Revista Arautos do Evangelho

Transcrição

Revista Arautos do Evangelho
Número 89
Outubro 2010
II Romaria
Nacional a
Aparecida
© Office Central de Lisieux
Santa Teresinha
do Menino Jesus
aos 22 anos
de idade
Para mim a oração é um impulso do coração, um
simples olhar para oCéu, um grito de gratidão e amor
no meio da provação como no meio da alegria.
(Santa Teresinha do Menino Jesus)
SumáriO
Escrevem os leitores ����������������������������������������
Flashes de
Fátima
Admiração:
caminho para Deus (Editorial) . . . . . . . . . . . . .
4
......................
Orações de ontem,
de hoje e de sempre –
À Rainha da Paz
Director:
Manuel Silvio de Abreu Almeida
Conselho de redacção:
Guy Gabriel de Ridder, Juliane
Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto
Blanco Cortés, Mariana Morazzani
Arráiz, Severiano Antonio
de Oliveira
Editor:
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Com a colaboração
da Associação
Privada Internacional de Fiéis
de Direito Pontifício
Arautos do Evangelho
Impressão e acabamento:
Pozzoni - Istituto Veneto
de Arti Grafiche S.p.A.
Via L. Einaudi, 12
36040 Brendola (VI)
Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos,
desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redacção. O conteúdo das matérias assinadas
é da responsabilidade dos respectivos autores.
A voz do Papa –
Um programa de vida
para cada Bispo
......................
........................
6
Comentário ao Evangelho –
Admirar, eis a solução de incontáveis problemas nossos
......................
32
5
Boletim da Campanha
“O Meu Imaculado Coração Triunfará!”
Ano XII  nº 89 - Outubro 2010
Os anjos falam?
10
37
A palavra dos Pastores –
Glória de Deus
e serviço do próximo
......................
38
Aconteceu na Igreja e
no mundo
......................
40
“Proclamar Jesus Cristo
na Ásia hoje”
......................
18
História para crianças...
O principal doador
......................
Santo André Bessette –
O taumaturgo de Montreal
......................
22
46
Os santos de
cada dia
......................
48
É belo crer na luz!
Arautos no mundo
Membro da
......................
Associação de Imprensa de
Inspiração Cristã
Tiragem: 40.000 exemplares
26
......................
50
E screvem
os leitores
Escravos da graça de Deus
Prestigiosa revista
Uno-me com muita alegria à celebração jubilar desta prestigiosa revista Arautos do Evangelho, que relata a história de seu movimento eclesial. Agradeço o testemunho sobre
Dom Bosco, em suas páginas, e lhes
asseguro minha oração fraterna.
Dom Tomás González Morales, SDB
Bispo Emérito
Punta Arenas – Chile
Do Comando Militar do Sudeste
Ao agradecer a gentileza do envio da revista Arautos do Evangelho,
expresso os meus cumprimentos pelo padrão e sempre interessante conteúdo da mesma. Por oportuno, solicito a atualização de meu endereço.
Gen. Ex. João Carlos Vilela Morgero
Comandante Militar do Sudeste
São Paulo – Brasil
Muito boa ideia aproximarse dos pequenos
Recebam minhas saudações e
cumprimentos pela obra maravilhosa que realizam, a qual acompanhamos através da Revista e dos demais
envios que nos fazem. Chamou-me a
atenção a seção História para crianças. É uma muito boa ideia aproximar-se dos pequenos, pois em nossos dias existem tantos problemas
para a juventude, e é preciso saber
endireitar os caminhos desde o começo para, mais à frente, terem um
bom porvir. As histórias são muito bonitas e as leio com minha filha,
que se encanta ao folhear a Revista quando chega à nossa casa. É importante continuar elaborando mais
deste material para a juventude. Não
são os jovens o futuro da sociedade?
Adriana Benítez Benavides
Latacunga – Equador
4      Flashes de Fátima · Outubro 2010
São já alguns contatos que tenho tido com os Arautos do Evangelho e confesso sair sempre edificado
com todos vós, com a beleza da ordem, da disciplina, do respeito manifestado pelas coisas de Deus. Este é
um carisma vosso, pôr em ordem alguma desordem que ultimamente foi
se gerando na Igreja, com a falta de
respeito pelo sagrado. Tratamos a
Deus por “tu”, enquanto vós tratais a
Deus por Rei e Senhor e equilibrais a
Barca de Pedro. A vossa veste revela a luta do cristão para travar o bom
combate da Fé, e o asseio com que
vestis e a vossa austeridade mostram-me como, de fato, sois “escravos”,
no bom sentido, da graça de Deus.
Pe. Zeferino de Almeida Barros
Peso da Régua – Portugal
Sob o manto protetor de
Nosso Senhor Jesus Cristo
Fiquei encantado com a revista Arautos do Evangelho, cuja edição de nº 70 me foi presenteada por
um seminarista de Moçambique, em
um voo que fizemos juntos, entre São
Paulo e Salvador. Gostei muito da
matéria escrita por Arão Naif Mazive,
na referida edição. Ele foi muito feliz
quando comparou o soberbo Monte
Kilimanjaro, na Tanzânia, com: “a esperança de que um dia todos os povos
da África e do mundo inteiro possam
estar unidos sob o Manto Protetor de
Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Paulo Torres
Porto Seguro – Brasil
Qualidade das matérias
apresentadas
Queria parabenizá-los pela Revista. Recebi meu primeiro exemplar e realmente fiquei impressionada pela qualidade das matérias
apresentadas, pela veracidade das
informações e, de modo especial,
pela capacidade intelectual dos edi-
tores. Portanto, achei conveniente apresentá-la a todos os membros
do grupo de apostolado que estamos
montando, bem como a amigos, indicando-os para receberem a proposta de assinatura da revista Arautos do Evangelho. Espero ter a oportunidade de, devagar, ir apresentando os benefícios que tal edição possa
trazer ao nosso grupo.
Carla Valéria Amorim Horsth
Ipatinga – Brasil
Amor e dedicação à Santa
Igreja e ao Santo Padre
Sou seminarista da Diocese de
Dourados e curso Filosofia na Arquidiocese de Campo Grande. Venho, por meio deste e-mail, agradecer-lhes pelo amor e dedicação
que demonstram à Santa Igreja e
ao Santo Padre. Chegou às minhas
mãos o DVD produzido por ocasião
de sua Revista nº 100. Nele pude ver
quão grande é a missão que assumem e com que amor a realizam. A
Igreja, hoje, precisa de muitos testemunhos como este.
Bruno Florindo
Via e-mail – Brasil
Instrumento de catequese
e evangelização
O que primeiro me atrai nesta revista é a capa, sempre tão chamativa, e
a invocação de Nossa Senhora, da contracapa. Mas é o Comentário ao Evangelho, de Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, que nos leva a conhecer mais a Nosso Senhor Jesus Cristo
e a amar nossa Santa Igreja Católica
Apostólica Romana.
Nossa Senhora os ajude para esta belíssima revista ser difundida, cada vez mais, e alcançar muitos lares
e instituições, sendo instrumento de
catequese e evangelização, e contribuindo para a formação das famílias.
Henrique Leite
Joinville – Brasil
Editorial
T
89
Número
2010
Outubro
a
II Romari
a
l
a
n
io
c
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N
a
id
c
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Apa
Segunda Romaria
Nacional a Aparecida do Apostolado do Oratório, em
14 de agosto p.p.
(ver p. 26-27)
Admiração:
caminho para Deus
udo o que há no universo é, de alguma forma, reflexo do Criador. Em seu incontável número e rica diversidade, se apresentam as criaturas diante de nós
para que, admirando-as, possamos considerar de algum modo a sabedoria
divina e assim nos aproximarmos dela (S. Tomás de Aquino, Contra Gent.,
II, c. 2, n. 1,2). Ademais, a admiração também “produz no coração dos homens a reverência para com Deus” (Ibid., n. 3).
Essa admiração pode ser definida como o estado de alma pelo qual uma pessoa contempla algo, superior ou inferior a ela, e experimenta sentimento de encantada aprovação e simpatia, mas não para aí: transcendendo, vê naquilo o reflexo do sagrado, ou seja, de Deus criador.
Acontece, entretanto, que às vezes custa ao homem estar disposto a admirar.
Não deseja abrir inteiramente o coração, pensando ser mais deleitável permanecer submergido em seu egoísmo. Mera ilusão, porque, mais cedo ou mais tarde,
ele vai se enfarar de si mesmo, pois sua autocontemplação acabará por lhe revelar
suas insuficiências e defeitos.
Pelo contrário, a vida da pessoa admirativa nunca é tediosa ou triste, uma vez que
seus focos de contemplação situam-se fora dela, permitindo-lhe peregrinar de encanto em encanto pelos reflexos de Deus nesta Terra (Contra Gent., III, c. 62, n. 9).
Mas há graus de admiração, porque nem tudo a merece na mesma intensidade.
Acima de todas as criaturas nesta Terra, só os homens são feitos à imagem e semelhança de seu Criador. E entre eles, nem todos estão do mesmo modo permeados pelas perfeições divinas.
A admiração por algo que seja mais nobre e elevado que nós tem um efeito altamente benéfico para nossas almas, tirando-nos de nossa pequenez e nos elevando, para fixar-nos no que nos é superior. Enlevar-se por aquilo que é digno de ser
admirado nos causa alegria, nos transforma, abre nossos corações à influência do
que é bom, e ajuda-nos a superar os dramas tão frequentes em nossos dias. Melhor ainda, nos assemelha a quem é o objeto do nosso enlevo.
Ocupando um lugar único e inigualável, acima de todas as meras criaturas,
Maria Santíssima é digna de nossa admiração sem limites. Os próprios anjos, tão
superiores a Ela em natureza, mas tão inferiores em graça, devotam-lhe um profundo enlevo.
Se esses espíritos superiores admiram e amam Nossa Senhora como sua Rainha, o
que dizer de nós, que, ademais, não somos apenas súditos d’Ela, mas também filhos?
Admirar e amar ternamente Nossa Senhora é encontrar alívio para as nossas dificuldades, orientação em nosso caminhar e um porto de bonança em meio às borrascas de nossa existência. É, enfim, aproximarmo-nos de Jesus, que nos ouvirá com
muito mais bondade e atenção se notar nossa atitude carinhosa e apaixonada por
sua Santíssima Mãe. ²
(Fotos: Sérgio Miyasaki)
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      5
A voz do Papa
Um programa de vida
para cada Bispo
A missão do Bispo não pode ser entendida com a
mentalidade da eficiência e da eficácia. Sua tarefa exige
que ele seja pai, irmão e amigo dos fiéis a ele confiados.
C
tre os novos Pastores das diversas
Igrejas particulares.
Saúdo de modo cordial também
o Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, e manifesto o meu reconhecimento a quantos colaboram
para a organização deste encontro.
Tenha diante dos olhos o
exemplo do Bom Pastor
Segundo uma tradição muito significativa, vós realizastes em primeiro lugar uma peregrinação ao túmulo do Apóstolo Pedro, que se conformou com Cristo Mestre e Pastor,
até à morte, e morte de cruz.
L'Osservatore Romano
aríssimos Irmãos no Episcopado!
Estou muito feliz por me
encontrar convosco, Bispos
de recente nomeação, provenientes de
vários países do mundo e reunidos em
Roma para o congresso anual promovido pela Congregação para os Bispos.
Agradeço ao Cardeal Marc Ouellet as amáveis palavras que me dirigiu também em nome de todos vós;
e desejo formular-lhe especiais bons
votos no início do seu serviço como
Prefeito deste Dicastério: venerado
Irmão, estou feliz que Vossa Eminência começa com esta bonita experiência de comunhão eclesial en-
O Cardeal Marc Ouellet, novo Prefeito da Congregação para os Bispos,
saúda Bento XVI
6      Flashes de Fátima · Outubro 2010
A este propósito, são esclarecedoras algumas expressões de São
Tomás de Aquino, que podem constituir um verdadeiro programa de vida para cada Bispo. Comentando a
expressão de Jesus no Evangelho de
João: “O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas”, São Tomás observa: “Ele consagra-lhes a sua pessoa,
no exercício da autoridade e da caridade. Ambas são necessárias: que
elas Lhe obedeçam e que Ele as
ame. Com efeito, a primeira sem a
segunda não é suficiente” (Exp. sobre Jo 10, 3).
A Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium esclarece: “O Bispo, enviado pelo pai de
família a governar a sua família, tenha diante dos olhos o exemplo do
Bom Pastor, que veio para servir e
não para ser servido (cf. Mt 20, 28;
Mc 10, 45) e para dar a própria vida pelas ovelhas (cf. Jo 10, 11). Escolhido dentre os homens e sujeito
às fraquezas humanas, pode compadecer-se dos ignorantes e dos que
erram (cf. Hb 5, 1-2). Não se recuse a ouvir os súditos, de quem cuida como verdadeiros filhos e a quem
exorta a que cooperem ativamente
consigo. Tendo que prestar contas
a Deus pelas suas almas (cf. Hb 13,
17) ele deve, com a oração, a pregação e todas as obras de caridade, ter
cuidado tanto deles como daqueles
L'Osservatore Romano
Bento XVI com os Bispos participantes do seminário de atualização promovido pela Congregação para a
Evangelização dos Povos, na Sala dos Suíços do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo
que ainda não pertencem ao único
rebanho, os quais ele deve considerar como se lhe tivessem sido confiados pelo Senhor. Devendo, como o
Apóstolo Paulo, dar-se a todos, esteja sempre pronto para a todos evangelizar” (n.27).
Uma missão de “fidelidade à
Igreja e à pureza da sua fé”
A missão do Bispo não pode ser
entendida com a mentalidade da eficiência e da eficácia, pelo que é necessário prestar atenção primariamente àquilo que deve ser levado a
cabo, mas é preciso ter sempre em
consideração a dimensão ontológica, que se encontra na base da dimensão funcional.
Com efeito, o Bispo, pela autoridade de Cristo que o reveste, quando está sentado na sua Cátedra é colocado “acima” e “diante” da comunidade, enquanto ele é “para” a comunidade, à qual dedica a sua solicitude pastoral (cf. João Paulo II,
Exortação Apostólica pós-sinodal
Pastores gregis, n.29).
A Regra Pastoral do Papa São
Gregório Magno, que poderia ser
considerada o primeiro “diretório”
para os Bispos da História da Igreja, define o governo pastoral como
“a arte das artes” (i, 1.4), e esclarece
que a potestade de governo “é bem
regida por quantos, com ela, sabem
opor-se às culpas, e com ela sabem
ser iguais aos outros... e dominam os
vícios, não os irmãos” (II, 6).
Fazem ponderar as palavras explicativas do rito da entrega do anel,
na liturgia da Ordenação episcopal:
“Recebe o anel, sinal de fidelidade
e, na integridade da fé e na pureza da vida, tutela a Santa Igreja, Esposa de Cristo”. A Igreja é “Esposa
de Cristo” e o Bispo é o “guardião”
(episkopos) deste mistério. Portanto,
o anel é um sinal de fidelidade: trata-se da fidelidade à Igreja e à pureza da sua fé. Por conseguinte, ao
Bispo é confiada uma aliança nupcial: a da Igreja com Cristo. São significativas as palavras que lemos no
Evangelho de São João: “O esposo
é aquele a quem pertence a esposa;
mas o amigo do esposo, que está ao
seu lado e o escuta, exulta de alegria
ao ouvir a voz do esposo” (Jo 3, 29).
O conceito de “conservar” não
quer dizer apenas manter aquilo
que já foi estabelecido — embora
este elemento nunca possa faltar —
mas na sua essência inclui também o
aspecto dinâmico, ou seja, uma tendência perpétua e concreta ao aperfeiçoamento, em plena harmonia
e em adaptação contínua às novas
exigências derivadas do desenvolvimento e do progresso do organismo
vivo, que é a comunidade.
Chamado a ser “pai, irmão e
amigo”, e não mero organizador
São grandes as responsabilidades
de um Bispo para o bem da diocese,
mas também da sociedade em geral.
Ele é chamado a ser “forte, decidido,
justo e tranquilo” (Congregação para
os Bispos, Diretório para o ministério pastoral dos Bispos Apostolorum
successores, n.44), para um discernimento sapiencial das pessoas, das realidades e dos acontecimentos, exigido pela sua tarefa de ser “pai, irmão
e amigo” (cf. ibidem, n.76-77) ao longo do caminho cristão e humano.
Trata-se de uma profunda perspectiva de fé, e não simplesmente
humana, administrativa ou de cunho
sociológico, aquela em que se insere
o ministério do Bispo, que não é um
mero governante, nem um burocrata ou um simples moderador e organizador da vida diocesana. São a paternidade e a fraternidade em Cristo que conferem ao Superior a capacidade de criar um clima de confiança, de acolhimento e de afeto, mas
inclusive de franqueza e de justiça.
A este propósito, são particularmente esclarecedoras as palavras
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      7
de uma antiga oração de Santo Aelredo de Rievaulx, abade: “Tu, dócil Senhor, puseste alguém como eu
à frente da tua família, das ovelhas
do teu aprisco (…) para que se pudesse manifestar a tua misericórdia
e revelar a tua sabedoria. Aprouve
à tua benevolência governar bem a
tua família mediante um homem assim, de tal forma que se se pudesse
ver a sublimidade da tua força, e não
a do homem, para que não se venha
a gloriar-se o sábio na sua sabedoria, nem o justo na sua justiça, nem o
forte na sua força, pois quando eles
governam bem o teu povo, és Tu que
o manténs, e não eles. E portanto
não a nós, Senhor, não a nós, mas ao
teu nome dá glória” (Speculum caritatis, PL CXCV).
Estimados Irmãos, enquanto
vos confio estas breves reflexões,
invoco a salvaguarda maternal de
Maria Santíssima, Regina Apostolorum, e concedo de coração a cada um de vós, aos vossos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos seminaristas e aos fiéis das
vossas dioceses uma especial Bênção Apostólica. 
(Discurso aos Bispos de recente
nomeação, 13/9/2010)
Um Papa apaixonado pelo Senhor
Na base de qualquer atividade evangelizadora, deve haver sempre uma íntima união
pessoal com Cristo, a qual precisa ser cultivada e aumentada a cada dia.
“Renovar tudo em Cristo”
G. Felici
H
oje, gostaria de meditar
acerca da figura do meu
Predecessor São Pio X,
cuja memória litúrgica será celebrada no próximo sábado, salientando algumas das suas características que podem ser úteis também para os Pastores e os fiéis da nossa época.
Pároco, Bispo e patriarca
Giuseppe Sarto, este é o seu nome, nasceu em Riese (Treviso) em
1835, de uma família de camponeses, e depois dos estudos no Seminário de Pádua foi ordenado sacerdote com 23 anos de idade. Primeiro foi vice-pároco em Tombolo, depois pároco em Salzano, em seguida
cônego da Catedral de Treviso, com
o encargo de chanceler episcopal e
diretor espiritual do Seminário diocesano.
Nestes anos de rica e generosa
experiência pastoral, o futuro Pontífice demonstrou aquele profundo
amor a Cristo e à Igreja, a humildade e simplicidade e a grande caridade para com os mais necessitados,
8      Flashes de Fátima · Outubro 2010
São Pio X
que constituíram características de
toda a sua vida. Em 1884 foi nomeado Bispo de Mântua e em 1893 Patriarca de Veneza. No dia 4 de agosto de 1903 foi eleito Papa, ministério que aceitou com hesitação, porque não se considerava à altura de
uma tarefa tão importante.
