Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus
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Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus
Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Trabalho de culminação de Curso (Variante trabalho de Investigação) Tema: Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no Lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa. Autor: José Chissiua Dumbo Maputo, Novembro de 2009 José Chissiua Dumbo Página 0 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Índice Error! Bookmark not defined. 1. Introdução ....................................................................................................................................... 1 1.1. Justificação do estudo ....................................................................................................................... 4 1.2. Revisão bibliográfica ........................................................................................................................ 5 Tabela 1. A fauna parasitária identificada em C. gariepinus, em África. ............................................ 6 2. Objectivos ...................................................................................................................................... 10 3. Descrição da área de estudo .......................................................................................................... 11 4. Material e Métodos ....................................................................................................................... 13 4.1. Material .......................................................................................................................................... 13 4.2. Métodos .......................................................................................................................................... 13 4.2.1. Tamanho da amostra ................................................................................................................ 13 4.2.2. Amostragem ............................................................................................................................. 13 4.2.3. Procedimento laboratorial ........................................................................................................ 16 5. Análise de dados ............................................................................................................................ 18 6. Resultados ..................................................................................................................................... 20 6.1. Caracterização dos parasitas detectados ......................................................................................... 21 7. Discussão ....................................................................................................................................... 30 8. Conclusão ....................................................................................................................................... 35 9. Recomendações ............................................................................................................................. 36 10. Referências bibliográficas ............................................................................................................ 37 11. Anexos ......................................................................................................................................... 43 1. Introdução Os peixes são um potencial hospedeiro de muitas espécies de parasitas que podem causar uma alteração significativa da sua fisiologia. Uma identificação cuidadosa de parasitas, da estrutura das suas comunidades e dos processos envolvidos na manutenção dessa estrutura é muito importante para a prevenção de vários parasitas (Goselle et al., 2008). José Chissiua Dumbo Página 1 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa A informação acerca do modo de transmissão e o potencial hospedeiro intermediário do parasita é muitas vezes crucial para seleccionar um maneio de controlo, para reduzir ou eliminar os parasitas (Goselle et al., 2008). A piscicultura era por tradição, em certas regiões do mundo, uma das actividades mais praticadas pelas comunidades rurais. Na actualidade esta actividade tem um grande contributo no desenvolvimento sócio-económico pois, ela contribui com cerca de 15% para as capturas de peixe à nível mundial e 13% em Moçambique (FAO, 2007). Por isso, esta actividade tem sido associada à estudos parasitológicos para fornecer subsídios para o conhecimento da ecologia e a biodiversidade das espécies tanto dos parasitas como dos hospedeiros, alguns estágios do ciclo de vida dos parasitas, etiologia de algumas doenças de peixes e efeitos dos parasitas no hospedeiro, de modo a intensificar a produção de peixe isento de parasitas (Pillay 1995, Paraguassú et al., 2005). Em Moçambique, o peixe é de enorme importância, uma vez que cerca de 30% da população sofre de subnutrição (FAO, 2007). Até 1995 os peixes de água doce (lagoas costeiras, estuários, bacias e rios), em Moçambique, contribuíam com abaixo de 7% da sua colheita. Nos últimos anos, os produtos pesqueiros de água doce têm contribuído bastante para o estado de saúde humana, pois garantem a obtenção de proteínas a baixo custo para a melhoria da dieta da população. Até o ano 2000, o suprimento em proteínas de peixe era de 2% em Moçambique, 6% na África Sahariana e 6% no mundo (FAO, 2004), sendo em Moçambique o consumo médio anual de peixe per capita de 7 à 10 Kg/ano, onde 10 à 12kg/ano são consumidas em comunidades costeiras. Mesmo assim, estes valores ficam abaixo do mínimo recomendado pela FAO, que é de 14kg/ano (FAO, 2007). A FAO (2008) estima que cerca de 50% de proteína animal consumida pela população moçambicana deriva do peixe e de outros produtos de pesca, e que, os programas de piscicultura poderão contribuir significativamente para a segurança alimentar. Em ambientes aquáticos naturais, os peixes são influenciados por diversos factores físicos e biológicos que afectam a saúde e a sobrevivência de espécies de peixes e das espécies consumidoras das mesmas, incluindo os humanos (Nash, 1995). Nestes ambientes, há inúmeras relações inter e intra-específicas estabelecidas, dentre elas o parasitismo José Chissiua Dumbo Página 2 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa estabelecido por organismos pertencentes a filos Platyhelminthes, Nemathelminthes, Acantocephala e Arthropoda (Crustacea) e outros de menor importância (Sindermann, 1989). O parasitismo é muito comum e diversificado em peixes de ambientes naturais do que em peixes de viveiros e tanques (Goselle et al., 2008). Certas espécies de parasitas de peixes como Clinostomum e Euclinostomum (Clinostomidae), Anisakis (Anisakidae), acantocéfalos e Lernaeidae quando presentes no peixe podem causar consideráveis alterações morfológicas e fisiológicas como perda de peso, atraso no crescimento, infertilidade, debilidade e considerável taxa de mortalidade do peixe infectado constituindo assim uma séria perda económica para o piscicultor (Sindermann, 1989). Os humanos são alvo de infecções por parasitas de peixes. Isto deve-se ao facto de certas espécies de peixes serem hospedeiras de parasitas, e os parasitas terem carácter zoonótico, constituindo uma ameaça à saúde pública particularmente quando os humanos ingerem as suas larvas contidas no peixe cru, mal cozinhado ou defumado. Podem causar doenças aos humanos, por exemplo Clonorchis sinensis, Opisthorchis felineus e Heterophyes sp. quando se fixam na faringe causam irritação, ulceração, necrose ou cirrose hepática (Stoskopf 