Revista Médica de Minas Gerais - Unidade de Nefrologia Pediátrica
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Revista Médica de Minas Gerais - Unidade de Nefrologia Pediátrica
17/1/2-S3 Editorial UMA PUBLICAÇÃO DA Associação Médica de Minas Gerais – AMMG • Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais – CRM-MG • Cooperativa Editora e de Cultura Médica Ltda. – Coopmed • Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais – FCMMG • Faculdade de Medicina da UFMG – FM/UFMG • Federação Nacional das Cooperativas Médicas – Fencom • Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais – SES/MG • Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte – SMSa/BH • Sindicato dos Médicos do Estado de Minas Gerais – Sinmed-MG • Unimed-BH Cooperativa de Trabalho Médico Ltda – Unimed-BH. Diretoria Executiva do Conselho Gestor Francisco José Penna - Presidente • Helton Freitas - Diretor Financeiro • Helvécio Miranda Magalhães Júnior - Diretor de Relações Institucionais Conselho Gestor Amélia Maria Fernandes Pessôa (Sinmed-MG) • Ciro José Buldrini Filogônio (Fencom) • Cláudio de Souza (CRM-MG) • Epotamênides Maria Good God (AMMG) • Francisco José Penna (FM/UFMG) • Helton Freitas (UNIMEDBH) • Helvécio Miranda Magalhães Júnior (SMSa-BH) • Ludércio Rocha de Oliveira (FCMMG) • Nery Vital Cunha (SES/MG) • Victor Hugo de Melo (Coopmed) Editor Administrativo Paulo Caramelli Secretária Suzana Maria de Moraes Miranda Normalização Bibliográfica Maria Piedade Fernandes Ribeiro Leite Projeto gráfico: José Augusto Barros Produção Editorial: Folium Tiragem: 2.000 exemplares Correspondências e artigos Revista Médica de Minas Gerais Faculdade de Medicina da UFMG Av. Prof. Alfredo Balena, 190 - Sala 12. 30130-100 – Belo Horizonte. MG.Brasil Telefone: (31) 3409-9796 Email: [email protected] As despesas de produção deste Suplemento foram pagas pela Nestlé Nutrição Infantil. Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S173 - S226 Mais um ano se finaliza e a Diretoria da SMP pode, com satisfação, dizer que a grande tarefa de coordenar esta importante Sociedade está sendo cumprida. No mês de novembro comemoramos seis décadas desde a fundação e pudemos contar com a presença de sócios e representantes de várias entidades e instituições que muito tem nos apoiado na luta pela construção de uma pediatria atuante e capaz de atender a demanda dos nossos profissionais e da população. Mais um suplemento de pediatria na Revista Médica de Minas Gerais está sendo lançado e com uma grande novidade: a Revista foi totalmente remodelada, com modernização e adequação da editoração, o que resultará em melhoria da qualidade e do reconhecimento enquanto importante fonte de informações para os médicos. A equipe editorial é coordenada pelo Prof. Ennio Leão, o qual acabou de intitular um prêmio distribuído pela Secretaria Estadual de Saúde (Prêmio “Ennio Leão”) aos municípios que se empenharam na defesa da vida. Este destaque denota a grande importância e o reconhecimento aos vários anos de experiência e de exemplo de vida deste nosso verdadeiro “Pai”. O primeiro artigo, que vocês terão o prazer de ler, trata dos exames propedêuticos necessários para o diagnóstico das pneumonias, e o segundo aborda uma proposta de padronização das alterações radiológicas pulmonares, com o aval de um grande radiologista do nosso meio. A seguir, temos uma reflexão das doenças funcionais gastrointestinais no contexto das relações familiares. É importante enfatizar que é no contexto familiar que a identidade do ser humano começa a se estabelecer por meio de suas relações, sendo a relação da criança com a mãe, ou outro ser humano que desempenhe essa função, estruturante para a formação da identidade. O pediatra frente à criança não pode se esquecer que a abordagem da família fornece subsídios para o diagnóstico e para a eficácia do tratamento. No caso das doenças funcionais esta abordagem deve ser incentivada, por se tratar de doenças geralmente crônicas e de difícil manejo. O artigo de constipação intestinal, que foi colocado a seguir, denota a importância dos fatores associados, como trauma emocional precipitante e história de nascimento de irmão mais novo. Os autores perceberam que houve também uma associação com ansiedade familiar, levando ao sofrimento e, algumas vezes, à discriminação do paciente, portanto os pediatras devem ser capazes de orientar a família para o treinamento evacuatório sem traumas, como também para o diagnóstico precoce da constipação, de modo a reduzir as complicações. Os leitores podem ainda fazer uma atualização em relação à hipertensão arterial, que apesar de predominar na idade adulta, tem uma prevalência em crianças e adolescentes variando de 1,20 a 13%. Neste artigo de revisão são abordados aspectos gerais, sua abordagem diagnóstica e terapêutica e as complicações que podem surgir, com recomendações importantes e práticas quanto ao diagnóstico e conduta. Para finalizar, foi selecionado um artigo abordando o uso de bifosfonatos, que são os medicamentos amplamente utilizados no tratamento de doenças associadas com aumento da reabsorção óssea em adultos, sendo que na faixa etária pediátrica, embora existam questionamentos sobre possíveis efeitos adversos, os bons resultados descritos na literatura são encorajadores. Existem relatos sobre o uso em crianças e adolescentes para tratamento de um número crescente de patologias tal como, por exemplo, osteoporose induzida por corticoesteróides, o que denota a importância do pediatra estar atento à presença de osteoporese e a buscar alternativas para o tratamento. A SMP registra mais uma vez que está recebendo artigos para submissão para publicação nos suplementos e que continua na caminhada para auxiliar os pediatras na atualização. Resta-nos desejar um final de ano e uma longa vida a todos que têm nos ajudado nestes momentos felizes de compartilhamento das idéias e de desejos. Fábio Augusto de Castro Guerra Presidente da SMP Maria do Carmo Barros de Melo Secretária Geral da SMP Ennio Leão, Rocksane de Carvalho Norton, Maria do Carmo Barros de Melo, Ana Lúcia Pimenta Starling, Joel Alves Lamounier Corpo Editorial REVISTA MÉDICA DE MINAS GERAIS Editor Geral Ênio Roberto Pietra Pedroso Editores Associados David de Pádua Brasil Ennio Leão Henrique Leonardo Guerra Manoel Otávio da Costa Rocha Conselho Científico Fábio Leite Gastal (Porto Alegre) Federico Lombardi (Itália) Gerald Minuk (Canadá) Jacques Nicoli (Belo Horizonte) Jair de Jesus Mari (São Paulo) João Carlos Pinto Dias (Belo Horizonte) Maria Ines Boechat (EUA) Mauro Martins Teixeira (Belo Horizonte) Naftale Katz (Belo Horizonte) Phillip Poole-Wilson (Reino Unido) Protásio Lemos da Luz (São Paulo) Rodrigo Correa de Oliveira (Belo Horizonte) Rômulo Paes de Sousa (Belo Horizonte) Sandhi Maria Barreto (Belo Horizonte) Sérgio Danilo Pena (Belo Horizonte) William Hiatt (EUA) Conselho Editorial Antônio Luiz Pinho Ribeiro Aroldo Fernando Camargos Dulciene Maria Magalhães Queiroz Enio Cardillo Vieira Geraldo Magela Gomes da Cruz João Galizzi Filho Leonor Bezerra Guerra Marco Antônio Rodrigues Mônica Silva Monteiro de Castro Roberto Marini Ladeira SOCIEDADE MINEIRA DE PEDIATRIA COMPOSIÇÃO DA DIRETORIA – TRIÊNIO 2006/2009 Presidente Fábio Augusto de Castro Guerra Presidente De Honra Guy Freire Jannotti Vice-Presidente Paulo Tadeu De Mattos Pereira Poggiali Secretário Geral Maria do Carmo Barros de Melo 1ª. Secretária Helayne Terezinha Alves Santos 2a. Secretária Andréa Chaimowicz 1º Tesoureiro Vânia Nunes Viotti Parreira 2º Tesoureiro Salvador Henrique Ceolin Diretor Geral Administração, Planejamento e Finanças Paulo Tadeu de Mattos Pereira Poggiali Assessora da Presidência Cleonice Carvalho Coelho Mota Assessor da PresidênCia José Sabino de Oliveira Assessor da Presidência José Maria Penido Silva Assessor da Presidência Navantino Alves Filho Diretor de Assuntos Profissionais Mário Lavorato da Rocha Diretor de Assuntos Profissionais Adjunto Ewaldo Aggrippino Fraga de Mattos Júnior Diretor dos Comitês Científicos Marcos Carvalho de Vasconcellos Diretora De Cursos: Reanimação Neonatal / Reanimação Pediátrica/Trauma Adrianne Mary Leão Sette e Oliveira Diretora de Divulgação Patrícia Regina Costa Peixoto Diretora de Eventos CIentíficos Rocksane Carvalho Norton Diretor de Informática Marcelo Militão Abrantes Diretor de Integração das Regionais Leonardo Falci Mourão Diretor De Patrimônio Olga Maria Nascimento Diretora de Redação E Publicações Cássio da Cunha Ibiapina Diretora Social Mariana Vasconcelos Barros Poggiali Diretora de Sócios Residentes Márcia Gonçalves Alvim Membro do Conselho Fiscal Eduardo Carlos Tavares Membro do Conselho Fiscal José Orleans da Costa Marcos Carvalho de Vasconcellos Membro do Conselho Fiscal José Sabino de Oliveira Membro do CoNselho Fiscal Margarida Constança Sofal Delgado Membro do Conselho Fiscal Marislaine Lumena de Mendonça Coordenador do Curso de Emergências Em Trauma Sérgio Diniz Guerra Coordenador do Curso de Reanimação Pediátrica Coordenadora do Curso de Reanimação Neonatal Lêni Márcia Anchieta Presidente da Academia Mineira de Pediatria Fausto Pacheco Vice-Presidente da Academia Mineira de Pediatria Sérgio Danilo Junho Pena Secretário da Academia Mineira de Pediatria Navantino Alves FIlho COMITÊS CIENTÍFICOS DA SOCIEDADE MINEIRA DE PEDIATRIA 1 – ADOLESCÊNCIA: Presidente: Dra. Cristiane de Freitas Cunha E-mail: [email protected] Alameda das Rosas, 188 – Sombreiro - Nova Lima/MG T: 3581-7083 / 9976-7083 9 – ENDOCRINOLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dr. Antônio José das Chagas R. Maranhão, 734 – 5º Andar – Santa Efigênia T: 3223-4389 / 9975-8780 E-mail: [email protected] 2 – ALEITAMENTO MATERNO: Presidente: Dr. Luciano Borges Santiago E-mail: [email protected] R. Dr. Paulo Pontes, 80 – Centro – Uberaba/MG T: (34) 3332-1312 / 3321-9600 10 – GASTROENTEROLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dr. Marco Antônio Duarte R. Padre Rolim, 769 Sala 402 – São Lucas T: 3224-7341 / 9981-1584 E-MAIL: [email protected] 3 – ALERGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dra. Raquel Pitchon dos Reis E-mail: [email protected] R. Felipe dos Santos, 521 Cj. 503 - Lourdes T: 3335-4006 / 9237-4007 11 – GENÉTICA CLÍNICA: Presidente: Dra. Letícia Lima Leão E-mail: letícia_leã[email protected] R. Rodrigues Caldas, 726 Sala 605 – Santo Agostinho T: 9976-8887 / 3291-7260 4 – BIOÉTICA: Presidente: Dr. Joaquim Antônio César Mota E-mail: [email protected] R. Cabrália, 30 Ap. 501 – São Lucas T: 3225-2836 12 – INFECTOLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dra. Heliane Brant Machado Freire E-mail: [email protected] R. Modesto Carvalho Araújo, 591 – Belvedere T: 3286-7878 / 3281-3593 (fax) / 9903-3053 5 – CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Tereza Lúcia de Melo Masci E-mail: [email protected] / [email protected] R. Eurita, 30 – Santa Tereza T: 9972-5008 / 3463-0049 13 – NEFROLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dra. Roberta Gazzi Salum E-mail: [email protected] R. Consul Robert Levy,44 – São Bento – 30350-710 T: 9325-9456 6 – CIRURGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dr. Átila Reis Victória R. Domingos Vieira, 587 Sala 710 – Santa Efigênia T: 3241-2485 E-mail: [email protected] 14 – NEONATOLOGIA: Presidente: Dra. Maria Albertina Santiago Rêgo E-mail: [email protected] R. HENRIQUE PASSINI, 33 – SERRA T: 3225-0790 / 3282-3444 ® / 9982-0956 7 – CUIDADOS HOSPITALARES: Presidente: Dra. Míriam Maria de Souza E-mail: [email protected] T: 3277-6180 (HMOB) / 9967-8695 15 – NEUROLOGIA INFANTIL: Presidente: Dra. Marli Marra De Andrade E-mail: [email protected] Av. Uruguai, 1076 Ap. 202 – Sion – 30310-300 T: 9641-3440 / 3261-4582 8 – DERMATOLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dra. Cláudia Márcia Resende Silva E-mail: [email protected] Av. Pasteur, 89 Sala 407 – Santa Efigênia T: 3227-0731 16 – NUTRIÇÃO: Presidente: Paulo Pimenta Figueiredo Filho E-mail: [email protected] R. Samuel Pereira, 135 Ap. 1 - Anchieta T: 8882-8915 / 3227-0253 17 – ONCO-HEMATOLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dra. Benigna Maria de Oliveira E-mail: [email protected] R. Timbiras, 135 Ap. 902 - Funcionários T: 3272-7855 / 9994-6221 / 3248-9442 20 – SAÚDE ESCOLAR: Presidente: Dra. Laís Maria Santos Valadares E Valadares E-mail: [email protected] Av. Francisco Sales, 1420 Sala 704 – Santa Efigênia T: 3281-9807 / 9119-9014 18 – OTORRINOLARINGOLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dr. Ricardo Neves Godinho E-mail: [email protected] R. Dr. Chassim, 208 – Centro 35700-018 – Sete Lagoas/MG T: 8793-2175 / 3772-2121 21 – SAÚDE MENTAL: Presidente: Dra. Ana Maria Costa da Silva Lopes E-mail: [email protected] Av. Contorno, 5351 Sala 1403 – Cruzeiro T: 3225-0081 / 9957-2736 / 3278-2706 19 – PNEUMOLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dra. Cristina Gonçalves Alvim R. Francisco Deslandes,151/901 – Cruzeiro TEL: 3481-1466 (H) / 3287-7737 / 9205-9119 E-mail: [email protected] 21 – REUMATOLOGIA PEDIÁTRICA: Presidente: Dra. Maria Vitória Pádua de Quintero AV. BARBACENA, 1018 – SALA 506 – SANTO AGOSTINHO TEL: 3275-3911 / 9982-4177 / 3296-0224 E-mail: [email protected] 22 – SEGURANÇA INFANTIL: Presidente: Dra. Marislaine Lumena de Mendonça E-mail: [email protected] R. Bernardo Guimarães, 1581 Ap. 1308 - Funcionários T: 9715-9701 / 3272-9701 23 – TERAPIA INTENSIVA E EMERGÊNCIAS: Presidente: Dra. Fátima Lúcia Guedes R. Costa Rica, 33 - Sion T: 3378-2230 / 3319-5723 (UTI – manhã) / 3261-6570 (SES – tarde) / 3285-1074 / 8822-4703 E-mail: [email protected] 17/1/2-S3 sumário Figura da Capa 179 • Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos 202 • Perfil das crianças com constipação intestinal atendidas em um hospital-escola Laboratory tests childhood´s pneumonia: a critical analysis of the guidelines Characteristics of children with constipation in a teaching hospital Daniela de Lima Gomes; Natália da Silva Champs; Mariana Bragatto dos Santos Costa; Sandra Guerra Xavier; Rômulo Carvalho Vaz de Mello; José Dias Ibiapina e Silva;Cássio da Cunha Ibiapina; Cristina Gonçalves Alvim; Claúdia Ribeiro de Andrade Maria do Carmo Barros de Melo; Marcia Regina Fantoni Torres; Francisco José Penna; Pedro Henrique Osório; Tatiana Matos de Carvalho Cunha; Sílvia Aparecida Steiner; Ariele Ton Leal 185 • Padronização na descrição das imagens radiológicas no tórax Standardization of thoracic radiological images description Cássio da Cunha Ibiapina; Davi Rezende; Flávia Fajardo Linhares Pereira; Cláudia Ribeiro de Andrade; Carolina Oliveira Baier; Daniela de Lima Gomes; Flávia Alves Campos; Mariana Bragatto dos Santos Costa; Natália Silva Champs; Priscila Menezes Ferri 194 • A família no contexto das doenças gastrintestinais funcionais: uma revisão crítica The family in the context of the gastrointestinal disorders: a critical review Mariza Ferreira Leão; Maria do Carmo Barros Melo; Marcia Regina Fantoni Torres; José Carlos Cavalheiro da Silveira 208 • Hipertensão arterial em crianças e adolescentes Arterial hypertension in children and adolescents Ana Cristina Simões e Silva; Romina Aparecida dos Santos Gomes; Regina Maria Pereira 218 • Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes Use of bisphosphonates in children and adolescents Ana Luiza Andrade Aragão; Ivani Novato Silva 226 • Normas de Publicação Página em branco Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos Laboratory tests childhood´s pneumonia: a critical analysis of the guidelines Daniela de Lima Gomes1; Natália da Silva Champs1; Mariana Bragatto dos Santos Costa 2; Sandra Guerra Xavier3; Rômulo Carvalho Vaz de Mello4; José Dias Ibiapina e Silva5;Cássio da Cunha Ibiapina6; Cristina Gonçalves Alvim6; Claúdia Ribeiro de Andrade7 RESUMO Este estudo tem como objetivo discutir sobre os exames laboratoriais nas pneumonias na infância, com ênfase nos consensos mais recentes sobre o tema. As pneumonias na infância são prevalentes e responsáveis por um número significativo de internações e óbitos. O diagnóstico baseia-se, na maioria das vezes, nos achados clínicos e radiológicos. A realização de alguns exames inespecíficos para diferenciação entre vírus e bactérias é apresentada e discutida bem como a aqueles relacionados na identificação do agente etiológico. O artigo também apresenta o nível de evidência dos exames relatados nos consensos e o custo de alguns deles. Palavras-chave: Pneumonia; Recém-nascido; Lactente; Pré-Escolar; Criança; Técnicas e Procedimentos de Laboratório 1 Especializandas do Curso de Especialização em Pneumologia Pediátrica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. 2 Residente de Pediatria do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. 3 Professora do Departamento de Propedêutica Complementar da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais 4 Patologista clínico do Setor de Soro-Imunologia e Hormônios do Serviço de Medicina Laboratorial do HC/ UFMG. Professor de Semiologia Laboratorial da Faculdade de Medicina de Barbacena. 5 Professor da Faculdade de Médicas e da Saúde de Juiz de Fora – FCMS- Suprema- Juiz de Fora 6 Professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. 7 Professora do Curso de Medicina da Unifenas- BH SUMMARY This study aims to discuss about laboratory tests in childhood pneumonia, with emphasis on most recent guidelines. Pneumonias are prevalent in children and responsible for a significant number of hospitalization and deaths. Diagnosis is based on clinical and radiological findings in most cases. Some test to differentiate between viral or bacterial etiology are discussed as those related for identification of etiological agent. This article also presents the level of evidence of the tests described in guidelines and the costs of some of them. Key words: Pneumonia, Infant, Newborn; Infant; Child, Preschool Child; Laboratory Techniques and Procedures As pneumonias ainda são muito prevalentes na infância. Dados recentes sugerem que a incidência anual seja em torno de 3 a 4% da população de crianças abaixo de cinco anos, taxa substancialmente maior do que em adultos.1 Cerca de 80% das mortes por infecções respiratórias agudas são devidos às pneumonias.2,3 Em relação aos fatores de risco, em nosso meio destacam-se a desnutrição, a baixa idade e presença de co-morbidades. A diferenciação entre pneumonia viral e bacteriana permanece um desafio para o clínico devido à dificuldade de se obter material representativo das vias aéreas e da diversidade de agentes etiológicos. Em 20 a 60% das crianças com pneumonia o patógeno responsável não é identificado.4-6 O ano de 2007 foi privilegiado em relação à publicação de consensos da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia- SBPT, da American Thoracic Endereço para Correspondência Departamento de Pediatria/Hospital das Clínicas/UFMG Cássio da Cunha Ibiapina Av. Alfredo Balena, 190 – Faculdade de Medicina Departamento de Pediatria Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S179-S184 179 Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos Society- ATS e da Infectious Diseases Society of America-IDSA disponíveis, respectivamente, nos sites www.sbpt.org.br e www.idsociety.org.3,7 Entretanto, alguns pontos como custo dos exames e exame de eleição para alguns agentes são aspectos de interesse para o clínico e que merecem ser melhor explorados e discutidos. Nesse contexto, optou-se pela elaboração deste artigo de revisão. EXAMES LABORATORIAIS Os consensos em pneumonias publicados pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e TisiologiaSBPT, a American Thoracic Society- ATS e a Infectious Diseases Society of América-IDSA apresentam todos os exames laboratoriais sob a forma de grau de evidência dos estudos, conforme relatado a seguir: Grau de evidência A – Boa evidência para recomendação de uso; B – Moderada evidência para recomendação; C – Pobre evidência para recomendação; D – Moderada evidência para não recomendação; E – Boa evidência para não recomendação. Qualidade da evidência I – Estudos randomizados, controlados II – Sem randomização, estudos de coorte ou caso-controle III – Opinião de especialistas, estudos descritivos HEMOGRAMA O conhecimento difundido na literatura era de que o hemograma seria um exame adequado para diferenciação entre vírus e bactérias, entretanto, evidências atuais demonstram que, por exemplo, o Adenovírus estaria associado à leucocitose. A leucopenia pode estar associada a quadros bacterianos graves; e achados inespecíficos como anemia podem estar correlacionados ao Staphylococus aureus e eosinofilia com Clamydia trachomatis. A presença de leucocitose acima de 15.000 e neutrófilos acima de 10.000 apresentam baixas 180 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S179-S184 sensibilidade e especificidade para confirmação de pneumonia bacteriana, como pode ser visto na Tabela 1.8,9 É recomendável a realização do hemograma à admissão dos pacientes hospitalizados bem como sua repetição durante a evolução do mesmo, servindo como um parâmetro adicional de avaliação. Tabela 1 - Sensibilidade e especificidade da contagem de leucometria global e neutrofilia para confirmação de pneumonia bacteriana Teste Sensibilidade Especificidade Leucocitose > 15.000 33% 60% Neutrofilia > 10.000 28% 63% Os consensos relatam que não é necessária a realização de rotina do hemograma em pacientes com pneumonia tratados ambulatorialmente (grau de evidência A). Apesar das limitações apresentadas, acredita-se que esse exame pode contribuir na tomada de decisão de, por exemplo, internar ou não o paciente, especialmente em lactentes. PROTEÍNA C REATIVA – PCR Existem dificuldades na definição do ponto de corte da concentração sérica, especialmente na população pediátrica. Estudos em adultos demonstram que valores acima de 100 mg/L poderiam estar associados a quadros bacterianos. Korppi et al., em estudo prospectivo, demonstraram que a