Modelação Espacial em Sistemas de Informação
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Modelação Espacial em Sistemas de Informação
MODELAÇÃO ESPACIAL EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA DA SUSCEPTIBILIDADE A DESLIZAMENTOS NA ÁREA DE LOUSA-LOURES Aldina Maria Martins Piedade ___________________________________________________ Dissertação de Mestrado em Gestão do Território, área de especialização em Detecção Remota e Sistemas de Informação Geográfica SETEMBRO, 2009 Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Território, área de especialização em Detecção Remota de Sistemas e Informação Geográfica, realizada sob a orientação científica do Professor Doutor José Luís Zêzere (Orientador) e Professor Doutor José António Tenedório (Co-orientador) ii Esta Dissertação teve o apoio financeiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, através do projecto MapRisk – Metodologias de avaliação da perigosidade e risco de movimentos de vertente dos Planos Municipais de Ordenamento do Território (PTDC/GEO/68227/2006). iii Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a designar. A candidata, ____________________ Lisboa, 30 de Setembro de 2009. Declaro que esta Dissertação se encontra em condições de ser apreciada pelo júri a designar. O orientador, ________________________________ O co-orientador, ______________________________ Lisboa, 30 de Setembro de 2009. iv Aos meus pais, por tudo! v AGRADECIMENTOS Ao Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, enquanto instituição de acolhimento, agradeço a disponibilidade de todo o material necessário para a concretização deste trabalho, desde o levantamento de campo até à sua conclusão. Ao Professor Doutor José Luís Zêzere quero agradecer-lhe o entusiasmo pelo tema, primeiro enquanto sua aluna e depois enquanto bolseira de investigação e sua orientanda. A forma simples e rigorosa de transmitir os seus conhecimentos e as inúmeras sugestões e correcções que em muito valorizaram este trabalho. É com grande admiração e respeito que lhe agradeço por tudo. Ao Professor Doutor José António Tenedório como co-orientador desta dissertação, agradeço a disponibilidade demonstrada, as sugestões e a leitura cuidada aos meus textos. É com grande honra e satisfação que fui sua aluna e sua orientanda. Ao Ricardo Garcia e ao Sérgio Oliveira, quero agradecer a forma simpática e acolhedora como me receberam na sua equipa, a paciência com que me ensinaram a identificar deslizamentos nos dias e dias de trabalho de campo, mas também a forma divertida e muito séria como o fazem. Agradeço a companhia, ajuda e rigor no levantamento de campo deste trabalho, bem como, todos os conselhos, discussões e ajuda na elaboração desta dissertação. Ao Jorge Rocha agradeço-lhe as horas que abusei da disponibilidade em me ajudar, os conselhos gráficos e a ajuda na resolução dos problemas diários. Agradeço principalmente a amizade. À Sónia Galiau e ao Eduardo Jonas pela companhia ao longo desta etapa, pelas sugestões e ajudas, pela partilha de medos e dúvidas existenciais. Pela amizade e disponibilidade demonstrada na conclusão de mais um objectivo a que nos propusemos. Por fim, agradeço aos meus pais, Vitaliano e Deolinda, que tantas vezes através de uma saudade demonstrada me fizerem chorar … no fundo, de alegria de vos ter. ☺ vi RESUMO MODELAÇÃO ESPACIAL EM SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA DA AVALIAÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE A DESLIZAMENTOS NA ÁREA DE LOUSA-LOURES ALDINA MARIA MARTINS PIEDADE PALAVRAS-CHAVE: Deslizamentos; Sistemas Susceptibilidade; Validação; área de Lousa-Loures. de Informação Geográfica; A região a norte de Lisboa, conhecida por diversas manifestações de instabilidade geomorfológica, é a área de interesse nesta dissertação. Uma metodologia de avaliação de susceptibilidade, desenvolvida para a área modelo de Fanhões-Trancão, é testada em Lousa-Loures através da extrapolação de algoritmos indicativos da propensão para a instabilidade. A metodologia desenvolvida centra-se na aplicação e de algoritmos de avaliação da susceptibilidade obtidos para uma área com características geológicas e geomorfológicas similares às observadas na área de validação. Assume-se, desta forma, que as mesmas causas são susceptíveis de gerar os mesmos efeitos. Deste modo, são utilizados os scores do Valor Informativo obtidos na área modelo de Fanhões-Trancão (20 km2) para avaliar a susceptibilidade na área teste de Lousa-Loures (17 km2), que desempenha assim o papel de área de validação. O modelo utilizado é baseado no uso de algoritmos que assentam na análise estatística e probabilística, efectuada na área teste, da relação espacial entre três tipos de movimentos de vertente (deslizamentos translacionais superficiais, translacionais profundos e rotacionais), entendidos como variável dependente, e um conjunto de 7 factores de predisposição para a instabilidade: declive, exposição das vertentes, perfil transversal das vertentes, unidades litológica, unidades geomorfológicas, depósitos superficiais, e uso do solo. A integração dos dados é efectuada através do Método do Valor Informativo e os resultados são exportados para a área de estudo. A validação deste modelo é feita de modo independente com recurso a movimentos de vertente na área de Lousa-Loures. Paralelamente, são desenvolvidos novos scores do Valor Informativo para a área de estudo, pelo cruzamento dos movimentos de vertente aí presentes com os factores de predisposição da instabilidade geomorfológica. Os resultados deste modelo são validados através da construção de modelos preditivos (curva de sucesso; curva de predição) e comparados com os obtidos no primeiro exercício. A análise sensitiva das variáveis é, por fim, efectuada, com o objectivo de perceber quais são os factores e respectivas combinações que mais contribuem para a discriminação das áreas instáveis. Os resultados obtidos demonstram que é possível a exportação de algoritmos de susceptibilidade de uma área para outras, com bons resultados de validação, desde que se salvaguarde a existência de características geológicas e geomorfológicas similares. vii ABSTRACT SPATIAL MODELLING IN GEOGRAPHIC INFORMATION SYSTEMS OF LANDSLIDE SUSCEPTIBILITY ASSESSMENT IN THE LOUSA-LOURES AREA ALDINA MARIA MARTINS PIEDADE KEYWORDS: Landslides; Geographic Information Systems; Susceptibility; Validation; Lousa-Loures area. The region north of Lisbon, which is known by several forms of geomorphological instability, is the study area of this dissertation. A methodology for the evaluation of susceptibility is developed in the Fanhões-Trancão area and validated in Lousa-Loures through the extrapolation of indicative algorithms of the propensity for instability. The developed methodology focuses on the application of algorithms for evaluating the susceptibility obtained for an area of geological and geomorphological features similar to those observed in the validation area. The rationale is that similar environments have identical susceptibilities, i.e. the same causes are likely to generate the same effects. Thus, scores of Information Value obtained in the pilot area of Fanhões-Trancão (20 km2) are used to evaluate the susceptibility in the test area of Lousa-Loures (17 km2). The algorithms are developed through probabilistic and statistical analysis of the spatial relationship between three types of landslides (shallow translational slides, rotational slides and translational slides), defined as the dependent variable, and a set of 7 predisposing factors for instability: slope, aspect, transverse slope profile, lithology, relief/molding, superficial deposits and land use. The integration of data is done by the method of Information Value and the results are extrapolated to the test area. Field work is carried out to update a landslide database subsequently used to validate the model. Additionally, new scores of Information Value are developed for the study area by crossing existing landslide areas with the predisposing factors for geomorphological instability. Validation of prediction models is carried out by comparison of success-rate and prediction-rate curves between pilot and test areas. Furthermore, sensitivity analysis of the variables is performed in order to understand which factor(s) most contribute to the discrimination of unstable areas. The results obtained indicate that it is possible to transfer, with an acceptable degree of fit, susceptibility assessment algorithms between different geographic areas. However, geographic transferability of algorithms to new areas is only likely to happen if geological and geomorphological settings are similar to those for which the algorithms were developed. viii Índice Geral Introdução 1 Capítulo I. Enquadramento geral da área de Lousa-Loures 5 1. Localização e delimitação 5 2. Enquadramento geológico e geomorfológico 6 2.1. Litologia 6 2.2. Estrutura geológica e relevo 8 2.3. Rede de drenagem Capítulo II. Breve contextualização da área de Fanhões-Trancão 10 11 1. Enquadramento físico de Fanhões-Trancão 11 2. Movimentos de vertente 12 3. Factores de predisposição a deslizamentos 14 Capítulo III. Movimentos de vertente e factores de predisposição 17 1. Terminologia e conceitos 17 2. Movimentos de vertente da área de estudo 20 2.1. Metodologia dos inventários 20 2.2. Tipologia e área afectada 21 2.3. Evolução dos movimentos de vertente entre 1997 e 2009 25 3. Factores de predisposição da instabilidade geomorfológica 26 3.1. Declive, forma e exposição das vertentes 27 3.2. Litologia 28 3.3. Coberto vegetal e uso do solo 28 3.4. Unidades geomorfológicas e depósitos superficiais 28 4. Pré-processamento das variáveis Capítulo IV. Metodologia 29 40 1. Modelo conceptual do Risco 40 2. Métodos de avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de 42 vertente na escala regional 3. Modelo metodológico de avaliação da susceptibilidade geomorfológica 45 ix na área de Lousa-Loures 4. Procedimentos e problemática da integração de dados Capítulo V. Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 1. Correlação entre variáveis 50 52 52 2. Valores Informativos das variáveis 53 3. Modelos de susceptibilidade a movimentos de vertentes 70 3.1. Deslizamentos translacionais superficiais 70 3.2. Deslizamentos rotacionais 72 3.3. Deslizamentos translacionais 74 4. Validação dos mapas de susceptibilidade: Curvas de sucesso e predição 76 4.1. Deslizamentos translacionais superficiais 76 4.2. Deslizamentos rotacionais 78 4.3. Deslizamentos translacionais 79 5. Capacidade preditiva dos modelos recorrendo ao inventário de 2009 81 6. Análise sensitiva das variáveis 86 6.1. Deslizamentos translacionais superficiais 86 6.2. Deslizamentos rotacionais 89 6.3. Deslizamentos translacionais 92 Considerações finais 96 Referências bibliográficas 101 Índice de figuras 109 Índice de quadros 112 Anexos 114 x Introdução “Parecia que a montanha tinha explodido e deitado tudo aquilo abaixo. Não consegui ver uma casa de pé” …conta, ainda chocado, Dario Libatan, um dos 83 sobreviventes. Introdução Os deslizamentos são movimentos de vertente1, que, desencadeados por mecanismos como a precipitação prolongada e/ou muito intensa, sismos ou acções antrópicas, podem provocar graves danos materiais nas populações ou, simplesmente, alteração na topografia e na paisagem. Durante as últimas décadas, a instabilidade das vertentes despertou o interesse de cientistas em áreas como a Geomorfologia, Geologia, Engenharia e Geotecnia, daí resultando cada vez mais estudos sobre os processos físicos dos movimentos e as causas envolvidas, mas também dedicados às consequências para o ordenamento do território. Com efeito, apesar dos movimentos de vertente constituírem uma preocupação à priori, só muito tardiamente foram tidos em conta nos planos de ordenamento do território em Portugal, havendo inúmeros exemplos de ocupação humana desadequada. Com a expansão das áreas urbanas e a construção desmesurada de novas urbanizações, vias de comunicação e outras infra-estruturas, torna-se essencial que haja um planeamento territorial sólido e estruturado, que contemple as condicionantes físicas do território com vista a uma ocupação sustentável e à redução das catástrofes naturais que possam causar danos. Em Portugal, no período entre 1900 e 2006, foram inventariados 77 movimentos de massa com consequências sociais relevantes, responsáveis por 142 mortes (Quaresma, 2008). De acordo com Quaresma (2008) a mortalidade derivada dos movimentos de massa apresenta uma concentração relevante na região norte de Lisboa, sendo que a NUT III Grande Lisboa é a que regista o maior número de mortes provocadas por eventos geomorfológicos, com o total de 36 casos. Face a esta realidade, 1 Movimentos de vertente: desabamento, balançamento, deslizamento, expansão lateral e escoada, classificados pelo tipo de mecanismo e material afectado, por Varnes, 1978; WP/WLI, 1993; Dikau et al., 1996. Segundo, Cruden e Varnes (1996), são classificados também pela actividade, velocidade e conteúdo em água no terreno. 1 Introdução justifica-se a implementação de políticas rigorosas e bem estruturadas no território, para que a utilização do solo contemple a salvaguarda da vida das pessoas, diminuindo custos e protegendo investimentos públicos e privados. Neste contexto, é importante que a comunidade científica seja tida em conta. Em Portugal têm sido feitos esforços, recentemente, para que os trabalhos científicos dedicados ao estudo de movimentos de vertente e dos riscos associados sejam incorporados nos planos de ordenamento do território, nomeadamente na definição das condicionantes ao uso do solo. Actualmente, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), financia o projecto “MapRisk – Metodologias de avaliação da perigosidade e risco de movimentos de vertente no âmbito dos Planos Municipais de Ordenamento do Território (PTDC/GEO/68227/2006)”, que pretende desenvolver métodos para a avaliação da perigosidade e do risco com bases científicas sólidas, com a vantagem de fornecer uma base racional para a decisão no âmbito do planeamento territorial na escala municipal, tendo como áreas de trabalho 6 concelhos piloto representativos da variedade morfoestrutural de Portugal. Esta dissertação foi desenvolvida no âmbito do projecto MapRisk, constituindo um output que pretende contribuir para o aprofundamento das metodologias de avaliação e validação da susceptibilidade geomorfológica. O trabalho desenvolvido e a metodologia utilizada tiveram por base o seguinte conjunto de questões de partida: sendo conhecida a variação espacial da susceptibilidade de uma área, é viável a aplicação directa dos algoritmos de susceptibilidade correspondentes em áreas que apresentam características geológicas e geomorfológicas similares? Qual é o grau de erro introduzido por esta abordagem, em comparação com a avaliação de susceptibilidade mais habitual, baseada na exploração de inventário de movimentos de vertente da área estudada? Até que ponto e em que condições poderá ser esta metodologia utilizada na elaboração de Planos de Ordenamento do Território? Com base nestas perguntas de partida, formularam-se objectivos e foi definida uma estratégia para esta dissertação A aplicação e validação de um modelo de susceptibilidade na área de Lousa-Loures com recurso a algoritmos obtidos para uma área com características similares, Fanhões-Trancão (Zêzere, 1997; Zêzere et al., 2004), 2 Introdução justifica-se pelo facto de ambas as áreas terem características geológicas e geomorfológicas similares, bem como, as mesmas tipologias de deslizamentos. Simultaneamente, é desenvolvida a avaliação da susceptibilidade na área de Lousa-Loures, utilizando dois inventários de movimentos de vertente disponíveis para essa área. Foram criadas e utilizadas bases de dados relacionais que transcrevem as relações entre factores de predisposição da instabilidade e determinados tipos de deslizamentos, com recurso à modelação através de Sistemas de Informação Geográfica (SIG). Para possibilitar as comparações, procedeu-se à homogeneização dos dados de partida nas duas áreas e utilizou-se uma única ferramenta estatística para avaliar a susceptibilidade: o Método do Valor Informativo. Os resultados obtidos são validados através de técnicas estandardizadas, descritas na literatura especializada. Nos dois primeiros capítulos é feito, de modo sucinto, o enquadramento geral das áreas abordadas neste trabalho: Lousa-Loures (Capítulo I) e Fanhões-Trancão (Capítulo II). São abordadas as características essenciais da litologia, estrutura geológica, geomorfologia e hidrografia, realçando-se a similaridade observada nas duas áreas. No Capítulo III são discutidos alguns conceitos fundamentais utilizados na dissertação e são apresentados os movimentos de vertente inventariados na área de estudo, em dois momentos (1997 e 2009). Este capítulo integra ainda a caracterização dos factores de predisposição da instabilidade geomorfológica, bem como a descrição dos procedimentos de preparação das variáveis em formato matricial, para poderem ser trabalhadas em modelos SIG. A metodologia aplicada para a avaliação da susceptibilidade na área de LousaLoures é apresentada no Capítulo IV. No Capítulo V são apresentados e discutidos os resultados do trabalho. São estudadas as correlações entre variáveis e são determinados os Valores Informativos de cada classe de cada tema considerado, assumido como factor de predisposição da instabilidade. A integração destes valores informativos possibilita a construção de modelos de avaliação de susceptibilidade para cada um dos tipos de deslizamentos considerados: translacionais superficiais, translacionais profundos e rotacionais. Os mapas de susceptibilidade são validados através da determinação das respectivas curvas 3 Introdução de sucesso e de predição. Por último, é avaliado o peso de cada factor de predisposição nos modelos de susceptibilidade através de uma análise sensitiva. 4 Enquadramento geral da área de Lousa-Loures Capítulo I. Enquadramento geral da área Lousa-Loures 1. Localização e delimitação A área de Lousa-Loures abrange uma superfície de 16,9 km2 e insere-se na região a norte de Lisboa, a noroeste da cidade de Loures. O seu território pertence maioritariamente ao concelho de Loures, com a excepção de um pequeno sector oeste que se integra no concelho de Mafra (fig. 1.1 e 1.2). A delimitação da área de estudo seguiu, no essencial, os limites considerados em Zêzere (1997), facto este que é justificado pela existência prévia de um inventário de movimentos de vertente para esta área. O limite norte, aquando do trabalho de Zêzere (1997), foi definido de forma rectilínea, devido à não existência de cartografia disponível para a área limítrofe. Neste trabalho, o limite norte foi ligeiramente alterado, acompanhando as linhas de festo e alguns cursos de água (Ribeira de Montachique e Rio de Lousa), de modo a conferir ao limite da área uma maior coerência do ponto de vista físico. Figura 1.1 – Enquadramento da área de Lousa-Loures na região a norte de Lisboa 5 Enquadramento geral da área de Lousa-Loures Figura 1.2 – Rede hidrográfica de Lousa-Loures sobre o Modelo Digital do Terreno 2. Enquadramento geológico e geomorfológico 2.1. Litologia Do ponto de vista litológico destacam-se sete unidades, de idade cretácica e paleogénica, a que se acrescentam os filões e massas intrusivos e uma cobertura aluvial extensa, que toma maior importância no sector jusante do vale do Rio Loures (fig. 1.3). 6 Enquadramento geral da área de Lousa-Loures Figura 1.3 – Geologia da área de Lousa-Loures Fonte: Adaptado do Instituto Geológico, Folhas 403 e 417 à escala 1:25 000 Os materiais do Complexo Vulcânico de Lisboa ocupam 47% da área e são constituídos por uma sucessão de derrames lávicos, separados por níveis de materiais piroclásticos (brechas, aglomerados, tufos, cineritos e cinzas) e por algumas camadas sedimentares (conglomerados, argilas), contendo por vezes moluscos terrestres e alguns restos de vertebrados indetermináveis (Zbyszewski, 1964). A Formação de Caneças, presente em 26% da área, é composta por calcários, arenitos e calcários margosos. A Formação de Benfica abrange 8% da área, sendo constituída por conglomerados, 7 Enquadramento geral da área de Lousa-Loures arenitos e argilitos. Os aluviões ocupam 7% da área e a Formação da Bica com 6% inclui os calcários compactados com rudistas. A Formação do Rodízio constituída por pelitos, arenitos e conglomerados está representada em 5% da área de estudo. Por último, os calcários e margas (Formação de Cresmina) e os arenitos, pelitos e dolomitos (Formação do Regatão) do Cretácico inferior ocupam um pequeno sector, relativamente marginal, junto ao limite norte da área de estudo. 