Caminhos por onde andei (2009)

Transcrição

Caminhos por onde andei (2009)
1
Caminhos
por onde andei...
Ano 2009
2
Nesta abertura do terceiro livro de memórias de alunos da Unabem faço
minhas as palavras da aluna Ignês Oliveira Sousa, desejando uma boa leitura a
todos.
Leila M. Suhadolnik Andrade (professora de Memórias pessoais)
O magnetismo do Conviver e encantar-se com a “MELHOR” idade.
Somos peregrinos em trânsito, Peregrinos incompletos, irrealizados, marchando
sempre no mistério do amadurecer. O amadurecer, a 3ª idade, é a nossa certeza de
que nada no universo é constante. Tudo é mutação e nós, seres humanos, somos o
centro dessa mutação.
A Unabem nos leva a sentir necessidade de uma renovação contínua e de que
podemos fazer de cada gesto, de cada fato, uma experiência nova.
Uma força qualquer cuja origem desconhecemos, o caminhar em função do relógio, o
trabalho doméstico, a família nos desligam de nossas lembranças.
São sucessões que se confundem e nos levam ao comodismo, ao isolamento e
renunciamos inconscientemente a vivenciar os verdadeiros valores que estão dentro
de nós.
Ao participarmos do grupo Unabem, descobrimos que é sábio rever fotos,
recortar, colar, contar e recontar histórias, ouvir músicas. Voltamos aos poucos ao
túnel do tempo. Somos conduzidos por nossas orientadoras a transformar o nosso
momento presente, revivendo o passado, em momentos alegres, delicados.
Acordamos nossas habilidades físicas, mentais, emocionais. São saudades sentidas
que não nos deixam cicatrizes, porque sentimos que vencemos desafios, nos
tornamos fortes e fomos guerreiros em causa própria.
Desfazemos de nossas fragilidades e acomodações, renovamo-nos continuamente
fazendo de cada gesto, de cada fato, uma experiência nova.
Descobrimos que ainda podemos vencer muitas batalhas. Mantermos acesa as
nossas próprias lâmpadas e nos tornarmos fachos de luz uns aos outros.
Saímos de nosso conformismo e reconquistamos o espaço a que temos direito.
Ontem, hoje e amanhã são três fases do tempo, mas o mais importante é o hoje,
o presente, principalmente quando fazemos desse presente uma partilha que nos
mostra que a felicidade é um bem sublime que não se busca, nem se espera,
acontece. Precisamos aproveitá-la porque não sabemos quando nem porque pode se
evaporar como a fragrância de uma rosa.
A Unabem nos rejuvenesce a cada momento e não iremos nos abater com nossos
cabelos brancos que envelhecem o corpo ou com as rugas que os falsos cabelos
pretos não escondem, porque cada fio de cabelo esconde uma história de vida que
nos leva a crer que só o amor é capaz de vencer o tempo, de edificar e fazer nascer
a cada instante o encanto de viver e não ter a vergonha de ser feliz.
3
Recordações de Guida
Guida Borges de Oliveira
Juca do Lau, papai, era um barbeiro muito bom lá no Bairro da Penha onde
morava com sua família. Nos sábados e domingos o seu salão ficava lotado. Ele
trabalhava muito, mas era um pai muito cuidadoso. Sempre nos falava: ―eu não posso
estar com vocês, assim vocês vão vigiar vocês‖. Este vigiar não saía da minha
cabeça. Papai foi um pai exemplar. Nossa juventude foi realmente muito feliz.
Mamãe, Eva, que tinha apelido de Fia,
morreu muito nova. Nós tivemos a felicidade de
ter uma tia querida, Nina, que chamávamos
carinhosamente de Iá. Ela era irmã de mamãe
e, quando nasceu minha irmã mais velha, a Cida,
ela foi ficar em casa e, para nossa felicidade,
nunca mais nos deixou. Nós somos seis irmãos:
Cida, Terezinha, eu (Guida), Irma, Joãozinho
(da sapataria) e o Tião (Sebastião Wenceslau
Borges), o nosso caçula que virou escritor. Somos muito unidos e felizes.
Perto da minha casa morava a família do Sr. Lorde Galvão. Eles eram
ciganos. Eram quatro irmãos, uma delas a Anésia era madrinha da minha Irmã mais
nova, a Irma, a caçula das mulheres. Tinha também uma sobrinha que era amiga
nossa, a ―Quitita‖. Anésia levava-nos para as festas de São Francisco, sempre com
uma lanterna para clarear o caminho. Ah, nos levava também ao circo, que ficava na
Barrinha. Nós sempre estávamos em boa companhia.
Falar do tempo que morávamos na Penha é sempre muito bom. Lembro das
amigas, Lurdes (da Lumi), Maria Inês Calixto Mendonça, que mora em BH, mas não
esquece nunca meu aniversário e nem eu o dela. Sempre nos falamos pelo telefone.
Nós éramos uma turma muito unida. Descíamos da Penha todas juntas e não tinha,
ainda, calçamento nas ruas.
Na Rua Olegário Maciel, na esquina onde hoje tem a Dissul tinha uma
pensão, do Sr. José Bernardes da Costa e D. Maria Luiza Bernardes. Eles tinham
duas filhas. Uma delas, que nós chamávamos de Tia Dorcina, forte e de olhos bem
azuis, nos era mais próxima, uma pessoa boníssima.
Na entrada da pensão tinha um espelho grande. Nós chegávamos e ela
falava: -- Entram meninas! E nós arrumávamos os cabelos, levávamos lenços na bolsa
para limpar os sapatos e assim chegarmos ao jardim, impecáveis. Naquele tempo, os
homens andavam de um lado e as mulheres do outro no chamado ―rela‖. Quando
faltavam 5 minutos para 9 da noite, todas já estavam no Pirulito, porque na batida
das 21 horas, saíamos todas juntas de volta. As que tinham namorados iam com eles.
Era bom demais!
Quando mudamos do Bairro da Penha para Candeias o salão do papai ficava
lotado de moços. Eu tinha 16 anos e já trabalhava. Primeiro na loja do Rafet Aum,
depois no escritório da ―Casa Brasil‖, na Praça Blandina de Andrade. Depois fui
trabalhar no Empório Bom Gosto, da Maria Vilela e Sr. Julio Batista. Este ficava na
4
esquina da Praça da Matriz e era um empório ―chick‖, onde se vendiam bombons,
wisky, vinhos, latarias, tâmaras etc. Tinha de tudo lá. Naquele tempo ainda não
existia supermercado. D. Maria tinha três filhos, Randas, Belgeraq e Plauto. Eu os
ensinava nos deveres da escola. O Randas é médico e fez muito sucesso com
cirurgia do coração. Eu amava D. Maria e os meninos. Era muito bom trabalhar com
ela.
Em uma festa de São Francisco conheci o Waldemar, que hoje é meu
esposo. Namoramos um ano e dois meses e, com dez meses de noivado nos casamos.
Naquele tempo, depois de noivos é que se podia pegar na mão. Tivemos quatro
filhos: Suely, Maria Angélica, Paulina e Waldemar Junior. Amo todos de coração. Já
me deram sete netos maravilhosos. O mais velho é o Guilherme, que é casado com a
Carolina e moram na Suíça. Este ano passei um mês por lá com eles, foi um sonho.
Temos ainda a Brenda, Rafael, Arthur, Victor Hugo, Augusto e o João Eduardo.
Todos são meus tesouros. Não posso esquecer quem fez meus filhos felizes: José
Hélio, João Geraldo, Carlos Eduardo e a Isabel Cristina, minha querida Cris. Amo a
todos.
5
“Quanta coisa vivi acompanhando o progresso”
Maria José M. Oliveira
Esta é uma passagem pela história da minha vida da infância até os dias de
hoje.
Minha vida sempre foi muito planejada. Sempre fui obediente e aceitava o
que meus pais decidissem por mim. Na juventude soube aproveitar com respeito as
oportunidades de me divertir. Apesar dos poucos recursos da época, em
comparação aos dias de hoje, vivíamos muito bem: alimentação saudável, rotina
tranquila nas fazendas com ar puro, conversas na sala, na cozinha. Tínhamos tempo
para estarmos juntos e aprendíamos a maior parte das coisas com as pessoas de
mais idade.Principalmente as mulheres, pois apenas algumas se dedicavam à vida
acadêmica. Nasci em 4 de outubro de 1937 quando meus pais chegavam de um baile
e minha mãe começou a sentir as contrações. Resultado: quem fez meu parto foi
meu pai. Meu nome Maria José foi escolhido em homenagem à minha avó materna.
Aos vinte e dois anos casei-me e, da mesma maneira, com muito planejamento.
Tive três filhos como gostaria que fosse. Os dois primeiros ainda quando as
parteiras atuavam como médicas. O caçula nasceu na Santa Casa com conforto e
tranquilidade.
Tive alguns aborrecimentos, como acontece com todos e perdas de entes
queridos, mas com a graça de Deus consegui superar.
Vivi nos anos 40, vi a chegada da televisão no Brasil nos anos 50. Nos anos 60
presenciei a liberdade tão almejada pelos jovens. Nos anos 90, quando muitos
acreditavam que o mundo poderia acabar, eis que estou aqui aproveitando os anos
2000.
Guerras, censura política, descobertas da medicina, mudanças no vestuário, no
comportamento das pessoas, da maneira de pensar... É uma bagagem e tanto que não
caberia numa folha de papel...
6
MEMÓRIAS DE MARISTELA
Maristela Carvalho Farah
Da infância temos muitas recordações boas e outras não tão boas assim. Os
meses de maio foram muito marcantes para mim,
pois tinham vários acontecimentos.
Lembro que, quando era pequena, todos os
dias de maio, minha avó Zindinha pegava em minha
mão e me levava para a igreja da Matriz para
participar das coroações de Nossa Senhora.
Em uma ocasião, minha mãe costurou para
mim um vestido branco muito lindo, com babados
plissados, botões de pérolas e um tecido bordado
que tenho guardado até hoje. Meu pai pegou sua
caixa de ferramentas, uns aramados, uma linha de
pesca e algumas penas de pato e fez uma linda asa
de anjo articulada.
Quando entrei na igreja, com aquele vestido e com as asas de anjo, me senti a
menina mais linda do mundo.
Recordo-me também do dia da minha primeira comunhão: 5 de maio de 1955.
Eu era a mais nova da turma e sabia o catecismo todinho.
Por ser o xodozinho de dona Santa Magalhães, minha catequista, ganhei dela
um presente maravilhoso: uma caixa com 48 lápis de cor que era lançamento da
Faber Castell. Nunca me esqueço desse presente nem desses tempos.
Mas os meses de maio que me deram tanta alegria também me trouxeram uma
grande tristeza: o falecimento de minha avó Zindinha.
O tempo foi passando e daqueles maios da minha infância ficaram a saudade,
o movimento mágico das asas de anjo que meu pai tão engenhosamente fabricara
para mim, a pureza dos vestidos de coroação de Nossa Senhora delicadamente
feitos por minha mãe, o carinho sempre acolhedor de minha avó.
Os maios de hoje para mim são como os outros meses do ano. Mas todos os
dias, seja de janeiro ou dezembro, eu tento ser para os meus netos o que foi minha
avó Zindinha. E para os meus filhos, já crescidos, tento ainda fazer as asas de anjo
articuladas e as "roupas" que os deixem sentindo-se os mais lindos do mundo.
7
Infância rural e feliz
Marlene Maria da Nóbrega
Eu me chamo Marlene, nasci em Pratápolis no período da Segunda Guerra Mundial.
Sou a segunda filha de dez irmãos de uma família tradicional. Fui criada na fazenda
numa época de que tenho saudades. Passávamos um período na cidade e um período
na fazenda.
A casa da fazenda era muito grande e com muitas janelas. Tinha um córrego no
fundo e uma árvore na frente. Quando tinha 3 a 5 anos eu subia nesta árvore. A
casa tinha um grande porão e minha tia diz que quando chegava visita nós nos
escondíamos nesse porão.
Tinha curral, paiol, vacas, porcos, carro de boi. Lembro-me como hoje de uma
desnatadeira de bater creme. No fundo da fazenda tinha um engenho onde se
faziam rapadura e melado. Para isso tinha uma roda grande que era tocada com
água. Bem mais embaixo tinha um rio de águas muito claras e umas pedras enormes
e branquinhas. Para atravessar esse rio tinha uma pinguela de um lado para o outro.
Passados uns tempos nos mudamos para outro lugar mais acima e lá frequentei três
escolas de primeiro e segundo ano. Depois fui estudar em Itaú de Minas, no grupo
Cristiano Machado onde fiz o terceiro e o quarto ano. De lá voltei para Pratápolis.
Quando eu era jovem os passeios eram no Clube ou na Rua de baixo. Os meninos
passavam de um lado e as meninas do outro: era muito legal!!!
Eu tinha muitos amigos, uma amizade saudável e de confiança.
As festas aconteciam na igrejinha que meu pai ajudou a construir. Era perto da
fazenda, tinha novena e no final era festa de manhã até a noite. Em Pratápolis tinha
quermesse que era muito divertida com correio elegante.
Namorei muito, mas só me casei quando
voltei para a fazenda onde conheci meu
marido no campo de futebol do meu
saudoso pai.
Do meu casamento nasceram três filhos
maravilhosos. Dois já se casaram e tenho 5
netos. Minha filha caçula é solteira,
formou-se fora de Passos e hoje esta aqui
comigo.
Em 1999 perdi meu marido que foi viver ao
lado de Deus. Ele cuidou tanto de mim que
se cansou e partiu cedo. Lá se foram dez
anos de muita saudade
8
Meus Caminhos
Walmar Lacerda Kauss
A família que me deu origem, ou seja, meus pais foi uma família bastante
atípica principalmente porque durante a minha infância nunca passei mais de dois
anos na mesma cidade, sendo que em média vivi numa mesma cidade um ano. O outro
fato interessante foi que todas as cidades por onde passamos eram as capitais de
estados brasileiros. Como consequência, passei minha infância em cidades de grande
porte. Com isso tive a oportunidade de frequentar boas escolas, porém nunca fiz
parte de nenhum grupo de colegas, pois a cada ano era uma escola nova.
Como era comum na época, meus pais tiveram oito filhos sendo seis
homens e duas mulheres. A mim coube a sorte de ser o primogênito e com isto
algumas obrigações que somente a mim caberia: a de cuidar dos irmãos nas raras
ausências de minha mãe.
Dois episódios, entre tantos, marcaram minha infância.
No segundo semestre do ano de 1960, minha mãe ficou grávida mais uma
vez, sendo que desta vez a sua barriga ficou anormalmente grande. Na época não
existiam ultra-sons e o único método de se saber o que tínhamos era por meio de
um exame de raio-X. No entanto o raio-X não deve ser usado nos primeiros meses
de gestação, pois se corre o risco de prejudicar o desenvolvimento da criança. A
superstição era grande e diziam-se coisas horríveis que estava na barriga da mamãe
e que nós crianças nem deveríamos ficar sabendo.
Foram meses de grande tensão para os meus pais e principalmente para
minha mãe.
O obstetra que fazia o pré-natal resolveu que se esperássemos até o final
do oitavo mês de gestação, os riscos para o bebê estariam reduzidos o suficiente
para se arriscar um Raio-X.
Finalmente o médico marcou o dia para realizar o exame de Raio-X.
