A íntegra da revista Financeiro está disponível em arquivo pdf, cuja

Transcrição

A íntegra da revista Financeiro está disponível em arquivo pdf, cuja
edição
87
Jul
Sinal de
alerta
O economista Eduardo Giannetti
da Fonseca diz que o atual
cenário nos encaminha para uma
deterioração e crise financeira
Reforma do Judiciário
Acrefi apoia
o lançamento
da Estratégia
Nacional de Não
Judicialização
Responsabilidade socioambiental deve gerar ganhos no setor financeiro
conteúdofinanceiro
8
16
8 Páginas azuis
Eduardo Giannetti da Fonseca diz
que o atual modelo econômico
pode nos colocar em crise
16Reforma do Judiciário
Governo lança estratégia para
diminuir número de processos
26
18Seminário Acrefi
Evento discute lei anticorrupção
e atuação do COAF
22Responsabilidade
social
Ação socioambiental no
sistema financeiro
26Perfil Grupo Stefanini
34Painel Cetip
36Audi do Brasil
40MIS
44Livros
46Graacc
51Broa Golf Resort
54Casa Mathilde
56INEPAD
Artigos
24Rosi Vuolo (Itaú Unibanco)
29Caetano de
Vasconcellos Neto (FGC)
30Danyelle da Silva
46
Galvão (USP)
32Juan Perez (Boa Vista Serviços)
33Aquiles Leonardo
Diniz (Acrefi)
66Nicola Tingas (Acrefi)
Capa: foto Mário Bock
julho 2014 financeiro
3
expediente
ISSN 1809-8843
Publicação da Acrefi – Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento
Rua Líbero Badaró, 425 – 28°andar – São Paulo – SP
Tel: (11) 3107-7177 fax: (11) 3106-6082 – www.acrefi.org.br
Presidente
Érico Sodré Quirino Ferreira
Vice-presidentes
Aquiles Leonardo Diniz, Décio Carbonari de Almeida, Élcio Antonio Azevedo, Felicitas Renner, José Luiz Acar Pedro, Leonardo Marcondes Dadalto,
Luís Fernando Staub, Mauro Roberto Vasconcellos Gouvêa e Rubens Buttion
Diretor Tesoureiro
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Diretor Secretário
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Diretores regionais
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Paulo Henrique Pentagna Guimarães e Sebastião Cunha
Diretores executivos
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Rondinelli
Montadoras
Edson Froes, Edson Ueda, Eduardo Varella, Gunnar Murilo, Joelcyr Carmello e Nelson Aguiar
Diretores conselheiros
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Conselho consultivo
Alkindar de Toledo Ramos, Manoel de Oliveira Franco e Ricardo Malcon (membros natos); Décio Carbonari de Almeida, Flávio Antonio Meneghetti,
Gilson Finkelsztain, Ilídio Gonçalves dos Santos, Luiz Tavares, Miguel José Ribeiro de Oliveira e Rogério Pinto Coelho Amato (membros)
Conselho fiscal
Domingos Spina e Sérgio Darcy (efetivos), Geraldo Lima Wandalsen e Marcus André de Oliveira (suplentes)
Diretor-superintendente
Antonio Augusto de Almeida Leite (Pancho)
Controller
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Consultora Jurídica
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Economista-chefe
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Publisher
Sergio Tamer
Redação/Editores
Theo Carnier e Gilberto de Almeida
Editor assistente
Gustavo Girotto
Repórteres
Débora Dias, Evandro Ribeiro, Geyse Alencar e Liliana Liberato
Fotografia
Gabriel Kosman, Mario Bock e Sonia Tamer
Arte
Moacyr Mw e Rafael Pascoal
Revisor
Vicente dos Anjos
Impressão
Eskenazi Gráfica
4 financeiro julho 2014
editorial
A hora do compliance social
N
ão é mais possível ignorar o compliance.
torná-lo ainda pior. Não é raro ser “cortado” por um outro motorista, ver carros
A palavra está cada vez mais presente
estacionados em locais proibidos, dificultando o tráfego, vagas destinadas a
no dia a dia das empresas, principal-
deficientes indevidamente ocupadas nos estacionamentos, o uso do acostamento
Foto: Flávio Roberto Guarnieri
mente no mercado financeiro, mas ainda requer
como pista de alta velocidade em rodovias.
explicações na maioria das vezes em que se fala
Também é comum ver motoristas parados em fila dupla, os que avan-
do assunto. O conceito é tão simples quanto impor-
çam o sinal e “fecham” o cruzamento, aqueles que consideram que o uso da
tante para toda a sociedade. Compliance, como se
seta do veículo é supérfluo... São atitudes que explicitam uma injustificável
sabe, é uma palavra da língua inglesa que deriva do
falta de respeito aos direitos dos outros cidadãos e que transformam o que
verbo “to comply”, traduzido como cumprir, execu-
já é irritante em algo insuportável.
tar – ou seja, compliance é estar em conformidade
Os idosos são outras vítimas da falta de compliance social. O desres-
e fazer cumprir normas e leis. Surgiu no mercado
peito e até a violência com que são tratados não só nas ruas mas principal-
financeiro, como um programa que estabelecia o
mente em suas casas expõe as pessoas com mais idade a situações vexa-
cumprimento de leis referentes a práticas ban-
minosas todos os dias. Sem contar que em locais que lhes são reservados
cárias, e se espalhou pelo mundo corporativo.Por
em ônibus, metrôs, e em vagas para estacionar, são ignorados como se
sua importância e abrangência, é importante que o
esse flagrante desrespeito fosse algo sem importância.
compliance se estenda para toda a sociedade, che-
Até a cidadania é vítima da falta de compliance social. Não é raro ver pesso-
gando à vida dos cidadãos. Seria o que poderíamos
as que usam de uma criatividade perniciosa para inventar desculpas para não
chamar de compliance social, ou seja, o respeito às
votar – isso depois de o Brasil ter lutado por anos para ter de volta esse direito
normas escritas e principalmente às não escritas,
básico da democracia. Outros recorrem aos despachantes para, de maneira indi-
que poderiam tornar nossa vida melhor.
reta, “furar” filas, sem pensar nos direitos dos outros cidadãos. E os cambistas
Se o conceito ganhar força, os brasileiros
proliferam na porta de estádios de futebol e em casas de shows para fornecer
passarão a respeitar o direito do próximo. Pode
ingressos a preços extorsivos para aqueles que não estão preocupados em res-
parecer corriqueiro, mas trata-se de um passo
peitar quem comprou os tíquetes regularmente.
muito importante para todos nós que vivemos no
Como se pode notar por esses exemplos, a adoção do compliance social
Brasil. Os exemplos do que essa postura significa
vai requerer tempo, porque envolve uma mudança cultural abrangente. Essa
incluem pequenas coisas do dia a dia que, soma-
realidade, no entanto, não pode induzir à postergação. Todos nós precisa-
das, significariam uma convivência mais em linha
mos (e merecemos) viver em uma sociedade melhor, em que não só nossos
com os padrões de civilidade.
direitos sejam respeitados mas também na qual respeitemos os direitos dos
Quem não se irrita, por exemplo, quando
outros. Agindo dessa forma todos sairão ganhando. O conceito de compliance
alguém “fura” uma fila, seja em um cartório, em
já demonstrou, na vida empresarial, sua importância e seu poder de provocar
uma repartição pública ou no check-in de um
guinadas em pouco tempo, que tornaram muito melhor o ambiente de negócios.
aeroporto? Não há o que justifique uma atitude
Por que não reproduzi-lo e torná-lo abrangente para toda a sociedade? f
dessas, mas infelizmente ela continua sendo
mais frequente do que se deseja. É um desrespeito ao direito do próximo, algo que contraria
frontalmente o compliance social.
Há mais, muito mais. O trânsito talvez seja a face
mais visível dessa necessidade de mudança de atitude. Como sabemos por experiência própria, o trânsito
já é suficientemente difícil, mas muitos agem para
Érico Sodré
Quirino Ferreira,
Presidente
da Acrefi
julho 2014 financeiro
5
nossasassociadas
ACFI - Aymoré Crédito,
Financiamento e Investimento S.A.
Agiplan Financeira S.A. CFI
Banco A.J. Renner S.A.
Banco Bonsucesso S.A.
Banco Bradesco
Financiamentos S.A.
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Banco Safra S.A.
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Banco Semear S.A.
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Banco Volkswagen S.A.
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Brasil S.A.
Banif Banco Internacional do
Funchal (Brasil) S.A.
BMW Financeira S.A. CFI
Kredilig S/A Crédito,
Financiamento e Investimento
Lecca Crédito, Financiamento e
Investimento S.A.
Mercantil do Brasil Financeira
S.A. - Crédito, Financiamento e
Investimentos
Midway S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Múltipla CFI S/A
Omni S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco Citicard S.A.
BV Financeira S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco CNH Capital
Caixa Econômica Federal
Parati Crédito Financiamento e
Investimento S.A.
Banco Daycoval S.A.
Caruana S.A. Sociedade de
Crédito Financiamento e
Investimento
Pernambucanas Financiadora
S.A. - Crédito, Financiamento e
Investimento
Cetelem Brasil S.A - Crédito,
Financiamento e Investimento
Portocred S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco De Lage Landen Financial
Services Brasil S.A.
Banco do Brasil S.A.
Banco Ficsa S.A.
Banco Fidis S.A.
Cred Capixaba S/A Soc. Crédito,
Financiamento e Investimento
Portoseg S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Dacasa Financeira S.A. - Socied.
de Crédito, Financiamento e
Investimento
Santana S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Finamax S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Sax S.A. Crédito, Financiamento
e Investimento
Banco Itaú S.A.
Financeira Alfa S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimentos
Socinal S.A. Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco Itaucard S.A.
Financeira BRB
Banco Panamericano S.A.
Herval Financeira S.A. CFI
Sorocred Crédito,
Financiamento e Investimento S.A.
Banco PSA Finance Brasil S.A.
Banco Rodobens S.A.
HSBC Bank Brasil S.A. Banco
Múltiplo
Sul Financeira S.A. - Crédito,
Financiamento e Investimento
Banco Gerador S.A.
Banco GMAC S.A.
Banco Honda S.A.
Banco Intermedium S.A.
6 financeiro julho 2014
entrevistadomês
Por
Theo Carnier e
Gustavo Girotto
Fotos: Mário Bock
Dois pesos,
uma medida
Em entrevista à Financeiro, o economista Eduardo
Giannetti da Fonseca afirma que a repetição do atual
modelo econômico pode nos colocar em crise
E
m um apartamento na Vila Madalena, bairro boêmio de
São Paulo, habita Eduardo Giannetti da Fonseca, formado
pela USP, com doutorado em Cambridge. Responsável pela
orientação econômica do presidenciável Eduardo Campos (PSB) e
Marina Silva, Giannetti prevê futuros problemas, caso seja mantido o atual modelo econômico. “Estamos caminhando para uma
deterioração e crise futura. Essa matriz fracassou”, asseverou.
O arsenal de críticas de Giannetti vai além: “O governo Dilma
deve terminar seu mandato com crescimento em torno de 2%
ao ano, em média, que é um dos mais baixos da era republicana.
Apenas dois governos, Floriano Peixoto e Collor de Mello, tiveram
médias de crescimento inferiores”.
Calmo e analítico, Giannetti é preciso em suas respostas sobre
o cenário brasileiro e alerta: “Uma vez reeleita, Dilma pode dobrar
o tamanho da aposta que fizeram no seu primeiro mandato. Esse
segundo cenário nos encaminha rapidamente para uma crise
financeira, com fuga de capital, o que vai impor outra solução e
outra mudança de rota. Eu espero que o Brasil não precise chegar
a isso”. Confira a entrevista:
RF – Olhando em perspectiva a economia, a impressão é que os
8 financeiro julho 2014
indicadores não andam como se gostaria: inflação alta, arrefecimento do consumo, crescimento tímido. O que o senhor acredita
que precisa ser feito?
Giannetti – A economia brasileira apresenta hoje um quadro
muito preocupante, que é uma combinação pouco usual de baixo crescimento crônico com inflação em alta. O governo Dilma
deve terminar seu mandato com crescimento em torno de 2%
ao ano, em média, que é um dos mais baixos da era republicana. Apenas dois governos, Floriano Peixoto e Collor de Mello,
tiveram médias de crescimento inferiores. E olha que o nosso
sistema de metas já estabelece um centro muito elevado, de
4,5%, com grande tolerância, e mesmo assim a inflação persistentemente está tocando no teto – e às vezes até ultrapassando como deve ocorrer este ano – e pior, com preços represados
que estão artificialmente rebaixando a taxa de inflação. Confesso que não esperava ver isso em minha vida profissional
como economista brasileiro, mas infelizmente nós recaímos
nesse vício de controle de preço com finalidade de política anti-inflacionária. Coisa que sabidamente não dá certo!
RF – Os relatórios econômicos apontam que o País crescerá no
máximo 2% até 2015. O senhor concorda?
Giannetti – Este ano vai ser menos e
estou dizendo que a taxa média do mandato será em torno de 2%, talvez até um
pouco menos porque em 2014 deverá ficar
em torno de 1,2% ou, no máximo, 1,5%. O
terceiro elemento ou componente, desse
quadro preocupante, é o déficit em conta-corrente brasileiro. Nós estamos hoje
com esse déficit próximo de 3,5% do PIB,
o que significa que o Brasil precisa anualmente de mais de US$ 80 bilhões para fechar suas contas externas. Voltamos a ter
uma posição de vulnerabilidade por que,
se mudar o humor do mundo em relação
ao Brasil, ou acontecer alguma outra coisa
importante e os capitais não afluírem para
cá, nós vamos ter um constrangimento de
déficit em conta-corrente que deverá ser
financiado com as reservas.
RF – O que isso significa, na prática?
Giannetti – O curioso é que essas três
acompanha mais os temas econômicos. A
percepção é que essa reversão, com fundamentos reais, já está cristalizada.Mas
para o conjunto do eleitorado brasileiro,
no entanto, eu acho que ainda não chegaram a extensão e a gravidade dessa situação. Entendo que o desemprego é uma
questão de tempo para começar a subir
porque, com esse quadro, especialmente
de recessão na indústria, as demissões
são inevitáveis.
RF – Isso caso não ocorra uma mudança
de modelo?
Giannetti – Sim, mas este ano já deve
ter algum efeito, porque a situação na indústria brasileira está muito séria.
“Dilma deve
terminar seu
mandato com
crescimento
em torno de
2% ao ano, em
média, que é
um dos mais
baixos da era
republicana”
coisas não costumam andar juntas. Se
você está com crescimento tão baixo, a inflação deveria estar comportada. Se você
tem déficit em conta-corrente tão elevado
– deveria estar crescendo bastante – isso
é um investimento a mais que o Brasil poderia fazer. É uma poupança externa que o
Brasil está recebendo do resto do mundo,
e que deveria se somar ao esforço interno de mobilização de poupança e investimento. Então, mesmo com esse aporte
adicional de 3,5% do PIB, que é o déficit
em conta-corrente, a economia não cresce e o nível de investimento continua muito reduzido. O Brasil realmente apresenta um
quadro de macroeconomia ruim.
RF – Essa economia ruim tem impacto na próxima eleição?
Giannetti – Eu acho que, provavelmente, o tempo não permitirá
que essa realidade seja filtrada para um conjunto da sociedade.
RF – Ainda há manutenção do emprego, certo?
Giannetti – O desemprego, por várias razões, ainda está se
mantendo baixo. O nível de renda real continua se sustentando,
parou de crescer, mas também não caiu. E ainda há um sentimento favorável junto a boa parte da população do período anterior de
crescimento com inclusão social. Agora o Brasil está vivendo uma
forte reversão de expectativas, para quem é mais informado e
RF – O Brasil tem um dos maiores juros
do mundo. O que precisamos fazer para
sair desse patamar?
Giannetti – Essa chamada nova matriz
macroeconômica fez uma aposta na ideia
de que uma redução forçada de juros,
um câmbio administrado e de incentivos
ao setor privado, feitos caso a caso, com
estímulos na demanda, seriam os componentes necessários para o Brasil manter
aquele movimento de crescimento que
vinha se desenhando ainda durante os
governos Lula. Um dos componentes dessa nova matriz foi uma tentativa artificial
de baixar juros no grito, e que se mostrou
completamente equivocado. Aliás, o governo Dilma é pautado por paradoxos.
RF – Em que sentido?
Giannetti – É um governo de perfil estatizante que conseguiu
arrebentar as duas principais estatais brasileiras: a Petrobras e
a Eletrobras, com intervenções de mãos muito pesadas. Ele é um
governo que tinha na redução dos juros a sua principal bandeira, sua principal conquista. Ele vai ser o primeiro governo, desde
a mudança do regime cambial, a entregar com juros maiores do
que recebeu. E um governo que se propôs, ao ser eleito, acelerar
o crescimento, vai entregar a menor taxa de crescimento da era
republicana, em um mandato completo.
RF – Seja lá qual for o próximo governo, pelo que está apontando, sofrerá grandes dificuldades já no começo?
Giannetti – Não vai ser uma herança tranquila. Agora, é preciso
julho 2014 financeiro
9
entrevistadomês
lembrar que o Brasil, em passado recente, já fez ajustamentos
macroeconômicos não muito diferentes do que precisará ser feito
agora. O Fernando Henrique, quando houve a mudança do regime
cambial, precisou fazer um ajuste de razoável proporção fiscal,
monetário e de mudança sistemática de política econômica. E o
governo Lula, quando eleito pela primeira vez, herdou também
uma situação de enorme turbulência e incerteza. Interessante notar é que, nos dois casos, depois de um período de ajustamento de
dois trimestres, três trimestres, a economia já estava novamente
em movimento ascendente. Então a capacidade de reação e de recuperação brasileira também é algo que não se pode subestimar.
O que pode atenuar bastante o custo dessas medidas corretivas
que terão que ser tomadas, se o Brasil quiser recuperar uma boa
perspectiva. É o choque de confiança que a mudança instantaneamente provocará e que, provavelmente, levará a uma valorização dos ativos brasileiros. É um quadro muito inusitado em que a
ameaça não é a oposição, mas a situação.
RF – A bolsa sobe quando a presidente Dilma piora nas pesquisas eleitorais.
Giannetti – Basta o rumor de que a pesquisa virá para que os
ativos brasileiros melhorem. Tem um ‘upside’, para usar o jargão
do mercado financeiro, de uma perspectiva de vitória da oposição,
que é esse choque de confiança que atenua um pouco o custo inevitável dessa mudança de regime, mudança corretiva. Agora não
pode deixar de ser dito que o custo de fazer a correção é muito
menor do que o custo de não fazer, a única diferença é como se
distribui no tempo: os custos e os benefícios.
RF – É possível, ao mesmo tempo, melhorar a situação da Petrobras e jogar a inflação para a meta?
Giannetti – Acho que a questão dos preços administrados tem
que ser tratada com muita firmeza e de maneira transparente,
a partir do início. O que não pode é o Brasil voltar a controlar a
inflação represando os preços. Tenho defendido que isso tem que
ser feito instantaneamente e de forma plena.
RF – Quer dizer, reajustaria todos os preços de uma vez?
Giannetti – Imediatamente. Por que se você não fizer isso, continua realimentando as expectativas de inflação mais alta no futuro e isso complica muito a volta do Brasil ao centro da meta.
RF – Enfraquecemos institucionalmente no mercando internacional devido às nossas opções?
