programa de estudos do português popular de salvador – pepp

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programa de estudos do português popular de salvador – pepp
PROGRAMA DE ESTUDOS DO PORTUGUÊS POPULAR FALADO DE SALVADOR – PEPP
INQ Nº 12 – MULHER – idade: 20 anos – Escolaridade: 2º Grau
DOCUMENTADOR: Constância Souza
DATA: 12/08/1999
TRANSCRIÇÃO: Alessandra Fontoura
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DOC : Nós vamos começar e eu queria iniciar conhecendo alguma coisa de você, e de você
principalmente pequena, a partir de criança você me dá algumas informações de como
você era, o que é que você fazia, o que é que você lembra, o que é que as pessoas
diziam de você.
12:
Minha mãe me colocou na escola eu tinha dois anos e meio né, você quer saber
isso?
DOC : Por aí.
12:
Aí, nunca, nunca fui de fazer pipi nem pumpum na escola, porque a minha mãe
sempre colo, colocou, por causa de, eu, eu não estou entendendo, eu não entendi
muito bem.
DOC : Olhe você, me conte alguma coisa de você pequena, você começou pela escola, o
que é que você fez, como é que você era, disso aí desenvolva mais. Você foi pra
escola.
12:
É, dois anos e meio aqui no, no, que hoje é o Sesca né, onde foi que eu estudei o
segundo colegial lá, e sempre boa aluna, que hoje eu não seja entendeu, mas sempre
eu era assim a primeira da classe, sempre participava de festinha de dia das mães, dia
dos pais, foi, foi uma infância normal como a de criança, como qualquer criança
tenha, sempre ia pra casa de avós, eu acho que tenha sido até por causa disso, por isso
que o meu pai hoje me cobra tanto assim, porque eu sempre era a primeira da classe,
sempre quando chegava festa de dia das mães, minha mãe chegava lá, “oh, sua filha é
a melhor aluna, que não sei o que, porque G...., porque G....”, eu acho que é por causa
disso que o meu pai cobra tanto esse negócio, essa questão toda de vestibular né.
DOC : Mas os pais sempre cobram.
12:
Mas sei lá, o meu eu acho cobra mais um pouco, aí minha infância foi normal,
sempre estudando, nunca fui de, minha mãe sempre levando pra teatro, pra cinema,
pra almoçar, sempre aniversário, festinha em casa, mesmo, as vezes pequena, as
vezes grande, foi normal, pelo que eu me lembre de minha infância...
DOC : Certo, ainda em relação a sua casa, irmãos, irmãs?
12:
Tenho uma irmã.
DOC : Sim, como é o relacionamento de vocês?
12:
Olhe, hoje não está muito bom não, já foi bem melhor, mas hoje não, hoje ela
arrumou um namorado, eu não gosto muito do namorado dela, ah, daqui a pouco eu
vou até chorar de falar de minha irmã, ah não!
DOC : Então não fale, então não fale, é mais nova, é mais velha?
12:
É mais nova, é mais nova.
DOC : É mais nova.
12:
Eu tenho uma, aquela super proteção com a minha irmã sabe, ela, sempre assim
quando a minha mãe falava assim, “vá comprar o pão”, eu que comprava, “vá
comprar isso”, eu que comprava, uma vez ela foi, eu me lembro como hoje, ela foi
comprar um, um tomate pequenininha, aí não sabia ainda pesar, era bem
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pequenininha, aí chegou em casa chorando, chorando, chorando, aí eu vim, desci com
ela, expliquei com ela, pedi licença pro dono lá da, do, da casa de verduras e frutas,
desci, expli, pedi licença pra ele, expliquei, subi, eu sempre tive aquela proteção, eu
não posso ver ela, não podia ver ela chorando, não podia ver nada porque eu sempre a
minha irmã, minha irmã, minha irmã, mas hoje ela arrumou um namorado aí, não está
muito boa comigo não, eu não gosto muito do namorado dela, ela acha que, sabe né,
quando a gente arranja as vezes um namorado eu acho que só tem olhos pra ele, aí
hoje não está muito bem não, eu, eu tenho falta né.
DOC : Ela, ela também achou isso quando você arranjou namorado?
12:
Não, ela se da, eu digo se dava porque hoje também só porque, por causa disso que
está acontecendo com o namorado dela, ela também se distanciou do meu, aí ela, mas
não, ela se dá muito bem, eu sei que eu sinto até, eu sinto que ela sente falta daquela
proximidade tanto minha principalmente que eu sou irmã, e tanto do meu namorado,
porque eles se davam muito bem mesmo, mas por causa disso, eu acho que pra
mostrar assim, “ah, já que você não se dá bem com o meu, eu também não vou se dá,
não vou dá bem com o seu”, aí pronto, então ela se distanciou, ela está muito assim a,
falando, dizendo coisas que sabe, entrando assim em turmas que eu não, não gostei,
não estou gostando.
DOC : Você acha que isso pode prejudicar ela?
12:
Ah, eu acho, não é porque eu, eu gosto, eu amo a minha irmã, minha irmã Ave
Maria pra mim é tudo, minha irmã, minha mãe, meu pai, mas minha irmã assim, não
sei se é por causa daquela proteção que eu dou demais a ela, mas eu acho que vai
prejudicar, eu tenho certeza que um dia ela vai voltar tudo, eu tenho certeza que, eu
não vou dizer assim, ah ela vai acabar com esse namorado amanhã, mas eu, não sei,
eu sinto que não vai dar certo sabe, e que ela vai um dia chegar pra mim pra vai me
pedir desculpas, vai dizer que eu que estava certa, vai voltar de bem com o meu
namorado, eu tenho certeza disso, está assim coisa de momento, mas as vezes assim
eu choro, que não sei o que, porque eu não era assim com ela, era, parecia, eu
andava de mãos dadas com ela na rua, eu beijava ela, e não sei o que, não sei o que,
hoje em dia a gente faz até cursinho no mesmo lugar, ela senta do meu lado,
(...inint...) uma pessoa, uma colega.
