Caderno Maria Curie

Transcrição

Caderno Maria Curie
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Índice
Ficha Artística e Técnica 02
Sinopse 03
EmCena a Ciência 04
O Processo 05
Mulheres Cientistas 07
Palavras do Encenador 08
Biografia de Maria Curie 10
Enquadramento Histórico e Cronologias 12
Cientistas Portugueses colaboradores de Maria Curie 22
Maria Curie e a Imprensa 25
Notas Biográficas 28
O papel de substituição 34
As Criações 38
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Técnica
Texto
Mira Michalowska
Tradução
Katarzyna Pereira
Versão Portuguesa
Isabel Leitão
Encenação e Dramaturgia
Sylvio Zilber
Interpretação
Isabel Leitão
Cenografia e Assistência de Encenação
Fernando Jorge Lopes
Desenho de Luz
Paulo Correia
Adereços e Assistência de Cenografia
Pedro Godinho
Figurinos
Arminda Pereira
Selecção Musical e Sonoplastia
António Vitorino Rocha
Grafismo
Ringue
Fotografia
Sandra Ramos
Web Master
Filipe Oliveira
Produção Executiva
Sofia Oliveira
Assistência de Produção
Paula Almeida
Divulgação e Assessoria de Imprensa
Nádia Santos Monteiro
Promoção
Vítor Pinto Ângelo
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sinopse
O texto da jornalista e autora polaca Mira
Michalowska, discorre sobre a vida de Maria
Curie através de Mary Mattingley Meloney.
“Missy” Meloney, uma jornalista americana,
fascinada por Maria Curie, a cientista que
descobriu o rádio e a radioactividade e que
recebeu por duas vezes o prémio Nobel,
deseja conhecê-la e fazer-lhe uma entrevista.
O objectivo é a publicação de um artigo
sobre a cientista na revista “The Delyneator”.
E apesar de Maria Curie ter aversão aos
jornalistas, aceitou ser entrevistada por
“Missy” Meloney várias vezes. À medida
que o tempo vai evoluindo a cientista
vai exercendo um fascínio cada vez maior
na jornalista ao ponto de esta descobrir que
encontrou o objectivo para a sua vida.
Nasce então uma grande amizade entre
estas duas mulheres.
Esta amizade forjada em nome da ciência
mudará a vida das duas e também
a de mil ou talvez cem mil pessoas.
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a Ciência
EmCena
EmCena a Ciência é um projecto
desenvolvido pelo Teatro Extremo, baseado
no conceito de proximidade entre arte
e ciência, seja pela complementaridade,
seja pela influência recíproca.
A proximidade entre arte e ciência pode
ser traçadada de muitas formas diferentes
no decorrer da história. Leonardo da Vinci
afirmava que ciência e arte se complementam
constituindo a actividade intelectual.
A literatura de ficção científica, por sua vez,
pode ser compreendida como uma
antecipação, nas e pelas artes, de futuros
feitos da ciência.
Ambas têm a capacidade de questionar
o mundo e os indivíduos, utilizando
como ponto de par tida a criatividade
e a inovação, elementos reveladores
da capacidade de abstracção intrínseca
ao ser humano, o porquê da nossa existência,
de onde vimos, para onde vamos,
e também a de inventar outros possíveis
e utópicos mundos, abrindo novos caminhos
ao conhecimento.
Através do projecto “EmCena a Ciência”,
pretendemos desmontar os códigos
do teatro e da ciência, ao ponto de perderam
o seu carácter hermético, rígido e sem ligação
com a vida do cidadão comum e equacionar
a arte e a ciência através das suas dimensões
sociais e individuais.
Como o teatro é um espaço de fraternidade
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e de mescla de culturas, lugar de valores
humanistas por excelência, está numa
posição privilegiada para equacionar
a ciência, responsabilizando a
humanidade, como género e como
indivíduo, para as consequências
dos seus avanços, e contrastando
e relacionando uma sociedade iluminista
e humanista, com uma sociedade
tecnológica sem alma e sem rosto.
Através do Teatro, com a sua imensa
capacidade de envolver, emocionar
e provocar, procura-se traduzir pelo
“sentir” e pelo “pensar” os conflitos éticos
da ciência, despertando o público para
as responsabilidades e consequências
dos avanços da ciência na vida
das pessoas.
A evolução tecnológica é de todos nós.
Os seus resultados fazem parte do nosso
dia-a-dia. Compreender os seus
princípios é fundamental para uma
perfeita harmonia entre o indivíduo e
imensidão do Universo.
Por último e não menos importante,
com este projecto, como diria Brecht,
queremos fazer um teatro para um
tempo científico, para um mundo em
transformação.
uma
mário de
Breve su frutuosa
relação
Há cerca de 6 anos o Teatro Extremo
deslocou dois criadores seus ao Brasil, para
levar à cena, em co-produção com
a companhia Harém de Teatro, de Teresina,
Capital do Estado nordestino do Piauí,
a peça de Plínio Marcos “Dois Perdidos
Numa Noite Suja”.
Durante essa estadia os nossos elementos
assistiram, entre outras peças, a uma
montagem do texto “Einstein” do autor
canadiano Gabriel Emanuel representada
por Carlos Palma e encenada por Sylvio
Zilber.
Nessa altura, tínhamos já representado textos
de Umberto Eco que apontavam, ainda
de forma difusa é certo, para o projecto
– EmCena a Ciência – que agora temos
vindo a materializar e sobre o qual nos
debruçamos mais amiúde noutro texto deste
caderno. Pensámos, pois, que este “Einstein”
era uma obra que fazia todo o sentido
integrar no nosso repertório.
Desvalorizando e ultrapassando a retórica
às nossas expensas, pois nunca tivemos
nenhum apoio especialmente dirigido a uma
demanda luso-brasileira, quer da parte do
Governo, Instituto Camões ou Cena
Lusófona, a nossa companhia tem, ao longo
dos anos, vindo a apostar numa for te
cooperação com o Brasil, não só com a vinda
de companhias brasileiras ao festival que
organizamos: “Sementes – Mostra
Internacional de Artes para o Pequeno
Público”, mas igualmente com
a integração de criadores brasileiros nas
nossas equipas artísticas, como foi
o caso da co-produção acima referida
e da montagem de “Os Saltimbancos”,
de Chico Buarque dirigido pelo
encenador e director artístico do Harém
de Teatro, Arimatan Martins.
Então, porque não convidar também
neste caso o encenador que tinha
dirigido “Einstein” com tanto talento ali
no Brasil. Uma vez mais, convidaríamos
um encenador brasileiro para trabalhar
connosco. A obra foi posta em cena
com o Sylvio, revelando-se, para nossa
felicidade, uma peça que ainda hoje
é representada e aplaudida.
Depois de uma peça sobre um grande
homem e um grande cientista, sentimos,
porque a ciência e a humanidade
não se têm escrito apenas no masculino,
que faltava a outra face da moeda.
A mulher cientista e o seu paradigma
“Madame Curie”: a única pessoa que
ganhou duas vezes um prémio Nobel.
Mais tarde, e no meio dos vários textos
que fomos lendo que tinham como
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referência Maria Curie, encontrámos uma
peça de Mira Michalowska, que pela sua
qualidade e pela própria carpintaria do texto
faria com “Einstein”, um díptico de excelência.
Como estas duas obras tinham, no nosso
entender, de obedecer a uma linguagem
comum e a uma visão estética muito
semelhante convidámos de novo o Sylvio
para dirigir a encenação.
E assim, em breves palavras, se escreveu
e inscreveu mais uma ponte lusófona.
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Desde o início dos tempos, homens
e mulheres têm-se apaixonado por
compreender o mundo que os rodeia.
No entanto, a participação das mulheres
no desenvolvimento científico tem sido
dificultada por inúmeros preconceitos.
As cientistas que ultrapassaram as limitações
que lhes foram impostas, conseguindo deixar
importantes legados para a posteridade,
são pessoas verdadeiramente extraordinárias.
Consideremos Hypatia de Alexandria
(n. 370 A.C.) que nos deixou, entre outras
invenções, o astroláio plano, ou Dorothy
Hodgkin (n. 1910), a cristalógrafa que
determinou as estruturas da penicilina
e da insulina, abrindo caminho para
o conhecimento de outras moléculas, Maria
Curie (n. 1887), cujos estudos sobre
a radioactividade lhe valeram dois prémios
Nobel e a honra de ser a primeira mulher
a ensinar na Sorbonne. Estas e outras
mulheres, hoje reconhecidas como expoentes
máximos nas suas áreas, não deixaram
de experimentar a sombra da discriminação.
As gigantescas contribuições científicas feitas
por Maria Curie não foram suficientes para
que fosse eleita para a Academia Francesa
de Ciências, que admitiu a primeira mulher
apenas em 1979.
Nas últimas décadas, muitos obstáculos foram
suprimidos, mas a discriminação no meio
académico, com base no género, ainda
não está totalmente ultrapassada. Hoje em
dia, e em diferentes partes do mundo,
as mulheres continuam a não ter as mesmas
oportunidades para desenvolverem uma
carreira científica. Em Por tugal,
as mulheres são já uma forte presença
na ciência. Contudo, a discriminação
continua a manifestar-se, sobretudo
nos níveis hierárquicos mais elevados,
ainda maioritariamente masculinos, onde
o acesso das mulheres continua a ser
limitado por razões que não têm a ver
com o mérito científico. Quem tem
poder de decisão tende a recrutar
e promover com base na sua prória
imagem, perpetuando a desigualdade.
O mundo continua repleto de mulheres
cheias de potencial, talento e entusiasmo,
às quais deverão ser asseguradas
condições para que possam vir
a concretizar esse potencial e a pô-lo
ao serviço da humanidade.
