Pensar Acadêmico – Ano 6

Transcrição

Pensar Acadêmico – Ano 6
Revista
Pensar
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c
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m
ê
Acad
Jul-Dez 2014
Ano 6, n° 2,
PENS@R ACADÊMICO
ISSN 1808-6136
Publicação semestral da FACIG – Faculdade de Ciências Gerencias de
Manhuaçu/MG
Editores: Lívia Paula de Almeida Lamas
Glaucio Luciano Araujo
Conselho Editorial: Aloísio Teixeira Garcia
Rita de Cássia Martins de Oliveira Ventura
Thales Reis Hannas
Periodicidade: Semestral
Indexação: Lantidex e Sumários.org
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Pensar Acadêmico
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“O periódico Pensar Acadêmico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de
forma solidária, pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos artigos, por serem de inteira
responsabilidade de seu(s) autor(es)”.
Publicação Semestral da FACIG
Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu
Ano
6
Número
2
2º Semestre
2014
PENS@R ACADÊMICO
ISSN 1808-6136
Revista da Faculdade de Ciências Gerencias de Manhuaçu (FACIG)
Ano 6 Número 2 2º Semestre 2014
Artigos
p. 08 - Mortalidade por câncer bucal e orofaringe no Brasil entre 2002 e 2011.
Emílio Prado da Fonseca
Suelen Garcia Oliveira da Fonseca
Clarice Santana Milagres
Alexandre Gomes Lopes
p. 18 - Estratégia de saúde da família e atenção primária a saúde de quem está
trabalhando.
Clarice Santana Milagres
Jucilene Casati Lodi
Juliana Aparecida Fialho Cardoso
p. 24 - Assistência multiprofissional: À saúde do homem um desafio para a atenção
primária.
Daniela de Lima Venâncio
Diana Alves Prates Simões
Kênia do Carmo Marinho Borges
Valquíria dos Santos Bretas
p. 39 - Comparison between the use of panoramic radiography and cone beam
computed tomography to locate dental elements severe intruded due to trauma: case
report.
Pedro Diniz Rebouças
Lorena Walesca Macedo Rodrigues
Adriana Kelly de Sousa Santiago
Clarice Santana Milagres
Juliana Oliveira Gondim
José Jeová Siebra Moreira-Neto
p. 46 - Eutanásia: assassinato, suicídio assistido ou libertação?
Milene da Rosa Schmitz
p. 57 - Novos desafios para a educação: independência, alienação, dependência
econômica e padronização cultural.
Davidson José de Sousa Oliveira
p. 70 - Pontos notáveis do triângulo por meio do geogebra.
Cláudio Henrique Ziviani
Clemência Aparecida Hott
p. 75 - A ótica dos paradigmas sobre os conceitos de liderança
Ademir Gargary
Cíntia Dietrich Hoffmann
Simone Carla Delfino Franco
8
Fonseca et al (2014)
MORTALIDADE POR CÂNCER BUCAL E OROFARINGE NO BRASIL
ENTRE 2002 E 2011
Emílio Prado da Fonseca1, Suelen Garcia Oliveira da Fonseca2, Clarice Santana
Milagres3, Alexandre Gomes Lopes4
1
Doutorando em Odontologia (Saúde Coletiva), Departamento de Odontologia Social,
Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP/UNICAMP e-mail: [email protected]
2
Aluna Especialização Odontologia Legal, Faculdade de Odontologia de Piracicaba
FOP/UNICAMP.
3
Doutoranda em Odontologia (Saúde Coletiva), Departamento de Odontologia Social,
Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP/UNICAMP.
4
Doutorando em Odontologia (Saúde Coletiva), Departamento de Odontologia Social,
Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP/UNICAMP e docente da Fundação Hermínio
Ometto – UNIARARAS.
RESUMO
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer de boca e orofaringe são as
neoplasias mais frequentes da cabeça e pescoço. No Brasil, estudos recentes demonstram
um elevado número de óbitos por esses canceres. Neste sentido, conhecer a magnitude das
prevalências, estratificação por idade, gênero e o padrão da mortalidade por câncer bucal no
Brasil motivaram a realização da presente comunicação. Objetivo: Investigar os óbitos
ocorridos por câncer bucal e orofaringe ocorrida no Brasil entre 2002 e 2011. Materiais e
métodos: Trata-se um estudo observacional retrospectivo que utilizou como fonte de dados
dos óbitos o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) através do sítio eletrônico do
DATASUS. As variáveis utilizadas para a estatística descritiva foram gênero, cor/raça, faixa
etária, escolaridade, local de ocorrência, estado civil e causa básica de morte o câncer de
boca e orofaringe (Categoria C00 a C14). Foram calculadas as taxas de óbitos entre 2002 e
2011 para analisar a tendência da mortalidade. Para avaliar o nível de saúde será
construída a curva de mortalidade e a razão de mortalidade proporcional (RMP) ou indicador
de Swaroop e Uemura. Resultados: No período ocorreram 60.132 óbitos por câncer de boca
e orofaringe. Predominante em homens, brancos, 50 anos ou mais, baixa escolaridade,
casado e cujo óbito ocorreu em ambiente hospitalar. A RMP encontrada para a idade foi de
81,68% (1º nível). Houve tendência de crescimento da taxa de mortalidade para as
categorias C01(Base da língua), C10 (Orofaringe) e para o somatório das categorias C00 a
C14. As demais permaneceram estáveis para o período estudado. Conclusão: Houve
crescimento na taxa de óbitos por câncer de boca e orofaringe no entre 2002 e 2011.
Apesar do índice e indicador de mortalidade proporcional apontar para nível de saúde
elevado para o país.
Palavras-Chave: Neoplasias Bucais, Coeficiente de Mortalidade, Neoplasias Orofaríngeas.
ABSTRACT
For the World Health Organization (WHO), cancer of the mouth and oropharynx are the most
common neoplasms of the head and neck. In Brazil, recent studies show a high number of
deaths from these cancers. In this sense, knowing the magnitude of prevalence, stratified by
age, gender and the pattern of mortality from oral cancer in Brazil led to the realization of this
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Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 08-17, Agosto-Dezembro, 2014.
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Fonseca et al (2014)
communication. Objective: To investigate the deaths of oral and oropharyngeal cancer
occurred in Brazil between 2002 and 2011. Materials and Methods: This was a retrospective
observational study that used as the data source of the deaths Information System (SIM)
through the website electronic DATASUS. The variables used for descriptive statistics were
gender, color/race, age, education, place of occurrence, marital status and underlying cause
of death cancer of the mouth and oropharynx (Category C00 to C14). Death rates between
2002 and 2011 were calculated to analyze the trend in mortality. To assess the level of
health will be built the mortality curve and the proportional mortality ratio (PMR) or indicator
Swaroop and Uemura. Results: In the period 60,132 deaths due to oral and oropharyngeal
cancer. Prevalent in white men, 50 or older, low education, married and whose death
occurred in a hospital setting. The RMP found for age was 81.68% (1st level). There was a
trend growth rate of mortality for categories C01 (base of the tongue), C10 (oropharynx) and
the sum of the categories C00 to C14. The others remained stable for the period studied.
Conclusion: There was an increase in the rate of deaths from oral and oropharyngeal cancer
between 2002 and 2011 in spite of the index and proportional mortality indicator point to a
high level of health for the country.
Keywords: Mouth Neoplasms, Mortality Rate, Oropharyngeal Neoplasms
1. INTRODUÇÃO
O processo de modificação dos
padrões de saúde-doença, conhecido
como
transição
epidemiológica,
é
caracterizado pela mudança no perfil da
mortalidade com o aumento da taxa de
doenças
crônico-degenerativas,
em
especial as cardiovasculares e o câncer.
Segundo o Instituto Nacional de
Câncer (INCA), a estimativa é de 580 mil
novos casos de câncer para 2014. Sendo
que o de cavidade oral ocupa o quinto
lugar geral entre a população masculina.
O câncer da cavidade oral teve sua
prevalência aumentada, principalmente,
em pessoas com idade maior de 60 anos
com significativa taxa de mortalidade. É
uma neoplasia multifatorial e os principais
fatores de risco são: tabaco, álcool,
trauma mecânico, agentes biológicos,
predisposição genética, estado sistêmico
e geral do indivíduo. Estudos apontam as
dietas ricas em frutas e vegetais como
medida protetiva contra o câncer bucal.
Para a Organização Mundial de
Saúde (OMS), o câncer de boca e
orofaringe são as neoplasias mais
freqüentes da cabeça e pescoço. No
Brasil, as regiões Sudeste e Sul
caracterizam-se
por
apresentar
as
maiores taxas de mortalidade por câncer.
Estudos sobre a mortalidade por
neoplasias de boca e orofaringe são
ferramentas para o aperfeiçoamento da
Política Nacional de Saúde Bucal porque
fornecem subsídios para ações de
prevenção, diagnostico precoce e redução
da mortalidade desta neoplasia. Neste
sentido, conhecer a magnitude das
prevalências, estratificação por idade,
gênero e o padrão da mortalidade por
câncer bucal no Brasil motivaram a
realização da presente comunicação.
O objetivo deste estudo é investigar
os óbitos ocorridos por câncer bucal e
orofaringe no Brasil e disponibilizado pelo
Sistema de Informação Sobre Mortalidade
(SIM) entre os anos de 2002 e 2011.
2. METODOLOGIA
Trata-se um estudo observacional
retrospectivo com fonte de dados
secundários. Sistema de Informação
sobre mortalidade – SIM.
É um sistema de informação que
capta dados sobre a mortalidade no
Brasil. O documento padrão do SIM é a
Declaração de Óbito (DO), utilizada pelos
cartórios para emissão de Certidão de
Óbito. Os dados são coletados pelas
secretarias municipais de saúde, onde são
revistos,
codificados,
corrigidos
e
processados. Posteriormente os dados
são consolidados em bases de dados
estaduais e remetidos à Coordenação
Geral de Análise de Informações em
Saúde (CGAIS), que consolida os dados
em uma base de dados de abrangência
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Fonseca et al (2014)
nacional. Em 1996, passou-se a utilizar a
tradução da Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas
relacionados à Saúde – 10ª revisão (CID10) em língua portuguesa para classificar
as informações sobre mortalidade.
O SIM disponibiliza os dados
através do sítio do DATASUS de forma
pública e para todos os níveis do sistema
de saúde (federal estadual e municipal).
Foram adotados critérios para a coleta
dos dados do SIM: os dados foram
coletados em duplicata, com intervalo de
30 dias entre as coletas e pelos
pesquisadores. Posteriormente as coletas
foram confrontadas para checar a
consistência das informações. Os dados
estão disponibilizados no SIM até o ano
de 2012 e está sujeito a retificação pelo
sistema. Este fato impossibilitou a
inclusão dos dados de 2012 no estudo.
Para esta publicação, as variáveis
utilizadas foram gênero, cor/raça, faixa
etária, escolaridade, local de ocorrência,
estado civil, causa básica de morte o
câncer de boca e orofaringe (Categoria
C00 a C14).
Os dados extraídos do SIM foram
organizados em tabelas de frequência
relativa e absoluta para a realização das
estatísticas descritivas. Para análise da
tendência da mortalidade por câncer de
boca e orofaringe foram construídos
gráficos das taxas de mortalidade com
dados de 2002 a 2011.
Para o cálculo da taxa de
mortalidade foi utilizado como referência a
população brasileira conforme contagem
populacional de 2002 a 2011 e para o ano
de 2010 foi utilizado o Censo de 2010.
Para avaliar o nível de saúde será
construída a curva de mortalidade
proporcional denominada Curva de
Nelson de Moraes e a razão de
mortalidade proporcional (RMP) ou
indicador de Swaroop e Uemura. As
curvas de mortalidade proporcional são
construídas a partir da distribuição
proporcional dos óbitos por grupos etários
com relação ao total de óbitos para
determinada população, sendo que estas
distribuições exibem certo formato gráfico,
que indicará o nível de saúde da área
avaliada. Já a RMP é a proporção de
óbitos de indivíduos com idade igual ou
superior a 50 anos, em relação ao total de
óbitos.
3. RESULTADOS
No período analisado ocorreram
60.132 óbitos por câncer de boca e
orofaringe. Sendo predominante em
homens, brancos, com mais de 50 anos,
baixa escolaridade, casado e cujo óbito
ocorreu em ambiente hospitalar. (Tabela
1).
A RMP encontrada para idade de 50
anos ou mais foi de 81,68% e indica que,
aproximadamente, quatro em cada cinco
óbitos ocorridos foram em pessoas com
idade igual ou superior a 50 anos.
Segundo classificação do nível de saúde
da população do indicador de Swaroop e
Uemura a RMP maior ou igual a 75% é
típico de país desenvolvido (1º nível).
(Tabela I).
O nível de saúde representado pela
variação da curva de mortalidade
proporcional
indica,
conforme
classificação de Nelson de Moraes,
predomínio da proporção de óbitos de
pessoas com idades mais avançadas
(Tipo IV: nível de saúde elevado) (Figura
1).
Em relação a categoria da lesão
pode-se afirmar que 27.513 (45,76%) dos
óbitos não foi identificado o local de
origem da lesão (C02, C06, C08 e C14).
Para a boca as maiores frequências foram
base da língua (C01), Palato (C05) e
Assoalho da Boca (C04). (Tabela II).
Houve tendência de crescimento da
taxa de mortalidade para as categorias
relacionadas à boca C01(Base da língua),
C10 (Orofaringe) e para o somatório das
categorias C00 a C14. As demais
permaneceram estáveis para o período
estudado. (Tabela III e Figura 2).
4. DISCUSSÃO
Os resultados apontam número
elevado de óbitos por câncer bucal para
homens e mulheres com prevalência para
o gênero masculino. A letalidade deste
tipo de câncer pode estar associada ao
diagnostico tardio da lesão, demora no
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Fonseca et al (2014)
Tabela I: Caracterização da mortalidade por câncer bucal e orofaringe (CID-10 e Categorias
C00 a C14) no Brasil entre 2002 e 2011
Variáveis
Número de óbitos
Gênero
Masculino
47.990
Feminino
12.141
Ignorado
1
Total
60.132
Cor/raça
Branca
34.914
Preta
4.784
Amarela
270
Parda
16.212
Indígena
41
Ignorado
3.911
Faixa Etária em anos
Menor que 1
18
1a4
19
5 a 19
242
20 a 49
10.704
50 ou mais
49.117
Ignorada
32
Escolaridade em anos
Nenhuma
8.068
1a3
13.330
4a7
12.701
8 a 11
5.281
12 e mais
2.449
Ignorado
18.303
Local de ocorrência
Hospital
43.082
Estabelecimento de saúde
1.358
Domicílio
14.741
Via pública
187
Outros
675
Ignorado
89
Estado Civil
Solteiro
14.941
Casado
28.174
Viúvo
8.472
Separado
4.947
Outro
341
Ignorado
3.257
%
79,81
20,19
0,001
100
58,06
7,95
0,45
26,96
0,06
6,50
(RMP)
0,03
0,03
0,40
17,80
81,68**
0,05
13,42
22,17
21,12
8,78
4,07
30,44
71,64
2,26
24,51
0,31
1,12
0,14
24,84
46,85
14,08
8,22
0,56
5,41
Fonte: DATASUS- Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)
(*) Razão de Mortalidade Proporcional (RMP)
(**) Indicador de Swaroop e Uemura
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Fonseca et al (2014)
Figura 1: Nível de saúde segundo classificação proposta por Nelson de Moraes
início do tratamento.
Cunha et. al. (2009), as lesões
iniciais são assintomáticas e os indivíduos
toleram a convivência com o tumor e
somente procuram o serviço de saúde
quando
a
lesão
incomoda
(autopercepção) e, consequentemente,
está em estágio avançado evoluindo ao
óbito. Os autores também afirmam que o
câncer de boca é de fácil diagnóstico
(dependendo da localização da lesão),
feito por inspeção visual da cavidade oral
por profissional de saúde ou pelo próprio
indivíduo e que o diagnóstico tardio está
relacionado ao não acesso ao serviço de
saúde bucal. Estudo de Falcão et.
al.(2010) concluiu que os cirurgiõesdentistas
não
apresentaram
conhecimentos necessário em relação ao
câncer bucal sendo necessário rever o
tema durante a formação profissional.
Para Maciel et. al.(2012), o
diagnóstico precoce do câncer bucal pode
reduzir o número de óbitos, gastos com
internações, tratamento e sequelas
físicas/psicológicas.
Estilo de vida com maior ingestão de
álcool e uso de tabaco por homens,
exposição a luz solar (condições
ambientais),
baixa
escolaridade
(condições
socioeconômicas),
determinadas atividades laborais e dieta
são apontados como os principais fatores
de risco e fatores de risco associados.
Porém, estudo não encontrou associação
entre câncer e fumo em adultos jovens e
sugere a necessidade de exposição
prolongada a fatores de risco e o caráter
multifatorial da neoplasia.
A discussão em torno da idade
aponta prevalências em indivíduos com
idade superior aos 60 anos. Este fato
pode ocorrer em virtude da lenta
progressão da doença e fator biológico.
Este fato não descarta a realização de
estudos sobre a mortalidade sobre câncer
bucal em crianças e adolescentes.
A cor da pele branca foi
predominante neste estudo. Este fato
pode ocorrer em função da exposição aos
raios ultravioletas e maior susceptibilidade
individual. Houve predomínio da cor parda
estudos realizados na região nordeste.
Esta divergência pode ter ocorrido em
razão do delineamento do estudo,
predominância da população parda na
região
estudada,
características
ambientais da região ou exposição aos
raios Ultravioleta (UV) sem proteção.
Porém, Cunha et al. encontraram uma
distribuição equilibrada entre brancos e
não brancos no estado da Paraíba.
Desconsiderando os óbitos mal
definidos conforme a localização, a
categoria
que
apresentou
maior
frequência para a cavidade oral foi a base
da língua. Estudos anteriores apontam
língua e palato.
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Fonseca et al (2014)
Tabela II: Frequência dos óbitos por categorias de origem da lesão, Brasil, 2002 – 2011.
Categoria CID-10
C00 Lábio
C01 Base da língua
C02 Outras partes e NE da língua
C03 Gengiva
C04 Assoalho da boca
C05 Palato
C06 Outras partes e partes NE da boca
C07 Glândula Parótida
C08 Outras Gland. Saliv. maiores e NE
C09 Amígdala
C10 Orofaringe
C11 Nasofaringe
C12 Seio Piriforme
C13 Hipofaringe
C14 Local mal def. Lábio cav. oral far.
2002
44
290
678
34
125
176
801
146
57
140
1.135
233
59
379
803
2003
46
303
748
35
116
174
824
187
76
152
1.187
233
67
350
807
2004
41
318
739
28
148
183
866
186
56
133
1.264
219
53
394
835
2005
38
342
767
38
153
180
942
217
55
137
1.376
239
67
406
861
2006
37
278
811
38
150
224
946
194
61
118
1.369
252
57
382
960
2007
54
343
876
35
162
212
1.002
214
74
143
1.383
264
66
372
864
2008
48
381
883
37
199
243
979
216
48
145
1.465
256
53
391
945
2009
45
431
914
45
184
239
1.023
219
79
153
1.549
265
59
388
917
2010
48
408
907
43
179
217
1.057
195
74
136
1.627
290
79
455
1.018
2011
58
454
951
35
201
245
1.076
233
57
138
1.635
300
72
442
1.076
Total (%)
459 (0,76)
3.548 (5,90)
8.274 (13,76)
368 (0,61)
1.617 (2,69)
2.093 (3,48)
9.516 (15,83)
2.007 (3,34)
637 (1,06)
1.395 (2,32)
13.990 (23,26)
2.551 (4,24)
632 (1,05)
3.959 (6,58)
9.086 (15,11)
Fonte: DATASUS- Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 08-17,
Agosto-Dezembro, 2014.
14
Fonseca et al (2014)
Tabela III: Série Histórica da Taxa mortalidade por câncer de boca e orofaringe, Brasil entre
2002 e 2011*.
Categoria CID-10
C00 Lábio
C01 Base da Língua
C04 Assoalho da Boca
C05 Palato
C10 Orofaringe
C11 Nasofaringe
C13 Hipofaringe
Total**
2002
0.02
0.16
0.07
0.10
0.64
0.13
0.22
2.92
2003
0.03
0.17
0.06
0.09
0.67
0.13
0.20
2.99
2004
0.02
0.17
0.08
0.10
0.69
0.12
0.21
3.00
2005
0.02
0.18
0.08
0.09
0.74
0.13
0.22
3.16
2006
0.02
0.15
0.08
0.11
0.73
0.13
0.20
3.15
2007
0.03
0.18
0.08
0.11
0.74
0.14
0.20
3.23
2008
0.02
0.20
0.10
0.12
0.77
0.13
0.20
3.32
2009
0.02
0.22
0.09
0.12
0.81
0.14
0.20
3.40
2010
0.02
0.21
0.09
0.11
0.85
0.15
0.24
3.53
2011
0.03
0.23
0.10
0.12
0.85
0.15
0.23
3.62
(*) População estimada segundo IBGE e taxa por 100.000
(**) Total para Categoria C00 a C14
Figura 2: Série histórica da taxa mortalidade por categoria, Brasil, 2002 2011.
Como nosso estudo utilizou como
fonte de dados o SIM e um elevado
percentual de óbitos ocorre em hospital ou
residência. Este fato pode ser um
indicador de confiabilidade do sistema de
informação no que se refere ao
subregistro deste tipo de óbito. Queiroz et.
al.(2010), afirmam a boa qualidade dos
dados de mortalidade por câncer bucal
presente na DO no município do Rio de
Janeiro. Porém, estudos anteriores
afirmam que a utilização de dados
secundários não permite ao pesquisador
controlar possíveis erros decorrentes de
digitação e registro, além de possíveis
sub-registros apesar da obrigatoriedade
de preenchimento da DO pelos serviços
de saúde. Segundo Campos et. al., outros
fatores que podem prejudicar a gestão do
SIM, em municípios de pequeno porte
são: disponibilidade e alta rotatividade de
profissionais no serviço, sepultamentos
não oficiais, ausência de profissional
médico para assinar a DO. Estudo sugere
a inclusão de informações sobre
exposição a fatores de risco como
consumo de álcool e fumo para
aperfeiçoamento do sistema e da análise
dos dados. Estima-se que os óbitos mal
definidos não ultrapassem 10% do total de
óbitos. A alta prevalência de óbitos NE e
mal definida, presentes no SIM, foi
encontrada também em outros estudos.
Este fato pode indicar preenchimento
incompleto da DO, pois, a mesma é
assinada por um profissional médico que
não prestou assistência e nem houve
tempo hábil para a realização de exames
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 08-17, Agosto-Dezembro, 2014.
15
Fonseca et al (2014)
complementares. Nestes casos a DO
poderia ser assinada com auxílio de
profissional dentista. Outros recursos
seriam lançar mão de exame laboratorial
complementar histopatológico, busca ativa
e investigação pela vigilância em saúde.
Altas prevalências de óbitos NE e de
origem anatômica mal definida para
câncer bucal e orofaringe dificultaram os
cálculos da taxa de mortalidade,
incidência, tendência e constitui uma
limitação do SIM.
Borges
et.
al.
(2009)
correlacionaram
indicadores
socioeconômicos
e
o
índice
de
mortalidade por câncer oral. Biazevic et.
al., (2006) observaram tendência de
crescimento da mortalidade por câncer de
boca e orofaringe na cidade de São Paulo
entre 1980 e 2002. Outros estudos
reportaram estabilidade na taxa de câncer
bucal e aumento na taxa de orofaringe
quando os dados são analisados
separadamente.
Maciel et al. (2012)
identificou diferença na morbimortalidade
por câncer de boca e orofaringe entre as
capitais brasileiras.
5. CONCLUSÃO
Os óbitos por câncer bucal possuem
altas prevalências no Brasil e se enquadra
no rol de óbitos evitáveis. O diagnóstico
precoce pode ser realizado sem grandes
conhecimentos técnicos/laboratoriais por
profissionais de saúde e através do autoexame.
No Brasil, houve crescimento na
taxa de óbitos por câncer de boca e
orofaringe no entre 2002 e 2011. Apesar
do Índice e indicador de mortalidade
proporcional (RMP) apontarem para nível
de saúde elevado para o país.
O elevado número de óbitos NE e
mal definidos dificultam o conhecimento
do verdadeiro da mortalidade por câncer
bucal e orofaringe. Apesar das limitações
o SIM é uma fonte de dados confiável
para
subsidiar
estudos
sobre
a
mortalidade por câncer bucal e faringe.
