Comunicações Orais - Hospital Maria Pia
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Comunicações Orais - Hospital Maria Pia
NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 Resumo das Comunicações Orais “OSSOS DE CRISTAL” - OSTEOGÉNESE IMPERFEITA Liliana Pereira1, S. Sousa1, M. Martins2, M. Quaresma1, E. Gaspar1 1 Serviço de Pediatria 2 Serviço de Genética, CHVRPR SA A osteogénese imperfeita (OI) é uma doença hereditária rara do tecido conjuntivo com um espectro clínico amplo, comprometendo sistemas tais como o osteoarticular, cutâneo e auditivo. O diagnóstico é essencialmente clínico; não existindo tratamento curativo, este baseia-se essencialmente na prevenção e controlo das complicações. Dada a raridade da doença, os autores apresentam o caso clínico de um lactente de 1,5 mês que recorreu ao SU por tumefacção do membro inferior direito (MID). Antecedentes familiares de fracturas em vários membros da linha paterna, incluíndo uma prima de 18 anos submetida a cirúrgia ortopédica por dismetria dos membros inferiores; pai e avó paterna com surdez precoce. Antecedentes pessoais: segundo filho de pais não consanguíneos, gestação de termo, vigiada, sem intercorrências; parto eutócico sem complicações; bom Apgar e somatometria adequada; artéria umbilical única. Doença actual com evolução de<24H, de tumefacção do MID com sinais inflamatórios, sem sinais de traumatismo ou picada. Restante exame sem alterações, à excepção de escleróticas de tom azulado. O Rx do MID revelou imagem de fractura, pelo que foram colocadas as hipóteses de diagnóstico de OI, maus tratos e sífilis congénita. Dos exames efectuados, é de salientar: radiografia do esqueleto com múltiplas imagens em “casca de cebola”, Rx crâneo, TAC cerebral e fundoscopia sem anomalias, serologias RPR e TPHA negativas. Feito o diagnóstico de OI, teve alta referenciado às consultas de pediatria, genética e orotopedia. DÉFICE DE OCT - EVOLUÇÃO CLÍNICA E ANALÍTICA Alzira Sarmento1, Sandra Mesquita1, Ermelinda Silva1, Luisa Azevedo3, Laura Vilarinho2, Esmeralda Martins1 1 Serviço de Pediatria - Hospital Maria Pia 2 Instituto de Genética Médica Jacinto Magalhães 3 IPATIMUP Introdução: O défice de ornitina transcarbamilase (OCT) é uma doença ligada ao X, na qual a síntese de citrulina, e por consequência a de ureia, apartir da ornitina e carbamilfosfato, está comprometida. O défice de OCT é uma condição heterogénea com apresentações diversas desde o período neonatal à idade adulta. Caracteriza-se por uma hiperamonemia, hiperglutaminemia, hipoargininemia, hipercitrulinemia e níveis aumentados de ácido orótico na urina. O gene responsável por esta enzima está localizada a nível de Xp21.1, no entanto muitos casos ocorrem de novo dada a instabilidade do gene da OCT. Objectivos: caracterização de 4 casos com défice de OCT sob o ponto de vista clínico e molecular. Material e métodos: avaliação retrospectiva dos processos clínicos das 4 crianças com défice de OCT sendo avaliados os seguintes parâmetros: sexo, idade ao diagnóstico, clínica de apresentação, resultados bioquímicos, estudo molecular, tratamento efectuado e evolução. Resultados: 4 doentes do sexo feminino com idades entre 3,5 e 18 anos cujos sintomas tiveram início entre os 6 meses e os 7 anos de idade, os sintomas iniciais incluíram vómitos e anorexia (n=4), irritabilidade (1), atraso ponderal (1), letargia (3), ataxia (1), alterações do comportamento (1) aversão à carne e peixe (1). O intervalo de tempo médio entre o aparecimento destes sintomas e o diagnóstico foi de 9,2 meses. Analiticamente o valor médio de amónia foi de 255,2 µg/dl, valor médio de glutamina 894,5µmol/L, ácido orótico na urina 505,7µmol/mmol creatinina. Todos os doentes mostraram melhoria clínica e analítica acentuada após instituição do tratamento que consistiu numa dieta restritiva em proteínas, benzoato de sódio e suplementos em aminoácidos. Em todos os casos foi feito o diagnóstico molecular, que revelou uma grande heterogeneidade. Estas doentes mantém seguimento na consulta com desenvolvimento cognitivos dentro da normalidade. Comentários: o défice de OCT é o distúrbio mais frequente das doenças do ciclo da ureia. A evolução clinica é variável, mas independentemente da idade a forma de apresentação pode ser sempre um coma grave e por vezes irreversível. É portanto necessário pensar no défice em OCT, assim como noutras doenças do ciclo da ureia, em criança com vómitos sobretudo quando cíclicos ou associados a prostração, anorexia, recusa natural por alimentos ricos em proteínas e alterações do comportamento não esclarecidas. A sua identificação atempada permite o desenvolvimento psicomotor adequado dos doentes e a ocorrência de episódios potencialmente fatais. ESTEATOSE HEPÁTICA E RESISTÊNCIA À INSULINA NUMA POPULAÇÃO PEDIÁTRICA OBESA Isabel Valente, Sandra Rodrigues, Rosa Zole, Helena Ferreira, Lourenço Gomes Hospital Maria Pia Introdução: A doença esteatósica hepática não alcoólica, reconhecida actualmente como um problema médico crescente na população pediátrica, tem sofrido um aumento na sua prevalência paralelamente à da obesidade. Nesta resumo das comunicações orais XVI reunião do hospital de crianças maria pia S295 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 HIPERPLASIA CONGÉNITA DA SUPRA RENAL - UM CASO CLÍNICO Soraia Tomé1, Paula Fonseca2, Lúcia Gomes1, Luís Vale1, Teresa Borges1 1 Serviço de Pediatria - Hospital Geral Sto António 2 Hospital São João de Deus - Famalicão Criança do sexo feminino, actualmente com 2 anos de idade, de raça caucasiana e pais ucranianos. Sem antecedentes familiares ou pré-natais relevantes. Parto eutócico, de termo no Hospital da área de residência, com Índice de Apgar de 9/10 e somatometria adequada à idade gestacional. Ao exame objectivo do recém-nascido verificou-se ambiguidade sexual. Foi pedido o cariótipo e teve alta orientada para a consulta de Pediatria Geral. Aos 21 dias de vida deu entrada no serviço de urgência do Hospital São João de Deus com um quadro de vómitos alimentares com uma semana de evolução, associado a perda ponderal. Constatou-se a presença de desidratação hiponatrémica com hipercaliémia e acidose metabólica. Nesta altura confirma-se tratar de recém nascido do sexo feminino (cariótipo 46 XX). Colocou-se então a hipótese diagnóstica de crise perdedora de sal no contexto de uma Hiperplasia Congénita da Supra Renal (HCSR) provável. Foi medicada com hidrocortisona e transferida para o Serviço de Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos do Hospital Geral de Santo António (HGSA). Com a terapêutica instituída (hidrocortisona e cloreto de sódio a 20%) verificou-se uma estabilização da situação clínica. Confirmou-se a hipótese de diagnóstico de HCSR e teve alta com hidrocortisona, 9 α-flurohidrocortisona e cloreto de sódio a 20% e foi orientada para a consulta de Endodrinologia Pediátrica do HGSA e Cirurgia Pediátrica do Hospital Maria Pia (HMP). Seguida na consulta de Endocrinologia Pediátrica desde os 2,5 meses até aos 11 meses tendo tido, neste período, uma boa evolução clínica e estaturo-ponderal. Submetida a genitoplastia aos 5,5 meses no HMP. Esteve ausente da consulta dos 11 aos 16 meses por se encontrar na Ucrânia. Havia sido substituída, neste período, a terapêutica habitual