O Pontificado de São Pio X deixou um sinal indelével na História da Igreja e caracterizou-se por
um notável esforço de reforma, resumida no mote Instaurare omnia in
Christo, “Renovar tudo em Cristo”.
Com efeito, as suas intervenções envolveram os vários âmbitos eclesiais.
Desde o começo, dedicou-se à
reorganização da Cúria romana;
depois, deu início aos trabalhos para a redação do Código de Direito
Canônico, promulgado pelo seu sucessor Bento XV. Sucessivamente,
promoveu a revisão dos estudos e
do percurso de formação dos futuros sacerdotes, fundando também
vários seminários regionais, dotados de boas bibliotecas e professores preparados.
Outro ramo importante foi o
da formação doutrinal do Povo de
Deus. Desde os anos em que era
pároco, tinha redigido pessoalmente um Catecismo e, durante o Episcopado em Mântua, trabalhara a
fim de que se chegasse a um Cate-
cismo único, se não universal, pelo menos italiano. Como autêntico
Pastor, compreendera que a situação nessa época, também devido ao
fenômeno da emigração, tornava
necessário um Catecismo ao qual
cada fiel pudesse fazer referência,
independentemente do lugar e das
circunstâncias de vida. Como Pontífice, preparou um texto de doutrina cristã para a Diocese de Roma,
o qual depois se difundiu em toda
a Itália e no mundo. Este Catecismo, chamado “de Pio X”, foi para
muitas pessoas um guia seguro na
aprendizagem das verdades relativas à fé, pela sua linguagem simples, clara e específica, e pela eficácia da sua exposição.
Fiel à tarefa de confirmar
seus irmãos na Fé
Pontifício Instituto Bíblico. Os últimos meses da sua vida foram funestados pelos indícios da guerra. O
apelo aos católicos do mundo, lançado a 2 de agosto de 1914, para manifestar “a dor acerba” da hora presente, era o clamor de sofrimento do
pai que vê os filhos pôr-se uns contra os outros. Faleceu pouco tempo
depois, no dia 20 de agosto, e a sua
fama de santidade começou a difundir-se imediatamente no meio do
povo cristão.
Caros irmãos e irmãs, São Pio X
ensina-nos a todos que na base da
nossa obra apostólica, nos vários
campos em que trabalhamos, deve
haver sempre uma íntima união pessoal com Cristo, que se há de cultivar e aumentar dia após dia. Eis o
cerne de todo o seu ensinamento, de
todo o seu compromisso apostólico.
Somente se formos apaixonados pelo Senhor, seremos capazes de conduzir os homens a Deus, de os abrir
ao seu Amor misericordioso e, deste modo, de abrir o mundo à misericórdia de Deus. 
L'Osservatore Romano
(Audiência Geral, 18/8/2010)
L'Osservatore Romano
Ele dedicou uma atenção notável à reforma da Liturgia, de modo particular da música sacra, para
levar os fiéis a uma vida de oração
mais profunda e a uma participação
mais completa nos Sacramentos. No
Motu Proprio Tra le sollecitudini, de
1903, primeiro ano do seu Pontifica-
do, ele afirma que o verdadeiro espírito cristão tem a sua fonte primária e indispensável na participação
concreta nos mistérios sacrossantos
e na oração pública e solene da Igreja (cf. AAS 36 [1903], 531).
Por isso, recomendava a aproximação frequente dos Sacramentos,
favorecendo a recepção diária da
Sagrada Comunhão, bem preparados, e antecipando oportunamente
a Primeira Comunhão das crianças
mais ou menos aos sete anos de idade, “quando a criança começa a raciocinar” (cf. S. Congr. de Sacramentis, Decretum Quam singulari: AAS 2
[1910], 582).
Fiel à tarefa de confirmar os irmãos na Fé, São Pio X, diante de algumas tendências que se manifestaram no âmbito teológico, no final
do século XIX e no início do século XX, interveio com determinação,
condenando o “Modernismo”, para
defender os fiéis de concepções errôneas e promover um aprofundamento científico da Revelação, em
harmonia com a Tradição da Igreja.
Em 7 de Maio de 1909, com a Carta Apostólica Vinea electa, fundou o
Nos meses de verão, as audiências pontifícias tiveram lugar no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo.
Na foto, Audiência Geral de 18 de agosto
Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana.
A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      9
Comentário ao Evangelho – XXXI Domingo do Tempo Comum
Admirar, eis a solução
de incontáveis problemas
O egoísmo nos traz a amargura e a infelicidade. Como Zaqueu,
subamos com coragem e sem respeito humano a “árvore da admiração”
a tudo o que é verdadeiro, bom e belo, e teremos
a alegria de receber Jesus em nossa alma.
I – O homem tem necessidade
de admirar
A alma aspira
inelutavelmente ­
chegar
à Causa
Primeira de
tudo, a partir
das causas
segundas
O final do século XIX acompanhou assombrado o ingente esforço de uma menina norte-americana que marcaria a História. Acometida de grave doença aos 18 meses de idade, Helen Adams Keller (1880-1968) perdeu completamente a visão e a audição. Ficou, assim, reduzida a um triste isolamento, sem possibilidade
de conhecer o exterior, a não ser pelo tato, olfato e paladar.
Essa trágica e silenciosa noite de sua mente poderia ter se perpetuado por toda a vida, se
não fosse o providencial encontro com uma genial educadora, Anne Mansfield Sullivan, que
conseguiu ensinar-lhe a linguagem das mãos, o
alfabeto braile e, por fim, a falar fluentemente.
Depois de indizíveis dificuldades, Helen chegou a dominar o francês e o alemão, com boa
pronúncia. Cursou faculdade, percorreu o mundo dando palestras e escreveu livros. Anos a fio,
ela desenvolveu um quase inacreditável labor,
impelida pela ânsia de se relacionar com os outros, movimento natural de todo ser humano,
dotado de instinto de sociabilidade.
Ora, assim como pelo heliotropismo as plantas crescem à procura da luz, também as almas
necessitam abrir-se à contemplação das criaturas
10      Flashes de Fátima · Outubro 2010
para, a partir delas, subir até o Criador. Não foi
diferente com Helen Keller, a qual crivava a sua
mestra com perguntas como estas: O que faz o
sol ser quente? Onde estava eu antes de vir para
minha mãe? Os passarinhos e os pintos saem do
ovo: de onde vem o ovo? Quem fez Deus? Onde
está Deus? A senhora já viu Deus?1
Estas são questões que revelam como a alma
aspira inelutavelmente chegar à Causa Primeira
de tudo, a partir das causas segundas. Pois há em
nós uma inata tendência para Deus — que, por
analogia, poderíamos chamar de teotropismo —
a qual nos leva a fazer correlações, transcendendo da escala natural à sobrenatural. Nesse sentido, ensina São Tomás: “permanece no homem, ao
conhecer o efeito, o desejo de saber que este efeito tem uma causa e de saber o que é a causa. Esse
desejo é de admiração e causa a inquirição”.2
Ora, como tudo quanto há no universo espelha
em alguma medida o Criador, o movimento ordenado da alma é deixar-se atrair pelos reflexos de
verdade, beleza e bem, presentes nas criaturas.
Assim, todos devemos procurar tornar nossa
alma muito propensa à admiração, de forma a,
deparando-nos com algo que é elevado, santo,
nobre ou simplesmente reto, nos encantarmos
e remontarmos à Causa suprema. E, com toda a
evidência, essa admiração cabe, sobretudo, em
Mons.
nossos
Sérgio Hollmann
“Jesus e Zaqueu” - Basílica
de Paray-le-Monial (França)
João Scognamiglio Clá Dias, EP
relação ao Homem-Deus, à sua Mãe Santíssima
e à Santa Igreja.
II – Um publicano chamado Zaqueu
“Naquele tempo,1 Jesus tinha entrado em
Jericó e estava atravessando a cidade”.
Nosso Senhor Se dirige a Jerusalém para sofrer a Paixão. Ainda pouco antes de chegar a Jericó, o tinha anunciado aos seus discípulos pela terceira vez, mas eles “nada compreenderam
de tudo isso: o sentido da palavra lhes ficava encoberto e eles não entendiam o que lhes era dito” (Lc 18, 34).
Pelo contrário, os seguidores de Jesus, entre
eles os próprios Apóstolos, julgavam estar Ele a
caminho da Cidade Santa para fazer um grande
milagre, pelo qual Israel seria libertado do jugo romano.
É nesse clima de expectativa e otimismo que
o Divino Mestre vai ser recebido em Jericó.
Ódio dos judeus pelos publicanos
“Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de
impostos e muito rico”.
2
a  Evangelho  A
“Naquele tempo, 1 Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. 2 Havia ali
um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos
cobradores de impostos e muito rico. 3 Zaqueu
procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia porque era muito baixo. 4 Então, ele correu
à frente e subiu numa figueira para ver Jesus,
que devia passar por ali. 5 Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: ‘Zaqueu,
desce depressa! Hoje Eu devo ficar na tua casa’.
6
Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com alegria. 7 Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: ‘Ele foi hospedar-Se na casa de um
pecador!’. 8 Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens
aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver
quatro vezes mais’. 9 Jesus lhe disse: ‘Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este
homem é um filho de Abraão. 10 Com efeito, o
Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido’” (Lc 19, 1-10).
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      11
United States Library of Congress
Inteligentes, sagazes e dotados de
forte senso organizativo, os romanos
instituíram como cobradores de impostos, em Israel, funcionários judeus. Por
conhecerem melhor seus conterrâneos,
estavam estes em condições de garantir maior receita para os cofres de César, apesar de um quase inevitável desvio de recursos, pois quem se prestava a exercer essa função, naquelas circunstâncias, não costumava primar pela retidão de alma.
Naturalmente, os judeus que aceitavam tal encargo eram considerados traidores e “cofautores da dominação romana”,3 sendo odiados por toda a sociedade
hebraica. O próprio nome da função —
publicano — despertava repulsa.
Ora, precisamente o chefe dos cobradores de impostos da região, Zaqueu, homem muito rico, será o protagonista desta cena evangélica. Comandar o
grêmio mais detestado pelos seus patrícios equivalia a ser considerado ladrão entre os ladrões,
ou seja, líder daqueles que faziam fortuna à custa
da exploração do povo. Podemos, portanto, bem
conjecturar o quanto era ele objeto de desprezo.
Helen Keller bombardeava sua mestra com perguntas como:
Quem fez Deus? Onde está Deus? A senhora já viu Deus?
Helen Keller e Anne Sullivan em 1897
12      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Semente de salvação
“Zaqueu procurava ver quem era Jesus, ...”
3a
Não obstante, aquele publicano vai mostrar
nesta passagem do Evangelho um fundo de alma muito bom.
Movido certamente pela graça, manifestava-se desejoso de ver o Divino Mestre e até, se
possível, Lhe dirigir a palavra. Sentia, sem dúvida, a consciência pesada, mas ao mesmo tempo
desabrochava em seu interior uma crescente admiração por Jesus. Como bem aponta São Cirilo, “germinava nele uma semente de salvação”.4
“Donde vinha a um homem dessa profissão um
tão vivo desejo?”, pergunta-se o padre Duquesne.
“Ah! Seu coração devia estar agitado por numerosos movimentos os quais, sem dúvida, ele mesmo
não conseguia distinguir bem. Esse desejo, que
procedia do alto, não era sem um princípio de fé,
e não podia deixar de ser acompanhado de estima, de respeito e de amor ao Salvador”.5
A admiração leva a vencer o respeito humano
“...mas não conseguia porque era muito baixo. 4 Então, ele correu à frente e
subiu numa figueira para ver Jesus, que
devia passar por ali”.
3b O Mestre entrara em Jericó seguido de uma
multidão alvoroçada pelo estupendo milagre da
cura do cego que pedia esmolas à beira do caminho (cf. Lc 17, 36).6 Segundo o padre Duquesne, as ruas por onde Jesus haveria de passar
mal podiam conter a aglomeração daqueles que
aguardavam sua passagem.7 Debalde procurava
Zaqueu uma brecha naquela turba para satisfazer seu anseio de ver o Senhor.
Não é frequente os Evangelistas descreverem características físicas de alguém. Assim,
por exemplo, não sabemos ao certo a altura de
Pedro nem se João usava barba. Sem embargo, São Lucas — que inclui em seu relato observações feitas sob um prisma médico — nos
informa ser esse publicano “muito baixo”, dado
fundamental para bem compreendermos o que
acontecerá logo a seguir.
Os pequenos de estatura são, não raras vezes, muito ágeis e espertos. Além disso, Zaqueu, a julgar pela narração do Evangelho, parece ser ainda relativamente jovem. À procura
de um posto de observação favorável, corre à
frente e sobe numa figueira, indicando com essa atitude que seu grande empenho em ver Jesus não resultava de mera curiosidade.
Zaqueu não era um homem tosco. Tinha
numerosos empregados a seu serviço e estava acostumado a fazer cálculos. Uma pessoa
de sua projeção social precisava de um motivo
muito forte para trepar numa árvore “como um
camponês qualquer”, observa acertadamente
Willam.8 E, mais ainda, para se expor à vista de
um público cuja hostilidade lhe era manifesta.
O Evangelho não entra no detalhe de quanto tempo permaneceu ele à espera em cima da
figueira. Pode-se, contudo, conjecturar que foi
considerável, pois Nosso Senhor caminhava lentamente, cercado pela multidão, detendo-Se
por vezes para atender um doente, dar um conselho, responder a alguma pergunta.
Nesse período, a atitude de Zaqueu foi uma
verdadeira demonstração de pertinácia, confiança e combate ao respeito humano. Com efeito,
quantos desaforos e chacotas não teve de suportar do alto da árvore o chefe dos publicanos! E se
o fez foi porque, conforme comenta o padre Duquesne, “no fundo de seu coração, alguma esperança sustentava sua coragem, sem ele ter uma
ideia clara a esse respeito. Indubitavelmente, desejava ser notado pelo Salvador, e queria que Ele
conhecesse todas as disposições de sua alma”.9
A avidez do lucro e o apego ao dinheiro costumam diminuir e embotar a capacidade de admiração nas pessoas. Ora, ao que parece, Zaqueu não se deixara dominar completamente
pela ambição, pois, apesar de ser cobrador de
impostos e muito rico, dará provas de possuir
um notável desprendimento e espírito admirativo. Essa ousada atitude de subir na figueira, ele
a tomou, sem dúvida, movido por uma graça de
enlevo por Nosso Senhor.
Uma interessante interpretação sobre o aspecto simbólico do gesto de Zaqueu, nos é dada pelo padre Maldonado ao comentar que “a
turba deste mundo nos impede de reconhecer o
Senhor; precisamos deixá-la e calcá-la aos pés,
para nos elevarmos a uma virtude superior e ver
do alto a Cristo”.10
O episódio apresenta ainda outro belo significado, uma lição para todos: quando nos sentirmos pequenos, devemos procurar Jesus, sobretudo no Santíssimo Sacramento, exposto no
ostensório. Esse desejo de estar com Ele bastará para movê-Lo a apiedar-Se de nós e dar-nos
aquilo de que nossas almas mais necessitam.
Nosso Senhor fixa seu
olhar no publicano
“Quando Jesus chegou ao lugar,
olhou para cima e disse: ‘Zaqueu,
desce depressa!’”.
5a
Paremos por um instante para imaginar a cena. Como fizera ao curar o cego
à entrada da cidade, Jesus se detém diante da árvore onde se encontra Zaqueu e
lhe dirige um olhar pervadido de bondade. O povo se aglomera, curioso de ver
o que ia suceder, talvez na expectativa
de que o Mestre tomasse uma atitude de
censura em relação ao cobrador de impostos. Entretanto, em lugar de repreendê-lo, Jesus chama-o afetuosamente
pelo nome, e o manda descer.
Por sua ciência humana, Nosso Senhor não
conhecia ainda esse publicano. Entretanto aqui
revela não ignorar quem ele era, nem as virtudes que começavam a despontar em sua alma.
Muito a propósito, comenta São Cirilo: “Cristo já contemplara aquela cena com seus olhos
de Deus, e ao levantar as vistas, fitou essa pessoa com os olhos da carne. E como seu objetivo
é que todos os homens se salvem, estendeu a esse homem sua bondade”.11
“Qual não teria sido a surpresa do publicano quando ouviu pronunciar seu próprio nome!
E quão grande sua alegria!” — observa o padre
Truyols.12 E Jesus ainda lhe infundiu maior ânimo
e confiança ao dizer-lhe “desce depressa”, pois,
no acertado juízo do padre Tuya, “há nessas palavras um anseio espiritual por conquistá-lo”.13
É curioso notar que Zaqueu nada diz a Jesus. A julgar pelo relato evangélico, limita-se a
olhá-Lo com enlevo e veneração, enquanto escuta, jubiloso, suas palavras.
A atitude
de Zaqueu
foi uma
verdadeira
demonstração
de pertinácia,
confiança
e combate
ao respeito
humano
“Hoje vou hospedar-Me na tua alma”
5b
“‘Hoje Eu devo ficar na tua casa’”.
Como se isso não bastasse, o Divino Mestre
toma a iniciativa de convidar-Se à residência de
Zaqueu, contrariando os costumes. Mas, observa Santo Ambrósio, Jesus “sabe que quem O
acolhe como hóspede receberá uma abundante
recompensa, e acontece que, embora não tivesse ouvido ainda seu convite, havia já lido em seu
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      13
“Cristo
chamou
Zaqueu
porque notava
a disposição
de sua alma
e a diligência
posta
por ele para
conseguir
vê-Lo passar”
coração”.14 Enfrentando todas as murmurações que poderia suscitar sua presença na casa de um publicano, Nosso
Senhor anuncia sua visita “de um modo ao mesmo tempo régio e familiar”.15
O episódio confirma que nada atrai
mais as graças de Deus do que um espírito tomado pela admiração. Com certeza, afirma Maldonado, “Cristo chamou Zaqueu porque notava a disposição de sua alma e a diligência posta
por ele para conseguir vê-Lo passar”.16
E Santo Agostinho comenta: “Quem
considerava grande e inefável felicidade o fato de vê-Lo passar, mereceu
imediatamente tê-Lo em casa. Infunde-se a graça, atua a fé por meio do
amor, recebe-se em casa Cristo, que
habitava já no coração”.17
Importa determo-nos nas palavras “na tua casa”. Sem dúvida, referia-Se Nosso Senhor à residência de Zaqueu,
a qual precisava ser posta em ordem para acolhê-Lo. Para o chefe dos cobradores de impostos, isso não era difícil, pois, pela sua posição social, deveria receber com frequência visitas importantes.
Não lhe faltariam criados nem recursos para isso.
Mas, do ponto de vista sobrenatural, é como
se Jesus Se comunicasse com Zaqueu de olhar a
olhar, de coração a coração, dizendo-lhe: “Hoje
vou hospedar-Me na tua alma”. Portanto, a “casa” significa aqui também a alma que deve estar
preparada para acolher o Senhor.
A admiração traz alegria
“Ele desceu depressa, e recebeu Jesus
com alegria”.
6
Diante da misericordiosa iniciativa do Redentor, Zaqueu manifesta-se disposto a em tudo obedecer. Tomado de entusiasmo, “fez o
que lhe mandava Cristo, e do modo como este lhe ordenara. Acabava de dizer-lhe que descesse depressa, e depressa desceu. Isso é corresponder à graça: seguir prontamente Aquele que
chama, sem demora nem pretextos”.18
Mais ainda, aquele homem recebe Jesus “com
alegria”, pois ao sentir-se inteiramente interpretado e compreendido por quem lhe é superior,
sua alma se enche de júbilo e se abre para a fé.
