A importância da integração da Engenharia e Arquitetura

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A importância da integração da Engenharia e Arquitetura
A importância da integração da Engenharia e Arquitetura desde a Concepção dos Projetos
Julho/2016
A importância da integração da Engenharia e Arquitetura desde a
Concepção dos Projetos.
Fernanda Caroline Guollo Volf – [email protected]
MBA Projeto, Execução e Controle de Estruturas e Fundações
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Querência/ MT, 08 de Agosto de 2015
Resumo
O presente artigo trata de uma análise da importância da integração entre engenharia e
arquitetura na fase que antecede o Projeto, a Concepção, mostrando a evolução histórica das
construções, pontuando a necessidade dessa integração. Era prática comum construir sem
projetos, desde a antiguidade algumas obras eram construídas sem conhecimento de boas
técnicas, algumas desabavam antes mesmo de serem acabadas, já outras construções
grandiosas eram concebidas com tecnologias à frente do seu tempo, que servem como
inspiração até os dias de hoje para a Engenharia e Arquitetura. Apesar de perceber, com o
sucesso ou fracasso das obras na antiguidade, que a Engenharia e a Arquitetura trabalham
bem juntas, atualmente como disciplina acadêmica e como profissão, ainda encontram-se
distanciadas na maneira de projetar e de dar andamento à obra. Precisa-se, no entanto,
haver compatibilização entre os projetos para que a obra seja executada de maneira eficaz e
econômica. Uma boa integração dessas duas áreas de conhecimento na Concepção do
Projeto pode ser vista como resultado nos trabalhos de grandes profissionais como: Santiago
Calatrava, Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, entre outros, e são através de bons
exemplos que se devem continuar procurando a integração contínua entre esses dois
profissionais.
Palavras-chave: Concepção Arquitetônica, Engenharia, Compatibilização.
1.
Introdução
É possível afirmar que a arquitetura se desenvolveu no início da civilização humana, com a
necessidade de abrigo das sociedades primitivas. Assim também surgiu a engenharia que está
presente em todas as ramificações da sociedade, sendo essencial para o bom funcionamento
da vida em comunidade. Como a engenharia e a arquitetura estão diretamente relacionadas
com a história evolutiva da humanidade, elas também se desenvolveram e foram aprimoradas
com o tempo e com as necessidades de cada época.
De acordo com Wengerkiewicz, na Antiguidade não havia o cálculo ou o projeto estrutural, os
projetos eram realizados na base da tentativa, muitas vezes aprendia-se pelo erro, fazendo
com que as obras demorassem centenas de anos para serem finalizadas, em alguns casos elas
desabavam até mesmo pelo seu peso próprio, antes de serem acabadas. A única alternativa
então era recomeçar a construção, consertando os erros que imaginava-se ter ocorrido. O
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desmoronamento da pirâmide de Meidum, por exemplo, ensinou os construtores a
importância das fundações.
Apesar de haver pouco conhecimento estrutural, pôde-se perceber a concepção de edificações
ricas em matéria Arquitetônica e Estrutural desde a antiguidade. Algumas construções se
destacavam, deixando dúvidas quanto às técnicas utilizadas, como exemplo podemos citar as
Pirâmides que foram construídas entre 2800 e 2400 a.C., a Grande Muralha da China, entre
outros. (Figura 01 e Figura 02).
Figura 01 - Da Esquerda para Direita: Pirâmide de
Miquerinos, Quéfren e Queóps
Fonte: http://www.assombrado.com.br/2014/09/aspiramides-de-gize-quem-fez-qual.html
Figura 02 - Grande Muralha da China
Fonte: http://media.escola.britannica.com.br/ebmedia/80/75880-050-64E7F0E4.jpg
Com o passar dos anos novos materiais foram surgindo, com maior resistência, duração e
aparência estética. A Revolução Industrial, no final do século XVII, contribuiu para que esses
novos materiais pudessem ser produzidos em massa, com maior qualidade e com menor
custo. Contribuindo para as técnicas de Arquitetura e Engenharia que conhecemos
atualmente. Com essa evolução o homem começou a se dedicar a novas descobertas, foi então
que começou a surgir grandes obras.
