Transferência bilateral da aprendizagem em antecipação

Transcrição

Transferência bilateral da aprendizagem em antecipação
Estudos em Desenvolvimento Motor da Criança III
Olga Vasconcelos, Manuel Botelho, Rui Corredeira, João Barreiros, & Paula Rodrigues
(Eds.)
Transferência bilateral da aprendizagem em
antecipação-coincidência. Efeito do sexo, da
preferência manual e da complexidade da tarefa
Sara Carneiro, Olga Vasconcelos, Paula Rodrigues
Faculdade de Desporto, CIFI2D – Universidade do Porto
Resumo
O presente estudo pretende investigar o efeito do sexo, da preferência manual e da
complexidade da tarefa na Transferência bilateral da Aprendizagem, da mão preferida
para a mão não preferida numa tarefa de antecipação coincidência, em crianças dos 7 aos
10 anos. A amostra é constituída por 58 crianças, 29 destrímanas e 29 sinistrómanas. Para
avaliação da preferência manual foi utilizado o Dutch Handeness Questionnaire, de Van
Strien (1992) e para avaliação da transferência bilateral da aprendizagem foi utilizado
Bassin Anticipation Timer, da Lafayett Instrument Company, em duas tarefas de
antecipação-coincidência de diferente complexidade. Os procedimentos estatísticos
incluíram a estatística descritiva e a estatística inferencial (t de Student e ANOVA
factorial). Principais conclusões: (i) não foram encontradas diferenças estatisticamente
significativas na percentagem de transferência bilateral da aprendizagem na tarefa
simples e complexa, no sexo masculino e feminino em sinistrómanos e destrímanos.
Parece haver no entanto uma tendência para as raparigas transferirem mais nas duas
tarefas relativamente aos rapazes e para os destrímanos transferirem mais do que os
sinistrómanos; (ii) a tarefa simples proporcionou desempenhos mais precisos e menos
variáveis do que a tarefa complexa, (iii) os rapazes foram mais precisos e menos
variáveis; (iv) não foram encontradas diferenças significativas no desempenho de
sinistrómanos e destrímanos.
Palavras-chave
Transferência bilateral da aprendizagem, preferência manual, antecipação-coincidência.
A capacidade de aprender uma determinada habilidade com um
membro após essa habilidade ter sido aprendida com o membro oposto está
relacionada com o fenómeno designado por Transferência bilateral da
Aprendizagem (TBA). Ela revela a capacidade humana de aprender uma
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habilidade de forma mais fácil com uma mão ou pé após essa mesma habilidade
ter sido aprendida com a mão ou pé opostos (Magill, 2007). Perez et al., (2007)
entendem o conceito de transferência bilateral da aprendizagem como o
processo que permite aprender a executar uma tarefa motora com uma mão e
que leva a que haja melhorias do desempenho na outra mão.
Grande parte da pesquisa em transferência bilateral tem-se focado nos
membros superiores e classifica-a como simétrica (a transferência é similar
entre os membros) ou assimétrica (a transferência é maior de um membro para
outro), quanto à direcção, ou seja à forma como ela ocorre, dependendo da
tarefa estudada (Morris et al., 2009).
A transferência bilateral da aprendizagem tem sido demonstrada
previamente para um número variado de tarefas, tais como, toque com os
dedos num alvo (Laszlo et al., 1970), pressionar um teclado (Taylor & Heilman,
1980), escrita invertida (Parlow & Kinsbourne, 1989,), desenho de figuras (Thut
et al., 1996), apanhar uma bola (Morton et al., 2001) e deslocamento de um
membro para um alvo após um estímulo visual (Sainburg & Wang, 2002).
