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Dermatologia
Introdução Dermatológica
Histologia
Epiderme
-Camada basal;
-Camada espinhosa;
-Camada granulosa;
-Camada lúcida (presente apenas em coxins e em narinas);
-Camada córnea;
Derme
-Fibras;
-Células (fibroblastos/mastócitos);
-Vasos linfáticos e nervos;
-Músculo eretor e apêndices (glândulas sudoríparas e glândulas
sebáceas);
Hipoderme
-Panículo adiposo;
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01-Epiderme
Composição: 85% de queratinócitos, 5% melanócitos, 3 a 8% de células de
Langerhans (sistema monocítico-macrofágico) e células de Merkel (função tátil).
01.1-Camada Basal
Composição: queratinócitos e melanócitos.
Função: germinativa (formação de células);
*Faz aderência à membrana basal por hemidesmossomos (o pênfigo bolhoso separa a
epiderme da derme).
**Os melanócitos estão presentes nessa camada e confere coloração e proteção
ultravioleta. O controle da proliferação dos melanócitos se dá por fatores genéticos,
mediadores inflamatórios e hormônios.
01.2-Camada Espinhosa
Composição: células filhas da camada basal.
01.3-Camada Granulosa
Composição: células com grânulos com citoqueratina e profilagrina as quais são
proteínas estruturais.
01.4-Camada Córnea
Composição: queratinócitos em fase final de desenvolvimento e estas células
estão envoltas por envelope celular (para suporte e proteção). Há também lipídeos
intercelulares (esquema ‘tijolo-cimento’) as quais são ceramidas, colesterol e ácidos
graxos.
Ocorre descamação nesta camada.
Células
Células de Langerhans: pertentem ao sistema monocítico-macrofágico com
função de reconhecer e apresentar o antígeno para os linfócitos. A exacerbação destas
células caracterizam enfermidades como a dermatite atópica.
Células de Merkel: presente na membrana basal e nos folículos pilosos e tem
função tátil e sensitiva.
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02-Derme
Composição: colágeno, elastina, proteoglicanos (condroitina e queratan),
fibroblastos, mastócitos, leucócitos, folículos pilosos e glândulas sebáceas e
sudoríparas.
02.1-Pêlos: composto por córtex, medula, matriz do elo, melanócitos e bulbo.
Ciclo do pelo
Anagenia: crescimento.
Catagenia: regressão do crescimento.
Telogenia: sem crescimento (queda do pelo).
*Defluxo telogênico: queda excessiva de pelos.
02.2-Glândulas anexas
Sebáceas: unidade pilosebácea a qual produz emulsão para hidratação e
proteção.
Sudoríparas:
Epitriquiais: secretam antimicrobianos e ferormônios.
Atriquiais: sudorese (coxins).
Perianais e supracaudais: mais acometidas em felinos.
Funções da Pele
Barreira circundante, proteção ambiental, confere movimento e forma, produção
de anexos (pelos, unhas e chifres), regulação da temperatura (pouca importância em
pequenos animais), estoque (vitaminas e gorduras), indicador da saúde,
imunorregulação, pigmentação, ação microbiana, percepção sensorial, secreção e
excreção.
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Semiologia Dermatológica
Informações importantes
Idade
Jovens: demodiciose.
Adultos: alergia.
Raça
Cocker: seborreia primária.
Dachshund: acantose nigricante.
Sexo
Machos: adenoma perianal.
Fêmeas: dermatopatias hormonais (síndromes estrogênicas).
Cor
Brancos: dermatite actínica (lesão pré-neoplásica, posteriormente
evoluindo para carcinoma de células escamosas).
Anamnese
Queixa principal: data e idade do aparecimento da lesão, primeira localização,
aspecto e evolução.
Tratamento prévio: dose, frequência e princípio ativo.
Presença de prurido: escala de 0 a 10.
Sazonalidade
Ambiente, manejo e hábitos;
Animais contactantes;
Presença de ectoparasitas;
Histórico dermatológico;
Histórico clínico geral;
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Exame Físico
Pré-requisito: sala com boa iluminação e observar primeiramente à distância.
Observação a distância: distribuição das lesões, simetria e qualidade do pelo
(opaco ou brilhante).
Inspeção dos diversos locais: como interdígito e ventre.
Palpação: pele seca ou oleosa, epilação e cuidado com áreas peludas.
Morfologia das Lesões Cutâneas
01-Lesões primárias
01.1-Máculas: ponto circunscrito com alteração de coloração, não palpável de
até 1 cm de diâmetro.
01.2-Mancha: semelhante à mácula mas maior que 1 cm.
Causas:
inflamação,
hiperpigmentação,
extravasamento de hemácias (púrpura) e hiperemia ativa.
hipopigmentação,
Figura 1. Máculas (setas azuis) e manchas por hiperpigmentação (seta vermelha).
Fonte: WILKINSON e HARVEY, 1997.
01.3-Pápula: elevação cutânea com até 1 cm de diâmetro.
01.4-Placa: coalescência de pápulas e maior que 1 cm de diâmetro.
Causas: inflamação na derme, edema intra e subepidérmico, hipertrofia
epidérmica (escabiose e enfermidades alérgicas).
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Figura 2. Pápulas e pápulas.
Fonte: WILKINSON e HARVEY, 1997.
01.5-Pústulas: pequena elevação circunscrita da epiderme preenchida por pus
(exsudato neutrofílico).
Causas: infecções bacterianas, pênfigo foliáceo e dermatose pustular
subcorneal.
Figura 3. Pústulas circundadas por zonas de eritema.
Fonte: WILKINSON e HARVEY, 1997.
01.6-Vesícula: pequena elevação circunscrita preenchida por líquido seroso
(líquido claro), são lesões frágeis e transitórias.
01.7-Bolhas: pequena elevação circunscrita preenchida por líquido seroso
(líquido claro) mas maiores que 1 cm de diâmetro.
Causas: dermatites virais, dermatites autoimunes e causadas por
irritantes (queimaduras).
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*Exame histopatológico como exame complementar.
Figura 4. Vesícula (pele humana).
Fonte: WILKINSON e HARVEY, 1997.
01.8-Urticária: lesão elevada e circunscrita causada por edema que
normalmente some em minutos/horas.
01.9-Angioedema: grande urticária em região distensível (lábios).
Causas: mordidas de insetos (formigas ou abelhas) e reações vacinais.
Figura 5. Lesões urticariformes e angioedema.
Fonte: WILKINSON e HARVEY, 1997.
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01.10-Edema: extravasamento de plasma na derme ou epiderme.
Causas: edema hidrodinâmico ou inflamatório.
*Possui sinal de Godet positivo.