por prednisolona apresentando a criança um aspecto cushingoide e uma paragem do crescimento (0 cm em 5 meses). Foi internada no nosso Serviço, por Síndrome de Cushing iatrogénico e gradualmente substituída a prednisolona por hidrocortisona. Teve uma boa evolução clínica e analítica, sendo orientada para a consulta de Endocrinologia Pediátrica. O seguimento nesta consulta mostrou a resolução do Síndrome de Cushing iatrogénico, apresentando-se a criança clínica e analiticamente estável e a crescer (7 cm em 7 meses). Os autores pretendem, com a apresentação deste caso clínico, realçar a necessidade de um diagnóstico antes da alta numa situação de Ambiguidade Sexual e chamar a atenção para os desafios clínicos que as diferentes situações sociais dos nossos doentes nos podem levantar. RASTREIO OFTALMOLÓGICO NA PEDIATRIA DO AMBULATÓRIO Iris Maia1, Fátima Pinto2 1 Serviço de Pediatria - Centro Hospitalar do Alto Minho 2 Centro Saúde da Carvalhosa - Porto A visão é o sentido da relação social por excelência, da aprendizagem e comunicação, com um enorme impacto no futuro da criança. O rastreio oftalmológico nas crianças é extremamente importante e parte integrante da consulta de Saúde Infantil. O diagnóstico precoce das alterações visuais pode permitir a sua correcção total ou parcial, assim como a intervenção precoce naqueles casos em que a cegueira é inevitável, melhorando o prognóstico. Os autores no seu convívio diário com as crianças, aperceberam-se das dificuldades que apresenta a realização deste rastreio e após uma reflexão crítica concluíram que pouco ou nada sabiam sobre este assunto. De acordo com isto, resumo das comunicações orais S296 XVI reunião do hospital de crianças maria pia decidiram fazer uma revisão teórica que culminou num protocolo de rastreio oftalmológico na consulta de Pediatria. Os autores propõem-se a fazer uma revisão do que é e como deve ser efectuado o rastreio, abordando o material necessário, os testes a efectuar em cada idade e, de acordo com os resultados, quais os motivos de referência para Oftalmologia Pediátrica . Pretende-se com este trabalho realçar a importância da avaliação oftalmológica nas crianças, de forma a permitir-lhes crescer saudáveis e com todo o seu potencial. ALEITAMENTO MATERNO: PRESENTE OU AINDA PASSADO? Renata De Luca, Cláudia Pedrosa, António Carlos Borges, Emília Costa, Isabel Sousa, Antonieta Barbosa, Lurdes Pinto, Marisa Oliveira, Elizabeth Marques, Cristina Godinho, Miguel Costa S. Pediatria - H. S. Miguel - Oliveira de Azeméis Introdução - A prevalência do aleitamento materno (AM) tem aumentado nos últimos anos, existindo no entanto, uma diminuição acentuada a partir dos primeiros meses de vida. Factores maternos, socioeconómicos e culturais são determinantes para o êxito da amamentação. Objectivos - Este estudo teve como objectivos determinar a prevalência do AM na área de influência do H. S. Miguel (concelhos de Oliveira de Azeméis, V. de Cambra e de S. João da Madeira), identificar factores associados ao seu abandono e conhecer a altura da introdução do leite de vaca em natureza. Material e métodos - Foi efectuado, aleatoriamente, no Serviço de Pediatria do H.S. Miguel, um inquérito sobre aleitamento, às mães cujos filhos nasceram desde 1999 a 2002, até atingir um total de 100 inquéritos, por ano. Efectuou-se o método de X2 para as variáveis paramétricas. Resultados - A prevalência do aleitamento materno foi em 1999 de 70% ao 1 mês de vida e de 41% aos 6 meses; em NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 2000 de 62% ao 1 mês de vida e de 44% aos 6 meses; em 2001 de 80% ao 1 mês de vida e de 44% aos 6 meses; e em 2002 de 63% ao 1 mês, de 40% ao 6 meses. Não foram encontradas relações, com significado estatístico, entre a suspensão do aleitamento materno, a idade e a escolaridade materna, o índice de Graffar, a existência e a duração da licença de maternidade. A presença de agalactiae foi o motivo preponderante para a não continuação do aleitamento materno em todos os anos. Em relação à introdução do leite de vaca em natureza, na faixa etária abaixo dos 6 meses foi de 4% em 1999; 0% em 2001; 3% em 2001; e 3% em 2002. Na faixa etária entre os 6 e os 12 meses, a introdução do leite de vaca em natureza foi de 40% em 1999, 16% em 2000, 16% em 2001 e de 21% em 2002. Comentários e conclusões Constatamos uma elevada prevalência do aleitamento materno no primeiro mês de vida que vai diminuindo progressivamente, atingindo aos 6 meses praticamente os mesmos valores percentuais nos 4 anos em estudo. Em relação a introdução do leite de vaca verificou-se que esta é rara antes dos 6 meses, sendo que, desde 2000, a grande maioria inicia-o após os 12 meses. A implementação de algumas medidas, nomeadamente o ensino e treino dos profissionais de saúde que contactam com as mães na maternidade ou a criação de grupos de apoio às puérparas e recémnascidos no domicílio, poderiam modificar este panorama negativo que é o abandono gradual do AM. Achamos necessária a criação de uma estratégia promocional que tenha em conta não só a educação mas também a motivação e o apoio à amamentação, com o envolvimento de todos os profissionais de saúde que trabalham nesta área. TÉCNICAS DIALÍTICAS NA INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA António J. Aguilar, Sandra Rocha,, Maria do Sameiro Faria, Carmen Carvalho, Conceição Mota, Elói Pereira, Carlos Duarte Serviço Nefrologia e UCI - Hospital Maria Pia Introdução: A insuficiência renal aguda (IRA) é uma entidade rara na população pediátrica, caracterizada pelo declínio rápido da filtração glomerular, alterações no volume do líquido extracelular e da homeostase electrolítica e ácido-base, com retenção de produtos nitrogenados do catabolismo proteico. A realização de terapêutica de substituição da função renal através de diálise tornase necessário quando as medidas conservadoras não se mostram eficientes. Objectivos: Caracterizar as crianças que necessitaram de tratamento diálitico agudo, as indicações mais frequentes para o início da diálise, as patologias associadas, as técnicas dialíticas utilizadas e suas complicações e a morbilidade e mortalidade dos doentes que necessitaram de diálise. Material e Métodos: Procedeu-se à análise retrospectiva dos processos clínicos das crianças com IRA submetidas a técnicas dialíticas no Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia no período compreendido entre 1 de Janeiro de 1990 até 31 de Dezembro de 2003. Resultados: Estudaram-se 30 crianças com IRA submetidas a diálise. A idade mediana foi de 4,6 anos (80% pediátricos, 20% neonatais), com discreto predomínio do sexo feminino (1,3:1). A condição clínica mais frequentemente associada à IRA foi a sepsis (30% dos doentes), seguida de síndrome hemolítico urémico (26% dos casos). Em 80% das crianças verificou-se IRA oligúrica. A azotemia, oligúria e retenção hídrica foram as principais indicações para o início de diálise. Foi efectuada diálise peritoneal em 20 crianças (66%), hemodiálise intermitente em 9 (30%) e hemodiafiltração contínua em 1 criança (4%). As complicações da diálise mais frequentemente observadas foram as mecânicas (30%) seguidas das infecciosas. A mortalidade verificada foi de 20% e foi relacionada com a patologia subjacente. Em 6 crianças (20%) não houve recuperação da função renal com necessidade de manutenção de tratamento dialítico crónico. Conclusões: A diálise peritoneal foi a técnica mais usada nas crianças com IRA. A mortalidade não foi relacionada com a técnica dialítica. Foram realizadas com êxito e utilizadas as diferentes alternativas de depuração extra-renal nos doentes agudos referenciados para o nosso hospital. LIMIAR DE VIABILIDADE - ANÁLISE DOS RESULTADOS NEONATAIS E DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NO 1º ANO DE VIDA DE RECÉM NASCIDOS ENTRE AS 22 E AS 28 SEMANAS DE GESTAÇÃO Susana Carvalho1, José Sizenando2, LF Azevedo3, E. Fernandes1, Artur Alegria1 1 Serviço de Obstetrícia Maternidade Júlio Dinis (MSD) 2 Serviço de Pediatria MSD; 3 Serviço de Bioestatística e Informática Médica da Universidade do Porto Introdução: A constante evolução técnica e melhoria dos cuidados de saúde prestados tem vindo a permitir a sobrevivência de recém nascidos (RN) com idades gestacionais cada vez mais baixas. Com o objectivo de proporcionar melhor informação e aconselhamento para profissionais de saúde e pais relativamente a este grupo especialmente vulnerável de RN, foram analisadas a mortalidade, a morbilidade neonatal e o desenvolvimento psicomotor no primeiro ano de vida de um grupo de crianças até às 28 semanas de gestação e sua associação com factores maternos, fetais, do periparto e neonatais. Métodos: Foram analisados retrospectivamente os processos de todos os recém-nascidos com idade gestacional entre 22 e 28 semanas, entre Janeiro de 2001 e Outubro de 2003, na Maternidade Júlio Dinis. Foram excluídos os nados mortos e interrupções médicas de gravi- resumo das comunicações orais XVI reunião do hospital de crianças maria pia S297 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 dez. A idade gestacional no parto foi atribuída através da melhor estimativa estabelecida pela amenorreia, pela ecografia precoce e pelo exame físico do RN. Foram avaliados os dados maternos, gestacionais, do periparto e dos RN. As variáveis de resultado analisadas foram a mortalidade neonatal, a morbilidade dos sobreviventes (sequelas neurológicas, respiratórias, oftalmológicas, gastrointestinais), número de dias de internamento na Unidade de Neonatologia e desenvolvimento psicomotor ao fim do primeiro ano de vida (avaliado através da escala de desenvolvimento qualitativa de Mary Sheridan). Resultados: Foram analisados 85 RN, 17% com ≤24 semanas de idade gestacional, 44% com 25-26 semanas e 40% com 27-28 semanas. A mortalidade foi de 42% (IC 95% 32% - 53%). O risco de morte neonatal foi decrescente em função da idade gestacional - 100% abaixo das 24 semanas de gestação e 50% às 24 semanas; 46% no grupo 2526 semanas e 24% no grupo ≥ 27 semanas (X2 para tendências, p<0,001). Dos 49 RN sobreviventes, 33% (IC 95% 20% - 47%) apresentaram algum tipo de sequelas (neurológicas, respiratórias, oftalmológicas e/ou gastrointestinais) à data de alta em frequência decrescente com a idade gestacional - 67% às 24 semanas; 33% às 25-26 semanas e 30% acima das 27 semanas. A média de internamento foi decrescente com a idade gestacional: 89±23 dias às 24 semanas; 71±32 dias às 25-26 semanas e 64±20 dias acima das 27 semanas. Na avaliação do desenvolvimento psicomotor dos sobreviventes verifica-se que 82% destes tinham um desenvolvimento normal para a idade, incluindo os três sobreviventes nascidos às 24 semanas. Discussão: A viabilidade de fetos até às 24 semanas de gestação permanece eticamente e clinicamente controversa. No entanto, a partir desta idade gestacional, consideramos lícito um investimento peri e neonatal. Na nossa amostra metade das crianças com 24 semanas sobreviveram, todas sem se- quelas ao ano de idade. A mortalidade e a morbilidade neonatal diminuiu significativamente com a maturidade gestacional. TERATOMA DO MEDIASTINO POSTERIOR – UM TUMOR RARO MJ Vale1, C Meireles1, F Macedo2, L Cardoso1, C Tavares1, N Farinha3 1 Serviço de Pediatria, 2 Serviço de Imagiologia - H. Sra da Oliveira – SA, Guimarães 3 Serviço de Hemato-Oncologia Pediátrica - H. S. João, Porto Os autores apresentam o caso clínico de uma criança de 3 anos de idade, do sexo masculino, caucasiano, natural e residente em Guimarães, sem antecedentes pessoais ou familiares de relevo, assintomático até Agosto de 2003, altura em que inicia quadro de infecções respiratórias de repetição. Em finais de Setembro de 2003, por persistência de imagem para-vertebral esquerda no Rx do tórax, recusa alimentar parcial e referência a emagrecimento de cerca de 1 kg num mês, é internado no Serviço de Pediatria do H. Sra da Oliveira para estudo. O exame objectivo não apresentava alterações de relevo. Analiticamente apresentava VS e PCR elevadas, sendo o restante estudo inicial normal. A TAC torácica mostrou: “…uma massa na goteira costo-vertebral esquerda de 3,5 x 3 x 4 cm, de contornos regulares, heterogénea, com componente de partes moles, tecido adiposo e uma provável calcificação central … sugestiva de teratoma… rim esquerdo atrófico com dilatação piélica...”. A RMN tóraco-abdominal confirmou “…presença de lesão entre os níveis D6 a D12, … sem evidência de invasão endocanalar ou de estruturas vitais ... discreto componente atelectásico adjacente à massa…” Orientado para Hemato-Oncologia Pediátrica no H.S. João. O estudo analítico efectuado foi normal, incluindo os marcadores tumorais (DHL, Ferritina, β-HCG, α-fetoproteína, HVM, AHV e catecolaminas urinárias). O exame anátomo-patológico da peça cirúrgica confir- resumo das comunicações orais S298 XVI reunião do hospital de crianças maria pia mou tratar-se de um teratoma maduro. Actualmente, a criança está assintomática e não apresenta qualquer alteração analítica ou imagiológica. Os teratomas do mediastino são neoplasias raras na infância (constituem 7% de todos os tumores germinativos e 20% das massas mediastínicas na criança). Habitualmente são anteriores, sendo o mediastino posterior, o coração, o pericárdio e o parênquima pulmonar locais menos comuns. Embora no adulto constitua um achado acidental, o teratoma mediastínico na criança dá, habitualmente, sintomatologia respiratória. Uma vez que a maioria destes doentes apresenta uma massa visível no Rx tórax, os autores chamam a atenção para a utilidade deste exame, na detecção de uma massa mediastínica, como possível causa de queixas respiratórias. Após exérese cirúrgica é necessária vigilância periódica pelo risco aumentado de recorrência maligna. UMA CAUSA RARA DE SINDROME DE PRIVAÇÃO Alexandra Nunes Sequeira, Rui Almeida, Lucia Gomes, Luis Vale HGSA, SA Os autores apresentam um caso clínico de um Recém-nascido (RN) do sexo masculino, com 2 dias de vida, fruto de uma gravidez vigiada, em que a mãe efectuou antidepressivos tricíclicos e benzodiazepinas, por doença psiquiátrica (agarafobia), internado no Serviço de Pediatria do HGSA por suspeita de Síndrome de Privação. À admissão no Serviço o lactente apresentava-se clinicamente bem, com trémulo à manipulação dos membros superiores e inferiores, sucção dos punhos, hipertonia e reflexo de Moro exagerado - Índice de Finnegan (IF) de 7 que progrediu até máximo de 9. Restante exame sem alterações. Fez tratamento com fenobarbital desde D2 de vida até D16. Alta ao 19º dia de vida apresentando-se clinicamente bem, sem sintomas de privação, orientado para a Consulta de Pediatria Geral. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 Os autores apresentam este caso por se tratar de uma causa rara de Síndrome de Privação, clinicamente em tudo semelhante à abstinência de drogas de abuso, com tratamento semelhante, contudo, com duração superior à habitualmente encontrada na exposição a opiáceos. OBESIDADE MÓRBIDA PRIMÁRIA - A PROPÓSITO DE 3 CASOS CLÍNICOS Sandra Rodrigues, Helena Ferreira, Lourenço Gomes, Carlos Enes, A. Sérgio, Cidade Rodrigues Serviço de Pediatria e Cirurgia Pediátrica - Hospital Maria Pia Introdução: O aumento da prevalência da obesidade, nos últimos anos, constitui um importante problema médico e cultural. A taxa de sucesso da terapêutica baseada na modulação da dieta e exercício físico é considerada muito baixa, especialmente nos casos mais graves. A gastrobandoplastia é uma cirurgia pouco invasiva, segura a longo prazo e reversível, quando aplicada à população adulta. O seu uso na idade pediátrica tem sido pontual. Os autores apresentam os casos clínicos de três adolescentes submetidas a gastrobandoplastia. Caso 1: Adolescente, sexo feminino, 16 anos de idade, seguida no nosso Hospital desde os 8 anos, com obesidade mórbida e atraso intelectual ligeiro. Terapêutica conservadora sem sucesso. Analiticamente apresentava hiperuricemia, dislipidemia, lipoproteína(a) aumentada e hiperinsulinismo. Tinha critérios ecográficos de esteatose hepática. Em Julho de 2001 (13A e 8M), apresentava-se com 113.4 Kg e 153 cm (IMC-48.4 Kg/m2), hipertensa e com acantose nigricans exuberante. Foi submetida a gastrobandoplastia, sem morbilidade. Actualmente com 38 meses de seguimento, foi conseguido o peso mínimo de 87 Kg (perda de 26.4 Kg), embora a necessidade recente de alargar a banda tenha condicionado ganho de peso. Os controlos analíticos regulares para ava- liação nutricional não têm revelado alterações. Caso 2: Adolescente, sexo feminino, 18 anos de idade, seguida no nosso Hospital desde os 15 anos, com obesidade mórbida. Apesar da perda ponderal inicial de 7.6 Kg com terapêutica conservadora, sofre agravamento nos últimos 2 anos (aumento de 18.6 Kg), surgindo irregularidades menstruais e quebra de rendimento escolar. Analiticamente apresentava lipoproteína(a) aumentada, dislipidemia e hiperinsulinismo. Em Março de 2003 (17A e 9M), o exame clínico revelava hipertensão peso: 107.1 Kg e estatura: 161 cm (IMC41.3 Kg/m2). Foi submetida a gastrobandoplastia, sem incidentes per ou pós operatórios. Actualmente com 18 meses de seguimento, foi conseguida uma perda ponderal de 25 Kg. Os controlos analíticos regulares para avaliação nutricional não têm revelado alterações. Caso 3: Adolescente, sexo feminino, 17 anos, seguida no nosso Hospital desde os 9 anos, com obesidade mórbida e hipotiroidismo. Terapêutica conservadora de obesidade sem sucesso, com referência a irregularidades menstruais e alterações do sono. Analiticamente apresentava hiperuricemia, dislipidemia, lipoproteína(a) elevada e hiperinsulinismo. Tinha critérios ecográficos de esteatose hepática. Em Janeiro de 2004 (17A), apresentava-se hipertensa, peso: 110.1 Kg e estatura: 156.5 cm (IMC- 45.0 Kg/m2). Foi submetida a gastrobandoplastia, sem complicações importantes. Actualmente com 8 meses de seguimento, foi conseguida uma perda ponderal de 31.4 Kg. Os controlos analíticos regulares não têm revelado alterações. Comentários: Os autores pretendem, com a exposição destes casos, apresentar a sua experiência e os resultados desta técnica recente no tratamento da obesidade mórbida na população pediátrica. UM CASO DE ARTRITE… Catarina Prior, Margarida Guedes Serviço de Pediatria - Hospital Geral Santo António A Polimiosite Juvenil é uma patologia incomum, com uma incidência estimada em 0,2-0,4 casos por 100.000 indivíduos. Por definição manifesta-se antes dos 16 anos, sendo duas a cinco vezes mais frequente em jovens do sexo feminino que em jovens do sexo masculino. Trata-se de uma miopatia inflamatória com etiologia desconhecida mas com reconhecida mediação imunológica. As manifestações clínicas tipicas incluem fraqueza muscular proximal e mialgias, de instalação progressiva. Frquentemente ocorre um pródromo com sintomatologia inespecífica, nomeadamente mau-estar geral e febre baixa, geralmente interpretado com sindrome virusal. O antigimento articular está descrito, sob a forma de artralgias e/ou artrite, não sendo no entanto frequente, em particular nas formas juvenis de polimiosite. No caso descrito, a forma de apresentação incomum e a não valorizado da sintomatologia muscular pela adolescente, levaram à suspeita inicial de Artrite Juvenil Idiopática, tendo a pista para o diagnóstico sido fornecida pelo estudo analítico efectuado. Adolescente do sexo feminino com 14 anos, enviada à Consulta Externa de Pediatria / Reumatologia do HGSA pelo Pediatra Assistente, em Janeiro de 2002, por artrite das mãos - suspeita de Artrite Juvenil Idiopática. É uma primeira filha de um casal saudável, sem antecedentes patológicos de relevo. Cerca de três meses de antes da consulta inicia dor na mão direita, de predomínio matinal, acompanhada de edema do punho ipsitateral. Referência a progressiva diminuição das queixas algicas, com concomitante e progressivo aparecimento de limitação dos movimentos locais e de idêntica sintomatologia na mão contra-lateral. Durante este período manteve-se apirética e sem atingimento do estado geral. Ao exame objectivo apresentava com bom aspecto geral. Parâmetros vitais resumo das comunicações orais XVI reunião do hospital de crianças maria pia S299 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 normais. Evidente limitação dos movimentos da mão direita, particularmente da extensão dos dedos. Sem edema nem desvio cubital. O exame da coluna vertebral evidência escoliose dorsolombar ligeira e hipercifose dorsal, com mobilidade global preservada. O exame das restantes articulações e dos restantes aparelhos e sistemas não revelou quaisquer alterações. Foi pedido estudo analítico (hemograma, bioquímica e estudos imunológico e serológico) e radiológico e instituida terapêutica com AINES, orientando-se a adolescente para as Consultas de Fisiatria e Ortopedia. Dos resultados dos exames analíticos evidenciava-se uma elevação marcada da creatina-quinase (2701 U/L), pelo que a doente foi de imediato convocada. Um inquérito mais aprofundado revelou a presença de fraqueza muscular proximal, traduzida por dificuldade na elevação continuada dos membros superiores (nomeadamente no acto de pentear) e na elevação do corpo do nível do chão. Realizou Electromiografia e Biópsia muscular, que revelaram a existência de uma Miopatia inflamatória. As serologias foram negativas para os agentes pesquisados, e o estudo imunológico a favor do diagnóstico de Polimiosite. Iniciou então corticoterapia (Prednisolona, 1mg/dia/ dia). Os exames Cardiológico e Oftalmológico, bem como as Provas de função respiratória não revelaram quaisquer alterações. Cerca de um mês após o início da terapêutica, a adolescente encontravase assitomática, tendo sido possível suspender as sessões de fisioterapia e retomar a prática de desporto. As enzimas musculares encontravam-se praticamente normalizadas. Foi então iniciada diminuição lenta do corticoesteróide, que pôde ser suspenso um ano depois de ter sido instituído. Após a suspensão do fármaco a adolescente manteve-se assintomática durante cerca de 5 meses, altura em que volta a sentir cansaço muscular progressivo e, cerca de 15 dias depois, mialgias nos membros inferiores, por vezes incapacitantes. Analiticamente verifica-se elevação da aldolase, mantendo-se as restantes enzimas musculares normais. Foram re-instituidas a terapêutica com prednisolona e as sessões de fisioterapia. Um mês depois a adolescente apresentava franca melhoria da sintomatologia, encontrando-se bem até à data. Este caso sublinha a importância de uma anamenese e exame físico minunciosamente pormenorizados na abordagem das doenças reumatológicas, cujas manifestações não raramente são comuns às diversas entidades nosológicas. ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL - FORMA SISTÉMICA: CASO CLÍNICO Ana Vilau, Cláudia Monteiro, Idolinda Quintal, Joaquim Cunha, Margarida Guedes Serviço Pediatria - Hospital Padre Américo - Vale do Sousa SA HGSA - SA A Artrite idiopática juvenil (AIJ), é a doença reumática mais frequente na infância. A apresentação sistémica é responsável por cerca de 15% de todos os casos. Os autores apresentam um caso clínico de artrite idiopática juvenil - forma sistémica, em rapaz de 10 anos de idade a propósito do qual, fazem algumas considerações acerca da dificuldade do diagnóstico, evolução clínica e terapêutica. DERMATOMIOSITE JUVENIL - DOIS CASOS CLÍNICOS Lurdes Lisboa, Ana Nordeste, Natália Belo, Patrícia Lapa, Paula Rocha, Margarida Oliveira, Manuel Salgado Serviço de Pediatria - Hospital Infante D. Pedro, S.A. - Aveiro A dermatomiosite juvenil é uma doença inflamatória crónica que atinge primariamente o músculo e a pelo. A incidência é de 2-3/1000000 crianças/ ano. As alterações cutâneas típicas e a fraqueza muscular proximal são as carac- resumo das comunicações orais S300 XVI reunião do hospital de crianças maria pia terísticas clínicas mais frequentes. Apesar de os corticoesteróides terem melhorado o prognóstico esta doença ainda está associada a morbilidade considerável. Os autores apresentam dois casos clínicos de dermatomiosite com formas de apresentação diferentes: 1º Menina, de 13 anos, enviada à nossa consulta por cansaço fácil, fraqueza e dor muscular simétrica a nível dos membros superiores, região lombar e joelhos, e fotossensibilidade com cerca de 6 anos de evolução. O antecedentes pessoais e familiares eram irrelevantes. Ao exame objectivo apresentava rash heliotrópico, sinal de Gottron sobre as articulações dos cotovelos e dod dedos das mãos, rebordo petéquial periungueal, atrofia muscular generalizada, especialmente notória nos antebraços, mãos e dedos, limitação da extensão dos joelhos e da flexão da coluna. Analiticamente apresentava enzimas musculares dentro dos parâmetros normais, serologias víricas negativas e ANA positivos. Radiologicamente identificava-se calcificação na coxa direita. O estudo EMG, a capilaroscopia e a biópsia muscular foram consistentes com o diagnóstico de dermatomuiosite. Iniciou terapêutica com prednisolona oral com alguma melhoria, apesar de cumprimento irregular, tendo, posteriormente, abandonado a consulta. 2º Menina, de 4 anos, trazida ao SU por exanterna eritematoso na face, com cerca de um mês de evolução, com extensão, desde a semana anterior, aos cotovelos, joelhos e dedos das mãos. Sem queixas de fraqueza e/ou dores musculares. Os antecedentes pessoais e familiares eram irrelevantes. Ao exame objectivo apresentava rash heliotrópico, sinal de Gottron sobre as articulações dos dedos das mãos e telangiectasias peri-ungueais nos dedos das mãos. Sem limitações dos movimentos. Analiticamente apresentava aumento dos valores das enzimas musculares e ANA positivos. A biópsia muscular confirmou o diagnóstico de dermatomiosite. Após um mês e meio de diagnóstico e apesar da terapêutica, inicialmente com prednisolona oral e, posteriormente com metrotexato s.c.,assistiu-se ao agravamento progres- NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 sivo, encontrando-se actualmente com força muscular proximal grau 1-2, incapaz de elevar os membros e com dor à mobilização das grandes articulações. Iniciou imunoglobina e.v. e prednisolona e.v.. Os autores pretendem chamar a atenção para uma doença rara, que não pode ser esquecida, que muitas vezes se manifesta por queixas tão comuns em idade pediátrica como o são as dores musculares, o cansaço fácil e o rash fixo. SÍNDROMA DE CHURG-STRAUSSCASO CLÍNICO Ana Nordeste1, Alcide Marques2, Manuel Salgado1 1 Hospital Pediátrico de Coimbra 2 Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) A Sindroma de Churg-Strauss, também chamada granulomatose alérgica e angeíte, é uma vasculite sistémica de etiologia desconhecida, pouco frequente em adultos e extremamente rara em crianças, com menos de vinte casos descritos. Caracteriza-se pela presença de pelo menos 4 dos seguintes critérios diagnósticos (American College of Rheumatology - 1990): asma, eosinofilia (>10% da contagem diferencial de leucócitos), mononeuropatia ou polineuropatia, infiltrados pulmonares, anomalias dos seios perinasais e eosinófilos extra-vasculares na biópsia. Os autores descrevem o caso clínico de uma criança do sexo feminino de 11 anos que apresentava febre prolongada, astenia, anorexia, perda de peso (13% do peso corporal), dor abdominal, artrite dos joelhos, punhos e 5º dedo da mão esquerda, polineuropatia e exantema fugaz violáceo. Nos antecedentes pessoais havia história de asma, sinusite e pólipos nasais. A investigação laboratorial revelou eosinifilia (19%), p-ANCA MPO positivo e PR3 negativo. Foi colocada a hipótese de Síndroma de ChurgStrauss e iniciou terapêutica com prednisolona (1 mg/Kg/dia), com boa resposta clínica e laboratorial, embora tenha desenvolvido HTA secundária. Apesar da biópsia cutânea efectuada não ter abrangido tecido lesado, pensamos que a clínica e a combinação de ANCA-P positivos com MPO positiva são a favor de Síndroma de ChurgStrauss. Actualmente (2 anos após o diagnóstico) e seguida nas consultas de reumatologia do Hospital Pediátrico e pneumologia dos HUC, tendo recentemente efectuado TAC pulmonar que revelou bronquiectasias e aneurismas da artéria pulmonar. DOENÇA GRANULOMATOSA CRÓNICA Margarida Figueiredo, Laura Marques, Alice Albino, Júlia Vasconcelos, Virgilio Serra Hospital Central Especializado de Crianças Maria Pia Introdução: A Doença Granulomatosa Crónica (DGC) é uma imunodeficiência congénita rara. Estima-se que a sua incidência seja de aproximadamente 1 caso em cada 250 000 pessoas. É causada por um défice na NADPH oxidase, a enzima responsável pela explosão oxidativa que normalmente acompanha a fagocitose em todas as células mielóides. Caracteriza-se por infecções graves e recorrentes, potencialmente fatais, provocadas por bactérias e fungos, que geralmente se manifestam no primeiro ano de vida. Os microrganismos mais frequentemente encontrados são Staphylococcus aureus, Serratia marscencens, Burkholderia cepacea e Aspergillus. Cerca de dois terços dos casos apresentam um padrão de hereditariedade ligado ao X e os restantes um padrão autossómico recessivo. Por vezes a apresentação