Wang e Sainburg (2006) indicam que a assimetria na transferência
bilateral depende de vários factores, tais como a sequência de membros com
que se inicia a aprendizagem da tarefa (primeiro a mão não preferida ou
primeiro a mão preferida), os parâmetros do movimento que estão a ser
examinados e a natureza das transformações subjacentes ao processo da
aprendizagem. Como a maioria das actividades são realizadas com a mão
preferida, é comummente aceite que a transferência se dê mais
frequentemente do lado preferido para o não preferido (Kumar, 2005).
Contudo, há estudos (e.g. Kumar & Mandal, 2005) que referem maior
transferência da mão não preferida para a preferida em indivíduos destrímanos
e sinistrómanos.
São apontados dois modelos para explicar a existência de transferência
bilateral assimétrica, da mão preferida para a não preferida em indivíduos
destrímanos. São eles o Modelo da Perícia (Laszlo, Baguley & Bairstow, 1970) e
o Modelo de Activação Cruzada (Cross Activation), (Parlow & Kinsbourne, 1989).
O modelo de Perícia (Laszlo, Baguley & Bairstow, 1970) postula a formação de
programas motores unilaterais os quais são armazenadas as áreas motoras
contra laterais da mão não preferida para a mão treinada. Uma vez treinado o
centro de controlo motor superior, localizado no hemisfério esquerdo, observarse-á uma transferência óptima da informação para os centros motores da mão
preferida, localizados no hemisfério oposto. Então, a área motora da mão
preferida não pode beneficiar desta informação do controlo motor inferior
(Schmidt, 1968). O modelo de Activação Cruzada (Parlow & Kinsbourne, 1989)
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Crianças dos 7 aos 10 Anos. Efeito do Sexo, da Preferência Manual e da Complexidade da
Tarefa
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propõe que são formados programas motores duplos em cada hemisfério
durante o treino com o braço dominante e os que são formados no hemisfério
esquerdo são superiores. Ao executar com a mão não preferida, o sistema
confia nos programas motores inferiores, independentemente dos programas
motores superiores encontrados no hemisfério dominante (Chase & Seidler,
2008). Existe ainda um outro modelo, o modelo de Acesso Calossal (Callosal
Access) de Taylor e Heilman (1980) que defende a transferência da mão não
preferida para a mão preferida. Os autores referem que os programas motores
são armazenados no hemisfério dominante (normalmente o esquerdo),
independentemente da mão usada. Como consequência, a mão direita tem
acesso directo a estes programas motores, enquanto a esquerda apenas tem
acesso indirecto através do corpo caloso. Deste modo, o treino com a mão não
preferida beneficia a transferência para a mão preferida.
A transferência bilateral da aprendizagem tem demonstrado ser menor
em tarefas caracterizadas por baixa actividade perceptiva e grande
envolvimento motor (tarefa complexa) do que em tarefas com maior
componente perceptiva (simples). Teixeira (1992) e Matos et al. (2001)
procuraram estudar como a antecipação-coincidência se transfere entre as
mãos preferida e não preferida, ou entre tarefas. Teixeira (1992) constatou que
a transferência numa tarefa simples se deu de forma simétrica entre os
membros e Matos et al. (2001) verificaram que a antecipação-coincidência é um
elemento de controlo que se transfere entre tarefas motoras de diferentes
níveis de complexidade. Os autores observaram, em relação à tendência
direccional de erro da resposta sincronizatória, que tanto a prática prévia com
a tarefa simples influenciou o desempenho na tarefa complexa, quanto a
prática na tarefa complexa levou a alterações de desempenho na tarefa
simples. No que diz respeito à precisão e à consistência de resposta, foi
verificado que prática prévia na tarefa complexa favoreceu o desempenho da
tarefa simples, caracterizando assim transferência de aprendizagem no sentido
do complexo para o simples. Pinho et al. (2007) sugerem que em tarefas de
maior complexidade a transferência entre membros é simétrica. Tal como
Teixeira (1992), estes autores partilham a ideia de que em tarefas mais
complexas há evidências da transferência ocorrer da mão não preferida para a
mão preferida.
