APRENDA A UTILIZAR AS FUNÇÕES DA SUA CALCULADORA
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APRENDA A UTILIZAR AS FUNÇÕES DA SUA CALCULADORA
Comunicação Oral PROTAGONISMO INFANTIL DENTRO DO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS Regiane Soranzo1* Ranieri Emanuele Mastroberardino2* Profª. Drª. Paula Garcia de Freitas3 Eixo Temático: A docência na escola e na formação de professores. Resumo: Este artigo visa a apresentar algumas atividades elaboradas para o ensino de italiano a alunos de 9 e 10 anos que participaram do projeto desse idioma vinculado ao Programa Licenciar da UFPR, e a avaliar seus respectivos resultados ao proporcionar (ou não) o chamado protagonismo infantil (RABELLO, 2009). Tais atividades foram preparadas e ministradas pelos autores deste artigo e procuravam focalizar as diferenças culturais, geográficas e históricas entre o Brasil e a Itália por meio da promoção do protagonismo infantil, isto é, buscando reconhecer a criança como pilar central do processo de ensino e aprendizagem, instigando-a a resolver qualquer tipo de problema colocado em sala de aula e, assim, capacitando-a a gerenciar sua própria aprendizagem. Entretanto, houve atividades que não proporcionaram o protagonismo infantil, gerando situações de constrangimento ou de falta de motivação dos alunos para realiza-las. Nesses casos de insucesso, parece que a causa está relacionada à falta de conhecimento-prévio ou de argumentos para o posicionamento em relação ao conteúdo abordado. Diante dessas constatações, iniciamos este artigo discutindo o conceito de “protagonismo infantil” e evidenciando o que a literatura sugere para o fomento do seu desenvolvimento; em seguida descrevemos a experiência que tivemos ao elaborar e aplicar as atividades para o ensino de italiano, comentamos algumas que foram capazes de promover o protagonismo infantil e outras que não foram e concluímos este artigo reconhecendo que as atividades capazes de proporcionar o protagonismo dos agentes foram aquelas que exigiram ações imediatas por parte dos estudantes, que incentivaram a tomada de decisões e uma participação mais efetiva dos envolvidos. Em contrapartida, observamos que quando questionados sobre temas abstratos ou pessoais, os alunos sentem dificuldades em realizar as atividades 1 Universidade Federal do Paraná, Letras – Português-Italiano, [email protected]. Universidade Federal do Paraná, Letras – Português-Italiano, [email protected]. 3 Doutora em Linguística, Universidade Federal do Paraná, [email protected]. 2 Comunicação Oral propostas, sendo, portanto, necessário, que o professor explore melhor o conhecimento de mundo dos alunos para então conseguir promover mais efetivamente o protagonismo infantil. Palavras-chave: Ensino de língua estrangeira. Protagonismo Infantil. Língua Italiana. INTRODUÇÃO Este artigo discute o conceito de “protagonismo infantil” e a tentativa de colocá-lo em prática durante a nossa participação no projeto “Intercultura nas escolas: o italiano como língua e cultura estrangeiras na rede pública de ensino” vinculado ao programa Licenciar da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O objetivo desse programa é o de proporcionar uma “articulação entre alunos e professores do ensino de graduação, dos cursos de licenciatura e os professores e alunos da Educação Básica da rede pública de ensino” (BRITO, 2012, p. 8). O projeto de italiano é resultado de uma parceria com a Secretaria Municipal de Curitiba e prevê a atuação dos licenciandos do curso de Letras-italiano no contra-turno das poucas escolas da rede municipal de Curitiba (PR) que atendem alunos do 5º ao 9º ano e em algumas de ensino Fundamental I. Nossa experiência se deu na EM Durival Britto e Silva com alunos de 9 e 10 anos que frequentavam o 3º e o 4º ano do Ensino Fundamental I em 2014 e 2015. Nessas turmas procuramos promover o protagonismo infantil ao apresentar diferenças culturais, geográficas e históricas entre o Brasil e a Itália. Nesse sentido, este artigo apresenta algumas atividades que tiveram êxito na promoção desse protagonismo e outras que não, levando-nos a refletir sobre a nossa prática como (futuros) professores de língua italiana. Faz-se necessário, então, discutir o conceito de “protagonismo infantil” e maneiras de propiciá-lo na sala de aula de LE, o que fazemos na fundamentação teórica deste artigo, e relatar a nossa experiência, que conduz para uma interpretação dos resultados, presente na conclusão deste trabalho. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Conforme o artigo 205 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL, 1988): A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Dessa forma, observamos que a educação tem como principal objetivo ajudar no desenvolvimento do indivíduo como cidadão, prioritariamente, para que consiga exercer seu papel na sociedade. E esta mesma sociedade possui o dever de disponibilizar as ferramentas necessárias para o desenvolvimento do ser. Conforme Teixeira (1967, p. 14), Comunicação Oral Para que essa experiência se faça em condições apropriadas, a sociedade terá de oferecer a todos os indivíduos acesso aos meios de desenvolver suas capacidades, a fim de habilitá-los à maior participação possível nos atos e instituições em que transcorra sua vida, participação que é essencial à sua dignidade de ser humano. Fica claro que uma participação mais ativa do indivíduo em sociedade é uma questão de dignidade, um direito fundamental. Assim, ele possuirá um pensamento mais crítico em relação à comunidade em que está inserido e terá uma maior consciência dos atos e responsabilidades que deverá assumir quando adulto. Com base nisso, o papel da escola e do professor é extremamente importante para o desenvolvimento das capacidades para o pensamento crítico, para a compreensão do espaço político-social e para a autonomia intelectual dos cidadãos em formação. Este tipo de abordagem enxerga o estudante como um ser não passivo e que deve se tornar mais atuante no meio em que está inserido. Conforme o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” de 1932 (republicado por AAVV, 2006, p.191), A educação nova que, certamente pragmática, se propõe ao fim de servir não aos interesses de classes, mas aos interesses do indivíduo, e que se funda sobre o princípio da vinculação da escola com o meio social, tem o seu ideal condicionado pela vida social atual, mas profundamente humano, de solidariedade, de serviço social e cooperação. Pode-se dizer, então, que a chamada “educação nova”, à qual as escolas devem se adaptar, visa primordialmente o desenvolvimento do capital humano, encorajando as novas gerações para uma participação mais ativa no âmbito político-social de sua comunidade, direcionando seus ideais e ativismo para o bem comum através da solidariedade, do serviço e da cooperação. Isso não somente vai ao encontro ao artigo 205 da Constituição da República Federativa do Brasil já citado neste artigo, como também procura garantir o direito e o dever ao exercício consciente da cidadania na escola, tendo o professor um papel extremamente importante no incentivo dessa “educação nova”. Mas como é possível realmente preparar os alunos para o exercício da cidadania? Uma maneira é promover o “protagonismo infantil”, ou seja, considerar a criança como o pilar central da sala de aula, como parte da solução para as atividades (RABELLO, 2009, p.01). Na prática, pode-se dizer que o professor incentiva o protagonismo infantil quando cria oportunidades para que o aluno participe mais efetivamente de sua aprendizagem, e, assim, poderá habituar-se a questionar, argumentar e solucionar os problemas apresentados a ele. Segundo Da Silva (2009), o protagonismo busca promover uma relação dinâmica entre conhecimento, participação, responsabilidade e compromisso. Segundo Costa (2000), o protagonismo é uma proposta pedagógica de atuação dos alunos como personagens principais de uma ação voltada para a solução de problemas imediatos. Tal explicação se alinha com o que a Linguística Aplicada propõe para o ensino de línguas estrangeiras atualmente: por meio da resolução de problemas imediatos, analisados com base no conhecimento prévio do aluno, mas discutidos e apresentados na língua estrangeira, ocorre à aprendizagem desse idioma e de aspectos que os alunos não conheciam anteriormente. Em nossa experiência em sala de aula, procuramos oportunizar o protagonismo infantil por meio de atividades para o ensino do italiano e de aspectos da cultura do país que fala essa língua. Houve momentos em que tivemos