Giannetti – Tem uma questão de equívoco estratégico em política comercial e tem a questão do custo Brasil. É muito caro produzir no Brasil. Estamos deixando muito a desejar no quesito competitividade, o custo de produção em dólar no Brasil é extremamente
elevado. Vamos ter que trabalhar muito, tanto na política comercial quanto no estabelecimento de condições mais competitivas,
10 financeiro julho 2014
tornando o Brasil mais atraente para o investimento direto estrangeiro voltado para integração das cadeias mundiais de produção.
RF – A impressão é que o Brasil, nos últimos anos, só piorou no
mercado internacional. Em que ponto estamos errando?
Giannetti – Política comercial é um capítulo muito importante,
um enredo desse declínio brasileiro no mundo.
RF – O senhor acha que piorou?
Giannetti – A política comercial está equivocada há muito tempo, mas o Lula no primeiro mandato, pelo menos na macroeconomia e na microeconomia, estava no caminho correto. Eu considero de boa qualidade o primeiro mandato do Lula. As coisas
começaram a piorar na política no segundo mandato e, de forma
mais acentuada, no governo Dilma, que optou na macroeconomia
pela chamada nova matriz e, na microeconomia, pelo microgerenciamento, que é um retrocesso ao modelo do regime militar.
Esse microgerenciamento criou uma enorme incerteza quanto às
regras do jogo para o funcionamento de diferentes mercados no
Brasil. Esse é um dos fatores que levaram a uma retração do investimento. O quadro mais preocupante hoje no Brasil é que, em
pleno dividendo demográfico, como nós estamos ainda, o Brasil
está investindo 18% do PIB, sendo que 3,5% do PIB é o déficit em
conta-corrente. É realmente muito sério para uma nação que está
em pleno dividendo demográfico.
RF – Diante de tantos gargalos na economia, que pontos o próximo governo deve atacar inicialmente?
Giannetti – A primeira tarefa, na minha visão, vai ser corrigir
os desequilíbrios e distorções que vieram se acumulando nos
últimos anos. Restaurar a política macroeconômica com credibilidade para que a inflação convirja para o centro da meta, redefinir os termos da macroeconomia, ou seja, austeridade fiscal com
superávit primário transparente e no nível adequado para manter
a dívida pública em trajetória declinante, compromisso da política
“Dou minhas opiniões
quando sou chamado
a fazê-lo. Não tenho
nenhuma pretensão
e não vou ter cargo
executivo”
monetária com cumprimento do centro da meta e com realismo
tarifário, e o modelo de câmbio flutuante com intervenções apenas para evitar excessiva volatilidade e não para dar qualquer
garantia de que há um câmbio com o qual o Brasil vai ter que
conviver independentemente do mercado. Na microeconomia,
será preciso desmontar esse microgerenciamento adotado pelo
governo Dilma, quando passou a usar muito agressivamente o
BNDES, a atender pleitos empresariais para proteção tarifária e
a fazer mudanças no regime tributário para atender caso a caso.
RF – Isso não é uma tarefa simples, correto?
Giannetti – Não vai ser uma tarefa simples desmontar os grupos de interesse que se formaram em torno dessas medidas. É
importante restabelecer, o que eu chamo em filosofia de horizontalidade, que é o papel do governo em melhorar o ambiente de
negócios e adotar medidas que permitam os mercados funcionarem de forma melhor para que o próprio mercado possa eleger
com base em critérios de eficiência, inovação e produtividade as
empresas que vão crescer. E não o governo tomar essa decisão
elegendo campeões nacionais ou coisas do gênero.
RF – O senhor é um dos formuladores do plano econômico dos
candidatos do PSB, Eduardo Campos e Marina Silva, isso está no
escopo?
Giannetti – Sou uma voz em um time de pessoas que colaboram e expresso minha opinião, quando digo realmente o que penso. Não estou aqui fazendo nenhum tipo de calibragem do meu
pensamento para atender expectativas ou exigências eleitorais.
RF – Mas o senhor faz parte desse time?
Giannetti – Dou minhas opiniões quando sou chamado a fazê-lo. Não tenho nenhuma pretensão e não vou ter cargo executivo.
RF – E se for convidado?
Giannetti – Isso está fora. Não tenho perfil, não tenho vontade
e não me preparei para ter cargos executivos. Não tenho nem o
know-how executivo, eu passei minha vida toda pesquisando, estudando, escrevendo.
RF – Supondo que Eduardo Campos vença as eleições e lhe convide para ser o presidente do Banco Central ou Ministro da Fazenda, o senhor não aceitaria?
Giannetti – Não, eu não me vejo nisso e não tenho esse tipo de
ambição. Eu tenho outras ambições na vida, mas essa não é parte do meu sistema motivacional. Creio que posso colaborar com
ideias e, eventualmente, até na seleção de pessoas que possam
ocupar cargos com competência maior do que a minha.
RF – A Marina, nos últimos dias, tem manifestado posição contrária ao apoio de Eduardo Campos em prol do candidato ao governo do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. Até que ponto
isso dificulta, em caso de vitória, a implementação de programas
idealizados pela candidata. Há grupos paralelos?
Giannetti – Não há na área econômica essas divergências que
se manifestam em termos de alianças estaduais, são campos
bem separados. O que a Marina defende é que o Brasil precisa,
ou que o governo brasileiro e os políticos brasileiros precisam
alterar a maneira de governar o País, não com acordos circunstanciais e casuísticos visando a benefícios eleitorais e, sim, com
base em alianças calcadas em ideias, programas e propostas de
governo. É uma nova lógica, uma nova governabilidade que ela
está propondo e, muitas vezes, as pressões políticas em Estados
encaminham a aliança para acordos eleitorais que não são coerentes para essa nova governabilidade, em nome da qual a aliança nacionalmente se apresenta. Aí é que está o conflito!
RF – Não há conflito em relação aos planos práticos, ou seja, o
alinhamento do pensamento econômico é uniforme. O Eduardo
Campos também lhe consulta, como a Marina?
Giannetti – Você nunca vai encontrar em economia total unanimidade. Fizemos oficinas de discussão de política econômica,
os dois participaram, e estamos caminhando para construir uma
visão integrada do que é nossa proposta.
RF – É que nas últimas eleições sua figura esteve presente ao
lado da Marina, inclusive nos debates eleitorais. Ficará da mesma
forma ou ele (Eduardo Campos) tem alguém próximo?
Giannetti – Não sei, estamos com uma equipe boa, temos pessoas competentes contribuindo em diferentes áreas e é um movimento em construção, não uma coisa acabada. Agora é difícil você
encontrar unanimidade em economia.
RF – O senhor acha que o impacto da atual crise política terá
influência na capacidade futura de julgamento eleitoral?
Giannetti – O movimento de insatisfação na sociedade brasijulho 2014 financeiro
11
entrevistadomês
leira ficou explicitado de maneira muito eloquente nas manifestações de junho. Há um desencanto com política no Brasil, o que
é uma coisa muito grave. A juventude, principalmente, está muito
desapontada com a falta de representatividade dos quadros de
governantes do Brasil.
condições iniciais, na partida, nas dotações iniciais. O Brasil tem
que corrigir muitas distorções herdadas de séculos de deformação que condenam o indivíduo a um padrão de vida pelo simples
fato de ter nascido em uma determinada condição social, e isso é
o que acho absolutamente intolerável.
RF – Em caso de uma reeleição, o senhor acredita em mudança
RF – O que seria um novo modelo ideal?
Giannetti – A economia de mercado é compatível com qualquer
de plano econômico pela presidente Dilma Rousseff?
Giannetti – Tenho dois cenários claros na minha cabeça sobre
uma eventual vitória do status quo. Um cenário eu chamo de curva de aprendizado, um reconhecimento de que equívocos foram
cometidos no primeiro mandato, mas já há um esboço de correção de rotas em algumas áreas da política econômica dos últimos
meses. O segundo cenário que vislumbro
é de aposta redobrada, ou seja, se essas
medidas envergonhadamente corretivas
tomadas agora foram apenas para evitar
maior turbulência no período pré-eleitoral. Uma vez reeleita, ela pode dobrar o
tamanho da aposta que fez no primeiro
mandato. Esse segundo cenário nos encaminha rapidamente para uma crise financeira, com fuga de capital, o que vai impor
outra solução e outra mudança de rota.
RF – O senhor acha que teremos mesmo
uma crise econômica? E de que dimensão?
Giannetti – Depende do cenário. Se vier
RF – Essa não é bandeira empunhada pelo atual governo, que se
sobressai pela distribuição de renda?
Giannetti – Esse movimento é muito bom para o Brasil, a redu-
“O momento
mais belo que
eu considero
da democracia
recente foi a
transição do
segundo FHC
para o primeiro
Lula“
a aposta redobrada – e muito do discurso
da candidata Dilma e do Lula está indicando pelo menos na campanha que é esse o
cenário mais provável –, acredito que vamos caminhar para uma crise financeira.
É uma argentinização seguida de uma crise financeira. Teríamos uma forte desvalorização da moeda, uma
saída de capitais – o Brasil tem déficit em conta-corrente e está
vulnerável –, então o ajuste vai se impor.
RF – Há sobre a sua mesa o livro “O Capital no Século 21”, do
economista francês Thomas Piketty, em que se retrata que a desigualdade põe a democracia em cheque. O senhor concorda com
essa análise?
Giannetti – Eu defendo a igualdade de oportunidades. Eu acho
que a dimensão relevante da igualdade são condições minimamente igualitárias para que os indivíduos possam desenvolver
seu potencial plenamente. Não acho que a igualdade de resultados seja sequer desejável, porque as pessoas são diferentes, têm
valores diferentes, e nem todas elas estão interessadas em medir
sua vida com base em uma métrica econômico-financeira, ainda
bem. O que é injustificável e intolerável são as desigualdades nas
12 financeiro julho 2014
distribuição de renda, desde que você altere as dotações iniciais.
ção da desigualdade social. Nós estamos
apenas começando e ainda somos um dos
países mais desiguais do mundo. E a dimensão que mais me preocupa na desigualdade é que as pessoas nascem com
oportunidades muito desequilibradas no
Brasil, e é aí que tem que avançar. É falta
de saneamento básico, de saúde, de educação, de condições de transporte. Tem
uma questão muita séria também que é a
falta de estrutura familiar para quem vem
ao mundo e não encontra suporte da família. Isso perpetua a desigualdade.
RF – O senhor acredita que o Brasil melhorou nos últimos 12 anos?
Giannetti – Eu acho que o Brasil teve um
momento de extraordinária maturidade. O
momento mais belo que eu considero da
democracia recente foi a transição do segundo Fernando Henrique para o primeiro
Lula. Nós conseguimos fazer isso como ninguém jamais imaginaria.
RF – Ou seja, o primeiro mandato de Lula foi bom?
Giannetti – A primeira gestão do Lula e o ministério que ele
montou foram de excelente qualidade. Infelizmente, a partir do
mensalão, isso começou a se perder. A queda do ministro Antônio Palocci e sua equipe também foi um episódio que deteriorou
a qualidade técnica da gestão econômica no Brasil. E o governo
Dilma, lamentavelmente, foi um aprofundamento do pior da gestão Lula. Nós vamos ter que voltar ao bom momento que estava
sendo construído no segundo mandato Fernando Henrique e no
primeiro período do Lula, não com medidas iguais, mas com espírito daquilo que vinha sendo construído e era bom para o Brasil.
RF – A ruptura de diálogo com o empresariado da presidente
Dilma também prejudica, não é?
Giannetti – Há uma centralização muito forte, uma postura um
pouco, eu diria, impositiva. A maneira como foi feita a mudança
no setor elétrico, por exemplo, foi de mão muito pesada. Isso
num setor crítico para o futuro do Brasil. Em uma medida apenas, eles destruíram dezenas de bilhões de reais de patrimônio,
num setor carente de investimentos. Gerou uma enorme incerteza regulatória e o Brasil está agora com essa crise preocupante, de possível racionamento no ano que vem. A disjuntiva hoje é
racionalizar agora ou racionar depois, com a probabilidade alta
de racionar depois.
RF – O que está ligado também ao investimento em infraestrutura, olhar a matriz energética.
Giannetti – O governo Dilma demorou muito para começar a se
mexer na direção correta nas concessões, primeiro por um bloqueio, não tem outro nome, ideológico, depois por uma falta de
tino, de qualidade mesmo, no desenho das regras, do marco regulatório. E agora, é parte daquele cenário de curva de aprendizado, parece que estão entendendo como é que as coisas precisam
acontecer para que o investimento venha. Mas no caso de portos
e no caso de ferrovias ainda não foi feito.
RF – O senhor falou de credibilidade e a gente vê muita preocupação do mercado financeiro e principalmente do agronegócio
em relação à Marina Silva.
Giannetti – Acho que existe muito ruído em relação à posição
da Marina diante do agronegócio. Ninguém pode ser contra o
agronegócio e a Marina certamente não é. O que ela enfatiza é
que há o bom agronegócio e que há também o agronegócio que
precisa ser disciplinado, porque adota práticas ruins de gestão
do patrimônio ambiental brasileiro. Agora, o Brasil tem vocação
global de fornecedor, com méritos competitivos, de alimentos, de
commodities agrícolas em geral e temos que aumentar a nossa
produtividade e ir fundo nesse caminho. Mas tendo a responsabilidade ambiental.
RF – O Brasil tem também soja, que a China
tanto consome.
Giannetti – A nova classe média asiática
vai demandar alimentos que o Brasil pode
fornecer. E o Brasil tem que estar preparado para fazer isso de uma forma sustentável. Não existirá agronegócio no Meio Oeste
brasileiro se não tiver a floresta amazônica,
porque o regime pluviométrico que permite
ao agronegócio existir está ligado ao serviço
ambiental prestado pelo bioma amazônico.
RF – Mas, como seria essa gestão?
Giannetti – Tenho insistido em separar
duas questões. Uma é o teor da legislação, que vai estabelecer o
nível de exigência requerido na administração dos recursos ambientais no século 21. Aí é o Código Florestal, as medidas ligadas
ao impacto ambiental de diferentes projetos de investimento, mas
são questões ligadas ao teor da legislação ambiental. Eu chamo
isso de altura da régua. Outra coisa, muito diferente, é: uma vez
estabelecida a altura da régua, quais vão ser os procedimentos
para a autorização e o licenciamento dos diferentes projetos de
investimento. E aí o Brasil tem muito a avançar, pode ser muito
mais rápido, muito mais confiável, estabelecendo muito maior
confiança jurídica. A ideia é que para o empresário é importante
saber rapidamente o que pode e o que não pode.
RF – Esse discurso vai na direção correta. Mas a Marina, ainda
assusta o empresário, principalmente o do agronegócio.
Giannetti – Acho que há muito ruído. Você tem razão ao falar
sobre essa resistência. Estive outro dia falando para empresários
da cadeia da soja e senti uma animosidade até desses empresários em relação à Marina. Não consigo entender a origem disso.
Tenho certeza de que há muito ruído também. É um mal-entendido, até certo ponto é um mal-entendido. Acho que tem de conversar, tem de abrir um canal de comunicação. Dizer que a Marina é
contra o agronegócio não se sustenta porque ela não é contra o
agronegócio. Assim como não é contra a hidroeletricidade. Ninguém pode ser contra a hidroeletricidade num país como o Brasil.
RF – Quais as novidades da proposta de Eduardo/Marina?
Giannetti – A proposta da aliança Eduardo/Marina vai trazer
para um primeiro plano das políticas brasileiras dois valores
que não foram até hoje devidamente contemplados, que são a
educação e o meio ambiente. É nisso que se traduz nossa ideia
de sustentabilidade. Não há futuro generoso para a nação brasileira se não dermos para a educação e para o meio ambiente
uma centralidade nas pautas de política pública muito maior
do que foi dada até hoje. E nisso nos diferenciamos do outro
candidato de oposição.
RF – O próximo governo terá que enfrentar
a questão dos acordos com partidos no Congresso e isso pode ser um entrave.
Giannetti – Aí entra o tema da governabilidade. Eduardo e Marina estão propondo sair
do governo de coalizão para um presidencialismo de programa. Política é negociação.
A questão é negociação com base em quê?
Como tem sido praticado no Brasil hoje, é negociação com base em loteamento do Estado,
para obter apoio circunstancial no Congresso. Isso foi levado ao limite e é a razão maior,
talvez, do descrédito da política no Brasil.
julho 2014 financeiro 13
entrevistadomês
RF – Como essa mudança seria colocada em prática?
Giannetti – Seria chamar, por exemplo, Lula e Fernando Henrique para discutir e chegar a um termo de ação comum em torno
de propostas de inclusão social, de equilíbrio macroeconômico.
E deixar de governar com as velhas forças da política brasileira.
RF – O senhor acha que é possível adotar essa estratégia?
Giannetti – Acho que tem de ser tentado, tem que ser construído. Mas é para isso que a democracia existe. A nossa democracia,
lamentavelmente, está completamente desfigurada pelo abuso
dessa prática de negociação espúria.
RF – Há, por exemplo, um excesso de ministérios.
Giannetti – São 39 ministérios, inoperantes. Mas esse problema não é só no Executivo, não. É nas agências reguladoras, é na
gestão dos fundos de pensão das estatais, é nas estatais. O Estado brasileiro está loteado. E isso prejudica muito a eficiência,
a eficácia, das políticas públicas e o direcionamento das ações
dentro do governo. Tem que romper com isso. Essa é uma grande
novidade da aliança Eduardo/Marina. É virar uma página de um
modelo que fracassou. As forças da velha política serão jogadas
para a oposição e as forças da nova política, ligadas ao Fernando Henrique e ao Lula, serão chamadas a compartilhar ações em
torno de propostas que interessam de fato a todos.
RF – É uma guinada e tanto, não?
Giannetti – É, mas a democracia existe para que isso possa
acontecer. Se acontece em outras democracias maduras, não vejo
nenhuma razão intransponível para que não possa ocorrer também no Brasil. Possivelmente uma reforma política possa ajudar
a construir esse modelo de governabilidade. O que está claro e
me parece inquestionável é que não dá para continuar nesse caminho que estamos, porque ele se esgotou.
RF – Como o senhor se identificou com Marina Silva?
Giannetti – Já trabalhamos na eleição de 2010. Quem nos aproximou foi o Guilherme Leal (empresário e copresidente do Conselho
de Administração da Natura). E fiquei muito impressionado com o
compromisso ético da Marina. Acho que é um tipo de liderança raro
em qualquer lugar do mundo. Um líder que se afirma não com base
em grupos de interesse, ou sindicato, ou estrutura partidária ou financiamento. Mas que se afirma, sim, pela sua postura e pela sua
firmeza em defender princípios ligados a uma visão ética da vida.
Achei e sempre vou achar muito importante a presença de uma figura de liderança pública, como a Marina, no cenário brasileiro.
RF – A aliança com Eduardo Campos não enfraquece Marina?
Giannetti – Ela foi impedida de criar um partido político, de uma
forma truculenta. E ela se aliou ao Eduardo Campos em uma tentativa de oferecer ao Brasil algo que ultrapasse essa polarização
PT-PSDB, da qual o eleitorado está cansado.
RF – Marina poderia ser a segunda presidente do Brasil?
Giannetti – Acho que ela é a candidata natural.
RF – A Marina não apoiou nem a Dilma nem o Serra no segundo
turno da eleição passada.
Giannetti – Apesar de uma enorme a pressão.
RF – A Marina se posicionou como uma terceira via, o que conquistou uma grande parte do eleitorado, que representa os 21%
que ela tem nas pesquisas. Quando ela fez a aliança com Eduardo
levou a pensar até que ponto essa aliança não a enfraquece.
Giannetti – Enfraqueceria muito mais se ela saísse completamente do cenário político. Foi a posição que a opção que ela fez e
é um trabalho que está em construção.
