As manifestações de 2013 no Brasil vistas pelo Jornal Nacional

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As manifestações de 2013 no Brasil vistas pelo Jornal Nacional
VIII Seminario Regional (Cono Sur) ALAIC
“POLÍTICAS, ACTORES Y PRÁCTICAS DE LA COMUNICACIÓN:
ENCRUCIJADAS DE LA INVESTIGACIÓN EN AMÉRICA LATINA”
7 y 28 de agosto 2015 | Córdoba, Argentina
As manifestações de 2013 no Brasil vistas pelo
Jornal Nacional (Rede Globo)
The media coverage of 2013 demonstrations in Brazil
by Jornal Nacional (Rede Globo)
Camila MOREIRA CESAR 1
Resumo
A centralidade dos media nas sociedades contemporâneas redefine os contornos do espaço
público, transformação que suscita uma série de debates em diferentes domínios da vida
social, especialmente no que se refere às representações da vida pública. Assim, este artigo,
síntese de uma pesquisa realizada no quadro de um mestrado em Informação e Comunicação,
propõe ampliar as discussões sobre o papel dos meios de comunicação em regimes
democráticos, chamando a atenção, especificamente, para as relações entre mídias e
movimentos sociais no Brasil. Tal preocupação emerge em um momento histórico, social e
político onde as redes sociais conquistam, ainda que gradativamente e de maneira bastante
restrita, uma importância substancial nos hábitos informativos da população, sobretudo entre as
gerações mais jovens. Deste modo, este estudo analisa a evolução das manifestações contra o
aumento do preço do transporte público no país ocorridas entre junho e julho de 2013, bem
como o tratamento midiático deste evento pelo telejornal Jornal Nacional, da maior e mais
influente emissora brasileira, a Rede Globo. Em vista do grau de interferência desta enquanto
interface de socialização política da maioria da população e, portanto, na formação da opinião
pública, faz-se necessário, do ponto de vista social e societal, aprofundar o debate e colocar
1
Bacharel em Comunicação Social – Hab. Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil (2012),
Mestre em Informação e Comunicação pela Université Sorbonne Nouvelle Paris III (2015), Diretora de Comunicação do
Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE). E-mail : [email protected].
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em perspectiva a problemática da concentração da mídia no Brasil e suas implicações do ponto
de vista democrático. Assim, esta pesquisa chama a atenção para a relação controversa entre
meios de comunicação e poder político no contexto brasileiro, atentando particularmente à
questão dos movimentos sociais, historicamente margilizados pela grande imprensa nacional.
Da mesma forma, busca-se compreender, paralelamente, qual é o papel e o potencial de
influência dos discursos alternativos difundidos por outros canais, tais como as redes sociais
digitais, na evolução do tratamento midiático dispensado a este evento que tangencia, ao
mesmo tempo, questões de cunho social, político e midiático no Brasil, bem como suas
interrelações.
Palavras-chave: democracia, movimentos sociais, redes sociais digitais, discurso midiático,
jornalismo, Rede Globo.
Abstract
The centrality of the media in contemporary societies redefines the contours of public space.
This change raises a number of debates in different social fields, especially regarding to new
representations of public life. So, this article, a synthesis of a research conducted as part of a
master's degree in Information and Communication, proposes to extend the discussions on the
role of the media in democratic systems, drawing attention specifically to the relationship
between media and social movements in Brazil. This concern emerges in a historical, social and
political moment where social networks sites gain, even if gradually and in a very restricted way,
of substantial importance in the Brazilian population information habits, especially among the
younger generations. Thus, this study analyzes the evolution of demonstrations against the
rising cost of public transport in the country between June and July 2013, as well as the
media coverage of this event by the TV newscast Jornal Nacional, from RedeGlobo, the largest
and most influential Brazilian broadcaster. Given its degree of interference as a political
socialization interface among the majority population, and therefore, in the shaping public
opinion, it is necessary, from both social and societal point of view, deepening the debate and
put into perspective the issue of concentration the media in Brazil and its implications from a
democratic point of view. Therefore, this research focuses on the controversial relationship
between
the
media
and
political
power
in
the
Brazilian
context, drawing
attention particularly to the question of social movements, historically margilized by the national
mainstream media. Similarly, this article pursuit to understand, in parallel, what is the role and
the potential influence of alternative discourses broadcast by other channels, such as social
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networks sites, on the evolution of the media coverage of this event that touches, at the same
time, social, political and media issues in Brazil, as well as their interrelations.