êxito e, outros em que tivemos que repensar a nossa prática como professores, como poderemos avaliar nas sessões a seguir. Comunicação Oral PROTAGONISMO INFANTIL EM PRÁTICA Em nossas aulas de italiano, foram muitos os casos em que tivemos êxito em proporcionar o protagonismo infantil, principalmente quando partimos de sugestões dos próprios estudantes para apresentação dos conteúdos. Por exemplo, durante uma atividade que apresentava o vocabulário dos números em italiano, surgiu uma curiosidade por parte dos alunos em saber como as crianças italianas brincavam. Esse questionamento nos levou a pesquisar quais eram os jogos e brincadeiras mais famosos entre as crianças italianas. Como estávamos no período que antecedia a Páscoa, concentramo-nos em algumas brincadeiras realizadas nesse período, relacionadas com o conteúdo trabalhado até então (números e cores). Iniciamos o percurso didático proposto pelos alunos com a adaptação de uma brincadeira bastante conhecida entre as crianças da turma: quente-frio. Também chamada de “caça ao tesouro”, a brincadeira consiste em fazer o participante procurar um objeto escondido, dando-lhe dicas caso estejam próximos ao objeto (quente) ou longe (frio). Ganha quem achar primeiro o objeto escondido. Essa brincadeira também é conhecida pelas crianças italianas com o nome de “acqua-fuoco”. Com o objetivo de ampliar o vocabulário dos alunos em língua italiana e de intensificar a correspondência com o jogo brasileiro, optamos por chamá-la em nossas aulas também de “caldo-freddo” – isto é, quente-frio. Durante a atividade, foram introduzidos objetos cujos nomes já eram de conhecimento dos alunos e, logo após, foram apresentados novos objetos relacionados à Páscoa. Vale lembrar que os nomes dos objetos, bem como todas as instruções eram dadas em italiano e isso muito agradou os alunos que sentiram que suas expectativas diante da aprendizagem foram atendidas. No segundo momento do percurso didático apresentamos um jogo tipicamente realizado durante a Páscoa na Itália que consiste na rolagem de ovos. O objetivo do jogo é rolar ovos de galinha em uma superfície, ganhando o participante que os fizer rolar mais longe sem quebrar. Para evitar sujeira e contratempos com os ovos de galinha, optamos por ovos de mentira embrulhados como ovos de Páscoa. Para aliar aos objetivos do percurso didático, após um aluno ter rolado o ovo pelo pátio da escola, outro devia contar a distância por meio do número de passos que conseguia dar até o ovo. Essa contagem era realizada em italiano e, assim, pudemos avaliar e reforçar o conhecimento do vocabulário italiano referente aos números por parte dos alunos. Por termos contraposto a cultura brasileira a italiana (objetivo cultural), praticado estruturas da língua italiana (objetivo linguístico) e partido de uma solicitação dos alunos, consideramos que tivemos êxito em fomentar o protagonismo infantil durante esse percurso didático, colocando os alunos no centro do processo. Porém, o momento em que o protagonismo infantil se apresentou mais satisfatoriamente foi diante de um problema com a internet da escola. Tínhamos o objetivo de passar um vídeo sobre culinária para finalizar uma aula referente a cibo italiano – comida italiana, ao longo do percurso didático cucina italiana – cozinha italiana, mas a internet da escola estava com problemas e, portanto não estávamos conseguindo assistir ao vídeo. A solução partiu dos alunos, que procuraram o funcionário responsável pelo suporte técnico da escola para nos auxiliar, sem, contudo, conseguir resolver o problema. Quando os alunos perceberam que não havia nada a ser feito, sugeriram a mudança no plano de aula, repetindo os jogos realizados durante o percurso didático sobre as brincadeiras da Páscoa. Ou seja, os estudantes tiveram que buscar uma solução e defender uma ideia, uma posição diante da situação em questão. Comunicação Oral Outro tema que possibilitou o protagonismo infantil foi a Tarantella, dança típica italiana que foi sugerida pelos professores e aceita pelos alunos como atividade de final de curso. O percurso didático para a apresentação e entendimento do tema previu, dentre as atividades, o ensaio da dança. Para aliar objetivos culturais e linguísticos durante os ensaios, a primeira atividade visava