Baixar este arquivo PDF - Rede de Ensino Novo Tempo
Transcrição
Baixar este arquivo PDF - Rede de Ensino Novo Tempo
Conhecimento que Liberta Marlene de Jesus Mateus de Alcântara* Resumo Este artigo visa focalizar a Arte como um conhecimento indispensável para a potencialização das capacidades cognitivas e amadurecimento emocional e afetivo, necessário para a formação do ser humano. No primeiro momento, um breve passeio pela história, apresentando as tendências pedagógicas, tradicional e escola novista na construção do conceito de Arte. Mostrando seus equívocos e conquistas ao longo do tempo e sua fundamental importância na construção do homem pleno. Aborda algumas das linguagens da Arte, objetivando atingir as múltiplas facetas da inteligência e a construção da criatividade. A fim de confirmar o valor da Arte, levanto a pesquisa realizada por Howard Gardner sobre as inteligências múltiplas e a Arte como conhecimento potencializador destas. Por fim, dados os adventos terroristas que marcaram o início do milênio, enfocando também a responsabilidade social da Arte em resgatar a sensibilidade perdida do homem em meio ao devastador sistema de produção ao qual estamos inseridos. Palavras-chave: Arte, Educação, Linguagens, Inteligências Múltiplas, Conhecimento. Abstract This article aims to focus on art as an indispensable knowledge for the enhancement of cognitive and affective and emotional maturation, required for the formation of human beings. ______________________________________________________________________ * Pedagoga. Professora do Ensino Fundamental. Pós-Graduada em Língua Portuguesa com Ênfase em Metodologia do Ensino, Centro Universitário Monte Serrat. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] At first, a brief walk through history, featuring the pedagogical trends, traditional and school novista in building the concept of Art. Showing his mistakes and accomplishments over time and its fundamental importance in building full of men. Covers some of the languages of art, aiming at achieving the multiple facets of intelligence and the construction of creativity. In order to confirm the value of Art surveys the research by Howard Gardner's Multiple Intelligences and art as knowledge of these enhancer. Finally, given the advent terrorists who marked the beginning of the millennium, also focusing on social responsibility of art to recover the lost sensitivity of man in the midst of devastating production system which we operate. Keywords: Art, Education, Languages, Multiple Intelligences, Knowledge. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Introdução “Uma visão sem uma tarefa é apenas um sonho. Uma tarefa sem uma visão é somente um trabalho árduo. Mas uma visão com uma tarefa pode mudar o mundo” (Mount Abu) Desde a chegada dos europeus ao Brasil recebemos influências das mais variadas culturas, que foram por nós incorporadas, metabolizadas, configurando a diversidade da nossa cultura, expressa de modo singular em cada uma das regiões do Brasil. A música, o teatro, as formas e as cores são manifestações que caracterizam a unidade e a diversidade de um país, nos quais estão registrados sentimentos e os pensamentos de um povo. Para compreensão do ensino da Arte no Brasil temos que nos referir a D. João VI pela criação da Academia Imperial de Belas Artes, que após a Proclamação da República passou a ser chamada de Escola Nacional de Belas Artes. “A partir dessa época, temos uma história do ensino da Arte com ênfase no desenho, pautada por uma concepção de ensino autoritária, centrada na valorização do produto e na figura do professor como dono absoluto da verdade.” (Martins, 1998, p.110) O desenho não era uma criação, uma provocação ou expressão do mundo, este deveria servir à ciência e à produção industrial, ser útil a fins específicos. A escola tradicional, além de valorizar o desenho como produto, preocupava-se apenas com a fidelidade de reprodução de um modelo apresentado à classe – e, todos os alunos deveriam apresentar o mesmo desenho. Nas décadas de 50 e 60, surgiu a Escola Nova no Brasil – já presente na Europa desde o final do séc. XIX. Essa pedagogia nova tinha como maior enfoque o aluno e o papel do professor era dar oportunidade para que o aluno se expressasse de forma espontânea e pessoal, o que vinha ser a valorização da criatividade como a máxima no http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] ensino da Arte. As aulas de Arte tinham somente a preocupação com a livre expressão do aluno e a valorização centrava-se apenas no processo do trabalho na produção. Essa concepção espontaneísta, centrada na valorização extrema do processo sem a preocupação com seus resultados, destinava o professor a um papel cada vez mais irrelevante e passivo. A ele, não lhe cabia ensinar nada e a Arte adulta deveria ser mantida fora dos muros da escola. Enquanto conquistas referentes à expressão do aluno e seu processo de criação do trabalho artístico eram valorizadas, o ensino da Arte saiu perdendo. Isso ocorreu porque muito pouco era acrescentado ao aluno em termos de aprendizagem de Arte, exatamente pela falta de conteúdo a ela dedicada. Em 1971, com a Lei 5692, a disciplina Educação Artística foi incorporada ao sistema formal de ensino brasileiro. Segundo essa lei, conteúdos de música, teatro, dança e artes plásticas deveriam ser abordados e dominados de forma competente por um único professor. A história mostra que a Arte, em momento algum, teve sua importância real ressaltada, tendo apenas seguido ideologias predominantes da época. Assim fazer valer a arte dentro de um sistema de ensino brasileiro como conhecimento necessário tal qual as demais disciplinas, que potencializa as estruturas cognitivas do ser e o auxilia a conquistar o amadurecimento afetivo e emocional, e perceber que tal conhecimento é fundamental para o desenvolvimento do homem na sua plenitude, rompendo com a dicotomia presente na Educação em Arte. Nesse artigo irei recorrer a várias fontes bibliográficas, inclusive aos Parâmetros Curriculares Nacionais, fazendo uma revisão dos temas pertinentes ao estudo. Para melhor compreensão, estarei dividindo-o em três momentos. No primeiro abordarei um panorama sobre a influência da Arte Educação. Refletindo sobre seus erros e seus acertos na construção desta concepção. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] No segundo momento apresento as linguagens da Arte na escola, que deve ser concebida como um processo globalizante, em que o desenvolvimento da criatividade e das capacidades de expressão e comunicação são encaradas como meta para a formação do homem completo. No terceiro momento mostrarei a Arte presente na potencialização das Inteligências Múltiplas de Gardner. “Assim, a Arte é importante na escola, principalmente porque é importante fora dela. Por ser um conhecimento construído pelo Homem através dos tempos, a Arte é um patrimônio cultural da humanidade e todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber”. (Martins:1998,13) A Arte deve ser tratada e considerada como um conhecimento, condição indispensável para o enfoque do ensino da Arte. A Arte – Educação contempla três campos conceituais do conhecimento artístico, de modo articulado: produção, fruição e reflexão, assim denominados no PCN Arte. A produção refere-se à obra em si, sua ação criadora: recursos pessoais, habilidades, pesquisas de materiais e técnicas, relação entre perceber, imaginar e realizar um trabalho de Arte. A fruição é a sensibilidade na produção da obra de Arte, não apenas a do artista, mas também a emoção estética, suscitada por ela no espectador. “Na produção e na apreciação da Arte estão presentes habilidades de relacionar e solucionar questões propostas pela organização dos elementos que compõem as formas artísticas: conhecer Arte envolve o exercício conjunto do pensamento, da intuição, da sensibilidade e da imaginação”. (PCN Arte, p40) A reflexão é a análise e o conhecimento da produção artística e estética da humanidade, compreendendo-a histórica e culturalmente. Nessa perspectiva a Arte, tem função importante a cumprir quanto ao fato de humanizar o homem histórico, que conhece suas características particulares e universais, necessidade que se faz tão premente nos dias atuais. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Dessa forma, a Arte pretende relevar o ponto de encontro entre o fazer artístico dos alunos e o fazer dos artistas de todos os tempos, que sempre inauguraram formas de tornar presente o inexplicável. Além disso, a Arte privilegia a comunicação, o conhecimento e a aproximação entre indivíduos de culturas distintas, pois favorece o reconhecimento de semelhanças e diferenças expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, num plano que vai além do verbal. O ensino e a aprendizagem da Arte devem propiciar momentos aos alunos a fim de que entendam que cada obra de Arte é, ao mesmo tempo, um produto cultural de uma determinada época e uma criação singular da imaginação humana. E, também, fazer com que percebam que as diversas formas artísticas apresentam uma síntese subjetiva que não representa ou reflete a realidade, mas a realidade percebida de um outro ponto de vista. Por essa razão, uma obra de Arte não é mais avançada, mais evoluída, nem mais correta do que qualquer outra. O homem quer ser total e anseia uma plenitude de vida ao sentir e perceber que não lhe basta se um ser indivíduo separado. A Arte enquanto forma de expressão e compreensão do mundo permite a esse homem o encontro com um mundo mais compreensível, mais solidário e mais justo. Enfim, um mundo com significação. A Arte-Educação, portanto, tem por fim fazer com que os homens apropriem-se das diversas linguagens da Arte e seus códigos, para que possam compreender o mundo das culturas e o seu eu particular, atravessar fronteiras pela capacidade de compreensão e interpretação das formas sensíveis e subjetivas que compõem a humanidade e sua multiculturalidade. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Canção óbvia Escolhi a sombra dessa árvore para repousar do muito que farei, enquanto esperarei por ti. Quem espera na pura espera vive um tempo de espera vã. Por isto, enquanto te espero trabalharei os campos e conversarei com os homens. Suarei meu corpo, que o sol queimará; minhas mãos ficarão calejadas; meus pés aprenderão o mistério dos caminhos; meus ouvidos ouvirão mais; meus olhos verão o que antes não viam, enquanto esperarei por ti. Não te esperarei na pura espera porque meu tempo de espera é um tempo de que fazer. Desconfiarei daqueles que virão dizer-me, em voz baixa e precavidos: É perigoso agir É perigoso falar É perigoso andar É perigoso esperar, na forma em que esperas, porque esses recusam a alegria da tua chegada. Desconfiarei também daqueles que virão dizer-me, com palavras fáceis, que já chegaste, porque esses, ao anunciar-te ingenuamente, antes te denunciam. Estarei preparando a tua chegada como o jardineiro prepara o jardim para a rosa que se abrirá na