Key Words: democracy, social movement, digital social network, media discourse, journalism,
Rede Globo.
1 Introdução
As particularidades do mais influente grupo midiático do Brasil, a Rede Globo, suscita
discussões sobre sua importância na vida política. Assim, a análise da construção do discurso
midiático das manifestações pelo Jornal Nacional se investe de importância dada a relevância
deste evento para a compreensão da trajetória sócio-política no Brasil. Deste modo, este
estudo propõe discutir o papel dos media e avaliar os possíveis efeitos do uso das redes
sociais, especialmente Facebook e Twitter, na mobilização social e suas interações com a
mídia tradicional no contexto atual.
Por centrar-se na construção do discurso midiático e suas oscilações ao longo da
cobertura jornalística, as contribuições da sociologia dos meios de comunicação apresentam-se
como um aporte teórico fundamental para a realização deste trabalho. Em um primeiro
momento, será analisado o discurso midiático e seu conteúdo, seguindo-se a uma avaliação
mais aprofundada sobre as contruções semânticas empregadas, bem como sua influência
sobre as representações das manifestações e de seus atores. Assim, a combinação da análise
do discurso e da semiótica permitiu o estudo do corpus selecionado. A escolha e a aplicação
desses suportes téorico-metodológicos são pertinentes dado o objetivo da pesquisa, que
propõe, de um lado, uma reflexão sobre o papel dos media no espaço público e, de outro,
apoia-se sobre um evento em particular para testar empiricamente essa reflexão teórica.
1 Estruturação da pesquisa
Parte-se, assim, da seguinte questão : quais são as representações dos manifestantes
construídas pelo Jornal Nacional durante os protestos no Brasil em 2013 e qual o papel,
paralelamente, das redes sociais na evolução deste evento? Em primeiro lugar, destaca-se a
transformação do discurso do Jornal Nacional. Inicialmente, os ativistas foram classificados
como vândalos e os protestos não foram apresentados legítimos. Em uma segunda fase, a
natureza violenta e o olhar de reprovação das primeiras coberturas cedem lugar,
gradativamente, a uma classificação mais amena, e os jornalistas passam a falar de um
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“movimento pacífico e democrático”. A partir daí, o telejornal passa a apoiar a onda de
manifestações, valorizando a onda de protestos em diferentes cidades e dedicando boa parte
da grade da emissora à transmissão ao vivo dos atos.
Uma primeira hipótese que justificaria essa mudança estaria ligada às proporções do
movimento, intensificadas pelo uso das redes sociais. A situação teria “forçado” o telejornal a
reconhecer a legitimidade do movimento, agora tratado como uma expressão saudável da
democracia. Nota-se também que tal transformação ocorre após as agressões policiais de
jornalistas durante a cobertura dos atos. Uma última explicação seria a difusão de versões
alternativas (por meio de fotos, vídeos, artigos etc.) dos protestos por manifestantes e
ciberativistas, a exemplo do grupo Mídia Ninja. A circulação dessas diferentes visões teria, em
certa medida, obrigado o programa a reformular seu discurso, provando assim o peso das
redes sociais na mobilização e organização dos movimentos sociais contemporâneos.
2.1 Objetivos e Metodologia
Para responder às questões deste estudo, objetivou-se compreender: i) o tratamento
dos atores do evento, sobretudo dos manifestantes; ii) as transformações do discurso do
telejornal ao longo da cobertura e iii) o papel das redes sociais na construção deste evento
midiático, buscando-se avaliar o impacto desses novos canais informações sobre a narrativa
jornalística da grande mídia.
Foram selecionadas 26 edições do telejornal Jornal Nacional entre 6 de junho e 6 de
julho de 2013. Foi neste intervalo que os protestos se propagaram, inserindo-se na esfera de
visibilidade midiática e, assim, pública. Em segundo lugar, a abordagem dos protestos neste
momento, bem como as oscilações ao longo do período analisado, são interessantes do ponto
de vista científico. Dado o importante papel das redes sociais na organização das
manifestações, optou-se por adicionar ao corpus, à título ilustrativo, algumas das publicações
mais expressivas do grupo ciberativista Mídia Ninja divulgadas em suas páginas no Facebook e
Twitter. Por meio desse suporte empírico, pretende-se discutir como os conteúdos difundidos
por um canal de informação alternativo podem ter contribuído à mudanla do discurso da mídia
tradicional.