a descoberta dos movimentos que deveriam ser feitos para a execução da dança. Assim, pedaços de papel com instruções (em italiano) sobre os passos foram colados nas testas dos alunos que deviam organizar-se com base no vídeo que reproduzia os movimentos. Optamos por colar a instrução na testa dos alunos para que pudessem conhecer o movimento dos colegas, mas não o próprio e, assim, aumentar o desafio da atividade. Consideramos que a atividade teve êxito em proporcionar o protagonismo infantil porque os alunos foram capazes de organizar a dança, conhecer verbos na língua italiana que seriam utilizados durante os ensaios, bem como explorar os movimentos da Tarantella, sem a intervenção dos professores. Este breve relato demostra que aplicar o protagonismo como uma ferramenta de ensino funciona quando os alunos se sentem motivados e valorizados pelos professores, quando cada estudante se percebe como pilar central, como solução para as atividades, como um ser importante para a realização das propostas e, principalmente quando se sente seguro para realizar as atividades propostas de maneira autônoma. Entretanto, em outros momentos, não tivemos sucesso ao procurar estimular o protagonismo infantil, como veremos a seguir. O OUTRO LADO DA PRÁTICA PARA PROTAGONISMO INFANTIL Algumas atividades realizadas ao longo do curso não fomentaram o protagonismo infantil, talvez pela falta de experiência dos docentes e pela própria dinâmica que às vezes se instaurou em sala de aula. Por exemplo, as primeiras aulas do curso, cujo tema era Io e l’Italia, visavam à apresentação de aspectos da nova cultura e do novo país a ser estudado no decorrer do projeto, contrapondo-os a culturas diversas, principalmente à brasileira. Dessa forma, propomos a primeira atividade, que tinha o objetivo de saber qual era o grau de familiaridade dos alunos em relação aos monumentos históricos da Itália, do Brasil e do mundo; nossa expectativa era que o aluno resgatasse o seu conhecimento prévio sobre alguns monumentos históricos. A atividade consistiu em distribuir uma folha com fotos de diversos monumentos/ atrações turísticas, tais como o Coliseu, o Cristo Redentor, a Torre Eiffel, Pompeia, a Estátua da Liberdade, o Duomo de Milão, a Torre de Pisa e a Opera House. Foi solicitado que os alunos identificassem aquelas que conheciam, outras que se localizavam na Itália e as que eram em outras partes do mundo. Os alunos tiveram 5 minutos para executar essa atividade e demonstrar que tinham o conhecimento da localização de, pelo menos, um ou dois monumentos/ atrações turísticas. Buscava-se, assim, o engajamento dos alunos para resolução da atividade. No entanto, o tempo destinado à sua execução se mostrou insuficiente para o resgate desses conhecimentos. Os alunos não foram capazes de reconhecer, por exemplo, o Cristo Redentor como um monumento situado no Brasil; a Torre Eiffel pareceu ser desconhecida pelos estudantes; a Estátua da Liberdade foi associada ao símbolo de uma grande rede de lojas de departamentos do Sul do Brasil e outros monumentos como a Opera House e o Coliseu até foram reconhecidos como ambientações em Comunicação Oral que os protagonistas dos desenhos animados como Procurando Nemo4 e Madagascar5, respectivamente, vivenciaram situações. Considerando que o protagonismo infantil requer uma solução imediata [de um problema/ atividade] por parte dos alunos, e a promoção de uma relação dinâmica entre conhecimento, participação, responsabilidade e compromisso (DA SILVA, 2009), constata-se que a atividade que relatada não teve sucesso, porque os alunos não tinham o conhecimento prévio que tínhamos previsto para a resolução da atividade e assim, não foram capazes de identificar ou dar a localização dos monumentos/ atrações turísticas. Ao analisarmos como poderíamos ter abordado o tema de modo a proporcionar o protagonismo infantil percebemos que, talvez, partindo dos desenhos animados conhecidos pelos alunos teríamos tido outro resultado. Poderíamos ter proposto uma atividade guiada em que os alunos pudessem, a partir de trechos de desenhos animados: a) identificar os monumentos e associá-los às situações vividas nos filmes; b) a partir de cenas dos filmes, identificar os países abordados; c) procurar em um mapa mundi a localização desses países