Vemos, assim, como a admiração é excelente
antídoto para a má tristeza que leva ao desâni14      Flashes de Fátima · Outubro 2010
mo. Quando, à semelhança de Zaqueu, nos sentimos atraídos por Jesus e procuramos ocasiões
para encontrá-Lo — seja no Sacramento da Eucaristia, seja através dos seres criados — Ele nos
recompensa vindo à nossa casa, isto é, entrando em nosso convívio e enchendo-nos de graças,
muitas vezes sensíveis.
Surpresa e incompreensão da opinião pública
“Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: ‘Ele foi hospedar-Se na
casa de um pecador!’”.
7
Tomados de ódio contra aquele publicano, os
presentes “não puderam vencer seus preconceitos, apesar de pouco antes terem dado glória a
Deus pela cura do cego, operada por Jesus”,19 e
começaram a murmurar contra Ele.
É importante notar que São Lucas afirma serem “todos”, e não apenas alguns, os que recriminavam Jesus por ir hospedar-Se na casa de
um “pecador”. Esta palavra, sublinha o padre
Tuya, “tinha para eles o sentido de um homem
imerso em toda impureza ‘legal’, que neste caso
podia ser também moral, devido às suas extorsões no exercício do cargo”.20 Entrar na residência de um cobrador de impostos significava, para os judeus de então, macular-se e atrair sobre
si a maldição de Deus.
Essa rejeição à atitude de Jesus carecia, entretanto, de qualquer fundamento. Não havia ensinado já o Divino Mestre, em disputa contra os
fariseus, que não viera “chamar à conversão os
justos, mas sim os pecadores” (Lc 5, 32)? Bem
conclui Santo Agostinho: querer impedir Jesus
de visitar o lar do publicano equivalia “a censurar o médico por entrar na casa do enfermo”.21
Jesus, como observa o padre Truyols, não fez
caso dessas murmurações. “Ele era o Bom Pastor, que viera ao mundo em busca da ovelha perdida. Para encontrá-la e reconduzi-la ao redil
aceitara o convite do publicano Levi, deixara-Se
tocar pela pecadora e não ignorava que a aparente delicadeza de consciência daqueles que reprovavam seu proceder não era senão um disfarce de refinado orgulho e de cruel egoísmo”.22
Submissão e generosidade de Zaqueu
“Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: ‘Senhor, eu dou a metade dos
meus bens aos pobres...’”.
8a
Gustavo Kralj
Este versículo mostra o quanto o publicano
havia preparado a “casa” de sua alma para bem
receber o Messias. Chegado àquela residência, Jesus deve ter Se recostado à moda oriental em um divã, e seria inusual que o anfitrião
não fizesse o mesmo. Ora, Zaqueu permaneceu
de pé, em sinal de submissão, veneração e reconhecimento da superioridade do seu Hóspede,
no qual talvez vislumbrasse rasgos de divindade.
Nessas alturas, ele já deseja mudar de vida,
converter-se, abandonando seus erros e pecados. De fato, inúteis teriam sido todas as graças recebidas, se não conduzissem a esse desfecho. “Jesus, o doce e misericordioso Salvador
dos pecadores, era inexorável na luta contra o
pecado. Exigia daqueles que queriam segui-Lo,
e daqueles aos quais dispensava favores ou perdoava crimes, o propósito de romper definitivamente com todo e qualquer pecado”.23
O fato de Zaqueu dispor-se a dar aos pobres
a metade dos seus bens prova sua sinceridade e
boa-fé. Entretanto, Fillion vai mais longe, ao tomar esse gesto “como uma recordação da honra que lhe fizera Jesus, e como manifestação de
que, com fé inquebrantável, O considerava o Messias prometido”.24
“‘...e, se defraudei alguém, vou
devolver quatro vezes mais’”.
8b Contudo, a conversão do publicano
não teria sido completa sem o desejo de
reparar os males que fizera. Pois o pecado de roubo exige, além de pedir perdão
a Deus, a restituição dos bens indevidamente adquiridos.
Enlevado pela contemplação da Justiça em substância, que ante ele Se encontrava, Zaqueu manifesta a disposição de
cumprir essa obrigação com largueza: “Se
defraudei alguém, vou devolver quatro
vezes mais”. Sua generosa atitude revela verdadeira dor pelo pecado e uma retidão de alma fruto da conversão obtida
pela graça.
Esta passagem do Evangelho nos proporciona um valioso princípio para o apostolado: as
autênticas conversões se conquistam sempre
despertando nas almas a admiração por Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Apesar da falta de méritos, é
justificado por Nosso Senhor
“Jesus lhe disse: ‘Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este
homem é um filho de Abraão. 10 Com
efeito, o Filho do Homem veio procurar
e salvar o que estava perdido’”.
9
Os habitantes de Jericó mostram hoje ao
peregrino o sicomoro onde Zaqueu teria subido
para esperar Jesus
Nosso Senhor usa aqui a palavra “casa” também num sentido mais profundo, referindo-se,
como vimos, à alma do anfitrião. Pois “foi nesse momento que a fé de Zaqueu, sua obediência,
seu desinteresse e sua caridade fizeram dele um
verdadeiro filho de Abraão”.25 Assim, ao afirmar
“hoje a salvação entrou nesta casa”, Jesus declara solenemente que esse homem está perdoado.
Antes de se encontrar com o Divino Mestre,
Zaqueu era um pecador que corria atrás do lucro, por vezes ilícito. Entretanto a graça introduziu em sua alma o desejo de ver aquele que
“veio procurar e salvar o que estava perdido”, e
o publicano correspondeu.
Buscar Nosso Senhor, subir na árvore, descer
depressa ao ser chamado, receber com alegria
e atender com generosidade: eram sintomas da
Outubro 2010 · Flashes
“Quem
considerava
grande e
inefável
felicidade
o fato de
vê-Lo passar,
mereceu
imediatamente
tê-Lo em
casa”
de Fátima      15
aceitação das graças recebidas. Para consumar
a conversão, faltava apenas Zaqueu reconhecer
seus pecados, pedir perdão e manifestar-se disposto a reparar o mal. Foi isso o que ele fez na
presença de Jesus.
III – A admiração transforma
Quem está
tomado de
verdadeiro
enlevo, escuta
a palavra
do Senhor,
observa seus
preceitos
e enfrenta
todas as
dificuldades
para
segui-Lo,
até o fim
Em certo sentido, todos somos Zaqueus. Estando nesta vida em estado de prova, a qualquer momento pode Nosso Senhor passar diante nós e nos chamar, servindo-Se de uma leitura, uma conversa, uma pregação, ou quiçá por
meio de uma moção interior da graça.
Como responderemos nós se, como ao publicano, Ele nos disser: “desce depressa, porque
hoje vou hospedar-Me em tua casa”? “Saberemos imitar a generosidade de Zaqueu e, antecipando-nos à admoestação do Senhor, responder-Lhe com espontânea prontidão: ‘doravante,
quero firmemente não pecar mais’?”.26
Tudo dependerá da admiração que tivermos.
O caminho da conversão do publicano, narrado nesta passagem do Evangelho, começou
com um mero sentimento de curiosidade pa-
ra com aquele Homem do qual ele tanto ouvira falar. Mas, pela ação da graça, logo se transformou em desejo de conhecê-Lo, falar-Lhe
e estar com Ele, dando início ao processo que
haveria de torná-lo um verdadeiro “filho de
Abraão”.
Como Zaqueu, assim devemos reagir também nós, fugindo das multidões e subindo na
“árvore da admiração” para melhor contemplar
o Divino Mestre. Porque quem está tomado de
verdadeiro enlevo, escuta a palavra do Senhor,
observa seus preceitos e enfrenta todas as dificuldades para segui-Lo, até o fim.
Árduo seria avaliar até que ponto são profundas as consequências desse voltar-se enlevado para o que é superior, se não fosse São Tomás de Aquino nos ensinar: “A primeira coisa
que então [ao atingir o uso da razão] ocorre ao
homem pensar é deliberar sobre si mesmo. E se
se ordenar ao fim devido, conseguirá pela graça
a remissão do pecado original”.27 Ou seja, derramam-se sobre ele os mesmos efeitos do Batismo sacramental!28
Essa ousada afirmação do Doutor Angélico é analisada em profundidade por Garri-
1
Cf. KELLER, Helen Adams. A história de minha vida. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940,
p.248-249.
8
WILLAM, Franz Michel. A vida de Jesus no país e no povo de Israel. Petrópolis: Vozes, s/d,
p.338.
2
SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I-II, q.3, a.8, resp. Ver também q.32, a.8, resp.:
“A admiração é um certo desejo de saber, que
surge no homem porque vê o efeito e ignora a
causa; ou porque a causa de certo efeito excede
o conhecimento ou a potência de conhecer”.
9
DUQUESNE, op. cit., p.311.
3
TUYA, OP, Manuel de. Biblia comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v.II, p.889. 4
SAN CIRILO DE ALEJANDRÍA. Comentario al Evangelio de Lucas, 19, 2, apud ODEN,
Thomas C. e JUST Jr., Arthur A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia – Nuevo
Testamento, San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, v.III, p.392.
5
DUQUESNE. L’Évangile medité. Lyon-Paris:
Perisse Frères, 1849, p.309.
6
Respeitamos aqui a ordem cronológica da exposição de São Lucas, sem entrar na discussão
exegética sobre se a cura do cego aconteceu realmente à entrada ou à saída da cidade.
7
Cf. DUQUESNE, op. cit., p.309.
16      Flashes de Fátima · Outubro 2010
10
MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a
los cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II,
p.752.
11
SAN CIRILO DE ALEJANDRÍA, op. cit.,
p.392.
12
FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid:
BAC, 1954, p.490.
13
TUYA, OP, op. cit., p.889.
14
SANCTUS AMBROSIUS. Expositio Evangelii
secundum Lucam. l.8, 82: PL: 15, 1791.
15
FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro
Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp,
s/d, v.II, p.457.
16
MALDONADO, SJ, op. cit., p.753.
17
SANCTUS AUGUSTINUS HIPPONENSIS.
Sermo 174, c.IV: PL 38, 942.
18
MALDONADO, SJ, op. cit., p.753.
19
GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.III, p.398.
20
TUYA, OP, op. cit., p.889.
21
SANCTUS AUGUSTINUS HIPPONENSIS.
Sermo 174, c.V: PL 38, 943.
22
FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, op. cit., p.490.
23
KOCH, SJ, Anton; SANCHO, Antonio. Docete.
Formación básica del predicador y del conferenciante. La gracia. Barcelona: Herder, 1953,
t.IV, p.303.
24
FILLION, op. cit., p.457.
25
DUQUESNE, op. cit., p.314.
26
KOCH, SJ; e SANCHO, op. cit., p.304.
27
SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., I-II, q.
89, a.6.
28
Cf. Idem, III, q.66, a.11, ad.2 e q.68, a.2.
29
GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. El
Sentido Común, la Filosofía del ser y las fórmulas dogmáticas. Buenos Aires: Desclée de
Brouwer, 1944, p.338-339.
30
SANTO AGOSTINHO. Confissões, L.I, c.1.
Gustavo Kralj
gou-Lagrange, segundo o qual, se um menino não batizado e educado entre os infiéis,
ao chegar ao pleno uso da razão amar eficazmente “o bem honesto por si mesmo e mais
do que a si mesmo”, estará justificado. “Por
quê? Porque desse modo ama eficazmente a
Deus, autor da natureza e soberano bem, confusamente conhecido; amor eficaz que no estado de queda não é possível senão pela graça, que eleva e cura”.29
Com efeito, na admiração pelo bem o homem se torna semelhante ao objeto de seu enlevo. Pelo contrário, ao fechar-se em si mesmo,
julgando encontrar nisso a felicidade, enche a
alma de amargura, tristeza e frustração, pois a
desvia de sua finalidade suprema que é Deus.
“Fizeste-nos, Senhor, para ti, e nosso coração
estará inquieto enquanto não repousar em ti”,30
ensina o grande Santo Agostinho.
Através do enlevo pelos reflexos do Criador,
a exemplo de Maria, Mãe de todas as admirações, melhor nos identificaremos com Jesus,
modelo perfeitíssimo de todos os homens. Terá entrado, assim, a salvação em nossa casa, pela porta da admiração! 
Através do enlevo pelos reflexos do Criador, a exemplo de Maria,
Mãe de todas as admirações, melhor nos identificaremos com Jesus,
modelo perfeitíssimo de todos os homens
"Maria, Mãe de Deus" - Mosteiro do Monte da Tentação, Jericó (Israel)
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      17
Congresso de leigos católicos da Ásia
“Proclamar Jesus Cristo
na Ásia hoje”
“Coragem, irmãos! Cristo ressuscitado já conquistou para nós a
vitória! O mal não mais tem a palavra final”, foi a exortação dos
congressistas a todos os católicos da Ásia.
Pe. Joshua Alexander Sequeira, EP
De Seul
U
ma auspiciosa e enriquecedora experiência,
eis em que consistiu para mim a participação
no Congresso de Leigos Católicos
da Ásia, realizado em Seul entre 31
de agosto e 5 de setembro. A começar pela primorosa organização do
Evento, a cargo do Pontifício Conselho para os Leigos, em estreita colaboração com a Conferência Episcopal Coreana. Considero, sobretudo, animador constatar o empenho
e a objetividade com que os mais de
400 participantes refletiram sobre os
meios de impulsionar o anúncio do
Evangelho nesse continente onde
os cristãos constituem uma pequena
minoria e veem amiúde sua liberdade religiosa restringida, quando não
totalmente negada.
Dom Ryłko preside a
Missa de abertura
A Missa de abertura dos trabalhos foi celebrada pelo Presidente do Pontifício Conselho para os
Leigos, Cardeal Stanisław Ryłko,
na Catedral neogótica de Myeong-dong, local histórico onde nasceu
a Igreja Católica na Coreia. Celebrada em inglês, foi intercalada com
cânticos coreanos, enquanto as Orações dos Fiéis eram lidas em diferentes línguas asiáticas.
Na multidão de fiéis presentes
destacavam-se os representantes de
movimentos laicais de quase todos
os países da região. Concelebraram o
Arcebispo de Seul, Cardeal Nicholas
Cheong Jin-Suk, o Arcebispo de Ranchi, Índia, Cardeal Telesphore Toppo,
Missa de Abertura – A Missa Inaugural, celebrada em inglês na Catedral neogótica de Myeong-dong, foi
intercalada com cânticos coreanos, enquanto as Orações dos Fiéis eram lidas em diferentes línguas asiáticas
18      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Auditório cheio – Mais de 400 participantes, representando a maioria dos movimentos laicais com presença na
Ásia, acompanhavam com vivo interesse as palestras do Congresso
o Arcebispo Thomas Menamparampil, representando a Federação das
Conferências Episcopais da Ásia, e
numerosos Bispos e sacerdotes.
Em sua homilia, o Cardeal
Ryłko ressaltou a natureza fundamentalmente missionária da Igreja
e o papel imprescindível dos leigos
nessa tarefa. Salientou, ademais,
que o fato de o Cristianismo ser minoritário na Ásia não deve constituir empecilho à obra de evangelização, pois o fator principal não é
o número, mas o “encontro pessoal
com Cristo”, é cada cristão ser um
alter Christus.
O maior presente que a Igreja
pode oferecer aos povos da Ásia
Na sessão inaugural, o Núncio
Apostólico Dom Osvaldo Padilla leu
uma mensagem de incentivo enviada
pelo Papa Bento XVI. Nela, ressalta o
Santo Padre que aos católicos do continente asiático, onde vivem dois terços da população mundial, “foi confiada uma grande missão: a de dar
testemunho de Jesus Cristo, o Salva-
dor universal da humanidade”. Acrescenta ser este “o serviço supremo e o
maior presente que a Igreja pode oferecer aos povos da Ásia”. Manifesta em seguida sua esperança de que o
Congresso sirva de estímulo e orientação aos leigos asiáticos, no exercício
de seu “sagrado mandato”. Por fim, os
estimula a não se deixarem intimidar
pelas dificuldades ou pela enormidade da tarefa, confiantes na presença
do Espírito Santo que opera nos corações dos indivíduos “abrindo misteriosamente as portas a Cristo”.
Sessão inaugural – O Núncio Apostólico na Coréia, Dom Osvaldo Padilla (direita) deu início aos trabalhos lendo
a mensagem enviada pelo Papa Bento XVI. À esquerda, os Cardeais Nicholas Cheong Jin-Suk, Stanisław Ryłko e
Telesphore Toppo, bem como o Arcebispo Josef Clemens
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      19
sobre o tema Jesus Cristo, um dom
para a Ásia; as do brilhante professor indiano Guilherme Vaz, que
discorreu sobre a Identidade e Missão da Escola Católica; e as do padre Damasus Uichul Jeong, sacerdote coreano, sobre a Renovação da
paróquia.
Despertaram, por fim, vivo interesse as comovedoras intervenções
de vários participantes para contar
fatos de sua experiência evangelizadora do dia a dia. Alguns testemunhos, como os de certas senhoras
coreanas, narravam com despretensão verdadeiras proezas.
Em breves palavras, o Cardeal
Cheong Jin-Suk deu as boas-vindas
aos presentes. Em seguida, o Cardeal Ryłko conclamou os congressistas
a serem uma “minoria criativa” no
vasto continente asiático. E o Ministro coreano da Cultura leu uma mensagem de saudação do Presidente da
República, Lee Myung Bak.
Eclesialidade, missão e santidade
As atividades do Congresso —
exposições, debates, vídeos, círculos
de estudo — transcorreram na ampla e bem equipada sala de conferências do Centro Pastoral de Seul.
Foi especialmente alentador, para mim, constatar o vivo interesse
com que a assistência acompanhava
as palestras sobre os diversos temas
de atualidade para os leigos, o que
era facilitado por um excelente serviço de tradução simultânea em inglês, italiano e coreano.
Em sua conferência A vocação e
missão dos leigos à luz da Exortação
Apostólica pós-sinodal “Christifideles Laici”, Dom Josef Clemens, Secretário do Pontifício Conselho para
os Leigos, ressaltou a grande atualidade desse documento que sublinha
a identidade particular e a dignidade dos leigos, decorrentes do Batismo, e aponta-lhes a necessidade de
tender à santidade, fazendo uma
“síntese vital entre a fé e os deveres
da vida diária”.
Convívio fraterno
Prof. Guzmán Carriquiry –
O Subsecretário do Pontifício
Conselho para os Leigos
acompanhou com grande interesse
todas as sessões de trabalho
Coube ao Subsecretário desse
Pontifício Conselho, Prof. Guzmán
Carriquiry, apresentar o tema A nova primavera para as Associações de
Leigos fiéis. Entre outros pontos,
acentuou o conferencista que a resposta da Providência para a secularização generalizada da sociedade
hodierna são os novos Movimentos
Eclesiais, que “trazem uma confissão serena, cheia de alegria e esperança, de que Jesus é o Senhor”.
Foram também muito aplaudidas as palavras do Cardeal Toppo,
“Oh, quão bom e quão suave é viverem os irmãos em união!” (Sl 132,
1). Veio-me várias vezes à mente esta exclamação do Salmista, ao observar o ambiente de convívio fraterno
que caracterizou o Congresso. Durante a Missa cotidiana, por exemplo, era emocionante sentir ao vivo a
comunhão de tantas pessoas de culturas e nacionalidades diferentes, todas, entretanto, unidas em Cristo.
