumeráveis
bênçãos para a família.
Deus, porém, não consegue esconder seu amor. Até mesmo
quando fica irado com a infidelidade humana, Deus é bondoso. Os
números não mentem. Há influência negativa até a quarta geração
para os que odeiam a Deus, mas bênção por milhares de gerações
para aqueles que amam e obedecem aos mandamentos.
“Se te omites aqui (no cumprir os mandamentos), tens um juiz
irado, e, em caso contrário, um pai gracioso” (Lutero).
Oração
Pai celestial, graças te dou porque me fizeste nascer numa família
cristã, onde me contaram sobre o teu amor e a salvação em Jesus.
Ajuda para que mais famílias tenham tua bênção e possam conduzir
seus filhos ao céu. Amém.
Mandamentos
A Lei e os rebocadores
Gálatas 3.23-25
M
oro perto de um porto muito movimentado. Vejo os navios
terem dificuldades para manobrar dentro do espaço limitado do porto. Necessitam dos pequenos rebocadores que os
auxiliam, puxam e empurram até o lugar destinado para atracar.
Quando estão com a carga completa, mais uma vez os rebocadores entram em ação, levando os navios ao alto mar para que sigam
sua viagem. Depois de soltar as amarras, os navios saem livres para
seu destino.
O tempo do Antigo Testamento, onde se esperava a vinda do
Messias, era como o navio. Necessitava-se do auxílio da Lei que
funcionava como os rebocadores: “orientava, puxava e empurrava”
as pessoas em direção a Deus. A esperança nas promessas de Deus
estimulava a obedecer os Dez Mandamentos. Esse era o tempo da
Lei, onde os mandamentos levavam a Deus como os aios em um
casamento vão à frente dos noivos.
Jesus inaugurou o tempo da fé. Agora vivemos uma nova dimensão de vida e não somos mais prisioneiros da Lei. Somos como
os navios em alto mar, sem restrições para manobrar e atracar, mas
“com os olhos fixos em Jesus, pois é dele que depende nossa fé”
(Hebreus 12.2).
Isso significa que agora os mandamentos devem ser aposentados?
Eles não têm mais serventia? A Lei, na perspectiva da Boa Notícia
que Jesus se sacrificou em nosso lugar, passa a ter a função de freio
(segurando nossos instintos agressivos), de espelho (mostrando quem
realmente somos) e de norma (sinalizando como devemos viver eticamente). “Razão por que, sem dúvida, devemos ter os mandamentos
por preciosos e valorizá-los acima das demais doutrinas, como o
maior dos tesouros que Deus nos deu” (Lutero).
Oração
Querido Jesus, trouxeste perdão, vida, paz e salvação. Ajuda-me a
encarar a vida na perspectiva de filho de Deus e, assim, viver com
esperança, liberdade e amor. Que o teu perdão me motive a cumprir
os mandamentos. Amém.
Mandamentos
71
Mandamentos não salvam
Romanos 3.22-26
H
72
ouve uma época em que os Dez Mandamentos foram deixados de lado. Suas exigências eram consideradas muito simples e fáceis de cumprir. As pessoas que entendiam ser necessário fazer obras para conquistar acesso ao céu, não se contentavam
em apenas não mentir, não cobiçar, honrar pai e mãe e santificar o
dia do descanso. Achavam que era necessário muito mais e assim
inventavam grandes e pesadas obras: longas peregrinações, ficar ajoelhado todo o dia na igreja e muitas outras coisas “através de grande
pompa, aparato e magnificentes edificações” (Lutero).
Felizmente, a Bíblia foi aberta e a Palavra de Deus mostrou como
alguém entra nos céus. “Deus, pela sua graça e sem exigir nada, os
aceita por meio de Cristo Jesus, que os salva” (v. 24).
O ser humano tem realizado grandes conquistas: descobriu o
mundo e está buscando o infinito; altas tecnologias têm facilitado a
vida, a comunicação, o conforto, a saúde, o transporte, a segurança.
Um desafio, porém, continua aberto por mais que se insista no contrário: “Pois todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa
de Deus” (v. 23). Isto significa que não conseguimos cumprir 100% os
mandamentos de Deus. Afirmava Lutero: “Não vê essa gente infeliz e
obcecada, que homem nenhum pode chegar a cumprir, da maneira
devida, um só que seja dos Dez Mandamentos”. Necessitamos, pois, de
socorro e auxílio porque não há meios humanos que nos possibilitem
criar uma boa relação com Deus.
Por seu amor, “Deus ofereceu Cristo como sacrifício para que,
pela sua morte na cruz, Cristo se tornasse o meio de as pessoas receberem o perdão dos pecados, pela fé nele” (v. 25).
Oração
Ao Pai o Filho obedeceu, no mundo aqui nascendo; / ao diabo, em
luta atroz, venceu, perdão e paz trazendo. / Ao Santo Espírito enviou,
que em mim, por graça, despertou a fé que estou vivendo. Amém.
(HL 376,6)
Mandamentos
Credo, o que é isso?
Deuteronômio 26.5-10
S
e alguém lhe perguntar qual é o seu time de futebol, você dirá
que torce por este ou aquele time. Quando você diz claramen
te o que você crê, você está dando um testemunho da sua fé. O
Credo Apostólico é uma síntese da nossa fé cristã. Cremos em Deus,
em Jesus Cristo e no Espírito Santo. São três formas diferentes do
mesmo Deus se manifestar.
Em cada criança e cada ser vivo que nasce, em cada nova obra
que surge, em cada transformação que acontece, vemos o poder e o
amor de Deus Pai, Criador; quando tomamos conhecimento que Deus
enviou seu Filho Jesus Cristo para resgatar a humanidade, trazendo-a
de volta para o Pai, vemos o poder e o amor de Deus pela sua criação; quando sentimos que Deus está agindo na nossa vida e na vida
da Igreja, quando, apesar da nossa rebeldia, começamos a entender
que somos salvos, é o mesmo Deus que age, nos transforma e nos
santifica, através do seu Santo Espírito.
“Aqui tens toda a essência, a vontade e a obra de Deus expostas
da maneira mais fina, em palavras bem breves e, contudo, ricas.
(...) em todos os três artigos, ele mesmo revelou e patenteou o mais
profundo abismo de seu coração paterno e de seu amor totalmente
inexprimível... jamais poderíamos chegar a conhecer o favor e a graça
do Pai a não ser por intermédio de Cristo SENHOR, que é o espelho
do coração paterno... Mas também de Cristo nada poderíamos saber,
se não tivesse sido revelado pelo Espírito Santo” (Lutero).
Cada vez que você confessa o Credo Apostólico, a sua fé se renova e se atualiza e você está dando ao mundo um testemunho da
presença de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
Oração
Senhor Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, obrigado por te manifestares
a nós de forma tão diversa. Dá-nos em especial o teu Espírito Santo
para que tenhamos coragem para testemunhar, de modo claro e
inconfundível, a nossa fé em ti. Amém.
Credo Apostólico
73
Eu creio. Você crê?
Hebreus 11.1
O
74
verbo crer pode ter diversos significados. Posso dizer, por
exemplo: eu creio que meu time vai ganhar, que vou arranjar emprego, que vou passar de ano. Neste caso, estou manifestando um desejo que pode se realizar ou não. Estou, em última
análise, manifestando uma dúvida. Eu e você cremos em muitas coisas.
Um segundo uso de crer é o sentido bíblico. Neste caso, “crer” é
confiar, acreditar. Para usar uma expressão que você também conhece
e que está no texto bíblico de hoje, é ter fé.
Hebreus 11.1 explica: “A fé é a certeza de que vamos receber as
coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não vemos”.
Parte de nossa vida é vivida nessa certeza e convicção.
Se a fé é a certeza de coisas que não vemos, então ela é uma
forma de conhecimento. Por isso, você sabe certas coisas sem tê-las
visto acontecerem. É por causa da fé, por exemplo, que uma pessoa
entende que o universo foi formado por Deus. Ela não viu Deus criando, mas está convicta de que ele criou. Neste sentido, “eu creio” não
contém mais sombra de dúvida.
O creio é, também, uma confissão de alguma coisa. Se você diz
“creio em Deus Pai, Todo-poderoso”, você está fazendo uma confissão
de fé, para você mesmo e para outras pessoas. Você fala do que sente
no coração. Neste caso, o objetivo da sua fé é a base sólida sobre a
qual você vai edificar a sua vida.
Quem não crê, é uma pessoa desanimada, sem rumo e sem base.
É ruim viver assim. Quem não crê em Jesus como seu Salvador, é uma
pessoa sem salvação. É mortal viver assim.
Você crê. Você crê? Que você sempre possa abrir o seu coração
para a fé em Jesus Cristo e confessar a sua confiança, dizendo: eu creio!
Oração
Amado Deus, eu quero e preciso crer. Ajuda-me em minha falta de
fé. Por teu Filho, Jesus Cristo. Amém.
Credo Apostólico
Deus disse...
Gênesis 1.1
O
mundo não é produto do acaso, sem origem e sem destino.
Ele foi criado por Deus e nós somos suas criaturas. Isto dá
sentido ao mundo e à nossa vida, o que nos ilumina e enche
de alegria. Mas como poderíamos saber disso, consolar-nos com isso,
agradecer por isso, se não tivéssemos conhecimento desse fato? Graças à Palavra de Deus, sabemos que somos suas criaturas e vivemos
num mundo criado por ele.
A palavra também foi o meio que Deus utilizou na sua obra
criadora. Nela, o Criador revela o seu poder de criar. “Deus disse”...
e o universo se formou. A Palavra pronunciada por Deus tem poder
criador, ela é criadora. Nela, já estão contidos as intenções e os objetivos de Deus. Por ela, Deus está ligado à sua obra.
Que importância tem isso? Esta mesma palavra, agora, é nossa
força quando confiamos nela. Sim, porque o ato criador de Deus
prossegue nas transformações do universo e na sua conservação. E,
no que toca à nossa vida, estamos com Deus, numa dimensão muito
profunda. Pela palavra, Deus nos torna participantes da sua obra,
convida-nos a dar prosseguimento ao seu projeto e nos confere o
privilégio de imitá-lo.
Não podemos imaginar a nossa existência sem a palavra. Bem
ou mal, através dela, estabelecemos contatos, revelamos sentimentos,
criamos e cultivamos os relacionamentos em nossa vida. Dependemos
dela. “Destino da palavra é a construção de um mundo mais feliz e
mais irmão”.
Ler e conhecer a Palavra de Deus, por isso, é mais do que um
ato de respeito ou um exercício de piedade. Ler e conhecer a Palavra
de Deus faz a diferença entre uma vida vivida ao acaso e outra, com
rumo definido.
Oração
Senhor Deus, Criador do céu e da terra, não merecemos estar ao teu
lado. Mas, pelo teu Filho Jesus, tua Palavra viva, revelaste o amor
e, nele, a nossa origem e destino. Conserva-nos fiéis à tua Palavra.
Amém.
Credo Apostólico
75
O que você tem que não recebeu de Deus?
Colossenses 1.16
D
“
76
eus criou tudo, no céu e na terra, o que se vê e o que não se
vê, inclusive todos os poderes espirituais, as forças, os governos e as autoridades”. Esta é a confissão de fé da referência
bíblica acima.
O que significa confessar que Deus criou tudo o que existe no
céu e na terra?
Significa, em primeiro lugar, reconhecer que a Deus “pertence
o mundo e tudo o que nele existe, a terra e todos os que nela vivem”
(Salmo 24.1).
Significa saber que nada do que eu tenho é propriamente meu.
Reconheço que eu mesmo fui criado por Deus e pertenço a ele.
Reconheço que eu não crio a mim mesmo nem sou fruto de
algum acaso.
Confessar que Deus é o Criador de tudo, é reconhecer que devo a
ele tudo o que tenho e tudo o que sou. Se tenho condições de trabalhar,
se tenho o que comer, se tenho o que vestir, devo isso a ELE.
Ao criar tudo o que existe, Deus quis compartilhar a sua vida.
Ele não foi ávido nem ganancioso, mas generoso e mão aberta. Distribuiu fartamente o seu dom de vida e criou toda essa riqueza para
vivermos bem.
Por isso, confessar que Deus criou tudo o que existe, inclusive a
nós mesmos, significa condenar a avidez e a ganância.
Diante da generosidade de Deus, como poderíamos justificar
nossa avareza, nossa avidez e nossa ganância?
Se tudo é de Deus, como podemos achar que somos donos do
mundo e fazer de conta que não recebemos nada dele? (1 Coríntios 4.7)
A questão chave é o que faço com o que tenho e sou: fico com
tudo para mim ou compartilho a minha vida com outros? Sou generoso ou mão fechada?
“Tenham o mesmo modo de agir que Cristo Jesus tinha” (Filipenses 2.5).
Oração
Senhor, ficamos satisfeitos com a comida que nos dás com fartura;
tu nos deixas beber do rio da tua bondade. Tu és a fonte da vida e, na
tua luz, temos a luz da vida. Amém. (Salmo 36.8-9)
Credo Apostólico
Cada novo ser é criação única de Deus
Gênesis 2.7
A
criação vem da generosidade de Deus. Ele compartilha a sua
vida através do sopro do seu Espírito. Do caos inicial ele faz
brotar a vida como um todo. Da mesma maneira, ele transforma um monte de barro (ou pó) num ser vivo.
“Então, do pó da terra, o Deus Eterno formou o ser humano.
Ele soprou no seu nariz uma respiração de vida, e assim esse ser se
tornou um ser vivo” (Gênesis 2.7).
Note bem: ele se tornou um “ser vivo”, não uma “alma vivente”.
O ser humano tornou-se um ser concreto, de carne e osso, único e
insubstituível. Seres humanos não são produção em série.
Cada ser humano recebe de Deus o sopro da vida e torna-se um
ser vivo completo e único. “Tu criaste cada parte do meu corpo; tu me
formaste na barriga da minha mãe” (Salmo 139.13). Deus é o único
capaz de proporcionar esse sopro de vida.
Quando dizemos para uma pessoa: “Você é única!”, afirmamos
uma verdade profunda. Cada pessoa é uma novidade de Deus, resultado de sua tremenda criatividade.
Criticamos, com isso, a idéia da reencarnação. Ela é inconciliável com o conceito bíblico de Deus criador de tudo e desmerece
o potencial criativo de Deus, pois parece que as pessoas seriam as
mesmas que já foram um dia, em gerações anteriores. Ela questiona a
minha própria identidade, pois eu não seria mais uma pessoa única,
insubstituível.
Fiquemos com a afirmação bíblica da criação do ser humano como
um ser completo e único. Se isso vale para o passado, vale também
para o futuro com a ressurreição, conforme propõe o apóstolo Paulo
em 2 Coríntios 5.17: “Quando alguém está unido com Cristo, é uma
nova pessoa; acabou-se o que é velho, e o que é novo já veio”.
Oração
Senhor, tudo o que fazes é maravilhoso e eu estou convicto disso. Tu
viste quando os meus ossos estavam sendo feitos, quando eu estava
sendo formado na barriga da minha mãe. Muito obrigado pela minha
vida e a de todas as outras pessoas. Amém.
Credo Apostólico
77
Somos todos irmãos!
Malaquias 2.10
R
78
ecentemente publicou-se a prova científica que tira a base de
qualquer discriminação entre seres humanos:
“Pesquisa genética internacional mostra que não existem raças na espécie humana, derrubando qualquer base científica
para a discriminação” (Isto é 1520, 18/11/98, p. 129). As diferenças
entre os seres humanos seriam tão pequenas que não justificam a
classificação em raças. Conclusão: temos todos uma origem comum.
Não há, pois, a partir da ciência, base para qualquer discriminação
baseada em diferenças biológicas.
Essa conclusão vem ao encontro da verdade bíblica que aqui
queremos abordar: se a partir da ciência não há razão para a discriminação baseada na biologia, a partir da Bíblia não há base para
discriminação de qualquer tipo.
O texto de Malaquias referido acima enfatiza: “não é verdade
que todos temos o mesmo Pai? Não fomos todos criados pelo mesmo Deus?” (Malaquias 2.10). Se, em última análise, devemos nossa
origem a Deus, Criador nosso e de tudo o que existe, estamos numa
igualdade radical. Discriminar o pobre, o índio, o negro, a mulher, a
criança, é discriminar o próprio Deus que os criou!
Quem crê em Deus Pai, Criador de tudo e de todos, não tem nenhuma razão para considerar alguém mais ou menos do que outras
pessoas. Também não há mais qualquer razão para considerar alguém
mais ou menos do que nós somos.
Portanto, abaixo a discriminação de qualquer tipo: racial, social,
sexual, de idade! Valorizemos a criatividade de Deus como sendo uma
rica bênção. Afinal, se temos todos o mesmo Pai e fomos criados pelo
mesmo Deus, somos todos irmãos!
Oração
Senhor, tu criaste todas as pessoas à tua imagem e semelhança, com
a mesma parcela de dignidade, em igualdade de condições. Ensinanos a respeitar essa condição nas outras pessoas, assim como nós
queremos que ela seja respeitada em nós. Amém.
Credo Apostólico
Deus criador e conservador
João 5.17
O
“
meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho – disse
Jesus”. Com essas palavras, Jesus defende suas obras de misericórdia realizadas num sábado. Sua prática parecia
chocar-se com o Terceiro Mandamento, que ordenava o descanso
no sétimo dia, à semelhança do que fizera o próprio Deus, após seis
dias de atividade criadora. Jesus, porém, salienta que Deus está continuamente ativo, inclusive no sábado. Deus não cruzou os braços,
após ter realizado sua obra, deixando a criação à própria mercê. Ele
não é um mero espectador, como alguém que deu corda no relógio
que, depois, funciona por si. Não, Deus continua ativo, conservando
e mantendo a sua criação.
O testemunho bíblico revela um Deus Criador, que intervém na
história. Ele conduz a história mundial e dirige a história pessoal de
cada ser humano. Neste sentido, ele trava uma luta constante contra
os poderes que promovem a destruição e a morte de sua boa criação.
Enfrenta os que poluem e devastam a natureza, os que obrigam outros seres a uma vida miserável e indigna, os que discriminam outros
seres humanos por causa da sua etnia ou religião, os que promovem
a guerra e a morte.
Como cristãos, sabemos “que Deus Pai não nos deu apenas tudo
o que possuímos e temos diante dos olhos, mas ainda nos preserva
e defende, diariamente, de todo o mal e infortúnio, e desvia toda
sorte de perigos e desastres”. Nada nos resta, senão “amá-lo, louválo e agradecer-lhe sem cessar” (Lutero), dispondo-nos a servi-lo com
todas as dádivas que ele nos emprestou. O Deus Pai Criador necessita
de colaboradores que lutem ao seu lado pela conservação de sua
boa criação!
Oração
Querido Deus e Pai, louvamos-te pelo dom da vida e pela tua boa
criação. Auxilia-nos a vivermos do poder da gratidão por tudo que
temos e somos. Liberta-nos para uma vida a teu serviço, para o bem
de toda a tua criação. Amém.
Credo Apostólico
79
Meu Deus, meu protetor!
Neemias 9.19-20
N
80
eemias recebeu a incumbência de reedificar Jerusalém e
reerguer o povo de Deus como nação, depois de ter sido
destruído e derrotado. Como motivar um povo que bem sabia que sua derrota era resultado de sua desobediência? Para isso,
o profeta lembra a criação e, em especial, a história do êxodo que
certifica a proteção divina, apesar da constante infidelidade do povo.
Israel sabe que deve sua libertação e sua sobrevivência no deserto à
bondade e à misericórdia de Deus.
Assim como Israel, também nós precisamos ser lembrados sempre
de novo de que Deus é fiel. Ele tem comprovado isso ao longo de
nossas vidas, protegendo e orientando-nos continuamente. O Espírito
de Deus, que guiou o povo no deserto, também deseja orientar a nossa
vida. Desta orientação, depende o nosso desenvolvimento pessoal e
familiar e o nosso crescimento na fé. O que nos guia é a Palavra de
Deus, iluminada pelo Espírito Santo. Uma análise de nossa história
pessoal e familiar revelará, no entanto, que Deus, além de se preocupar com nosso desenvolvimento espiritual, preocupa-se também
com a nossa sobrevivência física e nosso bem-estar material. O maná
que, na peregrinação do deserto, era colhido diariamente, sem possibilidades de estocá-lo, nos lembra que é a fidelidade de Deus que nos
tem concedido e continua concedendo o “pão nosso de cada dia”.
Reconhecer a fidelidade de Deus nos transforma em pessoas
positivas que sabem que vivem diariamente da sua graça e da sua
misericórdia. Por isso, a gratidão ao Senhor e o despojamento em
favor dos menos favorecidos deveriam ser as marcas inconfundíveis
de nosso estilo de vida.
Oração
Querido Deus, permite que possamos reconhecer a tua fidelidade em
nossas vidas. Perdoa-nos que temos encarado nosso bem-estar como
resultado natural de nossas decisões e esforços. Transforma-nos em
pessoas gratas e alegres. Amém.
Credo Apostólico
Deus, o Pai misericordioso
Mateus 6.25-27
A
preocupação e a ansiedade tornaram-se características da
nossa época. A instabilidade econômica e a concorrência no
mercado de trabalho criam insegurança e tensão constantes.
Não raro, a manutenção do emprego, a educação dos filhos, a garantia
de uma aposentadoria digna, entre outras preocupações, provocam
insônia e roubam a alegria de viver. Depressão, frieza e desesperança
espalham-se à nossa volta.
Em nosso texto, Cristo desafia seus contemporâneos a uma visão
mais profunda da realidade, a olhar a vida com os olhos da fé. Quem
se dispõe a isso, passa a ver e a sentir Deus participando ativamente
da sua vida. Quando Cristo diz “não se preocupem com a comida e
com a bebida que precisam para viver nem com a roupa que precisam para vestir”, ele não está incentivando a preguiça, a inércia ou
a irresponsabilidade. Na verdade, ele propõe que a preocupação e o
medo sejam substituídos pela fé e pela confiança. O motivo é claro:
Deus é um Pai misericordioso que cuida com carinho de suas criaturas
e, por isso, elas não têm o que temer.
O desafio lançado por Cristo vale também para nós. Tanto na
vida pessoal e familiar quanto na vida comunitária e social, o clima
negativo causado pelo medo pode ser transformado. Precisamos, no
entanto, nos despojar da ilusão de pensarmos que ativismo e preocupação têm poder de transformar. Somente a certeza de que Deus está
ao nosso lado em todos os momentos e situações pode nos proporcionar a confiança necessária para uma vida feliz e despreocupada.
Deixemos, pois, que Deus se preocupe com a nossa vida. Que a nossa
única preocupação seja servi-lo e louvá-lo!
Oração
Pai misericordioso, liberta-nos da ilusão de querermos assegurar nossa sobrevivência através do esforço próprio. Ajuda-nos a lançarmos
fora a preocupação e o medo e a nos entregarmos completamente
à confiança que provém da certeza de que tu cuidas de nós. Amém.
Credo Apostólico
81
Deus dá os dons e os conserva
Lucas 19.12-13
U
82
m “homem de uma família importante” se ausenta do seu
país. Antes de viajar, porém, chama seus dez empregados e
entrega uma moeda de ouro para cada um deles. Esta é a
proposta do texto acima. Assim é Deus, o Criador: confia preciosos
dons aos seus filhos. Além de dar dons, “corpo e alma, olhos, ouvidos
e todos os membros, razão e todos os sentidos, ele ainda os conserva”
(Lutero).
Deus nos entregou, em confiança, os seus tesouros. É consolador
sabermos que nós somos pessoas da confiança de Deus. Não somos,
como alguns querem nos fazer crer, seres sem destino definido e
sem objetivo válido de existência. Ao contrário, podemos dizer com
muito orgulho, como diz uma frase de pára-choque: “Não sou dono
do mundo, mas sou filho dele”.
É encorajador saber que ele não nos entregou sucatas, nem restos,
mas “moedas de ouro” – o que tem de mais precioso.
Se pensarmos na nossa vida, na nossa força criativa ou nos recursos materiais na natureza, já temos muito para nos orgulharmos. Mas
temos ainda riquezas maiores: as riquezas do espírito, como o amor, a
compaixão, a compreensão, a reconciliação. Estes dons são riquezas
que, quando nos atingem plenamente, em situações concretas da vida,
ficamos como o apóstolo Paulo, sem palavras: “Como são grandes as
riquezas de Deus! Como são profundos o seu conhecimento e a sua
sabedoria!” (Romanos 11.33).
Desta maneira Deus se comprometeu conosco. Se nos sentimos
comprometidos com ele, é por causa da maneira como ele nos trata.
Ele teve a iniciativa de nos instalar na sua propriedade e nos confiar
a sua riqueza. Por isso lhe damos graça e louvor eterno.
Oração
Senhor Deus, Criador e Pai amoroso, obrigado pelos dons que me
concedes e pela minha vida que conservas e renovas a cada dia. Não
permitas que eu me esqueça de ti. Por Jesus Cristo. Amém.
Credo Apostólico
Deus criador?
Gênesis 1.1,5c,7c,13c,19b,23b
N
ão é novidade encontrar pessoas que não aceitam um Criador do céu e da terra, que governa tudo, que intervém e
interage com as criaturas. Moderadamente, tenta-se negar
a existência de Deus, dizendo que Deus não pode ser visto, sentido,
tocado, medido e, por isso, sua existência seria cientificamente questionável. Para esses, a alternativa é partir do princípio de que a vida
é uma lei da natureza que ela própria gerencia e propaga.
Este cientificismo, entretanto, tão pronto a ignorar o Criador, já
esbarra numa simples pergunta: conhecemos, ao menos, o ser humano? Este mesmo ser que pode ser medido, examinado, analisado?
Conhecemos os seus limites, seu poder, sua força, suas capacidades?
Sabemos como funciona, de onde lhe vem os anseios, os sonhos, os
ideais, sua poesia? Conhecemos e sabemos prever a intensidade de
seus ódios, amores, angústias e temores? Podemos demonstrar sua
origem e seu destino? A verdade é que o ser humano, tão pesquisado
e examinado, é descrito tão contraditoriamente, que a gente se pergunta: o que podemos provar cientificamente sobre ele? Ele parece
estar acima e além das explicações científicas que ele próprio tenta
produzir a respeito de si mesmo, assim como Deus, que, estando acima
e além da nossa ciência, nem por isso deixa de ser o nosso Criador.
Independente do que pensam e ensinam os outros, vale para
nós, e isto nos basta, o que nos propõem as Sagradas Escrituras: “No
começo Deus criou...” (Gênesis 1.1) e depois continuou e continua
criando até hoje. Eu, em todo caso, vou continuar confessando: “Creio
em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra”.
Oração
Senhor Deus, Criador do céu e da terra. Eu te agradeço porque te
revelaste a mim em Jesus como meu Criador, Salvador e Santificador.
Nisso também me revelaste plenamente quem eu sou, donde venho
e para onde vou. Abba, querido Pai. Amém.
Credo Apostólico
83
Graças a Deus
Salmo 103
D
84
eus não precisa da nossa gratidão. Em verdade, o assunto mais
diz respeito a nós do que a Deus. Dar graças a Deus pode até
ser uma expressão dita ao acaso, sem pensar. Mesmo assim,
dita de maneira menos comprometida, Deus aceita esta expressão,
pois a sua vontade é servir, ajudar, salvar. Sua bondade não depende
do nosso reconhecimento e da nossa gratidão e mesmo assim ela
dura para sempre.
Mas, e quanto a nós?
Imagine a atitude de alguém que é socorrido em um incêndio
ou em um afogamento ou quando médicos intervêm em situações
críticas na vida de alguém. Nestes casos, surge um sentimento muito
forte, intenso, ligando o socorrido a quem o socorreu.
Quando perguntamos de onde vem a nossa vida, os nossos bens,
os recursos naturais que utilizamos, gastamos e reutilizamos, o que
significa viver em perdão, sem culpa... que resposta temos para dar?
Que sentimento estas perguntas e suas respectivas respostas despertam em nós?
Deve ser monótono viver pensando na natureza como algo sem
origem e propósito definidos, como se tudo somente fosse “natural”,
automático, reciclável. Ainda bem que, nesse assunto, os cristãos têm
uma vantagem: sabem que nada é fruto do acaso, mas que tudo vem
de Deus e tem um propósito. Por isso, tratam a natureza como um
presente do Criador e sentem-se impelidos a dar graças a Deus por
tudo. Tal gratidão não é inoperante, nem indecisa, mas ela transborda
em ações que buscam alegrar a Deus.
Por isso, quando afirmamos que Deus não precisa da nossa gratidão, ao mesmo tempo sabemos que Deus não deve ficar sem ela,
por toda a sua bondade, misericórdia, compaixão e amor.
Oração
Onipotente Deus, bondoso Pai, a ingratidão machuca. É maravilhoso saber que a tua bondade é maior que a minha ingratidão e que
jamais desistes de mim, mesmo quando eu te esqueço. Fica comigo,
por amor de Jesus. Amém.
Credo Apostólico
O Mandado
Mateus 1.21/Atos 10.38
E
stávamos na casa do presidente de uma comunidade rural,
onde fomos surpreendidos por um forte temporal. Muitos raios, trovões e, depois, uma chuva torrencial. Passados alguns
minutos de chuva intensa, um vizinho bateu à porta, pedindo ajuda:
“um ‘mandado’ atingiu meu filho”. Imediatamente dirigimo-nos à
casa. Lá encontramos uma família estarrecida. Um raio deixara estirado no chão, sem vida, o jovem esposo, pai e filho daquela casa.
Como eu não conhecia a expressão, causou-me estranheza o
nome dado ao raio. Embora o raio, na verdade, não venha do céu,
ele é visto como tendo sido enviado do alto. E para fazer o quê? Matar
pessoas, animais, causar danos materiais e danos à natureza. Deus
estaria atrás deste “mandado”?
As Sagradas Escrituras também conhecem um “mandado”. Seu
nome é Jesus Cristo. Jesus, este é o nome que o pai José deu ao menino
nascido em Belém. Cristo é o nome que o próprio Pai, Deus, deu ao
seu único Filho. Cristo significa, o ungido, o escolhido. Este Jesus, o
ungido, o Cristo, de fato foi “mandado” por Deus, porém não veio
com poder de fogo e de destruição. Também não veio com o objetivo
de causar terror. Ao contrário, sua missão foi salvar o seu povo dos
seus pecados (cf. Mateus 1.21). Para tanto, recebeu poder do Espírito
Santo que Deus derramou sobre ele (Atos 10.38).
Quem crê neste “mandado”, não precisa ficar estarrecido, mas
pode sentir-se livre do terror da destruição e da morte. É só experimentar Jesus Cristo, o ungido, o “mandado de Deus”. Por causa dessa
certeza, nós confessamos particularmente e em comunidade, nos
cultos, o Credo Apostólico: “Creio em Jesus Cristo”.
Oração
Ó Senhor, Deus Eterno, ajuda-nos a experimentar o teu Filho Jesus
como o ungido, o Cristo, o mandado do alto para nos libertar de
poderes que estarrecem, paralisam e nos deixam sem ação. Amém.
Credo Apostólico
85
Nasceu do Espírito Santo x DNA
Lucas 1.35
C
86
om sempre maior freqüência, pais se submetem ao teste do
DNA para que, com posse das informações genéticas obtidas,
seja comprovada ou não a paternidade.
Este procedimento, fruto de avanços científicos, mesmo que
tivesse existido no tempo de Jesus, seria insuficiente para provar algo
quanto às palavras “foi concebido pelo Espírito Santo”, conforme confessamos no Segundo Artigo do Credo Apostólico. DNA, neste caso,
poderia ser lido como: De Nada Adiantaria. Sim, de nada adiantaria
averiguar com possibilidades humanas a manifestação de Deus. Neste
caso, os conceitos científicos não nos ajudam em nada.
“Creio em Jesus Cristo... concebido pelo Espírito Santo”, isto
significa que “Jesus Cristo é verdadeiro Deus, nascido do Pai desde a
eternidade...” (Lutero). Jesus é de origem divina. Isto não é racional,
mas um mistério da fé. Em Lucas 1.35 lemos: “O Espírito Santo virá
sobre você e o poder de Deus estará com você. Por isso o menino
será chamado Santo e Filho de Deus”.
Esta palavra que o anjo disse à Maria, quando anunciou que ela
seria a mãe de Jesus, vai além das possibilidades humanas. Trata-se
de um chamado à confiança. Vai além da nossa razão e do que nós,
seres humanos, somos e podemos. Nossas provas, fundadas em fatores
humanos, de nada adiantam. Sucumbem.
A disposição de Maria, ao se colocar a serviço de Deus, permite
que Deus encarne, que ele se torne gente, que ele se manifeste. Um
“menino chamado Santo e Filho de Deus” vem ao mundo. Feliz foi
Jesus ao ter, em Maria e em José, pais que o assumiram. Encorajados
pelo Espírito Santo, levaram Deus a sério e fizeram a sua vontade.
Oração
Ó Deus Eterno, permite que, em nossas vidas, também se manifeste a
tua vontade. Que nossas palavras e ações sejam prova de que agimos
movidos pelo teu Santo Espírito. Amém.
Credo Apostólico
Verdadeiro Deus
1 João 5.20
O
mundo se caracteriza pelo descartável. No desejo de ter
acesso aos bens de consumo mais comuns, o ser humano
não pergunta se um determinado produto é durável ou
confiável. Importa que ele satisfaça os desejos mais imediatos.
Algo semelhante acontece em relação à fé e a Deus. Observamos
multidões correndo atrás de ofertas religiosas que prometem resultados imediatos. Diante disso, perguntamos: qual é a verdadeira fé e
o verdadeiro Deus?
Lutero responde: “Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, nascido do Pai desde a eternidade, é meu SENHOR”. Verdadeiro Deus,
portanto, segundo as palavras do Credo Apostólico, não é qualquer
entidade que satisfaz os meus sonhos e desejos do momento, mas é
o Deus que nasceu “da virgem Maria e foi concebido pelo Espírito
Santo”. Também não é qualquer mito ou fantasma. Ele tem nome,
chama-se Jesus Cristo, que se manifesta a nós na Palavra de Deus e
nos sacramentos.
É exatamente este o caminho para o qual aponta o texto bíblico
acima: “Sabemos que o Filho de Deus já veio e nos tem dado entendimento para conhecermos o Deus verdadeiro...” (1 João 5.20).
O verdadeiro Deus não está no excepcional e no imediato, mas em
Jesus Cristo, que é “Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de
Deus verdadeiro...” (Credo Niceno).
Nossa fé não tem por base um Deus do sucesso ou do momento.
Ela se baseia em Jesus, que passou pela cruz, morreu e ressuscitou.
Quando tudo o que neste mundo brilha e enche os olhos cai por
terra porque é falso, Jesus Cristo, “concebido pelo Espírito Santo”,
o verdadeiro Deus, permanece. Ele não é descartável. Ele é sólido
porque é eterno.
Oração
Ó Deus, liberta-nos da tentação de transformar a nossa fé em um
bem de consumo ou em produto descartável. Dá-nos o teu Espírito
Santo para podermos reconhecer em Jesus Cristo o nosso verdadeiro
Deus. Amém.
Credo Apostólico
87
Um Deus concreto
João 1.14
Q
88
uando você ouve ou lê o nome Deus, talvez a primeira imagem que lhe ocorre seja a de um velhinho de barbas brancas, sentado em um trono majestoso. Ou, um ser indefinido,
sem “cara” e sem forma. Algo etéreo.
É difícil pensar, falar ou descrever Deus. Botamos e imaginamos
mil coisas em nossa cabeça. Porém, lá no fundo, sempre fica aquele
sentimento de frustração e incapacidade, pois parece que ele está lá
em cima, e nós aqui, bem longe dele.
Mas será que é assim mesmo? Vejamos. Deus, em sua misericórdia, sempre quis ter comunhão plena conosco, falar a nossa linguagem. Assim foi desde a criação. Lá no Éden, Deus e os seres humanos
estavam em plena harmonia e havia uma comunicação franca e
aberta entre Criador e criatura. Ali, Deus estava muito próximo da
vida das pessoas. Todavia, a queda em pecado nos distanciou dele.
Eis porque, hoje, temos essa idéia de um Deus tão distante.
Deus, por sua vez, não se agradou dessa situação e providenciou
uma forma de poder falar abertamente conosco. Então, ele se tornou
gente em Jesus Cristo.
Em Jesus, temos novamente um Deus que fala a nossa língua. Um
Deus que nos compreende como somos. Nele, temos um Deus bem
“pé no chão” – concreto e humano. Um Deus que conhece todas as
nossas “manhas” e sabe quem de fato somos. Jesus é como um de nós,
porém, com a diferença de que ele é sem pecado (Hebreus 4.15). Mas
ele morreu pelos nossos pecados. E tudo isso com o único objetivo
de nos salvar e nos reaproximar de Deus Pai.
Um Deus que age assim, não pode ser um Deus distante, mas sim,
um Deus concreto, um Deus conosco (Mateus 1.23). Esse é Jesus, o
meu e o seu Deus! O nosso Deus conosco.
Oração
Senhor, obrigado pela tua misericórdia e compaixão. Apesar da nossa
teimosia e indiferença, tu vieste ao nosso encontro e te revelaste em
Jesus. Agora conhecemos novamente como tu realmente és: presente
no nosso chão, amoroso, concreto. Amém.
Credo Apostólico
Jesus, Deus eterno
João 1.1-3
J
esus, quem é ele? Para essa pergunta pode haver uma variedade
de respostas. Um grande líder, um mestre, alguém compassivo e
amoroso, o Salvador,... Bem, nada de errado com essas respostas.
Elas estão corretas, mas o que dizer desta: Jesus é Deus eterno. Certamente, esta resposta poucos de nós dariam. Todavia, ela também
está correta.
Quando falamos de Jesus e de sua vida e obra, sempre pensamos num Jesus humano, terreno. Logo nos vem à mente o sermão
do monte, a multiplicação dos pães, a pesca maravilhosa, a cura
do cego, a entrada triunfal em Jerusalém, sua morte e ressurreição.
Nada de errado com isso. Aliás, foi dessa forma que aprendemos a
conhecer e a amar Jesus.
Mas Jesus é muito mais. Ele não foi somente um Deus que se
tornou um ser humano e morou entre nós (João 1.14). Ele também
é Deus eterno. Mas você agora deve estar se perguntando: “O que
isso tem a ver com a minha vida aqui nesse mundo?” Tem tudo a ver.
O evangelista João afirma que antes do mundo ser criado, Jesus
já existia. Ele estava com Deus e era Deus. João diz mais. Todas as
coisas foram feitas por meio dele e nada do que existe foi feito sem
ele (João 1.1-3). Isso quer dizer que Jesus, unido com o Pai e o Espírito
Santo, não só fez o mundo, mas, especialmente, esteve envolvido no
plano de sua redenção!
Esse é o Jesus eterno, que não somente planejou a nossa salvação, mas também veio ao mundo executá-la. Dessa forma, todos os
que o receberam e nele creram, receberam de Jesus o direito de se
tornarem filhos e filhas de Deus (João 1.12). E se Jesus nos deu esse
direito, certamente ele é nosso Deus, e ponto final (cf. João 10.28).
Oração
Jesus, Deus eterno, louvamos-te não somente porque criaste este mundo, mas, especialmente, porque deste a tua vida por ele. Obrigado,
Senhor, por nos teres dado o direito de sermos filhos e filhas de Deus.
Preserva-nos nessa verdade, hoje e sempre. Amém.
Credo Apostólico
89
Jesus é nosso Senhor
João 20.28
S
“
90
enhor”. “Pois não, senhor”. – “Sim, senhor”. A palavra “senhor”
certamente evoca muitos pensamentos na cabeça das pessoas. Algumas vão se lembrar da época do serviço militar, outras
da época dos escravos, algumas outras, de seu chefe ou patrão. A
palavra “senhor”, sem dúvida, dá a idéia de mando, poder soberano
absoluto.
Pois no texto bíblico sugerido acima, Tomé, dirigindo-se a Jesus,
chama-o de Senhor. Que tipo de Senhor é Jesus? Um déspota que
governa sua Igreja, seu povo, de forma arbitrária, com status de imperador? Certamente que não!
Jesus é um Senhor diferente. Ele não governa seu povo como
se fosse um tirano, mas por meio de sua graça, ou seja, por meio
do Evangelho. Chamar Jesus de Senhor, significa aceitar, pela fé, a
salvação que ele mesmo nos preparou. Quando temos Jesus como
Senhor, estabelece-se um novo relacionamento entre nós e ele. E
nesse relacionamento, já não impera o medo ou a apreensão, mas
sim, a confiança e alegria no perdão.
Ter Jesus como Senhor, “significa que ele nos redimiu do pecado,
do diabo, da morte e de toda desgraça. Significa que Jesus, em sua
insondável bondade, se compadeceu de nossa calamidade e miséria,
e veio do céu a fim de socorrer-nos” (Lutero).
Eis aí um Senhor diferente, que nos convida a pertencer a um
Reino onde se vive em alegria e bem-aventurança. Um Reino onde
não há surpresas, não há receios, mas sim, que nos proporciona uma
comunhão maravilhosa com Jesus. Nesse Reino, movidos por seu
amor, servimos voluntariamente, não somente ao nosso Senhor e
Salvador, mas também ao nosso próximo.
Com um Senhor assim, só resta orar diariamente: “Venha o teu
Reino”.
Oração
Senhor Jesus, como é bom podermos te chamar de Senhor! Tu nos
compraste com teu precioso sangue e agora te pertencemos. Supre
as nossas fraquezas com tua graça, a fim de sermos melhores instrumentos no serviço do teu Reino. Amém.
Credo Apostólico
Ele é preso
Mateus 26.47-56
A
o receber voz de prisão, Jesus não fez uso da violência para se
defender. Violência cria violência. Esse não é o caminho para
a solução de problemas. A honra, a doutrina, a vida de Jesus
não precisam ser defendidas através da força. Jesus optou pelo caminho da não-violência e deixou-se prender sem opor resistência.
Ser preso pelas autoridades é algo constrangedor. É a evidência
da culpa por algum delito. É ser rotulado como criminoso, como
bandido. A prisão de Jesus nos confronta com uma realidade que
procuramos esquecer em nosso dia-a-dia: a superlotação das prisões em nosso país, os motins de presidiários, a crise do sistema
carcerário e, especialmente, a organização social injusta que exclui
milhares de brasileiros de uma vida com dignidade, criando meninos e meninas de rua que, muitas vezes, vão parar nos presídios
ou são assassinados.
Se Jesus foi preso pelo poder constituído na época e destituído
de sua dignidade como pessoa, então isso chama a nossa atenção
para aquelas pessoas que hoje enfrentam os dissabores de uma prisão.
Quais são os nossos pensamentos e sentimentos em relação às
pessoas que se encontram em presídios de nosso país? De que forma
abordamos a questão da violência em nossas conversas?
“Cristo morreu para nos salvar” – este é um chavão que a toda
hora usamos.
Depois da sua morte e ressurreição, nós podemos viver porque
ele derrotou de vez a morte. Será que nós nos damos conta de que,
depois da sua prisão injusta e de violência que sofreu, ninguém mais
deveria ser violentado e sofrer injustiça? Por causa de Cristo, somos
a favor da justiça e da não-violência.
Oração
Bondoso Deus, na prisão de Jesus percebemos como poderes constituídos podem ser injustos. Ajuda-nos para que não respondamos ao mal
com a violência e para que nos empenhemos por uma organização
social mais justa em nosso país. Amém.
Credo Apostólico
91
Ele é acusado
Lucas 23.1-5
J
92
esus é levado a Pôncio Pilatos e acusado duplamente pela liderança religiosa dos judeus: a) de subversão, por induzir o povo a
não pagar impostos ao Imperador; b) de afirmar que é o Messias,
o salvador esperado pelo povo judeu.
O processo que culminou na condenação, no sofrimento e na
morte de Jesus, nos mostra que os poderes constituídos procuram
encontrar um meio de se livrar da pessoa que representa uma ameaça
para o sistema político e religioso vigente. No processo contra Jesus,
acusações são forjadas para incriminá-lo. O testemunho falso e pena
de morte aplicada pelos poderes legalmente constituídos na época,
levam-no à cruz. “Assim, pois, nosso querido Senhor Jesus Cristo
sofreu, não às custas, tampouco nas mãos daqueles que não tinham
autoridade nenhuma. Sofreu publicamente e nas mãos daqueles
que detinham cargos públicos, para que não nos escandalizemos ao
vermos que tanto a autoridade espiritual quanto a secular são contra
Deus” (Lutero).
Hoje, nós ficamos escandalizados com a maldade humana que
culminou na morte de Jesus.
Jesus foi levado a Pôncio Pilatos e acusado de forma injusta, se
isto para nós é verdade, então a Semana Santa passa a ter um sabor
de derrota das autoridades que usam o poder para defender seus
próprios interesses. Pois, se olharmos um pouco para frente, para
o desfecho do processo de Jesus que, em verdade, culminou com a
Páscoa, então nós podemos nos encher de alegria e esperança, porque
a última palavra não ficou com a atitude dos injustos, “dos que são
contra Deus”, mas com a vida, no Domingo de Páscoa, onde venceu
a justiça. Esta é a nossa fé e esperança.
Oração
Deus da justiça, com vergonha reconhecemos a nossa omissão em
tantos casos de acusação falsa. Perdoa-nos! Dá-nos coragem para
nos colocarmos ao lado das pessoas que sofrem injustiças. Amém.
Credo Apostólico
Com seu precioso sangue
1 Pedro 1.18
P
ela nossa natureza humana, somos escravos do nosso próprio
“eu”. Essa escravidão se revela no anseio de querer ter mais
para ser mais, na vontade de querer levar vantagem sobre os
demais e na nossa indiferença para com o sofrimento de pessoas e
da natureza.
A partir de Cristo, somos confrontados com uma nova realidade: ele doou-se a si mesmo, ao morrer na cruz pelo nosso pecado.
A obra de Cristo pode ser comparada ao preço pago pelo resgate
de um escravo, em tempos passados. O preço que Cristo pagou
para nos oferecer uma nova realidade foi a própria vida. “Creio que
Jesus Cristo (...) me remiu a mim, homem perdido e condenado (...)
com seu santo e precioso sangue e sua inocente e amarga paixão e
morte, para que eu lhe pertença” (Lutero). Aqui são mencionados o
alto valor do resgate e o alto valor que a vida tem para Deus. Agora,
a necessidade de colocar em primeiro lugar o nosso próprio “eu”, a
procura por poder, por posse, por riqueza, tão presente entre nós, é
substituída por aquilo que é insubstituível: a própria vida.
A vida tem perdido muito em valor. Esta é uma realidade em todo
o mundo. De modo especial, podemos constatar isto em nosso país. A
morte, em suas muitas caras, como pobreza, doença, violência, está
presente em nosso dia-a-dia, nas cidades e no campo.
Naquela Sexta-feira Santa, Jesus derramou o “seu santo e precioso sangue” e sofreu a “inocente e amarga paixão e morte”. Isto não
é mera teoria. A partir daí nós fomos resgatados da nossa natureza
escrava. Somos livres e, por isso, podemos valorizar a vida. Em nome
de Jesus, somos chamados a resgatar o valor da vida tão maltratada
no Brasil e no mundo.
Oração
Deus misericordioso, obrigado por nos colocares dentro de uma nova
realidade, a partir do precioso sangue de Cristo. Ajuda-nos para que
deixemos de lado o nosso “eu” e resgatemos a importância e o valor
da vida. Amém.
Credo Apostólico
93
Foi morto
Lucas 23.44-49
A
94
morte de Jesus, sendo Deus encarnado, é um dos aspectos
mais impressionantes e inconcebíveis da história bíblica e da
fé cristã. Porém, para nossa salvação e consolo, é importante
essa notícia: Jesus foi morto. O ser humano, com a queda em pecado, tornou-se merecedor da condenação eterna. Humanamente não
havia esperança. É aí que entra a ação de Jesus Cristo. Ele vem do
céu, enfrenta a morte e vence. Morreu em nosso lugar, pagou a nossa
sentença de morte, para que nós pudéssemos viver. Só entendemos a
morte de Jesus, quando compreendemos nossa real condição diante
de Deus: nós deveríamos morrer, mas Jesus morreu em nosso lugar.
Ele passou pela morte, para nossa salvação.
A morte de Cristo sempre foi um ponto de discórdia na história
do cristianismo. Para os que confiam em Cristo, saber da morte do
Salvador implica reconhecer seu próprio pecado e o grande amor
de Deus. Para os que não confiam, a sua morte significa motivo de
menosprezo e zombaria. Os soldados romanos que vigiavam a cruz
de Cristo, quando o viram render o espírito, reconheceram que ele
realmente “era justo”, e as multidões que ali estavam, retiraram-se,
lamentando e batendo no peito. Os discípulos de Jesus, a princípio,
também tiveram dificuldades para compreenderem a sua morte.
Como você, cara leitora e caro leitor, se posiciona diante da
notícia de que Jesus foi morto? Sua morte não foi uma tragédia ou
derrota. Foi o pagamento pelo pecado de toda a humanidade. Ela faz
parte da história da sua e da minha salvação. Diante dessa notícia, só
nos resta, humildemente, lamentar o nosso pecado e agradecer pelo
grande amor de Deus.
Oração
Amado Deus e Pai celestial! Sentimo-nos tão pequenos diante de ti,
do teu amor, da tua sabedoria. Teu Filho Jesus Cristo precisou morrer
por nós. Dá-nos sempre humildade para reconhecermos a gravidade
de nosso pecado e a grandiosidade de teu amor. Amém.
Credo Apostólico
Foi sepultado
Lucas 23.50-56
L
idar com a realidade da morte sempre foi difícil para o ser humano. A primeira reação quando se perde um ente querido é a
negação. Muitas vezes, só caímos na real quando a pessoa está
sendo ou já foi sepultada. Esta reação se explica, pois o ser humano
foi criado para a vida e não para a morte.
Também com a morte de Jesus foi assim. Os discípulos não estavam entendendo o que estava acontecendo. Quando Jesus morreu,
a perplexidade tomou conta da maioria. Ela foi tamanha que, anos
mais tarde, houve quem quisesse negá-la. Houve quem afirmasse que
a morte de Jesus foi apenas aparente, que, de fato, ele nunca havia
morrido.
A narrativa bíblica, no entanto, não deixa dúvidas. Jesus realmente morreu! Os soldados se certificaram da sua morte, cravando
uma lança no seu ventre de onde saiu água e sangue, mostrando que
ele já estava sem vida. Além disso, o testemunho bíblico o confirma,
quando narra que José de Arimatéia, um rico membro do Sinédrio,
que não havia concordado com a sentença imposta a Jesus, vendo
que ele estava morto, colocou-o “num túmulo cavado na rocha” (v.
53). Jesus estava realmente morto! A mesma verdade incontestável
foi fixada séculos mais tarde no Segundo Artigo do Credo Apostólico,
quando se diz que Jesus foi “morto e sepultado”.
Quando confessamos no Credo Apostólico que Jesus foi sepultado, isto nos dá a certeza de que ele venceu a morte por nós, através
da sua morte real. Por isso, quando estamos diante de uma sepultura,
enfrentando a realidade da morte, não precisamos temer. Pois quem
crê em Jesus não morre eternamente, mas tem a promessa da vida
eterna. Pode haver algo mais consolador?
Oração
Senhor Deus! Quando tivermos que enfrentar a realidade da morte,
consola-nos na certeza de que Jesus enfrentou a morte e a venceu.
Firma-nos nesta fé e concede-nos a vida eterna. Por amor de Jesus.
Amém.
Credo Apostólico
95
Desceu ao inferno
Colossenses 1.13
N
96
o Credo Apostólico há uma expressão que fala de um momento que ocorreu entre a morte e a ressurreição de Jesus
Cristo. Trata-se da expressão que Jesus “desceu ao inferno”. Na
Bíblia existem poucas passagens que tratam deste assunto, e as explicações que foram dadas a este episódio nem sempre são concordantes.
A esse respeito, Lutero disse que não devemos ocupar-nos “com
altos e argutos pensamentos” sobre “como isso aconteceu”. Devemos,
antes, ficar com o mais importante, que é o conforto de saber que
“nem o inferno nem o diabo podem aprisionar ou causar dano a nós
e a nenhum dos que crêem em Cristo”.
Na mudança do milênio, muitas pessoas ficaram com medo
de que fatos extraordinários pudessem pôr em risco suas vidas. Há
muitos anos se proclamava que, com a chegada de uma “nova era”,
a fé cristã entraria num período muito difícil em que ela poderia ser
totalmente destruída.
Quando profecias desse tipo forem proferidas e quiserem nos
assustar, devemos nos lembrar que Jesus desceu ao inferno e ressuscitou. Ele foi vencedor. Nem o Diabo, nem a morte, nem nada poderá
tirar esta vitória daqueles que confiam em Jesus Cristo.
Como é bom que, em expressões bem pequenas e até de difícil compreensão, podemos encontrar tanto consolo. Nas horas de
dificuldade, de dúvida, de tentação, podemos ter a impressão que
seremos derrotados. Podemos, até mesmo, nos esquecer de Deus ou
achar que Deus nos abandona nas horas difíceis. Porém, nestas horas,
lembrar que Jesus Cristo desceu ao inferno e submeteu até o Diabo,
nos enche de um consolo salutar. Nada poderá nos separar de nosso
Salvador Jesus Cristo.
Oração
Amado pai celestial! Quanto consolo encontramos em tua Palavra, a
qual nos fala de Jesus Cristo. Nossa salvação é tão perfeita e completa
que só poderemos te agradecer e louvar. Mantém-nos sempre firmes
na fé. Amém.
Credo Apostólico
Ressuscitou dos mortos
Lucas 24.1-12
Q
ue coisa maravilhosa, a persistência de Deus! Ele não se intimida por pouco. Não entrega os pontos tão rapidamente;
aliás, ele nunca os entrega. Ele concretiza seus planos e os
leva a cabo, a despeito dos reveses que o mundo lhes impõe. Isto ele
mostrou mais uma vez de forma bem clara, na ressurreição de Jesus.
Quando, no domingo de manhã, as mulheres foram ao túmulo para
levar o perfume que haviam preparado, elas o encontraram vazio.
“Por que é que vocês estão procurando entre os mortos quem está
vivo” (v. 5). Jesus está vivo!
O mundo quis calar Jesus. O seu projeto de vida abundante para
todos, não servia. Por isso era preciso acabar com ele. Deus, no entanto, quis diferente: o ressuscitou. Ele vive. A notícia é desconcertante e,
num primeiro momento, inacreditável para todos. Ele não está entre
os mortos, onde os homens o colocaram. Quem o procura ali, não o
encontrará! Ele vive e está ali onde Deus o colocou. E é entre os vivos
que ele deve ser procurado. Ali está ele, no meio deles, promovendo
vida, valorizando vida, dando vida, chamando para a vida.
Ele vive. Esta notícia é desconcertante, ainda mais quando fico
sabendo que eu e você, que todos somos beneficiados diretamente
com a sua ressurreição. A nossa trajetória não está determinada pela
morte, mas pela nova vida que vem da ressurreição do nosso Senhor.
Lutero o resumiu assim: “Creio que ele ressuscitou dos mortos no
terceiro dia para dar a mim e a todos os seus crentes uma vida nova,
fazendo-me, assim, ressurgir com ele em graça e espírito, para não
mais pecar daqui por diante, mas servir tão-somente a ele com toda
a sorte de graças e virtudes”.
Oração
Bondoso Deus, o teu Reino é um reino de vida e esperança. Ali onde
tu reinas e determinas a vida, a morte é vencida. Ajuda-nos a vivermos os novos valores deste teu Reino, movidos pela esperança que
se fortalece na notícia de que teu Filho, nosso Senhor, vive. Amém.
Credo Apostólico
97
Subiu ao céu
Lucas 24.50-53
N
98
ão foram poucas as vezes que os discípulos se sentiram angustiados e aflitos porque estavam se sentindo sozinhos. Eles
tinham se acostumado tanto à presença forte e animadora do
seu Senhor que não podiam imaginar viver, mesmo que por alguns
momentos, longe dele ou sem ele. Isto eles experimentaram por diversas vezes. Aquela vez, por exemplo, em que estavam com ele no
barco atravessando o lago de Genezaré (Mateus 8.23-27) e sobreveio
um temporal: ele, ali, dormindo tranqüilamente, e eles indefesos e
apavorados porque Jesus não estava agindo ou tomando alguma
iniciativa de fazer algo em sua defesa. Ou em outra ocasião, a pior
situação de todas, quando ele foi crucificado. Tudo parecia acabado.
Nenhuma esperança, nenhuma perspectiva de vida, nenhum futuro!
Como viver sem ele? Como viver sem sua palavra, sem sua orientação, seu apoio?
Estas e tantas outras preocupações receberam resposta. Como?
“Enquanto os abençoava, Jesus se afastou deles e foi levado para o
céu” (v. 51). Com a sua ascensão, ele assumiu definitivamente o poder
ao lado do Pai para nunca mais se afastar! Os discípulos, todos eles,
testemunharam, que nem sepultura, nem morte conseguiram reter
Jesus ou afastá-lo deles definitivamente. Ali estava ele com eles, em
todos os momentos e em todas as situações. Ali estava ele, dando
força e coragem para que eles pudessem enfrentar as dificuldades
diariamente. Estava com eles, animando-os para que pudessem dar
testemunho claro e forte sobre o seu senhorio, governando suas vidas.
Ele é o Senhor, o Rei absoluto. A autoridade máxima nos céus e na
terra é dele, tão somente dele!
Oração
Obrigado, Senhor, que tu não nos deixaste sozinhos e de mãos vazias.
Tu estás conosco e nos deixaste a tua bênção. Nós precisamos que tu
a renoves diariamente. Dá-nos a tua bênção. Amém.
Credo Apostólico
Ele governa com o Pai
Hebreus 1.3
O
s adversários gozavam dele: “ele é o rei dos judeus e, por
isso precisa de uma coroa”. E recebeu uma coroa de espinhos! Pouco antes, também por ironia, Jesus recebera uma
“capa de luxo” (Lucas 23.11), pois queriam identificá-lo com o reconhecimento que vinha tendo junto ao povo: todos o aclamavam como
Rei, como Senhor, como Mestre, como Messias, como... E novos títulos
foram surgindo a cada momento. À medida que ele pregava, ensinava
e curava (Mateus 4.23), ele foi sendo reconhecido por todos como
Senhor e Salvador. Em conseqüência da sua pregação e dos encontros
que as pessoas tinham com Jesus, os testemunhos se multiplicavam.
