“inventador” de histórias em tempo integral? O
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“inventador” de histórias em tempo integral? O
a última palavra em dicionário. O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, lançamento da Companhia Editora Nacional, é o único elaborado pela Academia Brasileira de Letras, instituição responsável no Brasil pelas normas de ortografia da Língua Portuguesa. De acordo com as novas regras da ortografia da Língua Portuguesa. Ele apresenta para os alunos dos Ensinos Fundamental e Médio, com clareza e precisão, todas as novas normas do Acordo Ortográfico. Traz ainda um suplemento explicativo sobre esse Acordo, não deixando margem a controvérsias. Uma ferramenta da maior confiabilidade, tanto para professores como para alunos. Não tenha dúvidas. O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa é o pai dos dicionários. • 33 mil verbetes • Com a nova ortografia da Língua Portuguesa • Suplemento explicativo sobre o Acordo • As novas regras para o uso do hífen • Regionalismos e neologismos • E muito mais Uma história a ser viço do futuro (11) 2799-7799 (São Paulo - Capital) - 08000-17-5678 (demais localidades) [email protected] - www.editoranacional.com.br 2 Panorama Dezembro 2008 Dezembro 2008 Panorama 3 Sumário 9 49 Capa: Foto: Ali Farid Arte: Wagner Luiz Santos Entrevista O deputado Marcelo Al- meida fala das ações da Frente Parlamentar Mista de Leitura para uma política pública nacional em favor do livro e da leitura 45 24 Boa Ideia Projeto Ler é 10 - Viva Favela leva leitura e conhecimento a crianças de comunidades carentes do Rio de Janeiro 26 Reportagem de capa As feiras de li- vros já fazem parte do calendário cultural de cidades de todo o porte. Só no Rio Grande do Sul são organizadas cerca de 200 por ano 38 Comportamento leitor Norte e Nor32 Políticas Públicas Arca das Letras, programa de implantação de bibliotecas rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário, já ultrapassa as fronteiras do Brasil deste são as regiões com mais cidades sem bibliotecas, aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 8 14 16 18 20 22 35 36 38 41 42 43 44 50 52 54 55 56 58 Panorama 44 Panorama Dezembro2008/ 2008Janeiro 2009 Dezembro Rotas Literárias Bairros de Salvador e outras cidades da Bahia têm presença marcante nas obras de Jorge Amado Como me apaixonei pelos livros O sociólogo Pedro Demo lê por paixão e por exigência profissional, também gosta de ficção e diz que ler é como respirar Boa Leitura Mensagem da presidente da CBL Cadeia Produtiva As notícias das entidades do livro Ponto de Vista Luís Antonio Torelli Acontece O que é notícia no mercado de livros Socialmente Responsável Leitura itinerante no Vale do Paranapanema Outras Mídias Radio, Intenet e Tv Pelo Mundo Afora Japão, Alemanha e Estados Unidos Mercado & Tendências Comércio porta a porta nunca este melhor Todo Mundo Lê Washigton Olivetto, Bob Wolfson e Erika Palomino Radiografia Caco Barcelos Eventos Notícias de feiras pelo Brasil Prêmios e Concursos No Brasil e na Europa Livros Sobre Livros Rimas da Vida e da Morte Cinema e Livros Jane Austin e os finais sem lágrimas Calendário A agenda dos eventos no Brasil e no mundo Empresa Amiga do Livro Correios de Campo Grande têm sala de leitura Vitrine O que há de novo nas prateleiras Gente que Lê Uma vida lá fora Imagem Panorâmica Um momento de ler Dezembro Dezembro 2008/ Janeiro2008 2009 Panorama Panorama 55 Palavra do Leitor “A revista é, sem dúvida, a ferramenta mais importante para o mercado editorial. Trazendo excelentes matérias e entrevistas, a Panorama Editorial é, atualmente, uma indispensável referência para o nosso segmento. Parabéns á toda equipe ! “ Luís Antonio Torelli Presidente da ABDL - Associação Brasileira de Difusão do Livro Recebemos e agradecemos a edição 45 da Panorama Editorial. Estamos muito interessados em receber os exemplares posteriores para o enriquecimento do acervo da nossa biblioteca. Paulo Oliveira, Biblioteca Central da Universidade Estadual de Santa Cruz (BA) “A revista Panorama Editorial é fonte de consulta em minhas pesquisas literária. Sou mestranda em literatura da UnB e meu projeto objetiva construir o mapa cultural da leitura da literatura no DF. Dessa forma, a Panorama Editorial tem contribuído de forma positiva em meu trabalho. Antônio Cândido é o teórico principal de meu projeto. Solicito, inclusive, a possibilidade de receber exemplar da revista em minha residência. Integro o grupo de pesquisa LER da Universidade de Brasília 0 UnBm coordenado pela professora Hilda Lontra. Trabalhamos com leitura. No que puder colaborar, estou à disposição”. Abraços literários Edna Freitas Recebemos e agradecemos o recebimento da edição 45 da revista Panorama. Estamos muito interessados em continuar a receber a publicação. Caros editores, ”Quero parabenizá-los pelo trabalho realizado na revista Panorama Editorial, que está melhor do que nunca. O novo visual a deixou muito mais moderna e dinâmica! O mercado editorial está muito bem pautado e eu, como leitora, mais satisfeita com as informações trazidas e com as inovações sempre de bom gosto. Parabéns!” Um ótimo fim de ano, Lilian Aquino Revisora da Editora Contexto “Panorama é uma revista estratégica no cenário nacional. Com matérias inteligentes e atuais, abre espaço e provoca o debate sobre temas que ainda necessitam de atenção no nosso país: o livro e a leitura”. Patrícia Leão Damaceno Revisora e jornalista Editora da ULBRA Maria Gorete de Jesus Coltinho Bibliotecaria, Biblioteca Central da Unimontes - Montes Claros (MG) Câmara Brasileira do Livro Presidente Rosely Boschini Vice-Presidentes Bernardo Gurbanov e Íris Odete Borges Diretores Editores Jorge Rodrigues Carneiro, Luiz Fernando Emediato, Paulo de Almeida Lima e Wagner Veneziani Costa Diretores Livreiros Antonio Erivan Gomes, Marcos Pedri, Marcus Teles C. de Carvalho e Onófrio Laselva Diretores Distribuidores Celso Soldera, José Luiz França, Luiz Eduardo Severino e Nassim Batista da Silva Diretores Creditistas Ítalo Amadio, Luiz Antônio de Souza, Mário Fiorentino e Pietro Macera Rua Cristiano Viana, 91 Tel: (11) 3069 1300 CEP 05411 000 São Paulo SP www.cbl.org.br Agência de Notícias Brasil Que Lê Fundação Palavra Mágica Presidente Luciana Paschoalin www.palavramagica.org.br Observatório do Livro e da Leitura Diretor Galeno Amorim www.observatoriodolivro.org.br Av. José Maria de Faria, 470 Tel (11) 8389-0041 CEP 05038 190 São Paulo SP www.brasilquele.com.br Conselho Editorial Bernardo Gurbanov, Cristina Lima, Galeno Amorim, Luis Eduardo Mendes, Luiz Carlos Ramos, Ítalo Amadio, Mário Fiorentino, Oswaldo Siciliano, Pietro Macera, Rosely Boschini e Valter Kuchenbecker Diretor Geral Galeno Amorim ([email protected]) Editor-Chefe Matide Leone ([email protected]) Diretor de Arte Wagner Luiz Santos ([email protected]) Editor de Fotografia Fanca Cortez ([email protected]) Colaboração Especial Tiago Santana, fotografias em Rotas Literárias Redação ([email protected]) Alexandre Malvestio, Talissa Berchieri e Ricardo Costa (especial) Raquel Caetano (especial) Diagramação Rogério Lance (www.wga.com.br) Produção Gráfica ([email protected]) Administração ([email protected]) Alexandre Dias Pré-Impressão e Impressão IBEP - Cia Editora Nacional Circulação Circulação ([email protected]) Murilo Casagrande Tiragem 20.000 exemplares Circulação Nacional Door To Door (www.d2d.com.br) Publicidade Departamento Comercial ([email protected]) Murilo Casagrande Tel: (11) 8389 0041 e (11) 3069-1300 Anúncios ([email protected]) Panorama é uma publicação mensal da Câmara Brasileira do Livro e da Agência de Notícias Brasil Que Lê. A revista não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados, que expressam a opinião de seus autores. Permitida, desde que citada a fonte, a reprodução total ou parcial dos textos, que são produzidos pela agência de notícias Brasil que Lê. www.panoramaeditorial.com.br 6 Panorama Dezembro 2008 Dezembro 2008 Panorama 7 Entrevista Boa Leitura Foto: Fanca Cortez O país avança nos caminho da leitura O que é uma feira? Desde os tempos medievais, ou bem antes, 500 A.C., as feiras fazem parte da cultura dos povos, como locais públicos de comércio ou recreação. Mas, acima de tudo, é um lugar de sociabilidade e de trocas. As feiras de livros não são diferentes e trazem um componente a mais: cultura, conhecimento, descobertas, relacionamento e incentivo à leitura. Um espaço democrático, onde autores e público se encontram e até trocam idéias. E essa troca de experiências que permite o Brasil avançar pelos caminhos da leitura é uma das grandes metas da CBL, que apóia e orienta organizadores das feiras e outros eventos de livros pelo país. De um década para cá, o número de feiras cresce diariamente também nas cidades pequenas, incentivadas pelo agito e pelos balanços das “barracas literárias” das capitais e dos grandes centros. Bom exemplo é o que acontece no Rio Grande do Sul, como mostra a reportagem de capa. Inspiradas na grande feira de Porto Alegre, Sônia Maria Zanchetta, integrante da Comissão Executiva da Câmara Riograndense do Livro, diz que chegou a listar 200 feiras municipais no estado, além de outros eventos ligados à promoção da leitura. No estado de São Paulo, a cultura das feiras também se consolida e o grande impulso, sem dúvida, é o apoio da CBL, onde todos ganham: público, autores, expositores e editoras, e em qualquer parte do Brasil, as feiras já fazem parte do calendário cultural das cidades. Mas a busca de novos leitores e de uma política pública de incentivo ao livro e à leitura se dá também no Congresso Nacional com a Frente Parlamentar Mista de Leitura, presidida pelo deputado Marcelo Almeida, como mostra a entrevista principal desta edição. E outro projeto, que vale ressaltar, é o Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que já instalou quase seis mil bibliotecas rurais, levando a possibilidade da leitura ao homem do campo. São exemplos como esses que trazem uma luz para a difícil questão da falta de leitores e do analfabetismo. Questões que estão permanentemente na pauta da CBL. Boa leitura. Rosely Boschini Presidente da CBL ([email protected]) 8 Panorama Dezembro 2008 Marcelo Almeida Engenheiro civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Marcelo Beltrão de Almeida, 40 anos, possui, ainda, formação em Administração de Empresas e Empreendedorismo Cívico, além de especialização em e-Gov. Foi vereador de Curitiba por dois mandatos, ocupou a diretoria geral do Departamento de Trânsito do Paraná e a Secretaria de Estado de Obras Públicas do Paraná. Em 2007, assumiu o mandato de Deputado Federal pelo PMDB do Paraná. Apaixonado pela literatura, formou um pe- queno grupo de leitura há quatro anos em Curitiba, com 12 pessoas - Conversa entre Amigos - que hoje envolve cerca de 600 leitores. A intenção é levar o projeto para escolas públicas de Curitiba. Tanta paixão pela leitura, levou o deputado a presidir a Frente Parlamentar Mista da Leitura, com o objetivo de criar o Fundo Pró-Leitura, que vai financiar as ações previstas no PNLL (Plano Nacional do Livro e Leitura) que não saíram do papel. A Frente Parlamentar Mista da Leitura iniciou em novembro a coleta de assinaturas de deputados federais e senadores em apoio à proposta de criação do Fundo Pró-Leitura e de recriação do Instituto Nacional do Livro (INL). A decisão foi tomada durante os debates do I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil, realizado no final de 2008. O abaixo assinado foi encabeçado pelos deputados Marcelo Almeida (PMDB-PR), presidente da Frente, e Geraldo Magela (PT-DF), autor de um requerimento que sugere ao Executivo a recriação do INL, extinto no início do governo Collor. Dezembro 2008 Panorama 9 Entrevista O manifesto ratifica o compromisso da indústria nacional de livros de destinar 1% do faturamento anual do setor para a formação e manutenção do Fundo Pró-Leitura, conforme acordado há quatro anos, quando o governo Lula desonerou o setor do pagamento de PIS/Pasep e Cofins. O setor, representado no seminário pela Câmara Brasileira do Livro, Instituto Pró-Livro, Associação Brasileira de Editores de Livros e Sindicato Nacional dos Editores de Livros, apoiou a declaração. Segundo o ministro da Cultura, Juca Ferreira, o Fundo pode ser criado até por decreto presidencial. Mas sabe que se o Governo encaminhar uma proposta ao Congresso, contará com o apoio de senadores e deputados. Na entrevista a seguir, o deputado fala sobre o assunto e sobre os ca- “Cada parlamentar vai garimpar em seu Estado bons exemplos de empreendedores da leitura e colocar foco nessas iniciativas. Sobre as votações, não teremos qualquer dificuldade em aprovar os projetos importantes para o setor. Isso porque o livro e a leitura não têm partido, não é de direita ou de esquerda, da situação ou da oposição” minhos da leitura no Brasil. Panorama: Como surgiu a idéia da criação do Clube da Leitura Conversa entre Amigos? Marcelo Almeida: O programa nasceu da iniciativa do cidadão Marcelo Almeida e não do político. Na realidade, o programa nasceu a partir da leitura do livro “Felicidade”, do Eduardo Gianetti. Fiquei com uma inveja do bem daquele grupo de amigos que se reunia para debater assuntos sobre os quais todos já tinham lido alguma coisa, sem precisar de um copo de bebida para tornar aquele momento único, com a troca de conhecimento entre eles. Quis participar de algo assim e criei o Conversa Entre Amigos. Como, na época, eu trabalhava no De- 10 Panorama Dezembro 2008 tran do Paraná, como diretor geral, iniciei o programa reunindo colegas de trabalho. Inicialmente, tínhamos 30 leitores e cerca de 12 pessoas que participavam dos encontros que o programa promove para debater o livro da vez. Hoje, são mais de 600 leitores cadastrados e mais de 200 pessoas que participam dos nossos encontros de conversa. Esse é um programa que existirá para sempre, independente de eu estar ou não deputado federal. Panorama: Por que uma bancada no Congresso para defender a leitura, um tema que, historicamente, não tem despertado uma ação política mais forte no parlamento brasileiro? Em que consiste, exatamente, a atuação da Comissão Mista Parlamentar de Leitura? Marcelo Almeida: A Frente Parlamentar Mista da Leitura é conseqüência da minha paixão pela leitura, uma extensão do programa Conversa Entre Amigos e uma das marcas do meu mandato. A Leitura nunca recebeu a atenção que merece porque o assunto sempre foi tratado dentro dos projetos de educação e cultura. O Governo Federal é hoje o grande comprador de livros no Brasil, em razão do Programa Nacional do Livro Didático. Deputados e senadores normalmente ficam atentos aos valores gastos na compra do livro didático e na distribuição do material para seus redutos eleitorais. Mas o Plano Nacional do Livro e da Leitura, dos Ministérios da Cultura e da Educação, por exemplo, passava quase que em branco na pauta do Congresso Nacional. A necessidade de se ter uma estrutura administrativa para cuidar da política do livro no País não era debatida pelos parlamentares. A disseminação das boas práticas de incentivo à leitura nunca mereceu um apoio sistemático e integral do Congresso. A Frente nasceu para mudar isso tudo. Os deputados e senadores que aderiram à Frente Parlamentar Mista da Leitura querem apoiar ações concretas de incentivo à leitura, sejam elas de iniciativa do poder público ou da iniciativa privada. Agora, o livro e a leitura têm um espaço permanente de pro- moção na pauta política nacional. Panorama: O senhor espera um envolvimento mais efetivo de deputados e senadores com o tema ou só um apoio político e votos favoráveis por ocasião de votações de projetos importantes para a área do livro e leitura? Marcelo Almeida: Com certeza! Não só o envolvimento nos seminários, reuniões e audiências públicas que a Frente já começou a promover, mas também de forma individual, nos seus Estados. Cada parlamentar da Frente passa a ser um promotor da leitura em sua região, participando e organizando grupos de contos, concursos de redação, leitura compartilhada e bibliotecas itinerantes. Cada parlamentar vai garimpar em seu Estado bons exemplos de empreendedores da leitura e colocar foco nessas iniciativas. Sobre as votações, não teremos qualquer dificuldade em aprovar os projetos importantes para o setor. Isso porque o livro e a leitura não têm partido, não é de direita ou de esquerda, da situação ou da oposição. São temas de domínio público e de interesse geral e irrestrito. Por isso, os temas importantes e relevantes para o incentivo à leitura no Brasil terão o apoio dos deputados e senadores que integram a Frente. Panorama: Como o senhor imagina que deva ser o diálogo entre a Frente e as entidades que representam o negócio do livro no Brasil? Marcelo Almeida: O diálogo deve ser mais permanente em Brasília, tanto no Congresso, como nos Ministérios da Cultura e da Educação. Além disso, vamos pautar reuniões e audiências públicas com a participação das entidades do setor para debater e analisar assuntos específicos, que possam gerar ação concreta em prol do livro e da leitura. Queremos manter uma agenda positiva de encontros para reunir as entidades do setor, o Congresso e representantes do Governo, além dos próprios leitores, que têm de ter espaço no trabalho da Frente. Nossa intenção é manter sempre os canais de comunicação para aumentar a sinergia e reunir força. Panorama: Quais os resultados práticos desse trabalho até aqui e o que se espera em termos de conquistas substanciais para o livro e a leitura em 2009? Marcelo Almeida: Nos primeiros meses de atuação da Frente já tivemos alguns bons resultados práticos. Primeiramente, conquistamos a confiança do Congresso e do setor de que essa não é mais uma Frente pra fazer número ou para ser usada eleitoralmente. Esse é o primeiro resultado positivo. Outro resultado importante foi a repercussão do I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil, que realizamos na Câmara dos Deputados, com a participação de mais de 300 pessoas, incluindo o ministro da Cultura, Juca Ferreira. O seminário colocou na pauta nacional a necessidade de recriação de uma estrutura ad- “A Leitura nunca recebeu a atenção que merece porque o assunto sempre foi tratado dentro dos projetos de educação e cultura. O Governo Federal é hoje o grande comprador de livros no Brasil, em razão do Programa Nacional do Livro Didático. Deputados e senadores normalmente ficam atentos aos valores gastos na compra do livro didático e na distribuição do material para seus redutos eleitorais” ministrativa para cuidar da política do livro e da leitura no Brasil e da criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitura, dentro do Fundo