concentração da PCR situou-se entre 21,5 e 60,3 mg/L nas pneumonias virais e entre 53,9 e 126 mg/L na pneumonia por pneumococo.10,11 A sensibilidade para diagnóstico de pneumonia bacteriana para valores acima de 60 mg/L é de 26% e a especificidade de 83%.10 O maior valor da PCR permanece no monitoramento do tratamento e como marcador prognóstico. Sabe-se que níveis elevados após três a quatro dias de tratamento ou mesmo redução inferior a 50% do valor inicial após 72 horas são indicadores de pior prognóstico.10,11 Os consensos não recomendam rotineiramente a realização da PCR, destacando grau de evidência C para essa assertiva. Acredita-se que na faixa etária pediátrica pode ser um exame útil Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos na decisão de alterar a antibioticoterapia após 72 horas de tratamento, especialmente nas crianças hospitalizadas. boa qualidade. O achado de macrófagos alveolares é outro parâmetro que ratifica coleta adequada. VÍRUS HEMOCULTURA Apesar da positividade da hemocultura variar de 10 a 30%, seu resultado pode fornecer informações epidemiológicas fundamentais para a prática clínica. O conhecimento da nosologia prevalente em cada serviço, hospital ou região baseia-se em seus achados, bem como os perfis de sensibilidade dos germes identificados. Em 1993 o SIREVA (Regional System for Vaccines Group) da Organização Pan-americana de Saúde iniciou um estudo envolvendo países latino-americanos para identificação dos sorotipos de Streptococcus pneumoniae e para avaliar o padrão de resistência à penicilina. Os sorotipos mais prevalentes foram o 14, 5, 1, 6A/B, 23F, 7F, 9V, 19F, 18C, 19A e 9N. Apenas 58% deles estão presentes na vacina pneumocócica conjugada 7 valente. A resistência à penicilina variou de 2% no Brasil a 21,1% no México.6,12 Os consensos definem que a hemocultura deve ser realizada rotineiramente em pacientes internados (embora com grau de evidência C). Pelo exposto, acredita-se que sempre que possível a hemocultura deve ser realizada em pacientes internados pela utilidade das informações que ela fornece. AMOSTRA PARA IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE ETIOLÓGICO Um tópico de extrema importância refere-se ao local onde se obtém a melhor amostra para identificação do agente etiológico. O material deve ser obtido prioritariamente pela seguinte ordem: I – Biópsia II – Lavado broncoalveolar ou minilavado III – Aspirado traqueal IV – Escarro V – Sorologia Uma vez obtida a amostra, deve-se estar atento à qualidade da mesma. A presença de mais de 25 polimorfonucleares/ campo e menos de 10 células epiteliais/campo são características de amostras de Os vírus permanecem como o principal agente etiológico das pneumonias, especialmente em crianças abaixo de 18 meses. Naquelas hospitalizadas, a pesquisa deve ser realizada quando possível. Os mais prevalentes são: vírus sincicial respiratório (VRS), adenovírus, influenzae A e B, parainfluenza e rinovírus. A confirmação da etiologia viral da doença pode ser realizada de quatro maneiras distintas: 1 – Cultura do microorganismo: apresenta sensibilidade reduzida para o diagnóstico. Além de permitir somente o diagnóstico de infecção pregressa, necessita de laboratório especializado e pessoal altamente treinado.13,14 2 – Identificação de partículas virais em secreções ou aspirados de nasofaringe por meio de testes rápidos imunocromatográficos: Anticorpos monoclonais específicos se ligam à partícula viral. Apresentam sensibilidade variável, em torno de 60 a 80%, com excelente especificidade. Apesar de fornecerem diagnóstico rápido, o custo do teste limita o seu uso, pois é necessária a realização de um teste para a pesquisa de cada vírus.14 Além disso, a disponibilidade comercial desses testes é muito limitada em nosso meio. 3 – Identificação de partículas virais através de imunofluorescência direta em secreções ou aspirados de nasofaringe: Utilizam anticorpos monoclonais marcados com fluoresceína, que se ligam especificamente ao antígeno viral presente na amostra. Possui sensibilidade variável, em torno de 50 a 70%. Constitui técnica trabalhosa, delicada, com leitura em microscópios de fluorescência, por profissionais altamente capacitados, exigindo boa quantidade de material, o que limita seu uso na prática.15 Apresenta baixa disponibilidade de kits comerciais em nosso meio. 4 – Identificação do material genético viral com base na reação em cadeia da polimerase – PCR. É a técnica mais sensível disponível, com índices de positividade em torno de 90 a 95%, aliada a elevados índices de especificidade. A PCR em tempo real ou real time (RT-PCR) permite não só a detecção como a quantificação da carga viral, de maneira exata e relativamente rápida, possibilitando o estabelecimenRev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S179-S184 181 Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos to de valores de corte para partículas replicantes do vírus, o que aumenta o poder diagnóstico do teste. As técnicas de multiplex permitem a análise para múltiplos patógenos ao mesmo tempo, na mesma reação e na mesma amostra. Seu uso ainda é limitado, pela necessidade de pessoal altamente qualificado, em laboratórios especializados, o que faz o custo ser alto. Faltam ainda kits comerciais validados para uso rotineiro. Apesar disso, em pouco tempo irá se tornar o método padrão para o diagnóstico.13-16 Apesar de concordar com as recomendações, sabe-se que, infelizmente, as limitações de recursos financeiros dificultam a realização de pesquisa de vírus na maioria dos hospitais. Chlamydia pneumoniae A Chlamydia pneumoniae teve recentemente uma nova diferenciação, sendo atualmente denominada Chlamydophila pneumoniae em muitas publicações. Tem pico de incidência em torno de oito a nove anos de idade, correspondendo a 3 a 20% das pneumonias na infância.17,18 É um patógeno intracelular e instável, daí a dificuldade de isolá-lo em cultura.19-21 A utilização de anticorpos monoclonais marcados com fluoresceína permite a identificação do microorganismo pela imunofluorescência direta em secreções ou aspirados, com bons índices de sensibilidade e especificidade. A técnica de PCR é promissora, mas ainda existem dificuldades na diferenciação entre as espécies.22 Nos consensos publicados neste ano, é dada atenção para a sorologia, que geralmente requer a realização de dois testes em momentos diferentes (grau de evidência D). É importante salientar que nos consensos não é feita menção à técnica de imunofluorescência direta, cujo custo relativamente baixo torna-a boa opção diagnóstica. como nas infecções por Mycoplasma pneumoniae, influenza, mononucleose infecciosa, doenças do colágeno, artrite reumatóide e linfomas. Não é específica, porém, apresenta-se positiva em 34 a 68% dos pacientes com a infecção. Títulos iguais ou acima de 1/128, na presença de quadro clínico compatível, possuem alto valor preditivo positivo. Em casos duvidosos, recomenda-se uma segunda dosagem após 10 a 15 dias, período de maior positividade do teste. Apresenta desempenho limitado como teste diagnóstico.23 A cultura para Mycoplasma pneumoniae tem sensibilidade e especificidade baixas, com valores inferiores a 60%, mesmo em laboratórios especializados.24 A técnica de PCR também apresenta sensibilidade limitada, chegando a 69% em escarro, cuja obtenção é difícil na faixa etária pediátrica, 50% em aspirado de nasofaringe e 38% em swab nasal ou amigdaliano.25 A sorologia pela técnica de Enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) identifica a IgM AntiM. pneumoniae, dispensando a realização de segunda coleta. Apresenta sensibilidade de 92% e especificidade de 98%. Tem grau de evidência D para sua recomendação. Citobacteriológico do escarro Possui grandes limitações relacionadas à validação devido à possibilidade da colonização da orofaringe por germes causadores de pneumonia. Na faixa etária pediátrica não se consegue obter amostra representativa na maioria dos pacientes. Quando solicitado, o citobacteriológico do escarro deve ser feito sob a forma de cultura quantitativa. Apresenta grau de evidência D nos consensos. Testes de aglutinação de partículas de látex Mycoplasma pneumoniae O exame que o pediatra habitualmente está mais familiarizado quando se suspeita de pneumonia por Mycoplasma pneumoniae é a dosagem das crioaglutininas - anticorpos capazes de aglutinar hemácias humanas. As crioaglutininas apresentam-se elevadas em diferentes situações, 182 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S179-S184 É uma reação de aglutinação simples e apresenta a vantagem de poder ser realizada em amostras de urina ou líquido pleural. Disponível para pneumococo e hemófilo. Nunes et al., em estudo nacional, avaliaram 107 crianças com diagnóstico presuntivo de pneumonia utilizando critérios clínicos, laboratoriais e radiológicos. Foram realizados testes de aglutinação Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos de partículas de látex em amostra de urina. A sensibilidade e a especificidade foram, respectivamente, de 77,3 e 90,3%, sugerindo ser uma técnica útil em países em desenvolvimento.26 Seu uso não dispensa a realização do gram e cultura do material. Apresenta grau de evidência C nos consensos. CONSIDERAÇÕES FINAIS As pneumonias ainda são responsáveis por alto número de óbitos infantis. Os recursos laboratoriais para o diagnóstico etiológico ainda são insuficientes e, na maioria das vezes, não disponíveis. Os consensos em alguns momentos parecem distanciar-se do dia-a-dia dos serviços de pediatria, especialmente enfermarias, com assertivas de difícil aplicação prática. As indicações de alguns exames demonstram, em algumas situações, distanciamento entre os profissionais que elaboraram os consensos e aqueles que atuam em laboratórios de análises clínicas, cuja contribuição poderia enriquecer a confecção dos consensos. Em relação àquelas considerações dos consensos que apresentam grau de evidência D, fazse necessária a realização de mais estudos para avaliar-se melhor a utilidade de alguns exames, especialmente para locais com recursos financeiros limitados. É fundamental que o pediatra tenha noções dos exames disponíveis, conhecendo as indicações, vantagens e desvantagens de cada um para que, quando disponíveis, haja otimização na solicitação e na interpretação dos resultados. REFERÊNCIAS 1. Colin AA. Pneumonia in the developed world. Paediatr Respir Rev. 2006; 7: 138-40. 2. Farha T, Thomson AH. The burden of pneumonia in children in the developed world. Paediatr Respir Rev. 2006; 6: 76-82. 3. 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Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S179-S184 183 Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos 19. Miyashita N, Niki Y, Nakajima M, Fukano H, Matsushima T. Prevalence of asymptomatic infection with Chlamydia pneumoniae in subjectively healthy adults. Chest 2001; 119:1416-9. 20. Wolf J, Daley A Microbiological aspects of bacterial lower respiratory tract ilness in children: atypical and pathogens. Paediatr Respir Rev. In press. 21. Wolf J, Daley A Microbiological aspects of bacterial lower respiratory tract ilness in children:Typical and pathogens. Paediatr Respir Rev. In press. 22. Kumar S, Hammerschlag MR. Acute respiratory infection due to Chlamydia pneumoniae: current status of diagnosis methods. Clin Infect Dis 2007; 44: 568-76. 184 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S179-S184 23. Coote N, Mackenzie Mc Diagnosis and investigation of bacterial pneumonias. Paediatr Respir Rev. 2000; 1:8-13. 24. Waites KB, Talkington DF. 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Métodos: foram selecionadas 16 referências bibliográficas em pesquisa realizada nas bases de dados Medline e no Lilacs, em português, espanhol e inglês, utilizando-se as palavras-chave radiologia, tórax e terminologia. Conclusões: não existe padronização e normalização na descrição de radiografias do tórax. Embora existam termos específicos publicados na literatura, a sua utilização é, ainda, incipiente. A variedade de definições e nomenclaturas utilizadas pelas diferentes universidades e residências médicas dificulta a interpretação das informações geradas, a formulação de pesquisas e a realização de estudos comparativos. Sistematização da análise da radiologia torácica deve ser realizada por todos profissionais. 1 Professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais 2 Radiologista Clínica Davi Rezende 3 Radiologista do Hospital Universitário Risoleta Tolentino Neves 4 Professora da Faculdade de Medicina- Unifenas-BH 5 Residentes de Pediatria do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais Palavras-chave: Radiologia; Tórax; Radiografia Torácica; Terminologia. SUMMARY Objective: To present basic’s terminology used for description of the most common images of thoracic’s radiology in pediatrics . Methods: Literature review related to basic terminology used in thoracic radiology. Sixteen bibliographic references were selected in research carried out in the Medline and LILACS databases in portuguesse, Spanish and English using the key words radiology, thorax and terminology. Conclusions: There is a lack of standardization regarding description of thoracic radiographies. Although specific terms have been published in literature, its utilization is still incipient. Definitions and nomenclature’s varieties used by different universities and medical residencies have brought difficulties in interpretation of information, development of research and comparisons between studies. All professionals should be encouraged to perform systematic analysis of thoracic radiology. Key words: Radiology, Thorax; Radiolgraphy, Thoracic; Terminology. INTRODUÇÃO A radiografia simples do tórax é um dos exames radiológicos mais utilizados na prática médica diária. Seu baixo custo aliado à facilidade de realização e grande disponibilidade fazem com que esse método seja de uso freqüente em serviços de nível ambulatorial e hospitalar. Entretanto, não existe padronização e normalização na descrição de radiografias e, embora existam termos específicos e publicados na literatura, a sua utilização é, ainda, incipiente. Endereço para correspondência Departamento de Pediatria/Hospital das Clínicas/UFMG Cássio da Cunha Ibiapina Av. Alfredo Balena, 190 – Faculdade de Medicina Departamento de Pediatria Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S185-S193 185 Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos A variedade de definições/nomenclaturas utilizadas pelas diferentes universidades e residências médicas dificulta a interpretação das informações geradas, a formulação de pesquisas e a realização de estudos comparativos. Muitas vezes, uma descrição em um prontuário médico não expressa o achado radiológico de forma precisa. Portanto, torna-se necessário o estabelecimento de uma linguagem universal para promover a integração dessas informações e estimular a produção científica. A ausência da padronização ocorre devido a vários fatores, tais como: ausência de divulgação mais ampla dos termos, não utilização nos cursos de formação médica, literatura ainda sem padronização na descrição de termos, presença de vícios de linguagem e de características regionais e a utilização de termos em inglês sem tradução correta para o português.1 Este artigo apresenta uma síntese dos principais termos utilizados na prática médica de interpretação de radiografias torácicas, resultantes de estudos de diversos trabalhos e seguindo o modelo do Committee Fleischner Society2 . O objetivo desta revisão é apresentar a terminologia básica utilizada na descrição de imagens radiológicas mais comuns no dia-a-dia do pediatra. ■ Arcabouço ósseo Figura 1 – RX de tórax mostrando úmero e arcos costais com sinais de desmineralização óssea. Pulmão raquítico. ■ Partes moles Padronização na descrição de imagens e sistematização na avaliação radiológica do tórax Com a utilização de um glossário de termos para interpretação de radiografias, busca-se o uso correto da terminologia e sua padronização, obtendo-se descrições radiológicas mais fidedignas. Cabe a cada profissional avaliar qual a melhor maneira de sistematizar sua análise, de forma que exista organização para que todos os aspectos e estruturas necessários sejam analisados. Sugere-se a seguinte seqüência de avaliação.3 1 – identificação do paciente; 2 – posicionamento; 3 – penetração; 4 – arcabouço ósseo; 5 – partes moles; 6 – mediastino; 7 – hilo; 8 – pulmões. Seguem alguns exemplos de análise dessas estruturas, com seus respectivos diagnósticos. 186 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S185-S193 Figura 2 – Calcificação nos tecidos moles. Dermatopolimiosite ■ Mediastino Figura 3 – Alargamento mediastinal. Linfoma. Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos ■ Hilo Figura 4 – Comprometimento hilar à esquerda, com presença de linfonodomegalia hilar. Tuberculose. O arcabouço ósseo deve ser visibilizado utilizando-se a simetria bilateral de cada par de costelas. Iniciando na origem da primeira costela em sua junção com a primeira vértebra torácica, devese percorrer cada costela até o início da cartilagem costal radiotransparente.4 Espaço intercostal significa o espaço entre os segmentos posteriores das costelas adjacentes. Espaços intercostais são numerados de acordo com a costela acima deles.4 As clavículas devem estar simétricas, no entanto, rotações podem distorcer o coração e o mediastino.4 No estudo dos tecidos moles, devem ser investigados os tecidos da mama, as áreas supraclaviculares, as axilas, o tecido subcutâneo e os músculos. ■ A árvore brônquica é preenchida por ar e possui paredes delgadas, projetando pouca ou nenhuma sombra quando está normal. Já um vaso cheio de sangue, quando atravessa o parênquima pulmonar, resulta em uma sombra cinza linear ou ramificada.4 O agrupamento de artérias e veias de cada lado da silhueta cardíaca é descrito como “hilo”. O espaço pleural é uma cavidade virtual constituída pela pleura visceral e parietal. A primeira reveste a superfície do pulmão, incluindo as suas cissuras; e a pleura parietal reveste a superfície interna da caixa torácica.4 Mediastino é o espaço situado entre as pleuras direita e esquerda no plano sagital mediano do tórax. É dividido em três partes principais: anterior, médio e posterior4. Em síntese, uma correta descrição de uma radiografia torácica deve abranger os seguintes aspectos, a saber: pulmões com transparência e desenho vascu■ lar preservados; ■ seios costofrênicos e cúpulas diafragmáticas de aspecto normal; ■ hilos de configuração e topografia anatômicas; ■ silhueta cardiovascular de aspecto e dimensões preservados; ■ arcabouço ósseo costal conservado. É necessário considerar, ainda, que na avaliação da radiografia do paciente vítima de trauma essa sistematização se modifica de modo que as alterações/doenças que trazem risco à vida do paciente sejam prontamente identificadas. Assim, a seqüência de avaliação proposta é: Pulmões Figura 5 – Pulmões com transparência e desenho vascular preservados Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S185-S193 187 Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos A – vias aéreas; B – pleura/ parênquima pulmonar; C – mediastino; D – diafragma; E – esqueleto; F – partes moles; G – cateteres. A seguir serão descritos os termos mais utilizados na descrição de uma radiografia de tórax acompanhados de imagens ilustrativas dos mesmos, tendo como referência a orientações do Fleischner Society. Opacidade: 1. (Radiol.) Imagem que atenua mais o feixe de Raios X do que as estruturas adjacentes. Distingue-se, pelo menos parcialmente, das estruturas que a circundam ou se superpõem por apresentar mais densidade. É um termo recomendado quando não se consegue defini-la como um nódulo, massa, consolidação, coleção pleural ou outra alteração específica.1, 2, 3, 5, 6 Interface 1 – Na interface pulmão-coração nota-se opacidade alveolar posterior em lobo inferior direito Opacidade 1 – Opacidade alveolar de limites imprecisos em lobo inferior esquerdo (sinal da silhueta em reverso – não há borramento da borda cardíaca) Interface: 1. (Radiol.) O limite entre estruturas de opacidades diferentes (ex.: pulmão e coração)1, 2. Sombra: Refere-se às estruturas anatômicas Nódulo. 1. (Patol.) Pequeno foco circunscrito de tecido anormal, grosseiramente esférico. 2. (Radiol.) Opacidade arredondada, moderadamente bem marginada, com até 3 cm em seu diâmetro maior.1,2,3,5,6,7 188 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S185-S193 Sombra – Na topografia da sombra cardíaca verificase opacidade alveolar posterior com limites bem definidos Massa: 1. (Radiol.) Qualquer lesão pulmonar ou pleural representada, na radiografia, por opacidade isolada maior do que 3 cm em diâmetro (sem relação ao contorno, características das bordas ou Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos homogeneidade), mas explicitamente mostrada ou presumida em três dimensões.1,2,3,5,6 Nódulo 1 – Nódulo bem delimitado medindo aproximadamente 2,5 cm Micronódulo. 1. (Radiol.) Opacidade focal arredondada, pequena, isolada, com pelo menos atenuação de tecidos moles e apresentando diâmetro não maior que 7 mm. Alguns autores têm limitado o uso desse termo para diâmetro menor que 5 mm ou menor que 3 mm.1,2 formados dentro do tecido pulmonar ou dentro de uma lesão pulmonar. 2. (Radiol.) Opacidade calcificada dentro do parênquima pulmonar.2 Micronódulo 1 – Radiografia de tórax em PA mostrando imagens opacificadas micronodulares difusas, bilaterais, muitas de densidade cálcica, formando grandes imagens coalescidas em determinadas regiões Calcificação pulmonar 1 – Radiografia de tórax em PA mostrando imagens calcificadas Massa 1 – Massa bem delimitada acometendo grande parte do LSD Radiografia de tórax em PA mostrando imagens opacificadas micronodulares difusas, bilaterais, muitas de densidade cálcica, formando grandes imagens coalescidas em determinadas regiões. Cavidade: 1. (Patol.) Massa no interior do parênquima pulmonar, cuja porção central apresentou necrose de liquefação, a qual foi expelida pela árvore brônquica, deixando espaço com conteúdo aéreo, contendo ou não líquido. 