SOBRE DINOSSAUROS, GALINHAS E DRAGÕES: A Trilogia

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SOBRE DINOSSAUROS, GALINHAS E DRAGÕES: A Trilogia
SOBRE DINOSSAUROS,
GALINHAS E DRAGÕES:
A Trilogia
Texto: Marina Arthuzzi, Mariana Blanco e Marina Viana
Belo Horizonte, 2014
SOBRE DINOSSAUROS, GALINHAS E DRAGÕES – A TRILOGIA
Introdução: A aurora do homem: Elvis. Also sprach Zarathustra (Strauss).
Marina: Quando Acordou. O dinossauro ainda estava lá. Tiranossauro Rex,
Roberto Marinho, Baby da Silva Sauro
Mariana: Stanislawsky, a mimesis corpórea, o equilíbrio precário e a dilatação
Marina: Tarcísio, Glória, o maio de sessenta e oito, o muro de Berlim, o amor livre,
o flower power
Mariana: Hall o computador sentimental de 2001, Harrisson Ford e Daryl Hannah
Marina: Chewbaca, o último dos moicanos, o ultimo dos tamoios, a república do
café com leite
Mariana: Charles Darwin, a escrava Isaura e a dona redonda que explode no
último capítulo de saramandaia.
Marina: Aos que reinavam no mundo antes de nós.
Mariana: Dinossauro: Lagarto Terrível Extinto há 65 milhões de anos...
Marina: Substantivo masculino plural: Organizações Globo e Silvio Santos.
Mariana: Diminutivo: Macaulay Calkin e Jordi. Cadê a Duda Little?
Marina: Elvis Presley: dinossauro de belíssimo rebolado.
Mariana: Galinha: Parente mais próxima do Tiranossauro Rex.
Marina: O “rei dos répteis tiranos” se tornou o franguinho nosso de cada dia.
Uma franzina ave modificada geneticamente pelas empresas alimentícias.
Mariana: Clássico de domingo junto com o macarrão
Marina: Clássico: 1.Relativo à arte, à literatura ou à cultura dos antigos gregos e
romanos.
Mariana: 2. Fla flu.
Marina: 3.Que segue, em matéria de artes, letras, cultura, o padrão deles.
Mariana: 4. Como diria Geraldo Peninha: Da melhor qualidade;
Marina: exemplar Habitual; CLICHÊ! .5. é o que se diz do cafezinho dos
funcionários de repartição.
Mariana: E se Elvis era um deus grego, ele é clássico.
(Entra locução)
“Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a
flauta. ‘Para que lhe servirá?’, perguntaram-lhe. ‘Para aprender esta ária antes de
morrer”.(então essa ária tem que ser muito boa!)
Come on, come on
Come on, come on
Come on, come on
Don't procrastinate, don't articulate
Girl it's getting late, gettin upset waitin around
A little less conversation, a little more action please
All this aggravation aint satisfactioning me
A little more bite and a little less bark
A little less fight and a little more spark
Close your mouth and open up your heart and baby satisfy me
Satisfy me baby
Mariana: Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá. CNTRL C A Mímesis
Corpórea possibilita ao ator a busca de uma organicidade a partir da imitação de
ações físicas e vocais de pessoas encontradas no cotidiano. CNTRL V.
Por exemplo. Comecemos com uma perna. Perna direita para frente. Flexão do
joelho direito. Quadril em oposição ao joelho direito, ombro em oposição ao joelho
esquerdo. (Anatomia do movimento, Domínio do movimento LABAN). Mão no
microfone, outra mão no microfone. Perna direita bate intermitentemente no chão.
Pronto: temos Jim Morisson.
Agora, se fizermos um giro de 90° para a esquerda, levarmos a perna e a cabeça
para a lateral correspondente, e oscilarmos a pélvis para frente e para trás: Temos
Fred Mercury.
Voltando para o Jim Morrison. Posição anatômica mantendo a leve flexão (como
diria vovó, a moedinha no joelho) e trocarmos o microfone por uma benção, temos
Jesus Cristo. Ou Maria. Ou Davi. Jesus, Maria, Profeta de Congonhas:
John Travolta.