01.11-Nódulo: elevação sólida e circunscrita, até 3 cm, de diâmetro que
geralmente estende-se para camadas mais profundas da pele.
01.12-Tumor: semelhante ao nódulo mas maior que 3 cm.
*Nem todo nódulo/tumor é neoplasia.
Causas: inflamações ou neoplasias.
Figura 6. Nódulo e tumor (ulcerado).
Fonte: WILKINSON e HARVEY, 1997.
01.13-Vecurrosidade: lesão sólida, acinzentada e áspera, dura e inelástica
decorrente do aumento da camada córnea.
Causas: papilomatose.
01.14-Vegetação: lesão sólida (cresce se distanciando da superfície cutânea),
avermelhada e brilhante, decorrente do aumento da camada espinhosa.
Causas: papilomatose.
01.15-Telangectasia: evidenciação dos vasos cutâneos através da pele,
decorrente de seu adelgaçamento.
Causas: atrofia cutânea (hiperadrenocorticismo).
02-Lesões primárias ou secundárias
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02.1-Alopecia: perda de pelo em determinada região.
02.2-Hipotricose: alopecia parcial.
Causas:
Primária: endócrino e folículopatia.
Secundária: autotrauma (doença pruriginosa).
02.3-Caspa: acúmulo de fragmentos da camada córnea, não aderido à pele.
Causas:
Primária: seborreia idiopática.
Secundária: inflamação.
02.4-Crosta: concreção amarelada (melicérica) ou vermelha-escura
(hemorrágica), aderido na superfície cutânea, formada por restos teciduais, pus e
sangue.
Causas
Primária: seborreia idiopática.
Secundária: piodermite.
Figura 7. Crostas.
Fonte: WILKINSON e HARVEY, 1997.
02.5-Comedão: folículo piloso dilatado, preenchido com células cornificadas e
material sebáceo.
Causas
Primária: seborreia idiopática.
Secundária: hiperadrenocorticismo e hipotireoidismo.
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Figura 8.Comedões.
Fonte. WILKINSON e HARVEY, 1997.
02.6-Hiperpigmentação: melanina epidérmica e ocasionalmente dérmica
aumentada.
Causas
Primária: dermatopatia hormonal.
Secundária: inflamação crônica.
02.7-Hipopigmentação: perda da melanina epidérmica.
Causas
Primária: vitiligo.
Secundária: inflamação.
Figura 9. Hipopigmentação.
Fonte: Clínica Veterinária Cães e Gatos – Lages/SC, 2011.
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03-Lesões secundárias
03.1-Colerete epidérmico: fragmento epidérmico
remanescente de pústulas, pápulas, vesículas ou bolhas.
organizado
em
aro,
Causas: piodermite e dermatopatias autoimunes.
03.2-Escoriação: erosões ou úlceras causadas por arranhadura, mordida ou
fricção.
Causas: prurido.
03.3-Erosão: defeito epidérmico pouco profundo, não penetra na membrana
basal e cura sem cicatrização.
03.4-Úlcera: lesão com exposição da derme subjacente, gera cicatrização.
Causas: doenças epidérmicas e foliculites profundas.
Figura 10. Erosão e úlcera.
Fonte. WILKINSON e HARVEY, 1997.
Figura 11. Ulcerações cutâneas
Fonte: Clínica Veterinária Cães e Gatos – Lages/SC, 2012.
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03.5-Hiperqueratose: espessamento da pele decorrente do aumento da camada córnea.
Causas: escabiose.
03.6-Liquenificação: espessamento e endurecimento da pele, caracterizado por
excesso de marcações cutâneas, geralmente pigmentados e decorrente do aumento da
camada espinhosa.
Causas: geralmente por fricção ou processo inflamatório crônico.
Figura 12. Liquenificação.
Fonte. WILKINSON e HARVEY, 1997.
Métodos Diagnósticos Complementares
Raspado de pele: para visualização de ácaros e estruturas fúngicas.
Exame citológico: por imprint ou estourar pústulas e observar conteúdo.
Lâmpada de Wood: visualização de Microsporum canis.
Microbiológico: cultura.
Testes hormonais: hiperadrenocorticismo e hipotireoidismo.
Biopsia de pele: bisturi em lesões elevadas ou Punch.
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Semiologia do Sistema Auditivo
Importância
Cerca de 10 a 20% das afecções dermatológicas acometem o sistema aditivo.
Anatomia
-Orelha externa: composta por cartilagens e meato acústico externo, sendo
formado por epitélio estratificado, glândulas ceruminosas e sebáceas, folículos pilosos e
músculos;
-Membrana timpânica: divide a orelha média da orelha externa. Possui as
seguintes camadas: epitélio ceratinizado, tecido conjuntivo, epitélio novamente, pars
flacida e pars tensa;
-Orelha média: é delimitada pela bula timpânica;
-Orelha interna: formada pela porção petrosa do osso temporal. Possui pouca
importância semiológica auditiva;
Figura 13. Desenho esquemático do aparelho auditivo canino
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Anamnese
Deve-se verificar se o animal apresenta meneios de cabeça, prurido auricular,
dor, odor, secreção, histórico médico de progressão e fatores primários que possam
desencadear tais alterações;
Exame físico
Avalia-se os aspectos do pavilhão externo, se há presença de eritema,
ulcerações, secreção, edema, pigmentação e dor. Realiza-se palpação.
No exame otoscópico, por meio de luz halógena avalia-se com o animal sob
anestesia qual o aspecto encontrado no interior do canal auditivo. Pode-se realizar
vídeo-otoscopia.
-Anormalidades do exame otoscópico: presença de ácaros, míiases,
carrapatos, corpos estranhos, secreção, edema, nódulos, úlceras, sangramento,
opacidade aumentada e ruptura de tímpano.
Métodos Diagnósticos Complementares
Exame radiográfico, tomografia computadorizada, citopatologia para avaliar a
presença de bactérias, leveduras e células, exame microbiológico e histopatológico.
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Terapêutica Dermatológica
01-Agentes de Limpeza e Hidratação
01.1-Sabões: sais de sódio ou potássio de ácidos graxos.
Ação: emulsificar material oleoso, retirando sujidades.
01.2-Detergentes: semelhante ao sabão mas menos irritante (sabão líquido).
01.3-Sabões e Xampus com pH ajustado: semelhante mas menos irritante.
1.04-Xampus Veterinários:
Umectantes: mantém a hidratação por diminuírem a perda hídrica.
Emolientes: tornam as sujidades moles.
Hipoalergênicos;
02-Veículos: substâncias que atuam por suas propriedades físicas.
02.1-Sólidos pulverizados: talcos.
