Reuso da Água Pluvial em Edificações Residenciais
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Reuso da Água Pluvial em Edificações Residenciais
Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Engenharia Departamento de Engenharia de Materiais e Construção Curso de Especialização em Construção Civil Monografia “REUSO DA ÁGUA PLUVIAL EM EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS” Autora: Bruna Quick da Silveira Orientador: Prof. Dalmo Lúcio M. Figueiredo Janeiro/2008 1 BRUNA QUICK DA SILVEIRA “REUSO DA ÁGUA PLUVIAL EM EDIFICAÇÕES RESIDENCIAIS” Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Construção Civil da Escola de Engenharia da UFMG Ênfase: Tecnologia e Produtividade das Construções Orientador: Prof. Dalmo Lúcio M. Figueiredo Belo Horizonte Escola de Engenharia da UFMG 2008 2 Agradeço a todos que me instruíram e apoiaram durante a realização deste trabalho. 3 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 01 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................... 03 2.1. A Importância do Reuso da Água............................................... 03 2.2. Reuso da Água........................................................................... 06 2.3. Aplicações................................................................................... 07 2.4. Critérios de Qualidade da Água para Reuso............................... 12 2.5. Cálculo de Quantidade de Água a Ser Coletada......................... 14 2.6. Sistemas de Reaproveitamento................................................... 17 3. ESTUDO DE CASO................................................................................. 22 4. ANÁLISE.................................................................................................... 30 5. CONCLUSÃO............................................................................................ 33 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 34 4 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01: Ciclo das Águas. (CNEN, 1996).............................................. 11 FIGURA 02: Mapa de Pluviosidade............................................................. (ttp://www.santaremtur.com.br/portugues/maps/images/brazilclimate.jpg) 15 FIGURA 03: Esquema de Instalação da Linha Europa............................... (http://www.engeplas.com.br/agua.html) 20 FIGURA 04: Esquema de Instalação da Linha Oceania............................. (http://www.engeplas.com.br/agua.html) 21 TABELA 01: Disponibilidade de Água por Habitante – Região (1000m³)... (AYIBOTELE, 1992). 03 TABELA 02: Consumo de Água per Capita. (JACOBI, Pedro)................... 16 FOTO 01: Utilização para Irrigação ou Rega de Jardins e Praças.............. (RAMOS, 2002) 08 FOTO 02: Lavagem de Ruas e Calçadas. (RAMOS,2002)......................... 08 FOTO 03: Utilização para Desobstrução da Rede de Esgoto..................... (RAMOS, 2002) 08 FOTO 04: Sistema Decorativo Aquático. (SILVEIRA, 1999)....................... 09 FOTO 05: Sistema de Irrigação. (PROAGI, 2005)...................................... 09 FOTO 06: Captação da água através de ralos e calhas na laje.................. (SILVEIRA, 2007) 23 FOTO 07: Os ralos instalados na laje cumprem a função do filtro, separando as sujeiras mais grossas (SILVEIRA, 2007)..................................................... 24 FOTO 08: Tubulação proveniente da laje de cobertura seguindo até o reservatório inferior. (SILVEIRA, 2007)............................................................................ 24 FOTO 09: Acesso ao reservatório inferior (SILVEIRA, 2007)...................... 25 FOTO 10: Alçapão para inspeção do reservatório (SILVEIRA, 2007)......... 25 FOTO 11: Bomba do sistema da irrigação (SILVEIRA, 2007)..................... 26 5 FOTO 12: Painel de controle do sistema de irrigação automático............... (SILVEIRA, 2007) 26 FOTO 13: Reservatórios superiores (SILVEIRA, 2007).............................. 27 FOTO 14: Posicionamento da tubulação em um dos reservatórios superiores (SILVEIRA, 2007)......................................................................................... 27 FOTO 15: Reservatórios superiores (SILVEIRA, 2007)............................... 28 FOTO 16: Posicionamento da tubulação no reservatório superior (SILVEIRA, 2007) ........................................................................................ 28 FOTO 17: Reservatório para uso dos coletores solares. Recebe água somente da distribuidora e está ligada ao boiler do aquecedor solar.......... (SILVEIRA, 2007) FOTO 18: Irrigação do jardim, uma das destinações finais da água da chuva (SILVEIRA, 2007)......................................................................................... 