Nessa mesma lógica, se aumentarmos a oposição do tronco em relação ao joelho
esquerdo e colocarmos uma mão na cintura, temos Ney Matogrosso. As duas
mãos na cintura: Beyoncé. Se virarmos os dedos para trás, voltarmos para o
centro e projeta a pélvis para frente temos Caetano Veloso em sua fase mais
agressiva de interpretação, principalmente antes do banquinho, violão e do
vibrato. Essa mão na cintura nos remete rapidamente a Gal Gosta. Só que agora é
preciso levar as mãos aos cabelos e ter um olhar impetuoso porque meu nome é
Gal. Elis Regina (arrastão) GAL/ Elis Regina/GAL/Elis Regina.
Semelhantemente à Elis Regina, a fricção dos braços no ar trabalhando
desleixadamente a sua cinesfera, e a agitação da pélvis e das pernas no
contratempo de Satisfaction, temos Mick Jagger.
Ao falarmos de Pélvis é impossível não nos remeter a Elvis. The Pélvis. E por uma
questão meramente cronológica ou genealógica e nem tanto labaniana a John
Lennon, (que eu podia ter introduzido quando me remeti a Jesus Cristo). E a Paul,
George e Ringo. Que não sei por que, mas dadas às circunstâncias me lembra
Steve Wonder, que me remete a Axl Rose (the legendary snake dance), que
lembra Xuxa, e as paquitas. Que me lembra Kurt Cobain, que por ter escrito uma
carta suicida me vem aqui a cabeça Tom York, Arnaldo Antunes, Renato Russo,
porque todos eles imitavam Ian Curtis (the epilepsy dance) em equilíbrio precário.
E todos eles me lembram Carmem Miranda, que me remete a Lady Gaga que
como Raul Seixas, é muito batido mas tem sempre alguém que pede pra tocar.
No mais: strike a pose. Roberto Carlos não tem uma perna. James Brown se sente
bem. Iggy Pop rola no caco de vidro porque o público quer sangue.
Ladies and gentleman: Um astro de rock graças a Jack Daniels, Jonny Walker,
Mary Jane, Bayer ou Timoty Leary acaba de dilatar no recinto.
(entra vídeo dilatações)
Marina (ao microfone) CNTRL C Dilatação - um corpo - em - vida é mais que um
corpo que vive. "Um corpo - em- vida dilata a presença do ator e a percepção do
espectador (...) o corpo dilatado é acima de tudo um corpo incandescente, no
sentido científico do termo: as partículas que compõem o comportamento
cotidiano foram excitadas e produzem mais energia. CNTRL V.
Marina: Top 10 de minha patetice.
Mariana: Uma cena mimeografada por Mariana Blanco a partir do texto original de
Marina Viana
Marina: Eu nasci em 1981. Junto com o fantasma da AIDS e da MTV. Antes da
queda do muro de Berlim e depois do assassinato de John Lennon. Antes das
eleições diretas porem depois de 1968.
Mariana: Eu nasci em 1985 Opala comodoro marrom HS 4190.
Diretas já. Fratura na clavícula esquerda. Junto com a vingança Freddy Grueger,
De volta para o Futuro e os Goonies. Junto com o Rambo II, o Mad Max III e o
Rocky IV. Eu nasci lutando.
Marina: Essa música é por causa da Cristiane F. Drograda e prostituída aos treze
anos. Eles corriam num corredor fugindo de alguma ciosa e tocava essa música,
mas essa musica era sobre o muro de Berlim, e ele já tinha caído quando eu a
conheci. A musica e a Cristiane. Eu nasci no meio do caminho...
(1985 Lua de Cristal – Xuxa. Por causa da globo.)
Mariana: Na década de noventa até o Sérgio Malandro podia ser herói e príncipe
num cavalo branco...foi a primeira vez que fui ao cinema. Cadê a Duda Little? Era
1990. Porque eu tinha 5 anos. Eu nasci no meio da década. Eu támbém nasci no
meio do caminho!
Marina: Cntrlc No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do
caminho. No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra. Tinha uma
pedra no meio do caminho. Nunca me esquecerei na vida de minhas retinas tão
fatigadas que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do
caminho e tinha um grupo de adolescentes perdidos no espaço tempo num mundo
de RPG. Cresci assistindo cada episódio. Eles nunca vão pra casa, não é? NADA,
se resolve. Cadê o final? Passava na XUXA. O que vocês esperavam de mim?
Mariana: Eu quero a minha torta de morango, quero cantar como as princesas
Disney!
Marina: Emprego fixo?
Mariana: quero o guarda roupa da Cher!
