O Revolucionário da Não : O Revolucionário da Não

Transcrição

O Revolucionário da Não : O Revolucionário da Não
Gandhi:
Gandhi: O Revolucionário da NãoNão-Violência
Sua Excelência, Sr. S. M. Krishna, Ministro das Relações Exteriores da Índia, Sua
Excelência, Sr. Vuk Jeremic, Presidente da Assembléia Geral, todas as autoridades
presentes, Sras. e Srs..
Sinto-me muito honrado por proferir esse discurso de abertura do Dia
Internacional da Não Violência, nesse mês de agosto de 2012, no fórum das Nações
Unidas. Gostaria, ainda, de apresentar meus sinceros agradecimentos ao governo da
Índia, por haver me feito esse convite.
A instituição do Dia Internacional da Não-Violência, através da Resolução AGNU
de 15 de junho de 2007, é uma contribuição significativa das Nações Unidas para o
mundo, e reafirma a relevância universal do princípio da não-violência, bem como
expressa o desejo de todos os povos, de garantir a construção de uma cultura de paz,
tolerância, compreensão e não violência.
Ela também aclama o conceito de “Ahimsa”, palavra sânscrita para não violência.
Tal termo foi primeiramente concebido pelos sábios indianos há mais de quatro mil anos,
tendo sido elevada ao nível de primeira virtude pelo visionário e reformador religioso
Lord Mahavira, no século VI a.C., através da sua máxima “Ahimsa paramo dharma” [A não
violência é a lei suprema]. Este conceito depois veio a se espalhar para o restante da Ásia
e para o mundo através do budismo e, posteriormente, do cristianismo.
Gandhi declarou: “A não violência é o maior poder à disposição da humanidade. É
mais forte do que a mais poderosa das armas de destruição concebida pelo engenho
humano”.
Em sua leitura sobre o desenvolvimento histórico da Ásia, na primeira metade do
século 20, o eminente historiador Will Durant escreveu: “A China, seguindo Sun Yat Sen,
se valeu da espada e o seu império ruiu nos braços do Japão. A Índia, desarmada, e
liderada por uma das figuras mais sui generis da história, ofereceu ao mundo um
fenômeno sem precedentes, uma revolução vitoriosa, liderada por um santo e travada
sem o uso de nenhuma arma”.
Para avaliarmos com precisão o papel de Gandhi
como revolucionário partidário da não-violência é necessário recordar o cenário nacional
e internacional no qual ele viveu.
Gene Sharpe descreveu bem o cenário da sua época: “Gandhi foi contemporâneo
do Czar Nicolau, de Lenin, Stalin, do Kaiser Wilhelm e de Adolph Hitler, Woodrow Wilson,
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Franklin Rooselvet, o último imperador da China, Sun Yat Sen, Chiang Kai Shek e Mao Tse
Tung. Ele viveu no período de transição entre as batalhas travadas com fuzis e as
grandes guerras nos quais se usavam as bombas atômicas. Internamente, na Índia, o
racismo não tinha limites, e nenhuma oportunidade ou dignidade eram ofertadas às
mulheres, aos “intocáveis” e a muitos outros. Esses foram os males sociais e políticos
para os quais Gandhi buscou soluções.
Entre os nacionalistas indianos pulsava um fervor revolucionário intenso. Eles
eram liderados por Bankim Chantra Chatterge, conhecido como “o romancista de
Bengali”. Sua obra mais popular, Anandamath, tornou-se um manual para as sociedades
secretas e o seu personagem heroico, Satyanand, um modelo para os revolucionários.
Aurobindo Ghosh, que foi educado em Cambridge e posteriormente selecionado para um
cobiçado cargo no Serviço Civil da Índia, abdicou de tudo para se juntar aos radicais
nacionalistas. Ele escreveu uma obra intitulada Bhabhani Mandir, uma chamada para o
combate, clamando para que a juventude da Índia se sacrificasse em nome da deusa Kali,
pela dignidade e salvação da Mãe Índia.
Em 1907 Bartaman Rananiti publicou A Moderna Arte da Guerra, que propagava a
ideia de Bakunin de que, para que fosse possível a criação de uma sociedade igualitária,
seria inevitável passar por um período de destruição. Vários oficiais britânicos foram
assassinados, tanto na Índia como na Inglaterra, entre 1905 e 1915. O Vice-Rei, Lord
Hardinge, foi atacado em uma cerimônia pública em dezembro de 1912 e escapou por
pouco de ser assassinado.
Em 1919, no Congresso de Amritsar, Gandhi falava sobre “A Verdade e a Não
Violência” quando foi bruscamente interrompido pelo líder nacionalista Bal Gangadhan
Tilak que afirmou: “Meu amigo, a verdade não tem lugar na política”. Duas décadas
depois, um outro líder importante, Subhas Chandra Bose, presidente do Congresso em
1938, discordou abertamente da estratégia de Gandhi baseada na Não Violência e
secretamente deixou a Índia indo para a Alemanha e o Japão. Com a colaboração desses
novos aliados, começou a formar o Exército Nacional Indiano, com soldados capturados
pelos japoneses no sudeste asiático e que avançava de trem através da Índia. Eles
usavam o slogan: “Dê-me sangue e eu prometo a você a liberdade”.
Como ressaltou Rajmohan Gandhi, essa era uma oferta de liberdade que opunha a
arma e a bota contra sua roca de fiar e suas sandálias de madeira. Ele ressaltou ainda
que a violência dos militares também não foi a única a desafiá-lo. Os párias estavam
nervosos com a passagem do poder da mão dos britânicos para o sistema de castas
hindu. Os príncipes indianos desconfiavam dos objetivos e das intenções do Congresso.
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Os proprietários de terras agrícolas suspeitavam dos seus locatários e arrendatários, e,
se eram proprietários de pequenas culturas, temiam perder suas propriedades para os
credores das cidades. Os civis cobiçavam os empregos dos policiais e dos soldados do
exército, todos se sentiam ameaçados uns pelos outros.
Para se proteger dos rivais ou dos adversários, cada grupo, comuna, classe ou
casta se voltava para o Império Britânico, reforçando assim a hegemonia deste, por mais
que desgostasse do seu peso e da sua natureza alienígena. Conseguir reunir um grupo
de indianos para derrubar o Império Britânico seria um projeto tão demorado quanto
difícil.
Gandhi obteve sucesso no sentido de conseguir o apoio tanto do Congresso
Nacional Indiano como do povo na adoção de sua estratégia de não violência para a
liberação da nação indiana. E isso devido à sua grande identificação com a pobreza que
atingia os indianos, à sua alta estatura moral, à sua comunicação inovadora, às suas
habilidades
como
estrategista
e
administrador
de
conflitos
e
aos
resultados
impressionantes que sua luta não violenta foi obtendo a partir de 1920.
Ele inovou sua estratégia de Satyagraha (compromisso inabalável com a verdade)
aliada à não violência aplicando-a na África do Sul já em 11 de setembro de 1906. E essa
foi uma grande inovação, uma vez que Verdade e a Não-Violência nunca antes haviam
sido combinadas como dois lados de uma mesma estratégia. Sua essência teórica se
baseia na crença de que os homens, criados à imagem de Deus e imbuídos de uma
centelha divina, devem ser guiados pela verdade e pelo amor e não pelo ódio e pelo
medo. O homem deve viver e, se necessário, morrer pela verdade, mas nunca machucar
ou odiar quem quer que seja.
Para Gandhi, o compromisso de Satyagraha tinha a conotação de Lei viva da Vida.
Tal Lei poderia ser equiparada à lei da gravidade, que sempre funciona, quer acreditemos
nela ou não. Do mesmo modo como um cientista consegue maravilhas aplicando as leis
da natureza, o homem que aplicar a lei do amor, com precisão científica, poderá produzir
resultados ainda mais maravilhosos do que os produzidos pela ciência.