29 29 6 RESUMO A água é um recurso limitado e precioso. Embora cerca de 3/4 da superfície da Terra seja ocupada pela água, deste total apenas 3% são de água doce, dos quais apenas 20% encontram-se imediatamente disponíveis para o homem. Além disto, a distribuição desigual da água pelas diferentes regiões do planeta faz com que haja escassez do recurso em vários países. Uma alternativa para a solução deste problema é a coleta da água pluvial. Reusar a água traz benefícios porque reduz a demanda nas águas de superfície e subterrâneas além de proteger o meio ambiente, economizar energia, reduzir investimentos em infra-estrutura e proporcionar melhoria dos processos industriais. O uso eficiente da água representa uma efetiva economia para consumidores, empresas e a sociedade de um modo geral. Algumas aplicações para reuso da água ou da água reciclada incluem entre outros possíveis, os industriais, irrigação de lavouras, a irrigação de parques e jardins, campos de futebol, sistemas decorativos aquáticos, reserva de proteção contra incêndios, lavagem de trens e ônibus públicos, gramados, árvores e arbustos decorativos ao longo de avenidas e jardins de escolas e universidades. Os critérios de qualidade para o reuso da água são baseados em requisitos de usos específicos, em considerações estéticas e ambientais e na proteção da saúde pública. 7 O cálculo da quantidade de água a ser coletada em uma residência deve levar em consideração o volume de chuva anual na região desejada, a superfície de cobertura por onde a água será coletada, a quantidade de água a ser coletada e a demanda do local. A instalação pode ser feita segundo a solução alemã, que supre a demanda de uso interno e externo, atendendo a áreas de maiores captação e sendo ideal para obras que ainda se encontram na fase de construção, ou a solução australiana, que oferece soluções mais simples e de menor custo, voltadas prioritariamente para o uso externo de obras já acabadas. O estudo de caso apresentado neste trabalho ilustra o reaproveitamento da água da chuva em uma residência, demonstrando que além de ser ecologicamente correto, o sistema pode ainda ser muito interessante economicamente. Em casos como o ilustrado, onde há uma área significativa de irrigação, o investimento se torna financeiramente viável em um menor prazo, uma vez que este uso não demanda nenhum tipo de tratamento à água coletada, evitando maiores despesas. Passa-se então ao questionamento da eficiência do sistema e à busca de alternativas para potencializá-lo. A partir do momento em que ele se torna eficiente somente com a incidência de chuvas alternadas, quando a água captada em um período é utilizada no outro, conclui-se que ele não será útil em áreas de baixa pluviosidade ou regiões com períodos de chuvas curtos. Além disto, devese considerar que mesmo em períodos de chuvas prolongadas, uma vez cheio o reservatório, todo o restante da chuva não será coletado, restringindo a capacidade de coleta ao tamanho do reservatório. 8 1. INTRODUÇÃO A água faz parte do patrimônio do nosso planeta. Cada continente, cada povo, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano e sem ela não poderíamos conceber a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura como são. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 30 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DDH, 2005). Entretanto, os meios naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, esta deve ser manipulada com racionalidade, preocupação e moderação, não devendo ser desperdiçada, poluída, ou envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento, para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis (Zampieron, 2005). Para tanto, sugere-se então, a adoção da captação da água da chuva como ferramenta de gestão da água. O Reuso Planejado da Água faz parte da Estratégia Global para a Administração da Qualidade da Água, proposta pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005). Ela prevê o alcance simultâneo de três importantes elementos que são a proteção da saúde pública, a manutenção da integridade dos ecossistemas e o uso sustentado da água (Reuso, 2005). 9 O reuso da água seria, então, a utilização dessa substância por duas ou mais vezes, reproduzindo o que ocorre espontaneamente na natureza através do “ciclo da água”, com a finalidade de evitar que as indústrias ou grandes condomínios residenciais e comerciais continuem consumindo água limpa em atividades em que seu uso é dispensável. Com isso, preserva-se a água potável para o atendimento exclusivo das necessidades que exigem sua pureza e para o consumo humano (Água, 2005). A água reaproveitada pode ser utilizada na recarga do lençol freático, na geração de energia, na irrigação, na reabilitação de corpos d’água e industrial, na refrigeração de equipamentos, na lavagem de ruas e feiras livres, na limpeza de monumentos, em sistemas de controle de incêndio, na limpeza de banheiros e pátios, em descargas sanitárias, nas fontes luminosas, etc. Em vários países do mundo o reuso planejado da água já é uma solução adotada com sucesso em diversos processos. 