Para analisar a narrativa jornalística sobre o evento, foram empregadas as técnicas da
análise do discurso. Em seguida, interessamo-nos à construção do sentido das formações
lexicais que descrevem o evento, o que demandou o apoio téorico-metodológico da semiótica.
A análise da construção do discurso midiático do Jornal Nacional apoiou-se, então, nos
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seguintes critérios: o tempo dedicado ao assunto em cada edição do telejornal; a identificação
das formações lexicais mais utilizadas para descrever o evento e atores; e a observação dos
temas emergentes. Para compreender a importância da mise en scène televisual e o sentido
embutido nos conteúdos veiculados pelo programa, atentou-se a determinados detalhes
técnicos, tais como a estruturação e o enquadramento das reportagens e as entradas ao vivo
dos repórteres diretamente dos protestos. Por fim, a escolha das postagens obedeceu aos
seguintes critérios: a populariade (número de “likes”, compartilhamentos e comentários) e
cronologia, conforme os momentos mais importantes deste episódio. Sendo a análise da
evolução do tratamento do telejornal nosso objetivo principal, essas informações serão
mencionadas à título ilustrativo para discutir a possível influência dessas versões alternativas
sobre o discurso jornalístico do Jornal Nacional.
3 Problematização teórica
3.1 Mídia e Democracia : os meios de comunicação e o poder político no Brasileira
O surgimento da imprensa diária durante o século XVIII transformou a organização do
espaço público contemporâneo, mas é no século XX que o desenvolvimento do rádio e da
televisão vão aprofundar essas mudanças, colocando os media no centro das relações sociais.
Miguel (2004) retoma Meyrowitz (1985) sobre o impacto das mídias eletrônicas no tecido
social e explica que os meios de comunicação, sobretudo a televisão, rompem as barreiras
entre espaços sociais antes estanques. Para o autor, « quando mulheres ou homens, ou jovens
e adultos compartiham das mesmas informações, por assistirem aos mesmos programas,
torna-se mais difícil decretar 'isto não é assunto de mulher' ou 'isto não é assunto de criança' »
(MIGUEL, 2004, p. 7-8). O autor cita quatro dimensões principais onde a visibilidade da mídia
surte efeito : i) enquanto ferramenta de contato entre a política e os cidadãos, substituindo, em
certa medida, os sistemas políticos tradicionais, cujo principal efeito é a redução do peso dos
partidos políticos ; ii) a transformação do discurso político, cada vez mais adaptado à lógica
midiática ; iii) a produção de uma agenda pública, dada sua capacidade de formular as
preocupações coletivas e orientar sua interpretação por meio de esquemas narrativos.
Salienta-se ainda os efeitos desse processo de agendamento sobre o cidadão, que tende a
tomar os assuntos valorizados pelos media como os mais importantes, bem como sobre os
representantes políticos, que se sentem pressionados a dar respostas de forma quase
imediata. Por fim, a iv) administração da visibilidade se impõe como uma quarta mudança
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proporcionada pelos media, arena onde circulam os diferentes discursos e interesses de atores
dos diversos campos sociais que buscam sua legitimidade junto à opinião pública.
Para Quéré (2005), a impossibilidade de acompanhar tudo o que acontece no mundo
criou a necessidade de desenvolver alternativas para resolver esse impasse. Os indivíduos
são, assim, obrigados a confiar em instituições e organizações investidas de uma autoridade
que lhes autoriza a atuar como mediatores sociais. No mesmo sentido, a complexidade da
sociedade atual impede a participação dos indivíduos em todos os debates públicos, tornando
a mídia uma ferramenta indispensável sobre a qual « fixamos nossas crenças a partir daquilo
que elas nos ensinam, contam, explicam, orientam a fazer, basenado nossas ações e razões
sobre isso » (QUÉRÉ, 2005, p. 188, tradução nossa).
A importância do aparato midiático para a organização da arquitetura institucional das
democracias modernas justifica, então, o interesse deste trabalho pelas particularidades da
relação entre mídias, sociedade e poder político na esfera pública. Para Fonseca (2011), os
media consistem em um complexo sistema de comunicações cujo produto é a manipulação dos
elementos simbólicos e que exercem, em certa medida, um poder devido sua capacidade de
influenciar a opinião dos indivíduos, participar dos processos políticos e favorizar determinados
temas e posições em detrimento de outros. O autor lembra também que além do dever de
informar que caracteriza o jornalismo, grande protagonista desse sistema, as empresas de
comunicação são antes propriedades privadas que possuem como interesse maior o lucro.