Joana Barros, Pós-doutoranda em Comunicação
de Ciência, Associação Viver a Ciência.
Actualmente envolvida na produção
de um livro sobre mulheres cientista
de países lusófonos
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palavras
cenador
Um espectáculo de Teatro, mesmo um
monólogo, é sempre uma arte de muitos:
autor, director, cenógrafo, figurinista, iluminador,
sonoplasta, mas, essencialmente, é a arte
do actor.
No caso, da actriz. Os outros são passíveis
de serem descartados.
Sem ao menos um actor/actriz e um
espectador(a) não se dá o facto teatral.
Neste espectáculo é ela, Isabel Leitão, quem
vai defender perante o público o acto
colectivo criado.
Como director/participante deste colectivo,
coube-me coordenar este processo.
Meu primeiro passo foi desenvolver
um trabalho de dramaturgia sobre o texto
moldando-o às características e aos objetivos
de nossa encenação.
O universo da peça tem duas protagonistas,
Mme. Curie e Missy. E somente uma actriz
para “defende-las”. A etapa dos ensaios foi
um processo “esquizóide-sadio” intenso.
Digo “esquizóide” porquê um(a) actor (actriz)
é sempre um duplo dividido e simultâneo
de actuante e personagem. E digo “sadio”
porque lhe cabe controlar as “passagens”
de um para outro. Neste caso, acresça-se
que temos uma actuante e duas personagens.
Contam que, maravilhado diante da escultura
do David, de Michelangelo, um
contemporâneo lhe perguntou:
“Como o senhor conseguiu tanta perfeição?”
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Michelangelo, simplesmente, respondeu:
“Eu olhei para aquele enorme bloco
de mármore e imaginei, vi o meu David.
Depois, somente tive o trabalho braçal
de retirar do bloco o que não era David”.
Na fase de ensaios, procurei “esculpir”
as duas personagens em Isabel, buscando
que ela descobrisse, dentro de si, com
o mínimo de apoio externo, as duas
personas destas mulheres, semelhantes
e diferentes, complexas e singulares.
Trabalho de dupla escultura, exigindo
uma doação plena e uma flexibilidade
extrema da actuante, que procurei apoiar
e ajudar a des-cobrir em si mesma
(“Quem somos eu?”).
A concepção de cenário de Fernando
Jorge, bem como figurino, iluminação
e som, vieram somar-se à nossa
proposta cénica, enriquecendo-a
e completando-a.
Eis nosso espectáculo. Esperamos
que você enxergue nestas mulheres,
como nós neste processo descobrimos,
um universo pleno de efervescência
científica e humana mas, também,
de mesquinharia e de solidariedade.
A manipulação dos meios de comunicação
não é um fenômeno recente; nem
o é o jogo de intrigas e preconceitos
a serviço de causas alheias aos interesses
colectivos. Que possamos refletir sobre
a postura desta Mulher, frágil na aparência
mas um rochedo inabalável nas suas
convicções.
Desejamos-lhe um bom espectáculo.
Sylvio Zilber
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biografia
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Cientista francesa de origem polaca,
Maria Sklodowska-Curie, nasce em Varsóvia
a 7 de Novembro de 1867.
Foi laureada com o Prémio Nobel da Física,
em 1903, pelas suas descober tas
no campo da radioactividade e com o Prémio
Nobel da Química, em 1911, pelas
descober tas dos elementos químicos,
rádio e polónio.
de uma nova substância radioactiva.
Faleceu em Sallanches, no dia 4 de Julho
de 1934.
Após vários anos de trabalho constante,
através da concentração de várias classes
de pechblenda, isolaram dois novos
elementos químicos. Chamaram
ao primeiro, polónio, em homenagem
à terra natal de Maria e ao segundo,
rádio devido à sua intensa radioactividade.
Nascida em Varsóvia, à época par te
do Império Russo, com o auxílio financeiro
da irmã mais velha, Bronia, instalou-se
em Paris, onde se matriculou na Faculdade
de Ciências da Sorbonne, no curso de
Ciências, Matemáticas e Físicas.
Em 1903, Maria Curie, Pierre Curie
e Henri Becquerel recebem o Prémio
Nobel da Física, “em reconhecimento
pelos extraordinários serviços obtidos
nas suas investigações conjuntas sobre
os fenómenos da radiação”.
Em 1895 casou com Pierre Curie,
professor de Física na Sorbonne.
Em 1906, depois da morte de Pierre,
sucede-lhe na cátedra da cadeira
de Física Geral, na Sorbonne.
Foi a primeira mulher a leccionar neste
prestigiado estabelecimento de ensino.
Em 1896, juntamente com o marido,
começou a estudar os materiais radioactivos,
procurando novos elementos radioactivos,
que, segundo a hipótese que os dois
defendiam, deveriam existir em determinados
minérios como a pechblenda (que tinha
a curiosa característica de ser mais radioactiva
que o urânio que dela era extraído).
Em Dezembro de 1898, anunciavam
à Academia de Ciências de Paris a existência
Oito anos depois, em 1911, Maria Curie
recebe o Prémio Nobel da Química
“em reconhecimento pelos serviços
prestados para o avanço da ciência, pela
descober ta dos elementos rádio
e polónio, pelo isolamento do rádio
e pelo estudo da natureza dos
compostos deste elemento”.
Em 1914, durante a Primeira Guerra Mundial,
Maria Curie propôs o uso da rádiografia
móvel para o tratamento dos soldados
feridos.
Foi fundadora do Instituto do Rádio,
em Paris, onde se formaram cientistas
de reconhecido mérito.
Em 1922 tornou-se membro associado livre
da Academia de Medicina.
Em 1934, Maria Curie morreu per to
de Salanches, França, vítima de leucemia,
devida seguramente à exposição maciça
a radiações ocorrida durante todos os seus
anos de trabalho.
Em 1935, um ano após o falecimento
de Maria, a sua filha mais velha, Irene Joliot
Curie recebe, juntamente com o marido,
o Prémio Nobel de Química, pela descoberta
da radioactividade artificial.
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TÓRIA
ÓRIA E HIS
PRÉ-HIST NUCLEAR
DA FÍSICA
A Física Nuclear começou no fim do século
passado por um duplo acaso feliz. O primeiro
acto de "seripendidade" (do nome do príncipe
Seripe da ilha de Ceilão, um indivíduo a quem
a sorte repetidamente vinha ter sem ele
fazer nada por isso!) consistiu na descoberta
dos raios X, pelo alemão Wilhelm Roentgen,
na cidade bávara de Wuerzburg. Quando
um dia trabalhava com um tubo de raios
catóicos, Roentgen verificou que um écran
um pouco distante ficava fluorescente: era
o choque do feixe de electrões no tubo
com as paredes deste que dava origem
a uma radiação invisível tornada visível
no écran. O acontecimento deu-se no ano
de 1895, tendo devido a ele Roentgen ganho
justamente o primeiro Prémio Nobel
da Física, no ano de 1901.
O segundo acto aleatório ocorreu no ano
seguinte, em 1896, com uma questão que
se debateu à volta dos raios X. Na Academia
Francesa de Ciências, o grande matemático
Henri Poincaré (velhos tempos, quando
os matemáticos metiam a colher na sopa
da Física!) sugeriu que se analisasse a relação
dos fenómenos de fluorescência com
a radiação X. Se o tubo de raios X ficava
fluorescente, talvez outros materiais com
a mesma propriedade fossem capazes
de emitir a mesma radiação misteriosa.
Um físico e académico francês - Henri
Becquerel, cujo pai tinha sido também
académico- tentou avaliar da correcção
da conjectura de Poincaré. Um sal de urânio
era conhecido por ficar fluorescente sob
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a acção da luz solar. Tratava-se agora
de saber se era também emissor
de raios X. Quis o acaso que ele tivesse
deixado o sal de urânio dentro de uma
gaveta juntamente com uma chapa
fotográfica. Aconteceu então que
a amostra, mesmo não exposta aos raios
solares, impressionou a chapa fotográfica.
Em questões de acaso, não basta ser
alvo dele, sendo necessário recebê-lo
dignamente: Becquerel deduziu logo que
havia uma nova radiação, proveniente
do urânio, ainda mais misteriosa que
os raios X, e, com tal conclusão, mereceu
o Prémio Nobel de 1903.
Os raios X vinham, sabe-se hoje, dos
electrões do átomo. Os raios
de Becquerel, por sua vez, provinham
do interior do núcleo atómico, objecto
de que nessa altura não se suspeitava
a existência. Começou então a Física
Nuclear, ainda que apenas na sua fase
pré-histórica. A história iniciou-se apenas
15 anos mais tarde, quando se identificou
sem margem para dúvidas o pequeno
núcleo no centro do átomo.
A pré-história da Física Nuclear ficou
marcada, além de Becquerel, por duas
outras personagens, que com ele por
várias vezes privaram: o casal Pierre
e Maria Curie. Pierre Curie fez nome
na Física antes da sua esposa, que é hoje
talvez mais conhecida do grande público.
Tinha trabalhado em piezoelectricidade
e em magnetismo, antes de se virar para
a radioactividade. A sua consorte, uma jovem
estudante de origens modestas que tinha
vindo da Polónia cursar Física em Paris,
interessou-se pela radioactividade
de Becquerel, tendo sido assistente deste.
O casal Curie conseguiu identificar os vários
elementos químicos que eram responsáveis
pela radiação misteriosa. A origem
da radioactividade natural residia nos
elementos químicos urânio, tório, polónio
e rádio. Se o urânio e o tório já eram
conhecidos antes, o polónio e o rádio foram
reconhecidos e baptizados pelos Curie
(a síntese do rádio foi completada em 1898).