10 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. A Importância do Reuso da Água A água é um recurso limitado e precioso. Embora cerca de 3/4 da superfície da Terra seja ocupada pela água, deste total apenas 3% são de água doce. Porém, 80% da água doce estão congeladas nas calotas polares ou geleiras, ou em lençóis subterrâneos muito profundos, ou seja, somente 20% do volume total de água doce do planeta encontram-se imediatamente disponível para o homem. A distribuição desigual da água pelas diferentes regiões do planeta faz ainda com que haja escassez do recurso em vários países. TABELA 01: DISPONIBILIDADE DE ÁGUA POR HABITANTE – REGIÃO (1000m³) N.B. AYIBOTELE. 1992. THE WORLD WATER: ASSESSING THE RESOURCE No Brasil a água doce é abundante na maioria das regiões. No entanto, o mau uso, o desperdício e a poluição dos rios e lençóis freáticos ameaçam o abastecimento e aumentam o custo da água tratada da rede pública, principalmente nos grandes centros. Neles, a situação é agravada pelo problema da impermeabilização do solo, que além de diminuir a recarga dos lençóis 11 aqüíferos, causa enchentes em épocas de chuva intensa. A escassez e o mau uso dos recursos hídricos fizeram com que a ONU considerasse a água o principal tema do século 21 e declarasse 2003 o ano internacional da água. A proteção da água potável deve ser assegurada para garantir que ela não se torne, num futuro próximo, um produto de luxo e, por isto, a Unesco propõe que a década de 2005 a 2015 seja dedicada à busca de soluções (Para, 2004). A captação da água da chuva é uma prática muito difundida em países como a Austrália e a Alemanha, aonde novos sistemas vêm sendo desenvolvidos, permitindo a captação de água de boa qualidade de maneira simples e bastante eficiente em termos de custo-benefício. A utilização de água de chuva traz várias vantagens (Aquastock, 2005): • Redução do consumo de água da rede pública e do custo de fornecimento da mesma; • Evita a utilização de água potável onde esta não é necessária, como por exemplo, na descarga de vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagem de pisos, etc; • Os investimentos de tempo, atenção e dinheiro são mínimos para adotar a captação de água pluvial na grande maioria dos telhados, e o retorno do investimento ocorre a partir de dois anos e meio; • Faz sentido ecológica e financeiramente não desperdiçar um recurso natural escasso em toda a cidade, e disponível em abundância todos os telhados; 12 • Ajuda a conter as enchentes, represando parte da água que teria de ser drenada para galerias e rios; • Encoraja a conservação de água, a auto-suficiência e uma postura ativa perante os problemas ambientais da cidade. Algumas cidades brasileiras já transformaram em lei a captação da água pluvial. A lei municipal de Curitiba-Paraná nº. 10785 de 18 de setembro de 2003 diz que1: "Cria no Município de Curitiba, o Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações - PURAE." Art. 1º. O Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações – PURAE tem como objetivo instituir medidas que induzam à conservação, uso racional e utilização de fontes alternativas para captação de água nas novas edificações, bem como a conscientização dos usuários sobre a importância da conservação da água. Art. 7º. A água das chuvas será captada na cobertura das edificações e encaminhada a uma cisterna ou tanque, para ser utilizada em atividades que não requeiram o uso de água tratada, proveniente da Rede Pública de Abastecimento, tais como: rega de jardins e hortas, lavagem de roupa; lavagem de veículos; lavagem de vidros, calçadas e pisos. Art. 8º. As Águas Servidas serão direcionadas, através de encanamento próprio, a reservatório destinado a abastecer as descargas dos vasos sanitários e, apenas após tal utilização, será descarregada na rede pública de esgotos. Em São Paulo, a lei estadual N.º 12526 de 2 de janeiro de 2007 pronuncia2: “Estabelece normas para a contenção de enchentes e destinação de águas pluviais”. Artigo 1º - É obrigatório a implantação de sistema para a captação e retenção de águas pluviais, coletadas por telhados, coberturas, terraços e pavimentos descobertos, em lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500m2 (quinhentos metros quadrados)... Existe ainda a norma NBR-15527, Água de chuva – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos, instituída em 1 LEI Municipal de Curitiba nº 10485 de 18/09/2003. Programa de Conservação e Uso Racional da Água nas Edificações. Disponível em: <http://www.curitiba.pr.gov.br/Secretarias.aspx?svc=70> 2 LEI Estadual de São Paulo n° 12526 de 2/1/2007. Di sponível em: <http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/index.htm> 13 setembro de 2007 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que prevê, entre outras coisas, os requisitos para o aproveitamento da água pluvial coletada em coberturas de áreas urbanas e aplica-se a usos não potáveis em que as águas podem ser utilizadas após o tratamento adequado. 