Costa do Marfim: a caminho do relançamento económico

Transcrição

Costa do Marfim: a caminho do relançamento económico
Costa do Marfim: a
caminho do relançamento
económico
■ Entrevista com Yemisi Dooshima
Suswam, Primeira Dama do Benue
State (Nigéria) - pg. 3
■ Resultados do «EMRC Africa Finance &
Investment Forum» - pgs. 4-8
■ EMRC-Rabobank Project Incubator
Award - pg. 6
■ Capacitação de recursos humanos:
a chave para o desenvolvimento do
continente Africano - pg. 10
■ Relançamento económico da Costa
do Marfim - pg. 11-16
RC Afr ica Fin an ce
Ja cq ue s Att ali , “EM
”, Pa ris - De z.0 8
& Inv es tm en t Fo rum
Published quarterly by
1 o Trimestre 2009
Building business bridges worldwide
P refácio
A segurança alimentar em
África exige novos esforços
de investimento
Michel Clavé,
Director do Departamento Agrícola
e Agro-alimentar, Crédit Agricole
Há hoje um consenso geral de que África já não é o parente pobre do crescimento mundial. Com efeito, a
década de 1995-2008 marca uma ruptura. Mesmo que seja inferior ao dos países asiáticos, o crescimento
é claramente positivo, a inflação está controlada e os défices orçamentais também. Os investimentos estão
a progredir e o FMI considera que a crise financeira e económica, que abala actualmente a economia
mundial, deverá ter um impacto menor na África Subsariana por estar pouco integrada nos circuitos
financeiros internacionais. Por conseguinte, o crescimento prosseguir-se-á, mas a um ritmo mais contido.
Impõem-se duas observações: estas considerações optimistas sobre o esforço de investimento a reactivar
neste continente parecem-nos preocupantes, uma vez que o continente Africano poderia ver-se privado da
formidável redistribuição da riqueza a nível mundial que resultará do novo sistema económico, energético
e ambiental pós crise; além disso, esta evolução positiva não permitiu resolver de forma efectiva todas
as dificuldades sentidas no continente, nomeadamente, as relacionadas com os problemas de extrema
pobreza e alimentação.
É por isso que o Grupo Crédit Agricole prossegue o seu combate pela segurança alimentar em África.
Nesse sentido, depois de ter participado activamente no lançamento da Fundação para a Agricultura
e Ruralidade no Mundo (FARM), o Crédit Agricole S.A. criou, com o Professor Yunus, a Fundação
Microfinance Grameen bank – Crédit Agricole, de que Jean-Luc Perron, o seu Director Geral, falou
amplamente na sua intervenção no último Fórum «Africa Finance & Investment» organizado pela EMRC.
O nosso apoio ao desenvolvimento de verdadeiras políticas de actividades agrícolas e agro-alimentares
nos diferentes países africanos apoia-se na transferência de competências e, ao mesmo tempo, na
disponibilização de instrumentos de investimento diversificados.
Próximos Eventos EMRC:
■
■
■
■
■
Missão Económica, Angola, Primavera 2009
Estudo de Viabilidade agrícola, Tchad, Fevereiro 2009
Próxima edição da Revista Dialogues, destaque especial Província de Logone Oriental,
Tchad, Segundo trimestre 2009
Fórum EMRC Agribusiness 2009, Cidade do Cabo, África do Sul, 14-17 Junho 2009
EMRC- Rabobank Project Incubator Award, Cidade do Cabo, África do Sul, 16 Junho 2009
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2-
DIALOGUES
- EMRC
Entrevista
Yemisi Dooshima Suswam
Primeira Dama do Estado de Benue na Nigéria
e Presidente da Fundação SEV-AV
Paris, Dezembro 2008
■ Dialogues: Devido ao seu papel fundamental no Estado de Benue e na Nigéria, como
define a sua missão e quais os seus principais
objectivos e prioridades para a Fundação que
dirige?
Yemisi Dooshima Suswam: Sinto-me bastante entusiasmada com a minha missão e
por ver tantas oportunidades. Vejo recursos
naturais a perderem-se; vejo terrenos férteis e
inexplorados bons para a agricultura e pessoas
com necessidades extremas; e vejo também as
múltiplas doenças que dizimam os nossos
trabalhadores. O VIH/Sida é uma dessas
doenças e queremos controlar a sua disseminação para termos pessoas saudáveis
que possam desenvolver as suas potencialidades.
Temos de defender muito a educação
e dar atenção à mudança de atitude da
nossa população. Estamos a aumentar a
consciencialização do vírus da Sida, divulgando a palavra nas línguas e dialectos
locais, porque a maior parte das pessoas
a quem nos dirigimos não têm instrução
e queremos assegurar-nos de que toda a
gente obtém informação sobre a doença.
O meu marido foi empossado como Governador do Estado de Benue em 29 de
Maio de 2007 e eu gostaria de garantir
que este governo está a ter um grande impacto junto da população. O Governador
mostra um grande entusiasmo pela criação de infra-estruturas no Estado. Quer
construir estradas rurais, trazer água
potável e abrir todas as estradas para as
zonas rurais, especialmente onde se localizam as explorações agrícolas. Também
se esforçou pela entrada em funcionamento da
electricidade nas zonas rurais e o meu papel é
apoiar e complementar os seus esforços através da Fundação SEV-AV.
A nossa Fundação foi criada em Janeiro de
2008 e lançada pela esposa do Presidente
da República da Nigéria, Primeira Dama da
Nigéria, Sua Excelência a Sr.ª Turai Umaru
Yar’Adua. A Fundação visa três problemas
principais: primeiro, uma coligação das mulheres contra o VIH e outras epidemias, dando
especial atenção à transmissão de mãe para
filho; segundo, a criação de centros de transformação de produtos agrícolas e terceiro, o
aumento das escolas técnicas e de aquisição
de competências.
A agricultura é a principal ocupação da população do Benue e a variedade de produtos
agrícolas pode abrir portas ao comércio e
transformação industrial. Cerca de 70% dos
agricultores são mulheres. São as mais vulneráveis ao VIH/Sida devido à pobreza e a
factores culturais: como dependem do salário
dos maridos, algumas mulheres não podem ter
acesso a cuidados de saúde sem autorização
Cerca de 70% dos agricultores de
Benue são mulheres (...) a variedade
de produtos agricolas existentes
pode constituir oportunidades de
transformação industrial.
dos respectivos maridos. Os homens podem
ter duas ou três mulheres, mas são as mulheres
que têm a responsabilidade da formação dos
filhos. Se acontece alguma coisa ao marido, a
mulher passa a ser uma viúva sem possibilidades de os educar. É por isso que na maior parte dos casos, devido a factores económicos,
temos níveis elevados de abandono escolar
e muitos diplomados das universidades sem
emprego. Por estas razões, a minha Fundação
toma conta dessas mulheres e nesta altura já
lhes demos formação para que tenham objectivos e interesses na vida.
Estas três áreas de actividade exigem impor-
tantes financiamentos para se poder criar qualquer coisa, especialmente quando se fala de
construir um Centro de Formação Técnica e
Aquisição de Competências, uma clínica para
tratamento do VIH ou instalações industriais
nas 23 áreas de governo locais. Mas pouco a
pouco o nosso sonho vai ganhando forma.
■ Dialogues: Quais são os meios de financiamento de que a Fundação dispõe?
YS: Somos uma organização com fins caritativos, por isso temos necessidade de
muito financiamento para conseguirmos
atingir os nossos objectivos. Parte desse financiamento vem do governo ou de
doadores privados. Estamos à procura
de pessoas com um sentido filantrópico,
bancos e instituições que gostam de ajudar a humanidade, mas isso leva tempo
e não podemos realizar tudo ao mesmo
tempo. Mas logo que criarmos o primeiro regime-piloto do Centro de Transformação de Produtos Agrícolas, criaremos
fundos e serão concedidas facilidades
às pessoas do Centro a taxas subsidiadas. Todos os rendimentos do primeiro
Centro serão aplicados para desenvolver
projectos e reinvestir noutros serviços da
Fundação.
■ Dialogues: O que é que sente ao receber o Prémio EMRC, pelo reconhecimento do trabalho que está a realizar?