O nome do polónio surgiu como
homenagem ao país natal de Maria
Sklodoswka Curie e o nome de rádio veio
do termo latino para raio (este elemento
for neceu a r aiz do neologismo
"radioactividade"). Hoje sabe-se que estes
núcleos são a origem das chamadas séries
radioactivas de elementos pesados, que têm
todas fim no chumbo, praticamente o maior
dos elementos estáveis. Foi um trabalho difícil,
demorado e exigente aquele que os Curie
efectuaram num barracão, em condições
precárias: para isolar 1 mísero miligrama
de rádio tiveram de tratar toneladas
de minério, proveniente de minas austríacas.
Essa proeza ainda hoje serve de exemplo
de perseverança e devoção à causa
científica sem atender a quaisquer
compensações de ordem material.
Em 1903, o casal Curie recebeu, em
conjunto com Becquerel, o Prémio
Nobel da Física e, em 1911, Madame
Curie recebia o seu segundo Prémio
Nobel, desta vez da Química (muito
poucas pessoas haveriam de repetir essa
façanha).
Madame Curie sucedeu na cátedra
da Sorbonne a seu marido, falecido em
1906 num estúpido acidente de caleche
numa rua parisiense. O "Tratado
de Radioactividade" de Madame Curie,
editado em 1910 pela Gauthiers - Villars
e que sumariava o conhecimento
da época sobre o assunto, tinha
significativamente uma fotografia
de Pierre no frontispício.
A senhora Curie teve uma ligação
particular com Portugal. Com efeito,
Mário Silva, professor de Física
da Universidade de Coimbra, efectuou
o doutoramento no Instituto do Rádio
em Paris, tendo aí estagiado de 1925
a 1929. Foram ainda alunos de Maria
Curie Manuel Valadares e Branca
Marques, esta uma das primeiras
mulheres cientistas em Por tugal.
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Em finais de 1910 realizava-se num laboratório
de Manchester a descoberta do núcleo.
Esse resultado, embora obtido na práctica
pelas interpostas pessoas de Geiger
e Marsden (o primeiro assistente e o segundo
estudante), foi obra do Professor Ernest
Rutherford. Quando descobriu o núcleo,
Rutherford já tinha nome feito na física dos
fenómenos radioactivos, tendo recebido
o Prémio Nobel da Química em 1908. Em
particular, contribuiu decisivamente para
o esclarecimento da natureza da
radioactividade. Um campo eléctrico permitia
dividir a radiação em raios alfa, carregados
positivamente (e que, segundo concluiu
Rutherford em 1909, mais não eram do que
núcleos de hélio), raios beta (que mais não
eram do que electrões como aqueles
no tubo de raios catódicos de Roentgen)
e raios gama, uma forma de radiação muito
parecida com a de Roentgen mas muito
mais penetrante. A descoberta de Rutherford
foi apresentada à Manchester Literary
and Philosophical Society, em 7 de Março
de 1991.
Em 1911, uma fotografia dos participantes
do 1º Congresso Solvay, em Bruxelas, mostra
Rutherford per to de Madame Curie
(que está em diálogo com Henri Poincaré).
Perto deles aparece Albert Einstein, por cuja
teoria da relatividade nem Madame Curie
nem Rutherford se interessaram (Rutherford
manifestou até um certo desdém por tal
teoria). O facto de serem os únicos físicos
nucleares no retrato de grupo testemunhava
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que esse ramo da Física estava ainda
a emergir. Na fotografia ainda não
aparece uma personagem que haveria
de marcar a Física do século XX,
incluindo a nuclear, e que teria um papel
muito activo em vários Congressos
Solvay posteriores: Niels Bohr, que em
1913 consolidou a descober ta
de Rutherford propondo o modelo
planetário do átomo, segundo o qual
os electrões giravam em torno do núcleo.
A primeira reacção nuclear (isto é, uma
experiência de colisão em que os
parceiros perdem, durante o processo,
a sua identidade inicial) foi observada
em 1919 por Rutherford. A experiência
consistiu em enviar partículas alfa para
cima de azoto, verificando-se que saía
oxigénio e hidrogénio. Rutherford
procedeu à identificação do hidrogénio
dentro dos núcleos (mais tarde,
Rutherford chamou protão ao núcleo
do hidrogénio).
Além dos protões, que mais partículas
há no núcleo do azoto e dos outros
elementos? Como os electrões escapam
dos núcleos nos processos radioactivos
beta pensou-se durante algum tempo
que existiam, de facto, electrões nos
núcleos, tal como existem cá fora.
Os electrões, contudo, aparecem à porta
do núcleo sem estarem antes no núcleo.
Eram o resultado do declínio de uma
partícula, de cuja existência suspeitaram várias
pessoas (entre elas o próprio Rutherford),
mas que só foi identificada
experimentalmente em 1932 por um
discípulo de Rutherford, James Chadwick,
que ganhou justamente o Prémio Nobel
da Física de 1935. Na experiência
de Chadwick, um núcleo de berílio,
bombardeado com partículas alfa, originava
carbono e libertava um neutrão. Este neutrão
era depois absorvido por azoto, saindo
finalmente novas partículas alfa e ficando
um núcleo de boro.
1932 foi o "annus mirabilis" da Física Nuclear:
nesse ano foi construído o primeiro
acelerador circular (por Ernest Lawrence,
em Berkeley, Califórnia), foi realizada a primeira
reacção nuclear num acelerador (por John
Cockcroft e Ernest Walton, em Cambridge)
e descobriu-se o neutrão. Se as duas primeiras
proezas foram percursoras de importantes
técnicas experimentais para a exploração
dos núcleos, a última veio completar o elenco
dos principais componentes do núcleo:
o núcleo atómico é uma colecção de protões
e neutrões (genericamente nucleões), sendo
a soma deles igual ao número de massa
e o número de protões, ou número atómico,
igual ao número de electrões no átomo.
Em 1933 reunia mais um Congresso Solvay
em Bruxelas. Desta vez a percentagem
de físicos nucleares era bastante maior.
Apareciam, da velha geração, Ernest
Rutherford e Maria Curie, e da nova,
Niels Bohr, James Chadwick, Ernest
Lawrence, John Cockcroft, Enrico Fermi,
George Gamow, Rudolf Peierls, Irène
e Fréderic Joliot Curie, Lise Meitner,
Werner Heisenberg, etc. A Física Nuclear
entrava na sua idade adulta.
A mecânica quântica, estabelecida em
finais dos anos 20, é a teoria que explica
os fenómenos que ocorrem no átomo
o no núcleo. A radioactividade alfa
só pode ter lugar devido a um efeito
quântico chamado efeito túnel, tal
como o físico de origem russa George
Gamow concluiu em 1928. Os processos
radioactivos beta, por sua vez, foram
teorizados pelo italiano Enrico Fermi
em 1934, usando ainda a mecânica
quântica. A teoria apareceu nestes casos
bem depois da experiência.
Em 1934 é descoberta a radioactividade
artificial por Fréderic e Irène Joliot Curie,
esta última filha do casal Curie. Núcleos
leves em configurações anormais,
por exemplo com grande excesso
de neutrões, podiam ser a origem
de processos radioactivos, tal como
os núcleos pesados. Os novos Curie
bombardearam alumínio com partículas
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alfa, obtendo uma modalidade radioactiva
de fósforo e provocando emissão
de neutrões. Fréderic e Irène Curie
receberam por esta descoberta o Prémio
Nobel da Química em 1935.
De 1935 a 1945, Enrico Fermi foi o principal
intérprete dos desenvolvimentos da Física
Nuclear. Uma vez descoberto o neutrão,
Fermi começou por efectuar numerosas
experiências de bombardeamento de outros
núcleos por neutrões, desencadeando assim
várias reacções nucleares. Ganhou o Prémio
Nobel da Física de 1938.
Usando ainda a colisão de neutrões,
os alemães Otto Hahn e Fritz Strassman
descobriram em 1938 a cisão do urânio,
num laboratório em Berlim. O urânio 235,
quando bombardeado com neutrões, dava
origem a núcleos de crípton e bário, muito
mais leves que o urânio, e libertava neutrões.
A cisão nuclear foi logo explicada por uma
física sueca de origem austríaca, Lise Meitner,
e por um seu sobrinho, Otto Frisch.
Um tal processo pode ser induzido
por neutrões ou mesmo aparecer
espontaneamente, sendo neste caso,
tal como acontece no declínio alfa,
resultado de um efeito túnel. A cisão,
descoberta no limiar da Segunda Guerra
Mundial, viria a provocar o seu termo, como
é bem sabido. Em 1942, Enrico Fermi punha
a funcionar debaixo da bancada de um
estádio de Chicago a primeira reacção
em cadeia no urânio. O urânio bombardeado
com neutrões lentos fazia libertar novos
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neutrões que, por sua vez, cindiam outros
núcleos de urânio. Em 15 de Julho
de 1945 num sítio chamado "Trinity
Zero", no deserto do Novo México
e no maior segredo, era realizada
a primeira explosão de uma bomba
atómica no planeta. O chefe da notável
equipa do Projecto Manhattan,
que concebeu e experimentou a bomba
foi Robert Oppenheimer, um jovem
e brilhante físico norte-americano que
haveria nos anos 50 de conhecer
a suspeita e a perseguição. A história
do fabrico da bomba é por demais
conhecida: a fuga rocambolesca de Niels
Bohr da Europa com uma garrafa
de água pesada que afinal continha
cerveja, as travessuras de Richard
Feynman nos cofres de Los Alamos,
a exclamação de Oppenheimer de que
"nós os físicos conhecemos o pecado",
o facto insólito de um dos descobridores
da cisão ter tomado conhecimento
da explosão sobre Hiroshima num
campo de prisioneiros em Inglaterra
(tinha recebido o Prémio Nobel
da Química em 1944). Curiosamente,
já tinha havido uma premonição
de Pierre Curie, no seu discurso Nobel
em 1911, sobre os perigos do material
nuclear: "pode-se imaginar que em mãos
criminosas o rádio se torne uma arma terrível".
