aqui - Beja Digital

Transcrição

aqui - Beja Digital
5.º Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo
Terras sem Sombra
Programação
5.º Festival Terras sem Sombra de Música Sacra do Baixo Alentejo
Produção:
Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja
Arte das Musas
Apoios:
Ministério da Cultura/Direcção-Geral das Artes
Delta Cafés
Governo Civil de Setúbal
Fundação das Casas de Fronteira e Alorna
Câmara Municipal de Castro Verde
Câmara Municipal de Santiago do Cacém
Câmara Municipal de Alvito
Câmara Municipal de Beja
Câmara Municipal de Almodôvar
Tema 5.º Festival:
Do Velho ao Novo Mundo
Programação:
Concerto de Abertura
24 Janeiro de 2009
Sete Lágrimas (dir. Filipe Faria e Sérgio Peixoto)
"Pedra Irregular: o nascimento do barroco em Portugal"
Castro Verde
2.º Concerto
7 de Fevereiro de 2009
Ludovice Ensemble (dir. Fernando Miguel Jalôto)
"La dévotion du grand siécle"
Almodôvar
3.º Concerto
28 de Fevereiro de 2009
Concerto Campestre (dir. Pedro Castro)
"Sileti Venti"
Alvito
Masterclass/Workshop
14 de Março de 2009
Cravo (Flávia Almeida e Maria João Barriga)
Santiago do Cacém
4.º Concerto
14 de Março de 2009
Recital a dois cravos (Flávia Almeida e Maria João Barriga)
Santiago do Cacém
Conferência de Encerramento
28 de Março de 2009
Rui Vieira Nery (a confirmar)
"Do Velho ao Novo Mundo"
Beja
Concerto de Encerramento
28 de Março de 2009
Coro Gulbenkian (na sua quarta visita consecutiva ao Festival) (dir. Jorge Matta)
"Viagem: Compositores brasileiros do século XIX"
Beja
CORO GULBENKIAN
MAESTRO JORGE MATTA
VIAGEM *
programa comemorativo dos 200 anos do partida da corte portuguesa para o brasil
* Programa deifinitivo a definir
Fundado em 1964, o Coro Gulbenkian conta presentemente com uma formação sinfónica de cerca de 100 cantores,
actuando igualmente em grupos vocais reduzidos, conforme a natureza das obras a executar. Assim, o Coro Gulbenkian
tanto pode apresentar-se como grupo a cappella, o que tem acontecido regularmente para a interpretação de polifonia
portuguesa dos séculos XVI e XVII, como colaborar com a Orquestra Gulbenkian para a execução de obras coralsinfónicas do repertório clássico e romântico. Na música do século XX, campo em que é particularmente conhecido, tem
interpretado, e frequentemente estreado, inúmeras obras contemporâneas de compositores portugueses e estrangeiros.
Tem sido igualmente convidado para colaborar com as mais prestigiadas orquestras mundiais, para execução de
grandes obras como A Criação de Haydn e a Nona Sinfonia de Beethoven (Orquestra do Século XVIII / Frans Brüggen),
a Missa Solemnis de Beethoven (Orquestra Sinfónica de Baden-Baden / Michael Gielen), as Segunda, Terceira e Oitava
Sinfonias de Mahler (Filarmónica de Berlim / Claudio Abbado; Filarmónica de Londres / Franz Welser-Möst; Sinfónica de
Viena / Rafael Frübeck de Burgos; Filarmónica Checa / Gerd Albrecht), A Danação de Fausto de Berlioz (Filarmónica de
Estrasburgo / Theodor GuschIbauer e Concertgebouw de Amesterdão / Colin Davis), ou Daphnis et Chloé de Ravel
(Filarmónica de Montecarlo / Emmanuel Krivine). Para além da sua apresentação na temporada de concertos da
Fundação, em Lisboa, e das suas digressões pelo país, o Coro Gulbenkian tem actuado em numerosas cidades de
Espanha, França, Itália, Hungria, Canadá, Iraque, Índia, Macau e Japão. Em 1991 apresentou-se em várias cidades da
Bélgica, no quadro do Festival Europália, e deslocou-se a Israel para uma série de actuações com a Orquestra de
Câmara de Israel (Tel Aviv, Carmiel, Haifa e Jerusalém). Em 1992, uma digressão em várias cidades da Holanda e da
Alemanha, com a Orquestra do Século XVIII, deu origem à gravação ao vivo da Nona Sinfonia de Beethoven, que foi
incluída na edição integral das sinfonias de Beethoven que Frans Brüggen realizou para a Philips. Em 1993 o Coro
Gulbenkian teve a honra de acompanhar o então Presidente da República, Doutor Mário Soares, numa visita oficial ao
Reino Unido. Deslocou-se em seguida ao Brasil e recebeu o convite de S.A.R. o Príncipe Ramier do Mónaco para a
realização de um concerto com a Orquestra Filarmónica de Montecarlo. Nesse mesmo ano, actuou ainda em Lyon,
Estrasburgo e Mulhouse, com a Orquestra Nacional de Lyon (A Transfiguração de Messiaen). Em 1994 deslocou-se a
Budapeste com a Orquestra Gulbenkian, e efectuou uma segunda digressão com Frans Brüggen e com a Orquestra do
Século XVIII, actuando em Itália, França, Holanda e Portugal (A Criação de Haydn). No ano seguinte, apresentou-se na
Índia em quatro concertos a cappella, realizando uma digressão ao Brasil, Argentina e Uruguai, com a Orquestra
Gulbenkian, sob a direcção de Michel Corboz (Elias de MendeIssohn). Ainda em 1995, nove concertos com a Orquestra
do Século XVIII (Nona Sinfonia de Beethoven) levaram o Coro Gulbenkian a oito cidades do Japão. Em Junho de 1997
apresentou-se com esta mesma orquestra, dirigida por Frans Brüggen, em concertos realizados em diversas cidades
europeias, incluindo uma participação no Festival Eurotop de Amesterdão (Sonho de Uma Noite de Verão de
Mendelssohn). Em Novembro do mesmo ano teve o privilégio de acompanhar Sua Excelência o Presidente da
República, Doutor Jorge Sampaio, na visita oficial à Holanda, a convite de Sua Majestade a Rainha Beatriz da Holanda,
tendo actuado na cidade de Leiden. Na temporada de 1998-1999 apresentou-se, entre outros, no Festival Veneto (com
a Orquestra I Solisti Veneti) em Pádua e em Verona. Em 2000 realizou uma digressão com a Orquestra do Século XVIII
e Frans Brüggen, actuando em Londres e em várias cidades da Holanda, da Alemanha e do Japão. No ano seguinte,
colaborou com a Orquestra Sinfónica do Norte da Alemanha na apresentação da Missa Solemnis, de Beethoven, em
Lisboa e Madrid. Já em 2002, a actividade internacional compreendeu concertos na Dinamarca, Malta, Japão (de novo
com a Orquestra do Século Dezoito) e Espanha (Festival Internacional de Música de Granada). O Coro Gulbenkian tem
gravado para as editoras Philips, Archiv-Deutsche Grammophon, Erato, Cascavelle, Musifrance, FNAC-Music e AriaMusic, interpretando um repertório diversificado que inclui musica portuguesa do século XVI ao século XX. Algumas
destas gravações receberam prémios internacionais, tais como o Prémio Berlioz, da Academia Nacional Francesa do
Disco Lírico, o Grande Prémio Internacional do Disco, da Academia Charles Cros, ou o Orfeu de Ouro, entre outros.
Desde 1969, Michel Corboz é o Maestro Titular do Coro, sendo as funções de Maestro Adjunto desempenhadas por
Fernando Eldoro e as de Maestro Assistente por Jorge Matta.
PROGRAMA
Música sacra e secular dos séculos XVIII e XIX
Programa definitivo a definir posteriormente.
Este programa será estreado na Temporada Gulbenkian 2007/2008 da Fundação Calouste Gulbenkian.
RECITAL A DOIS CRAVOS
MARIA JOSÉ BARRIGA
FLÁVIA ALMEIDA
O BARROCO EM DUO DE TECLA
O presente grupo foi formado com o intuito de divulgação de um dos instrumentos musicais mais relevantes da prática
musical dos séculos XVI, XVII e XVIII e do seu repertório solístico, em especial o composto para dois cravos a solo. No
contexto deste repertório salientam-se compositores como o célebre J.S.Bach e os seus filhos, Carl Philipp Emanuel
Bach e Wilhelm Friedemann Bach, franceses como Armand Louis Couperin, François Couperin, Gaspar Le Roux, o
espanhol António Soler ou ainda W.A.Mozart. Uma viagem musical pelo repertório de tecla de três séculos foi a aposta
deste Duo.
PROGRAMA
Krebs (1713-1780)
Concerto em lá m
Allegro – Allegro – Affetuoso
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Concerto em dó M BWV 1061a
Allegro-Adagio ovvero largo-Fuga
Antonio Soler (1729-1783)
3º Concierto em sol M
Andantino-Minué
François Couperin (1669-1733)
Les Folies Françaises (XIIIème Ordre)
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Sonata em dó M a 4 mãos kv 19d
Allegro-Rondeau
Johann Sebastian Bach (1685-1750)
Concerto em dó m
Allegro-Adagio-Allegro
BIOGRAFIAS
FLÁVIA ALMEIDA CASTRO
Flávia nasceu em 1978 em Lisboa. Após ter iniciado os seus estudos musicais na mesma cidade, diplomou-se em cravo
na Escola Superior de Artes de Utrecht, Holanda, sob a orientação de Siebe Henstra e na Escola Superior de Música de
Lisboa, sob a orientação de Cremilde Rosado Fernandes. Estudou também com Jacques Ogg no Conservatório Real de
Haia.
Em Lisboa teve aulas de música de câmara com Pedro Couto Soares e com Stephen Bull, e nos Conservatórios de Haia
e Utrecht (Holanda) com vários músicos, nomeadamente Wilbert Hazelzet, Sebastian Mark, Ku Ebbinge, Heiko ter
Schegget, Alfredo Bernardini. Participou nos cursos da Casa de Mateus, Encontros com o Barroco, Academia de Música
Antiga de Lisboa, Academia de Musica Antigua de la Universidad de Salamanca e Académie Musicale de Villecroze,
França, onde frequentou as masterclasses de Jacques Ogg, Siebe Henstra, Ketil Haugsand, Arthur Haas e Ilton
Wjuniski respectivamente.
Trabalhou com a Capela Real, Orquestra Metropolitana e Orquestra do Algarve, sendo dirigida por Wieland Kuijken,
Jean-Marc Burfin, Álvaro Caçuto e Terry Fischer. Apresenta-se regularmente em concertos em Portugal e na Holanda.
Foi bolseira do Centro Nacional de Cultura.
MARIA JOSÉ BARRIGA
Nasceu em 1964 em Beja. Iniciou os seus estudos de música em Piano e posteriormente em Cravo. Em 1987 concluiu o
Curso de Cravo do Conservatório Nacional de Lisboa, na classe da cravista Cremilde Rosado Fernandes, e a
Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas. Nesse mesmo ano ingressou na classe do prof.Ton Koopman
(Holanda), tendo terminado o Curso Superior de Cravo no Conservatório Real de Haia em 1992. Foi bolseira da
Fundação Calouste Gulbenkian.
É Mestre em Ciências Musicais (Etnomusicologia) e investigadora do Instituto de Etnomusicologia da Universidade
Nova de Lisboa, no domínio das práticas repentistas na música tradicional portuguesa. Participou em diversos Cursos
de Música Antiga, nos quais trabalhou com cravistas como Glenn Wilson, Robert Wooley, Ketil Haugsand, Bob Van
Asperen e Ton Koopman. Actualmente é docente na Academia de Música de Santa Cecília e no Instituto Piaget de
Almada.
LUDOVICE ENSEMBLE
fernando miguel jaloto, dir.
hugo oliveira, basse-taille
joana amorim, flûte allemande
lilia slavny, dessus de violon
romina lischka, basse de viole
fernando miguel jalôto, orgue
LA DÉVOTION DU GRAND SIÈCLE
música sacra francesa no tempo de Louis XIV
O Ludovice Ensemble é um grupo de Música de Câmara especializado na interpretação de Música Antiga. Sedeado em
Portugal, conta com a colaboração de artistas de várias nacionalidades, dotados de formação específica em práticas
históricas de interpretação. Não tem número fixo de elementos, variando este entre dois e dez, de acordo com os
projectos que realiza. O nome do ensemble é uma homenagem ao arquitecto e ourives alemão Johann Friedrich Ludwig
(1673-1752), Arquitecto-mor de el-rei D. João V, um dos elementos centrais na reforma artística, cultural e social
efectuada por este monarca com vista à "Europeização" da corte portuguesa.
