íntegra da carta
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íntegra da carta
Vossa Excelência Ministro Mauro Vieira Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios Bloco H Zona Cívica Administrativa 70170-900 Brasília, 22 de junho de 2015. Excelentíssimo Senhor Ministro, As organizações da sociedade civil e os movimentos sociais que subscrevem a presente carta se dirigem à Vossa Excelência para solicitar que mobilize os esforços necessários para assegurar o êxito da III Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento das Nações Unidas, que ocorrerá em Addis Abeba, de 13 a 16 de julho de 2015. A Conferência de Addis Abeba é um passo vital e indispensável para a adoção de um marco global pós-2015 de um novo tratado relacionado às questões climáticas, sendo também uma oportunidade crucial para corrigir o falido sistema financeiro internacional, que tem conduzido o mundo a uma pobreza persistente, crescentes desigualdades e a violação dos direitos humanos de milhões de pessoas. São mais de 100 bilhões de dólares que saem anualmente da América Latina e do Caribe através de fluxos financeiros ilícitos, dos quais mais de 80% corresponde a atividades comerciais, o que quer dizer que têm relação direta com as práticas de sonegação, evasão e fraude fiscal de grandes corporações multinacionais. O restante corresponde a corrupção e crime organizado.No Brasil, em 2012, os fluxos financeiros ilícitos que saíram do país somaram US$ 33,7 bilhões, o que correspondeu a 1,5% do PIB do país. Se esses recursos fossem utilizados para financiar o desenvolvimento socioambientalmente justo da região, poderia contribuir para reduzir significativamente suas profundas desigualdades. É por isso que a cúpula emAddis Abeba é de suma importância para alcançar um acordo consistente sobre financiamento para o desenvolvimento destinado a nossos países. Aproveitamos a oportunidade para parabenizar a iniciativa da CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) que recentementelevantou de maneira central o tema dos fluxos ilícitos e respaldar de maneira clara a necessidade de “atualizar o Comitê de peritos em matéria fiscal da ONU em uma Comissão Intergovernamental e dotá-la de recursos adequados”. 1 Nós gostaríamos de expressar o nosso apoio às autoridades políticas nacionais que irão à Cúpula em Addis Abeba, e destacamos que os seguintes elementos nos parecem chave para garantir o sucesso deste terceiro processo de Financiamento para o Desenvolvimento: 1. Criação de um Organismo Intergovernamental sobre questões fiscais nas Nações Unidas com participação universal e dotado de recursos adequados, de modo que este organismo convoque sua primeira reunião em 2016. Este Organismo asseguraria a participação de todos os países em condição de igualdade no processo de tomada de decisão sobre o futuro do sistema fiscal internacional, onde sejam abordadas as questões mais importantes para os países em desenvolvimento que são as primeiras vítimas de fluxos ilícitos. 2. Um sistema tributário justo e progressivo para enfrentar as desigualdades dentro dos países. É necessário transformar os sistemas fiscais regressivos atuais, deslocando a carga fiscal dos setores mais pobres da sociedade para os setores que gozam de alta rentabilidade e os indivíduos com maior riqueza. As negociações sobre fontes de recursos internos devem enfatizar a importância dos impostos diretos (que incidem sobre a renda e a propriedade), a necessidade de políticas sensíveis à gênero e a eliminação dos incentivos fiscais usufruídos por empresas multinacionais que reduzem as receitas fiscais dos Países e aumentam a desigualdades. 3. Transparência e cooperação na luta contra os fluxos financeiros ilícitos. É necessário ter um padrão comum no âmbito da ONU para permitir a troca de informações entre países e a eliminação do sigilo que rodeia a propriedade das empresas e suas operações. Para isso é necessário: i) a troca de informações deve ser automática, multilateral e os países com baixa capacidade devempoder receber a informação mesmo que eles não estejam ainda em capacidadede encaminhá-la, ii) as corporações transnacionais devem fazer relatórios públicos sobre as suas operações em cada país onde operam, para colocar a luz sobre as estratégias agressivas de evasão fiscal; e iii) tornar pública a informação sobre os beneficiários efetivos ou finais (usufruto). Solicitamos que Vossa Excelência inclua estas propostas na posição do governo do Brasil. Contamos com Vosso ativo apoio como parte de uma necessária liderança internacional para assegurar um resultado bem-sucedido na Conferência em Adis Abeba sobre Financiamento para o Desenvolvimento das Nações Unidas. Estamos à disposição e expressamos nosso interesse em uma reunião com o senhor para fornecer mais informações sobre estas propostas. Respeitosamente, ActionAidBrazil Agenda Pública Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais – ABONG Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO 2 Auditoria Cidadã da Dívida Centro Brasileiro de Estudos em Saúde – CEBES Centro de Estudos e Articulação da Cooperação Sul Sul Coletivo Feminino Plural Centro Feminista de Estudos e Assessoria – CFEMEA Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE Federação dos Trabalhadores Municipais de Santa Catarina – FETRAM-SC/CUT Federação dos Trabalhadores da Administração e do Serviço Público Municipal no Estado de São Paulo – CUT – FETAM-SP/CUT Federação Nacional dos Enfermeiros – FNE Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social Gestos, Soropositividade, Comunicação e Gênero – GESTOS Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE Instituto de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – INCIDE Instituto de Justiça Fiscal – IJF Instituto Gênero, Economia e Cidadania Global – EQÜIT Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC Internacional dos Serviços Públicos – ISP Movimento Infantojuvenil de Reivindicação - Mirim Brasil Oxfam Brasil Rede Brasileira pela Integração dos Povos – REBRIP Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo – SEESP Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias do Município de São Paulo – Municipais de São Paulo – SINDSEP Sindicato Nacional dos Servidores Públicos do Brasil – UNSP Sociedade Brasileira de Bioética – SBB Taxas sobre Taxações Financeiras – TTF BRASIL C/C ao Excelentíssimo Ministro das Fazenda Joaquim Levy e ao Excelentíssimo Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão Nelson Barbosa. 3