A estrutura básica de sua crença resultava de uma composição entre as
mensagens de Krishna e Jesus Cristo. Segundo a mensagem do Bhagwat Gita, o homem,
quando confrontado com a maldade e com a injustiça, não tem outro recurso senão o
enfrentamento. Segundo a de Jesus Cristo, implícita em sua crucificação, temos que a
redenção e a conversão dos perseguidores só ocorrem através do sofrimento.
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Gandhi foi profundamente tocado pela visão da crucificação de Cristo, o que se
percebe através dessas suas palavras: “O que eu não daria pela oportunidade de curvar
minha fronte diante da imagem viva da crucificação de Cristo. Essa imagem, uma vez, me
levou a pensar que tanto os indivíduos como as nações só podem ser forjados através da
agonia da crucificação. A alegria não provém da dor que infligimos aos outros, mas da
dor que voluntariamente suportamos.
Usando sua estratégia de Satyagraha, e mobilizando milhões de indianos, ele
obteve sucesso, libertando a Índia do sofrimento a ela impingido pela opressão
colonialista. E isso em apenas três décadas após o seu retorno da África do Sul.
Sedestacaram nessa luta interna os Satyagrahas de Champaram, Kheda e Bardoli –
o movimento de não cooperação e o subsequente boicote à aquisição dos bens provindos
da Inglaterra, a Marcha do Sal e o Movimento de Agosto de 1942. Cada um desses
eventos obteve êxito no sentido de enfraquecer a economia e a política imperialista
britânica e de fortalecer o povo indiano.
Os Satyagrahas mencionados acima transformaram o Congresso, que deixou de
pertencer essencialmente à elite e de tratar apenas de debater questões urbanas, como
havia funcionado até 1915. O Congresso passou a funcionar como uma base nacional
bem estruturada e disciplinada de encontros entre os partidos políticos e se tornou uma
base também para o movimento de libertação a partir de 1925.
Patrick French escreveu: “Gandhi desviou o poder da classe alta dos Brâmanes no
Congresso ao abolir o uso da língua inglesa nos debates, uma vez que essa língua só era
compreendida por uma ínfima parcela da população”. Se 1919 fora o ano do boicote aos
produtos ingleses, o ano de 1920 foi marcado por uma revolução silenciosa. Lojas,
escolas e faculdades foram boicotadas e as roupas produzidas com tecido importado
queimadas em grandes fogueiras. A prisão se tornou um motivo de orgulho e não de
vergonha. Dentro de um brevíssimo intervalo de tempo Gandhi se tornou como que o Rei
inabalável do Congresso, tendo dado nascimento a um movimento popular massivo e
deixado à margem políticos muito tradicionais.
A Marcha do Sal, liderada por Gandhi, do modo como Louis Fisher a descreveu foi
uma “insurreição sem armas”, e segundo Judith Brow, mostrou-se “uma escolha de
engenhosidade admirável”, uma obra-prima do ponto de vista estratégico e de
comunicação social. Mais de 1000 jornais espalhados pelo mundo todo relataram esse
acontecimento.
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O New York Times redigiu um editorial dizendo que a Inglaterra havia perdido o
chá para a América e que estava perdendo o sal para a Índia. Gandhi foi capa da revista
Time na edição de 4 de janeiro de 1931, apontado como “o homem do ano”.
Quando finalmente os britânicos concederam a independência à Índia, em 1947,
eles o fizeram de modo pacífico, como amigos, justificando a afirmação de Gandhi de
que: “A revolução não violenta não é uma forma de usurpação de poder, mas um
programa baseado na transformação das relações humanas, que resulta em uma
transferência pacífica de poder”. Um dos primeiros atos oficiais da Índia independente foi
convidar o último Vice-Rei britânico, Lord Mountbatten, para ser seu primeiro
Governador Geral, para que a Comunidade Britânica se tornasse uma parceira, em pé de
igualdade no novo cenário político social.
O historiador britânico Arnold Toynbee descreveu Gandhi como sendo um
benfeitor para a Inglaterra, tanto quando para a India: “Gandhi tornou a continuidade do
domínio na Índia impossível para nós, porém, simultaneamente, tornou possível para os
ingleses abdicar do poder sem rancor e sem desonra”.
Algumas grandes contribuições de Gandhi como mediador de soluções para
problemas sociais não são tão conhecidas, mas são igualmente significativas. Sua
intervenção no cenário social interno da Índia resultou na emancipação pacífica dos
intocáveis (párias), no empoderamento das mulheres e, ainda, no fim do feudalismo
profundamente enraizado no seu país no inicio do sec. 20.
Quando retornou da África do Sul, em 1915, sentiu-se chocado pela opressão e
pela indignidade com que os chamados “intocáveis”, aqueles que pertenciam às classes
mais baixas, eram tratados no sistema vigente de castas. Essas pessoas desafortunadas,
que durante séculos foram obrigadas a viver fora dos limites das aldeias, realizavam as
tarefas mais desprezíveis. Ele lhes deu um novo nascimento, chamando-os de “filhos de
Deus” (Harijans) e colocou a meta da sua emancipação como um dos pontos básicos da
revolução pela liberação nacional indiana.
Discursando em uma Conferência sobre as classes oprimidas, em Ahmedabad, em
1920, Gandhi falou: “Os crimes pelos quais condenamos o governo atual como sendo
perverso, não somos nós também culpados por eles, em relação aos nossos irmãos, os
párias? Nós os fazemos rastejar, se curvarem a ponto de sujarem seus narizes na terra
(...) com os olhos vermelhos, cheios de ódio, os empurramos para fora dos vagões dos
trens. Nos tornamos ‘párias do império’ ao alimentarmos um sistema de castas, no qual
há párias também. Nós criamos párias em nosso meio. O proprietário de escravos é mais
digno de pena do que o escravo”.
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No jornal Young India, de 25 de maio de 1921, ele escreveu: “A independência ou
Swaraj se torna sem sentido se continuarmos a manter um quinto da população da Índia
sob um sistema de sujeição perpétua. Sendo nós mesmos desumanos, como poderemos
clamar diante trono pelo fim da desumanidade dos outros?” E, posteriormente, escreveu:
“Se ficasse comprovado que o sistema de castas, que exclui os intocáveis, é parte
essencial do hinduísmo, então eu me declararia um rebelde contra o próprio hinduísmo”.
Em 1932 ele iniciou um “jejum até a morte” contra a norma da comunidade
britânica que estabelecia o eleitorado dos ‘intocáveis’ em separado, pois percebeu que
esse era um modo de perpetuar o sistema vigente de castas. O jejum também tinha como
objetivo conscientizar a classe alta indiana de que a prática da ‘intocabilidade’ era algo
vergonhoso. Quando o Pacto de Poona foi assinado (no qual o líder harijan e eminente
advogado, Dr. B. R. Ambedkar, concordou que a sua comunidade não mais iria avalizar o
sistema de eleitorado separado), ele interrompeu seu jejum e criou a Harijan Sevak Samaj
[Sociedade dos Servos dos Intocáveis]. Em seguida lançou o Harijan semanal e dedicou os
seus próximos nove meses a uma turnê intensiva na Índia, com a finalidade de promover
as suas ideias contra as regras da intocabilidade.
Na véspera da Independência, quando Nehru estava formando o seu gabinete
interino, Gandhi o aconselhou no sentido de incluir o Dr. B. R. Ambedkar na lista. Quando
Nehru hesitou, pelo fato de que ele não fazia parte do Congresso e, pelo fato de que o
havia caluniado, Gandhi, com firmeza, o fez lembrar de que o poder deveria ser para a
Índia como um todo, e não apenas para o Congresso. Assim, Ambedkar tornou-se
Ministro da Justiça e presidente da Comissão de Elaboração da Constituição. Essa
situação lhe proporcionou a oportunidade de incluir muitas salvaguardas em favor dos
grupos mais desafortunados na nova Constituição. E, mais importante, a intocabilidade
foi enfim proscrita, em todas as suas formas.
