Brazilian journal-2001-53.p65 - Brazilian Journal of Food Technology
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Brazilian journal-2001-53.p65 - Brazilian Journal of Food Technology
Extração e Produção do Corante Carmim de Cochonilha Extraction and Production of Carmine from Cochineal AUTORES AUTHORS ✉ Paulo Roberto Nogueira CARVALHO Instituto de Tecnologia de Alimentos Av. Brasil, 2880, 13.073-001Campinas-SP - Brasil e-mail: [email protected] Carol Hollingworth COLLINS Instituto de Química. Universidade Estadual de Campinas, Caixa Postal 6154, 13.083-970 Campinas-SP - Brasil Cássia Regina Limonta CARVALHO Instituto Agronômico de Campinas Caixa Postal 28, 13.001-970 Campinas-SP - Brasil RESUMO A preocupação dos consumidores com o uso de substâncias artificiais em alimentos tem aumentado muito nos últimos anos e feito com que os fabricantes procurem substitutos para os corantes artificiais ainda utilizados. O carmim de cochonilha, nome dado ao complexo de alumínio e cálcio do ácido carmínico (ácido 7- β - D - glicopiranosil - 9, 10 - diidro - 3, 5, 6, 8 - tetraidroxil - 1 - metil - 9, 10 - dioxo - 2 - antracenocarboxílico), extraído das fêmeas da cochonilha (Dactylopius coccus (Costa)), tem sido muito empregado nessa substituição. Este trabalho procurou desenvolver e otimizar uma tecnologia de produção do corante carmim de cochonilha. Os resultados obtidos, por meio da utilização de planejamentos fatoriais fracionais, delineamento simplex e estudos de superfícies de respostas, indicaram um rendimento total do processo maior que 70%, superior aos encontrados na literatura para condições semelhantes, com um teor de ácido carmínico próximo a 43%. A coloração do produto obtido foi mais escura do que a da amostra comercial utilizada como referência. As amostras coloridas com o carmim produzido nas condições do estudo apresentaram, no sistema CIE L* a* b*, menos luminosidade, menos vermelho (+a*) e mais azul (-b*) do que as amostras coloridas com o carmim comercial de referência. SUMMARY The preoccupation of consumers with the use of artificial coloring agents in foods has increased recently. As a result producers of food products have searched for natural substitutes for these artificial coloring agents. Carmine from cochineal, the name given to the complex of aluminum and calcium with carminic acid ( 7 - β - D - glucopyranosyl - 9, 10 - dihydro - 3, 5, 6, 8 - tetrahydroxyl - 1 - methyl - 9, 10 - dioxo - 2 - antracenecarboxylic acid) extracted from females of the cochineal family (Dactylopius coccus (Costa)) has frequently been used for this substitution. The present project aims to optimize the technology for carmine production from cochineal. Optimization of the preparation was studied using fractional factorial planning, simplex and response surface, resulting in a process yield of 70%, higher than those of the literature, with a carminic acid content of 43%. The color of the carminic acid complex was somewhat darker than the commercial reference sample. PALAVRAS-CHAVE KEY WORDS Carmim de cochonilha; Ácido carmínico / Carmine from cochineal; Carminic acid. Braz. J. Food Technol., 4:9-17, 2001 9 Recebido / Received: 13/03/2000. Aprovado / Approved: 24/11/2000. P. R. N. CARVALHO et al. 1. INTRODUÇÃO A arte de colorir alimentos é muito antiga e os produtos usados para tal fim, bastante variados. Assim, muitas substâncias, hoje comprovadamente tóxicas, foram utilizadas como corantes para alimentos. Os inúmeros casos de toxicidade apresentados por aditivos para alimentos, incluindo nessa classe os corantes, determinaram o estabelecimento de normas em diversos países, que vão