Mamãe saiu para fazer o exame e eu fiquei a cuidar dos irmãos. Imaginem só o que
não era para uma criança de 12 anos cuidar de um grupinho de crianças. Ainda bem,
creio, não levava as coisas muito a sério. A minha principal atividade era manter o
grupo sem grandes brigas e até botar de castigo aqueles que se tornassem
incontroláveis.
No dia seguinte minha mãe foi ao obstetra tomar conhecimento do
resultado dos exames. Quando ela retornou ao nosso lar, ela estava muito alegre
pois o Raio-X tinha revelado uma gestação gemelar que viria ser a sua última
gravidez. O obstetra marcou que se até o dia 20 de abril não houvesse o
rompimento da bolsa, ele iria provocar o parto.
As semanas seguintes passaram-se sem o menor sinal de trabalho de
parto. Minha mãe então prevendo que a bolsa não iria romper preparou a casa e me
orientou o que deveria fazer para cuidar dos meus cinco irmãos já que desta vez
sua ausência seria de uns alguns dias e não algumas horas como era de comum.
O dia 19 de abril à tardinha minha mãe foi andando para o hospital onde
nasceria na manhã do dia 20 de abril de 1961 meus irmãos mais novos na capital do
estado do Ceará, Fortaleza.
9
Um segundo episódio marcou minha infância e por coincidência este fato
aconteceu pouco tempo após o anteriormente narrado.
Estudava num colégio de padres, pois minha mãe fez um esforço muito
grande para que fosse matriculado no Colégio Cristo Rei de Fortaleza.
Nesta época era matéria obrigatória na escola o estudo das línguas
francesa e inglesa e este era meu primeiro ano de aprendizado dessas matérias.
Sem ajuda de meus pais não consegui passar na prova final e tive que fazer segunda
época. Isto significava que teria uns dois meses para estudar especificamente
essas matérias com um professor particular.
Sabíamos também que no início do ano seguinte estaríamos de mudança
para Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Meus pais arranjaram para eu ficar na casa
de um tio de segundo ou terceiro grau da minha mãe, a casa do tio Chichico e tia
Julieta, ele desembargador aposentado, até que fizesse os exames de segunda
época. Depois eu iria ao encontro deles. A viagem de reencontro seria feita por mim
sozinho.
Lembro que na época telefone era uma raridade e na casa do tio Chichico
não tinha este aparelho apesar de ser uma pessoa com certo status na sociedade.
Foi entregue uma passagem sem data marcada de Fortaleza para Porto
Alegre pelo meu pai. Meus pais seguiram seu caminho com os sete filhos e eu fiquei
para traz.
Após os exames escolares, que foram bem sucedidos, solicitei os
documentos de transferência escolar e marquei minha passagem.
Até hoje fico pensando como uma criança poderia ter feito tudo isto sem
ajuda de um adulto. Meu pai sempre foi muito organizado e me orientou direitinho e
minha mãe sempre me deu muita confiança para que eu não dependesse de ninguém.
Mesmo assim até hoje fico abismado pensar que um jovem de treze anos iria viajar
entre os extremos do país sozinho em janeiro de 1962 numa época em que a
comunicação era basicamente via carta. Outro fato interessante é que não tinha o
endereço de meus pais em Porto Alegre ou seja, teria que contar com a sorte que
tivessem recebido um telegrama enviado pelo escritório de Fortaleza informando
da marcação da minha viagem para nos encontrarmos no aeroporto Salgado Filho em
Porto Alegre.
Chegou o belo dia e embarquei sozinho no aeroporto, pois os tios Chichico
e Julieta já eram idosos e tinham dificuldade de locomoção. Senti-me todo
importante embarcando no avião. Fui muito bem tratado pela tripulação de bordo. O
avião fez várias escalas entre elas o Rio de Janeiro onde viviam praticamente todos
os meus parentes. Ali poderia ter ligado para alguém, mas não tinha o número do
telefone de ninguém e o tempo de permanência no aeroporto do Galeão era curto.
Cheguei a Porto Alegre após as 20h00min horas e não havia ninguém à
minha espera.
Peguei minha bagagem, escolhi um canto no aeroporto e sentei-me para
esperar o próximo dia para tomar alguma providência. Após algum tempo acomodado
no aeroporto percebi que havia pouquíssimas pessoas ali. Uma pessoa aproximou-se
de mim e quis saber por que eu estava só, no aeroporto. Contei-lhe minha história.
10
Confesso que fiquei preocupado, pois o indagante me disse que não poderia
passar a noite ali. O último vôo do dia já tinha ocorrido e o aeroporto iria ser
fechado. Fiquei com medo de ter que dormir com minha bagagem do lado de fora, ao
relento.
Esta pessoa então me levou ao balcão da Varig, empresa que tinha feito o
vôo.
Fui colocado num excelente hotel do centro de Porto Alegre.
Considerando-se tudo que tinha acontecido até que consegui dormir bem e estava
recuperado no dia seguinte, um sábado.
Minha situação tinha se complicado bastante, pois era óbvio que meus pais
não sabiam que eu estava em Porto Alegre e teria que partir de mim a iniciativa de
achá-los.
Pensei finalmente usar o telefone, mas para qual número ligar? E era
sábado e todos os escritórios estariam fechados. Peguei o catálogo telefônico e
procurei por alguém com meu sobrenome. Não encontrei ninguém. Procurei então
pelo telefone da empresa que meu pai trabalhava. Minha esperança era que um vigia
atendesse e pudesse me dar uma pista de como localizar meu pai. Do meu quarto
liguei para o número e do outro lado atendeu uma voz conhecida, meu pai. Ele tinha
ido ao escritório trabalhar apesar de ser sábado.
Poucos minutos depois papai já estava no hotel me buscando e então fiquei
sabendo que os planos era que eu ficasse no Rio de Janeiro onde estava minha mãe e
meus irmãos.
11
Recordar é viver
Terezinha Zillo
Seria muito bom se só as recordações boas fizessem parte do nosso passado,
mas não é assim, a vida é uma sucessão de alegrias e tristezas.
Pensando bem é bom que assim o seja. Uma obra de arte só é bela por causa de suas
nuances de cores. Não teria beleza um quadro sem o claro e o escuro, não é mesmo?
Meu nome é Terezinha Spada. Nasci na cidade de Catanduva interior de São
Paulo no ano de 1935. Sou a caçula de uma família de sete irmãos: cinco homens e
duas mulheres. Pelo que eu pesquisei não estavam acontecendo grandes
transformações no país, mas na minha família sim.
Em setembro de 1936, meu pai faleceu vítima de uma pneumonia dupla originada de
uma gripe mal curada. Morávamos numa boa casa que meu pai havia construído, pois
ele era carpinteiro. Se a vida já era difícil, tornou-se muito mais. Mamãe não tinha
estudo e nem profissão definida, pois sempre trabalhou na roça. Passou a lavar
roupas para fora e minha irmã, com doze anos tomava conta da casa e dos irmãos.
Em 1942, mamãe resolveu vender a casa e mudar-se para São Paulo para que
meus irmãos pudessem trabalhar. Fomos morar no bairro da Vila Maria. Hoje é um
bom lugar para se morar, mas naquela época era um brejo. Alguns meses mais tarde
eu fiquei doente e o diagnóstico foi Tifo, uma doença contagiosa e difícil de ser
curada. Fui internada no isolamento do Hospital Emílio Ribas e lá permaneci durante
50 dias. Quando tive alta estava muito magra, perdi todo o cabelo, mas com a graça
de Deus fui me recuperando.
Mudamos para o Bairro do Braz onde passei o resto de minha infância e toda
minha juventude. Aos oito anos entrei para escola no Grupo Escolar Gabriel Ortiz.
Na verdade eu não entrei na escola, fui praticamente arrastada, pois com a doença
fiquei muito apegada à minha mãe e era uma tortura ficar longe dela. Por isso ela me
levava até a porta da escola onde havia uma grande escada. Cada degrau que eu
subia era a troco de um beliscão.
Um dia o diretor veio conversar comigo e me fez entender como o estudo era
importante. Assim graças a Deus e à persistência de minha mãe consegui terminar o
primeiro grau.
12
Meu bairro Santa Bárbara
Ignês Oliveira Sousa
A vida se confunde quando paramos para relembrar e compartilhar momentos
que estão guardados em nossa memória.
Lembrar minha infância é descobrir que criança tem o poder de observar e
viver pequenas coisas como grandes e grandes coisas como pequenas.
Minha infância foi marcada por momentos em que me sentia sempre no direito
de ser, de estar, de ter, de viver, de aprender, de servir, de cantar, de correr, de
aplaudir, de vaiar, de descansar, de dizer não, de sonhar...
Hoje relembrando, tento desvendar o mistério da vida, a beleza de ser criança
sem ter noções dos perigos, de ser aventureira e de sorrir e chorar quase que ao
mesmo tempo.
Meu bairro marcou minha infância Não possuía nenhuma infra-estrutura, ruas de
terras, casas em barrancos, sem passeios, águas retiradas de poços (cisternas).
Porcos e galinhas eram criados em nosso imenso quintal e eram comercializados para
aumentar a renda mensal da família.
Ao entardecer as famílias sentavam-se do lado de fora para o bate papo diário
das ―comadres‖ e nós, crianças, íamos para a rua brincar de pique-esconde , bocade-forno, passar anel, corre-cotia, etc.
O cheirinho gostoso de café coado na hora e passado nos enormes coadores de
flanelas, colocados em mancebos de madeira ou de metal misturava ao aroma dos
bolos assados em panelas de ferro, colocados na trempe do fogão de lenha e a
panela era tampada com a tampa cheia de brasa para assar por cima, os sabores
eram incomparáveis.
Morava na Rua Loulou entre a 3ª e 4ª chapadas ,nomes dados às ruas 3 de Maio
e David Baldini. No final da 4ª chapada existia a fazenda do Leu José Vicente. Sua
sede existe até hoje, reformada mas não deixando de fazer parte de minhas
lembranças ,pois era local apreciado pela criançada. De manhã íamos com nossas
canequinhas esmaltadas tomar leite fresquinho, espumante, tirado direto das tetas
das vacas.
Muitas vezes juntávamos aos adultos e adentravam-nos aos pastos para recolher
lenha e catar gabirobas e gaiteiras,frutas docinhas e nativas.
Também gostávamos de passar no ―campo de aviação‖ antigo aeroporto da
cidade. Íamos ver os pequenos aviões aterrissarem. O hangar era referência para
nossas brincadeiras e admirar o vento agitar a ―biruta‖ (espécie de coador grande
colocado como antena para orientar os aviadores).
Lembro-me quando Cauby Peixoto desceu de um avião no referido aeroporto
e,uma amiga de minha irmã o agarrou e beijou-lhe a boca. Ele deu um ―piti‖ danado e
chamou a moça de tarada. Para o bairro foi um escândalo o ocorrido. Beijo era
imoral para uma moça de família e beijar um estranho em público nem se fala.
A Praça de Santa Bárbara com sua majestosa árvore de óleo foi também palco
de inúmeras brincadeiras como escalar seus galhos, amarrar balanços e curtir sua
sombra aconchegante.
13
Ah! O velho e antigo cruzeiro de madeira, que saudades! Em época de
seca,formávamos grupos,cada um com um balde ou lata de água na cabeça, em duas
filas indianas, íamos à procissão rezando o terço e entoando o hino ―A Treze de
Maio‖,pedido a Deus que mandasse chuva. Em seguida a água era jogada no cruzeiro
para que a chuva viesse. Repetíamos dia após dia até que a chuva caísse.
Fui educada por minha mãe a ser participativa nos velórios.Passava a noite toda
acordada, ―tirando terços‖,fazendo café,chá de funcho,de erva-cidreira que eram
servidos com biscoitos e roscas.Percorria as casas dos vizinhos pedindo flores para
confeccionar coroas e cruzes que acompanhavam os enterros.
Os enterros também marcaram minha infância já que morava próximo ao
cemitério.
Foram momentos alegres,tristes,solidários e maravilhosos que folhas e folhas
seriam usadas para descrevê-los.
14
Sonho de criança com asas de anjo
Iraydes Visibelli Lopes
Eu sempre tive vontade de coroar Nossa Senhora
no mês de maio, pois sempre ia à igreja assistir às
Coroações.
Naquele tempo, tinha uma escada dos dois lados
do altar: era lindo ver os anjos subindo as escadas! Era
maravilhoso!
Depois da coroação a dupla que havia coroado
distribuía cartuchos de doces para todos os anjos.
A minha vez, tão sonhada, chegou no dia 9 de maio de
1937. Eu tinha onze anos de idade. Os anjos vestiam roupa
branca comprida com asas de pena de pato.
Minha companheira de coroação foi minha amiga Zulmar.
Foi tudo maravilhoso e a maior alegria de minha vida.
Sonho de ser professora
Dulcina Silva Kallás
Sou filha de José Mariano Silva e Maria de
Lima e Silva. Nasci em São José da Barra em
1935 e morei lá durante 25 anos. Depois
mudamos para Capitólio e de lá para Passos.
Meu sonho era estudar e ser professora como
a minha melhor professora até o quarto ano
primário que se chamava Dulce Ferreira de
Souza.
Eu queria ser igual a ela: educada, ótima. Eu
gostava muito dela e ela de mim
Outro sonho que eu tinha era me mudar para Passos e estudar no colégio Imaculada
Conceição como minhas amigas de Capitólio, mas por falta de condições financeiras
não consegui. Fui , então trabalhar numa loja que tinha o nome de Brasília Modas na
praça da Matriz. Lá fiquei trabalhando até me casar.
Aprendi a bordar a maquina e à mão, o que faço muito bem, modéstia à parte.
Hoje sou feliz pois, realizei meus sonhos formando minhas filhas em cursos
superiores e , agora são meus netos que estão me dando esta alegria.
Também sou feliz na Unabem. Agradeço a Leila, Silvia e Nádia e a todos os colegas
que me tratam com muita atenção. Obrigada a todos e um grande beijo da amiga
Dulce.
15
Na fazenda Maracujá
Wilma Costa Silva
Minha infância foi muito boa.
Morávamos na fazenda que tinha o nome de Maracujá, no município de
Vargem Bonita. Minha mãe brincava muito comigo, fazia boneca de pano, forno de
assar quitandinhas e brincávamos de casinha.
Minhas tias iam para minha casa brincar, mas não tinha brinquedo comprado:
eram pedaços de pratos velhos, toalhinha de folha de bananeira...
Tinha uma colega que se chamava Fia que brincava muito na minha casa:
passávamos a tarde toda brincando de boneca de pano e de papelão.
Aos domingos íamos passear na casa da minha vó onde subíamos nas
mangueiras, nas goiabeiras, andávamos a cavalo. Era muito divertido! Lá tinha
poucas opções de lazer. Os passeios eram ir ao campo de futebol, fazer novenas nas
casas dos vizinhos, festa de Reis. Era muito bom!
Na Semana Santa, meu pai alugava uma casa na cidade e nos mudávamos
ficando lá durante toda a semana. Íamos às procissões, às missas. Os santos que
acompanhavam as procissões tinham uns cabelos compridos e roupa vermelha.
A procissão do encontro era muito demorada porque tinha palestra com os
padres que vinham de fora. A gente achava tão bonito, que chegavamos a chorar de
emoção por escutar aquela palavra. Tínhamos muita fé no nosso vigário que se
chamava padre Abel de Abreu. Os outros eram de fora, um deles se chamava Padre
Arlindo.