DOC : Ah, vocês estudam juntas?
12:
A gente estuda juntas, estuda no, só não estuda em casa né, porque ela estuda uma
matéria, eu gosto de estudar mais outra, aí em casa é separado, mas lá no cursinho
ela senta do meu lado e tal, mas faz de conta que, ela tem até outras amizades lá, eu
nem desço, nem fico com ela assim, que distanciou mesmo, quem ver assim pensa
até que, vê logo assim, “ah aconteceu”, quem já conhecia, “ah aconteceu alguma
coisa”.
DOC : Está certo, mas vamos voltar pra você pequena na escola que você não dava trabalho
né, era boa aluna.
12:
Ah, não dava não.
DOC : O que é que você lembra assim, a sua primeira escola, professor, professora, o que
chamou mais a sua atenção pra você?
12:
Ah tive vá, tive, meus professores de maternal, maternalzinho, primário, foi, foram
boas, eu gostei delas, sempre repetia, eu me lembro como hoje, eu sempre repetia
meu maternalzinho foram, duas professoras foram as mesmas, depois entrou, tive
uma professora na alfabetização que eu acho, eu acho que todo mundo que se
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alfabetizou deve agradecer muito né a professora da alfabetização, porque eu acho
que tem uma parte né, você nunca repeti lição, ela mora até aqui no, aí no Planalto,
sempre quando eu encontro ela me vê, “oh, você está linda, grande, não sei o que”,
eu adoro ela, e também repeti na quatro primários né, que é a primeira, segunda,
terceira e quarta e foram também só com duas professoras, maravilhosas, sempre me
adoraram, depois foi, aí eu comecei a entrar no ginásio, já não era mais um
professor, já era né, uns cinco a seis professores, nunca tive não, aliás eu nunca tive
o que reclamar desse colégio não, gostei muito dele, só no segundo ano que eu não
fui bem, perdi, aí que eu saí daí e fui pra o Águia, terminei o meu segundo grau no
Águia.
DOC : Com a grande diferença então do Águia, primeiro me diga, a grande diferença
quando você passou a ter muitos professores, e depois a grande diferença (...inint...)
Águia.
12:
Olhe, eu me lembro como hoje quando eu entrei na quinta série eu, as aulas
começavam na segunda, só que segunda feira eu não fui porque a minha avó estava
com problemas, na segunda eu não fui, mas na terça eu fui, e aí ainda não tinha
horário, eu não tinha nada, e era aquela coisa né, quinta série eh, você já está
começando a ter vários professores né, era cadernos de matérias né, porque no, na,
ante, antes era um caderno, era uma professora só, e eu aí perguntei pra minha colega
assim, “eh, que aulas é que vai ter?”, e ela veio e me disse as aulas que já tinha, que ia
ter, aí eu parei assim, bem assim, eu me lembro, eu nunca vou esquecer disso, eu falei
assim, “meu Deus, ela sabe de tudo, eu não sei de nada” (risos), “ela sabe de tudo”,
pra você ver como é.
DOC : Ficou assustada.
12:
Eu fiquei assustada, minha cabeça né, como é, hoje até eu dou risada, eu até falando
outro dia, eu até comentei com ela, ela mora aí no chácara, eu comentei até com ela
isso, ela também deu risada comigo, mas foi isso, eu falei assim, “meu Deus ela sabe
de tudo”, mas porque ela sabe de tudo?, porque ela tinha ido na segunda feira, ela
tinha pego o horário, tinha pego tudo, eu estava indo na terça, não estava sabendo de
nada, perguntei pra ela que aula teria, ela me informou as aulas que já tinha, as aulas
que ia ter, eu, “meu Deus, eu não sei de nada, o que é que eu vou fazer?”, estranhei,
estranhei, mas meu, meus professores de, de ginásio foram assim maravilhosos,
sempre eu encontro com eles, eu sempre levava merendas, minha mãe gosta muito de
fazer salgados, aí eu sempre levava merendas pra eles, outro dia eu até encontrei uma
professora, “cadê o meu quibe?”, aí eu vou lá levar o quibe, ela é até aposentada, mas
trabalha ainda no, no (...inint...), adoro, todos que me encontram, sempre lembra de
alguma coisa que eu já fiz aí no...
DOC : E a mudança pro Águia?
12:
Ah, a mudança pro Águia foi radical porque depois o Santana foi um bom colégio
daqui, bom mesmo, o melhor colégio eu acho que daqui do Cabula, dessa região eu
acho que era o Santana, só que depois começou a, a decair um pouquinho, eu tenho
pra mim, eu que foi a, a ida dos diretores dos pais para os filhos, quando os filhos
tomaram conta aí decaiu um pouquinho, eles estavam (...inint...) muito dinheiro, e
foi até na época, essa época que meu pai já não estava assim numa situação muito
boa na empresa, então sempre estava atrasando mensalidades e tal, então aí eles
estavam cobrando muito, foi, estava assim, até, chegar até o ponto de uma vez eu
mais a minha irmã ir por colégio e o porteiro chegar pra gente avisar que a gente não
ia entrar devido a isso né, porque a gente não tinha pago a mensalidade, aí, eu mais
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minha irmã ainda voltamos chorando pra casa, foi horrível, a minha foi, aí tal, aí eu
vim, quando foi no segundo, eu acho foi até por causa disso também de, problemas
de pessoais, porque eu acho isso afeta até a cabeça da pessoa, que eu perdi de ano, e
cheguei pra minha mãe e falei, “minha mãe eu vou repetir de ano só que eu não
quero repetir no Santana, eu quero ir pra outro colégio”, foi aí a gente procurando
preços, localidade e tal, porque nós fomos pro Águia da Piedade, o colégio recebeu a
gente de braços abertos, o pessoal lá maravilhoso, adoro também, sempre estou indo
lá, ver, visitar e tal, e me dei bem, agora senti porque o segundo grau do Santana que
eu fiz, pelo menos o primeiro com o segundo ano que eu perdi não foi muito legal,
tanto que quando eu cheguei eu senti, sabe aquela base assim, eu falei assim, “meu
Deus eu não dei isso, eu não dei isso”, mas fui estudando, fui estudando, fui
estudando e consegui passar, fui pra algumas finais na, no segundo ano mesmo, esse
segundo ano que eu repeti no Águia, cheguei a ir pra final, mas não fui pra
recuperação nenhuma, no terceiro ano eu passei, terminei, agora estou tentando o
vestibular, mas o pessoal do Águia foi maravilhoso, eu adorei.
