Revista Arautos do Evangelho
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Revista Arautos do Evangelho
Número 89 Outubro 2010 II Romaria Nacional a Aparecida © Office Central de Lisieux Santa Teresinha do Menino Jesus aos 22 anos de idade Para mim a oração é um impulso do coração, um simples olhar para oCéu, um grito de gratidão e amor no meio da provação como no meio da alegria. (Santa Teresinha do Menino Jesus) SumáriO Escrevem os leitores ���������������������������������������� Flashes de Fátima Admiração: caminho para Deus (Editorial) . . . . . . . . . . . . . 4 ...................... Orações de ontem, de hoje e de sempre – À Rainha da Paz Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira Editor: Associação dos Custódios de Maria R. Dr. António Cândido, 16 1050-076 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 www.arautos.pt / www.arautos.org.br E-mail: [email protected] Assinatura anual: 24 euros Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício Arautos do Evangelho Impressão e acabamento: Pozzoni - Istituto Veneto de Arti Grafiche S.p.A. Via L. Einaudi, 12 36040 Brendola (VI) Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. A voz do Papa – Um programa de vida para cada Bispo ...................... ........................ 6 Comentário ao Evangelho – Admirar, eis a solução de incontáveis problemas nossos ...................... 32 5 Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Ano XII nº 89 - Outubro 2010 Os anjos falam? 10 37 A palavra dos Pastores – Glória de Deus e serviço do próximo ...................... 38 Aconteceu na Igreja e no mundo ...................... 40 “Proclamar Jesus Cristo na Ásia hoje” ...................... 18 História para crianças... O principal doador ...................... Santo André Bessette – O taumaturgo de Montreal ...................... 22 46 Os santos de cada dia ...................... 48 É belo crer na luz! Arautos no mundo Membro da ...................... Associação de Imprensa de Inspiração Cristã Tiragem: 40.000 exemplares 26 ...................... 50 E screvem os leitores Escravos da graça de Deus Prestigiosa revista Uno-me com muita alegria à celebração jubilar desta prestigiosa revista Arautos do Evangelho, que relata a história de seu movimento eclesial. Agradeço o testemunho sobre Dom Bosco, em suas páginas, e lhes asseguro minha oração fraterna. Dom Tomás González Morales, SDB Bispo Emérito Punta Arenas – Chile Do Comando Militar do Sudeste Ao agradecer a gentileza do envio da revista Arautos do Evangelho, expresso os meus cumprimentos pelo padrão e sempre interessante conteúdo da mesma. Por oportuno, solicito a atualização de meu endereço. Gen. Ex. João Carlos Vilela Morgero Comandante Militar do Sudeste São Paulo – Brasil Muito boa ideia aproximarse dos pequenos Recebam minhas saudações e cumprimentos pela obra maravilhosa que realizam, a qual acompanhamos através da Revista e dos demais envios que nos fazem. Chamou-me a atenção a seção História para crianças. É uma muito boa ideia aproximar-se dos pequenos, pois em nossos dias existem tantos problemas para a juventude, e é preciso saber endireitar os caminhos desde o começo para, mais à frente, terem um bom porvir. As histórias são muito bonitas e as leio com minha filha, que se encanta ao folhear a Revista quando chega à nossa casa. É importante continuar elaborando mais deste material para a juventude. Não são os jovens o futuro da sociedade? Adriana Benítez Benavides Latacunga – Equador 4 Flashes de Fátima · Outubro 2010 São já alguns contatos que tenho tido com os Arautos do Evangelho e confesso sair sempre edificado com todos vós, com a beleza da ordem, da disciplina, do respeito manifestado pelas coisas de Deus. Este é um carisma vosso, pôr em ordem alguma desordem que ultimamente foi se gerando na Igreja, com a falta de respeito pelo sagrado. Tratamos a Deus por “tu”, enquanto vós tratais a Deus por Rei e Senhor e equilibrais a Barca de Pedro. A vossa veste revela a luta do cristão para travar o bom combate da Fé, e o asseio com que vestis e a vossa austeridade mostram-me como, de fato, sois “escravos”, no bom sentido, da graça de Deus. Pe. Zeferino de Almeida Barros Peso da Régua – Portugal Sob o manto protetor de Nosso Senhor Jesus Cristo Fiquei encantado com a revista Arautos do Evangelho, cuja edição de nº 70 me foi presenteada por um seminarista de Moçambique, em um voo que fizemos juntos, entre São Paulo e Salvador. Gostei muito da matéria escrita por Arão Naif Mazive, na referida edição. Ele foi muito feliz quando comparou o soberbo Monte Kilimanjaro, na Tanzânia, com: “a esperança de que um dia todos os povos da África e do mundo inteiro possam estar unidos sob o Manto Protetor de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Paulo Torres Porto Seguro – Brasil Qualidade das matérias apresentadas Queria parabenizá-los pela Revista. Recebi meu primeiro exemplar e realmente fiquei impressionada pela qualidade das matérias apresentadas, pela veracidade das informações e, de modo especial, pela capacidade intelectual dos edi- tores. Portanto, achei conveniente apresentá-la a todos os membros do grupo de apostolado que estamos montando, bem como a amigos, indicando-os para receberem a proposta de assinatura da revista Arautos do Evangelho. Espero ter a oportunidade de, devagar, ir apresentando os benefícios que tal edição possa trazer ao nosso grupo. Carla Valéria Amorim Horsth Ipatinga – Brasil Amor e dedicação à Santa Igreja e ao Santo Padre Sou seminarista da Diocese de Dourados e curso Filosofia na Arquidiocese de Campo Grande. Venho, por meio deste e-mail, agradecer-lhes pelo amor e dedicação que demonstram à Santa Igreja e ao Santo Padre. Chegou às minhas mãos o DVD produzido por ocasião de sua Revista nº 100. Nele pude ver quão grande é a missão que assumem e com que amor a realizam. A Igreja, hoje, precisa de muitos testemunhos como este. Bruno Florindo Via e-mail – Brasil Instrumento de catequese e evangelização O que primeiro me atrai nesta revista é a capa, sempre tão chamativa, e a invocação de Nossa Senhora, da contracapa. Mas é o Comentário ao Evangelho, de Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, que nos leva a conhecer mais a Nosso Senhor Jesus Cristo e a amar nossa Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Nossa Senhora os ajude para esta belíssima revista ser difundida, cada vez mais, e alcançar muitos lares e instituições, sendo instrumento de catequese e evangelização, e contribuindo para a formação das famílias. Henrique Leite Joinville – Brasil Editorial T 89 Número 2010 Outubro a II Romari a l a n io c a N a id c re Apa Segunda Romaria Nacional a Aparecida do Apostolado do Oratório, em 14 de agosto p.p. (ver p. 26-27) Admiração: caminho para Deus udo o que há no universo é, de alguma forma, reflexo do Criador. Em seu incontável número e rica diversidade, se apresentam as criaturas diante de nós para que, admirando-as, possamos considerar de algum modo a sabedoria divina e assim nos aproximarmos dela (S. Tomás de Aquino, Contra Gent., II, c. 2, n. 1,2). Ademais, a admiração também “produz no coração dos homens a reverência para com Deus” (Ibid., n. 3). Essa admiração pode ser definida como o estado de alma pelo qual uma pessoa contempla algo, superior ou inferior a ela, e experimenta sentimento de encantada aprovação e simpatia, mas não para aí: transcendendo, vê naquilo o reflexo do sagrado, ou seja, de Deus criador. Acontece, entretanto, que às vezes custa ao homem estar disposto a admirar. Não deseja abrir inteiramente o coração, pensando ser mais deleitável permanecer submergido em seu egoísmo. Mera ilusão, porque, mais cedo ou mais tarde, ele vai se enfarar de si mesmo, pois sua autocontemplação acabará por lhe revelar suas insuficiências e defeitos. Pelo contrário, a vida da pessoa admirativa nunca é tediosa ou triste, uma vez que seus focos de contemplação situam-se fora dela, permitindo-lhe peregrinar de encanto em encanto pelos reflexos de Deus nesta Terra (Contra Gent., III, c. 62, n. 9). Mas há graus de admiração, porque nem tudo a merece na mesma intensidade. Acima de todas as criaturas nesta Terra, só os homens são feitos à imagem e semelhança de seu Criador. E entre eles, nem todos estão do mesmo modo permeados pelas perfeições divinas. A admiração por algo que seja mais nobre e elevado que nós tem um efeito altamente benéfico para nossas almas, tirando-nos de nossa pequenez e nos elevando, para fixar-nos no que nos é superior. Enlevar-se por aquilo que é digno de ser admirado nos causa alegria, nos transforma, abre nossos corações à influência do que é bom, e ajuda-nos a superar os dramas tão frequentes em nossos dias. Melhor ainda, nos assemelha a quem é o objeto do nosso enlevo. Ocupando um lugar único e inigualável, acima de todas as meras criaturas, Maria Santíssima é digna de nossa admiração sem limites. Os próprios anjos, tão superiores a Ela em natureza, mas tão inferiores em graça, devotam-lhe um profundo enlevo. Se esses espíritos superiores admiram e amam Nossa Senhora como sua Rainha, o que dizer de nós, que, ademais, não somos apenas súditos d’Ela, mas também filhos? Admirar e amar ternamente Nossa Senhora é encontrar alívio para as nossas dificuldades, orientação em nosso caminhar e um porto de bonança em meio às borrascas de nossa existência. É, enfim, aproximarmo-nos de Jesus, que nos ouvirá com muito mais bondade e atenção se notar nossa atitude carinhosa e apaixonada por sua Santíssima Mãe. ² (Fotos: Sérgio Miyasaki) Outubro 2010 · Flashes de Fátima 5 A voz do Papa Um programa de vida para cada Bispo A missão do Bispo não pode ser entendida com a mentalidade da eficiência e da eficácia. Sua tarefa exige que ele seja pai, irmão e amigo dos fiéis a ele confiados. C tre os novos Pastores das diversas Igrejas particulares. Saúdo de modo cordial também o Cardeal Leonardo Sandri, Prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, e manifesto o meu reconhecimento a quantos colaboram para a organização deste encontro. Tenha diante dos olhos o exemplo do Bom Pastor Segundo uma tradição muito significativa, vós realizastes em primeiro lugar uma peregrinação ao túmulo do Apóstolo Pedro, que se conformou com Cristo Mestre e Pastor, até à morte, e morte de cruz. L'Osservatore Romano aríssimos Irmãos no Episcopado! Estou muito feliz por me encontrar convosco, Bispos de recente nomeação, provenientes de vários países do mundo e reunidos em Roma para o congresso anual promovido pela Congregação para os Bispos. Agradeço ao Cardeal Marc Ouellet as amáveis palavras que me dirigiu também em nome de todos vós; e desejo formular-lhe especiais bons votos no início do seu serviço como Prefeito deste Dicastério: venerado Irmão, estou feliz que Vossa Eminência começa com esta bonita experiência de comunhão eclesial en- O Cardeal Marc Ouellet, novo Prefeito da Congregação para os Bispos, saúda Bento XVI 6 Flashes de Fátima · Outubro 2010 A este propósito, são esclarecedoras algumas expressões de São Tomás de Aquino, que podem constituir um verdadeiro programa de vida para cada Bispo. Comentando a expressão de Jesus no Evangelho de João: “O Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas”, São Tomás observa: “Ele consagra-lhes a sua pessoa, no exercício da autoridade e da caridade. Ambas são necessárias: que elas Lhe obedeçam e que Ele as ame. Com efeito, a primeira sem a segunda não é suficiente” (Exp. sobre Jo 10, 3). A Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium esclarece: “O Bispo, enviado pelo pai de família a governar a sua família, tenha diante dos olhos o exemplo do Bom Pastor, que veio para servir e não para ser servido (cf. Mt 20, 28; Mc 10, 45) e para dar a própria vida pelas ovelhas (cf. Jo 10, 11). Escolhido dentre os homens e sujeito às fraquezas humanas, pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram (cf. Hb 5, 1-2). Não se recuse a ouvir os súditos, de quem cuida como verdadeiros filhos e a quem exorta a que cooperem ativamente consigo. Tendo que prestar contas a Deus pelas suas almas (cf. Hb 13, 17) ele deve, com a oração, a pregação e todas as obras de caridade, ter cuidado tanto deles como daqueles L'Osservatore Romano Bento XVI com os Bispos participantes do seminário de atualização promovido pela Congregação para a Evangelização dos Povos, na Sala dos Suíços do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo que ainda não pertencem ao único rebanho, os quais ele deve considerar como se lhe tivessem sido confiados pelo Senhor. Devendo, como o Apóstolo Paulo, dar-se a todos, esteja sempre pronto para a todos evangelizar” (n.27). Uma missão de “fidelidade à Igreja e à pureza da sua fé” A missão do Bispo não pode ser entendida com a mentalidade da eficiência e da eficácia, pelo que é necessário prestar atenção primariamente àquilo que deve ser levado a cabo, mas é preciso ter sempre em consideração a dimensão ontológica, que se encontra na base da dimensão funcional. Com efeito, o Bispo, pela autoridade de Cristo que o reveste, quando está sentado na sua Cátedra é colocado “acima” e “diante” da comunidade, enquanto ele é “para” a comunidade, à qual dedica a sua solicitude pastoral (cf. João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis, n.29). A Regra Pastoral do Papa São Gregório Magno, que poderia ser considerada o primeiro “diretório” para os Bispos da História da Igreja, define o governo pastoral como “a arte das artes” (i, 1.4), e esclarece que a potestade de governo “é bem regida por quantos, com ela, sabem opor-se às culpas, e com ela sabem ser iguais aos outros... e dominam os vícios, não os irmãos” (II, 6). Fazem ponderar as palavras explicativas do rito da entrega do anel, na liturgia da Ordenação episcopal: “Recebe o anel, sinal de fidelidade e, na integridade da fé e na pureza da vida, tutela a Santa Igreja, Esposa de Cristo”. A Igreja é “Esposa de Cristo” e o Bispo é o “guardião” (episkopos) deste mistério. Portanto, o anel é um sinal de fidelidade: trata-se da fidelidade à Igreja e à pureza da sua fé. Por conseguinte, ao Bispo é confiada uma aliança nupcial: a da Igreja com Cristo. São significativas as palavras que lemos no Evangelho de São João: “O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, exulta de alegria ao ouvir a voz do esposo” (Jo 3, 29). O conceito de “conservar” não quer dizer apenas manter aquilo que já foi estabelecido — embora este elemento nunca possa faltar — mas na sua essência inclui também o aspecto dinâmico, ou seja, uma tendência perpétua e concreta ao aperfeiçoamento, em plena harmonia e em adaptação contínua às novas exigências derivadas do desenvolvimento e do progresso do organismo vivo, que é a comunidade. Chamado a ser “pai, irmão e amigo”, e não mero organizador São grandes as responsabilidades de um Bispo para o bem da diocese, mas também da sociedade em geral. Ele é chamado a ser “forte, decidido, justo e tranquilo” (Congregação para os Bispos, Diretório para o ministério pastoral dos Bispos Apostolorum successores, n.44), para um discernimento sapiencial das pessoas, das realidades e dos acontecimentos, exigido pela sua tarefa de ser “pai, irmão e amigo” (cf. ibidem, n.76-77) ao longo do caminho cristão e humano. Trata-se de uma profunda perspectiva de fé, e não simplesmente humana, administrativa ou de cunho sociológico, aquela em que se insere o ministério do Bispo, que não é um mero governante, nem um burocrata ou um simples moderador e organizador da vida diocesana. São a paternidade e a fraternidade em Cristo que conferem ao Superior a capacidade de criar um clima de confiança, de acolhimento e de afeto, mas inclusive de franqueza e de justiça. A este propósito, são particularmente esclarecedoras as palavras Outubro 2010 · Flashes de Fátima 7 de uma antiga oração de Santo Aelredo de Rievaulx, abade: “Tu, dócil Senhor, puseste alguém como eu à frente da tua família, das ovelhas do teu aprisco (…) para que se pudesse manifestar a tua misericórdia e revelar a tua sabedoria. Aprouve à tua benevolência governar bem a tua família mediante um homem assim, de tal forma que se se pudesse ver a sublimidade da tua força, e não a do homem, para que não se venha a gloriar-se o sábio na sua sabedoria, nem o justo na sua justiça, nem o forte na sua força, pois quando eles governam bem o teu povo, és Tu que o manténs, e não eles. E portanto não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória” (Speculum caritatis, PL CXCV). Estimados Irmãos, enquanto vos confio estas breves reflexões, invoco a salvaguarda maternal de Maria Santíssima, Regina Apostolorum, e concedo de coração a cada um de vós, aos vossos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos seminaristas e aos fiéis das vossas dioceses uma especial Bênção Apostólica. (Discurso aos Bispos de recente nomeação, 13/9/2010) Um Papa apaixonado pelo Senhor Na base de qualquer atividade evangelizadora, deve haver sempre uma íntima união pessoal com Cristo, a qual precisa ser cultivada e aumentada a cada dia. “Renovar tudo em Cristo” G. Felici H oje, gostaria de meditar acerca da figura do meu Predecessor São Pio X, cuja memória litúrgica será celebrada no próximo sábado, salientando algumas das suas características que podem ser úteis também para os Pastores e os fiéis da nossa época. Pároco, Bispo e patriarca Giuseppe Sarto, este é o seu nome, nasceu em Riese (Treviso) em 1835, de uma família de camponeses, e depois dos estudos no Seminário de Pádua foi ordenado sacerdote com 23 anos de idade. Primeiro foi vice-pároco em Tombolo, depois pároco em Salzano, em seguida cônego da Catedral de Treviso, com o encargo de chanceler episcopal e diretor espiritual do Seminário diocesano. Nestes anos de rica e generosa experiência pastoral, o futuro Pontífice demonstrou aquele profundo amor a Cristo e à Igreja, a humildade e simplicidade e a grande caridade para com os mais necessitados, 8 Flashes de Fátima · Outubro 2010 São Pio X que constituíram características de toda a sua vida. Em 1884 foi nomeado Bispo de Mântua e em 1893 Patriarca de Veneza. No dia 4 