Estudos epidemiológicos descritivos
auxiliam a compreensão da magnitude da
mortalidade por câncer bucal, auxiliam o
planejamento de ações em saúde bucal
que venham a reduzir a carga da doença
e fornecem subsídios para a elaboração
de estudos futuros.
6. REFERÊNCIAS
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Milagres et al (2014)
ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE DE QUEM
ESTÁ TRABALHANDO
Clarice Santana Milagres1, Jucilene Casati Lodi2, Juliana Aparecida Fialho
Cardoso3.
1
Enfermeira. Doutoranda em Odontologia (Saúde Coletiva), Departamento de Odontologia
Social, Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP/UNICAMP.
2
Enfermeira. Mestranda em Odontologia (Saúde Coletiva), Departamento de Odontologia
Social, Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP/UNICAMP.
3
Psicóloga. Mestranda em Administração, Departamento de Administração e Contabilidade,
Universidade Federal de Viçosa-UFV.
RESUMO
Este trabalho enfoca as mudanças ocorridas na implementação das políticas de saúde do
atual sistema apresentado no Brasil, o SUS, bem como a atenção que é dada àqueles
trabalhadores que estão em seus processos de trabalho, quando o mesmo passa a maior
parte do tempo útil diário em um expediente de trabalho contínuo. Objetivo: avaliar o
atendimento prestado pela Unidade de Saúde da Família (USF) à população que trabalha
em uma empresa da cidade de Vitória – ES. Materiais e Métodos: trata-se de uma pesquisa
descritiva exploratória, com abordagem qualiquantitativa, realizada numa empresa de médio
porte na cidade de Vitória. Para a análise descritiva, foram utilizadas as variáveis: utilização
dos serviços de saúde, presença de Estratégia de Saúde da Família no bairro de moradia,
conhecimento do seu funcionamento, dificuldade de acesso. Resultados: dos participantes
da pesquisa, 79,6% não são atendidos pela estratégia, destes 53,2% não sabem da
existência da unidade de saúde da família e 46,8% já ouviram falar, mas não sabem como
funciona, porque o horário de atendimento da unidade coincide com o seu horário de
trabalho, dificultando o acesso. Já 20,4% utilizam a unidade esporadicamente por possuírem
plano de saúde. Quanto ao grau de satisfação, 49% estão satisfeitos com o atendimento
recebido na unidade e 35% estão insatisfeitos. Conclusão: há necessidade de se frisar a
importância de informações e educação em saúde à população e melhoria na oferta de
serviços do mesmo. Uma grande preocupação nos achados da pesquisa foi a identificação
de pessoas que ainda desconhecem a existência da unidade de saúde da família,
procurando outro tipo de assistência que supra suas necessidades de saúde e que ofereça
atendimento após o horário comercial.
Palavras-chave: Serviços de saúde, Estratégia de Saúde da Família, Saúde Pública.
ABSTRACT
This paper focuses on the changes in the implementation of the current health policies
presented system in Brazil, SUS, and the attention that is given to those workers who are in
their work processes, as it passes most of the time useful daily in a continuous working
hours. Objective: To evaluate the care provided by the Family Health Unit (USF) to the
population working in a company of the city of Vitória - ES. Materials and Methods: This is an
exploratory descriptive study with a qualitative and quantitative approach, performed in a
medium-sized company in the city of Vitoria. For the descriptive analysis, the variables were
used: use of health services, presence of ESF in housing neighborhood, knowledge of its
operation, access difficulty. Results: Of the participants, 79.6% are not served by the
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 18-23, Agosto-Dezembro, 2014.
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Milagres et al (2014)
strategy, these 53.2% were unaware of the existence of family health unit and 46.8% have
heard but do not know how it works, because the time unit of service matches your working
hours, making access difficult. Already 20.4% use the unit occasionally by having health
insurance. The degree of satisfaction 49% are satisfied with the care received in the unit and
35% are dissatisfied. Conclusion: It is necessary to stress the importance of information and
health education to the population and improvement in the provision of the same services. A
major concern in the research findings was the identification of people who are still unaware
of the existence of family health unit seeking other assistance that meets their health needs
and providing care after hours.
Keywords: access to health services, family health strategy, public health
ms
1. INTRODUÇÃO
O surgimento do SUS (Sistema
Único de Saúde), no final dos anos 80, é
fruto do reconhecimento das lutas sociais
do direito à saúde no Brasil1. Ancorado em
seus princípios e diretrizes, o SUS vem
sofrendo diversas alterações relativas à
operacionalização de suas ações. Dentre
elas, foi implantada o Programa de Saúde
da Família (PSF), em 1994, que
posteriormente denominado Estratégia de
Saúde da Família (ESF), permitindo aos
trabalhadores desenvolverem uma prática
assistencial
humanizada,
dinâmica,
renovadora e integral, prática que passou
a reorientar a assistência, tendo sua
atenção voltada para a família, inserida
em uma comunidade, deixando de lado o
modelo biomédico e enfatizando o
cuidado biopsicossocial e a prevenção2,3.
Dessa maneira, a interrelação entre
a equipe de saúde da família com a sua
população adscrita é embasada na
construção de vínculos, na qual, essa
equipe passa a ser a referência para o
usuário,
buscando
diariamente
a
implementação de mudanças na atenção
à saúde, contrapondo até então um
modelo assistencial que era centralizado
no usuário¹.
Em vista disso, o trabalho em
equipe é parte fundamental para a
estruturação e o bom funcionamento do
processo de trabalho na expectativa da
ESF, buscando prestação de cuidados
pautada
no
atendimento
integral,
contínuo, equidade e com resolutividade
das necessidades de saúde da população,
através
de
práticas
humanizadas,
competências e éticas. Entretanto, há uma
limitação na construção do trabalho em
equipe que segue as características
propostas, uma vez que, a população
ainda está embasada na cura da doença e
não no trabalho de prevenção e promoção
da saúde4,5. Além disso, foram realizados
avaliação da implementação da ESF,
podendo verificar que a oferta de serviços
é incipiente ou parcial e, em alguns casos,
o apoio da população não foi imediato,
principalmente, em cidades com unidades
básicas melhor estruturadas, onde foi
questionada
a
substituição
de
especialistas por generalistas, problemas
no atendimento por falta de profissionais,
falta de visitas domiciliares, dificuldades
dos médicos em realizarem diagnóstico,
dificuldades no acesso a exames
solicitados, entre outros6, 7,8.
Por consequência disso, nos
últimos anos, tem se preocupado muito
com a saúde dos trabalhadores e sua
qualidade de vida, principalmente quando
se dá o enfoque da produtividade e
satisfação
dos
funcionários
nas
empresas9,10, 11, 12.
Diante das dificuldades para realizar
e desenvolver a ESF, despertou-se o
interesse em realizar um estudo com a
população que trabalha no horário de
atendimento da Unidade de Saúde da
Família, a fim de avaliar o atendimento a
esta população específica. Por se tratar
de um assunto novo, e haver carência de
revisores do assunto, foi proposto um
estudo desta população quanto à
promoção de saúde no nível primário de
atenção.
Visando a superar essas limitações,
o presente estudo pretende avaliar o
atendimento prestado pela ESF à
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 18-23, Agosto-Dezembro, 2014.
20
Milagres et al (2014)
população que trabalha em uma empresa
da cidade de Vitória – ES, identificando o
percentual de trabalhadores atendidos
pela estratégia, seu grau de satisfação e
as dificuldades do trabalhador em relação
ao atendimento da Estratégia de Saúde
da Família.
2. METODOLOGIA
Pesquisa descritiva, exploratória
com abordagem qualiquantitativa. Essa
corrente “compreensivista” realiza uma
aproximação entre o objeto e o sujeito
tornando significativa, correspondendo a
uma abordagem profunda e complexa das
ações e relações humanas, inclusive
valores e crenças que não podem ser
operacionalizados em variáveis13.
O local da pesquisa foi numa
empresa de médio porte, situada na
cidade de Vitória-ES, com total de 422
colaboradores. Os participantes da
pesquisa foram 157 colaboradores,
contemplando apenas os funcionários que
atuam na parte administrativa da
empresa. Os critérios de inclusão foram
todos os técnicos administrativos, ambos
os gêneros, sem distinção de faixa etária
e classe social que aceitassem participar
da pesquisa. Estabeleceu-se como critério
de exclusão: os trabalhadores que não
trabalhavam na área administrativa e
aqueles que não aceitassem participar da
pesquisa voluntariamente. Dessa forma, o
número da amostra foi de 65,6% do total
de todos os colaboradores da empresa.
A coleta de dados ocorreu no
primeiro semestre de 2008, por meio de
entrevistas
estruturadas.
Essas
entrevistas
foram
objetivas,
com
perguntas já formuladas anteriormente13.
Foram feitas numa sala do escritório da
empresa com as seguintes perguntas
norteadoras: “Você utiliza o serviço
público de saúde?”, “no seu bairro tem
Estratégia de Saúde da Família?”, “Sabe
como funciona?”, “tem dificuldade de ser
atendido?”, “o horário de atendimento é
acessível a você?”, “você está satisfeito
com o atendimento prestado pela
estratégia saúde da família, numa escala
de 1 a 10?”. Essas perguntas norteadoras
abrem a discussão para o tema,
englobando a percepção do trabalhador
quanto ao seu acesso à atenção básica.
A análise dos dados foi realizada
mediante a descrição e documentação
das falas dos informantes, a identificação
e categorização das falas, a descoberta
da saturação de ideias e do significado e,
por último, pela síntese do pensamento
dos achados e formulação criativa dos
achados13.
Todos os participantes foram
esclarecidos sobre os objetivos da
pesquisa e sobre a metodologia que seria
aplicada por meio da leitura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido,
baseado na Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde14, que foi por
eles assinados. O projeto de pesquisa foi
aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Escola Superior de Ciências
da Santa Casa de Misericórdia de VitóriaES, mediante o parecer de nº 128/2008. O
anonimato dos informantes foi preservado,
sendo estas identificadas no decorrer do
estudo por indicadores numerados (C1,
C2, (...) C157).
3. RESULTADOS
Todos os participantes incluídos nos
critérios aceitaram participar da pesquisa,
mostrando uma boa adesão. Do total dos
participantes, 80% eram do gênero
masculino,
visto
que,
só
foram
entrevistados participantes da área
administrativa da empresa, reforçando a
relação de cargo de liderança com o
gênero masculino14. Quanto à utilização
da unidade de saúde da família, 20,4%
utilizava, esporadicamente, o programa,
isso porque alegaram possuir plano de
saúde e não veem a necessidade desse
tipo de atendimento. Já, 79,6% não são
atendidos pela estratégia, destes, 53,2%
não sabem da existência da unidade de
saúde da família e 46,8% já ouviram falar,
mas não sabem como funciona, porque o
horário de atendimento da unidade
coincide com o seu horário de trabalho,
dificultando o acesso. Dessa forma, é
fundamental enfatizar a interligação dos
profissionais que atuam na ESF, no
diálogo e no acolhimento nas demandas
da população adscrita à unidade,
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 18-23, Agosto-Dezembro, 2014.
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Milagres et al (2014)
informando, de forma clara e acessível, no
nível de compreensão dos usuários, a
respeito da finalidade da USF, forma de
atuação, hierarquização dos serviços de
saúde; explicando o poder de resolução
da atenção primária (que resolve em torno
de 85% dos problemas de saúde), a
própria forma de organização e as várias
formas de opções que o serviço tem a
oferecer. Para isso, os serviços precisam
estar organizados e atuar em parceria
com
cada
indivíduo,
família
e
comunidade6,15. O estudo de Trad et. al
(2002)7 também detectou que o usuário
tem dificuldades de entender o trabalho da
unidade como uma proposta inovadora de
atendimento e funcionamento, embora a
saúde da família tenha sido lançado em
19947,8.
A Figura 01 mostra os níveis de
satisfação dos usuários quanto ao
atendimento da USF, Vitória, 2008.
35%
Insatisfeitos
49%
Muitos satisfeitos
Satisfeitos
16%
Figura 01: Níveis de satisfação do usuário quanto ao atendimento da USF, Vitória, 2008.
De acordo com a figura 01, 49% dos
usuários da USF relataram que estão
satisfeitos com o atendimento que
recebem na unidade. Alguns estudos
demostram que o índice de satisfação
está relacionado com a presença do
profissional médico na unidade e a
insatisfação por funcionar apenas em
horário comercial, demora no tempo de
espera no serviço e presença de filas16,
17, como observado em algumas falas:
“Temos médico né, nossa unidade
nunca faltou médico, isso é muito
importante”.
“Não consigo atendimento porque
trabalho o dia todo, e o posto só funciona
em horário comercial, deveria funcionar
pelo menos até às dez horas da noite”.
“Se tivesse atendimento sábado e
domingo, aí sim, mas só durante a
semana, como posso consigo consulta
desse jeito?”
“A fila é enorme, e nem sempre
todos que estão ali conseguem pegar a
ficha para atendimento, quantas vezes eu
já fui para a fila às cinco horas da manhã
e quando cheguei lá já tinham mais de
cinquenta pessoas na minha frente. Assim
não dá mesmo!”
“Fila, fila e mais fila, eu nunca vi
tanta fila, uma dificuldade imensa pra ser
atendida” [...].
Os
relatos
de
insatisfação,
demostram que pode estar havendo certo
distanciamento entre a equipe de saúde
com alguns dos usuários, que pode
comprometer a saúde dos mesmos, uma
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 18-23, Agosto-Dezembro, 2014.
22
Milagres et al (2014)
vez que, cliente insatisfeito, tende a não
aderir
ao
tratamento
prescrito
e
consequentemente a não utilização da
unidade de saúde.
Dessa forma, faz-se necessário a
efetividade do acesso de todos os
usuários adscritos à unidade, inclusive os
que relataram que têm acesso à saúde
suplementar, o compromisso de todos os
profissionais na promoção do cuidado
integral, humanizado e resolutivo, que são
alicerces
fundamentais
para
o
fortalecimento da atenção primária como
forma de reorientação da estrutura da
saúde no país.
Tendo em vista o caráter descritivo
do estudo, esses resultados não podem
ser generalizados para todas as unidades,
entretanto, os registros dos fatores
facilitadores e limitadores, evidenciados
na unidade estudada, pode ser o ponto de
partida para o desenvolvimento de
estratégia,
rumo
à
melhoria
no
atendimento da população, tanto para o
acesso como para o acolhimento.
5. REFERÊNCIAS
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universal mas vivemos de cotas. Ciência
& Saúde Coletiva, 18(1):181-190, 2013.
4. CONCLUSÃO
Este estudo possibilitou avaliar o
atendimento da USF à população que
está trabalhando, verificando o percentual
destes trabalhadores que são atendidos
pela estratégia e o grau de satisfação
quanto a esse atendimento.
Diante do exposto, ressalta-se a
importância de melhoria na oferta de
serviços de saúde e de se trabalhar com
os gestores na necessidade de estender o
atendimento após as 18 horas para poder
abranger o atendimento ao maior número
possível de usuários que trabalham
durante o dia, não sendo possível
frequentar a unidade em horário vigente.
Uma população bem informada
quanto às questões de saúde, criam
condições comportamentais desejáveis e
garantem para si e à coletividade
melhorias
de
saúde
através
do
autocuidado e ações planejadas de busca
por serviços e satisfação no atendimento.
Além disso, ficou claro que o usuário
ainda tem dificuldades de entender a
estratégia saúde da família como uma
política de saúde inovadora, trabalhando
com a prevenção, um olhar generalista
não olhar do especialista, mostrando que
devemos intervir mais na comunidade
para mudar essa realidade. É necessário
conhecer como os usuários avaliam o
atendimento a eles prestado, para
repensar as práticas profissionais ou
intervir sobre a forma de organização dos
serviços, visando ao seu aperfeiçoamento.
2 - Brasil. Ministério da Saúde. Política
Nacional de Atenção Básica. Brasília:
Ministério da Saúde, 2012.
3 - Oliveira SRG, Wendhausen ALP. (Re)
Significando a educação em saúde:
dificuldades e possibilidades da estratégia
saúde da família. Trab. Educ. Saúde, Rio
de Janeiro, v. 12 n. 1, p. 129-147, jan./abr.
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4 - Silva LMS, Fernandes MC, Mendes
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Trabalho interdisciplinar na estratégia
saúde da família: enfoque nas ações de
cuidado e gerência. Rev. enferm. UERJ,
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5 - Reis RS, et all. Acesso e utilização dos
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na perspectiva dos gestores, profissionais
e usuários. Ciência & Saúde Coletiva,
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6 - Schwartz TD, Ferreira JTB, Maciel
ELN, Lima RCD. Estratégia Saúde da
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partir da percepção dos usuários da
Unidade de Saúde de Resistência, na
região de São Pedro, no município de
Vitória (ES). Ciência & Saúde Coletiva,
15(4):2145-2154, 2010.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 18-23, Agosto-Dezembro, 2014.
23
Milagres et al (2014)
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satisfação do usuário do Programa de
Saúde da Família (PSF) na Bahia. Ciência
& Saúde Coletiva, 7(3):581-589, 2002.
17 - Clares JWB, Silva LMS, Dourado
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8 – Brasil, Ministério da Saúde. Avaliação
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práticas sobre as relações trabalho-saúde.
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12 - Lacaz, F. A. C. Qualidade de vida no
trabalho e saúde/doença. Ciência &
Saúde Coletiva, 5(1):151-161, 2000.
13 – Minayo MS. Pesquisa social: teoria,
método e criatividade. 8º ed. Petrópolis:
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14 – Bruschini C, Puppin AB. Trabalho de
mulheres executivas no Brasil no final do
século XX. Cadernos de Pesquisa, v. 34,
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15 - Ramos DD, Lima MADS. Acesso e
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16 - Abdalla AM, Saeed AA, Magzoub M,
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Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 18-23, Agosto-Dezembro, 2014.
24
Venâncio et al (2014)
ASSISTÊNCIA MULTIPROFISSIONAL:
À SAÚDE DO HOMEM: UM DESAFIO PARA A ATENÇÃO PRIMÁRIA
Daniela de Lima Venâncio1, Diana Alves Prates Simões2, Kênia do Carmo
Marinho Borges1, Valquíria dos Santos Bretas1
1
Acadêmica do 9º período do curso de Graduação em Enfermagem da PUC Minas Betim.
[email protected]; [email protected]; [email protected].
2
Enfermeira, docente do curso de Graduação em Enfermagem da PUC Minas Betim.
[email protected].
RESUMO
A assistência multiprofissional à saúde do homem é um desafio para atenção primária, uma
vez que os homens são mais vulneráveis às doenças crônicas. E um dos motivos
relacionados a essa disparidade é a pouca procura pelos serviços de saúde disponíveis
quando comparados ao das mulheres. Trata-se de um estudo que contempla ações
preventivas voltadas para esse público diferenciado, sendo realizado por meio da busca
ativa em uma empresa privada na área de abrangência da Unidade Básica Saúde Família Jardim Petrópolis. O objetivo foi identificar os prováveis riscos que podem predispô-los a
patologias coronarianas. Assim, mesmo sendo considerado um desafio, intervenções
voltadas à saúde do homem são necessárias para aproximá-los do serviço de saúde. Sendo
que a estratégia de intervenção permita modificações no programa de saúde da família a fim
de contemplar integralmente este público diferenciado.
Palavras-chaves: Saúde do Homem. Atenção Primária. Risco Coronariano.
ABSTRACT
The multidisciplinary care men's health is a challenge for primary care, since men are more
vulnerable to chronic diseases, and one of the reasons the low demand for health services
available when compared to women. This is a study that includes preventive measures
aimed at this audience differently, being performed by active search in a private company in
the area covered by the Basic Health Unit Family - Garden Petropolis. The aim was to
identify the probable risks which may predispose them to coronary pathologies. So even
being considered a challenge, interventions focused on human health are necessary to bring
them into the health service. Since the intervention strategy allows changes in family health
program in order to address this fully differentiated audience.
Keywords: Men's Health. Primary. Coronary Risk
1. INTRODUÇÃO
Segundo o dicionário Aurélio (2008),
a palavra homem significa “animal
racional, bípede e mamífero, que ocupa o
primeiro lugar na escala zoológica; ser
humano”. Mas afinal, o que em nossa
sociedade a palavra homem nos traz?
Para Batista (2008), a masculinidade é
uma configuração na estrutura de
relações de gênero, uma vez que ele é
representado por um ser viril e dotado de
várias habilidades.
Em relação aos indicadores de
saúde das mulheres em comparação com
os da população masculina observou-se,
por meio do diagnóstico situacional e
análise swot da Unidade Básica de Saúde
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
25
Venâncio et al (2014)
da Família (UBSF) Jardim Petrópolis,
realizado em fevereiro deste ano, a
ausência de ações de saúde voltadas
para o homem, conforme preconiza a
Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde do Homem. A importância de
trabalhar esse tema justifica-se pela
necessidade de ações que contemplem a
saúde integral desse público.
Esse trabalho teve o objetivo de
identificar em homens, de uma empresa
privada, os prováveis riscos que podem
predispô-los a patologias coronarianas. A
escolha pela empresa se deu pelo fato da
mesma pertencer à área de abrangência
da UBSF Jardim Petrópolis - campo de
estágio da PUC Betim e por possuir um
quadro
de
profissionais,
predominantemente,
masculino. A
empresa atua no segmento da metalurgia,
com fabricação, logística, montagem de
equipamentos, estruturas metálicas e de
madeiras.
Para identificar os prováveis riscos
para o desenvolvimento de patologias
coronarianas, foram colhidos dados que
possibilitaram a classificação de grau de
risco
coronariano
evidente
para
intervenções
de
saúde.
Foram
mensurados e avaliados os níveis
pressóricos e glicêmicos, Índice de Massa
Corporal
(IMC),
assim
como
a
investigação de antecedentes familiares,
tabagismo, atividade física e os hábitos de
vida. É importante salientar que para
quantificar o índice de homens, com
prováveis riscos coronarianos, foi utilizada
a Tabela de Avaliação de Risco
Coronariano da Sociedade Brasileira de
Cardiologia (SBC).
Os homens classificados sem risco
evidente
foram
orientados
individualmente, por meio de cartilhas
informativas, a manter hábitos de vida
saudável. Já os homens com indicadores
alterados foram encaminhados à UBS de
sua área de abrangência para avaliação e
conduta multiprofissional.
O trabalho se espelhou na vertente
da concepção holística de ensino e
aprendizagem que, segundo Juliano
(2004), está relacionada à necessidade de
mudança do homem em entendê-lo e vêlo como ser completo e complexo. E a
educação tem a tarefa fundamental de
transformar a sociedade, pois ela tem o
poder de se tornar agente de formação de
novos indivíduos. Ainda, segundo o autor,
na visão holística, “educar significa utilizar
práticas pedagógicas
que desenvolvam
simultaneamente
razão,
sensação,
sentimento e intuição [...]”. (JULIANO,
2004, p.02).
Essa vertente se justifica quando se
analisa a ação desenvolvida nesse
trabalho que envolveu um determinado
grupo – homens de uma empresa privada
– e por meio de uma intervenção de
educação em saúde possibilitou analisar
aqueles
que
apresentavam
riscos
coronarianos. Foram realizadas ainda
ações de educação em saúde, por meio
do atendimento individualizado e a
distribuição de material educativo. A ação
em educação e em saúde, de acordo com
Juliano (2004), é importante para se
alcançar melhores índices de saúde de
determinado público.
Ao final desta intervenção foi
possível identificar homens com possíveis
fatores de risco coronariano alterados,
possibilitando
a
orientação
e
encaminhamento para o serviço de saúde;
promover o aumento da adesão/vínculo
da população masculina com a unidade
de saúde e ainda o estímulo do
autocuidado, qualidade de vida, promoção
da saúde e a prevenção aos agravos
evitáveis. É necessário que a assistência
multiprofissional à saúde do homem possa
ser compreendida não apenas como um
desafio, mas como uma meta a ser
alcançada.
No segundo capítulo, abordaremos
sobre a saúde do homem e suas
especificidades; no terceiro, a organização
dos serviços de saúde será, brevemente,
abordado. No quarto e quinto capítulos,
iremos
relatar
a
experiência
da
intervenção realizada, bem como os
dados obtidos. No sexto capítulo,
apresentaremos
a
avaliação
da
intervenção realizada pelos homens em
estudo e que, posteriormente, foram
apresentadas as considerações finais.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
26
Venâncio et al (2014)
2. SAÚDE DO HOMEM
Afinal, o que difere a saúde de um
homem se comparada a de uma mulher?
