até quando? - Juventude Fugitiva
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até quando? - Juventude Fugitiva
OS “ROUNDS” ENVOLVENDO SURFISTAS HAVAIANOS E BRASILEIROS 044 PÁG. BOCA NO TROMBONE: RICARDINHO MOSTRA O RESULTADO DA AGRESSÃO NAS REDES SOCIAIS. À DIR., O BRASILEIRO FAZ AS PAZES COM O AGRESSOR, JAMIE O’BRIEN. 1977 RICKSON GRACIE X BYRON AMONA Depois de um incidente em São Conrado (RJ), o Black Trunk havaiano quebrou a prancha de um brasileiro. Rickson, então com 19 anos, comprou a briga e surrou Amona, que voltou para casa com duas costelas quebradas, hemorragia interna e um olho roxo. ATÉ QUANDO? A BRIGA ENTRE JAMIE O’BRIEN E O CATARINENSE RICARDO DOS SANTOS RESSUSCITA UM EMBATE HISTÓRICO. NÃO É A PRIMEIRA VEZ QUE UM HAVAIANO PARTE PARA CIMA DE UM BRASILEIRO. RELEMBRE OS CASOS MAIS MARCANTES. No universo do surf, existem algumas histórias que se repetem com o passar do tempo. Uma delas aconteceu durante a triagem para preencher as duas últimas vagas da etapa do WCT no Tahiti. O catarinense Ricardo dos Santos marcava o havaiano Jamie O’Brien durante uma bateria em Teahupoo. “Veio uma onda e remamos colados um no outro. Assim que consegui ficar mais bem posicionado, ele virou a prancha, me rabeou e me deu um soco na cara”, contou Ricardinho, em entrevista a FLUIR. Indignado, o brasileiro postou nas redes sociais uma foto que mostrava sua boca sangrando. Horas depois, O’Brien apareceu para se desculpar. Depois do encontro, Ricardinho postou uma nova imagem, seguida por um comentário. “JOB veio se desculpar pelo incidente e garantir que isso nunca mais se repetirá. Eu disse para ele abaixar a cabeça e ser humilde como um ser humano normal. Brasil, nós temos nossa dignidade de volta!”, escreveu Ricardinho. A atitude incomodou O’Brien, que numa entrevista à revista australiana “Stab” reclamou: “O problema foi entre mim e Ricardo. Ele tentou colocar o Brasil todo contra mim. Isso é uma coisa muito covarde de se fazer”, disse o havaiano. “Eu estava melhor posicionado. A verdade é que ele veio na minha direção, me deu um tapa na cabeça e me acertou com o cotovelo. Então dropei a onda e lhe acertei um tapa. Não foi um soco. Dei um tapa nele e nós dois caímos. Ele veio atrás de mim e trocamos alguns socos. Não foi nada de mais, somos homens e essas coisas acontecem.” No fim das contas, quem ganhou o direito de disputar a etapa taitiana ao lado dos Top 34 da ASP foram o local Alain Riou e o australiano Anthony Walsh. Até o fechamento desta edição não apareceu registro da desavença na água. 2013 Em todos os casos de agressão em competições, a reação da ASP foi considerada branda demais. O Tour Manager da entidade, o brasileiro Renato Hickel, declarou em 2005 sobre a agressão de Makua: “Também achei que a punição poderia ter sido mais severa, mas a decisão coube ao Conselho Disciplinar”. Após o lábio ensanguentado de Ricardinho pipocar pelas redes sociais, Hickel disse ao jornal “O Globo”: “O Trials não é um evento sancionado pela ASP, mas sim um evento da Billabong com a jurisdição da Federação Tahitiana de Surf. O caso já foi levado ao Comitê Disciplinar da ASP que irá analisar e decidir uma eventual punição”. Porém, de acordo com o artigo 37 do livro de regras da ASP, todas as normas da entidade devem ser seguidas obrigatoriamente também nas baterias da triagem. O artigo 155 determina multas entre US$ 5 mil e US$ 15 mil, além de suspensões, para os agressores. O troco Em uma tarde de 1977, havaianos e brasileiros remavam lado a lado no line-up da praia do Pepino. Entre eles estava Byron Amona, um salva-vidas de Pipeline forte e carrancudo, que fundou os Black Trunks ao lado de Fast Eddie. Atingido na testa pela prancha de um brasileiro, o havaiano quebrou a boia sem dó nem piedade. O que ele não sabia é que entre os amigos da vítima estava o carioca Rickson Gracie, mito do jiu-jítsu. Poucos dias depois, quatro carros com 17 brasileiros estacionaram na frente da casa do surfista Rico de Souza, que mostrava sua fábrica de shapes a Byron e aos havaianos Michael Ho e Mike Purpus. Depois de perceber que alguém havia destroçado sua prancha no jardim de Rico, Byron saiu da casa e resmungou: “Alguém vai se machucar hoje”. Depois de convocar qualquer oponente para o mano a mano, o havaiano topou com um moleque magro e forte, de 19 anos, socando uma mão contra a outra. Era Rickson. Uma roda se abriu no jardim. Gracie se esquivou dos ataques, grudou nas costas do havaiano e aplicou um mata-leão. Apagado, Byron recebeu uma chuva de socos até acordar e levar um novo mata-leão. Ele voltaria ao Hawaii com duas costelas quebradas, hemorragia interna e um olho roxo. RICARDO DOS SANTOS X JAMIE O’BRIEN Durante a disputa por uma onda na triagem da etapa do WCT em Teahupoo, houve contato físico entre Ricardo e Jamie. O brasileiro alega que foi rabeado e levou um soco na cara; JOB diz que levou um tapa e uma cotovelada e revidou com um tapa. Os dois teriam trocado mais alguns socos, mas depois apertaram as mãos para resolver a questão. Até o próximo round. 