02.2-Líquidos e semi-sólidos: álcool.
02.3-Óleos vegetais: óleo de amêndoas.
02.4-Polissorbatos: lanolina.
02.5-Ácidos graxos minerais e óleos: vaselina.
02.6-Polietilenoglicóis;
02.7-Propilenoglicol;
Formas Farmacêuticas
01-Pós: pouco utilizados.
Exemplos: ectoparasiticidas (talco anti pulgas), antimicrobianos (ácido bórico) e
antifúngico (enilconazol, miconazol e clotrimazol).
02-Soluções: substância em líquido.
Aquosa: permanganato de potássio (antisséptico e adstringente), hipoclorito de
sódio (solução de Dakin – antisséptico) e acetato de alumínio 5% (Burow).
Alcóolicas: tintura de Benjoin (antisséptico e funciona como uma cola para
colocação de micropore em ferida cirúrgica).
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03-Loções: soluções para uso com fricção, geralmente alcóolicas. São contra indicados
em peles ressecadas.
Exemplos: betametasona 0,1%.
04-Emulsões, pomadas, pastas, unguentos e cremes: uso limitado em lesões focais e
pequenas lesões. Maior utilização em soluções otológicas.
Exemplos:
esteroides.
substâncias
acaricidas,
antimicrobianos
e
antiinflamatórios
05-Colóides (gel ou aerossol): substância não gordurosa em que há uma fase dispersa
(princípio ativo) e a dispersiva (meio). Possuem utilização mais ampla.
Exemplo: spray de clorexidine e aceponato de hidrocortisona.
Mecanismo de Ação dos Fármacos
01-Adstringentes: quebra e precipita proteínas e indicado para lesões exsudativas.
Exemplos: solução de Burow, nitrato de prata, ácido acético e permanganato de
potássio.
02-Emolientes e umectantes
Emolientes: amaciam e lubrificam.
Exemplos: lanolina, vaselina e propilenoglicol.
Umectantes: impedem a perda hídrica.
Exemplos: ureia e glicerina.
03-Antipruriginoso: são pouco eficazes.
Principal: glicocorticoides.
Outros: xampus para remoção dos alérgenos fisicamente e sem efetividade
antipruriginosa.
04-Antibacterianos: antissépticos que inibem o crescimento bacteriano.
Exemplos: álcool, triclosan, clorexidine 3% (potencial antifúngico), PVPI
(iodopovidona) e agentes oxidantes (peróxido de benzoíla).
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05-Antiinflamatórios
Exemplos: glicocorticoides (betametasona, triancinolona e hidrocortisona).
Tabela 1. Glicocorticóides e suas classificações quanto à potência.
Glicocorticóide
Potência
Clobetasol e fluocinolona
Extrema
Dipropionato de betametasona e triancinolona
Potentes
Beclometasona
Moderada
Acetato de hidrocortisona
Menos potentes
06-Antifúngicos: possuem várias apresentações
Mais utilizados: imidazólicos (cetoconazol, clotrimazol e miconazol).
Outros: nistatina e iodo.
07-Antiparasitários
Exemplos: amitraz, benzoato de benzila (acaricida), monossulfiran, permetrina,
deltametrina (carrapaticida e pulicida), tiabendazol, selamectina (pulicida, carrapaticida
e sarnicida) e fipronil.
08-Xampus
Cuidados: conhecer as características do xampu, permanência do xampu, atingir
a pele, realizar uma segunda ensaboação e se necessário utilizar dois xampus diferentes.
Tipos: antisseborréicos, antibacterianos, antimicóticos e antiparasitários.
08.1-Antisseborréicos:
(descamação).
utilizados
para
distúrbios
de
epidermopoiese
Ceratolíticos: cauda degeneração dos corneócitos e melhora a
epidermopoiese.
Exemplos: peróxido de benzoíla (ceratolítico, bactericida e
comedolítico que causa ressecamento e irritação).
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Ceratoplasticos: ação citostática da camada basal.
Exemplos: alcatrão (desengordurante), enxofre e ácido salicílico
(sinergismo). Causam irritação, odor desagradável e manchas. Não pode utilizar em
felinos.
Ceratoplásticos/Ceratolíticos:
Exemplos: enxofre (fungicida, bactericida e acaricida), ácido
salicílico e sulfato de selênio (desengordurante e não pode ser utilizado em felinos).
08.2-Antibacterianos: combate da microbiota transitória.
Exemplos: clorexidina 3%, peróxido de benzoíla 2,5% (para infecções e
distúrbios seborreicos associados), PVPI 1% (altera a coloração do pelo) e enxofre 0,5%
a 1% (não muito utilizado).
08.3-Antimicóticos
Exemplos: cetoconazol 2%, clorexidine 3 a 4%, peróxido de benzoíla
2,5% e PVPI 1%.
08.4-Antiparasitários
Exemplos: deltametrina e permetrina (pulgas e carrapatos), benzoato de
benzoila e organofosforados (perigo de intoxicação).
08.5-Xampu Tecnologia Glyco (Allermyl® - Virbac): diminui a adesão de
bactérias (diminuição da piodermite secundária) e hidratação cutânea.
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Dermatopatias Bacterianas
Introdução
A pele é uma barreira protetora e possui três componentes, químico, físico (pelo
e extrato córneo) e microbiano (bactérias residentes e bactérias transitórias).
*O microrganismo mais importante o Staphylococcus pseudointermedius (residente em
pele de cães normais).
**Em felinos o crescimento bacteriano é menos importante em comparação aos caninos.
Tipos de Infecção Cutânea
Primária: não recidiva em período curto de tempo e não há fator de base
conhecido.
Secundária: infecções de repetição (pioderma), deve-se investigar a causa
primária e caso seja negligenciada a causa primária leva a falha terapêutica.
Princípios Terapêuticos Gerais
01-Tratamento Tópico
-Quase sempre necessário;
-Se faz monoterapia em lesões focais e discretas;
-Soluções: iodopolividona, clorexidine 1% (spray), rifocina (spray antibiótico) e
nitrofurasona (bom para feridas contaminadas).
-Pomadas: nitrofurasona e neomicina.
-Xampu: indicado para lesões focais e difusas.
Exemplos: clorexidine 3% (Hexadene®) e peróxido de benzoíla 2,5%
(Peroxydex®).
*Estas concentrações são importantes para atingirem também leveduras.
02-Tratamento Sistêmico
O principal microrganismo a ser combatido é o Staphylococcus
pseudointermedius o qual é gram positivo. Utiliza-se cefalosporinas de primeira geração
como a cefalexina (30 mg/kg BID), cefadroxila (se houver vômitos com cefalexina
pode-se usar este antibiótico), amoxicilina com clavulanato e cefovecina (Convenia® –
Pfizer / cefalosporina de 4ª geração e deve ser utilizada como último recurso).