O problema abordado está relacionado com a importância que o estudo de Engenharia e
Arquitetura em conjunto, pode resultar em um bom projeto, destacando economia,
funcionalidade e estética.
Buscando responder esse questionamento que a hipótese é levantada, onde os projetos de
engenharia e arquitetura caminham juntos, podem ser observados uma maior quantidade de
elementos que valorizam a construção.
Com base nisso os objetivos desse estudo estão divididos em geral e específicos, o primeiro é
identificar a importância de se construir com um maior conhecimento Arquitetônico e
Estrutural, demonstrar através de obras da antiguidade que utilizaram-se desses conceitos
mesmo antes de conhecê-los. Os objetivos específicos são: Descrever a importância da
Compatibilização de projetos e os problemas quando não se compatibiliza; Demonstrar
através de projetos onde desde a Concepção pensou-se nos elementos que compõe à
construção, principalmente o estrutural.
Para o desenvolvimento do trabalho foi realizado um estudo das obras da antiguidade que
apresentaram falhas em sua contrução, assim como as obras tidas como referência no
conhecimento de matérias multidiciplinares, à frente do seu tempo. Uma delas foi analisada e
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apresentada as suas curiosidades da sua construção, destacando a importância na área da
Arquitetura e Engenharia.
No decorrer do trabalho procurou-se apresentar a relação entre a Engenharia e Arquitetura na
Concepção dos Projetos, enfocando a necessidade e a importância da compatibilização das
duas disciplinas para o bom funcionamento da obra e sua execução, mostrando a
multidiciplinaridade de suas funções. Também mostrando soluções de projetos encontradas
por profissionais habilitados ou com conhecimento nas duas áreas, agregando valor
Arquitetônico e Estrutural evidentes.
Sendo assim o trabalho visa abordar este tema que é de grande valia, tanto para os
profissionais que estão diretamente relacionados com o projeto e execução da construção,
assim como para os empresários da construção, proprietários dos imóveis e usuários,
buscando uma maior integração entre eles para que os custos e prazos sejam minimizados.
2. Construções na Antiguidade
Conforme Pennick (2002) a Pirâmide de Meidum foi um desastre. Considerada a primeira
pirâmide verdadeira, segundo o autor, Kurt Mendelssohn no seu livro The Riddle of the
Pyramids afirma que a partir da configuração do cascalho que circunda o centro dessa
pirâmide em ruínas, que ela desmoronou ainda durante a sua construção, ainda diz que o
acabamento imperfeito e a natureza inovadora da pirâmide contribuiu para o seu colapso
repentino. Como lição das falhas diagnosticadas nessa pirâmide construiu-se novas pirâmides
maiores e que resistiram ao tempo até os dias atuais.
Dentre todas as construções da antiguidade a mais notável delas é a Pirâmide de Quéops, a
maior das três Pirâmides de Gizé, (Figura 03). Essa obra majestosa é conhecida como a
Grande Pirâmide ou Pirâmide de Khufu, se destaca principalmente pelo uso de conhecimentos
à frente do seu tempo.
Figura 03 - Pirâmide de Queóps, Grande Pirâmide ou Pirâmide de Khufu.
Fonte: http://www.assombrado.com.br/2014/09/as-piramides-de-gize-quem-fez-qual.html
Considerada uma das maravilhas do mundo antigo, as grandes pirâmides de Gizé: Quéops,
Quéfrem e Miquerinos; sobreviveram até os dias de hoje estruturalmente intactas, tendo
perdido apenas parte de seu revestimento nesses 4.500 anos.