RF – A proposta de chamar antigos presidentes e equipes para
conversar é muito complicada. O Fernando Henrique não seria
problema, já que ele aceitaria sem problemas sentar para conversar. O Lula até poderia dizer que sim, mas compor com o PT
é muito complicado, até pelo projeto de poder. Mas vocês, caso
ganhem as eleições, vão chamá-los ao diálogo, não é?
Giannetti – É, seria chamá-los com base no que eles representam, e seria baseado em propostas. Seria perguntar a eles assim:
“PT, vocês têm interesse em avançar na inclusão social? Temos
uma agenda de políticas sociais que consideramos interessantes e que podem, inclusive, ser aprimoradas. Por que não juntar
forças para que essa agenda seja efetivamente implementada?”
RF – E com o PSDB, como seria?
14 financeiro julho 2014
Giannetti – Da mesma forma. Seria chegar para o PSDB e dizer, em relação ao equilíbrio macroeconômico, que é um valor
central: “PSDB, nós temos interesse em estabelecer um equilíbrio permanente, em bases duradouras, inclusive com aprimoramento institucional. Vamos conversar sobre uma ação conjunta com base nessas propostas?”
“O Bolsa
Família deve
ser alavanca,
e não muleta”
RF – A base seria o famoso tripé de política econômica?
Giannetti – Na macroeconomia, sem dúvida: austeridade fiscal,
Banco Central independente para cumprir o centro da meta e câmbio
flutuante. É o que vinha funcionando bem no Brasil e que se perdeu
no governo Dilma. As três pernas do tripé estão muito fragilizadas.
RF – E os outros partidos?
Giannetti – A tentativa será chamar os bons quadros dos partidos onde quer que eles estejam. Bons quadros no sentido de
pessoas compromissadas com a melhoria da vida brasileira.
RF – Quais são, na sua avaliação, as chances de essa estratégia
ter sucesso?
Giannetti – Ninguém vai dizer que tem certeza de que dá para
fazer dessa forma. Não dá para dizer isso. Mas acho também que
ninguém pode dizer que não se deve tentar. A democracia existe
para que isso possa ser buscado e possa ser feito.
RF – O Armínio Fraga, presidente do BC no governo FHC, foi muito atacado por ter se posicionado em relação ao salário mínimo.
Giannetti – O Flávio Giambiaggi (economista), em recente artigo
publicado na imprensa, matou a charada em relação ao salário
mínimo: dos benefícios previdenciários vinculados ao salário mínimo, só 1% vai para os 10% mais pobres da população. Estamos
fazendo uma péssima política social atrelando os benefícios previdenciários ao reajuste do salário mínimo. Por que não focar os
ganhos de renda real nos 10% mais pobres da população? Está
cheio de gente no Brasil com o benefício previdenciário de um
salário mínimo que não é pobre e que não vive disso.
RF – Qual é a sua avaliação sobre o salário mínimo?
Giannetti – O salário mínimo tem três coisas importantes: é um
piso salarial para o setor privado, é um indexador de benefícios previdenciários e – coisa que é menos falada – também reajusta salários de funcionários públicos, especialmente em âmbito municipal.
O aumento do salário mínimo quebrou os municípios. Então esse
assunto de salário mínimo precisa ser discutido com muito mais
detalhe na sua particularidade do que dizer “sou a favor ou contra”.
RF – E o Bolsa Família?
Giannetti – O Bolsa Família deve ser alavanca, e não muleta.
RF – Qual é a sua avaliação sobre a carga tributária?
Giannetti – A carga tributária é totalmente desproporcional. É
um problema gravíssimo. Estamos com uma carga tributária de
36% do PIB e um déficit nominal de 3% do PIB. Ou seja, 40% da
renda brasileira transita pelo setor público. Tem duas coisas nesse assunto: uma coisa é o desenho da carga tributária, outra coisa
é seu tamanho. São dois problemas de primeiríssima ordem. Mas
só para completar o raciocínio, 40% da renda nacional transita
pelo setor público. E pergunto: qual é o investimento em formação bruta de capital fixo do Estado brasileiro? É 2,5% do PIB. Tem
algo de profundamente errado nas finanças públicas brasileiras.
RF – E há ainda outros problemas sérios...
Giannetti – O capital humano, a qualidade dos programas de
formação de recursos humanos e de saúde pública é deplorável.
E 40% da renda brasileira está sendo intermediada pelo Estado
brasileiro. Só o subsídio implícito no crédito subsidiado do BNDES
supera o volume do Bolsa Família.
RF – Uma situação grave, da qual pouco se fala.
Giannetti – E os empréstimos subsidiados do BNDES estão
concentrados em um grupo restrito de empresários. Ou seja, o
Estado brasileiro transfere mais recursos da sociedade para um
grupo seleto de parceiros empresariais, o “Bolsa BNDES”, do que
transfere para 40 milhões de pessoas no Bolsa Família. Essa
comparação é feita por um próprio técnico do governo, que é o
Mansueto Almeida. O Bolsa Família representa 0,5% do PIB e o
subsídio do BNDES é 0,6% do PIB. E esse governo posa de “amigo
do pobre”. E cria um clima de medo, de “nós contra eles”.
RF – Qual seria, na sua avaliação, a probabilidade de a aliança
Eduardo/Marina apoiar a presidente Dilma no segundo turno?
Giannetti – O governo prefere concorrer com o PSDB, que é
considerado como o “freguês” deles. Mas o apoio da aliança para
a Dilma é impossível. Não acredito nisso. O Eduardo Campos saiu
do governo, “queimou a ponte”, não tem como. f
julho 2014 financeiro 15
reformadojudiciário
Soluções
mais rápidas
Ministério da
Justiça lança
estratégia
para diminuir
número de
processos
judiciais
Érico Ferreira, presidente da Acrefi; José Eduardo
Martins Cardozo, ministro da Justiça, e Flávio Crocce
Caetano, secretário de Reforma do Judiciário
O
Ministério da Justiça lançou no dia 2 de
julho a Estratégia Nacional de Não Judicialização (Enajud). Na primeira etapa da
cerimônia de lançamento, uma portaria interministerial foi assinada pelos ministros José Eduardo Martins Cardozo, da Justiça, Garibaldi Alves Filho, da Previdência Social, e Luís Inácio Adams, da
Advocacia-Geral da União (AGU). Na segunda parte
16 financeiro julho 2014
da solenidade, um acordo de cooperação técnica
foi assinado entre o Ministério da Justiça, entidades de representação e empresas.
Por parte das empresas, elas se comprometeram a adotar métodos alternativos para solução
de conflitos com os contribuintes, consumidores e
clientes, em uma tentativa de reduzir os 92 milhões
de processos que atualmente tramitam na Justiça.
Fotos: Isaac Amorim/AG:MJ
Da esq. para a dir.: Murilo Portugal, presidente da
FEBRABAN; Luis Carlos Trabuco, presidente da CNF;
Érico Ferreira, presidente da Acrefi;
Alexandre Gluher, diretor vice-presidente do Bradesco,
e Marco Antonio Rossi, presidente da CNSeg
A Enajud foi instituída pelo Ministério
da Justiça, pela Advocacia-Geral da União
e pelo Ministério da Previdência Social,
com a colaboração do Conselho Nacional
do Ministério Público. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Defensoria Pública da União (DPU) firmaram o termo de
cooperação. A Enajud tem como objetivo
evitar que cheguem ao judiciário conflitos
que podem ser solucionados por meios alternativos. De acordo com o Secretário de
Reforma do Judiciário, Flávio Crocce Caetano, cerca de 95% das demandas judiciais envolvem o setor público, os bancos
e as empresas de telecomunicações.
Das instituições financeiras, que representam 38% das ações na Justiça,
Acrefi, CNF, FEBRABAN, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Unibanco e
Bradesco assinaram o acordo. Vivo, TIM,
Claro e Brasil Telecom são as empresas
de telefonia que aderiram à nova solução. As teles são responsáveis por 6%
das ações. “A Enajud é um grande reconhecimento não só das empresas, mas
também do governo, de que o trabalho
conjunto dos parceiros da atividade econômica pode ajudar a melhorar o País. Eu
diria que a Enajud representa uma conquista”, afirma Vitor Moraes de Andrade,
presidente da ABRAREC – Associação
Brasileira das Relações Empresa-Cliente.
Os termos de cooperação visam o
desenvolvimento de estratégias conjuntas. “Cada um desses segmentos vai fixar metas e ações anuais, que vão ser
avaliadas por meio de um plano bienal. A
cada três meses faremos um monitoramento com a participação de todos para
analisar se as metas estão sendo atingidas ou não. É um compromisso público
e ético assumido pelas empresas. Esse
acordo melhora a imagem institucional e
o consumidor passa a ter mais confiança
A Lei – O artigo 4° do Código de Defesa do Consumidor tem por objetivo
atender a alguns princípios, entre eles
a “harmonização dos interesses dos
participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de de-
na empresa”, explica Caetano.
A prática da mediação é utilizada
com sucesso em países como Argentina
e Itália, que obtêm alto índice de êxito. A
Enajud tem como meta promover soluções mais rápidas aos cidadãos, evitar
gastos elevados por parte das empresas
e diminuir as despesas públicas. “O nosso trabalho é voltado a garantir o acesso
à justiça e aprimorar a proteção aos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal”, diz Flávio Caetano. f
Como funciona – A mediação, a conciliação e a negociação são algumas das
alternativas propostas pela Enajud. A
mediação é o método pelo qual duas ou
mais pessoas, envolvidas em um conflito
potencial ou real, recorrem a um terceiro,
que irá facilitar o diálogo entre elas, para
que se chegue a um acordo.
Na conciliação, as partes submetem seu conflito à administração
de um terceiro imparcial, o conciliador, que aproxima as partes, formula propostas de acordo e aponta as
vantagens de cada ponto sugerido
pelas partes. Na negociação, não se
recorre a um terceiro. As próprias
partes solucionam, conjuntamente,
os problemas. Sem formalidades, as
partes fazem concessões recíprocas,
barganham e compõem seus interesses, buscando a solução que melhor lhes convenha.
senvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios
nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores
e fornecedores”.
julho 2014 financeiro 17
eventoDF
De olho na realidade
Seminário da Acrefi,
em Brasília, discute a
Lei Anticorrupção,
a reforma do Judiciário,
o trabalho do CNJ e
a atuação do COAF
A
Lei Anticorrupção, o trabalho do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), a reforma do Judiciário e a atuação do COAF (Conselho de
Controle das Atividades Financeiras) foram os temas
abordados durante o 6º Seminário Jurídico Acrefi, realizado no dia 22 de maio em Brasília. Palestras de
especialistas e de autoridades mostraram aos executivos presentes ao encontro detalhes desses assuntos
de grande importância para o sistema financeiro.
Ao falar no seminário sobre a Lei Anticorrupção,
a especialista Danyelle da Silva Galvão, mestra em
Direito Processual Penal pela Faculdade de Direito
da USP, lembrou que a legislação tem apenas nove
páginas, mas trata de temas importantes: “A Lei
12.846 é positiva e foi adotada no Brasil também
em consequência de pressões de países desenvolvidos. Estabelece a responsabilização objetiva para
pessoas jurídicas que estiverem envolvidas em atos
de corrupção, independentemente da consumação
desses atos. Também define que a empresa pode ter
responsabilidade diminuída se tiver implantado uma
política de compliance.”
Outros pontos da lei lembrados por Danyelle Galvão foram a possibilidade de responsabilizar também
as pessoas físicas – desde que comprovado dolo ou
culpa – e o acordo de leniência. Este ponto, no entanto,
gerou incerteza: “Existe um movimento do Ministério
Público para saber como será feito esse acordo”.
A responsabilização também tem provocado
questionamentos, segundo a especialista: “É pre-
18 financeiro julho 2014
ciso saber como será a prova da responsabilização
e como será apurada. E a lei não prevê a possibilidade de recurso”.
Danyelle Galvão disse ainda que existe a necessidade de regulamentar o processo administrativo.
Nesse ponto, segundo ela, o município de São Paulo
tomou a iniciativa e no dia 14 de maio explicitou como
será o acordo de leniência, em pontos não detalhados pela Lei 12.846, como detalhes sobre as provas,
ouvir testemunhas, e se cabe recurso no caso de
multa: “A cidade de São Paulo ficou, com essa iniciativa, muito à frente do Poder Executivo federal, ao ser
explícita em relação a esses pontos”.
Ela considera fundamental que se estabeleçam
os efeitos da lei no âmbito criminal e garante que a
regulamentação é imprescindível para que os limites
da investigação sejam estabelecidos.
A palestrante informou também que fez um levantamento e constatou: aconteceram 200 operações policiais de porte desde 2013 e grande parte delas foi de
combate à corrupção. Houve também um crescimento
de 132% em prisões relacionadas à corrupção.
Em seguida, Carl Olav Smith, juiz auxiliar da
presidência do Conselho Nacional de Justiça, falou
no 6º Seminário Jurídico Acrefi sobre a atuação do
CNJ: “Muitos consideram que somos apenas um órgão fiscalizador, mas vamos além – tratamos também da administração pública e do planejamento do
Judiciário, entre outras atribuições. Temos que ser
o órgão centralizador do Poder Judiciário como um
todo, o que depende de um trabalho de articulação
com outras entidades”.
Para cumprir suas tarefas, informou Carl Olav
Smith, o CNJ busca utilizar a tecnologia. É o caso dos
mandados de prisão: “Antigamente era necessário
consultar os 27 Estados da Federação para saber se
podia ser feita a liberação. Para mudar essa situação
foi desenvolvido um aplicativo que informa se existe
algum mandado contra a pessoa, ou seja, a informação tornou-se bem mais rápida”.
jurídica
Carl Smith informou também que o CNJ tem
atuado para agilizar os processos judiciais e citou
como exemplo o Renajud, ferramenta eletrônica
que interliga o Judiciário e o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), possibilitando a efetivação em tempo real de ordens judiciais de restrição de veículos. Ele lembrou que o CNJ desenvolveu
o PJe (Processo Judicial Eletrônico), para permitir a
prática de atos processuais e o acompanhamento
do processo, independentemente da tramitação na
Justiça dos Estados, na Justiça Militar dos Estados
ou na Justiça do Trabalho.
A adoção do PJe – afirmou Carl Smith – é vantajosa também porque o sistema utiliza somente componentes públicos, “o que reduz o custo com equipamentos de armazenamento e com o sistema, além
de ser uma aplicação de internet que, como tal, pode
ser acessada em qualquer local do Brasil”.
Por sua vez, Flávio Crocce Caetano, secretário
nacional de Reforma do Judiciário, falou durante o
6º Seminário Jurídico Acrefi sobre as medidas a serem tomadas para tornar o Judiciário mais acessível
Danyelle da Silva Galvão, mestra em Direito
Processual Penal pela Faculdade de Direito da USP
à população, mais rápido e com menos processos a
julgar. De acordo com o palestrante, é preciso tornar
os processos judiciais mais rápidos, valorizando a
primeira e a segunda instâncias, além de inovar na
gestão com a adoção do processo eletrônico, que já
reduz os prazos em cerca de 60%.
Carl Olav Smith, juiz auxiliar da presidência do
Conselho Nacional de Justiça
Quanto à gestão, Flávio Crocce Caetano recordou
que há mais de 92 milhões de processos no Brasil,
o que significa que cada juiz julga 1.400 processos
por ano. Para reduzir esse problema, ele propõe a
criação de carreiras de apoio aos juízes, que possam,
entre outras funções, administrar as audiências. O
palestrante considera fundamental também mudar a
cultura jurídica do País, adotando-se o consenso em
vez do conflito: “Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou que 89% dos entrevistados preferem
fazer acordo e que 43% são a favor da conciliação.
Está claro que é possível optar pela conciliação.”
O especialista lembrou que a Secretaria de Reforma do Judiciário existe há dez anos e que entre as
ações adotadas pelo órgão estão: a Lei da Mediação;
julho 2014 financeiro 19
eventoDF
Enajud (Estratégia Nacional de Não Judicialização),
que tem a Acrefi entre suas parceiras; Casa de Direitos; Justiça Comunitária; Atlas da Justiça; e Escola
Nacional de Mediação e Conciliação.
O secretário nacional de Reforma do Judiciário
destacou os pontos positivos da Lei da Mediação para
as partes do processo, incluindo: a inexistência de custas judiciais quando houver acordo durante o processo;
soluções mais satisfatórias para as partes; possibilidade de discussão de vários aspectos relacionados ao
conflito; e participação ativa das partes. Para a sociedade, de acordo com o palestrante, os benefícios da Lei de
Mediação incluem: o efeito pedagógico, com o incentivo
ao diálogo; o andamento mais rápido dos processos; e
a diminuição de casos no Poder Judiciário.
Flávio Crocce Caetano informou também em sua
palestra que a Lei de Mediação estabelece que podem
atuar como mediadores pessoas que tenham se graduado há dois anos ou mais; tenham nível superior
completo em qualquer curso; façam o curso de mediador; e tenham cadastro obrigatório para serem mediadores judiciais, sob controle dos tribunais.
Ele lembrou que a mediação faz sucesso em
países vizinhos, como a Argentina, em que o índice
de êxito das mediações é de 43%, e que a implantação do sistema no Brasil tem tudo para ser um sucesso. “Estamos com o vento a favor no País. Todos
querem a mediação”, concluiu Caetano.
Já Antonio Gustavo Rodrigues, presidente do
COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), disse em sua palestra no evento da Acrefi que
a prevenção à lavagem de dinheiro abrange muitas
Antonio Gustavo Rodrigues,
presidente do COAF
20 financeiro julho 2014
Flávio Crocce Caetano, secretário
de Reforma do Judiciário
vezes situações que não são ilegais, mas sim suspeitas: “Tratamos muitas vezes de fatos que causam
estranheza, embora sejam legais. Pagar um imóvel
em dinheiro vivo, por exemplo, não é ilegal, mas chama a atenção”.
Rodrigues disse que o COAF recebeu 1,286 milhão de comunicações sobre suspeitas de irregularidades em 2013 e que até maio de 2014 esse número
chegou a 413 mil: “Esse crescimento foi incentivado
e é positivo, embora persista o problema relacionado
à qualidade dessas comunicações”.
O presidente do COAF explicou que a entidade
criou um sistema de avaliação das comunicações, e
que 92,4% dos casos receberam nota 3 ou inferior (o
que significa que a qualidade das comunicações não
é satisfatória): “Prevalece a tese de que, na dúvida,
comunica-se o COAF. Essa não é uma postura condenável, mas ao mesmo tempo é preciso aprimorar
a qualidade das informações que nos são enviadas,
em busca do aprimoramento do sistema”.
Entre as iniciativas do COAF para melhorar esse
quadro, Antonio Gustavo Rodrigues citou os Relatórios de Inteligência Financeira, que somaram 2.450
no ano passado. Além disso, o órgão tem ampliado
sua ação em segmentos como cartórios, juntas comerciais, sorteios e loterias e até um grupo formado
por profissionais e empresas de intermediação de
atletas e artistas. Esse trabalho, segundo ele, não
pode ser confundido com fiscalização: “É importante
lembrar que o COAF é parceiro do sistema financeiro
e não tem entre suas atribuições a fiscalização. Essa
é uma responsabilidade do Banco Central”. f
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socioambiental no sistema financeiro deve gerar
ganhos importantes para evolução do setor
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conceito de sustentabilidade e melhores
práticas de gestão socioambiental nas
instituições financeiras trazem ganhos importantes para a evolução do setor. Essa foi a proposta
apresentada pela Acrefi no evento “Resolução
4.327 – Responsabilidade Socioambiental no Sistema Financeiro”, realizado dia 26 de junho no Hotel Renaissance, em São Paulo.