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Outros antibióticos: enrofloxacina e sulfas.
*SARS: são Staphylococcus aures resistentes à meticilina (cepa resistente).
Duração do tratamento: variável conforme a apresentação clínica.
Infecções de Superfície
01-Intertrigo
Sinônimo
Dermatite das dobras cutâneas ou piodermatite das dobras cutâneas.
Definição
É o acúmulo de sujidades, sebo, lágrimas e debris celulares nas dobras cutâneas
levando a um crescimento bacteriano.
Localização
Dobras faciais, dobras labiais, dobras caudais, dobras vulvares e dobras
corporais.
Características Clínicas
Dobras eritematosas, presença de odor fétido nas dobras e pruriginoso ou não.
Epidemiologia
Raças: Bulldog Ingles, Bullgog Francês e Sharpei.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos
-Exames Complementares:
-Citologia (imprint cutâneo): verifica-se uma mistura de bactérias e
também pode haver fungos.
Tratamento
-Administração de antibiótico sistêmico por período curto, entre 7 a 10 dias.
-Limpeza diária ou em dias alternados das dobras com xampus/loções com
clorexidina 3% ou peróxido de benzoíla 2,5%.
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-Xampu ceratomodulador diário como o peróxido de benzoíla, com aplicação de
1 a 2 vezes por dia e após isto, 2 a 3 vezes por semana.
-Pomada antibiótica e anti-inflamatória são opcionais.
-Em casos de cães obesos, deve-se iniciar um programa de redução de peso.
-Tem-se a possibilidade da extirpação cirúrgica do excesso de dobras e que
normalmente é curativo.
Figura 14. Dermatite de dobras cutâneas.
Fonte: MEDLEAU e HNILICA, 2003.
02-Dermatite Úmida Aguda
Sinônimo
Dermatite piotraumática ou eczema úmido.
Definição
Enfermidade caracterizada pela quebra da barreira protetora cutânea por trauma
ou prurido, levando assim à uma lesão que surge em poucas horas, com características
de lesão eritematosa, focal, circunscrita, úmida, exsudativa e dolorosa.
Causas
Parasitas (pulgas, sarna, entre outros), hipersensibilidade (atopia, alimento,
picada de pulga), doença do saco anal, otite externa, foliculite, trauma (ferimento ou
corpo estranho) e dermatite de contato.
Epidemiologia
Enfermidade comum em cães de grande porte que possuem subpêlo e raro em
gatos.
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Características Clínicas
Verifica-se prurido agudo, área de eritema que rapidamente se amplia, alopecia,
transudação e erosão cutânea com bordas bem delimitadas, geralmente doloridas e
únicas.
Localização
Atingem mais comumente tronco, base da cauda, lateral da coxa, pescoço ou
face.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos;
-Exames Complementares:
-Citologia (imprint cutâneo): nota-se inflamação supurativa com diversas
bactérias.
Tratamento
-Identificar e tratar a causa primária.
-Tricotomia e limpeza local.
-Aplicação de xampu de clorexidine 3% uma a duas vezes por dia.
-Em casos de prurido intenso pode-se administrar glicocorticoides como a
prednisona SID por 7 dias.
-Administração de antibiótico sistêmico inicialmente por 7 a 10 dias podendo
estender.
Figura 15. Dermatite piotraumática.
Fonte: MEDLEAU e HNILICA, 2003.
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03-Impetigo
Sinônimo
Dermatite pustular superficial.
Definição
Enfermidade causada por infecção bacteriana superficial de pele glabra que pode
estar associada à doença predisponente ou outros fatores primários como
endoparasitismo, ectoparasitismo, dieta inadequada ou ambiente.
Etiologia
Staphylococcus coagulase positiva.
Epidemiologia
Acomete cães jovens antes da puberdade.
Características Clínicas
Verifica-se pápulas, pústulas não-foliculares e pequenas crostas limitadas à pele
das regiões abdominal, inguinal e axilar. Não há dor ou prurido.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos;
-Exames Complementares:
-Citologia (pústula): verifica-se neutrófilos e cocos bacterianos.
-Cultura bacteriana;
Tratamento
-Pode ocorrer regressão espontânea e deve-se identificar e controlar a causa
predisponente.
-Aplicação de xampu de clorexidine 3% diários ou em dias alternados durante 7
a 10 dias.
-Pode-se utilizar antibióticos sistêmicos em certos casos durante 7 a 14 dias.
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Diagnóstico Diferencial
Cinomose pode iniciar com pústulas cutâneas, demodiciose, picadas de insetos e
estágio inicial de sarna.
04-Piodermite Mucocutânea
Definição
Enfermidade caracterizada por tumefação e eritema labial, seguindo de fissura,
crostas e erosão, acometendo lábios e pele ao redor da boca.
Características Clínicas
Edema, eritema e crostas mucocutâneas, as quais podem ser bilateralmente
simétricas. As áreas atingidas podem apresentar dor ou prurido, automutilação,
exsudação, fissuras e despigmentação.
Figura 16. Piodermatite mucocutânea.
Fonte: MEDLEAU e HNILICA, 2003.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos;
-Exames Complementares:
-Citologia (esfregaço): verifica-se bastonetes e/ou cocos bacterianos.
-Histopatologia de pele;
Diagnóstico Diferencial
Lupus eritematoso discoide, intertrigo de dobras labiais e pênfigo eritematoso ou
foliáceo.
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*Se há envolvimento de mucosa, há suspeita de enfermidade autoimune.
Tratamento
-Aplicação de xampu de clorexidine 3% diário por 14 dias.
-Aplicação de pomada antibiótica duas vezes ao dia, mas a maioria dos animais
acaba lambendo e removendo-a.
-Administração de antibiótico sistêmico durante 14 a 21 dias;
*Recidivas são comuns e deve-se ter um tratamento de controle a longo prazo.
05-Piodermite Superficial
Sinônimo
Foliculite bacteriana superficial.
Definição
Enfermidade bacteriana mais comum caracterizada pela infecção da porção
superficial do folículo piloso. Geralmente é secundárias desencadeada por fatores como:
corpo estranho, traumatismo ou ferida de picada, hipersensibilidade (atopia, alimentar
ou a picada de pulga), demodiciose, escabiose, endocrinopatias, doenças auto-imunes,
terapia imunossupressora e desnutrição.
Etiologia
Staphylococcus pseudointermedius
Epidemiologia
Comum em cães e raro em gatos.