2.2. Reuso da Água O reaproveitamento ou reuso da água é o processo pelo qual a água, tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outro fim (Loreno, 2005). Essa reutilização pode ser direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou não. João Carlos de Almeida Mieli (Mieli, 2001), em sua dissertação de mestrado sobre Reuso da Água Domiciliar, define melhor cada tipo de uso: Reuso indireto não-planejado da água: É aquele em que a água, utilizada em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada. Reuso indireto planejado da água: É aquele no qual os efluentes depois de tratados são descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira controlada, no atendimento de alguma necessidade. 14 O reuso indireto planejado da água pressupõe que exista também um controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros efluentes que também atendam aos requisitos de qualidade do reuso objetivado. Reuso direto planejado das águas: É aquele cujos efluentes, depois de tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reuso. Já vem sendo praticado por indústrias e em irrigação. Reciclagem de água: É o reuso interno da água, antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição. Funciona, assim, como fonte suplementar de abastecimento do uso original. É um caso particular do reuso direto planejado. 2.3. Aplicações Algumas aplicações para reuso da água ou da água reciclada incluem entre outros possíveis, os industriais, irrigação de lavouras, a irrigação de parques e jardins, campos de futebol, sistemas decorativos aquáticos, tais como fontes, chafarizes, espelhos e quedas d'água, reserva de proteção contra incêndios, lavagem de trens e ônibus públicos, gramados, árvores e arbustos decorativos ao longo de avenidas e rodovias, quadras de golfe, jardins de escolas e universidades (Água, 2005). A seguir são ilustradas algumas destas aplicações: 15 FOTO 01: UTILIZAÇÃO PARA IRRIGAÇÃO OU REGA DE JARDINS E PRAÇAS RAMOS, 2002 FOTO 02: LAVAGEM DE RUAS E CALÇADAS RAMOS, 2002 FOTO 03: UTILIZAÇÃO PARA DESOBSTRUÇÃO DA REDE DE ESGOTO RAMOS, 2002. 16 FOTO 04: SISTEMA DECORATIVO AQUÁTICO SILVEIRA, 1999. FOTO 05: SISTEMA DE IRRIGAÇÃO PROAGI, 2008 17 Reusar a água ou usar a água reciclada traz benefícios porque reduz a demanda nas águas de superfície e subterrâneas disponíveis (Strauss, 1991 apud Mieli, 2001). O uso da água de maneira mais eficiente protege o meio ambiente, economiza energia, reduz os investimentos em infra-estrutura, ocasionando melhoria dos processos industriais. O uso eficiente da água representa uma efetiva economia para consumidores, empresas e a sociedade de um modo geral. Segundo Hespanhol (2000) apud Mieli (2001), um dos pilares do uso eficiente da água é o combate incessante às perdas e aos desperdícios - no caso do Brasil a média de perdas nos sistemas de abastecimento é de 40%. Um sistema de abastecimento de água potável não deve ter como objetivo principal tratar água para irrigação ou para servir como descarga para banheiros ou outros usos menos nobres. Esses usos podem ser perfeitamente cobertos pelo reuso ou por água reciclada. Alguns fatores devem ser considerados em um programa de reuso da água: • Identificação de oportunidades em reusar a água. • A determinação da qualidade mínima da água necessária para o uso em questão. • Avaliação da degradação da qualidade de água resultante do primeiro uso. • Identificação das fontes de água que satisfazem às exigências de qualidade da água. • Determinação de como a água pode ser transportada ao novo uso. 18 Governo e Concessionárias devem unir seus esforços para desenvolver programas de informação ao público sobre os princípios da eficiência do uso da água explicitando como a água chega ao consumidor; os custos do serviço da água; a importância de se conservar a água e como as pessoas podem participar dos programas de conservação. À semelhança do que acontece com o ciclo da água na natureza (fig.01), o "caminho suave" procura integrar as diversas etapas: o abastecimento da água se beneficia com o tratamento dos esgotos e com o aproveitamento da água da chuva, que ajudam a proteger e restaurar a própria capacidade do ecossistema de produzir mais água limpa. Se tudo isto estiver funcionando, será muito mais barato utilizar os serviços ligados à água. FIGURA 01: CICLO DAS ÁGUAS As condições de abastecimento e CNEN, 1996. saneamento vêm melhorando gradativamente. Segundo o IBGE (2004), o número de domicílios abastecidos pela rede geral de distribuição de água é de 78,8%. O abastecimento de água do restante da população ainda é feito por poços, nascentes, carros-pipa ou até pela chuva. 19 Essa situação é mais freqüente nas zonas rurais, onde apenas 17,2% das moradias dispõem de água tratada, em comparação com 92,7% das moradias das áreas urbanas. Há diferenças também entre as regiões. No Norte e no Nordeste o percentual de domicílios abastecidos com água tratada é inferior a 70%, no Sudeste ultrapassa os 85%. O escoamento sanitário beneficia 63,9% da população brasileira. As duas formas mais adequadas para efetuar esse escoamento são: por rede coletora em 42,4% dos domicílios e por fossa séptica em 21,5%. Em 27,5% das moradias há apenas fossas secas ou os dejetos são lançados diretamente em valas, rios, lagos ou no mar. Em 9% dos domicílios não existe nenhuma forma de escoamento (IDH, 2004). 