Mas
foi
a
esmagadora
maioria
do
partido
congressista
na
Assembléia
Constituinte, somada à grande influencia moral de Gandhi, que garantiu de fato a
aprovação de todas essas medidas constitucionais.
O biógrafo de Ambedkar, Dhananjav Keer, registrou: “um intocável, que foi posto
para fora dos vagões do trem, segregado nas escolas e no seu bairro, insultado pelos
professores, expulso de albergues, hotéis, bares e templos e amaldiçoado como um
fantoche britânico, agora se tornou o Primeiro Ministro da Justiça de uma nação livre e
também o chefe do projeto da elaboração da nova Constituição do país. Tal fato
representa uma grande conquista, um feito incrível para a história da Índia”.
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Aqueles anteriormente chamados de “intocáveis” e depois chamados de harijans e
dalits estavam emergindo como uma classe política importante, com um partido político
próprio no início dos anos 80. Um dalit brilhante, formado em economia em uma
instituição londrina, tornou-se embaixador da Índia na Turquia, na China e nos Estados
Unidos e, depois, Ministro da Educação e da Tecnologia, vice-presidente da India e
presidente da Índia (1997 a 2002). Uma mulher dalit, a Sra. Mayawati, tornou-se
Ministra-Chefe de Uttar Pradesh, o maior estado da Índia, no período de 1998 a 2003,
em um governo de coalizão. Usando suas habilidades políticas de modo muito eficaz, ela
veio a construir uma base política forte, tornando-se novamente a Ministra-Chefe do
estado no período de junho de 2007 a abril de 2012, dessa vez conquistando a maioria
absoluta dos votos do seu próprio partido, que abrigava uma multiplicidade de castas.
Em seguida, revelou a sua pretensão política de um dia vir a se tornar a Primeira-Ministra
da Índia. KG Balakrishnan, um dalit, foi juiz e ministro do Supremo Tribunal no período
de 2007 a 2010.
Tradicionalmente, as mulheres indianas ficavam confinadas estritamente ao
ambiente familiar, às suas casas. Organizações como o “Conselho Nacional para a Mulher
Indiana” (fundado no início dos anos 90) existiam apenas para mulheres das altas classes
sociais, para a aristocracia, como Maharanis de Baroda e Bhopal, com atividades
centradas principalmente em ações de caridade, e mantendo estreitas relações com os
britânicos.
As mulheres indianas comuns, do povo, praticamente não possuíam nenhuma
expressão social, não participavam da vida pública. Já no inicio de sua revolução Gandhi
anunciara: “A mulher é a companheira do homem, dotada das mesmas capacidades
mentais. E tem o direito de compartilhar as suas atividades (...) enquanto não for
permitido à mulher participar da vida pública e purificá-la, nós não seremos capazes de
atingir o Swaraj (emancipação). E mesmo se o realizássemos, para mim ele não teria
nenhuma serventia se as mulheres não contribuírem plenamente para a sua realização”.
Ele convidou as mulheres indianas para se juntarem à sua batalha nacional não
violenta. E elas responderam ao seu apelo. Inicialmente, como voluntárias nas sessões do
Congresso, mas entre 1919 e 1920 milhares delas se engajaram ativamente no
movimento de desobediência civil.
Com sua presença gentil no movimento, doaram joias, marcharam em passeatas,
fizeram piquetes, boicotaram as lojas de bebidas e de tecidos estrangeiros, venderam
tecidos feitos manualmente em casa (kadis) e criaram santuários nos seus lares para
reverenciar os Sathyagrahis.
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Quando o Movimento de agosto de 1942 (Quit India) iniciou, em Bobaim, Gandhi
e vários outros líderes foram presos e afastados das reuniões com o povo indiano,
ninguém sabia onde eles estavam. Para protestar, uma jovem mulher, muito corajosa,
chamada Aruna Asaf Ali, rasgou a bandeira indiana. Uma outra mulher, igualmente
corajosa, chamada Usha Mehta, com a ajuda de três companheiras, criou e operou em
segredo uma rádio do Congresso, a partir de algum ponto desconhecido da Índia.
Assim, através da sua adesão ao movimento nacional pela não violência, as
mulheres, pela primeira vez na história do país, somaram às suas tarefas domésticas
como esposas e mães, o seu novo papel como ativistas sociais.
Em decorrência de todos esses acontecimentos, quando a Índia conquistou sua
independência, às mulheres foi concedida uma plena igualdade jurídica com os homens.
No primeiro gabinete da União, o ministro da saúde foi Rajkumari Amrit Kaur, uma
princesa da Kapurthala, que em 1915 havia deixado o conforto da realeza para se tornar
uma discípula de Gandhi. A Sra. Vijaya Lakshmi Pandit foi a primeira embaixadora da
Índia na União Soviética e em 1953 foi eleita Presidenta da Assembléia Geral da Onu.
Quinze anos depois, Indira Gandhi se tornou Primeira-Ministra da Índia e
continuou nesse elevado cargo oficial por 16 anos, com apenas um intervalo de dois
anos. Desde então, muitas mulheres conquistaram posições elevadas na política, na
diplomacia, nos negócios, nos bancos, na indústria, na biotecnologia, na mídia e em
diversas outras carreiras, incluindo a aviação. Entre julho de 2007 e julho de 2012 a
presidente da Índia foi a Sra. Pratiba Pratil.
Antes da independência, a Índia se caracterizava como um lugar no qual havia um
pequeno
número
de
administradores
coloniais,
ricos,
elegantes,
poderosos
e
extravagantes. E uma quantidade inumerável de camponeses pobres, desnutridos e que
sofriam os mais diversos tipos de problemas de saúde.
Os príncipes competiam prodigamente entre si para entreter os oficiais britânicos,
que ativamente os encorajavam a manter esse tipo de situação. Patrick French descreveu
esse grupo da seguinte maneira: “A coroação do rei George V, em 1911, foi um golpe de
propaganda espetacular, milhares de príncipes indianos e primeiros-ministros imperiais
lotaram a Abadia de Westminster para a cerimônia que durou sete horas (...) esse foi o
período do mais intenso imperialismo, no qual o uso da força bruta, em certa medida, foi
abandonado em favor de um meio de afirmação de autoridade baseado no luxo, na
pompa. Uma cerimônia similar e gigantesca foi posteriormente realizada em Delhi,
contando com a presença de todos os príncipes indianos.
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Gita Mehta destacou o estilo de vida perdulário da aristocracia indiana
descrevendo o casamento principesco de um casal de cães: “O casamento era entre dois
cães da raça Roshanara, cobertos de véus e de joias. Bobby usava um pijama vermelho de
seda (para deixar claro que ele não havia violado a noiva antes do casamento). O
acontecimento foi realizado com toda a pompa e a circunstância de um casamento real.
Um ministro da corte leu solenemente a lista de riquezas que os cães Roshanaras
estavam trazendo para o casamento, que contava, inclusive, com uma liteira de ouro. No
final da cerimônia, os ministros presentes colocaram moedas de ouro em volta dos
animais,
enquanto seus auxiliares depositavam presentes em um grande cesto. A
marcha nupcial de Mendelsohn era ouvida ao fundo (...). E uma mesa retangular enorme,
posta para mais de duzentos convidados, resplendia no centro do salão de festas. No
centro da mesa, dançarinas cantavam e dançavam para os cães.”