Características Clínicas
Presença de pústulas pequenas (lesões transitórias), pápulas, colaretes
epidérmicos (pústulas pequenas ao estourarem se transformam em colaretes
epidérmicos), crostas melicéricas, hiperpigmentação (quando crônico), escoriação e
alopecia.
Pode ser pruriginoso ou não. Caso seja pruriginoso deve-se pensar em atopia
como fator primário.
Complicações
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Infecções de repetição ou lesões mistas deve-se considerar os seguintes fatores
primários: dermatite atópica (principal), hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo,
demodiciose, leishmaniose e foliculite bacteriana recidivante idiopática (ocorre ao
suspender antibióticos, sendo uma disfunção imunológica de linfócitos T).
*Tratamento alternativo para foliculite bacteriana recidivante: pode-se fazer a aplicação
de SPL (lisado de bactérias) o qual modula o sistema imunológico ou fazer a
administração de antibióticos em forma de pulsoterapia (administração de antibióticos
em baixa frequência ad eternum).
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos;
-Exames Complementares:
-Citologia (pustula): verifica-se neutrófilos e cocos bacterianos.
-Histopatologia de pele;
-Cultura bacteriana;
Tratamento
-Deve-se primeiramente identificar e corrigir a causa primária.
-Administração de antibióticos sistêmicos duas vezes ao dia durante 15 a 21
dias.
-Aplicação de xampu de clorexidine 3% três vezes por semana.
-Em casos de lesões discretas, opta-se pelo tratamento tópico;
-Tratamento da causa primária;
-Tratamento da foliculite bacteriana recidivante: pode-se fazer a aplicação de
SPL (lisado de bactérias) o qual modula o sistema imunológico ou fazer a administração
de antibióticos em forma de pulsoterapia (administração de antibióticos em baixa
frequência ad eternum).
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Figura 17. Piodermatite superficial.
Fonte: MEDLEAU e HNILICA, 2003.
Infecções Bacterianas Profundas
Características
São enfermidades mais graves, atingem a derme subjacente e o panículo
adiposo. Pode-se ter sinais clínicos sistêmicos como prostração, apatia e febre e evoluir
para sepse, endocardite e morte.
Tem-se fator de base como infecções focais de trauma.
Quando há lesões difusas deve-se suspeitar de causa base como demodiciose,
imunossupressão e endocrinopatias (hiperadrenocorticismo).
Quando lesões são localizadas deve-se considerar trauma crônico.
Denominações
Furunculose: quando há ruptura do folículo.
Celulite e Paniculite: quando há o acometimento do tecido subcutâneo e
gorduroso.
Etiologia
Staphylococcus, Proteus, Pseudomonas e Escherichia coli.
Características Clínicas
Verifica-se pústulas, lesões erodoulceradas, fístulas drenantes, áreas de necrose
tecidual e crostas melicéricas.
Tratamento
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-Administração de antibióticos sistêmicos durante 30 a 60 dias, podendo
estender;
-Deve-se considerar cultura e antibiograma;
-Tratamento da causa primária (Ex.: elastose solar em animais brancos);
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Dermatopatias Parasitárias
Causadas pelas reações imunológicas cutâneas contra os parasitas. A inflamação
é decorrente da tentativa de localizar e neutralizar o agente, toxinas e seus produtos de
excreção.
Os parasitas podem causar efeitos locais, sistêmicos ou transmitir doenças.
01-Carrapatos
Espécies
01.1-Rhipicephalus sanguineus: é transmissor de Erlichia canis, babesiose e
causa a paralisia do carrapato.
01.2-Dermacentor variabilis: é transmissor da febre maculosa.
Figura 18. Rhipicephalus sanguineus e Dermacentor variabilis respectivamente.
Características Clínicas
Animais podem ser assintomáticos, com um nódulo inflamado no local de
fixação do carrapato ou com sinais de doenças transmitidas por carrapato ou paralisia do
carrapato.
Tratamento
Animal:
-Fipronil (Frontline®);
-Sumitrin com sumilarv (My Pet®);
-Garma (piretróide);
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-Tempo de aplicação: infestação discreta seguir as recomendações do fabricante
(geralmente uma vez ao mês) e em infestações maciças deve-se fazer aplicações a cada
15 dias.
Ambiental:
Aplicação de amitraz a cada 2 semanas (diluir 4 mL em 1 litro de água) por no
mínimo 4 semanas. Deve-se aplicar sobre as paredes, teto e arbustos.
02-Pulicose
Espécies
02.1-Ctenocephalides felis
02.2-Ctenocephalides canis
02.3-Pulex spp
02.4-Tunga penetrans
Figura 19. Ctenocephalides felis, Ctenocephalides canis, Pulex spp e Tunga penetrans
Consequências
-DAPP (Dermatite Alérgica à Picada de Pulga);
-Dipilidiose (Dipylidium caninum);
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos;
-Exames Complementares:
-Inspeção visual: de pulgas ou de suas fezes.
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-Testes alérgicos: intradérmicos.
-Sorologia: título sérico de IgE anti-pulga positivo.
Tratamento
01-Pulicidas
01.1-Controle no hospedeiro: há diversos fármacos que podem ser usados como
o fipronil com metopreno, sumitrin com sumilarv, nitempiran pipiprol ou imidacloprida
com permetrina.
®
Fipronil com metopreno (Frontline Plus ): aplicação spot-on na cernelha do
animal conforme o peso corpóreo.
®-
Sumitrin com sumilarv (My Pet Vetbrands): aplicação spot-on na cernelha do
animal conforme o peso corpóreo.
®
Imidacloprida com permetrina* (Advantage Max 3 - Bayer ): aplicação spot-on
na cernelha do animal conforme o peso corpóreo.
®
Pipiprol (Practic – Novartis): 12,5 mg/kg (0,1 mL/kg). Aplicação spot-on na
cernelha do animal conforme o peso corpóreo.
®
Nitempiram (Capstar - Novartis): 1 mg/kg. Administra-se via oral um
comprimido a cada dois dias e posteriormente um comprimido a cada quatro
dias, totalizando seis comprimidos de tratamento.
*Produto possui ação contra mosquitos (em áreas de alto risco para Leishmaniose a aplicação do produto
deve ser a cada 3 semanas).
01.2-Controle ambiental: difícil eliminação ambiental, pois o estágio de pupa é muito
resistente e pode-se utilizar fármacos que interrompem o ciclo do parasito como o
lufenuron ou metopreno. E pode-se contratar empresa especializada de pragas
veterinárias.
®
Lufenuron (Program Plus - Novartis): 10 mg/kg. Administra-se via oral uma vez
ao mês com a principal refeição do dia.