Marina: Vida estável?
Mariana: minha cena de Dirty Dance, quero dar pro meu guarda costas se ele for o
Kevin Costner e cheirar pó com ele se ele for o John Travolta.
Marina: Nome limpo? Menos pieguice?
Mariana: Eu quero Ser John Malkovich!
Marina: Fim previsível?
Mariana: Eu quero o meu romance com Richard Gere! Eu quero o meu clichê!
Marina: Tudo pode ser só basta acreditar...
(Áudio)“Bem vindo a Holywood. A cidade onde todos os sonhos se realizam. Qual
é o seu sonho? Qual é o seu sonho?”
(1993 All apollogies – Nirvana.)
Marina: Que sei eu do que serei eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas
penso ser tanta coisa! E há tantos querendo ser a mesma coisa que não pode
haver tantos. Gênio? Nesse exato momento 100 mil cérebros se concebem em
sonho gênios como eu e a vida não marcará, quem sabe nenhum. Kurt Cobain
pedia desculpas. Acreditava que cheirava a espírito jovem...
Mariana: E teen spirit era só uma marca de desodorante.
Marina: O triste, insatisfeito, pisciano, pequeno homem de Jesus. Triste e
insatisfeito.
Marina: Mas não tem gosto de morango e não é de comer. Não tem cheiro de
Teen Spirit. Eu também sou infantil, chorona e fácil de entender!
(1969 Give Peace a Chance – John Lennon.) Mesmo assim eu insisto. Agente
insiste não sei porque! Eu não nasci desistida. eu usei fralda de pano e calça
plástica. Não existia Internet nem Bob Sponja! Eu cresci pollyana e acho que a
culpa é da Xuxa.
Mariana: Eu cresci levando tombo. Insistindo, porque eu nasci com o pé chato
mas eu usei a maldita bota ortopédica, branca, por causa da Xuxa. A culpa é dela
mesmo. Me leva na nave! Me leva na nave!
(1969 With a little Help for my friends)
Marina: Vitor Jara, Vandré, John Lennon, Billy the Kid, Lampião, Raul Seixas,
Caetano, Bob Dylan, confesso aos 29 que só fui gostar de toda a idiotice do punk
aos 25.
Mariana: Eu nasci pop, nunca (hunf) serei punk, sou idiota e tenho 25 anos de
sonho, de sangue... (1976 Palo Seco – Belchior. Porque já tive 25 anos.)
Marina: Tarde. Muito tarde e sem sentido. Mas os moluscos se movimentam como
podem. Nesse meio do caminho o muro é alto. Mas de toda forma, pra escolher a
profissão que escolhemos, meus amigos, temos que ter algo polliânico em
comum... Eu sou velha. (1974 Gita – Raul Seixas.) Mas eu sou velha. Muito
velha, e retrô e démodé!
Mariana: E confesso que conheci Raul Seixas aos dez anos de idade por causa da
Débora Blando!
Marina: (1986 Tempo Perdido – Legião Urbana) E selvagem. Selvagem.
Selvagem! Haahahahahahah. Atire a primeira pedra quem nunca tiver cometido
erros na playlist.
Marina: Mas somos tão jovens! Tão Jovens. Tão jovens. Tão...
(1995 Fake Plastic Trees – Radiohead).
Marina: Mas eu vivi uma transição. Sem dúvida. E sou deprimida também.
Cuidado com o que planta no mundo! Disseram-me outrora. Mas eu planto.
Planto. E choro. Nasci com o mundo dividido. Não pratiquei amor livre. Porque já
existia aids. Tinha o cabelo do suvaco, e o símbolo da paz dependurado no
pescoço quando o moicano já tava fora de moda! Eu fui comunista na
adolescência, hoje eu tomo cuba libre
Mariana: Eu gosto de cuba libre
Marina: e ainda gosto de rock...
Mariana: Nostalgia...That’s what rock n roll is all about. (Caetano, 1972).
(1971 Stairway to Heaven – Led Zeppelin.)
And as we wind on down the road
Our shadows taller than our soul, there walks a lady we all know
Mariana: Isso é resultado de quando agente aprende a letra sem saber inglês.
Que letra é essa?
Marina: Mas não importa. Eu sou brega e velha. Afinal de contas que bandeira eu
dou, que camisa eu visto, que refrão eu decoro?