Mas essa clave de benquerença
fraterna se prolongava ao longo de
todo o dia: nas rodas de conversa
que se formavam espontaneamente durante os minutos de “tempo livre”, nos lanches, nas refeições “à
moda coreana”. A todo momento e
em todo lugar, era fácil notar a ale-
Convívio fraterno – O espírito de comunhão entre pessoas de culturas e nacionalidades diferentes, especialmente
intenso durante a Santa Missa, se prolongava ao longo de todo o dia
20      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Ativa participação – Em grande parte, o Congresso esteve reservado para os leigos narrarem sua experiência
evangalizadora e apresentarem os respectivos movimentos
gria contagiante com a qual sacerdotes, religiosos, leigos de ambos os
sexos e de todas as idades, trocavam
ideias, transmitiam informações, comunicavam e anotavam endereços.
Um dos atos mais marcantes do
Congresso talvez tenha sido a sessão na qual o delegado de cada país
expôs a situação da respectiva Igreja
local. As pequenas Igrejas do Cazaquistão, da Mongólia e do Turcomenistão, bem como a corajosa Igreja
do Paquistão, foram objeto da solidariedade de todos. Os representantes de Igrejas mais populosas — Índia, Filipinas, Sri Lanka, Malásia,
Tailândia, etc. — discorreram sobre
suas possibilidades, problemas e esperanças para o futuro.
Igualmente bem acolhidos foram
os representantes de vários Movimentos eclesiais e Associações laicais, que fizeram uma breve apresentação dos respectivos carismas.
Entre eles estavam a Renovação Carismática Católica, Casais para Cristo, Focolares, Legião de Maria, Caminho Neocatecumenal, Sociedade
de São Vicente de Paulo e Arautos
do Evangelho.
“Sal e luz do continente asiático”
Não sem pesar para os participantes, chegou ao fim o Congresso.
A Catedral de Myeong-dong foi de
todo insuficiente para conter a multidão de fiéis que se juntaram aos
congressistas, na Missa de encerramento celebrada pelo Cardeal Nicholas Cheong Jin-Suk.
Em sua homilia, o Purpurado
conclamou todos os presentes a,
confiantes na graça de Deus e sem
medo por serem minoria, saírem para “proclamar Jesus na Ásia e elevar-se ao desafio de nossa vocação
batismal”. Fez notar que o mês de
setembro é comemorado na Coreia
como o “Mês dos Mártires” e salientou que os grandes progressos recentes da Igreja nesse país muito devem ao testemunho heroico de milhares de leigos coreanos que deram
a vida em defesa da Fé. No final da
celebração, os Cardeais distribuíram
terços bentos pelo Papa, como símbolo de comunhão afetiva e efetiva com o Vigário de Cristo na Terra, fonte de toda eficácia apostólica.
Em mensagem dada a público no
último dia, os participantes do Con-
gresso manifestaram sua vocação
de ser “sal e luz do continente asiático”: “Queremos ser protagonistas
ativos na vida da Igreja local, em comunhão com nossos Bispos”.
Filial missiva ao Papa e
mensagem aos leigos da Ásia
Os congressistas enviaram ao
Papa Bento XVI uma carta na
qual, em termos cheios de filial
piedade, agradecem-lhe por sua
paternal mensagem de incentivo,
por suas orações para o bom êxito do evento e pela solicitude demonstrada por seu “pequeno rebanho”.
Enviaram uma mensagem também a todos os leigos da Ásia, reconhecendo seu grande valor, seus esforços evangelizadores, seus sofrimentos e dramas, e encorajando-os
a proclamar na Ásia o nome de Jesus. “Coragem, irmãos! Cristo ressuscitado já conquistou para nós a
vitória! O mal não mais tem a palavra final” — lê-se na mensagem, que
termina invocando a intercessão da
Virgem Maria, a Estrela da Nova
Evangelização. 
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      21
Santo André Bessette, CSC
O taumaturgo de Montreal
Religioso humilde, simples porteiro de colégio, produziu
milhares de curas e conversões, por intercessão de São José,
e construiu a maior igreja do mundo em sua honra.
Irmã Elizabeth Veronica MacDonald, EP
U
ma notícia alvissareira logo correu por toda
a vila: “O Irmão André
está no bairro, visitando
uma mulher enferma!”.
Parando para apertar com firmeza a mão de um rapaz, disse-lhe: “Não
te preocupes, as coisas vão se endireitar”. Mais adiante, fitou um ancião e
perguntou-lhe: “Tens fé de que São
José pode te curar?”. E com voz transbordante de afeto acrescentou: “Coragem! Tem confiança em São José!”.
Por fim, antes de partir, deu a
todos uma última recomendação:
“Continuem a rezar!”.
Já no carro, o motorista comentou:
— Parece uma cena da vida de
Jesus: o povo correndo diante do senhor e implorando favores e curas!
— Talvez... mas aqui Deus certamente está usando um instrumento
bastante miserável — respondeu o
santo com simplicidade.
“Estou lhes enviando um santo”
Alfredo — era este seu nome de
Batismo — nasceu numa família pobre e numerosa, em 9 de agosto de
1845, na aldeia de Saint-Grégoire d’Iberville, próxima de Montreal. De saúde débil, a dor o acompanhou desde pequeno.
Segundo alguns biógrafos, sua assinalada devoção a São José talvez
22      Flashes de Fátima · Outubro 2010
tenha origem no fato de seu pai ser
carpinteiro. Mas, em qualquer caso,
a vida de Alfredo vai estar marcada,
já desde a infância, por um relacionamento todo especial entre o Patriarca da Igreja e aquele piedoso menino, que haveria de construir a maior
igreja do mundo dedicada a ele.
Antes, porém, teve de percorrer
um longo e sinuoso caminho. Tentou exercer várias profissões, sem
êxito, devido à sua fraca saúde. Aos
vinte anos, partiu para os Estados
Unidos, buscando trabalho nas fábricas têxteis de Connecticut, mas
voltou algum tempo depois, quando
ficou evidente que não tinha forças
para esses serviços.
Foi o pároco da sua aldeia natal
quem, percebendo a virtude, retidão e constância desse jovem, identificou nele uma autêntica vocação
religiosa e o encaminhou ao colégio
que a Congregação da Santa Cruz
— fundada, havia pouco, na França
pelo Beato Basile Moreau — já possuía em Montreal. “Estou lhes enviando um santo”, declarou o pároco,
na carta em que recomendava aquele
candidato simples e analfabeto.
O melhor “cartão de
visitas” da Congregação
Alfredo não defraudou aquelas
expectativas. Logo aprendeu a ler e,
com seu comportamento exemplar,
ajudou a elevar o padrão do noviciado. A meditação sobre os sofrimentos de Cristo sempre fora uma
das colunas da sua espiritualidade.
“Se nos lembrássemos que o pecado
crucifica novamente Nosso Senhor,
nossas orações seriam mais adequadas”1, afirmava. Entretanto, procurava manter sem cessar seus companheiros animados, repetindo-lhes:
“Tentem não ficar tristes! Faz bem
sorrir um pouco...”.
Ao se aproximar o fim do noviciado, Alfredo Bessette receava ser-lhe negada a autorização para proferir os votos religiosos, por causa
de sua saúde débil. Mas após pedir
a intercessão do Bispo, Dom Ignace
Bourget, acabou por fazê-los em 22
de agosto de 1872, trocando o nome
de Batismo pelo de Irmão André.
O superior o incumbiu da portaria
do colégio e ele ali desempenhou com
toda perfeição sua tarefa: mantinha o
ambiente em ordem exímia, servia de
carteiro e executava vários outros serviços. Falando inglês e francês, revelou especial talento para receber as
pessoas e fazê-las sentir-se à vontade.
Acabou por tornar-se o melhor “cartão de visitas” da Congregação.
No fim da vida, costumava dizer
espirituosamente: “Quando ingressei nesta comunidade, os superiores
saint-joseph.org
Gustavo Kralj
Santo André Bessette
Santo André Bessette não chegou a ver finalizado o esplêndido santuário construído no topo de Mont-Royal.
A cruz que se encontra no alto da cúpula é o ponto mais elevado da cidade
me mostraram a porta e lá fiquei durante quarenta anos”.2
Curas numerosas e bem
documentadas
Cerca de cinco anos após sua entrada em religião, começou a manifestar-se nele o dom da cura. Certo
dia, aproximou-se do leito no qual
jazia um estudante com febre alta e
mandou-o ir brincar, afirmando estar ele em perfeita saúde. Para espanto do médico de plantão, o menino saiu sadio da cama.
Noutra ocasião, chegou à portaria o pai de um aluno, com fisionomia preocupada, e o bom irmão lhe
perguntou qual era seu problema. O
pobre homem explicou que sua esposa ficara paralítica. “Talvez ela
não esteja tão doente como parece”,
disse-lhe o santo. Naquele momento, do outro lado da cidade, a mulher levantou-se e começou a caminhar regularmente.
Irmão André aproveitava essas curas, sempre realizadas de forma discreta, com aparência de normalidade, para fazer um apostola-
do contínuo: recomendava a oração
perseverante, sugeria novenas, “receitava” a aplicação do óleo de uma
lamparina que ardia ante a imagem
de São José, ou aconselhava a levar
consigo uma medalhinha deste, pois,
dizia, “tudo isso são atos de amor e
fé, de confiança e humildade”.
Fazia também questão de esclarecer a verdadeira causa das curas a
ele atribuídas, afirmando ser o bom
Deus quem faz os milagres e São José quem os obtém. “Eu sou apenas o
cachorrinho de São José”, dizia com
humildade.3
Certo dia, enquanto lavava o corredor central do colégio, apresentou-se diante dele, apoiada em duas pessoas, uma mulher atacada de
reumatismo, incapaz de caminhar
sozinha. Irmão André, olhando-a
com perplexidade, disse-lhe:
— Creio que a senhora poderia
andar por conta própria. Por que
não experimenta ir sozinha até à capela?
Ela assim o fez, e regressou para
casa andando sem dificuldade e chorando de gratidão.
Quando a afluência de doentes
começou a perturbar a rotina do colégio, Irmão André transferiu suas
atividades apostólicas para uma estação de ônibus, situada nas proximidades. Ao saber disso, o Arcebispo
perguntou aos superiores que faria
ele se o obrigassem a parar de fazer
milagres. Ao saber que ele obedeceria cegamente, replicou: “Então, deixem-no. Se esta obra é de Deus, florescerá; se não, vai desmoronar”.4
As curas de almas e corpos continuaram às torrentes. Mais de quatro
mil páginas documentando-as foram
recolhidas durante o processo de beatificação.
Um dos casos mais impressionantes é o de um jovem, vítima de terrível
acidente industrial. Com o rosto queimado, em risco de ficar cego, correu à
procura do Irmão André, mas este estava atendendo um infeliz canceroso,
e havia muitos outros à espera. Sem
sequer tê-lo visto chegar, o religioso
apareceu e perguntou-lhe:
— Quem disse que perderás as
vistas? Tens confiança na intercessão de São José?
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      23
Diante da resposta afirmativa, recomendou-lhe:
— Vai para a igreja, assiste à Missa e comunga em honra de São José.
Continua com os teus remédios, mas
adiciona a eles uma gota do óleo da
lamparina do glorioso Patriarca, rezando esta jaculatória: “São José,
rogai por nós!”. Tem confiança, tudo correrá bem!
O acidentado fez com exatidão o
que lhe foi recomendado e, no dia
seguinte, o tecido cauterizado de seu
rosto caiu como “folhas de p
­ apel celofane”. Inteiramente ­restabelecido,
voltou em sinal de reconhecimento.
— Agradece a São José e não
cesses de rezar! — limitou-se a dizer
o santo taumaturgo.
A dona de uma lanchonete próxima, que alguns dias antes havia visto
o moço com o rosto desfigurado, não
podia acreditar se tratar agora do
mesmo homem. E começou a apregoar para todos o impressionante milagre de que era testemunha.
Uma igreja para São José
Um santo anseio abrasava, porém, a alma do humilde porteiro.
Ansiava ele construir próximo ao
colégio, no Mont-Royal, uma igreja
em honra de seu protetor. Mas o objetivo era muito ousado...
Certo dia, um religioso da sua comunidade contou-lhe que a imagem
de São José da sua cela parecia girar
sozinha, em direção a esse monte.
Exultante, Irmão André reconheceu
nesse fato o esperado sinal da Providência para dar início à realização
de seu anelo, e juncou de medalhinhas o lugar almejado.
Em 1896, a Congregação da Santa Cruz adquiriu aquele terreno,
com a finalidade de evitar uma má
vizinhança para o colégio. Irmão André obteve autorização para colocar
uma imagem de São José na gruta ali
existente e as peregrinações não tardaram a começar. Milhares e milhares de pessoas a visitavam.
Após economizar duzentos dólares,
a partir dos cortes de cabelo dos alunos do colégio, a cinco centavos cada
um, foi possível levantar uma pequena
capela. Começou-se também a obter
esmolas no “pratinho de ofertas” posto aos pés do Santo, e até nos Estados
Unidos eram obtidas doações.
Em 1904, foi erigido um pequeno Oratório de São José, constituído
de uma capela um pouco maior e um
escritório, no qual passou a residir
o Irmão André. Treze anos depois,
o edifício foi ampliado, de modo a
comportar mil pessoas sentadas, mas
este também logo se tornou pequeno
para a grande afluência de fiéis.
A construção da basílica atual — a
maior igreja do Canadá — começou
em 1924. Oito anos depois foi preciso detê-la por falta de meios, em consequência da grande crise econômi-
ca pela qual atravessava o país. Sem
se afligir, Irmão André colocou uma
imagem de São José no interior do
prédio inacabado, dizendo:
— Se ele deseja um teto sobre
sua cabeça, o teto virá.
Dois meses depois, reiniciavam-se as obras...
Cabe notar que, embora considerasse um dever levar adiante essa
construção, Irmão André dedicava-lhe apenas o tempo permitido pela
obediência, sem deixar de cumprir
suas funções.
Ministério de amorosa oblação
O dia a dia daquele humilde porteiro estava todo tomado por um ministério de amorosa oblação. Começava a jornada acolitando duas Missas, e às oito horas da manhã abria a
porta aos visitantes. No pequeno escritório, que também lhe servia de cela, recebia cotidianamente entre 200 e
400 pessoas, podendo chegar a 700.
Os que iam ao encontro do Irmão
André procurando sensacionalismo
saíam decepcionados. Seus conselhos eram simples e sensatos, visando a cura das almas mais que o alívio dos males corporais. Algumas vezes limitava-se a ajudar as pessoas a
aceitarem a vontade divina. “Deus
terá uma eternidade para te consolar
de teus sofrimentos aqui”,5 lhes dizia.
Encorajava também a Confissão
frequente e a Comunhão diária, ga-
Placas comemorativas e ex-votos testemunham as numerosas curas ocorridas no primeiro oratório, onde Santo
André recebia entre 200 e 400 pessoas diariamente
24      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Fotos: Gustavo Kralj
Três milhões de peregrinos visitam anualmente o Santuário de Mont-Royal. Nas fotos: fiéis veneram túmulo de
Santo André, acendem algumas das 10.000 lamparinas da capela votiva ou testemunham graças recebidas
rantindo que Jesus nada recusa a
quem O hospeda em seu coração.
E comentava: “Coisa curiosa: recebo numerosos pedidos de cura, mas
raramente alguém pede a virtude da
humildade ou o espírito de fé”.6
Para com as pessoas afastadas
da prática religiosa por fraqueza
ou ignorância, demonstrava ilimitada compaixão. Contava-lhes de modo comovedor a parábola do Filho
Pródigo e concluía: “Comme le bon
Dieu est bon — Como o bom Deus é
bom!”. Mas cortava pela raiz as atitudes de revolta e má fé: “Será que
Deus te deve alguma coisa? Se pensas assim, podes fazer teus próprios
arranjos com Ele”.7
O preço com o qual ele comprava o alívio e a conversão dessas almas era bem alto. No fim da jornada, mesmo consumido pela indisposição e cansaço, ainda fazia uma vagarosa Via Sacra na capela e, em seguida, ajoelhado durante horas rezava com os braços estendidos em
forma de cruz. Sua cama ficava muitas vezes intacta durante a noite toda. E quando um irmão de hábito
lhe implorou que dormisse, oferecendo seu sono como uma oração,
ele respondeu gravemente: “Se soubesses o estado daqueles que pedem
minhas orações, não me darias tal
sugestão”.8
Primeiros frutos póstumos
Os fiéis amavam aquele bom ancião de cabelos brancos e pediam-lhe para que não os deixasse. Mas,
completados os 92 anos, a morte se
aproximava e ele os consolava amavelmente, afirmando que se alguém
pode fazer o bem na Terra, mais ainda poderá fazê-lo do Céu.
No dia 6 de janeiro de 1937, a
triste notícia era dada com destaque
pelos mais importantes jornais de
Montreal: “Morreu Irmão André”.
Enfrentando a neve e o gelo, uma
verdadeira multidão começou a se
deslocar em direção a Mont-Royal
para despedir-se de seu taumaturgo.
Chegavam de avião, de trem, de todos os meios de transporte. O Oratório de São José transbordava de
uma multidão tomada de devoção
e piedade, enquanto penitentes enchiam os confessionários. Calcula-se
que um milhão foram as pessoas que
subiram o serpenteante caminho do
santuário, para se despedir daquele cuja única ambição fora servir a
Deus na completa despretensão da
vida religiosa.
Eram os primeiros frutos póstumos desse simples irmão leigo que,
no dia 17 deste mês, tornar-se-á o
primeiro santo de sua Congregação,
bem como o primeiro varão nascido
no Canadá a ser elevado às honras
dos altares.
* * *
Irmão André não chegou a ver
finalizado o grande Santuário, que
foi concluído apenas em fins da
década de 60, como também não
viu a realização de mais um de
seus desejos: colocar uma grande
Via Sacra nos aforas da igreja, pa-
ra fomentar a devoção à Paixão do
Redentor.
Mas é impossível não sentir sua
presença em cada uma das dependências desse impressionante templo, que atrai anualmente três milhões de peregrinos, dando testemunho do poder de intercessão do Patrono da Igreja Universal. Logo ao
chegar, uma grande imagem de São
José, esculpida em pedra, recebe os
visitantes na escadaria central. Em
sua base, uma inscrição de três palavras dá as boas-vindas, evocando a
sabedoria simples e piedosa daquele
irmãozinho que jaz na cripta: “Ite ad
Joseph — Ide a José”. 
1
FERGUSON, John. The Place of Suffering. London: James Clarke and
Co., 1972, p.115.
2
BALL, Ann. Faces of Holiness. Huntington (IN): Our Sunday Visitor,
2001, p.54.
3
KYDD, Ronald. Healing Through the
Centuries. Peabody (MA): Hendrickson, 1998, p.85.
4
BALL, op. cit., p.57.
5
TREECE, Patricia. Nothing Short of
a Miracle. New York: Doubleday,
1988, p.74.
6
O’MALLEY, Vincent. Saints of North America. Huntington (IN): Our
Sunday Visitor, 2004, p.26.
7
KNOWLES, Leo. Modern Heroes of
the Church. Huntington (IN): Our
Sunday Visitor, 2003, p.82.
8
TREECE, op. cit., p.75.