Sobre isso, A História Secreta da Rede Globo (1987), obra seminal de Daniel Herz, oferece um
panorama completo e crítico sobre a formação do império midiático comandado pela família
Marinho no Brasil. Segundo Herz, a implantação da radiodifusão no país é caracterizada pela
corrupção e tráfico de influência, problemas resultantes de políticas de difusão elaboradas
durante o período ditatorial e cujos efeitos se sentem até hoje. O sistema de sucursais
regionais da empresa constitui a base do modelo de radiodifusão no Brasil e explica a situação
de oligopolio, onde a Rede Globo é o elemento central. O autor destaca também que o modelo
econômico adotado depois do golpe de 1964 levou a grandes investimentos públicos nas
infraestruturas de comunicações, permitindo o desenvolvimento de um sistema nacional de
telecomunicações e radiodifusão compatível com as novas exigências do capitalismo
internacional. Este quadro revela a importância das tecnologias da informação no processo de
evolução dos princípios capitalistas, fazendo desses dispositivos um poderoso complexo
eletrônico orientado à expansão do sistema sócio-econômico e ideológico. No que se refere ao
Brasil, diferentes etapas da modernização do sistema produtivo acompanharão a implantação
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de um imenso aparato de comunicação nacional ao longo dos 20 anos de ditadura militar,
cenário e práticas que persistirão mesmo após a redemocratização, em 1985.
3.2 Discurso midiático
Para Charaudeau (2005), a construção do sentido do discurso midiático se dá por meio
de um duplo processo, indo de um « mundo a comentar » a um « mundo comentado ». Deste
modo, os acontecimentos não chegam jamais em seu estado « bruto » à recepção, mas
necessariamente tratados e interpretados pelos profissionais da informação da esfera midiática.
Assim, as mídias são, em certa medida, um « espelho deformado » da realidade, que oferece
uma visão parcial do espaço público, como enfatiza o autor, para quem a informação é uma coconstrução de efeitos visados, supostos, possíveis e produzidos, conjunto que faz da
comunicação midiática uma instância de produção do sentido social. Nesta pesquisa,
destacam-se as particularidades da narrativa jornalística do Jornal Nacional e os efeitos
interpretativos produzidos pelas reportagens, bem como a tranformação do discurso sobre os
protestos. Apoiar-se-á, também, sobre o papel ativo dos media na construção social da
realidade, conforme propõe Charaudeau (2005), para quem a mídia opera em uma lógica que
tenta substituir os sistemas tradicionais de mediação entre poder político e cidadãos.
3.3 Redes sociais : uma nova aposta para a democracia ?
Em uma democracia, os movimentos sociais representam uma parcela particular e
importante da participação política dos cidadãos no espaço público. Para Gohn (2003), tais
manifestações são essenciais porque são os agentes construtores de uma nova ordem social e
não de perturbação da mesma, como dizem certos analistas e políticos conservadores. Para o
autor, paradas, passeatas e outros atos públicos são uma forma de tornar visíveis as
transformações que ocorrem no interior da sociedade civil.
O conceito de movimento social é ligado à ação coletiva, mas Neveu (2011) lembra a
diversidade que engloba tal relação e atenta para a necessidade de contextualização: se no
passado a ação coletiva era diretamente ligada à noção de um agir conjunto intencional
possível pelos interesses e reivindicações em torno de uma « causa comum », observa-se hoje
a fragmentação dessas orientações. O autor diz que a diferença dos « novos » movimentos
sociais reside na organização pouco institucionalizada, que portam frequentemente uma
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dimensão lúdica, como sit-in, ocupação de determinados locais e greve de fome, bem como
uma antecipação das expectativas da mídia. Neveu cita as transformações dos valores e das
reivindicações como outro diferencial: enquanto a redistribuição das riquezas predominava no
passado, as mobilizações atuais se focam na resistência ao controle social e na conquista de
autonomia, como vemos nas ações em torno da questão homossexual, ecológica, feminista
etc.