Estou especialmente grata e aprecio o
facto de uma organização na Europa ter
observado os nossos esforços, mesmo
num Estado remoto como o nosso na
Nigéria. Este prémio foi uma surpresa, por
isso fiquei embaraçada e muito encorajada ao
mesmo tempo, porque a Fundação ainda não
tem um ano e o pouco que conseguimos fazer foi identificado a este nível. Estou muito
emocionada com tudo isto e para mim é um
incentivo para fazer mais. Gostaria de elogiar
a iniciativa da EMRC de organizar este tipo de
Fóruns e aprecio bastante que se centrem em
África, onde as necessidades são enormes. É
a única forma de podermos trabalhar em conjunto, como uma população única e com um
objectivo único em todo o mundo. ■
Primeiro Trimestre 2009- 3
Fórum África Finance & Investment 2008:
Financiar oportunidades
de negócio ao longo da
cadeia de valor
Paris, França – No contexto da crise financeira
internacional, o Fórum da EMRC (7 a 9 de Dezembro) reflectiu uma mudança positiva no
contexto dos negócios africanos. Estiverem presentes mais de 200 participantes de 29 países,
com o objectivo de criar parcerias, e de promover as relações comerciais internacionais.
Outro exemplo de boa colaboração entre os sectores privado e o não lucrativo é a PharmAfrican. A empresa tem colaborado com a Fundação BDA,
sendo que o antigo Primeiro-Ministro Canadiano, Joe Clark, delineou os
métodos e objectivos do projecto: a “PharmAfrican é uma empresa mista”,
afirma Clark, que “tem de lidar com uma empresa com fins lucrativos, a
PharmAfrican, e uma fundação sem fins lucrativos. Considero ser esta uma
solução de empreendedorismo social inovador para o desenvolvimento
sustentável em África”.
A EMRC gostaria de expressar a sua sincera gratidão aos patrocinadores,
Rabobank, FMO, Africa Agri, Crédit Agricole, Progis, UNAIDS, ADCON
e Global Fund. Agradece especialmente ao Crédit Agricole pela sua parceria e apoio continuado à preparação do Fórum e às organizações de apoio,
o INSEAD, a Millennium Promise, a Universidade de Columbia e a Escola de Gestão de Maastricht. O Fórum Africa Finance & Investment 2008
serviu de plataforma para apresentação de case studies e de práticas correntes destinadas a reforçar o sector privado africano. Também permitiu um
diálogo estimulante entre os principais intervenientes: empresas africanas
e europeias, instituições de financiamento para o desenvolvimento, bancos,
representantes governamentais, fundações e ONG.
Um dos ilustres oradores da conferência foi Jacques Attali, Presidente
do grupo PlaNet Finance. Segundo Jacques Attali, o papel dos pequenos
empréstimos/microfinanciamento é fundamental em África e desempenhará um papel crucial no desenvolvimento futuro. O grupo PlaNet Finance
presta assistência técnica na angariação de fundos para instituições relacionadas com o microfinanciamento em todo o mundo.
José Briosa e Gala, Conselheiro especial e Representante pessoal para
África do Presidente da Comissão Europeia, considerou que o continente
Africano poderá ser menos afectada pela crise económica por estar menos
exposta às
Arthur Levi, antigo Responsável para a Europa da IFC - Sociedade Financeira Internacional, concentrou a sua intervenção no desenvolvimento
do investimento em África. Um factor essencial do desenvolvimento em
África é o empreendedorismo a nível local, mas este só pode prosperar num
contexto transparente e que apoie as empresas, afirma Arthur Levi, que
insta as comunidades empresariais a empreender reformas que permitam a
cada país enveredar rumo ao progresso nos próximos anos.
Bart-Jan Krouwel, Director Geral de Responsabilidade Social no Rabobank, falou da promoção do comportamento ético, tanto no sector público como no privado. Este princípio deve ser respeitado em termos de
ecologia, atacando as causas em vez das consequências. Um ponto importante a ter em conta é a viabilidade e rentabilidade de investimentos eticamente responsáveis.
Na sua apresentação, Lee Yallot, que trabalha para Medical Care Development International, demonstrou o papel crucial que desempenham as
parcerias público-privadas. Segundo o orador, há muitas vantagens numa
parceira entre a Marathon Oil Corporation e uma organização como a sua,
nomeadamente um acesso mais fácil à administração do Estado, ao apoio
financeiro e logístico e à vantagem de conhecer o mercado local.
Da esquerda para a direita:
Vincent Gadou Kragbé, Magloire N’Dakon, Joe Clark,
José Muluma Bucassa, Anne
Gazeau-Secret, Manuel de
Sousa Calado, Jacques Attali.
Missão de peritos da EMRC no Tchad
Na sequência de contactos estabelecidos em anteriores Fóruns EMRC, o
Governo do Tchad convidou uma delegação de peritos EMRC para desenvolver projectos agro-industriais na sua província meridional, Logone Oriental (região de Doba), de 13 a 22 de Dezembro de 2008. A próxima publicação de Dialogues realçará as suas principais oportunidades no domínio da
agricultura, economia rural e pescas.
4-
DIALOGUES
- EMRC
Africa Finance FORUM
Investment
2009
flutuações dos mercados financeiros. Notando que “haverá algumas mudanças drásticas, que a crise impõe”, Briosa e Gala assegurou ser absolutamente necessário rejeitar o proteccionismo e concluir o infindável Ciclo
de Doha.
Agri Business
Estes sinais encorajadores também tiveram eco noutras apresentações.
“Apesar de sofrer de muitos conflitos políticos, África tem feito progressos”, afirma Anne
Gazeau-Secret, Directora Geral da Cooperação e
FORUM
Desenvolvimento2009
Internacional no Ministério dos Negócios Estrangeiros
francês. Anne Gazeau-Secret assegura que o continente será mais estável à
medida que melhorem as condições de vida das pessoas, aumente a democracia e diminua a corrupção. Investir hoje em África pode fazer-se através
de “parcerias ganhadoras”, a constituir entre empresas francesas ou europeias e empresas africanas.
Esta confiança em África foi partilhada pelo Professor Sadoulet da INSEAD Business School: “Eu penso que vai haver uma grande oportunidade, em parte porque os mercados em África são mercados de fronteira
e são esses que asseguram retornos mais elevados. Não estão isentos de
riscos, mas as empresas são compelidas a seguir nessa direcção”.
Um representante do sector privado, Refael Dayan, Presidente da Green
2000, também vê oportunidades para investimentos viáveis: “Tanto quanto
me é dado ver, a situação em África está a prosperar bem e esta crise não
afecta o que lá se passa. Penso que África é a futura nova fonte de alimentos para o mundo inteiro, acredito que o mundo vai investir em África e
encontrar cada vez mais projectos, especialmente na agricultura”. Contudo,
o Fórum serviu para destacar uma questão recorrente em África que entrava o progresso: o acesso limitado ao financiamento de um número cada
vez maior de pessoas. Segundo Marilou Uy, Directora do sector privado
e financeiro em África no Banco Mundial, a situação varia de país para
país, mas há um potencial elevado para mais africanos acederem ao sistema
bancário, se forem feitas reformas.
Foram apresentados exemplos concretos de oportunidades potenciais de
investimento por José Severino, Presidente da Associação Industrial de
Angola, e José Luís Domingos, Director de Investimentos da Agência Nacional para o Investimento Privado de Angola (ANIP). Ambos debateram
as possibilidades em áreas como o desenvolvimento de infra-estruturas, turismo e exportações agrícolas. Manuel Calado, Presidente da ENDIAMA
descreveu as vantagens do actual investimento em Angola. A empresa parte
do princípio que a prosperidade económica e financeira faz parte integrante
da Comunidade Angolana. Neste contexto, a ENDIAMA criou a Fundação
Brilhante como entidade que visa monitorizar todas as acções de responsabilidade social executadas pela ENDIAMA, essencialmente através de
programas de saúde pública. Houve outras apresentações e discussões sobre o investimento e a investigação em África e os delegados tiveram a
oportunidade de participar em encontros individuais.
A pedido reiterado dos nossos membros, o nosso próximo Fórum sobre a
AgriBusiness terá lugar em África, mais precisamente na Cidade do Cabo,
África do Sul, de 14 a 17 de Junho de 2009. Desde já, contamos com a sua
presença. ■
Vencedores
Prémios EMRC 2008
■ Robert LEVI, Administrador e Director Geral, TRUST
MERCHANT BANK, RDC. Laureado pelo trabalho no âmbito do MicroFinanciamento, pela contribuição para o desenvolvimento do nível de vida e de pequenas empresas comerciais na República Democrática do Congo.
■ Yemisi Dooshima SUSWAM, Primeira Dama, Governo do
Estado de Benue e Presidente da Fundação SEV-AV, Nigéria.