2.4. Critérios de Qualidade da Água para Reuso Quando se deseja reaproveitar a água da chuva, para qualquer fim específico, é importante saber que sua aceitabilidade depende diretamente de suas qualidades físicas, químicas e micro bióticas, podendo estas serem afetadas pela qualidade da fonte geradora, da forma de tratamento adotada, da confiabilidade no processo de tratamento e da operação dos sistemas de distribuição (Crook, 1993). Os critérios de qualidade para o reuso da água são baseados em requisitos de usos específicos, em considerações estéticas e ambientais e na proteção da saúde pública (Ramos, 2005). Estes critérios diferem bastante quando se comparam países industrializados com países em desenvolvimento, diferença 20 que pode ser parcialmente atribuída a fatores como viabilidade econômica, tecnologia disponível, nível geral da saúde das populações e características políticas e sociais. Para países em desenvolvimento, onde as infecções parasitárias são endêmicas, as orientações recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005) para o reuso da água são consideravelmente menos restritivas, sendo dirigidas principalmente para remoção de helmintos. Dependendo da utilização, os critérios para a qualidade da água incluem os seguintes aspectos3: • • • • Proteção à saúde da população: A água para reuso deve ser segura para o fim pretendido. A maioria dos critérios de qualidade desta água é voltada principalmente para a proteção da saúde da população e muitos são norteados apenas por preocupações com a segurança microbiológica. Requisitos de uso: Muitos usos industriais e algumas outras utilizações têm requisitos físico-químicos de qualidade que estão relacionados com a saúde da população. As qualidades físicas, químicas e microbiológicas podem limitar a aceitabilidade da água para reuso. Aspectos estéticos: Para usos mais nobres, como por exemplo, a irrigação urbana ou para a descarga de vasos sanitários, a aparência da água não deve ser diferente daquela apresentada pela água potável, ou seja, deve ser clara, sem cor e sem odor. Em represas que se destinam à recreação, a água recuperada não deve estimular o crescimento de algas. Percepção da população e/ou do usuário: A água deve ser percebida como segura e aceitável para o uso pretendido e os órgãos de controle devem divulgar tal garantia. Esta diretriz pode ocasionar a imposição de limites conservadores para a qualidade da água por parte dos órgãos de controle. É importante lembrar ainda que, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS, 1973) os critérios de saúde para o reuso potável definem que não devera existir nenhum coliforme fecal em 100ml, nenhuma partícula virótica em 3 CROOK, James, apud SANTOS, Hilton Felício. Critérios de Qualidade da Água para Reuso. Revista DAE 174, Dez 1993. 21 1000ml ou nenhum efeito tóxico para seres humanos, entre outros critérios de potabilidade da água. Segundo o pesquisador James Crook, 1993, os maiores problemas decorrentes do reuso da água são a tubercularização, a corrosão e entupimentos devidos à proliferação biótica. Ele sugere algumas soluções para problemas específicos, como a clarificação com cal ou precipitação com sulfato de alumínio para remoção de nutrientes. A troca tônica, que é eficaz na remoção da dureza da água. O ácido sulfúrico, que pode ser usados para o controle do ph e da alcalinidade, os poli fosfatos, para controle da corrosão, os fosfanatos ou os fosfatos de cálcio para a desestabilização, os poliacrilatos para a dispersão de sólidos em suspensão, o cloro para controle biológico, além de agentes antiespumantes para a dispersão das espumas causadas pelos fosfatos e por alguns compostos orgânicos. 2.5. Cálculo de Quantidade de Água a Ser Coletada Para calcular a quantidade de água que se pode coletar, Brenda Valle, 1981, afirma que é necessário primeiro pesquisar o volume de chuva anual na região desejada, sendo que este valor deve representar a média dos três anos consecutivos de menos chuva, de forma que não se sobreestime a quantidade de água que se pode coletar. Em casos onde estas informações não estejam disponíveis, utiliza-se nos cálculos 2/3 das precipitações médias anuais, presentes em mapas como o apresentado a seguir. 22 FIGURA 02: MAPA DE PLUVIOSIDADE http://www.santaremtur.com.br/portugues/maps/images/brazilclimate.jpg Dependendo da utilização a ser dada à água, não é interessante que sua coleta se dê imediatamente após o início da chuva, pois esta água inicial, ao escorrer pela cobertura, passa a conter sujeiras como excrementos de pássaros, folhas, entre outras impurezas que dificultam no processo de tratamento desta água. Ainda seguindo as recomendações de Valle, supondo que se perde 10% da chuva nesta água inicial que não se coleta, e também na evaporação e na água que transborda do reservatório quando a chuva é intensa, a quantidade de chuva coletada em litros será igual à superfície da cobertura multiplicada pela pluviosidade média e por 0,9, ou seja, 90% coletada. Lembrando que se entende por ‘superfície’ a área de cobertura quando esta