Antonio Marcos Fonte Guimarães, assessor pleno do Banco Central do Brasil, enfatizou que o compromisso permanente das organizações em adotar
um comportamento ético contribui para o desenvolvimento econômico, melhorando a qualidade de
vida dos empregados e da sociedade. “Essa é uma
discussão em âmbito nacional e internacional de
longa data e a política de responsabilidade socioambiental, na qual publicamos uma norma qualitativa, transfere a responsabilidade para que cada
instituição conheça seu negócio. O aspecto de sua
adoção traz ganhos para o sistema”, pontuou.
Para ele, é preciso mudar o paradigma não somente na forma como as instituições investem na
Responsabilidade Socioambiental, mas como ganham pelos recursos investidos. “É importante in-
22 financeiro julho 2014
corporar isso em sua conduta do dia a dia, pois se
trata de uma prática ética”, enfatizou Guimarães.
Como exemplos práticos de benefícios, o especialista citou o microcrédito, operações em que
instituições especializadas emprestam pequenas
quantias de dinheiro para empreendedores, e o
Crédito de Carbono, no qual países ou empresas
que conseguem reduzir suas emissões abaixo das
metas do Protocolo de Kyoto geram créditos por
essa redução excedente. “Um problema socioambiental, dependendo da estrutura da instituição,
pode comprometer não só em dano de imagem,
mas também em risco de operação do negócio”,
alertou Guimarães.
Rômulo Sampaio, sócio do Escritório Reis &
Sampaio e docente na FGV-RJ, relatou que o tema
de responsabilidade civil e ambiental, depois de
alguns acórdãos do Supremo Tribunal Federal
(STJ), ganhou atenção permanente das instituições financeiras. “Ainda há falhas no sistema de
prevenção devido ao excesso de agências regulatórias, embora o Brasil esteja avançado na regulação. O marco legal está um pouco atrasado, e o
interessante seria ter uma lei que tratasse dessa
participação das instituições financeiras para dar
intitulada ‘Edital de Consulta Pública 41/2012’. “Temos um corpo técnico na entidade que entende a
importância da regularização de medidas socioambientais em todo o sistema financeiro e, ativamente,
trabalha a questão com os nossos membros – sendo
composta por 19 instituições que concentram 95%
das carteiras de pessoa física”, explicou.
Marrone disse que a autorregularão na FEBRABAN é voluntária, ou seja, quem quiser receber um
selo de reconhecimento deve aderir ao programa.
“Elas passam a ser monitoradas e acompanhadas
sobre essas atividades internas, dentro de suas
ações de funcionamento. A estratégia é definir um
patamar mínimo de procedimentos, evitando disparidade e, com auxílio técnico, evitar prejuízos nas
instituições. Políticas de riscos socioambientais
também foram criadas para minimizar os riscos
em financiamentos a projetos que possam impactar
tanto o meio ambiente quanto a sociedade, evitando-se, assim, embates no campo jurídico”, finalizou. f
Fotos: Sonia Tamer
mais robustez a essa regulação recente do Banco
Central. Autorregulamentação e compliance voluntária melhorariam essas iniciativas”, analisou.
Sampaio citou um exemplo de um caminhoneiro que transportava uma carga irregular de madeira no Estado de Minas Gerais e, quando apreendido, a responsabilidade objetiva inicialmente
recaiu sobre uma instituição financeira, uma vez
que fez o leasing do veículo. “Quando isso acontece, o que temos é um cenário de caos. Precisamos
fazer um trabalho amplo de conscientização sobre
o tema. O caso foi rechaçado pelo poder judiciário,
uma vez que não se pode imputar esse dever de
cuidado a uma financeira, mas é importante um
marco regulatório para corrigir esse tipo de distorção”, avaliou o advogado.
Segundo Gustavo José Marrone de Castro Sampaio, diretor de Autorregulação da FEBRABAN, a entidade olha com atenção para o tema desde o momento em que o Banco Central (BC) soltou uma regulação
Antonio Marcos Fonte
Guimarães, assessor do
Banco Central do Brasil
Rômulo Sampaio,
sócio do Escritório
Reis & Sampaio
Gustavo José Marrone de Castro
Sampaio, diretor de Autorregulação
da FEBRABAN
julho 2014 financeiro 23
sustentabilidade
Responsabilidade
socioambiental
das instituições
financeiras
Por Rosi Vuolo
O
24 financeiro julho 2014
Rosi Vuolo, especialista
em Controles Internos e
Compliance do Itaú Unibanco
Está previsto prazo para que seja aprovada a
PRSA, e iniciada a execução do respectivo plano de
ação, conforme o seguinte cronograma:
1) Até 28 de fevereiro de 2015, por parte das instituições obrigadas a implementar o Processo Interno
de Avaliação da Adequação de Capital (Icaap), conforme regulamentação em vigor; e
2) Até 31 de julho de 2015, pelas demais instituições.
A norma agrega a variável socioambiental à tradicional abordagem econômico-financeira das instituições e inclui o gerenciamento do risco socioambiental
em suas atividades, serviços e produtos financeiros.
As unidades de gerenciamento de risco das instituições financeiras terão, agora, de se adequar à nova
regulamentação, designando diretor responsável pela
PRSA, bem como estabelecendo, de forma facultativa,
comitê de responsabilidade socioambiental para monitorar e avaliar o seu cumprimento.
A resolução traz a incorporação do tema no dia a
dia das instituições financeiras e ganha repercussão
na medida em que cada vez mais são instados por
órgãos de controle, a exemplo do Ministério Público.
A não observância dos preceitos ditados pela
nova norma poderá trazer consequências que
não se restringirão a eventual responsabilidade
civil por dano ambiental (lembrando que ela é de
natureza objetiva), mas poderão acarretar prejuízo aos maiores patrimônios das instituições, que
são sua imagem e sua reputação. f
Artigo enviado em 10/6/2014
Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou, em 25/4/14, a resolução 4.327 estabelecendo diretrizes que devem ser
observadas na implementação da Política de Responsabilidade Socioambiental (PRSA) pelas instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central.
Parte do princípio de que as instituições financeiras devem demonstrar como consideram os riscos
socioambientais no processo de gerenciamento das
diversas modalidades de risco a que estão expostas.
É o resultado de ampla discussão com a sociedade, iniciada em 2011 e depois da divulgação
de edital de audiência pública durante a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
Estabelece que, para a implementação da PRSA,
as instituições financeiras devem pautar as suas
ações de natureza socioambiental de acordo com as
seguintes diretrizes e critérios gerais, entre outros:
1) Sistemas, rotinas e procedimentos que possibilitem identificar, classificar, avaliar, monitorar, mitigar
e controlar o risco socioambiental presente nas atividades e nas operações da instituição; e
2) Avaliação prévia dos potenciais impactos
socioambientais negativos de novas modalidades
de produtos e serviços, inclusive em relação ao
risco de reputação.
Permite-se que tais políticas sejam aplicadas de
forma equilibrada e diferenciada pelas instituições
financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central, levando-se em conta os
diferentes perfis de negócios, estimulando-se a redução de riscos ao sistema financeiro, sem que sejam
gerados custos adicionais ao tomador de crédito final.
A política deve tratar da governança da
PRSA, inclusive para fins do gerenciamento do
risco socioambiental.
Foto: Divulgação
Foto: Gabriel Kosman
perfilcorporativo
Exemplo
nacional
Fundado há 27 anos
por Marco Stefanini, o
Grupo Stefanini é uma
multinacional brasileira,
presente em 33 países,
e ranqueada entre as
100 maiores empresas
de TI do mundo, com
faturamento anual de
R$ 2,11 bilhões
M
arco Stefanini, CEO global do Grupo Stefanini, é uma pessoa que não
perde o foco e muito menos o fio da
meada. Ao retomar a entrevista que concedeu à
Financeiro, depois de interrompê-la para atender
à chamada de um ministro, o empresário engatou
a conversa exatamente do mesmo ponto que havia parado antes de pedir licença para se ausentar por alguns minutos. Essa sua capacidade de
concentração, aliada ao seu perfil empreendedor,
certamente contribuiu para o sucesso do Grupo
Stefanini, uma multinacional brasileira que está
26 financeiro julho 2014
entre as 100 maiores empresas de TI do mundo,
segundo levantamento da BBC News. “Aqui, como
na vida, 80% é transpiração e 20% inspiração”,
diz Stefanini, que há 27 anos conduz o grupo que
conta com mais de 17 mil funcionários e faturamento anual de R$ 2,11 bilhões, sendo 40% desse
valor gerado por negócios no exterior.
O grande salto, no entanto, aconteceu a partir
de 2010, quando o grupo acelerou sua expansão,
aliando ao crescimento orgânico a aquisição de algumas empresas. “Junto com esses investimentos
veio um processo de globalização mais intenso.
Há quatro anos, o faturamento das operações internacionais correspondia a 15% do volume total.
Hoje, esse valor equivale a 40% dos rendimentos
do grupo e já temos mais de 8 mil funcionários que
atuam fora do Brasil, conta Stefanini.
Entre as aquisições feitas pelo grupo, uma das
mais significativas foi a Orbitall, em 2011, empresa de soluções de tecnologia para cartões de crédito, fundada em 2000 pela Credicard. “No setor de
tecnologia, a oferta de serviços se transforma rapidamente em commodities. Então, o empresário
só tem uma saída: investir e crescer. Caso contrá-
rio, estará morto”, alerta Stefanini.
“Há oito anos, o mercado brasileiro
era formado por um número maior
de empresas e éramos apenas a
terceira ou a quarta força do setor.
Hoje, ficamos praticamente sozinhos”, lembra o empreendedor. Mesmo estando presente em 33 países,
o Grupo Stefanini ainda é visto nas
concorrências globais como algo
exótico diante dos gigantes norte-americanos e europeus de TI.
Segundo Marco Stefanini, o fato
de o grupo continuar a ser nacional
tem tudo a ver com o sonho de construir. “Para mim, o empreendedor
tem que ser uma pessoa realista,
de pé no chão, mas, por outro lado,
com forte componente de sonho. É
preciso misturar realidade e utopia
para construir algo diferente”, diz o
empresário. “Sempre gostei de desafio, de viajar, conhecer o mundo.
Para você tocar um projeto de globalização é preciso ter uma visão
de longo prazo. São necessário 10,
15 anos para se ter retorno.”
Para auxiliar na administração
dos negócios, o grupo está dividido
em quatro núcleos: Brasil; América
Latina, sem o Brasil; Europa, América do Norte e Ásia; e a Orbitall,
sendo cada um deles administrado por um líder.
No caso da Orbitall, o cargo de diretor-geral é
ocupado por Marcos Monteiro. Os administradores têm um grau de autonomia bastante grande,
o que reduz bastante as minhas viagens. Mas eu
continuo viajando porque gosto de estar próximo
dos clientes, conta Stefanini.
Sobre seu investimento voltado para a Orbitall, ele planeja aplicar R$ 150 milhões nos próximos anos para renovação e melhoria do parque
tecnológico. Os recursos já foram direcionados
para a contratação de um novo data center e a
julho 2014 financeiro 27
perfilcorporativo
Marcos Monteiro,
diretor geral da
Orbitall
Grupo Stefanini
Fundação: 27 anos
Faturamento: 2,11 bilhões,
40% gerados no exterior
Presença global: 33 países
Funcionários: 17 mil, 8 mil fora do Brasil
Responsabilidade social
atualização das plataformas de processamento
da empresa. Segundo Marcos Monteiro, a Orbitall
pretende tornar-se a maior processadora independente de meios de pagamento do mercado
brasileiro. “Isso nos permite oferecer soluções
integradas, que agreguem valor e resultados aos
negócios dos clientes, melhorando a eficiência
e reduzindo os custos” detalha Monteiro. Entre
seus serviços estão benefícios relacionados a
cartão de crédito, cobrança, mesa de crédito, mecanismo antifraude, atendimento, etc.
“Os bancos, que antes olhavam com certa desconfiança os serviços terceirizados, hoje
estão se abrindo, buscando maior eficiência,
rapidez e menor custo nos processos”, garante
Stefanini. No entanto, em tecnologia é sempre
importante correr em busca dos avanços. Além
disso, não se pode desperdiçar tempo nem raciocínio. Com vários negócios distribuídos em
diversas regiões, sempre se tem a sensação de
alguma coisa ter ficado para trás. É preciso manter o equilíbrio diário dos pratinhos. Alguns chegam a cair, mas os principais continuam girando,
ensina Marco Stefanini, que mesmo já medindo
forças com os líderes mundiais, ainda chega a
trabalhar 14 horas por dia. f
28 financeiro julho 2014
Com sua sede no Jardim Adalgiza, zona oeste
de São Paulo, o Instituto Stefanini é voltado para
a formação educativa e profissional de adolescentes a partir de 16 anos e adultos. Por meio
do programa Educar para Crescer, eles recebem
aulas de informática, cursos administrativos, oficinas culturais de teatro, canto e violão. Conheça
os projetos do instituto:
Inclusão Digital – Cursos regulares nas
áreas de tecnologia, que permitem ao aluno
desenvolver novas habilidades e conhecimentos para sua inclusão ou recolocação no mercado de trabalho.
Oficina de Geração de Renda – Iniciativa que
visa buscar alternativas para a sustentabilidade do
Instituto Stefanini, como também incentivar e desenvolver no aluno práticas de empreendedorismo.
A oficina de artesanato é uma das ações que proporcionam uma alternativa de renda aos alunos.
Banco de Oportunidades – Iniciativa voltada à captação de vagas em aberto nas empresas do Grupo Stefanini, como também em
clientes e fornecedores. As empresas parceiras em busca de profissionais qualificados informam as vagas em aberto e o perfil exigido
do candidato.
Projeto Escola – Iniciativa que deu origem
à entidade. Anualmente, a instituição seleciona
projetos oriundos de escolas públicas que apresentem iniciativas inovadoras voltadas à melhoria nos ensinos infantil, fundamental e médio.
redesdeproteção
O FGC e as
garantias aos
depositantes
Por Caetano de Vasconcellos Neto
Artigo enviado em 14/7/2014
N
a trilha do amadurecimento do ambiente
econômico, em meados dos anos 90, surgia no Brasil a necessidade de se criar
mecanismos que garantissem a confiança no sistema financeiro. Como nos lembra o passado mais
remoto, alguns bancos não resistiram à conjuntura
sem inflação e quebraram. Naquele contexto, era
premente estabelecer uma estrutura que resgatasse a sensação de segurança dos depositantes e, por
tabela, consolidasse os ganhos advindos da estabilidade monetária.
A materialização dessa preocupação se traduzia na adoção de instrumentos adicionais de acompanhamento e a consequente formação de redes
para proteção dos poupadores. Empréstimos de
última instância, regulação eficaz, fiscalização eficiente, estrutura legal adequada e proteção direta
a depositantes por meio de um mecanismo garantidor sempre foram componentes dessa rede, cujo
objetivo é único: a manutenção de um sistema bancário sólido, saudável e, sobretudo, confiável aos
olhos do público em geral.
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) nasceu,
em 1995, com essa missão e dois objetivos claramente definidos: o primeiro, proteger a poupança
popular. Hoje, o FGC protege 99,7% dos depositantes do País até o limite de R$ 250 mil por CPF ou
CNPJ e por instituição financeira. O segundo objetivo era assegurar a confiança no sistema bancário
pós-Plano Real – vale lembrar a implantação do
Proer, também em 1995, voltado ao saneamento
dos bancos privados, que garantiu ao Brasil um dos
menores custos de crise bancária da história econômica mundial.
Em 20 anos de atuação, o FGC fortaleceu consideravelmente suas reservas, cortou para menos
da metade o valor das contribuições dos bancos,
aumentou por mais de uma vez o limite da garantia
prestada, além de ter desempenhado importante
papel na crise financeira que eclodiu em 2008.
O FGC deixava, naquele momento, de ser apenas uma “caixa pagadora” aos depositantes de
bancos quebrados para exercer também um papel
proativo, contribuindo para a liquidez e a solidez do
sistema e, com isso, para evitar corridas bancárias
e seus graves efeitos sobre a economia.
Não obstante sua natureza de direito privado,
constituído sob a forma de associação civil sem fins
lucrativos, não se pode ignorar que o FGC exerce
função de interesse público. Seria equivocado
atribuir ao fundo, por exemplo, a responsabilidade de “instância de socorro” de gestores
qualificados e remunerados para orientar os
investimentos e aplicações de terceiros.
Exemplo disso são alguns fundos de pensão, que confrontam os princípios do direito
administrativo ao pleitear que seus associados sejam garantidos individualmente, independentemente do risco tomado e da pertinência do investimento. Pergunto: como fica
o risco moral? Afinal, uma das premissas
quando da criação do FGC era a proteção dos
pequenos depositantes, que não têm essa capacidade de avaliação.
Vale notar, ainda, que o FGC, apesar de em
certos aspectos se assemelhar a uma sociedade seguradora, não pode ser confundido como
tal – assim o fosse, seria mandatório que recebesse
contribuições diferentes das diversas instituições
em razão direta do conceito de risco de mercado. E,
se adotada essa linha, em vez de atuar para a proteção do sistema, estaria o fundo atuando na direção
contrária, fomentando o desequilíbrio, a insegurança
e a desconfiança no mercado.
A capacidade financeira do fundo, combinada
com a sensação de higidez econômica infinita, não
pode nem deve embasar teses jurídicas e decisões
judiciais que visam alcançar o patrimônio do FGC a
qualquer custo. É preciso dizer, antes de tudo, que
o fundo tem, sim, grande capacidade e patrimônio,
mas adequados à sua finalidade.
E, dentro de sua abrangência, cabe cuidar para
que o investidor pequeno e médio – à semelhança
do homo medius e não no sentido do valor investido
– esteja protegido no âmbito do mercado financeiro
contra eventuais quebras de bancos, dotando o sistema da confiabilidade desejável. f
Caetano de
Vasconcellos Neto,
diretor jurídico do FGC
julho 2014 financeiro 29
regulamentação
Prefeitura de São Paulo regulamenta
procedimento para apuração de atos
lesivos previstos na Lei Anticorrupção
Por Danyelle da Silva Galvão
E
m 29 de janeiro de 2014, entrou em vigor a
Lei nº 12.846/2013, conhecida como Lei Anticorrupção, que dispõe sobre a responsabilidade administrativa e civil das pessoas jurídicas
pela prática de atos contra a administração pública,
nacional e estrangeira.
Apesar de inovadora no cenário pátrio, a aprovação da lei não é um fenômeno isolado, pois decorreu de compromisso assumido pelo Brasil em
convenções internacionais e perante a OCDE, e
acompanha movimento mundial contra a corrupção
e a lavagem de dinheiro.
Os atos lesivos foram previstos no art. 5º
da lei e englobam desde a promessa, oferta ou
entrega de vantagem indevida a agente público
até fraudes em licitação, frustração de caráter
competitivo do processo licitatório, manipulação
do equilíbrio econômico-financeiro de contrato e
intervenção em atividades de investigação ou fiscalização de órgãos públicos.
O legislador optou pela responsabilização objetiva
das pessoas jurídicas nos âmbitos civil e administrativo (art. 2º), bastando, portanto, que haja a comprovação da ocorrência do ato lesivo e a verificação de
um nexo causal entre a empresa e o fato. De qualquer
sorte, o legislador não excluiu a possibilidade de as
pessoas físicas serem responsabilizadas individualmente, desde que tenham concorrido para a prática
do ato lesivo e averiguada a sua culpabilidade (art. 3º).