Nacional da Cultura, para o financiamento das ações de incentivo à leitura no país. Também recebemos o sinal verde do Ministério do Planejamento, na pessoa do ministro Paulo Bernardo, para dar prosseguimento ao processo de criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitura. Este foi o primeiro passo para vencer as barreiras existentes dentro do próprio Executivo em relação ao assunto. A Frente está trabalhando de forma afinada com o Ministério da Cultura no andamento desse processo. Essa Frente será o porto seguro de todos os que amam o mundo da leitura. Dezembro 2008 Panorama 11 Entrevista “Vamos pautar reuniões e audiências públicas com a participação das entidades do setor para debater e analisar assuntos específicos, que possam gerar ação concreta em prol do livro e da leitura. Queremos manter uma agenda positiva de encontros para reunir as entidades do setor, o Congresso e representantes do Governo, além dos próprios leitores, que têm de ter espaço no trabalho da Frente” Panorama: Por que o atraso na criação do Fundo Pró-Leitura? Quais as dificuldades para que isso aconteça, já que todas as partes envolvidas apóiam sua criação? Marcelo Almeida: Trata-se de um problema de conceitual. A equipe do Ministério da Fazenda não quer estimular a criação de fundos. De fato, a criação aleatória de fundos pode enfraquecer a política macroeconômica. Além disso, já temos o Fundo Nacional da Cultura para financiar as políticas de cultura, incluindo a do livro e da leitura. Então, a resistência pode ser superada a partir do diálogo. Quanto tempo isso vai levar? Não sabemos. Mas estamos empenhados nesse processo. A alternativa de criação de um Fundo Setorial dentro do Fundo Nacional da Cultura tem maior aceitação da equipe econômica. Vamos resolver esses pontos e criar o Fundo em 2009. Panorama: O senhor acredita que existam setores dispostos a travar a criação do Fundo? Porque razão? Marcelo Almeida: A resistência é apenas de ordem técnica e conceitual. Não vejo uma oposição direta ao recolhimento de 1% do faturamento anual do setor editorial para a formação de um fundo que vai financiar as ações de incentivo ao livro e à leitura no Brasil. Na minha avaliação, o cenário é positivo. Panorama: Como a Frente pretende fazer para que as discussões travadas em seminários e debates como o realizado no Dia Nacional do Livro (29 de outubro) dêem resultados mais efetivos? Marcelo Almeida:Os eventos que a Frente vai promover terão por objetivo debater assuntos relacionados ao setor. Algumas discussões poderão ser apenas teóricas. Outras, demandarão ações mais práticas e concretas, como aconteceu no I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil. A partir do seminário, estabelecemos uma agenda de interlocução com o Governo Federal para a criação do fundo setorial pró-leitura. Panorama: Como o Congresso pode ajudar efetivamente na recriação de instituto ou secretária nacional do livro e leitura, cujo compromisso público já foi anunciado pelo Ministério da Cultura? Marcelo Almeida: Isso já está sendo mostrado na prática. Além de articular a ação de todos os players, o Congresso terá que aprovar o projeto de recriação dessa estrutura administrativa. Panorama: Que projetos referentes ao livro e à leitura que tramitam atualmente no Congresso mereceriam um empurrão da Frente para virarem leis? Marcelo Almeida: Queremos trabalhar por demanda. Hoje, nossa força tarefa é para a criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitura e para a recriação de uma estrutura administrativa que vai cuidar da política do Livro de cabeceira “Leio, no mínimo, quatro livros por mês. Mas normalmente eu supero a meta mensal. Acho que leio cerca de 60 livros por ano. Sou eclético Leio biografias, ficção e romances. Só tenho dificuldades em ler autoajuda. Meu livro de cabeceira: “Pequeno tratado das grandes virtudes”, de André Comte-Sponville.Mais que um hábito, a leitura é uma necessidade para mim. Isso me ajuda em todas as áreas da minha vida. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, leio os pareceres dos projetos de lei com rapidez e isso me ajuda a tomar posição e definir voto”. livro e da leitura no País. Depois, analisaremos as demais necessidades. Panorama: Por que a sociedade precisa de uma bancada do livro nos parlamentos? Como os atores sociais, entidades e todos aqueles interessados no tema devem contribuir nessa discussão? Marcelo Almeida: A participação deve ser cidadã. Todos os eventos organizados pela Frente Parlamentar da Leitura são abertos ao público. Todos os interessados no incentivo à leitura devem participar. Por meio do site da Frente (www.frentedaleitura.com.br), pessoas de todo o Brasil podem encaminhar exemplos de boas práticas de incentivo à leitura, além de apresentar propostas de ações. Pelo site, qualquer cidadão pode acompanhar a nossa agenda e estabelecer um canal de comunicação direta. Basta ter interesse pelo assunto e disposição para sair da zona de conforto, que muitas vezes nos impede de participar de forma mais efetiva. Panorama: Em sua opinião, que me- didas a sociedade pode adotar para aumentar o número de leitores e incentivar o gosto pela leitura no país? Marcelo Almeida: A primeira medida é ler mais. Se cada cidadão adotar como meta de vida pessoal ler mais, seremos um País mais leitor. E podemos começar lendo jornais e revistas. Se todos trocarem uma hora por dia em frente ao computador ou à TV por um livro, já teremos um grande avanço. Para estimular isso, quero deixar com todos alguns pensamentos e frases para reflexão. “O homem que não lê bons livros não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler” – Mark Twain. “Meus filhos terão computadores, sim. Mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever, inclusive a própria história”- Bill Gates. “De três coisas precisa o homem para ser feliz: bênção divina, livros e amigos”- Henri Lacordaire. Então, que Deus abençoe a todos nós, que trabalhamos pelo incentivo à P leitura no Brasil. Apontada pela Exame como a 23a empresa que mais cresce no país, destaca-se pelo atendimento diferenciado focado nas necessidades do mercado livreiro, grande variedade de serviços e alto nível de informatização. 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Em seguida, um novo levantamento, realizado nas duas últimas semanas de novembro de 2008, questionou se a meta seria atingida. O resultado foi um crescimento observado de 10,46%, incluindo o mês de dezembro. De acordo com o presidente da ANL, Vitor Tavares, o estudo teve como objetivo conhecer melhor os números do segmento livreiro, tendo como base as associadas da entidade. Com os dados em mãos, a ANL será capaz de dirigir suas ações para o aperfeiçoamento do setor. O presidente da entidade acredita que as diversas campanhas e políticas de difusão do livro no País, muitas delas por iniciativas governamentais, tem fundamental importância no crescimento do setor livreiro. Para 2009, a expectativa dos entrevistados é de um crescimento médio de 11,89%, em relação a 2008. Já a ANL acredita que esse número será inferior em função dos impactos da crise mundial, que ainda não havia sido detectada na época do estudo. Editores Snel prepara Bienal do Rio Principal acontecimento do mercado editorial brasileiro, a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro faz parte do calendário de grandes eventos da cidade há mais de 20 anos. Em sua última edição, realizada em 2007, foram vendidos 2,5 milhões de livros. Este ano, em sua 14ª edição, ela será realizada novamente no Riocentro, entre os dias de 10 e 20 de setembro. Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, responsável pelo evento, serão mais de 900 expositores. A expectativa de público supera o número de 600 mil visitantes. O objetivo do Snel é realizar, mais uma vez, uma grande festa, repleta de novidades, que possibilite o encontro entre leitores e aqueles que são os grandes protagonistas da bienal: os autores, escritores, poetas e pensadores. Didáticos Maior apreensão de livros do país Se depender do resultado da primeira grande apreensão do 2009, vão sobrar motivos para a campanha Comércio do Livro do Professor: Apague essa Ideia comemorar este ano. É que três sebos do Recife tornaram-se, em janeiro, palco da maior apreensão de livros do professor do país. Mais de cinco mil exemplares novos e usados foram levados por 12 policiais da Delegacia de Prevenção e Repressão à Pirataria. Criada há três anos pela Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), a campanha tenta combater o comércio ilegal das obras didáticas. As ações acontecem nas principais capitais. A venda dos livros do professor por atravessadores gera um prejuízo anual para as editoras do país estimado em R$ 40 milhões. 14 Panorama Dezembro 2008 Gráficas Setor ainda não sente crise A Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf) vai conseguir saber, em fevereiro, se houve ou não retração no consumo de cadernos e produtos editoriais, especificamente livros, devido à crise financeira internacional. Segundo o presidente da entidade, Alfried Plöger, os pagamentos desses serviços gráficos pelas papelarias, livrarias e distribuidores são realizados em fevereiro e março, após o início das vendas diretas, no período de volta às aulas (janeiro a março). Assim, explica, a cadeia depende do comportamento do consumidor final para saber se houve retração nas vendas de produtos escolares. Associações Instituto Pró Livro participa de estudo O Instituto Pró Livro está promovendo, ao lado de outras entidades do setor do livro e leitura, a pesquisa O Livro no Orçamento Familiar (LOF). O estudo vai atender uma antiga demanda do segmento livreiro e editorial: conhecer, de fato, o seu consumidor. A partir dos dados já coletados sobre a despesa familiar, os dados efetivos dos gastos com material de leitura (livros e de outros como jornais, revistas, fotocópias etc.) permitirão traçar o perfil do mercado consumidor, por nível de renda, escolaridade, local de compra e outras variáveis importantes. A pesquisa será finalizada neste primeiro trimestre. Editores Uma semana também para a literatura A União Brasileira de Escritores está comemorando a instituição do Dia Nacional da Leitura e da Semana Nacional da Leitura e da Literatura pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas as comemorações acontecem por um motivo em especial: a inclusão do segundo L na semana festiva. O presidente da Ube, Levi Bucalem Ferrrari, conta que desde a criação da antiga Câmara Setorial do Livro e da Leitura (CSLL) que a entidade tem insistido no acréscimo de Literatura, que foi incorporado, ficando CSLLL. A Ube acredita que esse pode ter sido um dos motes para o acréscimo da palavra literatura no nome da semana.A premiação acontecerá em dezembro. Letras Posse da nova diretoria da ABL Em sessão solene no Salão Nobre do Petit Trianon, em sua sede no Rio de Janeiro, a Academia Brasileira de Letras empossou a sua nova diretoria. O escritor e jornalista Cícero Sandroni foi reeleito, por unanimidade, para um segundo mandato como presidente da entidade. Logo depois de sua eleição, Sandroni anunciou que 2009 será o Ano Euclides da Cunha na ABL, em homenagem ao centenário de morte do autor de Os sertões, que morreu em 15 de agosto de 1909. O presidente também afirmou que a entidade pretende expandir as atividades literárias em 2009 por meio dos recursos tecnológicos, como a internet. Papel Lançado boletim do setor A Bracelpa publicou a primeira edição do boletim Conjuntura Bracelpa, nova publicação da Associação Brasileira de Celulose e Papel, que trará mensalmente os dados mais recentes sobre o desempenho do setor de celulose e papel do Brasil. O objetivo é oferecer insumos para acompanhamento do mercado de celulose e papel, facilitando a cobertura de temas do setor. Em sua primeira edição, o boletim trouxe uma radiografia do setor, informando os volumes de produção, vendas domésticas, exportações e importações de celulose e dos diversos tipos de papéis. O informativo ainda reúne dados sobre a balança comercial do setor. Regionais Bahia Câmara do Livro tem nova diretoria Eleita por unanimidade, a nova diretoria da Câmara Bahiana do Livro tomou posse em Salvador. Presidida por Carlos Vilarinho, a equipe está empenhada em vários projetos, com destaque para uma parceria com a Seg Livros Representações. O objetivo é dar mais visibilidade ao autor baiano, divulgando e comercializados livros dos escritores associados em todo o estado. Fundada há 50 anos, a CBaL congrega escritores, livreiros, distribuidores, gráficas, editoras e profissionais ligados à literatura. A entidade tem por finalidade fomentar o hábito da leitura e promover a cadeia do livro no estado. Amazonas Flifloresta promove debate sobre indígenas A Câmara Amazonense do Livro e Leitura foi uma das realizadoras do Simpósio Cultura e Natureza na Amazônia, que integrou a programação do primeiro Festival Literário Internacional da Floresta (Flifloresta). Com 400 inscritos, entre estudantes, professores, pesquisadores, escritores e outros intelectuais, o aconteceu no município de Presidente Figueiredo (AM), na Cachoeira da Onça, onde foi lida a Carta da Floresta. O documento, redigido pelos palestrantes e demais convidados do evento, expressa sentimentos, preocupações e compromissos em relação ao presente a ao futuro da Amazônia e das suas populações. Rio Grande do Sul Mais de 400 mil livros Segundo dados divulgados pela Câmara Rio-Grandense do Livro, foram vendidos, em toda a 54ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, no ano passado, 424.046 livros, 8% menos que em 2007. Durante os 17 dias do evento, que é o maior do setor realizado a céu aberto no continente americano, 829 obras foram lançadas. Desta vez, o tradicional cortejo de encerramento da feira foi diferente dos anos anteriores. Em vez das rosas vivas, coloridas e perfumadas, o público recebeu um marcador de páginas que convida para a 55ª edição da feira, que acontece este ano e já tem data marcada para começar: 30 de outubro. Ceará Voz para o Nordeste Um ciclo de debates sobre livro e leitura esquentou a 8ª edição da Bienal Internacional do Livro do Ceará. Dividida em cinco mesas, a programação foi focada especialmente na organização política do setor na região Nordeste. A opinião do Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado do Ceará (Sindilivros) é de que o autor local não entra nas listas de livros escolares e, por isso, toda a cadeia produtiva do livro é prejudicada. A presidente da entidade, Mileide Flores, acredita que as bibliotecas das regiões Norte e Nordeste não têm voz na escolha dos acervos. “É uma cultura homogeneizante”, diz. Rio de Janeiro Salão escolhe livros para escolas estaduais A Associação dos Representantes de Editoras do Estado do Rio de Janeiro apoiou, mais uma vez, a realização do Salão do Livro das Escolas Estaduais. No evento, que aconteceu no Centro de Convenções Sulamérica, no centro do Rio de Janeiro, durante três dias, representantes das 1.600 escolas dos 92 municípios fluminenses puderam escolher novos livros para as bibliotecas escolares. 160 editoras ocuparam 126 estandes no evento, que recebeu cerca de cinco mil pessoas por dia. As obram selecionados são adotados como material de apoio, uma vez que o material didático é fornecido pelo Governo Federal para todo o País. Dezembro 2008 Panorama 15 Ponto de Vista Ranking dos maiores revela pujança do porta a porta Mercado porta a porta surpreende e comemora o terceiro lugar entre os maiores canais de venda de livros no Brasil. Sem dúvida, a divulgação dos dados da pesquisa “Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, realizada pela FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, em acordo com a CBL – Câmara Brasileira do Livro e o SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros, revelou ao grande público uma faceta surpreendente do mercado livreiro. A venda porta a porta de livros, que para muitas pessoas que vivem nas grandes metrópoles evoca lembranças do passado, mostrou que está presente sim e gozando de muita saúde em nosso país. Sua participação, que em 2006 tinha sido de 5,43% em número de exemplares vendidos, saltou para 9,61% em 2007, ostentando uma variação de 91,37% em comparação ao mesmo período do ano passado. Ao dobrar sua participação, ele se tornou o terceiro maior canal de comercialização de livros do país. O primeiro continua sen16 Panorama Dezembro 2008 do as livrarias (47,69%), o segundo, as distribuidoras (21,58%) e os canais restantes respondem por 21,12% do total. Embora o número de leitores no Brasil continue acanhado quando comparado ao dos países desenvolvidos, o desempenho do porta a porta surpreende e, ao mesmo tempo, confirma a estratégia de compensar este cenário desfavorável com a busca pelo consumidor e pelo novo leitor. A criatividade é a principal ferramenta empregada por mais de 30.000 vendedores espalhados por todo o país para convencer consumidores, principalmente das classes C e D, a comprar livros, valendo-se de um atendimento diferenciado e personalizado capaz de tornar o livro um objeto de desejo. É uma vitória para o porta a porta manter-se tão bem e por tantos anos em um ambiente tão desfavorável e ainda conseguir expandir seus negócios. E quanto ao futuro? Não podemos ignorar os efeitos das turbulências atuais do mercado financeiro e as ondas de impacto que estão por vir, mas a expectativa para este ano ainda é de crescimento. Uma vantagem preciosa desse setor sobre a concorrência é que, além de estar capitalizado, ele financia seu negócio com recursos próprios. Dispondo de um exército de vendedores que diariamente vai ao encontro do cliente onde quer que ele esteja, ele é pró-ativo e não depende como os outros segmentos da visita oportuna do cliente em seus estabelecimentos físicos e/ou virtuais. Esta constatação reforça ainda mais as ações que estamos desenvolvendo para o futuro. Através da ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro, entidade que representa o setor porta a porta, apresentamos ao Ministério do Trabalho e Emprego um projeto para recrutar e qualificar inicialmente 2.000 vendedores de livros em todo o país. Batizado de PLANSEQ – Agente de Leitura (Plano Setorial de Qualificação), este é um convênio entre a ABDL e o FAT (Fundo de Assistência ao Trabalhador) que será financiado com os recursos orçamentários do exercício de 2009 e tem por objetivo oferecer às empresas associadas profissionais capacitados, atualizados, com visão estratégica e empreendedora que lhes possibilitem ampliar suas atuações no mercado. Além disso, visando abrir uma nova opção de crédito aos nossos clientes e minimizar a inadimplência, apresentamos