primavera. Paulo Freire (Genève, 1971) http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Os Caminhos Percorridos pela Arte “É praticamente impossível falar de Arte e de suas significações sem falar de tempo, mesmo porque a obra artística é feita por e para seres humanos, cujas vidas são, também, indissociáveis do fator tempo.” (Mirian Martins, 1998:58) Tendências Pedagógicas O ensino da Arte, segundo a pedagogia tradicionalista, tem suas raízes assentadas fortemente, no Brasil, no século XIX e percorre o século XX, manifestando-se até os nossos dias. A ideologia dessa escola está pautada em bases reprodutivistas e cientificistas. Ou seja, o pensamento dessa escola está voltado para o pragmatismo, só considera válida a formação utilizada praticamente na vida presente, imediata. Essa tendência cientificista na educação subjugou a filosofia teológica, línguas clássicas e artes, valorizando cada vez mais as ciências no currículo escolar. O ensino da arte resumia-se na busca da reprodução o mais fiel possível de artistas renomados. Era um fazer técnico, muitas vezes apenas a serviço de outras disciplinas, como por exemplo, da geometria; ou como matéria de “relaxamento” ante a outras de “maior importância”. Tal influência está tão arraigada em nossa formação enquanto seres históricos que modificar esse modo de agir e pensar requer dedicação e disciplina, além de estudos e debates constantes para que possamos avaliar corretamente e com coerência a proposta desse artigo: o compromisso com a formação do ser integral e com a re-construção de um mundo mais justo, mais humano, mais sensível, onde sejam respeitadas e valorizadas as diversas formas de expressão, dada a vastidão cultural presente em nosso país, um verdadeiro “jardim cultural”. Não compreender e interpretar as linguagens da Arte e seus códigos na era do conhecimento e da globalização, cujo enfoque destaca-se pela queda de fronteiras, é o mesmo que ser analfabeto em um mundo ordenado orientado e assentado em signos de http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] língua escrita. É estar impedido de compreender o mundo em suas múltiplas facetas. É não conseguir perceber formas, cores e sabores da vida. É não reconhecer-se diferente. Dominar as linguagens da Arte e seus códigos traz aos seres humanos a possibilidade de vivenciar a plenitude da vida, faz com que o mundo seja mais rico e torna a vida mais preciosa. O não acesso ao ensino da Arte pode fazer com que uma pessoa sinta-se estrangeira em seu próprio país, por ser incapaz de reconhecer os signos de sua cultura. Portanto, essa negação ao acesso à Arte pode promover a falta de identidade de uma nação inteira, porque lhe foi negada um conhecimento que propicia o reconhecimento da própria pessoa e a possibilidade de reconhecer-se nas outras de sua própria nação. A pedagogia tradicional acredita que os indivíduos são “libertados” pelos conhecimentos adquiridos na escola, e com isso, possam organizar com sucesso uma sociedade mais democrática. Ledo engano! A grande falha presente nessa pedagogia reside no fato de não considerar a plenitude da vida e seus múltiplos prismas. A Arte é o conhecimento que propicia essa inteireza do ser de modo a favorecer a comunicação entre indivíduos, sociedades e culturas através da sensibilidade e empirismo. A escola nova alcançou sua popularidade no Brasil nas décadas de 50 e 60. Opõe- se veementemente à escola tradicional e seus anseios reprodutivistas e cientificistas. A pedagogia da escola nova centrava na criança. O ensino da Arte ficou resumido ao processo de criação do trabalho em Arte. Havia uma preocupação exacerbada com o processo de criação de Arte em detrimento ao resultado. A criatividade era valorizada como máxima no ensino da Arte e qualquer técnica era veementemente rejeitada por essa escola. Ao professor restava o papel de atender aos anseios criativos da criança e a história da Arte, tendências e artistas referiam-se apenas aos adultos mantendo-se fora das salas de aula e do currículo escolar. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Apesar dos avanços consideráveis que a Escola Nova propiciou para a educação em geral, falhou no ensino da arte no tocante a desconsideração com a aprendizagem de Arte em si, suas linguagens, seus códigos e sua importância histórica. Sua ideologia estava assentada em uma concepção espontaneísta, num “laisse-faire” artístico cujo valor centrava-se apenas no processo espontâneo e pessoal de expressão da criança sem qualquer preocupação com o resultado. Um Novo Olhar Tanto a escola tradicional como a escola nova, equivocaram-se quanto a busca da formação do ser integral, pois ambas utilizavam radicalismo com forças opostas e não perceberam que a inteireza do ser não está nos extremos, e sim, no meio, ou seja, no equilíbrio das forças técnica e científica, e livre expressão criadora, respectivamente. O mundo se apresenta com uma nova roupagem, a da tecnologia. Assim, adequar- se a essa realidade é necessário e fundamental para que o homem sinta-se parte da história de modo atuante. Tom Peters (1998), um dos autores de Best Sellers na área de administração, diz que para manter-se inserido e participante do processo de globalização na Era do Conhecimento são necessárias duas ferramentas básicas para possibilitar a inovação: agilidade mental e a humildade. A agilidade mental, segundo esse ator, é fundamental para o mercado de trabalho, principalmente pela disseminação da Internet, que acelerou as informações