O primeiro confronto de Gandhi com toda essa pompa e prodigalidade ocorreu
em Benares, em 1916, na inauguração da Universidade Hindu, na qual o vice-rei, Lord
Harding, e muitos outros príncipes, estavam presentes. Gandhi, corajosamente, proferiu
o seguinte discurso: “Sua alteza, o Marajá de Benares, falou sobre a pobreza da Índia.
Outros palestrantes também enfatizaram muito esse ponto em suas falas. Mas o que de
fato nós testemunhamos nessa grande comemoração? Um desfile de joias que fariam a
alegria dos olhos do mais refinado joalheiro de Paris. Comparo esses nobres tão
ricamente enfeitados com os milhões de pobres do nosso país, e digo a eles: não há
salvação para a Índia a menos que nós nos dispamos desse tipo de ostentação e doemos
essa riqueza para o bem dos nossos compatriotas”.
Até o final doa anos 30, aconselhado por Gandhi, o partido Congressista manteve
uma intervenção discreta em relação aos abusos da aristocracia indiana. Alguns
governantes, como os Marajás de Baroda e do Misore, foram tocados pelo discurso de
Gandhi e o apoiaram. Muitos outros, entretanto, pressentiram que a mensagem de
Gandhi punha em risco o seu modo de vida feudal e se opuseram a ele.
Mas logo se deram conta de que, para seu desgosto, a aspiração pela liberdade
estava aumentando de modo incontornável na Índia britânica, e que a maioria dos seus
súditos já havia despertado para essa realidade. Eles já não tinham outra opção além de
apoiar a nova situação e o então Ministro do governo provisório, Vallabhai Patel, se
posicionou firmemente quanto a essa questão.
Em 15 de agosto de 1947 todos os estados principescos da Índia (com exceção
de Hyderabad), ou que tivessem uma fronteira comum com eles (com exceção da
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Cashemira), aceitaram formalmente o novo regime. E assim, a possibilidade de
balcanização da Índia, foi evitada.
O final do regime feudal e do estilo de vida principesco e extravagante dos
aristocratas, a integração harmoniosa de quase todos os estados principescos em torno
da Índia unida, são outros resultados significativos da liderança de Gandhi no sentido de
conduzir seu povo para a realização de uma revolução não violenta, que também se deu
internamente, nas questões político-sociais nacionais, ou seja, na própria administração
interna da Índia.
Esse feito contrasta bastante com o cenário tanto das revoluções como das
guerras civis americana, francesa, italiana, alemã, russa, chinesa e etíope, nas quais
houve muito derramamento de sangue para se obter resultados como a unificação
nacional, o fim do regime feudal ou de escravidão ou até mesmo a conquista da
independência.
O Prof. Alan Brinkley escreveu: “A maioria das revoluções gera expectativas
enormes, que dificilmente são realizadas, sendo algumas até totalmente traídas. A
revolução americana rapidamente fez surgir restrições aos seus ideais de liberdade,
impondo limites e excluindo os afro-americanos, as mulheres e, em diversos níveis, até
mesmo os americanos natos. A revolução francesa produziu um frenesi de fúria
assassina, seguido por quase um século de monarquias sucessivas. As revoluções russa e
chinesa geraram uma situação de opressão, estagnação e tirania.
Gandhi foi tão mitificado depois do seu assassinato em 1948 que a sua figura
humana verdadeira quase veio a desaparecer. Mas ele merece a posição que lhe foi
conferida, de um símbolo da ressonância de um dos mais importantes fenômenos da
história moderna, vale dizer, o símbolo do enfrentamento simultâneo tanto do
colonialismo como da opressão dos indivíduos, uma realidade que passou por uma
transformação intensa no mundo do século 20”.
Embora completamente engajado na luta pela libertação da Índia, Gandhi nunca
perdeu de vista o cenário mundial como um todo, sempre se manteve profundamente
informado sobre as questões externas. Tendo estudado na Inglaterra, estava sempre
antenado em relação aos acontecimentos políticos, legais e culturais da Europa. E
mantinha grandes amizades nessa região, particularmente com os vegetarianos, os
teosofistas e os liberais.
Na África do Sul, onde viveu por 22 anos, experimentou o racismo virulento dos
chamados “British&Boer”. Nesse período, dois judeus e um clérigo britânico estavam
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entre os seus amigos mais próximos. Foi lendo a obra de Tolstoi O Reino de Deus se
encontra dentro de você que ele se deu conta de que a situação de opressão aguda
sofrida pelo povo no regime feudal na Rússia era comparável à situação da Índia.
Em 1905 ele escreveu na A Opinião Indiana: “O poder do Vice-Rei de modo
nenhum é inferior ao do Tzar. A diferença é que os britânicos são mais eficientes e
menos cruéis em sua opressão brutal. Como resultado os russos, por desespero, se
tornaram anarquistas e terroristas”.
Sobre a Revolução Russa de 1917, ele declarou em um discurso proferido em
Madras: “Eu ainda sou ignorante no que respeita ao significado exato do termo
‘Bolchevismo’. Não sei se esse movimento funcionará de um modo favorável para a
Rússia a longo prazo . Mas sei que na medida em que a revolução se baseia na violência
e na negação de Deus, eu a rejeito”.
Sobre o Tratado de Sévres, de 1920, ele escreveu (carta de 25 de maio de 1920,
endereçada à C. F. Andrews): “A posição criada pelo tratado de paz é simplesmente
intolerável. Os árabes perderam aquilo que tinham de independência sob o Sultão, eles
que já não eram mais do que um joguete nas mãos dele”. Poucos dias depois escreveu
um comentário sobre o interesse britânico no óleo de Mosul, no Young India, datado de
30 de junho de 1920. Sobre a Espanha e a China escreveu: “O destino da República
Espanhola está na balança. Do mesmo modo com a China. Se, no final, forem derrotados,
não será porque a sua causa não seja justa”.
Depois da assinatura do Acordo de Munique, em 1938, no qual a França e
Inglaterra reconheceram o direito da Alemanha anexar a Checoslováquia, ele declarou
com uma visão profética: “A Inglaterra e a França tremeram diante da combinação da
violência da Alemanha e da Itália. O acordo assinado representa uma paz que não
garante de fato a paz, tratou-se apenas de um adiamento da guerra”.
Ele elogiou a heróica resistência polonesa à invasão nazista ao declarar: “Os
poloneses sabiam que seriam reduzidos a átomos, mas mesmo assim eles resistiram às
hordas alemãs. Por isso entendo essa situação como sendo quase de uma ação do
movimento da não violência”.
Sobre a perseguição de Hitler aos judeus e sobre os seus planos de criar uma
terra para eles na Palestina, ele escreveu: “A minha simpatia vai toda para os judeus. A
perseguição que estão sofrendo parece não encontrar nenhum paralelo na história. Os
tiranos do passado nunca foram tão loucos como Hitler. E a minha simpatia não me torna
cego em relação aos requisitos da justiça, é errado e desumano impor a presença do
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povo judeu aos árabes. O caminho mais nobre para a solução dessa questão é propiciar
um tratamento igualitário aos judeus, onde quer que eles tenham nascido ou sido
criados. Os judeus nascidos na França são franceses, do mesmo modo que os cristãos
nascidos na França o são. Cada país é a sua casa, incluindo a Palestina, não por meio da
agressão, mas pela cultura do serviço amoroso entre os povos.
Gandhi já havia advogado a ideia da resistência não violenta quando a Índia foi
ameaçada de invasão pelos japoneses em 1942. Ele escrevera: “A resistência não violenta
deveria começar no momento em que eles aterrissassem. A estratégia seria no sentido de
negar ao invasor qualquer tipo de ajuda, Nem mesmo água deveria ser oferecida a eles.