Criado em 2004 por Fernando Miguel Jalôto (cravo) e Joana Amorim (traverso), o Ludovice Ensemble tem como
objectivo interpretar e divulgar repertório de câmara dos séculos XVII e XVIII, com particular destaque para as obras
francesas, mas dedicando-se também ao vasto repertório alemão e italiano. O Ludovice Ensemble, embora seja
fundamentalmente um grupo instrumental, procura desde a sua fundação realizar projectos que envolvam disciplinas
artísticas paralelas, nomeadamente a música vocal e a dança, bem como estabelecer pontes com outras áreas da
cultura e do saber, tais como as artes visuais e a ciência.
Numa época em que se atribui especial importância à descoberta e partilha de uma identidade Europeia, o Ludovice
Ensemble procura, na elaboração dos seus programas, não só evidenciar diferenças entre várias escolas e épocas,
valorizando as suas especificidades, como, sobretudo, revelar as simbioses, permutas e influências que estas
estabeleceram entre si, trazendo assim, aos nossos dias, alguns dos mais belos exemplos do património musical
ocidental. Nesta perspectiva o Ludovice Ensemble leva a público não só peças de renome, como também obras pouco
conhecidas. O processo de concepção dos seus espectáculos baseia-se tanto no profundo estudo do repertório eleito,
como no das circunstâncias históricas que o envolveram ao tempo da sua criação.
PROGRAMA
François Couperin (1668-1733)
3ème couplet de L’Agnus Dei [accommodé pour une flûte allemande, un violon,
la basse de viole et la basse continue]
pièces d’orgue consistantes en deux messes,
l’une à l’usage des paroisses pour les fêtes solennelles […]
a paris […] avec privilège, 1690.
Nicolas Bernier (1665-1734)
Motet pour tous les Temps à voix veule avec symphonie
"Venite, exultemus domino" (Psaume 94)
motets a une, deux, et trois voix, avec symphonie,
et sans symphonie […] première œuvre […]
a paris […] avec privilège, 1703.
Marc- Antoine Charpentier (1643-1704)
Troisième Leçon de Ténèbres du mercredi saint pour une basse, H. 141
Troisième Leçon de Ténèbres du jeudi saint pour une basse, H. 142
Troisième Leçon de Ténèbres du vendredi saint pour une basse, H. 143
mélanges, série romaine, tome xxv, cahier lxv.
bibliothèque nationale de france,
paris. semaine sainte de 1694?
François Couperin
5ème, 6ème et 7ème couplet (du Gloria in Excelsis) [accommodées pour une flûte allemande, un violon, la basse de
viole et la basse continue]
pièces d’orgue consistantes en deux messes […]
l’autre propre pour les couvents de religieux et religieuses […]
a paris […] avec privilège, 1690.
François Couperin (1668-1733)
[Motet] à Voix Seule et symphonie "Ad te levavi oculos meos" (Psaume 122)
manuscrits rés. f.1679 et rés. f. 1680;
bibliothèque nationale de france, paris. 1693-1703?
Nicolas de Grigny (1671-1703)
Duo [sur le "Veni Creator Spiritus"]
livre d’orgue contenant une messe et quatre hymnes
pour les principales festes de l’année […]
a paris […] 1699
Nicolas Bernier
Motet pour la Sainte Vierge à voix seule "Alma redemptoris mater"
motets a une, deux, et trois voix, avec symphonie,
et sans symphonie […] première œuvre […]
a paris […] avec privilège, 1703.
François Couperin
Sonate en trio "La Superbe", pour deux dessus, basse, et la basse continue.
Manuscrit F-LYm 129.949, Lyon
[Gravement] - [Légèrement] - Très lentement - Légèrement - Air Tendre - Gaiement
André Campra (1660-1744)
III Motet a voix seule et deux dessus […] "Laudate Dominum de Cælis"
(Psaume 148)
motets a i, ii, iii voix et instruments avec la basse continue.
dédiez à monseigneur l’archevêque de paris. […] livre second.
à paris, 1700
NOTAS AO PROGRAMA
Um programa de música sacra, apresentado já no Ciclo de Música Sacra de Viana do Castelo e com apresentação
agendada para o Festival Internacional de Música de Alcobaça 2008, preenchido por obras pertencentes aos géneros
conhecidos como Petit-Motet e Leçon de Ténèbres, intercalados com peças instrumentais adequadas, tais como Versets
extraídos de Missas de Órgão e Sonatas da Chiesa.
Escritas no último decénio do século XVII para as mais notáveis instituições religiosas francesas (Nôtre Dame de Paris,
Saint-Gervais, Saint-Germain-l’Auxerrois, Collége de Louis-le-Grand) bem como para a própria Capela Palatina de
Versalles, estas obras breves, de contida e profunda emoção espiritual testemunham um tempo em o reinado do Rei-Sol
atingia o seu ocaso, e a pompa e o brilho do complexo cerimonial religioso começava a ceder lugar a uma devoção mais
íntima e sincera. Tais mudanças deveram-se sobretudo aos revezes políticos e pessoais vividos por Louis XIV –
nomeadamente as várias guerras europeias em que a França se envolveu, a resultante grave crise económica, a sua
doença pessoal, e a morte de dois Delfins – mas também à decisiva influência da austera e devota esposa morganática
do Rei, Madame de Maintenon.
Um programa particularmente adequado à reflexão e à pacificação interior, não deixa contudo de revelar por detrás da
temática religiosa a elegância, requinte, e uma certa sensualidade, típicas o Século das Luzes emergente – não
esqueçamos que os compositores representados se distinguiram no seu tempo pela composição de obras profanas
para a corte e os salões da mais alta nobreza francesa, tais como óperas, ballets, cantatas, suites de danças e música
para cravo.
BIOGRAFIAS
FERNANDO MIGUEL JALÔTO
concluiu o Curso Complementar de Cravo no Conservatório de Música do Porto na classe de Maria de Lourdes Alves
em 1998. Nesse mesmo ano ingressou no Departamento de Música Antiga e Práticas Históricas de Interpretação do
Conservatório Real da Haia (Países Baixos) onde completou a Licenciatura (2002) e o Master Degree (2005) sempre
sob a orientação de Jacques Ogg. Frequentou Master-Classes de Cravo com Ilton Wjuniski (Portugal e França), Ketil
Haugsand e Gustav Leonhardt. Estudou órgão barroco e clavicórdio. Foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura. Em
Setembro de 2006 concluiu o Mestrado em Performance Musical do Departamento de Comunicação e Arte da
Universidade de Aveiro, com uma dissertação intitulada "Música de Câmara da 1ª metade do século XVIII nas fontes do
Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra - os Códices P-Cug MM62 e MM63". Enquanto aluno do Conservatório Real tocou
sob a direcção de Jaap ter Linden, Elizabeth Wallfish, Ton Koopman e Christina Pluhar. Com o grupo La Speranza,
dedicado à música vocal italiana do século XVII, apresentou-se regularmente entre 2000 e 2004 na Áustria e Países
Baixos, tendo realizado 4 concertos em Portugal (2003). Criou em 2004 com a traversista Joana Amorim o Ludovice
Ensemble do qual é o director artístico. Apresentou-se já com a Lyra Baroque Orchestra (Minnesota) e Real Escolania
de S. Lourenço d’El Escorial, sob a direcção de Jacques Ogg - tendo gravado com esta orquestra um CD com obras de
António Soler para a editora Glossa; com a Orquestra da Radiotelevisão Norueguesa, sob a direcção de Roy Goodman;
sob a direcção de Cristophe Rousset, numa produção de óperas de Marc-Antoine Charpentier da Académie Baroque
Européenne de Ambronay/2004, tocou em alguns dos principais teatros de França e Espanha. Recentemente (2006)
apresentou-se em 3 concertos na Bélgica com as Musikalische Exequien de Schütz, sob a direcção de Wim Becu. Em
Portugal deu diversos recitais a solo e de música de câmara. Como membro da Orquestra Barroca Divino Sospiro
apresentou-se com este agrupamento enquanto solista e continuísta em vários concertos e festivais em Portugal,
Espanha e França, sob a direcção de Enrico Onofri, bem como de outros prestigiados directores, tais como Rinaldo
Alessandrini, Harry Christophers, Christina Pluhar e Alfredo Bernardini. Em 2007 apresentou-se como solista com a
Orquestra Barroca da Casa da Música (Porto) sob a direcção de Laurence Cummings.
JOANA AMORIM
nasceu em Faro. Iniciou os seus estudos no Conservatório Nacional (Lisboa) onde obteve em 1992 o diploma em Flauta
de Bisel. Nesse mesmo ano ingressa no Conservatório Real da Haia (Países Baixos) na classe de Flauta de Bisel do
professor Ricardo Kanji. Nesta instituição inicia os seus estudos de Traverso com Wilbert Hazelzet, que prosseguiu com
Linde Brunnmayer, na Escola Superior de Música de Trossingen (Alemanha) – diploma de Solista. De novo na Haia
ingressa na classe de Traverso de Barthold Kuijken, licenciando-se em 2000. Foi bolseira da Secretaria de Estado da
Cultura. Em 2007 terminou o Mestrado em Música na Universidade de Aveiro – estudando com o traversista Marc
Hantaï (Paris) – com a dissertação "Sonata em lá maior de J. S. Bach BWV 1032: problemática da sua reconstrução".
Participou como flautista em diversos projectos de orquestra e de música de câmara, tendo trabalhado com os maestros
Harry Christophers, Howard Hazel, Barthold Kuijken, Jed Wenz, Christian Curnyn, Philippe Pierlot, entre outros. Tocou
com a Orquestra Barroca do Conservatório Real da Haia, com a Orquestra Barroca Divino Sospiro, e com a Orquestra
Filarmonia das Beiras. Já em 2007 apresentou-se em Inglaterra sob a direcção de Masaaki Suzuki, com a Orquestra
Barroca da Fundação Britten-Peers, numa produção da Missa em Si menor de J. S. Bach. Toca regularmente com
grupos de Música Antiga em todo o País, nomeadamente o Ludovice Ensemble, do qual é fundadora, e os Udite Amanti.
Com a cravista Joana Bagulho concebeu o espectáculo itinerante "No tempo em que os instrumentos falavam" que, pelo
seu carácter simultaneamente lúdico e pedagógico, tem vindo a sensibilizar numerosas crianças em todo o país para a
música e estética barrocas. Lecciona Traverso e Flauta de Bisel no Conservatório Nacional (Lisboa) desde 2000.
ROMINA LISCHKA
(Viola da Gamba) nasceu em 1982 em Viena (Áustria). Começou os seus estudos em guitarra clássica com seis anos, e
iniciando-se na viola da gamba aos treze anos de idade. Entre 1999 e 2002 seguiu os estudos universitários no Studium
der Klassischen Gitarre na Universität für Muzik, em Viena, com o professor Walter Würdinger, tendo-se diplomado em
guitarra em 2002 no Musikgymnasium Wien. Entre 2002 e 2006 frequentou a classe de viola da gamba do professor
Paolo Pandolfo na Schola Cantorum Basiliensis (Basileia, Suiça) diplomando-se "com distinção". Romina prossegue
actualmente os seus estudos de pós-graduação no Conservatório de Bruxelas (Bélgica) na classe do professor Philipe
Pierlot. O seu interesse pelas culturas musicais extra-europeias levaram-na também a cursar Canto "Dhrupad" no
Conservatório para Música Indiana, em Roterdão (Países Baixos). Frequentou master-classes em viola da gamba com
Wieland Kuijken e Jordi Savall. Apresenta-se regularmente um pouco por toda a Europa, inserida em vários grupos de
música de câmara e orquestras, nomeadamente com o grupo Les Flamboyants, sob a direcção de Michael Form e, mais
recentemente, com o Ricercar Consort, sob a direcção de Philippe Pierlot.
HUGO OLIVEIRA
Nascido em Lisboa (1977), Hugo Oliveira iniciou a sua formação musical com 6 anos no Instituto Gregoriano de Lisboa.
É licenciado em Canto na Escola Superior de Música de Lisboa, tendo estudado com Helena Pina Manique e Luís
Madureira. Enquanto bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, prosseguiu os seus estudos no Real Conservatório de
Haia (Holanda), onde estudou com Jill Feldman e Michael Chance. Para além da sua especialização no repertório
Barroco, Hugo Oliveira estende a sua flexibilidade como cantor, ao reportório Clássico/Romântico e Contemporâneo. A
convite do grupo inglês Hilliard Ensemble, estreou-se como solista, em 1997, na obra Passio de Arvo Pärt (Jesus).