1993 e Noble et al., 1989); Diphyllobothrium latum, no tracto digestivo humano causa dor no epigastro, úlcera péptica, anorexia, anemia hipercrômica macrocítica (falta da vitamina B12), colelítiase, ileíte e apendícite (Rey, 1992). A patogenicidade dos parasitas tanto para os peixes como para os humanos depende em larga medida do número de parasitas no hospedeiro, estágio de desenvolvimento do parasita, localização do parasita no hospedeiro, morfologia do parasita, idade do hospedeiro, susceptibilidade das espécies de peixe aos patógenos e a virulência do agente patogénico (Sindermann 1989, Pillay 1995, Tsotetsi 2005). Para além destes factores, a patogenicidade dos parasitas depende também das condições ambientais a que os peixes estão expostos. Os peixes podem entrar em “stress” ambiental como resultado de baixo conteúdo de oxigénio, elevado nível de salinidade da água, excesso de produtos metabólicos inúteis, poluição e pesticidas, tornando-os assim susceptíveis à infecções por parasitas (Goselle et al., 2008; Tsotetsi, 2005). José Chissiua Dumbo Página 3 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa A identificação de parasitas de peixes e o conhecimento do seu ciclo de vida são um pré-requisito para reduzir a infecção do consumidor humano (Stoskopf, 1993). Esta redução é conseguida pela inspecção, selecção e processamento do peixe de forma que os parasitas sejam removidos ou mortos (Vubil, 2005). Algumas medidas que são usadas para controlar doenças de peixes por parasitas incluem proibição da transferência de peixes infectados e doentes de um ambiente para o outro e certificação da presença de doenças (por parasitas) ou não, no momento da transferência. Estas medidas são conseguidas fazendo investigação no campo parasitológico para identificar os parasitas nesses peixes (Nash, 1995). Sobre parasitas de peixes de água doce da África Austral existem muitas publicações, destacando-se: Na África do Sul: Barnard (1955), Fryer (1964); Prudhoe e Hussey (1977), Mashego (1982), Kruger et al. (1983), Van As e Basson (1984), Oldewage e Van As (1987), Oldewage e Van As (1988) Hetch et al. (1988), Mashego e Saayman (1981, 1989), Tsotetsi (2005), Barson e Avenant-Oldewage (2006 a,b) e Barson et al. (2008); No Zimbabwe por Douëllou (1992), Douëllou e Erlwanger (1994), Barson (2004); Zâmbia por Mackiewicz e Beverley-Burton (1967). Na África Ocidental há os trabalhos realizados especificamente na Nigéria por Olofintoye (2006), Ayanda (2008, 2009) e Goselle et al. (2008); Na África do Norte, por exemplo no Egipto por Abo-Esa (2008) e Chambrier et al. (2008). Em Moçambique existem poucos estudos de parasitas de peixes de água doce, destacando-se os trabalhos de Dias (1952, 1955), Barnard (1955), Marques (1961), Vubil (2005), Scholz et al. (2008), Boane (2008) e Boane et al. (2008). 1.1. Justificação do estudo Os peixes de água doce podem servir de hospedeiros definitivos, intermediários ou paraténicos de muitas espécies de parasitas metazoários e crustáceos (Barson, 2004). Em ambientes com grande diversidade de organismos aquáticos como o lago Urema, alguns parasitas podem facilmente interagir com o peixe contribuindo para alta mortalidade e José Chissiua Dumbo Página 4 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa consequentemente perdas económicas. Também podem ameaçar a biomassa, a abundância e diversidade de espécies de peixes indígenas (Barson, 2004). Alguns parasitas podem causar lesões superficiais (ectoparasitas: Protozoa, Monogea, Hirudinea e Crustacea) possibilitando infecções secundárias por bactérias e fungos patogénicos. Outros infectam órgãos e tecidos internos (endoparasitas: Protozoa, Digenea, Cestodea, Acanthocephala e Nematoda) causando alterações na fisiologia dos órgãos internos (Hecht e Endemann, 1998). E ainda outros como os Hirudinea, Acanthocephala, Copepoda e Mollusca, jogam um papel importante no desenvolvimento de helmintes parasitas servindo de hospedeiros intermediários (Barson, 2004). Antes de 1994, a captura de peixe no lago Urema, principalmente da espécie Clarias gariepinus era uma actividade intensamente praticada e se vendia maioritariamente para as províncias de Zambézia e Nampula. Actualmente a actividade no mesmo local, continua a ser praticada por pescadores furtivos, mas em pequena escala, para o consumo próprio e venda (Luís, em comunicação pessoal, 2009). C. gariepinus (Burchell, 1822) tem sido o objecto de estudo de várias pesquisas, numa tentativa de seleccionar uma espécie de peixe indígena adequada, de água doce, para a piscicultura na África do Sul (Mashego e Saayman, 1989). Esta espécie foi seleccionada no presente estudo devido a sua maior distribuição e sua constante presença nas pescas que são feitas no lago Urema. Esta é uma espécie muito aceite como alimento pelas populações residentes em Muaredzi, zona situada próxima do lago Urema. 1.2. Revisão bibliográfica Considerável atenção tem sido dada aos estudos de parasitas de peixes de água doce em muitas partes do mundo. Vários estudos feitos, mostraram altas prevalências em muitos casos, principalmente com os endoparasitas (Ayanda, 2008). Em África, mais de 40 espécies de parasitas de diferentes grupos taxónomicos têm sido reportadas em C. gariepinus (Ayanda, 2008). Dos trabalhos feitos em África sobre C. gariepinus destacam-se com maior ênfase as seguintes publicações: Ukoli (1966), Van As e Basson (1984), Hetch et al. (1988), Mashego e Saayman (1989), Douëllou (1992), Douëllou e José Chissiua Dumbo Página 5 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Erlwanger (1994), Barson (2004), Tsotetsi (2005), Olofintoye (2006), Barson e AvenantOldewage (2006 a,b), Chambrier et al. (2008), Barson et al. (2008), Goselle et al. (2008) e Ayanda (2008, 2009). Abaixo está representada a tabela 1 que foi compilada com base nos artigos publicados, sobre parasitas detectados nesta espécie de peixe. Tabela 1. A fauna parasitária identificada em C. gariepinus, em África. José Chissiua Dumbo Página 6 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Grupo taxonómico Monogenea Digenea Cestoda Acanthocephala Nematoda Espécie de parasitas Gyrodactylus sp. Gyrodactylus transvaalensis Macrogyrodactylus clarii Macrogyrodactylus karibae Macrogyrodactylus congolensis Sanguinicola sp. Clinostomum complanatum Phyllodistomum bavuri Phyllodistomum vanderwaali Diplostomum spathaceum Postodiplostomum sp. Neodiplostomum sp. Ornithodiplostomum sp. Clinostomoides brieni Glossidium pedatum Euclinostomum heterostomum Diplostomum mashonense Polyonchobothrium clarias Proteocephalus glanduliger Amonotaenia sp. Barsonella lafoni Marsypocephalus clarias Marsypocephalus heterobranchus Diphilobothrium latum Diphilobothrium plerocercoid Echinorhynchotaenia tritesticulata Monobothrium sp. Neoechinorhynchus rutili Paracamallanus cyathopharynx Contracaecum rudolphi Contracaecum multipapillatum Contracaecum rodhaini Cuculanus sp Skryabinocara sp. Contracaecum sp. Procamallanus laevionchus Crustacea Argulus japonicus Lamproglena clariae Dolops ranarum Ergasilus mirabilis Lernaea clariae Autor, ano Abo-Esa (2008) Van As & Basson (1984) Local de colheita do peixe Egipto África do Sul Barson et al. (2008) Save-Runde River , Zimbabwe Ayanda (2008) Barson et al . (2008) Save-Runde River , Zimbabwe Van As & Basson (1984) África do Sul Goselle et al . (2008) Nigéria Barson & Avenant-Oldewage (2006) Rietvlei Dam, Africa do Sul Barson et al . (2008) Moçambique e Zimbabwe Mashego & Saayman (1989) África do Sul Mashego & Saayman (1989) África do Sul Ayanda (2008) Asa dam Ilorin, Nigeria Chambrier et al . (2008) Etiópia, Sudão, Tanzânia e Zimbabwe Goselle et al. (2008) Nigéria Barson et al . (2008) Olofintoye (2006) Ayanda (2008) Zimbabwe Zimbabwe e África do Sul Asa dam Ilorin, Nigéria Barson et al . (2008) e Mashego & Saayman (1981) Zimbabwe e África do Sul Van As & Basson (1984) África do Sul Barson & Avenant-Oldewage (2006) Rietvlei Dam, África do Sul Kruger et al . (1983) Fryer (1964) Barson (2004) e Tsotetsi (2005) Douëllou & Erlwanger (1994) Oldewage & Van As (1987) Tsotetsi (2005) África do Sul África do Sul Lago Kariba, Zimbabwe África do Sul África do Sul Ordenação sistemática de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) José Chissiua Dumbo Página 7 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa A ordenação sistemática do peixe em estudo foi compilada com base em Skelton (1993), Storer et al. (2003) e Ruppert et al. (2005): Reino: Animalia Ramo: Eumetazoa Divisão: Bilateria Subdivisão: Deuterostomia Filo: Chordata Subfilo: Vertebrata Superclasse: Pisces Classe: Osteichthyes Subclasse: Actinopterygii Infraclasse: Teleostei Ordem: Siluriformes Família: Clariidae Género: Clarias (Scopoli, 1777) Espécie: Clarias gariepinus (Burchell, 1822). Sinónimo: C. depressus (Myers, 1925) C. mossambicus (Peters, 1852) C. lazera (Cuvier & Valenciennes, 1840) C. capensis (Valenciennes, 1840) Silurus gariepinus (Burchell, 1822) S. gariepinus( Burchell, 1822) Os nomes comuns de C. gariepinus usados em Inglês e em vários idiomas de Moçambique são apresentados na tabela 2. Tabela 2. Nomes comuns de C. gariepinus em vários idiomas José Chissiua Dumbo Página 8 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Características morfológicas e ocorrência de C. griepinus C. gariepinus é uma espécie caracterizada por ter uma cabeça larga e achatada dorsoventralmente, com olhos pequenos e laterais, uma boca larga com pequenos dentes, quatro (4) pares de barbilhos, maxilas longas, uma barbatana dorsal longa, um (1) par de barbatanas peitorais e uma barbatana caudal. Tem cor que varia de escuro para castanho-claro, sem escamas e é muito escorregadio. Abaixo da cabeça e do abdômen é branco e as extremidades das barbatanas são avermelhadas, segundo o que se pode ver figura 1 (Hecht et al. 1988, Skelton 1993, Mili e Texeira 2006). Esta espécie é amplamente distribuída em África, particularmente em Moçambique. Esta espécie exibe taxas de crescimento extensamente divergentes, tanto em condições naturais como em condições de aquacultura, atingindo cerca de 759.5 à 1564.8 mm de comprimento e 59 Kg de peso e é frequente nas capturas (Skelton 1993; Van Der Waal 1998). Habita águas interiores de rios lentos e grandes, lagos e represas lamacentos. É uma espécie omnívora, tolerante a condições adversas do ambiente natural como alta turvação, baixa concentração de oxigénio dissolvido, temperaturas entre 8 e 35ºC e intervalo de salinidade de 0 à 10%. Por estas razões, esta espécie de peixe tem sido considerada ideal para a piscicultura. Quando as brânquias são cobertas com lama, o peixe segrega muco para manter pele húmida podendo viver muito tempo na lama. Pode viver doze horas após retirar-lhe do meio aquático (Hecht et al., 1988; Mashego e Saayman 1989). Devido a essa tolerância a condições adversas do ambiente, tem maior distribuição geográfica e pode sobreviver em qualquer tipo de águas estando sempre presente nas capturas José Chissiua Dumbo Página 9 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa de peixes das águas interiores moçambicanas. Assim, é muito usado como alimento, servindo de fonte de energia em nutrição humana (Mashego e Saayman 1989, Barson 2004). O peixe-gato (C. gariepinus) ocupa um nível trófico alto na teia alimentar aquática, às vezes alimentando-se de peixes menores e zooplancton. Este é normalmente um hospedeiro definitivo de vários parasitas de helmintes no seu tracto gastrointestinal (Fourier, 2006). Figura 1. Espécimes de C. gariepinus capturados no lago Urema. 2. Objectivos Objectivo geral O presente trabalho tem como objectivo geral: conhecer as espécies de parasitas metazoários de C. gariepinus que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa. Objectivos específicos Aqui pretende-se: • Identificar e caracterizar morfologicamente as espécies de parasitas de C. gariepinus; José Chissiua Dumbo Página 10 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa • Caracterizar as parasitoses usando os parâmetros prevalência, intensidade média e abundância média das infecções por espécie de parasita; • Determinar a relação entre o peso dos peixes e a intensidade parasitária; • Determinar a relação entre o comprimento padrão dos peixes e a intensidade parasitária. 3. Descrição da área de estudo O lago Urema está situado no norte do Parque Nacional da Gorongosa entre latitudes 18˚ 52′ 45′′ e 18˚ 54′ 38,22′′ Sul e longitudes 34˚ 28′ 58.26′′ e 34˚ 31′ 42.82′′ Este, na província de Sofala, em Moçambique (anexo I). O lago Urema, composto por zonas Mucombézi, Mira Hippo, Phera e Zona Trinta, tem um comprimento de cerca de 10 Km e uma largura máxima de 1 Km. No extremo norte, o lago recebe águas da Serra da Gorongosa e dos rios Vundúzi, Mucombézi e Nhandugue, este último, dependente do rio Muera e do rio Muaredzi que corre a partir do planalto de Cheringoma e deposita sedimentos perto do lago, o que desacelera sua drenagem. No extremo Sul, liga-se ao rio Urema que por sua vez liga-se ao rio Púnguè, onde as suas águas são drenadas e vão desaguar no Oceano Índico. Muitos destes rios são sazonais. Em anos de precipitação elevada, as águas do lago podem invadir cerca 20Km2 de terra, o que obriga a interrupção de qualquer actividade neste período (Anónimo, 2004). Durante o período chuvoso o lago Urema, liga-se aos rios circunvizinhos, e algumas espécies de peixes migram do lago para os rios e vice-versa. Isto faz com que algumas espécies nativas dos rios vizinhos, a título de exemplo, Tilapia rendalli, sejam encontradas no lago somente neste período e não na estação seca. Na estacão chuvosa as águas invadem as savanas, as florestas e os bosques cerrados (Steinbruch, em comunicação pessoal, 2009). Esta invasão temporária das águas às savanas, florestas e aos bosques cerrados, cria um complexo mosaico de ecossistemas que contém maior abundância e diversidade de vida selvagem do que em qualquer outra zona do parque, motivo que atrai a visita de turistas e de José Chissiua Dumbo Página 11 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa pessoas que vivem em pequenas comunidades espalhadas ao longo das zonas de captação de água e de pesca no lago Urema. Mesma situação acontece no rio Urema (Anónimo, 2004). O lago Urema tem uma camada lamacenta de média 0.2 m (20 cm) e uma profundidade média de 0.5 m (50 cm) em tempo seco. Possui uma densa vegetação nas suas margens maioritariamente jacintos de água e algas; as águas do lago são muito turvas, como se pode ver na figura 2. Sucessões sazonais de populações de algas e o seu crescimento excessivo resulta em cor, odor e sabor desagradáveis declinando a qualidade da água. Este lago contém grande diversidade de organismos como peixes, crocodilos, hipopótamos, insectos aquáticos, crustáceos, aves piscívoras e salamandras. As espécies de peixes presente no lago são: C. gariepinus (Burchell, 1822), Oreochromis mossambicus (Peters, 1852), Hydrocynus vittatus (Castelnau, 1861), Mormyrus longirostris (Peters, 1852), Protopterus annectens (Poll, 1961), Petrocephalus catostoma (Günther, 1866), Schilbe intermedius (Rüppell, 1832), Synodontis zambezensis (Peters, 1852), Labeo cylindricus (Peters, 1852), Barbus luikae (Ricardo, 1939) e Bricinus imberi (Peters, 1852) (Machipane, em comunicação pessoal, 2009). Figura 2. Vista do lago Urema mostrando rica vegetação ao longo das margens. José Chissiua Dumbo Página 12 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa 4. Material e Métodos 4.1. Material O material utilizado para a presente pesquisa consta do anexo II. 4.2. Métodos 4.2.1. Tamanho da amostra Para o estudo de parasitas metazoários de C. gariepinus, foram colhidos no lago Urema 41 peixes desta espécie. O tamanho da amostra foi determinado pela fórmula de Pearson (Triola, 1999): n= [Z α / 2 ]2 × p × q E2 n= [1.64]2 × 0.5 × 0.5 (0.1)2 n=41 Onde: n - tamanho da amostra; p - prevalência da infecção do peixe por parasitas (p=0.5 e q = 1-p) por não haver estudos feitos anteriores. E - margem de erro que é igual a 10%; α é o grau de confiança (α=94.95%) Zα/2 - nível de significância (Z α/2=1.64). 