Poderão ser aplicadas duas sanções, isolada ou
cumulativamente, a saber: multa, que varia entre 0,1%
a 20% do faturamento bruto do último exercício anterior ao processo administrativo de responsabilização,
e a publicação de extrato da decisão condenatória em
meio de comunicação de grande circulação na área de
atuação da pessoa jurídica ou de circulação nacional.
Na prática, os atos serão apurados em processo
administrativo, instaurado e julgado pela autoridade máxima de cada órgão ou por entidade de cada
um dos três Poderes, ou pela Controladoria-Geral da
União, quando do âmbito do Poder Executivo federal.
Em que pese haver a previsão expressa sobre
a forma de constituição da comissão para apurar a
30 financeiro julho 2014
prática dos atos atentatórios, sobre o prazo de 180
dias para a conclusão dos relatórios acerca dos fatos,
e sobre a necessária observância da ampla defesa e
do contraditório, a lei é omissa sobre os procedimentos a serem adotados para a efetiva investigação.
Diante dessa lacuna, a Prefeitura de São Paulo, por meio do Decreto 55.107, de 13 de maio de
2014, regulamentou a legislação federal e estabeleceu, de maneira clara e minuciosa, o procedimento
para a apuração, dispondo expressamente sobre os
prazos de defesa, a produção de provas, recursos
cabíveis, e previu mais detalhadamente os critérios
para a aplicação das sanções.
Tais previsões são necessárias, principalmente para que as pessoas jurídicas ou físicas sejam
investigadas de acordo com os parâmetros de ampla defesa e contraditórios, e para que as sanções
eventualmente aplicadas sejam razoáveis e proporcionais aos fatos ocorridos.
A lei federal também estabelece que a aplicação
efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito
da pessoa jurídica e a existência de mecanismos e
procedimentos internos de integridade e incentivo a
denúncias de irregularidades serão levadas em consideração para a fixação da sanção. No entanto, a lei
prevê que os parâmetros de avaliação serão regulamentados pelo Poder Executivo federal.
Diante da ausência, a Prefeitura de São Paulo estabeleceu, por meio do art. 24 do mencionado
Decreto que, até a publicação, pelo Poder Executivo
federal, serão apenas aceitos como mecanismos os
sistemas de recebimento e apuração de denúncias
que assegurem o anonimato, a adoção de medidas
de transparência na relação com o setor público e a
realização periódica de treinamentos com o intuito
de promover a política interna de integridade.
Imprescindível, portanto, regulamentação semelhante em âmbito federal, para conceder às pessoas
jurídicas parâmetros sobre as medidas de transparência e integridade a serem adotadas internamente, e para que posteriores questionamentos judiciais
quanto ao procedimento adotado e/ou as sanções
aplicadas sejam evitados. f
microsepequenas
Ampliar o acesso das MPEs ao crédito é
determinante para a economia
O
Foto: Divulgação
crédito viabiliza o operacional, as
estratégias de crescimento e os
investimentos das empresas. Daí,
a importância dos negócios terem pleno
acesso aos mercados de crédito, como fonte de recursos. No entanto, isso não ocorre
com boa parte das micro e pequenas empresas (MPEs) do Brasil.
De acordo com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), essas empresas são 98% das exisJuan Perez,
tentes no País, geram 57% dos empregos
diretor-executivo comercial
e contribuem com 20% do PIB (Produto Inda Boa Vista Serviços
terno Bruto). São números que expressam
a importância das MPEs no Brasil. Na comparação internacional, em economias em que esses negócios são estruturados
para a competitividade, eles chegam a representar 50% do PIB. Nessa direção,
países como Itália, Espanha, Japão, Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia e China,
entre outros, são casos de sucesso.
No Brasil, nos últimos anos, grandes contribuições às MPEs têm sido adotadas, como a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, a criação da figura
do microempresário individual, entre outras iniciativas que objetivam gradualmente formalizar essas empresas.
É importante destacar que para essas empresas formalizadas crescerem
e serem viáveis há necessidade de crédito. Nesse tocante, há um fator crítico:
essas empresas serem conhecidas pelos agentes financeiros. Ainda prevalece
um sistema imperfeito de informações sobre elas, o qual abre espaço para a
seleção adversa, quando não se distinguem bons de maus pagadores (chamado assimetria de informações). O Banco Mundial mostra que vários países já
passaram por esse fenômeno, que não é exclusivo do Brasil. É comum que as
MPEs não possuam informações de crédito, não tenham histórico de suas transações financiadas e nem como elas foram pagas. Para quem concede crédito
nessa situação fica difícil precificar o risco de uma determinada MPE, o que
acaba gerando a necessidade de garantias crescentes para um financiamento
ou mesmo a sua não aprovação.
Nesse contexto, é muito comum o empreendedor de micro e pequena empresas utilizar suas linhas de crédito ao consumidor para financiar seu negócio. Considerando que esse crédito é mais caro e tem prazos menores do
que os de pessoa jurídica, tal prática leva a empresa a um grave desequilíbrio
financeiro, pondo em risco sua sobrevivência.
O Banco Mundial, em seu relatório Improving SME financing through improved credit reporting (Melhorando o financiamento das MPEs por meio de
relatórios aperfeiçoados de crédito), de março de 2014, mostra que nos países
emergentes onde não há informações abrangentes de crédito, entre 55% e 68%
32 financeiro julho 2014
dessas empresas não têm suas necessidades de
crédito atendidas. Assim, para contornar essa assimetria de informações no mercado de crédito para
MPEs, o organismo internacional destaca que são
necessárias informações positivas, além das negativas, já presentes no mundo todo.
Como as MPEs operam no limite entre pessoa física e jurídica, em vários países a reputação do empresário no cadastro positivo é utilizada na análise
de crédito de sua empresa, quando esta não possui
informações suficientes. Em breve, quando o cadastro positivo estiver plenamente funcionando no
Brasil, também vai contribuir para uma melhor avaliação de crédito dos micro e pequenos negócios.
Como demonstra o Banco Mundial, um bom sistema
de informações de crédito é condição fundamental
para a evolução e a sustentabilidade na oferta de
recursos para esses portes.
Complementando, as MPEs têm como alternativa buscar crédito nos programas sociais. Mesmo assim, são poucas as que obtêm os recursos,
porque a maioria carece de informações mínimas
organizadas. Como recentemente apontou o maior
banco de fomento do País, muitas vezes não há nem
balancete de verificação. Este é outro ponto crítico
das MPEs na procura por crédito, a carência de informações gerenciais.
Outra possível fonte de crédito para as MPEs
são as cooperativas, que possuem atratividade para
essas empresas, por conta do atendimento personalizado, das taxas de juros menores, do melhor
conhecimento da comunidade que atua e com soluções customizadas.
Como um dos países mais empreendedores no
mundo, o Brasil não pode desperdiçar esta vantagem. Deve criar condições para que essas iniciativas se desenvolvam, inovem e sejam competitivas
internacionalmente. Cabe compreender as MPEs
como um agente promotor do crescimento econômico e um instrumento de redução da desigualdade
social, pois estão presentes em todos os rincões do
País, gerando emprego e renda. Ampliar a participação desses negócios no PIB passa, obrigatoriamente, pela expansão do acesso ao crédito. f
Artigo enviado em 26/6/2014
Por Juan Perez
legadodacopa
De repente,
todo o Brasil
deu as mãos
Por Aquiles Leonardo Diniz
M
Artigo enviado em 10/7/2014
uito tem se falado sobre os
problemas econômicos, políticos e sociais do Brasil,
principalmente pelo fato de o país ter
sediado a Copa do Mundo. Apesar de
muitos brasileiros estarem desapontados com a situação do país, há de se
pensar no lado positivo que está por
trás desse grande evento realizado
aqui, pertinho da gente.
Devemos nos focar nos benefícios
que a Copa trouxe para o Brasil. Foram
diversas mobilizações para oferecer
mais comodidade aos brasileiros e
Aquiles Leonardo Diniz,
vice-presidente da Associação
para receber o público estrangeiro:
Nacional das Instituições de Crédito,
organização e investimento nos transFinanciamento e Investimento
portes, estruturas nos estádios e no
(Acrefi)
entorno deles, impulso à economia
como um todo, priorização da segurança, investimentos na rede hoteleira, entre outros elementos que foram edificantes para o País.
Calcula-se que o PIB brasileiro foi impactado
em 2% com a movimentação da Copa do Mundo. Vocês já imaginaram o montão de dinheiro que isso
significa? Com a vinda de europeus, africanos, asiáticos, americanos e povos da Oceania, a economia
nacional foi impactada positivamente. Quanto aos
preços de produtos e tarifas de serviços praticados durante a Copa, isso é reflexo do evento, assim
como acontece em todo o mundo. É uma consequência da economia: maior demanda, procura e oferta. Tudo acontece de acordo com a ordem natural
das coisas e se ajustam no seu devido tempo.
Outro fato importante que não podemos deixar de ressaltar foram as manifestações durante
a Copa das Confederações, pois sem elas, talvez
o País e os governantes não estivessem atentos
às questões básicas e que foram reivindicadas
por meio das passeatas. Ou seja, a aproximação
e o estreitamento entre o Estado e o povo foi um
legado importante adquirido pelo evento mundial.
O fato de a Copa ser realizada aqui no Brasil
foi motivo de grande orgulho. Recepcionamos os
estrangeiros com toda a alegria, hospitalidade e
otimismo que só o brasileiro é capaz de transmitir. Mostramos que, apesar dos problemas enfrentados pelo País, há um lado bonito em nós,
brasileiros, que deve ser evidenciado. Receber
bem os turistas, nos organizarmos para manter
a cidade em ordem e o mais tranquila possível,
todos dotados de muito entusiasmo e força para
vencer, talvez sejam os primeiros passos para
mudarmos a situação crítica que assombra o
Brasil e deixa muitos de seus valores escondidos.
Devemos sim extravasar os nossos sentimentos
bons, mas os ruins, vamos deixar para as urnas,
no dia 5 de outubro.
Como diria uma música que a maioria dos
brasileiros conhece, mas que esqueceu nos últimos meses, “vamos juntos, pra frente, Brasil!
Salve a seleção! Todos ligados na mesma emoção, tudo é um só coração!”. E para finalizar, deixo
esta frase da música e que tem o mesmo sentido
da frase com a qual comecei este texto “De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o
Brasil deu as mãos!” f
julho 2014 financeiro 33
painelcetip
Nos primeiros cinco meses
de 2014 os financiamentos de veículos
atingiram 2,5 milhões de unidades
E
m maio, foram financiados
532.702 veículos, entre automóveis de passeio e comerciais leves, motocicletas, veículos pesados e
outros. O volume representa uma alta
de 3% em relação a abril. Segundo
Marcus Lavorato, gerente de relações
institucionais da Unidade de Financiamentos da Cetip, em comparação com
o mesmo período do ano passado, há
uma retração de 6%. No acumulado
dos cinco primeiros meses do ano, o
financiamento de veículos atingiu 2,5
34 financeiro julho 2014
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
milhões de unidade. Os dados são do
Sistema Nacional de Gravames (SNG),
operado pela Cetip, e incluem informações sobre as restrições financeiras de
veículos utilizados como garantia em
operações de crédito em todo o Brasil.
As concessões de crédito para financiamentos de veículos somaram R$ 14,3
bilhões* em maio, uma alta de 5% sobre
o mês anterior, mas uma queda de 4%
quando comparadas com maio de 2013.
Entre janeiro e maio, as concessões de
crédito somaram R$ 64,4 bilhões.
(*) A partir de out/13 a Cetip adotou nova
metodologia para calcular os recursos liberados
para financiamentos de veículos. São consideradas apenas inclusões de gravames de automóveis leves, com financiamento de até R$ 200
mil, e cujos prazos não sejam superiores a 120
meses; para motocicletas, o montante limite é
de R$ 50 mil, com prazo de 90 meses. A metodologia também limita em R$ 500 mil e prazo
de até 150 meses as inclusões de gravames de
pesados. Dessa forma, a Cetip desconsidera
operações com valores e prazos destoantes com
as práticas do mercado. f
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
Fonte: Inteligência de Mercado Cetip
julho 2014 financeiro 35
estilo
Audi aposta
alto no Brasil
Montadora alemã quer produzir
26 mil carros por ano para o
mercado premium nacional
Por Evandro Ribeiro
Fotos: Divulgação
Reconhecida como uma marca esportiva e jovial, a Audi volta
a concentrar suas atenções no mercado brasileiro. De olho na
ascensão do poder aquisitivo da população e na grande procura
pelos carros de luxo, a montadora alemã vai começar a fabricar
por aqui os modelos A3 Sedan e o Q3. A previsão é que a partir do segundo semestre de 2015 já possamos encontrar nas
ruas um Audi fabricado novamente no Brasil, em São José dos
Pinhais, no Paraná. Vale lembrar que a montadora já esteve presente por aqui entre 1999 e 2006.
A ideia é que o mercado nacional se torne um dos mais importantes para a marca. O CEO da Audi do Brasil, Jörg Hofmann,
acredita que em 2020 a frota de carros premium no Brasil deve
triplicar. “De janeiro a maio deste ano, o acumulado de emplacamentos totalizou 5.024 veículos, 118% a mais que os primeiros
cinco meses de 2013”, afirma o executivo.
Já para os consumidores, é a oportunidade de ver com um
pouco mais de competitividade os preços dos cobiçados A3 Sedan e Q3, pois com fabricação nacional dos modelos, os valores
podem cair um pouco, apesar de a montadora preferir não se
manifestar sobre o assunto.
36 financeiro julho 2014
julho 2014 financeiro 37
Fotos: Divulgação
estilo
Como o próprio CEO gosta de enfatizar, os carros da Audi
são reconhecidos pelos seus “modelos com DNA esportivo
e tecnologia exclusiva e inovadora”. O A3 Sedan é um carro
jovem, mas já é sucesso entre os brasileiros. Desde janeiro,
quando estreou por aqui, com motor 1.8 de 180 cv e tabela de
R$ 113.700, o esportivo é mais vendido que a sua versão hatch.
Animada com os resultados, a Audi trouxe, em maio deste ano,
a opção com motor 1.4 e preço a partir de R$ 94.800, valor que
o coloca na briga pela preferência dos brasileiros que circulam
pelas ruas com o Toyota Corolla ou com o Honda Civic.
Com o câmbio automatizado de sete marchas e dupla embreagem, que faz trocas no tempo certo e bastante suave, A3 Sedan
é um carro gostoso de dirigir, confiável, firme e com alta estabilidade. Evidente que para aqueles que buscam alto desempenho,
é melhor pagar mais e optar pela versão 1.8, com seus 180 cv, já
que a versão 1.4, apesar de ser um carro rápido para seus 122
cv, não se compara à versão 1.8 em desempenho. Contudo, para
aqueles que desejam um carro confiável, confortável e econômico, é uma ótima opção. Na cidade, a média foi de 11,6 km/l, enquanto na estrada o computador de bordo marcou 16,8 km/l.
Já o outro carro da marca a ser produzido no Brasil, o Q3, traz
algo que parece contraditório, mas sempre sonhado: um SUV com
desempenho de esportivo. Para aqueles que gostam de velocidade, prazer ao dirigir, mas já têm filhos e a ‘patroa’ sempre pede
um carro espaçoso e alto, o Q3 resolve muito bem a questão.
O SUV da Audi, na versão top de linha RS, é capaz de gerar
310 cv e 42,8 mkgf de torque em sua aceleração. É um verdadeiro
parque de diversões para os que adoram alta velocidade. Ele vai
de 0 a 100 km/h em 5,2 segundos. Ou seja, se você vir um carro
desses atrás de você dando farol, vá para a direita! Para aqueles
que querem ter o prazer de dirigir esse confortável e rápido SUV
da Audi, o utilitário esportivo de alta performance teve preço definido em R$ 273,6 mil pela montadora alemã.
38 financeiro julho 2014
Jörg Hofmann, CEO da Audi Brasil,
recebeu a Financeiro e falou um pouco
sobre os projetos e planos da montadora alemã para se consolidar de vez no
mercado brasileiro de carros premium.
RF: Quais os motivos que levaram a Audi a
voltar a produzir veículos no Brasil?
Hofmann: Certamente, a boa perspectiva de
crescimento do mercado foi um fator importante na decisão de produzir no Brasil. No
entanto, o aporte de um investimento como
esse não é baseado apenas em um resultado
positivo de vendas. Ele envolve uma série de
fatores, que foram levados em consideração
pela nossa marca. Esse é um investimento de
longo prazo e reflete a importância do Brasil
para a Audi e uma aposta na economia brasileira. A Audi está há 20 anos no País e, com os
investimentos na produção local, o mercado
brasileiro pode se tornar um dos mais relevantes para a Audi no mundo.
RF: Por que a Audi escolheu o A3 Sedan e o
Q3 como os primeiros modelos a serem produzidos aqui? Qual é a previsão de quantidade por ano?
Hofmann: Após uma série de análises e estudos, o A3 Sedan e o Q3 foram escolhidos por
serem modelos bem aceitos no mercado brasileiro. A partir de 2020, quando nossa produção
estiver na sua máxima capacidade, 26 mil carros por ano serão produzidos nacionalmente.
RF: Quanto será investido e qual o cronograma?
Hofmann: A Audi está investindo R$ 500
milhões na fábrica e os modelos que serão
produzidos são o A3 Sedan, a partir do segundo semestre de 2015 e o Q3, a partir do
primeiro semestre de 2016.
RF: Em porcentagem, quanto de peças desses carros será produzido aqui e quanto
ainda será importado?
Hofmann: Esse é um assunto que está em
estudo e depende também de questões legais do Inovar Auto. Nesse aspecto, é impor-
tante ressaltar que a Audi entrega carros
com o mesmo padrão de qualidade, tecnologia e inovação a partir de todas as suas 11
fábricas no mundo e as exigências de entrega da fábrica brasileira não serão diferentes.
RF: Qual é a fatia de mercado atual da Audi no
Brasil e no mundo?
Hofmann: A Audi ocupa a segunda posição no
ranking mundial de vendas no segmento premium. Os números da Audi no Brasil e no mundo têm crescido expressivamente: no País a
marca tem anunciado recordes de vendas. Em
maio, contou com o maior número de emplacamentos de modelos da montadora alemã nos
20 anos de história da Audi do Brasil e garantiu
o maior número de emplacamentos no segmento premium. A marca triplicou o resultado
de vendas em relação ao mesmo período do
ano anterior, totalizando 1.309 emplacamentos de modelos importados, o que representa
um acréscimo de 205%. De janeiro a maio, o
acumulado de emplacamentos totalizou 5.024
veículos, 118% a mais que os primeiros cinco
meses de 2013. Mundialmente, a Audi entregou 152.000 modelos Audi, 10,8% mais do que
em maio de 2013. Até 2020, a Audi tem como
meta vender 30 mil carros por ano no Brasil.
RF: Chegou a hora de o mercado de luxo
começar a investir em países emergentes?
Hofmann: Nos últimos anos, o Brasil passou por mudanças econômicas, o que causou a ascensão das classes sociais. Com
mais poder aquisitivo, existem mais potenciais clientes para as marcas premium.
Esse é um mercado que está aquecido
no País. Com isso, a Audi encontrou uma
oportunidade para investir em uma série
de ações, como comentei antes, para obter
um crescimento sustentável no País. Com
isso, acredito que os países emergentes
sejam uma opção de expansão para marcas premium.
RF: Para o senhor, quais os principais diferenciais da Audi em relação aos seus concorrentes? Por que comprar um Audi?