Laureada pela criação de um centro de agro-transformação
naquele Estado, e de uma clínica e um centro de artesanato
e de competências, chamado “SEV-AV”, que se traduz como
■ Yemisi
“NovoDooshima
Amanhecer”. SUSWAM, First Lady,
Government of Benue State, President of the
Fondation,
■SEV-AV
Mohamadou
Bayero Nigeria
FADIL, Presidente e Director Geral,
■ Mohamadou
Bayero
FADIL,como
President
and e lído GRUPO FADIL.
Conhecido
grande industrial
Director
General,
Groupe contribuiu
Fadil directamente para
der empresarial
nos Camarões,
■ Robert
LEVI, Administrator,
TRUST
MERCHANT
o desenvolvimento
socioeconómico
do seu
país.
BANK, Congo RDC
■■
Christian
and Geral (repre ChristianBONGO,
BONGO, Administrator
Administrador e Director
Director
BANQUE
GABONAISE
DE
sentado General,
no Fórum por
Pierre-Marie
NTOKO, Vice-Director
DEVELOPPEMENT,
Gabon DE DEVELOPPEMENT,
Geral), BANQUE GABONAISE
Gabão. Conhecido pelo seu apoio aos sectores financeiros e
de microfinanciamento.
Primeiro Trimestre 2009- 5
EMRC – Rabobank Project Incubator Award
Está nas suas mãos!
Para incentivar a inovação, o empreendedorismo e o
desenvolvimento económico na África rural, esta iniciativa
premeia o projecto com o impacto económico e social mais
eficaz sobre as comunidades locais. O vencedor recebeu
10 000 dólares dos EUA e a possibilidade de ter um sólido
parceiro financeiro para o seu projecto.
Da esquerda para a direita: Pierre Van Hedel,
Director Geral da Fundação Rabobank; Augustin
Yemene, Presidente do MUPECI; Alexandre de
Carvalho, Administrador da LEA; Idit Miller,
VP & Directora Geral da EMRC.
O vencedor do «EMRC-Rabobank Project Incubator Award» foi Augustin
Reconhecimento especial para
Yemene, Presidente do Conselho de Administração da MUPECI (Sociedade o projecto Living Energies Africa
Mútua para a Promoção da Poupança e do Crédito de Investimento).
Esta sociedade mútua de crédito e de poupança
assiste as mulheres e os jovens dos Camarões
e, graças à colecta de fundos, lança projectos
de desenvolvimento agrícola, de luta contra a
pobreza e de criação de emprego nos meios
rurais.
O projecto apresentado pela MUPECI consiste
em financiar a produção de soja nas diferentes
regiões dos Camarões: Adamaoua, Centro, Extremo-Norte, Norte e
Oeste. Este projecto foi
considerado como particularmente relevante
por duas razões: a necessidade de aumentar
a produção nacional de
soja para transformação em óleo e bagaço
de soja (hoje, produzse apenas 2,5-4% das
necessidades nacionais
e o resto é importado);
este aumento da produção de soja permitiria
aumentar a produção numa fábrica que colabora com a MUPECI e que só transforma actual-
6-
DIALOGUES
- EMRC
mente 3 000 toneladas/ano, em relação a uma
capacidade total de 10 000.
Com o tempo, este projecto deverá criar cerca de 2 500 empregos directos, permitindo
atingir uma produção de 10 000 toneladas de
soja por ano e aumentar a agro-transformação
(nomeadamente em óleo e bagaço de soja). A
cultura desta planta contribuiria também para
assegurar um suplemento
alternativo
de proteínas aos Camaroneses. Ao recompensar este projecto, a EMRC e a
Fundação Rabobank
quiseram promover
uma iniciativa com
efeitos económicos
e sociais sustentáveis
e dar um apoio moral
às comunidades rurais, que assumem um papel determinante para
o desenvolvimento económico do continente
Africano. ■
(LEA)
A empresa Franco-Senegalesa LEA tem por
objectivo reforçar o acesso à energia – um factor essencial de desenvolvimento no Sudeste
do Senegal. Juntamente com a MOZDAHIR,
uma ONG local bem implantada, a LEA cultiva
50 000 hectares de Jatropha e desenvolve um
projecto de produção para beneficiar mais de
250 000 pessoas.
Graças às parcerias estratégicas da LEA com
organizações experientes em Jatropha, foram
plantados 200 hectares em 2008 e atribuídos 13
000 ao programa pelos Conselhos Rurais.
A credibilidade da ONG garante acesso à terra
e um envolvimento sustentável das comunidades, dois factores importantes de sucesso. A
LEA e a MOZDAHIR criaram uma Empresa
Social conjunta em partes iguais (50/50), empenhada em reinvestir a parte dos benefícios
da ONG em programas de desenvolvimento
local. O programa prestará Serviços Energéticos Rurais (RES) através de moinhos, bombas
de água, geradores, tractores e equipamento
de transporte. Receitas complementares protegerão a LEA contra a volatilidade dos preços
do petróleo: financiamento do carbono, RES e
partilha do excedente agrícolas. ■
Africa Invest Fund Management
FMO
A agricultura como
instrumento de
desenvolvimento
Promover o sector
privado como motor de
crescimento
O Relatório do Banco Mundial
de 2008 sobre desenvolvimento, refere a agricultura como um
instrumento fundamental para o
crescimento sustentável nos países emergentes. Salienta que a
agricultura foi negligenciada pelos programas oficiais de ajuda e
revela, igualmente, o facto extraordinário de o crescimento do PIB
resultante da agricultura ser cerca
de quatro vezes mais eficaz para
aumentar os rendimentos das pessoas em pobreza extrema do que
o crescimento do PIB criado fora
do sector. A agricultura, assume,
portanto, um grande potencial em
termos de redução da pobreza e
de desenvolvimento sustentável.
Também é cada vez maior o consenso em torno da ideia de que
a empresa privada faz parte de
qualquer estratégia de desenvolvimento. Um exemplo de sucesso
de combinação do espírito empresarial com a agricultura é o fundo
Africa Invest Fund Management.
Esta sociedade gere um projectopiloto de 4 milhões de dólares no
Malawi, designado Africa Invest
Malawi Ltd, com três objectivos
básicos: demonstrar a viabilidade
do investimento numa empresa
agrícola africana lucrativa, criar
emprego e dar atenção às camadas
mais vulneráveis da população.
Jon Maguire, Director do Africa
Invest Fund Management, iniciou este projecto no Malawi há
menos de quatro anos, depois de
uma visita exploratória a este país
da África Austral, onde chegou a
acordo com as autoridades locais
para criar uma exploração agrícola
e iniciar um programa alimentar.
Desde aí o projecto Africa Invest
Malawi tem-se expandido e gere
agora oito explorações em todo o
país. Para assegurar a sustentabilidade financeira e a segurança alimentar, incentiva os proprietários
de pequenas explorações a plantarem culturas de elevado rendimento comercial para exportação
(como a paprica), juntamente com
a cultura de um produto de base.
Hoje o Africa Invest Malawi emprega directamente 2000 pessoas
e assegura a subsistência de outros
8000 agricultores independentes.
No total, o programa beneficia
um número de pessoas estimado
em 100 000. No início de 2008,
o programa Africa Invest Malawi
lançou dois fundos para financiar
os projectos em curso, conseguindo obter 18,5 milhões de dólares
num clima financeiro difícil. O seu
êxito valeu ao Africa Invest Malawi dois prémios internacionais
concedidos pela EMRC e pelo
Commonwealth Business Council.
A agricultura é uma área a que deve
ser dada especial atenção se os países africanos quiserem atingir os
objectivos de desenvolvimento do
milénio previstos para 2015, que
visam o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza. O
modelo do Africa Invest Malawi
vai ser reproduzido na África subsariana, com um novo fundo designado ‘Africa Transformational
Agri Fund’. Este fundo, que será
lançado no primeiro trimestre de
2009, pretende captar mais de 13,3
mil milhões de dólares para investimentos que serão conduzidos por
empresas na África subsariana. ■
O último ano talvez tenha sido
o mais exigente de sempre para
os mercados financeiros e para o
sector bancário a nível mundial.
Quase ninguém escapou ileso e
em todo o mundo está a ser revisto
o processo de avaliação de risco.
Neste contexto difícil, a prestação
de serviços financeiros e bancários
em países emergentes pode ser
considerada, talvez erradamente,
como especialmente imprudente.