é plana ou então a sua projeção em planta, quando inclinada. Quando se pretende coletar toda a água da chuva, se faz necessária a utilização de um reservatório que tenha tamanho suficiente para armazenar no 23 mínimo 25% da chuva anual estimada, e um ladrão para garantir que não ocorram transbordas indesejadas. Antes de considerar a utilização que se dará à água da chuva, convém examinar também os consumos anuais por grupo de renda e o consumo de água em habitações residenciais, já que estes variam bastante de pessoa para pessoa de acordo com a sua faixa de renda e cidade onde habitam. TABELA 02: CONSUMO DE ÁGUA PER CAPITA. País Brasil (Distrito Federal) Brasil (Rio de Janeiro) Brasil (Minas Gerais) Brasil (Região Norte) Consumo médio por hab. (litro/pessoa/dia) 225 140 124 140 JACOBI, Pedro. Coletadas todas estas informações, pode-se então dar início ao cálculo de quantidade de água a ser coletada propriamente dito. Nesta pesquisa, os valores apresentados por Valle em seus cálculos para cidades na Espanha foram substituídos por valores encontrados no Brasil, já que este é o país de enfoque da pesquisa. Para fazer uma comparação entre a quantidade de água de chuva coletada e a quantidade de água fria consumida, imaginemos uma habitação em Belo Horizonte, com quatro pessoas em uma casa cuja cobertura tenha uma superfície de 50m²: 24 Chuva média anual: 1.554mm 2/3 das chuvas médias anuais: 1.036mm Chuva coletada: 1.036 x 50 x 0,9 = 46.620 Litros/ano. Este valor estimado significa que ao final de um ano quase 50.000 litros de água seriam economizados em descargas sanitárias, lavagem de carros, irrigação de jardins entre tantos outros usos que se podem dar à água da chuva. 2.6. Sistemas de Reaproveitamento da Água da Chuva O reaproveitamento eficiente da água da chuva não tem mistérios, mas são necessários alguns pequenos cuidados que tornam os sistemas mais seguros e de fácil manutenção. Abaixo se encontram os passos a serem seguidos na montagem do sistema de reaproveitamento da água (Aquastock, 2008): 1º Passo: Dimensionamento do Sistema O primeiro passo para o reaproveitamento eficiente da água da chuva é o dimensionamento do sistema ideal para cada caso, a partir das necessidades e objetivos do usuário, da área de captação e das características da construção. A definição do tamanho e localização do reservatório é particularmente importante, pois este é o item mais oneroso do projeto e sua especificação correta pode representar uma importante economia. É necessária a coleta de informações por meio de entrevista com o cliente e levantamentos no local. 25 2º Passo: Modelo do Sistema O segundo passo é definir o modelo do sistema de reciclagem, que pode ser feito de várias formas diferentes, dependendo da empresa contratada. Eles podem variar desde linhas que utilizam cisternas e filtros subterrâneos e apresentam soluções mais completas de reciclagem de água de chuva, às linhas mais simples, que utilizam filtros de descida e caixas d'água acima do nível do solo. 3º Passo: Fornecimento de Componentes Com base no dimensionamento e na definição dos objetivos e características do sistema a ser implantado, o fornecedor especifica, integra e fornece os diversos componentes necessários. O principal componente a ser especificado nesta etapa será o filtro por onde a água passará antes de ir para o reservatório. 4º Passo: Instalação do Sistema A instalação fica por conta do fornecedor, que deve dispor de pessoal especializado para realizar a instalação de todos os componentes hidráulicos e também elétricos (no caso de utilização de bombas) dos sistemas. Para efeito ilustrativo, foi eleita a empresa Engeplas para exemplificar dois sistemas de coleta e tratamento da água da chuva, sendo esta uma escolha aleatória, sem fins publicitários. 26 A “Linha Europa”, inspirada na solução alemã de tratamento de água de chuva, compreende sistemas destinados a suprir a demanda de uso interno e externo, atendendo também a áreas de maiores captação. É ideal para obras que ainda se encontram na fase de construção, permitindo uma maior integração entre os sistemas de água potável e pluvial. No caso de um sistema para suprir o uso interno e externo, os componentes devem incluir calhas para a captação da água do telhado, filtro, reservatório e bomba, além de outros acessórios, como freio d’água (para reduzir o turbilhonamento na cisterna), filtro flutuante (para garantir a qualidade da água coletada pela bomba) e multisifão (para evitar a entrada de insetos e roedores na cisterna). A água da cisterna subterrânea pode ser recalcada com a ajuda de bomba para um reservatório superior, de onde segue aos pontos de consumo por gravidade. Pode ainda ser feita por uma bomba pressurizadora, com captação da água diretamente do reservatório inferior, quando as torneiras são acionadas. Neste caso o reservatório superior é desnecessário. O tamanho dos reservatórios é definido levando-se em conta a previsão de consumo, a superfície de captação e o período máximo de estiagem previsto para a região. Pode-se optar ainda por complementar o abastecimento por água de chuva com alimentação da rede pública, ligando os dois sistemas. O diagrama abaixo ilustra um esquema de instalação típico para uso interno e externo. 