Nos dias em que estávamos na cidade fazíamos festa com os pais na padaria
comprando balas e picolés.
Fora da Semana Santa só íamos à cidade uma ou duas vezes por ano, porque
não tínhamos condução. Era só meu avô que tinha carro nesta época, e o leiteiro
buscava o creme de leite uma vez por semana.
De carro de boi ou a cavalo gastava-se o dia todo para percorrer a distância
de 45 km : a distância entre a fazenda e a cidade.
Naquele tempo não tinha luz nem água dentro de casa, mas mesmo assim era
muito bom!
16
Um olhar sobre a minha história
José Osvaldo de Almeida
Eu, José, sou o primeiro filho de Waldemar e Walmira. Nasci e fui criado na roça,
apesar de poucos recursos e informações.
Fui arteiro quando criança. Queria fugir acompanhando meu pai para a roça, por isso era
vigiado o tempo inteiro. Já dei muita preocupação segundo meu pai. Um dia passaram um
aperto comigo. Sumi e ninguém me encontrava. Mamãe me procurou até dentro d’água e
nada. Ela pegou a estrada e viu no estrume de vaca o meu rastinho. Gritou meu pai e ele
veio. Eu estava sentado na beira da cerca debaixo de uma arvore de camará.
Na minha infância brincava sozinho de carrinho de boi que papai fazia pra mim. Até que meu
segundo irmão cresceu e brincávamos juntos. As brincadeiras eram de cavalo de pau e
outros tipos de
brinquedos
construídos por
nosso pai.
Quando chegou.
a hora da escola,
tive que estudar
num
lugar
chamado Borges , pois onde morava não tinha escola. Era um lugar distante, eu ia a cavalo.
Depois de três anos fui estudar em outra escola, em Piedade dos Gerais.
Era tudo muito difícil, pois enquanto estudava já tinha que ajudar meu pai nos afazeres do
plantio, com o gado, etc.
Quando tinha treze anos eu e meu segundo irmão começamos a frequentar festas de São
João, forrós na roça com os amigos e colegas de escola.
Não foi possível continuar os estudos, pois a família foi crescendo e tinha que ajudar cada
vez mais para o sustento de todos.
Aos vinte anos mudamos para João Pinheiro. Foi La que tive o meu primeiro emprego
remunerado, pude concluir o quarto ano. Tínhamos melhores condições, pois a maioria dos
meus irmãos já eram crescidos e podiam trabalhar e estudar. Todos ajudavam nas despesas
da família.Tirei a carteira de habilitação para dirigir e assim pude ter trabalhos melhores.
Fui motorista da empresa Santa Marta, da empresa Gontijo. Viajava muito e trabalhava
muito também. Ficava muitos dias longe da família.
Nesse período que morei em João Pinheiro tive uma relação amorosa que resultou
minha única filha: Virginia. A relação não durou muito, mas a paternidade foi e é vivida
intensamente. Virginia foi criada por mim com ajuda da família.. Hoje, juntamente com
minhas netas, é a alegria de minha vida.
Ainda na ativa trabalhava no DER e consegui transferência para Passos. Quis vir para cá,
pois aqui já estava minha mãe, muito velhinha, minha filha, um irmão e minha irmã com as
famílias.
Aqui ainda trabalhei por um bom tempo. Consegui ajudar minha filha a estudar. Hoje ela é
casada tem duas filhas, mora em Palmas, trabalha com radiologia e sonha com a medicina.
Hoje sou aposentado e continuo aqui em Passos tentando viver da melhor forma possível,
buscando alternativas para ter uma boa qualidade de vida e aproveitando as oportunidades
que surgem.
17
Pai Eterno
Maria Luíza de Pádua Machado Porto
A cabeça ou o cérebro é um órgão muito especial, ativo, interessante. A
pessoa adulta ou criança têm a capacidade de estabelecer avaliações, hipóteses,
análises e conclusões certas ou não a respeito de tudo que se nos cerca.
Desde muito pequena, criança de uns 6 ou 7 anos sabia eu apreciar a linda
decoração da Igreja da Matriz Senhor Bom Jesus dos Passos trabalhada por
Jerônimo Neto, que, com mãos divinas soube imprimir o talento que possuía ao
estampar as representações bíblicas.
Sentada nos primeiros bancos, o pescoço ia girando para os lados, para cima,
dobrando para trás a fim de olhar as figuras. E quando não era possível ver tudo do
banco, a saída era obrigação observar as demais. Nesta época, um tanto distante, as
laterais da nave abrigavam imagens de santos e até mesmo conjuntos, como a
Sagrada Família de Nazaré.
Havia também dois púlpitos e o pároco fazia uso daquele que se localizava
mais próximo da Capela do Santíssimo. Na semana santa, o Evangelho dialogado por
três padres —aí sim — os dois púlpitos eram ocupados e um 3º padre ficava no
altar. Localizavam-se ali na região em que hoje se postam os corais, um de cada
lado.
E os confessionários? Pequenas casinhas de madeira envernizadinha! Ali
dentro o padre ouvia os pecados e faltas que os fiéis apresentavam e ouviam dos
confessores os conselhos e a penitência a ser cumprida. Tive de matar logo a
curiosidade infantil e verificar se em tais casinhas havia, ou não havia teto!
A figura do PAI ETERNO acima do altar até hoje me é impressionante!
Bonita, severa, determinada, poderosa! Parece mesmo estar ali para nos falar do
Criador de Tudo que há sobre a Terra e o UNIVERSO. E, ao mesmo tempo nos falar
do PAI AMOROSO que nos ama e nos abençoa!
Há, entretanto, o lado hilariante da figura do Pai Eterno sob minha ótica
infantil e que até hoje carrego comigo. Eu o interpretava como o Grande Senhor
Criador do céu e da Terra, mas que ali, daquela forma, prepara-se para precipitarse na nave central, transformada por minha imaginação em uma grande piscina!
Um verdadeiro salto em um grande piscinão...
18
Minha primeira professora.
Genésio Ferreira de Araujo
Gostaria de contar um pouco da minha vida na
época de escola. Era muito difícil para uma
criança assistir a aulas em uma escola. A gente
morava longe e tinha que ir sempre a pé com
sol ou chuva.
A minha primeira escola ficava em um sítio há
mais ou menos seis km de distância. Da minha
primeira professora nunca
esqueci, como
todos os alunos jamais esquecerão..Era mãe de
família, tinha seus filhos para cuidar e, por
muita bondade ela sacrificava seu tempo para
nos dar aulas.
Ela não era professora formada por isso ensinava o que ela sabia...
Os alunos não tinham meios financeiros de comprar materiais escolares naquela
época , entre os anos 1948 a 1954. A gente estudava na casa da professora, não
tinha grupo escolar, não tinha lousa. Estudava-se numa pedra preta num diâmetro
de trinta centímetros por vinte. Ali fazíamos as quatro operações de matemática, o
a e i o u e o ba, be, bi, bo, bu e o manuscrito( que era o mais difícil). Quando a gente
conseguia ler o livro estava pronto para deixar a escola. Eu ainda me lembro da
última lição que li chamava-se ―História do Brasil‖
Na época não tinha diplomas para os que formavam.
Passados muitos anos, na cidade de Pratápolis eu estudei em um curso noturno. Foi
onde consegui o meu primeiro diploma, que era um sonho do passado.
Sou uma pessoa muito simples, sou apenas mais um dos alunos que contam suas
histórias. Não tenho certeza , mas espero que sejam parecidas umas com as outras.
Quero prestar minha homenagem aos mestres de hoje que são pessoas formadas em
grandes faculdades como a FESP. No inicio do meu texto contei que minha
professora não era formada, mas hoje agradeço a ela porque posso escrever uma
parte da minha vida ainda adolescente.
Quero prestar uma homenagem especial á querida professora Leila pelo carinho que
tem com todos. Em alguns dias não participamos das aulas e ela cordialmente liga
para nós para saber o que estava acontecendo, se estava tudo bem, dando muita
força para que nós, minha esposa e eu, continuássemos no curso, que era muito bom
para nós!!
Realmente foi e mais uma vez agradeço de coração a todos os professores que
tratam a gente com muito carinho.
19
Catequese e Recreação
Maria Luíza de Pádua Machado Porto
Minha tia e madrinha Mariana, irmã de
mamãe, organizava a catequese na Igreja
Matriz Senhor Bom Jesus dos Passos e fazia
parte da congregação das Filhas de Maria,
específica para moças solteiras. Nas missas
e
outras
cerimônias
religiosas
tais
senhoritas usavam vestido branco –símbolo
de virgindade- e ostentavam fita azul
celeste sobre o pescoço, de modo que uma
parte da fita caia para trás e parte para
frente. Na casa de meus pais ela morava.
Quando vínhamos à cidade eu frequentava as
aulas de catecismo, aos sábados, após
almoço, isto é, lá pelas 12h30min. Era comum meninos e meninas das imediações da
igreja comparecer a essa atividade.
Precedia as orientações doutrinárias um tempo reservado à recreação, quando
então brincávamos alegremente na rua contígua à igreja , à direita da porta
principal, que então ficava coalhadinha de grupos infantis. Em sistema de
revezamento brincávamos de roda, barra manteiga, de pular corda, peteca, corre
cotia, chicotinho queimado; enfim os brinquedos da época e liderados pela minha tia,
por sinal, estimada pela galerinha! A rua se tornava autêntico lazer!
Vencido o tempo destinado aos folguedos, entrávamos na Igreja cada turma com
sua professora – catequista.
Todo o espaço da Igreja era ocupado pelos grupos, reservando-se certa
distância um do outro. Levava-se em conta a idade e conhecimento doutrinário na
formação das turmas. Tínhamos um livrinho com perguntas e respostas e que todos
deveríamos saber decoradinho a fim de fazermos a Primeira Comunhão. As orações:
Pai Nosso, Ave Maria, Credo, Ato de Contrição, Eu pecador, os Dez Mandamentos,
os Sete Sacramentos, tinham de estar na ―ponta da língua‖ para a
argüição/confissão com o pároco Monsenhor Messias Bragança.
No final do Encontro Catequético era realizada procissão que saía pela lateral, a
frente da Capela do Santíssimo até a porta; subia pelo centro virava à direita,
descia pela outra lateral e subíamos até o Santíssimo. Hinos conhecidos eram
entoados nessa caminhada comandada por Dona Maria Augusta Sawaya, senhora
mais velha que minha tia. Era severa, cantava forte e vibrante! Era zeladora do
Sagrado Coração de Jesus e usava roupa preta e fita vermelha sobre o peito. Esta
Congregação existe até hoje na nossa Paróquia.
20
Meus peixinhos
Amélia Borges Araújo
Como eu gostava de pescar de anzol e
peneira... Naqueles córregos eu ficava horas e nem
percebia o tempo passar. Mamãe ficava brava
porque eu estragava as peneiras. Um dia minhas
irmãs estavam nadando nesse riacho com suas
colegas e tiraram as roupas. Meu irmão roubou as
roupas delas e não devolveu. Ele era mesmo ―um
santinho‖. Quando tinha visitas em casa ele ia ao
pasto e cortava alguns galhos de espinho de juá e
colocava no colo das visitas.
Eu também gostava de correr em cima do cipó que trançava nas árvores. Um
dia os marimbondos me pegaram e nem deu tempo de descer , caí de vez no chão!
Papai e meus irmãos levantavam às quatro da manhã para tirar leite. Quando
acordávamos corríamos para o curral para tomar leite na caneca.
Papai, apesar de bravo tinha muita paciência e era muito amoroso. Quando ia à
cidade nunca vinha de mãos abanando, sempre trazia balas, quitandas. Um dia
comprou um bebê para nós. Eu e minhas irmãs brincamos o dia todo sentadas na
cama com o bebezinho. Aí era só alegria!
A escola que eu frequentava era bastante longe, tinha que subir muito morro
e a gente nem se importava. Meus irmãos e primos iam apostando corrida. Uma
coruja fazia o seu ninho no caminho e sempre que passávamos ela estava ungindo
seu filhote e ficava nos olhando até sumirmos de vista...Minha professora era D.
Rita . Como gostava dela e ela de mim. Até me escreveu uma carta quando deixei o
grupo.
Na minha casa todos tinham que estudar: meu pai dizia que o futuro está na
cabeça! E quando alguém não queria ir à escola papai pegava uma vara, não batia não
, mas levava o filho até a escola, apesar de ter muito o que fazer!
Na nossa casa tinha engenho onde se fazia rapadura. Também cortávamos a lã dos
carneiros para fiar e cardar. Tinha até um ajutório.... juntava-se uma mulherada
que fiavam e cantavam, o dia inteiro...
Á tarde os vizinhos iam para minha casa para conversar e brincávamos de
passar anel, jogar bola, correr na grama debaixo de chuva, gangorrear, andar de
pernas de pau,pular nas barras com varas de bambu. Tinha até competição para ver
quem pulava mais alto. Andava a cavalo, comia pitanga, jaracatiá, goiaba etc.
Ah mas eu gostava quando meus tios iam passar uns dias na minha casa. Eles
contavam histórias encantadas. Ficávamos sentados em frente ao fogo até tarde da
noite...
Entre as longas estradas da vida e os peixinhos estamos em 2009 junto a
professores amáveis e colegas admiráveis.
21
Brasil e Japão : dois universos da minha vida.
Graça Sasatani
Vou tentar abreviar a história da minha vida.
Bem, vamos lá... Nasci em Machado, sou filha de
italianos. Somos cinco irmãos, sendo eu a mais nova.
Tive uma infância muito feliz, mas aos treze anos,
minha mãe ficou doente e veio a falecer.
Na época, meu irmão mais velho morava em São
Paulo e me levou para morar com ele, minha cunhada e
sobrinhos. Foi muito difícil, pois chorava muito e não
gostava da cidade nova.
Aos quinze anos meu pai faleceu e pra mim, ficou
mais difícil ainda, pois me sentia muito sozinha, mesmo
morando com meu irmão. Na verdade não tinha com
quem conversar me abrir e afinal de contas era uma
adolescente órfã numa cidade estranha.
Os anos foram passando, eu ainda continuava em São Paulo. Aos dezoito anos,
já trabalhando, conheci um japonês que se tornou meu marido. Após um ano de
casamento, nasceu meu filho, que foi a coisa mais importante da minha vida. Depois
de dois anos, no dia do aniversário de meu filho, nasceu minha filha
Minha felicidade estava completa, meu marido era um super paizão, meus
filhos eram perfeitos, saudáveis e inteligentes. Eu me sentia uma pessoa abençoada,
pois minha família e minha vida era a imagem de Deus.....
Os anos continuaram passando aliás, estes não param mesmo... O governo
impôs o plano Collor, que destruiu a vida de muita gente, muitos até se suicidaram e
nós não ficamos imunes, fomos muito afetados. Meu filho estava na faculdade no
Mackenzie, minha filha na USP e nisto surgiu um convite da família do meu marido
,para irmos para o Japão. Não havia outra saída... Deixamos nossos filhos, em São
Paulo e partimos rumo ao desconhecido, o Japão.
Nosso desejo era que meus filhos terminassem a faculdade, porém eles
ficaram sozinhos e como foram guerreiros! Sofri muito, pois nunca tinha passado
uma noite longe deles. Minha filha ainda era uma criança, mas eles foram DEMAIS!