A Netherlands Development Finance Company (FMO) constitui
o exemplo de uma instituição determinada a resistir a estas águas
agitadas e a manter-se ao lado dos
seus parceiros em África e noutras
partes do mundo emergente, oferecendo capital de risco e outras formas de financiamento numa altura
em que as fontes de financiamento
secaram em muitos lados.
Com o apoio do governo Holandês, que é o seu maior accionista
individual, a FMO pode assumir
riscos mais elevados do que os
financiadores comerciais e ajudar
a apoiar a criação de empresas, o
que se assume como essencial para
o crescimento económico. Embora
este tipo de assistência não seja a
única actividade da FMO, é especialmente importante no continente africano, onde investiu a maior
parte da sua carteira mundial de
investimentos, com 921 milhões
de euros em todo o continente.
económico no mundo em desenvolvimento, especialmente em
África.
A FMO investiu, por exemplo,
20 milhões de euros no fundo do
sector financeiro Africinvest, criado especificamente para apoiar o
desenvolvimento de jovens instituições financeiras em África. É
cada vez maior o consenso sobre o
papel do sector privado para qualquer estratégia de desenvolvimento: a ideia de “erradicar a pobreza
através de lucros”, tal como vulgarizada por C.K. Prahalad da Universidade de Michigan, começa a
ganhar terreno.
Com a sua carteira de investimentos mundiais de 3,4 mil milhões
de euros, a FMO é um dos maiores bancos bilaterais de desenvolvimento em todo o mundo. Nas
quatro áreas em que se concentra,
a saber, a habitação, a energia, o
financiamento e o capital de risco, oferece conhecimentos especializados e soluções financeiras
inovadoras para os seus parceiros
e clientes.
A sua estratégia a longo prazo é
criar um impacto máximo nas comunidades locais, assegurando benefícios concretos a cada nível da
base tripartida: económica, social
e ambiental. ■
O acesso ao capital e ao conhecimento é essencial para incentivar
a criação de microempresas, que
estão a surgir como uma das forças
impulsionadoras do crescimento
Primeiro Trimestre 2009- 7
Alimentação, bioenergia e ambiente:
crise ou oportunidade?
ADCON e PROGIS
têm a resposta.
As palavras actualmente mais pronunciadas são a crise da água, a escassez alimentar,
energética, a utlização de biocombustíveis os
problemas ambientais. Juntamente com o aumento dos preços do diesel, dos adubos e dos
produtos agroquímicos, o cenário é de facto
alarmante, embora não totalmente justificado.
O que se devia verdadeiramente ouvir falar era
de agricultura de precisão: logística assistida
por computador, utilização de orto-imagens e
de sistemas de informação geográfica (SIG), de
sistemas para apoiar as decisões de escolha de
melhor pulverização e de irrigação de precisão,
tudo em benefício da economia e da ecologia.
Hoje em dia, a maior parte dos processos de
produção industrial foram optimizados ao extremo. Mas a agricultura também oferece um
enorme potencial de eficiência, se reduzirmos
a utilização excessiva de máquinas, pesticidas,
fertilizantes e água, bem como de combustível
se melhorarmos a logística. Deverá ainda haver
uma aposta na formação a todos os níveis do
processo de produção e de planeamento, desde o agricultor individual até ao Ministério
da Agricultura, pas-
sando por organizações internacionais como a
FAO e a ONU.
Walter Mayer, Director Geral da PROGIS, uma
conceituada empresa de consultoria, fornecedora de software de SIG, centrada em aplicações para a agricultura, silvicultura e ambiente,
salienta: “Os imperativos de fornecer alimentos
a 10 mil milhões de pessoas e de cuidar ao mesmo tempo e de forma adequada do ambiente
não têm de estar em contradição. São estes elementos impulsionadores que nos orientam para
uma melhor agricultura e mais adequados modelos de gestão. Com os modelos correctos, os
cerca de 3 mil milhões de agricultores de todo
o mundo podem atingir todos estes objectivos
de maneira sustentável”.
A PROGIS dedica-se, há vários anos, ao desenvolvimento de aplicações técnicas adequadas
para uma gestão eficaz da agricultura, silvicultura e ecologia e da afectação dos solos. Muitas
empresas e organizações de grande dimensão,
como a alemã “Machine Cooperatives” , com
250 escritórios e 200.000 agricultores que trabalham em 7 milhões de hectares, já beneficiam
destes conhecimentos e podem servir de exemplos e de referência. Walter Mayer salienta que
o modelo básico de gestão é semelhante para
explorações individuais, grupos de agricultores
ou grandes cooperativas.
O tema da gestão das zonas rurais é inseparável do imperativo de sustentabilidade
ambiental. O cultivo dos campos, pastagens ou florestas tem efeitos directos não
apenas na alimentação humana e animal e na
bioenergia, mas também na atmosfera, solos,
água e recursos biológicos da Terra.
Juntamente com o ‘SaRAM’, um programa específico de ensino e formação, a PROGIS lançou recentemente uma gama de produtos que
designou ‘AGROffice complete’. Recorrendo
a um ‘balcão único’, todas as necessidades
em matéria de TIC das zonas rurais podem ser
satisfeitas: desde documentação e geo-rastreabilidade até ao equilíbrio de nutrientes – e mesmo de CO2 –, ao cálculo de custos-benefícios
e mapas.
8-
DIALOGUES
- EMRC
Bernard Pacher, Director Geral da ADCON,
uma empresa que fornece sensores para utilização na agricultura, afirma: “Do lado agronómico da equação, é importante não só que
os agricultores compreendam as relações entre
plantas, solo, água e meteorologia, mas que tenham também os dados adequados e um sistema de apoio para a tomada de decisões que lhes
permita actuar sobre esses dados”. A ADCON
Telemetry da Áustria introduziu a sua primeira
estação de controlo sem fios da meteorologia e
dos solos em 1993. Desde aí, a empresa passou
a ser o primeiro fornecedor de estações meteorológicas para grandes empresas agrícolas,
cooperativas e Ministérios da Agricultura em
todo o mundo.
O equipamento fornecido pela ADCON recolhe, transmite e processa automaticamente os
dados meteorológicos e dos solos, analisa-os
em função de várias doenças e modelos de
irrigação e fornece aos agricultores uma série de recomendações para as suas operações
agrícolas diárias. Estas recomendações são
fornecidas por e-mail, por navegador web ou
por telefone, móvel ou fixo. Experiências anteriores em países como a África do Sul, Egipto,
México e outros demonstraram que se podem
poupar quantidades enormes de pesticidas e de
fungicidas (até 70%!), de água e de adubos (até
50%!).
As duas empresas estão de acordo: “Não existe
qualquer razão para agricultores, consumidores
e ambientalistas serem inimigos. No fim de
contas, todos temos as mesmas preocupações.
“Quando o rio vai poluído a montante, toda a
gente sofre a jusante”. O modelo para o futuro
exige que sejam tidas em conta por igual todas
as necessidades. Daqui resulta que todos têm
interesse em respeitar os nossos preciosos recursos – como o solo ou a água – e em investir
na sua gestão correcta. E, salientam, este desafio é idêntico tanto nos países desenvolvidos
como em desenvolvimento, porque o mundo é
só um”. ■
Agri Business
FORUM
2009
Fórum AgriBusiness 2009
14
a
17
de
J unho
de
2009 – C idade
do
C abo , Á frica
do
S ul
Fórum AgriBusiness 2009
Para debater as últimas tendências, o desenvolvimento e os meios para aumentar a produção e tornar competitivos os sectores agro-alimentares de África, a EMRC, em parceria com a ABC - “Agricultural Business Chamber” da
África do Sul, vai organizar o Fórum AgriBusiness 2009 na Cidade do Cabo,
África do Sul. Centrado no recurso ao sector privado para melhorar a produtividade e aumentar a segurança alimentar, o Fórum apresentará soluções
alternativas para o rápido e sustentável crescimento dos sectores agrícola e
agro-alimentar.
Como sugeriu Ban Ki-Moon, Secretário-Geral da ONU: “O mundo tem de
aumentar a produção alimentar em 50% até ao ano 2030 para satisfazer o
aumento da procura. Temos uma oportunidade histórica de revitalizar a agricultura – especialmente em países onde os ganhos de produtividade foram
reduzidos nos últimos anos.“
A EMRC partilha esta visão e, através de mais uma edição do AgriBusiness 2009,
analisará a crise alimentar não como uma ameaça, mas como uma oportunidade para as pequenas explorações agrícolas aumentarem a sua produção.