Hofmann: A Audi entende que o mercado é
complexo e que as motivações dos clientes são
diversas. O que oferecemos como principal diferencial são modelos com DNA esportivo e tecnologias exclusivas e inovadoras. Um exemplo
é o controle de cruzeiro adaptativo, que regula
a velocidade e a distância do carro em relação
ao veículo da frente, acelerando e freando para
garantir a segurança na direção. f
julho 2014 financeiro 39
cultura
Novo xodó dos paulistanos
Até pouco mais de três anos o MIS era apenas
um insosso espaço cultural de São Paulo.
Hoje, sob o comando do inquieto André Sturm,
o museu atrai milhares de visitantes, com exposições
que fazem parte do circuito internacional
Por Débora Dias
C
André Sturm,
diretor-executivo
do MIS
40 financeiro julho 2014
om mais de quatro décadas de existência,
o Museu da Imagem e do Som, mais conhecido apenas como MIS, vive um momento único em sua história. Sob a direção de André
Sturm desde junho 2011, a receita com as vendas
cresceu quase 500% e atraiu no ano passado mais
de R$ 4 milhões em investimentos na forma de patrocínio. Para se ter uma ideia, em 2010 o museu
recebeu 50 mil visitantes, e em 2013 passaram
por suas catracas mais 250 mil pessoas.
Com números que surpreendem o mercado,
o MIS deixa de ser destino apenas dos já experimentados admiradores de arte e se transforma
Fotos: Divulgação
em um roteiro atraente até mesmo para os que
não possuem tanta familiaridade com o cenário
cultural. Nos últimos meses, ganhou destaque
internacional ao trazer para o Brasil duas mostras que provocaram recordes em visitações,
gerando filas gigantescas na bilheteria. Uma
delas sobre o cineasta norte-americano Stanley
Kubrick e a outra relacionada ao cantor inglês
David Bowie, que atraíram mais de 80 mil pessoas cada – público jamais registrado pelo MIS.
De acordo com Sturm, o sucesso dessas exposições não se deve apenas aos personagens
mais populares. “A questão não é apenas o tema,
mas também a forma. Nós construímos uma exposição que permitia uma experiência sensorial,
o que contribuiu muito. Jovens que ainda não conheciam o trabalho de Kubrick, por exemplo, se
interessaram em adquirir DVDs de seus filmes”,
conta o diretor do MIS.
Quando questionado sobre os principais objetivos
de sua gestão, Sturm não se mostra interessado apenas em continuar viabilizando a vinda de exposições
internacionais para o Brasil. Como legado, ele pretende transformar o museu em um ponto de encontro
da população paulistana e fomentar a pluralidade da
programação cultural. “Queremos fazer do MIS um
espaço cultural dinâmico e vivo. Um lugar que esteja
no roteiro das pessoas e que permita não apenas que
elas vejam uma exposição, mas que tenham ainda a
opção de fazer cursos e participar das diversas atividades que promovemos”, afirma Sturm.
Para tanto, a ideia é ampliar o leque de iniciativas organizadas pelo MIS, valorizar seu acervo, investir em educação e em variedade de conteúdos.
Sturm ressalta que, em um mesmo dia, o MIS oferece, por exemplo, uma mostra de filmes, uma exposição fotográfica e um espetáculo de dança. Com
isso, um visitante que vem para assistir um filme e
aproveita para ver um espetáculo de dança ou uma
Mostra Stanley
Kubrick: sucesso
entre os jovens
julho 2014 financeiro 41
cultura
Fonte: OSESP
Mostra David
Bowie: mais de 80
mil visitantes
das nossas exposições regulares. Outra iniciativa
que tem gerado bons frutos é o projeto MIS fora do
MIS, sistema de parceria que leva algumas exposições para espaços culturais no interior paulista.
Quem banca o MIS
O MIS tem suas atividades garantidas por uma
parceria público-privada, gerenciada pela Associação do Paço das Artes Francisco Matarazzo Sobrinho, entidade sem fins lucrativos ligada à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Desse
modo, a receita mensal do museu é uma combinação de valores vindos do governo estadual, dos
patrocínios privados e das verbas operacionais
(bilheteria, aluguel do espaço para eventos, vendas da loja de suvenires, etc.).
A verba pública garantida pelo Estado estava estagnada há pelos menos quatro anos em R$
9,5 milhões. Porém, após a renovação do contrato
de convênio em 2014, o MIS obteve um reajuste
que elevou esse valor para R$ 10,5 milhões. Além
disso, os investimentos oriundos de patrocínio
privado já ultrapassam os R$ 4 milhões. Segundo Sturm, “o sucesso das últimas exposições fez
com que aumentasse o número de empresas que
procuram o MIS interessadas em apoiar financeiramente suas atividades.
42 financeiro julho 2014
Sucesso não acontece por acaso
Para trazer exposições internacionais para São
Paulo, o MIS tem investido em uma série de detalhes, que inclui, entre outros fatores, a definição de
um preço atraente para o dono dos direitos de exibição da mostra, seguros, contratação de equipe especializada em embalagem e transporte das peças.
Sturm conta que existe um acordo internacional que determina que o país que recebe a exposição deve arcar com todas as despesas de entrada
das obras. Ele ressalta também que outro passo
importante é a adequação do acervo ao Brasil e às
propostas do museu: “A exposição do Kubrick, por
Fotos: Divulgação
exemplo, foi construída por nós. Tratava-se de um
conjunto composto por 800 objetos, que incluíam
desde folhas de roteiro até bonecos, e nós criamos
toda a expografia, que proporcionava aos visitantes
a sensação de entrar em um de seus filmes”.
Já para a exibição da mostra sobre David Bowie,
Sturm conta que demonstrou interesse em trazê-la
já há bastante tempo, antes mesmo de sua montagem no Victoria and Albert Museum, em Londres.
Com isso, garantiu que 90% do acervo viesse para o
Brasil, saindo à frente de outros países da Europa e
até mesmo dos Estados Unidos.
Planos para o futuro
Para André Sturm, o Brasil tem se desenvolvido
culturalmente de uma maneira satisfatória, ao passo que trata o assunto com mais seriedade e tem
apresentado melhora na economia. Por participar
do circuito internacional, o diretor consegue avaliar
também que o País tem sido visto com bons olhos
pelos grandes polos culturais, o que, segundo ele,
pode ser comprovado pela prioridade na vinda da
exposição de David Bowie.
Longe do olhar do grande público, o MIS tem em
seu acervo mais de 200 mil itens, que começam a ser
digitalizados. Entre outras relíquias, estão centenas
de depoimentos de artistas, políticos e pessoas ligadas à história do País. Para os próximos anos de sua
gestão, o plano de Sturm é dar continuidade ao processo de tradição e ruptura, que sempre fez parte da
trajetória e da atitude do MIS, porém o transformando
em um espaço cada vez mais rico, promovendo a experimentação e o aprendizado.
O próximo sucesso de público do MIS certamente
será a exposição sobre os 20 anos do Castelo Rá-Tim-Bum, que foi inaugurada em julho. Além disso,
o diretor afirma que tem uma série de mostras fechadas para os próximos anos, mas, sobre esse assunto, André Sturm prefere guardar segredo. f
julho 2014 financeiro 43
livros
Complacência
Entenda por que o Brasil
cresce menos do que pode
O
objetivo da obra é atualizar
de forma organizada, para
o final de 2014, a crítica que os
autores têm feito, em suas respectivas atuações profissionais,
à ausência de medidas mais
incisivas por parte do governo
em relação aos determinantes
de crescimento da economia
brasileira, em um contexto em
que o espaço para crescimento
a partir de estímulos à deman-
da tende a se esgotar.
A crítica direciona-se à falta de medidas mais profundas
nos últimos anos, relacionadas
com a necessidade de melhorar a educação, estimular os
investimentos em infraestrutura, elevar a poupança doméstica e melhorar os indicadores
de produtividade. Há um elemento de continuidade em relação ao “Além da euforia”, com
Autores: Alexandre
Schwartsman e Fabio
Giambiagi
Editora: Campus Elsevier
diferenças de estilo, diferenças
de coautor e principalmente
de atualização do diagnóstico,
uma vez que o “Além da euforia” acabou de ser escrito no
final de 2011 e o livro em questão seria divulgado no final de
2014, três anos depois. f
O Banqueiro do Mundo
Lições de Liderança do
Diplomata das
Finanças Globais
P
rincipal renegociador da
dívida externa brasileira
em 1982 e um dos primeiros
a vislumbrar a crise de 2008,
William Rhodes explica neste
livro como o exemplo do nosso
país pode servir de referência
para outros mercados. Ele também auxiliou na crise que afetou a Argentina e outros países
latino-americanos nas décadas
de 1980 e 1990. O autor compartilha também detalhes de
sua vivência no Citigroup, englobando a negociação de uma
ação estratégica em um dos
44 financeiro julho 2014
principais bancos na China e a
liderança da comunidade bancária internacional na abertura
de escritórios na África do Sul,
na China, em Israel, na Europa
Oriental e na Europa Central.
Para Rhodes, o tempo é
sempre desfavorável em uma
crise, pois os riscos de ela se
espalhar estão inevitavelmente presentes. A solução para
gerenciá-la está em uma negociação paciente, persistente,
que compreenda a cultura e
as pressões sobre cada negociante de maneira a aproveitar
Os Imigrantes
Alemães
Na Construção
da Sociedade
Brasileira
Autor: William R. Rhodes
Editora: Globo Livros
momentos estratégicos e saber exatamente o momento de
fechar um acordo. Não é à toa
que conquistou até a simpatia
de Fidel Castro. Com prefácio
assinado por Armínio Fraga,
ex-presidente do BC, a obra de
Rhodes provoca uma série de
reflexões relevantes sobre os
novos tempos. f
Autor:
Eloy Câmara Ventura
A
obra resgata as origens
dos alemães que vieram
para São Paulo a partir de
1827 e como eles contribuíram para a formação da nacionalidade brasileira para o
desenvolvimento da cidade,
especialmente a região central. O livro traz ainda fotografias e ilustrações que retratam a cidade daquela época e
atualmente, como o prédio da
Catedral da Sé, a Faculdade
de Direito do Largo São Francisco, a Rua do Comércio e o
Mosteiro de São Bento. Além
de documentos históricos sobre a chegada dos alemães
ao Brasil. É um trabalho para
quem deseja aprofundar seus
conhecimentos sobre as principais colônias de imigrantes
que contribuíram com o desenvolvimento do País. f
terceirosetor
Dr. Sérgio Petrilli,
superintendente
do Graacc
Dr.
Graacc
Longe dos holofotes
da mídia e despojado
de qualquer vaidade
pessoal, Dr. Sérgio
Petrilli conduz, há
23 anos, uma das
instituições que
é referência no
tratamento do
câncer infantil na
América Latina
Por Gilberto de Almeida
F
aça um teste. Pergunte em um parque ou em um shopping
center, em São Paulo, se as pessoas conhecem o Graacc.
Pode ser que a maioria não saiba o significado de cada letra
da sigla, mas certamente eles dirão que se trata de uma instituição
que é referência no tratamento do câncer infantil. Aproveite a
abordagem e questione se já ouviram falar no Dr. Sérgio Petrilli. É
bem provável que poucos o conheçam, pois é um médico que coloca
o seu trabalho à frente do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e
à Criança com Câncer) acima de qualquer notoriedade ou vaidade
pessoal. Desde que fundou a entidade, há 23 anos, junto com o
engenheiro Jacinto Antonio Guidolin e a voluntária Léa Della Casa
Mingione, o Dr. Petrilli corre diariamente atrás de recursos e de
parcerias para que mais crianças tenham oportunidade de cura,
assim como fazia antes de assumir a superintendência da entidade,
já como chefe do setor de Oncologia do Departamento de Pediatria
da Escola Paulista de Medicina, que até hoje dá suporte ao Graacc.
46 financeiro julho 2014
No entanto, a existência e o êxito do Graacc só
são possíveis graças à sinergia entre três parceiros: o empresariado, que contribui com doações
regulares; a Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), responsável pela assistência médica,
ensino e pesquisa; e a sociedade. Junto, esse trio
mantém, orienta e capacita a instituição a ir cada
vez mais longe. É por meio desse esforço conjunto que as crianças e os adolescentes tratados
pelo Graacc têm, em média, 70% de possibilidade
de cura, índice não muito distante dos 80% alcançados em países da Europa e dos Estados Unidos e bem superior aos 35% ou 40% obtidos no
restante do Brasil. “Aqui, nós tentamos diminuir
essa desigualdade”, diz Petrilli. Pois, 90% dos
pacientes do Graacc são encaminhados pelo SUS
(Sistema Único de Saúde), sendo que 40% vêm de
outros Estados, e 10% são mantidos pelos convênios particulares.
Mesmo quando os pacientes atingem a idade
adulta, acima dos 20 anos, eles continuam a contar com a retaguarda do Graacc. Tanto é assim que
julho 2014 financeiro 47
Fotos: Divulgação
terceirosetor
Em 1998, entidade inaugurou
seu primeiro hospital na
Vila Clementino, São Paulo
Petrilli interrompeu a entrevista que concedia à Financeiro para atender a um retorno de ligação do
Dr. José Osmar Medina Pestana, especialista em
transplantes e diretor do Hospital do Rim, também
da Unifesp, a quem Petrilli pedia apoio para procedimentos de diálise em alguns casos agudos de
adultos internados na UTI.
Esse tipo de iniciativa e de parceria é que
permite ao Graacc se manter com um orçamento
anual de R$ 80 milhões, sendo que 50% desse valor são doações vindas da sociedade e de projetos
de incentivos fiscais à saúde, possibilita realizar
mais de 26 mil consultas, 1,6 mil cirurgias, 37
transplantes de medula e mais de 11,4 mil sessões de quimioterapia. Tudo isso é feito por cer-
48 financeiro julho 2014
ca de 673 funcionários e 485 voluntários, além
de outros colaboradores externos, estudantes da
Unifesp e de mão de obra terceirizada.
Foi também por meio do apoio das empresas
e de doadores individuais que a instituição conseguiu investir R$ 36 milhões na construção do
anexo 1 do Hospital Graacc, inaugurado em 2013,
em um terreno cedido pela Prefeitura de São Paulo. Com seis andares e um subsolo, o projeto da
nova área construída, de 8,4 mil m², aumentou em
30% a capacidade de atendimento dos pacientes,
que agora são acolhidos em espaços mais amplos
e com as paredes pintadas em cores vibrantes. A
expansão permitiu realocar o serviço de radioterapia, estender o pronto atendimento, criar salas
de triagem e de coleta de exames, abrir quartos
de isolamento, novos consultórios, etc. Segundo
o Dr. Sérgio Petrilli, com o novo prédio, o Graacc
passou a atender 310 novos casos por ano. “Essa
ampliação permite que a gente invista ainda mais
em pesquisa para aumentar as chances de cura
dos pacientes. Além disso, traz a oportunidade de
disseminar estudos sobre a doença e de formar
novos profissionais voltados à área de oncologia
pediátrica”, afirma o superintendente.
Como é até hoje, o Graacc nesses seus 23 anos
de fundação foi construído tijolo a tijolo. Em 1991,
o primeiro passo foi transferir o Setor de Oncologia Pediátrica do Hospital São Paulo para uma casa,
que ficou conhecida como a “casinha”. Os pequenos
pacientes eram acolhidos nesse espaço, dentro do
conceito de hospital/dia, em que recebiam atendimento médico e assistencial e voltavam para as
suas residências. Sete anos depois, com a ajuda das
empresas e de instituições, foi inaugurado um hospital, na Vila Clementino, em São Paulo, com 4,2 m²,
distribuídos em oito andares e dois subsolos, hoje
interligado ao anexo 1.
Além do atendimento no hospital, como muitos
pacientes vêm de outras regiões do País, o Graacc
conta com o apoio da Casa Ronald McDonald São
Paulo, que tem capacidade para acolher 30 pacientes e seus familiares, em 30 suítes, sendo seis
delas exclusivas para os pacientes que realizaram
transplantes de medula óssea. Os custos são mantidos por doações de pessoas físicas e jurídicas e
do apoio do Instituto Ronald McDonald, que realiza
campanhas, como o McDia Feliz. Para manter tudo
isso, 12 funcionários e 60 voluntários se revezam
em turnos durante os sete dias da semana.
No Graacc não há descanso
na busca de novos benefícios
para os pacientes. Terminadas
as obras e equipado o anexo 1,
a diretoria já se prepara para
levantar o anexo 2, com 18 mil
m² de área construída e investimento de mais R$ 60 milhões,
no restante do terreno doado
pela Prefeitura de São Paulo,
que tornará o Graacc o maior
centro de atendimento a crian-
Em abril de 2013, o Graacc lançou a
campanha Movimento Carequinhas,
que depois foi premiada no festival
internacional Cannes Lions
ças com câncer da América Latina. O novo espaço
contará com uma brainsuite no centro cirúrgico
– sala especialmente preparada para cirurgias
de tumores cerebrais –, com aparelho de ressonância magnética que rastreia vestígios de tumor
para a sua retirada, enquanto a cirurgia é feita.
O prédio abrigará ainda uma área de reabilitação
lúdica, laboratórios de pesquisa genética, biológica, cirúrgica, patológica e clínica, além da ampliação do número de leitos, do centro cirúrgico e do
centro de transplante de medula óssea.
Como é possível perceber, trabalho não falta no
Graacc, mas não é a tarefa de gestor aquela que
dá maior prazer ao Dr. Sérgio Petrilli. Sua maior
satisfação ainda é poder atender aos pacientes
no ambulatório ou falar com uma mãe que busca
orientação para o filho que está com febre. Esse é
o momento em que os olhos do Dr. Graacc brilham
com mais intensidade. f
MÉDIA DE TAXA DE CURA NO GRAACC
julho 2014 financeiro 49
negócios&lazer
Campo dos
sonhos
O
interior do Estado de São Paulo revela o potencial
turístico que vem conquistando cada vez mais os
paulistanos como uma alternativa à agitação do litoral, principalmente durante o inverno. Uma opção que agrada
àqueles que buscam o ar puro, a natureza e o sossego é o Broa
Golf Resort. Localizado no município de Itirapina, próximo a
Brotas, a 210 km da capital paulista, o resort ocupa uma área
de 1.200 hectares às margens da Represa do Broa, formada
pelas águas do Ribeirão do Lobo, do Rio Itaqueri e de córregos
menores. Esses atrativos naturais encantam os amantes dos
esportes náuticos e de aventura, como caiaque, rafting, boia
cross, tirolesa, parede de escalada, stand up paddle, paintball,
arco e flecha, entre outras modalidades.
Cercado por paisagens paradisíacas, o Broa Golf Resort
possui 75 apartamentos, para acolher os hóspedes que curtem o golfe e mais de 15 atividades dedicadas ao ecoturismo. Além disso, segundo Paulo Eduardo Marques, gerente
geral do hotel, o local ainda conta com spa, espaço zen para
massagem, ofurô ao ar livre, piscinas, minizoo, sete quadras
de tênis e recreação com monitores para as crianças.
Como o golfe é um esporte que tem tudo a ver com o
universo dos negócios, o Broa Golf Resort atrai presiden-
50 financeiro julho 2014
Localizado a
210 km de São
Paulo, o Broa Golf
Resort é o refúgio
de executivos
que buscam a
tranquilidade do
interior, sem abrir
mão do conforto
e da comodidade
para fazer novos
negócios e, ainda,
descansar
Fotos: Divulgação
Por Geyse Alencar
tes de empresas e executivos que buscam aliar o lazer
a transações comerciais e networking. Segundo Marcelo
Giumelli, gerente responsável pelas atividades ligadas ao
golfe, o campo do hotel – 300 mil m², nove buracos com
quatro tees de saída (par 72 para duas voltas) e greens
(área final) de qualidade – está ranqueado entre os melhores do País. “O nosso padrão de excelência nos levou
a ser selecionados para abrigar o Centro de Treinamento
de Golfe dos Jogos Olímpicos Rio 2016”, conta Giumelli.