Hugo tem colaborado com orquestras como Orquestra Sinfónica de Londres, Orquestra Gulbenkian, Les Concerts des
Nations, Schöenberg Ensemble, Orquestra Sinfónica de Düsseldorf, Ebony Band, Remix Ensemble, Ricercar Consort
entre outras. Apresentou-se em algumas das mais importantes salas nacionais e europeias (Amesterdão, Londres,
Paris, Madrid, Barcelona) e em vários festivais em países como Espanha, França Inglaterra, Holanda Bélgica e
Alemanha De entre vários maestros, Hugo Oliveira cantou sob a direcção de Michel Corboz , Jordi Saval , Marcus
Creed, Gennadi Rozhdestvensky, Laurence Cummings, Christina Pluhar, Stefan Asbury, Reinbert de Leeuw, François
Xavier Roth, Martin Andrè, Pierre-André Valade , Werner Herbers, Nigel North e Richard Gwilt.
Dentro do vasto reportório interpretado destacam-se obras como Paixão Segundo São Mateus, Paixão Segundo S.
João, Paixão Segundo São Marcos e Oratória de Natal de J. S. Bach, Vespro della beata vergine de C. Monteverdi,
Invitatórios e Responsórios de Natal de Casanoves, Paixão Segundo São Mateus de Schütz, Messias, Nisi Dominus e
Dixit Dominus de Haendel, Christus e Lauda Sion de Mendelssohn- Bartholdy, Missa Nelson de Haydn, Requiem, Missa
em Dó maiors e Missa da Coroação de W. A. Mozart, Requiem de Duruflé e Fauré, Requiem de Brahms, Petite Messe
Solennelle de Rossini, Pulcinella de Igor Stravinsky, Die Legende von der Heiligen Elisabeth de Liszt, Missa das
Crianças de J. Rutter e Jetzt immer Schnee de Gubaidulina. Interpretou também, em estreia absoluta, a Cantata Verbum
Caro de Nuno Corte-Real.
No domínio da Ópera, Hugo Oliveira interpretou As bodas de Fígaro (Fígaro) de Mozart, The Triumph of Time and Truth
(Time) de Händel, Venus e Adonis (Adónis) de John Blow (Adónis), Les malheurs d’Orphée de D. Milhaud (Orphée),
Melodias Estranhas de António Chagas Rosa (Damião de Góis) e comédia madrigalesca La barca di Venetia per
Padova de A. Banchieri, sob a direcção de Gabriel Garrido.
Enquanto membro fundador do Estúdio de Ópera do Porto - Casa da Música, participou em produções como Joaz
(Azaria e Jojada ) de Benedetto Marcello, L’Ivrogne Corrigé (Lucas) de Gluck, e Frankenstein! de Heinz-Karl Gruber
(coreografia de Paulo Ribeiro). No âmbito do projecto “Academia Barroca Europeia de Ambronay” (2004), colaborou na
ópera Les Arts Florissants (La Discorde) de Marc-Antoine Charpentier, dirigida por Christophe Rousset.
LILIA SLAVNY
nasceu em Moscovo (Rússia), onde iniciou os seus estudos de Violino aos 4 anos de idade. Frequentou primeiro no
Conservatório Tchaikovsky (Moscovo) e posteriormente a "Rubin Academy of Music and Dance" em Jerusalém (Israel),
onde obteve o seu Diploma em Violino Moderno e Barroco, Cum Laúde, na classe dos professores Michael Kugel e
Daniel Fradkin. Lilia prossegue actualmente os seus estudos no Conservatório Real da Haia (Países Baixos),
completando um Master Degree em Violino Barroco com as professoras Elizabeth wallfish e Kati Debretzeni.
Em Israel Lilia foi membro do "Jerusalém Consort" - com quem gravou dois CD's, do "Binyamin Quartet", e primeiro
violino da "Jerusalem Baroque Orchestra", dirigida por David Shemer. Trabalhou ainda com músicos de renome, como
Anthony Rooley, James Bowman e Enrico Onofri, entre outros. Tocou em alguns dos principais festivais de Música
Antiga, tais como Festival de Utrecht, Bachfest Leipzig, Bodenseefestival e o Festival di Cremona. Lilia, a par da sua
carreira como free-lancer, que a leva a tocar em numerosos ensembles e orquestras especializados em Música Antiga
um pouco por toda a Europa, toca regularmente com a "Amsterdam Baroque Orchestra" de Ton Koopman, e no "Utrecht
Baroque Consort". Em 2004 Lilia ganhou o Primeiro Prémio na Segunda Competição Internacional para Solistas em
Instrumentos Antigos, em Schärding (Áustria).
LUDOVICE ENSEMBLE
ACERCA DO NOME
Johann Friedrich Ludwig, conhecido em Portugal como João Frederico Ludovice (1670 - 1752) foi um arquitecto e
ourives alemão. Emigrou para Itália, e finalmente veio para Portugal em 1700, projectando, entre outras obras, o Palácio
Nacional de Mafra (1717-1730), ao serviço de el-rei D. João V, que lhe atribuiu a nacionalidade portuguesa. Foi
nomeado Arquitecto-Mór por D. José I.
Biografia de Johann Friedrich Ludwig
Filho mais novo de Peter Ludwig e de sua esposa Elisabetha Rosina Engelhardt, nasceu a 19 de Março de 1673, no
Castelo de Honhardt, tendo-se mudado mais tarde com a família para Schwabisch-Hall, onde seu pai adquirira uma
casa. A sua família pertencia à pequena nobreza protestante da Suábia. Como todos os seus irmãos, Johann frequentou
o liceu de Hall; no ano de 1687, contando apenas 14 anos de idade, perdeu o pai. O seu tio e padrinho, Johann Wilhelm
Engelhardt, arqitecto amador e dotado de apurado sentido estético, ocupou-se da educação do jovem, familiarizando-o
com a arquitectura.
Em 1689, Johann iniciou os seus estudos de ourivesaria com o Mestre Ourives N. A. Kienle de Jugeren, em Ulm, por um
período de 4 anos. Em 1693 assentou praça com 19 anos de idade, tomando parte na Guerra de Pflaz, que rebentara
em 1688, contra a França, tendo Johann feito campanha até ao fim da guerra, (1697), como oficial de Engenharia.
Como militar, orientou trabalhos de engenharia em Regensburg, adquirindo assim vastos conhecimentos e experiência
no campo da arquitectura militar e artilharia.
Ao deixar o exército em 1697, partiu para Itália, na companhia do ourives Johann Adolf Gaap, tendo-se domiciliado em
Roma, onde veio a desenvolver os seus conhecimentos artísticos, designadamente escultura e arquitectura, e alterando
o seu apelido para Ludovici. A sua vasta erudição em diversas ciências granjeou-lhe simpatia entre os Jesuítas que,
procurando rentabilizar o seu invulgar talento, tentara que ele ingressasse na Companhia. Foram apenas bem
sucedidos na conversão de Ludovici ao Catolicismo - factor indiscutivelmente necessário ao seu casamento em 1700,
em Neapel, com a católica Kiara Agnese Morelli.
Ao serviço Companhia de Jesús trabalha na Igreja del Gesú (Roma) na fundição e cinzelagem da imagem do Santo
Inácio de Loyola (da autoria de Groos) e de várias alfaias ltúrgicas. O seu trabalho foi enaltecido, destacando-se pouco
a pouco de tantos outros artífices italianos e franceses.
É no final de 1700, que Johann chega com sua esposa a Lisboa, fixando residência na Rua dos Canos, junto ao Colégio
Jesuíta de Santo Antão, e assinando um contrato de exclusividade por 7 anos com os Jesuítas, e comprometendo-se a
elaborar um novo sacrário bem como várias outras alfaias. A 1 de Janeiro de 1701, nasceu em Lisboa o seu primeiro
filho, João Pedro Ludovice, filho de Kiara Agnese, que faleceu no parto. A 13 de Setembro desse mesmo ano, é
pronunciada uma sentença contra Ludovice, pelo não cumprimento do contrato de exclusividade para com os Jesuítas.
El-rei D. Pedro II intercede a seu favor, pagando as custas da sentença, e convencendo os Jesuítas a permitir que
Ludovici trabalhar pontualmente para algumas Igrejas do Padronado Real, ou mesmo do Paço.
Assim, já em 1701, já Ludovice se encontrava a trabalhar para a Corte Portuguesa. Tendo-se dedicado durante 16
quase exclusivamente à Ourivesaria, a grande maioria dos seus trabalhos não está contudo identificado, pois na maior
parte das vezes Ludovice apenas desenhou as peças, sendo estas assinadas pelos ourives executores. São-lhe no
entanto atribuídos o Sacrário de Prata da Igreja de Santo Antão; a Custódia para a Capela da Bemposta; o Frontal e a
Banqueta de prata do Convento do Carmo; o conjunto de Peanhas da Sé de Coimbra; Alfaias várias para a Capela Real
do Paço da Ribeira, para a Igreja de São Vicente de Fora e Basílica de Mafra; e a Custódia da Sé de Lisboa.
O jovem rei D. João V encarrega Ludovice de reestruturar o antigo Paço da Ribeira e a sua antiga Capela Manuelina,
transformando-a na Igreja Patriarcal. Estes trabalhos foram muito elogiados, e a Capela do Paço da Ribeira foi descrita
como uma das mais magníficas e sumptuosas na Europa. No entanto o destino de Ludovice só vai mudar radicalmente
com o decreto de el-rei D. João V, datado de 26 de Setembro de 1711, prometendo a construção de um Mosteiro. Abre
assim um espécie de "concurso público", ao ordenar a execução de vários riscos para o mesmo. Entre os vários
concorrentes ao projecto encontravam-se supostamente os famosos arquitectos italianos Filipo Juvara e António
Canevari (que realizaram outros projectos para a Corte Portuguesa); não obstante o monarca escolheu o projecto
apresentado por Ludovice.
As obras do Palácio Convento de Mafra, iniciaram-se solenemente no dia 17 de Novembro de 1717, com o lançamento
da primeira pedra, em grandiosa cerimónia. A direcção da obra ficou a cargo do Ludovice, tendo posteriormente este
sido substituído -já em 1730 - pelo seu filho João Pedro Ludovice, também arquitecto. A grandiosidade do projecto de
Mafra exigia o envolvimento de um grande número de profissionais especializados, e a formação ministrada por
Ludovice levou à criação da Escola de Risco de Mafra, onde se formaram vários arquitectos, que se vieram a distinguir
no reinado de José I. Paralelamente à obra de Mafra, Ludovice faz vários riscos para outras obras, nomedamente a
reestruturação do Paço da Ribeira e da Capela Real, mais conhecida por Patriarcal; o Altar-Mór da Sé de Évora, o AltarMór de São Vicente de Fora; o Altar-Mór da Igreja de São Domingos em Lisboa. Lamentavelemnte a grande maioria das
suas obras pereceram no Terramoto de 1755, nomeadamente o Paço e a Patriarcal - do qual subsiste um dos portais,
aplicado à fachada da Igreja de São Domingos de Lisboa.
Para si construiu em Benfica a Quinta de Alfarrobeira, cujas as obras ficaram concluídas em 1727, e em cuja capela
contraiu segundas núpcias em 1720 com D. Anna Maria Verney (irmã de Luís António Verney). Deste casamento
nasceram 7 filhos. Em Lisboa, ao cimo da Calçada da Glória, construiu um palácio de cinco pisos e janelas
avarandadas, considerado como um dos mais belos de Lisboa antiga, e cuja construção foi concluída em 1747.
Ludovice envolveu-se ainda na construção do Aqueduto das Águas Livres, opondo-se no entanto às soluções
construtivas encontradas para a passagem do Vale de Alcântara.
D. João V, concedeu-lhe várias benesses, entre as quais, se destaca a nomeação em 1720 como Arquitecto das Obras
de São Vicente de Fora, e a concessão do Hábito da Ordem de Cristo, em 1740. Já em 1718, aquando da realização
das obras da Sé de Évora D. João V tratava-o como REGIUS ARCHITECTUS -IOANNES FEDERICUS LUDOVISIUS;
no entanto, a consagração suprema ser-lhe-ia dada só em 1750, já por D. José I, que o nomeou oficialmente ArquitectoMór do Reino, com patente, soldo e graduação de Brigadeiro de Infantaria, e declarando no decreto em que lhe
concedis esta mercê que "[...]pela grande capacidade com que servira por tempo de 43 anos ao Senhor Rei D.João V,
desenhando e fazendo modelos com tal acerto que, executados, deixam ver a magnificiência de quem os mandára pôr
em execução; e instruindo os operários empregados em tais obras com tanto zelo que à sua doutrina se deve o grande
adiantamento em que se acham as Artes n’estes Reinos[...]". No decreto de nomeação são referidos os serviços
prestados “tanto no Reino como fora dele”, presumindo-se assim que a sua acção se tenha estendido ao Brasil.