Prémio EMRC-Rabobank “Project Incubator”
Para incentivar o empreendedorismo em África, a EMRC e a Fundação Rabobank lançaram o “Prémio para incubadoras de projectos” para recompensar
o projecto que se apresente como mais viável do ponto de vista económico
e social. A Fundação Rabobank oferece 10 000 dólares ao próximo vencedor
do prémio, que será anunciado no jantar de Gala do Fórum Agribusiness 2009.
Quem participa no Fórum?
O evento reunirá um conjunto de representantes dos sectores privado e público, empresários, investidores, banqueiros, consultores, multinacionais, fundações e organizações internacionais de África, Europa, América e Ásia. A EMRC
dá as boas-vindas a quem procura oportunidades de projectos viáveis e deseja reforçar o nível de empreendedorismo em África, tornando forte e atractivo
o seu sector agro-alimentar.
Para obter mais informações sobre o programa e inscrições, visite
o nosso sítio na Internet www.emrc.be ou contacte Inês Bastos: ib@
emrc.be; Tel: +32 26 26 15 15; Fax: +32 26 26 15 16
Primeiro Trimestre 2009- 9
E ntrevista
“As Universidades Europeias
e Africanas têm um papel
fundamental a desempenhar”
As diferentes visões de três académicos
sobre o continente Africano.
No seguimento da conferência Africa Finance & Investment Forum, no passado mês de
Dezembro em Paris, a EMRC convidou três
membros de diferentes instituições académicas para exprimirem a sua opinião sobre o desenvolvimento de capacidades em áreas vitais
da aprendizagem e da divulgação do conhecimento. Os Professores Sadoulet, Tuninga e
Luvumbu aceitaram partilhar as suas opiniões
connosco sobre este assunto.
As instituições académicas
na Europa e em África têm
um papel preponderante a
desempenhar
Falando do papel que as suas respectivas instituições devem desempenhar na formação dos
responsáveis africanos pela tomada de decisão, os três professores são unânimes em afirmar que as suas instituições podem contribuir
preponderantemente para ajudar a remodelar
os futuros empresários líderes em África. O
Professor Sadoulet refere que “o INSEAD
deseja promover a mobilidade de cérebros e
ideias – também precisamos de mais perspectivas africanas”. E as tendências são sem dúvida incentivadoras: como observa o Professor
Sadoulet para sua grande satisfação, a proporção de estudantes africanos no programa
MBA da INSEAD duplicou nos dois últimos
anos. E acrescenta, com uma certa ironia, que
a crise económica “é uma oportunidade, dado
as pessoas que se voltavam para Singapura,
Londres e Dubai serem agora obrigadas a alargar o seu horizonte, e isto pode ser benéfico
para o Continente Africano”.
Por outro lado, o Professor Tuninga sublinha
que a formação em gestão, assume-se como
essencial na formação de futuros líderes Africanos. Na realidade, como ele sublinha, a Escola de Gestão de Maastricht proporcionou,
durante mais de duas décadas, formação em
gestão em vários países africanos: “Foram
formados mais de 300 estudantes africanos
através do nosso programa MBA”. Advertiu,
no entanto, que será necessário fazer muito
10 -
DIALOGUES
- EMRC
mais nos países africanos para melhorar as
normas e aproximá-las dos níveis internacionais. Do ponto de vista da perspectiva africana, o Professor Luvumbu evoca o papel crucial da Universidade Agostinho Neto, a única
instituição pública do género em Angola, que
está empenhada na formação e educação dos
futuros líderes de Angola. E frisou o facto de
os especialistas que formam estes futuros líderes não serem só oriundos de Angola mas
do mundo inteiro. Este facto é particularmente
importante, por demonstrar que a globalização e a mobilidade de cérebros e de ideias não
é apenas uma realidade no Norte rico, mas é-o
cada vez mais também no Sul.
Da esquerda para a direita: Prof. John Mullins,
London Business School; Prof. Ronald Tuninga,
Maastricht School of Management, Prof. Sebastião
Luvumbu, Universidade Agostinho Neto Luanda;
Prof. Loïc Sadoulet, INSEAD Fontainebleau
seu pessoal a estudar em instituições como a
INSEAD, e criar oportunidades internas em
África”. O Professor Tuninga também é de
opinião que será necessário mais investimento
do sector privado, como também de instituições governamentais e não governamentais,
em especial para expandir a formação em
termos de gestão. O desenvolvimento só terá
um verdadeiro impacto no terreno se o problema das questões financeiras for solucionado
adequadamente, como sublinha o Professor
Luvumbu, o qual pensa também que “será
necessário mais investimento para financiar
cursos especializados de pós-graduação para
os professores universitários”.
Mensagem para o futuro
Os modelos de
financiamento devem ser
melhorados
Tanto o Professor Sadoulet como o Professor Tuninga sublinham que os novos modelos de financiamento devem ser incentivados
a formar não só os mais privilegiados, mas
também os mais talentosos para se tornarem
os futuros líderes de África. A pura verdade,
como sublinha o Professor Sadoulet, é que os
custos do ensino nas instituições de topo, correspondem por vezes a vários anos de salário
de muitos dirigentes de alto nível em África.
“Temos de explorar abordagens de financiamento inovadoras, fomentando a eficácia das
parcerias, e da nossa rede de universitários”,
exprime o Sadoulet. “Além disso, é necessário
mais esforço por parte das empresas que exercem actividades em África, para patrocinar o
Os três professores concordam em dizer que
o fórum da EMRC em Paris deu a todos os
participantes a oportunidade de estabelecer
novas redes e reforçar a interacção entre as
redes existentes. Isto aumentou a sua consciencialização de que prevalecem problemas e
que são bem-vindas intercâmbios estimulantes de ideias e discussões. Relativamente ao
futuro, cada um dos nossos convidados tem
uma visão positiva a revelar. Para o Professor
Luvumbu, o desenvolvimento de capacidades
começa antes de mais com as bases, tais como
a erradicação do analfabetismo, que ele considera uma das principais causas da pobreza
e uma barreira ao acesso ao conhecimento,
especialmente à ciência e à tecnologia. O Professor Tuninga, por seu lado, está convencido
que há muito espaço ainda para um contributo
melhor e mais significativo para a formação e
a educação dos futuros empresários constituírem empresas fortes nos seus países. Segundo
o Professor Sadoulet: “É tempo de desmistificar África e enterrar definitivamente a sua
imagem de “continente desorganizado”. A
África actual é um palco de enormes oportunidades e há histórias de liderança e inovação
que merecem mais notoriedade. Eu acredito
também que o sector privado será um instrumento valioso na ajuda a um desenvolvimento
sustentável a longo prazo”. ■
Dossier Costa do Marfim
Costa do Marfim, porta
de acesso à África
Ocidental
Comemoração do dia
da Independência
2009, ano de normalização
Apesar de um contexto internacional difícil, marcado, por um lado,
pela crise financeira global e, por outro, pela volatilidade do preço do
petróleo, associado aos aumentos dos preços dos principais produtos
agrícolas, a Costa do Marfim conseguiu terminar o seu ano fiscal de
2008 com um crescimento real do PIB de 2,9%. Além disso, o processo
de paz foi revitalizado pela assinatura, em 2007, do Acordo Político de
Uagadugu, que pôs termo a cinco anos de instabilidade política. O Governo assumiu esse desafio apoiando esse processo através da mobilização e fornecimento dos fundos necessários à organização de eleições
presidenciais em 2009. Havia a necessidade de restaurar a confiança do
país, tanto no interior como no exterior, com destaque para a normalização da situação macroeconómica e a melhoria da gestão dos fundos
públicos. Por conseguinte, um programa de assistência pós-conflito
ajudou o país a consolidar as suas relações financeiras internacionais,
que vaticinam uma forte retoma nos próximos anos.
O sector privado em primeiro lugar
Côte d’Ivoire
Capital: Yamoussoukro
Lingua oficial: Francês
Moeda: Franco CFA África-Ocidental
• Governo
Republica
- PresidenteLaurent Gbagbo
- Primeiro MinistroGuillaume Soro
• Independente de França : 7 Agosto 1960
Para preparar o país para o seu relançamento económico, o sector privado costa-marfinense tem um papel central a desempenhar. As multinacionais, as pequenas e médias empresas e as empresas públicas também
devem colaborar estreitamente para manter e melhorar a competitividade da nossa economia. Segundo o Ministro das Finanças, Charles Koffi
Diby, “para alcançar este objectivo, é necessário melhorar as competências existentes e adoptar novas tecnologias. Naturalmente, a retoma do
trabalho está a verificar-se em todo o país, graças à abertura da Costa do
Marfim a competências e investimentos estrangeiros directos”.