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Durante séculos a humanidade se pergunta como essas enormes construções foram erguidas,
sabe-se que na época de sua construção dispunha-se de tempo e de mão de obra, de acordo
com o historiador Heródoto mais de 100.000 homens trabalharam na construção da Grande
Pirâmide que levou cerca de 20 anos para ser concluída. Sua altura original era de 146,60
metros, mas atualmente é de 137,16 m, pois falta parte do seu topo e o revestimento. É
constituída por aproximadamente 2,3 milhões de blocos de rocha, cada pedra em média,
pesava 2,5 toneladas.
Outra característica impressionante é a precisão "topográfica" dessas construções. O ângulo
de inclinação dos seus lados é de 54º54'. Sua base é um quadrado perfeito com 229m de lado,
variando com erro que não ultrapassa 0,1%, em torno de 2 cm.
Os construtores não possuíam praticamente nenhum tipo de tecnologia, como bússolas, assim
eles usavam os movimentos das estrelas ou do sol para descobrir a localização dos pólos
geográficos. Fato que impressiona ao analisar as Pirâmides, pois elas são quase precisamente
orientadas com o Norte Magnético.
Além disso, a Grande Pirâmide possui 8 lados ao invés de 4, fato que só é perceptível a certa
altura e no início dos equinócios de primavera e outono, quando o sol forma sombra na sua
estrutura.
Na face norte fica a entrada da pirâmide. Seu interior contava com um número de corredores e
galerias que levava ao sarcófago, no centro da Pirâmide. O Sarcófago é feito de granito preto
e está orientado nas direções da bússola, de um tamanho maior que a entrada da Câmara, o
que evidencia que foi colocado enquanto a construção progredia, mostrando que tudo foi
cuidadosamente calculado.
Outros cálculos também podem ter sido realizados, por exemplo, se você tomar o perímetro
da pirâmide e dividi-lo por duas vezes a sua altura, chegara ao número pi (3,14159...) até o
décimo quinto dígito, as chances desse fenômeno ocorrer por acaso são quase nulas. Até o
século 6 d.C., o pi havia sido calculado só até o quarto dígito.
Dessa forma, pode-se perceber que era errando que as técnicas eram descobertas, o que não
pode ser admitido nos dias atuais, onde dispõe-se de equipamentos e técnicas avançadas em
todas as áreas da construção.
3. Engenharia e Arquitetura
De acordo com o dicionário Arquitetura e Engenharia tem significados diferentes. A De
acordo com o dicionário Arquitetura e Engenharia tem significados diferentes. A arquitetura é
a arte de construir e decorar edifícios, já a engenharia é a ciência, técnica e arte da construção
de obras de grande porte, mediante a aplicação de princípios matemáticos e das ciências
físicas.
Então a arquitetura é a arte de projetar espaços organizados e criativos para abrigar os
diferentes tipos de atividades humanas, é a disposição das partes ou dos elementos que
compõem os edifícios ou os espaços urbanos em geral, e assim como a Engenharia, desde os
povos primitivos, trabalha em função da organização da vida em comunidade e das diferentes
formas de abrigo.
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Apesar de terem significados distintos no dicionário, a arquitetura e a engenharia não podem
caminhar separadas, ou em outras palavras, para uma boa e eficaz construção as duas devem
estar diretamente ligadas e relacionadas. Para que isso ocorra deve haver uma comunicação
entre elas desde o ensino nas Universidades.
Conforme Fabrício (2007) no ensino de Arquitetura o projeto é abordado como a práxis
“projeto se aprende fazendo”. De um modo geral, essa forma de se projetar restringe o
arquiteto a utilizar-se de normas e procedimentos, pois está aliado ao repertório do projetista,
que ainda está em fase de formação.