®
Metopreno (Frontline Plus ): também possui efeito ambiental. Aplicação spoton na cernelha do animal conforme o peso corpóreo.
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03-Demodiciose Canina (Sarna Demodécica)
Definição
É umas das principais dermatopatias caninas, ocasionadas por ácaros comensais
do gênero Demodex, destacando-se o Demodex canis, que proliferam excessivamente,
em decorrência da falha na resposta celular.
Espécie
03.1-Demodex canis: está presente na microbiota cutânea normal, localizado em
folículos pilosos e raramente em glândulas sebáceas. Alimenta-se de células, sebo e
debris celulares. Apresenta quatro formas em seu ciclo: ovo, larva, ninfa e adulto.
Transmissão
Ocorre nas primeiras 24 a 72 horas de vida do filhote quando esta em
aleitamento (passagem de ácaro da mãe para o filhote).
É dependente da suscetibilidade genética do filhote. Sendo a hipótese mais
aceita o defeito imunológico em células T e fator imunossupressor liberado pelo ácaro.
Não é considerada zoonose.
Fatores Predisponentes
Endoparasitismo, subnutrição, imunossupressão ou períodos de estresse (estro,
prenhes, cirurgia e transportes).
Características Clínicas
01-Forma localizada: uma afecção de curso benigno e na maioria dos casos autolimitante, sem necessidade de tratamento. Animais com menos de um ano de idade são
os mais acometidos. Apresenta área com eritema moderado, alopecia parcial,
descamação, prurido raro e quando há é discreto. Os locais mais acometidos são face,
região periocular, comissura labial e membros torácicos.
02-Forma generalizada: é considerada umas das mais severas dermatopatias em cães.
As lesões são variáveis e, em casos mais graves, pode ocorrer foliculite ou foliculose
severa, com exsudação e hemorrágica e presença de bactérias oportunistas, que podem
resultar na morte do cão. Verifica-se linfoadenomegalia, alopecia, descamação e
hiperpigmentação. Demodiciose pustular pode haver prurido.
03-Pododemodiciose: verifica-se eritema, alopecia, hiperpigmentação e infecções
secundárais apenas nos interdígitos.
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Figura 20. Demodex (setas azuis)
Fonte: Clínica Veterinária Cães e Gatos – Lages/SC, 2011.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos;
-Exames Complementares:
-Raspado profundo de pele: demonstração de ácaros ao microscópio
óptico. A presença de um único ácaro na lâmina não é diagnóstico da
enfermidade, mas é provável que seja demodiciose. Deve-se raspar em
diferentes locais do corpo do animal.
*Pododemodiciose de Sharpei pode ser necessário realizar biópsia.
Diagnóstico Diferencial
Piodermatite, dermatofitose (foliculopatia fúngica em filhotes), pênfigo e lúpus
(autoimunes) e dermatomiosite (comum em Collie).
Tratamento
Forma localizada:
-Pode haver regressão espontânea;
-Pode-se aplicar amitraz local (sobre a lesão, uma vez por semana);
-Peróxido de benzoíla;
Forma generalizada:
-Apresenta atualmente 94% de cura.
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-Deve-se pesquisar fator desencadeante e estado geral do animal (nutrição e
saúde geral).
-A cura ocorre em 12 meses e não há recidivas.
-Amitraz: deve-se realizar a tricotomia total do animal, remover as crostas com o
uso de xampu de peróxido de benzoíla 2,5% e após isto aplicar amitraz (Triatox®)
diluído 4 ml/litro (1:250), banhar, não enxaguar e nem expor o animal ao sol. Deve
deixar o animal secar naturalmente.
Efeitos colaterais:
intoxicação (ioimbina é o antidoto)
prurido
generalizado,
sonolência,
salivação,
Tempo de terapia: após o raspado negativo deve-se manter o tratamento
por mais 30 a 60 dias.
-Ivermectina: administração de 0,6mg/kg SID VO por até 210 dias.
*Cuidado: raças como Collie e Pastor Shetland.
-Milbemicina oxima (Interceptor® ou Program Plus®): apresenta custo elevado
para animais de grande porte. É uma alternativa para as raças sensíveis à ivermectina.
Dose: 0,5 mg/kg a cada 3 dias VO.
Tempo de terapia: 60 a 300 dias.
Figura 21. Demodiciose generalizada canina.
Fonte: UNESP – Araçatuba (Bruna Duarte Pacheco), 2012.
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Figura 22. Demodiciose generalizada canina.
Fonte: Clínica Veterinária Cães e Gatos – Lages/SC, 2011.
04-Demodiciose Felina (Sarna Demodécica)
Espécie
04.1-Demodex cati (formato menos alongado que o Demodex canis).
Características Clínicas
Verifica-se máculas, alopecia circunscritas, caspas, eritema, hiperpigmentação,
crostas e prurido variável.
Causa de Base
Geralmente associada à enfermidades debilitantes como diabete mellitus,
imunodeficiência felina (FIV), leucemia felina (FELV) e hiperadrenocorticismo.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos;
-Exames Complementares:
-Raspado profundo de pele: demonstração de ácaros ao microscópio
óptico. A presença de um único ácaro na lâmina não é diagnóstico da
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enfermidade, mas é provável que seja demodiciose. Deve-se raspar em
diferentes locais do corpo do animal.
Tratamento
-Identificar e corrigir qualquer doença predisponente.
-Lesões localizadas podem se curar espontaneamente, sem tratamento.
-Amitraz: deve-se realizar a tricotomia total do animal, remover as crostas com o
uso de xampu e após isto aplicar amitraz (Triatox ®) diluído 4 ml/litro (1:250), banhar,
não enxaguar e nem expor o animal ao sol. Deve deixar o animal secar naturalmente. O
banho deve ser feito semanalmente.
*Não utilizar amitraz em gatos diabéticos.
Prognóstico
Favorável, apresentando boa resposta ao tratamento.
05-Escabiose Canina (Sarna Sarcóptica)
Etiologia
Sarcoptes scabiei var. canis
Característica do Agente
-O ácaro encontra-se presente no extrato córneo.
-As fêmeas escavam galerias e depositam seus ovos.
-É transmissível (zoonose).
-Apresenta resistência ambiental variável e é raro em felinos.
Figura 23. Sarcoptes scabiei.
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Características Clínicas
Predominantemente ocorre em áreas glabras (cotovelo, região ventral abdome,
tórax e orelhas), pode se espalhar por todo o corpo mas poupa a região dorsal do tronco,
verifica-se erupções avermelhadas papulocrostosas, alopecia, crostas melicéricas,
escoriações e prurido intenso não sazonal que responde discretamente a corticoides.
