14 A IMPORTANCIA DO ACOLHIMENTO E DA CONSULTA

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14 A IMPORTANCIA DO ACOLHIMENTO E DA CONSULTA
A IMPORTÂNCIA DO ACOLHIMENTO E DA CONSULTA DE ENFERMAGEM
PARA O ACADÊMICO DE ENFERMAGEM1
RIBEIRO, Maiara Gauer2; ALBERTI, Gabriela Favero3; VELASQUE, Ana
Cláudia Inda4; SILVA, Silvana Oliveira5; CARVALHO, Sandra O. R. M.6;
SALBEGO, Cléton.7
RESUMO
A Consulta de Enfermagem consiste em um atendimento integral de
forma sistematizada articulada ao acolhimento, com vistas a resolutividade e
responsabilização pelas necessidades dos sujeitos. Dessa forma, este relato
de experiência acadêmica foi obtido através das práticas de estágio da
disciplina de Saúde Coletiva II, VI semestre do Curso de Graduação em
Enfermagem da URI – Campus de Santiago, no ESF Monsenhor Assis sendo
que este trabalho tem por objetivo relatar a consulta de enfermagem com
enfoque no contexto familiar.
INTRODUÇÃO
O Programa Saúde da Família (PSF) é resultado de uma evolução
histórica e experiências significativas de superação. Hoje denominado
Estratégia Saúde na Família (ESF), foi implementado no Brasil em 1994
contando com a atuação de equipes multiprofissionais com o objetivo de
prestar a assistência integral à população assistida e prioritariamente
reorganizar a prática assistencial, centrada no hospital, no profissional médico
e no indivíduo, passando a enfocar a família em seu ambiente físico e social (1).
O enfermeiro inserido na equipe multiprofissional integrante de uma ESF
atua diretamente vinculado a comunidade e presta cuidados às diferentes
necessidades das famílias. Dessa maneira, dentre as várias metodologias
assistências utilizadas por esse profissional na atenção básica, o acolhimento e
Consulta de Enfermagem ganham destaque.
O acolhimento possibilita regular o acesso por meio da oferta de ações e
serviços mais adequados, contribuindo para a satisfação do usuário. (4)
Significa em sua essência, acolher, ouvir, suprir de forma eficiente a demanda,
dar respostas mais adequadas aos usuários e à sua rede social, além de
perceber o usuário como sujeito e participante ativo na produção de saúde (6).
A Consulta de Enfermagem, competências privativa do enfermeiro,
aparada pelo Art. 11, inciso I, alínea "i" da Lei nº 7.498, de 25 de junho de
1986, e no Decreto 94.406/87 (5), consiste em um atendimento integral de
forma sistematizada articulada ao acolhimento, com vistas a resolutividade e
responsabilização pelas necessidades dos sujeitos e seus familiares. É um
espaço privilegiado para o estabelecimento de vínculo entre profissional e
1
Relato de experiência.
Relator/Autor. Acadêmica do VI semestre do curso de Graduação em Enfermagem – URI campus
Santiago/RS. E-mail: [email protected]
3
Autor. Acadêmica do VI semestre do curso de Graduação em Enfermagem – URI campus Santiago/RS.
4
Autor. Acadêmica do VI semestre do curso de Graduação em Enfermagem – URI campus Santiago/RS.
5
Autor. Profª. Enfª. Mnda. Silvana Oliveira da Silva. Curso de Graduação em Enfermagem – URI
campus Santiago/RS.
6
Autor. Profª. Enfª. Esp. Sandra Ost. Curso de Graduação em Enfermagem – URI campus Santiago/RS.
2
usuário, valorizando aspectos culturais, sociais e a subjetividade dos
indivíduos. (2)
Por meio dessa atividade, busca-se a monitoração, avaliação e
intervenção no processo saúde-doença das famílias. Nesse ínterim, é preciso
compreender a diversidade dos estilos de vida e de pensamento da população
assistida, para garantir satisfatoriamente a identificação de possíveis
problemas de saúde prescrevendo e implementando condutas de enfermagem
que possam contribuir para prevenção, promoção e recuperação da saúde. (3)
OBJETIVO
Relatar a experiência acadêmica obtida através das práticas de estágio
da disciplina de Saúde Coletiva II, VI semestre do Curso de Graduação em
Enfermagem da URI – Campus de Santiago, acerca do acolhimento e da
consulta de enfermagem com enfoque famíliar.
METODOLOGIA
As atividades práticas da disciplina de Saúde Coletiva II, Curso de
Graduação em Enfermagem, VI semestre.ocorreram na segunda quinzena do
mês de agosto na Estratégia Saúde da Família Monsenhor Assis,
acompanhados pela professora da disciplina.
Os acadêmicos, divididos em dupla são organizados para atender a
demanda dessa unidade no que ser refere às ações assistenciais e gerenciais
do enfermeiro. Para tanto, as duplas são orientadas primeiramente, a acolher
os usuários, buscando por meio da escuta sensível, conhecer as demandas da
população. A seguir, os acadêmicos iniciam um processo de análise da
situação para definir com o professor supervisor e o usuário, quais as atitudes
são necessárias tomar, para resolução adequada dos problemas. Por fim,
ocorre o processo de avaliação que tem por objetivo estimular nos acadêmicos
o pensamento crítico reflexivo das ações realizadas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A vivencia aqui relata trata-se da atenção dispensada a uma usuária e
sua família. A senhora de 34 anos, acompanhada de quatro crianças, entre 1 e
6 anos de idade, chegou na unidade solicitando atendimento médico para
prescrição de vermífugo à seus filhos.