DOC : Você sentiu a diferença maior mais no ensino mas em que aspecto, em que
disciplinas? O que é que você é mais fraca?
12:
Pra falar a verdade em todas.
DOC : Sim, em todas.
12:
Um pouquinho, não digo assim em tudo, um pouquinho, em todas, português,
matemática, todas, eu senti um pouquinho, as vezes quando o professor chegava do
Águia, “ah, eu vou dar tal assunto”, aí eu, “poxa, esse assunto não deu lá no Santana”,
professor de Biologia, então eu senti diferença em todas as matérias, mas um
pouquinho assim de assunto, não é que era tudo, porque o Santana também não, não
ia decair pá né, mas eu senti diferença sim.
DOC : Em relação a método de trabalho?
12:
O Águia também.
DOC : Melhor?
12:
É, o Águia também é melhor, eu, eu só, eu só posso falar, abrir minha boca e falar
bem do Águia em tudo, em tudo mesmo, gostei muito, as pessoas, sempre tratando,
estava visando o aluno entendeu, quando a gente chegava lá pra alguma reclamação,
eles ouviam, e eles, se eles cumprissem eles faziam, e no Santana não, última vez,
essa última vez mesmo, nesse segundo ano eu lembro que teve a Celiba né, que todo
o ano eles fazem a Celiba pá, a gente participou, a minha equipe estava precisando de
várias coisas, a gente todo o dia a gente ia pedir e não conseguia nada eles entravam,
parecendo assim eles só queriam o aluno para o dinheiro, mais pra nada, foi, é por
isso também que quando eu, eu perdi, eu falei pra minha mãe, “minha mãe eu vou
repetir de ano porque eu perdi, mas eu não quero repetir no Santana, eu quero ir pra
outro lugar, porque se eu continuar no Santana eu não vou estudar”.
DOC : Você falou que perdeu, e antes era assim boa aluna e dessa vez você perdeu. Muitas
reclamações em casa?
12:
Ah, muitas, só, olhe, mais até de minha mãe por incrível que pareça porque eu
lembro que no dia meu pai não tinha ido trabalhar e aí deu o horário era umas catorze
horas mais ou menos saía o resultado, e aí ele “vai pegar o resultado?”, aí, “eu vou”,
aí eu vim, fui, peguei, voltei, quando ele, eu cheguei em casa que ele me perguntou,
“e aí passou?”, eu, “não, perdi”, pra o meu pai foi o mundo sabe, ele se, ele estava,
estava no quarto, ele sentou na cama, mas chorou feito um bebê, e naquele dia eu
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olhei assim pra ele, me deu aquela coisa assim vendo o meu pai, porque eu parei e
pensei, meu Deus foi um ano de sacrifício, que ele se sacrificou né, deu o suor dele
ali, pra eu no final do ano a própria filha dele chegar pra ele e falar não, perdi de ano,
quer dizer, jogou o dinheiro dele todo fora, aí eu parei e pensei, aí ele veio disse que
não, ia até me colocar, ele até falou que até ia me colocar em colégios públicos e
ainda por aqui porque era pra eu ir a pé, que era pra eu encontrar colegas minhas,
aquela coisa de pai mesmo de mãe que, pelo, pelo menos o meu sempre fala isso né, e
eu vim, cheguei pra ele, depois, muito tempo depois ele chegou pra mim mas minha
mãe falou que não ia colocar a gente em colégio público porque apesar de tudo era
filha, e que ele queria ver o bem da gente, foi aí que eles falaram, deram várias idéias
de colégio e tal, foi aí que eu e minha mãe foi procurando, chegamos até o Águia e eu
fui estudando, fui estudando mas sentindo aquela diferença como eu já tinha falado,
aquela diferença de, de ensino do Santana pro Águia, mas eu consegui, apesar de eu
estar repetindo eu consegui ir pra, passar né, apesar de ter ido pra duas finais, que eu
fui pra final de matemática e final de geografia, mas eu acho, eu acho que eu não fui
assim porque eu, “ah, não estudou, estava repetindo e não estudou”, eu acho que foi a
diferença mesmo, porque eu estava repetindo de ano e estava saindo de um colégio e
indo pra outro, o outro bem melhor do que o anteriormente que eu já estava, então
acho que foi por causa disso.
DOC : Quais são as disciplinas que você gosta mais, e quais as que você realmente acha
que não, não tem jeito, não gosta?
12:
A que não tem jeito, que eu não gosto é física (risos), física e matemática, essa daí,
português e espanhol eu, eu adoro, se eu pudesse o meu campo de trabalho seria
indo pra português e espanhol, mas física e matemática não tem jeito.
DOC : Você diz se pudesse por quê? Não pode?
12:
Não, porque veja bem, eu tenho assim uma coisa assim com a área de saúde, e se eu
passar, se eu passar não, espero que eu passe né, numa dessas áreas de saúde, em
qualquer uma, eu não, eu acho que eu não vou ter assim muito estudo de espanhol
né, de português, eu vou ter estudo de outras coisas, então eu gosto muito de
português e espanhol, se eu tivesse hoje condições eu estaria num curso de espanhol
pra me aprofundar mais, quem sabe até estar falando espanhol depois assim, mas
física e matemática não tem jeito não, eu acho que eu já coloquei na cabeça que eu
não gosto da matéria, e olhe que eu tenho pego até professores bons viu, esse
professor meu mesmo agora aqui de física e de matemática são ótimos professores
mas não tem jeito não, é muito...