Alguns cães podem apresentar características atípicas.
Figura 24. Escabiose canina
Fonte: Clínica Veterinária Cães e Gatos – Lages/SC, 2011.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos (prurido intenso, não estacional, não responsivo à
glicocorticoides e 75 a 90% dos animais acometidos apresentam o reflexo oto-podal
positivo).
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-Exames Complementares:
-Raspado superficial de pele: observa-se a presença do ácaro ou de suas
fezes. Deve-se realizar múltiplos raspados e os locais de escolha são áreas não
escoriadas, margens auriculares e cotovelos. O raspado é positivo em apenas 20% dos
casos e deve-se iniciar o tratamento mesmo com o resultado do raspado negativo.
Diagnóstico Diferencial
Dermatite atópica, hipersensibilidade alimentar e malasseziose.
Tratamento
-Animais de pelagem densa devem ser tosados;
-Aplicação de peróxido de benzoíla para remoção de crostas e debris.
-Amitraz (Triatox®): deve-se realizar a tricotomia total do animal, remover as
crostas com o uso de xampu e após isto aplicar amitraz (Triatox ®) diluído 4 ml/litro
(1:250), banhar, não enxaguar e nem expor o animal ao sol. Deve deixar o animal secar
naturalmente. O banho deve ser feito semanalmente e cerca de 4 a 6 aplicações.
-Ivermectina:
Dose: 0,2 a 0,4 mg/kg duas a três injeções a cada 14 dias SC ou 3 a 4
doses VO com intervalos de uma semana.
*Não aplicar em filhotes abaixo de 6 semanas.
-Milbemicina oxina (Milbemax® ou Program Plus®)
Dose: 2mg/kg VO semanalmente durante 21 dias (totalizando 3
administrações)
-Selamectina (Revolution®):
Dose: 6 a 12 mg/kg, uma ou duas aplicações tópicas com intervalo de 1
mês.
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06-Escabiose Felina (Sarna Notoédrica)
Etiologia
Notoedres cati
Características Clínicas
Semelhante à escabiose canina com lesão auricular que progride para a face,
pálpebras e pescoço. Verifica-se pele espessada, crostas, alopecia, prurido e
linfoadenomegalia.
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos
glicocorticoide).
(prurido
intenso,
não
estacional,
não
responsivo
à
-Exames Complementares:
-Raspado superficiais de pele: observa-se a presença do ácaro ou de suas
fezes. Deve-se realizar múltiplos raspados e os locais de escolha são áreas não
escoriadas, margens auriculares e cotovelos. O raspado é positivo em apenas 20% dos
casos e deve-se iniciar o tratamento mesmo com o resultado do raspado negativo.
Diagnóstico Diferencial
Carcinoma de células escamosas devido a lesão em margem auricular,
Otodectes, dermatite atópica, hipersensibilidade alimentar, pênfigo e lúpus.
Tratamento
-O tratamento tradicional consiste em tosa e banho com xampu anti-seborréico
leve para remoção das crostas seguido pela aplicação de uma solução de sulfeto de
cálcio 2 a 3% até a cura das lesões.
-Amitraz: deve-se realizar a tricotomia total do animal, remover as crostas com o
uso de xampu e após isto aplicar amitraz (Triatox®) diluído 4 ml/litro (1:250), banhar,
não enxaguar e nem expor o animal ao sol. Deve deixar o animal secar naturalmente. O
banho deve ser feito semanalmente e cerca de 1 a 3 aplicações.
-Ivermectina: administração 0,3 mg/kg VO ou SC com intervalo de 2 semanas.
-Doramectina (Dectomax® - Pfizer): aplicação de 0,3mg/kg SC em dose única.
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Dermatopatias Fúngicas
Micoses superficiais
-Dermatofitoses;
-Malassezioses;
Micoses subcutâneas:
-Esporotricose;
-Feoifomicose;
Micoses sistêmicas:
-Histoplasmose;
-Criptococose;
Introdução
Os fungos são microrganismos onipresentes, havendo mais de 300 espécies de
patógenos animais.
Características Gerais
As leveduras são microrganismos unicelulares e bolores são multicelulares
filamentosos. Possuem parede celular de quitina, quitosano, manano e glicanos. O
conídio é a unidade responsável pela reprodução assexuada.
Fungos patogênicos
Critérios:
-Fonte e tipo de coleta;
-Número de colônias isoladas;
-Espécie: Blastomyces dermatitidis,
Coccidiosis immitis e Cryptococcus neoformans;
Histoplasma
-Necessita de isolamento repetido;
-Necessita haver a presença de elementos fúngicos teciduais;
Microflora Normal
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capsulatum,
Cães: Alternaria, Aspergillus, Aureobasidium, Chrysosporium, Cladosporium, Mucor,
Penicillium e Rhizopus.
Gatos: Alternaria, Aspergillus, Chrysosporium, Cladosporium, Mucor, Penicillium,
Rhodotorula e Scopulariopsis
*Microsporum canis: responsável pela infecção persistente em gatos assintomáticos.
**Microflora normal em animais imunossuprimidos: podem se tornar patogênicos.
***Felinos são carreadores de fungos antropofílicos,
01-Dermatofitose
Características Gerais
Dermatófitos são isolados em animais normais, sendo provável a contaminação
ambiental recente. São fungos que acometem estruturas ceratofiliadas da camada
superficial da pele, como o pelo, unha e a camada córnea.
Etiologia
Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton.
Microsporum gypseum: geofílicos;
Microsporum canis: zoofílicos;
Microsporum audounii: antropofílicos;
Epidemiologia
-Apresenta baixa incidência, sendo o máximo cerca de 4%, não sendo uma
patologia muito comum.
-É mais comum em animais com menos de 1 ano de idade.
-Os dermatófitos possuem resistência ambiental prolongada;
Patogenia
Acometem a camada superficial da pele, pelo e unhas. A transmissão ocorre por
pelo e caspas contaminados, que pode ocorrer por meio de fômites, animais ou do
próprio ambiente.
Ao haver o contato com o agente, caso haja alguma alteração na barreira
cutânea, na produção de sebo ou imunidade celular inadequados haverá a invasão
através do pelo, proliferação ectotrix e migração. O fungo então produz enzimas
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ceratolíticas, penetram até a zona ceratógena podendo seguir dois caminhos. Primeiro o
fungo é eliminado em 3 meses por uma resposta imune eficaz ou segundo haverá uma
infecção persistente devido a uma resposta do hospedeiro ineficiente.
Figura 25. Diferentes apresentações da dermatofitose.