de agosto de 1903 foi eleito Papa, ministério que aceitou com hesitação, porque não se considerava à altura de uma tarefa tão importante. O Pontificado de São Pio X deixou um sinal indelével na História da Igreja e caracterizou-se por um notável esforço de reforma, resumida no mote Instaurare omnia in Christo, “Renovar tudo em Cristo”. Com efeito, as suas intervenções envolveram os vários âmbitos eclesiais. Desde o começo, dedicou-se à reorganização da Cúria romana; depois, deu início aos trabalhos para a redação do Código de Direito Canônico, promulgado pelo seu sucessor Bento XV. Sucessivamente, promoveu a revisão dos estudos e do percurso de formação dos futuros sacerdotes, fundando também vários seminários regionais, dotados de boas bibliotecas e professores preparados. Outro ramo importante foi o da formação doutrinal do Povo de Deus. Desde os anos em que era pároco, tinha redigido pessoalmente um Catecismo e, durante o Episcopado em Mântua, trabalhara a fim de que se chegasse a um Cate- cismo único, se não universal, pelo menos italiano. Como autêntico Pastor, compreendera que a situação nessa época, também devido ao fenômeno da emigração, tornava necessário um Catecismo ao qual cada fiel pudesse fazer referência, independentemente do lugar e das circunstâncias de vida. Como Pontífice, preparou um texto de doutrina cristã para a Diocese de Roma, o qual depois se difundiu em toda a Itália e no mundo. Este Catecismo, chamado “de Pio X”, foi para muitas pessoas um guia seguro na aprendizagem das verdades relativas à fé, pela sua linguagem simples, clara e específica, e pela eficácia da sua exposição. Fiel à tarefa de confirmar seus irmãos na Fé Pontifício Instituto Bíblico. Os últimos meses da sua vida foram funestados pelos indícios da guerra. O apelo aos católicos do mundo, lançado a 2 de agosto de 1914, para manifestar “a dor acerba” da hora presente, era o clamor de sofrimento do pai que vê os filhos pôr-se uns contra os outros. Faleceu pouco tempo depois, no dia 20 de agosto, e a sua fama de santidade começou a difundir-se imediatamente no meio do povo cristão. Caros irmãos e irmãs, São Pio X ensina-nos a todos que na base da nossa obra apostólica, nos vários campos em que trabalhamos, deve haver sempre uma íntima união pessoal com Cristo, que se há de cultivar e aumentar dia após dia. Eis o cerne de todo o seu ensinamento, de todo o seu compromisso apostólico. Somente se formos apaixonados pelo Senhor, seremos capazes de conduzir os homens a Deus, de os abrir ao seu Amor misericordioso e, deste modo, de abrir o mundo à misericórdia de Deus. L'Osservatore Romano (Audiência Geral, 18/8/2010) L'Osservatore Romano Ele dedicou uma atenção notável à reforma da Liturgia, de modo particular da música sacra, para levar os fiéis a uma vida de oração mais profunda e a uma participação mais completa nos Sacramentos. No Motu Proprio Tra le sollecitudini, de 1903, primeiro ano do seu Pontifica- do, ele afirma que o verdadeiro espírito cristão tem a sua fonte primária e indispensável na participação concreta nos mistérios sacrossantos e na oração pública e solene da Igreja (cf. AAS 36 [1903], 531). Por isso, recomendava a aproximação frequente dos Sacramentos, favorecendo a recepção diária da Sagrada Comunhão, bem preparados, e antecipando oportunamente a Primeira Comunhão das crianças mais ou menos aos sete anos de idade, “quando a criança começa a raciocinar” (cf. S. Congr. de Sacramentis, Decretum Quam singulari: AAS 2 [1910], 582). Fiel à tarefa de confirmar os irmãos na Fé, São Pio X, diante de algumas tendências que se manifestaram no âmbito teológico, no final do século XIX e no início do século XX, interveio com determinação, condenando o “Modernismo”, para defender os fiéis de concepções errôneas e promover um aprofundamento científico da Revelação, em harmonia com a Tradição da Igreja. Em 7 de Maio de 1909, com a Carta Apostólica Vinea electa, fundou o Nos meses de verão, as audiências pontifícias tiveram lugar no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo. Na foto, Audiência Geral de 18 de agosto Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va Outubro 2010 · Flashes de Fátima 9 Comentário ao Evangelho – XXXI Domingo do Tempo Comum Admirar, eis a solução de incontáveis problemas O egoísmo nos traz a amargura e a infelicidade. Como Zaqueu, subamos com coragem e sem respeito humano a “árvore da admiração” a tudo o que é verdadeiro, bom e belo, e teremos a alegria de receber Jesus em nossa alma. I – O homem tem necessidade de admirar A alma aspira inelutavelmente chegar à Causa Primeira de tudo, a partir das causas segundas O final do século XIX acompanhou assombrado o ingente esforço de uma menina norte-americana que marcaria a História. Acometida de grave doença aos 18 meses de idade, Helen Adams Keller (1880-1968) perdeu completamente a visão e a audição. Ficou, assim, reduzida a um triste isolamento, sem possibilidade de conhecer o exterior, a não ser pelo tato, olfato e paladar. Essa trágica e silenciosa noite de sua mente poderia ter se perpetuado por toda a vida, se não fosse o providencial encontro com uma genial educadora, Anne Mansfield Sullivan, que conseguiu ensinar-lhe a linguagem das mãos, o alfabeto braile e, por fim, a falar fluentemente. Depois de indizíveis dificuldades, Helen chegou a dominar o francês e o alemão, com boa pronúncia. Cursou faculdade, percorreu o mundo dando palestras e escreveu livros. Anos a fio, ela desenvolveu um quase inacreditável labor, impelida pela ânsia de se relacionar com os outros, movimento natural de todo ser humano, dotado de instinto de sociabilidade. Ora, assim como pelo heliotropismo as plantas crescem à procura da luz, também as almas necessitam abrir-se à contemplação das criaturas 10 Flashes de Fátima · Outubro 2010 para, a partir delas, subir até o Criador. Não foi diferente com Helen Keller, a qual crivava a sua mestra com perguntas como estas: O que faz o sol ser quente? Onde estava eu antes de vir para minha mãe? Os passarinhos e os pintos saem do ovo: de onde vem o ovo? Quem fez Deus? Onde está Deus? A senhora já viu Deus?1 Estas são questões que revelam como a alma aspira inelutavelmente chegar à Causa Primeira de tudo, a partir das causas segundas. Pois há em nós uma inata tendência para Deus — que, por analogia, poderíamos chamar de teotropismo — a qual nos leva a fazer correlações, transcendendo da escala natural à sobrenatural. Nesse sentido, ensina São Tomás: “permanece no homem, ao conhecer o efeito, o desejo de saber que este efeito tem uma causa e de saber o que é a causa. Esse desejo é de admiração e causa a inquirição”.2 Ora, como tudo quanto há no universo espelha em alguma medida o Criador, o movimento ordenado da alma é deixar-se atrair pelos reflexos de verdade, beleza e bem, presentes nas criaturas. Assim, todos devemos procurar tornar nossa alma muito propensa à admiração, de forma a, deparando-nos com algo que é elevado, santo, nobre ou simplesmente reto, nos encantarmos e remontarmos à Causa suprema. E, com toda a evidência, essa admiração cabe, sobretudo, em Mons. nossos Sérgio Hollmann “Jesus e Zaqueu” - Basílica de Paray-le-Monial (França) João Scognamiglio Clá Dias, EP relação ao Homem-Deus, à sua Mãe Santíssima e à Santa Igreja. II – Um publicano chamado Zaqueu “Naquele tempo,1 Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade”. Nosso Senhor Se dirige a Jerusalém para sofrer a Paixão. Ainda pouco antes de chegar a Jericó, o tinha anunciado aos seus discípulos pela terceira vez, mas eles “nada compreenderam de tudo isso: o sentido da palavra lhes ficava encoberto e eles não entendiam o que lhes era dito” (Lc 18, 34). Pelo contrário, os seguidores de Jesus, entre eles os próprios Apóstolos, julgavam estar Ele a caminho da Cidade Santa para fazer um grande milagre, pelo qual Israel seria libertado do jugo romano. É nesse clima de expectativa e otimismo que o Divino Mestre vai ser recebido em Jericó. Ódio dos judeus pelos publicanos “Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico”. 2 a Evangelho A “Naquele tempo, 1 Jesus tinha entrado em Jericó e estava atravessando a cidade. 2 Havia ali um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos e muito rico. 3 Zaqueu procurava ver quem era Jesus, mas não conseguia porque era muito baixo. 4 Então, ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali. 5 Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: ‘Zaqueu, desce depressa! Hoje Eu devo ficar na tua casa’. 6 Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com alegria. 7 Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: ‘Ele foi hospedar-Se na casa de um pecador!’. 8 Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais’. 9 Jesus lhe disse: ‘Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. 10 Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido’” (Lc 19, 1-10). Outubro 2010 · Flashes de Fátima 11 United States Library of Congress Inteligentes, sagazes e dotados de forte senso organizativo, os romanos instituíram como cobradores de impostos, em Israel, funcionários judeus. Por conhecerem melhor seus conterrâneos, estavam estes em condições de garantir maior receita para os cofres de César, apesar de um quase inevitável desvio de recursos, pois quem se prestava a exercer essa função, naquelas circunstâncias, não costumava primar pela retidão de alma. Naturalmente, os judeus que aceitavam tal encargo eram considerados traidores e “cofautores da dominação romana”,3 sendo odiados por toda a sociedade hebraica. O próprio nome da função — publicano — despertava repulsa. Ora, precisamente o chefe dos cobradores de impostos da região, Zaqueu, homem muito rico, será o protagonista desta cena evangélica. Comandar o grêmio mais detestado pelos seus patrícios equivalia a ser considerado ladrão entre os ladrões, ou seja, líder daqueles que faziam fortuna à custa da exploração do povo. Podemos, portanto, bem conjecturar o quanto era ele objeto de desprezo. Helen Keller bombardeava sua mestra com perguntas como: Quem fez Deus? Onde está Deus? A senhora já viu Deus? Helen Keller e Anne Sullivan em 1897 12 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Semente de salvação “Zaqueu procurava ver quem era Jesus, ...” 3a Não obstante, aquele publicano vai mostrar nesta passagem do Evangelho um fundo de alma muito bom. Movido certamente pela graça, manifestava-se desejoso de ver o Divino Mestre e até, se possível, Lhe dirigir a palavra. Sentia, sem dúvida, a consciência pesada, mas ao mesmo tempo desabrochava em seu interior uma crescente admiração por Jesus. Como bem aponta São Cirilo, “germinava nele uma semente de salvação”.4 “Donde vinha a um homem dessa profissão um tão vivo desejo?”, pergunta-se o padre Duquesne. “Ah! Seu coração devia estar agitado por numerosos movimentos os quais, sem dúvida, ele mesmo não conseguia distinguir bem. Esse desejo, que procedia do alto, não era sem um princípio de fé, e não podia deixar de ser acompanhado de estima, de respeito e de amor ao Salvador”.5 A admiração leva a vencer o respeito humano “...mas não conseguia porque era muito baixo. 4 Então, ele correu à frente e subiu numa figueira para ver Jesus, que devia passar por ali”. 3b O Mestre entrara em Jericó seguido de uma multidão alvoroçada pelo estupendo milagre da cura do cego que pedia esmolas à beira do caminho (cf. Lc 17, 36).6 Segundo o padre Duquesne, as ruas por onde Jesus haveria de passar mal podiam conter a aglomeração daqueles que aguardavam sua passagem.7 Debalde procurava Zaqueu uma brecha naquela turba para satisfazer seu anseio de ver o Senhor. Não é frequente os Evangelistas descreverem características físicas de alguém. Assim, por exemplo, não sabemos ao certo a altura de Pedro nem se João usava barba. Sem embargo, São Lucas — que inclui em seu relato observações feitas sob um prisma médico — nos informa ser esse publicano “muito baixo”, dado fundamental para bem compreendermos o que acontecerá logo a seguir. Os pequenos de estatura são, não raras vezes, muito ágeis e espertos. Além disso, Zaqueu, a julgar pela narração do Evangelho, parece ser ainda relativamente jovem. À procura de um posto de observação favorável, corre à frente e sobe numa figueira, indicando com essa atitude que seu grande empenho em ver Jesus não resultava de mera curiosidade. Zaqueu não era um homem tosco. Tinha numerosos empregados a seu serviço e estava acostumado a fazer cálculos. Uma pessoa de sua projeção social precisava de um motivo muito forte para trepar numa árvore “como um camponês qualquer”, observa acertadamente Willam.8 E, mais ainda, para se expor à vista de um público cuja hostilidade lhe era manifesta. O Evangelho não entra no detalhe de quanto tempo permaneceu ele à espera em cima da figueira. Pode-se, contudo, conjecturar que foi considerável, pois Nosso Senhor caminhava lentamente, cercado pela multidão, detendo-Se por vezes para atender um doente, dar um conselho, responder a alguma pergunta. Nesse período, a atitude de Zaqueu foi uma verdadeira demonstração de pertinácia, confiança e combate ao respeito humano. Com efeito, quantos desaforos e chacotas não teve de suportar do alto da árvore o chefe dos publicanos! E se o fez foi porque, conforme comenta o padre Duquesne, “no fundo de seu coração, alguma esperança sustentava sua coragem, sem ele ter uma ideia clara a esse respeito. Indubitavelmente, desejava ser notado pelo Salvador, e queria que Ele conhecesse todas as disposições de sua alma”.9 A avidez do lucro e o apego ao dinheiro costumam diminuir e embotar a capacidade de admiração nas pessoas. Ora, ao que parece, Zaqueu não se deixara dominar completamente pela ambição, pois, apesar de ser cobrador de impostos e muito rico, dará provas de possuir um notável desprendimento e espírito admirativo. Essa ousada atitude de subir na figueira, ele a tomou, sem dúvida, movido por uma graça de enlevo por Nosso Senhor. Uma interessante interpretação sobre o aspecto simbólico do gesto de Zaqueu, nos é dada pelo padre Maldonado ao comentar que “a turba deste mundo nos impede de reconhecer o Senhor; precisamos deixá-la e calcá-la aos pés, para nos elevarmos a uma virtude superior e ver do alto a Cristo”.10 O episódio apresenta ainda outro belo significado, uma lição para todos: quando nos sentirmos pequenos, devemos procurar Jesus, sobretudo no Santíssimo Sacramento, exposto no ostensório. Esse desejo de estar com Ele bastará para movê-Lo a apiedar-Se de nós e dar-nos aquilo de que nossas almas mais necessitam. Nosso Senhor fixa seu olhar no publicano “Quando Jesus chegou ao lugar, olhou para cima e disse: ‘Zaqueu, desce depressa!’”. 5a Paremos por um instante para imaginar a cena. Como fizera ao curar o cego à entrada da cidade, Jesus se detém diante da árvore onde se encontra Zaqueu e lhe dirige um olhar pervadido de bondade. O povo se aglomera, curioso de ver o que ia suceder, talvez na expectativa de que o Mestre tomasse uma atitude de censura em relação ao cobrador de impostos. Entretanto, em lugar de repreendê-lo, Jesus chama-o afetuosamente pelo nome, e o manda descer. Por sua ciência humana, Nosso Senhor não conhecia ainda esse publicano. Entretanto aqui revela não ignorar quem ele era, nem as virtudes que começavam a despontar em sua alma. Muito a propósito, comenta São Cirilo: “Cristo já contemplara aquela cena com seus olhos de Deus, e ao levantar as vistas, fitou essa pessoa com os olhos da carne. E como seu objetivo é que todos os homens se salvem, estendeu a esse homem sua bondade”.11 “Qual não teria sido a surpresa do publicano quando ouviu pronunciar seu próprio nome! E quão grande sua alegria!” — observa o padre Truyols.12 E Jesus ainda lhe infundiu maior ânimo e confiança ao dizer-lhe “desce depressa”, pois, no acertado juízo do padre Tuya, “há nessas palavras um anseio espiritual por conquistá-lo”.13 É curioso notar que Zaqueu nada diz a Jesus. A julgar pelo relato evangélico, limita-se a olhá-Lo com enlevo e veneração, enquanto escuta, jubiloso, suas palavras. A atitude de Zaqueu foi uma verdadeira demonstração de pertinácia, confiança e combate ao respeito humano “Hoje vou hospedar-Me na tua alma” 5b “‘Hoje Eu devo ficar na tua casa’”. Como se isso não bastasse, o Divino Mestre toma a iniciativa de convidar-Se à residência de Zaqueu, contrariando os costumes. Mas, observa Santo Ambrósio, Jesus “sabe que quem O acolhe como hóspede receberá uma abundante recompensa, e acontece que, embora não tivesse ouvido ainda seu convite, havia já lido em seu Outubro 2010 · Flashes de Fátima 13 “Cristo chamou Zaqueu porque notava a disposição de sua alma e a diligência posta por ele para conseguir vê-Lo passar” coração”.14 Enfrentando todas as murmurações que poderia suscitar sua presença na casa de um publicano, Nosso Senhor anuncia sua visita “de um modo ao mesmo tempo régio e familiar”.15 O episódio confirma que nada atrai mais as graças de Deus do que um espírito tomado pela admiração. Com certeza, afirma Maldonado, “Cristo chamou Zaqueu porque notava a disposição de sua alma e a diligência posta por ele para conseguir vê-Lo passar”.16 E Santo Agostinho comenta: “Quem considerava grande e inefável felicidade o fato de vê-Lo passar, mereceu imediatamente tê-Lo em casa. Infunde-se a graça, atua a fé por meio do amor, recebe-se em casa Cristo, que habitava já no coração”.17 Importa determo-nos nas palavras “na tua casa”. Sem dúvida, referia-Se Nosso Senhor à residência de Zaqueu, a qual precisava ser posta em ordem para acolhê-Lo. Para o chefe dos cobradores de impostos, isso não era difícil, pois, pela sua posição social, deveria receber com frequência visitas importantes. Não lhe faltariam criados nem recursos para isso. Mas, do ponto de vista sobrenatural, é como se Jesus Se comunicasse com Zaqueu de olhar a olhar, de coração a coração, dizendo-lhe: “Hoje vou hospedar-Me na tua alma”. Portanto, a “casa” significa aqui também a alma que deve estar preparada para acolher o Senhor. A admiração traz alegria “Ele desceu depressa, e recebeu Jesus com alegria”. 