Mariana: Eu sou brega! Eu nasci junto com o Guns n Roses. As primeiras músicas
que eu cantei em inglês eram do Guns n Roses. Namorei guitarristas que queriam
ser o Jimmy Page. Vocalistas que imitavam o Eddie Vadder. Afinal de contas que
bandeira eu dou, que camisa eu visto, que refrão eu decoro?
Marina: O pior de tudo nem é o Guns n Roses.
Mariana: E o pior de tudo nem é o Led Zeppelin!
Marina: É o Clube da Esquina. Que é chato. Sem libido. Unanimidade quem nem
pão de queijo, queijo minas, e música do Marcos Viana no sábado de manhã
seguido de uma imagem de um profeta de Congonhas. Parô!Acabô! Datô! Todo
mundo conhece a historinha e cospe ela por aí. Ninguém mais inventa historinha
nas alterosas! Mas eu confesso. Eu gosto.
(1972 Um girassol da cor do seu cabelo – Clube da Esquina.)
Mariana: Eu não gosto de Clube da Esquina. Shhhhhhiiii.
(Introdução Paparazzi)
Mariana: Cataclismas
Marina: A extinção
Mariana: Overdose: Dee Dee Ramone, Keith Moon, Sid Vicious
Marina: Cazuza e Freddie Mercury: AIDS.
Marina: Sufocados no próprio vômito: John Bonhan, do Led Zeppelin e Jimi
Hendrix que tinha 27 anos quando morreu.
Marina: Assim como Janis Joplin, Brian Jones, Jim Morrison, e Kurt Cobain que se
matou com um tiro na cabeça.
Mariana: Já Ian Curtis do Joy Division, se enforcou em sua cozinha escutando
Iggy Pop.
Marina: John Lennon foi assassinado.
Mariana: E ninguém sabe como, mas todo mundo sabe que Paul McCartney está
morto.
Marina: Assim como sabe que se arrancar a cabeça do fofão você acha um garfo
do diabo, e o disco do Raul ao contrário tem mensagem do capeta.
Mariana: E que o homem nunca foi a lua, (não?) manga com leite faz mal (faz?) e
os dinossauros foram extintos. (Foram?). Todo mundo sabe que Elvis não morreu.
Quizas,Quizas, Quizas ( versão karaokê para ventilador)
Siempre que te pregunto
que ¿Cuándo? ¿Cómo? y ¿Dónde?
Tu siempre me respondes:
Quizás, quizás, quizás
Y así pasan los dias
y yo desesperando y tú,
tú contestando: Quizás, quizás, quizás.
Estás perdiendo el tiempo
pensando, pensando
Por lo que tu más quieras
hasta cuando, hasta cuando
Y así pasan los dias
y yo desesperando y tú,
tú contestando: Quizás, quizás, quizás.
Marina: Boneca. O meu primeiro e único fanzine nunca saiu da boneca.
Boneca: do Lat. nonna substantivo feminino: pequena figura de mulher ou de
menina, feita de pano, cartão, madeira, porcelana, plástico ou outro material e
destinada a brinquedo de crianças; fig., mulher muito enfeitada; mulher pequenina.
Surpresa Kinder ovo
Mariana: Um Dinossauro, assim como um fanzine em tempos de blog, é uma
surpresa de Kinder ovo. Nosso teatro fanzine então... que não sai da boneca
nunca, ou melhor, é uma boneca enfeitada em exposição, é um grande
dinossauro/dragão do Kinder ovo com surpresa...
Marina:
Pero...AVE!!!!
Mariana:
Ave, ave, ave! Eis que somos o primeiro fanzine galináceo da cidade:
FANATIC MAGAZINE OF COCORICÓ!!!
De leste a oeste de norte a sul, a onda é a dança da galinha Azul!!!!
Perhaps, Perhaps, Perhaps
(Playback - Air guitar + not here drums)
You won't admit you love me
and so how am i ever to know
you always tell me
perhaps perhaps perhaps
a million times i've asked you
and then
i ask you over
again
you only answer
perhaps perhaps perhaps
if you can't make your mind up
we'll never get started
and i don't wanna wind up
being parted
broken-hearted
so if you really love me
say yes
but if you don't dear
confess
and please don't tell me
perhaps perhaps perhaps
Mariana: Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo. Que é que há
nas suas vísceras que faz dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se
pode contar com ela para nada. Nem ela própria conta consigo, como o galo crê
na sua crista. Elas morrem de susto. Nem sequer podem voar. Sua única
vantagem é que há tantas galinhas no mundo, que morrendo uma surge no
mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
É então que acontece. Todas as galinhas põem ovos, umas em maior outras em
menor quantidade. De pura afobação a galinha põe um ovo. Surpreendida,
exausta. Prematuramente. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade,
parece uma velha mãe habituada. Senta-se sobre o ovo e assim fica, respirando,
abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, soleva
e abaixa as penas, enchendo de tepidez àquilo que nunca passa de um ovo.