• Área
• População
- 2008 estimado
- 1999 census
- Densidade
322.460 km2 - 124.502 sq mi
• PNB 2008
Taxa de Inflação
Crescimento real
FCFA 10.144,60 biliões
(€15.48 biliões)
+3,8% em Junho 2008
+2,9% em Junho 2008
Vários sectores interessantes estão receptivos à entrada de capital: minas, petróleo, turismo e transformação de produtos agrícolas (café, cacau, borracha, óleo de palma e frutos tropicais).
Relativamente à sua imagem passada de “Manhattan de África”, Abidjan
tem muitas vantagens genuínas a oferecer: uma rede rodoviária funcional, um porto de mar em plena actividade, um aeroporto internacional
moderno e o fornecimento estável de electricidade. Tudo isto aliado a incentivos fiscais atractivos e mão-de-obra bem formada. Que pedir mais?
• Variação produção agrícola 2007-2008
Cacau
+15,6% Banana -4,9%
Borracha +7,5% Ananaz
-17,12%
Açúcar
+9,0% Café
-63,3%
18.373.060
10.815.694
42/km2 - 145/sq mi
*Flash Eco informação do Ministério da Economia e Finanças, Abidjan, 2008.
A nossa prioridade é a adopção de politicas
fiscais que promovam um sentimento de
confiança junto dos investidores, sector privado
e restantes entidades
— Charles Koffi Diby, Ministro das Finanças, citação da ultima edição da revista Dialogues (October 2008)
Primeiro Trimestre 2009- 11
Entrevista
Martin Djedjes
Director Geral do BIAO-CI, Banco
Internacional da África Ocidental
Abidjan, Outubro 2008
muneração mensal esperada. Este projecto foi
to de pertencermos ao grupo NSIA permite■ Dialogues: Que análise faz do potencial
apoiado pelo Governo da Costa do Marfim.
nos igualmente oferecer seguros aos nossos
de investimento da diáspora costa-marfinenDepois lançámos as nossas actividades em
clientes. A nossa oferta de empréstimos para
se, depois de ter aberto recentemente uma
França para a diáspora: abertura de um escriaquisição de casa inclui igualmente um seguro
nova filial em França?
tório de representação em Paris e organização
de vida e um seguro de habitação multiriscos.
Martin Djedjes: O potencial de investimento
da Feira do Imobiliário. Por último acabamos
Por outro lado, foram concebidos produtos
da diáspora é importante. Residem em França
de concluir uma parceria com a TOTAL Côte
específicos para a diáspora costa-marfinense:
mais de 127 000 nacionais da Costa do Marrepatriamento dos mortos e seguro de funeral. d’Ivoire, que nos permitirá alargar a nossa
fim. Esta diáspora faz parte dos nossos clienrede, instalando miniagências ou máquinas
tes-alvo. A decisão de instalar um escritório
automáticas de pagamento nas 157 estações
■ Dialogues: Que actividades e inovações
de representação em Paris, em parceria com o
de serviço TOTAL. Trata-se de uma rede
recentes do BIAO lhe permitem aumentar a
banco francês “Banque d’Escompte”, inseremuito vasta que nos permitirá prestar esses
quota de mercado em relação aos seus conse na política de proximidade do BIAO. Esta
serviços mesmo em locais longínquos, contricorrentes?
decisão baseou-se igualmente em estudos
buindo assim para o processo de divulgação
MD: O BIAO é um banco com enorme potenrealizados na sequência do nosso patrocínio
da banca junto das populações.
cial, ainda não plenamente explorado. Só num
da primeira “Jornada da Diáspora Costa-marfinense”, organizada em Maio último
Além disso, decidimos envolver-nos
pela Coordenação-Geral desta diáspoplenamente no financiamento da prora. Durante este evento compreendedução de cacau. Com efeito, no final
mos qual era a sua principal necessidade 2008 financiámos cerca de 80 000
de: investir no imobiliário na sua pátria.
toneladas de cacau, ou seja, o triplo do
Organizámos por isso a nossa primeira
que tínhamos feito na campanha anteFeira do Imobiliário para a Diáspora,
rior.
em 4 de Outubro de 2008, em parceria com os promotores imobiliários de
Por último, mas não menos importante,
maior renome da Costa do Marfim. A
em 15 de Dezembro de 2008 o BIAO
nossa estratégia era dissociar-nos da
procedeu a um aumento de capital
concorrência, posicionando-nos claraatravés de subscrições em numerário
mente como um banco capaz de conseaté 10 mil milhões de FCFA, passando
guir soluções eficazes para a diáspora
o capital social do banco para 20 mil
da Costa do Marfim no que se refere
milhões de FCFA. Este reforço do seu
ao investimento no sector imobiliário. Representantes do Sector Imobiliário da Costa do Marfim durante a Feira Nacional Imobiliária 2008: ABRI 2000, BATIMcapital próprio proporciona ao banco
Para além dos actuais serviços bancáCI, GFCI, ORIBAT, SCI LES FIGUIERS, SICOGI.
um aumento dos meios financeiros,
rios, como as contas de poupança e à
permitindo-lhe participar na restauraordem, oferecemos transferências de
ção da economia do país.
ano passámos da quinta para a terceira posidinheiro, empréstimos para aquisição de casa
ção num total de 20 bancos no país, de acordo
em condições especiais e seguros.
■ Dialogues: Sendo um grande banco na
com a classificação da APBEFCI (Associação
Costa do Marfim, quais são as suas perspecProfissional de Bancos). O nosso lema é a ino■ Dialogues: Fazendo parte da NSIA, um
tivas de expansão regional?
vação e em 2008 continuámos a impulsionar
grupo segurador regional, que garantias ofeMD: O grupo NSIA, de que o BIAO-CI faz
uma nova dinâmica no mercado bancário da
rece quanto à realização desses empreendiparte, é o primeiro grupo segurador na África
Costa do Marfim. No início do ano passado
mentos imobiliários?
Ocidental e Central. Lançou a sua actividade
concluímos uma parceria com o Movimento
MD: É importante salientar que o BIAO está
na África de língua inglesa através da aberdas Pequenas e Médias Empresas (MPME) da
por detrás da organização desta Feira Imobitura de uma sucursal no Gana. O BIAO-CI
Costa do Marfim para criar um fundo de galiária. Convidámos os melhores promotores
integra-se naturalmente nesta estratégia de
rantia conjunto, que servirá de caução às PME
imobiliários que pudessem garantir o nível
desenvolvimento regional. Mas de momenda Costa do Marfim que pretendem financiar
de qualidade das obras e a conclusão dos proto a prioridade é consolidar a nossa posição
os seus projectos através do BIAO. Em Julho
gramas. A função do BIAO consistirá na conna Costa do Marfim, continuando ao mesmo
último foi lançado o “Adiantamento sobre o
cessão de crédito aos promotores para finantempo a explorar todas as oportunidades para
salário”, um produto inovador que permite
ciarem os programas imobiliários, bem como
desenvolver a nossa rede na sub-região a méa qualquer funcionário público beneficiar de
oferecer empréstimos aos compradores. Além
dio prazo. ■
um adiantamento do salário até 70% da reda garantia de seriedade e fiabilidade, o fac-
12 -
DIALOGUES
- EMRC
Dossier Costa do Marfim
Entrevista
Stéphane Eholié
Director Geral da SIMAT
República da Costa do Mar fim
Abidjan, Outubro 2008
Quando Stéphane Eholié fundou a sua sociedade SIMAT em 2001, com o objectivo de fornecer um serviço logístico de manutenção e
de trânsito no aeroporto e no porto de Abidjan,
não imaginava um sucesso tão rápido e tão
grande neste sector de actividade, tanto mais
que a SIMAT passou recentemente a estar cotada na Bolsa em Paris, na Euronext.
■ Dialogues: Como se sente ao ter superado
este desafio?
Stéphane Eholié: É um sentimento de orgulho pela concretização de uma carreira individual e de ter contribuído para o sucesso colectivo da organização. África só conseguirá
superar o desafio do subdesenvolvimento com
o aparecimento de empresários e de quadros
dirigentes africanos. Sempre referi que o continente Africano só poderá ter um crescimento
sustentável mediante o princípio da parceria
Norte-Sul, ou mesmo Sul-Sul, graças ao dinamismo das PME’s locais.
