Brigitte Bardot em Búzios (Brasil), as estátuas e os turistas

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Brigitte Bardot em Búzios (Brasil), as estátuas e os turistas
Via@ - revista internacional interdisciplinar de turismo
Brigitte Bardot em Búzios (Brasil), as estátuas e os turistas
Rémy Knafou
A
Moreno « Brigitte Bardot, Bardot, Brigitte Bejo
Bejo... ». Convém referir que, de facto, a analogia se
justifica: Búzios, ou, mais exatamente
Armação dos Búzios, é também uma península, mas
à escala brasileira (seis vezes mais extensa), com
uma vegetação que nos transporta para uma
atmosfera mediterrânica; contrariamente a outras
estâncias brasileiras, aqui os grandes edifícios não
têm estatuto de imóveis citadinos e o local tem
mantido o encanto de uma aldeia de pescadores,
ainda que a sua capacidade de acolhimento tenha
evoluído substancialmente. Embora a atriz já não
seja personagem principal dos palcos em França há
muito tempo, exceto em discursos contra a
matança de focas canadianas, Búzios, mantendo a
lealdade, continua a fazer dela um personagem do
presente: uma estátua com poucas semelhanças,
sentada numa improvável mala, na avenida
principal que também ostenta o seu nome (a "Orla
Bardot", reconstruída em 1999), e ainda o
"Memorial Brigitte Bardot", provavelmente um dos
poucos exemplos de memorial dedicados a uma
pessoa viva.
arte estatuária em espaços públicos sofreu,
durante as últimas três décadas, muitas alterações.
Inicialmente, as estátuas eram colocadas sobre
pedestais: pelo menos agora, nas cidades
ocidentais, elas encontram-se com maior
frequência ao nível daqueles que as visitam. As
estátuas eram também esculpidas à escala 1/1,
como a estátua de David, de Miguel Ângelo, que
mede 4,34m, e a de Lenine, em Minsk, que mede
quase 10 metros. Tanto o pedestal como as
estátuas gigantes eram formas insistentes, até
mesmo infantis, de impor respeito e criar um
distanciamentopara com o público. Por fim, os
personagens representados em estátuas já não
eram apenas deuses e deusas, reis e rainhas, chefes
de Estado, ditadores, santos, personalidades do
clero, homens das letras, músicos ou pintores,
porque o cinema (bem como a música e o
espetáculo em geral) estava agora bem presente
em muitas das nossas cidades: Brigitte Bardot em
Búzios, Charlie Chaplin em Montreux, John Huston
(o realizador de A noite do Iguana) em Puerto
Vallerta, Cary Grant em Bristol, Woody Allen em
Oviedo, etc. Estes são apenas alguns exemplos,
entre muitos, deste movimento universal,os quais
admitem raras exceções, designadamente com as
estátuas dos "grandes homens do século XX" ( 3,30
m), construídas em Montpellier por iniciativa de
Georges Frêche, claramente em contradição com a
tendência da época.
A chegada ao nível do solo, a adoção da escala
humana e a representação de personagens da
cultura
cinematográfica
contribuíram
para
humanizar a escultura e fazer dela uma atração, não
só para os habitantes desses lugares, mas também
para os turistas, e são agora mini atrações
turísticas1, que servem de pretexto para encontros
da carácter familiar e para memórias fotográficas.
É o caso de Brigitte Bardot em Búzios, a famosa
estância balnear a duas horas do Rio de Janeiro. A
estrela francesa, então no auge da sua glória, terá
passado por lá na década de 60, como o lembra
uma placa patrocinada por "Visa" ao pé da estátua,
e terá contribuído para tornar conhecido o lugar e a
fazer dele " o Saint-Tropez brasileiro ", numa altura
em que se ouvia em cada esquina a música de Dario
1. A estátua de Brigitte Bardot (Christina Motta, 1999), sobre a
Orla Bardot, passeio pedestre à beira-mar, Armação dos Búzios
Notas breves – março 2012
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Via@ - revista internacional interdisciplinar de turismo
2. O "Memorial Brigitte Bardot" (2006), local de exposição e
venda, sempre em frente ao mar
3. A estátua de j. Kubitschek, também à beira-mar
Mas a estátua mais original, de entre as que
constam da principal rota turística do centro de
Búzios, é aquela que representa três pescadores
anónimos que, ao ritmo das marés, trabalham
sobre a areia ou com os pés na água, lembrando a
vida pré-turística do lugar.
Eas gerações mais jovens de turistas continuam a
desfilar perante a estátua, que representa a
memória eterna de uma juventude há muito
desaparecida. Obviamente, muitos não se
contentam apenas com uma simples passagem. O
desgaste da pátina azul, em certas zonas do corpo,
é o reflexo de uma relação mais direta com a
imagem da estrela. Mas a atração do público pelas
estátuas de celebridades não parece apenas sexual,
a julgar pela afluência de visitas à estátua do
Presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976),
responsável pela origem de Brasília e que passava
as suas férias numa casa à beira-mar em Búzios,
hoje transformada num simpático e humilde hotel.
4. Os três pescadores, outra estátua de Christina Motta (2000),
Armação dos Búzios
NOTAS
Note-se que a representação de personalidades da época à escala humana não é novidade como atração
turística. Marie Tussaud, em 1835, abriu em Baker Street, Londres, o primeiro museu de figuras de cera. Hoje
em dia, o Museu é a principal atração turística da cidade e reproduziu-se em Amesterdão, Copenhaga, Hong
Kong, Las Vegas e Nova Iorque.
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Referência eletrônico:
Rémy Knafou, Brigitte Bardot em Búzios (Brasil), as estátuas e os turistas, Via@, Notas breves, publicado o 16
de março de 2012. URL : http://www.viatourismreview.net/Breve1_PT.php
AUTOR
Rémy Knafou
Universidade Paris 1 - Panthéon Sorbonne - [email protected]
TRADUÇÃO
Júlio Mendes da Costa
Universidade do Algarve
Notas breves – março 2012
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