Terminaram a faculdade, ele advocacia e ela odontologia.
Como eu os admiro, tenho o maior orgulho e um grande respeito por eles.
Como aprendi com meus filhos! Tenho uma grande tristeza por não ter tido
oportunidade de ir à formatura deles. Fiquei onze anos no Japão, onde fiz grandes
amizades, uma em especial, o Kawai, que até hoje o tenho como um filho.
Quando voltei ao Brasil me senti um peixe fora da água, não me sentia mais
em casa. Meus filhos não eram mais aquelas crianças que havia deixado no Brasil.
Levei mais ou menos um ano para voltar ao normal e acostumar com tudo novamente.
Depois de cinco anos que eu havia retornado, meu marido, que havia ficado no
Japão, retornou ao Brasil. Após dois meses, ficou doente, acamado mais ou menos
por dois anos quando veio a falecer.
22
Meu filho já estava morando em Machado, minha filha se casou e veio morar
em Passos .Fiquei sozinha em São Paulo. Mudei-me para Passos, mas me sentia muito
só aqui.
Um dia minha filha ficou sabendo da Unabem. ,Nessa época, pensava em
voltar para São Paulo, mas fui me matricular. Nasceu minha neta Júlia, que foi uma
benção de Deus na minha vida.
As aulas começaram, fui muito bem recebida pelas meninas e daí tudo mudou.
Hoje a felicidade está completa com minha segunda neta, Luiza, está a caminho.
Agradeço muito a Leila que foi um amor, e principalmente a Ivani que com seu
sorriso tímido, nem imagina a força que me deu.
Obrigada a todos e obrigado a Unabem por existir ! Viva Unabem !
VIVER E NÃO TER A VERGONHA DE SER FELIZ!!!!!!!
23
A Marquesa
Maria Luíza de Pádua Machado Porto
Doum... doum... doum... Quem se foi hoje? É homem! Dlim... dlim... dlim... é
mulher. Era a conclusão óbvia de todos nós, naquela Passos pequena, na década de
1940, com poucos habitantes. O sino da Matriz, única Paróquia, anunciava o
falecimento. A Igreja anunciava a morte e o Sexo, através do doum e dlim de forma
intercalada, várias vezes antes do sepultamento daquela pessoa que partira para a
Casa do PAI.
Bem, restava saber quem seria esta pessoa, de que diziam os viventes:
―descansou‖. Informada sobre quem era e onde morava, lá ia eu e companheiras ao
velório. Deveria ter eu entre 08, 09 anos. E... o que mais me chamava atenção sobre
o cadáver era sua postura: fisionomia séria, mãos trançadas sobre o peito,
estiradinho, estiradinho em cima de um móvel antigo, tipo cama, com cabeceira e
peseira, mas, incrivelmente estreito! Penso que media entre 60 ou 70 centímetros
de largura. A maioria dos ―dormentes‖ ocupava literalmente tal móvel; era a conta!
Mas, lá um ou outro, transbordava-se para os lados. Um filózinho cobria-lhe de leve,
mas os viventes levantavam a manta para melhor enxergar. As meninas, como eu,
observavam através dessas levantadelas. Havia a Funerária que se ocupava do
trabalho do enterro e que consistia também em confeccionar o ―caixão‖. O obreiro
ia à casa do ―cliente‖ media seu comprimento, largura e altura. Em poucas horas
tudo estava pronto e o cadáver colocado nessa embalagem sob medida, e a caráter:
se adulto/a, a cor do pano do caixão era roxa. Se criança ou jovem-virgem a cor
branca era usada. A armação de tal dispositivo era madeira forte, é claro. A cor
roxa era discriminada! Ela servia apenas para tal!... Só lá pela década de 1950, foi
introduzida a urna de madeira. Após algum tempo de desuso do caixão
personificado, a cor roxa e arroxeados começaram a ser usadas por nós, viventes.
Voltando a tal ―marquesa‖ depositária dos que empreendiam a viagem para o
CÉU, lembro-me de detalhe muito significativo, uma
conclusão hilariante que me tranquilizava. É a seguinte: Até
aquela idade citada acima, não tinha eu perdido pessoa da
família – a não ser meus irmãozinhos nati-mortos e que
nada me significavam – e o que a menina Lulute pensava e
concluía?
―Ah! Ainda bem que lá em casa não temos a
―azarenta‖ marquesa! Ninguém morrerá, graças a Deus!‖
Rezava eu dentro do meu coração infantil.
24
No meu tempo...
Maria Luíza de Pádua Machado Porto
A pequena Passos não possuía estrutura de lazer para proporcionar diversão a nós,
e então, mas, apesar disso a moçadinha se encontrava para os namoricos,
flertes e brincadeiras dançantes,como está na música; Quem sabe e querfaz a hora!
Nas residências, quase todas assoalhadas com tábuas largas onde gretas enormes
eram presentes, improvisavam-se bailinhos, que chamávamos ―brincadeiras
dançantes‖, ao som de melodias tocadas nos modestos aparelhos por nome: ‖toca
discos‖, que, poucas pessoas possuíam. Desta forma, assim que o disco emitia os
primeiros acordes,os rapazes, sem perda de tempo tiravam as meninas- moças para a
contradança que durava apenas alguns minutos,conforme a duração da música. Daí
agradeciam. E se lhes tivesse sido agradável, retornavam. Bom lembrar que, se
houvesse interesse de ambos em ficarem para nova contra-dança, puxava-se um
assuntozinho no final do ―toque‖para engambelar o tempo.
Uma recusa não podia acontecer; na linguagem da época - ―dar tábua‖,
e,as moças que não topavam uma vez, apenas, eram discriminadas e passavam a
tomar chá de cadeira pelo resto da vida! Os moços comentavam entre si e aí...adeus
viola...ninguém as tirava para dançar, jamais!
Havia alguns locais onde se realizavam bailes, como o salão Líder - Bar,
Bar-Seleta, de Homero Parenti, parte superior do prédio e posteriormente, na
Rural. Descrevendo:o Líder,situava-se à Rua Dr. Bernardino Vieira, abaixo do Passos
Clube (inexistente nesta época); o Bar Seleta era na esquina da Praça da Matriz onde
funciona hoje o CrediAcip.O salão da Rural era à Rua Cristiano Stockler e, ótimos
bailes ali ocorreram. Em 1958, no Centenário de Passos fui flagrada dançando; penso
que alguém possa ter essa preciosidade de filme. Apareço de costas porque meu
noivo Antonio, era vidrado por aparecer em fotos e filmagens e quando percebia
movimento nesse sentido, dava uma reviravolta
comigo, de modo a beneficiar-lhe com a imagem.
Incrível!
Convém voltar ao Líder-Bar, porque
ali foram realizados o maior número de bailes
antes do Passos Clube. Muitos e memoráveis, como
quando Juscelino Kubitschek veio à Passos em
campanha para Governador. De fato, era J. K.
―verdadeiro pé de valsa‖; além de charmoso,
simpaticão e de fala consistente e convincente.
Lembro-me de sua elegância rodopiando no salão
com uma das filhas do jornalista Antonio Faria de
Castro.
No Líder iniciei a vida social Tinha vontade de ir a baile. Dedé, minha tia ,
confabulou com Calá, minha irmã:
-Vamos levar a Luli à festa-baile de São João? Calá advertiu-me:
25
-Vamos te levar; mas tem de topar dançar com quem te chamar para
tal. E foi um sucesso! Não perdi uma! Para essa participação, arrumei o cabelo
fazendo um ―pajem‖, um tipo de cabelo virado para baixo, embutido. Odete Baldini
penteou-me. Um vestido estampado- não junino- contribuiu para minha grande
alegria naquele ditoso baile que deixou saudades e marcou minha entrada ,de fato,
na vida social. A partir daí não perdia bailes. A dança e a música sempre me
fascinaram desde bem novinha....e até hoje.
Observação:Dedé nasceu poucos anos antes de Calá. Daí não tratá-la por ―tia‖.
Raiva de dentista!
José Candido da Silveira.
― Lembro-me D. Cotinha Andrade, Gilda Vieira, Maria Amparado,Terezinha
Oliveira.As queridas serventes D. Júlia, D.Ester,D. Judite e a querida D. Janete.
Sr. Jair Santos tinha palavras sábias e educadas. Os legumes eram produzidos
pelos alunos na própria escola o que era um incentivo e eu agradeço muito pois,
hoje , gosto muito de verduras, legumes e frutas.
De D. França não tenho boas recordações
devido aos gritos e à arrogância. A escola era muito
organizada, porém com muito medo. Era fila para
tudo: para entrar, para o recreio, para a sopa e para
sair.
Eu morava na fazenda até meus oito anos. Vim
para estudar no Wenceslau. Muito tímido e pés no
chão. Na primeira semana de aula chegaram na porta
da sala e perguntaram quem tinha dor de dente.
Muitos levantaram a mão, inclusive eu. Ordenaram
que seguissem então uma professora até um
estabelecimento que era chamado ― Damas de
Caridade‖( onde hoje é a
Photo boutique). O
dentista chamado Quinca Getúlio estava esperando. Mandou-me sentar na cadeira
, abrir aboca e falou para a auxiliar: vai ter que tirar o dente. Sem aplicar anestesia
foi extraído o dente. Fiquei uns três dias sem me alimentar e tenho raiva desse
dentista até hoje!!!
26
Uma vida com coragem
Lazara Flauzina Ferreira
Nasci em Ilicinea em 1937. Fui criada na roça com meus pais e 13 irmãos.
Tínhamos uma vida simples e sem conforto, morávamos muito longe da escola. Eu e
meu irmãos precisávamos ir a pé uma distância de 32 km para assistir aula.
A minha irmã mais velha era mulher, depois seguiram 12 homens. Quando eu
nasci, ela teve que mostrar para meu pai e meus irmãos para que eles acreditassem
que era verdade. Então meu pai soltou fogos de tanta alegria!!
Aos 14 anos perdi minha mãe, perdi um pedaço de mim...
Aos 20 anos eu me casei e meu pai foi morar comigo. Eu o perdi com 24 anos
e outro pedaço de mim se foi.
Meu marido e eu tivemos seis filhos maravilhosos. Uma das minhas filhas
morreu com meningite com 1 ano e três meses. Ela tinha uma deficiência na mão
esquerda , só tinha dois dedinhos.
Quando meus filhos mais velhos terminaram o primeiro grau nos mudamos
para Passos para que eles frequentassem a escola, em 1980.
Em 1994 eu tive uma grande alegria, um grande sonho realizado: a formatura
de meu filho em Medicina. Eu e meu marido choramos de alegria e emoção ao vê -lo
receber seu diploma.
Em 1997, eu perdi meu marido inesperadamente em um acidente de carro. Eu
estava com 59 anos e meus filhos já estavam todos fora de casa. Quatro casados e
o médico morando longe. Passei a morar sozinha.
Desde então vivo minha vida com meus filhos, noras, genros e meus dez
queridos netinhos. São a minha ―grande família‖ da qual eu tenho tanto orgulho. Mas
também tenho o meu cãozinho Fred, para me distrair.
Hoje,com 72 anos, tenho a oportunidade e felicidade de frequentar a
UNABEM onde tenho muitos amigos e bons professores, passo horas inesquecíveis e
melhoro meus conhecimentos.
27
Conjecturas... sobre o namoro
Maria Luíza de Pádua Machado Porto
__ Por que será que meus pais se preocupavam tanto com os namoros... e
namorados? Por que temiam?
__ Será que também eles foram preocupações dos próprios pais, embora em
épocas distantes?
Acredito que a questão ―namoro‖ em todos os tempos constituiu motivo de
preocupações, imposições, limites. Sempre se soube que o relacionamento homemmulher com afinidades é um convite a uma aproximação maior, a algum tipo de
carinho; característica presente ontem, hoje e no amanhã, em qualquer lugar do
planeta,
em toda raça, clima. É o querer acariciar; o querer apossar-se
um
do outro.
A grande diferença é que há facilidades estratégicas
para casais se encontrarem em completa tranquilidade,
nos dias atuais, e, tempos atrás, havia de se
desfrutar as poucas oportunidades que
surgiam ou que podiam ser criadas para uns
momentos ―mais a sós‖.
A dança,os bailes eram grandes aliados dos
namorados, pois proporcionavam uma proximidade maior.
O embalo da música sugeria uma ternura, um unir
corpos, um colar de rostos...
Meu noivo e depois cônjuge, Antônio, gostava de
contar uma piada. No baile, o rapaz estava abraçando
muito a moça, sua namorada e esta lhe disse:
__ Minha mãe falou que, quando o casal está
dançando, o capeta fica no meio...
O rapaz muito esperto retrucou-lhe:
__ Ah! É assim? Então vamos dançar bem
apertadinhos, que é para matar esse tal capeta esprimido...
28
Letra Z, nunca mais...
Alice de Fátima Freire
Eu, Alice, sou a sétima filha dos meus
pais Celso e Antonieta. Os outros seis
irmãos antes de mim tem o nome
iniciado com a letra Z ( Zélia,
Zenaide, Zenilton, Zilda, Zilma, Zeni)
Quando eu estava para nascer um
amigo
de
meu pai comentou,
brincando com ele que se ele não
trocasse a letra inicial dos nomes dos
filhos
não ira parar
de nascer
criança lá em casa. Assim meu pai
que
gostava muito da mãe dele
colocou o seu nome em mim. Depois
ainda nasceram mais dois irmãos que
meu pai chamou de Celina e Cássio. Letra Z nunca mais...
Na minha casa acordar já era uma brincadeira, pois éramos muita gente.
Brincávamos de tudo: dançar , cantar, pular corda, passar trote,pega-pega,mas a
brincadeira que eu nunca esqueço era na montanha de palha de arroz. Meu pai era
proprietário de uma máquina de beneficiar arroz e atrás do prédio da máquina
ficava um mote enorme de palha. A criançada vinha correndo e pulava no macio,
ninguém se machucava. Perto da palha tinha um bambuzal e nós sempre
envergávamos algum para balançar.
Foi muito bom ser criança naquela casa, com todos meus irmãos, meus pais
maravilhosos, toda minha família em Carmo do Rio Claro.
Minha primeira professora foi D. Bernadete Siqueira. No ano de 1962 tirei o
primeiro lugar numa prova de leitura e ganhei como prêmio um envelope com
dinheiro dentro.
Quando tirei o diploma de quarto ano já morávamos em Passos. Minha
professora foi D. Regina Esper Kallas. A diretora era D. Luzia de Abreu.. Nossa
formatura foi em 5 de dezembro de 1966 no teatro do CIC, num domingo à tarde.
Éramos uns trinta alunos, nos reunimos na casa de D. Luzia, na Rua Expedicionários
e fomos todos juntos para a cerimônia. A nossa querida Rosália da Silva Almeida foi
nossa professora de canto ensaiou muito para que cantássemos bem bonito!! Meu
muito obrigado à Rosália, Dona Regina e Dona Luzia , lá no céu...
29
O Anel de Normalista
Maria Luíza de Pádua Machado Porto
Morávamos na Fazenda! Ali, nosso vôo era livre, sob sol claro ou céu chuvoso,
arvoredo abundante, animais em profusão. O tempo era curto, o dia pequeno para as
muitas atividades junto às pajens, meninada, filhas e filhos de empregados mais
chegados e das domésticas que na Casa Grande trabalhavam. Andávamos pelas
estradas, dentro de córregos, pescávamos, curávamos bicheiras dos cabritos e
cabras. Destas, tirávamos leite para beber. Fazíamos balanços em árvores,
parteirávamos galinhas em seus ninhos!