Também as novas tecnologias da informação e da comunicação nos últimos anos
contribuíram para esta nova paisagem. Para Chiung-wen Hsu (2009), porém, a participação
popular era mais aberta a todos antes da Internet, quando o objetivo maior era levar as
reivindicações dos cidadãos às autoridades públicas. A rede, porém, transformou a definição
operacional da participação popular permitindo a participação virtual por blogs, e-mails e outros
suportes digitais, construindo, assim, formas de « agir em conjunto » que dispensam a
presença física. Entretanto, Chiung-wen Hsu defende que a Internet pode fazer desaparecer as
verdadeiras confrontações públicas, alertando para três possíveis impactos da rede sobre as
mobilizações atuais : i) a Internet vai se universalizar e permitir que vozes antimundialistas e/ou
altermundialistas se façam ouvir ; ii) os representantes políticos incorporarão em suas pautas
as questões levantadas por esses movimentos ; iii) a ausência de lideranças produzirá uma
estratégia medíocre, a falta de comprometimento e de objetivos claros conduzirá a debates
intermináveis, impedindo o progresso das mobilizações. Tais considerações sobre os aportes e
os efeitos desse novo cenário informacional na organização e atuação dos movimentos sociais
no espaço público contemporâneo nutriram a condução do estudo neste sentido e serão
colocadas em perspectiva na apresentação dos resultados nas páginas seguintes.
4 Manifestações 2013 e Rede Globo : uma relação controversa
A análise das edições do telejornal, sintezadas abaixo, gerou os resultados
apresentados nas páginas seguintes.
Quadro 1 : Síntese das reportagens sobre as manifestações exibidas pelo Jornal Nacional
Principais formações lexicais
para descrever o evento
Fase 1
« protesto contra o aumento de
R$0,20 do preço do transporte
público », « situação agitada »,
« medo », « confrontos »,
Principais termos/frases
associados aos manifestantes
« eles colocaram fogo na rua »,
« os manifestantes bloquearam a
rua », « medo », « destruição »,
« agitação », « eles entraram em
Principais termos/frases
associados aos policiais
« estabelecer a ordem »,
« conter os manifestantes »,
« eles reagiram aos atos dos
manifestantes », « conflito »,
Assuntos emergentes ao longo
das mobilizações
- Copa do Mundo ;
- Corrupção ;
- Condições dos serviços
públicos ;
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Fase 2
« traços de destruição »,
« marcas de vandalismo dos
manifestantes »
confronto com os policiais »,
« confronto »
« policiais agredidos »
« manifestação começou
pacífica mas se tornou
violenta », « a maioria não quer
vandalismo », « a manifestação
é pacífica », « protesto contra a
Copa do Mundo, contra a
corrupção e as taxas do serviço
público »
« uma minoria colocou fogo na
rua », « um pequeno grupo, que
não representa o movimento »,
«infiltrados », « os grupos radicais
provocam confrontos »,
« baderneiros », « vândalos »,
« violência », « confronto »
« policiais atiraram mesmo sem
ser atacados », « policiais
reagiram à radicalização do
movimento », « conflito »,
« policiais acompanharam a
manifestação à distância »,
« policiais afastaram minoria
radical », « policiais
responderam aos ataques de
vândalos »
- PEC 37 ;
- Popularidade da Presidenta
Dilma Rousseff .
- Reforma política ;
- Movimento LGBT.
4.1 As manifestações de 2013 e a cobertura do Jornal Nacional
A análise do corpus revela a evolução do tratamento do evento, como se pode visualizar
no Quadro 1. Em um primeiro momento, as reportagens possuem uma duração média de 3
minutos e valorizam os problemas gerados pelas manifestações e não há distinção entre seus
participantes. « Confusão », « caos », « agitação » e « medo » descrevem o evento, escolha
que funciona como uma ferramenta de manipulação de opinião, reforçando a representação
negativa dos manifestantes. Assim, enquanto programa jornalístico mais influente da televisão
brasileira (HERZ, 1987), o enquadramento do Jornal Nacional vai ter um importante papel na
formação da opinião da população sobre o acontecimento, mostrando as manifestações como
um problema e o perigo das « multidões » nas ruas, que se tornam um « campo de batalha »
por culpa dos manifestantes, discurso que predomina nas primeiras coberturas.