África é um dos últimos continentes virgens
onde tudo está por fazer, por construir ou
mesmo por reconstruir. É em África que se
encontra o potencial de crescimento e de valor
acrescentado do próximo decénio. Enquanto
operador económico, o meu objectivo é desempenhar um papel importante na cadeia de
valor no sector dos transportes.
■ Dialogues: A cotação na Bolsa em Paris
de 20% do capital da SIMAT foi uma opção
estratégica. Qual é o contributo desta capitalização e quais são as perspectivas para o
vosso capital mais tarde?
SE: A Costa do Marfim atravessou uma crise
sociopolítica grave, que só se poderá estabilizar depois das eleições. Apesar da perda
de confiança das organizações financeiras,
o crescimento manteve-se, o que prova bem
que existe potencial. Mas para que se possa
aproveitar o efeito deste potencial é preciso,
evidentemente, voltar a integrar o sistema
internacional, para trazer de novo os investimentos directos estrangeiros. É preciso conseguir restabelecer a confiança, uma vez que
os níveis de alerta em termos de segurança já
baixaram e baixarão ainda mais depois das
eleições. Como o comércio é global e internacional, empresas locais como as nossas não
podem entrar em concorrência directa com as
multinacionais, excepto se compreenderem
que também podem passar a ser empresas modernas, com instrumentos de gestão modernos
e recursos humanos capazes de prestarem serviços de qualidade.
A nossa entrada na Euronext, filial da Bolsa
Valores de Nova Iorque, foi uma escolha estratégica e um sinal forte para o mercado africano e para os costa-marfinenses. O facto de
entrarmos na bolsa europeia antes de estarmos
na bolsa aqui constitui certamente uma opção
estratégica, porque visa inspirar confiança na
estabilidade das nossas actividades. Na segunda fase, no primeiro trimestre de 2009,
esperamos entrar na Bolsa Regional de Valores Mobiliários da Costa do Marfim, com um
aumento de capital de 15% a 20%, visto que é
o nosso mercado natural.
■ Dialogues: Qual é a sua perspectiva para
o crescimento futuro da SIMAT?
SE: A especificidade da SIMAT tem residido num crescimento de dois algarismos, mas
limitado ao interior do país. Continuamos a
ganhar quota de mercado, mas aguardamos
que o crescimento económico da Costa do
Marfim seja mais positivo para poder adaptar o nosso modelo. Depois, num segundo
tempo, procuraremos oportunidades de negócio, como a gestão do terminal de adubos
do porto de Abidjan. Esta gestão em parceria
permitir-nos-à fomentar as nossas actividades
no Burquina Faso e no Mali graças ao transporte multimodal em comboio ou camião.
Actualmente, pretendemos adquirir barcos
com maior capacidade, para descarregarmos
maiores quantidades de mercadorias. Por último, num terceiro tempo, vamos desenvolvernos na região, seja através de parcerias, seja
pela aquisição de empresas locais. A vocação
óbvia da Costa do Marfim é assegurar a importação e a exportação de mercadorias para
os países sem litoral. A concorrência é muito
grande, mas visamos actualmente um crescimento interno e parece-me que a estratégia
funciona, porque os clientes estão satisfeitos.
■ Dialogues: A SIMAT torna-se o símbolo
de uma África empreendedora e dinâmica.
Que estratégia utiliza para alargar o âmbito
dos vossos serviços?
SE: Se sou um símbolo, é o do trabalho. África só conseguirá um crescimento sustentável
se os próprios africanos acreditarem no seu
continente. Uma vez que as nossas actividades
são auxiliares (transportes, manutenção, trânsito, conciliação e armazenagem), a satisfação
do cliente prevalece, bem como a obrigação
de resultado. A SIMAT procura fazer face a
este desafio do subdesenvolvimento graças à
sua estratégia de penetração nos mercados. É
por isso que esperamos obter a certificação
ISO no primeiro trimestre de 2009. É preciso
que a SIMAT seja vista como uma empresa
africana, mas sem ser de forma pejorativa,
porque trabalhamos como um grupo europeu.
É preciso acabar com a imagem negativa de
África através de exemplos de excelência e de
sucesso empresarial. Actualmente, qualquer
empresa que queira ser séria e concorrer a nível mundial deve ser certificada ISO, porque é
uma garantia moderna de qualidade. Para uma
empresa como a nossa, é uma necessidade vital para obter contratos cada vez mais globais
ou até mesmo na sub-região.
■ Dialogues : Quais são os valores de gestão
que preconiza?
SE: Creio que o êxito não é espontâneo. Gostaria de preconizar a excelência pelo trabalho, porque África só conseguirá ter êxito se
trabalhar. O salário é o fruto de um trabalho,
portanto para ganhar mais é preciso poder
trabalhar mais. Estou mais interessado em
conquistar mercados do que em enriquecer. É
esse o meu desafio: todos os lucros são reinvestidos. Gostaria que dissessem do meu grupo: «Com esta empresa podemos trabalhar.»
Assim, a confiança aparecerá naturalmente. ■
Primeiro Trimestre 2009- 13
Entrevista
Kassoum Fadika
Director-Geral – PETROCI
Abidjan, Outubro 2008
Kassoum Fadika trabalhou cerca de 7 anos
para duas sociedades petrolíferas americanas nos EUA: OCEAN ENERGY, que tinha
actividades de exploração na Costa do Marfim, e depois para a ENRON, durante alguns
meses. De regresso ao seu país, em 2002, foi
nomeado conselheiro especial do Presidente
da República, Laurent Gbagbo, para o sector
das minas, da energia e do petróleo. Após três
anos passados na Presidência, entrou em 2005
na sociedade nacional de operações petrolíferas, PETROCI, como Director Geral.
■ Dialogues: A Costa do Marfim iniciou
uma fase de reestruturação monumental,
tanto ao nível político como económico, para
voltar a ocupar um lugar entre os países
motores da sub-região francófona. Como é
que identifica a sua missão à frente da PETROCI, instrumento avançado da política
energética da Costa do Marfim?
Kassoum Fadika: A nossa missão é muito
simples: explorar o potencial estimado na
nossa bacia sedimentar, que está localizado
principalmente em offshore, para sermos um
dia membros da OPEP. Na verdade, o nosso
objectivo coloca-se mais em termos de nível
de produção do que de ser membro da OPEP.
Foi esta preocupação que sempre orientou a
nossa actividade e foi por isso que o desenvolvimento do sector petrolífero se iniciou
nos anos 60 com a construção da SIR (Société
Ivoirienne de Raffinage), depois a criação da
PETROCI e da SMB nos anos 70, seguida da
GESTOCI, encarregada da gestão das reservas petrolíferas. Face a todas estas iniciativas
do Estado, a Costa do Marfim ambiciona posicionar-se no centro da dinâmica de desenvolvimento petrolífero na sub-região. O nosso
país, mesmo não sendo um produtor importante de petróleo, conseguiu impor-se tão bem
no sector que os países limítrofes, quando têm
necessidade de importar produtos petrolíferos,
se viram primeiro para nós antes de procurarem outras fontes fora da sub-região. Só no
começo do segundo semestre de 1990 é que a
Costa do Marfim deu início a uma verdadeira
política de desenvolvimento do seu subsolo, a
fim de valorizar o potencial mineiro, petrolí-
14 -
DIALOGUES
- EMRC
fero e energético. É por isso que em comparação com outros países vizinhos podemos
acusar algum atraso na exploração do nosso
subsolo. Se olharmos para a evolução da Costa do Marfim nos últimos 40 anos, o desenvolvimento do país assentava principalmente na
agricultura e exploração, entre outros do café,
cacau, árvore-da-borracha, banana, ananás,
entre outros. Actualmente, podemos dizer que
a Costa do Marfim está a entrar numa fase de
transição, de diversificação da economia, caminhando para uma maior industrialização e
para a exploração de outros recursos naturais,
como o petróleo e minérios. Por conseguinte,
é a PETROCI que deve orientar e executar
esta política petrolífera.
Neste sentido, contamos atingir resultados
de produção de aproximadamente 150 a 200
000 barris por dia, o que será verdadeiramente
positivo em termos de impacto para o Estado,
para a PETROCI e para o conjunto da economia.
■ Dialogues: Qual é o papel que o gás natural
fornecido pela PETROCI, assume no conjunto
global de energia da Costa do Marfim?