Existem diferenças substanciais acerca
deste tema? Segundo o Ministério da
Saúde (2008), estudos realizados a
respeito dessa diferença comprovaram
que, de fato, os homens são mais
vulneráveis às doenças crônicas e mais
graves. E um dos motivos relacionados a
essa disparidade é a pouca procura pelos
serviços de saúde disponíveis quando
comparado às mulheres.
Já a baixa procura por esses
serviços de saúde pode ser explicada pela
própria condição cultural à qual ainda a
maioria dos homens estão submetidos.
Para Nolasco (2001), a imagem do
homem de sucesso é aquela que o
relaciona como dominador, tanto no que
se refere às relações sociais quanto às
profissionais. O homem inserido em
sociedades que ainda enxergam o poder,
o sucesso e força como características
viris e masculinas se distanciam de
qualquer ação que o assemelhe a uma
mulher. Então sensibilidade, cuidado e
dependência são vistos como algo
deixado para a mulher e, muitas vezes,
esse comportamento do homem o
predispõe a doenças. (Schraiber, L.B et
al., 2005). E o mesmo é analisado pelo
Ministério da Saúde.
Os homens têm dificuldade em
reconhecer suas necessidades,
cultivando o pensamento mágico
que rejeita a possibilidade de
adoecer. Além disso, os serviços e
as estratégias de comunicação
privilegiam as ações de saúde para
a criança, o adolescente, a mulher e
o idoso. Uma questão apontada
pelos homens para a não procura
pelos serviços de saúde está ligada
a sua posição de provedor. Alegam
que o horário do funcionamento dos
serviços coincide com a carga
horária do trabalho. (Ministério da
Saúde, 2008. p.6).
Para que sejam criadas políticas de
saúde voltadas para o homem, faz-se
necessário entender a singularidade
desse ser, pois assim será permitida a
melhor/maior
interação
com
esse
indivíduo. Tal relação de proximidade e
entendimento possibilitam a realização de
ações de prevenção e promoção de
saúde. (Schraiber, L.B et al., 2005).
Outro ponto importante é salientar
que, assim como há políticas que
respeitam a singularidades da mulher, da
criança e do idoso devem também existir
ações que beneficiem o homem, já que,
segundo Brasil (2007), a Lei 8080
apresenta em seus princípios que o
atendimento deve ser universal e
equidário, ou seja, igual para todos, porém
respeitando
as
diferenças
e
especificidades de cada sujeito.
Mas,
afinal,
que
agravos
transmissíveis e não transmissíveis são os
que mais acometem o homem? Segundo
o MS (2008), um recorte estratégico foi
feito e, a partir deste estudo, constatou-se
que a população masculina, na faixa
etária de 25 a 59 anos, corresponde a
41,3% do total de homens no país, ou
seja, uma parcela significativa de força
produtiva. E os índices são altos: cerca de
80,0% das enfermidades se concentram
em
cinco
áreas
respectivamente:
cardiologia, urologia, saúde mental,
gastroenterologia e pneumonia.
A partir deste resultado, deve-se
levar em consideração que para a área da
cardiologia, a promoção da saúde é um
suporte importante, primordial para a
diminuição
dos
acometimentos
e
distúrbios cardiológicos. Em relação à
urologia, a prevenção também se faz
aliada para a detecção e tratamento
precoce, por exemplo, do câncer de
próstata que, segundo dados do Instituto
Nacional do Câncer, (INCA) é o segundo
mais frequente depois do câncer de pele.
Outro fator importante no que diz
respeito ainda às doenças do coração é o
próprio estilo de vida adotado pelo
homem. Para Schraiber, L.B et al., (2005),
aspectos
da
personalidade
como
ambição, ansiedade, competitividade,
individualismo estão diretamente ligados
aos distúrbios coronarianos.
Neste contexto, a Política Nacional
de Atenção Integral à Saúde do Homem
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
27
Venâncio et al (2014)
(2008) vem propor a qualificação da
atenção à saúde da população masculina
baseada no acesso, na integralidade e no
cuidado. Ainda, segundo a Política, o
homem busca os serviços de saúde com
mais frequência na atenção especializada,
por isso, é necessário que haja o
fortalecimento da Atenção Primária para
que a busca não se reduza somente à
recuperação e ao tratamento de agravos.
Outra
frente
de
atuação
é
demonstrar quais são os fatores de
morb-mortalidade para entender, de fato,
quais são as características que resultam
na vulnerabilidade do homem no que diz
respeito às situações de violência e de
risco para a saúde.
Portanto, entendemos que, para
discutir o tema proposto nesse trabalho, é
essencial entender as diretrizes e ações
da Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde que balizam o entendimento do
processo saúde-doença da população
masculina.
3. A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE
O sistema de saúde engloba a
produção dos serviços e as Políticas de
Saúde visando a transformar os perfis de
saúde-doença da população. Atualmente,
no Brasil, a política de saúde vigente é
norteada pelo Sistema – SUS – que,
regendo um dado modelo assistencial,
oferta um conjunto de programas com
estreita articulação entre si, objetivando
contemplar os princípios de Reforma
Sanitária, quais sejam: regionalização,
hierarquização, acessibilidade, equidade,
participação e integralidade das ações.
(BRASIL, 1990).
Para que o atendimento seja
efetivado, o serviço de saúde é dividido
em instâncias de atendimento: atenção
básica, média e de alta complexidade. A
atenção básica, também conhecida por
Atenção Primária à Saúde, não se resume
a ações de baixa resolubilidade, mas sim
a uma estratégia de reorientação do
modelo assistencial interdisciplinar que
tem a família como foco de abordagem. Já
a atenção de média complexidade é
formada por serviços que demandam
profissionais e ações especializadas e a
utilização de recursos tecnológicos para
diagnóstico e, se necessário, tratamento.
A atenção de alta complexidade diz
respeito ao acesso a serviços qualificados
como, por exemplo, à assistência do
portador de doença renal crônica,
cirurgias, exames, etc. (BRASIL, 2007).
Ainda para fazer valer os princípios
da Reforma Sanitária, a Estratégia de
Saúde da Família (ESF) – programa
voltado para a atenção primária – traz,
conforme Araújo e Rocha (2007), a
proposta de integralidade do cuidado em
que os profissionais envolvidos construam
trabalho em conjunto.
Segundo Vanderlei e Almeida
(2007), com a ESF o foco deixa de ser a
doença e o sujeito e passa a ser o espaço
coletivo e a família. E os desafios são
muitos, pois a visão hospitalocêntrica dá
lugar aos saberes locais que transformam
a prática assistencial. A ESF é composta
por um médico generalista ou especialista
em Saúde da Família ou médico de
Família e Comunidade, um enfermeiro
generalista ou especialista em saúde da
família, técnico de enfermagem e agentes
comunitários de saúde. Em algumas
regiões existem ainda a presença de um
cirurgião-dentista
generalista
ou
especialista em Saúde da Família, um
auxiliar ou técnico em saúde bucal.
(BRASIL, 2012).
A principal mudança com a proposta
da ESF é no foco de atenção, que deixa
de ser centrado exclusivamente no
indivíduo e na doença, passando também
para o coletivo, sendo a família o espaço
privilegiado de atuação. Isso implica
aprender a lidar com este novo recorte,
identificando instrumentos e saberes que
possam
transformar
nossa
prática
assistencial em direção aos princípios
éticos e morais e levando a uma maior
autonomia dos usuários.
4.
SAÚDE
DO
HOMEM:
EXPERIÊNCIA EM CAMPO
UMA
A intervenção foi desenvolvida no
mês de maio de 2013, em uma empresa
privada, localizada no bairro Jardim
Petrópolis – Betim / MG.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
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Venâncio et al (2014)
Foi realizada a avaliação do risco
coronariano dos homens da referida
empresa, levantando os principais fatores
de riscos associados às doenças
cardiovasculares, através da mensuração
da pressão arterial, glicemia capilar, Índice
de Massa Corporal (IMC), assim como a
investigação de antecedentes familiares,
tabagismo e atividade física.
A avaliação foi individual sendo
utilizada a tabela da Associação
Americana
de
Cardiologia
como
referência.
Tabela 1 - Tabela risco coronariano
Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Adaptado pelas autoras.
Por meio dessa ferramenta, foi
possível mapear homens com fatores de
riscos coronarianos, o que nos possibilitou
orientá-los quanto à adesão de hábitos
saudáveis. Após essa avaliação, aqueles
identificados com algum fator de risco
alterado foram orientados quanto às
ações de saúde necessárias para
controle, sendo referenciado para a
unidade de saúde do bairro Jardim
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
29
Venâncio et al (2014)
Petrópolis aqueles pertencentes à área
adstrita desta unidade. Os demais foram
referenciados para as unidades de saúde
próximas as suas residências. Por meio
das orientações, foi possível promover a
adesão/vínculo dos homens com a
unidade de saúde de referência, visando à
continuidade do cuidado.
Para complemento das ações de
educação em saúde, foram distribuídas
cartilhas informativas sobre o câncer de
próstata, dengue e alimentação saudável.
Visando ao estímulo do autocuidado,
qualidade de vida, promoção da saúde e à
prevenção de agravos evitáveis.
Ainda no mês de maio, foi realizada
uma visita para apresentação dos dados à
empresa. Durante o encontro, os homens
que apresentaram alterações de pressão
arterial na primeira avaliação foram
reavaliados
e
mantidos
sob
os
encaminhamentos e orientações.
Diante dos relatos dos homens
avaliados,
notou-se
mudanças
significativas no comportamento, no que
diz respeito à busca por atividades físicas,
controle do peso e alteração no padrão da
alimentação.
Conclui-se que a intervenção
realizada possibilitou desenvolver ações
de prevenção e promoção a saúde do
homem, conforme preconiza a Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Homem.
5. ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
Análise
geral
dos
dados
consolidados, baseados na avaliação dos
riscos coronarianos.
Conforme o Ministério da Saúde
(2001), as doenças cardiovasculares
constituem as principais causas de óbito
no Brasil. A idade é um fator de risco
considerável, pois as artérias apresentam
modificações ao longo dos anos podendo
causar lesões irreversíveis.
Segundo gráfico apresentado, a
faixa etária com maior incidência foi de 18
a 40 anos, ou seja, os hábitos de vida são
variados.
Gráfico 1 - Faixa etária
8%
5%
13%
38%
18 - 30
31 - 40
8%
41 - 45
46 - 50
30%
51 - 60
61 - 70
Segundo gráfico apresentado, a
faixa etária com maior incidência foi de 18
a 40 anos, ou seja, os hábitos de vida são
variados.
Para evitar complicações futuras,
ainda segundo o Ministério da Saúde
(2001), é necessário promover hábitos
alimentares saudáveis, levando em
consideração a idade, sexo, estado
metabólico, hábitos socioculturais e a
situação econômica de cada indivíduo.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
30
Venâncio et al (2014)
Gráfico 2 - Escolaridade
15%
3%
FUNDAMENTAL
INCOMPLETO
FUNDAMENTAL
COMPLETO
MÉDIO INCOMPLETO
23%
8%
38%
15%
MÉDIO COMPLETO
SUPERIOR INCOMPLETO
O gráfico demonstra que a maioria
dos homens possui ensino médio
completo. E o segundo maior contingente
é de homens com ensino fundamental
incompleto.
Segundo
Ishitani
(2006),
investigações realizadas identificaram
maior taxa de mortalidade em populações
com menor nível socioeconômico. Ainda,
segundo o autor, os resultados estão
relacionados à baixa qualidade de
informação. E o estudo é comprovado
quando comparamos as regiões Norte e
Nordeste do Brasil, que possuem menor
acesso à informação, organização e oferta
dos serviços de saúde, se comparado aos
estados do Sul do país.
O gráfico abaixo consolida a
proporção de homens casados e solteiros
na
empresa
pesquisada.
Gráfico 3 - Estado Civil
33%
68%
SOLTEIRO
CASADO
Os homens avaliados, em sua
maioria, são casados, evidenciado pelo
percentual de 68,0%.
Para Carneiro et al (2003), a
obesidade é considerada um fator de risco
independente para a ocorrência de
doença isquêmica coronariana e morte
súbita. Ainda, segundo o autor, “a
obesidade favorece também a ocorrência
de fatores de risco cardiovascular, sendo
que a distribuição central da gordura
corporal se destaca especialmente como
fator importante no desenvolvimento da
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
31
Venâncio et al (2014)
hipertensão
arterial”.
(Carneiro,
2003,
p.306).
Gráfico 4 - Índice de Massa Corporal
18%
38%
NORMAL
SOBREPESO
OBESIDADE
45%
Segundo gráfico, 45,0% dos homens
apresentaram sobrepeso, ou seja, o Índice
de Massa Corporal – IMC (relação entre
peso e altura) maior que 24,9kg/m2, sendo
ainda encontrado 18,0% de pessoas com
IMC maior que 30kg/m2, caracterizando
obesidade,
conforme
Organização
Mundial de Saúde (2000). É importante
salientar a relação entre peso e o risco
para doenças cardiovasculares.
Para Resende (2006), o excesso de
peso, inclusive aquele que se refere à
obesidade abdominal, está diretamente
relacionado ao risco cardiovascular e, por
isso, aumenta as chances de morbidade e
mortalidade quando não tratado.
Gráfico 5 - Circunferência Abdominal
70%
60%
60%
50%
40%
30%
40%
NORMAL
ALTERADO
20%
10%
0%
Observa-se que 60,0% dos homens
apresentam circunferência abdominal
acima de 94 cm, ou seja, demonstram
risco para doenças cardiovasculares,
segundo Associação Brasileira para o
Estudo da Obesidade e da Síndrome
Metabólica (2009/2010).
Segundo Carneiro ett all (2003), o
acúmulo de gordura na região abdominal
promove a hipertensão que tem sido
atribuída
ao
desenvolvimento
da
hiperinsulinemia decorrente da resistência
à insulina. A hiperinsulinemia ativa o
sistema nervoso simpático, bem como a
reabsorção tubular de sódio que contribui
para o aumento da resistência vascular
periférica e, em consequência, a pressão
arterial.
Para Diniz et al (2011) o tabaco é
considerado um dos principais fatores
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
32
Venâncio et al (2014)
determinantes para o aparecimento e
desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis,
entre
elas
as
cardiovasculares.
Além
do
risco
coronariano, o tabaco também é apontado
por fator para o desenvolvimento de
outras 50 doenças. O autor explica ainda
que o tabaco, seja ele em forma de
cigarro, cachimbo ou rapé é responsável
por 90,0% dos casos de cânceres de
pulmão.
Gráfico 6 - Tabagismo
5%
5%
30%
NÃO
60%
EX FUMANTE
MENOS 10/DIA
10 - 20/DIA
Conforme dados apresentados,
60,0% dos homens informaram não serem
fumantes. Segundo a Sociedade Brasileira
de Hipertensão (2010), o fumo aumenta o
risco cardiovascular, principalmente em
decorrência de suas ações sobre o
sistema nervoso autônomo e sobre a
função endotelial. O aumento da pressão
arterial
sistêmica
ocasionado
pelo
tabagismo tem papel importante no
aumento da morbidade e mortalidade,
tanto cardiovascular, quanto renal,
observadas em indivíduos fumantes.
A hipertensão arterial, segundo o
Ministério da Saúde (2006), é também o
principal fator de risco para as
complicações
mais
comuns
como
acidente vascular cerebral e infarto agudo
do miocárdio, além da doença renal
crônica
terminal.
Gráfico 7 - Hipertensão Arterial
20%
PA NORMAL
80%
PA ALTERADA
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
33
Venâncio et al (2014)
Segundo
dados
apresentados,
20,0% do total de homens avaliados
apresentaram
índices
pressóricos
alterados.
Segundo Ministério da Saúde
(2006), a Hipertensão Arterial Sistêmica é
a
mais
frequente
das
doenças
cardiovasculares,
sendo
reconhecida
como um grave problema de saúde
pública no Brasil e no mundo.
Segundo Kaiser (2010), é uma
doença
silenciosa,
frequentemente
acompanhada de outros transtornos
multiplicadores
do
seu
potencial
agressivo, a hipertensão arterial contribui
significativamente para a composição do
risco de doença vascular aterosclerótica e
encabeça a lista de causas de mortalidade
por doenças cardiovasculares no Brasil.
Modificações no estilo de vida como:
controle do peso, alimentação saudável,
redução do uso de bebidas alcoólicas,
abandono do tabagismo e realização de
atividade física, são de fundamental
importância no processo terapêutico e na
prevenção da hipertensão.
É importante salientar a associação
da hiperglicemia com as doenças
cardiovasculares, sendo que a maior parte
dos problemas dessa associação tem
relação com a obstrução parcial ou total
das
artérias.
Gráfico 8 - Glicemia
0%
GLICEMIA NORMAL
100%
Observa-se que 100% dos homens
não apresentaram alterações de índices
glicêmicos.
Segundo
Prado
(2011),
a
hiperglicemia acelera a aterosclerose e a
deposição de gorduras nas paredes dos
vasos sanguíneos o diabetes aumenta o
risco de infarto do miocárdio, acidente
vascular cerebral (AVC) e doença
vascular periférica. Ele ainda afirma que a
doença tem sido vista como um
equivalente de doença coronariana e, por
outro lado, muitos portadores de doença
cardiovascular,
se
investigados,
apresentam diabetes ou seus estágios
GLICEMIA ALTERADA
pré-clínicos, especialmente intolerância à
glicose.
Os problemas cardiovasculares
associados ao diabetes podem aumentar
também
problemas
na
circulação
periférica, que dificultam a cicatrização de
feridas e fornecimento de nutrientes para
as extremidades do corpo e podem
chegar a causar amputação de membros
por necrose.
O sedentarismo é considerado o
principal fator de risco para a morte súbita,
estando, na maioria das vezes, associado
direta ou indiretamente às causas ou ao
agravamento da grande maioria das
doenças.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
34
Venâncio et al (2014)
Gráfico 9 - Atividade Física
33%
68%
REGULAR ATIVIDADE FÍSICA
NENHUMA ATIVIDADE FÍSICA
Quanto ao gráfico acima, evidenciase que 68,0% dos homens não realizam
atividades físicas regularmente, segundo
preconizadas pelo Ministério da Saúde.
Segundo
Neto
(1997),
o
sedentarismo é a principal causa do
aumento da incidência de várias doenças.
Hipertensão arterial, diabetes, obesidade,
ansiedade, aumento do colesterol, infarto
do miocárdio são alguns dos exemplos
das doenças às quais o indivíduo
sedentário se expõe.
De acordo com dados do Ministério
da Saúde (2007), a inatividade física é
responsável por 54,0% dos riscos de
morte por distúrbios cardiovasculares,
50,0% dos de derrames fatais e 37,0%
dos riscos de casos de câncer.
Segundo o Ministério da Saúde
(2002), é importante alterar os hábitos de
vida com a incorporação da prática regular
de, pelo menos, 30 minutos de atividade
física, na maior parte dos dias da semana,
se possível diariamente, de intensidade
moderada, como estratégia para redução
de risco de doença crônica não
transmissível e para a qualidade de vida.
Gráfico 10 - Grau de Risco
8%
45%
48%
SEM RISCO
RISCO POTENCIAL
RISCO MODERADO
Segundo dados apresentados no
gráfico, 56,0% dos homens analisados
apresentam
risco
para
doenças
cardiovasculares. De acordo com o
Ministério da saúde (2006), existem
fatores de risco modificáveis e não
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
35
Venâncio et al (2014)
modificáveis, os fatores modificáveis inclui
o tabagismo, a atividade física, peso,
controle da pressão arterial e valores
glicêmicos. E os fatores não modificáveis
relacionam-se a antecedentes familiares e
faixa etária.
6. AVALIAÇÃO
Para identificar qual a relação do
trabalhador com a unidade de saúde de
sua referência, bem como, o seu
entendimento sobre o autocuidado, foi
aplicado um questionário de pesquisa.
Foram realizados os seguintes
questionamentos:
1. O senhor conhece a Unidade
Básica de Saúde próxima a sua
residência?
Sim
Não
2. Já utilizou os serviços da unidade?
Sim
Não
Quais?_______________________
3. O senhor acredita que ações como
essa são importantes no seu
ambiente de trabalho?
Sim
Não
Justifique: ____________________
Quanto ao primeiro questionamento,
dos 40 homens entrevistados, 34
confirmaram conhecer a UBS próxima a
sua residência. E 06 afirmaram não
conhecer.
Em relação à utilização dos serviços
da UBS, 25 homens afirmaram utilizá-los,
sendo que 15 afirmaram não ter utilizado
os serviços disponíveis.
Questionados sobre a importância
dessas ações de saúde no ambiente de
trabalho, todos afirmaram positivamente.
Opiniões mais recorrentes:
‘‘Aproxima os funcionários
serviço de saúde”.
do
“Muito, ajuda a gente a se cuidar
porque não temos tempo para ir ao
médico e nos chama a atenção para
procurar o posto.”
“Podendo
assim,
identificar
possíveis alterações na saúde de quem
não tem o hábito de ir ao médico.”
“Através dessas ações, as pessoas
se tornam mais informadas de sua saúde
e são conscientizadas quanto ao risco que
possam vir a ter,”
“Têm muitas pessoas que por causa
do trabalho não têm tempo para poder se
cuidar.”
“O homem não preocupa com sua
saúde, portanto nos informa dos serviços
de saúde e previne riscos.”
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido à ausência de ações de
saúde
voltadas
para
o
homem,
identificado no diagnóstico situacional e
análise Swot da Unidade Básica de Saúde
da Família (UBSF) Jardim Petrópolis,
constatou-se a importância de trabalhar
esse tema justificado pela necessidade de
ações que contemplem a saúde integral
desse público, conforme preconiza a
Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde do Homem.
Diante da situação, foi realizada
uma intervenção em uma empresa
privada pertencente ao município de
Betim, na área de abrangência da UBSF
Jardim Petropólis, cujo quadro de
funcionários
é
predominantemente
masculino. Foram avaliados os prováveis
riscos para o desenvolvimento de
patologias
coronarianas,
os
dados
colhidos possibilitaram a classificação de
grau de risco coronariano evidente para
intervenções
de
saúde.
Foram
mensurados e avaliados os níveis
pressóricos e glicêmicos, Índice de Massa
Corporal
(IMC),
assim
como
a
investigação de antecedentes familiares,
tabagismo, atividade física e os hábitos de
vida.
O
sucesso
dos
resultados
alcançados evidenciou-se pelo alcance
dos objetivos esperados, como a
identificação de 56,0% dos homens com
fatores de risco coronariano alterados,
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
36
Venâncio et al (2014)
isso
possibilitou
a
orientação
e
encaminhamento para o serviço de saúde;
a
promoção
do
aumento
da
adesão/vínculo da população masculina
com a unidade de saúde e ainda o
estímulo do autocuidado, qualidade de
vida, promoção da saúde e a prevenção
aos agravos evitáveis.
Assim, intervenções voltadas à
saúde do homem deverão ser realizadas
na Estratégia de Saúde da Família, pois
ao trazer os homens para perto dos
serviços de saúde é possível identificar
precocemente os agravos evitáveis,
planejar a assistência e ampliar a
adesão/vínculo do homem com a unidade
de saúde, visando à continuidade do
cuidado.
Ressalta-se que a saúde do homem
ainda é um desafio para a atenção
primária, o enfoque na estratégia de
intervenção não pode se limitar a
modificações do estilo de vida ou medidas
individuais, mas utilizar estratégias que
permitam modificações no programa de
saúde da família a fim de contemplar
integralmente este público diferenciado.
Diante disso, para pesquisas futuras,
recomenda-se ampliar a pesquisa para
uma amostragem maior de homens e
realizá-la, também, em outras empresas.
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Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 24-38, Agosto-Dezembro, 2014.
39
Rebouças et al (2014)
COMPARISON BETWEEN THE USE OF PANORAMIC RADIOGRAPHY AND CONE
BEAM COMPUTED TOMOGRAPHY TO LOCATE DENTAL ELEMENTS SEVERE
INTRUDED DUE TO TRAUMA: CASE REPORT
Pedro Diniz Rebouças1, Lorena Walesca Macedo Rodrigues2, Adriana Kelly de
Sousa Santiago3, Clarice Santana Milagres4, Juliana Oliveira Gondim5, José Jeová
Siebra Moreira-Neto5
1
Dentista. Mestrando em Odontologia (Odontopediatria). Departamento de Odontologia
Infantil, Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP/UNICAMP.