Este senhorio de Jesus não iniciou em Belém por ocasião do
seu nascimento, embora ali já tenha sido reconhecido e recebido
como tal. Os presentes que os magos do oriente levaram ao menino
recém-nascido (ouro, incenso e mirra) eram presentes ao meninorei (cf. Mateus 2.1-11). O seu senhorio tampouco terminou na cruz
com a sua morte, embora também ali tenha sido reconhecido ou
identificado como rei. O seu senhorio permanece, pois ele, Jesus, é
a própria revelação de Deus. O encontro com ele, na sua Palavra e
nos sacramentos, continua provocando o testemunho de outrora:
ele é Senhor. Todo o poder, toda a honra, toda a glória pertencem a
ele, estão em suas mãos!
“Creio que ele subiu ao céu e recebeu do Pai poder e glória sobre
todos os anjos e criaturas, estando sentado à mão de Deus, isto é, ele
é um rei e senhor sobre todos os bens de Deus... Por isso é capaz de
ajudar a mim e a todos os crentes em todas as nossas aflições contra
todos os nossos adversários e inimigos” (Lutero).
Oração
Jesus Cristo, tu és nosso Rei, nosso Senhor. Teu é o Reino e a ti pertence o louvor. Tu és Senhor, somente tu, hoje e eternamente. Amém.
Credo Apostólico
99
Encontro marcado
1 Tessalonicenses 4.13-18
V
100
ocê já esteve na situação de querer evitar um encontro incômodo? Por exemplo, com um credor? Ou com alguém a quem
você magoou?
Pois bem. Entre os encontros que você gostaria de evitar, nunca,
mas nunca mesmo, inclua o encontro com Jesus. Se muitos outros
encontros podem ser incômodos, com Jesus é totalmente diferente.
O encontro com ele não deve assustar, pois foi marcado por Deus,
quando Jesus virá para julgar os vivos e os mortos.
Se bem que a idéia do julgamento é perturbadora. O assunto
se reveste de seriedade. Tanto assim que o sofrimento de Jesus está
intimamente ligado a esse julgamento. A mensagem central do cristianismo diz que ele sofreu em lugar de, e, morrendo em lugar dos
que estavam condenados, livrou as pessoas dessa condenação.
Deus quer que olhemos a nossa vida nesse mundo a partir desta
perspectiva, aliás, a única perspectiva realmente válida. Ela direciona o nosso olhar, já sem medo, para além do julgamento. O próprio
julgamento passa a ser um ato declaratório: Deus vai declarar eternamente santos e felizes aqueles que confiarem em Jesus como seu
substituto diante do julgamento final.
Os cristãos de todos os tempos têm, em função disso, a alegria
de declarar: “Creio em Jesus Cristo... que virá para julgar os vivos e
os mortos”. Desta declaração brota também o impulso de perdoar
mais, amar mais, ser mais solidário com as pessoas, promover a paz
e a compreensão. Vivemos, desde já, em uma outra dimensão como
cidadãos da eternidade. Descobrimos em Jesus que fazer o bem não
desgasta. Pelo contrário, evidencia nossa identidade com aquele que
se doou primeiro a nós: Jesus.
Oração
Senhor Jesus, que sofreste em meu lugar o julgamento de Deus, renova
em mim a alegria dessa fé e concede que eu seja instrumento desse
teu amor pela humanidade. Amém.
Credo Apostólico
Tempo de oportunidade
Mateus 24.36-39
N
a passagem do milênio aguçou-se uma velha ansiedade do
ser humano: o que há de importante no futuro da humanidade?
Logo que Jesus comunicou aos seus discípulos que o fim das
coisas estava determinado, eles insistiram em saber: quando será
esse dia? Ao que Jesus respondeu: “Quanto ao dia e hora ninguém
sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Mateus
24.36). É, portanto, um conhecimento que Deus guardou para seu uso
exclusivo. Aí Jesus não deu margem a dúvidas: o fim é certo. Quanto
ao dia e hora, somente o Pai conhece.
Diante disso, as reações são as mais diversas. O apóstolo Paulo
insistia em dizer que esta data lhe era bem-vinda e que, quanto a ele,
já estava até atrasada: “Quero muito deixar esta vida e estar com
Cristo, o que é bem melhor” (Filipenses 1.23). Ao longo dos séculos,
os cristãos deixaram este testemunho na história. Sempre de novo,
ansiavam pela volta do Senhor, alguns assustados, outros esperançosos e alegres. Lutero via aquele dia como o momento em que Jesus
nos aparta e separa completamente do mundo malvado, do Diabo,
da morte, do pecado, etc.
Já houve quem quisesse “descobrir” o dia e a hora e já anunciasse
até uma data. Por que a ansiedade? Pois, sendo certo que a vinda de
Jesus reserva libertação, felicidade e alegria, o cristão espera em paz e
tranqüilidade. A passagem do tempo deixa de ser uma angústia, para
se transformar em oportunidade. Oportunidade de participar como
agentes da nova cidadania que aprendemos com Jesus: a cidadania
do amor, do envolvimento com a dignidade de cada ser humano,
agora, no nosso tempo e no nosso espaço de vida.
Oração
Senhor Jesus, às vezes penso que já deverias ter vindo para livrar tanta
gente do sofrimento. Mas também quero pedir que, enquanto isso,
me dês forças para aprender a confiar em ti e a agir em teu nome, em
favor das pessoas que sofrem. E que isso me baste por agora. Amém.
Credo Apostólico
101
Vocês foram me visitar
Mateus 25.31-46
V
102
ivemos num tempo vertiginoso na história. Tudo passa muito
rapidamente. Uma das conseqüências disso é a perda das referências de vida, dos valores e, até mesmo, da fé!
Alguns nem perguntam pelas perdas. Outras pessoas apenas
lamentam: “o mundo não tem jeito mesmo”.
Posso entender estas reações. As mudanças no começo do milênio mexem com nossas idéias e reações, nosso corpo e coração.
Também a fé é atingida e treme.
Como julgar as coisas num tempo como o nosso? Como ser fiel
ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, nesse tempo vertiginoso em
que vivemos?
É novamente a Palavra de Deus que nos aponta um caminho
seguro. Não que ele seja fácil. É exigente e comprometedor. Mas é luz
e força, em meio à dúvida e ao desespero.
Em Mateus 25.31-46, Jesus narra uma parábola que nos ensina
como encontrá-lo, servi-lo, adorá-lo e segui-lo neste mundo de alegrias e tristezas. A parábola surpreende porque coloca, como critério
de julgamento, não a retidão da pessoa ou coisa parecida. Jesus apresenta como critério de julgamento o outro. Abram os olhos, pois a
bênção pertence a quem me viu no outro, na pessoa ou nos grupos
humanos que sofrem fome, sede, exílio, desterro, nudez, abandono,
prisão. Aquelas pessoas que se encontram prejudicadas, condenadas,
excluídas, em aflição são, para Jesus, sinais da sua presença hoje.
Jesus se identifica com pessoas e situações muito concretas. Sua
mensagem é salvadora, em primeiro lugar para estas pessoas que
sofrem. E quem descobrir Jesus desta forma e for visitá-lo – sem perceber – terá surpresas que darão um novo sentido a sua vida. Tente.
Você verá que vale a pena.
Oração
Senhor Jesus, é tão difícil acolher-te na vida dessa pobre gente. Preferimos uma palavra espiritualizada. Ajuda-nos a acolher a tua Palavra
e a te buscar onde tu nos disseste que te farias presente. Que assim te
amemos de fato e de verdade. Vem, Senhor Jesus! Amém.
Credo Apostólico
De inimigos a amigos de Deus
2 Coríntios 5.15
F
oi uma briga feia. Durou anos. Mas acabou mal. Separaram-se.
Cada qual foi para o seu lado. Ela ficou com os filhos e a filha.
Batalhou para sobreviver decentemente. Ele ajudou um pouco,
é verdade, mas não o suficiente. Enveredou por outros caminhos.
Conheceu outras pessoas. Ela buscou novas amizades. Foi tudo muito
difícil. Para os dois.
Um dia se reencontraram, meio no susto. Encontro imprevisto,
não foi sem razão!
Olhares, dúvidas, um cumprimento, o início de uma conversa
superficial. Maduros, resolveram encarar a situação. Encarar um ao
outro. Constrangidos no início, mais soltos depois, foram conversando. No fim, pareciam menos tensos. Conseguiram não se ofender.
Não sei se voltaram a viver juntos, mas chegaram a um acordo razoável: escutar um as razões do outro, olhar-se fundo nos olhos, sem
pré-julgamento. Começaram, sem saber, o que na linguagem da fé
chamamos de perdão, o início de uma reconciliação.
Em nosso relacionamento com Deus, acontece algo parecido
com a separação de um casal. Há casos de rompimento sem volta.
Outros ensejam uma reaproximação. Outros, ainda, acabam numa
reconciliação para valer. Então o amor não só volta, mas cresce, se
aperfeiçoa, porque extravasa e se espalha pela casa toda, alcançando
amigos, amigas, vizinhança, e até gente distante de casa. O amor se
torna algo público, visível e transformador.
É isto que Cristo realizou com sua obra. Ao morrer por nós, ele
nos abriu uma nova chance de amar a Deus, reconhecendo o nosso
erro, para iniciar uma nova vida. Com Cristo e em Cristo, de inimigos
nos tornamos amigos e amigas de Deus (2 Coríntios 5.15).
Oração
Senhor Jesus, graças te damos por tua obra de reconciliação que nos
torna novamente amigos e amigas de Deus. Ajuda-nos a vivenciar esta
nova relação. Que participemos com alegria na missão de reconciliar
o mundo de hoje com seu Criador. Amém.
Credo Apostólico
103
A ajuda de Jesus
João 14.15-16
V
104
iver custa caro! Os gastos com alimentação, vestuário, educação, transporte, remédio, moradia e lazer fazem parte do preço que pagamos para viver. Por experiência, sabemos que os
produtos de melhor qualidade, normalmente, custam mais caro.
Isso também é verdade com relação aos bens espirituais. O
amor que Jesus nos dedicou custou muito caro para ele – custoulhe a própria vida. Jesus pagou um preço alto para nos dar o perdão
dos pecado e a salvação eterna. Em contrapartida, o amor que ele
espera encontrar em nossos corações também não é nada barato.
Ele disse: “Se vocês me amam, obedeçam aos meus mandamentos”
(v. 15). Obedecer aos mandamentos significa colocar Deus como a
grande prioridade da vida e seguir sempre a sua vontade, servindo-o
de todo o coração.
Pelo fato de sermos pecadores, não conseguimos viver assim!
Mas Jesus vem ao nosso encontro. Para nos ajudar, ele prometeu: “Eu
pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Auxiliador, o Espírito da verdade”
(v. 16). Com essas palavras, Jesus assegurou que nos mandará o Espírito
Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade.
O Espírito Santo e a sua obra – este é o tema do Terceiro Artigo
do Credo Apostólico. Em relação a ele, Jesus afirmou que o Espírito
foi mandado para nos ajudar na fé e na vida cristã. O custo dessa
vida é alto, mas o Auxiliador estará sempre do nosso lado. Através do
Evangelho e dos sacramentos, ele fortalecerá o nosso amor a Jesus e
nos equipará para pagarmos o preço do amor cristão, ou seja, para
vivermos segundo os mandamentos de Deus. Em seu amor, Jesus nos
deu a ajuda necessária para viver a fé.
Oração
Amado Salvador Jesus, obrigado pela tua ajuda. Custa caro ser cristão! Mas confiamos na promessa do Auxiliador para que possamos
fazer sempre a tua vontade. Enche-nos com o Espírito Santo para que
tenhamos condições de te amar como convém. Amém.
Credo Apostólico
Não é difícil acreditar!
Mateus 16.16-17
H
á muitos produtos que não funcionam e estamos acostumados a ouvir milhares de promessas que não se cumprem. Por
isso, temos a tendência de só aceitar aquilo que pode ser
comprovado pela prática.
Com essa mentalidade, as pessoas do tempo de Jesus acabaram
não aceitando a mensagem do Salvador. Viram nele um simples carpinteiro, um líder, um mestre. Alguns até pensaram que Jesus fosse
João Batista, Jeremias ou algum profeta. Outros o consideraram um
herege e, por isso, conspiraram contra ele para matá-lo.
Nesse contexto, o discípulo Pedro fez uma confissão de fé surpreendente. Ele disse a Jesus: “O Senhor é o Messias, o Filho do Deus
vivo” (v. 16). Quem deu a Pedro essa convicção? Jesus mesmo indicou
a resposta, ao dizer: “Esta verdade não foi dada a você por nenhum
ser humano, mas veio diretamente do meu Pai que está no céu” (v.
17). Deus agiu para que Pedro tivesse fé. Deus lhe mandou o Espírito
Santo que fez com que o discípulo confiasse em Jesus. 1 Coríntios
12.3 ensina: “Ninguém pode dizer ‘Jesus é Senhor’, a não ser que seja
guiado pelo Espírito Santo”.
As pessoas dos nossos dias, normalmente, consideram as coisas
de Deus uma grande loucura. A maneira como Deus agiu em Cristo
para nos salvar não faz sentido para a lógica humana. Mas, se você
tem dúvidas sobre Jesus, saiba que o Espírito Santo também foi dado
a você e quer transformar a sua dúvida em fé. Ouça o que ele tem
a lhe dizer nas Escrituras. Com a sua ajuda, não é difícil acreditar.
Assim, quando lhe perguntarem o que você pensa sobre Jesus, você
poderá responder com alegria e convicção: “Jesus é o Messias, o Filho
do Deus vivo, o meu Salvador”.
Oração
Amado Pai celestial, obrigado por nos teres dado o Espírito Santo.
Ajuda-nos para que todas as nossas dúvidas sejam transformadas
por ele em fé e, assim, possamos dar um claro testemunho sobre o
Salvador Jesus para o mundo em que vivemos. Amém.
Credo Apostólico
105
O Espírito Santo chama pelo Evangelho
Romanos 10.16-17
S
106
e as pessoas pudessem vir a Cristo “por sua própria razão ou
força”, teríamos, no fundo, uma injustiça. Por natureza, somos
diferentes uns dos outros, umas das outras. Alguns são mais
inteligentes do que outros, algumas são mais fortes do que outras.
Neste caso, a natureza determinaria quem poderia estar com Cristo
e quem não.
Mas não é assim que diz a Bíblia. O texto de referência bíblica acima, Romanos 10.16-17, fala de “aceitar” a Boa Notícia do Evangelho,
de “acreditar” na mensagem e, finalmente, de “ouvir” a mensagem
que vem por meio da pregação de Cristo.
Precisamos ter cuidado, no entanto, para não cairmos no erro de
entender estes verbos no sentido de qualidades pessoais, virtudes ou
força que nos são dadas por natureza, a uns mais, a outros menos. Pois
assim, “aceitar” ainda poderia ser uma virtude ou qualidade pessoal
de alguém. “Acreditar” seria aquela força interior da qual tanto ouvimos falar em nossos dias, “você precisa acreditar, vá em frente” ou o
poder do pensamento positivo, tão badalado e exaltado pelos cursos
de auto-ajuda. E até mesmo “ouvir” poderia se referir a uma certa
docilidade que certas pessoas possuem por natureza, e outras não.
Não é o simples ouvir ou pregar do Evangelho que desperta a
nossa fé. Quem efetua fé é o Espírito Santo, que nos chama pelo
Evangelho. É ele que move as nossas forças interiores, supera as nossas fraquezas, nos dá o que não temos, para fazer com que os nossos
ouvidos estejam atentos, nossas mentes abertas e nossos corações
receptivos para o Evangelho. Esta fé que aceita a salvação de Deus
não é força humana, é presente do próprio Deus.
Oração
Deus e Pai, quando pensamos em nossa salvação, direciona os nossos olhos para o lugar certo. Nada temos a te oferecer, na verdade,
só resistimos a ti. Damos-te graças pela fé que colocaste em nossos
corações, pela qual recebemos teu Evangelho. Amém.
Credo Apostólico
O Espírito Santo aperfeiçoa!
Filipenses 1.6
D
eus há muito começou a trabalhar em nós. Deus está trabalhando em nós! Talvez não o percebemos, porque perdemos
a capacidade de nos encantarmos com as coisas simples ou
com aquelas que já conhecemos há tanto tempo que não mais nos
surpreendem. Talvez, Deus começou a trabalhar em nós tão cedo
que nem nos lembramos de quando isto começou. Por isso, não o
entendemos. Certamente, o Batismo representou este ponto inicial.
Mas, na Bíblia, há gente que pode dizer que Deus já havia começado a
trabalhar em sua vida bem antes! O Salmo 139.16 diz: “me viste antes
de eu ter nascido”. E o apóstolo Paulo pode dizer: “Deus, na sua graça,
me escolheu antes mesmo de eu nascer” (Gálatas 1.15).
Quem diz isso, o diz por fé. Por isso, não se pode vê-lo. Por que,
então, insistimos em querer ver o momento inicial do trabalho de
Deus em nós? Por que insistimos em achar que ele só trabalha em nós
quando o podemos ver ou perceber? Também a continuação deste
“bom trabalho” de Deus em nós é uma questão de fé.
De nossa parte, estejamos certos de que “Deus, que começou esse
bom trabalho... vai continuá-lo... até no Dia de Cristo Jesus”. E quando
os infortúnios atingirem também a nós, continuemos a apegar-nos
a ele, mesmo que nossos sentimentos nos levem a ver as coisas de
um jeito diferente. Não vejo Deus trabalhando em mim... Pode ser
que amanhã o verei e que, olhando para trás, dê para perceber que
ele estava aí.
E, assim, confiemos que o Espírito Santo que, em determinado
momento da nossa vida, começou a sua obra em nós, continuará este
trabalho até o fim, aperfeiçoando-nos, para nossa felicidade eterna
e para a glória do nome de Deus.
Oração
Deus e Pai, tu nos chamaste pelo Espírito Santo antes de nascermos, no
teu Filho morreste por nós e no Batismo nos recebeste como cidadãos
do teu Reino. Pedimos-te: dá-nos a confiança de que aperfeiçoas em
nós a tua salvação. Amém.
Credo Apostólico
107
Creio na santa Igreja
Lucas 17.20-21
A
“
108
vinda do Reino de Deus não é uma coisa que se possa ver”,
diz o nosso texto. Assim, também a verdadeira Igreja não é
uma coisa que se possa ver.
Quando confessamos no Terceiro Artigo do Credo Apostólico:
“creio na santa Igreja cristã” queremos dizer que não podemos ver a
Igreja; que ela é uma questão de fé.
No entanto, embora a verdadeira Igreja seja invisível, há também
uma Igreja que se pode ver. Graças a Deus por ela! Quando participamos dos cultos, da pregação, das celebrações, enfim, das atividades
da nossa comunidade, nós estamos vendo sinais visíveis desta Igreja
invisível, objeto da nossa fé. É através desta instituição visível que Deus
favorece a pregação do Evangelho e o conhecimento de Cristo entre
nós, promovendo, assim, o surgimento e o crescimento do verdadeiro
povo de Deus, ainda não visível aos nossos olhos.
Não é automático que todos os que fazem parte de uma igrejainstituição participem também do verdadeiro povo de Deus, embora
tenham o privilégio de ouvir e de pregar o Evangelho. Pode acontecer, também, que muitos dos que fazem parte do verdadeiro povo
de Deus, por alguma razão, nem participem de alguma comunidade.
Uma coisa é certa: só Deus vê a verdadeira Igreja. Para nós,
ela é “invisível”, é questão de fé. Igreja não é coisa nossa. É coisa
de Deus. Por isso, quem se arroga o direito de dizer que é o único
certo, que pertence à única Igreja verdadeira, está querendo trocar
de lugar com Deus. Nenhum grupo humano tem o poder e o direito
de considerar-se “verdadeira igreja” ou “verdadeiros crentes”. Isto,
quem julga é Deus. Quanto a nós, importa continuar dizendo: “creio
na santa Igreja cristã”.
Oração
Deus e Pai, te damos graças pelo teu amor pela humanidade, e que
nela escolhes um povo para ti. Agradecemos-te por nossas igrejas e
comunidades, onde nos chamas pela Palavra da tua promessa. Livranos de julgar as pessoas em nossa comunidade e fora dela. Amém.
Credo Apostólico
A verdadeira Igreja
João 8.31-32
A
religiosidade, a espiritualidade, o misticismo, o esoterismo e
movimentos afins, têm crescido de forma surpreendente nas
últimas décadas.
Informatizados, codificados, globalizados, materializados e sugestionados pela mídia, somos quase reduzidos a meros números,
numa sociedade de altíssimo índice de exclusão e desumanização.
As pessoas têm necessidades na dimensão do ser e do ter. Não
basta ter tudo e não ter as necessidades básicas do ser atendidas ou
satisfeitas.
Neste contexto, o texto bíblico acima propõe: há e haverá sempre
fome e sede pelo verdadeiro sentido da vida e da história humana.
Necessitamos de referenciais sólidos e verdadeiros para o nosso estar
no mundo. Precisamos de certezas para viver. Precisamos da verdade.
É neste sentido a oferta de Jesus: “Se vocês obedecerem às minhas
palavras, serão de fato meus seguidores e conhecerão a verdade, e a
verdade os libertará” (João 8.31-32).
A Palavra de Jesus oferece segurança e certeza. Conhecer e viver
a promessa do amor divino nos faz verdadeiros discípulos. A Igreja
proclama e vive da verdade que liberta da culpa e do terror da morte.
Essa verdade é o sinal visível da verdadeira Igreja.
Quem conhece e vive a verdade do amor de Deus, revelado em
Jesus Cristo, é filho e, como tal, é participante da verdadeira Igreja
cristã, a comunhão dos santificados por Deus Espírito Santo. Portanto, mais importante do que estar na Igreja é ser Igreja. E ser Igreja é
uma disposição pessoal que se pretende seja permanente, não um
modismo de fim ou início de século e milênio. A Palavra de Deus
permanece e vale para sempre.
Oração
Meu Deus e Pai, ensina-me a viver a tua verdade libertadora para que
eu possa ser um representante da verdadeira Igreja neste mundo tão
carente de ver e ouvir o teu Evangelho. Amém.
Credo Apostólico
109
Comunhão dos santos
Atos 2.46-47
A
“
110
união faz a força”, diz o ditado popular. Sozinhos, somos fracos e vulneráveis. Isolados, corremos grande riscos. Necessitamos de pessoas para nossa harmonia mental e espiritual.
Fomos feitos para conviver, para o “estar junto de”, para dar e receber
carinho, amizade, amor, trocar experiências de vida e de fé.
Os primeiros cristãos, pessoas tocadas pelo Evangelho e transformadas pelo Espírito Santo, viviam intensamente sua comunhão
cristã. Ao estarem juntos, como grupo de fé e amor, constituíam, de
fato, a santa Igreja cristã, a comunhão dos santificados pelo Espírito
Santo. O grupo servia de apoio e encorajamento diante dos perigos
da época.
A comunhão das pessoas que crêem tem um propósito claro:
alimentar-se e repartir o Evangelho e usar os sacramentos de acordo
com a Palavra. Edificar-se e testemunhar é a missão dessa “turma”
formada por pessoas que são, simultaneamente, santas e pecadoras.
A comunhão cristã não é um convívio de “santinhos” que não
erram, mas de pessoas que reconhecem sua “doença” do pecado e
confessam sua necessidade de tratamento.
Apesar de ainda imperfeitos, os santos filhos do Pai buscam, sem
cansar, viver uma vida de coerência, de integridade, de santidade,
sempre inspirada e movida por Deus. Querem, através de seu exemplo, sua reputação e credibilidade, ser reconhecidos pelos outros
como testemunhas vivas do amor transformador do Deus Eterno e,
assim, santificar o seu nome. A “turma” da fé e do amor verdadeiro
quer ser sal, luz e fermento nesse mundo criado e amado por Deus.
Essa é a missão de Deus e de seu povo. Você pode fazer parte desse
projeto de vida!
Oração
Senhor, ajuda-me a testemunhar minha fé com palavras e atos. Quero
santificar teu nome através de minha vida, em confiança em ti e do
amor para com o meu próximo. Amém.
Credo Apostólico
Perdão
Efésios 4.32
“
P
erdoar eu perdôo, mas esquecer nunca”. Você já ouviu essa
frase? Você já pensou assim? Há milênios, o sábio rei Salomão
disse: “Quem perdoa uma ofensa mostra que tem amor, mas
quem fica lembrando o assunto estraga a amizade” (Provérbios 17.9).
De fato, não é fácil perdoar. O ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho ferido, a vingança, o “dar o troco” fazem parte do cotidiano de nossas
vidas. Somos mais mesquinhos e miseráveis do que pensamos, não
é verdade? Assim são os seres humanos. Ninguém é diferente. Basta
olhar para nosso mundo violento, que parece um barril de pólvora
pronto a explodir.
Freqüentemente, nós “reaquecemos” o ácido do ódio que corrói
e destrói nossas vidas.
No entanto, a boa notícia é que Deus é diferente. Ele é justo, mas
não vingativo. Por amar-nos de modo incondicional, seu perdão para
conosco vai além dos nossos limites. Podemos, honesta e abertamente, reconhecer, confessar nossos erros, nossos pecados. O amor de
Deus é maior do que a nossa dívida, nossa culpa. Que consolo! Que
alívio! Não preciso pagar a minha conta impagável. Cristo a pagou
por mim.
É essa verdade divina, revelada em Cristo, que nos liberta do
peso da culpa, da angústia, do desespero, para uma nova vida que
não precisa de máscaras ou desculpas esfarrapadas. Podemos assumir
e admitir nossa situação e continuar com esperança, alegria e paz,
porque nos sabemos aceitos e amados pelo Deus gracioso.
No entanto, o amor recebido precisa ser repassado para o nosso
próximo. O perdão de Deus capacita para perdoarmos o irmão faltoso.
Nossa benignidade inspira-se na misericórdia do Pai. A verdadeira fé
é ativa no amor.
Oração
Senhor, diariamente me perdoas as faltas que cometi contra ti em
pensamentos, palavras e atos. Capacita-me a perdoar os que me machucam e ferem com seus erros, suas indelicadezas, sua estupidez e
seu egoísmo. Liberta-me para a prática do amor. Amém.
Credo Apostólico
111
Lutar e ressuscitar
Romanos 6.5-11
F
112
az parte da vida cristã separar-se do mal. Talvez seja esta uma
das tarefas mais difíceis para cristãos e cristãs. Como viver sem
cair na rotina de qualquer outra pessoa que é dada a todos os
vícios que o mundo oferece?
No ato do Batismo, segundo o apóstolo Paulo, a pessoa morre
para o pecado. A sua velha natureza é sepultada, começando, a partir
daí, um viver alternativo, diferente.
Mas, no mesmo capítulo em que o apóstolo fala sobre o morrer
para o pecado, ele mostra também qual é a perspectiva do cristão,
qual é seu horizonte, para onde ele dirige o seu olhar e qual é a sua
verdadeira alegria e felicidade. Quem foi batizado em Jesus Cristo,
alegra-se com a esperança da ressurreição – e esta é a sua verdadeira
alegria. O apóstolo escreve: “Se já morremos com Cristo, cremos que
também viveremos com ele” (Romanos 6.8).
Se na vida cotidiana o cristão e a cristã promovem o duro exercício de refletir sobre o pecado, de identificá-lo, para, em conseqüência,
afastar-se dele (o que não é fácil no mundo emaranhado em que vivemos!), eles, ao mesmo tempo, podem olhar confiantes para o alvo da
sua vida, que é sua verdadeira alegria. Assim, cristãos que resistem ao
pecado e se afastam dele, são também pessoas que aguardam, com
alegria e esperança, a ressurreição e confessam: Creio que o Espírito
Santo “me ressuscitará a mim e a todos os mortos, e me dará a mim e
a todos os crentes em Cristo a vida eterna” (Lutero).
Lutar e, um dia, ser ressuscitado para estar com Cristo – pode
haver algo que torne a nossa vida mais honesta, mais digna e lhe dê
mais sentido?
Oração
Amado Deus e Pai, dá que assumamos a dura tarefa de descobrir
aquilo que é pecado, para chamá-lo de pecado e afastar-nos dele.
Concede a nós, que no Batismo morremos com Cristo, que também
ressuscitemos com ele. Amém.
Credo Apostólico
O milagre de uma vida completa
João 10.10
A
té hoje representa um escândalo para muitas pessoas que Jesus, que viveu num recanto tão afastado e pobre como a
Galiléia, tenha dito: “Eu vim para que tenham vida e vida completa”. Contudo, foi na presença de Jesus que pessoas experimentaram
o começo de uma vida mais completa. Não só como esperança para
o futuro, mas já no presente.
Analisando a nossa vida, percebemos que em nosso viver há
muito desamor. Uma pessoa pisa a outra. Prevalece o princípio do
olho por olho e dente por dente, o princípio do amor aos irmãos,
mas ódio aos inimigos. Existem, em nossa vida, ilhas de verdade,
mas, muitas vezes, um oceano de mentiras. E, dessa forma, a gente
vai sendo deformada desde a infância.
Na presença de Jesus, contudo, cada pessoa vai sendo levada
para dentro de uma vida mais completa e verdadeira. Assim, pessoas,
que durante anos viveram umas com as outras como cães e gatos,
descobrem que o princípio do olho por olho e do dente por dente é
uma bobagem e que todos, em verdade, somos irmãos e como tais
devemos viver. Na presença de Jesus, o mundo de desamor começa
a desmoronar e cresce um mundo diferente.
Quando essa mudança começa a acontecer na vida de uma pessoa, está acontecendo o milagre do irrompimento da vida eterna na
vida presente. A vida eterna, a vida mais completa, que é a alegria do
cristão e que ele espera para depois da morte, tem uma característica:
ela começa já aqui, na presença de Jesus.
É verdade o que Jesus disse e continua a dizer: “Eu vim para que
tenham vida e vida completa”. Sob a Palavra de Jesus, a vida eterna
vai brotando na vida presente e transformando a vida pessoal, comunitária e social.
Oração
Pai celestial, dá que, na presença de Jesus, o mundo do desamor vá
desmoronando e surgindo um mundo diferente. Concede que também em nossa vida, aconteça o milagre da partilha, do amor, que é
a vida eterna, já no presente. Amém.
Credo Apostólico
113
Confiar
João 3.16
N
114
o evangelho de João, Jesus faz um longo discurso, que está
registrado no capítulo três. Nele, ele expõe a Nicodemos o
objetivo de sua missão na terra, quando diz, em resumo:
“Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho, para
que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna”.
Através da sua explicação, Jesus faz um convite: o de confiar que ele,
Jesus, poderá levá-lo à vida eterna. Foi com essa finalidade que Deus
enviou o seu Filho ao mundo. Nicodemos entendeu a mensagem.
Mesmo assim, vacila em aceitar o convite.
Por vezes, a vida do ser humano é como a de Nicodemos, que
foi falar com Jesus, de noite. Ele tem perguntas e muitas dúvidas. Não
está satisfeito com sua vida. Sente que precisa mudar. Por outro lado,
ele já está tão acostumado com sua maneira de viver, que se torna
difícil mudar alguma coisa. Ele é como uma pomba que está presa
numa gaiola. Tenta voar, mas, dentro da gaiola, ela só se machuca.
Contudo, quando alguém abre a portinhola para que possa sair e voar
livremente, ela vacila, não acredita na liberdade.
Jesus quis dar uma vida mais completa para Nicodemos. Da
mesma maneira, ele quer trazer a nós a vida que vem de Deus. Sim,
ele deseja que deixemos para trás tudo o que, constantemente, nos
machuca, e que aprendamos a viver de uma maneira bem mais
simples, porém completa. Mas, ao mesmo tempo, ele nos convida
a confiar nele, pois só ele é capaz de guiar-nos para uma vida mais
autêntica, feliz e verdadeira. Quem permite isso, pode fazer, já agora,
em sua vida, a experiência da vida eterna. Não vale a pena aceitar o
convite de Jesus?
Oração
Amado Deus, tu enviaste o teu Filho para nos guiar da morte para uma
vida em comunhão contigo e com os irmãos. Ensina-nos a confiar
nele e a nos deixar guiar para que não rejeitemos a vida que tu nos
ofereces. Amém.
Credo Apostólico
A ordem é orar
1 Tessalonicenses 5.17
O
rar não é uma obra opcional para o cristão. “Aquele que
não faz isso [não ora], deveria saber que ele não é cristão e
não pertence ao Reino de Deus” (Lutero).
A recomendação do apóstolo Paulo aos cristãos tessalonicenses
vem acompanhada de outras recomendações adequadas. Entre elas:
“orem sempre” (1 Tessalonicenses 5.17). Isso pode parecer exagerado.
Porém, quando começamos a falar com Deus sobre nossas necessidades e bênçãos que recebemos e ainda louvamos e agradecemos de
modo especial por tudo que temos, então percebemos que não há
nenhum exagero nessa recomendação apostólica. “Orem sempre” é
a mesma coisa que dizer: “Mantenham o diálogo com Deus”. Através
dele, pode-se avaliar o relacionamento que existe entre as pessoas.
Quando se diz que filhos e filhas não falam mais com seus pais, alguma coisa está errada. Onde não existe mais diálogo, também não
há mais relação. Assim acontece com a oração: ela é diálogo entre
Pai e filho. Por isso, “orem sempre” significa: não se afastem do Pai,
mantenham-se ligados a ele!
O reformador Martinho Lutero orou muito e ensinou a orar. Segundo ele, a oração tem quatro aspectos importantes: 1) ela é uma
ordem de Deus; 2) ela tem a promessa de que Deus a ouve; 3) através
dela podemos fazer um exame das nossas necessidades e da nossa
miséria; 4) ela é expressão da verdadeira fé, da certeza e confiança,
baseada nesta palavra e promessa de Deus – e tudo isso em nome de
Cristo, através do qual nossa oração é aceitável ao Pai e por causa
de quem Deus nos dá toda graça e todo bem.
Então, ponhamos em prática a recomendação “orem sempre”
agora mesmo e oremos:
Oração
Ó Deus, nosso Pai celeste, ajuda-nos a orar, a falar contigo com confiança, amor, humildade e alegria. Que saibamos sempre pedir, confiar,
esperar, louvar e agradecer em nome de Jesus. Amém.
Pai Nosso
115
Senhor, ensine-nos a orar!
Lucas 11.1b
“
J
116
esus estava orando...”. Vendo-o, um dos discípulos pede: “Senhor,
ensine-nos a orar”. Este discípulo sabia de uma coisa muito importante: orar a Deus Pai não é inato nas pessoas, mas é um ato
de aprendizagem.
É, pois, preciso aprender a quem orar, onde orar, por quem orar,
em nome de quem orar.
Quem ensina a orar? Muitas vezes ouvimos pessoas dizerem:
“Nos momentos de aperto a gente aprende a orar”. Quem aprende
a orar a partir dos momentos de aperto, corre o risco de orar a uma
“entidade” qualquer. A oração, neste caso, pode ser palavras ditas a
esmo, sem um objetivo claro. Pois oração que parte do aperto tem a
sua raiz em nós mesmos, nas nossas dificuldades. A verdadeira oração parte de Jesus Cristo e se dirige ao Pai. Foi o próprio Filho que
estabeleceu, ou melhor, que abriu novamente o caminho a Deus, que
estava obstruído. Foi Jesus quem ensinou a dizer: “Pai nosso”. A partir
dele, nós não somos mais órfãos. Conhecemos o Pai que permite que
falemos com ele. Olhando e ouvindo Jesus, também temos certeza de
que Deus ouve e atende as orações daqueles que nele crêem.
Quando os discípulos viram Jesus orando, eles formularam
o pedido: “Senhor, ensine-nos a orar!” Se alguém quer realmente
aprender a orar, olhe para o Filho de Deus e para o Evangelho. Assim,
pais, mães, pastores, cristãos, se vocês quiserem ensinar a orar, façam
como Jesus, simplesmente orem! Ensinem o Evangelho. É olhando
para Jesus que se aprende a orar. “Isto não é uma obra opcional para
o cristão” (Lutero), mas é vital. O verdadeiro cristão, o discípulo de
Cristo, o filho de Deus, aquele que olha para Jesus, quer aprender a
orar e ora.
Oração
Senhor, ensina e ajuda-nos a orar de verdade e sempre. Fala-nos pela
tua Palavra e ouve as nossas orações, em nome de Jesus. Amém.
Pai Nosso
Quem pede, recebe!
Mateus 7.7-8
S
ão conhecidos a recomendação bíblica: “orem sempre” e o
pedido dos discípulos: “Senhor, ensine-nos a orar”. A respeito
da oração, Lutero se manifestou nos seguintes termos: “Orar
não é uma obra opcional para o cristão”.
Em nosso texto, é o próprio Jesus quem nos garante que as nossas
orações sempre são atendidas.
Esta promessa é feita em dose tripla: quem pede, recebe; quem
busca, encontra; e quem bate à porta do Pai nosso que está nos céus,
verá a porta celeste abrir-se! Que coisa maravilhosa! De três formas
diferentes nos é assegurado que as nossas orações não caem no vazio.
Três vezes é dito a mesma coisa. Isto significa um reforço. Onde neste
mundo, você vai encontrar essa certeza de atendimento?
Eu posso imaginar que você, caro leitor e leitora, já tenha passado
por alguma decepção porque teve a sensação de que alguma oração
sua não foi atendida. Em verdade, todas as suas orações foram atendidas, sim. Talvez você não tenha obtido exatamente aquele resultado
desejado e no momento que você queria. No entanto, Deus lhe deu
uma resposta. Ele ouviu a sua oração, analisou-a e a enquadrou num
plano e projeto para a sua vida. Deus, o “querido Pai” – assim Lutero
fala de Deus – sabe muito bem, melhor do que nós mesmos, o que é
bom e importante para nós. Deus enxerga mais longe! Ele entende as
nossas orações melhor do que nós mesmos as entendemos. Por isso,
avalie, se Deus não lhe deu algo melhor, talvez num outro momento,
do que aquilo você havia pedido!
Todo o que pede, recebe. Também você pode e deve pedir sempre
e receberá. Quem garante é Jesus. Por isso ore sempre! Ore por você
e pelos outros. Ore ao Pai em nome de Jesus!
Oração
Pai celeste, peço-te que abençoes a mim e a todos os leitores desta
mensagem. Fortalece a nossa fé e ajuda-nos a fazer a tua vontade.
Que também nós saibamos ensinar a orar e compreendamos a tua
resposta à nossa oração. Amém.
Pai Nosso
117
Orar com o coração
Mateus 6.7
O
118
rar com a boca e com o coração. Esta me parece ser a melhor maneira de entender o que Jesus quis dizer no texto
bíblico acima referido. Por um lado, não é a quantidade de
palavras que proferimos que fará com que Deus ouça nossa oração,
mas a intenção e a fé que acompanham nossas palavras. Por outro
lado, não é a forma que usamos que determina o efeito de uma
oração. Podemos usar palavras livres, podemos usar versículos da
Bíblia que são orações, podemos nos valer de orações que outros
deixaram registrados em livros e devocionários. Devemos, sim, orar
com o coração.
Jesus mesmo ilustra como ele entendia a oração que vinha apenas
da boca e não do coração: “não fiquem repetindo o que já disseram”.
Será que podemos concluir dessas palavras de Jesus que nunca devemos usar orações que se repitam, quer dizer, se oram mais vezes?
Com certeza, não foi esta a intenção de Jesus e também não foi a
interpretação que Lutero trouxe sobre a oração. Quando os discípulos
de Jesus lhe pediram “ensine-nos a orar” (Lucas 11.1), ele respondeu
com a oração do Pai nosso, dizendo: “orem assim”. Lutero disse: “De
manhã, quando te levantas... dize o Credo e o Pai nosso. Se quiseres,
podes dizer mais esta pequena oração...” (esta oração pode ser encontrada na parte final do Hinário da IECLB – Hinos do Povo de Deus).
Tanto o Pai nosso de Jesus, quanto a “oração da manhã” de Lutero, fazem parte da tradição, e nos pedem que oremos com a boca
e com o coração. O mais importante não parece ser se a oração é
livre ou repetida, proferida no silêncio do quarto ou em grupo, no
altar ou nos bancos da igreja. Importa, acima de tudo, que ela seja
feita de coração. Este é o ensino.
Oração
Senhor! Mesmo que já tenhamos orado muito em nossa vida, sempre
precisamos pedir de novo que nos ajudes a te procurar de coração e
não apenas com nossos lábios. Ouve nossa oração. Amém.
Pai Nosso
Oração e ação
Isaías 38.1-9
O
Rei Ezequias está muito doente e às portas da morte. O
profeta Isaías vai visitá-lo, mas não tem palavras de conforto e de esperança. Pelo contrário, a palavra do profeta é dura:
“Ponha suas coisas em ordem porque você não vai sarar. Apronte-se
para morrer” (v. 1).
Mesmo não sendo uma boa notícia, pelo menos, foi uma maneira diferente de encarar a morte. Alguns até diriam: que bom se
pudéssemos ter um aviso desses, dando-nos tempo para “pôr nossas
coisas em ordem, antes de morrer”.
Este fato nos poderia fazer pensar em acomodamento, aceitação
e resignação passiva. Não foi, porém, o que aconteceu. O rei reage.
Ele ora, chora e confia (vv. 2 e 3). Já conhecia a máxima da fé: “oração
e ação”. Ele pensa no chamado de Deus. Pensa no que ainda poderia
e deveria fazer. E ouve a resposta: “Vou deixar que você viva mais
quinze anos. Livrarei você... e defenderei esta cidade” (v. 20).
Lutero, na explicação do Pai nosso no Catecismo Menor, inclui
“superiores piedosos e fiéis, bom governo... paz, saúde, disciplina,
honra, leais amigos, vizinhos fiéis e coisas semelhantes” como parte
do “que significa o pão nosso de cada dia”. Que povo não gostaria
de ter um governante como Ezequias, com uma visão clara de sua
função e dependente de Deus em suas decisões?
Temos, portanto, em dois momentos muito diferentes da história
humana, exemplos de que a oração nos torna parceiros de Deus, quer
seja nas questões simples do dia-a-dia, quer nas de maior relevância.
Os parceiros de Deus não têm o poder de fazer o que compete a Deus.
Eles, porém, sabem em quem confiam e, ao fazê-lo, descobrem que
orar é colaborar com o governo de Deus.
Oração
Senhor! Agradecemos que tu, que poderias fazer tudo sozinho, preferes contar conosco. Queres que lutemos pela vida, confiando na
tua ação, através de nossa oração. Lembra-nos sempre disso. Amém.
Pai Nosso
119
Mantendo o equilíbrio
2 Tessalonicenses 3.10
O
120
rar e agir – este é o tema do texto bíblico sugerido acima.
Em continuidade, o apóstolo Paulo exorta alguns cristãos
“preguiçosos, que não fazem nada e se metem na vida dos
outros” (2 Tessalonicenses 3.11).
Parece que a falta de equilíbrio na maneira como vivemos é um
velho problema, porém cria sempre novas formas e características
de se manifestar em diferentes épocas.
No tempo do apóstolo Paulo, cristãos se escondiam atrás da
esperança da volta de Cristo, para não trabalharem e criarem confusão na vida alheia. Paulo lhes recomenda “equilíbrio”. Martim Lutero
exorta o povo de sua época, dizendo: “ore como se você não soubesse
trabalhar e trabalhe como se não soubesse orar!” Lutero recomenda,
pois, “equilíbrio”.
E em nossos dias? Não vivemos, também nós, o perigo dos extremos? Nossa história mais recente nos tem mostrado os estragos
que este extremismo pode fazer. Os inúmeros atentados provocados
por religiosos fanáticos e os suicídios coletivos são apenas alguns
exemplos.
Nos casos mais próximos de nossa realidade, alguns insistem em
viver uma piedade individualizada, como se tudo pudesse ficar ao
“Deus dará”. Dizem que o que interessa é estar “de bem com Deus”.
Outros insistem em mostrar a força e a capacidade do ser humano,
num ativismo desenfreado e sem rumo, na base do “cada um por si
e Deus por todos!”. Todo o extremo é perigoso.
Não me parece ser esta a intenção de Lutero quando propõe:
Ora e trabalha. Sua recomendação vai num outro sentido: “mantenham sempre o equilíbrio”, o que, aliás, é a única maneira de alguém
continuar de pé.
Oração
Senhor! Como gostamos de mostrar nossa espiritualidade, às vezes
até, para fugir da ação. Outras vezes, Senhor, nos mostramos tão
ocupados e fugimos da oração. Ajuda-nos a achar o equilíbrio. Amém.
Pai Nosso
Pai!
Romanos 8.15
V
ocê já pensou sobre aqueles que têm um deus que não fala
nem ouve? Os fiéis podem cantar e gritar a exemplo dos
adoradores de Baal (1 Reis 18.26), e nada de resposta.
Com o nosso Deus é diferente, ele fala e ouve. Ele entrou no tempo, se fez História, e falou. E quando ele fala, está agindo. Foi assim
que as coisas começaram: “Então Deus disse: Que haja luz! E a luz
começou a existir” (Gênesis 1.3). Deus falou e as coisas aconteceram.
O Criador se revelou como o Deus da vida que, num ato de amor,
criou a mim e a todas as criaturas.
Mas, o pecado nos distanciou do Criador e interrompeu o nosso diálogo com ele. O medo, a desconfiança e o orgulho tomaram
conta dos nossos corações e perdemos a coragem de falar com Deus
e, muito menos, nos atrevemos de chamá-lo de “Pai”.
Aí Deus retomou o diálogo. De maneira clara e indispensável,
ele falou e revelou sua vontade salvadora para conosco em seu Filho
Jesus, que nos ensinou a chamá-lo de Pai. Em Cristo, fomos adotados
como filhos queridos. O apóstolo Paulo, por isso, afirma: “Porque
não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez,
atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual
clamamos: Aba, Pai”.
“Aba” é uma palavrinha aramaica que significa “papai querido”,
assim como “Ima” significa “mamãe querida”. “Aba” era uma das primeiras palavras que a criancinha aprendia a dizer quando se referia ao
seu pai. Por isso mesmo, é uma palavra de intimidade, de confiança
e amor. Ao permitir chamá-lo de “Pai querido”, o Senhor do universo
nos incentiva a conversar com ele e a colocar diante dele todas as
nossas ansiedades, porque ele tem cuidado de nós.
Oração
Querido Pai, ensina-me a falar contigo com toda a confiança como
um filho amado fala com o seu querido pai. Por Jesus. Amém.
Pai Nosso
121
Querido Pai
Isaías 66.13
U
122
ma pesquisa revela que “Na virada do século, quase 50% das
crianças poderão estar indo para a cama sem ganhar um beijo de boa-noite do papai” (Seleções Reader’s Digest,
maio/1997). O artigo também estabelece uma hipótese assustadora
sobre os efeitos dessa ausência na educação dos filhos: “Para uma
criança, a ausência moderna e voluntária (do pai) é, sem dúvida, pior
do que a própria morte”.
Se a ausência de um pai provoca tamanho estrago na vida de
uma pessoa, parece ser arriscado aplicar a figura de um pai biológico ao Eterno Deus para retratar o seu amor por nós pecadores. Para
muitos, a figura do pai pode evocar experiências amargas e, então,
a mensagem do amor paterno de Deus fica totalmente distorcida.
Quem sabe, é devido a essa dificuldade moderna que Deus, em
Isaías 66.13, retrata seu amor paterno comparando-o ao amor de
mãe: “Como a mãe consola o filho, eu também consolarei vocês”.
Em todo caso, a figura do pai, aplicada a Deus, não é a do pai
nem a da mãe que abandona seu filho. A figura usada é a do pai que
ama e se sacrifica pelo filho. Este foi um dos aspectos importantes
da redescoberta do Evangelho, feita por Lutero. Baseado na redescoberta de um Pai que ama, Lutero ensina na explicação da introdução
à oração do Pai nosso: “Deus quer atrair-nos carinhosamente com
essas palavras... a fim de que lhe roguemos sem temor, com toda a
confiança, como filhos amados ao querido pai”.
Deus não é rancoroso, mas querido, amoroso, – uma muralha
contra o mal, que nos salva e protege. Dele podemos esperar todo
o bem. Afinal, quem nos amou de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, não nos protegerá de todo mal?
Oração
Querido Pai, prometeste consolar-me como uma mãe consola seu
filho. Peço-te que o meditar em tua Palavra me dê a certeza de que
me seguras no teu colo e me aqueces com o teu amor. Por teu Filho
Jesus. Amém.
Pai Nosso
Pai nosso que estás nos céus
Efésios 3.20
N
ossas orações geralmente lidam com nossos sonhos de cura,
de emprego, de realizações, de felicidade. Nossos sonhos apresentam, pelo menos, três possibilidades: as prováveis, as preferíveis e as possíveis. Se continuarmos vivendo do mesmo jeito de
agora, teremos um futuro provavelmente igual ao presente. Portanto,
devem nos interessar as outras possibilidades de futuro: as coisas
possíveis e preferíveis.
O futuro das coisas preferíveis é de menos riscos. Podemos, sem
dúvida, optar por ele. E o futuro das coisas possíveis o que é? Esta
pergunta implica descobrirmos nossos limites, possibilidades e grau
de persistência. Precisamos arriscar mais. Aí pode acontecer conosco
o que falaram de alguém: “Ele não sabia que era impossível, por isso
foi e fez”.
O texto de referência bíblica acima parte de um contexto em que
o apóstolo Paulo estimula à oração. Podemos nos dirigir ao nosso
Pai que está nos céus. Não está na terra, não é limitado como nós,
mas está no céu. Sabe muito melhor do que nós o que nos convém,
antes mesmo de lhe pedirmos.
Para termos um futuro provável, é só continuarmos vivendo do
mesmo jeito que estamos vivendo. Se, no entanto, nos arriscamos
por um futuro possível ou preferível, nossos sonhos deverão ter a
perspectiva de uma vida mais útil, de um mundo menos injusto, de
uma Igreja mais solidária. Afinal, esta é a marca do Senhor Jesus, que
fez o impossível para que nosso futuro fosse possível; ele trouxe o céu
para a terra. Por isso, podemos orar ao poderoso e eterno Deus, o Pai
nosso que está nos céus. Com a sua ajuda podemos fazer muito mais
do que pedimos ou sonhamos!
Oração
Pai nosso que estás nos céus, és poderoso para fazer muito mais do
que tudo quanto peço ou penso. Fortalece-me com o teu Espírito
para que meus sonhos projetem uma vida mais útil, de louvor a ti e
serviço ao próximo. Por Jesus Cristo. Amém.
Pai Nosso
123
Falar com Deus
Mateus 6.9-13
C
124
om carinho, lembro-me do meu tempo de seminário e das
aulas de geografia. O professor nos levava, de noite, para o
pomar onde estava bem escuro. Ainda o vejo, com o dedo
apontando para o alto, mostrando-nos a localização das diferentes
estrelas, de constelações e de outros astros. E, sempre que isso acontecia, eu ficava maravilhado com a grandeza do universo e com
quão pouco nós somos diante desta grandiosa obra de Deus. E, com
lágrimas de alegria no rosto, eu exclamava, em silêncio: se o universo
é tão vasto, como Deus deve ser grande!
O mais grandioso, porém, é que este Deus se preocupa conosco e
nos ama de verdade. Cada um de nós ocupa um lugar muito especial
no seu coração. Isto nos deveria levar sempre à oração.
Orar, nada mais é do que uma troca de amor, é ter contato, diálogo com Deus, conversar com ele, assim como um filho fala com o
seu pai. E quem chama Deus de Pai, identifica-se com ele não só em
pensamentos e palavras, mas também no amor que procura todas
as pessoas.
Jesus, ao ver a miséria humana, orava. Passava horas a fio, noites
inteiras em oração. Muito mais motivos nós temos para procurar Deus
em oração, pois assim, “Deus quer atrair-nos, carinhosamente, para
crermos nele e lhe roguemos sem temor e com toda a confiança”
(Lutero).
Orar é colocar a vida diante de Deus: apresentar-lhe as alegrias e
tristezas, o sucesso e a frustração. Pois a verdadeira oração fala tanto
das coisas espirituais como das materiais.
Por isso, a oração sempre tem a ver com a nossa vida. Quem
estende a sua mão em oração não pode ficar de braços cruzados.
Toda a nossa vida quer ser uma resposta ao amado Pai!
Oração
Nosso Pai, obrigado que podemos falar contigo. Dá com que possamos
ser uma pequenina luz que reflete um pouco da tua luz para dentro
deste mundo escuro. Amém.
Pai Nosso
Os braços compridos de Deus
1 João 3.1
R
adiante de alegria, a menina correu para o pai, com um papel na mão:
- Papai, olha só o que eu desenhei!
O pai olha a “obra de arte” da filha, mas não entende bem o
significado do desenho: ao pé da folha ela desenhara uma porção
de rabiscos, um perto do outro; e, mais acima, estava um vulto bem
grande, com braços enormes, estendidos para baixo.
- O que é para significar isto, perguntou o pai.
A menina procurou explicar o desenho:
- Aqui, em baixo, estas pequenas linhas são as pessoas, somos
nós. E este grande, ali em cima, é Deus.
- Mas este teu Deus parece meio desengonçado e desproporcional. Eu nem acho ele muito bonito. Seus braços são compridos
demais, retrucou o pai.
- Mas papai, disse a filha um pouco chateada, exatamente aí está
a beleza de Deus. Porque, para alcançar e abraçar todas as pessoas,
ele precisa ter braços muito, muito compridos!
O pai deu um beijo na filha e afastou-se um pouco envergonhado, pois tinha recebido um sermão muito profundo através de um
simples desenho de criança: como poderíamos chamar o poderoso
e eterno Deus de pai, se ele não tivesse braços compridos, com os
quais ele quer abraçar a cada pessoa, seja ela rica ou pobre, idosa ou
jovem, e lhe demonstrar o seu imenso amor!
Quando Jesus ensina o Pai nosso, ele quer mostrar que Deus
é muito maior do que nós podemos imaginar. Mas que ele, mesmo
assim, “é o nosso verdadeiro Pai”, no qual podemos confiar sempre,
e “que quer atrair-nos carinhosamente” e que somos “os seus verdadeiros filhos, para que lhe roguemos sem temor” (Lutero).
Oração
Senhor, faze-me confiar em ti, assim como um filho confia no pai
que ama. Amém.
Pai Nosso
125
Olhar no coração do Pai
Efésios 3.14-15
Q
126
uando rezamos o Pai nosso, podemos olhar no coração de
Deus. E encontramos aí o calor da proteção que tanto procuramos neste mundo e em nossa vida. Deus é o nosso Pai e
não um dominador poderoso ou um juiz implacável. Assim como um
pai ou uma mãe tem amor por seus filhos, assim também Deus nos
ama (Salmo 103.13). Ele também não é um Deus distante, misterioso
e mal-humorado. Ele não só nos deu a vida, mas também cuida de
nós com amor e carinho. E quando nos desviamos e entramos em
dificuldades, ele nos segue com amor, para chamar-nos de volta. Ele
sempre nos convida para voltar para ele e viver na sua presença.
Deus é o nosso Pai e não apenas o meu Pai. Observem que
oramos no plural e não no singular. Com isso estamos dizendo que
somos irmãos. E entre irmãos vive-se em união, uns ajudando os
outros. Quando dizemos “Pai nosso”, incluímos todas as pessoas, e
esta é a vontade de Deus, pois ele deseja que todos sejam felizes e
estejam com ele (1 Timóteo 2.4), os grandes e os pequenos, os fortes
e os fracos, os jovens e os velhos.
O Pai nosso é a oração universal e ecumênica por excelência.
Em toda a parte, nos mais diferentes povos e nas mais diversas igrejas
cristãs – mesmo que nem sempre exista a mesma opinião em assuntos
controvertidos – reza-se esta oração.
Quem sabe, quando rezarmos de novo o Pai nosso, daremos uma
olhadinha para ver quem está sentado ao nosso lado. Eles são nossos
irmãos. Que tal repartir com eles a alegria, a fé, o amor, a esperança
e o pão. Isto é coisa de cristão.
Isto é coisa de quem reza o Pai nosso, pois rezá-lo significa dizer
às pessoas que estão ao nosso lado: “Deus é o nosso Pai e vocês são
os nossos irmãos!”
Oração
Senhor Deus, obrigado por seres o nosso Pai. Faze-nos sermos irmãos
de verdade. Amém.
Pai Nosso
Deus e o nome de Deus
2 Samuel 7.13
D
urante o êxodo, ou seja, a viagem do povo de Israel pelo deserto, em direção à terra prometida, Deus comunicou a sua
vontade, no monte Sinai, dando-lhe os Dez Mandamentos.
Entre eles, o Segundo Mandamento se refere ao nome de Deus e
estabelece: “Não tomarás em vão o nome do Senhor”. O primeiro
pedido da oração que Jesus ensinou, o Pai nosso, suplica: “Santificado
seja o teu nome”. A referência bíblica acima propõe: “Este edificará
uma casa ao meu nome...”, referindo-se à construção do Templo de
Jerusalém. Em diversas passagens bíblicas usa-se a expressão “nome
de Deus”. Em verdade, nome de Deus e Deus são a mesma coisa.
Temos dificuldade para dizer quem e o que é Deus. Estamos diante
de um ser, de um nome absolutamente supremo. Deus é. “Eu sou o
que sou” (Êxodo 3.14). É assim que Deus se apresenta a Moisés. “Deus
é Espírito” (João 4.24). Deus é e existe de si e por si. Todos os demais
seres têm sua existência de Deus e em Deus.
Por sermos criaturas limitadas, não podemos entender esse
mistério de um Deus infinito. Por isso, a Bíblia, muitas vezes, fala
de Deus, citando braços, mãos, face, nome... São jeitos de falar de
Deus, adaptados à nossa mentalidade finita. Assim, quando falamos:
“Santificado seja o teu nome”, em verdade, estamos querendo dizer:
“que tu, Senhor, sejas santificado”.
Somente na consumação deste mundo, poderemos ver Deus
como ele realmente é e não precisaremos mais recorrer a símbolos.
Por isso, tenhamos sempre no coração o que registra o apóstolo João,
no penúltimo versículo da Bíblia: “Certamente venho sem demora.
