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'Escândalo da mandioca' Major indiciado no inquérito nega atuação na morte do procurador RECIFE (O GLOBO) - O ma· jor PM José Ferreira dos Anjos, um dos 25 indiciados no processo conhecido como o "escândalo da mandioca", negou ontem qual. q1:lerparticipação no assassina· to do procurador Pedro Jorge de MeIo e Silva, que o denunciou, e do qual é tido como susp~ito em inquérito do Departamento de Polícia Federal (DPF). - Jamais mataria um homem de bem. Já prendi mais de 500pessoas e algumas morreram nas minhas mãos. Mas eram bandidos que sacaram primeiro. Eu só apertei o gatilho e Deus deixou morrer afirmou ele. NEGA TORTURAS O militar disse ainda que está seque· rendo fazer uma conexão entre o assassi. nato do procurador e a sua atividade poli. cial, que o obrigou, algumas vezes, "a matar marginais". Ele negou, também que tivesse participado no trucidamento do padre Antônio Hénrlque, ocorrido em 1969,dizendo que no dia do crime estava no Rio de Janeiro, participando de um campeonato de tiro ao alvo. A entrevista do major Ferreira ao GLO· BO foi acertada por seu advogado, Juarez Vleira da Cunha, que, em vários momentos, orientou as declarações de seu clien. te. Ferrelra, armado com uma pistola 45 e demonstrando tranqüilidade nas respos· tas, só irritou· se ao falar das denúncias de que teria participado de torturas a presos políticos, conforme publicou o jornal "Em Tempo", há três anos. - Quero que se apresente uma pessoa que diga que a torturei. Para isso, invoco o testemunho do jornalista Ricardo No· blat, que foi preso por mim, depois do Congresso de Ibiúna e nada sofreu. Nio nego que matei bandidos, como o margi. nal "Esdrope" e outro conhecido como "Cidinho da Maconha" - afirmou ele. CAMPEÃO DE TIRO . O major Ferreira dos Anjos é campeão de tiro ao alvo e pára-quedista. Segundo seu advogado, tem prazer em abrir o pára-quedas só no último minuto, "para sentir o sangue inchando as velas". O ad. vogado considera Ferreira "uma pessoa sem medo". Ferreira foi delegado especial em Serra Talhada, durante a perseguição ao pisto· leiro Vilmar Gala - acusado de 32 assas· sinatos - e, na ocasião, chegou a prender os 40 pistoleiros mais perigosos da região. Ele se considera um "extremista de direi· ta" e disse que se o senador Marcos Frei· re assumir o Governo de Pernambuco ja· mais irá "comungar com suas Idéias". - Defendo uma posição coerente. Não poderia, agora, virar comunista. Prendi a estudantada ligada à subversão e terro· ristas e por isso não posso negar que sou de extrema direita. O pessoal que eu prendi e que encontro por aí, na rua, está subindo na vida devagarzinho e pode ser que a gente um dia se encontre - disse ele. ' .. I.a » (J) ""C AfirmQu também não ter culpa DQcha· mado "escãndalo da mandioca", pois pa· gará o empréstimo que tomou ao Banco do Brasil. Negou ainda que tivesse parti· cipado de uma reunião para planejar o incêndio da agência do Banco. - Nos autos do inquérito não ficou provado absolutamente nada sobre essa reu· nlão - concluiu. Juiz federal ouve hoje dois indiciados o major PM José Ferreira dos Anjos e o ex·bancário Ivanilson Batista dos Santos, envolvidos no "escândalo da mandioca", serão ouvidos hoje pelo juiz Genival Ma· tias de Oliveira, da 1~ Vara Federal. Os dois foram denunciados pelo procurador Pedro Jorge de Meio e Silva, assassinado este mês, em Olinda. Além de responsabilidade em fraudes caracterizadas no processo, o major Fer· reira dos Anjos foi acusado, por Pedro .Jorge, de ter participado de uma reunião, 1!mArcoverde, a 230quilômetros do Reei. fe, em que teria planejado o incêndio da agência do Banco do Brasil de Floresta. Segundo o procurador, o militar reuniu.se também com políticos influentes "para obter a retirada da fiscalização e abafar a fraude mediante propina." Na denúncia, o procurador destaca a amizade existente entre o major e o ex· gerente da agência do Banco do Brasil de Floresta, Edmilson Soares Llns, aponta. do como o chefe da quadrilha que organi. zou a fraude. No primeiro encontro entre ambos, Ferreira dos Anjos "v.endeu" a Edmilson uma fazenda e um trator de es· teira. Antes de ter o seu cadastro transferido Ilara _F!oresta, Fl!rreira dos ~_njosopera· va irreguJaemente na agência de Serra Talhada. Em Floresta, o militar teve Ini· cialmente liberada uma verba para co· Iheita com base em laudo falso fornecido pelo fiscal do banco, Roberto Batuira. Es· se financiamento foi depois indenizado pelo Proagro sem laudo pericial "como se fora posslvel ou perder uma lavoura já colhida ou colher uma lavoura perdida", conforme destacou a denúncia. No dia anterior à indenização do Proa· gro (11 de setembro de 1980), o major con· traiu novo financiamento rural na agên. cia de Floresta (EAC·80/ 01187·8) em va· lor mais elevado (Cr$ 4,5 milhões), figu. rando no título como imóvel contratual a Fazenda Cacimba Nova, que não lhe per. tence. No inquérito, ele afirmou, posteriormente, à Policia Federal, que não aplicou o crédito na Fazenda Cacimba Nova e sim em uma fazenda de Serra Ta· Ihada. Na verdade, o crédito foi totalmen· te liberado com o laudo falso de Roberto Batuira atestando a aplicação correta na Fazenda Cacimba Nova. Pedro Jorge denunciou, igualmente, que Ferreira dos Anjos se beneficiou de recursos advindos de financiamentos contraldos em nome de alguns de seus paren. tes, num total de Cr$ 11,068 milhões, os quais foram desviados, mas Indenizados pelo Proagro. PROPINAS Sobre Ivanilson Batista dos Santos, o procurador afirma, na denúncia, que ele era o investigador de cadastro da agência do Banco do Brasil, atuando como princi· pai auxiliar do chefe do cadastro, Jarbas Salviano Duarte, substituindo.o eventual· mente. Ele "colaborou ativamente nas falsificações, a troco de propinas." "Como exemplo dessas porplnas" destaca Pedro Jorge na denúncia "Weldon Gilberto Cornélio da Silva afiro mou, perante a autoridade policial, que o empréstimo feito em nome de Laércio Nunes Lopes, EAC.81/ 0552·5, contratado em 13/ 02/ 81 e Indenizado em 13/ 03/ 81, cuja parcela única do financiamento libe· rada, de Cr$ 406 mil, fora creditada na conta dele, na realidade fora um emprés· timo para Ivanilson Batista dos Santos, um prêmio pela sua participação." Ivanilson, segundo o procurador, é o responsável direto por cerca de 50 fichas cadastrais falsas, confeccionadas com imóveis e outros bens inexistentes. o a 6til ().