2.2. Estrutura geológica e relevo A alternância de rochas de diferente dureza, permeabilidade e plasticidade, juntamente, com a disposição monoclinal com pendores fracos a moderados, levou ao desenvolvimento de relevos de costeira na região a norte de Lisboa (Ferreira, 1984; Ferreira et al., 1987). Destacam-se a costeira de Odivelas-Vialonga e a de LousaBucelas, onde a oeste, na sua terminação ocidental, se localiza a área de estudo. Na área de Lousa-Loures o relevo é fortemente condicionado pela estrutura monoclinal, com pendores entre 8º e 30º, para SSE e SE. Esta estrutura monoclinal determina que as vertentes expostas a norte, tipicamente erosivas, apresentem declives acentuados. Contudo, adiante destas vertentes não existe a definição da depressão ortoclinal típica dos relevos de costeira, devido às características litológicas do substrato e à grande complexidade tectónica do sector NW da área em estudo. A estrutura monoclinal é complicada na área de Lousa-Loures por duas deformações em sinclinal: o sinclinal do Alto do Penedo Mouro, com eixo orientado WSW-ENE, e o pequeno sinclinal do Alto do Crato, que se situa imediatamente a norte de Ponte de Lousa, com eixo orientado N-S. A sul do sinclinal de Alto do Penedo Mouro, próximo do topo da vertente esquerda do vale do Rio de Loures, há uma deformação anticlinal muito falhada, com orientação W-E, que se prolonga para NE, em direcção ao vale da Ribeira do Tufo, numa posição intermédia entre os dois sinclinais (Zêzere, 1997; 2001). Este sector evidencia uma tectónica antiga e muito complexa, que inclui falhas de direcção predominante NW-SE, mas sem reflexo na topografia actual, acompanhadas por um conjunto de filões relativamente densos, essencialmente de natureza traquítica (Zêzere, 2001) (fig. 1.3). A área de Lousa e Ponte de Lousa, a norte da confluência da Ribeira de Lousa com o Rio de Loures, apresenta uma morfologia contrastada, em relação com uma 8 Enquadramento geral da área de Lousa-Loures grande complexidade estrutural e com o encaixe da rede hidrográfica, facilitada pela presença de afloramentos brandos e relativamente impermeáveis do Cretácico (calcários, arenitos e calcários margosos da Formação de Caneças). O vale do Rio de Lousa apresenta características distintas ao longo do seu traçado, em muito condicionadas pela litologia e estrutura do substrato. Na proximidade de Ponte de Lousa, o vale é relativamente simétrico (fig. 1.4) e apresenta vertentes rectilíneas com declive acentuado, condicionadas por uma deformação anticlinal e também, pela natureza calcária e margosa do substrato rochoso. Contudo, existe uma relativa simetria das vertentes, em relação ao declive, condicionado por um contexto estrutural semelhante (Zêzere, 2001). O sector montante do vale da Ribeira de Lousa, evidencia dissimetria estrutural (fig. 1.5), determinada pelo pendor das camadas para SE. Esta dissimetria é acentuada pelo afloramento de margas argilosas, na proximidade do fundo de vale, que se restringem quase exclusivamente à vertente da margem direita do vale (Zêzere, 2001). Figura 1.4 - Vale do Rio de Lousa, a montante de Ponte de Lousa 1.Calcários com rudistas (Cenomaniano superior) 2.Calcários margosos (Albiano-Cenomaniano médio) Fonte: Zêzere, 2001 9 Enquadramento geral da área de Lousa-Loures Figura 1.5 – Vale do Rio Lousa junto a Torre Pequena 1. Depósito de vertentes; 2. Calcários com rudistas; 3. Calcários margosos; 4. Margas Fonte: Zêzere, 2001 2.3. Rede de drenagem A rede hidrográfica na área de Lousa-Loures é estruturada pelo Rio Loures, que se integra na bacia hidrográfica do Rio Trancão, sendo um dos seus principais afluentes. A densidade de drenagem1 na área estudada é de 3 km/km2. Os principais afluentes do Rio de Loures localizam-se, principalmente, na margem esquerda. A Ribeira de Montachique, encontra-se fora de área de estudo, confluindo com o Rio Lousa, a norte da localidade de Lousa, junto ao limite da área em análise. Por sua vez, o Rio Lousa recebe o contributo da Ribeira do Tufo antes de confluir na margem esquerda do Rio Loures, junto a localidade de Ponte de Lousa. A sul a Ribeira da Murteira conflui também na margem esquerda do Rio Loures, junto à localidade de Pinheiro de Loures. A Ribeira da Murteira e a Ribeira do Tufo atingem a ordem 3 na classificação de Strahler. O Rio de Lousa e o Rio de Loures, dentro da área de estudo, apresentam ordem 5 na mesma classificação. 1 Densidade de drenagem = Comprimento total dos cursos de água/área total em km2. 10 Breve contextualização da área de Fanhões-Trancão Capítulo II. Breve contextualização da área de Fanhões-Trancão Como já foi referido, o objectivo desta dissertação centra-se, principalmente, na avaliação da susceptibilidade na área teste de Lousa-Loures, através da importação de índices de susceptibilidade determinados na área modelo de Fanhões-Trancão. Este exercício é efectuado tendo em conta que ambas as áreas estão integradas no mesmo contexto estrutural, geológico e geomorfológico, apresentando assim, similaridade nestes âmbitos. Este capítulo tem como objectivo a contextualização da área de FanhõesTrancão, utilizada como área modelo nesta dissertação. São inúmeros os estudos efectuados e publicados sobre esta área, que servem de base ao desenvolvimento deste capítulo. Destacam-se, em particular os seguintes trabalhos científicos publicados: Zêzere (1997, 2001); Reis et al. (2003); Zêzere et al. (2004); Zêzere et al. (2005, 2006); Zêzere et al. (2008). 1. Enquadramento físico de Fanhões-Trancão A área de Fanhões-Trancão situa-se na região a norte de Lisboa, especificamente no concelho de Loures. Insere-se no sector intermédio da bacia hidrográfica do Rio Trancão e é parte integrante da costeira de Lousa-Bucelas, localizando-se no reverso deste relevo estrutural, com uma extensa vertente subestrutural, definida por uma concordância geral entre a superfície topográfica e a inclinação geral dos estratos geológicos. Nesta área destacam-se dois importantes vales de disposição cataclinal: o vale da Ribeira de Fanhões e o vale do Rio Trancão, que corta o relevo de costeira em duas secções, a jusante de Bucelas (fig. 2.1). A existência de uma deformação tectónica positiva em relação à bacia do Tejo constitui um factor de grande significado no desenvolvimento das principais unidades morfológicas regionais (Zêzere, 1997). O levantamento geral permite compreender o escalonamento de vários níveis de erosão e os vigorosos entalhes dos cursos de água, responsáveis pelas vertentes íngremes (Zêzere, 1997). O profundo encaixe dos cursos de água cataclinais é responsável pelo desenvolvimento de vertentes com declive acentuado, que apresentam uma expressão 11 Breve contextualização da área de Fanhões-Trancão significativa na área apesar da altitude variar entre os 20 e os 316 m (Zêzere et al., 1999, 2005; Reis et al., 2003). A estrutura geológica da região em que se insere a esta a área de FanhõesTrancão, embora afectada por deformações anticlinais e sinclinais locais, é marcada por uma inclinação moderada (12º) dos estratos para sul e sudeste em direcção ao estuário do Tejo. A estrutura monoclinal alia-se à alternância de rochas de diferente dureza, permeabilidade e plasticidade, tais como conglomerados, arenitos, margas, calcários, calcários margosos, basaltos e tufos vulcânicos, com idades do Cretácico ao Paleogénico. Os calcários compactos sobressaem claramente na paisagem com importantes cornijas (Zêzere et al., 1999, 2005; Reis et al., 2003). Por outro lado, as intercalações de calcários e de calcários margosos nos afloramentos margosos criam cornijas secundárias nas vertentes mais declivosas. 2. Movimentos de vertente Os movimentos de vertentes inventariados por Zêzere (1997) e aqui considerados (fig. 2.1; quadro 2.1), constituem a mesma base de dados que foi usada nos demais estudos publicados e referidos anteriormente. Segundo Zêzere et al. (2005), a área de Fanhões-Trancão integra um total de 147 movimentos de vertente, responsáveis por 446 788 m2 de superfície instabilizada, distribuindo-se por 3 tipologias de deslizamentos: translacionais superficiais, translacionais profundos e rotacionais. Os deslizamentos translacionais superficiais são movimentos peliculares que afectam exclusivamente os coluviões que revestem as vertentes, ao longo de superfícies de ruptura planares, quase sempre localizados no contacto com o substrato rochoso impermeável (e.g. argilas, margas e tufos vulcânicos). Estes movimentos são os mais numerosos (100) mas apresentam dimensões reduzidas (área média de 1 422 m2). A área total instabilizada por este tipo de movimentos é de 142 172 m2. Os movimentos rotacionais ocorrem dominantemente no sector norte da área de Fanhões-Trancão e afectam vertentes com declives moderados a fortes, talhadas em 12 Breve contextualização da área de Fanhões-Trancão arenitos, margas e calcários margosos. Foram inventariados 21 movimentos que apresenta uma área média de 6 544 m2 e uma área total deslizada de 137 416 m2. Figura 2.1 – Distribuição dos movimentos de vertente na área de Fanhões-Trancão com base no Inventário de Zêzere, 1997 13 Breve contextualização da área de Fanhões-Trancão Quadro 2.1 – Inventário de movimentos de vertente na área de Fanhões-Trancão (Zêzere, 1997) Tipologia N.º de Eventos Área Instabilizada (m2) Translacionais superficiais 100 142 172 Rotacionais 21 137 416 Translacionais 26 167 200 Totais 147 446 788 Os movimentos translacionais (26) são, em média, um pouco mais pequenos que os rotacionais (área média de 6 430 m2), sendo responsáveis por uma área total instabilizada de 167 200 m2. Estes movimentos de vertente verificam-se quando existe, em simultâneo, uma alternância de bancadas de diferente permeabilidade e resistência ao corte (e.g. margas e argilas com intercalações de calcário e calcário margoso) e uma concordância sensível entre o declive das vertentes e o sentido de inclinação dos afloramentos rochosos. 3. Factores de predisposição a deslizamentos Os factores de predisposição considerados em diversos trabalhos para a avaliação da susceptibilidade na área de Fanhões-Trancão são: o declive, a exposição das vertentes, o perfil transversal das vertentes, as unidades litológicas, os depósitos superficiais, as unidades geomorfológicas e o uso do solo. Detalhes sobre as suas características podem ser encontrados em vários trabalhos, com destaque para: Reis et al. (2003); Zêzere et al. (2004); Zêzere et al. (2005); Zêzere (2007). A caracterização das variáveis independentes utilizadas nos modelos de avaliação da susceptibilidade anteriormente desenvolvidos na área de Fanhões-Trancão está sistematizada na figura 2.2. 14 Breve contextualização da área de Fanhões-Trancão Uso do solo Unidades geomorfológicas Depósitos superficiais Unidades litológicas Perfil transversal Exposição Declive Mapa temático Classes 0 - 5˚ ] 5 - 10˚] ] 10 - 15˚] ] 15 - 20˚] ] 20 - 25˚] ] 25 - 30˚] ] 30 - 40˚] > 40˚ Terreno plano N NE E SE S SW W NW Côncavo Rectilíneo Convexo Terreno plano Auto-estrada A9 (CREL) ID 1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 Arenitos e calcários Margas e calcários margosos Calcários com rudistas Basaltos e tufos vulcânicos Calcários lacustres Conglomerados e arenitos 1 2 3 4 5 6 Aluviões Coluviões com espessura < 0,5m Coluviões com espessura > 0,5m Escoada de detritos de S.J. Tojal Dep. terraço com textura fina Dep. terraço de cheia recente Dep. enchimento de valeiro Canal fluvial com erosão activa Planície aluvial Anverso de costeira Outras vertentes anaclinais Vertente cataclinal Vertente de vale Valeiro de fundo em U Terraço fluvial Superfície plana Pedreira Outas áreas antrópicas 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Coberto arbóreo Coberto arbustivo denso Coberto herbáceo Terrenos cultivados Espaço verde urbano Áreas urbanas e estradas 1 2 3 4 5 6 Fontes da informação Modelo Digital de Terreno (Pixel = 5 metros) Modelo Digital de Terreno (Pixel = 5 metros) Interpretação e vectorização sobre levantamento aerofotogramétrico na escala de 1:2000 Mapa geológico na escala de 1:50.000. Validação com interpretação de fotografia aérea e trabalho de campo Trabalho de campo com cartografia geomorfológica de pormenor (escala 1:2000) Trabalho de campo com cartografia geomorfológica de pormenor (escala 1:2000) Interpretação de ortofotomapa digital na escala de 1:10.000. Validação com trabalho de campo Figura 2.2 – Mapas temáticos utilizados na avaliação da susceptibilidade aos deslizamentos e respectivas fontes de informação para a área de Fanhões-Trancão Fonte: Zêzere, 2007 15 Breve contextualização da área de Fanhões-Trancão Os diferentes tipos de fontes, das 7 variáveis, foram utilizados na modelação, numa estrutura matricial com pixel de 5 m, com temas com um total de 798 109 pixels. 16 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Capitulo III. Movimentos de vertente e factores de predisposição 1. Terminologia e conceitos No âmbito da temática deste trabalho, a terminologia de base difundida internacionalmente é, essencialmente, anglo-saxónica e os principais esforços de sistematização terminológica e conceptual tiveram origem nos Estados Unidos da América e na Grã-Bretanha (Zêzere, 1997). Neste contexto destacam-se as obras de Varnes (1958; 1978) e Hutchinson (1968, 1988), que tiveram o objectivo de uniformizar a classificação dos movimentos de vertente. No entanto, pese embora a contribuição muito positiva do seu trabalho, ele não conduziu à desejada classificação universal de movimentos de vertente, estabelecida numa base conceptual bem definida. Esta dificuldade só foi resolvida na década de 90 do século XX, por acção do grupo de trabalho da UNESCO designado Working Party on World Landslide Inventory (WP/WLI), que propôs uma terminologia comum referente à morfologia, dimensões, actividade, distribuição e tipologia dos movimentos de vertente. Vários foram os autores que discutiram os conceitos de movimentos de massa e movimentos de vertente e as diferenças entre eles (e.g. Hutchinson, 1968, 1988; Varnes, 1978; Flageollet, 1989; Dikau et al., 1996; Cruden e Varnes, 1996; Zêzere, 1997). Conforme o esquema apresentado (fig. 3.1), neste trabalho seguem-se os autores que consideram os movimentos de massa como todos os movimentos que funcionam na dependência da gravidade, exceptuando aqueles em que o material é mobilizado por um agente de transporte, como o gelo, neve, água ou ar, designados por transporte em massa (Hutchinson, 1968). Figura 3.1 – Movimentos de vertente no âmbito dos movimentos de massa Fonte: Lopes, 2009 Neste contexto, os movimentos de vertente são uma classe de movimentos de massa, ao nível, por exemplo, dos movimentos de subsidência (e.g., abatimentos, assentamentos). 17 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Por movimento de vertente (landslide) entende-se um “movimento de descida numa vertente, de uma massa de rocha ou solo, em que o centro de gravidade do material afectado progride para jusante e para o exterior” (Terzaghi, 1952; Varnes, 1978; Cruden, 1991). Segundo a classificação apresentada por Varnes (1978), WP/WLI (1993) e Dikau et al. (1996), e sintetizado por Zêzere (1997), os movimentos de vertente englobam as seguintes tipos: - Desabamento; - Balançamento; - Deslizamento; - Expansão Lateral; - Escoada. Cada tipo de movimento distingue-se pelo mecanismo de ruptura e, adicionalmente, pelo tipo de material afectado. Cruden e Varnes (1996) consideram também a actividade, velocidade e conteúdo em água com critérios secundários de classificação. Importa clarificar, essencialmente, o termo deslizamento, pois é este tipo de movimento de vertente que se encontra na área de estudo e sobre a qual recai a atenção deste trabalho. Assim, deslizamento define-se como um movimento de solo ou rocha que ocorre predominantemente ao longo de planos de ruptura ou de zonas relativamente estreitas, alvo de intensa deformação tangencial (WP/WLI, 1993). A massa deslocada durante o movimento permanece em contacto com o material subjacente, não afectado. Consoante o tipo de deslizamento, o material deslocado apresenta graus de deformação variáveis. O tipo de ruptura tangencial e as características do material afectado constituem os principais critérios para a subdivisão dos deslizamentos em rotacionais e translacionais. Os deslizamentos rotacionais (fig. 3.2) ocorrem ao longo de superfícies de rupturas curvas, com forma côncava, e afectam geralmente terrenos homogéneos e isotrópicos. A topografia é característica: o movimento apresenta uma rotação que se materializa por um abatimento a montante e, consequentemente, por um levantamento 18 Movimentos de vertentes e factores de predisposição do seu sector frontal, formando frequentemente aclives pronunciados (Hutchinson, 1988). Os deslizamentos translacionais (fig. 3.3) ocorrem ao longo de superfícies de ruptura planares ou com uma ligeira ondulação; assim, a massa deslocada é com frequência evacuada para além da superfície de ruptura do movimento. O plano de deslizamento desenvolve-se ao longo de superfícies de fraqueza, marcadas por uma reduzida resistência ao corte, tais como falhas, planos de estratificação, diaclases ou o contacto entre uma cobertura detrítica e o substrato rochoso (Varnes, 1978). Figura 3.2 – Esquema de um deslizamento rotacional Fonte: Highland e Bobrowsky, 2008 Figura 3.3 – Esquema de um deslizamento translacional Fonte: Highland e Bobrowsky, 2008 Para as duas tipologias de movimentos de vertente apresentados, realça-se a utilização do termo superficial. Este é empregue quando a deslocação do material não afecta o substrato rochoso, ocorrendo apenas no depósito que regulariza a vertente e que apresenta uma espessura tipicamente compreendida entre 0,5 e 2 metros. Os movimentos de deslizamento superficial (translacional ou rotacional) estão relacionados, na maioria dos casos, com a abertura de taludes antrópicos e com a erosão lateral dos cursos de água (Garcia, 2002). 19 Movimentos de vertentes e factores de predisposição 2. Movimentos de vertente da área de estudo 2.1. Metodologia dos inventários Os movimentos de vertente da área de Lousa-Loures foram inventariados em dois períodos distintos. O inventário mais extenso e mais antigo foi realizado por Zêzere (1997), a partir de trabalho de campo efectuado entre Janeiro de 1992 e Novembro de 1993. A cartografia geomorfológica de pormenor foi elaborada sistematicamente no terreno e constituiu a metodologia fundamental no estudo deste tema na Região a Norte de Lisboa. Zêzere (1997) refere que o recurso a foto-interpretação foi relativamente reduzido, para isso contribuindo o tipo de fotografia aérea disponível, a uma escala máxima de 1:15 000 e correspondente a dois únicos momentos, muito próximos no tempo (Julho de 1982 e Dezembro de 1983). Adicionalmente, o autor chama a atenção para a reduzida dimensão da generalidade dos movimentos de vertente presentes na área estudada, associada a uma rápida destruição da sua morfologia interna por acção antrópica (Zêzere, 1997). A opção pela cartografia geomorfológica sistemática foi influenciada pela disponibilidade de uma documentação topográfica de base com qualidade, na escala de 1:2000. Esta cartografia apresentava uma equidistância de 5 m e correspondia, no essencial, à cartografia cadastral dos anos 50, do século XX, com grande rigor na divisão das propriedades que, segundo o autor, constituiu um elemento essencial para o posicionamento no terreno. O segundo período de inventariação de movimentos de vertente na área de estudo foi efectuado no âmbito desta dissertação, em 2009. A área foi totalmente verificada, com dois objectivos: obter uma nova base de dados com ocorrências posteriores a 1997, e perceber a evolução dos movimentos de vertente levantados por Zêzere (1997). O levantamento foi elaborado de modo intensivo durante uma semana por uma equipa constituída por 3 geomorfólogos, com vista a definir, com o máximo rigor, os limites dos movimentos de vertente e a respectiva tipologia. Refira-se que o inventário de 1997 era bastante mais completo, incluindo itens como a actividade e a idade dos movimentos de vertente, que não foram considerados no levantamento efectuado em 2009. Este facto justifica-se apenas pela falta de oportunidade em termos temporais num trabalho deste âmbito pois, para tal, seriam necessários inquéritos à população e um estudo aprofundado dos mesmos. 20 Movimentos de vertentes e factores de predisposição No levantamento efectuado no âmbito deste trabalho, o inventário foi efectuado com o recurso a fotografia aérea orto-rectificada (IGP, 2006), impressa à escala 1:2000, com sobreposição das curvas de nível com equidistância de 5 m e dos cursos de água. Todos os movimentos foram desenhados nas folhas de campo. Posteriormente, em gabinete, foram vectorizados em ambiente SIG e, através da área do polígono, verificou-se a área de cada movimento de vertente. Refira-se que não foram considerados neste trabalho os movimentos que possuíam uma área inferior a 25 m2, que correspondem essencialmente a eventos de talude. Este facto justifica-se pela utilização de um pixel de 5 m em todos os exercícios de modelação. 2.2. Tipologia e área afectada Como já foi referido anteriormente, o levantamento de campo efectuado no âmbito deste trabalho, teve como principal objectivo registar eventos ocorridos depois do levantamento efectuado por Zêzere (1997). O primeiro inventário (quadro 3.1; fig. 3.4) integra 118 movimentos de vertente a que correspondem 171 423 m2 de área instabilizada. Zêzere (1997) identificou movimentos dos tipos deslizamento rotacional, deslizamento translacional e deslizamento translacional superficial. Estes últimos, são claramente dominantes em frequência (69% do total) mas representam apenas 22% da área total instabilizada. Em contrapartida, 21 deslizamentos rotacionais (18% dos movimentos de vertente) são responsáveis por 50% da área total instabilizada na área de estudo, restando os 15 deslizamentos translacionais, que representam 28% da área instabilizada neste inventário. Quadro 3.1 – 1.º inventário de movimentos de vertente da área de Lousa – Loures (Zêzere, 1997) Tipologia N.º de Eventos Área Instabilizada (m2) Deslizamentos translacionais superficiais 82 37 099 Deslizamentos rotacionais 21 85 710 Deslizamentos translacionais 15 48 614 Totais 118 171 423 21 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Figura 3.4 – Distribuição espacial dos movimentos de vertentes do 1.º inventário de Zêzere (1997) O inventário efectuado em 2009 (quadro 3.2; fig. 3.5) contabiliza 43 movimentos dos tipos deslizamento rotacional (16% do total) e deslizamento translacional superficial (84%). Pese embora o desequilíbrio na frequência, verifica-se que os deslizamentos rotacionais são responsáveis por mais de metade (55%) da área total instabilizada. Os deslizamentos translacionais superficiais são, em grande parte, pequenos movimentos associados à abertura de taludes antrópicos ou relacionados com 22 Movimentos de vertentes e factores de predisposição a erosão dos cursos de água (fig. 3.6). Adicionalmente, destaca-se a ausência neste inventário de deslizamentos translacionais profundos, que representavam o tipo de movimento menos frequente no inventário de Zêzere (1997) (anexo I). Figura 3.5 – Distribuição espacial dos movimentos de vertente do 2.