desde a proibição ou restrição do uso, à liberdade de utilização de determinados corantes (ANGELUCCI, 1989 e 1991). Essas normas são geralmente baseadas em ensaios toxicológicos ou justificativa de caráter tecnológico e contam com o apoio de instituições internacionais como o JECFA (Joint of FAO/WHO Expert Committee on Food Additives) e a IARC (International Agency for Research on Cancer), para estas avaliações (NAZÁRIO, 1989). Além disso, a preocupação dos consumidores com o uso de substâncias artificiais em alimentos tem aumentado muito nos últimos anos e feito com que a indústria busque substitutos para os corantes artificiais ainda utilizados. Essa substituição tem esbarrado em características como estabilidade, solubilidade, preço e fornecimento onde, de modo geral, os corantes artificiais levam vantagens. Dessas características, a estabilidade tem sido colocada como a maior desvantagem apresentada pelos corantes naturais. Uma exceção é o carmim de cochonilha, que tem feito da estabilidade sua principal característica e, com isto, conquistado cada vez mais o mercado (SATO et al., 1992). O objetivo desse trabalho foi desenvolver e otimizar uma tecnologia de produção de carmim de cochonilha, avaliando as modificações necessárias para se obter um produto que atenda às especificações técnicas. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Material 2.1.1 Matéria-prima a) A matéria-prima utilizada para o estudo de extração foi uma cochonilha seca, obtida no mercado e caracterizada em nosso laboratório quanto à sua composição centesimal e concentração de ácido carmínico. b) O corante carmim de cochonilha utilizado como padrão comercial foi obtido no mercado, junto a empresas da área de corantes para alimentos. c) Padrão de ácido carmínico, marca Sigma, lote n o 44H2502. 2.1.2 Reagentes Todos os reagentes e solventes foram utilizados de acordo com suas especificações e finalidades. Braz. J. Food Technol., 4:9-17, 2001 Extração e Produção do Corante Carmim de Cochonilha 2.1.3 Equipamentos a) Espectrofotômetro UV/Vis. marca Hitachi, modelo U2000, com auto sipper e amostrador automático marca Hitachi, modelo AS1000. b) Espectrômetro marca MacBeth, modelo Comcor 1500 plus Demais equipamentos de uso comum em laboratório, como estufa a vácuo, estufa ventilada, chapas de aquecimento, evaporador rotativo, aparelho de ultrasom, mufla, balanças, etc. 2.2 Métodos 2.2.1 Métodos analíticos Umidade: baseado no método descrito pelo INSTITUTO ADOLFO LUTZ (1985); Matéria graxa: segundo STOLDTWEIBULL (DIEMAIR, 1963); Cinzas: baseado no método descrito por HORWITZ (1980); Proteínas: segundo KJELDHAL (HORWITZ, 1980) e Ácido carmínico: segundo FAO/WHO (1981). 2.2.2 Estudo dos fatores significativos Observou-se, durante trabalhos preliminares com a extração do corante, a influência de um grande número de fatores no rendimento e qualidade do produto final. Para avaliar a importância desses fatores e selecionar os significativos, utilizou-se um delineamento fatorial fracionado com os seguintes fatores: pH de extração, pH de reação (quelação), concentração dos reagentes (sulfato de alumínio e potássio e acetato de cálcio) e sistema de adição dos sais (juntos ou separados). Os fatores estudados, no total de cinco, foram os seguintes: pH de extração 2 (-) e 12 (+), pH de precipitação 6 (-) e 8 (+), massa de sulfato de alumínio e potássio 0,25g (-) e 0,5g (+), massa de acetato de cálcio 0,1g (-) e 0,17g (+) e forma de adição dos sais (sulfato de alumínio e potássio e acetato de cálcio) separados (-) (com a adição do sulfato de alumínio e potássio antes do acetato de cálcio) e juntos (+). Como