2
Acadêmica do Curso de Odontologia da Univesidade Federal do Ceará.
3
Dentista. Doutoranda em Clínica Odontológica (Odontopediatria). Departamento de Clínica
Odontológica, Curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará.
4
Enfermeira. Doutoranda em Odontologia (Saúde Coletiva), Departamento de Odontologia
Social, Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP/UNICAMP.
5
Dentista. Professor de Odontopediatria do Departamento de Clínica Odontológica, Curso
de Odontologia da Universidade Federal do Ceará.
ABSTRACT
Intrusive luxation is a kind of traumatic injury characterized by an axial displacement of the
tooth toward the alveolar bone. Its main causes are bicycle accidents, sports/recreational
activities, and falls or collisions. Treatment strategies include waiting for the tooth to return to
its position, immediate surgical repositioning and repositioning through dental traction by
orthodontic devices. The correct diagnosis must be based on clinical and radiographic exams
and it is crucial for decision-making in the treatment of injured patients. Currently, the cone
beam computed tomography (CBCT) has been widely used in orthodontics, restorative
dentistry and implantology as well as in the diagnosis of complex dental trauma. This article
reports a case of severe dental intrusion, in which the cone beam computed tomography
(CBCT) was performed because of doubts generated after clinical examination and
panoramic radiograph analyze. This case report confirmed that the CBCT is an important
exam to correct diagnostic.
Keywords: Dental intrusion. Dental injury. Imaging exams.
RESUMO
Luxação intrusiva é um tipo de lesão traumática caracterizada por um deslocamento axial do
dente para o osso alveolar. Suas principais causas são os acidentes de bicicleta,
esportes/atividades recreativas, e quedas ou colisões. As estratégias de tratamento incluem
a espera para o dente para retornar à sua posição, reposicionamento cirúrgico imediato e
reposicionamento através de tração dental por aparelhos ortodônticos. O diagnóstico correto
deve ser baseada em exames clínicos e radiográficos e é crucial para a tomada de decisão
no tratamento de pacientes feridos. Atualmente, a tomografia computadorizada (CBCT) tem
sido amplamente utilizada em ortodontia, odontologia restauradora e implantologia, bem
como no diagnóstico de trauma dental complexo. Este artigo relata um caso de intrusão
dental severa, em que a tomografia computadorizada (CBCT) foi realizada por causa de
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 39-45, Agosto-Dezembro, 2014.
40
Rebouças et al (2014)
dúvidas geradas após exame clínico e radiografia panorâmica analisar. Este relato de caso
confirmou que a CBCT é um exame importante para corrigir diagnóstico.
Palavras-chave: intrusão dental, lesão Dental, exames de imagem.
1. INTRODUCTION
Dental intrusion is the displacement
of the tooth into the alveolar bone along
the axis of the tooth and is accompanied
by comminution or fracture of the alveolar
socket¹ .In prior studies, the traumatic
intrusion of permanent teeth has been
found to represent up to 0.5–7,2% of all
traumas affecting permanent dentditions,
being considered a rare1,2. The main
causes of intrusive injuries in permanent
teeth include bicycle accidents, sports and
recreational activities, and falls or
collisions3 and it is considered one of the
most severe types of dental injuries to the
teeth because it might cause great
damage to the periodontal ligament (PDL),
the pulp and the alveolar bone4.
The intrusive luxation has a poor
prognosis,
predominating
severe
1
consequences in long term , including pulp
necrosis,
inflammatory
radicular
resorption, dento-alveolar ankylosis, loss
of marginal bone support, pulp tissue
calcification, paralysis or disturbance of
radicular development and gingival
retraction5. Acute management of an
intruded tooth in the young permanent
dentition is restricted to three treatment
strategies:
spontaneous
re-eruption,
orthodontic or surgical repositioning. The
choice of treatment will depend on the
degree of root development and intrusion,
presence of alveolar fracture and multiple
intrusion intrusion1,6,7.
To achieve a correct decision is
essential to have a correct diagnosis,
based on an accurate clinical examination
based on clinical history and laboratory
tests such as radiography. However, xrays have limitations because it presents a
two-dimensional
image
of
three-
dimensional structures and some medical
conditions can lead to diagnostic error.
Recently, the routine use of computed
tomography has favored the diagnosis of
complex trauma.
Among the imaging exams, the cone
beam computed tomography (CBCT) is
the technological development of imaging
studies, characterized by providing
radiation doses significantly reduced and
produce minimally distorted images of the
craniofacial region8. The introduction of
cone-beam computed tomography (CBCT)
has provided a significantly improve in the
methods for the diagnosis, treatment
planning, and follow up of endodontic
lesions, but its advantages should only be
used carefully in unusually complex
treatment situations9-11.
Currently, this technique has been
widely used in the diagnosis of the position
of impacted teeth, orthodontics, restorative
dentistry and as a guide to oral and
maxillofacial surgery and implatology12.
2. CASE REPORT
A 12-year-old boy was referred to
our Pediatric Clinic of School of Dentistry
at the Federal University of Ceará, 11
days after his trauma in 2013. The patient
was hit by a car and taken by ambulance
at the moment of the accident to a hospital
to begin his treatment. He had your nose
broken, the tooth 11 avulsed and
reimplanted at the hospital and the tooth
21 severe intruded. When he first arrived
in our clinic for the first exams, like
anamnesis and radiographs of the injured
teeth, he was with a wire composite splint
of the tooth 11, so we splinted that tooth
with stainless steel and a composite resin
for adequate immobilization (Fig. 1).
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 39-45, Agosto-Dezembro, 2014.
41
Rebouças et al (2014)
Figure 1 - Tooth 11 with stainless steel and a composite resin for adequate immobilization.
Clinically, we could not see the tooth
21 and the patient did not remember what
happened to that tooth, then we
radiographed and realized that the tooth
21 was injured by an intrusion (Fig.2). To
diagnostic the severity of the intrusive
luxation, we asked the parents of the
patient to realize a panoramic radiography
(Fig.3).
Figure 2 – Radiography of intruded tooth 21
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136). Pensar
Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 39-45, Agosto-Dezembro, 2014.
42
Rebouças et al (2014)
Figure 3 – Panoramic Radiography
Analyzing
the
panoramic
radiography, we imagine that the tooth
was up high inside the nasal cavity, but
clinically it seemed like to be more
intruded in the axial-labial direction than
only axial. We asked again the parents of
the patient to realize another imaging
exam, the cone beam computed
tomography (CBCT).
After 05 days of the first exam, we
received the cone beam CT (Fig.4) and
analized all the axial and transversal
sections and concluded that the dental
element 21 was severely intruded but not
inside or next to nasal cavity, but it was
intruded in a axial-labial direction.
Continuing the treatment, we conducted a
surgical reposition and add this tooth to
the splint with stainless steel and a
composite resin and decided to keep it on
for
another
15
days
(Fig.5)
Figure 4 – Axial Cone beam computed tomography
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Rebouças et al (2014)
Figure 5 – Tooth 21 with stainless steel and a composite resin for adequate immobilization
after surgical reposition.
3. DISCUSSION
Usually,
additional
radiographic
images are often required to ascertain the
exact location of an intruded tooth12. The
introduction of cone-beam computed
tomography (CBCT) has provided a
significantly improved method for the
diagnosis, treatment planning, and cases
follow
up
(RAFTER,
2005).
The
introduction of cone-beam computed
tomography (CBCT) has provided a
significantly improve in the methods for the
diagnosis, treatment planning, and follow
up of endodontic lesions, but its
advantages should only be used carefully
in unusually complex treatment situations912
. That new imaging technich provides
lowradiation, rapid image scanning with
radiographic and 3D volumetric data for
each patient13-15. Another imaging exam is
the panoramic radiograph, which is used
to aid in determining the vertical position
and horizontal angulation16.
CBCT uses a cone-shaped radiation
to gather information with high spatial
resolution in the maxillofacial region17
doing a synchronized rotation with an area
detector traveling 360u around the
patient’s head18. There is a wide variety
amongst CBCT machines in terms of
image quality and dose, with the latter
ranging from an equivalent of 2 to 100
times a panoramic equivalent4.
Using an orthogonal projection of its
beam, CBCT images are inherently more
accurate than traditional x-rays. Instead of
it, panoramic radiographs have an unusual
projection error because the main path of
the x-ray beam comes from a slightly
negative angulation. Comparing the
volumetric 3D method of CBCT and
traditional 2D radiographs, we found
differences between each method related
to specific situations and it must account
those artifacts when reading the images19.
The imaging exams must be
solicited by the professional every time he
has a doubt about the dental intrusion or
the locate of the intruded element. In this
case, clinically we could perceive an intraoral swelling located in the buccal anterior
region of oral cavity. As a way to solve our
questions about the locate of the intruded
tooth, we asked the parents to realize two
different types of radiograph exams.
Panoramic radiograph was asked first and
since it only cans present a 2D image, it
does not showed us the proper locate of
the intruded tooth. Only with the CBCT the
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Rebouças et al (2014)
real locate of the tooth and its relations
with others oral and facial structures could
be really noticed.
According
to
International
Association of Dental Traumatology20, the
treatment to teeth with complete root
formation may vary depending on the
severity of the intrusion. If the tooth
intruded less than 3 mm the professional
should allow the re-eruption without any
intervention, but if any movement was not
observed after 2-4 weeks or the tooth was
intruded 4-7 mm the surgical or
orthodontic reposition must be done
before ankylosis develop. To teeth
intruded beyond 7 mm only the surgical
reposition should be done. After the
reposition, the tooth has to be immobilized
with a stainless steel and composite resin
splint. That splint must be followed up by 2
weeks and removed after that time.
Analyzing only the panoramic
radiograph, firstival we planned to do the
surgical reposition with a different
approach. Worried about the proximity of
important structures, the first plan was
realizing the access to the tooth by the
nasal cavity. But, analyzing the CBCT, it
was not necessary, because, as said
before, the tooth was intruded only in an
axial-labial direction.
The case described in this study
confirmed that the CBCT is an important
exam to correct diagnostic. However the
clinician does not always have access to
this type of technology to conduct a clinical
evaluation and appropriate clinical history
for a correct decision being necessary.
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Acadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p. 39-45, Agosto-Dezembro, 2014.
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Schmitz (2014)
EUTANÁSIA: ASSASSINATO, SUICÍDIO ASSISTIDO OU LIBERTAÇÃO?
Milene da Rosa Schmitz1
1
Advogada, graduada em Direito pela Faculdade Ruy Barbosa – DeVray Brasil University;
Especialista em Direito Empresarial pela UNIFACS – Universidade Salvador; Aluna regular
do Programa de Doutorado em Direito Penal da Faculdade de Direito da Universidade de
Buenos Aires – UBA.
“Considero que viver é um direito, não uma obrigação,
como foi no meu caso.” Ramón San Pedro em Mar Adentro
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo discutir e analisar, ainda que de forma singela, o
procedimento da eutanásia. Para tanto, far-se-á uma análise de como esse instituto é
encarado em países como o Brasil e Argentina, além da Bélgica, Holanda e Estados Unidos,
entre outros. Pretende-se convidar o leitor a uma reflexão acerca do quão é possível, ou
não, postergar a vida de pessoas que, uma vez acometidas de enfermidades incuráveis e
degenerativas, não tenham outro alento para o seu sofrimento, senão o de desejarem a
própria morte como um bálsamo de alívio redentor. Em quais circunstâncias um médico está
autorizado, do ponto de vista ético e jurídico, a manter um indivíduo vivo, mesmo diante de
um tratamento inócuo? Até a que ponto é humanitário postergar a vida de uma pessoa que
só tem a morte como alento? Quais as reais intenções dos religiosos e moralistas ao
execrarem a eutanásia? Estariam fundados na caridade para com o moribundo ou em
simples caprichos dogmáticos? Não se tem aqui a intenção de determinar qual seria a
conduta adequada em casos de tamanho impacto, mas tão somente tentar apontar algumas
diretrizes que possam contribuir para uma melhor análise das reais circunstâncias caso a
caso.
Palavras-chave: Eutanásia, morte digna, questões éticas e jurídicas
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo se faz de suma
importância pois, mesmo em pleno século
XXI, é dotado de extrema complexidade,
quer seja por questões culturais e
religiosas, quer seja na seara médica,
jurídica ou social. O fato é que, mesmo
diante dos avanços tecnológicos logrados
na área médica nas últimas décadas, a
dicotomia entre o sobreviver de forma
indigna e o morrer com dignidade ainda
estão muito longe de alcançar um
consenso
entre
médicos,
juristas,
religiosos e sociedade. Como proceder
diante de um dever humanitário para com
o doente quando a sua própria
sobrevivência, diante das enfermidades
crônicas e degenerativas que lhe
acometem, causa a indignidade de sua
existência? Onde estaria tal dever
humanitário amparado ao usar-se de
todos os esforços, ainda que inócuos,
para que lhe seja postergada a existência,
ainda que diante do flagelo de uma
existência
quase
ou
totalmente
vegetativa? Teria esse dever humanitário
guarida no sentido de proporcionar ao
doente as condições, caso assim seja a
sua disposição de última vontade, de
morrer com dignidade?
Adentra-se aqui, a esfera da
dignidade do ser humano; do direito a
uma vida digna, direito este que deve
assistir ao doente, no sentido de que
tenha, entre outras coisas, uma morte
digna; pois, sendo este, ser digno por
excelência,
juridicamente
constituído
desde o seu nascimento com vida, está
amparado pela legislação do país no qual
vive. Nesse diapasão, ao obrigá-lo a se
manter, a qualquer custo, mesmo diante
do sofrimento físico e psicológico,
submetendo-se a tratamentos inócuos,
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.46-56, Agosto-Dezembro, 2014.
47
Schmitz (2014)
sem que sua vontade seja respeitada, não
se estaria ferindo de morte o princípio da
dignidade da pessoa humana? Manter um
moribundo em sobrevida, devido à
ausência de um consenso ético, nas
sociedades contemporâneas, respeita o
direito humano a ter uma morte digna?
A
questão
é
por
demais
controvertida, apresentando problemas
altamente candentes, ao passo que
precisa se adequar aos interesses do
doente e de seus familiares, do
profissional de saúde e da sociedade, de
forma a buscar uma solução adequada
que não torne a condição do enfermo
mais penosa do que a própria
enfermidade.
Como encarar, então, em pleno
século XXI, o procedimento da eutanásia?
Seria ele um assassinato ou suicídio
assistido?
2.
A
ANTIGUIDADE
EUTANÁSIA
NA
Polêmica e controversa até os dias
atuais, o fato é que a eutanásia já era
praticada desde as antigas civilizações.
Tanto na Grécia como na Roma antigas,
esse instituto não só era comum, como
também era revestido de legalidade.
Antes mesmo do surgimento do
Cristianismo, os antigos, não só viam a
eutanásia como algo comum e corriqueiro,
mas como um ato de humanidade, pois
entendiam que era dever de caridade
ajudar àqueles que se encontrassem em
estado de penúria a terem uma “boa
morte”.
A grande maioria dos médicos da
Antiguidade relutava em tratar casos tidos
como incuráveis deixando para os
doentes
terminais
pouquíssimas
alternativas, dentre elas, a eutanásia.
O suicídio e a eutanásia eram
encarados pelos antigos filósofos, como
sendo uma “boa morte”, resposta sensata
e adequada aos males que afligiam um
indivíduo, ainda que o juramento de
Hipócrates1, proferido entre os séculos
1
No juramento de Hipócrates consta: "eu não darei
qualquer droga fatal a uma pessoa, se me for
solicitado, nem sugerirei o uso de qualquer uma
cinco a três antes de Cristo, condenasse a
eutanásia. Segundo Ian Dowbiggin2,
historiador e autor de “A Concise History
of Euthanasia”3, isso provavelmente
ocorreu como uma forma de protesto
contra grande número de casos ocorridos
na época. “Os seguidores de Hipócrates
proibiam os médicos de tirar a vida de um
doente. Mas apesar desses obstáculos,
na Roma e Grécia antiga havia uma
tolerância grande sobre a eutanásia e o
suicídio. Era comum, inclusive, que os
médicos da época abandonassem o leito
quando percebiam que um doente estava
quase morrendo.
Entre os povos primitivos era
admitido o direito de matar doentes e
velhos através de rituais para esse fim. Os
espartanos arremessavam idosos e
recém-nascidos deformados do alto do
Monte Taijeto. Em Atenas, o Senado
ordenava a morte dos anciãos doentes,
oferecendo-lhes
veneno
(comium
maculatum) em banquetes especiais. Há
relatos de que os guardas judeus
deste tipo".Hipócrates (460 a.C.-377 a.C.) foi um
médico grego. Foi considerado o pai da Medicina, o
mais célebre médico da Antiguidade e o iniciador
da observação clínica.
2
Ian Robert Dowbigginé um professor de história
na Universidade de Prince Edward Island.
3
Título em português: Uma História Concisa sobre
Eutanásia. Michigan: Rowman & Littlefield, 2005.
A obra traça o registro controverso da misericórdia
de matar, uma fonte de debate acalorado entre
médicos e leigos igualmente. Dowbiggin analisa
evolução e opiniões sobre o que constitui uma boa
morte, tendo em conta os valores sociais e
religiosos colocados sobre o pecado, o sofrimento,
a resignação, o juízo, penitência e redenção. Ele
também examina a luta amarga entre aqueles que
enfatizam o direito de cuidado compassivo e eficaz
de fim de vida, e aqueles que definem a vida
humana em termos quer de critérios biológicos,
padrões utilitários, uma fé na ciência, tratamento
médico humano, o princípio da autonomia pessoal,
ou os direitos humanos individuais. Considerando
tanto a influência das mudanças tecnológicas e
comportamentais na prática da medicina, e
surpreendente falta do público de consciência de
muitas dimensões clínicas e biológicas da morte. O
livro levanta, ainda, profundas questões pessoais e
coletivas sobre o futuro da eutanásia.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.46-56, Agosto-Dezembro, 2014.
48
Schmitz (2014)
ofereciam aos crucificados o “vinho da
morte”, contendo substância causadora de
um sono profundo e prolongado, para que
não mais sentissem as terríveis dores,
caindo
em
letargia,
passando
insensivelmente à morte.
Na Birmânia se enterrava com vida
idosos e doentes graves. Na América do
Sul, os povos nômades das regiões rurais
matavam os anciões doentes para evitar
que fossem atacados por animais. Os
povos Celtas matavam crianças disformes
e velhos inválidos, bem como doentes
incuráveis.
Na era medieval, entregava-se ao
soldado mortalmente ferido o punhal de
misericórdia para que se suicidasse,
evitando dessa forma um prolongado
sofrimento, ou mesmo para que não
viesse a cair em poder do inimigo.
A prática da eutanásia, todavia,
encontrou barreiras além de fortes críticas
já nos primeiros séculos da era Cristã. Os
adeptos do cristianismo e do judaísmo
rechaçavam veementemente qualquer tipo
de morte que não fosse a natural, ainda
que encontremos na Bíblia configurada a
eutanásia no Livro dos Reis (I, 31, 3 a 7),
na passagem em que Saul lança-se sobre
sua própria espada ferindo-se, para não
vir a cair prisioneiro, o que faz com que
implore ao seu escravo para que lhe tire a
vida.
Posteriormente, no ano de 428
depois de Cristo, Santo Agostinho - em
seu livro intitulado “Cidade de Deus” suscitou, enfaticamente ser o suicídio e a
eutanásia tão somente uma forma
mascarada de homicídio, e, portanto,
proibidos e puníveis.
Somente alguns séculos mais tarde,
mais precisamente na Europa Moderna,
que os filósofos do Iluminismo passaram
novamente a discutir e a escrever acerca
da eutanásia e do suicídio, levando a
temática, inclusive, às peças de teatro.
Nesse panorama, a crença dos antigos
Gregos e Romanos, de que seria a
eutanásia uma forma de libertação e
alento aos doentes incuráveis, vivenciou
um breve ressuscitar.
No seara médica, ao longo dos
séculos, o que se verificou, além dos
avanços tecnológicos, foi uma mudança
na conduta do médico em relação ao
doente. Se, na Antiguidade, deixavam-se
aqueles que eram acometidos de doenças
incuráveis jogados à própria sorte, para
que morressem logo; na Modernidade,
com o advento de uma nova ética,
passaram a preocupar-se mais com o
bem-estar dos mesmos, buscando meios,
não só para que tivessem uma “boa
morte”, mas também buscando evitá-la ou
postergá-la.
Assim, e, à medida em que leis
foram criadas, morrer passou a ser um
problema social e não apenas um
sofrimento individual. Nesse diapasão,
como advento de uma tecnologia que
permitia manter o doente vivo, ainda que
inconsciente, passou-se a encarar a
eutanásia não mais como apenas uma
“boa morte”, mas também como seria
possível aos médicos, assegurar ao
doente uma “boa morte”, um morrer digno.
“A introdução de novas tecnologias
mudou a atitude em relação à eutanásia.
Hoje há um apoio maior em relação a
opção de escolher entre viver entubado e
em coma ou morrer simplesmente”,
explica o historiador Dowbiggin. Segundo
ele, há universidades nos EUA e no
Canadá que já não obrigam seus alunos
formandos a proferir o juramento de
Hipócrates, que condena a eutanásia.
3. ETIMOLOGIA
O primeiro relato que se tem da
utilização do termo eutanásia, data do ano
de 1623, quando o filósofo Francis
Bacon4, em sua obra "Historia vitae et
mortis", utilizou-o para denominar o que
seria o "tratamento adequado de doenças
incuráveis",
significando,
portanto,
eufemisticamente, uma "boa morte". A
palavra eutanásia traz sua construção
semântica dividida em "Eu" (que significa
"boa" ou "bem") e "thanatos" ou "thanasia"
(que significa morte). O vocábulo
eutanásia deriva do grego "eu" +
4
Francis Bacon, 1°. Visconde de Alban, também
referido como Bacon de Verulâmio foi um político,
filósofo e ensaísta inglês, barão de Verulam,
visconde de Saint Alban. É considerado o fundador
da ciência moderna.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.46-56, Agosto-Dezembro, 2014.
49
Schmitz (2014)
"thanatos" - duas palavras gregas na sua
etimologia - que fornecem o sentido literal
da palavra.
Consiste na teoria segundo a qual
será lícito apressar a morte dos doentes
incuráveis para que o sofrimento e a
agonia lhes sejam evitado. Por eutanásia
entende-se
quando
alguém
causa
deliberadamente a morte de outrem que
está mais fraco, debilitado ou em
sofrimento, poupando-lhe da dor e agonia.
Neste último caso, a eutanásia seria
utilizada para evitar a distanásia, que,
segundo Maria Celeste Santos, seria o
seu antônimo, definida como morte lenta,
ansiosa e com
muito sofrimento
(SANTOS, , 1992. p. 209).
O termo eutanásia é muito amplo e
pode ter diferentes interpretações no
sentido em que designa toda a ação que
vise deliberadamente a provocar a morte
de uma pessoa doente, revestindo tal
definição de neutralidade, sendo ajustável
a diferentes perspectivas, como a
proposta no século XVIII, pelo teólogo
Francisco Lárraga (1798, p.515), em seu
livro "Prontuários de Teologia Moral".
Lárraga utilizava a eutanásia para
caracterizar a "morte em estado de graça".
Ao longo dos anos, recebeu a
eutanásia inúmeras designações, dentre
as quais, "a morte sem sofrimento e
indolor" ou, ainda, "morte fácil e sem dor",
"morte boa e honrosa", "morte tranquila",
"alívio da dor", "golpe de graça", "morte
apropriada", "homicídio por piedade",
"morte direta e indolor", "morte suave",
"morte
harmoniosa",
"morte
sem
angústia", revelando a ideia de morte,
piedosa, altruísta e caridosa.
Para Milton Schmitt tem um sentido
mais
amplo,
abrangendo
outras
modalidades:
"O
termo
eutanásia,
hodiernamente, passou a ser utilizado
para designar a morte deliberada de uma
pessoa que sofre de enfermidade
incurável ou muito penosa, sendo vista
como meio para suprir a agonia
demasiadamente longa e dolorosa do,
então chamado, doente terminal. Porém,
seu sentido ampliou-se passando a
abranger o suicídio, a ajuda em nome do
“bom morrer”, ou “homicídio piedoso". Em
medicina legal e direito penal, assim
denominado o homicídio por motivos de
piedade, contra doente desenganado ou
portador de doença incurável".