de forma antes inimaginável. Quanto à humanidade, consiste em rever conceitos, pontos de vista e atitudes, pois o mundo se transforma a cada minuto diante de nossos olhos e tão velozmente que muitas vezes nem nos damos conta da mudança. Peters refere-se à necessidade urgente de se rever o sistema escolar para a formação do homem histórico e participante desse processo de transição que vive o mundo. Para justificar essa afirmação, utiliza-se do exemplo de Gordon Mackenzie, executivo da cadeia de lojas Wal-Mart, que depois de aposentado foi trabalha com educação e http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] resolveu visitar algumas escolas. Entrou numa sala de primeiro ano e perguntou para as crianças quantas eram artistas. Todas, empolgadíssimas, ergueram as mãos. Repetiu a experiência na sala do terceiro ano, apenas dez dos trinta alunos se manifestaram, com menos entusiasmo. No sexto ano, por fim, apenas duas mãos se levantaram timidamente. As crianças são instintivas e criadoras e a escola, por sua vez, é capaz de podar totalmente seu potencial criativo. Sendo a Arte uma manifestação única e pessoal do indivíduo, tal contado além de desenvolver aspectos cognitivos e emocionais, também desenvolve um canal de comunicação da criança com o mundo, que definitivamente, auxiliará na formação de seres humanos mais sociáveis, seguros e atuantes da história. Como podemos observar, a preocupação sobre os rumos que tem seguido o sistema escolar atinge os educadores, a família, a sociedade, as empresas, enfim o mundo clama por mudanças, por resgate de potenciais criativos e imaginativos que são quase que arrancados de nós por um sistema de ensino baseado em modelos, reproduções, memorizações e especificidades científicas e exatas. Picasso disse que no início de sua carreira desenhava como Rafael, mas que precisou toda uma existência para aprender a desenhar como as crianças. Intuitivamente ou não, esse gênio da pintura sabia o que falava. Toda criança sabe desenhar e se sente livre para desenvolver esse potencial. Assim como o gesto e a fala, seus movimentos corporais numa dança e o desenho também fazem parte da sua linguagem, um meio de brincar, de expressar seus sentimentos e de organizar o mundo. Nessa fase simbólica, não há compromisso com o real. A criança expressa por analogia. Essa analogia, aliada ao gesto, gráfico ou corporal, é o que todo artista contemporâneo luta em reconquistar. Ana Angélica Albano Moreira dizia que embora o adulto e a criança tenham formas distintas de organizar o pensamento durante uma criação, o ato de criar exige um estado de envolvimento que é similar a ambos. Um estado de entrega, no qual dor e prazer andam juntos pela busca da solução de um conflito. Portanto, o que Picasso e outros artistas contemporâneos tentam resgatar é nato em qualquer criança. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] “O problema é que o potencial artístico da criança geralmente sofre um corte quando ela entra na escola” ( Revista Arte e Informação/maio 2000) Na escola a Arte passa a ser suprimida por outras disciplinas que deverão preparar a criança para a vida em sociedade. A sociedade industrial afasta os homens de suas manifestações criativas e reserva para a Arte um lugar separado do cotidiano. Essa sociedade crê que as manifestações artísticas fazem parte apenas do mundo infantil e que deverá ser deixado de lado à medida que a criança ingressa no mundo do adulto, o mundo produtivo. Quando não deixam a criança manifestar sua imaginação e desenvolver seu potencial criador, limita-se sua capacidade de compreensão do mundo, privam-na de desenvolver um canal mais amplo de comunicação com o mundo. Vivemos numa época que a comunicação visual é cada vez mais importante e o controle dessa forma de comunicação por uma minoria é um importante instrumento de controle social, político e econômico. Nesse contexto, estimular o potencial artístico da criança é vital para que ela amplie sua capacidade de interação com o mundo. As ideologias de dominação perpassam nosso cotidiano tão bem assimiladas por nós que sequer somos capazes de perceber, muitas vezes, sua influência. Propiciar momentos para que as crianças adquiram percepções estéticas, com liberdade e orientação, faz com que a Arte deixe de ser simples atividades de relaxamento na escola e seja encarada como merece: um conhecimento indispensável para a formação do sujeito histórico e critico participativo na sociedade a qual ele faz parte. “O que importa é simplesmente constatar que através da imaginação o homem transcende a facticidade bruta da realidade que é imediatamente dada e afirma que o que é não deveria ser, e o que não é, deverá ser”. (Rubem Alves, 1975, p.20) http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Todo o desenvolvimento da criança deverá ter como ponto de partida a experimentação e a sensibilização. Desde bem pequena ela tem necessidade de se expressar, uma vez que a linguagem está em formação e a sua escrita paulatinamente dominada. Assim, as atividades artísticas tornam-se a forma mais fácil e sincera de comunicação, além de propiciar grande desenvolvimento mental. O que fascina e atrai as crianças para as aulas de artes plásticas, dança e dramatização é a oportunidade de se manifestar segundo seu mundo interior. É através de sua autoexpressão que a criança obtém o ajustamento pessoal e constrói segurança no relacionamento social. A aula de Arte não visa formar artistas mirins, nem ensinar a criança a desenhar ou a pintar feio ou bonito, segundo padrões pré-estabelecidos pelos adultos. Deve ser uma expressão natural e espontânea, por isso seu valor não é medido pela sua beleza e conteúdo, a criança busca a “própria imagem” e não a “beleza da imagem”. Piaget afirmava em seus estudos sobre as bases cognitivas do desenvolvimento infantil, que a aprendizagem ocorre quando dela se abstrai significação. Temos, então, nas aulas de Arte um forte instrumento para fazer com que a atenção, a concentração, a sensibilidade, a intuição, a criatividade e a imaginação sejam desenvolvidas e exploradas. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Ao Contrário, as Cem Existem A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos cem pensamentos cem modos de pensar de jogar e de falar. Cem, sempre cem modos de escutar de maravilhar e de amar. Cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar. Cem mundos para sonhar. A criança tem cem linguagens (e depois cem, cem, cem) mas roubaram-lhe noventa e nove. A escola e a cultura lhe separam a cabeça do corpo. Dizem-lhe: de pensar sem as mãos de fazer sem a cabeça de escutar e de não falar de compreender sem alegrias de amar e de maravilhar-se só na Páscoa e no Natal. Dizem-lhe: de descobrir um mundo que já existe e de cem roubaram-lhe noventa e nove. Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho a realidade e a fantasia a ciência e a imaginação o céu e a terra a razão e o sonho são coisas que não estão juntas. Dizem-lhe enfim: http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] que as cem não existem. A criança diz: Ao contrário, as cem existem. (Loris Malaguzzi) As Linguagens da Arte “ A Arte , mesmo a mais pessimista, é sempre uma proposição de felicidade. E a felicidade não pertence a ninguém não, a nenhuma classe, é de todos.” (Mário de Andrade) A Educação pela Arte poderá ser concebida como um processo globalizante, em que o desenvolvimento da criatividade e das capacidades de expressão e comunicação é encarada como meta para a formação do homem completo. Acentua-se a realização pessoal através de atividades de expressão artística, apelando para a imaginação, a espontaneidade, a expressão de sentimentos; dá-se ênfase à integração de todas as formas de arte: movimento, música, cênica, artes plásticas. É através das suas ideias e sentimentos que o ser humano se relaciona com a comunidade, na sua qualidade “única” em termos de expressão. Ele deverá ser estimulado para tomar consciência das qualidades emocionais das suas experiências e será encorajado a exteriorizá-las através da utilização da palavra, do gesto, do som, do grafismo, de toda uma variedade de formas de expressão ao seu dispor. A educação pode ser definida como o cultivo dos modos de expressão, acentuando a importância do ensino de variadas técnicas e meios de expressão. Ao valorizar a criança como um ser humano com características diferentes do adulto e detentora de um modo próprio de se expressar, dá-se importância à Arte infantil como meio de expressão e à sua qualidade estética específica, considerando-as tão válidas como outras formas de Arte realizadas pelos adultos ao longo da história. Partindo do princípio de que toda a criança, de um modo geral, possui o poder inato de criar, cabe à escola aproveitar esse poder e desenvolvê-lo, ao mesmo tempo que deve desenvolver na criança capacidades que se conscientize de sua condição de sujeito histórico, http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] participativo e atuante na transformação e construção da sociedade. A escola é o local onde o aluno aprende praticando, onde pode expressar livremente as suas ideias e sentimentos, onde é encorajado a relacionar-se com a comunidade através da sua qualidade de “único”. Segundo o princípio preconizado por Rousseau, a criança aprende através da sensibilidade, dado que o conhecimento se constrói no contato direto com os objetos, com a realidade com a natureza, através dos sentimentos. A criança aprenderá mediante a própria atividade no processo de criar. Neste contexto, o professor será o guia, o que dá e recebe, devendo agir como se não agisse; não deverá intervir, mas estabelecer o diálogo. Deverá aprender a distinguir e a antecipar as necessidades reais dos alunos. “A Arte abre uma janela para outros sentimentos, como a visão e o tato, e com isto amplia nossas perspectivas para a percepção do mundo que nos rodeia. Ela pode não modificar as pessoas imediatamente, mas certamente abre mais uma janela na vida.” (Freire, Cristina. 1997, p40) Essas são questões bastante sérias que todo professor deve refletir, a fim de compreender qual é o real papel da Arte na formação dos seus alunos. A sua ação positiva permitirá a ampliação e aprofundamento do saber Arte, impedindo que seus alunos se transformem em seres hesitantes, submissos, bloqueados no que se refere à imaginação, fantasia, criatividade, expressão, assumindo definitivamente responsabilidade social na formação dos cidadãos. Conhecer as características do desenvolvimento expressivo da criança e do adolescente, e compreender seus interesses e necessidades é o ponto da partida para que o professor planeje sua ação pedagógica, visando a alfabetização artístico/estética. Assim, no seu trabalho diário, poderá favorecer a expressividade dos alunos e gradativamente desenvolver lhes a observação, a percepção, a espontaneidade, a imaginação, a criatividade. Porém, não basta somente conhecer as características do desenvolvimento expressivo da