Vale a pena distinguir duas linhas essenciais
de evolução da Física Nuclear: uma tem
a ver com a descober ta da estrutura
e da dinâmica nuclear e a outra com
a descoberta da constituição das partículas
do núcleo e da natureza das forças nucleares.
À proposta do japonês Hideki Yukawa,
em 1935, de que existiam no núcleo mesões,
partículas com massa intermediária entre
a do electrão e a dos nucleões e que serviriam
de meio de troca para manter a coesão
nuclear, seguiu-se a identificação em 1947
dessa partícula no laboratório (a teoria, desta
vez, aparecia à frente da experiência...),
a descoberta de várias mesões "estranhos"
assim como de parentes "estranhos"
dos nucleões e, finalmente, a introdução
dos constituintes fundamentais tanto dos
mesões como dos nucleões - os famosos
"quarks" - , propostos pelo norte-americano
Murray Gell-Mann em 1964.
“UMA BREVE HISTÓRIA DO FUTURO”
Hoje em dia, o estudo do comportamento
do núcleo e a análise das forças nucleares
prosseguem, já que são ainda inúmeros
os problemas em aberto. Se quisermos então
fazer uma "breve história do futuro",
referiremos sucintamente a síntese de
novos núcleos, a tentativa de isolamento
dos quarks e o empreendimento para
imitar na Terra a produção energética
das longínquas estrelas:
1) A tabela periódica, que a identificação
do núcleo e a introdução do modelo
planetário ajudaram a compreender,
mostrava algumas lacunas imediatamente
antes da Segunda Guerra Mundial.
Não eram nessa altura conhecidos
os elementos com números atómicos
43, 85 e 87, assim como não eram
conhecidos quaisquer elementos
com número atómico superior
ao do urânio (92). No ano de 1940
o norte-americano Glenn Seaborg
descobriu o neptúnio e o plutónio,
os primeiros transuranianos (note-se
que os planetas Neptuno e Plutão estão
para além de Urano). No fim da guerra
já se conheciam outros transuranianos,
tendo-se também identificado
o elemento 87. Os outros "buracos"
for am entretanto colmatados.
Nos anos 50 e 60 assistiu-se a uma
autêntica competição entre equipas
nor te-americana e soviética, para
produzir novos elementos transuranianos
(A. Ghiorso e G. Flerov dirigiam
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respectivamente os grupos norte-americano
e soviético em disputa). A prioridade
da descoberta dos elementos 101, 102, 103,
104 e 105 foi reclamada ora por um,
ora por outro, ora pelos dois ao mesmo
tempo. Em 1981 os europeus, com
experiências realizadas no Laboratório
de Iões Pesados de Darmstadt, na Alemanha,
entraram na corrida. O elemento mais pesado
conhecido (109) foi nessa data sintetizado.
No entanto, os físicos não se contentaram
com chegar aí. Continuam a "conquistar"
novos núcleos nas margens da estabilidade
(com protões ou neutrões a mais),
tendo-se até detectado novas formas
de radioactividade (por exemplo, emissão
de protões). Por outro lado, existem desde
os anos 60 especulações sobre a existência
de elementos superpesados, com números
atómicos 114 e 164 e números de neutrões
190 e 318. O futuro da tabela periódica
reserva-nos talvez surpresas, sendo talvez
necessária uma nova Madame Curie que
estenda a física a novas regiões.
2) Os nucleões são feitos de quarks.
A chamada cromodinâmica quântica
é a doutrina que explica a coesão dos quarks.
Mas será que eles podem ser libertados
do interior dos nucleões? A realidade dos
quarks foi reconhecida em experiências
um pouco semelhantes à de Rutherford:
electrões rápidos que batem em protões
foram desviados por "grãos duros" no seu
interior, aos quais de início se chamou
"partões" (os partões foram estudados por
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Richard Feynman). Hoje, procuram-se
liber tar os quarks por meio de
experiências de artilharia mais pesada,
nomeadamente por colisões a alta
energia entre núcleos pesados, que
se realizam no CERN, Centro Europeu
de Pesquisa Nuclear. Há quem julgue
que já se conseguiu formar durante
um inter valo de tempo diminuto
um plasma de quarks na zona de choque
entre dois núcleos, mas não existe
a certeza absoluta. Novas experiências
são necessárias. A dificuldade extrema
do empreendimento exige o esforço
prolongado de equipas numerosas
e com competências diversificadas.
3) Por volta da data em que a cisão
nuclear era descoberta, Hans Bethe
teorizava que a energia das estrelas
era obtida por meio da fusão de núcleos
leves. Hoje sabe-se que uma estrela
como o nosso Sol, que tem cinco mil
milhões de anos (formou-se cerca
de quinze mil milhões depois do "Big
Bang"), não é mais do que uma "fogueira"
onde se queima hidrogénio, para produzir
hélio, libertando-se nesse processo uma
grande quantidade de energia. Quatro
núcleos de hidrogénio (protões) dão
origem, por uma série de reacções
nucleares, a um núcleo de hélio, dois positrões
(antipartículas do electrão) e dois neutrinos.
A partir de três núcleos de hélio 4 é possível,
embora em geral pouco provável, criar
um núcleo de carbono 12. O Sol, quando
se esgotar o hidrogénio, queimará um dia
hélio para originar carbono. A par tir
do carbono ainda é possível, em estrelas
maiores que o Sol, fabricar por fusão
elementos mais pesados, até ao ferro.
Os elementos mais pesados que o ferro
obtêm-se por captura de neutrões. O urânio
natural, de cujo estudo partiu a ciência nuclear,
teve de ser feito no interior de alguma
superestrela anterior ao Sol. Assiste-se hoje
a uma ligação profunda da Física Nuclear
com a Astrofísica, ajudando a primeira
a esclarecer alguns dos mistérios do nosso
passado cósmico.
Actualmente, e embora as dificuldades
técnicas sejam inúmeras, procura-se imitar
no laboratório os processos de fusão que
ocorrem nas estrelas, de modo a aproveitar
em benefício humano a energia libertada.
O Laboratório Europeu de Fusão (JET),
sedeado na Inglaterra e líder mundial nesse
tipo de investigação, anuncia para meados
do próximo século reactores
economicamente rentáveis. Rutherford,
o genial físico das primeiras reacções
nucleares, não acreditava que a energia
nuclear pudesse algum dia ser usada. Hoje
já é empregue em larga escala (em França
a energia nuclear cobre cerca de 80%
dos consumos energéticos), sendo previsível
que, com a domesticação da fusão
quente, ainda o venha a ser mais
no futuro. Os génios, afinal, também
se enganam, incluindo sobre o futuro
do assunto em que se tornaram geniais.
Carlos Fiolhais
Departamento de Física
da Universidade de Coimbra
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Física
logia da
Nuclear
Crono
PRÉ- HISTÓRIA
1896 - Descoberta da radioactividade
(Becquerel)
1898 - Isolamento do rádio
(M. Curie e P. Curie)
1909 - Natureza das partículas alfa
(Rutherford)
O INÍCIO DA HISTÓRIA
1911 - Descoberta do núcleo
(Rutherford)
1913 - Modelo atómico planetário
(N. Bohr)
1919 - Primeira reacção nuclear
(Rutherford)
1928 - Teoria da radioactividade alpha
(Gamow)
1932 - O "annus mirabilis" da Física Nuclear:
Primeiro acelerador circular
(Lawrence)
Primeira reacção num acelerador
(Cockcroft e Walton)
Descoberta do neutrão
(Chadwick)
Descoberta da água pesada
(Urey)
OS ANOS DA GUERRA
1934 - Teoria da radioactividade beta
( Fermi)
Radioactividade artificial
(I. e F. Joliot Curie)
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1935 - Hipótese dos mesões
(Yukawa)
1936 - Modelo de gota líquida
(N. Bohr e Kalkar)
1938 - Descoberta da cisão nuclear
(Hahn e Strassman)
Fusão nuclear nas estrelas
(Bethe)
1940 - Primeiro elemento transuraniano
(Seaborg)
1942 - Primeira reacção em cadeia
(Fermi)
1945 - Bomba atómica
(Oppenheimer, etc.)
OS ANOS APÓS A GUERRA
1947 - Datação por radioacarbono
(Libby)
Descoberta do mesão pi
(Powell)
1949 - Modelo em camadas
(Mayer, Jensen, etc.)