Para os hóspedes pouco familiarizados ao swing do esporte de Tiger Woods (movimento feito para a batida na
bola), o hotel promove uma clínica (orientação) com as
noções básicas da modalidade.
A infraestrutura do resort tem atraído também a atenção
de empresas, como TAM, Alpargatas, Cartier e Timberland,
que escolheram o refúgio da Represa do Broa para realizar
eventos, encontros corporativos e divulgação de campanhas
publicitárias. “Uma companhia, por exemplo, trouxe recentemente seus funcionários para um treinamento e, no meio
da madrugada, foi simulado um sequestro de dois colaboradores. Eles desceram de helicóptero em uma produção
quase que cinematográfica”, relembra Marques.
julho 2014 financeiro 51
negócios&lazer
Curiosidade
Por que Represa do Broa?
Uma senhora vendia broas de milho
na única porteira que permitia
acesso à saída da represa na década
de 30. Ao passo que aumentava
o número de frequentadores, a
tradição da broa foi ganhando
espaço na região e a fazer parte
da vida dos moradores.
Serviço
Broa Golf Resort
Rodovia Municipal
Ayrton Senna da Silva,
km 8, Itirapina/SP.
www.broagolfresort.com.br
Tel.: (55.19) 3575-1136
52 financeiro julho 2014
Outro atrativo do resort é o Instituto
Arruda Botelho, espaço com 2.400 m², que
abriga há 17 anos o acervo particular de
aeronaves, em condições de voo, de Fernando de Arruda Botelho, empresário falecido em 2012, fundador do Broa Golf
Resort e amante da aviação. Entre as raridades expostas à visitação estão aeronaves do início do século 19, como a Taylor
Turist, com capacidade para quatro lugares, um dos 14 exemplares fabricados. Outro é o Beechcraft Staggerwing, com trem
de pouso retrátil, utilizado na Segunda
Guerra Mundial. A aeronave foi idealizada
por Walter Beech, em 1932, a partir da necessidade de um transporte executivo capaz de voar maiores distâncias com mais
rapidez que qualquer outro avião médio
existente na época.
“Essa paixão pelo mundo aéreo levou
Fernando de Arruda Botelho a organizar
o Broa Fly-In 14-Bis, uma das mais importantes feiras de aviação da América
Latina, que reúne anualmente cerca de 10
mil pessoas, entre empresários, executivos, colecionadores (amadores e profissionais) fornecedores e consumidores de
produtos e serviços”, explica Paulo Eduardo, gerente do Broa Resort. Os negócios
gerados pelo evento movimentam cifras
superiores a US$ 100 milhões. A próxima
edição está confirmada para os dias 5, 6 e
7 de junho de 2015. f
Fotos: Divulgação
Sonho que gera negócios
happyhour
Delícias dos
conventos
A Casa Mathilde, no centro de São
Paulo, serve os melhores doces
criados pela tradição portuguesa
S
e você sonha em voltar a Portugal para, entre outras coisas, matar a saudade dos doces
portugueses, saiba que esse prazer está mais
perto do que você pode imaginar. Na Praça Antonio
Prado, Centro de São Paulo, pertinho da Torre do
Banespa, a Casa Mathilde resgata a tradição da doçaria criada nos conventos desde o século 15. Sem
precisar atravessar o Atlântico, é possível deliciar-se saboreando um legítimo pastel de nata, idêntico
Serviço
Casa Mathilde
Praça Antonio Prado,
76 (Centro)
São Paulo – SP
Telefone: (11)
3106.9605
54 financeiro julho 2014
ao que se come no bairro lisboeta de Belém; pastel
de São Bento, que traz na receita amêndoas crocantes; tortas de azeitão; rocambole de massa fina e
recheio de ovos e açúcar; e travesseiro de Sintra,
massa folhada enrolada com creme de amêndoas e
canela, coberta com açúcar de confeiteiro.
Essas tentações são preparadas por três chefs
confeiteiros, trazidos de Portugal, que misturam
delicadamente os ingredientes básicos das receitas lusas: ovo caipira, açúcar, leite, manteiga e
farinha de trigo. Além do sabor inigualável dos doces, é possível vê-los saírem quentinhos do forno,
de meia em meia hora.
Para trazer essa pequena porção de Portugal
– 1.200 m², divididos em três pavimentos – para
o coração de São Paulo, um grupo de empresários portugueses investiu mais de R$ 5 milhões.
Os sócios trouxeram a Casa Mathilde para cá porque desejam resgatar uma doçaria tradicional de
Portugal, fundada em 1850 em Sintra e que ficou
famosa por se tornar a fornecedora oficial de queijadinhas à Casa Real, depois que D. Fernando II
apaixonou-se pelo quitute em uma viagem à cidade. A lendária fábrica de doces foi desativada logo
depois da Revolução dos Cravos, em 1974.
Além da tradição portuguesa, o espaço escolhido
pelos sócios, no centro de São Paulo, já estava envolvido em uma aura gastronômica desde a década
de 1950, quando acolheu ali o primeiro salão do restaurante Fasano. Se essas poucas linhas e as fotos
encheram sua boca d’água, não perca tempo. Faça
uma visita ao centro velho paulistano e prove essas
tentações que só os portugueses sabem preparar. f
bancodedadosinepad
Endividamento das famílias
brasileiras e a inadimplência
Gráfico 1 - Crédito/PIB e Saldo Inepad e BCB
Por Prof. Dr. Alberto
Borges Matias,
com colaboração
de Iago Henrique
Rodrigues Monteiro
Foto: Divulgação
O desenvolvimento do sistema financeiro brasileiro é um fato comprovado pelo desenvolvimento da relação crédito/PIB e pelo aumento constante
e progressivo do saldo das operações de crédito contratadas. Entretanto, o
expressivo aumento do endividamento das famílias brasileiras nos últimos
anos, e a inadimplência, tem causado certa preocupação quanto à sustentabilidade desse crescimento.
Como está exposto no Gráfico 1, pode-se observar um aumento médio
mensal de 0,3 p.p. (pontos percentuais) na relação crédito/PIB do Brasil de
abril de 2007 a fevereiro de 2014, chegando a 55,77% ao fim do período. Já o
saldo da carteira de crédito aumentou de R$ 780 bilhões em abril de 2007
para R$ 2,73 trilhões ao fim do período apresentado. Isso representa um
crescimento médio mensal de 1,48%, como mostra o Gráfico 2. Interessante
observar no Gráfico 2 também, uma brusca redução no crescimento do saldo
no segundo semestre de 2008 causado pela crise mundial de liquidez, chegando a haver uma leve recessão de 0,03% em fevereiro de 2009.
Elaborado pelo
Centro de Pesquisas
do INEPAD - Núcleo
CEPEFIN.
Elaboração:
Nota: Saldo está no eixo secundário.
Gráfico 2 - Variação Mensal do Saldo das Operações de Crédito Inepad e BCB
Iago Henrique Rodrigues
Monteiro – Pesquisador do
Centro de Pesquisas do INEPAD
– Núcleo CEPEFIN. Graduando
em Ciências Econômicas
pela Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade
da Universidade de São Paulo no
campus de Ribeirão Preto.
Orientador:
Primeiramente, é necessário ressaltar que endividamento não é um termo pejorativo e não significa que haverá inadimplência necessariamente, o
termo apenas representa o quanto o crédito e o financiamento estão presentes na economia de um país. Segundo definição usada pelo Banco Central,
o endividamento das famílias é “a relação entre o valor atual das dívidas
das famílias com o Sistema Financeiro Nacional e a renda das famílias acu-
56 financeiro julho 2014
Alberto Borges Matias –
Fundador do INEPAD e orientador
do CEPEFIN. Professor titular do
Departamento de Administração
da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade
da Universidade de São Paulo
no campus de Ribeirão Preto.
Livre-docente em Finanças, atuando nos programas de graduação, pós-graduação e MBAs da
Universidade
mulada nos últimos doze meses”. Desse modo,
Gráfico 3 - Endividamento das Famílias Brasileiras Inepad e BCB
observando o Gráfico 3, que mostra a evolução do
endividamento e a evolução da renda dos últimos
doze meses dos trabalhadores brasileiros, é visível que houve um aumento na renda, contudo, não
com a mesma intensidade que houve na expansão
de crédito, sendo, portanto, um dos fatores que
influenciaram no aumento do endividamento das
famílias. O aumento do endividamento no período
foi de 15,28 p.p., alcançando 45,73% em março de
2014, já o aumento na renda foi de 21,58% e chegou a R$ 24,7 mil ao fim do período.
Nota: Renda Média Anual do Trabalhador no eixo secundário.
No Gráfico 4, é feita uma comparação do endividamento das famílias brasileiras com o endiviGráfico 4 - Endividamento das Famílias Brasileiras Inepad e FED
damento de famílias de alguns países desenvolvidos. Na curva dos Estados Unidos e da Alemanha
é possível perceber um decrescimento no endividamento das famílias a partir de 2009. Essa queda foi causada após a crise de 2008, que foi uma
consequência do alto nível de inadimplência nas
concessões de crédito subprime. Como medida de
prevenção para novas recessões econômicas, os
governos de determinados países tomaram atitudes para controlar o endividamento das famílias.
No caso dos Estados Unidos e da Alemanha houGráfico 5 - Variação da Inadimplência Inepad e BCB
ve uma queda na curva de endividamento para
80,53% e 56,02%, respectivamente, no fim do período. Já Austrália e Canadá mantiveram o nível
de endividamento das famílias em cerca de 95%
da renda anual. Outro ponto a ser observado é a
distância do endividamento das famílias brasileiras, que no fim do período apresentado estava em
apenas 45,38%, para o endividamento dos outros
países desenvolvidos, que convivem com um endividamento das famílias próximo a 100% e mesmo assim possuem economias saudáveis.
No Gráfico 5 é exposta a variação mensal da
inadimplência e a evolução da taxa Selic no período. Apesar de as concessões de crédito no Brasil
Nota: Taxa Selic está no eixo secundário.
serem predominantemente prefixadas, ou seja, não
possuem indexação a taxa Selic, é possível observar a influência da Selic na variação da inadimplência, causada, mercado de crédito brasileiro. Além disso, apesar do recente auprovavelmente, pela influência nas concessões de crédito pós-fi- mento, o endividamento das famílias brasileiras está bem abaixo
xadas e pelas novas concessões. Outro ponto importante é o cres- em comparação com os países estudados, que ainda assim poscimento da inadimplência durante a recessão mundial de 2008. suem economias saudáveis. Com isso, é possível concluir que o
Em abril de 2009, por exemplo, houve um aumento de 10,81% na problema não é a quantidade de concessões de crédito contratainadimplência. Entretanto, no período apresentado, a inadimplên- dos, e sim as condições em que os mesmos são feitos. Portanto, o Brasil continua com um excelente potencial de expansão do
cia caiu de 3,7% em maio de 2007 para 3% em janeiro de 2014.
A queda da inadimplência no período apresentado é um im- mercado de crédito, e pode continuar essa evolução de maneira
portante indicador da sustentabilidade da recente evolução do responsável e sustentável. f
julho 2014 financeiro 57
bancodedadosinepad
Taxas Médias: geral
DATA
Aplicações
Var. p.p.
Captações
Var. p.p.
Spread
Var. p.p.
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
18,5
18,1
18,5
19,1
19,3
19,5
19,8
20,0
19,7
20,7
21,0
21,1
21,1
0,0
-0,4
0,4
0,6
0,2
0,2
0,3
0,2
-0,3
1,0
0,3
0,1
0,0
6,8
6,9
7,6
7,7
8,0
8,2
8,2
8,5
8,6
8,9
8,7
8,8
8,6
0,0
0,1
0,7
0,1
0,3
0,2
0,0
0,3
0,1
0,3
-0,2
0,1
-0,2
11,7
11,2
10,9
11,4
11,3
11,3
11,6
11,5
11,1
11,8
12,2
12,3
12,5
0,0
-0,5
-0,3
0,5
-0,1
0,0
0,3
-0,1
-0,4
0,7
0,5
0,0
0,2
Variação
abr-abr
2,6
1,8
0,8
Fonte: BC / INEPAD
Taxas Médias: Pessoa física
DATA
Aplicações
Var. p.p.
Captações
Var. p.p.
Spread
Var. p.p.
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
Variação
abr-abr
24,3
24,0
24,2
25,1
25,2
25,6
26,2
26,1
25,6
26,8
27,2
27,7
27,7
-0,2
-0,3
0,2
0,9
0,1
0,4
0,6
-0,1
-0,5
1,2
0,4
0,5
0,0
7,0
7,1
8,0
8,2
8,6
8,8
8,8
9,1
9,2
9,5
9,2
9,4
9,1
-0,1
0,1
0,9
0,2
0,4
0,2
0,0
0,3
0,1
0,3
-0,3
0,2
-0,3
17,3
16,9
16,2
16,9
16,6
16,8
17,4
17,0
16,4
17,3
18,2
18,3
18,6
-0,1
-0,4
-0,7
0,7
-0,3
0,2
0,6
-0,4
-0,6
0,9
0,9
0,1
0,3
3,4
2,1
1,3
Fonte: BC / INEPAD
Taxas Médias: Pessoa física
DATA
Aplicações
Var. p.p.
Captações
Var. p.p.
Spread
Var. p.p.
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
Variação
abr-abr
14,0
13,5
14,1
14,4
14,7
14,7
14,8
15,2
15,1
15,9
16,0
16,0
16,0
-0,4
0,4
0,6
0,2
0,2
0,3
0,2
-0,3
1,0
0,3
0,1
0,0
-21,1
6,6
6,7
7,3
7,3
7,5
7,7
7,8
8,1
8,2
8,3
8,3
8,3
8,2
0,1
0,7
0,1
0,3
0,2
0,0
0,3
0,1
0,3
-0,2
0,1
-0,2
-8,6
7,4
6,8
6,8
7,1
7,2
7,0
7,0
7,1
6,9
7,6
7,7
7,7
7,8
-0,5
-0,3
0,5
-0,1
0,0
0,3
-0,1
-0,4
0,7
0,4
0,1
0,2
-12,5
58 financeiro julho 2014
2,0
2,2
0,1
Fonte: BC / INEPAD
Consignados: saldo de operações de crédito
crédito consignado (R$ milhões)
Crédito pessoal
Mês/Ano
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
Taxa de Juros %a.a.
Consignado
Não
consignado Servidores Trab. do setor Beneficiários
Fonte: BC / INEPAD
94.042
94.904
95.634
95.736
96.486
97.579
98.605
99.423
97.767
98.921
99.503
100 269
101 250
públicos
privado
do INSS
124.091
126.450
128.603
130.421
132.123
133.439
134.936
136.391
137.169
138.420
140.063
141 516
143 161
16.964
17.223
17.401
17.504
17.727
17.860
17.950
18.008
17.953
18.050
18.175
18 280
18 473
61.412
62.706
63.386
64.181
65.102
65.536
65.893
66.356
66.755
67.672
69.344
69 795
70 412
Total
202.467
206.379
209.390
212.106
214.952
216.835
218.779
220.628
221.841
224.142
227.582
229 591
232 046
Total
296.509
301.283
305.024
307.842
311.438
314.414
317.384
320.178
319.644
323.063
327.085
329 860
333 296
Consignado
24,3
24,2
24,2
24,4
24,5
24,3
24,6
24,5
24,4
24,9
25,1
25,3
25,3
Crédito
Diferença
Pessoal
36,8
36,7
38,0
39,8
39,7
40,3
42,2
41,7
41,3
43,0
44,1
43,9
45,1
12,5
12,5
13,8
15,4
15,2
16,0
17,6
17,2
16,9
18,1
19,0
18,6
19,8
julho 2014 financeiro 59
bancodedadosinepad
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
4,82
-0,48
-3,03
2,36
0,59
4,45
0,15
-3,68
-4,84
7,53
-7,78
6,00
2,15
123.598
126.433
125.372
129.369
130.019
131.437
133.682
135.236
144.589
143.914
139.698
141.616
141.331
1,19
2,29
-0,84
3,19
0,50
1,09
1,71
1,16
6,92
-0,47
-2,93
1,37
-0,20
21.662
21.773
21.764
21.721
21.739
21.558
21.500
21.416
21.195
21.058
20.887
20.719
20.598
0,25
0,51
-0,04
-0,20
0,08
-0,83
-0,27
-0,39
-1,03
-0,65
-0,81
-0,80
-0,58
93.944
94.945
95.663
95.736
96.787
97.579
98.605
99.423
97.767
98.921
99.503
100.269
101.250
1,11
1,07
0,76
0,08
1,10
0,82
1,05
0,83
-1,67
1,18
0,59
0,77
0,98
202.469
206.309
209.304
212.106
214.728
216.835
218.779
220.754
221.878
224.143
227.581
229.591
232.046
VARIAÇÃO
EM %
CRÉDITO PESSOAL
VARIAÇÃO Crédito
Variação Crédito pessoTOTAL
EM % pessoal não
al consignado Variação
em %
em
%
total
consignado
1,83
1,90
1,45
1,34
1,24
0,98
0,90
0,90
0,51
1,02
1,53
0,88
1,07
296.412
301.254
304.967
307.842
311.515
314.414
317.384
320.177
319.645
323.063
327.085
329.859
333.296
1,60
1,63
1,23
0,94
1,19
0,93
0,94
0,88
-0,17
1,07
1,24
0,85
1,04
OUTROS
CRÉDITOS
LIVRES
25.941
25.923
26.250
26.279
26.417
25.700
25.167
25.723
25.930
26.354
28.085
27.272
26.631
3,63
-0,07
1,26
0,93
0,53
-2,71
-2,07
2,21
0,80
1,64
6,57
-2,89
-2,35
Fonte: BC / INEPAD
21.220
21.118
20.478
20.962
21.086
22.025
22.058
21.247
20.219
21.742
20.051
21.254
21.711
CRÉDITO
PESSOAL NÃO
CONSIGNADO
VINCULADO À
DÍVIDA
VARIAÇÃO
EM %
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
CHEQUE VARIAÇÃO CARTÃO DE VARIAÇÃO
CRÉDITO
EM %
EM %
ESPECIAL
VARIAÇÃO
EM %
MÊS / ANO
recursos livres - (R$ milhões)
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
TOTAL
VARIAÇÃO
EM %
ARRENDAMENTO
MERCANTIL
202.988
202.717
202.783
204.825
205.078
204.029
204.133
204.273
204.170
204.466
203.405
201.709
200.956
-0,12
-0,13
0,03
1,01
0,12
-0,51
0,05
0,07
-0,05
0,14
-0,52
-0,83
-0,37
13.732
12.809
12.040
11.167
10.410
9.724
9.064
8.498
7.906
7.368
6.854
6.315
5.883
AQUISIÇÃO
Veículos
192.490
192.060
191.979
193.946
194.008
193.106
193.026
193.082
192.797
193.006
191.845
189.952
189.006
Variação
em %
Outros bens Variação
em %
-0,16
-0,22
-0,04
1,02
0,03
-0,46
-0,04
0,03
-0,15
0,11
-0,60
-0,99
-0,50
10.498
10.657
10.804
10.879
11.070
10.923
11.107
11.191
11.373
11.460
11.560
11.757
11.950
0,65
1,51
1,38
0,69
1,76
-1,33
1,68
0,76
1,63
0,76
0,87
1,70
1,64
VARIAÇÃO
EM %
-6,88
-6,72
-6,00
-7,25
-6,78
-6,59
-6,79
-6,24
-6,97
-6,80
-6,98
-7,86
-6,84
DESCONTO
DE
CHEQUES
1.590
1.583
1.587
1.525
1.553
1.538
1.524
1.578
1.564
1.534
1.574
1.528
1.523
-2,69
-0,44
0,25
-3,91
1,84
-0,97
-0,91
3,54
-0,89
-1,92
2,61
-2,92
-0,33
Fonte: BC / INEPAD
MÊS / ANO
recursos livres - (R$ milhões)
recursos direcionados - (R$ milhões)
VARIAÇÃO - FINANC.