2. (Radiol.) Espaço contendo gás no interior do pulmão, com paredes com espessura acima de 1 mm e geralmente de contornos irregulares.1,2,3,5 Calcificação pulmonar: 1. (Fisiopatol.) O processo pelo qual depósitos de sais de cálcio são Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S185-S193 189 Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos Fissura ou Cissura: 1. (Anat.) Dobra interna da pleura visceral, que separa um lobo ou a porção de um lobo de outro. 2. (Radiol.) Opacidade linear com 1 mm ou menos de espessura, que corresponde, em posição e extensão, à separação anatômica dos lobos pulmonares ou porções dos lobos.1,2 Atelectasia: 1. (Radiol.) Diminuição do volume de um pulmão, lobo ou segmento pulmonar, que pode ou não incluir perda da luscência na área afetada.1,3,5, 6 Cavidade 1 – Imagem cavitária de limites bem definidos localizada em lobo superior direito Pneumatocele: 1. (Patol./radiol.) Espaço preenchido por gás, com paredes finas dentro do pulmão, usualmente ocorrendo em associação com pneumonia aguda (mais comumente de origem estafilocócica) e invariavelmente transitória.1, 2 Pneumatocele 1 – Imagem de opacidade em faixa, de aspecto triangular, localizada no lobo médio e evidente na radiografia em perfil Pneumatocele 1 – A primeira radiografia evidencia imagem de opacidade alveolar em LSD com rebaixamento da cissura. Pneumatoceles evidentes na radiografia 2 190 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S185-S193 Linfonodomegalia: 1. Restrito ao aumento nas dimensões do(s) linfonodo(s). O termo “adeno” se relaciona com estruturas glandulares e linfonodos não são glândulas, portanto, o uso desse termo não deve ser usado. 2. (Radiol.) Os métodos de imagem, de maneira geral, avaliam as dimensões Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos do linfonodos, sendo apropriado o termo linfonodomegalia. Linfonodopatia fica reservado para situações de qualquer anormalidade dos linfonodos, independentemente das suas dimensões.1,2 Nível hidroaéreo: 1. (Radiol.) Linha horizontal que representa a interface entre gás e líquido (que possuem densidades diferentes) em um mesmo espaço.2 Abscesso: 1. (Patol.) Massa inflamatória dentro do parênquima pulmonar cuja parte central sofreu processo de necrose liquefativa. Pode se comunicar com a árvore brônquica. 2. (Radiol.) Massa dentro do parênquima pulmonar que quando se comunica com a árvore brônquica contém uma cavidade.2 Broncograma aéreo: 1. (Radiol.) Imagem radiográfica de brônquio contendo ar, periférico ao hilo e circundado por pulmão desaerado (devido à absorção de ar, substituição de ar ou ambas). Este achado é geralmente reservado como evidência de permeabilidade das vias aéreas mais proximais.2 Abscesso 1 – Imagem arredondada de paredes espessadas e com nível hidroaéreo em seu interior, sugestiva de abscesso pulmonar Hérnia: 1. (Patol./Radiol.) Protusão de todo ou parte de um órgão ou tecido a partir de uma abertura anormal.2 Consolidação: 1. (Patol.) É a substituição do ar alveolar por transudato, exsudato ou tecido. 2. (Radio.) Aumento da densidade do parênquima pulmonar – mais freqüentemente homogêneo, podendo manifestar-se de forma heterogênea – que determina a perda da superfície de contraste natural entre o ar dos espaços aéreos e o tecido dos vasos ou das paredes brônquicas, tornando os vasos Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S185-S193 191 Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos imperceptíveis no interior da zona de consolidação. Se os brônquios estiverem pérvios, definemse os broncogramas aéreos. O aspecto homogêneo ou heterogêneo decorre de diversos fatores, especialmente do estado de higidez do parênquima pulmonar subjacente.1,2,3,5,6 Exsudato: 1. (Radiol.) Uma opacidade mal definida que não destrói nem desloca a arquitetura pulmonar. Aplicável somente para aquela opacidade que, baseada na clínica ou em outras evidências, indica infecção pulmonar ou outro processo inflamatório.2 e a padronização da linguagem utilizada em radiologia facilita a divulgação das informações. A implementação dos termos apresentados nesse trabalho deve ser estimulada em serviços médicos, residências, Faculdades de Medicina e em todos os meios geradores de conhecimento. Novos estudos e elaboração de consensos sobre o tema devem ser realizados. Infiltrado: 1. (Fisiopatol.) Qualquer substância ou tipo celular que aparece dentro do interstício pulmonar, mas que não pertence a ele ou que se acumula em quantidade superior ao normal. 2. (Radiol.) Qualquer opacidade mal definida no pulmão.2 Linha de Kerley 1 – Linhas B são horizontais densas, sendo mais bem vistas na parte inferior do pulmão. Constituem septos interlobulares espessados por líquido. Linhas A são mais longas, tendem a ser retas ou ligeiramente curvas e estendem-se dos hilos ou da região para-hilar para a periferia; são vistas nos lobos superiores e tendem a aparecer no edema intersticial agudo. Infiltrado 1 – Infiltrado intersticial difuso Linha de Kerley: 1. (Radiol.) Linha septal.2 Pneumotórax: 1. (Patol.) Presença de gás no espaço pleural. 2. (Radiol.) Presença de gás entre a margem periférica do pulmão (pleura visceral) e a parede torácica diafragmática ou mediastinal (pleura parietal).2 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os conceitos básicos de interpretação radiológica e o emprego correto padronizado dos termos de descrição são fundamentais na prática diária 192 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S185-S193 Pneumotórax 1 Exames laboratoriais nas pneumonias da infância: análise crítica dos consensos REFERÊNCIAS 1. 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O presente artigo apresenta uma revisão crítica da literatura sobre a importância da inserção da família no diagnóstico e tratamento das doenças gastrintestinais funcionais infantis. O grupo familiar é visto como fator básico na constituição da identidade do sujeito e como o contexto social mais importante dentro do qual a doença ocorre e é resolvida, devendo ser, portanto, considerado uma unidade básica na atenção à saúde infantil. As crenças e atitudes parentais referentes à doença e a capacidade de suporte familiar são fatores relevantes no desencadeamento das doenças e resposta ao tratamento, como é demonstrado pelas pesquisas na área. São também discutidas no artigo a questão da implicação da criança em seu sintoma e a importância da progressiva responsabilização desta com seu tratamento. Palavras-chave: Saúde da Família; Gastroenteropatias; Dor Abdominal; Criança; Adolescente; Relações Pais-Filho. ABSTRACT This article presents a critical review of the literature about the importance of inserting the family in the diagnosis and treatment of functional gastrointestinal disorders in child and adolescent. Family is a primary unit in the constitution of the individual’s identity and represents the most important social context within which illness occurs and is resolved. It consequently serves as a primary unit in health and medical care. The literature consistently suggests that parental beliefs and concepts of the illness and their capacity of emotional support to the family are important factors related to child health outcomes and successful treatment of these diseases. Child’s involvement and concerns about its symptoms are seen as important aspects related to health outcomes. Key words: Family Health; Children; Adolescent; Gastrointestinal Diseases; Abdominal Pain; Parent-Child Relations. INTRODUÇÃO Endereço para correspondência M.F.Leão - Rua Santa Rita Durão 321 sala 403 Belo Horizonte, MG- 30140-110 – Brasil. e-mail: [email protected] 194 Embora seja bastante reconhecido que o processo de adoecimento esteja relacionado à interação do indivíduo com seu ambiente, a prática da atenção à saúde nos mostra um quadro no qual se estabelece uma fronteira artificial entre o indivíduo e seu contexto social.1 No que se refere ao atendimento da saúde infantil, a situação se complica. Nesse contexto, a criança está, desde o início, submetida ao desejo dos pais e às circunstâncias de sua realidade familiar; são os pais que demandam o tratamento, muito raramente é a criança quem o faz. Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S194-S201 A família no contexto das doenças gastrintestinais funcionais: uma revisão crítica O presente estudo discute sobre a questão familiar e a circularidade da relação do indivíduo com sua unidade social primária. Aborda o processo de constituição da identidade do sujeito, que ocorre no contexto das relações familiares, fazendo uma reflexão sobre o elevado grau de dependência de todo ser humano ao seu semelhante, condição esta mais acentuada na infância. Bustamante2 chama a atenção para o fato de que estudar a relação entre a vida familiar e a saúde torna-se bastante relevante no momento atual. As crenças e atitudes dos pais e crianças em relação à doença e a observação de que o atendimento é mais eficaz quando envolve a família são fatores apontados pelas pesquisas na área como relevantes na compreensão e na correta abordagem da saúde infantil.3,4,5,6 Saúde e doença são processos cuja compreensão tem ocorrido por meio de abordagens cada vez mais amplas e integradas. A maioria dos textos revisados tem como objetivo socializar o conhecimento, incentivar e valorizar a abordagem familiar das doenças gastrintestinais funcionais (DGIFs) infantis e contribuir para o desenvolvimento de estratégias preventivas. MATERIAL E MÉTODO O conteúdo do presente artigo origina-se de pesquisas realizadas nos Periódicos CAPES, Pubmed, Medline e Googlescholar, no período de 1992 a 2006, com exceção do artigo de Bellman (1966), a partir das seguintes palavras-chave: crianças (children) e adolescentes (adolescent), distúrbios gastrintestinais funcionais (functional gastrointestinal disorders), ambiente familiar (family environment), dor abdominal (abdominal pain), constipação (constipation) e relação entre pais e filhos (parent child relationship). Esta revisão compreende: 25 artigos completos, sete resumos, quatro capítulos de livros, 17 livros e dois verbetes de dicionário. O material foi analisado no que se refere às suas contribuições para o tema em questão. A vivência da pesquisadora no atendimento às mães e crianças atendidas no ambulatório de gastroenterologia pediátrica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no período de agosto de 2003 a outubro de 2006, foi registrada em diário de campo e utilizada para dialogar com os conteúdos originados da literatura. O referencial teórico adotado na abordagem da família é o da teoria sistêmica. Minuchin1 ressalta que a vida psíquica de um indivíduo não é um fenômeno interno, mas um processo que se modifica na interação com o mundo que o circunda, numa relação de circularidade. A descrição do processo de constituição da identidade do sujeito está baseada na teoria psicanalítica. DISCUSSÃO O cenário atual das doenças gastrintestinais funcionais As doenças gastrintestinais funcionais são entidades complexas que levantam questões não redutíveis a esquemas simples. A hiper-especialização trouxe importantes avanços científicos, mas o enfoque estritamente biomédico deixava de lado aspectos importantes do objeto de estudo, negligenciando, principalmente, seu laço indissolúvel com os seus aspectos sociais e psicológicos.7 Esse modelo mostrou-se inadequado, sobretudo pelo fato de esses distúrbios não possuírem uma causa orgânica passível de ser identificada por um patologista e, por isso, classificados como funcionais. Em conseqüência disso, durante muito tempo esses distúrbios só existiram nas queixas dos pacientes e na ausência de sinais clínicos e laboratoriais de doença orgânica; assim, até recentemente, utilizava-se o critério de exclusão de doenças orgânicas para a identificação das doenças funcionais.4 O cenário começou a apresentar importantes mudanças a partir da década de 70, quando se observou notável crescimento no interesse pelas DGIFs, demonstrado pelo aumento de publicações científicas sobre o tema.4,8 Outro fato importante foi a iniciativa de um grupo de especialistas da área com o objetivo de avançar na compreensão da “ciência das DGIFs”, sendo estabelecidos parâmetros clínicos denominados “critérios de Roma”. Em 2006, foi publicada a terceira atualização, denominada Roma III 4,8, que inclui uma abordagem biopsicossocial. Minayo9 também reforça e amplia a visão biopsicossocial ao destacar os aspectos culturais e soRev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S194-S201 195 A família no contexto das doenças gastrintestinais funcionais: uma revisão crítica ciais envolvidos no processo saúde-doença, destacando a família como fator de alta relevância na abordagem das DGIFs, em qualquer época da vida do paciente, sendo tal relevância maior na atenção à saúde infantil. “O que virá depois da família”? “A família: modificada, transfigurada, com outra identidade, com outro modo de ser e resistir”.10 A importância da família na sobrevivência da sociedade e no desenvolvimento do indivíduo é constantemente afirmada pela literatura. Roudinesco11 refere-se à afirmação de Claude LeviStrauss segundo a qual a formação de grupos familiares está presente praticamente em todas as sociedades humanas, mesmo naquelas cujos hábitos sexuais e educativos são muito distantes dos nossos. O homem sobrevive em grupos. O desamparo do ser humano no início da vida exige que ele tenha um outro que desempenhe a função materna de alimentá-lo, protegê-lo e ensinar-lhe. As variantes socioculturais e econômicas determinam as diferenças nas tarefas das famílias, mas algumas delas possuem raízes universais, como, por exemplo, a proteção social de seus membros e a acomodação e transmissão da cultura1. Nas palavras de Jacob L. Moreno, a família é a “placenta social” do indivíduo.12 O pensamento sistêmico parte do pressuposto de que a vida psíquica do indivíduo não é um fenômeno interno, mas um processo que se modifica na interação com o mundo que o circunda. O ser humano é um membro ativo e reativo de grupos sociais.1 Diversamente das abordagens que privilegiam a dinâmica do indivíduo, a visão sistêmica focaliza as questões vividas pelo ser humano, incluindo o processo saúde/doença, como fenômenos que se inter-relacionam em maior ou menor grau de intensidade no curso de sua existência.13 Fonte de normalidade e suporte para o desenvolvimento do indivíduo, a família está na origem de todas as formas de doenças psíquicas, como é apontado pela Psicanálise, além de ter influência decisiva sobre o desencadeamento e evolução de qualquer tipo de enfermidade.11 Torna-se importante esclarecer a que tipo de configuração está-se referindo quando se usa o 196 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S194-S201 termo família. De acordo com Ariés14, a constituição da família nuclear burguesa, composta de pai, mãe e filho(s), inicia-se no século XVIII, juntamente com a valorização social da infância e a valorização da maternidade. Embora a família nuclear na sociedade ocidental tenha predominado por séculos, o cenário atual é bastante diversificado. Defronta-se hoje com sistemas familiares que até há pouco tempo seriam considerados ilegais ou impensáveis. O modelo nuclear é, hoje, insuficiente para abarcar a realidade das famílias brasileiras, especialmente das camadas populares.2,15 Nelas, os projetos de vida se constroem em função do grupo e não do indivíduo. A rede de obrigações se sobrepõe aos “laços de sangue” e, com exceção da relação entre pais e filhos, as relações com parentes só se estabelecem se com eles for possível dar, receber e retribuir.2 Fonseca16 refere-se à “circulação de crianças”, citando que freqüentemente elas podem ser entregues aos parentes para que cuidem delas, de forma temporária ou definitiva. Devido a esse fator, a relação entre pais e filhos muitas vezes não tem a característica de exclusividade observada em outras camadas sociais. As diversas modalidades de união livre e de família recomposta parecem evidenciar como o sistema familiar, seguindo as transformações sociais, se perpetua sob formas renovadas. A sociedade não sobrevive sem as estruturas familiares, mas, de acordo com Roudinesco11, a família do futuro deverá ser reinventada. Normalmente, é no contexto familiar que a identidade do ser humano começa a se estabelecer por meio de suas relações com os pais ou pessoas que exerçam as funções materna e paterna. Como esse processo ocorre e quais as condições necessárias para que aconteça é o que passará a ser discutido agora sob o ponto de vista da Psicanálise. A constituição da identidade do sujeito “Mãe, eu estou com frio?” (Uma criança de dois anos pergunta para sua mãe)17 Antes de entrar na descrição do processo de constituição do sujeito, torna-se necessário precisar alguns aspectos implícitos nesse percurso: definir o termo sujeito diferenciando o seu significado na Filosofia e na Psicanálise, precisar o tipo de fa- A família no contexto das doenças gastrintestinais funcionais: uma revisão crítica mília à qual a Psicanálise se refere e, finalmente, fazer algumas considerações sobre o amor materno. Para a Filosofia, o sujeito é definido como o homem como fundamento de seus próprios pensamentos e atos, configurando-se como a essência da subjetividade humana no que ela tem de universal e singular. Na acepção própria da Filosofia ocidental, o sujeito é definido como sujeito do conhecimento, do direito ou da consciência.18 Na Psicanálise, de acordo com Roudinesco18, Freud empregou esse termo, mas foi Jacques Lacan quem estabeleceu a noção lógica e filosófica do conceito, transformando o sujeito da consciência num sujeito do inconsciente, da ciência e do desejo. Nessa perspectiva, o inconsciente aparece como lugar autônomo, que se constitui separadamente do campo da consciência. Diferentemente da perspectiva filosófica, o sujeito para a Psicanálise não se localiza na consciência, mas no inconsciente. As considerações teóricas da Psicanálise baseiam-se no modelo de família nuclear burguesa. Seria válida sua aplicação sobre outros arranjos familiares? As conseqüências sobre os sujeitos decorrentes das várias configurações familiares abrem hoje um instigante campo para a investigação e seus impactos só agora começam a ser percebidos e estudados. Contudo, pensa-se que esse referencial teórico ainda é válido para tratar a questão na medida em que, a partir de Lacan, enfatiza-se a função. A criança só se constitui como sujeito porque alguém, geralmente a mãe e o pai, mas podem ser outros membros do contexto familiar da criança, “funcionou” de determinada forma, exercendo determinados papéis na relação estabelecida com ela.19 Quanto ao amor materno, esse sentimento é freqüentemente pensado como inato ou inscrito na natureza feminina. Não se pode deixar de considerar, entretanto, a realidade destacada pelos estudos histórico-antropológicos: a variabilidade da manifestação do sentimento de maternidade, no que se refere à forma e intensidade. Até meados do século XVIII, a infância tinha pouca importância social. Segundo Badinter20, teria sido o filósofo Jean Jacques Rousseau quem cristalizou novas idéias que deram impulso à formação da família moderna, isto é, a família fundada no amor materno. Não se nega que esse sentimento possa sempre ter existido, mas sua exaltação como um valor, ao mesmo tempo natural e social, favorável à espécie e à sociedade, só ocorreu a partir do século XVIII.20 Freud21 assinala a importância dos anos iniciais da vida no desenvolvimento emocional da criança, sendo a família o lócus potencialmente produtor de indivíduos saudáveis ou com desequilíbrios. Winnicott22 comenta que uma provisão ambiental suficientemente boa na fase inicial da vida permite que o bebê “comece a existir”, a ter experiências que irão ajudá-lo a construir um ego pessoal. Enfatiza que é essencial que o indivíduo comece a sua experiência de vida no “meio ambiente especializado”, por ele denominado “preocupação materna primária”. Do ponto de vista da Psicanálise, a relação da criança com a mãe (ou outro ser humano que desempenhe essa função) é estruturante para a formação da identidade.19 Antes mesmo de nascer, a criança já é falada pelo “Outro”. Desde o seu nascimento, ela se defronta com um mundo simbólico que a antecede; são nomeações (que incluem a escolha do seu nome), adjetivações e mitos familiares que irão fazer parte da sua história.23 No presente texto, utiliza-se o termo “Outro” para representar o grande “Outro” da cultura; e o termo “outro” para se referir ao ser humano representante ou veículo do primeiro. Lacan24, em sua formulação do estádio de espelho, mostra como o acesso da criança à sua imagem passa pelo olhar do outro. O estado de relativa imaturidade física e simbólica do ser humano ao nascer implica que este só possa ver o seu ser mediado pelo olhar do outro.24 Durante esse período da vida, que vai aproximadamente dos seis meses aos dois anos e meio, a relação da criança com seu semelhante revela que é sobretudo no outro que ela se vivencia e se orienta. A pergunta: “Mãe, eu estou com frio?” colocada na introdução desse subtítulo do artigo expressa, de forma muito clara, o estado de assujeitamento da criança ante o outro, a mãe, nessa fase do seu desenvolvimento. A mãe serve de espelho simbólico e exerce uma função estruturante, ao oferecer um lugar de identificação possível ao(à) filho(a). Por outro lado, a criança ocupa lugar privilegiado no desejo materno, sendo para ela uma promessa de completude.19 Para que a função materna seja cumprida, é necessário que ela seja individualizada e constante. Os estudos de René Spitz25 em crianças instituRev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S194-S201 197 A família no contexto das doenças gastrintestinais funcionais: uma revisão crítica cionalizadas demonstraram as conseqüências da ausência de um ambiente que propicie a experiência do processo descrito acima. Algumas crianças apresentaram doenças que podiam ser diagnosticadas como orgânicas e quadros de depressão e marasmo, tendo algumas falecido. Na visão da Psicanálise, portanto, parte da subjetividade humana é inconsciente. O ponto de vista lacaniano afirma que é do Outro primordial, “pré-histórico”, que o sujeito forma sua estrutura singular.22 No decorrer do seu processo de desenvolvimento, a criança deverá superar a alienação inicial. Isso se torna possível em decorrência de dois fatores principais: por um lado, o Outro é incompleto, não tem todas as respostas e a linguagem não diz tudo; por outro, a função paterna tem o papel de colocar leis ao absolutismo dessa primeira relação.26 A função paterna, dessa forma, introduz a interdição ou a lei que regulamenta as relações humanas e submete o prazer ao princípio da realidade. O pai representa a cunha interposta entre mãe e filho para sinalizar a este a necessidade de renunciar à posse da mãe e dar curso a seu processo de individualização.27 A família e o risco de adoecimento “Visto minha filha de preto para ninguém ver que ela tá suja de cocô.” (fala de uma mãe)17 Estudos clínicos revelam que a influência familiar pode derivar de três fontes: da genética, do compartilhamento de um mesmo ambiente físico e das relações funcionais. Essas últimas incluem as crenças e comportamentos relativos à saúde e à doença, os estresses comuns, a capacidade de obter recursos para o cuidado da saúde na comunidade e as relações interpessoais benéficas ou deletérias.28 Repetti et al.29 descreveram as famílias de risco de adoecimento da criança como aquelas nas quais ocorrem conflito e agressão, sustentação emocional insuficiente, pouco controle do comportamento da criança ou falta de disciplina. O impacto sobre a criança e sua saúde pode ser tanto direto quanto indireto. 