Já no ensino da Engenharia Civil, a amplitude que habilita o profissional a atuar nos mais
variados segmentos dificulta o foco da formação e favorece o ensino de disciplinas teóricas
que não consideram as particularidades de cada atuação (LIMA Jr, apud Fabrício, 2007)
De acordo com Stanford Anderson, Professor de História da Arquitetura do MIT
(Massachussetts Institute of Technology), o “divórcio” entre a Arquitetura e Engenharia
prejudica as duas partes, onde a ambição da arquitetura em projetar bem fica reduzida e a
engenharia torna-se uma série de fórmulas, não dando espaço para as suas dimensões sociais,
ambientais e estéticas. Ainda segundo ele deve-se estimular ambições de modo a formar uma
aliança profunda entre engenharia e arquitetura. Além disso deve haver uma colaboração entre
as duas áreas para que haja mais escritórios de Engenharia Criativa, colaborando para obras
além do escopo de cada um dos parceiros isoladamente.
Tendo em vista as particularidades no ensino da Engenharia e da Arquitetura, percebe-se que
a separação das mesmas prejudica o desenvolvimento do projeto, seria importante que desde a
graduação essa interatividade acontecesse, tornando a multidisciplinaridade um aliado para
que os profissionais formados entrassem no mercado de trabalho com maior experiência de
causa, resultando em melhores projetos.
Como vimos desde a antiguidade o conhecimento de engenharia estava aliado às construções,
antes mesmo de terem seus significados descobertos. Pela necessidade usa-se técnicas sem ao
menos conhecê-las. Na antiguidade os projetos estavam longe de existir, mas desde aquela
época percebia-se a necessidade de compatibilização dos mesmos, uma vez que para a obra
funcionar ou ficar de pé precisava-se aliar o formato da construção com os materiais a serem
aplicados, como observamos na construção das Pirâmides citadas.
A compatibilização consiste justamente em sobrepor da melhor forma possível todos os
projetos antes do início da construção, fazendo uma integração geométrica entre os mesmos.
É fundamental compatibilizar para evitar erros, que eram comuns na antiguidade, minimizar o
retrabalho, diminuindo o tempo de execução, desperdício e custos. É importante que esses
projetos sejam estudados antes mesmo da construção começar, possibilitando rever soluções
ainda na fase de projeto. Por isso a necessidade de projetos cada vez mais completos. Temos
inúmeros exemplos de projetos onde não houve compatibilização, resultando em retrabalho
ou impossibilitando o seu uso (Figura 04).
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Figura 04 – Problemas pela não compatibilização de projetos
Fonte: Concepções Arquitetônicas visando a Excelência Estrutural IPOG
Quando se pensa na integração do projeto de engenharia e arquitetura pensa-se primeiramente
na concordância entre o estudo preliminar de arquitetura com o estudo da viabilidade de
estrutura. Quando a estrutura é lançada, procura-se melhores alternativas técnicas e
econômicas verificando o impacto sobre o projeto arquitetônico, procurando minimizar ao
máximo qualquer tipo de incompatibilidade em relação à forma e a estética. Nem sempre isso
é possível, então deve-se levar em conta o bom senso entre os dois profissionais para
encontrar a melhor alternativa. Alva (2007, p 2) afirma que:
O projeto estrutural deve estar em harmonia com os demais projetos, tais como o de
instalações elétricas, hidráulicas, telefonia, segurança, som, televisão, ar
condicionado, computador, etc. Ou seja, deve existir a compatibilização do projeto
estrutural com os demais projetos da edificação, de modo a permitir a coexistência,
com qualidade, de todos os sistemas. Por esse motivo, as várias áreas técnicas
envolvidas no projeto costumam fazer anteprojetos que, posteriormente são
analisados em conjunto para que se estudem as compatibilizações necessárias.
Desse modo, percebe-se que a necessidade de integração entre os profissionais e de
compatibilização de projetos está evidente desde o projeto de fundação, arquitetura até os
projetos complementares, instalações hidráulicas, elétricas entre outras. É dessa forma que o
projeto deve ser sustentado, com todos os seus eixos compatibilizados.