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      25
Segunda Romaria
Nacional a Aparecida
S
ão múltiplas as invocações sob as quais se apresenta
a Santíssima Virgem: Nossa Senhora de Fátima, Lourdes, Guadalupe, La Salette e tantas
outras. Em nosso País, a invocação Nossa
Senhora Aparecida é a que melhor representa o forte vínculo do povo brasileiro
com essa Mãe que, com tanto carinho
e solicitude, se dispõe a auxiliar seus
filhos neste vale de lágrimas.
No dia 14 de agosto, aproximadamente 4.500 participantes do
Apostolado do Oratório, vindos de
mais de 70 cidades dos Estados de
São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Espírito Santo e Paraná, se
encontraram no Santuário Nacional de Aparecida para juntos agradecerem à Padroeira do Brasil todos
os favores recebidos de suas mãos virginais, e pedir que Ela abençoe as famílias de nosso País e do mundo inteiro.
O ponto principal da romaria foi a solene Celebração Eucarística no altar-mor da Ba-
26      Flashes de Fátima · Outubro 2010
sílica, presidida pelo Arcebispo de Aparecida e Presidente do CELAM, Dom Raymundo Damasceno Assis, e concelebrada pelo Bispo de Lorena, Dom Benedito Beni dos Santos, e
quatorze sacerdotes.
No fim da celebração, após as palavras de agradecimento do Pe. Antônio Guerra, EP, assistente espiritual do Apostolado do Oratório, a assembleia acolheu calorosamente a
imagem de Nossa Senhora Aparecida, conduzida em cortejo ao altar por membros do ramo feminino
dos Arautos do Evangelho, a fim de
ser venerada pelos peregrinos.
* * *
Peçamos também, nós, à Senhora Aparecida que abençoe as nossas
famílias, os nossos parentes, os nossos
Párocos e os nossos Pastores; e que Ela
continue tocando os corações das pessoas
afastadas de Deus, conduzindo-as ao seio da
Santa Igreja.
Sérgio Miyazaki
Celebrantes e fiéis acompanharam com emoção a entrada da imagem de Nossa Senhora Aparecida,
conduzida em solene cortejo pelas irmãs de Regina Virginum, ramo feminino dos Arautos.
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      27
Sérgio Miyazaki
Sérgio Miyazaki
Celso Militão
Quase cinco mil membros do Apostolado do Oratório, de diversas cidades, participaram compenetrados da Santa
Missa presidida por Dom Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo de Aparecida e Presidente do CELAM.
500 anos do Foral Manuelino
A
histórica vila de Alvalade, em Beja, comemorou no
dia 19 de Setembro 500 anos do Foral Manuelino.
A pequena vila, situada em pleno Alentejo, recebeu
mais de 10.000 mil visitantes para conhecer uma das
mais famosas Feiras Medievais de Portugal, onde, para além de uma exposição de grande qualidade inaugurada para a ocasião, se puderam encontrar os trajes, objectos e a gastronomia típica da época medieval.
Um dos pontos auge deste ciclo de comemorações foi a Santa Missa realizada na Igreja paro-
quial de Alvalade, dedicada a Nossa Senhora da
Conceição, onde, a pedido do Pe. Dariusz Jan Pestka, esteve presente o coro e orquestra juvenil dos
Arautos do Evangelho, a fim de animar e solenizar a liturgia.
Em sua homilia, o Pe. Dariusz salientou que naquele dia de festa “deveríamos dar graças pelos nossos antepassados, mas, sobretudo, agradecer a presença de
Deus e tudo o que ele fez por Alvalade ao longo dos
séculos.”
Tomada de posse do
Pe. Jorge Manuel Lages
Almeida
N
o dia 19 de setembro, as comunidades do Afonsoeiro e Samouco, no Montijo, estiveram em festa pela tomada de
posse do novo pároco, Pe. Jorge Manuel Lages.
Passados mais de vinte anos como pároco na Quinta do Anjo, Palmela, o Pe. Jorge recebe agora, das mãos de D. Gilberto
Canavarro dos Reis, Bispo de Setúbal, a missão de cuidar destas novas paróquias, aliada ainda à função de capelão militar,
cargo que desempenha, actualmente, na Base Aérea do Montijo, Campo de Tiro de Alcochete e Depósito de Material de
Guerra, também em Alcochete.
Fazendo alusão à figura do Bom Pastor, salientada no evangelho do dia, o prelado referiu-se aos sacerdotes como instrumentos Escolhidos por Deus para tornarem presente Cristo,
Cabeça e Pastor da Igreja, no meio dos homens, e acrescentou:
“Por isso mesmo recebei este novo pároco como um dom de
Deus, como a graça do Senhor e aceitai o desafio que Deus vos
faz de, através dele, continuardes a crescer”.
28      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Canadá – Simpatizantes dos arautos, provenientes das
Ilhas Maurício, passaram um dia de retiro com o Pe.
François Bandet, EP, na casa dos Arautos em Schomberg,
Ontário.
Honduras – Cooperadores dos Arautos organizaram
um “Dia com Maria” para as famílias que recebem o
Oratório na Diocese de Comayagua.
Espanha – Entre 2 e 7 de agosto, a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria percorreu diversos
povoados de Palência, entre eles o de Bustillo de la Vega (esquerda). E de 8 a 15, visitou a Paróquia de Arcicóllar
(Toledo), sendo conduzida também à Prefeitura e a diversas residências (direita).
Guatemala – Participantes do Apostolado do
Oratório reuniram-se para peregrinar juntos ao
túmulo do Santo Hermano Pedro, em Antigua.
Brasil – Dom Roberto Guimarães exorta os fiéis no
encerramento da Festa do Ssmo. Salvador. Arautos
colaboraram no cerimonial da Missa e na procissão.
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      29
Sérgio Miyazaki / Gustavo Kralj / Otávio de Melo
Mestres em
Teologia Bíblica
N
Foto Light
o dia 3 de setembro, oito membros dos Arautos do
Evangelho receberam a licenciatura c­ anônica em
Teologia com ênfase em Sagradas Escrituras pela Universidade Pontifícia Bolivariana de Medellín, Colômbia.
A cerimônia de entrega dos títulos foi presidida pelo
Reitor, Mons. Luis Fernando Rodríguez Velásquez, com
a presença da Secretária Geral, Dra. Clemencia Restrepo Posada; do Decano da Escola de Teologia, Filosofia
e Humanidades, Pe. Ms. Diego Alonso Marulanda Díaz, e do Coordenador Administrativo de Pós-graduação
da Escola de Teologia, Filosofia e Humanidades, Pe. Dr.
César Augusto Ramírez Giraldo.
Mons. Luis Fernando concluiu exortando os novos
graduandos a “colocar seus conhecimentos ao serviço
da glória de Deus e para o bem da Igreja, e assim crescer em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens”.
Visita de Dom Giovanni D’Ercole
D
om Giovanni D’Ercole, FDP, Bispo Auxiliar de Áquila (Itália), visitou a Casa Generalícia da Sociedade de Vida Apóstolica Regina Virginum e celebrou Missa para as irmãs (fotos 1 e 2). Grande especialista no campo da mídia católica, quis conhecer a redação de nossa
revista, onde deu valiosos conselhos aos editores
(foto 3). Visitou também outras casas da instituição e celebrou Missa, na Igreja Nossa Senhora do Rosário.
David Domingues
1
2
30      Flashes de Fátima · Outubro 2010
3
205 crismandos na
Paróquia dos Arautos
Dom Sérgio Aparecido Colombo
N
o dia 5 de setembro, Dom Sérgio Aparecido Colombo, Bispo de Bragança Paulista, ministrou
o Sacramento da Confirmação a 205 jovens e adultos pertencentes à Paróquia Nossa Senhora das Graças, localizada em sua diocese. A cerimônia se deu na
Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Seminário dos
Arautos do Evangelho, atual matriz.
Após a Santa Missa, Dom Sérgio concedeu uma entrevista na qual manifestava sua alegria pela ação evangelizadora que está sendo realizada pelos sacerdotes
arautos, dizendo: “É um consolo e um conforto saber
que, nesta paróquia, os pastores vão ao encontro de seus
fiéis, buscando os jovens, arrebanhando-os para Cristo,
anunciando a doutrina e possibilitando às pessoas fazerem esta experiência cristã. Que bonito! Isso nos conforta em tempos tão difíceis onde tudo é muito relativo, onde as coisas da eternidade, que realmente têm valor, acabam sendo esquecidas. Nós ficamos felizes pelo trabalho desta paróquia confiada aos Arautos e de fato só poderíamos receber bons frutos, pois quando se trabalha,
se colhe. E pedimos que Deus abençoe estes jovens crismandos para que façam a diferença na Igreja, pelo testemunho de discípulos e missionários de Cristo, onde quer
que estejam”.
Adultos e jovens pertencentes às doze comunidades da Paróquia Nossa Senhora das Graças, devidamente
preparados por catequistas arautos, receberam com devoção das mãos de Dom Sérgio a unção do Crisma e se
tornaram novos soldados de Cristo.
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      31
Os anjos
Sendo puros espíritos, os anjos não podem
falar do mesmo modo que nós, por meio de
sons e gestos. De que maneira, pois, se comunicam entre si e, inclusive, com Deus?
D
iscorrer sobre anjos pareceria extravagante e pueril até alguns anos atrás.
Não obstante, o tema está de volta com toda a força, em plena
era do materialismo.
Junto com o renovado interesse pelas criaturas angélicas, muitas fantasias e erros se acrescentam àquilo que a Igreja ensina a
respeito delas. Não é nossa intenção analisá-los aqui. Propomo-nos
apenas investigar um tema que move em extremo nossa curiosidade,
na tentativa de rasgar um pouco o
véu que nos oculta o mundo dos
puros espíritos: como eles se comunicam?
Seres imateriais, mas compostos
Que os anjos são seres imateriais é algo hoje aceito pacificamente, embora não seja fácil de compreender. Temos tendência a “antropomorfizar” sua vida, transpondo para
o plano celeste as circunstâncias de
nossa existência terrena. Entretan32      Flashes de Fátima · Outubro 2010
to, nada há de mais distante da realidade.
Por isso mesmo, nos primeiros séculos da Igreja, o debate sobre a existência de um “corpo angélico” causou controvérsias entre os entendidos, e mesmo entre santos. Uma corrente teológica muito numerosa — na
qual se inclui São Boaventura — defendia a tese de que os entes angélicos têm, em sua composição, alguma
“matéria espiritual”, um corpo etéreo,
extremamente sutil. Pois, argumentavam os defensores dessa corrente, como explicar sua individuação, contingência, o fato de serem criaturas compostas e estarem delimitados?1 Mais
ainda: se os anjos são puros espíritos,
não seriam totalmente simples?2 Como distingui-los de Deus?
A questão veio a ser esclarecida
por um dos maiores luminares do
pensamento: São Tomás de Aquino.
Com singeleza e objetividade, ele
clarificou ideias abstrusas e precisou
conceitos ambíguos — às vezes, quase diríamos, infantis.
Notemos de passagem que ele
foi apropriadamente cognominado
de Doutor Angélico, título utilizado pela primeira vez por Santo Antonino de Florença (1389-1459)3 e
depois consagrado por São Pio V na
bula Mirabilis Deus, de 1567, “talvez
pelas suas virtudes, de modo particular pela sublimidade do pensamento e pureza da vida”, como observa o Papa Bento XVI.4
Na Suma Teológica, São Tomás
dedica todo um tratado ao tema dos
anjos, discorre sobre eles também
no tratado De Substantiis Separatis,
no II Livro das Sentenças e em De
Veritate, além de fazer esclarecedoras menções em várias outras obras.
De início, discordou da necessidade de haver um corpo angélico,
assinalando que o conceito de “matéria espiritual” é de si contraditório e insustentável. Tal afirmação foi
uma das que mais causaram polêmica no seu tempo e quase levou o Bispo de Paris, Étienne Tempier, a condená-lo como herege.
Gustavo Kralj
falam?
Pe. Louis Goyard, EP
Detalhe da “Ressurreição”, por Fra Angélico - The National Gallery of Art, Londres
De outro lado, assinalou que todos os seres criados são necessariamente contingentes e compostos.
No caso dos entes corporais, há
uma composição de matéria e forma. Mas existe uma composição anterior, inerente a toda criatura, a de
essência e ato de ser (ou existência).
Uma está para o outro numa relação de potência e ato.5 Dessa maneira, embora nos anjos não haja matéria, são eles também compostos: sua
essência se distingue realmente de
seu ato de ser.
Ora, Deus é ato puro; n’Ele há
identidade de essência e existência.
Ele, explica o padre Bandera, “é absolutamente simples, e n’Ele não
há nenhum tipo de composição. As
criaturas não alcançam nunca a simplicidade própria de Deus e, consequentemente, implicam alguma
composição. Mas para explicar esta
composição não é necessário recorrer à matéria; a composição original,
aquela inerente à criatura enquanto
tal, é a de essência e existência”.6
Os anjos têm o ser por participação no Ser divino. Não existiam desde sempre, mas receberam em determinado momento o dom da existência, criados do nada. Isso, segundo a doutrina inovadora de São Tomás, já é suficiente para distinguir a
criatura do Criador.7
Ficava assim resolvido por São
Tomás o problema referente à natureza angélica: uma criatura, por
mais excelente que seja, é composta pelo menos de essência e existência; no Criador, a existência é idêntica à essência.
Como os anjos chegam ao
conhecimento das coisas?
Ensina a Escolástica que todo
conhecimento nos vem através dos
sentidos. Assim, antes de nosso intelecto formar uma ideia sobre um
objeto, intermedeiam os sentidos
internos — senso comum, imaginação, memória, cogitativa —, organizando e preparando os dados brutos percebidos pelos sentidos exter-
nos, em representações imaginárias.
Por fim o intelecto abstrai as características individuais do objeto particular, apreendendo sua essência,
com a qual trabalhará para chegar
a conceitos, raciocínios e juízos universais.
No processo de conhecimento humano há, pois, uma passagem do objeto particular conhecido para as ideias
universais. Assim, se alguém, caminhando por uma rua, encontra de repente um animal, mesmo sem conhecer detalhes sobre ele (por exemplo,
quando nasceu e quem é seu dono),
saberá de imediato que se trata de um
cão ou de um gato, por exemplo.
Depois de havermos conhecido
vários cães, a essência canina está
bem determinada em nossa mente
por certas características as quais,
sendo universais, aplicam-se a todos os entes daquela espécie. Por
isso, a menos que haja alguma interferência (por exemplo, falta de
boa iluminação no local), vendo um
cão, saberemos que é um cão, quer
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      33
se trate de um dálmata, um pastor
alemão, um labrador ou um simples vira-latas, não importa seu tamanho, idade, cor ou outros traços
individuais.
Nosso raciocínio trabalha, pois,
com ideias universais. Por isso, entendemos perfeitamente uma
notícia que diga: “Por deNo momento em que
criou os anjos, Deus
infundiu-lhes as ideias
ou conceitos abstratos
de todas as coisas,
sem os quais eles
não seriam capazes
de conhecer as
coisas particulares ou
individuais
Gustavo Kralj
Detalhe do mosaico
da abside - Basílica
de Santa Maria
Maior, Roma
34      Flashes de Fátima · Outubro 2010
terminação do Serviço Sanitário Estadual, todos os cães devem ser vacinados contra a raiva”. “Cães”, referindo-se à essência, designa todos os
indivíduos da espécie canina.
No entanto, com o anjo o processo de conhecimento não pode dar-se da mesma maneira, uma vez que
ele não tem corpo e, assim, não
possui sentidos que captem os
particulares.
Como, então, chega ele ao
conhecimento das coisas?
Resumindo a doutrina de
São Tomás a respeito, o professor Peter Kreeft afirma
que “é próprio ao homem
progredir na verdade
por estágios, por meio
de conceitos e de raciocínios até o conhecimento da verdade de
um juízo”, enquanto
que aos anjos é próprio conhecer “intuitiva e imediatamente,
de uma vez, não por
meio desse processo
temporal”.8
Vejamos mais detidamente esses
pontos.
As espécies (ideias) pelas quais
os anjos conhecem as coisas não
lhes vêm destas últimas. Assim, por
exemplo, um anjo não precisa conhecer vários gatos para, abstraindo as características particulares de
cada um, concluir na ideia de “gato”. O espírito angélico não está sujeito a um desenvolvimento ­gradual,
mas começou a existir na plenitude
de seu conhecimento. Nunca teve
de aprender, no sentido próprio da
palavra.
Em outros termos, no momento em que criou os anjos, Deus infundiu-lhes as ideias ou conceitos
abstratos de todas as coisas, sem
os quais eles não seriam capazes
de conhecer as coisas particulares ou individuais. Quando um anjo “vê”, ou seja, aplica sua inteligência a algo novo, não adquire alguma ideia; apenas confere com o
conceito universal presente já em
seu intelecto.
Hierarquia piramidal e vertical
Entre os homens existe uma hierarquia que poderíamos chamar de
piramidal, em que muitos dependem de um ou de alguns. Assim se
dá numa família, na qual os filhos
estão sujeitos aos pais; ou num país, onde os súditos dependem do
monarca ou do Chefe de Estado.
Na hierarquia familiar, os filhos
têm uma igualdade relativa, não
dependendo uns dos outros para
fazer chegar aos pais seus desejos e questões. Evidentemente, a igualdade absoluta não
é sustentável, pois um filho será mais inteligente ou
mais forte — e, nesse aspecto, superior — que os outros.
Em um nível mais elevado,
tal desigualdade é que torna
possível a constituição de uma
sociedade.
Entre os anjos isso se passa
de maneira diferente. Como cada um constitui uma espécie única,
Como falam os anjos?
Postos estes esclarecimentos, podemos nos perguntar como se dá
a “fala” dos anjos, e é São Tomás
quem novamente nos responde: dá-se por iluminação e por locução.
Denomina-se iluminação o ato
pelo qual um anjo superior dá a conhecer a um inferior alguma verdade sobrenatural de que teve conhecimento, graças à imediata revelação de Deus. Por exemplo, Deus
manifestou diretamente a todos os
seres angélicos a futura Encarnação
do Verbo, mas não de modo igual: a
uns comunicou mais, a outros menos, deixando aos anjos superiores o
encargo de iluminar os inferiores, de
modo que estes progredissem no conhecimento desse mistério até o dia
de sua realização.11
Conforme São Tomás, a iluminação é feita da seguinte maneira: em
primeiro lugar, o anjo superior fortalece a capacidade de entender do
anjo inferior; em segundo lugar, o
superior propõe ao inferior aspectos
particulares de verdades sobrenaturais que ele, anjo superior, “concebe
de modo universal”.12
São Tomás ilustra esta doutrina
dando o exemplo de um professor
que, para ensinar uma matéria, di-
vide-a em partes coerentes e ordenadas, acomodando-a à capacidade dos alunos. Evidentemente, estes
terão um conhecimento fracionado,
muito inferior ao do professor. Assim se passa com os anjos: “O anjo
superior toma conhecimento da verdade segundo uma concepção universal, para cuja compreensão o intelecto do anjo inferior não seria suficiente”.13 Para iluminar o inferior,
o superior fragmenta e multiplica
a verdade que ele próprio conhece
de modo universal, tornando-a mais
particular.
Esta forma de comunicação, por
iluminação, só procede dos anjos superiores para os inferiores. Todavia,
na locução, também os anjos inferiores falam aos superiores. Segundo o
Doutor Angélico, a locução tem por
finalidade manifestar algo interior
àquele com quem se fala ou pedir-lhe alguma coisa: “Falar nada mais
é do que manifestar a outro o próprio pensamento”.14 Não se trata
aqui de apresentar uma verdade sobrenatural, pois neste caso, teríamos
a iluminação. Em outras palavras,
toda iluminação é locução, mas nem
toda locução é iluminação.