Amém. Vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22.20).
Oração
Ó minha alma, louve ao Deus Eterno! Que todo o meu ser louve o seu
santo nome! Ó minha alma, louve ao Deus Eterno e não se esqueça
de quanto ele é bom. O Eterno perdoa todos os meus pecados... e me
abençoa com amor e bondade. Amém. (Salmo 103.1-4)
Pai Nosso
127
Mistério maravilhoso: Deus é santo!
Isaías 6.3
D
128
eus é santo em si mesmo. Ser santo é um tributo essencial de
Deus. Faz parte da sua natureza, assim como ser eterno, onipotente, onipresente, todo-poderoso, onisciente, justo, verdadeiro, bondoso, misericordioso, gracioso.
Deus é santo, ou seja, absolutamente puro, sem pecado, absolutamente diferente de tudo o que temos e somos. Nada que é mau,
fingido, imperfeito, pode chegar perto dele: “Sejam santos, pois eu,
o Eterno, o Deus de vocês, sou santo” (Levítico 19.2). A santidade de
Deus só quer o que é justo e bom. Ela se caracteriza por sua majestade
e glória, exaltadas acima de todas as coisas criadas.
A referência bíblica acima enfatiza a santidade de Deus, repetindo
três vezes: “Santo, santo, santo é o Eterno, o Todo-poderoso; a sua
presença gloriosa enche o mundo inteiro!” Isto, por um lado, nos
leva a nos prostrarmos perante sua face, em humildade e reverência. Diante da santidade, Moisés foi solicitado a tirar as sandálias: “...
tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa”
(Êxodo 3.5). Deus é santo, infinitamente acima de tudo que somos
como pessoas.
No entanto, mesmo assim, a partir de Jesus, somos convidados
a nos aproximarmos de Deus. O Cordeiro de Deus estabeleceu a paz
entre o santo Deus e o ser humano limitado e pecador.
O apóstolo Paulo confortava a si e aos seus amados de Éfeso,
assim como conforta a nós, com a certeza: “Deus fez isso de acordo
com o seu eterno propósito, que ele completou por meio de Cristo
Jesus, o nosso Senhor. E assim... nós temos a liberdade de entrar com
toda a confiança na presença de Deus” (Efésios 3.11-12).
Oração
Santo, santo, santo, santo és tu, Senhor! Santo, santo, santo, santo
é teu amor. Glória e majestade enchem terra e céu. Ricas bênçãos
manaram do bondoso Deus. Perdoa-nos, guia-nos, salva-nos. Amém.
Pai Nosso
Tornar santo o nome de Deus – como?
1 Timóteo 4.6-10
O
“
nome de Deus, na verdade, é santo por si mesmo. Mas suplicamos nesta petição que também se torne santo entre
nós” (Lutero).
É tão importante, na caminhada da vida, que a teoria seja
acompanhada da prática, que o falar seja acompanhado do agir,
que a linguagem não-verbal seja coerente com a linguagem verbal.
A incoerência põe em dúvida toda a seriedade de uma pessoa e
causa mal-estar. A coerência, porém, cria um ambiente agradável e
favorece a vida.
Que o digam as crianças que se sentem bem e seguras, ao perceberem que, na prática, acontece aquilo que os pais falam. Que o
digam os namorados e casais, ao sentirem, na convivência diária, o
amor confessado em palavras nos momentos especiais. Que o digam
os governados ao viverem tranqüilos, liderados por governantes coerentes com seus discursos pré-eleitorais.
“... que o nome de Deus se torne santo entre nós” – como? Uma
das formas de isso se tornar realidade é a coerência entre aquilo que
dizemos e fazemos. Segundo Lutero, santifica-se o nome de Deus
entre nós “quando a Palavra de Deus é ensinada de forma genuína e
pura, e nós, como filhos de Deus, também vivemos uma vida santa,
em conformidade com ela. Para isso nos ajuda, querido Pai do céu!
Aquele, porém, que ensina e vive de modo diverso do que ensina a
Palavra de Deus, profana o nome de Deus entre nós; guarda-nos disso,
ó Pai celeste” (Lutero).
A fonte da nossa coerência está no santo Deus. Buscando na sua
Palavra a força para a nossa vida, ele próprio é santificado e o mundo
em nossa volta é beneficiado. Ganha Deus, ganhamos nós e ganha
o nosso próximo. Por isso: “santificado seja o teu nome, Senhor!”
Oração
Amado Pai celestial, obrigado por nos levares a sério. Ajuda-nos a
termos uma vida santa, coerente no pensar e no agir, para sempre
só falamos e fazemos tudo em função daquilo que o coração está
cheio. Por Jesus. Amém.
Pai Nosso
129
Pregação pura da Palavra
João 17.17
N
130
a explicação da primeira prece do Pai nosso, Lutero propõe
que uma das formas de santificar o nome de Deus é “quando
a Palavra de Deus é ensinada genuína e puramente”. Quando e em que circunstâncias acontece a pregação genuína e pura da
Palavra de Deus? Cada pessoa que anuncia a Palavra, acredita que o
está fazendo da forma mais correta e verdadeira possível. Não existe
apenas um único método de explicar a Bíblia. Ela pode ser interpretada e lida de diferentes jeitos.
Um pai estava muito triste porque descobrira uma seringa no
armário do seu filho, com a qual, possivelmente, injetava drogas em
suas veias. Desesperado, procurou ajuda na Bíblia. Abriu-a a esmo
e deparou-se com a seguinte orientação: “Tudo o que vem de fora
e entra em alguém não o faz ficar impuro, mas o que sai dele é que
pode fazê-lo ficar impuro” (Marcos 7.15).
Mas, como entender essa orientação de Jesus? Será que, de fato,
a droga que entra no corpo do filho não lhe faz mal? Jesus é favorável
às drogas?
Vejam, assim não dá. Pinçar um versículo do meio da Bíblia e
interpretá-lo como solução para os nossos problemas não é uma interpretação pura da Palavra. Essa foi uma forma subjetiva, adaptada
à situação pessoal daquele pai que ouviu o que queria ouvir e não o
que a Palavra de Deus realmente queria lhe dizer.
Lutero propõe que a forma correta de interpretar a Palavra é
a “que promove a Cristo”. E o que promove a Cristo? É tudo aquilo
que promove vida, verdade, paz, amor, solidariedade. E este é o
critério mais importante: se Cristo é promovido e é o centro da
nossa interpretação, a Palavra de Deus está sendo pregada genuína
e puramente.
Oração
Querido Deus, desde crianças procuramos conhecer a tua Palavra.
Sabemos que somente ela nos mantém no caminho da santificação.
Ajuda-nos para que permaneçamos firmes na fé naquele que é o
caminho, a verdade e a vida. Amém.
Pai Nosso
Santificar através de palavras e ações
Lucas 6.46
U
ma das coisas que me alegra é ver crianças pequenas orando o Pai nosso. Junto com a aprendizagem das palavras,
elas aprendem a amar a Deus e a santificar o seu nome. Feliz
é quem ajuda uma criança a louvar a Deus através de cânticos e
orações.
A criança tem uma sensibilidade muito grande para perceber se
as palavras do pai, da mãe, do padrinho, da madrinha, do avô ou da
avó são coerentes; se, de fato, acreditam e vivem aquilo que estão
ensinando. Se as palavras que saem dos lábios não estão de acordo
com aquilo que é praticado, a criança rejeita o que não for verdadeiro.
E com isso, ela está cumprindo, mesmo de forma inconsciente, aquilo
que Jesus disse ao povo: “Por que vocês me chamam de ‘Senhor’,
‘Senhor’ e não fazem o que eu digo?”.
Viver uma vida coerente entre palavra e ação, esta é uma forma
de santificar o nome de Deus, segundo propõe a primeira prece do
Pai nosso. Neste sentido, explica Lutero: santificamos o nome de Deus,
quando “também vivemos uma vida santa, em conformidade com
ela (a Palavra de Deus)”.
A comunidade cristã aprendeu com Jesus, através da oração do
Pai nosso, que o nome de Deus deve ser santificado, apesar dele, por
si só, já ser santo. Por isso, desde pequenas, as crianças são educadas
no sentido de amar a Deus e ao próximo. Falta de amor, mentiras,
injustiças, falsidade, desigualdade social, afastam o ser humano do
caminho da santificação do nome de Deus, pois são palavras e ações
que não correspondem à sua vontade.
Que todos nós possamos confessar de boca cheia que “O seu
nome é santo” (Lucas 1.49b), como fez Maria, após receber com humildade a graça de ser mãe do Salvador Jesus.
Oração
Querido Deus, permite-nos que teu nome seja santificado a cada
dia. Somente assim, conheceremos o caminho da vida, do amor,
da solidariedade, da justiça social e da esperança. Fortalece-nos
com a força do teu Espírito. Amém.
Pai Nosso
131
Profanação do nome de Deus
Ezequiel 22.16
Q
132
uem não conhece pais que se envergonham do comportamento de seus filhos? É especialmente desagradável quando é repetitivo.
Deus também se envergonhou dos seus filhos na época do profeta Ezequiel. Havia uma profunda crise moral. Em vez de santificar
o nome de Deus, profanaram-no entre as nações. Como faziam isso?
No capítulo referido acima, há uma lista de, pelo menos, seis pecados denunciados. Entre eles estão prostituição, idolatria, exploração
generalizada, desrespeito aos pais e desamor. Em Êxodo 19.6, alguns
séculos antes, Deus falara aos seus filhos, mostrando-lhes o grande objetivo de sua eleição: “... me sereis reino de sacerdotes e nação santa”.
Falar das grandes obras de libertação no passado e, principalmente,
da promessa do Salvador, nisso consistia o seu compromisso. Israel,
no entanto, se desviara dele, profanando, assim, o nome do Senhor.
E hoje, estes pecados não continuam a corromper as famílias, a
Igreja, o povo e o governo? Por acaso, pecados semelhantes fazem
parte da sua vida? Você tem pecados prediletos com os quais convive?
Se assim for, você está profanando o nome de Deus. Sem arrependimento não há perdão. Faz-se necessária uma contínua luta contra o
pecado da profanação do nome de Deus. Nesta luta, você não está
sozinho, mas pode contar com a ajuda do Espírito Santo. Lembre-se
do propósito de sua eleição: “... vocês serão minhas testemunhas”
(Atos 1.8).
“O sangue de Jesus, seu Filho [de Deus], nos limpa de todo o pecado”. Nestas palavras de 1 João 1.7 você encontra o perdão, o consolo,
as forças para crescer no caminho da santificação do nome de Deus.
Oração
Querido Pai dos céus, agradeço-te pelo grande amor que no dia-a-dia
me dispensas. Perdoa-me por ter profanado tantas vezes o teu nome,
ajuda-me a santificá-lo! Em nome de Jesus. Amém.
Pai Nosso
Santificado seja o teu nome entre nós!
Marcos 9.24
U
ma coisa que preocupa quando se ora o Pai nosso é a falta de
concentração em relação ao sentido das petições. É importante que se saiba o que realmente se está pedindo. Caso contrário, a oração pode tornar-se uma mera recitação.
Em duas coisas devemos nos concentrar quando dizemos: “santificado seja o teu nome”. Primeiro, em como o santo nome de Deus
está sendo santificado entre nós, em nossas vidas, através da nossa
conduta e do uso correto da Palavra de Deus. Importa confiar que,
através dela, Jesus se comunica conosco, ajudando-nos, consolando,
assim como aconteceu com o pai do menino que possuía um espírito mudo. Este pai, desesperado, certamente havia consultado os
sacerdotes, os feiticeiros, procurando ajuda. Finalmente, com a sua
fraca fé, dirigiu-se a Jesus: “Eu tenho fé! Ajuda-me a ter mais (fé)!” e
logo foi ajudado.
Segundo, devemos viver conforme a orientação dessa palavra,
vivenciando-a e testemunhando que só Jesus pode ajudar e salvar.
Todos sabemos que isto não é tarefa fácil. Ao nosso lado pululam
os falsos profetas, os falsos cristos. Estima-se que existam no mundo
1400 pessoas que se dizem Cristo. Só nos Estados Unidos há 800.
Depois, todos os dias, na “telinha”, um montão de mestres espirituais se coloca à nossa disposição para ajudar. Basta uma “ligadinha”
telefônica!
O nome de Deus é santificado entre nós quando em tudo que
dizemos e fazemos damos glória unicamente a Deus em Jesus Cristo!
Você acha que está santificando o nome de Deus? Você confia
em Jesus em todas as circunstâncias? Tenha certeza de que ele está
junto de você para ajudá-lo, assim como esteve com aquele pai.
Oração
Querido Pai dos céus, agradeço-te pelo canal da oração, através do
qual posso te agradecer e pedir socorro. Ajuda-me para que o teu
nome possa ser santificado em toda a minha vida. Amém.
Pai Nosso
133
Em tuas mãos me entrego confiante
Salmo 9.10
A
134
ntigamente, quando um homem empenhava sua palavra, isso
valia. Um fio de bigode servia como uma garantia. Hoje em
dia, porém, nada mais é absolutamente garantido. Não se pode
confiar cegamente em ninguém. Confiança é artigo escasso entre nós.
O motivo é simples: as pessoas não cumprem o que prometem.
Marcam um compromisso para determinada hora, mas não estão lá
no horário combinado. Dizem que nunca mais irão fazer determinada coisa, e quebram sua promessa. No mundo dos negócios, é pior
ainda. Pagamento em cheque requer uma série de garantias, número
da identidade, do telefone, nome e endereço completo, que, ainda
assim, não são confiáveis em muitos casos. Conseguir um empréstimo no banco é um verdadeiro sacrifício: cadastro de bens, avalista.
Compra em crediário nas lojas não é menos complicado. O vendedor se cerca de todas as garantias: além dos dados já mencionados,
ainda consulta o Serviço de Proteção ao Crédito para se certificar
que o comprador ou a compradora não tem débitos pendentes na
praça. Uma lista interminável de exigências mostra o quanto a nossa
palavra vale pouco.
O único porto seguro para a confiança está junto a Deus. Suas
promessas valem. Ele nos ajuda sempre. Seu projeto de salvação para
conosco continua em plena vigência. Quando lhe dirigimos a nossa
súplica, não precisamos pedir o número de sua identidade, o CPF ou
o endereço completo. A santidade do nome de Deus é a garantia que
precisamos. Podemos confiar nele, porque ele cumpre o que promete.
O testemunho bíblico desperta nossa confiança em Deus, porque ele
jamais deixou suas promessas sem cumprimento.
Oração
Tu és meu porto seguro, Senhor! Em meus descaminhos, tu me conduzes pela mão. Em minhas angústias, tu me amparas. Em minha falta
de confiança, tu és praia de areias firmes. Em tuas mãos deposito a
minha vida, porque santo é o teu nome e digno de confiança. Amém.
Pai Nosso
Tu me proteges, Senhor
Provérbios 18.10
O
mundo que nos cerca, não oferece segurança. Há muito
terreno escorregadio, lugares pantanosos, buracos traiçoeiros e abismos insondáveis ao nosso redor. É uma característica inata de todo ser vivo procurar um lugar que lhe dê segurança.
Parece uma questão de sobrevivência. Também o ser humano precisa
de um lugar assim. Por isso, um sentimento de pátria, lar, espaço só
nosso, nos invade quando encontramos este lugar seguro.
É bem verdade que há muitos lugares nesse mundo que nos dão
uma falsa sensação de segurança. Isso é assim, quando depositamos
nossa confiança sobre coisas que, na realidade, não nos oferecem segurança alguma. Poderíamos aqui iniciar uma lista bastante longa de
coisas dessa natureza. Por exemplo, muitos sentem-se seguros somente quando têm uma conta bancária confiável, que lhes permita um
sono sem sobressaltos (Provérbios 18.11). Sentem-se guardados quando vivem numa casa bem murada e cercada por todos os modernos
equipamentos de segurança. Para prevenir contra arrombamentos,
que aumentam a cada dia que passa, o alarme instalado nas casas dá
uma sensação muito forte de segurança e proteção. Outros, por serem
famosos, andam sempre cercados por uma legião de guarda-costas.
A verdadeira segurança, porém, não está em nenhum destes artifícios criados por pessoas. Ela é experimentada por quem deposita sua
confiança em Deus. É para esta “torre forte” que vão os que querem
sentir segurança de fato. A proteção de Deus nos livra de todas as
angústias. Ela nos dá a sensação de “pátria encontrada” que somente
um lugar absolutamente seguro pode nos fazer sentir.
Oração
Pai! Tu és pátria para os despatriados, abrigo para os desabrigados,
amparo para os desamparados. Em teus braços sinto-me em casa.
Carrega-me! Que eu possa sentir a segurança verdadeira que está
ligada ao teu santo nome. Amém.
Pai Nosso
135
O poder que liberta
Jeremias 10.6
A
136
palavra “poder” não desperta bons sentimentos em nós. Ela
lembra desmandos, falcatruas, abusos e injustiça. Na história
da humanidade, a relação do ser humano com o poder, quase sempre, foi problemática. Assim foi no passado e assim continua
sendo. Quanto mais alguém mandava, tanto mais pessoas sofriam.
A maioria sempre sofreu e continua sofrendo debaixo do poder de
poucos poderosos. A minoria, que detém o poder, abusa dele para
alcançar seus objetivos escusos e vantagens próprias. Via de regra,
ele nunca foi usado para libertar ou para servir a maioria. Em suma,
poder lembra autoridade e uso da força, coisas sob as quais sofremos
e contra as quais nada podemos.
Quando falamos do poder que há no santo nome de Deus, precisamos olhar esta palavra de um ângulo completamente diferente.
O poder de Deus não tem nenhuma relação com este tipo de abuso.
Enquanto o poder humano beneficia somente alguns, o poder de Deus
traz salvação para toda a humanidade. Enquanto o poder humano
destrói, o poder de Deus é criador, moldando do nada tudo o que
existe. Enquanto o poder dos homens subjuga e oprime, o poder de
Deus liberta. Enquanto o poder dos homens se evidencia nas armas e
na força, o poder de Deus se revela na fraqueza e na aparente derrota
da cruz de Gólgota que, no entanto, venceu o poder maior da morte,
no Domingo de Páscoa.
O poder de Deus não é um poder distante e alheio a nós. Ele nos
alcança em meio ao nosso dia-a-dia e o transforma. Afasta o sofrimento, devolvendo a serenidade e o sorriso ao nosso rosto. O poder
de Deus é amoroso, cheio de paz e de justiça. Cada um de nós pode
senti-lo pessoalmente em sua vida.
Oração
Todo poderoso Deus! O teu poder me dá uma incrível sensação de
serenidade, porque sei que nenhum poder terreno é eterno. Tu és o
Senhor da História, e tens tudo nas tuas mãos. Obrigado, Pai, porque
sei que em ti está a salvação. Amém.
Pai Nosso
O Reino de Deus é muito bom
Gênesis 1.32
A
qualidade daquilo que vem de Deus é sempre a melhor possível. O mundo, obra de suas mãos, era muito bom, conforme
o testemunho bíblico. Pois de Deus vêm também outras coisas,
sendo o seu Reino uma delas. Pela vinda deste Reino nós oramos na
segunda prece do Pai nosso, dizendo: “Venha o teu Reino”. Suplicamos, portanto, por algo de qualidade insuspeita, pelo Reino de Deus,
que vem dele, traz consigo a garantia de ser muito bom. Além dessa
garantia, lembremos ainda de perguntar se:
- Haverá algo melhor do que estar libertado do poder do Diabo,
do pecado, da má consciência e da condenação eterna?
- Poderá existir situação melhor do que estar debaixo do governo
do Deus todo-poderoso, santo e amoroso?
- Será possível achar maior consolo e esperança do que os que
brotam da certeza de ser herdeiro daquilo que é de Deus, mas foi
colocado à nossa disposição?
Nossa prece, portanto, não é “uma esmola ou algum bem temporal passageiro, mas um tesouro eterno, excelso, e tudo aquilo de
que o próprio Deus dispõe” (Lutero).
Deus coloca o seu Reino à nossa disposição na pessoa do seu
Filho Jesus Cristo. Dessa maneira, ele atende à nossa prece. Aceitando a presença de Jesus na Palavra de Deus unida à água batismal, na
Palavra acompanhando o pão e o vinho na Santa Ceia e na Palavra
anunciada conforme ele a deixou para nós, somos presenteados com
o direito de pertencer ao seu Reino, onde tudo é muito bom, porque
está livre da contaminação do pecado. Que extraordinário presente,
não é verdade?
Oração
Suplicamos, ó Senhor, que o teu Reino continue vindo a nós e que
o teu Santo Espírito nos fortaleça na certeza de que o teu Reino vem
somente com o teu Filho e nosso Salvador Jesus Cristo. Em nome de
Jesus. Amém.
Pai Nosso
137
João Batista anunciava o Reino de Deus
Marcos 1.15
C
“
138
hegou a hora, e o Reino de Deus está perto”, dizia Jesus aos
moradores da Galiléia. Primeiramente, João Batista havia
anunciado que o Reino de Deus viria. Após a prisão do Batista, o
povo ouviu de Jesus uma palavra um pouco diferente, porém melhor
ainda que o anúncio de João: “Chegou a hora, e o Reino de Deus está
perto”. Não havia mais o que esperar, porque lá estava Jesus e, com
ele, ou então, nele, todos encontrariam o Reino de Deus.
Trazendo o seu Reino para perto dos homens, Deus revelou seu
amor imenso pela humanidade. Não é pela ação do homem que o
Reino de Deus é encontrado, mas ele vem por obra divina. Foi trazido
pelo próprio Deus na pessoa do seu Filho Jesus Cristo. O que espera
Deus de quem recebe a graça de pertencer ao seu Reino? “Arrependam-se dos seus pecados e creiam na salvação” é o que aguarda dos
homens o Deus que lhes oferece o seu Reino.
João Batista foi um anunciador do Reino de Deus. O Espírito
Santo revelou-nos que o Reino veio com Jesus e nos convenceu
desta verdade. Temos, agora, o privilégio de reparti-la com o nosso
semelhante. Não é tarefa complexa. Pelo contrário, é simples o suficiente para ser executada por qualquer cidadão do Reino. Basta dizer
que Deus coloca o seu Reino muito próximo de qualquer pessoa, ao
oferecê-lo em Jesus Cristo.
Anunciar o Reino de Deus é tarefa que ninguém mais além do
cristão pode fazer. O resultado dessa ação é glorioso. Façamo-la “a
fim de muitos deles, trazidos pelo Espírito Santo, virem ao Reino
da graça e se tornarem participantes da redenção, para que desta
maneira todos juntos fiquemos eternamente em um só Reino, agora
principiado” (Lutero).
Oração
Senhor, faze de nós anunciadores do teu Reino, pois esta é uma das
respostas de gratidão que desejamos levar a ti diante da graça que nos
concedeste de herdar o Reino de Deus. Em nome de Jesus. Amém.
Pai Nosso
Sinais do Reino de Deus
Mateus 11.1-6
O
s sinais do Reino de Deus estão presentes na resposta de
Jesus. Apontando para eles, Jesus garante a João Batista
que o Messias havia chegado.
Todos os sinais revelam uma característica muito especial do
Reino de Deus. Através deles, descobrimos que ele existe para oferecer
misericórdia e socorro a todos que deles necessitam.
O Reino de Deus se aproximou dos homens em Jesus Cristo.
Por onde ele andava, o Reino estava perto das pessoas. No Reino,
ou em Jesus, os cegos passavam a ver; os paralíticos saíam andando;
os leprosos voltavam curados; os surdos adquiriam a capacidade de
ouvir; os mortos eram ressuscitados e a Boa Notícia do Evangelho
era anunciada. A misericórdia divina, portanto, transparecia através
de todos os sinais.
O Reino de Deus é um reino de misericórdia e socorro! Que
maravilhosa notícia! Deus traz o seu Reino para bem perto de nós, a
fim de nos alcançar o que mais necessitamos: sua misericórdia e seu
socorro. Lá encontramos o sossego para nossa consciência pesada
com imensos pecados a acusá-la; lá achamos a esperança da vida
diante da assustadora certeza da morte, humanamente sem solução.
O Reino de Deus é um reino de misericórdia e socorro! Sendo
herdeiros deste Reino e beneficiados por tudo aquilo que nele existe,
cabe-nos tornar conhecidos os seus sinais. Isto acontece quando nossos gestos para com o próximo são coerentes com tudo aquilo que
recebemos no Reino. Assim, a misericórdia e o socorro alcançarão a
outros, pois esta é a vontade do Senhor do Reino.
Oração
Senhor Deus gracioso, no teu Reino encontramos o que mais necessitamos. Agradecemos-te muito por tua misericórdia. Faze de nós
divulgadores dos sinais do Reino. Assim, a tua misericórdia e socorro
chegarão também a outros. Em nome de Jesus. Amém.
Pai Nosso
139
O Reino cresce por si
Marcos 4.26-29
N
140
a vida existem coisas difíceis de explicar, as quais a razão tem
dificuldade de entender. Isso acontece também quando falamos sobre Deus e sua presença no mundo, usando conceitos
que não fazem parte do nosso dia-a-dia.
Jesus fala do Reino de Deus a partir da realidade das pessoas,
contando parábolas: “O Reino de Deus é como... ”. E a figura mais
usada por ele é a semente!
Quem semeia com métodos naturais sabe que, além de preparar
a terra, cuidar dela e lançar a semente, nada se pode fazer. A semente
tem vida própria. Ela germina, cresce, dá flor e fruto. A ação do homem
mencionado na parábola é lançar a semente e colher os frutos. O resto
é ação da semente e da terra. Enquanto a terra e a semente trabalham,
o homem descansa e dorme. Ele observa a ação da semente, mas não
interfere no processo da germinação e do crescimento.
Essa é uma linda e profunda parábola. Ela nos ensina que o Reino
de Deus vem por si mesmo, sem que possamos interferir na sua dinâmica própria. O que podemos e devemos fazer é pedir a Deus que
nos permita participar desse Reino, que ele venha também a nós, que
“atue entre nós e junto de nós, de sorte que também sejamos parte
daqueles entre os quais o nome de Deus é santificado e seu Reino
está em vigor” (Lutero).
Participar do Reino de Deus é deixar que a sua justiça nos governe. Nós podemos lançar sementes e cuidar da terra. Mas não depende
de nós definir os frutos e a colheita.
Jesus nos liberta de nosso stress e da prepotência de pensarmos
que a construção do Reino de Deus depende principalmente de nós,
e ele nos ensina a termos, após a semeadura, tranqüilidade para
descansar e confiança para esperar o dia da colheita.
Oração
Venha a nós o teu Reino, querido Deus! Permite que te sirvamos na
construção do teu Reino de paz e de justiça. Impede todos que querem perturbar esse processo através do mau uso e abuso de poder.
Abençoa-nos e guarda-nos do mal. Amém.
Pai Nosso
Deus semeia muito!
Mateus 13.1-23
E
m nossas vidas e comunidades percebemos que, às vezes, não
compreendemos a Palavra de Deus, e ela não frutifica em nós
e em nosso meio. Jesus nos convida a ver o que se passa conosco.
A parábola do semeador e a explicação que Jesus dá para seus
discípulos nos ajudam. Afinal, Jesus quer que conheçamos os mistérios do Reino de Deus.
A parábola mostra que Deus não economiza semente. Ele semeia
muito em muitos lugares. A semente é boa; a terra, nem sempre.
Existe a beira do caminho, o solo rochoso, os espinhos e a terra boa.
Existem agentes ou fatores que prejudicam e impedem o processo de
desenvolvimento da semente: as aves que comem o que cai na beira
do caminho, o sol que queima o que fica na superfície da terra, os
espinheiros que são mais fortes e sufocam a frágil plantinha.
Explicando a parábola, Jesus mostra que, às vezes, o poder do mal
arranca e aniquila a boa semente da nossa vida; outras vezes, angústias
e dificuldades tornam-se mais fortes que a boa semente recebida com
alegria e entusiasmo; outras vezes, as preocupações e o fascínio pela
riqueza sufocam a boa semente e, por isso, ela não frutifica.
A semente frutifica na terra boa, mas a colheita não é a mesma
para cada semente: há sementes que dão mais, outras que dão menos.
O importante, porém, é que elas dêem frutos. Assim é com o Reino
de Deus. Por isso pedimos a Deus que seu Reino venha para quem
ainda não está nele e para nós, que já o recebemos, e que esse Reino
nos seja dado também na eternidade (Lutero).
A parábola ensina que é necessário resistir ao mal, persistir na
Palavra, em meio às dificuldades, e confiar apenas na graça e na misericórdia de Deus. Isso são características para a terra boa, na qual
a Palavra de Deus é ouvida, entendida e vivida.
Oração
Deus, tu que lanças boas sementes em nossa vida e no mundo, obrigado
por podermos participar do teu Reino. Faze com que ele cresça e que
seus frutos se façam sentir em nossa vida. Remove todos os agentes que
buscam impedir a realização do teu Reino. Venha o teu Reino! Amém.
Pai Nosso
141
Reino de Deus e reino do mundo estão misturados
Mateus 13.24-30(36-43)
C
142
omo podem o bem e o mal existir e subsistir lado a lado? Essa
é uma pergunta que faz parte da história da humanidade.
Jesus tem um jeito especial de abordar a questão, refletindo sobre o Reino de Deus e sobre o Reino do “inimigo”. Os dois
reinos coexistem no mundo, mas não foram semeados pelo mesmo
semeador. Jesus semeou a boa semente; o Diabo semeou o joio no
meio do cereal, enquanto os “filhos do Reino” dormiam. O “inimigo”
faz o estrago e se afasta; ele sabe que também a semente ruim tem
sua própria dinâmica.
Os servos do dono da boa semente querem resolver a questão,
arrancando o joio. Com isso, podem até acabar com o mal, mas
correm o risco de arrancar também o cereal. Essa é a advertência do
dono do campo. Sua proposta é não interferir durante o processo de
crescimento produtivo, mas só na hora da colheita. Ajuntar e separar
são imagens para o juízo de Deus; fogo e celeiro correspondem a
inferno e céu.
Lutero sabia da coexistência desses dois reinos. Seus representantes são dois grupos: os “poderosos, gordos e fartos que impedem
o pequeno rebanho do teu Reino, (que é) gente fraca, desprezada e
insignificante”.
Nós sabemos que esses dois reinos coexistem no mundo e na
Igreja, pois somos simultaneamente pessoas justas e pecadoras.
Jesus ensina que cabe somente a Deus realizar o juízo. Lutero
ensina que a nós cabe a tarefa de orar a Deus, pedindo que ele converta “aqueles que ainda precisam tornar-se filhos e membros do teu
Reino” e que ele impeça aqueles que usam “seu poder e capacidade
para perturbar teu Reino, de sorte que, derrubados de seu trono e
humilhados, tenham que parar com isso, amém”.
Oração
Querido Deus, necessitamos do teu Reino para vivermos de forma
digna e feliz. Dá-nos sabedoria e paciência para reconhecermos e
cumprirmos a tua vontade nesse mundo. Deixa-nos viver em tua
bondade, julga-nos em tua justiça e livra-nos do mal! Amém.
Pai Nosso
A seleção compete a Deus
Mateus 13.47-50
Q
uem é pescador sabe que uma rede estendida prende todos
os peixes que por ela tentam passar, de acordo com o tamanho permitido pela malha. Quanto à qualidade e tipo de
peixe, a rede não tem nenhuma ingerência. Peixes bons e peixes
ruins estão misturados. Quem vai selecioná-los é o pescador, depois
de levantar a rede.
Assim é o Reino de Deus. Por ora, todo mundo pode ser capturado pela rede. No entanto, no final, haverá uma seleção de quem
realmente participa e quem não participa do Reino de Deus. E esta
seleção quem faz é Deus. Aí não vai depender das aparências, mas
da graça de quem seleciona.
Isto nos incomoda. Pois, como seres humanos, nós gostamos de
ter o poder de decisão. Nós queremos decidir quem pode e quem não
pode participar; nós mesmos queremos escalar o time. No entanto,
segundo a parábola da rede, este poder nos é tirado das mãos.
Que bom! Nós não precisamos escolher e pronunciar a última
palavra. Não corremos o risco de cometer injustiças, tão próprias
dos seres humanos. A escolha e a decisão cabem a Deus, o Todopoderoso, que conhece os seus “peixes” nos mínimos detalhes. Para
nós, basta saber que caímos na malha. Isto nos dá uma esperança
muito grande. Desde agora, podemos viver como se pertencêssemos
aos escolhidos. Estamos entre aqueles que já podem viver, na fé, a
realidade do Reino de Deus.
Na segunda prece do Pai nosso, oramos para que muitos peixes
caiam na rede “... a fim de muitos deles, trazidos pelo Espírito Santo,
virem ao reino da graça e se tornarem partícipes, para que, dessa
maneira, todos juntos fiquemos eternamente em um só reino, agora
principiado” (Lutero).
Oração
Querido Deus, através do Batismo tu me capturaste na tua rede. Agora
eu te pertenço. Muito obrigado! Fortalece a minha fé na certeza de
que eu sou participante do teu Reino eterno, para que eu possa dar
testemunho desta verdade. Amém.
Pai Nosso
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A potencialidade do Reino de Deus no mundo
Mateus 13.31-32
O
144
pequeno grão de mostarda contém, no seu interior, enormes potencialidades. Pela aparência, não se pode avaliar o
seu verdadeiro conteúdo. Assim, propõe Jesus, é o nosso
mundo em relação ao Reino de Deus. Também aqui, as aparências
enganam.
Olhando para o mundo, temos a impressão que tudo está irremediavelmente perdido. Os noticiários informam sobre mortes, assaltos,
assassinatos, injustiça, guerras e corrupção. Será que, de fato, é só
isso que acontece? Não existe nenhum sinal de esperança?
Existem sinais de esperança, sim! A imprensa sensacionalista nos
viciou a vermos apenas as coisas ruins e negativas. Em verdade, porém,
existem muitas coisas boas que merecem ser destacadas. Abra os olhos e
veja o que acontece na sua comunidade mais próxima. Quantos gestos
de amor acontecem em sua volta?! Os cultos de todos os domingos, o
trabalho com crianças, o culto infantil ou a escola dominical, o trabalho social, a creche da sua comunidade religiosa ou política, aquele
político sério e honesto que se destaca entre tantos desonestos... O que
é tudo isso? Não são, porventura, pequenos sinais do Reino de Deus,
sementinhas de mostarda semeadas por Deus para que se desenvolvam
e se transformem em enormes árvores?
A nossa razão nos diz que tudo está perdido. A fé, porém, propõe que aquilo que o mundo despreza e joga fora, a começar por
Jesus Cristo, rejeitado e morto, Deus usa como matéria-prima para a
edificação do seu Reino. A fé nos faz voltar a atenção para Deus, que
constrói o seu Reino a partir das coisas diferentes, como Jesus Cristo,
e quase invisíveis, como o grãozinho de mostarda.
Oração
Estou cego, Senhor, para os sinais que tu colocas para mostrar a tua
presença entre nós. Perdoa-me por isso! Abre os meus olhos para que
eu possa perceber os teus gestos, modestos aos nossos olhos, porém
com enormes potencialidades. Amém.
Pai Nosso
Participamos na construção do Reino!
Mateus 5.13-16
D
eus mesmo constrói o seu Reino. É ele que nos faz ver os pequenos sinais do seu Reino no meio dos grandes sinais do
nosso mundo conturbado.
Qual é a nossa participação na construção do Reino de Deus?
“Vocês são o sal para a humanidade (v. 13a). É com essas palavras que
Jesus se dirige aos seus discípulos. O sal dá sabor aos alimentos e os
preserva de deterioração. Assim, propõe Jesus, são pessoas que têm
consciência da sua salvação em Jesus Cristo. A elas é dada a missão
de dar sabor a este mundo. Sem o testemunho vivo e concreto dos
cristãos, o mundo se torna mais insípido do que já é; ele apodrece,
assim como alimentos sem sal.
Jesus completa a definição da missão dos discípulos: “Vocês são
a luz para o mundo todo” (v. 14a). Se você já tentou caminhar em
total escuridão, então você sabe muito bem o que significa andar no
escuro. É isso: sem o testemunho dos cristãos, o mundo tropeça no
escuro. Por essa razão, o nosso testemunho, por pequeno que seja, é
indispensável, pois ele afugenta as trevas e o mundo se torna melhor.
Essa é a participação na construção do Reino de Deus daqueles
que seguem a Luz do mundo, Jesus Cristo: simplesmente dar testemunho concreto, em palavras e ações. Se não somos como o Sol que
ilumina todo o mundo, podemos ser, ao menos, como uma vela que
ilumina apenas uma pequena sala.
Em tudo isso, porém, importa que seja feito de modo discreto,
não para exaltação própria, mas para exaltação e louvor de Deus;
que em tudo seja louvado o “Pai que está no céu” (v. 16).
Que em cada testemunho nosso, seja ele grande ou pequeno,
prevaleça apenas a intenção da segunda prece do Pai nosso: “venha
o teu Reino!”
Oração
Venha o teu Reino, Senhor! Dá-nos o teu Espírito Santo para que as
nossas obras sejam coerentes com a tua vontade e sejam um testemunho vivo do teu Reino entre nós. Amém.
Pai Nosso
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Aqui e na eternidade
João 3.5
E
146
m seu ministério, Jesus mostra a seus discípulos que o Reino
de Deus já começou, embora ainda não o tenhamos em sua
totalidade. Por isso, importa orar pela sua vinda definitiva. Isto,
segundo Lutero, ocorre de duas maneiras: “primeiro, aqui, no tempo,
mediante a Palavra e a fé, em seguida, na eternidade, pela revelação
(por ocasião da volta de Cristo). Agora, pedimos ambas as coisas: que
venha para aqueles que ainda não estão nele, bem como a nós – que
já o recebemos – por diário incremento e, futuramente, a vida eterna”.
Deus, através de Jesus, veio resgatar não só a você e a mim, mas
também toda a criação, integrando a todos e a tudo no seu Reino.
Porém, só se participa do Reino através de um novo nascimento:
“ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do
Espírito” (João 3.5). Através do seu Espírito Santo, Deus quer agir em
nós, fazer de nós novas pessoas para que possamos estar abertos para
o Reino, nas suas diversas manifestações. Quer envolver-nos para que
possamos colocar sinais deste Reino no nosso dia-a-dia.
Jesus nos ensina a orar e a pedir pela vinda plena do Reino de
Deus. Com isso, nós mesmos testemunhamos a esperança por um
outro mundo, diferente do nosso, no qual o mal, as injustiças, o sofrimento e a morte estarão definitivamente vencidos. Esta é a esperança
que podemos ter. E isto nos impulsiona a não nos conformarmos com
o mundo que temos.
A partir de Jesus, podemos antecipar sinais deste Reino eterno.
Agora é hora de semear fé, esperança e amor no convívio entre as
pessoas ao nosso redor. Sem dúvida, Deus quer fazer muito por você
e também através de você. Pense sobre isso...
Oração
Deus amado: tu nos queres bem. Enviaste-nos Jesus. Ele proclamou
o teu Reino. Ajuda-nos a clamar por ele e a envolver-nos mais em
sua proclamação, colocando sinais de justiça, paz e amor ao nosso
redor. Usa-nos como teus instrumentos. Amém.
Pai Nosso
Que venha a nós o Reino de Deus
Mateus 6.33
N
a oração do Pai nosso pedimos pela vinda do Reino de Deus.
“Na verdade, o Reino de Deus vem por si mesmo, sem a nossa prece; mas suplicamos nesta petição que venha também
a nós” (Lutero).
Ao pedirmos pela vinda do Reino de Deus, estamos nos colocando pessoalmente como dependentes da misericórdia e do amor de
Deus, que quer o bem, a vida e a salvação de todos.
Que venha a nós o Reino de Deus! – esta é uma súplica ensinada
por Jesus. Que venha o Reino de Deus para dentro de um mundo que
rejeita a Deus e o semelhante. Em relação a este mundo, Jesus tem
algo a propor e a ensinar: no lugar da rivalidade, ele propõe justiça
e paz; no lugar da violência, ele propõe amor e perdão; no lugar da
mentira, ele propõe verdade; no lugar da arbitrariedade, do domínio
e da opressão, ele propõe humildade e serviço.
No Reino de Deus há lugar para todos. Quem participa dele,
aceita Deus como seu Senhor e, em conseqüência, coloca-se ao lado
do semelhante a serviço do bem, da verdade, da justiça, da vida.
Dessa forma, as promessas de participação no Reino já começam a
ser vividas agora.
Olhe para suas mãos, seus pés, seus dons. São dádivas de Deus.
Mas será que você não usou tempo demais para envolver-se consigo
mesmo? Deus tem poder para implantar o seu Reino sozinho. Porém,
ele quer que você participe dele e sinta o seu amor e a sua graça.
De que forma Deus quer que você, pessoalmente, sinta a presença
do seu Reino? Que sinais ele quer colocar através de você para que
outros possam sentir a sua presença? Ponha o Reino de Deus em
primeiro lugar em sua vida! Ore o Pai nosso e enfatize: “que venha
a nós o teu Reino”.
Oração
Querido Deus, tu convidas a confiarmos mais em ti e a nos dispormos
a buscar a ti e aquilo que é do teu querer, pois é assim que tu queres
dar vida plena a todos. Ajuda-nos a valorizarmos este convite e a nos
colocarmos a serviço do teu Reino. Amém.
Pai Nosso
147
Vontade de Deus
Lucas 10.27
“
F
148
oi a vontade de Deus!” Quantas vezes ouvimos essa exclamação! Muitas vezes é a expressão resignada de alguém que está
sofrendo, por exemplo, por ocasião da morte inesperada e trágica de uma pessoa querida, seja por uma doença incurável ou por
um acidente de trânsito.
É verdade que, em última análise, nada acontece sem que Deus
o permita. Também é verdade que, em definitivo, a vontade de Deus
se cumpre. Isso nos serve de consolo em meio às dificuldades que, às
vezes, parecem sem fim. Com freqüência, porém, não conseguimos
enxergar as razões para o sofrimento. Ainda assim, podemos afirmar
confiadamente: a boa vontade de Deus se cumprirá. As dificuldades
e o sofrimento, mesmo intensos, passarão.
Mas não devemos entender isso no sentido de que tudo que
acontece corresponda à vontade de Deus. Ao contrário, muito do que
acontece é fruto do pecado humano que se rebela contra a vontade
de Deus. Uma guerra, por exemplo, pode ser resultado da ganância
humana ou da vontade de uma nação dominar sobre a outra. Portanto, isso não corresponde à vontade de Deus, ainda que Deus o
tenha tolerado. O que Deus quer é que nos amemos uns aos outros.
Por que Deus tolera o mal? Porque ele quer lidar conosco como
pessoas a quem ele chama para a liberdade e a responsabilidade. Não
somos pedras ou vegetais sem ação, mas sentimos, pensamos, falamos
e agimos conforme o desígnio de nosso coração. Com quem está o
nosso coração? Se ele não estiver com Deus, haverá de agir contra a
vontade de Deus; se estiver com Deus, desejará louvá-lo e servir ao
próximo. Por isso o apóstolo Paulo admoesta: “Vençam o mal com
o bem” (Romanos 12.21).
Oração
Deus, quando passamos por sofrimento e dor, temos dificuldade para
entender a tua vontade. Outras vezes, reconhecemos que o pecado
humano causa a dor e o mal. Por isso, conforta nosso coração, perdoa
nossos pecados e ajuda-nos a cumprir tua santa vontade. Amém.
Pai Nosso
A vontade de Deus se cumprirá
Mateus 3.9
O
povo de Deus vive desta confiança: Deus prevalecerá! “O
céu e a terra vão desaparecer, mas as minhas palavras ficarão para sempre”, afirma Jesus (Mateus 24.35).
O povo de Deus está sempre tentado a esquecer as promessas
de Deus. Assim aconteceu, por exemplo, com o povo de Israel no
deserto. Cada vez que a água e a comida começavam a rarear e os
inimigos os ameaçavam, os israelitas sentiam-se tentados a desesperar
diante das dificuldades que estavam pela frente. Com a demora de
chegar à terra prometida, pensaram, inclusive, que melhor teria sido
permanecer no Egito, na casa de sua servidão, e não ter saído de lá.
Apesar das murmurações e do desânimo do povo, o que, finalmente,
venceu, foram a vontade e a promessa de Deus.
Nossa experiência diária é que o mal neste mundo resiste à vontade de Deus. O mal, aparentemente, não se cansa. Ou melhor: ele,
de fato, não se cansa. Sempre de novo, em toda parte, ele aparece,
ataca e se difunde. O mal deve ser vencido, mas ele não é vencido
pelo cansaço, e sim por uma arma mais poderosa: a Palavra de Deus
e o bem que ela produz. A Bíblia nos recorda que vencer o mal custou
a Deus a vida de seu próprio Filho, Jesus, morto na cruz.
Mas, a Bíblia não nos fala apenas da morte de Jesus. Fala também
de sua ressurreição que é a vitória sobre a morte. Por isso, também
nós podemos viver na expectativa da ressurreição, ainda quando estamos rodeados por sofrimento e dor, morte e inferno. Aguardamos
“um novo céu e uma nova terra, onde mora a justiça” (2 Pedro 3.13).
Essa vontade de Deus se cumprirá, independente da vontade humana,
mas oramos para que ela se cumpra já em nossos corações e vidas.
Oração
Deus, ouvimos tuas promessas e nelas queremos confiar. Auxilia-nos
e fortalece esta nossa fé, ainda quando a dúvida quer nos assaltar.
Dá que a tua vontade se cumpra também em nossa vida, para que
sejamos instrumentos do teu amor. Amém.
Pai Nosso
149
Nossa situação
Romanos 7.14-25
P
150
odemos observar, ao nosso redor, que há muita injustiça,
corrupção e violência, enfim, uma forte presença do mal. A
nossa tendência é sempre culpar os outros pelos males que
assolam o mundo. Porém, se somos sinceros, vamos enxergar também a presença do mal em nós mesmos. Também nós cometemos
injustiças e podemos ser agressivos; em todo caso, não fazemos o bem
ao nosso próximo como deveríamos e, mesmo, como desejaríamos.
Ainda quando cremos no Evangelho, na salvação em Jesus Cristo,
verificamos que o pecado continua assaltando os nossos corações.
No texto bíblico de referência, o apóstolo Paulo descreveu com
clareza esse mistério. Quando cremos em Jesus Cristo, somos justificados por Deus e sua graça, tornamo-nos novas criaturas. Mas,
ainda assim, percebemos que, muitas vezes, não fazemos o bem que
queremos, mas sim, o mal que queremos evitar. Somos, ao mesmo
tempo, justos e pecadores (Lutero).
Isto significa: quando olhamos para Deus e seu Filho Jesus Cristo,
vemos seu grande amor para conosco e reconhecemos que somos
justos, pela fé que temos. Mas quando olhamos para nós mesmos,
vemos que ainda somos muito limitados e que o mal ainda nos assalta,
de modo que cometemos pecados.
Nessa situação, felizmente, sempre podemos recorrer ao próprio
Deus e seu amor. Nele, também podemos crescer na prática do bem,
como fruto da fé. O pecado humano vai sendo vencido pela justiça
de Deus. É como a madrugada: ainda está escuro, mas já está ficando
claro. E a luz do dia virá com força. Assim, o Espírito divino vai derrotando o pecado humano. E nós podemos, com gratidão, atender
as necessidades de nosso próximo.
Oração
Deus amoroso, agradecemos-te pelo presente da fé e da nova vida,
que concedes a cada dia. Fica a nosso lado quando fraquejamos, para
que sirvamos aos necessitados. Dá, assim, que também nosso mundo
seja mais justo, conforme a tua vontade. Amém.
Pai Nosso
A boa vontade de Deus prevalece
Gênesis 50.15-21
B
occaccio, escritor do século XII, escreveu uma novela envolvendo dois amigos. Um deles era cristão e o outro, judeu. O
cristão lamentava a situação do amigo que, apesar de tão
virtuoso, perderia eternamente a sua alma por rejeitar Jesus Cristo.
O judeu, em dado momento, revelou sua decisão pelo Batismo
cristão. Primeiro, porém, pretendia visitar Roma. O amigo cristão, em
vão, tentou demovê-lo dessa decisão, temendo a influência negativa
do mau exemplo da cúpula da Igreja.
Ao regressar, ao contrário do que imaginava o amigo, o judeu
exigiu que fosse imediatamente batizado. Reafirmou sua convicção
de que Jesus, de fato, era o Cristo. Agora tinha certeza que a Igreja
era obra divina, porque caso fosse invenção humana, com tais dirigentes corruptos, jamais poderia subsistir, crescer e ser amada pelo
mundo todo.
Com Deus é assim: nenhuma má vontade humana pode impedir
que ele realize sua boa vontade. Assim aconteceu com José: os seus
irmãos queriam se ver livres dele e, por isso, o venderam como escravo para mercadores egípcios. Deus, porém, em sua infinita graça,
reciclou toda essa desgraça que culminou nos elevados propósitos
por ele determinados: José foi feito governador pelo faraó e pôde
garantir pão para multidões, evitando a fome e a morte de muitos.
Através de Jesus Cristo, apesar da má vontade dos homens,
querendo varrê-lo do mapa, pregando-o na cruz, Deus realizou o
seu propósito de perdão, vida e salvação para todos. Ninguém pode
interferir negativamente nos planos de Deus, porque “sabemos que
em todas as coisas Deus trabalha para o bem daqueles que o amam”
(Romanos 8.28).
Oração
Senhor, eu não quero viver a lamentar e a reclamar de tudo. Fazeme ver que, mesmo em meio às dificuldades, violências e pecados, o
teu amor e salvação também podem se manifestar poderosamente.
Amém.
Pai Nosso
151
Deus limita a vontade de Satanás
Jó 1
J
152
ó perdera tudo que possuía: seus bens materiais e sua família.
Além disso, ficou doente e foi duramente criticado pelos amigos.
Mesmo não compreendendo a razão de tamanha dor, foi pela fé
que Jó enfrentou essa sua grande crise. Assim, ele superou a tragédia,
recuperando em dobro tudo o que havia perdido.
Esta é uma característica da fé: jamais entregar os pontos, jamais
sucumbir. A verdadeira fé não confia simplesmente no potencial interior, conforme insistem certas filosofias de auto-ajuda, mas ela busca
em Deus a força da superação, pois somente dele é que procede o
poder que excede o limite da capacidade humana.
Ninguém está livre do mal, das tentações, de tragédias e perdas
dolorosas. Muitas vítimas de dores inesperadas desesperam-se de
tal forma que jamais conseguem reconquistar uma vida normal e
emocionalmente saudável. Jó jamais esqueceu a família que perdera.
Mas aprendeu a conviver com essa dor, encontrando em Deus a força
necessária para reconstruir uma vida plena de significado. Jó, pela fé,
sabia que o poder do mal é limitado pelo poder de Deus. A vontade
de Satanás só vai até onde Deus permite.
A fé não ilude nem embota sentidos, fazendo esquecer dores e
perdas passadas. Pela fé, Deus inunda o coração sofredor com tal
força que nada será terrível demais para ser superado ou impedirá a
realização dos grandes propósitos de Deus na vida dos seus eleitos.
Aqueles que vivem sob a graça de Deus em Cristo estão bem
protegidos e fortalecidos. Quando o Diabo pensa ter causado algum
dano, Deus, no seu tempo, interfere, trazendo o dobro em benefícios,
ganho e bênção para quem permanece fiel.
Oração
Querido Deus, fortalece a minha fé para que eu busque sempre em
ti a força para superar qualquer perda e dano. Faze-me compreender
que o teu poder é infinitamente superior ao poder do mal. Amém.
Pai Nosso
A luta feroz
1 Pedro 5.8
N
o Pai nosso, Jesus ensina a orar: “Seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu”. Em outras palavras: “Que a tua
vontade seja feita aqui na terra como é feita no céu”. O que
diz essa prece?
Notemos que ela supõe uma convicção: no céu, a vontade de
Deus já é pura realidade. Há, ali, perfeita sintonia entre o que Deus e
suas criaturas querem. Ali, o Reino de Deus já é realidade, está consumado e existe em sua plenitude. Por isso, quando pedimos que a
vontade de Deus se realize entre nós, expressamos um desejo que tem
promessa de vitória, já prefigurada no céu.
Por enquanto, porém, a vontade de Deus sofre resistência em nosso
mundo. Os direitos divinos são pisoteados. Sua imagem, que quer refletirse no rosto de cada ser humano, é desfigurada a toda hora. Falta de fé,
solidão, desemprego, fome, violência, crianças abandonadas, agressão
ao meio-ambiente... nada disso corresponde ao que Deus quer.
Tais coisas acontecem porque, em nosso mundo, ainda se trava
uma luta feroz entre a vontade de Deus e a de seu maior adversário,
que a Bíblia chama de Diabo. 1 Pedro 5.8 compara-o a um leão que
ruge, à procura de alguém para devorar: “Estejam alertas e fiquem
vigiando porque o inimigo, o Diabo, anda em volta de vocês como
um leão que ruge, procurando alguém para devorar”.
Em meio a essa luta, e animados pela vitória que já se celebra
no céu, nós suplicamos nessa prece do Pai nosso que a vontade de
Deus, que já é feita no céu, se realize também na terra. Quem assim
ora, alegremente cederá espaço para que Deus se torne Senhor em
sua vida e em nosso mundo. Até que céu e terra cheguem à plena
reconciliação e Deus seja tudo em todos.
Oração
Senhor, há muito sofrimento em nosso mundo porque tua vontade
não é feita e tu não és reconhecido como Senhor. Restabelece, em
nosso meio, a fé e a esperança, para que confiemos em ti e façamos
a tua vontade. Amém.
Pai Nosso
153
O propósito de Deus
1 Timóteo 2.4
O
154
sentimento de superioridade, muito comum entre nós, manifesta-se de muitas maneiras. Mas, na sua origem, está sempre a convicção de que nós somos melhores do que os
outros. Achamos, por isso, que temos direitos especiais. Merecemos
um tratamento diferenciado: vida boa, segurança, reconhecimento,
dignidade. Tudo, sempre melhor do que os outros. Os outros? Bem...
Com um certo ar de indiferença, desprezo ou até hostilidade, nós os
tratamos como gente de segunda categoria.
Assim, vamos erguendo barreiras entre pessoas e grupos sociais.
Nos tempos bíblicos, dividia-se o mundo entre judeus e pagãos, entre
gregos e bárbaros, entre escravos e livres. Em nossos tempos, nós o
dividimos entre brancos e pretos, sulistas e nordestinos, homens e
mulheres, patrões e empregados, salvos e perdidos, nós e os outros...
Cada um de nós poderia acrescentar muitos pares a essa lista. E todos
sabemos quantos sofrimentos e quanta desgraça tal atitude provoca.
Quando, no Pai nosso, Jesus nos ensinou a pedir que a vontade de
Deus se faça, ele estava pensando em outra coisa. Pois, qual é a vontade de Deus? “Ele quer que todos sejam salvos e venham a conhecer a
verdade” (1 Timóteo 2.4). Deus não tem protegidos e apadrinhados. A
ninguém ele discrimina. Todos lhe são igualmente caros. A todos ele
ama. A todos Cristo foi enviado. Todos são convidados a participar
do seu Reino. Por todos ele viveu, morreu e ressuscitou. Sobre todos
Deus derrama os benefícios do sol e da chuva, na esperança de que
venham a reconhecer sua bondade graciosa e aprendam a viver a
partir dela. Por que haveríamos nós de agir de modo diferente?
Oração
Pai amado, tu nos tratas segundo a bondade de teu coração e não
segundo o nosso merecimento. Apaga o nosso orgulho próprio, para
que aprendamos a refletir em nossa vida a tua bondade. Amém.
Pai Nosso
Que a vontade de Deus aconteça entre nós!
1 João 4.7-21
A
vontade de Deus, pela qual pedimos no Pai nosso, consiste
na prática de seus mandamentos. O que significa isso nas circunstâncias da vida? Sabemos, por exemplo, que o roubo é
uma transgressão do Quinto Mandamento. Mas o que fazer se um
dia tivermos diante de nós uma pessoa desempregada, que, num
momento de desespero, roubou para saciar a fome de seus filhos ou
para dar-lhes assistência médica?
Alguém poderia dizer: a pessoa deve ser punida, pois o Quinto
Mandamento deve vigorar em qualquer situação. Outro poderia
responder: a coisa não é tão simples, pois preservar a vida é mais
importante do que qualquer lei. Outro ainda poderia ponderar: o
que está havendo com a nossa sociedade para que uma pessoa tenha
que transgredir um mandamento, a fim de assegurar a seus filhos o
direito à vida?
Para a fé cristã, vale que a vontade de Deus não pode ser totalmente definida por regras e leis minuciosas. Em lugar disso, Jesus nos
deu um critério para orientar nossas decisões e práticas. Em qualquer
situação, deveríamos nos perguntar se nossa decisão ou conduta
corresponde ao supremo mandamento do amor: amar a Deus de
todo o coração e ao próximo como a si mesmo.
A referência bíblica acima diz que aquele que não ama não
conhece a Deus, pois Deus é amor. É através do amor, recebido ou
dado, que Deus se torna palpável para nós e para os outros. Lutero
formulou isso de maneira admirável: “Em fé e amor consiste toda a
essência de uma vida cristã. A fé recebe, o amor dá de si; a fé leva a
pessoa para Deus, o amor leva Deus para as pessoas; pela fé, a pessoa
recebe benefícios de Deus, pelo amor, ele presta benefícios às pessoas”.
Oração
Nosso Deus e Pai, agradecemos pelo teu amor que nos revelaste em
teu Filho Jesus Cristo. Ajuda-nos a compreendermos a profundidade
desse amor e transforma-nos em seus instrumentos, para que, através
dele, outras pessoas possam sentir a tua presença. Amém.
Pai Nosso
155
É preciso combater o mal
Efésios 6.10-13
J
156
esus ensinou a orar: “Livra-nos do mal”. Nessa oração, pedimos
“que o Pai celeste nos livre de todos os males que afetam o corpo
e a alma, os bens e a honra e, finalmente, quando vier a nossa
hora derradeira, nos conceda um fim bem-aventurado e nos leve, por
graça, deste vale de lágrimas para junto de si, no céu” (Lutero). Jesus
disse: livra-nos do mal! Este grande inimigo de Deus e dos homens
tem nome, chama-se Satanás. Dele se originou todo o mal que há
no mundo.