4.2.2. Amostragem Os peixes foram capturados usando quatro redes, de emalhar e de arrasto em diferentes pontos do lago Urema. Três dessas redes tinham a malha de quatro polegadas (4×4cm) do tipo Nylon e uma de malha de uma polegada (1×1cm) do tipo Nylon. José Chissiua Dumbo Página 13 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Cada rede era esticada de forma transversal ao lago e assegurada por dois paus nas suas extremidades (figura 3). Após doze horas, foram sendo recolhidos os peixes capturados pela rede (figura 4). Figura 3. O modelo de arrasto feito para a captura de C. gariepinus. Figura 4. C. gariepinus capturado pela rede com malha de 4 polegadas. José Chissiua Dumbo Página 14 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Para a amostragem foram feitos quinze (15) arrastos em oito (8) pontos do lago distribuídos por três (3) zonas (Mira Hippo, Phera e Mucombézi), desde o sul até ao norte do mesmo (tabela 3 e figura 5). Em cada ponto de captura seleccionaram-se apenas peixes da espécie C. gariepinus e de seguida foram transportados para o laboratório do Santuário para o exame de superfície e necrópsia. Tabela 3. Caracterização dos pontos de amostragem e data das colheitas de amostras. José Chissiua Dumbo Página 15 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Figura 5. Locais de amostragem indicados no mapa do lago ( ponto de colecta de peixe). 4.2.3. Procedimento laboratorial Exame dos peixes no laboratório do Santuário Aqui, primeiro, procedeu-se a identificação dos peixes capturados até ao nível de espécie (C. gariepinus) utilizando Skelton (1993) e foi atribuído um número a cada peixe desta espécie. Mediu-se o comprimento padrão (figura 6) de cada peixe com uma régua milímetrica (mm); escolheu-se o comprimento padrão porque alguns peixes possuíam cauda rompida devido ao ataque por crocodilos quando capturados pela rede. Pesou-se em gramas (g) com uma balança electrónica e os dados foram registados em fichas individuais (anexo III). José Chissiua Dumbo Página 16 Comprimento padrão Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Figura 6. Esquema de um peixe indicando o comprimento padrão. Segundo, fez-se uma observação geral do tegumento de cada peixe à vista desarmada para pesquisa de ectoparasitas. Depois fez-se necrópsia por uma incisão longitudinal sobre a linha mediano-ventral até a inserção da barbatana anal (figura 7) e registou-se o aspecto geral das cavidades branquial e abdominal na ficha individual de dados (Anexo III). E por último, foram removidas as brânquias e o tracto digestivo, e separadamente foram conservados em frasco com etanol à 70% (devido a falta de lupa e microscópio para a colecta de parasitas no local). Os parasitas visíveis a olho nú na cavidade visceral, foram removidos, conservados em etanol à 70% e etiquetados pelo número correspondente ao peixe. Figura 7. Necrópsia de C. gariepinus e remoção de parasitas da cavidade visceral. José Chissiua Dumbo Página 17 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Colecta, processamento e identificação de parasitas no laboratório do DCB Com ajuda da Lupa binocular, as brânquias e o tracto digestivo foram observados, e depois procedeu-se a colecta dos parasitas neles existentes e os dados foram registados na ficha do anexo III. Todos os parasitas detectados, foram preservados no etanol à 70% e depois foram submetidos aos procedimentos que a seguir são descritos. Os parasitas pertencentes à Cestoda e Digenea foram corados pelo corante de Carmina de Gower e a diferenciação foi feita pela solução de álcool à 70% com HCl à 1% na razão de 1:1. Depois foram desidratados passando por uma série alcoólica com concentrações crescentes de 70%, 80%, 90%, 95% e 100% em períodos de 20, 10, 10, 15 e 15 minutos, respectivamente, e foram colocados no Xilol durante 15 minutos, depois foram montados no Bálsamo de Canadá (Vubil, 2005). Os Nematoda, depois de serem colhidos do peixe, foram conservados em álcool à 70% e logo depois passaram por clareamento em lactofenol para melhor visualização dos órgãos internos ao microscópio e identificação (Stoskopf, 1993). Os Crustacea colectados, foram preservados em álcool à 70% e depois colocados no ácido láctico à 90% para o clareamento (Bankley e Williams, 1994). Os exemplares de parasitas detectados durante esta pesquisa encontram-se conservados no Laboratório de Parasitologia do DCB, Universidade Eduardo Mondlane. 5. Análise de dados A prevalência, a intensidade, a intensidade média, a abundância, a abundância média dos parasitas, foram calculados de acordo com a recomendação de Bush et al. (1997). Prevalência (P) é o número de hospedeiros infectados por um ou mais indivíduos de uma espécie particular de parasitas (ou grupo taxonómico) dividido pelo número de hospedeiros (peixes) examinados com relação a essa espécie de parasita. É expressa em percentagem (%). José Chissiua Dumbo Página 18 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa P= Número de hospedeiros infectados por cada espécie Número total de hospedeiros examinados × 100% Onde: P corresponde a prevalência da infecção. Intensidade (I) é o número de indivíduos de uma espécie particular de parasitas num único hospedeiro infectado. Intensidade média da infecção (IM) é o número total de parasitas de uma espécie particular encontrado numa amostra, dividido pelo número de hospedeiros infectados por esse tipo de parasita. IM = Número total de indíviduos de cada espécie de parasita na amostra Número total de hospedeiros inf ectados Onde: IM corresponde a intensidade média de infecção. Abundância (A) é o número de indivíduos de uma espécie particular de parasitas num ou sobre um único hospedeiro, independentemente de o hospedeiro estar ou não infectado. Abundância média dos parasitas (AM) é o número total de indivíduos de uma dada espécie de parasitas dividido pelo número total de hospedeiros da espécie examinada (infectados +não infectados). AM = Número total de parasitas de cada espécie Número total de hospedeiros examinados (infectados e não infectados ) Onde: AM corresponde a abundância média. Foi usado o programa de análise estatística "SPSS 15.0" e “Excel” para determinar o coeficiente de correlação de Pearson (r) entre intensidade parasitária e o peso dos hospedeiros, bem como, entre a intensidade parasitária e o comprimento padrão dos hospedeiros. José Chissiua Dumbo Página 19 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa 6. Resultados O peixe (C. gariepinus) para a presente pesquisa apresentou um comprimento médio de 462,93±64,15 (317-602) mm e peso médio de 1322,98 ±417,79 (813,5-2200) g. Na presente pesquisa foram detectadas sete (7) espécies de parasitas nos diferentes órgãos do peixe e na cavidade visceral. Na tabela 4 está indicado o número de peixes analisados em cada zona de amostragem no Lago Urema e a distribuição das prevalências para cada espécie de parasita detectada. Verificou-se que em todas as zonas, a maior prevalência foi a de infecção por Contracaecum sp. Tabela 4. Prevalência e número de peixes infectados por cada espécie de parasita, em cada zona de amostragem no lago Urema. A tabela 5, abaixo, mostra as espécies de parasitas detectadas e os parâmetros de prevalência, intensidade média e abundância média. José Chissiua Dumbo Página 20 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Tabela 5. Parasitas detectados em C .gariepinus proveniente do Lago Urema. P=Prevalência; IM=Intensidade média; AM=Abundância média; DP=Desvio padrão; min=mínimo e max=máxima. 