criança e do adolescente. Não basta saber, por exemplo, que aos três anos toda criança faz garatujas, aos seis ou sete brinca de faz de conta ou aos nove canta de tal http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] maneira... É preciso mais: é necessário conhecer o estágio do desenvolvimento e também como ele se processa, de que forma a criança apreende o mundo e como ela se expressa através das linguagens plásticas, musicais e teatral. Para isto, o professor deve estabelecer uma relação sensível e integral com o processo expressivo da criança e, para tal, é preciso que ele próprio vivencie experiências expressivas. “Para que o professor possa conduzir com eficiência e segurança o processo expressivo de seus alunos, é essencial que ele próprio passe pelo mesmo processo, descobrindo e exercitando suas próprias potencialidades expressivas. Neste processo se desenvolve a conquista do significado do seu trabalho. É observando materiais, transformando-os, descobrindo suas possibilidades, dando forma a sentimentos e ideias em qualquer linguagem artística, que o professor pode compreender...” (Proposta Curricular para o ensino de Educação Artística – 1º grau) E, não há melhor ocasião para isso que as aulas de Arte. Segundo os PCNs, a Arte é uma disciplina tão importante quanto qualquer outra no processo de ensino aprendizagem. Quando produzida pelo aluno é desenvolvida sua percepção e imaginação, considerados dois recursos indispensáveis para a compreensão de outras áreas do conhecimento humano. Períodos históricos são melhor entendidos quando relacionados com produções artísticas de cada época. Trabalhos manuais auxiliam no desenvolvimento da leitura e escrita. A geometria é contemplada pelos traços geométricos dos pintores cubistas, assim como as dobraduras do origami. Letras de música e atividades teatrais ajudam com sucesso a compreensão da maioria das disciplinas, tais como Geografia, Educação Sexual, História, Cidadania e Ciências. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] O Conhecimento que Liberta “Aqueles que verdadeiramente se comprometem com a libertação, deveriam adotar um conceito dos homens como corpos conscientes e da consciência como consciência intencionada ao mundo”.(Paulo Freire) Trabalhar com a Arte em sala de aula promove a construção de uma forma de viver marcada pelo autoconhecimento e pela sensibilidade de pequenos, mas incomensuráveis prazeres. A escola, como já fora citado, tende a reprimir a criatividade do aluno, primando as reproduções aos trabalhos singulares produzidos por cada criança. Caminhar à luz de uma intencionalidade clara de liberdade em cada pessoa a extrema singularidade de seu “eu” e fazer com que essa liberdade se constitua em um valor como uma nova forma de beleza, propiciando a esse indivíduo um certo “explorar-se” com mais argúcia e profundidade. O significado de inteligência tem sido, ao longo do tempo, motivo de estudos de psicólogos, filósofos, neurologistas, pedagogos e pesquisadores da ciência cognitiva. Nenhum cientista tem ainda uma definição clara que se torne universalmente aceita para o que seja inteligência. Há sim, pesquisas que indicam haver diferentes tipos de inteligência, mas segundo os próprios especialistas, a inteligência não é algo fácil de comparar, pois envolve grau de imaginação, de irreverência e de dúvida que não podem ser medidos. “Então torna-se necessário dizer, de uma vez por todas, que não há e jamais haverá uma lista única, irrefutável e universalmente aceita de inteligências humanas. Jamais haverá um mestre de três, sete ou trezentas inteligências que possam ser endossadas por todos os investigadores.” (Howard Gardner, 1993, p45) Howard Gardner e uma equipe de pesquisadores da universidade de Harvard entram no cenário dos estudos sobre a inteligência assumindo uma posição de que há evidências da existência de diversas competências intelectuais humanas, as quais chamam, genericamente, “inteligências”. Nos diversos projetos de pesquisa que têm desenvolvido, a ideia central é a de que as manifestações da inteligência são múltiplas e compõem um amplo espectro de competências que inclui as dimensões lógico- http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] matemática, e linguística, mas também a musical, a espacial, a corporal-cinestésica, a interpessoal e a intrapessoal. Gardner afirma que sua teoria está baseada numa “visão pluralista da mente”, que reconhece muitas facetas diferentes e separadas da cognição, reconhecendo que as pessoas têm forças cognitivas diferenciadas e estilos cognitivos contrastantes. Segundo a opinião do pesquisador, sua teoria se contrapõe a visão tradicional de inteligência, definida operacionalmente como a capacidade de responder itens em teste de inteligência, é um atributo ou faculdade inata do indivíduo. Para Gardner e seus colaboradores, a inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes em um determinado ambiente ou comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite a pessoa abordar a situação em que um objeto deve ser atingido e localizar a rota adequada para esse produto. Os problemas a serem resolvidos variam desde teorias científicas até composições musicais para campanhas políticas de sucesso. Dessa forma, o conceito de QI apresenta-se insatisfatório e inadequado, pois resume a medir aptidões linguísticas e lógicomatemáticas, deixando de fora uma série de habilidades que também constituem manifestações de inteligência. Stephen Jay Gould, em seu livro “A falsa medida do homem” (1991) relata que os testes de QI falham, porque as características que eles invocam para fazer distinções entre os grupos são em geral, o produto da evolução cultural. E, a realidade que querem justificar, através desses testes, é reforçar a tendência de classificar as diferenças sociais e econômicas existentes entre os grupos humanos. A Teoria das Inteligências Múltiplas nãos concebe a inteligência como algo simples que pode ser visto unitariamente ou como incluído múltiplas habilidades. Ao contrário, existem múltiplas inteligências – cada uma distinta da outra. A visão de Gardner é de que cada inteligência é um sistema em seu próprio domínio, mais do que meramente um aspecto de um sistema maior, que nós tradicionalmente chamamos de inteligência. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Outro ponto a considerar é o fato das inteligências serem independentes umas das outras, isto é, uma habilidade pessoal avaliada sob uma inteligência não garante, na teoria, ser previsível o resultado da avaliação da mesma pessoa sob outra competência. Também considerando outra característica como fundamental à teoria de Gardner que é a que trata da interação das competências. Ou seja, as inteligências interagem apenas da distinção estabelecidas entre elas, nada seria feito, ou nenhum problema se resolveria, se as pretendidas distinções e independências significassem que as inteligências não poderiam trabalhar juntas. Por tudo isso, ao ler os trabalhos de Gardner, notasse que seu núcleo central não está no número de competências que podem ser associadas à inteligência, mas sim, fundamentalmente, no caráter múltiplo que a inteligência apresenta e na possibilidade de olharmos para as manifestações da inteligência não mais sob a perspectiva de uma grandeza a ser medida ou como um conjunto de habilidades isoladas, mas como uma teia de relações que se tece entre todas as dimensões que se estabelecem nas possibilidades de manifestações da inteligência. Diante do exposto, podemos verificar o quanto a Arte tem papel preponderante no desenvolvimento das capacidades cognitivas e no amadurecimento dos aspectos emocionais e afetivos, dada suas múltiplas possibilidades de expressão. A ciência, no final do milênio, mostrou que a grande viagem das descobertas talvez não seja a conquista espacial ou a profundidade dos oceanos, mas os múltiplos níveis do cérebro e, naturalmente, da mente humana. Já não é fantasia a ciência cognitiva discutir e refletir sobre as inteligências e a criatividade. Ao enfatizar a Arte como o conhecimento que liberta, irei reportar acerca do fato deste saber permear todas as inteligências citadas por Gardner, aprimorando-as e potencializando-as. É relevante também ressaltar que o trabalho com Arte e seu maravilhoso espectro de possibilidades: dança, artes plásticas, teatro e música; auxilia o indivíduo a sentir-se parte de um todo, pois será capaz de expressá-lo seja lá por qual linguagem optar. A http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Arte proporciona ao indivíduo um sentimento de “interligação” às pessoas a sua volta, à sua sociedade e ao mundo. De acordo, com a teoria defendida por Gardner, encontramos no ensinoaprendizagem da Arte não só a possibilidade de expressão dos homens e manifestação de cultura, mas um aprendizado que potencializa o ser humano na sua totalidade, ampliando seus limites de compreensão do mundo muito além das suas competências cognitivas. Nessa perspectiva, o ensino da Arte pode ser considerado não apenas como expressão e cultura, mas principalmente como uma forma prazerosa e eficaz na obtenção de processos de formulação, ordenamento e conclusão de pensamentos urgentes para o homem do novo milênio. A Arte precisa ser restaurada e resgatada das profundezas da ignorância que a mantém refém e prisioneira, trazendo-a a luz para que brilhe resplandecentemente dentro de cada indivíduo e, por consequência, manifeste-se para o mundo. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Considerações Finais Ao optar pelo tema Arte – “O conhecimento que liberta”, tenho a finalidade clara e objetiva de ressaltar a importância desse conhecimento para o desenvolvimento cognitivo da criança, auxiliando também o seu amadurecimento emocional e afetivo. Os atentados terroristas contra os EUA às torres do World Trade Center marcaram de forma trágica o início do 3° milênio. Educação, religião, política, globalização, capitalismo, relações de poder, valores, entre tantos outros aspectos sociais, humanos, políticos e econômicos passam a ser repensados em todo o mundo. Afinal, que mundo é esse que desejamos construir? Que valores balizam o convívio entre pessoas de deferentes culturas? Esses ataques contra a maior potência do mundo é uma resposta revoltada daqueles que se sentiram humilhados pela prepotência e arrogância norteamericana, que subjugaram povos, sentenciando-os à miséria e ao fanatismo religioso. Fanatismo esse que faz com que suas vidas nada valham diante da “causa” que os move. As relações de poder no mundo hoje se estabelecem pela submissão de homens a outros homens, seja pela força armada, seja pela força econômica, ou mesmo, pela força cultural. A Arte como uma forma de leitura do mundo, também sofre com essas transformações, modificando-se diante delas. A Arte modifica-se diante do medo, da insegurança e do terror instaurado no mundo. Nesse contexto, o papel da Arte destaca-se necessariamente, pois através dela temos o conhecimento de linguagens que desvelam um novo mundo ao indivíduo, clarificando os modos pelo quais o mundo social, político e econômico atua, ou seja, enfocando sua responsabilidade social. A influência da Arte no aprimoramento das inteligências presentes nos indivíduos, já que como foi visto, ela permeia todas elas. Vimos a sua proeminência em potencializá-las e despertá-las para a vida, a qual se manifesta em sua magnitude de espectros. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Ressaltando a importância da Arte não somente como expressão da realidade pelo indivíduo, mas também cultural. A Arte – Educação, apresenta-se como conhecimento, sem o qual mutila o homem na sua totalidade. Pois sem ela, perde-se a identidade de um povo, perde-se parte de sua história. História essa, contada pela expressividade de um povo. Diante desse infeliz episódio da história que vivemos, temos que fazer valer a Arte defendida por Picasso, que durante alguns anos foi declarada política. Defendo a Arte como conhecimento cultural e estético aliada a uma responsabilidade social a qual não se pode fugir. Ao pintar “Guernica”, sua obra mais famosa, Picasso quis responder de forma direta aos horrores da Guerra Civil Espanhola, retratando todo o seu horror e destruição sobre a cidade basca Guernica, Essa obra foi a expressão máxima não só do sofrimento espanhol, como do impacto devastador dos armamentos modernos de guerra sobre suas vítimas em toda a parte do mundo. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Apesar de ter sido criada no final da década de 30, pelo gênio Picasso, Guernica se faz presente hoje, com toda a sua força expressiva e impactante, no 3° milênio, como um clamor desesperado por paz, justiça entre os homens e fraternidade. Seu contexto e circunstâncias políticas estão representados pelo impacto causado pelo seu tamanho e por ter sido pintada totalmente em preto, branco e tons de cinza. Assim como a maioria das obras de Arte, Guernica acabou por não conseguir mudar o curso da História, mesmo tendo atraído a simpatia para a República Espanhola sitiada. Entretanto, sua mensagem está mais viva que nunca. Aprendamos com a Arte! Aprendamos a valorizar o que realmente tem valor: a vida humana, as pessoas, seus sentimentos e suas histórias de vida e seu trabalho. A Arte possibilita registrar as leituras de mundo realizadas por pessoas em determinada época, evocando para a atualidade recordações sobre acertos e erros da humanidade. Portanto, através da Arte podemos fazer uma releitura dos acontecimentos que nos acometem. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele (A palavra que eu digo sai do mundo que estou lendo, mas a palavra que sai do mundo que eu estou lendo vai além dele). (...) Se for capaz de escrever minha palavra estarei, de certa forma transformando o mundo. O ato de ler o mundo implica uma leitura dentro e fora de mim. Implica na relação que eu tenho com esse mundo”. (Paulo Freire – Abertura do Congresso Brasileiro de Leitura – Campinas, novembro de 1981). Ao nos manifestarmos através da Arte e suas linguagens auferimos um mundo melhor, já que a Arte, por sua vez, mais que promover o desenvolvimento das competências cognitivas do homem, também contribui no seu amadurecimento emocional e afetivo. Porque toda linguagem artística é um modo singular do homem refletir – reflexão/reflexo – seu “estar – no – mundo”. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] Na feitura da linguagem da Arte, do seu sistema sígnico, o homem leva ao extremo sua capacidade de inventar e ler os signos com fins artísticoestéticos. E, ao inventar e ler o mundo pela ótica oferecida pela Arte, o reinventa. Assim, o objeto artístico por si só opera com elementos da gramática da linguagem da Arte com liberdade de criação, sem regras fixas no modo de sua produção, trazendo à tona pensamento/sentimento das coisas, resgatando em nós uma surpresa ao vê-las. Referências Bibliográficas ANTUNES, Celso. A teoria das inteligências Libertadoras. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. BARBOSA, Ana Mae. Arte – Educação: Conflitos/Acertos. Limonad, 1998. BASTOS, Ana Mae Tavares. Arte-educação: leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997. DEWEY, J. Vida e Educação. São Paulo: Melhoramentos, 1972. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz & Terra, 1987. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1987. FUSARI, Maria F. de Rezende; FERRAZ, Maria Heloísa C. de T. Arte na Educação Escolar. Ed. Cortez, 1993. GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. São Paulo: Ática, 1999. GARDNER, Howard. Inteligências Múltiplas – teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected] GOULD, Stephen Jay. A Falsa Medida do Homem. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1991. GUERNICA. Disponível em: http://internix.hdfree.com.br/Guernica.htm. Acesso em: Dez/2011. LEBÂNEO, José Carlos. Adeus Professor, Adeus Professora? Novas Exigências Educacionais e Profissão Docente. São Paulo: Cortez, 1998. MARTINS, Mirian Celeste F. Dias; PICOSQUE, Gisa M.; GUERRA, M. Terezinha Telles. Didática do Ensino da Arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD , 1998. NATHANIEL, Harris. Vida e obra de Picasso. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais : Brasília : mec/sef, 1997. PETER, Tom. No Tom da Mudança. Ser Humano, n.136, Set.1998. TOMAZI, Nélson Dacio. Sociologia da Educação. São Paulo: Atual, 1997. http://praticaspedagogicas.colegionovotempo.com.br E-mail: [email protected]