O apóstolo Paulo diz que nossa luta contra o mal é uma luta
contra poderes muito ameaçadores. Com ele não se brinca, pois é
extremamente perigoso. Não apenas ameaça nossa existência neste
mundo, mas quer tirar de nós também a vida plena, preparada e
doada por Deus, em Cristo.
Mas Deus não nos abandona. Pelo Batismo somos dele. Por isso, o
próprio Deus se coloca ao nosso lado. Cristo venceu o mal, ao sofrer,
na cruz, o castigo que nós deveríamos sofrer, tirando de Satanás, o
maior e mais ameaçador poder, o de nos acusar perante Deus. Todo
o que crê em Cristo, sabe que, em Deus, está plenamente protegido.
O texto bíblico acima nos mostra que Deus nos proporciona uma
armadura na luta diária contra o mal. É a armadura “de Deus”. Ele
batalha por nós, pela sua Palavra. A mensagem da salvação é mais
poderosa do que qualquer arma nuclear, pois ao nos firmar na fé em
Cristo, Deus também se coloca ao nosso lado e edifica muralhas ao
nosso redor.
Se, por um lado, a luta contra o mal é diária e dela não podemos
descuidar, por outro, é consolador saber que não estamos sozinhos
nesta batalha. Estamos com Cristo e, o melhor de tudo, ele já é, antecipadamente, o vencedor.
Oração
Querido Pai dos céus, agradeço-te pelo canal da oração, através do
qual posso te agradecer e pedir socorro. Ajuda-me para que o teu
nome possa ser santificado em toda a minha vida. Amém.
Pai Nosso
Deus quer que sejamos santos!
1 Tessalonicenses 4.3
“
E
sta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Tessalonicenses
4.3). A vontade de Deus é séria. Não se brinca com um desejo
expresso por ele! O que podemos fazer para andar em santificação? Que tipo de atitude em nossa vida deixaria claro que estamos
em santificação? Perguntando dessa forma, a resposta sempre fica
por nossa conta. Espera-se que algo aconteça em nós. No entanto,
precisamos perguntar a Deus como poderemos chegar à santificação.
Deus nos diz na sua Palavra: “Sede santos, porque eu sou santo” (1
Pedro 1.16). O padrão é o próprio Deus, não alguma pessoa exemplar.
Santificação é questão de cem por cento! Boas intenções não fazem
uma vida santificada. Aí se frustram todas as tentativas humanas.
Ficam sem esperança os que querem alcançar santificação por seus
esforços, pois isto é impossível a qualquer pessoa.
Em 1 Tessalonicenses 5.23, o apóstolo Paulo diz: “O Deus da paz
vos santifique em tudo”. É Deus que santifica o pecador. Como? Hebreus 10.10 responde: “Porque Jesus Cristo fez o que Deus quis, nós
somos purificados [santificados] do pecado pela oferta que ele fez,
uma vez por todas, do seu próprio corpo”. Santificação só é possível
porque Cristo, o Santo, tomou nosso lugar no castigo pelo pecado.
Quem nele crê, é santo aos olhos de Deus.
Neste perdão em Cristo consiste a vida santificada. Com o auxílio de Deus Espírito Santo, podemos lutar contra o pecado. Por
isso mesmo, é preciso sempre buscar nele as forças, em sua Palavra,
no Batismo e na Santa Ceia. Ele nos conduz, para que, santificados
por Cristo, pela fé, cresçamos diariamente no amor, no serviço e na
fidelidade a ele.
Oração
Senhor Jesus, tu és santo e santificas o pecador pelo teu sacrifício na
cruz. Concede que possamos, com a obra do Espírito Santo, viver
diariamente esta santificação, em pureza, amor e serviço. Amém.
Pai Nosso
157
O que Deus quer?
2 Coríntios 12.9
S
“
158
e Deus quiser” é uma frase que ouvimos muitas vezes. “Se Deus
quiser” pode ser uma manifestação de profunda humildade de
quem sabe que não pode manipular a Deus, mas unicamente
rogar a ele. “Se Deus quiser” pode, também, ser simplesmente uma
maneira de falar, um costume, onde o nome de Deus acaba sendo
empregado de maneira vã. No entanto, não será esta uma forma
adequada de falar dos acontecimentos de nossa vida? Afinal, quem
de nós pode saber o que Deus quer?
Sim, não podemos manipular a Deus ou exigir dele que faça o
que nós queremos. Não sabemos qual é a vontade específica de Deus
para cada situação de nossa vida.
O apóstolo Paulo fala de um “espinho na carne”, possivelmente
uma doença que o perturbava muito. Por causa disso, orou muito a
Deus para ser libertado deste mal. No entanto, não era esta a vontade
de Deus. O “espinho na carne” tinha sua função: alertar a Paulo para
que não ficasse orgulhoso diante das maravilhas que experimentava,
como apóstolo do Senhor. Porém, Deus foi além. Ele não exigiu de
Paulo que se resignasse. Também não lhe disse simplesmente: é assim
que eu quero e basta! Deus disse algo mais: “A minha graça é suficiente
para você, pois o meu poder é mais forte quando você é fraco”. Em
outras palavras, Deus deixou claro que sua vontade incondicional e
firme é ser gracioso com os seus. Conhecer sua graça, seu perdão e
a salvação em Cristo basta para nós.
Quando oramos no Pai nosso “seja feita a tua vontade”, manifestamos nossa confiança de que nosso Pai celestial “nos fortalece
e preserva firmes na sua palavra e na fé, até o nosso fim. Esta é sua
graciosa e boa vontade” (Lutero).
Oração
Bondoso Deus, como é bom saber que tua vontade é graciosa para
conosco. Tu queres nos ter junto contigo, onde há felicidade completa. Dá-nos isso, ó Deus, e tudo o mais que, em tua vontade, sabes
ser bom para nós. Por Jesus. Amém.
Pai Nosso
Deus e as necessidades físicas
João 6.5
E
ntre os cristãos acontece muitas vezes que se faz uma distinção entre o pão espiritual e o pão material. Como se um fosse
mais importante do que o outro. Cita-se a passagem bíblica
que diz: “Nem só de pão viverá o ser humano...” (Deuteronômio 8.3).
Se observarmos atentamente, veremos que, nesse versículo, o pão é
considerado essencial e básico. Pode-se dizer que ele não é tudo de
que o ser humano precisa, somente quando ele já estiver assegurado.
Sem ele, a vida é impossível.
O relato da multiplicação dos pães (João 6) mostra que Jesus
não ficou indiferente à presença da multidão faminta à sua volta.
A pergunta com a qual confronta seu discípulo Filipe é esta: “Onde
conseguiremos comida para tanta gente?”
Estudos recentes sobre a realidade da fome em nosso país, têm
mostrado que a pergunta continua atual: onde conseguiremos pão? A
busca pelo alimento capaz de saciar a fome é a preocupação diária de
uma grande parcela da população. Jesus não se mantém indiferente
a essa situação. No Pai nosso, ele ensinou seus discípulos a orarem
pelo pão, sem o qual a vida não se mantém.
O pão nosso de cada dia é primeiramente comida e bebida, mas
não só! Quando você ora pelo pão, peça também “tudo que se refere
às relações domésticas e vizinhais, ou civis e políticas” (Lutero). Ou
seja, ore para que Deus dê as condições necessárias para que o pão
possa chegar à sua mesa e à mesa dos seus semelhantes. De fato,
Deus garante o pão a bons e maus, também sem a nossa prece, mas
pedimos que ele nos faça reconhecê-lo, para recebermos o pão com
gratidão e nos sabermos comprometidos com sua partilha.
Oração
Querido Deus, nós convivemos com a realidade da fome. Sabemos
que isso não te deixa indiferente. Dá que possamos receber com gratidão o alimento necessário e que aprendamos a partilhá-lo como
teu Filho, nosso Senhor, nos ensinou. Amém.
Pai Nosso
159
Comida e bebida
Números 11.31-32
H
160
á pessoas que sempre estão insatisfeitas com a situação em
que se encontram. Reclamam de quase tudo e são incapazes
de olhar a sua volta e ver o sofrimento alheio. Como o caso
daquela pessoa que vivia reclamando da sorte, pois tinha somente
bananas para comer. Quando decidiu erguer a cabeça e olhar para
trás de si, viu uma grande fila de gente alimentando-se das cascas.
O povo de Israel quando fugiu da escravidão no Egito, passou
por situações difíceis. A comida ficou escassa. E, principalmente,
não havia mais carne para comer. Então começaram a resmungar
contra Deus e a reclamar de seu líder Moisés, dizendo que no Egito a
comida era mais farta. A ingratidão os fez esquecer o maná que Deus
já providenciara para preservar a vida.
Quando aprendermos a analisar a situação de nossa vida, levantando a cabeça e vendo as necessidades das pessoas que nos cercam,
veremos que temos muitos motivos para sermos gratos a Deus. A
ingratidão somente produz amargura e infelicidade. Um coração
agradecido é capaz de olhar a sua volta e ver que há muita gente
precisando de sua ajuda.
Não é consolo barato! Não é conformar-se, porque afinal, o outro
está pior do que eu. Trata-se de exercitar gratidão. Trata-se de uma
nova postura diante da vida! De ser capaz de satisfazer-se com as coisas
simples, num mundo que exige sempre mais sofisticação. De abrir mão
de acumular só para si, num mundo que privilegia somente aqueles
que têm. Pois, não é mais feliz quem mais tem. Antes, é mais feliz quem
sabe ser grato pelas suas conquistas, e quem recebe comida e bebida
em abundância como dádivas para serem partilhadas.
Oração
Senhor! Nós somos gratos pela comida e a bebida que nos dás. Nunca
nos deixes esquecer de agradecer-te pelo que somos e pelo que temos.
Neste mundo de competição e concorrência, ajuda-nos a orientarmos
nossa vida pelo teu Evangelho. Amém.
Pai Nosso
Casa e lar
Salmo 136.1a,25
A
prece “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”, inclui a casa e o
lar. A casa, na qual nos acolhemos mutuamente é parte do pão
de cada dia. Sem o lar e a nossa família, não seríamos quem
somos e nossa vida não seria a mesma. Pois, neste caso, a família
ficaria ao relento e não teríamos onde nos abrigar.
Outro dia, perguntaram para uma criança onde estavam seus
pais e ela respondeu que não tinha pais. Perguntaram onde ficava
sua casa e a resposta veio pronta: eu não tenho casa! Morava na rua,
cobria-se com jornal e deitava em cima de papelão.
A vida das famílias anda cada vez mais complicada. Os momentos
de comunhão são sempre mais escassos. Claro, há muitas razões para
isso. Entre os elementos desagregadores da família, está a falta de um
ambiente próprio para se abrigar e viver. Não devemos esquecer-nos
que a nossa saúde mental depende desse espaço de acolhimento
que é a nossa família. É nela que podemos refugiar-nos quando as
tempestades da vida se abatem sobre nós.
Entre as necessidades da vida, Lutero cita “casa e lar”. Estas
coisas não são secundárias para Deus. Elas são essenciais; são tão
importantes como comer e beber. Mas, qual é a solução para casos
como o do menino que não tem casa nem lar? E não são poucos os
meninos e as meninas que vivem nesta situação! Será que a única
solução é conformar-se?
Quando oramos “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”, estamos
fazendo duas coisas: agradecemos pela casa e o lar que Deus nos dá
e, ao mesmo tempo, intercedemos para que cada vez menos meninos
e meninas tenham que dormir ao relento e proteger-se com papel e
papelão porque não tem casa nem lar, nem pai, nem mãe, nem família!
Oração
Querido Pai! Obrigado pela nossa casa e nosso lar. Reconhecemos
que sem isso não podemos viver. Sensibiliza muitas pessoas, inclusive
a nós, para podermos contribuir para que mais pessoas, pais, mães,
crianças, possam ter casa e lar. Amém.
Pai Nosso
161
Deus supre meios de sobrevivência
Atos 18.3
O
162
apóstolo Paulo chega na cidade de Corinto, e lá se hospeda na casa de um casal de judeus que, juntamente com
muitos outros, fora expulso de Roma. Hospedou-se em sua
casa porque tinham a mesma profissão: faziam barracas.
O trabalho faz parte da vida do ser humano. Antes mesmo de o
homem ter cometido o primeiro pecado, Deus lhe dera um trabalho:
cultivar o jardim do Éden. E para auxiliá-lo nesta tarefa, criou uma
companheira (cf. Gênesis 2.15-18).
Infelizmente, o trabalho, criado para alegria e prazer, com a
queda em pecado, trouxe uma série de dificuldades para o próprio
ser humano (cf. Gênesis 3.17-19). Mesmo assim, Deus continuou a
considerá-lo como um bem, tanto que sua Palavra sempre incentivou os que nele confiam para que sejam pessoas trabalhadoras, que
tenham sempre o necessário para a sua própria sobrevivência e com
que acudir o necessitado (Efésios 4.28).
Apesar de Deus, em momentos especiais, permitir que sobrevenham dificuldades aos seus seguidores a fim de que, por meio
delas, sejam aprovados (Romanos 5.3-5), ele também sempre os tem
incentivado a continuar confiando nele, oferecendo-lhes promessas
maravilhosas como a de Mateus 6.31-33: “... não fiquem preocupados, dizendo: Onde é que vou arranjar comida, bebida e roupas? Os
pagãos estão sempre preocupados com estas coisas. O Pai de vocês,
que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Portanto,
ponham em primeiro lugar nas suas vidas, o Reino de Deus e aquilo
que Deus quer, e ele lhes dará todas as outras coisas”.
Deus, através do nosso trabalho honesto, nos quer dar aquilo
que necessitamos. Por isso, confiemos nele!
Oração
Senhor Deus, abençoa todos os que buscam, através do trabalho
honesto, o seu sustento. Permite que diminua o número de desempregados. Concede-nos o pão de cada dia. Em nome de Jesus, nosso
Salvador. Amém.
Pai Nosso
Família piedosa
Colossenses 3.18-20
C
omo há maridos que querem mandar em suas esposas, desprezando e oprimindo-as, não é mesmo? Ao invés de amá-las
de coração, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para
que se sintam felizes, com palavras e atitudes, as machucam e fazem
com que elas se perguntem: por que casei com ele?
Por outro lado, há esposas que, não compreendendo a vontade
de Deus, não aceitam o fato de que a submissão a seus maridos não
as desmerece e nem as humilha. Ser submissa no Senhor significa
confiar no marido cristão, que com ela dialoga e a ama ao ponto
de estar pronto a dar por ela sua vida e nunca querer humilhá-la.
Além disso, submissa no Senhor também significa aceitar, no caso
de terem pontos de vista diferentes sobre um mesmo assunto, a sua
decisão, caso esta tenha como modelo o amor do próprio Salvador
Jesus pela sua Igreja.
Como existem pais que facilmente levam seus filhos à ira com
brincadeiras sem graça, por causa de cobranças exageradas ou de
comparações sem sentido. Por outro lado, como há filhos que desrespeitam a autoridade dada por Deus aos seus pais, zombando deles
e menosprezando suas palavras e atitudes.
A grande solução para todos estes conflitos o apóstolo Paulo
nos apresenta na sua carta aos Colossenses 3.23, quando diz: “O que
vocês fizeram façam de todo o coração, como se estivessem fazendo
para o Senhor e não para as pessoas”. Como seria diferente o lar de
muita gente se, de fato, fizessem tudo o que fazem para seus familiares
como se o fizessem para o próprio Deus que os amou e que em Cristo
os salvou. Uma família piedosa é tão importante como o “pão nosso
de cada dia”. Que cada um de nós possa dizer:
Oração
Pai celeste, perdoa os pecados que cometemos em nosso lar, no
relacionamento entre esposos ou entre pais e filhos. Ajuda-nos, fortalecendo nossa fé em Jesus e anima-nos a fazer a tua vontade. Que
o teu amor nos incentive a viver em amor. Amém.
Pai Nosso
163
Bom governo é essencial para a vida!
1 Timóteo 2.2
B
“
164
om governo”, segundo a explicação de Lutero, faz parte do “pão
nosso de cada dia”. Nesse sentido, a referência bíblica acima
nos admoesta que é dever de todo o cristão orar em favor
das autoridades constituídas, a fim de que estas possam exercer sua
missão com responsabilidade e com todo o respeito a Deus e agindo
corretamente.
Um bom número de pessoas, mesmo cristãs, se nega a fazê-lo,
especialmente quando a autoridade constituída não for do partido
político com o qual simpatizam. No entanto, não é esta a recomendação da Palavra de Deus.
No tempo de Jesus, quando a autoridade que se encontrava em
Israel era opressora, pois estava submissa aos romanos invasores, Jesus
deixou bem claro que devia dar-se a César o que era de César e a Deus
o que era de Deus. Paulo, o apóstolo, ao escrever a sua primeira carta
a Timóteo, não exclui de sua lista de oração nenhuma autoridade,
nem mesmo a corrupta. Pelo contrário, ele estimula o jovem pastor
Timóteo para que ele e sua congregação orem em favor de todos os
que têm autoridade, sem exceção.
Provavelmente, a maioria das queixas que sempre de novo se
ouvem a respeito dos políticos, deixariam de existir se os cristãos de
fato orassem muito mais a Deus em favor daqueles que foram investidos de autoridade.
Talvez você, que está lendo esta mensagem, pouco ou nunca
tenha orado em favor de todos os governantes. Se você sempre o tem
feito, que bom. Continue a fazê-lo. Mas se a sua resposta foi negativa,
então tome agora a decisão de fazer o que a Palavra de Deus lhe recomenda. Sim, que de hoje em diante, você, movido pelo amor de
Cristo que o salvou, também tenha tempo para dizer:
Oração
Pai nosso, abençoa todas as autoridades de nossa Pátria. Derrama
tuas bênçãos sobre todas elas para que tenhamos uma vida calma
e pacífica em nossa Cidade, Estado, País. Por amor de Jesus, ouve a
nossa prece. Amém.
Pai Nosso
Deus dá e preserva a vida
1 Timóteo 6.8
T
empos atrás li a seguinte história: Depois da colheita, um grupo de indígenas da Amazônia brasileira costuma convidar tribos vizinhas para fazer uma grande festa. O objetivo dessa festa
é consumir comunitariamente as sobras da colheita, a parte excedente
ao mínimo necessário para viver ao longo do ano.
Para quem costuma ouvir que “precisamos nos prevenir”; que
“é necessário ter reservas”; que “as sobras devem ser vendidas”, esse
costume indígena pode parecer absurdo. E se no ano vindouro der
uma seca? E se uma tempestade destruir a plantação? E se...? Será
mesmo um absurdo?
Na oração do Pai nosso, Jesus ensinou a pedir assim: “O pão nosso
de cada dia nos dá hoje”. Fixemos nossa atenção na expressão “cada
dia”. É admissível supor que Jesus não criticaria nosso costume de
ter uma reserva na despensa para o dia de amanhã. No entanto, com
“cada dia”, Jesus destaca duas coisas básicas. Primeiro, ele nos convida
a orar pelo pão (tudo que o ser humano precisa para viver) e a crer
na providência divina. Deus, o provedor do pão, garante que todos
e todas terão esse pão. “Deus quer indicar-nos como cuida de todas
as nossas necessidades e também zela, tão fielmente, pelo nosso sustento temporal” (Lutero). Orar por esse pão é, sobretudo, reconhecer
que ele nos é dado por Deus. Segundo, essa confiança nos liberta da
ânsia de querer acumular e ter sempre mais e mais, ilimitadamente.
E, não havendo acúmulo, haverá maior possibilidade de todas as
pessoas receberem de Deus o pão diário. “Se temos comida e roupa,
fiquemos contentes com isso” e agradecidos a Deus!
Oração
Deus Criador, obrigado pelo pão diário. Liberta-nos da busca do acúmulo. Ensina-nos a confiar na tua providência. Dá que as comunidades cristãs se engajem naquelas iniciativas que visam proporcionar a
todos o acesso ao pão diário. Amém.
Pai Nosso
165
Juntos para o que der e vier
João 11.35-36
N
166
ormalmente, a amizade e a vizinhança são frutos de um certo tempo de proximidade e convivência. A amizade pode surgir entre estudantes da mesma turma; entre colegas de trabalho. A boa vizinhança pode nascer a partir do relacionamento entre
filhos de famílias que moram próximas.
A quarta petição do Pai nosso diz: “O pão nosso de cada dia
nos dá hoje”. Segundo a compreensão cristã, “pão” é mais do que o
resultado da mistura de farinha com água e fermento. Pão é “tudo
que se refere ao sustento e às necessidades da vida”. Por isso, ter o
pão diário também é estar na companhia de “leais amigos” e “bons
vizinhos” (Lutero).
Então, de acordo com a explicação do Pai nosso, amizade e boa
vizinhança são parte do pão que Deus dá. Antes de ser fruto do nosso
esforço, amizade e boa vizinhança são dádivas de Deus. Ou seja, pessoas que reconhecem Deus como provedor do pão diário, também
deixam espaço para que entre eles brote e floresça a amizade e a boa
vizinhança que Deus já colocou ali, entre elas.
Só tem um detalhe. Como as plantas necessitam da água para
brotar e dar seu fruto, relações de amizade e boa vizinhança precisam
ser nutridas. E há duas fontes para tal nutrição. Primeiro, a oração.
Quem ora o Pai nosso, entre outras coisas, pede para Deus fortalecer
a amizade e a boa vizinhança. Segundo, a Ceia do Senhor. Se cremos
que, na Ceia, Deus vem a nós, nos ampara, perdoa e fortalece, nós que
comungamos, nos voltamos uns aos outros. “Vê, assim tu carregas a
todos, e assim todos, por sua vez, te carregam, e todas as coisas são
em comum, tanto as boas quanto as más” (Lutero). Que amizade e
que boa vizinhança, hein?
Oração
Deus, doador do pão, obrigado pelas relações de amizade e boa vizinhança que já temos. Ajuda para que cresça ainda mais nosso círculo
de amigos e bons vizinhos. Que o pão da Ceia nos transforme numa só
massa de solidariedade, para rirmos e chorarmos juntos. Amém.
Pai Nosso
Merecedores ou não, Deus dá
Mateus 5.45b
“
E
le merece!”. Esta é uma expressão conhecida. No fundo, é uma
palavra de juízo. Se “ele ou ela merece”, é porque outras pessoas não merecem. Como fica isso em relação ao “pão”, tudo
que Deus deu para o sustento de seus filhos e filhas? Também é assim
que uns merecem, outros não?
Pelas regras de hoje em dia, quem não trabalha “não merece” o
pão (teto, saúde, alimentação, vestes, amizade, boa vizinhança). Há
dois mil anos atrás, o setor “improdutivo”, “não merecedor” estava
representado por órfãos e viúvas. Porém, de acordo com a Bíblia, “a
religião pura e sem mácula” consiste em apoiar e estar próximo dos
órfãos e das viúvas (Tiago 1.27).
Jesus foi mais explícito. Para ele, Deus “faz o sol brilhar sobre os
bons e os maus e dá chuva tanto aos que fazem o bem como aos que
fazem o mal”. Não entendo esta afirmação como apoio de Deus (e
de Jesus) aos praticantes do mal. Não! Antes, ela revela a compaixão
infinita do Criador. Deus não se cansa de dar novas oportunidades
para que pessoas se arrependam, mesmo as mais depravadas. Que
paciência! Cada raio de sol e cada pingo de chuva sobre os maus são
um convite divino para o arrependimento e a mudança de vida. É
por isso que Deus dá o pão “a todas as pessoas, inclusive às pessoas
más” (Lutero).
Disso pode-se tirar uma lição desafiadora. Se Deus deixa o raio
de sol alcançar os maus e dá o pão a eles, muito mais as comunidades cristãs têm um compromisso com quem carece do pão. Se Deus
disse que “não haja entre vós pobre e carente” (Deuteronômio 15.4),
então, “que o benefício feito aos pobres brilhe mais entre os cristãos
do que todas as igrejas de alvenaria ou madeira” (Lutero).
Oração
Deus bondoso, louvado sejas porque não nos tratas a partir do que
merecemos, e nos encaras com olhar compassivo. Motivados pela
compaixão, tenhamos mãos que amparam, apóiam e carregam solidariedade aos que carecem do pão diário. Amém.
Pai Nosso
167
Obrigado pelo pão de cada dia!
João 6.11
A
168
gradecer! Eis uma virtude que muitos esquecem de exercitar.
Agradecer, um gesto de reconhecimento, uma atitude de humildade, um ato de grandeza.
Você já agradeceu a Deus pelo seu sustento?
Jesus, o nosso Salvador, nos ensinou e deixou grandes exemplos.
No texto proposto acima, ele tomou os pães e os peixes, agradeceu
a Deus por eles e, num gesto de profundo amor, os distribuiu para
alimentar a multidão.
Muitos, em nossos dias, se esquecem de reconhecer e agradecer
a Deus por tudo que recebem. Muitos se vangloriam, como se eles
mesmos tivessem conquistado e, com seu esforço e luta, conseguido
as coisas. Esquecem que se Deus não os tivesse abençoado e capacitado, nada seriam e nada teriam. O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios
4.7, lamenta, dizendo: “Quem é que fez você superior aos outros? Não
foi Deus quem lhe deu tudo o que você tem? Então por que é que
você fica orgulhoso como se o que tem não fosse dado por Deus?”
O salmista incentiva: “Agradeçam ao Deus Eterno porque ele é bom,
e porque o seu amor dura para sempre” (Salmo 118.1).
Isso faz a diferença: todos recebem o pão de cada dia. No entanto, alguns o recebem naturalmente, como se fosse fruto exclusivo do
seu esforço. Outros, no entanto, sabem que o recebem pela graça de
Deus e por isso agradecem!
Amigos leitores! Sejamos agradecidos ao nosso Deus. Tudo que
temos e somos é presente, é bênção que ele nos concede: nossa vida,
nosso lar, nosso trabalho, o sustento diário, o ar, o sol, o dia e a noite,
tudo é dádiva do nosso Deus e Pai.
Testemunhemos essa nossa gratidão a Deus diante do mundo,
fazendo da nossa vida uma linda canção de amor e agradecimento.
Oração
Senhor! Diariamente me presenteias com todo o necessário para o
corpo e a vida. Não quero ser ingrato para contigo. De coração, ó
querido Pai, obrigado, muito obrigado por tudo. Amém.
Pai Nosso
Onde Jesus é Senhor, não falta pão
João 6.1-14
Q
uando olhamos ao nosso redor e vemos tantas pessoas passando fome, não tendo o que comer, perguntamos: “Por
quê?” Por que será que alguns têm tão pouco e passam fome
e outros têm de sobra e nada fazem pelo semelhante necessitado?
Será que Deus foi injusto na distribuição dos bens disponíveis?
A resposta é uma só. A falta de alimento, a falta de amor e gratidão, deve-se unicamente ao fato de as pessoas não reconhecerem
que tudo vem do amor de Deus. Quando alguém não reconhece que
é Deus quem dá o pão de cada dia, e o dá a todos, começa a reinar o
egoísmo, a ingratidão, o orgulho, a inveja e a falta de amor para com
o próximo. Nessa situação, muitos que têm posses, não se importam
com os que nada ou pouco têm e, por outro lado, muitos que nada
têm, também se esquecem de Deus e de pedir com fé e humildade
ao Pai celeste que ele lhes conceda o pão de cada.
No texto bíblico de referência acima, Jesus teve piedade do povo
faminto e, agradecendo a Deus, distribuiu o pão a todos e, quando
fartos, mandou recolher as sobras – doze cestos de pão! – para que
nada se perdesse.
Assim, a fome no mundo é muito mais uma questão de falta de
amor e não de mais ou menos produção de alimentos! No mundo
onde Jesus é Senhor, há pão para todos e ainda sobra!
Quantos no mundo passam fome, enquanto latas de lixo recebem
sobras enormes de outros que esbanjam?
Recebamos sempre com gratidão o pão de cada dia. Não desperdicemos o precioso alimento que Deus, por sua graça, nos dá. E
olhando para o lado, envolvidos pelo grande amor de Deus por nós,
tenhamos mais amor com aqueles que necessitam do nosso auxílio.
Oração
Senhor Jesus! Tu nos ensinaste a pedir o “pão nosso de cada dia”.
Ajuda-nos a não nos apegarmos às coisas materiais, mas sim, a confiarmos sempre na tua bondosa providência e, nessa fé, estarmos
também prontos a repartir com o próximo. Amém.
Pai Nosso
169
Não só de pão vive o ser humano
Mateus 4.1-4
O
170
Diabo tentou Jesus, usando para isso a fome. O tentador
sabe que o ser humano fica frágil, debilitado diante da falta
de alimentação e, por isso, ataca: “Se você é Filho de Deus,
mande que estas pedras se transformem em pães” (v. 3). Jesus contraargumenta como legítimo Filho de Deus, recorrendo a palavras das
Sagradas Escrituras: “... o ser humano não vive só de pão...” e complementa: “... mas vive de tudo o que Deus diz” (v. 4). A palavrinha
“só” faz a diferença. Jesus deixa claro que as pessoas têm necessidades
materiais e físicas, sim, mas não só! O lado espiritual, sob hipótese
nenhuma, pode ser negligenciado. Deus, que se fez gente em Jesus
Cristo, não é só um Deus da alma, mas também do corpo! Assim,
o Deus que alimenta a alma e opera a multiplicação dos pães, alimentando uma multidão faminta, é o mesmo. E não há nenhuma
incoerência entre uma atitude e outra.
Muitas são as pessoas no mundo que querem unicamente as
coisas materiais e, em sua ganância, se esquecem de buscar a riqueza
maior e mais importante: o alimento espiritual.
A nossa vida neste mundo é como se passássemos por sobre uma
ponte. O cristão passa sobre ela, mas não vai construir sua casa sobre
a ponte. Ele olha e caminha firme e decidido para o outro lado, em
direção à cidade eterna e permanente, com Jesus.
“As Escrituras Sagradas afirmam que o ser humano não vive só
de pão, mas vive de tudo o que Deus diz” (v. 4). Peçamos sempre que
Deus nos dê o necessário para a nossa vida aqui neste mundo. No
entanto, não esqueçamos de buscar em primeiro lugar o Reino de
Deus e a sua justiça, a riqueza que nos leva e garantirá a felicidade
eterna no céu.
Oração
Senhor Jesus! Tu nos ensinaste com a tua vida, teu exemplo e tuas
palavras. Ajuda-nos em nossas necessidades materiais, mas que
jamais nos falte o alimento espiritual, que nos anima e fortalece na
caminhada para o céu. Amém.
Pai Nosso
Pecado é desobediência a Deus
Gênesis 3.1-13
A
quinta prece do Pai nosso reza: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”.
Jesus falava “aramaico”. E, ao ensinar esta prece, ele usou um
termo de sentido amplo que, em português, pode significar “débitos,
dívidas, pecados” e, em conseqüência, também “ofensas”, como o
traduz a Bíblia na Linguagem de Hoje.
Mas, quais são os nossos débitos, dívidas e pecados com os quais
ofendemos a Deus?
Conforme a Bíblia, existe, basicamente, apenas um pecado, a
desobediência a Deus! Todas as demais transgressões praticadas por
pensamentos, palavras, ações e omissões que ofendem a Deus e a
nossos semelhantes são conseqüência ou concretização deste pecado
fundamental da desobediência a Deus! Vemos isto na história da “queda do ser humano”, em Gênesis 3.1-13: no coração humano brota a
desconfiança contra o seu Criador. O ser humano desconfia do bom
mandamento de Deus e, por isso, desobedece! Adão e Eva desconfiam, você e eu desconfiamos e desobedecemos ao nosso Deus. E, em
conseqüência, ficamos e ficaremos sempre em débito com o Criador;
pecamos contra ele; ofendemos a ele e sua salvífica e boa vontade!
Reconhecer isso e confessá-lo é fundamental. É o primeiro passo
para a reconciliação e o perdão.
Que bom que o próprio Senhor Jesus anima a você e a mim,
por esta prece do Pai nosso, a nos dirigirmos em humildade ao nosso
Pai, a lhe pedirmos perdão pelos nossos pecados, por graça – sem
que o mereçamos! – e a nos comprometermos com o perdão, a boa
ação para com as pessoas que nos ofenderam! Vamos fazê-lo, com
fé e confiança!
Oração
Senhor! Sempre de novo desconfio da bondade e do amor contidos
em teus mandamentos. Tenho dificuldade em reconhecer os meus
pecados contra ti e meus semelhantes. Ensina-me a reconhecer e
confessar a minha culpa. Perdoa-me por tua graça. Amém.
Pai Nosso
171
Pecado original
João 3.6
M
172
uitas vezes ouço pessoas se referirem a crianças recém-nascidas como “inocentes” ou “anjinhos”. Pretende-se dizer com
isso que elas não têm pecado, não têm culpa.
Mas, na explicação que Lutero dá à segunda parte do Batismo, no
Catecismo Menor, em resposta à pergunta: “Que dá ou para que serve
o Batismo?”, diz: “Realiza o perdão dos pecados...”. Ora, nas igrejas
históricas, em regra, batizam-se as crianças. Também eu fui batizado
como infante e você, provavelmente, também. Lutero propõe que
neste Batismo aconteceu o perdão dos pecados. Que pecados? Não
éramos “anjinhos” inocentes?
O reformador refere-se ao “pecado original”. Mas o que é isso?
A doutrina do “pecado original” ensina que pecado não é só
uma realidade individual, mas é, também, uma realidade humana,
coletiva. Quer dizer, eu não me torno pecador apenas pelos meus atos
ou omissões individuais. Não, na qualidade de ser humano, eu sou
pecador! É isso que está dito em passagens como o Salmo 51.5: “Eu
nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe”. Neste
sentido, ninguém é inocente; ninguém está livre do pecado, nem
mesmo a criança. Todos, também você e eu, necessitamos do perdão
e da graça de Deus, em Jesus Cristo, para a salvação. A Confissão de
Augsburgo o expressa assim: “Após a queda de Adão, todos os seres
humanos, procriados segundo a natureza, nascem com pecado”. E
o apóstolo Paulo propõe em Romanos 3.23: “... pois todos pecaram
e carecem da graça de Deus”. E esta graça nos é outorgada por Deus
mesmo, em Cristo, pelo nosso Batismo.
Você e eu somos pecadores agraciados por Deus; agarre-se a esta
certeza e viva dela!
Oração
Amado Deus! Eu te louvo, porque me agraciaste em meu Batismo. Tu
me tomaste pela mão, chamaste-me pelo nome e me convidaste a,
em confiança, seguir o bom caminho. Dá-me fé e alegria para seguir,
com confiança, este teu caminho por toda a vida. Amém.
Pai Nosso
Pecado atual
Tiago 4.17
“
P
ortanto, quem sabe fazer o bem e não faz comete pecado”
(Tiago 4.17).
É interessante e surpreendente esta definição de pecado
da carta de Tiago: deixar de fazer o bem, isto é pecado!
Em geral, pensamos que pecar é transgredir algum mandamento;
é fazer, dizer ou pensar (cf., por exemplo, Mateus 5.21-32!) algo que a
lei de Deus proíbe. E é este conceito restrito de pecado que também
transparece na oração de confissão de pecados que Lutero colocou
no Catecismo Menor, no fim da quinta parte, que trata do ministério
da absolvição e da confissão. Ali diz: “... Eu, pessoa pobre, miserável e
pecadora, confesso-te todos os meus pecados e injustiças que cometi
em pensamentos, palavras e ações...”.
No entanto, o pecar não se restringe ao que eu faço, digo ou
penso, à medida em que, com isso, transgrido algum mandamento.
Os mandamentos de Deus não só me dizem o que não devo fazer (não
ter outros deuses, não matar, não roubar...), mas me dizem concreta
e positivamente o que devo fazer: “Ame o Senhor seu Deus com todo
o coração, com toda a alma, com todas as forças e com toda a inteligência. E ame o seu próximo como você ama a você mesmo” (Lucas
10.27). E aí sim, fica claro: deixar de amar a Deus, ou deixar de praticar
um ato de amor ao próximo é pecado. Trata-se do pecado da omissão!
E, pensando bem, quantas e quantas vezes caio no pecado da
omissão?! Quantas vezes eu digo: “Isto não é comigo, não vou me
meter, não tenho nada a ver com isso, não tenho tempo para tanto...”.
Por isso, devo pedir perdão a Deus não só pelos meus pecados
de ação, mas também pelos de minha omissão.
Que Deus me abra os olhos, a mente e o coração para fazer o
bem!
Oração
Senhor, amado Pai! Perdoa-me por não reconhecer as minhas omissões,
especialmente aquelas referentes aos meus semelhantes e à sociedade em
geral. Abre-me os olhos, a mente e o coração para reconhecer onde tu
queres que eu pratique o bem. Dá-me forças para fazê-lo. Amém.
Pai Nosso
173
As conseqüências evitáveis
Gênesis 11.1-9
A
174
titudes provocam efeitos, palavras, reações. Pecados causam
conseqüências. Toda a falta cometida contra Deus ocasiona
algo de ruim para a pessoa ou para a humanidade. Isto é assim
desde Eva e Adão. E quando o arrependimento não acontece, o poder
regenerador do perdão não pode atuar. Daí as conseqüências vão
aumentando e afastando cada vez mais o ser humano de seu Criador.
O episódio da Torre de Babel, narrado em Gênesis 11, causou
enormes estragos. Não pela idéia nem pela altura da construção. Se
fosse por isso, o que diríamos dos modernos arranha-céus que nos
sombreiam? A questão era mais embaixo, ou melhor, no fundo do
coração. O problema da corajosa empreitada era a intenção dos
idealizadores que só queriam aparecer, tornar-se famosos. É o que
relata o versículo quatro: “... vamos construir uma cidade que tenha
uma torre que chegue até o céu. Assim ficaremos famosos...”. Realmente ficaram famosos, só que pelo lado negativo, pelo castigo que
receberam.
Para evitarmos conseqüências desastrosas, precisamos investigar nossas intenções. Em nossos projetos de vida, o que buscamos
realmente? Deus está de acordo com o que pretendemos? Seu nome
é honrado?
Palavras e atitudes provocam efeitos. Isso vale também para as
palavras do Pai nosso “perdoa-nos as nossas dívidas” quando pronunciadas em humildade e fé. O perdão do nosso Pai alivia, milagrosamente, as conseqüências de todas as nossas falhas, pois seu amor
é imensamente maior do que imaginamos. Só ele pode contornar
tudo que é causado pelas más intenções. Agindo nesta certeza, cada
vez mais nos aproximamos de Deus. E esse resultado é o que mais
desejamos.
Oração
Senhor, sabemos que o pecado sempre está a nossa frente. Mas o teu
perdão é regenerador. Socorre-nos ao sofrermos as conseqüências
do pecado próprio e da humanidade. Por Jesus. Amém.
Pai Nosso
O perdão de Deus
Romanos 3.21-26
N
os tempos da Universidade, certa vez esqueci de devolver um
livro à Biblioteca. O atraso acarretava multa diária. Ao
entregá-lo, vinte dias depois, ainda estava tentando encontrar
uma boa desculpa capaz de evitar o prejuízo. Não tinha jeito. Calado,
entreguei o livro para a bibliotecária. Ela olhou, percebeu o prazo
vencido, arrumou os dados na minha ficha e disse: “Tudo certo. Só
cuida para não atrasar de novo, tá moço?!”. Que alívio! A dívida havia
sido deixada de lado. Havia recebido ajuda sem merecer.
O apóstolo Paulo lembra: “Deus aceita as pessoas por meio da
fé que elas têm em Jesus Cristo... pela sua graça, e sem exigir nada.
Deus ofereceu Cristo como sacrifício para que, pela sua morte na
cruz, Cristo se tornasse o meio de as pessoas receberem o perdão
dos pecados” (Romanos 3.22-25). É esta atitude de Deus pela qual
suplicamos ao orarmos “perdoa-nos as nossas dívidas”. Agarramo-nos
na promessa de que Deus é misericordioso e, em sua graça, perdoa,
sem merecermos e sem exigir nada em troca, as nossas transgressões.
Diante da nossa dívida para com Deus, cujo pagamento deveria ser
feito com a nossa vida, não adiantam desculpas. A solução é, calados,
em humildade, crer no que Cristo fez por nós. Através dele, o Pai nos
diz: “Está tudo certo!”
Aquela dívida do livro, da qual me livrei, não custou nada a ninguém. A bibliotecária não a quitou por mim. Simplesmente a ignorou
e a deixou de lado. A culpa dos nossos pecados não foi simplesmente
esquecida. Ela foi paga! O perdão gracioso de Deus custou a vida de
seu Filho único. Tudo ele fez unicamente por amor para que tenhamos
a vida eterna. Esse é o perdão divino.
Oração
Pai, teu perdão é renovador. Obrigado por este conhecimento de
salvação. Ajuda-nos a deixarmos de lado desculpas e tentativas de
justificar nossos erros. Fortalece a fé na tua graça que dá vida sem
exigir nada em troca. Amém.
Pai Nosso
175
Pedindo perdão ao inimigo
Lucas 23.34a
J
176
esus surpreende. Do alto da cruz, quando os guardas tinham acabado de cumprir sua missão com todo rigor característico de quem
tem o monopólio da força, exclamou: “Pai, perdoa essa gente.
Eles não sabem o que estão fazendo” (Lucas 23.34).
Por que Jesus agiu assim? Parece que diminuiu o pecado dos
agentes do Estado que, na verdade, não o fizeram “sem querer”.
Aquilo foi um exemplo prático de amor estendido aos outros.
Jamais o perdão e o desejo de salvação dos outros devem ser esquecidos. O que Jesus fez nos desarma; esfria os ânimos; afrouxa os
músculos enrijecidos de raiva, prontos à vingança.
É possível agir como Cristo? Imagino gente cochichando “só
santo, mesmo!”
Pode ser duro, mas é verdade: Deus espera que você peça perdão
pelos pecados dos que o chateiam, traem, machucam e entristecem.
Assim como Jesus suplicou “Pai, perdoa-lhes”, cabe a você pronunciar
estas palavras de bênção sobre seus devedores. Aí vão duas dicas para
que isso se concretize: encare o pecado de uma forma diferente. O
“não sabem o que fazem” dito por Jesus é norteador. Muitos pecam
por ignorância. Outros, por estarem cegados pelo mal. Ainda não
foram libertados pelo Espírito Santo. Depois, lembre que não cabe a
você punir pecadores, mas perdoar. Agindo assim, você vai estender
sobre os outros o amor divino.
O amor de Jesus surpreende inimigos. Mas, em primeiro lugar,
surpreende a nós mesmos quando nos vemos livres da culpa dos
pecados. Seu amor nos move a orar para que o Pai perdoe os que
pecam contra nós, demonstrando, assim, nossa disposição em vê-los
juntos conosco no céu. Tal atitude vai surpreender!
Oração
Pai, “perdoa também a todos os nossos inimigos, a todos que nos fazem
sofrer ou nos injustiçam, assim como também nós lhes perdoamos
de coração”. Amém. (Lutero)
Pai Nosso
Ninguém está livre do pecado
João 8.7b
A
partir do Batismo, cremos que estamos revestidos de Cristo.
Pela fé, professamos que estamos lavados e regenerados no
sangue do Cordeiro de Deus. E dizemos, ainda, que todo o dia
na vida de uma pessoa cristã é um constante morrer com Jesus para
o pecado e um renascer pela ressurreição do Cristo. A pessoa cristã
é, na sua essência, portanto, justa e pecadora.
Em João 8.1-11, algumas pessoas, com pedras nas mãos, cercaram
uma mulher adúltera para condená-la por causa dos seus pecados.
Jesus as desafia para que atirasse a primeira pedra, quem estivesse
sem pecado. E ninguém atirou, pois todos são pecadores, também
a pessoa cristã. Também ela é pecadora, por causa da fraqueza da
carne. Mas, ao mesmo tempo, é justa por causa da misericórdia e do
poder de Deus.
Por isso, no nosso viver na fé, não deve haver espaço e lugar
para vanglória e sentimentos de superioridade. O poder do pecado
nos nivela com os outros pecadores. Embora revestidos de Cristo, o
pecado continua a nos rondar, de dia e de noite, para nos sujeitar.
Mesmo firmados sobre o fundamento de Cristo, continuamente somos assediados pelo mundo e pelo Diabo. Essa luta se trava em nós,
diariamente. Isso faz parte de nossa constituição. É a marca registrada
da nossa existência como pessoas cristãs.
Desse modo, devemos sempre, diariamente, nos lembrar que
dependemos da graça e do poder de Deus, que opera em nós pelo
Santo Espírito. Sabemos, pela fé e pelos testemunhos, que ele é um
Deus rico em perdoar. E mais ainda: é um Deus longânimo. Como
o Cristo que escreve com o dedo na terra, ele demora a proferir a
sentença. Mas o faz com justiça e misericórdia.
Oração
Querido Deus, nós te pedimos: concede-nos sempre a humildade de
sabermos que dependemos da tua graça. Dá-nos um coração bondoso
na relação com as outras pessoas. Fortalece-nos na vida e na fé. Amém.
Pai Nosso
177
Perdoar sempre
Mateus 18.21-22
A
178
vida da pessoa cristã está fundamentada sobre o amor e a
misericórdia de Deus. É pela graça de Deus que nós podemos
sempre de novo e concretamente ter um novo começo na vida.
Deus está disposto a receber de volta a pessoa que errou, pecou ou
deu mancada na vida. Isso é a expressão mais profunda da gratuidade
do amor de Deus por nós. Ele é um Pai rico em perdoar.
“Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Assim reza a quinta prece do Pai nosso.
Quando a oramos, pedimos que Deus perdoe os nossos pecados.
Mesmo sem merecer, rogamos que nos conceda de graça o perdão de
nossas dívidas para com ele, diariamente. De nossa parte, na mesma
prece, dispomo-nos a agir da mesma forma em relação às outras pessoas que pecam contra nós. Nós nos dispomos a perdoar as dívidas
que os outros têm para conosco. Orando esta prece, entramos em
um compromisso de reciprocidade. “Se não perdoas, estás diante de
uma sentença terrível: teus pecados também não serão perdoados”
(Lutero).
Nós pedimos a Deus pelo perdão. Simultaneamente nos comprometemos a perdoar. Isso é um compromisso diário que não se esgota
em um determinado número de vezes. Pedro tentou quantificar o
número de vezes que se deve perdoar: “Quantas vezes devo perdoar
...? Sete vezes?” Jesus faz um outro cálculo: “Não. Você não deve perdoar sete vezes – respondeu Jesus – mas setenta vezes sete” (Mateus
18.22). Ensinou que devemos perdoar até perder a conta. Fazendo
isso, o próprio Cristo bebe da fonte da espiritualidade de Israel: “Pois
o Eterno é bom; o seu amor dura para sempre, e a sua fidelidade não
tem fim” (Salmo 100.5).
Oração
Querido Deus, renova a cada dia a tua graça sobre nós. Perdoa as
nossas dívidas para contigo. Dá-nos um coração bondoso, disposto
a perdoar e a sempre fazer o bem. Amém.
Pai Nosso
Perdoar sim, esquecer nunca!
Gênesis 50.15-21
O
perdão brota da graça. É gratuidade. Sempre que oramos o
Pai nosso, pedimos a Deus que ele perdoe as nossas dívidas
para com ele. Igualmente, nos comprometemos a perdoar
aquelas pessoas que nos devem. Perdoar deve ser um ato que se renova a cada dia. O perdão não se esgota em um determinado número
de vezes. Perdão é sem-número! Assim como a graça de Deus, deve
ser renovado sempre de novo, em gratuidade.
Perdoar, porém, não é um ato cego ou superficial. O perdão
estabelece a base para um novo começo. E o novo início não deve
ser a repetição do que passou. Deve haver novidade de vida, nova
qualidade na relação. No Memorial do Holocausto, em Jerusalém, há
uma frase escrita no portal de entrada: “Esquecer leva ao banimento,
relembrar acelera a redenção”. O esquecimento leva à repetição do
pecado. Faz repetir os mesmos erros. A culpa precisa ser trabalhada.
A situação de pecado deve levar à conversão, à mudança de vida, a
criar um coração novo. Só assim pode surgir uma nova qualidade
na relação.
Gênesis 50.15-21 relata a reconciliação definitiva de José com
seus irmãos. Passados muitos anos de ressentimentos e sentimentos
de culpa, os irmãos, temendo vingança, pedem perdão pelos atos
cometidos contra José. Este, ao contrário do temor dos irmãos, lhes
diz: “Não tenham medo. Eu cuidarei de vocês” (v. 21). houve perdão,
não esquecimento.
Perdoar alguém implica rearranjar todo o interior da pessoa.
Significa, também, reorganizar a sua relação para fora, com
outras pessoas. Perdão implica renegociar um novo início. É, ao
mesmo tempo, um ato interno e externo. O perdão abre as portas
para uma vida nova.
Oração
Querido Deus! Renova em nós a tua graça. Dá-nos a capacidade
para reconhecermos nossos erros e para perdoarmos. Ampara-nos
com teu Santo Espírito para uma nova relação contigo e com nosso
próximo. Amém.
Pai Nosso
179
É perdoando que se é perdoado
Mateus 6.14-15
C
180
omo é consolador para um coração aflito ou uma consciência atribulada receber a doce notícia do Evangelho: “Coragem, meu filho, os seus pecados estão perdoados” (Mateus 9.2).
É pelo ensino bíblico que sabemos da nossa situação pecadora e
de como Deus vem ao nosso encontro para dar-nos o perdão. O Pai
celeste faz isso por amor a nós. E como é bom receber esse consolo.
Mas tão importante como o perdão que necessitamos e recebemos, é saber perdoar alguém que porventura tenha agido conosco
de forma incorreta.
Na quinta petição do Pai nosso e na parábola do credor incompassivo (Mateus 18.23-35), Jesus ensina que, se nós almejamos o perdão, também devemos saber perdoar. Isso faz parte da vida cristã. O
verdadeiro perdão vem do coração que foi regenerado, pois o perdão
é um dos sinais da verdadeira fé.
Por outro lado, jamais devemos pensar que, com o nosso perdoar,
somos atraídos pelo favor de Deus e assim recebemos o perdão. Não.
Deus nos concede o perdão inteiramente de graça, conforme ensina
o Evangelho. O nosso perdoar é fruto do amor que Deus tem por nós.
“Se, porém, perdoas, então tens o consolo e a certeza de que se te
perdoa a ti... Ele (Deus) nos põe isso para fortalecimento e segurança,
como sinal, a par da promessa que concorda com esta oração em
Lucas 6: ‘Perdoai, e sereis perdoados’” (Lutero).
Peçamos sempre perdão a Deus. Perdoemos sempre o nosso próximo. Que se cumpra em nós aquilo que o apóstolo Paulo escreve em
Efésios 4. 32: “... sejam bons e delicados uns com os outros. E perdoem
uns aos outros, como Deus, por meio de Cristo, perdoou a vocês”.
Perdão é sinal do Reino de Deus e faz bem para todos!
Oração
Gracioso Pai celestial, tu és rico em bondade e misericórdia. Perdoa
os nossos pecados. Dá-nos um coração complacente para que também saibamos perdoar o nosso próximo. Em nome de Jesus. Amém.
Pai Nosso
Perdão e nova vida
Lucas 23.42-43
H
á momentos na vida em que parece que tudo está perdido,
que não há mais solução. De fato, podem haver situações
que não permitem uma meia-volta, um voltar atrás.
Quem sabe, não era esse o pensamento daquele malfeitor que
dialogou com Jesus no momento da crucificação! Que perspectiva
tinha aquele homem naquela situação de condenado? Humanamente
falando, sua única perspectiva era morrer, porque já estava sofrendo
a execução.
Após pedir que Jesus se lembrasse dele ao estabelecer seu Reino,
o Salvador lança ao coração daquele homem o bálsamo que, seguramente, trouxe paz e refrigério naquele momento final de vida: “Eu
lhe afirmo que hoje você estará comigo no paraíso” (v. 43).
O diálogo entre Jesus e o malfeitor ilustra muito bem o fato de
que a salvação dirige-se a todas as pessoas, sem distinção. E é pela
graça de Deus que isso se torna real em nossa vida, pois através de
Cristo temos perdão real de todos os nossos pecados e a certeza de
uma nova vida. É um presente imerecido que recebemos de Deus.
Em Jesus temos a perspectiva de recomeço, de uma nova vida.
Nele, podemos, pois, confiar e depositar nossa esperança. “Tal confiança e coração alegre, entretanto, de nenhuma outra coisa pode vir
senão disso, de saber que os pecados lhe estão perdoados” (Lutero).
Movidos pelo amor que Deus tem por nós e pelo consolo do
perdão de nossos pecados, também iremos servir com mais alegria
e testemunhar perante o nosso próximo acerca de tudo aquilo que
o Senhor tem feito em nosso favor.
Testemunhemos com toda a alegria e liberdade a nova vida que
recebemos de Deus através do perdão dos nossos pecados.
Oração
Como é bom saber, querido Pai do céu, que diariamente perdoas os
nossos pecados e que em ti a nossa perspectiva é de vida e salvação.
Alegra sempre o nosso coração, na certeza de que em ti renascemos
todos os dias para uma nova vida. Em nome de Jesus. Amém.
Pai Nosso
181
Pedir perdão, um gesto de humildade
1 Samuel 15.24-25
E
182
mbora sejamos cristãos e pessoas tementes a Deus, ainda
estamos sujeitos ao erro, à queda e ao fracasso. “Diariamente
ainda tropeçamos e nos excedemos, porque vivemos no mundo
entre homens que nos infligem muitos sofrimentos e dão motivo para
impaciência, ira, vingança, etc.” (Lutero).
Em conseqüência, por mais que cuidemos, ainda desobedecemos
a Deus, falhamos em relação ao nosso próximo, nossa família e mesmo
em relação à congregação. Isso faz parte do nosso ser natural. Por
isso, Jesus também nos ensinou a pedir perdão e a perdoar. E todos
nós precisamos fazê-lo. Ninguém está livre disso.
Na realidade, pedir perdão é um gesto de humildade revestido
de grandeza. Renova diariamente nossa vida cristã perante Deus e
nosso próximo, une pessoas, ajuda a reatar relações interrompidas
entre irmãos, esposa e marido, pais e filhos, entre membros da congregação e também na vida política. E Deus espera que cada um de
seus filhos possa fazê-lo diariamente.
No texto bíblico de referência, Saul reconheceu o seu erro e pediu
perdão a Deus, depois de ouvir a advertência de Samuel, mas mesmo
assim teve que responder pelos seus atos, porque desobedecera às
ordens do Senhor.
Jamais devemos esquecer o fato de que se nós podemos pedir
perdão e perdoar é porque Deus nos amou em Cristo e através dele
nos tornou seus filhos, dando-nos a conhecer sua vontade. E a vontade do Senhor é que vivamos uma vida justa e correta perante ele.
Que Deus mantenha em nós um coração humilde, para nunca
esquecermos de pedir perdão e de perdoar, de buscar diariamente ao
Senhor. Fazendo isso, estaremos cumprindo a boa vontade de Deus
em nossa vida.
Oração
Querido Pai do céu, a minha alegria se renova cada vez que recebo
o teu perdão. Ajuda-me também a pedir perdão ao meu próximo e
a perdoar sempre. Em nome de Jesus. Amém.
Pai Nosso
Tentação ou prova?
Gênesis 22.1-19
S
erá que Deus tem prazer no sofrimento de Abraão, a quem
prometera uma descendência numerosa? Ou Deus está brin
cando com os seus sentimentos? Ou faz tudo isso para tentálo? Não é por aqui o caminho de interpretação do texto. “Deus, em
verdade, não tenta ninguém” (Lutero), apenas põe a fé das pessoas à
prova. Por isso quero destacar um outro eixo desta história.
A Boa Notícia do texto é que Isaque, a criança tão desejada, não
é sacrificada! A prática do sacrifício de crianças pelo Estado era algo
conhecido na época. Servia para aplacar a ira dos deuses cananeus.
Na luta pela preservação do poder sempre sobra para as pessoas mais
fracas. Em nosso país não é diferente. O Estado daquele tempo necessitava do sacrifício de crianças para se fortalecer. Neste contexto,
Abraão tem sua fé posta à prova. E ele mostra-se servo obediente, veste
a camisa da obediência, quebra a lei religiosa, que previa sacrifícios,
também de crianças. Aliás, obediência da fé cristã não carece de leis
e regulamentos. A obediência dos filhos de Deus é resposta livre ao
amor de Deus. O Deus da Bíblia é contrário ao sacrifício de pessoas.
A narrativa da prova de Abraão mostra, na realidade, um Deus que
preserva a vida de Isaque e de todas as pessoas indefesas. Nosso
Deus não deseja sacrifícios e nem a morte. Ele não exige sacrifícios.
Na pessoa de Jesus Cristo, Deus mesmo foi sacrificado, para que não
houvesse mais sacrifícios humanos.
Cremos em Deus que protege a vida para ampará-la e salvá-la.
Na Páscoa, Deus revelou o quanto cuidou da vida do seu único Filho,
esperança nossa, na tentação, e quando o egoísmo humano nos prova.
Oração
Senhor Deus, quando fardos pesados machucam a nossa caminhada,
ajuda-nos! Dá-nos olhos claros que descobrem a tua proximidade.
Prometeste que jamais nos abandonarias. Esta é a nossa esperança,
motivo de paz e gratidão. Amém.
Pai Nosso
183
Tentação
Gênesis 3.1-13
V
184
ocês conhecem um caleidoscópio? As faces de tiras de espelho, quando giradas, produzem uma combinação de imagens
coloridas, bonitas e interessantes. A vida humana é assim: um
conjunto de aspectos bons e positivos que se mesclam com lados negativos e destruidores. “Não nos deixes cair em tentação”, é o pedido
da oração do Pai nosso. A vida é um vaivem de vontades próprias e
do projeto de Deus. Vida e morte são grandezas inseparáveis desde
o início da criação (gênesis 2 e 3). Formam um conjunto como as
partículas do caleidoscópio.
A Bíblia, bússola da fé, revela que a experiência negativa da tentação tem a sua fonte no desejo de autonomia do ser humano em
relação ao seu Criador. Homem e mulher querem ser mais do que
humanos. Sua vontade é serem também divinos. Querem “conhecer
o bem e o mal” (v. 5), querem ser oniscientes, conhecer tudo! E isto
é atributo exclusivo de Deus. O anseio por liberdade total promove
distância de Deus. Quem se deixa convencer pela serpente e ingressa
no seu mundo, quem adere à idolatria, destrói o relacionamento com
Deus e deixa de conviver responsavelmente com as outras pessoas.