º inventário levantamento de 2009 23 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Quadro 3.2 – 2.º inventário de movimentos de vertente da área de Lousa – Loures (2009) Tipologia N.º de Eventos Área Instabilizada (m2) Deslizamentos translacionais superficiais 36 6 294 Deslizamentos rotacionais 7 7 763 Totais 43 14 057 Figura 3.6 – Deslizamento translacional superficial por erosão do curso de água em Lousa, 2009 A análise da área mínima, máxima e média dos movimentos de vertente que constituem os dois inventários (quadros 3.3 e 3.4) mostra que os deslizamentos translacionais são os movimentos de vertente que apresentam, em média, a dimensão mais elevada. Por outro lado, confirma-se a dimensão bastante reduzida dos deslizamentos translacionais superficiais. Os dados dos quadros 3.3 e 3.4 mostram ainda que os movimentos inventariados em 2009 têm uma dimensão marcadamente inferior aos seus equivalentes tipológicos presentes no inventário de 1997. Quadro 3.3 – Área (m2) dos movimentos de vertente do 1.º inventário (levantamento de Zêzere, 1997) Tipologia Mín Máx Média Rotacionais 238 12 147 4 265 Translacionais 237 48 615 8 116 Translacionais superficiais 65 3 151 480 24 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Quadro 3.4 – Área (m2) dos movimentos de vertente do 2.º inventário (levantamento 2009) Tipologia Mín Máx Média Rotacionais 26 5 241 1 109 Translacionais Superficiais 27 1 610 175 Agregando os dois inventários da área de Lousa-Loures verifica-se que existem 161 movimentos, o que perfaz uma densidade1 de 9,6 movimentos por km2, com um total de área instabilizada de 185 480 m2, ou seja, 1,1% da área total. 2.3. Evolução dos movimentos de vertente entre 1997 e 2009 Através do trabalho de campo efectuado em 2009, foi possível perceber a evolução dos movimentos de vertente inventariados em 1997. Esta análise tem que ter em conta que a área de estudo tem uma forte presença humana, com actividades agrícolas, essencialmente de subsistência e relacionadas com culturas de sequeiro e floresta; ou seja, é importante perceber que existem muitos casos em que os terrenos são regularizados, após a ocorrência de um movimento de vertente. Neste contexto, observou-se que, no que respeita às tipologias, os deslizamentos translacionais superficiais são os mais influenciados pelas intervenções antrópicas. Muitos destes movimentos ocorreram em taludes de estradas ou em terrenos agrícolas que, entretanto, sofreram intervenção, pelo que já não é perceptível a sua existência (fig. 3.7). Os movimentos de maiores dimensões e localizados mais distantes de estruturas e infraestruturas importantes encontram-se melhor conservados. Na figura 3.8 pode observar-se deslizamentos rotacionais (ocorridos antes de 1967, de acordo com Zêzere, 1997), que estão bem visíveis e preservados quanto aos seus limites e formas. 1 Densidade: N.º de movimentos/área de estudo em km2 25 Movimentos de vertentes e factores de predisposição A B Figura 3.7 – Exemplo de deslizamento translacional superficial em terrenos agrícolas A – Fotografia de Zêzere em 2007; B – Fotografia em 2009 Figura 3.8 - Exemplo de deslizamentos rotacionais, área Lousa-Loures (limites aproximados) 3. Factores de predisposição da instabilidade geomorfológica De acordo com Crozier e Glade (2005), em articulação com três estádios de estabilidade (estabilidade, estabilidade marginal e instabilidade activa): as causas dos movimentos de vertente podem dividir-se em: factores de predisposição, factores preparatórios e factores desencadeantes. Os factores de predisposição são estáticos e inerentes ao terreno (e.g. estrutura geológica, litologia, orientação das vertentes), condicionando o grau de instabilidade potencial da vertente e determinando a variação espacial do grau de susceptibilidade do território à instabilidade. Os factores preparatórios são dinâmicos (e.g. acção antrópica), promovendo o decréscimo na margem da estabilidade, mas sem iniciar o movimento. Os factores desencadeantes (e.g. precipitação intensa e/ou prolongada), como o próprio 26 Movimentos de vertentes e factores de predisposição nome indica, reapresentam a causa imediata da instabilidade, determinando o ritmo temporal dos movimentos de vertentes. Na sistematização apresentada por Popescu (1994), as características do terreno funcionam como factores de predisposição da instabilidade. Os processos geomorfológicos, físicos e antrópicos funcionam como mecanismo preparatório ou desencadeante da instabilidade (consoante a sua intensidade e duração, bem como o estádio prévio da estabilidade da vertente). Nesta abordagem, os factores de predisposição e os preparatórios constituem, em conjunto, os factores condicionantes. Neste trabalho, utiliza-se a designação factores de predisposição quando se abordam os factores de instabilidade geomorfológica. 3.1. Declive, forma e exposição das vertentes O declive, que corresponde ao ângulo de inclinação da superfície topográfica em relação ao plano horizontal (expresso em percentagem ou em graus) é de elevada importância na avaliação da susceptibilidade geomorfológica, uma vez que determina directamente as tensões tangenciais que se observam nas vertentes. A dificuldade na definição de limiares críticos absolutos é justificada pela interferência simultânea de outros factores, como por exemplo, a litologia, estrutura geológica e uso do solo, entre outros (Zêzere, 2005). A forma das vertentes, nomeadamente o seu perfil transversal, influencia a distribuição da água no solo. As concavidades topográficas são, assim, as áreas onde a saturação se atinge mais rapidamente, pois ali converge a escorrência superficial e o escoamento sub-superficial (Zêzere, 2005). A exposição das vertentes dá a percepção da insolação que as vertentes recebem. No hemisfério norte, as vertentes voltadas a sul estão mais expostas ao sol, logo recebem mais insolação (vertentes soalheiras) enquanto as vertentes a norte tem mais horas de sombra (vertentes soalheiras), podendo este facto, condicionar a existência de maior ou menor humidade nos solos. No entanto, numa região com um relevo de colinas, cuja altitude não excede os 330 metros, a exposição das vertentes não se traduz em singularidades climáticas relevantes, no que respeita à dinâmica das vertentes. No entanto, tendo em conta o dispositivo estrutural da geologia do substrato, a exposição das vertentes fornece de forma indirecta informação morfoestrutural relevante. 27 Movimentos de vertentes e factores de predisposição 3.2. Litologia O substrato rochoso condiciona fortemente a ocorrência de movimentos de vertente, determinando as propriedades de resistência friccional e coesiva. A litologia inclui a composição mineralógica, textura e outros atributos que influenciam o comportamento físico e químicos das rochas e dos solos. Estes atributos são muito importantes para a determinação da resistência ao corte, permeabilidade, susceptibilidade ao desgaste físico e químico dos solos e dos materiais rochosos que, por sua vez, afectam a estabilidade da vertente (Varnes, 1984). 3.3. Coberto vegetal e uso do solo O efeito da vegetação na estabilidade de uma vertente parece ser complexo, pois, depende de vários factores, e. g. do declive, das condições locais do solo, do tipo de vegetação existente e da profundidade atingida pelas raízes. Em função da diversidade de características, a presença de vegetação pode ser, nuns casos, favorável à estabilidade da vertente, e noutros funcionar em sentido oposto. É certo que, segundo Roxo (1988), a acção da vegetação é principalmente de protecção, sendo tanto maior quanto mais contínuo e espesso for o coberto vegetal. A mesma autora refere que a vegetação pode desempenhar vários tipos de acção no que respeita à erosão hídrica: atenua a acção mecânica da chuva (principalmente pelas folhas) e a acção da escorrência, uma vez que há aumento de infiltração e diminui a carga transportada pela água da escorrência (Roxo, 1988). O uso do solo é importante para a percepção das actividades que são desenvolvidas no mesmo, as quais podem condicionar, e mesmo desencadear, diferentes processos geomorfológicos. A este respeito, como já foi referido, os processos agrícolas e a ocupação humana são bastante relevantes na área em estudo. 3.4. Unidades geomorfológicas e depósitos superficiais Na perspectiva geomorfológica, os movimentos de vertente são estudados enquanto processos naturais que actuam na modelação da superfície topográfica, sendo que as causas, os modos de desenvolvimento e as formas resultantes são interpretadas no contexto na geodinâmica externa (Zêzere, 2005). Neste sentido, as características 28 Movimentos de vertentes e factores de predisposição geomorfológicas de um território têm de ser consideradas num mapa de zonamento da susceptibilidade de movimentos de vertente, tanto mais que as manifestações de instabilidade representam muitas vezes o principal processo da evolução de determinadas unidades geomorfológicas, como é o caso, por exemplo, dos anversos das costeiras. O conhecimento da tipologia e da extensão dos depósitos superficiais é muito importante para perceber a dinâmica geomorfológica associada aos movimentos de vertente. Por exemplo, a presença de coluviões (depósito de vertente superficial, geralmente pouco espesso) constitui um importante factor condicionante para os deslizamentos translacionais superficiais. 4. Pré-processamento das variáveis O procedimento de preparação das variáveis a utilizar na modelação teve por base um conjunto de informação que foi adquirida através de processos de vectorização e edição de informação cartográfica pré-existente (em formato analógico e digital), interpretação de ortofotomapas e trabalho de campo. Na primeira fase foi elaborado um Modelo Digital do Terreno (MDT) com base na carta topográfica de Portugal à escala 1:10 000 do Instituto Geográfico Português (IGP). Desta carta retirou-se informação linear e pontual, mais propriamente, curvas de nível (com equidistância de 5 m) e pontos cotados, tendo em vista a criação de uma rede irregular de triângulos (TIN – Triangular Irregular Network). O modelo TIN é o “mais utilizado para a modelação de superfícies contínuas em estruturas de dados vectoriais. Entre as diversas vantagens, destaca-se uma maior facilidade de representação de superfícies complexas e uma maior adequação para a representação tridimensional do relevo (Reis, 1996). Além disso, pode ser utilizado para gerar modelos numéricos em estrutura matricial, particularmente adequados para análise e modelação do terreno” (Reis, 2006: 104). O modelo TIN assume um papel importante nos estudos de Geografia Física em particular, nos estudos dos vários processos geomofológicos que ocorrem nas vertentes. Através dele, obtêm-se factores determinantes para a explicação dos mesmos, nomeadamente, a altitude, exposição das vertentes e características geomorfológicas, traduzidas através do declive, extensão e forma das vertentes (Reis, 2006). Contudo, o 29 Movimentos de vertentes e factores de predisposição processo de criação do TIN não é isento de erros, seja por deficiências na informação de base, seja pelo desempenho do algoritmo associado à interpolação de cotas. Deste modo, antes de o modelo ser utilizado para extrair outras variáveis, foi convertido para formato matricial e posteriormente foram aplicados diversos processos de correcção no módulo Hydrology (Spatial Analyst Tools) do programa ArcGis9.3, com o objectivo de rectificar possíveis deformações na representação dos fundos de vale e dos topos. Na passagem da estrutura vectorial (modelo de dados TIN) para a estrutura matricial foi adoptado um pixel de 5 m (células de 25 m2), considerado adequado aos dados utilizados e aos objectivos do trabalho. Trabalhos anteriores com objectivo, tipo de dados e dimensão da área de estudo análogos aos desta dissertação, empregaram a mesma dimensão de pixel (Garcia, 2002; Reis et al., 2003; Zêzere et al., 2004; Zêzere, et al., 2006). Esta opção é ainda justificada pelo erro de graficismo de 0,5 mm aceitável convencionalmente num mapa (Hengl, 2006). Ora numa carta à escala 1:10 000 o erro corresponde a 5 m na realidade, valor que aliás já se encontra expresso na equidistância das curvas de nível. Assim, a área de estudo constituí uma matriz de 675 114 pixels. O quadro 3.5 sistematiza o conjunto de variáveis e as classes correspondentes considerados como factores de predisposição da instabilidade geomorfológica neste trabalho. Quadro 3.5 – Variáveis e classes consideradas como factores de predisposição da instabilidade geomorfológica Variáveis Código Declive Exposição vertentes das D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 EV1 EV2 EV3 EV4 EV5 EV6 EV7 EV8 EV9 Classes 0 – 5º ]5 – 10º] ]10 - 15º] ]15 - 20º] ]20 - 25º] ]25 - 30º] ]30 - 40º] >40º Terreno plano N NE E SE S SW W NW Fontes de informação Modelo Digital de Terreno elaborado com base no MNT 10K do Instituto Geográfico Português (IGP) (Pixel 5m) Modelo Digital de Terreno elaborado com base no MNT 10K do Instituto Geográfico Português (IGP) (Pixel 5m) N.º de pixels 133 541 229 100 136 991 75 723 46 509 28 618 21 810 2 822 13 548 37 770 74 355 86 653 112 632 117 393 110 453 81 176 41 134 30 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Perfil transversal vertentes das Unidades litológicas Unidades geomorfológicas Depósitos superficiais Uso e ocupação do solo PTV1 PTV2 PTV3 PTV4 UL1 UL2 UL3 UL4 UL5 UG1 UG2 UG3 UG4 UG5 UG6 UG7 UG8 UG9 UG10 UG11 DS1 DS2 DS3 DS4 DS5 UOS1 UOS2 UOS3 UOS4 UOS5 UOS6 Côncavo Rectilíneo Convexo Terreno plano Arenitos e calcários Margas e calcários margosos Calcários com rudistas Basaltos e tufos vulcânicos Conglomerados e arenitos Planície aluvial Canal fluvial com erosão activa Pedreira Superfície plana Anverso de costeira Sinclinal alcandorado Vertente de vale Vertente cataclinal Valeiro de fundo em U Outras vertentes anaclinais Outras áreas antrópicas Aluviões Coluviões espessura <0,5 m Coluviões espessura >0,5 m Dep. de enchimento de valeiro Dep. terraço de cheia recente Coberto herbáceo Áreas urbanas e estradas Terrenos cultivados Coberto arbóreo Coberto arbustivo denso Espaço verde urbano Interpretação e vectorização sobre Carta Topográfica com equidistância de 5m. Carta Geológica. Instituto geológico (IG). Cartografia digital à escala 1:25 000, folhas 403 e 417 Zêzere, 1997 Zêzere, 1997 Interpretação; vectorização sobre ortofotomapa em cor natural, à escala 1:10000 (pixel de 0,5 m) do IGP e da Direcção Geral de Florestas de 2006 202 806 99 380 201 096 171 832 39 863 191 752 39 949 335 903 67 647 29 001 11 218 2 249 102 178 85 781 15 980 216 226 122 348 47 693 32 127 10 313 28 987 447 166 197 790 705 466 255 874 102 689 133 722 59 528 131 428 1 873 O mapa de declives, expresso em graus, foi elaborado directamente a partir do MDT e posteriormente reclassificado em 8 classes (fig. 3.9), adoptando o critério expresso no trabalho de Zêzere (1997). Esta divisão justifica-se por já ter sido testada, com bons resultados, no estudo de movimentos de vertente para uma área com características idênticas (Reis et al., 2003; Zêzere et al., 2004). 31 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Figura 3.9 – Representação espacial e área ocupada pela variável declives A exposição das vertentes foi, também, directamente derivada do MDT. Esta variável representa o ângulo entre o norte geográfico e um plano horizontal de um determinado ponto (Zêzere et al., 2004), classificado pelas orientações. Adicionalmente, 32 Movimentos de vertentes e factores de predisposição este tema inclui a classe “Terreno plano”, equivalente a um declive de exactamente 0 graus (fig. 3.10). Figura 3.10 - Representação espacial e área ocupada pela variável exposição de vertentes O mapa do perfil transversal das vertentes foi elaborado com base na carta altimétrica, à escala 1:10 000. As formas das vertentes foram vectorizadas, classificadas, e convertidas para estrutura matricial. Justifica-se o recurso a este 33 Movimentos de vertentes e factores de predisposição processo de classificação, moroso e de elevado pormenor, pelo facto de através de um processo computacional não se conseguir obter o grau de pormenor pretendido (fig. 3.11). Figura 3.11 – Representação espacial e área ocupada pela variável perfil transversal das vertentes As unidades litológicas foram obtidas através da Carta Geológica à escala 1:25 000 (Folhas 403 e 417) em formato digital. Para uniformizar a informação e torná- 34 Movimentos de vertentes e factores de predisposição la comparável com os dados da área de Trancão-Fanhões, foi necessário que das unidades geológicas existentes na área de Lousa-Loures, resultassem apenas 5 classes (quadro 3.6). Estas foram agrupadas segundo o trabalho de Zêzere (1997); no entanto, a base utilizada nesse trabalho tinha uma escala de 1:50 000, pelo que houve necessidade de efectuar uma maior generalização de informação (fig. 3.12). Assim, as classes geológicas foram agrupadas da seguinte forma (quadro 3.6): Quadro 3.6 – Integração das classes litológicas Classes litológicas Margas e calcários margosos Arenitos e calcários Basaltos e tufos vulcânicos Calcários com rudistas Conglomerados e arenitos Geologia - Formação de Caneças: calcários e arenitos (Belasiano) - Formação de Cresmina: calcários e margas - Formação de Regatão: arenitos, pelitos e dolomitos - Formação do Rodízio: pelitos, arenitos e conglomerados - Complexo vulcânico de Lisboa - Filões e massas de basalto - Filões e massa de riolito - Filões e massas de Traquito - Formação da Bica: calcários com rudistas (inclui o nível com Neolobites vibrayeanus) - Formação de Benfica: conglomerados, arenitos e argilitos 35 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Figura 3.12 – Representação espacial e área ocupada pela variável unidades litológicas O mapa de uso e ocupação do solo classifica os diferentes tipos de vegetação e ocupação humana (fig. 3.13). Esta classificação tem em conta as características que se crê influenciarem a estabilidade das vertentes na área em estudo. Tem em conta a densidade e o tamanho da cobertura vegetal, sendo que a raiz é também considerada como factor de estabilidade. As áreas urbanas e as que sofreram forte intervenção humana também foram consideradas 36 Movimentos de vertentes e factores de predisposição Esta carta foi elaborada, através de interpretação e vectorização de ortofotomapas digitais obtidos em 2006 com pixel de 0,5 m. Esta metodologia pode originar erros pelo facto de, entre 2006 e a data da delimitação dos polígonos, o uso do solo poder ter mudado. Contudo, assume-se que no período decorrente entre os dois períodos, as possíveis mudanças no uso e ocupação do solo, não alterou substancialmente os factores que possam modificar as condições de instabilidade geomorfológica. Figura 3.13 – Distribuição espacial e área ocupada pela variável uso e ocupação do solo 37 Movimentos de vertentes e factores de predisposição O mapa dos depósitos superficiais é de extrema importância para um estudo de movimentos de vertente, mais especificamente, em movimentos superficiais. Este mapa foi elaborado com base num levantamento à escala 1:2 000, realizado por Zêzere (1997), vectorizado e, posteriormente, transformado numa estrutura matricial (fig. 3.14). Neste levantamento, o referido autor deu especial importância à profundidade dos coluviões, sendo a estimativa de profundidade efectuada no campo, com o limite crítico considerado aos 0,5 m. Figura 3.14 – Distribuição espacial e área ocupada pela variável depósitos superficiais 38 Movimentos de vertentes e factores de predisposição O mapa das unidades geomorfológicas tem também, como base, o levantamento de campo à escala 1:2 000 e o correspondente mapa geomorfológico apresentado por Zêzere (1997). À semelhança do mapa anterior, este tema foi vectorizado e, posteriormente, transformado em estrutura matricial (fig 3.15). Figura 3.15 – Distribuição espacial e área ocupada pela variável unidades geomorfológicas Os mapas apresentados com a espacialização dos factores de predisposição constituem assim, as variáveis independentes na avaliação da susceptibilidade a deslizamentos na área de Lousa-Loures. 39 Metodologia Capítulo IV. Metodologia 1. Modelo conceptual do Risco Num estudo de susceptibilidade a movimentos de vertente é importante definir os conceitos base que integram o modelo conceptual do risco. Neste trabalho adopta-se o modelo mais divulgado a nível internacional no estudo dos riscos associados aos movimentos de vertente, que foi sistematizado por Varnes (1984), no âmbito do Programa de Ciências da Terra da UNESCO. Assim, define-se Perigosidade (hazard) como a probabilidade de ocorrência de um fenómeno [movimento de vertente] potencialmente destruidor, num determinado período de tempo e numa dada área. Vulnerabilidade (vulnerability) é tida como o grau de perda de um dado elemento ou conjunto de elementos em risco (e.g. populações, propriedades, actividades económicas), em resultado da ocorrência de uma manifestação de instabilidade de determinada magnitude. Risco (risk) exprime a possibilidade da ocorrência de consequências gravosas, económicas ou para a segurança das pessoas, em resultado do desencadeamento de um fenómeno natural ou induzido pela actividade antrópica (Varnes, 1984, Leroi, 1996; Einstein, 1997; Guzzetti, 2000; Cardinali et al., 2002; Crozier e Glade, 2005). Guzzetti et al. (1999) referem que a avaliação da perigosidade implica a antecipação do comportamento dos movimentos de vertente que vão ocorrer no futuro, respondendo a três questões fundamentais, numa base probabilística: Onde vão ocorrer os futuros movimentos? Quando vão ocorrer esses movimentos? Qual é o seu potencial de destruição? (noções de distribuição espacial, recorrência temporal, e de intensidade ou magnitude, respectivamente). Com base na aplicação prospectiva do Princípio do Uniformitarismo1, Varnes (1984) e Hutchinson (1995) definem três princípios fundamentais para a avaliação da perigosidade geomorfológica na escala regional: 1 O Uniformitarismo, na filosofia da ciência, é o pressuposto de que os processos naturais que operaram no passado são os mesmos que podem ser observados em funcionamento no presente. O seu significado é frequentemente resumido na expressão: “O presente é a chave para o passado”. A sua aplicação na predição de riscos é demonstrada pela expressão “O passado e o presente são as chaves para o futuro”. 