desta doença pode ser mais tardia, em crianças, adolescentes e mesmo adultos. Os autores apresentam o caso clínico de uma criança do sexo feminino com este tipo de apresentação mais tardia da doença. Caso clínico: J I S, raça caucasiana, 6 anos, sexo feminino, segunda filha de pais consanguíneos. Antece- dentes de aftas orais recorrentes desde o ano de idade, asociadas a dois episódios de aftas genitais nos íltimos 12 meses. Em Julho de 2004 aparecimento de adronomegalias cervicais múltiplas à esquerda. Medicada em ambulatório com Cotrimixazol oral, tendo-se verificado evolução para abcesso. Efectuada drenagen cirúrgica com isolamento de Burkholderia cepacea no pús. Medicada com Ceftazidima endovenosa com resposta favorável mais arrastada. Foi colocada suspeita de imunodeficiência, nomeadamente de DGC, tendo sido estudada a explosão oxidativa dos granulócitos. Verificou-se a existência de um défice acentuado da explosão oxidativa dos granulócitos com E. Coli e PMA confirmando o diagnóstico de Doenla Granulomatosa Crónica. Efectuou investigação imagiológica para pesquisa de outros focos de abcesso. A radiografia de tórax foi normal. A ecografia abdominal mostrou a existência de dois pequenos abcessos esplénicos, confirmados na tomografia axial computorixada. Associada Ciprofloxacina endovenosa e Interferão gama subcutâneo com boa evolução clínica, analítica e imagiológica. Iniciou profilaxia com Itraconazol e Cotrimoxasol. O estudo molecular encontra-se em curso. Comentários: É importante considerar o diagnóstico de DGC em qualquer criança com infecçãoganglionar atípica ou arrastada, em qualquer idade uma vez que uma apresentação mais tardia desta doença é possível, como ilustra o nosso caso. Nas últimas décadas temse verificado progressos importantes no diagnóstico e tratamento desta doença, nomeadamente na profilaxia de infecções graves o que tem possibilitado uma melhoria significativa na sobrevida e na qualidade de vida destas crianças, visto que actualmente o único tratamento curativo é o Transplante de Medula Óssea. No entanto, pensa-se que esta patologia esta subdiagnosticada. A precocidade do diagnóstico conseguida neste caso possibilitou uma abordagem mais agressiva e um tratamento adequado, sem os quais se poderiam ter verificado resumo das comunicações orais XVI reunião do hospital de crianças maria pia S301 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 complicações mais graves e uma evolução desfavorável. EDEMAS DUROS DAS EXTREMIDADES E EOSINOFILIA: CASO CLÍNICO Maria Ana Castillo1, Manuela Ferreira2, Melo Pires3, Laura Marques1 1 S. Pediatria Hosp. Maria Pia 2 S. Pediatria Hosp. Bragança 3 S. Neuropatologia HGSA Os autores apresentam o caso de uma criança de 5 anos de idade enviada em Outubro de 2003 à Consulta de Imunologia do nosso hospital para estudo de edema duro das mãos. Tratava-se de uma criança saudável até Agosto de 2003, altura em que se iniciou edema duro dos dedos, sem calor ou rubor, com progressão proximal para o dorso das mãos, pulsos e antebraços, bilateral e simétrico. Apresentava dor à extensão das articulações interfalângicas e metacarpofalângicas, com limitação da mobilidade e adopção de postura em flexão. Foi medicada com Ibunoprofeno mas, dois meses depois, surgiram edemas duros no dorso dos pés e pernas, com limitação da extensão e com claudicação, sem atingimento das cinturas nem diminuição da força muscular. Não apresentava sintomas gerais nem eritema. Foram colocadas as hipóteses de diagnóstico de esclerodermia, LES ou sindrome de sobreposição. No estudo efectuado salientava-se: hemograma com eosinofilia, VS normal, PCR negativa, elevação ligeira das transaminases, CK normal, estudo imunológico incluindo Rosa Bengala, Waller-Rose. TASO, RA teste, Imunoglobinas e Complemento normais, ANA moderadamente positivos, Anti-DNA ds ligeiramente positivos, anticardiolipina, anticoagulante circulante, anti.fosfolipideo, anti-Scl70, anti-Sm, anti SS-A e SS-B, anti-centrómero, anti-U1 RNP negativos. Rx das mãos e dos pés sem alterações. A persistência duma eosinofilia acentuada (>2000/mm3) associada à clínica evocou o diagnóstico de fasceite eosinofilica. A RMN apresentava as alterações características desta patologia e a biópsia de pele e músculo confirmou o diagnóstico. Iniciou corticoterapia oral e fisioterapia com excelente evolução. A fasceíte eosinofílica, também conhecida por Síndrome de Shulman, é uma entidade rara, com fibrose e infiltração inflamatória do predomínio eosinofílico na derme e na fascia. A sua etiologia é desconhecida. Alguns autores consideram que é uma forma localizada de esclerodermia. Outros pensam tratar-se de uma patologia distinta. Geralmente surge em adultos, sendo extremamente rara nas crianças. A resposta à corticoterapia é favorável na maioria dod casos, sobretudo quando tratada precocemente. SEIO DERMÓIDE - MERECE INVESTIGAÇÃO? Caso clínico de meningite recorrente Susana Soares, Carla Laranjeira, Susana Peres, Delfina Coelho, Cristina Ferreira Hospital Nossa Senhora da Oliveira Guimarães Os autores apresentam o caso clínico de uma criança de dois anos de idade internada por um segundo episódio de meningite bacteriana, e que ao exame objectivo apresentava fosseta na região sagrada com tufo piloso associado. A RMN do neuroeixo revelou a presença de seio dermóide com raquisquisis, tendo sido efectuada a correcção cirurgica após resolução do processo infeccioso. A propósito do caso, os autores fazem a revisão das indicações para estudo imagiológico por RMN de um seio dermóide. PERTURBAÇÃO DE HIPERACTIVIDADE/DÉFICE DE ATENÇÃO: AS DIFICULDADES DE UMA “DOENÇA NOVA” Emília Costa, Tiago Bassères, Ana Luísa Pinto, Virginia Monteiro Serviço Pediatria - Hospital São Miguel Oliveira de Azeméis Objectivos: A Perturbação de Hiperactividade / Défice de Atenção (PHDA) é uma patologia emergente na pediatria do ambulatório, principalmente nas consultas de sub-especialidades resumo das comunicações orais S302 XVI reunião do hospital de crianças maria pia relacionadas com o neurodesenvolvimento. Pretende-se, com este trabalho, avaliar a sua incidência e reflectir sobre as dificuldades do diagnóstico e orientações terapêuticas instituídas num grupo de crianças atendidas na Consulta de Desenvolvimento (CD) por suspeita de PHDA. Metodologia: Estudo retrospectivo de 57 crianças referenciadas nos últimos 2 anos com suspeita de PHDA, no qual se estudaram os seguintes parâmetros: sexo, idade, procedência, motivo principal e queixas associadas, investigação efectuada e diagnóstico final. No grupo de crianças com PHDA foi avaliada a existência de co-morbilidades, o tratamento efectuado e evolução clínica posterior. Resultados: Foi observada uma predominância do sexo masculino, sendo a idade escolar a mais frequente; o encaminhamento foi feito principalmente pelo médico de família (MF) e pela escola; o motivo principal da consulta foi a hipercinesia seguida de alterações de comportamento sugestivas de PHDA e Défice de Atenção (DA) sem hiperactividade; o diagnóstico de PHDA foi feito em 64% das crianças, baseado nos resultados obtidos nos diversos instrumentos de avaliação (questionários de comportamento, avaliação cognitiva e do desenvolvimento psicomotor, DSM IVR, avaliação psicológica, investigação analítica