O tempo passa, a gente cresce e atinge uma idade em que mudanças
acontecem. Ao completar 7 anos, deveria eu matricular-me no grupo escolar ―Dr.
Wenceslau Braz‖ ou no Colégio Imaculada Conceição e dar início à vida escolar. A
distância da Fazenda à cidade era de 12 km. Era muito chão para ser percorrido
através de cavalo, carro de boi, carroça ou de pé-dois...naquele tempo. Meus pais
optaram pelo racional... Ora essa!... Mamãe era professora! Ela me ensinaria a dar os
primeiros passos rumo à alfabetização. Assim decidido, assim aconteceria. Mas, meu
Deus, como deixar a companheirada brincando e estudar de 13:00 às 14:00?... O
choro acontecia, os resmungos escoavam e cadernos e livros molhavam. E...na
maioria das vezes, papai entrava em cena, com seu jeito determinado e voz resoluta,
obrigava-me ao estudo! Caladinha, caladinha, sem choro nem vela! Na ―marra‖
aprendi o abecedê.
Caetano, meu irmão logo abaixo de mim, chegou à idade escolar e a decisão
foi assim: ficarmos na Casa da Barão de Passos, nº. 69, sob os cuidados de minha tia
e madrinha Mariana, educadora-orientadora pedagógica no Grupo Escolar ―Dr.
Wenceslau Braz‖. Lita, doméstica da fazenda e pessoa íntegra, responsável e
querida veio conosco, oferecendo com seus serviços o suporte necessário ao
funcionamento da casa. Essa situação durou apenas 02 (dois anos)- 1945 e 1946. No
dia 21-04-1947 casara-se com o Sr. Manoel e mudou-se para Itajaí, Santa Catarina.
Veio a falecer poucos meses após o casório. No dia 28 de dezembro do mesmo ano
de 1947.
Agora é que chega a estória do título acima. O anel de Formatura...
Desde pequena manifestara jamais ser professora, porém, o caminho que
Deus nos reserva é diferente.
Após o falecimento, o viúvo Manoel trouxe para os familiares alguns objetos
pessoais da tia, com endereços determinados por ela e a mim coube um anel de
Normalista. Ao recebê-lo, com 12 anos, olhei bem para jóia linda, e pensei com meus
botões: nunca usarei este anel!
O tempo passou, terminei o equivalente à 8ª série e chegou à hora de cursar
o Ensino Médio e optei pelo curso de contabilidade no Colégio de Passos, de Dr.
Breno Soares Maia. Meu irmão Paulo disse-me:
- Lulute, o que ficará fazendo durante o dia, uma fez que fará os estudos no
período noturno? Faça o curso Normal no Colégio das Irmãs pela manhã, você
conseguirá levar os dois simultaneamente. Você é capaz!
30
Assim, procedi: Amei o 1º ano de Contabilidade! Mas, a partir do 2º ano do
Normal fique encantada com as Matérias Pedagógicas e percebi minha aptidão para
o Magistério. Formei-me nos dois Cursos. Abracei a carreira ministrando aulas nas
séries iniciais, realizei-me profissionalmente e obtive muitos frutos no meu
trabalho. Fui professora dedicada e esforçada, amava meus alunos e o mais
importante: eles demonstravam aprendizagem e brilhavam nos testes que,
naquele tempo, vinham da Secretaria de Educação, de Belo Horizonte! Sempre
houve interação entre mim e alunos!
- E o Anel de Normalista?
- Adequou-se, melhor, serviu certinho no meu dedo!...
31
Lembranças de minha infância
Creuza Maria Lopes
O maior sonho de toda criança é começar a frequentar a escola e não foi
diferente comigo.Porém quando pensei que realizaria este sonho tão almejado a
dura realidade foi diferente do que imaginei
Meus pais me matricularam numa escola próxima de nossa casa que
atualmente se chama‖ Geraldo Starling Soares‖. Ela funcionava numa rua muito
velha e feia chamada Rua Tupi. Foi onde começou minha decepção...
Quando chegava a hora de ir à escola era um martírio para mim. Começava a chorar
e não queria ir de modo algum.
Pedi para minha mãe me colocar na escola de minhas irmãs que estudavam no Grupo
Jaime Gomes, onde hoje é o santuário da Penha. Acabei convencendo-a.
Aí comecei a me sentir mais feliz, pois o prédio era mais novo, agradável, com
carteiras novas e tinha até um parquinho com vários brinquedos, coisa raríssima ,
naquela época. Como não existe nada sem defeito aconteceu um fato que marcou
muito minha infância quem sabe esteja repercutindo até hoje em minha vida.
Eu era canhota e a professora do primeiro ano não consentiu de maneira
nenhuma que eu usasse a mão esquerda para escrever. Hoje temos ciência do
transtorno que tal atitude pode ocasionar em alguém, podendo até afetar sua
personalidade...
Não posso condená-la, pois isto ocorreu devido à falta e acesso a certos
conhecimentos o que era muito restrito.
Outro fato significante me marcou profundamente: minha mãe tinha o
costume de nos mandar no armazém para comprar o que estava faltando em casa e,
sempre,ao passar perto da residência de umas ―amigas‖, elas me abordavam e
jogavam toda minha compra no chão, para causar confusão. Eu voltava para casa
chorando e pedindo socorro para meu irmão que me
ajudava a recolher tudo da rua. Desde pequena que
fui uma pessoa passiva, não sabia me defender...
Como seria bom se pudéssemos voltar, mas
tudo é sonho!!!
32
Os “relas” que Passos teve
Maria Luíza de Pádua Machado Porto
O primeiro ―rela‖ era no passeio à frente da Igreja, ao lado do jardim; o
segundo já era dentro do jardim, na parte reta. Os dois citados eram em forma
circular e, aumentava-se o tamanho do círculo conforme o número de pessoas. O
terceiro ―rela‖ era dentro do jardim, no círculo maior; em duas colunas cruzantes. A
cidade crescia, o contingente aumentava; havia turmas de rapazes que se
concentravam, parados, a volta do rela apreciando as duas colunas. Famosas: a
turma do Fubá, a turma de Paulo meu irmão e outras mais. Vivi os três.
O período do passeio pelo ―rela‖ era de 19:00 horas até 21:30h/22:00h, e
então o jardim se esvaziava e não tinha como insistir na permanência por mais
tempo. Em datas especiais, como Natal, sexta-feira Santa, sábado da Aleluia e
passagem de ano, a moçada se dirigia ás suas casas lá pela 01h00h da matina.
O Cine Roxy era atração máxima da URBE! Muitas pessoas assistiam à sessão
de cinema e após iam para o ―rela‖ que ficava mais recheado e melhor. O encontro
de todos nós era no ―rela‖; não havia outro local; a não ser nos bailes e brincadeiras
dançantes, missas, procissões, romarias ao cemitério. O Cine Roxy tinha lotação
total nas sessões de sábados e domingos. Se bobeasse, ficava sem lugar. No
domingo havia sessão à tarde e era também concorridíssima. Após término da
matinê havia jogo de futebol do Esportivo lá no Campo Geraldo Starling Soares.
Confesso que, não perdia! Se companheiras não topassem ir, aventurava-me sozinha.
Havia time bom aqui em Passos e jogadores profissionais contratados reforçavam o
time local. Não eram ―bem vistos‖ pela aristocracia passense; o resgate do
profissional ocorreu em 1958, quando o Brasil foi campeão pela primeira vez. Os
altos salários e a fama foram determinantes para uma avaliação melhor da pessoa
que abraçava a carreira futebolística.
Voltando ao ―rela‖, importante lembrar gesto bonito e contagiante que
ocorria, todas as noites, lá pelas 19:30 h. Os sinos da Igreja Senhor Bom Jesus dos
Passos badalavam anunciando a Benção do Santíssimo Sacramento. Todo mundo
parava e orava a Deus Criador. Era lindo, lindo, lindo!
Esse hábito caiu em desuso pós Concílio Vaticano II, que introduziu
modificações na Igreja, dentre elas a Missa Noturna, no horário da REZA.
33
Paixão de adolescente
Rosalmira Soares Rodrigues
Uma doce lembrança que me vem à
memória de quando eu era adolescente
aconteceu com a festa de inauguração do
dique da barragem de Furnas.
Para que as águas não cobrissem a
cidade de Capitólio foi feito o dique na
Fazenda Engenho da Serra.
No dia da inauguração houve uma
grande festa, havia gente das cidades
vizinhas e muitos rapazes bonitos . Um
deles ficou seguindo meus passos.
Lembro-me de que eu estava com
um vestido vermelho e estava vermelha
também, não sei se por timidez ou
porque o sol estava escaldante... O rapaz
se aproximou de mim. Era loiro, de olhos verdes, muito bonitos, morava em Piumhy e
tinha 17 anos. Pediu para namorar comigo, então combinamos de encontrar à noite
na Praça da Matriz, no rela. A partir daí começamos a namorar durante dois anos,
naquele tempo nem se pegava na mão.
Todas as quartas feiras eu ia ao correio e lá estava uma carta toda romântica
para mim. Ele cantava e encantava, tocava violão e acordeom o que me deixava cada
dia mais apaixonada. Resolvemos terminar o namoro. O motivo nem me lembro...
Passaram-se quatro anos. Um belo dia ele voltou a me procurar só que dessa vez ele
queria namorar para casar. Namoramos mais alguns meses e ele foi trabalhar em
Brasília, pois sua família havia mudado para lá. Com a distância ficou difícil. Tudo
terminou e só restou a doce lembrança de um amor lindo e puro!
34
Primeira Escola – O CIC
Maria Luíza de Pádua Machado Porto
Com grande relutância de minha parte, paciência de mamãe e imposição de
papai, aprendi as primeiras letras e as operações básicas adição e subtração.
Já com a idade de 10 anos fui matriculada no Colégio Imaculada Conceição e,
pelo pouco preparo apresentado estaria apta a cursar o 2º ano primário; porém
minha tia-madrinha assumiu perante a Escola, o compromisso de ajudar-me com
aulas particulares em casa onde morávamos e fui admitida no 3º ano. Com essa
complementação em Português e Matemática, modéstia a parte, fiquei nos
―trinques‖ em completa sintonia com colegas!
Um detalhe! Foi-me apresentado um livreto por nome ―tabuada‖ que continha
as operações fundamentais para ―decoreba‖. Ao decorar os fatos da multiplicação
não me contentava, de ―apenas decorar resultado‖, como por exemplo: 6 x 9 = 54 ou
o inverso 9 x 6. E eu questionava à tia o significado do resultado:
__ É nove vezes seis coisas?
__ É seis vezes nove coisas?
Ela respondia:
__ Não se preocupe! Decore!...
Bem mais tarde, já professora, a Didática foi modificada, fui orientada a
―explicar‖ a tal tabuada, ora transformada em fatos fundamentais. Aos alunos
deveria ser explicado o ― porquê ‖ de 6 x 9 e 9 x 6 através de desenhos para
completa compreensão. E assim essa modernidade ficou boa!
No CIC estudei a partir do 3º ano primário; cursei de 1ª a 4ª série ginasial e
1º, 2º e 3º do Curso Normal – específico para formar professora para ministrar
aulas nas séries iniciais.
Tendo como fundadora Madre Carmen
Salles de Jesus, o CIC se nos apresentava como
escola de orientação religiosa cristã católica.
Era Casa de Ensino de ótima referência
pedagógica. Era, entretanto, muito rigorosa em
se tratando de sexo: homem x mulher. Ali,
enquanto dirigia o Estabelecimento Irmã muito
conservadora, esta e suas companheiras
concepcionistas passavam para nós, alunas, a
impressão de que o ―sexo masculino‖ o ―homem‖
não era pessoa de Deus... Era quase um
demônio... Ou o próprio!...
O pudor, sentimento de decência, de
recato tinha de estar presente em cada aluna e
em todas, através da vestimenta, do linguajar e
dos atos. A presença do Pároco Monsenhor Messias Bragança reforçava tais
exigências.
35
Com o passar do tempo, ocuparam os cargos dirigentes madres menos
arcaicas, menos conservadoras, que imprimiram evoluções nos costumes da Casa.
Madre Presentação, após término de jogo de vôlei por nós disputado, fez a
seguinte observação:
__ A disputa acontecia morna, sem estímulo. Mas, a partir do momento em
que vários rapazes adentraram o recinto, os dois times jogaram muito melhor e a
vibração das torcidas foi ensurdecedora!
Acontecera o resgate do ―sexo masculino‖! Os ―homens‖ puderam estar junto
às ―mulheres‖... Também eram agora filhos de Deus e feitos à Sua Imagem e
Semelhança!
Certa vez, fomos jogar Voleibol na cidade de Pratápolis e utilizamos a
Mogiana – Companhia Ferroviária que ligava Passos a Campinas, nessa época
acompanhadas por nossos respectivos namorados. Eu, então, tive a agradável
companhia de meu namorado da época, exatamente o rapaz com quem me casei e
com quem convivi de 14 de setembro de 1952 a 19 de fevereiro de 2008. As núpcias
realizaram-se em 04 de dezembro de 1958. Formamos um casal bem estruturado,
feliz e sonhador. Entre namoro, noivado e casamento passamos 56 anos juntos. São
nossos filhos: Emílio Carlos, Lílian, Paulo Henrique, Brenda e Marcele. E netos:
Tarcísio, Tássio, Tarik; Laís e Bruna; Túlio, Paula e Júlia; Hermano, Arthur e
Lorenzo.
Filhos e filhas; netos e netas... Noras e genros... Jóias preciosas nossas! De
Antônio Porto e Maria Luíza.
Junho / 2009
36
Meu ursinho de Natal
Isa Maria Marinho Parenti
Em minha casa, papai e mamãe
colocavam o nome dos filhos como nome dos
avós maternos e paternos.. O meu irmão
mais velho se chamava Pedro Antonio, junção
dos nomes do avô paterno e materno. Meu
irmão mais novo tinha o nome de papai: José
Marinho Junior.
Meu nome Isa Maria é o nome da minha mãe
e das minhas duas avós: Maria Barbanabé e
Maria Inês.
Nasci no sábado da Aleluia em 08-04em São Sebastião do Paraíso. Papai e Mamãe
ficaram muito felizes com a minha chegada,
pois os primeiros filhos eram homens e eu
cheguei para ser a companheira de
mamãe.Meu padrinho José Amaral era o dono
da Rádio e anunciou o meu nascimento com uma crônica sobre as crianças.
Quando eu era criança gostava muito de brincar de fazer comidinha, pois
tinha um fogãozinho com as panelinhas. Também brincava de passar anel, barra
manteiga, pique de esconder, maré, amarelinha, pular corda. Essas brincadeiras
ainda são diversões das crianças, nossos netos , até hoje, apesar dos brinquedos
eletrônicos e da TV e computadores.
Brincar é deixar sempre marcas de um passado feliz em nossas vidas. Um
passado que não volta mais, mas que as lembranças e as recordações jamais serão
esquecidas em nossa memória, como este caso que se passou no Natal.
Eu ainda acreditava que Papai Noel existia e escrevi-lhe uma carta com ajuda
de mamãe. Eu queria ganhar de presente um urso de pelúcia que eu tinha visto num
encarte do jornal.