198 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S194-S201 Na pediatria, as relações entre família e saúde infantil têm sido alvo de crescente interesse. Em alguns casos, por exemplo, de violência ou abuso, a situação familiar torna-se o foco da atenção no contexto do tratamento. O estudo de Levy30 demonstra que pacientes com história de abuso sexual na infância queixam-se mais de dor abdominal, sintomas somáticos múltiplos e submetem-se a número mais alto de cirurgias ao longo da vida. O Comittee on Psychosocial Aspects of Child and Family Health da American Academy of Pediatrics ressalta a grande perda decorrente da atitude do pediatra em subestimar a importância de suas interações com a família do paciente.3 Minkovitz et al.31 (1998), pesquisando as práticas pediátricas mais comuns no atendimento aos bebês, observaram que apenas um terço dos profissionais procurava avaliar os fatores de riscos provenientes do ambiente familiar no desenvolvimento da doença. A abordagem da família pelo pediatra é também destacada por Green32 e Coleman e Howard33 ao afirmarem que a estratégia de tratamento focada na família é mais eficaz e traz resultados mais rápidos do que a estratégia de atendimento centrada somente no paciente. Wertlieb3 chama a atenção para uma tendência atual nas pesquisas voltada para o estudo da relação família e adoecimento que busca conhecer as características das famílias “bem-sucedidas” ou das famílias resilientes. Esses são grupos familiares dotados de características, como: um sistema particular de crenças, uma dinâmica familiar na qual as pessoas convivem, têm conectividade e suporte social. Tais características facilitariam a capacidade de dar suporte e de reagir de forma construtiva diante das adversidades da vida. O panorama atual oferecido pelas pesquisas na área das doenças gastrintestinais infantis, como se pode observar, inclui a família como fator importante dentro de uma abordagem biopsicossocial3,4,5,6,32 e destaca a importância de estratégias de inclusão da família no tratamento e promoção da saúde da criança.3,34 As pesquisas ressaltam que a família tem influência significativa na saúde, superando ou se igualando a outros fatores de risco. As intervenções no contexto familiar reduzem o risco de recaídas, maximizam as oportunidades de recuperação da saúde e aumentam o bem-estar familiar.35 A família no contexto das doenças gastrintestinais funcionais: uma revisão crítica As relações familiares e as doenças gastrintestinais funcionais infantis “Um menino véio desse cagando na calça” “Vão pensar que é culpa minha, que eu que deixo ele sujo...” (fala de mães de crianças com escape fecal)17 O estudo de Di Lorenzo36 descreve a fisiopatologia da constipação intestinal crônica funcional (CICF), identificando a interação entre fatores de natureza psicológica, familiar, nutricional e social. Destaca três momentos críticos para o aparecimento de distúrbios ano-retais: a introdução de alimentos sólidos, o treinamento esfincteriano e a entrada na escola; afirma que o escape fecal provoca raiva nos pais, deixa as crianças humilhadas, expondo-as ao ridículo, e causa danos à sua auto-estima. Conclui dizendo que esse sintoma pode ter efeitos devastadores na relação da criança com seus pais. Outros autores concluem que as crianças com doenças crônicas constituem um fator de estresse para suas famílias, gerando um círculo vicioso.37 Vários pesquisadores enfatizam que o alcance da influência familiar vai muito além da genética.4, 5, 6, 34, 37, 38 Outros aspectos importantes apontados pelas pesquisas na área: ■ a qualidade das relações familiares, mais do que a pobreza, é um preditor importante na relação entre doença e estresse psicossocial.39 diante dos sintomas gastrintestinais da criança, ■ as mães, mais do que os pais, encorajam certos tipos de comportamento, por exemplo, faltar à escola e verem-se livre de suas responsabilidades, fazendo-o mais em relação às meninas que aos meninos.38 ■ os pais podem ter com os filhos interações “promotoras de dor” (confirmação e empatia; apologia da dor; ver a situação como uma catástrofe) ou “interações que favorecem a diminuição da dor” (encorajamento no sentido de lidar com a dor por meio de técnicas de respiração e/ou distração). Constatou-se que a primeira atitude reforça as queixas e a segunda as extingue, sendo muito importante orientar os pais a adotarem atitudes mais construtivas e positivas em sua interação com a criança, no que se refere aos sintomas gastrintestinais.40 ■ ■ ■ ■ ■ ■ as mães freqüentemente respondem às queixas de dor da criança com aumento de preocupação e com atitudes “promotoras de dor”, o que pode desencadear uma relação circular.41,42 a crença de alguns pais e também de médicos de que evacuar três vezes por semana ou até menos é normal retarda a busca por um tratamento precoce das crianças, podendo ser um fator relevante no agravamento da constipação e no aparecimento de complicações.43 experiências negativas dos pais e/ou mal resolvidas em relação à forma como ocorreu o próprio treinamento de esfíncteres têm impacto significativo na forma como eles conduzirão esse processo em seus filhos.44 a aceitação do modelo biopsicossocial por parte dos pais tem importante papel na resolução da dor abdominal recorrente em crianças.45 nos casos de dor abdominal funcional, as cognições parentais referem-se ao medo de uma doença grave na criança, desejo de um diagnóstico e sentimento de desamparo ante a situação.46 os sintomas infantis parecem estar correlacionados com características do funcionamento familiar e com certo tipo de comportamento materno: raiva e hostilidade, atitudes de autosacrifício, comportamento superprotetor e freqüentes descargas emocionais. Os autores associam os sintomas infantis às características familiares dessas crianças e recomendam que, especificamente no caso das crianças com dor abdominal funcional, o pediatra dê atenção especial às expressões de hostilidades das mães e à resposta das crianças a elas.47 CONCLUSÕES Os progressos obtidos no diagnóstico e tratamento das DGIFs resultaram em modelos teóricos mais abrangentes e inclusivos. Os profissionais da saúde têm como desafio integrar o conhecimento alcançado sobre os aspectos biopsicossociais desses distúrbios à rotina da prática médica. Nesse cenário, a família reveste-se de importância na medida em que ela é a mediadora da cultura, estando diretamente implicada no desenvolvimento saudável ou no adoecimento de seus membros. O tratamento em si, mesmo que seguindo todo o rigor científico, deve ter as Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S194-S201 199 A família no contexto das doenças gastrintestinais funcionais: uma revisão crítica características de plasticidade e adaptação à realidade de cada paciente, para se alcançarem resultados eficazes. Acredita-se que implicar a criança em seu sintoma, por meio de uma atitude do médico que incentive mais envolvimento dela com seu tratamento, pode ser um fator interessante a ser pesquisado e desenvolvido na prática. A atenção do profissional dada somente ao discurso materno reforça a atitude passiva da criança, cristaliza a mãe no lugar daquele que tudo sabe, não concorrendo para a inclusão e comprometimento da criança com seu tratamento. AGRADECIMENTOS Agradecemos à doutora Janete Ricas, professora do Departamento de Pediatria da UFMG, pela leitura e sugestões na fase inicial da elaboração do presente artigo. 12. Moreno JL. Psicodrama. 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Doutora e membro do Setor de Gastroenterologia do Departamento de Pediatria da UFMG. 2 Marcia Regina Fantoni Torres - Professora Associado do Departamento de Pediatria da UFMG. Doutora e Membro do Setor de Gastroenterologia do Departamento de Pediatria da UFMG. 3 Francisco José Penna – Professor Titular do Departamento de Pediatria da UFMG. Doutor e Chefe do Setor de Gastroenterologia do Departamento de Pediatria da UFMG. 4 Pedro Henrique Osório – Acadêmico do 12˚ período da Faculdade de Medicina da UFMG 5 Tatiana Matos de Carvalho Cunha – Acadêmica do 11˚ período da Faculdade de Medicina da UFMG 6 Sílvia Aparecida Steiner – Pediatra da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e Intensivista do CTI pediátrico do CGP – FHEMIG 7 Ariele Ton Leal – Pediatra – Especialista em Gastroeneterologia Pediátrica pela Faculdade de Medicina da UFMG Objetivos: conhecer as características clínicas da constipação intestinal na infância em um ambulatório especializado. Métodos: foram estudadas 167 crianças com constipação intestinal atendidas no Ambulatório de Gastroenterologia Pediátrica da UFMG. Os dados obtidos foram analisados no programa SPSS. Resultados: 61,1% dos pacientes eram do sexo masculino, 60,2% tinham história familiar de constipação, a média de início dos sintomas foi de 22,1 meses e 68,9% dos pacientes evacuavam em intervalos iguais ou superiores a três dias. Quanto à faixa etária de procura pelo gastroenterologista, 12,57% eram lactentes, 43,11% pré-escolares, 26,35% escolares e 17,97% adolescentes. Os sintomas e sinais mais freqüentes (p<0,05) foram: consistência das fezes aumentadas em 85% dos casos, sensação de esvaziamento retal incompleto em 44,4%, dor à evacuação em 70,7%, distensão abdominal em 68,3%, dor abdominal em 73%, calibre das fezes aumentado em 68,3%, manobra de retenção em 61,8%, massa fecal em 64,2%. Estiveram presentes: escape fecal em 70,5%, encoprese em 30,0%, trauma emocional precipitante em 24,5%, história de nascimento de irmão mais novo em 22% e ansiedade familiar em 45,5%. Conclusão: embora a maior procura seja da faixa etária de pré-escolares, os sintomas iniciam-se nos lactentes. Sinais e sintomas mais freqüentes: aumento da consistência e do calibre das fezes, sensação de esvaziamento retal incompleto, dor à evacuação, dor e distensão abdominal. A alta freqüência de complicações pode se dever à procura tardia ao especialista ou ao atraso em se fazer o diagnóstico. Fatores contribuintes: história familiar positiva para constipação, traumas emocionais e nascimento de irmão mais novo. Palavras-chave: Constipação Intestinal; Incontinência Fecal; Encoprese; Criança. SUMMARY Endereço para correspondência Departamento de Pediatria/Hospital das Clínicas/UFMG Maria do Carmo Barros de Melo Av. Alfredo Balena, 190 – Faculdade de Medicina Departamento de Pediatria email: [email protected] 202 Aims: Determine the most common clinical characteristics of constipated children at a tertiary ambulatory. Methods: This study is a prospective and transversal study where the clinical characteristics of 167 constipated children were analyzed. Statistical analysis was performed using SPSS version 11.5. Results: 61.1% of the patients were male, 60.2% had familiar history of constipation, the mean of the beginning of the disease was at 22.1 months of age, and 68.9% had bowl movements inferior than three days per week. In the first consultation with a pediatric gastroenterologist, 12.6% of the children ranged from 0 to 24 months old, 43.1% from 2 to 5 years old, 26.3% were of school age, and 18.0% were adolescents. The principal clinical signs and symptoms (p<0.05) were: 85% increase of the patients’ stool consistency, 44.4% incomplete rectum evacuation, 70.7% painful defecation, 68.3% abdominal distention, 73% abdominal pain, 68.3% increase in the size of the stools, 61,8% fecal retention, and 64.2% fecal mass. The patients had 70.5% functional fecal incontinence with retention maneuvers (fecal soiling), 30% functional fecal inconti- Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S202-S207 Perfil das crianças com constipação intestinal atendidas em um hospital-escola nence without maneuvers retention (encopresis), 24.5% emotional trauma, 22% upon the birth of a sibling, and 45.5% anxiety within the family. Conclusions: The majority of patients sought a specialist when they were from 2 to 5 years old, but their symptoms began in the infancy. The most frequent clinical signs and symptoms were: an increase of the consistency of the stools, incomplete rectum evacuation, painful defecation, abdominal pain and distention, and increase of the size of the stools. The high frequency of complications may be due to diagnosis delay. The following factors could be associated with the constipation: emotional trauma, a sibling’s birth and familiar anxiety. Key words: Constipation; Fecal Incontinence; Encopresis; Child. INTRODUÇÃO A constipação intestinal (CI) é uma das queixas mais freqüentes na clínica gastroenterológica pediátrica, respondendo por aproximadamente 25% dos motivos de consulta.1,2 No Brasil, estudos de prevalência entre 1997 e 1999, em diversas populações pediátricas, demonstram taxas entre 14,7 e 38,4%.3 Muitos autores consideram freqüência evacuatória inferior a três vezes por semana o fator definidor da CI.1,4,5,6 Uma definição mais ampliada apresenta o diagnóstico como a presença de um ou mais dos seguintes sintomas: fezes endurecidas ou em cíbalos; dor ou dificuldade para evacuar; eliminação de fezes volumosas que entopem o vaso sanitário; freqüência evacuatória inferior a três vezes por semana, a menos que a criança esteja em uso de leite materno; sensação de esvaziamento incompleto do reto. Na presença de algum desses sintomas, valoriza-se também para o diagnóstico a presença de dor abdominal recorrente, enurese, infecção urinária ou incontinência funcional. A constipação pode ser classificada em orgânica ou funcional, dependendo dos sinais e sintomas clínicos do paciente e/ou da presença de exames complementares alterados.7 Del Ciampo et al., estudando pacientes adultos, propõem critérios clínicos para o diagnóstico de constipação intestinal, tendo como sinais maiores: fezes cilíndricas ressecadas, fezes fragmentadas, eliminação dolorosa, eliminação com esforço e escape fecal e, como sinais menores: aumento de volume fecal, intervalo entre as evacuações superior ou igual a dois dias, sangramento e demora para iniciar a evacuação. A presença de dois ou mais sinais maiores ou um maior e dois menores há mais de um mês confirma o diagnóstico.8 Percebe-se que, para esses autores, a freqüência evacuatória é considerada um sinal menor. Quando se fala apenas em constipação intestinal funcional (CIF), que responde pela maior parte dos quadros de CI, seu diagnóstico está bem padronizado pelos consensos de Roma. O Roma III, publicado em 2006, define CIF como distúrbio intestinal funcional que se apresenta como defecação persistentemente difícil ou infreqüente ou sensação de esvaziamento incompleto, que não alcança os critérios diagnósticos para a síndrome do intestino irritável. Definições subjetivas e objetivas incluem: a) esforço evacuatório, fezes endurecidas ou em cíbalos, tenesmo, evacuações infreqüentes ou incompletas; b) menos que três movimentos intestinais por semana, peso fecal diário <35g/dia ou esforço evacuatório presente em mais de 25% das evacuações; c) trânsito intestinal ou colônico aumentados.9,10 A freqüência evacuatória correlaciona-se pobremente com o trânsito colônico, mas este pode ser estimado pela escala de forma fecal de Bristol (Bristol Stool Form Scale).11 É importante também ressaltar que o ROMA III classifica a constipação funcional em duas formas. Uma cursa com incontinência fecal retentiva (denominada em nosso meio como escape) e a outra com incontinência fecal funcional (encoprese).9,10 Essa seria uma nova maneira de entender a constipação funcional como uma doença que pode seguir dois cursos distintos. A constipação ocorre com freqüência variável entre os sexos, dependendo da faixa etária. Relatase que a CIF é mais comum no sexo masculino12,13, porém, em lactentes e pré-escolares, não existe diferença entre os sexos14 e, a partir da adolescência, passa a ser mais comum no sexo feminino.15 A incontinência fecal retentiva é definida como a passagem involuntária de pequena parcela das fezes nas roupas íntimas devido à impactação retal. A incontinência fecal não retentiva resulta da eliminação completa das fezes em locais não usuais, em crianças acima de quatro anos de idade, na ausência de retenção fecal ou doença orgânica que justifique o ato. Disquezia infantil é definida como eliminação de fezes de consistência pastosa em crianças menores de seis meses de idade, precedida por grito, choro e face “vermelha”, traduzidos como sintomas de esforço evacuatório. Geralmente ocorre no primeiro mês de vida e se resolve espontaneamente em poucas semanas.9 Os episódios duram de 10 a 20 minutos. Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S202-S207 203 Perfil das crianças com constipação intestinal atendidas em um hospital-escola A incontinência fecal retentiva pode ocorrer várias vezes ao dia ou na semana e, geralmente, está associada à presença de grande quantidade de fezes na ampola retal. A palpação de massa abdominal indica forma grave de constipação.16 Os casos graves são geralmente relacionados a problemas de comportamento, queda no rendimento escolar e ansiedade crônica.17 Outros sintomas que podem estar presentes na CI são vômitos, náuseas, hiporrexia, sangue nas fezes, indisposição, flatulência, pouco ganho de peso, picos febris baixos e cefaléia. A CI pode estar associada à enurese e à infecção do trato urinário, justificando a procura destas no paciente constipado e vice-versa.15 OBJETIVOS O objetivo do nosso estudo foi analisar os pacientes com CI em relação a: a) sua classificação, se funcional ou orgânica; b) prevalência entre os gêneros, faixa etária de procura ao gastroenterologista e de início dos sintomas; c) sinais e sintomas clínicos mais freqüentes, alterações ao exame físico, fatores antecedentes, exames complementares alterados (quando solicitados); d) relevância do critério “freqüência evacuatória inferior a três vezes por semana” na definição da constipação. MÉTODOS Trata-se de um estudo prospectivo e transversal, no qual foram analisadas 167 crianças de zero a 18 anos de idade, atendidas no ambulatório de Constipação Intestinal do Setor de Gastroenterologia Pediátrica do Departamento de Pediatria da UFMG. Os pacientes foram divididos em quatro faixas etárias: recém-nascidos e lactentes (zero a dois anos incompletos), pré-escolares (dois a seis anos incompletos), escolares (seis a 10 anos incompletos) e adolescentes (maiores de 10 anos de idade). Os pais ou responsáveis responderam um questionário e assinaram o termo de consentimento, após esclarecimento. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil (COEP/UFMG). Os dados foram anotados em protocolo individual e codificados no programa de computador SPSS v.11.0.0. Para a análise estatística, foram em204 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S200-S205 pregadas distribuições de freqüências por variável do questionário e também freqüências estratificadas por sexo e idade. RESULTADOS Da amostra obtida com 167 pacientes, 61,1% eram do sexo masculino. Quanto à faixa etária de procura ao gastroenterologista, 12,57% eram lactentes, 43,11% pré-escolares, 26,35% escolares e, 17,97% adolescentes. O relato de início dos sintomas foi em média aos 22,1 meses, encontrando-se a mediana do inicio dos sintomas aos oito meses de idade. Em relação à freqüência evacuatória, 38,1% evacuavam menos de duas vezes por semana. Apesar de 57,9% dos pacientes evacuarem mais de três vezes por semana, alguns deles apresentaram incontinência fecal funcional. Além disso, a consistência fecal era endurecida em 57% dos pacientes que relatavam evacuações diárias. A presença de incontinência fecal retentiva em 42,4% dos pacientes e de incontinência fecal nãoretentiva em 18,3% é considerada sinal de gravidade. Em relação ao treinamento esfincteriano, 73,5% das crianças estudadas já tinham sido completamente treinadas. A média do início do treinamento foi de 21 meses, sendo considerado coercivo em 24,8% dos casos. Em 60,2% dos casos foi relatada história familiar de CI. Encontraram-se como fatores associados: trauma emocional precipitante em 24,5% e história de nascimento de irmão mais novo em 22% dos pacientes constipados. Houve relato de ansiedade familiar em relação à CI da criança em 45,5%; e 1,8% dos familiares se considerava negligente em relação ao hábito intestinal do filho. Em 10,2% dos pacientes verificou-se reprovação escolar. A estrutura familiar também foi analisada: apenas 68,9% das crianças tinham pais casados, 21% eram filhos de pais separados e 10,1% tinham um dos pais ausente. O uso prévio de supositórios e de clister glicerinado foi referido, respectivamente, em 63 e 50% dos casos. Houve o registro de passado ou quadro atual de infecção do trato urinário (ITU) em 17,8% e de enurese diurna e noturna em 3,7 e 12,5%, respectivamente. Em relação à história alimentar, 45,1% dos pacientes já utilizavam quantidade adequada de fibras, de acordo com a anamnese feita na primeira Perfil das crianças com constipação intestinal atendidas em um hospital-escola consulta; e 23,2% deles relatavam ingestão aumentada de leite de vaca e derivados. Em todas as crianças atendidas, os exames complementares só foram solicitados diante da suspeita de doença orgânica. Nos casos de suspeita de ITU, complicação freqüente na constipação intestinal, foram solicitados urina rotina, gram de gota e urocultura. O diagnóstico de ITU foi realizado em 17,8% das crianças do estudo. Foram efetuados: 29 enemas baritados, sendo observado megacólon em 10 pacientes, dolicocólon em quatro, um megarreto e um segmento estreitado; 30 radiografias de coluna lombo-sacra, sendo que em quatro pacientes foi diagnosticada espinha bífida; e, finalmente, cinco biópsias do reto, sendo diagnosticado hipoganglionose em dois casos e aganglionose (doença de Hirschsprung) em outros dois. DISCUSSÃO A variação da prevalência de CI quando se comparam as diversas regiões geográficas pode ser explicada por diferentes hábitos alimentares e níveis socioeconômicos nas amostras dos diversos estudos. Além disso, não existia padronização na definição de constipação nos estudos publicados até o momento. Van den Berg et al. (2006), baseados em revisão sistemática da literatura, encontraram prevalência de 0,7 a 29,6% de constipação funcional em crianças, justificando esta ampla variação pelas diferentes formas de coletas de dados e pela variação do tamanho amostral de cada estudo.18 Hoje, já na terceira versão, percebe-se que os critérios de ROMA9,10 contribuíram significativamente para o avanço no estudo da constipação intestinal. Além de critérios mais amplos para se fazer o diagnóstico da CI, a classificação da doença está mais detalhada, facilitando seu estudo e sua compreensão. Em artigo de revisão, os autores sugerem que o surgimento da CI no início da vida pode ser devido a fatores constitucionais predisponentes em alguns indivíduos.7 Diversas publicações têm revelado a importância dos primeiros anos de vida no início da CI, com média de idade de início entre três e 20 meses5,13,19,20; e no presente estudo aos 22 meses. Entretanto, outros autores relatam que, em até 67% dos casos, a CI iniciou-se no primeiro ano de vida.15 Apesar de mais da metade dos pacientes evacuar mais de três vezes por semana, alguns deles apresentam incontinência fecal funcional e/ou fezes de consistência endurecida. No presente estudo, a alta prevalência de incontinência fecal funcional é justificada por se tratar de um ambulatório terciário. Portanto, a freqüência evacuatória não deve ser valorizada como único critério definidor de CI, como é afirmado em algumas publicações.1,3,6 Cada vez mais vem se valorizando a utilização de critérios mais amplos2,7,9,21 para o diagnóstico da CI, propiciando diagnóstico mais precocemente e evolução com índices mais baixos de complicações. A divulgação desses critérios poderia servir como alerta aos pediatras para melhor observação do hábito intestinal dos pacientes atendidos. O leite de vaca parece influenciar o surgimento de constipação intestinal crônica em crianças. Observa-se associação entre a época de introdução do leite de vaca na dieta da criança e a época de início da CI, além de melhora da sintomatologia com a retirada do leite de vaca. Há ainda associação com a alergia à proteína do leite de vaca. A literatura registra mais consistência das fezes em crianças em uso de leite de vaca que nas alimentadas com leite materno exclusivo; o uso da soja foi responsável por fezes ainda mais consistentes, mesmo quando havia ingesta adequada de líquido.16 Alguns autores mencionam o leite materno, particularmente quando exclusivo e por tempo prolongado, como fator de proteção na etiopatogênese da CI.5 Por se tratar de um ambulatório especializado, muitas crianças foram encaminhadas por pediatras que já haviam orientado quanto à adequação da dieta e mais ingestão de líquidos. Adicionalmente, observou-se neste estudo alta freqüência de ITU e importante parcela de pacientes com enurese diurna e noturna. Uma pesquisa que avaliou as características de 174 crianças constipadas encontrou freqüência de 9% de ITU.22 O’Regan et al. acompanharam um grupo de crianças que apresentavam ITU de repetição, constipação, impactação fecal e problemas psicossociais, observando significativa melhora dos sintomas após o tratamento da CIF. A abordagem da CIF nestas crianças resultou em controle da ITU em 44 de 47 pacientes, além de desaparecimento da enurese em 22 de 32 e da encoprese em 20 de 21 pacientes.21 Outras investigações demonstram prevalências de ITU de 11,3 a 21,6% em crianças constipadas.23,24 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S202-S207 205 Perfil das crianças com constipação intestinal atendidas em um hospital-escola A alta taxa de história familiar de CI encontrada no presente estudo pode retratar hábitos regionais alimentares ou mesmo padrões diferentes de motilidade intestinal constitucional. Foram encontrados alguns fatores associados ao início da CIF, como trauma emocional precipitante e história de nascimento de irmão mais novo. A ansiedade familiar em relação à CI da criança pode ser explicada por se tratar de uma doença crônica que leva ao sofrimento e, algumas vezes, discriminação do paciente. A constipação, principalmente quando complicada por incontinência fecal e enurese, pode estar associada a distúrbios emocionais e dificuldade de interação social. Não se sabe ainda se os distúrbios psicossociais representam causa ou conseqüência da constipação intestinal, parecendo tanto estarem envolvidos na precipitação e na perpetuação da entidade quanto serem resultado das complicações da mesma. Nehra et al. (2000) constataram em adultos constipados 65% de alterações psicológicas, tendo sido verificados bruxismo, ansiedade, depressão e alterações alimentares.25 Estudos envolvendo crianças registram a ocorrência de introspecção e interiorização de problemas, absenteísmo escolar e dificuldades de aprendizado.16,26 As publicações que visam a detectar associações entre constipação e distúrbios emocionais foram feitas com pacientes com quadros mais graves de constipação intestinal, geralmente associados a complicações como incontinência fecal funcional, retentiva ou não.5,16,26 Parece haver relação entre a presença de distúrbios emocionais importantes e o impacto na família e a presença de complicações de difícil aceitação social, como o escape fecal.26 Grande parcela dos pacientes já chegou ao ambulatório tendo feito uso de supositórios, em 63% dos casos, e clister glicerinado, em 50% das ocorrências, devido à gravidade do quadro, o que justificaria o uso de terapêutica mais invasiva na história pregressa. Atualmente, a conduta mais aceitável nestes casos é a desimpactação por meio de altas doses de laxante oral.9,26 A média de início do treinamento esfincteriano foi em idade apropriada, mas alguns pacientes relatavam início precoce. Foi coercivo em parcela significativa dos pacientes, ou seja, em 24,8% dos casos. Outros estudos também estabeleceram es- 206 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S200-S205 ses fatores como de risco para o surgimento de incontinência fecal.9,27,28 Na maioria dos pacientes não foi necessária a realização de exames complementares, sendo a anamnese e o exame físico suficientes para diferenciação entre constipação orgânica e funcional, sendo essa conduta consoante com a preconizada por ROMA III.9,10 CONCLUSÃO A constipação intestinal é uma síndrome clínica comum na faixa etária pediátrica, sendo necessário que o pediatra esteja atento ao diagnóstico precoce como forma de evitar as complicações. Um trabalho de prevenção por meio de esclarecimento à população e aos profissionais da área da saúde sobre treinamento esfincteriano, hábitos alimentares saudáveis, identificação e abordagem dos fatores precipitantes poderia contribuir para a diminuição da prevalência e das complicações da CI. Diante do quadro instalado, principalmente nos pacientes mais graves, algumas vezes é necessária a abordagem do paciente por uma equipe multiprofissional, visto que se trata de uma doença crônica e de difícil tratamento. O pediatra também deve ficar atento, durante a anamnese e o exame clínico, para os critérios diagnósticos de CI, sempre orientando quanto aos aspectos corretos e a idade do treinamento esfincteriano. Recomendamos rotineiramente o uso da escala de Bristol11 como auxílio diagnóstico na caracterização da consistência e calibre das fezes, pois muitas vezes a criança e a família não consideram essas variáveis de forma adequada. A família deve ser bem orientada quanto a esses aspectos e, de acordo com a idade da criança, considera-se essencial sua co-responsabilização no tratamento, como parte fundamental para o sucesso terapêutico. AGRADECIMENTOS Agradecemos o apoio da FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – que, por intermédio do programa PROBIC, contribuiu com bolsas de iniciação científica para o desenvolvimento deste estudo. Perfil das crianças com constipação intestinal atendidas em um hospital-escola REFERÊNCIAS 1. Loening-Baucke V. Chronic Constipation in Children. Gastroenterology. 1993; 105:1557-64. 2. Caplan A, Walker L, Rasquin A. Validation of the pediatric Rome II criteria for functional gastrointestinal disorders using the questionnaire on pediatric gastrointestinal symptoms. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2005; 41:305-16. 3. Morais MB, Maffei HVL. Constipação intestinal. J Pediatr. (Rio de Janeiro) 2000; 76 (supl 2):S147-56. 4. Arhan P, Devroede G, Jehannin B. 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Pesquisadora do CNPq. 2 Mestre em Saúde da Criança e do Adolescente pela Faculdade de Medicina da UFMG. 3 Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela Faculdade de Medicina da UFMG. Professora Assistente do Departamento de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Belo Horizonte, UNIBH. A hipertensão arterial em pediatria é definida por níveis pressóricos iguais ou superiores ao percentil 95 para idade, sexo e estatura após três medidas sucessivas de pressão arterial (PA), tomadas pelo mesmo examinador em visitas diferentes, utilizando-se equipamento e técnica adequados. Embora a hipertensão arterial predomine na idade adulta, sua prevalência em crianças e adolescentes não é desprezível, variando de 1,20 a 13% nos diversos estudos nacionais e internacionais. Neste artigo de revisão são abordados aspectos gerais da hipertensão arterial em crianças e adolescentes (definição, classificação, etiologia), sua abordagem diagnóstica e terapêutica e suas complicações. Palavras-chave: Hipertensão; Pediatria; Criança. Adolescente; Anti-Hipertensivos. ABSTRACT Arterial hypertension in pediatrics is defined by blood pressure levels equal or above the 95 percentile for age, sex and height following three successive blood pressure measuments by the same physician using adequate equipment and technique. Despite the predinance of arterial hypertension in adulthood, its prevalence is not contemptibly, varying from 1.2 to 13% in many national and international studies. This review discusses general aspects of arterial hypertension in children and adolescents (definition, classification, etiology), its diagnostic and therapeutic approach and its complications. Key words: Hypertension; Pediatrics: Child; Adolescent; Antihypertensive Agents. INTRODUÇÃO Endereço para correspondência: Ana Cristina Simões e Silva, MD, PhD Avenida Bernardo Monteiro, 1300 apto 1104 Bairro Funcionários, CEP 30150-281 Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil e-mail: [email protected] 208 A hipertensão arterial, entidade clínica multifatorial, é conceituada pelo III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial como uma síndrome caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados associados a alterações metabólicas, hormonais e a fenômenos tróficos, tais como hipertrofia cardíaca e vascular.1 A hipertensão arterial essencial é a doença crônica que apresenta maior prevalência no mundo, afetando aproximadamente 50 milhões de indivíduos nos Estados Unidos e aproximadamente um bilhão em todo o mundo.2 No Brasil, acomete 35% da população acima de 40 anos de idade.3 É também fator de risco importante e independente para doença cardiovascular, acidente vascular cerebral e doença renal.4 Nos Estados Unidos, as doenças cardiovasculares foram responsáveis por 26,90% dos óbitos em 2002.5 No Brasil, em 2003, esse percentual atingiu 27,40%, alcançando 37% quando se excluem os óbitos por causas mal definidas e a violência.6 A hipertensão arterial explica 40% das mortes por acidente vascular cerebral e 25% daquelas por doença coronariana.2 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 Hipertensão arterial em crianças e adolescentes Embora a hipertensão arterial predomine na idade adulta, sua prevalência em crianças e adolescentes não é desprezível, variando de 1,20 a 13% nos diversos estudos nacionais e internacionais (para revisão, ver referência 7). Tal variação se explica por diferenças na metodologia empregada em relação aos critérios de normalidade adotados, faixa etária, número de visitas do paciente, número de medidas por visita e tempo de acompanhamento. Quando a pressão arterial (PA) é medida repetidas vezes, como o recomendado para o diagnóstico de hipertensão arterial em Pediatria, sua prevalência se reduz para 1 a 2%,7,8 por causa do fenômeno de regressão à média, além do fato de que a criança se acostuma ao procedimento da medida, tornando-se mais tranqüila e relaxada. Apenas nos últimos 30 anos o problema da hipertensão arterial recebeu a devida atenção do pediatra. A incorporação dessa medida como parte do exame físico da criança, bem como sucessivas publicações de normas para sua avaliação na infância, possibilitaram a detecção não somente da hipertensão arterial secundária assintomática previamente não detectada, mas também elevações discretas da PA, que normalmente caracterizam a hipertensão primária ou essencial que se inicia na infância. 9,10,11,12 Neste artigo de revisão serão abordados aspectos gerais sobre a hipertensão arterial na infância e adolescência bem como sua abordagem diagnóstica e terapêutica. DEFINIÇÃO E VALORES DE REFERÊNCIA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL A hipertensão arterial na infância e adolescência é conceituada como a média de três medidas da pressão arterial sistólica (PAS) e/ou da pressão arterial diastólica (PAD), que se apresenta maior ou igual ao percentil 95, de acordo com o sexo, idade e estatura. Tais medidas devem ser realizadas em pelo menos três ocasiões diferentes.12 Dessa forma, pelo fato de a hipertensão arterial em crianças e adolescentes basear-se em curvas de percentis, é fundamental a definição dos valores de referência a serem adotados. Nas últimas décadas, as referências mais freqüentemente adotadas na prática clínica foram provenientes de relatórios norte-americanos de uma comissão de especialistas, conhecidos como “Relatórios da Força Tarefa”, indicados pelo National Heart, Lung and Blood Institute e pela Academia Americana de Pediatria. No primeiro desses relatórios, publicado em 1977, foram elaborados tabelas e gráficos com valores de referência para a PA, baseados em três metanálises norte-americanas, abrangendo o total de 5.789 crianças.9 No segundo relatório, em 1987, as referências baseavam-se em dados obtidos de mais de 70.000 crianças.10 Em 1993, Rosner et al.13 reanalisaram oito estudos citados no segundo relatório da força tarefa norte-americana e um trabalho adicional para estabelecer valores normais para a PA, levando em conta não somente idade e sexo, como também os percentis de estatura. Foram avaliadas 56.108 crianças com idades variando de um a 17 anos, sendo elaboradas tabelas que correlacionavam os percentis de pressão arterial com idade, sexo e percentis de estatura.13 Em 1996, foi publicada uma atualização do relatório da Força Tarefa de 1987, adotando tabelas com valores limites específicos para cada faixa de percentil de estatura e separados por idade e sexo.11 Em 2004, foi publicado o quarto e mais recente relatório da Força Tarefa Americana para Controle da Hipertensão Arterial na Infância e Adolescência. Este último relatório adotou tabelas (para cada idade, sexo e faixa de percentil de estatura) que incluem os percentis 50, 90, 95 e 99 para a PAS e PAD.12 A partir dos dados obtidos dessa pesquisa, a PA pode ser classificada em: PA normal: quando os valores de PAS e de PAD encontrarem-se abaixo do percentil 90; Pré-hipertensão: quando a média de pelo menos três medidas da PAS e/ou de PAD for maior ou igual ao percentil 90 e menor que o percentil 95; Hipertensão arterial estágio 1: quando a média de pelo menos três medidas da PAS e/ou da PAD estiver situada entre o percentil 95 e o percentil 99 acrescido de 5 mmHg; Hipertensão arterial estágio 2: quando a média de pelo menos três medidas da PAS e/ou da PAD for maior que o percentil 99 acrescido de 5 mmHg; Hipertensão do avental branco: quando a PAS e/ou a PAD encontrarem-se acima do percentil 95 apenas nas medidas realizadas em ambiente de consultório ou hospital. A monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) é usualmente necessária para confirmar esse diagnóstico.14 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 209 Hipertensão arterial em crianças e adolescentes Ressalta-se, ainda, que, assim como em adultos, os adolescentes com níveis de PA igual ou superior a 120x80 mmHg devem ser considerados pré-hipertensos, ainda que a PAS e a PAD estejam abaixo do percentil 90.12 Além disso, esta forma de classificar a hipertensão arterial pediátrica em estágios assemelha-se à classificação da doença em pacientes adultos.2 MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL A PA deve ser medida preferencialmente com a criança tranqüila, em ambiente agradável, após cinco a 10 minutos de repouso, em geral na posição sentada, com os pés no chão e com o braço direito apoiado à altura do coração. O braço direito é o preferido, pois as tabelas de referência utilizam medidas desse membro e também pela possibilidade de coarctação da aorta, na qual o pulso em membro superior esquerdo é diminuído.15 No caso dos lactentes, as medidas devem ser feitas com o paciente deitado. Recomenda-se a colocação do esfignomanômetro cerca de 2 a 3 cm acima da fossa antecubital, centralizando o manguito sobre a artéria braquial.16,17 A largura do manguito deve corresponder a 40% da circunferência do braço e seu comprimento deve envolver no mínimo 80% do braço.12 A Tabela 1 mostra as dimensões dos manguitos recomendadas para cada faixa etária. Para a aferição da PA, o estetoscópio é colocado, então, sobre a artéria braquial, insuflando-se o manguito até aproximadamente 20 mmHg acima do nível em que se observa o desaparecimento do pulso braquial. O método recomendado para a medida da PA é o auscultatório. O método oscilométrico é utilizado em circunstâncias especiais, tais como em recém-nascidos, lactentes jovens, ocasiões em que a ausculta é difícil e em unidades de terapia intensiva. Na ausculta dos ruídos de Korotkoff, padronizou-se o primeiro som (aparecimento dos sons) como a PAS e o quinto (desaparecimento dos sons) correspondendo à PAD.18 Em algumas crianças, o quinto som de Korotkoff pode ser ouvido até 0 mmHg; nesta circunstância, utiliza-se o quarto som (abafamento das bulhas) como o correspondente à PAD.19 Segundo a recomendação do relatório mais recente da força tarefa norte-americana, todas as crianças com mais de três anos de idade devem ter a PA medida pelo menos uma vez em cada consulta médica.12 Já as menores de três anos de idade devem ter sua PA medida em situações especiais, tais como12: ■ história de prematuridade, baixo peso ou de outra condição neonatal que necessitou de cuidado intensivo; ■ doença cardíaca congenital; ■ doença renal ou malformações urológicas; ■ história familiar de doença renal congênita; ■ malignidade, transplante de medula óssea ou transplante de órgãos; ■ tratamento com drogas que reconhecidamente aumentam os níveis de pressão arterial; ■ doenças sistêmicas associadas à hipertensão (neurofibromatose, esclerose tuberosa); ■ evidências de hipertensão intracraniana. ETIOLOGIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Em relação à etiologia, a hipertensão arterial pode ser dividida em hipertensão arterial primária ou essencial e hipertensão arterial secundária. Tabela 1 - Recomendações em centímetro das dimensões das braçadeiras para medida da pressão arterial Faixa Etária Largura Comprimento Circunferência membro Recém-nascido 4 8 10 Lactente 6 12 15 Criança 9 18 22 Adulto “pequeno” 10 24 26 Adulto 13 30 34 Adulto “grande” 16 38 44 Coxa 20 42 52 Fonte: Adaptado do quarto relatório da