Entra áudio Bibdi Bobdi Bum! (Vôo)
Quizas, quizas, quizas – Nat King Cole (valsa)
Mariana: Ovo: do Latim ovu. Célula reprodutora feminina dos animais;
macrogameta. Rudimento de um novo ser organizado em que deve desenvolverse o feto.
Marina: Galinha: do Latim gallina. Ave doméstica criada para a produção de ovos
e carne, para briga de galos ou para ornamentação.
Mariana: Célula reprodutora feminina das aves.
Germe, origem, princípio.
Marina: Voz: Cacareja, carcareja, cacareca, carcara, gagueia.
Mariana: Substantivo masculino plural: Testículos; Substantivo Feminino: Ova;
Plural: Ovos; Diminutivo: Ovinho; óvulo.
Marina: Fêmea das aves galináceas. Pessoas covardes. Coisa muito boa. Mulher
(e às vezes homem) que se entrega facilmente.
Marina: Sobre o ovo
Mariana: O ovo é uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.
Marina: O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais do que a
superfície do ovo, está querendo outra coisa:
Mariana: está com fome.
Marina: O ovo é a alma da galinha.
Mariana: A galinha desajeitada.
Marina: O ovo certo.
Mariana: A galinha assustada.
Marina: O ovo certo.
Mariana: Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul.
Marina: – Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama
outra coisa.
Mariana: Assim como o mundo o ovo é óbvio.
Marina: Você é perfeito, ovo. Você é branco.
Mariana: – E à você dedico o começo. O ovo é o grande sacrifício da galinha. O
ovo é a cruz que a galinha carrega na vida.
Marina: O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo.
Mariana: Ela não sabe que existe o ovo. Quando a galinha vê o ovo pensa que
está lidando com uma coisa impossível.
Marina: Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia o estado de galinha.
Ser galinha é a sobrevivência da galinha.
Mariana: Sobreviver é a salvação.
Marina: Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte.
Mariana: Então o que a galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo.
Marina: Sobreviver chama-se manter luta contra a vida que é mortal.
Mariana: Ser galinha é isso?
Marina: Ser galinha, é isso. Sobre a galinha.
Mariana: A galinha tem o ar constrangido. A galinha é o disfarce do ovo.
Marina: Quanto ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o
ovo não existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é
impossível de existir.
Mariana: Para que o ovo use a galinha é que a galinha existe. Ela era só para se
cumprir, mas gostou. O desarvoramento da galinha vem disso: gostar não fazia
parte de nascer.
Marina: Gostar de estar vivo dói.
Mariana: – Quanto a quem veio antes, foi o ovo que achou a galinha. A galinha
não foi sequer chamada. A galinha é diretamente uma escolhida. – A galinha vive
como em sonho.
Marina: Não tem senso de realidade. Todo o susto da galinha é porque estão
sempre interrompendo o seu devaneio.
Mariana: A galinha é um grande sono. – A galinha sofre de um mal desconhecido:
Marina: o mal desconhecido é o ovo.
Mariana: Pois se elas não estivessem tão distraídas, se prestassem atenção à
grande vida que se faz dentro delas, atrapalhariam o ovo. É necessário que ela
tenha a modéstia de viver.
Marina: Fora de ser um meio de transporte para o ovo, a galinha é tonta,
desocupada e míope.
Marina: A galinha é sempre tragédia mais moderna. A galinha é a contradição do
ovo.
Marina: E o ovo fica inteiramente protegido por tantas palavras.
Mariana: Pois o ovo é um esquivo.
Talvez, talvez, talvez (vídeo)
Sempre que te pergunto
Que como, quando e onde
Tu sempre me respondes
Talvez, talvez, talvez
E assim passam os dias
E eu desesperando
E tu, tu contestando: talvez, talvez, talvez
Estás perdendo tempo
Pensando, pensando
Pelo o que mais tu queiras
Até quando? Até quando?