IMOBILIVARIAÇÃO
MÊS /
CRÉDITO RURECURSOS
LIVRES
(R$ Milhões)
ANO
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
RAL TOTAL
EM %
ÁRIO TOTAL
EM %
FINANC. RECURSOS DO BNDES
VARIAÇÃO
EM %
MICROCRÉDITO TOTAL
VARIAÇÃO
EM %
OUTROS CRÉDITOS
DIRECIONADOS
VARIAÇÃO
EM %
94.192
97.014
101.736
99.448
103.181
105.950
108.036
110.969
115.287
116.353
117.796
119.944
122.847
1,60
3,00
4,87
-2,25
3,75
2,68
1,97
2,71
3,89
0,92
1,24
1,82
2,42
281.343
289.652
298.396
306.493
314.896
319.441
326.403
333.878
341.465
347.709
354.600
360.784
367.636
2,71
2,95
3,02
2,71
2,74
1,44
2,18
2,29
2,27
1,83
1,98
1,74
1,90
32.991
32.839
33.119
33.527
34.086
34.504
35.026
35.688
37.067
38.608
38.986
39.174
39.639
2,63
-0,46
0,85
1,23
1,67
1,23
1,51
1,89
3,86
4,16
0,98
0,48
1,19
3.936
4.027
4.170
4.116
4.158
4.188
4.423
4.873
5.392
5.450
5.415
5.261
5.171
1,47
2,31
3,55
-1,29
1,02
0,72
5,61
10,17
10,65
1,08
-0,64
-2,84
-1,71
4.491
4.573
4.755
5.109
5.314
6.074
6.169
6.343
6.745
6.865
6.978
6.828
6.998
0,83
1,83
3,98
7,44
4,01
14,30
1,56
2,82
6,34
1,78
1,65
-2,15
2,49
Fonte: BC / INEPAD
60 financeiro julho 2014
Fonte: BC / INEPAD
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
Data
jun/07
jul/07
ago/07
set/07
out/07
nov/07
dez/07
jan/08
fev/08
mar/08
abr/08
mai/08
jun/08
jul/08
ago/08
set/08
out/08
nov/08
dez/08
jan/09
fev/09
mar/09
abr/09
mai/09
jun/09
jul/09
ago/09
Saldo
96.426
100.256
102.555
104.222
106.498
107.293
108.041
110.428
112.303
115.578
118.248
120.720
121.211
123.198
125.550
127.281
129.704
130.039
129.741
131.707
130.219
133.330
137.539
139.997
142.569
145.446
148.622
Data
set/09
out/09
nov/09
dez/09
jan/10
fev/10
mar/10
abr/10
mai/10
jun/10
jul/10
ago/10
set/10
out/10
nov/10
dez/10
jan/11
fev/11
mar/11
abr/11
mai/11
jun/11
jul/11
ago/11
set/11
out/11
nov/11
dez/11
Taxa de Juros
51,06
50,61
49,89
49,43
48,88
46,75
45,80
53,08
52,59
50,48
50,60
48,39
51,39
53,59
54,49
56,31
57,42
59,88
60,44
56,51
54,49
50,84
48,78
46,62
45,64
44,78
44,29
Saldo
151.359
154.386
156.259
159.692
162.446
165.543
170.393
174.442
178.844
181.458
184.359
188.779
191.969
195.497
198.633
201.611
205.727
209.255
210.445
213.685
216.864
220.666
224.603
229.192
232.172
235.202
238.570
238.854
Taxa de Juros
44,71
45,74
43,64
44,35
44,83
43,81
42,69
42,87
43,04
41,97
42,21
41,96
41,63
43,55
41,99
44,11
48,32
47,96
43,01
44,34
44,56
44,52
45,01
44,52
44,64
45,34
43,64
42,40
Fonte: BC / INEPAD
Gráfico do crédito pessoal
Data
jan/12
fev/12
mar/12
abr/12
mai/12
jun/12
jul/12
ago/12
set/12
out/12
nov/12
dez/12
jan/13
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
Saldo
242.445
246.608
250.527
254.431
259.656
263.702
266.503
270.538
271.628
275.565
278.776
279.104
283.245
287.061
291.741
296.412
301.254
304.967
307.842
311.515
314.414
317.384
320.177
319.645
323.063
327.085
329.859
333.296
Taxa de Juros
44,80
45,20
43,90
41,40
39,30
38,20
38,60
38,00
37,70
37,80
37,10
36,90
37,30
37,90
37,17
36,83
36,74
38,02
39,75
39,71
40,34
42,23
41,72
41,32
43,00
44,10
43,90
45,10
Fonte: BC / INEPAD
Saldo da carteira de crédito - pessoa física
MÊS / ANO
Saldo (R$ milhões) e percentual (%) da carteira de crédito com recursos livres PF Total e com atraso entre 15 e 90 dias
CRÉDITO PESSOAL
Saldo total
abr/13
296.412
mai/13
301.254
jun/13
304.967
jul/13
307.842
ago/13
311.515
set/13
314.414
out/13
317.384
nov/13
320.177
dez/13
319.645
jan/14
323.063
fev/14
327.085
mar/14
329.859
abr/14
333.296
Fonte: BC / INEPAD
AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS
Com atraso de % sobre saldo
da carteira
15 a 90 dias
13.368
12.231
11.985
12.252
12.118
13.048
12.759
12.199
13.265
14.344
14.032
14.745
15.365
4,51%
4,06%
3,93%
3,98%
3,89%
4,15%
4,02%
3,81%
4,15%
4,44%
4,29%
4,47%
4,61%
Saldo total
192.490
192.060
191.979
193.946
194.008
193.106
193.026
193.082
192.797
193.006
191.845
189.952
189.006
AQUISIÇÃO DE OUTROS BENSSOAL
Com atraso de % sobre saldo
da carteira
15 a 90 dias
16.650
16.479
15.857
15.826
15.152
15.796
15.693
15.350
14.922
14.939
14.408
16.051
15.820
8,65%
8,58%
8,26%
8,16%
7,81%
8,18%
8,13%
7,95%
7,74%
7,74%
7,51%
8,45%
8,37%
Saldo total
10.498
10.657
10.804
10.879
11.070
10.923
11.107
11.191
11.373
11.460
11.560
11.757
11.950
Com atraso de % sobre saldo
da carteira
15 a 90 dias
856
828
816
814
794
765
796
789
753
842
857
970
987
8,15%
7,77%
7,55%
7,48%
7,17%
7,00%
7,17%
7,05%
6,62%
7,35%
7,41%
8,25%
8,26%
julho 2014 financeiro 61
bancodedadosinepad
Fonte: BC / INEPAD
Juros
Taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres - Pessoa Física
AQUISIÇÃO DE BENS - VEÍCULOS
AQUISIÇÃO DE BENS - OUTROS
MÊS / ANO
CRÉDITO PESSOAL
R$ Milhões
abr/13
296.412
2,65
-0,02
36,83
-0,34
192.490
1,53
0,01
19,92
0,19
10.498
4,43
-0,02
68,25
-0,38
mai/13
301.254
2,64
-0,01
36,74
-0,09
192.060
1,51
-0,01
19,73
-0,19
10.657
4,32
-0,11
66,20
-2,05
jun/13
304.967
2,72
0,08
38,02
1,28
191.979
1,49
-0,02
19,47
-0,26
10.804
4,33
0,01
66,40
0,20
jul/13
307.842
2,83
0,11
39,75
1,73
193.946
1,55
0,06
20,28
0,81
10.879
4,39
0,06
67,49
1,09
ago/13
311.515
2,83
0,00
39,71
-0,04
194.008
1,60
0,04
20,92
0,64
11.070
4,39
0,00
67,55
0,06
set/13
314.414
2,86
0,04
40,34
0,63
193.106
1,64
0,05
21,60
0,68
10.923
4,43
0,03
68,17
0,62
out/13
317.384
2,98
0,11
42,23
1,89
193.026
1,59
-0,05
20,83
-0,77
11.107
4,58
0,16
71,19
3,02
nov/13
320.177
2,95
-0,03
41,72
-0,51
193.082
1,62
0,03
21,28
0,45
11.191
4,65
0,07
72,57
1,38
dez/13
319.645
2,92
-0,02
41,32
-0,40
192.797
1,62
0,00
21,29
0,01
11.373
4,93
0,28
78,13
5,56
jan/14
323.063
3,03
0,10
43,00
1,68
193.006
1,72
0,10
22,74
1,45
11.460
4,73
-0,20
74,16
-3,97
Saldo
total
Saldo
total
Taxa de juros
% am
Varição
p.p
Saldo
total
Taxa de juros
% aa
Varição
p.p
R$ Milhões
% am
Varição
p.p
% aa
Varição
p.p
R$ Milhões
Taxa de juros
% am
Varição
p.p
% aa
Varição
p.p
fev/14
327.085
3,09
0,07
44,10
1,10
191.845
1,80
0,08
23,85
1,11
11.560
4,79
0,06
75,36
1,20
mar/14
329.859
3,08
-0,01
43,90
-0,20
189.952
1,78
-0,02
23,54
-0,31
11.757
4,75
-0,05
74,44
-0,92
abr/14
333.296
3,15
0,07
45,10
1,20
189.006
1,71
-0,06
22,62
-0,92
11.950
4,79
0,04
75,27
0,83
Fonte: BC / INEPAD
Atividade Econômica
DATA
"Taxa da Utilização
da Capacidade
Instalada"
Var. p.p.
DATA
"Índice de
Produção Física
Média Móvel
Trimestral"
Var. %
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
82,4
82,6
83,2
82,6
82,5
82,4
82,3
82,1
82,3
82,0
81,7
82,3
81,9
-1,20
0,20
0,60
-0,60
-0,10
-0,10
-0,10
-0,20
0,20
-0,30
-0,30
0,60
-0,40
fev/13
mar/13
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
127,43
127,70
127,12
127,56
128,24
127,36
127,39
126,86
127,43
127,75
126,17
125,92
126,00
0,24%
0,21%
-0,45%
0,35%
0,53%
-0,69%
0,02%
-0,42%
0,45%
0,25%
-1,24%
-0,20%
0,06%
-0,5
Variação
fev-fev
Variação
fev-fev
62 financeiro julho 2014
-1,43
Fonte: IBGE / INEPAD
Rendimento
Taxa de Desemprego (%)
DATA
Brasil
Var. p.p.
SP
Var. p.p.
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
5,80%
5,80%
6,00%
5,60%
5,3%
5,40%
5,20%
4,60%
4,30%
4,80%
5,10%
5,00%
4,90%
0,1
0,0
0,2
-0,4
-0,3
0,1
-0,2
-0,6
-0,3
0,5
0,3
-0,1
-0,1
6,7%
6,3%
6,6%
5,80%
5,40%
5,80%
5,60%
4,70%
4,40%
5,00%
5,50%
5,70%
5,20%
0,400
-0,400
0,300
-0,800
-0,400
0,400
-0,200
-0,900
-0,300
0,600
0,500
0,2
-0,5
Rendimento Médio Real Habitualmente Recebido (R$)
DATA
Brasil
Var. p.p.
SP
Var. p.p.
abr/13
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
1974,1
1967,5
1964,5
1947,6
1981,3
2001,8
1999,1
2038,3
2023,7
2031,7
2047,0
2040,3
2028
-0,18%
-0,34%
-0,15%
-0,86%
1,73%
1,03%
-0,13%
1,96%
-0,72%
0,40%
0,75%
-0,33%
-0,60%
2104,6
2090,7
2078,9
2049,9
2083,3
2105,0
2127,6
2159,9
2136,2
2136,9
2145,2
2144,7
2139,30
-0,49%
-0,66%
-0,57%
-1,39%
1,63%
1,04%
1,07%
1,52%
-1,10%
0,03%
0,39%
-0,02%
-0,25%
Anfavea
Produção - Automóveis de Passageiros, Mistos, Veículos Comerciais, Leves e Pesados
(em unidades)
Data
Produção
Média Trim.
Var. Mensal
Var. Mensal
(%)
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
mai/14
Variação
Mai-mai
344.547
323.880
317.855
342.757
322.350
322.514
293.189
230.892
237.186
281.452
271.217
277.091
282.465
341.998
340.261
328.761
328.164
327.654
329.207
312.684
282.198
253.756
249.843
263.285
276.587
276.924
-7.808
-20.667
-6.025
24.902
-20.407
164
-29.325
-62.297
6.294
44.266
-10.235
5.874
5.374
-2,2%
-6,0%
-1,9%
7,8%
-6,0%
0,1%
-9,1%
-21,2%
2,7%
18,7%
-3,6%
2,2%
1,9%
-18,02%
julho 2014 financeiro 63
bancodedadosinepad
Exportação de Autoveículos montados (em unidades)
Data
Exportações
Média Trim.
Var. Mensal
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
mai/14
Variação
Mai-mai
48.620
49.444
54.096
64.071
45.441
51.819
45.234
43.298
22.797
28.844
23.408
35.637
35.162
48.307
50.278
50.720
55.870
54.536
53.777
47.498
46.784
37.110
31.646
25.016
29.296
31.402
-4.151
824
4.652
9.975
-18.630
6.378
-6.585
-1.936
-20.501
6.047
-5.436
12.229
-475
Var. Mensal
(%)
-7,87%
1,69%
9,41%
18,44%
-29,08%
14,04%
-12,71%
-4,28%
-47,35%
26,53%
-18,85%
52,24%
-1,33%
-27,68%
Fonte: Anfavea / INEPAD
Licenciamento por Categoria Automóveis
Fonte: Inepad & Anfavea
Licenciamento de Automóveis Nacionais e180.000
Importados - (em unidades)
160.000
Data
Total
1000cc
% no
Total
+1000cc a
2000cc
% no
total
mai/13
jun/13
jul/13
ago/13
set/13
out/13
nov/13
dez/13
jan/14
fev/14
mar/14
abr/14
mai/14
232.974
233.277
250.685
242.479
222.155
239.590
223.748
259.211
228.670
183.235
171.359
211.225
207.688
93.970
96.715
99.838
94.689
85.937
89.442
88.745
101.512
86.481
67.317
68.926
85.545
80.139
40,3%
41,5%
39,8%
39,1%
38,7%
37,3%
39,7%
39,2%
37,8%
36,7%
40,2%
40,5%
38,6%
137.426
135.298
149.235
146.205
134.794
148.753
133.291
155.889
140.452
114.515
101.211
123.830
126.019
59,0%
58,0%
59,5%
60,3%
60,7%
62,1%
59,6%
60,1%
61,4%
62,5%
59,1%
58,6%
60,68%
140.000
% no
+2000cc
120.000
total
100.000
1.578
1.264
1.612
1.585
1.424
1.395
1.712
1.810
1.737
1.403
1.222
1.850
1.530
0,68%
80.000
0,54%
60.000
0,64%
0,65%
40.000
0,64%
20.000
0,58%
0,77%
0
0,70%
0,76%
0,77%
0,71%
0,88%
0,74%
1000cc
+1000cc a 2000cc
+2000cc
Fonte: Anfavea / INEPAD
Macro
64 financeiro julho 2014
Previsões Econômicas
Ano de 2014
"PIB Total
% a.a."
"PIB Agropecuário
% a.a."
"PIB Indústria
% a.a."
"PIB Serviço
% a.a."
"Produção Industrial
% a.a."
Previsão 06/06/2014
(2014/2014)
1,44
2,25
0,73
1,74
0,53
1 semana antes 30/05
1,53
2,02
0,84
1,73
0,72
1 mês antes 06/05/2014
1,69
2,41
1,42
1,85
1,10
Ano de 2014
"Selic
Taxa anual"
"IGP-DI
% a.a."
"IPCA
% a.a."
"Taxa de Cãmbio
R$ / US$"
"Saldo
Comercial
US$ bilhões"
Previsão 06/06/2014
(2014/2014)
11,17
6,13
6,45
2,41
244,12
1 semana antes 30/05
11,20
6,71
6,45
2,41
244,82
1 mês antes 06/05/2014
11,31
7,19
6,53
2,42
246,77
julho 2014 financeiro 65
palavrafinal
Ciclo virtuoso do consumo
e crédito está esgotado
N
o primeiro semestre de 2014 ficou evidente que o ciclo virtuoso de
consumo brasileiro está esgotado. O consumo e o crédito tiveram
importante desaceleração. No PIB do primeiro trimestre de 2014
houve queda do consumo das famílias; desempenho esse que poderá ser novamente negativo ou ligeiramente positivo no segundo trimestre, conforme
antecipam alguns indicadores de desempenho do comércio e pesquisas de
intenção de consumo recentes. Há convergência na direção de importante retração na capacidade de consumo da população.
PIB Trimestral - Consumo das Famílias
trimestral contra trimestre anterior , variação %
Fonte: IBGE.
Crédito Total do Sistema Financeiro Nacional
crescimento em 12 meses, em %
Fonte: Banco Central, Acrefi.
66 financeiro julho 2014
Por Nicola Tingas,
Economista-chefe
da Acrefi
Também há retração
do crédito total na [email protected]
nomia desde 2011. Esse
movimento de desaceleração foi em parte contido pela oferta ampliada de recursos financeiros pelos bancos públicos; e também
pela crescente utilização de crédito direcionado (de
maiores prazos e menores taxas) para, entre outros
usos, refinanciar passivos e promover saneamento
financeiro dos mais endividados, tanto entre as pessoas físicas quanto entre as pessoas jurídicas.
A retração da atividade econômica deixou de
ocorrer apenas na indústria de transformação –
agravada ainda mais em período recente – para
atingir também o setor de serviços e o comércio.
Vários fatores já conhecidos causaram essa importante retração econômica: inflação alta e persistente, elevação dos juros, expressivo endividamento
das famílias, estancamento do aumento da renda,
demissões devido a queda da atividade econômica.
Tudo isso acompanhado pela crescente deterioração
da confiança sobre o futuro; que reduziu, em muito,
a propensão a investir pelo lado da oferta e retraiu a
propensão a consumir pelo lado do consumo – caracterizando quadro de estagnação econômica.
Nesse ambiente, as projeções para crescimento do produto interno bruto (PIB) em 2014 têm sido
cadentes e piores que o esperado há poucos meses
atrás. Em seu “Relatório Trimestral de Inflação” o
Banco Central reduziu para 1,6% a estimativa para
o PIB 2014, enquanto na mesma semana as projeções de mercado divulgadas pelo “FOCUS” indicavam 1,16% de crescimento econômico.
Nas condições atuais, a capacidade de crescimento da economia (PIB potencial) está comprometida.
O crescimento econômico dificilmente poderá ser
revitalizado pelo lado da demanda. A partir da política econômica que será definida para 2015 e anos
seguintes, deverá haver consistente formulação e
implementação de estímulos capazes de promover
significativa ampliação do investimento e aumento da
produtividade, para poder, assim, alcançar a retomada
do crescimento sustentável da economia brasileira. f
Artigo enviado em 27/6/2014
Por Nicola Tingas

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