Por fim, faz da própria vida uma ruína.
Graças a Deus não estamos sozinhos neste conflito entre o projeto de vida e de morte. Jesus nos fortalece, nos apóia e mostra o
caminho da liberdade. A cruz salvadora de Cristo nos marca desde
o Batismo. Ela, porém, não isenta das maldições. A proximidade de
Cristo capacita à resistência a todo tipo de idolatria e tentações. A
esperança acompanha as pessoas desde o princípio. Por essa razão,
somos filhos e filhas de Deus muito privilegiados e privilegiadas.
Oração
Senhor, tu nos conheces e sabes o quanto perdemos na vida. Confessamos que perdemos a ti e a própria vida. Mas tu és maior do que
a nossa culpa. Isto nos anima e fortalece para uma vida cheia de
sentido, vida que tem graça. Por Jesus Cristo. Amém.
Pai Nosso
Deus não tenta ninguém!
Lucas 22.40
Q
uero convidar os leitores e as leitoras para um passeio. Vamos a um lugar público, um jardim, perto de Jerusalém. A
Bíblia conhece vários jardins: o Jardim do Éden, por exemplo
(Gênesis 2). Após a Páscoa, num Jardim, Jesus, o ressurreto, é confundido com o jardineiro (João 20.15). E antes da crucificação, Jesus
recolhe-se ao silêncio da oração no Jardim do Getsêmani, no monte
das Oliveiras (Lucas 22.39). É neste Jardim que o Mestre dirige-se a
seus discípulos e lhes diz: “Orem para que não caiam em tentação”.
Ali, Jesus vive toda a sua humanidade de forma muito intensa. Ele
anseia por ajuda para superar a própria tentação de ser infiel à missão
de Deus. Para o cumprimento da missão, é preciso o apoio do Pai.
Por isso, “Orem...”.
As tentações geradas pelo egoísmo humano nos acompanham.
Elas geram medo e mexem com o corpo e a mente. Sentimento de
culpa, de vergonha, desestruturam a vida e dificultam o convívio
humano. Quem já não fez essa experiência? Jesus conhece a vida
humana. Ele também conhecia a vida dos seus discípulos. Sabia que
o ser humano vive mais sob o signo do medo do que da liberdade de
confiar. Por isso, anima à oração.
Nosso Deus é mais forte do que as tentações; ele é mais forte do
que o egoísmo humano. Jesus Cristo nos acompanha no caminho
da culpa, da mentira, da vergonha, para nos amparar e libertar do
medo das tentações. Jesus venceu as tentações, no deserto, sendo
obediente ao Pai. Ele tinha certeza de que, apesar das tentações que
lhe foram infligidas por Satanás, Deus o carregava em seus braços.
Sabia que “Deus, em verdade, não tenta ninguém” (Lutero). Esta
também é nossa certeza.
Oração
Obrigado, Senhor Deus, porque tu és amigo da vida e nos fortaleces,
em especial, nas dificuldades e tentações. Colocamos diante de ti
as próprias tentações e maus pensamentos. Lembramos também as
tentações que pesam na vida de muitas outras pessoas. Amém.
Pai Nosso
185
A luta contra a carne
Colossenses 3.5-7
S
186
er cristão é viver em luta constante, especialmente contra a
“carne”, que nos tenta com desejos pecaminosos.
“Carne”, aqui, é a porção terrena do homem, com seus
desejos, tendências e inclinações. Denota personalidade inteira da
pessoa, organizada na direção errada, pois está dirigida para propósitos terrenos, e não para servir a Deus. Segundo a Bíblia, essa
tendência é “inimizade contra Deus”. A pessoa limitada pela carne,
naturalmente estará em oposição a Deus, pois “a carne luta contra o
Espírito” (Gálatas 5.17).
São as “obras da carne” que escravizam o homem de todos os
tempos, e que o cristão precisa fazer morrer diariamente pela confissão, arrependimento e perdão: imoralidade, indecência, paixões
baixas, maus desejos e cobiças. São práticas de vida já ultrapassadas,
nem sempre percebidas porque não combinam com aquele que está
em Cristo, pois “quando alguém está em Cristo, é uma nova pessoa;
acabou-se o que é velho, e o novo já veio” (2 Coríntios 5.17), alerta
o apóstolo Paulo.
Ainda hoje, os cristãos, também você, são tentados pelas manifestações da carne. E saiba que Deus não tolera esse tipo de comportamento, pois é desobediência à sua vontade. Ele promete castigar
aqueles que insistem em viver dessa forma. Ele recomenda: “... façam
morrer os desejos deste mundo...” (v. 5).
Faça morrer os maus desejos, lute contra a carne, apegando-se
fielmente às promessas e palavras de Deus. Jesus garante: “Se vocês
obedecerem às minhas palavras, serão de fato meus seguidores” (João
8.31). E como seguidor, você pode contar com a ajuda do Pai na luta
contra a carne.
Oração
Querido Deus, ajuda-nos a vencer a carne que nos tenta diariamente.
Concede-nos o discernimento necessário para perceber a sua atuação
em nossa vida e força suficiente para vencer a sua influência. Amém.
Pai Nosso
Lutando contra a tentação
1 Coríntios 10.13
V
ocê já foi tentado? Você soube lutar contra a tentação? Quando Cristo ordenou aos seus seguidores: “Vigiem e orem para
que não sejam tentados” (Marcos 14.38) e ensinou no Pai nosso:
“E não nos deixes cair em tentação”, demonstrou sua preocupação
em preparar os seus seguidores para a luta contra a tentação, que
ocorre por pensamentos, palavras e ações. Ela é diária e constante.
Ela nos põe à prova, coloca-nos numa decisão a favor ou contra. Apresenta-se entre Deus e nós, criando situações de oposição à
vontade de Deus e rompendo nosso relacionamento harmonioso de
fé com o Pai. São testes onde os seguidores de Jesus se vêem frente a
frente com novas possibilidades e opções de bem ou mal, infelizmente
mais voltados para o mal e muito menos para o bem.
O povo de Israel no Antigo Testamento tentou a Deus rebelandose contra a sua vontade.
No Novo Testamento, os inimigos tentam Jesus, medindo sua
capacidade e explorando o seu poder divino, procurando encontrar
nele algo que pudessem usar contra ele.
Com a gente acontece o mesmo. Não somos diferentes. Nos
deixamos levar pelas tentações, tomamos atitudes de rebeldia, de
dúvida, egoísmo, vaidade, tentamos a Deus e a sua vontade.
Paulo lembra, porém, que há uma garantia para os seguidores de
Jesus: Deus está do nosso lado, oferecendo a sua força para que possamos vencer as tentações. Embora sejamos tentados continuamente,
Deus dará forças para suportarmos e sairmos dela vencedores.
Juntamente com a tentação, Deus provê o livramento (1 Coríntios
10.13). Afirmação de Paulo, garantia de Deus! Apegue-se a ele e, sem
dúvida, você poderá vencer essa luta.
Oração
Querido Pai, permanece ao nosso lado, oferecendo força para vencer
tentações, não permitindo que cheguemos a cair, mas nos amparando
se fraquejarmos diante delas. Amém.
Pai Nosso
187
Vencendo o poder do mundo
Mateus 4.8-9
O
188
s filhos de Deus têm três grandes inimigos: o Diabo, o mundo e a própria carne (a velha natureza).
O mundo sabe como oferecer, de forma convincente,
exatamente aquilo que a velha natureza gosta: fama, dinheiro fácil,
mocidade, beleza física, más companhias, falsas promessas, ameaças...
É o poder do mundo alterando os nossos costumes, modificando
nossa maneira de viver, semeando conflitos espirituais, levando à
rebeldia contra Deus.
Foi o que o Diabo tentou, propondo que Jesus se ajoelhasse e
o adorasse. Uma ação rápida, aparentemente mera formalidade, e
tudo seria mais fácil para Jesus. Em troca, ele teria riquezas, poder e
a glória deste mundo. Jesus, porém, resistiu.
Você também pode lutar e vencer o poder que escraviza. Confie
e creia em Jesus, porque ele é mais forte e mais poderoso do que seus
inimigos e o próprio Diabo. Ele ensinou como sair vencedor. É a firmeza e o apego à Palavra de Deus que fazem a diferença no momento
que o mundo quer nos influenciar com o seu poder.
Jesus não permitiu que as coisas do mundo “virassem a sua
cabeça” porque ele tinha consciência do alto preço a ser pago para
ganhá-las. Ele sabia que a cobiça e o apego a elas estragam o bom
relacionamento com Deus, modificam a nossa maneira de ver a Deus
e as coisas que ele criou. Podemos nos tornar escravos das coisas, e
o que é pior, escravos do pecado e rebeldes contra Deus. É um preço
muito alto: investir nas coisas do mundo em nome de uma satisfação
passageira para, no final, perder o lugar no céu.
Fique firme e apegado à Palavra de Deus. Faça como Jesus: não
troque sua condição de filho de Deus pela riqueza, poder e glória do
mundo!
Oração
Senhor Jesus, protege-nos contra a influência do mundo e dá-nos
forças para superá-la quando nossa fé estiver em perigo. Amém.
Pai Nosso
O poder do Diabo
Efésios 6.11
N
a explicação da sexta prece do Pai nosso, Lutero propõe que
a “tentação é de três espécies: da carne, do mundo e do Diabo”.
Quando se fala em Diabo, as pessoas normalmente dão um
sorriso de desprezo. Imaginam uma figura dotada de dois chifres,
patas de cavalo, carregando um tridente na mão para espetar e castigar os infelizes que padecem no inferno, fervendo num panelão. A
conseqüência desta imagem é que ninguém leva a sério o poder do
Diabo, ninguém o teme e ninguém treme diante dele. De fato, esta
figura triste e ridícula não assusta ninguém. Ela é uma criação da
Idade Média, quando se via o Diabo como uma pessoa. Conta-se que
o próprio Lutero jogava o tinteiro contra o Diabo quando se sentia
atormentado. Mas, será que o apóstolo Paulo também pensa nesta
triste figura quando fala nas “armadilhas do Diabo”?
Diabo vem do grego “diábolos” e significa perturbador, caluniador. Podemos defini-lo, pois, como sendo o poder e a força que
perturba e calunia a boa ordem criada e estabelecida por Deus. Neste
sentido, o Diabo, de fato, existe. Não conseguimos vê-lo, pois ele não
existe como um ser descrito acima. Porém, vemos os estragos que ele
faz: destrói pessoas, casamentos, famílias; na vida social, gera miséria,
criminalidade; na política, gera corrupção.
O poder do Diabo é muito forte. Ele vem de fora, mas também
está e age em cada pessoa, também na cristã. Para combatê-lo, o
apóstolo Paulo propõe a arma por excelência, a única eficaz e plenamente confiável: “Levem sempre a fé como escudo... e a palavra de
Deus como a espada que o Espírito Santo dá a vocês... Orem sempre,
guiados pelo Espírito de Deus” (Efésios 6.17,18).
Oração
Obrigado, Senhor, por abrires os nossos olhos para a realidade do mal
neste mundo. Dá-nos espírito claro para que possamos reconhecer as
suas ciladas. Veste-nos com a tua verdade e com o teu Espírito Santo
para que não nos deixemos seduzir por ele. Amém.
Pai Nosso
189
Prêmio pela vitória: a coroa da vida
Apocalipse 3.10
D
190
eus é fiel. Fiel a você. Fiel a mim. Fiel, especialmente à sua
Palavra que permanece para sempre. Ele fez uma aliança: quis
ser o nosso Deus e convidou-nos para sermos o seu povo. Pela
ação do seu Espírito, ele cuida de nós. Ora por nós, especialmente
quando estamos fragilizados e não sabemos orar. Fez-nos conforme
a sua imagem e semelhança e espera também a nossa fidelidade.
Com Jesus Cristo, armou definitivamente a sua tenda entre nós.
Entretanto, podemos fracassar e vacilar. Não é verdade que o cristão
está vacinado contra as tentações. O Batismo e a confirmação não
são fórmulas mágicas de garantia de saúde, paz e felicidade nesta
terra. Ser cristão significa seguir os passos de Jesus.
O cristão, individualmente, e o povo de Deus, coletivamente, não
estão livres das tentações, que podem, em qualquer momento, bater à
porta. Isso o próprio Cristo afirmou, quando disse: “No mundo vocês
vão sofrer” (João 16.33). Entretanto, Deus impõe limites à tentação.
Quando você se sentir tentado ou provado, lembre-se que Deus está
do seu lado. Pertinho de você. A provação não dura o tempo todo.
Deus não tem interesse que você sucumba diante da tentação e do
sofrimento. Ele quer que você consiga resistir e alcance a vitória final
e seja contemplado com a coroa da vida.
Quando oramos na sexta prece do Pai nosso “e não nos deixes
cair em tentação”, estamos, além de suplicar para que não sejamos
tentados, manifestando também a certeza e a convicção de que o
querido Pai, nos quer conduzir à vitória para que “ainda que tentados,
vençamos, afinal, e retenhamos a vitória” (Lutero).
Que o querido Pai nos conduza à vitória!
Oração
Senhor Deus, que o teu sim anule o nosso não e que o teu Santo Espírito nos faça perseverantes na fé, para que possamos vencer toda
a provação e alcançar, com a tua graça, a coroa da vida. Por Jesus
Cristo, teu Filho. Amém.
Pai Nosso
Ai dos que provocam escândalo!
Mateus 18.6-7
O
texto de referência bíblica é severo. Jesus condena o pecado do escândalo. Reconhece, dada à realidade humana, a
sua inevitabilidade. Mas, ai do mundo, ai do culpado, ai
daquele pelo qual vem o escândalo. Jesus continua: é melhor perder
a mão, o pé, o olho, do que dele afastar os que crêem.
Olho, pé, mão. Podemos pensar literalmente no significado
dessa condenação radical. Os olhos – contemplação das seduções
do mundo e sua elaboração mental; os pés – caminho para alcançar,
talvez até mesmo o que condenamos; as mãos – ação que concretiza
o que ainda poderia ser evitado.
Olho, pé, mão – esta trilogia do pecado do escândalo é simbólica,
resume as muitas tentações que recaem sobre nós e nos submetem
ao poder do mal, às várias faces do adversário. Como as experiências de Cristo no deserto, lembrando o teólogo Dietrich Bonhoeffer,
estamos sujeitos à tentação da carne, do espírito e à “tentação total”.
A primeira inclui riquezas ilícitas à custa dos pobres, exploração do
outro e outros abusos; a tentação do espírito pode manifestar-se na
sedução das ideologias, no autoritarismo; a tentação total é a negação
ou rebelião contra o próprio Deus.
Tudo isso, e muito mais, passa pelos olhos, pelos pés, pelas mãos.
Faz parte da nossa natureza finita, assim como se multiplica em escândalos nas próprias estruturas de poder do nosso país.
Nosso sim ao privilegio da vida cristã, inclui um não aos escândalos.
Na sexta prece do Pai nosso, rogamos a Deus que nós mesmos
não sejamos tentados, mas que também outras pessoas não sejam
tentadas e escandalizadas por nosso intermédio. Disso nos preserve
o querido Pai!
Oração
Débeis e enfermos andamos, ó Pai, e a tentação é grande e diversa
na carne e no mundo. Pai amado, sustenta-nos e não nos deixes cair
em tentação, e pecar novamente. Amém. (Lutero)
Pai Nosso
191
Resista à tentação!
Provérbios 1.10
A
192
migos leitores! De que maneira podemos dizer “não” às tentações que nos sobrevêm? Como resistir a elas?
Deus, na verdade, a ninguém tenta para o mal. Mas é
o Diabo, o mundo e a nossa própria carne que sempre novamente
o fazem. Os jovens são tentados, principalmente no que diz respeito
às paixões. Os adultos, de modo geral, são tentados pelas coisas do
mundo, e os cristãos fortes na fé, pelo Diabo. Por isso, sabendo de
onde vêm as tentações, importa resistir quando alguém nos quer induzir ou levar para o mal. E para isso o próprio Deus nos dá força. É
ele que não permite que caiamos nas armadilhas e arapucas que são
colocadas diante de nós com o fim de pecarmos muito e diariamente.
Ele deu seu próprio Filho Jesus Cristo, o qual morreu na cruz por nós
e resistiu vitoriosamente a todas as tentações, usando poderosamente
a Palavra de Deus. “Está escrito” – com este argumento Jesus resistiu
às diversas investidas de Satanás (cf. Mateus 4.1-11). E diante disso,
“o Diabo o deixou!” (Mateus 4.11). “Está escrito” – esta é a arma que
Deus deu nas nossas mãos para resistirmos às tentações!
Conta-se a história de um jovem recém-convertido a Cristo.
Perguntado se estava seguro de que não cairia mais em tentação,
respondeu: “Antes da conversão, quando a tentação batia às portas de
meu coração, eu abria e procurava ver quem era. E neste momento,
a tentação aproveitava e entrava. Agora, depois da minha conversão,
quando a tentação bate à porta do meu coração, quem vai atender
em meu lugar é Jesus. E quando a tentação vê quem atende a porta,
ela foge apavorada. Desde que Cristo habita em mim, tenho podido
resistir”.
Oração
Pai nosso que estás nos céus, sabemos o quanto somos tentados para
cairmos em pecado e toda sorte de males. Dá-nos o teu Espírito Santo
para que possamos resistir firmemente quando as tentações sobrevêm.
Perdoa-nos quando caímos em pecado. Amém.
Pai Nosso
Prevenção contra a tentação
Efésios 6.13
“
É
melhor prevenir do que remediar”. Essa máxima é usada principalmente em relação à saúde física, mas se aplica muito bem
também à saúde espiritual, no que diz respeito à tentação. Por
isso queremos abordar como podemos nos prevenir contra as armadilhas que são postas em nossos caminhos pelo Diabo, pelo mundo
e pela nossa própria carne.
O apóstolo Paulo recomenda: “... peguem a armadura de Deus”
(Efésios 6.13). Todos os demônios e espíritos malignos estão empenhados e em pé de guerra contra os cristãos para puxá-los para dentro do
inferno. Por isso faz-se necessária a armadura de Deus. E o que é esta
armadura de Deus? Ela nada mais é do que a própria Palavra de Deus.
É ela que nos dá condições para nos prevenirmos contra os ataques
do inimigo maligno. Conhecer bem a verdade e viver nela, já é meio
caminho andado em direção à prevenção contra as tentações. Agora,
quem não conhece a verdade, certamente, torna-se muito vulnerável
e tem muito mais propensão à tentação e ao pecado.
Usar, pois a armadura de Deus, é viver o Evangelho salvador de
Jesus Cristo; é viver a fé no Salvador de forma intensa e atuante; é
viver a fé ativa no amor e é viver o perdão, conquistado por Jesus
na cruz para toda a humanidade, de forma tal que este perdão possa
servir de escudo para prevenir contra futuros ataques. Usar a armadura de Deus, enfim, é fazer valer o que Paulo diz aos colossenses, no
capítulo 3.16: “Que a mensagem de Cristo, com toda a sua riqueza,
viva no coração de vocês”.
A Palavra de Deus, a oração e o trabalho em geral, mas principalmente o trabalho no Reino de Deus, são as melhores prevenções
contra a tentação.
Oração
Pai nosso, dá-nos o teu Santo Espírito em rica medida, para que possamos pegar toda a armadura de Deus e, dessa forma, nos prevenir
contra as tentações. Que a tua Palavra, lida e estudada com dedicação
e regularidade nos fortaleça! Amém.
Pai Nosso
193
Todos somos tentados sempre
Gênesis 4.6-7
U
194
m dos capítulos mais tristes da história da humanidade é o
que diz respeito à tentação. Caim foi um exemplo neste sentido. Aliás, todas as pessoas são tentadas, e sempre de novo
caem em contínua e obstinada tentação. Lutero disse: “Embora
tenhamos recebido o perdão e uma boa consciência, e estejamos
inteiramente absolvidos, a vida, contudo, é tal, que hoje alguém está
de pé e amanhã cai”.
A nossa carne nos incita à preguiça, vida suja, comilanças exageradas, avareza e enganos que lesam o próximo. O mundo também se associa na luta para que, com palavras e obras, por raiva e
impaciência, sejamos invejosos, provoquemos inimizades, vivamos
em violência no lar e fora dele, sejamos infiéis para com o cônjuge,
os filhos, os pais e, acima de tudo, para com Deus. Somos tentados
a nos vingar, falar mal dos outros, viver em orgulho, honra, fama e
poder. Ninguém quer ser o menor, o que serve, mas cada qual quer
ser superior ao outro. Tudo isso é instigado pelo Diabo, que, de forma
especial, induz a que desprezemos a Deus e sua Palavra. Seu objetivo
maior é nos tirar a fé em Jesus Cristo, o amor e a esperança da vida
eterna. Por isso, quer que sejamos supersticiosos, que tenhamos fé
e esperanças falsas, e que caiamos no desespero de qualquer sofrimento ou vícios. “Estes são os laços ou redes, os verdadeiros ‘dados
inflamados’ que o diabo atira ao coração da maneira mais venenosa”
(Lutero). Por estarmos sujeitos às mais diversas tentações, faz-se urgente que evitemos lugares e companhias que nos querem arrastar
para o pecado.
A recomendação do Senhor Jesus é: “Vigiem e orem para que
não sejam tentados” (Marcos 14.38).
Oração
Pai nosso, não nos deixes cair em tentação. Enche nossos corações de
santos desejos, ensina-nos a fugir de tudo quanto é pecaminoso e de
todas as ciladas do Diabo, do mundo e da nossa carne. Concede-nos
a graça de buscarmos sempre o perdão que só Jesus pode oferecer.
Amém.
Pai Nosso
De onde veio o joio?
Mateus 13.25-28a
P
ara chegar à igrejinha do outro lado do vale, precisei atravessar as águas represadas do Itajaí do Sul, numa canoa. Já de
longe, percebi algo diferente. Em grupinhos, à volta do templo,
aquela comunidade de agricultores conversava agitada. Ao chegar,
ouvi a história que alvoroçava a todos: um crime bárbaro, acontecido
tempos atrás, havia sido desvendado pela polícia. Um parente da cidade trazia, agora, a notícia de que uma pessoa criada na vizinhança
cometera a atrocidade. Por isso, todos estavam a debater agitados:
“Como pode alguém com quem haviam convivido por anos e em
quem confiavam, chegar a fazer isso?...”. Todos o conheciam, conheciam sua família! Como pode suceder uma coisa dessas?
É disso que nosso Senhor Jesus trata na parábola do joio. Um
agricultor havia semeado semente boa. Mas, misturado ao trigo, nasce
erva daninha. Por isso, seus servos perguntam-lhe: “O senhor não
semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio?” (v.
27). Deus não criou um mundo bom e perfeito? De onde, pois, vem
a maldade que o atormenta?
A agitação da comunidade e dos servos tem, ainda, uma dimensão mais profunda que precisamos perceber: todos ficaram tão
afetados, porque sentiram que este abismo do mal, esta semeadura
do inimigo, perpassa a sua própria existência! Nossa pergunta mais
angustiante é: “Senhor, de onde vem a malignidade que está em
mim?” – “Por que faço o mal que eu não quero?” (Romanos 7.19).
Que o Espírito Santo o ajude a compreender de onde vem o joio
que a toda hora está sendo semeado em sua vida, para poder orar
com as palavras da sétima prece do Pai nosso: “Mas livra-nos do mal”.
Oração
Oh, Papai amado! Tua palavra quer levar-me ao reconhecimento
da semeadura do maligno em minha própria vida. Obrigado que tu
tocas nesta ferida como médico que quer tratá-la. Sara-nos, Senhor,
pelo sangue de Jesus! Amém.
Pai Nosso
195
Somos maus?
Mateus 9.1-2
O
196
novo código de trânsito renovou a nossa consciência de
culpa. Ao menos, quando outros infringem a lei, nós não
hesitamos em apontar o seu pecado. Quando nós mesmos o
fazemos, a história é outra. No caso do nosso próprio envolvimento e
comprometimento, não somos tão categóricos! Ainda assim, tememos
todos os tais pontos que são registrados na polícia e descontados na
nossa carteira de habilitação. Mas, os atos pecaminosos são apenas
a ponta do iceberg. Apenas 1/7 dessas imensas montanhas de gelo
são visíveis; 6/7 ficam sob a superfície. Lembremos a figura do joio,
escondido na terra, que cresce sorrateiramente junto com o trigo na
lavoura de Deus (cf. Mateus 13.24-28a).
No nosso jardim há uma erva daninha conhecida por “cebolinha”
ou “tiririca”. Você a conhece? De nada adianta cortá-la com a enxada,
rente ao chão. Dum fiapo de sua raiz, ela é capaz de reproduzir-se,
espalhar-se e contaminar um jardim inteiro. Um metro de aterro
não acaba com ela. Assim, de nada vale tratar do mal que é visível,
é preciso chegar à raiz. Por isso, Jesus disse ao paralítico: “Coragem,
meu filho, os seus pecados estão perdoados” (v. 2), tratando, dessa
forma, esta raiz do pecado, a semeadura do inimigo e nossas vidas.
Só Jesus quer e pode vencer os abismos que nos separam de Deus
e sarar a nossa rebelião contra ele, que insiste em fazer o mal. Por
meio dele, Deus livra-nos do Diabo, este “nosso inimigo principal”.
O Filho de Deus veio ao mundo com este propósito. Por causa dele,
nós podemos ter certeza de que Deus quer ajudar-nos de modo que
podemos clamar “mas livra-nos do mal” na certeza de sermos ouvidos.
Oração
Senhor, os abismos do mal em meu próprio coração me atormentam
e atemorizam terrivelmente. Obrigado que tu me animas a aceitar a
tua ajuda e o teu socorro! Quero confiar na tua mão estendida, crer
na tua Palavra. Amém.
Pai Nosso
A libertação é palpável
Mateus 9.3-7
S
abemos o quanto a semeadura do inimigo de Deus nos atemoriza. Este profundo temor resulta numa paralisia da vida e é
progressiva.
Havíamos amarrado o nosso cachorro numa corrente comprida.
Mas a cada volta que ele dava na árvore que prendia a corrente, seu
raio de ação diminuía. Por fim, acabou totalmente imobilizado.
Quando clamamos a Deus para livrar-nos do mal, ele, realmente, intervém, e sua libertação é palpável e concreta. Na sua cura, o
paralítico teve esta experiência maravilhosa. Jesus perdoa os seus
pecados, colocando-o novamente de pé diante de Deus. E, depois,
recupera também suas funções físicas.
No encontro de Jesus conosco é restabelecida a nossa comunhão
com Deus que “nos libertou do poder da escuridão e nos trouxe em
segurança para o Reino do seu Filho amado. É ele quem nos liberta, e
é por meio dele que os nossos pecados são perdoados” (Colossenses
1.13s.). Assim, a prece por libertação do mal inclui todas as manifestações concretas do mal “que afetam o corpo e a alma, os bens e a
honra” (Lutero). Inclui a injustiça que sofremos, a crise conjugal que
nos atormenta; o vício da bebida, a dependência de drogas. Podemos
confiar que Deus quer reverter todas as conseqüências da semeadura
do inimigo, sejam elas quais forem. Por isso, Jesus nos ensina a invocálo e a depositar nele toda a nossa esperança!
A libertação plena e derradeira apenas se dará quando a plenitude do seu Reino se manifestar definitivamente. Mas os sinais desta
vida nova já se manifestam aqui e agora. À nossa volta não faltam
pessoas que podem testemunhar que experimentaram libertação
concreta do mal.
Oração
Meu Senhor amado! Quero declarar a minha confiança no teu poder
sobre o Diabo e toda obra maligna! Ensina-me a invocar o teu socorro
e ajuda contra todos os males, hoje e sempre. Amém.
Pai Nosso
197
Cristão também sofre
Atos 14.22
Q
198
uando Paulo está deitado no pó da estrada de Damasco, a
voz de Cristo faz o seguinte comentário a seu respeito: “Eu
escolhi esse homem para... anunciar o meu nome aos nãojudeus, aos reis e ao povo de Israel” (Atos 9.15). E Cristo não fez promessas especiais para defendê-lo e libertá-lo dos males e sofrimentos
no cumprimento deste desafio. Mas diz o contrário: “Eu vou mostrar
tudo o que ele deve sofrer por minha causa” (Atos 9.16).
E os sofrimentos foram muitos. Já no início de sua atividade,
Paulo é apedrejado e jogado desacordado num monte de lixo. Logo,
porém, ele recobra os sentidos e continua pregando o Evangelho. E,
numa outra linguagem, repassa o mesmo recado aos cristãos: sejam
fortes, permaneçam firmes na fé porque os muitos sofrimentos nos
forjam para o Reino de Deus! Apesar de salvo e estar a caminho da
vida eterna, o cristão sofre enquanto vive neste mundo. A perfeição
só vem depois.
O termo traduzido por sofrimentos e tribulações engloba todos
os males materiais, espirituais e morais que podem atingir o cristão.
No Novo Testamento, a palavra significa “estar espremido, estar esmagado, estar sob pressão”. E o cristão é pressionado por frustrações,
calúnias, invejas, amarguras, angústias, prejuízos e dores no corpo e
na alma. Nestes males, Lutero inclui “as tentações do diabo, que é o
próprio mal, o maligno, a desgraça, os acidentes, a pobreza, a loucura
e a morte”. No meio dos sofrimentos, porém, Deus não se esquece
nem abandona seus filhos, mas os ampara, consola e conserva na
fé verdadeira até o momento de ouvir o convite: “Você que foi fiel,
venha e entre no Reino de seu Senhor!”
Oração
Senhor, meu Deus e Salvador, livra-me do mal, dos sofrimentos, das
tribulações, das dúvidas e da falta de fé. Conserva-me fiel até o fim
de minha vida. Amém.
Pai Nosso
A cobiça desvia da fé
1 Timóteo 6.10
E
goísmo, ciúme, inveja e cobiça são parentes muito próximos.
Em conjunto, procuram enganar e arruinar a vida dos filhos
de Deus. Embora tenham características próprias e diferenciadas, os quatro inimigos dos seguidores de Cristo são males que
têm a mesma origem, como diz Paulo: “Porque o amor ao dinheiro
é fonte de todos os tipos de males” (1 Timóteo 6.10). O apóstolo lembra especialmente as traições de um destes quatro males, a cobiça,
a qual pode levar os filhos de Deus ao desvio na fé e trazer como
conseqüência, dores, tormentos e sofrimentos.
A sétima petição do Pai nosso diz que devemos orar assim: “Pai,
livra-nos do mal”. Ao falar deste mal, o Redentor está pensando no
Diabo, que introduziu no mundo o primeiro e o maior mal – o pecado! E o pecado é o mal – no singular – que produz muitos males – no
plural – os quais, por sua vez, multiplicam milhares de outros males. O
amor ao dinheiro é um dos muitos males gerado pelo mal do pecado.
E este amor hipócrita, invertido e falso do dinheiro, fabrica muitos
outros males, entre os quais se destaca a cobiça.
Deus condena a cobiça. Ela é pecado. Lutero lembra que “a
cobiça é a malfadada ganância, o insaciável desejo de querer apropriar-se ou adonar-se daquilo que é do outro: a mulher, a casa, os
campos, os bens do próximo” e isto com aparência de direito, sempre visando “o prejuízo do próximo”. A cobiça de qualquer espécie,
no fundo, é o amor pelo dinheiro. O amor que deveria ser dado a
Deus é consagrado aos bens materiais. Esta ganância desvia a fé do
Salvador e causa dores, tribulações e sofrimentos. Por isso, a petição: “Pai, não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal!”
Oração
Senhor, meu Deus e Salvador, eu quero te amar de todo coração,
de toda alma e de todo entendimento. Não quero desviar-me da fé.
Conserva-me fiel até o fim. Amém.
Pai Nosso
199
Para junto de Deus, no céu
Apocalipse 21.1-5
O
200
universo vai acabar. Mas não vai permanecer em caos, ruínas
e escombros. O pecado envenenou e causará a morte de todas as coisas criadas. Com a entrada do pecado, o mundo
começa a definhar e morrer. Isto é juízo de Deus. Mas também há
uma promessa: das cinzas e ruínas, Deus criará um novo céu e uma
nova terra – habitação para os que foram salvos pela fé no Salvador
Jesus. João, numa visão especial, viu e descreveu esta futura realidade.
Pedro lembra que o fim do mundo – “o dia do Senhor” – virá
repentinamente, quando muitos não o estiverem esperando. Diz que
os céus vão desaparecer. Neste dia, também haverá a ressurreição dos
mortos e o juízo final e os vivos e os mortos estarão na presença do juiz
Jesus para ouvir uma das sentenças: “Afastem-se de mim, vocês que
estão debaixo da maldição de Deus!” (Mateus 25.41). Ou: “Venham,...
abençoados pelo meu Pai e recebam o Reino” (Mateus 25.34).
O próprio Deus criará novo céu e nova terra. A nova criação será
tão bela e gloriosa que faltam palavras para João descrevê-la: Deus vai
enxugar as lágrimas; não haverá mais tentações, dores, sofrimentos,
choro, luto ou morte; viveremos na presença de Deus, e Deus estará
sempre conosco; felizes e bem-aventurados, estaremos louvando e
glorificando ao nosso Deus e Salvador, dizendo: a ti seja o louvor, o
poder, a honra e a glória para sempre! Não, o necrotério e o cemitério não são o fim de nossa vida. Nós temos um futuro, um futuro
feliz, preparado por nosso Senhor e Salvador. E isso dá sabor à vida.
Por isso podemos ter certeza: Deus, um dia, nos levará para junto de
si, no céu – no novo céu e na nova terra. Que promessa fantástica!
Oração
Senhor, meu Deus e Salvador, livra-me do mal, guarda-me na fé,
leva-me para junto de ti para que, um dia, eu também possa viver
no novo céu e na nova terra. Amém.
Pai Nosso
Oração ou negociata?
João 15.16
Q
“
uem quer carro novo? Quem quer uma casa na praia? E
não peçam qualquer coisa. Com Deus é tudo ou nada. Peçam logo um carro importado. Carro velho até mendigo
já tem. Coloquem Deus contra a parede, pois foi ele que prometeu
bênçãos a seus filhos. Ele quer que seus filhos sejam ricos”. São frases de um pastor de uma das igrejas da prosperidade, que promete
bênção aos que dão grandes ofertas. Todas as pessoas levantaram a
mão, reafirmando o sonho de um carro.
“Peçam tudo a Deus” pode ser interpretado no sentido de uma
negociata com Deus. As frases acima são um exemplo de troca entre
Deus e o pedinte. É negociata e não oração. Dou dinheiro, oro três
horas ou ofereço 100 sacos de cimento para a obra da igreja. Em troca,
Deus me concede tudo o que peço, inclusive o supérfluo para viver.
Ao ensinar os seus discípulos a orar, Jesus pede que não sejam
como os hipócritas que fazem longas orações em praça pública, com
muitas repetições, como se Deus não soubesse de nossas necessidades
materiais e espirituais. Nosso querido Deus sabe o que precisamos,
mesmo antes de pedirmos (Mateus 6.5-15).
Sendo assim, por que orar? Orar é um sinal de reconhecimento
de que todas as dádivas vêm de Deus, gratuitamente. Somente ele
sabe de tudo o que precisamos para viver vida justa.
“Aquelas pessoas que não reconhecem a Deus como fonte de
toda boa dádiva, arrebatam e devoram todos os bens de Deus, feito
porcos. Tomam terras, cidades e casas, sem considerarem Deus e as
pessoas. Ao contrário, o coração das pessoas que ouvem da Palavra
que temos tudo em Deus, saberão lidar com todas as situações e
enfrentá-las corretamente” (Lutero).
Oração
Querido Deus, de mãos vazias, como mendigos, chegamos a ti para
pedir o necessário a uma vida justa. Por conheceres nossas necessidades, nos fiamos em tua graciosa promessa de orar em teu nome e
pedir por todos que carecem de pão e Palavra. Amém.
Pai Nosso
201
O mal nem sempre é castigo
João 9.2-3
U
202
ma senhora que recém voltara de um retiro espiritual – fora
se orientar com seu guru, na Índia –, explicava-me as razões
do sofrimento: “Os que sofrem estão pagando por erros praticados em vidas passadas”.
Conhecendo tal argumento do espiritismo, eu perguntei: “Mas,
por que há povos desenvolvidos e outros que vivem na pobreza?” E
a resposta: “Os países com pobreza também estão pagando por erros
das gerações anteriores. Por essa razão, nada se pode fazer pelos que
sofrem todos os tipos de privações. Pregar a justiça social é impedir a
evolução para milhões de pessoas em outras reencarnações. Precisam
expiar seus pecados pelo sofrimento para voltarem numa melhor
condição social nas reencarnações coletivas”.
Os discípulos de Jesus também perguntaram pela origem do mal
quando viram um cego de nascença: “Quem pecou? Ele ou seus pais?”
– “Nem ele, nem os seus pais”, diz Jesus. “Nasceu cego para manifestar
o poder de Deus”. Depois, Jesus o curou, mudando a situação.
Os espíritas e outros espiritualistas aceitam resignada e comodamente o sofrimento, e os discípulos de Jesus, refletindo o pensamento
do povo, excluíam os que sofriam de qualquer mal. Além de ser excluído pela cegueira, o cego sofria pela culpa jogada por outros. Era
um duplo sofrimento.
A resposta de jesus e a cura modificaram a pergunta dos discípulos. O “por quê” perdeu o lugar para o “para quê”. Jesus sabia que
nem todo mal é castigo. Há situações que podem ser mudadas pela
fé e ação, pessoal e coletivamente. A fé em Cristo nos leva à prática
do amor e da justiça e a graça de Deus nos perdoa, descartando de
vez a fantasia humana de reencarnação.
Oração
Querido Deus, perdoa-nos quando não nos envolvemos com os
que sofrem porque achamos que eles estão pagando por seus erros.
Liberta-nos, pelo teu amor, da indiferença frente ao sofrimento. Obrigado por nos livrar do mal e de nós mesmos. Amém.
Pai Nosso
O mal nos rodeia sempre
Salmo 40.12-13
Ó
Deus, salva-me! Ajuda-me agora! Este grito pelo socorro de
Deus mostra a situação desesperadora do salmista que se vê
rodeado de dificuldades; dificuldades que são atribuídas aos
próprios pecados e à situação adversa provocada por outras pessoas,
mostrando-nos, dessa forma, os dois lados da situação difícil: pessoal
e social.
Mas o grito do salmista ainda pode ser ouvido nos desesperados
de hoje. Lembro daquele pai desempregado, que sente a dor pelos
seus filhos que clamam por pão, e da mãe, cujo filho foi morto por
engano nas mãos de policiais corruptos. Vejo o desespero da família, cuja criança não foi atendida no hospital por falta de dinheiro;
daquela mulher que deu à luz em frente de um hospital público.
Também lembramos dos gemidos dos doentes incuráveis. Seus gritos
de socorro mostram que o mal não tem a última palavra, mas Deus.
Portanto, pedir por socorro é clamar pelo Deus que nos livra dos
males que afetam o corpo e a alma, os bens e a honra. Assim Lutero
explica a sétima petição do Pai nosso, livrando-nos de olharmos para
o mal como se ele só agisse no mundo pessoal e religioso. O poder
do mal atinge todas as dimensões da vida pessoal e social.
Por ter esta visão do mal e de suas ciladas, em seu esconderijo,
Lutero compôs um hino, Castelo Forte, do qual destacamos a estrofe 4,
que mostra as armas de luta contra todos os males: Espírito, verdade.
“O verbo eterno vencerá
as hostes da maldade.
As armas, o Senhor nos dá:
Espírito, Verdade.
Se a morte eu sofrer,
se os bens eu perder:
que tudo se vá!
Jesus conosco está.
Seu Reino é nossa herança!”
Oração
Querido Deus, livra-nos de todos os males que afetam as nossas vidas
e as instituições de nossa sociedade e quando chegar a nossa hora
derradeira, concede-nos um fim bem-aventurado. Amém.
Pai Nosso
203
Mas livra-nos do mal
Gênesis 50.20
S
204
e Deus retirasse a sua atenção por um ínfimo milésimo de segundo, não poderíamos sobreviver. Essa é uma afirmação de
fé de quem sabe que tudo depende do cuidado e da providência divina. Mas também o incrédulo, ou o ateu prático, aquele que
vive como se Deus não existisse, pensa assim. Quando tudo vai bem,
Deus é excluído da ação de graças como o causador de bênçãos
financeiras, sucesso profissional, saúde e assim por diante. Nesses
momentos, incrédulos fazem aquela oração da mesa do Simpson,
na historinha em quadrinhos: “Deus, obrigado por nada dessa mesa,
pois tudo que está aqui comprei com meu dinheiro que ganhei com o
meu esforço”. Entretanto, quando tais pessoas são confrontadas com
dificuldades, seja a falta de dinheiro, doenças..., começam a acusar a
Deus por essa situação: “Se Deus é tão bom, porque ele permite que eu
sofra tanto?!” O ser humano sabe, lá no fundo de sua alma, que tudo
vem de Deus, mas muitas vezes é necessário passar por todo tipo de
males para reconhecer, mesmo com resignação, essa verdade.
Mas a oração do Pai nosso é feita por cristãos que vivem na dependência de Deus, e reconhecem o Deus-salvador que não perdeu o
controle sobre as coisas. Esses cristãos que oram o Pai nosso, galgaram
passos de pedidos que expressam confiança: “pois, se é para sermos
protegidos contra todo o mal e libertados dele, se faz necessário que
primeiro seja em nós santificado o seu nome, esteja entre nós o seu
reino e se faça a sua vontade. Depois, enfim, nos preservará ele de
pecado e vergonha, e ademais, de quanto nos doa e seja danoso”
(Lutero).
A confiança está em Deus que em tudo nos sustenta e protege.
Oração
Amado Deus, ajuda-me a reconhecer que és tu a fonte de todo o bem
e livramento de todo mal. Ajuda-me a reconhecer que sem ti, não
poderei dar nem sequer um único passo a frente. Amém.
Pai Nosso
Pois teu é o Reino, o poder e glória para sempre
Romanos 11.36
“
P
ois tudo o que atualmente existe e persiste, tanto na esfera
espiritual quanto na civil, naturalmente é preservado pela oração” (Lutero). Precisamos aprender que a vitória não vem como
resultado de nossos planos magníficos, de um bom marketing feito
ou qualquer outra atividade humana. A vitória autêntica, porém, vem
como resultado de joelhos dobrados. Ela vem do Senhor!
Ao afirmar isso, não se diz que a vitória vem de nosso esforço,
pois, em última análise, oração é a obra de Deus na vida do cristão,
embora seja um ato praticado pelo cristão. Em verdade, só ora quem
é atingido pela graça de Deus. E quem é atingido pela graça de Deus,
também perdoa, ama, oferta, enfim, responde às bênçãos de Deus.
Pois oração não é apenas balbuciar palavras em direção a Deus, mas
é, também, achegar-se ao trono do Altíssimo (Hebreus 4.16). Trata-se,
pois, de um ato de fé. Oração é fé em ação, é comunhão com Deus, é
relacionamento íntimo, é reconhecimento de que no Reino de Deus,
a glória e o poder são dele e não de nossos “magníficos” planos. Portanto, o causador das vitórias é o próprio Deus.
Aquele que chega a essa compreensão, passou primeiramente
pelo entendimento de todos os sete pedidos do Pai nosso. E quem
chega a essa compreensão, só pode perceber que oração sempre é
resultado da intervenção de Deus na sua vida. Portanto, a oração nunca é mérito do homem. Quem ora verdadeiramente, reconhece que
tudo pertence e é sustentado pelo Rei do Reino, que detém a glória e
o poder. De fato, a vitória vem como resultado de joelhos dobrados!
Oração
Senhor, muitas vezes vivo a minha vida sem considerar o teu Reino.
Ajuda-me a reconhecer que teus são o Reino, a glória e o poder de
realizar as mudanças que precisam ocorrer na minha vida e que não
sou eu o causador da vitória, mas que ela vem de ti. Amém.
Pai Nosso
205
Amém
Tiago 1.6-7
O
206
melhor sinal de fé é uma vida de oração. Sem fé não existe
oração, pois orar é, em primeiro lugar, reconhecer que dependemos de alguém que encaminhe a solução de nossos
problemas e perplexidades e que é indispensável que os entreguemos
nas suas mãos.
Quando baixamos nossa cabeça e dobramos nossos joelhos,
estamos reconhecendo que não somos auto-suficientes, mas que
precisamos de alguém com quem compartilhar coisas boas e más
e que também nos ajude em situações que fogem completamente
do nosso controle. Oração é o reconhecimento de que somos seres
limitados e precisamos ir em busca daquele de quem vem todo o
sustento e a vida.
Nada expressa isso melhor, ao final da maravilhosa oração que
Jesus ensinou, o Pai nosso, do que a palavrinha “Amém”. Quem a
pronuncia está dando um passo de fé, e admite, sem duvidar, que Deus
“está ouvindo com certeza, com toda a graça e diz sim a tua oração.
E não largues da oração antes de teres dito ou pensado: bem, esta
oração foi ouvida por Deus, disso tenho certeza e o sei de verdade.
Isso é o que significa ‘Amém’” (Lutero).
Por isso, o cristão não perde tempo em discussões intermináveis
para saber se é bom que a Igreja dobre seus joelhos e ore mais; se
é bom a Igreja criar comissões de oração, promover encontros de
oração e assim por diante. O cristão, atingido pela graça de Deus,
sabe que oração é amizade com Deus; que orar é tempo bem gasto
com seu melhor amigo; é o âmago de sua fé, pois não pode orar em
dúvida, mas somente em passos de fé, que se expressam num “Amém”
de mente, alma e coração! É por isso que se afirma que oração é o
maior culto e a maior obra que um cristão pode prestar a Deus.
Oração
Amado Pai, como é maravilhoso estar na tua presença e contemplar
a tua beleza. Ajuda-me sempre a confiar na promessa de que tu estás
me escutando, de que tu me buscaste antes mesmo de eu me achegar
a ti. Amém.
Pai Nosso
Que é um sacramento?
1 Coríntios 11.24
S
acramentos são atos sagrados e misteriosos que existem em
todas as religiões. Eles desafiam a nossa curiosidade e provocam o nosso assanhamento de manipulá-los.
Lutero, na sua época, investiu muito para recuperar e interpretar
os sacramentos a partir de Jesus Cristo. Dizia: “Encontramos o Evangelho, o Batismo, a Ceia do Senhor e o ofício das chaves pisados na
lama. Aí os trouxemos novamente à luz, limpando-os da imundície.
Agora, cada qual pode enxergar o que é o Evangelho, o Batismo, a
Ceia do Senhor e o ofício das chaves”.
Cristãos têm os sacramentos em alta conta. Como Lutero, não
vêem neles um ato mágico, cuja simples aplicação baste para que se
salvem; tampouco, a mera participação garante a salvação. Como
ele, despem os sacramentos de todos os penduricalhos. Inclusive,
rejeitam as decorações litúrgicas, tão em voga em nossos dias.
Sacramentos são meios pelos quais Deus se comunica conosco,
apontam para a intenção de Deus, elucidam-na e a desdobram. Eles
são de Deus, não nossos. São instrumentos seus, não encenações
nossas. São dádivas suas, não conquistas nossas ou prêmios para nós.
Os sacramentos de Deus não se celebram, nem nós os merecemos. Recebemo-los gratuitamente. Através deles, o próprio Deus nos
alcança, envolve e transforma, não apenas no coração ou no espírito.
Ele toma posse de nós por inteiro, do nosso corpo, dos nossos órgãos,
de tudo. Ele nos mantém junto de si para o que der e vier, para a
vida ou para a morte. Ele nos oferece os sacramentos para levantar
e fortalecer a fé em Cristo. Assim, Deus mesmo torna os sacramentos
imprescindíveis para os cristãos e as cristãs.
Oração
Deus, graças a ti pelos teus sacramentos! Livra-nos e guarda-nos de
nossa piedade, que os embeleza e manipula. Pedimos de coração
que os teus sacramentos nos animem na fé em Jesus Cristo e no discipulado. Amém.
Sacramentos
207
O amor de Deus “assa”
2 Coríntios 5.18a
Q
208
uem ama, quer comunicar-se com a pessoa amada. Investe
tudo para que a pessoa amada não apenas saiba do amor,
mas também o perceba com os cinco sentidos.
Evoco esta ilustração para tomarmos consciência de quanto
Deus realiza para nos persuadir do seu amor, que é surpreendente e
inimaginável. Somos incapazes de assimilá-lo. Ninguém percebe isso
melhor do que Deus.
Para podermos perceber o seu amor, Deus se comunica conosco
não apenas através da sua Palavra, mas chega a nós também de forma
visível com os sacramentos.
Lutero define assim o sacramento do Batismo: “O Batismo não é
apenas água simples, mas é a água compreendida no mandamento
divino e ligado à Palavra de Deus”. Deus nos declara o seu amor com
todas as letras e o reforça com a água, no ato batismal, e o pão e o
vinho, na Santa Ceia. Assim, o amor de Deus nos alcança através do
gosto, do tato, do olfato, da visão e da audição. Ele é envolvente no
sentido pleno da palavra; atinge a pessoa inteira. Nada fica de fora.
É radicalmente diferente do nosso amor. “o amor de Deus não acha,
mas cria aquilo que lhe agrada; o amor do ser humano surge a partir
do objeto que lhe agrada” (Lutero). Deus “ama pecadores, maus, tolos,
fracos, para torná-los justos, bons, sábios e fortes”.
O amor de Deus cria, não conserta; constrói, não reforma. Mediante o Batismo, ele nos coloca para dentro do seu amor; na Santa
Ceia, ele nos alimenta com o seu amor. No Batismo, Deus começa a
sua história conosco e com a Santa Ceia, ele nos conserva nela. O
seu amor “é um forno que vai da terra até o céu” (Lutero). Aí ele nos
“assa”, para sermos agradáveis a ele e úteis aos nossos semelhantes.
Oração
Deus, tu nos batizaste e, agora, nos alimentas na tua mesa: graças a
ti por isso. Queremos viver como pessoas batizadas e alimentadas.
Livra-nos e guarda-nos da revolta contra o teu amor que nos “assa”.
Ajuda que amemos este teu jeito. Amém.
Sacramentos
Deus acende luzeiros na sua luz
João 8.12
F
elizes são as pessoas que conseguem refletir sobre suas experiências boas e ruins e tirar proveito delas para a sua
vida.
Talvez seja este o ponto principal que diferencia cristãos e cristãs
de outras pessoas. A fé em Jesus Cristo torna as pessoas conscientes
das suas próprias contradições e tentações.
Como poucos, Lutero fez tal experiência. Segundo ele mesmo
afirmou, essa experiência nunca termina enquanto se vive como
cristão e cristã neste mundo.
Apesar das constantes lutas exteriores e interiores, Lutero sempre
se manteve confiante e alegre. As forças para tanto, ele buscava nos
sacramentos. Ele mesmo confessa que estes o fizeram alegre e confiante. Pois neles, o compromisso que Jesus Cristo assumiu torna-se
concreto, palpável e degustável. Quando mergulhava em desespero
perante os seus pecados, os ataques dos seus inimigos e a ameaça da
morte, escrevia na sua mesa: “eu fui batizado”. Quando a sua vida
ficava triste e vã, esvaía-se em trevas e o mal se apoderava dele, a
ponto de que nada mais lhe apetecia, ia comer na mesa do Senhor.
Bem, aí não somente ouvia a promessa da presença de Jesus Cristo,
mas a sentia e a degustava. Já que na sua Ceia, ele mesmo, Jesus Cristo,
é “a comida e a bebida, o cozinheiro e o garção”. De forma que se
consumava a promessa de Jesus: “Eu sou teu e tu és meu; / onde eu
estou, terás o céu. / Nada há de separar-nos”.
Temos dúvidas, fraquejamos na fé? Eis o consolo, o desafio e o
convite para caminharmos pelo Batismo e nos abastecermos na Mesa
do Senhor e, assim, resplandecermos como luzeiros no mundo, acesos
e alimentados pela luz do mundo, Jesus Cristo.
Oração
Deus da vida, graças a ti somos de Jesus Cristo e ele é nosso. Por favor,
não te canses de gravar este fato em nossas mentes e corpos. Guarda
e preserva-nos no teu Batismo e junto à tua Mesa. Recria e alimentanos para sermos luzeiros da tua luz. Amém.
Sacramentos/Batismo
209
Palavra e água
Mateus 3.16-17
P
210
or que batizar? E mais: por que batizar Jesus? “Eu é que preciso
ser batizado por você, e você está querendo que eu o batize?”,
indaga João. A esta pergunta o próprio Jesus responde: “Por
enquanto deixe que seja assim, pois assim faremos tudo o que Deus
quer” (Mateus 3.15).
Que batismo era esse? As pessoas que vinham a João confessavam
os seus pecados porque João batizava o batismo da purificação, do
perdão, da reconciliação com Deus. Sendo assim, resta a pergunta:
precisava ele receber tal batismo da purificação? Não, mas, também,
sim. Jesus não tinha, como Filho de Deus, do que ser purificado. Pelo
contrário, ele tinha condições de purificar a outros. Era a isso que
João se referia: na presença de Jesus, nós somos impuros e precisamos
que ele faça algo para que nós sejamos purificados.
Mas, tanto João domo nós precisamos aceitar que Jesus tenha
vindo para nos purificar ao modo de Deus, completamente. Isso implicava tornar-se como um de nós e estar no lugar de cada um diante
de Deus, carregando a nossa culpa.
E, pensando assim, não houve pessoa no mundo mais impura e
cheia de pecados do que Jesus. Ele assumiu e carregou os pecados de
todos nós para cumprir toda a justiça de Deus. Desse modo, Jesus se
coloca na fila dos pecadores que vão até João para serem batizados.
Ele não sai da fila. Pelo contrário, ele é o primeiro e o último dela.
É isso que torna tão poderosa a água e a palavra do Batismo, a
ponto de lavar e purificar de pecado e de culpa: agora deixaram de
ser palavra e água de João e passaram a ser a água e a palavra de
Jesus que transfere, dessa maneira singela e maravilhosa, os nossos
pecados para os seus ombros e toda a justiça de Deus para nós.
Oração
Senhor Deus, ajuda-me, a exemplo de João, a confiar em ti. Não existe
consolo maior do que esse: saber que tu me purificas pelo poder da
tua Palavra e do Batismo, por causa de Jesus. Amém.
Sacramentos/Batismo
Batismo e fé
Atos 8.37-38
Q
uem pode evitar que no seu íntimo circulem sentimentos
de ódio ou de raiva quando se sente injustiçado? Que sentimentos são esses? São manifestações do pecado e fruto da
pecaminosidade natural em todas as pessoas, crentes ou não.
Sobre os maus sentimentos Jesus disse: do coração procedem os
maus desígnios. E o apóstolo Paulo completa, dizendo que todas as
pessoas estão encerradas na desobediência. Mas, consola o apóstolo,
Deus estende a sua misericórdia sobre todos. E como sabemos disso?
Jesus responde: pelo Batismo.
Na referência bíblica acima, Filipe queria convencer o etíope, que
casualmente encontrara pelo caminho, do enorme amor de Deus.
Depois de uma breve exposição da Palavra de Deus, eles chegaram
a um lugar onde havia água. E ali mesmo, ao lado da estrada, sem
rodeios, sem maiores exigências, sem uma profissão de fé, o etíope
é batizado.
O Batismo é o sinal incondicional do amor de Deus. Ele não
depende de pré-requisitos para ser eficaz. Nele, conforme o apóstolo
Paulo, Deus estende a sua misericórdia sobre nós! De nossa parte, nada
temos a oferecer a Deus. Não somos diferentes de outras pessoas,
cujos pecados são mais evidentes do que os nossos. Pelo Batismo,
Deus manifesta a sua misericórdia e perdoa a todos, por amor de
Jesus. Um resultado tão grandioso, num gesto tão simples que pode
ser consumado em qualquer beira de estrada, sem requisitos, como
oferta de Deus, ilimitada e imerecida! Diante disso, só nos resta crer
na afirmação de Deus para sermos filhos de Deus.
E, se Deus nos quer tanto, apesar das nossas limitações, a quem
ainda fecharíamos esta porta da graça de Deus?
Oração
Onipotente Deus, tu esperas de nós que tenhamos fé na tua Palavra.
Ajuda-nos a crer que, pelo Batismo, tua Palavra se aplica a pecadores e
os transforma pelo poder do teu Espírito Santo. Ajuda-nos a levarmos
esta oferta a cada pessoa. Amém.
Sacramentos/Batismo
211
O que salva
Tito 3.5
U
212
ma das grandes perguntas da história do cristianismo tem sido
esta: o que é que salva, ou melhor ainda, quem é que salva? É
Deus, claro, você pode responder. Esta resposta está certa.
Mas, diferentes correntes religiosas, até hoje, não se entendem sobre
a forma como Deus faz isso e qual é a participação do ser humano
neste processo.
No texto bíblico acima, o autor propõe que Deus enviou Jesus
para ser o Salvador. Paulo é enfático: a salvação é resultado da ação
misericordiosa de Deus. Da mesma forma, ele é enfático ao dizer que
a salvação não acontece “por obras de justiça praticadas por nós”,
isto é, ele exclui qualquer participação humana.
O que intriga em Tito 3.5 é a relação que se faz entre Batismo e
salvação. Diz o apóstolo que a salvação vem através “do lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”, ou seja, o Batismo. Então, o
que salva é o Batismo ou a misericórdia de Deus?
Quem salva é, de fato, Deus, por meio da ressurreição de Jesus
Cristo (1 Pedro 3.21); é a fé no Salvador Jesus. O Batismo é o “lavar
regenerador” que Deus usa como meio para produzir a fé no coração
das pessoas. Neste sentido, o Batismo salva.
O reformador Martinho Lutero viu e sentiu que nunca se pode
ter certeza se já fez coisas suficientes para a salvação, se já está salvo.
Por isso, é consolador saber que a salvação não depende daquilo que
nós fazemos, nem mesmo de um gesto meramente ritualístico ou
mecânico, como o Batismo. Em última instância, a nossa salvação
depende do amor e da ação de Deus.