6 Diante da misericordiosa iniciativa do Redentor, Zaqueu manifesta-se disposto a em tudo obedecer. Tomado de entusiasmo, “fez o que lhe mandava Cristo, e do modo como este lhe ordenara. Acabava de dizer-lhe que descesse depressa, e depressa desceu. Isso é corresponder à graça: seguir prontamente Aquele que chama, sem demora nem pretextos”.18 Mais ainda, aquele homem recebe Jesus “com alegria”, pois ao sentir-se inteiramente interpretado e compreendido por quem lhe é superior, sua alma se enche de júbilo e se abre para a fé. Vemos, assim, como a admiração é excelente antídoto para a má tristeza que leva ao desâni14 Flashes de Fátima · Outubro 2010 mo. Quando, à semelhança de Zaqueu, nos sentimos atraídos por Jesus e procuramos ocasiões para encontrá-Lo — seja no Sacramento da Eucaristia, seja através dos seres criados — Ele nos recompensa vindo à nossa casa, isto é, entrando em nosso convívio e enchendo-nos de graças, muitas vezes sensíveis. Surpresa e incompreensão da opinião pública “Ao ver isso, todos começaram a murmurar, dizendo: ‘Ele foi hospedar-Se na casa de um pecador!’”. 7 Tomados de ódio contra aquele publicano, os presentes “não puderam vencer seus preconceitos, apesar de pouco antes terem dado glória a Deus pela cura do cego, operada por Jesus”,19 e começaram a murmurar contra Ele. É importante notar que São Lucas afirma serem “todos”, e não apenas alguns, os que recriminavam Jesus por ir hospedar-Se na casa de um “pecador”. Esta palavra, sublinha o padre Tuya, “tinha para eles o sentido de um homem imerso em toda impureza ‘legal’, que neste caso podia ser também moral, devido às suas extorsões no exercício do cargo”.20 Entrar na residência de um cobrador de impostos significava, para os judeus de então, macular-se e atrair sobre si a maldição de Deus. Essa rejeição à atitude de Jesus carecia, entretanto, de qualquer fundamento. Não havia ensinado já o Divino Mestre, em disputa contra os fariseus, que não viera “chamar à conversão os justos, mas sim os pecadores” (Lc 5, 32)? Bem conclui Santo Agostinho: querer impedir Jesus de visitar o lar do publicano equivalia “a censurar o médico por entrar na casa do enfermo”.21 Jesus, como observa o padre Truyols, não fez caso dessas murmurações. “Ele era o Bom Pastor, que viera ao mundo em busca da ovelha perdida. Para encontrá-la e reconduzi-la ao redil aceitara o convite do publicano Levi, deixara-Se tocar pela pecadora e não ignorava que a aparente delicadeza de consciência daqueles que reprovavam seu proceder não era senão um disfarce de refinado orgulho e de cruel egoísmo”.22 Submissão e generosidade de Zaqueu “Zaqueu ficou de pé, e disse ao Senhor: ‘Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres...’”. 8a Gustavo Kralj Este versículo mostra o quanto o publicano havia preparado a “casa” de sua alma para bem receber o Messias. Chegado àquela residência, Jesus deve ter Se recostado à moda oriental em um divã, e seria inusual que o anfitrião não fizesse o mesmo. Ora, Zaqueu permaneceu de pé, em sinal de submissão, veneração e reconhecimento da superioridade do seu Hóspede, no qual talvez vislumbrasse rasgos de divindade. Nessas alturas, ele já deseja mudar de vida, converter-se, abandonando seus erros e pecados. De fato, inúteis teriam sido todas as graças recebidas, se não conduzissem a esse desfecho. “Jesus, o doce e misericordioso Salvador dos pecadores, era inexorável na luta contra o pecado. Exigia daqueles que queriam segui-Lo, e daqueles aos quais dispensava favores ou perdoava crimes, o propósito de romper definitivamente com todo e qualquer pecado”.23 O fato de Zaqueu dispor-se a dar aos pobres a metade dos seus bens prova sua sinceridade e boa-fé. Entretanto, Fillion vai mais longe, ao tomar esse gesto “como uma recordação da honra que lhe fizera Jesus, e como manifestação de que, com fé inquebrantável, O considerava o Messias prometido”.24 “‘...e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais’”. 8b Contudo, a conversão do publicano não teria sido completa sem o desejo de reparar os males que fizera. Pois o pecado de roubo exige, além de pedir perdão a Deus, a restituição dos bens indevidamente adquiridos. Enlevado pela contemplação da Justiça em substância, que ante ele Se encontrava, Zaqueu manifesta a disposição de cumprir essa obrigação com largueza: “Se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”. Sua generosa atitude revela verdadeira dor pelo pecado e uma retidão de alma fruto da conversão obtida pela graça. Esta passagem do Evangelho nos proporciona um valioso princípio para o apostolado: as autênticas conversões se conquistam sempre despertando nas almas a admiração por Nosso Senhor Jesus Cristo. Apesar da falta de méritos, é justificado por Nosso Senhor “Jesus lhe disse: ‘Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. 10 Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido’”. 9 Os habitantes de Jericó mostram hoje ao peregrino o sicomoro onde Zaqueu teria subido para esperar Jesus Nosso Senhor usa aqui a palavra “casa” também num sentido mais profundo, referindo-se, como vimos, à alma do anfitrião. Pois “foi nesse momento que a fé de Zaqueu, sua obediência, seu desinteresse e sua caridade fizeram dele um verdadeiro filho de Abraão”.25 Assim, ao afirmar “hoje a salvação entrou nesta casa”, Jesus declara solenemente que esse homem está perdoado. Antes de se encontrar com o Divino Mestre, Zaqueu era um pecador que corria atrás do lucro, por vezes ilícito. Entretanto a graça introduziu em sua alma o desejo de ver aquele que “veio procurar e salvar o que estava perdido”, e o publicano correspondeu. Buscar Nosso Senhor, subir na árvore, descer depressa ao ser chamado, receber com alegria e atender com generosidade: eram sintomas da Outubro 2010 · Flashes “Quem considerava grande e inefável felicidade o fato de vê-Lo passar, mereceu imediatamente tê-Lo em casa” de Fátima 15 aceitação das graças recebidas. Para consumar a conversão, faltava apenas Zaqueu reconhecer seus pecados, pedir perdão e manifestar-se disposto a reparar o mal. Foi isso o que ele fez na presença de Jesus. III – A admiração transforma Quem está tomado de verdadeiro enlevo, escuta a palavra do Senhor, observa seus preceitos e enfrenta todas as dificuldades para segui-Lo, até o fim Em certo sentido, todos somos Zaqueus. Estando nesta vida em estado de prova, a qualquer momento pode Nosso Senhor passar diante nós e nos chamar, servindo-Se de uma leitura, uma conversa, uma pregação, ou quiçá por meio de uma moção interior da graça. Como responderemos nós se, como ao publicano, Ele nos disser: “desce depressa, porque hoje vou hospedar-Me em tua casa”? “Saberemos imitar a generosidade de Zaqueu e, antecipando-nos à admoestação do Senhor, responder-Lhe com espontânea prontidão: ‘doravante, quero firmemente não pecar mais’?”.26 Tudo dependerá da admiração que tivermos. O caminho da conversão do publicano, narrado nesta passagem do Evangelho, começou com um mero sentimento de curiosidade pa- ra com aquele Homem do qual ele tanto ouvira falar. Mas, pela ação da graça, logo se transformou em desejo de conhecê-Lo, falar-Lhe e estar com Ele, dando início ao processo que haveria de torná-lo um verdadeiro “filho de Abraão”. Como Zaqueu, assim devemos reagir também nós, fugindo das multidões e subindo na “árvore da admiração” para melhor contemplar o Divino Mestre. Porque quem está tomado de verdadeiro enlevo, escuta a palavra do Senhor, observa seus preceitos e enfrenta todas as dificuldades para segui-Lo, até o fim. Árduo seria avaliar até que ponto são profundas as consequências desse voltar-se enlevado para o que é superior, se não fosse São Tomás de Aquino nos ensinar: “A primeira coisa que então [ao atingir o uso da razão] ocorre ao homem pensar é deliberar sobre si mesmo. E se se ordenar ao fim devido, conseguirá pela graça a remissão do pecado original”.27 Ou seja, derramam-se sobre ele os mesmos efeitos do Batismo sacramental!28 Essa ousada afirmação do Doutor Angélico é analisada em profundidade por Garri- 1 Cf. KELLER, Helen Adams. A história de minha vida. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940, p.248-249. 8 WILLAM, Franz Michel. A vida de Jesus no país e no povo de Israel. Petrópolis: Vozes, s/d, p.338. 2 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I-II, q.3, a.8, resp. Ver também q.32, a.8, resp.: “A admiração é um certo desejo de saber, que surge no homem porque vê o efeito e ignora a causa; ou porque a causa de certo efeito excede o conhecimento ou a potência de conhecer”. 9 DUQUESNE, op. cit., p.311. 3 TUYA, OP, Manuel de. Biblia comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v.II, p.889. 4 SAN CIRILO DE ALEJANDRÍA. Comentario al Evangelio de Lucas, 19, 2, apud ODEN, Thomas C. e JUST Jr., Arthur A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia – Nuevo Testamento, San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, v.III, p.392. 5 DUQUESNE. L’Évangile medité. Lyon-Paris: Perisse Frères, 1849, p.309. 6 Respeitamos aqui a ordem cronológica da exposição de São Lucas, sem entrar na discussão exegética sobre se a cura do cego aconteceu realmente à entrada ou à saída da cidade. 7 Cf. DUQUESNE, op. cit., p.309. 16 Flashes de Fátima · Outubro 2010 10 MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios. Evangelios de San Marcos y San Lucas. Madrid: BAC, 1951, v.II, p.752. 11 SAN CIRILO DE ALEJANDRÍA, op. cit., p.392. 12 FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954, p.490. 13 TUYA, OP, op. cit., p.889. 14 SANCTUS AMBROSIUS. Expositio Evangelii secundum Lucam. l.8, 82: PL: 15, 1791. 15 FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Vida pública. Madrid: Rialp, s/d, v.II, p.457. 16 MALDONADO, SJ, op. cit., p.753. 17 SANCTUS AUGUSTINUS HIPPONENSIS. Sermo 174, c.IV: PL 38, 942. 18 MALDONADO, SJ, op. cit., p.753. 19 GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.III, p.398. 20 TUYA, OP, op. cit., p.889. 21 SANCTUS AUGUSTINUS HIPPONENSIS. Sermo 174, c.V: PL 38, 943. 22 FERNÁNDEZ TRUYOLS, SJ, op. cit., p.490. 23 KOCH, SJ, Anton; SANCHO, Antonio. Docete. Formación básica del predicador y del conferenciante. La gracia. Barcelona: Herder, 1953, t.IV, p.303. 24 FILLION, op. cit., p.457. 25 DUQUESNE, op. cit., p.314. 26 KOCH, SJ; e SANCHO, op. cit., p.304. 27 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., I-II, q. 89, a.6. 28 Cf. Idem, III, q.66, a.11, ad.2 e q.68, a.2. 29 GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. El Sentido Común, la Filosofía del ser y las fórmulas dogmáticas. Buenos Aires: Desclée de Brouwer, 1944, p.338-339. 30 SANTO AGOSTINHO. Confissões, L.I, c.1. Gustavo Kralj gou-Lagrange, segundo o qual, se um menino não batizado e educado entre os infiéis, ao chegar ao pleno uso da razão amar eficazmente “o bem honesto por si mesmo e mais do que a si mesmo”, estará justificado. “Por quê? Porque desse modo ama eficazmente a Deus, autor da natureza e soberano bem, confusamente conhecido; amor eficaz que no estado de queda não é possível senão pela graça, que eleva e cura”.29 Com efeito, na admiração pelo bem o homem se torna semelhante ao objeto de seu enlevo. Pelo contrário, ao fechar-se em si mesmo, julgando encontrar nisso a felicidade, enche a alma de amargura, tristeza e frustração, pois a desvia de sua finalidade suprema que é Deus. “Fizeste-nos, Senhor, para ti, e nosso coração estará inquieto enquanto não repousar em ti”,30 ensina o grande Santo Agostinho. Através do enlevo pelos reflexos do Criador, a exemplo de Maria, Mãe de todas as admirações, melhor nos identificaremos com Jesus, modelo perfeitíssimo de todos os homens. Terá entrado, assim, a salvação em nossa casa, pela porta da admiração! Através do enlevo pelos reflexos do Criador, a exemplo de Maria, Mãe de todas as admirações, melhor nos identificaremos com Jesus, modelo perfeitíssimo de todos os homens "Maria, Mãe de Deus" - Mosteiro do Monte da Tentação, Jericó (Israel) Outubro 2010 · Flashes de Fátima 17 Congresso de leigos católicos da Ásia “Proclamar Jesus Cristo na Ásia hoje” “Coragem, irmãos! Cristo ressuscitado já conquistou para nós a vitória! O mal não mais tem a palavra final”, foi a exortação dos congressistas a todos os católicos da Ásia. Pe. Joshua Alexander Sequeira, EP De Seul U ma auspiciosa e enriquecedora experiência, eis em que consistiu para mim a participação no Congresso de Leigos Católicos da Ásia, realizado em Seul entre 31 de agosto e 5 de setembro. A começar pela primorosa organização do Evento, a cargo do Pontifício Conselho para os Leigos, em estreita colaboração com a Conferência Episcopal Coreana. Considero, sobretudo, animador constatar o empenho e a objetividade com que os mais de 400 participantes refletiram sobre os meios de impulsionar o anúncio do Evangelho nesse continente onde os cristãos constituem uma pequena minoria e veem amiúde sua liberdade religiosa restringida, quando não totalmente negada. Dom Ryłko preside a Missa de abertura A Missa de abertura dos trabalhos foi celebrada pelo Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, Cardeal Stanisław Ryłko, na Catedral neogótica de Myeong-dong, local histórico onde nasceu a Igreja Católica na Coreia. Celebrada em inglês, foi intercalada com cânticos coreanos, enquanto as Orações dos Fiéis eram lidas em diferentes línguas asiáticas. Na multidão de fiéis presentes destacavam-se os representantes de movimentos laicais de quase todos os países da região. Concelebraram o Arcebispo de Seul, Cardeal Nicholas Cheong Jin-Suk, o Arcebispo de Ranchi, Índia, Cardeal Telesphore Toppo, Missa de Abertura – A Missa Inaugural, celebrada em inglês na Catedral neogótica de Myeong-dong, foi intercalada com cânticos coreanos, enquanto as Orações dos Fiéis eram lidas em diferentes línguas asiáticas 18 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Auditório cheio – Mais de 400 participantes, representando a maioria dos movimentos laicais com presença na Ásia, acompanhavam com vivo interesse as palestras do Congresso o Arcebispo Thomas Menamparampil, representando a Federação das Conferências Episcopais da Ásia, e numerosos Bispos e sacerdotes. Em sua homilia, o Cardeal Ryłko ressaltou a natureza fundamentalmente missionária da Igreja e o papel imprescindível dos leigos nessa tarefa. Salientou, ademais, que o fato de o Cristianismo ser minoritário na Ásia não deve constituir empecilho à obra de evangelização, pois o fator principal não é o número, mas o “encontro pessoal com Cristo”, é cada cristão ser um alter Christus. O maior presente que a Igreja pode oferecer aos povos da Ásia Na sessão inaugural, o Núncio Apostólico Dom Osvaldo Padilla leu uma mensagem de incentivo enviada pelo Papa Bento XVI. Nela, ressalta o Santo Padre que aos católicos do continente asiático, onde vivem dois terços da população mundial, “foi confiada uma grande missão: a de dar testemunho de Jesus Cristo, o Salva- dor universal da humanidade”. Acrescenta ser este “o serviço supremo e o maior presente que a Igreja pode oferecer aos povos da Ásia”. Manifesta em seguida sua esperança de que o Congresso sirva de estímulo e orientação aos leigos asiáticos, no exercício de seu “sagrado mandato”. Por fim, os estimula a não se deixarem intimidar pelas dificuldades ou pela enormidade da tarefa, confiantes na presença do Espírito Santo que opera nos corações dos indivíduos “abrindo misteriosamente as portas a Cristo”. Sessão inaugural – O Núncio Apostólico na Coréia, Dom Osvaldo Padilla (direita) deu início aos trabalhos lendo a mensagem enviada pelo Papa Bento XVI. À esquerda, os Cardeais Nicholas Cheong Jin-Suk, Stanisław Ryłko e Telesphore Toppo, bem como o Arcebispo Josef Clemens Outubro 2010 · Flashes de Fátima 19 sobre o tema Jesus Cristo, um dom para a Ásia; as do brilhante professor indiano Guilherme Vaz, que discorreu sobre a Identidade e Missão da Escola Católica; e as do padre Damasus Uichul Jeong, sacerdote coreano, sobre a Renovação da paróquia. Despertaram, por fim, vivo interesse as comovedoras intervenções de vários participantes para contar fatos de sua experiência evangelizadora do dia a dia. Alguns testemunhos, como os de certas senhoras coreanas, narravam com despretensão verdadeiras proezas. Em breves palavras, o Cardeal Cheong Jin-Suk deu as boas-vindas aos presentes. Em seguida, o Cardeal Ryłko conclamou os congressistas a serem uma “minoria criativa” no vasto continente asiático. E o Ministro coreano da Cultura leu uma mensagem de saudação do Presidente da República, Lee Myung Bak. Eclesialidade, missão e santidade As atividades do Congresso — exposições, debates, vídeos, círculos de estudo — transcorreram na ampla e bem equipada sala de conferências do Centro Pastoral de Seul. Foi especialmente alentador, para mim, constatar o vivo interesse com que a assistência acompanhava as palestras sobre os diversos temas de atualidade para os leigos, o que era facilitado por um excelente serviço de tradução simultânea em inglês, italiano e coreano. Em sua conferência A vocação e missão dos leigos à luz da Exortação Apostólica pós-sinodal “Christifideles Laici”, Dom Josef Clemens, Secretário do Pontifício Conselho para os Leigos, ressaltou a grande atualidade desse documento que sublinha a identidade particular e a dignidade dos leigos, decorrentes do Batismo, e aponta-lhes a necessidade de tender à santidade, fazendo uma “síntese vital entre a fé e os deveres da vida diária”. Convívio fraterno Prof. Guzmán Carriquiry – O Subsecretário do Pontifício Conselho para os Leigos acompanhou com grande interesse todas as sessões de trabalho Coube ao Subsecretário desse Pontifício Conselho, Prof. Guzmán Carriquiry, apresentar o tema A nova primavera para as Associações de Leigos fiéis. Entre outros pontos, acentuou o conferencista que a resposta da Providência para a secularização generalizada da sociedade hodierna são os novos Movimentos Eclesiais, que “trazem uma confissão serena, cheia de alegria e esperança, de que Jesus é o Senhor”. Foram também muito aplaudidas as palavras do Cardeal Toppo, “Oh, quão bom e quão suave é viverem os irmãos em união!” (Sl 132, 1). Veio-me