Não admite-se mais construção sem projeto, e quando realizado da maneira correta torna-se
um grande aliado à economia, praticidade, sustentabilidade e tempo de duração das obras.
Hoje o projeto é multidisciplinar, na maioria dos casos deve atender a Normas específicas, por
isso o profissional deve ter conhecimento, ou estar em sintonia com os profissionais das áreas
pertinentes ao elaborar o projeto.
Na maioria dos casos os projetos de engenharia são elaborados após o projeto arquitetônico,
essa forma de projetar é desaconselhável, uma vez que poderá surgir incompatibilidades que
não poderão ser sanadas sem modificações e retrabalho, atrasando as etapas da obra, perdendo
o que já havia sido elaborado.
Recomenda-se então que os projetos sejam elaborados ou pensados quase que
simultaneamente, permitindo que o erro seja identificado mais cedo. Deve-se elaborar o
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anteprojeto de arquitetura após o estudo preliminar da estrutura, ou havendo um
conhecimento de como a estrutura será lançada antes de desenvolver o projeto pode ser
minimizado os problemas que podem vir ocorrer decorrentes da não compatibilização dos
mesmos. Para que essa compatibilização ocorra de forma sistêmica, seria necessário um
estudo mais preciso desde a graduação.
4. Projetos de Profissionais Renomados na Arquitetura e Engenharia.
Callegari (2007) afirma que a indústria passa por um momento de intensa mudança,
dinamismo e competição. Como o setor da construção civil é um dos setores que tem
participado efetivamente no aquecimento da economia, esse momento é um momento
propício para transformações de postura deste setor.
Como vimos é de grande importância a necessidade de ampliar a produtividade utilizando-se
da compatibilização de projetos, por isso deve-se se preocupar com a fase que antecede a
execução, a concepção do projeto. Os projetos devem ser auto suficientes contendo
informações necessárias para haver uma melhor programação, controle de materiais e
execução de boa qualidade.
Se a preocupação com o andamento do obra começar desde a fase de concepção do projeto, a
obra será executada de maneira mais eficaz. Profissionais de todas as áreas deverão estar
envolvidos em todo o processo.
Segundo Inojosa, 2010, uma das etapas mais difíceis no processo executivo de uma obra
arquitetônica é a integração dos projetos de arquitetura e de estruturas. Isso acontece, porque
na maioria dos casos os arquitetos não levam em conta a adequação do sistema estrutural ao
projeto ainda na fase de criação, outro motivo é o distanciamento do calculista com as
questões formais e estéticas do projeto arquitetônico.
Ainda segundo ele, obras consagradas de diversas épocas e nacionalidades utilizam o
componente estrutural como parâmetro norteador do projeto. Nesses casos, a arquitetura
nasce junto com a estrutura – “terminada a estrutura a arquitetura já está presente, simples e
bonita” (NIEMEYER 2000, p. 81 appud Inojosa, 2010), Niemeyer disse ao descrever grande
parte de suas obras. Caracterizando como essencial o conhecimento técnico das estruturas,
dos materiais a serem utilizados, o sistema estrutural que será adotado para a boa execução de
uma obra.
Em muitas edificações a própria função define o sistema estrutural, que apesar de receber
posteriormente outros elementos, continua sendo o responsável pela forma. Em vários
momentos da história da arquitetura o desenho estrutural se aproximou do resultado final,
temos como exemplo diversas construções como pontes, grandes coberturas e torres, nessas
obras o estrutural fica evidente de forma simples e óbvia.
Tendo em vista a importância do conhecimento de Engenharia e Arquitetura, procurou-se
então analisar ou descrever algumas obras que tivessem esse conceito difundidos desde a
concepção, para isso os exemplos escolhidos algumas obras foram escolhidas e estão
localizadas em diversas regiões do mundo, além de terem sido realizadas por diferentes
profissionais. Tais arquitetos possuem a formação de engenharia ou adquiriram conhecimento
estrutural com a prática.