neste ano um projeto para disponibilizar um cartão de crédito com forte apelo cultural que lhes será oferecido pelo vendedor. Este cartão, que já recebeu aprovação da bandeira VISA, é mais uma novidade entre tantas que estamos prospectando. O aumento do número de vendedores, a melhor qualificação destes profissionais, produtos diferenciados e de qualidade, controle da inadimplência em níveis aceitáveis e a manutenção do padrão de renda das classes C e D vão promover o crescimento desse segmento como um todo, inclusive pela adesão de novas empresas. O gestor moderno deve perceber este momento favorável e tentar acompanhar o mais rápido possível as mudanças nesse mercado tão promissor, pois à medida que o consumidor moderno se torna mais informado, ele tende a exigir formas de comercialização mais flexíveis, preços mais alinhados à sua realidade e a melhoria da qualidade dos produtos. A vista destas realidades, independentemente dos efeitos da crise externa, continuamos muito otimistas e esperamos que as vendas no porta a porta sigam o ritmo observado nos úlP timos anos. Luis Antonio Torelli, presidente da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL) mailto:torelli@trilhaeducacional. com.br Dezembro 2008 Panorama 17 Acontece Literatura para 1,5 milhão de alunos O Ministério da Educação vai publicar os dez textos vencedores do 2º Concurso Literatura para Todos e distribuí-los a 1,5 milhão de estudantes. Entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado, universidades da Rede de Formação de Alfabetização de Jovens e Adultos, presídios e núcleos de educação de jovens e adultos de instituições de educação superior vão receber as obras. O prêmio é promovido pelo MEC para estimular a produção literária destinada a jovens e adultos em processo de alfabetização. Fundo compra parte da Cultura Ibema vai investir no mercado editorial Continua debate sobre direito autoral Um robô para digitalizar livros Maysa nas livrarias Após três anos de negociação, a Livraria Cultura anunciou a venda de parte de suas ações à gestora de recursos Neo Investimentos. O controle acionário da empresa continua nas mãos do empresário Pedro Herz, que assumirá a presidência do recém-criado Conselho de Administração da Cultura. O objetivo é acelerar a expansão da rede, que tem oito lojas em cinco cidades e prepara-se para inaugurar mais uma em Brasília. Herz diz que há espaço para pelo menos mais 30 grandes lojas nas principais cidades do País. Terceira maior fabricante de papelcartão do Brasil, a Ibema, do Paraná, quer aumentar sua participação no segmento editorial e livreiro em 2009. Em 2008, quando o faturamento da empresa foi de R$ 210 milhões, 11% de sua produção foi destinada a produtos para o mercado Editorial e Promocional, que engloba livros. Este ano, a empresa, que possui duas unidades no Sul do País, quer aumentar a participação para 15%, ao menos. A idéia é apresentar a Ibema como uma nova alternativa para as editoras. Iniciado em dezembro de 2007, o Fórum Nacional de Direito Autoral, promovido pelo Ministério da Cultura, contou com encontros em 2008 e continuará em 2009. A proposta do MinC para modificar a atual legislação dos direitos autorais no Brasil tem mobilizado editores, escritores e outros profissionais do livro em um amplo debate. A mudança na lei ainda será submetida a uma consulta pública neste primeiro semestre, antes de seguir para o Congresso. Está prevista uma nova discussão para março, em Salvador. Para digitalizar as obras doadas por José Mindlin à biblioteca Brasiliana USP, cujo prédio é construído na Cidade Universitária, a Universidade de São Paulo (USP) acaba de adquirir um scanner robotizado. Segundo o professor István Jancsó, coordenador do projeto, esse é o primeiro equipamento do gênero no País, adquirido por R$ 1,5 milhão. O dinheiro foi conseguido com verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mindlin oficializou a doação de 30 mil volumes de sua biblioteca em 2006. Na esteira do sucesso da minissérie Maysa: Quando Fala o Coração, de Manoel Carlos, exibida pela Globo em janeiro, duas biografias sobre a cantora acabam de ser relançadas. Maysa (edição independente), de José Roberto Santos Neves, e Meu Mundo Caiu: A Bossa e a Fossa de Maysa, de Eduardo Logullo (Novo Século Editora), estão de volta às livrarias. Maysa: Só Numa Multidão de Amores, de Lira Neto (Editora Globo), que serviu como base de consulta para o programa, foi parar direto na lista dos mais vendidos. Santillana investe mais em apostilas ABL lança nova edição de dicionário Dona da editora de livros didáticos Moderna, a editora espanhola Santillana investirá R$ 8 milhões, entre 2009 e 2010, em seu sistema de ensino no Brasil, que engloba apostilas para alunos e serviços pedagógicos para escolas. Entre 2007 e 2008, o investimento do grupo foi de R$ 2 milhões. O setor de sistemas de ensino movimenta anualmente cerca de R$ 600 milhões, representando aproximadamente 30% do faturamento das publicações educacionais. A Santillana ainda detém as editoras Objetiva e Salamandra. A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou, pela Companhia Editora Nacional, a 2ª edição do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, executada pelo seu Setor de Lexicologia e Lexicografia. Com 56 correções, a nova edição, com 1.312 páginas e 33 mil verbetes, tem tiragem de 20 mil exemplares. A ABL também atualizou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), que será lançado em março pela Editora Global. Além de se enquadrar nas regras do acordo ortográfico, ele incorporará mais de 10 mil novos verbetes. 18 Panorama Dezembro 2008 Dezembro 2008 Panorama 19 Socialmente Responsável Fotos: Arqu O conhecimento ao alcance de todos Projeto Ecoteca proporciona cultura às comunidades a beira do rio Paranapanema “Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias”. Tão sabias palavras foram ditas por Mário Vargas Llosa, um dos maiores escritores de língua espanhola e reconhecido mundialmente, como romancista, jornalista, ensaista e político. E foi seguindo o mesmo conceito que a Duke Energy, empresa multinacional de comercialização, geração, distribuição e transmissão de eletricidade e transporte de gás, juntamente com a BEÏ Comunicação implantaram um projeto de responsabilidade social que leva leitura a vários municípios localizados ao longo do rio Paranapanema – SP. A Ecoteca é um projeto cujo principal objetivo é promover a leitura entre a população. Inspirada pela meta de “pensar globalmente e agir localmente” a Ecoteca conta com o apoio das diversas Secretarias Municipais da Educação e Prefeituras locais para realizar oficinas, cursos e eventos de valorização da leitura, nos municípios do vale. O mundo mágico dos livros é levado à população através de uma van, que percorre as cidades, instala-se em esFotos: Arquivo/Duke Energy 20 Panorama Dezembro 2008 paços públicos e oferece uma biblioteca de títulos variados como ficção e paradidáticos, destinados a adultos e crianças. Ao mesmo tempo em que promove rodas de leitura animadas por contadores de histórias que desenvolvem a arte da narrativa e da leitura compartilhada, capaz de despertar o interesse e o prazer de ler nos participantes. Outro objetivo do projeto é a formação de contadores de história locais, por meio de oficinas desenvolvidas para capacitar educadores e outros interessados a estimularem a leitura, não só junto à rede pública de ensino, mas também junto à comunidade onde estão inseridos. “Há oito anos desenvolvemos este trabalho. Já são mais de 15 mil pessoas atendidas. Para nós, é um orgulho poder contribuir com a educação de crianças das várias comunidades onde estamos presentes. É como se ampliássemos o nosso trabalho e a nossa família.”, afirma com entusiasmo a gerente geral de Relações Institucionais da Duke Energy Ana Amélia Conti. Nesses 8 anos de projeto a Ecoteca já visitou 77 municípios, percorrendo aproximadamente 45 mil Km ao longo do Paranapanema, onde entregou cerca de 1.800 livros para bibliotecas e escolas. Além da participação maciça das mais de 2.500 pessoas que participaram das oficinas entre educadores e membros da comunidade. Para a Duke Energy o estimulo a leitura é de fundamental importância porque permite o desenvolvimento das idéias e da fantasia existentes dentro de cada ser humano, assim não é ingênuo afirmar que viajamos por meio da leitura, que mergulhamos em universos inusitados e que, anteriormente à TV e ao avião, a literatura já diminuiu as distâncias do mundo. O exercício da leitura nos faz entender melhor os mecanismos que regem o mundo e que organizam o modo de vida das pessoas. A leitura deve se tornar um hábito na vida da população, não apenas para distrair ou soltar a imaginação. Na sociedade globalizada em que vivemos hoje, a leitura tem papel fundamental na vida atuante do individuo e para pertencermos de fato à sociedade em que vivemos é necessário que saibamos ler seus códigos, suas leis, sua regras, suas histórias. Por isso o projeto Ecoteca trabalha para a inserção social que se faz hoje, principalmente, por meio da leitura. “Vamos avaliar a continuidade das ações e o início de outras que possam contribuir para o enriquecimento da educação e da cultura de nossas cidaP des”, garante Ana Amélia. ivo/Duke En ergy Evento Pirapozinho: Monitora monta teatro de fantoches durante Ecoteca em Pirapozinho, São Paulo Evento Ribeirão Claro Monitora conta histórias para crianças durante Ecoteca em Ribeirão Claro, Paraná Segundo dados de 2008 o projeto atingiu 10 municípios da região do Paranapanema, entre os estados de São Paulo e Paraná. Bernardino de Campos – SP Carlópolis – PR Cerqueira César – SP Itaí – SP Jardim Olinda – PR Paranapoema – PR Pirapozinho – SP Ribeirão Claro – PR Sandovalina – SP Santana do Itararé – PR Evento Sandovalina Crianças lendo em praça de Sandovalina na tenda da Ecoteca Dezembro 2008 Panorama 21 Todo mundo lê Em 2008 o programa cultural Metrópolis completou 20 anos no ar. Lembrado por ser o único programa diário dedicado exclusivamente as diversas áreas da cultura e artes em geral, o Metrópolis sempre tem um espaço reservado também para o mundo dos livros, trazendo resenhas, dicas e informações sobre lançamentos e eventos ligados ao meio do livro e leitura. O programa é apresentado por Cunha Jr, Domingas Person e Paulo Vinícius e vai ao ar todos os dias às 21h30 na Tv Cultura. O livro da minha vida Erika Palomino (jornalista) Dica de leitura Washington Olivetto (publicitário) O que eu estou lendo Bob Wolfenson (fotógrafo) O Livro na Internet O site Verdes Trigos, no ar desde 1998, é um espaço conhecido e respeitado pelo público interessado por literatura. O principal objetivo do portal é apresentar ao leitor curioso os principais lançamentos do mundo editorial por meio de resenhas, textos, comentários, assim como a nossa produção literária. “O novo leitor não tem o hábito de frequentar livrarias ou bibliotecas. Ele se informa pelo Google. Portanto, fornecemos aos nossos visitantes os links para acessar o pensamento contemporâneo, a construção deste pensamento pósmoderno e digital, de forma crítica e ampla”, afirma o criador do site, Henrique Chagas. 22 Panorama Dezembro 2008 O livro no rádio O programa Letras & Leituras, comandado pela jornalista Mona Dorf na rádio Eldorado, já completa 2 anos no ar. Segundo a apresentadora, mesmo com um tempo limitado de 10 minutos na AM e um minuto na FM, o Letras & Leituras consegue alcançar os candidatos a leitores. ”Tenho tido muito retorno, as pessoas vem me dizer que leram o livro sobre o qual falamos na entrevista tal ou escrevem para o site pedindo o nome e o título”, afirma Dorf. Além disso, Dorf acredita que o rádio seja uma boa ferramenta de difusão do gosto pela leitura. “Hoje em dia perdemos muito tempo no trânsito, o rádio é companheiro nessas horas”, diz. O Letras & Leituras vai ao ar de segunda à sexta, às 11h45 durante o Panorama Eldorado. Também é possível conferir as entrevistas na íntegra no site www.letraseleituras.com.br. ação Fotos: Divulg O livro na TV Foto: Isabel D’Elia Foto: Fanca Cortez Outras Capa Mídias Grande Sertão: Veredas (João Guimarães Rosa) “Leio e releio constantemente, integralmente e em trechos. É uma aula de Brasil, de identidade brasileira e, principalmente, de literatura, linguagem, ritmo e pontuação. Minha maior escola de escrita e técnica literária. Terminei meu primeiro livro com ‘no nada’, frase que abre o livro. Coincidência: eu nasci no dia e ano em que João Guimarães Rosa morreu!” Dez! Nota Dez! Eu Sou Carlos Imperial (Denilson Monteiro) “Uma biografia literalmente da pesada, escrita por um jovem e talentoso jornalista. Imperial foi uma figuraça que influiu na carreira de nomes como Roberto Carlos, Tim Maia e Elis Regina. Um livraço. Divertido e dramático. Não deixem de ler.” D. Pedro I: Um Herói Sem Nenhum Caráter (Isabel Lustosa) “Eu adoro história do Brasil e ler esse livro é bom porque a gente se acostuma a só aprender sobre o tema quando está estudando, depois não vê nada mais a respeito. Nunca aprendi tanto sobre história quanto com essa leitura.” Foto: Karlis Smits Boa Idéia O incentivo que faltava Projeto idealizado por jovem de favela carioca vem disseminado o gosto pela leitura entre comunidades carentes do Rio de Janeiro Transformar a vida das pessoas de sua comunidade através do lúdico mundo da leitura. Esse foi o principal objetivo de um jovem, nascido e criado no subúrbio do Rio de Janeiro, filho de uma dona de casa e um pedreiro. Desde 2003, Otávio César Santiago de Souza Junior, com muita determinação, vem mudando a realidade de comunidades carentes através do Projeto Ler é 10 – leia favela, que tem como objetivo promover o hábito da leitura em comunidades carentes e conflituosas. “Queremos, acima de tudo, democratizar a leitura e dar acesso a livros às crianças de comunidades de baixa renda”, esclarece. Otávio despertou para os livros quando, aos 9 anos, encontrou um livro no meio do lixo. Mais tarde, decidiu compartilhar o mundo que descobriu. Cansado de ver as crianças de sua comunidade ociosas e sem contato 24 Panorama Dezembro 2008 com o livro, o jovem decidiu criar um projeto de incentivo a leitura. Com os poucos exemplares de seu acervo pessoal e com idéias obtidas em cursos de promoção de leitura, escrita e participação em seminários e férias de livros, o projeto começava a caminhar. “Quando criança, descobri o prazer pela leitura por acaso, depois que encontrei um livro no lixo e não desejo que crianças de comunidades de baixa renda descubram a leitura como eu descobri”, explica. Para Otávio, ver o projeto, que teve inicio em 2003, em andamento é a realização de um sonho. O sonho de ver as crianças do bairro onde cresceu e outras comunidades lendo e apreciando literatura. Em menos de dois anos e meio o número de crianças atendidas passou de 2500 para 5000. Atualmente o projeto já atende as comunidades de Vila Cruzeiro, Grota, Fazendinha, Caracol, além de apoiar ONGs, associações de moradores que já atuam na comunidade, com atividades lúdicas e educativas para a promoção da leitura. E através de muito trabalho e dedicação Otávio conseguiu realizar um sonho antigo de inaugurar o primeiro espaço de leitura na comunidade que fica no Parque Proletário da Penha a 200 metros da Vila Cruzeiro. Dentro do projeto, as comunidades têm acesso a atividades como o “Lanchinho literário”, “Cinema literário” onde são apresentados filmes adaptados de livros literários, “Maratona de leitura”, “Pombo-Correio literário” e as oficinas de produção de livretos. Apesar dos históricos de violência dos subúrbios cariocas, Otávio afirma que o projeto foi aceito muito bem dentro das comunidades. “As pessoas enxergam as comunidades cariocas como antros violentos, mas não sofre- mos retaliação alguma por parte do crime organizado. Eles não impedem o nosso trabalho, pois nossa meta é a inserção da cultura e educação. A receptividade sempre foi muito boa”, garante. Segundo Otávio o que falta para aumentar o interesse pela leitura é o incentivo. “Falta investimento de políticas públicas e privadas para a democratização e acesso ao livro. Há várias questões que afastam o brasileiro do livro, como o alto preço, a falta de hábito, o avanço de novas tecnologias. Mas tenho esperanças que esse quadro seja revertido em um curto espaço de tempo”, afirma. Aos 24 anos Otávio César já é autor de duas obras infanto-juvenis, publicadas de maneira independente, além de autor, contador de histórias, produtor executivo teatral e atua no entretenimento infantil há dez anos. Dezembro 2008 Panorama 25 Capa Charles Kiefer, escritor e patrono da 54ª Bienal de Porto Alegre – “A Bienal do Livro é um dos fatores que fazem do Rio Grande do Sul o Estado brasileiro de maior consumo per capita de livros do Brasil: 5,6 livros por habitante por ano”. As feiras ganham o país De março a novembro, o mercado editorial movimenta milhões de reais e de livros nas feiras e bienais, e já fazem parte do calendário cultural das metrópolis às pequenas cidades de norte a sul do país 26 Panorama Dezembro 2008 Fascinada pela leitura, o sonho da curitibana Aline Cristina de Souza, era um dia poder conhecer uma Bienal. Aos 19 anos, concretizou este sonho. Durante a viagem a Porto Alegre lembrava-se das reportagens onde o mundo da leitura desvendava em cada linha que descrevia o evento. Ao chegar na 54ª Bienal, deparou-se, com obras de escritores que não conhecia, folheou, comprou lançamentos e apreciou obras de seu escritor preferido, José Saramago. Aline voltou para casa com oito livros na bagagem e uma sensação de que faltou algo no evento. “Fui com a impressão de ser um evento cultural mais voltado para contagiar o gosto pela leitura, com palestras, exposições, enfim, um lado mais estudioso. Embora tenha adquirido vários livros por preços excelentes, senti falta de um enfoque mais do que é o mundo da literatura”, analisa. As impressões de quem visita as feiras são inúmeras, fascínio, encanto, críticas, descoberta. Em Porto Alegre, cenário da jovem leitora, a Bienal é visitada por mais de um milhão de pessoas e uma das maiores a céu aberto do mundo e a mais antiga no Brasil. Em 1955, o jornalista e diretor do extinto Diário de Notícias, Say Marques, viajou ao Rio de Janeiro para visitar na Cinelândia, bairro carioca, onde existia o comércio de livros em 40 barracas ao ar livre. Ao voltar para Porto Alegre, adaptou o que tinha visto e criou então uma feira de livros onde o objetivo seria aumentar as vendas dos livros. Com 20% de desconto, foram comercializados em 14 dias, 35.813 exemplares. Com o tempo e experiência, o evento foi sendo lapidado e hoje, a capital gaúcha em sua 54ª edição, contou com 167 