40 Metodologia (i) os movimentos de vertente já ocorridos num território podem ser reconhecidos, classificados e cartografados; (ii) as condições que determinam os movimentos, podem ser identificadas, registadas e utilizadas para construir modelos preditivos; (iii) a ocorrência de futuros movimentos de vertente pode ser predita, no espaço e no tempo, possibilitando o zonamento do território em classes de perigosidade hierarquizadas. Actualmente, é consensual que o estudo da perigosidade geomorfológica integra dois aspectos que se complementam, embora distintos (Zêzere et al., 2004). Por um lado, a avaliação da susceptibilidade, que é entendida como a propensão do território à ocorrência de um tipo particular de movimento de vertente, com base nos factores de predisposição da instabilidade; e por outro, a probabilidade de ocorrência do movimento de vertente, muitas vezes determinada de modo indirecto através da avaliação da probabilidade do evento desencadeador, como por exemplo, uma precipitação intensa ou um sismo (Zêzere, 2007). Neste sentido, realçando a ideia inicial que se aplica a este estudo, a avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente integra cinco etapas fundamentais, independentemente das várias metodologias de análise (Gueremy, 1984; Asté, 1991; Carrara, 1993; Soeters e Van Westen, 1996): (i) inventário, análise e cartografia dos movimentos de vertente já verificados no território; (ii) caracterização do contexto geológico e geomorfológico; (iii) identificação e cartografia dos factores de predisposição responsáveis pelo aparecimento ou aceleração dos movimentos; (iv) avaliação do contributo relativo de cada factor de predisposição com recurso a modelos de correlação espacial; (v) classificação da área de estudo em zonas distintas em relação aos graus de susceptibilidade. 41 Metodologia 2. Métodos de avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente na escala regional A avaliação da propensão de um território à ocorrência de movimentos de vertente pode ser efectuada através de métodos de cartografia directa e indirecta (Guzzetti et al., 1999) (fig. 4.1). Figura 4.1 – Métodos cartográficos de avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente na escala regional O método de cartografia directa, ou método geomorfológico, baseia-se na análise dos efeitos da instabilidade, sendo que os resultados obtidos são subjectivos, pois dependem bastante da experiência do geomorfólogo que efectuou o inventário de instabilidade e o zonamento da susceptibilidade (Zêzere, 2007). Adicionalmente, os mapas de susceptibilidade produzidos com este método são dificilmente validáveis a curto prazo, uma vez que para tal é necessária a ocorrência de novos eventos de instabilidade. Os métodos de cartografia indirecta baseiam-se nos factores que condicionam os movimentos de vertente e a sua localização; ou seja, através destes métodos a subjectividade do geomorfólogo é reduzida, uma vez que são normalizadas técnicas de aquisição, procedimento, análise e representação da informação (Carrara, 1993), possibilitando a construção de modelos (determinísticos, heurísticos ou estatísticos). A ponderação dos factores que condicionam a instabilidade é obtida através da sua 42 Metodologia representação cartográfica e da análise das suas relações com a distribuição espacial dos movimentos de vertente. Segundo Guzzetti (2005), esta operação é realizada sobre unidades cartográficas definidas a priori (unidades matriciais, unidades de condição única, unidades geológico-geomorfológicas, unidades morfo-hidrológicas ou unidades topográficas), sobre as quais são aplicados os modelos preditivos. Os modelos determinísticos baseiam-se em leis físicas e mecânicas como a conservação da massa e energia ou o equilíbrio das forças. Estes parâmetros podem ser utilizados para a extrapolação espacial, desde que seja conhecida a variação espacial dos parâmetros necessários ao seu funcionamento (Zêzere, 2005). Os principais inconvenientes dos modelos determinísticos residem na limitação da sua aplicação a teremos homogéneos e a movimentos de vertente simples. A indexação pressupõe a atribuição subjectiva de scores a um conjunto de factores de instabilidade passíveis de representação cartográfica através do conhecimento geomorfológico da área em questão (Soeters e Van Westen, 1996 in Zêzere, 1997). Os modelos de base estatística podem ser bivariados ou multivariados. Os factores que condicionaram a instabilidade passada e presente são relacionados com os movimentos de vertente, obtendo-se uma função paramétrica empírica que possibilita a predição quantitativa da susceptibilidade na totalidade do território em estudo, mesmo nas áreas ainda não estabilizadas (Zêzere, 1997, 2005). As avaliações de susceptibilidade efectuadas nesta dissertação recorrem à utilização do método estatístico bivariado do Valor Informativo. O Método do Valor Informativo (Information Value Method) é uma técnica introduzida por autores chineses (Yan, 1988; Yin e Yan, 1988) na avaliação do perigo de ocorrência dos movimentos de vertente. É um método bivariado que descreve quantitativamente, sob forma de scores as relações existentes entre cada uma das classes de cada variável e os movimentos de vertente. Yan (1988) considera-o um método simples e generalista, apontado como ideal para predições espaciais de média escala. O método pressupõe a definição prévia de unidades de terreno e a tomada em consideração de um conjunto de factores de instabilidade (classes de cada variável), 43 Metodologia sendo os respectivos Valores Informativos determinados a partir da seguinte relação (Yin e Yan, 1988): Ii = log Si / Ni S/N [1.1] Sendo: Ii - Valor Informativo da variável i; Si - Número de unidades de terreno com movimentos de tipo y e com a presença da variável i; Ni - Número de unidade de terreno com a presença da variável i; S - Número total de unidades de terreno com movimentos de vertente; N - Número total de unidades de terreno na área de estudo. Segundo Yin e Yan (1988), quando o valor de Ii é negativo, considera-se que o factor em questão não é determinante no desenvolvimento dos movimentos de vertente. Os resultados positivos indicam uma relação entre a presença do factor e a presença de instabilidade, sendo esta tanto mais acentuada quanto maior for o score de Valor Informativo (Yan, 1988). O Valor Informativo de uma unidade de terreno j, indispensável para a cartografia, é determinado através da fórmula: n Ij = ∑ Xji.Ii i =1 [1.2] Sendo: Ij – valor informativo da unidade de terreno; n - número de variáveis; Xji - 0, se a variável não está presente na unidade de terreno e 1 na situação contrária. 44 Metodologia A susceptibilidade das unidades de terreno à ocorrência de um determinado tipo de movimento de vertente varia, assim, na relação directa do respectivo valor informativo total, Ij. O método permite a obtenção de scores de susceptibilidade, mesmo de unidades de terrenos que ainda não foram afectados por movimentos de vertente. Cada factor de instabilidade é cruzado com a distribuição de movimentos de vertente, de onde resultam scores para cada classe de cada variável. Deste modo, a correlação entre variáveis de entrada no modelo não é tida em conta, o que, segundo Zêzere (2002), é talvez a falha mais significativa do método do Valor Informativo. 3. Modelo metodológico de avaliação da susceptibilidade geomorfológica na área de Lousa-Loures A figura 4.2 sistematiza os principais procedimentos metodológicos utilizados no presente trabalho. Tendo em conta a similaridade geológica e geomorfológica existente entre as áreas de Fanhões-Trancão e Lousa-Loures, partiu-se do conhecimento prévio da instabilidade geomorfológica na área inicialmente referida (área modelo), comprovada em diversos estudos científicos (Zêzere, 1997; Zêzere et al., 1999; Reis et al., 2003; Zêzere et al., 2004). Paralelamente, a disponibilidade de um inventário dos movimentos de vertente para a área de Lousa-Loures permitiu a avaliação da susceptibilidade na área teste, utilizando dois tipos de abordagem: (i) importação de índices dos susceptibilidade determinados na área de Fanhões-Trancão e sua aplicação na área Lousa-Loures; (ii) cálculo dos índices de susceptibilidade com base nos dados da área de teste, com o objectivo de comparação e discussão dos resultados (fig. 4.2). 45 Metodologia Figura 4.2 – Organização metodológica do processo de avaliação da susceptibilidade a movimentos de vertente na área de Lousa-Loures O exercício de avaliação, validação e classificação da susceptibilidade aos movimentos de vertente que se desenvolveu para a área modelo é refeito neste trabalho com recurso ao método estatístico do Valor Informativo. A tipologia e classificação das bases cartográficas das variáveis de predisposição e dos movimentos de vertentes são idênticas às que foram utilizadas em trabalhos anteriores para a área de FanhõesTrancão (e.g. Zêzere et al., 2004). Para a prossecução do objectivo principal, foi necessário preparar para a área de teste o mesmo conjunto de informação disponível para a área modelo. Tornou-se 46 Metodologia necessário que os factores de predisposição considerados fossem os mesmos e que as classes fossem coincidentes, para que assim pudesse ser avaliada a sua concordância (conforme descrição no capítulo anterior). Os factores de predisposição para a instabilidade geomorfológica assumidos como capazes de predizer a distribuição espacial dos movimentos de vertente foram: o declive, a exposição, o perfil transversal das vertentes, as unidades litológicas, os depósitos superficiais, as unidades geomorfológicas e o uso e ocupação do solo. Estes factores perfazem um total de 52 e 48 classes, nas áreas modelo e de teste, respectivamente, constituindo, assim, as variáveis independentes dos modelos. Como é evidente, as classes que ocorrem numa única área não foram consideradas no processo de transportação dos scores de susceptibilidade da área modelo para a área de teste. Os deslizamentos inventariados nas duas áreas por Zêzere (1997) constituem a variável dependente nos modelos de susceptibilidade. É através destes inventários que é feita a relação entre a área afectada por movimentos de vertente e a área total. O objectivo principal deste trabalho consiste na avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente na área de Lousa-Loures, através da integração de dados obtidos pelo cruzamento das variáveis com os movimentos de vertente de Lousa-Loures, mas também testando a integração de dados obtidos para a área modelo e aplicados à área teste. Em suma, a metodologia é aplicada com o objectivo de testar como se comportam os modelos estatísticos na obtenção de mapas de susceptibilidade, quando as características geológicas, geomorfológicas e os restantes factores de predisposição são similares, assim como os eventos de instabilidade. A validação dos resultados é sustentada pelo cruzamento dos mapas de susceptibilidade com a distribuição dos movimentos de vertente, sendo determinados os graus de ajuste entre os dados e os modelos (taxa de sucesso) e a respectiva capacidade preditiva (taxa de predição). No caso das taxas de sucesso, o mapa de susceptibilidade é cruzado e validado com os movimentos de vertente que foram utilizados para construir o modelo preditivo. No caso das taxas de predição, o mapa de susceptibilidade é cruzado e validado com uma amostra de movimentos de vertente independente, não considerada na construção do modelo preditivo. Implica a partição inicial da base de dados de movimentos de vertente, que pode ter por base um critério temporal, espacial, ou aleatório, sendo que o primeiro subconjunto de movimentos de vertente é utilizado para construir o modelo de 47 Metodologia predição, que é validado a partir do cruzamento com movimentos de vertente do segundo subconjunto (Zêzere, 2004). Para a construção das curvas é necessário calcular dois rácios, através das seguintes fórmulas (Fabbri et al., 2002; Garcia, 2007): Rácio1 = Us .100 Ut [1.3] Rácio2 = Ums .100 Um [1.4] Sendo: Us – Unidades de terreno seleccionadas Ut – Número de unidades da área em estudo Ums – Número de unidades seleccionadas com movimentos Um – Número total de unidades instabilizadas na área estudada Assim, através da análise do gráfico que representa as respectivas curvas pode constatar-se a que percentagem de área de estudo se consegue justificar determinada percentagem dos movimentos. Através da determinação da taxa de sucesso e da taxa de predição de um modelo é possível “predizer” onde vão ocorrer os futuros movimentos de vertente numa base probabilística; ou seja, podem ser estabelecidas probabilidades empíricas para as diferentes classes de susceptibilidades, assumindo que o comportamento dos futuros movimentos na área estudada será similar ao verificado anteriormente, se os factores de predisposição se mantiverem. Após a construção das respectivas curvas de sucesso e predição é calculada a Área Abaixo da Curva (AAC) de acordo com Gorservski et al. (2000) e com Bi e Bennett (2003) [eq. 1.5] que demonstra a qualidade preditiva global do modelo gerado; traduzida em valores entre 0 e 1. n ai + bi ⎤ ⎡ AAC = ∑ ⎢( Lsi − Li ). 2 ⎥⎦ i =1 ⎣ [1.5] 48 Metodologia Sendo: (Lsi-Li) – Amplitude da classe; ai – Valor da ordenada correspondente a Li; bi – Valor da ordenada correspondente a Lsi. A disponibilidade de um inventário de movimentos de vertente para a área de Lousa-Loures produzido em 2009 permite testar a capacidade preditiva do modelo de susceptibilidade construído com base nos movimentos de vertente do inventário realizado em 1997. Com efeito, a existência de um intervalo de 12 anos entre os dois inventários, configura um método de partição de dados temporal e permite aferir a capacidade preditiva do modelo através do cálculo da respectiva taxa de predição. Por fim, importa salientar que o método de divisão das classes de susceptibilidade escolhido focou-se no objectivo de que os mapas de susceptibilidade pudessem ser facilmente comparados entre si. Segundo Chung e Fabbri (2003) para que a comparação de mapas de susceptibilidade seja possível, é necessário que o número de pixels em classes equivalentes seja igual. Assim, as classes de susceptibilidade são sempre definidas correspondendo a uma determinada fracção da área total em estudo. Com o objectivo de determinar a importância dos diferentes factores de predisposição que foram utilizados para a elaboração dos modelos de susceptibilidade, é aplicada uma análise sensitiva. De acordo com Zêzere et al. (2005), as diferentes variáveis consideradas podem apresentar taxas de sucesso distintas que reflectem condicionalismos desiguais sobre a instabilidade geomorfológica; e a importância relativa de um factor particular pode ser bastante distinta consoante o tipo de deslizamento. Desde modo, é calculada a AAC para cada variável do modelo (factor de predisposição) isoladamente e os resultados obtidos são ordenados hierarquicamente, permitindo comparar a importância relativa de cada factor. A hierarquia é respeitada na continuação da análise sensitiva, que passa a ser efectuada, de um modo sistemático, através da introdução de uma nova variável no modelo de susceptibilidade em questão. Para cada modelo assim obtido é calculada a AAC, com o objectivo de perceber qual a combinação de variáveis que obtém melhor capacidade preditiva (Zêzere et al., 2005, 2008). 49 Metodologia 4. Procedimentos e problemática da integração de dados Numa óptica de integração de dados em sistemas computacionais, a metodologia adoptada passa pela concretização de passos essenciais, definidos por Reis et al., (2003), e que vão ao encontro com os seguidos neste trabalho: - a preparação de uma base de dados relacional para processamento em SIG, de forma a estabelecer a relação entre os atributos dos deslizamentos e o conjunto de temas cartográficos (variáveis independentes) a utilizar no modelo estatístico; - o uso de scores obtidos através da integração dos dados espaciais, pelo Método do Valor Informativo, apoiada num SIG, para a obtenção de mapas de susceptibilidade à ocorrência de deslizamentos; - a avaliação quantitativa dos resultados obtidos, de forma a validar e a calcular a capacidade preditiva dos modelos de susceptibilidade. A figura 4.3 representa procedimentos metodológicos de integração de dados efectuados no âmbito deste trabalho. As variáveis independentes de entrada na área modelo foram adquiridas em vários trabalhos referenciados no Capítulo II, em formato matricial. As variáveis consideradas na área teste foram adquiridas no âmbito desta dissertação, conforme descrição no ponto 4.2 do Capítulo III. Importa referir que os procedimentos descritos na figura 4.3. foram realizados separadamente para as três tipologias de movimentos em estudo (deslizamentos translacionais superficiais, deslizamentos rotacionais e deslizamentos translacionais). O procedimento de integração de dados atrás referido pressupõe que as variáveis criadas para a área de Lousa-Loures, à semelhança das que foram utilizadas para a área de Fanhões-Trancão, apresentem uma estrutura de dados espacialmente contínuos, ou seja, que cubram a totalidade da área estudada. Neste sentido, não existem áreas que não contenham informação. Esta condição permite que toda a área seja abrangida por resultados finais, pois as lacunas espaciais para uma variável implicariam a inexistência de resultados nessa área. Adicionalmente, o valor associado às variáveis é interpretado como informação nominal. O facto de os dados serem nominais permite que informação de natureza diversa possa ser tratada de igual forma. 50 Metodologia Figura 4.3 – Esquema de procedimentos metodológicos O método de integração é o mesmo e o processamento é feito da mesma forma para a obtenção dos modelos finais de susceptibilidade a movimentos de vertente. 51 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Capítulo V. Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente A avaliação da susceptibilidade a movimentos de vertente baseia-se, no essencial, no cruzamento dos movimentos de vertente com um conjunto de factores de predisposição para a instabilidade geomorfológica. Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos pela aplicação da metodologia descrita no Capítulo IV. 1. Correlação entre variáveis O quadro 5.1 representa os coeficientes de correlação de Pearson das 7 variáveis em estudo, para a área teste de Lousa-Loures e para a área modelo de Fanhões-Trancão. O coeficiente de correlação de Pearson, utilizado em variáveis com dados nominais, pode oscilar entre -1 (correlação negativa perfeita) e 1 (correlação positiva perfeita). O valor 0 indica a inexistência de correlação entre as variáveis. As correlações positivas mais elevadas entre variáveis estão assinaladas a vermelho no quadro 5.1. Na área de Lousa-Loures, destaca-se o declive que apresenta correlação de r = 0,26 e r = 0,40 com os depósitos superficiais e com o perfil transversal das vertentes, respectivamente. As unidades geomorfológicas correlacionam-se positivamente com todos os outros factores de predisposição, realçando-se os valores da correlação com os depósitos superficiais (r = 0,42) e com o perfil transversal das vertentes (r = 0,46). Na área modelo de Fanhões-Trancão, à semelhança do observado na área teste, destaca-se a correlação entre o declive e o perfil transversal das vertentes, com um dos valores com correlação positiva mais alta (r = 30). Igualmente com valor positivo, realça-se a correlação entre os depósitos superficiais e as unidades geomorfológicas (r = 0,27). As correlações negativas mais elevadas entre variáveis estão assinaladas a azul no quadro 5.1 Na área de Lousa-Loures destaca-se a relação negativa das unidades litológicas com o declive (r = -0,43), enquanto na área de Fanhões-Trancão a correlação negativa mais expressiva observa-se entre as unidades geomorfológicas e o perfil transversal das vertentes (r = -0,21). 52 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Variáveis D D DS 0,26 EV -0,01 UL -0,43 PTV 0,40 UG 0,11 UOS 0,17 0,10 -0,16 0,17 0,42 -0,09 0,04 0,05 0,17 -0,02 -0,17 0,07 -0,03 0,46 0,07 DS 0,06 EV -0,05 0,02 UL 0,03 0,09 0,01 PTV 0,30 -0,06 -0,10 0,00 UG -0,12 0,27 0,07 -0,07 -0,21 UOS 0,01 -0,02 0,06 0,09 0,05 -0,04 Lousa-Loures p < 0,005 N=675114 Quadro 5.1 – Coeficientes de correlação de Pearson dos factores de predisposição à ocorrência de movimentos de vertente nas áreas de Lousa-Loures e Fanhões-Trancão -0,12 Fanhões-Trancão p < 0,005 N=798109 Nos dados apresentados no quadro 5.1 realçam-se os valores de correlação entre variáveis generalizadamente baixos, sendo que o coeficiente de correlação nunca é superior a 0,50, o que denuncia a inexistência de fortes correlações. Num estudo deste âmbito, a fraca correlação entre as variáveis é um bom indicador, uma vez que se pretende que os factores de predisposição da instabilidade das vertentes sejam independentes entre si. A ocorrência de um elevado grau de correlação entre as variáveis resultaria na introdução de redundância nos modelos de susceptibilidade, que poderiam ver, assim, os seus resultados distorcidos (Thierry et al., 2007). Em conformidade, Thierry et al., (2007) aconselham, nos casos de redundância confirmada, à eliminação da variável redundante no modelo. 