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Um dos arquitetos mais conhecidos, por suas obras ricas em matéria de Engenharia é o
arquiteto Santiago Calatrava, apesar dos problemas envolvendo as suas obras, a estética aliada ao
conhecimento estrutural é evidente. Outros arquitetos de destaque são Oscar Niemeyer, que
revolucionou a arquitetura brasileira, e Lina Bo Bardi que com seus projetos inovadores deram
destaque à Arquitetura ousando nos projetos Estruturais de suas obras.
a) Santiago Calatrava
Santiago Calatrava é Arquiteto e Engenheiro, cursou a Escola Técnica Superior de
Arquitetura em Valência, na qual se pós-graduou em Urbanismo. Atraído pela matemática
envolvida nas grandes obras da arquitetura histórica ele cursou também pós-graduação em
Engenharia Civil no Instituto Federal de Tecnologia em Zurique concluindo seu Ph.D em
1979.
Calatrava sempre foi fascinado pelo estudo da geometria, perseguindo destemidamente a
unidade entre arte e ciência. Para Stanford Anderson, professor de História e Arquitetura no
Massachussetts Institute of Technology o seu domínio dos princípios de engenharia não
permite apenas a realização dos seus projetos, mas Calatrava é desafiado e estimulado pelo
diálogo entre a invenção formal e princípios científicos.
Na Conferência do MIT Santiago Calatrava descreve a importância dos materiais na
arquitetura. Segundo ele nas ruínas arquitetônicas o que sobra são as pedras, no entanto, os
materiais aplicados na obra é o próprio suporte da arquitetura, por isso deve-se conhecer
primeiramente os materiais a serem utilizados, assim como o aço, vidro, concreto e a madeira,
sabendo para que elas servem e como podem ser usadas pode-se chegar a um bom projeto de
arquitetura.
Uma das obras notáveis do arquiteto é a Wohlen High School a Concepção do projeto foi
inspirada em formas naturais, olhando para a elevação pode-se ter a ideia de uma palmeira ou
uma folha A simples observação das coisas motiva o arquiteto tanto quanto os aspectos
materiais da arquitetura. Segundo Calatrava a ideia da entrada nasceu do projeto existente e
sua geometria, na Conferência do MIT p.17 diz:
O projeto era um trapezoide, que cortei com uma diagonal para criar uma marquise
que consiste em dois cones ligados por um arco. Um trabalhava em uma direção, o
outro em outra, com um tubo em seção transversal que fornece uma resisência à
torção, e também sustenta a calha. Embora o tubo tenha rigidez à torção, eu o usei
aqui afim de criar um elo entre a fachada e a marquise, de modo que esses elementos
agissem juntos no mesmo gesto. Um conjunto tem de se tornar uma só coisa. (Figura
05).
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Figura 05 – Marquise da Wohlen High School, Santiago Calatrava
Fonte: http://www.galinsky.com/buildings/wohlen
Calatrava era conhecido como arquiteto das pontes, usava do seu conhecimento de
Engenharia para projetá-las de forma a transmitir leveza, em seu currículo tem diversos
projetos de pontes. Em 2001, na Argentina fez o projeto de uma ponte conhecida como Ponte
da Mulher, inspirado no movimento de um casal de dançarinos de tango. Outra ponte
projetada por ele foi Ponte Alamillo em Sevilha, Espanha, que possui um vão de 200m. Todas
as peças de estrutura dessas pontes se compõem de modo a enaltecer formas orgânicas ao
mesmo tempo em que são extremamente leves (Figura 06).