DOC : Eh, você já, já está se predispondo né, já achando que não, não aprende, é isso?
12:
Eu acho que eu já coloquei na minha cabeça que eu não vou aprender, eu acho que
realmente eu já coloquei, e agora eu tive uma decepção em física e matemática, nesse
último vestibular agora eu fiz menos do que eu deveria ter feito, aí eu, meu Deus, eu
acho que não tem jeito não. E olhe que as outras matérias, as outras disciplinas eu até
que não saí bem, mas física e matemática eu, fui assim horrível.
DOC : Pontuação fraca?
12:
Foi.
DOC : Então por isso mesmo tem que se dedicar mais.
12:
É, tem que me dedicar mais, já vieram, já vieram me falar, mas é isso meu Deus...
DOC : Pra tirar essa agonia da cabeça...
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Só vendo aquele negócio de física, de matemática.
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DOC : A escola pequena você, ou pequena ou já maior, você se lembra de alguma coisa que
você tenha sido injustiçada na escola, que alguém fez e disse que foi você ou você se
sentiu chateada porque gostaria que fosse de um jeito e foi de outro? Lembra assim de
alguma coisa?
12:
Injustiçada.
DOC : Já foi castigada alguma vez na escola?
12:
Não.
DOC : E em casa?
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Ah, em casa, em casa já, em casa várias vezes.
DOC : Lembra assim de algum castigo?
12:
Já, uma vez mesmo, olhe, eu tinha ido pra uma festa, até com a minha irmã, com
minhas amigas, aí voltei, no outro dia minha mãe recebe um telefonema dizendo que
eu tinha ficado lá com um menino lá, que o menino que não era a minha entendeu,
um menino que, da ilha, ele mora até aí no Chácara também, um menino assim,
vamos dizer assim desordeiro, a minha mãe não quis nem saber, não quis nem
perguntar, “você ficou com esse menino?”, ah, já foi logo assim me acusando, aí eu
“minha mãe...”, me explicando, precisou até de minha irmã falar, das meninas, de
chegar, “minha tia, não, não aconteceu isso não, isso é, é gente, meninas lá com
inveja, porque a gente chega tudo bonitinha, arrumadinha, fica com inveja, os
meninos fica lá paquerando a gente, a gente não quer nem saber de nada, quer mais é
curtir a festa, e aí minha mãe, “minha mãe, pelo amor de Deus”, ela ficou, eu sei que
a minha mãe ficou dois dias falando isso pra mim, “olhe minha mãe, eu não vou
nem responder mais porque eu não tenho, que nada, eu quero o melhor pra mim, eu
vou ficar com uma coisa daquela minha mãe, pelo amor de Deus”.
DOC : Mas assim algum castigo de surra?
12:
De surra?
DOC : Sim.
12:
Eu não vou mentir não, minha mãe de vez em quando dá, (risos), não vou mentir
não mas de vez em quando dá.
DOC : (risos) E o que é que você acha disso? Está certo, errado?
12:
Eu não, eu acho que está errado, eu sempre falo assim pra ela, “ah, um dia eu vou
ser mãe, um dia eu vou ter meus filhos, e não vou nunca bater neles”, eu não sei o
dia de amanhã, se eu estou falando isso errado, mas eu acho que surra, bater não
leva a nada, eu acho que quanto mais ela me, aí é que me dá mais vontade de fazer,
e eu não sei, sei lá, eu acho que eu estou grande demais, até que, tem uns seis meses
que ela já não, não vai em cima de mim né, mas eu acho que se ela chegasse pra
mim, “olhe, não faça isso, não diga pra tal lugar, não, não faça nada disso porque aí
eu vou descobrir”.
DOC : E o que é que você faz?
12:
É isso, porque as vezes eu falo pra ela assim, “minha mãe, deixe eu ir pra tal lugar”,
ela, “não, você não vai”, aí eu ligo pras meninas, não sei o que, não sei o que, a
gente começa a marcar, e tal, aí elas ligam pra minha mãe, depois minha mãe vem
buscar (...inint...), pá em mim, mas isso já tem um tempinho né, isso já tem um
tempinho.
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DOC : Você vai escondido?
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Isso já tem um tempinho, eh, eu ia, saía muito escondido, muito mesmo, aí depois a
minha mãe, ai meu Deus, (...inint...), mas acho que é por isso, isso já tem um tempo,
não saio mais não, não saio mais escondido não, acho que eu saía porque....
DOC : Quem é que desobedece mais, você ou a sua irmã?
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Ah, minha irmã, se for pra questão de desobedecer é minha irmã, minha irmã deso,
meu, meu pai hoje em dia fala assim, “suba dez horas”, dez horas eu já estou lá,
“ligue quando estiver na rua”, toda hora, eu já ligo até mais do que deveria ter
ligado, e ela não, ela sai, não liga, ela chega dez e meia, onze horas, minha irmã é
mais assim ovelha negra.
DOC : Você acha que por ser mais nova é mais rebelde?
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Eu acho que não, eu vejo tantas, tantas famílias aí que eu conheço que as meninas
mais novas são mais responsáveis do que as mais velhas, eu acho que é porque a
minha, minha irmã já tem um signo sabe, um jeito assim mesmo de, eu acho que ela
puxou muito a madrinha dela, a madrinha que é assim, até hoje é assim.
DOC : Como é a madrinha dela?
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A madrinha dela trabalha na, na Telemar né, tem a profissão de vida assim, tem um,
uma vida assim hoje legal, tanto que as vezes ela vai pra lá, mas quando essas duas se
juntam é muita festa, a, de vez em quando ela liga pra lá, aí minha tia que é a mãe
dela diz, “ah, R... ainda está dormindo porque chegou nesse instante, não, não tá”, e
tem um filho viu, e tem um filho, deixa o filho com a mãe e vamos sair, vamos curtir,
não é casada é mãe solteira.
DOC : A madrinha?
12:
É, a madrinha dela.
DOC : Você acha que a madrinha influencia.