27 FIGURA 03: ESQUEMA DE INSTALAÇÃO DA LINHA EUROPA. AQUASTOCK, 2008 1. Filtro tipo vortex 2. Freio d’água 3. Bomba submersível 4. Filtro flutuante 5. Central de controle/ interligação com rede pública 6. Multisifão 7. Bóia de nível 8. Alimentação dos pontos de consumo a partir da caixa d’água superior. A “Linha Oceania”, baseada na solução australiana de tratamento da água da chuva, oferece soluções mais simples e de menor custo, voltadas prioritariamente para o uso externo (jardins, pisos externos). A instalação simplificada e o custo menor fazem com que esta linha de produtos seja ideal para obras acabadas, pois implica em interferência mínima nas instalações existentes. Um sistema para uso externo é bem mais simples. Como o consumo é menor, o reservatório também pode ser menor, podendo ser colocado diretamente sobre o chão. É possível também alimentar os pontos de consumo por 28 gravidade diretamente do reservatório, dispensando o uso de bombas e outros equipamentos. FIGURA 04: ESQUEMA DE INSTALAÇÃO DA LINHA OCEANIA. AQUASTOCK, 2008 29 3. ESTUDO DE CASO Para exemplificar os princípios apresentados nesta pesquisa foi realizado um estudo de caso de uma residência construída no ano de 2007, localizada no Condomínio Vale dos Cristais, com 600m² e capacidade para seis habitantes. A coleta da água da chuva foi um dos requisitos impostos pelos proprietários durante a concepção do projeto, o que permitiu que o sistema fosse integrado à edificação e calculado de acordo com as suas necessidades reais, as quais abrangem o jardim de aproximadamente 1.000m² e seis instalações sanitárias. Para tanto, foi construído um reservatório inferior com capacidade para 50.000 litros, que aproveitou parte da estrutura inferior da casa permitindo grande economia na estruturação do sistema. Além deste, também foi instalado um reservatório superior com capacidade para 2.000 litros, para atendimento exclusivo dos vasos sanitários. O sistema é muito simples e se resume à coleta da água da chuva através das calhas e rufos do telhado, que se encaminham diretamente para o reservatório superior, de onde segue para os vasos sanitários. Existem ainda os ralos instalados nas lajes impermeabilizadas que, ao coletarem a água, já servem como filtro para as impurezas maiores como as folhas. Esta água fica armazenada no reservatório inferior, podendo atender tanto o sistema de irrigação quanto reabastecendo o reservatório superior através de uma bomba de recalque. Convém lembrar ainda que ambos os reservatórios possuam 30 alimentação da rede pública para complementar o abastecimento da água da chuva em épocas de baixa pluviosidade. A tubulação utilizada foi a mesma que se utiliza normalmente para a coleta pluvial e o abastecimento de água, variando de 75 a 100 mm na captação de 50 a 40 mm na distribuição. Foi implantado ainda um sistema de irrigação inteligente, dotado de sensores externos que detectam o percentual de água no ar, evitando assim que a rega do jardim ocorra durante os dias chuvosos. O sistema encontra-se programado para realizar duas regas ao dia, abrangendo os 04 setores do jardim e consumindo cerca de 2.400 litros de água por ciclo. FOTO 06: CAPTAÇÃO DA ÁGUA ATRAVÉS DE RALOS E CALHAS NA LAJE. SILVEIRA, 2007. 31 FOTO 07: OS RALOS INSTALADOS NA LAJE CUMPREM A FUNÇÃO DO FILTRO, SEPARANDO AS SUJEIRAS MAIS GROSSAS. SILVEIRA, 2007. FOTO 08: TUBULAÇÃO PROVENIENTE DA LAJE DE COBERTURA SEGUINDO ATÉ O RESERVATÓRIO INFERIOR. SILVEIRA, 2007. 32 SENSOR DE UMIDADE: EVITA QUE O SISTEMA DE IRRIGAÇÃO FUNCIONE DURANTE OS PERÍODOS DE CHUVA. FOTO 09: ACESSO AO RESERVATÓRIO INFERIOR. SILVEIRA, 2007. FOTO 10: ALÇAPÃO PARA INSPEÇÃO DO RESERVATÓRIO. SILVEIRA, 2007. 33 FOTO 11: BOMBA DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO SILVEIRA, 2007. BOMBA DE RECALQUE QUE ENVIA A ÁGUA ATÉ A CAIXA D`ÁGUA SUPERIOR. FOTO 12: PAINEL DE CONTROLE DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO AUTOMÁTICA. SILVEIRA, 2007. 34 TUBULAÇÃO PROVENIENTE DA CALHA. Ø=75 EXTRAVASOR Ø=100 mm. TUBULAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA. Ø=50 TUBULAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA DA COPASA. Ø=40 FOTO 13: RESERVATÓRIOS SUPERIORES. SILVEIRA, 2007. TUBULAÇÃO PROVENIENTE DA CALHA. Ø=75 mm EXTRAVASOR QUE DIRECIONA A ÁGUA ATÉ O RESERVATÓRIO INFERIOR. Ø=100 mm TUBULAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA DA COPASA. Ø=40 mm FOTO 14: POSICIONAMENTO DA TUBULAÇÃO EM UM DOS RESERVATÓRIOS SUPERIORES. SILVEIRA, 2007. 35 FOTO 15: RESERVATÓRIOS SUPERIORES SILVEIRA, 2007. ENTRADA DE ÁGUA DA COPASA PARA TORNEIRA LOCALIZADA NA PARTE EXTERNA DA CASA. LADRÃO DA CAIXA DE ÁGUA FRIA QUE ALIMENTA OS COLETORES SOLARES. REGISTRO DE ÁGUA DA COPASA NA CAIXA DE COLETA DE ÁGUA PLUVIAL. FOTO 16: POSICIONAMENTO DA TUBULAÇÃO NO RESERVATÓRIO SUPERIOR. SILVEIRA, 2007. 