critérios de avaliação foram observados os rendimentos em massa e em ácido carmínico de cada ensaio. Os ensaios foram conduzidos de maneira aleatória com a geração da ordem sendo estabelecida com o auxílio de software estatístico. Os procedimentos para extração e produção do quelato empregados nessa parte do estudo foram os seguintes: pesaram-se aproximadamente 5g de matéria-prima e adicionados a 1000mL de água com pH corrigido (com NaOH ou HCl) para os valores do estudo. A solução foi aquecida à ebulição por 30 minutos, esfriada e o pH foi novamente corrigido para os valores estabelecidos para a reação de quelação. Os reagentes necessários à formação do quelato foram adicionados, na proporção e situação (juntos ou 10 P. R. N. CARVALHO et al. separados) descritas no planejamento experimental, e a mistura foi aquecida à ebulição, por 15 minutos. A solução foi resfriada e o material precipitado foi separado por filtração a vácuo. O corante retido pelo papel de filtro (Whatman 42) foi seco em estufa a vácuo (270 kPa) em temperatura inferior a 60oC. O material resultante foi pesado, triturado e o teor de ácido carmínico determinado por espectrofotometria (FAO/WHO, 1981). 2.2.3 Estudo de otimização dos processos de produção do corante Após o conhecimento dos fatores que afetam significativamente o rendimento do processo de produção do corante carmim de cochonilha, procurou-se otimizar esse rendimento alterando-se os valores desses fatores. a) Otimização de pH e tempo de reação para formação do quelato Para avaliar o melhor pH para a formação do quelato e o tempo necessário para essa reação, foi utilizado um delineamento simplex seqüencial (BRUNS et al., 1994), partindo do pH = 7 e tempo de aquecimento de 30 minutos. As variações iniciais foram de 1 unidade de pH e de 15 minutos para o tempo de aquecimento. Os procedimentos de extração dos pigmentos usados nesse ensaio foram os seguintes: foi pesado aproximadamente 1g de matéria-prima que foi adicionado a 250mL de uma solução aquosa de NaOH 0,4%. A solução foi aquecida à ebulição por 30 minutos, esfriada e o pH foi corrigido para 4, com a utilização de HCl. O material precipitado foi separado por filtração e o pH do extrato foi, então, corrigido aos valores estipulados pelo modelo. Os reagentes necessários à formação do quelato foram adicionados ao extrato, na concentração estequiométrica, e a mistura aquecida até a ebulição por períodos de tempo dados pelo modelo. O extrato foi resfriado e o material precipitado foi separado por filtração a vácuo. O corante retido pelo papel de filtro (Whatman 42) foi seco em estufa a vácuo (270 kPa) em temperatura inferior a 60oC. O material resultante foi pesado, triturado e o teor de ácido carmínico foi analisado por espectrofotometria (FAO/WHO, 1981). b) Otimização do pH de extração, concentração de sulfato de alumínio e potássio e concentração de acetato de cálcio Dois estudos de superfície de resposta foram conduzidos visando a otimização do rendimento do processo. No primeiro delineamento foram estudados o pH de extração e as concentrações de sulfato de alumínio e potássio e de acetato de cálcio. Cada fator foi estudado em três níveis, utilizando-se o modelo descrito por BOX, BEHNKEN (1960). Os procedimentos de extração usados foram similares ao descrito para o estudo do tempo de aquecimento e pH de precipitação, alterando as variáveis agora avaliadas. Braz. J. Food Technol., 4:9-17, 2001 Extração e Produção do Corante Carmim de Cochonilha As concentrações dos sais utilizados apresentaram, no ponto 0, o valor estequiométrico para a precipitação do ácido carmínico contido na matéria-prima