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Não, não é que influencia, eu não achei que, que influenciou porque, é, pode até ser
né, porque, sei lá, elas lá, as vezes minha irmã passa muito tempo com a madrinha
dela, assim finais de semana, férias, aí possa até ser que lá, ela lá enfiada está
influenciando, mas eu não, assim, eu acho assim que ela puxou.
DOC : Puxou.
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Hereditariamente assim entendeu.
DOC : Mas não é parente.
12:
Não, ele é parente sim, ela, a madrinha dela é sobrinha de minha mãe.
DOC : Ah, então tem alguma coisa.
12:
É, tem alguma coisa, é sobrinha de minha mãe, é minha tia, é minha prima também.
DOC : (risos) E você, e você acha que é mais influenciada mais por quem?
12:
Influenciada, eu não acredito que eu sou influenciada não, eu não acredito não,
porque eu mudei sabe, eu mudei mesmo de um tempo pra cá, eu, como eu estou
dizendo, eu, a qualquer pessoa que me pergunte, “você saía escondido?”, “ah, saía
muito”, porque as vezes a minha mãe não deixava eu tinha que sair, eu acho que é por
isso mesmo que quanto mais o pai mais a mãe diz não, não, não vai, aí mais que o
filho, “porque não está deixando nada? Tenho que descobrir qual é o problema”, eu
tenho essa, essa tese assim na minha cabeça, então hoje em dia que eu chego mais,
converso mais com a minha mãe, “olhe minha mãe, está acontecendo isso, isso”, “ah,
tudo bem”, aí eu não posso fazer assim, mas até mesmo antes eu nunca fui, nunca fui
influenciada não, sempre quando eu queria fazer é porque eu quero mesmo, eu ia e
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fazia, mas até hoje, agora hoje eu converso mais com a minha mãe, ela, não tem
assim problemas não.
DOC : Você falando assim conversa mais com a mãe, você acha que as mães de modo geral
conversam o necessário com os filhos? Ou poderia ser diferente? O que é que você
acha?
12:
Olhe, eu acho que tem algumas que conversam e tem outras, eu acho que é metade e
metade de cada, que por exemplo, eu tenho muitas amigas, e dessa muitas amigas
que eu tenho algumas conversam, abrem o jogo e falam de tudo, outras, eu tenho
uma amiga mesmo que ela tem dois irmãos, ela não pode dizer em casa que ela está
menstruada porque o pai não pode saber, os irmãos não podem ver, os irmãos, se ele
estiver trocando de roupa ela tem que trancar a porta porque, ai se o irmão abrir a
porta e pegar ela, algum lance dela, parece que é uma pessoa estranha, eu não digo
que ela troque de roupa na frente do irmão porque ela já está uma mulher, os irmãos
também está homem, mas irmão né, não sei, eu acho que de vez em quando assim
pode abrir a porta e pegar um negócio e tal, não, é assim muito, tudo escondido...
DOC : Então você...
12:
Eu lembro quando ela ficou mocinha ela ligou pra mim, “olhe, fiquei moça e tal”,
mas o pai não sabia, a mãe não sabia também, era aquele...
DOC : Ficou escondido.
12:
Aquele esconderijo, então eu acho assim que tem algumas amigas minhas que tem
mãe que conversam sobre tudo e têm outras que já é até pior, mas a minha hoje eu
converso com ela, porque eu acho que até fui eu que mudei a cabeça dela, até mesmo
também porque ela estava assim, ela me dizia não e eu ia, então que acho que ela foi
assim parando e pensando, aí minha mãe melhorou bastante, agora meu pai ainda
continua, meu pai não tem jeito não, meu pai eu acho que é super proteção demais,
um ciúmes demais, eu acho que ele quer ver as filhas dele só pra ele, que vai morrer
ali com ele pra sempre, eu já falei com ele, “meu pai, meu pai, você, olhe, pai e mãe
cria filho mas não é pra você não, é pro mundo”, ele vem e me fala, “você está
querendo sair de casa, não sei o que”.
DOC : Pega muito no seu pé com namorado?
12:
Meu pai pega, pega, o que? Isso daí é o fator principal, é o que ele pega mais, ah, ele
pega sim, pega, ele não já disse já, que eu estou estudando que não é pra eu sair pra,
pra lugar nenhum, com ninguém, principalmente com o namorado, com ninguém, é
pra ficar em casa, toda hora ele inventa lá um, um filha de amigo que passou no
vestibular mas esqueceu o namorado, esqueceu tudo, esqueceu aquilo, aquilo, e olhe
que eu não sou muito de sair viu C..., eu gosto muito assim de ir como eu tinha falo,
gosto, se eu pudesse todo final de semana eu estaria no cinema ou no tea, no teatro,
eu digo se eu pudesse eh que dinheiro também né, porque ir pra cinema e teatro
também tem que ter dinheiro né, mas eu não sou muito assim de sair de noite, noite
não é comigo, é mais com (...inint...), mas comigo, comigo não é, aí meu pai já
fica...
DOC : Você me disse que teve muito contato com a sua avó né, pequena, não é?
12:
Ah, tive.
DOC : Passa férias, algum período de férias, ela mora aqui em Salvador? Morava?
12:
Mora, mora no Bonfim.
DOC : Mora, você se lembra assim de algum período de férias com ela? Ou de alguma
viagem você pequena?
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12:
Não, viagem com meu, com meus avós (...inint...)....
DOC : Ou pra casa dos avós?