Essa sua proposta chegou a ser ridicularizada como absurda, muito embora tenha sido
posta a efeito com sucesso quando Napoleão invadiu a Rússia em 1812. Os Russos
atearam fogo à sua histórica e sagrada Moscou a fim de negar às tropas napoleônicas
qualquer tipo de abrigo que os protegesse do inverno russo. E essa estratégia funcionou
perfeitamente para eles. O grande exército de 500.000 homens com o qual Napoleão
invadiu Moscou, em 14 de setembro de 1812, foi reduzido a menos de 50.000 homens
meio congelados e famintos, que retornaram para Paris em meados de dezembro. Essa
campanha da Rússia consta como uma das operações militares mais letais na história do
mundo”.
A visão de mundo de Gandhi era tão humana quanto ampla em seus limites. Ele
escreveu: “Eu vivo para libertar a Índia e morreria por essa causa, mas o meu patriotismo
não é exclusivo. Ele é planejado para beneficiar de modo real a todos os povos do
mundo. Com a libertação da Índia eu busco libertar todos os povos, todas as raças
oprimidas do mundo. Meu patriotismo visa toda a humanidade, não é exclusivo, não
possui fronteiras. Para mim o patriotismo tem a ver com a minha própria condição
humana, com a humanidade como um todo. Eu não feriria a Alemanha ou a Inglaterra
para servir à Índia”.
A primeira classe de oprimidos que Gandhi inspirou com seu exemplo de
resistência não violenta foi a dos negros afroamericanos.
Martin Luther King, adotou
essa estratégia em 1956, depois de ter ouvido um discurso sobre a história da resistência
pacífica na Índia, proferido pelo Dr. Mordecai Johnson, diretor da Universidade Howard.
Em 1959 Martin Luther King visitou a Índia para aprender com os discípulos de
Gandhi o método para planejar e implementar a resistência não violenta. Ao retornar para
os Estados Unidos, ele escreveu: “Eu deixei a Índia mais convencido do que nunca de que
a resistência pacífica é arma mais poderosa disponível para os povos oprimidos em sua
busca pela liberdade”.
12
Foi no boicote aos ônibus, em Montegomery, no ano de 1961, que Martin Luther
King tentou aplicar pela primeira vez o seu Satyagraha na luta pela igualdade racial. E
realizar essa estratégia de modo consistente, durante apenas oito anos, resultou na
obtenção de maiores benefícios para os negros americanos do que os obtidos nos cem
anos que se seguiram à guerra civil.
Ele
descreveu
as
transformações
que
essa
prática
promoveu
em
seus
companheiros negros da seguinte forma: “Quando as contendas judiciais eram a única
forma de agir contra a discriminação racial, os negros se envolviam na situação apenas
como um expectador passivo. Seus interesses eram expressos, mas a sua energia
desperdiçada. As marchas que promovemos transformaram o homem negro comum em
um astro a favor de sua própria causa. O negro não se posicionava mais como um sujeito
a ser transformado, mas se tornara o próprio caminho das mudanças que aspirava, ele
era o órgão ativo dessa mudança. A dignidade que lhe era negada em seu ambiente de
trabalho ele passou a obter através de sua ação política e social”.
Para o líder Martin Luther King “Mahatma Gandhi foi a primeira pessoa, na história
humana, a elevar a ética do amor, exemplificada na história de Jesus Cristo, além da
relação entre indivíduos, foi o primeiro a transformá-la em uma poderosa força social,
um método eficaz em larga escala. Se a humanidade quer evoluir, então Gandhi é
inevitável, ignorá-lo é colocar-nos em risco.”
A década de 1980 testemunhou a vitória de várias revoluções pacíficas ao redor
do mundo. Em 1980, Lesh Walesa e seus companheiros portuários criaram o partido
Solidariedade na Polônia, em Gdansk.
A sua luta, que durou sete anos, provocou o
colapso do comunismo na Polônia e acabou por levar Lesh Walesa à presidência.
Posteriormente, diversas ditaduras comunistas desmoronaram no Leste Europeu,
incluindo a da União Soviética, que se desfez em 1991. Durante o mesmo período, o
regime do Apartheid foi banido da África do Sul.
As
ditaduras
Marcos
e
Pinochet
foram
derrubadas
em
1986
e
1989,
respectivamente, por movimentos não violentos bem organizados, pelo poder do povo.
Seus líderes reconheciam publicamente a influencia que sofreram de Gandhi e Martin
Luther King. Em ambos os casos essas revoluções pacíficas produziram chefes de estado
mulheres, como Corazon Aquino e Michelle Bachelet. Sendo que essa última havia sido
presa, torturada e exilada no regime de Pinochet.
Quando foi eleita presidente do Chile, como a primeira mulher a exercer esse alto
cargo, Michelle ecoou Gandhi em seu primeiro discurso presidencial: “A violência entrou
13
em minha vida destruindo tudo que eu amava. Eu fui uma vítima do ódio. Mas dediquei
minha vida a reverter tal estado negativo em compreensão, tolerância e amor”.
Evo Moraes, um aymara (indígena boliviano) cultivador de coca e líder do
Movimento Rumo ao Socialismo (MAS) levou alguma centenas de plantadores de coca e
de outros camponeses em uma marcha de 120 milhas de Cochabamba a La Paz em 2003
para exigir que as empresas estrangeiras fossem obrigadas a recolher royalties no valor
de 50% para o uso do gás natural que extraiam e exportavam da Bolívia. Tal revolta
derrubou o presidente Gonzalo Sanchez de Lozada. Seu sucessor, Carlos Mesa, foi
atormentado pela mesma demanda, mas por muitos outros setores da sociedade,
incluindo professores e vendedores ambulantes. E em março de 2005 o Congresso
Boliviano aprovou uma lei impondo uma taxa adicional de 32% aos 18% dos royalties que
já eram cobrados das empresas estrangeiras.
Em janeiro de 2006 Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia e se tornou o
primeiro aymara a liderar o país, pondo fim a uma situação de subjugação do povo
boliviano aos descendentes dos conquistadores espanhóis que durou 500 anos. O estilo
boliviano do Satyagraha realizou esse milagre sem precedentes!
As mudanças sociais e políticas provocadas pelo compromisso com A Verdade e A
Não-Violência são ainda mais necessários hoje do que no tempo de Gandhi, Martin
Luther King e Lech Walesa. A onda de escândalos corporativos na Enron Worldcom,
Marconi, Tyco, Parmalat, Bear Sterns, Lehman Brothers, Arthur Andersen e outras mega
empresas, que resultaram na falência e no empobrecimento de toda uma rede de
empresas e pessoas coligadas, são uma consequência calamitosa dos desvios de seus
CEOs do caminho da verdade em busca apenas do ganho pessoal, maximização de lucros
ou da dissipação ansiosa de acionistas despreparados.
O mesmo se aplica à ação de líderes políticos que invadem e ocupam outros
países com pretextos falsos, procurando impor sua vontade aos países mais fracos,
tolerando o fundamentalismo religioso e o terrorismo quando lhes convém, mas
permitindo a destruição de locais de culto religioso tradicionais através da não
intervenção, como aconteceu com o Babri Masjid, na Índia.
Os ataques terroristas em Nova York, Washington, Nairobi, Dar e Salaam em Bali,
Mumbai, Nova Delhi, Tel Aviv, Madrid, Marrocos, Moscou, Istambul, Jacarta, Londres,
Sharm e Shaik em Amman, Karachi e Islamabad, todos acontecidos apenas nos primeiros
dez anos desse novo milênio, são o trágico resultado de políticas sem compromisso com
a verdade, sem visão e iníquas em seus resultados.