2. Valores Informativos das variáveis Os quadros 5.2 e 5.3 apresentam, respectivamente, os resultados do Valor Informativo (VI) para a área de Lousa-Loures e Fanhões-Trancão, calculado por cada classe de cada variável. O método foi desenvolvido para um conjunto de movimentos de vertentes de três tipologias, anteriormente descritas: deslizamentos translacionais superficiais (82 e 100 casos, respectivamente nas áreas de Lousa-Loures e Fanhões-Trancão); deslizamentos rotacionais (21 casos em ambas as áreas); e deslizamentos translacionais 53 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente (15 e 26 casos, respectivamente nas áreas de Lousa-Loures e Fanhões-Trancão). Os cálculos detalhados para a área de Lousa-Loures são apresentados no anexo II. Devido à transformação logarítmica inerente ao método do Valor Informativo, não é possível determinar os scores das classes das variáveis que não registem ocorrência de deslizamentos. Nestes casos, foi atribuído à classe o VI mínimo registado na respectiva tipologia de deslizamentos (assinalado com cor vermelha nos quadros 5.2 e 5.3). Assim, na área de Lousa-Loures, para os deslizamentos translacionais superficiais, o valor mínimo é de -3,736, correspondendo à classe 1 de declive (0-5°). Esta classe é, igualmente, a que regista o VI mais baixo (-4,568) no caso dos deslizamentos translacionais. Nos deslizamentos rotacionais o valor mínimo é de -1,749, observando-se na classe 5 da variável exposição de vertentes (SE). Na área modelo de Fanhões-Trancão os VI mais baixos ocorrem na classe DS6 (depósito de terraço cheia recente) da variável “depósitos superficiais” nos deslizamentos translacionais, com -2,757. Nos deslizamentos translacionais superficiais o VI mais baixo observa-se na variável “perfil transversal das vertentes”, na classe TPV4 (terreno plano), com -4,901. O VI mais baixo nos deslizamentos rotacionais verificou-se na variável “exposição das vertentes” na classe terreno plano, com -4,335. O VI de cada variável considerado para a elaboração dos mapas de susceptibilidade é apresentado nos quadros 5.2 e 5.3. A leitura do significado de cada VI expresso nos referidos quadros vai no sentido de quanto mais alto for o valor mais influência a variável tem na explicação da ocorrência espacial dos deslizamentos. Quando o VI de uma variável é negativo, significa que existe uma relação negativa com a ocorrência de instabilidade; por outras palavras, um VI negativo elevado é indicador de estabilidade nas vertentes. O VI igual a 0 é indicador de ausência de relação da variável em questão com a ocorrência de deslizamentos. 54 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Quadro 5.2 – Scores do Valor Informativo da área de Lousa-Loures Tipologia de movimentos de vertente – Deslizamentos Depósitos superf, Unidades geomorfológicas Unidades litológicas Perfil transversal Exposição das vertentes Declive (º) Classes Código Transl. Superficiais Rotacionais Translacionais 0-5 D1 -3,736 -1,172 -4,568 ]5-10] D2 -1,521 -0,926 -0,636 ]10-15] D3 0,003 -0,003 0,051 ]15-20] D4 0,520 0,706 0,973 ]20-25] D5 0,784 0,835 0,885 ]25-30] D6 1,314 0,909 0,454 ]30-40] D7 1,714 1,037 0,645 > 40 D8 2,286 1,552 1,122 Terreno plano EV1 -3,736 -0,904 -4,568 N EV2 1,380 0,850 -4,568 NE EV3 0,464 -0,164 0,349 E EV4 -0,150 0,651 0,148 SE EV5 -0,370 -1,749 -0,849 S EV6 -0,670 -1,248 -0,162 SW EV7 -0,602 -0,405 1,017 W EV8 0,369 0,657 -1,628 NW EV9 -0,920 Concavo Rectilíneo PTV1 ,279 0,508 0,507 PTV2 0,595 -0,388 -4,568 0,064 0,566 Convexo PTV3 0,061 -0,005 0,332 Terreno plano PTV4 -2,567 -0,885 -3,904 Arenitos e calcários UL1 -1,215 -1,749 -4,568 Margas e calcários margosos UL2 0,622 1,012 0,847 Calcários com rudistas UL3 -3,736 -0,465 -4,568 Basaltos e tufos vulcânicos UL4 -0,093 -1,010 -0,388 Conglomerados e arenitos UL5 -3,736 -1,749 -4,568 Planície aluvial UG1 -3,736 -1,749 -4,568 Canal fluvial erosão activa UG2 1,202 1,034 0,019 Pedreira UG3 -3,736 -1,749 -4,568 Superfície plana UG4 -2,581 -0,877 -4,568 Anverso de costeira UG5 1,009 0,905 -4,568 Sinclinal alcandorado UG6 -3,736 -1,749 -4,568 Vertente de vale UG7 0,290 0,446 0,940 Vertente cataclinal UG8 -0,735 -1,233 -1,723 Valeiro de fundo em U UG9 -1,097 -1,113 -4,568 Outras vertentes anaclinais UG10 -0,023 -1,749 1,012 Outras áreas antrópicas UG11 -3,736 Aluviões DS1 -3,736 -1,749 -1,749 -4,568 -4,568 Coluviões < 0,5 m DS2 0,032 -0,185 0,093 Coluviões > 0,5 m DS3 0,054 0,415 -0,070 Dep. enchimento de valeiro DS4 1,865 1,664 -4,568 Dep. terraço cheia recente DS5 -3,736 -1,749 -4,568 55 Uso e ocupação do solo Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Coberto herbáceo UOS1 -0,092 -0,215 0,665 Áreas urb. e estradas UOS2 -0,977 -1,285 -0,964 Terrenos cultivados UOS3 -0,921 -1,738 -1,599 Coberto arbóreo UOS4 0,529 0,345 -2,055 Coberto arbustivo denso UOS5 0,674 0,953 -0,063 Espaço verde urbano UOS6 -3,736 -1,749 -4,568 5.3 – Scores de Valor Informativo da área de Fanhões-Trancão Tipologia de movimentos de vertente - Deslizamentos Depósitos superficiais Unidades litológicas Perfil transversal Exposição das vertentes Declive (º) Classes Código Transl. Superficiais Rotacionais Translacionais 0-5 D1 -2,239 -1,454 -1,607 ]5-10] D2 -0,979 -1,158 -0,185 ]10-15] D3 -0,024 -0,172 0,457 ]15-20] D4 0,810 0,838 0,673 ]20-25] D5 1,138 1,163 0,760 ]25-30] D6 1,650 1,481 0,543 ]30-40] D7 1,518 1,702 0,469 > 40 D8 1,598 1,633 0,590 Terreno Plano EV1 -4,901 -4,335 -2,757 N EV2 -0,359 0,973 -1,717 NE EV3 0,535 -1,114 -0,974 E EV4 0,550 -0,387 0,210 SE EV5 -0.837 -0,460 0,175 S EV6 -1,919 -2,179 0,308 SW EV6 -0,384 -0,775 0,200 W EV7 0,935 0,827 -0,952 NW EV8 0,948 1,872 -1,298 Concavo PTV1 0,435 -0,057 0,439 Rectilíneo PTV2 0,474 1,269 0,185 Convexo PTV3 -0,117 0,254 -0,120 Terreno Plano PTV4 -4,901 -1,499 -2,557 CREL PTV5 1,163 1,481 0,993 Arenitos e calcários UL1 0,932 2,335 -0,297 Margas e calcários margosos UL2 0,872 0,708 1,372 Calcários com rudistas UL3 0,296 0,788 -0,903 Basaltos e tufos vulcânicos UL4 -0,407 -1,386 -1,002 Conglomerados e arenitos UL5 -2,313 -4,335 -2,757 Calcários lacustres UL6 -4,901 -4,335 -2,757 Aluviões DS1 -4,901 -0,775 -2,757 Coluviões < 0,5 m DS2 -1,069 -1,443 -0,157 Coluviões > 0,5 m DS3 0,753 0,767 0,383 Escoada de detritos de S. Julião DS4 -4,901 -4,335 -2,757 Dep. terraços textura fina DS5 -4,901 -4,335 -2,757 Dep. terraço cheia recente DS6 -1,222 -4,335 -2,757 56 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Dep. enchimento de valeiro Uso e ocupação do solo Unidades geomorfológicas Planície aluvial DS7 UG1 -3,499 -4,901 0,837 -0,783 0,643 -2,757 Canal fluvial erosão activa UG2 0,296 0,694 -0,201 Pedreira UG3 -4,901 0,350 -2,757 Superfície plana UG4 -4,102 -4,335 -1,591 Anverso de costeira UG5 0,938 1,960 0,655 Terraço fluvial UG6 -4,901 -4,335 -2,757 Vertente de vale UG7 0,970 0,662 0,992 Vertente cataclinal UG8 -1,353 -2,125 -1,452 Valeiro de fundo em U UG9 -1,212 -4,011 -0,649 Outras vertentes anaclinais UG10 -0,861 -4,335 -2,757 -4,901 0,519 -2,757 Outras áreas antrópicas UG11 Coberto herbáceo UOS1 0,088 0,221 0,258 Áreas urb. e estradas UOS2 -0,553 -0,410 -1,045 Terrenos cultivados UOS3 -1,898 -1,888 -0,665 Coberto arbóreo UOS4 -0,810 -1,492 -0,943 Coberto arbustivo denso UOS5 0,558 0,315 0,174 Espaço verde urbano UOS6 -2,291 -4,335 -2,757 As classes, dentro de cada tema, que têm maior expressão territorial (ou estão presentes em mais unidades de terreno) não apresentam, necessariamente os VI mais elevados, conforme se pode observar nas figuras 5.1, 5.2 e 5.3, onde se representa graficamente a frequência de cada classe em cada tema e o respectivo VI, para a área de Lousa-Loures. Nos deslizamentos translacionais superficiais é a variável “declive” que apresenta o VI mais elevado, na classe D8 (> 40º), com 2,286, seguindo-se a classe DS4 (depósitos de enchimento de valeiro) da variável “depósitos superficiais”, com 1,865. Refira-se que, em ambos os casos, trata-se de classes que apresentam uma representatividade espacial pouco significativa, 0,4% e 0,1% de área, respectivamente. As vertentes viradas a norte (classe EV2) apresentam também um VI elevado (1,380), facto que pode relacionar-se, indirectamente, com a presença de declives mais acentuados nessas vertentes. Na variável “declive” observa-se a tendência do aumento progressivo do VI com o incremento da inclinação topográfica. Adicionalmente, verifica-se que apenas duas classes de declive (D1 e D2) apresentam VI negativo (fig. 5.1), o que demonstra a importância desta variável na explicação dos deslizamentos translacionais superficiais. Em contrapartida, na variável “unidades litológicas”, apenas a classe UL2 (margas e calcários margosos) apresenta um VI positivo (0,622), pelo que, 57 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente comparativamente, esta variável tem uma menor importância na explicação deste tipo de deslizamentos. De acordo com os VI calculados, os deslizamentos translacionais superficiais são favorecidos na área de Lousa-Loures pelas seguintes condições: vertentes com declive superior a 25°, expostas a N, talhadas em margas e calcários margosos, em contexto de anverso de costeira. A presença de canais fluviais marcados por uma erosão activa e o afloramento de depósitos de enchimento de valeiro são, igualmente, condições de predisposição à ocorrência deste tipo de deslizamento. 70 60 50 40 30 20 10 0 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 D1 D2 D3 D4 D5 Valor Informativo D6 D7 % área total Valor Informativo Declive D8 Frequência 70 60 50 40 30 20 10 0 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 % área total Valor Informativo Exposição das Vertentes EV1 EV2 EV3 EV4 EV5 EV6 EV7 EV8 EV9 Valor Informativo Frequência 58 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente PTV1 PTV2 PTV3 Valor Informativo 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total Valor Informativo Perfil Transversal das Vertentes PTV4 Frequência Valor Informativo Unidades Litológicas 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 UL1 UL2 UL3 Valor Informativo UL4 UL5 Frequência 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total Valor Informativo Unidades Geomorfológicas UG1 UG2 UG3 UG4 UG5 UG6 UG7 UG8 UG9 UG10UG11 Valor Informativo Frequência 59 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente DS1 DS2 DS3 DS4 Valor Informativo 70 60 50 40 30 20 10 0 % de área total 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total Valor Informativo Depósitos Superficiais DS5 Frequência Valor Informativo Uso e Ocupação do Solo 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 UOS1 UOS2 UOS3 UOS4 Valor Informativo UOS5 UOS6 Frequência Figura 5.1 – Valor Informativo e frequência das classes das variáveis independentes dos condicionantes dos deslizamentos translacionais superficiais na área de Lousa-Loures No que concerne aos deslizamentos rotacionais (fig. 5.2) o VI mais elevado encontra-se na classe de “depósitos superficiais” DS4 (depósito de enchimento de valeiro), com 1,664, seguida da classe de declive D8 (>40°) com 1,552. A variável “declive” é a que regista um maior número de classes (5) com VI positivo, seguida da variável “exposição das vertentes”, que apresenta VI positivos em 4 classes (EV2, EV3, EV8 e EV9), sendo o EV2 (norte) o mais elevado. Há 3 variáveis em que se verificam VI positivos numa única classe: “unidades litológicas” (L2); “perfil transversal das vertentes” (PTV1); e “depósitos superficiais” (DS4). Em contrapartida, as variáveis “uso e ocupação do solo” e “unidades geomorfológicas” registam VI positivos em duas e três classes, UOS4 e UOS5; UG2, UG5 e UG7, respectivamente. 60 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente De acordo com os VI calculados, os deslizamentos rotacionais são favorecidos na área de Lousa-Loures pela existência de vertentes com declives superiores a 15º, expostas a N, talhadas em margas e calcários margosos, em anversos de costeira. Os canais de erosão activa e as vertentes de vale são também propícios à ocorrência de deslizamentos rotacionais. D1 D2 D3 D4 D5 Valor Informativo D6 D7 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total Valor Informativo Declive D8 Frequência Valor Informativo Exposição das Vertentes 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 EV1 EV2 EV3 EV4 EV5 EV6 EV7 EV8 EV9 Valor Informativo Frequência 61 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 70 60 50 40 30 20 10 0 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 PTV1 PTV2 PTV3 Valor Informativo % área total Valor Informativo Perfil Transversal das Vertentes PTV4 Frequência 3 70 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 UL1 UL2 UL3 Valor Informativo UL4 % área total Valor Informativo Unidades Litológicas UL5 Frequência 3 60 2 50 1 40 0 30 ‐1 20 ‐2 10 ‐3 0 % área total Valor Informativo Unidades Geomorfológicas UG1 UG2 UG3 UG4 UG5 UG6 UG7 UG8 UG9 UG10UG11 Valor Informativo Frequência 62 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 3 70 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 DS1 DS2 DS3 Valor Informativo DS4 % área total Valor Informativo Depósitos Superficiais DS5 Frequência 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 70 60 50 40 30 20 10 0 UOS1 UOS2 UOS3 UOS4 Valor Informativo UOS5 % área total Valor Informativo Uso e Ocupação do Solo UOS6 Frequência Figura 5.2 – Valor Informativo e frequência das classes das variáveis independentes condicionantes dos deslizamentos rotacionais na área Lousa-Loures Para a explicação da ocorrência de deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures, as classes que apresentam um VI mais elevado são as classes D8 (declive >40°), com 1,122. A “exposição de vertentes” na classe EV7 (SW), com 1,017; UG7 e UG10 (vertentes de vale e outras vertentes anaclinais) da variável “unidades geomorfológicas” com 0,940 e 1,012, respectivamente. A situação relativamente estranha da importância das vertentes anaclinais é devida a um único deslizamento translacional, atípico, ocorrido nos terrenos do Complexo Vulcânico de Lisboa, com interferência antrópica junto ao pé do deslizamento. 63 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente À semelhança das tipologias anteriores, é a variável “declive” que apresenta o maior número de classes com valores positivos, havendo duas classes (D1, D2) com VI negativo. Com 3 classes com VI positivos surgem as variáveis “exposição das vertentes” (EV3, EV4, EV7), “perfil transversal das vertentes” (PTV1, PTV2, PT3) e “unidades geomorfológicas” (UG2, UG7, UG10). Por último, apenas com uma classe com VI positivo, encontram-se as variáveis “depósitos superficiais” (DP5) e “uso e ocupação do solo” (UOS1). De acordo com os VI calculados, os deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures são favorecidos pela existência de vertentes com declives superiores a 10º, expostas a SW, talhadas em margas e calcários margosos em vertentes de vale com depósitos compostos por coluviões com espessura inferior a 0,5 m. 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 70 60 50 40 30 20 10 0 D1 D2 D3 D4 D5 Valor Informativo D6 D7 % área total Valor Informativo Declive D8 Frequência 70 60 50 40 30 20 10 0 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 % área total Valor Informativo Exposições das Vertentes EV1 EV2 EV3 EV4 EV5 EV6 EV7 EV8 EV9 Valor Informativo Frequência 64 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Valor Informativo 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 70 60 50 40 30 20 10 0 PTV1 PTV2 PTV3 Valor Informativo % área total Perfil Transversal das Vertentes PTV4 Frequência 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 70 60 50 40 30 20 10 0 UL1 UL2 UL3 Valor Informativo UL4 % área total Valor Informativo Unidades Litológicas UL5 Frequência 2 70 1 60 0 50 ‐1 40 ‐2 30 ‐3 20 ‐4 10 ‐5 0 % área total Valor Informativo Unidades Geomorfológicas UG1 UG2 UG3 UG4 UG5 UG6 UG7 UG8 UG9 UG10 UG11 Valor Informativo Frequência 65 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente DS1 DS2 DS3 DS4 Valor Informativo 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total Valor Informativo Depósitos Superficiais DS5 Frequência Valor Informativo Uso e Ocupação do Solo 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 UOS1 UOS2 UOS3 UOS4 Valor Informativo UOS5 UOS6 Frequência Figura 5.3 – Valor Informativo e frequência das classes das variáveis independentes condicionantes dos deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures É transversal às 3 tipologias de movimentos de vertente estudados, que o declive é o factor de predisposição que mais se associa à ocorrência da instabilidade. É esta variável que apresenta um maior número de classes com VI positivo e elevado (relativamente às observadas nas outras classes de varáveis). O VI mais elevado foi observado na classe D8 (declive > 40°) para os deslizamentos translacionais superficiais. Os VI da variável “declive” nos deslizamentos translacionais superficiais e rotacionais tende a aumentar para as classes de declive mais elevado, facto que confirma o condicionalismo directo do declive sobre essas tipologias de deslizamentos. Em contrapartida, a variação do VI do declive nos deslizamentos translacionais tem um comportamento diferente, marcado pela existência de duas modas: uma aos 15-25º e outra acima dos 30º. Os deslizamentos translacionais são, de entre as 3 tipologias 66 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente estudadas, os que apresentam declive mais baixo. O declive moderado favorece a infiltração da água (lenta e gradual) em profundidade nos invernos mais chuvosos, o que leva à diminuição da resistência ao corte dos terrenos por aumento da pressão intersticial (Zêzere, 2001). Os VI da variável “exposição das vertentes” apresentam contrastes significativos em diferentes tipos de movimentos. No caso dos deslizamentos translacionais, a classe EV7 (SW) regista um VI relativamente elevado, sendo negativo para as outras tipologias. Este facto é compreensível, uma vez que os deslizamentos translacionais ocorrem tendencialmente ao longo de planos de estratificação, sendo que os pendores para SW são dominantes na área de estudo. Os deslizamentos translacionais superficiais e rotacionais ocorrem, dominantemente, em vertentes com a mesma exposição, destacando-se o quadrante norte (marcado, como já foi referido, pelo predomínio de declives acentuados). A classe PTV1 (vertentes côncavas) é a única da variável “perfil transversal das vertentes” que tem VI positivo na explicação dos deslizamentos rotacionais, apresentando também valores positivos significativos nas outras tipologias de movimentos. Zêzere (1997) refere, para a mesma área, que os movimentos de vertente se desenvolvem, preferencialmente, em vertentes com perfil horizontal côncavo, onde a concentração dos escoamentos superficial e sub-superficial são favorecidos. No entanto, registe-se a ocorrência de VI positivos nas vertentes convexas, no caso dos deslizamentos translacionais e translacionais superficiais, o que denuncia a interferência de outros factores no sistema da instabilidade das vertentes. As “unidades litológicas” apresentam, claramente, uma concordância entre tipologia de movimentos quanto aos valores informativos. A classe UL2 (margas e calcários margosos) é a única que apresenta VI positivos, para qualquer tipologia de deslizamento. Zêzere (1997) refere que os movimentos inventariados na área de Lousa verificam-se, quase exclusivamente, nos afloramentos do Albiano – Cenomaniano médio (UL2) e do Complexo Vulcânico de Lisboa (UL4), salientado que a densidade dos movimentos (nº de casos/km2) é superior na litologia da classe UL4 em comparação com a UL2. Este facto é justificado pela dimensão habitualmente reduzida dos movimentos que ocorrem nos terrenos de natureza vulcânica. Por outro lado, os VI reduzidos da UL4 são influenciados pela elevada extensão ocupada por esta unidade litológica. 67 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Na variável “unidades geomorfológicas” destacam-se as classes UG2 (vertentes de vale) e UG7 (canal fluvial de erosão activa) com VI positivo nas três tipologias de movimentos. Os deslizamentos translacionais superficiais e rotacionais apresentam ainda valores positivos na classe UG5 (anverso de costeira), enquanto os deslizamentos translacionais apresentam um VI positivo na classe UG10 (outras vertentes anaclinais), devido à ocorrência de um único movimento atípico ao longo de planos de fraqueza no Complexo Vulcânico de Lisboa. A variável “depósitos superficiais” apresenta a classe DS4 (depósitos de enchimento de valeiro) com o VI mais elevado nos deslizamentos translacionais superficiais e rotacionais. Esta classe ocorre em contexto de fundo de vale, pelo que os VI elevados podem estar associados ao efeito da erosão lateral dos cursos de água na instabilidade das vertentes. No caso dos deslizamentos translacionais não existe qualquer classe de depósitos superficiais com VI positivo elevado, o que denuncia a fraca importância desta variável no condicionalismo deste tipo de deslizamento. A classe de “uso e ocupação do solo” que apresenta mais representatividade espacial na área de Lousa-Loures corresponde ao coberto herbáceo (UOS1) que, no entanto, apresenta VI positivo apenas nos deslizamentos translacionais. Os deslizamentos translacionais superficiais e rotacionais ocorrem preferencialmente em terrenos com coberto arbustivo denso (UOS5). A leitura da informação relativa ao tema “uso e ocupação do solo” tem que ter em conta outros factores de predisposição, nomeadamente o declive. Pode parecer controverso que os deslizamentos translacionais superficiais e rotacionais ocorram, essencialmente, em áreas de coberto arbustivo denso. Este facto demonstra, desde logo, que a vegetação arbustiva não é eficaz para impedir a instabilização das vertentes. No entanto, não é razoável concluir a partir dos dados obtidos que a presença de um coberto vegetal arbustivo denso favoreça, de um modo relevante, a ocorrência de movimentos de vertente. Com efeito, verifica-se que as áreas de coberto arbustivo ocorrem dominantemente em vertentes com declives acentuados e esta será a razão que justifica a associação desta variável à instabilidade. A relação do coberto vegetal herbáceo com os deslizamentos translacionais é marcada por um VI positivo, sendo que esta classe ocorre, geralmente, em vertentes com declives mais baixos, o que, já foi dito, favorece o desenvolvimento de deslizamentos translacionais. 