várias vezes à mente esta exclamação do Salmista, ao observar o ambiente de convívio fraterno que caracterizou o Congresso. Durante a Missa cotidiana, por exemplo, era emocionante sentir ao vivo a comunhão de tantas pessoas de culturas e nacionalidades diferentes, todas, entretanto, unidas em Cristo. Mas essa clave de benquerença fraterna se prolongava ao longo de todo o dia: nas rodas de conversa que se formavam espontaneamente durante os minutos de “tempo livre”, nos lanches, nas refeições “à moda coreana”. A todo momento e em todo lugar, era fácil notar a ale- Convívio fraterno – O espírito de comunhão entre pessoas de culturas e nacionalidades diferentes, especialmente intenso durante a Santa Missa, se prolongava ao longo de todo o dia 20 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Ativa participação – Em grande parte, o Congresso esteve reservado para os leigos narrarem sua experiência evangalizadora e apresentarem os respectivos movimentos gria contagiante com a qual sacerdotes, religiosos, leigos de ambos os sexos e de todas as idades, trocavam ideias, transmitiam informações, comunicavam e anotavam endereços. Um dos atos mais marcantes do Congresso talvez tenha sido a sessão na qual o delegado de cada país expôs a situação da respectiva Igreja local. As pequenas Igrejas do Cazaquistão, da Mongólia e do Turcomenistão, bem como a corajosa Igreja do Paquistão, foram objeto da solidariedade de todos. Os representantes de Igrejas mais populosas — Índia, Filipinas, Sri Lanka, Malásia, Tailândia, etc. — discorreram sobre suas possibilidades, problemas e esperanças para o futuro. Igualmente bem acolhidos foram os representantes de vários Movimentos eclesiais e Associações laicais, que fizeram uma breve apresentação dos respectivos carismas. Entre eles estavam a Renovação Carismática Católica, Casais para Cristo, Focolares, Legião de Maria, Caminho Neocatecumenal, Sociedade de São Vicente de Paulo e Arautos do Evangelho. “Sal e luz do continente asiático” Não sem pesar para os participantes, chegou ao fim o Congresso. A Catedral de Myeong-dong foi de todo insuficiente para conter a multidão de fiéis que se juntaram aos congressistas, na Missa de encerramento celebrada pelo Cardeal Nicholas Cheong Jin-Suk. Em sua homilia, o Purpurado conclamou todos os presentes a, confiantes na graça de Deus e sem medo por serem minoria, saírem para “proclamar Jesus na Ásia e elevar-se ao desafio de nossa vocação batismal”. Fez notar que o mês de setembro é comemorado na Coreia como o “Mês dos Mártires” e salientou que os grandes progressos recentes da Igreja nesse país muito devem ao testemunho heroico de milhares de leigos coreanos que deram a vida em defesa da Fé. No final da celebração, os Cardeais distribuíram terços bentos pelo Papa, como símbolo de comunhão afetiva e efetiva com o Vigário de Cristo na Terra, fonte de toda eficácia apostólica. Em mensagem dada a público no último dia, os participantes do Con- gresso manifestaram sua vocação de ser “sal e luz do continente asiático”: “Queremos ser protagonistas ativos na vida da Igreja local, em comunhão com nossos Bispos”. Filial missiva ao Papa e mensagem aos leigos da Ásia Os congressistas enviaram ao Papa Bento XVI uma carta na qual, em termos cheios de filial piedade, agradecem-lhe por sua paternal mensagem de incentivo, por suas orações para o bom êxito do evento e pela solicitude demonstrada por seu “pequeno rebanho”. Enviaram uma mensagem também a todos os leigos da Ásia, reconhecendo seu grande valor, seus esforços evangelizadores, seus sofrimentos e dramas, e encorajando-os a proclamar na Ásia o nome de Jesus. “Coragem, irmãos! Cristo ressuscitado já conquistou para nós a vitória! O mal não mais tem a palavra final” — lê-se na mensagem, que termina invocando a intercessão da Virgem Maria, a Estrela da Nova Evangelização. Outubro 2010 · Flashes de Fátima 21 Santo André Bessette, CSC O taumaturgo de Montreal Religioso humilde, simples porteiro de colégio, produziu milhares de curas e conversões, por intercessão de São José, e construiu a maior igreja do mundo em sua honra. Irmã Elizabeth Veronica MacDonald, EP U ma notícia alvissareira logo correu por toda a vila: “O Irmão André está no bairro, visitando uma mulher enferma!”. Parando para apertar com firmeza a mão de um rapaz, disse-lhe: “Não te preocupes, as coisas vão se endireitar”. Mais adiante, fitou um ancião e perguntou-lhe: “Tens fé de que São José pode te curar?”. E com voz transbordante de afeto acrescentou: “Coragem! Tem confiança em São José!”. Por fim, antes de partir, deu a todos uma última recomendação: “Continuem a rezar!”. Já no carro, o motorista comentou: — Parece uma cena da vida de Jesus: o povo correndo diante do senhor e implorando favores e curas! — Talvez... mas aqui Deus certamente está usando um instrumento bastante miserável — respondeu o santo com simplicidade. “Estou lhes enviando um santo” Alfredo — era este seu nome de Batismo — nasceu numa família pobre e numerosa, em 9 de agosto de 1845, na aldeia de Saint-Grégoire d’Iberville, próxima de Montreal. De saúde débil, a dor o acompanhou desde pequeno. Segundo alguns biógrafos, sua assinalada devoção a São José talvez 22 Flashes de Fátima · Outubro 2010 tenha origem no fato de seu pai ser carpinteiro. Mas, em qualquer caso, a vida de Alfredo vai estar marcada, já desde a infância, por um relacionamento todo especial entre o Patriarca da Igreja e aquele piedoso menino, que haveria de construir a maior igreja do mundo dedicada a ele. Antes, porém, teve de percorrer um longo e sinuoso caminho. Tentou exercer várias profissões, sem êxito, devido à sua fraca saúde. Aos vinte anos, partiu para os Estados Unidos, buscando trabalho nas fábricas têxteis de Connecticut, mas voltou algum tempo depois, quando ficou evidente que não tinha forças para esses serviços. Foi o pároco da sua aldeia natal quem, percebendo a virtude, retidão e constância desse jovem, identificou nele uma autêntica vocação religiosa e o encaminhou ao colégio que a Congregação da Santa Cruz — fundada, havia pouco, na França pelo Beato Basile Moreau — já possuía em Montreal. “Estou lhes enviando um santo”, declarou o pároco, na carta em que recomendava aquele candidato simples e analfabeto. O melhor “cartão de visitas” da Congregação Alfredo não defraudou aquelas expectativas. Logo aprendeu a ler e, com seu comportamento exemplar, ajudou a elevar o padrão do noviciado. A meditação sobre os sofrimentos de Cristo sempre fora uma das colunas da sua espiritualidade. “Se nos lembrássemos que o pecado crucifica novamente Nosso Senhor, nossas orações seriam mais adequadas”1, afirmava. Entretanto, procurava manter sem cessar seus companheiros animados, repetindo-lhes: “Tentem não ficar tristes! Faz bem sorrir um pouco...”. Ao se aproximar o fim do noviciado, Alfredo Bessette receava ser-lhe negada a autorização para proferir os votos religiosos, por causa de sua saúde débil. Mas após pedir a intercessão do Bispo, Dom Ignace Bourget, acabou por fazê-los em 22 de agosto de 1872, trocando o nome de Batismo pelo de Irmão André. O superior o incumbiu da portaria do colégio e ele ali desempenhou com toda perfeição sua tarefa: mantinha o ambiente em ordem exímia, servia de carteiro e executava vários outros serviços. Falando inglês e francês, revelou especial talento para receber as pessoas e fazê-las sentir-se à vontade. Acabou por tornar-se o melhor “cartão de visitas” da Congregação. No fim da vida, costumava dizer espirituosamente: “Quando ingressei nesta comunidade, os superiores saint-joseph.org Gustavo Kralj Santo André Bessette Santo André Bessette não chegou a ver finalizado o esplêndido santuário construído no topo de Mont-Royal. A cruz que se encontra no alto da cúpula é o ponto mais elevado da cidade me mostraram a porta e lá fiquei durante quarenta anos”.2 Curas numerosas e bem documentadas Cerca de cinco anos após sua entrada em religião, começou a manifestar-se nele o dom da cura. Certo dia, aproximou-se do leito no qual jazia um estudante com febre alta e mandou-o ir brincar, afirmando estar ele em perfeita saúde. Para espanto do médico de plantão, o menino saiu sadio da cama. Noutra ocasião, chegou à portaria o pai de um aluno, com fisionomia preocupada, e o bom irmão lhe perguntou qual era seu problema. O pobre homem explicou que sua esposa ficara paralítica. “Talvez ela não esteja tão doente como parece”, disse-lhe o santo. Naquele momento, do outro lado da cidade, a mulher levantou-se e começou a caminhar regularmente. Irmão André aproveitava essas curas, sempre realizadas de forma discreta, com aparência de normalidade, para fazer um apostola- do contínuo: recomendava a oração perseverante, sugeria novenas, “receitava” a aplicação do óleo de uma lamparina que ardia ante a imagem de São José, ou aconselhava a levar consigo uma medalhinha deste, pois, dizia, “tudo isso são atos de amor e fé, de confiança e humildade”. Fazia também questão de esclarecer a verdadeira causa das curas a ele atribuídas, afirmando ser o bom Deus quem faz os milagres e São José quem os obtém. “Eu sou apenas o cachorrinho de São José”, dizia com humildade.3 Certo dia, enquanto lavava o corredor central do colégio, apresentou-se diante dele, apoiada em duas pessoas, uma mulher atacada de reumatismo, incapaz de caminhar sozinha. Irmão André, olhando-a com perplexidade, disse-lhe: — Creio que a senhora poderia andar por conta própria. Por que não experimenta ir sozinha até à capela? Ela assim o fez, e regressou para casa andando sem dificuldade e chorando de gratidão. Quando a afluência de doentes começou a perturbar a rotina do colégio, Irmão André transferiu suas atividades apostólicas para uma estação de ônibus, situada nas proximidades. Ao saber disso, o Arcebispo perguntou aos superiores que faria ele se o obrigassem a parar de fazer milagres. Ao saber que ele obedeceria cegamente, replicou: “Então, deixem-no. Se esta obra é de Deus, florescerá; se não, vai desmoronar”.4 As curas de almas e corpos continuaram às torrentes. Mais de quatro mil páginas documentando-as foram recolhidas durante o processo de beatificação. Um dos casos mais impressionantes é o de um jovem, vítima de terrível acidente industrial. Com o rosto queimado, em risco de ficar cego, correu à procura do Irmão André, mas este estava atendendo um infeliz canceroso, e havia muitos outros à espera. Sem sequer tê-lo visto chegar, o religioso apareceu e perguntou-lhe: — Quem disse que perderás as vistas? Tens confiança na intercessão de São José? Outubro 2010 · Flashes de Fátima 23 Diante da resposta afirmativa, recomendou-lhe: — Vai para a igreja, assiste à Missa e comunga em honra de São José. Continua com os teus remédios, mas adiciona a eles uma gota do óleo da lamparina do glorioso Patriarca, rezando esta jaculatória: “São José, rogai por nós!”. Tem confiança, tudo correrá bem! O acidentado fez com exatidão o que lhe foi recomendado e, no dia seguinte, o tecido cauterizado de seu rosto caiu como “folhas de p apel celofane”. Inteiramente restabelecido, voltou em sinal de reconhecimento. — Agradece a São José e não cesses de rezar! — limitou-se a dizer o santo taumaturgo. A dona de uma lanchonete próxima, que alguns dias antes havia visto o moço com o rosto desfigurado, não podia acreditar se tratar agora do mesmo homem. E começou a apregoar para todos o impressionante milagre de que era testemunha. Uma igreja para São José Um santo anseio abrasava, porém, a alma do humilde porteiro. Ansiava ele construir próximo ao colégio, no Mont-Royal, uma igreja em honra de seu protetor. Mas o objetivo era muito ousado... Certo dia, um religioso da sua comunidade contou-lhe que a imagem de São José da sua cela parecia girar sozinha, em direção a esse monte. Exultante, Irmão André reconheceu nesse fato o esperado sinal da Providência para dar início à realização de seu anelo, e juncou de medalhinhas o lugar almejado. Em 1896, a Congregação da Santa Cruz adquiriu aquele terreno, com a finalidade de evitar uma má vizinhança para o colégio. Irmão André obteve autorização para colocar uma imagem de São José na gruta ali existente e as peregrinações não tardaram a começar. Milhares e milhares de pessoas a visitavam. Após economizar duzentos dólares, a partir dos cortes de cabelo dos alunos do colégio, a cinco centavos cada um, foi possível levantar uma pequena capela. Começou-se também a obter esmolas no “pratinho de ofertas” posto aos pés do Santo, e até nos Estados Unidos eram obtidas doações. Em 1904, foi erigido um pequeno Oratório de São José, constituído de uma capela um pouco maior e um escritório, no qual passou a residir o Irmão André. Treze anos depois, o edifício foi ampliado, de modo a comportar mil pessoas sentadas, mas este também logo se tornou pequeno para a grande afluência de fiéis. A construção da basílica atual — a maior igreja do Canadá — começou em 1924. Oito anos depois foi preciso detê-la por falta de meios, em consequência da grande crise econômi- ca pela qual atravessava o país. Sem se afligir, Irmão André colocou uma imagem de São José no interior do prédio inacabado, dizendo: — Se ele deseja um teto sobre sua cabeça, o teto virá. Dois meses depois, reiniciavam-se as obras... Cabe notar que, embora considerasse um dever levar adiante essa construção, Irmão André dedicava-lhe apenas o tempo permitido pela obediência, sem deixar de cumprir suas funções. Ministério de amorosa oblação O dia a dia daquele humilde porteiro estava todo tomado por um ministério de amorosa oblação. Começava a jornada acolitando duas Missas, e às oito horas da manhã abria a porta aos visitantes. No pequeno escritório, que também lhe servia de cela, recebia cotidianamente entre 200 e 400 pessoas, podendo chegar a 700. Os que iam ao encontro do Irmão André procurando sensacionalismo saíam decepcionados. Seus conselhos eram simples e sensatos, visando a cura das almas mais que o alívio dos males corporais. Algumas vezes limitava-se a ajudar as pessoas a aceitarem a vontade divina. “Deus terá uma eternidade para te consolar de teus sofrimentos aqui”,5 lhes dizia. Encorajava também a Confissão frequente e a Comunhão diária, ga- Placas comemorativas e ex-votos testemunham as numerosas curas ocorridas no primeiro oratório, onde Santo André recebia entre 200 e 400 pessoas diariamente 24 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Fotos: Gustavo Kralj Três milhões de peregrinos visitam anualmente o Santuário de Mont-Royal. Nas fotos: fiéis veneram túmulo de Santo André, acendem algumas das 10.000 lamparinas da capela votiva ou testemunham graças recebidas rantindo que Jesus nada recusa a quem O hospeda em seu coração. E comentava: “Coisa curiosa: recebo numerosos pedidos de cura, mas raramente alguém pede a virtude da humildade ou o espírito de fé”.6 Para com as pessoas afastadas da prática religiosa por fraqueza ou ignorância, demonstrava ilimitada compaixão. Contava-lhes de modo comovedor a parábola do Filho Pródigo e concluía: “Comme le bon Dieu est bon — Como o bom Deus é bom!”. Mas cortava pela raiz as atitudes de revolta e má fé: “Será que Deus te deve alguma coisa? Se pensas assim, podes fazer teus próprios arranjos com Ele”.7 O preço com o qual ele comprava o alívio e a conversão dessas almas era bem alto. No fim da jornada, mesmo consumido pela indisposição e cansaço, ainda fazia uma vagarosa Via Sacra na capela e, em seguida, ajoelhado durante horas rezava com os braços estendidos em forma de cruz. Sua cama ficava muitas vezes intacta durante a noite toda. E quando um irmão de hábito lhe implorou que dormisse, oferecendo seu sono como uma oração, ele respondeu gravemente: “Se soubesses o estado daqueles que pedem minhas orações, não me darias tal sugestão”.8 Primeiros frutos póstumos Os fiéis amavam aquele bom ancião de cabelos brancos e pediam-lhe para que não os deixasse. Mas, completados os 92 anos, a morte se aproximava e ele os consolava amavelmente, afirmando que se alguém pode fazer o bem na Terra, mais ainda poderá fazê-lo do Céu. No dia 6 de janeiro de 1937, a triste notícia era dada com destaque pelos mais importantes jornais de Montreal: “Morreu Irmão André”. Enfrentando a neve e o gelo, uma verdadeira multidão começou a se deslocar em direção a Mont-Royal para despedir-se de seu taumaturgo. Chegavam de avião, de trem, de todos os meios de transporte. O Oratório de São José transbordava de uma multidão tomada de devoção e piedade, enquanto penitentes enchiam os confessionários. Calcula-se que um milhão foram as pessoas que subiram o serpenteante caminho do santuário, para se despedir daquele cuja única ambição fora servir a Deus na completa despretensão da vida religiosa. Eram os primeiros frutos póstumos desse simples irmão leigo que, no dia 17 deste mês, tornar-se-á o primeiro santo de sua Congregação, bem como o primeiro varão nascido no Canadá a ser elevado às honras dos altares. * * * Irmão André não chegou a ver finalizado o grande Santuário, que foi concluído apenas em fins da década de 60, como também não viu a realização de mais um de seus desejos: colocar uma grande Via Sacra nos aforas da igreja, pa- ra fomentar a devoção à Paixão do Redentor. Mas é impossível não sentir sua presença em cada uma das dependências desse impressionante templo, que atrai anualmente três milhões de peregrinos, dando testemunho do poder de intercessão do Patrono da Igreja Universal. Logo ao chegar, uma grande imagem de São José, esculpida em pedra, recebe os visitantes na escadaria central. Em sua base, uma inscrição de três palavras dá as boas-vindas, evocando a sabedoria simples e piedosa daquele irmãozinho que jaz na cripta: “Ite ad Joseph — Ide a José”. 1 FERGUSON, John. The Place of Suffering. London: James Clarke and Co., 1972, p.115. 2 BALL, Ann. Faces of Holiness. Huntington (IN): Our Sunday Visitor, 2001, p.54. 3 KYDD, Ronald. Healing Through the Centuries. Peabody (MA): Hendrickson, 1998, p.85. 4 BALL, op. cit., p.57. 5 TREECE, Patricia. Nothing Short of a Miracle. New York: Doubleday, 1988, p.74. 