e colaboração de outras sub-especialidades). Foram encontradas co-morbilidades em 84% dos casos de PHDA, sendo as mais frequentes as dificuldades de aprendizagem globais e o défice cognitivo. O tratamento incluiu diversos tipos de apoios (apoio psicológico com abordagem sócio-familiar e/ou pedagógica) e medicação com metilfenidato. A evolução clínica posterior foi considerada boa em 36% dos casos, razoável em 11%, indiferente em 17% e desconhecida em 36% (pouco tempo de seguimento ou abandono). Conclusões: Consideramos que a procura crescente de consultas por PHDA tem como causa principal as alterações de comportamento associadas, na maior parte dos casos, ao mau rendimento escolar. A escola e a família, NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 através do MF, são os seus primeiros sinalizadores. Os resultados obtidos reforçam a noção de que o diagnóstico deve ser estabelecido com base em critérios formais de avaliação, por uma equipe multiprofissional com formação e experiência nessa área. O tratamento ideal deve ser personalizado, levando em consideração a eventual presença de co-morbilidades, o carácter de cronicidade da perturbação e os ajustamentos terapêuticos e sócioeducativos. BRONQUIOLITE AGUDA - REVISÃO DOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS Emília Costa, Margarida Figueiredo, Herculano Rocha Serviço Pediatria - H. Maria Pia A bronquioelite aguda é a doença respiratória mais frequente até aos dois anos de idade que ocorre de forma epidémica durante o Inverno e o ínicio da Primavera. É de etiologia vírica tendo na maioria das vezes evolução auto-limitada contudo pode apresentar morbilidade significativa. Objectivos: Avaliar os factores de risco, o agente etiológico e a sintomatologia mais frequente das crianças com bronquiolite, que necessitaram de internamento, assim como o tratamento efectuado e as complicações ocorridas. Metodologia: Foi realizado estudo retrospectivo dos processos clínicos dos doentes internados no Hospital Maria Pia no período de Outubro a Março nos últimos 3 anos. Resultados: Verificou-se um total de 172 internamentos em 162 doentes com quadro de bronquiolite, 56,4% do sexo masculino e 43,6% do sexo feminino. A idade média destas crianças era de 139 dias. O tempo médio de internamento foi de 9,9 dias; 11,6% correspondiam a crianças com antecedentes de prematuridade, 3,5% apresentavam cardiopatia e 8,7% já tinham apresentado crises de pieira prévias, não associadas a outra patologia. A sintomatologia mais frequentemente foi tosse (89%), febre (54,7%), e recusa alimentar (55,2%). Verificou-se que 70,9% apresentavam SDR ligeiro, 22,7% SDR moderado e 6,4% SDR grave. Em 87% das crianças foram determinadas, à entrada, as saturações de oxigénio por oximetria de pulso e em 51%, estas, eram inferiores a 95%. Não foi possível investigar o agente etiológico em 13,4% dos casos, em 62,2% dos casos isolou-se VSR, 4% apresentavam outros vírus, e em 20,3% os vírus foram negativos. Relativamente ao tratamento prescreveram-se broncodilatadores (salburamol e/ou brometo ipatropio) em 50% dos internamentos, corticoterapia sistémica em 35,5% e antibióticos em 20,3%. A taxa de complicações (sobreinfecção bacteriana, atelectasias, insuficiência respiratória aguda) foi de 44,8%. Dos que apresentaram complicações, 9% foram transferidas para a UCI e em 6% houve necessidade de suporte ventilatório. Conclusões: Parâmetros como, recusa alimentar, dificuldade respiratória, e hipoxia são importantes na avaliação da gravidade podendo condicionar o internamento, contudo não parecem estar relacionadas com a evolução da doença. A evolução clínica e complicações surgem independentemente da terapêutica efectuada, pelo que a continuação da prescrição de fármacos de eficácia não comprovada alerta para a necessidade de uma atitude consensual. BRONQUIECTASIAS - REVISÃO Alzira Sarmento, Lurdes Morais, Laura Marques, Ana Ramos; Virgilio Senra Serviço Pediatria do Hospital Maria Pia / Unidade Pneumologia Introdução: Nas últimas décadas, o recurso a antibioterapia adequada e imunização, particularmente em relação ao sarampo e tosse convulsa, tornaram as Bronquiectasias menos frequentes. Apesar da fibrose quística (FQ) ser a causa mais frequente, outras condições lhe estão associadas. Objectivos: Revisão dos casos com diagnóstico de Bronquiectasias, através da TAC torácica, seguidos na consulta de Pneumologia. População e métodos: Análise retrospectiva dos casos de Bronquiectasias seguidos na consulta de Pneumologia, entre Agosto/03 e Julho/04. Parâmetros avaliados: sexo, idade de diagnóstico, tempo de seguimento na consulta, antecedentes patológicos de relevância, clínica, estudos complementares, etiologias encontradas, terapêutica e evolução. Foram excluidos casos com diagnóstico de FQ. Resultados: Analisados 39 casos, 64% pertencentes ao sexo masculino. A idade média de diagnóstico foi de 6,4 ± 3,2 anos e o tempo médio de seguimento na consulta de 5,5 ± 3,5 anos. Em relação aos antecedentes patológicos: a maioria dos casos apresentava infecções respiratórias inferiores recorrentes sem outras condições associadas (n=26), destacando-se um caso de tuberculose pulmonar e outro de pneumonia póssarampo, 6 tinham diagnóstico de asma e 4 de Imunodeficiência (secundária a imunossupressão pós transplante, imunodeficiência variável comum e linfopenia CD4 idiopática). A sintomatologia mais comum foi tosse produtiva e pieira recorrente (n=24). Alterações na ascultação pulmonar foram o achado mais frequente no exame objectivo (n=19). Exames realizados: prova de suor, doseamento da elastase fecal e da a-1antitripsina (n=37); estudo da imunidade humoral e celular (n=32); estudo alergológico (n=34); phmetria (n=33); Rx esófago-gastro-duodenal contrastado (n=31); broncoscopia (n=20); estudo molecular para F.Q. (n=18); e pesquisa de BK no suco gástrico ou lavado broncoalveolar (n=12). Causa identificadas para o desenvolvimento de bronquiectasias: infecções respiratórias recorrentes sem outra condição associada (n=24); asma (n=6); imunodeficiência (n=4), aspiração de corpo estranho (n=2); RGE grave (n=1); fístula traqueosofágica (n=1); brônquio ectópico (n=1). resumo das comunicações orais XVI reunião do hospital de crianças maria pia S303 NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 A maioria está medicada com Bagonistas ou corticóide, 1/2 faz cinesioterapia respiratória e 4 efectuaram cirurgia. Cinco apresentam sintomas respiratórias persistentes moderados a graves e 7 colonização persistente das vias aéreas (H. Influenza, pneumococo, S. aureus, pseudomona). Discussão: Embora se identifiquem várias condições para o desenvolvimento de bronquiectasias, as infecções respiratórias mantém-se a causa principal. Mais de metade ocorreram no 1º ano de vida, estando de acordo com o facto de que as infecções respiratórias em idade precoce representam maior risco de doença pulmonar crónica. Destaca-se o papel da broncoscopia no diagnóstico e intervenção terapêutica, sobretudo se infecções, curso prolongado e gravidade, este tipo de patologia deve ser investigada. DEPRESSÃO INFANTIL E DESENHO Sónia Ramos, Graça Fernandes Hospital Maria Pia Neste trabalho os autores apresentam alguns casos clínicos de depressão infantil. O quadro clínico de depressão