Segundo a medicina, a eutanásia
consiste no ato de minorar os sofrimentos
de uma pessoa doente, acometida por
doença incurável ou em estado de coma
irreversível em que as possibilidades de
sobrevivência
sejam
mínimas,
apressando-lhe
a
morte
ou
proporcionando-lhe
os
meios
para
consegui-la. Desta feita, a conduta é
realizada mediante relevante valor moral,
que diz respeito aos interesses individuais
do agente, entre eles os sentimentos de
piedade e compaixão.
Ricardo Royo-Vilanova y Morales
assim define a eutanásia: “É a morte doce
e tranquila, sem dores físicas nem torturas
morais, que pode sobrevir de um modo
natural nas idades mais avançadas da
vida, surgir de modo sobrenatural como
graça divina, ser sugerida por uma
exaltação das virtudes estoicas, ou ser
provocada artificialmente, já por motivos
eugênicos, ou com fins terapêuticos, para
suprimir ou abreviar uma inevitável, larga
e dolorosa agonia, mas sempre com
prévio consentimento do doente ou prévia
regulamentação legal"5.
"A agonia que se desenrola sem
dores, na qual as funções sensoriais vão
se extinguindo pouco a pouco, pode ser
chamada de agonia tranquila, de
eutanásia, sendo distanásia as situações
nas quais o agônico, em plena lucidez,
sofre dores físicas e morais, considerando
como libertadora a morte que se aproxima
em passos lentíssimos"6.
A eutanásia, como já vislumbrado
em conceitos citados, consiste, portanto,
na prática da morte visando a atenuar os
sofrimentos do doente - e de seus
familiares - tendo em vista a sua inevitável
morte, sua situação incurável do ponto de
vista médico. Traço importante é a ideia
de causar conscientemente a morte de
alguém, por motivo de piedade ou
compaixão, introduzindo outra causa, que
5
LIMONGI, Ricardo França (Coordenação).
Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva,
1977, vol. 34, p. 245.
6
idem
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.46-56, Agosto-Dezembro, 2014.
50
Schmitz (2014)
por si só, seja suficiente para
desencadear o óbito. A morte por
eutanásia é considerada uma morte "não
natural".
Ao se analisar a eutanásia, pode-se
dizer que esta alcança três níveis de
manobras para lidar com a morte, quais
sejam:
a) Acabar com a vida indigna, na
hipótese do autor proporcionar a morte da
pessoa por entender que ela leva uma
vida intolerável. Pode-se utilizar, como
exemplo, a hipótese do doente hostil e
agressivo, afetado por uma esquizofrenia
do tipo paranóide, caracterizada por ideias
delirantes de perseguições e alucinações;
b) Acabar com a vida de doente sem
perspectiva médica de alívio para suas
intensas dores físicas ou torturas morais.
Seria o caso de um doente com câncer
incurável e multimetástico;
c) Acabar com a vida do doente,
antecipando-lhe a morte inevitável, que já
estava em curso, na hipótese do
prognóstico concluir que a pessoa está
irremediavelmente chegando ao fim em
deplorável agonia. Pode-se vislumbrar o
exemplo daquele que sofre um terrível
acidente de trânsito que leva ao
esmagamento da de sua medula ou
coluna raquidiana.
4. CLASSIFICAÇÃO
Importa, para um bom entendimento
do presente estudo, limitar-nos, dentre
inúmeras classificações encontradas na
doutrina, apenas à classificação da
eutanásia na forma ativa e passiva.
a) Eutanásia ativa – consiste no ato
deliberado de provocar a morte sem
sofrimento
do
doente,
por
fins
misericordiosos. Considera-se o modus
procedendi. É ativa quando o agente
ministra substância capaz de provocar a
morte instantânea e indolor;
b) Eutanásia passiva ou ortotanásia
– é a eutanásia por omissão; dá-se
quando a morte do doente ocorre, dentro
de uma situação terminal, ou porque não
se inicia uma ação médica ou pela
interrupção dessas medidas, como por
exemplo: não colocar ou retirar o doente
de um respirador. Dessa forma, o médico
deixa de prolongar, por meios artificiais e
extraordinários,
a
vida
que
está
inevitavelmente condenada, haja vista que
o tratamento para prolongar a vida traz
sofrimento ao doente terminal.
5. A EUTANÁSIA NO BRASIL E NA
ARGENTINA
A
Constituição
da
República
Federativa do Brasil, proclamada em
1988, consagra, em seu artigo 5º, a
inviolabilidade do direito à vida, aos
brasileiros e estrangeiros residentes no
país, regendo-se por diversos princípios
constitucionais, dentre eles, o da
dignidade da pessoa humana.
Entretanto,
cabe
aqui
um
questionamento: o direito à vida deve ou
não abarcar o direito de morrer com
dignidade? A supremacia do princípio
constitucional da dignidade da pessoa
humana deve ou não, possibilitar ao
doente terminal o direito de decidir se
deseja ou não continuar postergando seu
sofrimento? A verdade é que o cerne da
questão vai muito além desses simples
questionamentos.
No Brasil, como na grande maioria
dos países do mundo, quando o assunto é
eutanásia, a discussão projeta-se para
além da esfera da existência do doente,
sua família e equipe médica, passando a
ser uma discussão acerca de valores
éticos, sociais, culturais, religiosos e,
acima de tudo, jurídicos.
A eutanásia no Brasil é considerada
crime. Quanto a isso não há o que se
contestar, sendo
o máximo a um
indivíduo, que a pratique em outrem ou
que a viabilize, ser beneficiado com
redução de pena por praticar forma
privilegiada do crime de homicídio doloso,
prevista no parágrafo 1º do art. 121 do
Código Penal: “Se o agente comete o
crime impelido por motivo de relevante
valor social ou moral, (...) o juiz reduzirá a
pena de um sexto a um terço.”
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Assim, embora o legislador penal
não tenha tratado explicitamente da
eutanásia quando da elaboração do
Código Penal Brasileiro, esta se verifica
na forma descrita no caput dos artigos 121
(homicídio) e 122 (induzimento, instigação
ou auxílio ao suicídio). Desta feita,
qualquer pessoa que pratique a eutanásia
em outrem ou lhe forneça os meios para
que o faça, será tido como criminoso, e
sujeito, por tanto, às penas da lei.
No Brasil, já houve tentativas de
legalizar a eutanásia. O projeto de Lei
proposto em 1996, pelo senador Gilvan
Borges do PMDB, pretendia liberar a
prática para determinadas situações.
Submetido à avaliação das Comissões
Parlamentares, acabou por não prosperar,
sendo arquivado após três anos. Por outro
bordo, o deputado Osmânio Pereira
propôs projeto contrário, pretendendo
criminalizar a prática da eutanásia como
crime hediondo; todavia, sem sucesso,
também foi arquivado.
O problema é que vedando e
criminalizando a prática da eutanásia, tal
qual é feito com a prática do aborto, sem
que haja uma ponderação caso a caso,
acabou o legislador por empurrar o
doente, sua família e médicos, para o
caminho da ilegalidade, caso se encontre
este em fase terminal sem possibilidade
de cura e opte por não mais desejar viver.
Nesse diapasão, acaba o legislador penal
tolhendo o direito de decidir do mesmo,
bem como agredindo sua dignidade, ao
passo que lhe veda a possibilidade de ter
uma morte digna ou uma “boa morte”.
Na Argentina, o Congresso da
Nação promulgou em maio de 2012 a Lei
nº 26.742, chamada de a “Lei da Morte
Digna”, que modificou a Lei nº 26.529,
buscando promover a proteção e a
dignidade dos doentes em fase terminal
ou de intensa agonia sem possibilidades
de cura.
Por essa Lei, buscou a Nação
Argentina dar maior autonomia de vontade
ao doente, (incluindo-se aqui, crianças e
adolescentes) possibilitando-lhe o direito
de aceitar ou rechaçar determinadas
terapias e procedimentos, podendo,
inclusive,
posteriormente,
revogar
qualquer manifestação de vontade
anterior.
Nesse diapasão, a “Lei da Morte
Digna” possibilita aos doentes que se
estiverem em situação terminal, penosa e
irreversível o direito de não aceitarem
tratamentos
inócuos
que
lhes
possibilitariam tão somente uma postergar
de sua agonia. Por essa Lei, a declaração
de vontade do doente pode dar-se por ele
próprio ou, em não podendo fazê-lo, por
seus representantes legais, desde que
devidamente regulamentada.
Outro marco da “Lei da Morte Digna”
pauta-se no aspecto do dever que têm os
profissionais de saúde de prestarem todas
as informações necessárias ao doente e
seus representantes, possibilitando um
melhor entendimento de suas reais
condições de saúde, bem como das
possibilidades de cura ou sobrevivência,
para que então, de posse dessas
informações, a melhor decisão - que
deverá primar pela dignidade e bem estar
do mesmo - seja tomada.
Por fim, destaca-se que a “Lei da
Morte Digna” traz, entre suas diretrizes, a
autonomia da vontade de toda e qualquer
pessoa capaz e maior de idade, no
sentido de decidir qual a melhor opção a
ser tomada em relação a sua própria vida,
podendo aceitar ou rechaçar tratamentos
médicos que não lhe possibilitem uma real
melhora na sua condição de saúde, sendo
tão somente, meros paliativos que lhe
posterguem o sofrimento. Pode ainda o
doente, de acordo às alterações
introduzidas pela referida Lei, revogar a
qualquer tempo, qualquer autorização que
tenha firmado para tratamento, caso
deseje não mais recebê-lo.
6. A LEGALIZAÇÃO DA EUTANÁSIA
PELO MUNDO
No mundo contemporâneo ainda
que
perdurem
as
mais
variadas
controvérsias acerca da eutanásia,
advindas quer seja de dogmatismos
religiosos ou jurídicos, ou ainda de
preceitos éticos e morais, na Europa,
Holanda e Bélgica proclamaram a
legalização da eutanásia em 2002, sendo
seguidos por Luxemburgo, que a legalizou
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em 2009. Ademais, a Suíça adota uma
posição tolerante face ao procedimento da
eutanásia, uma vez que autoriza o médico
a administrar uma dose letal de
medicamento em doente terminal que
deseje
morrer,
mediante
seu
consentimento.
A Bélgica, ao legalizar a eutanásia
em 2002, autorizou que o procedimento
fosse realizado apenas em adultos.
Entretanto, voltou a discutir o assunto
recentemente em fevereiro de 2014, em
votação acalorada no Congresso, onde
por 86 votos a favor, 44 contra e 12
abstenções,
legalizou,
também,
a
realização em crianças, sem limite de
idade.
Em Países como Áustria e
Alemanha, a eutanásia passiva não é
considerada crime; Israel legalizou a
eutanásia em doentes terminais; Na
França permite-se uma espécie de
“sedação terminal” nos doentes em fim de
vida. A Suécia, por sua vez, autoriza a
assistência médica ao suicídio; Já no
Uruguai, seu Código Penal não penaliza
aquele que pratica “homicídio piedoso”,
desde que este conte com antecedentes
honráveis e que tenha praticado a ação
por piedade e mediante reiteradas
súplicas do doente.
Em 1979, a Colômbia iniciou um
processo de legalização do direito à
morte, sendo que, em 1994, a Corte
Constitucional Colombiana estabeleceu
que
“ninguém
poderia
ser
responsabilizado criminalmente por tirar a
vida de um doente terminal que tenha
dado seu claro consentimento”. Todavia,
surgiram vários debates acerca do tema,
culminando por fim na discordância do
texto por parte de um juiz da Corte que
terminou por anular todo o processo.
Ademais, tem-se, nos Estados
Unidos, a permissão da eutanásia em
doentes terminais, nos Estados do
Oregon, Washington e Vermont.
7. CASOS DE GRANDE REPERCUSSÃO
No Brasil, na década de 1990, o Dr.
Ítalo Fumagali foi acusado de praticar
eutanásia em doentes terminais no
Paraná. Ex-vereador e ex-secretário de
saúde de sua cidade, Fumagali ordenava
que as enfermeiras aplicassem cloreto de
potássio, na concentração de 19,1%, nos
doentes – dose que provoca a morte por
parada cardíaca em poucos minutos.
Recentemente, em fevereiro de
2013, o Brasil viu surgir mais um caso
polêmico envolvendo a suposta prática da
eutanásia. Na cidade de Curitiba, Capital
do Paraná - a diretora da UTI do Hospital
Evangélico, a médica Virgínia Helena
Soares de Souza - foi detida, após ser
denunciada ao Ministério Público pela
morte de sete doentes que se
encontravam em tratamento na Unidade
de Terapia Intensiva. Após várias
investigações, o Conselho Federal de
Medicina concluiu que há indícios de que
a médica tenha violado o código de ética
médica, dentre os quais, praticar ato
médico desnecessário ou proibido,
abreviar vida de doente, além de valer-se
da sua condição de diretora para impedir
que subordinados agissem de acordo aos
preceitos de ética médica.
Em meados de 1993, nos Estados
Unidos, todos os olhares se voltavam para
Jack Kevorkian, também conhecido como
Dr. Morte, que ficou famoso após assumir
participação na morte de Thomas Hyde,
rapaz de tinta anos que sofria de
esclerose múltipla. Kervorkian colocou o
doente em sua Kombi, prendeu no seu
rosto uma máscara ligada a um cilindro de
gás, atando sua mão direita a um fio preso
a um grampo que bloqueava o fluxo de
gás. Ao soltar o fio e liberar o veneno,
Hyde morreu em vinte minutos. O Dr.
Morte defendia o direito de matar os
sofredores.
Outro caso polêmico, também nos
Estados Unidos, ocorreu em 2005. O
mundo presenciou o drama vivido pela
americana Terri Schiavo, uma mulher de
41 anos que há quinze anos permanecia
em estado vegetativo. O grande impasse
ocorria devido a uma batalha judicial
movida pelos pais dela, que eram
contrários à suspensão do auxílio médico,
e o marido, seu guardião legal, que pedia
pela eutanásia. Como se não bastasse a
disputa familiar, o caso de Terri tornou-se
bandeira para os grupos que defendem ou
repudiam a prática. Seu caso também
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caiu no interesse dos políticos: os
parlamentares republicanos e o então
presidente,
George W.
Bush
se
mostravam pessoalmente empenhados
por “salvar a vida” de Terri, só que tudo
não passava de marketing para agradar a
seus eleitores.
No mesmo ano, outros dois casos
polêmicos. O primeiro envolvia uma
família holandesa que pediu para que os
médicos interrompessem a vida de sua
filha recém-nascida – prática que até
então não era permitida pela legislação
daquele país. Já o segundo foi
protagonizado por médicos americanos da
cidade de Nova Orleans que foram
denunciados após terem praticado
eutanásia nas vítimas do furacão Katrina.
Em sua defesa, teriam justificado a ação
afirmando que os doentes não teriam
condições de sobreviver até a chegada do
socorro.
Na Itália, em fevereiro de 2009, na
cidade de Udine, morreu a italiana Eluana
Englaro7. A morte ocorreu após o sistema
de hidratação e alimentação que a
mantinha viva em estado vegetativo, há
dezesseis anos, ser desligado. O
procedimento foi realizado somente após
seu pai conseguir na justiça uma ordem
que o autorizasse.
Em maio de 1994, o médico alemão
Wilhelme Rasche, dono de uma clínica em
Wurzburg, foi descoberto após uma
entrevista prestada ao Jornal Bild, onde
admitiu
abertamente
ter
praticado
eutanásia em cerca de 700 doentes
terminais ao longo dos últimos 35 anos.
Na entrevista, afirmou o médico que todos
os doentes, os quais ajudou a ter uma
“boa morte”, apresentavam doenças
incuráveis
e
sofriam
de
dores
monstruosas.
8. A EUTANÁSIA NAS TELAS DO
CINEMA
Desde que o homem inventou o
cinema,
temas
polêmicos
sempre
estiveram em voga em suas telas. Com a
eutanásia não seria diferente. Três
grandes clássicos abordaram o tema na
contemporaneidade: O premiado “Menina
de Ouro”8, “Uma Prova de Amor9 e o
espanhol “Mar Adentro”10, este último,
baseado em fatos reais.
Acerca
dos
dois
filmes
americanos, tem-se a destacar o fato de
ambos instigarem o telespectador, no
mínimo a uma reflexão, ao tratarem de
temas tão controvertidos e que envolvam,
não apenas o direito de viver, mas o
direito de viver com dignidade, ou mesmo
o direito de morrer com dignidade.
8
7
Por dezesseis anos, em coma. Eluana entrou em
estado vegetativo em 1992, após sofrer um
acidente de carro e, posteriormente, se tornou o
foco de uma batalha judicial entre apoiadores e
opositores da eutanásia. Em 1997, seu pai, ao
tornar-se seu guardião legal, iniciou uma batalha
judicial para que o tubo de alimentação que a
mantinha viva fosse removido, permitindo que sua
filha morresse naturalmente. O caso foi debatido
em audiência, sendo o pedido do pai negado tanto
em Dezembro de 1999 pelo Tribunal de Apelação
de Milão, quanto em abril de 2005 pelo Tribunal de
Cassação. O pedido de um novo julgamento foi
concedido pelo Tribunal de Cassação em 16 de
outubro de 2007. Somente em 13 de novembro de
2008, a mais alta Corte da Itália concede ao pai de
Eluana o direito de deixar suspender a alimentação
de sua filha. A decisão do tribunal sofreu a crítica
imediata da Igreja Católica Romana.
ORIGINAL: MillionDollar Baby, 2004. Diretor: Clint
Eastwood. País: EUA.
9
ORIGINAL: MySister'sKeeper, 2009. Diretor: Nick
Cassavetes. País: EUA. O filme conta a história de
Anna e sua irmã mais velha Kate. Anna não é
doente, mas bem que poderia estar. Por treze
anos, ela foi submetida a inúmeras consultas
médicas, cirurgias e transfusões para que sua irmã
mais velha Kate pudesse, de alguma forma, lutar
contra a leucemia que a atingiu ainda na infância.
Anna foi concebida para que sua medula óssea
prorrogasse os anos de vida de Kate, papel que ela
nunca contestou até chegar à adolescência,
quando começa a questionar quem ela realmente
é. Mas, ao contrário da maioria dos adolescentes,
ela sempre teve sua vida definida de acordo com
as necessidades da irmã. Então, Anna toma uma
decisão que seria impensável para a maioria, uma
atitude que abala toda sua família.
10
ORIGINAL: Mar adentro, 2004. Diretor: DIRETOR:
Alejandro Amenábar. País: Espanha,França,Itália.
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O filme “Menina de Ouro” em
especial, retrata a trajetória de uma
pugilista de sucesso que, ao ser
nocauteada durante uma luta, acaba por
sofrer uma lesão irreversível na medula,
deixando-a tetraplégica e presa a uma
cama, sendo mantida em sobrevida por
aparelhos, os quais lhe forneciam
alimentação e respiração artificiais. Com o
passar do tempo, Meggie Fitzgerald
começa a ter seus membros amputados
devido às escaras e à gangrena
ocasionada pela falta de movimento, um
quadro
além
de doloroso,
muito
comovente. É, então, em meio a esse
panorama deprimente, que a personagem
faz um apelo ao seu amigo e treinador,
para que não permita que ela continue a
sofrer daquela forma, pois não queria ter
apagado de sua memória, presa àquela
cama como um vegetal, a pessoa que já
tinha sido, implorando para que lhe tirasse
a vida num ato de misericórdia.
Em relação ao filme “Mar Adentro”,
baseado em fatos reais, teceremos
algumas minúcias a mais, pois abarca a
temática da eutanásia sob vários
enfoques. O filme retrata a história de
Ramón Sanpedro, um espanhol, que ao
mergulhar e atingir um banco de areia
com a cabeça, termina por ficar
tetraplégico aos vinte e poucos anos de
idade. Ele fica preso a uma cama por
trinta anos, totalmente lúcido, porém com
movimentos apenas do pescoço para
cima.
Durante os trinta anos em que
Ramón passou preso a uma cama dependendo de familiares e amigos para
continuar sua triste existência – ele travou
uma verdadeira batalha com o Poder
Judiciário espanhol, bem como com
entidades religiosas e sociais, no intuito
de que lhe fosse concedido o direito de
morrer, uma vez que a eutanásia é
considerada crime na Espanha.
Desejava Ramón, simplesmente ter
o direito a uma morte digna, o direito de
se libertar da condição de “vegetal
pensante”, pois só lhe era permitido o
pensar, enxergar, ouvir e falar; e isso, na
sua concepção, era humilhante para um
homem que já havia percorrido o mundo
inteiro.
O filme inicia-se com uma cena em
que Ramón grava um depoimento
endereçado à Justiça espanhola, no qual
explica o porquê da sua decisão, ao passo
que também aproveita para reclamar
acerca da ausência de resposta por parte
da Suprema Corte espanhola em face da
sua solicitação. Isenta ainda de culpa,
todas as pessoas que, de alguma forma
tiveram participação para que a dose de
cianureto de potássio que ingere logo
após o depoimento, lhe chegasse até “as
mãos”,
assume toda
e qualquer
responsabilidade por seu ato, uma vez
que era maior e completamente capaz de
atos decisórios.
Ramón
manifesta
ainda
que
considerava ser a vida um direito de
qualquer cidadão, mas não uma
obrigação, como havia sido em seu caso,
pois durante trinta anos foi obrigado a
viver naquela condição, devido à ausência
de manifestação do Poder Judiciário
espanhol.
Aqui, mais uma vez se traz à baila a
discussão acerca de quem ou o que,
verdadeiramente, autoridades, juristas,
religiosos e a sociedade em geral tentam
proteger com a criminalização da
eutanásia: o doente ou seus dogmas? É
preciso que haja uma ponderação entre
valores ético-jurídicos e a dignidade
humana do doente, do que lhe seja mais
viável e menos penoso, uma dolorosa
sobrevida ou um descanso através de
uma morte digna. Necessário se faz que a
vontade do doente também seja ouvida e
respeitada, pois é ele o principal
personagem de uma triste existência de
sofrimento.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se que o único ponto
pacificado acerca da eutanásia é o fato de
a mesma ser tão antiga quanto
controversa. A dificuldade que a maioria
dos países encontra ao tentar chegar a
um consenso acerca do assunto, pauta-se
justamente no fato de estarem envolvidos
valores que ultrapassam a órbita exclusiva
do doente e sua família, envolvendo
também a ética médica, jurídica, social,
além de dogmas religiosos.
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É nesse contexto de discordâncias
que urge a necessidade de uma
ponderação
de
valores.
Uma
hermenêutica
jurídico-constitucional
aplicada ao caso concreto, onde valores
protegidos constitucionalmente precisam
ser reavaliados diante das reais
possibilidades de cura e/ou sobrevivência
do doente - pois se lhe são assegurados o
direito à vida assim como à dignidade deve também lhe ser assegurado o direito
de decidir se deseja ou não continuar a
viver diante de um mal irreversível e
agonizante, promovendo-lhe dessa forma
uma morte digna, já que a vida não lhe é
mais permitida.
Por oportuno, importante destacar
que não se está aqui, a defender a
bandeira da eutanásia indistintamente.
Isso seria um ato leviano e irresponsável.
O que se tentou mostrar com o presente
trabalho, foi o fato de como valores éticos
e morais externos ao universo do doente
em estado vegetativo ou terminal, podem
intensificar a penúria tanto deste quanto
de seus familiares. A quem realmente
interessa manter um moribundo vivo, ou
determinar que a vida lhe seja abreviada?
São esses questionamentos que
devem ser feitos antes de qualquer
decisão ser tomada. Uma investigação
criteriosa precisa ser feita antes da
tomada de decisão, além da necessidade
de que o doente reafirme sua decisão por
mais de uma vez, durante um lapso
temporal que permita a uma equipe
multidisciplinar composta por médicos,
psicólogos, advogados e religiosos, este
último, se assim desejar o doente,
constatar
que
seu
desejo
é
verdadeiramente a morte; sendo que
mesmo depois de tomada a decisão, esta
poderá ser revogada, caso o doente assim
desejar.
Por fim, ainda que a controvérsia
esteja longe de acabar, em que pese à
ciência, o paradigma a ser utilizado
deverá pautar-se na premissa de que todo
o conhecimento angariado durante anos,
e até mesmo séculos de pesquisa, deverá
estar sempre a serviço da humanidade, do
bem estar do homem enquanto ser vivo e
da dignidade humana. É necessário que
os avanços médicos e tecnológicos sejam
utilizados de forma adequada, no sentido
de promover o bem estar do doente,
pondo-se, dessa forma, um fim a
dicotomia entre se utilizar um tratamento
para a cura e o bem viver e utilizá-lo tão
somente para o prolongamento do
ofrimento do deste.