12:
Mas já fui pra casa de meus avós, sempre passava férias com, eu, minha irmã né,
sempre passava, ou então de vez em quando a minha irmã ia, ou então, mas meu avô
assim, meu avô me ama, ama, ama, minha avó também, por sinal além meus avós,
são meus padrinhos também, então comigo é aquela coisa, é neta mais velha,
afilhado, então tudo é aquele chamego, por sinal até meu outro, meu outro primo né,
que também é neto deles, sempre fala, “ah, eu queria ser G....”, G... é porque me
chamam de G..., “porque, Ave Maria, tem tudo, e não sei o que”, eu gosto muito de,
não como feijão, de jeito nenhum, eu pareço que eu sou descendente de italiano,
porque eu adoro massa, é lasanha, é pizza, não sei o que, aí eu digo pra meu avô,
“meu avô estou indo pra aí”, quando eu chego lá está lasanha, está pizza, está tudo
pra mim, aí ele sempre tem aquele ataque de ciúmes assim mas, eu já disse pra eles
que os avós é repartido, eu reparto para todos, mas eu sempre ia muito, hoje em dia
não porque meu avô tem problema de, de hipertensão, e minha avó está com
problema de coluna então ela não, não está andando mais né, ela anda com muletas,
até que tem uns dois meses que ela não está andando de jeito nenhum, ela está
mandando, porque além das muletas, ela infelizmente quebrou o pé, aí foi uma barra
assim pra gente, então, mas eu já fui muito pra cinema, eu saía mais...
DOC : Eles moram sozinhos?
12:
Moram, moram sozinhos, minha mãe que agora tem, tem uns seis meses, que a
família de minha mãe é muito pequena né, esses avós que eu estou falando, porque os
outros avós por parte de, de pai, já são falecidos, minha mãe, minha avó por parte de
pai faleceu de parto, e meu avô faleceu tem dois anos, foi horrível também, foi em
São João, eu não estava nem aqui, estava no Arraiá quando o celular tocou.
DOC : O Arraiá da Capitá?
12:
É, foi horrível.
DOC : Está certo, mas me conte uma outra coisa, pequena sobre as brincadeiras, eu falava
de você pequena, eu queria saber quais eram as brincadeiras mais comuns da sua
época de menina pequena?
12:
Boneca, adorava brincar de boneca, adorava fazer bolinho, não sei o que de areia, e
um monte de coisa que eu inventava aí, pegava, eh, florzinhas, rosas amarelas, não sei
o que, inventava, fazia o bolo, cantava parabéns, cheguei até uma vez, enchi a cabeça
tanto de minha mãe, que disse que a minha boneca estava fazendo um ano de
aniversário, oh meu Deus eu me lembro como hoje, que minha mãe teve que fazer um
bolo de verdade, pra eu chamar minhas colegas com as outras bonecas, e foi uma
bonecaria em cima da mesa cantando parabéns, hoje eu paro assim e penso, meu Deus
que tempo bom viu, naquele tempo a gente não tinha preocupação com nada, só fazia
estudar, não tinha mais nada, era, oh meu Deus que maravilha.
DOC : Tinha alguma boneca especial de que você gostasse mais?
12:
Tinha sim, a poeminha que eu botei o nome dela de, de M...., tinha sim, ela, até hoje
ela está lá no meu, que minha cama tem um baú, até hoje ela está lá no meu baú.
DOC : Você guarda ainda seus brinquedos?
12:
Ah, guardo sim, tenho todas as bonecas lá guardada, todas, tanto eu como a minha
irmã, todas, brinquedo não, mas a gente teve um negócio aí de um hospital, minha
mãe, eu esqueci agora, a gente veio e doou todos os brinquedos né, brinquedos
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assim, mas boneca não, as bonecas eram tudo lá guardadas no armário, tudo de saco,
de vez em quando a gente tira os vestidos, que as vezes fica com...
DOC : Cheirando.
12:
É, cheirando né, a gente vem e tira, e lava, depois veste de novo, penteia o cabelo,
eu tenho o maior carinho, e de brincadeira assim de rua, eu não andava muito na rua,
sempre minha mãe né, nunca criou os filhos dela, as filhas dela sempre dentro de
casa, mas de vez em quando de tardinha, dia de sábado, assim depois de fazer o
exercício descia com as meninas, mas era brincadeira de esconde-esconde, de
baleou, nada pesado, agora a minha irmã quando ia pra casa de minha avó, subia na
casa e fica empinando arraia, era ela com os meus dois outros primos, mas eu nunca
fui de empinar de arraia, nada dessas brincadeiras de masculinas.
DOC : E eles, eles faziam mais que outras brincadeiras, que outros tipos de brincadeiras?
12:
Quem?
DOC : Esses seus primos.
12:
Ah, meus primos gostavam de gude, minha irmã estava lá no meio da gude, gostava
de brincar de fute, de bola, minha irmã estava lá também, minha irmã um dia minha
mãe em casa, aí a professora veio ligou dizendo que era pra minha mãe pegar minha
irmã no colégio Ferreira Santana porque ela jogando bola tinha caído e tinha ralado
o joelho, aí a minha mãe veio, chegou lá, “menina o que é isso menina?”, aí falou
com a professora, “olhe, quando ela inventar, que ela tem essa coisa masculina
assim dela, quando ela inventar de jogar bola não deixa, gude não deixa não que eu
não estou gostando dessa idéia”, mas sempre minha irmã não teve jeito não, mas eu
nunca gostava muito de brincar.
DOC : E comparando as brincadeiras dessa sua época com as de hoje você, você acha que
mudou muita coisa?
12:
Eu acho que mudou, eu acho que mudou porque eu tiro por lá pelo onde eu moro, as
vezes eu chego assim na janela e vejo assim, eu lembro que o meu primeiro beijo foi
com quinze anos de idade, hoje eu vejo mães de doze anos, lá no Chácara o que não
tem é meninas tudo pequenininha assim que tem onze, doze anos, quando a gente
desce assim as vezes pega elas falando só de gatinho, um menino da escola, o menino
dali, o menino daqui que deu o beijo, eu fico assim, meu Deus como o tempo mudou,
as vezes eu chego até com as minhas colegas, as, as minhas amigas as vezes que a
gente vai descer...
DOC : As conversas são outras.