No sentido de contribuir para o enriquecimento desta temática, foi
objectivo deste estudo investigar a transferência bilateral da aprendizagem, da
mão preferida para a mão não preferida, em tarefas de antecipaçãocoincidência, em crianças dos 7 aos 10 anos, tendo em conta as variáveis
preferência manual, complexidade da tarefa e sexo. Hipotetiza-se que seja
observada uma percentagem de transferência superior (i) nos destrímanos, (ii)
na tarefa simples e, (iii) no sexo feminino. Estas hipóteses baseiam-se (i) na
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maior assimetria funcional nos destrímanos, (ii) no menor envolvimento bihemisférico em tarefas simples do que em tarefas complexas, (iii) na menor
assimetria funcional no sexo feminino.
Metodologia
Amostra
Participaram do estudo 58 crianças de ambos os sexos (30 ♂ e 28 ♀),
com idade cronológica entre os 7 e os 10 anos (8,65±1,00). Numa fase inicial
foram seleccionados os alunos sinistrómanos, tendo como critério a mão
preferida para escrever. De seguida, foram escolhidos alunos destrímanos com
características semelhantes aos sinistrómanos, nomeadamente no que respeita
ao sexo e à idade. Numa fase posterior, a preferência manual foi avaliada de
forma mais pormenorizada (Dutch Handedness Questionnaire, de Van Strien,
1992). Este questionário consiste em 15 itens com um valor total (coeficiente
de lateralidade) entre 0 e 30 (< 15, sinistrómano; > 15, destrímano).
Verificaram-se 29 sinistrómanos (14 ♀ e 15 ♂) e 29 destrímanos (14 ♀ e 15 ♂).
Instrumento e Tarefa
O instrumento utilizado foi o Bassin Anticipation Timer, que consiste
numa calha metálica de com díodos emissores de luz (LEDs) dispostos em
sequência e distanciados 4,5 cm entre si. Com o disparo do sinal em cada
tentativa, os LEDs são incandescidos em sequência rápida dando a impressão de
deslocamento de um facho luminoso ao longo do trilho. No extremo oposto ao
início do deslocamento do sinal luminoso há um botão de pressão com o polegar
que o executante segura com a mão que deve ser accionado simultaneamente
com a chegada do sinal ao último díodo da sequência. O instrumento regista a
diferença temporal, assim como a direcção do erro, entre o incandescimento do
último díodo e o momento em que o sujeito acciona o botão de pressão.
A tarefa simples consistiu em manter o botão de pressão na mão e
accioná-lo com o polegar no momento em que acendia o último díodo. A tarefa
complexa consistiu em tocar cinco sensores numa sequência pré-determinada,
(1,2,3,4,5) em integração com um estímulo visual, de forma que o último alvo
fosse tocado simultaneamente com a chegada do estímulo luminoso. Para tal foi
utilizado o aparelho de antecipação-coincidência em tarefas complexas (Corrêa
& Tani, 2004). A calha utilizada para esta tarefa foi a mesma utilizada para a
tarefa simples. Em ambas as tarefas os sujeitos adoptaram a mesma posição (de
pé), estando o ângulo de aproximação do estímulo a 30º (Payne, 1987).