A fé pode ter nascido em você através do Batismo. Se nasceu,
celebre diariamente esta bênção de Deus em sua vida!
Oração
Amado Pai, agradeço-te pela tua misericórdia em Jesus Cristo e pelo
teu lavar regenerador. Sou teu filho porque me salvaste! Mantém em
mim a salvação. Por Jesus, amém.
Sacramentos/Batismo
Batismo e salvação
Marcos 16.16
N
o Novo Testamento, fé e Batismo estão inseparavelmente ligados. Um ato meramente ritualístico é totalmente estranho
à Bíblia. Batismo não é um rito mágico que, por si só, garante a
salvação. O Batismo está ligado à fé e, a partir da Reforma, à constante
educação da nossa fé no seio da família, a menor célula da Igreja.
A preocupação fundamental do Novo Testamento é que a morte e a
ressurreição de Cristo não sejam apenas uma doutrina bonita e emotiva,
mas que tenham conseqüências concretas e sejam um poder atuante na
vida dos cristãos e das cristãs. O Batismo é vivencial. Importa que cada
dia redescubramos de novo o sentido de morrer e ressuscitar junto com
Cristo, vivendo, assim, diariamente o nosso Batismo.
O Batismo é Evangelho, isto é, é a vivência do Evangelho como
forma de vida. Justificados pela graça de Deus, comprometemo-nos
em fé e amor.
Somos batizados para dentro do corpo de Cristo, para dentro
da Comunidade de todos os batizados, tornando-nos tão ligados que
somos membros uns dos outros, em Cristo. Desta forma, fazemos parte
do plano de Deus que quer trazer a salvação para toda a humanidade,
para sermos uma grande família, vivendo fé, justiça e solidariedade.
Não é possível crer e ser batizado de forma privada, desligado da
Comunidade. Também a salvação não é restrita ao indivíduo, uma
espécie de passagem privada e autobeneficente. Deus veio para salvar
a humanidade, por amor a todas as pessoas. A ação de Deus consiste
em incluir a todos no seu corpo. Assim, também nós participamos
da ação de Deus, vivendo o nosso Batismo e a nossa salvação neste
mundo, para a maior glória de Deus.
Oração
Deus, nós comemoramos o aniversário de nascimento, mas esquecemos a data do nosso Batismo. Queremos viver o Batismo diariamente.
Somos teus filhos e filhas. Perdão, se tantas vezes não correspondemos
a esta condição. Amém.
Sacramentos/Batismo
213
Batismo e remissão dos pecados
Mateus 3.13-17
O
214
Batismo é a graça de Deus atuante. Nele, recebemos de
Deus a remissão dos pecados. Batismo é graça, é remissão
dos pecados. A Palavra de Deus se une à água. A água é
como a Palavra: limpa, perdoa os pecados e faz florescer uma nova
vida, a vida para Deus.
A remissão dos pecados não é somente “desculpar” os nossos
erros. Ela é, segundo Lutero, tudo o que Deus nos pode oferecer e
dar! Torna-nos novamente amigos de Deus, une-nos a ele.
Batismo, arrependimento e perdão estão ligados. Este foi o batismo pregado e praticado por João Batista, ao qual também Jesus se
submeteu. Não foi diferente na pregação dos apóstolos (cf. Atos 2.38).
A purificação batismal é o começo de uma nova forma de vida.
O pecado e a culpa tornam a nossa vida infeliz. “Encurralado em si
mesmo” (Lutero), o ser humano é o agressor. Nesta forma de vida, o
próximo é nossa vítima. Por mais incrível que pareça, agredindo com
pensamentos, com palavras, com ações e com omissão, tornamo-nos
vítimas de nosso próprio pecado.
O Evangelho, o Batismo, a Santa Ceia e a remissão dos pecados são
uma unidade. É o fim de um caminho e o começo de outro. Imaginem
se não houvesse perdão! Nunca teríamos a chance de um novo começo.
A vida cristã em comunidade é uma vida liberta. A remissão dos
pecados liberta do “estar encurralado em si mesmo”, do egoísmo do
qual a sociedade é vítima, inclusive nós mesmos. É uma experiência
nova de vida com Deus, com felicidade e desejo de relacionamento
autêntico com outras pessoas.
O batizado procura e vive a comunidade de Cristo. É uma forma
de viver intensa, compartilhando a alegria da graça justificadora de
Deus em Cristo.
Oração
Ó Deus, obrigado porque não nos condenaste, mas nos ofereceste o
perdão e nos declaraste justos.Tal misericórdia é tão grande que não
a podemos compreender. Ajuda-nos a vivermos diariamente o nosso
Batismo. Amém.
Sacramentos/Batismo
Batismo liberta da morte
Romanos 6.4-11
P
or que não queremos morrer? Há pelo menos duas razões: não
queremos morrer porque temos medo da morte e porque
estamos excessivamente apegados a nós mesmos e às nossas
coisas. Queremos que tudo gire ao nosso redor e ao redor de tudo
aquilo que nós conquistamos. Temos ânsia por vida. Não queremos
abrir mão de nada. Com a morte, somos obrigados a desistir de tudo.
Ela nos separa de tudo que temos e, neste sentido, ela é o nosso pior
inimigo e o maior sofrimento. Queremos nos atrelar a tantas coisas,
mas sempre caímos no vazio. Desde o nascimento, somos confrontados com a realidade do fim e da perda total. Toda a vida é marcada
pela finitude.
Cristo transforma a nossa vida. Ele nos liberta da vida marcada
pela morte e nos dá, gratuitamente, uma nova vida, voltada para
Deus. Somente assim, quem morre para o mundo e para o pecado e
passa a viver para Deus, vive feliz, abnegadamente feliz.
Tal morrer para o mundo e o pecado acontece através do Batismo. Através dele, passa-se a viver a nova vida, a vida de fé. Assim,
todas as pessoas, uma vez batizadas, entram num processo no qual o
velho homem pode ser afogado e ressurgir, cada dia, o novo homem,
uma nova vida desprendida do egoísmo.
Quem é batizado, vive para o Reino de Deus, comprometido com
a justiça para todas as pessoas. Não vive mais o sofrimento causado
pela morte do mundo e seus aguilhões, que escravizam as pessoas
nos seus bens e na sua honra. Tal modo de ser não é mérito próprio,
mas uma conquista de Cristo com a sua morte. A nós compete apenas exercitar diariamente a nova vida, conquistada por Cristo, que
recebemos de graça, através do nosso Batismo.
Oração
Deus, não permitas que desesperemos quando nos apegamos a coisas
passageiras, como se fossem perenes. Temos fé, ajuda-nos em nossa
incredulidade. Somos batizados, ajuda-nos a morrer e ressurgir diariamente. Amém.
Sacramentos/Batismo
215
O Batismo dá salvação eterna
Romanos 6.20-23
N
216
a cabine de comando de um navio transatlântico, chama a
atenção o cuidado que se tem com a boa continuidade da
viagem. O oficial encarregado da bússola eletrônica constantemente volta os seus olhos para aquele instrumento tão vital para a
navegação. A bússola indica a direção na qual o navio deve navegar
para chegar ao alvo final: o porto.
No texto bíblico de referência, o apóstolo Paulo aponta para o
grande objetivo dos filhos de Deus: receber a vida eterna. Semelhante
ao grande navio, os cristãos também “navegam” por esta vida em
busca do seu objetivo. Como o navio, que segue em direção ao porto,
tem a bússola, assim o filho de Deus tem no Batismo seu instrumento
de orientação, que sempre de novo corrige a sua rota em direção à
vida eterna.
O Batismo nos coloca na direção certa. Jesus expressou esta verdade com as palavras: “Quem crer e for batizado será salvo!” (Marcos
16.16). Esta é uma promessa de Jesus. E se ele assim o prometeu, não
falhará em cumprir sua palavra. Suas promessas não são vazias. O
Catecismo Maior explica esta promessa: “... a força, a obra, o proveito,
o fruto e o fim do batismo é salvar. Pois a ninguém se batiza para que
se torne príncipe, mas, conforme rezam as palavras, para que ‘seja
salvo’. É bem sabido, entretanto, que ser salvo não significa outra
coisa que, liberto do pecado, da morte, do diabo, chegar ao reino de
Cristo e com ele viver eternamente” (Lutero).
Que grande bênção é o Batismo! Através dele, Jesus nos dá a
salvação eterna. Importa, pois, que nos agarremos a este grande benefício e continuemos firmes na rota para o céu, até chegarmos ao
objetivo final: a vida eterna com Jesus.
Oração
Senhor Deus, obrigado por providenciar o Batismo que nos dá salvação eterna. Ajuda-nos a viver como verdadeiros cristãos batizados,
caminhando, desta forma, em direção à vida eterna. Em nome de
Jesus. Amém.
Sacramentos/Batismo
O Batismo introduz na família cristã
Atos 16.32-33
A
presença da família é importante para o bom desenvolvimento
da criança. Estar com pai e mãe é garantia de satisfação de
suas necessidades básicas. A família, solidamente estruturada,
providencia o ambiente no qual a criança desenvolverá sua personalidade e potencialidades.
Atos 16.32-33 nos leva a uma prisão romana. Paulo e Silas apanharam e foram presos injustamente, tendo os seus pés amarrados a
um tronco. Deus, porém, interveio, abrindo milagrosamente as portas
do cárcere e soltando as correntes que amarravam os prisioneiros.
Ao ver o que acontecera, o carcereiro está pronto para cometer
suicídio, já que a possível fuga dos prisioneiros seria cobrada dele e
poderia lhe custar a própria vida. Mas, ninguém fugira, lá estavam
todos. Logo a seguir, Paulo pregou a Palavra de Deus ao carcereiro.
Em conseqüência, o carcereiro e toda sua família passaram a crer e
todos foram batizados. Com isso, além de receberem a fé salvadora,
eles passaram a fazer parte de uma outra família: a família de Deus,
composta daqueles que crêem em Jesus. O Batismo introduziu esta
família na família cristã.
Lutero expressa essa verdade, como segue: “Por último, cumpre
se saiba o que significa o Batismo e por que Deus ordena precisamente tais signos e cerimônias externos para este sacramento, pelo qual
primeiro somos recebidos na cristandade”.
Que grande privilégio Deus dá, através do Batismo, aos que crêem em Jesus! Os cristãos não vivem como filhos abandonados. Pelo
contrário, vivem em comunhão na família de Deus. Aí estão para
ajudarem-se mutuamente, enquanto caminham em direção à vida
eterna com Jesus, no céu.
Oração
Senhor Deus, obrigado por receber-me, através do Batismo, como
membro da tua família. Ensina-me a ser um membro que se preocupa e trabalha a favor do próximo, da sociedade e da tua Igreja. Em
nome de Jesus. Amém.
Sacramentos/Batismo
217
Vida cristã é o Batismo continuado
Atos 2.38
E
218
ra dia de pentecostes. Depois de ter sido derramado o Espírito
Santo, Pedro proferiu um discurso cheio de autoridade. A pregação convenceu os ouvintes de que, se Jesus fora crucificado,
isto se devia aos pecados do povo. Em conseqüência, os ouvintes
também se sentiram culpados da morte de Jesus. Assim, com sentimento de culpa e conscientes do seu pecado, eles buscaram os
apóstolos e lhes perguntaram sobre o que fazer. A resposta veio de
Pedro: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome
de Jesus Cristo!” (Atos 2.38).
Arrepender-se é reconhecer, confessar a Deus e abandonar os
pecados cometidos. É também agarrar-se com fé em Jesus para viver
uma vida agradável a Deus. Isto não acontece apenas uma vez, quando
alguém é batizado. Pelo contrário, arrependimento é um processo
diário e contínuo na vida do cristão. Lutero o explica assim: “Essas
duas partes, submergir na água e voltar a emergir, indicam o poder e
o efeito do batismo, os quais outra coisa não são que a mortificação
do velho homem, e, depois, a ressurreição do novo homem. Ambas
devem continuar a suceder em nós ao longo de toda a nossa vida,
por forma que a vida cristã outra coisa não é que diário batismo,
começado uma vez e sempre continuado. Porque é preciso que o
pratiquemos sem cessar, a fim de varrer constantemente o que é do
velho homem e surgir o que pertence ao novo”.
Portanto, o Batismo nos leva ao arrependimento diário e nos
estimula a lutar contra os pecados. Também nos aproxima de Jesus,
que perdoa nossas falhas e nos fortalece para praticarmos as coisas
que agradam a Deus e são boas para a família, a Igreja e a sociedade.
Oração
Senhor Deus, reconheço e me arrependo dos meus erros. Peço-te
que me perdoes com o perdão de Jesus. Ajuda-me a evitar as falhas.
Dá-me forças para que a minha vida seja um Batismo continuado.
Em nome de Jesus. Amém.
Sacramentos/Batismo
Imersão na água: morrer e ressuscitar
Romanos 6.4
“
Á
gua que nasce da fonte serena do mundo
e que abre um profundo grotão.
Água que faz inocente riacho e deságua
na corrente do ribeirão.
(...) Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão...
(...) E depois voltam tranqüilas pro fundo da terra” (Guilherme
Arantes – Planeta Água).
Usamos água para muitas coisas: para nos alimentarmos, como
base de remédios, para nos limparmos. Transformamos a força da
água em energia. Metaforicamente, comparamos o ser humano com
águas caudalosas ou águas calmas e profundas. É, certamente, por
sua ação fundamental nos processos essenciais da manutenção da
vida que a água é a inspiradora de poesia e tecnologia. O mistério
da vida encontra-se associado à água.
Não sabemos exatamente quando a água tornou-se um símbolo
imprescindível do Batismo cristão. A memória das primeiras comunidades já relata que no Batismo de Jesus, a água era utilizada com
esse efeito regenerador e restaurador da vida.
A água do Batismo, enquanto elemento (H2O), é igual à água de
nossos rios e torneiras. Mas, então, o que ela tem de especial? A água
da pia batismal é associada à Palavra de Deus, tornando-se sinal manifesto do poder de Deus: “Pois o próprio Deus aqui empenha a sua
honra e nela põe sua força e poder” (Lutero). Com esse sinal, Deus
afirma que o pecado não tem mais poder sobre nós. Somos afogados,
mortos para o pecado e ressuscitados para a vida oferecida por Jesus
Cristo. A água do Batismo é elemento vital para a fé cristã. É marca
do amor de Deus que atrai para si as pessoas, oferecendo vida nova.
Oração
Senhor, eu te agradeço, pois mesmo antes de eu aprender a caminhar,
no Batismo, tu me recebeste, me lavaste e me colocaste junto a ti e a
meus irmãos e irmãs na fé a caminho da vida eterna. Amém.
Sacramentos/Batismo
219
Qual barco singra pelo mar, a Igreja do Senhor...
Mateus 7.6
O
220
barco é um símbolo muito antigo para a Igreja. Quando
Deus nos retira das águas do Batismo, somos aceitos como
parte da tripulação desse barco comandado por Jesus. O
Batismo é um presente “... um tesouro que Deus dá e do qual se apossa
a nossa fé...” (Lutero).
Com o passar dos tempos, a jornada de fé pode se desequilibrar.
Os sacramentos são esquecidos e menosprezados. Não raro, pais e
mães levam seus filhos e filhas para o Batismo por mera tradição ou
até mesmo superstição (assim a criança dorme melhor...). Aparecem
na Igreja somente para marcar o Batismo e com um certo desdém
perguntam: “Quanto devo?” – será que isso acontece em sua comunidade? - O poder e o efeito do Batismo, a saber, a morte da “velha
pessoa” e a ressurreição da “nova pessoa”, vão sendo esquecidos.
O que muita gente não sabe, e pastores e presbíteros têm medo
de assumir com muito receio de “afastar os membros”, é que o Batismo pode e deve ser negado em casos de ignorância, tradicionalismo,
incredulidade e falta de participação na vida e na missão da comunidade. Mas, por que negar o Batismo se ele não é ação humana? Como
Comunidade de Jesus Cristo temos a responsabilidade de evitar que
seja menosprezado esse dom de Deus. E com Deus não se brinca!
Esse negar não é uma punição, mas uma ação pedagógica: deve
ajudar as pessoas na fé, a compreenderem o significado do dom
de Deus e a não usá-lo de forma indevida. Ajuda-nos a esclarecer
nossas intenções quando levamos nossas crianças a receberem este
Sacramento. “Porque é preciso que o pratiquemos sem cessar, a fim
de varrer constantemente o que é do velho homem e surgir o que
pertence ao novo” (Lutero).
Oração
Senhor, entregamo-nos a ti para que tu operes em nós através de
nosso Batismo. Com o passar do tempo, queremos nos tornar pessoas
brandas e pacientes. Afasta de nós o ódio, a avareza, a cobiça e tudo
que nos separa de ti e das outras pessoas. Amém.
Sacramentos/Batismo
Padrinhos e madrinhas
Mateus 18.16
P
ara muitos momentos em nossas vidas, bons ou ruins, chamamos pessoas para serem testemunhas dos fatos que nos envolvem. Essas pessoas podem, no presente e no futuro, confirmar
o que viram e ouviram. Para tal, acreditamos que sejam íntegras, fiéis,
capazes. Nelas depositamos nossa confiança.
Padrinhos e madrinhas de Batismo são, pois, testemunhas de
que Deus se ofereceu gratuitamente num determinado momento
na vida de pessoas cristãs, num ato autêntico e único. São, pois, de
suma importância para a vida de fé da criança batizada. Através de
seu testemunho, ajudam a afilhada e o afilhado a compreenderem
que esse gesto de Deus em seu favor não deve e nem precisa ser
refeito e repetido quando atingirem a fase adulta. Acreditamos que
o poder e a vontade de Deus em nos salvar é muito maior do que
a nossa própria compreensão ou vontade de confirmar esse ato. O
Batismo é realizado somente uma vez em nossas vidas, caso contrário,
colocamos em dúvida o poder de Deus “pois a minha fé não faz o
Batismo, porém recebe o Batismo” (Lutero).
Quando escolhemos padrinhos e madrinhas de Batismo, devemos ter o cuidado de observar se essas pessoas são capazes de
confessar sua fé num único Senhor e Salvador, se são exemplos de
testemunho cristão e se estão engajadas na missão de sua comunidade. Pois eles e elas serão co-responsáveis em auxiliar o afilhado a
assumir os dons que lhe são colocados através da fé. Assumem também o dever de orar, orientar e introduzir a criança na vida cristã.
Testemunhar um ato de Deus em nosso favor é privilégio de pessoas
batizadas e engajadas na promoção do Reino de Deus em nosso meio!
Oração
Deus amado, agradecemos-te pelo nosso Batismo e por pertencermos
à tua família. Agradecemos pelos padrinhos e madrinhas que colocaste em nossa vida para que nos auxiliem na nossa caminhada de
fé. Permite que, através do seu testemunho, possamos assumir nossos
próprios dons na tua comunidade. Amém.
Sacramentos/Batismo
221
Travessia em barco seguro
Mateus 28.16-19
L
222
utero conta o episódio de uma jovem consagrada que, toda
vez quando tentada, defendia-se com seu Batismo, dizendo:
“Sou uma cristã”. O próprio Lutero, quando se sentia tentado,
escrevia em sua escrivaninha: “Sou batizado”.
O Batismo é aplicado só uma vez na vida. Seus efeitos, porém,
são permanentes. Ele é como um barco que nos abriga na travessia
do mar agitado deste mundo. Lutero compara o Batismo com um
barco que não se rompe, mas nós muitas vezes escorregamos e caímos
para fora dele. Mas, continua Lutero, se alguém cai para fora, trate
de nadar até o barco, agarre-se a ele até que consiga voltar a bordo
e prosseguir sua viagem.
O comando e a administração deste barco seguro foram, inicialmente, confiados aos discípulos de Jesus. Foram eles que ouviram
pela primeira vez a ordem: “Vão a todos os povos... batizando...”
(v. 19). Ora, os discípulos são representativos para a Igreja de Jesus
Cristo. Assim, quem tem a missão de batizar é a Igreja. Via de regra,
ela exerce esta missão através dos seus ministros, especialmente chamados e instituídos. Em casos excepcionais, porém, qualquer cristão
pode realizar o Batismo. No entanto, é sumamente importante tomar
todo cuidado para que tudo aconteça dentro da ordem, para que este
precioso tesouro não seja bagatelizado.
Assim, se você por alguma razão se sentir angustiado e desanimado, lembre-se que você foi batizado porque a Igreja recebeu esta
incumbência do próprio Cristo. Agora você é filho de Deus e pertence
à Igreja de Jesus Cristo. O Pai quer protegê-lo, oferecendo-lhe uma
travessia em barco seguro pelas águas agitadas do mar da vida.
Oração
Senhor Jesus, eu te agradeço que também a mim recebeste no Batismo
como teu filho querido. Eu te peço que abençoes a tua Igreja para
que ela administre com muita responsabilidade este grande tesouro.
Amém.
Sacramentos/Batismo
O poder da união com Cristo
Gálatas 3.27
N
a Inglaterra encontra-se uma pedra com uma rachadura onde
se refugiou uma vítima das perseguições religiosas no século
XVIII. Naquele esconderijo seguro foi concebido o maravilhoso hino que expressa o grito de socorro: “Rocha eterna, rachada para
mim, deixa esconder-me a mim em ti”. O autor comparou Cristo com
aquela rocha que o abrigara e protegera contra seus inimigos.
Assim é o Batismo. Ele nos une com Cristo, nos protege, envolvendo-nos como uma capa. E nesta proteção, que é o próprio Cristo,
eu posso refugiar-me sempre de novo. Segundo Lutero, “com Cristo
me visto de sua inocência, justiça, sabedoria, poder, salvação, vida
e espírito” e diariamente preciso “rastejar para dentro do Batismo”.
Corrie ten Boom fora levada para um campo de concentração
por haver escondido judeus em sua casa. Alguns anos após sua libertação, encontrou-se com um de seus ex-carrascos, agora convertido,
que lhe disse: “Naquele tempo eu era mau, mas agora estou certo de
que Jesus me perdoou e de que todos os meus pecados foram lançados no fundo do mar”.
No primeiro momento, Corrie ficou indignada. Depois de ter recobrado o equilíbrio, com o auxílio divino, disse tranqüilamente: “Graças
a Jesus, meus e seus pecados foram lançados no fundo do mar”.
Quando perguntada como perdoar a tamanho inimigo, ela tirou
do bolso um estojo com uma jóia, dizendo: “Se eu jogar essa jóia na
água, ela afundará, mas se a jogar dentro do estojo, ela flutuará. Assim
também acontece conosco. Sozinhos, afundamos no mar do ódio,
mas em Cristo o sobrenadamos”.
No Batismo, Deus nos colocou dentro de um estojo protetor, Jesus
Cristo, unindo-nos a ele. Em união com ele, nós não afundaremos.
Oração
Querido Salvador Jesus, faze-me lembrar diariamente de meu Batismo
a fim de que possa sempre de novo unir-me a ti e vestir-me com a tua
pessoa. Faze de mim um galho robusto de tua videira que produza
muito fruto. Sem ti, nada posso fazer. Amém.
Sacramentos/Batismo
223
Parecer ou ser uma nova pessoa?
2 Coríntios 5.17
V
224
ivia no Oeste americano um homem terrível, assassino, seqüestrador e assaltante. Quando morreu, seu irmão chamado
Ned, companheiro nos crimes, ofereceu dez mil dólares a qualquer ministro religioso que o sepultasse e o proclamasse publicamente
um santo. Finalmente, achou um pregador que acedeu ao pedido e
o proclamou santo, porém, nestes termos: “Comparado a você, Ned,
seu irmão era um santo”.
Não é esse o procedimento de muita gente? Disse um dos nossos
poetas que a única ventura de muitas pessoas é parecerem a outras
venturosas. Preocupam-se com as aparências, comparam-se com
pessoas piores do que elas e querem ser consideradas boas quando
na realidade não o são.
É uma realidade contrária ao nosso texto. Ele fala de pessoas que
realmente são boas, que se tornam boas, quando se unem a Cristo. E
isso é um resultado do Batismo. Disse Lutero que a nova pessoa é a
renovação da mente pelo Espírito Santo. Isso também se reflete no seu
exterior, em seus olhos, ouvidos, boca, língua, usados, agora, melhor
do que antes. Há inúmeras pessoas que, pelo Batismo e pela fé em
Cristo, sofreram uma radical transformação do antigo para o novo.
Um exemplo é John Newton, cuja mente de mercador de escravos foi
transformada completamente e que produziu o hino “Amazing Grace”,
tão precioso aos cristãos de fala inglesa, em que nos conta que havia
passado por muitos perigos, labutas e armadilhas. Mas, agora, a graça
de seu Salvador o colocara em lugar seguro e queria vê-lo em casa.
Queira o Senhor Jesus acabar também em nós com tudo o que
é velho e nos conceder o que é novo para podermos viver em justiça
e pureza!
Oração
Amado Pai, faze de mim uma nova pessoa que confia no teu perdão
e na promessa de que jamais te queres lembrar de meus pecados.
Faze-me esquecer as coisas que ficaram para trás e avançar para as
que estão a minha frente. Em nome de Jesus. Amém.
Sacramentos/Batismo
O Batismo do Espírito Santo
Atos 1.5
O
texto bíblico de referência fala que, depois de João, quem
batizará será o Espírito Santo. O que significa isso?
Lutero explica: “Batismo não é apenas água simples, mas é
água compreendida no mandamento divino e ligada à Palavra de
Deus”. A “Palavra” está escrita em Mateus 28.19: “... vão a todos os
povos do mundo e façam que sejam meus seguidores, batizando-os
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
O Batismo é, portanto, realizado em nome do único Deus que
se revelou a nós de três maneiras. Este sacramento nos dá, pois,
consciência da obra criadora de Deus Pai, da obra redentora através
de Jesus Cristo (Filho) e da obra santificadora (Espírito Santo). E é na
forma de Espírito Santo que Deus está presente entre nós hoje. É por
seu intermédio que cria comunidade. Foi a ação do Espírito Santo
que fez os apóstolos compreenderem sua missão de tal forma que
iniciassem a proclamação do Evangelho de Cristo; foi e é o próprio
Espírito Santo que chamou e chama as pessoas à fé, as faz entenderem o Evangelho.
Assim, a partir do Batismo pelo Espírito Santo, é formada a comunidade, que tem a tarefa de viver, a partir da fé, em novidade de vida.
O Batismo é obra de Deus em nós. Quem o ministra, a comunidade reunida, através do seu representante, é apenas instrumento de
Deus; quem, porém, opera o Batismo é o próprio Deus, pelo Espírito
Santo. Neste sentido, diz Lutero: “ser batizado em nome de Deus é
ser batizado pelo próprio Deus”. Deus utiliza-se destes instrumentos
e também da água como elementos externos visíveis para nos presentear o que é eterno, a salvação.
Oração
Senhor, ajuda-nos a colocar em prática o nosso Batismo. Dá-nos renovadamente o Espírito Santo para andarmos em novidade de vida.
Por nossa razão ou força não podemos fazê-lo, por isso capacita-nos
com a tua graça. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Sacramentos/Batismo
225
O Batismo e o Espírito Santo
Atos 10.44-48
O
“
226
Batismo... promete e traz: vitória sobre o diabo e a morte,
remissão dos pecados, a graça de Deus, Cristo... e o Espírito
Santo com os seus dons”. O Batismo promete e traz, entre
outros, conforme Lutero, o Espírito Santo e seus dons.
O Espírito Santo não é exclusividade de ninguém. Em Cesaréia,
alguns não-judeus receberam o Espírito Santo e alguns dons, e depois
foram batizados e creram em Jesus. Fé, Espírito Santo e Batismo estão
intimamente relacionados. O que não significa necessariamente que
haja coincidência entre a transmissão do Espírito e o ato do Batismo;
eles agem juntos. No entanto, o que vem antes, a fé, o Batismo ou o
Espírito Santo e seus dons, isto não compete a nós definir. O Espírito
age onde, como e quando quer! Ele é totalmente livre em sua ação.
Toda a vida da pessoa batizada é um constante abrigar-se debaixo
do Batismo, ou como propõe Lutero, “rastejar para dentro do Batismo”, afogar o “velho homem em nós para que possa sair e ressurgir
diariamente novo homem”. E esta capacidade de nos conscientizar
sempre de novo de que somos batizados e pertencemos a Deus e que
podemos, pois, andar em novidade de vida, não está em nós mesmos,
mas é ação do Espírito Santo. É também ele que nos motiva a exercitar
os dons espirituais que dele recebemos.
O Batismo é um dom de Deus que nos coloca no caminho da
fé, dá-nos o instrumento por excelência para andarmos em novidade de vida, o Espírito Santo, que nos proporciona os dons que nos
comprometem diante de Deus e do mundo. Importa que o vivamos,
praticando os nossos dons espirituais para que o mundo se torne
melhor. Para isso nos ajude o Espírito Santo!
Oração
Senhor nosso Deus, que livremente atuas. Permite que o Espírito Santo
nos chame e congregue para vivermos o nosso Batismo no dia-a-dia
da nossa vida. Ajuda para que coloquemos em prática os dons que
nos concedes. Por Jesus Cristo. Amém.
Sacramentos/Batismo
Um só Batismo!
Efésios 4.5
P
astor, eu quero voltar para a minha Igreja. Passei a freqüentar
uma outra Igreja e lá me falaram que eu devia ser batizado
outra vez, pois o meu primeiro Batismo não valeu porque eu
ainda era criança”. Argumentos como esses não são raros.
Efésios 4.5 é claro: Batismo acontece uma só vez. E é através dele
que passamos a fazer parte do povo de Cristo; e existe somente um
povo de Cristo no mundo. Evidentemente, há critérios a serem observados por ocasião da realização deste sacramento tão importante.
Em primeiro lugar, ele deve ser realizado com água – por imersão,
aspersão ou infusão, não importa! A água deve estar ligada à Palavra
de Deus. E o ato deve ser realizado por ordem e em nome do trino
Deus, tendo como intermediária a Comunidade de Jesus Cristo, constituída através do Espírito Santo. Estes são os elementos constitutivos
de um Batismo válido e eterno que não pode ser anulado.
Conta-se que Lutero, quando se sentia atormentado, repetia com
muita ênfase: “Sou batizado”. O reformador não se deixou rebatizar,
mas refugiava-se sempre de novo no seu único Batismo, acontecido
quando tinha poucos dias de vida. Segundo suas próprias palavras: “...
o Batismo sempre permanece, e posto que alguém dele caia e peque,
todavia sempre temos acesso a ele, para de novo submeter o velho
homem. Mas não é preciso que se torne a derramar água em nós”.
Qualquer tentativa de batizar de novo alguém que já foi batizado, é negar o poder e a graça de Deus que agiram no primeiro e
único Batismo. Há um só povo de Deus e é só uma vez que ele nos
concede a cidadania do seu Reino, através do Batismo. Por isso há
um só Batismo.
Oração
Senhor, ajuda-nos a vivermos a unidade da fé e a desenvolvermos o
Batismo. Não permitas que sejamos tentados, por interesses próprios,
egoístas e de exaltação própria, a querermos repetir o nosso único
Batismo. Ajuda-nos com o teu Santo Espírito. Por Jesus Cristo. Amém.
Sacramentos/Batismo
227
As crianças e o Batismo
Marcos 10.13-16
P
228
arecia um verdadeiro Dia da Criança. O grupo de crianças que
se acotovelava ao redor de Jesus era cada vez maior. Os discípulos, preocupados com que o Mestre não deixasse de lado
as tarefas agendadas, tentaram estragar a festa, impedindo que elas
chegassem mais perto. Jesus, no entanto, repreendeu os discípulos,
dizendo: “Deixem que as crianças venham a mim e não as proíbam,
porque o Reino de Deus é dos que são como estas crianças. Lembremse disso: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca
entrará nele” (Marcos 10.14,15).
Jesus sempre foi um grande amigo das crianças. Ele sabe, porém,
que, como todas as pessoas, elas, apesar de parecerem inocentes, na
verdade são pecadoras por natureza e estariam perdidas para sempre. Por isso, também por amor a elas, instituiu o Batismo. Portanto,
ele não deve ser considerado uma mera tradição. Pelo contrário,
“a ninguém se batiza para que se torne príncipe, mas para que seja
salvo” (Lutero).
No texto bíblico de referência, Jesus dirige-se aos que ali estavam
para dizer que o Batismo torna os pequeninos membros do Reino
de Deus, perdoa todos os seus pecados e os declara filhos de Deus
e herdeiros da vida eterna. Em resumo, os salva. Quando Jesus diz:
“como uma criança”, ele está dizendo que o Espírito Santo, através
do Batismo, cria nas crianças uma fé genuína que se coloca em total
dependência do Pai celestial, em espírito de humildade, receptividade
e confiança inabalável. Uma fé a ser imitada pelos adultos!
Vemos, ao final, que a festa das crianças terminou sendo completa: “Jesus abraçou as crianças e as abençoou, pondo as mãos sobre
elas” (v. 16).
Oração
Amigo dos meninos, / benigno Salvador, / recebe os pequeninos, / sê
nosso bom Pastor. / Teus cordeirinhos guia / com meiga compaixão;
/ e em tua companhia / jamais se perderão. Amém.
Sacramentos/Batismo
Batismo e ensino
Mateus 28.20
Q
“
uando as crianças nascem, devem ser nutridas com leite e
outros alimentos para não morrerem. E quando as crianças
se tornam filhos de Deus, devem ser nutridas com o alimento
da Palavra de Deus para não morrerem espiritualmente”.
Estas palavras, retiradas de um pequeno livro que recebi do meu
pastor, no dia da confirmação, retratam o que Jesus quer dizer ao
ordenar: “... façam com que sejam meus seguidores... batizando... e
ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho mandado” (Mateus 28.1920). O Batismo requer um processo contínuo de aprendizado na vida
cristã, um aprendizado fundamentado no estudo da Palavra de Deus.
O ensino cristão não tem como simples alvo transmitir conhecimentos. Primeiramente, ele visa à preservação da fé. Através do
ouvir e estudar da Palavra de Deus regularmente, o Espírito Santo nos
fortalece para a luta que travamos contra os inimigos da fé: o Diabo,
o mundo e a nossa própria carne. É dessa forma que podemos viver o
nosso Batismo, que não é um simples acontecimento do passado, mas
um afogar do velho homem em nós, por contrição e arrependimento
diários, e um ressurgir do novo homem, que deseja fazer a vontade
de Deus. Somos, assim, preservados na fé e capacitados para sermos
cada vez mais brandos, pacientes e mansos.
O ensino cristão visa também treinar os filhos de Deus para
exercerem suas funções no lar, na Igreja e no país. É no exercício de
nossa vocação, sendo um cônjuge fiel, um filho que honra seus pais,
um bom patrão ou empregado, um governante justo ou um cidadão
zeloso, um servo no trabalho do Reino de Deus, que melhor podemos
cumprir a missão de Deus no mundo.
Oração
Bondoso Deus, “a tua palavra é uma lâmpada para o meu caminho
e luz para me guiar. Os teus ensinamentos são a minha herança para
sempre; eles alegram o meu coração. Guardo a tua palavra no coração
para não pecar contra ti”. Amém. (Salmo 119.105,111,11)
Sacramentos/Batismo
229
Confirmar e ser confirmado
Efésios 4.11-16
Q
230
uando fui batizado, Jesus veio a mim e deu-me aquilo que
ele conquistou na cruz do calvário: perdão dos pecados,
vida e eterna salvação. O Espírito Santo foi derramado sobre
mim, entrou no meu coração e operou em mim a fé verdadeira. Assim
me tornei verdadeiro filho amado de Deus.
Meus pais educaram-me na fé cristã. Conheci e apreendi os
ensinamentos principais das Sagradas Escrituras. Até que um dia
aconteceu o que chamam, em minha Igreja, de “confirmação”. Este
dia foi importante para mim, em primeiro lugar, porque fui lembrado
de como Deus tem sido fiel à aliança para comigo e tem me confirmado, fortalecido na fé verdadeira. Em segundo lugar, movido por esta
fidelidade de Deus, tive o privilégio de, com a minha própria boca,
confessar publicamente perante o santo altar de Deus a fé na qual
fui batizado e instruído e renovar meu voto de querer viver a minha
vida com a ajuda do Espírito Santo, de acordo com a orientação
da Palavra de Deus, e alcançar “a altura espiritual de Cristo, que é a
cabeça” (v. 15).
Você, que foi chamado por Deus à fé pelo Batismo, também tem
sido confirmado e guardado na fé pelo Espírito Santo. E você também tem o privilégio de, no dia da sua confirmação e diariamente,
confirmar e renovar o voto batismal. Deus se importa muito com
você. Ele quer ajudá-lo todos os dias a cumprir a sua promessa com
o poder da Palavra. Viver a promessa batismal significa, em primeiro
lugar, arrepender-se diariamente dos erros cometidos e confiar no
perdão que Jesus lhe dá. Significa, em segundo lugar, pertencer a ele
e servi-lo com o seu tempo, seu corpo, sua mente, seus dons e tudo
o que você tem.
Oração
Obrigado, Senhor Deus, por seres fiel para comigo. Capacita-me a
viver a promessa batismal diariamente e a crescer na fé, no amor e
no serviço, por meio de Cristo. Amém.
Sacramentos/Batismo
A ceia da libertação
Êxodo 12.1-14
“
... e me libertou de todos os pecados, da morte e do poder do
diabo” (Lutero). Há mais ou menos três mil anos, sempre, em
novas situações, o povo de Deus experimenta o Deus libertador.
O mais antigo testemunho dessa ação libertadora temos na história
da saída de Israel do Egito.
Deus ouviu o clamor de seu povo, escravizado pelos egípcios.
Nove pragas que ele fez cair sobre o Faraó não o moveram a permitir
a saída dos escravos. Mas, finalmente, mandou o povo preparar, às
pressas, um jantar: pães sem fermento (pães asmos), ervas amargas e
um carneiro assado para cada casa. Com o sangue do animal deviam
pintar o marco da porta da casa, no lado de fora. Este seria o sinal
para que o anjo da matança poupasse os hebreus, enquanto mataria
todos os primogênitos egípcios. Assim aconteceu. Pelo sangue do cordeiro, Deus poupou o seu povo em meio ao juízo. Por meio de carne,
pães asmos e erva amarga, Deus o fortaleceu para a caminhada em
direção à liberdade e à terra prometida. O jantar tornou-se o signo
de libertação do povo de Deus da escravidão.
Em vista da morte de todos os primogênitos egípcios, Faraó
deixa os hebreus sair. Assim inicia a passagem da escravidão para
a liberdade, do estado de sem-terra para o prazer de ter a sua terra
para poder morar, plantar e colher. Essa passagem da não-vida para
a vida é chamada em hebraico de pasah = Páscoa. O povo judeu a
celebra ainda hoje, a cada ano, com alegria e seriedade, no dia 14 de
abril e acrescenta mais seis dias de pães asmos.
Será que dá para perceber como aí está prefigurada aquela última libertação de que fala Apocalipse 21.1: “Então vi um novo céu
e uma nova terra”?
Oração
Obrigado, misericordioso Deus, porque tu ouves o clamor do teu
povo. Em Jesus Cristo libertas da não-vida para a vida. Nele, nos
colocas a caminho. “Eu também sou teu povo, Senhor, e estou nesta
estrada, cada dia mais perto terra esperada”. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
231
Páscoa – a vida tem a última palavra
Marcos 14.12-16
O
232
segredo para revigorar a esperança em situação de crise é
relembrar os grandes feitos de Deus. Por isso, Israel
relembrava por meio das festas, da Páscoa e dos Pães Asmos,
a saída do Egito. Segundo a tradição, Jesus e seus discípulos também
celebrariam, naquela quinta-feira, pela última vez, a ceia pascal. A
ela antecedem dois episódios: Jesus defende a mulher que derramara
precioso perfume sobre a sua cabeça, ungindo-o antecipadamente
para a sepultura; e a Judas, o traidor, é permitido participar da última ceia memorial da libertação. Realmente, a última ceia de Jesus é
cercada de mistério e de perguntas não pronunciadas.
A Páscoa de Israel não quer ser confundida com a Páscoa cristã.
Nesta, celebramos a ressurreição de Jesus dentre os mortos, com novo
corpo que não morre mais. Ela é, portanto, a passagem da morte
para a vida que não tem fim. Esse fato nos dá esperança de que todos
aqueles que crêem em Cristo também serão ressuscitados com novo
corpo que não mais morre. Assim, a Páscoa de Jesus aponta também
para a nossa Páscoa que Jesus realizará no final dos tempos, quando
voltar em majestade e glória para julgar os vivos e os mortos. Por
conseguinte, a nossa Páscoa também é a passagem da morte para a
vida eterna.
De fato, estamos diante de um grande mistério: os olhos da fé
vislumbram naquela ceia dos hebreus no Egito uma prefiguração
da libertação da não-vida para a vida. Na festa pascal dos israelitas,
torna-se presente o Deus Libertador, o mesmo Deus que fez Jesus crucificado ressuscitar dentre os mortos. Na Páscoa de Jesus é antecipada
e prefigurada a nossa ressurreição dentre os mortos.
Oração
Silenciamos diante desse mistério, bondoso Deus. Tu libertas, salvas,
socorres e fazes viver. Glorificado seja teu nome, Senhor Jesus! Amém.
Sacramentos/SantaCeia
O mistério de Deus presente na Santa Ceia
Marcos 14.22-26
J
esus celebra pela última vez a ceia pascal. As palavras que ele
profere destacam esta ceia como única e inaugural. Nunca antes
ele dissera sobre o pão: “Isto é o meu corpo”. Assim como o pão
é quebrado e repartido, assim o corpo de Jesus é quebrado e repartido em nosso favor. Jesus é o “pão da vida”. Sem Jesus morremos
de fome! Nunca antes Jesus dissera sobre o fruto da videira: “Isto é
o meu sangue, que é derramado em favor de muitos”. Sem sangue
não dá para viver. Jesus dá a sua própria vida para que nós possamos
viver, ser perdoados e perdoar uns aos outros. Eis “o sangue que sela
o acordo feito por Deus com o seu povo”. Jesus inaugura o povo
universal de Deus, cuja origem e alvo é o próprio Cristo. No final dos
tempos, ele voltará para ressuscitar todos aqueles que nele crêem.
Então, ele celebrará a grande e eterna ceia com os seus: “... em que
beberei com vocês um vinho novo no Reino de Deus”.
Os primeiros cristãos perceberam nesta última ceia de Jesus
também o seu caráter inaugural. Dali em diante, cada vez que se
reuniam sob a Palavra e em oração, também “partiam o pão” (assim
chamavam a Santa Ceia). Nessa santa comunhão, encontravam força
e motivação para a missão e para resistir às tentações e perseguições.
Eis o mistério: na Santa Ceia está realmente presente aquele
Deus que libertou o seu povo da escravidão egípcia. É também o
mesmo Deus que, em Jesus, libertou e vai nos libertar em definitivo
dos poderes da morte. E, livres, podemos, já hoje, viver uma nova
vida em partilha. Passado e futuro se condensam em cada Santa Ceia
que celebramos. Não dá para explicar esse mistério adequadamente!
Importa ir e experimentar!
Oração
Louvado sejas, Senhor, que o nosso tempo está nas mãos de Jesus
Cristo. Obrigado que nele a nossa caminhada tem origem, alvo e
razão de ser. Permite-nos experimentar na Santa Ceia o antegozo da
alegria eterna. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
233
Santa Ceia na Igreja cristã primitiva
Atos 2.42
O
234
s primeiros cristãos reuniam-se diariamente para a “doutrina dos apóstolos”, isto é, para ouvirem a pregação, para a
“comunhão”. Estes encontros não eram apenas o encontro
de pessoas, mas incluíam também o auxílio às necessidades uns dos
outros. Neles, “partiam o pão”, isto é, celebravam a Santa Ceia, tomavam refeições em conjunto e oravam.
Este exemplo pode levantar a pergunta: “Quantas vezes devo
participar da Santa Ceia?”
A experiência dos primeiros cristãos foi boa, mas não deve ser
transformada em lei. Sobre a celebração da Santa Ceia, há apenas
um mandamento deixado por Jesus: “Façam isto em memória de
mim” (Lucas 22.19).
Jesus substituiu a escravidão à Lei pela liberdade evangélica: “Mas
virá o tempo, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores
vão adorar o Pai em espírito e em verdade” (João 4.22). Esse mesmo
princípio foi defendido por Paulo, em Gálatas 5.1: “Cristo nos libertou
para que sejamos de fato livres”. Não se deve mudar a liberdade que
temos em Cristo em nova forma de escravidão.
Deve-se participar da Santa Ceia com muita freqüência. Isto, no
entanto, não deve acontecer por coação ou imposição, mas unicamente pelo ensino da doutrina e dos benefícios que ela traz.
Aos cristãos, cabe se perguntarem quanto à necessidade de perdão e de fortalecimento de sua fé, pois são os pecadores e fracos que
Cristo chama para si: “Os que têm saúde não precisam de médico,
mas sim os doentes” (Mateus 9.12) e “Venham a mim todos vocês que
estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei
descanso” (Mateus 11.28).
Esse também é o convite de Cristo para a Ceia!
Oração
Senhor Jesus, quero atender o teu convite e buscar sempre a tua presença, como fizeram os primeiros cristãos. Que, assim como eles, eu
possa participar dos cultos e da Santa Ceia sempre que minha Igreja
estiver reunida para esse fim. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
Pão e vinho – corpo e sangue
Mateus 26.26
O
s primeiros cristãos não duvidavam, que no pão e no vinho
da Santa Ceia, recebiam o corpo e o sangue de Cristo para
perdão de seus pecados. Bastavam-lhes as palavras de Jesus:
“... isto é o meu corpo... isto é o meu sangue”.
Mais tarde, os teólogos recorreram à filosofia para explicar o mistério da Santa Ceia. Para alguns, pão e vinho eram símbolos visíveis
da realidade invisível do corpo e sangue de Cristo – essa linguagem
é influência da filosofia de Platão.
Outros confessaram a presença real do corpo e do sangue de
Cristo, segundo a linguagem da filosofia de Aristóteles, distinguindo
entre substância (o que é essencial) e acidentes (o que não é essencial).
Havia, aqui, um debate entre os que ensinavam a transformação das
substâncias do pão e do vinho nas substâncias do corpo e do sangue
de Cristo (daí o nome “transubstanciação”) e os que ensinavam a
justaposição das substâncias, pela adição das substâncias do corpo
e do sangue às do pão e do vinho (daí o nome “consubstanciação”).
Na época da Reforma, muitos negaram completamente a presença do corpo e do sangue de Cristo na Santa Ceia. Para eles, pão e
vinho apenas representavam figuradamente o corpo e o sangue de
Cristo, sendo meros símbolos.
Outros reformadores, porém, confessaram a presença real como
verdade bíblica. Ensinaram que a fé não deve se apoiar em conceitos
filosóficos, mas nas palavras de Cristo. Nelas se fundamenta a Santa
Ceia: “É a palavra... que faz e distingue este sacramento, de sorte que
não é nem se chama apenas pão e vinho, senão corpo e sangue de
Cristo” (Lutero).
Que para nós também bastem as palavras de Cristo!
Oração
Senhor, concede-me essa fé simples, que confia e se fundamenta
somente em tua Palavra, para que eu possa encontrar conforto em
tua promessa e também na Santa Ceia. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
235
Isto é o meu corpo
Lucas 22.19
C
236
omo é bom, nas horas de angústia e aflição, poder contar
com um familiar ou amigo, que esteja conosco e nos dê apoio.
Com certeza, a sua presença é de grande conforto. Conforto
que a mera lembrança de tais pessoas não pode nos trazer.
Com esse exemplo, perguntamos: Que é a Santa Ceia? A presença
de Cristo é apenas em memória, em pensamento? Ela é apenas uma
lembrança que nós temos de Cristo? Uma presença virtual, simbólica?
Jesus disse: “Façam isto em memória de mim”. Portanto, a Santa
Ceia é um memorial, uma lembrança solene da pessoa e da obra do
Salvador Jesus Cristo. O apóstolo Paulo disse sobre nossa participação na Santa Ceia: “Porque cada vez que vocês comem deste pão e
bebem deste cálice, anunciam a morte do Senhor, até que ele venha”
(1 Coríntios 11.26).
Por outro lado, as palavras “isto é o meu corpo” e “isto é o meu
sangue” não deixam dúvidas de que a Ceia é mais do que nossa lembrança de Cristo, sendo dádiva de Cristo a nós, em que ele nos dá seu
corpo e sangue para perdão de nossos pecados.
Cristo não é um amigo virtual, que está apenas na nossa memória.
Para marcar sua presença real, concreta e, acima de tudo, confortadora, ele instituiu a Santa Ceia. Quando participamos dela, Jesus está
realmente presente, assim como um familiar ou amigo; tornamo-nos
participantes em seu corpo e sangue, remédio da salvação eterna e
de todos os bens espirituais. Recebemos o perdão, a vida e a salvação
eterna que ele conquistou para nós, mediante o sacrifício na cruz.
A Santa Ceia é um meio a mais, além da palavra externa e do
Batismo, pelo qual Deus derrama em nós e a nosso favor, o seu amor
e o Espírito Santo.
Oração
Senhor Jesus, tua presença me conforta. Vem habitar em mim, Senhor,
e me alimentar a fé com teu corpo e sangue redentor, purificador e
santificador. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
Comunhão com Cristo
1 Coríntios 10.16
O
cálice e o pão da Santa Ceia são o “cálice de bênção que
abençoamos” e o “pão que partimos e comemos” (1
Coríntios 10.16). A Santa Ceia não é algum gesto ou ato mágico. Ela também não é uma meditação bem treinada que nos aproxima
de forma milagrosa de Deus. Muito mais do que uma aproximação,
ela nos faz participar de Deus por meio de Jesus Cristo: “Estamos
tomando parte no sangue de Cristo” e “estamos tomando parte no
corpo de Cristo” (1 Coríntios 10.16).
Mais, infinitamente mais do que a presença simbólica de Cristo,
a celebração da Santa Ceia nos concede a participação no corpo de
Cristo. Esta participação é tão concreta e tão palpável, tão individual
e pessoal que, para expressá-la, usam-se as palavras “comer” e “beber”, comportamentos essenciais para a nossa sobrevivência física.
Isto vai muito além da nossa compreensão. Por este motivo, fala-se
de mistério, porque não conseguimos desvendar toda a essência da
Santa Ceia com a nossa compreensão e inteligência.
O mistério da Santa Ceia consiste essencialmente nesta participação, neste gesto de doação de Cristo. Não perguntamos o que
recebemos e o que Jesus nos dá, pois ele se dá a si mesmo. Isto é
mais do que tudo que podemos enumerar em nossos pedidos e em
nossas preces.
Santa Ceia ou, como algumas igrejas dizem, Santa Comunhão,
expressa este mistério de nossa fé: a santidade consiste no ato de nós
sermos incorporados na santidade de Deus. Dessa forma, a santidade
não é a inalcançável distância que nos separa de Deus, mas a graciosa
e amorosa proximidade que nos acolhe.
Celebrando a Santa Ceia, participamos de Jesus Cristo, nosso
Senhor.
Oração
Eterno Deus e Pai celestial, agradeço pela tua misericórdia que me
permite estar em íntima comunhão contigo, na vida e na morte. Por
Jesus Cristo, eu peço: permanece comigo, conduze e guarda-me.
Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
237
Comunhão entre irmãos
1 Coríntios 10.17
A
238
Igreja de Cristo se constitui de muitos membros. Também a
comunidade local é formada por muitas pessoas diferentes
umas das outras. Suas tradições, seus costumes, suas convicções, sua cultura as diferenciam umas das outras. No entanto, a
proposta do Evangelho é que a multiplicidade e as diferenças entre as
pessoas não contam na Igreja. Ali, as diferenças não devem dificultar
o convívio fraterno. Quanto a isso, o próprio Jesus intercede junto
ao Pai na sua oração sacerdotal, em João 17.21: “Peço que todos eles
sejam completamente unidos”.
Além de se basear no ensinamento da Bíblia e na oração de
Jesus, a unidade se fundamenta, especialmente e de forma concreta
na celebração da Santa Ceia. O apóstolo Paulo confirma que, entre
os cristãos de Corinto, havia muitas diferenças, quando escreve na
sua carta: “Mesmo sendo muitos...”. O extraordinário é que, mesmo
sendo muitos, Deus consegue congregar a todos, apesar de tantas
diferenças, em torno do mesmo corpo de Cristo: “todos comemos
do mesmo pão, que é um só”.
Portanto, além de proporcionar a participação de todos no corpo
de Cristo, de sermos incorporados em Cristo, a Santa Ceia proporciona comunhão entre irmãos e irmãs: em Cristo “somos um só corpo”.
Assim, a unidade da Igreja como um todo e a unidade de cada
uma de suas comunidades e congregações, é muito mais do que um
dever e uma tarefa a ser cumprida; ela é um presente e uma dádiva.
É a conseqüência natural, pois quem participa do corpo de Cristo na
celebração da Santa Ceia, faz parte do corpo de Cristo aqui na terra,
representado pela sua Igreja.
Oração
Senhor, muitos são os motivos de nossa desunião, mas sabemos que
a tua vontade é que sejamos unidos como tu e o Pai o são. Afasta
de nós o que nos separa e fortifica a nossa disposição para vivermos
unidos por tua graça. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
Em memória de mim
1 Coríntios 11.24
A
Igreja vive da memória, isto é, ela repete de geração em geração as histórias bíblicas e proclama, assim, os grandes feitos
de Deus. Não se podem, pois, esperar novidades, no sentido de
coisas novas, da pregação da Igreja. A única novidade que acontece
na sua proclamação é a atualização de antigas verdades. Quando a
Igreja prega a velha verdade, ela rememora, atualiza e reinterpreta
para a nossa situação aquilo que patriarcas e profetas anunciaram
em tempos remotos e o que os evangelistas e apóstolos proclamaram
sobre a vida, paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo.
Através da repetição das palavras e histórias bíblicas, Deus se torna
presente de forma renovada.
Quando Jesus instituiu a Santa Ceia, ele disse aos seus discípulos:
“Façam isto em memória de mim”. Assim, cada vez que celebramos a
memória de Cristo na Santa Ceia, ele está presente de forma renovada, concreta e real. Com a sua presença, aqueles que participam da
Ceia e ouvem a oferta de Jesus: “Isto é o meu corpo, que é entregue
em favor de vocês” recebem, igualmente de forma concreta e real, os
seus benefícios: perdão dos pecados, nova vida e salvação.
Os cristãos da Igreja primitiva davam muito valor para esta celebração da memória de Cristo na Santa Ceia. Por isso, a celebravam
todos os dias, com toda a comunidade reunida e com muita alegria.
Cada vez que você ouve as palavras: “entregue em favor de
vocês. Façam isto em memória de mim”, tenha certeza de que Jesus
Cristo está cumprindo a sua promessa de estar com você em todas as
circunstâncias da sua vida. Participe da Santa Ceia com muita alegria
e renove a sua fé em Jesus Cristo.
Oração
Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nosso Salvador, obrigado pelo
sofrimento, morte e ressurreição. Faze com que a memória da tua
caminhada em direção à cruz nos fortaleça na fé. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
239
Santa Ceia e remissão dos pecados
Mateus 26.28
N
240
ossa vida se compõe de rituais. Há rituais no dia-a-dia com a
nossa família, com a nossa comunidade de trabalho, com a
nossa comunidade religiosa. Sem rituais, nossa vida perde o
contato com a realidade concreta em que vivemos. Através deles, nós
nos relacionamos com outras pessoas.
Assim, Deus também fez uma aliança conosco para não perdermos nossa identidade com ele na realidade da vida. Ele nos deu todo
um Livro da Aliança (Êxodo 24.7) que relata os rituais da intimidade
com Deus. A Bíblia, a Escritura Sagrada, descreve os rituais para a
liturgia, tanto para nossa vida em família, como para nossa vida no
culto da Igreja. Todos os cultos são introduzidos com as palavras
“em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Em nome desse
Deus nós recebemos a palavra do perdão dos pecados e ouvimos o
Evangelho da sua paz.
Mas Deus não nos deixa apenas com os rituais da Palavra. Ele
une esta Palavra com realidades concretas: no Batismo, a Palavra está
ligada à água, na Santa Ceia, a Palavra está ligada ao pão e vinho. A
aliança eterna de Deus (Isaías 61.8), expressa na palavra do Evangelho, inclui um preço material: o corpo e o sangue de Jesus Cristo, o
Filho de Deus, que morreu e ressuscitou para o perdão dos pecados
dos muitos que são salvos. Estes, corpo e sangue da aliança, Deus
oferece “em, com e sob” o pão e vinho na Santa Ceia. Desta forma,
o cristão participa não somente do ritual da promessa do perdão,
mas efetivamente participa do corpo e do sangue do Salvador que
estabeleceu a aliança “para remissão de pecados”. Não existe ritual de
maior intimidade com o nosso Deus. É um ritual de perdão, alegria
e adoração. Vamos usá-lo muito e sempre!
Oração
Amado Pai celestial, nós queremos agradecer pelo ritual da intimidade que estabeleceste pela aliança na Santa Ceia. Dá-nos alegria para
procurarmos muito este ritual do teu amor e do teu perdão. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
Santa Ceia e fé
Lucas 22.16
A
Santa Ceia foi instituída por ocasião da última Páscoa que
Jesus celebrou com os seus discípulos. Há uma relação íntima
entre a Santa Ceia e a Páscoa “no Reino de Deus”. A Páscoa
israelita chegou ao fim de sua “vigência literal”, mas permanece a
sua “vigência cumprida” no Reino de Deus.
Moisés celebrou a primeira Páscoa nesta fé (Hebreus 11.28). Confiou na promessa de Deus ao seu povo no Egito. O “exterminador”
não tocaria nos primogênitos de Israel se houvesse o sinal do sangue
nas portas das suas casas (Êxodo 12.7). O ritual da Páscoa israelita deveria transmitir esta fé no perdão de Deus a todas as gerações futuras.
O sangue do cordeiro da Páscoa era figura do sangue da aliança
do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). Esta
era a visão da fé desde o início, como Isaías lembra ao povo de Deus
quando fala na tarefa do Servo Sofredor como “cordeiro” sacrificado
(Isaías 53.7).