e enfim, d) classificar os monumentos/ atrações turísticas da Itália e dos outros países. Partiríamos, então, do conhecido (desenhos animados) para o desconhecido (identificação da localização dos monumentos). Outra proposta poderia ter sido a de partir do que era mais próximo da realidade deles, como, por exemplo, os monumentos históricos de Curitiba, também em um exercício de localização no mapa turístico da cidade. Essa atividade poderia ter sido ampliada para o Paraná, o Brasil, a Itália e o mundo, de modo a fornecer novos conhecimentos aos alunos. As propostas acima poderiam acarretar uma iniciativa vinda por parte dos alunos, gerando, por consequência, uma autonomia que seria de extrema importância para a participação ativa, construtiva, comprometida e responsável em sala de aula. De acordo com Costa (2000), quando os alunos participam das atividades de forma autêntica, adquirem autoconfiança e uma autodeterminação, importantes na construção de sua identidade pessoal, cultural e para seu projeto de vida. Com tal proposito em mente, como professores, pensamos em propostas em que os alunos pudessem relacionar um conceito que estava distante da realidade deles (monumentos históricos que se encontram no exterior) com algo que é próximo a eles (desenhos animados/atrações turísticas de Curitiba, Paraná e Brasil), fazendo com que eles se tornassem mais determinados, mais confiantes para uma tarefa imediata que foi aplicada em sala de aula. Em outro percurso didático, desta vez para trabalhar o conceito de “Família”, também julgamos não termos tido êxito no protagonismo infantil. Iniciamos esse percurso com uma atividade que os alunos deviam completar uma árvore genealógica com informações pessoais. Dessa forma, o aluno teria contato com o vocabulário base para falar do assunto em língua italiana, resgatando aspectos da própria história familiar. Entretanto, durante a atividade, percebemos que os alunos ficaram constrangidos, ou acanhados ao falar sobre a família. A estrutura familiar de alguns alunos os fazia sofrer e não estimulava a discussão. Uma aluna, por exemplo, foi abandonada pela mãe e ainda hoje é desprezada pelo pai. Era inevitável que ela se sentisse desconfortável em relação à atividade. O tema “família” mostrou-se complexo e, talvez como foi apresentado, não gerou “a solução de um problema imediato” (COSTA, 2000), como sugerem as teorias para o protagonismo infantil em sala de aula. O problema de nossos alunos a respeito do tema se 4 NEMO, Procurando. Direção: Andrew Stanton.Pixar Animation Studios Estados Unidos,2003.100 min. MADAGASCAR. Direção: Eric Darnell e Tom McGrath. DreamWorks Animation SKG Estados Unidos,2005.86 min. 5 Comunicação Oral mostrou mais profundo e difícil de ser trabalhado a partir da compilação de uma árvore genealógica que prevê uma estrutura tradicional de família. Essa visão é a que normalmente é apresentada nos materiais para o ensino de LE e foi a que adotamos para o percurso didático. Partimos do pressuposto que todas as crianças da escola possuíam uma família completa, feliz e unida, sem qualquer tipo de conflito, problema, sofrimento. A atividade não teve o resultado satisfatório, pois os alunos não se sentiam confiantes, determinados ou motivados a falar sobre o tema; pelo contrário, falar sobre família pareceu ser delicado com alunos dessa faixa etária. Ao refletirmos sobre os motivos que levaram ao insucesso da atividade no fomento protagonismo infantil, constatamos que deveríamos ter considerado que nem todas as famílias são constituídas por pai, mãe, filho, avó, avô, tio, sobrinho etc. Cada indivíduo provem de uma história familiar diversa que o identifica. Querer forçar que determinado aluno se enquadre na definição de família do professor ou do material didático é ir contra os princípios do protagonismo já descritos neste artigo. Acreditamos que a individualidade, a história de vida de cada aluno e a maneira como a atividade foi planejada (perspectiva estereotipada de família) foram fatores relevantes para que o protagonismo não tivesse êxito, para que o protagonismo não se realizasse de uma maneira satisfatória. Poderíamos ter abordado o tema “família” por outro viés que promovesse à participação autêntica, a autoconfiança, a autodeterminação, dos alunos; fatores