À medida que o movimento ganha adesão, outros temas aparecem e são mencionados
nas reportagens, sobretudo a partir de 12 de junho, marcado por « confrontos entre
manifestantes e policiais » e « cenas de violência ». Dois pontos são determinantes neste dia: i)
a agressão a jornalistas durante a cobertura dos atos, sugerindo o abuso de policiais ; ii)
emergência da designação dos « grupos minoritários » para fazer referência aos manifestantes
que praticam atos de vandalismo. Esses novos fatores, associados à expansão dos
movimentos em outras capitais, chamam a atenção da imprensa internacional, que destaca os
abusos da polícia.
A mudança de discurso constata-se no teor das reportagens subsequentes : agora, elas
reiteram o caráter legítimo dos protestos, respaldado pelas enquetes nas ruas, onde 55 % dos
entrevistados criticam os serviços públicos no país, índice mais alto dos últimos 26 anos. Tal
recurso será retomado no dia 3 de julho com a divulgação da pesquisa do Instituto Brasileiro de
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Geografia e Estatística (IBGE) apontando o transporte público como uma preocupação
constante da população. O tom belicoso do telejornal dá lugar ao patriotismo, uma vez que os
manifestantes lutam pelos direitos do povo brasileiro. É neste momento também que os
objetivos difusos aparecem : além dos 20 centavos – que se tornam uma questão secundária –
, os gastos com a Copa do Mundo de 2014, a proposição da PEC 37 e a má qualidade dos
serviços públicos são destacados pelas reportagens, que enfatizam a insatisfação generalizada
do povo brasileiro com a administração do Estado. Essa postura é reiterada por declarações da
oposição, assim como pela divulgação de pesquisas do Instituto Data Folha indicando a baixa
popularidade de Dilma Rousseff, revelando o tom oposicionaista da emissora ao Partido dos
Trabalhadores (PT)2.
4.2 Os manifestantes : pacíficos versus vândalos
Como explica Champagne (1991), o campo jornalístico realiza um trabalho de
construção que depende dos interesses do próprio setor de atividade. Essa lógica justificaria as
escolhas editoriais e o tratamento dado aos manifestantes durante a cobertura. O discurso do
telejornal reitera a visão marginalizada dos movimentos sociais, apresentando seus atores
como os culpados pelas cenas de violência e as situações de tensão com a polícia durante os
atos. O uso dos termos « vandalismo », « destruição », « agitação », « eles colocaram fogo na
rua » evidenciam o tratamento desfavorável dispensado aos manifestantes ao abordarem suas
ações.
A inversão se dá a partir do 12 de junho. Neste momento, a narrativa jornalística sobre
os manifestantes, até então considerados uma unidade, separa-os em dois grupos : os
pacíficos e os radicais (vândalos), rivalidade que vai ser explorada pelo telejornal. Essa
mudança é acompanhada pela generalização do movimento, que deixa de ser tratado como
uma revolta dos jovens da classe média em torno do transporte público para ser apresentado
2
A emissora é acusada de ter ajudado o candidato à Presidência Fernando Collor de Mello (proprietário da Gazeta do
Alagoas, sucursal da Rede Globo) na eleição de 1989 por meio da manipulação de trechos do debate entre ele e seu
oponente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 2006, a emissora é novamente acusada de desfavorizar Lula, então candidato à
reeleição, ao destacar excessivamente aos fatos negativos sobre seu partido durante a campanha.
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como a demonstração de insatisfação geral de diversas classes sociais. Uma outra mudança
se dá no tratamento acordado ao trabalho dos policiais, cujos abusos são criticados ao mesmo
tempo
que
justificados
devido
aos
manifestantes
radicais.
À medida que outras reivindicações surgem, observa-se a construção de uma pauta
divergente da inicial, o que pode ser compreendido como efeito do impacto da Internet na
organização dos movimentos sociais contemporâneos, conforme o item 3.2.2. Entretanto, essa
dissonância não impediu certa empatia à eclosão dos atos de rua, comparados agora às
grandes passeatas da campanha Diretas Já !, em que a mídia e, especialmente a Globo, foi
determinante.
4.3 A representação dos policiais
Primeiramente, as ações policiais eram respaldadas sob os argumentos de que eles
« reagiram aos atos dos manifestantes » e que tentaram « conter o avanço » dos mesmos.
Mesmo as posturas mais violentas, como jogar bombas de efeito moral, são aceitáveis e
mesmo encorajadas por governadores e prefeitos face aos riscos oferecidos pelas multidões.
