«Estamos a atravessar um momento fantástico»

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«Estamos a atravessar um momento fantástico»
08 setembro’15 Jornal Têxtil
Jornal Têxtil setembro’15 09
[ tema de capa ]
Mário Jorge Silva
a Universidade do Minho, o Citeve e o Centi.
Por exemplo, estamos a trabalhar num novo
processo de tingimento de fibras celulósicas,
lãs e misturas sem recurso a corantes químicos, mas antes utilizando extratos vegetais e
processos biológicos. Neste âmbito, temos já
uma marca, a Colorau, que foi apresentada
pelo Centi na Techtextil em Frankfurt no passado mês de maio. Esperamos dentro de um
ano estar a lançar no mercado produtos tingidos com este método.
A empresa também foi pioneira no acabamento do liocel. Esta fibra continua a ser
um ex-libris da Tintex?
Fomos percursores a nível nacional e rapidamente ganhámos notoriedade europeia e até
mundial no tingimento do liocel. O liocel é
muito difícil de trabalhar, mas o nosso gosto e
paixão por esta fibra granjeou-nos liderança e
reconhecimento não só junto da própria Lenzing e clientes, mas também pelo mercado em
geral. Começámos a comercializar as malhas
de liocel acabadas em 2000 e, dois anos depois, já estávamos e exportar. A La Redoute e
a Calzedonia foram as primeiras clientes.
Acabam de participar, pela primeira vez,
na Première Vision. Em que outras feiras
estão presentes para além desta?
Atualmente participamos nas feiras Munich
Fabric Start, London Textile Fair, Milano Unica e Jitac. Este ano vamos ainda expor pela
primeira vez na Première Vision Istanbul, em
2016 marcaremos também presença na Ispo
e na Première Vision New York e, no ano seguinte, na Techtextil em Frankfurt. Em agenda temos ainda a participação na A+A.
«Estamos a atravessar
um momento fantástico»
Especialista no tingimento e acabamento de malhas, a Tintex está empenhada em manter-se como uma referência na sua
área, estando a investir mais de 3 milhões de euros em tecnologias inovadoras para se manter na vanguarda do sector. Marcas como a Acne Jeans, Cop Copine e Cos fazem parte da longa lista de clientes da empresa de Vila Nova de Cerveira, que
acaba de se estrear, com retumbante sucesso, na Première Vision. O administrador Mário Jorge Silva revela, ao Jornal Têxtil,
as mais-valias dos novos processos, que prometem abrir novas portas aquém e além fronteiras.
A Tintex nasceu vocacionada para o tingimento, mas cedo integrou outras valências. O que motivou essa evolução?
Os custos acrescidos da localização cedo
obrigaram-nos a cultivar a diferenciação e a
transformar dificuldades em oportunidades.
Este ano concretizámos mais um objetivo:
entrar a sério no segmento dos têxteis técnicos, que têm registado uma procura bastante
grande por parte do sector da moda.
Como é que operacionalizaram esse objetivo?
Depois de uma exaustiva pesquisa, comprámos uma linha de maquinaria de revestimento, que permite tratar uma vasta gama de
malhas e tecidos em termos de espessura.
Mas, para já, vamos focar-nos somente nas
malhas.
Que mais-valias traz esse equipamento?
Podemos fazer qualquer revestimento superficial, para dar uma infinidade de toques e
aparências, como couro, brilho, etc.
Além deste efeito moda, permite também
aplicar acabamentos funcionais, como im-
Estamos também a instalar uma máquina de
mercerização, projetada especificamente para malhas elásticas e que começará a operar mais cedo, dentro de um mês. Com este
equipamento, os artigos celulósicos ganham
um brilho e um toque diferenciado. Tínhamos
uma grande procura por este tipo de malha e
não dispúnhamos de competências tecnológicas dentro de portas para dar resposta. Trata-se da primeira máquina do género em Portugal e o investimento foi na ordem dos 1,2
milhões de euros. Esta nova linha vai permitir-nos dar resposta em três semanas e desenvolver novos produtos quotidianamente, porque passamos a dispor de meios e know-how
internamente.
permeabilização, respirabilidade, antibacterianos, hidrófobos ou hidrófilos, termorregulação, etc. No sector das malhas a nível
europeu, existem somente três equipamentos
do género, mas que não são versões tão evoluídas como a nossa.
meiros ensaios foram realizados já este ano.
