Como reconhecer um meteorito - Companhia Baiana de Pesquisa

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Como reconhecer um meteorito - Companhia Baiana de Pesquisa
Companhia Baiana de Pesquisa Mineral - Governo da Bahia -
Como reconhecer um meteorito
Geodiversidade
Postado em: 03/05/2016 09:50
Não há profissão formal qualificada para essa análise. A que mais se aproxima é a de geólogo.
Essa rocha é um meteorito?
A motivação para escrever esse artigo veio das inúmeras consultas sobre como identificar
meteoritos que tenho recebido através do site. Uma resposta para essa pergunta pode ser difícil até
mesmo para os especialistas mais experientes. Não há profissão formal qualificada para essa
análise. A que mais se aproxima é a de geólogo. Porém esses foram treinados para identificar
rochas terrestres e a menos que um geólogo não tenha se especializado e experiência com
meteoritos não irá conseguir fazer uma identificação melhor do que uma pessoa que tenha estudado
e esteja habituada a fazer isso. A vasta maioria de caçadores e colecionadores de meteoritos não é
formada por geólogos e muitos deles adquiriram com o tempo uma grande experiência nessa área.
Recentemente no caso de Varre-Sai tenho também visto muitos astrônomos que se tornaram
especialistas em meteoritos de um dia para o outro. Provavelmente sem nunca ter visto um
meteorito na vida. A mídia sensacionalista do Brasil na busca de noticias de impacto publica
qualquer coisa que algum astrônomo disser sem mesmo saber se o fato é verdadeiro ou não.
Para se ter ideia da raridade de uma descoberta através de material enviado para analise, uma
instituição que analisa meteoritos nos EUA afirma que de cerca de mil espécimes enviadas
geralmente uma é realmente um meteorito. Ou seja, encontrar um meteorito não é fácil. Muitas
pessoas me enviam fotos e já perguntam qual o valor mínimo que podem receber. Antes de tentar
vender alguma amostra que eventualmente tenha encontrado ainda há um longo caminho a
percorrer de testes e análises.
A ideia desse artigo é apresentar algumas observações e testes simples que podem dar uma
primeira indicação da origem extraterrestre de um material. Às vezes é possível ter um veredicto
com alguns testes simples em outros casos somente testes mais elaborados de laboratório.
Primeiramente, gostaria de separar a análise da amostra em três fases distintas: análise preliminar,
análise da superfície externa e analise da região interna:
Análise Preliminar
O material que constitui o meteorito é em geral três vezes mais denso do que uma rocha terrestre.
Um siderito é constituído essencialmente de ferro! Assim o que primeiramente se nota ao segurar
um meteorito é seu peso relativamente maior do que uma rocha terrestre. Cerca de 99% dos
meteoritos possuem o elemento ferro em sua constituição. Mesmos os condritos ainda possuem
ferro, porem em muito menor quantidade que os sideritos. Assim o primeiro teste é verificar se a
amostra é atraída por um ímã. Caso a atração seja fraca ou o material seja pequeno, é possível
amarrar o imã a uma cordinha e aproximar o material do ímã (não o contrário!). Se houver alguma
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atração será possível perceber um movimento do ímã em direção ao material. Se o material não
atrair o ímã a possibilidade de amostra ser um meteorito cai muito, para quase zero, mas ainda
existe. Os tipos mais raros de meteoritos como acondritos tem essa característica. Esses também
são os mais valiosos!
Se o material não passar no teste do ímã a chance de ainda ser um meteorito é praticamente zero!
Se o material atrair um ímã ainda não quer dizer que o mesmo já seja um meteorito. Muitos
minerais terrestres têm essa propriedade. O tipo de material que é mais confundido com meteorito é
a magnetita, um minério de ferro que atraí muito um ímã (daí vem o nome). Outro mineral é a
hematita, que também pode ser ou não magnético. Para diferenciar esses dois tipos de materiais de
meteoritos verdadeiros são possíveis fazer testes simples como riscar o material contra uma
superfície áspera. Você pode utilizar um ladrilho de cerâmica para isso utilizando a superfície não
acabada da mesma (a superfície onde é colada ao piso). Risque vigorosamente a amostra contra
essa superfície e observe se a mesma deixa algum rastro. Se a amostra deixar um rastro
preto/cinza (como um lápis), é provável que você tenha uma magnetita. Se o risco originado tiver
uma cor avermelhada ou marrom é provável que a amostra seja uma hematita.
Análise da superfície externa
Geralmente a primeira coisa que conseguimos perceber ao tentar identificar um possível meteorito
é o seu formato, cor e textura da superfície.
Quando o meteoróide (o material recebe o nome de meteorito somente após ter sobrevivido a
reentrada e se encontra na superfície terrestre) faz a sua entrada na atmosfera terrestre a parte
externa do mesmo sofre fusão e muito material se perde nesse processo. Em geral o aspecto
externo de um meteorito, por ter sofrido essa ação na reentrada, não apresenta pontas agudas ou
cavidades, pois essas teriam sido cobertas pelo material fundido. Formatos com ponta, por sua vez,
também não iriam sobreviver a reentrada, pois são muito mais frágeis.
O formato externo às vezes pode também assumir aspectos aerodinâmicos logicamente originados
no processo de reentrada. Devido a esse processo meteoritos não apresentam aspectos regulares
como esferas ou sólidos de revolução.
Em alguns casos também é possível observar pequenas marcas na superfície chamadas de
remagliptos. Essas marcas se assemelham a marcas de dedos deixadas em uma massa de
vidraceiro. Esses remagliptos são originados porque a superfície do material possui pontos de fusão
diferentes. Tanto meteoritos rochosos como ferrosos podem apresentar esses remagliptos, porém
essas características são bem mais pronunciadas nos meteoritos ferrosos. Veja essas estruturas em
meteoritos ferrosos como o Sikhote-Alin:
Quanto à cor da superfície externa, pode haver muita variação. Um meteorito recém caído, condrito
ou siderito, vai apresentar uma crosta de fusão preta que vai se perdendo com o tempo.