Chegou a noite de Natal... Papai Noel entrou pela chaminé e me deu de
presente o urso que eu estava sonhando. Foi a maior felicidade. Durante o dia
brinquei com ele junto com minhas primas que também ganharam os seus presentes
Passados alguns dias eu estava procurando o meu urso para brincar e não estava
encontrando.O meu irmão me contou que o irmão mais velho tinha cortado a barriga
do meu urso e colocado comida dentro. Chorei muito , pois tivemos que jogá-lo fora.
Que irmão malvado: acabou com a minha alegria.
Como sempre toda história tem um final feliz. No dia do meu aniversário
papai e mamãe me deram de presente outro urso e uma boneca, mas até hoje eu me
lembro do meu primeiro urso!!
37
Retalhos de minha vida
Sebastião Gonçalves de Oliveira ( Neném)
Nasci numa fazenda que tinha o nome de Borrachudo , no município de São
Gotardo. Lá eu fiquei até os sete anos.Mudamos para a cidade para irmos á escola,
mas depois de dois meses mudamos para uma fazenda no município de Campos Altos
e lá não tinha escola.De lá, mudamos para uma fazenda de nome Bentos do lado do
Rio São Francisco onde moramos por 3 anos.
Quando mudamos para Passos voltei para a escola Noturna o Mobral , da
época.Tirei o diploma de quarta série e fui para São Paulo, depois para Peixotos e
Furnas onde trabalhei como técnico de eletrônica, rádio e TV. Comprei um sítio
depois de doze anos de trabalho. Em 1992 aposentei-me e vim morar em Passos.
Participo da ginástica e da Unabem.Graças a Deus.
A inocência de minha infância!!
Ivani Silveira
Aquela velha história que minha mãe dizia falando que quando ela estava
grávida a espera de meus irmãos,ela dizia que a cegonha os trazia!!...
E a gente na pura inocência acreditava !!
Então na hora do parto meu pai nos levava para casa de um de meus tios onde
passávamos a noite,então voltamos no dia seguinte já com um dos meus 08 irmãos
lá!!! E quando a gente chegava era uma festa só,com meu pai soltando foguetes!!
Era bem engraçado!!! Guardo essa história de minha infância na roça!!!
38
O vôo das borboletas
Antonia Creuza Soares Martins
Numa manhã de primavera na Fazenda
Bonsucesso nasceu Antonia Creuza. Fui
acolhida pelos meus familiares com
muito amor e carinho. Passei minha
infância ao lado de meus pais e irmãos,
avós , tios e primos.Foram momentos
maravilhosos onde a família se reunia
todas as tardes em volta de um fogão
de lenha para tomar um café com
leite com biscoitos, bolos, todos feitos
em casa.
Meus primos e eu gostávamos de tomar banho no riacho que passa nos fundos da
fazenda , subir nas árvores, tomar leite no curral e apanhar gabirobas, gaiteira e
outros frutos do campo.
Eu particularmente passava horas e horas com uma peneira apanhando borboletas
que se instalavam no esterco onde as vacas pastavam. Depois eu as soltava para que
elas voassem para bem longe... Aí eu ficava pensando: amanhã elas retornarão e vou
poder apreciá-las de novo.
Quando chegou a idade escolar meu pai contratou uma professora para todos ,
incluindo os filhos dos empregados, que naquela época era como se fossem da
família, completamente diferente de hoje. Assim cursei até a segunda série do
curso primário na fazenda e depois meu pai me matriculou no colégio das irmãs hoje
conhecido como CIC.
Naquela época não tínhamos automóvel , então meu pai me levava a cavalo até a casa
dos meus tios onde eu colocava o uniforme e seguia para o colégio com minhas
primas.
Tempos depois mudamos para a cidade onde pude curtir minha adolescência. Foram
tempos inesquecíveis freqüentando as casas dos meus amigos e amigas onde
fazíamos brincadeiras dançantes.
Conheci meu primeiro namorado, hoje meu marido aos 15 anos. Namoramos e
noivamos durante 8 anos e nos casamos após a sua formatura em Ribeirão Preto.
Tivemos três filhos maravilhosos. Devido ao trabalho do meu marido nos
mudamos para Três lagoas no Mato Grosso quando eu tinha ainda só duas
filhas.Quando nasceu meu terceiro filho estávamos morando em Belo Horizonte
onde meu marido teve oportunidade de maior crescimento na profissão.Lá
formamos nossos três filhos em cursos superiores, cada um na sua especialidade na
área da saúde.Fizemos isso com muita luta, mas também com muito orgulho e
alegria.
39
Nossas filhas se casaram, eu me aposentei e posteriormente meu marido
também.Voltamos para a terra natal : Passos onde compramos um apartamento
onde resido até hoje. Construímos uma casinha de campo no lugar onde eu nasci, na
terra que herdei de meus pais.
Hoje , quando estou na minha fazendinha fico admirando e relembrando de
tudo, principalmente das borboletas amarelas que eu brincava e de quando eu as via
com os olhos inocentes e sonhadores de uma criança.Agora tenho o olhar de uma
mulher forte, mas que continua sonhando com um mundo melhor mesmo depois
deter perdido um filho maravilhoso aos 27 anos e sempre agradecendo a Deus por
ter convivido com ele durante esse tempo.
Continuamos firme na fé, no amor a Deus, este Pai que me deixa sempre com um
sorriso nos lábios quando olho as borboletas sobrevoando os jardins da fazenda.
40
Memórias
Darcy Moraes
Minha infância foi cercada por mamãe , papai, vovó Cota,Carola, Tia Nega e a
Tiana babá de todos os netos da vovó Carola.
No ano de 1943 lembro-me vagamente quando saímos em viagem pela
Mogiana. Fomos a Poços de Caldas, São Paulo , Santos e Aparecida do Norte.Eu fui
sempre muito levada e meu irmão Paulo muito comportado. Em uma das
fotografias dessa viagem papai estava zangado comigo porque, imagine só, eu
estava puxando os cabelinhos vermelhos do Paulo. O que me acalmava era chupeta,
por isso nas fotografias estou sempre com a chupeta pendurada ao pescoço.
Papai nos levava à piscina, hoje CPN e a espoleta da Darcy com 4 anos já
era um peixinho. Através do esporte eu descarregava toda a minha energia.
Em 1944 mamãe teve um bebê e por ser levada demais fui para a escola
Estadual Dr. Wenceslau Braz com seis anos.
A partir desta época , eu me tornei mais levada ainda. Brigava com os
coleguinhas, batia no Foguinho( meu irmão Paulo) e roubava frutas nas casas dos
vizinhos que eram a D. Nair do Sr. Jorge Agelune e minha madrinha Eva do Dr.
Clóvis Soares Maia.
No terceiro ano primário aconteceu um caso interessante. Sebastião
Stockler Mezencio, meu namoradinho levou uma pedrada na testa e o Dr. Rômulo
Leitão deu-lhe cinco pontos.
Nesta época os alunos do grupo tinham que fazer exame de fezes para
prevenir verminoses. No dia de entregar a latinha com meu cocô saí toda alegre,
sentindo-me importante com o embrulho do exame. Ao passar pela carteira do
Tiãozinho ele pôs as mãos em concha em volta da boca e me disse:
―cagona‖.Imaginam a minha revolta e humilhação.Quando a aula terminou e ao
chegar em frente á mercearia do Sr. Chafik uma pedrada certeira feriu o
Tiãozinho. Meu irmão entregou-me de bandeja ao Wanor que zangou muito comigo
e levou o Tiãozinho para levar os pontos.
Tiãozinho, até pouco tempo atrás morava no prédio onde eu resido e
batíamos muitos papos e , muitas vezes rindo passava a mão na cicatriz que ainda
tem na testa como quem queria dizer: ― que belo carinho eu ganhei da minha
namoradinha!‖
Pelos anos de 1952, Darcy continuava levada, agora de uma maneira mais
rebelde. Namoradeira, matava aula e ia se esconder, imaginem vocês onde? No
cemitério e junto com minhas amigas.
Falar em cemitério, os velórios eram nas casas das pessoas. Os homens
acompanhavam os enterros de terno e gravata. Ao chegar com o morto na esquina
do Sr. Guerra ( hoje é a esquina da rua Dois de Novembro com Rio Branco) era uma
debandada geral . Homens e mulheres fugiam para não enfrentar a subidinha e
chegar ao cemitério e nós meninos contávamos para todo mundo o nome dos
fujões.
41
Em 1953 eu estudava no CIC e comecei a namorar o Arildo que estudava no
Wenceslau.Quantas vezes eu matei aula para ver o Arildo, da sacada da casa do Sr.
Chico Rico ( pai da Neuza, Luzia, Sebastião e Dalton melo) . Da sacada eu gritava:
Arildo eu te amo. Ele subia na carteira, pois tinha uma tábua impedindo e visão da
rua e respondia aos gritos: ―Eu também te amo‖Nesta época eu tinha treze anos
e o Arildo tinha 12. Jonilda Maldi era a professora dele e dava-lhe reguadas , mas
ele não descia da carteira.
42
Traumas de infância.
Nenzinha Cardoso
Tive uma infância relativamente feliz ao lado de meus pais e irmãos. Sou a quarta
filha na ordem decrescente dos seis filhos.
Meu pai faleceu quando eu tinha dez anos e foi muito difícil para todos nós superar
tamanha tristeza... Como ele nos fez falta.
Morávamos na fazenda e naquele tempo os costumes e valores eram bem
diferentes.
Aos domingos íamos passear nas casas SOS fazendeiros vizinhos. Íamos a cavalo ou
caminhando quando era mais perto.
Numa dessas visitas tivemos que atravessar uma pinguela no Ribeirão Grande que
estava muito cheio devido às chuvas. Estávamos em três pessoas: minha mãe , eu e
minha irmã ainda de colo. Quando já estávamos atingindo a outra margem do
Ribeirão minha mãe escorregou e caiu naquela correnteza tão forte. Ela boiou e
tornou afundar. E eu ali chorando
desesperada sem saber o que fazer...
De repente ela boiou novamente
segurando minha irmã e eu consegui
puxá-la pelos cabelos
tirando-as
daquela correnteza. Depois do susto e
que voltamos para casa nunca mais
consegui esquecer aquela cena: minha
mãe afogando e segurando minha irmã
nos braços agarrada à sua sombrinha...
Fiquei deveras apavorada e até hoje não
consegui vencer este acontecimento
que marcou muito minha infância.
Os anos se passaram, mas o trauma
continua vivo em minha memória. Até
hoje tenho medo de água e quando estou fazendo algum passeio de algum veículo
aquático, de balsa, canoa ou navio não me sinto muito bem. Quando vou dormir meu
sono é povoado e pesadelos e acordo mais cansada do que antes de me deitar...
43
Da terra de Tancredo para Passos, com muita alegria
Aparecida Rodrigues Costa
Meu pai alcançou um milagre quando
teve um grande corte no pé, graças a Deus
não teve perigo e então ele escolheu meu
nome.
Nasci na roça pelas mãos de parteira.
Foram dois dias de chuva forte e minha mãe
disse que o corregozinho que passava no
fundo da casa virou um rio. Não teve nem
como minha vó chegar... Só depois de 4 dias
que tudo se acalmou e minha avó pode me
conhecer.
Meu pai perdeu muitas criações nesta
enchente. Tinha um povoado chamado Formiguinha que tinha uma capela, duas
vendas e um campo e futebol. Neste povoado é que se comprava querosene, fósforo
e sal e trocavam-se os mantimentos.
Lá ficamos durante seis anos e formávamos uma família com 6 pessoas
quando mudamos para a cidade morar com minha bisavó numa casa que tinha 13
cômodos grandes.. Era como se fosse uma chácara, tinha até uma moita de bambu,
chiqueiro, granjinha de galinha e frangos, hortinha de hortaliças, muitas bananeiras,
batata doce. Tinha também um forno de assar quitandas e um paiol no quintal . Era
tudo com muita fartura. No fundo do quintal tinha uma serraria onde a gente
pegava restos de madeira para queimar.
Entrei na escola aos seis anos no Grupo Escolar Inocêncio Amorim que existe
até hoje.
Em frente à nossa casa foi construída a Santa Casa de Misericórdia com
ajuda do meu tio que era o prefeito Tio Antonio Pio.
A primeira vez que vimos um avião de perto foi um helicóptero quando
Tancredo Neves foi visitar a cidade. A gente se alinhava na Praça da Matriz da
Imaculada Conceição e foi quando vi o Aécio Neves, bebezinho dentro de um
cestinho com sua avó Risoleta Tolentina, esposa de Tancredo, nascida em Claudio.
As terras de Anita Tolentino, mãe de Risoleta, fazia divisa com as terras de
meu bisavô, Manoel de Moura, onde minha mãe ( Tereza Maria Rodrigues) nasceu e
se casou, aos dezessete anos com Benone Ferreira Rodrigues hoje com 62 anos de
casados e morando em Passos. Há 37 anos eu amo a cidade de Passos.
Tirei o diploma de primário aos doze anos fui para roça do meu tio chamada
Bocaina. Lá comecei a lecionar para os filhos dos colonos da fazenda e moradores
de perto. Lá tinha moinho d’água, pomar, campo de futebol, cemitério, grupo
escolar, vendas e um povoado perto onde tinha a capela do Sr. Bom Jesus da
44
Bocaina. Um senhor amigo de meu pai pediu para que eu desse aula também na
capela de São Vicente de Paulo onde as crianças eram pobres e famintas. Eu fui e,
nas férias, ia para Divinópolis fazer cursos para passar para as minhas crianças.
Preparei-as para entrar no terceiro ano na escola onde estudei e elas passaram.Só
havia um quadro e, numa mesma sala tinha alunos de todas as séries: eram as salas
multi-seriadas. Estava com 14 anos e ia a cavalo para a escola. Então meu pai
comprou uma motoneta para mim pois eu era uma adolescente responsável.Aos 16
anos nos mudamos para Divinópolis. Continuei na roça para dar aulas e na sexta
feira ia para a cidade. Conheci meu marido nesta época. Ele tinha 27 anos. Eu jovem,
bonita e obediente, só fazia o que meu pai desse ordem. Namoro só com minha mãe
ou irmã por perto até o dia do casamento civil. Era pureza total. Foi um ano e oito
meses de namoro e noivado . Casei-me no dia 15 de abril de 1967. Hoje são 42 anos
de casados, 4 filhos e oito netos. Na época em que nos casamos pagávamos aluguel e
hoje temos 4 casas e muita saúde.
Estou na Unabem desde fevereiro curtindo a vida com professores e colegas. Bom
e gostoso demais!!!
45
A menina que nasceu para dançar...
Ilda Izabel Jacob Rocha
Nasci em 24 de fevereiro de 1946. Naquele tempo só tinha
parteira e morávamos num sitio que fica próximo da zona da
Mata, em Minas Gerais. No dia em que eu nasci
chegaram a minha casa dois sanfoneiros para
visitar minha família. Com o passar dos
tempos eles me viam e perguntavam: esta é a
menina da sanfona?
Eu era muito fofinha e grande com os cabelos
encaracolados. Fui crescendo e com o tempo fui
trabalhar na roça muito cedo, para ajudar meus
pais, porque minha família era muito
grande. Éramos 10 filhos, sete mulheres e
três
homens.