2009 Almir Salazar (esq.) quase atropelou um Black Trunk em Rocky Point. Os locais tomaram a prancha do brasileiro e a arremessaram nas pedras. A partir daquele dia, os xerifes locais Eddie Rothman e Dane Kealoha (dir.) passaram a propagar uma caça a brasileiros. ADRIANO DE SOUZA X DUSTIN BARCA Enquanto debatia com Occy no Tahiti, Mineiro recebeu um chute de Barca, que tomou as dores do australiano. Naquele ano, o brasileiro teve que ser escoltado durante a temporada de inverno no Hawaii. ANOS 90 RENAN ROCHA X JOHNNY BOY GOMES Johnny Boy tentou intimidar o paulista em Sunset Beach, mas, depois de receber um convite para o mano a mano, decidiu que não seria boa ideia enfrentar um lutador de jiu-jítsu. 2007 NECO PADARATZ X SUNNY GARCIA Depois de droparem a mesma onda durante o Pipe Master, Sunny iniciou uma perseguição a Neco até a areia. O brasileiro conseguiu refúgio no palanque e saiu ileso. 2000 PETERSON ROSA X SHAWN BRILEY 2005 PAULO MOURA X MAKUA ROTHMAN ©REPRODUÇÃO Rivalidade histórica A brutalidade dos havaianos não é novidade para os brasileiros. Em dezembro de 2005, o havaiano Makua Rothman, então com 21 anos, desferiu um violento tapa no rosto do ex-Top pernambucano Paulo Moura. Depois de disputarem a última onda da quinta bateria do 3º round do Pipe Masters, os juízes assinalaram uma interferência de Moura sobre Rothman. No fim, ambos foram eliminados. Mais tarde, a ASP puniu o havaiano com uma multa de US$ 1 mil. A cena lamentável aconteceu cinco anos depois de o paranaense Peterson Rosa ser intimidado pela turma de Shawn Briley em 2000. Durante uma sessão de freesurf em Pipeline, Peterson havia se estranhado com Kalani Chapman, irmão mais novo de Briley. Pouco tempo antes, no fim dos anos 90, o ex-Top paulista Renan Rocha recebeu ameaças do havaiano Johnny Boy Gomes, em Sunset Beach. Contatado pela FLUIR, Renan não quis comentar o caso. Mas em um bate-papo na internet em 1998, disse: “Johnny Boy tentou me tirar de moleque, mas não arrumou nada”. Segundo relatos, o havaiano resolveu dar no pé ao saber que Renan praticava jiu-jítsu. Talvez a treta mais antiga de que se tem notícia aconteceu entre os irmãos Almir e Picuruta Salazar e os locais Eddie Rothman, o temido “Fast Eddie”, e Dane Kealoha, xerifes dos Black Trunks, o temido grupo de locais havaianos. Em 1987, Almir quase atropelou um Black Trunk ao pegar uma onda em Rocky Point. “A partir desse episódio, começou uma caça aos brasileiros comandada por Fast Eddie e Dane”, lembra o fotógrafo Basílio Ruy, que presenciou a cena. Num episódio mais recente, em 2007, o pavio curto Sunny Garcia perseguiu o catarinense Neco Padaratz depois que os dois se enroscaram ao dropar a mesma onda durante uma bateria do Pipe Master. Neco nadou para longe do havaiano e pegou carona num jet ski até a praia. Garcia correu pela areia atrás do brasileiro, que se refugiou no palanque. Felizmente a agressão não se consumou. Dois anos depois, durante a etapa do WCT no Tahiti, em 2009, o guarujaense Adriano de Souza levou um chute do ex-Top havaiano Dustin Barca, hoje lutador de MMA, que se irritou ao ver o brasileiro discutindo com o australiano Mark Occhiluppo. “Occy me chamou para dizer que eu o havia rabeado na Austrália. Ele tinha tomado umas cervejas e isso acabou inflando os ânimos. O Dustin Barca me viu gesticulando e achou que eu estava desrespeitando o Occy”, contou Mineiro, à época. Depois do chute, ele se afastou para evitar confusão. Naquele ano, o brasileiro teve que ser escoltado por policiais no Hawaii. 1987 IRMÃOS SALAZAR X BLACK TRUNKS Durante o Pipe Master de 2005, Makua, que é filho de Fast Eddie, fundador dos Black Trunks, desferiu um violento tapa no rosto do pernambucano. Durante uma sessão de freesurf em Pipeline, o “Bronco” discutiu com Kalani Chapman, irmão mais novo de Briley. O havaiano não gostou e chamou uma turma de locais para intimidar Peterson.