empregada. c) Otimização do volume de NaOH e tempo de aquecimento para a extração do ácido carmínico A segunda superfície de resposta foi conduzida visando a otimização do processo de extração do ácido carmínico (etapa inicial do processo de extração). Foram estudados, como fatores, o volume da solução de NaOH 0,4% e o tempo de aquecimento. O modelo escolhido foi o central composto rotacional, com cinco níveis para os dois fatores. O ponto central de cada fator foi estipulado em 60 minutos para o tempo de aquecimento e 30mL para o volume, com uma variação de 30 minutos e 10mL, respectivamente. Os procedimentos de extração utilizados para o desenvolvimento dessa parte do estudo foram similares ao apresentado anteriormente, com as alterações nas variáveis estudadas. 2.2.4 Estudo da aplicação do carmim produzido e análise de cor Amostras de carmim comercial e carmim produzido nas condições estabelecidas pelo estudo, foram diluídas com uma solução aquosa de hidróxido de amônio e utilizadas para avaliar a aplicação em produtos com baixa transmitância (leite) e de alta transmitância (água). As concentrações utilizadas para estas avaliações foram de 6,0 e 12,0mg de carmim por 100mL de água e de 6,0mg de carmim por 100mL de leite. A análise da cor das amostras diluídas em água foi realizada no sistema CIE L* a* b*, por meio do espectrômetro Comcor 1500 plus, utilizando uma cápsula de fundo de vidro óptico munida de um adaptador de fundo branco (L*= 90,67; a* = -1,1 e b* = 5,40) que tem a finalidade de refletir a luz transmitida até o fotodetector. O equipamento para a leitura da cor recebeu a configuração DREOL, com leituras feitas sob iluminante C a um ângulo de 10o, no intervalo de 400 a 740nm. Foram determinadas as curvas espectrais das amostras. Para a escolha da melhor condição de leitura da cor, em amostras transparentes foram realizadas leituras em diversas espessuras de camadas, utilizando o adaptador de fundo branco e duas amostras de carmim comercial com tonalidades semelhantes. Foram realizadas leituras em camadas de 2, 4, 7, 10 e 15mm, selecionando a espessura de 7mm por refletir melhor as diferenças entre as amostras. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Caracterização da matéria-prima A cochonilha utilizada no estudo foi avaliada quanto à sua composição e os resultados dessas avaliações estão apresentados na Tabela 1. 11 P. R. N. CARVALHO et al. TABELA 1. Composição da cochonilha utilizada como matéria-prima neste estudo. Concentração 1 (%) Erro-padrão da média2 Umidade 8,88 0,06 Resíduo mineral fixo 4,56 0,08 Matéria graxa Proteína bruta (%N x 6,25) 5,06 50,1 0,06 0,2 Ácido carmínico 15,9 0,1 Determinação 1 2 Média aritmética de três repetições analíticas Erro-padrão absoluto Esses valores, comparados com os citados pela literatura, indicam baixa concentração de carmim, possivelmente resultado de uma matéria-prima com maior tempo de armazenamento que a trabalhada pelos outros autores. Supondo que os efeitos das interações de três, quatro e cinco fatores são desprezíveis, pode-se concluir que foram significativos os efeitos principais do fator A (pH de extração), B (pH da reação de complexação) e C (massa do sulfato de alumínio e potássio) e as interações BD (pH da reação de quelação e massa de acetato de cálcio) e CE (massa do sulfato de alumínio e potássio e ordem de adição dos sais). 3.2.2 Resultado do estudo de pH e tempo de reação na extração do carmim de cochonilha (simplex seqüencial) A Figura 1 apresenta a evolução do modelo simplex seqüencial utilizado para o estudo de pH e do tempo para a reação de quelação e os resultados obtidos. Observou-se que os melhores rendimentos foram encontrados em pH 6 e com 30 minutos de reação. Estabeleceram-se, assim, o pH inicial para a reação de quelação igual a 6 e o tempo de aquecimento de 30 minutos. 