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PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.46-56, Agosto-Dezembro, 2014.
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Oliveira (2014)
NOVOS DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO: INDEPENDÊNCIA, ALIENAÇÃO,
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA E PADRONIZAÇÃO CULTURAL
Davidson José de Sousa Oliveira¹
¹ Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias - ULHT- Lisboa - Portugal. Professor licenciado em educação infantil pela
UNIPAC – Barbacena-MG, Pós-graduado em Orientação Escolar, Supervisão Escolar e
Psicopedagogia pela Faculdade Castelo Branco - Colatina-ES
RESUMO
O presente artigo tem a intenção de angariar subsídios para a reflexão sobre os modernos
papeis da escola, diante de um contexto social de tendências alienatárias. Discutir-se-á as
relações entre o saber e a liberdade humana, num debate voltado para as novas correntes
doutrinárias que se cruzam quando procuram compreender a função da educação no
processo de libertação humana. Procurar-se-á saber quais são as correntes que defendem
a reforma na maneira de se pensar em educação como meio de se conquistar a autonomia.
As ideias de liberdade e autonomia serão postas frente a frente para possibilitar a discussão
sobre como o agir da escola interfere nestes processos.
Palavras-chave: Alienação, dependência econômica, ditadura da moda, padronização
cultural.
ABSTRACT
This article intends to raise subsidies for reflection on modern school papers, before a social
context transferee trends. Discuss It will be the relationship between knowledge and human
freedom, a debate focused on the new doctrinal currents that cross when seeking to
understand the role of education in human liberation process. Search will be wondering what
are the current defending the reform in the way we think of education as a means to gain
autonomy. The ideas of freedom and autonomy are put face to face to enable discussion on
how the act of school interfere in these processes.
Keywords: Alienation, economic dependence, fashion dictatorship, cultural standardization.
1. INTRODUÇÃO
A maioria dos discursos sobre a
independência
humana
trata
de
independência financeira. A liberdade de
se comprar, gastar com recursos próprios.
As
escolas
tratam
de
maneira
irresponsável esse assunto. Primeiro por
que focam a profissão futura como
mecanismo que leva ao sucesso ou ao
fracasso. Claro que, no capitalismo, o
médico é muito mais respeitado que o
gari; porém, deve-se ressaltar que o
principal motivador desta reflexão é
justamente o papel do saber na libertação
do homem. Portanto, é prudente voltar na
história e rever alguns conceitos de
posição social relacionados com o
conhecimento. Veja o caso do escriba
“[...] era uma pessoa educada nas artes
da escrita, usando tanto escritas
hieroglíficas e hieráticas, e a escrita
demótica da segunda metade do primeiro
milênio, antes de Cristo, que foi usada
também, além da aritmética. Filhos de
escribas eram educados na mesma
tradição escriba, enviados à escola e, ao
entrarem no serviço civil, herdavam as
posições de seus pais. Muito do que é
sabido do Antigo Egito provém das
atividades
dos
escribas.
Edifícios
monumentais foram erigidos sob suas
supervisões, atividades administrativas e
econômicas eram documentadas por eles
[...] Escribas também eram considerados
parte da corte real e não eram obrigados a
pagar taxas ou se juntarem às forças
armadas. A profissão do escriba possuía
profissões similares, como os pintores e
artesãos que faziam decorações e outras
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relíquias com pinturas e textos hieróglifos.
Um escriba era eximido do trabalho
manual pesado exigido às baixas
classes”.1 Não é algo novo essa relação
de conhecimento com posição ou
consideração social. Porém, vale lembrar
que a transmissão de conhecimento aos
escribas era realizada de maneira igual à
das escolas em alguns aspectos e
diferentes em outros. Eles recebiam dos
pais o saber e repassavam aos filhos por
gerações. Existia uma relação muito
parecida com a de professor e aluno nos
dias de hoje, com a diferença de os
alunos serem preparados exclusivamente
para uma função, algo semelhante ao
tecnicismo, orientados por quem já a
exercia, enquanto hoje o aluno tem o
direito de escolher entre centenas de
profissões. O que realmente difere é a
significação da escolha. Observando-se
bem, é possível perceber que, se por um
lado o escriba já era motivado a se
preparar para a função, por outro os
jovens de hoje não sabem quais são seus
reais objetivos, e a escola não sabe que
tipo de cidadão pretende produzir. Na
verdade, ela nem mesmo sabe “se” quer
produzir um cidadão. Sendo assim, a
criança, adolescente ou jovem que vai à
escola escuta o tempo todo que esta é a
garantia de seu futuro; esse discurso
parece até ser decorado; mas não sabe
como a escola fará isso, ou mesmo como
ele próprio administrará a situação. O
resultado são escolas superlotadas e
sucateadas, favorecidas pelo descaso do
poder público; ambientes que não
favorecem a aprendizagem ou mesmo a
socialização.
O
cidadão
procura
a
tal
independência, sem saber, realmente, do
que se trata. Afinal pode ser que, na
sociedade capitalista, as pessoas a
entendam como a conquista do primeiro
automóvel, muitas vezes, financiados a se
perder de vista, o mesmo acontece com a
aquisição da casa própria, ou “ao se ter o
dinheirinho para não se faltar a carne na
mesa ou coisa parecida”. O conhecimento
fica, muitas vezes, à margem desse
1
"Scribes", Life in Ancient Egypt, Carnegie
Museum of Natural History.2009.
conceito, já que o mundo interpreta
independência como condição financeira.
Compactando, as pessoas concluem que
não há necessidade de escola, ou
conhecimento
acadêmico
para
se
conquistar bens materiais, já que estes
são acessíveis a qualquer um que tenha
CPF registrado e nome limpo. As
consequências vêm depois, quando por
falta de educação financeira, as dívidas se
tornam uma “bola de neve” incontrolável,
fazendo com que o cidadão mergulhe em
um poço sem fundo.
Traçando
um
paralelo
entre
educação e independência o que se tem é
um mecanismo muito bem elaborado para
controlar as massas. A mente já debilitada
da população crê que a independência é
algo que existe única e exclusivamente
para o indivíduo e não para a sociedade.
Uma vez centralizado no “eu”, o indivíduo
passa a tentar satisfazer os seus desejos
particulares como se estes fossem os
únicos anseios humanos. E aqui entra o
egocentrismo, o materialismo e a
passividade. Em seguida, a propaganda
das grandes marcas e mídias e as
ideologias dominadoras entram para fazer
o mais fácil: dar a este cidadão
individualista aquilo que mais lhe satisfaz
o ego. Assim ocorre a manipulação com
base na dependência, destruindo o poder
coletivo e arrasando a criticidade de modo
sutil e mascarado. A dominação com base
na dependência possibilita padrões de
controle
baseados
na
alienação,
dependência econômica, tendencialismo e
ditadura da moda.
Para
uma
reflexão
bem
fundamentada
sobre
educação
e
independência, como sugere o título deste
artigo, será feito um estudo breve sobre
seis mecanismos: Alienação, dependência
econômica, tendencialismo, ditadura da
moda, publicidade e propaganda e
padronização cultural. Conhecendo-os,
será possível entender os caminhos aqui
sugeridos para que a educação seja a
libertação da sociedade das amarras da
dominação promovidas, não somente pela
ignorância da sociedade, mas pela astúcia
dos dominadores e suas ferramentas de
controle.
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2. A ALIENAÇÃO: Os resultados da
submissão
O
Dicionário
Aurélio
define
alienação como “... perda da razão,
loucura: alienação mental. / Estado da
pessoa que, tendo sido educada em
condições sociais determinadas, se
submete cegamente aos valores e
instituições dadas, perdendo assim a
consciência
de
seus
verdadeiros
problemas”.
Essa definição ilustra perfeitamente
o propósito desta discussão. Quanto mais
o aparato de controle trabalha a favor da
manutenção do poder, mais a população
fica sob o julgo de seus algozes. A mídia,
munida de grande conhecimento sobre
formas de controle de massas, busca
meios de tornar cada vez mais normal a
vivência do ambiente de comando. Isso
faz com que as pessoas não se vejam
dominados, pelo contrário, elas até se
sentem livres dentro de um plano de
democracia e liberdade, e acabam
submetidas se acostumando a consumir o
que os dominadores apresentam.
O termo alienação advém do
pensamento de Hegel, mas sua raiz
também está em Ludwig Feuerbach,
que formulou uma teoria do
paradoxo da alienação humana a
partir da religião. Em Hegel, este é
um processo essencial pelo qual a
consciência é ingênua e acaba se
convencendo de que há um mundo
independente, teoria desenvolvida
na obra Fenomenologia do Espírito
(1807)2
o homem é fruto de um acidente
pecaminoso que o levou a depender
diretamente da misericórdia de um ser
superior, criador de tudo, que estaria na
regência de sua vida até que todo o plano
de libertação fosse cumprido. Certamente
este texto poderá levantar hipóteses de
que o autor deste artigo seja ateu ou
mesmo inimigo da religião. Não é o caso.
Aqui se expõe um pensamento do século
XIX, época em que Feuerbach escreveu
baseado na teologia humanista e, logo
após seu rompimento com a teologia
teocêntrica, sobre aquilo que lhe
convencera de que a religião e o
teocentrismo seriam invenções de grupos
humanos para explicar o inexplicável ou
para facilitar a compreensão daquilo que a
filosofia e as ciências físicas, exatas e
biológicas não conseguiam provar. A
religião seria, então, uma criação humana
que teria o objetivo de alienar e controlar
por meio de deus. Provavelmente a vinda
à tona das atrocidades e das falcatruas
cometidas pela igreja medieval possa ter
sido a principal motivação de Feuerbach
para publicar seus escritos sobre
alienação humana a partir da religião.
A alienação é um fenômeno
caracterizado
pela
dependência
econômica, psíquica ou orgânica de
algum produto ou subproduto de trabalho
ou ideia, feito para causar ou sanar
alguma dependência.
A alienação em Marx é entendida
como a relação contraditória do
trabalhador com o produto de seu
trabalho e a relação do trabalhador
ao ato de produção, um processo de
objetivação, tornando o homem
estranho a si mesmo, aos outros
homens e ao ambiente em que vive3
Por conta da subjetividade, a religião
é considerada, em Feuerbach, como
alienadora visto que em seu entendimento
2
João Carlos da Silva UNIOESTE, Cascavel, PR.
Revista HISTEDBR On-line. Revista HISTEDBR Online, Campinas, n.19, p.101 - 110, set. 2005 - ISSN:
1676-2584 101
3
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã.
São Paulo: Hucitec, 1986.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
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Para Marx o domínio vem da relação
entre a alienação e a dependência, ambos
produzidos e enraizados nas relações de
trabalho e produção. Consiste na
destruição da natureza liberta do homem,
e gera a conformidade com a realidade de
produção e consumo. Como supracitado,
a alienação torna o homem estranho a si
mesmo. Ainda pode-se entender, em
Marx, que as relações de trabalho são
contraposições de forças desiguais que
resultam em dependência direta entre
patrão e proletariado. É como se não
houvesse possibilidade de vida sem a
divisão entre as classes. Há até mesmo a
ideia de que é necessária a existência do
patrão para que o trabalhador não
sucumba. Como a grande maioria da
população se destina a atuar na força de
produção, é prudente, no mínimo,
desconfiar que haja um grande interesse
das classes dominantes em manter a
divisão social de classes, já que isso
significa sua permanência no poder de
dominação.
A apropriação torna as massas parte
de um processo de comando planejado,
sendo o indivíduo uma peça de reposição
com alta oferta. Marx afirma que a
apropriação surge como alienação, e a
alienação como apropriação. MARX
(2002). Um dos fenômenos da revolução
industrial que pode ilustrar esta análise é
a criação das condições de dependência
direta do empregado para com o patrão
na forma de prestação de serviços de
aluguel, venda de gêneros alimentícios,
remédios
e
vestuário
a
preços
exorbitantes que eram feitos na forma de
venda a prazo para o trabalhador, que só
com o salário não conseguia cumprir seus
débitos com os patrões a acabavam
trabalhando na condição de devedor do
empregador, que lucrava muito mais
mantendo o trabalhador preso a uma
espécie de dependência que era
característica desse tipo de sociedade
dividida em patrão e proletário.
3. A DEPENDÊNCIA ECONÔMICA
Nota-se que as grandes potências
econômicas produzem propagandas com
forte apelo cultural e social para criar um
vínculo de dependência que favorece a
dominação. Os recursos de produção e
infraestrutura necessários para se manter
um padrão de consumo de primeiro
mundo geram a necessidade de
recorrência aos cofres de financiadores
interessados
diretamente
na
popularização do consumo. Isso gera a
dependência econômica.
Quanto à dependência econômica,
ela pode ser entendida como a
incapacidade de gerenciar um mecanismo
independente de manutenção econômica.
A dependência política e econômica
continuada poderá esclarecer em parte o
subdesenvolvimento do mundo latinoamericano e afro-asiático (a despeito da
defasagem entre ambos os processos),
condicionados aos mecanismos de
apropriação e acumulação do excedente
econômico, pelo crônico endividamento
externo, pelas relações de trocas
desiguais, pela dominação do capital
financeiro e bancário, com a complacência
e conivência inicialmente das classes
senhoriais,
das
oligarquias
agroextrativistas
exportadoras
e,
posteriormente,
dos
agentes
da
subeconomia
industrial,
os
quais
tradicionalmente exerceram o controle do
poder estatal. (MACHADO)4
O subdesenvolvimento compreende
o efeito causado pela dependência
econômica e a fragilidade do poder
político. Este último refere-se às fraquezas
do
poder
político
dos
países
4
MACHADO, Luiz Toledo : A teoria da
dependência na América Latina. (Artigo científico)
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subdesenvolvidos em lidar com a
dominação capitalista imposta como
condição de relacionamento entre eles e
as grandes potências. É como se a
condição para se manter relações
diplomáticas e econômicas fosse a
submissão dos mais pobres aos mais
ricos, causando assim um cenário de
desigualdade que só favorece os países
ricos. O subdesenvolvimento social acaba
por ser o resultado da ignorância dos
povos com relação aos mecanismos de
dominação. A história mostra que os
povos
técnica
e
academicamente
despreparados
foram
sempre
economicamente extorquidos por nações
que detinham poder ideológico. Tudo isso
seria evitado, ou dificultado, se a pauta de
discussões históricas e sociológicas nos
meios acadêmicos fosse suficientemente
séria no que diz respeito à resistência aos
mecanismos ideológicos de dominação e
controle.
mídias trabalham a favor do crescimento
do aparato de controle ideológico:
A sociedade de controle, por
paradoxal que possa parecer,
produz,
ao
mesmo
tempo,
desterritorialização
contínua
e
subjetivações
serializadas
e
homogeneizadoras.
Cria
a
necessidade de acompanhamento
contínuo das últimas novidades
tecnológicas, de busca de imagens
de competência, de roupas de griffe,
do carro da moda, da leitura do livro
mais recente, [...] laminando os
sujeitos no campo da falta, da
desqualificação
e
segregação
cotidianas. Produz subjetividades
solitárias, cada vez mais voltadas
para dentro de si, magnetizadas
com suas imagens nos espelhos
fornecidos
pelo
capital.
Subjetividades, estas, que retiram os
homens da história circunscrevendo
seu conhecimento a “seu interior ”,
“a busca de si mesmo “ e têm como
um dos seus efeitos a produção de
distância,
paralisia
e
individualização.”(NEVES,1997)5
4. O TENDENCIALISMO
Quem inventou a tendência? De
onde vêm os padrões? O que leva o ser
humano a seguir algo criado sem sua
participação?
O tendencialismo é a incapacidade
de se proteger ou ficar exaurido de algum
modismo. É uma condição de fraqueza
humana e, sobretudo, incapacidade de
produzir pensamento próprio. É, ainda,
uma ausência de convicção e criticidade.
O indivíduo que é reprodutor do
tendencialismo é conformado, não tem
perspectiva de crescimento, é facilmente
confundido com alguém de personalidade
não muito marcante. Fixa suas raízes
culturais
nas febres momentâneas
produzidas pelos controladores.
No campo da produção cultural, a
disseminação
de
tendências
é
demasiadamente lucrativa. As grandes
Essa
sociedade
de
controle,
fortemente munida de artifícios que a
mantém no topo da rede de comando, é a
mesma que garante má qualidade da
educação, má distribuição de renda (não
gratuita) e impedimentos diversos de que
as pessoas se sintam parte de um
organismo
chamado
sociedade
democrática.
Como características marcantes,
podem-se destacar, no tendencialismo,
três divisões: A pesquisa mercadológica; a
produção ideológica e a ocupação das
mídias com a implantação do produto, não
5
NEVES, Cláudia E. Abbês Baêta. Sociedade de
Controle, o neoliberalismo e os efeitos de
subjetivação. In: SILVA, André do et al. (Org.).
Subjetividade: questões contemporâneas. São
Paulo: Hucitec, 1997. p. 84-91. Ano: 1997.
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como tal, mas como representação social
desse ou daquele grupo. Analisando as
três, será possível iniciar as reflexões
sobre o domínio a partir do estudo de
possibilidades de implantação de um
sistema onde se criam tendências.

A pesquisa mercadológica
Em publicação no ano de 1978,
Boyd e Westfall relatam a pesquisa
mercadológica é a busca e análise
objetiva e sistemática de informações
relevantes para identificação e solução de
qualquer
problema
no
campo
mercadológico (BOYD e WESTFALL,
1978). As tendências não são uma
herança cultural e sim um mecanismo, ou
estratégia, criadas pelo estudo de
mercado para movimentar uma legião de
consumidores. Elas não nascem do povo,
mas sim das estratégias de marketing.
São
frutos
diretos
da
pesquisa
mercadológica. As empresas, a mídia e as
indústrias procuram formas ideológicas de
fazer com que os cidadãos se sintam
inseridos num contexto social. Exemplos
disso são as propagandas tendenciais de
natal, que levam o povo a consumir
alimentos específicos, usar roupas tidas
como ideais para cada ocasião, ou
mesmo adquirir hábitos de outros países
de regiões totalmente opostas em clima,
cultura, sociedade e pensamento. É a
pesquisa mercadológica que determina as
formas de produção e os padrões
propagandísticos que serão usados para
descobrir, elaborar meios e dominar
através do consumo. Em outras palavras,
é preciso saber o que produzir, como
conquistar mercado e para quem vender.
Isso se sabe através do conhecimento de
perfis. Portanto, onde há conhecimento de
mercado há grande possibilidade de
sucesso de vendas.

A produção ideológica
Os
conceitos
de
ideologia,
filosoficamente, estão embasados em
análises de autores como Engels, Marx,
Durkheim e Lacan, que a observam dos
pontos de vista das classes dominantes e
dominadas, bem como nas relações de
produção e consumo. Nesse caso, a
ideologia é observada do ponto de vista
psíquico, levando ao entendimento de seu
poder para a dominação.
A relação
existente entre ideologia e inconsciente
torna-se evidente se aceitarmos que o
sujeito inconsciente é, em grande parte, o
sujeito da ideologia, e vice-versa, não
sendo possível compreender um sem o
outro (Sousa Filho, 2003).
Invadir o subconsciente, que não é
dominado pelo sujeito consciente, é a
forma mais cruel e eficaz de se implantar
a semente da dominação. O poder da
ideologia sobre a psique é estudada e
aplicada em efeito contínuo, como uma
série de ligações em linha que terminam
com o funcionamento do mecanismo por
completo. Ou seja, não existe uma
invasão completa, de uma só vez. O que
se tem é uma série de pequenas
descargas ideológicas que, com o passar
do tempo, resultam no condicionamento
do sujeito como objeto da passividade. É
o que se discutiu anteriormente nesta
obra.
Os indivíduos não percebem, por
que não são capazes, que existem grupos
aos quais o domínio interessa e isso os
faz serem inertes ao poder da ideologia
dominante, sendo esta uma forma que
passa despercebida e coexistente no meio
social com os cidadãos,
tornando-se
parte integrante da própria cultura destes.
Tomando Marx e Engels em A ideologia
alemã,
é
através
de
uma
tal
representação da realidade social que se
torna possível que a dominação – vista
aqui como a realidade do assujeitamento
na cultura, um dado antropológico – não
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seja experimentada como tal, mas vivida
pelos sujeito simplesmente como “cultura”:
costumes, padrões, moral, direito, etc.
Isso reflete a normalidade dos padrões
ideológicos dentro da vivência social dos
grupos. Não é a ideologia que é
imperceptível; são as pessoas que se
mostram incapazes de diferenciá-la dos
padrões sociais que determinam as
particularidades de cada grupo, para cada
qual existem ideologias de controle social,
cuidadosamente elaboradas, para garantir
o sucesso da dominação. Isso mostra que
não é possível aplicar padrões ideológicos
iguais em grupos sociais diferentes.


A ocupação das mídias com a
implantação do produto
A proposta não é discutir
propaganda somente. Não basta divulgar.
É preciso implantar o produto. Fazê-lo
necessário, transformá-lo em objeto de
desejo, criar um símbolo de diferenciação,
ou mesmo status social. O papel das
mídias é reunir condições para que isso
aconteça. Para isso, antes de tudo, a
própria mídia teve de se transformar no
que foi acima dito. Isso ocorreu; e ocorre;
desde que os primeiros exemplares de
jornais impressos passaram a ser objeto
comum nas casas. Ele se tornou fonte de
lazer e informação. Aqueles que
perceberam nisso um grande potencial de
propaganda, perceberam também que
poderia se fazer uso deste potencial a
favor do consumo. A continuidade veio
com o rádio, TV e, por último, com a
internet. É praticamente impossível a não
existência de algum desses meios de
comunicação
em
algum
lar.
A
popularização
desses
mecanismos,
apesar de não terem sido o início da
história da propaganda, foi o meio que
tornou possível a formação dos poderes
das mídias. Buscando compreender este
poder, percebe-se que as mídias são tão
comuns na sociedade que ela própria não
pode mais existir da maneira que se
conhece. A mídia e as tecnologias que
ostentam
manifestações
de
poder
inerentes aos interesses capitalistas
produziriam, de acordo com Kincheloe (in
GOMES), uma era de consumo.
Observando algumas propagandas
de cigarros das últimas décadas, percebese a intenção sistematizada de convencer
de um status envolto no uso do produto.
Nesse caso o vício e a dependência
química e psíquica são mecanismos que
possibilitam o processo. A passividade do
cidadão faz o resto. Todas as imagens de
belas mulheres, homens jovens e
saudáveis e cenários estonteantes são,
categoricamente,
armadilhas
propagandísticas. Faz-se do produto uma
necessidade ou mesmo uma marca de
status. É como se o consumo fosse o
resultado de uma cadeia de armadilhas.
Assim, alienação, produção e consumo
são interligados por uma relação íntima
que objetiva a implantação de tendências
de consumo cada vez mais presentes no
quotidiano da sociedade. Por sua
aparente normalidade e disposição
inofensiva, tornam-se invisíveis aos olhos
desatentos das pessoas, que não as
percebem
como
influências
das
tendências de consumo em suas vidas. É
a manutenção do ímpeto de consumo.
5. DITADURA DA MODA
Pode-se entender ditadura da moda
como uma tática de alienação, baseada
nas relações de consumo. O sujeito que
segue a moda é aquele que rege, de
acordo com o gosto do momento, a
maneira de viver, de vestir etc. Também
pode ser entendida como fantasia, gosto,
maneira ou modo segundo o qual cada
um faz as coisas.6Os movimentos da
moda são carregados de falsas sutilezas
6
www.dicionariodoaurelio.com/Moda.html.
Consulta em 04/2013
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
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que dificultam o desvendar de suas
intenções. Não se percebe, por trás da
moda, a intenção de escravização.
Brilhantemente, no prefácio da obra Moda
do Século, François Baudot (2002)
descreve essa aparente e perigosa
sutileza dizendo que “às vezes os
movimentos da moda dificilmente se
deixam perceber. De repente, crescem.
Depois, extinguem-se progressivamente.
São fósforos que riscam. Às vezes
queimando os dedos. Quase sempre
acendendo um fogo que o ar atiça e que o
tempo desfaz, com o peso dos hábitos, do
enfastiamento e da indiferença.” 7 A
referida obra é muito mais do que uma
análise da moda da alta costura mundial,
sobretudo europeia. Ela discorre sobre
uma visão sociológica completa e
complexa de aspectos que passam desde
os interesses elitários até os confrontos
entre culturas no que diz respeito à
ditadura da moda. Sua abordagem
histórica leva o leitor a compreender como
as ideologias contidas na propaganda,
sobretudo iniciada no século XIV na
Europa, influenciou o que hoje se entende
ser o posicionamento da moda como
referencial de estilo e status na sociedade.