Entretanto, tivemos um projeto aprovado no
âmbito do Portugal 2020, mas o investimento já estava em curso. Independentemente de
termos ou não financiamento através do programa, estávamos decididos a avançar.
Para que sectores está direcionada a nova tecnologia?
Este equipamento permite desenvolver soluções avançadas para os sectores automóvel,
do vestuário desportivo ao de proteção, calçado, têxteis-lar e têxteis hospitalares, entre
muitos outros. Trata-se de mais um desafio
para o nosso departamento de investigação
e desenvolvimento no que toca à apresentação dos mais inovadores produtos. Queremos
apresentar artigos radicalmente diferentes do
que tínhamos até à data, que nos possibilitem
atingir todos os segmentos. A própria moda
utiliza, cada vez mais, acabamentos técnicos
e funcionais.
Como está a ser a recetividade junto do
mercado aos novos desenvolvimentos?
A aceitação por parte dos nossos clientes às
amostras já desenvolvidas foi impressionante. Re- «os pilares do nosso sucesso no mercado
gistámos também
uma recetividade são uma capacidade constante de inovar
muito grande jun- – todos os meses lançámos novos desento dos visitantes na volvimentos –, o investimento contínuo em
Première Vision na
nossa recente es- tecnologia avançada e, acima de tudo, uma
treia no certame. equipa extraordinária»
Há já bastantes
clientes à espera
que iniciemos a produção, o que deverá aconDiria que a inovação é o motor da Tintex?
tecer dentro de dois meses.
Sim e prova disso é que estamos envolvidos
em vários projetos de I&D, em parceria com
Têm outros novos projetos em mãos?
Qual foi o valor do investimento?
O investimento foi de 1,9 milhões de euros. A
decisão foi tomada no final de 2014 e os pri-
Qual é atualmente a quota de exportação
da empresa?
Exportamos 30% da nossa produção de forma
direta mas, na realidade, ela parte quase toda
para o exterior, ainda que indiretamente. Os
nossos principais mercados internacionais são a
Alemanha, Suécia, França, Bélgica e Holanda.
Quantas pessoas trabalham na Tintex?
Atualmente, temos um efetivo de 101 trabalhadores. Nos dois últimos anos admitimos
cerca de 40 pessoas, grande parte delas para os departamentos comercial, de controlo
da qualidade e de I&D. Temos também uma
consultora de tendências e design permanente, a Dolores Gouveia. Dezasseis dos nossos
funcionários têm um curso superior e a média
de idade é de 30 anos. 35% do efetivo é cons-
tituído por mulheres, o que é raro nesta área.
Estamos a atravessar um momento fantástico, quer na conquista de novos mercados,
quer no reconhecimento das competências da
empresa, o que faz com que todos os colaboradores se sintam muito motivados.
A Tintex sempre teve uma grande preocupação com as questões ambientais. O
que há de novo nesse âmbito?
Em paralelo à oferta ecológica de produtos,
que é apanágio da Tintex, como as malhas
de fibra de milho, algodão orgânico, soja ou
bambu, estamos também a instalar painéis
fotovoltaicos, o que permitirá uma redução
de cerca de 30% no consumo de energia elétrica. Estamos também a substituir toda a iluminação por leds (light-emitting diodes).
Como tem evoluído a empresa em termos
de volume de negócios?
Em 2014 registámos uma faturação sensivelmente igual à do ano anterior, na ordem dos
8 milhões de euros. Nos primeiros oito meses deste ano, as vendas já cresceram mais de
5% e esperamos que ultrapassem os 10% até
ao final do ano, na medida em que o arranque
deste segundo semestre de 2015 está a revelar-se muito promissor.
Até 2020, esperamos atingir um volume de
negócios de 18 milhões de euros, impulsionado pelos novos investimentos tecnológicos
que acabámos de realizar.
Qual é, na sua perspetiva, o segredo do
sucesso da Tintex?
Os pilares do nosso sucesso no mercado são
uma capacidade constante de inovar – todos os meses lançámos novos desenvolvimentos –, o investimento contínuo em tecnologia avançada e, acima de tudo, uma
equipa extraordinária. Com todo o parque
de máquinas de que já dispúnhamos e os
novos equipamentos conseguimos oferecer
um mix de acabamentos inovadores com
uma forte componente de sofisticação e difíceis de imitar.