68 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente No anexo III, encontram-se representados graficamente a frequência de cada classe em cada tema e o respectivo VI, para a área modelo de Fanhões-Trancão. Os VI calculados para a referida área denunciam que os deslizamentos translacionais superficiais são favorecidos por vertentes côncavas ou rectilíneas com declives superiores a 15º, expostas principalmente, a W e NW. As vertentes de vale em contexto de anverso de costeira, talhadas em arenitos, calcários, calcários margosos e margas são também propícias a ocorrência desta tipologia de deslizamentos. Os deslizamentos rotacionais na área de Fanhões-Trancão são favorecidos por condições de declive superior a 15º, em vertentes com exposição N, NW e W, talhadas em arenitos, margas, calcários, calcários margosos e calcários com rudistas, em vertentes de vale onde aflorem depósitos de enchimento de valeiro e coluviões com espessura superior a 0,5 m, em situações de anverso de costeira e em canais onde existe erosão activa. A ocorrência de deslizamentos translacionais é favorecida pela existência de vertentes côncavas ou rectilíneas com declives entre 15º e 25º, expostas a S, talhadas em margas e calcários margosos. As vertentes de vale onde se encontram coluviões espessos (> 0,5 m) e depósitos de enchimento de valeiro, revestidas por vegetação herbácea, são também favoráveis à ocorrência deste tipo de deslizamento na área de Fanhões-Trancão. Os cálculos dos VI efectuados para a área modelo de Fanhões-Trancão (anexo III) e para a área de Lousa-Loures (fig. 5.1, 5,2 e 5.3), representados conjuntamente com a frequência de cada classe de cada variável, confirmam a similaridade das condições de predisposição à ocorrência dos tipos de deslizamentos considerados neste trabalho, verificada nas duas áreas. 69 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 3. Modelos de susceptibilidade a movimentos de vertentes Os modelos de susceptibilidade a movimentos de vertente na área teste de Lousa-Loures foram efectuados com recurso ao algoritmo de integração do Método do Valor Informativo, aplicado individualmente a cada tipo de movimento de vertente considerado (deslizamentos translacionais superficiais, deslizamentos rotacionais e deslizamentos translacionais). Para cada tipo de movimento de vertente foram produzidos dois mapas de susceptibilidade: Mapa A, baseado nos scores do VI obtidos com os deslizamentos da área teste de Lousa-Loures; Mapa B, baseado nos scores do VI importados da área modelo de Fanhões-Trancão. Para facilitar a comparação entre os mapas, estes foram classificados de igual modo, com classes correspondentes a uma determinada fracção da área total. Os respectivos mapas de susceptibilidade encontramse em tamanho grande no anexo IV. 3.1. Deslizamentos translacionais superficiais Na figura 5.4 podem observar-se os mapas de susceptibilidade à ocorrência de deslizamentos translacionais superficiais. A análise simples e visual dos dois mapas permite concluir que estes são bastante parecidos, sendo que as classes de maior susceptibilidade se localizam, sensivelmente, nas mesmas áreas. Em ambos os mapas as classes de susceptibilidade mais elevada ocorrem, sobretudo, nas vertentes com declive mais acentuado. De igual modo, destacam-se ainda as áreas de anverso de costeira e a unidade litológica correspondente a margas e calcários margosos. A mancha com maior expressão territorial, correspondente às áreas com menor susceptibilidade a ocorrência de deslizamentos translacionais superficiais, coincide com áreas com declives suaves e com unidades litológicas compostas por basaltos, tufos vulcânicos, conglomerados e arenitos. O quadro 5.4 apresenta a percentagem de sobreposição das áreas classificadas como susceptíveis nos mapas A e B. Nos primeiros 5% de área mais susceptíveis da área total, há uma sobreposição de 43% entre os mapas, valor que aumenta para 56% quando se comparam os 10% da área classificada como mais propensa a ocorrência 70 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente deslizamentos translacionais superficiais. O valor máximo de sobreposição (87%) foi obtido na comparação dos 30%, de área mais susceptível. Este valor de sobreposição permanece praticamente inalterado na comparação dos 40% de área mais susceptível nos dois mapas. B A Figura 5.4 – Mapas de susceptibilidade a deslizamentos translacionais superficiais na área de Lousa-Loures A – VI de Lousa-Loures; B – VI de Fanhões-Trancão Quadro 5.4 – Nível de sobreposição entre dois mapas de susceptibilidade a movimentos translacionais superficiais Área classificada como susceptível (% área total) 5 10 20 30 40 Total de sobreposição entre mapas (%) 43 56 76 87 86 71 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 3.2. Deslizamentos rotacionais A figura 5.5 representa os dois mapas de susceptibilidade obtidos para os deslizamentos rotacionais. Estes mapas, para além de, visualmente, serem bastante idênticos, apresentam igualmente semelhanças assinaláveis com os mapas de susceptibilidade aos deslizamentos translacionais superficiais (ver figura 5.4). Este facto reforça a ideia, já apontada, da influência de um mesmo conjunto de factores de predisposição nos dois tipos de movimentos de vertente. As áreas com maior probabilidade de ocorrência de deslizamentos rotacionais ocorrem nas vertentes onde o declive é mais acentuado, nas áreas correspondentes ao anverso de costeira e vertentes de vale, e nas unidades litológicas constituídas por margas, calcários margosos, arenitos e calcários. O nível de sobreposição das áreas classificadas como susceptíveis nos dois mapas é semelhante à observada nos movimentos translacionais superficiais. Nos 5% de área classificada como mais susceptível existe uma sobreposição de 43% e o valor sobe para 61% quando se alarga a área susceptível para 10% da área total. Este valor aumenta até aos 40% de área mais susceptível, em que se observa a sobreposição de 85% (quadro 5.5). 72 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente A B Figura 5.5 – Mapas de susceptibilidade a deslizamentos rotacionais na área de Lousa-Loures A – VI de Lousa-Loures; B – VI de Fanhões-Trancão Quadro 5.5 – Nível de sobreposição entre dois mapas de susceptibilidade a deslizamentos rotacionais Área classificada como susceptível (% área total) 5 10 20 30 40 Total de sobreposição entre mapas (%) 43 61 74 83 85 73 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 3.3. Deslizamentos translacionais Os mapas de susceptibilidade obtidos para os deslizamentos translacionais são, visualmente, os mais diferentes entre si como se pode observar através da figura 5.6. Por outro lado, a susceptibilidade à ocorrência de deslizamentos translacionais apresenta padrões espaciais distintos, comparativamente aos anteriores tipos de movimentos, o que resulta da influência de factores de predisposição diferentes. As classes de susceptibilidade nos dois mapas da figura 5.6 distribuem-se espacialmente de forma desigual no território. No mapa A, modelado com os scores de VI da área de Lousa-Loures, depreende-se que o declive não é dos factores de predisposição que mais influencia a susceptibilidade. Em contrapartida, no mapa B, modelado com os scores importados da área de Fanhões-Trancão, as vertentes mais declivosas estão classificadas com susceptibilidade mais elevada. Em relação às unidades geomorfológicas, destacam-se as vertentes dos vales em ambos os mapas, enquanto na litologia o principal factor de predisposição corresponde à presença de margas e calcários margosos (UL2). Os valores da sobreposição entre as áreas classificadas como susceptíveis pelos dois mapas, presentes no quadro 5.6, vão ao encontro das diferenças observadas visualmente. No entanto, registe-se que o valor de sobreposição verificado nos 5% de área mais susceptível (53%) é maior do que o observado para os outros tipos de deslizamentos. Contudo, quando se isolam aos 20% de área total classificada como mais susceptível o valor de sobreposição é de apenas 58%, e aos 40% de área mais susceptível não vai além de 69%. Este valor é substancialmente mais reduzido do que os observados, para a mesma percentagem de área, nos movimentos translacionais superficiais (86%) e nos movimentos rotacionais (85%). 74 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente A B Figura 5.6 – Mapas de susceptibilidade a deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures A – VI Lousa-Loures; B – VI de Fanhões-Trancão Quadro 5.6 – Nível de sobreposição entre dois mapas de susceptibilidade a deslizamentos translacionais Área classificada como susceptível (% área total) 5 10 20 30 40 Total de sobreposição entre mapas (%) 53 61 58 64 69 75 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 4. Validação dos mapas de susceptibilidade: Curvas de sucesso e predição A cartografia de susceptibilidade conseguida com base em modelos objectivos tem a conhecida vantagem de permitir a avaliação dos resultados. É possível validar imediatamente os mapas de susceptibilidade geomorfológica realizados por métodos indirectos, através do cálculo das taxas de sucesso e de predição, representadas pelas respectivas curvas. Nas figuras 5.7, 5.8 e 5.9 estão representadas, para os três tipos de movimentos de vertente: as curvas de sucesso da área Lousa-Loures (marcadas a azul), obtidas pelo cruzamento dos movimentos de Lousa-Loures com os Mapas A das figuras 5.4, 5.5 e 5.6; as curvas de predição para a área Lousa-Loures (marcadas a vermelho), obtidas através do cruzamento dos movimentos de Lousa-Loures com os Mapas B das figuras 5.4, 5.5 e 5.6; e, apenas para comparação, as curvas de sucessos da área de Fanhões-Trancão (marcadas a cinzento), obtidas pelo cruzamento dos movimentos da área de Fanhões-Trancão com os respectivos mapas de susceptibilidade. Estes últimos mapas de susceptibilidade não estão presentes nesta dissertação, uma vez que não é objectivo do trabalho a análise da susceptibilidade na área modelo. No entanto, considerou-se importante apresentar as curvas de sucesso, para poder comparar os seus comportamentos e níveis de similaridade, com as curvas de predição de Lousa-Loures. 4.1. Deslizamentos translacionais superficiais A figura 5.7 apresenta as curvas para os movimentos translacionais superficiais e as respectivas Áreas Abaixo da Curva (AAC). Pode observar-se, tal como se esperava, que o modelo obtido com os movimentos de Lousa-Loures apresenta uma AAC superior ao obtido para a mesma área com os valores informativos de Fanhões-Trancão, (0,839 e 0,779, respectivamente). No entanto, estes dados não são directamente comparáveis, uma vez que o primeiro fornece o grau de ajuste dos dados de entrada ao modelo, e o segundo a capacidade preditiva do mesmo. Através da curva de sucesso de Lousa-Loures (a azul), verifica-se que nos 5% da área de estudo classificados como mais susceptíveis o modelo explica 31% dos 76 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente movimentos usados para modelar, valor que aumenta para 50% quando se alarga a área mais susceptível para 10% da área total. Aos 50% da área total são explicados 94% do conjunto dos movimentos, sendo que a totalidade dos mesmos é justificada aos 77% da área total de estudo. A curva de predição (a vermelho) dá-nos informação da capacidade preditiva do modelo de susceptibilidade. Os valores obtidos não são muito distantes dos da curva de sucesso: os 5% da área de estudo classificada como mais susceptível conseguem validar 23% dos movimentos, enquanto para 10% da área total a validação aumenta para 36% dos movimentos. 90% dos deslizamentos translacionais superficiais são validados em cerca de 50% da área de estudo, verificando-se a validação de todos os movimentos aos 80% da área de Lousa-Loures. Numa breve alusão à área de Fanhões-Trancão, esta apresenta um grau de ajuste bastante elevado, com uma AAC de 0,878. Aos 50% de área total são explicados 96% dos movimentos; no entanto, a explicação total dos deslizamentos obtém-se mais tarde que nos modelos anteriores, aos 87% de área total. 1 0.9 0.8 movimentos preditos 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 área susceptível (ordem decrescente) AAC Lousa-Loures Fanhões-Trancão 0,839 0,879 Lousa-Loures (VI Fanhões-Trancão) 0,779 Figura 5.7 – Curvas de sucesso (a azul) e de predição (a vermelho) de deslizamentos translacionais superficiais e respectivas AAC 77 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 4.2. Deslizamentos rotacionais Na figura 5.8 estão representadas as curvas de sucesso e de predição, obtidas para a área de Lousa-Loures, para os movimentos rotacionais. À semelhança dos modelos anteriores, o modelo obtido com os VI de Lousa-Loures apresenta um grau de ajuste elevado aos movimentos, com a AAC de 0,853. O modelo obtido para a mesma área com os VI importados da área de Fanhões-Trancão tem, naturalmente, uma AAC mais baixa, de 0,780. Através da curva de sucesso de Lousa-Loures (a azul), verifica-se que nos 5% da área de estudo que o modelo classifica como mais susceptível estão contidos 32% dos movimentos dos movimentos usados para construir o modelo, sendo que este valor cresce para 56% nos 10% da área total. Com apenas 50% da área são explicados 91% do conjunto dos movimentos e a explicação da totalidade dos mesmos acontece aos 74% da área de estudo. A curva de predição (a vermelho) perde capacidade explicativa, embora os valores sejam bastante satisfatórios para um modelo preditivo. Em 5% da área de estudo são explicados 25% dos deslizamentos rotacionais. Nos mesmos limiares de área de estudo utilizada anteriormente (10%, 20% e 50%) a percentagem de deslizamentos explicada é de 32%, 56% e 91%, respectivamente. No entanto, a totalidade dos deslizamentos é explicada apenas aos 99% do total da área. Deste modo, pode concluirse que este modelo tem uma boa capacidade preditiva sensivelmente até a meio da curva, explicando mais de 90% da área deslizada em cerca de metade da área total. A exemplo do observado para os deslizamentos translacionais superficiais, a curva de sucesso para os deslizamentos rotacionais na área de Fanhões-Trancão mostra um grau de ajuste muito elevado ao modelo, que se reflecte numa AAC de 0,918. Aos 50% de área total são explicados 99% dos movimentos. 78 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 1 0.9 movimentos preditos 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 área susceptivel (ordem decrescente) AAC Lousa-Loures Fanhões-Trancão 0,853 0,918 Lousa-Loures (VI Fanhões-Trancão) 0,780 Figura 5.8 – Curvas de sucesso (a azul) e de predição (a vermelho) de deslizamentos rotacionais e respectivas AAC 4.3. Deslizamentos translacionais A figura 5.9 apresenta as curvas de sucesso e predição e respectivas AAC para os modelos de susceptibilidade à ocorrência de deslizamentos translacionais. Estas curvas têm um comportamento diferente das apresentadas anteriormente para as outras tipologias de movimentos, salientando-se a o elevado grau de ajuste dos dados ao modelo e a elevada capacidade preditiva, nos primeiros 60% de área classificada como mais susceptível. Em conformidade, estes modelos apresentam as AAC mais elevadas, sendo de 0,923 para a curva de sucesso e de 0,812 para a curva de predição. Aos 5% e 10% de área mais susceptível no modelo obtido com os scores do VI determinados na área de Lousa-Loures, o modelo explica, respectivamente, 52% e 81% dos movimentos utilizados na sua construção. Com metade da área de estudo são explicados 99% dos deslizamentos translacionais. A curva de predição apresenta também valores muito satisfatórios, sendo que aos 5% e 10% de área são preditos, respectivamente, 46% e 61% dos movimentos 79 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente translacionais da área de Lousa-Loures. Aos 50% da área são integrados 83% dos movimentos, e a quase totalidade da área instabilizada (99%) está contida em 72% da área total. O grau de ajuste dos dados ao modelo e vice-versa na área de Fanhões-Trancão é também bastante elevado para os deslizamentos translacionais, com AAC de 0,887, Aos 50% de área total são explicados 92% dos movimentos, e a explicação total dos mesmos obtêm-se com 86% da área total. 1 0.9 movimentos preditos 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 área susceptivel (ordem decrescente) Lousa-Loures AAC 0,923 Fanhôes-Trancão 0,887 Lousa-Loures (VI Fanhões-Trancão) 0,812 Figura 5.9 – Curvas de sucesso (a azul) e de predição (a vermelho) de deslizamentos translacionais Numa breve síntese, pode concluir-se, pela análise às 3 tipologias de movimentos, que os modelos preditivos são bastante bons. Apesar de não existir cientificamente um limite de AAC para definir se um modelo é mau ou bom, os aqui apresentados obtêm valores sempre superiores a 0,775, mesmo nas curvas de predição. A este respeito refira-se que Guzzetti (2005) considera AAC entre 0,75 e 0,8 como 80 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente representativas de modelos preditivos aceitáveis, ao mesmo tempo que reserva as qualificações de muito bom e excelente para valores de AAC entre 0,8 e 0,9 e AAC=> 0,9 respectivamente. As curvas de sucesso, como se esperava e à semelhança do que se encontra descrito na bibliografia (e.g. Fabbri et al., 2002; Zêzere, 2007; Lopes, 2008) resultam em valores de AAC mais elevados que as curvas de predição. Nas três tipologias de movimentos na área de Lousa-Loures as AAC das curvas de sucesso obtêm sempre um valor superior a 0,8, atingindo o valor mais elevado nos deslizamentos translacionais, com 0,923. 5. Capacidade preditiva dos modelos recorrendo ao inventário de 2009 Os mapas de susceptibilidade apresentados e discutidos anteriormente são, nesta secção, alvo de nova validação, com base no método de partição temporal e recorrendo ao inventário efectuado em 2009, no âmbito desta dissertação. Contudo, este exercício é efectuado apenas para os deslizamentos translacionais superficiais e deslizamentos rotacionais, uma vez que os movimentos inventariados em 2009 na área de Lousa-Loures incluem apenas essas tipologias. A figura 5.10 representa as curvas de predição para os movimentos translacionais superficiais, obtidas pela sobreposição dos deslizamentos do inventário de 2009 com os mapas A (curva verde) e B (curva castanha) da figura 5.4. Para comparação, são novamente apresentadas as curvas de sucesso (a azul) e de predição (a vermelho) da área de Lousa-Loures, incluídas na figura 5.7 e já anteriormente descritas. Em comparação com a curva de sucesso da área de Lousa-Loures (a azul), verifica-se que o modelo validado com os movimentos de 2009 (a verde) fica abaixo da curva de ajuste, como seria expectável sendo uma curva predição, com a AAC de 0,787. Aos 5% da área de estudo, apenas são preditos 4,7% dos movimentos translacionais superficiais, e nos 10% de área encontram-me 20% dos novos movimentos. Posteriormente, a curva de predição sobre um incremento, bem visível no gráfico, e aos 20% da área de estudo já se observa a validação de 63% dos deslizamentos translacionais superficiais do inventário de 2009. A totalidade dos movimentos usados para validar este modelo é explicada aos 86% da área total. 81 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente O mapa de susceptibilidade produzido com os scores do VI importados da área de Fanhões-Trancão apresenta uma capacidade preditiva para os movimentos do inventário de 2009 ligeiramente superior, comparativamente ao anterior, com uma AAC de 0,796 (fig. 5.10). A melhoria da qualidade preditiva é particularmente significativa nas áreas de susceptibilidade mais elevada: aos 5% de área de estudo predizem-se 10% dos movimentos e aos 10% de área estudo o valor a predição sobe para 31%. A totalidade dos movimentos é validada aos 77% de área de estudo. 1 0.9 movimentos preditos 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 área susceptível (ordem decrescente) Lousa-Loures Lousa-Loures 2009 AAC 0,839 0,787 Lousa-Loures (VI Fanhões-Trancão) Lousa-Loures (VI Fanhões-Trancão) 2009 0,779 0,796 Figura 5. 10 – Curva de sucesso (a azul) e curvas de predição para os movimentos translacionais superficiais e respectivas AAC para inventários de1997 e 2009 82 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente A figura 5.11 representa as curvas de predição para os deslizamentos rotacionais, construídas pela sobreposição dos movimentos do inventário de 2009 com os mapas A (curva verde) e B (curva castanha) da figura 5.5. Como no caso anterior, são apresentadas, para comparação, as curvas de sucesso (a azul) e de predição (a vermelho) da área de Lousa-Loures, incluídas na figura 5.8. Em comparação com a curva de sucesso (a azul), observa-se que o modelo validado com os movimentos de 2009 (a verde) na área de Lousa-Loures fica apenas ligeiramente abaixo da curva de ajuste, o que é confirmado pelas AAC bastante próximas (0,851 contra 0,853). Aos 5% de área de estudo são preditos 33% dos movimentos rotacionais e este valor sobe para 36% aos 10% de área total. Posteriormente, a curva de predição sobre um incremento elevadíssimo, bem visível no gráfico, e aos 20% de área conseguem-se validar 76% dos novos movimentos. A totalidade dos deslizamentos rotacionais é integrada apenas aos 97% da área total. A exemplo do verificado para os deslizamentos translacionais superficiais, o mapa de susceptibilidade produzido com os scores do VI gerados na área modelo de Fanhões-Trancão apresenta uma capacidade preditiva para os movimentos do inventário de 2009 (curva a castanho) ligeiramente superior, comparativamente ao anterior, o que é confirmado pela AAC de 0,876. Aos 5% de área de estudo são validados 31% dos movimentos e aos 10% de área o valor da predição sobe para 43% da totalidade dos movimentos. Tal como no caso anterior, existe um forte incremento na capacidade preditiva do modelo entre os 10% e 20% da área total, como se demonstra pelos 88% de movimentos correctamente preditos aos 20% da área de estudo. O conjunto dos movimentos é validado aos 68% de área da total. 