1952 - Modelo colectivo
(A. Bohr e Mottelson)
A HISTÓRIA MODERNA
1964 - Modelo de quarks
(Gellman)
ALGUNS PRÉMIOS NOBEIS DA FÍSICA
E QUÍMICA LIGADOS À FÍSICA NUCLEAR
A. H. Becquerel (1852-1908)
Prémio Nobel em 1903
P. Curie (1859- 1906)
Prémio Nobel em 1903
M. Curie (1867- 1934)
Prémio Nobel em 1903 e 1911
E. Rutherford (1871- 1937)
Prémio Nobel em 1909
N. Bohr (1885- 1962)
Prémio Nobel em 1922
J. Chadwick (1891- 1974)
Prémio Nobel em 1935
F. Joliot- Curie (1900 - 1938)
Prémio Nobel em 1935
I. Joliot- Curie (1900- 1938)
Prémio Nobel em 1935
C. Powell (1903-1969)
Prémio Nobel em 1950
J. Cockcroft (1897-1967)
Prémio Nobel em 1951
E. Walton (1903- )
Prémio Nobel em 1951
M. Mayer (1906- 1972)
Prémio Nobel em 1963
J. Jensen (1907- 1979)
Prémio Nobel em 1963
H. Bethe (1906- )
Prémio Nobel em 1967
M. Gell- Mann (1929- )
Prémio Nobel em 1969
A. Bohr (1922- )
Prémio Nobel em 1975
B. Mottelson (1926 - )
Prémio Nobel em 1975
E. Fermi (1901- 1954)
Prémio Nobel em 1938
E. Lawrence (1901-1958)
Prémio Nobel em 1939
O. Hahn (1879 - 1968)
Prémio Nobel em 1944
H.Yukawa (1907-1981)
Prémio Nobel em 1949
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Mário Augusto da Silva foi uma personalidade
de estatura invulgar. Aluno brilhante,
investigador que privou com Madame Curie
e outros grandes cientistas deste século,
catedrático aos 30 anos, grande pedagogo,
haveria de ser afastado da Universidade
de Coimbra pelo governo de Salazar
e impedido de contribuir para o
desenvolvimento da ciência portuguesa.
No fim da vida, assistiu ainda à queda
do fascismo e voltou a prestar os seus serviços
ao país. Alguns dos seus projectos,
nomeadamente o Museu de Físicas
da Universidade e o Museu Nacional
da Ciência e da Técnica, continuam hoje
a ser construídos.
Mário Augusto da Silva nasceu em Coimbra,
em 7 de Janeiro de 1901. Proveniente
de uma família republicana que acarinhava
a educação, licenciou-se na Universidade
de Coimbra em 1922.Tanto no liceu como
na universidade obteve a classificação final
de 19 valores. Ainda estudante, foi nomeado
assistente da universidade. Em 1925 partiu
para Paris, onde ambicionava prosseguir
os seus estudos e trabalhar no Instituto
do Rádio, criado e dirigido por Madame
Curie (1867-1934). Na altura, esse era um
dos centros de investigação mais activos
e prestigiados do mundo.
Ao ambicionar prosseguir os seus estudos
com Maria Curie, Mário Silva lançava-se numa
aventura que espíritos menos fortes teriam
receado. Chegado a Paris, o jovem físico foi
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apoiado por Afonso Costa,
na altura exilado na capital francesa,
e apresentado a Paul Langevin e a Maria
Curie. Apesar de ter passado o prazo
de matrícula para os estudos de pósgraduação, a famosa cientista acolheu-o, tornando-o seu assistente no
laboratório. Em diversos escritos
que nos deixou, Mário Silva fala com
justificado entusiasmo dos tempos
em que acompanhou a intensa
e extr aordinár ia investigação
desenvolvida por Madame Curie e pelos
seus colaboradores.
De início, o físico português sentiu
as insuficiências da sua preparação
científica e seguiu as lições de física
e matemática então dadas na Sorbonne
e no Collège de France. Estudou com
os célebres matemáticos Édouard
Goursat (1858-1936), Jacques Hadamard
(1865-1963) e Émile Borel (1871-1956)
e com os famosos físicos Paul Langevin
(1872-1946) e Louis de Broglie
(1892-1987).
Lamentava-se muito em especial
do atraso do curso que tinha seguido
em Coimbra, onde nem sequer a Teoria
da Relatividade tinha sido referida.
O seu esforço deu frutos, e Mário Silva
viria a realizar vários trabalhos de investigação
e a publicar os seus resultados. Em 1928
concluiu o doutoramento, tendo a honra
de ter no júri, além da própria Madame
Curie, o físico Jean Perrin (1870-1942),
que tinha sido galardoado com o Nobel
de Física em 1926 pela sua confirmação
experimental da hipótese atómica.
Terminado o seu doutoramento, Mário Silva
foi convidado a continuar em Paris, tendo
Maria Curie insistido em atrasar o seu
regresso a Coimbra, de forma a poder
integrar-se em vários projectos de investigação
em curso. Passados muitos anos, o físico
português retrataria assim o seu dilema: "
de Coimbra começaram a exigir […]
o meu imediato regresso […] e para quê
Santo Deus!… para dar aulas na velha
universidade… Conformei-me e parti".
Mário Silva sabia que estava a deixar
um dos centros de investigação mais activos
que a história até hoje conheceu para
regressar a uma universidade envelhecida.
Percebia que poderia dar um contributo
muito maior à ciência por tuguesa
se continuasse o seu treino científico em
Paris e viesse posteriormente a estabelecer
no seu país uma colaboração internacional.
Mas decidiu regressar. Não sabia ainda
na altura que o fascismo se iria estabelecer
por muito tempo em Portugal e liquidar
dramaticamente a sua carreira de investigador
e professor.
Em Coimbra, Mário Silva dedicou-se com
entusiasmo a constituir um centro
de investigação em radioactividade,
o Instituto do Rádio da Universidade
de Coimbra. O seu projecto iniciou-se
e foi instalado algum equipamento mas,
no dizer do próprio físico, "todos estes
esforços se quebraram perante uma
inexplicável e odienta teimosia,
invejosamente desenvolvida na sombra".
O instituto nunca foi oficializado, as suas
portas fecharam e, no fim dos anos
trinta, um tremor de terra destruiu parte
fundamental do equipamento existente.
O projecto morreu.
Entretanto, a situação política nacional
e internacional agravava-se. A guerra
iniciou-se e passaram por Coimbra alguns
físicos conhecidos de Mário Silva,
que os tentou integrar na universidade.
Apesar dos benefícios extraordinários
que daí poderiam advir para a ciência
portuguesa, esses cientistas de craveira
internacional não foram acolhidos.
Tiveram de partir para outros países,
onde uma política mais aber ta
os admitiu em universidades e centros
de investigação.
São hoje bem conhecidos os benefícios
que as universidades dos Estados Unidos,
que constituem o exemplo mais
conhecido, ganharam com o acolhimento
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que prestaram a cientistas e académicos,
em especial os que deixaram a Europa central
por altura da guerra. O que é extraordinário
é que o nosso país, que se manteve neutro
e por onde passaram tantos intelectuais
de valor, não os tenha acolhido.
Nos anos em que leccionou em Coimbra,
Mário Silva preocupou-se em actualizar
o saber transmitido pela universidade.
Como docente, preocupou-se com
a elaboração de manuais universitários
de qualidade e publicou as suas lições.Traduziu
alguns livros e escreveu muitos ensaios sobre
a ciência moderna. A sua actividade
pedagógica seria interrompida bruscamente
em 1946, quando foi preso pela polícia política
do antigo regime. Mário Silva esteve na prisão
da PIDE no Porto, sem culpa formada, como
represália pelo seu envolvimento
no movimento democrático, ao lado
do general Norton de Matos. Em 1947, seria
expulso da universidade, tal como Ruy Luís
Gomes e tantos académicos e investigadores
de valor, que o regime impediu de prestar
o seu contributo à universidade portuguesa.
Muito mais tarde, em 1961, referir-se-ia
à sua situação dizendo-se "afastado do serviço
docente há muitos anos, por motivos políticos
que muito me honram". Depois desse
afastamento, chegou a ser vendedor de vinho
espumante, para sobreviver, até que
foi contratado pela Philips Portuguesa como
"conselheiro científico".
Mário Silva só seria reintegrao em 1976,
quase dois anos depois da revolução de 25
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de Abril. Viria a falecer em 13 de Julho
de 1977, mas prestaria ainda serviços à
ciência e à cultura portuguesas. Em 1971,
o professor de física seria nomeado para
a comissão de planeamento do Museu
Nacional
da Ciência e da Técnica que ele
projectou. Pouco tempo antes de morrer,
o referido museu seria criado
oficialmente e Mário Silva nomeado
seu director. Enquanto esteve à frente
deste projecto, lutou com falta de meios
e incompreensões várias, mas lançou
as sementes de um museu que hoje
renasce em Coimbra, no antigo edifício
do Colégio das Artes e no Palácio
Sacadura Botte.
Ainda antes de ser demitido, Mário Silva
tinha recuperado também o que restava
da colecção de instrumentos de física
pombalinos que estavam abandonados
na sua universidade. Ao descobrir
e divulgar esse valioso espólio, criou um
museu que manteve e desenvolveu
enquanto aí trabalhou. Nos longos anos
que se seguiram, esse museu esteve
abandonado e só seria reaber to
em 1997. O Museu de Física da
Universidade de Coimbra é hoje
uma das jóias da velha universidade
e um dos mais visitados museus
de ciência do país. Se hoje regressasse
a Coimbra, Mário Silva teria algumas
razões para ficar contente. E outras,
muitas mais, para ter esperança no futuro.
Artigo de Nuno Crato
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sa e a Ciê
A Impren
Quer já nos finais do séc. XIX, quer agora
no séc. XXI, existe uma forte ligação entre
os media e a ciência.
Ainda que a profissionalização do jornalismo
científico tenha avançado consideravelmente
nas últimas décadas, essa actividade
permanece alvo de variadas críticas
e controvérsias, muitas das quais no âmbito
da própria comunidade científica.
Por um lado, há os que defendem que
o jornalismo científico, por requerer um
adequado manuseamento da linguagem
jornalística, exigindo assim habilidades
específicas, dever ia ser realizado
exclusivamente por profissionais de
comunicação e não por cientistas. Do outro
lado, muitos cientistas são contrários
a esse ponto de vista, por discordarem
dos critérios utilizados por jornalistas
na selecção de notícias e no tipo de
abordagem de suas reportagens sobre ciência.