3.2 Estudos sobre a produção de carmim de cochonilha 60 3.2.1 Resultados dos estudos dos fatores significativos na produção de carmim de cochonilha (delineamento fatorial fracionado) 50 4 (69) 2 (68) 40 Tempo As estimativas dos efeitos dos fatores estudados com a utilização do delineamento fatorial fracionado 25-1 para o estudo dos fatores significativos na produção do carmim estão apresentadas na Tabela 2. Extração e Produção do Corante Carmim de Cochonilha 3 (74) 5 (70) 30 1 (56) 20 TABELA 2. Estimativas dos efeitos dos fatores significativos na produção do corante carmim de cochonilha. Tratamento a Efeitos principais e interações Rendimento (%) Estimativa dos efeitos 44 23,00 A + BCDE = b B + ACDE = 7 -9,00 ab AB + CDE = 10 -5,00 c C + ABDE = 22 9,00 ac AC + BDE = 60 1,00 bc BC + ADE = 15 1,50 abc ABC + DE = 30 0,00 3,25 d D + ABCE = 12 ad AD + BCE = 39 2,25 bd BD + ACE = 11 11,25 abd ABD + CE = 42 6,75 cd CD + ABE = 20 -3,25 acd ACD + BE = 40 -4,75 bcd BCD + AE = 22 -0,25 abcd ABCD + E = 45 -0,25 abcde MÉDIA + ABCDE = 17 27,25 A = pH de extração B = pH da reação de complexação C = massa de sulfato de alumínio e potássio D = massa de carbonato de cálcio E = ordem de adição dos sais 6 (57) 10 0 1 3 5 7 pH 9 11 13 FIGURA 1. Modelo da evolução do simplex seqüencial utilizado para avaliar pH e tempo da reação de quelação. Os valores entre parênteses indicam os redimentos obtidos. 3.2.3 Resultado das superfícies de resposta no estudo de produção do carmim de cochonilha a) Estudo de pH de extração, concentração de sulfato de alumínio e potássio e acetato de cálcio Os resultados dos ensaios da superfície de resposta delineada, para a otimização do pH de extração e concentração dos sais de alumínio e cálcio estão apresentados na Tabela 3. Braz. J. Food Technol., 4:9-17, 2001 12 P. R. N. CARVALHO et al. TABEL A 3. Rendimentos obtidos na produção do corante carmim de cochonilha para o estudo dos fatores pH de extração, concentração de sulfato de alumínio e potássio e acetato de cálcio, com base no delineamento BOX-BEHNKEN. Ordem dos Ensaios Fatores Extração e Produção do Corante Carmim de Cochonilha TABELA 4. Análise de variância para o ajuste do modelo escolhido. Fonte de variação Graus de liberdade Soma dos quadrados Regressão 9 3018,89 335,43 Rendimento (%) Resíduo 5 61,23 12,25 Falta de ajuste 3 43,13 14,38 9,05 pH de extração AlK(SO4)2 13 -1 -1 0 54,43 Erro puro 2 18,10 6 1 -1 0 65,29 Total 14 3080,12 5 -1 1 0 67,57 2 1 1 0 92,19 1 -1 0 -1 69,48 3 1 0 -1 91,70 7 -1 0 1 73,09 11 1 0 1 94,19 14 0 -1 -1 44,79 12 0 1 -1 72,07 8 0 -1 1 50,00 9 0 1 1 57,10 4 0 0 0 62,18 15 0 0 0 67,57 10 0 0 0 67,19 Ca(CH3COO)2 Quadrado médio F 27,39 1,59 % de variação explicada pelo modelo = 98,01 A análise estatística dos coeficientes da equação proposta indica que existe uma interação significativa (ao nível de 5%) entre a concentração de sulfato de alumínio e potássio e a concentração de acetato de cálcio. Desse modo, foram construídas superfícies de resposta para os valores de acetato de cálcio, fixados em -1 (0,13g), 0 (0,26g) e +1 (0,39g), representados pelas seguintes equações: (+1) R = 66,48 + 9,57 x1 +4,25 x2 +15,17 x1 2 - 10,95 x2 2 +3,44 x1 x2 (E2) ( 0 ) R = 65,65 + 9,85 x1 +9,30 x2 +15,17 x1 - 10,95 x2 +3,44 x1 x2 (E3) (-1) R = 67,40 + 10,13 x1 +14,35 x2 +15,17 x1 - 10,95 x2 +3,44 x1 x2 (E4) 2 2 2 2 As Figuras 2, 3 e 4 apresentam as superfícies de resposta descritas pelas equações anteriores (E2, E3 e