Baudot ainda escreve que “dotada de
perfeita má fé, mas de entusiasmo
indomável, a moda, a partir do final do
século XIX, não deixou de ampliar,
irreversivelmente
seus
domínios.
Governando as aparências, alimentando
paixões, catalisando toda uma economia,
ela associa obrigatoriamente dois pólos
antagônicos: a vontade de criar e a
necessidade
de
produzir.”
BAUDOT(2002). Enquanto a sociedade
assiste, passivamente, a maestria dos
produtores da moda na regência de uma
7
BAUDOT, François. Moda do século. Título
original: Um siécle de mode. Tradução: Mria
Thereza de Rezende Costa.São Paulo.Cosac Naify.
2002. 400p.3ª edição.ISBN 85.86374-96-2
grande massa de comandados e
influenciados, a indústria perpetua a
continuidade de seus altos ganhos, sob a
forma de produtora da tendência. As
grandes massas vivem, diferentemente do
que viviam no século XX, uma grande
revolução no consumo, já que os níveis de
desemprego já não são como eram. Nas
nações emergentes, o poder aquisitivo é
melhor do que no passado e, até mesmo,
o padrão de diferenças entre ricos e
pobres se modificou, tendo em vista que
os indicadores das disparidades entre
essas classes já não mais são fatores
como analfabetismo ou fome. Atualmente
se diferencia ricos e pobres pelo padrão
de consumo, ou seja, por aquilo que
conseguem comprar e consumir, e não
por aquilo que lhes falta, como era no
passado.
A diferença entre e ditadura da
moda e tendencialismo é que a primeira é
um modelo social criado e modificado
periodicamente para fazer as pessoas se
sentirem em constante mudança e
dinâmicas, pouco repetitivas e portadoras
de uma identidade cultural e social
padrão, semelhantes aos cidadãos
modelo, que são repetitivamente usados
pelo marketing na figura de artistas
famosos, homens e mulheres bonitas e
saudáveis, pessoas que aparentemente
se mostram bem sucedidas, como pano
de fundo para as incursões dos
produtores da moda. Funciona como fator
de integração em uma sociedade cada
vez mais exigente e selecionadora. O
culto à imagem é um exemplo claro e
clássico, que ganhou uma força
descomunal nos últimos tempos. O
segundo é o meio criado para assegurar
um consumo, independente da moda, e
que não muda com o tempo. As datas
comemorativas criadas pela indústria são
exemplos de tendencialismo.
Ele se
caracteriza pelo forte apelo sentimental e
emocional, visto que se revela através de
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
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atitudes que geram grande bem-estar
entre as pessoas, como dar ou receber
um presente de natal, dia das mães, dos
pais, das crianças, de aniversário, dentre
outros que interagem diretamente com os
sentimentos das pessoas. Como se isso
não bastasse, existe uma implantação de
costumes totalmente artificiais e prontos;
práticas de outros povos que não se
assemelham, em termos culturais, em
nada com o brasileiro. Veja as redes de
fast food norte-americanas ou mesmo os
verbetes em inglês que invadem as vidas
dos brasileiros sem que estes percebam,
e acabam por americanizar as pessoas.
Isso é uma sutil e maldosa maneira de
submeter as sociedades à padronização
cultural.
6. A PADRONIZAÇÃO CULTURAL
Ao se falar em dominação, não se
pode deixar de levar em consideração os
fatores culturais, que podem ser barreiras
para as ideologias de controle. Para se
obter um auxílio proveitoso, serão usados
os estudos sobre cultura de um ponto de
vista universal, mostrando por que o início
deste parágrafo afirma que ela pode ser
uma barreira que dificulta o trabalho dos
dominadores. Veja o caso da indústria de
bebidas alcoólicas. Ela encontra uma
grande resistência em meios às
comunidades
religiosas,
sobretudo
protestantes, que, em sua grande maioria,
se recusam a consumir esse tipo de
produto. Nesse caso, as fábricas de
bebidas etílicas procuram amenizar os
efeitos sócio-culturais do uso de álcool,
patrocinando pesquisas científicas que se
esforçam em provar que o consumo
moderado não causa males á saúde, e até
podem ser benéficos. Recentemente
pesquisas sérias comprovaram que, por
exemplo, o uso de uma taça de vinho por
dia pode auxiliar no combate a derrames e
infartos. Não se tem a intenção de colocar
em dúvida essas pesquisas, porém, podese notar que a indústria se aproveita
desses resultados para fazer com que
culturalmente essas sociedades não se
sintam, por exemplo, culpadas ou
pecadoras por consumirem álcool, visto
que a justificativa para se embebedar é
plausível, já que se trata de um ato de
prevenção de problemas de saúde. Esse
exemplo ilustra uma realidade que se vê
em escalas mais largas pelo mundo.
Trata-se de tentar justificar uma ação por
uma adaptação ao moderno, ou ao
mundialmente padronizado jeito de ser
moderno. Como o fato de ter existido
grande resistência no mundo árabe aos
produtos americanos como os da rede Mc
Donalds e a Coca Cola, assim é barreira
para a indústria a pluralidade cultural, que
pode interferir nos planos de expansão
multinacional da indústria.
A padronização cultural consiste em
globalizar
as
relações
culturais;
transformar as culturas locais em culturas
universais8. Fazer com que as pessoas
sintam-se englobadas num todo chamado
mundo. Essa padronização traz a
oportunidade dos grandes sistemas de
dominação de agirem universalmente
conforme seus planejamentos, muitas
vezes destruindo uma cultura para
implantar a que lhes convier. E por que
falar em cultura universal no sentido
dominador? Aqui se propõe a análise da
universalização da cultura como uma
forma de domínio onde se criam costumes
e agregados ao consumo que acabam por
substituir a cultura propriamente dita,
definida por Featherstone como cultura
de consumo. O autor expõe a modalidade
cultural que se torna universal com o pósmodernismo, visto que este abrange o
período da grande reviravolta da maneira
de se dominar a partir das relações de
consumo:
8
Nota do autor
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.57-69, Agosto-Dezembro, 2014.
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Oliveira (2014)
A concepção de cultura de consumo
tem como premissa a expansão da
produção capitalista de mercadorias,
que deu origem a uma vasta
acumulação de cultura material na
forma de bens e locais de compra e
consumo.
Isso
resultou
na
proeminência cada vez maior do
lazer e das atividades de consumo
nas
sociedades
ocidentais
contemporâneas, fenômenos que
embora sejam bem vistos por
alguns, na medida em que teriam
resultado em maior igualitarismo e
liberdade
individual,
são
considerados por outros como
alimentadores da capacidade de
manipulação ideológica e controle
“sedutor” da população, prevenindo
qualquer alternativa “melhor” de
organização das relações sociais.”
FEATHERSTONE (1995)
Levando em consideração que a
obra Cultura de consumo e pósmodernismo foi publicada nos anos 90 do
século XX, é prudente lembrar que seu
conteúdo permanece extremamente atual
na observância das relações entre
consumo e pós-modernidade9. Conhecer
essa relação é fundamental para a
compreensão
da
intenção
da
padronização cultural. Para isso, é preciso
começar reforçando a ideia de que cultura
material é um termo relativamente novo,
visto que surge entre as sociedades uma
preocupação em preencher a lacuna do
desconhecimento de suas culturas
historicamente
estabelecidas
por
costumes, religião, música, culinária, Pelo
9
Para saber mais sobre pós-modernidade
consultar: BAUMAN, Zigmunt, 1925. O mal-estar
da pós-modernidade/ tradução, Mauro Gama,
Cláudia Martinelli Gama: revisão técnica Luís Carlos
Fridman.-Rio de Janeiro: Zahar, 1998. E também
BAUMAN,
Zigmunt,
1925-Modernidade
Líquida/Tradução, Plínio Dentzien-Rio de Janeiro:
Zahan, 2001
prazer imensurável de se possuir, ter,
consumir.
A fase atual de oferta excessiva de
bens simbólicos nas sociedades
ocidentais contemporâneas e as
tendências para a desclassificação e
desordem cultural (que alguns
rotulam de pós-modernismo) estão,
portanto, pondo em evidência as
questões culturais e têm implicações
mais amplas em nossa conceituação
do relacionamento entre cultura,
economia
e
sociedade.
FEATHERSTONE (1995).
A ideologia do medo, perceptível
nos modos pelos quais os dominadores
fazem o dominado sentir-se amedrontado
por não consumir, é um dos meios de
levar a sociedade a uma padronização
cultural referente ao produto cultural que
se implanta com o claro objetivo de tornar
o consumo um ato cultural, típico das
grandes potências capitalista. Quando se
fala em ideologia do medo, o objetivo é
levar ao conhecimento da forma pela qual
o dominador leva o indivíduo a consumir,
como um ato de estar incluído numa
classe da qual não faz parte, mas deseja
fazer, através do medo. Veja na
propaganda. O medo faz parte do aparato
de propagação. Produtos e mais produtos
são anunciados utilizando o medo,
fraqueza humana que não só diz respeito
ao instinto de sobrevivência, mas ao
repúdio da exclusão. Nota-se que a
cultura de consumo, padronizada pelo
mundo, adaptada a cada tipo ou modo de
cultura, se usa desta fraqueza para
oferecer os meios pelos quais as pessoas
os vencerão. Indivíduos inseguros, com
dificuldades de tomar decisões e com
deficiência de liberdade de pensamento
são presas fáceis, visto que seus medos
os conduzem ao consumo sem maiores
correspondências
entre
necessidade
psíquica e necessidade física. Podem-se
citar propagandas de anticépticos bucais
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.57-69, Agosto-Dezembro, 2014.
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Oliveira (2014)
que usam o medo de se perder um
namoro ou um flerte por conta do mauhálito; meias calça que prometem não
deixar as mulheres passarem pela
embaraçosa situação de rasgos ou
desfiados em público; entre tantos outros.
A própria educação trabalha baseada no
medo. Frequentes são as falas do tipo:
‘Estude, senão não será ninguém!’ ou
ainda ‘se você não estudar, não terá um
bom emprego e nem um salário digno!’ e
até ‘se não estudar vai ser pobre por toda
a vida’. Esse é um reflexo da ideologia do
medo na escola. As pessoas consomem
pelo medo, não pela necessidade. Então,
elas estudam por medo de não serem
ninguém, ou por correrem o risco de não
conseguirem bons empregos e até por
estarem vulneráveis a permanecerem
pobres por toda a vida. Não há um
discurso que mostre a educação como
meio emancipador e libertador. Pensa-se
somente nela como meio de levar o ser
humano a ter poder aquisitivo. Aqueles
que discordam irão dizer que o papel de
uma instituição gerida por um modelo
capitalista não poderia conduzir os
cidadãos a outro caminho que não fosse o
de aprender a viver neste mundo de
valores sintéticos da forma em que são
expostos
aos
desafios
igualmente
capitalistas. Portanto, não há uma
preocupação maior com a essência do
homem, que permita a ele se situar no
processo de formação social. Tampouco
uma consideração dos valores humanos
agregados ao ser psicologicamente
construído (ou destruído) através das
relações sociais.
A padronização cultural é uma
tentativa de fazer com que todos os povos
vivam e comunguem da mesma indústria
de sonhos e pseudo-seguridades, guiados
pelos mesmos desejos de felicidade
baseada no ter. Uma vez que todos os
povos sejam parecidos culturalmente, as
grandes potências terão um planeta inteiro
de pessoas que se conectam, se
descobrem, se copiam e consomem os
mesmos sonhos e ideias criados pela
indústria. Em outras palavras, a grande
globalização cultural é a coroação do
sucesso daqueles que um dia sonharam
em submeter toda a raça humana ao
comando central chamado indústria, a
qual seria fielmente obedecida por todo
aquele que se considerasse como tal por
meio do medo de não serem vistos como
humanos, caso não aderissem à grande
legião de consumidores.
Graças à globalização, os ricos e,
em menor grau, a grande e ubíqua
classe média adquirem o mesmo
padrão de vida e o mesmo modo de
ser, na grande maioria dos países.
Mas, o mesmo não se dá com os
pobres, que resultam de processos
sócio-econômicos muito distintos e
estão
resguardados
da
padronização cultural avassaladora
pela sua relativa exclusão dos
padrões dominantes de consumo.
SINGER 10
Aqui reside o engano que leva ao
entendimento de que a melhoria do poder
de compra da maioria das populações de
classes média e baixa dos países em
desenvolvimento tem sido fator positivo na
emancipação do pensamento de liberdade
e autonomia das pessoas. O autor afirma
que os mais pobres estão protegidos do
poder ideológico do consumo por não
conseguirem se adequar aos padrões
baseados no consumo, tendo em vista o
seu baixo poder aquisitivo. Na verdade,
tudo isso é sistematicamente planejado
para que as populações, antes de baixa
renda, possam agora se deleitar com os
prazeres gerados pelo consumo, e é
inegável que existe um medo tremendo de
se perder aquilo que soa como o sinal do
fim dos tempos de privações e
10
SINGER, Paul. É possível levar o desenvolvimento
a comunidades pobres ?
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.57-69, Agosto-Dezembro, 2014.
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Oliveira (2014)
sofrimentos por conta da falta de poder
aquisitivo. Os que permanecem pobres
agora têm motivos para procurarem
equilibrar-se nos níveis sociais dos que
antes o eram, já que foi provado que a
mobilidade social é possível. Portanto,
com todo respeito, dizer que os mais
pobres estão resguardados do processo
de globalização cultural é um equívoco do
autor, já que, atualmente, não há quem
esteja livre das relações de consumo
mundialmente equalizadas.
7. CONCLUSÃO
Em meio a todas as discussões que
permeiam a educação e os papeis da
escola, podemos dizer que a sociedade,
em sua grande maioria, se mantém
afastada do assunto por não perceber que
a escola está sendo o principal
mecanismo de controle de massas, já
que, por si só, não cria resistência,
tampouco contribui com a construção do
pensamento crítico autônomo. Não se
pode esperar que ela seja, ao mesmo
tempo,
local
de
construção
de
conhecimento e de consciência sóciopolítica, embora sejam estes dois dos
objetivos que deveriam ser preocupação
primeira. Pode-se dizer que, da forma
como é tratada no Brasil, não só pelo
poder
público,
mas
pela
própria
sociedade, a escola permanece longe da
meta de levar o cidadão a conhecer seus
limites e sua capacidade.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Título original: Um siécle de mode.
Tradução: Mria Thereza de Rezende
Costa.São Paulo.Cosac Naify. 2002.
400p.3ª edição.ISBN 85.86374-96-2
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Tradução,
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BAUMAN,
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Plínio Dentzien-Rio de Janeiro: Zahan,
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(Artigo científico)
MARRACH,
Sônia
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Neoliberalismo
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Resenha
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Celestino A. da Silva Jr. - M. Sylvia
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Marrach - pág. 42-56 - Cortez Editora São Paulo - 1996
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Sociedade
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Controle,
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neoliberalismo e os efeitos de
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PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.57-69, Agosto-Dezembro, 2014.
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1997. p. 84-91. Ano: 1997.
"Scribes", Life in Ancient Egypt,
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Natural
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On-line. Revista HISTEDBR On-line,
Campinas, n.19, p.101 - 110, set. 2005
- ISSN: 1676-2584 101
SOUZA, Sergio Rodrigues. A Ética e
Suas Implicações na Formação da
Condição Humana- Mutum(MG),
2012. 90 p.
SINGER, Paul. É possível levar o
desenvolvimento a comunidades
pobres?. s/a
.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.57-69, Agosto-Dezembro, 2014.
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Ziviani e Hott (2014)
PONTOS NOTÁVEIS DO TRIÂNGULO POR MEIO DO GEOGEBRA
Cláudio Henrique Ziviani¹, Clemência Aparecida Hott²
¹ Professor da EE Padre João de Mattos Almeida. Graduado em Matemática pelo Centro
Universitário de Belo Horizonte UNIBH (2006). Mestrando Profissional em Educação
Matemáticapela Universidade Severino Sombra - Vassouras / RJ.
² Professora de Matemática da EE Tito Fulgêncio. Graduada em Matemática pelo Centro
Universitário de Belo Horizonte (2003). Mestranda Profissional em Educação Matemática
pela Universidade Severino Sombra- Vassouras / RJ.
Resumo
O desenvolvimento da tecnologia com aplicação no dia-a-dia é um fato notório e, no campo
educacional, não poderia ser diferente, dessa forma podemos considerar ser impossível
uma sala de aula sem o auxílio de ferramentas tecnológicas, principalmente em aulas de
Matemática, isso considerando que os problemas atuais quase sempre não podem ser
resolvidos apenas com o uso de lápis e papel. Neste cenário, nosso trabalho destina-se a
mostrar algumas vantagens da utilização do software Geogebra em tópicos da geometria
plana, bem como inserir atividades realizadas com o objetivo de facilitar a aprendizagem dos
alunos.
Palavras-chave: Matemática; Tecnologia; Geogebra.
Abstract
The application of new technologies in people’s day to day it is notorious, and in education
happens the same. Thus, it is impossible classrooms to exist without technological tools,
primarily in Mathematics classes, considering that the current problems, most of them, are
not solved using just pencil and paper. This study aims to show the advantages of using the
software GeoGebra in the study of Plane Geometry, and also activities have been included in
order to facilitate the learning of students.
Key-words: Mathematics; Technology; GeoGebra
1. INTRODUÇÃO
Considerando
as
dificuldades
enfrentadas
por
professores
de
matemática com relação ao processo
ensino aprendizagem, e sabendo que
muitos
dos
docentes
não
usam
ferramentas da informática em suas aulas.
Apresentamos este artigo como mais uma
opção para aprimorar o uso de software,
em especial o Geogebra, sendo um meio
facilitador
à
aprendizagem
e
ao
desenvolvimento, tornando as aulas de
Geometria mais práticas e estimulantes.
O computador, bem como seu uso,
vem sendo cada vez mais introduzido à
prática pedagógica como uma peça
imprescindível, gerando, inclusive metas a
serem superadas. Com isso pode-se
afirmar que “a chegada da Internet está
trazendo novos desafios para a sala de
aula,
tanto
tecnológicos,
quanto
pedagógicos” Moran (2004, p.14), e “o
trabalho com o computador provoca
mudanças na dinâmica da aula, exigindo
por
parte
do
professor
novos
conhecimentos e ações” Penteado (1999,
p. 309), principalmente do ponto de vista
pedagógico.
Na matemática, podemos destacar a
utilização de ambientes virtuais e
softwares como ferramentas que auxiliam
o entendimento desta ciência por parte
dos alunos. Nosso trabalho tem o intuito
de expor algumas ferramentas do
software Geogebra, aplicativo que permite
verificar as propriedades de geometria
plana.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.70-74, Agosto-Dezembro, 2014.
71
Ziviani e Hott (2014)
2. DESENVOLVIMENTO
Hoje em dia, o computador é uma
ferramenta inserida no contexto da escola,
utilizado para desenvolver habilidades e
apoiar o ensino, pois permite a prática real
das diversas atividades matemáticas em
uma sala de aula.
O computador pode ser usado como
elemento de apoio para o ensino (banco
de dados, elementos visuais), fonte de
aprendizagem e ferramenta para o
desenvolvimento de habilidades. O
trabalho com computador pode ensinar o
aluno a aprender com seus erros e a
aprender junto com seus colegas,
trocando suas produções e comparandoas. (FANTI, 2004, p. 1)
Segundo Miskulin (2003, p. 221), “as
novas tecnologias geram o maior uso da
informática e da automação nos meios de
produção e serviços, implicando novas
atitudes
dos
seres
humanos,
consequentemente, a função da educação
e da escola deve mudar, proporcionando
formação integral do sujeito, crítica,
consciente e voltada à liberdade.”
Como o avanço tecnológico bem
como os desenvolvimentos dos softwares
e suas atualizações são rápidos e
acessíveis, “o uso do computador no
ensino de Matemática é uma necessidade
atual e deve, cada vez mais, ligar-se à
rotina didática dos professores e à escola
em geral.” (HENDRES, 2005).
Segundo Hendres (2005, p. 26) a
inclusão
da
informática
no meio
educacional aconteceacentuadamente por
meio dos softwares educativos e, em
relação aos aplicativos, o mesmo
acrescenta que “os softwares que vêm
sendo incluídos na sala de aula possuem
características as quais se situam em dois
paradigmas, [...] o paradigma algoritmoinstrucionista
e
o
heurísticoconstrucionista.” (HENDRES, 2005, p. 26).
Os tipos mais comuns de softwares
de ensino comercializados são os CabriGéomètre, o Poly e o Matlab.
Gratuitamente distribuídos temos os
Wingeon, o Winrar, o Winplot e o
Geogebra
que
proporciona
uma
possibilidade mais realista das escolas
utilizarem tais recursos.
O software Geogebraé de acesso
livre e gratuito podendo ser copiado e
distribuído sem fins lucrativos. Foi
desenvolvido com a finalidade de ser uma
ferramenta educacional para auxiliar no
ensino da Matemática de maneira
dinâmica
por
meio
de
suas
funcionalidades
que
envolvem
a
geometria, álgebra, cálculo, tabelas,
estatística e outras.
Criado por MarkusHohenwarter, da
Universidade de Salzburg da Áustria, que
iniciou
seu
projeto
em
2001,
o Geogebra possuiferramentas
tradicionais de um software de geometria
dinâmica: pontos, segmentos, retas e
seções cônicas, bem como equações e
coordenadas que podem ser inseridas
diretamente.
Sua instalação pode ser por meio do
sítio eletrônico:
http://www.geogebra.org/.../installers
.A utilização do Geogebra na
averiguação dos pontos notáveis de um
triângulo é feita assim:
A- Ortocentro: as três retas suporte
das alturas de um triângulo interceptam-se
num mesmo ponto.
Verificamos que o ortocentro no
Geogebra é por meio dos seguintes
passos:
1- Construir um triângulo através da
ferramenta polígonos.
2- Construir as alturas através da
ferramenta reta perpendicular.
3- Marcar o ponto de intersecção
das
três
alturas,
utilizando
a
ferramenta interseção de dois objetos.
Feito isso podemos variar livremente
as posições dos vértices do triangulo e
perceber que sempre as alturas se
intersectam em um ponto.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.70-74, Agosto-Dezembro, 2014.
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Ziviani e Hott (2014)
perceber que sempre as medianas se
intersectam em um ponto.
Figura 1 – Um triângulo com seu
ortocentro e as retas suportes às suas
alturas relativas
B- Baricentro: as três medianas
relativas de um triangulo qualquer se
interceptam num mesmo ponto que divide
cada mediana em duas partes tais que a
parte que contém o vértice é o dobro da
outra.
Verificamos o baricentro pelo
Geogebra seguindo a sequência abaixo:
1- Construir o triângulo, conforme o Item I.
2- Marcar os pontos médios dos lados do
triangulo utilizando a ferramenta Ponto
Médio ou Centro.
3- Traçar os seguimentos de reta unindo o
vértice ao ponto médio do lado oposto a
ele com a ferramenta Segmento.
4- Marcar o ponto de intersecção das
medianasutilizandoaferramentainterseção
de dois objetos.
Após isso podemos alterar as
posições dos vértices do triângulo e
Figura 2– Um triângulo com
baricentro e suas medianas relativas
seu
C-Incentro: as três bissetrizes
relativas de um triângulo qualquer se
interceptam num mesmo ponto que está a
igual distância dos lados do triângulo.
Verificamos o teorema do incento
usando o Geogebra da seguinte maneira:
1- Construir o triângulo, conforme o item I.
2- Construir as bissetrizes dos ângulos do
triângulo com a ferramenta Bissetriz.
3- Marcar o ponto de intersecção das
bissetrizes
utilizando
aferramentainterseção de dois objetos.
Em seguida podemos alternar o
posicionamento dos vértices do triângulo
para perceber que sempre as bissetrizes
se intersectam em um ponto.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.70-74, Agosto-Dezembro, 2014.
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Ziviani e Hott (2014)
Figura 3 – Um triângulo com seu incentro
e suas bissetrizes relativas
Figura 4– Um triângulo com seu
circuncentro e as mediatrizes relativas aos
D- Circuncentro: As mediatrizes
dos lados de um triângulo interceptam-se
num mesmo ponto que está a igual
distância dos vértices do triângulo.