E assim passam os dias
E eu, desesperando
E tu, tu contestando: talvez, talvez, talvez
Manifesto KinderOvo
Marina: Para não dizer que não falei dos ovos
Mariana: Mesmo porque... Mesmo que procurando cabelo em ovo, sem tanto pisar
em ovos, chocamos los huevos para esse frigir de eggs.
Marina: Nem quando as galinhas tiverem dentes, mesmo que de ovo virado e com
o nome mais sujo que pau de galinheiro dormiremos com as galinhas...
Cá estamos nós, como galinhas que acompanham patos tentando não se afogar,
sabendo que a galinha do vizinho é sempre mais gorda que a nossa.
Mariana: E ao final disso tudo ganhar um ovo de porco e pior, contar com esse
ovo no cu da galinha. Procurando cabelo em ovo:
Marina: Plante sua maconha, roube a fórmula da Coca-Cola, solte as galinhas que
não sabem voar e pela internet, plante uma árvore na Amazônia, adote um
macaco da Mata Atlântica, invada a biblioteca do Vaticano, decifre o Código da
Vinci
Mariana: ”save the cheer leader.”.
Marina: Pisando em ovos:
Mariana: Não tome coca-cola, não coma no Mc Donalds, não fume maconha e
odeie Holliwood. De ovo virado:
Marina: Lembre-se que Sidarta dizia: procure o caminho do meio.
Mariana: No frigir dos ovos: Conhece-te a ti mesmo. Ovo de porco:
Marina: I just don´t know what to do with my self...
Mariana: Um espectro ronda a Europa, só a antropofagia nos une, socialmente,
economicamente, filosoficamente. A poesia existe nos fatos. Todas as potências
da velha Europa uniram-se numa santa aliança para exorcizá-lo.
Marina: Sob o sol cabralino. O carnaval do Rio é o acontecimento religioso da
raça. Poesia coletiva no pátio da história. “Meet the favela!” “Shake your ass like a
local on the baile funk!” Expurgue! Expurgue! That´s the question.
Proletários de todos os países, uni-vos. To be or not to be that´s the question!
Mariana: Quem veio primeiro o ovo ou a galinha?
Marina: Tostines são fresquinhos porque vendem mais ou vendem mais porque
são fresquinhos?
Mariana: As facas Guinsu conseguem cortar as meias Vivarina?
Marina: Por quê o frango atravessou a rua?
(Marina Viana ao microfone)
MOISÉS - Uma voz vinda do céu bradou: “Frango, cruzai a estrada!” E o frango
cruzou a estrada e todos se regozijaram.
PARMÊNIDES - O frango não atravessou a estrada porque não podia mover-se. O
movimento não existe.
KARL MARX - O atual estágio das forças produtivas exigia uma nova classe de
frangos, capazes de cruzar a estrada.
EINSTEIN - Se o frango cruzou a estrada ou a estrada se moveu sob o frango,
depende do ponto de vista. Tudo é relativo.
NIETSZCHE - Ele deseja superar a sua condição de frango, para tornar-se um
superfrango.
FREUD - A preocupação com o fato de o frango ter cruzado a estrada é um
sintoma de sua insegurança sexual.
SARTRE - Trata-se de mera fatalidade. A existência do frango está em sua
liberdade de cruzar a estrada.
HITLER - Para provar a superioridade dos frangos arianos.
MARTIN LUTHER KING - Eu tive um sonho. Vi um mundo no qual todos os
frangos serão livres para cruzar a estrada sem que sejam questionados seus
motivos.
NELSON RODRIGUES - Porque viu sua cunhada, uma galinha sedutora, do outro
lado.
GILBERTO GIL: Oooooo...Isso...
CAETANO VELOSO - O frango é amaro, é lindo, uma coisa assim amara. Ele
atravessou, atravessa e atravessará a estrada porque Narciso, filho de Canô,
quisera comê-lo, ou não!
HEMINGWAY - “To die. Alone. In the rain.”
PASCAL - Quem sabe? O coração do frango tem razões que a própria razão
desconhece.
PINOCHET - El se fué, pero tengo muchos penachos de el en mi mano!
CARLA PEREZ - Porque queria se juntar aos outros mamíferos e ser livre como
as crianças.
GILBERTO GIL: Éeeeeeee...
POLIANA - Porque estava feliz.