6.1. Caracterização dos parasitas detectados Devido a exiguidade funcional da máquina fotográfica acoplada ao microscópio, não foi possível ter as imagens dos parasitas detectados. Apenas constam do anexo V, imagens de parasitas das fontes usadas como chave de identificação de parasitas no presente estudo. 6.1.1. Clinostomoides brieni Dollfus, 1950 Filo: Platyhelminthe Classe: Trematoda Ordem: Digenea Família: Clinostomidae Lühe, 1901 Subfamilia: Clinostominae Lühe, 1901 Género: Clinostomoides Dollfus, 1950 C. brieni foi colectado na câmara branquial sobre o quarto (4º) arco branquial do lado esquerdo. De acordo com Gibson et al. (2002), as metacercárias de C. brieni possuem seguintes características: corpo robusto, forma de uma língua, ventosa oral pequena na região anterior, ventosa ventral (acetábulo) grande localizada no terço anterior do corpo; possui cecos longos, sinuosos e sem ramificações. Os testículos são ovais e estão localizados na metade posterior do José Chissiua Dumbo Página 21 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa corpo do parasita; o saco vitelínico estende-se a partir da região posterior do corpo e termina até ao nível da bifurcação do ceco; o útero pode ou não chegar até ao nível da ventosa ventral. As características das metacercárias de C. brieni observadas na presente pesquisa são: cor branca, corpo robusto, achatado tanto na região dorsal como na região ventral; ventosa oral pequena, uma ventosa ventral grande e cecos longos. Os órgão reprodutores estão situados muito próximo a região posterior do corpo do parasita. Na tabela 6 estão apresentadas as medições do corpo e de órgãos visualizados neste parasita. Tabela 6. Caracterização morfométrica de C. brieni. Presente estudo Órgão medido 1 exemplar medido; (em mm) Comprimento do corpo 4,34±0,091 Largura do corpo 1,09±0,154 Comprimento da ventosa oral 0,288±0,207 Largura ventosa oral 0,25±0,193 Comprimento ventosa ventral 0,539±0,034 Largura ventosa ventral 0,499±0,053 Distância da ventosa oral a ventral 0,446±0,09 Distância Extrem. Anterior a ventosa ventral 0,783±0,165 Distância Ventosa ventral-órgãos sexuais 2,12±0,67 Relação entre Comp. ventosa oral/ventosa ventral ½ Relação entre Largura ventosa oral/ventosa ventral ½ 6.1.2. Diplostomum mashonense Beverly-Burton, 1963 Filo: Platyhelminthe Classe: Trematoda Ordem: Digenea Família: Diplostomidae Poirier, 1826 Género: Diplostomum Von Nordman, 1832 O parasita D. mashonense foi detectado nas brânquias e no intestino anterior e médio de C. gariepinus. De acordo com Gibson et al. (2002), este parasita tem seguintes características: corpo bipartido com forma de espátula; região anterior com forma cónica; Tem uma ventosa ventral e pseudo-ventosas na região posterior; a extremidade anterior com três lóbulos, ventosa oral e José Chissiua Dumbo Página 22 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa uma pequena faringe. Possui um ceco que parte da região anterior próxima a faringe até ao poro excretor, região posterior. As características detectadas no parasita desta pesquisa são: corpo com forma cónica, cor branca, ventosa ventral e dois lóbulos salientes na região anterior. Na tabela 7, consta a caracterização morfométrica do parasita. Tabela 7. Caracterização morfométrica de D. mashonense. Órgão medido Comprimento do corpo Largura do corpo Comprimento da ventosa posterior Largura da ventosa posterior Distância da ventosa até região posterior Distância da ventosa até região anterior Presente estudo 4 exemplares medidos; (em mm) 0,26±0,4 (0,2-0,28) 0,22 ±0,0036 (0,217-0,225) 0,06±0,013 (0,047- 0,075) 0,06 ±0,013 (0,047-0,075) 0,033±0,0072 (0,025-0,039) 0,207±0,009 (0,198-0,217) Estudo realizado em C. gariepinus Barson et al . (2008); (mm) 0,514 (0,445-0,585) 0,185 (0,101-0,255) 0.048 (0,044-0,057) 0,047 (0,046-0,052) ---------- 6.1.3. Polyonchobothrium clarias Woodland, 1925 Filo: Platyhelminthe Classe: Cestoda Ordem: Pseudophyllidea Carus, 1863 Família: Bothriocephalidae Blanchard, 1849 Género: Polyonchobothrium Diesing, 1854 Segundo Barson e Avenant-Oldewage (2006 a) P. clarias é largamente distribuído em peixes aquáticos africanos de ordem Siluriforme (Siluroid) especificificamente na espécie C. gariepinus. Segundo Hoffman (1999) P. clarias tem um escólex rectangular com uma coroa de ganchos; o escólex tem dois sulcos ou lóbulos, um dorsal e outro ventral e com um pescoço que pode ser conspícuo. O estróbilo tem uma segmentação bem marcada e frágil; cada proglótide contém um órgão reprodutor. As características observadas para o P. clarias são: cor branca, um rostelo suportando ganchos; os proglotídes imaturos do não são completamente segmentados e alguns segmentos maduros aparentam terem se fundido. José Chissiua Dumbo Página 23 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Para este parasita não foram apresentadas as medições, por motivo do exemplar ter sido perdido ao longo do processamento, e este exemplar era único. 6.1.4. Espécie de Cestoda desconhecida Filo: Platyhelminthe Classe: Cestoda Este Cestoda caracteriza-se por ser de cor branca, possuir um corpo longo composto de proglotídes; os proglotídes da extremidade posterior são mais largos que os proglotídes da região próxima ao escólex. O escólex, possui na sua extremidade uma coroa contendo 10 ganchos, sendo cinco de cada lado. A características morfométrica deste parasita constam na tabela 8. Tabela 8. Caracterização morfométrica do Cestoda desconhecido. Órgão medido Comprimento do corpo Comprimento do escólex Largura do escólex Largura dos Proglotídes Maduros Largura dos Progrotídes Grávidos Coroa de ganchos Presente estudo 1 exemplar medido; (em mm) 3,123±0,153 0,155±0,015 0,106±0,009 0,158±0,006 0,171±0,015 0,148±0,197 6.1.5. Paracamallanus cyathopharynx Baylis, 1923 Filo: Aschelminthe Classe: Nematoda Ordem: Spirurida Chitwood, 1933 Família: Camallanidae Railliet & Henry, 1913 Género: Paracamallanus Yorke & Maplestone, 1926 P. cyathopharynx é um parasita comum do tracto gastrointestinal do peixe-gato, C. gariepinus (Akinsanya e Otubanjo, 2006). José Chissiua Dumbo Página 24 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Segundo Hoffman (1999), P. cyathopharynx apresenta forma filiforme e uma boca com lábios pequenos em número de quatro ou seis, raramente inconspícuos ou ausentes na cápsula bucal. O esófago é longo, cilíndrico e está dividido em região anterior (curta) com porção muscular e a posterior (longa) com porção glandular. O intestino não apresenta divertículos. No presente estudo, P. cyathopharynx foi observada com seguintes características: forma filiforme, cápsula com lábios pequenos em número de quatro (4), esófago longo, cilíndrico e dividido em região anterior curta e a posterior longa; um ceco; e mucron em número de três (3) na extremidade posterior. A características morfométricas deste parasita estão apresentadas na tabela 9. Tabela 9. Caracterização morfométrica de P. cyathopharynx. Órgão medido Comprimento do corpo Largura do corpo Comprimento da cápsula bucal Largura da cápsula bucal Comprimento do esófago Largura do esófago Comprimento do ceco Largura do ceco Comprimento da cauda