Em um segundo momento, sobretudo após o emblemático 12 de junho, esse quadro começa a
mudar. Antes justificadas, as ações policiais são agora consideradas « excessivas », cujos
ataques aos manifestantes são « sem motivo visível ». É também neste momento que
organismos e imprensa internacionais condenam a postura dos policiais, levando governadores
dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo a abrirem investigações sobre os abusos
cometidos.
Alguns fatos podem ajudar a explicar o porquê do tratamento dos manifestantes e dos
policiais ter sensivelmente mudado. O primeiro é a agressão a jornalistas durante os atos, o
que pode ter criado uma solidariedade da comunidade jornalística. O segundo é a amplitude
das manifestações no país, que cresciam a cada dia. Uma última pista são as versões
alternativas das redes sociais, especialmente da página do grupo Mídia Ninja no Facebook e
Twitter, que revelavam o viés muitas vezes violento e injustificado das ações policiais. Além
disso, a oposição entre manifestantes e policiais passa a ser triádica, opondo agora a esses
dois atores os manifestantes radicais. A narrativa do telejornal se controi sobre esses três
atores, onde os atos de vandalismo dos grupos radicais justificam em certa medida as ações
policiais. A fragmentação das demandas vai também contribuir às divergências de pauta,
levando à oposição entre os participantes e criando uma espécie de consenso entre
manifestantes pacíficos e policiais. Os jornalistas vão, assim, insistir sobre a « postura correta»
dos policiais, que acompanham as manifestações sem intervir e cujas ações, mesmo quando
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violentas,
são
« uma
reação
às
provocações
de
manifestantes
radicais ».
4.4 A mise en scène televisual
Outra dimensão importante são as particularidades da mise en scène dos protestos pelo
telejornal. Jost (2004) define a televisão como um meio que aproxima os homens ao seu
ambiente, dando-lhes acesso ao mundo. Neste sentido, o telejornal possui um importante papel
no espaço público contemporâneo.
Das 26 edições analisadas, 13 delas possuem intervenções de repórteres in loco, mas
apenas 8 apresentaram entrevistas com manifestantes. Além disso, cenas de fogo e da
multidão, barulhos de bomba, violência e confrontos foram amplamente exploradas. Essas
observações revelam o foco do programa nos aspectos negativos dos protestos ao invés de
atentar às questões importantes, como a expansão dos atos pelo país, suas motivações e
desdobramentos.
Em geral, o enquadramento das cenas ao longo da narrativa revela a intenção dos
jornalistas de construir uma imagem maniqueísta dos manifestantes (pacificos/radicais),
apresentados como uma multidão desorganizada, e dos policiais, um grupo unificado. As cenas
focam a oposição entre os atores no jogo, cada um interpretando um « papel na trama »
(BERTRAND, 2000) e reforçando, pela descrição de suas ações, o ponto de vista da emissora,
que se apoia na retórica da objetividade jornalística para legitimar seu discurso na opinião.
Apesar da mudança de tom, a exploração da violência é constante, especialmente em
relação aos grupos extremistas. O telejornal atua como um tribunal, onde entrevistas com
especialistas, autoridades políticas e policiais fazem a condenação pública dos manifestantes
radicais, que não foram sequer ouvidos, posição que vai ao encontro da ideia de que tudo o
que não é visto ou que atrapalhe as certezas dos media é descartado (LOCHARD ; BOYER,
1995). Isso justificaria, por exemplo, a predominância de entrevistas com policiais e outras
autoridades públicas, confirmando que « os atores do espaço público aos quais os media dão
a priori a palavra não são necessariamente aqueles diretamente implicados pelos fatos »
(CHARAUDEAU, 2005, 159, tradução nossa), mas principalmente as fontes oficiais, mais
propensos
à
visibilidade
social,
distorção
que
cria
problemas.
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4.5 O Mídia Ninja e o discurso do JN sobre as manifestações
A Internet é essencial na organização dos novos movimentos sociais e as
potencialidades das redes sociais foram determinantes no caso analisado. Antes de entrar nas
considerações sobre essas novas ferramentas ao longo das mobilizações, destaca-se que,
inicialmente, a maioria dos participantes eram jovens da classe média brasileira, uma parcela
social que se informa predominantemente pelas rede, o que é confirmado pelos cartazes com a
frase « Saímos do Facebook ». Além disso, os manifestantes alegavam se sentir « sem voz »
no espaço público, e os usos desses novos suportes midiáticos representariam uma alternativa
a essa deficiência causada pelas limitações de acesso às vias tradicionais. Esse quadro
explicaria o porquê das redes sociais terem sido o principal canal de difusão de informações e
de organização das mobilizações.