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Crianças dos 7 aos 10 Anos. Efeito do Sexo, da Preferência Manual e da Complexidade da
Tarefa
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Delineamento Experimental e Procedimentos
Os sujeitos foram informados oralmente dos objectivos do estudo e das
tarefas a serem realizadas. A amostra foi contrabalançada em relação à variável
complexidade da tarefa sendo dividida em dois grupos de forma aleatória. O
primeiro grupo realizou a avaliação da transferência bilateral inicialmente com
a tarefa simples e depois com a tarefa complexa (grupo S-C). Para o segundo
grupo foi empregue a sequência oposta, (grupo C-S). Na tarefa simples a
velocidade utilizada foi de 268,2 cm/s (6 mph) e na tarefa complexa foi de 44,7
cm/s (1 mph). O foreperiod, ou seja, o sinal de aviso (díodo amarelo)
mantinha-se aceso durante 1,5 segundos antes do início da propagação do
estímulo, em qualquer uma das tarefas. O estudo foi composto por três etapas
para cada uma das tarefas realizadas: i) Avaliação inicial, os participantes
realizavam 5 tentativas com a mão não preferida; ii) Aquisição, composta por
20 tentativas com a mão preferida; iii) Avaliação final, com os mesmos
procedimentos da avaliação inicial. Foi calculado o índice de transferência
manual de aprendizagem (Woodworth & Scholsberg, 1971):
((valor médio avaliação inicial - valor médio transferência) / valor médio avaliação inicial) x 100 .
Aplicou-se a ANOVA multifactorial 2x2x2 (preferência manual, sexo, tarefa),
com medidas repetidas no último factor. Nível de significância: p≤0,05.
Apresentação dos Resultados
Na Tabela 1 apresentamos os resultados da percentagem de
transferência bilateral, da mão preferida (MP) para a mão não preferida (MNP),
em função da preferência manual (destrímanos e sinistrómanos), do sexo
(masculino e feminino) e da complexidade da tarefa (simples e complexa).
Tabela 1. Percentagem de transferência bilateral (média e desvio padrão), da MP-MNP,
tendo em conta as variáveis sexo, preferência manual e complexidade da tarefa.
Tarefa
Destrímanos
Rapazes
MP - MNP
Raparigas
Sinistrómanos
Rapazes
Raparigas
Simples
12,1 ± 34,9
9,8 ± 43,7
15,3 ± 33,2
19,6 ± 23,7
Complexa
16,7 ± 40,9
17,5 ± 24,2
- 4,1 ± 87,1
8,9 ± 71,6
Foi efectuada uma ANOVA 2x2 (preferência manual e sexo), a qual não
demonstrou qualquer efeito principal ou interacção significativos. Isto significa
que o facto de se ser destrímano ou sinistrómano, ou de se pertencer ao sexo
masculino ou feminino não teve qualquer efeito importante nos valores de
transferência bilateral da mão preferida para a mão não preferida.
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% de Transferência
Simples
Complexa
25
20
15
10
5
0
-5
-10
Rapazes
Raparigas
Rapazes
Destrímanos
Raparigas
Sinistrómanos
Figura 1. Percentagem de transferência bilateral da MP-MNP, tendo em conta as variáveis
sexo, preferência manual e complexidade da tarefa.
Contudo, analisando a Figura 1, observamos que os sinistrómanos
revelam tendência para valores mais elevados de percentagem de transferência
bilateral na tarefa simples do que os destrímanos. Os rapazes destrímanos,
comparativamente às raparigas, tendem a apresentar um valor ligeiramente
superior de percentagem de transferência bilateral. O contrário parece suceder
nos sinistrómanos, dado que as raparigas tenderam para uma percentagem de
transferência bilateral mais elevada do que os rapazes.
Na tarefa complexa, os sujeitos destrímanos tendem a apresentar
valores superiores de percentagem de transferência bilateral comparativamente
à tarefa simples e aos sinistrómanos.
Nos sinistrómanos, os rapazes apresentam um valor negativo de
percentagem de transferência bilateral, indicando que os valores da fase de
transferência foram superiores aos da fase de avaliação inicial, logo o treino
com a mão preferida (esquerda) parece ter prejudicado o desempenho com a
mão não preferida (direita).