Critérios esses que seriam prórios à imprensa
convencional (mas não à lógica científica),
tais como sentido de oportunidade, timing,
impacto e interesse social.
Argumenta-se, ainda, que o jornalismo
científico reflecte a ideologia que vem
dominando o jornalismo em geral desde
o século XIX, uma ideologia mercantilista,
marcada pelo sensacionalismo (para vender
notícias, é necessário provocar emoções
no público consumidor) e pela atomização:
o real é percebido não em sua totalidade,
mas em fragmentos, contribuindo,
em última análise, para o fortalecimento
de algumas ideologias dominantes:
- o mito da ciência (a ciência como
um poder supremo);
- a neutralidade da ciência (a ciência
e os factos e fenómenos que ela
descreve, sendo autónomos e
independentes dos contextos
políticos, sociais e culturais);
- o preconceito no âmbito da própria
ciência (enfatizando a big science
e suas aplicações tecnológicas,
minimizando pequenos projectos,
oferecendo menos espaço nos media
para as ciências humanas e sociais).
A peça que agora levamos à cena está
marcada indelevelmente pela relação
entre o jornalismo e a ciência,
especialmente pela relação entre Maria
Curie e a imprensa marcada por
um intenso amor-ódio.
Depois do trabalho de Maria Curie
começar a ser reconhecido, com
a atribuição do primeiro Prémio Nobel
(partilhado com o seu marido, Pierre
Curie, e com o físico Bequerel),
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começaram, também, os jornais a debruçar-se sobre as suas pesquisas divulgando
a sua actividade científica mas era “sol
de pouca dura”.
Após a morte de Pierre, ela foi perseguida
por disputar uma vaga na Academia Francesa
de Ciências com o também físico Edouard
Branly, em 1910. Os jornais indagavam
se uma mulher poderia ocupar a vaga
e analisavam os seus traços, “acusando-a”
de ter uma origem judaica e de não ter uma
conduta adequada à religião católica.
Já nessa altura, os media estavam organizados
como máquinas de fazer dinheiro. Passado
5 anos após a morte do marido, o ataque
realizado por jornais, revistas cor-de-rosa,
sérias e sensacionalistas foi de tal maneira
feroz que quase destruíram a vida e a carreira
de Maria Curie.
Descobrem que Maria Curie tem um caso
amoroso com o cientista Paul Langevin. Até
aí nada que pudesse despertar o interesse
dos jornais. Só que Langevin era casado.
Estava dado o mote para que os media
se lançassem, com uma senha persecutória,
numa campanha de injúrias, calúnias
e acusações.
Deixando de lado Langevin, que era homem
e, como tal, aventuras fora do casamento
não tinham qualquer gravidade, a perseguição
que a imprensa moveu a Curie foi de tal
forma intensa que ela foi acusada
de tudo, de ser estrangeira, polaca,
germanófila, outra vez de judia, de ser
ladra de maridos alheios e de profanar
o “bom nome” do seu falecido marido,
insinuando mesmo que ela teria algo
a ver com a sua morte. Este ataque
cerrado abalou-lhe seriamente a saúde
ficando muito magra devido ao seu
desequilíbrio nervoso.
O escândalo mediático rebentou
precisamente na altura em que Maria
Curie se preparava para ir receber
o seu segundo prémio Nobel.
A Academia Sueca escreve-lhe
mostrando a sua consternação pela
atribuição do prémio, apelando, inclusive,
a que Mar ia Cur ie desistisse
“cavalheirescamente” do mesmo.Tal não
aconteceu e Maria Curie foi receber
o seu prémio argumentando que o seu
trabalho científico não tinha nada que
ver com a sua vida pessoal. No entanto,
não se livrou da perseguição, de tal forma
que para se afastar um pouco dessa
polémica passa, a partir daí, a adoptar
o seu nome polaco de solteira até
o assunto ter arrefecido.
Este ódio deu mais tarde lugar ao amor,
encadernado, é certo, de novo pelo sentido
do lucro. Os patrões dos media percebiam
que a divulgação científica lhes dava cada
vez mais dinheiro a ganhar e assim, divulgando
intensamente o trabalho de Maria Curie,
jornais e revistas, das mais sérias publicações
à imprensa mais sensacionalista, concorreram
para que a angariação, nomeadamente
nos Estados Unidos da América, do dinheiro
suficiente para a aquisição de um grama
de Rádio, primeiro para o seu laboratório
de Paris e depois para o Instituto de radiologia
em Varsóvia.
Sem este contributo, Maria Curie dificilmente
conseguiria continuar as suas pesquisas
e deixar-nos, assim, a sua marca profunda
no univer so científico e humano.
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gráficas
Notas Bio
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SYLVIO ZILBER
ENCENADOR, ACTOR
Consultor do MVC - Instituto MVC Estratégia
e Humanismo. Professor de Inovação
e Criatividade na Pós-Graduação da ESPM
(São Paulo). Diploma em Adult Training
and Development pela Universidade
de Toronto – Canadá. Fundador e Facilitador
do ILACE (Instituto Latino Americano
de Criatividade e Estratégia). Actor, Director
e Professor de Teatro pela USP (Universidade
de São Paulo). Graduado e Pós-graduado
em Psicodrama. Membro associado da World
Future Society. Facilitador e Palestrante com
muitos Programas, Cursos, Seminários
e Palestras de Criatividade ministrados
no Brasil e no exterior. Autor de diversos
ar tigos sobre Criatividade e Inovação
em revistas especializadas em RH.
Dramático de Évora, Teatro Personna,
Escola da Noite, Teatro da Malaposta,
Teatro Nacional de São João e em
produções independentes no Teatro
Nacional D. Maria II, Teatro Académico
Gil Vicente/Centro Cultural de Belém,
Teatro Maria Matos. Par ticipou
em diversas produções de televisão.
É actriz residente do Teatro Extremo
desde de 2003. Foi ainda uma
das fundadoras do Teatro do Tejo.
FERNANDO JORGE LOPES
D RAMATURGO , ACTOR , ENCENADOR ,
DIRECÇÃO ARTÍSTICA
ISABEL LEITÃO
A CTRIZ , ASSISTÊNCIA
DE ENCENAÇÃO
É licenciada em Engenharia do Ambiente
pela Universidade de Aveiro. Na área
de teatro frequentou ateliers com António
Nóvoa, Victor Valente, Pierre Voltz, Mark
Dornford – May, Jorge Silva Melo, Konrad
Zhiedricht entre outros. Foi fundadora
do Grupo Experimental de Teatro
da Universidade de Aveiro.
Como actriz trabalhou na Companhia
de Teatro de Almada,Teatro da Rainha, Centro
Iniciou a sua actividade teatral como
actor em 1980. Possui o Curso
de Formação de Actores da Companhia
de Teatro de Almada e o 1º curso livre
de Iniciação ao Cinema da Universidade
Nova de Lisboa. Concluí o 1º ano
do curso de pós-graduação em Teatro,
na Faculdade de Letras da Universidade
Clássica de Lisboa. É fundador do Teatro
Extremo, onde exerce as funções
de encenação e direcção artística, onde
trabalha, também, como actor.
KARTARZYNA PEREIRA
Katarzyna Szymanska Pereira, nascida
a 8 de Abril de 1975, natural de Polónia
é mestre em Composição e Teoria da Música
pela Academia Superior da Música de Lodz,
frequentou curso de Pedagogia e Psicologia
da Música na mesma Academia.
Em 1997-99 professora de Formação Musical
e Piano na Escola de Música de Tomaszow
Mazowiecki-Polónia. Actualmente
é orientadora de Sessões Musicais para
recém-nascidos e crianças pequenas
e professora de Iniciação Musical na Academia
de Amadores de Música, Academia de Música
de Santa Cecilia e Colégio do Largo.
Professora convidada na Escola Superior
de Educação de Almada (Instituto Piaget)
onde lecciona Atelier de Prática Instrumental
(piano).
Participou na apresentação no Seminário
de Orientações Musicais para Crianças
em Idade Pré-escolar orientado pelo prof.
E. Gordon, promovido pelo Departamento
de Ciências Musicais da FCSH-UNL
(Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa)
Participou como formadora no Encontro
de Orientações Musicais para Primeira Infância
integrado no programa de actividades
da Bebeteca (biblioteca municipal de Sintra
Polo-Tapada das Mercês).
Em 2003-2006 adjunto do director musical
e participante no espectáculo para bebés
“Miauzz”-Ratsódia para Todos.
Em 2006-2007 participante no espectáculo
“Viva Zapato” produção Armadilha.
Tradutora oficial do Conselho Português
para Refugiados.
PAULO CORREIA
Nasceu em Agosto em 1976 em Lisboa.
Possui a carteira profissional de electricista
e o curso de técnico de iluminação
e robótica. Trabalhou como electricista
e técnico de iluminação em diversos
espaços culturais/teatros e recreativos
do País. Colabora como responsável
de montagem técnicas e manutenção
de equipamento nas produtoras
televisivas, como a Fealmar, NBP,
Multicena.
Actualmente encontra-se envolvido
em vários projectos como
iluminador/director técnico. Acompanha
a digressão dos Dazkarieh entre muitas
outras. Colabora com o Teatro Extremo
desde 2005.
PEDRO GODINHO
Aluno finalista do curso de Design
de Cena da ESTC, frequentou ainda
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o curso de Design de Interiores no ESAD.
Fez a cenografia e figurinos da peça
de teatro”Força do Hábito”, apresentado
na sala-estúdio do teatro nacional D. Maria
II, da peça de teatro “Cómicos, Assustados,
Guerreiros” ambas no âmbito de projectos
curriculares da ESTC. Realizou ainda
a concepção plástica do vídeo-instalação
“OM-571”.