Força Tarefa Norte Americana (2004) 12 210 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 Hipertensão arterial em crianças e adolescentes Hipertensão arterial primária ou essencial Hipertensão arterial secundária É uma hipertensão arterial sistólica e/ou diastólica para a qual não é possível definir a etiologia, apesar da extensa propedêutica. Em geral, é caracterizada pelo aumento discreto da PA, ou seja, uma hipertensão arterial estágio 1, que está freqüentemente associada à história familiar positiva de hipertensão ou doença cardiovascular.20 A hipertensão arterial primária é menos comumente encontrada em crianças menores de 10 anos e deve ser considerada diagnóstico de exclusão.21 Já na adolescência, a hipertensão arterial primária corresponde a 85 a 95% dos casos de hipertensão arterial.22 Ressalte-se, ainda, que crianças e adolescentes com hipertensão primária estão freqüentemente acima do peso. Alguns autores mostraram que a prevalência da hipertensão eleva-se progressivamente com o aumento do índice de massa corporal (IMC), detectando-se essa ocorrência em aproximadamente 30% das crianças obesas.23 A forte associação entre hipertensão e obesidade e o acentuado aumento da prevalência da obesidade na infância indicam que a pré-hipertensão e a hipertensão estão se tornando um importante problema de saúde no jovem.24 A criança obesa tem, freqüentemente, um grau de resistência à insulina (condição pré-diabética). Obesidade e hipertensão são também componentes da denominada síndrome de resistência à insulina ou síndrome metabólica, uma condição que eleva acentuadamente o risco de doença cardiovascular e de diabetes tipo 2.25 A presença dos fatores de risco de doença cardiovascular incluídos na síndrome de resistência à insulina (aumento de triglicérides, diminuição do high density lipoprotein - HDL, obesidade de tronco e hiperinsulinemia) é significantemente maior no grupo de crianças com PA aumentada comparado com o grupo de crianças com PA normal.26 Nesse sentido, no intuito de identificar fatores de risco de síndrome metabólica, o quarto relatório da Forca Tarefa Norte-Americana recomenda que a dosagem de lípides e de glicose deva ser obtida em crianças obesas com PA entre os percentis 90 e 95 e em toda criança com medida da PA maior que o percentil 95. Se há forte história familiar de diabetes tipo 2, recomenda-se dosagem de hemoglobina glicosilada e/ou teste de tolerância oral à glicose.12 Trata-se de uma hipertensão arterial sistólica e/ ou diastólica secundária a outra doença subjacente, mais freqüente na criança do que no adulto.20 As doenças renais são as causas mais comuns de hipertensão secundária na infância, correspondendo a 60 a 80% dos casos.20,22,27 A hipertensão renovascular é relatada em 5 a 25% das crianças com hipertensão secundária.28 Outras causas de hipertensão arterial secundária incluem hipertireoidismo, feocromocitoma, coarctação da aorta e uso de certos medicamentos (contracepitivos orais, suplementos dietéticos e simpaticomiméticos).20,22,27 As principais causas de hipertensão arterial, por faixa etária, estão listadas no Quadro 1. Observa-se que, em crianças jovens (menores de seis anos de idade), a hipertensão tem mais chance de ser secundária, enquanto que, no final da primeira década e início da segunda, a hipertensão primária torna-se a etiologia predominante.10,11,12 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Quando o diagnóstico de hipertensão arterial é realizado em uma criança, a investigação etiológica deve ser iniciada. Quanto menor a idade e mais altos os níveis da PA, maior a chance de a hipertensão arterial ser secundária e, por este motivo, mais minuciosa deve ser a investigação.20 A investigação inicia-se pela história clínica bem detalhada e orientada para a pesquisa de doenças e/ou fatores de risco relacionados à hipertensão arterial.29,30 Alguns pontos importantes a serem abordados são: ■ história pré-natal e do parto (peso ao nascimento, história de sofrimento fetal, anóxia neonatal, cateterismo umbilical, etc.); ■ sintomatologia específica da hipertensão (cefaléia, vômitos, escotomas, etc.); ■ doenças renais e urológicas atuais ou pregressas (infecções urinárias, doença policística, etc.); ■ uso de medicações (vasoconstritor nasal ou oral, corticóides, anticoncepcionais); ■ sintomas sugestivos de causa endócrina e/ou tumoral (perda de peso, sudorese, taquicardia, palpitação, febre, câimbras e fraqueza muscular); Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 211 Hipertensão arterial em crianças e adolescentes ■ história familiar de hipertensão essencial e suas complicações ou doença genética associada à hipertensão secundária (doença policística, por exemplo). ■ ■ Tabela 1 - Etiologias da hipertensão arterial de acordo com cada faixa etária ■ Recém-nascido Trombose de artéria renal Estenose de artéria renal ■ Trombose venosa renal Anormalidades renais congênitas Coarctação da aorta Displasia broncopulmonar (menos comum) ■ medida da PA em membro superior e inferior e a palpação cuidadosa de pulsos em quatro extremidades, auxiliando o diagnóstico de coarctação da aorta; achados sugestivos de genitália ambígua lembram hiperplasia congênita de supra-renal; sinais físicos sugestivos de doenças genéticas (neurofibromas e manchas café-com-leite na neurofibromatose); sinais sugestivos de causa endócrina (obesidade central, fáscies de lua cheia, estrias, hirsutismo, aumento da tireóide, entre outros); sinais de doença renal ou renovascular (massa renal ou rins aumentados de volume, edema, sopro abdominal). Persistência do canal arterial (menos comum) Hemorragia intraventricular (menos comum) Primeiro ano de vida Coarctação da aorta Doença renovascular Doença do parênquima renal De 1 a 6 anos Doença do parênquima renal Doença renovascular Coarctação da aorta Hipertensão primária Causas endócrinas (menos comum) De 6 a 12 anos Doença do parênquima renal Doença renovascular Hipertensão primária Coarctacão da aorta Causas endócrinas Iatrogênicas De 12 a 18 anos Hipertensão primária Iatrogênicas Doença do parênquima renal Doença renovascular (menos comum) Causas endócrinas (menos comum) Coarctação da aorta (menos comum) Fonte: Adaptado do Segundo relatório da Força Tarefa Norte Americana (1987).10 O exame físico também é muito importante. Algumas alterações podem auxiliar no diagnóstico de hipertensão secundária, tais como: 212 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 Outra parte importante do exame físico que deve ser realizada por observador experiente é o exame de fundo de olho, o qual propicia a visão direta dos vasos sangüíneos retinianos e eventuais efeitos da angiopatia hipertensiva. Os exames complementares devem ser indicados de acordo com o quadro clínico do paciente. Por exemplo, se o paciente apresenta história de hipertensão em picos acompanhada de palpitação, taquicardia e sudorese, inicia-se a investigação pela dosagem de catecolaminas. No caso de infecção urinária de repetição, estarão indicados exames de imagem do trato urinário.29,30 O diagnóstico de hipertensão renovascular é a parte mais problemática da investigação, pois requer métodos invasivos para confirmação diagnóstica – arteriografia renal com coleta de renina em veia renal.31 Outros métodos menos invasivos têm surgido como alternativa para identificar doença da artéria renal em crianças, como a ultra-sonografia (USG) renal com doppler, a angiorressonância nuclear magnética e a tomografia helicoidal.32,33 A cintilografia renal com e sem adição de inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECA) tem-se mostrado útil em adultos, mas alguns estudos sugerem que, na infância, tal exame apresenta sensibilidade e especificidade limitadas.34,35 Dessa forma, alguns autores recomendam que a arteriografia renal deva ser realizada somente quando houver a possibilidade de correção anatômica por radiologia intervencionista ou revascularização cirúrgica.31 O quarto relatório da Força Tarefa Americana (2004) estabelece critérios para avaliação e seguimento da hipertensão arterial, como mostrado no Quadro 212 Hipertensão arterial em crianças e adolescentes Quadro 2 - Avaliação clínica da hipertensão arterial confirmada Estudo ou procedimento Propósito População-alvo Avaliações para identificar a etiologia História, incluindo história do sono, his- História, exame físico e seguimento dos Toda criança com PA ≥ percentil 95 tória familiar, fatores de risco, dieta, pacientes hábitos tais como fumar e ingerir álcool, exame físico Uréia, creatinina, eletrólitos, urina roti- Excluir doença renal e pielonefrite crô- Toda criança com PA ≥ percentil 95 na, urocultura nica Hemograma Excluir anemia secundária à doença re- Toda criança com PA ≥ percentil 95 nal crônica Ultra-som renal Excluir cicatrizes renais, anomalias con- Toda criança com PA ≥ percentil 95 gênitas ou alterações do tamanho renal Avaliações para identificar co-morbidades identificar Pacientes acima do peso com PA entre os percentis 90 e 94, todo paciente com PA ≥ percentil 95, história familiar de hipertensão ou doença cardiovascular, criança com doença renal crônica Lipidograma, glicemia de jejum Identificar hiperlipidemia, anormalidades metabólicas Dosagem de drogas Identificar substâncias que possam cau- História sugestiva de ingestão de drogas sar hipertensão ou substâncias Polissonografia Identificação de desordens do sono as- História de roncos ou respiração noturna sociadas à hipertensão ruidosa Avaliações para identificar lesões em órgãos-alvo Ecocardiograma Identificação de hipertrofia cardíaca es- Pacientes com co-morbidade (diabetes e querda ou outras indicações de envolvi- doença renal) e PA entre os percentis 90 e 94 e todo paciente com PA ≥ percentil 95 mento cardíaco Fundo de olho Identificar alterações em vasos retinia- Pacientes com co-morbidade (diabetes e nos doença renal) e PA entre os percentis 90 e 94 e todo paciente com PA ≥ percentil 95 Avaliações mais específicas MAPA Identificacão da hipertensão do avental Pacientes com suspeita de hipertensão do avental branco e aqueles em que a mobranco, monitorar PA anormal diurna nitoração da PA é necessária Dosagem de renina plasmática Identificar renina baixa, sugerindo doen- Crianças pequenas com hipertensão ça mineralocorticóide estágio 1 e crianças mais velhas ou adolescentes com hipertensão estágio 2, história familiar positiva de hipertensão acentuada Exames de imagem para doença reno- Identificar doença renovascular vascular Crianças pequenas com hipertensão estágio 1 e crianças mais velhas ou adolescentes com hipertensão estágio 2 Níveis de esteróides no plasma e na Identificar hipertensão mediada por es- Crianças pequenas com hipertensão estáurina teróides gio 1 e crianças mais velhas ou adolescentes com hipertensão estágio 2 Fonte: Adaptado do quarto relatório da Força Tarefa Norte Americana (2004).12 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 213 Hipertensão arterial em crianças e adolescentes ABORDAGEM TERAPÊUTICA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL O quarto relatório da Força Tarefa Americana recomenda que para crianças com hipertensão primária não complicada e que não tenham lesão em órgão-alvo, o objetivo do tratamento é manter a PA abaixo do percentil 95 para sexo, idade e altura.12 Para crianças com doença renal crônica (DRC), diabetes ou hipertensão com lesão em órgão-alvo, o objetivo é manter a PA abaixo do percentil 90 para sexo, idade e altura.12 O tratamento da hipertensão arterial subdivide-se basicamente em medidas não farmacológicas e tratamento farmacológico. Medidas não farmacológicas As medidas não farmacológicas têm como principal objetivo diminuir a morbidade e a mortalidade cardiovasculares, por meio de modificações do estilo de vida, que favoreçam a redução da PA. Tal abordagem está indicada em todos os hipertensos e em indivíduos normotensos que apresentem alto risco cardiovascular. Entre essas medidas, as que comprovadamente reduzem a PA são a prevenção e controle da obesidade, a redução da ingestão de sal e do consumo de bebidas alcoólicas, a prática de exercícios físicos com regularidade e a não utilização de drogas que elevam a PA.36,37 O menor consumo de sal da dieta, além de reduzir a PA, também diminui a mortalidade por AVC, a hipertrofia ventricular esquerda e a excreção urinária de cálcio, contribuindo para a prevenção da osteoporose em idosos. Dessa forma, a restrição de sal na dieta é uma medida recomendada não apenas para hipertensos, mas para a população em geral. Tal orientação deve objetivar ingestão de sódio em torno de 1,20 g/dia para crianças de quatro a oito anos e de 1,50 g/dia para crianças mais velhas, o que equivale a 2,60 a 3,80 g/dia de sal.38 Do ponto de vista prático, deve-se evitar a ingestão de alimentos processados industrialmente, tais como enlatados, conservas, embutidos e defumados. Deve-se, ainda, orientar os pacientes a utilizar o mínimo de sal no preparo dos alimentos, além de evitar o uso de saleiro à mesa durante as refeições. A redução de peso tem-se mostrado eficaz para tratamento da hipertensão arterial em crianças e adolescentes obesos.39,40 A Academia Americana 214 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 de Pediatria faz recomendações genéricas sobre a redução do peso corporal, que compreendem dietas e programas de atividade física. Para a manutenção do peso desejável em longo prazo, é necessária adequação dietética individualizada, com particular atenção aos aspectos socioeconômicos e culturais e à motivação dos pacientes. Entretanto, a redução de peso nessa faixa etária, como em adultos, é um objetivo extremamente difícil de ser alcançado. A criança deve ser encorajada a limitar o tempo em atividades sedentárias, tais como assistir à televisão ou usar o computador ou jogar videogames em, no máximo, duas horas por dia. O exercício físico aeróbico auxilia na redução de peso e no controle dos níveis de PAS e PAD. A atividade física deve ser bem aceita pela criança e família, recomendando-se sua prática durante 30 a 60 minutos diários. A participação em esportes competitivos está contra-indicada somente na presença de hipertensão estágio 2 não controlada.41 Tratamento farmacológico O quarto relatório da Força Tarefa Americana recomenda o uso de fármacos anti-hipertensivos em caso de hipertensão sintomática, lesão em órgão-alvo (hipertrofia ventricular esquerda, retinopatia, proteinúria), hipertensão secundária, hipertensão estágio 1 que não responde a mudanças no estilo de vida e hipertensão estágio 2.12 A terapia medicamentosa deve ser sempre associada às medidas não farmacológicas. Existem algumas diretrizes básicas para o tratamento farmacológico da hipertensão arterial pediátrica. Recomenda-se a introdução de um agente anti-hipertensivo de cada vez, em doses mais baixas. A seguir, aumenta-se a dose até a obtenção de resposta terapêutica satisfatória, sem efeitos colaterais ou até que a dose máxima se aproxime. O acréscimo de outro agente está indicado sempre que não houver controle satisfatório da PA com o primeiro fármaco e/ou se forem observados efeitos adversos. Caso a associação medicamentosa esteja indicada, devem-se utilizar agentes com mecanismos de ação diferentes. A escolha do fármaco anti-hipertensivo fica sempre a critério do médicoassistente e deve-se basear no mecanismo fisiopatológico subjacente à elevação da PA. Além disso, recomenda-se o uso preferencial de classes espe- Hipertensão arterial em crianças e adolescentes cíficas de medicamentos, de acordo com as doenças coexistentes, como, por exemplo, IECAs, que são agentes de primeira escolha em crianças com diabetes ou proteinúria, enquanto os bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) e diuréticos estão indicados em pacientes com hipertensão volume dependente.2,42 Os fármacos anti-hipertensivos mais utilizados para o tratamento da hipertensão arterial crônica pediátrica estão listados na Tabela 2. COMPLICAÇÕES DA HIPERTENSÃO ARTERIAL Crianças e adolescentes com elevação acentuada da PA têm risco aumentado de desenvolver complicações, como lesões no sistema cardiovascular (SCV), no sistema nervoso central (SNC), nos olhos e nos rins.12 No SCV, a sobrecarga e a hipertrofia de ventrículo esquerdo e também a falência cardíaca congestiva são alterações que podem ocorrer secundárias ao aumento da PA.43 A hipertrofia de ventrículo esquerdo é a lesão mais freqüentemente documentada.44 Flynn e Alderman (2005) en- contraram hipertrofia de ventrículo esquerdo, ao ecocardiograma, em 28% de 70 crianças com hipertensão primária.45 Daniels et al. (1998), avaliando 130 crianças e adolescentes com hipertensão arterial persistente, encontraram 55% de pacientes com hipertrofia ventricular esquerda documentada ao ecocardiograma.46 No SNC, as alterações que podem ocorrer durante episódios de crise hipertensiva são: encefalopatia hipertensiva, edema cerebral e, embora raros, casos de acidente vascular cerebral hemorrágico. Gill et al. (1976), estudando 100 crianças com hipertensão arterial, encontraram duas com hemorragia cortical temporal, secundária a episódio de emergência hipertensiva.47 Said & Said (1990) descreveram dois episódios de encefalopatia hipertensiva que cursaram com hemorragia intracraniana, levando à hemiplegia em casuística de 70 hipertensos.48 A retinopatia hipertensiva, que é bem documentada nos adultos,49 também é encontrada em crianças e adolescentes hipertensos.50 Vilela (1999) encontrou 37% de retinopatia hipertensiva em 19 crianças hipertensas estudas.50 Tabela 2 - Fármacos anti-hipertensivos mais utilizados para o tratamento da hipertensão arterial em pediatria Medicamento Amlodipina (6-17 anos) Nifedipina XL Dose Inicial (mg/kg/dose) Dose máxima (mg/kg/dia) Intervalo 2,5 5 24h 0,25 – 0,5 3 (máx:120mg/dia) 12-24h 0,3 – 0,5 0,03-0,15 6 2 8h 8-24h Captopril Criança Neonato Enalapril 0,08 0,6 12-24h Losartan 0,7 (máx:50mg/dia) 1,4 (máx: 100 mg/dia) 24h 1-2 4(máx: 640 mg/dia) 8-12h Atenolol 0,5 –1 2 (máx: 100 mg/dia) 12-24h Furosemide 0,5 –2 6 4-12h 1 3 (máx: 50mg/dia) 12h 1-2 3-4 (máx: 300mg/dia) 12h 1 3,3 (máx:100mg/dia) 6-12h Clonidina(≥12 anos) 0,2 mg/dia 2,4 mg/dia 12h Prazosin 0,05 – 0,1 0,5 8h 0,75 7,5 (máx:200mg/dia) 6h 0,25 mg/dia 50 mg/dia 100mg/dia 6-8h Propranolol Hidroclorotiazida Triamterene Espironolactona Hidralazina Minoxidil < 12 anos ≥ 12 anos Fonte: Adaptado de Koch e Simões e Silva (2007) 30 . Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 215 Hipertensão arterial em crianças e adolescentes Além disso, a hipertensão arterial é um dos fatores de risco de DRC na criança e no adolescente.44 Alguns autores acreditam que os rins exerçam papel central nos mecanismos fisiopatológicos da hipertensão arterial (para revisão, ver referências 51,52). Dessa forma, alterações persistentes nos mecanismos de excreção renal de sódio e água e na sensibilidade ao sódio seriam responsáveis pelo aumento crônico da PA.51,52 A partir dessas alterações funcionais, Brenner, Garcia e Anderson (1988) propuseram que mudanças estruturais primárias nos rins possam determinar retenção de sódio e, conseqüentemente, hipertensão arterial.53 Esses autores relataram que a hipertensão arterial está associada a número mais baixo de néfrons e/ou à menor superfície de filtração nos néfrons, limitando a excreção de sódio.53 Essa elevação dos níveis pressóricos desencadeia a hipertensão glomerular com lesão de outros néfrons e a piora da hipertensão arterial, configurando-se um ciclo vicioso.51,52,53 Além dos mecanismos hemodinâmicos envolvidos nesse processo, cada vez mais tem sido verificado o papel de fenômenos celulares e humorais que determinam inflamação e fibrose do néfron.54,55 Sobretudo nas doenças renais, tais mecanismos exercem papel chave no aumento da pressão intraglomerular, na produção de proteinúria e na progressão da lesão renal.55 REFERÊNCIAS 1. 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Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S208-S217 217 Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes Use of bisphosphonates in children and adolescents Ana Luiza Andrade Aragão¹; Ivani Novato Silva² RESUMO 1 Aluna do curso de especialização em Endocrinologia Pediátrica da Faculdade de Medicina da UFMG 2 Profa. Associada do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG Os bifosfonatos são os medicamentos mais amplamente utilizados no tratamento de doenças associadas ao aumento da reabsorção óssea em adultos, incluindo a osteoporose pós-menopausa (indicação mais freqüente), a doença de Paget e metástases ósseas. Os bifosfonatos têm sido usados com bons resultados em crianças e pouco ou nenhum efeito colateral em várias doenças: osteogênese imperfeita, osteoporose induzida por corticóide, idiopática juvenil e por desuso, doença óssea metabólica, calcificação heterotópica de tecidos moles, hipercalcemia resistente, hipervitaminose D e displasia fibrosa (DF) da síndrome de Mc-Cune Albright (SMA). Os melhores resultados são descritos nas crianças portadoras de osteogênese imperfeita, DFO da SMA e osteoporose induzida por corticóides. Os bifosfonatos são análogos sintéticos estáveis do pirofosfato que inibem o crescimento e a dissolução dos cristais de hidroxiapatita do osso a partir da redução da atividade osteoclástica. Nos tecidos, promovem supressão do turnover ósseo, evidenciada no exame histológico e histomorfométrico. Durante seu uso ocorre aumento da densidade mineral óssea devido à diminuição da taxa de iniciação de novos ciclos de remodelagem e conseqüente redução dos espaços de remodelamento ósseo. Embora existam questionamentos sobre possíveis efeitos adversos no esqueleto em crescimento e na qualidade do osso formado a longo prazo, os bons resultados descritos são encorajadores e os efeitos colaterais bem tolerados. Palavras-chave: Doenças Ósseas; Reabsorção Óssea; Difosfonatos/administração & dosagem; Adolescente; Criança; Pré-Escolar; Adolescente. SUMMARY Endereço para correspondência: Divisão de Endocrinologia Pediátrica Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina da UFMG Av. Prof. Alfredo Balena, 190/267 CEP 30.130-100 Belo Horizonte – MG -Brasil e-mail: [email protected] 218 Bisphosphonates have been extensively used in bone resorption diseases including postmenopausal osteoporosis, Paget´s disease and bone metastasis. In pediatric patients bisphosphonates have been used in a growing number of disorders with good results. Some examples are: osteogenesis imperfecta, corticosteroid induced osteoporosis, idiopathic juvenile osteoporosis, osteoporosis associated with cerebral palsy, metabolic bone disease, heterotopic calcifications, resistant hypercalcemia, hypervitaminosis D, and Fibrous dysplasia (FD) of Mc-Cune Albright Syndrome (MAS). The best results were obtained with the treatment of pediatric patients with osteogenesis imperfecta, corticosteroid induced osteoporosis and FD of MAS. Bisphosphonates are synthetic analogues of pyrophosphate that inhibit bone resorption by their action on osteoclasts. At tissue level they cause suppression of bone turnover that is evident on histological examination and histomorphometric assessment. The increase in bone mineral density following therapy results from reduction in the remodeling space. Despite some concerns of possible adverse effects of these drugs in the growing skeleton and in the quality of new bone, the results of this therapy are encouraging and the adverse effects well tolerated. Key words: Bone Diseases; Bone Resorption; Diphosphonates/administration & dosage; Adolescent; Child; Child, Preschool. Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S218-S225 Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes Os bifosfonatos (também denominado bisfosfonatos) inibem a reabsorção óssea por meio de sua ação sobre os osteoclastos. Os primeiros bifosfonatos foram sintetizados em 1865, sendo inicialmente utilizados como aditivos de sabão na indústria. Seu primeiro uso clínico (Etidronato) ocorreu em 1969, no tratamento de duas crianças portadoras de miosite ossificante (calcificações heterotópicas do tecido conjuntivo).1 Os bifosfonatos são a classe de medicamentos mais amplamente utilizada no tratamento de doenças associadas a aumento da reabsorção óssea em adultos, incluindo a osteoporose pós-menopausa, indicação mais freqüente dessa classe de drogas, a doença de Paget, além de metástases ósseas.2 Existe interesse crescente pelo seu uso em pediatria, apesar das muitas questões ainda sem resposta, especialmente sobre as conseqüências do seu uso a longo prazo. USO EM CRIANÇAS Até 2005 cerca de 100 estudos utilizando bifosfonatos em crianças foram relatados. Nos últimos anos, os bifosfonatos estão sendo usados em crianças e adolescentes para tratamento de um número crescente de doenças, tais como: osteoporose idiopática juvenil, osteoporose induzida por corticoesteróides, osteoporose associada à paralisia cerebral, displasia fibrosa (DF) da síndrome de Mc-Cune Albright (SMA), osteoporose associada à beta-talassemia, osteoporose relacionada à fibrose cística, doenças ósseas associadas a distúrbios hematológicos (porfiria eritropoética congênita, neutropenia congênita, síndrome de Diamond-Blackfan e síndrome de Job, por exemplo), osteogênese imperfeita, hiperfosfatasia familiar idiopática (conhecida também como doença de Paget juvenil), doença de Gaucher, síndrome de Hadju-Cheney, síndrome osteoporose-pseudoglioma, calcificações heterotópicas, hipercalcemia associada à malignidade e à necrose gordurosa do subcutâneo, intoxicação por vitamina D, entre outras.1,3-7 Há bons resultados nas crianças portadoras de osteogênese imperfeita moderada e grave5,8, na DF da MAS9 e na osteoporose induzida por glicocorticóides.10-13 No caso da osteoporose induzida pelo uso de glicocorticóides em crianças12, houve redução do número de fraturas e aumento da densidade mineral óssea com o uso de bifosfonatos durante um período de seis meses a um ano de tratamento. Na osteopenia das crianças com deficiência, como na paralisia cerebral, o bifosfonato oral, alendronato, foi bem tolerado e houve diminuição do número de fraturas durante um período de tratamento de três a 19 meses.14 Na maioria desses estudos foi utilizado bifosfonato endovenoso (pamidronato). A comodidade e a menor incidência de efeitos colaterais da administração oral dessa classe de medicamentos fizeram crescer o interesse no estudo do uso de preparações orais em crianças. O uso de alendronato oral, um bifosfonato potente de segunda geração, está também em investigação em crianças com osteoporose com fraturas10, osteogênese imperfeita8 e na osteopenia por desuso, como no caso da paralisia cerebral14 e na DF da MAS. As preocupações teóricas com seu uso em pediatria são seus possíveis efeitos adversos no esqueleto em crescimento e na qualidade do osso formado, além do potencial teratogênico dessas drogas.1,4,15 Em estudo publicado recentemente com crianças e adolescentes portadores de osteogênese imperfeita tipo I, avaliaram-se em crianças e adolescentes de quatro a 16 anos a tolerância, a biodisponibilidade oral e a farmacocinética da dose oral semanal de alendronato, bifosfonato potente de segunda geração. Foi realizada a dosagem de alendronato eliminada na urina após administração oral e comparada com a quantidade encontrada no sangue após infusão da droga. Encontraram-se resultados semelhantes aos dos adultos. Além disso, a droga oral semanal foi bem tolerada.8 ESTRUTURA E MECANISMO DE AÇÃO DOS BIFOSFONATOS Os bifosfonatos atuam no ciclo de remodelamento ósseo reduzindo a atividade osteoclástica. Um ciclo de remodelamento ósseo é o mecanismo pelo qual o esqueleto repõe o osso antigo e repara as microlesões que ocorrem nele durante a atividade biológica diária. O processo de remodelamento envolve a reabsorção por osteoclastos, seguida pela formação óssea por osteoblastos que temporariamente formam uma unidade multicelular básica. A cada período há cerca de 1 milhão de unidades multicelulares básicas de 0,2-0,4 mm de largura. Elas levam em torno de seis a nove meses para completar um ciclo de remodelamento. Isto Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S218-S225 219 Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes permite a completa remodelagem do esqueleto em cerca de 10 anos. O remodelamento sempre ocorre com a reabsorção seguida de formação óssea. Além disso, é por meio deste processo que o osso é remodelado durante o crescimento, como resposta às forças mecânicas que agem sobre ele. A formação óssea sobrepõe-se à reabsorção, o que resulta um processo de aumento da massa óssea durante a infância e a adolescência. Os bifosfonatos agem nos osteoclastos levando à diminuição da taxa de iniciação de novos ciclos de remodelagem e, conseqüentemente, menor quantidade de espaços de remodelagem, locais onde o osso foi reabsorvido, mas ainda não reposto. O aumento da densidade mineral óssea observado como o tratamento com bifosfonato é devido ao preenchimento do espaço de remodelagem com osso novo.1 Os bifosfonatos são análogos sintéticos estáveis do pirofosfato, que atuam inibindo o crescimento e a dissolução dos cristais de hidroxiapatita. Os pirofosfatos são polifosfatos presentes no organismo, responsáveis pela adequação da calcificação, que se ligam aos cristais de hidroxiapatita recémformados e atuam como um modulador natural do metabolismo ósseo.1,16 São degradados pela fosfatase alcalina (FA). Nos bifosfonatos, um átomo de Carbono substitui o átomo central de Oxigênio presente na hidroxiapatita, impedindo sua destruição pela FA. Em nível molecular, os bifosfonatos inibem a via metabólica do mevalonato e de enzimas essenciais ao metabolismo dos osteoclastos, gerando efeitos celulares que reduzem a atividade osteoplástica, incluindo: inibição do recrutamento de osteoclastos, inibição dos precursores de osteoclastos, apoptose de osteoclastos.1-5,15-18 Nos tecidos, o uso dos bifosfonatos causa supressão do turnover ósseo evidente no exame histológico e histomorfométrico. A estrutura molecular da interação entre a hidroxiapatita presente no osso e os bifosfonatos já foi estudada19,20 e se dá por meio dos íons Ca+2 presentes na hidroxiapatita e dos fosfatos encontrados na estrutura básica dos bifosfonatos. Como conseqüência, no tratamento da osteoporose, por exemplo, os bifosfonatos atuam suprimindo a reabsorção óssea e promovendo o aumento da massa óssea, com diminuição dos marcadores de degradação óssea. A conformação molecular está relacionada à potência e afinidade da droga. A Figura 1 exemplifica como a adição de uma hidroxila na 220 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S218-S225 cadeia lateral R1 confere alta afinidade pelo cristal de hidroxiapatita de cálcio levando à ligação rápida e eficiente aos tecidos ósseos mineralizados. Já a cadeia R2 está relacionada à potência da substância que aumenta quando um grupo amino primário é a ela adicionado.1-3 Bisfosfonato Pirofosfato O O P O P O O R1 O O O O O P C P O O R2 O Figura 1 – Estrutura do pirofosfato e do bifosfonato PREPARAÇÕES DE BIFOSFONATOS Existem várias preparações de bifosfonatos, para uso oral ou parenteral e para utilização hospitalar exclusiva. Na Tabela 1 são apresentadas as preparações disponíveis até o momento. Os primeiros compostos utilizados (etidronato e clodronato) exercem ação principalmente sobre o apoptose dos osteoclastos, com efeito citotóxico cumulativo nestas células. Para fins de comparação, estabeleceu-se que o etidronato tem potência igual a 1. As preparações disponíveis de bifosfonatos, sua potências e estrutura química encontram-se na Tabela 1. Os mais recentes, contendo nitrogênio em sua formulação (pamidronato, olpadronato, ibandronato, alendronato, risedronato e zolendronato), são mais potentes, pois, além de provocarem apoptose precoce dos osteoclastos, inibem vias metabólicas indispensáveis ao funcionamento dessas células, levando também à diminuição da atividade osteoclástica.3,5 O pamidronato, em sua preparação endovenosa, foi até o momento o mais utilizado em crianças, principalmente no tratamento da osteogênese imperfeita, doença na qual o uso dos bifosfonatos tem sido o mais estudado em pediatria. O alendronato oral é aprovado para o tratamento e prevenção da osteoporose pós-menopausa, osteoporose induzida por corticóide e na doença de Paget óssea do adulto.2,16-18 Em crianças, o alendronato oral tem sido usado em número crescente de doenças, como a osteoporose com fraturas10 e osteogênese imperfeita.8 Apesar de haver diferença na potência in vitro das diferentes preparações Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes de bifosfonatos, a resposta clínica parece ser similar entre elas. Ainda não está claro, no caso do tratamento da osteoporose, por exemplo, se essas diferenças na potência geram distintos resultados na proteção contra fraturas. Estudos em adultos comparando resultados do tratamento com um mesmo bifosfonato em diferentes doses mostraram diferença nos resultados da densidade mineral óssea e dos marcadores de turmover ósseo, porém houve redução similar do risco de fraturas.2 FARMACOCINÉTICA Um dos problemas observados com o uso dos bifosfonatos é que a biodisponibilidade das preparações orais é muito ruim; menos de 5% da dose é absorvida. A absorção também diminui quando a ingestão é feita com alimentos sólidos, suco de laranja, café, leite, suplementos contendo cálcio, ferro e laticínios. Os bifosfonatos são retirados da circulação rapidamente. A meia-vida plasmática é de poucas horas, enquanto no osso é de vários anos, dependendo da taxa de remodelamento ósseo. A droga não é enzimatica nem biologicamente degradada e 20 a 80% da fração absorvida é captada pelo esqueleto. O restante é excretado inalterado pelos rins. Os bifosfonatos ligam-se preferencialmente aos ossos com maior capacidade de remodelamento. Seu efeito é parcialmente influenciado pelo suprimento vascular, espécie, idade e gênero. A distribuição nos ossos não é homogênea e é maior no osso trabecular que no cortical. Seu acúmulo no esqueleto não é uniforme nem ocorre na reabsorção óssea, já que somente a fração na superfície óssea é biologicamente ativa. Deve-se ajustar a dose de acordo com o clearance de creatinina do paciente.1 EFEITOS ADVERSOS Os bifosfonatos são bem tolerados tanto por via oral quanto endovenosa. Os efeitos adversos mais freqüentemente encontrados são cefaléia, diarréia, dispepsia e constipação. Com a administração oral, pode ocorrer irritação esofagiana em até 20-30% das mulheres pós-menopausa. A esofagite erosiva é muito rara quando é utilizada a preparação oral, mas quando ocorre é grave. Desta forma, a presença de acalasia ou estreitamento esofageano é contra-indicação absoluta para o uso oral. O uso de preparação oral mensal, como a de ibandronato, pode melhorar a aderência e diminuir o desconforto com o uso do medicamento. No caso da infusão venosa, pode haver aumento temporário da temperatura e sintomas influenza like, como mialgia e elevação da temperatura.1,4 Podem ocorrer hipocalcemia transitória e hipofosfatemia, associadas a aumento da produção de 1,25 (OH)2 D (hiperparatireoidismo secundário), geralmente sem significado clínico. Esses efeitos de fase aguda encontrados geralmente no primeiro ciclo da droga endovenosa podem acontecer também com o uso oral, mas geralmente não é necessário sua suspensão.8 Pode verificar-se queda na contagem de linfócitos após terapia endovenosa com bifosfonatos. Tabela 1 - Preparações disponíveis de bifosfonatos. 1,2,5,16 Droga Cadeia R1 Cadeia R2 Uso Oral Uso Parenteral Potência Relativa Disponível Brasil Etidronato OH CH3 + + 1 + Clodronato C Cl + + 10 + Tiludronato H CH2-S-fenil-Cl + Pamidronato OH CH2NH2NH2 + Neridronato OH (CH2)5NH2 Olpadronato OH CH2CH2N(CH3)2 + 100-1000 Alendronato OH (CH2)3NH2 + 100-1000 + Ibandronato OH CH2CH2N(CH3)pentil + 1000-10000 + Risedronato OH CH2-3-piridina + 1000-10000 + Zolendronato OH CH2-(imidazol) > 10000 + 10 + 100 + 100 + + Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S218-S225 221 Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes Em altas doses, a preparação endovenosa pode causar osteopetrose. Foram relatados casos de glomerulopatia e necrose avascular de mandíbula com o uso de altas doses de zolendronato, espontânea ou desencadeada por tratamento odontológico, em pacientes com câncer e má higiene bucal. Há relato de glomeruloesclerose focal segmentar com uso de altas doses de pamidonato endovenoso em adultos com mieloma múltiplo e câncer de mama.22 Em relação ao uso em pediatria, há preocupação teórica em relação ao crescimento ósseo. Especula-se se o uso dos bifosfonatos, especialmente em crianças, devido ao efeito anti-reabsortivo ósseo, poderia prejudicar o crescimento do esqueleto e a cura de fraturas, eventos ainda não confirmados. Como o remodelamento ósseo serve para reparar microfaturas no osso devido à sobrecarga repetitiva fisiológica durante a atividade diária - e isso ocorre a partir da substituição por novo tecido ósseo - em tese os bifosfonatos poderiam levar ao desenvolvimento de fraturas. Isto foi demonstrado em modelos animais submetidos a altas doses de pamidronato endovenoso.1 Contudo, não há evidência de que isto se dê durante o tratamento com doses clínicas de bifosfonatos. Não há relatos de associação do uso de bifosfonatos em pacientes pediátricos a problemas de cura de fraturas, mesmo em casos de osteogênese imperfeita.1,3,8 Os bifosfonatos são incorporados ao osso e somente são liberados após meses de suspensão do tratamento, no momento em que ocorre remodelamento ósseo. Estudos em ratos demonstraram que os bifosfonatos podem atravessar a placenta e causar deformidades ósseas na prole.1 Todavia, duas mulheres adultas que receberam pamidronato durante a gestação deram à luz filhos normais.1 Bandas escleróticas metafisárias podem surgir após ciclos de pamidronato endovenoso. Este fato foi relatado em pacientes portadores de osteogênese imperfeita que receberam pamidronato por via endovenosa.21 Seu surgimento relaciona-se à administração da droga endovenosa durante a fase de crescimento do esqueleto, refletindo a atividade osteoclástica diminuída em resposta ao tratamento. O espaço entre as bandas indica o aumento posterior da atividade osteoclástica e crescimento linear entre os ciclos. Seu significado clínico ainda não está bem esclarecido. 222 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S218-S225 USO TERAPÊUTICO Ainda há pouca consistência quanto aos dados sobre modo de administração e dosagem em crianças. As primeiras experiências foram com o pamidronato endovenoso, administrado em ciclos com dose de 0,5 a 1,0 mg/Kg/dia por três dias, em infusão durante duas a quatro horas a cada mês ou a cada dois a seis meses (1, 23, 24). Em geral, os ciclos são repetidos quando ocorre elevação da FA ou retorno da dor óssea e o tratamento é mantido por pelo menos um ano.22-26 A experiência com alendronato é mais recente. A dose de alendronato semanal permite mais adesão ao tratamento e às instruções de ingestão (deve ser tomado em jejum, pela manhã; o paciente deve permanecer em ortostatismo e sem ingerir alimentos ou líquidos por pelo menos 30 minutos). Ao contrário da dose de pamidronato, não tem sido calculada pelo peso da criança, tendo variado de 35 mg/semana se peso < 40 kg a 70 mg/semana se peso > 40 Kg em estudo com pacientes portadores de osteogênese imperfeita.8 Em outro relato foram usadas doses de 5 e 10 mg/dia se peso menor ou maior que 30 kg, respectivamente, em estudo com crianças e adolescentes portadores de osteoporose.10 Em nossa experiência, o tratamento de uma criança de 12 anos com DF da SMA foi bem sucedido com dose de 70 mg/sem de alendronato. Quando o tratamento é prolongado, as crianças devem também receber suplementação de cálcio 800-1.000 mg/dia e vitamina D 400 UI/dia.1,22 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS TERAPÊUTICOS Existem também controvérsias em relação ao momento de suspensão da terapia. Quando ocorre resposta clínica, melhora da dor óssea e melhora da mobilidade, por exemplo, pode-se considerar que houve resposta satisfatória, podendo-se avaliar a suspensão da medicação. Quanto aos exames de acompanhamento, alguns estudos usam como parâmetro os resultados da desintometria óssea e outros usam exames laboratoriais para indicar parada e reinício do tratamento. Pesquisas têm mostrado que assim que o objetivo terapêutico for alcançado, o medicamento pode ser suspenso, sem prejuízo dos benefícios conseguidos.25 Apesar de os marcadores de turnover voltarem a Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes valores basais em seis a nove meses após seu uso, a melhora na densidade mineral óssea parece se manter por até dois anos da suspensão do medicamento, tanto em adultos quanto em crianças. Este fato foi confirmado em crianças tratadas por 22±2 meses de tratamento.25 Dessa forma, assim que os benefícios com a terapia sejam alcançados, a medicação pode ser suspensa, pois seu efeito se mantém. Marcadores de remodelamento ósseo: é possível monitorar o turnover ósseo pela medida no plasma ou na urina de marcadores de remodelamento ósseo, enzimas, proteínas da matriz óssea e produtos da degradação do colágeno que são lançados nos fluidos corporais durante o processo de remodelagem óssea. O marcador mais usado é a dosagem de FA total, avaliada a cada dois a três meses durante o tratamento. A matriz óssea é composta de substâncias produzidas pelos osteoblastos: fibras de colágeno tipo I (com alto conteúdo de prolina e lisina que vão sofrer hidroxilação mediante ação do ácido ascórbico durante seu processo de formação) dispostas em camadas, pequenas quantidades de outros tipos de colágeno, osteocalcina e FA. Para a formação da matriz óssea, o colágeno tipo I é sintetizado inicialmente em forma solúvel composta de terminais COOH e NH2. Para que a molécula insolúvel estável seja formada, ocorre remoção dos peptídeos pró-colágeno, precursores do colágeno tipo I que também contém terminais COOH, sob ação de peptidases específicas. Finalmente, a molécula é estabilizada por ligações cruzadas intra e intermoleculares, principalmente por resíduos de lisina e hidroxilisina, formando, então, os anéis de piridinolina. Desta maneira, os marcadores de formação óssea que medem a atividade osteoblástica são: FA (plasmática total e específica do osso); osteocalcina, proteína da matriz óssea produzida pelos osteoblastos; propeptídeos do colágeno tipo I C e Nterminal, precursores do colágeno tipo I, lançados na circulação durante o processo de formação. Durante o processo de degradação óssea, a ação dos osteoclastos leva à produção de produtos de degradação do colágeno, que podem ser dosados na urina. São eles: telopeptídeo N e C-terminal (NTX e CTX) de cadeia cruzada do colágeno tipo I, que estabilizam a estrutura do colágeno durante seu processo de formação e são excretados inalterados na urina quando ocorre degradação óssea; piridinolina e desoxipiridinolina, que refletem a atividade osteoclástica, sendo a desoxipiridinolina mais específica; hidroxiprolina total, aminoácido presente no colágeno. Neste caso, a dosagem pode ser influenciada pelo colágeno proveniente da dieta, sendo, portanto, menos específica. A FA, a osteocalcina e a hidroxiprolina urinária são indicadores da gravidade e da atividade das lesões ósseas na DF da SMA.26 A FA total é o marcador de formação mais usado. Com o uso de pamidronato ocorre diminuição dos seus níveis em dois a três meses. Seu aumento pode ser utilizado para indicação de novo ciclo do medicamento. Os níveis de NTX urinário caem rapidamente após o uso dos bifosfonatos. O NTX urinário é marcador de reabsorção óssea mais responsivo.1 A diminuição dos marcadores de reabsorção é mais pronunciada que a dos de formação após a terapia com bifosfonatos.1,27,28 Os dados sobre valores de referência de alguns deles em pediatria são escassos. Não se deve esquecer de que na infância e início da idade adulta o crescimento e remodelagem óssea são responsáveis, por si só, pelo aumento dos produtos de degradação óssea.1 Medida da densidade mineral óssea (DMO): com o uso dos bifosfonatos há aumento da densidade mineral óssea (DMO), provavelmente devido à inibição da reabsorção óssea. A medida da DMO pode ser realizada por métodos de absorção linear (single photon; dual photon ou dual energy X-ray), tomografia computadorizada (TC) quantitativa ou procedimentos sonográficos. O uso de métodos lineares, procedimento mais utilizado, tem limitação nas crianças, pois a geometria de todos os ossos muda durante o crescimento. Desta forma, a densidade óssea usada no cálculo para área e densidade óssea é uma estimativa da densidade óssea real. Essa mesma limitação ocorre quando se usa TC, apesar do aumento da acurácia, e para os métodos ultra-sonográficos. É, portanto, essencial a correção das medidas de acordo com o tamanho da criança por meio do cálculo do escore Z. 29 Desta forma, é possível avaliar a evolução da massa óssea após o uso dos bifosfonatos. O ganho de massa óssea avaliado pela DMO tem sido especialmente observado nas crianças com osteoporose após tratamento com os bifosfonatos. Para a padronização de resultados da DMO que são influenciados pela idade, gênero, estágio puRev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S218-S225 223 Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes beral e etnia, existem estudos com populações específicas30-31, incluindo um brasileiro que estudou crianças de seis a 14 anos. 32 11. Brown JJ, Zacharin MR. Attempted randomized controlled trial of pamidronate versus calcium and calcitriol supplements for management of steroid-induced osteoporosis in children and adolescents. J Paediatr Child Health. 