Figura 06 – Marquise da Wohlen High School, Santiago Calatrava
Fonte: http://olhares.sapo.pt/ponte-do-alamillo-foto3375663.html e http://www.turismo.buenosaires.gob.ar/br/otrosestablecimientos/puente-de-la-mujer
Outra importante afirmação que Calatrava faz na Conferência do MIT nos leva a crer que a
Engenharia, a Arquitetura e a Arte nunca deveriam ter sido separadas. É importante que elas
caminhem juntas para que possamos reinventar edificações, fazendo delas nossa herança,
assim como na antiguidade elas foram iniciadas. “Se considerarmos a engenharia uma arte –
como eu acredito que seja – e voltarmos a um tempo em que não havia diferença entre a arte e
a arquitetura e a arte da engenharia (...) então podemos pensar que depende de nós,
especialmente da nova geração, que haja um renascimento da arte” p.49.
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b) Oscar Niemeyer
Ao analisar as obras de Oscar Niemeyer deve-se dar destaque à inovação arquitetônica e
estrutural das suas formas, é uma revolução teórica nas técnicas construtivas e de concepção
estrutural que permitiram o avanço inovador dos conceitos de arquitetura (INOJOSA 2010).
Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho, conhecido apenas por Oscar Niemeyer
nasceu no bairro Laranjeiras no Rio de Janeiro em 1907, em 1929 entrou para a Escola
Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, onde se formou engenheiro arquiteto, em 1934.
No terceiro ano de faculdade começa o estágio no escritório de Lucio Costa e Carlos Leão.
Em 1936, teve a chance de trabalhar com o arquiteto suíço, Le Corbusier, a mais importante
figura na arquitetura moderna, influenciando muito a arquitetura de Niemeyer.
Em 1940, Niemeyer conheceu o prefeito de Belo Horizonte, na época Juscelino Kubitschek,
foi então que realizou a sua primeira grande obra, o Conjunto da Pampulha, formado por um
Cassino, a Casa de Baile, o Clube e a Igreja de São Francisco de Assis ou Igreja da Pampulha
(Figura 07).
Figura 07 – Conjunto da Pampulha, Oscar Niemeyer
Fonte: http://www.fashionismo.com.br/2012/12/oscar-niemeyer/
O Conjunto completou 70 anos, consolidado como marco de modernidade na capital, se
destaca por romper os traços retos e conservadores predominante na década de 1940, sendo
uma referência para a arquitetura mundial. O Complexo Arquitetônico da Pampulha abriu as
portas para que Niemeyer fizesse os projetos em Brasília. Niemeyer afirma: ““Foi
praticamente o meu primeiro trabalho. Ao projetar a igreja, a Casa do Baile e o Cassino, eu já
mostrei que prefiro uma arquitetura diferente, criando surpresa, procurando atingir o nível
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superior de obras de arte. A Pampulha fez tanto sucesso que JK veio ao meu escritório e disse:
'Oscar, nós fizemos a Pampulha, agora vamos fazer a nova capital (Brasília)”
A segunda fase mais importante de sua carreira foi a Construção de Brasília. A Capital do
País projetada por Lúcio Costa, não seria a mesma sem as obras de Niemeyer. Essa fase é a
fase que mais expõe a importância da estrutura em seu trabalho. Nos edifícios monumentais
da Capital a utilização do potencial técnico do concreto armado permitiu a criação de grandes
edifícios que pousam levemente sobre o solo.
Esse período na carreira de Niemeyer inclui um grande número de obras dentre elas pode-se
citar: a Catedral, a Universidade de Brasília, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do
Planalto, Procuradoria Geral da República, todas em Brasília, entre outras.