Como escreveria mais tarde enfáticamnete Vilhena de Barbosa (em Estudos Históricos e Arqueológicos - Tomo II) "[...]
esta nomeação feita ao artista octogenário já não era um prémio dos seus serviços. Tinha outra significação mais nobre
e mais elevada: era o galardão desinteressado concedido ao mérito; era a coroação de louros com que o representante
coroado de um povo agradecido cingia a fronte do Artista Insigne na sua despedida do mundo. Era, em fim, a luz da
glória projectando esplendores sobre uma campa ainda vazia, e ao mesmo tempo iluminando o caminho aos novos
adeptos para o Templo das artes[...]”.
João Frederico Ludovice, coberto de prestigio e rodeado de grande consideração, faleceu em Lisboa a 18 de Janeiro de
1752, na Rua Larga de São Roque - onde residia então - e foi sepultado na Igreja Jesuíta de São Roque, segundo
consta na sua certidão de óbito.
CONCERTO CAMPESTRE
pedro castro, dir.
joana seara, soprano
pedro castro, oboé barroco flauta de bisel
almut schlicker, violino barroco
reyes galliardo, violino barroco
raquel massadas, viola barroca
sofia diniz, viola da gamba
duncan fox, violone
tiago matias, tiorba
flávia almeida castro, cravo
SILETI VENTI
os mestres do barroco
Com o nome inspirado no famoso quadro de Giorgone o Concerto Campestre é um grupo de música de câmara que se
dedica à interpretação de música europeia desde o renascimento ao período barroco, também chamada "musica
antiga". É constituído por jovens profissionais especialistas nos instrumentos da época, tais como cravo, oboé barroco,
viola da gamba e violoncelo barroco. Os seus elementos são formados nas principais escolas europeias e trabalham em
vários grupos da especialidade, tais como Ricercar Consort, Al Ayre Español, Les Talens Liryques e Divino Sospiro. O
grupo está sediado em Lisboa e tem a direcção artística de Pedro Castro. A sua constituição é versátil variando
conforme os programas que são apresentados tendo sido já realizados projectos com um trio de câmara até um
conjunto de dez músicos e cantores na execução de cantatas e concertos de J.S. Bach, Telemann e Seixas.
Apresentou-se na Festa da Música no CCB, nos Encontros de Música Antiga de Loulé, no átrio do Museu Gulbenkian,
na "Festa no Chiado", nas "Festas de Lisboa" e nos Encontros de Música Antiga de Tomar.
PROGRAMA
Antonio Vivaldi (1678 - 1741)
Concerto em fá maior
oboé e cordas
RV455
allegro giusto – grave – allegro
Carlos Seixas (1704 - 1742)
Concerto em lá M
para cravo, cordas e b.c.
allegro - adagio – allegro/giga
Georg Philipp Telemann (1681-1767)
Duplo concerto em lá menor
flauta, viola da gamba e cordas
TWV 52:a1
grave - allegro - dolce – allegro
Georg Friedrich Händel (1685-1759 )
Silete venti
Motete para soprano, oboé e cordas
HWV 242
Symphonia: Silete venti
Aria: Dulcis amor, Jesu care
Accompagnato: O fortunata anima
Aria: Date serta, date flores
Presto: Aleluia
BIOGRAFIAS
PEDRO CASTRO
Pedro Castro nasceu em 1977 no Porto. Diplomado pela Escola Superior de Música de Lisboa sob a orientação de
Pedro Couto Soares e pelo Conservatório Real de Haia na Holanda sob a orientação de Sebastian Marq (flauta) e Ku
Ebbinge (oboé barroco),
A sua actividade profissional passa pelos seguintes agrupamentos: Orquestra Barroca da União Europeia, Al Ayre
Español, Le Talens Liryques, Divino Sopspiro, Capela Real, Flores de Música, Orquestra do sec. XVIII e Orquestra
Barroca da Noruega. Teve assim oportunidade de trabalhar sob a direcção de Roy Goodman, Eduardo Lopez Banzo,
Enrico Onofri, Stephen Bull, Jaap ter Linden, Alfredo Bernardini e Elizabeth Wallfish, entre outros importantes nomes do
meio da interpretação histórica. Apresentou-se em Portugal, Holanda, Brasil, França, Noruega, Dinamarca, Espanha,
Alemanha e Polónia.
Como solista, além da sua actividade em música de câmara, apresentou-se também com a Orquestra Capela Real no
concerto para oboé de A. Marcello, no duplo concerto para violino e oboé de J.S. Bach e com a Orquestra Divino
Sospiro com o concerto para oboé d'amore do mesmo compositor.
Foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura. Participou em vários dos cursos da Academia de Música Antiga de Lisboa,
dos Encontros com o Barroco, da Casa de Mateus e da Universidade de Salamanca onde teve aulas com Peter
Holstlag, Gabrielle Whal, Ricardo Kanji na flauta de bisel e Ku Ebbinge e Peter Frankenberg no oboé barroco. Na sua
formação participaram também Reine Marie Verhagen, Stephen Bull, Siebe Henstra e Cremilde Rosado Fernandes.
JOANA SEARA
Joana Seara iniciou os seus estudos musicais e de canto na Academia de Música de Santa Cecília e no Conservatório
Nacional de Lisboa, sob a orientação de Elsa Saque. Foi membro e solista do Coro Gulbenkian durante seis anos e
participou em inúmeros concertos, em Portugal e no estrangeiro, sob a direcção de Michel Corboz, Frans Brüggen,
Fernando Eldoro, Jorge Matta, Michael Zilm, Claudio Abbado e Richard Hickox. Joana decidiu-se pelo canto solístico,
tirando a Licenciatura, Mestrado em Performance e Curso de Ópera na Guildhall School of Music and Drama (GSMD),
em Londres, com Laura Sarti. Participou também em cursos e masterclasses de aperfeiçoamento orientados por
Thomas Hampson, Thomas Allen, Felicity Lott, Christa Ludwig, Jill Feldman, Emma Kirkby, Graham Clark e Paul
Kiesgen.
Enquanto estudante, foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, da Wingate Foundation, E M Behrens Charitable
Trust e da Worshipful Company of Barbers. Prémios incluem o Worshipful Company of Glass Sellers Music Prize 2005 e
um Sybil Tutton Award. Foi finalista na Handel Singing Competition 2007.
Joana já trabalhou como solista para companhias tais como English National Opera, Bampton Classical Opera,
Independent Opera at Sadlers Wells, Opera Restor'd e British Youth Opera. Os seus papéis incluem Damigella (The
Coronation of Poppea), Juliet (Romeo and Juliet de Benda), Margery (The Dragon of Wantley de Lampe) com a
Akademie für Alte Musik Berlin, Dorinda (Orlando de Handel), Nannetta (Falstaff), Despina e Zerlina, sob a direcção de
maestros tais como Laurence Cummings, Gary Cooper, Paolo Olmi, Paul McGrath, Nicholas Kok e Mathew Halls. Foi
membro do Coro de Glyndebourne para as produções de ópera do Festival de 2006.
Em concertos e recitais, Joana tem-se apresentado como solista, na interpretação de grandes obras como a Sinfonia nº
2 de Mahler, a Sea Symphony de Vaughan William e o Messias de Handel. Apresentou-se no Festival de Lieder de
Oxford com o pianista Sholto Kynoch e actua regularmente com o Ensemble Barroco do Chiado, sob direcção de
Marcos Magalhães, e com a Orquestra Barroca Divino Sospiro, sob direcção de Enrico Onofri, com quem participou em
concertos para os festivais barrocos de Ile de France, Ambronay e Mafra. Planos futuros incluem Vespina (La Spinalba
de Almeida) no CCB, uma gravação das "Árias de Luisa Todi" com the Músicos do Tejo e Despina para Castleward
Opera, na Irlanda do Norte.
SOFIA DINIZ
Sofia Diniz nasceu em Lisboa em 1977. Tendo tido desde cedo uma formação na area da dança e da música nas
escolas do Conservatório Nacional, optou pelo curso de violoncelo e em 1998 cocluíu o bacharelato na Escola Superior
de Música de Lisboa. Foi nos cursos da Academía de Música Antiga de Lisboa que surgiu o seu interesse pela
interpretação histórica em instrumentos originais e a motivação para especializar-se nesta area. Estudou violoncello
barroco e viola da gamba com Rainer Zipperling na Hochschule für Musik de Colónia, onde concluiu em 2002 o Diplom
e viola da gamba com Wieland Kuijken e Philippe Pierlot no Consevatório Real de Haia onde concluíu em 2004 o
Masters. Foi bolseira do Centro Nacional de Cultura de Lisboa e do programa Nuffic-Huygens do estado Holandês. Sofia
Diniz toca violoncelo e viola da gamba com vários grupos de câmara e orquestras nos mais variados festivais em
Portugal e no resto da Europa, como o Festival de Música de Mafra, o Bach Festival en Vallée Mosane, ou Holland
Festival Oude Musik Utrecht. Em Portugal destaca a participação com os agrupamentos Udite Amanti, Concerto
Campestre e Capela Real, e na Bélgica, França, Holanda e Alemanha, com o Ricercar Consort sob direcção de Philippe
Pierlot e Colegium Vocale Gent, sob direcção de Philippe Herreweghe.
FLÁVIA ALMEIDA CASTRO
Flávia nasceu em 1978 em Lisboa. Após ter iniciado os seus estudos musicais na mesma cidade, diplomou-se em cravo
na Escola Superior de Artes de Utrecht, Holanda, sob a orientação de Siebe Henstra e na Escola Superior de Música de
Lisboa, sob a orientação de Cremilde Rosado Fernandes. Estudou também com Jacques Ogg no Conservatório Real de
Haia. Em Lisboa teve aulas de música de câmara com Pedro Couto Soares e com Stephen Bull, e nos Conservatórios
de Haia e Utrecht (Holanda) com vários músicos, nomeadamente Wilbert Hazelzet, Sebastian Mark, Ku Ebbinge, Heiko
ter Schegget, Alfredo Bernardini. Participou nos cursos da Casa de Mateus, Encontros com o Barroco, Academia de
Música Antiga de Lisboa, Academia de Musica Antigua de la Universidad de Salamanca e Académie Musicale de
Villecroze, França, onde frequentou as masterclasses de Jacques Ogg, Siebe Henstra, Ketil Haugsand, Arthur Haas e
Ilton Wjuniski respectivamente. Trabalhou com a Capela Real, Orquestra Metropolitana e Orquestra do Algarve, sendo
dirigida por Wieland Kuijken, Jean-Marc Burfin, Álvaro Caçuto e Terry Fischer. Apresenta-se regularmente em concertos
em Portugal e na Holanda. Foi bolseira do Centro Nacional de Cultura.
CONFERÊNCIA POR RUI VIEIRA NERY
universidade de évora
DO VELHO AO NOVO MUNDO
Rui Vieira Nery nasceu em Lisboa em 1957. Iniciou os seus estudos musicais na Academia de Música de Santa Cecília
e prosseguiu-os no Conservatório Nacional de Lisboa, onde foi aluno de Melina Rebelo (Piano), Constança Capdeville
(Composição) e Macario Santiago Kastner (Musicologia e Interpretação de Música Antiga).
É Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa (1980) e Doutorado em Musicologia pela Universidade do
Texas, em Austin (1990), que frequentou como Fulbright Scholar e bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, e onde
trabalhou, designadamente, com os Professores Robert Snow, Gérard Béhague, Douglas Green, Michael Tusa e Elliot
Antokoletz.
De 1985 a 2000 ensinou no Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa e é actualmente
Professor Associado do Departamento de Artes da Universidade de Évora. Desde 1992 é também Director-Adjunto do
Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian.