infantil não é simples de descrever devido à multiplicidade de suas formas de apresentação podendoexistir uma internalização ou externalização de sintomas. Os desenhos surgem como um reflexo directo do estado mental da criança, uma forma de conter e explorar a confusão de sentimentos como a tristeza, a raiva, a ansiedade e a frustração. Este trabalho tem ainda como objectivo descrever e ilustrar alguns dos indicadores na expressão artística mais comummente observados nesta patologia. O desenho pode ser usado pelos terapeutas da criança não apenas como um auxiliar de diagnóstico mas também como uma modalidade que permite às crianças expressar os seus sentimentos e percepções, trabalhar situações, memórias e emoções que os preocupam, de uma forma adequada à idade. MASTOIDITE AGUDA UMA ANÁLISE RETROSPECTIVA Cecília Martins, Eduarda Marques Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de V. N. de Gaia Introdução: A mastoidite aguda, ainda que rara, é a complicação mais frequente da otite média aguda. Desde a introdução dos antibióticos, a sua incidência diminui, no entanto, nos últimos anos assistiu-se a um aumento da sua frequência. Objectivos: Os autores pretenderam analisar os casos de mastoidite aguda internados no Serviço de Pediatria do CHVNG num período de 63 meses, sob diferentes vertentes: clínica, analítica, imagiológica e terapêutica. Material e métodos: Foram revistos processos de 1 de Janeiro de 1999 a 31 de Março de 2004. Durante este período foram diagnosticados 26 casos de mastoidite aguda. Para diagnóstico, foram considerados: a clínica, com evidência de sinais inflamatórios retroauriculares e deslocamento do pavilhão auricular e a imagiologia, com achados típicos desta patologia. Resultados: A idade das crianças, à data de diagnóstico, foi dos 5 meses aos 9,7 anos, com um pico de incidência nos primeiros 2 anos de vida. História de otite média aguda (OMA) foi descrita em 96% dos casos, destes 54% medicados previamente com antibioterapia. A febre, a otalgia e os sinais inflamatórios retro-auriculares foram as queixas mais frequentes. Leucocitose foi evidente em 58% dos casos e a PCR ( proteína C reactiva) foi, em média, de 8,36 mg/dl. A TAC (tomografia axial computorizada) da região mastóide foi realizada em 77% dos casos. Todos os doentes foram internados para efectuar antibioterapia por via endovenosa. Apenas uma criança teve necessidade de ser submetida a intervenção cirúrgica. A média de dias de internamento foi de 9,6. Comentários: Os casos de mastoidite no nosso Serviço têm vindo a aumentar nos últimos anos. Esta patologia é mais preocupante em crianças com idade inferior a 3 anos. resumo das comunicações orais S304 XVI reunião do hospital de crianças maria pia Torna-se necessário ter sempre presente a possibilidade de ocorrer esta patologia, sobretudo em crianças pequenas com OMA, porque apesar de ser uma complicação rara, é grave e impõe internamento. “HÁBITOS DE SONO” Iris Maia1, Fátima Pinto2 1 Centro Hospitalar do Alto Minho 2 Centro de Saúde da Carvalhosa Introdução - O sono é uma necessidade biológica necessária ao crescimento e ao desenvolvimento mas dormir bem é um hábito que está sujeito a influências sócioculturais e exige uma adaptação dos períodos de sono e vigília aos períodos diurnos e nocturnos familiares. Os hábitos de sono são adquiridos através da associação de alguns rituais que conduzem ao dormir e podem ser ensinados às crianças da mesma forma que os associados à alimentação. Apesar de sono e alimentação serem os dois hábitos de vida saudáveis cuja aprendizagem deve ocorrer durante o primeiro ano de vida, cerca de 30% das crianças entre os seis meses e os cinco anos de idade sofrem de patologia do sono, desde a insónia à dificuldade de conciliar e manter o sono durante o período nocturno. Métodos - Durante um período de três meses (Janeiro a Março 2004) foram efectuados inquéritos a pais sobre os hábitos de sono dos filhos entre os seis e os vinte e quatro meses de idade. Estes inquéritos foram realizados na consulta de Pediatria em consultas de vigilância. Resultados - Foram realizados 105 inquéritos, dos quais 50% correspondiam a crianças do sexo masculino. A idade média foi a de 15,3 meses. Cerca de 36% das crianças frequentavam diariamente o infantário, enquanto 41% permaneciam no domicílio com os pais, avós ou outros familiares; os restantes estavam ao cuidado de amas. Quanto ao local onde dormiam só 17% o faziam no seu próprio quarto e 28% faziam-no na cama dos pais! NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2004, vol. XIII, n.º 3 Um total de 70% dos pais participava de forma activa no adormecimento quer oferecendo um biberão quer mesmo passeando-o ao colo ou de carro.. Relativamente a acordarem durante a noite, 12% faziam-no de forma regular. No entanto, só 12% dos pais é que deixavam a criança conciliar o sono sozinho, todos os outros interviam, nem que fosse a colocar a chupeta. A média de horas nocturnas dormidas seguidas era de 7,6 horas. A sesta era dormida por 95% das crianças, das quais 50% faziam-no de manhã e de tarde. Infelizmente apenas 14% dos inquiridos tinham já abordado de forma esclarecedora este problema com algum profissional de saúde. Conclusões - Este inquérito permitiu-nos confirmar a realidade quanto aos hábitos de sono das nossas crianças. A maioria dos pais desconhece a necessidade do ensino desta rotina de forma a permitir tempo de autonomia e introspecção no adormecimento e ignora o valor dos objectos transitivos como a chupeta e o boneco “especial”. Dormem com os filhos porque é mais simples e por vezes na mesma cama; realizam actividades e tornam-se inconscientemente indispensáveis ao adormecimento. Concluímos que o nosso papel é fundamental no ensino das práticas facilitadoras dos hábitos de sono e na necessidade da inclusão deste tema nos guias antecipatórios a ser fornecidos precocemente nas consultas de vigilância. Não só passou a ser um assunto abordado em todas as consultas, como foi distribuído um folheto com “Conselhos sobre o sono”. TREMOR NEONATAL E EPILEPSIA REFRACTÁRIA- CASO CLÍNICO I.Carrilho, F. Santos, S. Figueiroa, A. Ribeiro, D. Tavares, R. Rego, M. Santos, C. Barbot Serviço de Neuropediatria - Hospital Crianças Maria Pia explicada pela mesma disfunção a nível do SNC. Apresenta-se o caso de uma criança do sexo masculino actualmente com 7 meses observada a primeira vez na consulta de Neuropediatria aos 28 dias de vida por quadro neurológico caracterizado por tremor generalizado, associado a hipotonia global com exuberante hiperreflexia osteotendinosa. É internado com 1 mês e 24 dias de vida por crises convulsivas. Evoluiu de forma progressiva com episódios recorrentes de alteração do estado de vigília, tetraplegia, perda da sucção com sialorreia, fenómenos disautonómicos (alterações da coloração da pele, hipersudorese, aumento da temperatura), flutuações na intensidade do tremor e crises convulsivas. Apresenta-se a evolução do quadro documentada com vídeos e toda a investigação e tratamentos efectuados. A ocorrência em simultâneo de doença do movimento e epilepsia nos primeiros meses de vida poderá ser resumo das comunicações orais XVI reunião do hospital de crianças maria pia S305
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