12:
As conversas são outras, totalmente diferentes, antigamente a gente tinha medo, por
exemplo, se a gente tivesse falando de algum menino pra mim a minha mãe estava
atrás de mim, a mãe dela estava atrás dela, estava todo mundo ali ouvindo, e hoje em
dia não, a gente, a gente ficou, nós brincamos, minha irmã mesmo com esse negócio
todo mas minha irmã chupou chupetinha, biquinho até treze anos de idade, eu não, eu
fui até os cinco porque eu cheguei um dia no médico, e a médica falou, “ainda está
chupando bico? Vai ficar com o dente dentuça”, quando eu cheguei em casa eu deixei
o bico lá, “minha mãe, eu vou ficar dentuça”, deixei e pronto, não quis mais saber de
biquinho, mas minha irmã chupou chupeta até treze anos de idade, as conversas são
totalmente diferentes, mudou, pra mim mudou mesmo.
DOC : Televisão você acha que, que influencia?
12:
Que influencia? Influencia.
DOC : Que tipo de influência você acha que dá?
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12:
Eu acho que influencia, eu acho que influencia, eu acho, eu vejo assim, por
exemplo, tem esse programa mesmo Malhação, que é a tarde, se você fosse perceber
só, teve uma época aí que só estavam falando de sexo, de, tudo bem que estavam até
falando assim, sexo só com camisinha, mas e as crianças, porque num horário
desses muitas, muitas crianças, as crianças estão tudo em casa, vendo, eh, sentada no
sofá assistindo televisão, quer dizer já deve estar assim, “o que é isso, o que é
aquilo”, eu acho que influencia muito, as novelas hoje em dia só vê assim, vira e
mexe só vê transa, vira e mexe só vê transa, eu acho que está falando um programa
como o meu tempo que tinha o Sítio do Pica Pau Amarelo, que eu me lembro como
hoje, a minha mãe dava banho na gente, as outras mães davam banho e aí a gente ia,
esse tempo eu ainda tomava até mamadeira (risos).
DOC : (risos)
12:
Tomava, eu assistia o programa e a gente tomava mamadeira, tinha os Trapalhões,
tinha muito filme né, tinha tanto desenho animado, mas eu, eu me lembro assim dos
Trapalhões e do Sítio do Pica Pau Amarelo, Amarelo, que eram dois programas, o
Sitio mesmo era, era cultural né, gostava muito de assistir, tanto eu.
DOC : Você acha que eram programas mais educativos, e eram mais leves também né.
12:
Eram educativos e mais pra criança né, eu acho que a criança está precisando disso,
de programas assim.
DOC : E esses programas infantis tipo Angélica e Xuxa, o que é que você acha disso?
12:
Xuxa eu não vou falar não porque eu sou, eu sou, sabe, baixinha dela, eu não vou
falar nada de Xuxa não, ali é minha rainha, mas eu acho assim, que um programa
infantil é o de Eliana da Record, porque eu vou falar, nem o de Xuxa, nem o de
Angélica pra mim é infantil, infantil não, por exemplo tem eh, eu não ia falar dela
não, mas tem alguns tempos, eu adoro ela, amo, mas...
DOC : Não, independente de você gostar...
12:
Mas tem alguns pontos que, por exemplo, no Xuxa Park né que é dia de sábado tem
o intimidade mirim né, que vai as cri, as crianças famosas pra ela fazer intimidade,
perguntar tudo, aí de vez em quando vai umas crianças meu Deus, Xuxa pergunta de
namorado? eu não sei, eu não sei se eu não, se minha cabeça ainda está meia coisa,
naquele tempo como eu estou falando eu brincava de boneca, não pensava nem, não
sabia o que era isso, nem tocava no assunto, ela fica perguntando de namorado pra,
pras crianças ainda, Angélica com um programa infantil que eu acho até já infantil
demais, um negócio assim meio, não tem nada ali de cultural, nada que ensina nada
pra ninguém, a, não tem um, uma postura de apresentadora eu acho.
DOC : E esse, e esses bonequinhos novos que estão na televisão?
12:
Esse Telletubies?
DOC : Sim, o que é que você acha.
12:
Até que eu gosto do telletubie (risos)
DOC : (risos)
12:
Até que eu assisto telletubies assim, até que eu gosto dos telletubies, mas eu acho
que aquilo ali é pra bebê né, eu fico pensando assim, meu Deus eu acho que é pra
bebê porque a palavra com que, com que eles falam eu acho que só bebê que fica só
assim, porque eu acho que a criança quando está crescendo, por exemplo, eu tenho a
minha, minha afilhada mesmo que, eu perguntei agora pra ela se ela queria a festinha
dela de telletubies, ela disse que não, que não queria não, aí a minha tia veio, eu
perguntei, “oh minha tia, não é possível toda criança está gostando dos telletubies”,
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“ah não”, I... que é um primo meu, que é bebezinho, tem uns oito meses assim gosta
dos telletubies, fica por eu acho que a linguagem dos telletubies é pra bebê, mas já pra
F... que já tem três anos, quatro anos, eu acho que não, está muito assim, não, eu acho
que esse telletubies também eu não gosto não, eu assisto mas é eu acho que é muito
pra bebê.
DOC : Você acha que é o que, que é besta?
12:
Eu acho que é besta demais, eu acho que é mais pra bebê, não pra criança assim, eu
acho que está faltando mesmo, eu até fiquei feliz outro dia que eu peguei a revista
da tv e vi que em, em dois mil e um vai voltar o Sítio do Pica Pau Amarelo né, aí eu
cheguei pra minha mãe e falei assim, “ah minha mãe eu vou voltar a assistir em dois
mil e um”, mas olhe...
DOC : Dois mil e um.
12:
Ainda vou passar dois mil, dois mil e um pra começar e olhe lá se vai começar em
dois mil e um mesmo, mas eu acho que está faltando programas assim.
DOC : Ainda dentro dessa parte, comparando escola (...inint...), ou ainda em televisão, acha
que explora muito a questão desses grupos de pagode, de dança, de festa, dessas
coisas pra meninada, você acha que isso é bom?
12:
Se eu disser que é bom, a gente tira por elas né, por exemplo, eu citei agora mesmo
aqui o nome da minha afilhada, eh, eh....
DOC : Gostam, elas gostam?