importantes na construção da identidade pessoal, cultural e para o projeto de vida dos mesmos. Um viés plausível teria sido o de levar em consideração o conhecimento prévio deles, como por exemplo, os desenhos animados. Teria sido interessante perceber como o tema “família” é abordado nesses desenhos. Por exemplo, Lilo e Stitch6, a protagonista Lilo Pelekai vive com sua irmã e um animal de estimação; essa é a sua família. Em Kug Fu Panda7, um urso panda é filho adotivo de um ganso. Poderíamos, então, ter partido de famílias – tradicionais ou não – apresentadas nesses e em outros desenhos animados para que o aluno executasse a tarefa de fazer as árvores genealógicas dessas famílias. Dessa forma, teríamos apresentado o vocabulário para falar sobre o assunto, teríamos discutido as diferentes constituições familiares sem colocar o aluno em uma situação constrangedora. Talvez assim ele se sentisse confiante, num momento posterior de discutir sobre a própria família. Certamente a situação negativa que vivenciamos valeu como aprendizado, ensinando-nos a agir para o protagonismo infantil em outras situações. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Em função dos resultados obtidos até aqui, vimos que fomentar o protagonismo infantil no ensino de línguas estrangeiras, isto é, enxergar o aluno como ponto principal da sala de aula é fundamental para uma aprendizagem significativa. Proporcionar um ambiente onde o aluno se sinta seguro para expressar suas ideias é formar um cidadão mais consciente e atuante na sociedade em que está inserido. Observamos que quando as soluções partem dos estudantes, a aquisição do conhecimento se torna mais fácil e prazerosa, o aluno se sente mais valorizado e se torna verdadeiramente protagonista da sua própria aprendizagem. Porém, é preciso pensar previamente nas particularidades de cada 6 STITCH, Lilo. Direção: Dean DeBlois e Chris Sanders Disney Animation Estados Unidos, 2002. 85 min. PANDA, K .F. Direção: Mark Osborne e John Stevenson Dream Works Animation Estados Unidos, 2002. 90 min 7 Comunicação Oral indivíduo. Quando os alunos são questionados sobre temas complexos ou pessoais, podem sentir dificuldades em realizar as atividades propostas. Concluímos então, que nessas situações mais delicadas, podemos aproveitar melhor o conhecimento prévio dos discentes, evitando partir de pressupostos ou de estereótipos e, assim, promover mais efetivamente o protagonismo infantil. O professor, em nossa análise, é aquele que faz a mediação do processo pedagógico, ele interfere e cria condições para a apropriação do conhecimento por parte dos estudantes. Os estudantes, nessas condições criadas pelo professor, terão voz e vez para se expressar e serão agentes da apropriação do conhecimento. Cabe ao professor propor uma relação entre o conteúdo de ensino e a concepção de mundo, mas ele deve estar ciente do individual, do particular e da vivência de mundo de cada aluno, do contexto social de cada aluno. Fatores estes que podem interferir de uma maneira positiva ou negativa no momento em que a criança é o ator principal da construção do seu conhecimento, da construção de sua identidade, de seu autoconceito, de sua autoestima e de sua autonomia. REFERÊNCIAS AAVV. O manifesto dos pioneiros da educação nova. Revista HISTEDBR On-line. Campinas, n. especial, p.188–204, ago. 2006. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais n° 1/92 a 67/2010, pelo Decreto n° 186/2008 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão n° 1 a 6/94. Brasília. Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2001. BRITO, G. S. Apresentação. In BRITO, G. S. Programa Licenciar: vivenciando a licenciatura. Curitiba: UFPR, 2012, p. 8. COSTA, A. C. G. Protagonismo juvenil: adolescência, educação e participação democrática. Salvador: Fundação Odebrecht, 2000. DA SILVA, T. G. Protagonismo juvenil na escola: Limitações e possibilidades enquanto pratica pedagógica na disciplina de biologia. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1362-8.pdf. Acesso em 20/11/2015. RABÊLLO, L.D.E.M. O que é o protagonismo juvenil. 2009. Disponível em< http://www.cedeca.org.br/conteudo/noticia/arquivo/39da691a-fd4e-d1193dae60914b0999ae.pdf> TEIXEIRA, A. S. Educação É Um Direito. São Paulo-SP. Editora Nacional. 1967.