Discussão dos Resultados
Efeito da variável Tarefa
De uma forma geral, os nossos resultados demonstraram que
independentemente do nível de complexidade das tarefas utilizadas no estudo,
o efeito da transferência bilateral é observado, uma vez que ele não é nulo,
contudo não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas. No
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entanto, os resultados apontam no sentido de os sinistrómanos tenderem a
transferirem mais na tarefa simples, enquanto para os destrímanos a tendência
é de transferirem mais na tarefa complexa. Esta tendência verificada no nosso
estudo parece ir ao encontro dos resultados de Pinho et al. (2007). Os autores
constataram para sujeitos destrímanos, uma transferência mais elevada da mão
preferida para a mão não preferida numa tarefa de maior complexidade.
Apoiado nos estudos de Passarotti et al. (2002) e Tinazzi e Zanette
(1998), é possível inferir que uma maior complexidade leva a uma maior
activação bihemisférica, tendo o sistema beneficiado desse processo na
transferência de aprendizagem da mão preferida para a não preferida. Na
direcção contrária, esse benefício pode não ser tão claro. Seria possível sugerir
que o hemisfério esquerdo (responsável pelo controlo da mão preferida direita)
não beneficie do processamento gerado pelo hemisfério direito ao mesmo nível
que o hemisfério direito (responsável pelo controle da mão não preferida
esquerda) beneficia do processamento mais especializado na produção de
movimentos do hemisfério esquerdo. Tendo em conta esta teoria, podemos
sugerir uma possível explicação para o facto de no nosso estudo os destrímanos
mostrarem a tendência de transferirem mais na tarefa complexa do que os
sinistrómanos. Ao realizarem a fase de aquisição com a mão preferida (direita),
estimularam o hemisfério esquerdo. Neste sentido o hemisfério direito
(responsável pelo controlo da mão não preferida, esquerda, usada na fase de
transferência) irá beneficiar mais do processamento mais especializado na
produção de movimentos do hemisfério esquerdo, sendo facilitada a
transferência bilateral. Verificamos também que os rapazes sinistrómanos
apresentaram um valor negativo de percentagem de transferência na tarefa
complexa. Isto parece indicar que a prática com a mão preferida influenciou
negativamente o desempenho com a mão não preferida.
Thut et al. (1996) verificaram um efeito inibitório no desempenho de
um membro, após treino com o membro oposto, mas para sujeitos destrímanos.
Os autores concluíram que a transferência bilateral podia diferir tendo em
conta os grupos musculares envolvidos e sugeriram que, embora principalmente
tenda a facilitar, o treino com a mão não preferida pode causar inibição na
reprodução da tarefa pelo membro contralateral.
Efeito da variável Sexo
Não foram verificadas diferenças estatisticamente significativas entre
rapazes e raparigas. Contudo, parece haver uma tendência para as raparigas
transferiram mais nas duas tarefas relativamente aos rapazes. Na tarefa
simples, as raparigas sinistrómanas evidenciaram uma tendência de
transferência mais elevada, enquanto na tarefa complexa foram a raparigas
destrímanas a evidenciarem maior transferência. Os nossos resultados parecem
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estar de acordo com alguns estudos anteriores, (e.g. Parlow & Kinsbourne,
1989) os quais também não encontraram diferenças estatisticamente
significativas ao nível da transferência bilateral da aprendizagem entre sexos.
Efeito da variável Preferência Manual
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre
sinistrómanos e destrímanos, não suportando desta forma a hipótese de que os
destrímanos demonstrariam uma percentagem de transferência superior aos
sinistrómanos. Estes resultados sustentam os observados por Kumar e Mandal
(2005). Contudo parece haver uma tendência para os sinistrómanos transferirem
mais na tarefa simples e os destrímanos mais na tarefa complexa. Como uma
das limitações do estudo se prende com a pequena amostra usada, não tendo
sido possível dividir cada grupo de preferência manual pela consistência da sua
preferência, é possível que em indivíduos menos lateralizados se observem
diferenças na percentagem de transferência. Futuros estudos beneficiarão
então com o aumento do tamanho da amostra assim como com a divisão dos
grupos de preferência manual pela consistência dessa preferência.
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