Nós
mulheres
precisávamos fazer as vezes dos meus
irmãos que eram pequenininhos.
Meu pai nos presenteava, nos fins de ano, com
as melhores roupas. E nos fins de semana nos
levava aos bailes, pois ele adorava dançar era
um pé de valsa, eu o admirava muito!.
O que mais marcou minha infância foi
acreditar em Papai Noel. Naquele tempo tínhamos muitos sonhos. Eu queria ser
freira e estudar, mas não tinha como abandonar meus pais na roça, porque
tínhamos que ajudar. Era muito difícil estudar naquela época, pois tinhamos que
mudar de cidade e morar na casa de outras pessoas, mas meu pai não aceitava essa
hipótese.
Fui crescendo e sempre fui vaidosa, cuidava sempre dos meus cabelos. Era
rezadeira de terço nas famílias e isso perpetua até hoje.
Namorar era muito gostoso porque era muito difícil, só pegava na mão e longe dos
pais. Beijar nem pensar e também não sabia como fazer.
Casei-me, mas meu marido não me levava para dançar. Apesar de ser muito, mas
muito ciumenta, nunca dancei com outra pessoa.....somente com meu marido. Hoje
danço sozinha ou com uma amiga e faço apresentações de danças!
Em 2008 fomos fazer uma apresentação de dança em Jandira uma cidade que fica
no estado de São Paulo. Fomos concorrer com dez cidades e ficamos em segundo
lugar nas apresentações. Ficou muito marcado na minha vida, pois amo dançar!!
O meu maior orgulho são meus dois filhos:Anderson e Emerson. E aminha vida são
meus netos : Vinicius, Paloma, Amanda e Heitor. Esta é a história da minha vida...
46
Minha trajetória de Aeromoça
Maria de Lourdes Lopes
Voltando a momentos vividos em minha infância só tenho boas lembranças.
Filha de família humilde, tive uma mãe com espírito de luta incansável. Com 11 filhos,
procurava sempre compreender e atender a todos, respeitando as individualidades
de cada um.
Seus conselhos eram maravilhosos, falava com doçura, era sempre nossa
melhor amiga e muito carinhosa com todos.
Eu era moradora do Bairro da Penha e gostava de deitar-me em um batedor
de tábua (usado para bater as roupas que eram lavadas, ajudava arrancar as
sujeiras) de onde observava os aviões que voavam e afirmava em voz alta: ‖Um dia
eu vou voar‖.
―A palavra é o verbo e o verbo cria‖. Minha trajetória profissional tornou-se
um verdadeiro conto de fadas, só que real, em meu relato só existe a verdade e é
apenas pequena parcela, do que realmente vivi.
Ao relatar fato por fato, escreveria um livro que para muitos seria irreal,
julgariam ser fantasias criadas por minha mente, mas em meu relato nada aumento,
tenho minha consciência tranquila da veracidade dos fatos relatados.
Com 16 anos de idade, eu era meiga e graciosa, fui trabalhar em São Paulo, na
Editora Abril, cujo diretor e proprietário era o Sr. Roberto Civita, que se encantou
com minha espontaneidade. Em uma comemoração natalina me vesti de Papai Noel,
desci de helicóptero dentro da Editora Abril para entregar os presentes aos filhos
dos funcionários. Chamei atenção pela desenvoltura e graça com que me apresentei
e com isso fui convidada imediatamente por ele para trabalhar na Alitália,
Companhia Internacional de Aviação, indo então para Itália, começando aí minha
carreira de aeromoça. O diretor após casar-se, convidou-me para morar em sua
residência como Baby Sister para regularizar minha situação no país. Fiquei 35 anos
fora do Brasil, vinha uma vez por mês visitar minha família. O motivo de ser
contratada como Baby Sister foi para poder garantir minha estadia fora do Brasil.
Meus patrões, pessoas de altíssimo poder aquisitivo, viajavam
constantemente para todos os países organizando os roteiros dos escritórios
internacionais de sua companhia aérea e lá estava eu junto; virei também figura
internacional. Sendo Baby Sister representava o nome de uma família,
acompanhando as crianças em suas atividades. Com isso fiquei conhecendo
milionários do mundo inteiro, viajei em navios, aviões, iates, carros que nem sei
dizer as marcas e modelos.
Conheci Onassis e Jaqueline Onassis, que eram donos de uma fábrica de
navios e de poços de petróleo, tendo o prazer de desfrutar em muitas e muitas
viagens de suas companhias.
Através de meus patrões fui apresentada a figuras importantíssimas como:
Ermírio de Morais, Abílio Diniz (dono da rede de supermercado Pão de Açúcar
47
desfrutava com eles dos momentos de lazer, participando do convívio familiar de
todos).
Conheci Verediana Pádua ( ex proprietária do Hotel Jequitimar, hoje
propriedade de Silvio Santos. Localizado na praia de Pernambuco, no Guarujá, no
braço do mar).
Conheci e tive também o prazer de tirar uma foto com o nosso querido Rei
Pelé,Almocei com Airton Senna em Mônaco, Conheci de perto a Rainha Elisabeth, ela
circulava tranquilamente entre as mesas do restaurante o qual frequentávamos.
Outra figura inesquecível, John Paul Belmondo, ator de cinema francês,eu o conheci
de perto almoçando várias vezes em sua companhia no hotel em que hospedávamos.
Richard Clayderman, pianista famoso, tocou especialmente para mim em um hotel na
Itália, por Nome Aquicisana, no Brasil significa:Aqui Se Sara.
Viajei também para os Estados Unidos com os proprietários da Usina
Itaiquara, fui junto para cuidar de suas crianças. Eles iam para divulgar e vender
seus produtos. O alemão judeu Vernner Vezemberg, dono da fábrica de chocolates
Copenhagen, também fez parte de meu círculo de convivência.
São muitas e muitas as pessoas importantes com quem convivi, na verdade
conheci quase que o mundo inteiro, sem nenhuma pretensão de aparecer. Relutei em
relatar esses episódios de minha vida, temerosa de ser desacreditada. Quantas
vezes ao entrar no Vaticano e ao visitar a Ilha de Capri dizia batendo em mim:
Maria de Lourdes, Maria de Lourdes é você mesma que está aqui?
Essa é uma parte de minha aventura profissional. Saudosamente meus pensamentos
levaram-me a reviver momentos felizes e inesquecíveis. Agradeço ao Pai a
oportunidade que tive, foi um presente que recebi do Criador, porque na verdade
não tinha condições financeiras nem para sonhar; atrevi-me, sonhei e o meu sonho
tornou-se realidade.
48
Determinada e Trabalhadeira
Maria da Penha Borges
Eu nasci quando estava começando a
segunda Guerra Mundial em 1943.
Mamãe estava grávida. Papai e ela foram a pé
para uma roça no Carmo do Rio Claro pois a
minha avó era parteira e eu sou a neta mais
velha.
Logo após o parto, mamãe ficou grávida
outra vez e, no parto, a criança morreu. Eu,
então, que não tinha desmamado direito,
continuei a mamar na minha mãe até os sete
anos de idade. Só desmamei porque tinha que
ir para escola. Quando eu estava com sete
anos, nasceu minha outra irmã .Eu sofri muito , pois além de perder o lugar eu tive
que ir para a Escola da D. França: o Grupo Escolar Dr. Wenceslau Braz. Eu tinha
muito medo da D. França, mas mesmo assim estudei lá até o terceiro ano primário.
Mudamos para a roça e terminei o quarto ano primário na zona rural. Fui estudar
no internato do Carmo do Rio Claro onde papai e mamãe iam me visitar. Era muito
bom suas visitas, pois matavam minhas saudades
Nas férias era uma delícia, pois mamãe fazia minhas roupas de passear.
Graças a Deus tive um pai muito bom e uma mãe muito brava, mas também
boa. Dizem que puxei pra ela porque sou determinada, batalhadora e muito
trabalhadeira.
Casei-me e só tive um filho. Ele é muito bom para mim e posso dizer que não
tenho nora, pois ela é uma segunda mãe e os meus netos são meus tesouros.
49
Equipe Branca
Maria Luiza Machado Porto
Vida : maior Bem
Até Um certo tempo atrás aqui em
Passos
Ninguém peNsava no viver do idoso
ConsiderAdo um ser ultrapassado
SuBtraído de sua dignidade
Muitas vEzes ao esquecimento relegado
Em Momento crucial da existência
Fabio Pimenta Esper Kallás
Presidente do Conselho diretor da FESP
Fez soar um grito de esperança
Em apoio á causa do viver do idoso
Pleiteado por Silvia, Leila e Laura
Que, num trabalho hercúleo, empreendido,
Cresceu, frutificou e tomou forma
Assim foi criada a Unabem
Estruturas apresentadas em legislação
Deram sentidos ao ideal das professoras
Garantindo o sucesso da empreitada
Afinal o idoso é um eterno aprendiz
Quando a lição chega a ele com carinho
E, nossa escola é aprazível , é mágica!
Faz do passado recordar... sem esquecer
Que o porvir está à espera...
E que , o importante, é viver o hoje...
O declínio biológico é perceptível
E não se pode dele se afastar
Mas não convém a ele se entregar
Coragem! á frente está o caminho
A ajuda a Unabem está presente
Em tudo que aqui se realiza
Nas tardes de terças e quintas feiras
Pessoas abnegadas e mui amigas
Não medem esforços e a todos cativam
Doação de bondades e atenções
Em total desprendimento! Com Amor!
Vale a pena frequentar a Unabem!
viver é aqui incentivado
Não importa se fato traiçoeiro
Reviravolta produziu na caminhada
O que vale é o esforço pra seguir, vencer;
Ficar parado no caminho? Nunca!
O saber
no lixo atirando
Faz a vida mais leve se tornar
Lamentações
m que se levou um dia
Resgatem-se emoções então vividas
Pois isto é belo e confortante.
A Unabem pede que assim se faça
Entretanto não se fixe no passado.
Importante é o presente: o hoje,
Do tempo bo
o agora,
d
A ser vivida neste exato instante
Idade boa, qual será que é?
É a que se vive! Com e na Maturidade!
A dá iva que se tem é a própria vida
50
Unabem - Equipe Azul
Yara Oliveira
Uma bem a sua vida
Com alegria, oração e prazer
Adicione sempre cultura
E sinta como é bom saber viver
Faça tudo sempre muito bem
Com carinho paz e amor
Respeite a todos também
Como nos ensinou o Senhor
Tire da vida um tempinho
Fuja de casa , da cozinha, do marido
Corra para a escola, Faculdade!
Encontre gente, sorrisos, amizade
Faça Unabem , o curso da Maturidade
Viva ! E não tenha a vergonha de ser feliz!
Unabem – Equipe Verde
Ignês Oliveira Sousa
Idealizada por uma mente inspirada
Criou, projetou, estabeleceu normas,
Venceu obstáculos, atreveu-se ... virou realidade
A Universidade Aberta da Maturidade!
De maneira espontânea, respeitando individualidades,
Resgatando gradativamente valores adormecidos,
Partilhamos conhecimentos, experiências de vida
Somos sementes lançadas, germinando descontraídas.
Orientadoras amigas, enérgicas, compreensivas,
Induzindo-nos a melhor qualidade de vida,
Com expressões corporais, cantando, dançando
Os corações rejuvenescem desinibidos.
Habilmente exploram energias atrofiadas
Resgatam tesouros, tornam-nos valentes e audazes.
Com carinho cultivam a semente lançada
Como jardineiros levam-nos a explorar a melhor idade.
Lembranças e emoções transformam-nos em guerreiros
Experiências e fatos são contados com trejeitos,
Partilhando, cultivamos vocações de companheiros
No nosso modo de ser ... um ser por inteiro.
Retiramos nossas máscaras de vencidos,
Companheiros falantes, alegres, amorosos, inibidos,
Solidários, convivemos em grupo e ... de repente,
Aprendemos a nos querer bem, bem diferente.
Somos sementes de inspiração com qualidades.
Alunos da Unabem com muito orgulho.
Nossos rastros fragmentados serão estradas
Para que outros caminhem mais seguros.
51
COMPANHEIRA DA UNABEM
Ignês Oliveira Sousa
Cada pessoa é um ser à parte não havendo duas iguais, porque Deus não se
repete,. Deus bem que poderia ter repetido outra D. Nenzinha, Existem pessoas que
aprendemos a querer bem de maneira especial, simplesmente por estar próximo a
nós.
Ela é uma figura meiga! Quando chegou à Unabem acompanhada de Silvia, sua
filha, já me despertou um carinho especial. Já a conhecia de muito, mas sem ter
oportunidade de estar perto, e como é gratificante estar próxima a ela nas aulas.
Seu modo de ser e estar me passa calma, paz, exemplo, doçura.
Ela caminha rápido, rapidinho, como uma pessoa que tem pressa, que sempre
teve pressa e que assumiu e cumpriu dignamente suas obrigações. Conheço-a pouco,
mas o que descubro a cada instante de convivência em sala é o bastante para sentir
carinho e admiração por ela.
Com os quase oitenta anos vividos é animada, dinâmica, participativa. Foi uma
graça na festa junina vê-la chegar caracterizada com seu vestido de chita, meio
tímida querendo sentir-se à vontade.
Gosto de sentar-me na carteira anterior a dela, sua presença me transfere
energias carinhosas. Ela é sempre pajeada por Darci, que a todo instante demonstra
a sua amizade e o quanto lhe quer bem. Darci, que também é uma pessoa especial,
chega à sala já corre a guardar sua carteira. Guarda na sua frente para D.
Nenzinha, e a de traz para Lulute, outra companheira centrada, amiga, por quem eu
sinto verdadeira admiração.As três formam a meu ver um trio admirável.
Darci sempre que tem oportunidade é a maior propagandista do pé de
moleque que D. Nenzinha faz, sua propaganda é tão perfeita que faz a gente ficar
com água na boca.
Acho uma gracinha vê-la chegar com sua sacolinha, sempre com quitandinhas
e biscoitos, acompanhada por Darci e Lulute, e na hora do lanche querem que todos
partilhem; vale a pena assistir com que insistência quer que todos façam parte da
degustação.
Ah! É bom demais assistir quando o cansaço ou a impaciência de ficar parada
pesa, e ela tira aqueles cochilos gostosos e eu gosto de vigiar esses momentos, essa
fuga rápida, quem sabe seu espírito jovem nesse instante de abandono está fazendo
peraltagens, viajando no mundo encantado dos sonhos, deixando que o corpo
descanse tranquilamente o repouso merecido.
D. Nenzinha tem o olhar manso, às vezes cansado, mas olhar de mãezinha
amorosa, olhar confiante, absorvendo a essência de tudo ao seu redor. Vive os
momentos na sala com postura de aluna comportada, derrubando barreiras e
preconceitos, com respeito pela vida, participando com pleno vigor, principalmente
as aulas de expressão corporal da Nadia.
Aprendi a amá-la e admira-la em silêncio, só observando-a e quero fazer dela
exemplo do quero ser se chegar aos meus oitenta anos. Ela absorve cada momento
52
na sala com seriedade tornando-se ―normas‖ para os mais jovens. Ela é uma
referência de vida. Fala sem presunção, sem pedantismo. Comunica-se com
sabedoria e humildade. Observa tudo simplesmente, quando não assimila o que a
professora fala, rápido pergunta á colega mais próxima, sempre Darci ou eu.