14
O grandioso ataque terrorista de 11 de setembro, no World Trade Center de Nova
York, alterou dramaticamente a natureza do conflito armado. Esse foi o marco de uma
guerra assimétrica, onde o inimigo não é propriamente um Estado estrangeiro, mas um
punhado de terroristas suicidas, que golpeiam a partir de dentro e não de fora das
fronteiras do país, usando os recursos do próprio país que atacam, como aviões e
aeroportos, e causando, assim, uma compreensível devastação, do ponto de vista mental,
na população do país atingido.
Alguns analistas de segurança estão considerando agora a possibilidade de
ataques terroristas através do que denominaram um uma bomba radioativa “suja”, como
uma possibilidade real. Eles já estão escrevendo sobre armas ultra-sônicas altamente
destrutivas, carregadas por micro veículos aéreos não tripulados, do tamanho de um
beija-flor, que funcionariam controladas por uma base terrestre e que teriam capacidade
para destruir shopping centers, pontes, e até mesmo aviões, funcionando como
verdadeiras minas aéreas. Um cenário de pesadelo, como uma Pearl Harbour digital.
Um ataque como esse a uma estação de fornecimento de energia nuclear por um
psicopata, por exemplo, ou uma bomba do tipo drone pilot, em Oklahoma ou até mesmo
uma bomba nuclear passível de ser carregada em uma maleta, toda essa tecnologia nas
mãos de terroristas. Hipóteses e ameaças graves como essas são apresentadas na obra
editada por Michael Brown, A Nova Sepultura do Mundo: Os Desafios da Segurança no
século XXI.
No Comitê de Segurança Nuclear de Washington, em 13 de abril de 2010, o
presidente Barak Obama afirmou: “A possibilidade de um terrorista vir a obter uma arma
nuclear representa a única e maior ameaça para a segurança dos Estados Unidos, a curto,
médio e longo prazo”.
Nesse cenário tão horrível quanto sinistro, Jonathan Schell viu um raio de
esperança. Ele escreveu: “Como um novo século se inicia, nenhum questionamento agora
é mais importante do que esse: se o mundo atual está embarcando em um novo ciclo de
violência, se estamos condenando o século XXI a repetir ou até mesmo a superar o
derramamento de sangue ocorrido no século XX”. Ele ressaltou: “Os perigos agora são
diferentes dos antigos exércitos convencionais, massificados, e do ódio sistemático entre
grandes potências rivais. O perigo agora é a persistente e constante propagação das
armas nucleares e de outras armas de destruição em massa entre classes de demônios
insaciáveis movidos pela fúria nacionalista, ética e religiosa”.
Mas ele também asseverou que apesar do choque de 11 de setembro e da
necessidade de se adotar medidas rigorosas para fazer frente à ameaça do terrorismo
15
global, um caminho novo e promissor se abriu. Na história do século XX uma outra lição,
de cortesia, menos visível do que a primeira, mas tão importante quanto, foi se
afirmando. Trata-se das diversas formas da resistência pacífica, que foram aplicadas
eficazmente nos mais diversos níveis da atividade política em substituição à ação
violenta. Essa foi a promessa do movimento pacífico de resistência da Índia à dominação
do Império Britânico, levada a efeito por Mohandas K. Gandhi, e do movimento pacifista
de Martin Luther King pelos direitos dos civis nos Estados Unidos e dos movimentos não
violentos que aconteceram no leste da Europa e na Rússia e que acabaram por derrubar o
regime comunista da União Soviética.
Dotado de uma visão profética, Gandhi previu as crises iminentes na esfera dos
valores humanitários, na esfera da preservação ambiental e até mesmo na questão da
violência, que hoje se apresenta na forma do terrorismo, e tudo isso há mais de cem
anos atrás. Ele ressaltava a importância de adotarmos um modelo de vida simples, com
políticas, economia e estruturas sociais regionalizadas. E lamentava a produção industrial
em massa, e o modo como o Ocidente estava se militarizando. Lamentava até mesmo o
nacionalismo exacerbado de alguns nacionalistas seus compatriotas.
E muito embora a sociedade ocidental, adita a um consumismo sustentado pela
economia neoliberal, possa considerar as ideias de Gandhi sobre uma vida simples,
baseada em uma economia regional, como louca e ultrapassada, o eminente economista
alemão Ernst Schumacher escreveu: “Gandhi sempre soube, o que agora a maioria dos
países ricos está relutando em começar a perceber, vale dizer, o que a sua riqueza está
retirando em termos de recursos naturais do mundo. Os EUA, por exemplo, com apenas
5.6% da população mundial, consome 40% dos recursos do mundo, a maioria deles não
renováveis”.
E esse fato parece suficiente para demonstrar que os passageiros da primeira
classe dessa nave espacial que é o mundo, estão fazendo exigências que não poderão ser
mantidas por mais tempo, sem resultarem na destruição da própria nave em que estamos
todos navegando.
A Organização das Nações Unidas tem usado em seu programa de proteção
ambiental a seguinte máxima de Gandhi: “O mundo provê o bastante para satisfazer
todas as necessidades dos homens, mas não a sua ganância.” Esse é o primeiro slogan da
sua campanha publicitária. O serviço público de radiodifusão do EUA tem apresentado a
série “Corrida para Salvar o Planeta”, baseado em uma campanha de conscientização
semelhante.
16
Assustado com os jovens militantes revolucionários da Índia que encontrou em
Londres em 1908, Gandhi escreveu a obra: Hind Swaraj. E esclareceu que o havia escrito
como resposta à escola de violência indiana. A mensagem que buscava oferecer era a do
amor em substituição ao ódio. Era uma tentativa de disponibilizar algo realmente
revolucionário e infinitamente superior em relação à violência com a qual havia se
deparado; uma proposta de valorização do espírito de autosacrifíco e de bravura que
deveria ser adotada como uma nova base na ação dos revolucionários.
Essa oferta foi feita por Gandhi há cem anos. E contém uma previsão
extraordinária. Se pensarmos nos termos dessa proposta em relação aos problemas
atuais, com os terroristas suicidas de 11 de setembro, por exemplo, a primeira atitude
que teremos de tomar é nos colocarmos no seu lugar, ou seja, teríamos de buscar um
modo de compreender realmente o que os levou a agir como agiram.
E isso não é difícil, uma vez que a maioria dos homens bomba deixam
“declarações de despedida”, indicando o que motivou o seu ato. A maioria deles relata
indignação com a presença de tropas estrangeiras em seu país, ou revolta em relação ao
apoio incondicional dos EUA à ocupação israelense de terras na Palestina, opressão do
seu povo, ou alegam ainda, como o Islã, que estão sendo difamados no Ocidente. As
soluções para todas essas queixas precisam ser buscadas, particularmente para a
situação penosa e sem fim dos conflitos em Israel, para o imbróglio palestino.
Karen Armstrong escreveu: “O mundo mudou depois do que aconteceu em 11 de
setembro. Agora nós, os países privilegiados do Ocidente, nos demos conta de que tudo
o que acontece no restante do mundo nos diz respeito. O que está acontecendo em
Gaza, no Iraque ou no Afeganistão hoje, provavelmente terá repercussão em Nova York,
Washington e Londres amanhã e pequenos grupos, muito em breve, terão a capacidade
de cometer atos violentos massivamente, coisa que até então só era possível para as
nações muito poderosas”.
Deepak Chopra asseverou: “Mahatma Gandhi expressou uma verdade profunda
quando disse: “Não há um caminho para a paz. A paz é o caminho”. Ele acrescentou seu
entendimento de que Gandhi quis, com essa máxima, evidenciar que a guerra e a
violência não podem conduzir à paz. E, acrescentou, ainda: “Assim como a formulação de
Newton sobre a lei da gravidade significou que os seres humanos estavam, finalmente e
para sempre, à caminho de uma nova ciência, inaugurando um momento de
transformação do mundo, você e eu podemos criar um novo marco”.