Verificamos
o
teorema
do
circuncento com o uso do Geogebra
seguindo a sequência abaixo:
5 - Considerações Finais
Como podemos observar, a
utilização de tecnologias no ensino de
matemática tem sido intensificada nas
escolas, promovendo a modernidade ao
ensino aprendizagem.
As tecnologias estão cada vez
mais presentes no cotidiano das pessoas
e, de certa maneira, o ambiente
escolarsegue
o
mesmo
caminho
tecnológico. Com isso, enfatizamos a
importância do uso da informática no
ensino, em particular do software
Geogebra no ensino de Geometria Plana
na Matemática.
Salientamos que o uso do software
permite aos professores e alunos
ampliarem
seus
conhecimentos
e
amadurecerem seus pensamentos, pois o
computador tem um papel facilitador
representando um avanço no ensino da
Matemática.
O software não prova os teoremas
elencados, visto que a matemática utiliza–
se de método dedutivo, no entanto o uso
da tecnologia facilita a internalização do
conhecimento exposto por parte do
educando.
Concluímos que a utilização do
software
Geogebra
torna-se
uma
ferramenta de carácter criativo e
construtivo, ampliando conhecimentos por
meios de metodologias inseridas à aula
tradicional.
1- Construir o triângulo, conforme o item I.
2- Construir as mediatrizes dos lados do
triângulo com a ferramenta Mediatriz.
3- Marcar o ponto de intersecção das
bissetrizes
utilizando
a
ferramentainterseção de dois objetos.
Feito isso podemos alternar a
posição dos vértices do triângulo e
verificar que sempre as mediatrizes se
intersectam no mesmo ponto, sendo
dentro ou fora do triângulo.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.70-74, Agosto-Dezembro, 2014.
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Ziviani e Hott (2014)
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Atores, Novos Cenários: Discutindo a
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Profissão do Docente. In BICUDO, Maria
Aparecida
Viggiani.
Pesquisa
em
Educação Matemática: Concepções e
Perspectivas. São Paulo–SP, Editora
UNESP, 1999, cap. 17, p. 297–313.
Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.70-74, Agosto-Dezembro, 2014.
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Gargary et al (2014)
PONTOS NOTÁVEIS DO TRIÂNGULO POR MEIO DO GEOGEBRA
Ademir Gargary1, Cíntia Dietrich Hoffmann2, Simone Carla Delfino Franco3.
¹ Historiador, Especialista em Gestão de Pessoas, acadêmico do Mestrado em
Administração na Faculdade Novos Horizontes.
2
Psicóloga, MBA em Gestão Estratégica de Pessoas, acadêmica do Mestrado em
Administração na Faculdade Novos Horizontes.
3
Psicóloga, Pedagoga, Especialista em Gestão Estratégica de Recursos Humanos,
Especialista em Educação à Distância, acadêmica do Mestrado em Administração na
Faculdade Novos Horizontes.
Resumo
Burrel e Morgan, em 1979, categorizaram quatro paradigmas: funcionalismo, estruturalismo,
estruturalismo radical e humanismo radical. Sendo que os dois primeiros compõem a
sociologia da regulação e os dois últimos, a sociologia da mudança radical. A liderança é
fundamental para as organizações que desejam alcançar seus objetivos. O presente
trabalho tem por objetivo identificar teorias de liderança em cada um desses paradigmas.
Palavras-chaves: liderança, paradigmas, organizações.
Abstract
In 1979, Burel and Morgan defined four paradigms: functionalism, structuralism, radical
structuralism and radical humanism. The first two make up the sociology of regulation and
the last two sociology radical change. Leadership is fundamental for organization that wish to
reach their target or goal. The study aims to identify the leadership theories in each of these
paradigms.
Key Words: leadership, Paradigms and organizations.
1. INTRODUÇÃO
A liderança, no século XXI, tornouse uma ferramenta indispensável para se
trabalhar dentro das corporações das
mais diversas áreas e com os mais
diversos tipos de profissionais. Para
Stoner (1999), liderar significa dirigir,
influenciar e motivar os empregados a
realizar tarefas essenciais. O conceito de
liderança surge em um momento em que
as empresas procuraram socializar as
decisões e diminuir o tempo de execução
das tarefas bem como os custos de
produção.
Burrel e Morgan, com a publicação
do livro Sociological Paradigms and
Organizational
Analysis,
em
1979,
sistematizaram paradigmas a fim de
facilitar o entendimento sobre estes
construtos.
Essa
classificação
é
amplamente difundida e aceita no âmbito
científico (CARRIERI; LUZ, 1998).
Eles classificaram em 4 paradigmas
científicos distintos: Funcionalista ou
Positivista, Interpretativo ou Nominativo,
Humanista Radical e Estruturalista
Radical.
O presente trabalho tem por objetivo
identificar teorias de liderança
e
correlacioná-las
a
cada
um
dos
paradigmas. A reflexão sobre as teorias
de liderança e os paradigmas são
fundamentais para um posicionamento
científico. Não como algo que amarra,
mas como auxílio na construção de um
pensamento científico e coeso.
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Os
paradigmas
são
incomensuráveis, ou seja, não podemos
classificá-los como um melhor do que o
outro. Como são pontos de vista, trata-se
de um recorte sobre um acontecimento ou
hipóteses sobre algo. Olhares distintos
possibilitam teorias distintas e, por vezes,
antagônicas, mas não superlativas. Cada
autor irá se encaixar num determinado
paradigma conforme sua visão de mundo.
Na humanidade sempre existiu uma
figura principal, a do líder. Era o que
comandava o grupo e era visto pelos
demais como o mais forte, o mais
capacitado, o mais inteligente e o único
que era capaz de levá-los à vitória nos
combates e de protegê-los de um mal
maior. A figura do líder sempre foi vista
como um ser que não temia e que podia
causar temor nos demais.
Segundo Motta (1999), várias
questões constroem o imaginário sobre
liderança. A liderança pode estar
associada a personalidades históricas,
como os faraós no antigo Egito ou
Alexandre, o Grande, ou ainda Napoleão
Bonaparte. Já, na era contemporânea,
pode-se pensar em Hitler, Gandhi, Nelson
Mandela, dentre outros. Mas também,
pode-se pensar na liderança como algo
mágico, vinculada a características inatas
que constroem o líder.
Para Drucker (1996), líder é aquele
que possui seguidores e para se ter
seguidores o carisma é fator primordial
para conseguir alavancar a sua condição
de líder.
A única definição de líder é alguém
que possui seguidores. Algumas pessoas
são pensadoras. Outros profetas. Os dois
papeis
são
importantes
e
muito
necessários. Mas, sem seguidores, não
podem existir líderes. O líder eficaz não é
alguém amado e admirado. É alguém
cujos seguidores fazem as coisas certas.
Popularidade não é liderança. Resultados
sim! (DRUCKER, 1996, p. 75)
Conforme Braverman (1974), o
papel da “gerência” teve início quando
vários trabalhadores são empregados por
apenas um capitalista, a fim de organizar
as pessoas e o capital.
A
divisão
do
trabalho
em
especialidades produtivas subdividiu os
operários da liderança, ou seja, aqueles
que executam daqueles que pensam,
supervisionam e controlam a produção.
Na Administração Científica, Taylor
(1970), fundamentado no paradigma
positivista, a fim de alcançar a máxima
produtividade, abordou quais seriam as
funções do gerente, embora essa questão
não fosse a principal. Planejar, organizar e
selecionar as melhores metodologias de
trabalho, além de treinar e controlar os
funcionários, faziam parte do escopo de
funções do gerente.
A sistematização de ideias sobre
gestão e administração nasceu nesta
época. Dessa forma, a Administração
apropriou os conceitos acerca da
liderança a fim de otimizar os processos
produtivos,
ocupando
função
imprescindível na dinâmica organizacional
(Silva, Laros & Mourão, 2011).
Com
o
desenvolvimento
organizacional, o conceito de liderança
também se modificou, existindo várias
óticas e tentativas de conceituação sobre
este tema, que tentam chegar à
construção de uma figura ideal de líder.
A “Teoria dos Traços” foi uma das
primeiras que surgiu, em meados de
1920.
Depois
vieram
a
“Teoria
Comportamental” e a “Teoria dos Estilos”,
em torno de 1940. Em 70, “Teoria
Contingencial” e “Teoria Situacional”. Mais
recentemente, a partir da década de 90,
advieram as “Teorias Neocarismáticas”,
com novas perspectivas de liderança,
trazendo os conceitos de “Liderança
Carismática”
e
“Liderança
Transformacional”. Essas teorias citadas
são algumas das mais representativas e
constroem uma evolução do pensamento
sobre liderança no mundo ocidental.
2. DISCUSSÃO
Nesta seção serão apresentados
alguns conceitos e teorias sobre liderança
em relação aos paradigmas: funcionalista,
interpretativo,
humanista
radical
e
estruturalista radical.
2.1. Paradigma Funcionalista
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A teoria dos traços de Liderança de
1904-1948
deu
origem
a
vários
desdobramentos. Este modelo acredita
que as pessoas nascem com traços de
liderança, sendo condição intrínseca a
cada líder. Dessa forma, não seria
possível o desenvolvimento de líderes,
pois
eles
nasceriam
com
traços
determinados. Esta teoria enfatiza,
principalmente, as qualidades pessoais do
líder. (BOWDITCH; BOUNO, 2002)
A teoria dos Traços da liderança
pode ser classificada dentro do paradigma
funcionalista. Esta orientação tem raízes
na corrente da regulação e sua
abordagem é objetiva, caracterizando-se
pela preocupação em explicar o status
quo, a ordem social, o consenso, a
integração social, a solidariedade, a
satisfação de necessidades e a realidade.
O ponto de vista é realista,
positivista, determinista e nomotético, pois
a ideia que é defendida é que a liderança
é inata, ou seja, você nasce com esse
traço de personalidade. É criado um
determinismo, pois não é possível,
segundo essa teoria, a mudança do status
quo da pessoa.
O autor Allport (1966) fez um estudo
em um dicionário e encontrou 18.000
termos que podem ser usados para
definir/ encontrar traços de personalidade.
Ele eliminou os verbetes sinônimos e
reduziu para 4500 termos. A pergunta que
ele queria responder era: Quais são as
características
essenciais
para
a
personalidade de um líder?
Com isso ele criou três tipos de
traços: cardinais, centrais e secundários:
Traço
cardinal:
É
uma
característica única que orienta a
maioria das atividades da pessoa
(uma pessoa generosa por natureza
pode dirigir a sua atividade para
ações de caráter humanitário;
alguém que tenha uma inesgotável
sede de poder pode orientar a sua
vida
pela
sua
permanente
necessidade de controle); Regra
geral as pessoas não desenvolvem
este tipo de traços cardinais
abrangentes,
em
vez
disso, possuem um conjunto de
traços centrais que constituem a
base da personalidade.
Traços centrais: Como honestidade
e sociabilidade são características
fundamentais
da
pessoa;
Habitualmente são entre cinco e
dez.
Traços
secundários:
São
características que influenciam o
comportamento em menor grau, em
menos situações, sendo menos
centrais que os traços cardinais.
(gostar de praticar esportes radicais,
ou não gostar de arte moderna).
(ALLPORT, 1966, p.14)
Por outro lado, Goldberg postula que
não seriam somente três, mas cinco
traços que compõem a personalidade, que
denomina de “Big Five”: extroversão,
concordância, consciência, neuroticismo e
abertura à experiência. Nessa ótica, a
pessoa para ser considerada líder tem de
possuir o Big Five, e todas as demais
características são irrelevantes no âmbito
da teoria dos traços. (CARROL, 1982)
Com o avanço dos estudos da
psicologia e da administração, outras
teorias sobre liderança surgiram e a teoria
dos traços deixou de ser tão usada para
justificar a liderança na administração e
nos demais processos. Dessa forma, o
enfoque da liderança toma um novo rumo.
2.2. Paradigma Interpretativo
Como representante do paradigma
interpretativo, surge a teoria dos estilos.
Este paradigma pretende compreender a
natureza fundamental do mundo no nível
da experiência subjetiva, procurando a
explicação
dentro
da
consciência
individual e da subjetividade, no quadro de
referência do participante, enquanto
oposto ao observador da ação.
Esta abordagem é nominalista,
antipositivista, voluntarista e ideográfica,
considerando o mundo social como um
processo
emergente,
criado
pelos
indivíduos. Seu ponto de vista adere ao
pressuposto de que o mundo é coeso,
ordenado, integrado.
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White e Lippit desdobram a teoria
dos estilos da liderança em três grandes
grupos: Autocrática, Democrática e
Liberal. No estilo autocrático, o líder fixa
diretrizes sem qualquer participação do
grupo. As providências e as técnicas são
determinadas pelo líder sem tomar
conhecimento das necessidades do
grupo, exercendo um papel dominador. Já
o
estilo
democrático,
tem
como
característica o estímulo do debate do
líder com os comandados. O próprio
grupo toma as providências quando é
necessário. As divisões das tarefas ficam
a critério do grupo. Por fim, o estilo liberal
permite uma liberdade completa das
decisões dos grupos ou individualmente.
O líder não faz nenhuma tentativa de
validar ou regular o curso daquilo que está
acontecendo.
Segundo Possi (2006), White e
Lippitt fizeram um estudo em 1939 para
verificar o impacto causado por esses três
diferentes estilos de liderança em meninos
de dez anos, orientados para a execução
de tarefas. Os meninos foram divididos
em quatro grupos. Cada um desses
grupos era liderado por uma pessoa que
utilizava estilos de liderança diferentes:
autocrática, liberal e democrática.
Verificou-se que os meninos se
comportaram conforme as exigências de
cada grupo. As crianças expostas ao líder
autocrático demonstraram forte tensão e
frustração. A agressividade do grupo foi
aumentada de uma forma não esperada.
As crianças não fizeram grupos de
amizade e também não tinham ânimo
para nada. Na execução das tarefas, não
demonstraram satisfação, e o trabalho só
era exercido se o líder estivesse presente
junto ao grupo; quando este se ausentava,
as atividades cessavam e as crianças do
grupo expandiam seus sentimentos
reprimidos,
tendo
explosões
de
indisciplina e de agressividade. As
crianças passaram a ser dependentes do
líder.
Com as crianças do grupo do líder
democrático, a experiência foi diferente.
Houve um bom relacionamento entre as
crianças e o líder, além da formação de
grupos de amizade e relacionamentos. As
crianças se mostraram mais responsáveis,
exercendo suas atividades mesmo na
ausência de seu líder. O trabalho teve um
ritmo mais suave e seguro. O líder, neste
caso, podia deixar o recinto que tudo
continuava sendo feito da mesma forma.
Por sua vez, as crianças que, na
presença de um líder liberal, tiveram uma
atividade intensa, obtiveram uma baixa
produção. Houve muita perda de tempo e
discussões. A maioria voltada para
motivos pessoais ou fúteis. As tarefas
foram desenvolvidas ao acaso. Notou-se,
no grupo, um agressivo individualismo e
pouco respeito em relação ao líder.
2.3. Paradigma Humanista Radical
O Paradigma Humanista Radical
tem um viés da mudança radical do ponto
de vista subjetivo. Sua abordagem é
nominalista, anti-positivista, voluntarista e
ideográfica. O referencial teórico é
comprometido com uma visão de
sociedade que enfatiza a importância de
transcender os limites dos arranjos sociais
existentes. Uma das noções básicas deste
paradigma é que o homem é dominado
pelas superestruturas ideológicas com as
quais interage e que criam uma ruptura
cognitiva entre ele e sua verdadeira
consciência. A ênfase teórica é colocada
na mudança radical, nos modos de
dominação, emancipação, privação e
potencialidade. (CARRIERI, LUZ, 1998)
Como
representante
desse
paradigma, pode-se destacar a teoria
transformacional, que busca motivar os
colaboradores a alcançarem os resultados
organizacionais acima dos interesses
particulares de cada indivíduo (BASS,
1985).
Segundo Vizeu (2011, p.7):
Entre os autores da liderança
transformacional, certamente dois
dos mais profícuos são Bernard
Bass e Warren Bennis, o primeiro,
influenciando significativamente a
produção de pesquisas acadêmicas
de cunho empírico, e o segundo,
com uma popularidade crescente
particularmente
no
círculo
corporativo. Em relação a Bennis,
que constitui uma espécie de
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discurso pop sobre liderança,
severas críticas são feitas ao viés
gerencialista presente em sua
proposta, críticas essas merecidas,
tendo em conta que ele se esforçou
nos últimos anos em se afastar do
academicismo
tão
demonizado
pelos praticantes da gerência.
Entretanto, é preciso considerar que
a
concepção
de
liderança
gerencialista se contradiz em
relação à concepção original de
Burns (1978), porque, por um lado,
se condiciona demasiadamente a
tendência de instrumentalização do
conhecimento a serviço da prática
gerencial
e,
por
outro,
ao
atendimento do interesse econômico
que permeia essa atividade. Nesse
ponto, é preciso reconhecer que a
orientação exclusivamente voltada
para o interesse econômico que
perpassa o discurso gerencialista é,
sob o ponto de vista da teoria social
crítica de Habermas (1987), um dos
grandes
obstáculos
ao
estabelecimento da emancipação no
contexto da modernidade, algo que
deve ser considerado dentro de uma
análise crítica da literatura sobre
liderança.
Essa teoria traz a ideia de que a
liderança é um fenômeno dual, ou seja, é
necessário estudar líder e liderados para
poder conseguir entender e compreender
os seus diversos aspectos. Por isso, hoje,
a ideia de liderança transformacional é
difundida em muitas organizações, pois
ela objetiva que o liderado tenha
autonomia para conseguir atingir os
objetivos (BENNIS e NANUS apud VIZEU,
2011). Assim, a ênfase passa à
delimitação dos fatores que permitem a
transformação
do
padrão
de
comportamento do liderado, de maneira a
permitir-lhe o autodesenvolvimento, mas
também o desenvolvimento coletivo em
direção a um ambiente de trabalho
emancipador.
Os
líderes
transformacionais,
segundo
Burns
(1978),
inspiram
moralmente seus seguidores, e, assim
fazendo, estimulam o desenvolvimento de
necessidades de autorrealização e
comprometimento
com
valores
e
interesses coletivos. Como sugerem Dvir
et al., (2002, p. 736), "diferentemente dos
líderes transacionais, que se concentram
no atendimento de necessidades atuais,
os líderes transformacionais fazem
emergir necessidades latentes". Sob o
ponto de vista do desenvolvimento moral,
o líder transformacional leva seus
seguidores a transcender seus interesses
egoísticos em nome dos valores da
coletividade na qual estão inseridos. Para
tanto,
eles
utilizam
competências
interativas específicas, tais como a
inspiração visionária, a comunicação e o
"empoderamento". (BENNIS e NANUS
apud VIZEU, 2011, p.14).
Nesta teoria, o líder é um articulador
que reflete os valores e a missão
organizacional, alinhando a equipe na
direção dos resultados almejados.
2.4. Paradigma Estruturalista Radical
Nesta
perspectiva,
procura-se
mudar a sociedade em seus modos de
cognição e de consciência. É uma
inversão do paradigma funcionalista,
sendo representado por autores da linha
marxista.
Trabalhar com a liderança, neste
olhar, é criticar o modo como ela é
empregada pelas organizações. Neste
viés, o líder tem um papel social
importante, ligado à transformação do
ambiente do trabalho, também a
organizações sindicais e a lutas por
melhores salários e melhores condições
de trabalho.
Só existe movimento social quando
a ação coletiva é dotada de objetivos
sociais, quer dizer, reconhece a existência
de valores e interesses sociais gerais e,
em consequência, não reduz a vida
política a um confronto entre campos ou
classes, ainda que organize e acirre
conflitos. Somente nas sociedades
democráticas é que os movimentos
sociais se formam sozinhos, pois a livre
escolha política obriga cada ator social a
lutar simultaneamente pelo bem comum e
pela defesa de interesses particulares. Por
essa razão, os movimentos sociais mais
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expressivos
recorreram
a
temas
universalistas:
liberdade,
igualdade,
direitos do homem, justiça, solidariedade,
temas que estabelecem um nexo direto
entre o ator social e o programa político.
(ALEXSANDER apud TOURAINE, 1994,
p. 88)
A dialética marxista tem sido
associada ao paradigma estruturalista
radical, mas é a que menos tem sido
utilizada nas organizações para realizar as
mudanças necessárias. A liderança, vista
sob este prisma, pode gerar um
desconforto na organização, pois vai de
encontro com o que o capitalismo
moderno prega a respeito do papel do
líder moderno, que deve conseguir
persuadir seus liderados a realizarem o
melhor para a empresa, visando ao lucro.
Se levar em consideração a questão
abordada por Karl Marx da mais-valia, o
colaborar tem a falsa impressão de que a
empresa está lhe pagando o justo, pois a
mesma se utiliza de diversos argumentos,
comunicados pelas lideranças e de
convencimento para que o trabalhador
sinta que está sendo valorizado e
recebendo em troca um salário justo.
Esse empenho do líder em atingir o
objetivo traçado pela empresa leva a uma
alienação que, segundo Marx, é o
processo pelo qual o homem se torna
alheio a si, ao ponto de não se
reconhecer. Com isso, ele se utiliza do
processo de alienação que sofreu e passa
a fazer com que os colaboradores da sua
equipe também passem por este
processo.
Dessa forma, a liderança, na visão
do paradigma estruturalista radical, é uma
forma de alienação do líder e de seus
trabalhadores em prol do aumento da
mais-valia.
Os
adeptos
do
pensamento
alicerçado no paradigma Estruturalista
Radical advogam uma mudança radical da
sociedade sob o ponto de vista objetivo,
buscando
fins
fundamentalmente
diferentes do funcionalismo. O paradigma
é comprometido com a mudança radical e
a potencialidade, numa análise que
enfatiza o conflito estrutural, os modos de
dominação, a contradição e a privação.
Para mudar algo, afirma Leitão e
Machado (2004), é necessário entender
como cada indivíduo percebe uma
situação, processa-a e se dispõe à
mudança. Essas modificações, se assim
realizadas, gerarão uma aprendizagem
que repercutirá em novas ações,
permitindo novos conhecimentos.
Mudanças que alterem o paradigma
vigente
conduzem
a
mudanças
substanciais e não apenas marginais.
Aceitar uma mudança de segunda
ordem, ou mudança transformadora,
implica uma transformação das pessoas
com repercussões nos negócios como na
vida como um todo. (...) Aceitar a
transformação requer o abandono das
premissas
e
pressupostos
de
conhecimento que cremos verdadeiros,
altera nossa forma de pensar-sentir o
mundo em que vivemos. Obriga-nos a
refletir sobre o que pensamos saber.
(LEITÃO, MACHADO, 2004, p.8)
Se não houver um rompimento da
continuidade do pensamento vigente, criase um círculo vicioso. Nesta perspectiva,
para a verdadeira mudança é necessário
romper com o pensamento enraizado,
provocando uma nova ordem (LEITÃO,
MACHADO, 2004).
3. CONCLUSÃO
O presente trabalho baseou-se na
evolução sobre Liderança e a ótica dos
paradigmas por meio de um levantamento
bibliográfico dos principais conceitos e
suas respectivas definições.
Para fazermos essa releitura,
baseamos
nos
paradigmas
que
fundamentam a administração. Buscou-se
identificar
teorias
de
liderança
relacionadas a cada um dos paradigmas:
funcionalista, interpretativista, humanista
radical e estruturalista radical.
O conceito de liderança foi
apropriado pela Administração para ser
usado no meio empresarial a fim de
alavancar os resultados.
Por
meios
dos
estudos
apresentados ao longo da história, o
conceito de liderança sofreu ajustes e
passou a ter novos significados de acordo
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com
cenários
em
que
foram
apresentados.
A figura do líder foi construída a
partir das representações simbólicas que
eram designadas a ele. Mas, para que
houvesse a confirmação deste status quo,
era preciso a presença dos liderados. Não
existe liderança se não existem liderados.
Para alguns teóricos a liderança é
nata, por isso, não há necessidade de
desenvolvimento, para outros, há a
necessidade do autoconhecimento e
desenvolvimento.
Para cada organização, o conceito
de liderança estará embasado dentro da
sua filosofia e missão. E ela só se
concretizará por meio destes princípios e
valores.
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Revista da Faculdade de Ciências Gerenciais de Manhuaçu – FACIG (ISSN 1808-6136).
PensarAcadêmico, Manhuaçu, MG, v. 11, n. 2, p.75-81, Agosto-Dezembro, 2014.

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