E4). Níveis codificados Fatores -1 0 +1 2 7 13 AlK(SO4)2 (g) 0,40 0,80 1,20 Acetato de cálcio (g) 0,13 0,26 0,39 pH de extração Os rendimentos (R) observados podem ser descritos pela seguinte equação (E1): R= 65,64 + 9,85 x1 + 9,30 x2 - 0,46 x3 + 15,17 x12 - 10,95 x22 + 1,29 x32 + 3,44 x1 x2 -0,28 x1 x3 -5,05 x2 x3 (1,74) (1,06) (1,06) (1,06) (1,57) (1,57) (1,57) (1,51) (1,51) (1,51) onde: x1, x2, x3 representam, respectivamente, os fatores: pH de extração, concentração de sulfato de alumínio e potássio e concentração de acetato de cálcio, e os números entre parênteses representam os erros-padrão dos coeficientes da equação. A Tabela 4 apresenta a análise de variância do modelo escolhido. Os valores obtidos indicaram que não há evidência de falta de ajuste no modelo. O valor de F calculado (1,59) não é estatisticamente significativo ao nível de 5%. Braz. J. Food Technol., 4:9-17, 2001 FIGURA 2. Superfície de resposta e curvas de nível para a equação ajustada à concentração de acetato de cálcio = 1. 13 P. R. N. CARVALHO et al. FIGURA 3. Superfície de resposta e curvas de nível para a equação ajustada à concentração de acetato de cálcio = 0. O maior rendimento foi obtido para a concentração de acetato de cálcio igual a -1 (0,13g). Assim, utilizando a equação de rendimento máximo (E4), o valor de pH = 13 (x1 = 1 ) e o rendimento ( R ) = 99,90%, obtém-se o valor de 1,14g, que corresponde à quantidade ideal de sulfato de alumínio e potássio, para as condições do estudo. b) Estudo do volume de NaOH e tempo de aquecimento dos processo de extração Os resultados dos ensaios para otimização do tempo e do volume de extração do ácido carmínico da matéria-prima estão apresentados na Tabela 5. O ajuste da equação polinomial de segundo grau para os valores obtidos fornece a seguinte equação: R= 65,31 + 4,23 x1 - 1,02 x2 (1,07) (0,93) (0,93) - 3,76 x1 2 (0,97) - 1,55 x2 2 (0,97) - 1,44 x1 x2 (1,32) (E5) onde: R = rendimento observado; x1 e x2 = fatores: volume e tempo de extração, respectivamente. Os números entre parênteses representam os erros padrão dos coeficientes da equação. Braz. J. Food Technol., 4:9-17, 2001 Extração e Produção do Corante Carmim de Cochonilha FIGURA 4. Superfície de resposta e curvas de nível para a equação ajustada à concentração de acetato de cálcio = -1. A Figura 5 apresenta a superfície de resposta descrita pela equação anterior (E5). A Tabela 6 apresenta a análise de variância do modelo escolhido. Os valores obtidos indicam que não há evidência de falta de ajuste no modelo. O valor de F calculado (0,14) não é estatisticamente significativo ao nível de 5%. Desenvolvendo a equação polinomial proposta (E5) para maximizar o rendimento obtiveram-se, para a variável x1, o valor de 0,648 e para a variável x2, o valor de 0,567, que representam 79,44mL e 24,33 minutos para o volume e o tempo de extração, respectivamente, nas condições do estudo. Observou-se, ainda, que a variável tempo não apresenta participação significativa no modelo estudado. 3.2.4 Tecnologia proposta Com os resultados obtidos foi possível otimizar a tecnologia proposta para a produção do carmim de cochonilha. Os valores observados no estudo de extração do ácido carmínico da matéria-prima apresentaram um baixo rendimento (≅ 67%) sendo, portanto, o aspecto limitante do processo. Sugere-se uma reciclagem do resíduo desta extração, procurando aumentar a eficiência da tecnologia. 