Em 2007 começou a colaborar com o Teatro
Extremo.
figurinos e adereços para o projecto
Armadilha, do qual é co-fundadora, para
o espectáculo musical para crianças, com
autoria de António Rocha,“ Miauzz Uma
Ratsódia para Todos”, uma co-produção
com o Teatro Extremo em 2003.
ARMINDA ROSA MOISÉS COELHO
CENOGRAFIA
ANTÓNIO VITORINO ROCHA
MÚSICO E COMPOSITOR
Cenógrafa, figurinista e aderecista, licenciada
no Curso de Realização Plástica do
Espectáculo da Escola Superior de Teatro
e Cinema, do Instituto Politécnico de Lisboa.
Criou figurinos e concebeu o espaço cénico
para o bailado do Conservatório Nacional
de Dança, no Teatro Camões Estagiou no
Teatro Nacional de São Carlos, onde fez
adereços para Robert Wilson, Nuno Carinhas
e António Lagarto. Desenvolveu figurinos
para As Vozes Alfonsinas. Foi responsável
pela peça teatral, para além de produção,
cenografia, adereços, figurinos e cartaz, para
“A Armadilha de Medusa” de Erik Satie,
subsidiado pelo IPAE – MC, no Teatro
Extremo, em Almada. Trabalhou na criação
de figurinos e adereços para o Teatro
da Universidade Técnica com encenação
de Jorge Listopad. Criação do espaço cénico,
Flautista, Director Musical e Professor
de Música. Participou em espectáculo
dirigidos por Jorge Listopad e Silvina
Pereira. Participou no filme de Paulo
Rocha “Camões – Tanta Guerra, Tanto
Engano”. Consultor musical da peça
“A Armadilha de Medusa” de Erik Satie,
do projecto Armadilha, com encenação
de Fernando Jorge Lopes e produção
de Arminda Moisés Coelho. Foi autor
do projecto de teatro-musical “Miauzz
– Ratsódia para todos” co-produção
Armadilha e Teatro Extremo, estreado
no Festival Sementes, em Almada.
É Licenciado em Ensino, variante de
Educação Musical pela Escola Superior
Jean Piaget de Almada – Instituto Piaget.
Frequenta a parte escolar do Mestrado
em Ciências Musicais, área de Psicologia
e Pedagogia Musical, no Departamento
de Ciências Musicais da F.C.S.H. – U.N.L.
Coordena o projecto de “Música para Bebés”,
na Academia dos Amadores de Música
em Lisboa, desde 2001. Professor de Iniciação
Musical na Academia de Música de Santa
Cecília, em Lisboa. É professor provisório
do quadro de zona pedagógica no grupo
de Educação Musical, 2º Ciclo de Ensino
Básico. É Colaborador da Escola Superior
de Educação Jean Piaget – Almada, tendo
leccionado a disciplina de Didáctica Especifica,
Licenciatura em Ensino – Educação Musical
e Atelier de Expressão Musical, na Licenciatura
de Educação de Infância. Consultor na área
Musical do Teatro Extremo.
RINGUE
GRAFISMO
Ringue é um atelier de design gráfico
que aposta na construção de imagens
e soluções gráficas alternativas, desde 2001.
Tendo por base uma estrutura flexível,
construímos uma aposta que permite
uma melhor rentabilização e eficiência
de cada projecto em que nos envolvemos.
Âmbito de serviços prestados: identidade
corporativa; mailling empresarial; package
design; soluções multimédia;vídeo; ilustração.
SANDRA RAMOS
FOTOGRAFIA
Sandra Ramos é Almadense desde 1972.
Desde muito cedo se aliou à criação
artística e produção cultural, tendo
estado ligada à associação cultural
e juvenil KOYZA, a indústria das ideias
está ligada à fotografia, centrando o seu
trabalho na área do espectáculo, musicais
e teatrais, arquitectura, reportagem
e estúdio. Frequentou o curso
de fotografia do IPF e do AR.CO
e licenciou-se em Marketing e Publicidade
pela UAL.
Colaborou como redactora e fotógrafa
no jornal Expresso, na redacção
dos Cadernos Especiais, esteve integrada
numa equipa redactorial na Câmara
Municipal de Almada, onde coordenava
a agenda cultural e realizava fotografia.
Desde 2003, associa-se a várias
companhias de teatro, nas áreas
de assessoria de imprensa e fotografia:
O Teatro Extremo, O Bando, Praga,
Companhia de Teatro de Almada
e Teatro do Tejo. Colabora com Teatro
Extremo desde o VIII Sementes, tendo
desenvolvido com este grupo um largo
trabalho de repor tagem, aquando
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das descentralizações, e de fotografia
de cena para a divulgação dos espectáculos
FILIPE OLIVEIRA
WEB MASTER
Nasceu em França em 1975. Iniciou o Curso
de Sociologia no ISCTE tendo enverdado
mais tarde pelo Curso de Técnicos
de Multimédia ministrado pelo Instituto
de Emprego e Formação Profissional, o qual
se formou com distinção.
Desde Fevereiro de 2000 que desempenha
o cargo de Web-Designer e Programador
Multimédia na empresa Autor, Tecnologias
Multimédia S.A., onde tr abalha
predominantemente com o software
Macromedia Flash.
Colabora com o Teatro Extremo como
Webmaster desde 1999.
SOFIA OLIVEIRA
DIRECÇÃO DE PRODUÇÃO
Concluiu o 2º ano do Curso de Línguas
e Literaturas Modernas da Faculdade
de Letras de Lisboa em 1992/93. Realiza
o Curso de Produção e Manegement da
Escola de Artes Interpretativas – Ártico
(1993/4). Frequentou o wor kshop
de “Produção de Espectáculos” coordenado
por Miguel Abreu e o seminário “Economy,
Culture, Art” ministrado por Jack L. Amariglio
(E.U.A.) e Arjo Klamer (Holanda)
realizado no Centro Cultural de Belém.
Colaborou na área de produção,
promoção e divulgação com o Teatro
do Caixote, Teatro da Rainha, Grupo
Pim,Teatro Inconveniente e José Meireles.
É fundadora do Teatro Extremo da qual
é Presidente da Direcção da Associação
e responsável pela Direcção de Produção
e Gestão.
PAULA ALMEIDA
SECRETÁRIA DE PRODUÇÃO
Possui o 4º ano de Direito da
Universidade Moderna de Lisboa.
Passou por vár ias empresas
multinacionais tendo sido Agente
Comercial e Relações Públicas.
Foi responsável operacional de Recursos
Humanos nos Recreios Desportivos
da Amadora em 1997.
Em 1999 integra a equipa de os “Artistas
Unidos”, sob a direcção de Jorge Silva
Melo, onde desempenhou funções
de secretariado de produção,
contabilidade e assessoria de imprensa.
Actualmente, desempenha as funções
de secretariado de produção no Teatro
Extremo em Almada.
NÁDIA SANTOS MONTEIRO
PSICÓLOGA
Nasceu em 1979 possui a licenciatura
em Psicologia na área de Clínica do Instituto
Superior de Psicologia Aplicada concluído
em 2003. Realizou o seu estágio Académico
na “ Ajuda de Mãe”. Fez várias formações
complementares como: Psicoterapia
de orientação Psicanalítica, Psicologia
da gravidez e da maternidade; Neurose
Infantil/Neurose da Criança;TécnicasTemáticas
T.A.T e C.A.T.; O Exame Psicológico
da Criança e a Consulta Diagnóstico e Clínica
das Per turbações da Personalidade.
É responsável para divulgação, publicidade
e assessoria de imprensa do Teatro Extremo.
D. Quixote de La Mancha, O Valente
Soldado Sveick entre outras. Foi
o fundador do Grupo PIPA-PAPAS –
Teatro de Fantoches onde participou
nas peças: As Fabulosas Aventuras
do Anão Gigante, 1,2,3.....Todos de Uma
Vez.
É membro do Teatro Extremo desde
2001 sendo o responsável por toda
a área de promoção.
ViTOR PINTO ÂNGELO
PROMOÇÃO
Nasceu no ano de 1957 em Albergaria-a-Velha. Possui o Curso Geral de Liceus
e Curso Complementar dos Liceus. Em 1974
participa no projecto de Alfabetização em
Trás-os-Montes com o Professor Paulo Freire
da Faculdade de Letras de Coimbra.
Foi membro fundador do Centro Cultural
de Alcácer do Sal.
Em 1989 entra para a Companhia de Teatro
de Almada onde participou em várias peças
como: D. Afonso VI, D.Filipa de Lencastre,
Marco Milhão, Felicidade e Erva-doce; Dias
Inteiros nas Árvores, Os Lusos da Ribalta,
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Quando, enquanto colectivo, imaginámos
criar uma estrutura artística cujos princípios
artísticos e filosóficos estivessem desalinhados
com a situação do teatro de então,
principalmente com os seus mecanismos
de poder, estavam também a nascer em
Portugal outros projectos que constituiriam
um novo fôlego para o teatro estabelecido
nos finais dos anos 90. Alguns transformaramse em estruturas artísticas de produção
permanente e ainda hoje existem, tais como
o Teatro Extremo.
Estes projectos ar tísticos, um deles
apadrinhado e conduzido por um criador
com obra feita, foram, no entanto, na sua
maioria, impulsionados por jovens criadores
que, salvo raras excepções, apostavam
essencialmente na procura da reprodução
de uma arte pós-moderna, surgindo assim
um movimento que chegou a ser
considerado tão importante que foi erigido
como modelo quase exclusivo para a crítica
e escola artística deste país.