Jesus encerra o ciclo da Páscoa israelita com o estabelecimento
do “Reino de Deus”. O reinar de Deus se tornou história com a morte
e ressurreição de Jesus Cristo, como celebramos na Páscoa cristã.
Jesus venceu o inimigo e demonstrou o “Reino de Deus”. Esta vitória
estabelece e confirma a fé. A fidelidade de Cristo se torna nossa na fé.
Jesus avisa os seus discípulos na última Páscoa que a nova forma
de celebrar a Páscoa no “Reino de Deus” é a Santa Ceia. Ali está a
aliança eterna selada com o corpo e o sangue do Cordeiro de Deus.
A promessa do perdão é recebida na fé, como aconteceu na Páscoa
de Moisés e como acontece conosco na Santa Ceia.
Vamos participar da Santa Ceia nesta fé!
Oração
Amado Pai celestial, que enviaste o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e entregas o seu corpo e sangue na Santa Ceia para o
perdão dos pecados, dá-nos sempre esta fé que participa da fidelidade
do Senhor Jesus Cristo, teu Filho. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
241
É digno quem se considera indigno!
Lucas 18.9-14
Q
242
uem é digno de participar da Santa Ceia?
A história do fariseu e do publicano não fala da
Santa Ceia.
Mas há nela um elemento importante que se aplica universalmente, também na Santa Ceia. A pergunta é a respeito do acesso ao
amor de Deus e a respeito dos empecilhos que nos afastam de Deus.
O fariseu tropeçou sobre si mesmo. Não viu que sua presumida
justiça era apenas orgulho, cobiça e oposição a Deus. Era orgulho,
porque se julgava melhor que os outros. Era cobiça, porque se julgava
com autoridade quase divina para resolver o seu relacionamento com
Deus; e oposição, porque desprezava a proposta divina de salvação
e perdão.
O publicano aceitou a crítica e a solução do amor de Deus. Entendeu que a mensagem: “arrependam-se” (Mateus 3.2) era universal e
tocava a ele próprio também. Precisava humilhar-se, reconhecer sua
indignidade e dependência absoluta de Deus. Este “arrependimento”
é causado pelo Espírito Santo, quando, pelo rigor da lei, nos acusa e,
depois, oferece a solução do Evangelho que nos dá o perdão na fé. O
publicano “desceu justificado para sua casa”, apesar dos seus erros,
porque, em arrependimento e fé, se “humilhou” diante de Deus para
buscar o perdão. Ele foi “exaltado” como filho de Deus.
Esta é a “dignidade” com que participamos da Santa Ceia a convite
do Deus de amor que perdoa. Mesmo “carregados” de pecado e “indignos”, buscamos o perdão em arrependimento e fé. Na Santa Ceia, Deus
oferece e dá o perdão, a fé, e a vida eterna que já agora nos renova no
serviço ao nosso próximo. Assim, vamos “descer justificados para nossa
casa” após cada Santa Ceia. Participe deste privilégio!
Oração
Amado Pai celestial, que aceitaste a humildade do publicano, aceita
também a nós. Faze com que a Santa Ceia nos fortaleça a fé e a coragem de sermos diferentes neste mundo, por amor de Jesus Cristo,
teu Filho. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
Santa Ceia – comunhão com todos!
1 Coríntios 12.12
Q
uando perdemos uma pessoa, o luto toma conta de nós, a
saudade aumenta, sentimos ausência. Teríamos tanto o que
dizer e falar; gostaríamos tanto de acariciar. Sentimos ausência de corpo. Nessas situações, surgem conselhos, são-nos oferecidas
pessoas com dons mediúnicos que nos poderiam colocar em contato
com nossos falecidos.
O remédio para trabalhar o luto, a saudade e a ausência é esquecido: a Santa Ceia. Você deve estar espantado! Mas não se espante.
Você foi batizado em Cristo, faz parte de seu corpo. Se a pessoa falecida
foi batizada e faleceu em Cristo, continua a fazer parte dele. A morte
não nos arranca de Cristo. Agora, se você e a pessoa falecida fazem
parte de Cristo, o que as separa? Há, antes, algo fundamental que as
une: Jesus Cristo. Cada vez que participamos de seu corpo e de seu
sangue, temos comunhão com ele e uns com os outros, também com
aqueles que ele já chamou para si! “O que este sacramento opera é
comunhão de todos os santos” (Lutero). Ninguém participa sozinho da
Ceia. Jesus está conosco; conosco estão os irmãos e as irmãs ao nosso
lado; conosco estão irmãs e irmãos de outros continentes; conosco
estão todos os que estão em Cristo, também os que já dormem. Isso
conforta, isso cobre luto, isso alegra, isso é Boa Nova.
Está com saudade, luto, sente ausência de corpo, busque comunhão no corpo e sangue de Jesus, a Santa Ceia; busque a comunhão
dos santos. Na Santa Ceia você também tem comunhão com todos,
também com aqueles que você não pode mais ver ou sentir. “Porque
Cristo é como um corpo que tem muitas partes. E essas partes, ainda
que sejam muitas, formam um só corpo” (1 Coríntios 12.12).
Oração
Quando eu estiver só, não me deixes só! Dá-me comunhão! Na saudade, dá-me a certeza de teu amor! No luto, deixa-me estar em ti! Tu
és meu; eu sou teu, Senhor Jesus. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
243
Que venham todos!
Mateus 11.28
P
244
or vezes, tenho a impressão que a Santa Ceia é o sacramento
das consciências pesadas. Muita preparação para a Santa Ceia,
primeiro coloca pesos enormes sobre os ombros das pessoas,
para, depois, mostrar-lhes como Jesus é bondoso e como é grande
o seu amor. Nem sempre é apenas o pregador que assim procede;
conheço muitas pessoas cristãs que também agem assim. Já pensaram, se cada mãe precisasse, primeiro, surrar os filhos para, depois,
mostrar-lhes como ela é bondosa? Jesus não é carrasco: ele acolhe
as vítimas e condena, isso sim, os seus carrascos.
O reformador Martim Lutero foi uma pessoa de mente sobrecarregada por causa de uma imagem de Jesus que lhe mostravam constantemente: um Cristo sentado sobre o arco-íris, com espada afiada
na boca e nos olhos, dos quais saem raios fulminantes. Confesso que
também tenho medo desse Jesus e não conseguiria aceitar o convite
para participar de sua Ceia.
É verdade, o Jesus que convida para a Santa Ceia chama quem
tem pecado, quem está tentado, quem está cansado e quem teve a
consciência sobrecarregada. Quem esperar para participar da Ceia
somente quando estiver livre de tudo isso, vai ter que esperar por
toda a eternidade. A ele Jesus vai dizer, na formulação de Lutero: “Se
és puro e probo, então não necessitas de mim, e eu, por outro lado,
não preciso de ti”.
Quem não se agüenta mais, quem vive no mundo, precisa de
Jesus. Ele nos acolhe assim como somos, para que possamos ser como
ele é. Na Ceia acontece troca maravilhosa!
Que venham todos, os que “estão cansados de carregar as suas
pesadas cargas” e aqueles que querem compartilhar alegria e felicidade!
Oração
Que bom que me aceitas, assim como sou. Quem bom que sou teu.
Isso é milagre. Preciso de ti, precisas de mim. Troca maravilhosa. Só
posso te louvar. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
Prepare-se para participar da Santa Ceia!
1 Coríntios 11.17-22
“
E
nquanto uns ficam com fome, outros chegam até a ficar bêbados” (vv. 21s.). Essa era a situação em Corinto.
Corinto é dessas comunidades que assustam e escandalizam quem idealiza comunidade cristã. Ali aconteceu de tudo, e
Paulo chegou a chorar por causa dela.
Sou grato por ela, pois com ela aprendo a não idealizar o cristão. Aliás, aprendo que a coisa mais importante, a partir de Jesus, é o
amor. Em Corinto, a falta de amor bagunçou a Santa Ceia. Uma vez
por semana, a comunidade se reunia. Cada um trazia o que tinha
para oferecer; colocavam-se as dádivas sobre uma mesa e, depois,
celebrava-se ceia comunitária, precedida pelo pão abençoado e
concluída pelo cálice abençoado.
Uma vez por semana, os pobres da comunidade podiam realmente saciar sua fome. Do que sobrava, certamente, ainda se distribuía a
necessitados. Com o tempo, também esta ceia esfriou. Houve pessoas
que não conseguiram mais esperar pelos que tinham que trabalhar
até tarde, antecipavam-se na refeição. Os últimos a chegar eram os
trabalhadores do porto. Quando os pobres chegavam, os melhores
bocados já tinham sido comidos e havia gente que se embebedara.
O vinho da Ceia transformara a celebração fraterna em bacanal. E
aí ficou a pergunta: como é que a gente se prepara para a Ceia? Perguntando: por que vim a esta Ceia? Por causa do “dado e derramado
em favor de vocês”.
Quando Jesus se dá por nós – em, com e sob o pão e o vinho –
a gente se prepara a partir de seu amor por nós. Este amor põe fim
a brigas, espera, partilha, é grato, sabe que a partir dele tudo se faz
novo e que a partir dele podemos recomeçar, despreocupadamente.
Oração
Deixa que eu creia em tua promessa: “Dado e derramado em favor de
vocês”. Renova-me. Dá-me teu amor. Assim participarei, dignamente,
de tua Ceia. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
245
Quantas vezes devo participar da Santa Ceia?
1 Coríntios 11.26
T
246
odos os domingos! É uma resposta direta. Porém, ela induz ao
legalismo, o que ofende o Evangelho que não se rege por leis
categóricas. Sempre que possível! Esta reposta é evasiva e desvia da tratativa pastoral. Quando sentir desejo e vontade! A resposta
considera o sentimento, mas esquece que nossa natureza e nossos
desejos são corrompidos.
Em 1 Coríntios 11.17-22, texto que antecede ao da instituição da
Santa Ceia, o apóstolo Paulo alerta para que se celebre a Ceia com
dignidade. Depreende-se que a pergunta pela freqüência da participação na Santa Ceia não é só uma questão de quantidade, mas de
dignidade, de fé, de arrependimento e de desejo.
Ao explicar a Santa Ceia, Lutero exorta “que não se deixe passar
em vão esse grande tesouro, que entre os cristãos diariamente se administra” e que “deveriam preparar-se para receber freqüentes vezes
o mui venerável Sacramento”.
Cristo diz: “Façam isto em memória de mim” (1 Coríntios
11.24,25). Essa é a primeira razão para participar da Santa Ceia: a
ordem de Cristo. Logo, não participamos por coação, mas para agradar a Cristo. Ele próprio nos atrai e anima a participar. Quem não
faz caso e se priva do Sacramento por longo tempo, acaba ficando
insensível e o despreza por completo. Quem, porém, deseja receber
graça e consolo, “impele-se a si mesmo e a ninguém permite que o
intimide” de participar (Lutero).
Jesus diz “cada vez que vocês comem... e bebem...”. Isto é um
convite para que o façamos muitas vezes. Assim ele quer “o Sacramento livre... uma Ceia da qual fruireis... quando e onde quiserdes,
de acordo com a... precisão de cada um” (Lutero).
Oração
Senhor Jesus, faze-me lembrar a tua vontade, o teu convite gracioso
e a minha necessidade como pecador, vivendo no mundo corrompido e sendo tentado pelo Diabo, para que eu deseje encontrar graça,
perdão e libertação na Santa Ceia. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
As crianças e a Santa Ceia
Mateus 26.27b
A
palavra de Cristo proposta acima: “Bebam todos vocês...” levanta a pergunta: Quem deve receber o Sacramento? O contexto da sua instituição deixa clara a resposta: todos os discí-
pulos!
Há uma correlação dos meios da graça: Palavra de Deus, Batismo
e Santa Ceia. Quem foi batizado e ensinado na Palavra, pode participar da Ceia; participar dela confirma a fé de quem foi batizado e
instruído.
O entendimento evangélico da Santa Ceia enfatiza a busca da
mais ampla e freqüente celebração e participação. Diz o Catecismo
Maior de Lutero que só não a administramos “àqueles que não sabem
o que procuram no Sacramento ou por que vêm a ele”.
E as crianças, devem e quando podem participar? Esta foi a preocupação final de Lutero. Ele diz: “Saiba todo pai de família ser seu
dever, por ordem e mandamento de Deus, ensinar a seus filhos... Pois,
já que foram batizados e recebidos na cristandade, também devem
fruir desta comunhão do Sacramento”.
Podem e devem participar quando reconhecidamente são capazes
de distinguir que no Sacramento, diversamente do alimento comum,
recebem o corpo e o sangue de Cristo; reconhecem sua pecaminosidade
e estão arrependidas; apegam-se somente às promessas e aos méritos de
Cristo, para receber o perdão. Em tal fé, terão sincero desejo de corrigir
sua vida e amor fervoroso uns com os outros.
Enfatizamos o Batismo infantil por demonstrar que os sacramentos são obra de Deus por nós e em nós. Em relação à Santa Ceia,
poderíamos reconsiderar o costume de ligar a primeira participação
da Santa Ceia à Confirmação. Assim, a participação andaria lado a
lado com boa parte do processo de instrução.
Oração
Senhor Jesus, participar da Santa Ceia fortalece a nossa fé e estreita
a nossa comunhão contigo e com os irmãos. Concede que sempre
participemos em sincera fé e arrependimento, no desejo de corrigir
nossas vidas e de nos amarmos como teus discípulos. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
247
A Ceia do Senhor e a ceia celeste
1 Coríntios 11.26
“
V
248
ocês... anunciam a morte do Senhor até que ele venha”. Este
responso da congregação, junto com o “Senhor, agora despedes” (nunc dimitis) marca o final da celebração da Santa Ceia.
Apontam para o fim da vida e o fim dos tempos. Sua tônica é de festiva
alegria. A mesma que encontramos no vibrante hino litúrgico da Igreja
luterana dos Estados Unidos: “Esta é a festa da vitória de nosso Deus”.
É importante ressaltar a dimensão festiva e tipológica da Ceia
do Senhor. Essa festiva alegria flui do dia para o qual a Ceia aponta
e que é, para nós, sinal e garantia daquilo que virá depois; o dia em
que “ele vem”.
Não foi por acaso que a Santa Ceia foi instituída por Cristo no
contexto do banquete em comemoração à maior das festas do povo
de Deus, a Páscoa. Aquela celebração relembrava e “atualizava” a
libertação da escravidão do Egito, concedida por Deus. A Santa Ceia
do Senhor passou a ser sinal e garantia da salvação em Cristo, pois
para ela aponta tipologicamente. Ela “atualiza” a salvação em Cristo
e aponta para o tempo de sua plena manifestação. Tempo no qual
Jesus diz que comerá conosco o verdadeiro jantar que haverá no
Reino de Deus (cf. Lucas 22.18).
A figura (parábola) do banquete foi usada por Jesus para relacionar
a alegria festiva com o dia da sua vinda (retorno) para o juízo. Nesta
mesma figura, a salvação em Cristo, tão plenamente sintetizada na
Santa Ceia, foi comparada a uma festa (Mateus 22.1-14; 25.1-13).
Quando estamos concluindo nossa celebração da Ceia do Senhor, somos animados pelos cânticos litúrgicos a olhar com feliz
expectativa para o dia da vinda do Senhor e para a festa que então
nos espera.
Oração
Senhor Jesus, na Santa Ceia nos preparaste “o banquete da salvação”.
Enche o nosso coração de alegria sempre que dele participamos.
Firma também a nossa fé e nos dá a feliz expectativa de estar contigo
eternamente. Amém.
Sacramentos/Santa Ceia
Pecado e pecados
Hebreus 3.12-14
O
ser humano foi expulso do paraíso por um único motivo:
pecou! Pecar significa apenas isso: agir contra a vontade de
Deus. E a vontade de Deus é essa: “Eu sou o Senhor seu
Deus. Você não deve ter outros deuses além de mim”. – “Você não
deve, nunca e de jeito nenhum, deixar-se guiar por qualquer vontade
diferente da minha. Até se a sua própria vontade for diferente da minha vontade, você estará pecando. Pois você irá fazer o que eu não
quero que você faça, e isso será totalmente prejudicial para você”.
Por isso, ao concluir a explicação do Primeiro Mandamento, em seu
Catecismo Maior, Lutero diz ser este o mandamento mais importante.
Quando o Primeiro Mandamento é cumprido, o cumprimento dos
demais virá por si só.
Por outra, a transgressão deste mandamento, o pecado por excelência, acarreta consigo todos os demais pecados. Portanto, há um
só pecado, o afastamento de Deus. E quem se afasta dele, fatalmente
apega-se a outros deuses e faz a sua vontade.
O que vai contra a vontade de Deus, leva à separação de Deus, à
perda de tudo que ele insiste em dar de bom e de melhor ao ser humano. Leva, pois, à morte! Por isso, Hebreus 3.12-14 alerta para que não nos
desviemos do Deus vivo, do Deus que julga e condena os infratores da
sua vontade. E convida a nos apegarmos hoje, diariamente, à orientação de sua Palavra, que anuncia: “Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu seu único Filho, para que todo aquele que nele crer
não morra, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Concordar com esta
vontade amorosa de Deus é reingressar no paraíso, pois é vivenciar
a plenitude da vida sonhada pelo Deus Criador para a sua criatura.
Oração
Tua vontade paternal / no céu, na terra, por igual, / se faça em alegria
ou dor, / que obedeçamos em amor. / Senhor, tu queiras impedir / os
que procuram transgredir. Amém. (HPD 185,5)
Confissão dos pecados
249
Confissão dos pecados
Esdras 10.1-19
U
250
m aluno danificara seriamente parte do patrimônio da escola. Por três dias, negou o fato. Confrontado, porém, com testemunhas, confessou. Recebeu um dia de suspensão. Ao
retornar, encontrei-o no pátio da escola, só e cabisbaixo. Disse-lhe:
“Parabéns pela coragem de assumir o erro. Sinto orgulho de você”.
Nunca, antes, eu vira no seu rosto um olhar tão limpo, um sorriso tão
solto. Sei que, naquele momento, sentia-se livre do passado e com
plenos direitos para o futuro.
Parte do povo de Israel estava livre do seu passado de prisioneiro
da Babilônia. De volta em Jerusalém, tinha plenos direitos de vivenciar a felicidade de viver como povo de Deus. Vive, porém, contra a
vontade de Deus. Vive, sim, a tristeza de ser prisioneiro do pecado! O
sacerdote Esdras reconhece esta situação. E, por isso, induz o povo
a confessar o seu pecado e, naturalmente, a fazer o que Deus quer.
Leva o povo a entender que só existe liberdade no fazer a vontade
de Deus. E este é o caminho da felicidade, de um olhar limpo, de um
sorriso solto.
Lutero trata da importância da confissão dos pecados. Ele diz que
devemos confessar os nossos pecados, e então aceitar a absolvição
que a pessoa que ouve a nossa confissão nos anuncia. Lutero continua
dizendo que podemos aceitar a absolvição como vinda do próprio
Deus, não duvidando dela de modo algum, mas crendo firmemente
que por ela os pecados estão perdoados perante Deus no céu.
Poder confessar os pecados é uma graça de Deus que nos é
concedida por causa do seu imenso amor. A certeza da absolvição
nos proporciona um olhar limpo e um sorriso solto. Aí começa vida
nova, já aqui e agora.
Oração
Senhor, como o malfeitor junto a tua cruz, eu peço: “Jesus, lembrese de mim quando o Senhor vier como Rei”. Que tua resposta para
mim também seja: “Eu lhe afirmo que hoje você estará comigo no
paraíso”. Amém.
Confissão dos pecados
Eu, pecador?
1 João 1.8
D
ona Joana tinha câncer. Quando a conheci, ela era uma pessoa amargurada e triste. Culpava o ex-marido que a abandonara há 25 anos. Falava dos seus sofrimentos nestes anos. Fazia
questão de dizer que vivera corretamente, que não fizera mal nenhum
e, portanto, não merecia estar sofrendo desta forma.
Em minhas visitas, líamos a Bíblia e conversávamos muito sobre
o amor de Deus. Falei-lhe do perdão que Deus nos oferece através
do seu Filho, morto na cruz por nós. Tentei fazê-la entender que este
perdão só tem algum sentido em nosso íntimo e no nosso viver, caso
estivermos convencidos de que precisamos dele.
O tempo passou, e eu não sabia avaliar o quanto as nossas
conversas haviam sido úteis. Um dia, porém, dona Joana estava
bem diferente. Seu rosto estava sorridente e leve. Imediatamente ela
passou a contar o motivo desta sua transformação: no dia anterior, o
seu ex-marido a tinha visitado. Pedira-lhe perdão por todo mal que
lhe havia feito. O surpreendente foi o que ela disse em seguida: “Mas
isso nem foi o mais importante. O que me deixa realmente feliz, é
que eu me livrei de um peso muito grande. Eu também pedi perdão
a ele. Hoje reconheço que eu também fiz muita coisa errada. Se eu
tivesse agido diferente com ele, se tivesse mostrado verdadeiro amor,
provavelmente nunca nos teríamos separado”. E ela terminou: “Pastor, hoje eu sei que sou uma pecadora, mas também sei que Deus me
perdoa, e isso me faz sentir muito bem”.
O ex-marido passou a visitar dona Joana com freqüência. Sua
segunda esposa havia falecido já há alguns anos. Ele, agora, se dispôs
a cuidar de dona Joana e não mais abandoná-la.
Oração
Senhor Deus e Pai, tu sabes que muitas vezes fazemos de conta como
se não fôssemos tão pecadores. Ajuda-nos a enxergarmos o nosso
pecado e, então, entregá-lo a ti, confiando no teu perdão. Amém.
Confissão dos pecados
251
Pecados particulares e coletivos
Lucas 15.18-19
A
252
atitude do filho pródigo é um exemplo de verdadeiro arrependimento. O filho, que ofendera o pai, caiu em si, reconheceu o seu pecado, tornando-se inteiramente dependente da
misericórdia e do amor de seu pai.
Este é um exemplo de pecado individual, ou particular. Este filho
errou, e ele, somente ele, era o culpado.
No entanto, além de nossos pecados particulares, somos igualmente culpados de pecados coletivos. Pecamos como grupo, sociedade, Igreja, nação...
É muito fácil fugirmos da responsabilidade que cada um de nós
tem nestes pecados. Por exemplo: concordamos que a distribuição
de renda em nosso país é totalmente injusta. E que, por isso, existem
tantas pessoas vivendo em situações precárias e desumanas. Quem
é responsável por isso? De quem é o pecado? Dos governantes, economistas ou empresários? É claro, que pessoas que têm o poder de
decisão, também têm maior responsabilidade, mas nós também somos
responsáveis. O que temos feito para que a vida seja mais justa em
nossa Igreja, na cidade e no país?
Com certeza, Deus nos chama a assumir a responsabilidade,
junto com outros, nestas coisas em que dificilmente encontramos
apenas um culpado. Seria o começo da mudança se falássemos com
o Pai: “Pai, pecamos conta ti e diante dos nossos semelhantes, e não
merecemos mais ser chamados teus filhos!” O Pai está aí, de braços
abertos para nos receber, também como grupo, congregação ou Igreja,
e nos perdoar. E, neste amor que perdoa, encontramos forças para
nos auxiliarmos mutuamente e, juntos, agirmos para que os princípios
do Reino de Deus sejam mais ouvidos e praticados em nosso mundo.
Oração
Pai, ajuda-nos a vermos nossa responsabilidade nas injustiças e nos
pecados sociais e estruturais deste nosso mundo. Ajuda-nos com o
teu poder para que, juntos, como teus filhos, possamos lutar contra
estes pecados. Amém.
Confissão dos pecados
Livres para confessar pecados
Lucas 15.21
Q
ual é o maior problema da humanidade? Certamente você
responde que é o afastamento de Deus, o pecado, com todas as suas conseqüências. Mas, você já se deu conta de que
o maior problema do ser humano, na verdade, não é o pecado em
si, mas sim o fato de não se reconhecer pecador?!
A Palavra do Senhor não deixa dúvidas quanto a isso. Ela enfatiza
sempre de novo que todas as pessoas são pecadoras. Querer ignorar
esta realidade, é tolice. Não reconhecer a situação de perdido pecador, deixa a pessoa humana como escrava do pecado. O pecador
não assumido é semelhante a alguém que convive com seu inimigo
como se este fosse um grande amigo.
Bem diferente é a situação de quem se reconhece pecador. Este
olha para seus atos e sua vida e vê erros, falhas e imperfeições. Mas
não precisa esconder-se atrás de uma máscara de santidade e bondade. Não precisa falar aos outros quão bom ele é, mas pode confessar
seus erros. Pode pedir perdão.
Pedir perdão é uma grande força restauradora. Posso pedir
perdão a Deus diariamente e saber que, por causa de Cristo, ele me
perdoa e me abraça sempre de novo como seu filho querido. Posso
pedir perdão ao meu semelhante quando peco contra ele, como também perdoá-lo quando ele peca contra mim. Assim, podemos seguir
na vida, auxiliando-nos uns aos outros em nossas falhas e limitações.
Como é bom não precisarmos fazer de conta como se fôssemos
o que, de fato, não somos! Vivamos esta liberdade de podermos confessar nossos pecados, pois eles já foram perdoados por Cristo Jesus.
E que esta mesma liberdade nos dê poder para lutarmos contra o
pecado, pois sabemos que dele não mais somos escravos.
Oração
Senhor, nosso Deus e Pai, obrigado pelo perdão, por causa do teu
Filho e que podemos confessar livremente os nossos pecados a ti
e ao nosso semelhante. Ajuda-nos a vivermos a alegria de sermos
perdoados e podermos perdoar. Amém.
Confissão dos pecados
253
Confissão pública e particular
Tiago 5.16
C
254
onfessar um erro sem arrependimento não é apenas fácil: é
motivo de glória. Assim o fazem malfeitores assumidos, psicopatas e criminosos em série. Na verdade, o erro que eles
confessam, só o é para nós e a sociedade em geral, mas não para
eles, visto que têm outra forma de pensar e agir. Confessar as faltas
com humildade e arrependimento, porém, não é nada fácil. É admitir
uma falha. É lamentá-la. É querer, do fundo do coração, que o acontecido jamais se tivesse dado; e também querer arcar com todas as
conseqüências que o ato cometido acarreta, que, por vezes, podem
ser, em extremo, dolorosas.
Tiago nos diz que devemos confessar nossos pecados uns aos
outros. Será que isso não aumenta o sofrimento causado pela confissão, pela razão de acrescentar a ele a vergonha de ver o pecado
exposto? Por isso, talvez, queiramos confessar algumas faltas apenas
a Deus. No entanto, é bom lembrarmos que Deus se faz presente em
cada um de nossos irmãos na fé com sua graça, amor e disposição
para perdoar. Quando, pois, Tiago dá o conselho de nos confessarmos uns aos outros – “confessem os pecados uns aos outros e façam
oração uns pelos outros” (Tiago 5.16) –, ele não pretende, em hipótese
alguma, fazer disso uma espécie de penitência. O que ele pretende
é abrir-nos a oportunidade de compartilhar um peso e, assim, recebermos uma palavra de consolo e perdão proferida por alguém tão
pecador quanto nós.
Será possível restabelecermos tal prática na Igreja de hoje? Sem
dúvida! Basta que, de fato, nos arrependamos sinceramente e não
queiramos passar para os outros uma perfeição que não temos nem
jamais tivemos.
Oração
Senhor, tenho dificuldades de confessar meus pecados ao meu próximo; não quero dar a ele a impressão de ser tão ou mais pecador
do que ele. Ajuda-me a arrepender-me e a buscar no meu irmão a
solidariedade perdoadora que nele derramaste. Amém.
Confissão dos pecados
Confessar pecados conscientes e inconscientes
1 João 1.9-10
M
achado de Assis afirmou algo mais ou menos assim: “Pior
que o pecado, é a publicação do pecado”. Num contexto
cheio de cinismo e falsidade, que era o caso duma de suas
irônicas histórias, nada mais justo. No contexto, porém, do relacionamento do crente com Deus e a Igreja, concordaríamos com Machado?
Certamente que não. Pois o que João, discípulo de Jesus, nos diz é o
exato contrário. Ele nos admoesta a confessar todos os pecados, tanto
aqueles dos quais estamos conscientes como também aqueles dos quais
não temos consciência, mas sabemos que os cometemos.
Por quê? Por duas razões fundamentais.
Uma delas é que Deus, havendo prometido a nós o perdão
mediante o sacrifício de seu Filho Jesus, jamais negará a nós aquilo
que prometeu, visto ser ele fiel e justo. Deus não mente. Da mesma
forma, não faz aquilo que muitas crianças e adultos costumam fazer:
criar o desejo nos outros por alguma coisa apenas para ter o prazer
de a negar. Deus promete e cumpre. Por isso, não tenhamos receio
de confessar tudo a nosso querido Pai.
A segunda razão é a ofensa contra o próprio Deus. Ofendemolo sob dois ângulos: 1) não aceitamos seu veredito com relação ao
pecado que realmente cometemos nem em relação ao pecado que
vem a ser a nossa própria natureza; 2) recusamos o perdão oferecido
por ele tão graciosamente, achando que essa promessa, talvez, não
tem como ser cumprida. Em ambos os casos, o que é que se dá? Dáse que dizemos a Deus: és mentiroso. Ora, se chegamos a tal ponto,
o que existirá entre ele e nós? Nada.
Por tudo isso, façamos um sério exame de nós mesmos e confessemos ao Deus que nos perdoa, todos os nossos pecados, os conscientes e os inconscientes.
Oração
Pai amado, és tão grande para nós que chegamos a temer o confronto
contigo. Por isso, muitas vezes, nos recusamos a confessar-te nossa
culpa. Isso, porém, só te ofende mais ainda. Dá-nos, pois, o espírito
do arrependimento e da fé. Amém.
Confissão dos pecados
255
Direito de perdoar pecados
João 20.22-23
E
256
u tenho o direito de perdoar pecados? Sim, desde que os pecados tenham sido cometidos contra mim, e que a pessoa que os
cometeu busque o perdão.
A Bíblia não deixa dúvidas em relação a isso: “Se o seu irmão
pecar, repreenda-o; se ele se arrepender, perdoe” (Lucas 17.3).
Eu também tenho o direito de perdoar o pecado cometido contra
uma terceira pessoa? Aí a situação é mais complicada. Pois, como
poderia eu me colocar em lugar da pessoa ofendida e perdoar em
seu nome? Isso só é possível mediante uma autorização da pessoa
ofendida. Em circunstâncias normais, quem deseja ser perdoado
deve dirigir-se pessoalmente a quem ela ofendeu. Também nesse
caso, a Escritura dá orientação segura: “Portanto, se você for ao altar
para dar a sua oferta a Deus e se lembrar ali de que o seu irmão tem
alguma queixa contra você, deixe a oferta diante do altar e vá logo
fazer as pazes com seu irmão. Depois volte e dê a sua oferta a Deus”
(Mateus 5.23-24).
No entanto, há casos em que uma pessoa deseja ardentemente o
perdão por uma falta cometida contra alguém que ela não encontra
ou já não vive mais. Nessa situação, a Bíblia recomenda que a pessoa,
que busca sinceramente o perdão, dirija-se à comunidade cristã, ao
pastor, à pastora ou a alguém do presbitério. Jesus concedeu à Igreja,
respectivamente, às pessoas investidas de autoridade, o poder de
perdoar pecados em seu nome.
E, surpreendentemente, deu à Igreja também o poder de reter
pecados. Disse Jesus aos discípulos: “Recebam o Espírito Santo. Se
vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados;
mas, se não perdoarem, eles não são perdoados” (v. 22).
Oração
Senhor Jesus, é grande a autoridade que deste aos teus discípulos e,
através deles, à tua Igreja. Concede a graça e o auxílio do Espírito
Santo para que a tua comunidade use esse dom com sabedoria e
responsabilidade. Amém.
Confissão dos pecados
Ser perdoado é bom, aceitar o perdão é melhor!
Provérbios 16.6
N
a nossa convivência, constantemente causamos tristeza e sofrimento aos nossos semelhantes. Muitas vezes, são coisas pequenas. Às vezes, porém, cometemos um ato que gera decepção e profundo sofrimento em alguém. Quando nos damos conta
disso, buscamos o perdão dessa pessoa. Ela, talvez, com algum esforço, nos perdoa. Porém, o erro cometido continua martelando a nossa
consciência. Em outras palavras: eu sou perdoado, mas eu mesmo
não consigo me perdoar. Algo dentro de mim me diz que não mereço
ser perdoado. É como se eu precisasse continuar carregando a minha
culpa, sofrendo pelo erro cometido. Muitos de nós temos dificuldades
para aceitar o perdão, tanto o de outras pessoas quanto o de Deus.
Geralmente, nós desconhecemos os motivos dessa incapacidade de
aceitar o perdão. Pode-se tratar de dificuldades que têm origem na
infância e das quais não nos lembramos mais. Dentro de nós existem
camadas profundas que dificilmente chegaremos a entender inteiramente. Porém, isso não precisa ser motivo para resignação.
Nada impede que nós busquemos conhecer melhor a nossa vida
interior e as razões ocultas que nos levam a agir de uma determinada
maneira. Nós temos o direito e o dever de crescer no conhecimento de
nós mesmos. Evidentemente, nem todos temos condições de recorrer
a um psicólogo. Mas podemos buscar a ajuda de Deus em oração.
Além disso, podemos recorrer ao auxílio de pessoas de confiança no
círculo de amigos, na comunidade, na pessoa do pastor ou da pastora.
“Pela misericórdia e pela verdade se expia a culpa, e pelo temor
do Senhor os homens evitam o mal” (Provérbios 16.6).
Oração
Duas coisas, Deus, eu te peço: que as pessoas com quem convivo
perdoem minhas falhas e fraquezas e que eu consiga aceitar o perdão
oferecido. Concede-me também a coragem para conhecer a verdade
sobre mim mesmo. Amém.
Confissão dos pecados
257
Excluir ou incluir?
Hebreus 4.2
O
258
reformador Martim Lutero foi excomungado da Igreja Católica Romana, em 1520, por questionar a sua doutrina a
partir da venda de indulgências.
Com o objetivo de “privar pecadores manifestos e obstinados do
sacramento ou outra comunicação da igreja, até que se emendem
ou evitem o pecado”, os Artigos de Esmalcalde, um dos documentos
da Reforma, escrito por Lutero, também prevêem a excomunhão da
Igreja.
Isto ainda é válido? Temos nós o direito de excluir alguém da
comunhão?
Hoje vivemos num tempo em que “vale tudo”, “o que não mata
engorda”. As pessoas colhem um pouco em cada lugar e acham que
tudo vem para o bem. É como servir no bufê a quilo: servimos tudo o
que faz bem aos olhos. Nem percebemos que, nesta mistura, algumas
vitaminas anulam as outras e de nada adiantam, servem apenas para
estufar e encher o estômago.
Precisamos identificar o que ajuda a construir uma vida melhor,
por um lado, e o que serve apenas para fazer “volume”, por outro.
Volto a perguntar: será que temos o direito de excluir alguém que
não sabe distinguir entre “volume” e verdadeiro conteúdo? Acredito que
não precisamos isolar as pessoas que agem e pensam diferentes de nós.
Antes de mais nada, é nosso dever como pessoas amadas e aceitas por
Cristo, convidá-las a participar conosco na vida da comunidade, isto é,
a comungar conosco. Em nome de Cristo, somos chamados ao diálogo
neste mundo moderno. Não precisamos excluir quando dá para incluir
as pessoas em nossa vivência de fé, que nos faz viver, já aqui, os sinais do
novo mundo que Deus nos preparou em Jesus Cristo. Já temos excluídos
demais. É hora de vivermos um tempo novo!
Oração
Ó Senhor, diante da enorme quantidade de ofertas, nós muitas vezes
sucumbimos. Também fracassamos em nossa tentativa de dialogar e
incluir os afastados na nossa vivência comunitária. Precisamos que tu
nos perdoes e nos ajudes a vivermos este novo tempo. Amém.
Confissão dos pecados
A alegria do liberto do pecado
Salmo 51.10-13
O
movimento da Reforma foi desencadeado quando Martim
Lutero redescobriu que as pessoas são justificadas por graça e fé. Isto transformou sua vida. A partir daí, o reformador
passou a viver a alegria que consiste em ser liberto do pecado, sem a
necessidade de conquistar o perdão por meios próprios.
Hoje, vivemos um movimento inverso. O conceito de pecado foi
eliminado da nossa vida. Tudo é permitido e possível. Para achar a
alegria da liberdade do perdão, é preciso, antes, descobrir o próprio
pecado.
Recebemos tudo como se fosse da luz. E isto chega a nos cegar.
Já não reconhecemos o mal e o bem. A perfeição está na harmonização, onde a verdade está na mentira e a mentira está na verdade.
O ideal está num ser como Michael Jackson: não se reconhece mais
quem ele é, masculino ou feminino, branco ou preto, velho ou novo,
adulto ou criança.
Como posso, então, viver a alegria como alguém que foi liberto
do pecado?
O primeiro passo é permitir que a Palavra de Deus me ajude a
distinguir o que é a verdadeira luz, que não cega, mas que me faz
reconhecer o mal e o bem, o certo e o errado. É a Palavra que abre
os meus olhos para descobrir que a mentira continua sendo mentira
pura e está em oposição clara à verdade. Em conseqüência dessa
descoberta, a fé me faz perceber o perdão de Deus, conquistado por
Jesus Cristo. E assim, perdoado e liberto do pecado, posso viver em
comunhão com outras pessoas, inserido numa comunidade, onde
vou compartilhar os meus sentimentos, as minhas alegrias e tristezas.
É na comunidade, na comunhão dos santos, que posso viver, de fato,
a alegria de ser filho amado de Deus, livre dos pecados.
Oração
Ó Deus, cria em mim um coração puro e dá-me um espírito novo e
firme para que eu possa experimentar a alegria da vida nova que só
tu podes me dar. Auxilia-me a transformar esta alegria em sinais de
vida nova também para os que vivem ao meu lado. Amém.
Confissão dos pecados
259
Frutos do arrependimento
Gálatas 5.22
U
260
ma das principais descobertas de Lutero foi que a justiça vem
pela fé (cf. Romanos 1.17). Esta descoberta mudou a sua vida
para melhor. A partir daí, o reformador sentiu-se livre do
pecado, e a sua vida passou a ser marcada pelas conseqüências do
perdão e pelos frutos do arrependimento.
Arrependimento e perdão dizem respeito a uma mudança de
atitude. Enquanto você não sentiu o perdão de Deus, não adianta
fazer o que, recentemente, um conhecido meu fez: mudou-se da
cidade para começar uma vida nova. Não tardou em descobrir que
a mudança de cidade nada mudou em sua vida, pois ele continuava
o mesmo. Para começar uma nova vida, só há um caminho: sentir-se
perdoado, livre do pecado. Uma nova vida e atitudes diferentes são
frutos do perdão e do arrependimento.
Conforme propõe Filipe Melanchthon na apologia da Confissão
de Augsburgo, os bons frutos do arrependimento nos são ensinados
pelos mandamentos: “invocação, ação de graça, confessar o evangelho, obediência, servir à vocação, não maltratar, não guardar ódio,
mas ser reconciliável, dar aos necessitados, não cometer prostituição,
não adulterar, mas domar, refrear e castigar a carne, falar a verdade”.
Ou como nos ensina Gálatas 5.22: “O Espírito produz amor, alegria,
paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, humildade e domínio
próprio”.
Assim, quem sente sua vida transformada pelo perdão, assemelha-se ao botão de uma flor que se abre, não para sua própria alegria,
mas para uma alegria compartilhada que beneficia os outros. Nisto
está o seu valor. São os frutos do arrependimento que tornam o
mundo melhor! Graças a Deus!
Oração
Senhor, quero também fazer esta descoberta. Quero dar uma resposta
ao teu amor. Sei que devo fazê-lo em minha comunidade, no meu
trabalho, na minha família, no meu bairro, na minha vila. Orienta e
ensina-me a viver o perdão e a vida nova que me dás. Amém.
Confissão dos pecados
Fiquem vigiando!
Lucas 21.25-36
O
crescente perigo de roubos e assaltos faz crescer o número
de empresas de vigilância. Elas instruem e equipam vigias
que possam dar segurança. A preparação e os equipamentos
não serão suficientes, se o vigia em serviço não estiver atento. A situação de perigo é sempre inesperada. A surpresa acontece exatamente
quando tudo indica tranqüilidade e segurança.
Jesus conclama os seus seguidores para que vigiem. O seu retorno também se dará inesperadamente. Seu desejo é encontrar a
todos atentos, vigilantes. Por isso, ele deixou todos os equipamentos
necessários à disposição. Ele nos deu o seu Espírito Santo que “nos
chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé” (Lutero). Tudo isso, para que possamos ser
encontrados firmes, de pé em sua presença, no dia do seu retorno.
Nenhum esforço sobre-humano é exigido. Apenas um coração e
uma mente receptivos àquilo que Cristo tem a oferecer; uma disposição de lutar contra os instrumentos usados por Satanás para fazer
o pecador se afastar de Cristo, tais como as festanças, a embriaguez,
o excesso de preocupações, que geram o afastamento de Cristo, da
sua Palavra e da fé.
Estar em vigilância é ter parte na verdadeira Igreja de Cristo,
pela fé; é apropriar-se daquilo que Cristo conquistou para todos os
pecadores com sua morte na cruz. O reconhecimento de tudo que
Deus fez e ainda faz por ele, leva o cristão a buscar um contato diário
com seu Deus, pela oração, pelo estudo de sua Palavra, no uso dos
seus sacramentos, no convívio com os irmãos na fé. Somente assim
torna-se viável a vigilância recomendada pelo Salvador.
Oração
Senhor Deus, concede-me o teu Espírito Santo para que ele opere
em mim uma fé firme, confiante, capaz de resistir a todos os ataques
de Satanás e permitir que eu esteja, a salvo, diante de Cristo. Amém.
Advento
261
Encontro com o Salvador
Habacuque 2.1-4
N
262
o tempo de Advento, falamos na vinda do Senhor e na devida vigilância e preparo para o encontro com Cristo. Muitos
se apavoram com este assunto. Não querem nem falar neste
encontro, muito menos imaginar que ele poderá acontecer dentro
de instantes, quando menos esperam.
Por que o cristão haveria de temer o encontro com o Salvador?
Satanás, espertamente, luta por todos os meios para convencer o
cristão de que ele terá que pagar pelos seus pecados. O preço é altíssimo, nada menos que a condenação eterna no inferno. Aqui reside
a causa do temor. O encontro final com o Senhor é associado com
a condenação eterna.
Mas por que não dar ouvidos à voz de Deus, que oferece gratuitamente o perdão para todos os erros do pecador? Aquele que virá
para julgar o mundo com justiça, é o mesmo que veio para dar a
sua vida como pagamento pelos pecados de todos. O preço foi pago
por ele. “Agora já não há nenhuma condenação para os que estão
unidos com Cristo Jesus” (Romanos 8.1). A fé que fora proclamada
pelo profeta Habacuque é o que dá a verdadeira vida ao cristão neste
mundo e o faz ingressar na bem-aventurada vida eterna.
Esta fé não se conquista com méritos próprios. É a fé que o
Espírito Santo implantou no cristão, por ocasião do seu Batismo, e,
depois, foi cultivada em seu coração pela Palavra de Deus e pelos
sacramentos. Através desta fé, o cristão se apropria dos méritos de
Cristo. Aquilo que ele comprou com o seu sacrifício na cruz, passa a
ser nosso. Por isso, vivemos nesta nova vida aqui, e, depois, viveremos
com ele no paraíso.
Aquele que está em Cristo, pela fé, não tem razão para temer. A vinda
do Senhor será uma grande celebração. O juiz será nosso amigo Jesus.
Oração
Senhor Deus, fortalece-nos a fé para que possamos crer com toda a
convicção que o preço já foi pago por Cristo, que nada mais nos pode
separar do teu grande amor, e teremos vida eterna contigo. Amém.
Advento
Avalie sua vida!
Miquéias 2.1-5,12-13
O
profeta Miquéias lança seu olhar sobre a realidade. E o que
vê é trágico. Enxerga os meios usados pelas pessoas na reprodução do mal. Percebe que a sua gestação dá-se a partir
da cama. É ali, no silêncio da privacidade, que ele é concebido e
planejado.
Miquéias narra, brilhantemente, a que ponto chega uma pessoa
dominada pela cobiça, fazendo uso do poder. É capaz de tomar casas
e campos. E o mais terrível é que isto se dá à “luz da alva”, ou seja,
à luz do dia.
Inúmeros casos como os descritos pelo profeta são levados, pela
imprensa ao conhecimento da opinião pública brasileira. Os meios
de comunicação informam que, em nosso país, casos de violência
contra pessoas estão se multiplicando assustadoramente. Em nome
da ambição, manda-se seqüestrar e matar. Pessoas são coagidas por
chantagens. Pistoleiros de aluguel, por menos de mil reais, estão
disponíveis para praticarem crimes por encomenda.
É muito triste quando se chega a este patamar de violência. Frente
a este quadro assustador, Deus, por sua Palavra, tem um recado muito
claro: ai daqueles que fazem isto contra o seu próximo! Ai dos que
usam o poder dos cargos que ocupam para disseminar a violência
contra o próximo! Ai dos que arruínam a vida de seus semelhantes!
O Deus da vida não tolera a injustiça. Antes, sua vontade é a de que
amemos o nosso próximo e não lhe façamos mal nenhum.
O texto de Miquéias, indicado acima, convida você para uma
avaliação de sua vida. Convida para rever pensamentos, palavras e
gestos concretos. Convida, também, para ser profeta e anunciar a
vontade de Deus em seu meio.
Oração
Senhor, trago à tua presença as injustiças praticadas contra o meu
próximo. São incontáveis. Perdoa e ajuda-me. Liberta-me para reconhecer os caminhos do mal e a lutar contra suas manifestações em
nossa sociedade. Em nome de Jesus. Amém.
Advento
263
Na angústia, o Princípio e o Fim!
Apocalipse 22.12-13,17,20-21
E
264
stamos ensaiando os primeiros passos de um novo milênio.
Tudo que é novo gera expectativa. Angústia, alegria, esperança, medo e indiferença brotam do íntimo das pessoas. É comum que, diante de um quadro nebuloso e tenso, apareçam as mais
diferentes propostas de solução. São tentativas de resposta a uma
humanidade cheia de necessidades, carente de sentido de vida.
Na época em que foi escrito o Livro do Apocalipse, por volta
do ano 100 depois de Cristo, a cristandade amargava um período
em que a crueldade do Imperador romano dirigia-se contra aqueles
que professavam a fé cristã. Ser cristão significava assumir riscos de
perseguição e morte. Neste contexto, João exorta os cristãos para que
não se deixem seduzir por qualquer proposta tentadora e convida-os
para que não percam de vista a pessoa de Jesus Cristo e a mensagem
do Evangelho, anunciada pela Igreja. Ao mesmo tempo, pede para
que as pessoas que ouviram o chamado do Evangelho, procurem levar
esta mensagem a outros. Não devem ter medo de fazê-lo, pois é ela
que faz a diferença em suas vidas e na vida de todas aquelas pessoas
que recebem a mensagem da salvação de coração aberto. Ela tem
a propriedade de matar a sede que brota do íntimo de cada pessoa
e de conceder a paz de Deus. Paz que não se conquista, mas que se
recebe gratuitamente das mãos do Senhor, daquele que é o Alfa e o
Ômega, o Princípio e o Fim.
João convida para a missão. Quem foi tocado pela mensagem
do Evangelho e teve sua sede saciada pelo poder de Deus, não pode
ficar indiferente frente à multidão de sedentos que se encontram
desde os grandes centros urbanos até o último recanto da colônia.
Oração
Querido Deus! Somos-te gratos pelas palavras de João. Obrigado
pela lembrança de que devemos levar adiante a mensagem de Jesus.
Liberta-nos de acomodamento cristão e conduze-nos para tua missão
no mundo. Amém.
Advento
É tempo de festa
Hebreus 10.19-23
Q
ue convite maravilhoso! Não se trata de um convite para
uma festa, mas aceitá-lo significa que o nosso coração estará sempre em festa. Antes, estávamos separados de Deus
pelo pecado. Agora, depois do primeiro Natal, não precisamos mais
ter medo. “Não tenham medo!” (Lucas 2.10), disse o anjo ao anunciar
o nascimento de Jesus. Podemos chegar com coragem e sem medo
junto a este Deus que nos criou, amou tanto que providenciou uma
salvação para toda a humanidade. Jesus é o caminho que nos leva a
Deus; é o grande sacerdote que consumou, com seu sacrifício na cruz,
o que a justiça divina exigia. E o melhor de tudo é que este privilégio
do livre acesso a Deus nos é dado de graça: nada precisamos fazer,
nada precisamos pagar por isso.
Para sentirmos a alegria que o anjo anunciou naquele Natal, basta
aceitarmos o convite e nos aproximarmos de Deus com um coração
sincero e uma fé muito firme, estando purificados pelo Batismo que
colocou em nós o Espírito Santo. É o Espírito Santo que vai nos consolar e iluminar pelo Evangelho para podermos seguir a vontade de
Deus, expressa na Bíblia.
É Advento. Aproxima-se o Natal. É, pois, tempo de festa! Especialmente nestes dias, somos convidados a guardar “firmemente a
esperança da fé que professamos, pois podemos estar certos de que
Deus cumprirá as suas promessas” (v. 23). Nós, cristãos, sabemos que
Deus não falha, por isso falamos e testemunhamos com nossas ações
a maravilhosa esperança que temos: a vida eterna junto ao Deus trino.
Cantemos, portanto, “glória a Deus nas alturas”, pois nosso coração
estará sempre em festa!
Oração
Senhor, meu Deus, dá-me o teu Espírito Santo para que eu me aproxime de ti com um coração sincero e uma fé inabalável em Jesus Cristo.
Faze-me sentir alegria pela salvação e amor pelo meu próximo. Em
nome do Salvador. Amém.
Advento
265
Sim à verdade
João 18.33-38
U
266
m diálogo entre Pilatos, o governador da Judéia, e Jesus Cristo, o Filho de Deus. É a oposição entre as trevas e a luz, entre
o reino deste mundo, passageiro, imperfeito e injusto e o Reino
de Deus, eterno, perfeito, justo e verdadeiro. Pilatos ocupa um alto
cargo, mas não tem autoridade, pois não assume responsabilidade
pelos seus atos. Durante o julgamento de Jesus, ele vacila, fraqueja,
submete-se, sempre medroso, procurando agradar a Roma e não
desagradar aos judeus. Não concebe um reino que não seja deste
mundo. Não consegue aceitar um rei que nasceu na humildade de
um estábulo, viveu entre os pobres, preocupou-se com os doentes,
os fracos e pecadores; um rei que entrou em Jerusalém pobremente
vestido, montado num burrinho; que contestou as autoridades civis
e religiosas, clamando contra a dureza de seus corações.
Jesus revela a Pilatos a verdade, mas ele é incapaz de compreendê-la. Por isso, sua pergunta “o que é a verdade?” (v. 38) fica no ar. Ela
já havia sido respondida por Jesus, quando disse: “Foi para falar da
verdade que eu nasci e vim para o mundo”. Pilatos não aceitou esta
resposta. Ele não queria saber da verdade, queria apenas livrar-se de
uma situação difícil. Por isso não ouviu a voz do Salvador.
E nós, estamos dispostos a aceitar a verdade e a seguir o caminho que leva à salvação e à vida eterna? Que nossa resposta seja um
sonoro SIM à verdade; que estejamos sempre prontos a ouvir a voz
do Rei dos reis. “Quem crê na verdade ouve a minha voz” (v. 37).
Oração
Querido Salvador: ajuda-me com teu Espírito Santo a ouvir sempre
a tua voz, pois tu és o caminho, a verdade e a vida. Ajuda-me a permanecer fiel a ti, a deixar o reino das trevas e a viver no reino da luz,
do amor e da verdade, no teu Reino. Amém.
Advento
Não chore. Olhe!
Apocalipse 5.1-14
A
pocalipse 5.1-14 é uma palavra de esperança para toda a pessoa que se encontra em crise e ameaçada em sua fé. Ela, como
todo o livro do Apocalipse, quer ajudá-la a se encontrar novamente com Deus, consigo mesma e com sua missão neste mundo.
Deus quer animá-la a não desistir da luta da vida. Quer armá-la
para enfrentar as dificuldades, por isso recomenda “não chore.
Olhe!” (v. 5).
Na Igreja cristã comemora-se o Advento. Isto significa que um
novo ano eclesiástico está começando. Renova-se por estes dias a
velha e absoluta verdade de que Cristo, que conseguiu a vitória, está
e continua no meio de nós. A mensagem é, portanto, de esperança.
O Livro do Apocalipse, escrito num período muito difícil para
os cristãos, por causa das perseguições, testemunha que os acontecimentos não estão escapando da mão de Deus. Ele tem o controle
da situação em suas mãos. Os poderosos que parecem os donos do
mundo, em verdade, estão destinados ao fracasso.
A Boa Nova é esta: Deus é o Senhor da história. Ele passou todo
o seu poder para Jesus Cristo que conduz o seu povo para a vitória
final! Importa crer nele.
Se você estiver passando por momentos difíceis, medo, angústia, não desanime. Não chore, olhe para Cristo, o vitorioso. Se isto o
consola, compartilhe-o com outras pessoas. Acenda também a sua
vela nesta época de Advento e junte-se ao povo de Deus que coloca
sinais de luz neste mundo. Deixe contagiar-se pelas luzes de Advento
e Natal e cante o canto de vitória e de alegria. Deixe a luz de Cristo
brilhar em sua vida!
Oração
Ó Deus da consolação e do amor. Renova em mim a confiança em ti.
Ajuda-me a colocar os meus dons a teu serviço e a serviço da vida.
Dá que possamos todos viver em amor e solidariedade e, assim, caminhar em tua direção. Amém.
Advento
267
Morrer por amor
Hebreus 6.9-12
A
268
prendemos da Palavra de Deus que fomos salvos porque Deus,
em seu grande amor, enviou Jesus Cristo para morrer em nosso lugar.
Morrer por amor! Isto não é coisa de seres humanos, embora
pessoas apaixonadas costumem dizer que estão dispostas a morrer
por amor ao outro. Morrer por amor é coisa de Deus. Em verdade, conhecemos pessoas na história que se dispuseram e, de fato, morreram
pelo outro. E se isso aconteceu foi porque deixaram as necessidades
do próximo falar mais alto e colocaram todos os seus interesses próprios num segundo plano.
Filhos de Deus, seguidores de Jesus Cristo, têm uma motivação
muito especial para colocar os seus interesses próprios em segundo
plano. Pois, pela fé, sabem que têm “as melhores bênçãos que vêm
da salvação”; que foram salvos pelo amor de Deus em Jesus Cristo.
Assim, a partir da fé em Deus que nos amou, por gratidão e amor
ao seu nome, podemos servir ao nosso próximo de forma irrestrita
e ilimitada. Jesus deu-nos o grande exemplo de amor, humildade e
serviço, vivendo, morrendo e ressuscitando por nós.
E a recompensa? Esta não pode ser uma reivindicação nossa!
Quem a estabelece é Deus. Ele conhece o trabalho dos que o servem
por amor do seu nome e também os recompensa.
O cristão demonstra seu amor a Deus servindo aos santos, isto
é, aos irmãos crentes e também aos não-crentes.
Fazendo o bem ao próximo, estamos dando testemunho concreto
de que sabemos que “as melhores bênçãos vêm da salvação”. E isto
não nos deixa ficar preguiçosos, mas faz de nós imitadores de Cristo
que herdam a vida eterna. É através das nossas obras que demonstramos nossa fé e nosso amor a Jesus.
Oração
Ó Deus, querido Pai! Teu amor por nós excede a nossa compreensão! Como pudeste amar tanto a nós, pecadores, ingratos e maus?
Agradecemos-te, por isso! Pedimos que nos capacites a amar o nosso
próximo e servi-lo com verdadeiro amor e humildade. Amém.
Advento
Quem tem ouvidos...
Apocalipse 2.1-7
E
m meio à correria de fim de ano, muitas pessoas entram em
depressão. Assim acontecia com Jorge. Aos cultos, ia muito
pouco. Dizia que eles o deixavam triste, pois lá só se falava de
morte. A última vez em que participara, fora por ocasião do falecimento do seu pai, há muitos anos.
No terceiro Domingo de Advento, Jorge, que de qualquer maneira já estava triste, convencido pela sua esposa Marta, resolveu
acompanhá-la ao culto. O tema abordado na pregação foi: “Tempo
de Advento e Natal, o que é?” Jorge estava atento. No final do culto,
permaneceu sentado, pensativo... Quando todos já haviam saído,
levantou-se e, ao despedir-se, falou: “Eu volto no domingo que vem”.
Quarto Domingo de Advento: lá estava ele novamente, conforme
havia prometido no domingo anterior. Terminado o culto, promessa
renovada: “Voltarei no Natal”. Jorge estava radiante.
No culto de Natal, promessa cumprida! Lá estava Jorge. Contou:
“Agora entendi um pouco sobre o que é Advento e Natal. Natal é o
nascimento de Jesus Cristo, o nosso Salvador. Advento é tempo de
preparo, de espera da vinda do Senhor. Foi isso que eu entendi. Coisa
muito diferente do que tudo o que eu aprendera antes. As festas de
Natal, regadas a bebida e comida farta, os presentes, nunca me alegravam. Nunca antes, eu tivera ouvidos para a mensagem do Evangelho. Dessa vez, de fato, eu abri os meus ouvidos para ouvir o que o
Espírito de Deus diz e quero viver cada dia da minha vida iluminado
pela sua presença. Isso é muito bom para mim e quero ajudar para
que seja bom também para os meus amigos, para que também a sua
vida possa melhorar, assim como melhorou a minha”.
Oração
Obrigado, Deus, porque nos falas através do teu Santo Espírito. Ajudanos a te ouvirmos. Anima-nos a vivermos verdadeiramente Advento
e Natal. Firma nossa fé. Orienta-nos para que possamos ajudar outras
pessoas a ouvirem o teu Evangelho. Amém.
Advento
269
Deus não tem hora
Apocalipse 3.7-13
N
270
uma manhã de muita chuva, parecia noite, toca a campainha. Abro a porta e ali está Elma, rosto sofrido, corpo cansado, roupa simples e molhada. Começou a falar em português,
mas logo pediu para contar o seu sofrimento em alemão.