14 Extração e Produção do Corante Carmim de Cochonilha P. R. N. CARVALHO et al. TABELA 5. Resultados obtidos para o estudo de tempo e volume de extração de ácido carmínico, com base no delineamento central composto rotacional. Ordem dos ensaios 7 3 2 9 5 1 Fatores Volume Tempo Rendimento (%) -1 1 -1 1 -1 -1 1 1 0 56,19 65,93 55,87 61,06 51,32 0 64,71 2 - 2 14 0 6 0 8 12 4 13 11 10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Volume de NaOH 0,4% (mL) Tempo (minutos) Soma dos quadrados Quadrado médio F Regressão 5 273,33 54,67 11,58 Resíduo 8 37,76 4,72 Falta de ajuste 3 3,04 1,01 Erro puro 5 34,72 6,94 13 311,09 0,14 O tempo de extração estabelecido foi de aproximadamente 25 minutos (medidos após a entrada em ebulição) para uma proporção de solvente igual a 80mL/g de amostra. O solvente utilizado foi uma solução de NaOH 0,4%. Após a extração, o extrato foi resfriado, seu pH corrigido para 4 (com HCl) e filtrado. O resíduo foi reciclado para nova extração e o pH do filtrado acertado para 6. Os sais foram, então, adicionados ao extrato. 67,30 63,81 63,60 69,74 64,34 63,07 A concentração de sulfato de alumínio e potássio estabelecida equivale a 150% do valor estequiométrico, ou seja, para cada grama de ácido carmínico deve-se utilizar 0,72g de AlK(SO4)2 . 12 H2O. Níveis codificados Fatores Graus de liberdade % de variação explicada pelo modelo = 87,87 61,38 2 Fonte de variação Total 63,49 2 - TABELA 6. Análise de variância para ajuste do modelo. - 2 17,58 -1 0 +1 30 60 90 102,42 15,86 20 30 40 44,14 2 A concentração de acetato de cálcio encontrada que apresentou maior rendimento foi igual a 50% do valor estequiométrico, sugerindo a participação de outra fonte de cátion na formação do quelato, nas condições utilizadas neste estudo. O valor estabelecido para cada grama de ácido carmínico foi igual a 0,08g de Ca(CH3COO)2 . A mistura foi aquecida à ebulição por 30 minutos, resfriada e o material precipitado, separado por filtração. O corante obtido foi seco em estufa a vácuo em temperatura inferior a 60oC, triturado e envasado. A Figura 6 apresenta o fluxograma do método estabelecido. - FIGURA 5. Superfície de resposta e curvas de níveis para a equação ajustada ao estudo de extração de ácido carmínico. Braz. J. Food Technol., 4:9-17, 2001 FIGURA 6. Fluxograma do processo estabelecido para a produção do corante carmim de cochonilha. 15 Extração e Produção do Corante Carmim de Cochonilha P. R. N. CARVALHO et al. 3.2.5 Avaliação das condições propostas para produção do carmim de cochonilha Estabelecidos os valores dos processos estudados na extração do carmim de cochonilha, realizou-se a comprovação de sua eficiência, por meio de três ensaios. Procurou-se avaliar o balanço de massas e o rendimento em ácido carmínico (Tabela 7). TABELA 7. Resultados do estudo de produção de carmim de cochonilha estabelecido neste estudo. Ensaios 1 2 3 Média + EP Resíduo da 1a filtração (g) 3,74 3,93 4,08 3,92 +0,10 % de ácido carmínico 10,12 8,23 12,50 10,28 +1,24 910 1245 950 1035 +106 % de ácido carmínico 0,015 0,011 0,010 0,01 +0,002 Carmim (g) 2,82 2,52 2,69 2,68 +0,09 % de ácido carmínico 41,07 42,21 44,85 42,71 +1,12 Rendimento (%) 73,02 67,07 76,07 72,05 +2,64 Extrato da 2a filtração (g) EP = erro-padrão da média O rendimento do processo de extração (1a etapa) foi de 74,59%, pouco superior ao observado no modelo estudado (67%). A reação de complexação apresentou um rendimento de 91,25%, inferior ao valor teórico de rendimento máximo (99,9%). O rendimento total do processo foi de 72,05%, em média, superior aos valores observados na literatura onde OVIEDO, GIBAJA (1977), avaliando quatro processos de produção de carmim (métodos Alemão, Madame Cenette, Frances e Thorpe), obtiveram rendimentos inferiores a 70%. PRADO (1985) obteve rendimento de 73,28% utilizando um sistema de extração com tempo superior a 12 horas, com