Nessa oportunidade, os acadêmicos informaram a usuária acerca da
situação que se encontrava a unidade quanto ao quadro de profissionais
disponíveis para o atendimento tendo em vista, que a equipe estava com seu
quadro incompleto, composta pela enfermeira, duas técnicas de enfermagem, e
uma odontóloga sem o profissional médico e os agentes comunitários de
saúde.
No entanto, levando-se em consideração que, entre os objetivos da ESF,
está a superação da centralidade das ações no profissional médico e na
medicalização, após fazer a análise da demanda trazida pela usuária,
considerou-se necessário conduzi-la para a consulta de enfermagem, uma vez
que a verminose não se resume aos aspectos biológicos, mas também,
socioculturais. Assim, após sugerir essa ação para a usuária, em comum
acordo, iniciou-se a consulta. Vale ressaltar, que inicialmente percebeu-se
nessa senhora certa resistência em aderir a consulta, porém, após explanação
acerca das competência e habilidades do profissional enfermeiro a mesma
decidiu pelo atendimento.
No consultório de enfermagem, deu-se início a atividade. Inicialmente,
buscou-se propiciar um ambiente acolhedor, garantindo o sigilo e a
privacidade. A partir de um diálogo aberto e de um escuta sensível, procurouse conhecer a realidade vivenciada pela família. Nesse momento, os
acadêmicos obtiveram dados como escolaridade, saneamento básico, renda
familiar, alimentação, lazer, redes de apoio, relacionamento entre os membros
da família entre outros.
Assim, no decorrer do diálogo os acadêmicos identificaram que o
problema central daquela família não estava na verminose em si, mas sim, nas
fragilidades das relações entre seus membros. Dentre essas fragilidades
identificou-se principalmente, baixa auto-estima da mulher em conseqüência da
violência intra-familar e do alcoolismo do companheiro, e sentimento de
culpabilização pela situação vivenciada.
Essa situação remeteu os acadêmicos a perceber que estavam diante
de uma situação característica das relações de gênero, ou seja, autores (7) da
área consideram que os seres humanos se constroem através das relações
com os outros, não considerando a biológica como única alternativa para a
diferenciação entre masculino e feminino, mas sim a configuração de uma
identidade pessoal, uma história de vida e um projeto de vida.
Além dessa fragilidade, identificou-se ainda, que a situação social em
que a família se encontrava era de condições precárias quanto à higiene, renda
familiar e alimentação. Dessa forma, esses fatores influenciam diretamente na
qualidade de vida desta família.
Frente a essas questões, foram definidas as possíveis condutas de
enfermagem. Para a primeira fragilidade aqui apresentada, as acadêmicas
estimularam o diálogo com a intenção de ajudar a usuária a refletir criticamente
sobre a situação por ela vivenciada. Procurou-se demonstrar que seu
companheiro, assim como as crianças também precisava de ajuda, pois aquela
situação estava certamente atingindo todos. Para as demais fragilidades os
acadêmicos estimularam hábitos alimentares e de higiene de acordo com a
realidade da família.
Por fim, foi sugerida uma visita domiciliária (VD) como forma de avaliar o
resultado dessa ação. Para tanto, em outro momento, os acadêmicos
realizaram a VD, onde foi possível perceber o estabelecimento real de vínculo,
conhecer de perto a realidade da família, e ainda, constatar a satisfação desta
usuária quanto ao atendimento prestado anteriormente.
CONSIDERAÇÔES FINAIS
A atividade prática aqui relatada propiciou aos acadêmicos uma
oportunidade ímpar, formalizando uma visão abrangente sobre família e saúde,
sendo estes diretamente interligados. A visualização dos diferentes contextos
em que a família está inserida e a influência deles na qualidade de saúde,
também foi um critério bastante observado e analisado pelos acadêmicos,
proporcionando a reflexão humanizada sobre as futuras competências
profissionais que ainda devem ser aprimoradas.
Ressalta-se que o planejamento das ações de enfermagem devem
englobar o contexto familiar, cultural, ambiental, social, envolvendo ações tanto
de curto quanto de longo prazo.
Ressalta-se, ainda, que a atividade de acolhimento deve ser efetivada
por todos os membros da equipe a fim de estimular ao usuário o vínculo com
equipe, sinônimo de segurança, amparo e um atendimento com resolutividade
e continuidade.
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS
1. ANDRADE, Luiz O. M. et al. A Estratégia Saúde da Família. In DUNCAN,
Bruce B; SCHIMIDT, Maria Inês; GIVELIANE, Elza. Medicina Ambulatorial –
Condutas de Atenção Primária. 3ª Ed. Artmed, 2006
2 BARBOSA, Maria Aparecida Rodrigues da Silva; TEIXEIRA, Neuma
Zamariano Fanaia; PEREIRA, Wilza Rocha. Consulta de enfermagem – um
diálogo entre os saberes técnicos e populares em saúde. Acta Paul
Enferm. 2007; 20(2): 226-9 .
3. ALONSO, Ilca L. K. Enfermagem na atenção primária de saúde e o
processo educativo em saúde.
4. SCHIMITH, M. D.; LIMA, M. A. D. S. Acolhimento e vínculo em uma
equipe de Programa Saúde na Família. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
20(6):1487-1494, nov-dez, 2004.
5. Resolução COFEN-159/1993. Documentos Básicos, maio de 2006.
6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico
da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS : documento base
para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. –
3. ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2006.
7. LOURO, G.L. Nas redes do conceito de gênero. In: LOPES, M. J. M;
MEYER, D.E.; WALDOW, V.R. (Orgs.). Gênero e Saúde. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1996.

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