Evidentemente, a comunicação
dos anjos entre si não se expressa
com sons, gestos ou outro elemento material, pois sua natureza é só
espiritual. Essa comunicação se dá
por um ato de vontade, pelo qual
um anjo dirige o pensamento ao outro, dando a conhecer conceitos que
possui. Pode, inclusive, dar a conhecer algo a uns e não a outros, conforme queira.
Os anjos se comunicam também
com Deus, nunca porém como o
agente se dirige ao paciente ou, segundo a terminologia humana, o
mestre ao discípulo. “O anjo fala a
Deus — explica São Tomás —, seja
consultando a divina vontade a respeito do que deve ser feito, seja admirando a excelência divina que ele
nunca compreende a fundo”.15
Gustavo Kralj, sob concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana
quanto mais elevado é o anjo, mais
ricas são as ideias ou conceitos que
lhe foram infundidos por Deus, ao
criá-lo.9
Poderíamos, talvez, imaginar que
essa desigualdade fosse motivo de
tristeza para os anjos inferiores. Entretanto, isso não se dá, pois as apetências, capacidades e glória de cada
um são plenamente satisfeitas pelo próprio Criador, a partir do momento em que eles entraram na Visão Beatífica.10 Não têm, portanto,
possibilidade de sentimento de infelicidade. Pelo contrário, as qualidades dos anjos que lhes são superiores, constituem para eles motivo de
admiração.
Se os anjos são puros espíritos,
não seriam totalmente simples?
Como distingui-los de Deus? A
questão veio a ser esclarecida
por um dos maiores luminares do
pensamento: São Tomás de Aquino
Detalhe do "Tríptico de São Pedro
Mártir", por Fra Angélico - Museu de São
Marcos, Florença
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      35
Gustavo Kralj
O tema das conversas angélicas
A comunicação entre os anjos se
dá por um ato de vontade, pelo qual
um dirige seu pensamento ao outro
Detalhe de “Nossa Senhora entronizada
junto aos santos”, por Puccio di Simone
- National Gallery of Art, Washington
1
2
3
4
BANDERA GONZÁLEZ, Armando. Introducción a las cuestiones
50 a 64. In: Suma Teológica. 4.ed.
Madrid: BAC Maior, 2001, p.496.
Sobre a simplicidade divina, lembremo-nos que no plano espiritual,
ao contrário do que ocorre no plano material, quanto mais simples
é algo, mais é perfeito. Cf. CREAN, Thomas. A Catholic replies to
professor Dawkins. Oxford: Family
Publications, 2008, p.29-32.
CLÉMENT, André. La sagesse de
Thomas d’Aquin. Paris: Nouvelles
Editions Latines, 1983, p.171-173.
Audiência Geral, 2/6/2010. Diversos autores assinalam que tal título é devido à acuidade de seu pensamento, como que angélico. CLÉMENT, op. cit., p.171; HEUSER,
Herman Joseph. In: The American ecclesiastical review. 1923,
v.LXVIII, p.92: “Mais propriamen-
36      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Claro que o principal objeto de
conversa dos anjos é Deus, pois toda criatura tende naturalmente a
voltar-se para o Criador, sobretudo
em se tratando de seres tão perfeitos como eles.16 Além do mais, estando na Visão Beatífica, estarão
sempre contemplando novos aspectos d’Ele durante toda a eternidade. Sendo Deus infinito, por
mais que os anjos do Céu O vejam
no seu todo, não O veem totalmente, o que é impossível a qualquer
criatura.
Eles conversam também sobre os desígnios divinos a respeito do universo material, no qual o
elemento mais importante é o homem. Não podem, pois, deixar de
interessar-se enormemente pela
ação divina na História; assim, os
anjos superiores comunicam aos
inferiores o que “veem” em Deus
a tal propósito.
te por causa de seu extraordinário
poder intelectual, que lhe permitia
falar com a língua dos anjos”.
5
SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma
Teológica, I, q.50, a.2, ad3.
6
BANDERA, op. cit., p.496.
7
Idem, ibidem.
8
KREEFT, Peter. Summa of the Summa. San Francisco: Ignatius, 1990,
p.328.
9
SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma
Teológica, I, q.106, a.4, ad.1.
10
Tudo o que temos referido a propósito da natureza angélica aplica-se,
evidentemente, tanto aos anjos do
Céu, confirmados em graça, quanto aos anjos decaídos. Claro está que, ao contrário destes últimos,
os santos anjos, mesmo quando no
estado de prova, nunca cederam a
movimentos de inveja, seja em re-
Poderíamos, pois, imaginar um
diálogo no qual nosso anjo da guarda pergunta a um anjo mais elevado como compreender melhor nossa psicologia. Por exemplo, por que
procedi de tal modo, por que deixei
de agir em tal ou qual ocasião, etc.
O anjo superior, além de dar ao anjo da guarda as explicações, acrescentaria uma orientação sobre como
guiar nossa alma da maneira mais
conforme ao plano de Deus.
Uma coisa é certa: nossos anjos
da guarda estão constantemente
conversando sobre nós com os anjos que lhes são superiores, de maneira que existe uma “cascata”, ou
“cadeia”, de anjos interessados na
santificação e salvação de cada um
de nós.
Que tal pensamento contribua
para aumentar nossa devoção aos
santos anjos, esses gloriosos intercessores celestes, dos quais muitas
vezes nos esquecemos!²
lação a Deus, seja em relação aos
outros anjos.
11
JOSEPH MACINTYRE, Archibald. Os anjos, uma realidade
admirável. Rio de Janeiro: Revista
Continente, 1983, p.255.
12
SÃO TOMÁS DE AQUINO, op.
cit., I, q.106, a.1.
13
Idem, ibidem.
14
Idem, I, q.107, a.1.
15
Idem, I, q.107, a.3.
16
É evidente que os santos anjos conversam sobre Deus transidos de
amor, admiração, desejo de crescer
no conhecimento d’Ele e servi-Lo,
ao passo que os demônios são movidos por ódio e revolta: seu non
serviam ecoa por toda a eternidade.
Orações de ontem, de hoje e de sempre
Gustavo Kralj
À Rainha
da Paz
Ó
Maria, doce Mãe de Jesus Cristo, Príncipe da Paz, eis a vossos pés vossos filhos tristes,
perturbados e cheios de confusão, pois, por causa de nossos pecados,
afastou-se de nós a paz. Intercedei por
nós para que gozemos a paz com Deus e
com nosso próximo, por vosso Filho Jesus Cristo. Ninguém pode dá-la senão esse vosso Filho, que recebemos das vossas
mãos. Quando nasceu de vossas entranhas em Belém, os anjos nos anunciaram
a paz; e quando Ele abandonou o mundo, no-la prometeu e deixou-a como Sua
herança.
Vós, ó Bendita, trazeis sobre os vossos braços o Príncipe da Paz, mostrai-nos esse Jesus e deitai-O em nosso coração! Ó Rainha da Paz, estabelecei entre nós o vosso Reino e reinai com vosso
Filho no meio de vosso povo que, cheio
de confiança, se recomenda à vossa proteção. Afastai para longe de nós os sentimentos de amor-próprio; expulsai de nós
o espírito de inveja, de maledicência, de
ambição e de discórdia!
Fazei-nos humildes no bem-estar, fortes no sofrimento, pacientes e caridosos, firmes e confiantes colaboradores
da Divina Providência! Com o Menino
nos braços abençoai-nos, dirigindo nossos passos no caminho da paz, da união
e da mútua caridade, para que, formando aqui a vossa família, possamos bendizer-vos e a vosso Divino Filho por toda a
eternidade. Amém. 
(OLIVEIRA, Maria Goretti e SILVA,
Cláudia Zem. Povo em Oração. 4.ed. São
Paulo: Paulinas, 2006, p.156-157.)
“Nossa Senhora do Sagrado Coração” - Igreja do Sagrado
Coração de Jesus, Montreal (Canadá)
A palavra dos Pastores
Glória de Deus e
serviço do próximo
No dia 9 de Setembro, festa da dedicação da Sé do Porto,
D. Manuel Clemente estimula a diversificação ministerial da
Igreja: na família, na profissão e na sociedade.
Dom Manuel Clemente
Bispo do Porto
C
omemoramos um facto,
certíssimo facto, ainda que
esfumado pela sucessão dos
séculos e a indefinição das
notícias. Não bastaria para estarmos
aqui, se o que realmente aconteceu
— a dedicação desta igreja catedral
— não continuasse felizmente agora.
Mas continua, como tudo quanto
é de ordem sacramental. Da parte de
Deus, continua, como a nova Jerusalém que sempre “desce do céu”. Não
podemos divisar o bispo D. Hugo, nem
nenhum dos seus imediatos sucessores
na “restauração” da linha conhecida
dos prelados portucalenses; não ouvimos os sinos nem os cânticos que ressoaram quando finalmente se inaugurou este belíssimo templo… Mas os ritos e os cânticos de hoje são essencialmente os mesmos, como mesma é a finalidade: a glória de Deus e o serviço
do próximo, dos outros de quem nos
aproximamos pela caridade de Cristo,
aqui anunciada e jorrante.
Igreja, coração da cidade
É sabido como esta igreja era também o coração da cidade, mesmo so38      Flashes de Fátima · Outubro 2010
cialmente falando. Realidade própria daqueles tempos em que saber,
administração e clericatura eram
quase o mesmo. Quando deixou de
ser assim — num longo processo, não
isento de tensões —, o todo foi-se decompondo em partes distintas, afinal na melhor tradição cristã de “dar
a César o que é de César e a Deus o
que é de Deus” (Mt 22, 21).
Cristãos, clérigos ou leigos, participam hoje na vida da cidade, “nas
suas alegrias e esperanças, nas suas
tristezas e angústias” (Gaudium et
Spes, 1); mas fazem-no enquanto cidadãos entre cidadãos, sem outro título nem regalia. Como Jesus na oficina de Nazaré, como Jesus a pagar tributo a César, como Jesus reconhecendo a autoridade romana,
ainda que, com a sua atitude total,
a chamasse a bem melhor exercício.
Glória de Deus, ou Deus como
“glória”, vida e beleza irradiantes, luz
original e originante de toda a claridade do mundo e das vidas. Mais do
que o sol quando encandeia, mais
do que o céu estrelado, que tanto levanta o olhar e o espírito, a glória de
Deus manifesta-se na vida, porque,
glosando Santo Ireneu, “a glória de
Deus é o homem vivo”. Glória, sobretudo, na vida humano-divina de
Jesus Cristo, que tanto nos surpreende no seu mais humilde acontecer
e tanto nos supera em elevadíssima
fulguração. Nada a subtrai da mais
solidária urgência e nada a encadeia
na maior sublimação. Sabem-no bem
os grandes santos, que ainda assim —
que por isso mesmo! — se culpam de
faltosos; sofrem-no muito os maiores
artistas, por nunca chegarem onde a
glória desponta.
Acontece assim porque, no dizer do mesmo Ireneu, “a vida do homem é a visão de Deus”. Na luz da
caridade e da arte rebrilha a glória
divina, como se concentram em cada pessoa humana, autêntica síntese do mundo envolvente. Mas tudo
sucede como apelo para a realização
definitiva de todas as coisas em Cristo, onde o próprio Deus se oferece na inevitável realidade humana,
concentrada “nas alegrias e nas esperanças, nas tristezas e nas angústias” a que Jesus de Nazaré não se
Josep Renalias
Fachada da Sé Catedral do Porto reedificada pelo bispo francês Dom Hugo
durante o século XII. Ao lado, antiga prefeitura.
furtou e finalmente transfigurou, em
inextinguível luz pascal. A esta glória se dedicou o templo, a esta glória
e circulação de luz e de vida se dedica a nossa Igreja diocesana, na catolicidade da Igreja toda.
Tarefa sedutora e criativa
Permiti-me que particularize em
vós, caríssimos professores de Educação Moral e Religiosa Católica,
quanto vai dito sobre a nossa dedicação comum à glória divina. Como
há dias vos escrevi, a educação contemporânea tem pela frente a inadiável tarefa de analisar, recuperar e
recombinar melhor os “escombros”
do muito que aconteceu e simbolizou a vida social, cultural e religiosa das gerações anteriores. Tomai-o
como tarefa sedutora e criativa, para vós e para os vossos alunos.
Sejam as vossas aulas um espaço aberto ao que eles tragam, para
o conjugardes com a tradição evangélica que vós próprios transportais;
precisamente a daquele Cristo que
disse frases como esta, que bem sabeis e activais: “quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a
Mim” (Jo 12, 32).
Por isso, também esta catedral dedicada se dirige a uma cruz. Por isso,
o sinal da cruz — que, com grande significado cultural, muito bem cabe em
qualquer espaço, de pleno direito e
não exclusivo — prolonga-se na vossa
dedicação e pedagogia, na encruzilhada humano-divina de todos os itinerários e saberes. Aí mesmo, onde a luz
desponta e a glória é salutar.
Glória de Deus e serviço do próximo, glória de Deus no serviço do
próximo, assim se resume a missão
da Igreja, nas duas hastes da cruz do
Gólgota, como na própria configuração deste templo, entre a nave e o
transepto. Bem figurados estamos,
caríssimos irmãos, para irradiarmos
em missão.
Ano para a glória de Deus
Glória e serviço são a alma da
Missão 2010, em que continuamos
e nos prolongaremos. O serviço que
queremos prestar à cidade de todos é
precisamente esse de que falávamos,
de garantir e alargar pelo Evangelho
de Cristo a vida da Igreja e do mundo, da Igreja para o mundo. [...]
Esperamos vivamente que cada
vez se articule mais o que se passa
nas escolas e nas aulas de EMRC
com as comunidades cristãs em
que se localizam. Neste caso, como em vários outros, o cruzamento inter-comunitário e inter-sectorial será pastoralmente decisivo,
no respeito e acolhimento mútuos, de especificidades e métodos.
Irá mais longe do que o critério excessivamente territorial que herdámos doutras épocas da vida social e eclesial. [...]
Os primeiros meses de 2011 estão
destinados à recolha e à avaliação
possíveis do que aconteceu na Missão 2010, de maior indicação para
o futuro. Como sempre acontece, o
melhor do que se faça é obra do Espírito e o mesmo Espírito nos abrirá
o futuro, para glória de Deus e serviço do próximo.
Teremos no próximo Dezembro a ordenação de novos diáconos permanentes, belíssima graça
que nos enche de esperança. Esperamos, mais precisamente, que o
reforço deste precioso grau do sacramento da Ordem nos traga, entre outras, as seguintes vantagens
maiores: 1ª) Que sublinhe a dimensão caritativa do ministério ordenado, servindo em todas as “mesas” que preparam ou desdobram
a mesa eucarística. 2ª) Que, por isso mesmo, permita aos padres uma
maior disponibilidade para o que
lhes é próprio e hoje é particularmente requerido, na figuração sacramental de Cristo sacerdote, cabeça e pastor, pela cuidada presidência da Eucaristia, a dedicada
administração da Penitência e o generoso acompanhamento espiritual
dos fiéis. 3ª) Que estimule a maior
diversificação ministerial da Igreja, até porque a sua condição existencial - na família, na profissão e
na sociedade — inclui os diáconos
na vida comum dos baptizados, reforçando nestes a convicção de que
o serviço é a única atitude legítima
de qualquer cristão. ²
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      39
a Cáritas brasileira, já tinha arrecadado mais de 8 milhões de reais em
favor das vítimas do terremoto de 12
de janeiro no Haiti.
Esses recursos estão sendo aplicados por meio da Cáritas brasileira e da sua congênere haitiana. Mais
de R$ 3,2 milhões foram enviados ao
país para aliviar a situação no período de maior emergência (13 de janeiro a 30 de abril). Em maio, a Igreja e a Cáritas iniciaram uma segunda
fase, que se prolongará por dezoito
meses e terá por objetivo ações nas
áreas de habitação, economia solidária, educação e reforço à capacidade
da Rede Cáritas no Haiti.
Com uma Missa Solene na Catedral Primaz de Nossa Senhora da
Encarnação, a Arquidiocese de Santo Domingo deu início ao Ano Jubilar que comemora o quinto centenário da sua criação.
A Eucaristia foi presidida pelo
Cardeal Nicolás de Jesús López Rodríguez, Primaz da América, tendo como concelebrantes o Núncio
Apostólico na República Dominicana, Dom Józef Wesolowski, bem como os dois Bispos auxiliares e mais
de 100 sacerdotes. Telões instalados
no exterior permitiram acompanhar
a celebração aos fiéis que não conseguiram lugar no templo.
Em sua homilia, Dom López Rodríguez recordou a história da Arquidiocese e animou os católicos a
viverem este ano em ação de graças,
assinalando que deve ser um tempo
de conversão e de reconciliação com
Deus e com os irmãos. O Cardeal entregou a um grupo de párocos
a “cruz evangelizadora” que percorrerá todas as paróquias do país até a
conclusão do Ano Jubilar.
A Diocese de Santo Domingo foi
criada pelo Papa Julio II em 8 de
agosto de 1511, como sufragânea da
Arquidiocese de Sevilha (Espanha).
Em fevereiro de 1546, Paulo III a
elevou à categoria de Arquidiocese.
Fábio Kobayashi
500 anos de fundação da
Arquidiocese de Santo Domingo
CNBB e Cáritas arrecadam mais
de 8 milhões de reais para o Haiti
Até início de agosto, a Campanha
SOS Haiti, promovida pela CNBB e
40      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Cardeal Zenon Grocholewski
Universidades católicas
precisam manter a identidade
“Só a universidade católica que
conserva sua identidade terá um futuro e contribuirá para o bem da sociedade”, declarou em entrevista à
Agência ACI o Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregação
para a Educação Católica.
Dom Zenon prestou essas declarações no contexto do 20º aniversário da Exortação Apostólica Ex Corde Ecclesiæ, qualificada por ele como um “documento estupendo que
proporciona o espírito à universidade católica” e regula o funcionamento desses centros de estudo.
Nas duas últimas décadas, assinalou Sua Eminência, foram criadas
em todo o mundo 250 universidades
com a determinação de ser fiel a essa identidade. Recordou em seguida
o que se exige de um teólogo chamado a lecionar numa instituição católica de estudos: ele “deve acreditar
nas Sagradas Escrituras e na Tradição, e precisa estar unido ao Magistério da Igreja”.
Redentoristas apostam na
Missão Popular Renovada
Ao iniciar o novo Ano Pastoral,
os Missionários Redentoristas têm
um projecto missionário de renovação da paróquia através da Missão Popular Renovada. Em declarações à Agência Ecclesia o Pe. António Marinho, do Secretariado de
Evangelização dos Missionários Redentoristas, realça que numa “Igreja que exige uma evangelização nova, exige, em simultâneo, uma nova
missão”.
A Missão de hoje requer novos
processos, nova metodologia, corações renovados e esperança renovada, envolvendo a comunidade local, aberta aos não crentes, e trabalhando no presente para construir a
Igreja do futuro.
Nos moldes tradicionais, “o padre subia ao púlpito e falava” e o povo limitava-se a ouvir. Hoje, a missão tem “novos contornos” e o povo deverá ser “protagonista da missão” — explicou aquele missionário.