A figura abaixo mostra um meteorito recém-coletado após uma queda onde a crosta preta é
facilmente observada:
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Um condrito em ambiente terrestre perde a sua crosta escura que vai ficando marrom ligeiramente
brilhante. Abaixo uma foto de um meteorito que já sofreu a ação do ambiente terrestre e perdeu boa
parte da crosta de fusão preta. Nesses meteoritos também são observadas algumas rachaduras
provenientes de dilatações e contrações contínuas ao longo do tempo.
Em relação aos meteoritos ferrosos ou sideritos, a grande maioria não teve a queda presenciada e
são encontrados muito tempo depois. Em geral estão enterrados e a sua superfície externa já está
totalmente oxidada.
Análise da região interna
A análise da região interna deve ser feita somente depois que a amostra tenha passado pela
análise da superfície externa.
A região interna do meteorito é muito diferente do que se pode ver externamente. Uma análise
dessa região é fundamental. Muitas pessoas que tentam analisar uma amostra não percebem essa
diferença. Para os dois principais grupos de meteoritos (condritos e sideritos) vou descrever o que
se espera e como se faz a análise. Em todos os casos é necessário fazer uma janela polida do
material. Isso pode ser feito facilmente com uma lima e algumas lixas. Uma mini-retífica tipo dremel
com um disco diamantado é muito prática para fazer essa janela. Meteoritos não possuem buracos
ou vesículas em seu interior.
Condrito: Em meteoritos cuja queda foi recente o interior da amostra é claro e vai escurecendo com
o tempo. Nesse tipo de meteorito o que se observa em uma janela polida do material são dois tipos
de estruturas:
1) Côndrulos: Os condritos são formados por estruturas chamadas côndrulos (o nome condrito vem
disso). Dependendo do tipo do meteorito esses côndrulos são mais ou menos visíveis e
praticamente invisíveis em alguns casos. Uma nomenclatura de classificação de meteoritos
rochosos ou condritos vem justamente dessa diferenciação dos condrulos. O tipo 3 é o que
apresenta os condrulos mais definidos e consequentemente mais facilmente visualizados em uma
janela polida.
2) Grãos de metal: Os condritos também contém uma pequena quantidade de ferro em seu interior.
É por isso que um ímã também atrai a maioria dos meteoritos rochosos. Isso é facilmente visível
através de uma seção polida. Onde é possível verificar a existência de pequenos grãos de ferro.
Abaixo uma fatia do meteorito Lamesa (b) da minha coleção. Observe os pontos prateados no
interior da seção. Esses pontos são formados de ferro e níquel!
Se o material em análise aparenta uma janela homogênea (sem côndrulos ou grãos metálicos) que
não seja metálica, então não é um meteorito!
Siderito:
Uma janela polida de uma amostra candidata a siderito deverá apresentar um aspecto homogêneo
brilhante com a cor de aço inox. Removendo a camada externa que pode ser a crosta de fusão ou
uma camada oxidada o interior vai ser essencialmente ferro. Ainda é possível encontrar amostras de
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ferro que não são meteoritos e foram originadas em processos gerados pelo homem como em
fundições (escória) ou em artefatos metálicos. Nesse caso uma análise mais profunda do material é
necessária. É possível sem grandes dificuldades fazer dois tipos de análises nessa situação:
Teste de Níquel: um siderito é composto de uma liga de Ferro e Níquel. “Meteoritos” suspeitos
encontrados e que possam ter origem em algum processo de origem humana dificilmente conteria
níquel. Para esse teste é usado um reagente que facilmente indicará a presença de níquel. O teste
de níquel pode ser feito facilmente e deveria ser obrigatório em toda analise envolvendo possíveis
sideritos.
Estrutura de Widmanstätten: Também chamada de estrutura de Thomson (na verdade o
descobridor), são figuras únicas de longos cristais de ferro e níquel encontrados em meteoritos
ferrosos octahedritos e alguns palasitos. São constituídos pela sobreposição de bandas de tenita e
kamacita (ligas com diferentes constituições de ferro e níquel). Sua formação somente pode ocorrer
em ambiente extraterrestre. Para verificar se uma amostra apresenta a estrutura de Thomson,
deve-se primeiramente preparar uma superfície bem polida. Após aplicar uma solução de acido
nítrico e ferro chamada NITOL. A solução ácida irá atacar as ligas de ferro-niquel de maneira
diferente. Parte da liga menos resistente irá ser removida com a solução ácida e alguns padrões
serão formados.
Resumo
Segue algumas perguntas que podem dar um forte indicativo para uma amostra em análise ser um
meteorito:
1) A amostra é densa? Um meteorito é cerca de duas ou três vezes mais pesado do que uma rocha
terrestre com tamanho similar.
2) A amostra é sólida e compacta?
3) A amostra é atraída por ímã? Cerca de 95% dos meteoritos são atraídos por ímã.
4) A amostra é preta ou marrom e apresenta uma superfície homogênea? A crosta de fusão de um
meteorito recém-caído é escura. O ambiente terrestre irá fazer essa crosta preta ficar marrom.
5) A amostra apresenta partículas prateadas em uma superfície cortada e polida? Essas partículas
são compostas de ferro e também participam da constituição dos meteoritos rochosos.
Envio de amostras
Se você fez os testes e ainda acha que tem um meteorito e quer saber mais envie fotos e perguntas
para o Portal do Geólogo
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