2005; 41: 580-2. CONCLUSÃO 12. Batch JA. Use of bisphosphonate for osteoporosis in childhood and adolescence. J Paediatr Child Health. 2003; 39: 88-92. Os bifosfonatos têm sido considerados com freqüência no tratamento de crianças com doenças metabólicas ósseas primárias e secundárias associadas ao aumento da reabsorção óssea. Os efeitos colaterais descritos são em geral bem tolerados e nos estudos com mais tempo de acompanhamento não foi necessária a suspensão do medicamento. Em relação à indicação do tratamento em crianças e adolescentes, alguns aspectos ainda não estão bem esclarecidos, como dose, tempo de tratamento e exames de acompanhamento. É de grande importância a realização de estudos sobre o uso de bifosfonatos em pacientes pediátricos para que se possa instituir essa terapia com mais segurança. REFERÊNCIAS 1. Srivastava T, Alon US. The role of bisphosphonates in diseases of childhood. Eur J Pediatr. 2003; 162:735-51. 2. Clung M. Bisphosphonates. Arq Bras Metabol. 2006; 50(4):735-44. 3. Shaw NJ, Bishop NJ. Bisphosphonate treatment of bone disease. Arch Dis Child. 2005; 90:494-9. 4. González EB, Nieto VG. Uso de bifosfonatos en la infancia.BSCP Can Pediatr. 2005; 29(2):7-12. 5. Graham R, Russell G . Bisphosphonates: Mode of Action and Pharmacology. Pediatrics. 2007; 119: S150-2. 6. Chapurlat RD, Meunier PJ. Fibrous dysplasia of bone. Baill Clin Rheumathol. 2000; 14(2):385-98. 7. Orbak Z. Vitamin D intoxication and therapy with Alendronate. Eur J Pediatr. 2006;165:583-4. 8. 8- Ward LM. Single-dose pharmacockinetics and tolerability of alendronate 35- and 70-mg tablets in children and adolescents with osteogenesis imperfecta type 1. J Clin Endocrinol Metabol. 2005; 90(7):4051-6. 9. Chapurlat RD. Treatment of fibrous dysplasia of bone with intravenous Pamidronato: long-term effectiviness and evaluation of predictors of response to treatment. Bone. 2004; 35:235-42. 10. Unal E. Efficacy and safety of oral alendronate treatment in children and adolescents with osteoporosis. J Pediatr Endocrinol Metabol. 2006; 19:523-8. 224 Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S218-S225 13. Brown JJ, Zacharin MR. Proposals for prevention and management of steroid-induced osteoporosis in children and adolescents. J Paediatr Child Health. 2005; 41: 553-7. 14. Sholas MG, Tann B, Gaebler-Spira D. Oral bisphosphonates to treat disuse osteopenia in children with disabilities. J Pediatr Orthop. 2005: 25: 326-31 15. Allgrove J. Use of bisphosphonates in children and adolescents. J Pediatr Endocrinol Metabol. 2002;15 (Suppl 3):921-8. 16. Sparidans RW. Bisphosphonates in bone diseases. Pharm World Sci. 1998; 20(5):206-13. 17. Bone HG. Alendronate and estrogen effects in postmenopusal women with low bone mineral density. JCEM. 2000; 85(2):720-6. 18. Uchida S,Taniguchi T, Shimizu T, Kakikawa T, Okuyama K, Okaniwa M, et al. Therapeutic effects of Alendronate 35mg once weekly and 5 mg once daily in Japanese patients with osteoporosis: a double blind, randomized study. J Bone Miner Metabol. 2005; 23:382-8. 19. Nancollas GH, Tang R, Phipps RJ, Henneman Z, Gulde S, Wu W, et al. Novel insights into actions of bisphosphonates on bone: Differences in interactions with hydroxyapatite. Bone 2006; 38:617-27. 20. Robinsos J. Modelling the interaction of several bisphosphonates with hydroxyapatite using the generalized AMBER force field. J Molec Struct 2006; 1-8. In press. 21. Grissom LE, Harcke HT. Radiographic features of bisphosphonate therapy in pediatric patients. Pediatr Radiol. 2003; 33:226-9. 22. DiCaprio R. Fibrous dysplasia. J Bone Joint Surg. 2005; 87(8):1848-63. 23. Plotkin H, Rauch F, Zeitlin L, Munns C, Travers R, Glorieux FH. Effect of Pamidronate treatment in children with polyostotic fibrous dysplasia of bone. J Clinl Endocrinol Metabol. 2003; 88(10): 4569-75. 24. Lala R, Matarazzo P, Andreo M, Marzari D, Bellone J, Corrias A, de Sanctis C; Study Group for Gs alpha Protein Related Diseases of the Italian Society for Pediatric Endocrinology and Diabetes. Bisphosphonate treatment of bone fibrous dysplasia in McCune –Albright syndrome. J Pediatr Endocrinol Metabol. 2006; 19:583-93. 25. Waterhaose MK. Sustained beneficial effect of intravenous bisphosphonates after their discontinuation in children. Pediatr Nephrol. 2007; 22(2):282-7. Uso de bifosfonatos em crianças e adolescentes 26. Diaz A, Danon M. Crawford J. McCune-Albright syndrome and disorders due to activating mutations of GNAS1. . J Pediatr Endocrinol Metabol. 2007; 20: 853-80. 27. Srivastava AK, MacFarlane G, Srivastava VP, Mohan S, Baylink DJ. A new monoclonal antibody ELISA for detection and characterization of C-telopeptide fragments of type I collagen in urine. Calcif Tissue Int. 2001; 69(6):327-36. 28. Pedrazzoni M, Alfano FS, Gatti C, Fantuzzi M, Girasole G, Campanini C, Basini G, Passeri M. Acute effects of bisphosphonates on new and traditional markers of bone resorption. Calcified Tissue international 1995; 57(1) 25-9. 29. van Rijn RR, van der Sluis IM, Link TM, Grampp S, Guglielmi G, Imhof H, Glüer C, Adams JE, van Kuijk C. Bone densitometry in children: a critical appraisal. Eur Radiol. 2003; 13:700-10. 30. Del Rio L, Carrascosa A, Pons F, Gusinyé M,Yeste D, Domenech FM. Bone mineral density of lumbar spine in white mediterranean spanish children and adolescents: changes related to age, sex and puberty. Pediatr Res. 1994; 35(3): 362-6. 31. van der Sluis IM, de Ridder MA, Boot AM, Krenning EP, de Muinck Keizer-Schrama SM. Refernce data for bone density and body composition measured with dual energy x ray absormetry in white children and young adults. Arch Dis Child. 2002; 87:341-7. 32. Fonseca ASM, Szejnfeld VL, Terreri MT, Goldenberg J, Ferraz MB, Hilário MOE. Bone mineral density of the lumbar spine of brazilian children and adolescents aged 6 to 14 years. Braz J Med Biol Res. 2001; 34(3): 347-52. Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S218-S225 225 Normas de Publicação 1. Revista Médica de Minas Gerais (RMMG) destina se à publicação de artigos originais, revisões, atualizações, resumo de teses, relatos de casos ou notas técnicas inéditas de qualquer especialidade médica. 2. A revista tem periodicidade trimestral (março, junho, setembro e dezembro) com a seguinte estrutura: Editorial, Artigos Originais, Educação Continuada (atualização/revisão), Atualização Terapêutica, Relato de Caso, Educação Médica, História da Medicina, Cartas aos Editores, Comunicados das Instituições Mantenedoras, Normas de Publicação. 2.1. Para efeito de categorização dos artigos, considera-se: a) Artigo Original: trabalhos que desenvolvam crítica e criação sobre a ciência, tecnologia e arte da medicina, biologia e matérias afins que contribuam para a evolução do conhecimento humano sobre o homem e a natureza. b) Educação Continuada: trabalhos que apresentam síntese atualizada do conhecimento disponível sobre medicina, biologia e matérias afins, buscando esclarecer, organizar, normatizar, simplificar abordagem dos vários problemas que afetam o conhecimento humano sobre o homem e a natureza. c) Atualização Terapêutica: trabalhos que apresentam síntese atualizada do conhecimento disponível sobre a terapêutica em medicina, biologia e matérias afins, buscando esclarecer, organizar, normatizar, simplificar a abordagem sobre os vários processos utilizados na recuperação do ser humano de situações que alteram suas relações saúde doença. d) Relato de Caso: trabalhos que apresentam a experiência médica, biológica ou de matérias afins em função da discussão do raciocínio, lógica, ética, abordagem, tática, estratégia, modo, alerta de problemas usuais ou não, que ressaltam sua importância na atuação prática e mostrem caminhos, conduta e comportamento para sua solução. e) Educação Médica: trabalhos que apresentam avaliação, análise, estudo, relato, inferência sobre a experiência didático-pedagógica e filosófica, sobre os processos de educação em medicina, biologia e matérias afins. f) História da Medicina: trabalhos que revelam o estudo crítico, filosófico, jornalístico, descritivo, comparativo ou não sobre o desenvolvimento, ao longo do tempo, dos fatos que contribuíram para a história humana relacionada à medicina, biologia e matérias afins. g) Cartas aos Editores: correspondências de leitores comentando, discutindo ou criticando artigos publicados na revista. Recomenda-se o tamanho máximo de 1000 palavras, incluindo referências bibliográficas. Sempre que possível, uma resposta dos autores ou editores será publicada junto com a carta. 3. Os trabalhos para publicação devem ter até 16 páginas de texto, incluindo ilustrações e referências, exceto os artigos da seção “Relato de Caso” que devem ter até 8 páginas. A RMMG reserva-se o direito de recusar artigos acima desses limites. 4. Os trabalhos recebidos serão analisados pelo Corpo Científico da RMMG ( Editor Geral, Editores Associados, Conselho Editorial e Consultores Ad Hoc). Um trabalho submetido é primeiramente protocolado e analisado quanto a sua apresentação e normas, estando estas em conformidade, o trabalho é repassado aos Editores Associados que indicarão dois revisores da especialidade correspondente. Os revisores são sempre de instituições diferentes da instituição de origem do artigo e são cegos quanto à identidade dos autores e local de origem do trabalho. Após receber ambos os pareceres, os Editores Associados os avalia e decide pela aceitação do artigo, pela recusa ou pela devolução aos autores com as sugestões de modificações. Um manuscrito pode retornar várias vezes aos autores para esclarecimentos mas cada versão é sempre analisada pelo Editores Associados e/ou Editor Geral, que detém o poder da decisão final, podendo a qualquer momento ter sua aceitação ou recusa determinada. 5. Os trabalhos devem ser digitados utilizando a seguinte configuração: margens: esquerda e superior de 3 cm e direita e inferior de 2 cm; tamanho de papel formato A4 (21 cm x 29,7 cm); espaço entrelinhas de 1,5 cm, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12. A primeira página deve conter: título do trabalho, título em inglês, nome(s) completo(s) do(s) autor(es), sua(s) titulação(ões) e afiliação(ões), indicação da instituição onde o trabalho foi desenvolvido, indicação do autor correspondente com endereço completo, fax, e-mail, telefone e a indicação da categoria do artigo, conforme item 2.1. A segunda página deve conter o título do trabalho em português e inglês, o resumo, as palavras-chave, o summary e as key words. A partir da terceira página apresenta-se o conteúdo do trabalho. 6. Para os trabalhos resultados de pesquisas envolvendo seres humanos, deverá ser encaminhado uma cópia do parecer de aprovação emitido pelo Comitê de Ética reconhecido pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do Conselho Nacional de Saúde – CNS/196/96, e para os manuscritos que envolveram apoio financeiro, este deve estar explicito claramente no texto e declarados na carta de submissão a ausência de qualquer interesse pessoal, comercial, acadêmico, político ou financeiro na publicação do mesmo. 7. Os trabalhos devem ser enviados para o endereço eletrônico (e-mail: [email protected]), anexando o original e suas respectivas ilustrações, anexos e apêndices; Parecer do Comitê de Ética, quando houver; e a correspondência de submissão do manuscrito, dirigida ao Editor Geral, indicando a sua originalidade, a não submissão a outras revistas, as responsabilidades de autoria, a transferência dos direitos autorais para a revista em caso de aceitação e declaração de que não foi omitido qualquer ligação ou acordo de financiamento entre o(s) autor(es) e companhias que possam ter interesse na publicação do artigo. 8. Para efeito de normalização, serão adotados os “Requerimentos do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas” (International Committee of Medical Journal Editors – ICMJE) (Estilo Vancouver) disponível em:<http://www.icmje.org/>. 9. Todo trabalho deverá ter a seguinte estrutura e ordem: a) Primeira página: título; título em inglês; nome(s) completo do(s) autor(es), acompanhado(s) de seu(s) respectivos(s) título(s) e afiliação(coes); citação da instituição onde o trabalho foi realizado; endereço para correspondência; indicação da categoria do artigo. b) Segunda página: Título; título em inglês; resumo (em formato semiestruturado para os artigos originais)* do trabalho em português, sem exceder o limite de 250 palavras; Palavras-chave (três a dez), de acordo com o DECS Descritores em Ciências da Saúde da BIREME (http:// decs.bvs.br/); Summary (resumo em língua inglesa), consistindo na correta versão do resumo para aquela língua; Key words (palavraschave em língua inglesa) de acordo com a lista Medical Subject Headings (MeSH) do PUBMED) da National Library of Medicine (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=mesh); c) Terceira página: TEXTO: Introdução, Material ou Casuística e Método ou Descrição do Caso, Resultados, Discussão e/ou Comentários (quando couber) e Conclusões; d) Agradecimentos (opcional); e) Referências como especificado no item 11 dessas normas; *Nota: O resumo no formato semi-estruturado deverá ser adotado para os artigos da categoria “artigos originais”, compreendendo, obrigatoriamente, as seguintes partes, cada uma das quais devidamente indicada pelo subtítulo respectivo: Objetivos; Métodos; Resultados; Conclusões. 10. As ilustrações devem ser colocadas imediatamente após a referência a elas. Dentro de cada categoria deverão ser numeradas seqüencialmente durante o texto. Exemplo: (Tabela 1, Figura 1). Cada ilustração deve ter um título e a fonte de onde foi extraída. Cabeçalhos e legendas devem ser suficientemente claros e compreensíveis sem necessidade de consulta ao texto. As referências às ilustrações no texto deverão ser mencionadas entre parênteses, indicando a categoria e o número da tabela ou figura. Ex: (Tab. 1, Fig.1). As fotografias deverão ser enviadas em aquivos anexos, e não devem ser incorporadas no editor de texto; podem ser em cores e deverão estar no formato JPG, em alta resolução (300 dpi) e medir, no mínimo, 10cm de largura (para uma coluna) e 20cm de largura (para duas colunas). Devem ser nomeadas, possuir legendas e indicação de sua localização no texto. 11. As referências são numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas pela primeira vez no texto. Devem ser apresentadas de acordo com as normas do Comitê Internacional de Editores De Revistas Médicas, disponível em:< http://www.nlm.nih.gov/bsd/ uniform_requirements.html> Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o “Journals Database” do PUBMED, disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=journals>. As referências no texto devem ser citadas mediante número arábico sobrescrito, após a pontuação, quando for o caso, correspondendo às referências no final do artigo. Nas referências, citar como abaixo: 11.1.ARTIGOS DE PERIÓDICOS a) Artigo padrão de revista científica Incluir o nome de todos os autores (último sobrenome, em caixa baixa, seguido da primeira letra dos demais nomes e sobrenomes, quando são até seis. Mais de seis autores indicar os seis primeiros seguidos de et al. You CH, Lee HY, Chey RY, Menguy R. Electrogastrografic study of patients with unexplained nausea, bloating and vomiting. Gastroenterology. 1980; 79:3114. Viana MB, Giugliani R, Leite VH, Barth ML, Lekhwani C, Slade CM, et al. Very low levels of high density lipoprotein cholesterol in four sibs of a family with non-neuropathic Niemann-Pick disease and sea-blue histiocytosis. J Med Genet. 1990 Aug; 27(8):499-504. b) Autor corporativo: The Royal Marsden Hospital BoneMarrow Transplantation Team. Failure os syngeneic bonemarrow graft in post hepatitis marrow aplasia. Lancet. 1977; 2:2424. c) Sem autoria (entrar pelo título): Coffee drinking and cancer of the pancreas (Editorial). BMJ. 1981; 283:6289. d) Suplemento de revista: Mastri AR. Neuropathy of diabetic neurogenic bladder. Ann Intern Méd. 1980; 92 (2 pt 2): 3168. Frumin AM, Nussabaum J, Esposito M. Functional asplenia: demonstration of esplenic activity by bone marrow sean (resumem). Blood. 1979; 54 (supl 1): 26. 11.2. LIVROS E OUTRAS MONOGRAFIAS a) Autor(es) pessoa física: Eisen HN. Immunology: an introduction to molecular and cellular principles of the immune response. 5th ed. New York: Harper and How; 1974. b) Editor, compilador, coordenador como autor: Dausset J, Colombanij D, editors. Histocompatibility testing 1972. Copenhague: Munksgaard; 1973.128p. c) Autor(es) institucional: Royal Adelaide Hospital; University of Adelaide, Department of Clinical Nursing. Compendium of nursing research and practice development, 1999-2000. Adelaide (Australia): Adelaide University; 2001. 11.2.1. Capítulo de livro: Weinstein L, Swartz MN. Pathogenic properties of invading microorganisms. In: Sodeman WA Jr, Sodeman WA, editors. Pathologic physiology: mechanisms of diseases. Philadelphia: WB Saunders; 1974. p.457-72. 11.2.2. Trabalhos apresentados em congressos, seminários, reuniões etc.: Blank D, Grassi PR, Schlindwein RS, Mello JL, Eckert GE. The growing threat of injury and violence against youths in southern Brazil. Abstracts of the Second World Conference on Injury Control; 1993 May 2023; Atlanda, USA. Atlanda: CDC; 1993. p.1378. 11.3 DISSERTAÇÕES E TESES Caims RB. Infrared spectroscopic studies of solid oxigens [Tesis]. Berkeley (Ca): University of California; 1965. Borkowski MM. Infant sleep and feeding: a telephone survey of Hispanic Americans [dissertation]. Mount Pleasant (MI): Central Michigan University; 2002. 11.4. ARTIGO DE JORNAL (não científico) Shaffer RA. Advances in chemistry are starting to unlock musteiries of the brain: discoveries could help cure alcoholism and insomnia, explain mental illnes. How the messengers work. Wall Street Journal, 1977; ago. 12:1 (col. 1). 10 (cl. 1). 11.5. ARTIGO DE REVISTA (não científica) Roueche B. Annals of Medicine: the Santa Claus culture. The New Yorker, 1971; sep. 4: 6681. 12. Agradecimentos devem constar de parágrafo à parte, colocado antes das referências bibliográficas, após as key words. 13. As medidas de comprimento, altura, peso e volume devem ser expressas em unidades do sistema métrico decimal (metro, quilo, litro) ou seus múltiplos e submúltiplos. As temperaturas em graus Celsius. Os valores de pressão arterial em milímetros de mercúrio. Abreviaturas e símbolos devem obedecer padrões internacionais. Ao empregar pela primeira vez uma abreviatura, esta deve ser precedida do termo ou expressão completos, salvo se se tratar de uma unidade de medida comum. 14. Lista de checagem: recomenda-se que os autores utilizem a lista de checagem abaixo para certificarem-se de que toda a documentação está sendo enviada. Não é necessário enviar a lista. • Carta de submissão assinada (assinatura digital) por todos os autores • O manuscrito em arquivo .doc, contendo: • Página de rosto com todas as informações solicitadas • Resumo em português, com palavras chaves • Texto contendo: introdução, métodos, resultados e discussão • Resumo em inglês e palavras chave Summary/Keywords • Referências no estilo Vancover numeradas por ordem de aparecimento das citações no texto • Citações numeradas por ordem de aparecimento no texto com algarismos arábicos • Tabelas numeradas por ordem de aparecimento • Gráficos numerados por ordem de aparecimento • Legenda das figuras 15. Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Editorial. 16. O Conselho Editorial e RMMG não se responsabilizam pelas opiniões emitidas nos artigos. 17. Em casos de não aprovação de artigos, os autores serão comunicados por escrito. Os artigos reprovados não serão devolvidos. 18. Os artigos devem ser enviados para: Revista Médica de Minas Gerais Av. Alfredo Balena, 190 Prédio da Faculdade de Medicina, sala 12 30130-100 • Belo Horizonte • MG Fone/Fax: (31) 3409-9796 E-mail: [email protected] [email protected] Rev Med Minas Gerais 2007; 17(1/2 Supl 3): S226 Página em branco Página em branco