E acrescenta: “as forças vivas da paróquia deverão estar envolvidas”. A
Missão Renovada parte da cidade,
da casa, do grupo e vai ao encontro
da pessoa e da comunidade local.
A Missão Renovada requer um
tempo de preparação, a chamada
“Pré-Missão”, e é exercida durante 18 dias na Paróquia. Na 1ª semana haverá assembleias familiares nas
casas, “a partir da família e dos bairros que reúnem na casa de uma pessoa” — afirmou o Pe. António Marinho. O animador local fará a animação do grupo. “São pessoas ligadas às
forças da comunidade” — refere.
A
Cáritas internacional lançou em inícios de setembro um apelo de emergência para fazer
frente aos graves danos humanos e materiais decorrentes das inundações no Paquistão, com o que espera garantir ajuda básica para 357.500 pessoas durante seis meses. Os esforços estão concentrados em proporcionar assistência de urgência nos setores de alimentação, água potável, saneamento e higiene, moradia temporária, saúde e nutrição, bem como na proteção e recuperação de infraestruturas básicas.
A dor da Igreja perante as graves consequências
dessa catástrofe e o desejo de ajudar os danificados
já havia sido expressado pelo Papa na Audiência Geral de 18 de agosto: “Que não venham a faltar a estes
nossos irmãos, tão duramente provados, a nossa solidariedade e a assistência concreta da Comunidade
internacional!”.
Cabe notar que a Cáritas paquistanesa foi a primeira a chegar à região de Khan Bela, no sul do Punjab, levando alimentos e barracas. Os salesianos de
Quetta, por sua vez, já estão fazendo entrega de cestas básicas, com mantimentos para um mês, a famílias necessitadas, enquanto se mobilizam para ajudá-las na reconstrução dos seus lares e na recuperação
do gado e das colheitas.
Na semana seguinte haverá pregações no centro da Missão. “O povo dirige-se ao centro para escutar a
Palavra de Deus”. E adianta: “é uma
forma se combater a secularização e
uma forma de atrair outros que não
vão ao templo, mas por contágio da
família passam a ir”. A pós-Missão é
uma aposta na continuidade.
Com este novo modelo há um
empenho em construir a Igreja a
partir de comunidade de comunidades, de assembleia familiar cristã em
caritas.org
Organizações católicas
ajudam vítimas das enchentes
no Paquistão
Em entrevista à Rádio Vaticano, no dia 25 de
agosto, o Presidente do Pontifício Conselho Cor
Unum, Cardeal Paul Josef Cordes, enfatizou que a
ajuda econômica é importante, mas insuficiente: “é
preciso uma mensagem que vá além da vida terrena”. E Anila Gill, secretária executiva da Cáritas paquistanesa, declarou à Agência Fides: “O Programa
Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PAM) falou de uma ‘tríplice ameaça’ para os 17 milhões de
pessoas deslocadas: fome, pobreza, desespero. O trabalho dos voluntários da Cáritas é também o de levar
conforto e apoio psicológico às pessoas afetadas, para não deixá-las na angústia e no desespero”.
grande Assembleia, centrada na Palavra e convocada no Espírito de Jesus Ressuscitado. E conclui: “o que
importa é colocar a comunidade em
espírito de missão”.
Adoração Noturna comemora
em Roma 2º centenário
Para celebrar o 2º centenário da fundação da Adoração Noturna, a Federação Mundial das
Obras Eucarísticas da Igreja organizou um congresso em Roma, a
realizar-se de 17 a 20 de novembro.
O programa consta de palestras
sobre temas eucarísticos seguidas de
Vésperas, Missa e Vigília de Oração.
Entre os expositores cabe mencionar
Mons. Juan Miguel Ferrer Grenesche,
Subsecretário da Congregação para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, e o Prof. Guzmán Carriquiry Lecour, Subsecretário do Pontifício
Conselho para os Leigos. As Celebrações Eucarísticas serão presididas peOutubro 2010 · Flashes
de Fátima      41
los Cardeais Antonio Cañizares Llovera, Presidente da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos
Sacramentos, Stanisław Ryłko, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, e Bernard Francis Law,
Arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, bem como pelo Arcebispo
Piero Marini, Presidente do Comitê
Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais.
A Federação Mundial das Obras
Eucarísticas da Igreja congrega as-
sociações de leigos de diversos países e tem por objetivo “estimular, promover e propagar o culto ao
Santíssimo Sacramento do Altar, de
acordo com as orientações da Hierarquia Eclesiástica”, lê-se em sua
página web (www.opera-eucharistica.org).
Ameaça de bomba no
Santuário de Lourdes
Um falso alarme pôs em estado
de alerta o Santuário de Lourdes
em 15 de agosto, festa da Assunção.
Na manhã desse dia, a polícia recebeu um telefonema anônimo anunciando a colocação de quatro bombas programadas para explodir às
15h. Como medida de cautela, as
autoridades determinaram a evacuação imediata dos cerca de trinta
mil fiéis que lá se encontravam, muitos deles doentes ou portadores de
­deficiência.
“Tendo em vista o caráter simbólico de Lourdes, cidade que pode ser
Meeting de Rimini 2010
congrega quase 800 mil
participantes
C
erca de 800 mil pessoas de 29
nacionalidades participaram do
31º Meeting de Rimini, promovido
pelo Movimento Comunhão e Libertação nos dias 22 a 28 de agosto.
Sob o lema Essa natureza que nos
impulsiona a desejar coisas grandes é
o coração, sucederam-se ao longo da
semana 130 encontros, 8 exposições
e 35 espetáculos de música e teatro.
“Foi surpreendente ver como para todos o lema do Meeting tornou-se o tema predominante das intervenções”, declarou Emilia Guarnieri, Presidente da
Fundação Meeting para a Amizade entre os Povos.
O próprio Papa Bento XVI enviou uma mensagem de incentivo, na qual acentua: “Neste ano, o lema de vossa importante manifestação nos recorda
que no fundo da natureza de todo homem encontra-se uma insuprimível inquietação que o incita à procura de algo capaz de satisfazer essa sua aspiração.
Todo homem intui que precisamente na concretização dos desejos mais profundos de seu coração pode ele encontrar a possibilidade de realizar-se, chegar ao termo, ser verdadeiramente ele mesmo”.
Altas personalidades eclesiásticas participaram
das apresentações e debates, entre elas, o Presiden-
42      Flashes de Fátima · Outubro 2010
te do Pontifício Conselho Cor Unum,
Cardeal Paul Josef Cordes; o Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran; o Arcebispo de
Esztergom-Budapeste, Cardeal Péter
Erdő; e o Patriarca de Veneza, Cardeal Angelo Scola, quem desenvolveu o tema Desejar Deus, Igreja e pós-modernidade.
Também fizeram parte dos debates figuras de destaque no mundo
político, como Mary McAleese, Presidente da Irlanda; José Manuel Barroso, Presidente da Comissão Europeia; Franco Frattini, Ministro
das Relações Exteriores da Itália; e Rocco Buttiglione, Vice-presidente da Câmara dos Deputados italiana. “Ministros e políticos enfrentaram expectativas
e perguntas dos assistentes, discorrendo sobre os temas e os desafios do futuro próximo, deixando de lado as discussões de talk show”, informa a página web
do Meeting.
“O Meeting cobriu-se de êxito, porque foi ao encontro da exigência de redescobrir um olhar positivo
para a realidade e foi uma proposta para a necessidade de mudança e recuperação da vida social” ― concluiu Emilia Guarnieri.
Bento XVI visita região
atingida por terremoto
O Papa fez em 5 de agosto uma
visita privada à região de Abruzos,
Itália, atingida pelo terremoto de
abril de 2009. Na parte da manhã,
o Santo Padre parou por alguns instantes no Santuário de Nossa Senhora dos Necessitados antes de ir
almoçar, junto com o Cardeal Fiorenzo Angelini, numa comunidade
de religiosas de Carsoli.
À tarde, o Papa se dirigiu a Rocca di Mezzo, onde foi acolhido pelo Cardeal Angelo Sodano e visitou
a Igreja de São Leucio, detendo-se
em oração pelas vítimas do terremoto. Antes de regressar a Castel Gandolfo, no fim do dia, Sua Santidade
teve um breve encontro com o pároco, o Presidente da Câmara e os vereadores.
É a terceira vez em seu pontificado que Bento XVI visita essa região.
Congresso sobre o Santo
Sudário, em Lima
Realizou-se na capital do Peru,
de 31 de agosto a 2 de setembro, o
II Congresso Internacional e Exposição do Santo Sudário, Organizado pelo Centro de Estudos Católicos de Lima e pela Ação Universitária, e patrocinado pela Arquidiocese.
Participaram do evento personalidades de destaque no mundo científico, entre as quais o Prof. Bruno
Barberis, da Universidade de Turim;
o sacerdote jesuíta Manuel Carrei-
ra, professor da Carroll University, Cleveland (Estados Unidos) e
da Universidade Pontifícia Comillas
(Espanha); e o investigador e teólogo peruano Rafael de la Piedra, especialista em Santo Sudário.
O programa constou de uma jornada especial para religiosos, sessões para professores e estudantes de colégio, e uma grande exposição temática sobre o Santo Sudário, com reproduções fotográficas
em tamanho natural, em positivo e
negativo, da preciosa relíquia.
No fim do Congresso, os peritos
participantes defenderam a autenticidade da relíquia, tomando por base rigorosos estudos científicos que
indicam ter sido o Corpo de Nosso
Senhor Jesus Cristo o coberto por
este tecido.
virgendelvalle.net.ar
objeto de uma ameaça terrorista, tínhamos obrigação de tomar a sério
esse aviso”, declarou o chefe de polícia da região dos Altos Pirineus,
René Bidal.
Após uma minuciosa verificação
sem encontrar qualquer vestígio de
explosivos, as dependências do Santuário foram liberadas e pôde realizar-se normalmente a procissão das
velas, à noite.
Santuário argentino
recebe a Rosa de Ouro
Por ocasião das comemorações
do primeiro centenário da arquidiocese argentina de Catamarca, o Papa Bento XVI outorgou a Rosa de
Ouro ao Santuário de Nuestra Señora del Valle, dessa cidade. A entrega
foi feita no dia 21 de agosto pelo legado especial de Sua Santidade, o
Cardeal Francisco Javier Errázuriz
Ossa, em cerimônia da qual participaram o Arcebispo de Catamarca,
numerosas outras personalidades e
uma multidão de fiéis.
Criada por Leão IX em 1049, a
Rosa de Ouro é uma condecoração com a qual o Papa homenageia
personagens católicas preeminen-
tes. Nos últimos anos, ela foi outorgada também a santuários marianos
de grande projeção: Fátima, Portugal, em 1965; Luján, Argentina, em
1982; Aparecida, Brasil, em 1967 e
2007.
Ordem Dominicana tem
novo Superior Geral
Os 127 padres capitulares da Ordem dos Pregadores, reunidos em
Roma, elegeram no dia 5 de setembro seu novo Superior Geral: Frei
Bruno Cadoré, até então Prior da
Província francesa e Presidente da
Conferência Interprovincial da Europa.
Frei Bruno, 56 anos, formou-se em medicina e trabalhou como pediatra antes de fazer-se religioso. Recebeu a ordenação presbiteral em 1986. Doutor em Teologia, foi professor de Ética Biomédica na Universidade Católica de Lille, França.
É o 87º Mestre Geral da Ordem
e sucede no cargo ao argentino Frei
Carlos Azpiroz Costa. Dirigirá durante nove anos os mais de seis mil
dominicanos espalhados pelo mundo.
Em entrevista concedida à TV
Jour du Seigneur logo após a eleição, afirmou: “Penso que o Mestre da Ordem é o servidor da unidade entre todos os irmãos, todas as
comunidades, todas as províncias e
todas as culturas, que são tão diferentes”.
Sexto centenário de um
grande milagre
A cidade de Llíria, Espanha, festejou em 30 de agosto o 600º aniversário do “Milagre da Fonte” de
São Vicente Ferrer. Pela manhã, os
fiéis participaram de uma procissão
desde a igreja matriz até o local do
milagre, repetindo o “recorrido en
rogativa” (percurso rogatório) que
São Vicente fizera há seis séculos.
E à tarde, Dom Carlos Osoro, ArOutubro 2010 · Flashes
de Fátima      43
cebispo de Valência, celebrou uma
Missa na ermida ali erigida e benzeu em seguida as águas da nascente.
Em agosto de 1410, secou a fonte que abastecia o povoado de Llíria, perto de Valência. A população pediu auxílio a São Vicente Ferrer, o qual obteve, por suas
orações, que o manancial voltasse
a jorrar, anunciando que ele nunca
mais secaria.
“Invenire” é a nova publicação
dos Bens Culturais da Igreja
“Invenire: Revista de Bens Culturais da Igreja” é a nova publicação do Secretariado Nacional dos
Bens Culturais. O número 1 vai
ser lançado e apresentado em Outubro, no Museu Nacional de Arte Antiga.
Esta publicação, incidindo nas diversas áreas de actuação do sector,
“pretende ser mais um meio de divulgação e valorização do vasto património histórico e artístico nacional”, sendo da responsabilidade
do Secretariado Nacional dos Bens
Culturais da Igreja.
Um comunicado enviado à Agência Ecclesia refere as apostas na qualidade gráfica e nos conteúdos.
O número de estreia abre com
uma secção de investigação, com ensaios do bispo D. Carlos A. Moreira
Azevedo e Nuno Resende, a que se
segue um Portfolio sobre Marfins,
escolhidos por Carla Alferes Pinto.
Em destaque, apresenta-se ainda
um conjunto de obras de vários pontos do país, analisadas por diversos
especialistas e investigadores nacionais.
O projecto “Rota das Catedrais”,
desenvolvido em parceria com o Ministério da Cultura, será abordado em caderno temático, no qual se
destaca a entrevista ao Secretário de
Estado da Cultura, Elísio Summavielle.
O espaço de opinião na revista
é inaugurado por Rui Vieira Nery,
com o artigo “Salvar o património
de música sacra portuguesa”.
A publicação apresenta ainda uma selecção de livros e agenda
de eventos
Congresso Mundial sobre
a Imprensa Católica
O Pontifício Conselho para as
Comunicações Sociais organizou
um Congresso Mundial sobre a Imprensa Católica, a realizar-se no
Vaticano de 4 a 7 deste mês. En-
Congresso Eucarístico
Diocesano de Mogi das Cruzes
a semana de 15 a 22 de agosto, realizou-se em Mogi das Cruzes, São
Paulo, o III Congresso Eucarístico Diocesano, tendo como tema principal Eucaristia, força e vida dos discípulos missionários.
Vários milhares de fiéis assistiram à
Missa de encerramento, celebrada no
Centro Municipal Integrado pelo Bispo
diocesano, Dom Airton José dos Santos, concelebrada pelo Bispo Emérito,
Dom Paulo Mascarenhas Roxo e numerosos sacerdotes. Durante a Eucaristia, os assistentes acolheram com júbilo uma relíquia do Beato Eustáquio van
Lieshout, trazida da Holanda por familiares deste sacerdote da Congregação dos Sagrados Corações, que
exerceu seu ministério na cidade de Poá, Diocese de
Mogi das Cruzes.
44      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Jonas Salvador
N
Após a Missa, o Santíssimo Sacramento foi conduzido triunfalmente em procissão até a Catedral,
acompanhado por representantes de todos os movimentos da diocese.
Papa envia terços bentos para
mineiros presos no Chile
O Cardeal Francisco Javier Errázuriz, Arcebispo de Santiago do
Chile, levou 33 terços abençoados pelo Papa Bento XVI para os
mineiros retidos a 700 metros de
profundidade numa galeria da mina São José de Atacama. A entrega foi feita em 2 de setembro, por
ocasião da Missa celebrada no local
por Dom Errázuriz para parentes e
amigos dos mineiros.
Na homilia, Sua Eminência destacou a fortaleza, alegria e espírito
de solidariedade e disciplina com
que eles estão enfrentando sua difícil situação. Ressaltou igualmente a grande fé que têm demonstrado, seu amor a Deus e sua devoção
à Virgem da Candelária.
Comentando o empenho demonstrado por todos os setores da
sociedade para o bom êxito da operação de resgate, concluiu Dom Errázuriz: “Esse esforço proclama o
valor de toda vida humana, a qual
não tem preço”.
Aumenta número de alemães
que querem ter filhos
No ano de 2009, aumentou de
43% para 52% o número de alemães sem filhos e que gostariam de
tê-los. Este é o resultado de uma
pesquisa feita pelo Ministério da Família desse país europeu, na qual foram ouvidas 1.814 pessoas de menos
de 50 anos, segundo notícia de 5 de
setembro, da Deutsche Welle. Steffen
de Sombre, um dos responsáveis pela enquete, esclareceu que este foi o
maior aumento registrado nos últimos anos.
“Necessitamos de outras pesquisas, mas este é um sinal inicial positivo”, declarou Michaela Kreyenfeld, diretora do Laboratório de
Economia e Demografia Social do
Instituto Max Planck de Pesquisa
Demográfica.
Wikipedia
tre outros temas, serão debatidos a
problemática e o futuro da imprensa, comunhão eclesial e controvérsias, liberdade de expressão e verdade na Igreja, imprensa católica e
internet.
Em declarações à Rádio Vaticano, Dom Claudio Maria Celli, Presidente do Pontifício Conselho, expressou seu desejo de que desse
Congresso “surjam respostas para o
futuro: qual é a missão da imprensa
católica no momento atual, no contexto mundial de hoje”.
Até o dia 1º de setembro, quase
200 delegados de 58 países haviam
já confirmado sua participação.
Centenário de nascimento da
Beata Teresa de Calcutá
Dentre os numerosos atos que
marcaram em 26 de agosto o centenário de nascimento de Madre Teresa de Calcutá, cabe destacar a Missa presidida pelo Cardeal Telesphore Toppo, Arcebispo de Ranchi, Índia, na Casa-Mãe das Missionárias
da Caridade, onde repousam os restos da Beata.
Durante a celebração, da qual
participaram cerca de mil fiéis, foi
lida a mensagem enviada pelo Papa
Bento XVI à Irmã Mary Prema, superiora dessa Congregação. Nela, o
Papa afirma ter sido Madre Teresa,
em vida, um “dom inestimável” para o mundo, e continua sendo-o depois de sua morte “através do amoroso e incansável trabalho de suas filhas espirituais”.
O Cardeal Telesphore Toppo, por
sua vez, salientou que “neste centenário, devemos escutar a mensagem
da Madre Teresa, de que fomos criados para coisas maiores, para amar e
ser amados”, informa a Agência Zenit.
Novo livro-entrevista com
declarações de Bento XVI
O terceiro livro-entrevista do Papa Bento XVI com o jornalista Peter Seewald será posto à venda até
o fim deste ano, segundo informou
o Pe. Federico Lombardi, diretor do
Serviço de Imprensa da Santa Sé. O
volume será editado agora em italiano e alemão e espera-se que, mais
adiante, o seja traduzido a outras
línguas.
Em 1997, Seewald publicou O
sal da terra – Cristianismo e Igreja
Católica na mudança para o Terceiro Milênio, fruto de uma série de
entrevistas com o então Cardeal
Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. No ano
2000 lançou o segundo volume, intitulado God and the World: A conversation with Peter Seewald, o qual
foi posteriormente publicado em
português com o título de Deus e
o Mundo: A fé cristã explicada por
Bento XVI.
As entrevistas para o terceiro volume foram concedidas pelo Pontífice nos dias 26 a 31 de julho, em Castel Gandolfo.