Ela usa o coração para ir em frente, demonstrando ser católica fervorosa, já
me contou de suas peregrinações às igrejas. Com quem? Com a Darci é claro!
Quando a observo seu olhar distante, cansado, sinto vontade de afagá-la.
Como não me comover com sua figura carismática? Seu olhar sempre
acompanhado da doçura de seu coração.
D. Nenzinha é como uma flor do campo: aparenta fragilidade!!! Ah, tente
arrancar suas raízes, não conseguirá, porque suas raízes se infiltraram tanto na
terra e se fortificaram, e na sua aparente fragilidade é forte, muito, muito forte.
53
Memórias e Escola
Homenagem aos 100 anos do Grupo Wenceslau Braz e outras escolas que
deixaram saudades...
Iraydes Visibelli Lopes
Eu estudei no grupo Wenceslau e tive três professoras: D. Cotinha ( irmã da Dona França), depois
D.Amélia Julia da Silva e por fim D. Emília Leal.Todas foram muito boas , mas a mais especial foi a
D. Emília que levava os alunos fracos para sua casa para dar aulas de reforço( ... ) O professor
Jair(diretor) era rígido , mas muito brincalhão(... ) Nós tínhamos aula de Educação Física com D.
Nair Le Senechal, de Trabalhos Manuais com D. Isaura e D. Iaiá Stockler.
Naquele tempo era diferente de hoje. Os alunos chegavam e cada classe fazia a fila para fazer o
culto à bandeira. Na área ficava um aluno com a bandeira e um de cada lado, como guarda. A gente
cantava o hino à Bandeira, o hino Nacional e depois entrávamos para a sala.
Na diretoria tinha um palco porque a gente tinha sempre apresentação de teatro. Sempre tivemos
excursões :falava pic-nic. As sopas eram muito boas. De segunda à quinta era de sal e sexta feira
era de doce.A sopa custava cem réis o prato. A cantineira dessa época era Dona Antonia , um anjo.
Quando sobrava sopa ela nos chamava, na hora do recreio, para tomarmos mais, mas só para os
alunos mais amigos dela...
Naquele tempo usava receber diploma no quarto ano. Nós tivemos até baile no Passos Clube. Eu saí da
escola em 1938, mas tenho o meu diploma até hoje , bem guardado.
―Uma vez fizemos um piquenique na ponte do Rio Surubi. Chegando lá, fomos brincar e tomar
lanche. Eu entrei numa canoa amarrada na margem, para lanchar. Vieram dois alunos: o Carlos Jabace
e o José Pimenta e desamarraram a canoa e eu saí rodando, rio abaixo. O diretor Prof. Jair queria
me salvar, mas ele não sabia nadar, então minha irmã pulou na água, nós duas nadamos até a margem
e tudo acabou bem.‖
Ana dos Reis Bueno.
―A chegada era às 7 da manhã. Íamos para o pátio, formávamos a fila, cantávamos o Hino Nacional e
não podíamos olhar para trás. ― O Wenceslau era a melhor escola que tinha naquele tempo .Lembrome da D. Tereza , Dona Nenêm Bretas, Elza Costa e Dona Yayá Stokler que marcou muito a minha
vida. Ela tinha muita amizade com gente, era professora de bordado.(...) No terceiro ano perdemos
duas colegas que foram nadar no poço da linha do trem. Meus colegas mais levados pulavam a janela.
Do grupo eles eram: Quinto Piantino, Dito Malimpensi.‖
Maria José Suhadolnik Oliveira
―Minha professora foi D. Emília Leal: justa, amável e a classe era muito organizada. Na chegada
podíamos brincar no pátio de pular corda, de roda, de pique. Tocando o sino enfileirávamos ao lado da
professora. A vice diretora D. França comandava a entrada, em silêncio. O lanche era levado de casa
ou tomava-se sopa de fubá de doce ou de sal. Minha mãe estudou no Wenceslau, todos os meus
irmãos e todos os meus filhos‖.
54
Maria Luiza de Pádua Machado Porto
―Fiquei sabendo por depoimentos de pessoas mais antigas que , à época em que era moçoila,
usavam-se cortes de cabelo de forma generalizada ( igual para todas as mulheres). D. França e sua
irmã viajaram a passeio a uma cidade grande (...) e ao retornaram produziram um auê : haviam
cortado os cabelos dentro da modernidade e foi um verdadeiro escândalo!‖
―Francina de Andrade soube impor-se como indicava seu temperamento decidido (...) e exercia a
supervisão de forma sui generis: o zelo para com o rendimento escolar dos alunos era a meta, a
tônica de todo o trabalho que desenvolvia na escola sob sua direção. Trabalhei ali de 1962 a 1970 e
pude comprovar o quanto a casa de ensino marcou positiva e profundamente a comunidade de Passos.
Ensino de primeira e acompanhamento rigoroso, em todos os sentidos. (...) Ministrar aulas sentada?
Jamais!‖
As aulas iniciavam às 07h30min, com término às 12 h. Iniciávamos às 7 com os alunos fracos,
gratuitamente e a partir das 11 h, D. França, sempre inovando ousadamente,dispensava os fortes e
trabalhávamos com os fracos, revesadamente com Matemática e Português. O resultado era
fantástico , gratificante.‖
Quando faleceu Dr. Wellington Brandão o professorado de Passos acompanhou o
sepultamento que saiu da Rua Formosa para o cemitério. Um grande alarido feminino fez-se ouvir
durante o trajeto. No dia seguinte com os alunos enfileirados no pátio, nós professores do
Wenceslau ouvimos um sermão daqueles pelos desrespeito com a família do doutor e com o próprio.
Maria do Rosário Caetano Esper:
Maria das Neves, Maria Henriqueta Parachini, Mary Claire de Carvalho e Maria José Vieira
Leal foram as minhas primeiras professoras. Além de meus pais eram as pessoas mais sábias. Foi
com elas que aprendi a relacionar com os colegas, era na escola que nossos horizontes se abriam.
Era tudo muito rígido. Na entrada e na saída para o corredor as crianças tinham que se orientar
pelas lajotas pretas e brancas que compunham o piso. Ficava-se na lajota preta e pulava- se a branca.
Era tudo muito rígido tínhamos que ser muito obedientes.
Chegava-se à escola e entrava-se em silêncio e sem bagunça. Logo tocava o sino para entrar na sala
de aula onde o silêncio era absoluto: ouviam-se moscas voarem.
Quando ia se aproximado a hora do recreio uma cantineira ia de sala em sala para saber quantos
alunos iam tomar sopa que cada dia da semana era de um sabor: de fubá e doce e de sal, macarrão
com legumes e outras mais. Quem fosse tomar sopa levantava a mão. Os que eram da caixa ( que não
podiam pagar) eram anotados e os que pagavam iam entregando o dinheiro para a servente.Era uma
sala por vez para ir ao banheiro .O piso era de lajotas pretas e brancas, então cada criança ficava
sobre uma lajota e pulava a outra. Cada criança tinha que levar o seu copinho para tomar água .Pouco
tempo depois era o recreio: aí sim era uma loucura!
Em 1958 Passos comemorou o seu centenário e eu estava cursando a 4ª série primária.
Fomos a primeira turma a cantar o Hino à Passos acompanhados por nossa professora de música, D.
Laura Gonçalves, ao piano. O Wenceslau era tido como exemplo. Exemplo de asseio ,de organização,
de melhor ensinamento e aproveitamento dos alunos. Todas as professoras queriam lecionar no
Wenceslau: era o passaporte para voar mais longe.‖
Aparecida Rodrigues Costa
― Na cidade de Claudio eu tive duas professoras: D. Hortênsia que me deu um anelzinho e D. Elenice.
Eu era preguiçosa para estudar e tomei várias bombas. Dizia ao meu pai que a professora não sabia
ensinar. Então ele falou que eu podia sair , mas para lavar, passar, cozinhar, como minhas irmãs.
Fiquei dois dias com ele no meu pé. Quando terminava o serviço ele me mandava carregar lenha de
55
uma serraria porque tinha fogão de lenha na nossa casa. Carreguei toda a lenha e encostei-a na
parede. Quando terminei, meu pai derrubou tudo dizendo que não estava bem encostado que era
para eu refazer e ainda carregar serragem. Aquilo foi caindo dentro de minha roupa e com o calor
foi coçando o corpo todo...No outro dia, quando eles levantaram eu já tinha saído para a e escola.‖
Marlene Maia da Nóbrega
Estudei no Grupo Cristiano Machado em Itaú de Minas e minhas professoras mais queridas foram:
Dona Carmela Malagute, Dona Nadir, Dona Cidoca Andrade Rosa, Dona Enéa. A sopa era feita por
Dona Floripes que era um amor de pessoa. Eu morava na casa de uma amiga e colega da escola e nossa
amizade era muito grande. Ela foi embora para Goiás há mais ou menos uns 20 anos .Este ano depois
de 48 anos nos reencontramos em Goiânia: foi muito alegre e divertido.
Maria Aparecida de Souza
Estudei na escola São José de V. Zelina em São Paulo Era um colégio de freiras, uma Irmandade
americana. Irmã Dolores,Irmã Gilda, Dona Lília, D. Rafaela, D. Rosa Maria, D. Célia e Irmã Marcelina
que era a diretora. Era uma pessoa de estatura pequena e eu me lembro bem de tão brava que era.
Naquela época usava bater nas crianças e ela batia mesmo. Só de ouvir a voz dela todo mundo
tremia...
Íamos esperar as professoras no ponto de ônibus, queríamos pegar as mãos delas, levávamos sempre
flores para agradá-las: uma festa!
Os momentos de que eu mais gostava eram os momentos cívicos que eram muito respeitados.
Sempre tínhamos visitas de políticos, autoridades e o ritual de desfile, bandeiras, hinos , etc.
Na adolescência que foi bom. Tínhamos um clube com salão de baile dentro da escola, imagine!!Tudo
era muito divertido .Traje? Sempre a rigor. Namorar? Só depois dos dezoito anos. Mas aí é que se
tornava divertido, pois havia muita coisa escondida tanto dos pais e quanto das freiras.Tenho
saudade!
Glória Rodrigues Soares.
Estudei no Grupo Escolar Cristiano Machado em Itaú de Minas.
Gostava de todas as minhas professoras: D. Amélia, Dona Haydée, Dona Carmélia. Todas eram muito
queridas. D. Haydée foi minha professora do segundo e terceiro ano por isso talvez fosse a mais
querida: era muito delicada e carinhosa. D. Carmelia era muito boa, mas muito brava, quase não
sorria...
Uma situação engraçada que presenciamos foi o desrespeito de um aluno que só aprontava de nome
Joãozinho. Ele colocou, na gaveta da professora, uma pererequinha .Imagine o susto que ela levou ao
abrir a gaveta. Foi um riso total na classe e o resultado? Todos sem recreio.
Maria Lúcia Fabri Esper.
Estudei na Escola Cel Lourenço Belo em Capitólio.A diretora era Dona Tereza Rattis que fez muito
por Capitólio, uma mulher à frente do seu tempo. Foi a primeira mulher vereadora da região e muito
influente na política.
Maria Inês Reis Moraes de Vasconcelos
Estudei no Colégio Imaculada Conceição. Madre Gonzaga me ensinou a bordar, Madre Assunção foi
uma grande amiga. Lembro-me de quando nós roubávamos manga das freiras. Enquanto uma
conversava com a Madre Refúgio outras jogavam pedra nas mangas verdes , para comer escondido.
Era bom demais!!
56
Luzia Soares de Oliveira Maia.
Estudava no internato do Colégio Imaculada Conceição um regime muito severo. Até para sair à rua
tínhamos que andar em fila, sem dar atenção aos que passavam. Na época de cajamanga
combinávamos no Colégio Imaculada Conceição de fazermos uma roda em volta da freira que
supervisionava as internas no recreio. Enquanto isso duas saíam e uma jogava pedra e a outra
apanhava as frutas. Como eu era a melhor na pontaria sempre era designada para fazer o pior!.
Saíamos com os bolsos da saia cheios de cajamanga para comer escondidas no banheiro. Um dia a
freira desconfiou e lá fomos nós para o castigo que foi um mês sem recreio fazendo cópias de tudo
que ela mandasse!
Ana Maria Chicaroni Busti
Estudei na Escola Coronel José Candido em São Sebastião do Paraíso.
Foi um tempo bom e de muitas alegrias. Quando chegava o mês de outubro era um tal de querer
arrumar armário e arquivo da professora , só pra passar de ano!
Meus filhos estudaram no Wenceslau , na época da D. França, que tinha as melhores professoras e
disciplina igual não tinha!
Maria José de Carvalho Coelho
Estudei no Colégio Imaculada Conceição. Madre Maria Luiza era a diretora. Fui até artista, nesta
época. Participai de teatros, dancei balé. Depois fui para o Colégio Santa Úrsula em Ribeirão Preto.
Nara Salgado Maia
Estudei no Grupo Escolar Melo Viana em Cássia. Eu era muito briguenta. Briguei com três de uma só
vez!!!
Irayde Neves Cardoso
Estudei na Escola Cuba no Rio de Janeiro, Ilha do Governador. Minhas melhores professoras foram:
D. Iolanda, muito querida, era como uma mãe. D. Franklina muito rabugenta e D. Lídia muito delicada.
Eu sempre fui a menor da turma então me apelidaram de ―pingo no i‖ e eu ficava prosa e era muito
engraçado porque eu achava o máximo ser chamada de ―pingo no i‖.Bons tempos e quantas saudades!!
57
“ Viver e não ter a vergonha de ser feliz ! “
Sebastião Wenceslau Borges
Passos, setembro / 2009
Um abraço aos professores,
Funcionários e diretores
Do curso UNABEM
Pois com colegas sábios,
Artistas e escritores
O saber vai mais além!
O tempo parece faminto
Tudo quer, tudo devora
Por causa da tecnologia
Ninguém mais conta história
Hoje escrevo histórias
Que vêm do meu pensamento
História tirada da memória
Saudade de um bom tempo
No tempo que já se foi
Ou naquele que vai chegar
Num velho carro de boi
Ou num barco a navegar!
Tal qual moinhos de vento
Vejo a vida a memoriar
Nas asas do pensamento
Encontro a arte de pensar!
Ladeiras, ruas e estrada
Na poeira os pés no chão
Relíquias da cidade amada
nos sonhos do meu coração!
― Chão de estrelas ― em serestas
Vou sentindo , vou sonhando
Verdes, matas e florestas
E um trem de ferro apitando!
A idade chegou com o aprendizado
A terceira idade nos trouxe sabedoria
Temos mais vivencias e experiências
Hoje vivemos na Unabem com mais alegria
Por vezes no intuito de crescer
Divina sensação do caminhar
De tuas histórias venho aprender
Onde o homem pode chegar!
No rosto algumas marcas aparecem
Sinal que temos muitas histórias a contar
Com o surgimento da Unabem na nossa vida
A vontade de aprender mais veio aumentar
Hoje me sinto um aprendiz
Sem a vergonha de ser feliz
De ti me fiz refém :
Salve, salve a UNABEM !

Documentos relacionados

Páginas de vida

Páginas de vida Mezêncio, na rua do Colégio.Lá também tinha um enorme quintal com suas frondosas árvores.E estando na cidade, o melhor programa era mesmo ir ao cinema. Aos domingos, depois de ter ido à missa, podí...

Leia mais