Como musicólogo, é autor de diversas obras sobre História da Música Portuguesa, duas das quais receberam o Prémio
de Ensaísmo Musical do Conselho Português da Música (em 1984, A Música no Ciclo da “Bibliotheca Lusitana”, Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian; em 1992, Sínteses da Cultura Portuguesa: História da Música, em co-autoria com
Paulo Ferreira de Castro, Lisboa, Imprensa Nacional/Europália), bem como de largo número de artigos científicos
publicados em revistas e obras colectivas especializadas, tanto portuguesas como internacionais. Exerce também uma
actividade intensa como conferencista, no plano nacional como em vários países da Europa, nos Estados Unidos e no
Brasil. Entre outros eventos musicológicos, foi conferencista convidado no 5.º Encontro de Musicologia de Juiz de Fora
(Minas Gerais) e nos cursos de Música Antiga promovidos por Jordi Savall em San Feliú de Guixols (Barcelona) e
participou no colóquio internacional Post-Imperial Camões, a convite da Universidade de Massachusetts (Dartmouth) e
na série de conferências sobre Arte e Ciência promovidas pelo Instituto Gulbenkian de Ciência.
Os seus temas de investigação incluem a problemática do Maneirismo e do Barroco na Música Ibérica e os processos
de interpenetração cultural na Música Portuguesa, do vilancico à modinha e ao fado. Trabalha presentemente num
estudo de fundo sobre a vida musical luso-brasileira, na óptica dos viajantes estrangeiros do final do Antigo Regime
(1750-1834), e em diversos projectos de edição de Música portuguesa dos séculos XVI a XVIII. Recentemente foi editor
das actas do colóquio Música no Brasil Colonial (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2002) e autor dos capítulos
sobre Espanha, Portugal e América Latina para a obra Baroque Music, de George Buelow (Bloomington, Indiana
University Press, 2004).
Como crítico e colunista musical foi colaborador dos semanários Expresso e O Independente. É colaborador regular da
Antena Dois da Radiodifusão Portuguesa, para a qual produziu, entre outros, o programa Sons Intemporais, sendo
actualmente co-autor (com Vanda de Sá) do programa semanal Ressonâncias. Foi Consultor Musical da Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, da Régie Cooperativa Sinfonia e da Fundação de
Serralves. Entre Novembro de 1991 e Junho de 1992 foi responsável pela concepção do projecto artístico do Centro de
Espectáculos do Centro Cultural de Belém. É membro individual eleito do Conselho Português da Música e desde 1999
membro do júri do Prémio Pessoa (Expresso/Unysis).
Entre Outubro de 1995 e Outubro de 1997 desempenhou as funções de Secretário de Estado da Cultura no XIII
Governo Constitucional. A 5 de Outubro de 2002 foi condecorado pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com a
Comenda da Ordem do Infante D. Henrique por serviços prestados ao estudo e divulgação da Cultura portuguesa.
SETE LÁGRIMAS grupo residente
filipe faria & sérgio peixoto, dir.
ana quintans, soprano
filipe faria, tenor
sérgio peixoto, tenor
hugo oliveira, baixo
pedro castro, flautas de bisel e oboé barroco
inês moz caldas, flautas de bisel
denys stetsenko, violino barroco
kenneth frazer, violoncelo barroco
duncan fox, violone
hugo sanches, tiorba
andré barroso, tiorba e alaúde
PEDRA IRREGULAR
o nascimento do barroco em portugal
A utilização da palavra «barroco», e a sua aplicação a determinadas formas culturais, é recente. Os artistas dos séculos
XVII e XVIII ignoravam-na, o que vale por dizer que, a título de exemplo, nenhum escritor da época fazia prosa para que
ela fosse «barroca». A noção de estilo, e de estilo barroco, tal como hoje a entendemos, era-lhes totalmente
desconhecida. É sobejamente conhecida a origem portuguesa desta palavra. O termo «barroco» surge, pela primeira
vez, no insigne Colóquios dos Simples (1563), de Garcia da Orta (1501-1568) referenciando “huns barrocos mal
afeiçoados e não redondos”. O mesmo termo seria retomado por Rafael Bluteau (1638-1734), no seu Vocabulario
(1712), para designar "pérola tosca, e desigual, que nem he comprida, nem redonda".
PROGRAMA
DIOGO DIAS MELGAZ (1638-1700)
Salve Regina
Adjuva nos (instrumental)
In jejunio et fletu
HENRIQUE CARLOS CORREIA
Sicut ovis, Responsorio 1º in sabbato sancto
CARLOS SEIXAS (1704-1742)
Sicut cedrus exaltata sum, Responsorium II in festo assumptionis B.M.V.
DOMENICO SCARLATTI (1685-1757)
Sonata Lá M
CARLOS SEIXAS (1704-1742)
Hodie nobis caelorum Rex, Responsório a 5 para o Natalı
Sonata Sol M
ANTÓNIO TEIXEIRA (1707-1774)
Sacram beati Vicentii, Responsorium I in festo S. Vicentii
Tanta grassabatur crudelitas, Responsorium III in festo S. Vicentii (instrumental)
Si jubes pater sancte, Responsório II in festo S. Vicentii
FRANCISCO ANTÓNIO DE ALMEIDA (1702-1755?)
Lamentatio prima in Sabbato Sancto a 4 concertata
O quam suavis
Dixit Dominus a 4 concertato (primeira audlção moderna)
Si quaeris miracula, Responsório a 4 concertato per la festa de Sto. Antonio
Justus ut palma florebit, Motetto a 4 concertato in commune unius martyres
NOTAS AO PROGRAMA
A utilização da palavra «barroco», e a sua aplicação a determinadas formas culturais, é recente. Os artistas dos séculos
XVII e XVIII ignoravam-na, o que vale por dizer que, a título de exemplo, nenhum escritor da época fazia prosa para que
ela fosse «barroca». A noção de estilo, e de estilo barroco, tal como hoje a entendemos, era-lhes totalmente
desconhecida.
É sobejamente conhecida a origem portuguesa desta palavra. O termo «barroco» surge, pela primeira vez, no insigne
Colóquios dos Simples (1563), de Garcia da Orta (1501-1568) referenciando “huns barrocos mal afeiçoados e não
redondos”. O mesmo termo seria retomado por Rafael Bluteau (1638-1734), no seu Vocabulario (1712), para designar
"pérola tosca, e desigual, que nem he comprida, nem redonda".
Contudo, enquanto conceito, na sua acepção historicista, o «barroco» foi inventado pela historiografia alemã
oitocentista, num momento em que se procurava introduzir paradigmas explicativos nas caóticas narrativas sobre arte.
Embora tendo no seu horizonte a arte italiana, Heinrich Wölfflin (1864-1945), com a obra Renaissance und Barock
(1888), opôs as qualidades da arte do renascimento - primado da linha, do desenho, do plano, da forma fechada, da
unidade, da claridade absoluta - às do barroco - primado da cor, da profundidade, da forma aberta, da pluralidade, da
claridade relativa. Curiosamente, o historiador alemão falava, sobretudo, de maneirismo, detendo-se em Bernini (15981680), artista “escabroso”, não avançando para além dele.ı
Na historiografia portuguesa, a designação «barroco» para classificar determinada época e determinado estilo tornou-se
quase ambígua, em virtude das muitas e, dir-se-ia, desvairadas acepções que à palavra foram atribuídas. De «barroco»
sinónimo de bizarro, de «barroco» esquema escolástico de silogismo falso, de «barroco» termo corrente na crítica de
artes plásticas, sinal de mau gosto e coisa absurda, passou-se a «barroco», etiqueta histórica e estética, que se dava
como equivalente ou palavra substituta de «Seiscentismo».ı
Importa percepcionarmos o barroco tendo em conta as circunstâncias em que os seus criadores actuaram, no
conhecimento das convicções teóricas da época, nos seus variados domínios, o estabelecimento dos conceitos
essenciais que norteavam as actividades criativas, fazendo uma arqueologia das teorias que orientavam as múltiplas
expressões artísticas.
O barroco português pode ser contextualizado segundo determinados vectores: o pensamento e os valores tridentinos,
as referências do classicismo (mais mitigadas no séc. XVII, mais actuantes no XVIII), a restauração da independência
depois de 1640 e a riqueza proporcionada ao Reino pelo ouro e diamantes brasileiros. Sob estas grandes referências
históricas, a cultura barroca legou-nos um espólio multifacetado, ora concordante ora contrastante, que pode ser
equacionados segundo alguns valores comuns: a manutenção do primado da estética da imitação; a reafirmação da
existência de cânones a regerem as várias expressões artísticas; o gosto pelo lúdico e burlesco, patente em muita da
poesia da época; a explosão duma espiritualidade que parece rejeitar o Mundo, como na pintura de Josefa de Óbidos
(1630-1684) ou na prosa de Frei António da Chagas (1631-1682); o aproveitamento das potencialidades da Retórica,
seja na construção literária, no sermão ou na própria arquitectura que aproximam os sermões de António Vieira (16081697) ao significado icónico de Mafra; o gosto pela matéria e a necessidade de a mascarar com texturas sedutoras; a
polifonia das várias artes de que são exemplos maiores as igrejas forradas a talha e azulejo destinadas a enquadrar a
música e a palavra do pregador; uma moralização permanente, seja na vigilância dispensada aos temas de pintura ou
na moralizante prosa de Manuel Bernardes (1644-1710).ı
No que diz respeito à música, e seguindo a terminologia avançada por Vieira Nery, o período barroco deverá ser dividido
em dois momentos assaz diferentes, um primeiro barroco, autóctone, na segunda metade do século XVII e um segundo
barroco, joanino, marcadamente romanizante, ao longo da primeira metade do século XVIII.ı
Nascido em Cuba, em 1638, Diogo Dias Melgaz é um digno representante deste primeiro período, contendo a sua
literatura musical os princípios compositivos que nortearam a generalidade da produção musical portuguesa da segunda
metade do século XVII. Tendo sido admitido no Colégio dos Moços do Coro da Sé de Évora, em 1647, Melgaz teve uma
carreira fulgurante nesta instituição. Nomeado reitor em 1662, tornou-se mestre da Claustra em 1664 e ascendeu ao
lugar de mestre de Capela em 1680, cargo que ocupou durante dezanove anos. A sua música é marcada, no dizer de
Gerhard Doderer, por um colorido tonal “moderno”, em oposição ao modelo modal tradicional, numa sequência dos
efeitos expressivos do discurso melódico, mais por razões de natureza textual do que por considerações de ordem
puramente musical.ı
Das suas obras hoje em concerto, merece particular referência Salve Regina. Alternando entre uma lógica de
construção tendencialmente vertical (afastando-se da dualidade tenor/soprano de quinhentos para uma nova dualidade,
baixo/soprano) e um universo diferente, mais contrapontístico, com entradas sucessivas das vozes, Melgaz recorre a
um cromatismo intenso das linhas melódicas, resultando numa paleta variada de harmonias expressivas tão
apropriadas ao pathos contido no texto sacro.ı
O segundo período do barroco musical português corresponde, grosso modo, à primeira metade do século XVIII.
Marcado pelo esforço continuado de modernização estruturalizante das artes, encetado por D. João V (1689-1750), não
pode ser desassociado de duas medidas régias que iriam influenciar a vida musical portuguesa até ao dealbar do século
XIX: a criação de uma estrutura de ensino da mais alta qualidade adequada à competente formação de músicos
portugueses, o Seminário da Patriarcal, fundado por Alvará Régio de 9 de Abril de 1713 e o envio de bolseiros régios
para Roma, a fim de se aperfeiçoarem na sua arte e a contratação maciça de instrumentistas e cantores estrangeiros.ı
A contratação de Domenico Scarlatti (1685-1757) para o cargo de compositor régio, em 1719, deve ser entendida no
contexto anteriormente descrito. Por um lado, o prestígio internacional do soberano estava em causa (Scarlatti era o
mestre da Cappella Giullia [a Capela Pontifícia]) mas, por outro, assegurava-se um jovem compositor, conhecedor da
linguagem musical italiana e, concretamente, romana, inserindo-se, assim, nos desígnios joaninos. Sobre a
permanência de Scarlatti em Portugal, envolta numa certa penumbra, mas parcialmente descortinada sagazmente por
João d’Alvarenga, sabemos que chegou a Lisboa em Novembro de 1719, para ser “il Capo, e direttore di tutta la […]
musica della Patriarcale”. Como compositor régio, e controlando o aparelho da produção musical da Corte joanina,
Scarlatti foi, senão o responsável pela introdução na Patriarcal do repertório polifónico romano e de obras exclusivas da
Cappella Giulia [o Miserere de Allegri, por exemplo], o garante da sua correcta interpretação.ı
A adopção de modelos composicionais e práticas musicais de origem italiana pela Capela Real permitiram o
afastamento de modelos eminentemente ibéricos (como o vilancico religioso, banido do culto em todas as Igrejas do
país por ordem régia de 1723 ). É no seio desta mudança, no contexto da música sacra em Portugal, que são
detectados dois modelos dominantes: o stile pieno, que seguia o idioma contrapontístico de Palestrina, se bem que a
combinação das linhas polifónicas de igual peso desse lugar a um processo gradual de escrita baseado em progressões
harmónicas, valorizando o movimento melódico e texturas homofónicas, em detrimento do contraponto, e o stile
concertato, que absorvera o virtuosismo vocal da música dramática.ı
É, ainda, neste contexto que emerge a obra de dois bolseiros do Magnânimo: Francisco António de Almeida e António
Teixeira e a de Carlos Seixas, dignos ilustradores do universo musical joanino.