Contou: “Já fui cinco vezes lá. E quando chego na vez, fecham a
porta e dizem: ‘volte amanhã’. Eu não posso ir mais cedo, porque o
ônibus só chega naquele horário. Mesmo assim, eu já saio às quatro
da manhã de casa. Não tenho condições de chegar no dia anterior,
pois meu marido está de cama e eu não tenho filhos. Eu preciso desta
aposentadoria. Acho que tenho direito, pois trabalhei desde criança
na roça. Só que agora, eu sempre ouço a mesma coisa: ‘expediente
encerrado por hoje!’, volte amanhã. Será que devo voltar? Acho que
não volto mais. Perdi as esperanças”.
Advento é época de renovar as esperanças. Como cristãos e cristãs, esperamos. Como Elma, também sofremos provações. E, como
ela, também estamos à espera. Mas não é só esperar, é também ir,
procurar e enfrentar as frustrações. De fato, às vezes dá vontade de
desanimar, de entregar os pontos. No entanto, a certeza de que aquele
que criou em nós a esperança e prometeu que estaria conosco, nos
sustenta. Ele nos conhece, sabe das nossas fraquezas, da nossa fidelidade e infidelidade. Mas ele tem uma porta aberta para cada um de
nós, que ninguém pode fechar. Não há horário, não há ordem, não
há a frustração do “volte amanhã, hoje não dá mais”. Esta porta está
aberta. Deus garante participação no seu Reino e mais, nos fortalece
a buscar, mesmo na fraqueza, com a cabeça erguida, perseverantes,
o direito e a justiça já neste mundo.
Oração
Querido Deus, obrigado por nos fortaleceres e animares a viver na
fé e na esperança do teu Reino. Pedimos, cantando: “Abertas, meu
Jesus, estão / as portas do meu coração. / Ó entra em mim, vem me
salvar, / e paz divina derramar”. Amém. (HPD 5,5)
Advento
O jardim de Deus
Apocalipse 2.1,3-7
C
risto, crucificado por nosso pecado, é a árvore da vida. Ele
está lá, no jardim de Deus, onde nos aguarda para vivermos
juntos a vida eterna.
A história da humanidade começa no jardim de Deus. E era
projeto divino que, pela eternidade afora, a humanidade continuasse
vivendo neste jardim. Mas este projeto divino foi temporariamente
interrompido pelo pecado.
Para resgatar a humanidade decaída, Deus enviou ao mundo
seu Filho, que, pela sua morte na cruz e ressurreição, estabeleceu a
ponte entre o paraíso perdido e o novo paraíso.
Por sua vez, o Espírito Santo alcança nossos corações com a
mensagem do amor que Deus revelou em Jesus, nos converte e nos
congrega como povo de Deus – a Igreja cristã.
A Igreja, por sua vez, ama a seu Senhor, proclamando a alegria
e a esperança provenientes da fé.
A Igreja cristã é o esboço do paraíso, onde a comunhão no amor
será perfeita, completa e eterna.
No entanto, à semelhança de Adão e Eva, ela também sofre o
ataque de Satanás. Ele sempre de novo a tenta, procurando esfriar o
amor e desviar da verdadeira fé e adoração a Deus.
É preciso manter-se fiel! Para isso importa “ouvir o que Espírito
de Deus diz à Igreja” por meio da Palavra de Deus.
Pela Palavra, o Espírito nos dá firmeza na fé e nos conduz à vitória
da fé!! E quem se mantiver firme, confiante, fiel a Cristo, viverá eternamente no jardim de Deus, o novo céu e a nova terra, no qual Jesus
foi preparar lugar para os seus. Onde reina a justiça de Deus. Onde o
amor será perfeito e completo em todos. Onde a vida é eterna. Onde
não haverá mais choro, nem dor, nem sofrimento, nem separação,
nem tristeza, nem morte.
Oração
Ó vem, Senhor Jesus! Vem reinar em tua Igreja! Vem dirigi-la para que
permaneça fiel em seu amor, testemunho e serviço ao mundo. Vem
guardá-la para o dia do encontro contigo. Tu és nossa esperança e
alegria enquanto aguardamos tua vinda. Ó vem Senhor Jesus! Amém.
Advento
271
Porta aberta
Apocalipse 3.14-22
A
272
porta em que Jesus está batendo é o coração humano. O
Diabo, porém, colocou um ferrolho, o pecado, nesta porta,
para impedir que o pecador a abra para Deus.
No entanto, a misericórdia de Deus é superior e age acima e além
da barreira do pecado. Desde o nosso nascimento, Jesus, a Verdade e
a Vida, coloca-se diante da porta do coração pecador. Ele quer entrar
e, com seu amor e perdão, ali habitar.
Jesus bate através da pregação da sua Palavra e dos sacramentos.
Com eles, gentilmente, ele nos convida a abrirmos a porta. Ele não
bate apenas uma ou duas vezes e depois desiste. Ele bate continuamente, na esperança de que a porta se abra. Se, porém, o coração
endurece e os ouvidos se fecham, Jesus se retira. E isso é uma tragédia! Pois quando Jesus pára de bater, o tempo da oportunidade do
pecador passou.
Mas que hora abençoada aquela em que a porta se abre! O Senhor
dos senhores entra no coração do pecador e serve sua graça. Essa
comunhão íntima do cristão com seu Senhor aqui na terra, ilustrada
com o morar e o cear na companhia de Jesus, continua na eterna
comunhão triunfal no céu.
“Aos que conseguirem a vitória eu darei o direito de se sentarem
comigo no meu trono...” (v. 21).
A vitória sobre o Diabo, conseguida por Jesus, quebrou o ferrolho
do pecado no coração do homem. Aquele que ouvir a voz de Jesus
e nele crer, receberá dele a vitória e sentará com ele no seu trono
celestial.
Grande é nossa esperança e grande será nossa alegria em Cristo!
Oração
Vem, Senhor Jesus! Bate sempre à porta do meu coração. Faze ali
morada, com teu amor, paz e alegria. Vem, Senhor Jesus, entra no
coração de todos que ouvem tua Palavra. Para que, finalmente, possamos entrar juntos na tua morada celestial. Amém.
Advento
O sinal que esperamos
Mateus 24.1-14
E
stamos num novo milênio. Falsos profetas aproveitam o momento para anunciar o fim do mundo. São os messias modernos que se espalham por toda parte: religiosos, psicólogos, comunicadores, economistas, políticos... cada qual defendendo a sua
verdade como única e absoluta. Ora, cada um defendendo a “sua”
verdade como única e absoluta, não permite qualquer diálogo.
Entusiastas, esses profetas modernos defendem que eles e seus
seguidores são os “preferidos” de Deus. Usam as suas “verdades” para
justificar interesses próprios, religiosidades e ideologias. O mal é justificado como se fosse um bem. As conseqüências dessa polarização de
posições e da falta de diálogo são violência, egoísmo, enganos. Pois,
onde não há diálogo e as pessoas não têm mais ouvidos abertos para
ouvir os outros, a maldade se espalha e o amor se esfria. A maldade se
espalhando e o amor se esfriando, é isso que estamos vivendo. Parece
o fim. Em verdade, propõe Jesus, isso não é o fim! Tudo o que vemos
acontecer e com o que sofremos, são apenas as dores do parto de um
novo mundo e de uma nova realidade, o Reino de Deus.
É Advento, tempo de sentir as dores do parto do Reino de Deus.
Preparemo-nos para os novos tempos que Deus nos preparou com
o nascimento de Jesus Cristo que, contra toda a desgraça e todo
o sofrimento pregados pelos messias modernos, nos promete um
novo céu e uma nova terra. Este sim é o fim. Mas um fim cheio de fé
e esperança. Com Cristo venceremos a intransigência em favor do
diálogo. Com ele, implantamos a humanidade, cujos sinais já são
visíveis entre nós agora.
Este é o sinal que esperamos: a vinda de Cristo que não assusta,
mas anima e alegra.
Oração
Querido Senhor Jesus Cristo, ajuda-nos por meio do teu Espírito
Santo para que confessemos a ti e tua Palavra com fé perante este
mundo cego e mau. Ilumina com a luz da tua graça todos os que
estão desorientados e desviados. Amém. (Lutero)
Advento
273
Pecadores aceitos por Cristo
Isaías 40.1-8(9-11)
C
274
ada ano, cristãos e cristãs se preparam para o Advento de Cristo, a criança frágil e pobre, que nasceu na manjedoura de
Belém. É o próprio Deus que se fez pessoa. Dessa forma, Deus
aproximou-se de nós, cujo tempo é limitado: crescemos, florescemos
e secamos. Porém, iludimo-nos, pensando que somos árvores fortes,
eternas e que não precisamos de Deus. Esquecemos que somos justos, sim, mas, ao mesmo tempo, continuamos sendo pecadores, que
carecem sempre do perdão e da graça de Deus.
Sem isso, somos como a árvore frondosa que é derrubada pelo
vento. E quanto maior a nossa arrogância, tanto maior a queda. Presunçosos, buscamos ajudar a nós mesmos, através das nossas realizações e das leis que nós mesmos criamos. No entanto, à medida que
procuramos a nossa auto-salvação, o conflito aumenta e o que resta
é o desespero. E assim, adorando as nossas realizações e as nossas
leis, tornamo-nos idólatras, adoradores de nós mesmos. Queremos
ser os nossos próprios senhores.
Neste sentido, o Advento quer ser época de arrependimento e de
reconhecimento, em que voltamos a ser o que somos: pessoas batizadas, pertencentes a Cristo, erva que seca, flor que cai; pecadores,
sim, mas também pessoas valorizadas e aceitas por Cristo. Advento
é época de reaprender que Cristo é o único Senhor, “que remiu a
mim, ser humano perdido e condenado, me resgatou e salvou de
todos os pecados...” (Lutero). Foi justamente para isso que, no Natal,
Deus se fez pessoa, tornou-se fraco e frágil, nascendo humildemente
numa manjedoura, para nos aceitar assim como somos: ervas fracas
e frágeis. Assim podemos vir a ele também hoje.
Oração
Senhor, sou um pecador. Por minha própria força não posso me
ajudar. Por isso, eu venho a ti. Ajuda-me! Amém. (Lutero)
Advento
A nossa missão
Mateus 11.11-15
J
esus elogia João Batista. Chama-o de “maior de todos os homens
do passado”. João, que na ocasião já se encontrava preso, certamente alegrou-se com isso. Aliás, todo o elogio sincero é um ato
de amor, pois é uma forma de valorizar os dons do outro e aumentarlhe a autoconfiança.
João Batista foi um profeta ousado. Atraía multidões por causa da
sua autenticidade e vigor de sua pregação. A respeito de Jesus, dizia
claramente: “Aqui está ele, o Messias prometido, o Cordeiro de Deus.
Com ele, o Reino de Deus começa a acontecer entre nós”. Realmente,
essa pregação prenuncia uma nova concepção de vida, sob o signo
do arrependimento, da fé e do amor.
Além de fazer o marketing de Jesus e do Reino de Deus, João
batizou o Filho de Deus e deu muitos exemplos de humildade e de
coragem: não se intimidava de chamar os maus chefes religiosos e
políticos da época de hipócritas e pecadores. Claro que isso tinha o
seu preço: João foi preso e, finalmente, morto. Tudo o que disse e
fez tinha apenas um objetivo: apontar e anunciar aquele que vinha
depois, Jesus.
Também a nossa missão não pode ser outra: apontar para Jesus
e anunciar a sua vinda, colocar sinais do Reino de Deus no nosso
mundo, no meio de pessoas indiferentes, incrédulas ou interiormente
vazias. Ainda valem as metas propostas por Jesus: “Vão pelo mundo
inteiro e anunciem a Boa-Notícia do Evangelho a todas as pessoas”
(Marcos 16.15), “amem... uns aos outros...” (João 13.34) e tantas outras mais. Durante os últimos dois mil anos sempre houve cristãos
engajados que cumpriram essa missão. É hora de analisar o nosso
desempenho. E nós, merecemos um elogio de Jesus?
Oração
Senhor Deus, obrigado pela chance de também podermos ajudar na
construção do teu Reino. Abençoa o nosso empenho e todo o nosso
agir. Em nome de Jesus. Amém.
Advento
275
Arrependimento
Mateus 3.1-12
C
276
onfissão de pecados e arrependimento sempre foram essenciais para a vida espiritual do cristão.
Para isso, o ser humano é dotado do maravilhoso dom
da introspecção. Podemos olhar para dentro de nós. Nossa infância
e toda nossa vida podem passar como um filme diante de nossos
olhos. Até podemos usar um “controle remoto” para parar o filme,
rever, analisar, tirar conclusões. Pena que poucos façam uso deste
privilégio, que somente os seres humanos têm, de um profundo autoconhecimento. Prefere-se a superficialidade.
Durante a introspecção, também podemos comparar nossas
ações e atitudes com os padrões de comportamento estabelecidos
por Deus. Ao fazê-lo, identificamos desvios e omissões, o que certamente muito nos aflige. Mas não se deve parar por aí, permanecer
nesta autocontemplação. É preciso ir alguns passos adiante: encarar
os erros e confessá-los, colocá-los diante de Deus, dizendo algo como:
“Senhor Deus, errei. Fiz o que não devia, ou não fiz o que devia.
Perdoa-me!” E, neste momento, é preciso acreditar no quase inacreditável: o perdão de Deus. Perdão incondicional, sem cobranças, sem
“carma”! Realmente, um novo começo, de graça, com ficha limpa! E
a maravilhosa terapia de Deus para todos os angustiados, deprimidos
e todos nós pecadores.
Quantas vezes o povo judeu, na sua conturbada história, foi
chamado ao arrependimento! João Batista também o prega com insistência, mostrando que ele é necessário, que ele precisa acontecer
sem hipocrisia e que precisa trazer frutos. Isto continua valendo hoje.
Arrependimento, junto com fé e amor, é um dos valores máximos do
cristianismo.
Oração
Senhor Deus, nós te louvamos pelo perdão que temos em Jesus Cristo. Faze com que o busquemos sempre com pureza de alma e, como
perdoado, produzamos copiosos frutos. Amém.
Advento
O que devemos fazer?
Lucas 3.1-14
J
oão, batista e profeta. João profeta é mais radical que João batista. O profeta proclama o pensamento de Deus, denuncia injustiças, prega o juízo. O batista anuncia “a salvação que Deus dá” (v.
6) e batiza. Assim foi João: profeta e batista.
Num momento concreto da história universal, “quando fazia quinze
anos que Tibério era imperador romano, Pôncio Pilatos era governador
da Judéia, Herodes governava a Galiléia...”, João, batista e profeta, atuava na região do rio Jordão. Pregava salvação e juízo. No cerne da sua
profecia, no entanto, estava a mudança de mente. Diante da pregação
contundente, o povo perguntava: “O que devemos fazer?” e João, o
profeta e batista, respondia: “Arrependam-se e sejam batizados”.
Assim é Deus: desperta profetas, envia-os para pregar juízo e
salvação. E tudo isso não acontece fora do espaço e do tempo, mas
dentro deste mundo, onde governam presidentes, governadores e
prefeitos, onde há corrupção, abuso de autoridade, toda espécie de
violência e injustiças.
Na época de Advento, espera-se o Messias. Ele vem também nas
mudanças da nossa mente. João assim ensinou. Estava preparando o
caminho. A mudança de mente tem como conseqüência perguntas
e dúvidas.
Essa é a lógica da profecia. A mudança de mente pergunta pelo
que fazer. Foi assim também em Atos 2.37: “Irmãos, o que devemos
fazer?”, lembram?
João responde: repartir, solidariedade, amor, justiça, integridade.
Será que nós possuímos essas características? Por natureza, certamente não as temos. Para que a tenhamos, Jesus vem. Sempre. A cada
Natal. Na verdade, o ano todo. E espera pela nossa pergunta: Senhor,
o que devemos fazer?
Oração
Jesus, te esperamos. Do teu jeito. Nas tuas condições. Ajuda-nos para
que possamos resistir. Da boca faze brotar em nossos corações o
desejo de mudança. Faze brotar nas nossas ações a presença do teu
Espírito. Amém.
Advento
277
Vem, Jesus!
Atos 13.15-25
P
278
aulo abre sua boca e seu coração num discurso inflamado.
Ele, junto com seu companheiro Barnabé, tinha a difícil tarefa
de anunciar um desconhecido Messias: Jesus, crucificado e
ressuscitado. Sim, a tarefa era difícil porque ninguém podia imaginar
um messias crucificado. Ressurreição também não era racional. Por
isso, a tarefa de anunciar um messias desconhecido não era nada fácil.
Interessante. A mensagem de um Messias começa na libertação
do seu povo. O êxodo, libertação do povo de Deus da escravidão
no Egito, é o marco que os leva a uma nova libertação: Jesus Cristo,
Ressuscitado.
Perto estamos do Natal, que começou numa humilde estrebaria
de Belém, porque não havia outro lugar para o Messias. Nesta época,
lembramos mais de Deus. Contudo, durante cada dia do ano, ele zela
por nós e procura intensamente pessoas dispostas a abrir-lhe seu
coração. Dessa maneira, Paulo descreveu Davi: “Encontrei um Davi,
filho de Jessé, o tipo de pessoa que eu quero e que vai fazer tudo o
que eu desejo” (Atos 13.22). Em Davi, Deus encontrou um mensageiro
para divulgar a sua vontade. Em Jesus, o próprio Deus se fez presente
neste mundo para que a sua vontade prevalecesse.
A vontade de Deus deve imperar no mundo. Como trazê-la a
este contexto de violência, opressão e injustiça? Lembramos do
início. Foi assim que surgiu um povo, o povo de Deus. Do meio da
opressão, Deus libertou seu povo das mãos do faraó. Jesus vem trazer, no Natal, a mensagem da esperança. Quando o nosso coração se
afina com o coração de Deus, a melodia soa por todos os cantos do
mundo. Assim, chega a paz, a solidariedade e a justiça. Vem, Jesus!
Oração
Jesus, te esperamos. No Natal, tu dizes o que é bom para nós. Tua voz
é mais importante que todos os anúncios que temos que ouvir nesta
época. Tua voz nos dirige. Prepara o nosso coração para que ele se
afine com o coração do nosso Pai. Amém.
Advento
Infidelidade e perdão
Oséias 14.6-10
O
profeta Oséias fala ao povo de Deus que vivia ansioso por
maiores glórias, mas estava contaminado pelo materialismo e pela idolatria. Ele chama o pecado da idolatria de
adultério espiritual contra Deus. A infidelidade pode, no início,
ter um sabor de liberdade, mas, depois, deixa o coração vazio e a
consciência com grande peso de culpa. O coração deve renunciar
à idolatria que é o objeto do adultério e voltar-se para o Senhor.
Pois “a sua própria maldade o castigará, e você será condenado
porque me abandonou. Você vai aprender de uma vez como é ruim
e amargo abandonar a mim, o Eterno, o seu Deus, e deixar de me
temer” (Jeremias 2.19).
Ao final de sua mensagem, o profeta conclama Israel ao arrependimento de seus pecados e a retornar a Deus. E isso exige completa
conversão e o coração e a mente dirigidos ao Senhor.
Para retomar o compromisso de fidelidade a Deus, é preciso
afastar o obstáculo que impede o retorno, o pecado. Deve-se buscar
o perdão do noivo traído e ofendido e renovar o compromisso de
fidelidade a ele. A busca do perdão passa por uma oração de confissão
de pecado, arrependimento e mudança de coração.
Por outro lado, é preciso confiar no noivo fiel que conduz por
caminhos de vida, como informa o profeta: “Os caminhos do Deus
Eterno são certos; os bons andarão neles, mas os pecadores tropeçarão e cairão” (V. 9).
Todas as glórias do Natal de Cristo nos convidam a renovarmos
com ele o voto de fidelidade cristã. Com certeza, existe em sua vida
algum pecado, ofensa e erro atrapalhando a sua fidelidade a Cristo.
Busque o perdão, purifique o seu coração em Cristo e você terá um
feliz Natal.
Oração
Senhor, retira do meu coração os empecilhos e as amarguras que me
fazem desviar de ti. Naquilo em que ofendi a ti e ao meu semelhante,
perdoa. Naquilo em que fui ofendido, quero perdoar, seja qual for a
gravidade da ofensa. Renova o teu Espírito em mim. Amém.
Advento
279
Terrível contradição
Lucas 7.29-35
O
280
s fariseus e intérpretes da Lei conheceram João Batista e
Jesus. Que posição tomar: aceitá-los ou rejeitá-los como
enviados de Deus? Reagiram com um julgamento de rejeição
a ambos. Jesus analisa os argumentos deles e mostra as contradições
de suas afirmações.
Quanto a João Batista, condenaram sua forma de vida no deserto, sua alimentação e vestimentas diferentes; ele devia ter a mente
tomada por um demônio, concluíram. Quanto a Jesus, julgaram e
condenaram-no porque comia e bebia com todos os tipos de pessoas. O que cobravam no profeta João, condenaram em Jesus. Enfim,
procuravam, por todos os meios, argumentos para rejeitá-los. Na
verdade, suas consciências religiosas estavam incomodadas. O povo
reconheceu o profeta de Deus e foi batizado por João Batista. Agora,
precisam reconhecer o Filho do Homem que fora anunciado por João.
Contradição. Esta é a armadilha que aprisiona os que julgam
e condenam a Deus e sua Palavra. Quem procede assim, não pode
enxergar as maravilhas que Deus revelou através de seu Filho. Maravilhas que estão registradas na história do nascimento, vida, morte e
ressurreição do Santo de Deus.
As pessoas que rejeitam a Palavra e condenam Deus e sua justiça,
fazem-no com o intuito de se inocentarem aos seus próprios olhos.
Terrível contradição!
Deus se revelou através de seus profetas e de seu Filho Jesus para
reconhecermos a verdade eterna e nunca cairmos na armadilha das
contradições de nossa presunçosa sabedoria. Aquele que crê, julga
todas as coisas com o fim não de rejeitar, mas de defender e fortalecer
a sua fé no Senhor Jesus. Natal é fé no Filho de Deus.
Oração
Meu Deus e Senhor, dá-me espírito de discernimento para julgar todas
as coisas e reter a tua verdade que me fortalece para a vida eterna,
em Cristo Jesus. Amém.
Advento
Celebrando o Natal
João 3.31-36
O
s séculos e os milênios passam, porém, a mensagem do Natal
continua a mesma: Jesus veio para salvar e trazer vida eterna.
A Palavra de Deus não usa meios termos. Assim, quem crê em
Jesus já está vivendo esta vida nova, embora ainda não de forma
plena. Enquanto vivemos neste mundo ainda somos atormentados
por agruras e por dificuldades. No entanto, o consolo é que no meio
das dificuldades de hoje já podemos viver a vida eterna. Como?
A nova vida ou vida eterna não começa apenas após a morte. As
Sagradas Escrituras deixam isto bem claro: em toda a sua pregação e
atuação, Jesus deixa antever sinais de vida eterna no nosso mundo.
Isto acontece cada vez que ele fala do Reino de Deus, quando cura
doentes, faz paralíticos caminhar, cegos enxergar, surdos ouvir, coxos
andar; quando sacia a fome de uma multidão faminta, quando perdoa pecados e devolve às pessoas sua verdadeira dignidade diante
de Deus. Todos esses e muito mais sinais claros de vida eterna foram
deixados por Jesus.
Natal lembra que o próprio Deus se fez gente em Jesus Cristo,
que veio para mostrar os sinais de sua presença entre nós. Natal não
é somente a lembrança de um fato ocorrido há dois mil anos, mas
traz Cristo, o Emanuel – Deus conosco – bem próximo de nós mesmos e do nosso mundo. Assim, cada vez que produzimos um sinal
do Reino de Deus – perdoamos alguém, vivemos o amor em todas
as dimensões possíveis, conquistamos pessoas para a comunidade
dos remidos do Senhor, damos atenção a quem está desanimado... –
estamos vivendo valores do Reino de Deus e parte da vida eterna e,
portanto, celebrando o Natal.
Oração
Pai celestial! Mais um Natal em nossa vida podemos celebrar. Pedimos que nos impulsiones e motives para continuarmos no caminho
da vida eterna. Abençoa-nos para podermos perceber o verdadeiro
sentido da vida, que vem de ti. Amém.
Natal
281
Rebento de Jessé
Isaías 11.1-9
U
282
m hino de Natal intitula-se “Brotou-nos um renovo”. Ele é
baseado na profecia que o nosso texto bíblico registra sobre a
humanidade de Jesus. Referindo-se a Jessé, fala-se da linhagem de Davi, pois Jessé é o pai de Davi. Rebento e renovo apontam
para o nascimento. A genealogia constante do primeiro capítulo do
evangelho de Mateus indica como esta linhagem se cumpriu em Jesus.
Além disso, a expressão “Filho de Davi”, referente ao Messias, aparece
muitas vezes nas páginas do Novo Testamento (Cf. Mateus 21.9,15).
A importância desse fato é que ele aponta para Jesus como o
Messias prometido.
Como um rebento ou renovo da linhagem de Davi, Jesus se
tornou um personagem da nossa história. Ele não é um ser fictício,
ou um produto da imaginação humana. Ele é real. Ele é verdadeiro
homem. Nasceu de uma mulher, Maria, num ponto geográfico bem
definido do nosso planeta, em Belém, e num determinado momento
da história universal, no tempo do imperador Augusto, quando Cirêneo era governador da Síria (Cf. Lucas 2.1,2).
Mas, este “rebento de Jessé” também é verdadeiro Deus, pois
nele repousa o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria, de entendimento, de conselho, de fortaleza, do conhecimento e de temor do
Senhor (cf. v. 2).
Assim, o Natal deve continuar sendo festejado em nossos corações, na certeza de que “em Cristo existem a natureza divina e a
humana, e essas duas em uma pessoa, tão unidas como nenhuma
outra coisa” (Lutero). É consolador e seguro festejar um Salvador com
estes atributos que ninguém mais tem!
Oração
Senhor Deus, Pai celestial, aumenta a minha fé em Jesus como verdadeiro Homem e verdadeiro Deus, o “filho de Davi” em quem está
o Espírito divino. Por amor de ti mesmo. Amém.
Natal
A credencial de Cristo
João 5.31-40
S
er reconhecido como enviado de alguém, requer apresentação
de credenciais escritas ou de testemunhos verbais.
Quando a identidade de Jesus estava sendo questionada,
ele foi além da apresentação do seu próprio testemunho e do de seu
antecessor, João Batista. Ele apresentou como credencial de sua divina
procedência e do fato de ser enviado do Pai celestial, as suas obras
de que fora incumbido e que realizou quando aqui esteve.
Isso vemos na celebração das bodas de Caná, ocasião em que
ele realizou a sua primeira obra de manifestação de sua origem: “...
deu Jesus princípio a seus sinais, manifestou a sua glória e os seus
discípulos creram nele” (João 2.11). O evangelista João afirma que
Jesus fez muitos milagres e sinais e acrescenta que os mesmos foram
registrados “para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de
Deus. E para que, crendo, tenham vida por meio dele” (João 20.31).
As obras de Cristo não devem, pois, ser vistas apenas como
manifestação do seu amor pelos desfavorecidos, mas, também, e,
especialmente, como credencial da sua origem divina.
Que o Natal continue fortalecendo em nós a certeza de que o
menino nascido em Belém é o enviado do Pai celestial que nos ama
e, em seu Filho, quer nos salvar. Que isso tenha conseqüências em
toda a nossa vida. Que nenhuma manifestação nossa em favor dos
desfavorecidos tenha outro ponto de partida ou outro ponto de chegada do que a salvação em Jesus Cristo.
Com esta fé no coração, o Natal não acaba, nem para nós nem
para aqueles que convivem conosco.
Oração
Senhor Jesus, tu que vieste do Pai para revelar-nos todo o seu amor,
fortalece-nos nesta fé, a fim de que, nela, a celebração do Natal continue durante todo o ano. Por amor de ti mesmo. Amém.
Natal
283
O jeito de Deus
1 Crônicas 17.15-20,23-27
D
284
avi agradece pela revelação que Deus lhe fizera através do
profeta Natã, que a sua descendência reinaria eternamente
em Israel. As palavras usadas pelo profeta, que fala em nome
de Deus, mostram uma das características exclusivas de Deus: o seu
jeito simples, querido e amistoso de se revelar.
A revelação feita dessa forma motiva a oração de agradecimento
de Davi, na qual agradece por toda a confiança que Deus nele depositara. Mas também não esquece de lembrar que não merece tudo
o que recebeu e está recebendo. Assim, o Deus que se revela a Davi
é o Deus da graça, que dá de graça, também, e especialmente, para
aqueles que não merecem. É o mesmo Deus que se tornou gente em
Jesus Cristo, o Rei eterno, descendente de Davi; Deus é fiel e cumpre
todas as suas promessas.
Deus conhecia Davi, com todos os seus pecados e limitações
e mesmo assim não o rejeitou. Muito pelo contrário, confiou-lhe o
Reino eterno, através do seu descendente Jesus. Assim é o nosso Deus:
amistoso e querido; o Deus da graça, que nos conhece com profundidade e muita transparência e mesmo assim não nos rejeita, mas
nos aceita como seus filhos, faz-nos herdeiros do seu Reino eterno.
Que a fé no Deus da graça, que dá de graça em Jesus Cristo,
mesmo para aqueles que não merecem, nos motive a agradecer e
louvar. E que nosso agradecimento e louvor se manifestem em ação
concreta, através do nosso engajamento e da nossa bondade em
relação às pessoas.
Esta é uma mensagem própria, principalmente para o Terceiro
Mundo e o contexto latino-americano, onde as pessoas vivem angustiadas e sem esperança.
Oração
Deus, em tua simplicidade e ternura te revelas numa simples criança.
Falaste ao rei Davi. Continua falando a nós. Anima-nos a estudar e
ouvir a tua santa Palavra. Dá que em fé e esperança sejamos tuas
servas e teus servos. Amém.
Natal
Deus amou ao mundo e a mim
João 3.16-21
O
uvir da parte de Deus uma proposta carinhosa como esta é
uma grande oportunidade. Quem a ouve e a assimila através da fé, pode ter certeza de que é amado e aceito. Não
precisa mais andar errante, à procura de aceitação e autoconfirmação. Deus ama o mundo e a mim! Ouvir esta promessa é motivo de
louvor e gratidão.
Deus amou o mundo e a mim... Esta certeza tem alguma conseqüência na nossa vida? Ouvimos bem estas palavras? Entendemos
que elas também contêm um desafio?
Paulo Freire, educador brasileiro, internacionalmente conhecido,
chegou a criar o binômio “palavra-ação”. Isto significa, palavra transformada em ação! Esta é a conseqüência para alguém que assimilou
a certeza que vem da palavra de que Deus amou o mundo e a mim.
Pessoas libertadas pelo amor de Deus estão livres da busca de libertação, da constante procura por autoconfirmação e não precisam mais
se envolver tão intensamente consigo mesmas. Por isso, para pessoas
libertas pelo amor de Deus em Jesus Cristo, o caminho está aberto
para os outros, para transformar a palavra da libertação em ação.
Nesta caminhada, a Igreja de Jesus Cristo, presente nas mais
diversas denominações, não cessou de investir. Catecismos e outros
textos, editados no decorrer da história, serviram a este propósito:
ensinar e aprender a Palavra de Deus, interpretá-la criativamente,
transformá-la em ação concreta.
E isso precisa continuar acontecendo. O jeito de Deus falar conosco, de dizer que ele nos ama, precisa ser levado adiante nesta era
da informática e da Internet. Isso liberta e dá sentido à vida!
Oração
Deus bondoso e amável, somos agradecidos porque vens a nós e nos
amas tanto. Teu Filho amado quer se tornar uma Palavra-ação neste
mundo complicado. Abençoa-nos e permite que possamos dizer a
todos que tu os amas em Jesus Cristo. Amém.
Natal
285
Como é grande o amor do Pai!
1 João 3.1-6
V
286
ivemos numa época de expectativa e muitas dúvidas. A única
certeza que o mundo nos oferece é que o tempo passa e nós
passamos com ele. Mas é só isso que temos? É só isso que
somos?
O apóstolo João, na referência bíblica acima, ensina a viver com
alegria, segurança e esperança. Ele aponta para a grande certeza, que
alegra e dá segurança ao nosso viver aqui no mundo: somos filhos
de Deus! Esta condição não é uma conquista nossa. Somos seus filhos porque o Pai nos escolheu e nos adotou, através de Jesus Cristo,
como sinal do seu grande amor. Este amor ultrapassa os limites dos
nossos dias aqui na terra. Na presente vida ou na eternidade, somos
protegidos pelo Pai que nos abraça e nos protege.
Sabendo disso, venha o que vier, seja como for, podemos olhar
para o futuro com esperança. O nosso modelo é o Filho de Deus, Jesus
Cristo. Nele, seremos aperfeiçoados. E é em direção à perfeição que
caminhamos. Não estamos, portanto, caminhando para um futuro
incerto, mas temos um alvo. Por isso, mesmo vivendo num mundo
onde os dias, os anos, os séculos e os milênios se somam, onde tudo
passa e a nossa morte é certa, resta-nos o grande consolo do apóstolo
João: “Porém sabemos isto: quando Cristo aparecer, ficaremos parecidos com ele, pois o veremos como ele realmente é” (v. 2b).
Unidos com Jesus, e na certeza de que somos filhos amados de
Deus, não nos assustemos com as incertezas dos novos tempos. Diante
da transitoriedade do tempo e da curta duração da nossa vida, restanos o grande consolo de que em quaisquer circunstâncias, estamos
nas mãos do Senhor e ele não nos deixa cair! “Vejam como é grande
o amor do Pai por nós!” (v. 1).
Oração
Senhor Deus, observamos o passar dos anos e cremos que tu és Deus
Eterno. Aqui vivemos na certeza de que somos teus filhos amados,
aguardando o maravilhoso dia em que seremos semelhantes a Jesus
na glória celestial. Alegra o nosso viver. Amém.
Natal
Colaboraram nesta edição
Acir Raymann
Albérico Baeske
Aldemis R. Cunha
Alex L. Baumbach
Anelise L. Abentroth
Ari Gueths
Ari Lange
Armindo L. Müller
Arnildo Schneider
Arno Bessel
Astomiro Romais
Augusto Kirchhein
Baldur v. Kaick
Breno C. Tomé
Breno I. O. Faber
Carlito Gerber
Carmen C. O. Gonçalves
Christian Hoffmann
Clovis H. Lindner
Curt Albrecht
Darci Drehmer
Deomar Roos
Dieter J. Jagnow
Dietmar Teske
Edgar Lemke
Edgar Züge
Egídio Grün
Egon Kopereck
Egon M. Seibert
Elpídio C. Hellwig
Ely Prieto
Enio Mueller
Erni W. Seibert
Eugênio Wentzel
Friedrich Gierus
Gerhard Grasel
Gerson L. Linden
Godofredo G. Boll
Günter K. F. Wehrmann
Haroldo Reimer
Heitor J. Meurer
Hermann L. Mühlhäuser
Homero S. Pinto
Hugo S. Westphal
Ilse E. Gans
Iracy D. Hoffmann
Irmo Wagner
Ivoni R. Reimer
Jaime Kuck
Jairo G. F. Cruz
João C. Tomm
Jonas R. Flor
Leopoldo Heimann
Lígia M. Albrecht
Lothar C. Hoch
Luisivan V. Strelow
Manfred W. Hasenack
Manfredo Sielge
Marcos Bechert
Mário Sonntag
Marli Brun
Martim C. Warth
Martin N. Dreher
Martin Weingaertner
Martinho L. Hoffmann
Meinrad Piske
Mozart J. de N. Melo
Neida I. A. Sander
Nélio Schneider
Nelson Kilpp
Nilo B. Kolling
Norberto E. Heine
Oneide Bobsin
Oscar M. Lehmann
Oscar M. Zimmermann
Osmar L. Witt
Osmar Zizemer
Paulo A. Butzke
Paulo E. Jung
Paulo F. Flor
Paulo K. Jung
Paulo M. Nerbas
Paulo P. Weirich
Raul Blum
Reinaldo M. Ludke
Renato Hoerlle
Ricardo W. Rieth
Robert E. Zwetsch
Roberto N. Baptista
Rolf Droste
Romeu R. Martini
Silfredo B. Dalferth
Sílvia B. Genz
Sílvio Meincke
Valdemar Lückemeier
Vânia M. Klen
Verner Hoefelmann
Vilmar Abentroth
Waldo L. César
Walter Altmann
Walter J. Mormello
Wilfrid Buchweitz
Yedo Brandenburg
Índice de referências bíblicas
Gênesis
1.1
75
1.1,5c,7c,13c,19b,
23b...
83
1.27-28a
34
1.32
137
2.2
17
2.7
77
2.18
40
3.1-13
171;184
3.23-24
69
4.6-7
194
4.15-16
38
11.1-9
174
13.5-13
49
22.1-19
183
25.27-34
58
49.33-50.1
33
50.15-21 151;179
50.20
204
Êxodo
12.1-14
231
20.5-6
23.1-2
Levítico
19.18
24.15
25.23-24
25.35-38
Números
11.31-32
70
48
22
11
46
50
160
Deuteronômio
4.13
5
6.5
6
6.8-9
68
6.13
12
18.10-12
13
26.5-10
73
Josué
7.1
1 Samuel
15.24-25
59
182
2 Samuel..................
7.13
127
11
60
1 Reis.........................
21.1-16
62
1 Crônicas ...............
17.15-20,23-27 284
Esdras........................
10.1-19
250
Neemias ...................
9.19-20
80
Jó................................
1
152
Salmos
9.10
134
37.3-4
40.12-13
51.10-13
103
103.1
133
136.1a,25
63
203
259
84
15
20
161
Provérbios
1.10
16.6
18.10
18.22
31.8-9
192
257
135
45
55
Eclesiastes
3.11a
16
Isaías
6.3
10;128
11.1-9
282
38.1-9
119
40.1-8(9-11)
274
58.13-14
18
66.13
122
Jeremias
10.6
23.31
136
14
Ezequiel
22.16
132
Oséias
14.6-10
279
Miquéias
2.1-5,12-13
263
Habacuque
2.1-4
262
Malaquias
2.10
78
Mateus
1.21
3.9
3.1-12
3.13-17
3.16-17
4.1-4
4.8-9
5.13-16
5.21-22
5.27-28
5.37
5.45b
6.7
6.9-13
6.14-15
6.24
6.25-27
6.33
7.6
7.7-8
7.21-23
7.24-27
9.1-2
9.3-7
11.1-6
11.11-15
11.28
13.1-9(10-23)
13.24-28a
85
149
276
214
210
170
188
145
35
42
54
167
118
124
180
9
81
147
220
117
57
26
196
197
139
275
244
141
195
13.24-30(36-43)
13.31-32
13.47-50
16.16-17
18.6-7
18.15
18.16
18.21-22
24.1-14
24.36-39
25.14-30
25.31-46
25.42-43
26.14-16
26.26
26.27b
26.28
26.47-56
28.16-19
28.20
142
144
143
105
191
53
221
178
273
101
51
102
36
56
235
247
240
91
222
229
Marcos
1.15
4.26-29
9.24
10.6-9
10.9
10.13-16
14.12-16
14.22-26
16.16
138
140
133
43
41
228
232
233
213
Lucas
1.35
3.1-14
6.46
7.29-35
10.27
11.1b
86
277
131
280
148
116
12.16-21
15.18-19
15.21
17.20-21
18.9-14
19.12-13
21.25-36
22.16
22.19
22.40
23.1-5
23.34a
23.42-43
23.44-49
23.50-56
24.1-4
24.1-12
24.50-53
8
252
253
108
242
82
261
241
236
185
92
176
181
94
95
21
97
98
João
1.1-3
1.14
3.5
3.6
3.16
3.16-21
3.31-36
5.17
5.31-40
6.1-14
6.5
6.11
8.7b
8.12
8.31-32
8.47
9.2-3
10.10
11.35-36
89
88
146
172
114
285
281
79
283
169
159
168
177
209
109
19
202
113
166
14.15-16
15.16
17.17
18.33-38
20.22-23
20.28
Atos
1.5
2.38
2.42
2.46-47
8.37-38
10.44-48
13.15-25
14.22
16.32-33
18.3
Romanos
3.21-26
3.22-26
6.4
6.4-11
6.5-11
6.20-23
7.7
7.14-25
8.15
10.16-17
11.36
13.1,4
13.4
1 Coríntios
3.16-17
4.15
10.13
10.16
104
201
130
266
256
90
10.17
11.17-22
11.24
11.26
12.12
13.13
225
218
234
110
211
226
278
198
217
162
2 Coríntios
2.15
5.15
5.17 5.18a
12.9
Gálatas
3.23-25
3.27
5.22
175
72
219
215
112
216
66
150
121
106
205
29
37
28
25
187
237
238
245
207;239
246;248
30;243
44
27
103
224
208
158
71
223
260
Efésios
3.14-15
3.20
4.5
4.11-16
4.32
6.2-3
6.5,9
6.10-13
6.11
6.13
126
123
227
230
111
32
31
156
189
193
Filipenses
1.6
Colossenses
1.13
1.16
3.5-7
3.18-20
1 Tessalonicenses
4.3
157
4.13-18
100
5.17
115
2 Tessalonicenses
3.10
120
1 Timóteo
2.2
2.4
4.6-10
6.8
6.9-10
6.10
164
154
129
165
47
199
2 Timóteo
3.14-15
24
Tito
3.5
212
Filemom
1-25
64
107
Hebreus
1.3
3.12-14
4.2
6.9-12
10.19-23
11.1
13.17
99
249
258
268
265
74
23
96
76
186
163
Tiago
1.6-7
1.14-15
4.11
4.12
206
61
52
67
4.17
5.16
173
254
1 Pedro
1.13-17
1.18
5.8
65
93
153
1 João
1.8
1.9-10
3.1
3.1-6
3.15-16
4.7-21
5.20
251
255
125
286
39
155
87
Apocalipse
2.1,3-7
2.1-7
3.7-13
3.10
3.14-22
5.1-14
19.5
21.1-5
22.12-13,17,
20-21
271
269
270
190
272
267
7
200
264
Sumário
Apresentação Mandamentos 3
5-72
Da opressão para a liberdade
Deuteronômio 4.13
5
Como você se relaciona com Deus? Deuteronômio 6.5
6
Temer a Deus
Apocalipse 19.5
7
Cumprir o Primeiro Mandamento Lucas 12.16-21
8
Quem é nosso Deus?
Mateus 6.24
9
O santo nome de Deus
Isaías 6.3
10
Não amaldiçoar
Levítico 24.15
11
Jurar, praticar a feitiçaria...
Deuteronômio 6.13
12
Exclusividade para Deus
Deuteronômio 18.10-12 13
O nome de Deus é usado para
mentir e enganar
Jeremias 23.31
14
Deus me livre! Graças a Deus!
Salmo 103.1
15
Tempo com Deus
Eclesiastes 3.11a
16
Descanso é uma dádiva de Deus Gênesis 2.2
17
Santificação do tempo
Isaías 58.13-14
18
Dia do Senhor
João 8.47
19
Comunidade
Salmo 133
20
Domingo – Ressurreição
Lucas 24.1-14
21
Nós e o próximo
Levítico 19.18
22
Pai, mãe, mestres: servos de Deus Hebreus 13.17
23
Alguém não se esqueceu...
2 Timóteo 3.14-15
24
Não há senhor nem escravo!
1 Coríntios 4.15
25
A Palavra de Deus edifica a família Mateus 7.24-27
26
O bom perfume perdura
2 Coríntios 2.15
27
Família – santuário de Deus
1 Coríntios 3.16-17
28
Governo – Pai da Pátria, servo
de Deus
Romanos 13.1,4
29
Muitos membros, mas um só corpo1 Coríntios 12.12
30
Patrões e empregados servem
ao Senhor
Efésios 6.5,9
31
A promessa de qualidade de vida Efésios 6.2-3
32
O profundo amor que une
os filhos de Deus
Gênesis 49.33-50.1
33
Vida – um dom de Deus
Gênesis 1.27-28a
34
Não causar dano
Mateus 5.21-22
35
Favorecer nas necessidades
Mateus 25.42-43
36
Direito de punir
Romanos 13.4
Direito de matar
Gênesis 4.15-16
Quem odeia é assassino
1 João 3.15-16
União e complementação
Gênesis 2.18
Meu filho – minha vida
Marcos 10.9
Cavalo amarrado também pasta! Mateus 5.27-28
Vidas divididas
Marcos 10.6-9
A base sólida
1 Coríntios 13.13
Bênção matrimonial
Provérbios 18.22
Liberdade para ser honesto
Levítico 25.23-24
Muitas maneiras de roubar
1 Timóteo 6.9-10
Roubo institucionalizado
Êxodo 23.1-2
A verdadeira ajuda
Gênesis 13.5-13
O amor de Deus ou o ídolo mercado?Levítico 25.35-38
Administrar com responsabilidade Mateus 25.14-30
Também os cristãos são
fofoqueiros – cuidado!
Tiago 4.11
Vocês são diferentes
Mateus 18.15
Falar a verdade, naturalmente
Mateus 5.37
A favor do injustiçado
Provérbios 31.8-9
Traição
Mateus 26.14-16
Coerência entre palavra e ação
Mateus 7.21-23
Puxaram o tapete de Esaú?
Gênesis 25.27-34
Crime de apropriação indébita
Josué 7.1
Cobiça, adultério e morte
2 Samuel 11
Os maus desejos Tiago 1.14-15
Negócio fraudulento
1 Reis 21.1-16
Confiar e fazer
Salmo 37.3-4
Querido irmão
Filemom Santidade acima da Lei!
1 Pedro 1.13-17
Os mandamentos abrem os olhos
para o pecado
Romanos 7.7
Os Dez Mandamentos, para quê? Tiago 4.12
Quem consegue cumprir
os mandamentos?
Deuteronômio 6.8-9
Vale a pena observar
os mandamentos?
Gênesis 3.23-24
Conseqüências espirituais na família
20.5-6
70
A Lei e os rebocadores
Gálatas 3.23-25
Mandamentos não salvam
Romanos 3.22-26
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
61
62
63
64
65
66
67
68
69
Êxodo
71
72
Credo Apostólico
Credo, o que é isso? Eu creio. Você crê?
Deus disse...
O que você tem que não recebeu
de Deus?
Cada novo ser é criação única
de Deus
Somos todos irmãos!
Deus criador e conservador
Meu Deus, meu protetor!
Deus, o Pai misericordioso
Deus dá os dons e os conserva
Deus criador?
Graças a Deus
O Mandado
Nasceu do Espírito Santo X DNA
Verdadeiro Deus
Um Deus concreto
Jesus, Deus eterno
Jesus é nosso Senhor
Ele é preso
Ele é acusado
Com seu precioso sangue
Foi morto
Foi sepultado
Desceu ao inferno
Ressuscitou dos mortos
Subiu ao céu
Ele governa com o Pai
Encontro marcado
Tempo de oportunidade
Vocês foram me visitar
De inimigos a amigos de Deus
A ajuda de Deus
Não é difícil acreditar!
O Espírito Santo chama
pelo Evangelho
O Espírito Santo aperfeiçoa!
Creio na santa Igreja cristã
73-114
Deuteronômio 26.5-10
Hebreus 11.1
Gênesis 1.1
73
74
75
Colossenses 1.16
76
Gênesis 2.7
77
Malaquias 2.10
78
João 5.17
79
Neemias 9.19-20
80
Mateus 6.25-27
81
Lucas 19.12-13
82
Gênesis 1.1c,5c,7c,
13c,19b,23b
83
Salmo 103
84
Mateus 1.21/Atos 10.38 85
Lucas 1.35
86
1 João 5.20
87
João 1.14
88
João 1.1-3
89
João 20.28
90
Mateus 26.47-56
91
Lucas 23.1-5
92
1 Pedro 1.18
93
Lucas 23.44-49
94
Lucas 23.50-56
95
Colossenses 1.13
96
Lucas 24.1-12
97
Lucas 24.50-53
98
Hebreus 1.3
99
1 Tessalonicenses 4.13-18 100
Mateus 24.36-39
101
Mateus 25.31-46
102
2 Coríntios 5.15
103
João 14.15-16
104
Mateus 16.16-17
105
Romanos 10.16-17
Filipenses 1.6
Lucas 17.20-21
106
107
108
A verdadeira Igreja
Comunhão dos santos
Perdão
Lutar e ressuscitar
O milagre de uma vida completa
Confiar Pai Nosso
João 8.31-32
Atos 2.46-47
Efésios 4.32
Romanos 6.5-11
João 10.10
João 3.16
109
110
111
112
113
114
115-206
A ordem é orar
1 Tessalonicenses 5.17
Senhor, ensine-nos a orar!
Lucas 11.1b
Quem pede, recebe!
Mateus 7.7-8
Orar com o coração
Mateus 6.7
Oração e ação
Isaías 38.1-9
Mantendo o equilíbrio 2 Tessalonicenses 3.10
Pai!
Romanos 8.15
Querido Pai
Isaías 66.13
Pai nosso que estás nos céus
Efésios 3.20
Falar com Deus
Mateus 6.9-13
Os braços compridos de Deus
1 João 3.1
Olhar no coração do Pai
Efésios 3.14-15
Deus e o nome de Deus
2 Samuel 7.13
Mistério maravilhoso: Deus é santo! Isaías 6.3
Tornar santo o nome
de Deus – como? 1 Timóteo 4.6-10
Pregação pura da Palavra
João 17.17
Santificar através de palavras e ações Lucas 6.46
Profanação do nome de Deus
Ezequiel 22.16
Santificado seja o teu nome
entre nós!
Marcos 9.24
Em tuas mãos me entrego confiante Salmo 9.10
Tu me proteges, Senhor
Provérbios 18.10
O poder que liberta
Jeremias 10.6
O Reino de Deus é muito bom Gênesis 1.32
João Batista anuncia o Reino de Deus Marcos 1.15
Sinais do Reino de Deus
Mateus 11.1-6
O Reino cresce por si Marcos 4.26-29
Deus semeia muito!
Mateus 13.1-9(10-23)
Reino de Deus e reino do mundo
estão misturados
Mateus 13.24-30(36-43)
A seleção compete a Deus
Mateus 13.47-50
A potencialidade do Reino de Deus
no mundo
Mateus 13.31-32
115
116
117
118
119
120
121
122
123
124
125
126
127
128
129
130
131
132
133
134
135
136
137
138
139
140
141
142
143
144
Participamos na construção
do Reino!
Mateus 5.13-16
Aqui e na eternidade
João 3.5
Que venha a nós o Reino
de Deus
Mateus 6.33
Vontade de Deus
Lucas 10.27
A vontade de Deus se cumprirá
Mateus 3.9
Nossa situação
Romanos 7.14-25
A boa vontade de Deus prevalece Gênesis 50.15-21
Deus limita a vontade de Satanás Jó 1
A luta feroz
1 Pedro 5.8
O propósito de Deus
1 Timóteo 2.4
Que a vontade de Deus aconteça
entre nós!
1 João 4.7-21
É preciso combater o mal
Efésios 6.10-13
Deus quer que sejamos santos!
1 Tessalonicenses 4.3
O que Deus quer?
2 Coríntios 12.9
Deus e as necessidades físicas
João 6.5
Comida e bebida
Números 11.31-32
Casa e lar
Salmo 136.1a,25
Deus supre meios de sobrevivênciaAtos 18.3
Família piedosa
Colossenses 3.18-20
Bom governo é essencial para a vida! 1 Timóteo 2.2
Deus dá e preserva a vida
1 Timóteo 6.8
Juntos para o que der e vier
João 11.35-36
Merecedores ou não, Deus dá
Mateus 5.45b
Obrigado pelo pão de cada dia! João 6.11
Onde Jesus é Senhor, não falta pão João 6.1-14
Não só de pão vive o ser humano Mateus 4.1-4
Pecado é desobediência a Deus
Gênesis 3.1-13
Pecado original
João 3.6
Pecado atual
Tiago 4.17
As conseqüências evitáveis
Gênesis 11.1-9
O perdão de Deus
Romanos 3.21-26
Pedindo perdão ao inimigo
Lucas 23.34a
Ninguém está livre do pecado
João 8.7b
Perdoar sempre
Mateus 18.21-22
Perdoar sim, esquecer nunca!
Gênesis 50.15-21
É perdoando que se é perdoado Mateus 6.14-15
Perdão e nova vida
Lucas 23.42-43
Pedir perdão, um gesto
de humildade
1 Samuel 15,24-25
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Tentação ou prova?
Tentação
Deus não tenta ninguém!
A luta contra a carne
Lutando contra a tentação
Vencendo o poder do mundo
O poder do Diabo
Prêmio pela vitória: a coroa da vida
Ai dos que provocam escândalo!
Resista à tentação!
Prevenção contra a tentação
Todos somos tentados sempre
De onde veio o joio?
Somos maus?
A libertação é palpável
Cristão também sofre
A cobiça desvia da fé
Para junto de Deus, no céu
Oração ou negociata?
O mal nem sempre é castigo
O mal nos rodeia sempre
Mas livra-nos do mal
Pois teu é o Reino, o poder
e a glória para sempre
Amém
Sacramentos
Que é um sacramento?
Amor de Deus “assa”
Deus acende luzeiros na sua luz
Batismo
Palavra e água
Batismo e fé
O que salva
Batismo e salvação
Batismo e remissão dos pecados
Batismo liberta da morte
O Batismo dá salvação eterna
O Batismo introduz na família cristã
Gênesis 22.1-19
Gênesis 3.1-13
Lucas 22.40
Colossenses 3.5-7
1 Coríntios 10.13
Mateus 4.8-9
Efésios 6.11
Apocalipse 3.10
Mateus 18.6-7
Provérbios 1.10
Efésios 6.13
Gênesis 4.6-7
Mateus 13.24-28a
Mateus 9.1-2
Mateus 9.3-7
Atos 14.22
1 Timóteo 6.10
Apocalipse 21.1-5
João 15.16
João 9.2-3
Salmo 40.12-13
Gênesis 50.20
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Romanos 11.36
Tiago 1.6-7
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1 Coríntios 11.24
2 Coríntios 5.18a
João 8.12
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210-230
Mateus 3.16-17
Atos 8.37-38
Tito 3.5
Marcos 16.16
Mateus 3.13-17
Romanos 6.4-11
Romanos 6.20-23
Atos 16.32-33
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Vida cristã é o Batismo continuado Atos 2.38
Imersão na água: morrer
e ressuscitar
Romanos 6.4
Qual barco singra pelo mar,
a Igreja do Senhor...
Mateus 7.6
Padrinhos e madrinhas Mateus 18.16
Travessia em barco seguro
Mateus 28.16-19
O poder da união com Cristo
Gálatas 3.27
Parecer ou ser uma nova pessoa? 2 Coríntios 5.17
O Batismo do Espírito Santo
Atos 1.5
O Batismo e o Espírito Santo
Atos 10.44-48
Um só Batismo! Efésios 4.5
As crianças e o Batismo
Marcos 10.13-16
Batismo e ensino Mateus 28.20
Confirmar e ser confirmado
Efésios 4.11-16
Santa Ceia
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A ceia da libertação
Êxodo 12.1-14
Páscoa – a vida tem a última palavra Marcos 14.12-16
O mistério de Deus presente
na Santa Ceia
Marcos 14.22-26
Santa Ceia na Igreja cristã primitivaAtos 2.42
Pão e vinho – corpo e sangue
Mateus 26.26
Isto é o meu corpo
Lucas 22.19
Comunhão com Cristo
1 Coríntios 10.16
Comunhão entre irmãos
1 Coríntios 10.17
Em memória de mim
1 Coríntios 11.24
Santa Ceia e remissão dos pecados Mateus 26.28
Santa Ceia e fé
Lucas 22.16
É digno quem se considera indigno! Lucas 18.9-14
Santa Ceia – comunhão com todos! 1 Coríntios 12.12
Que venham todos!
Mateus 11.28
Prepare-se para participar
da Santa Ceia!
1 Coríntios 11.17-22
Quantas vezes devo participar
da Santa Ceia?
1 Coríntios 11.26
As crianças e a Santa Ceia
Mateus 26.27b
A Ceia do Senhor e a ceia celeste 1 Coríntios 11.26
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Confissão dos pecados Pecado e pecados Confissão dos pecados
Eu, pecador?
Pecados particulares e coletivos
Livres para confessar pecados
Confissão pública e particular
Confessar pecados conscientes
e inconscientes
Direito de perdoar pecados
Ser perdoado é bom, aceitar
o perdão é melhor!
Excluir ou incluir?
A alegria do liberto do pecado
Frutos do arrependimento
Advento
Fiquem vigiando!
Encontro com o Salvador
Avalie sua vida!
Na angústia, o Princípio e o Fim!
É tempo de festa
Sim à verdade
Não chore. Olhe!
Morrer por amor
Quem tem ouvidos...
Deus não tem hora
O jardim de Deus
Porta aberta
O sinal que esperamos Pecadores aceitos por Cristo
A nossa missão
Arrependimento
O que devemos fazer?
Vem, Jesus!
Infidelidade e perdão
Terrível contradição
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Hebreus 3.12-14
Esdras 10.1-19
1 João 1.8
Lucas 15.18-19
Lucas 15.21
Tiago 5.16
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1 João 1.9-10
João 20.22-23
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Provérbios 16.6
Hebreus 4.2
Salmo 51.10-13
Gálatas 5.22
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261-280
Lucas 21.25-36
Habacuque 2.1-4
Miquéias 2.1-5,12-13
Apocalipse 22.12-13,
17,20-21
Hebreus 10.19-23
João 18.33-38
Apocalipse 5.1-14
Hebreus 6.9-12
Apocalipse 2.1-7
Apocalipse 3.7-13
Apocalipse 2.1,3-7
Apocalipse 3.14-22
Mateus 24.1-14
Isaías 40.1-8(9-11)
Mateus 11.11-15
Mateus 3.1-12
Lucas 3.1-14
Atos 13.15-25
Oséias 14.6-10
Lucas 7.29-35
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Natal
Celebrando o Natal
Rebento de Jessé
A credencial de Cristo
O jeito de Deus
Deus amou ao mundo e a mim
Como é grande o amor do Pai!
281-286
João 3.31-36
281
Isaías 11.1-9
282
João 5.31-40
283
1 Crônicas 17.15-20,23-27284
João 3.16-21
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1 João 3.1-6
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