KF: Actualmente, o bloco Foxtrot, de que
a PETROCI tem 40% e o Estado cerca de
10%-15%, fornece 80% ou mesmo 90% do
gás natural destinado à alimentação de electricidade. O gás natural trouxe-nos uma vantagem considerável, porque a sua exploração
coincidiu com os problemas hidroeléctricos.
O gás natural representa hoje cerca de 70%
da produção de electricidade nacional, o que
não é negligenciável. É por isso que não há
cortes de electricidade e que exportamos electricidade para o Gana, o Mali e o Burquina
Faso. Temos a vantagem de ter pensado muito
rapidamente em valorizar esta energia, em
comparação com outros países petrolíferos
que têm muito gás mas não o exploram. A PETROCI interessa-se, igualmente, por outras
fontes alternativas, como a energia solar, os
biocarburantes ou a bioenergia.
■ Dialogues: Qual é a importância dos investidores estrangeiros na Costa do Marfim
e qual é a vossa estratégia para atrair novos
parceiros?
KF: O país sempre esteve aberto aos investidores estrangeiros e na zona da CEDEAO Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, não existem muitos países onde
o investimento estrangeiro seja tão elevado
como na Costa do Marfim. Mas seremos agora
capazes de inverter esta tendência? Pensamos
que não. É verdade que o contexto se alterou
em relação aos últimos 5 ou 10 anos. Perante
isso, era preciso provavelmente rever a estrutura de parceria entre os investidores e a Costa
do Marfim em geral, assim como a PETROCI
em particular. O contexto dinâmico da indústria petrolífera faz com que necessariamente
seja preciso rever os Contratos de Partilha
de Produção, ou seja, a estrutura de funcionamento dos contratos petrolíferos. Mas isso
não significa que queiramos fechar a porta
aos investidores estrangeiros! Eles continuam
a ser bem-vindos. Há simplesmente que encontrar um equilíbrio com os recursos naturais, que continuam a ser propriedade do
país, e quem faz investimentos iniciais e traz
mesmo a tecnicidade. Este equilíbrio deve
satisfazer os interesses de ambas as partes.
A flexibilidade que queremos introduzir no
Objectivos para 2016 Produção /Exploração /Distribuição
• Petróleo : produção de 300.000 barris
por dia, prestando serviço a 100 estações em todo o território
• Gás Natural : extensão dos serviços às
zonas industriais de Abidjan e duplicação do número de clientes
• Gás Butano : atingir 200.000 toneladas
(67% quota de mercado) e aumentar
a capacidade de armazenagem
Projectos futuros
• Transportar os hidrocarbonetos via a
pipeline Abidjan-Yamoussoukro-Bouaké
• Criar a segunda refinaria do país, com
capacidade para 60.000 barris/dia
numa primeira fase
• Construir um pipeline Abidjan-Takoradi,
um complexo electrico agri-biodiesel,
bem como um terminal de armazenagem em mar e lagoa
Dossier Costa do Marfim
nosso quadro jurídico evitará as negociações
artigo a artigo do contrato, desde a assinatura até à produção. Porque tudo isto faz com
que a obtenção de uma licença na Costa do
Marfim seja menos dificultada do que noutros
sítios. Esta flexibilidade também nos permitirá, quando o contexto se alterar, reajustar
melhor as condições de todos os interesses em
presença. Damos prioridade à colaboração a
longo prazo, para renegociar a rendibilidade
económica de uns e de outros. Consideremos
o exemplo de um contrato assinado quando o
barril estava entre 15 e 20 dólares e actualmente está a 100 dólares (era este o nível de
preços do barril no momento da entrevista). É
por isso que sugerimos activamente ao Estado
uma renegociação dos contratos.
De momento, os nossos parceiros estrangeiros na exploração são independentes, comparado com companhias mais importantes
como a CHEVRON, a EXXON ou a TOTAL:
a PETROCI forma um conglomerado com a
BOUYGUES e a EDF-GDF. Além disso, estão presentes as sociedades LUKOIL (russa),
Emirati Al Thani (Emiratos Arabes Unidos) e
EDISON (italiana). Para a exploração do petróleo, a CNR (Canadian National
Ressources) é actualmente
o maior produtor de petróleo bruto, com dois
blocos no país, e
a americana DEVON. Por muito
estranho
que
possa
parecer, devido
à
nossa
história
comum
com a
França,
a
TOTAL não está presente. Continuamos
a aguardar uma resposta às propostas que
lhe fizemos. A BP participou nos primeiros
trabalhos de exploração no país, entre os anos
de 1959 e 1970. Ironia do destino, os blocos
que estão actualmente a produzir foram descobertos graças a estes trabalhos, mas como
não eram rentáveis no contexto económico da
época foram abandonados.
■ Dialogues: Quais são as vossas prioridades para 2009?
KF: A nossa primeira preocupação consiste
em restabelecer o nível de produção do final de 2005/ início de 2006, com o campo
«Baobab», que era de cerca de 80 000 barris/
dia. Estamos actualmente a fazer obras para
voltar a pôr poços em funcionamento, o que
nos permitirá estabilizar em 60 000 – 80 000
barris/dia. Depois precisamos de intensificar
as perfurações de exploração, mas mais provavelmente em 2010 devido à tensão actual
nos mercados de perfuração. Foi por isso que
adiámos as duas perfurações previstas para
2009 para o início do ano seguinte. Estes custos de perfuração estão associados à procura,
à disponibilidade de equipamentos de perfuração e ao preço do barril, evidentemente. A seguir, dois projectos de novas refinarias destinam-se a fazer da Costa do Marfim o principal
país de refinação da sub-região. Precisamos
igualmente de concluir a construção do oleoduto entre Abidjan e Bouaké, que representa
um investimento de 110 mil milhões de FCFA
(cerca de 165 milhões de euros), de momento
financiado na totalidade pela PETROCI. O financiamento será aberto a outros parceiros se
o Governo nos autorizar. Além disso, estamos
a reflectir sobre os biocarburantes e as bioenergias, na medida em que a sua produção não
está prevista em qualquer quadro jurídico.
De facto, se os agricultores que contribuem
para assegurar a segurança alimentar na Costa
do Marfim abandonarem as culturas alimen-
tares para se virarem para a produção de purgueira, por exemplo, com o pretexto de que
é mais rendível, ficamos em perigo. Temos
interesse, portanto, em propor rapidamente
ao governo um quadro de reflexão e de gestão
para evitar um desequilíbrio mais que certo.
■ Dialogues: Qual o papel social da PETROCI junto das populações rurais?
KF: É verdade que para além do desenvolvimento do nosso sector temos um papel social
muito importante e para o tornar mais visível
criámos a Fundação PETROCI, destinada
sobretudo às nossas gerações futuras. A Fundação fará apelo aos nossos parceiros e terá
por função contribuir para o desenvolvimento
humano dos costa-marfinenses, onde quer que
possa, em temas que tenham a ver com a educação, a saúde ou as infra-estruturas sociais.
Arrancando com meios modestos, desenvolverá depois actividades de maior alcance, à
volta de 2 mil milhões de FCFA. Além disso,
queremos que seja toda a população costamarfinense a beneficiar e não apenas as populações localizadas perto da bacia sedimentar
da Costa do Marfim, no sul do país.
■ Dialogues: Para concluir, a Costa do Marfim pode ser definida como uma plataforma
de crescimento, que tem em conta as preocupações sociais. Como é que vê a economia da
Costa do Marfim nos próximos cinco anos?
KF: É preciso redefinir uma série de coisas,
podendo seguir-se duas opções: privilegiar os
esforços locais ou recorrer ao investimento
estrangeiro. Pensamos que é necessário um
equilíbrio entre as duas, porque como referi
mais
acima,
a nossa
economia está
essencialmente nas
mãos de investidores estrangeiros. É preciso reequilibrar
isto em actividades
com muito maior
criação de valor. No
que diz respeito à PETROCI, temos um certo
número de prioridades para
acelerar o desenvolvimento.
De qualquer modo, o sector energético é, evidentemente, um dos pilares
do desenvolvimento do país. A Fundação PETROCI irá apoiar igualmente a educação, que
é outro sector prioritário.
Pessoalmente, temos orgulho no estado de
espírito que reina na PETROCI, entre os colaboradores. É preciso dar uma nova ambição
à PETROCI, que será adoptada pelos seus
quadros para que se sintam envolvidos na sua
realização. Pensamos que é base do êxito de
qualquer empresa, pública ou privada, e o trabalho de equipa é por isso primordial. ■
Primeiro Trimestre 2009- 15

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