12:
Adora, adora, adora, adora, adora, na festinha dela tinha que ter o Tchan lá...
DOC : O Tchan.
12:
Pra ela dançar, o primeiro aninho dela ela ficou dançando aquela música do Tchan, a
gente ficou besta, a gente filmou, tirou foto, ela ficou dançando, eu acho que, eu não
sei, eu acho que já está na televisão, elas estão mesmo assistindo não vai ter jeito do
pai mais a mãe desligar, de prender pra não, pra não ver.
DOC : E as crianças aprendem rápido aquelas coreografias todas né?
12:
Rapidinho, rapidinho.
DOC : Tá certo, mais ainda só pra concluir aqui, eu quero perguntar o seguinte, em relação
a escola, as escolas antigas com as escolas atuais, fardamento, você acha que
melhorou, piorou, você gostava de que da escola, ou não gostava de alguma farda,
achava que era feia ou queria alguma coisa mais bonita? Como é...
12:
Eu sempre tive um sonho de ter a farda que a minha teve né, que muitas mães de
minhas amigas teve, que era aquela saia plissada com aquela blusinha branca, com a
gravatinha, eu achava que aquilo ali que era fardamento escolar, eu não sei, eu
achava, vi muitas fotos de minha mãe, outro dia eu estava olhando, aquilo ali que
era fardamento escolar, eu acho que hoje em dia com calça jeans...
DOC : As fardas antigas né?
12:
É, aquelas fardas antigas, eu acho que hoje em dia aquelas, essas calças jeans com
uma blusa só com o escudo aqui do colégio eu não acho não, eu acho que já, já
deveriam liberar esse negócio de farde, eu não sei, eu acho assim que é até uma
segurança, que no outro dia eu fico, eh, na vez que eu estava no Águia aí chegaram
pra mim, a coordenadora e alou que era um tipo de segurança, mas eu acho que pra
ladrão existe, as vezes você vê ladrão vestido de policial, ladrão vestido de carteiro,
eles não podem também arrumar uma farda pra eles vestir?
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DOC : Ladrão também vestido de estudante né.
12:
É, aí eu achava que aquilo ali que era farda, as fardas antigas, eu tive sempre o
sonho, ou então a farda do colégio militar, pra que uma farda tão linda daquela? eu
sou apaixonada por aquela farda do colégio militar, acho arrumadíssima.
DOC : E os sapatos de antes e de hoje, em relação a escola e até a mudança mesmo?
12:
Aquele sapato boneca, é isso, aquela farda antiga com aquele sapatinho boneca, com
aquela meia branca, era lindo demais, hoje em dia você vai de tênis, noutro dia eu
acompanhei uma estudante, eh, ela estava com o sapato vermelho, quer dizer o
sapato vermelho (...inint...), ela ia pro colégio com o sapato vermelho, eu falei
assim, “não, não é possível que ela vai sair porque ela está com a blusa do colégio,
ela deve estar indo pro colégio, está indo ou está voltando pro colégio né”, com
sapato vermelho, eu falei assim, “meu Deus ela chegando pra esse colégio o porteiro
vai deixar essa menina entrar pelo amor de Deus?”
DOC : Bem diferente né?
12:
É, bem diferente.
DOC : Mas é porque talvez acompanhando mais a modernidade né.
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A, a modernidade.
DOC : Mais liberal né.
12:
Mais eu acho que sei lá, sapato vermelho está bem assim mais pra sair né, eu
também estou com um sapato vermelho lá né, mas visto com uma blusinha
vermelha pra sair, mas não pra ir pro colégio, sapato vermelho, eu não sei, eu acho
que o colégio pede mais um, um tênis.
DOC : Uma coisa mais discreta.
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É, uma coisa mais discreta.
DOC : Está certo, agora em relação a, a educação no futuro, você pensa que a, de agora
melhorou, piorou, o que é que você acha que você vai projetar pra seus filhos? É o
que está aí ou você quer alguma coisa de diferente?
12:
Não, não, eu acho que eu vou querer alguma coisa diferente sim, acho que sei lá, eu
acho que a Bahia está faltando mais universidades assim, vou já vou logo entrar na,
no fato de universidade né que eu estou nesse meio agora né, estou nessa luta aí pra
conseguir uma vaga e estou vendo que está difícil que eu não vou uma pessoa que
gosta de sair, eu estou lá estudando, e as vezes eu, tem gente que não está estudando e
que já está lá dentro, aí eu para assim e penso, meu Deus o que é que está
acontecendo? Então eu não sei, eu acho que pra os meus filhos eu vou querer assim,
que ele, que ele nasça já com mais universidades, com mais campo de trabalho, que
tenha mais vagas, porque eu acho assim um absurdo as vezes você, ah esse curso
aqui, quando a gente vai olhar trinta vagas pra não sei quantos mil concorrentes.
DOC : Aí fica difícil né?
12:
Vai ficar difícil, fica difícil, como está difícil pra eu e pra muitas pessoas aí
entrarem, então espero que na época deles tenha mais universidades, mais cursos,
mais vagas como Rio, São Paulo, Rio, São Paulo tem n universidades, tem n cursos,
n vagas, aqui na Bahia não tem, tem nada, e que tenha mais, e que nasça mais
universidades federais e estaduais né, porque particular está até crescendo, está todo
ano agora a gente está vendo aí mais uma né...
DOC : Mais uma, mais uma...
12:
Mais uma, mais uma, administração, quem for fazer administração mesmo está
beleza, que administração agora, o que não falta é universidade com, que tenha
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administração, o que não falta, todas que estão abrindo agora tem que ter
administração, tem administração, então pra adm agora está beleza quem faz, então
eu quero que na época dos meus filhos tenha mais universidades agora federais e
estaduais porque, por exemplo, na minha casa mesmo que são duas filhas pra pagar
duas universidades particular não dá, ou, ou não entra ou as duas vai pra estadual, ou
não, vai ser assim um suor mesmo.
DOC : É, que existam outras oportunidades né?
12:
É.
DOC : Está bom, obrigada.

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