6 O’MALLEY, Vincent. Saints of North America. Huntington (IN): Our Sunday Visitor, 2004, p.26. 7 KNOWLES, Leo. Modern Heroes of the Church. Huntington (IN): Our Sunday Visitor, 2003, p.82. 8 TREECE, op. cit., p.75. Outubro 2010 · Flashes de Fátima 25 Segunda Romaria Nacional a Aparecida S ão múltiplas as invocações sob as quais se apresenta a Santíssima Virgem: Nossa Senhora de Fátima, Lourdes, Guadalupe, La Salette e tantas outras. Em nosso País, a invocação Nossa Senhora Aparecida é a que melhor representa o forte vínculo do povo brasileiro com essa Mãe que, com tanto carinho e solicitude, se dispõe a auxiliar seus filhos neste vale de lágrimas. No dia 14 de agosto, aproximadamente 4.500 participantes do Apostolado do Oratório, vindos de mais de 70 cidades dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná, se encontraram no Santuário Nacional de Aparecida para juntos agradecerem à Padroeira do Brasil todos os favores recebidos de suas mãos virginais, e pedir que Ela abençoe as famílias de nosso País e do mundo inteiro. O ponto principal da romaria foi a solene Celebração Eucarística no altar-mor da Ba- 26 Flashes de Fátima · Outubro 2010 sílica, presidida pelo Arcebispo de Aparecida e Presidente do CELAM, Dom Raymundo Damasceno Assis, e concelebrada pelo Bispo de Lorena, Dom Benedito Beni dos Santos, e quatorze sacerdotes. No fim da celebração, após as palavras de agradecimento do Pe. Antônio Guerra, EP, assistente espiritual do Apostolado do Oratório, a assembleia acolheu calorosamente a imagem de Nossa Senhora Aparecida, conduzida em cortejo ao altar por membros do ramo feminino dos Arautos do Evangelho, a fim de ser venerada pelos peregrinos. * * * Peçamos também, nós, à Senhora Aparecida que abençoe as nossas famílias, os nossos parentes, os nossos Párocos e os nossos Pastores; e que Ela continue tocando os corações das pessoas afastadas de Deus, conduzindo-as ao seio da Santa Igreja. Sérgio Miyazaki Celebrantes e fiéis acompanharam com emoção a entrada da imagem de Nossa Senhora Aparecida, conduzida em solene cortejo pelas irmãs de Regina Virginum, ramo feminino dos Arautos. Outubro 2010 · Flashes de Fátima 27 Sérgio Miyazaki Sérgio Miyazaki Celso Militão Quase cinco mil membros do Apostolado do Oratório, de diversas cidades, participaram compenetrados da Santa Missa presidida por Dom Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo de Aparecida e Presidente do CELAM. 500 anos do Foral Manuelino A histórica vila de Alvalade, em Beja, comemorou no dia 19 de Setembro 500 anos do Foral Manuelino. A pequena vila, situada em pleno Alentejo, recebeu mais de 10.000 mil visitantes para conhecer uma das mais famosas Feiras Medievais de Portugal, onde, para além de uma exposição de grande qualidade inaugurada para a ocasião, se puderam encontrar os trajes, objectos e a gastronomia típica da época medieval. Um dos pontos auge deste ciclo de comemorações foi a Santa Missa realizada na Igreja paro- quial de Alvalade, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, onde, a pedido do Pe. Dariusz Jan Pestka, esteve presente o coro e orquestra juvenil dos Arautos do Evangelho, a fim de animar e solenizar a liturgia. Em sua homilia, o Pe. Dariusz salientou que naquele dia de festa “deveríamos dar graças pelos nossos antepassados, mas, sobretudo, agradecer a presença de Deus e tudo o que ele fez por Alvalade ao longo dos séculos.” Tomada de posse do Pe. Jorge Manuel Lages Almeida N o dia 19 de setembro, as comunidades do Afonsoeiro e Samouco, no Montijo, estiveram em festa pela tomada de posse do novo pároco, Pe. Jorge Manuel Lages. Passados mais de vinte anos como pároco na Quinta do Anjo, Palmela, o Pe. Jorge recebe agora, das mãos de D. Gilberto Canavarro dos Reis, Bispo de Setúbal, a missão de cuidar destas novas paróquias, aliada ainda à função de capelão militar, cargo que desempenha, actualmente, na Base Aérea do Montijo, Campo de Tiro de Alcochete e Depósito de Material de Guerra, também em Alcochete. Fazendo alusão à figura do Bom Pastor, salientada no evangelho do dia, o prelado referiu-se aos sacerdotes como instrumentos Escolhidos por Deus para tornarem presente Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja, no meio dos homens, e acrescentou: “Por isso mesmo recebei este novo pároco como um dom de Deus, como a graça do Senhor e aceitai o desafio que Deus vos faz de, através dele, continuardes a crescer”. 28 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Canadá – Simpatizantes dos arautos, provenientes das Ilhas Maurício, passaram um dia de retiro com o Pe. François Bandet, EP, na casa dos Arautos em Schomberg, Ontário. Honduras – Cooperadores dos Arautos organizaram um “Dia com Maria” para as famílias que recebem o Oratório na Diocese de Comayagua. Espanha – Entre 2 e 7 de agosto, a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria percorreu diversos povoados de Palência, entre eles o de Bustillo de la Vega (esquerda). E de 8 a 15, visitou a Paróquia de Arcicóllar (Toledo), sendo conduzida também à Prefeitura e a diversas residências (direita). Guatemala – Participantes do Apostolado do Oratório reuniram-se para peregrinar juntos ao túmulo do Santo Hermano Pedro, em Antigua. Brasil – Dom Roberto Guimarães exorta os fiéis no encerramento da Festa do Ssmo. Salvador. Arautos colaboraram no cerimonial da Missa e na procissão. Outubro 2010 · Flashes de Fátima 29 Sérgio Miyazaki / Gustavo Kralj / Otávio de Melo Mestres em Teologia Bíblica N Foto Light o dia 3 de setembro, oito membros dos Arautos do Evangelho receberam a licenciatura c anônica em Teologia com ênfase em Sagradas Escrituras pela Universidade Pontifícia Bolivariana de Medellín, Colômbia. A cerimônia de entrega dos títulos foi presidida pelo Reitor, Mons. Luis Fernando Rodríguez Velásquez, com a presença da Secretária Geral, Dra. Clemencia Restrepo Posada; do Decano da Escola de Teologia, Filosofia e Humanidades, Pe. Ms. Diego Alonso Marulanda Díaz, e do Coordenador Administrativo de Pós-graduação da Escola de Teologia, Filosofia e Humanidades, Pe. Dr. César Augusto Ramírez Giraldo. Mons. Luis Fernando concluiu exortando os novos graduandos a “colocar seus conhecimentos ao serviço da glória de Deus e para o bem da Igreja, e assim crescer em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens”. Visita de Dom Giovanni D’Ercole D om Giovanni D’Ercole, FDP, Bispo Auxiliar de Áquila (Itália), visitou a Casa Generalícia da Sociedade de Vida Apóstolica Regina Virginum e celebrou Missa para as irmãs (fotos 1 e 2). Grande especialista no campo da mídia católica, quis conhecer a redação de nossa revista, onde deu valiosos conselhos aos editores (foto 3). Visitou também outras casas da instituição e celebrou Missa, na Igreja Nossa Senhora do Rosário. David Domingues 1 2 30 Flashes de Fátima · Outubro 2010 3 205 crismandos na Paróquia dos Arautos Dom Sérgio Aparecido Colombo N o dia 5 de setembro, Dom Sérgio Aparecido Colombo, Bispo de Bragança Paulista, ministrou o Sacramento da Confirmação a 205 jovens e adultos pertencentes à Paróquia Nossa Senhora das Graças, localizada em sua diocese. A cerimônia se deu na Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Seminário dos Arautos do Evangelho, atual matriz. Após a Santa Missa, Dom Sérgio concedeu uma entrevista na qual manifestava sua alegria pela ação evangelizadora que está sendo realizada pelos sacerdotes arautos, dizendo: “É um consolo e um conforto saber que, nesta paróquia, os pastores vão ao encontro de seus fiéis, buscando os jovens, arrebanhando-os para Cristo, anunciando a doutrina e possibilitando às pessoas fazerem esta experiência cristã. Que bonito! Isso nos conforta em tempos tão difíceis onde tudo é muito relativo, onde as coisas da eternidade, que realmente têm valor, acabam sendo esquecidas. Nós ficamos felizes pelo trabalho desta paróquia confiada aos Arautos e de fato só poderíamos receber bons frutos, pois quando se trabalha, se colhe. E pedimos que Deus abençoe estes jovens crismandos para que façam a diferença na Igreja, pelo testemunho de discípulos e missionários de Cristo, onde quer que estejam”. Adultos e jovens pertencentes às doze comunidades da Paróquia Nossa Senhora das Graças, devidamente preparados por catequistas arautos, receberam com devoção das mãos de Dom Sérgio a unção do Crisma e se tornaram novos soldados de Cristo. Outubro 2010 · Flashes de Fátima 31 Os anjos Sendo puros espíritos, os anjos não podem falar do mesmo modo que nós, por meio de sons e gestos. De que maneira, pois, se comunicam entre si e, inclusive, com Deus? D iscorrer sobre anjos pareceria extravagante e pueril até alguns anos atrás. Não obstante, o tema está de volta com toda a força, em plena era do materialismo. Junto com o renovado interesse pelas criaturas angélicas, muitas fantasias e erros se acrescentam àquilo que a Igreja ensina a respeito delas. Não é nossa intenção analisá-los aqui. Propomo-nos apenas investigar um tema que move em extremo nossa curiosidade, na tentativa de rasgar um pouco o véu que nos oculta o mundo dos puros espíritos: como eles se comunicam? Seres imateriais, mas compostos Que os anjos são seres imateriais é algo hoje aceito pacificamente, embora não seja fácil de compreender. Temos tendência a “antropomorfizar” sua vida, transpondo para o plano celeste as circunstâncias de nossa existência terrena. Entretan32 Flashes de Fátima · Outubro 2010 to, nada há de mais distante da realidade. Por isso mesmo, nos primeiros séculos da Igreja, o debate sobre a existência de um “corpo angélico” causou controvérsias entre os entendidos, e mesmo entre santos. Uma corrente teológica muito numerosa — na qual se inclui São Boaventura — defendia a tese de que os entes angélicos têm, em sua composição, alguma “matéria espiritual”, um corpo etéreo, extremamente sutil. Pois, argumentavam os defensores dessa corrente, como explicar sua individuação, contingência, o fato de serem criaturas compostas e estarem delimitados?1 Mais ainda: se os anjos são puros espíritos, não seriam totalmente simples?2 Como distingui-los de Deus? A questão veio a ser esclarecida por um dos maiores luminares do pensamento: São Tomás de Aquino. Com singeleza e objetividade, ele clarificou ideias abstrusas e precisou conceitos ambíguos — às vezes, quase diríamos, infantis. Notemos de passagem que ele foi apropriadamente cognominado de Doutor Angélico, título utilizado pela primeira vez por Santo Antonino de Florença (1389-1459)3 e depois consagrado por São Pio V na bula Mirabilis Deus, de 1567, “talvez pelas suas virtudes, de modo particular pela sublimidade do pensamento e pureza da vida”, como observa o Papa Bento XVI.4 Na Suma Teológica, São Tomás dedica todo um tratado ao tema dos anjos, discorre sobre eles também no tratado De Substantiis Separatis, no II Livro das Sentenças e em De Veritate, além de fazer esclarecedoras menções em várias outras obras. De início, discordou da necessidade de haver um corpo angélico, assinalando que o conceito de “matéria espiritual” é de si contraditório e insustentável. Tal afirmação foi uma das que mais causaram polêmica no seu tempo e quase levou o Bispo de Paris, Étienne Tempier, a condená-lo como herege. Gustavo Kralj falam? Pe. Louis Goyard, EP Detalhe da “Ressurreição”, por Fra Angélico - The National Gallery of Art, Londres De outro lado, assinalou que todos os seres criados são necessariamente contingentes e compostos. No caso dos entes corporais, há uma composição de matéria e forma. Mas existe uma composição anterior, inerente a toda criatura, a de essência e ato de ser (ou existência). Uma está para o outro numa relação de potência e ato.5 Dessa maneira, embora nos anjos não haja matéria, são eles também compostos: sua essência se distingue realmente de seu ato de ser. Ora, Deus é ato puro; n’Ele há identidade de essência e existência. Ele, explica o padre Bandera, “é absolutamente simples, e n’Ele não há nenhum tipo de composição. As criaturas não alcançam nunca a simplicidade própria de Deus e, consequentemente, implicam alguma composição. Mas para explicar esta composição não é necessário recorrer à matéria; a composição original, aquela inerente à criatura enquanto tal, é a de essência e existência”.6 Os anjos têm o ser por participação no Ser divino. Não existiam desde sempre, mas receberam em determinado momento o dom da existência, criados do nada. Isso, segundo a doutrina inovadora de São Tomás, já é suficiente para distinguir a criatura do Criador.7 Ficava assim resolvido por São Tomás o problema referente à natureza angélica: uma criatura, por mais excelente que seja, é composta pelo menos de essência e existência; no Criador, a existência é idêntica à essência. Como os anjos chegam ao conhecimento das coisas? Ensina a Escolástica que todo conhecimento nos vem através dos sentidos. Assim, antes de nosso intelecto formar uma ideia sobre um objeto, intermedeiam os sentidos internos — senso comum, imaginação, memória, cogitativa —, organizando e preparando os dados brutos percebidos pelos sentidos exter- nos, em representações imaginárias. Por fim o intelecto abstrai as características individuais do objeto particular, apreendendo sua essência, com a qual trabalhará para chegar a conceitos, raciocínios e juízos universais. No processo de conhecimento humano há, pois, uma passagem do objeto particular conhecido para as ideias universais. Assim, se alguém, caminhando por uma rua, encontra de repente um animal, mesmo sem conhecer detalhes sobre ele (por exemplo, quando nasceu e quem é seu dono), saberá de imediato que se trata de um cão ou de um gato, por exemplo. Depois de havermos conhecido vários cães, a essência canina está bem determinada em nossa mente por certas características as quais, sendo universais, aplicam-se a todos os entes daquela espécie. Por isso, a menos que haja alguma interferência (por exemplo, falta de boa iluminação no local), vendo um cão, saberemos que é um cão, quer Outubro 2010 · Flashes de Fátima 33 se trate de um dálmata, um pastor alemão, um labrador ou um simples vira-latas, não importa seu tamanho, idade, cor ou outros traços individuais. Nosso raciocínio trabalha, pois, com ideias universais. Por isso, entendemos perfeitamente uma notícia que diga: “Por deNo momento em que criou os anjos, Deus infundiu-lhes as ideias ou conceitos abstratos de todas as coisas, sem os quais eles não seriam capazes de conhecer as coisas particulares ou individuais Gustavo Kralj Detalhe do mosaico da abside - Basílica de Santa Maria Maior, Roma 34 Flashes de Fátima · Outubro 2010 terminação do Serviço Sanitário Estadual, todos os cães devem ser vacinados contra a raiva”. “Cães”, referindo-se à essência, designa todos os indivíduos da espécie canina. No entanto, com o anjo o processo de conhecimento não pode dar-se da mesma maneira, uma vez que ele não tem corpo e, assim, não possui sentidos que captem os particulares. Como, então, chega ele ao conhecimento das coisas? Resumindo a doutrina de São Tomás a respeito, o professor Peter Kreeft afirma que “é próprio ao homem progredir na verdade por estágios, por meio de conceitos e de raciocínios até o conhecimento da verdade de um juízo”, enquanto que aos anjos é próprio conhecer “intuitiva e imediatamente, de uma vez, não por meio desse processo temporal”.8 Vejamos mais detidamente esses pontos. As espécies (ideias) pelas quais os anjos conhecem as coisas não lhes vêm destas últimas. Assim, por exemplo, um anjo não precisa conhecer vários gatos para, abstraindo as características particulares de cada um, concluir na ideia de “gato”. O espírito angélico não está sujeito a um desenvolvimento gradual, mas começou a existir na plenitude de seu conhecimento. Nunca teve de aprender, no sentido próprio da palavra. Em outros termos, no momento em que criou os anjos, Deus infundiu-lhes as ideias ou conceitos abstratos de todas as coisas, sem os quais eles não seriam capazes de conhecer as coisas particulares ou individuais. Quando um anjo “vê”, ou seja, aplica sua inteligência a algo novo, não adquire alguma ideia; apenas confere com o conceito universal presente já em seu intelecto. Hierarquia piramidal e vertical Entre os homens existe uma hierarquia que poderíamos chamar de piramidal, em que muitos dependem de um ou de alguns. Assim se dá numa família, na qual os filhos estão sujeitos aos pais; ou num país, onde os súditos dependem do monarca ou do Chefe de Estado. Na hierarquia familiar, os filhos têm uma igualdade relativa, não dependendo uns dos outros para fazer chegar aos pais seus desejos e questões. Evidentemente, a igualdade absoluta não é sustentável, pois um filho será mais inteligente ou mais forte — e, nesse aspecto, superior — que os outros. Em um nível mais elevado, tal desigualdade é que torna possível a constituição de uma sociedade. Entre os anjos isso se passa de maneira diferente. Como cada um constitui uma espécie única, Como falam os anjos? Postos estes esclarecimentos, podemos nos perguntar como se dá a “fala” dos anjos, e é São Tomás quem novamente nos responde: dá-se por iluminação e por locução. Denomina-se iluminação o ato pelo qual um anjo superior dá a conhecer a um inferior alguma verdade sobrenatural de que teve conhecimento, graças à imediata revelação de Deus. Por exemplo, Deus manifestou diretamente a todos os seres angélicos a futura Encarnação do Verbo, mas não de modo igual: a uns comunicou mais, a outros menos, deixando aos anjos superiores o encargo de iluminar os inferiores, de modo que estes progredissem no conhecimento desse mistério até o dia de sua realização.11 Conforme São Tomás, a iluminação é feita da seguinte maneira: em primeiro lugar, o anjo superior fortalece a capacidade de entender do anjo inferior; em segundo lugar, o superior propõe ao inferior aspectos particulares de verdades sobrenaturais que ele, anjo superior, “concebe de modo universal”.12 São Tomás ilustra esta doutrina dando o exemplo de um professor que, para ensinar uma matéria, di- vide-a em partes coerentes e ordenadas, acomodando-a à capacidade dos alunos. Evidentemente, estes terão um conhecimento fracionado, muito