Comprimento das espículas Presente estudo 5 exemplares medidos; (mm) 9,335±0,7587 (7,025-10,521) 0,196±0,0108 (0,17-0,222) 0,344±0,593 (0,149-0,733) 0,166±0,2041 (0,0742-0,294) 0,603±0,069 (0,542-0,643) 0,099±0,01195 (0,07421-0,131) 0,058±0,02556 (0,044-0,5) 0,065±0,0124 (0,064-0,067) 0,289±0,05 (0,232-0,365) 0,0062±0,00177 Estudo realizado em C. gariepinus Barson et al. (2008); (mm) 7,14 (5,17-9,12) 0,1103 (0,057-0,173) 0,0989 (0,066-0,140) 0,082 (0,064-0,121) 0,494 (0,445-0,577) ---------------------------- 6.1.6. Contracaecum sp. Filo Aschelminthe Classe: Nematoda Ordem: Ascarididea Família: Anisakidae Skrjabin & Karokhin, 1945 Género: Contracaecum sp. Railliet & Henry, 1915 Este parasita foi identificado até ao género. A identificação até ao nível da espécie requer métodos moleculares ou infecção de hospedeiros experimentais com larvas de Contracaecum sp. para obter os adultos. Os métodos moleculares ainda são uma limitação José Chissiua Dumbo Página 25 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa pelos custos e acessibilidade, especialmente em África (Barson et al. 2008, Barson e AvenantOldewage 2006 b). Segundo Hoffman (1999), Contracaecum sp. possui um esófago com ventrículo posterior oblongo a cilíndrico, com uma depressão em forma de sutura dorsal e ventral longitudinal; ou com um ventrículo pequeno e globular que se tranforma em apêndice, direccionado para a parte posterior. O ceco intestinal está direccionado para a extremidade anterior. Foram observadas as seguintes características: corpo largo e robusto, esófago alargado, apêndice ventricular e um ceco intestinal bem desenvolvido e direccionado para a região anterior. As dimensões do corpo e dos órgãos do parasita estão apresentadas na tabela 10. Tabela 10. Caracterização morfométrica de Contracaecum sp. Órgão medido Comprimento do corpo Largura do corpo Comprimento do ceco intestinal Largura do ceco intestinal Comprimento apêndice ventricular Largura do apêndice ventricular Presente estudo 5 exemplares medidos; (em mm) 9,022±2,076 (6,649-11,63) 0,265±0,288 (0,123-0,782) 1,158 1,089 1,584 0,089 Estudo realizado em C. gariepinus Barson (2004); (mm) 27,6 (22-35) 0,71 (0,68-0,78) 1,72 (1,24-2,20) 0,16 (0,12-0,18) 0,79 (0,52-1,04) 0,12 (0,10-0,16) 6.1. 7. Ergasilus mirabilis Oldewage & Van As, 1987 Filo: Arthropoda Classe: Crustacea Brünnich, 1772 Sub-classe: Copepoda Ordem: Cyclopodea Sub-ordem: Poelocilostomatoida Família: Ergasilidae Thorell, 1859 Género: Ergasilus Nordmann, 1832 Espécimes de E. mirabilis foram colectados nos arcos branquiais, tanto do lado esquerdo como do lado direito de C. gariepinus. José Chissiua Dumbo Página 26 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Segundo Oldewage e Van As (1987), E. mirabilis tem antenulas localizadas na região anterior do primeiro segmento do cefalotórax. Os primeiros quatro segmentos torácicos são progressivamente mais pequenos e largos do que comprido. Bolsas sensoriais emparelhadas ocorrem dorsalmente do segmento 2 a 4. Na face ventral da extremidade posterior, há uma única fila de pêlos (ou cerdas). O quinto segmento torácico comprimido suporta uma quinta perna rudimentar. Na extremidade posterior estão os sacos ovígeros ou ovissacos (Oldewage e Van As, 1987). As características observadas são: quatro (4) segmentos abdominais, antenulas localizadas na região anterior do primeiro segmento cefalotóracico; os primeiros quatro segmentos torácicos são progressivamente mais pequenos e largos do que compridos. Na extremidade anterior localiza as peças bucais e na extremidade posterior estão os sacos ovígeros ou ovissacos. As dimensões do corpo e dos órgãos de E. mirabilis estão apresentados na tabela 11. Tabela 11. Caracterização morfométrica de Ergasilus mirabilis. Órgão medido Comprimento o corpo Comprimento dos sacos ovígeros Largura dos sacos ovígeros Comprimento do cefalotórax Comprimento das antenulas Comprimento do tórax Comprimento do ovo Largura do ovo Comprimento das peças bucais Presente estudo 3 exemplares medidos; (em mm) 2,27±0,147 (1,5-2,27) 1,23±0,138 (0,56-1,22) 0,293±0,06 (0,1683-0,2932) 1,038±0,057 (0,72-1,177) 1,177±0,099 (0,723-1,177) 0,263±0,013 (0,26-0,297) 0,107±0,008 (0,1-0,12) 0,073±0,0099 (0,0594-0,0816) 0,345±0,111(0,2871-0,3456) José Chissiua Dumbo Página 27 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Relação entre o peso do peixe e a intensidade parasitária Na tabela 12 é apresentado o coeficiente de correlação de Pearson entre o peso do peixe e a intensidade parasitária que é igual à 0,006 negativos (r =-0,006) à um nível de significância de 99%. Tabela 12. Coeficiente de correlação de Pearson entre o peso do peixe e a intensidade parasitária. Peso do peixe Correlação de Pearson Nível de significância (teste bilateral) Número de parasitas Correlação de Pearson Nível de significância (teste bilateral) Número de parasitas Intensidade parasitária Peso do peixe 1 7 -0,006 0,99 7 Intensidade parasitária -0,006 0,99 7 1 7 Através do gráfico da figura 8, notou-se não existir correlação entre o peso do peixe e a intensidade parasitária (R2=0.00005; R2<0,4), isto é, não existe um padrão que relaciona o peso (x) e a intensidade parasitária (y). A mesma figura, mostra ainda a recta de regressão da correlação e a equação da recta feita entre estes parâmetros. Intensidade parasitária 35 30 25 20 y = -‐0,000x + 1 3,16 R² = 4E-‐05 15 10 5 0 0 500 1000 1500 2000 Peso do peixe (g) Figura 8. Recta de correlação entre o comprimento do peixe e a intensidade parasitária. José Chissiua Dumbo Página 28 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Relação entre o comprimento do peixe e a intensidade parasitária Na tabela 13 é apresentado o coeficiente de correlação de Pearson entre os dois parâmetros, que é igual a 0.151 a um nível de significância de 74,7%. Tabela 13. Coeficiente de correlação de Pearson entre o comprimento do peixe e a intensidade parasitária. Comprimento do peixe Intensidade parasitária Correlação de Pearson Nível de significância (teste bilateral) Número de parasitas Correlação de Pearson Nível de significância (teste bilateral) Número de parasitas Comprimento do peixe 1 7 0,151 0,747 7 Intensidade parasitária 0,151 0,747 7 1 7 O comprimento padrão do peixe e a intensidade parasitária tem uma correlação positiva fraca de 2,2% (R2=0.022; R2<0.4), ou seja, existe um padrão em 2,2% em que quanto maior for o comprimento do peixe, maior será a intensidade parasitária. O gráfico da figura 9 mostra a recta de regressão da correlação e a equação da recta entre estes parâmetros. 