FEMINISTAS - Para humilhar a franga, num gesto exibicionista, tipicamente
machista, tentando, além disso, convencê-la de que, enquanto franga, jamais terá
habilidade suficiente para cruzar a estrada.
FHC - Por que ele atravessou a estrada, não vem ao caso. O importante é que,
com o Plano Real, o povo está comendo mais frango.
MAURÍCIO TIZUMBA – Oiiiiiiii!
LULA - Eu não sabia que ele tinha atravessado.
VEJA: Lula sabia e não fez nada pra evitar.
CRIANÇA - Porque sim. Certei?
(Desfazem o cubo)
O que fazer pós orgia?
Viana: A orgia é o momento explosivo da modernidade, o da liberação em todos
os domínios. Liberação política, liberação sexual, liberação das forças produtivas,
liberação das forças destrutivas, liberação da mulher, da criança, das pulsações
inconscientes, liberação da arte.
Arthuzzi: Assunção de todos os modelos de representação e de todos os modelos
de anti-representação.
Viana: Total orgia de real, de racional, de sexual, de crítica e de anticrítica, de
crescimento e de crise de crescimento. Percorremos todos os caminhos da
produção e da superprodução virtual de objetos, de signos, de mensagens, de
ideologias, de prazeres.
Arthuzzi: Hoje, tudo está liberado, o jogo já está feito e encontramo-nos
coletivamente diante da pergunta crucial:
Viana: - O que fazer após a orgia? (BAUDRLLARD, J. 1990)
Arthuzzi: E agora José?
Viana: A festa acabou,
Arthuzzi: a luz apagou,
Viana: o povo sumiu,
Arthuzzi:a noite esfriou,
Viana: E você que é gay lésbica, índio, gordo, negro, suburbano, clandestino,
portadores de HIV,
Arthuzzi:que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama
protesta,
Viana: hippie, riponga, bicho grilo tilelê, punks, carecas, straith edges, emos,
miguxos, coloridos, funqueiros, macumbeiros,
Arthuzzi: Sem mulher, sem discurso, sem carinho.
Viana: Com a chave na mão quer abrir a porta,
Arthuzzi: não existe porta,
Viana: flamenguistas, mangueirenses, artistas, intelectuais, que é clássico, que é
sólido e se desmancha no ar, que fazer depois da orgia, José?
Arthuzzi: quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não
há mais. E agora?
As duas: E agora Tom Zé?
(Tom Zé: eu não sei de nada....)
Viana: Manifesto Drakonico!
Arthuzzi: O que é anarquismo?
Viana:O que é PUNK?
Arthuzzi: O que é Rock?
Viana:O que é umbanda?
Arthuzzi: O que é hippie?
Viana:O que é tropicalismo?
Arthuzzi: O que é pós-moderno?
Viana:O que é existencialismo?
Arthuzzi: O que é feminismo?
Viana:O que movimento antropofágico?
Arthuzzi: O que é o que é?
Viana:O que será amanhã?
Arthuzzi: O que é pós-pós-dramático? Lady Gaga se apropriou tanto da história da
música pop que eu já perdi a conta.
Viana: E nós, filhos da mesma chocadeira, sofremos desse mesmo mal ou bem,
Arthuzzi:minha cabeça é uma Lady Gaga condensada de utopias que se foram
Viana: solos de guitarra, atitudes estúpidas, bravuras passadas
Arthuzzi: e um presente estrondoso, um estrondo de não sei o que.
Viana: Contra obesidade intelectual use materialismo dietético.
Arthuzzi: Polyanismo dialético. Terrorismo poético.
Viana: Contra morosidade teatral use
Arthuzzi: teatro deboche, absinto, sexo, gosto musical eclético
Viana: limpe sua agenda, esqueça compromissos, seja irresponsável na medida,
indolência épica, ironia elétrica! perca tempo, perca tempo, perca tempo.
Arthuzzi: Porém corra, corra porque correr é bom. Grite e role no asfalto. Mesmo
que o mundo seja um gritaria só. Invente uma bandeira. Pra ninguém inventar por
você.
Viana : Eu estou com você Marina Arthuzzi!
Arthuzzi: Andy Wharol já dizia, Tiririca respondeu, Lady Gaga passou.
Viana: Eu estou com você Mariana Blanco! Eu estou com você em Belo Horizonte,
a província eternamente de passagem, eu estou em Belo Horizonte!