inferior ao do professor. Assim se passa com os anjos: “O anjo superior toma conhecimento da verdade segundo uma concepção universal, para cuja compreensão o intelecto do anjo inferior não seria suficiente”.13 Para iluminar o inferior, o superior fragmenta e multiplica a verdade que ele próprio conhece de modo universal, tornando-a mais particular. Esta forma de comunicação, por iluminação, só procede dos anjos superiores para os inferiores. Todavia, na locução, também os anjos inferiores falam aos superiores. Segundo o Doutor Angélico, a locução tem por finalidade manifestar algo interior àquele com quem se fala ou pedir-lhe alguma coisa: “Falar nada mais é do que manifestar a outro o próprio pensamento”.14 Não se trata aqui de apresentar uma verdade sobrenatural, pois neste caso, teríamos a iluminação. Em outras palavras, toda iluminação é locução, mas nem toda locução é iluminação. Evidentemente, a comunicação dos anjos entre si não se expressa com sons, gestos ou outro elemento material, pois sua natureza é só espiritual. Essa comunicação se dá por um ato de vontade, pelo qual um anjo dirige o pensamento ao outro, dando a conhecer conceitos que possui. Pode, inclusive, dar a conhecer algo a uns e não a outros, conforme queira. Os anjos se comunicam também com Deus, nunca porém como o agente se dirige ao paciente ou, segundo a terminologia humana, o mestre ao discípulo. “O anjo fala a Deus — explica São Tomás —, seja consultando a divina vontade a respeito do que deve ser feito, seja admirando a excelência divina que ele nunca compreende a fundo”.15 Gustavo Kralj, sob concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana quanto mais elevado é o anjo, mais ricas são as ideias ou conceitos que lhe foram infundidos por Deus, ao criá-lo.9 Poderíamos, talvez, imaginar que essa desigualdade fosse motivo de tristeza para os anjos inferiores. Entretanto, isso não se dá, pois as apetências, capacidades e glória de cada um são plenamente satisfeitas pelo próprio Criador, a partir do momento em que eles entraram na Visão Beatífica.10 Não têm, portanto, possibilidade de sentimento de infelicidade. Pelo contrário, as qualidades dos anjos que lhes são superiores, constituem para eles motivo de admiração. Se os anjos são puros espíritos, não seriam totalmente simples? Como distingui-los de Deus? A questão veio a ser esclarecida por um dos maiores luminares do pensamento: São Tomás de Aquino Detalhe do "Tríptico de São Pedro Mártir", por Fra Angélico - Museu de São Marcos, Florença Outubro 2010 · Flashes de Fátima 35 Gustavo Kralj O tema das conversas angélicas A comunicação entre os anjos se dá por um ato de vontade, pelo qual um dirige seu pensamento ao outro Detalhe de “Nossa Senhora entronizada junto aos santos”, por Puccio di Simone - National Gallery of Art, Washington 1 2 3 4 BANDERA GONZÁLEZ, Armando. Introducción a las cuestiones 50 a 64. In: Suma Teológica. 4.ed. Madrid: BAC Maior, 2001, p.496. Sobre a simplicidade divina, lembremo-nos que no plano espiritual, ao contrário do que ocorre no plano material, quanto mais simples é algo, mais é perfeito. Cf. CREAN, Thomas. A Catholic replies to professor Dawkins. Oxford: Family Publications, 2008, p.29-32. CLÉMENT, André. La sagesse de Thomas d’Aquin. Paris: Nouvelles Editions Latines, 1983, p.171-173. Audiência Geral, 2/6/2010. Diversos autores assinalam que tal título é devido à acuidade de seu pensamento, como que angélico. CLÉMENT, op. cit., p.171; HEUSER, Herman Joseph. In: The American ecclesiastical review. 1923, v.LXVIII, p.92: “Mais propriamen- 36 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Claro que o principal objeto de conversa dos anjos é Deus, pois toda criatura tende naturalmente a voltar-se para o Criador, sobretudo em se tratando de seres tão perfeitos como eles.16 Além do mais, estando na Visão Beatífica, estarão sempre contemplando novos aspectos d’Ele durante toda a eternidade. Sendo Deus infinito, por mais que os anjos do Céu O vejam no seu todo, não O veem totalmente, o que é impossível a qualquer criatura. Eles conversam também sobre os desígnios divinos a respeito do universo material, no qual o elemento mais importante é o homem. Não podem, pois, deixar de interessar-se enormemente pela ação divina na História; assim, os anjos superiores comunicam aos inferiores o que “veem” em Deus a tal propósito. te por causa de seu extraordinário poder intelectual, que lhe permitia falar com a língua dos anjos”. 5 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, q.50, a.2, ad3. 6 BANDERA, op. cit., p.496. 7 Idem, ibidem. 8 KREEFT, Peter. Summa of the Summa. San Francisco: Ignatius, 1990, p.328. 9 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, q.106, a.4, ad.1. 10 Tudo o que temos referido a propósito da natureza angélica aplica-se, evidentemente, tanto aos anjos do Céu, confirmados em graça, quanto aos anjos decaídos. Claro está que, ao contrário destes últimos, os santos anjos, mesmo quando no estado de prova, nunca cederam a movimentos de inveja, seja em re- Poderíamos, pois, imaginar um diálogo no qual nosso anjo da guarda pergunta a um anjo mais elevado como compreender melhor nossa psicologia. Por exemplo, por que procedi de tal modo, por que deixei de agir em tal ou qual ocasião, etc. O anjo superior, além de dar ao anjo da guarda as explicações, acrescentaria uma orientação sobre como guiar nossa alma da maneira mais conforme ao plano de Deus. Uma coisa é certa: nossos anjos da guarda estão constantemente conversando sobre nós com os anjos que lhes são superiores, de maneira que existe uma “cascata”, ou “cadeia”, de anjos interessados na santificação e salvação de cada um de nós. Que tal pensamento contribua para aumentar nossa devoção aos santos anjos, esses gloriosos intercessores celestes, dos quais muitas vezes nos esquecemos!² lação a Deus, seja em relação aos outros anjos. 11 JOSEPH MACINTYRE, Archibald. Os anjos, uma realidade admirável. Rio de Janeiro: Revista Continente, 1983, p.255. 12 SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., I, q.106, a.1. 13 Idem, ibidem. 14 Idem, I, q.107, a.1. 15 Idem, I, q.107, a.3. 16 É evidente que os santos anjos conversam sobre Deus transidos de amor, admiração, desejo de crescer no conhecimento d’Ele e servi-Lo, ao passo que os demônios são movidos por ódio e revolta: seu non serviam ecoa por toda a eternidade. Orações de ontem, de hoje e de sempre Gustavo Kralj À Rainha da Paz Ó Maria, doce Mãe de Jesus Cristo, Príncipe da Paz, eis a vossos pés vossos filhos tristes, perturbados e cheios de confusão, pois, por causa de nossos pecados, afastou-se de nós a paz. Intercedei por nós para que gozemos a paz com Deus e com nosso próximo, por vosso Filho Jesus Cristo. Ninguém pode dá-la senão esse vosso Filho, que recebemos das vossas mãos. Quando nasceu de vossas entranhas em Belém, os anjos nos anunciaram a paz; e quando Ele abandonou o mundo, no-la prometeu e deixou-a como Sua herança. Vós, ó Bendita, trazeis sobre os vossos braços o Príncipe da Paz, mostrai-nos esse Jesus e deitai-O em nosso coração! Ó Rainha da Paz, estabelecei entre nós o vosso Reino e reinai com vosso Filho no meio de vosso povo que, cheio de confiança, se recomenda à vossa proteção. Afastai para longe de nós os sentimentos de amor-próprio; expulsai de nós o espírito de inveja, de maledicência, de ambição e de discórdia! Fazei-nos humildes no bem-estar, fortes no sofrimento, pacientes e caridosos, firmes e confiantes colaboradores da Divina Providência! Com o Menino nos braços abençoai-nos, dirigindo nossos passos no caminho da paz, da união e da mútua caridade, para que, formando aqui a vossa família, possamos bendizer-vos e a vosso Divino Filho por toda a eternidade. Amém. (OLIVEIRA, Maria Goretti e SILVA, Cláudia Zem. Povo em Oração. 4.ed. São Paulo: Paulinas, 2006, p.156-157.) “Nossa Senhora do Sagrado Coração” - Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Montreal (Canadá) A palavra dos Pastores Glória de Deus e serviço do próximo No dia 9 de Setembro, festa da dedicação da Sé do Porto, D. Manuel Clemente estimula a diversificação ministerial da Igreja: na família, na profissão e na sociedade. Dom Manuel Clemente Bispo do Porto C omemoramos um facto, certíssimo facto, ainda que esfumado pela sucessão dos séculos e a indefinição das notícias. Não bastaria para estarmos aqui, se o que realmente aconteceu — a dedicação desta igreja catedral — não continuasse felizmente agora. Mas continua, como tudo quanto é de ordem sacramental. Da parte de Deus, continua, como a nova Jerusalém que sempre “desce do céu”. Não podemos divisar o bispo D. Hugo, nem nenhum dos seus imediatos sucessores na “restauração” da linha conhecida dos prelados portucalenses; não ouvimos os sinos nem os cânticos que ressoaram quando finalmente se inaugurou este belíssimo templo… Mas os ritos e os cânticos de hoje são essencialmente os mesmos, como mesma é a finalidade: a glória de Deus e o serviço do próximo, dos outros de quem nos aproximamos pela caridade de Cristo, aqui anunciada e jorrante. Igreja, coração da cidade É sabido como esta igreja era também o coração da cidade, mesmo so38 Flashes de Fátima · Outubro 2010 cialmente falando. Realidade própria daqueles tempos em que saber, administração e clericatura eram quase o mesmo. Quando deixou de ser assim — num longo processo, não isento de tensões —, o todo foi-se decompondo em partes distintas, afinal na melhor tradição cristã de “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). Cristãos, clérigos ou leigos, participam hoje na vida da cidade, “nas suas alegrias e esperanças, nas suas tristezas e angústias” (Gaudium et Spes, 1); mas fazem-no enquanto cidadãos entre cidadãos, sem outro título nem regalia. Como Jesus na oficina de Nazaré, como Jesus a pagar tributo a César, como Jesus reconhecendo a autoridade romana, ainda que, com a sua atitude total, a chamasse a bem melhor exercício. Glória de Deus, ou Deus como “glória”, vida e beleza irradiantes, luz original e originante de toda a claridade do mundo e das vidas. Mais do que o sol quando encandeia, mais do que o céu estrelado, que tanto levanta o olhar e o espírito, a glória de Deus manifesta-se na vida, porque, glosando Santo Ireneu, “a glória de Deus é o homem vivo”. Glória, sobretudo, na vida humano-divina de Jesus Cristo, que tanto nos surpreende no seu mais humilde acontecer e tanto nos supera em elevadíssima fulguração. Nada a subtrai da mais solidária urgência e nada a encadeia na maior sublimação. Sabem-no bem os grandes santos, que ainda assim — que por isso mesmo! — se culpam de faltosos; sofrem-no muito os maiores artistas, por nunca chegarem onde a glória desponta. Acontece assim porque, no dizer do mesmo Ireneu, “a vida do homem é a visão de Deus”. Na luz da caridade e da arte rebrilha a glória divina, como se concentram em cada pessoa humana, autêntica síntese do mundo envolvente. Mas tudo sucede como apelo para a realização definitiva de todas as coisas em Cristo, onde o próprio Deus se oferece na inevitável realidade humana, concentrada “nas alegrias e nas esperanças, nas tristezas e nas angústias” a que Jesus de Nazaré não se Josep Renalias Fachada da Sé Catedral do Porto reedificada pelo bispo francês Dom Hugo durante o século XII. Ao lado, antiga prefeitura. furtou e finalmente transfigurou, em inextinguível luz pascal. A esta glória se dedicou o templo, a esta glória e circulação de luz e de vida se dedica a nossa Igreja diocesana, na catolicidade da Igreja toda. Tarefa sedutora e criativa Permiti-me que particularize em vós, caríssimos professores de Educação Moral e Religiosa Católica, quanto vai dito sobre a nossa dedicação comum à glória divina. Como há dias vos escrevi, a educação contemporânea tem pela frente a inadiável tarefa de analisar, recuperar e recombinar melhor os “escombros” do muito que aconteceu e simbolizou a vida social, cultural e religiosa das gerações anteriores. Tomai-o como tarefa sedutora e criativa, para vós e para os vossos alunos. Sejam as vossas aulas um espaço aberto ao que eles tragam, para o conjugardes com a tradição evangélica que vós próprios transportais; precisamente a daquele Cristo que disse frases como esta, que bem sabeis e activais: “quando Eu for levantado da terra, atrairei todos a Mim” (Jo 12, 32). Por isso, também esta catedral dedicada se dirige a uma cruz. Por isso, o sinal da cruz — que, com grande significado cultural, muito bem cabe em qualquer espaço, de pleno direito e não exclusivo — prolonga-se na vossa dedicação e pedagogia, na encruzilhada humano-divina de todos os itinerários e saberes. Aí mesmo, onde a luz desponta e a glória é salutar. Glória de Deus e serviço do próximo, glória de Deus no serviço do próximo, assim se resume a missão da Igreja, nas duas hastes da cruz do Gólgota, como na própria configuração deste templo, entre a nave e o transepto. Bem figurados estamos, caríssimos irmãos, para irradiarmos em missão. Ano para a glória de Deus Glória e serviço são a alma da Missão 2010, em que continuamos e nos prolongaremos. O serviço que queremos prestar à cidade de todos é precisamente esse de que falávamos, de garantir e alargar pelo Evangelho de Cristo a vida da Igreja e do mundo, da Igreja para o mundo. [...] Esperamos vivamente que cada vez se articule mais o que se passa nas escolas e nas aulas de EMRC com as comunidades cristãs em que se localizam. Neste caso, como em vários outros, o cruzamento inter-comunitário e inter-sectorial será pastoralmente decisivo, no respeito e acolhimento mútuos, de especificidades e métodos. Irá mais longe do que o critério excessivamente territorial que herdámos doutras épocas da vida social e eclesial. [...] Os primeiros meses de 2011 estão destinados à recolha e à avaliação possíveis do que aconteceu na Missão 2010, de maior indicação para o futuro. Como sempre acontece, o melhor do que se faça é obra do Espírito e o mesmo Espírito nos abrirá o futuro, para glória de Deus e serviço do próximo. Teremos no próximo Dezembro a ordenação de novos diáconos permanentes, belíssima graça que nos enche de esperança. Esperamos, mais precisamente, que o reforço deste precioso grau do sacramento da Ordem nos traga, entre outras, as seguintes vantagens maiores: 1ª) Que sublinhe a dimensão caritativa do ministério ordenado, servindo em todas as “mesas” que preparam ou desdobram a mesa eucarística. 2ª) Que, por isso mesmo, permita aos padres uma maior disponibilidade para o que lhes é próprio e hoje é particularmente requerido, na figuração sacramental de Cristo sacerdote, cabeça e pastor, pela cuidada presidência da Eucaristia, a dedicada administração da Penitência e o generoso acompanhamento espiritual dos fiéis. 3ª) Que estimule a maior diversificação ministerial da Igreja, até porque a sua condição existencial - na família, na profissão e na sociedade — inclui os diáconos na vida comum dos baptizados, reforçando nestes a convicção de que o serviço é a única atitude legítima de qualquer cristão. ² Outubro 2010 · Flashes de Fátima 39 a Cáritas brasileira, já tinha arrecadado mais de 8 milhões de reais em favor das vítimas do terremoto de 12 de janeiro no Haiti. Esses recursos estão sendo aplicados por meio da Cáritas brasileira e da sua congênere haitiana. Mais de R$ 3,2 milhões foram enviados ao país para aliviar a situação no período de maior emergência (13 de janeiro a 30 de abril). Em maio, a Igreja e a Cáritas iniciaram uma segunda fase, que se prolongará por dezoito meses e terá por objetivo ações nas áreas de habitação, economia solidária, educação e reforço à capacidade da Rede Cáritas no Haiti. Com uma Missa Solene na Catedral Primaz de Nossa Senhora da Encarnação, a Arquidiocese de Santo Domingo deu início ao Ano Jubilar que comemora o quinto centenário da sua criação. A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Nicolás de Jesús López Rodríguez, Primaz da América, tendo como concelebrantes o Núncio Apostólico na República Dominicana, Dom Józef Wesolowski, bem como os dois Bispos auxiliares e mais de 100 sacerdotes. Telões instalados no exterior permitiram acompanhar a celebração aos fiéis que não conseguiram lugar no templo. Em sua homilia, Dom López Rodríguez recordou a história da Arquidiocese e animou os católicos a viverem este ano em ação de graças, assinalando que deve ser um tempo de conversão e de reconciliação com Deus e com os irmãos. O Cardeal entregou a um grupo de párocos a “cruz evangelizadora” que percorrerá todas as paróquias do país até a conclusão do Ano Jubilar. A Diocese de Santo Domingo foi criada pelo Papa Julio II em 8 de agosto de 1511, como sufragânea da Arquidiocese de Sevilha (Espanha). Em fevereiro de 1546, Paulo III a elevou à categoria de Arquidiocese. Fábio Kobayashi 500 anos de fundação da Arquidiocese de Santo Domingo CNBB e Cáritas arrecadam mais de 8 milhões de reais para o Haiti Até início de agosto, a Campanha SOS Haiti, promovida pela CNBB e 40 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Cardeal Zenon Grocholewski Universidades católicas precisam manter a identidade “Só a universidade católica que conserva sua identidade terá um futuro e contribuirá para o bem da sociedade”, declarou em entrevista à Agência ACI o Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito da Congregação para a Educação Católica. Dom Zenon prestou essas declarações no contexto do 20º aniversário da Exortação Apostólica Ex Corde Ecclesiæ, qualificada por ele como um “documento estupendo que proporciona o espírito à universidade católica” e regula o funcionamento desses centros de estudo. Nas duas últimas décadas, assinalou Sua Eminência, foram criadas em todo o mundo 250 universidades com a determinação de ser fiel a essa identidade. Recordou em seguida o que se exige de um teólogo chamado a lecionar numa instituição católica de estudos: ele “deve acreditar nas Sagradas Escrituras e na Tradição, e precisa estar unido ao Magistério da Igreja”. Redentoristas apostam na Missão Popular Renovada Ao iniciar o novo Ano Pastoral, os Missionários Redentoristas têm um projecto missionário de renovação da paróquia através da Missão Popular Renovada. Em declarações à Agência Ecclesia o Pe. António Marinho, do Secretariado de Evangelização dos Missionários Redentoristas, realça que numa “Igreja que exige uma evangelização nova, exige, em simultâneo, uma nova missão”. A Missão de hoje requer novos processos, nova metodologia, corações renovados e esperança renovada, envolvendo a comunidade local, aberta aos não crentes, e trabalhando no presente para construir a Igreja do futuro. Nos moldes tradicionais, “o padre subia ao púlpito e falava” e o povo limitava-se a ouvir. Hoje, a missão tem “novos contornos” e o povo deverá ser “protagonista da missão” — explicou aquele missionário. E acrescenta: “as forças vivas da paróquia deverão estar envolvidas”. A Missão Renovada parte da cidade, da casa, do grupo e vai ao encontro da pessoa e da comunidade local. A Missão Renovada requer um tempo de preparação, a chamada “Pré-Missão”, e é exercida durante 18 dias na Paróquia. Na 1ª semana haverá assembleias familiares nas casas, “a partir da família e dos bairros que reúnem na casa de uma pessoa” — afirmou o Pe. António Marinho. O animador local fará a animação do grupo. “São pessoas ligadas às forças da comunidade” — refere. A Cáritas internacional lançou em inícios de setembro um apelo de emergência para fazer frente aos graves danos humanos e materiais decorrentes das inundações no Paquistão, com o que espera garantir ajuda básica para 357.500 pessoas durante seis meses. Os esforços estão concentrados em proporcionar assistência de urgência nos setores de alimentação, água potável, saneamento e higiene, moradia temporária, saúde e nutrição, bem como na proteção e recuperação de infraestruturas básicas. A dor da Igreja perante as graves consequências dessa catástrofe e o desejo de ajudar os danificados já havia sido expressado pelo Papa na Audiência Geral de 18 de agosto: “Que não venham a faltar a estes nossos irmãos, tão duramente provados, a nossa solidariedade e a assistência concreta da Comunidade internacional!”