Criou-se, então, um outro poder, que sem
beliscar o já instituído e cristalizado, criava
novas redes de interesses. Estas assegurariam,
pelos grémios de jurados arregimentados
pelo estado, veiculando em conjunto mais
ou menos a mesma ideologia, reflectida
na ar te que patrocinavam com ardor
e saboreando com gosto o papel de um
autêntico príncipe mecenas, a distribuição
das várias migalhas do bodo.
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O Teatro Extremo fundado ao arrepio
destas convenções e tutelas, delas
se manteve afastado, dando origem
a um caminho muito próprio de
democratização artística estabelecida
como um processo sem fim à vista, com
a consciência de que o teatro não obriga
só ao movimento, mas que nele próprio
deve transparecer um propósito, nem
que seja a sua decomposição.
Com este objectivo, considerou que
a sua estrutura teria de escolher como
factor valorativo o trabalho do actor
como grau zero da escrita teatral
e eleger as camadas mais frágeis
da sociedade, como são especialmente
as crianças, em inter locutores
privilegiados desta aventura cultural
que insiste em transformar o mundo
que nos rodeia.
Desde o nosso começo para cá muito
se alterou e muito se manteve na mesma,
em relação ao teatro em Portugal,
nomeadamente no que diz respeito
ao papel do estado e ao da própria
sociedade dita “civil”.
Do lado das alterações assistiu-se a uma
pulverização descentralizada de novos
projectos, mudança iniciada já no novo
milénio e que veio esbater as indicações
para que o teatro prosseguisse apenas numa
única postura estética, pois cada estrutura
havia de trabalhar com o “seu” público.
Verificou-se, também, uma grande alteração
com a criação de estruturas associativas,
juntando os criadores e emprestando-lhes
uma voz há muito sonegada. Estas tiveram
início no Movimento dos 31 e passam
necessariamente pela REDE da dança
e pela criação recente da ATINJ – Associação
Por tuguesa de Teatro para a Infância
e Juventude.
Mudaram-se também as regras dos concursos
do estado. Regras mais exigentes, pelas quais
pugnávamos, mas que ainda assim não
deixaram de criar engulhos e atropelos.
No passado recente alguns desses concursos,
de tão atribulados, ainda não se encontram
concluídos, com processos judiciais pendentes.
Outros nem sequer se iniciaram, por falta
de verbas. Cá estaremos para ver o que
se segue.
Do que ficou na mesma, podemos constatar
que continua a concentração das magras
dotações orçamentais nos grandes
equipamentos: CCB, Casa da Música, Museu
de Serralves, Teatros Nacionais; e em meia
dúzia de outras estruturas.
S a b e m o s q u e n e s t e mu n d o
contemporâneo a cultura é
constantemente atravessada pela
economia e pela ideologia. Mas
as acusações de subsídio-dependentes
aos trabalhadores da cultura em geral
e do teatro em particular, caem por
ter r a quando se sabe que a
recomendação da Unesco vai
no sentido dos países inscreverem pelo
menos 1% do seu PIB na cultura.
O que contrasta flagrantemente com
o valor de 0,47% do PIB inscrito no
orçamento de estado para a cultura
deste governo e quando os dados
disponíveis estimam que a riqueza gerada
pelo sector cultural neste país é de 2,6%
do PIB.
O que está em causa nesta acusação
que faz uma feroz defesa do mercado
da massificação cultural, é a necessidade
de assegurar que a arte e a cultura sejam
um dos meios de reprodução
da sociedade actual e não um factor
de emancipação social, individual
e colectivo da humanidade, uma
ferramenta de enriquecimento
perceptivo e sensorial. O poder
hegemónico e asfixiante das indústrias
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culturais massificadas, que padronizam hábitos
e preferências de consumo, prescreve uma
só narrativa do mundo e a formação
de públicos é feita como forma de padronizar
valores que são impostos a indivíduos
passivos. O mercado do entretenimento
preenche, assim, o da cultura através
da massificação necessariamente acrítica,
não solicitando a participação dos públicos
como agentes da sua própria formação.
Nesta linha de pensamento e porque
os vários governos que desde então têm
dirigido o estado, se têm comprometido
ideologicamente com esta visão das coisas
da cultura, ontem como hoje, tem existido
uma atabalhoada explicação do conceito
de servido público.
Entretanto, entrevê-se na sombra uma
redução sistemática da importância do papel
do estado no fomento da cultura. Um estado
cujo objectivo final seja apenas assegurar
os serviços mínimos.
Cabe pois perguntar com alguma suspeita:
e se houvesse mais dinheiro, a política seria
outra?
Num país onde à cultura tem cabido
ornamentar as elites, que subalternizam
e subestimam o papel dos objectos artísticos
feitos para todos os públicos, são
efectivamente os colectivos ar tísticos
espalhados por esse país que desempenham
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o papel do estado, o qual, por falta
de comparência, é desta forma
substituído nas suas obrigações para
com as populações. Essas estruturas
tomam para si a tão necessária tarefa
da democratização da cultura. Quem
vive dentro de gabinetes, vê o mundo
pela sua janela, ou Portugal por um
canudo, está bem longe da realidade,
que muitas vezes passa tão só por
alfabetizar os públicos, sensibilizar autarcas
e empresas, exercer para além
da condição de ar tista a função
de animador cultural.
Também, tudo continua na mesma
no que diz respeito às iniciativas
tr ansfor mador as do chamado
movimento de educação pela arte.
Esse pensamento está praticamente
erradicado no discurso de qualquer
responsável político e, mais grave ainda,
tudo se mantém igual na exasperante
falta de qualquer coordenação
de políticas e iniciativas entre o Ministério
da Cultura e o Ministério da Educação,
para já não falar entre estes e o Ministério
da Ciência.
Não queremos acabar estas breves
reflexões sem falar dos intercâmbios e da
promoção da cultura portuguesa nos países
lusófonos e no mundo.
Estes também se encontram estagnados.
Quando existem, encontram-se, depois
de bonitas palavras e grandes discursos,
a espreguiçar em iniciativas que não
produzem quaisquer mais-valias artísticas,
que não conduzem a resultado nenhum nem
trazem benefício a ninguém. A não ser,
é claro, àqueles que deles usufruem
pessoalmente, refastelados em esplanadas
à beira-mar numa qualquer cidade tropical,
ou deitados nos lençóis de seda dos belos
hotéis de Roma, Paris ou Nova Yorque.
Teatro Extremo
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Teatro
Criações
1994/2007
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“OS INFERNOS DA BARCA”
criação colectiva, 1994
“O CAPUCHINHO BRANCO-SUJO”
criação colectiva, 1995
“OS GNOMOS DE GNU, UMA AVENTURA ECOLÓGICA”
de Umberto Eco, 1996
“XTC”
criação colectiva, 1997
“OS TRÊS COSMONAUTAS”
de Umberto Eco, 1997
“VOZES DE BURRO NÃO CHEGAM AO CÉU”
criação colectiva, 1997
“ROMEU”
de Romeu Correia, 1997
“GIRALDO” 2º episódio do ciclo
“Sem Rei nem Roque” criação colectiva, 2002
“BRINQUEDOS.COM”
Fernando Jorge Lopes, 2002
“AMIGOS E SARILHOS”
de Antónia Terrinha, em co-produção com
Antónia Terrinha, Fernando Ascensão, José
Graça e Arménio Teixeira, 2003
“A COISA MAI LINDA...”
criação colectiva, co-produção com Piajio,
2003
“MAL D’AMOR”
criação colectiva, 1998
“MIAUZZ – RATSÓDIA PARA TODOS”
de António Rocha, co-produção com
Armadilha, 2003
“A EXCEPÇÃO E A REGRA”
de Bertolt Brecht, 1998
“CONT.ACT”
criação colectiva, 2003
“A TERRA DO DIA ANTES”
criação colectiva, 1999
“HISTÓRIAS DENTRO DE UMA MALA” (2º Acto)
criação colectiva, 2003
“O COMÍCIO”
de Miguel Morillo, 1999
“VELHO PALHAÇO PRECISA-SE”
de Mátei Visniec, 2003
“DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA”
de Plínio Marcos, co-produção com Harém
de Teatro (Teresina, Piauí, Brasil), 1999
“ÁGUA”
de Antónia Terrinha, 2004
“O PESCADOR E A SUA ALMA”
de Oscar Wilde, 1999
“HISTÓRIA CÓMICO-MARÍTIMA” 3º episódio do ciclo
“Sem Rei nem Roque” criação colectiva, 2000
“A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS”
de Júlio Verne, em co-produção com Snap Theatre
(Reino Unido), 2000
“CIDADE ESMERALDA”
de António Cabrita, 2000
“HISTÓRIAS DENTRO DE UMA MALA” (1º Acto)
criação colectiva, 2001
“CABARET DA COXA”
criação colectiva, 2001
“NÃNÃ & TALITAL”
criação colectiva, 2001
“LUSITÂNEA” 1º episódio do ciclo
“Sem Rei nem Roque” criação colectiva, 2004
"OS SALTIMBANCOS"
de Chico Buarque, com encenação de
Arimatan Martins, espectáculo de digressão
na iniciativa "Sorriso de Natal" (estreia a 23
de Novembro), XXXX(Qual o ano?)
“EINSTEIN”
de Gordon Wiseman, com encenação de
Sylvio Zilber, 2005
“CORRIDA MIRABOLANTE”
criação colectiva, 2006
“MAÇAS VERMELHAS”
de Luís Matilha, com encenação de
Fernando Jorge Lopes, 2006
“MARIA CURIE”
de Mira Michalowska, com encenação de
Sylvio Zilber, 2007