35 Intensidade parasitária 30 25 y = 0,087x -‐ 26,41 R² = 0,022 20 15 10 5 0 410 420 430 440 450 460 470 480 490 Comprimento padrão do peixe (mm) Figura 9. Recta de correlação entre o comprimento do peixe e a intensidade parasitária. José Chissiua Dumbo Página 29 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa 7. Discussão Na presente pesquisa, a fauna parasitária detectada em C. gariepinus é constituída por seis (6) espécies de endoparasitas e uma (1) espécie de ectoparasita. O Nematoda Contracaecum sp. teve maior prevalência (97.5%). Isto deve-se ao facto de o seu ciclo de vida envolver aves predadoras de peixes que através de suas fezes, facilitam a disseminação dos ovos do parasita para vários pontos do lago, acabando por infectar outros peixes (Barson e Avenant-Oldewage, 2006 b). A alta infecção do peixe por este Nematoda, também pode depender da variação da dieta deste peixe ou infecção directa do peixe, sem intervenção do hospedeiro intermediário (Mashego e Saayman, 1981). A alta prevalência e diversidade parasitária, deve-se ao facto de C. gariepinus ser uma espécie de dieta variada. Esta espécie, no estágio jovem é herbívora alimentando-se de ervas, sementes, fito e zooplancton e no estágio adulto passa a ser uma espécie omnívora, alimentanto-se de larvas de insectos, caracóis, microcrustáceos e peixes, e estes são hospedeiros intermediários de parasitas. Outra possível razão do elevado índice de parasitismo nesta espécie de peixe é pelo facto de, esta ser mais activo, competindo melhor para o alimento. Isto significa maior contacto com o alimento e por isso têm muitas chances de serem infectados com parasitas (Paraguassú et al. 2005, Ayanda 2008). C. brieni tem uma morfologia semelhante à apresentada por Barson et al. (2008) e Gibson et al. (2002). Douëllou (1992) apenas apresentou na sua pesquisa, o comprimento do corpo que é 1.2 mm; Gibson et al. (2002) detectou este parasita com um comprimento entre 5 à 30 mm. Os espécimes detectados na presente pesquisa apresentaram dimensões que estão entre os intervalos de dimensões apresentados por estes dois autores. A espécie C. brieni foi reportado por Barson et al. (2008) no rio Save-Runde no Zimbabwe à uma prevalência de 14%, intensidade média 6 e abundância média de 2.5, na musculatura do peixe, facto que difere com a presente pesquisa, em que C. brieni foi detectado nas brânquias. Comparando os índices parasitários, nota-se a existência de uma grande diferença entre os resultados de Barson et al. (2008) e os resultados da presente pesquisa. José Chissiua Dumbo Página 30 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa As metacércarias de C. brieni dectadas no presente estudo apresentaram um comprimento menor em relação as metacércarias detectadas por Barson et al. (2008) que foi de 0,514 mm. Segundo Hoffman (1999), este parasita pode ser encontrado para além dos peixes, nas rãs, nas salamandras e nos gastrópodes. D. mashonense do presente estudo, apresentou maior largura e comprimento do corpo, maior largura da ventosa ventral que o estudo de Barson et al. (2008). Não se observou saco vitelinico, útero e a forma dos testículos como descreve o Gibson et al. (2002); Barson et al. (2008) não apresentou medições das distâncias entre a ventosa ventral e as regiões posterior e anterior, por razões desconhecidas (vide tabela 7). As metacercárias de D. mashonense foram reportadas inicialmente por BeverlyBurton, 1963 citado por Barson et al. (2008) no cérebro e olho de C. gariepinus. As metacercárias desta espécie foram identificadas no Zimbabwe por Barson et al. (2008) no intestino e brânquias de C. gariepinus com P=11.3%, Mashego e Saayman (1989) na cavidade cranial de Clarias gariepinus e C. mellandi com P= 93% e IM=2391. Os valores reportados no presente estudo estão abaixo que os valores reportados por Mashego e Saayman (1989), provavelmente deve-se a diferença de época em que foi realizado o estudo. As metacercárias descobertas por Beverly-Burton, 1963 citado por Barson et al. (2008) e Mashego & Saayman (1989) diferiram com as metacércarias do presente estudo, apenas no órgão do hospedeiro em que foram identificados. Nestes estudos as metacerárias parasitavam o cérebro, olho e cavidade cranial enquanto que as metacércarias do presente estudo parasitavam o intestino e brânquias dos peixes. Segundo Mashego e Saayman (1989), estas metacercárias podem ser encontradas parasitando vários órgãos nesta espécie de peixe. Segundo Gibson et al. (2002), Barson e Marshall (2004) afirmam que esta espécie pode parasitar amfíbios, aves e mamíferos. A espécie P. clarias (Woodland, 1925) foi colectado no intestino anterior e posterior de C. gariepinus. A ocorrência destes indivíduos em C. gariepinus foi reportada na África do Sul por Mashego e Saayman (1989) na vesícula biliar e intestino de C. gariepinus com P=64% e IM=23, Barson (2004) na mucosa do estômago com P=71.4% e IM=5; na Nigéria por Akinsanya e Otubanjo (2006) no intestino com P=1.67%, Olofintoye (2006) no intestino com P=12%, Goselle et al. (2008) no estômago e intestino com P= 17% e IM=51, Ayanda (2009) José Chissiua Dumbo Página 31 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa no intestino com P=3.75%; Zimbabwe por Barson e Avenant-Oldewage (2006 a) no estômago com P=71 e IM=5, Barson et al. (2008) no intestino e vesícula biliar com P=6.5%, IM=1.5 e AM=0.1; África Sub-Sahariana por Hecht e Endemann (1998) e Egipto: Abdel-Amid (1990), estes dois últimos sem índices parasitários apresentados. No presente estudo P. clarias foi detectado apenas no intestino enquanto que nos outros estudos foi detectado para além do intestino, na vesícula biliar e no estômago. Os estudos da infecção por P. clarias, excepto os da Nigéria, mostraram altas prevalência em relação ao presente estudo. Segundo Akinsanya e Otubanjo (2006), a estação seca, em que há uma maior redução do volume das águas, influencia para a elevada prevalência de parasitas. Isto deve-se a escassez de alimento nesse período, assim os peixes podem ingerir quaisquer partículas aumentando a chance de infecção por parasitas. Estudos realizados na Nigéria por Ayanda (2009) e Akinsanya e Otubanjo (2006) apresentam baixa prevalência em relação aos valores do presente estudo. Provavelmente, pelo facto de terem realizado o estudo em peixes de ambiente de piscicultura, onde as condições ambientais e outros organismos como crustáceos (hospedeiros intermediários) são controlados. Os espécimes de P. cyathopharynx detectados no presente estudo apresentaram maiores dimensões nos órgãos medidos em relação aos espécimes detectados por Barson et al. (2008). O mesmo autor não apresenta na sua pesquisa o comprimento e largura do ceco, comprimento da cauda e do mucron, por razões não apresentados (vide tabela 9). A ocorrência de P. cyathopharynx em C. gariepinus foi reportada na Nigéria por Ayanda (2009) no intestino com P= 5.625%, Akinsanya e Otubanjo (2006) no intestino com P= 4.72%; África do Sul por Mashego e Saayman (1981) no intestino posterior com P=15%, Barson et al. (2008) no tracto intestinal com P= 8%, IM=4.7 e AM= 0.38. Na presente pesquisa. a espécie P. cyathopharynx foi detectada no intestino de C. gariepinus, o que não difere com outros estudos apresentados. P. cyathopharynx foi reportada com uma elevada prevalência que todos outros estudos apresentados. Provavelmente, a mudança de dieta do peixe, de espécie herbívora (no estágio jovem) para omnívora (no estágio adulto) e presença de aves piscívoras no lago, tenham a ver com alta prevalência deste parasita. José Chissiua Dumbo Página 32 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa No presente estudo, Contracaecum sp. apresentou comprimento e largura menores do que os indivíduos detectados por Barson (2004) (vide tabela 10). Na tabela do mesmo anexo, não foi apresentado o desvio padrão e os valores máximos e mínimos, porque não foi possível visualizar estes órgãos em todos os espécimes medidos, apenas em um espécime. Contracaecum sp. foi reportado no Zimbabwe por Barson et al. (2008) no intestino e cavidade visceral com P= 55%, IM= 23 e AM=7.9, Barson (2004) na cavidade visceral com P=42.6% e IM= 2.2, na África do Sul por Mashego e Saayman (1989) na cavidade abdominal embebido no mesentério, no tecido adiposo, na musculatura do estômago e no lúmen intestinal com P= 100%, Barson e Avenant-Oldewage (2006 b) no tracto intestinal com P= 86% e IM=16.3. No presente estudo, as larvas de Contracaecum sp. foram detectadas na cavidade visceral encapsulados e embebido no muco entre vísceras, e no intestino, o que não difere com outros estudos. Segundo Mashego e Saayman (1981) e Barson e Marshall (2004) é muito comum ter uma prevalência de 100% de infecção por Contracaecum sp.; isto, é pelo facto de, o ciclo de vida deste parasita envolver aves piscívoras e estas