Peter Seewald nasceu na Alemanha, no seio de uma família católica, mas afastou-se da Religião e fundou em 1976 um jornal de esquerda
radical. Voltou ao seio da Igreja em
1996, após uma conversa com o Cardeal Ratzinger. Em várias ocasiões
declarou que deve sua conversão ao
Papa Bento XVI.
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      45
História para crianças... ou adultos cheios de fé?
O principal doador
No dia assinalado, o povoado inteiro se acotovelava
em frente da nova Igreja Matriz. Porém, quando a placa
comemorativa foi descerrada, ocorreu algo inesperado...
Irmã Michelle Viccola, EP
A
Vendo-se sozinho na vida, deContudo, passavam-se os anos, e,
dalberto era um menipois do falecimento do Coronel e
por uma ou outra razão, a construno inocente e bem eduda piedosa dona Carolina, Adalção não se iniciava.
cado. Sua afetuosa mãe,
berto não se assustou: confiava toAdalberto crescera e já acompadona Carolina, tinhatalmente em suas qualidades pesnhava o pai nas suas viagens de ne-lhe ensinado desde pequenino a
soais. Além do mais, contava com
gócios. Esperto e capaz, chegou a
venerar com ternura as imagens de
o apoio e o aplauso de muita genaconselhá-lo em um empreendiJesus e de Maria. E o pai, Joaquim
te. Não, porém, das boas almas
mento mercantil, fazendo-o obter
Loveira, rico senhor de engenho copertencentes ao antigo círculo de
enorme sucesso. Mas, à medida que
nhecido pelo apelido de “O Coroamigos da família, afastadas de
o patrimônio da família aumentanel”, procurava dar-lhe exemplo de
seu convívio pela sua arrogância e
va graças a seu bom tino financeihonestidade nos negócios e benevomaus-tratos, mas de uma súcia de
ro foi ele ficando vaidoso, materialência para com os empregados.
aduladores oportunistas. Aos poulista e prepotente, relegando a seA propriedade de dona Carolicos, tornou-se mais temido que
gundo plano a boa formação recebina e o senhor Joaquim ficava a cerrespeitado, ao contrário do velho
da da mãe.
ta distância da aldeia. O pároco,
Coronel.
padre Nicolau, visitava-a com freUm dia, o jovem procurou o paquência para celebrar Missa, oudre Nicolau, já ancião, e lhe disse:
vir confissões e atender os doen— Padre, decidi cumprir a protes. Numa dessas ocasiões, o Coromessa de meu pai: vou construir a
nel prometeu construir uma igreja
nova Matriz.
adequada para Matriz, pois a antiO sacerdote ficou contente,
ga capela do povoado, além
mas desconfiado, pois conhede ser muito pequena, achacia bem a índole de Adalva-se em estado bastante
berto, que logo acresprecário. Os aldeões entucentou:
siasmaram-se com a ideia
— Só exijo uma
e dispuseram-se a colacondição.
borar, ainda que fos— Qual seria, meu
se com alguns tijolos,
filho?
um pouco de arga— Todas as despemassa ou trabalhanFurioso e agitado, Adalberto dirigiu-se à pobre mulher para
sas correrão exclusido com seus próprios
pedir-lhe explicações
vamente por minha
braços.
46      Flashes de Fátima · Outubro 2010
Edith Petitclerc
Afinal, a igreja fic­onta. Ninguém pocou pronta. O jovem
derá dar sequer um tifazendeiro
mandou
jolo, ou um quilo de
colocar na fachada,
argamassa... nada! Os
junto à porta de enoperários também setrada, uma grande plarão todos pagos por
ca de bronze, com seu
mim. Vai ser a igreja
nome em letras garramais linda de toda a
fais, e exigiu que, na
região!
hora de começar a ce— E qual o motivo
rimônia de Dedicação,
para negar aos habiela fosse descerrada
tantes da aldeia a aleao som dos trompetes
gria de dar sua modesda banda da aldeia.
ta colaboração? ToNo dia assinalado,
dos gostariam de cono povoado inteiro se
tribuir para a construacotovelava em frenção da Casa de Deus...
te do novo templo
Não vê que eles ficaenquanto a placa era
riam decepcionados?
descoberta. Porém...
Respondeu o jovem
Todos os dias, às escondidas, a boa senhora dava aos
qual não foi a surricaço, cheio de orguanimais uma porção extra de aveia
presa de todos, quanlho:
— Porque quero colocar ne- quianos olhavam admirados para do viram escrito nela: “Guilherla uma vistosa placa com esta ins- aqueles tijolos, que já tomavam as- mina, pobre viúva, principal doacrição: “Adalberto Loveira, único pecto de igreja. Sem embargo, uma dora desta bela igreja”. Adalberto
doador desta bela igreja”! Assim tristeza lhes amargava a alma: em ficou pálido! O povo, no entanto,
­
meu nome será lembrado por todos, nada podiam contribuir para edifi- murmurava... Só Dona Guilhermina, absorta nas suas orações, nada
car a nova casa do Senhor...
no presente e no futuro!
Uma pobre viúva chamada Gui- percebera.
O velho pároco, a princípio, não
Furioso e agitado, Adalberto diqueria aceitar a condição; contu- lhermina achava-se muito inconfordo, não era prudente deixar pas- mada com aquela proibição. Duran- rigiu-se à pobre mulher, para pedirsar essa oportunidade. A igrejinha te anos, havia conseguido economi- -lhe explicações. Com a maior cando p
­ ovoado deteriorava-se cada vez zar algumas moedas da parca pen- dura e sinceridade, ela narrou como
mais, e tornava-se muito urgente a são deixada pelo marido e prome- alimentara os animais... Mas da platera solenemente aplicá-las na cons- ca, nada sabia.
construção de uma nova e maior...
Enquanto procurava inutilmenNo domingo seguinte, após a trução da nova Matriz. Será que
Missa matutina, padre Nicolau deu uma anciã como ela não ia honrar o te uma explicação para o sucedido,
começou a recordar-se o arrogante
a grande notícia aos moradores da compromisso feito a Deus?
Então pensou consigo mesma: jovem dos conselhos e ensinamentos
aldeia. O aplauso foi geral, cheio de
contentamento! Mas, quando lhes “O pároco proibiu-nos dar qual- de sua extremosa mãe. Vieram-lhe
comunicou a condição... um véu de quer donativo para essa obra. No também à mente as palavras de Nosentanto, nada me impede de ali- so Senhor aos seus Apóstolos, vendo
tristeza percorreu todos os olhares!
Logo se iniciou a construção, su- mentar os animais que carregam as pessoas depositarem esmolas no
pervisionada por um famoso enge- em seu lombo os materiais. Eles es- cofre do Templo: “Em verdade vos
nheiro da capital. Um competente tão bastante malnutridos e vão aca- digo: esta pobre viúva pôs mais do
mestre de obras dirigia os trabalha- bar todos doentes se alguém não que os outros” (Lc 21, 3).
Entre lágrimas de sincero arredores, e grande número de animais lhes reforçar a ração com um poude carga era usado no transporte de co de aveia...”. Dito e feito. Todos pendimento, Adalberto pediu publimateriais. Os fundamentos ficaram os dias, às escondidas, a boa senho- camente perdão ao povo da aldeia.
prontos em poucas semanas. As pa- ra dava aos animais uma porção ex- Depois chamou à parte o padre Niredes eram levantadas com uma ve- tra de aveia, até gastar todas as ­suas colau e fez a melhor confissão de
sua vida. 
locidade surpreendente. Os paro- moedas.
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      47
________
Os Santos de cada dia 2. Santos Anjos da Guarda.
Beato Antônio Chevrier, presbítero (†1879). Fundou em Lyon,
França, a Associação dos Padres
do Prado, para formar sacerdotes
destinados a ensinar aos jovens
pobres a Fé cristã.
7. Nossa Senhora do Rosário.
Beato José Llosá Balaguer, mártir (†1936). Religioso dos Terciários
Capuchinhos de Nossa Senhora das
Dores, morto durante a Guerra Civil Espanhola nas proximidades de
Valência.
©santiebeati.it
1. Santa Teresinha do Menino
Jesus, virgem e doutora da Igreja
(†1897).
São Bavão (ou São Bavo), monge (†cerca de 659). De família nobre
e vida dissoluta, após ouvir um sermão de São Amando, distribuiu seus
bens aos pobres e retirou-se como monge à abadia beneditina de
Gand, Bélgica.
11. São Bruno, Bispo (†965).
Irmão do imperador Oto I, foi, ao
mesmo tempo, Bispo de Colônia
e Duque da Lotaríngia.
12. São Félix IV, Papa (†530).
Condenou o semipelagianismo e
erigiu a Basílica de São Cosme
e Damião, transformando dois
templos pagãos.
3. XXVII Domingo do Tempo
Comum.
São Cipriano de Toulon, Bispo (†depois de 543). Discípulo de
São Cesário de Arles, defendeu
em vários concílios a verdadeira
Fé sobre a graça.
4. São Francisco de Assis, religioso (†1226).
Beato Francisco Xavier Seelos, presbítero (†1867). Religioso redentorista de origem bávara,
enviado em missão para os Estados
Unidos, dedicou-se a dar assistência
aos meninos e jovens, e aos imigrantes de língua alemã.
5. Santo Apolinário, Bispo (†cerca de 520). Deu nova autoridade e
esplendor à Religião Cristã na Diocese de Valença, França.
6. São Bruno, presbítero (†1101).
Beata Maria Rosa Durocher, virgem (†1849). Fundou em L
­ ongueuil,
Canadá, a Congregação das Irmãs
dos Santos Nomes de Jesus e Maria,
para a formação da juventude feminina.
48      Flashes de Fátima · Outubro 2010
10. XXVIII Domingo do Tempo
Comum.
São Daniel Comboni, Bispo
(†1881). Filho de camponeses-jardineiros pobres que se tornou o primeiro Bispo católico da África Central e
um dos maiores missionários na história da Igreja. Fundou o Instituto
dos Missionários Combonianos.
13. Beata Alexandrina Maria da Costa (†1955). Por defender sua castidade, ficou paraplégica aos 14 anos. Viveu confinada
no leito o resto da vida, oferecendo-se como vítima pela conversão
dos pecadores.
Beato Francisco Xavier Seelos
8. Santo Hugo, religioso (†antes
de 1233). Cavaleiro da Ordem de São
João de Jerusalém. Nomeado Mestre da Encomenda de Gênova, Itália,
destacou-se por sua exímia bondade e
caridade para com os indigentes.
9. São Dionísio, Bispo, e companheiros, mártires (†séc. III).
São João Leonardi, presbítero
(†1609).
São Deusdedit, mártir (†cerca de
834). Abade do mosteiro beneditino de Monte Cassino, Itália. Encarcerado por ordem do tirano Sicardo,
morreu em decorrência da fome e
outras privações.
14. São Calisto I, Papa e mártir (†222).
Beato Romano Lysko, presbítero e mártir (†1949). Sacerdote da
Arquieparquia de Leopoli dos Ucranianos, preso e murado vivo durante
a perseguição religiosa na Ucrânia.
15. Santa Teresa de Jesus, virgem
e doutora da Igreja (†1582).
Beato Gonçalo de Lagos, presbítero (†1422). Sacerdote português,
da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho. Embora fosse grande t­eólogo, preferiu dedicar-se à
­instrução de crianças e pessoas com
pouca cultura.
16. Santa
(†1243).
Edviges,
religiosa
___________________ Outubro
Santa Margarida Maria Alacoque, virgem (†1690).
Santo Anastácio, monge (†cerca
de 1085). Sendo eremita na ilha de
Tombelaine, perto de Mont-Saint-Michel, foi convidado por Santo Hugo a ingressar no mosteiro de
Cluny. Faleceu em Pamiers, onde
passou os últimos anos da sua vida
em solidão.
21. Santa Úrsula e companheiras, virgens e mártires (†séc. IV).
Sofreram o martírio perto de Colônia, Alemanha.
22. São Marcos de Jerusalém,
Bispo (†séc. II). Primeiro Bispo de
origem gentio a ocupar a Sé de Jerusalém.
17. XXIX Domingo do Tempo Comum.
Santo Inácio de Antioquia,
Bispo e mártir (†107).
Beatas Maria Natália de
São Luís Vanot e companheiras, virgens e mártires (†1794).
Religiosas da Ordem das Ursulinas, guilhotinadas em Valenciennes, França.
20. Santa Adelina de Savigny,
abadessa (†1125). Com ajuda de seu
irmão, São Vital, fundou o mosteiro de Mortain, França, do qual foi a
primeira abadessa.
25. São Gaudêncio, Bispo (†cerca
de 410). Bispo de Brescia, ordenado
por Santo Ambrósio.
26. Santo Eata, Bispo (†cerca
de 686). Sendo abade e Bispo de
Hexham, Reino Unido, não
­
abandonou, entretanto, a vida
ascética.
27. Beato Bartolomeu de
Breganze, Bispo (†1270). Frade da Ordem de Predicadores,
exerceu cargos pontifícios sob
Gregório IX, Inocêncio IV e
Alessandro IV. Morreu sendo
Bispo de Vicenza, Itália.
28. São Simão e São Judas
Tadeu, Apóstolos.
Beato Salvador Damião Enguix Garés, mártir (†1936).
Membro da Ação Católica e
fundador da Adoração noturna em Alcira, Espanha, assassinado nessa cidade durante a
Guerra Civil.
18. São Lucas, Evangelista.
São Pedro de Alcântara,
presbítero (†1562). Franciscano de vida penitente e austera,
renovou a disciplina nos conventos da ordem, na Espanha,
e foi conselheiro de Santa Teresa na reforma da Ordem Carmelita.
19. Santos João Brébeuf,
Isaac Jogues, presbíteros, e
companheiros, mártires (†1649).
São Paulo da Cruz, presbítero
(†1775).
Beato Tomás Hélye, presbítero
(†1257). Sacerdote da Diocese de
Coutances, na Normandia. Exercia
seu ministério durante o dia e dedicava à oração e à penitência as horas da noite.
rado, torturado e estrangulado por
ser cristão.
Beata Alexandrina Maria da Costa
23. São João de Capistrano, presbítero (†1456).
São Severino Boécio, mártir
(†524). Senador e cônsul romano,
famoso pela sua ampla obra filosófica e teológica, martirizado pelo rei ostrogodo Teodorico, em Pavia, Itália.
24. XXX Domingo do Tempo Comum.
Santo Antônio Maria Claret, Bispo (†1870).
São José Lê Ðăng Thi, mártir
(†1860). Oficial vietnamita, encarce-
29. São Zenóbio, presbítero e
mártir (†séc. IV). Morto em Sidon, Líbano quando exortava
os outros cristãos a enfrentarem com
ânimo os tormentos do martírio.
30. São Marcelo de León, mártir
(†298). Centurião romano decapitado em Tánger, Marrocos, por se declarar cristão diante dos seus companheiros.
31. XXXI Domingo do Tempo Comum.
Beato Leão Nowakowski, presbítero e mártir (†1939). Fuzilado em
Piotrków Kujawski durante a ocupação militar da Polônia.
Outubro 2010 · Flashes
de Fátima      49
É belo crer na luz!
Procuremos guardar sempre nas nossas almas a
lembrança das cintilações da graça divina, ainda
quando esta pareça nos faltar.
Raphaela Nogueira Thomaz
C
laude Lorrain, famoso
pintor francês do século
XVII, dotado de um
estilo luminoso e poético,
soube representar em seus quadros
aquilo sem o qual — nas palavras de
Edmond Rostand — as coisas não
seriam senão o que elas são: o sol.
Algumas das suas aprazíveis
telas são iluminadas pelo esplendor
do alvorecer. Sem fazer ruído e
sem se apressar, sobrepujando
paulatinamente em brilho todos os
outros astros celestes, o sol desperta
como de um sono profundo e
começa, de modo discreto, a
acordar a natureza, dando vida a
mais uma jornada.
Outras cenas transcorrem à
brilhante luz do meio-dia, ou sob
o límpido céu de uma tarde de
primavera. É a hora do triunfo.
Num esforço magnífico e colossal,
o sol se desdobra, por assim dizer,
em luz e calor, cobre a superfície da
terra e dá-lhe outro colorido.
No entardecer, encerrada sua
missão, o astro rei se retira com
dignidade, reduzindo aos poucos
suas feéricas manifestações, para
ceder lugar à lua, que apenas
o reflete de forma tênue. Tudo
se faz trevas e quietude. Por
meio de um profundo silêncio,
os seres vivos reverenciam sua
50      Flashes de Fátima · Outubro 2010
majestade celeste, na certeza de
um novo amanhecer que fenderá a
escuridão da noite, enchendo tudo
de luz mais uma vez.
* * *
Algo de análogo acontece
quando a luz da graça divina
ilumina as almas dos homens:
ora ela as favorece com afagos,
ora as prova com suas demoras...
ora, enfim, as repreende por seus
erros, ou até parece retirar-se do
firmamento, como em um ocaso.
Há certos momentos nos quais
ela nos acompanha como o sol do
meio-dia, e se nos fosse pedido
um grande sacrifício, fá-lo-íamos
generosamente. Entretanto, em
outras situações, a mão benfazeja de
Deus parece retirar-se, obrigandonos a caminhar sem deixar de crer
nessa luz, que não vemos mais.
Agindo assim, a Providência
parece nos dizer: “Meu filho, já
experimentaste a doçura da graça e
compreendeste quão maravilhoso
é o seu auxílio. Agora vou provarte. Sê fiel nas horas em que não me
sentires ao teu lado, nas ocasiões
em que tudo parece anoitecer
para tua alma. Pelo fato de estares
agora na aridez, não penses que as
consolações nunca mais voltarão.
Quero tornar patente tua boa
disposição interior, dar ensejo a
manifestares tua gratidão por tudo
quanto já fiz por ti...”.
Devemos admirar o aspecto
fabuloso das coisas quando vistas
sob a luz de um sol magnífico,
como nos quadros de Claude
Lorrain, certos de que sua beleza
não se extinguirá ao anoitecer, mas
renascerá na aurora. Da mesma
forma, em nossa vida espiritual,
procuremos guardar sempre a
recordação das cintilações da
graça divina, ainda quando esta
pareça nos faltar. E nas trevas da
noite, esforcemo-nos por continuar
amando os maravilhosos horizontes
descortinados por ela... pois, como
exprimiu belamente o mesmo
Edmond Rostand: “É durante a
noite que é belo crer na luz!”. 
Paisagem com Cristo a caminho de Emaús Museu Hermitage, São Petersburgo
Gustavo Kralj
Paisagem com um templo de Baco - National Gallery of Canada, Ottawa
Chegada de Ulisses à corte de Licomedes Museu Hermitage, São Petersburgo
Gustavo Kralj
Víctor Toniolo
Víctor Toniolo
Devemos admirar o aspecto fabuloso das coisas quando
vistas sob a luz de um sol magnífico, certos de que sua
beleza não se extinguirá ao anoitecer.
Mulheres troianas queimando seus navios The Metropolitan Museum of Art, Nova York
V
ós tendes, ó
Maria, autoridade
de Mãe para com
Deus, e por isso alcançais
também o perdão aos
mais abjetos pecadores.
Em tudo vos reconhece o
Senhor por sua verdadeira
Mãe e não pode deixar
de atender a cada desejo
vosso.
(Santo Afonso Maria de Ligório,
As Glórias de Maria)
L. Varela
Imagem Peregrina do
Imaculado Coração de Maria
pertencente aos Arautos do
Evangelho

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