A extensão das mudanças pelas quais o mundo passou nas ultimas sete décadas
através dos movimentos da revolução não violenta é evidenciada pelos seguintes fatos:
17
entre os anos de 1947, quando a Índia alcançou a sua independência, e o ano de 1980
mais de cem colônias britânicas, francesas, alemãs, belgas, espanholas e portuguesas se
tornaram livres. Entre os anos de 1980 e 2010, a revolução não violenta empoderou os
negros americanos e colocou um presidente negro na Casa Branca, pôs fim ao Apartheid
na África do Sul e se transformou em uma espécie de “Sistema Político Arco-Íris” , capaz
de derrubar a ditadura Marcos e dar às Filipinas e à Àsia a primeira mulher chefe de
Estado, de derrubar toda a ditadura comunista do Leste Europeu e de estabelecer
governos democráticos na Estônia, Latívia, Lituânia, Republica Democrática Alemã,
Checoslováquia, Hungria, Bulgária, Romênia, Rússia, Servia, Geórgia e Ucrânia. O muro de
Berlim foi desmantelado, a Alemanha reunificada, o Pacto de Varsóvia foi desfeito e
muitos de seus membros formadores foram admitidos na Comunidade Européia. O
terrorismo acabou na Irlanda, a ditadura de Pinochet entrou em colapso e o Chile e a
América Latina elegeram a sua primeira mulher chefe de Estado A Bolívia pela teve
primeira vez um aymara como chefe de estado. O General Musharaf renunciou e seguiu
para o exílio, sendo a democracia restaurada no Paquistão.
No inicio de 2011, a Revolução Não Violenta depôs a ditadura opressiva e
aparentemente inexpugnável
da Tunísia e do Egito.
Sobre esta última revolução,
Niranjan Ramakrishnan escreveu um artigo intitulado “Gandhi no Nilo”: “O povo do Egito
erigiu um monumento político que será colocado ao lado e em pé de igualdade com seus
feitos antigos mais maravilhosos. Eles demonstraram ao mundo um modelo pacífico,
orientado e digno de exercício de poder por parte do povo. Por volta de trezentas
pessoas, ou até mais, morreram nas lutas dos últimos dezoito dias. Todos eles em sinal
de protesto e sem atacar nenhum representante do regime odiado. Ao invés do
terrorismo causado por homens bombas, pelos quais a região se tornou conhecida, o
movimento iniciou com o suicídio de um único homem. Ao invés de lançar bombas
incendiárias em algum prédio cheio de pessoas, o movimento iniciou na Tunísia com um
único homem ateando fogo ao próprio corpo. Ao invés de clamar por pão e peixe, os
manifestantes, inabaláveis na sua condição de liberdade, exigiram nada menos do que a
renúncia do ditador”.
Assim, o povo do Egito explodiu algo muito maior do que uma bomba atômica,
eles derrubaram o mito de que o mundo árabe e islâmico não pode se adequar ao
Satyagraha. O povo egípcio realizou um tipo de revolução que deixaria Gandhi orgulhoso,
mas que foi uma vitória baseada em seus próprios méritos.
O Prof. Gene Sharp escreveu: “Gandhi foi um experimentador no desenvolvimento
da ‘guerra não violenta’. Seu trabalho pioneiro nem sempre foi adequado. Mas
certamente representou um desenvolvimento histórico dos mais significativos, tanto no
18
campo da ética como da política (...) Muitas hipóteses ligadas ao campo do
enfrentamento pacífico visando a solução de conflitos ainda estão em desenvolvimento e
muitas das suas aplicações ainda permanecem em aberto. Mas tanto em palavras como
em ação, Gandhi nos apontou o que pode ser a chave para a resolução do dilema de
como permanecer pacífico, mas ativo e em franca oposição às situações de opressão e
injustiça”.
Johan Galtung fez um elogio ainda mais generoso ao declarar que “Gandhi foi um
revolucionário ainda mais revolucionário do que qualquer outro da história da civilização
ocidental, uma vez que ele revolucionou a própria revolução”.
Dado que estou oferecendo essa palestra ao Fórum de Agosto das Nações Unidas,
a pergunta que surge naturalmente é: “Qual a mensagem de Gandhi para as Nações
Unidas?” Na véspera de sua criação, em 1945, Gandhi emitiu a seguinte declaração: “Eu
reitero a minha convicção de que não haverá paz para os aliados ou para o mundo a
menos que eles abram mão da sua crença na eficácia da guerra e dos seus sucedâneos, a
saber, os enganos terríveis e as fraudes. A paz deve ser justa. E ser justa significa não ser
punitiva e nem vingativa. A Alemanha e o Japão não deveriam ser humilhados. Os frutos
da paz devem ser igualmente compartilhados. A exploração e a dominação de uma nação
sobre outra não pode ter lugar em um mundo que se esforça por dar um fim a todas as
guerras. As nações fortes devem servir às nações fracas e não operar como seus
dominadores e exploradores. A futura paz, a segurança e o progresso ordenado do
mundo devem ser de responsabilidade de uma federação mundial capaz de garantir a
liberdade de todos os seus membros“.
Com base nessa declaração, atrevo-me a questionar os membros das Nações
Unidas, particularmente o seu Conselho de Segurança – P5, se todos já abriram mão da
crença na eficácia da guerra e de seus sucedâneos, os erros terríveis e as fraudes. O
organismo internacional das Nações Unidas foi criado para, do modo como estabelece a
sua Carta “preservar as gerações futuras do flagelo da guerra”. No entanto, o corpo do
Conselho de Segurança - P5, “o principal responsável pela manutenção da paz e da
segurança internacional”, é ainda composto pelos maiores produtores e vendedores de
armas letais do mundo. E diante de muitos problemas internacionais espinhosos, de
difícil solução, alguns, com frequência, ainda parecem preferir a ação militar ao diálogo e
à diplomacia.
A guerra do Iraque, agora em seu décimo primeiro ano, iniciou uma “Coligação de
Intenções” formada e liderada por dois membros do Conselho de Segurança – P5,
desafiando abertamente o próprio Conselho de Segurança do qual fazem parte. Quase
19
um milhão de iraquianos foram mortos e quatro milhões foram retirados de suas casas
devido a essa guerra ilegal.
O Wikileaks revelou claramente os erros grosseiros, as fraudes, as injustiças e as
brutalidades que essa guerra tem perpetrado e também várias outras ações recentes de
alguns países poderosos. Um deles vetou a Resolução nº 32 da UNSC a fim de proteger
um aliado próximo da censura internacional e dos sansões decorrentes de seus ataques
frequentes e ocupação ilegal de terras de povoados vizinhos.
Na Terceira Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU sobre Desarmamento,
em fevereiro de 1988, o então primeiro ministro da Índia, Rajiv Gandhi, enunciou e pediu
urgência, em relação à adoção de um Plano de Ação em três estágios para a eliminação
de todas as armas nucleares até o ano de 2010. Ele, com razão, declarou: “As armas
nucleares ameaçam destruir a civilização e tudo que a humanidade construiu através de
milênios de esforço e trabalho contínuo. Tanto os Estados que possuem armas nucleares
como aqueles que não possuem se encontram igualmente ameaçados pelo holocausto. É
imperativo que as armas nucleares sejam eliminadas. A garantia da paz deve ser
assentada em uma base diferente desta na qual se afirma a possibilidade de uma
destruição global. Precisamos de uma ordem mundial fundada na não violência e na
coexistência
pacífica”.
Infelizmente,
o
seu
assassinato
três
anos
após
esse
pronunciamento e a ausência de adoção de qualquer medida efetiva para por em prática
a sua proposta de um Plano de Ação levou a própria Índia a adquirir armas nucleares,
devido ao cenário sombrio da sua vizinhança.