expositores livreiros e a venda 600 mil livros. Patrono nesta edição, Charles Kiefer, 50 anos, autor de clássicos da literatura infanto-juvenil como; Caminhando na Chuva, O Pêndulo do relógio, Um outro olhar, Antologia Pessoal, Você Viu Meu Pai por aí?, recebeu por três vezes o prêmio Jabuti pela Câmara Brasileira do Livro, acredita que a Bienal de Porto Alegre cumpre seu papel de difundir e estimular a leitura, contrariando as impressões da jovem estudante Aline. “A Bienal do Livro é um dos fatores que fazem do Rio Grande do Sul o Estado brasileiro de maior consumo per capita de livros do Brasil: 5,6 livros por habitante/ano”. Para o escritor, o evento representa um espaço de prazer e conhecimento, “uma festa da cultura. Um momento ímpar, nesta que é a maior feira aberta em torno do livro da América Latina. O evento, em minha opinião é divulgação, venda, troca de idéias, tudo isso e muito mais, já que em Porto Alegre são realizadas mais de 1.500 atividades culturais como Simpósios, Seminários, Encontros, Maratonas de Literatura, Oficinas etc.” O presidente da ANL – Associação Nacional de Livraria, Vitor Tavares, afirma que as feiras de livros sempre são um bom momento para o mercado livreiro, principalmente para a região onde ela se realiza, especialmente se ela for bem planejada tanto por parte dos organizadores como dos expositores. A realização de eventos paralelos com a presença de autores, livreiros, editores e bibliotecários e, ainda, uma boa divulgação na mídia com o envolvimento de toda a comunidade são fundamentais para este sucesso. “É importante destacar que mesmo que as vendas, durante o evento, não sejam a esperada, números apontam que num período pós-feira — que pode variar entre 30 e 60 dias — o segmento de livros apresenta, naquela região onde ela aconteceu, um crescimento em suas vendas. Indiscutivelmente, isso deixa bem claro que um dos principais objetivos de uma feira de livros é o de difundir e democratizar o acesso ao livro e, principalmente, formar novos e fieis leitores”, afirma Tavares. Democratizar a leitura Num movimento sem precedentes na história nacional, nesta década as feiras se proliferam com incrível rapidez também nas médias e em pequenas cidades do interior, como é o caso da cidade de Picada Café, interior do Rio Grande do Sul. Com uma população de apenas 5000 habitantes, a 8ª Feira do Livro, em 2008, vendeu 15 mil exem- A curitibana Aline Cristina de Souza visitou a 54ª Bienal de Porto Alegre e voltou com 8 livros na bagagem. Dezembro 2008 Panorama 27 Capa Picada do Café, interior do Rio Grande do Sul. Com uma população de apenas 5000 habitantes, a 8ª Feira do Livro vendeu 15 mil exemplares. plares segundo os organizadores. Em todas as feiras de livros, o discurso é o mesmo: O objetivo de cada uma, ou de todas, é consolidar-se como o maior evento literário da região, estado ou país, popularizar o livro e democratizar a leitura, pois como é de conhecimento público, o Brasil não é país de tradição de leitura. Na região sudeste, a média de livros lidos por ano é de 4.9. Uma das cidades que compõem esta região, Rio de Janeiro, recebe uma das maiores bienais nacionais, a Bienal Internacional, que recebeu na sua XVIII edição em 2007, mais de 540 mil pessoas. Entre elas, Kika Carrera, 25 anos, atriz, esteve não só na última Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro, que acontece em anos ímpaKika Carrera, a carioca freqüenta a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro desde a infância. 28 Panorama Dezembro 2008 res, como também nas edições anteriores. “Vou à Bienal desde criança, com a escola, agora vou sozinha. Prefiro. Assim, chego à hora que quero e vou embora só quando termino de visitar os stands que me interessam”. Na última edição, Kika comprou mais de 10 livros, que somou no faturamento do evento que girou em torno de R$ 43 milhões, mais que o dobro dos R$ 20 milhões investidos no evento, segundo a organização. O que mais chamou a atenção da leitora foi o romance de Fadia Faqir. “Meu Nome é Salma é fantástico, adorei. Outro que adorei foi Comer, Rezar e Amar, da autora americana Elizabeth Gilbert. Comprei diversos livros sobre assuntos que me interessam. Teatro, poesia, romance e, claro, não poderia faltar de auto-ajuda”. Ela conta que pode ter acesso à quase todo material das editoras, e o preço dos livros é bem acessível. “Pra mim, o evento é uma ótima oportunidade de interação entre nós leitores e as editoras”. Embora satisfeita, faz uma crítica em relação à localidade do evento.“A Bienal fica distante do centro da cidade. Além de ser longe, o estacionamento é um absurdo! Os R$ 10,00 que desembolso poderiam ser gastos em livros”. A I Bienal do Livro do Rio de Janeiro aconteceu em 1983 nos salões do Copacabana Palace numa área de um mil m², porém com a necessidade de ampliar este espaço, em 1987, o evento mudou-se para o Riocentro, e aumentou área para 15 mil m² pelo fato de ser o acontecimento editorial mais importante do país. Mas a distância não é empecilho para uma leitora assídua como Kika, que descreve o prazer de ler como “poder compor a minha própria história dentro do que me é emprestado, quebrar barreiras, não ter idade, preconceito, nem religião”. Tradição européia Para o publicitário Miguel Zimmermann Martins, 24 anos, ler é uma forma de aprender por si mesmo, dependendo apenas da vontade de quem quer instruir-se “ler é brincar com a imaginação, aprender a interpretar as palavras de um autor e trazer esse conteúdo para o seu dia a dia. Isso faz com que tarefas de interpretação do cotidiano fiquem mais simples, devida a prática que se adquire com a leitura”. A 20ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, visitada por aproximadamente 728 mil pessoas, entre alunos das redes públicas e privadas e visitantes, deixou em Miguel a impressão de que o tempo do evento é relativamente curto. “A Bienal me mostrou de forma acessível tudo o que está acontecendo no mercado literário, mas fica complicado acompanhar todos os lançamentos devido o curto espaço de tempo”, lamenta. A média de livros lidos pelo publicitário é de um a dois por mês sobre assuntos específicos de caráter técnico, como fotografia, linguagem e comuni- cação e biografias. “Apesar de parecer fútil, como publicitário, fiquei impressionado com a trajetória de vida do Roberto Justus em Construindo uma vidaTrajetória profissional, negócios e O Aprendiz . Quem vê ele hoje, na posição que ocupa, não faz idéia do caminho que ele teve de percorrer. Outro livro que gostei bastante foi O Vendedor de Sonhos do Augusto Cury. A Bienal de São Paulo mostrou pra mim que por mais que eu aprenda, busque e conheça determinados assuntos, sempre vai haver mais algo a aprender. O conhecimento não tem limites. É preciso estar preparado para nunca deixar de aprender”, diz Miguel. A Bienal de São Paulo teve um início tímido até chegar ao sucesso de hoje. A então 1ª Feira Popular do Livro realizada em São Paulo, capital, aconteceu pela primeira vez em 1951 na Praça da República com objetivo de introduzir no Brasil a tradição das feiras de livros européias. Em 1956, foi realizada no Viaduto do Chá devido ao número de pessoas que por ali passavam e em 1961 promoveu-se a 1ª Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas, em parceria com o Museu de Arte de São Paulo. Esses eventos serviram como projeto para que em 1970 a CBL trouxesse com exclusividade a 1ª Bienal do Livro Internacional. Abdala Jamil Abdala, 61 anos, presidente da Francal Feiras afirma que a Bienal do Livro de São Paulo é o maior evento cultural da América Latina “ao reunir as principais editoras do País - e estrangeiras - num único espaço e promover uma série de atividades culturais paralelas, aproxima pessoas e livros e, com isto, dá uma importante contribuição para o desenvolvimento da cultura nacional. Por ser um evento de grande contribuição ao incentivo à leitura, conta com o apoio da Prefeitura da Cidade de São Paulo (Anhembi), do Ministério da Cultura e também patrocinadores que colaboraram de sobremaneira na realização dos eventos paralelos que ocorreram na feira: Volkswagen, Ipiranga, HSBC, Submarino e Visa. Esta última edição foi realizada com grande sucesso”. Incentivo à leitura Se as feiras e bienais de livros realmente conseguem atingir o leitor, ainda não existem estatísticas para medir esse resultado, a não ser pelo número de exemplares vendidos, o que não se aplica à população de baixa renda. Mas as administrações públicas tentam se aproximar das camadas sociais mais simples por meio do cheque livro ou vale livro, liberando verbas para as secretarias de educação comprarem livros didáticos e paradidáticos e, assim, enriquecer as bibliotecas escolares com mais títulos, o que possibilita maior acesso dos alunos à leitura. É o caso de muitas cidades, como Caxias do Sul, que, em 2007, na 23ª edição da feira, recebeu 210 mil visitantes e comercializou 52 mil obras, 15% a mais que no ano anterior. Em parceria com o poder público, a feira criou o projeto Passaporte da Leitura, que beneficiou 30 escolas públicas com 30 livros cada uma. Em Tocantins, o governo do estado também se encarrega de enviar recursos para que o livro chegue onde o povo está. Cada professor de rede pública recebe R$150,00 para compras pessoais de livros na feira e, este ano, o presente foi estendido aos vigias, serventes e merendeiras das escolas: cada um recebeu R$ 40,00. “O objetivo é que todos leiam mais”, diz a secretária de Educação e Cultura de Tocantins, Maria Auxiliadora Seabra Rezende, convicta de que o salão de livros cumpre seu papel de difundir a leitura, além de ser economicamente viável; “O mercado editorial responde bem ao comprar espaço e aumentar o número de expositores a cada ano”. Convidado freqüente de diversas Feiras do Livro e Bienais Romaric Sulger Büel, francês, veio ao Brasil como adido cultural e abandonou a carreira diplomática para garantir sua moradia no país. Montou uma produtora cultural no Rio de Janeiro, e hoje, além de produtor é autor dos livros O Lírio e a Quimera –Mademoiselle de Miry e Do Leito da Minha Mãe. Ele diz que as Feiras espalhadas no país estimulam a leitura e fazem novos leitores. “ Ggeralmente, as secretarias de educação e os organizadores de feiras têm uma relação forte entre eles”, opina. Para ele, as feiras promovem além de integração entre leitor e escritor, incentivo para um país com um alto índice de não-leitores. “A Feira do Livro de Porto Alegre é um dos eventos mais importantes da vida cultural do Sul do país. A de Ribeirão Preto transforma a cidade, porque o evento é pretexto para palestras, debates, concertos. Sempre pensei que a Bienal do Rio era longe demais do Centro, o que me deixa também longe dela, mas não há dúvidas, de que as Feiras de Livros são para o Brasil, país pouco “leitor”, um instrumento indispensável de incentivo e divulgação, além de ser momentos importantes para os autores descobrirem cidades novas e leitores já conhecidos ou a conhecer”, analisa. Já João Scortecci, do Grupo Editorial Scortecci, tem outra visão: “Não gosto de ver aquele bando de crianças correndo pelos corredores. É o lado ruim de uma bienal. Nós precisamos repensar tudo. Repensar significa apoiar e olhar o futuro”, avalia. Quanto a ser um bom negócio para o livreiro, diz: “Sou livreiro de pequeno porte. Algumas redes participam, outras não. Cada um justifica do jeito que lhe parece melhor. Dinheiro, garanto que não dá. O leitor não compra livro porque é vantajoso. Compra Abdala Jamil Abdala – “A 20ª Bienal de São Paulo foi realizada com grande sucesso”. Dezembro 2008 Panorama 29 CALENDÁRIO DAS FEIRAS Capa (Fonte: Snel – Sindicato Nacional dos Editores de Livro) “As feiras são um bom momento para o mercado livreiro” porque gosta e quer ler. Um desconto e uma promoção são “ameixas” na empada. Sair com a sacola cheia é o máximo. Gostaria que todas as pessoas deste Brasil pudessem comprar muitos livros. Pena que apenas uma pequena parte pode fazê-lo. Para quem não pode, deveriam existir mais bibliotecas”, critica De acordo com o Ministério da Cultura, quase 90% dos municípios brasileiros têm pelo menos uma biblioteca, porém, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, revelou que apenas dos 66% dos entrevistados conhecem esta informação e apenas 10% freqüentam o espaço. ( ver matéria Comportamento Leitor) Em São José do Rio Preto, interior de São Paulo, existe uma biblioteca central e quatro ramais, localizados em bairros da cidade, “Além de uma biblioteca móvel que percorre 15 bairros da cidade. Temos também, grandes livrarias como a Saraiva e a Nobel, além de outras menores de proprietários rio-pretenses. Não falta estímulo para leitura na cidade, a prefeitura mesmo inves- tiu na bienal deste ano cerca de R$ 600 mil”, diz o coordenador geral da 2ª Bienal do Livro de São José do Rio Preto e assessor de gabinete na secretaria de Cultura da cidade, Deodoro Moreira. Ele alega que o principal objetivo do setor é despertar o gosto pela leitura tanto em crianças como em adultos. “A prefeitura por meio da Secretaria Municipal da Educação investiu R$ 140 mil na distribuição de cheques-livros. A Secretaria de Educação repassou cerca de R$ 2 mil para cada uma das escolas municipais. Os livros adquiridos foram para o acervo das bibliotecas das escolas”, diz. Discutir qual a mais importante, mais relevante, parece algo sem sentido, ao que parece, pela programação que contêm, pelo empenho dos organizadores, cada feira cumpre o mesmo papel, não importa o tamanho do evento. É proporcional. Só no Brasil, existem mais de vinte eventos literários entre feiras e bienais segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, SNEL, mas parece que tanto incentivo à leitura ainda é pouco para um país com um índice de 70 milhões de não-leitores. Bienal de Porto Alegre incentiva cidades do interior do RS O número de feiras no Rio Grande do Sul cresce a cada ano. Segundo a coordenadora da área infanto-juvenil e membro da comissão executiva da Câmara Riograndense do Livro, Sônia Maria Zanchetti, um pouco mais 200 cidades do estado realizam feiras de livros todos os anos. “ Surgiram em função da Feira de Porto Alegre e todas elas têm o apoio da Câmara Riograndense”, afirma. Para ela, a comunicação entre os organizadores e as secretarias de cultura e de educação dos municípios é muito importante para a troca de idéias e orientação sobre que autores convidar. E isso acontece constantemente. Todos anos, a Câmara envia editais a 496 municípios pedindo as datas dos eventos e, a cada ano, aumenta o número de adesão às feiras. Algumas cidades têm outros bons programas ligados aos livros além da feira. Em Bento Gonçalves, a prefeitura realiza um programa de leitura para 30 Panorama Dezembro 2008 alunos das escolas municipais, estaduais e particulares. Sônia cita ainda programas em Caxias do Sul e São Leopoldo, uma zona de imigrantes italianos, cujo organizador das feiras, Jari Rocha, levou a experiência de oito anos na Secretaria de Educação e Cultura de Morro Reuter, cidade a 60 km ao norte de Porto Alegre, com 5.500 habitantes, que ostenta A pequena cidade gaúcha, colonizada por alemães, ostenta em frente à prefeitura o Obelisco de Livros, criação do artista Gustavo Nakle, erguido para registrar o trabalho do município em relação à leitura, a paixão de seus moradores pelos livros. O monumento tem 11 metros de altura é representado por uma pilha de 72 livros. A feira do livro de Morro Reuter já está na 14ª edição. Mas, não somente as feiras do Rio Grande contribuem para o crescente número de leitores no estado. Sônia cita como um fenômeno, a iniciativa da Santa Casa de Porto Alegre, onde circulam 33 mil pessoas por dia, com a criação de uma biblioteca e a realização de uma feira de livros por ano. ABRIL SETEMBRO 1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás Dias: 2 a 6 de abril Local: Centro de Convenções de Goiânia Organização: CYA eventos Tel.: (62) 3941 8307 Inf.: www.salaodolivrogoias.com.br XII Feira Pan-Amazônica do Livro Dias: 19 a 28 de setembro Local: Hangar - Centro de Eventos da Amazônia Organização: RPS Eventos Tel.: (11) 3333-7878 Inf.: www.rpsfeiras.com.br III Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas Dias: 2 a 6 de abril Local: Palace Cassino Organização: GSC Eventos Tel.: (35) 3713 9901 Inf.: www.feiradolivropocosdecaldas.com.br MAIO 4º Salão Internacional do Livro de Tocantins Dias: 9 a 18 de maio Local: Centro de Eventos de Palmas Organização: RPS Eventos Tel.: (11) 3333-7878 Inf.: www.rpsfeiras.com.br 10º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens Dias: 21 a 28 de maio Local: Museu de Arte Moderna - RJ Organização: Fundação Nacional de Literatura Infantil e Juvenil Inf.: www.fnlij.org.br 3ª Bienal do Livro de São José do Rio Preto Dias: 9 a 18 de maio Local: Praça Cívica - Av. Philadelpho Gouveia Netto Horário: 10h00 às 21h00 Organização: MTS eventos Inf.: www.mtseventos.com.br II Encontro Nacional de Leitura e Literatura Infanto-Juvenil da UESB Dias: 1º a 4 de maio Local: Campus de Jequié da UESB Organização: Centro de Estudos da Leitura da Universidade Estadual da Bahia Inf.: http://www.celeitura.com.br/enllij/ apresentacao.php Bienal do Livro de Minas Gerais Dias: 15 a 25 de maio Local: Expominas Organização: Câmara Mineira do Livro Tel.: (31) 32413325 Inf.: www.binaldolivrominas.com.br ou [email protected] As feiras têm apoio e orientação da Câmara Riograndense 2° Salão do Livro Sul Mineiro Dias: 7 a 10 de Maio Local: Clube Literário Recreativo (Pouso Alegre, MG) Organização: Visual Áudio Eventos Tel.: (35) 3422 7600 Inf.: [email protected] VII Feira de Rua do Livro e I Feira do Livro de Florianópolis Dias: 30 de abril a 10 de maio Local: Largo da Alfândega (Centro Histórico) Organização: Câmara Catarinense do Livro Inf.: (48) 3224-5135 JUNHO 8º Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto Dias: 6 a 15 de junho Local: Praça 15 Organização: Fundação Feira do Livro de Ribeirão Preto e VS Futura Eventos Tel.: (16) 3911-1050 e (16) 3623-9399 Inf.: www.vsfutura.com.br e www.feiradolivroribeirao.com.br 5ª Bienal do Livro de Campos Goytacazes Dias: 31 de maio a 8 de junho Local: Fundação Rural de Campos Organização: Fundação Cultural e Associação dos Representantes de Editores do Estado do Rio de Janeiro 6ª Feira Literária Internacional de Paraty Dias: 2 a 6 de julho Local: Cidade de Paraty, RJ Organização: Associação Casa Azul Tel.: (24) 33717082 ou (11) 38850177 Inf.: www.flip.org.br AGOSTO 3ª Feira do Livro Cultural de Taquara Dias: 06 a 09 de agosto Local: Praça Central Organização: Prefeitura Municipal de Taquara (RS) Inf.: www.taquara.zipstudio.com.br 20ª Bienal do Livro de São Paulo Dias: 14 a 24 de agosto Local: Anhembi Organização: Câmara Brasileira do Livro e Francal Feiras Tel.: (11) 6263100 Inf.: www.cbl.org.br Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu Dias: 5 a 10 de agosto Organização: Promoção da Prefeitura de foz de Iguaçu e realização do Instituto da educação e do Livro Inf.: feiradolivro@institutofeiradolivro. com.br Feira do Livro de Brasília Dias: 29 de agosto a 7 de setembro Local: a definir Organização: Câmara do Livro do Distrito Federal Tel.: (61) 33446821 Inf.: www.camaradolivrodf.org.br OUTUBRO 3º Salão do Livro de Ipatinga Dias: 31 de setembro a 5 de outubro Local: Centro Cultural Usiminas Organização: Nascentes Comunicação Estratégica e Paralelo 3 Tel.: (31) 3261 7517 / (31) 3261 3389 Feira do Livro da Baixada Santista (em paralelo com o Salão de Educação e o Conecta Inteligência - Congresso de EnsinoAprendizagem) Dias: 8 a 12 de outubro, das 14 às 22hs Local: Mendes Convention Center Tel: (13) 3261-3131 Inf.: www.fenalba.com.br 2ª Salão do Livro de São Luís Dias: 9 a 19 de outubro Organização: RPS Feiras Tel.: (11) 3333-7878 Inf.: [email protected] ou www.rpsfeiras.com.br NOVEMBRO 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará Dias: 13 a 21 de novembro Local: Centro de Convenções do Ceará Organização: RPS Feiras Tel.: (11) 3333-7878 Inf.: [email protected] ou www. rpsfeiras.com.br Feira do Livro de Curitiba Dias: 4 a 16 de novembro Local: Praça General Osório Organização: Instituto da Educação e do Livro Tel.: (47) 3422-1133 Inf.: [email protected] 54ª Feira do Livro de Porto Alegre Dias: 31 de outubro a 16 de novembro Local: Praça da Alfândega Organização: Câmara Rio-Grandense do Livro Tel.: (51) 32255096 P Inf.: www.feiradolivro-poa.com.br Dezembro 2008 Panorama 31 Foto: Ubirajara Machado Políticas Públicas Navegando pela leitura Programa Arca das Letras leva o mundo dos livros para a população rural e já ultrapassa as fronteiras do país Assim como na passagem Bíblica, quando Noé construiu uma Arca para salvar a população da época, tanto animal quanto humana de um dilúvio que durou 40 dias e 40 noites, um projeto desenvolvido pela Secretaria de Reordenamento Agrário do Ministério do Desenvolvimento Agrário vem trazendo esperança de dias melhores para famílias das zonas rurais do país. O Programa de Bibliotecas Rurais ARCA DAS LETRAS foi criado em 2003 para incentivar a leitura e facilitar o acesso aos livros em assentamentos, comunidades de agricultura familiar e de remanescentes de quilombos. Cada biblioteca possui cerca de 200 títulos obtidos por doação, entre literatura infantil, literatura para jovens e adultos, livros didáticos, de pesquisa e técnicos -cidadania, saúde, agricultu32 Panorama Dezembro 2008 ra- incluindo assuntos de interesse das populações rurais e suas necessidades. Segundo a coordenadora nacional do programa Cleide Cristina Soares, os resultados positivos podem ser conferidos em relação ao desenvolvimento comunitário, já que parte do acervo é destinada a livros que fazem parte da realidade rural, como publicações sobre agricultura, por exemplo. “O que podemos destacar também é a diminuição da evasão escolar depois da chegada dos livros às comunidades”, destaca. Instalada na casa de um morador ou na sede de uma associação rural é a própria comunidade que escolhe os assuntos que formam os acervos, o local onde a biblioteca será instalada e indica os moradores que serão capacitados como Agentes de Leitura, voluntários que são responsáveis pela organização do programa e pelo incentivo à leitura na comunidade. E de acordo com a coordenadora, os ótimos resultados obtidos desde a implantação em 2003, se dá pelo envolvimento da comunidade no projeto. “Eles participam ativamente do planejamento das bibliotecas, dão sugestões e isso proporciona uma aproximação maior dela com os livros”, afirma. Através de um trabalho bem artesanal a biblioteca é organizada em um móvel de madeira fabricado em marcenarias de penitenciárias por trabalhadores sentenciados, que recebem bolsas de trabalho e redução de suas penas. São confeccionadas também na Fundação Pão dos Pobres no Rio Grande do Sul, no Centro de Profissionalização Integrado do Piauí - Secretária de Estado da Educação e em alguns municípios por iniciativa das Prefeituras. Em todo o Brasil, o Arca das Letras, já implantou mais de 5.800 bibliotecas rurais em mais de 1,7 mil municípios brasileiros. Até o momento, mais de 1,2 milhões de livros foram distribuídos, beneficiando cerca de 700 mil famílias do campo. O trabalho de atendimento oferecido nas bibliotecas é feito por 12 mil agentes de leitura, que contribuem para melhorar os índices educacionais de suas comunidades, além de apoiar o trabalho e valorizar a cultura no meio rural. O programa já ultrapassou fronteiras implantando três Bibliotecas Arca das Letras em Díli noTimor Leste e na capital cubana Havana, como cooperação solidária. Para Cleide, apresentar o mundo da leitura para as crianças e fazer com que ela se interesse não é a tarefa difícil. “Nosso maior desafio é incentivar a leitura entre os jovens e adultos, por isso apresentamos primeiro publicações que tenham a ver com a realidade daquelas pessoas, assim estamos conseguindo atingir nossas metas e a leitura acaba se tornando um hábito na vida dessas pessoas”, conclui. Depois de implantadas na comunidade, as mais de 5.800 bibliotecas do programa Arca das Letras são visitadas pela equipe do programa na intenção de acompanhar o seu desenvolvimento junto a comunidade. “Pelas nossas contas nós entregamos cerca de três bibliotecas por dia, desde 2003. Depois de implantado o programa, voltamos a comunidade para acompanhar o trabalho e os resultados dele. Cada encontro dura em média 2 dias, quando discutimos os avanços e as sugestões de toda comunidade participante. No meio rural o livro chega e é lido”, garante Cleide. A Arca da Letras conta com o apoio do Projeto Banco do Brasil/Fome Zero, Banco do Nordeste, MME Luz para todos e por meio dos Centros Culturais Banco do Brasil (DF/SP/RJ), Missão Criança, “A maior importância do projeto para mim é auxiliar a comunidade na qual eu resido, atendendo principalmente o estudante, que vem para cá depois da aula para fazer pesquisas e receber ajudar nos deveres de casa”, ressalta. A atitude altruísta do jovem Agente, que disponibiliza parte do seu tempo as necessidades de sua comunidade tem proporcionado a ele um melhor convívio social. “Além de ajudar pessoas aqui eu consegui aumentar meu circulo de amizades e isso é muito gratificante”, confirma. Outra apaixonada pela Arca das Letras é a professora Simone Regina Del Belo Rodrigues, Agente da comunidade Aparecida do Bonito em Santa Rita D’oeste, São Paulo. Antes do Os capitães da Arca programa ela já realizava um trabalho voltado para a leitura, mas com a cheO sucesso do programa não segada da Arca as coisas mudaram. “O ria possível sem a preciosa ajuda dos programa Arca das Letras chegou aqui Agentes de Leitura, que voluntariaem maio de 2008 e veio somar com o mente dão o apoio necessário as cotrabalho que eu já realizava na minha munidades beneficiadas pela Arca. São comunidade, deu uma injeção de âniaproximadamente 12 mil em todo Bramo”, garante. sil e o jovem de apenas 24 anos, Welton Para ela a importância do projeto Pinote Rozetta é um deles. Atuante no vem diretamente ao encontro das neprograma desde 2007 na comunidade cessidades da comunidade rural. “Essa de São João da Barra Seca em Colatina é uma população carente de informaEspírito Santo, ele garante que ajudar a ção, que necessita de conhecimento comunidade onde vive é fundamental. para poder gerar renda no loFoto: Regina Santos cal onde eles residem. Por isso adorei o projeto, porque ele vem ao encontro de nossas necessidades. Mas Simone sabe que o trabalho nem sempre é fácil e aceito prontamente, é por isso que ela trabalha constantemente para tornar o programa cada vez mais atrativo. “Eu sempre falo que não basta ler livros a gente tem que montar estratégias, essa é a parte mais difícil para que a população se interesse pela leitura. Diante dessas necessidades eu desenvolvo várias atividades para que a biblioteca seja visitada. Hoje minha comunidade usa a biblioteca folheando livros e para mim isso é importanEletrosul e Furnas. Em Petrolina/PE, Mossoró/RN e Fortaleza/CE conta com o apoio do Ministério da Justiça/ DEPEN. Além da parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação do Ministério da Educação (FNDE/MEC); Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça; Ministério da Cultura e outros órgãos públicos federais, estaduais e municipais. Também participam os movimentos sociais e sindicais, editoras, artistas e a população urbana - que contribui com a doação de livros. Toda sociedade de mãos dadas para levar mais cultura e conhecimento às comunidades necessitadas. Dezembro 2008 Panorama 33 Foto: Silvia Souza Políticas Públicas Feira da Agricultura Familiar - RJ EUA Obama ajuda a vender livros da nossa origem, ainda mais por ser de uma comunidade quilombola”, explica. Atuante na Arca das Letras desde 2006, Valdinéia afirma que muitas mudanças aconteceram na comunidade depois do programa. “O pessoal das comunidades estão adquirindo mais conhecimento, os estudantes tem facilidade em fazer trabalhos e pesquisas. As crianças, os jovens e os adultos se distraem, se divertem e aprendem com os livros”, conta. Valdinéia diz ainda, cheia de orgulho que a Arca não mudou só a vida da Comunidade Gravatá. “Estou muito feliz com o projeto foi através dele que participei e ganhei um computador no primeiro concurso em homenagem a MACHADO DE ASSIS realizado pelo Ministério da Cultura. Foi a realização de um sonho, pois nunca tive condições de comprar e com este prêmio, conquistado graças a meu trabalho com o programa, vou poder ajudar muito mais a minha comunidade”, justifica. Apesar das dificuldades que enfrenta, numa das regiões mais necessitadas do país, Valdinéia sabe da importância da leitura e tenta passar para a comunidade. “Hoje minha maior dificuldade e atingir o publico adulto, pois eles estão sempre ocupados, trabalhando. Muitos deles não tiveram muitas oportunidades em aprender a ler e a escrever quando jovens. Mas devagar eu vou incentivando e tenho certeza que um dia todos vão descobrir o quanto é bom se apaixonar com um livro”, finaliza. P Foto: Divulgação te porque mesmo que ela chegue e só “passe” a mão nos livros já é um contato que elas não tinham”, explica. Interessada em agregar ainda mais valor ao seu trabalho, Simone fez um curso de especialização em projetos e através disso vai levar Arca das Letras para fora da sua comunidade. “Eu apresentei o projeto numa escola no município vizinho e a diretora se interessou muito, agora é só correr atrás e botá-lo para funcionar”, diz. Emocionada com todo resultado obtido até agora a Agente se diz apaixonada pelo que faz. “Às vezes eu me emociono quando vejo as crianças vindo de tão longe, debaixo do sol para participar do programa. Para mim, esse é o melhor projeto que eu já vi em termos de incluir a população rural nos projetos sociais, é muito gratificante. Por isso que eu sempre digo que a gente tem que ler para alcançar o conhecimento”, completa. Valdinéia Soares Moreira também disponibiliza parte do seu tempo para auxiliar a Comunidade Gravatá, na Chapada do Norte -Vale do Jequitinhonha. Lá a Agente desenvolve o programa numa comunidade quilombola. “Eu considero este projeto importantíssimo, pois me trouxe uma grande oportunidade de adquirir experiência e muito mais conhecimento a respeito Panorama Em janeiro, quando Barack Hussein Obama tomou posse como o 44º presidente dos Estados Unidos, o País passou a ter o presidente mais pop de sua história. Porém, já desde muito antes dele se mudar para a Casa Branca que tudo o que ele lê, ouve, joga ou vê têm despertado o interesse dos americanos. Não é novidade, assim, que os livros preferidos do presidente estejam provocando uma verdadeira corrida até as prateleiras das livrarias. Acostumado a ler obras de pensado- Dezembro 2008 res como Maquiavel e Thomas Hobbes, além dos clássicos da literatura jurídica, o livro favorito de Obama, segundo o jornal britânico The Daily Telegraph, é Moby Dick, do escritor americano Herman Melville, publicado pela primeira vez em 1851. Desde que a sua predileção pela obra foi divulgada, a procura tem sido tanta que o clássico voltou às livrarias dos EUA em uma nova edição. O efeito tem sido sentido também no Brasil. A editora Cosac Naify, que lançou uma nova tradução da versão integral de Moby Dick em abril do ano passado, não está dando conta dos pedidos de reposição das livrarias. Isso apesar das quase 700 páginas do livro. Além de garantir ter lido todos os volumes da série Harry Potter, de J.K. Rowling, quando ainda estava em campanha o novo presidente também divulgou uma lista de livros preferidos com títulos de James Baldwin, Doris Lessing e Toni Morrison. Não deu outra: os clássicos voltaram a ser procurados nas livrarias americanas. Japão Literatura para celular se espalha Não é de hoje que os japoneses e sua fissura por tecnologia decidiram usar o telefone móvel, tão popular como dispositivo de entretenimento e comunicação no País, como ferramenta de leitura. Nos últimos anos, enquanto a indústria do livro discute para encontrar um formato apropriado para distribuir, em mídia eletrônica, o tradicional conteúdo impresso, lá os romances de celular se consagraram como uma tendência. No início, a mania fez sucesso principalmente entre adolescentes e jovens. Isso porque ela se caracterizava por uma narrativa ágil, com influência direta dos mangás - as histórias em quadrinhos japonesas – e marcadas por frases curtas, próprias para o formato de leitura na tela do celular. Mas, pouco a pouco, as editoras ampliaram o leque de ofertas e passaram a oferecer títulos variados no formato. Diante disso, nada mais natural que a ideia ser exportada e ganhar novos adeptos. No ano passado, a moda se estendeu a outros países, onde os celu- lares estão sendo cada vez mais usados para transmitir dados, incluindo vídeo, fotos digitais e música. Agora, a novidade vem da editora americana Ravenous Romance, de e-books e audiobooks. Ela decidiu se inspirar na mania criada no Japão para comercializar um outro gênero literário pelo celular: o erótico. Para quem concorda que nada valida mais uma tecnologia emergente do que o envolvimento da indústria pornográfica com ela, foi a gota d´água. Alemanha Bibliotecas ao ar livre na Alemanha incentivam a leitura no país De acordo com uma pesquisa recente realizada pela Fundação Lesen, de Mainz, na Alemanha, enquanto em 2000 um terço da população adulta e adolescente ainda lia entre 12 e 50 livros por ano, em 2008 apenas um quarto cumpre o mesmo volume de leitura. Outros 25% da população nem encostam o dedo num livro, uma proporção que se manteve constante nos últimos anos. Para incentivar a leitura no país, algumas alternativas estão surgindo, como as bibliotecas ao ar livre, com o Taracatu - PE 34 Pelo mundo afora intuito também de popularizar leitura entre os alemães. Quem passa pela Alameda Poppelsdorfer Allee, uma das ruas mais charmosas e luxuosas da cidade de Bonn, onde foi implantado o projeto, pode aproveitar para ler um livro, ao ar livre. As bibliotecas ficam sem controle, recepcionista ou cadeados. É um armário de madeira com portas de vidro, onde quem quiser pode pegar livros emprestados. Tudo na base da confiança. Escolheu, pegou emprestado, leu, devolveu. Se a pessoa gostar muito do livro pode levar para casa, com a condição de colocar outro no lugar. A iniciativa dos armários com livros é resultado de uma competição para promover a vida cívica e cultural na cidade, realizada pela Fundação Cidadãos de Bonn (Bürgerstiftung Bonn), em 2002. Mais de 130 propostas foram apresentadas, entre elas este projeto do então estudante de design de interior Trixi Royek. Desde o início de seu funcionamento, os armários ganharam espaço no coração dos cidadãos de Bonn. Dezembro 2008 Panorama 35 Mercado & Tendências Os mascates das letras Muita gente não sabe que ele ainda existe, mas o mercado de livros porta a porta continua faturando (e muito! – só em 2007 foi quase R$ 1 bilhão) e permitindo o acesso de milhares de brasileiros à leitura Foto: Divulgação O vendedor de livros Ivan Gama entrega certificado do concurso de redação para Kelly Cristina Pereira de Oliveira Lissoni, junto à seus pais 36 Panorama Dezembro 2008 A estudante Kelly Cristina Pereira de Oliveira Lissoni conheceu o vendedor Ivan Netzker Gama no ano passado, quando ele bateu na porta de sua casa, em Campinas, interior de São Paulo. Depois de ouvir o homem dizer que vendia livros, a menina, de dez anos, insistiu para que a mãe o deixasse entrar. Naquele dia, Kelly falou a ele sobre a sua paixão pela leitura. Lembrou dos livros que já havia lido, dos que tinha vontade de ler, da sua dificuldade em encontrar obras em braille e também dos altos custos cobrados por livros nesse formato. Deficiente visual, Kelly fez Gama prometer que, quando voltasse, traria uma bíblia em braille para lhe vender. Mas a menina não precisou pagar pelo livro. Alguns meses depois, em São Paulo, ela recebeu o Gênesis e os Salmos da bíblia no formato braille e o Novo Testamento em MP3 das mãos do mesmo vendedor. Dali em diante, a cada três meses, ela receberia, em casa, um novo livro até completar os 38 volumes das escrituras sagradas. O presente, oferecido pela Sociedade Bíblica do Brasil, foi entregue no evento em comemoração aos 21 anos da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), entidade que congrega o setor porta a porta que vende e divulga livros em domicílio. A exemplo de Kelly, cuja redação que conta a história da visita inesperada foi uma das vencedoras do concurso “O amigo do meu melhor amigo”, organizado pela entidade, a maior parte dos brasileiros não imagina que ainda exista uma legião de caixeirosviajantes vendendo livros de porta em porta pelo Brasil adentro. Nas pequenas cidades, principalmente nas regiões mais carentes do País, onde não existem livrarias ou bibliotecas, esse tipo de venda tem papel ainda mais relevante no acesso das pessoas aos livros. De acordo com a Pesquisa do Setor Porta a Porta, divulgada em novembro do ano passado, em 2007, o setor faturou, por meio dos associados da entidade, R$ 650 milhões. Com base em informação de que, do setor porta a porta, 70% são associados da ABDL, a entidade estimou, partindo da premissa de que os não-associados têm per- fil similar aos associados, um faturamento global de R$ 930 milhões no ano passado. O setor vendeu, no período, cerca de 65 milhões de livros. Estima-se que o porta a porta tenha mobilizado, em 2007, quase 