Nascido em Lisboa, em 1707, António Teixeira foi enviado para Itália como bolseiro com apenas 10 anos, tendo
permanecido em Roma até Junho de 1728. No seu regresso a Lisboa foi apontado como cantor da Capela Real e
examinador oficial de cantochão da diocese de Lisboa. Presume-se que tenha morrido c.1759.ı
Os seus responsórios, do Ofício de Matinas, para a festividade de S. Vicente, escritos para 4 vozes e baixo contínuo,
apresentam a mesma estrutura formal, dividida em 4 partes [à excepção do 3º, com 5 partes]: uma secção inicial, de
carácter introdutório, de escrita fundamentalmente vertical, na relativa menor, conduz à presa, a segunda secção, um
fugato, de discurso musical imitativo, na tónica, modelando à relativa maior, que funciona como um refrão; segue-se o
verso, para duas vozes solistas, na relativa maior, que conduz à repetição da presa.ı
José António Carlos de Seixas foi um dos compositores portugueses mais notáveis da primeira metade do século XVIII.
Apesar de nunca ter saído de Portugal, ao contrário de alguns dos seus contemporâneos, como Francisco de Almeida
ou António Teixeira, teve oportunidade de familiarizar-se com as novas correntes musicais, essencialmente, através do
contacto com os diversos músicos da Capela Real.ı
Nascido em Coimbra em 1704, Carlos Seixas foi organista da Sé de Coimbra, por morte do seu pai, antigo titular, entre
1718 e c.1722, ano em que se mudou para Lisboa, onde viria ocupar cargo semelhante, desta feita, na Capela Real.
Professor de cravo, ficou famoso pelas suas sonatas para instrumento de tecla, que a acreditar nos testemunhos da
época, ultrapassavam as 700! Nobilitado com a Ordem de Cristo, honra inaudita entre músicos deste período, morreu
em Lisboa em 1742.ı
Infelizmente, a sua obra musical é inconstante. Se, por um lado, temos a graciosidade do responsório Hodie Nobis, num
virtuosismo musical que acentua a prosódia do texto, por outro deparamo-nos, por exemplo, com a simplicidade do
discurso da antífona Verbum Carum.ı
Quanto a Francisco António de Almeida, José Mazza, no seu Diccionario biographico de Musicos (c.1780) chama-lhe
"organista da Patriarcal e famoso compositor". Por outras fontes da época é tratado apenas por Francisco António e
citado como compositor de música para as populares representações de Presépios que se faziam na Mouraria. Sabe-se
que, nascido c.1702, foi enviado para Roma em 1716/1717, onde permaneceu por alguns anos. Da sua passagem por
Roma ficou um retracto caricatural do famoso Pier Leone Ghezzi (1674-1755), que se encontra na Biblioteca Apostólica
Vaticana com a seguinte legenda: “Signor Francesco Portoghese il quale è venuto in Roma per studiare, e
presentemente è un bravissimo compositore di Concerti, e di musica da Chiesa ”.
ı Deduz-se que tenha regressado a Lisboa dois meses antes de António Teixeira, em Abril de 1728, pois a 22 do dito
mês executou-se no Palácio do cardeal D.João da Mota (1691-1747), Secretário de Estado do Reino, a serenata Il
Trionfo della Virtù, com libreto de D. Luca Giovine e música de sua autoria. Seguiu-se o scherzo pastorale Il Trionfo
d'Amore, a 27 de Dezembro de 1729, no Paço da Ribeira. Nos anos seguintes compôs Gl'incanti d'Alcina, cantada a 27
de Dezembro de 1730, no Paço da Ribeira [27 de Dezembro era a Festa Onomástica de D.João V], La Spinalba ovvero
il vecchio mato, no Carnaval de 1739 e L'Ippolito, uma serenata, cantada no Teatro do Forte do Paço da Ribeira, a 4 de
Dezembro de 1752. Presume-se que tenha morrido no terramoto de 1755. ı
Foi, sem margem de dúvidas, o maior compositor português da primeira metade do século XVIII, pela fluidez e requinte
do discurso musical, e aquele que melhor incorporou na sua obra o idioma musical romano em todo o seu esplendor. A
harmonia do contraponto, bem como a beleza das linhas vocais apontam, em certa medida, para além do barroco, num
exercício de genialidade musical, raro entre nós.
José Bruto da Costaı
© Arte das Musas 2008
BIOGRAFIA
O Sete Lágrimas (fundado em 2000 em Lisboa sob o nome L’Antica Musica) é um consort de músicos especializados
em música antiga e contemporânea que explora em cada programa a ténue fronteira entre a música erudita e as
tradições seculares. O consort é dirigido por Filipe Faria e Sérgio Peixoto.
Em 2007 o grupo edita o seu primeiro CD pela etiqueta MU (murecords.com) com um projecto intitulado Lachrimae #1.
Este CD alcançou enorme sucesso na crítica da especialidade e na recepção do público. Em 2008 edita o segundo CD
pela mesma etiqueta, intitulado Kleine Musik. (ver Notas de Imprensa abaixo), um projecto de música antiga e
contemporânea dedicado a Heinrich Schütz que contemplou a encomenda de nove peças ao famoso compositor inglês
Ivan Moody sobre os mesmos textos musicados por Schütz no século XVII. Tem já agendado para Novembro/Dezembro
de 2008 o lançamento do terceiro projecto de edição discográfica intitulado Diaspora.pt em que explora as relações
estéticas, conceptuais e linguísticas da música dos países do cinco continentes visitados pelos Descobrimentos, pela
secular diáspora cultural portuguesa e pela Lusofonia. Este projectos discográficos têm o apoio da Direcção-Geral das
Artes do Ministério da Cultura. Desde 2006 o grupo desenvolve ainda projectos de composição de música original e
arranjos de música antiga para o cinema, o teatro e a televisão. A este propósito efectuou já a banda sonora original,
baseada em música dos séculos XVI a XVIII, de uma série de 13 programas da estação televisiva SIC, em 2006.
Sete Lágrimas estreou-se em 2000 em Lisboa, fruto de uma intensa pesquisa de cerca de um ano, com a estreia
nacional integral do Primeiro Livro de Madrigais para Duas Vozes de Thomas Morley de 1595. Este repertório encerra
em si a magia do Renascimento europeu, que fazia da música e dos paradigmas clássicos uma forma de arte nova apta
a comunicar com o público de um modo ainda não experimentado, e lançou o mote para os projectos futuros do grupo.
Na temporada 2008/2009, o grupo tem já agendados doze concertos e um novo projecto de edição discográfica
intitulado “Silêncio”, com a parceria do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e o apoio
do Ministério da Cultura/Direcção Geral das Artes. Este projecto contempla a encomenda de seis obras (60' de música)
aos compositores João Madureira, Ivan Moody e Christopher Bochmann, a sua estreia mundial, uma pequena tournée
nacional e internacional, e a edição discográfica destas obras especialmente escritas para Sete Lágrimas. Tal como os
anteriores projectos discográficos o “Silêncio” é produzido pela MU/Arte das Musas. O grupo é também, desde 2006,
grupo residente do Festival Terras sem Sombra e é agenciado pela Arte das Musas. Para 2009 ultima a preparação de
um concerto no Festival Internacional de Música de Macau e uma digressão, composta por concertos e masterclasses,
pela América Latina (Uruguai, Chile e Argentina), a convite da Embaixada Portuguesa no Uruguai, do Instituto Camões e
do Festival Barroco do Uruguai.
Colaboraram, desde 2000, com o Sete Lágrimas os músicos:
ı ı Ana Quintans, soprano **;ı Rosa Caldeira ***; António Zambujo ***; Inês Moz Caldas, flautas de bisel * ** ***;
ı Pedro Castro, flautas de bisel e oboé barroco ** ***ı ; Andreia Carvalho, oboé barroco; Denys Stetsenko, violino
barroco ***ı ; Diana Vinagre, violoncelo barroco; Isabel Figueroa, violoncelo barroco; Kenneth Frazer, viola da gamba e
violoncelo barroco * **ı ; Duncan Fox, violones **ı ***; Marta Vicente, contrabaixo barroco; Tiago Matias, tiorba, alaúde,
guitarra barroca, guitarra romântica e vihuela ***; Hugo Sanches, tiorba, alaúde, guitarra barroca e vihuela ** ***; Eurico
Machado, guitarra portuguesa ***; Fernando Marques Gomes, percussão ***; Sérgio Silva, cravo; Sofia Norton, flautas
de biselı ; Marco Magalhães, flautas de bisel *; Mafalda Larisch Frazer, viola da gambaı ; Susana Moody, viola da
gamba; André Barroso, tiorba e alaúde *ı ; Sofia Borges, percussãoı ; Coro Voces Caelestes
•
CD Lachrimae #1 ı ** CD Kleine Musik (Moody/Schütz by Sete Lágrimas) *** CD Diaspora .PT
SETE LÁGRIMAS
EXCERTOS IMPRENSA
Jornal Público 14 Novembro 2008
Critica de Clássicaı
Revelações do Barroco em Portugalı
Ciclo Música em São Roqueı
Cristina Fernandes
****ı ı
Sete Lágrimas Consortı
“Pedra Irregular – O nascimento do Barroco em Portugal”ı
Lisboa, Igreja de São Pedro de Alcântara, 9 de Novembro, às 17 h.ı
Igreja cheiaı ı
Vocacionado para a música antiga e contemporânea, o Sete Lágrimas Consort constitui um dos mais interessantes
projectos surgidos em Portugal, nos últimos tempos, conforme se pode comprovar através de dois CD já editados
(Lachrimae #1 e Kleine Musik), aos quais se seguirá, em breve, Diaspora.pt. Dirigidos pelos tenores Filipe Faria e
Sérgio Peixoto, o grupo apresentou no ciclo Música em São Roque um criterioso programa intitulado “Pedra Irregular –
O Nascimento do Barroco em Portugal”. De Diogo Dias de Melgaz, um dos últimos vultos da Escola de Évora, a António
Teixeira e Francisco António de Almeida (bolseiros em Roma a expensas de D. João V), passando por Henrique Correia,
Carlos Seixas e Scarlatti, foi traçado um percurso com algumas das mais belas obras escritas entre os finais do século
XVII e meados do século XVIII.ı O repertório sacro apresentado foi concebido para coro (com ou sem solistas) e baixo
contínuo, mas o Sete Lágrimas interpretou-o apenas com três cantores, atribuindo algumas das restantes partes a
instrumentos (oboé e violino barroco) e contando com um grupo de baixo contínuo generoso (violoncelo, duas tiorbas e
cravo). Algumas obras vocais (de Melgaz, Teixeira e Almeida) foram tocadas apenas em versão instrumental e as
restantes foram objecto de combinações vocais e instrumentais variadas, que permitiram acentuar os contrastes da
textura musical e obter ambientes tão diversos como o intimismo contemplativo da Lamentação, de Almeida, ou a
exuberância italianizante dos Responsórios de Carlos Seixas, do Responsório Si quaeris miracula ou do Motete Justus
ut palma florebit, de Almeida.ı O colorido que se ganhou desta forma mostrou facetas que outras interpretações deixam
na sombra. Mas se o resultado foi revelador, esta atitude é susceptível de algumas reflexões musicológicas. Várias
destas peças foram certamente cantadas na Patriarcal de D. João V, que contava com um coro de italianos de alto nível
e cultivava um cerimonial monumental, mas também não é impossível que tivessem sido feitas com uma voz por parte
noutros locais (prática documentada em Portugal nas décadas seguintes). O uso de um conjunto vocal mais amplo seria
talvez mais fidedigno, mas os Sete Lágrimas não se definem como um grupo filiado nas “interpretações historicamente
informadas” no sentido convencional, embora tenham formação nessa área. Preferem apostar na experimentação e na
recriação do repertório, de resto uma tendência cada vez mais comum também a nível internacional.ı Com timbres de
cores suaves, as vozes de Filipe Faria e Sérgio Peixoto combinaram-se com elegância e bom gosto e a soprano Mónica
Monteiro teve uma prestação de crescente eloquência que culminou nas páginas de Almeida, precisando apenas de
aperfeiçoar alguns detalhes nas passagens mais virtuosísticas. A clareza de fraseados do oboé de Andreia Carvalho,
num sugestivo diálogo com o violino de Denys Stetsenko, e um grupo de contínuo que nunca incorreu na monotonia
completaram um trabalho de conjunto de grande consistência técnica e artística.