têm alta capacidade de mobilidade facilitando a disseminação rápida dos ovos deste parasita. Contracacecum sp. tem sido reportado em muitas outras espécies de peixes por exemplo em Oreochromis mossambicus (Vubil, 2005), Geophagus brasilensis (Paraguassú et al., 2005), Cyprinus carpio (Boane et al. 2008, Boane 2008), Barbus sp. (Mashego, 1982), Hydrocynus vittatus, Schilbe intermedius e Brycinus imberi (Barson, 2004). Isto deve-se ao facto de as suas larvas serem primariamente parasitas de peixes (hospedeiro intermediário). As larvas sobrevivem no hospedeiro intermediário sem o matar até encontrar o hospedeiro definitivo. Esta tolerância contribuiu para uma maior adaptabilidade à grande variedade de espécies de peixe (Mashego e Saayman 1981, Barson e Avenant-Oldewage 2006 b). A espécie E. mirabilis Oldewage & Van As, 1987, foi colectada nas brânquias essencialmente no 4º arco branquial. Segundo Tsotetsi (2005), o 4º arco branquial de C. gariepinus é curto, com poucos e finos filamentos branquiais e reduzida turbulência. Provavelmente, estas caracteríticas podem justifcar a preferência de custáceos como E. José Chissiua Dumbo Página 33 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa mirabilis para este arco, devido a protecção do parasita. Neste local, o parasita aumenta o sucesso de ataque ao hospedeiro. A ocorrência de E. mirabilis foi reportada no Zimbabwe por Douëllou e Erlwanger (1994) nas brânquias com P=1,55%, na África do Sul por Oldewage e Van As (1987, 1988). O presente estudo apresenta uma maior prevalência de E. mirabilis relativamente a reportada por Douëllou e Erlwanger (1994), facto que pode ser explicado pela alta diversidade e abundância de crustáceos no lago Urema (Machipane, em comunicação pessoal, 2009). Na presente pesquisa E. mirabilis foi detectado nas brânquias, não diferindo assim com os estudos já realizados. Os estudos realizados sobre Ergasilus mirabilis não apresentaram dimensões que pudessem ajudar a comparar com os dados do presente estudo. O presente estudo mostrou não haver uma relação entre o peso do peixe e a intensidade parasitária. Este resultado contrasta com a pesquisa de Akinsaya e Otubanjo (2006). Segundo Akinsaya e Otubanjo (2006) outros factores como espaço disponível e posição geográfica do lago, factores físico-químicos da água do lago, padrões alimentares e hábito do peixe, aumentam a probabilidade de contacto entre o peixe e o parasita, influenciando fortemente para a alta intensidade parasitária, independentemente do peso. Existe uma correlação positiva fraca entre o comprimento do peixe e a intensidade parasitária, isto é, os exemplares com maior comprimento apresentaram maior intensidade parasitária, o que está em concordância com os resultados obtidos por Oliveira (2005). Esta relação directa, deve-se ao facto de, quanto maior for o comprimento do peixe, maior é a superfície disponível no peixe para a aderência do parasita. José Chissiua Dumbo Página 34 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa 8. Conclusão Os resultados obtidos neste trabalho permitem concluir que: A comunidade de parasitas de C. gariepinus do Lago Urema é constituída por 7 espécies de parasitas metazoários pertecentes aos filos Platyhelminthe, Nematoda e Arthropoda, nomeadamente Clinostomoides brieni, Diplostomum mashonense, Polyonchobothrium clarias, Paracamallanus cyathopharynx, Contracaecum sp. e Ergasilus mirabilis. Apenas a espécie de cestoda desconhecida, constitui dúvida se já foi ou não detectada em C. gariepinus. Dos parasitas detectados, Contracaecum sp. teve uma elevada prevalência com cerca de 97,5%. A prevalência, intensidade média e abundância média de Clinostomoides brieni é P=2.44%, IM=1 e AM=0.0244; Diplostomum mashonense é P=21.95%, IM=33.3 e AM=7.32; Polyonchobothrium clarias é P=4.878%, IM=1 e AM=0.0244; Cestoda desconhecido é P=2.44%, IM=1 e AM=0.0244; Paracamallanus cyathopharynx é P=34,15%, IM=11.21 e AM=3.83; Contracaecum sp. é P=97.56%, IM=15.65 e AM=15.27; Ergasilus mirabilis é P=7.32%, IM=26.33 e AM=1.93. Notou-se não haver correlação entre o peso do peixe e a intensidade parasitária e verificou-se uma correlação positiva fraca entre o comprimento padrão e a intensidade parasitária do peixe. José Chissiua Dumbo Página 35 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa 9. Recomendações Perante os resultados obtidos neste trabalho recomenda-se: A realização de estudos sobre parasitas em peixes, para conhecer os factores influentes na intensidade parasitária e que justificam os resultados obtidos no presente trabalho. A realização de outros estudos similares numa época chuvosa para fornecer resultados que se possam comparar com os do presente estudo, que foi realizado na época seca. A criação de condições laboratoriais, para poder-se trabalhar com o peixe ainda vivo, pois órgãos conservados podem perder qualidade para sua operação, dificultando a colecta de muitos outros parasitas que possivelmente teriam sido colectados no peixe ainda vivo. Melhoria das condições de navegação e das redes para a colecta do peixe. José Chissiua Dumbo Página 36 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa 10. Referências bibliográficas • Abo-Esa, J. F. K. (2008). 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Anexos José Chissiua Dumbo Página 43 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Anexo I José Chissiua Dumbo Página 44 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Anexo II Material Laboratorial Ø Peixes Ø Saco de plástico branco Ø Lactofenol (Glicerol: Álcool à 70%); Ø Marcadores permanentes Ø Glicerina Ø Etiquetas Ø Acido acético a 90% Ø Régua milimétrica Ø Solução de álcool a 70%+HCl (1%, Ø Balança electrónica Ø Tina de dissecação Ø Vidros de relógio Ø Godés Ø Lâminas e Lamelas Ø Frascos Ø Placas de Petri Ø Agulhas Ø Bisturis Ø Tesouras Ø Pinças Ø Lupa binocular Olympus SZ-ST Ø Microscópio óptico Olympus BX-51 Ø Corante de Gower José Chissiua Dumbo 1:1) Ø Álcool (etanol) a concentrações de: 70%, 80%, 90%, 95% e 100% Ø Xilol Ø Mícrometro Ø Bálsamo de Canada Página 45 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Anexo III José Chissiua Dumbo Página 46 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Anexo IV Tabela de compilação de dados: Comprimento padrão (C.P), peso (P), ocorrência (Oc), Intensidade (I) e abundância (A) de parasitas em cada peixe. José Chissiua Dumbo Página 47 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Anexo V José Chissiua Dumbo Página 48 Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa Legenda A. Clinostomoides brieni: F-faringe; VO-ventosa oral; CI-ceco intestinal; SU-saco uterino; PE- posro excretor; Ov-ovário; TP- testículo posterior; Fonte; Gibson et al. (2002). B. Diplostomum mashonense: VO- ventosa oral; L-lóbulo; F-faringe; CI-ceco intestinal; Otórgão tribocítico; Vv-ventosa ventral posterior; Fonte: Barson et al. (2008). C: Polyonchobothrium clarias: Ce-canal excretor; Ut-útero; Pg-poro genital; Ov-Ovário; Ttestículos; Vt-vitelária; R-rostelo; G-gancho; b-bótrio; O-ovo; Fonte: Barson & AvenantOldewage (2006 a). D. Paracamallanus cyathopharynx: CB-cápsula bucal; C-cabeça; T-tridentes; E-esófago; Fonte: Barson & Avenant-Oldewage (2006 b). E. Contracaecum sp.: i-lábio; Es- esófago; An-anel nervoso; CI-ceco intestinal; V-ventrículo; Va-apêndice ventricular; Int-intestino; a-ânus; ga- glândulas anais; Fonte: Barson & AvenantOldewage (2006 b). José Chissiua Dumbo Página 49 D A B C Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa José Chissiua Dumbo Página 50 E Estudo de Parasitas Metazoários de Clarias gariepinus (Burchell, 1822) que ocorre no lago Urema, Parque Nacional da Gorongosa José Chissiua Dumbo Página 51