Arthuzzi: Eu estou em Belo Horizonte, onde o sertão não virou mar, onde se
desfaz uma panela criando outra, mas mesmo assim a gente deita no cimento!
Viana: Eu estou em Belo Horizonte onde a cozinha é cheia de vasilhas despejadas
na pia e eu estou na cozinha.
Arthuzzi: A cozinha é um conto do Tchekov.
Viana: Eu gosto da cozinha.
Arthuzzi: Eu gosto de Tchekov.
Viana: E quem será esse desgraçado dessa zorra toda. Tem dono? Num tem
dono!
Arthuzzi: Todo mundo tem arquivo, o cntrlv cntrl c quem faz é você.
Viana: Aglutine-se! Crie uma nova família! E não espere reembolso!!
Arthuzzi: Por um pensamento auto-sustentável: vomite e coma de novo.
Viana: O preço do feijão tá pela hora da morte!!
Arthuzzi: Não roube de um autor só. Roube de todos!!
Viana: Da televisão a Dostoievski. Não tenha preconceito de nada.
Os dragões não conhecem o paraíso, onde tudo acontece perfeito, nada dói cintila
ou ofega, numa eterna monotonia de pacífica falsidade.
Seu paraíso é o conflito,nunca a harmonia. E ele ainda te diria com aquele ar
levemente exausto: É preciso ser absolutamente moderno.
All we hear is Radio Ga Ga
Radio Goo Goo
Radio Ga Ga
All we hear is Radio Ga Ga
Radio Blah Blah
Radio, what's new?
Radio, someone still loves you
Arthuzzi: Eu queria era botar meu bloco na rua... (SOLO ARTHUZZI)
Quer dizer... né? Todo mundo conhece a história...as idéias estão aí.
Viana: Já diria Platão: Um cavalo é sempre um cavalo independente da eguinha
pocotó.
Arthuzzi: A questão é que, por exemplo: Cristovão Colombo descobriu as
Américas. Ok? Mesmo ela herdando o nome de Vespúcio, foi Colombo.
Viana: Vamos combinar. Daí existe uma anedota muito famosa que conta que um
belo dia alguém chegou pra Colombo e disse que “qualquer um poderia conquistar
as Américas.”
Arthuzzi: Alguém contemporâneo diria: mágoa de cabocla não dói... Mas dói.
Viana: Dói sim. Enfim, Qualquer um. Bom. Com certeza... Conquistar as Américas.
Américas estavam ali, enormes. Não iam sair de lá...
Arthuzzi: Xuxa diria que pra se viajar por todo planeta basta só levar caderno e
caneta, e terra a vista.
Viana: Aliás por falar nisso eu te pergunto: qual foi o primeiro livro da Coleção
Primeiros Passos você leu? O que é yuppie?
Arthuzzi: O que é geração x?
Viana: O que é sadomasoquismo?
Arthuzzi: O que é socialismo?
Viana: O que é o rock vai salvar o mundo???
Arthuzzi: Quanto ao rock salvar o mundo já disseram uma vez:
Viana: Que bandeira eu dou? Que camisa eu visto? Que refrão eu decoro?
Os dragões não conhecem o paraíso...
Arthuzzi: Enfim, Colombo propôs um jogo e pegou um ovo, que estava por ali...
Um ovo cru. E desafiou quem conseguiria colocá-lo em pé.
Viana: Você já morreu de amor? Já escreveu uma carta suicida? Já tomou a
bastilha? Chutou o balde? Foi herói? Pôs LSD na caixa d’água da escola?
Arthuzzi: Obviamente ninguém conseguiu... por o ovo em pé. Daí ele pegou o ovo
e bateu na pontinha e pôs o ovo em pé. Quer dizer. As idéias tão aí...
Viana: Sempre é dia de ironia no meu coração! Mas eu só queria dizer que, nos
fim das contas eu sou apenas uma moça latino americana sem dinheiro e sem
banca, e sei que assim falando pensas que esse desespero é moda em 2016,
mas deixa eu cantar que é pro mundo ficar Odara, e tem gente que ainda grita que
tudo vai dar pé. Mas ah. Vai dar pé. Vai dar pé. (e põe o ovo em pé)
Arthuzzi: Vai dar pé.
(TOTEM/MÚSICA /PIMBIN AR111 OVO/APLAUSO/)

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