36 FOTO 17: RESERVATÓRIO PARA USO DOS COLETORES SOLARES. RECEBE ÁGUA SOMENTE DA DISTRIBUIDORA E ESTÁ LIGADA AO BOILER DO AQUECEDOR SOLAR. SILVEIRA, 2007. FOTO 18: IRRIGAÇÃO DO JARDIM, UMA DAS DESTINAÇÕES FINAIS DA ÁGUA DA CHUVA. SILVEIRA, 2007. 37 4. ANÁLISE O reaproveitamento da água da chuva em residências, além de ser ecologicamente correto, pode ainda ser muito interessante economicamente. Em casos como o apresentado, onde há uma área significativa de irrigação, o investimento se torna financeiramente viável em um menor tempo, uma vez que este uso não demanda nenhum tipo de tratamento à água coletada, evitando maiores despesas. Os investimentos feitos no âmbito estrutural foram irrisórios, visto que o sistema aproveitou a própria estrutura da residência para ser implantado. Quanto à esfera hidráulica, os custos também não foram significativos já que independentemente da instalação de um sistema deste tipo, a residência deve encaminhar a água pluvial à rede pública coletora, demandando a utilização de grande quantidade de tubulações. O custo adicional veio da instalação do reservatório superior, no valor aproximado de R$12.000,00 (doze mil reais), e a bomba de recalque, que envia a água do reservatório inferior para o superior em caso de necessidade. Para se avaliar, então, o custo benefício do sistema, é necessário considerar a pluviometria anual, a área de captação e a demanda do recurso. O ano de 2007 e início do ano de 2008 apresentaram índices pluviométricos muito baixos em relação à média dos anos anteriores. Desta forma foram coletados apenas 50m³ de água no período de chuvas. 38 Isto significa que o sistema não atuou em seu estado pleno, ficando os reservatórios, na maior parte do tempo, com pouca água, levando a um consumo de água da COPASA muito alto e à geração de custos extras que poderiam ser evitados. Apenas durante duas semanas, quando ocorreram chuvas prolongadas, o reservatório superior conseguiu se manter em seu estado pleno, garantindo uma economia de cerca de 8.000 litros. Estima-se que a economia gerada ao final um ano de funcionamento do sistema seja de R$1.000,00 (hum mil reais), o que fará com que o retorno do investimento ocorra somente em aproximadamente 15 anos. Passa-se então ao questionamento da eficiência do sistema e à busca de alternativas para potencializá-lo. A partir do momento em que ele se torna eficiente somente com a incidência de chuvas alternadas, quando a água captada em um período é utilizada no outro, conclui-se que ele não será útil em áreas de baixa pluviosidade ou regiões com períodos de chuvas curtos. Além disto, deve-se considerar que mesmo em períodos de chuvas prolongadas, uma vez cheio o reservatório, todo o restante da chuva não será coletado, restringindo a capacidade de coleta ao tamanho do reservatório. Uma sugestão para solucionar esta deficiência é conjugação com o sistema de poço artesiano que apesar de apresentar alto custo inicial – aproximadamente R$20.000,00 – garante fornecimento de água durante todo o ano. 39 Recomenda-se ainda a manutenção freqüente de todos os componentes do sistema, para evitar que este gere custos extras ou esperdícios. Um defeito na bóia, por exemplo, pode levar ao acionamento da alimentação da rede pública e o aumento significativo na conta de água. 40 5. CONCLUSÃO Ao chegarmos ao final desta pesquisa e avaliarmos tudo o que foi dito a respeito da necessidade de se preservar a água, podemos concluir que o reaproveitamento da água, não somente a pluvial, mas também das ‘águas servidas’, representa uma alternativa eficiente e econômica no combate ao desperdício. Os benefícios do reuso devem ser informados à população para que ela reflita sobre os desdobramentos na economia tanto da matéria-prima quanto dos recursos financeiros, uma vez que a água reciclada costuma apresentar alguma turvidez - o que não chega a comprometer o seu uso – mas sempre causa estranheza ao usuário que não está acostumado a ela. Como o aumento da demanda pela água segue seu curso, é natural que alternativas para seu uso sejam previstas. Nossa contribuição, no âmbito da presente proposta, foi projetar a ampliação do uso da água reciclada, expectativa de que, com a comprovação das vantagens de seu aproveitamento, tal recurso torne-se uma prática mais comum, a ponto de as novas construções já serem projetadas com a previsão do mesmo. Nem sempre a economia é significativa em termos financeiros, porém com a escassez cada vez maior da água, o percentual encontrado é bem expressivo. 41 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • VALLE, Brenda e Robert. La Casa Auto Sificiente. Capítulo 9: Recogida del água de lluvia. (1 ed.) Espanha: H. Blume Ediciones. 1981, p. 57-59. • MIELI, João Carlos de Almeida. Reuso da Água Domiciliar. Niterói, abr.2001. • JÚNIOR, Avay Miranda. O Reuso da Água e a Gestão de Recursos Hídricos. Disponível em: <http://www.unb.br/ft/enc/recursoshidricos/artigo114.pdf> Acesso em: 23/03/2005. • SAYEGH, Simone. Futuro do Presente. aU, Ed. Pini, ano 19, nº127, p.2431, out.2004. • CIOCCHI, Luiz. 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