3 mil pessoas, exceto no ramo de vendas. É que um mesmo vendedor de livros pode ter mais de um fornecedor, inclusive de diferentes ramos. Portanto, de acordo com a ABDL, não faz sentido somar as quantidades de vendedores por conta da superposição. Separadamente, o levantamento mostrou que os editores do segmento contam com 1.292 vendedores empregados, os atacadistas com 2.738 e os crediaristas com 5.476. Ivan Netzker Gama, responsável por visitar a garota Kelly, é um desses vendedores. Morador de Mauá, na região metropolitana de São Paulo, ele inicia sua jornada na venda de livros porta a porta todos os dias às oito da manhã, quando se reúne com outros vendedores na sede da Espaço Editorial. O trabalho só vai terminar cerca de doze horas mais tarde, quando ele já terá visitado cerca de 20 casas. Gama começou a trabalhar no ramo há 22 anos, por indicação da mulher, que viu o anúncio de uma vaga no jornal. No primeiro dia, não gostou do serviço. Ele chegou a pedir para deixar o cargo, mas por insistência do gerente foi ficando. Anos depois, a editora fechou as portas e ele chegou a se aventurar em um negócio próprio, no mesmo ramo, antes de entrar para a Espaço Editorial, onde trabalha há nove anos. “Eu não gostava de livros e ainda não gosto muito de ler, mas aos poucos foi despertando o interesse. A gente precisa ler para poder mostrar para os clientes que conhece o produto”, explica o vendedor, que estudou até o Ensino Médio. Com vendedores trabalhando para diferentes fornecedores, há diversas formas de atuação no segmento porta a porta. Muitos profissionais trabalham por conta própria e organizam suas próprias agendas de visitas. Na empresa onde Gama trabalha, há diversas equipes atuando juntas. Para cada uma delas, um supervisor fica responsável por acompanhar cada grupo de vendedores, que visita casas em diferentes cidades da Grande São Paulo e até no interior do estado. Apesar dos tempos de violência e insegurança, Gama diz que é sempre muito bem recebido por onde passa oferecendo livros. “O que mais marca nesse trabalho são as amizades que nós fazemos. Eu sempre tento uma aproximação com o cliente em vez de só bater na casa dele. Tem gente que me convida para almoçar na casa e até liga depois convidado para festas e casamentos”, conta. De acordo com o presidente da ABDL, Luís Antonio Torelli, o segmento do livro porta a porta é fundamental para o fomento à leitura no Brasil. “Nada foi descoberto que substitua esses homens e mulheres que atravessam o País divulgando o hábito de ler”, afirma. O presidente diz que os resultados da Pesquisa do Setor Porta a Porta já permitem à entidade traçar planos estratégicos para o setor quanto à sua eficiência e lucratividade. De acordo com Torelli, a ABDL está desenvolvendo, juntamente com o Ministério do Trabalho e Emprego, um programa para formar vendedores de livros porta a porta. Além de preparar novos profissionais para a atividade, o programa vai capacitar vendedores que já atuam no setor. Em outubro do ano passado, a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro 2007, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel), mostrou que a participação do segmento porta a porta no total de livros vendidos pelas editoras foi de 9,6% em 2007. O número representa uma evolução de 91,3% em relação ao ano anterior. Em tempos de internet, a pesquisa mostrou que quase 20 milhões de exemplares foram vendidos pelas editoras a vendedores porta a porta, o que faz dele o terceiro canal de vendas mais importante para as editoras, ficando atrás apenas das livrarias e dos próprios distribuidores. Dezembro 2008 Panorama 37 Foto: Fanca Cortez Comportamento Leitor Biblioteca em São Paulo Sem acesso aos livros O número de cidades sem bibliotecas no Brasil revela a falta de interesse do poder público com a questão do livro e da leitura no país. Os estados do Norte Nordeste são os mais precários Em Teresina, Piauí, o professor de geografia e webdesigner Igor Soares, de 26 anos recebeu a notícia de que o estado onde mora possui o maior índice de municípios sem bibliotecas no país. “Fico triste em saber esta informação”. O Piauí aparece em primeiro lugar no ranking da lista de municípios sem bibliotecas, de acordo com números do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas. “Mas para falar a verdade, essa notícia não me surpreende, porque tenho que lidar diariamente com isso. Percebo que a leitura em casa também é deficiente. No geral, o hábito de ler é algo raro, independente da região”, diz. Só no estado do Piauí, são 79 municí38 Panorama Dezembro 2008 pios sem bibliotecas. “É importante dar a oportunidade do cidadão ter acesso a este “equipamento público”, mas é importante que exista também um trabalho de estímulo à leitura. Construir uma biblioteca e encher a mesma de livros não é suficiente”, completa Igor. Dados levantados pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas mostram que ainda existem 361 municípios sem bibliotecas. As regiões mais críticas estão no Nordeste e Norte, onde também é conseqüentemente registrado o menor índice de leitores, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. Em segundo lugar no ranking aparece a Bahia, com 67 cidades do Estado sem bibliotecas públicas. “É vergonhoso um Estado que tem 417 cidades e 15 milhões de habitantes estar numa situação dessas” diz o estudante de jornalismo, Ítalo Oliveira de Jesus, que costuma freqüentar a biblioteca da faculdade onde estuda. “A UFBA tem uma biblioteca grande e completa. Quase não uso outras e desconheço quantas bibliotecas públicas existem em Salvador”. Ele diz que vai à biblioteca da faculdade pelo menos uma vez por semana à procura de livros de economia ou de literatura “busco livros de economia por interesse próprio e literatura quando preciso pra trabalhos”. Já Lucelmo Oliveira, 20 anos, não teve a sorte de nascer na capital. Em Araci, interior da Bahia, desde pequeno sonhava em ser pianista. Começou a estudar música como autodidata até perceber que sozinho não conseguiria chegar onde pretendia. “Encontrei muitas dificuldade no início, quando ainda não estudava como acadêmico. Por várias vezes procurei por livros que pudessem me dar os primeiros passos, onde eu pudesse pesquisar, aprender, mas não os encontrei. Isso fez com que cada vez mais eu me deslocasse para cidades vizinhas com um porte estrutural maior, já que em Araci não existia e não existe até hoje uma biblioteca pública”. Lucelmo mudou-se para Salvador para continuar os estudos e hoje cursa o terceiro ano de música na Faculdade Católica de Salvador, onde encontra livros e todo material que precisa para estudar, coisa que não acontecia na pequena cidade onde nasceu. “Apesar da cidade dispor de um Centro Cultural hoje com uma pequena melhoria no quadro de livros, na época em que eu estudava, não existia nenhum espaço para estudarmos. Deveria haver em nossa cidade, uma biblioteca estruturada, na qual pudesse proporcionar aos habitantes de Araci uma gama maior de conteúdos necessários para a formação não só de estudantes, mas de indivíduos de uma sociedade”. Muitas histórias parecidas com a de Lucelmo certamente existem na Paraíba que aparece na lista suja com 48 municípios desprovidos de uma biblioteca pública assim como o estado do Rio Gran- de do Norte que hoje, possui 28 cidades sem o espaço. Mesmo com toda tradição de ser o estado com maior índice de leitores, o Rio Grande do Sul aparece como o único da região que deixa de atender todos os municípios. Faltam bibliotecas em 13 cidades. Na região sudeste do Brasil, Rio de Janeiro e Espírito Santo estão bem equipados. Em Minas Gerais restam 4 cidades para zerar o déficit enquanto em São Paulo aparece a surpresa. Segundo a Fundação Biblioteca Nacional, 15 municípios do estado estão sem bibliotecas. O Amazonas lidera na região norte, a falta de bibliotecas, são 24 cidades. Em seguida aparece Goiás, região centrooeste, com 25 municípios sem elas. No município de Santo Antônio do Iça, Amazonas, a locutora Adry Gomes de 30 anos preocupa-se com o fato da pequena cidade não ter acesso à leitura. “Deveria existir mais preocupação com a educação de nossas crianças, alunos e todos que precisam de um ambiente de leitura”, diz. Na cidade, não existe biblioteca pública. Leitora assídua, quando quer ler, procura um livro na estante de casa.“Falta interesse dos políticos da cidade em trazer uma biblioteca pra cá”, diz. Segundo Adry, os estudantes da cidade têm como opção a internet para realizar pesquisas escolares “facilita muito, já que não podem ter o prazer em ter um acervo bibliotecário aqui, mas nem todos têm acesso.” De acordo Com Ilce Carvalho, coordenadora geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas, o SNBP da Fundação Biblioteca Nacional, usou vários critérios para chegar aos 361 municípios sem bibliotecas públicas, “consulta na Base de Dados do SNBP, consulta ao site do IBGE, consulta no MinC para averiguação se o município em algum momento já recebeu verba do Ministério, informações recebidas das Coordenadorias dos Sistemas Estaduais de Bibliotecas Públicas, etc”, diz. Segundo Ilce Cavalcanti, o valor anual investido em bibliotecas públicas varia de ano para ano, em decorrência da alta de preço no mercado. “Em 2007, Fotos: Divulgação O professor Igor Soares Dezembro 2008 Panorama 39 Comportamento Leitor o valor unitário do kit de Implantação ficou por R$61.600,00”. Nas 361 cidades onde não existem as bibliotecas públicas, o SNBP está tomando providencias. “Foi remetido ofício, e-mail, fax, para as Prefeituras, comunicando que aquele determinado município não possui Biblioteca Pública. Desta forma, solicitamos o envio do formulário preenchido do Programa Livro Aberto com a documentação exigida a fim de que o município seja contemplado”. Para Ilce, a existência de bibliotecas Bibliotecas e Retratos da Leitura no Brasil Foto: Fundação Santillana Mônica Messenberg Guimarães diretora da Fundação Santillana 40 Panorama Dezembro 2008 A biblioteca está associada com estudos e escola, revela a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil ao questionar aos entrevistados com qual freqüência a visitam. Afirmam que não estão na escola, por isso não fazem uso deste espaço. Em 2005 o Ministério da Cultura revelou que quase 90% dos municípios brasileiros têm pelo menos uma biblioteca apesar de apenas 66% dos entrevistados da pesquisa conhecer essa informação. O músico carioca César Lago de 32 anos, não costuma visitar bibliotecas “não sei ao certo, quantas bibliotecas públicas existem na cidade. Pra dizer a verdade, nem me lembro quando foi a última vez que fui a uma. Costumo pegar livros emprestados com amigos, além de ter um imenso acervo em casa. Deveria existir campanhas para população freqüentar e ter conhecimento deste espaço disponível no Rio de Janeiro, porque ler, é uma excelente forma aprender”, diz César que prefere a leitura de revistas especializadas em música. Dados da pesquisa mostram que 40% dos 94 milhões dos entrevistados vão à biblioteca em busca de livros, 12% de revistas, 6% jornais, 3% para consultar a Internet e os 58% não costumam ir a biblioteca. Seria necessário criar, premiar e apoiar projetos voltados para pessoas que não tem tempo de ler e também para aqueles que se queixam da dificuldade de acesso às bibliotecas. A Fundação Nacional do Livro In- Radiografia públicas nos municípios é de grande importância, “ já que este espaço irá disponibilizar a informação para todos os cidadãos da comunidade, sem distinção de raça, idade e nível econômico e social. A Biblioteca Pública é o alicerce que dá apoio ao desenvolvimento cultural e educacional do cidadão brasileiro, pois o livro é o elemento de inclusão social”. Apesar de encontrar-se na lista da Fundação Biblioteca Nacional, alguns estados alegam ter zerado seu déficit de bibliotecas. fantil e Juvenil e o Prêmio Vivaleitura premiam projetos dessa natureza. Diretora da Fundação Santillana, Mônica Messenberg Guimarães, fala sobre a importância de projetos como Rodas de Leitura, de Serra Pelada, no Pará, “são um exemplo de como o livro pode chegar em áreas desprovidas de bens culturais. Nesse caso, a biblioteca tem um acervo de três mil exemplares e está em uma região onde a livraria mais próxima está há quatro horas de distância”. Outro exemplo citado por Mônica, é do Ônibus-Biblioteca da cidade de São Paulo, “leva um acervo importante para zonas da cidade que não têm acesso a bibliotecas”. Segundo ela, o Prêmio Vivaleitura pode contribuir ao incentivar e mostrar iniciativas que levam o livro e o prazer de ler à comunidades ou grupos de pessoas que não tenham acesso regular a bibliotecas ou livrarias. “Muitos dos mais de 7 mil projetos registrados são ações que estimulam a formação de leitores em áreas com essas características. Nosso esforço é em fomentar a multiplicação dessas experiências para minimizar esse problema. O Prêmio Vivaleitura já está em sua terceira edição, caminhando agora para o seu quarto ano. Nesse período, temos observado que muitas das iniciativas servem de inspiração para outras ações pelo país. A carência de bibliotecas públicas é de fato um problema que precisa ser enfrentado. Até lá, cabe à sociedade P buscar alternativas”, diz. Os livros na vida do jornalista Caco Barcellos 15 aos 20 anos Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche) Foi um livro importante para mim C M Y CM MY CY CMY 20 aos 30 anos K Aos olhos da multidão (Gay Talese) Foi quando eu comecei no jornalismo e este foi um mestre do News Jornalism. 30 aos 40 anos México rebelde - John Reed Eu escrevi sobre a América Central e o autor era um escritor que me inspirava bastante, estava influenciado por escritores que cobriam esse tema. 40 aos 50 anos O Negociador (Frederick Forsyth) É um exemplo de ficcionista que usa métodos de pesquisa de não-ficção, e usa a pesquisa da realidade com grande precisão e eficácia para fazer romance. A realidade é muito mais interessante que a ficção. Hoje Cem dias em Bagdá (Asne Seierstad) É um exemplo de uma autora corajosa que optou por cobrir a guerra por uma ótica do mais fraco. Dezembro 2008 Panorama 41 Foto: Divulgação Eventos Prêmios & Concursos Uma foto para um verso Fundação espanhola promove concurso internacional de fotografia para jovens de 14 a 20 anos Leitores para ler o mundo Fundação Caloustre Gulbenkian reúne, em Portugal, especialistas de vários países para discutir teorias e práticas de leitura O primeiro Congresso Internacional de Promoção da Leitura foi realizado nos dias 22 e 23 de Janeiro de 2009, em Lisboa, na seda da Fundação, pela iniciativa dos responsáveis pelo projeto Gulbenkian Casa da Leitura, com o tema Formar leitores para Ler o mundo. O objetivo foi o de seguir as áreas que estruturam o portal Casa da Leitura, ou seja, a literatura infanto-juvenil, as questões teóricas da leitura e as boas práticas e estratégias de promoção da leitura. O fio condutor dos temas abordados foram as políticas, estratégias, metodologias e instrumentos para a formação de novos públicos leitores. O evento desenvolveu-se em três painéis principais, com a presença de investigadores e especialistas de Portugal, França, EUA, Suécia, Canadá, Reino Unido (País de Gales) e Brasil. Realizado com tradução simultânea, o Congresso foi aberto pelo especialista em Literatura para a Infância, Peter Hunk, professor Catedrático na Universidade de Cardiff (Reino Unido), com o painel Literatura para a Infância e Formação de Leitores. Teresa Colomer, da Universidade Autónoma de Barcelona (Espanha), fez a apresentação principal no painel Estratégias de Leitura e Compreensão Leitora e o Reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, dirigiu o painel Projectos de Promoção de Leitura. O Congresso foi encerrado com 42 Panorama Dezembro 2008 um debate moderado pelo conhecido jornalista português António José Teixeira, sobre a leitura como experiência de vida – três reflexões protagonizadas por José Barata-Moura (Universidade Clássica de Lisboa), Fernando Savater (Universidade Complutense de Madrid) e Eduardo Marçal Grilo (Fundação Calouste Gulbenkian). Os participantes tiveram oportunidade de debater, em salas separadas, e durante 90 minutos os temas de cada um dos painéis com os congressistas de cada uma das mesas. Para falar sobre formação de públicos, estratégias de leitura e projetos para a promoção da leitura foram convidados, por exemplo, o escritor espanhol Fernando Savater e o brasileiro Galeno Amorim, diretor do Observatório do Livro e da Leitura. Ele apresentou a conferência Retratos da Leitura no Brasil: Como Construir um País de Leitores. Dolores López-Casero, do Centro Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Espanha, e António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, também marcaram presença no Congresso de Lisboa “Foi a primeira grande conferência em Portugal sobre a promoção da leitura e trouxe os melhores especialistas para falar sobre o tema com uma linguagem que fugiu ao jargão acadêmico”, disse António Prole, responsável pela Casa da Leitura, à agência Lusa. “As pessoas sentiram que levaram para casa um algo mais, que se abriram perspectivas, que levaram interrogações, que lhe foram dadas novas formas de olhar velhos problemas. Uma pequena editora, mas de grande qualidade no seu site titulava Obrigado Casa da Leitura “, relata Prole. Mais informações no site: www. P gulbenkian.pt A Fundação Blas de Otero, sediada em Bilbao, na Espanha, promove o concurso de fotografía Imágenes para unos versos com o obetivo de difundir a obra do poeta Blas de Otero entre os jovens e vincurlar sua poesia com a realidade cotidiana. Podem participar jovens entre 14 e 20 anos, de qualquer nacionalidade, e as fotografias devem fazer referência a algum dos versos da obra poética do autor, disponível no site da fundação, assim como o regulamento e o formulário de inscrição do concurso. As inscrições vão até à meia noite do dia 06 de março de 2009. As fotos podem ser enviadas pelo correio ou por e-mail em formato JPEG. Cada participante poderá concorrer com até três fotos. O prêmio para cada modalidade ( de 14 a 17 e de 18 a 20 anos) será uma câmera digital de 10 megapixels Blas Otero nasceu em Bilbao, em 1916 e morreu em Madri, em 1979. Sua obra, que parte da angústia metafícia para desembocar no social e no testemonial é uma das mais importantes da lírica pós guerra lírica e um exemplo do chamado “exílio interior”, que caracterizou boa parte da resistência espanhola contra o franquismo. Quem quiser participar encontra todas as informações e regulamento no site www.fundacionblasdeotero.org Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura. Concurso Banco Real Talentos da Maturidade Mais