. Cabe notar que a Cáritas paquistanesa foi a primeira a chegar à região de Khan Bela, no sul do Punjab, levando alimentos e barracas. Os salesianos de Quetta, por sua vez, já estão fazendo entrega de cestas básicas, com mantimentos para um mês, a famílias necessitadas, enquanto se mobilizam para ajudá-las na reconstrução dos seus lares e na recuperação do gado e das colheitas. Na semana seguinte haverá pregações no centro da Missão. “O povo dirige-se ao centro para escutar a Palavra de Deus”. E adianta: “é uma forma se combater a secularização e uma forma de atrair outros que não vão ao templo, mas por contágio da família passam a ir”. A pós-Missão é uma aposta na continuidade. Com este novo modelo há um empenho em construir a Igreja a partir de comunidade de comunidades, de assembleia familiar cristã em caritas.org Organizações católicas ajudam vítimas das enchentes no Paquistão Em entrevista à Rádio Vaticano, no dia 25 de agosto, o Presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, Cardeal Paul Josef Cordes, enfatizou que a ajuda econômica é importante, mas insuficiente: “é preciso uma mensagem que vá além da vida terrena”. E Anila Gill, secretária executiva da Cáritas paquistanesa, declarou à Agência Fides: “O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PAM) falou de uma ‘tríplice ameaça’ para os 17 milhões de pessoas deslocadas: fome, pobreza, desespero. O trabalho dos voluntários da Cáritas é também o de levar conforto e apoio psicológico às pessoas afetadas, para não deixá-las na angústia e no desespero”. grande Assembleia, centrada na Palavra e convocada no Espírito de Jesus Ressuscitado. E conclui: “o que importa é colocar a comunidade em espírito de missão”. Adoração Noturna comemora em Roma 2º centenário Para celebrar o 2º centenário da fundação da Adoração Noturna, a Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja organizou um congresso em Roma, a realizar-se de 17 a 20 de novembro. O programa consta de palestras sobre temas eucarísticos seguidas de Vésperas, Missa e Vigília de Oração. Entre os expositores cabe mencionar Mons. Juan Miguel Ferrer Grenesche, Subsecretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, e o Prof. Guzmán Carriquiry Lecour, Subsecretário do Pontifício Conselho para os Leigos. As Celebrações Eucarísticas serão presididas peOutubro 2010 · Flashes de Fátima 41 los Cardeais Antonio Cañizares Llovera, Presidente da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Stanisław Ryłko, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, e Bernard Francis Law, Arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, bem como pelo Arcebispo Piero Marini, Presidente do Comitê Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais. A Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja congrega as- sociações de leigos de diversos países e tem por objetivo “estimular, promover e propagar o culto ao Santíssimo Sacramento do Altar, de acordo com as orientações da Hierarquia Eclesiástica”, lê-se em sua página web (www.opera-eucharistica.org). Ameaça de bomba no Santuário de Lourdes Um falso alarme pôs em estado de alerta o Santuário de Lourdes em 15 de agosto, festa da Assunção. Na manhã desse dia, a polícia recebeu um telefonema anônimo anunciando a colocação de quatro bombas programadas para explodir às 15h. Como medida de cautela, as autoridades determinaram a evacuação imediata dos cerca de trinta mil fiéis que lá se encontravam, muitos deles doentes ou portadores de deficiência. “Tendo em vista o caráter simbólico de Lourdes, cidade que pode ser Meeting de Rimini 2010 congrega quase 800 mil participantes C erca de 800 mil pessoas de 29 nacionalidades participaram do 31º Meeting de Rimini, promovido pelo Movimento Comunhão e Libertação nos dias 22 a 28 de agosto. Sob o lema Essa natureza que nos impulsiona a desejar coisas grandes é o coração, sucederam-se ao longo da semana 130 encontros, 8 exposições e 35 espetáculos de música e teatro. “Foi surpreendente ver como para todos o lema do Meeting tornou-se o tema predominante das intervenções”, declarou Emilia Guarnieri, Presidente da Fundação Meeting para a Amizade entre os Povos. O próprio Papa Bento XVI enviou uma mensagem de incentivo, na qual acentua: “Neste ano, o lema de vossa importante manifestação nos recorda que no fundo da natureza de todo homem encontra-se uma insuprimível inquietação que o incita à procura de algo capaz de satisfazer essa sua aspiração. Todo homem intui que precisamente na concretização dos desejos mais profundos de seu coração pode ele encontrar a possibilidade de realizar-se, chegar ao termo, ser verdadeiramente ele mesmo”. Altas personalidades eclesiásticas participaram das apresentações e debates, entre elas, o Presiden- 42 Flashes de Fátima · Outubro 2010 te do Pontifício Conselho Cor Unum, Cardeal Paul Josef Cordes; o Presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, Cardeal Jean-Louis Tauran; o Arcebispo de Esztergom-Budapeste, Cardeal Péter Erdő; e o Patriarca de Veneza, Cardeal Angelo Scola, quem desenvolveu o tema Desejar Deus, Igreja e pós-modernidade. Também fizeram parte dos debates figuras de destaque no mundo político, como Mary McAleese, Presidente da Irlanda; José Manuel Barroso, Presidente da Comissão Europeia; Franco Frattini, Ministro das Relações Exteriores da Itália; e Rocco Buttiglione, Vice-presidente da Câmara dos Deputados italiana. “Ministros e políticos enfrentaram expectativas e perguntas dos assistentes, discorrendo sobre os temas e os desafios do futuro próximo, deixando de lado as discussões de talk show”, informa a página web do Meeting. “O Meeting cobriu-se de êxito, porque foi ao encontro da exigência de redescobrir um olhar positivo para a realidade e foi uma proposta para a necessidade de mudança e recuperação da vida social” ― concluiu Emilia Guarnieri. Bento XVI visita região atingida por terremoto O Papa fez em 5 de agosto uma visita privada à região de Abruzos, Itália, atingida pelo terremoto de abril de 2009. Na parte da manhã, o Santo Padre parou por alguns instantes no Santuário de Nossa Senhora dos Necessitados antes de ir almoçar, junto com o Cardeal Fiorenzo Angelini, numa comunidade de religiosas de Carsoli. À tarde, o Papa se dirigiu a Rocca di Mezzo, onde foi acolhido pelo Cardeal Angelo Sodano e visitou a Igreja de São Leucio, detendo-se em oração pelas vítimas do terremoto. Antes de regressar a Castel Gandolfo, no fim do dia, Sua Santidade teve um breve encontro com o pároco, o Presidente da Câmara e os vereadores. É a terceira vez em seu pontificado que Bento XVI visita essa região. Congresso sobre o Santo Sudário, em Lima Realizou-se na capital do Peru, de 31 de agosto a 2 de setembro, o II Congresso Internacional e Exposição do Santo Sudário, Organizado pelo Centro de Estudos Católicos de Lima e pela Ação Universitária, e patrocinado pela Arquidiocese. Participaram do evento personalidades de destaque no mundo científico, entre as quais o Prof. Bruno Barberis, da Universidade de Turim; o sacerdote jesuíta Manuel Carrei- ra, professor da Carroll University, Cleveland (Estados Unidos) e da Universidade Pontifícia Comillas (Espanha); e o investigador e teólogo peruano Rafael de la Piedra, especialista em Santo Sudário. O programa constou de uma jornada especial para religiosos, sessões para professores e estudantes de colégio, e uma grande exposição temática sobre o Santo Sudário, com reproduções fotográficas em tamanho natural, em positivo e negativo, da preciosa relíquia. No fim do Congresso, os peritos participantes defenderam a autenticidade da relíquia, tomando por base rigorosos estudos científicos que indicam ter sido o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo o coberto por este tecido. virgendelvalle.net.ar objeto de uma ameaça terrorista, tínhamos obrigação de tomar a sério esse aviso”, declarou o chefe de polícia da região dos Altos Pirineus, René Bidal. Após uma minuciosa verificação sem encontrar qualquer vestígio de explosivos, as dependências do Santuário foram liberadas e pôde realizar-se normalmente a procissão das velas, à noite. Santuário argentino recebe a Rosa de Ouro Por ocasião das comemorações do primeiro centenário da arquidiocese argentina de Catamarca, o Papa Bento XVI outorgou a Rosa de Ouro ao Santuário de Nuestra Señora del Valle, dessa cidade. A entrega foi feita no dia 21 de agosto pelo legado especial de Sua Santidade, o Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, em cerimônia da qual participaram o Arcebispo de Catamarca, numerosas outras personalidades e uma multidão de fiéis. Criada por Leão IX em 1049, a Rosa de Ouro é uma condecoração com a qual o Papa homenageia personagens católicas preeminen- tes. Nos últimos anos, ela foi outorgada também a santuários marianos de grande projeção: Fátima, Portugal, em 1965; Luján, Argentina, em 1982; Aparecida, Brasil, em 1967 e 2007. Ordem Dominicana tem novo Superior Geral Os 127 padres capitulares da Ordem dos Pregadores, reunidos em Roma, elegeram no dia 5 de setembro seu novo Superior Geral: Frei Bruno Cadoré, até então Prior da Província francesa e Presidente da Conferência Interprovincial da Europa. Frei Bruno, 56 anos, formou-se em medicina e trabalhou como pediatra antes de fazer-se religioso. Recebeu a ordenação presbiteral em 1986. Doutor em Teologia, foi professor de Ética Biomédica na Universidade Católica de Lille, França. É o 87º Mestre Geral da Ordem e sucede no cargo ao argentino Frei Carlos Azpiroz Costa. Dirigirá durante nove anos os mais de seis mil dominicanos espalhados pelo mundo. Em entrevista concedida à TV Jour du Seigneur logo após a eleição, afirmou: “Penso que o Mestre da Ordem é o servidor da unidade entre todos os irmãos, todas as comunidades, todas as províncias e todas as culturas, que são tão diferentes”. Sexto centenário de um grande milagre A cidade de Llíria, Espanha, festejou em 30 de agosto o 600º aniversário do “Milagre da Fonte” de São Vicente Ferrer. Pela manhã, os fiéis participaram de uma procissão desde a igreja matriz até o local do milagre, repetindo o “recorrido en rogativa” (percurso rogatório) que São Vicente fizera há seis séculos. E à tarde, Dom Carlos Osoro, ArOutubro 2010 · Flashes de Fátima 43 cebispo de Valência, celebrou uma Missa na ermida ali erigida e benzeu em seguida as águas da nascente. Em agosto de 1410, secou a fonte que abastecia o povoado de Llíria, perto de Valência. A população pediu auxílio a São Vicente Ferrer, o qual obteve, por suas orações, que o manancial voltasse a jorrar, anunciando que ele nunca mais secaria. “Invenire” é a nova publicação dos Bens Culturais da Igreja “Invenire: Revista de Bens Culturais da Igreja” é a nova publicação do Secretariado Nacional dos Bens Culturais. O número 1 vai ser lançado e apresentado em Outubro, no Museu Nacional de Arte Antiga. Esta publicação, incidindo nas diversas áreas de actuação do sector, “pretende ser mais um meio de divulgação e valorização do vasto património histórico e artístico nacional”, sendo da responsabilidade do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja. Um comunicado enviado à Agência Ecclesia refere as apostas na qualidade gráfica e nos conteúdos. O número de estreia abre com uma secção de investigação, com ensaios do bispo D. Carlos A. Moreira Azevedo e Nuno Resende, a que se segue um Portfolio sobre Marfins, escolhidos por Carla Alferes Pinto. Em destaque, apresenta-se ainda um conjunto de obras de vários pontos do país, analisadas por diversos especialistas e investigadores nacionais. O projecto “Rota das Catedrais”, desenvolvido em parceria com o Ministério da Cultura, será abordado em caderno temático, no qual se destaca a entrevista ao Secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle. O espaço de opinião na revista é inaugurado por Rui Vieira Nery, com o artigo “Salvar o património de música sacra portuguesa”. A publicação apresenta ainda uma selecção de livros e agenda de eventos Congresso Mundial sobre a Imprensa Católica O Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais organizou um Congresso Mundial sobre a Imprensa Católica, a realizar-se no Vaticano de 4 a 7 deste mês. En- Congresso Eucarístico Diocesano de Mogi das Cruzes a semana de 15 a 22 de agosto, realizou-se em Mogi das Cruzes, São Paulo, o III Congresso Eucarístico Diocesano, tendo como tema principal Eucaristia, força e vida dos discípulos missionários. Vários milhares de fiéis assistiram à Missa de encerramento, celebrada no Centro Municipal Integrado pelo Bispo diocesano, Dom Airton José dos Santos, concelebrada pelo Bispo Emérito, Dom Paulo Mascarenhas Roxo e numerosos sacerdotes. Durante a Eucaristia, os assistentes acolheram com júbilo uma relíquia do Beato Eustáquio van Lieshout, trazida da Holanda por familiares deste sacerdote da Congregação dos Sagrados Corações, que exerceu seu ministério na cidade de Poá, Diocese de Mogi das Cruzes. 44 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Jonas Salvador N Após a Missa, o Santíssimo Sacramento foi conduzido triunfalmente em procissão até a Catedral, acompanhado por representantes de todos os movimentos da diocese. Papa envia terços bentos para mineiros presos no Chile O Cardeal Francisco Javier Errázuriz, Arcebispo de Santiago do Chile, levou 33 terços abençoados pelo Papa Bento XVI para os mineiros retidos a 700 metros de profundidade numa galeria da mina São José de Atacama. A entrega foi feita em 2 de setembro, por ocasião da Missa celebrada no local por Dom Errázuriz para parentes e amigos dos mineiros. Na homilia, Sua Eminência destacou a fortaleza, alegria e espírito de solidariedade e disciplina com que eles estão enfrentando sua difícil situação. Ressaltou igualmente a grande fé que têm demonstrado, seu amor a Deus e sua devoção à Virgem da Candelária. Comentando o empenho demonstrado por todos os setores da sociedade para o bom êxito da operação de resgate, concluiu Dom Errázuriz: “Esse esforço proclama o valor de toda vida humana, a qual não tem preço”. Aumenta número de alemães que querem ter filhos No ano de 2009, aumentou de 43% para 52% o número de alemães sem filhos e que gostariam de tê-los. Este é o resultado de uma pesquisa feita pelo Ministério da Família desse país europeu, na qual foram ouvidas 1.814 pessoas de menos de 50 anos, segundo notícia de 5 de setembro, da Deutsche Welle. Steffen de Sombre, um dos responsáveis pela enquete, esclareceu que este foi o maior aumento registrado nos últimos anos. “Necessitamos de outras pesquisas, mas este é um sinal inicial positivo”, declarou Michaela Kreyenfeld, diretora do Laboratório de Economia e Demografia Social do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica. Wikipedia tre outros temas, serão debatidos a problemática e o futuro da imprensa, comunhão eclesial e controvérsias, liberdade de expressão e verdade na Igreja, imprensa católica e internet. Em declarações à Rádio Vaticano, Dom Claudio Maria Celli, Presidente do Pontifício Conselho, expressou seu desejo de que desse Congresso “surjam respostas para o futuro: qual é a missão da imprensa católica no momento atual, no contexto mundial de hoje”. Até o dia 1º de setembro, quase 200 delegados de 58 países haviam já confirmado sua participação. Centenário de nascimento da Beata Teresa de Calcutá Dentre os numerosos atos que marcaram em 26 de agosto o centenário de nascimento de Madre Teresa de Calcutá, cabe destacar a Missa presidida pelo Cardeal Telesphore Toppo, Arcebispo de Ranchi, Índia, na Casa-Mãe das Missionárias da Caridade, onde repousam os restos da Beata. Durante a celebração, da qual participaram cerca de mil fiéis, foi lida a mensagem enviada pelo Papa Bento XVI à Irmã Mary Prema, superiora dessa Congregação. Nela, o Papa afirma ter sido Madre Teresa, em vida, um “dom inestimável” para o mundo, e continua sendo-o depois de sua morte “através do amoroso e incansável trabalho de suas filhas espirituais”. O Cardeal Telesphore Toppo, por sua vez, salientou que “neste centenário, devemos