E recordo-me como com o mesmo empenho me detive diante dos Palácios do
Planalto e do Supremo na Praça dos Três Poderes. Afastando as colunas das
fachadas, imaginando-me diante da planta elaborada a passar entre elas, procurando
sentir o que poderiam provocar. E isso me levou a recusar o montante simples,
funcional, que o problema estrutural exigia, preferindo, conscientemente, a forma
nova desenhada, rindo com meu sósia daquele “equívoco” que a mediocridade
atualmente, com prazer, descobriria (NIEMEYER, 2000, pag. 271, appud
INOJOSA, 2010) (Figura 08)
Figura 08 – Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal, Oscar Niemeyer
Fonte: https://www.flickr.com/photos/arnoldo_riker/6843904523 e http://www.cidadebrasilia.com.br/turismo/interest.php?interest=2
O pensamento dos técnicos do concreto armado e o arquiteto foi fundamental para o sucesso
dos projetos de Niemeyer em Brasília e para a integração da equipe, inclusive do engenheiro
Joaquim Cardozo. A proposta do arquiteto era buscar a leveza arquitetural e solucionar os
aspectos funcionais, muitas vezes foi o próprio sistema que caracterizou a arquitetura
(MOREIRA, 2007 appud INOJOSA, 2010).
Outra obra que Niemeyer utilizou a solução técnica como principal elemento arquitetônico foi
a Catedral de Brasília, sua forma ousada sintetiza a grandiosidade e o simbolismo da obra
(Figura 09).
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Figura 09 – Croqui e Catedral de Brasília , Oscar Niemeyer
Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-14553/classicos-da-arquitetura-catedral-de-brasilia-oscar-niemeyer/niemeyer__catedral_brasilia e http://www.grad.hr/sgorjanc/Links/perspektiva/predavanja/JH/slike.html
A Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, conhecida como Catedral de Brasília
foi construída entre 1959 e 1970, e faz parte do conjunto inicial dos edifícios que compõem o
Eixo Monumental da capital brasileira. O projeto é definido por seus dezesseis pilares de
concreto que partem de uma planta circular de sessenta metros de diâmetro e sobem
inclinados até encontrarem aos outros, sustentados por dois anéis de concreto armado.
Segundo Pessoa, 2002 appud Inojosa, 2010, o primeiro anel contorna a base da estrutura e
funciona como um tirante, sob tração, absorvendo todos os esforços horizontais gerados pelos
16 pilares. O segundo anel, de compressão, passa por dentro dos pilares no ponto onde esses
se encontram, portanto não é aparente na estrutura. A função desse anel de compressão é
impedir que as colunas se fechassem. E a laje de cobertura serve apenas como vedação não
tendo função estrutural.
Um projeto com tamanha complexidade só pode ser pensado em conjunto de conhecimentos
estruturais, dessa forma fica evidente a importância desse conhecimento ao arquiteto, para que
de forma criativa possa ousar nas formas utilizadas de maneira que seja possível a sua
execução.
6. Conclusão
Por meio desse estudo foi possível observar a importância da integração de Engenharia e
Arquitetura no que diz respeito à obra. Desde a antiguidade por falta de projetos específicos
para a construção das edificações notou-se a necessidade de Projetos, uma vez que muitas
delas não chegaram a ser concluídas por falhas estruturais, o que não pode ser admitido nos
dias de hoje, já que a tecnologia e o conhecimento estão a favor dos profissionais da área.
Com base nessa necessidade vimos que a compatibilização dos projetos é de suma
importância para que a obra seja executada de maneira rápida e econômica, evitando
desperdício de materiais e tempo. Assim como a importância de se planejar desde a
Concepção do projeto unindo os profissionais envolvidos para minimizar os possíveis erros
durante a execução.
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016
A importância da integração da Engenharia e Arquitetura desde a Concepção dos Projetos
Julho/2016
Foi visto também que o estudo da Engenharia e da Arquitetura não devem estar distanciados,
essa união e esse contato deve ser constante para que arquitetos e engenheiros possam estar
alinhados durante a execução da obra, apesar de seus significados ser diferentes.
Através de exemplos de obras de Arquitetos renomados confirmou-se que há uma diferença
nas construções onde o projeto foi pensado juntamente com estrutura, por exemplo. Essas
análises contribuem para o entendimento da importância do conhecimento técnico da área de
Engenharia e Arquitetura para a realização de obras com qualidade.
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