83 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 1 0.9 movimentos preditos 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 área susceptivel (ordem decrescente) Lousa-Loures Lousa-Loures 2009 AAC 0,853 0,851 Lousa-Loures (VI Fanhões-Trancão) Lousa-Loures (VI Fanhões-Trancão) 2009 0,780 0,876 Figura 5.11 – Curva de sucesso (a azul) e curvas de predição para os movimentos rotacionais e respectivas AAC, para os inventários de 1997 e 2009 As curvas de predição obtidas com os movimentos inventariados em 2009 são consistentes, contribuindo para reforçar a solidez dos mapas de susceptibilidade produzidos para a área de Lousa-Loures. Dos resultados obtidos para os deslizamentos translacionais superficiais destacase o facto do mapa B (produzido com os VI importados da área de Fanhões-Trancão) ter apresentado um melhor desempenho do que o mapa A (elaborado com os VI obtidos na área de Lousa-Loures, com deslizamentos do mesmo tipo ocorridos anteriormente). O melhor desempenho está traduzido, de forma clara, nos valores das respectivas AAC: 0,796 e 0,779. No mesmo sentido, verifica-se um incremento na qualidade da capacidade preditiva do modelo de susceptibilidade importado da área de FanhõesTrancão, quando comparado com os resultados da validação com os movimentos do inventário de 1997: AAC de 0,796 e 0,787, respectivamente. 84 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Estas diferenças não eram esperadas à partida, pelo que se tentou perceber as razões que as podem justificar. Em primeiro lugar, chama-se a atenção que o inventário de 2009 inclui apenas 36 movimentos, que representam somente 6 294 m2 de área instabilizada. Deste modo, os valores observados nas AAC podem dever-se à sub-dimensão da população de deslizamentos utilizada para efectuar a validação. Por outro lado, sendo conhecido que o factor de predisposição declive tem um papel determinante no condicionamento deste tipo de movimento de vertente, foi calculado o Valor Informativo para essa variável utilizando os deslizamentos translacionais superficiais do inventário de 2009. Os resultados são apresentado no quadro 5.7 e mostram que os valores obtidos estão mais próximos dos observados na área de Fanhões-Trancão do que na área de Lousa-Loures, baseados no inventário de 1997. Por outras palavras, os deslizamentos translacionais superficiais ocorridos na área de Lousa-Loures entre 1997 e 2009 verificaram-se em vertentes com declive mais acentuado, comparativamente ao observado antes de 1997, e mais próximo da situação que sempre caracterizou este tipo de movimento na área modelo de Fanhões-Trancão. Quadro 5.7 – Valor informativo da variável declive na área de Lousa-Loures – Inventário 2009 Classes de Declive (º) 0-5 Translacionais superficiais -1,724 5-10 -1,760 -2,478 10-15 -0,727 -2,215 15-20 0,654 0,310 20-25 1,339 1,732 25-30 1,257 1,882 30-40 1,698 1,702 >40 1,322 1,668 Rotacionais ____ No que respeita aos deslizamentos rotacionais observa-se um comportamento similar ao descrito para os deslizamentos translacionais superficiais. Como no caso anterior, o mapa B (produzido com os VI importados da área de Fanhões-Trancão) tem um melhor desempenho do que o mapa A (elaborado com os VI obtidos na área de Lousa-Loures) na explicação dos deslizamentos inventariados em 2009 (AAC de 0,876 85 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente e 0,780, respectivamente). Adicionalmente, verifica-se o incremento na qualidade da capacidade preditiva do modelo de susceptibilidade gerado com a informação da área de Fanhões-Trancão, quando comparado com os resultados da validação com os movimentos do inventário de 1997 (AAC de 0,876 e 0,851, respectivamente). No entanto, a leitura destes valores tem que ser efectuada com muita prudência, uma vez que o inventário de 2009 possui apenas 7 deslizamentos rotacionais, com um total de área instabilizada de 7 764 m2. Apesar das ressalvas assinaladas, a ter em conta na leitura dos resultados, os mesmos são considerados muito satisfatórios, permitindo aferir a capacidade preditiva dos modelos de susceptibilidade através de um processo de partição temporal dos dados. 6. Análise sensitiva das variáveis A análise sensitiva das variáveis é aqui aplicada com objectivo de determinar a importância relativa de cada factor de predisposição dos modelos anteriormente apresentados. 6.1. Deslizamentos translacionais superficiais O quadro 5.8 apresenta a hierarquia dos factores de predisposição que contribuem para a explicação dos deslizamentos translacionais superficiais em LousaLoures. Esta hierarquia é feita consoante a AAC da curva de sucesso calculada para cada variável isoladamente. Através desde exercício, verificou-se, como seria de esperar, que são os declives que mais contribuem para a explicação deste tipo de movimento de vertentes, com uma AAC de 0,806. No top 3 das variáveis mais explicativas, para além dos declives, encontram-se as unidades geomorfológicas e a exposição das vertentes. No final desta hierarquia surgem os depósitos superficiais. 86 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Quadro 5.8 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos translacionais superficiais na área de Lousa-Loures Hierarquia Variável AAC 1 Declive 0,806 2 Unidades geomorfológicas 0,739 3 Exposição de vertentes 0,682 4 Unidades litológicas 0,661 5 Uso e ocupação do solo 0,661 6 Perfil transversal das vertentes 0,656 7 Depósitos superficiais 0,526 Quadro 5.9 – AAC de modelos de susceptibilidade aos deslizamentos translacionais superficiais na área de Lousa-Loures com 2 a 7 factores de predisposição Variáveis do modelo AAC 2 Variáveis (D+UG) 0,818 3 Variáveis (D+UG+EV) 0,825 4 Variáveis (D+UG+EV+UL) 0,819 5 Variáveis (D+UG+EV+UL+UOS) 0,840 6 Variáveis (D+UG+EV+UL+UOS+PTV) 0,838 7 Variáveis (D+UG+EV+UL+UOS+PTV+DS) 0,839 Com base nesta hierarquia, foram desenvolvidos seguidamente, de modo sistemático, novos modelos de susceptibilidade, com a introdução de uma nova variável em cada passo. O quadro 5.9 e a figura 5.12 apresentam, respectivamente, as AAC e as curvas de sucesso dos resultados obtidos para os deslizamentos translacionais superficiais. 87 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 1 0.9 movimentos preditos 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 área susceptível (ordem decrescente) 2 Variáveis 3 Variávies 4 Variáveis 5 Variáveis 6 Variáveis 7 Variáveis Figura 5.12 - Curvas de sucesso correspondentes a modelos de susceptibilidade aos deslizamentos translacionais superficiais na área de Lousa-Loures, obtidos com 2 a 7 variáveis independentes Todos os modelos de susceptibilidade obtidos com a introdução de mais variável apresentam uma capacidade preditiva bastante idêntica e muito satisfatória. Analisando os resultados sistematizados no quadro 5.9, podemos concluir que a modelação da susceptibilidade com 2, 3, 4, 5, 6 ou 7 variáveis não produz diferenças muito significativas ao nível da capacidade preditiva dos modelos, como se demonstra pelas reduzidas diferenças nas AAC. Adicionalmente, verifica-se que o incremento de mais variáveis no modelo não gera, necessariamente, melhores resultados preditivos. No caso em análise, o valor mais alto de AAC não se verifica para 7 variáveis, mas antes para a seguinte combinação de 5 varáveis (D+UG+EV+UL+UOS). Quando se compara esta hierarquia com a obtida para a área modelo de Fanhões-Trancão (quadro 5.10), verifica-se uma similitude elevada. As 3 primeiras 88 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente variáveis são as mesmas e a principal diferença prende-se com os depósitos superficiais, que na área de Fanhões-Trancão ocupam o 4.º lugar na hierarquia. Quadro 5.10 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos translacionais superficiais na área de Fanhões-Trancão Hierarquia Variável AAC 1 Declive 0,802 2 Unidades geomorfológicas 0,788 3 Exposição de vertentes 0,738 4 Depósitos superficiais 0,731 5 Unidades litológicas 0,706 6 Perfil transversal das vertentes 0,672 7 Uso e ocupação do solo 0,631 6.2. Movimentos rotacionais O quadro 5.11 apresenta a hierarquia dos factores de predisposição que contribuem para a explicação dos deslizamentos rotacionais em Lousa-Loures. Verifica-se que as unidades litológicas (AAC de 0,770) aparecem em 1.º lugar, seguindo-se as unidades geomorfológicas e o uso e ocupação do solo, sendo que o declive surge apenas em 4.º lugar. No final desta hierarquia surgem, novamente, os depósitos superficiais. 89 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Quadro 5.11 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos rotacionais na área de Lousa-Loures Hierarquia Variável AAC 1 Unidades litológicas 0,770 2 Unidades geomorfológicas 0,732 3 Uso e ocupação do solo 0,723 4 Declive 0,714 5 Exposição das vertentes 0,707 6 Perfil transversal das vertentes 0,633 7 Depósitos superficiais 0,590 Quadro 5.12 – AAC de modelos de susceptibilidade a deslizamentos rotacionais na área de Lousa-Loures com 2 a 7 factores de predisposição Variáveis do modelo AAC 2 Variáveis (UL+UG) 0,802 3 Variáveis (UL+UG+UOS) 0,839 4 Variáveis (UL+UG+ UOS+D) 0,832 5 Variáveis (UL+UG+UOS+D+EV) 0,844 6 Variáveis (UL+UG+UOS+D+EV+PTV) 0,846 7 Variáveis (UL+UG+UOS+D+EV+PTV+DS) 0,853 90 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente 1 0.9 movimentos preditos 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 área susceptível (ordem decrescente) 2 Variáveis 3 Variáveis 4 Variávies 5 Variáveis 6 Variáveis 7 Variáveis Figura 5. 13 – Curvas de sucesso correspondentes aos modelos de susceptibilidade aos deslizamentos rotacionais na área Lousa-Loures, obtidos com 2 a 7 variáveis independentes O quadro 5.12 e a figura 5.13 apresentam, respectivamente, as AAC e as curvas de sucesso dos modelos de susceptibilidade à ocorrência de deslizamentos rotacionais produzidos com a introdução de uma nova variável em cada passo. Neste caso, observa-se um comportamento diferente do descrito para os deslizamentos translacionais superficiais. Embora com uma pequena inversão na passagem dos modelos com 3 e 4 variáveis, há a tendência para o incremento ligeiro da capacidade preditiva dos modelos com o aumento do número de variáveis condicionantes no modelo. Deste modo, o modelo de susceptibilidade que aufere melhor resultado é o que inclui as 7 variáveis, com a AAC de 0,853 Quando se compara esta hierarquia com a obtida para a área modelo de Fanhões-Trancão (quadro 5.13), verifica-se que as 2 primeiras variáveis são as mesmas identificadas na área de Lousa-Loures, mas inversamente posicionadas. O uso e ocupação do solo surge, em Fanhões-Trancão, em último lugar na hierarquia. 91 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Quadro 5.13 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos rotacionais na de Fanhões-Trancão Hierarquia Variável AAC 1 Unidades geomorfológicas 0,837 2 Unidades litológicas 0,835 3 Exposição de vertentes 0,797 4 Declive 0,788 5 Depósitos superficiais 0,738 6 Perfil transversal das vertentes 0,654 7 Uso e ocupação do solo 0,610 6.3. Deslizamentos translacionais O quadro 5.14 apresenta a hierarquia dos factores de predisposição que contribuem para a explicação dos deslizamentos translacionais em Lousa-Loures. Nas 3 primeiras posições encontram-se as unidades geomorfológicas, exposição das vertentes e declives, com AAC de 0,085, 0,740 e 0,736, respectivamente. No final da hierarquia surgem, novamente, os depósitos superficiais. Quadro 5.14 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos translacionais da área de Lousa-Loures Hierarquia Variável AAC 1 Unidades geomorfológicas 0,805 2 Exposição de vertentes 0,740 3 Declive 0,736 4 Unidades litológicas 0,726 5 Uso e ocupação do solo 0,708 6 Perfil transversal das vertentes 0,663 7 Depósitos superficiais 0,538 92 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente Quadro 5.15 – AAC de modelos de susceptibilidade a deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures, com 2 a 7 factores de predisposição Variáveis do modelo AAC 2 Variáveis (UG+EV) 0,873 3 Variáveis (UG+EV+D) 0,900 4 Variáveis (UG+EV+ D+UL) 0,916 5 Variáveis (UG+EV+D+UL+UOS) 0,925 6 Variáveis (UG+EV+D+UL+UOS+PTV) 0,924 7 Variáveis (UG+EV+D+UL+UOS+PTV+DS) 0,923 1 0.9 movimentos preditos 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 área susceptível (ordem decrescente) 2 Variáveis 3 Variáveis 4 Variáveis 5 Variáveis 6 Variáveis 7 Variáveis Figura 5.14 – Curvas de sucesso correspondentes aos modelos de susceptibilidade aos deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures, obtidos com 2 a 7 variáveis independentes 93 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente O quadro 5.15 e a figura 5.14 apresentam, respectivamente, as AAC e as curvas de sucesso dos modelos de susceptibilidade à ocorrência de deslizamentos translacionais gerados com a introdução de uma nova variável em cada passo. A capacidade preditiva dos modelos melhora com a introdução de uma nova variável, até à combinação de 5 variáveis (UG+EV+D+UL+UOS), que apresenta a AAC mais elevada (0,925). A introdução das variáveis 6 (perfil transversal das vertentes) e 7 (depósitos superficiais) não acrescenta capacidade preditiva ao modelo, como se atesta pelas AAC correspondentes (0,924 e 0,923). Quando se compara esta hierarquia com a obtida para a área modelo de Fanhões-Trancão (quadro 5.16), verificam-se diferenças mais acentuadas do que as observadas para os outros tipos de movimentos de vertente. No entanto, há 3 variáveis que se repetem no top 4 das duas áreas: unidades geomorfológicas, declive e unidades litológicas. Quadro 5.16 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos translacionais a área de Fanhões-Trancão Hierarquia Variável AAC 1 Unidades litológicas 0,808 2 Unidades geomorfológicas 0,786 3 Declive 0,681 4 Perfil transversal das vertentes 0,655 5 Depósitos superficiais 0,614 6 Exposição de vertentes 0,608 7 Uso e ocupação do solo 0,601 Em suma, conclui-se que o incremento de mais variáveis ao modelo de susceptibilidade pode melhorar os resultados, até um determinado número de variáveis, mas não existe uma relação linear entre número de variáveis presentes no modelo preditivo e a respectiva capacidade preditiva. De resto, conforme ficou demonstrado nos 94 Avaliação da susceptibilidade à ocorrência de movimentos de vertente casos dos movimentos translacionais superficiais e translacionais, os melhores resultados não correspondem aos modelos que integram mais variáveis. Pelo contrário, nos deslizamentos rotacionais o valor da AAC mais elevado obteve-se com o conjunto das 7 variáveis. No entanto, os valores das AAC obtidos para os deslizamentos rotacionais são muito próximos, variando entre 0,802 (para 2 variáveis) e 0,853 (para 7 variáveis). A análise sensitiva permite definir quais são as “varáveis chave” para a explicação da instabilidade verificando-se que estas não são idênticas para todos os tipos de movimentos de vertente (Zêzere et al., 2008). Adicionalmente, constata-se que os resultados da análise sensitiva são, no essencial, concordantes nas áreas de LousaLoures e de Fanhões-Trancão, o que reforça a ideia de que é possível exportar modelos de susceptibilidade para áreas com características geológicas e geomorfológicas semelhantes. 95 Considerações finais Considerações finais A existência de inventários de movimentos de vertentes, efectuados por Zêzere em 1997, para uma vasta área na região a norte de Lisboa, e a disponibilidade de acesso para os poder trabalhar, constituiu o ponto de partida desta dissertação. A conhecida instabilidade geomorfológica na área modelo de Fanhões-Trancão foi tida em conta, bem como o conhecimento de similaridade geológica e geomorfológica entre essa área e a área teste de Lousa-Loures. Neste contexto, existiam as condições necessárias para trabalhar a informação de base e, através de modelação computacional em SIG, proceder ao desenvolvimento e à experimentação da metodologia que foi apresentada. A preparação da informação de base para a elaboração dos modelos de susceptibilidade passou pela exploração de duas bases de dados de inventários de movimentos de vertente para a área teste de Lousa-Loures: uma efectuada por Zêzere (1997), e outra mais recente construída no âmbito desta dissertação. Paralelamente, foi construída uma base de dados cartográfica que inclui 7 factores de predisposição à instabilidade geomorfológica, com base em exercícios de inquirição de diversas fontes de informação e digitalização dos mais diversos dados mencionados no Capítulo III. Este passo constituiu um processo muito moroso e de elevado detalhe, com vista a obter o máximo rigor e exactidão nos dados de entrada nos modelos, pois os procedimentos analíticos desenvolvidos na avaliação da susceptibilidade devem ser tão objectivos quanto possível, de forma a diminuir o erro e a incerteza associada. A ponderação das variáveis presentes nos modelos e a sua integração para a geração dos mapas de susceptibilidade recorreu ao Método do Valor Informativo, que se revelou um método simples e muito fiável. De acordo com Yan (1988), o Valor Informativo é um método ideal para efectuar predições espaciais de média escala. As questões de partida descritas na Introdução desta dissertação obtiveram uma resolução positiva, como ficou demonstrado na explanação dos resultados efectuada no Capítulo V. Uma das questões fundamentais desenvolvidas neste trabalho consistia em saber, partindo do conhecimento da variação espacial da susceptibilidade de uma área, se é viável a aplicação directa dos algoritmos de susceptibilidade correspondentes em áreas que apresentem características geológicas e geomorfológicas similares. Os resultados 96 Considerações finais obtidos são inequívocos a este respeito, permitindo concluir que a aplicabilidade da metodologia é válida e consistente. Deste modo, é seguro afirmar a viabilidade da aplicação directa de algoritmos de susceptibilidade em áreas geológicas e geomofológicas similares e tratando de movimentos de vertentes da mesma tipologia. Os resultados apresentados e discutidos no Capítulo V mostram que o nível de sobreposição dos mapas de susceptibilidade obtidos com scores de VI de Lousa-Loures e scores de Fanhões-Trancão é bastante elevado. Por exemplo, aos 10% da área classificada como mais susceptível a sobreposição dos modelos de susceptibilidade é de 65% nos deslizamentos translacionais superficiais, e 61% nos deslizamentos rotacionais e translacionais. No entanto, é através do cálculo e da representação das curvas de sucesso e curvas de predição que é mais perceptível a validade da metodologia, sendo que, os resultados obtidos nas AAC são também bastante satisfatórios. Na classificação apresenta por Guzzetti (2005), o modelo preditivo para os deslizamentos translacionais superficiais (AAC = 0,779) é classificado de “aceitável”, tal como o modelo preditivo efectuado para os deslizamentos rotacionais (AAC = 0,78). O modelo efectuado com os deslizamentos translacionais é classificado de “muito bom” (AAC = 0,812). Os resultados obtidos, para além de confirmarem a aplicabilidade e viabilidade da aplicação directa de algoritmos de susceptibilidade correspondentes a áreas que apresentam características geológicas e geomorfológicas similares, revelam também que o Método do Valor Informativo constituiu uma boa escolha para a atribuição objectiva dos pesos das variáveis e para a integração de dados estatísticos na análise e na modelação espacial. Recorrendo à aplicação do Princípio do Uniformitarismo, pode afirmar-se que os futuros deslizamentos deverão ocorrer onde foram preditos pelos modelos de susceptibilidade, se os factores de predisposição se mantiverem. Esta afirmação ganha força e consistência quando, no Capítulo V, secção 5 são apresentadas as AAC dos modelos validados com os movimentos de vertente levantados no terreno em 2009. Aproximadamente 12 anos depois dos inventários de Zêzere, efectuou-se um novo inventário que permitiu aferir a qualidade preditiva dos modelos elaborados com base no inventário de instabilidades mais antigo, o que configura um procedimento de validação sustentada por uma partição temporal do registo dos movimentos. As curvas de predição obtidas são “aceitáveis” (classificação de Guzzetti, 2005) nos modelos preditivos dos deslizamentos translacionais superficiais e “muito boas” para os 97 Considerações finais deslizamentos rotacionais. Os valores de AAC correspondentes contribuíram para reforçar a solidez dos mapas de susceptibilidade produzidos para a área de LousaLoures, que assim foram validados através da partição temporal dos dados. O grau de erro ou de incerteza introduzido por esta abordagem, em comparação com a avaliação de susceptibilidade mais habitual, baseada na exploração de inventário de movimentos de vertente da área estudada, observou-se relativamente baixo. Por outras palavras, quando se compara o valor da AAC das curvas de sucesso com a AAC das curvas de predição de Lousa-Loures, as diferenças são relativamente pequenas. Nos deslizamentos translacionais superficiais a diferença entre a AAC da curva de sucesso e a AAC da curva de predição é de apenas 0,06. Nos deslizamentos rotacionais o diferencial é de 0,073, subindo para 0,111 nos deslizamentos translacionais. Mais uma vez, estes valores confirmam a validade da metodologia aplicada. A análise sensitiva das variáveis foi efectuada com o objectivo de aferir a importância relativa de cada tema na distribuição dos movimentos de vertente e, ao mesmo tempo, avaliar a variação na qualidade dos modelos preditivos decorrente do número de variáveis consideradas. Verificou-se que a modelação da susceptibilidade com 2, 3, 4, 5, 6 e 7 variáveis não produziu diferenças muito significativas ao nível da capacidade preditiva dos modelos, como se demonstra pelas reduzidas diferenças nas respectivas AAC. Embora se tenha observado um ligeiro incremento na qualidade dos resultados dos modelos de susceptibilidade, em função do aumento do número de variáveis consideradas, não se consegue estabelecer uma relação linear entre o número de variáveis presentes no modelo e a respectiva capacidade preditiva. O número de variáveis capazes de obter a melhor AAC difere em função da tipologia dos deslizamentos estudados. Adicionalmente, as variáveis que apresentam maior relação espacial com os movimentos também variam de acordo com o tipo de movimento. Neste contexto, não é aconselhável eliminar à partida eventuais variáveis que se presuma terem uma menor capacidade preditiva. É mais prudente utilizar, numa primeira fase, o maior número possível de variáveis que possam ser consideradas como factores de predisposição (i.e., que evidenciem relações causa-efeito com os movimentos de vertente); e, numa fase posterior, simplificar os modelos de predição por análise sensitiva das variáveis, eliminando os factores pouco ou nada acrescentam à predição. 