informações: (31) 3213.1072 Mais informações: www.bancoreal.com.br 5º Prêmio Barco a Vapor Prêmio Cruz e Sousa de Literatura Mais informações: www.edicoessm.com.br Mais informações: [email protected] Estão abertas até o dia 30 de janeiro de 2009, as inscrições para a segunda edição do Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura. A premiação total será de R$ 212 mil, distribuída em quatro categorias: Conjunto da Obra, Jovem Escritor Mineiro, Poesia e Ficção. As inscrições podem ser feitas no Suplemento Literário, localizado na Superintendência de Museus da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. As inscrições para o maior prêmio existente no País para originais de literatura infantil e juvenil estão abertas de 27/8/2008 a 28/2/2009. As obras devem ser inéditas e se encaixar em uma das quatro séries da coleção Barco a Vapor, das Edições SM: leitor iniciante (6 e 7 anos), leitor em processo (8 e 9 anos), leitor fluente (10 e 11 anos) e leitor crítico (12 e 13 anos). Já estão abertas as inscrições para o Concurso Banco Real Talentos da Maturidade. O concurso chega a sua 10ª edição, consolidando-se como uma das mais importantes iniciativas privadas do país que busca a valorização das pessoas com mais de 60 anos. Nesta década de história, o concurso vem revelado e reconhecendo uma infinidade de potenciais artísticos. O Prêmio Cruz e Sousa 2008-2009 destina-se a romances inéditos, escritos por brasileiros em língua portuguesa, residentes no País ou no Exterior, em duas categorias de premiação – Categoria Nacional e Categoria Catarinense. As inscrições poderão ser realizadas do dia 21 de outubro de 2008 até o dia 5 de março de 2009. Dezembro 2008 Panorama 43 Livros sobre Livros Rotas Literárias Teia de histórias Seria o ficcionista um eterno sonhador? Ou um “inventador” de histórias em tempo integral? O israelense Amós Oz pode falar disso com extrema autoridade, depois de tantas letras escritas em sua bem-sucedida carreira de romancista. Com Rimas da vida e da morte (Cia. das Letras, 120 pp., R$ 31, trad. Paulo Geiger) Oz trilha por uma teia narrativa que viaja entre a história da criatividade de um romancista, a história que ele está criando em sua mente e a história da vida desse autor. É, como você está vendo, tudo se mistura. Mas de uma forma muito interessante, a narrativa varia da terceira para a primeira pessoa com suavidade e fluidez, proporcionando uma leitura ágil e inteligente. Com discrição e astúcia, Amós Oz parece nos dizer que por trás de cada indivíduo anônimo existe um manancial de dramas e comédias possíveis. O livro narra a história de um romancista medianamente famoso que se prepara para dar uma palestra e participar de um debate sobre sua obra num centro cultural de bairro, em Tel Aviv. Enquanto faz hora num café – remoendo as mesmas e eternas perguntas que são repetidas a todo autor em uma entrevista ou palestra –, passa a imaginar uma história para cada indivíduo que vê à sua volta. A atraente garçonete que o serve, por exemplo, vira ex-namorada do goleiro reserva do time de futebol Bnei Iehudá. Dois 44 Panorama Dezembro 2008 homens que conversam numa mesa próxima se convertem, na sua fantasia, em mafiosos discutindo a situação de um terceiro homem, um ricaço que agora definha na UTI de um hospital. A compulsão ficcional do escritor prossegue durante e após a palestra, resultando numa teia de histórias imaginárias que começam a se embaralhar com a trajetória do protagonista, a ponto de não sabermos, por exemplo, se ele foi ou não para a cama com a moça solitária que leu para o público, trechos de suas obras no evento do centro cultural. O próprio título, Rimas da vida e da morte, é tirado do livro fictício de um autor também inventado, o poeta Tsefania Beit-Halachmi, cujos versos o protagonista e outros personagens vivem citando. As perguntas que também pressionam a mente do autor enquanto toma o seu café e imagina sua história revelam, de certa maneira, a mente de um escritor diante da expectativa de uma entrevista ou uma palestra; e parece desvendar além disso a mente imaginativa de um romancista. Certamente vários escritores se identificaP rão com ele. Título: Rimas Da Vida E Da Morte Isbn: 9788535913156 Idioma: Português. Encadernação: Brochura | Formato: 14 X 21 | 120 Págs. Ano Edição: 2008 Autor: Amos Oz Tradutor: Paulo Geiger Foto: Zélia Gattai/Acervo da Fundação Casa de Jorge Amado POR RICARDO COSTA, DO PUBLISH NEWS A Bahia de Jorge Amado Em meio às plantações amareladas de cacau da Fazenda Auricídia em Ferradas, interior da Bahia, nascia Jorge Amado. Naquele dia, 10 de agosto de 1912, João Amado de Faria e Eulália Leal Amado carregavam nos braços aquele que viria a ser um dos maiores romancistas brasileiros Dezembro 2008 Panorama 45 Rotas Literárias Jorge Amado de Ilhéus, Sergipe, Rio de Janeiro, Manaus, América, Europa. Jorge Amado do mundo. Mas antes de tudo, Jorge Amado da Bahia. É em Salvador, que “Lívia olha o mar morto de águas de chumbo. Mar sem ondas, pesado, mar de óleo. Onde estão os navios, os marinheiros e os náufragos? Mar morto de soluços, quedê as mulheres que não vêm chorar os maridos perdidos? Onde estão as crianças que morreram na noite do temporal? Onde está a vela do saveiro que o mar engoliu? E o corpo de Guma que boiava com longos cabelos morenos na água que era azul? Na água plúmbea e pesada do mar morto de óleo corre como uma assombração a luz de uma vela à procura de um afogado. É o mar que morreu, é o mar que está morto, que virou óleo, ficou parado, sem uma onda. Mar morto que não reflete as estrelas nas sua águas pesadas. Se a Lua vier, se a Lua vier com sua luz amarela, correrá por cima do mar morto e procurará como aquela vela o corpo de Guma, o de longos cabelos morenos, o que marchou pela estrada do mar para o caminho das Terras do Sem Fim, das costas da Arocá.” Jorge Amado escreveu Mar Morto, olhando para o mar de Gamboa de Cima, Salvador. Contou a triste história de uma criança criada no cais da Bahia, e o cenário que inspirou Jorge Amado, continua o mesmo, claro que com algumas modificações que a modernização trouxe e refletiu não só na cidade como também nos moradores. O velho malandro, as prostitutas e homossexuais que habitavam as ladeiras hoje trazem um contexto diferente. A Bahia revolucionária de Jorge Amado não existe mais, porém o sincretismo de religiões ainda vive e respira em cada esquina onde ecoam os tambores do candomblé misturados aos gritos de súplicas das igrejas evangélicas e o silêncio dos católicos ajoelhados nas mais de 300 igrejas espalhadas pela cidade. Este cenário religioso da Bahia serviu para retratar a luta de Antonio Balduíno pela integração do negro na so- “Cidade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia. Igrejas suntuosas bordadas de ouro, casas de azulejos azuis e antigos, sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais, principalmente o cais, tudo pertence ao negro Antônio Balduíno. Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos, vagabundeou em todas as suas ruas, se meteu em quanto barulho, em quanto desastre aconteceu na sua cidade”. (Jubiabá) vagabundeou em todas as suas ruas, se meteu em quanto barulho, em quanto desastre aconteceu na sua cidade”. Segundo Myriam de Castro Lima Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, a partir de Jubiabá, terceiro romance da fase urbana, publicado em 1935, começa a adensar-se a relação de Jorge Amado com a cidade do Salvador, “ou cidade da Bahia, como ele preferia chamá-la. Alargando os limites do território onde se movem os personagens, o cenário vai aos poucos se definindo, ganhando contornos, fazendo-se mais e mais presente na narrativa”, analisa. Para Mirian, é difícil dizer qual obra de Jorge Amado é mais importante principalmente para um autor que escreveu o encanto e o sabor de suas narrativas”, descreve. De acordo com Myrian Fraga, o primeiro romance publicado por Jorge Amado, em 1931, O País do Carnaval “põe em relevo o Largo do Pelourinho e seu entorno: o Tabuão, a Baixa dos Sa- pateiros e o Terreiro de Jesus, cercado de igrejas centenárias. Publicado em 1934, Suor repete o mesmo ambiente, num cenário limitado ao centro da cidade”, diz. Ela ainda conta que um ano após a publicação de Mar Morto veio a público o livro Capitães da Areia, romance que Foto: Zélia Fotos: Divu lgação Ilustrações: Gattai/Funda Calasans Ne ção Casa de Jorge Amad o to Foto: Divulgação Ilustrações do livro Tieta do Agreste pastora de cabras; Elevador Lacerda e Jorge Amado com o Afoxé Filhos de Gandhi no Pelourinho O Pelourinho em Salvador; capa do livro: A Cidade da Bahia no romance de Jorge Amado; Cidade Baixa Guma, que apaixonou-se pela meiga Lívia. Nesta obra, a ação se desenrola principalmente na Cidade Baixa, na estreita faixa de terra entre o mar e a montanha, entre as vielas apertadas do comércio e os grandes espaços abertos do oceano Atlântico, onde vive Inaê, a “Começou a subir a ladeira de S. Bento vagarosamente. Tomou por São Pedro, atravessou o Largo da Piedade, subiu o Rosário, agora estava nas Mercês”. (Capitães da Areia) 46 Panorama Dezembro 2008 mãe d’Água, senhora do mar, da vida e da morte de marinheiros e navegantes. Foi também na Bahia, nas ladeiras do Pelourinho que Dona Flor se entregou aos encantados do malandro Vadinho. A biografia de Jorge Amado mostra a inquietude que trazia na alma pelas inúmeras viagens que fez. Ainda menino, fugiu do colégio e viajou por dois meses até chegar em Itaporanga, Sergipe, na casa do avô. Essa seria apenas o inicio de uma série de viagens que ele faria. Porém, ter morado no Pelourinho, centro histórico de Salvador, Bahia, marcou definitivamente suas obras. Mais de oitenta anos se passaram, ciedade brasileira. Jubiabá, é o primeiro romance do autor que traz elementos do candomblé, religião afro-brasileira que cultua os orixás, através da figura do pai-de-santo Jubiabá, guia espiritual de Antonio Balduíno. “Cidade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia. Igrejas suntuosas bordadas de ouro, casas de azulejos azuis e antigos, sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais, principalmente o cais, tudo pertence ao negro Antônio Balduíno. Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos, não apenas romances, como também biografias e memórias. “Tratando apenas dos romances relacionados com a cidade do Salvador, vamos encontrar: O país do carnaval, Suor, Jubiabá, Mar Morto, Capitães da Areia, Os Pastores da Noite, Dona Flor e seus Dois Maridos, Tenda dos milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e o Sumiço da Santa”, enumera. “O mais característico na obra de Jorge Amado é sua fidelidade às fontes populares, onde vai buscar inspiração, a partir da observação e do conhecimento, para construir uma saga de grande realismo, embora envolta sempre num manto de fantasia, que faz teve um início de vida atribulado, “com a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça publica de Salvador por autoridades da ditadura do Estado Novo, o que não impediu que logo se tornasse um grande sucesso. Desde então, até hoje, as edições se sucedem atingindo a cifra espantosa de 98 edições e 16 traduções, sendo este o livro de Jorge Amado com maior número de exemplares vendidos”. Depois desse livro, são publicados, sucessivamente, mais seis romances cuja ação se desenvolve na área urbana de Salvador: A Morte e a morte de Quincas Berro d’Água, que segundo a diretora da Fundação Casa de Jorge Amado na verdade não é considerado um romance, mas uma novela, Os Pastores da noite, Dona Flor e seus dois maridos, Tenda dos Milagres, Tereza Batista Cansada de Guerra e o Sumiço da Santa. Para Myriam, dessas obras, a mais importante talvez seja Tenda dos Milagres, “embora Dona Flor seja a de maior sucesso, já que foi adaptada para cinema, teatro e televisão. Em Tenda dos Milagres, Jorge Amado retoma os temas anteriormente abordados em Jubiabá, traçando um painel mais aprofundado das relações inter-raciais na Dezembro 2008 Panorama 47 Foto: Zélia Gattai/Acervo da Fundação Casa de Jorge Amado Como me apaixonei pelos livros Rotas Literárias Pedro Demo Por que gosto de ler Jorge Amado na Rampa do Mercado Modelo Foto: Divulgação sociedade baiana. Talvez tenha sido também o romance preferido de Amado que confessou várias vezes que reconhecia no protagonista, Pedro Arcanjo, seu alter ego”, revela. Já em Tereza Batista Cansada de Guerra, romance de mais de trezentas páginas, quase inteiramente dedicado à narrativa dos infortúnios da protagonista, a cidade de Salvador só será resgatada, já quase no final do romance quando, depois de percorrer meio mundo, Tereza Batista reencontra o grande amor de sua vida, Januário Gereba, na beira do cais da Baía de Todos os Santos. O Sumiço da Santa é o último dos romances urbanos escritos por Jorge Amado. “São referidos temas gratos ao autor como: miscigenação, preconceito racial, sincretismo religioso; a memória do povo, suas histórias, suas criações, a tristeza e as alegrias do cotidiano de uma comunidade”, diz Myriam. Ao perguntar para a diretora da Fundação quem foi o ser humano Jorge Amado, ela o define como uma pessoa que sempre foi generosa, “no mais amplo sentido, fiel às suas crenças e amiza- “Pedro Bala enquanto sobe a ladeira da Montanha, vai pensando que não existe nada melhor no mundo que andar assim, ao azar, nas ruas da Bahia. Algumas destas ruas são asfaltadas, mas a grande, a imensa maioria é calçada de pedras negras. Moças se debruçam nas janelas dos casarões antigos e ninguém pode saber se é uma costureira que romanticamente espera casar com noivo rico ou se é prostituta que o mira de um balcão velhíssimo, enfeitado apenas de flores. Entram mulheres de negros véus nas igrejas. O sol bate nas pedras ou no asfalto do calçamento, ilumina os telhados das casas. Na sacada de um sobradão, flores medram em pobres latas. São de diversas cores e o sol lhes dá seu diário alimento de luz.” (Capitães de Areia) Myriam Fraga - Diretora da Fundacao casa de Jorge Amado 48 Panorama Dezembro 2008 des, que não tinha medo de proclamar os seus afetos, mesmo que com isso pudesse contrariar opiniões e julgamentos. Incondicionalmente dedicado à literatura, aos amigos e à família, teve em sua mulher Zélia Gattai, com quem viveu uma intensa e duradoura história de amor, uma companheira constante e uma interlocutora permanente. Poucos escritores brasileiros tiveram uma vida tão plena de realizações, participando ativamente dos acontecimentos mundiais, que redesenharam o mapa da P história no século vinte”. “Ler é como respirar”, dia o PhD em Sociologia pela Universidade de Saarbrücken, Alemanha, e pós-doutor pela University of California at Los Angeles (UCLA), Pedro Demo. Autor de, atualmente, é professor titular aposentado da Universidade de Brasília (UnB), Departamento de Sociologia. Suas áreas de atuação sistemáticas são: política social e metodologia científica, o que faz com que ele se dedique mais à leitura de obras técnicas, para produção cinetífica. Mas, isso não quer dizer que ele não se interesse por outros gêneros. “Também gosto desta leitura (leio ficção freqüentemente), mas, por dever de ofício dedico-me intensamente à leitura exigida para atualizar-me em meu campo de trabalho”, afirma, no relato sobre sua relação com os livros. “Lembro três razões mais decisivas para gostar de ler. A primeira é meu tempo de seminário com os Franciscanos, onde sempre havia biblioteca com incentivos imensos para ler, inclusive gincanas ou coisa parecida. Em Agudos, o seminário tinha mais de 300 alunos, em três alas, cada uma com biblioteca própria. A segunda foi o tempo de teologia em Petrópolis (três anos), onde já comecei a publicar alguns artigos e fazia resenha de livros. Iniciava-se aí o prenúncio do interesse por textos científicos e que demandam farta leitura (estudo). A terceira foi meu doutorado na Alemanha (1967-1971), onde aprendi a aprender, por conta do sistema de estudo universitário alemão: quase sem aula, a aprendizagem baseava-se na produção de textos próprios fundamentados na leitura mais ampla e profunda possível. Tais textos eram apresentados em público, discutidos e avaliados pelos professores. Entendi, então, que aprender é pesquisar e elaborar, e leitura passaria a fazer parte decisiva de minha vida acadêmica. Trata-se aqui de um tipo específico de leitura: leitura para produção científica, diferente de outra literatura alimentada pela curiosidade/interesse literário. Também gosto desta leitura (leio ficção freqüentemente), mas, por dever de ofício dedico-me intensamente à leitura exigida para atualizar-me em meu campo de trabalho. Já não é o caso de leitura opcional, mesmo freqüente, mas de leitura pratica- ral, quando se fala de paixão por livros, entende-se o gosto por literatura como conceito vinculado a autores que produzem livros literários. Esta paixão deveria ser despertada e cultivada na escola, desde que esta incluísse leitura como fundamento da aprendizagem. Para nós, o fundamento da aprendizagem ainda é aula, quase sempre aquela aula instrucionista, copiada de alguma apostila e repassada para o aluno. O aluno não perFoto/Arte: Divulgação cebe a necessidade de ler, porque vê que o professor também não lê. Para dar conta da prova, não recorremos à leitura, mas às anotações sumárias das aulas, até porque, como regra, só isso “cai” na prova. Então, para que ler? A leitura tomou hoje outros rumos, em particular na tela. As pessoas leem mais, ainda que isto não implique melhor qualidade da leitura. Em certo sentido, os internautas leem muito, porque o manejo da internet se faz através de textos, ao lado de imagens. Tudo, afinal, é “texto”, também um jogo eletrônico. Esta praxe acentua a leitura útil, aquela necessária para dar conta do que se quer resolver. O exemplo exacerbado deste tipo de leitura é a prática de procurar na internet precisamente aquilo que se exige na prova, nada mais e, se possível, de modo plagiado. Aquela leitura maiúscula, alimentada por autores reconhecidos, capaz de implicar reflexão, fantasia, inspiração, parece que vai ficanmente obrigatória, uma vez que na Alemado para alguns poucos. Ler para alimentar nha compreendi claramente que professor o espírito soa como estranho ou pouco pernão se faz por título ou aula, mas por autinente. No entanto, não é assim que os jotoria. Torna-se professor na universidade vens não leem. Leem muito, desde que seja de alemã quem, para além da titulação, se torseu interesse ou caia no campo de suas mona autor renomado, o que exige publicação tivações. Não podemos mais imaginar que e leitura realmente intensa e atualizada. as motivações de gerações mais velhas sejam Professor não escapa de ter sua biblioteca as únicas que cabem. Talvez