Apesar as inovações tecnológicas das últimas décadas, a grande mídia permanece a
instância de representações sociais legítimas, o que confere um status privilegiado à Rede
Globo na opinião pública. Entretanto, críticas ao tratamento dos manifestantes pela emissora
começaram a ganhar força, levando inclusive a âncora do telejornal, Patrícia Poeta, a fazer um
pronunciamento destacando a imparcialidade do programa. A difusão de informações pelos
grupos ciberativistas teve, assim, um importante papel de contra poder : os conteúdos
compartilhados pelo Mídia Ninja ajudaram a ir além do discurso único da grande imprensa,
oferecendo o « lado B » da situação aos cidadãos. Usando apenas um celular e uma conexão
3G, o grupo apresenta outros ângulos das ruas e maior próximidade com a realidade dos
protestos, dando aos manifestantes a possibilidade de fala, raramente permitido pelos
jornalistas da grande mídia, bem como fotos e vídeos. As informações divulgadas vão rivalizar
com as veiculadas pelo telejornal, especialmente no que diz respeito ao número de pessoas
nas ruas nos primeiros atos, dado suspeito de manipulação pela imprensa tradicional para
deslegitimar a causa.
É também o Mídia Ninja que divulga materiais que reforçam as denúncias de abuso
durante operação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) nas favelas do Complexo do
Maré, no Rio de Janeiro. Enquanto o telejornal fala de um « possível » abuso da polícia, o
grupo publica a versão dos membros locais e das mobilizações contra a intervenção policial,
destacando que « a polícia que mata na favela é a mesma que mata nas ruas [protestos] »,
revelando a intenção de conscientizar que a violência policial é um problema social que pede
medidas específicas.
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5 Conclusão
Verificou-se, portanto, que a cobertura das manifestações pelo Jornal Nacional se dividiu
em duas fases. Primeiro, tem-se uma postura combativa em relação às mobilizações. Nesse
sentido, a recusa de dar a palavra aos manifestantes confirma a hipótese sobre a tradição
histórica da emissora de marginalizar os movimentos sociais no país, o que é reforçado pela
valorização da violência ao longo da narrativa. Uma segunda fase é identificada a partir de 12
de junho, cuja agressão a diversos jornalistas durante a cobertura dos atos parece ter
contribuído para a mudança de tom do discurso do telejornal. É neste momento também que as
ações policiais passam a ser criticadas e consideradas abusivas. Porém, a divisão dos
manifestantes em dois grupos – pacíficos e radicais – vai relativizar o comportamento severo e
por vezes violento dos policiais. A posição do telejornal sugere uma empatia com a posição da
policia, verificada pela preocupação em justificar as ações policiais como uma « reação » às
provocações dos manifestantes.
No que diz respeito às redes sociais na construção da narrativa deste acontecimento,
verifica-se o papel crucial das mesmas para a eclosão das manifestações, constatação que vai
ao encontro das características dos novos movimentos sociais, onde a Internet assume o
protagonismo. Entretanto, essa nova modalidade de « agir em conjunto » traz riscos, como a
dissonância de interesses, levando a discussões por vezes improdutivas que impedem o
avanço das pautas.
Por fim, sobre o papel do Mídia Ninja na construção da narrativa do Jornal Nacional
sobre as manifestações, pode-se inferir duas conclusões. De um lado, a emergência desse ator
vai ao encontro das características dos movimentos sociais contemporâneos ; de outro, a
importância acordada às versões alternativas revelam uma desconfiança crescente de uma
parcela dos cidadãos em relação aos conteúdos divulgados pela mídia tradicional,
especialmente a Rede Globo. Os Ninjas encontraram, assim, a ocasião de apresentar uma
visão alternativa ao discurso dominante, o que foi reforçado pela formação de uma rede de
colaboradores virtuais em várias cidades. Entretanto, mesmo se essa modalidade jornalística
seja mais próxima do cidadão e capaz de preencher as lacunas do jornalismo da grande mídia,
ella esbarra em limitações de ordem social, econômica e mesmo cognitiva da população para
acessar e se beneficiar desses conteúdos, ainda restritos a uma pequena parcela social.
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