98 Considerações finais A aplicação da análise sensitiva aos modelos desenvolvidos nesta dissertação foi ainda importante para demonstrar que as variáveis com melhor capacidade preditiva são concordantes nas áreas de Lousa-Loures e Fanhões-Trancão. Com efeito, ou seja, as variáveis que apresentam melhor predição para cada tipologia de movimento são, no essencial, as mesmas nas duas áreas consideradas, o que reforça a ideia que a metodologia aplicada é válida, sendo possível exportar modelos de susceptibilidade para áreas com características geológicas e geomorfológicas semelhantes. A metodologia testada nesta dissertação, embora tenha um carácter académico e científico, revela ser válida e capaz de contribuir com bons resultados para a elaboração de Planos de Ordenamento do Território, quando se verificam a mesmas condições físicas (similaridade geológica e geomorfológica) nos territórios estudados. No entanto, a sua transposição para a elaboração de planos de ordenamento do território será consistente apenas quando existir a possibilidade de validar os mapas de susceptibilidade produzidos; ou seja, a aplicabilidade desta metodologia só deve ser considerada quando houver a disponibilidade de um inventário de movimentos de vertente para a área teste, de modo a ser possível avaliar a capacidade preditiva do respectivo mapa de susceptibilidade. A não existência de inventários de movimentos de vertente impossibilita a validação dos mapas de susceptibilidade obtidos que, por essa razão, não têm significado científico. Como é evidente, é desaconselhável a realização de modelos de susceptibilidade nestas circunstâncias, sob pena de se cometerem erros grosseiros que distorcem a realidade, com consequências graves para o ordenamento do território. A existência de um contexto geológico e geomorfológico muito similar entre as áreas de Lousa-Loures e Fanhões-Trancão é um facto assumido e muitas vezes mencionado nesta dissertação. De resto, esta assunção, baseada no conhecimento da litologia, estrutura geológica e geomorfologia das duas áreas, foi determinante para o desenvolvimento do trabalho. No entanto, numa via de desenvolvimento de trabalhos futuros, será interessante introduzir uma maior objectividade na avaliação da similitude geológica e geomorfológica entre duas áreas, comprovando-a com uma medida quantificável. 99 Considerações finais A avaliação da susceptibilidade a movimentos de vertente caracteriza-se pela sua dimensão espacial. As ferramentas ao dispor dos técnicos facilitam o processamento rápido e rigoroso da informação, contribuindo assim para o sucesso de um estudo. Neste contexto, os SIG permitem trabalhar os dados espaciais de forma coerente e com um grau de exactidão elevado e, principalmente, proceder a modelações espaciais que nos possibilitam “prever” onde irão ocorrer as futuras manifestações de instabilidade geomorfológica. 100 Referências bibliográficas Referências bibliográficas: Asté, J. P. (1991) – Landslide hazard analysis – Landslide risk mapping. In AlmeidaTeixeira, M. E., Fantechi, R., Oliveira, R. e Gomes Coelho, A. (eds.), Prevention and Controlo f Landslides and Other Mass Movements. Comis. European Communities. Bruxels. Bi, J. e Bennett, K.P (2003) – Regression Error Characteristic Curves. Proceedings of the Twentieth International Conference on Machine Learning (ICML-2003). Washington DC. 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A (VI de Lousa-Loures); B (VI de Fanhões-Trancão) 71 5.5 – Mapas de susceptibilidade a deslizamentos rotacionais na área de Lousa-Loures. A (VI de Lousa-Loures); B (VI de Fanhões-Trancão) 73 5.6 – Mapas de susceptibilidade a deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures. A (VI de Lousa-Loures); B (VI de Fanhões-Trancão) 75 5.7 – Curvas de sucesso (azul) e de predição (vermelho) de deslizamentos 77 110 Índice de figuras translacionais superficiais 5.8 – Curvas de sucesso (a azul) e de predição (a vermelho) de deslizamentos rotacionais e respectivas AAC. 79 5.9 – Curvas de sucesso (a azul) e de predição (a vermelho) de deslizamentos translacionais 80 5.10 – Curvas de sucesso e curvas de predição para os deslizamentos translacionais superficiais e respectivas AAC para os inventários de 1997 e 2009 82 5.11 – Curva de sucesso (a azul) e curvas de predição para os movimentos rotacionais e respectivas AAC, para os inventários de1997 e 2009 84 Figura 5.12 - Curvas de sucesso correspondentes a modelos de susceptibilidade aos deslizamentos translacionais superficiais na área de Lousa-Loures, obtidos com 2 a 7 variáveis independentes 88 5.13 - Curvas de sucesso correspondentes aos modelos de susceptibilidade aos deslizamentos rotacionais na área Lousa-Loures, obtidos com 2 a 7 variáveis independentes 91 Figura 5.14 – Curvas de sucesso correspondentes aos modelos de susceptibilidade aos deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures, obtidos com 2 a 7 variáveis independentes 93 111 Índice de quadros Índice de quadros 2.1 – Inventário de movimentos de vertentes na área de Fanhões-Trancão 14 3.1 – 1.º Inventário de movimentos de vertentes da área de Lousa-Loures 21 3.2 – 2.º Inventário de movimentos de vertente da área de Lousa-Loures (2009) 24 3.3 – Área (m2) dos movimentos de vertente do 1.º inventário (levantamento de Zêzere 1997) 24 3.4 – Área (m2) dos movimentos de vertente do 2.º inventário (levantamento 2009) 25 3.5 – Variáveis e classes consideradas como factores de predisposição da instabilidade geomorfológica 30 3.6 – Integração das classes litológicas 35 5.1 – Coeficiente de correlação de Pearson dos factores de predisposição à ocorrência de movimentos de vertente nas áreas de Lousa-Loures e FanhõesTrancão 53 5.2 – Scores do Valor Informativo da área de Lousa-Loures 55 5.3 – Scores de Valor Informativo da área de Fanhões-Trancão 56 5.4 – Nível de sobreposição entre os dois mapas de susceptibilidade a deslizamentos translacionais superficiais 71 5.5 – Nível de sobreposição entre os dois mapas de susceptibilidade a deslizamentos rotacionais 73 5.6 – Nível de sobreposição entre os dois mapas de susceptibilidade a deslizamentos translacionais 75 5.7 – Valor Informativo da variável declive – Inventário de 2009 85 5.8 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos translacionais superficiais na área de Lousa-Loures 87 112 Índice de quadros 5.9 – AAC de modelos de susceptibilidade aos deslizamentos translacionais superficiais na área de Lousa-Loures, com 2 a 7 factores de predisposição 87 5.10 – Hierarquia dos factores de predisposição para deslizamentos translacionais superficiais na área de Fanhões-Trancão 89 5.11 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos rotacionais na área de Lousa-Loures 90 5.12 - AAC de modelos de susceptibilidade a deslizamentos rotacionais na área de Lousa-Loures com 2 a 7 factores de predisposição 90 5.13 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos rotacionais na área de Fanhões-Trancão 92 5.14 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos translacionais da área de Lousa-Loures 92 5.15 – AAC de modelos de susceptibilidade a deslizamentos translacionais na área de Lousa-Loures com 2 a 7 factores de predisposição 93 5.16 – Hierarquia dos factores de predisposição para os deslizamentos translacionais na área de Fanhões-Trancão 94 113 Anexos ANEXOS 114 Anexo I ANEXO I Áreas dos deslizamentos: Inventário de Zêzere, 1997; Inventário de 2009 Inventário efectuado por Zêzere, 1997 Translacionais superficiais N.º Área (m2) Movimentos 1 464 2 311 3 192 4 198 5 994 6 396 7 465 8 480 9 150 10 1354 11 928 12 337 13 123 14 138 15 156 16 207 17 204 18 571 19 275 20 740 21 309 22 255 23 427 24 96 25 2262 26 338 27 398 28 1105 29 1078 30 1648 31 498 32 3151 33 625 34 1570 35 1950 36 488 37 546 38 780 39 879 40 1506 41 658 42 466 43 394 44 205 45 216 46 94 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 Total 78 509 88 154 200 194 181 144 158 112 369 206 175 78 109 149 179 178 445 147 95 186 90 103 118 65 778 189 109 75 72 78 118 101 119 329 37099 Rotacionais N.º Área (m2) Movimentos 1 5595 2 3577 3 4229 4 3866 5 12147 6 5635 7 1907 8 3592 9 4552 10 1763 11 588 12 1263 13 1898 14 7515 15 1668 16 5197 17 6438 18 1999 19 1035 20 11009 21 238 Total 85710 Translacionais N.º Área (m2) Movimentos 1 4615 2 237 3 1808 4 17347 5 6954 6 1286 7 6350 8 1588 9 2020 10 806 11 712 12 898 13 1592 14 832 15 1570 Total 48615 Anexo I Inventário efectuado em 2009 Translacionais Superficiais N.º Área (m2) Movimentos 1 65 2 31 3 175 4 27 5 76 6 101 7 131 8 62 9 65 10 75 11 60 12 105 13 122 14 60 15 227 16 72 17 1610 18 85 19 128 20 130 21 149 22 29 23 751 24 48 25 103 26 65 27 77 28 49 29 51 30 52 31 76 32 45 33 71 34 58 35 58 36 1205 Total 6294 Rotacionais N.º Área (m2) Movimentos 1 5241 2 1619 3 110 5 96 6 179 7 492 Total 7763 Anexo II ANEXO II Cálculos dos Valores Informativos Cálculos dos Valores Informativos dos deslizamentos translacionais superficiais de Lousa-Loures Classes de variável Si Ni S N Si/Ni S/N VIVar 7 133541 1484 675114 5,24E-05 0,002198 -3,73611 ]5-10º] 110 229100 1484 675114 0,00048 0,002198 -1,52129 ]10-15º] 302 136991 1484 675114 0,002205 0,002198 0,002897 ]15-20º] 280 75723 1484 675114 0,003698 0,002198 0,520093 ]20-25º] 224 46509 1484 675114 0,004816 0,002198 0,784385 ]25-30º] 234 28618 1484 675114 0,008177 0,002198 1,31367 ]30-40º] 266 21810 1484 675114 0,012196 0,002198 1,713513 > 40º 61 2822 1484 675114 0,021616 0,002198 2,285813 Terreno Plano 0 13548 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 N 330 37770 1484 675114 0,008737 0,002198 1,379963 NE 260 74355 1484 675114 0,003497 0,002198 0,464216 E 164 86653 1484 675114 0,001893 0,002198 -0,14966 SE 171 112632 1484 675114 0,001518 0,002198 -0,37008 S 132 117393 1484 675114 0,001124 0,002198 -0,67034 SW 133 110453 1484 675114 0,001204 0,002198 -0,60186 W 258 81176 1484 675114 0,003178 0,002198 0,368725 NW 36 41134 1484 675114 0,000875 0,002198 -0,92003 Concavo 589 202806 1484 675114 0,002904 0,002198 0,278561 Rectilíneo 396 99380 1484 675114 0,003985 0,002198 0,594848 Convexo 470 201096 1484 675114 0,002337 0,002198 0,061335 Terreno plano 29 171832 1484 675114 0,000169 0,002198 -2,56684 Arenitos e calcários 26 39863 1484 675114 0,000652 0,002198 -1,21497 Margas e calcários marg, 785 191752 1484 675114 0,004094 0,002198 0,621866 0 39949 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Basaltos e tufos vulcânicos 673 335903 1484 675114 0,002004 0,002198 -0,09269 Conglomerados e arenitos 0 67647 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Planície aluvial 0 29001 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Canal fluv. erosão activa 82 11218 1484 675114 0,00731 0,002198 1,201585 Pedreira 0 2249 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Superfície plana 17 102178 1484 675114 0,000166 0,002198 -2,58112 Unidades georfológicas Unidades litológicas Perfil Tranv. das vertentes Exposição das vertentes Declive 0-5º Calcários com rudistas Anexo II Anverso de costeira 517 85781 1484 675114 0,006027 0,002198 1,00863 0 15980 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Vertente de vale 635 216226 1484 675114 0,002937 0,002198 0,289686 Vertente cataclinal 129 122348 1484 675114 0,001054 0,002198 -0,73467 Valeiro de fundo em U 35 47693 1484 675114 0,000734 0,002198 -1,09705 Outras vertentes anaclinais 69 32127 1484 675114 0,002148 0,002198 -0,02321 Outras áreas antrópicas 0 10313 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Aluviões 0 28987 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Coluviões < 0,5 m 1015 447166 1484 675114 0,00227 0,002198 0,032099 Coluviões > 0,5 m 459 197790 1484 675114 0,002321 0,002198 0,054229 Dep, ench, de valeiro 10 705 1484 675114 0,014184 0,002198 1,864528 Dep. ter. cheia recente 0 466 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Coberto herbáceo 493 245874 1484 675114 0,002005 0,002198 -0,09192 Áreas urb. e estradas 85 102689 1484 675114 0,000828 0,002198 -0,97667 Terrenos cultivados 117 133722 1484 675114 0,000875 0,002198 -0,9212 Coberto arbóreo 222 59528 1484 675114 0,003729 0,002198 0,528616 Coberto arbustivo denso 567 131428 1484 675114 0,004314 0,002198 0,674285 0 1873 1484 675114 0 0,002198 -3,73611 Uso e ocupação do solo Depósitos superficiais Sinclinal alcandorado Espaço verde urbano Cálculos dos Valores Informativos dos deslizamentos rotacionais de Lousa-Loures Exposição das vertentes Declive Classes de variável Si Ni S N Si/Ni S/N VIVar 0-5º 211 133541 3445 675114 0,00158 0,005103 -1,17235 ]5-10º] 463 229100 3445 675114 0,002021 0,005103 -0,92623 ]10-15º] 697 136991 3445 675114 0,005088 0,005103 -0,00293 ]15-20º] 783 75723 3445 675114 0,01034 0,005103 0,706253 ]20-25º] 547 46509 3445 675114 0,011761 0,005103 0,835005 ]25-30º] 362 28618 3445 675114 0,012649 0,005103 0,908911 ]30-40º] 314 21810 3445 675114 0,014397 0,005103 1,037227 > 40º 68 2822 3445 675114 0,024096 0,005103 1,552264 Terreno Plano 28 13548 3445 675114 0,002067 0,005103 -0,90383 N 451 37770 3445 675114 0,011941 0,005103 0,850155 NE 322 74355 3445 675114 0,004331 0,005103 -0,1641 E 848 86653 3445 675114 0,009786 0,005103 0,651171 SE 100 112632 3445 675114 0,000888 0,005103 -1,74875 S 172 117393 3445 675114 0,001465 0,005103 -1,24783 SW 376 110453 3445 675114 0,003404 0,005103 -0,4048 W 799 81176 3445 675114 0,009843 0,005103 0,656944 Anexo II Perfil transversal NW 349 41134 3445 675114 0,008484 0,005103 0,508439 Concavo 1718 202806 3445 675114 0,008471 0,005103 0,506869 Rectilíneo 344 99380 3445 675114 0,003461 0,005103 -0,38811 Convexo 1021 201096 3445 675114 0,005077 0,005103 -0,00504 362 171832 3445 675114 0,002107 0,005103 -0,88467 0 39863 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 2693 191752 3445 675114 0,014044 0,005103 1,012411 Calcários com rudistas 128 39949 3445 675114 0,003204 0,005103 -0,46537 Basaltos e tufos vulcânicos 624 335903 3445 675114 0,001858 0,005103 -1,01047 Conglomerados e arenitos 0 67647 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 Planície aluvial 0 29001 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 161 11218 3445 675114 0,014352 0,005103 1,034087 0 2249 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 217 102178 3445 675114 0,002124 0,005103 -0,87662 1082 85781 3445 675114 0,012614 0,005103 0,904971 0 15980 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 1723 216226 3445 675114 0,007969 0,005103 0,4457 182 122348 3445 675114 0,001488 0,005103 -1,23266 80 47693 3445 675114 0,001677 0,005103 -1,11256 Outras vertentes anaclinais 0 32127 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 Outras áreas antrópicas 0 10313 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 Aluviões 0 28987 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 Coluviões < 0,5 m 1897 447166 3445 675114 0,004242 0,005103 -0,1847 Coluviões > 0,5 m 1529 197790 3445 675114 0,00773 0,005103 0,415366 Dep. ench. de valeiro 19 705 3445 675114 0,02695 0,005103 1,664199 Dep. ter. cheia recente 0 466 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 1012 245874 3445 675114 0,004116 0,005103 -0,21493 Áreas urb. e estradas 145 102689 3445 675114 0,001412 0,005103 -1,28477 Terrenos cultivados 120 133722 3445 675114 0,000897 0,005103 -1,73807 Coberto arbóreo 429 59528 3445 675114 0,007207 0,005103 0,345213 1739 131428 3445 675114 0,013232 0,005103 0,952809 0 1873 3445 675114 0 0,005103 -1,74875 Terreno Plano Unidades litológicas Arenitos e calcários Margas e calcários margosos Canal fluv. erosão activa Depósitos superficiais Unidades geomorfológicas Pedreira Superfície plana Anverso de costeira Sinclinal alcandorado Vertente de vale Vertente cataclinal Valeiro de fundo em U Uso e ocupação o solo Coberto herbáceo Coberto arbustivo denso Espaço verde urbano Anexo III Anexo III Valor Informativo e frequência das classes das variáveis independentes condicionantes dos deslizamentos na área de Fanhões-Trancão. Deslizamentos translacionais superficiais 70 60 50 40 30 20 10 0 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 D1 D2 D3 D4 D5 Valor Informativo D6 D7 % área total Valor Informativo Declive D8 Frequência 2 70 1 60 0 50 ‐1 40 ‐2 30 ‐3 20 ‐4 10 ‐5 0 EV1 EV2 EV3 EV4 EV5 Valor Informativo EV6 EV7 EV8 % área total Valor Informativo Exposição das Vertentes EV9 Frequência 70 60 50 40 30 20 10 0 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 PV1 PV2 PV3 Valor Informativo PV4 % área total Valor Informativo Perfil Transversal das Vertentes PV5 Frequência Anexo III 70 60 50 40 30 20 10 0 UL1 UL2 UL3 Valor Informativo UL4 UL5 % área total Valor Informativo Unidades Litológicas 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 UL6 Frequência 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total Valor Informativo Unidades Geomorfológicas UG1 UG2 UG3 UG4 UG5 UG6 UG7 UG8 UG9 UG10 UG11 Valor Informativo Frequência 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 70 60 50 40 30 20 10 0 DS1 DS2 DS3 DS4 Valor Informativo DS5 DS6 % área total Valor Informativo Depósitos Superficiais DS7 Frequência Anexo III 1 60 0 50 ‐1 40 ‐2 30 ‐3 20 ‐4 10 ‐5 0 UOS1 UOS2 UOS3 UOS4 Valor Informativo UOS5 % área total Valor Informativo Uso e Ocupação do Solo UOS6 Frequência Deslizamentos rotacionais 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 80 70 60 50 40 30 20 10 0 D1 D2 D3 D4 Valor Informativo D5 D6 D7 % área total Valor Informativo Declive D8 Frequência 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 80 70 60 50 40 30 20 10 0 EV1 EV2 EV3 EV4 EV5 Valor Informativo EV6 EV7 EV8 % área total Valor Informativo Exposição das Vertentes EV9 Frequência Anexo III PTV1 PTV2 PTV3 Valor Informativo PTV4 80 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 80 70 60 50 40 30 20 10 0 % área total Valor Informativo Perfil Transversal das Vertentes PTV5 Frequência Valor Informativo Unidades Litológicas 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 UL1 UL2 UL3 Valor Informatico UL4 UL5 UL6 Frequência 80 70 60 50 40 30 20 10 0 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 % área total Valor Informativo Unidades Geomorfológicas UG1 UG2 UG3 UG4 UG5 UG6 UG7 UG8 UG9 UG10UG11 Valor Informativo Frequência Anexo III 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 80 70 60 50 40 30 20 10 0 DS1 DS2 DS3 DS4 DS5 Valor Informativo DS6 % área total Valor Informativo Depósitos Superficiais DS7 Frequência 80 70 60 50 40 30 20 10 0 3 2 1 0 ‐1 ‐2 ‐3 ‐4 ‐5 UOS1 UOS2 UOS3 UOS4 Valor Informativo UOS5 % área total Valor Informativo Uso e Ocupação do Solo UOS6 Frequência Deslizamentos translacionais 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 D1 D2 D3 D4 Valor Informativo D5 D6 D7 % área total Valor Informativo Declive D8 Frequência Anexo III 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 % área total Valor Informativo Exposição das Vertentes EV1 EV2 EV3 EV4 EV5 EV6 EV7 EV8 EV9 Valor Informativo Frequência 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 PTV1 PTV2 PTV3 PTV4 Valor Informativo % área total Valor Informativo Perfil Transversal das Vertentes PTV5 Frequência 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 UL1 UL2 UL3 UL4 Valor Informativo UL5 % área total Valor Informativo Unidades Litológicas UL6 Frequência Anexo III 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 % área total Valor Informativo Unidades Geomorfológicas UG1 UG2 UG3 UG4 UG5 UG6 UG7 UG8 UG9 UG10 UG11 Valor Informativo Frequência 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 DS1 DS2 DS3 DS4 Valor Informativo DS5 DS6 % área total Valor Informativo Depósitos Superficiais DS7 Frequência 2 60 1 50 0 40 ‐1 30 ‐2 20 ‐3 10 ‐4 0 UOS1 UOS2 UOS3 UOS4 Valor Informativo UOS5 % área total Valor Informativo Uso e Ocupação do Solo UOS6 Frequência Anexo IV ANEXO IV Mapas de susceptibilidade de Lousa-Loures Mapa de susceptibilidade a deslizamentos translacionais superficiais elaborado com Valores Informativos de Lousa-Loures Anexo IV Mapa de susceptibilidade a deslizamentos translacionais superficiais elaborado com Valores Informativos de Fanhões-Trancão Anexo IV Mapa de susceptibilidade a deslizamentos rotacionais elaborado com Valores Informativos de Lousa-Loures Anexo IV Mapa de susceptibilidade a deslizamentos rotacionais elaborado com Valores Informativos de Fanhões-Trancão Anexo IV Mapa de susceptibilidade a deslizamentos translacionais elaborado com Valores Informativos de Lousa-Loures Anexo IV Mapa de susceptibilidade a deslizamentos translacionais elaborado com Valores Informativos de Fanhões-Trancão
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