tenhamos que própria, além de exibir uma lista notável aprender a envolver nossas tradições mais de livros publicados. Ler é como respirar. antigas de leitura em ambientes virtuais que Existem muitas espécies de paixão por possam atrair os jovens. Talvez pudessem livros. Minha paixão é de sentido mais técapreciar também sonetos de Camões, desde P nico, porque produzo livros técnicos. Em geque reestruturados digitalmente...” Dezembro 2008 Panorama 49 Cinema & Livros A escritora dos finais felizes Linguagem objetiva e temas banais fizeram com que Austen se tornasse sucesso em Hollywood POR TALISSA BERCHIERI 50 Panorama Dezembro 2008 O mercado de adaptações literárias para as telonas sempre foi visto como aposta quase certa em Hollywood. Porém, mais que apostas, alguns escritores são garantia de sucesso aos olhos dos produtores cinematográficos. É o caso da inglesa Jane Austen, que já teve seus livros adaptados para o cinema diversas vezes. Recentemente, chegou às prateleiras das locadoras o longa “Amor e Inocência” (2007), estrelado por James McAvoy e Anne Hathaway. Dessa vez, o filme não é baseado nas obras da escritora inglesa, e sim na própria vida de Austen. Em “Amor e Inocência” é possível acompanhar um pouco da trajetória pessoal da considerada pelos críticos literários a segunda mais importante autora da Inglaterra depois de Shakespeare. Nascida em 16 de dezembro de 1775, Austen possui seis livros publicados, sendo eles: Razão e Sensibilidade (1811), Orgulho e Preconceito (1813), Mansfield Park (1814), Emma (1815), Abadia de Northanger (1818), Persuasão (1818). As obras de Austen sempre tiveram grande receptividade no cinema, sendo que a grande maioria teve sucesso de crítica e público, como é o caso de “Orgulho e Preconceito” e “Razão e Sensibilidade”. Segundo Ademir Pascale, escritor e crítico de cinema, estes dois longas são fiéis aos livros. “Os diretores souberam adaptar com perfeição os dois longametragens, dando vida às obras devido à excelente escolha dos atores, assim como um roteiro bem trabalhado, fiel figurino, magnífica fotografia e uma boa trilha sonora. Engraçado que ao ler as obras da autora, antes de assistir aos filmes, já imaginava as mesmas cenas e sons apresentados. Um excelente escritor nos faz imaginar; viajar.” Outro longa que também traz as obras de Austen como tema é “O Clube de Leitura de Jane Austen” (2007). Nesse filme, todas as obras da escritora são discutidas por um grupo de pessoas que lêem os livros e refletem sobre suas próprias vidas após cada leitura. Segundo Pascale, a reflexão que os textos de Austen provoca não fica só na ficção. “A sensibilidade de Jane é inconfundível. Suas obras são impregnadas de impressões morais”, afirma o escritor. Talvez pela linguagem simples e por sempre abordar temas atuais como o amor e o casamento, os livros tornaram Austen popular e imortal. “As obras de Jane nos trazem alegria e melancolia; na realidade, mais alegria do que melancolia, pois os finais são felizes. Toda boa obra mexe com nossos sentimentos mais íntimos, o que não falta nas desta autora. Acredito que este seja um dos principais motivos das adaptações de suas obras, além do valor pedagógico inestimável, pois aprendemos muito sobre aquela época tão conturbada do “dote”, além do preconceito, amor e costumes”, reflete Pascale. Se na ficção a escritora sempre buscou finais felizes, na vida real as coisas não saíram muito bem, Austen não teve seu próprio final feliz, faleceu prematuramente aos 42 anos e solitária. Para quem nunca leu um livro de Jane Austen ou assistiu a alguma adaptação da escritora no cinema, não há dificuldade em achar os filmes em locadoras e lojas especializadas na venda de DVDs. “Recomendo os filmes ‘O Clube da Leitura de Jane Austen’ e ‘Amor e Inocência’. Este último, considerado pela produtora Miramax, e por mim, a maior história de amor de Jane Austen, a dela próP pria.”, finaliza Pascale. Dezembro 2008 Panorama 51 Calendário No Brasil Bienal do Livro da Bahia 17 a 26 de abril de 2009,Centro de Convenções da Bahia, Salvador, Bahia. 3° Salão do Livro Sul Mineiro 06 a 09 de Maio, Clube Literário Recreativo, Pouso Alegre, Minas Gerais. [email protected] Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas 17 e 26 de abril de 2009, Poços de Caldas, Minas Gerais. www.feiradolivropocosdecaldas.com.br 5º Salão do Livro de Tocantins 08 a 17 de maio de 2009, Praça dos Girassóis, Palmas, Tocantins. Festival da Mantiqueira: Diálogos com a Literatura 29 e 31 de maio de 2009, São Francisco Xavier - Serra da Mantiqueira, São Paulo. www.cultura.sp.gov.br/StaticFiles/Mantiqueira/index.html Bienal do Livro de Sergipe 29 de maio a 7 de junho de 2009, Centro de Convenções de Sergipe, Sergipe. 9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto 18 a 28 de junho de 2009, Ribeirão Preto, São Paulo. www.feiradolivroribeirao.com.br III Bienal do Livro de Santa Catarina 29 de junho de 2009 CentroSerra Convention Center, Santa Catarina. www.bienaldolivrosc.com.br VII Festa Literária Internacional de Paraty – FLIP 1º a 5 de julho de 2009, Paraty, Rio de Janeiro. www.flip.org.br Calendário No Mundo Salão do Livro de Paris 13 a 18 de março, Paris, França. www.salondulivreparis.com Bologna Children´s Book Fair 23 a 26 de março 2009 - Bolonha, Itália. http://www.bookfair.bolognafiere.it/ Feira do Livro de Londres 20 a 22 de abril de 2009, Earls Court, Reino Unido. www.londonbookfair.co.uk Feira do Livro de Lima – Peru 23 de julho, Centro de Convenciones Jockey Plaza, Lima, Peru. http://www.filperu.com Cancelada a Book Expo Canada Segundo informações veiculadas pela PublishersLunch Deluxe, a Reed Exhibitions anunciou no domingo, 1º de fevereiro, o cancelamento imediato da Book Expo Canada no próximo mês de junho. Greg Topalian, executive da Reed, afirmou “ficou claro que um evento tradicional como esse não é o melhor para a dinâmica da indústria editorial no Canadá.” “Nosso foco no mercado editorial passou a ser o nosso evento de Nova Iorque [BEA], onde procuraremos atender as necessidades dos nossos clientes de toda a América do Norte num único evento.” BEC vai devolver o pouco que já foi pago por alguns clientes do evento, mas Topalian ressaltou que “não há muito o que devolver... “ O interessante é que o cancelamento da tradicional feira escancarou as portas para ideas de um novo evento, adequado às necessidades dos clientes canadenses. http://www.publishersmarketplace.com/login.php/lunch/archives/005015.php 52 Panorama Dezembro 2008 Dezembro 2008 Panorama 53 Vitrine empresa amiga do livro Dicionário Escolar da Língua Portuguesa Esse dicionário apresenta grande número de acepções por verbete, novas acepções para palavras já consagradas, palavras recentemente incorporadas ao léxico, separação silábica, parônimos, antônimos, gírias do dia-a-dia e estrangeirismos com indicação de pronúncia. Com nova ortografia! Domingos Paschoal Cegalla Cia Editora Nacional, 960 pág., R$21,90 Livros para os mensageiros Projeto do ECT de Campo Grande oferece cultura a funcionários e beneficiados Cada vez mais as empresas estão sentindo a necessidade de apoiar projetos de responsabilidade social, não só na comunidade onde atuam, como também dentro da própria empresa junto aos seus funcionários. Pensando nessa necessidade, o Centro Operacional dos Correios em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul criou um projeto de incentivo à leitura em sua sede. A Sala de Leitura foi implantada em 2004 no ECT de Campo Grande, com o objetivo de estimular a leitura entre os funcionários dos Correios e seus dependentes. Na Sala são disponibilizados livros, revistas, jornais, materiais audiovisuais e computadores para acesso à internet. Sua localização é estratégica, num grande local de trabalho, por onde passam diariamente cerca de 400 trabalhadores. Com o sucesso da Sala em Campo Grande, a diretoria regional dos Correios implantou outra no município de Dourados. Para seus organizadores e beneficiados o trabalho é considerado um sucesso, pois atendem a necessidade dos traba54 Panorama Dezembro 2008 lhadores interessados na leitura, seja por meio da educação formal, leitura recreativa ou interesse cultural. Além dos materiais disponíveis, a Sala tem organizado periodicamente as “Oficinas de Leitura”, quando são oferecidas oficinas sobre leitura e assuntos correlatos, tanto para crianças como para adultos, atividades culturais, gincanas e apresentações artísticas, sempre com participação de funcionários da ECT e seus dependentes. De acordo com Ana Catarina Cortez, coordenadora do projeto hoje a Sala conta com 1.200 usuários cadastrados que têm acesso à cerca de 5.000 livros que fazem parte do acervo, além de revistas e jornais e já foram realizados 15 mil empréstimos. Segundo ela, os funcionários dos Correios do interior e até de outros estados também têm realizado empréstimos de livros, através da internet. Além da iniciativa à leitura o projeto realiza também outros trabalhos em beneficio à sociedade como as Gincanas Culturais que arrecadaram até agora 3.800 kg de alimentos e 1mil exemplares de livros que foram doados, inclusive em presídios. Ações para arrecadação e distribuição de brinquedos, assim como campanhas de incentivo a doação de sangue fizeram parte da iniciativa. Com todas as ações realizadas, estima-se que tenham sido atendidas aproximadamente 13 mil pessoas. Uma das frequentadoras assíduas da Sala de Leitura dos Correios é Neusa Aparecida de Figueiredo Oliveira, que garante ter passado por muitos lugares através dos livros. “Já viajei muito a bordo deste “avião” que é o livro. A cada livro que leio, descubro um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas, eu atuo na história, me permito ser ou estar a cada página virada ou enigma descoberto. Com a leitura podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação. Através dela, somos estimulados a usar nossa imaginação e criatividade. A leitura é crucial para a aprendizagem do ser humano”, afirma. Para o diretor regional dos Correios, João Rocha, a Sala de Leitura foi um projeto que deu certo, atendeu uma necessidade e vem cumprindo seu papel, pois a educação contínua é hoje uma necessidade até profissional e a leitura contribui muito. “Estamos contentes que o projeto tenha atendido as expectativas e isso levou a sua expansão para Dourados. Vamos continuar investindo no estímulo à leitura entre os funcionários dos Correios e seus dependentes”, afirma. E como não poderia ser diferente os cinco anos do projeto, completados no último dia 28 de janeiro foi comemorado com um Sarau Cultural repleto de apresentações musicais, performance teatral e declamações poéticas, iniciativas de funcionários dos Correios e P dependentes. Antonio Carlos Jobim Tom Jobim foi muito mais do que um dos maiores nomes da música popular de todos os tempos. Nesta biografia completa de Antonio Carlos Jobim, seu amigo e jornalista Sérgio Cabral nos aproxima amorosamente do universo de nosso “maestro soberano”. Sérgio Cabral Cia Editora Nacional, 536 pág., R$48,00 A Viagem do Elefante O livro é uma idéia que Saramago elaborava desde que, numa viagem a Salzburgo, na Áustria, entrou por acaso num restaurante chamado ‘O Elefante’. A narrativa se baseia na viagem de um elefante chamado Salomão, que no século XVI cruzou metade da Europa, de Lisboa a Viena, por extravagâncias de um rei e um arquiduque. Jose Saramago Companhia das Letras, 264 pág., R$ 42,00 Palmeiras – o Alviverde Imponente Ecoeconomia – uma nova abordagem Segunda Chance O livro é rico em informações históricas e ilustrações, com mais de 100 imagens, do início do século XX até hoje, algumas delas raras, que revelam os primórdios do clube e, de certa forma, ajudam a contar a história da cidade de São Paulo. O autor, economista chefe do ABN Amro Bank, mostra que destruir a natureza, além de gerar catástrofes graves,pode ser um péssimo negócio a curto prazo para toda a humanidade. As recentes tragédias mundo afora demonstram o acerto de sua análise. Registra ainda como o mito do eterno crescimento compromete o futuro do planeta. Fiona Monaghan, excêntrica executiva da alta-costura, se apaixona por John Anderson, um publicitário charmoso e conservador. Duas pessoas perfeitas uma para a outra, mas de dois mundos drasticamente diferentes. Orlando Duarte Cia Editora Nacional, 280 pág., R$36,00 Danielle Steel Editora Record., 240 pág., R$ 29,00 Hugo Penteado Cia Editora Nacional, 224 pág., R$40,90 Corinthians – o time da fiel Organizado cronologicamente, o livro narra a trajetória do clube até os dias de hoje, revelando os craques que vestiram a sua camisa, os jogos memoráveis, os campeonatos conquistados, a paixão da torcida. Inclui encarte com as emoções da Série B! Fran Zabaleta e Luis Astorga Editora Record, 616 pg., R$ 59,00 Arte do Retrato em Marcel Proust O livro é o resultado das dezenas de leituras e releituras que o autor empreendeu sobre a obra de Proust, pinçando os fragmentos que compõem as descrições físicas ou temporais - as vestimentas, os gestos, os olhares – dos personagens que povoam o universo da busca do tempo perdido. Desde o mundo provinciano e rural de Combray, às paisagens normandas de Balbec até às mais altas esferas da aristocracia e da vida mundana parisiense. Alberto Xavier Editora Gryphus, 201 páginas., R$ 45,00. Nara Leão Amigo pessoal de Nara Leão e reconhecido especialista em história da música popular brasileira, o jornalista e escritor Sérgio Cabral compõe um relato detalhado e vibrante da vida da cantora, voz que não apenas esteve na linha de frente dos principais momentos da moderna música brasileira mas também se engajou como poucas na política de seu tempo. Sérgio Cabral Cia Editora Nacional, 254 pág., R$36,00 Gomorra Gomorra – um híbrido entre Camorra e a cidade bíblica destruída pelo fogo dos céus – virou filme dirigido por Matteo Garrone. Consagrou-se com o Grand Prix em Cannes e vai representar a Itália no Oscar. O livro e o filme receberam a alcunha da crítica mundial de ressurgimento da arte italiana, nas letras e nas telas. Roberto Saviano Bertrand Brasil, 350 pág., R$ 39,00 Conversas com Woody Allen O biógrafo de Woody Allen, Eric Lax, reuniu 36 anos de conversas com o cineasta para publicar esse livro. Aqui, Allen fala sobre a elaboração de roteiros, formação de elenco, filmagem e, claro, direção. Além de saciar a curiosidade dos fãs de Allen, que faz comentários por vezes hilariantes, o livro é de leitura obrigatória para os cinéfilos. Eric Lax e Woody Allen. Trad. José Rubens Siqueira Editora Cosac Naify, 512 pág., R$ 65,00 HOMEM QUE ROUBOU PORTUGAL. Em 1924, Artur Virgilio Alves Reis, um comerciante português falido, trama sozinho o maior golpe financeiro de todos os tempos. Em dois anos, se tornaria o homem mais rico e poderoso de seu país. O que parecia um plano com pouca eficácia de um homem com muita imaginação, acabou causando problemas macroeconômicos. MURRAY TEIGH BLOOM. Trad. SERGIO LOPES Editora JORGE ZAHAR, 336 pág., R$ 49,00 Dezembro 2008 Panorama 55 Gente que lê Galeno Amorim www.blogdogaleno.com.br A pequena Raíssa tem três anos. Nunca saiu dali. As janelas estão fechadas com grossas grades de ferro chumbadas naquelas paredes incomuns. A porta que dá para o galpão do andar de baixo permanece o tempo todo trancada e tampouco dá esperanças. A luz é escassa. Como as brincadeiras e a liberdade de movimentos. Mas há um punhado de outras crianças como ela, e alguns bebês, que choram no meio da noite. A menina jamais esteve lá fora. Não viu pessoas andando nas ruas. Não conhece praças ou parques. O zoológico com seus bichos ou o rio imenso que banha a cidade não soam familiares. Nunca brincou de correr bestamente, até a língua ficar de fora e o coração saltar pela boca, como faz a maioria das crianças. É que no caminho dela e dos demais, há uma pedra, aparentemente intransponível e a obstar a passagem para o lado de lá. Raissa, no entanto, já esteve em muitos lugares. Conheceu reis, príncipes, dragões, bruxas e fadas boas. Foi a castelos, visitou reinos encantados e se perdeu muitas vezes no meio de florestas. Também descobriu que no mun-do tem gente boa e gente má. O que mais gosta mesmo é ouvir falar de outras crianças – de carne e osso, 56 Panorama Dezembro 2008 Arte: Rogério Lance Uma vida lá fora assim como ela e as amiguinhas! – que correm, livres, pra todo lado. O que ela mais sonha é com o dia de sol em que, já do outro, ainda que não faça muito idéia do que isso signifique de verdade, possa conhecer e viver isso tudo. Raissa, claro, é um nome inventado de uma pequena personagem pra lá de real – ela vive com a mãe numa cela do presídio feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre. Ela nasceu e cresceu ali. Foi ali que deu os primeiros passinhos e aprendeu a falar. A história dela é parecida com as histórias de outras três dezenas de crianças, filhas das detentas que, em sua maioria, engravidaram lá mesmo, durante as visitas íntimas dos parceiros com quem continuaram a manter uma relação conjugal estável. O vínculo mais forte dessas crianças com a vida lá fora se dá pelos li-vros. Enquanto ouvem as histórias narradas pelas mães, elas ficam a imaginar como deve ser aquele outro mundo tão perto e, ao mesmo tempo, tão distante. Vivem lá seu mundinho de faz-de-conta enquanto sonham uma liberdade que, em muitos casos, vai remetê-las para bem longe das mães – que estão presas por roubo, furto, estelionato ou envolvimento com drogas, quase sempre por influência de seus homens. Os livros chegam lá dentro pelas mãos benditas de estudantes de Letras e de Pedagogia da UniRitter, centro universitário que criou e mantém o Projeto Liberdade pela Escrita. Duas horas por semana, esses jovens lêem crônicas, poemas e notícias de jornal. Ensinam às mulheres a arte da contação de histórias e as estimulam a botar no papel, na forma de prosa ou verso, suas angústias, inquietudes e sonhos. Uma delas, Fátima, escreveu: “Eu não sou presa/Estou presa/ Sou um poeta enclausurado...”. E a amiga Liz emendou: “Aqui/Não estamos presas/Mas, livres para falar/E expressar nossos sentimentos.” Outra delas, Juliana, aproveitou para colocar a correspondência com Deus em dia, enquanto Kelly faz uma profissão de fé e promete mudar de vida quando sair. Uma outra colega de cela descreve a insônia e as tristezas que a perseguem no meio da madrugada fria enquanto as companheiras de infortúnio se deixam levar pelo sono. Sejam elas filhas ou mães, meninas ou mulheres já calejadas pela vida, umas e outras vão buscar nas palavras e nos livros a sua razão de viver. Isso não é pouco. P Dezembro 2008 Panorama 57 ImagemPanorâmica Praia Grande, Ubatuba - SP Foto: Fanca Cortez 58 Panorama Dezembro 2008 60 Panorama Dezembro 2008