ı ı Cristina Fernandes (Público, Ípsilon, 20.06.2008) # Artigoı ı ı
"Fazer voar a música
ı ı O que têm em comum um compositor luterano do barroco alemão e um ortodoxo grego do século XXI? No seu
segundo CD o grupo Sete Lágrimas quis mostrar como as músicas de Schütz e de Ivan Moody se iluminam
mutuamente.
Desde que começaram a cantar juntos, há dez anos, a música de Henrich Schtz (1585-1672) tornou-se companhia para
Filipe Faria e Sérgio Peixoto. Estes dois tenores do Coro Gulbenkian tinham como ambição fazer um projecto livre de
algumas convenções decorrentes da formação musical clássica do conservatório. Queriam abordar a música antiga, a
contemporânea e repertórios de fronteira (entre o erudito e o popular) e emancipar-se da página escrita, pois a partitura
é apenas o suporte. Criaram em 2000 o grupo L'Antica Música, que tomou o nome de Sete Lágrimas em homenagem
ao ciclo de sete danças Lachrimae (Lágrimas) de Jonh Dowland (c.1563-1626) e ao espírito que percorre a sua música.
No início, o percurso parecia semelhante ao de outros grupos de música antiga. "Havia receio de arriscar num meio
fechado como o português", confessam ao Ipsilon Filipe Faria e Sérgi Peixoto. "Tinhamos ideias, mas quando chegava a
altura de as mostrar acabávamos a fazer a oratória de Carissimi ou outro repertório instituído".ı ı Foi há três anos que
as coisas começaram a mudar. Em Março de 2007 lançaram o primeiro CD ("Lachrimae #1), na etiqueta Murecords
criada pela Arte das Musas (empresa com actividade nas áreas da Cultura, Arte e Comunicação dirigida por Filipe
Faria), e há semanas colocaram no mercado o seu último trabalho ("Kleine Musik"), onde prestam homenagem a schütz
através do olhar contemporâneo de Ivan Moody (n.1964), compositor britânico residente em Portugal, que convidaram a
compor sobre os mesmos textos usados pelo grande compositor alemão.ı ı "Schutz era o compositor que melhor se
adaptava à nossa maneira de cantar e de ver a música", conta Sérgio Peixoto. "Estudámos os "Pequenos Concertos
Espirituais" e descobrimos sempre coisas maravilhosas, não só a nível musical mas também interpretativo. A ilustração
musical do texto não é tão imediata como em Monteverdi ou nos italianos da mesma época, mas depois de a
trabalharmos em profundidade está lá tudo, é impressionante", explica Filipe Faria. "Dizemos muitas vezes: Schutz
nunca nos enganou".
O italiano extrovertido e o intimismo alemão
Os dois tenores já tinham cantado várias obras de Ivan Moody e a ideia de o convidar a participar foi consensual. O
projecto começou a ser delineado há dois anos e foi posto em prática com o apoio do Ministério da Cultura, que elogiou
a sua originalidade conceptual.
Também a visão de Schutz de Ivan Moody se encontra próxima da dos directores musicais do Sete Lágrimas. "A música
de Schutz é uma belíssima mistura do italiano extrovertido com o intimismo alemão, que tem a ver com a escala mais
reduzida dos meios que ele tinha à disposição depois da guerra dos 30 anos", diz o compositor. "Trata o texto com uma
abordagem muito pessoal. Há uma profundidade teológica no pensamento de Schutz que concilia ao mesmo tempo a
seriedade e o fascínio perante a criação e a alegria, coisa que só se percebe depois de entrar a fundo na sua música.
Isto diz-me muto porque são coisas que também sinto – uma alegria teológica. "Ivam Moody é membro da igreja
ortodoxa grega e identifica essa atitude com a sua fé.
Além dos textos, a proposta tinha outras condicionantes como o uso de instrumentação semelhante à escolhida para as
obras de Shutz, que se destinam a vozes e baixo contínuo. " Tal como Stravinsky, acredito que as limitações podem
fazer uma peça florir, se alguém nos dá o dinheiro e uma folha de papel em branco, sem nada de onde partir, caímos no
vazio", diz Moody. "Olhei para as partituras de Schutz para absorver o ambiente e depois usei a minha linguagem." A
natureza dos meios também não foi um problema pois Moody está habituado a escrever para grupos que se dedicam à
música antiga e contemporânea, como o Hilliard Ensemble ou o Taverner Consort, e também tem usado instrumentos
antigos. "Já fiz peças para "consort" de violas da gamb, mas nunca tinha escrito para tiorba ou oboé barroco. O som
destes instrumentos é fantástico. A maneira como a tiorba pode preencher o espaço harmónico como faz na música
barroca foi para mim uma coisa delirante."
Abordagem contemporânea
O projecto teve ainda outra convidada: a soprano Ana Quintans. "Estávamos a actuar com o Coro Gulbenkian e de
repenta entra uma jovem soprano portuguesa para cantar a Missa em Dó menor de Mozart", conta Filipe Faria.
"Fizemos-lhe o convite para colaborar com o Sete Lágrimas logo nessa noite e foi aceite. Ana Quintans já não está só
limitada às nossas fronteiras, é um assombro de musicalidade e de seriedade. Nunca tinha abordado este repertório,
mas deixou-nos sem palavras durante a gravação."
Do ponto de vista interpretativo Filipe e Sérgio tiveram com a música de Schutz e de Ivan Moody uma atitude
semelhante: uma aproximação à partitura que parte da recriação. Por exemplo: duas das peças do compositor britânico
são interpretadas no cravo embora tenham sido escritas para vozes adoptando um processo similar ao que se fazia com
a música do século XVII. "A formação musical clássica incita-nos a ter respeito pela partitura mas fomos aprendendo a
libertar-nos. A partitura é apenas um suporte, serve para tentar perceber o que o compositor diz mas também para
descobrir o que queremos fazer com a música", refere Sérgio Peixoto. O Sete Lágrimas pretende uma abordagem
contemporânea e uma ligação à identidade sonora do grupo. "Uma dúvida essencial desde o princípio era: será que isto
passa como som do grupo? Mas a verdade é que isso tem vindo a ser reconhecido."
A criatividade para além da partitura e a combinação de repertórios de fronteira fervilhava há muito nas mentes dos dois
cantores, mas só há poucos anos começaram a arriscar. Agrupamentos que admiram, como L'Arpeggiata de Christina
Pluhar, Accordone de Marco Beasley e Guido Morini ou Les Fin'Amoureuses, serviram de incentivo. "Não é uma
questão de os imitar, mas sentimos uma atitude semelhante perante a música", explica Filipe Faria. "Convidámos, por
exemplo, para o Festival Terras sem Sombra (que a Arte das Musas organiza) um coro para interpretar música sacra de
carácter popular do eixo latino-mediterrânico e em Novembro vamos lançar um novo CD, "Diaspora. PT". Aí a loucura
será total".
Novos projectos
Sérgio e Filipe gostavam que esse novo projecto"viesse mudar a mentalidade fechada que existe em Portugal". "Temos
intérpretes muito bons que fazem música antiga de acordo com as práticas de execução históricas e gostamos muito de
ouvir, mas não é essa a nossa intenção", diz Filipe. Em "Daspora .PT" evocam-se repertórios influenciados pela música
portuguesa no mundo. "Começamos em Portugal com Vilancicos de Negro (género coral que utiliza várias línguas e
dialectos de influência mestiça), passamos por Cabo Verde com a morna, por Goa, Macau, Timor, o México e o Brasil. A
ideia da diáspora tem ramificações: o português que saiu para a América do Sul no século XVI e que compôs baseado
nas tradições orais que recolheu, mas também os músicos que em Portugal se inspiraram em fórmulas novas que
ouviam interpretar aos escravos africanos", explica Sérgio. "Teremos também músicos convidados, como o fadista
António Zambujo." Filipe acrescenta que "não é um projecto musicológico, mas totalmente estético e conceptual" que
implicou meses de trabalho sobre as partituras: Recriámos do primeiro ao último compasso todas as peças."
O objectivo foi criar uma abordagem pessoal do Sete Lágrimas e não uma aproximação idiomática a cada um dos
géneros. "Não queríamos imitar, mas recriar. Nos ensaios usámos adjectivos e metáforas para transmitir as nossas
ideias aos músicos. Lembro-me sempre do maestro Frans Bruggen que nos dirigiu tantas vezes no Coro Gulbenkian.
Ele faz poucos gestos quando dirige, mas quando ensaia usa adjectivos que fazem voar a música de Bach, nós
tentámos fazer voar estas músicas", diz Filipe Faria.
À "Diaspora.PT" vai seguir-se outro CD em 2009, "Silêncio". São três olhares de compositores sobre a Bíblia: o de Ivan
Moody que é ortodoxo grego, o de [João Madureira] que é católico e o de Christopher Bochmann que é anglicano
protestante. Cada compositor fará música sobre a herança erudita e popular da sua própria linguagem e experiência",
conta Filipe Faria. "Será mais uma aventura que promete quebrar fronteiras".
ı ı M.A.G. (JL jornal de Letras, Artes e Ideias, 13-26 Agosto 2008)
"A Grande Música
ı ı O maior compositor alemão do Barroco intermédio, Heinrich Schutz, os seus Pequenos Concertos Espirituais (Kleine
Geistliche Konzerte), a revisitação dessas peças por um compositor britânico contemporâneo há muito fixado em
Portugal, Ivan Moody, e o projecto, bem amadurecido, dos tenores Filipe Faria e Sérgio Peixoto, Sete Lágrimas. O
conjunto dá origem a um dos mais belos discos de edição nacional, surgidos nos últimos anos.ı O grupo Sete Lágrimas
nasceu há cerca de uma década como o nome L,Antica Musica. Formado por dois cantores do Coro Gulbenkian, surgiu
com o objectivo de ultrapassar barreiras mais ou menos convencionadas entre diferentes repertórios, fossem de música
antiga ou contemporânea, ou mesmo testemunho de diferentes "diásporas", como futuros projectos discográficos o
atestam. Sucederam-se assim anos de trabalho e de concertos, até ao momento em que editaram o primeiro disco,
Lachrimae # 1. Foi em 2007, quando Filipe Faria e Sérgio Peixoto já tinham adoptado a designação Sete Lágrimas, a
partir das sete variações Lachrimae, de John Downland, sobre Flow my Tears. O programa do primeiro disco
demonstrava a atitude única do agrupamento. Obras de Giovanni Martini, Corelli e Schutz, a par de salmos protestantes
franceses, com quase dois séculos de distância entre si, cruzavam universos e modos de vida, cuja soma parecia
revelar um sentir comum - uma dor que não podia deixar de ser comum -, no confronto que dividia a Europa entre os
diferentes credos. O novo disco impõe mais uma vez o "desassossego". Dos cerce de 50 Pequenos Concertos
Espirituais de Heinrich Schutz, incluídos nos volumes de 1636 e 1639, nove deles são revisitados pelo compositor
contemporâneo Ivan Moody, que não só conhece as características muito próprias da música antiga, como sabe da
convicção necessária para compr música sacra - nenhuma simulação é possível, perante si mesmo e muito menos
perante a verdade de Schutz.ı Os Pequenos Concertos Espirituais surgiram em plena Guerra dos 30 anos. Usam várias
fontes, do Antigo Testamento a Santo Agostinho. Os textos (e os instrumentos de época) são retomados por Ivan Moody,
como num "jogo de espelhos", conforme confessa na apresentação do CD: Reflectir como num espelho era ideia central
deste projecto, devendo estar presente que todos os espelhos distorcem". E essa é a grande lição deste disco, o que o
transforma em algo único e magnifíco. O idioma do britânico ortodoxo - facto bem patente na sua obra sacra - em tudo
difere, como é óbvio, da expressão do genial compositor luterano seiscentista. No entanto, parafraseando Moody e a
sua citação de São Paulo aos Coríntios, que "ponto de chegada" poderá ser mais rico "do que o esforço de reflectir e
complementar um Mestre, como através de um espelho, em enigma?" ı As vozes de Sérgio Peixoto, Filipe Faria e, em
particular, da soprano Ana Quintans materializam as melhores respostas, acompanhadas por Inês Moz Caldas (flauta de
bisel), Pedro Castro (flauta e oboé barroco), Kenneth Frazer (viola da gamba), Duncan Fox (violone) e Hugo Sanchez
(teorba). Juntos fazem com que a música corra, expressiva, exigente, atenta ao pormenor, à eloquência imposta pelo
mestre e pelo próprio enigma.