troca constante de solventes. RIOS (1989) conseguiu rendimento de 65,05%, utilizando sucessivas extrações do carmim da matéria-prima previamente desengordurada. O teor de ácido carmínico do produto final (42,7%) deve ser melhorado ao se trabalhar com matéria-prima de melhor qualidade. A cochonilha utilizada, com 15,9% de ácido carmínico, é de qualidade inferior às utilizadas por PRADO (20,87%) e RIOS (23,80%). A Tabela 8 apresenta os resultados da composição do corante produzido. Os valores observados para umidade, proteína, cinza e ácido carmínico estão de acordo com as especificações dadas pela legislação brasileira. A cor do carmim obtida foi mais escura que a cor da amostra comercial e possivelmente foi resultado da quantidade de sulfato de alumínio e potássio utilizada. O valor otimizado para máximo rendimento resultou em um produto com coloração diferente (mais escura) do comercial. Braz. J. Food Technol., 4:9-17, 2001 TABELA 8. Composição do carmim obtido neste estudo. Amostras 1 2 3 Média + EP Umidade (%) 16,04 13,26 13,43 14,24 + 0,90 Proteína (%N x 6,25) (%) 24,2 24,6 24,1 24,3 + 0,2 Cinzas (%) 9,04 8,91 9,64 9,20 + 0,22 Ácido carmínico (%) 41,1 42,2 44,9 42,7 + 1,1 EP = erro-padrão (absoluto) da média 3.3 Estudo da aplicação do carmim produzido em amostras-modelos e análise da cor A Tabela 9 apresenta os dados de cores no sistema CIE L* a* b*, para as amostras de água e leite coloridas com o carmim comercial e com o carmim produzido em nosso laboratório. Observou-se que todas as amostras coloridas com o carmim, obtido nas condições estabelecidas neste estudo, apresentaram menos luminosidade (L*), menos vermelho (+a*) e mais azul (-b*) do que as amostras coloridas com o carmim comercial. Observou-se, ainda, que as amostras de água coloridas com o carmim comercial, nas concentrações de 12,0mg/100g, apresentaram tonalidade amarela (+b*), o que não aconteceu nas amostras coloridas com o carmim produzido pelo estudo. TABELA 9. Cor no sistema CIE L* a* b*, das amostras de água (em camada de 7mm de espessura) e de leite, coloridas com o carmim comercial e com o carmim produzido pelas condições estabelecidas neste estudo. Amostra Água + carmim comercial (6,0mg/100g) L* a* b* 46,70 42,04 -1,22 Água + carmim comercial (12,0mg/100g) 35,61 52,59 5,84 Água + carmim produzido (6,0mg/100g) 40,83 38,35 -6,86 Água + carmim produzido (12,0mg/100g) 26,42 45,70 -3,70 Leite + carmim comercial (6,0mg/100g) 66,83 32,27 -2,32 Leite + carmim produzido (6,0mg/100g) 62,08 27,55 -9,37 L* = luminosidade, a* = vermelho, b* = amarelo, -b* = azul 4. CONCLUSÕES Os resultados alcançados durante o estudo do corante carmim de cochonilha permitiram observar que: - O rendimento conseguido pelas condições propostas (72%) foi superior aos encontrados na literatura para condições semelhantes. - O processo desenvolvido apresentou rapidez e simplicidade, podendo, com ajustes, ser extrapolado para condições industriais. 16 P. R. N. CARVALHO et al. - O corante, produzido em condições em que se procurou maximizar o rendimento, apresentou uma coloração com tonalidade mais azul do que a do pigmento comercial. - Este trabalho indicou, também, que é possível obter corantes carmim com tonalidades diferentes, apenas modificando alguns fatores no processo de produção, merecendo, por isso, estudos posteriores que padronizem essas alterações. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELUCCI, E. Corantes Naturais Versos Corantes Artificiais. Vantagens e Desvantagens. In: CARVALHO, P. R. N. Corantes Naturais para Alimentos. ITAL, Campinas, SP. 1989, 89p. 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