A necessidade imperiosa de um desarmamento nuclear mundial se tornou mais forte
hoje do que em qualquer outra época. Assim, exorto a Índia a assumir a liderança no sentido de
reavivar o Plano de Ação de Rajiv Gandhi, especialmente porque o Presidente Obama já
expressou publicamente a sua aspiração por um mundo livre das armas nucleares, tendo já dado
o primeiro passo no sentido de reduzir o arsenal nuclear dos Estados Unidos da América.
Como o Mahatma Gandhi declarou logo depois da bomba atômica ter caído sobre
Hiroshima e Nagasaki: “A moral a ser extraída da tragédia sem precedentes do lançamento de
uma bomba atômica é que tal bomba não será destruída por outras bombas. A não violência é a
única coisa que a bomba atômica não pode destruir (...). A menos que o mundo adote, nesse
momento, a não violência, ela representará o suicídio certo da humanidade.”
Albert Einstein havia feito uma afirmação semelhante: “O poder desencadeado pelo
átomo alterou tudo menos o nosso pensamento, portanto estamos à deriva, rumo a uma
catástrofe sem precedentes. Se a humanidade quiser sobreviver terá de encontrar um novo modo
de pensar”.
20
Este “novo modo de pensar” deverá emanar tanto das Nações Unidas como de ativistas
pela paz em todo mundo. Um esforço iluminado no sentido de alcançar uma nova maneira de
pensar nas Nações Unidas foi realizado pelo seu previdente e profundamente espiritualizado exsecretário geral U Than, em 1970, ao convidar Sri Chinmoy, um mestre espiritual indiano, para
conduzir sessões regulares de meditação nas Nações Unidas para diplomatas, delegados e
membros das equipes de trabalho representativas dos diversos países que aqui se encontram
reunidos. Mesmo depois da morte de Sri Chinmoy, em 2007, sessões de meditação, bem como
outras atividades correlatas, como palestras, seminários, apresentação de peças teatrais,
exposições artísticas e atividades esportivas continuaram a ser oferecidas, ininterruptamente
para os membros desta casa.
E, também, a partir desse primeiro marco, o fórum global indiano sobre técnicas
meditativas visando promover o autoconhecimento, tem viajado o mundo todo. Centros de
prática meditativa de Sri Chinmoy, livros, músicas e restaurantes vegetarianos foram fundados
em várias cidades e países ao redor do mundo. A bienal “World Harmony Run”, instituída por ele
em 1987, agora percorre 70.000 km em 100 países, em todos os continentes. E possuí como
adeptos atletas renomados internacionalmente e medalhistas de ouro olímpico como Carl Lewis,
Olivier Bernhard, Katrina Webb, Paul Tergat, Tatyana
Lebedeva e Tegla Lourope. Após uma
dessas provas Carl Lewis declarou: “Quando eu estava segurando a tocha flamejante, me senti
absolutamente interligado com todos os povos do mundo”.
A tragédia do mundo atual é que há muitas religiões, particularmente muitas religiões
fundamentalistas,
e
muito
pouca
espiritualidade,
algo
extremamente
necessário.
A
espiritualidade, enraizada profundamente nas noções de verdade, justiça, amor e fraternidade
universal, que Gandhi encarnou tão bem, pode contribuir substancialmente para a mudança do
atormentado cenário internacional de hoje, marcado pela mentira, injustiça, ódio e violência. E
pode, ainda, oportunamente, promover o renascimento espiritual global que o nosso
reverenciado U Than acreditava ser imprescindível no caminho para a construção de uma paz real
e duradoura no mundo.
Sri Chinmoy tinha uma frase memorável sobre esse tema. Ele dizia: “A paz mundial
será obtida no dia em que, em cada pessoa, o poder do amor substituir o amor pelo poder”.
Aqueles que duvidam dessa afirmação e preferem acreditar no poder das bombas, dos mísseis,
dos aviões teleguiados e de outras armas igualmente letais, para alcançar a paz, fariam bem em
lembrar as palavras proféticas de Jesus Cristo: “Aqueles que empunham a espada, morrerão pela
espada”.
Agradeço a todos dessa distinta e estimada audiência, pela sua graciosa atenção.
21
O Embaixador Pascal Alan Nazareth possuí mestrado em Economia pela Universidade
de Madras. Foi selecionado para o Serviço Internacional Indiano em maio de 1959. Atuou em
missões diplomáticas e consulares indianas em Tóquio, Rangoon, Lima, Londres, Chigaco e Nova
York e foi do Alto Comissariado da Índia para Gana, bem como Embaixador para a Libéria, Alto
Volta, Togo, Egito, México, Guatemala, El Salvador e Belize.
Durante os anos de 1982 a 1985, quando foi o Diretor Geral do ICCR, festivais culturais
indianos, multifacetados, foram promovidos na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França.
Promoveu conferências sobre “Budismo e as Culturas Nacionais” , sobre “A Literatura da Índia e
do Mundo”
e um “Festival de Poesia Mundial” em Nova Delhi. Um simpósio indiano-grego
organizado nesse período, em Delfos, resultou na publicação acadêmica “Índia e Grécia”. Na
sequência, e seguindo o mesmo molde, quando foi Embaixador no Egito e no México, surgiram
as publicações: “Índia e Egito” e “Índia e México”, logo após os simpósios acontecidos no Cairo e
na Cidade do México respectivamente.
Ele se aposentou do cargo de Embaixador em 1994 e desde então tem lecionado como
professor convidado no Instituto Nacional de Estudos Avançados e Gerenciamento de Bangalore e
National Defence College em
Nova Delhi. Entre as instituições estrangeiras nas quais ele já
lecionou ou participou de seminários constam: o Gandhi Memorial Centre em Washington, as
universidades americanas de Yale, Columbia, Stonybrook, Berkeley e Stanford. Também no MIT,
no San Francisco World Affairs Council, no East West Centre, na Universidade do Hawai, no
Instituto Aspen, nos Estados Unidos, na Universidade Uppsala na Suécia, no Asian Institute of
Manegenment & Ateneo and Phillipine Universities nas Filipinas, , nas Universidades Udayana e
Shiyarif Hidayatullah islâmicas, na Indonésia, nas Universidade Trinidad&Tobago e West Indies
em Port of Spain e no Mahatma Gandhi Institute em Moka, Mauritânia.
Ele também é fundador e diretor executivo do Sarvodaya International Trust, empresa
dedicada a promover os ideais de Gandhi da não violência, da harmonia nas comunidades, do
serviço humanitário e da paz. Criada em março de 1995, possuí um website na internet cujo
endereço é: www.sarvodayatrust.org.
Escreveu o aclamado livro A Excelência da Liderança de Gandhi, que foi lançado em
Nova Delhi pelo antigo primeiro ministro da Índia, Dr. I. K. Gujral e na ONU e em Nova York pelo
Sub-Secretário Geral Shasi Taroor. Desde seu lançamento, essa obra já foi traduzida para quatro
idiomas indianos e para o português e espanhol. No início de 2013 foi publicada também em
chinês, coreano, árabe e russo.
Em 9 de outubro de 2007 ele foi agraciado com o U Than Prêmio da Paz pelo Grupo de
Meditação pela Paz Sri Chinmoy das Nações Unidas, pelo seu “Tempo de Dedicação ao Serviço
Mundial” promovendo os valores gandhianos da Verdade, da Não Violência, da Harmonia nas
22
Comunidades e do Serviço Humanitário. Entre os destinatários anteriores deste prêmio constam
o Papa João Paulo II, o Dalai Lama, Madre Tereza de Calcutá, Mikhail Gorbachev, Nelson Mandela
e Desmond Tutu.
Tradução de Brenda Costa Neves
Voluntária da Associação Palas Athena
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