Fonte: MEDLEAU e HNILICA, 2003
Características Clínicas
-A presença da lesão não confirma diagnóstico. Não há lesão patognomônica;
-Deve-se verificar a possibilidade de exposição do animal ao fungo com outros
animais, pessoas ou no pet shop;
-Período de incubação mal definido, variando de 4 dias a 4 semanas;
-Verificar lesão em humanos que residam no mesmo local;
-Aspecto de apresentação extremamente variável de acordo com o hospedeirofungo;
Sinais Clínicos
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Verifica-se prurido mínimo ou ausente, áreas de alopecia circunscrita, crostas e
caspas, pápulas e pústulas, quérion (lesão granulomatosa). Os locais mais acometidos
são patas, face, orelhas e cauda.
Diagnóstico Diferencial
Foliculite estafilocócica e demodiciose, pênfigo foliáceo (Tricophyton
mentagrophytes), dermatite Alérgica à Picada da Pulga (DAPP). dermatite seborreica,
dermatose pustular estéril, foliculites eosinofílicas estéreis, quérion (granulomas por
corpo estranho, bacterianos, dermatite acral por lambedura ou neoplasias, pois há
formação de nódulo).
Aspectos Zoonóticos
-Representam 30% dos casos de microsporoses (Microspora canis);
A maioria é adquirida de felinos;
-50% dos humanos expostos adquirem infecção;
-Locais comumente afetados: braço, couro cabeludo e tronco;
Diagnóstico
-Anamnese e História Clínica;
-Sinais Clínicos;
-Exames Complementares:
-Lâmpada de Wood: emite luz ultravioleta e deve-se deixar aquecer
previamente por 5 a 10 minutos. Para Microspora canis deve-se deixar por 3 a 5
minutos, sendo emitida fluorescência em 30 a 80% dos isolados, a fluorescência
é causada pelo metabólito fúngico contendo triptofano.
-Falsos-positivos: ocorrem com bactérias e alguns medicamentos;
*É um exame de triagem;
-Coleta de amostra: deve-se pegar as margens lesionais, coletar as caspas
e evitar as crostas. Coletar o fragmento proximal da unha com o animal sob anestesia.
*Não colocar amostra em frasco fechado, pois os fungos não são anaeróbios (deve-se
deixar abertura no recipiente de coleta);
-Animal não pode ter sido medicado recentemente;
-Usar álcool 70% para minimizar fungos contaminantes;
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-Pode ser realizado com lâmina de bisturi, escova ou pinça;
-Exame direto: coleta de amostra e exame em óleo mineral ou KOH
(hidróxido de potássio) ao microscópio óptico. Verifica-se presença de hifas septadas e
artoconídeos normalmente na parte externa do pelo. Caso o animal tenha tomado banho,
deve-se esperar uma semana para fazer o teste.
*Não define o dermatófito.
-Cultura fúngica: é feita em ágar dextrose de Sabouraud e DTM (haverá
mudança para a coloração vermelha em até 14 dias).
-Exame microscópico das colônias:
-Microspora canis;
-Microspora gypseum;
-Tricophyton mentagrophytes;
-Histopatologia: os achados são muito variáveis. Apresenta-se útil em
formas nodulares como quérion e pseudomicetoma.
-Padrões:
-Perifoliculite, foliculite e furunculose;
-Dermatite
superficial
hiperplásica,
espongiótica
perivascular ou intersticial com hiperceratose paraceratótica ou ortoceratótica
proeminente da epiderme e folículos pilosos;
-Dermatite pustular intra-epidérmica (neutrofílica);
-Demonstração de microorganismos;
-Diferencial de pênfigo;
Tratamento
-Pode haver remissão espontânea em alguns casos;
-Objetivo: maximizar a capacidade de resposta do paciente, minimizar a
transmissão e otimizar a resolução da infecção;
Tratamento tópico:
-Útil em quadros restritos e quando o paciente não tem contato com
outros animais;
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-Primeiramente deve-se realizar tricotomia, principalmente em animais
de pelo longo;
-Aplicação de xampus e rinses são as melhores opções como Miconazol,
Cetoconazol e Clorexidine 3% de 2 a 3 vezes por semana em todo o corpo;
-Há a presença de fungos 10 cm de raio além da área alopécica, logo
pomadas locais apenas na região acometida não resolvem o problema;
Tratamento sistêmico:
-Recomendado para lesões multifocais, para animais de pelos longos,
animais com vários contactantes ou quando houver ausência de resposta ao tratamento
tópico já feito de 2 a 4 semanas;
-Cetoconazol: 5 a 10 mg/Kg BID;
-Itraconazol: 5 a 10 mg/Kg BID;
-Griseofulvina: 40 a 50 mg/Kg SID,
-Micronizada: 25 mg/Kg BID
-Ultramicronizada: 5 a 10 mg/Kg
-Deve-se manter por 3 culturas negativas consecutivas semanais;
-Em geral leva de 4 a 20 semanas;
Falhas no tratamento:
Pode ocorrer pelo uso de medicação inapropriada, por tempo inadequado
de terapia, ausência de terapia tópica, ausência de tricotomia, falha em tratar os outros
animais, falha em tratar o ambiente, doença de base, tratamento imunossupressor ou
predisposição genética.
Tratamento de gatis:
Deve-se separar os animais carreadores dos não carreadores, deve-se
tratar os infectados e o ambiente. Realizar cultura de todos os animais, separando os
animais negativos e recultivar em quarentena, interromper as atividades de criação
como exposições, cruzas, vendas ou introdução de novos membros. Deve-se realizar a
tosa em todos os indivíduos e tratar todos os positivos.
Os esporos ficam viáveis por até 18 meses. Utilizar hipoclorito de sódio,
eliminar os utensílios, realizar aspirações e desinfecções diárias.
45
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Referências Bibliográficas
WILKINSON G.T. HARVEY R.G. Atlas Colorido de Dermatologia dos Pequenos
Animais – Guia para Diagnóstico. 2 ed. São Paulo: Editora Manole, 1997.
MEDLEAU L. HNILICA K.A. Dermatologia de Pequenos Animais – Atlas Colorido
e Guia Terapêutico. 1 ed. São Paulo: Editora Roca, 2003.
ANDRADE, S. F. et al. Uso Tópico do Amitraz em Concentração Terapêutica em
Gatos. Ciência Rural, Santa Maria, v.37, n.4, p.1027-1032, jul-ago, 2007
DELAYTE E.H. OTSUKA M., LARSSON C.E. CASTRO R.C.C. Eficácia das
Lactonas Macrocíclicas Sistêmicas (Ivermectina e Moxidectina) na Terapia da
Demodicidose Canina Generalizada. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.58, n.1, p.31-38,
2006.
46
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