escutar a mensagem da Madre Teresa, de que fomos criados para coisas maiores, para amar e ser amados”, informa a Agência Zenit. Novo livro-entrevista com declarações de Bento XVI O terceiro livro-entrevista do Papa Bento XVI com o jornalista Peter Seewald será posto à venda até o fim deste ano, segundo informou o Pe. Federico Lombardi, diretor do Serviço de Imprensa da Santa Sé. O volume será editado agora em italiano e alemão e espera-se que, mais adiante, o seja traduzido a outras línguas. Em 1997, Seewald publicou O sal da terra – Cristianismo e Igreja Católica na mudança para o Terceiro Milênio, fruto de uma série de entrevistas com o então Cardeal Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. No ano 2000 lançou o segundo volume, intitulado God and the World: A conversation with Peter Seewald, o qual foi posteriormente publicado em português com o título de Deus e o Mundo: A fé cristã explicada por Bento XVI. As entrevistas para o terceiro volume foram concedidas pelo Pontífice nos dias 26 a 31 de julho, em Castel Gandolfo. Peter Seewald nasceu na Alemanha, no seio de uma família católica, mas afastou-se da Religião e fundou em 1976 um jornal de esquerda radical. Voltou ao seio da Igreja em 1996, após uma conversa com o Cardeal Ratzinger. Em várias ocasiões declarou que deve sua conversão ao Papa Bento XVI. Outubro 2010 · Flashes de Fátima 45 História para crianças... ou adultos cheios de fé? O principal doador No dia assinalado, o povoado inteiro se acotovelava em frente da nova Igreja Matriz. Porém, quando a placa comemorativa foi descerrada, ocorreu algo inesperado... Irmã Michelle Viccola, EP A Vendo-se sozinho na vida, deContudo, passavam-se os anos, e, dalberto era um menipois do falecimento do Coronel e por uma ou outra razão, a construno inocente e bem eduda piedosa dona Carolina, Adalção não se iniciava. cado. Sua afetuosa mãe, berto não se assustou: confiava toAdalberto crescera e já acompadona Carolina, tinhatalmente em suas qualidades pesnhava o pai nas suas viagens de ne-lhe ensinado desde pequenino a soais. Além do mais, contava com gócios. Esperto e capaz, chegou a venerar com ternura as imagens de o apoio e o aplauso de muita genaconselhá-lo em um empreendiJesus e de Maria. E o pai, Joaquim te. Não, porém, das boas almas mento mercantil, fazendo-o obter Loveira, rico senhor de engenho copertencentes ao antigo círculo de enorme sucesso. Mas, à medida que nhecido pelo apelido de “O Coroamigos da família, afastadas de o patrimônio da família aumentanel”, procurava dar-lhe exemplo de seu convívio pela sua arrogância e va graças a seu bom tino financeihonestidade nos negócios e benevomaus-tratos, mas de uma súcia de ro foi ele ficando vaidoso, materialência para com os empregados. aduladores oportunistas. Aos poulista e prepotente, relegando a seA propriedade de dona Carolicos, tornou-se mais temido que gundo plano a boa formação recebina e o senhor Joaquim ficava a cerrespeitado, ao contrário do velho da da mãe. ta distância da aldeia. O pároco, Coronel. padre Nicolau, visitava-a com freUm dia, o jovem procurou o paquência para celebrar Missa, oudre Nicolau, já ancião, e lhe disse: vir confissões e atender os doen— Padre, decidi cumprir a protes. Numa dessas ocasiões, o Coromessa de meu pai: vou construir a nel prometeu construir uma igreja nova Matriz. adequada para Matriz, pois a antiO sacerdote ficou contente, ga capela do povoado, além mas desconfiado, pois conhede ser muito pequena, achacia bem a índole de Adalva-se em estado bastante berto, que logo acresprecário. Os aldeões entucentou: siasmaram-se com a ideia — Só exijo uma e dispuseram-se a colacondição. borar, ainda que fos— Qual seria, meu se com alguns tijolos, filho? um pouco de arga— Todas as despemassa ou trabalhanFurioso e agitado, Adalberto dirigiu-se à pobre mulher para sas correrão exclusido com seus próprios pedir-lhe explicações vamente por minha braços. 46 Flashes de Fátima · Outubro 2010 Edith Petitclerc Afinal, a igreja ficonta. Ninguém pocou pronta. O jovem derá dar sequer um tifazendeiro mandou jolo, ou um quilo de colocar na fachada, argamassa... nada! Os junto à porta de enoperários também setrada, uma grande plarão todos pagos por ca de bronze, com seu mim. Vai ser a igreja nome em letras garramais linda de toda a fais, e exigiu que, na região! hora de começar a ce— E qual o motivo rimônia de Dedicação, para negar aos habiela fosse descerrada tantes da aldeia a aleao som dos trompetes gria de dar sua modesda banda da aldeia. ta colaboração? ToNo dia assinalado, dos gostariam de cono povoado inteiro se tribuir para a construacotovelava em frenção da Casa de Deus... te do novo templo Não vê que eles ficaenquanto a placa era riam decepcionados? descoberta. Porém... Respondeu o jovem Todos os dias, às escondidas, a boa senhora dava aos qual não foi a surricaço, cheio de orguanimais uma porção extra de aveia presa de todos, quanlho: — Porque quero colocar ne- quianos olhavam admirados para do viram escrito nela: “Guilherla uma vistosa placa com esta ins- aqueles tijolos, que já tomavam as- mina, pobre viúva, principal doacrição: “Adalberto Loveira, único pecto de igreja. Sem embargo, uma dora desta bela igreja”. Adalberto doador desta bela igreja”! Assim tristeza lhes amargava a alma: em ficou pálido! O povo, no entanto, meu nome será lembrado por todos, nada podiam contribuir para edifi- murmurava... Só Dona Guilhermina, absorta nas suas orações, nada car a nova casa do Senhor... no presente e no futuro! Uma pobre viúva chamada Gui- percebera. O velho pároco, a princípio, não Furioso e agitado, Adalberto diqueria aceitar a condição; contu- lhermina achava-se muito inconfordo, não era prudente deixar pas- mada com aquela proibição. Duran- rigiu-se à pobre mulher, para pedirsar essa oportunidade. A igrejinha te anos, havia conseguido economi- -lhe explicações. Com a maior cando p ovoado deteriorava-se cada vez zar algumas moedas da parca pen- dura e sinceridade, ela narrou como mais, e tornava-se muito urgente a são deixada pelo marido e prome- alimentara os animais... Mas da platera solenemente aplicá-las na cons- ca, nada sabia. construção de uma nova e maior... Enquanto procurava inutilmenNo domingo seguinte, após a trução da nova Matriz. Será que Missa matutina, padre Nicolau deu uma anciã como ela não ia honrar o te uma explicação para o sucedido, começou a recordar-se o arrogante a grande notícia aos moradores da compromisso feito a Deus? Então pensou consigo mesma: jovem dos conselhos e ensinamentos aldeia. O aplauso foi geral, cheio de contentamento! Mas, quando lhes “O pároco proibiu-nos dar qual- de sua extremosa mãe. Vieram-lhe comunicou a condição... um véu de quer donativo para essa obra. No também à mente as palavras de Nosentanto, nada me impede de ali- so Senhor aos seus Apóstolos, vendo tristeza percorreu todos os olhares! Logo se iniciou a construção, su- mentar os animais que carregam as pessoas depositarem esmolas no pervisionada por um famoso enge- em seu lombo os materiais. Eles es- cofre do Templo: “Em verdade vos nheiro da capital. Um competente tão bastante malnutridos e vão aca- digo: esta pobre viúva pôs mais do mestre de obras dirigia os trabalha- bar todos doentes se alguém não que os outros” (Lc 21, 3). Entre lágrimas de sincero arredores, e grande número de animais lhes reforçar a ração com um poude carga era usado no transporte de co de aveia...”. Dito e feito. Todos pendimento, Adalberto pediu publimateriais. Os fundamentos ficaram os dias, às escondidas, a boa senho- camente perdão ao povo da aldeia. prontos em poucas semanas. As pa- ra dava aos animais uma porção ex- Depois chamou à parte o padre Niredes eram levantadas com uma ve- tra de aveia, até gastar todas as suas colau e fez a melhor confissão de sua vida. locidade surpreendente. Os paro- moedas. Outubro 2010 · Flashes de Fátima 47 ________ Os Santos de cada dia 2. Santos Anjos da Guarda. Beato Antônio Chevrier, presbítero (†1879). Fundou em Lyon, França, a Associação dos Padres do Prado, para formar sacerdotes destinados a ensinar aos jovens pobres a Fé cristã. 7. Nossa Senhora do Rosário. Beato José Llosá Balaguer, mártir (†1936). Religioso dos Terciários Capuchinhos de Nossa Senhora das Dores, morto durante a Guerra Civil Espanhola nas proximidades de Valência. ©santiebeati.it 1. Santa Teresinha do Menino Jesus, virgem e doutora da Igreja (†1897). São Bavão (ou São Bavo), monge (†cerca de 659). De família nobre e vida dissoluta, após ouvir um sermão de São Amando, distribuiu seus bens aos pobres e retirou-se como monge à abadia beneditina de Gand, Bélgica. 11. São Bruno, Bispo (†965). Irmão do imperador Oto I, foi, ao mesmo tempo, Bispo de Colônia e Duque da Lotaríngia. 12. São Félix IV, Papa (†530). Condenou o semipelagianismo e erigiu a Basílica de São Cosme e Damião, transformando dois templos pagãos. 3. XXVII Domingo do Tempo Comum. São Cipriano de Toulon, Bispo (†depois de 543). Discípulo de São Cesário de Arles, defendeu em vários concílios a verdadeira Fé sobre a graça. 4. São Francisco de Assis, religioso (†1226). Beato Francisco Xavier Seelos, presbítero (†1867). Religioso redentorista de origem bávara, enviado em missão para os Estados Unidos, dedicou-se a dar assistência aos meninos e jovens, e aos imigrantes de língua alemã. 5. Santo Apolinário, Bispo (†cerca de 520). Deu nova autoridade e esplendor à Religião Cristã na Diocese de Valença, França. 6. São Bruno, presbítero (†1101). Beata Maria Rosa Durocher, virgem (†1849). Fundou em L ongueuil, Canadá, a Congregação das Irmãs dos Santos Nomes de Jesus e Maria, para a formação da juventude feminina. 48 Flashes de Fátima · Outubro 2010 10. XXVIII Domingo do Tempo Comum. São Daniel Comboni, Bispo (†1881). Filho de camponeses-jardineiros pobres que se tornou o primeiro Bispo católico da África Central e um dos maiores missionários na história da Igreja. Fundou o Instituto dos Missionários Combonianos. 13. Beata Alexandrina Maria da Costa (†1955). Por defender sua castidade, ficou paraplégica aos 14 anos. Viveu confinada no leito o resto da vida, oferecendo-se como vítima pela conversão dos pecadores. Beato Francisco Xavier Seelos 8. Santo Hugo, religioso (†antes de 1233). Cavaleiro da Ordem de São João de Jerusalém. Nomeado Mestre da Encomenda de Gênova, Itália, destacou-se por sua exímia bondade e caridade para com os indigentes. 9. São Dionísio, Bispo, e companheiros, mártires (†séc. III). São João Leonardi, presbítero (†1609). São Deusdedit, mártir (†cerca de 834). Abade do mosteiro beneditino de Monte Cassino, Itália. Encarcerado por ordem do tirano Sicardo, morreu em decorrência da fome e outras privações. 14. São Calisto I, Papa e mártir (†222). Beato Romano Lysko, presbítero e mártir (†1949). Sacerdote da Arquieparquia de Leopoli dos Ucranianos, preso e murado vivo durante a perseguição religiosa na Ucrânia. 15. Santa Teresa de Jesus, virgem e doutora da Igreja (†1582). Beato Gonçalo de Lagos, presbítero (†1422). Sacerdote português, da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho. Embora fosse grande teólogo, preferiu dedicar-se à instrução de crianças e pessoas com pouca cultura. 16. Santa (†1243). Edviges, religiosa ___________________ Outubro Santa Margarida Maria Alacoque, virgem (†1690). Santo Anastácio, monge (†cerca de 1085). Sendo eremita na ilha de Tombelaine, perto de Mont-Saint-Michel, foi convidado por Santo Hugo a ingressar no mosteiro de Cluny. Faleceu em Pamiers, onde passou os últimos anos da sua vida em solidão. 21. Santa Úrsula e companheiras, virgens e mártires (†séc. IV). Sofreram o martírio perto de Colônia, Alemanha. 22. São Marcos de Jerusalém, Bispo (†séc. II). Primeiro Bispo de origem gentio a ocupar a Sé de Jerusalém. 17. XXIX Domingo do Tempo Comum. Santo Inácio de Antioquia, Bispo e mártir (†107). Beatas Maria Natália de São Luís Vanot e companheiras, virgens e mártires (†1794). Religiosas da Ordem das Ursulinas, guilhotinadas em Valenciennes, França. 20. Santa Adelina de Savigny, abadessa (†1125). Com ajuda de seu irmão, São Vital, fundou o mosteiro de Mortain, França, do qual foi a primeira abadessa. 25. São Gaudêncio, Bispo (†cerca de 410). Bispo de Brescia, ordenado por Santo Ambrósio. 26. Santo Eata, Bispo (†cerca de 686). Sendo abade e Bispo de Hexham, Reino Unido, não abandonou, entretanto, a vida ascética. 27. Beato Bartolomeu de Breganze, Bispo (†1270). Frade da Ordem de Predicadores, exerceu cargos pontifícios sob Gregório IX, Inocêncio IV e Alessandro IV. Morreu sendo Bispo de Vicenza, Itália. 28. São Simão e São Judas Tadeu, Apóstolos. Beato Salvador Damião Enguix Garés, mártir (†1936). Membro da Ação Católica e fundador da Adoração noturna em Alcira, Espanha, assassinado nessa cidade durante a Guerra Civil. 18. São Lucas, Evangelista. São Pedro de Alcântara, presbítero (†1562). Franciscano de vida penitente e austera, renovou a disciplina nos conventos da ordem, na Espanha, e foi conselheiro de Santa Teresa na reforma da Ordem Carmelita. 19. Santos João Brébeuf, Isaac Jogues, presbíteros, e companheiros, mártires (†1649). São Paulo da Cruz, presbítero (†1775). Beato Tomás Hélye, presbítero (†1257). Sacerdote da Diocese de Coutances, na Normandia. Exercia seu ministério durante o dia e dedicava à oração e à penitência as horas da noite. rado, torturado e estrangulado por ser cristão. Beata Alexandrina Maria da Costa 23. São João de Capistrano, presbítero (†1456). São Severino Boécio, mártir (†524). Senador e cônsul romano, famoso pela sua ampla obra filosófica e teológica, martirizado pelo rei ostrogodo Teodorico, em Pavia, Itália. 24. XXX Domingo do Tempo Comum. Santo Antônio Maria Claret, Bispo (†1870). São José Lê Ðăng Thi, mártir (†1860). Oficial vietnamita, encarce- 29. São Zenóbio, presbítero e mártir (†séc. IV). Morto em Sidon, Líbano quando exortava os outros cristãos a enfrentarem com ânimo os tormentos do martírio. 30. São Marcelo de León, mártir (†298). Centurião romano decapitado em Tánger, Marrocos, por se declarar cristão diante dos seus companheiros. 31. XXXI Domingo do Tempo Comum. Beato Leão Nowakowski, presbítero e mártir (†1939). Fuzilado em Piotrków Kujawski durante a ocupação militar da Polônia. Outubro 2010 · Flashes de Fátima 49 É belo crer na luz! Procuremos guardar sempre nas nossas almas a lembrança das cintilações da graça divina, ainda quando esta pareça nos faltar. Raphaela Nogueira Thomaz C laude Lorrain, famoso pintor francês do século XVII, dotado de um estilo luminoso e poético, soube representar em seus quadros aquilo sem o qual — nas palavras de Edmond Rostand — as coisas não seriam senão o que elas são: o sol. Algumas das suas aprazíveis telas são iluminadas pelo esplendor do alvorecer. Sem fazer ruído e sem se apressar, sobrepujando paulatinamente em brilho todos os outros astros celestes, o sol desperta como de um sono profundo e começa, de modo discreto, a acordar a natureza, dando vida a mais uma jornada. Outras cenas transcorrem à brilhante luz do meio-dia, ou sob o límpido céu de uma tarde de primavera. É a hora do triunfo. Num esforço magnífico e colossal, o sol se desdobra, por assim dizer, em luz e calor, cobre a superfície da terra e dá-lhe outro colorido. No entardecer, encerrada sua missão, o astro rei se retira com dignidade, reduzindo aos poucos suas feéricas manifestações, para ceder lugar à lua, que apenas o reflete de forma tênue. Tudo se faz trevas e quietude. Por meio de um profundo silêncio, os seres vivos reverenciam sua 50 Flashes de Fátima · Outubro 2010 majestade celeste, na certeza de um novo amanhecer que fenderá a escuridão da noite, enchendo tudo de luz mais uma vez. * * * Algo de análogo acontece quando a luz da graça divina ilumina as almas dos homens: ora ela as favorece com afagos, ora as prova com suas demoras... ora, enfim, as repreende por seus erros, ou até parece retirar-se do firmamento, como em um ocaso. Há certos momentos nos quais ela nos acompanha como o sol do meio-dia, e se nos fosse pedido um grande sacrifício, fá-lo-íamos generosamente. Entretanto, em outras situações, a mão benfazeja de Deus parece retirar-se, obrigandonos a caminhar sem deixar de crer nessa luz, que não vemos mais. Agindo assim, a Providência parece nos dizer: “Meu filho, já experimentaste a doçura da graça e compreendeste quão maravilhoso é o seu auxílio. Agora vou provarte. Sê fiel nas horas em que não me sentires ao teu lado, nas ocasiões em que tudo parece anoitecer para tua alma. Pelo fato de estares agora na aridez, não penses que as consolações nunca mais voltarão. Quero tornar patente tua boa disposição interior, dar ensejo a manifestares tua gratidão por tudo quanto já fiz por ti...”. Devemos admirar o aspecto fabuloso das coisas quando vistas sob a luz de um sol magnífico, como nos quadros de Claude Lorrain, certos de que sua beleza não se extinguirá ao anoitecer, mas renascerá na aurora. Da mesma forma, em nossa vida espiritual, procuremos guardar sempre a recordação das cintilações da graça divina, ainda quando esta pareça nos faltar. E nas trevas da noite, esforcemo-nos por continuar amando os maravilhosos horizontes descortinados por ela... pois, como exprimiu belamente o mesmo Edmond Rostand: “É durante a noite que é belo crer na luz!”. Paisagem com Cristo a caminho de Emaús Museu Hermitage, São Petersburgo Gustavo Kralj Paisagem com um templo de Baco - National Gallery of Canada, Ottawa Chegada de Ulisses à corte de Licomedes Museu Hermitage, São Petersburgo Gustavo Kralj Víctor Toniolo Víctor Toniolo Devemos admirar o aspecto fabuloso das coisas quando vistas sob a luz de um sol magnífico, certos de que sua beleza não se extinguirá ao anoitecer. Mulheres troianas queimando seus navios The Metropolitan Museum of Art, Nova York V ós tendes, ó Maria, autoridade de Mãe para com Deus, e por isso alcançais também o perdão aos mais abjetos pecadores. Em tudo vos reconhece o Senhor por sua verdadeira Mãe e não pode deixar de atender a cada desejo vosso. (Santo Afonso Maria de Ligório, As Glórias de Maria) L. 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