Cristina Fernandes (Público, Ípsilon, 20.06.2008) ı **** 4 estrelası ı ı
"Jogo de Espelhos
ı O segundo CD do agrupamento Sete Lágrimas combina a espiritualidade do barroco alemão com o olhar
contemporâneo.ı ı Kleine Musik, Sete Lágrimas Consort, Filipe Faria e Sérgio Peixoto (tenores, cravo e direcção), Ana
Quintans (soprano), Murecords MU0102
Depois de uma estreia discográfica auspiciosa com "Lacrimae #1", o agrupamento Sete Lágrimas acaba de lançar mais
uma gravação de grande consistência artística e conceptual. "Kleine Musik" combina uma selecção de peças extraídas
dos "Pequenos Concertos Espirituais", de Henrich Schutz (1575-1672), com obras compostas para o grupo sobre os
mesmos textos por Ivan Moody (n.1964), num deliberado jogo de espelhos.ı A combinação entre música antiga e
contemporânea pode encontrar-se em vários projectos discográficos internacionais, mas tem sido bastante rara no
contexto português. "Kleine Musik" não é apenas uma conjugação de universos cuidadosamente estudada, onde a
música de Schutz serve de inspiração ao olhar contemporâneo de Ivan Moody através de um reflexo de processos
criativos que usam diferentes linguagens. É também uma justa homenagem a Schutz, um dos maiores compositores da
história da música, que tem estado quase sempre ausente dos programas de concerto em Portugal, mas que faz parte
do repertório do Sete Lágrimas desde o início da sua actividade. Se os pequenos trechos do compositor alemão
incluídos no primeiro CD se encontravam entre as interpretações mais conseguidas dos tenores Filipe Faria e Sérgio
Peixoto, neste segundo trabalho confirma-se a sua afinidade com a estética do compositor alemão e com a sua
expressividade profunda e intimista. As suas vozes fundem-se bem ao nível do timbre e nota-se uma sintonia cuidada
dos fraseados e das intenções retóricas, bem como uma cumplicidade eficaz com a componente instrumental, a cargo
de intérpretes experientes no âmbito da música antiga.ı As faixas mais impressionantes do disco devem-se, porém, à
interpretação de Ana Quintans, pelo seu elevado nível técnico, pelo brilho vocal e pela força emocional. A soprano, que
tem feito carreira internacional no repertório barroco, soube também adaptar-se ao universo menos familiar de Ivan
Moody – ouça-se, por exemplo, "O Misericordissime Jesu", na faixa 12.ı Este compositor britânico, a residir em Portugal
Há vários anos, tem escrito outras obras com instrumentos antigos, conhecendo bem os seus recursos e
especificidades. A sua estética não procura o radicalismo, nem tem a obsessão da vanguarda. Mostra antes um certo
despojamento, mesmo quando od processos de composição são mais intrincados, e a captação de uma atmosfera onde
a espiritualidade é um elemento bem presente. A transição entre o antigo e o novo pode ser uma tarefa arriscada mas
neste caso é conseguida de forma convincente, tanto pelo conteúdo musical como pela coerência interpretativa."
ı ı Bernardo Mariano (Diário de Notícias 14.07.2008)ı
**** 4 estrelası ı
"O Sete Lágrimas, do[s] tenor[es] Filipe Faria e (...) Sérgio Peixoto, editou o CD Kleine Musik, projecto que cruza
Heinrich Schütz (1585-1672) e Ivan Moody (n. 1964), compositor britânico residente em Portugal e que consistiu em
cantar nove Kleine Geistliche Konzerte de Schütz e pedir a Moody que musicasse os mesmos textos (encomenda do
Sete Lágrimas), procurando intersecções (reflexos em espelhos deformantes) de passado e presente e abrindo-se às
confluências entre o luteranismo "temperado" pela Itália de Schütz e do modernismo eivado da música das igrejas
orientais do próprio Moody. O resultado aí está, com a estreia absoluta das noves pequenas obras de Moody, sendo que
duas delas são para cravo solo. O Sete Lágrimas conta, para lá do par de vozes citadas, com o concurso do soprano
Ana Quintans e de um quinteto instrumental de bisel, oboé, gamba, violone e tiorba. Desafio ganho, na medida em que
o acerto, beleza e propriedade das vozes, o ambiente das linhas instrumentais por trás e o contraste estabelecido entre
as linguagens barroca e moderna funciona muito bem. Boa dicção do alemão (...). Som excelente."
Cristina Fernandes (Público, 21.12.2007)ı ı ı
"Movimentos da Música Antiga:
O panorama começa a movimentar-se em Portugal, multiplicando-se com novas iniciativas.ı (...) o panorama da música
antiga em Portugal começa a movimentar-se e a multiplicar-se em novas iniciativas. A maior parte deve-se à existência
de uma nova geração de jovens intérpretes que se têm especializado no estrangeiro (...) mas não só. (...) O Sete
Lágrimas Consort lançou o seu primeiro disco ("Lachrimae #1") na sua própria editora e tem sido responsável pela
direação artística do Festival Terras sem Sombra no Baixo Alentejo, importante foco de divulgação de jovens intérpretes
portugueses nesta área. (...)"ı ı
Ivan Moodyı , Compositor e Maestroı
“Melancholy, as Dowland knew, may include an element of joy – a secular counterpart to the Greek word harmolipi,
describing a spiritual state that consists precisely in experiencing «joy in sorrow». Tears, therefore, able to betray both
sadness and joy, are a natural expression of this state; and seven of them (Sete Lágrimas – Seven Tears) recall the
seven sorrows and seven joys of the Virgin, the seven last words from the Cross, and – why not? – the seven hills upon
which both Rome and Lisbon are said to be founded. The tears encapsulated in the music recorded by this ensemble,
centred around two young Portuguese tenors, were real enough, and reflect not only the tragic aspects of the life of
Christ on earth, but also years of religious persecution. In other words, the tears are human. The beauty and refinement
of the performances and the elegance of the recorded sound, as well as, most importantly, the sense of an internal
tempo, paradoxically serve to record human weakness with something very close to perfection.”
Jean-Luc Bressonı , Le Jouer de Luth (Société Française de Luth)ı
“Le titre annonce d’emblée un climat poétique sans équivoque: «Larmes». Cet enregistrement regroupe en effet des
pièces vocales et instrumentales présentant un lien direct avec ce théme. La composition de l’ensemble fait alterner de
lentes polyphonies aux profondeurs abyssales et quelques pièces plus enjouées que l’on trouve en particulier dans deux
suites de Corelli (Sonata da Chiesa n.º 7 et Sonata da Chiesa n.º 6). Les oeuvres réunies ici sont issues des répertoires
français, italien et allemand. On y trouve des pièces de Giovanni Battista Martini (1706-1784), d’Archangello Corelli
(1653-1713) et d’Heinrich Schütz (1585-1672). L’atmosphére qui domine évoque une poignante méditation déclinée
selon différents modes, d’une oeuvre à l’autre. Dès les primières secondes, l’auditeur est saisi apr le climat emprunt de
spiritualité qui domine l’ensemble. Il est invité à emprunter les voies d’une temporalité tournée vers l’interieur. Le temps
s’écoule en longues plages sensibles. La pochette de ce disque montre la photographie d’un visage, surexposée au
point de confiner à la plus parfaite blancheur. L’image conduit vers le blanc comme la méditation conduit vers le silence,
ce silence qui émane des «limbes insondés de la tristesse» selon l’expression chére à Baudelaire. Si dans cet
enregistrement la voix joue un rôle essentiel comme céhicule de l’émotion diffusée, elle est sotenue par de beaux
accompagnements.”
Pedro Boléoı , Crítico Musical (Público, 01.06.2007)ı ı ı
“De chorar por maisı
Duas boas notícias: a primeira é a estreia em disco de um projecto musical já com alguns anos actividade chamado
Sete Lágrimas, um grupo que deu os primeiros passos em 2000, ainda com o nome L’Antica Musica. a segunda boa
notícia é que, no mesmo gesto, surgiu uma nova editora a Mu Records. Este disco é sinal de uma capacidade de
iniciativa de jovens músicos (neste caso dois tenores do Coro Gulbenkian) que deve ser saudada. Ainda por cima
quando o disco «Lachrimae #1» é resultado de um trabalho musical cuidado, com algumas boas escolhas entre o
repertório da música renascentista e barroca. As vozes de Filipe Faria e Sérgio Peixoto seguram com muita
sensibilidade as linhas das polifonias de autores anónimos do século XVI e de peças de Giovanni Battista Martini (17061784). O conjunto instrumental cumpre bem a sua função, acompanhando as vozes, participando activamente na
polifonia ou interpretando Sonatas e Corelli de finais do século XVII. Fica a sensação de que podia ir ainda mais longe
na exploração tímbrica dos instrumentos e dar mais energia ao conjunto (mesmo se é um tom melancólico o que se
procura em certas peças). Mas o resultado final é, sem dúvida, de muita qualidade.”
Manuel Pedro Ferreira, ı Musicólogo e Crítico Musical
“Neste seu primeiro CD, o grupo Sete Lágrimas oferece-nos uma confirmação da maturidade artística que a
interpretação de música antiga alcançou em Portugal. Exemplo de sensibilidade e bom gosto, faz-nos esquecer que na
sua base estão raras competências técnicas, adquiridas durante anos de esforçada aprendizagem. De facto, a música
flui, judiciosamente equilibrada e fraseada, sem que os detalhes deixem de ser transparentes, oferecendo-se à
degustação do ouvinte. As vozes fundem-se admiravelmente e os instrumentos revelam um entendimento plenamente
partilhado. A proposta de repertório é, de alguma forma, ousada, não apenas por justapor melodias sobre traduções
francesas dos Salmos, de Marot, cantadas em estilo de discante, a peças de Heinrich Schütz e belos, embora pouco
conhecidos, responsórios do célebre padre Martini, mas também porque os tempos distendidos, convidando à
contemplação, contrariam a pressa inconsequente dos tempos que correm. No livrete que acompanha o disco, lê-se que
Dowland reivindica as Lágrimas como expressão não só de tristeza, mas também de alegria interior. É esta alegria que,
lentamente, vai escorrendo deste disco, para ouvidos que a saibam recolher e ecoar.”ı ı
Jorge Mattaı , Musicólogo e Maestroı
ı “Afinação, fusão, sensibilidade contida, um hino ao bom gosto, um belo trabalho do grupo Sete Lágrimas. Apetece
sentar, baixar a luz e, simplesmente, ouvir! Bravo!”
Fernando Eldoroı , Maestroı
“Gratificante revelação de dois jovens cantores portugueses que decidiram apaixonar-se pela música vocal dos séculos
XVI e XVII e transformá-la num acto milagroso.”
Bernardo Mariano, ı Crítico Musical (Diário de Notícias, 06.04.2007)ı
“O disco é o primeiro da portuguesa Mu Records. Nele, o ensemble Sete Lágrimas [...] interpreta três motetes do
católico Martini, quatro Kleine geistliche Konzerte, do luterano Schütz, duas Sonate da Chiesa do op. 3 de Corelli e três
cânticos protestantes franceses (dois da calvinista Genebra). Combinação interessante de obras [...] e interpretações de
bom nível, sobretudo nas peças francesas e nos motetes.”
Cristina Fernandesı , Musicóloga e Crítica Musical
“Sob o sugestivo título Lachrimae #1, o programa do primeiro CD do Sete Lágrimas Consort percorre um período
temporal que se estende dos finais do século XVI ao século XVIII onde se cruzam várias tradições e estilos musicais
(francês, italiano, germânico) e a expressão ritual de vários credos religiosos (catolicismo, protestantismo) unidos por
fios condutores evidentes ou subtis. O tema das lágrimas como expressão da dor, do sofrimento íntimo ou colectivo, da
melancolia, da fé ou da intolerância religiosa estão implícitos em quase todas as épocas no contexto de criação de
várias peças musicais ou no seu próprio conteúdo, atingindo uma expressão particularmente rica e tocante no período
barroco. Por outro lado, a voz que canta (mas também chora) é um elemento primordial intrínseco à própria natureza da
música, que é aqui entendida de forma abrangente estendendo-se à aspiração que conduziu compositores e intérpretes
da época barroca a tentar igualar a eloquência da voz humana na música instrumental.”